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1 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO Gabriela de Mattos Schettert Itajaí (SC), 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO

Gabriela de Mattos Schettert

Itajaí (SC), 2009

 

TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí.

Orientadora: Profª. MSc. Giovana

Delvan Stühler

Itajaí (SC), 2009

 

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por tudo.

Aos meus pais, pela presença constante e pelas preocupações cotidianamente demonstradas em relação à minha felicidade, pelo amor inquestionável.

Obrigada por me ajudarem a realizar um sonho, me transformando de estudante à profissional e, sobretudo, obrigada pela lição de amor que me

ensinaram durante toda minha vida.

Aos meus queridos amigos, companheiros e irmãos (Andrea, Paulinha, Rafael, Kalu, Carol, Milena e Renato). Muito obrigada por me acolherem como amiga.

Vocês já fazem parte da minha jornada!

À professora Giovana Delvan Stühler, minha orientadora, pela disponibilidade sempre demonstrada, por ter me incentivado a

melhorar quando apontava meus erros e pela dedicação e carinho durante mais esta etapa acadêmica.

 

Dedico este trabalho a todas as pessoas

portadoras do TOC que lutam diariamente

contra tal transtorno.

 

“Minha mão está suja

Preciso cortá-la.

Não adianta lavar.

A água está podre.

Nem ensaboar.

O sabão é ruim.

A mão está suja,

Suja há muitos anos”.

Carlos Drummond de Andrade

 

 

Folha de aprovação

Membros da banca

_____________________ ____________________ Profª. MSc. Rosária Maria Profº. Dr. José Eduardo

Fernandes da Silva Legal

________________________

Profª. MSc. Giovana Delvan Stühler

 

TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO

Gabriela DE MATTOS SCHETTERT

Orientadora: Giovana Delvan Stühler

Defesa: Novembro de 2009

Resumo:

A presente pesquisa trata-se de um estudo bibliográfico sobre o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), uma patologia séria que, cada vez mais, apresenta-se no cotidiano de muitas pessoas. Buscou-se investigar e esclarecer mais detalhadamente sobre este transtorno, pesquisar as bibliografias disponíveis sobre o tema, analisando sua etiologia, diagnóstico e tratamentos utilizados. A realização desta pesquisa deu-se por via de consultas em bibliografias, incluindo artigos científicos, livros da biblioteca da Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI e publicações na internet. O TOC constitui uma doença bastante complexa e que, geralmente, pode ser diagnosticada em indivíduos de todas as faixas etárias, principalmente jovens no final da adolescência e até mesmo crianças. É influenciado por fatores diversos de origem psicológica, biológica e social. De acordo com as fontes pesquisadas, percebeu-se a eficácia da terapia cognitivo-comportamental em relação ao tratamento do TOC. Destaca-se a importância da utilização de uma equipe multidisciplinar que acompanhe e oriente o paciente e seus familiares no decorrer do tratamento.

Palavras-chave: transtorno de ansiedade; patologia complexa; etiologia; tratamento; psicoterapia.

 

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..............................................................................................09

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.....................................................12

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................14

3.1 Histórico......................................................................................................14

3.2 TOC: definições e características...............................................................15

3.3 Etiologia e diagnóstico................................................................................21

3.4 Tratamento..................................................................................................31

3.4.1 Terapia cognitivo-comportamental...........................................................31

3.4.1.1 Lista hierárquica de tarefas...................................................................37

3.4.1.2 Exposição e prevenção de resposta (EPR)..........................................38

3.4.1.3 Exposição em imaginação....................................................................39

3.4.1.4 Modelagem...........................................................................................40

3.4.2 Tratamento farmacológico........................................................................41

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................45

5. REFERÊNCIAS.............................................................................................49

 

1. INTRODUÇÃO

No decorrer da vida das pessoas, o comportamento apresenta-se de

diversas formas. Dentro dessas formas, pode-se notar comportamentos

normais e comportamentos patológicos.

De acordo com Atkinson et al (2002), um indivíduo considerado normal é

aquele que tem capacidade de perceber a realidade a sua volta, de maneira

adequada, tendo controle consciente de seu comportamento e capacidade de

relacionar-se com outras pessoas, afetivamente. Porém, pessoas que não têm

essas definições, são consideradas anormais e portadoras de comportamentos

patológicos, ou seja, comportamentos que se afastam de modelos

determinados pela sociedade.

Conforme Myers (2003), os transtornos mentais são disfunções prejudiciais

e são considerados comportamentos perturbados. Um comportamento

perturbado é aquele que é considerado incomum, conturbado, desajustado e

injustificável.

Do início até meados do século XX, o transtorno obsessivo-compulsivo

era um assunto pouco conhecido e considerado raro, porém, hoje em dia

chama bastante atenção dos pesquisadores e da população em geral devido à

frequência da manifestação deste transtorno na vida de muitos indivíduos.

Esse transtorno é uma doença mental grave que, segundo a Organização

Mundial de Saúde (1998) está entre as dez maiores causas de incapacitação e

que, cada vez mais, acomete boa parte da população.

Segundo Lotufo Neto et al (1997), o TOC já vem sendo estudado desde o

século XIX e era considerado uma patologia que fazia parte da categoria das

psicoses degenerativas, que seriam o resultado de um estigma degenerativo

emergindo como uma patologia cérebro-espinal, compreendido como um

desequilíbrio funcional dos centros nervosos e uma desarmonia entre suas

inibições e excitações recíprocas.

Na Alemanha os sintomas eram vistos como tiques mentais e acreditava-se

num distúrbio primário da cognição. As primeiras descrições na literatura

10 

 

inglesa associavam à depressão e à religião e termos como melancolia,

religiosidade ou escrúpulos eram utilizados para explicar este transtorno. Já na

França tais comportamentos eram considerados como distúrbio da volição

(LOTUFO NETO et al, 1997).

De acordo com o DSM-IV (2002), o TOC é um transtorno mental que

enquadra-se na categoria dos transtornos de ansiedade e manifesta-se sob a

forma de alterações do comportamento, dos pensamentos e das emoções. Sua

característica principal é a presença de obsessões e compulsões.

Para Dalgalarrondo (2000), as obsessões são imagens, pensamentos ou

impulsos que invadem a mente de forma repetitiva e persistente. Apesar de

serem consideradas absurdas ou ilógicas, causam ansiedade e medo e a

pessoa tenta neutralizá-las praticando rituais ou compulsões. Já as compulsões

são os comportamentos ou atos mentais repetitivos que têm como exemplos

mais comuns, lavar as mãos diversas vezes, fazer verificações, contar, repetir

frases ou números, rezar, alinhar certos objetos, tomar banho muitas vezes ao

dia, etc.

Deste modo, pelo que se pode observar, este transtorno é mais comum do

que se imagina e causa muitos problemas na vida de indivíduos portadores do

TOC, o que motivou o presente estudo no sentido de contribuir para uma

análise e, consequentemente uma melhor compreensão em relação as suas

hipóteses causais e encaminhamentos. Para tanto, optou-se por uma pesquisa

bibliográfica com o objetivo de investigar na literatura especializada a etiologia,

diagnóstico e intervenção do transtorno obsessivo – compulsivo.

Cabe ressaltar que o desenvolvimento deste trabalho deu-se por meio

de coleta de fontes da biblioteca da Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI,

particulares da pesquisadora e da orientadora e em bases de dados on-line. A

busca realizada na biblioteca foi atingida a partir das palavras-chave

(obsessão, compulsão, transtorno de ansiedade e psicopatologia) como será

vista no próximo capítulo dos procedimentos metodológicos utilizados para a

realização do presente trabalho de conclusão de curso.

Na fundamentação teórica, será levantado o histórico do transtorno

obsessivo-compulsivo, bem como suas definições, características, possíveis

11 

 

etiologias, critérios diagnósticos e, por fim, abrangerá os tratamentos mais

utilizados para a intervenção de tal transtorno de ansiedade.

Por fim, no capítulo considerações finais buscar-se-à apontar as

conclusões da pesquisadora em relação à todos os assuntos por ela

pesquisado referentes ao transtorno obsessivo-compulsivo.

12 

 

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a realização deste trabalho foi utilizada a metodologia de pesquisa

bibliográfica, ou seja, fundamentado no material acessado pela pesquisadora.

Nas palavras de Marconi & Lakatos (1999, p.73), a pesquisa bibliográfica tem

como objetivo “colocar o pesquisador em contato com tudo aquilo que já foi

escrito sobre determinado assunto (...) Dessa forma, não é mera repetição,

mas propicia o exame de um tema sobre novo enfoque ou abordagem”.

A pesquisa utilizada no presente trabalho é a do tipo exploratória que, nas

palavras de Gil (2008, p. 27), “tem como principal finalidade desenvolver,

esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de

problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”.

Ainda este mesmo autor aponta que este tipo de pesquisa é desenvolvida

tendo como subsídio um material já elaborado, principalmente composto por

livros e artigos científicos.

A pesquisa adotou algumas etapas descritas a seguir:

- Primeira etapa: foi realizado o levantamento do material bibliográfico. Após o

levantamento, realizou-se a leitura dos livros retirados da biblioteca da

Universidade do Vale do Itajaí- UNIVALI, particulares da pesquisadora e da

orientadora, assim como artigos científicos encontrados em bases de dados

on-line que abordassem assuntos referentes ao tema escolhido;

- Segunda etapa: buscou-se por meio de base de dados on-line, revistas

científicas que trouxessem assuntos relativos ao TOC, tendo com subsídio as

palavras-chave: obsessão, compulsão, ansiedade e psicopatologia. Na primeira

busca na base de dados foram obtidos onze artigos os quais possuíam as

palavras-chave relacionadas. Destes, selecionou-se seis que traziam as

palavras-chave obsessão e compulsão. Os materiais utilizados foram livros

publicados entre os anos de 1997 e 2008 e artigos científicos com ano de

publicação entre 2000 e 2006;

13 

 

- Terceira etapa: em seguida, realizou-se a seleção dos assuntos levantados

de acordo com sua categoria, por exemplo, característica, diagnóstico, etiologia

e tratamento;

- Quarta etapa: logo após, tendo os livros e artigos em mãos, a pesquisadora

elaborou resumos e esboços para melhor organização do trabalho bibliográfico;

- Quinta etapa: a etapa final deu-se pela discussão das interpretações

alcançadas, a organização dos dados obtidos nas leituras realizadas pela

pesquisadora, a montagem da redação e, por fim, a revisão da redação pela

orientadora. Dessa forma, buscou-se priorizar a objetividade, compreensão,

precisão, clareza e vocabulário científico deste trabalho de conclusão de curso

.

14 

 

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Histórico

Sintomas semelhantes ao do transtorno obsessivo-compulsivo já eram

percebidos há mais de 300 anos e eram considerados como variante do antigo

conceito de insanidade. Até o século XVIII, os sintomas obsessivo-compulsivos

traduziam a preocupação da época, ou seja, o medo de ser uma possessão

demoníaca. No início do século XX, começaram as primeiras tentativas de

tentar explicar a verdadeira patogenia de tal distúrbio (LOTUFO NETO et al,

1997).

Foi no decorrer do século XIX que as obsessões deixaram de ser

reconhecidas como obra do diabo e passaram a fazer parte de um tipo de

depressão. Somente depois da virada do século que tais comportamentos

começaram a ser interpretados como uma síndrome autônoma (HAWTON et

al, 1997).

Conforme Guilhardi & Queiroz (2002), a síndrome obsessivo-compulsiva

foi conceituada no ano de 1838 por Esquirol e foi considerada como uma

doença incurável e intratável. Nomes conhecidos da história como Lady Mc

Beth e Charles Darwin, o pai da teoria da evolução das espécies, são alguns

exemplos de pessoas que apontavam indícios do TOC.

Ainda, Lotufo Neto et al (1997) destacam que Pierre Janet (1859-1947)

relacionou o TOC com seu conceito de psicastenia (perda ou enfraquecimento

da tensão psicológica) que, segundo ele, desencadearia a emergência

egodistônica das atividades psíquicas automáticas e, sem o equilíbrio

necessário dos níveis mentais superiores, ocorreria uma quebra de sua

funcionalidade e livre-arbítrio. Três características importantes que Kurt

Schneider (1925) apontava para definir tal transtorno eram a experiência

subjetiva da compulsão, o caráter intrusivo das obsessões e a manifestação da

crítica.

15 

 

Hawton et al (1997) pontuam que até os anos sessenta, a psicanálise

exercia forte influência sobre a psiquiatria. Freud classificava o transtorno

obsessivo-compulsivo como fazendo parte dos quadros neuróticos e associava

os sintomas  à formação de mecanismos de defesa e fixação em fases

primitivas da evolução da personalidade. Em seus primeiros escritos, Freud

sugeriu que tais sintomas obsessivos tinham como origem a regressão à fase

anal-sádica pré-genital do desenvolvimento. Outras formulações foram criadas

e defendiam que os indivíduos obsessivos possuíam uma frágil limitação do

ego, podendo talvez virem a ser pré-psicóticos.

Antes do ano de 1960, o prognóstico para os distúrbios obsessivos era

muito fraco e seu tratamento consistia na hospitalização à longo prazo,

psicocirurgia e apoio. Porém, um pesquisador chamado Meyer obteve sucesso

no tratamento comportamental de dois casos de neurose obsessiva crônica,

tendo como subsídio a pesquisa com animais de comportamento obsessivo

que demonstravam que os comportamentos ritualísticos constituíam uma forma

de evitação aprendida (HAWTON et al, 1997).

Nesta mesma época, o TOC não teve muita ênfase em relação à

investigação de suas bases biológicas por dois motivos. O primeiro estava

relacionado à semiologia neurológica sistematizada que não permitia a

detecção de sinais neurológicos mais finos que demonstrassem uma possível

organicidade para o distúrbio, já o segundo aspecto foi desencadeado pelo

desenvolvimento e influência crescente da psicanálise que deslocou o TOC do

campo biológico para a categoria das neuroses (CORDIOLI, 1998).

Entretanto, segundo Cordioli (1998), fatores relacionados com sua

manifestação precoce em indivíduos, implicações genéticas evidenciadas na

etiologia da doença, sua homogeneidade sintomatológica transcultural e a

eficácia à resposta terapêutica farmacológica e comportamental resultaram

num bom suporte para o direcionamento do estudo do TOC para suas bases

biológicas.

3.2 Transtorno Obsessivo-Compulsivo: Definição e características

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         Medos e preocupações fazem parte do cotidiano das pessoas. Desde que

nascemos somos obrigados a aprender a conviver com tais fatores, porém

tomando certos cuidados. Sempre que vamos dormir fechamos as portas,

lavamos as mãos antes das refeições ou depois de usar o banheiro e

desligamos os aparelhos eletrônicos da tomada quando vamos viajar. No

entanto, preocupações quando se tornam excessivas, repetitivas,

acompanhadas de grande aflição, ocupando muito tempo na vida do individuo

e comprometendo sua rotina e seu desempenho no trabalho, podem ser a

manifestação de comportamentos que constituem sintomas do TOC (CAMPOS

& MERCADANTE, 2000).

Segundo o DSM – IV (APA, 2002), o TOC é um transtorno mental incluído

nos chamados transtornos de ansiedade e é caracterizado pela presença de

obsessões e compulsões que causam muito desconforto e angústia no

portador desta desordem do comportamento. De acordo com Cordioli (1998), o TOC acomete cerca de 2, 5% da

população geral, sendo considerado o quarto diagnóstico psiquiátrico mais

frequente. Sua incidência é igual entre homens e mulheres, porém é maior em

adolescentes do sexo masculino, maior entre indivíduos com algum conflito

(familiar ou social) e entre familiares de 1º grau.

As características predominantes do TOC são a presença de

pensamentos obsessivos e atos compulsivos. Na maioria das vezes envolve

tanto a obsessão quanto a compulsão, porém a pessoa pode ter apenas uma

ou outra. Conforme Dalgalarrondo (2000), as síndromes obsessivo-

compulsivas podem ser divididas em dois subtipos: aquelas que predominam

as ideias obsessivas e aquelas que predominam os comportamentos

compulsivos, mas geralmente são vivenciadas de forma conjunta.

O medo de ser contaminado por alguma coisa ou por alguém pode

aumentar em época de estresse. Porém, quando esse medo torna-se

persistente, sem nenhum sentido aparente, causando muita angústia e

incapacidade para o indivíduo em realizar suas tarefas diárias, tais sintomas

merecem uma atenção clínica (SOUZA & DAIGE, 2003).

As obsessões são ideias, pensamentos, imagens, frases, palavras e

impulsos persistentes e repetitivos que surgem na consciência de forma

17 

 

estereotipada. Sentidas como estranhas ou impróprias, as obsessões

geralmente ocasionam desconforto, medo, angústia e culpa. O indivíduo

portador do TOC mesmo se esforçando e desejando, não consegue afastá-las 

ou suprimi-las de sua mente. Apesar de serem consideradas, muitas vezes,

absurdas ou ilógicas, causam ansiedade e aflição que a pessoa tenta

neutralizar realizando rituais ou compulsões ou através de evitações de certos

atos ou lugares (KNAPP, 2004)

De acordo com Lotufo Neto et al (1997), do ponto de vista psicopatológico,

pode-se classificar as obsessões quanto à forma, conteúdo e à conseqüência:

Quanto à forma, podem ser:

• Dúvida: o indivíduo não consegue acreditar que a atividade ou tarefa

realizada pelo mesmo foi feita de modo adequado ou fica indeciso quanto ao

caminho que deve seguir. Por exemplo: Mulher tem dúvidas sobre se fechou a

porta da casa de forma adequada.

• Impulsos: contrário à vontade para realizar ações consideradas

agressivas, triviais ou inadequadas socialmente. Por exemplo: Filho com impulso

de esfaquear o pai.

• Medo: o indivíduo tem medo de perder o controle, se descuidar e,

consequentemente, realizar um ato inadequado. Por exemplo: Mãe teme jogar o

bebê pela escada.

• Ruminação: pensamentos sem fim que surgem na mente e, geralmente,

é relacionado ao futuro, ao significado da vida do indivíduo ou das pessoas que

o cercam. Por exemplo: Homem questiona-se em relação à quando a alma

entra no corpo.

Quanto ao conteúdo:

• Sujeira e contaminação: medo de contaminar-se com suor, urina,

sangue, pêlos, doenças, sêmen, radioatividade, germes.

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• Temas impessoais ou inanimados: contas, figuras geométricas,

problemas matemáticos, cadeados, fechaduras e outros dispositivos de

segurança, ordenação dos objetos, números e palavras.

• Agressividade e prejuízo: pode ser físico ou verbal, em relação a si

mesmo (suicídio) ou contra terceiros (homicídio), acidentes, guerras, morte,

catástrofes.

• Bem-estar familiar: relacionado à saúde, relacionamentos, finanças.

• Trabalho: segurança, posição, aceitação.

• Diversos: atividades diárias, fatos históricos, anatomia humana, passado

e futuro.

Outros comportamentos podem ser considerados mais raros, estranhos e bizarros como a história de um paciente de 21 anos que temia ser tragado por linhas paralelas e relutava ao ter que atravessar portas ou conduzir um carrinho de supermercado pelos corredores do estabelecimento.( LOTUFO NETO et al, 1997, p. 131).

Quanto à consequência:

• Causadoras de desconforto, culpa, ansiedade e repugnância.

• Rituais cognitivos: tentativa de diminuir ou compensar a ansiedade e o

desconforto que são provocados por uma obsessão anterior. O pensamento

anterior é neutralizado através de sua repetição de forma correta. Também

caracteriza-se pela repetição do pensamento inúmeras vezes, contagem de

números, lembrar de características compulsivas, porém são cognitivas e,

geralmente, ativas e voluntárias.

• Disruptivas: consiste em imagens e ideias que atrapalham o pensamento

em determinado momento, raciocínios ou ações que interferem na correção de

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uma obsessão ou ato compulsivo. Por exemplo, uma mulher rezando e,

subitamente, pensamentos eróticos e obscenos invadindo sua mente.

Ainda Lotufo Neto et al (1997), classifica as compulsões quanto à forma de:

• Limpeza/descontaminação: banhos demorados, com uso abundante de

álcool ou desinfetantes, lavagem repetida das mãos, roupas e objetos que

tenham sido tocados ou supostamente contaminados de alguma forma. Tais

rituais têm como objetivo restabelecer segurança em relação à higiene e

limpeza.

• Verificação: examinar e testar muitas vezes determinados atos ou

circunstâncias. Um exemplo comum que se pode destacar é quando o sujeito

verifica inúmeras vezes se a porta está trancada, o gás desligado, percorre

diversas vezes o mesmo caminho para se certificar que não atropelou alguém ou

provocou algum acidente, etc. Tais atos de verificação são preventivos, de modo

a assegurar que nenhum acidente irá ocorrer.

• Repetições: é uma característica inerente das compulsões, sendo em

alguns casos proeminente. Por exemplo: Mulher faz uma oração 33 vezes, pois

esta é a idade da morte de Jesus Cristo e se ela não rezar este número de

vezes, um acidente poderá acontecer com seu marido.

• Rituais: repetir um conjunto de comportamentos, seguindo regras

rígidas. Por exemplo: o sujeito deverá dobrar somente à direita. Tal

comportamento citado como exemplo irá atrapalhar e prejudicar a vida do

indivíduo, pois o mesmo será obrigado a planejar seu caminho para que, assim,

evite virar à esquerda.

• Simetria e ordem: objetos são alinhados numa ordem de padrão

simétrico. Por exemplo, arrumar objetos sobre a escrivaninha, de maneira que

todas as linhas fiquem paralelas.

• Colecionismo: guardar objetos e não jogá-los fora. Por exemplo, pilhas

de jornais ou todas as lascas de unhas cortadas.

20 

 

• Lentificação: os rituais são identificáveis, porém os atos são executados

de forma lenta, durante muito tempo e, até mesmo, horas para realizar uma ação

que normalmente duraria um ou dois minutos. Geralmente, há uma necessidade

de seguir meticulosamente uma ordem pré-estabelecida. Por exemplo: Homem

demora horas para escovar os dentes, pois não consegue tirar a escova da

boca, necessitando que outra pessoa tire para ele ou abre a torneira de maneira

que a água escorra de maneira fina, demorando muito para encher a palma da

mão em concha.

• Comportamentos paradoxais e de evitação são outras características

das compulsões.

O indivíduo irá realizar uma evitação de algum ato ou pensamento

quando houver um estímulo que desencadeie uma obsessão. A impossibilidade

de esquiva irá ter como consequência uma compulsão. Dessa forma,

indivíduos que têm ideias obsessivas de contaminação evitam comportamentos

como, tocar em trincos de portas, não cumprimentar as pessoas, não usar

banheiros públicos por acharem que tais situações podem acarretar uma

possível contaminação. De outro lado, embora atípicos, os comportamentos

paradoxais podem se manifestar em indivíduos com rituais de limpeza.

(CAMPOS & MERCADANTE, 2000).

Conforme Lotufo Neto et al (1997, p.134):

Um exemplo mais conhecido é o do milionário Howard Hughes, que na tentativa de se proteger de uma possível contaminação, não deixava que sua casa fosse limpa, não tomava banho, não cortava as unhas, evitava tocar em alimentos ou objetos que considerava manipulados, não trocava suas roupas e os lençóis da cama, apenas colocava-os um em cima do outro.

De acordo com o DSM-IV (APA, 2002), a manifestação do transtorno

obsessivo-compulsivo em crianças, geralmente é parecida àquelas da idade

21 

 

adulta. Comportamentos de verificação, lavagens e rituais de organização são

peculiares em crianças. Na maioria dos casos, as crianças não procuram ajuda

e o problema, geralmente é identificado pelos pais, que levam a criança a

tratamento. Muitos são os prejuízos causados pelo TOC nesta faixa etária

como, por exemplo, declínio de rendimento escolar, diminuição da capacidade

de concentração, isolamento social, entre outros.

Ainda, este manual de transtornos mentais aponta que os adultos

portadores do TOC percebem, em algum momento, que as obsessões ou

compulsões são excessivas ou irracionais. Já as crianças com TOC, não

possuem consciência cognitiva satisfatória para tal discernimento. Cabe

ressaltar também que, mesmo em adultos, há uma grande faixa de insight em

relação à racionalidade das obsessões e compulsões. Algumas pessoas não

têm certeza sobre a racionalidade de seus comportamentos obsessivos e

compulsivos, podendo variar em diferentes situações os insights dessas

pessoas. Um exemplo, que se pode salientar é de um indivíduo que possui

compulsão por limpeza. Pode este mesmo indivíduo reconhecer que tal

comportamento é irracional quando estiver numa situação que o mesmo

considera segura (consultório do terapeuta, por exemplo), porém o mesmo não

terá esse pensamento de reconhecimento quando estiver exposto a uma

situação que considere perigosa (manusear dinheiro, por exemplo).

        Para Campos & Mercadante (2000), com o passar do tempo, pode ocorrer

também, a variação na presença dos rituais, por exemplo, um paciente que

hoje possui características ritualísticas de limpeza pode, futuramente,

apresentar rituais de verificação. Geralmente, há mais de um tipo de obsessão

em indivíduos com TOC e a maioria possui mais de um tipo de ritual.

Conforme Caballo (2003), um aspecto modulador do TOC é o estado de

ânimo que o indivíduo se encontra. Em pesquisas realizadas, percebeu-se que

estados de ânimo negativos aumentava a frequência e a duração das

obsessões, aumentava a probabilidade de avaliações inadequadas, diminuía a

eficácia da neutralização, aumentava a hipervigilância ante estímulos

desencadeadores e diminuía a motivação ou a capacidade para executar

tarefas e estratégias aprendidas na terapia.

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3.3 Etiologia e diagnóstico

De acordo com Atkinson et al (2002), um dos critérios fundamentais para

que haja a identificação de um comportamento patológico é investigar se tal

comportamento afeta o bem-estar do indivíduo ou do grupo social. Em outras

palavras, pode-se dizer que o comportamento só é patológico quando há

inadaptação, ou seja, quando o mesmo provoca efeitos adversos sobre o

indivíduo ou a sociedade.

O diagnóstico diferencial do transtorno obsessivo-compulsivo em relação

aos demais transtornos de ansiedade se dá devido a condição médica geral. O

diagnóstico é de transtorno de ansiedade quando há uma condição médica

geral, ou seja, quando as obsessões ou compulsões são consideradas

consequência fisiológica direta de uma condição médica específica (DSM-IV-

APA, 2002).

Ainda, o DSM-IV (APA, 2002) salienta que pensamentos, impulsos,

imagens ou comportamentos recorrentes ou intrusivos podem ocorrer em

outros tipos de transtornos mentais. O TOC não é diagnosticado quando o

conteúdo relacionado a pensamentos ou atividades está interligado a outro

transtorno mental como, por exemplo, preocupação com a aparência

(Transtorno Dismórfico Corporal), preocupação com determinado objeto ou

situação (Fobia Específica ou Social), puxar cabelos (Tricotilomania), etc.

Conforme Torres (2006), geralmente, o diagnóstico do TOC é de fácil

identificação, porém, algumas vezes, pode confundir-se com outros transtornos

mentais. Por isso, serão destacados alguns transtornos que, muitas vezes,

assemelham-se com os sintomas do TOC, são eles:

• Depressão: assemelha-se com o TOC em relação a fatores como culpa,

auto-reprovação, indecisão, medo, preocupação excessiva, etc.

Também, pode aparecer em algumas pessoas com TOC a lentidão

obsessiva, que se assemelha ao estupor depressivo. Outro fator que

merece destaque são as ruminações obsessivas que são comuns na

depressão, e depressões são complicações que aparecem

frequentemente no TOC;

23 

 

• Fobias: comportamentos de esquiva aparecem tanto nas fobias como no

TOC, gerando em ambos uma limitação sócio-ocupacional variável.

Outra característica de ambos são os medos irracionais de certas

situações ou objetos específicos, com a presença de ansiedade

extrema. Na fobia, a resposta ansiosa é automática e ocorre diante de

situações ou de objetos temidos, já no TOC não há necessidade de

exposição real, basta um pensamento de alguma situação catastrófica;

• Hipocondria: a hipocondria apresenta a suspeita ou crença de se estar

com uma doença grave a partir da interpretação equivocada de sintomas

físicos, já no TOC há o medo de adoecer ou dúvidas em relação ao estar

ou não doente (obsessão);

• Transtorno Dismórfico Corporal: neste transtorno, os pacientes procuram

médicos dermatologistas e cirurgiões plásticos para tentar corrigir

supostos defeitos físicos, apresentando comportamentos de verificação e

evitação social. Já no TOC, as obsessões, geralmente, aparecem pelo

medo de vir a contaminar pessoas ou contaminar-se, podendo também

aparecer questões obsessivas em relação à aparência física;

• Transtornos de Tiques: os tiques são movimentos repetitivos de certos

grupos musculares que pode ser confundido com as compulsões.

Contudo, as compulsões geralmente são manifestadas devido a

ansiedade ou por medo, realizadas de forma voluntária com intuito de

prevenir alguma situação temida, enquanto os tiques buscam aliviar

alguma sensação ou incômodo de origem física;

• Síndrome de Tourette: são tiques vocais acompanhados de tiques

motores que podem também assemelhar-se às compulsões. Há também

uma comorbidade entre TOC e o transtorno de tourette, principalmente

em indivíduos com TOC que apresentam início precoce;

• Transtornos Alimentares: na bulimia, os atos compulsivos ocorrem

visando a busca do prazer, enquanto no TOC as compulsões envolvem

algum sacrifício, não sendo prazerosas em si. Já a anorexia nervosa

24 

 

apresenta sacrifícios extremos e comportamentos ritualísticos para evitar

alguma situação temida (ganhar peso). Devido a este fato, aproxima-se

mais do TOC em relação à ideias obsessivas. No TOC também pode

aparecer comportamentos alimentares em relação a certos rituais,

podendo confundir o diagnóstico

• Transtorno de Ansiedade Generalizada: neste transtorno as

preocupações referem-se aos aspectos reais do cotidiano, sem caráter

mágico ou ritualístico;

• Síndrome do Pânico: os sintomas físicos predominam, de acordo com a

interpretação catastrófica de sintomas e comportamentos de esquiva que

parecem com sintomas do TOC. Já indivíduos com TOC podem

apresentar também crises de pânico, derivadas de alguma obsessão ou

exposição a alguma situação temida;

• Transtorno de Estresse Pós-Traumático: com frequencia ocorrem

imagens mentais ou pensamentos intrusivos relacionados ao trauma

vivenciado, assemelhando-se à ideias obsessivas habitualmente

aparecidas no TOC;

• Transtornos Delirantes e Esquizofrênicos: o pensamento obsessivo e

comportamentos bizarros no TOC podem acarretar dúvidas diagnósticas

em relação aos transtornos delirantes. Alguns indivíduos com TOC

relatam também que as obsessões são uma espécie de

pseudoalucinações auditivas. Há casos raros onde indivíduos apresentam

reações psicóticas ou paranóides nas quais os pacientes deixam de

reconhecer os sintomas como absurdos.

         Ainda, o Manual de Transtornos Mentais citado anteriormente aponta que

um indivíduo deprimido que insiste em relação à sua falta de utilidade, por

exemplo, não é considerado obsessivo, uma vez que esta preocupação não é

ego-distônica. Outro indivíduo que sofre de ansiedade generalizada pode

caracterizar-se devido às suas excessivas preocupações, porém as mesmas

diferem das obsessões quando a pessoa as vivencia como excessivas em

25 

 

relação às circunstâncias da vida real. Se há presença de pensamentos

aflitivos e recorrente em relação a temores de vir a ter uma doença grave e

uma interpretação equívoca de sintomas somáticos, então tais sintomas se

enquadrariam no diagnóstico de hipocondria, ao invés do TOC. Todavia, se tal

preocupação de ser portador ou vir a ter uma doença vier acompanhada de

rituais, como comportamentos de verificação, então o diagnóstico do TOC pode

ser apontado.

Outros transtornos mentais que podem se diferenciar do diagnóstico do

TOC é a esquizofrenia que, por sua vez, também tem pensamentos delirantes,

ruminativos e comportamentos bizarros, porém distinguem-se das obsessões e

compulsões por não serem ego-distônicas nem sujeitos aos testes de

realidade. Já, em relação aos transtornos de tiques, os comportamentos

realizados são menos complexos e não visam neutralizar uma obsessão

(GUILHARDI & QUEIROZ, 2002).

Segundo Abreu & Prada (2004), o transtorno de personalidade obsessivo-

compulsiva (TPOC) e o transtorno de ansiedade obsessivo-compulsivo (TOC)

caracterizam-se por uma similaridade sintomatológica que fez com que muitos

pesquisadores e clínicos encontrassem altos índices de comorbidade entre tais

transtornos.

De acordo com o DSM-IV (APA, 2002), o TPOC pode ser caracterizado

como sendo uma preocupação excessiva com a organização, perfeccionismo e

controle mental e interpessoal. Os indivíduos portadores de tal transtorno de

personalidade são excessivamente cuidadosos e predispostos à repetição,

dando muita ênfase aos detalhes e verificando repetidamente possíveis erros.

Tais pessoas têm dificuldade em perceber que outras pessoas tendem a ficar

aborrecidas com atrasos ou inconvenientes resultantes de seu comportamento.

Indivíduos com transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva podem

ser definidos pelo fato de apresentarem um padrão permanente de

comportamentos ao longo de sua vida. Já, os portadores do transtorno

obsessivo-compulsivo são caracterizados por apresentarem um estado crônico

e homogêneo em que possuem pensamentos obsessivos, seguidos de

comportamentos compulsivos (WIDIGER & FRANCES 1992 apud ABREU &

PRADA,2004).

26 

 

O DSM-IV (APA, 2002) defende que o diagnóstico diferencial entre ambos

os transtornos é realizado de acordo com a ocorrência de obsessões e

compulsões do TOC e a não ocorrência do TPOC.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (2007), há algumas

controvérsias do DSM-IV e da CID-10 em relação às características

diagnósticas do TOC, são elas:

- DSM-IV:

• Inclui o TOC na categoria dos transtornos de ansiedade;

• Exige um tempo mínimo gasto em comportamentos ritualísticos e

pensamentos obsessivos (mais ou menos 1 hora/dia);

• Reconhece os atos mentais como compulsões.

- CID-10:

• Inclui o TOC na categoria das neuroses;

• Não exige um tempo mínimo gasto por dia em relação aos

comportamentos ritualísticos ou pensamentos obsessivos;

• A execução dos comportamentos compulsivos não deve ser prazerosa;

• Deve haver pelo menos um sintoma ao qual o indivíduo não consegue

resistir.

           Campos & Mercadante (2000) sugerem que a avaliação de crianças com

TOC pode ser feita através da semelhança entre os sintomas obsessivo-

compulsivos e os comportamentos repetitivos peculiares de algumas fases do

desenvolvimento, pois crianças dos dois aos quatro anos apresentam

repetições consideradas normais, por exemplo, pedir para contar uma história

da mesma forma durante várias vezes antes de dormir, organizar os alimentos

da mesma forma todos os dias antes de alimentar-se, só tomar banho se

estiverem com um brinquedo específico, entre outros. Ainda, estes autores

destacam que a partir dos seis anos de idade, os rituais se manifestam mais

através de brincadeiras grupais, por exemplo, os jogos possuem regras mais

rígidas, começam as coleções de diversos objetos, etc.

27 

 

Segundo Araújo (2006), até a década de 80, a avaliação do transtorno

obsessivo-compulsivo era afetada devido à falta de uma escala de avaliação de

sintomas mais precisa. Havia certas limitações dos instrumentos que eram

utilizados, pois não tinha especificidade e possuía um desrespeito as normas

psicométricas.

Ainda, Araújo (2006) destaca que pode-se dividir as escalas em auto-

avaliação e heteroavaliação.

- Escalas de auto-avaliação:

• Leyton obsessional inventory: essa escala possui um questionário

com 69 itens em relação aos sintomas mais relevantes e

características da personalidade presente no TOC. Também possui

escores para grau de interferência e resistência dos sintomas, tendo

uma variação de 0 a 3.

• Maudsley obsessional-compulsive inventory: esse inventário possui

30 itens com respostas dicotômicas (verdadeiro ou falso) que procura

investigar os sintomas mais relevantes do TOC, em especial os rituais

compulsivos. Seu escore varia de 0 a 30 e tem questões relacionadas

a agressividade, lavagem e checagem. Os pontos positivos de tal

inventário são sua brevidade, facilidade de administração, validade e

confiabilidade.

- Escalas de heteroavalição:

• CPRS-OCD (Comprehensive Psychopathological Rating Scale): é

uma escala que tem como subsídio uma entrevista clínica orientada.

Tem como objetivo avaliar mudanças em alterações psicopatológicas

específicas. Também avalia a sintomatologia obsessivo-compulsiva

como, por exemplo, os rituais, pensamentos compulsivos, falta de

concentração, tristeza, indecisão, etc.

• NIMH OC (National mental health obsessive compulsive scale): é uma

subescala que avalia a gravidade dos sintomas obsessivo-

28 

 

compulsivos e é utilizada geralmente em ensaios clínicos com

psicofármacos. Possui um único item avaliando numa escala de 1

(mínimo) a 15 (muito grave) com cinco categorias de gravidade

delineadas. São considerados evidência relevante da presença de

sintomas do TOC escores acima de 6. Os aspectos positivos desta

escala é a boa confiabilidade, validade e sensibilidade à mudança na

sintomatologia do TOC.

• Yale Brow (obsessive compulsive scale): essa escala foi desenvolvida

como um meio de medir a gravidade específica dos sintomas do TOC

e para ser utilizadas em ensaios clínicos. Sua escala de

heteroavalição possui 10 itens, cada um variando de 0 (sintomas) a 4

(muito grave), escore máximo de 40. Tanto as obsessões como as

compulsões são avaliadas semelhantemente, sempre tendo como

base a frequência, interferência com funcionamento, desconforto,

resistência e controle sobre o sintoma. Um dos fatores positivos da

utilização desta escala é que a mesma possibilita avaliar os efeitos do

tratamento sobre as obsessões e compulsões, separadamente.

Ainda este mesmo autor citado acima pontua ser de suma importância

que o avaliador verifique se os sintomas que serão avaliados são realmente os

sinais característicos do TOC e não sintomas referentes a outro transtorno

mental como, por exemplo, a fobia simples ou parafilias.

Para que haja um diagnóstico preciso em relação a este transtorno, é

necessário analisar se tais comportamentos (obsessões e compulsões)

causam interferência, sofrimento e incômodo para o paciente ou seus

familiares. O diagnóstico do TOC é clínico, não existindo nenhum exame

laboratorial ou radiológico da doença (CAMPOS & MERCADANTE, 2000).

De acordo com Souza & Daige (2003), o início do desenvolvimento do

TOC se dá na infância, adolescência e começo da vida adulta. Na maioria dos

casos o início é gradativo, porém pode ocorrer deste distúrbio apresentar graus

bastante agudos.

29 

 

Esses mesmos autores ressaltam que o TOC pode manifestar-se em

pessoas de qualquer sexo, idade, raça ou cultura. Não necessariamente os

comportamentos obsessivo-compulsivos representam uma doença. Há rituais

considerados normais como, por exemplo, práticas religiosas ou canções na

hora de dormir que fazem parte do cotidiano de muitas pessoas

A etiologia do TOC ainda não foi descoberta, porém muitos fatores

concorrem para seu surgimento. Provavelmente, fatores de natureza biológica,

genética, lesões cerebrais, fatores como a aprendizagem e, até mesmo

aspectos culturais podem contribuir para o surgimento desse transtorno

(CAMPOS & MERCADANTE, 2000).

Campos & Mercadante (2000) destacam que fatores de natureza

psicológica influenciam significativamente no surgimento, na manutenção e no

agravamento dos sintomas do TOC. Geralmente, os sintomas surgem após

algum estresse psicológico e conflitos psíquicos. Supõe-se ainda que fatores

ligados ao tipo de educação (mais ou menos severa ou exigente, incutindo

culpa ou não), ao tipo de cultura social e familiar, possam contribuir sob forma

de crenças e regras que fazem parte da vida da pessoa.

Segundo Banaco e Zamignani (2003), as preocupações inerentes que

rondam a vida do ser humano podem estar relacionadas com a cultura que o

mesmo está inserido. Ainda, estes autores pontuam que as obsessões mais

frequentes dizem respeito a problemas e conflitos do mundo contemporâneo.

Caballo (2003) aponta que embora alguns acontecimentos na vida dos

indivíduos possam estar relacionados com o aparecimento dos

comportamentos obsessivo-compulsivos, acredita-se que os pequenos

problemas do cotidiano sejam responsáveis pelas flutuações abrangidas nos

níveis sintomáticos. Tais problemas do dia-a-dia podem ser apontados como

desencadeadores indiretos, ligados ao agravamento dos sintomas, por

exemplo, ser criticado, ficar doente, medo de rejeição, excesso de

responsabilidade, indecisão, incapacidade de relaxar, doença ou morte de um

familiar, obrigações sociais, conflitos gerais, entre outras situações.

Para Matos & Tomanari (2002), o comportamento humano vive se

modificando e, por isso, o organismo vivo sofre diversas influencias em relação

às contingências filogenéticas (banco genético das espécies), ontogenéticas

30 

 

(repertórios do comportamento) e de aspectos culturais (vivencias de grupos

sociais).

          Nas palavras de Cordioli (2004, p. 193) “o TOC é um transtorno

heterogêneo, geralmente crônico, cujas causas podem envolver fatores de

ordem biológica e psicossocial”.

Os fatores que mais concorrem para o surgimento do TOC são a

educação repressora, traumas de origem infantil, cultura em que o indivíduo

está inserido, entre outros fatores de cunho psicossocial. No entanto, esse

transtorno de ansiedade é classificado como tendo sua etiologia influenciada

por fatores multideterminados, havendo uma predisposição ambiental e é por

isso que se deve considerar a questão ontogenética na construção de

conceitos relacionados ao surgimento do TOC (BANACO & ZAMIGNANI,

2003).

As pesquisas apontam que o TOC envolve problemas de comunicação

entre a parte frontal do cérebro (o córtex orbital) e as estruturas mais profundas

(os gânglios basais). Ainda, salientam que níveis insuficientes de serotonina

estejam relacionados com o aparecimento de tal transtorno (SOUZA & DAIGE,

2003).

Algumas técnicas de neuroimagens funcionais do cérebro de indivíduos

com TOC demonstraram que há uma disfunção no núcleo caudado, somado ao

córtex órbito-frontal e ao tálamo. Ainda, algumas pesquisas apontaram uma

hiperativação nas três estruturas citadas anteriormente. Tal hiperativação

mostrou ser uma das causas do desencadeamento de comportamentos

obsessivo-compulsivos. (GRAEFF, 2001).

Uma das hipóteses da fisiopatologia do TOC é que a neurotransmissão

serotoninérgica pode estar relacionada com os sintomas. Tal hipótese tem

como base a observação de que medicamentos aumentam a função

serotoninérgica como, por exemplo, os inibidores de recaptação da serotonina

(fluoxetina, sertralina, paroxetina, etc) (MARQUES, 2006).

Segundo Cordioli (2004), há aparelhos que propiciam, mediante o uso de

computador, visualizar o cérebro em funcionamento. Com tal recurso, tornou-se

possível identificar as zonas ativas, em repouso ou atividade (quando os

sintomas do TOC aparecem). Esses exames possibilitam a constatação de

31 

 

aumento da atividade cerebral em duas regiões do cérebro de indivíduos com

TOC quando comparadas com as regiões de indivíduos que não possuem TOC

(córtex frontal e gânglios ou núcleos de base).

          Ainda o autor citado acima aponta que os sintomas do TOC podem surgir

ainda em decorrência de doenças cerebrais tais como, encefalites,

traumatismos cranianos e acidentes vasculares. Os comportamentos

obsessivos e compulsivos também podem aparecer devido o uso de certos

medicamentos, como a risperidona e a clozapina.

Em relação ao fator genético, pode-se dizer que uma grande incidência do

TOC foi constatada em familiares de portadores comparados com a população

em geral. Por isso, o TOC geralmente é definido como uma doença familiar, em

que há pessoas da mesma família portadoras de tal transtorno. Também, um

aspecto que merece destaque é a comprovação de que em gêmeos idênticos,

a incidência é 20 a 40 vezes maior do que na população geral (CABALLO,

2003).

Cordioli (2004) traz como hipótese etiológica do TOC os fatores

psicológicos. Segundo esse autor, aspectos relacionados a aprendizagens

errôneas e crenças distorcidas, adquiridas em decorrência da educação, da

cultura, do ambiente, podem colaborar com o surgimento dos sintomas e,

sobretudo na sua manutenção. É em cima de tais fatores que a terapia

cognitivo-comportamental trabalha e tem como principal objetivo modificá-los.

3.4 Tratamento

Para o tratamento de transtornos mentais, em específico, do transtorno

obsessivo-compulsivo, geralmente são utilizados dois tipos de tratamento: o

psicoterapêutico e o farmacológico.

Há diversos tratamentos psicoterapêuticos para a intervenção dos

sintomas do TOC e é dentro destes que se destaca a terapia cognitivo-

comportamental.

3.4.1 Terapia cognitivo-comportamental

32 

 

           De acordo com Rangé et al (1998), a terapia cognitiva é um sistema

psicoterapêutico que tem como subsídio o modelo cognitivo, segundo o qual

fatores como a emoção e o comportamento são determinados conforme a

maneira que o indivíduo interpreta o mundo.

A terapia cognitivo-comportamental é um termo genérico que envolve

mais de 20 abordagens inseridas no modelo cognitivo e cognitivo-

comportamental. Os primeiros paradigmas sobre o tratamento de transtornos

mentais desse modelo surgiram nos anos de 1960 e 1970 e teve como

precursor, o psiquiatra Aaron Beck que defendia que era de fundamental

importância um trabalho conjunto entre terapeuta-paciente, para que pudesse

realizar um trabalho de identificação, observação e correção de distorções do

pensamento que trouxessem de alguma forma algum tipo de desconforto e

sofrimento emocional ao indivíduo. (KNAPP, 2004)

Ainda Knapp (2004) aponta três teorias fundamentais que definem as

características de tal terapia, a primeira (a atividade cognitiva afeta o

comportamento), a segunda (essa atividade pode ser alterada e monitorada) e

a terceira (a mudança comportamental pode ser afetada pela mudança

cognitiva).

Muitos pensamentos passam diariamente na cabeça das pessoas, alguns

desses pensamentos passam despercebidos, outros não. É muito comum que

as pessoas interpretem e avaliem as situações que acontecem com elas,

porém alguns problemas aparecem pelo fato de haver uma interpretação de

eventos inadequados e isso gera como efeito um comportamento impróprio

(KNNAP, 2004).

          De acordo com o autor acima, há muitos tipos de distorções cognitivas,

são elas:

- Catastrofização: ter um pensamento de que algo ruim vai acontecer. Por

exemplo: “Se eu perder meu emprego será o meu fim”;

- Raciocínio emocional: deixar que as emoções guiem a interpretação de fatos.

Por exemplo: “eu sinto que minha namorada não gosta mais de mim”;

- Polarização: percepção dos eventos em termos absolutos. Por exemplo: “deu

tudo errado no trabalho hoje”;

33 

 

- Abstração seletiva: um aspecto de um determinado momento é o foco de

atenção, enquanto aspectos verdadeiramente relevantes de tal momento

vivenciado são ignorados. Por exemplo: “a avaliação do meu chefe foi péssima”

(dando ênfase apenas a um comentário negativo feito pelo chefe e deixando de

lado os comentários positivos);

- Adivinhação: prever o futuro. Por exemplo: “a viagem não será boa”;

- Leitura mental: acreditar, sem evidências, que sabe o que a outra pessoa está

pensando. Por exemplo: “ele não gostou do meu trabalho”;

- Rotulações: colocar um rótulo global, rígido em si mesmo, numa pessoa ou

situação em vez de rotular apenas o comportamento em questão. Por exemplo:

“sou incompetente”;

- Desqualificação do positivo: desvalorizar as experiências positivas e

qualidades que confrontam com a visão negativa por que são triviais. Por

exemplo: “ele só elogiou meu trabalho por que deve estar com pena”;

- Minimização e maximização: são minimizadas as características positivas do

indivíduo ou de outro, enquanto as características negativas são maximizadas.

Por exemplo: “eu tenho um ótimo emprego, mas muitas pessoas também têm”;

- Personalização: assumir responsabilidade ou culpa para eventos negativos.

Por exemplo: “o chefe está com a cara feia, deve ser por que fiz algo errado”;

- Hipergeneralização: notar num evento específico um padrão universal. Por

exemplo: “eu não me dou bem com as mulheres”;

- Imperativos (“deveria”, “tenho que”): realizar uma interpretação dos eventos

em termos de como as coisas deveriam ser ao invés de encarar as coisas

como realmente são. Por exemplo: “eu tenho que ter controle sobre tudo”;

- Vitimização: considerar-se injustiçado ou incompreendido. Por exemplo:

“meus filhos não me agradecem pelo que faço por eles”;

- Questionalização (e se?): dar ênfase naquilo que poderia ter sido e não foi.

Por exemplo: “se eu não tivesse viajado, isso não teria acontecido”.

Segundo Hawton et al (1997), as distorções cognitivas (forma como o

indivíduo interpreta suas experiências) são bastante prevalentes em diversos

transtornos. Tais distorções podem levar o indivíduo a conclusões errôneas

mesmo quando sua percepção de alguma situação já esteja acurada. Por isso, a

34 

 

terapia cognitiva tem como principal objetivo corrigir as distorções de

pensamento.

Mais uma vez Knapp (2004) pontua que há três fatores cognitivos que a

terapia cognitiva procura identificar e trabalhar, são eles:

- Crenças nucleares: são ideias e julgamentos mais profundos e importantes

em relação a si próprio, às pessoas e ao ambiente em que está inserido. Tais

crenças se formam pelas experiências de aprendizado e criam consistência ao

longo da vida, moldando a percepção e a interpretação dos acontecimentos,

modelando o aspecto psicológico de ser do indivíduo. Caso não haja ações que

corrijam tais crenças disfuncionais, o indivíduo irá concretizá-las como

verdades absolutas e inalteráveis;

- Pressupostos subjacentes: as construções cognitivas disfuncionais são

subjacentes aos pensamentos automáticos. Em outras palavras, pode-se dizer

que são as regras, normas e atos que o indivíduo segue e que orienta a

conduta do mesmo. Cabe destacar que esses pressupostos encontram-se

presentes em muitas situações existenciais. Geralmente, os pressupostos

subjacentes podem ser identificados na forma condicional (se...então...), por

exemplo, “se eu realizar o que os outros querem, então não ficarão

decepcionados comigo”;

- Pensamentos automáticos: são situações que podem ser ativadas por

eventos externos ou internos. Esses pensamentos aparecem

espontaneamente, são aceitos como verdadeiros, estão relacionados com

emoções especificas, geralmente são breves e rápidos, de forma telegráfica, e

podem ocorrer verbalmente ou de forma imaginária;

Há três tipos de pensamentos automáticos em relação à validade e

utilidade, são eles: distorcidos (ex. “se me separar, nunca mais serei feliz”),

acurados com conclusões distorcidas (ex. “meu filho não me ligou até agora,

deve estar bravo comigo”), acurados, porém totalmente disfuncionais (BECK,

1995 apud KNAPP, 2004).

Segundo Costa (2002), as técnicas cognitivo-comportamentais visam a

correção das crenças disfuncionais, conforme sua identificação e contraposição

35 

 

à realidade. Já o pressuposto consiste na ideia de que a correção das crenças

levará o indivíduo a lidar com seus problemas e limitações.

          Ainda, a TCC usa técnicas comportamentais, sendo que tal utilização tem

como objetivo último alterar e substituir cognições. Dessa forma, ela serve para

estimular cognições ligadas ao comportamento e, geralmente, são usadas no

começo do tratamento, em casos mais graves, pois são técnicas mais ativas

(BECK & COLS, 1979 apud COSTA, 2002).

Como já foi explicitado acima, a TCC tem como intuito modificar o

pensamento. Cabe destacar que as emoções também devem ser trabalhadas

no decorrer do tratamento cognitivo, pois sem a presença de afeto, a

reestruturação cognitiva do paciente não irá ocorrer. Os pensamentos

automáticos, pressupostos subjacentes e as crenças nucleares juntamente

com o humor na cognição relacionam-se para criar um ciclo autoperpetuador

que posso ser observado em todos os transtornos. Caso os pensamentos

automáticos sejam evocados por fatores externos ou internos negativos, ou se

o humor for desenvolvido por aspectos bioquímicos, esse mesmo ciclo estará

presente. Dessa forma, a cognição possui um papel e um foco fundamental em

relação à intervenção a ser feita (KNAPP, 2004).

Para Campos (2001), a melhor maneira de intervenção dos

comportamentos obsessivo-compulsivos na infância é a terapia cognitivo-

comportamental que diminui os sintomas e os riscos de recaída, devendo ser

considerado o melhor tratamento para crianças com TOC.

Knnap (2004) coloca que na terapia cognitiva, o terapeuta procura guiar o

paciente para a descoberta. O terapeuta não resolve problemas, tampouco

persuade o paciente em relação à incorreção dos pensamentos. Para tanto, o

terapeuta realiza um simples questionamento, incluindo perguntas com

respostas abertas. Assim, o terapeuta orienta o paciente para que o mesmo

compreenda seus problemas e, dessa forma, busque possíveis soluções e

construa um plano para trabalhar tal dificuldade.

Ainda Knnap (2004) pontua que uma das primeiras intervenções da TCC é

ensinar o paciente a identificar seus pensamentos automáticos e a reconhecer

os efeitos que eles produzem sobre a emoção e o comportamento e a

responder efetivamente a tais pensamentos que produzem essa dificuldade.

36 

 

           O autor citado acima destaca que a TCC ajuda o paciente a identificar e

alterar sua forma distorcida em relação ao seu pensamento, bem como as

emoções que tais pensamentos provocam, usar formas alternativas, mais

funcionais, de pensar e se comportar frente às ocasiões em que está

submetido, reestruturar crenças nucleares, resolver dificuldades, criar

estratégias e habilidades de enfrentamento e, por fim, prevenir recaídas.

Um meio de iniciar um tratamento se dá pela avaliação cognitivo-

comportamental que consiste na discussão do terapeuta com o paciente sobre

a formulação dos problemas a serem tratados e na obtenção de informações

detalhadas relacionadas aos aspectos que mantêm o problema (hipótese

diagnóstica) para que, dessa forma, se possa elaborar um plano de tratamento.

Tal plano de tratamento deve ser apresentado ao paciente antecipadamente

para que se estabeleça metas a curto, médio ou longo prazo (CORDIOLI,

2004).

O paciente deve ser informado no decorrer da avaliação sobre a forma de

tratamento de tal abordagem, indicando ao paciente que boa parte de tal

tratamento é uma auto-ajuda e que o foco do tratamento é acompanhar o

mesmo e estimulá-lo a desenvolver habilidades para superar suas dificuldades

presentes e futuras. O paciente deve se sentir seguro para que consiga revelar

informações importantes, pois dessa forma o processo terapêutico será

facilitado por causa da cordialidade e confiança depositada no terapeuta. É de

suma importância a presença de empatia do terapeuta com o paciente e deixar

sempre claro ao último que seu papel é ajudá-lo a superar as dificuldades

existentes (HAWTON et al, 1997).

Este mesmo autor destaca que o primeiro passo da entrevista inicial deve

ser a entrevista com perguntas abertas (ex, “você poderia me contar sobre

seus problemas”?). O terapeuta deve buscar indícios de prováveis ligações

funcionas, por exemplo, acontecimentos que podem desenvolver certos

pensamentos ou comportamentos. Caso seja muito denso o problema

obsessivo e o paciente traga muitas informações, pode ser favorável direcionar

a entrevista com perguntas como, por exemplo, “gostaria que você me falasse

um pouco mais sobre esses pensamentos desconcertantes que passam pela

sua cabeça”. Feita a entrevista inicial, pode-se partir para uma entrevista mais

37 

 

detalhada que levante fatores cognitivos (forma das obsessões, pensamentos,

imagens, impulsos, fatores cognitivos que desenvolvam as obsessões, 

neutralização cognitiva, falta de sentido, entre outros), emocionais (natureza

das mudanças de humor ligadas às obsessões), fisiológicos (desencadeantes,

mudanças fisiológicas existentes) e comportamentais (desencadeantes do

pensamento obsessivo, evitação manifesta, rituais manifestos) do problema em

questão.

Pode-se dizer que as características de tal abordagem psicoterápica é a

sua forma ativa (paciente e terapeuta interagem no sentido de solucionar

problemas e permite que o paciente consiga identificar e modificar seu

comportamento), diretiva (os problemas são trabalhados no presente),

educativas (o terapeuta possibilita ao paciente um conhecimento do seu

problema e do modelo cognitivo a ser trabalhado), estruturada (as sessões têm

sequência estabelecida antecipadamente), de prazo limitado (as sessões

variam conforme a demanda) e utilização de tarefas de casa (o paciente pode

realizar suas tarefas psicoterápicas no consultório e em sua casa, com

acompanhamento do terapeuta para melhor efetividade) (RANGÉ et al, 1998).

O término do tratamento se dá quando o paciente atingir seus objetivos da

lista de problemas montada no começo da terapia, sempre observando o

progresso das situações. Após o trabalho de prevenção de recaída, o paciente

e o terapeuta decidem diminuir o número das sessões, gradativamente. Assim,

o final do tratamento não é tão impactante, criando uma possibilidade de

descobrir como o paciente lida com tais situações sem acompanhamento direto

do terapeuta (KNNAP, 2004).

Como já foi apresentada, a TCC procura trabalhar com a modificação do

pensamento do indivíduo e é dentro deste modelo de terapia que se pode

destacar algumas técnicas que lidam com os sintomas do TOC, por exemplo, a

elaboração de uma lista hierárquica de tarefas, a técnica de exposição e

prevenção de resposta, a técnica de exposição em imaginação e a modelagem.

3.4.1.1 Lista hierárquica de tarefas

38 

 

         Logo após a conclusão da avaliação, é elencada uma lista de hierarquia

dos sintomas, tendo como referência as obsessões e rituais realizados pelo

paciente. Então, levanta-se as obsessões e compulsões mais simples ou mais

complexas presentes no cotidiano do mesmo. Tal avaliação pode ser feita de

acordo com o grau de desconforto ou dificuldade que tem em evitá-las, ou

ainda, pelo tempo que consomem (CORDIOLI, 1998).

Mais uma vez, Cordioli (1998) destaca que com base na lista, irá ser

reavaliado o problema, levando em conta o que mais incomoda e o que

gostaria de estar trabalhando primeiro. Comportamentos do cotidiano como

lavar as mãos e não tocar em maçanetas ou tomar banho e não sair mais de

casa pode ser exemplos a serem trabalhados primeiro.

3.4.1.2 Exposição e prevenção de resposta (EPR)

Muitas pesquisas foram realizadas até chegar nesta técnica e os

resultados apontaram que a ansiedade e o medo patológico eram resultados

de aprendizagens equivocadas e que se trabalhados poderiam ser

desaprendidos. Os sintomas do TOC ocorreriam em dois estágios: o medo e a

aflição teriam como origem os estímulos internos, já os pensamentos intrusivos

seriam consequência de experiências traumáticas (GUILHARDI & QUEIROZ,

2002).

O tratamento de obsessões acompanhadas por comportamento

compulsivo manifesto pode ser realizado através da exposição e prevenção da

resposta. Os procedimentos utilizados são a exposição definida a todas as

situações evitadas pelo indivíduo, exposição direta aos estímulos temidos e a

prevenção de rituais compulsivos e comportamentos neutralizantes (que

diminuam a ansiedade) (HAWTON et al, 1997).

Uma técnica da TCC para a intervenção do TOC baseia-se na

constatação de que, se o paciente desafiar seus medos, por exemplo,

expondo-se às situações que evita ou tocando nos objetos que considera

contaminado (exposição) e, ao mesmo tempo, deixa de realizar rituais de

descontaminação ou verificação (prevenção da resposta), embora num

primeiro momento a aflição aumente, em pouco tempo ela tende a diminuir até

39 

 

desaparecer por completo, espontaneamente (habituação). Repetindo tais

exercícios, os medos de tocar em coisas sujas ou contaminadas, de fazer

verificações ou a necessidade de realizar rituais acabam desaparecendo por

completo (CORDIOLI, 2004).

Cordioli (1998) salienta também que são escolhidas tarefas para cada

semana, recomendando para o paciente que o mesmo repita o número máximo

de vezes que conseguir e que quando estiver em contato com objetos que

considere sujo ou contaminado que mantenha esse contato até que a

ansiedade desapareça e que o objeto que antes evitava torne-se neutro. Os

exercícios podem durar de 15 a 30 minutos de duração e, de duas a seis horas

semanais, buscando sempre evitar a realização de qualquer tipo de compulsão

(rituais).

Guilhardi & Queiroz (2002) ressaltam que algumas técnicas utilizadas

como a parada de pensamento e controle de obsessões por meio de punição

por elásticos e outras não se mostram eficazes , ou só por pouco tempo,

tendendo voltar depois de um tempo. Essa ideia foi defendida pelo fato de que

tais técnicas não abordam de forma direta a base do problema como, por

exemplo, os erros de interpretação.

Essas técnicas não são uma prática típica de consultório, por isso o

terapeuta pode fornecer exercícios de exposição para serem praticados pelo

paciente por conta própria, instruindo-o apropriadamente ao final de cada

sessão. A casa do paciente, seu local de trabalho e os outros lugares onde os

rituais são realizados, podem servir como locais para realizar a maior parte da

terapia, sempre orientada pelo terapeuta. Uma equipe formada por um

enfermeiro, um amigo, o cônjuge ou outro membro da família do paciente

também pode colaborar como supervisores desta situação (CAMPOS &

MERCADANTE, 2000).

3.4.1.3 Exposição em imaginação A técnica de EPR citada acima é muito eficaz em relação ao

comportamento compulsivo, porém é muito difícil ou até impossível para o

40 

 

tratamento das obsessões. Devido a isso, muitas técnicas foram criadas para

trabalhar com os sintomas obsessivos (CORDIOLI, 1998).

Segundo Cordioli (1998), uma das técnicas de exposição em imaginação

consiste em expor o paciente em imaginação aos estímulos que provocam

algum tipo de ansiedade. Pode requerer ao paciente que o mesmo escreva um

texto que contenha todos os seus pensamentos catastróficos, relatando da

maneira mais real que puder. Depois desta etapa, solicita-se que o paciente

leia esse texto várias vezes ao dia. Outro recurso que pode ser utilizado nesta

técnica é gravar numa fita os pensamentos obsessivos e escutar durante algum

tempo. Isso produzirá o aumento da ansiedade que com o decorrer do tempo

tenderá a diminuir.

3.4.1.4 Modelagem Consiste na realização por parte do terapeuta em fazer exercícios de

demonstração de exposição e prevenção de resposta na frente do paciente.

Desta forma, o paciente observaria seu terapeuta fazer certos atos (segurar a

maçaneta da porta, encostar a mão na sola do sapato, pegar uma seringa na

mão, etc.) e isso contribuiria para reduzir ou desaprender certos medos.

Salienta-se também que a aflição é menor na presença de outra pessoa. Tal

exercício propicia trabalhar de forma didática o fenômeno da habituação,

porque geralmente a ansiedade, forte inicialmente, irá desaparecendo no

decorrer da sessão (KNAPP, 2004).

Cordioli (1998) aponta que essa mesma técnica pode ser realizada no

domicílio do paciente ou com pessoas o acompanhando nos lugares que julga

perigoso ou que evita frequentemente.

Em alguns casos, solicita-se ao paciente que aguarde na sala de espera

até duas horas, para que propicie uma garantia de que o mesmo conseguiu

superar certos impulsos referentes à realização dos rituais de descontaminação

(CORDIOLI, 1998).

Segundo Caballo (2003), como em qualquer outro tratamento

psicoterápico, há risco de recaída no TOC. Para tanto, é necessário haver um

aumento no período de tempo entre as sessões e proporcionar um contato

41 

 

entre paciente-terapeuta para que o primeiro aprenda a reagir de maneira

adequada em situações novas.

Ainda, este mesmo autor destaca que as informações necessárias sobre

recaída sejam identificadas e anotadas em documento para que o paciente

possa guardá-las. Tais informações incluiriam:

• Proporcionar uma compreensão clara do modelo proposto e como

o estado de ânimo pode influenciar e modificar o mesmo, possibilitando

ao paciente um melhor entendimento em relação às mudanças dos

sintomas para que, se necessário, possa identificar os primeiros sinais

de recaída;

• Deixar claro ao paciente que o mesmo estará sujeito a ocasiões

que podem aumentar sua ansiedade, por exemplo, uma viagem

inesperada, situações de “azar”, férias, etc.

• Elaborar uma lista de instruções escritas caso haja a recaída, com

as seguintes frases: não entre em pânico, repasse o modelo, não dê

importância aos pensamentos, não empregue elementos

neutralizadores, nem comportamentos de evitação, faça práticas de

exposição, analise as situações chave, identifique estímulos

estressantes e aplique a solução de problemas, procure ajuda se

necessário, identifique o que você fazia quando as coisas iam melhor e o

que você deixou de fazer, considere as recaídas como uma

oportunidade para por a teoria em prática e manter-se em dia, mas não

considere como sendo um fracasso.

3. 4. 2 Tratamento farmacológico

        Segundo Guilhardi & Queiroz (2002), é evidente a contribuição

medicamentosa para o tratamento de indivíduos portadores do TOC,

especialmente os bloqueadores da recaptação da serotonina. Como já foi

citada anteriormente, a psicoterapia também é de fundamental importância,

42 

 

demonstrando um importante fator para o tratamento e favorecendo a utilização

de menores doses da droga, propiciando assim, menores efeitos colaterais. Os medicamentos farmacológicos também são usados quando necessários no

tratamento do TOC. Os mais utilizados são a fluoxetina, fluvoxamina, sertralina,

paroxetina que trabalham como inibidores da recaptação da serotonina (ISRS),

contribuindo para a diminuição dos sintomas e afetando com menos

intensidade os neurotransmissores para que, assim, haja uma diminuição dos

efeitos colaterais (MARQUES, 2006).

A utilização dos inibidores da recaptação da serotonina (5-HT) reduzem os

sintomas do transtorno obsessivo-compulsivo. Um dos primeiros fármacos a

ser utilizado na intervenção do TOC foi a clomipramina. Esse medicamento tem

grande afinidade pelo sítio da recaptação de serotonina e baixa afinidade pelo

sítio correspondente da noradrenalina (NA). Entretanto, seu metabólito inibe a

recaptação de noradrenalina. Dessa forma, a clomipramina não pode ser vista

como um verdadeiro inibidor seletivo da recaptação da serotonina, quando

administrada de forma contínua (GRAEFF, 2001).

Marques (2006) destaca que em muitas pesquisas realizadas, a

clomipramina foi considerada o fármaco mais eficaz em relação aos ISRS,

porém o perfil dos efeitos colaterais dos ISRS era mais benigno. As doses de

medicamentos variam conforme o paciente e seus sintomas, mas geralmente a

dose diária da clomipramina é de 100mg a 250 mg, sertralina é de 75mg a

225mg, fluoxetina é de 20mg a 80mg e paroxetina é de 20mg a 60 mg.

Cordioli & Souza (2005) enfatizam que a clomipramina e os inibidores

seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), são considerados os fármacos

mais importantes mo tratamento farmacológico do TOC. Ressaltam, ainda, que

as doses devem iniciar em baixas doses e, no decorrer da utilização, aumentar

gradativamente, se necessário, sempre levando em conta a tolerância aos

efeitos colaterais.

Os autores citados acima pontuam que os medicamentos antidepressivos

também possuem ação anti-obsessiva como, por exemplo, a sertralina,

fluoxetina, fluvoxamina, citalopram. No entanto, o medicamento mais utilizado

no tratamento das obsessões é o cloridrato de clomipramina, porém os efeitos

colaterais são mais fortes. As reações adversas mais comuns ao utilizar este

43 

 

medicamento é o aumento de peso, boca seca, obstipação intestinal, tontura,

aumento da pressão intra-ocular, anorgasmia, convulsões (quando utilizado em

doses altas), alteração na pressão arterial, entre outros.

Já os ISRS, são melhores tolerados em relação aos efeitos colaterais,

embora não livres (diarréia, náuseas, dor de cabeça, etc). Campos (2001)

salienta que apesar dos antidepressivos terem menos efeitos colaterais, deve-

se fazer uma reavaliação medicamentosa, pois caso o paciente seja idoso, a

diarréia pode causar desidratação com mais facilidade.

Graeff (2001) enfatiza que evidências demonstraram que o fármaco

imipramina é menos eficaz que o fármaco clomipramina no tratamento do TOC.

Já em relação ao transtorno depressivo unipolar, a ação terapêutica destes

dois fármacos é igual. A imipramina trabalha inibindo a recaptação de

serotonina e noradrenalina, porém, segundo algumas pesquisas, a inibição de

recaptação de noradrenalina no tratamento do TOC não é necessária, uma vez

que já foi comprovado a eficácia dos antidepressivos que trabalham inibindo

somente a recaptação da serotonina no tratamento de tal transtorno.

Cordioli (2004) defende que tais medicamentos reduzem os sintomas

obsessivo-compulsivos. Esses medicamentos elevam os níveis de uma

substância produzida pelo próprio cérebro, um neurotransmissor chamado de

serotonina que tem como função trabalhar na transmissão de impulsos

nervosos. Os fármacos atuam no bloqueio do transporte (recaptação) da

serotonina para dentro das células nervosas, local onde ela é normalmente

destruída. Dessa forma a disponibilidade no espaço existente entre um

neurônio e outro aumenta e, como consequência, favorece a transmissão dos

impulsos nervosos de uma célula para outra.

Ainda, Marques (2006) aponta que deve-se procurar iniciar o tratamento

com doses baixas e subir lentamente de acordo com a tolerância de cada

paciente. Dessa forma, os efeitos colaterais serão diminuídos e haverá tempo

para o surgimento da tolerância.

Campos (2001) também enfatiza que a utilização de ISRS deve ser

iniciada com doses baixas e aumentos gradativos. Para que haja uma

avaliação de sua eficácia, a medicação deve ser mantida durante três meses

em dose máxima. Conforme houver a redução dos sintomas, pode-se reduzir a

44 

 

dose de manutenção após seis meses e tentar sua suspensão após um ano e

meio.

A duração do tratamento varia de paciente para paciente, pois irá

depender da sensibilidade do mesmo. Geralmente, os pacientes começam a

responder ao tratamento após, aproximadamente, oito semanas ou mais

(CAMPOS & MERCADANTE, 2000).

O tratamento farmacológico é mais eficaz se aliado a psicoterapia, pois

ao fazer uso somente do fármaco, haverá mais chances de intolerâncias aos

efeitos colaterais e recaídas. Entretanto, nota-se que os medicamentos são a

alternativa mais escolhida de pacientes que apresentam comportamentos

obsessivos e rotinas de vida comprometidas (CORDIOLI & SOUZA, 2005).

A introdução de medicamentos em crianças portadoras do TOC deve ser

feita em último caso, por exemplo, se houver risco de suicídio, presença de

quadros co-mórbidos associados ou quando o nível de ansiedade estiver

atrapalhando a terapia cognitivo-comportamental (CAMPOS, 2001).

45 

 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho levantou na literatura disponível, materiais referentes

ao transtorno obsessivo-compulsivo, mais especificamente, assuntos a respeito

das características, diagnóstico, etiologia e tratamento. Por isso, conclui-se que

os objetivos foram atingidos, pois a pesquisa realizada apresentou material

suficiente para desenvolver as conclusões feitas no decorrer deste último

capítulo. Ao pesquisar sobre o transtorno obsessivo-compulsivo, preocupou-se em

descrever as suas características, definições, etiologia, diagnóstico e

tratamento, que é indubitavelmente fundamental para o melhor entendimento

desta psicopatologia.

Pode-se dizer que uma pessoa considerada normal é aquela que possui

uma capacidade de percepção em relação ao ambiente em que está inserida,

tendo consciência de seu atos e capacidade de interação com outras pessoas

de maneira afetiva. Pessoas que são consideradas anormais são aquelas cujas

características não se enquadram nas citadas anteriormente.

Há muito tempo, o transtorno obsessivo-compulsivo era conhecido como

uma “possessão demoníaca” devido aos pensamentos intrusivos,

principalmente os relacionados à religião e devido aos comportamentos

compulsivos considerados bizarros. Foi no começo do século XX que se iniciou

as tentativas para explicar a origem real de tal transtorno.

Todas as pessoas passam em algum momento de suas vidas por certos

medos e preocupações e são obrigadas a conviverem com tais situações que

são naturais dos seres humanos. Entretanto, quando tais preocupações e

medos tornam-se exageradas e excessivas, ocupando e limitando o tempo e a

rotina da pessoa, tais comportamentos podem fazer parte dos sintomas do

TOC.

Para o DSM-IV (APA, 2002), o TOC é caracterizado pela presença de

obsessões, ou seja, ideias, pensamentos, impulsos e imagens persistentes e

intrusivas que causam desconforto ao individuo. Já as compulsões podem ser

46 

 

caracterizadas como sendo os comportamentos repetitivos e atos mentais que

têm como finalidade diminuir a ansiedade causada pelas obsessões.

O transtorno obsessivo-compulsivo interfere de maneira significativa na

rotina das pessoas diagnosticadas com tal. Apesar dos estudos realizados pela

ciência, ainda não pode ser esclarecida suas verdadeiras causas.

Possivelmente é influenciado por fatores psicológicos, socioculturais e

biológicos. O TOC pode manifestar-se em pessoas de qualquer sexo e com

idades variadas, tendo como inicio, geralmente, na fase da adolescência.

Em relação às características clínicas, o TOC sobrepõe às de vários

outros tipos de transtornos mentais e o diagnostico diferencial pode ser bem

complexo. Alguns transtornos como a depressão, fobias, tiques, transtorno pós-

traumático, síndrome do pânico, entre outros, têm características semelhantes

ao TOC. Todavia, realizar um diagnóstico de maneira correta é de fundamental

importância, uma vez que é através dele que será feito o planejamento e a

efetivação adequada das abordagens terapêuticas.

Há muitas maneiras de realizar o diagnóstico do TOC e uma se dá

através de escalas de auto-avaliação que possibilitam uma avaliação precisa

dos sintomas e de sua intensidade em relação à ansiedade provocada por tal

transtorno. O uso de escalas proporciona uma melhor qualidade e refinamento

das avaliações diagnósticas ou ainda possibilita um acompanhamento das

condições clínicas do paciente portador do TOC.

O diagnóstico do transtorno obsessivo-compulsivo só será preciso se

houver a análise de tais comportamentos obsessivo-compulsivos. Caso seja

percebido que tais comportamentos ocasionam limitações e interferência na

vida dos indivíduos, a partir daí será dado o diagnóstico.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (2007), o manual CID-

10 aponta que o TOC enquadra-se na categoria das neuroses, já para o DSM-

IV, o TOC enquadra-se nos transtornos de ansiedade. Tal controvérsia levanta

a questão da ansiedade no TOC, uma vez que para alguns pesquisadores o

TOC pode classificar-se no quadro dos transtornos de humor, deixando esta

questão aberta para estudos.

47 

 

Há dois tipos de tratamento para o TOC, considerados muito eficazes. Tal

tratamento é o conjunto de psicoterapia e medicamentos. A psicoterapia irá

trabalhar as disfunções cognitivas do comportamento do indivíduo, focando nos

sintomas obsessivo-compulsivos. Já o tratamento farmacológico irá trabalhar

como inibidor da recaptação da serotonina, diminuidor da ansiedade.

Os medicamentos mais utilizados no tratamento do TOC são os inibidores

seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), como a fluoxetina, sertralina,

fluvoxamina, paroxetina, etc. Entretanto, o fármaco que mais apresentou

diminuição dos sintomas obsessivo-compulsivos foi a clomipramina, porém

apresentou também maiores efeitos colaterais em relação as ISRS. Os

fármacos ISRS são melhores tolerados em relação aos efeitos colaterais, no

entanto não estão isentos de tais.

Muitas abordagens terapêuticas são utilizadas no tratamento do

transtorno obsessivo-compulsivo, porém observou-se que a terapia cognitivo-

comportamental apresenta maior indicação, devido aos métodos objetivos e

com resultados em curto prazo.

Em relação à terapia cognitivo-comportamental, pode-se dizer que a

mesma se mostrou eficaz em reduzir os sintomas do TOC, devido ao seu

método terapêutico que visa a modificação de pensamento do indivíduo. Ainda,

tal terapia apresenta técnicas como exposição e prevenção de respostas que

demonstram ser eficazes em pacientes com obsessões de sujeiras, rituais de

limpeza e evitações. Ainda, tal abordagem cognitiva auxilia na adesão de

exposição e prevenção de resposta em pacientes com ideias supervalorizadas.

A terapia cognitivo-comportamental auxilia o paciente a identificar e

modificar certas distorções em relação ao seu pensamento, bem como as

emoções que esses pensamentos causam, usar formas alternativas, mais

funcionais, em relação ao pensamento e a maneira de se comportar diante de

situações em que está submetido, reestruturar crenças nucleares, lidar com as

dificuldades, inventar estratégias e habilidades de enfrentamento e, finalmente,

trabalhar com uma possível recaída.

Percebeu-se ainda, um alto grau de dificuldade, por parte dos familiares

de portadores do TOC em reconhecer tal desordem do comportamento que

geralmente, é bastante oculta, no entanto, hoje em dia os transtornos mentais

48 

 

vêm sendo diagnosticados de forma precisa e precoce, o que possibilita uma

contribuição positiva para um prognóstico satisfatório.

Deste modo, apesar do TOC ter sido descrito há mais de um século e de

ter sido publicada várias pesquisas até o momento, ainda este transtorno é

considerado uma incógnita e por isso que se deve dar uma atenção especial

em relação aos estudos dos fatores etiológicos, diversidade dos sintomas e os

tratamentos utilizados para que haja uma descoberta em relação à possível

cura de tal transtorno.

Sendo assim, sugere-se aos estudantes de Psicologia que procurem

observar, na teoria e na prática, aspectos referentes aos transtornos mentais,

para que possibilite um melhor nível de conhecimento para o futuro exercício

profissional. Também, sugere-se aos profissionais que atuam na área da

saúde, que aprofundem suas pesquisas referentes ao transtorno obsessivo-

compulsivo, pois apesar de muitos escritos sobre o TOC, percebeu-se a

literatura deve estar sempre em atualização, pois como já foi apontado por

Campos & Mercadante (2000), o TOC é em si um conceito e por isso poderá

sofrer modificações nos próximos anos. Dessa forma, haverá uma contribuição

no nível de conhecimento tanto para estudantes e profissionais, como para

portadores do TOC, bem como as pessoas que convivem com os mesmos.

49 

 

5. REFERÊNCIAS

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