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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
CURSO DE MESTRADO ACADÊMICO EM ADMINISTRAÇÃO
CAROLINA MARIA FURTADO MATOS
A INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA NO DESENVOLVIMENTO
DA AUTOEFICÁCIA E COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS
BIGUAÇU - SC
2018
CAROLINA MARIA FURTADO MATOS
A INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA NO DESENVOLVIMENTO
DA AUTOEFICÁCIA E COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
Acadêmico em Administração da Universidade
do Vale do Itajaí, como requisito à obtenção do
título de Mestre em Administração.
Orientadora: Profª Drª Suzete Antonieta Lizote
BIGUAÇU - SC
2018
A INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO EMPREENDEDORA NO DESENVOLVIMENTO
DA AUTOEFICÁCIA E COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS
CAROLINA MARIA FURTADO MATOS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Administração da Universidade do Vale do Itajaí –
UNIVALI, como requisito para a obtenção do grau de
Mestre em Administração.
Área de concentração: Estudos organizacionais.
Profa. Rosilene Marcon,
Dra. Universidade do Vale
do Itajaí Coordenadora do
PPGA
Banca examinadora:
Orientadora: Profa. Suzete Antonieta Lizote, Dra. Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA)
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI)
Membro: Prof. Miguel Angel Verdinelli, Dr. Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA)
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI)
Membro: Prof. João Francisco Morozini, Dr. Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGADM)
Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO)
Membro: Profa. Vanessa Nunes de Sousa Alencar Vasconcelos, Dra.
Universidade Estadual do Piauí (UESPI)
Biguaçu, 19 de fevereiro de 2018
AGRADECIMENTOS
Ao meu pai (in memorian), que fez parte desse processo através do legado que ele me deixou
de caráter, humildade e muita força de vontade. À minha amada mãe, Josilene, que abdicou de
si mesma para que eu conseguisse concluir esta etapa. Aos meus irmãos, em especial ao Fábio
e minha cunhada Germana, que sempre me incentivaram e fizeram questão de acompanhar de
perto minha evolução. À minha família como um todo, em especial às minhas tias Josenilde e
Josilete, que entenderam minha ausência, me apoiaram e buscaram esse sonho junto comigo.
Aos meus amigos: Thiago Rodrigo, Denilson e Keynayanna, que me encorajaram antes e
durante essa jornada. Aos meus amigos de fé que sempre intercederam por mim e foram
essenciais com suas preciosas orações, em especial ao grupo JUFES, de modo particular
agradeço à Maria Eduarda, Heloísa e Eduardo, e suas respectivas famílias, por serem um grande
porto seguro durante esse tempo.
Aos meus colegas de turma em especial à Sayonara, Roberta, Edna, Emanuela e Claudete, que
sempre estiveram à disposição pra me ajudar no que fosse preciso. E à todos os amigos que
conquistei na UNIVALI, meu muito obrigada por tantos ensinamentos.
Gratidão também aos professores do PPGA, em especial ao Prof. Miguel, que foi um verdadeiro
anjo do início ao fim desta jornada e sempre cuidou com muito carinho de mim. À minha
querida orientadora e amiga Suzy, que me “salvou” no momento certo e podemos trabalhar em
perfeita harmonia, e pôde oferecer além de seu trabalho, sua valiosa amizade. Aos professores
da banca, pelas valiosas contribuições. Aos demais membros da banca pelas valiosas
contribuições.
Ao PROSUC/CAPES, por financiar parte do meu estudo e permitir que o finalizasse. Aos
coordenadores e professores do curso da área da saúde por autorizar a aplicação dos
questionários, bem como cada aluno que dispôs de tempo para respondê-lo.
À Deus e à Nossa Senhora Desatadora dos Nós por estarem olhando por mim e não me deixando
desamparada, mesmo que estivesse sozinha. Se cheguei até aqui foi graças às bênçãos do céu.
RESUMO
A concorrência e os altos níveis de exigências que as organizações se apresentam hoje
compõem um cenário no qual o desenvolvimento das competências empreendedoras pode
representar vantagens competitivas para as entidades. Assim, emerge um novo apanhado nas
universidades, que se volta para a educação empreendedora em campos do conhecimento como
da ciência da saúde. Os profissionais dessa área em questão têm se inserido cada vez mais como
empreendedores, no entanto a falta de formação para tornar o negócio sustentável tem gerado
dificuldades para esses indivíduos. Assim, as Instituições de Ensino Superior têm a função de
formar profissionais mais capacitados, e um desses meios é utilizando a multidisciplinaridade,
combinando diferentes áreas. A relevância teórica desta pesquisa está ao utilizar constructos
que estão associados ao empreendedorismo na área da saúde. Vale destacar também que o
empreendedorismo está cada vez mais presente na interdisciplinaridade, sendo contemplado
não somente na área de gestão. Como relevância prática, esse estudo apresenta dados que
podem ser usados por gestores da IES pesquisada, a fim de fomentar o ensino do
empreendedorismo nos cursos que não estão associados diretamente com a área da gestão. O
objetivo geral deste trabalho é avaliar a influência da educação empreendedora no
desenvolvimento da autoeficácia e competências empreendedoras dos discentes de graduação
da área da saúde. Estudos recentes apontam que estes constructos vêm ganhando destaque nas
publicações especialmente no âmbito do processo de ensino-aprendizagem. Com isso, tem-se
como objetivos específicos: a) medir a autoeficácia empreendedora através da escala de De
Noble, Jung e Ehrlich (1999); b) Mensurar as competências empreendedoras segundo o modelo
de Cooley (1990, 1991), validado por Lenzi (2008); c) Analisar a influência da educação
empreendedora. Esta pesquisa conta com a abordagem quantitativa, descritiva e correlacional,
com método de pesquisa survey. A amostra foi composta por 267 alunos da graduação de cursos
da área da saúde em dois campi de uma universidade comunitária do estado de Santa Catarina.
Para análise dos resultados, foi realizado o tratamento estatístico pelo software Statistica, no
qual foram feitos os seguintes procedimentos estatísticos: análise descritiva, Análise Fatorial
Exploratória (AFE), análise de correlação e teste t. Ambos os constructos apresentaram validade
e possuem alto grau de confiabilidade. Ao efetuar a AFE, observou-se o que que há relação
entre os itens das subescalas e dos conjuntos de competências. Por fim, o teste t e as análises
de correlação permitiram analisar que não houve diferença entre a autoeficácia empreendedora
e as competências empreendedoras dos discentes que tinham e dos que não tinham cursado a
disciplina de empreendedorismo. As hipóteses, portanto não foram confirmadas pelo fato de
não haver diferenças significativas. Como percepção do estudo tem-se que nos cursos da área
da saúde, os alunos não se sentem preparados para iniciar o próprio negócio, a partir das
premissas da autoeficácia e das competências empreendedoras, pois elas não estão relacionadas
neste estudo.
Palavras-chave: Educação Empreendedora. Autoeficácia Empreendedora. Competências
Empreendedoras.
ABSTRACT
The high levels of competition, and the strict requirements faced by organizations today, have
produced a scenario where the development of entrepreneurial skills can represent a factor of
competitive advantage. This has led to the emergence of new universities, focused on
entrepreneurial education in fields of knowledge, such as health science. Professionals in this
area have been increasingly involved in entrepreneurial activities; however, a lack of training
in how to make their businesses sustainable has hindered their progress. Institutes of Higher
Education (IHE) have the task of training more skilled professionals, and one means of doing
so is through multidisciplinarity, combining different areas. The theoretical importance of this
research is its use of constructs associated with entrepreneurialism in the area of health. It
should be highlighted that entrepreneurialism is increasingly present in interdisciplinarity, and
not only in the area of management. In terms of practical relevance, this study presents data that
can be used by managers of the IHE studied, in order to promote teaching on entrepreneurialism
in courses not directly related to the area of management. The overall objective of this work is
to evaluate the influence of entrepreneurial education in the development of self-efficacy and
entrepreneurial competencies among graduate studies in the area of health. Recent studies
indicate that these constructs have been increasingly highlighted in publications, particularly in
the scope of the teaching-learning process. Thus, the specific objectives of this work are: a) to
measure entrepreneurial self-efficacy through the scale of De Noble, Jung and Ehrlich (1999);
b) to measure entrepreneurial competence according to the Cooley model (1990, 1991),
validated by Lenzi (2008); and c) to analyze the influence of entrepreneurial education. This
research uses quantitative and descriptive approaches, correlated with the survey method. The
sample was composed of 267 graduate students of health-related courses from two campuses
of a community University in the state of Santa Catarina. For the analysis of the results, the
data were organized in an Excel spreadsheet and then submitted to analysis using the Statistica
software. The statistical procedures used were: descriptive analysis, exploratory factor analysis,
correlation analysis and the student’s t-Test. Both constructs were valid, with a high degree of
reliability. The Cronbach’s Alfa scores showed a relationship between the items of the subscales
and the sets of competencies. Finally, the student’s t-test and the analysis of correlation showed
no differences between entrepreneurial self-efficiency and entrepreneurial competencies, when
comparing students who had, and those who had not studied entrepreneurialism. Based on the
lack of significant difference, the hypotheses were rejected. It was also perceived that graduates
of health-related courses did not feel prepared to start their own businesses, based on the
premises of self-efficiency and entrepreneurial competences, as these were not listed these
study.
Keywords: Entrepreneurial Education. Self-efficacy Entrepreneurial. Entrepreneurial
Competence.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Número de artigos internacionais publicados entre 2005 e 2014 ........................ 23
Figura 02 – Número de artigos brasileiros publicados entre 1962 e 2016 .............................. 23
Figura 03 - Principais autores e escalas utilizadas para medir autoeficácia empreendedora .. 34
Figura 04 - Competências como Fonte de Valor para o Indivíduo e para a Organização ....... 39
Figura 05 - Desenho da pesquisa ............................................................................................. 56
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 - Principais estudos de educação para o empreendedorismo ................................ 25
Quadro 02 - Modelo de competências de Spencer e Spencer ................................................. 42
Quadro 03 - Competências empreendedoras ........................................................................... 44
Quadro 04 - Pesquisas brasileiras sobre competências empreendedoras ................................ 46
Quadro 05 - Itens da escala de mensuração do construto autoeficácia empreendedora ......... 52
Quadro 06 - Itens do constructo competência empreendedora ............................................... 53
Quadro 07 - Protocolo da pesquisa ......................................................................................... 56
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuição dos discentes por campi e idade ........................................................ 60
Tabela 2 - Distribuição dos discentes por curso ...................................................................... 61
Tabela 3 - Correlações, médias e desvio padrão da autoeficácia empreendedora ................... 63
Tabela 4 - Correlações, médias e desvio padrão das competências empreendedoras ............. 64
Tabela 5 - Cargas fatoriais da subescala "desenvolvimento de novos produtos e oportunidades
de mercado" .............................................................................................................................. 65
Tabela 6 - Cargas fatoriais da subescala "construção de um ambiente inovador" .................. 66
Tabela 7 - Cargas fatoriais da subescala "definição do objetivo principal do negócio" .......... 66
Tabela 8 - Cargas fatoriais da subescala "desenvolvimento de recursos humanos chave para a
empresa" ................................................................................................................................... 66
Tabela 9 - Cargas fatoriais da subescala "iniciando relações com investidores" .................... 67
Tabela 10 - Cargas fatoriais da subescala "lidar com mudanças inesperadas" ........................ 67
Tabela 11 - Cargas fatoriais do conjunto de realização ........................................................... 68
Tabela 12 - Cargas fatoriais do conjunto de planejamento...................................................... 68
Tabela 13 - Cargas fatoriais do conjunto poder ....................................................................... 68
Tabela 14 - Comparações de médias para as subescalas, para os conjuntos de competências
empreendedoras, e todas elas dos alunos que cursaram ou não a disciplina de
empreendedorismo.................................................................................................................... 70
Tabela 15 - Comparações de médias para as subescalas, para os conjuntos de competências
empreendedoras, e todas elas dos alunos de Educação Física que cursaram ou não da disciplina
de empreendedorismo ............................................................................................................... 70
Tabela 16 - Matriz de correlação das subescalas da autoeficácia empreendedora .................. 71
Tabela 17 - Matriz de correlação dos conjuntos de competências empreendedoras ............... 71
Tabela 18 - Matriz de correlação das subescalas e dos conjuntos de competências ............... 72
LISTA DE ABREVIATURAS
ACIBALC Associação Empresarial de Balneário Camboriú e Camboriú
AE Autoeficácia Empreendedora
AI Ambiente Inovador
BDI Busca de Informação
BOI Busca de Oportunidade e Iniciativa
COM Comprometimento
CRC Correr Riscos Calculados
DN Desenvolvimento de Novos Produtos e Oportunidades de Mercado
EDM Estabelecimento de Metas
EE Educação Empreendedora
EQE Exigência de Qualidade e Eficiência
IAC Independência e Auto Confiança
IES Instituições de Ensino Superior
GEM Global Entrepreneurship Monitor
MI Mudanças Inesperadas
ON Objetivo Principal do Negócio
PER Persistência
PMS Planejamento e Monitoramento Sistemáticos
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PRC Persuasão e Rede de Contatos
RH Recursos Humanos
RI Relações com Investidores
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
TSC Teoria Social Cognitiva
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí
USAID Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 15 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA .......................... 15
1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 17
1.2.1 Objetivo geral ................................................................................................................. 17
1.2.2 Objetivos específicos ...................................................................................................... 17
1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 18
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO ....................................................................................... 19
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 21 2.1 EMPREENDEDORISMO .................................................................................................. 21
2.1.1 Contextualização ............................................................................................................ 21
2.1.2 Educação empreendedora ............................................................................................. 24
2.1.3 Empreendedorismo e área da saúde ............................................................................ 27
2.2 AUTOEFICÁCIA ............................................................................................................... 28
2.2.1 Autoeficácia e a Teoria Social Cognitiva ..................................................................... 29
2.2.2 Autoeficácia empreendedora ........................................................................................ 30
2.2.3 Modelos de mensuração da autoeficácia empreendedora ......................................... 31
2.2.4 Modelo de autoeficácia empreendedora de De Noble, Jung e Ehrlich (1999).......... 35
2.2 COMPETÊNCIAS .............................................................................................................. 37
2.3.1 Contextualização ............................................................................................................ 37
2.3.2 Competências empreendedoras .................................................................................... 41
2.3.3 Modelos de mensuração das competências empreendedoras .................................... 42
3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 50 3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA .................................................................................. 50
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA ............................................................................................ 51
3.3 VARIÁVEIS E MEDIDAS ................................................................................................ 51
3.4 COLETA DE DADOS ....................................................................................................... 54
3.5 TRATAMENTO E ANÁLISE DE DADOS ...................................................................... 55
3.6 HIPÓTESES E DESENHO DA PESQUISA ..................................................................... 56
3.7 PROTOCOLO DA PESQUISA ......................................................................................... 56
4 RESULTADOS .................................................................................................................... 59 4.1 ANÁLISE DESCRITIVA DOS DADOS .......................................................................... 59
4.2 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA PESQUISADA .................................................. 60
4.3 ANÁLISE DESCRITIVA DAS VARIÁVEIS ................................................................... 63
4.4 ANÁLISE FATORIAL EXPLORATÓRIA ....................................................................... 64
4.4.1 Autoeficácia Empreendedora ....................................................................................... 65
4.4.2 Competências empreendedoras .................................................................................... 67
4.5 TESTE t E CORRELAÇÕES ............................................................................................. 69
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 73 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 76 ANEXOS ................................................................................................................................. 85 Anexo A - Escala de Autoeficácia Empreendedora ................................................................. 85
Anexo B - Escala de Competências Empreendedoras .............................................................. 86
APÊNDICE ............................................................................................................................. 88 Apêndice 1 – Questionário de Autoeficácia Empreendedora utilizado .................................... 88
15
1 INTRODUÇÃO
Este capítulo introdutório tem como objetivo apresentar a problemática a ser estudada
nesta pesquisa. Inicia-se com a contextualização do tema, do qual o problema de pesquisa é
derivado. Em seguida são evidenciados os objetivos geral e específicos. Na sequência, é
apresentada a justificativa do estudo, dividida em relevância e contribuições; e por fim, a
estrutura desta dissertação.
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA
A multidisciplinaridade recorrente nos mais diversos campos de atuação traz consigo
grandes desafios para os profissionais, devido à necessidade de transitar por temas até então
pouco familiares, mas que se fazem necessários para estar à frente de um mercado tão
competitivo. O novo profissional deve ter a capacidade de inovar continuamente, propondo
sugestões que revolucionem a maneira de administrar as decisões, podendo, desta forma,
contribuir para o sucesso da organização (SCHUMPETER; 1928, 1934; MILLER; 1983;
SHANE; VENKATARAMAN; 2000).
Com o passar do tempo, surge a necessidade de adequar antigos processos e criar novos
a fim de atender as necessidades do mercado. Assim, as empresas precisam ter indivíduos
comprometidos, alinhadas com características empreendedoras e munidas de ferramentas para
proporcionarem resultados (DORNELAS, 2008). Neste contexto, as Instituições de Ensino
Superior (IES), possuem a função de produzir e socializar o conhecimento. Elas devem ser
instrumentos de renovação e mudança para contribuírem ao progresso da cultura, ciência,
tecnologia e inovação técnica e social.
A universidade, desta forma deve ser empreendedora, ou seja, analisar de maneira
inovadora as mudanças no seu contexto, identificando alterações de comportamento dos seus
alunos; oportunidades em novos segmentos (educação continuada, educação corporativa,
educação à distância) e monitorar os movimentos da concorrência, buscando adequar potenciais
oportunidades (TEIXEIRA, 2001).
Com isso, destaca-se a crescente procura por conhecimentos sobre empreendedorismo
dentro das IES, a fim de formar profissionais mais capacitados para o mercado competitivo. O
que antes era considerada temática exclusiva de áreas ligadas à economia e gestão, passa a ser
valorizado em outros setores, como da saúde. Esse fato traz à tona novas perspectivas de estudos
16
multidisciplinares, com a possibilidade de encontrar um ponto em comum que pode unir duas
áreas distintas (nesse caso, gestão e saúde) a partir da ótica do empreendedorismo
comportamental.
O crescente estudo sobre a temática de empreendedorismo desperta nos pesquisadores
maior diversificação acerca das subáreas que abrange. Conforme apresenta Gimenez (2017), há
conjuntos de temas bastante explorados na literatura encontrada sobre empreendedorismo no
Brasil, no entanto há outros ainda emergentes que oferecem margem para novos estudos. Nesse
sentido, evidencia-se a importância de novas pesquisas sobre este objeto, principalmente ao
mesclar tópicos distintos da mesma área.
No âmbito comportamental, os estudos sobre empreendedorismo ganham força à
medida que as pesquisas avançam com os olhares dirigidos para aspectos inerentes ao ser
humano, como é o caso da autoeficácia. Esse termo, iniciado por Bandura na década de 1970,
tem como base a teoria social cognitiva, e autores como Chen, Greene e Crick (1998)
associaram-o com estudos sobre empreendedorismo na perspectiva de trazer à tona que os
empreendedores devem aprimorar sua autoeficácia a fim de estarem mais adaptados aos
ambientes turbulentos. Outros estudos foram realizados com o intuito de deixar cada vez mais
evidente que a premissa que norteia a autoeficácia também deve estar aliada àqueles que se
consideram empreendedores (WOOD; BANDURA,1989; BOYD; VOZIKIS, 1994; DE
NOBLE; JUNG; EHRLICH, 1999; MORIANO; PALACÍ; MORALES, 2006; CHELL, 2008;
McGEE et al., 2009; HISRICH; PETERS; SHEPHERD, 2017).
Ainda associado ao comportamento humano, outro destaque está relacionado às
competências empreendedoras, que nos útimos anos vem ganhando relevância em publicações, de
maneira especial com o processo de ensino-aprendizagem (FERRERAS; HERNÁNDEZ-LARA;
SERRADELL-LÓPEZ, 2017). Os estudos apontam a importância de detectar as habilidades e
competências nos indivíduos com potencial empreendedor, ou aqueles que já se consideram
empreendedores por terem o próprio negócio ou estar à frente de um.
As pesquisas atuais buscam relacionar competências empreendedoras com os mais
variáveis aspectos, como se pode destacar: teoria da vantagem de recursos (ROCHA et al.,
2010), processos de aprendizagem empreendedora (ZAMPIER; TAKAHASHI, 2011, 2014),
administração pública (LENZI et al., 2012), desempenho organizacional (LIZOTE;
VERDINELLI, 2015), insucesso empresarial (DIAS; MARTENS, 2016).
17
Observa-se, portanto, que se encontra de maneira tímida na literatura temas que
relacionem o empreendedorismo como processo de ensino-aprendizagem, e mais raro é
encontrar estudos que foquem na educação empreendedora para cursos que não são da “área-
mãe”, como Administração. Em contrapartida, observa-se que os profissionais das mais
variadas áreas de conhecimento, por uma questão de adaptabilidade ao cenário econômico e às
oportunidades, têm se inserido como empreendedores. No entanto, a falta de formação básica
para tornar o negócio sustentável gera dificuldades para esses profissionais.
O setor da saúde, com seus diversos cursos, chama atenção nesse âmbito ao trazer novas
oportunidades para aqueles que saem da universidade com a intenção de trabalhar como
autônomo ou ter seu próprio empreendimento. Contudo, as IES ainda não estão preparadas para
oferecer aos alunos um portfólio que lhes dê suporte, por isso, observa-se uma lacuna para
estudar o perfil comportamental desses futuros profissionais.
Com isso, tem-se como problemática para esta pesquisa a seguinte questão: Qual a
influência da educação empreendedora no desenvolvimento da autoeficácia e das
competências empreendedoras dos discentes de graduação da área da saúde?
1.2 OBJETIVOS
Com o intuito de dar resposta ao questionamento que norteia esta investigação, foram
estabelecidos os seguintes objetivos.
1.2.1 Objetivo geral
Avaliar a influência da educação empreendedora no desenvolvimento da autoeficácia e
competências empreendedoras dos discentes de graduação da área da saúde.
1.2.2 Objetivos específicos
a) Medir a autoeficácia empreendedora através da escala de De Noble, Jung e Ehrlich
(1999).
b) Mensurar as competências empreendedoras segundo o modelo de Cooley (1990, 1991),
validado por Lenzi (2008).
c) Analisar a influência da educação empreendedora.
18
1.3 JUSTIFICATIVA
Este estudo visa contribuir no fomento do empreendedorismo nas IES para cursos que
não estão diretamente associados à área de gestão de negócios, em especial os cursos de ciências
da saúde. Sendo assim, ao analisar características comportamentais inerentes aos futuros
profissionais, busca-se aprofundar a discussão acerca desses temas e apresentar de que maneira
o empreendedorismo pode auxiliar no desenvolvimento dos profissionais do setor da saúde.
No primeiro momento, em relação à contribuição teórica, ao utilizar dois constructos –
autoeficácia empreendedora e competências empreendedoras – identificando como o fomento
do empreendedorismo pode trazer novas habilidades nos futuros profissionais, tem-se nessa
pesquisa uma vasta contribuição para o meio acadêmico, visto que tal temática é pouco
explorada na literatura pesquisada, principalmente no contexto brasileiro.
Detectou-se também que os estudos que abordam os temas de empreendedorismo e
saúde simultaneamente estão, em sua maioria, publicados em periódicos da área das ciências
da saúde. Com isso, observa-se a relevância de trazer para o campo das ciências sociais
aplicadas temáticas que se associem com outras áreas de conhecimento.
O fato das IES oferecerem de maneira escassa disciplinas de empreendedorismo em
cursos que não são ligados à gestão torna-se ainda mais difícil no que diz respeito à formação
empreendedora, visto que empreender é uma prática interdisciplinar. Vale ressaltar que cerca
de 74% dos cursos de Administração no Brasil contam com disciplinas de empreendedorismo,
enquanto apenas 28% de cursos das ciências da saúde das universidades brasileiras
disponibilizam disciplinas associadas à essa temática (ENDEAVOR, 2016).
Com isso, nota-se que educação empreendedora no contexto brasileiro necessita ser
difundida nos mais diversos âmbitos, e assim apresenta-se a contribuição empírica desse estudo.
Pois, com os resultados encontrados, pretende-se devolver à comunidade universitária repostas
que mostrem a relevância de inserir formação empreendedora para os graduandos da área da
saúde.
Polakiewicz et al. (2013) corroboram com essa ideia, pois acreditam que as ciências da
saúde têm muito a ganhar com a criação de disciplinas, conferências, minicursos e outros
componentes curriculares que estejam associadas o empreendedorismo, visto que esses
profissionais também têm uma atenção voltada para a área administrativa. A pesquisa realizada
pela Endeavor (2016), igualmente aponta a inserção de disciplinas relacionadas ao
19
empreendedorismo como um caminho favorável à formação dos futuros profissionais da área
da saúde.
As IES são marcadas pelo distanciamento com o mercado de trabalho (ENDEAVOR,
2016), e esta pesquisa propõe trazer para a prática aquilo que a teoria explica, apresentando
dados científicos para fazer com que o elo teoria-prática não seja deixado de lado. Em
contrapartida, esta dissertação traz um problema empírico, visto a olhos nus, para o campo
acadêmico e assim, busca-se amenizar o afastamento que há entre o “mundo real” e a ciência.
Vale destacar também que o posicionamento racional que está por trás da emergência
do tema de competências empreendedoras está na investigação de comportamentos que
caracterizam uma atuação empreendedora e com isso busca-se, cada vez mais, a explicação
no referencial de competências. Zampier; Takahashi e Fernandes (2011) acreditam que a
abordagem de competências na área de empreendedorismo não conseguiu absorver as recentes
discussões abordadas essencialmente no campo de competências, as quais tem sido foco de
debates em áreas como estratégia, gestão de pessoas, relações de trabalho e educação. Os
autores destacam ainda um aspecto que consideram recorrente nos estudos de
empreendedorismo: como se trata de um campo interdisciplinar, eles acreditam que deve ser
reestabelecido e reforçado algumas conexões que este campo deve manter com os temas que
lhe fornecem base interpretativa para os resultados.
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO
Essa dissertação está estruturada em cinco capítulos. O capítulo introdutório abrange a
contextualização do tema, problema de pesquisa, bem como justificativa para a realização do
trabalho e os objetivos.
O capítulo dois trata de um arcabouço teórico acerca das temáticas estudadas, sendo
estes, os principais conceitos relacionados à autoeficácia empreendedora e competências
empreendedoras, que são as variáveis norteadoras deste estudo.
O terceiro capítulo contempla a metodologia da pesquisa, sendo definida neste item a
classificação da pesquisa, população e amostra, variáveis e medidas, os procedimentos para
coleta dos dados e a forma como serão analisados os resultados, e por fim, o desenho e protocolo
de pesquisa.
20
O quarto capítulo contempla a apresentação dos resultados obtidos, bem como a
demonstração das tabelas. Por fim, o capítulo cinco conta com as considerações finais, bem
como limitações da pesquisa e sugestões de estudos futuros.
Ao final do trabalho são apresentadas as referências utilizadas neste dissertação, seguido
pelos anexos e apêndices.
21
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste capítulo é apresentada uma revisão de literatura com a finalidade de dar suporte
aos propósitos do estudo. Inicialmente é feita uma breve revisão dos conceitos de
empreendedorismo e os estudos que o associam com a área de saúde. Na sequência apresenta-
se a origem e os conceitos da autoeficácia, bem como modelos de mensuração já usados e o que
foi empregado nesta pesquisa. Por fim, é feito um resgate acerca do tema de competências,
competências empreendedoras e também se evidenciam os modelos de mensuração, incluindo
o que foi utilizado para a realização deste estudo.
2.1 EMPREENDEDORISMO
2.1.1 Contextualização
O termo empreendedorismo advém de uma constante construção desde o início do
século XX, quando um dos precursores, Schumpeter, em 1928 associou o empreendedorismo à
inovação. O economista defendia que cada produto obedece a um ciclo, que, renovado de
tempos em tempos, gera novos produtos substitutos (SCHUMPETER; 1928, 1934).
Corroborando com Schumpeter, Miller (1983) ressalta que a organização pode ser
considerada empreendedora quando busca inovação constante de produtos e mercados, atuando
de maneira proativa perante a concorrência e assumindo riscos. Stevenson e Jarillo (1990)
complementam que empreendedorismo é um processo de busca por oportunidades, o qual
Shane e Venkataraman (2000) adicionam a esta ideia a identificação das oportunidades e a
exploração das mesmas economicamente.
O processo de inovar, iniciado por Schumpeter, é constantemente citado e relembrado
pelos diversos autores ao longo do tempo, no entanto, acredita-se que é preciso dedicar-se,
assumir riscos e receber recompensas de satisfação e independência financeira e pessoal
(HISRICH; PETERS e SHEPHERD, 2009).
Características como comportamento individual, competência de identificar as
oportunidades existentes, desenvolvimento da organização, criação destrutiva salutar e
capacidade de transformação organizacional surgem a partir dos estudos de Brush et al. (2003).
No entanto, McClelland (1967) identificou três características psicológicas inerentes ao desejo
22
de realização do empreendedor: 1) responsabilidade individual para resolver problemas,
estabelecer metas e atingi-las por meio de seu próprio esforço; 2) aceitação de riscos moderados
como uma função da habilidade; e 3) conhecimento dos resultados da realização da tarefa. O
pesquisador afirma ainda que o empreendedor tem a necessidade de realizar coisas novas,
inovar constantemente e colocar em prática suas ideias, conceito esse que vai ao encontro das
características do empreendedor schumpeteriano.
São destaques outras dez características tidas como fundamentais ao crescimento
econômico dos indivíduos: 1) busca de oportunidades e iniciativas; 2) exigência de qualidade e
eficiência; 3) persistência, independência e autoconfiança; 4) correr riscos calculados; 5) buscar
informações; 6) estabelecimento de metas; 7) planejamento e monitoramento; 8)
comprometimento; 9) persuasão; 10) redes de contatos (McCLELLAND, 1972).
Dessa forma, empreendedor é aquele que imagina, desenvolve e realiza visões, o qual a
partir da visão de futuro faz um planejamento que permite estabelecer condições necessárias
para efetivar seu empreendimento. O empreendedorismo é absorvido por pessoas com
diferentes graus de necessidades, não existindo uma fórmula que permita inferir o sucesso ou o
fracasso profissional. Assim sendo, não há padrões psicológicos que possam definir o perfil do
indivíduo empreendedor (FILION, 1999).
Gomes et al. (2015) destacam a necessidade da visão sistêmica sobre as organizações,
de maneira que os empreendedores devem entender que elas não se estabelecem de maneira
isolada, pois deve haver integração entre todas as partes. Os autores apontam também a
necessidade dos empreendedores descobrirem e projetarem cenários que possibilitem o alcance
dos objetivos antes planejados.
Estudos sobre empreendedorismo ganham cada vez mais relevância devido ao aumento
do número de publicações, como mostra dados de uma pesquisa bibliométrica que reuniu um
conjunto de melhores periódicos internacionais em empreendedorismo no período de trinta anos
– de 1981 a 2010, no qual contou com a análise de 1.414 artigos publicados nos oito principais
journals da área (FERREIRA; PINTO; MIRANDA, 2015). Os pesquisadores apontam
graficamente a evolução das publicações internacionais acerca do tema empreendedorismo,
com ênfase do período entre 2005 e 2014, o qual contou com um aumento significativo dos
artigos publicados, como apresenta a Figura 01.
23
Figura 01 – Número de artigos internacionais publicados entre 2005 e 2014
Fonte: Ferreira; Pinto; Miranda (2015, p. 612)
O contexto brasileiro não difere da realidade internacional, sendo encontrado os
primeiros artigos sobre este tema na década de 1960 publicados por Luiz Carlos Bresser Pereira
na Revista de Administração (GIMENEZ, 2017). Mais adiante, na década de 1990, Gimenez
(2017) destaca as publicações de Louis Jacques Filion, o qual apresentou resultados empíricos
e conceitos relacionados ao empreendedorismo. Mas foi nos anos 2000 que os estudos dessa
temática ganharam força, tendo um crescimento médio por ano de 33% no número de artigos
publicados dos anos entre 2001 e 2016, como apresenta a Figura 02 (GIMENEZ, 2017).
Figura 02 – Número de artigos brasileiros publicados entre 1962 e 2016
Fonte: Gimenez (2017, p. 15)
Os dados apresentados vão ao encontro de informações empíricas que mostram a
crescente busca pelo negócio próprio, conforme aponta o Global Entrepreneurship Monitor,
que destaca um crescimento de 39% no número de empreendedores brasileiros em 2015, ou
24
seja, dois em cada cinco indivíduos entre 18 e 64 anos têm um negócio ou está envolvido na
criação de um empreendimento (GEM, 2015).
Há divergências acerca da denominação para o termo e nota-se que não chegou à uma
definição completa, pois o acentuado aumento das pesquisas sobre empreendedorismo trazem
consigo novos conceitos, bem como complementam os estudos supracitados. Esse fator incita
que há espaço para novas pesquisas que associem o tema à outras áreas, visto a expansão de
publicações, como aponta Gimenez (2017) em um apanhado de artigos de empreendedorismo
relacionados a dois ou três temas diversificados.
2.1.2 Educação empreendedora
Diversas IES investem na educação empreendedora, pois reconhecem o poder para
inovação e desenvolvimento do país. No entanto, isso ainda não acontece com frequência no
Brasil, pois como mostram os dados, cerca de 56% dos alunos acreditam que iniciativas de
empreendedorismo – disciplina, incubadoras e eventos – podem ser essenciais para deixá-los
preparados para empreender, mas apenas 38,78% das universidades correspondem oferecendo
oportunidades equivalentes (ENDEAVOR, 2016).
Na Conferência Mundial sobre Ensino Superior, promovida pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em 1998, o artigo 7º faz alusão
ao reforço da cooperação com o mundo do trabalho e uma análise e previsão das necessidades
da sociedade. Ainda nesse artigo, o parágrafo d destaca a preocupação com as IES em oferecer
aos estudantes o espírito de iniciativa, bem como aprender a empreender, com a finalidade de
facilitar posteriormente a empregabilidade dos graduados (UNESCO, 1998, art. 7º).
Ao discutir Novas dinâmicas do Ensino Superior e Pesquisas para a Mudança e o
Desenvolvimento Social na segunda Conferência Mundial sobre Ensino Superior, promovida
também pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO)
em 2009, foi ressaltado no artigo 18º que o treinamento oferecido pelas IES deve além de visar
necessidades sociais, antecipá-los, e um dos meios que é ressaltado para que isso aconteça é a
educação empreendedora (UNESCO, 2009, art. 18º).
Azevedo (2015) destaca que não são apenas as pessoas que desejam ter um negócio
próprio que demandam por educação empreendedora, pois outras áreas também competem por
esse tipo de formação. A autora acrescenta que a educação empreendedora não se resume mais
25
apenas ao plano de negócios, como se costumava abordar cerca de uma década atrás, e que há
uma necessidade de ter nas graduações atividades vinculadas ao empreendedorismo.
Assim, nota-se a necessidade das universidades tornarem-se cada vez mais
empreendedoras para com os estudantes, pois como define Etzkowitz (2003) a universidade
empreendedora é aquela que é capaz de formular um direcionamento estratégico. Ela deve
contar ainda com objetivos acadêmicos claros e transformar o conhecimento gerado em valor
econômico social, afinal, a universidade é um ambiente propício à inovação e os alunos são
fonte potencial de empreendedores.
Em uma pesquisa conhecida como “Empreendedorismo nas Universidades Brasileiras”
realizada pela Endeavor em parceria com o SEBRAE, 2230 estudantes e 680 professores
caracterizaram a amostra, à qual pertencem a mais de 70 universidades brasileiras espalhadas
pelas cinco regiões do país no ano de 2016. Esse estudo apresentou que há a disciplina de
empreendedorismo em média de 50% dos cursos de engenharias e ciências sociais aplicadas,
no entanto, é ofertada de maneira escassa em outras áreas, dentre elas ciências agrárias, da
saúde, biológicas e humanas, pois somente há apenas cerca de 30% de oferta de disciplina para
esses cursos (ENDEAVOR, 2016). Os pesquisadores destacam ainda que empreender é uma
prática interdisciplinar, que deve promover o encontro de futuros possíveis parceiros de
negócios.
Por fim, vale destacar os principais estudos da última década associados
simultaneamente à educação e ao empreendedorismo, o qual é apresentado no Quadro 01.
Quadro 01 - Principais estudos de educação para o empreendedorismo Autor (Ano) Objetivo Principais Resultados
Bastos;
Peñaloza (2006)
Compreender o perfil do aluno que
está concluindo a graduação, sob a
perspectiva de análise do
empreendedorismo.
Os alunos apresentam comportamento
empreendedor. Os que não demonstraram
interesse em desenvolver atividades
empreendedoras estavam relacionados à
motivações econômicas.
Mendes;
Ramos;
Gimenez (2006)
Contribuir para a compreensão do
processo ensino-aprendizagem
analisando os conceitos e práticas
pedagógicas em Instituições de
Ensino Superior (IES).
O ensino de empreendedorismo pode
incrementar o pensamento criativo, a
inovação e a habilidade de descobrir
problemas e resolvê-los de maneira
original.
Cunha (2007) Avaliar a disseminação da cultura
empreendedora nos cursos de
Administração e a consequente
percepção de alunos sobre os
conceitos de empreendedorismo e
características comportamentais do
indivíduo empreendedor.
A conclusão apresenta um incremento
percentual significativo na categoria
educação, demonstrando uma percepção
clara quanto à necessidade de estudo para
desenvolvimento do empreendedorismo. O
conceito de empreendedorismo está
relacionado com a educação.
Martens; Freitas
(2008)
Verificar a influência da disciplina
Empreendedorismo nas intenções de
Ocorreram mudanças nas intenções de
direcionamento profissional de alguns
26
direcionamento profissional dos
estudantes de curso superior.
estudantes ao longo do curso, aumentando
o número dos que pretendem atuar
profissionalmente como donos do próprio
negócio após ter cursado a disciplina de
empreendedorismo.
Cunha; Soares;
Fontanillas
(2009)
Estimular a necessidade do ensino de
empreendedorismo em sua
abrangência e relevância a partir dos
primeiros anos educacionais.
O estudo realizado dá ênfase ao ensino de
empreendedorismo por achar que esse é
um caminho imprescindível para a
transformação de um país.
Souza; Saraiva
(2010)
Analisar as práticas e os desafios do
ensino do empreendedorismo na
graduação sob a ótica dos docentes.
Conclui-se que o caso analisado
exemplifica um quadro mais amplo de
formação superior que ainda ignora muito
do que se passa fora dos muros da
universidade. Isso é, em parte, positivo,
pela perspectiva de formação
comprometida com ideais maiores do que
os do capitalismo, mas também constitui
um problema no que se refere à inclusão
de profissionais no competitivo mercado
de trabalho.
Ferreira;
Silveira;
Carvalho (2011)
Analisar as disciplinas quanto às
ementas, conhecer o entendimento
dos coordenadores e professores
sobre a inclusão do enfoque do
empreendedorismo na formação de
turismólogos, e as tendências dos
cursos de turismo.
Os resultados apontam que dos 27 cursos
estudados, 7 oferecem disciplinas de
empreendedorismo. As ementas se voltam
para o Empreendedorismo, de forma geral,
e para o Plano de Negócios. Os
coordenadores e professores entendem
como importante o enfoque do
empreendedorismo na construção de
habilidades e competências desses
acadêmicos como um diferencial
competitivo para inclusão no mercado de
trabalho.
Souza; Silva
(2011)
Identificar e descrever metodologias,
através de uma revisão literária, que
se proponham a estimular e
desenvolver a criatividade e a
inovação na formação do perfil
empreendedor.
Os resultados apontam para a existência de
diversos instrumentos que estimulam o
processo criativo, atuando diretamente em
traços de personalidade, característicos do
perfil empreendedor.
Coan (2013) Analisar como a elaboração desta
ideologia do “homem empreendedor”
foi e está sendo instituída no espaço
escolar, além de apresentar e analisar
tal formulação, buscando o
significado implícito da necessidade
de se educar para o
empreendedorismo.
A formação do homem empreendedor se
funda no espírito competitivo, mas ao
mesmo tempo solidário e preocupado com
as questões sociais. É o homem
responsável por sua própria produção da
existência que age de acordo com as leis
do mercado capitalista, capaz de se adaptar
ao novo mercado de trabalho flexibilizado,
mas, simultaneamente, preocupado com a
diminuição da miséria humana.
Lopes (2014) Apresentar os resultados de um
projeto que investigou como a prática
empreendedora impulsiona resultados
concretos de melhoria de habilidades
comportamentais.
Foi percebido que o empreendedorismo
pode ser aprendido e praticado e a
educação empreendedora pode ser uma
maneira de criarmos essa cultura de
inovação e autonomia nos alunos.
Rocha; Freitas
(2014)
Analisar um instrumento que tem
como função mensurar a
aprendizagem do ensino de
Empreendedorismo, nesse sentido,
verificando a alteração do perfil
Os resultados evidenciaram que os
estudantes que participaram de atividades
educacionais de formação em
Empreendedorismo apresentaram
alterações significativas no perfil
27
empreendedor entre 407 estudantes
universitários participantes e não
participantes do processo de
formação empreendedora.
empreendedor. As principais contribuições
mostram crescimento nas dimensões auto
realização, planejador, inovador e assume
riscos no perfil estudado.
Guimarães;
Lima (2016)
Descrever as medidas no âmbito das
universidades públicas no tocante ao
cotidiano da prática docente que
tenham como referência os fatores
unificadores da iniciativa
empreendedora, em especial nos
Cursos de Administração.
É possível desempenhar procedimentos
didático-pedagógicos orientados pelo
composto de elementos que designam a
ação empreendedora, mesmo considerando
as implicações e ambiguidades presentes
no ambiente universitário.
Fonte: Elaborado com base na literatura (2017)
Conforme é apresentado no Quadro 01, existem na literatura diversos estudos sobre
educação empreendedora, e é enfatizada a importância das disciplinas que fomentem o
empreendedorismo nas universidades. Apesar disso, não foi encontrado pesquisas que
abordassem esse tema associando educação, empreendedorismo e saúde.
2.1.3 Empreendedorismo e área da saúde
O empreendedorismo extrapola as fronteiras da gestão e chega à áreas que antes não se
podia pensar na interatividade, como aponta Gimenez (2017) em uma representação gráfica que
mostra a evolução das publicações brasileiras que associam empreendedorismo e profissões
liberais, dentre elas aquelas associadas à área da saúde.
Além de estar associado a aspectos comportamentais e econômicos, há relação com
áreas da saúde, por exemplo, pois os profissionais dessa área vislumbram cada vez mais
posicionar-se no mercado competitivo (POLAKIEWICZ et al., 2013). Assim, nota-se a
relevância de relacionar empreendedorismo e o setor de saúde, e por este motivo, buscou-se
apresentar alguns estudos já realizados. Vale ressaltar ainda que ainda são escassas as
publicações e sendo em sua maioria artigos publicados em periódicos da própria área da saúde.
Por meio da metodologia Grounded Theory, Backes (2008) teve como objetivo em sua
tese compreender o significado do cuidado de enfermagem como prática social empreendedora.
Apesar de o estudo estar associado ao profissional da enfermagem, a autora utilizou de
conceitos de uma das vertentes do empreendedorismo, com o qual confirmou que o
empreendedorismo social do enfermeiro é vivenciado por meio do cuidado de enfermagem
como prática social empreendedora.
Pardini, Brandão e Souki (2008) analisaram as competências empreendedoras e a rede
de relações sociais no processo de decisão do exercício de empreender pelos profissionais da
fisioterapia. Como principais resultados, os autores apresentaram que esses profissionais agem
28
de maneira intuitiva na concepção do próprio negócio e se abstêm de qualquer planejamento
estratégico preliminar.
Em uma pesquisa realizada com o objetivo de conhecer o perfil dos estudantes
concluintes de um curso de graduação em enfermagem quanto ao empreendedorismo, Roncon
e Munhoz (2009) apresentam que a maioria dos indivíduos pesquisados pretendem encaminhar
sua a profissão em atividades assistenciais, ao passo que nenhum dos estudantes tem a intenção
atuar em atividades administrativas. Os autores concluem que os estudantes possuem baixo
grau da presença de características empreendedoras.
Polakiewicz et al. (2013) ressaltam que para que se amplie possibilidades de integração
de áreas distintas e diversificados campos do saber, torna-se essencial a inserção de
componentes curriculares sobre empreendedorismo na área da saúde, visto que alguns serviços
estão começando a sentir o impacto da alta concorrência no mercado de trabalho. Além disso,
os autores acrescentam que as instituições de ensino devem perceber a importância de tornar
cursos da área da saúde mais flexíveis às tendências de mercado e economia, e enaltecem que
o empreendedorismo pode ser capaz de modificar a realidade econômica.
2.2 AUTOEFICÁCIA
A teoria da autoeficácia teve sua origem em 1977, sendo apresentada por Albert
Bandura, e até hoje é considerada um dos conceitos pilares desse autor. Esse termo está ligado
ao um traço de personalidade do indivíduo o qual interfere na motivação para realizar
determinadas tarefas com sucesso; bem como o grau de tolerância do sujeito para enfrentar
situações adversas; e ainda a percepção individual acerca do risco (LIZOTE; VERDINELLI;
SILVEIRA, 2013a).
Wood e Bandura (1989) associam a autoeficácia percebida com as crenças que o sujeito
tem acerca de suas capacidades para motivar-se, utilizar os recursos cognitivos e as ações
necessárias para exercer controle sobre situações adversas em sua vida. Assim, McGee et al.
(2009) complementam o conceito definindo autoeficácia empreendedora como uma construção
que mensura até que ponto a pessoa acredita na sua própria capacidade de se inserir com sucesso
em um empreendimento de risco.
Os conceitos supracitados vão ao encontro do que Bandura (1977) afirmou em sua obra
inicial de que os sujeitos com maior autoeficácia são mais aptos a persistir em uma dada tarefa.
29
Concomitante a isso, Shinnar, Hsu e Powell (2014) acreditam que esses indivíduos são mais
propensos na intenção de tornarem-se empreendedores e envolver-se em comportamentos
associados a esse traço a longo prazo.
Para que haja um entendimento mais aprofundado acerca do tema, a próxima seção
abordará a teoria social cognitiva que utiliza como conceito principal a teoria da autoeficácia.
2.2.1 Autoeficácia e a Teoria Social Cognitiva
Após apresentar o conceito de autoeficácia, quase uma década depois, em 1986,
Bandura introduziu uma teoria conhecida por teoria social cognitiva (TSC), que está
representada em uma de suas principais obras e define-se como uma teoria psicológica em
desenvolvimento, a qual agrega diferentes constructos para explicar o desenvolvimento e ação
humanas.
A TSC é baseada na visão de “agência humana”, na qual os próprios indivíduos é que
são agentes dos acontecimentos e são responsáveis pelos seu atos, agindo assim, de maneira
proativa no seu desenvolvimento (PAJARES; OLAZ, 2008). Chell (2008) complementa esse
raciocínio indicando que o indivíduo produz sua própria realidade e visão de si mesmo, e que
ele adota padrões de comportamento para lidar com as situações.
Os autores Wood e Bandura (1989) afirmam que há quatro maneiras principais que as
crenças dos indivíduos sobre autoeficácia podem ser desenvolvidas e fortalecidas, que são:
1) Experiência de domínio: é considerada uma das mais importantes, pois os indivíduos
devem ter experiência para superar obstáculos a fim de ter uma sensação resiliente da eficácia.
Os autores acrescentam ainda que os êxitos de desempenho fortalecem as auto-crenças sobre a
capacidade, mas em contrapartida as falhas geram o que ele chama de “auto-dúvidas”.
2) Modelagem (experiência vicária): transmite ao sujeito que está observando
estratégias eficazes para gerenciar diferentes situações, pois a partir de um modelo existente, o
indivíduo compara e julga sua própria capacidade.
3) Persuasão social: Os autores acreditam que se há incentivos realistas, as pessoas serão
mais propensas a se esforçarem mais e por conseguinte tornarem-se bem sucedidos. Em
contrapartida, se os indivíduos sentem-se inseguros e com dúvidas, há uma maior chance de
não serem bem sucedidos.
30
4) Estados fisiológicos: o estado emocional do indivíduo também é destaque, pois está
associado ao estado fisiológico. Os autores sugerem a melhora do estado físico do indivíduo,
bem como redução do nível de estresse e alteração de suas interpretações de informações
somáticas.
Vale ressaltar que há um processamento cognitivo a partir das informações
proporcionadas pelas fontes de eficácia as quais as crenças serão influenciadas, que os indivídos
selecionam, avaliam, integram e interpretam essas informações. Contudo, essas fontes de
infomação de autoeficácia podem ser alteradas constantemente à medida que os sujeitos
vivenciam situações e papéis distintos (BARROS; OLIVEIRA; SPYRIDES, 2012).
2.2.2 Autoeficácia empreendedora
Ainda fundamentado na perspectiva da autoeficácia proveniente de Bandura (1977), a
qual baseia-se na teoria social cognitiva apresentada anteriormente, Chen; Greene e Crick
(1998) consideram a autoeficácia altamente apropriada para o estudo do empreendedor. A
autoeficácia empresarial deve ser estável, mas não imutável, assim sendo, permite que os
empreendedores modifiquem e aprimorem sua autoeficácia em uma interação contínua com o
meio ambiente (CHEN; GREENE; CRICK, 1998).
Há uma limitação também ao definir a carreira, pois Wood e Bandura (1989) defendem
que muitas pessoas acreditam que não têm capacidades necessárias, mesmo tendo habilidades
para tal; isso faz com que o sujeito gere mais dúvidas sobre si, mesmo não sendo uma
incapacidade propriamente dita. Esse conceito está associado à baixa autoeficácia, que torna-se
um fator limitante também para os empreendedores. Com isso, Shinnar, Hsu e Powell (2014)
destacam a relevância de estudos sobre empreendedorismo verificarem a importância da
autoeficácia na formação dos empreendedores.
Vale destacar que a ação empreendedora é frequentemente intencional, pois de acordo
com as características do comportamento empreendedor, eles almejam entrar em novos
mercados, correr riscos, perseguir novas oportunidades, e raramente esse processo é não
intencional (CHELL, 2008; HISRICH; PETERS; SHEPHERD, 2017). McGee et al. (2009)
relacionam a autoeficácia empreededora com as intenções empreendedoras, que por sua vez, foram
definidas anteriormente por Boyd e Vozikis (1994) como uma situação mental a qual guia o
31
comportamento do empreendor a fim que haja desenvolvimento de ações associadas ao
empreendedorismo.
Os sujeitos tem intenções mais fortes quando a ação é percebida como viável e
desejável, e a viabilidade está intimamente ligada à autoeficácia empreendedora, pois esta
refere-se à confiança de que se pode executar determinado comportamento exigido com
sucesso. Essas atitudes refletem na percepção de uma capacidade que o indivíduo tem para realizar
um trabalho, com isso, a autoeficácia quando elevada reflete em uma maior iniciativa e persistência,
e por conseguinte, melhora o desempenho (CHELL, 2008; HISRICH; PETERS; SHEPHERD,
2017). Estes autores acrescentam ainda que a autoeficácia afeta na escolha da ação e no esforço que
será exercido.
Nascimento (2015) destaca que há uma ascensão na literatura sobre a autoeficácia
empreendedora, e que os artigos, de maneira geral, abordam temas que estudam a crença na
capacidade do indivíduo de tomar ações empreendedoras baseado na avaliação de gestão; e que
abrangem também habilidades técnicas e funcionais que os sujeitos devem ter.
2.2.3 Modelos de mensuração da autoeficácia empreendedora
Bandura (1977) defende que os efeitos dos determinantes da aprendizagem social da
autoeficácia podem ser medidos devido à suas possíveis variações, com isso, o autor acredita que
tem como verificar com precisão as proposições sobre as origens da autoeficácia.
Partindo desse pressuposto, Chen, Greene e Crick (1998) inovaram em seu estudo com
universitários e empresários de organizações de pequeno porte ao elaborar uma escala de
autoeficácia empresarial que reunia dimensões relacionadas com o marketing, inovação, gestão,
assunção de riscos e controle financeiro. Utilizaram ainda algumas variáveis de controle, como
idade, sexo, nível de escolaridade, número de familiares e amigos empresários e quantidade de
cursos sobre empreendedorismo que tinham realizado. Como resultado principal, foi observado que
a autoeficácia teve um efeito positivo sobre a probabilidade de ser um empreendedor, e ainda que
a assunção de risco e a inovação encontraram-se diferenciadas entre os participantes. Os
pesquisadores utilizaram os resultados de autoeficácia para diferenciar significativamente
empresários de não-empreendedores.
De Noble, Jung e Ehrlich (1999) elaboraram seu trabalho sobre a ótica de Chen, Greene
e Crick (1998), no entanto o intuito foi criar uma escala para o contexto empresarial, sendo assim
32
uma das medidas mais utilizadas até os dias de hoje. Embalados na teoria da autoeficácia
apresentada por Bandura (1977), os pesquisadores elaboraram a escala com seis subescalas. Este
estudo foi realizado com 272 estudantes universitários americanos, e tiveram como resultado
principal a correlação positiva e significante entre o escore total da escala e a intenção e a
disponibilidade atual dos estudantes iniciarem o seu negócio próprio.
A escala elaborada por De Noble, Jung e Ehrlich (1999) foi utilizada posteriormente em
um estudo com estudantes universitários na Espanha. Moriano, Palací e Morales (2006)
adaptaram a escala utilizando cinco, das seis subescalas originais: desenvolvimento de novos
produtos, construção de um ambiente inovador, relação com investidores, trabalho sob estresse
e desenvolvimento de recursos humanos.
García (2010) também utilizou a escala já apresentada anteriormente, pois seu estudo
que teve 1.810 respondentes sendo estes universitários da Espanha, Portugal, México Brasil e
Argentina, tinha como objetivo principal examinar a validade fatorial de um instrumento de
pesquisa voltado para mensurar a orientação empreendedora. Apesar de não ter como centro da
pesquisa a autoeficácia, o autor utilizou uma estrutura psicométrica para formular o seu
instrumento de pesquisa, o qual era composto por três dimensões, que são: lócus de controle,
tendo como referência os trabalhos de Rotter (1966), Levenson (1973) Cromie (2000);
autoeficácia empreendedora, utilizando a escala de De Noble, Jung e Ehrlich (1999); e
personalidade proativa, que teve como fonte os estudos de Seibert, Crant e Kraimer (1999,
2001).
Utilizando a escala de mensuração de autoeficácia do empreendedorismo coorporativo
de Ehrlich, De Noble e Singh (2005), a qual derivou do modelo de mensuração de autoeficácia
empreendedora de De Noble, Jung e Ehrlich (1999), Moriano et al. (2012) tiveram a intenção
de adapta-la e validá-la para a língua espanhola em um estudo com 248 executivos e gerentes
espanhóis. Os resultados apresentados confirmaram a validade e confiabilidade para avaliar
habilidades e atividades essenciais necessárias para liderar iniciativas empreendedoras dentro
da organização no contexto espanhol.
Com o intuito de analisar a relação entre autoeficácia empreendedora com competências
empreendedoras e a percepção de desempenho, Lizote, Verdinelli e Silveira (2013a) realizaram
uma pesquisa survey com questionário aplicado a 104 gestores de empresas instaladas em
incubadoras. Nesse estudo, para mensurar a autoeficácia empreendedora foi utilizado a escala
de De Noble, Jung e Ehrlich (1999). Por resultados obtiveram que as competências
33
empreendedoras se manifestaram de maneira distinta entre os respondentes, que proporcionou
distinguir grupos homogêneos; e no âmbito da autoeficácia, foi confirmada uma relação
positiva com desempenho.
Posteriormente, Lizote, Verdinelli e Silveira (2013b) realizaram uma pesquisa que teve
como objetivo analisar o relacionamento entre competências empreendedoras e autoeficácia
empreendedora que os estudantes do curso de Administração em uma universidade comunitária
declaram ter. Os pesquisadores utilizaram o modelo de Cooley (1990, 1991) validado por Lenzi
(2008) para mensurar as competências empreendedoras e a escala de De Noble, Jung e Ehrlich
(1999) para medir a autoeficácia empreendedora. O principal resultado desse estudo foi que a
autoeficácia se associa com as competências empreendedoras dentro do contexto estudado.
Em outro estudo, Nascimento, Verdinelli e Lizote (2014) analisaram as relações entre
os estilos cognitivos com a autoeficácia e a intenção empreendedora que os alunos que estavam
no último ano dos cursos de Administração e Ciências Contábeis em duas universidades
comunitárias do estado de Santa Catarina acreditavam ter. Foi também realizada uma survey
com questionário de autopreenchimento, o qual estava dividido em quatro blocos de acordo
com a perspectiva de atender aos objetivos da pesquisa. Dentre os blocos do questionário, o
constructo da autoeficácia empreendedora foi contemplado com a escala de Moriano, Palací e
Morales (2006). Os resultados apontaram que os alunos que possuem estilo intuitivo ou quase
intuitivo manifestaram maior autoeficácia; que há uma relação positiva da autoeficácia
empreendedora dos universitários com o comportamento planejado; e, por fim, que a associação
entre a autoeficácia empreendedora e a intenção empreendedora foi positiva e significante.
Em seu trabalho de dissertação de mestrado, Simões (2016) analisou a intenção
empreendedora relacionando-a com a autoeficácia empreendedora e a autoeficácia acadêmica
em estudantes de quatro escolas em Coimbra. Na amostra de 290 alunos, a pesquisadora aplicou
o instrumento validado e adaptado por Moriano, Palací e Morales (2006). Como resultados
principais, obteve-se que o desenvolvimento das elevadas expectativas de autoeficácia
empreendedora se associam fortemente à vontade de desenvolvimento de um projeto
empreendedor e ao sentimento de que se é capaz de realizar o caminho necessário para
consegui-lo.
Recentemente, Miao, Qian e Ma (2017) realizaram uma metanálise com o intuito de
fazer uma revisão e uma síntese na literatura sobre a relação entre a autoeficácia empreendedora
e o desempenho, bem como abordaram quais moderadores influenciam essa relação. O estudo
34
teve como amostra total 5.065 empresas, em 26 estudos que os pesquisadores analisaram. Um
dos meios que utilizaram para refinar a busca na literatura foi a procura por artigos críticos que,
segundo os autores, desenvolvem a construção da autoeficácia, como Chen; Greene e Crick
(1998), De Noble, Jung e Ehrlich (1999) e Forbes (2005). Para os autores foi uma garantia que
a pesquisa havia capturado todos os estudos relevantes que relacionavam autoeficácia
empreendedora e desempenho empresarial. Como resultado, encontraram que a medição do
desempenho empresarial é um moderador significativo nessa relação.
A Figura 03 representa de forma resumida como os conceitos e escalas utilizados pelos
autores citados neste trabalho estão interligados. Iniciando pelo estudo de Chen; Greene e Crick
(1998), a qual derivou a escala de De Noble, Jung e Ehrlich (1999); que, por sua vez foi utilizada
nas pesquisas de García (2010), Lizote, Verdinelli e Silveira (2013a) e Lizote, Verdinelli e
Silveira (2013b). Bem como, a partir do instrumento citado anteriormente, derivou a escala de
Ehrlich, De Noble e Singh (2005) que foi utilizada por Moriano et al. (2012). A escala de De
Noble, Jung e Ehrlich (1999) foi adaptada por Moriano, Palací e Morales (2006), a qual
Nascimento, Verdinelli e Lizote (2014) e Simões (2016) a utilizaram.
Figura 03 - Principais autores e escalas utilizadas para medir autoeficácia empreendedora
Fonte: Elaborado com base na literatura (2017)
Observa-se, com os exemplos supracitados de modelos de mensuração da autoeficácia
empreendedora, que uma das principais escalas utilizadas para mensuração foi o instrumento
35
desenvolvido e validado por De Noble, Jung e Ehrlich (1999). Assim sendo, a próxima seção
ater-se-á a apresentar e explicitar melhor essa escala, a qual será utilizada também nesta
pesquisa.
2.2.4 Modelo de autoeficácia empreendedora de De Noble, Jung e Ehrlich (1999)
No estudo de De Noble, Jung e Ehrlich (1999) os pesquisadores elaboraram uma escala
a partir de propriedades psicométricas, que Pasquali (1997) entende como um modelo
quantitativista aplicado à Psicologia, o qual se originou no final do século XIX e nos primeiros
anos do século XX e que teve como precursores e desenvolvedores estatísticos.
Como mencionando na seção anterior, o trabalho que deu suporte na construção desta
escala foi o de Chen, Greene e Crick (1998). A partir dele, De Noble, Jung e Ehrlich (1999)
construíram uma escala mais refinada na construção de autoeficácia empreendedora; que
complementam ainda que esse refinamento deve incluir competências empresariais que são,
por sua vez, diferentes de habilidades gerenciais, como citadas com mais frequência na
literatura.
Esses autores destacam que para estudar o processo empreendedor, essa “medida
refinada” da autoeficácia pode servir como uma ferramenta de pesquisa na previsão de ações e
intenções empreendedoras. De Noble, Jung e Ehrlich (1999) afirmam ainda que há uma
influência positiva quando uma pessoa possui autoeficácia percebida para estar à frente da
realização das exigências de um empreendimento inicial e a intenção empreendedora.
O estudo teve como objetivo principal desenvolver uma medida confiável e válida de
autoeficácia empresarial, que os autores selecionaram seis subescalas , sendo dividido da
seguinte forma de acordo com as ordens dos fatores: 1) desenvolvimento de novos produtos e
oportunidade de mercado, 2) construção de um ambiente inovador, 3) iniciando relações com
investidores, 4) definição do objetivo principal do negócio, 5) lidar com desafios inesperados,
e 6) desenvolvimento de recursos humanos-chave para a empresa (DE NOBLE; JUNG;
EHRLICH, 1999).
Para melhor entendimento de cada dimensão apresentada, esta seção limita-se a detalhar
no que consiste essencialmente as perspectivas que contemplam a mensuração da autoeficácia
empreendedora no instrumento elaborado por De Noble, Jung e Ehrlich (1999):
36
1) Desenvolvimento de novos produtos ou oportunidades de mercado: relaciona-se a um
conjunto de habilidades relacionadas ao reconhecimento de oportunidade, a qual se torna
importante para os sujeitos que buscam iniciar um empreendimento, pois eles devem acreditar
fielmente no produto ou oportunidade de mercado que identificaram para que sirva como uma
base sólida para outros interessados que queiram lançar um empreendimento. Moriano, Palací
e Morales (2006) complementam o conceito afirmando que o empreendedor tem que acreditar
na própria capacidade criativa para descobrir oportunidades que concedam desenvolver seus
produtos ou serviços.
2) Construção de um ambiente inovador: está associado à capacidade que o sujeito tem
para se encorajar ao tentar novas ideias, bem como iniciar ações e assumir responsabilidade dos
resultados que foram gerados. Nessa dimensão também é avaliado a capacidade de percepção
do indivíduo de promover ações inovadoras.
3) Iniciar relacionamento com investidores: as demandas para manter essa rede de
relacionamento por vezes são subestimadas pelos empreendedores no início do negócio, no
entanto depois que começa o empreendimento, pode ser mais demorada e exigente de
habilidades significativas, além de ser parte do que o empreendedor precisa para sustentar a
visão de negócio.
4) Definição do propósito central: essa dimensão é colocada com o intuito de deixar mais
clara e objetiva a visão do empreendedor sobre seu próprio negócio, a fim de atrair investidores
e funcionários-chave, tornando-se assim, uma das dimensões essenciais. Moriano, Palací e
Morales (2006) acrescentam que se um indivíduo não se sente capaz de estabelecer o objetivo
principal do seu negócio, provavelmente ele não terá motivação para iniciar o empreendimento.
5) Lidar com desafios inesperados: no início do empreendimento, os sujeitos têm de lidar
com a ambiguidade e incerteza que envolve o ambiente, além de tolerar falta de informação,
mensagens duvidosas e rejeições que possivelmente poderão enfrentar. Os autores destacam
ainda que esses possíveis desafios poderão acontecer com feedback de investidores, flutuações
nas condições de mercados e também nos requisitos para infusões de dinheiro.
6) Desenvolvendo recursos humanos: trata-se da capacidade do empreendedor de atrair e
reter indivíduos-chave para a empresa, atividade essa que é de grande importância para as
atividades iniciais do empreendimento.
37
2.2 COMPETÊNCIAS
2.3.1 Contextualização
O conceito de competência foi colocado de forma mais estruturada na década de 70 pela
primeira vez por McClelland em seu artigo Testing for Competence rather than Intelligence,
no qual iniciou o debate entre psicólogos e administradores nos Estados Unidos acerca do tema
(FLEURY; FLEURY, 2004; DUTRA, 2016). Lizote (2013) aponta que há na literatura uma
quantidade expressiva de conceitos e enfoques utilizados para a noção de competências. No
entanto, Cardoso (2006, p. 52) apresenta a palavra “competência” advinda do latim
“competentia”, que significa a “capacidade de quem é capaz de apreciar e resolver certo
assunto, de fazer determinada coisa, com habilidade, aptidão, capacidade e idoneidade”.
O termo competência recebe abordagens distintas, sustentada por duas linhas teóricas,
a americana e a europeia, a qual se difunde entre os autores ingleses e franceses (CARDOSO,
2006). Geffroy e Tijou (2002) apresentaram essas três abordagens predominantes relacionadas
ao estudo de competências da seguinte forma:
a) Americana – que tem foco nos elementos comportamentais ou atributos individuais. A
competência, segundo essa abordagem é vista como um estoque de recursos do indivíduo, ou
seja, seus conhecimentos, habilidades e atitudes (CHA).
b) Inglesa (Funcional) – a identificação dos conhecimentos, habilidades e atitudes é
realizada através de uma análise do desempenho e das responsabilidades assumidas pelo
indivíduo, e as competências, por sua vez, são vinculadas aos objetivos organizacionais.
c) Francesa (Construtivista) – trata da competência prática, analisando-a como um
processo dinâmico reconhecido pelos resultados da ação.
Na perspectiva americana, as competências são sustentadas pelo fato de poder ser usadas
para referir às áreas de trabalho que cada indivíduo é competente (CARDOSO, 2006). Assim,
McClelland (1973) defende que é uma característica subjacente a um ser, que pode ser um
motivo, habilidade, aspecto da autoimagem ou papel social ou ainda um corpo de
conhecimento, o qual é complementado posteriormente por Boyatzis e por Spencer e Spencer.
Brandão (2007) assegura que além das competências estarem relacionadas a uma gama de
qualificações que o sujeito possui e que o faz exercer sobre o trabalho, elas também auxiliam
ao indivíduo lidar com determinada situação.
38
A ideia de Boyatzis auxiliou a apontar uma série de traços e características que auxiliam
a definir um desempenho superior. Assim, Fleury; Fleury (2004) definem o conceito de
competência como “um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que justificam um
alto desempenho”. Em contrapartida, os ingleses, têm o entendimento sobre competências
próximo ao que o mercado de trabalho exige e também ao que é esperado pelas organizações
(SANT’ANNA, 2010; GODOY et al., 2009).
Le Boterf (2003) traz à tona o conceito de competência afirmando e ela é um resultado
do cruzamento de três eixos: o sujeito, o qual envolve sua biografia e socialização; a experiência
profissional e a situação de sua formação educacional.
Já Zarifian (2003) denomina três elementos a fim de conceituar o termo competência: a
responsabilidade e iniciativa do indivíduo no campo profissional, a inteligência prática das
situações que se apoia em conhecimentos adquiridos e a capacidade de compartilhar desafios e
assumir responsabilidades.
Prahalad e Hamel (1990) consolidam o conceito de competência trazendo o termo core
competence que trata das competências essenciais, as quais são consideradas diferenciais para
a organização, permitindo, assim, obter vantagem competitiva por meio das competências
organizacionais, o que determinam a sobrevivência das organizações. Estes autores definem
competência como a capacidade do sujeito misturar, integrar e combinar nos produtos e
serviços, e ainda assegurar uma relação entre competências e estratégias competitivas.
Seguindo o aspecto de core competence proposto por Prahalad e Hamel (1990), Dutra
(2016) sustenta a ideia defendendo que não se pode pensar em competências individuais de
forma generalizada, mas sim associadas às competências essenciais para a organização, pois,
há um processo contínuo de troca de competências, no qual a organização transfere seu
patrimônio para as pessoas, preparando-as para enfrentar novas situações profissionais e
pessoais, seja na organização ou fora dela. Em contrapartida, ao mesmo tempo em que as
pessoas desenvolvem sua capacidade individual, elas transferem para a organização em quem
se encontra seu aprendizado, capacitando-a a enfrentar novos desafios. Assim sendo, ao
colocarem em prática o patrimônio de conhecimentos da organização, as pessoas concretizam
as competências organizacionais e fazem uma adequação ao contexto (DUTRA, 2016).
Kets de Vries (1996) acredita que competência é uma característica que envolve
diferentes habilidades, conhecimentos e traços de personalidade, que são influenciados pela
história familiar, experiência, capacitação que teve ao longo da vida, educação, aspectos
39
demográficos, entre outros fatores inerentes ao indivíduo. Boyatzis (2008) complementa
afirmando que competência é um conjunto de comportamentos relacionados, mas diferentes,
organizados em torno de uma construção subjacente, que chamamos de "intenção". Os
comportamentos são manifestações alternativas da intenção, conforme apropriado em várias
situações ou tempos.
Fleury e Fleury (2001) mostram que a noção de competência está associada a verbos
como: mobilizar recursos, integrar saberes múltiplos e complexos, saber agir, saber aprender,
saber engajar-se, assumir responsabilidades e ter visão estratégica. Para a organização, as
competências devem agregar valor econômico, enquanto para o indivíduo devem agregar
valor social. A Figura 04 apresenta como esse conceito está interligado com a interação de
competências individuais e organizacionais.
Figura 04 - Competências como Fonte de Valor para o Indivíduo e para a Organização
Fonte: Fleury e Fleury (2001)
Competência é definida então por Fleury e Fleury (2001, p. 188) como “um saber agir
responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos,
recursos e habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao
indivíduo
Outro elemento que está associado ao conceito de competência é a individualidade, ou
seja, aquelas características que são particulares a cada indivíduo. Assim, a competência
individual é a capacidade de ser eficiente em determinadas situações, apoiando-se em
conhecimentos, contudo não se limitando a eles (PERRENOUD, 2001). Levy-Lebouyer
(1997) afirma que as competências estão associadas a uma tarefa e a um conjunto de atividades
e saberes articulados, realizados de forma internalizada, a medida que o indivíduo usa este
40
saber no momento que acredita ser adequado, não tendo a necessidade de consultar regras
básicas ou perguntar sobre qual conduta deve adotar.
A competência não existe de maneira isolada, pois ela é resultado da formação do
indivíduo, da formação educacional e da experiência profissional, a qual implica na relação
sujeito-meio, sendo assim sempre uma competência em situação ou competência em ação.
Bitencourt (2004) afirma que o processo de formação de competências é um contínuo e
articulado desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes, sendo a própria pessoa
a responsável pela construção e consolidação de suas competências.
Takahashi (2007) complementa a ideia de competências individuais identificando que
a formação da pessoa é composta por saberes teóricos, o saber-fazer sejam eles empíricos,
relacionais, formalizados ou cognitivos, as aptidões ou qualidades, os recursos fisiológicos e
emocionais. Assim, o trabalho não se restringe a um conjunto de características associadas a
um cargo, mas torna-se a ação da competência do indivíduo no contexto profissional, que por
sua vez, está cada vez mais complexo e dinâmico (BITENCOURT; KLEIN, 2007).
A temática da formação de competências individuais recai sobre o mercado de trabalho
e suas inúmeras mudanças, as quais estabelecem a necessidade de adaptação aos novos
cenários e impõe aos indivíduos buscarem qualificar-se e desenvolver suas competências
profissionais a fim de manter-se competitivo e inserido no mercado. Ruas (2003) destaca que
a renovação do interesse acerca do conceito de competência apresenta de novo em termos de
princípios e práticas de gestão é resultado do aumento da utilização desse termo como
importante referência na gestão empresarial no Brasil.
Na área da educação a preocupação com a formação profissional que ocorre no nível
médio e superior, ganhou impulso com a aderência do conceito de competência como
orientador das decisões curriculares (GODOY; ANTONELLO, 2009). Além da formação de
currículos, Lizote (2013) destaca ainda no âmbito educacional os seguintes aspectos: processo
de ensinar e aprender, avaliação de competências docentes e enfoque na educação profissional.
As ações empreendedoras estão intimamente associadas à capacidade de gestão, à
capacidade de relacionamento em rede, senso de identificação de oportunidades, o
comprometimento com os interesses individuais e da empresa, o posicionamento em cenários
conjunturais, representando uma sinergia, uma troca equitativa de interesses entre os diversos
entes envolvidos (MAMED; MOREIRA, 2005). Lizote (2013) destaca que as competências
empreendedoras têm como base uma interação entre as competências individuais e as
41
organizacionais, tornando-se assim, fundamental o conhecimento de seus conceitos,
características e modelos.
2.3.2 Competências empreendedoras
Em uma revisão sistemática da literatura sobre a incorporação das competências
empreendedoras na educação superior realizada por Ferreras, Hernández-Lara e Serradell-
López (2017), os autores detectaram que na última década, os estudos relacionados às
competências empreendedoras e sua relação com o processo de ensino-aprendizagem
demonstrou um aumento considerável.
Lenzi et al. (2015) acreditam que os estudos na área de administração têm buscado
incorporar conhecimentos sobre o perfil empreendedor aliado ao contexto das competências.
Os autores afirmam que um empreendedor pode construir e adequar suas individualidades com
a finalidade de criar uma competência empreendedora, assim como um indivíduo é capaz de
lapidar suas próprias competências. Concomitante a esse pensamento, Zarifian (2001) já
afirmava que ninguém é obrigado a ser empreendedor, pois não se pode obrigar ninguém a ser
competente, ou seja, cada pessoa pode aperfeiçoar suas competências, e um empreendedor
pode aprimorar e criar suas próprias competências empreendedoras.
Snell e Lau (1994) definem competências empreendedoras como a junção de
competências e ações empreendedoras, as quais consistem em um corpo de conhecimento,
área ou habilidade, motivações ou direcionamentos, atitudes ou visões, qualidades pessoais ou
características, que podem contribuir de diferentes maneiras para o pensamento ou ação
efetiva do negócio. Para esses autores, criar e gerenciar um negócio estão relacionados ao
plano de vida do empreendedor, aos valores e à suas características pessoais, os quais são
refletidos na amplitude desta definição.
Mamed e Moreira (2005) consideram que em decorrência das diferentes tarefas que
são desempenhadas, a competência empreendedora pode tratar-se tanto como competência do
indivíduo, como relacionar-se à prática administrativa. Os autores destacam ainda que as ações
empreendedoras estão associadas às competências porque representa a identificação de
oportunidades, a facilidade de leitura, a capacidade de gestão e de relacionamento em rede,
habilidades conceituais, o posicionamento em cenários conjunturais e o comprometimento
com interesses individuais e da organização.
42
Brasil (2015) relata que quando migra do campo do empreendedorismo para o de
competências empreendedoras, alguns estudos têm tentado incorporar a união entre as
características do perfil empreendedor ao contexto das competências. Lenzi (2008) afirma que
o conjunto mais apropriado ao estudo de competências empreendedoras é o modelo de
competências individuais. A partir disso, torna-se essencial conhecer os modelos principais
para mensuração das competências empreendedoras.
2.3.3 Modelos de mensuração das competências empreendedoras
Em 1983, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional
(USAID) financiou uma pesquisa em três países subdesenvolvidos, Equador, Malawi e Índia
para identificar características empreendedoras pessoais. Essa pesquisa tinha o propósito de
identificar competências capazes de prever a criação e sucesso de negócios em diferentes
culturas, tendo ainda como objetivo multiplicar e estender a aplicação dos conhecimentos sobre
motivação usando a metodologia de mensuração de competências desenvolvida por Lyle
Spencer e David McClelland (LIZOTE, 2013).
Assim, essa pesquisa resultou em um conjunto de competências, as quais deram origem
a um dos modelos de competências, conforme apresenta o Quadro 02.
Quadro 02 - Modelo de competências de Spencer e Spencer
I – REALIZAÇÃO
1. Iniciativa
a. Faz as coisas antes de solicitado ou antes de forçado pelas circunstâncias.
b. Age para expandir seu negócio a novas áreas, produtos ou serviços.
2. Vê e aproveita as oportunidades
a. Vê e aproveita novas oportunidades de negócios
b. Aproveita oportunidades incomuns para obter financiamentos, terreno, local de trabalho
ou assistência.
3. Persistência a. Age repetidamente ou muda de estratégia para superar um obstáculo.
b. Age frente a um obstáculo significativo.
4. Busca de informação a. Dedica-se pessoalmente a pesquisar como fornecer um produto ou serviço.
b. Consulta especialistas para obter assessoria técnica ou empresarial.
c. Procura informações ou faz perguntas para esclarecer as necessidades de um fornecedor.
d. Assume pessoalmente pesquisas de mercado, análises de mercado ou pesquisas.
e. Usa contatos ou rede de informações para obter informação útil.
5. Interesse pela alta qualidade de trabalho a. Manifesta o desejo de produzir ou vender um produto ou serviço de maior qualidade ou
qualidade superior.
b. Compara seu próprio trabalho ou o trabalho de sua empresa como sendo melhor que os
outros.
6. Comprometimento com contratos de trabalho
43
a. Faz um sacrifício pessoal ou despende um esforço extraordinário para completar um
trabalho.
b. Aceita total responsabilidade pelos problemas na conclusão de um trabalho para os
clientes.
c. Colabora com os empregados ou se coloca no lugar deles para completar um trabalho.
d. Expressa interesse em satisfazer o cliente.
7. Orientação para a eficiência a. Procura ou encontra maneiras de fazer as coisas mais rápido ou com um custo menor.
b. Usa informação ou ferramentas de gestão para aumentar a eficiência.
c. Expressa preocupação pela relação custo/benefício ou sobre alguma melhoria, mudança
ou ação em curso.
II - PENSAMENTO E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
8. Planejamento sistemático a. Planeja dividindo uma tarefa de grande porte em subtarefas.
b. Desenvolve planos que preveem obstáculos.
c. Avalia alternativas.
d. Usa uma abordagem lógica e sistemática para as atividades.
9. Solução de problemas a. Muda para uma estratégia alternativa para alcançar uma meta.
b. Gera novas ideias ou soluções inovadoras.
III – MATURIDADE PESSOAL
10. Autoconfiança a. Expressa confiança na sua própria capacidade de completar uma tarefa ou enfrentar um
desafio.
b. Mantém sua opinião frente à oposição ou falta inicial de sucesso.
c. Faz alguma coisa que ele considera arriscado.
11. Perícia (expertise)
a. Tem experiência na mesma área de negócios.
b. Possui forte perícia técnica na área de negócios.
c. Tinha experiência em finanças antes de começar o negócio.
d. Tinha experiência em contabilidade antes de começar o negócio.
e. Tinha experiência em produção antes de começar o negócio.
f. Tinha experiência em marketing/vendas antes de começar o negócio.
g. Tinha experiência em outras áreas de negócio relevantes antes de começar o negócio.
12. Reconhece suas próprias limitações
a. Declara explicitamente uma limitação pessoal.
b. Envolve-se em atividades para melhorar suas próprias habilidades.
c. Manifesta aprendizado a partir de um erro do passado.
IV – INFLUÊNCIA
13. Persuasão
a. Convence os outros a comprar seu produto ou serviço.
b. Convence os outros a fornecer financiamento.
c. Convence os outros a fazer coisas que ele quer que outras pessoas façam.
d. Manifesta sua própria competência, credibilidade ou outras qualidades pessoais ou da
empresa.
e. Manifesta forte confiança nos produtos ou serviços da sua própria empresa.
14. Uso de estratégias de influência a. Age para desenvolver contatos de negócios.
b. Usa pessoas influentes como agentes para atingir seus próprios objetivos.
c. Limita, seletivamente, as informações que dá a outros.
d. Usa estratégias para influenciar ou persuadir os outros.
V. DIREÇÃO E CONTROLE
16. Assertividade
a. Confronta problemas com os outros diretamente.
b. Diz aos outros o que eles têm que fazer.
c. Repreende ou disciplina aqueles que falham no desempenho esperado.
17. Monitoramento
44
a. Desenvolve ou usa procedimentos para assegurar que o trabalho seja terminado ou para
que atenda a padrões de qualidade.
b. Supervisiona pessoalmente todos os aspectos de um projeto.
VI. ORIENTAÇÃO PARA OS OUTROS
18. Credibilidade, integridade e sinceridade a. Enfatiza sua própria honestidade aos outros (por exemplo, em vendas).
b. Age para assegurar honestidade ou justiça ao tratar com outras pessoas.
c. Acompanha o resultado de sanções ou punições (a empregados, fornecedores).
19. Preocupação com o bem-estar dos empregados a. Age para melhorar o bem-estar dos empregados.
b. Realiza ações positivas em resposta às preocupações pessoais dos empregados.
c. Expressa preocupação com o bem-estar dos empregados.
20. Reconhecimento da importância de relacionamentos comerciais
a. Reconhece as relações interpessoais como um recurso fundamental para os negócios.
b. Coloca a boa vontade em longo prazo acima do lucro em curto prazo numa relação
comercial.
c. Enfatiza a importância de manter a cordialidade e um comportamento correto o tempo todo
com o cliente.
d. Age para construir relações harmoniosos ou de amizade com o cliente.
21. Providencia treinamento para os empregados
VII – COMPETÊNCIAS ADICIONAIS
22. Formação de capital (apenas em Malawi)
a. Economiza dinheiro para investir no negócio.
b. Reinveste o dinheiro no negócio.
23. Preocupa-se com a imagem dos produtos e serviços (apenas no Equador)
a. Expressa interesse em saber como os outros veem seus produtos, serviços ou empresa.
b. Mostra-se atento à divulgação de seu produto ou empresa por parte dos clientes.
Fonte: Adaptado de Spencer e Spencer (1993).
A partir do modelo de Spencer e Spencer, Cooley (1990, 1991) desenvolveu outro
modelo no qual destacou as características do comportamento empreendedor, também
conhecido por competências empreendedoras. Este, por sua vez, é utilizado pelo Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), bem como pelo Serviço de Apoio à Pequena
Empresa (SEBRAE) em programas de capacitação e desenvolvimento de empreendedores
(EMPRETEC). O Quadro 03 apresenta detalhadamente o modelo desenvolvido por Cooley.
Quadro 03 - Competências empreendedoras CONJUNTO DE REALIZAÇÃO
Busca de oportunidades e iniciativa:
Faz coisas antes de solicitado ou, antes de forçado pelas circunstâncias;
Age para expandir o negócio a novas áreas, produtos ou serviços;
Aproveita oportunidades fora do comum para começar um negócio, obter financiamentos,
equipamentos, terrenos, local de trabalho ou assistência.
Correr riscos calculados:
Avalia alternativas e calcula riscos deliberadamente;
Age para reduzir os riscos ou controlar os resultados;
Coloca-se em situações que implicam desafios ou riscos moderados.
Exigência de qualidade e eficiência:
Encontra maneiras de fazer as coisas melhor e/ou mais rápido, ou mais barato;
Age de maneira a fazer coisas que satisfazem ou excedem padrões de excelência;
Desenvolve ou utiliza procedimentos para assegurar que o trabalho seja terminado a tempo
ou que o trabalho atenda a padrões de qualidade previamente combinados.
Persistência:
Age diante de um obstáculo;
45
Age repetidamente ou muda de estratégia a fim de enfrentar um desafio ou superar um
obstáculo;
Assume responsabilidade pessoal pelo desempenho necessário para atingir as metas e objetivos.
Comprometimento:
Faz um sacrifício pessoal ou despende um esforço extraordinário para complementar uma
tarefa;
Colabora com os empregados ou se coloca no lugar deles, se necessário, para terminar um
trabalho;
Esforça-se para manter os clientes satisfeitos e coloca em primeiro lugar a boa vontade em
longo prazo, acima do lucro em curto prazo.
CONJUNTO DE PLANEJAMENTO
Busca de informações:
Dedica-se pessoalmente a obter informações de clientes, fornecedores e concorrentes;
Investiga pessoalmente como fabricar um produto ou fornecer um serviço;
Consulta os especialistas para obter assessoria técnica ou comercial.
Estabelecimento de metas:
Estabelece metas e objetivos que são desafiantes e que tem significado pessoal;
Define metas em longo prazo, claras e específicas;
Estabelece metas em curto prazo, mensuráveis.
Planejamento e monitoramento sistemáticos:
Planeja dividindo tarefas de grande porte em sub-tarefas com prazos definidos;
Constantemente revisa seus planos levando em conta os resultados obtidos e mudanças
circunstanciais;
Mantém registros financeiros e utiliza-os para tomar decisões.
CONJUNTO DE PODER
Persuasão e rede de contatos:
Utiliza estratégias deliberadas para influenciar ou persuadir os outros;
Utiliza pessoas-chave como agentes para atingir seus próprios objetivos;
Age para desenvolver e manter relações comerciais.
Independência e autoconfiança
Busca autonomia em relação a normas e controles de outros;
Mantém seu ponto de vista, mesmo diante da oposição ou de resultados inicialmente
desanimadores;
Expressa confiança na sua própria capacidade de completar uma tarefa difícil ou de enfrentar
um desafio.
Fonte: Cooley (1990)
Morales (2004) realizou uma análise entre a relação de competências empreendedoras
a partir do modelo de Cooley e a teoria dos tipos psicológicos de Jung (1991). No estudo de
uma amostra de 82 empreendedores de Santa Catarina, o pesquisador teve como objetivo
principal medir a intensidade com que os tipos psicológicos junganianos se relacionam com
as competências empreendedoras de Cooley. Como resultados principais, foram encontradas
duas competências empreendedoras dominantes: busca de informações e persuasão e rede de
contatos. O estudo também mostrou que houve baixa correlação entre os tipos psicológicos e
as competências.
A pesquisa realizada por Lenzi (2008) teve também como ênfase a identificação e
associação de tipos psicológicos de Jung (1991) e competências empreendedoras reconhecidas
nos indivíduos considerados empreendedores em uma amostra de 126 pesquisados em onze
46
empresas de grande porte localizadas no estado de Santa Catarina. Nesta pesquisa, as
competências empreendedoras que mais se destacaram foram: correr riscos calculados,
persistência, comprometimento, busca de informações e persuasão e rede de contatos.
Também foi possível confirmar um alto grau de significância na associação dos tipos
psicológicos predominantes às competências empreendedoras identificadas por colegas de
trabalho.
Rosa e Lapolli (2010), afirmaram em sua pesquisa que em certos contextos
determinadas competências fazem mais sentidos às ações individuais que outras, e
complementam argumentando que algumas competências podem ser até mais importantes para
atingir o alto desempenho em certo mercado, mas no geral, todas devem fazer-se presentes para
que uma ação empreendedora gere resultados esperados.
Laste et al. (2011) realizaram uma pesquisa na qual buscaram desenvolver um
levantamento de competências dos empreendedores que participaram do movimento da
Associação Empresarial de Balneário Camboriú e Camboriú – ACIBALC como forma de
analisar as suas ações desenvolvidas na empresa e atribuídas a sua origem com a participação
nos núcleos setoriais. Com uma amostra de 45 empreendedores, os resultados ressaltaram que
as competências empreendedoras estão mais presentes nos empreendedores do núcleo de
informática, destacando-se ações de persistência, comprometimento, busca de informações e
independência e autoconfiança.
A fim de complementar a exemplificação feita pelos estudos supracitados, foi elaborado
o Quadro 04 com as principais publicações brasileiras que abordam o tema de competências
empreendedoras nos anos de 2006 a 2016.
Quadro 04 - Pesquisas brasileiras sobre competências empreendedoras Autor (Ano) Objetivo Principais Resultados
Mello; Leão e Paiva
Júnior (2006)
Identificar quais áreas de
competências empreendedoras são
mais relevantes nos
comportamentos de dirigentes de
perfil empreendedor e analisar
comportamentos específicos
compõem as áreas de competências.
Os resultados demonstraram uma
predominância das competências
conceituais e administrativas. Além
disto, uma competência não prevista na
literatura – equilíbrio entre trabalho e
vida pessoal – foi descoberta.
Mello; Fonsêca e
Paiva Júnior (2007)
Esclarecer quais áreas de
competências empreendedoras são
mais relevantes no comportamento
desse empreendedor de empresa de
base tecnológica, no seu agir
empreendedor
Há uma prevalência das competências
conceituais e de visão de mercado.
O empreendedor de sucesso é alguém
com aguçada intuição,
que aprende continuamente, tem
criatividade e facilidade de avaliar riscos
em meio a cenários obscuros e de
incerteza, que vislumbra as
oportunidades de negócio sob outros
47
horizontes e que dá vazão ao
(re)inventar-se, bem como ao seu
empreendimento.
Feuerschütte e
Godoi (2008)
Analisar a configuração das
competências empreendedoras do
setor hoteleiro a partir da
reconstrução histórica de
experiências de trabalho e da
atuação dos sujeitos à frente do
empreendimento.
A partir da análise das competências
empreendedoras foi possível detectar
uma tendência à reformulação da “visão
romântica” em torno do empreendedor e
do seu “espírito aventureiro”, para uma
racionalização em sua forma de ser e de
agir.
Atributos como empatia e receptividade
foram entendidos como recursos para
expressar o diferencial do
empreendimento, revelando uma
mudança de postura do empreendedor.
Pardini; Brandão e
Souki (2008)
Analisar as competências
empreendedoras e a rede de
relações sociais no processo de
decisão do empreendedorismo com
profissionais da área da
Fisioterapia.
Os fisioterapeutas agem de maneira
intuitiva na concepção do próprio
negócio e se abstêm de qualquer
planejamento estratégico preliminar.
Lopes (2010) Identificar três modalidades de
competências vinculadas ao
empreendedorismo: as
competências relacionadas às
características pessoais do
empreendedor; as competências
ligadas à gestão; as competências
relacionadas ao seu contexto em
empresas do setor da Tecnologia da
Informação da região da Grande
Florianópolis/SC.
Notou-se um enfoque pragmático, com
destaque para competências técnicas e
gerenciais ou sistêmicas. Verificou-se
que a configuração das competências
pessoais, de gestão e de contexto dos
empreendedores, apontou uma
aproximação entre os referenciais
teóricos e a maneira como os agentes do
Fenômeno empreendedorismo concebem
e atuam na condução de seus negócios.
Rocha et al. (2010) Integrar competências
empreendedoras e geração da base
de recursos no âmbito tecnológico,
adotando pressupostos da Teoria da
Vantagem de Recursos.
Os autores destacam a importância de
um modelo empreendedor que acople
características individuais e influências
ambientais, uma vez que as
competências podem surgir como
legitimadores na medida em que o
conjunto de atributos de um membro o
torna potencial executor de uma
atividade específica.
Nassif; Andreassi;
Simões (2011)
Identificar se há competências que
distinguem empreendedores de
intraempreendedores.
Os resultados apontam diferenças e
similaridades entre os grupos,
identificando que os empreendedores
possuem competências distintas dos
intraempreendedores e são focadas em
diferentes variáveis que influenciaram a
vida deles, tais como motivações
pessoais, diferentes maneiras de
dirigirem seus negócios, apoio da família
e a construção de suas carreiras
profissionais
Zampier; Takahashi
(2011)
Contribuir para o avanço na
literatura de empreendedorismo,
apresentando um modelo conceitual
de pesquisa que integra modelos de
competências empreendedoras e de
Por se tratar de um ensaio teórico, o
artigo não conta com resultados a serem
discutidos.
48
processos de aprendizagem
empreendedora.
Lenzi et al (2012) Identificar as competências dos
empreendedores corporativos
ligados à administração pública na
Prefeitura de Blumenau/SC.
Os resultados apontam as seguintes
competências empreendedoras que mais
se destacam: comprometimento; busca
de informações; persistência;
planejamento e monitoramento
sistemático; persuasão; e rede de
contatos. Assim, pode-se afirmar que, ao
se desenvolverem estas competências, os
servidores públicos estarão mais
preparados para empreender e inovar
Minello; Scherer e
Alves (2012)
Analisar as competências dos
empreendedores antes, durante e
depois do insucesso empresarial.
As competências influenciam o
comportamento do empreendedor, e
repercutem no sucesso ou fracasso de sua
organização. Antes do insucesso
empresarial, as competências emergem
como forma de desenvolvimento pessoal
e profissional; durante, as competências
não se apresentam com tanta frequência,
ou são ausentes; e no período após o
insucesso empresarial, essas
competências ressurgem como forma de
superar a adversidade.
Zampier; Takahashi
e Fernandes (2012)
Revisitar as noções correntes
adotadas para o conceito de
competências na área de
empreendedorismo, aportar as
discussões acerca de competências
em outros campos, e propor uma
base terminológica que possa
auxiliar esforços de pesquisa
subsequentes voltados a
competências empreendedoras.
Observa-se que, no campo de gestão de
pessoas, frequentemente se tomam
noções como atitudes, traços de
personalidade ou valores pessoais como
sinônimos de competência. Tal
nivelamento pode obscurecer o
entendimento das pesquisas realizadas
sobre o tema de competências
empreendedoras.
Lizote e Verdinelli
(2014)
Identificar e avaliar quais
competências empreendedoras
estão presentes nos colaboradores
de uma empresa do ramo
alimentício localizada em Itajaí/SC.
As dez competências consideradas não
se manifestam em concordância com o
modelo teórico que as agrupa em três
conjuntos, o de realização, de
planejamento e de poder. Para a amostra,
a análise fatorial exploratória permitiu
distinguir dois grupos de competências e,
a partir deles, as posteriores análises de
variância mostraram diferenças ao
considerar o grupo em que o empregado
está inserido, seu gênero e seu tempo de
serviço na organização.
Zampier; Takahashi
(2014)
Analisar como as competências
empreendedoras de oportunidade e
administrativas foram
desenvolvidas por meio de um
processo de aprendizagem
empreendedora com proprietários e
gestores de MPE’s do setor de
educação privado de Curitiba.
Identificou-se o desenvolvimento das
competências de oportunidade e
administrativa e o processo de
aprendizagem empreendedora e
constatou-se que a competência
administrativa foi desenvolvida com um
grau superior à de oportunidade.
Lizote; Verdinelli
(2015)
Mensurar as competências
empreendedoras dos proprietários
de pousadas e hotéis fazenda
localizados nos Estados de Paraná,
As competências empreendedoras do
conjunto realização são as que estão mais
bem relacionadas com o desempenho das
pousadas e hotéis fazenda incluídas na
49
Santa Catarina e Rio Grande do Sul
e analisar se elas se relacionam com
o desempenho organizacional
percebido pelos respondentes.
análise. As cinco competências que
fazem parte do conjunto apresentam
significância, seja a 5% ou 10%, com
algum indicador do desempenho.
Dias; Martens
(2016)
Propor uma modelo conceitual
sobre competências e aprendizagem
empreendedora no contexto de
insucesso empresarial.
Apresentou-se um modelo que pôde
contribuir para a realização de estudos
empíricos, que engloba: o ambiente de
negócio percebido pelo empreendedor
como um dos aspectos que pode
impactar seu desempenho em termos de
sucesso ou insucesso empresarial; as
competências empreendedoras e o
processo de aprendizagem, sendo este
constituído pela experiência de carreira
empreendedora e pelo conhecimento
empreendedor e a jornada de
aprendizagem decorrente do insucesso.
Leite Filho; Colares
(2016)
Verificar quais competências
empreendedoras, representadas
pelos ativos intangíveis de
conhecimento, estariam
relacionadas com o crescimento das
vendas de pequenas e médias
empresas brasileiras.
Do ponto de vista da visão baseada em
recursos, a melhoria nos processos
internos deu indícios de ser uma
competência empreendedora que
influenciou significativamente a taxa de
crescimento das vendas das empresas da
amostra, portanto, há validade empírica
para evidências teóricas apresentadas ao
longo da discussão.
Fonte: Elaborado pela autora (2017)
50
3 METODOLOGIA
Com o intuito de alcançar objetivo geral que é avaliar a influência da educação
empreendedora no desenvolvimento da autoeficácia e competências empreendedoras dos
discentes de graduação da área da saúde, neste capítulo serão elencados os procedimentos
metodológicos a serem usados neste estudo. Apresenta-se, portanto, a classificação da pesquisa,
seguida pela descrição da população e amostra. Posteriormente se assinalam as variáveis e
medidas utilizadas, bem como a técnica de coleta de dados. Na sequência, se descreve o
tratamento e análise dos dados obtidos, seguida pelo desenho e protocolo da pesquisa.
3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA
Esta pesquisa classifica-se em sua abordagem como quantitativa, pois Creswell (2010,
p. 26) afirma que esse tipo de pesquisa trata-se de um “meio para testar teorias objetivas,
examinando a relação entre as variáveis”. Malhotra (2012) complementa destacando que os
estudos quantitativos possibilitam aplicar métodos estatísticos no esclarecimento de
fenômenos, processos ou relações e, assim, generalizar os resultados para a população
pesquisada a partir da análise de amostras representativas.
Quanto à sua natureza, esse estudo é tido como descritivo e correlacional por tratar-se
de uma associação de variáveis diante um padrão previsível para a população em análise. Na
concepção de Hair Jr. et al. (2005), as pesquisas descritivas se criam e estruturam de forma
específica para medir as peculiaridades que se buscam descrever em relação à questão de
pesquisa. Sampieri et al. (2013, p. 102) complementam tal definição afirmando que estudos
dessa natureza são aqueles que “descrevem tendências de um grupo ou população”. Cabe
destacar também que nas pesquisas descritivas são apresentadas as características de um
fenômeno, de uma população ou de uma amostra representativa e que esses procedimentos
exigem usar técnicas padronizadas de coleta e análise dos dados levantados (PRODANOV;
FREITAS, 2013).
Para obter os dados, optou-se por empregar o método de pesquisa survey (BABBIE,
1999), pois pretendeu-se descrever quantitativamente os dados levantados, bem como obter
informações acerca de características, ações ou opiniões de um determinado grupo de
respondentes indicados como representantes de uma população-alvo, por meio de instrumento
51
de pesquisa, como o questionário (FREITAS et al., 2000). Esse método tem o propósito de obter
de modo sistemático e padronizado os dados referentes a um grupo de pessoas ou eventos que
permitam identificar padrões (HAIR et al., 2005).
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA
A população pesquisada foi constituída pelos alunos da graduação dos cursos da área de
saúde da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, sendo distribuídos da seguinte forma,
conforme os campi dessa IES: Campus Biguaçu – apenas curso de Educação Física; Campus
Itajaí – Biomedicina, Educação Física, Fisioterapia, Nutrição, Odontologia, Enfermagem,
Farmácia, Fonoaudiologia, Medicina e Psicologia.
O fato da IES estar entre as oito melhores universidades não públicas do Brasil e ser
considerada a melhor universidade comunitária do estado de Santa Catarina foi primordial para
a escolha desta instituição (UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ, 2017).
No que se refere a amostra da pesquisa, existem vários tipos de amostragem, cabe ao
pesquisador escolher de acordo com seu estudo a melhor técnica (COOPER; SCHINDLER,
2003). Foi escolhida então uma amostra aleatória, não probabilística.
3.3 VARIÁVEIS E MEDIDAS
Tendo em vista que os constructos considerados na pesquisa foram estabelecidos, há
que definir quais as variáveis que os refletem e, principalmente, operacionalizar sua
mensuração. Segundo apontam Hair Jr. et al. (2005), para realizar isso é necessário que as
variáveis sejam observáveis empiricamente e passíveis de serem medidas, ou seja, devem ser
definidas como itens mensuráveis.
Neste estudo, foram utilizados questionários já validados no Brasil por pesquisas
anteriores a fim de medir a autoeficácia empreendedora e as competências empreendedoras dos
graduandos da área de saúde.
No constructo da autoeficácia empreendedora foi utilizada a escala de De Noble, Jung
e Ehrlich (1999), a qual, por sua vez, é sustentada por seis subescalas: desenvolvimento de
novos produtos e oportunidades de mercado (DN), construção de um ambiente inovador (AI),
definição do objetivo principal do negócio (ON), desenvolvimento de recursos humanos chave
52
para a empresa (RH), iniciando relações com investidores (RI) e lidar com mudanças
inesperadas (MI).
Este instrumento é composto por vinte e três (23) itens, no qual emprega uma escala
tipo Likert de 7 pontos, que se estende desde o “completamente incapaz” (1) a “completamente
capaz” (7). O Quadro 05 apresenta os itens que foram utilizados para medir a autoeficácia
empreendedora dos alunos.
Quadro 05 - Itens da escala de mensuração do construto autoeficácia empreendedora Construto Subescalas Itens
Autoeficácia
Empreendedora
(AE)
Desenvolvimento de
novos produtos e
oportunidades de
mercado
(DN)
DN1-Eu posso reconhecer novas oportunidades e mercados para
novos produtos e serviços.
DN2-Eu posso descobrir novas formas de melhorar os produtos
existentes.
DN3-Posso identificar novas áreas de crescimento potencial.
DN4-Eu posso projetar produtos que resolvam os problemas
atuais.
DN5-Posso criar produtos que satisfaçam as necessidades dos
clientes.
DN6-Eu posso trazer conceitos de produtos para o mercado em
tempo hábil.
DN7-Posso determinar se o negócio vai bem.
Construção de um
ambiente inovador
(AI)
AI1-Eu posso criar um ambiente de trabalho que permita as
pessoas sejam “seu próprio chefe”.
AI2-Eu posso desenvolver ambiente de trabalho que incentiva as
pessoas a experimentar algo novo.
AI3-Eu posso incentivar as pessoas a tomar iniciativas e
responsabilidades por suas ideias e decisões, independentemente
do resultado.
AI4-Eu posso formar parceria ou alianças com os outros.
Definição do
objetivo principal do
negócio
(ON)
ON1-Posso estabelecer a visão e valores da organização.
ON2-Pode inspirar os outros a abraçar a visão e os valores da
empresa. ON3-Posso formular um conjunto de ações rápidas em busca de
oportunidades.
Desenvolvimento de
recursos humanos
chave para a
empresa (RH)
RH1-Posso recrutar e treinar os funcionários-chave para a
empresa.
RH2-Posso desenvolver um planejamento adequado para
preencher os cargos-chave da empresa.
RH3-Eu posso identificar e criar equipes de gestão.
Iniciando relações
com investidores
(RI)
RI1-Posso desenvolver e manter relacionamentos favoráveis com
potenciais investidores.
RI2-Posso desenvolver relacionamentos com pessoas chaves que
estão conectadas a fontes de capital.
RI3-Eu posso identificar fontes potenciais de financiamento para
investimentos.
Lidar com
MI1-Eu posso trabalhar de forma produtiva sobre contínuo
estresse, pressão e conflito.
53
mudanças
inesperadas
(MI)
MI2-Eu posso tolerar mudanças inesperadas nas condições do
negócio.
MI3-Pode persistir frente à adversidade.
Fonte: Nascimento (2015)
O constructo de competências empreendedoras foi mensurado a partir do instrumento
advindo do modelo de Cooley (1990, 1991) e utilizado por Lenzi (2008) e Lizote (2013). Esta
escala contempla três conjuntos: a) realização: abrangendo cinco competências
empreendedoras, busca de oportunidades e iniciativa (BOI), correr riscos calculados (CRC),
exigência de qualidade e eficiência (EQE), persistência (PER) e comprometimento (COM); b)
planejamento: composto por busca de informação (BDI), estabelecimento de metas (EDM), e
planejamento e monitoramento sistemático (PMS); e, c) poder: este conjunto envolve persuasão
e rede de contatos (PRC), e independência e autoconfiança (IAC).
O questionário contem 30 itens os quais permitem a identificação de dez competências
a partir de uma escala somativa de três perguntas para cada uma delas. O participante da
pesquisa tem uma pontuação após atribuir uma nota em uma escala de 1 a 5 para cada afirmação
do instrumento. A soma mínima para cada competência é de 3, caso atribua 1 para todas as
perguntas, ou 15, caso selecione o número 5. Os itens que serviram para mensurar este
constructo se exibem no Quadro 06.
Quadro 06 - Itens do constructo competência empreendedora Constructo Conjunto Competências Itens
Realização
Busca de
Oportunidade e
Iniciativa (BOI)
BOI1 - faz coisas antes de solicitado ou, antes de
forçado pelas circunstâncias.
BOI2 - age para expandir o negócio a novas áreas,
produtos ou serviços.
BOI3 - aproveita oportunidades fora do comum para
começar um negócio, obter financiamentos,
equipamentos, terrenos, local de trabalho ou
assistência.
Correr Riscos
Calculados
(CRC)
CRC1 - avalia alternativas e calcula riscos
deliberadamente.
CRC2 - age para reduzir os riscos ou controlar os
resultados.
CRC3 - coloca-se em situações que implicam desafios
ou riscos moderados.
Exigência de
Qualidade e
Eficiência
(EQE)
EQE1 - encontra maneiras de fazer as coisas melhor
e/ou mais rápido, ou mais barato.
EQE2 - age de maneira a fazer coisas que satisfazem
ou excedem padrões de excelência.
EQE3 - desenvolve ou utiliza procedimentos para
assegurar que o trabalho seja terminado a tempo ou
que o trabalho atenda a padrões de qualidade
previamente combinados
Persistência
(PER)
PER1 - age diante de um obstáculo.
PER2 - age repetidamente ou muda de estratégia a fim
de enfrentar um desafio ou superar um obstáculo.
PER3 - assume responsabilidade pessoal pelo
desempenho necessário para atingir as metas e
objetivos.
54
Competências
empreendedoras
Comprometimen
to (COM)
COM1 - faz um sacrifício pessoal ou despende um
esforço extraordinário para complementar uma tarefa.
COM2 - colabora com os empregados ou se coloca no
lugar deles, se necessário, para terminar um trabalho.
COM3 - esforça-se para manter os clientes satisfeitos
e coloca em primeiro lugar a boa vontade em longo
prazo, acima do lucro em curto prazo.
Planejamento
Busca de
Informação
(BDI)
BDI1 - dedica-se pessoalmente a obter informações de
clientes, fornecedores e concorrentes.
DBI2 - investiga pessoalmente como fabricar um
produto ou fornecer um serviço.
DBI3 - consulta os especialistas para obter assessoria
técnica ou comercial.
Estabelecimento
de Metas (EDM)
EDM1 - estabelece metas e objetivos que são
desafiantes e que tem significado pessoal.
EDM2 - define metas em longo prazo, claras e
específicas.
EDM3 - estabelece metas em curto prazo,
mensuráveis.
Planejamento e
Monitoramento
Sistemáticos
(PMS)
PMS1 - planeja dividindo tarefas de grande porte em
subtarefas com prazos definidos.
PMS2 - constantemente revisa seus planos levando
em conta os resultados obtidos e mudanças
circunstanciais.
PMS3 - mantém registros financeiros e utiliza-os para
tomar decisões.
Poder
Persuasão e
Rede de
Contatos (PRC)
PRC1 - utiliza estratégias deliberadas para influenciar
ou persuadir os outros.
PRC2 - utiliza pessoas chave como agentes para
atingir seus próprios objetivos.
PRC3 - age para desenvolver e manter relações
comerciais.
Independência e
Auto Confiança
(IAC)
IAC1 - busca autonomia em relação a normas e
controles de outros.
IAC2 - mantém seu ponto de vista, mesmo diante da
oposição ou de resultados inicialmente
desanimadores.
IAC3 - expressa confiança na sua própria capacidade
de completar uma tarefa difícil ou de enfrentar um
desafio.
Fonte: Adaptado de Lenzi (2008)
3.4 COLETA DE DADOS
Esta etapa é considerada de demasiada importância, pois a confiabilidade e a validade
das informações obtidas dependem do rigor com que os dados foram levantados. Para este
estudo, os dados consideram-se de fonte primária, obtidos por meio de uma survey (BABBIE,
1999) com aplicação de um questionário.
A estratégia da coleta deu-se através da aplicação dos questionários in loco nos dois
campi da universidade já mencionados. Esta escolha deu-se pelo fato de que se torna menos
propenso a desvios de repostas, bem como uma maior probabilidade de número de
55
respondentes, visto que quando enviados via online, muitas vezes as pesquisas não são
respondidas.
Neste trabalho, foi utilizado um questionário que se destina a levantar dados
sociodemográficos dos respondentes, e mais dois blocos relativos aos constructos autoeficácia
e competências empreendedoras. O primeiro desses blocos é composto por vinte e três
afirmações, enquanto o bloco referido às competências empreendedoras contem trinta itens a
serem respondidos conforme uma somatória de pontos.
3.5 TRATAMENTO E ANÁLISE DE DADOS
Após o levantamento de dados foi realizado o tratamento e a análise dos mesmos,
constituindo a fase em que se procura organizar os dados e aplicar as técnicas mais apropriadas
para obter as informações que permitam responder à questão de pesquisa que deu origem ao
trabalho. Assim sendo, esta fase tem como objetivo e organiza-los sistematicamente de forma
que possibilitem alcançar as respostas ao problema de investigação (BEUREN, 2008).
Os dados coletados na survey para este estudo foram organizados numa planilha
eletrônica Excel® para realizar o pré-tratamento seguindo as recomendações em Hair Jr. et al.
(2005). Inicialmente analisou-se se existem dados faltantes e erros de digitação. Como o
número dos dados omissos não superou 10%, seja num respondente ou numa variável, seu valor
foi preenchido pela mediana da variável em consideração.
Uma vez depurada a base de dados a mesma foi importada para o Statistica®, o software
com o qual se calculou os descritores das variáveis. Os mesmos foram a média, o desvio padrão,
a assimetria e a curtose. Conforme apontam Hair Jr. et al. (2005) é através da assimetria e
curtose pode ser avaliada a normalidade dos dados. De acordo com Finney e DiStefano (2006),
com valores no intervalo [-2; 2] e [-7; 7] para aqueles descritores se deve considerar à
distribuição da variável como quase-normal.
Com os dados depurados, foram realizadas as análises fatoriais exploratórias para
definir quais itens compõem as subescalas da autoeficácia empreendedora. Com os somatórios
das pontuações dos itens das competências empreendedoras, superando o valor de 12, se irá
saber qual competência está manifesta.
56
3.6 HIPÓTESES E DESENHO DA PESQUISA
Quivy e Campenhoudt (1998) defendem que a hipótese responde provisoriamente as
questões de partida de um estudo, com base numa reflexão teórica e no conhecimento prévio
do fenômeno estudado. Neste estudo foram definidas as seguintes hipóteses:
H1: A educação empreendedora na graduação dos cursos de ciências da saúde influencia
a autoeficácia empreendedora dos discentes.
H2: A educação empreendedora na graduação dos cursos de ciências da saúde influencia
nas competências empreendedoras dos discentes.
Sampieri et al. (2013) acrescentam que após definido o tipo de estudo a ser realizado e
estabelecidas as hipóteses de investigação, o pesquisador deve conceber formas práticas para
responder às questões de pesquisa. Isso envolve o desenvolvimento de um desenho da pesquisa.
É possível assim, o pesquisador verificar a partir do desenho o que fazer para atingir os objetivos
do estudo. Com isso, a partir das hipóteses já estabelecidas, apresenta-se a Figura 05 que contém
um panorama geral do desenho da pesquisa.
Figura 05 - Desenho da pesquisa
Fonte: Elaborado pela autora (2017)
3.7 PROTOCOLO DA PESQUISA
A fim de sistematizar os objetivos da pesquisa; autores da base teórica; as hipóteses
derivadas; técnica de coleta de dados e o meio que será utilizado para coletar os mesmos
elaborou-se o Quadro 07.
Quadro 07 - Protocolo da pesquisa Questão norteadora: Qual a influência da educação empreendedora no desenvolvimento da
autoeficácia e das competências empreendedoras dos discentes da graduação da área da saúde?
Objetivo geral: Avaliar a influência da educação empreendedora no desenvolvimento da autoeficácia
e competências empreendedoras do discentes de graduação da área da saúde.
57
Objetivos
específicos
Autores Hipóteses Técnica de
coleta de
dados
Meio utilizado
na coleta de
dados
Medir a
autoeficácia
empreendedora
através da escala
de De Noble, Jung
e Ehrlich (1999).
Chen; Greene e
Crick (1998); De
Noble, Jung e
Ehrlich (1999);
García (2010),
Lizote, Verdinelli e
Silveira (2013a);
Lizote, Verdinelli e
Silveira (2013b);
Ehrlich, De Noble e
Singh (2005);
Moriano et al.
(2012); Moriano,
Palací e Morales
(2006); Nascimento,
Verdinelli e Lizote
(2014); Simões
(2016)
A educação
empreendedora na
graduação dos
cursos de ciências
da saúde
influencia a
autoeficácia
empreendedora
dos discentes.
Questionário
estruturado que
será aplicado
com alunos do
último ano da
graduação nos
cursos de
ciências da
saúde.
Escala de De
Noble, Jung e
Ehrlich (1999),
que é composta
por 23 itens
divididos em seis
subescalas:
Mensurar as
competências
empreendedoras
segundo o modelo
de Cooley (1990,
1991), validado
por Lenzi (2008).
Cooley (1990,
1991); Spencer e
Spencer (1993);
Morales (2004);
Mello; Leão e Paiva
Júnior (2006);
Mello; Fonsêca e
Paiva Júnior (2007);
Lenzi (2008);
Feuerschütte e
Godoi (2008);
Pardini; Brandão e
Souki (2008); Lopes
(2010); Rocha et al.
(2010); Rosa e
Lapolli (2010);
Laste et. al (2011);
Nassif; Andreassi;
Simões (2011);
Zampier; Takahashi
(2011); Lenzi et al.
(2012); Minello;
Scherer e Alves
(2012); Zampier;
Takahashi e
Fernandes (2012);
Lizote e Verdinelli
(2014); Zampier;
Takahashi (2014);
Lizote; Verdinelli
(2015); Dias;
Martens (2016);
Leite Filho; Colares
(2016)
A educação
empreendedora na
graduação dos
cursos de ciências
da saúde
influencia nas
competências
empreendedoras
dos discentes.
Questionário
estruturado que
será aplicado
com alunos do
último ano da
graduação nos
cursos de
ciências da
saúde.
Modelo adaptado
de Cooley
(1990); conforme
três escalas:
conjunto de
realização,
conjunto de
planejamento, e
conjunto de
poder. E dez
subescalas que
totalizará trinta
questões numa
escala likert de 5
pontos.
Analisar a
influência da
59
4 RESULTADOS
Este capítulo apresenta os resultados da pesquisa, os dados sociodemográficos dos
respondentes, a organização dos discentes dos nove cursos pesquisados, para então responder
as questões propostas nesta dissertação. Para isso foi criada uma base no Excel com os dados
do questionário, que foram posteriormente tratados estatisticamente com o software Statistica®
utilizando-se os seguintes procedimentos estatísticos: análise descritiva, Análise Fatorial
Exploratória (AFE), análise de correlação e teste t.
4.1 ANÁLISE DESCRITIVA DOS DADOS
A proposta inicial era coletar os dados apenas com alunos do último ano de curso,
variando entre o 7º e 12º período, a depender do curso. No entanto, pela impossibilidade da
presença de parte dos discentes devido ao estágio curricular obrigatório, que, por sua vez, a
maioria dos cursos exige que o graduando se ausente das dependências da universidade e se
desloque até hospitais, clínicas, escolas, entre outros; optou-se por aplicar os questionários com
os alunos que ainda não tivessem obrigatoriedade do estágio, estando estes ainda nas
dependências da universidade.
Esta estratégia deu-se pelo fato de ter a intenção de aplicar a pesquisa com os discentes
que estão próximos da saída para o mercado de trabalho, pois tem-se a ideia de haver uma
propensão para tornar-se um empreendedor nesta fase. Considerando que o estágio exigido
pelos cursos de graduação é uma das maneiras de inserção no mercado de trabalho, optou-se
então de pesquisar os discentes do ano anterior à obrigatoriedade do estágio. Para que isso fosse
possível, buscou-se nas coordenações de cada curso as informações sobre quais períodos
estariam disponíveis para participar da pesquisa, conforme os critérios estabelecidos.
Vale ressaltar que, conforme será apresentado na caracterização dos dados
sociodemográficos, os períodos cursados pelos respondentes varia do 2º ao 10º. Isso se dá pelo
fato de que, apesar das turmas visitadas serem específicas daquela fase da graduação, alguns
alunos estão matriculados nos períodos iniciais, porém cursam disciplinas isoladas, e
porventura se misturam com os alunos das fases mais avançadas.
A priori, os dados foram organizados com o auxílio de uma planilha eletrônica Excel.
Posteriormente foi realizado um pré-tratamento com a fim de verificar os dados faltantes. Com
isso, identificou-se 78 células com dados ausentes, ou seja, 0,55% do total das respostas. No
60
bloco de Autoeficácia Empreendedora averiguou-se 21 dados omissos, enquanto no bloco de
Competências Empreendedoras foram 57, o que representa respectivamente, 0,34% e 0,71%
das células de cada bloco. Esses valores consistem em um percentual muito aquém máximo
admitido de 10% (HAIR Jr. et al., 2009). Por fim, os dados faltantes foram substituídos pela
mediana.
4.2 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA PESQUISADA
Após a organização dos dados, tem-se a caracterização da amostra que é apresentada
nas Tabela 1 e 2, que, por sua vez, é dividida por curso. O total de questionários válidos ficou
em 267, tendo apenas no campus de Biguaçu o curso de Educação Física, com 33 respondentes.
Os demais, 234 questionários foram aplicados no campus de Itajaí nos cursos de Biomedicina,
Educação Física, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição, Odontologia e
Psicologia.
Como apresentado na Tabela 2, somente dos alunos de Biomedicina e Educação Física
cursaram disciplina de Empreendedorismo.
Na Tabela 1 é apresentada de maneira descritiva a caracterização da amostra separada
por curso:
Tabela 1 - Distribuição dos discentes por campi e idade
Curso
Campus Idade
Biguaçu Itajaí Total Até 20 21 a 30 31 a 40 41 a 50 Acima de 50
Biomedicina 0% 100% 13 8% 85% 8%
Ed. Física 54% 46% 61 3% 85% 11%
Farmácia 0% 100% 17 6% 94%
Fisioterapia 0% 100% 27 11% 85% 4%
Fonoaudiologia 0% 100% 17 100%
Medicina 0% 100% 14 7% 93%
Nutrição 0% 100% 28 18% 79% 4%
Odontologia 0% 100% 42 5% 95%
Psicologia 0% 100% 48 4% 79% 8% 6% 2%
Fonte: Dados da pesquisa (2017)
61
Tabela 2 - Distribuição dos discentes por curso
Curso
Sexo Cursou
F M 2 4 5 6 7 8 9 10 S N
Biomedicina 62% 38% 85% 15% 77% 23%
Ed. Física 44% 56% 7% 31% 62% 46% 54%
Farmácia 71% 29% 12% 88% 0% 100%
Fisioterapia 67% 33% 63% 37% 0% 100%
Fonoaudiologia 82% 18% 100% 0% 100%
Medicina 64% 36% 7% 93% 0% 100%
Nutrição 71% 29% 57% 43% 0% 100%
Odontologia 55% 45% 57% 43% 0% 100%
Psicologia 81% 19% 2% 2% 2% 6% 13% 42% 33% 0% 100%
Fonte: Dados da pesquisa (2017)
No curso de Biomedicina, a maioria dos alunos (85%) estão na faixa etária de 21 a 30
anos, enquanto os que têm até 20 anos totalizam 8%, bem como os que estão acima de 50 anos.
O sexo feminino é predominante neste curso, sendo 62% dos respondentes. Os dados foram
coletados com os discentes que estavam cursando o último ano, sendo distribuídos em 85% dos
respondentes no 7º período e os demais no 8º período. Vale ressaltar também que é ofertada a
disciplina de Empreendedorismo como optativa, e dentro da amostra pesquisada, 77% dos
alunos cursaram.
Educação Física é o único curso que contempla os dois campi da universidade, com a
maioria dos respondentes (54%) no campus de Biguaçu. Os dados integram a amostra extraída
de ambos os campi, apresentando 85% de jovens de 21 a 30 anos; 56% do sexo feminino; e
62% cursavam o 8º período, mas há alunos do 7º (31%) e do 6º (7%) períodos. Além disso,
nota-se que sua maioria (54%) não cursou a disciplina de empreendedorismo. Vale destacar que
a disciplina não é oferecida no campus de Biguaçu, onde está localizada a maioria dos
respondentes.
Os demais cursos estão concentrados apenas em Itajaí, e em nenhum destes é ofertada a
disciplina de empreendedorismo, e por conseguinte, não foi cursada pelos discentes.
O curso de Farmácia apresenta uma amostra relativamente jovem, pois 94% dos
discentes estão na faixa etária de 21 a 30 anos, enquanto os demais possuem até 20 anos. A
maior parte é do sexo feminino (71%), e cursa o 7º período (88%). Fisioterapia mostra dados
similares ao anterior: maioria de jovens de 21 a 30 anos (85%) e do sexo feminino (67%).
62
Diferindo na concentração dos alunos por período: 63% cursavam o 6º período enquanto os
demais respondentes cursavam o 7º.
Já no curso de Fonoaudiologia, todos os alunos que responderam à pesquisa cursavam
o 7º período e possuíam entre 21 e 30 anos, e sua maioria era composto por pessoas do sexo
feminino (82%).
No curso de Medicina foi realizado a pesquisa no 7º período, no entanto apenas 1 (um)
aluno estava matriculado no 2º período e respondeu à pesquisa por estar presente na sala no
momento da coleta de dados. A maior parte dos discentes de Medicina são do sexo feminino
(64%). Apenas 1 (um) dos respondentes possui 20 anos, enquanto os demais contemplam a
faixa etária de 21 a 30 anos.
Nutrição está distribuído da seguinte forma: 79% possuem entre 21 e 30 anos, 18% têm
até 20 anos e 4% estão na faixa etária de 31 a 40 anos; 71% dos respondentes são do sexo
feminino; e 57% cursavam o 6º período, e os demais estavam matriculados no 7º período.
Na Odontologia, a maioria dos alunos (95%) estão na faixa etária de 21 a 30 anos,
enquanto os demais tem até 20 anos; as pessoas do sexo feminino apresentam-se em 55%; e os
dados foram coletados no 7º e 8º períodos, sendo 57% e 43% respectivamente a
representatividade dos respondentes.
O curso de Psicologia foi o que apresentou maior diversidade nas respostas, tanto
relacionado à faixa etária, como ao período cursado. Ainda assim, ficou dentro da uniformidade
dos dados apresentados dos cursos anteriores: 79% dos graduandos com a faixa etária de 21 a
30 anos; 42% cursavam o 9º período, e 33% estavam no 10º; e 81% eram do sexo feminino.
Apesar da pesquisa ter sido realizada em cursos diferentes, e por vezes campi da
universidade distintos também, observa-se que os dados dos respondentes, em suma são
similares. A começar pela faixa etária, a qual a maioria expressiva encontra-se entre 21 a 30
anos; seguido pelo sexo, que grande parte dos participantes da pesquisa são do sexo feminino,
vale a ressalva do curso de Educação Física. Em relação ao período cursado pelos alunos no
semestre que os questionários foram aplicados, tem-se como maior representatividade os
discentes do 7º período, com exceção dos cursos de Fisioterapia e Nutrição, que apresentam a
maioria no 6º período, Educação Física no 8º e Psicologia no 9º período.
Ao analisar as Tabelas 1 e 2, nota-se que uma pequena parcela dos alunos cursaram a
disciplina de empreendedorismo, totalizando 45 dos 267 respondentes, o que corresponde à
aproximadamente a 16,85% do número total de questionários respondidos. Esse valor já era
63
previamente esperado pelo fato de, como já é de conhecimento, apenas 2 dos 9 cursos
pesquisados apresentarem oferta da disciplina de empreendedorismo. Com isso, as análises que
seguem levam em consideração ao número total de participantes da pesquisa, sendo realizado
apenas o Teste t para comparação dos alunos que cursaram a disciplina de empreendedorismo.
Após apresentar descritivamente os dados gerais da pesquisa, o item a seguir irá mostrar
de maneira detalhada os resultados obtidos relativos a cada constructo.
4.3 ANÁLISE DESCRITIVA DAS VARIÁVEIS
Nesta etapa, foram elaboradas tabelas que exibem os resultados relativos aos
constructos. Cada indicador apresenta os parâmetros da estatística descritiva dos valores da
média, desvio padrão e alfa de Cronbach para as seis subescalas de autoeficácia empreendedora,
conforme é exibido na Tabela 3. Os cálculos foram realizados no software Statistica®.
Tabela 3 - Correlações, médias e desvio padrão da autoeficácia empreendedora
Subescalas Média D.P. SE1 SE2 SE3 SE4 SE5 SE6
Desenvolvimento de
novos produtos e
oportunidades de mercado
5,36 1,01 (0,840)
Construção de um
ambiente inovador 5,41 0,99
0,803 (0,813)
p=0,00
Definição do objetivo
principal do negócio 5,51 0,99
0,837 0,809 (0,762)
p=0,00 p=0,00
Desenvolvimento de
recursos humanos chave
para a empresa
5,23 1,11 0,874 0,786 0,790
(0,779) p=0,00 p=0,00 p=0,00
Iniciando relações com
investidores 5,38 0,95
0,947 0,912 0,923 0,933 (0,745)
p=0,00 p=0,00 p=0,00 p=0,00
Lidar com mudanças
inesperadas 5,37 0,98
0,923 0,869 0,938 0,950 0,991 (0,505)
p=0,00 p=0,00 p=0,00 p=0,00 p=0,00
Fonte: Dados da pesquisa (2017)
A Tabela 3 apresenta as correlações entre as somativas das subescalas, e demonstra
também os valores do alfa de Cronbach para cada subescala do constructo de autoeficácia
empreendedora indicados na diagonal da tabela entre parênteses. Apenas a subescala “lidar com
mudanças inesperadas” apresentou valor menor que o sugerido, que é de 0,7. Contudo, a escala
total exibe uma alfa de Cronbach de 0,957, o que demonstra um alto grau de confiabilidade
deste constructo dentro dos dados pesquisados.
64
Foi realizado o mesmo procedimento para as três dimensões dos conjuntos de
competências empreendedoras, destacando igualmente conforme os valores da média, desvio
padrão e alfa de Cronbach, como é apontado na Tabela 4.
Tabela 4 - Correlações, médias e desvio padrão das competências empreendedoras
CE Média Desv.Pad. Conjunto
Realização
Conjunto
Planejamento
Conjunto
Poder
Conjunto
Realização 11,86 1,62 (0,784)
Conjunto
Planejamento 12,07 2,12
0,694 (0,841)
p=0,00
Conjunto
Poder 11,13 2,16
0,531 0,461 (0,635)
p=0,00 p=0,00
Fonte: Dados da pesquisa (2017)
Observa-se que no constructo de competências empreendedoras, apenas o “conjunto
poder” possui o alfa de Cronbach inferior a 0,7. Ainda assim os constructos são considerados
válidos e sua confiabilidade total, calculado pelo alfa de Cronbach, é de 0,876.
Por fim, os resultados do teste de esfericidade de Bartlett foram todos significativos
(p<0,05) e indicaram que com os dados levantados para os construtos pode-se empregar a
análise fatorial.
4.4 ANÁLISE FATORIAL EXPLORATÓRIA
Por meio da AFE foram avaliados os constructos conforme esclarecido no capítulo de
metodologia. Logo, neste capítulo são apresentados os resultados obtidos em cada um dos
constructos. A priori serão demonstrados os testes para a Autoeficácia Empreendedora, seguido
pelos das Competências Empreendedoras.
Estes testes também foram realizados com o software Statistica®. Vale ressaltar que o
objetivo era investigar se cada dimensão dos constructos está relacionada com um único fator
que recuperasse mais que 50% variância extraída por ele, e que as cargas fatoriais fossem
maiores ou iguais a 0,5.
65
4.4.1 Autoeficácia Empreendedora
Este constructo foi mensurado a partir da escala de De Noble, Jung e Ehrlich (1999), a
qual foi adaptada para o contexto pesquisado: alunos da graduação da área da saúde, conforme
é apresentado no Apêndice 1.
Para avaliar se havia relação entre os itens das subescalas, foi realizada a AFE a partir
da matriz de correlações, utilizando o critério de Kaiser para reter os fatores e cargas fatoriais
maiores ou iguais a 0,5. Em decorrência disso, foi excluído o item 20 da escala (determinar se
o negócio vai bem).
A realização da AFE gerou seis fatores, sendo identificados e demonstrados nas tabelas
que seguem:
O Fator 1, apresentado na Tabela 5, corresponde à subescala “desenvolvimento de novos
produtos e oportunidades de mercado”, a qual inclui 5 itens, a saber: 3 (reconhecer novas
oportunidades de mercado para novos serviços), 6 (descobrir novas formas de melhorar os
serviços existentes), 8 (identificar novas áreas de crescimento potencial), 12 (desenvolver
serviços que resolvam problemas correntes), e 16 (criar serviços que satisfaçam as necessidades
dos pacientes/clientes).
Tabela 5 - Cargas fatoriais da subescala "desenvolvimento de novos produtos e oportunidades
de mercado"
Itens Fator 1
A3 -0,7765
A6 -0,7981
A8 -0,8297
A12 -0,7757
A16 -0,7227
Var. Expl. 3,0524
% da Var. 61,0477
Fonte: Dados da pesquisa (2017)
O Fator 2 faz referência à subescala “construção de um ambiente inovador”, e conta
com as seguintes afirmativas: 14 (criar um ambiente de trabalho que permita aos colaboradores
serem "seu próprio chefe"); 18 (desenvolver um clima que promova que os colaboradores
queiram fazer coisas novas); 19 (usar conceitos comerciais antigos de uma maneira nova); e 21
(apoiar aos colaboradores para tomarem iniciativas e responsabilidades das suas ideias e
decisões), conforme se mostra a Tabela 6.
66
Tabela 6 - Cargas fatoriais da subescala "construção de um ambiente inovador"
Itens Fator 2
A14 -0,7235
A18 -0,8363
A19 -0,8023
A21 -0,8388
Var. Expl. 2,5701
% da Var. 64,2537
Fonte: Dados da pesquisa (2017)
O Fator 3, o qual pode ser visto na Tabela 7, diz respeito à subescala “definição do objetivo
principal do negócio”, e por sua vez, apresenta 3 itens: 5 (estabelecer a visão e valores para seu
negócio); 10 (inspirar os outros para aceitar a visão e os valores de seu negócio); e 17 (formular
ações rápidas que permitam perseguir as oportunidades).
Tabela 7 - Cargas fatoriais da subescala "definição do objetivo principal do negócio"
Itens Fator 3
A5 -0,8007
A10 -0,8599
A17 -0,8080
Var. Expl. 2,0334
% da Var. 67,7799
Fonte: Dados da pesquisa (2017)
O quarto fator está relacionado à subescala “desenvolvimento de recursos humanos
chave para a empresa”, e conta também com 3 itens, como apresentado na Tabela 8: 4
(selecionar e treinar colaboradores chave para seu negócio); 9 (desenvolver um planejamento
adequado para potencializar seu negócio); e 22 (identificar e resolver os problemas de gestão
de seu negócio).
Tabela 8 - Cargas fatoriais da subescala "desenvolvimento de recursos humanos chave para a
empresa"
Itens Fator 4
A4 -0,7765
A9 -0,8632
A22 -0,8575
Var. Expl. 2,0833
% da Var. 69,4443
Fonte: dados da pesquisa (2017)
Já o Fator 5, contemplado na Tabela 9, corresponde à subescala “iniciando relações com
investidores”, com 4 itens: 2 (desenvolver e manter relacionamentos favoráveis com
67
investidores potenciais); 7 (desenvolver relacionamentos com pessoas chave para obter capital);
13 (identificar recursos potenciais de financiamento); e 23 (formar associações ou alianças com
outros profissionais).
Tabela 9 - Cargas fatoriais da subescala "iniciando relações com investidores"
Itens Fator 5
A2 -0,7526
A7 -0,7498
A13 -0,7015
A23 -0,8048
Var. Expl. 2,2683
% da Var. 56,7068
Fonte: Dados da pesquisa (2017)
Por fim, o sexto fator está atrelado à subescala “lidar com mudanças inesperadas” e
conta com 3 itens: 1 (trabalhar eficazmente sob contínuo estresse, pressão e conflito); 11 (tolerar
as mudanças inesperadas nas condições do negócio); e 15 (persistir frente à adversidade),
conforme a Tabela 10:
Tabela 10 - Cargas fatoriais da subescala "lidar com mudanças inesperadas"
Itens Fator 6
A1 -0,5306
A11 -0,8320
A15 -0,7460
Var. Expl. 1,5303
% da Var. 51,0096
Fonte: Dados da pesquisa (2017)
Conforme pode ser averiguado das tabelas acima, cargas fatoriais superam o valor em
módulo 0,5 e, por sua vez, o fator extraído recupera mais do que 50% da variância.
4.4.2 Competências empreendedoras
Este constructo foi mensurado a partir de um segundo bloco de 30 afirmativas, sendo
agrupadas por fatores, conforme demonstra as tabelas que segue. A Tabela 11 faz referência ao
conjunto realização, que reúne 5 competências: busca de oportunidade e iniciativa (BOI), correr
riscos calculados (CRC), exigência de qualidade e eficiência (EQE), persistência (PER) e,
comprometimento (COM). Cada uma das competências possui 3 afirmativas.
68
Tabela 11 - Cargas fatoriais do conjunto de realização
Itens Fator 1
BOI -0,5922
CRC -0,7914
EQE -0,8370
PER -0,7484
COM -0,6899
Var. Expl. 2,7137
% da Var. 54,2737
Fonte: Dados da pesquisa (2017)
O segundo fator representa o conjunto de planejamento, o qual agrupa as seguintes
competências: busca de informação (BDI), estabelecimento de metas (EDM) e, planejamento e
monitoramento sistemáticos (PMS).
Tabela 12 - Cargas fatoriais do conjunto de planejamento
Itens Fator 2
BDI -0,8608
EDM -0,8668
PMS -0,8845
Var. Expl. 2,2748
% da Var. 75,8265
Fonte: dados da pesquisa (2017)
Por fim, o Fator 3 faz referência ao conjunto poder, que reúne apenas duas
competências: persuasão e rede de contatos (PRC) e independência e auto confiança (IAC).
Tabela 13 - Cargas fatoriais do conjunto poder
Itens Fator 3
PRC 0,8560
IAC 0,8560
Var. Expl. 1,4654
% da Var. 73,2716
Fonte: Dados da pesquisa (2017)
Observa-se, então a partir dos dados apresentados acima que, no constructo de
competências empreendedoras, cargas fatoriais também superam o valor em módulo 0,5, bem
como o fator extraído recupera mais do que 50% da variância.
69
4.5 TESTE t E CORRELAÇÕES
No constructo de autoeficácia emprendedora foi realizado o teste t considerando o sexo
dos respondentes, mas não houve nenhuma diferença significativa ao 5%, e por isso, não foi
apresentado em tabela. Porém, nos alunos que fizeram a disciplina de empreendedorismo a
subescala “construção de um ambiente inovador” mostra diferença entre homens e mulheres a
10%, tendo a maior pontuação média as mulheres, com 5,46; e para os homens, 4,89.
Já ao considerar todos os respondentes que não cursaram a disciplina, existe a diferença
a 10% na subescala “construção de um ambiente inovador”, sendo a maior média para mulheres
(5,54) que a dos homens (5,47). Estes resultados indicam que as mulheres em geral, tenham ou
não cursado a disciplina de empreendedorismo, são mais propensas a inovar nos
empreendimentos.
Para analisar se existem diferenças entre a autoeficácia e as competências
empreendedoras dos discentes que aprovaram a disciplina de empreendedorismo e aqueles que
não participaram ainda dessa disciplina se realizou um teste t considerando os 267 respondentes.
Destes apenas 45 tinham aprovado empreendedorismo e 222 não tinham participado.
As comparações foram feitas primeiro considerando as médias de cada uma das seis
subescalas da autoeficácia (SE1 a SE6) e da escala completa (AE). A seguir foram feitas as
comparações de médias para cada conjunto de competências empreendedoras (CR, CPl e CPo)
e para as médias das dez competências tomadas em conjunto (CE). Para cada contraste se
avaliou a homocedasticidade das variáveis por meio do teste de Levene, verificando-se que em
nenhum caso as variâncias foram heterocedásticas (p > 0,05).
Como se exibe na Tabela 14, em nenhuma das comparações houve diferenças
significativas entre as médias dos que cursaram ou não a disciplina de empreendedorismo.
Contudo, como poderia existir influência do curso que o respondente estava realizando os
mesmos testes foram feitos com os alunos de Educação Física, curso no que a disciplina
empreendedorismo é obrigatória e se ministra com carga horária de 60 horas-aula.
70
Tabela 14 - Comparações de médias para as subescalas, para os conjuntos de competências
empreendedoras, e todas elas dos alunos que cursaram ou não a disciplina de
empreendedorismo
Fonte: dados da pesquisa (2017)
Ao contrastar os valores de médias dos 30 alunos de Educação Física que já tinham
aprovado a disciplina obrigatória de empreendedorismo com os 31 que ainda não tinham
participado se constata que não existiram diferenças para nenhuma dos contrastes feitos. Os
resultados dessas comparações estão expostos na Tabela 15, na qual se pode observar que as
variâncias daquelas distribuições foram todas homogêneas, conforme o teste de Levene.
Tabela 15 - Comparações de médias para as subescalas, para os conjuntos de competências
empreendedoras, e todas elas dos alunos de Educação Física que cursaram ou não da
disciplina de empreendedorismo
Fonte: Dados da pesquisa (2017)
71
Os resultados obtidos confirmam que a percepção dos discentes a respeito de sua
autoeficácia e competências empreendedoras não são influenciadas pelos conhecimentos que
adquiram na disciplina de empreendedorismo.
Ao fazer a análise de correlação entre as subescalas da autoeficácia empreendedora,
tem-se conforme apresentado na Tabela 16 que todas possuem uma relação linear forte (maior
que 0,7), bem como se correlacionam positivamente.
Tabela 16 - Matriz de correlação das subescalas da autoeficácia empreendedora
DN AI ON RH RI MI
DN 1 0,803 0,837 0,874 0,947 0,923
p=0,00 p=0,00 p=0,00 p=0,00 p=0,00
AI 0,803
1 0,809 0,786 0,912 0,869
p=0,00 p=0,00 p=0,00 p=0,00 p=0,00
ON 0,837 0,809
1 0,790 0,923 0,938
p=0,00 p=0,00 c p=0,00 p=0,00
RH 0,874 0,786 0,790
1 0,933 0,950
p=0,00 p=0,00 p=0,00 p=0,00 p=0,00
RI 0,947 0,912 0,923 0,933
1 0,991
p=0,00 p=0,00 p=0,00 p=0,00 p=0,00
MI 0,923 0,869 0,938 0,950 0,991
1 p=0,00 p=0,00 p=0,00 p=0,00 p=0,00
Fonte: Dados da pesquisa (2017)
Já ao analisar os conjuntos de competências empreendedoras, pode-se observar na
Tabela 17 que eles apresentam relação entre si, no entanto é considerada uma relação linear
moderada. O que demonstra que há uma maior dispersão entre as respostas encontradas.
Tabela 17 - Matriz de correlação dos conjuntos de competências empreendedoras
CR CPl CPo
CR 1 0,694 0,531
p=0,00 p=0,00
CPl 0,694
1 0,461
p=0,00 p=0,00
CPo 0,531 0,461
1 p=0,00 p=0,00
Fonte: Dados da pesquisa (2017)
Por fim, foi realizado o teste para verificar a relação entre as subescalas da autoeficácia
empreendedora e os conjuntos de competências empreendedoras. A Tabela 18 apresenta os
resultados encontrados:
72
Tabela 18 - Matriz de correlação das subescalas e dos conjuntos de competências
CR CPl CPo
DN 0,098 0,036 0,138
p=0,111 p=0,554 p=0,024
AI 0,099 0,094 0,087
p=0,108 p=0,126 p=0,155
ON 0,031 0,017 0,098
p=0,609 p=0,783 p=0,111
RH 0,135 0,107 0,117
p=0,028 p=0,082 p=0,056
RI 0,099 0,070 0,119
p=0,107 p=0,258 p=0,052
MI 0,094 0,069 0,116
p=0,126 p=0,263 p=0,058
Fonte: Dados da pesquisa (2017)
Os resultados acima demonstram que a relação linear é indefinida, pelos valores de r
encontrados inferiores a 0,2. Pode-se considerar, assim, que as subescalas do constructo da
autoeficácia empreendedora e os conjuntos de competências empreendedoras não possuem
relação.
73
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para elaboração deste último capítulo, é necessário retomar os objetivos dessa
dissertação, a qual propôs avaliar a influência da educação empreendedora no desenvolvimento
da autoeficácia e competências empreendedoras dos discentes de graduação da área da saúde.
A análise a partir dos objetivos específicos, bem como as hipóteses propostas, permite chegar
à conclusão que todos foram atingidos, conforme será apresentado a seguir.
Para o constructo de autoeficácia empreendedora foi considerada a partir do conceito de
Chen; Greene e Crick (1998), que consideram a autoeficácia altamente apropriada para o estudo
do empreendedor. Ao calcular Teste de esfericidade de Bartlett, todos os valores se mostraram
significativos, pois os valores sempre ficaram com valores p < 0,05 indicando que a matriz de
correlações é apropriada para realizar a análise fatorial.
A análise fatorial exploratória (AFE) pode ser utilizada quando o pesquisador quer
confirmar ou refutar a estrutura fatorial de determinado instrumento (BROWN, 2006). Neste
construto os itens ficaram expressos por um fator próprio para cada subescala. Apenas no Fator
1, que faz referência ao “desenvolvimento de novos produtos e oportunidades de mercado” foi
encontrado uma variável com baixa comunalidade, sendo esta: “determinar se o negócio vai
bem”. Esse item foi excluído por não apresentar relação com os demais itens reunidos neste
fator. Após a exclusão, foi rodada uma nova análise fatorial a qual foi apresentada.
A matriz de correlação apresenta uma forte relação linear entre as subescalas, ou seja, o
instrumento utilizado apresenta validade e confiabilidade. Dado esses resultados, pode-se
afirmar que o primeiro objetivo específico que é medir a autoeficácia empreendedora através
da escala de De Noble, Jung e Ehrlich (1999) foi alcançado. Em consonância, a hipótese H1
que compreende: educação empreendedora na graduação dos cursos de ciências da saúde
influencia a autoeficácia empreendedora dos discentes não se confirmou, a partir do resultado
do teste t que foi realizado.
O segundo objetivo específico que é mensurar as competências empreendedoras
segundo o modelo de Cooley (1990, 1991), validado por Lenzi (2008), também foi alcançado
devido às análises fatoriais exploratórias e análise de correlação. Nesse constructo, não foi
excluída nenhuma afirmativa, pois todas apresentaram alta comunalidade dentro dos fatores,
que por sua vez, foram segmentados de acordo com os conjuntos de competências.
Esse constructo apresenta números estatisticamente menores que o constructo da
74
autoeficácia empreendedora, e, portanto, a hipótese H2, a educação empreendedora na
graduação dos cursos de ciências da saúde influencia nas competências empreendedoras dos
discentes também não foi suportada. O item que obteve menor carga fatorial corresponde ao
conjunto realização, a saber: busca de oportunidade e iniciativa (BOI). Com isso, entende-se
que os graduandos sentem-se limitados em relação à ter iniciativas e buscar novas
oportunidades de negócios.
Ao fazer a matriz de correlação unindo os dois constructos, que por sua vez, responde
ao terceiro objetivo específico: analisar a influência da educação empreendedora, tem-se quem
dentro do contexto analisado, os constructos não se relacionam por possuírem os valores de r <
0,2. Ou seja, a educação empreendedora, nesse contexto, não influencia no comportamento
empreendedor dos alunos da graduação da área da saúde.
Diferentemente da pesquisa que ofereceu o instrumento de mensuração para esse estudo,
o trabalho de De Noble, Jung e Ehrlich (1999) teve como resultado uma correlação positiva e
significante entre os constructos analisados. Com isso, pode-se concluir que nos cursos da área
da saúde, os alunos não se sentem preparados para iniciar o próprio negócio, a partir das
premissas da autoeficácia e das competências empreendedoras, pois elas não estão relacionadas.
Apesar das hipóteses propostas nessa pesquisa não terem sido suportadas, aponta-se
como uma limitação o fato de poucos alunos terem cursado a disciplina de empreendedorismo.
Por esse motivo, ainda assim é apontado a inserção de disciplinas relacionadas ao
empreendedorismo na área da saúde, pois acredita-se que é um caminho favorável para
formação destes profissionais (ENDEAVOR, 2016). Com esse incentivo proporcionado pelas
IES, pode-se então realizar uma nova pesquisa, de caráter longitudinal, na qual deve ser
aplicada o mesmo questionário antes, durante e depois da participação do aluno na disciplina
de empreendedorismo. Assim, poderia ter resultados mais precisos, e provavelmente diferentes
dos encontrados nesse estudo.
A limitação do estudo compreende também pela dificuldade do acesso aos respondentes,
desde a autorização dos diretores, coordenadores e professores, à colaboração dos alunos, que
por vezes se recusaram a responder. Posteriormente, tem-se também como limitação a
realização da pesquisa em apenas uma universidade, e desta forma, os resultados alcançados
nessa pesquisa não podem ser generalizados para todas as universidades.
Com isso, sugere-se a replicação desse estudo, como os instrumentos já validados, em
outras universidades, inclusive de diferentes regiões do país. Utilizar dados da pesquisa como
75
as realizadas pela Endevoar (2016) pode auxiliar na escolha de universidades consideradas por
eles como “empreendedoras”, e verificar se há diferença entre as IES que contam com ensino
de empreendedorismo e aquelas que não possuem. Uma outra sugestão seria associar a
metodologia quantitativa à qualitativa, para assim poder compreender o porquê desses alunos
não sentirem-se prontos para empreender.
A relevância teórica dessa dissertação está ao utilizar constructos que estão associados
ao empreendedorismo na área da saúde, pois há poucos estudos sobre essa temática, e nestes
nota-se a necessidade de aprofundamento. Vale destacar também que o empreendedorismo está
cada vez mais presente na interdisciplinaridade, sendo contemplado não somente na área de
gestão.
Como relevância prática, esse estudo apresenta dados que podem ser usados por gestores
da IES pesquisada, a fim de fomentar o ensino do empreendedorismo nos cursos que não estão
associados diretamente com a área da gestão. Além disso, pode servir de modelo para outras
instituições de ensino que desejam adotar práticas empreendedoras como forma de incentivo
do aluno antes da entrada no mercado de trabalho.
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84
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85
ANEXOS
Anexo A - Escala de Autoeficácia Empreendedora
Escala de Autoeficácia Empreendedora:
Em relação às ações abaixo descritas, assinale de acordo com o grau de sua capacidade de
realiza-las, sendo 1 equivalente a completamente incapaz e 7 a completamente capaz. Lembre-
se, não há respostas certas ou erradas, apenas marque a alternativa que melhor descreve como
você se sente no momento, em relação a cada frase.
1 2 3 4 5 6 7
Completamente
ineficaz
Muito
incapaz
Pouco
incapaz
Capaz Bastante
capaz
Muito
capaz
Completamente
capaz
SE GERENCIAR UMA EMPRESA, VOCÊ ACREDITA QUE
PODE:
1 2 3 4 5 6 7
1 - Trabalhar eficazmente sob contínuo estresse, pressão e conflito
2 - Desenvolver e manter relacionamentos favoráveis com
investidores potenciais
3 - Reconhecer novas oportunidades de mercado para novos
produtos e serviços
4 - Selecionar e treinar os empregados chave para a empresa
5 - Estabelecer a visão e valores da organização
6 - Descobrir novas formas de melhorar os produtos existentes
7 - Desenvolver relacionamentos com pessoas chave para obter
capital
8 - Identificar novas áreas de crescimento potencial
9 - Desenvolver um planejamento adequado para preencher os
postos chave da empresa
10 - Inspirar os outros para aceitar a visão e os valores da empresa
11 - Tolerar as mudanças inesperadas nas condições do negocio
12 - Desenhar produtos que resolvam problemas correntes
13 - Identificar recursos potenciais de financiamento
14 - Criar um ambiente de trabalho que permita às pessoas ser "seu
próprio chefe"
15 - Persistir frente à adversidade
16 - Criar produtos que satisfaçam as necessidades dos clientes
17 - Formular ações rápidas que permitam perseguir as
oportunidades
18 - Desenvolver um clima laboral que promova que as pessoas
intentem fazer coisas novas
19 - Usar antigos conceitos comerciais de uma nova maneira
20 - Determinar se o negócio vai bem
21 - Apoiar às pessoas para tomarem iniciativas e
responsabilidades das suas ideias e decisões
22 - Identificar e construir equipes gestores
23 - Formar associações ou alianças com outros
86
Anexo B - Escala de Competências Empreendedoras
Este questionário se constitui de 30 afirmações breves. Leia cuidadosamente cada
afirmação e atribua uma classificação numérica que melhor identifique a sua forma de
atuar no trabalho (considere-se como você é hoje, e não como você gostaria que fosse).
1) Selecione o número que corresponde à afirmação que o descreve:
1= Nunca; 2 = Raras Vezes; 3= Algumas Vezes; 4 = Quase Sempre; 5= Sempre.
2) Anote com um ‘X’ o número na coluna correspondente. Favor designar uma
classificação numérica para cada uma das 30 afirmações.
Nº PONTUAÇÃO 5 4 3 2 1
1 Lidera ou executa novos projetos, ideias e estratégias que visam conceber, reinventar,
produzir ou comercializar novos produtos ou serviços.
2 Toma iniciativas pioneiras de inovação gerando novos métodos de trabalho, negócios,
produtos ou mercados para empresa.
3 Produz resultado para empresa decorrente da comercialização de produtos e serviços gerados
da oportunidade de negócio que identificou e captou no mercado.
4 Avalia o risco de suas ações na empresa ou no mercado por meio de informações coletadas.
5 Age para reduzir os riscos das ações propostas.
6 Está disposto a correr riscos, pois eles representam um desafio pessoal e poderão de fato
trazer bom retorno para a empresa.
7 Suas ações são muito inovadoras, trazendo qualidade e eficácia nos processos.
8 É reconhecido por satisfazer seus clientes internos e externos por meio de suas ações e
resultados.
9 Estabelece prazos e os cumpre com padrão de qualidade reconhecido por todos.
10 Age para driblar ou transpor obstáculos quando eles se apresentam.
11 Não desiste em situações desfavoráveis e encontra formas de atingir os objetivos.
12 Admite ser responsável por seus atos e resultados, assumindo a frente para alcançar o que é
proposto.
13 Conclui uma tarefa dentro das condições estabelecidas, honrando os patrocinadores e
parceiros internos
14 Quando necessário, “coloca a mão na massa” para ajudar a equipe a concluir um trabalho.
15 Está disposto a manter os clientes (internos e externos) satisfeitos e de fato consegue.
16 Vai pessoalmente atrás de informações confiáveis para realizar um projeto.
17 Investiga pessoalmente novos processos para seus projetos ou idéias inovadoras.
18 Quando necessário, consulta pessoalmente especialistas para lhe ajudar em suas ações.
19 Define suas próprias metas, independente do que é imposto pela empresa.
20 Suas metas são claras e específicas, e entendidas por todos os envolvidos.
21 Suas metas são mensuráveis e perfeitamente acompanhadas por todos da equipe.
22 Elabora planos com tarefas e prazos bem definidos e claros.
23 Revisa constantemente seus planejamentos, adequando-os quando necessário.
24 É ousado na tomada de decisões, mas se baseia em informações e registros para projetar
resultados.
25 Consegue influenciar outras pessoas para que sejam parceiros em seus projetos viabilizando
recursos necessários para alcançar os resultados propostos.
26 Consegue utilizar pessoas-chave para atingir os resultados que se propõe ou conseguir os
recursos necessários
27 Desenvolve e fortalece sua rede de relacionamento interna e externa à empresa.
87
28 Está disposto a quebrar regras, suplantar barreiras e superar obstáculos já enraizados na
empresa.
29 Confia em seu ponto de vista e o mantém mesmo diante de oposições.
30 É confiante nos seus atos e enfrenta desafios sem medo.
88
APÊNDICE
Apêndice 1 – Questionário de Autoeficácia Empreendedora utilizado
1 2 3 4 5 6 7
1 Trabalhar eficazmente sob contínuo estresse, pressão e conflito.
2 Desenvolver e manter relacionamentos favoráveis com investidores
potenciais.
3 Reconhecer novas oportunidades de mercado para novos serviços.
4 Selecionar e treinar colaboradores chave para seu negócio.
5 Estabelecer a visão e valores para seu negócio.
6 Descobrir novas formas de melhorar os serviços existentes.
7 Desenvolver relacionamentos com pessoas chave para obter capital.
8 Identificar novas áreas de crescimento potencial.
9 Desenvolver um planejamento adequado para potencializar seu negócio.
10 Inspirar os outros para aceitar a visão e os valores de seu negócio.
11 Tolerar as mudanças inesperadas nas condições do negócio.
12 Desenvolver serviços que resolvam problemas correntes.
13 Identificar recursos potenciais de financiamento.
14 Criar um ambiente de trabalho que permita aos colaboradores serem
"seu próprio chefe".
15 Persistir frente à adversidade.
16 Criar serviços que satisfaçam as necessidades dos pacientes / clientes.
17 Formular ações rápidas que permitam perseguir as oportunidades.
18 Desenvolver um clima que promova que os colaboradores queiram fazer
coisas novas.
19 Usar conceitos comerciais antigos de uma maneira nova.
20 Determinar se o negócio vai bem.
21 Apoiar aos colaboradores para tomarem iniciativas e responsabilidades
das suas ideias e decisões.
22 Identificar e resolver os problemas de gestão de seu negócio.
23 Formar associações ou alianças com outros profissionais.