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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE UNESC UNIDADE ACADÊMICA DE HUMANIDADES, CIÊNCIA E EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS MESTRADO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS AMANDA BELLETTINI MUNARI MEMÓRIA E PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE MORADORES DE GAROPABA: UM ESTUDO DE CASO DA LAGOA DAS CAPIVARAS CRICIÚMA 2017

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC

UNIDADE ACADÊMICA DE HUMANIDADES, CIÊNCIA E

EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS

MESTRADO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS

AMANDA BELLETTINI MUNARI

MEMÓRIA E PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE MORADORES DE

GAROPABA: UM ESTUDO DE CASO DA LAGOA DAS

CAPIVARAS

CRICIÚMA

2017

AMANDA BELLETTINI MUNARI

MEMÓRIA E PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE MORADORES DE

GAROPABA: UM ESTUDO DE CASO DA LAGOA DAS

CAPIVARAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências Ambientais

(Mestrado/Doutorado) da Universidade do

Extremo Sul Catarinense- UNESC, como

exigência para obtenção do título de Mestre

em Ciências Ambientais.

Orientadora: Profª. Dr. Viviane Kraieski de Assunção

Co-orientador: Prof. Dr. Carlyle Torres Bezerra de Menezes

CRICIÚMA

2017

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Bibliotecária Eliziane de Lucca Alosilla – CRB 14/1101

Biblioteca Central Prof. Eurico Back - UNESC

M963m Munari, Amanda Bellettini.

Memória e percepção ambiental de moradores de

Garopaba : um estudo de caso da Lagoa das Capivaras /

Amanda Bellettini Munari ; orientadora : Viviane Kraieski

Assunção ; coorientador: Carlyle Torres Bezerra de

Menezes. – Criciúma, SC : Ed. do Autor, 2017.

133 p. : il.; 21 cm.

Dissertação (Mestrado) - Universidade do Extremo

Sul Catarinense, Programa de Pós-Graduação em Ciências

Ambientais, Criciúma, 2017.

1. Impacto ambiental – Avaliação – Capivaras, Lagoa

das (SC). 2. Urbanização – Capivaras, Lagoa das (SC).

3. Percepção ambiental. 4. Educação ambiental.

5. Ecodesenvolvimento. I. Título.

CDD. 22ª ed. 333.714

Dedico este trabalho aos meus pais,

Mário e Santina.

AGRADECIMENTOS

Aos meus familiares que são base da minha vida, que sempre

estiveram ao meu lado, me apoiando e incentivando para alcançar este

sonho. Em especial aos meus pais, Mario e Santina e a minha irmã Tamara

que sempre caminharam ao meu lado, pelo incentivo, persistindo para que

eu seguisse em frente e me dando todo apoio, amor e carinho;

Agradeço a Marisa Hertel, que tornou-se uma segunda mãe para

mim, por todo amor e carinho dedicado, pelo apoio, pela prontidão em

todos os momentos em que precisei me acolhendo e sendo sempre esta

pessoa maravilhosa com que sempre pude contar; Agradeço seu Arthur

pelo apoio e confiança sempre.

Agradeço imensamente a família Da Soler, seu Nelson, Dona

Rosa, Kuka e Maciel por todo apoio e acolhimento de sempre.

Aos meus amigos e colegas, especialmente a Glaúcia, Renata,

Vanessa, Angelita, Diane, Flávio, Mirelle, Zeca B., Izadora, Samira, Zeza

e Cinthia que me acompanharam e me deram grande suporte para que eu

pudesse prosseguir, me ajudando nos momentos difíceis. Obrigada pelos

momentos de risadas, estudos, brincadeiras, enfim por todas as

experiências que passamos juntos que jamais esquecerei.

Agradeço também a Tia Rosi, Tio Nei, Karen, Diego e Lucas que

de uma maneira ou de outra me ajudaram e apoiaram nesta etapa.

Agradeço especialmente a minha orientadora e professora Viviane

Kraieski de Assunção, por toda sua paciência e dedicação para me ensinar

e orientar, por todo suporte para construir esta dissertação, pelo

conhecimento compartilhado, pelas oportunidades e experiências em

congressos que participei. MUITO OBRIGADA!

Agradeço ao meu professor e co-orientador Carlyle Torres Bezerra

de Menezes pelas conversas diárias, pelo suporte dado na construção

deste trabalho, pela convivência no laboratório, seus conselhos e

ensinamentos além de força para seguir na vida acadêmica.

Agradeço também ao professor Carola e Professora Fátima por

aceitarem participar da minha banca de defesa.

Agradeço a Fabi e Ali que me acolheram em meu trabalho de

campo, vocês foram maravilhosas! A minha prima Vivian por todas as

hospedagens cedidas em congressos! (rsrs)

A todo grupo de Gestão de Ambientes Alterados e Recursos

Hídricos (Profs. Carlyle, Viviane, Ledina, Yasmine, Miriam e Zeca, Gian

e Bianca) e o Núcleo Transdisciplinar de Meio Ambiente

Desenvolvimento – NMD-UFSC (em especial ao Prof. Paulo Vieria,

Mariana, Ana e Fabi) pelas experiências vivenciadas e toda troca de

conhecimento compartilhado.

Agradeço a CAPES e FAPESC pela concessão de bolsa para o

desenvolvimento da pesquisa.

SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................. 11 ABSTRACT ......................................................................................... 13 1 INTRODUÇÃO .............................................................................. 15 2 REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................... 19 2.1 ZONA COSTEIRA ....................................................................... 19 2.1.1 Lagoas Costeiras ....................................................................... 22 2.1.2 Principais Características das Lagoas Costeiras ................... 24 2.1.2.1 Importância Ecológica das Lagoas Costeiras ...................... 26 2.1.3 Impactos Ambientais que afetam as Lagoas Costeiras ......... 27 2.2 ECODESENVOLVIMENTO ....................................................... 30 2.3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL ........................................................ 34 2.4 PERCEPÇÃO E MEMÓRIA AMBIENTAL................................ 40 2.5 URBANIZAÇÃO .......................................................................... 48 3 METODOLOGIA .......................................................................... 55 3.1 ÁREA DE ESTUDO ..................................................................... 55 3.2 CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA ........................................ 58 3.3 LEVANTAMENTO DE DADOS ................................................. 60 3.4 ANÁLISE DOS DADOS .............................................................. 61 4 A MEMÓRIA DOS MORADORES DE GAROPABA .............. 63 4.1 AS LAVADEIRAS ....................................................................... 63 4.2 A PESCA NA LAGOA ................................................................. 69 4.3 A PRESENÇA DE POPULAÇÃO INDÍGENA ........................... 71 5 A CIDADE CONTADA PELOS MORADORES ....................... 75 5.1 O PROCESSO DE OCUPAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO NO

ENTORNO DA LAGOA ...................................................................... 75 5.2 INÍCIO DO PROCESSO DE CRESCIMENTO URBANO ......... 80 6 A URBANIZAÇÃO TURISTICA NO MUNICIPIO DE

GAROPABA ........................................................................................ 89 6.1 O TURISMO E A APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO ..................... 89 6.2 PERSPECTIVAS FUTURAS PARA A LAGOA ......................... 96 6.3 CONTRIBUIÇÕES DA MEMÓRIA PARA A EDUCAÇÃO

AMBIENTAL ..................................................................................... 103 7 CONCLUSÕES ............................................................................ 109 REFERÊNCIAS ................................................................................ 115 APÊNDICE ........................................................................................ 133

RESUMO

O município de Garopaba, assim como muitos municípios da zona

costeira brasileira, teve um desenvolvimento que não conciliou o

crescimento imobiliário com a preservação dos bens de uso comuns.

Neste contexto, encontram-se disputas políticas e econômicas em

torno dos projetos de desenvolvimento local, que opõem, de um lado,

sujeitos interessados na preservação ambiental, e, de outro, sujeitos

que pretendem a implantação de grandes empreendimentos privados

no município. No ano de 1988, o projeto de construção de um

loteamento levou ao aterramento de uma lagoa localizada no centro da

cidade - a Lagoa Pequena, parte da Lagoa das Capivaras. Já a Lagoa

das Capivaras, situada ao lado da Lagoa Pequena, encontra-se

atualmente em estado de degradação devido à contaminação por

esgoto sanitário proveniente das residências do entorno, além do

descarte de resíduos sólidos. Deste modo, a pesquisa buscou, por meio

da memória e percepção dos moradores, identificar as mudanças e

transformações ocorridas no local, mais precisamente no entorno da

Lagoa das Capivaras. O estudo foi realizado por meio de uma pesquisa

de natureza qualitativa, cujo método empregado foi o estudo de caso

e a técnica de pesquisa a entrevista semiestruturada. Para o

desenvolvimento da pesquisa foram entrevistados 25 moradores, que

residem há mais de 10 anos no local. Pode-se destacar como principais

resultados, o impacto negativo a que foram submetidas as lagoas e a

percepção deste impacto do ponto de vista dos moradores mais

antigos, bem como o resgate e os efeitos do processo de urbanização

no município e a vinda do turismo para a região. Ademais, a pesquisa

torna-se ainda uma contribuição no intuito de compreender a realidade

deste ambiente e diagnosticar os efeitos causados pela poluição, a falta

de planejamento, o crescimento urbano e o turismo em massa no

ambiente costeiro. Deste modo, sugere-se que estes resultados sejam

socializados com os moradores com vistas a contribuir para a

construção de um território baseado em uma gestão integrada e

participativa promovendo um crescimento ordenado baseado no

ecodesenvolvimento, bem como colaborar com o Plano de

Recuperação de Área Degradada (PRAD), para recuperação do local

e posteriormente transformar a área em uma unidade de conservação

para os moradores do município. Por fim, contribuir com programas

de educação ambiental já existentes no município de maneira a

sensibilizar os indivíduos e estimulá-los a colaborarem e participarem

de ações que visem à recuperação do local.

Palavras-chave: Memória, Percepção Ambiental, Educação

Ambiental, Lagoas Costeiras, Urbanização.

ABSTRACT

The municipality of Garopaba, as well as many municipalities in the

Brazilian coastal zone, had a development that did not reconcile real

estate growth with the preservation of common assets. In this context,

there are political and economic disputes around local development

projects, which oppose, on one hand, subjects interested in

environmental preservation, and, on the other, subjects who intend to

implement large private enterprises in the municipality. In 1988, the

construction of a plot of land led to the grounding of a lagoon located

in the center of the city – Little Lagoon, part of Lagoon of Capivaras.

On the other hand, the Lagoa of Capivaras, located next to Little

Lagoon, is currently in a state of degradation due to the contamination

of sanitary sewage from surrounding residences, as well as the

disposal of solid waste. In this way, the research sought, through the

memory and perception of the inhabitants, to identify the changes and

transformations that occurred in the place, more precisely in the

surroundings of the Lagoon of Capivaras. 25 residents, who have been

living in the area for more than 10 years were interviewed for the

development of the research. The study was carried out through a

qualitative research, whose method was the case study and the semi -

structured interview technique. It is possible to highlight as main

results, the negative impact to which the lagoons were subjected and

the perception of this impact from the point of view of the older

residents, as well as the rescue and the effects of the process of

urbanization in the municipality and the coming of tourism to the

region. In addition, research is still a contribution in order to

understand the reality of this environment and diagnose the effects

caused by pollution, lack of planning, urban growth and mass tourism

in the coastal environment. Thus, it is suggested that these results be

socialized with the residents in order to contribute to the construction

of a territory based on an integrated and participative management

promoting an ordered growth based on ecodevelopment, as well as to

collaborate with the Degraded Area Recovery Plan (PRAD), to

recover the site and later transform the area into a conservation unit

for the residents of the municipality. Finally, to contribute with

existing environmental education programs in the municipality in

order to sensitize the individuals and encourage them to collaborate

and participate in actions aimed at the recovery of the place.

Key-words: Memory, Environmental Perception, Environmental

Education, Coastal Lagoons, Urbanization.

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1 INTRODUÇÃO

A degradação dos ambientes costeiros, em função da ocupação

urbana desordenada e ações antrópicas sem planejamento, tem acentuado

o processo de destruição dos ecossistemas, que é agravado por sua

capacidade restrita de suportar os impactos gerados por estas atividades.

O município de Garopaba (Santa Catarina, Brasil), assim como

diversos municípios do litoral brasileiro, vem passando por um intenso

processo de ocupação desordenada, bem como destruição dos

ecossistemas devido à grande procura da população para residir na zona

costeira.

Devido a esta procura, o setor imobiliário pretendia a implantação

de empreendimentos privados no município, o que acarretou em conflitos

na região, por estes empreendimentos estarem diretamente situados na

área que engloba uma lagoa. Assim sendo, parte da Lagoa das Capivaras

– a Lagoa Pequena, como conhecida localmente – foi aterrada para a

implantação de um loteamento, que mais tarde foi embargado devido a

uma ação civil pública e hoje se encontra abandonado.

A Lagoa das Capivaras, localizada na zona central do município,

com uma área total de aproximadamente 20 hectares, além de sofrer com

as consequências do aterramento da Lagoa Pequena, vem passando por

um grave processo de degradação em virtude de estar situada em área

urbanizada entre o mar e o continente, recebendo o despejamento de

efluentes domésticos e industriais que está provocando a eutrofização da

mesma, além de ter o aterramento de suas margens, assoreamento da

bacia e supressão de sua mata ciliar (MARIANO, 2010).

O entorno da lagoa atualmente está passando por um processo de

readequação para regularização dos terrenos, processo este ainda em

tramitação no Ministério Público. No entanto, suas margens estão sendo

invadidas de forma desordenada e o local ainda continua sendo cercado

para a implantação de casas, ocasionando enorme impacto a este

ecossistema.

Este processo de urbanização se deu em razão da apropriação de

regiões do município de Garopaba como local de segunda residência. Este

processo de apropriação da praia está relacionado às transformações

urbanísticas decorrentes do crescimento e da modernização da zona costeira para classes de alto poder aquisitivo.

Na busca de alternativas para a reversão dos processos de

degradação ambiental na lagoa foi proposto um projeto, o projeto de um

Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD), resultado na

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proposição de reparação por dano ambiental no processo de liquidação de

sentença, que comporta um conjunto de medidas que propiciará à área

degradada condições de estabelecer um equilíbrio dinâmico. Um dos

elementos que compõem o plano é a educação ambiental, na perspectiva

de trabalhar com os moradores para a restauração da área e para uso de

recreação e lazer da comunidade.

Este trabalho tem como foco a percepção e a memória ambiental

dos moradores do município de Garopaba, de modo a investigar a forma

como os sujeitos se relacionam com o meio e como compreendem os

processos de mudança ou transformação na lagoa e em seu entorno,

ocorrido ao longo dos últimos anos.

A pesquisa sobre esta temática pode subsidiar um importante

diagnóstico da situação do município em relação ao meio, avaliando o

nível de valoração dado aos diversos recursos naturais e serviços

ecossistêmicos, o processo de urbanização ocorrido no local e dar suporte

a programas de educação ambiental e ecodesenvolvimento

(MARCZWSKI, 2006).

Além disso, o estudo propõe que a investigação sobre memória e a

percepção pode ser utilizada como um instrumento de educação

ambiental, por suas relações com a territorialidade (SANTOS;

SILVEIRA, 2001), que, por sua vez, está atrelado ao processo de

identificação e ao sentimento de pertença de indivíduos ou grupos a um

determinado espaço.

O trabalho com a percepção ambiental pode ser uma ferramenta

importante no desenvolvimento de ações educativas para o ambiente. A

percepção ambiental é o meio pelo qual podemos compreender as

relações estabelecidas no ambiente vivido, nas quais as memórias

possuem um papel importante na identificação de padrões de

desenvolvimento e dos impactos ambientais ocorridos.

É por meio da memória que podemos encontrar os símbolos,

marcas, e traços deixados por um povo, reconstruindo assim os espaços

que foram transformados com o passar dos anos. Através da rememoração

dos fatos e paisagens se estabelece uma ligação com o tempo atual, tendo

então uma relação entre memória e percepção, que ajudam os indivíduos

a detectar as modificações ocorridas com o passar do tempo, e que, muitas

vezes, levaram à degradação do meio ambiente.

Este trabalho teve como objetivo compreender a percepção

ambiental de moradores de Garopaba a luz da memória, sobre os

processos de mudança e transformação da Lagoa das Capivaras.

Os objetivos específicos foram de i) reconhecer, considerando a

memória e a percepção dos moradores sobre as possíveis transformações

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ocorridas na lagoa e seu entorno; ii) identificar, a partir da percepção dos

moradores os impactos socioambientais causados pela atividade turística

à localidade; iii) conhecer a partir dos relatos dos moradores, suas

expectativas quanto à recuperação, acessibilidade e melhoria na Lagoa

das Capivaras e seu entorno; iv) socializar os resultados da pesquisa com

a comunidade, divulgando os resultados com vistas a contribuir com o

Projeto do Plano de Recuperação da Área Degradada da Lagoa das

Capivaras.

A presente dissertação está dividida em cinco capítulos. No

primeiro capítulo é apresentado um referencial teórico mostrando os

conceitos, teorias e modelos que irão sustentar nossa argumentação a

respeito do tema;

No segundo capítulo é apresentada a metodologia, demostrando a

maneira como o trabalho foi realizado e os procedimentos que foram

necessários para se obter os resultados da pesquisa, apresentamos também

como procedeu a escolha dos informantes-chave e a respectiva coleta de

dados e a área de estudo;

No terceiro capítulo, refere-se à memória da lagoa, relatando as

atividades que eram realizadas na lagoa e sua importância como fonte de

renda e alimento para os moradores, bem como o modo de vida, o

cotidiano e as relações que os moradores mantinham com a lagoa

antigamente;

No quarto capítulo a cidade é contada do ponto de vista dos

moradores de Garopaba, seu processo histórico de urbanização e as

transformações ocorridas ao longo dos anos no entorno da Lagoa das

Capivaras;

No quinto capítulo refere-se a urbanização turística do município

de Garopaba, expondo o processo de apropriação do espaço pela indústria

turística e o setor imobiliário. Traz também as perspectivas dos moradores

para o futuro da lagoa, bem como suas percepções e opiniões a respeito

da degradação do local.

18

19

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O referencial teórico abrange a bibliografia publicada em relação

aos temas em estudo, permitindo ao investigador a cobertura de uma gama

de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar

diretamente (MARCONI; LAKATOS, 2010; GIL, 1994).

Posteriormente será descrita a fundamentação teórica que dará

suporte ao trabalho, abordando os conceitos como: Zona Costeira, Lagoas

Costeiras, Educação Ambiental, Percepção e Memória Ambiental,

Urbanização, Ecodesenvolvimento e demais fundamentos teóricos que

ajudarão o pesquisador se tornar um observador participante do processo

de conhecimento e interpretar os fenômenos, atribuindo-lhes um

significado.

2.1 ZONA COSTEIRA

O Brasil possui 7.367 km de linha costeira, segundo o

Macrodiagnóstico da Zona Costeira na escala da União (MMA, 2015).

Considerando os recortes litorâneos (baías e reentrâncias), essa extensão

amplia significativamente, elevando-a a mais de 8.500 km voltados para

o Oceano Atlântico (NOGUEIRA, 2006).

A zona costeira pode ser definida como uma faixa de terra seca e

o espaço oceânico adjacente, na qual a parte terrestre e seus usos afetam

diretamente a ecologia do espaço oceânico e vice-versa. Portanto, a zona

costeira é considerada uma faixa de largura variável que bordeia os

continentes, ou seja, um sistema ambiental formado na área de interação

direta entre componentes de geosfera (continente), hidrosfera (oceano) e

atmosfera (POLETTE, 1999).

Segundo o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, zona

costeira é considerada:

[...] O espaço geográfico de interação do ar, do mar

e da terra, incluindo seus recursos renováveis ou

não, abrangendo uma faixa marítima e outra

terrestre [...] (PNGC, 1997).

Para um melhor entendimento, inserem-se os conceitos de Faixa

Marítima e Faixa Terrestre (PNGC, 1997):

Faixa Marítima - é a faixa que se estende mar afora distando

12 milhas marítimas das Linhas de Base estabelecidas de

20

acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito

do Mar, compreendendo a totalidade do Mar Territorial.

Faixa Terrestre - é a faixa do continente formada pelos

municípios que sofrem influência direta dos fenômenos

ocorrentes na Zona Costeira.

A Constituição Federal Brasileira, no parágrafo 4º, do art. 225,

define a zona costeira como “patrimônio nacional” e ainda especifica que

“sua utilização far-se-á, na forma de lei, dentro das condições que

assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos

recursos naturais” (PNGC, 1997).

Tem-se com o PNGC II a delimitação terrestre da zona costeira

definida por limites político-administrativos. Com isso pode-se resumir

que a zona costeira do Brasil é oficialmente constituída pelo mar

territorial e pelo conjunto dos territórios dos municípios que integram o

espaço de atuação do Plano (MMA, 2006).

A zona costeira brasileira possui uma importância estratégica, que

pode ser evidenciada em vários aspectos, por abrigar um mosaico de

ecossistemas de alta relevância ambiental que abriga enorme

biodiversidade, marcada pela transição de ambientes terrestres e marinhos

com interferências econômicas conflitantes e associadas a uma

desordenada expansão urbana que acabam por fragilizar seu sistema

(BRASIL, 2015).

Não é somente na zona costeira que se situam os problemas. Existe

uma conexão direta e indireta tanto com o ambiente marinho quanto com

a área continental, sendo que qualquer atividade desenvolvida no

ambiente marinho interfere na ocupação dos espaços costeiros e

continentais, pois é esta região de transição –zona costeira- que

desempenha papel importante de ligação e trocas genéticas entre os

ecossistemas terrestres e marinhos, classificado como ambiente

complexo, diversificado e de extrema importância para sustentação da

vida do mar (MARIANO, 2010).

Por sua vez, são as diversas atividades econômicas na porção do

continente que são dependentes e afetam diretamente esse ecossistema.

Um exemplo seria o turismo, que gera grande fluxo sazonal de indivíduos

e de capital na alta temporada, causando impactos significativos,

principalmente o descarte de efluentes e resíduos sólidos (BRASIL,

2015).

Tendo em vista esta problemática, os ambientes costeiros se

transformaram em um dos principais focos de atenção no que diz respeito

à conservação ambiental e manutenção da biodiversidade.

21

O litoral do Estado de Santa Catarina apresenta uma variedade

relativamente grande de coberturas vegetais, caracterizadas por uma rica

formação e grande diversidade de ecossistemas, dentre os quais se

destacam: florestas ombrófilas densas e aluviais; banhados; dunas;

costões; restingas herbáceas, arbustivas e arbóreas e, lagoas pertencentes

ao maior complexo lagunas costeiro do mundo. Do ponto de vista

geológico e hidrológico, esta porção costeira constitui um importante

aquífero para onde fluem as águas que se infiltram nas encostas do

planalto serrano e se deslocam para o mar (MARIANO, 2010;

GUADAGNIN, 1999).

A mesma é caracterizada por compreender um faixa de 8.698 km

de extensão e largura variável, completando um conjunto de ecossistemas

contíguos sobre a área de aproximadamente 388.000 km2. Abrange uma

parte terrestre, com um conjunto de municípios selecionados segundo

critérios específicos, e uma área marinha, que corresponde ao mar

territorial brasileiro, com largura de 12 milhas náuticas a partir da linha

de costa (PROJETO ORLA, 2006).

A zona costeira de Santa Catarina tem uma superfície de 9.250

km2. A população litorânea é de cerca de 1.600.000 habitantes, com

elevada densidade demográfica (cerca de 170 hab-km2). Na parte norte

do Estado, as planícies litorâneas são estreitas, conformando baías ou

estuários e delimitadas por promontórios rochosos em basamentos de

estilos complexos. Na parte sul, principalmente a partir do Cabo de Santa

Marta, as planícies são alargadas, com faixa praial retificada e

acumulações de dunas e ambientes lacustres. Destaca-se também, entre

as feições da paisagem, a Ilha de Santa Catarina, como um importante

divisor climático e fitogeográfico (MARIANO, 2010; GUADAGNIN,

1999).

O Decreto Estadual no. 5.010, de 22 de dezembro de 2006 que

regulamenta a Lei no 13.553, de 16 de novembro de 2005, que institui o

Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro, definiu a Zona Costeira do

Estado de Santa Catarina como o espaço geográfico constituído: na faixa

terrestre, pelo conjunto de territórios dos municípios que confrontam com

o mar ou com as grandes lagoas costeiras, ou abrigam ecossistemas

costeiros relevantes e atividades socioeconômicas características da Zona

Costeira (PNGC, 1997).

Detalhadamente, no Litoral Centro Sul situa-se o maior complexo

lagunar Catarinense. O Farol de Santa Marta, localizado no município de

Laguna, é marco geográfico delimitador da linha de costa no litoral

catarinense e, também, o limite austral de espécies de mangue no litoral

brasileiro.

22

Na zona costeira do setor sul do Estado, a paisagem é formada por

uma grande planície cortada por rios, com presença de lagoas costeiras

paralelas à linha de costa. Mas a preocupação catarinense com este

quadrante se refere, em especial, aos poluentes de rejeitos do carvão que

comprometem o complexo hidrográfico, auxiliados pela rizicultura e pelo

descarte de efluentes domésticos (CASTILHOS; TREMEL, 2008).

Segundo a Agenda 21 (1992), mais da metade da população

mundial vivia em um raio de sessenta quilômetros do litoral. Face o tempo

decorrido, este número cresceu gradativamente, e atualmente se têm uma

quarto da população brasileira habitando a faixa costeira,

aproximadamente 36,5 milhões de pessoas, residentes em 500

municípios. Assim sendo, no Brasil, as atividades econômicas costeiras

são responsáveis por cerca de 70% do Produto Interno Bruto (PIB)

nacional, principalmente devido à existência de portos nos quais é

realizada grande parte da atividade econômica exportadora brasileira.

A maioria das metrópoles encontra-se a beira-mar, no entanto a

faixa litorânea é composta desde grandes cidades até pequenos

municípios poucos desenvolvidos, inclusive locais que nem são

considerados municípios, mas simples vilas e, através disto pode-se notar

facilmente a importância da área costeira e a vulnerabilidade às intensas

atividades humanas vinculadas a elas.

O turismo, por exemplo, é uma das atividades mais importantes

das diversas cidades costeiras, principalmente as pequenas, que têm nele

a principal atividade econômica, inclusive com reflexos imobiliários

negativos: a expansão dos loteamentos e a crescente demanda de áreas

disponíveis favorecem o surgimento de construções irregulares, muitas

vezes realizadas sem a devida autorização do Poder Público.

A crescente exploração dos recursos marinhos sem o devido

cuidado pode levar a graves danos ambientais, com consequente prejuízo

a qualidade de vida humana, e ainda sendo que o litoral é um espaço raro

e frágil, a vida dos animais que dependem deste habitat estaria

completamente ameaçada (FREITAS, 2004).

2.1.1 Lagoas Costeiras

As lagoas costeiras são corpos d’ água localizados dentro do território continental, encontrados em todos os continentes, normalmente

orientados paralelamente à linha da costa, separados do oceano por uma

barreira ou conectados a este por um ou mais canais ou pequenas baías

que permanecem abertos, pelo menos intermitentemente, e que possuem

profundidade que raramente ultrapassam poucos metros.

23

Existem diversas formas de corpos hídricos, porém cada um

apresenta características peculiares e importantes em torno de seus usos.

Os rios são muito utilizados para abastecimento público, transporte, pesca

como atividades de subsistências em muitas regiões do mundo.

Os lagos e as lagoas também apresentam sua importância diante de

seus usos. Muitas comunidades utilizam-se dos mesmos para uso

doméstico, criação de animais, cultivo, pesca, lazer e pela sua própria

função natural como o controle de inundações, reservatório de água

salobra e drenagem. Além disso, proporcionam a manutenção do lençol

freático, contribuindo, também, para a estabilidade do clima no local,

sendo fundamental à produtividade biológica, mantendo a biodiversidade

inerente ao ambiente em estudo (NASCIMENTO, 2010; ASSIS, 2013).

Porém, a cada dia, esses corpos hídricos têm sido impactados por

estas atividades antrópicas. Na maioria das vezes, são nas regiões

metropolitanas que rios, lagos e lagoas são aterrados com resíduos sólidos

e contaminados intensamente por efluentes líquidos (industriais e

domésticos). Por vezes, suas margens são invadidas por habitações sem

nenhuma infra-estrutura de saneamento, logo os dejetos produzidos são

despejados no leito destes corpos, ocasionando diversas formas de

degradação ambiental (NASCIMENTO, 2010).

As lagoas costeiras são responsáveis pela sobrevivência de muitas

espécies aquáticas, como também para o desenvolvimento da fauna e

flora que fazem parte de todo o ecossistema ali presente. Existem diversas

formas de lagoas em nosso país, algumas são abertas para o oceano e por

isso são lagoas com características de águas salobras, outras são corpos

fechados que mesmo sendo costeiras, são de água doce, sendo assim, este

recurso hídrico pode ou não estar sujeito ao regime de marés, e a

salinidade pode variar da água doce até uma condição hipersalina,

dependendo do balanço hidrológico (NASCIMENTO, 2010; ASSIS,

2013).

A maioria das lagoas costeiras formou-se como resultado da

elevação do nível dos oceanos, especialmente durante o Holoceno (época

mais recente do período Cenozoico), e pela construção de barreiras

costeiras por processos marinhos (LEAL, 2002).

A formação e manutenção das lagoas são resultado de um

equilíbrio entre a chegada de sedimentos para a construção da

barreira/restinga, e a ação das ondas que irão retrabalhar estes sedimentos.

A qualidade de suas águas é resultado da hidrodinâmica, ou seja, da

circulação dessas águas, dos processos de dispersão dos sais e sólidos em

suspensão e do tempo de residência. E todos esses fatores estão ligados à

combinação entre a descarga fluvial, ação dos ventos, precipitação /

24

evaporação e processos dinâmicos da zona costeira como ondas e marés

(LEAL, 2002).

Estes ecossistemas ocorrem ao longo de toda a costa brasileira,

sendo um dos conjuntos de ecossistemas aquáticos continentais mais

representativos do país. Em Santa Catarina existem inúmeras lagoas

costeiras, que possuem grande importância econômica, na produção de

pescado e social, como área de lazer para a população. A distribuição dos

sistemas lagunares no Estado compreende um conjunto de 47 lagunas e

lagoas costeiras, ocupando uma área de 342,69 km2 (MARIANO, 2010).

2.1.2 Principais Características das Lagoas Costeiras

A definição de lagoa passa por vários fatores que ajudam na

caracterização e conhecimento destes mananciais. Vários autores

estudam este ecossistema tão necessário para o desenvolvimento de

muitas espécies. O Brasil é um país que apresenta uma grande quantidade

de lagoas costeiras de diversas naturezas, sejam elas diretamente ligadas

ao mar ou não (NASCIMENTO, 2010).

As lagoas costeiras comumente sofrem forte ação de descargas de

rios, ventos, marés, precipitação, evaporação, aquecimento superficial e

respondem de forma diferenciada a estas forçantes. A compreensão

acerca das dinâmicas físicas, químicas, geológicas e ecológicas das lagoas

são importantes no planejamento e implementação de estratégias de

gerenciamento nas lagoas costeiras (PADILHA, 2001).

As mesmas são ecossistemas que podem ter diversas formas,

podendo ser quanto ao grau de salinidade, tamanho e forma, níveis de

matéria orgânica dissolvida (coloração da água) e processos de formação

(MARIANO, 2010).

Esteves 1998 (p. 27) descreve a origem, classificação pela

coloração e salinidade das lagoas:

Formação por processos geomorfológicos, ou seja, aqueles

relacionados com os processos de erosão e de sedimentação

que isolaram antigas baías marinhas, originando lagunas com

águas salobras e claras.

Formação a partir dos processos de sedimentação de uma foz

do rio, originando lagos costeiros com águas doces ou

levemente salobras.

Formação por origem mista, que podem ser de dois tipos: (i)

lagos formados por associação entre isolamento de baías

25

marinhas e a foz do rio, quando esta última em destaque; e (ii)

lagos formados por associação entre assoreamento da foz de

rio e o aporte de água do lençol freático.

Dependendo da coloração que apresentam, as lagoas costeiras

podem ser classificadas em:

Lagoas costeiras de águas claras – são na maioria dos casos

lagunas, cujas águas provêm do oceano e/ou de rios. Em

muitos casos, as águas claras resultam de aporte fluvial que

drena terrenos que fornecem poucos elementos particulados

ou componentes solúveis para a solução;

Lagoas costeiras de águas escuras – têm suas águas

originadas, principalmente, do lençol freático de áreas

arenosas, ou de rios cujas bacias de drenagem percorrem

terrenos arenosos, como aqueles típicos de restinga.

Kjerfve 2008 (p. 28) usa o grau de troca d’água entre a lagoa e o

oceano para dividir as mesmas em sufocadas, restritas e vazadas:

Lagoas sufocadas – apresentam uma série conectada de

células elípticas, só um canal de comunicação longo e estreito

com o mar, possuem pouca influência da maré no seu interior

e um longo tempo de residência da água em seu interior. O

canal de comunicação pode ser permanente ou temporário.

Nestas lagoas os ventos são muito importantes para promover

a circulação e mistura das águas.

Lagoas restritas – apresentam dois ou mais canais de

comunicação com o oceano; possuem circulação da água

dominada pela maré; as águas são bem misturadas e o tempo

de residência é menor.

Lagoas vazadas – apresentam vários canais de comunicação;

as marés são mais fortes que as ondas, e a salinidade é

comparável à do oceano adjacente.

Em relação ao fitoplâncton (algas) que habitam as lagoas, seu

estudo é importante, por formarem grupos que respondem prontamente

às mudanças que ocorrem no ambiente, funcionando como indicadores

ecológicos e auxiliando no entendimento das interações existentes entre

os processos físicos, num extremo, e as respostas biológicas, no outro.

26

Estes, por sua vez, caracterizam e influenciam a concentração de

nutrientes, penetração da luz, temperatura e pH da água (ESTEVES,

1998).

Um aumento da concentração de nutrientes, especialmente fósforo

e nitrogênio, nos ecossistemas aquáticos, que tem como consequência o

aumento de suas produtividades, é denominado de eutrofização. Como

decorrência deste processo, o ecossistema aquático passa da condição de

oligotrófico e mesotrófico para eutrófico ou mesmo hipereutrófico

(PADILHA, 2001).

Assim sendo, a eutrofização pode ser natural ou artificial. Quando

é natural, é um processo lento e continuo que resulta do aporte de

nutrientes trazidos pelas chuvas e pelas águas superficiais que erodem e

lavam a superfície terrestre.

Segundo Padilha (2001, p. 53), [...] “a eutrofização natural

corresponde ao que poderia ser chamado de “envelhecimento natural” da

lagoa”.

Quando ocorre artificialmente, a eutrofização é induzida pelos

seres humanos, e denominada de artificial ou antrópica. Um dos aspectos

mais característicos do fenômeno de eutrofização das lagoas e

reservatórios é o crescimento exagerado de organismos aquáticos

autotróficos, particularmente algas planctônicas e macrófitas aquáticas. O

crescimento acentuado de fitoplâncton provoca várias complicações

quanto ao uso da água para abastecimento ou para outros fins (PADILHA,

2001).

Outro fator importante a ser considerado sobre as lagoas, é a

vegetação existente, a qual exerce influência em sua dinâmica, bem como

nos processos costeiros neste ecossistema, ou seja, o equilíbrio entre o

ambiente terrestre e aquático, que estão intimamente relacionados como,

por exemplo, o risco de enchentes e os custos com obras de drenagem

(VILAR, 2012).

2.1.2.1 Importância Ecológica das Lagoas Costeiras

A zona costeira brasileira é uma unidade territorial definida por

legislação para efeitos de gestão ambiental. A mesma mantém um forte

contato com outros dois biomas de elevada biodiversidade, o Amazônico com grande sobreposição territorial, e o da Mata Atlântica.

Esta é uma região de transição ecológica que desempenha

importante função de ligação e trocas genéticas entre os ecossistemas

terrestres e marinhos. Fato este que a classifica como ambiente complexo,

diversificado e de extrema importância para a sustentação da vida no mar

27

propiciando abrigo, suporte, reprodução e alimentação inicial, tornando o

ambiente espaço de atenção especial em relação à conservação ambiental

e manutenção de sua biodiversidade.

A zona costeira ainda é responsável por ampla gama de funções

ecológicas como a preservação de inundações, da intrusão salina e da

erosão costeira, a proteção contra tempestades, a reciclagem de nutrientes

e de substâncias poluidoras, e a provisão direta ou indireta de habitats e

de recursos para uma variedade de espécies exploradas (BRASIL, 2015).

As lagoas costeiras são de fundamental importância, tendo em

vista a sua rica biodiversidade, a fauna variada de espécies aquáticas e

terrestres associadas, além de possuir grande importância econômica,

social e turística para diversos municípios (LANZER, 2005).

A biodiversidade existente nas lagoas costeiras exerce papel

fundamental na maior parte desses mecanismos reguladores, contribuindo

para a caracterização do conjunto da zona costeira como um recurso

finito, resultante de um sistema complexo e sensível, abrigando uma

extraordinária inter-relação de processos e pressões entre o ambiente

marinho, terrestre e de água doce, constituindo ambiente de grande

produtividade.

Esta inter-relação propicia a interação direta ou indireta com o mar,

através dos aportes de água doce e do balanço hidrológico de precipitação

e evaporação. Em geral, exibem gradientes longitudinais e temporais de

salinidade, podendo ocorrer comunidades características de água doces,

como de águas salobras e de águas marinhas. Além disto, contribuem

significantemente para a manutenção do lençol freático e para

estabilidade climática do local (SANTOS, 2008).

Tendo em vista que os seres humanos utilizam este sistema

aquático como serviço de lazer e controle de inundações, por exemplo, e

retiram seus componentes como sal, pescado, etc., o ambiente pode ficar

fragilizado, sendo necessário um programa de gestão, com uma demanda

de capacitação e mobilização dos atores envolvidos, através de

intervenções integradas, redirecionadas às políticas públicas ambientais

da região (LANZER, 2005).

2.1.3 Impactos Ambientais que afetam as Lagoas Costeiras

A contínua interferência das atividades humanas nos sistemas

aquáticos continentais do Brasil produziram impactos ambientais diretos

ou indiretos, com consequências para a qualidade da água, a biota e o

funcionamento de lagoas, rios e represas.

28

De acordo com a resolução CONAMA nº001/86, art 1°, impacto

ambiental é considerado como toda alteração das propriedades físicas,

químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de

matéria ou energia resultante das atividades humanas, que direta ou

indiretamente afetam a saúde, o bem-estar da população e a qualidade do

meio ambiente (BRASIL, 1986).

O meio costeiro é considerado frágil e susceptível a qualquer tipo

de impacto. As áreas frágeis possuem particular sensibilidade aos

impactos ambientais diversos, baixa resistência e pouca capacidade de

recuperação. A necessidade de preservação das áreas litorâneas reside no

fato de que a sua fragilidade ambiental é muito alta, e qualquer distúrbio,

principalmente de natureza antrópica, tende a causar efeitos

extremamente negativos ao meio (MARIANO, 2010).

Dentre os diferentes tipos de corpos d’água, as lagoas costeiras

sofrem grande impacto ambiental, por estarem situadas em área

urbanizada entre o mar e o continente, recebendo os resíduos produzidos

pelas atividades humanas realizadas em seu entorno.

A expansão da ocupação urbana leva à diminuição da sua área

original, dos canais de escoamento de água pluvial e, para piorar, em

alguns casos, ainda há o lançamento, em suas águas, de efluentes

domésticos e industriais sem tratamento (LIMA, 2014).

O lançamento destes efluentes pode provocar a eutrofização da

lagoa, que seria o enriquecimento das águas com os nutrientes necessários

ao crescimento da vida vegetal aquática, reduzindo seu tempo de vida.

No caso da Lagoa das Capivaras, objeto de estudo desta pesquisa,

encontra-se situada ao centro do município de Garopaba, possui uma área

total de aproximadamente 20 hectares, com a lâmina d’água

correspondendo a aproximadamente 12 hectares, com parte da área em

estado adiantado de eutrofização. A extensão é de 200 m de comprimento

por 184 m de largura, e profundidade variando de aproximadamente 2 a

5 metros, dependendo do processo de assoreamento ocorrido sobre os

vários pontos da lagoa (MARIANO, 2010).

Conforme os níveis de matéria orgânica na água, a Lagoa das

Capivaras pode ser classificada como uma lagoa costeira de águas

escuras, que são caracterizadas por suas águas terem origem,

principalmente, do lençol freático de áreas arenosas, rios cujas bacias de

drenagem percorrem terrenos arenosos (MARIANO, 2010; ESTEVES,

1998).

Assim sendo, a ocupação urbana desordenada na área próxima à

lagoa tem causado séria degradação de seu ecossistema. Entre os

principais impactos em que a Lagoa das Capivaras está submetida,

29

destacam-se: aterro das margens, assoreamento da bacia, supressão da

mata ciliar e principalmente o lançamento de efluentes domésticos sem

tratamento (MENEZES; DAMÁZIO, 2005).

O controle da entrada de efluentes domésticos lançados

diretamente na Lagoa das Capivaras é uma das alternativas com vistas à

recuperação e preservação da Lagoa, mas exige novas posturas na gestão

de políticas, já que a questão do saneamento vem sendo negligenciada há

muito tempo, como instrumento de planejamento público (MARIANO,

2010).

Quanto às alterações urbanísticas sobre a zona costeira, desponta

como um processo altamente impactante no ordenamento territorial

ambiental, acarretando retrocessos na conservação ambiental,

despertando para a necessidade de incorporação de novas concepções ao

planejamento e gestão do espaço costeiro pautados em instrumentos

legais existentes (CORRÊA; FONTENELLE, 2010).

Segundo Andrade (2008, p. 35),

A corrida aos espaços costeiros trouxe como

consequência forte concentração de usos e intensa

ocupação humana, com significativa pressão sobre

os recursos naturais que promovem a ocorrência de

interesses socioespaciais divergentes e

conflituosos entre os diversos agentes produtores e

consumidores desses espaços.

Estes impactos geram grande degradação ambiental no sistema

lacruste, que se refere à perda ou deterioração do ambiente natural para

uso presente e futuro. A degradação no ambiente lacruste é cada vez mais

perceptível ao fazer paralelo com crescimento das cidades, pois os

ecossistemas aquáticos fazem parte do desenvolvimento das atividades

humanas.

Segundo o Decreto Federal nº 97.632/89, em seu art. 2° são

considerados como degradação “os processos resultantes dos danos ao

meio ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem algumas de suas

propriedades tais como: a qualidade ou capacidade produtiva dos recursos

ambientais”, consequente da ação antrópica (BRASIL, 1989).

As lagoas localizadas em sede urbana sofrem ainda com o alto

valor imobiliário e comercial, que levam ao aterramento das margens até

sua totalidade para a construção de edificações, retirada da vegetação

nativa, canalização de riachos que outrora alimentavam as lagoas. O

abandono por parte de órgãos públicos, sem nenhuma fiscalização ou

30

projetos direcionados a esses ambientes, cada vez mais tem agravado a

situação do ecossistema (ROCHA, 2013).

A consolidação do mercado imobiliário, no litoral, e a

superconcentração de atividades econômicas, exigem um novo

planejamento deste espaço. O mesmo passou a ser entendido como –

espaço mercadoria - e como mercadoria produtiva (LIMA, 2014). Leva-

se em consideração essa nova dinâmica de apropriação territorial

justificada pelos elementos econômicos e culturais da sociedade. O valor

do espaço costeiro faz-se proporcional a possibilidades futuras de uso e à

capacidade de gerar valores de usos, renda e lucro. Assim sendo, o valor

das zonas costeiras é fator fundamental para a determinação das prováveis

usos que estes espaços terão (ANDRADE, 2008).

Hoje o turismo representa uma das principais fontes de renda para

a maioria dos municípios litorâneos, contudo é uma atividade que afeta

as populações de várias formas, gerando usos conflitivos. Tal fato é

agravado durante os meses de férias ou feriados, quando milhares de

pessoas passam a compartilhar de um espaço por vezes limitado.

Segundo Câmara (2001), a população de grandes centros urbanos

adere a uma segunda residência, adotando-a para veraneio/finais de

semana, o que pode ser observado no litoral catarinense, inclusive em

relação a cidades de pequeno e médio porte.

Assim, o abandono da agricultura e o declínio da pesca, bem como

hábitos, costumes e áreas que se desenvolviam que caracterizaram o

litoral podem desaparecer caso este processo de ocupação não seja

planejado, pois estes locais estão sendo apropriados e destinados para o

turismo e atividades do setor imobiliário, como a construção de hotéis,

resorts, pousada e loteamentos.

Para controlar este crescimento, é necessário mudar o enfoque do

desenvolvimento capitalista, de modo a levar em conta todos os seus

efeitos. O crescimento econômico e o meio ambiente estão em

contradição e os limites dos recursos naturais e sua importância ecológica

estão em situação de descaso pela sociedade (CAMARA, 2001).

2.2 ECODESENVOLVIMENTO

A cada dia o nível de informação e conscientização a respeito dos recursos naturais, bem como do meio ambiente no que se refere ao modo

de produção e equilíbrio ecológico vem em encontro à necessidade de um

planejamento local e global de sua utilização, sendo este imprescindível

para que a sociedade alcance um padrão de ecodesenvolvimento.

31

O ecodesenvolvimento, segundo Sachs (1986), é um estilo de

desenvolvimento que pode ser aplicado a projetos tanto em áreas rurais,

bem como em áreas urbanas, como é o caso deste trabalho. Ele é oposto

ao modelo de desenvolvimento hegemônico de países designados como

sub e desenvolvidos, que buscam por uma satisfação de suas necessidades

e promovem a autonomia da população.

Ainda, constitui um planejamento participativo de estratégias

múltiplas de intervenção, sendo adaptadas aos contextos socioculturais e

aos ambientes singulares. Deste modo, pode-se dizer que o

ecodesenvolvimento é uma alternativa de desenvolvimento, propondo a

substituição da meta de maximização da produção capitalista pelo bem-

estar da população, numa perspectiva de harmonia da relação sociedade-

natureza (SACHS, 1986).

O termo “ecodesenvolvimento” foi citado por Maurice Strong pela

primeira vez, na Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente

promovida pela ONU em Estocolmo, no ano de 1972. Posteriormente foi

amplamente difundido por Ignacy Sachs, a partir de 1974 (FILHO, 1993).

Estudioso mundialmente conhecido por suas obras e participações

em eventos sobre o desenvolvimento socioeconômico e questões

ecológicas, Sachs é considerado o propagador do conceito de

Ecodesenvolvimento, defendendo o crescimento econômico dentro do

contexto do desenvolvimento social e proteção ao meio ambiente. A tese

propagada por Sachs é de um contexto novo ao desenvolvimento, com

um modelo no qual os aspectos econômicos não deveriam estar

desvinculados das questões e problemas que permeiam os aspectos

sociais e ambientais das cidades (OLIVEIRA; MONTEIRO, 2015).

A questão ética se faz presente nesse contexto e aborda um

desenvolvimento que seja voltado para as verdadeiras necessidades

vivenciadas pela sociedade, no que tange a uma melhor qualidade de vida

e a preservação do meio ambiente como tarefa e dever social para as

futuras gerações (OLIVEIRA; MONTEIRO, 2015).

De acordo com Sachs (1986), o ecodesenvolvimento considera

cinco dimensões da sustentabilidade, sendo elas, a sustentabilidade

social, sendo esta um processo de desenvolvimento civilizatório, baseado

em uma maior equidade na distribuição dos recursos, tendo a população

direitos e condições amplas, diminuindo a distância existente entre os

padrões das classes sociais; a sustentabilidade econômica, que consiste

em um melhoramento na distribuição dos recursos, bem como em uma

melhor gestão dos mesmos, tendo-se um fluxo uniforme dos

investimentos, além de reduzir os custos através das decisões tomadas

pelas próprias comunidades, na perspectiva de uma autonomia nas

32

escolhas e decisões; a sustentabilidade ecológica refina a capacidade dos

recursos naturais, abalizando ao recursos não renováveis, diminuindo a

massa de poluição, induzindo a autolimitação do consumo exacerbado de

matéria pela sociedade de alto poder aquisitivo, promove a pesquisa para

resolução dos passivos ambientais existentes, bem como tecnologias

limpas e normas para que se acha adequação ambiental; sustentabilidade espacial, que é direcionada para o contexto rural-urbano, baseando-se

principalmente nas questões de aglomeração em excesso nas áreas

urbanas, processos de colonização desorganizados, industrialização

convergida, formação de empregos na área rural não agrícolas e criação

de redes de reservas naturais para proteger os ecossistemas;

sustentabilidade cultural, que inclui as raízes do modelo de modernização

e dos sistemas rurais integrados de produção, na perspectiva de manter as

tradições culturais, e a multiplicidade de soluções peculiares.

Sendo assim, o ecodesenvolvimento mostra-se como um novo

meio de desenvolvimento do território, que não têm suas atenções ligadas

extrema e exclusivamente para o desenvolvimento econômico, pois busca

também uma concepção social e ambiental, bem como uma participação

comunitária para o planejamento das ações para o desenvolvimento,

evidenciando ainda mais as potencialidades de cada região e seu

fortalecimento (CARVALHO; VIANNA, 1998).

Ao tratar deste modelo de desenvolvimento, tem-se uma visão de

sustentabilidade, deixando nítida a necessidade de uma visão holística dos

problemas enfrentados pela população, de modo a se ter uma percepção

maior da crise vivenciada, ou seja, dar atenção a todos os aspectos e não

se deter somente a gestão dos recursos naturais. É preciso perceber,

sensibilizar e construir uma consciência ecológica para poder pensar em

algo muito mais complexo, visando uma rigorosa mudança do modelo

civilizatório atual.

Dentre as condições necessárias para que o conceito venha a ser

operante, ressalta-se a importância do vasto conhecimento das culturas e

dos ecossistemas, principalmente no que diz respeito ao relacionamento

da sociedade com o meio ambiente e a maneira como encaram os dilemas

cotidianos, e o planejamento das estratégias envolvendo a população

tendo em vista que estes são os maiores conhecedores da realidade local.

O nível de consciência ecológica é dependente de variáveis

econômicas, culturais e sociais dos diversos grupos sociais, bem como os

conflitos de interesse dos distintos atores envolvidos (setor público,

privado, organismo social). Partindo deste pressuposto, a linha de ação

segue por enfatizar a minimização da poluição, a gestão dos riscos

33

globais, a internalização de externalidades, o desenvolvimento científico

e tecnológico e o acesso à informação (VIEIRA, 2016).

Contudo, a implementação e a garantia de sucesso de uma política

de recursos naturais e meio ambiente a nível local e global passa pelo

poder público e pela criação e manutenção de espaços destinados à

mobilização do potencial de todos os seguimentos, tanto o poder público

quanto a própria população. É preciso considerar que a implementação de

políticas deve considerar também as singularidades de todo contexto

socioeconômico, cultural e ecológico de cada local (VIEIRA, 2013).

Para Santos, acabamos por adotar conceitos que não cabem em

nossa realidade, modelos que praticamos para tentar solucionar nossos

problemas, derivadas de outros contextos, lugares e situações. Nesta

perspectiva, reforça-se a ideia de que é preciso considerar as

características locais e através de sua população residente propor

alternativas para a problemática existente (SANTOS; MENESES, 2010).

Novos arranjos institucionais descentralizados voltados para a atividade

governamental local e territorial, da igualdade na busca de cooperação

entre a população local e diferenciados campos de regulação e da gestão

do patrimônio de recursos existentes, bem como os meios naturais passa

a ser uma resposta em termos de reorganização socioeconômica,

sociocultural e político-institucional de gestão do território (VIEIRA,

2013).

Sendo assim, o ecodesenvolvimento é uma forma de

desenvolvimento que, em cada região, consiste em solucionar problemas

específicos e particulares, levando em consideração os elementos

ecológicos e culturais, além das necessidades a curto e longo prazo,

sempre pregando a participação da população local, sendo fator

indispensável para definição das potencialidades (SACHS, 1986).

A educação ecológica é fração integrante de uma politica

ambiental, não importando sua amplitude e extensão territorial. Sendo por

seu aspecto formal ou informal, a educação ambiental ajuda a assentar e

estabilizar, a médio e longo prazo, o nível de consciência ecológica

direcionado a um a uma politica voltada para o meio ambiente e ao

território. Mesmo sabendo que os conceitos de conservação e preservação

sejam apresentados para a sociedade de maneira sofisticada e formal, e

tendo em vista seu descompasso econômico e tecnológico, não impede de

que a introdução dos mesmos seja de forma direta ou indiretamente. Isto

se deve ao fato de que, ao longo prazo, as futuras gerações estarão, a

principio, gozando de uma educação mais elevada, bem como de um bem-

estar social, pois a qualidade ambiental estará integrada em sua lista de

reivindicações básicas (VIEIRA, 2016).

34

No que se refere à educação ambiental, Vieira e Ribeiro (1999),

observam a multiplicação de experiências de educação ambiental em

andamento nas mais diversas regiões do planeta, mas adverte que suas

concepções permanecem fragmentadas. Para o mesmo autor, a educação

para o ecodesenvolvimento constitui-se de um processo que ainda está em

desenvolvimento, abrangendo duas dimensões: a disseminação integrada

dos saberes científicos e tradicionais aglomerados; a mudança de

percepção e comportamento cotidiano através da experimentação.

Neste contexto, estudos indicam que o enfoque de

ecodesenvolvimento na implementação de estratégias e consolidação de

políticas públicas estaria dependente da aptidão de promover experiências

com os novos sistemas de planejamento e gestão integrada e participativa,

acompanhada de uma reforma no modelo de práticas educativas

convencionais.

Demostrou-se então a necessidade de adotar o conceito de

educação para o ecodesenvolvimento como base de uma nova construção

com processo que sejam igualitários, participativos, pluralistas e

promotor de uma descentralização e de empoderamento das comunidades

locais (VIEIRA, 1999).

2.3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Segundo Trevisol (2003), a educação ambiental surgiu na década

de 60, quando passaram a ser percebidos os problemas que estavam

surgindo pelo modelo desenvolvimento adotado pelos países

desenvolvidos, as grandes poluições nos centros urbanos, a contaminação

dos lagos pelos rejeitos indústrias, o desmatamento causando o

assoreamento dos rios, enchentes entre outros fatores.

Em 1977 foi realizada a Primeira Conferência Intergovernamental,

sobre educação ambiental, mais conhecida como Conferência de Tbilisi,

onde foram definidos os propósitos da educação ambiental, onde esta teve

seu ponto inicial para ser posta em prática, assim cabendo a cada país

introduzir e complementar conforme as necessidades de cada região.

Sendo considerado um dos eventos mais importantes para se definir

educação ambiental.

No Brasil, a educação ambiental era vista somente pelos ambientalistas que defendiam este ponto de vista juntamente com as

ONGs. Somente a partir da metade da década de 80 que as instituições

governamentais adotaram a educação ambiental e se fizeram presentes em

secretarias de meio ambiente de cada região respectivamente, assim

iniciando a praticar atividades sustentáveis (TREVISOL, 2003).

35

Conforme estabelecido na Lei N 9.795 da Educação Ambiental,

todos têm direito à educação ambiental como parte de um processo

educativo mais amplo. A educação ambiental é um componente essencial

e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma

articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em

caráter formal e não-formal (BRASIL, 1999).

Segundo Brügger (1994), há vários aspectos a serem abordados por

esse assunto, de modo formal ou informal, variando seus objetivos. No

presente trabalho, será abordada a educação ambiental de maneira

informal, como ferramenta indispensável, haja vista os grandes

problemas ambientais e a necessidade de conscientizar os indivíduos para

que se tornem sujeitos atuantes e participativos na resolução dos

problemas.

As ações de sobrevivência tomadas pelo ser humano fazem pensar

sobre seus resultados perante a degradação continua no meio ambiente e

no ecossistema, para tal usam-se ferramentas que possam minimizar estes

impactos. Para Leff (2001), a educação ambiental seria uma delas

buscando uma perspectiva holística, conectando o ser humano à natureza

e ao universo.

Assim sendo, educação ambiental constitui um processo resultante

de uma preocupação com o futuro da sociedade, das crianças e sua

qualidade de vida futura. Busca despertar a preocupação individual e

coletiva para alternativas de melhoramento, estimulando a formação de

grupos para trabalharem as questões ambientais e sociais. A EA procura

trabalhar não somente a mudança cultural, mas também a transformação

social do ser humano (CARVALHO, 2006).

Segundo Leff (1999, p. 128)

Neste sentido, a educação ambiental adquire um

sentido estratégico na condução do processo de

transição para uma sociedade sustentável. Trata-se

de um processo histórico que reclama o

compromisso do estado e da cidadania para

elaborar projetos nacionais, regionais e locais nos

quais a educação ambiental se defina através de um

critério de sustentabilidade que corresponda ao

potencial ecológico e aos valores culturais de cada

região; de uma educação ambiental que gere uma

consciência e capacidades próprias para que as

populações possam se apropriar de seu ambiente

como uma fonte de riqueza econômica, de gozo

estético e de novos sentidos civilizatórios; de um

36

novo mundo no qual todos os indivíduos, as

comunidades e as nações vivam irmanados em

laços de solidariedade e harmonia com a natureza.

Por sua vez, a educação ambiental não se trata necessariamente de

uma educação especial, mas sim de uma aprendizagem longa que o ser

humano deve introduzir em seu cotidiano e que todos ao seu redor devem

estar envolvidos de maneira consciente para habituassem a esse modo de

vida, aprendendo tecnologias que possam auxiliar de maneira favorável

na conservação e reutilização dos recursos naturais, bem como minimizar

os danos existentes e encontrar soluções para os diversos problemas

gerados por erradas decisões. (SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE,

1997).

Morin (2010) questiona: o que é o homem? Qual seu papel na

sociedade? Qual seu sentido? Qual o seu lugar na vida? Ressalta ainda,

que temos uma vida dupla ou até mesmo tripla. Não somos só cientistas,

somos também cidadãos comuns introduzidos no processo de formação

ideológica, responsáveis também pela atual crise planetária. Não

devemos valorizar unicamente a vida humana, mas, sim respeitar a

natureza em geral ao máximo.

Por este motivo, a educação ambiental é vista como uma riqueza

para ampliar o processo educativo da população mostrando ao homem

que o meio ambiente é o seu “ser-no-mundo”, o meio onde ele tem suas

relações para com o resto das pessoas e da vida e não somente um objeto

a ser estudado. Entretanto, esta relação tornou-se mais do que um fator de

sobrevivência, introduzindo o conhecimento adquirido para conquista de

poder no qual as respostas de suas ações estão presentes em nosso dia-a-

dia. (SERCRETARIA DE MEIO AMBIENTE, 1997).

Muitas das atividades realizadas pelo ser humano para manter seu

progresso, para atender as necessidades, e para realizar suas ambições são

simplesmente insustentáveis - tanto nos grupos ricos como nos pobres.

Eles retiram mais do que o necessário, e a um ritmo muito acelerado

(GUERRA; COELHO, 2009). Não há dúvida que grande parte dos

problemas que enfrentamos está relacionada ao uso insustentável dos

recursos em um sistema político, econômico, social e ecológico

incoerente (MARRONI; ASMUS, 2005).

Segundo Leff, todo sistema econômico e social é construído sobre

pressupostos éticos. A racionalidade econômica se fundou na perspectiva

de agentes econômicos que traduzem condutas egoístas em um bem

comum. Suas consequências foram não somente a devastação da

natureza, que caracteriza o sistema ecológico que é suporte para todo

37

processo produtivo, mas também a transformação e destruição de valores

humanos, culturais e sociais (LEFF, 2008).

Por este motivo, a racionalidade ambiental incorpora as bases do

equilíbrio ecológico como norma do sistema econômico e condição de

um desenvolvimento sustentável, levando em consideração princípios

éticos e valores políticos. A ética ambiental propõe um sistema de valores

associados a uma racionalidade produtiva alternativa, a novos potenciais

de desenvolvimento e a uma diversidade de estilos culturais de vida. São

sistemas que regem a moral individual e os direitos coletivos. Isto implica

a transformação dos processos de produção, dos valores sociais e das

relações de poder para construir uma nova racionalidade produtiva, com

a gestão participativa da cidadania (LEFF, 2008).

Os valores ambientais surgem contra a cultura do poder fundado

na razão tecnológica e na racionalidade econômica. A educação ambiental

preza pelos valores do humanismo: a integridade humana, o sentido da

vida, a solidariedade social, o reencantamento da vida e a erotização do

mundo. Junto à educação ambiental, o racionalismo crítico e a ética

ambientalista buscam não só despertar o ser humano de seu pesadelo

desumanizante, mas também criar condições para a criatividade de todos

e a realização de seus potenciais (LEFF, 2008).

O conceito de qualidade de vida está penetrado em todas as classes

sociais. As exigências ambientalistas transcendem as aspirações por

melhor nível de vida, suscitam de novo o direito a terra e ao trabalho.

Requer a mobilização de uma série de processos sociais: a formação de

uma consciência ecológica, o planejamento territorial sustentável da

administração pública e a participação da sociedade na gestão dos

recursos naturais, a reorganização interdisciplinar do saber, tanto na

produção como na aplicação do conhecimento (LEFF, 2008).

O sistema social em que vivemos é profundamente antiecológico.

Por isso da exigência de uma ética que englobe as relações para com o

meio ambiente (ar, terra, água, animais, florestas, processos produtivos,

entre outros) (BOFF, 2000). De acordo com o mesmo autor, a ética não

pode ser somente ambiental, mas socioambiental, pois o ambiente é

composto pelo social e o social pelo ambiental.

Na educação ambiental, os princípios da sustentabilidade, da

complexidade e da interdisciplinaridade devem caminhar para um ponto

comum, porém os conteúdos são definidos conforme as estratégias que

melhor respondam a interesses diferenciados. Ou seja, o discurso de

desenvolvimento sustentável segue as diretrizes coerentes com os

interesses de quem o faz, para cada rumo que a sociedade levar o processo

38

de transição para a sustentabilidade, terá uma repercussão diferente na

educação ambiental (BOFF, 2000).

A educação ambiental foi reduzida a um processo geral de

sensibilização dos cidadãos, a incorporação de conteúdos ecológicos e a

fragmentação do saber ambiental numa ligeira capacitação sobre

problemas pontuais, nos quais a complexidade do saber ambiental

permanece reduzida e mutilada (LEFF, 2008).

Desde cedo, cada ser é instigado a lutar por si mesmo e levar o

individual acima do coletivo. No entanto, ações isoladas não passam de

soluções temporárias, sendo preciso que haja uma relação de

interdependência que só será alcançada quando ambos tiverem

necessidades comuns. A educação pode ser a forma para a inovação e

reconstrução de valores nos indivíduos, ressaltando a superioridade das

interações sobre as partes isoladas. Para isso, são necessárias novas

orientações e conteúdos, num programa de educação ambiental

abrangente e complexo, com práticas nas quais se construam relações

entre produção de conhecimentos, interesses sociais e sentidos culturais

por meio dos processos de circulação, transmissão e disseminação do

saber ambiental (MARRONI; ASMUS, 2005).

Segundo Boff (2000), a justiça ecológica propõe uma nova postura

perante a Terra, de complacência e ao mesmo tempo de reparação das

injustiças praticadas. Essa injustiça ecológica transformou-se em injustiça

social, pois através da degradação e diminuição dos recursos naturais, má

qualidade de vida, atingiu-se o ser humano e a sociedade global. Essa

lógica leva a dominar classes, oprimir povos e discriminar pessoas é a

mesma que explora a natureza.

A ética pragmatista e utilitarista da visão economicista do mundo

levaram a desconhecer o valor da educação ambiental, neste propósito

produtivista e eficientista dissolveu-se o pensamento critico e reflexivo,

pessoal e autônomo, para ceder o poder de decisão aos mecanismos de

mercado, aos aparelhos do Estado e as verdades cientificas desvinculadas

dos saberes pessoais, dos valores culturais e dos sentidos subjetivos que

regulam a qualidade de vida e o sentido da existência humana (LEFF,

2008).

A educação ambiental surge como necessidade de reverter os

caminhos que nossa cultura tomou. O sucesso desta luta ecológica

depende muito da capacidade de os ecologistas convencerem a maioria

da população de que se trata não apenas de limpar os rios, despoluir o ar,

reflorestar os campos, devastar para vivermos num planeta melhor num

futuro distante. Mas também de dar solução, simultaneamente, aos

problemas ambientais e aos problemas sociais. Os problemas que afetam

39

a ecologia não afetam apenas ao meio ambiente. Afetam o ser mais

complexo da natureza, que é o ser humano (GADOTTI, 2000).

A educação ambiental tem um papel estratégico no processo de

transição para uma sociedade sustentável, pois através dela se podem

incorporar novos valores ambientas e paradigmas do conhecimento. A

educação ambiental tenta articular subjetivamente o educando a produção

de conhecimentos e vinculá-lo aos sentidos do saber, isto implica

fomentar o pensamento crítico reflexivo e propositivo face às condutas

automatizadas, próprias do pragmatismo e do utilitarismo da sociedade

atual (LEFF, 2008).

A tendência da nova concepção de meio ambiente é que novos

paradigmas de desenvolvimento contemplem equidade social,

econômica, política e meio ambiente, com vistas a conciliar as

necessidades econômicas à disponibilidade limitada dos recursos naturais

e sua proteção. Neste sentido, prevê-se que cada vez mais os novos

paradigmas deverão compatibilizar os interesses econômicos e sociais

com a proteção ambiental, transformando o meio ambiente em fator de

desenvolvimento sem, contudo, causar danos ambientais (BRITO;

CÂMARA, 2001).

Os tempos são de se prever o futuro para tornar o

ecodesenvolvimento uma perspectiva importantíssima para melhorar o

grau de comprometimento com a questão ambiental, objetivando alcançar

resultados positivos para o meio ambiente. Promover a sensibilização da

população frente aos desafios ambientais é a ponte rumo à transição para

o ecodesenvolvimento (BRITO; CÂMARA, 2001).

É impossível considerar a conservação da biodiversidade apenas

desafio científico de dimensões ecológica e econômica, com soluções

puramente técnicas. As soluções para a degradação da biodiversidade não

podem ser reduzidas à substituição de técnicas, porque o status da

biodiversidade é uma produção social e sua manutenção ou degradação

resulta de processos históricos (GUERRA; COELHO, 2009).

As novas mudanças de paradigmas no contexto ambiental exigem

gestão descentralizada e compartilhada para executar ações inerentes ao

uso sustentável dos recursos naturais e realizar medidas administrativas

previstas na legislação ambiental (BRITO; CÂMARA, 2001).

Na educação ambiental comunitária, a inseminação de uma

racionalidade ambiental acarreta a necessidade de uma capacitação

técnica que permita as praticas tradicionais assimilar e apropriar-se de

maneira seletiva das técnicas modernas e intervir ativamente na produção

e novas tecnologias, ao mesmo tempo requer a formação de uma

consciência critica sobre as formas de inserção das comunidades na

40

globalização, afirmando seus direitos culturais e definindo novas formas

de aproveitamento sustentável de seus recursos (GUERRA; COELHO,

2009).

Isso promove o resgate e revalorização dos saberes tradicionais,

como também um processo de capacitação no qual se amalgamam estes

saberes com os conhecimentos científicos e tecnológicos para fortalecer

as capacidades de autogestão das próprias comunidades (LEFF, 2008).

Sachs (2002), enfatiza o potencial das populações locais agirem de

maneira ambientalmente viável, utilizando estratégias que vise a sua

reestruturação em bases ecologicamente sustentáveis aproveitando os

conhecimentos locais, reabilitando terras degradadas e adotando sistemas

agrícolas integrados. Isso implica o resgate e valorização dos saberes

tradicionais agregando-lhes aos conhecimentos científicos e tecnológicos

modernos e sua assimilação subjetiva e coletiva para o fortalecimento da

autogestão das próprias comunidades.

Explicitar os estilos de desenvolvimento ecologicamente prudentes

e socialmente justos é, portanto, uma tarefa de primeiríssima importância

na busca do ecodesenvolvimento: o cuidado com o futuro, em nome da

solidariedade com as gerações vindouras. (SACHS, 1986).

2.4 PERCEPÇÃO E MEMÓRIA AMBIENTAL

A lembrança é a reconstrução de experiências vivenciadas no

passado através de imagens e ideias atuais. Tal processo é definido como

memória, que por sua vez, é trabalhada por meio do inconsciente de cada

indivíduo, que constrói sua lembrança por meio de materiais que estão

disponíveis e por uma coleção de imagens que ocupam a consciência do

mesmo (BOSI, 1994).

A memória dos indivíduos está vinculada aos seus relacionamentos

cotidianos com o meio, por meio de conexões com os diversos grupos de

convívio que são fortalecidos ao longo do tempo (HALBSWACHS,

2006). A princípio, a memória estaria vinculada a algo alusivo ao íntimo

de cada pessoa. No entanto, Maurice Halbwachs, nos anos 20-30, afirmou

que a memória deveria se compreendida como sendo, ao mesmo tempo,

um fenômeno coletivo e social, construído a partir de flutuações,

transformações e mudanças contínuas. Deste modo, ressaltando este aspecto flutuante e mutável, tanto da

memória individual quanto coletiva, deve-se considerar que a memória

pode possuir marcos importantes que não variam. Isso pode ser observado

quando se faz entrevistas de história de vida e percebe-se que, no decorrer

destas entrevistas em profundidade, que a ordem cronológica não está

41

sendo seguida, pois os entrevistados voltam várias vezes aos mesmos

períodos de determinados acontecimentos na vida que consideram

marcantes (HALBWACHS, 2006).

Os fatos marcantes ocorrem da mesma maneira em memórias

construídas coletivamente havendo os elementos inflexíveis, onde o

trabalho de consolidação da memória foi tão importante que

impossibilitou o acontecimento de mudanças. Assim sendo, alguns fatos

tornam-se realidade e passam a fazer parte da própria essência da pessoa

do mesmo modo que outros tantos fatos ocorridos possam se modificarem

por meio dos interlocutores ou da fala (POLLAK, 1992).

De acordo com Nora (1993),

A memória é a vida, sempre carregada por grupos

vivos e, nesse sentido, ela está em permanente

evolução, aberta a dialética da lembrança e do

esquecimento, inconsciente de suas deformações

sucessivas, vunerável a todos os usos e

manipulações, suceptivel de longas latências e de

repentinas revitalizações (p.10).

Bosi (1994) traz o conceito de imagem-lembrança como

significado de um momento único da consciência, de modo que não

existiu acontecimento sobreposto a outro na vida do indivíduo, como

momento definido, tornando a lembrança conservada no passado. “O

passado, conservando-se no espírito de cada ser humano, aflora à

consciência na forma de imagens-lembrança” (BOSI, 1994, p. 55).

Ainda, segundo BOSI (1994),

O passado conserva-se e, além de conservar-se,

atua no presente, mas não de forma homogênea. De

um lado, o corpo guarda esquemas de

comportamento de que se vale muitas vezes

automaticamente na sua ação sobre as coisas: trata-

se da memória-hábito, memória dos mecanismos

motores. De outro lado, ocorrem lembranças

independentes de quaisquer hábitos: lembranças

isoladas, singulares, que constituíram autênticas

ressurreições do passado.

“O instrumento decisivamente socializador da memória é a

linguagem. Ela reduz, unifica e aproxima no mesmo espaço histórico e

cultural a imagem do sonho, a imagem lembrada e as imagens da vigília

atual” (BOSI, 1994). Ainda, segundo Bosi (1994), “a narração da própria

42

vida é o testemunho mais eloquente dos modos que a pessoa tem de

lembrar. É a sua memória”.

As memórias são extremamente importantes para cada indivíduo,

pois aquilo que cada um recorda é diferente de que os outros se lembram,

mesmo em situações que foram vivenciadas conjuntamente. No entanto,

apesar da característica de cada recordação, todos recordamos eventos,

fatos e emoções por um período curto ou para toda vida

(HALBSWACHS, 2006).

Para Pollak (1992), os elementos constitutivos da memória

individual e coletiva são os acontecimentos, os personagens (pessoas) e

os lugares. Existem lugares na memória que estão particularmente ligados

a uma lembrança pessoal que pode não ter apoio no tempo cronológico,

ou seja, não necessariamente o individuo irá lembrar em qual momento

especifico que se deu determinado acontecimento. Tomamos como

referência um lugar de férias na infância, que foi significativo e marcante

na memória do individuo, e em memórias coletivas, no aspecto público,

os lugares onde haviam festas de família.

Pollak (1992, p. 30) salienta que:

Locais muito longínquos, fora do espaço-tempo da

vida de uma pessoa, podem constituir lugar

importante para a memória do grupo, e por

conseguinte da própria pessoa, seja por tabela, seja

por pertencimento a esse grupo.

Estes elementos - acontecimentos, personagens e lugares - podem

estar relacionados a acontecimentos, personagens e lugares

empiricamente fundados em fatos concretos, ou uma projeção de outros

eventos. Além das projeções, pode ocorrer a ligação a eventos, lugares e

personagens acarretando o problema de vestígios datados da memória, no

caso aquilo que ficou gravado precisamente. Deste modo, em função da

vivência de um indivíduo, de sua inserção na vida pública, as datas da

vida pública e privada serão uma ora assimiladas, ou separadas ou ainda

não existirão no relato e na biografia (POLLAK, 1992).

A circunstância de ter vivenciado uma fase de alteração e

permanência, de não ser apenas entendido, mas sim testado e executado

como sujeito construtor de sua própria história, torna esse indivíduo

herdeiro de um saber construído com base na experiência de vida

(VIEIRA, 2006).

A concepção sobre o mundo é formada das experiências pessoais,

do aprendizado, imaginação e memória. Os espaços que compartilhamos,

43

em que vivemos e percorremos, os espaços lidos e vistos em trabalhos,

bem como a imaginação e fantasia, contribuem de forma significativa

para a construção das imagens do meio ambiente, além daquilo que o ser

humano destrói.

Nos tempos atuais o indivíduo se encontra frente a uma gama quase

que infinita de informações a serem processadas tais como os progressos

científicos, tecnológicos ou artísticos. O indivíduo, como ser

isoladamente pensado, tem uma consciência própria, mas ao mesmo

tempo está intrínseco no meio e não consegue se dar conta, onde frente a

este aspecto, instantaneamente, o leva a subjetivá-las por completo, mas

também não pode recusá-lo, pois fazem parte de sua esfera cultural

(SIMMEL, 2004).

Tendo em vista que o ser humano tem a capacidade de perceber,

conhecer, representar, pensar e se comunicar, o mesmo consegue criar e

modelar lugares e paisagens em sua memória, sendo assim influenciadas

por interpretações e conclusões que ele mesmo é capaz de fazer através

de suas vivencias presentes e passadas, além de seus gostos, objetivos,

absorção e opção (MACHADO, 1999).

[...]diferentes trajetórias de indivíduos que vão

dando profundidade aos significados inscritos na

paisagem urbana, seja pela repetição de gestos de

fundação de suas moradas nos bairros, arrabaldes e

ilhas da cidade, seja pela sua adesão a determinadas

práticas que se repetem em espaços de

sociabilidade que constituem a vida urbana.

(DEVOS, 2008)

A investigação da memória ambiental é uma forma de

compreender a interação entre o homem e o meio ambiente, as

transformações na paisagem e no trajeto escolhido pela população,

refletindo sobre os problemas criados através das atitudes humanas de

apropriação e uso do espaço de forma hegemônica causando a degradação

ambiental na busca pela urbanização (KUBO; DEMENIGHI, 2015).

Segundo Devos, Soares e Rocha (2010), “a pesquisa sobre

memória no meio urbano não é um mero registro do passado, mas sim

uma reflexão sobre a duração.”

Seguindo esta ótica, a memória não é mera construção do passado,

mas sim a sua construção a partir de proposições e motivações do

presente. É compreendida em coletividade, tendo em vista que não se

encontra apenas na consciência de um único individuo, e sim na sociedade

44

como um todo, nos símbolos, nos lugares, nas práticas e saberes em que

esta se reconhece (DEVOS; SOARES; ROCHA, 2010).

A interdependência ecossistêmica alia-se à perspectiva de

interdependência econômica e administrativa que marca o processo de

globalização contemporâneo. Voltada para o perigo e para o “risco

ambiental”, a chamada “consciência ecológica” que permeia essa ética

planetária segue o mesmo processo de “desencantamento” e

racionalização da Natureza, que marca o “Processo Civilizatório”

ocidental (DEVOS, 2009).

Colocando em análise, o mesmo autor comenta que questões como

a insuficiência de água no planeta, ou como as modificações climáticas

apontam um aperfeiçoamento contemporâneo de percepção de uma

realidade socioambiental que é parte do que se “entende enquanto um

processo histórico de ambientalização, de interiorização e naturalização

de uma nova questão pública” (DEVOS, 2009, p. 297).

Devos (2009) versa sobre não pontualidade da ideia de que a

problemática da crise ambiental, quando analisada sendo como uma

preocupação particular do indivíduo das alterações do ambiente, pode ser

algo mais do que a ingênua tomada de consciência das catástrofes

ambientais contemporâneas, como a extinção de inúmeras espécies, a

contaminação das águas, as inundações nas cidades, a escassez de água

potável ou seca na agricultura.

A memória tem uma função social importante, a partir do momento

em que as sociedades passaram a transmitir de forma oral, após passar as

fases de transição da oralidade à escrita, até a população de memória

basicamente escrita (THOMSON, 1997).

Por meio da memória pode-se preservar os rituais que conectavam

uma sociedade, os feitos passados, bem como os conhecimentos e saberes

que permitem uma maior e melhor sobrevivência.

Ainda, a memória dos indivíduos tem um papel importante na

identificação dos padrões de desenvolvimento e os impactos ambientais

decorrentes, já que através da memória é possível encontrar marcas e

lembranças significativas da história de uma população, reconstituindo

fatos e espaços que foram modificados com o passar dos anos.

Quando rememoramos momentos e situações de um tempo

passado estabelecemos conexões instantâneas com o instante atual, sendo

inevitável fazer comparações entre o passado e o presente. Deste modo,

pode-se dizer que há uma relação inerente entre memórias e as percepções

imediatas (MANCUSO, 1998).

Os trabalhos realizados no contexto de percepção ambiental

colaboram com a elaboração de técnicas de sensibilização ambiental

45

integrada de uma sociedade, onde são estimulados o contato e a relação

entre o meio físico, biológico, socioeconômico e antrópico. A partir desta

interação com o meio, possibilita ao individuo uma maior sensibilização,

na busca de uma melhor qualidade de vida e preservação de seus valores

sociais, morais e ambientais (NAIME; GARCIA, 2004).

É interessante destacar que a palavra percepção provém do latim

‘perceptio’ e significa o “ato de perceber, ação de formar mentalmente

representações sobre objetos externos a partir dos dados sensoriais. A

sensação seria assim a matéria da percepção” (JAPIASSÚ;

MARCONDES, 2008, p. 215).

O estudo sobre percepção ambiental é uma investigação sobre a

interação do ser humano com o meio em que vive, que pode ser definida

como uma tomada de consciência do meio pelo ser humano. O

aprofundamento sobre o tema pode contribuir para diagnosticar a atual

situação de uma comunidade em relação ao meio, de modo a qualificar a

importância dada aos diversos recursos naturais e serviços ambientais

ofertados pelo ecossistema e ainda, assistência a programas de educação

ambiental e ecodesenvolvimento (MARCZWSKI, 2006).

A percepção ambiental é considerada fundamental para se entender

a preferência, o gosto e as ligações cognitivas e afetivas dos indivíduos

com o meio ambiente, sendo que estes são responsáveis pela modificação

do território através de escolhas, ações e atitudes. Ainda, a percepção

ambiental é uma forma de instrumento para que possamos compreender

melhor as inter-relações entre ser humano e o ambiente, suas expectativas,

satisfações e insatisfações, julgamentos e condutas (MACHADO, 1999).

É notório, portanto, que através desta percepção temos um modo

inteiramente particular de enxergar o mundo e a nós mesmos, de

confrontar experiências, descobrir semelhanças e diferenças entre

paisagens, pessoas e costumes.

A percepção da natureza está ligada dessa forma,

indubitavelmente, às necessidades de sobrevivência e aos valores

culturais do ser humano, já que em razão da história de vida, “cada

indivíduo tende a valorizar determinados aspectos da paisagem e do

ambiente em que vive ou trabalha” (RIBEIRO, 2009, p.95).

Ter um conhecimento preliminar dos indivíduos com quem

manteremos contato para realização do trabalho, para saber como os

mesmos percebem o ambiente em que vivem é importante, pois só

conhecendo cada individuo que será possível realizar um trabalho de

minimização dos impactos ambientais, bem como propor um programa

de educação ambiental, a partir da realidade do público-alvo (NAIME;

GARCIA, 2004).

46

Pelizzoli (2013) enfatiza que as ações de questionar, observar e

investigar são estimuladas, inclusive, pela própria educação ambiental

cujo objetivo precípuo é justamente contribuir para a reflexão crítica dos

problemas socioambientais:

Nesta perspectiva de experiência, há sempre uma atitude de

curiosidade, e uma estrutura de interrogação, a estrutura ontológica

essencial para a hermenêutica que é a da pergunta. Questionar, observar

e investigar, e não apenas receber pronto. Aqui entra plenamente a

educação ambiental, no sentido de proporcionar a reflexão crítica dos

problemas socioambientais que nos envolvem como seres humanos, de

estimular a pergunta, e encaminhar a criatividade e as motivações para

situá-las desde a infância (PELIZZOLI, 2013, p.50)

Os estudos sobre percepção ambiental não levam em consideração

apenas o meio físico e biológico, pois o meio ambiente engloba o meio

social-cultural e suas relações com os modelos de desenvolvimento

adotados pelo homem, deste modo tudo que é visto, sentido e ouvido, será

resumido na maneira pela qual este meio é percebido (MARQUES;

CARNIELLO; NETO, 2014).

Segundo Marques, Carniello e Neto (2014), “desta maneira quando

se olha, sente e ouve algo, atribui-se a ele significado, que permanece

constante na memória”.

Existem trabalhos sobre percepção ambiental que buscam

promover a sensibilização, de modo a instigar o individuo a perceber sua

relação com o meio ambiente e os outros seres, de maneira a fazê-lo

compreender o funcionamento do meio ambiente em que vive e a

atribuição de valores dada ao mesmo.

No momento em que a percepção ambiental tornar-se parte de

nossa consciência cotidiana, emergirá um novo sistema de ética e valores,

em que todos os seres vivos serão membros de comunidades ecológicas,

ligadas umas às outras numa rede de interdependências (CAPRA, 2006).

Partindo deste princípio de sensibilização com o meio ambiente,

Naime e Garcia (2004) dizem que esta situação torna o espaço

circundante um espaço conhecido (ou re-conhecido), descoberto (ou-

redescoberto), percebido e experienciado de inúmeras e infinitas

maneiras, conforme as condições internas e externas que o individuo

esteja vivenciando naquele momento, onde propicia-se a renovação

constante de suas percepções e da atribuição dos seus símbolos projetados

nas paisagens (NAIME; GARCIA, 2004).

O aperfeiçoamento de uma nova concepção do espaço e lugar,

tendo em vista nossa capacidade de aprender, conhecer, bem como

experimentar, sentir e refletir sobre o lugar, nos leva a questão do tempo,

47

ora por conjurar imagens do passado, ora por imagens de um presente

esperado ou um futuro planejado (MARQUES; CARNIELLO; NETO,

2014).

Assim sendo, com o passar dos anos, alguns lugares terão

identidade própria, através da conexão estabelecida pelo individuo com o

espaço por meio de sua afetividade, sentimento e concepção (NAIME;

GARCIA, 2004). Esta conexão com o espaço é responsável pela

construção do patrimônio sociocultural baseado na história local. Aos

poucos, sedimentará uma memória coletiva, associando os saberes e as

relações com o meio natural e social e, com o patrimônio material e

simbólico (MARQUES, 2010).

Segundo Marques (2010),

O espaço contém todos os tipos de espaços sociais

que resultam das relações entre os sujeitos, e entre

estes e a natureza, transformando assim esse

espaço, alterando as paisagens, construindo

territórios, regiões e lugares (p. 33).

A constituição do lugar é decorrente de sua ocupação e sua

transformação, permitindo que vários indivíduos ocupem determinado

espaço, no entanto os mesmos irão constituir lugares diferentes através

das relações estabelecidas com outras pessoas, grupos e elementos

espaciais. Deste modo, a transformação do espaço não será individual e

sim coletiva, mesmo considerando o fato deste lugar não ser apropriado

de forma igualitária por todos, resultando assim em formas de adaptação

diferenciadas, onde alguns indivíduos estabelecerão vínculos, criando o

sentimento de pertencimento por este espaço (FARINA; TRARBACH,

2009).

O território origina um espaço com características próprias, que

memora sentimentos de familiaridade e vizinhança, associa identidade e

história. Segundo Santos, (1999) o “território não é apenas o conjunto dos

sistemas naturais e de sistemas de coisas superpostas. O território tem que

ser entendido como o território usado, não o território em si”.

Ao se empregar o conceito de território, é preciso levar em

consideração a sociedade e sua particularização sobre o espaço bem como

o espaço imaginário, do sentimento que leva à identificação com o

território. O mesmo deve ser tido como um espaço de identidade, de

identificação, tendo o sentimento como suporte, não levando em conta

sua forma física, uma vez que a mesma é variável (BORTOLETO, 2010).

De acordo com Santos, (1999):

48

O território usado é o chão mais a identidade. A

identidade é o sentimento de pertencer àquilo que

nos pertence. O território é o fundamento do

trabalho, o lugar da residência, das trocas materiais

e espirituais e do exercício da vida (p. 8).

Desta forma, a pesquisa sobre território implica investigar uma

diversidade de questões sobre os indivíduos que o ocupam, e sua

territorialidade, ou seja, suas manifestações sociais dentro do território

(LEOPOLDO, 2015) para um melhor entendimento da relação que os

indivíduos criam com o espaço ocupado, e posteriormente, a partir de uma

análise, apontar alternativas e soluções para possíveis problemas e

conflitos gerados por conta das relações sociais dos mesmos e com o

ambiente (FREITAS, 2008).

Considera-se, então, que as relações sociais apontam como

produtoras do território, proporcionando uma relação de valorização do

espaço, que através da cultura de um grupo o torna identidade.

2.5 URBANIZAÇÃO

Os primeiros centros urbanos foram estabelecidos no início dos

séculos da colonização brasileira, situando-se principalmente no litoral,

por razões econômicas, políticas e militares. A implantação de rodovias

nacionais marcou a adoção do Brasil por uma nova politica econômica

voltada para a industrialização, demandando a interligação dos espaços,

como garantia de mercado. Neste sentido, fez-se o estabelecimento de

transportes e aberturas de estradas em todo país (LIMA, 2002).

Para Santos (2005), a urbanização iniciou com a transição da

população que vivia no meio rural para as cidades. Devido ao crescimento

econômico dessas cidades, que a princípio seriam apenas uma

aglomeração de pessoas, começou a ter uma importância para o país e,

por consequência, atraiu mais pessoas.

O processo de urbanização no Brasil é um acontecimento recente

e constante. No ano de 1940, iniciou-se a observar o crescimento da

urbanização brasileira e ainda num momento em que a população, em sua

maioria, era residente no meio rural. A partir da década de 70, a população

do meio rural diminuiu e houve um aumento das taxas de urbanização,

que chegou a 81% no ano de 2000 (IBGE, 2000). Hoje em dia, a taxa de

urbanização chega a 84%, sendo que a maioria da população reside em

área urbana na zona costeira (IBGE, 2016; United Nations Human

Settlements Programme, 2016).

49

A urbanização tem preocupado os cientistas, tendo em vista o

crescente aumento das cidades com um processo continuo e acelerado. O

geógrafo Milton Santos fala da importância dos estudos a respeito desta

temática, ao afirmar que “um fenômeno não apenas recente como também

crescente, e isto em escala planetária” (SANTOS, 1989, p. 17).

A partir do século XVIII, percebeu-se um grande interesse do

poder público para construção de espaços em área litorânea costeira,

apropriados para ao lazer e ao turismo, marcando o início dos primeiros

balneários alemães, franceses e ingleses. Observou-se que os balneários

se desenvolveram rapidamente e já na metade do século XIX estes, por

sua vez, demonstravam uma taxa grande e rápida de crescimento

populacional do que as cidades manufatureiras, promovendo uma rápida

urbanização e por consequência elevados níveis de pobreza e alto número

populacional (SANTOS, 1989).

A ocupação do litoral do Brasil iniciou a se constituir de maneira

especial a partir do século XX, foi no momento em que nos subúrbios das

cidades grandes costeiras iniciaram-se os banhos de mar, configurando

uma nova formação urbana, a qual se pode dar o nome de bairro para

veraneio.

O poder público, na década de 60, começou a se preocupar com o

turismo e passou a explorar o mar como espaço de lazer, sendo uma

alternativa de emprego e renda. As praias passaram a representar um

espaço público que assumia uma função de parque e deste modo, os

empreendedores têm criado espaços turísticos onde modificam elementos

da natureza em recursos. Ainda, divulgam ambientes ou cópias de lugares

que nunca existiram para os turistas que sonham com locais paradisíacos

(FONTELES, 2004).

Este processo acelerado de urbanização trouxe consigo um

crescimento desordenado das cidades, fato este que gerou diversos

conflitos socioambientais, como, por exemplo, a reprodução de bairros

com infraestrutura falha, habitações localizadas em áreas de risco, dando

inicio ao processo de favelização e causando alteração nos sistemas

naturais (PENNA, 2007).

Para Carmo (2012), a urbanização quando não planejada e não

acompanhada da implementação de uma infraestrutura básica, como

água, esgoto, luz e pavimentação acaba gerando áreas pobres e

marginalizadas, as quais são ocupadas pela população de baixa renda.

Deste modo, pode-se afirmar que esta forma de expansão do meio urbano

evidencia as desigualdades sociais.

Sendo que o espaço urbano mostra a impressão de uma sociedade,

é preciso definir os papéis que cada um de seus principais atores e agentes

50

produtores como o poder público, os produtores e agentes imobiliários, o

setor privado, a comunidade, os recursos naturais encontrados e

disponíveis e sua localização desempenham. Estes agentes/atores agem

no sentido de produzir o espaço urbano e, consequentemente, a

urbanização, orientados para seu próprio interesse, causando

frequentemente conflitos que acarretam em desigualdades (FONTELES,

2004).

Os governos pouco têm realizado investimentos em políticas

públicas no intuito de minimizar e até mesmo reverter esta problemática

de desigualdade. No entanto, a grande parte do recurso investido é

destinada às áreas nobres, deixando as periferias em segundo plano,

tornando assim a favelização uma das principais evidências territoriais no

país (MARQUES, 2007).

Por conta dessa evidência, nos últimos anos têm se intensificado

as preocupações em relação à qualidade de vida nas cidades, tendo em

vista que o aumento populacional e a falta de planejamento tem gerado

uma série de consequências para a vida urbana, como aumento do tráfego

de veículos, enchentes, poluição do ar, água , solo e visual.

Segundo o Relatório Mundial das Cidades de 2006/2007, a

população das cidades passará a de áreas rurais, fato este que aconteceu

segundo o Relatório Mundial das Cidades de 2016. Estima-se que o

Brasil, em 2020, possuirá 55 milhões de pessoas vivendo em favelas pela

falta de planejamento e organização urbana (United Nations Human

Settlements Programme, 2007, 2016).

Este processo é preocupante, porque a expansão horizontal das

cidades está causando, além de uma exclusão social, a criação de locais

sem infraestrutura necessária para a qualidade de vida na cidade. Pode-se

perceber também um processo no que há a valoração de áreas nobres e a

especulação imobiliária, promovendo um aumento das edificações e

estruturas já implantadas (VASCONSELOS; CORIOLANO, 2008).

O crescimento urbano no Brasil é acompanhado de contradições

sociais com suas diferenças e intensidades, tendo em vista que muitas

cidades apresentam problemas de emprego, habitação, transporte, lazer,

água potável, esgotos, educação, saúde, bem como apresentam grandes

insuficiências.

Na cidade e em seu espaço, que aumenta a cada momento existe

uma distribuição social do território, devido à sua função de mercadoria

agregando a este um valor de troca criando nas cidades áreas com valor

elevado, formando pequenos centros. Estas áreas têm por característica

localização favorável, serviços e infraestrutura construída pelas classes

sociais de alto poder aquisitivo, que habitam estes locais (PENNA, 2007).

51

A atividade turística é uma das principais causadores da

degradação do meio ambiente nas cidades litorâneas. Mesmo sendo uma

fonte de renda para muitos indivíduos, e promovendo a valorização do

espaço, consequentemente induz a transformação das paisagens com o

desenvolvimento dos centros urbanos.

Tendo em vista o fato de que, a recuperação do meio ambiente e

sua reprodução natural não é tão rápida quanto a sua exploração, e sendo

que o meio tornou-se um bem de comercialização para o ser humano, seu

tempo de resiliência e sua capacidade de reprodução não são respeitados.

Como consequência a este processo de apropriação, muitos lugares estão

sendo apropriados e explorados por um número exclusivo de pessoas,

como é o caso da Lagoa das Capivaras e seu entorno (NETO et al, 2016).

É assim que o mercado imobiliário ganha espaço, principalmente

em cidades grandes e litorâneas, áreas são produzidas para as classes

sociais mais abastadas, tornando a urbanização um negócio espaço

(BARBOSA; GOMES, 2016). As áreas degradadas, na perspectiva de

mercado viram mercadorias, ou seja, são novamente introduzidas nos

processos de negociação, iniciando uma nova produção do espaço. Este

artificio repele diferentes grupos da sociedade que tinham estes locais

como moradia e sociabilidade (CARLOS, 2015).

No entanto, é provável que a existência de áreas degradadas e

periferias estará presente por muito tempo ainda em nosso meio,

localizadas muitas vezes no entorno das cidades e com menor valor

agregado, possibilitando o estabelecimento de classes sociais mais

humildes.

É comum nas cidades encontrar locais de exclusão social e pobreza

urbana, em áreas degradadas, favelas e loteamentos irregulares formados

por famílias pobres, que não possuem emprego fixo e condições básicas

para viver. Este fato se deve, muitas vezes, à expulsão destas classes

menos abastadas de seus locais de origem, os quais são vendidos por

valores mínimos e acabam por se deslocar para áreas distantes dos

centros, onde viviam. Consideram-se dois mundos diferentes, que

compartilham o mesmo espaço em decorrência de um sistema social

capitalista iníquo e distinto (FONTELES, 2004).

A valorização do espaço das cidades, ao serem dominadas e

fragmentadas pelo mercado imobiliário, adquire uma nova forma, a de

lote urbano, cujo acesso e desfrute se submetem também ao mercado, ou

seja, aqueles com maior poder aquisitivo, estabelecendo a privatização da

área. Deste modo, iniciam-se os conflitos entre a propriedade privada e a

produção de espaço da sociedade, resultante da produção social do espaço

(BARBOSA; GOMES, 2016).

52

Essa divisão que aprofunda-se pelo parcelamento do espaço em

pequenas áreas de terra, são espaços comprados e vendidos no mercado,

fruto de atividades planejadas com intuito de esconder a percepção de que

o processo de parcelamento das áreas esta vinculado as estratégias

politicas e do mercado urbano, dando valores diferenciados ao ambiente

urbano (CARLOS, 2015).

Para Carlos (2015), no sistema econômico capitalista a produção

do espaço é a própria mercadoria, onde há a “produção da cidade como

negócio” (p. 5), sendo comercializado como uma mercadoria clássica,

tendo seu valor de uso e de troca. O espaço surge como um fator

necessário à reprodução do capital, condicionando o espaço a existência

de uma propriedade e assim a dinâmica do mercado.

Uma população pode ocupar o mesmo espaço de diferentes formas

e maneiras, tendo implicações ambientais significativamente distintas. A

tentativa de entender estes modos de ocupação diferenciados do espaço e

seu significado no que tange a questão ambiental é um modo de poder

abrir caminhos para a pesquisa e contribuir para reflexões sobre o que a

sociedade moderna necessita para alcançar o ecodesenvolvimento

(MARTINE, 2007).

O espaço é constituído a partir da vida social, como um produto

social apresentando características da população que está inserida nele.

No entanto, institui num reflexo e condicionante da sociedade, que

segundo Lefebvre (1976) ressalta o espaço como locus da reprodução das

relações sociais de produção (MARQUES; BARRETO, 2012).

Discutir a relação entre meio ambiente e espaço é discutir como a

população pode usar de maneira mais sustentável determinado território,

abrangendo seus recursos disponíveis, a população, o contexto

econômico e seu desenvolvimento atual.

A urbanização contemporânea expõe a instituição de uma

problemática espacial, esclarecendo a realidade urbana e mostrando o

processo de produção do espaço como uma representação da reprodução

de uma sociedade capitalista. A cidade materializa-se como uma

mercadoria, exposta e comercializada no mercado internacional, paralelo

a isto se produz um novo meio urbano, criando novos meios e métodos

mais modernos para mediar às relações sociais. Redefine-se assim, uma

nova forma de apropriação do espaço urbano, diminuindo a acessibilidade

dos espaços e impondo obstáculos a mobilidade socioespacial (CARLOS,

2015).

Para esta problemática é necessária uma abordagem holística, que

considere, ao mesmo tempo, usos diferenciados do espaço e fatores

ecológicos dentro de um espaço específico. Tentar compreender os pontos

53

positivos e negativos relativos às diferentes opções de distribuição

espacial, bem como ajudar a promover alternativas benéficas pode ser

uma forma eficiente de poder contribuir para um desenvolvimento

equilibrado das cidades (MARTINE, 2007).

As cidades turísticas apresentam uma forma diferenciada de uso,

ocupação do espaço oferecendo serviços de lazer, turismo e moradia ou

segunda residência. Ainda, funcionam como distritos de tranquilidade e

boa qualidade de vida no conjunto da urbanização, bem como apresentam

uma maior intervenção econômica e crescimento demográfico nos painéis

estaduais (LIMA, 2002).

Através de um estudo realizado por Mullins (1991), verificou-se

que as cidades turísticas apresentam também algumas diferenças às

demais cidades quando comparado os diversos setores de atividade da

economia urbana, crescimento demográfico, níveis de emprego e

dinâmica da sociedade em geral, ou seja, é um modo particular de

produzir e estruturar o espaço urbano.

A questão a respeito da urbanização neste trabalho se remete a um

estudo de destino turístico litorâneo. Este fato se dá em razão da maior

parte da concentração de pessoas com destino turístico situar-se em

ambiente costeiro, devido à hegemonia do consumo turístico.

O aumento da atividade turística juntamente a expansão

imobiliária são termômetros que mensuram a aceleração das

transformações que sofre determinada região. Uma parcela crescente da

população residente nos grandes centros urbanos buscam a fuga do

cotidiano urbano turbulento e o reencontro com a natureza, através de

forma física. Este processo movimenta e acumula rendas e problemas,

como ditos anteriormente, mesmo em regiões aparentemente distantes do

modo de vida acelerado das grandes cidades. Qualquer local, por menor

que seja, produz e reproduz processos socioespaciais, que se materializam

ao longo do tempo, produzindo assim aglomerações urbanas.

Sabe-se que as aglomerações urbanas surgiram e cresceram devido

à acumulação agrícola do excedente agrícola, do comércio e

posteriormente da produção de bens manufaturados. Por outro lado, as

cidades turísticas e, principalmente, as cidades turísticas litorâneas

empregam-se principalmente ao consumo de produtos e serviços

destinados a diversão, prazer, relaxamento e recreação, deixando de lado

as necessidades básicas como moradia, serviços de saúde, educação, etc.

(COSTA; OLIVEIRA; RAMOS, 2002).

A cidade é um espaço de luta pelos direitos sociais. O campo

urbano é um dos principais locais de conflitos políticos e sociais pelos

direitos de cidadania. Ou seja, a batalha por direito à moradia, à saúde, ao

54

transporte, toda a infraestrutura e a salários dignos e à melhoria da

qualidade de vida social (MELO, 2014).

Segundo Carlos (2015), é possível compreender a cidade como a

“luta na cidade pela cidade” (p. 2), gerando o questionamento sobre as

politicas publicas necessárias para as demandas do espaço urbano.

Áreas são impactadas para transformação e ampliação de novas

formas de apropriação do espaço no intuito de satisfazer as necessidades

de atividade turística. Quanto à valorização das áreas, estes ambientes

favorecem as atividades econômicas, onde o desenvolvimento urbano é

sinônimo de riqueza e o espaço para a ser explorado pela indústria

capitalista (NETO et al, 2016).

As cidades litorâneas e turísticas passaram a fazer parte deste

processo, tendo neste período o aumento de residências construídas e a

instalação de equipamentos turísticos que aumentou ainda mais a vinda

de pessoas para estas cidades e consequentemente produzindo

aglomerações que formaram bairros.

Para Gonçalves (2016), o capitalismo contemporâneo tem como

estratégia a transformação do espaço urbano em lugares de hegemonias

sociais e “estetização” da forma e da paisagem urbana (p. 12). Sua

intenção é a venda de espaços destinados a sociedade de alto poder

aquisitivo, proporcionando-lhes conforto e segunda, os famosos

condomínios fechados.

No entanto, as bruscas contradições demonstram a reiteração da

segregação urbana, manifestando-se na gentrificação da cidade

(GONÇALVES, 2016). No caso das cidades litorâneas, mais

precisamente em Garopaba, este processo foi constituído a partir da vinda

de turistas e veranistas.

O contato destes veranistas e turistas com a comunidade, por sua

vez, pode causar impactos na cultura local e no cotidiano dos moradores

nativos. Estes acabam por implantar novos costumes, como uma culinária

mais sofisticada para atendê-los, ou o uso e apropriação especifica de

alguns espaços como o pátio das casas, por exemplo. Pois quanto maior

o poder aquisitivo dos veranistas se tem uma maior tendência de

sofisticação dos costumes por eles trazidos, e uma importação de padrões

estrangeiros pelas comunidades locais, acarretando assim um

desenvolvimento urbano diferenciado dos demais espaços da cidade

(VASCONSELOS; CORIOLANO, 2008).

55

3 METODOLOGIA

3.1 Área de Estudo

O município de Garopaba está localizado na região sul de Santa

Catarina, a uma latitude de 27°58’15” e uma longitude de 48°39’36”,

distante 49 km de Florianópolis, capital do estado catarinense.

Desde a construção da rodovia BR-101, na década de 70, e da SC-

434, principal acesso ao município de Garopaba, intensificou-se a taxa de

urbanização e a ascensão do setor terciário em detrimento das atividades

primárias. Essas obras contribuíram para que muitas famílias de

agricultores e pescadores migrassem para realizar atividades remuneradas

fora da agricultura e da pesca. Neste processo, ainda em transição, os

terrenos agrícolas foram dando lugar aos novos loteamentos e a vários

tipos de estabelecimentos comerciais atrelados à indústria turística

(CERDAN et al, 2010; JACOMEL, 2012).

O mesmo possui uma área territorial de 115, 405 km² e uma

população de aproximadamente 18.138 habitantes, com uma densidade

demográfica de 157,17 hab / km², tendo em vista que esta densidade pode

aumentar, pois a estimativa para 2014 -foi de 20.545 habitantes, devido a

grande procura da população para residir no município (IBGE, 2010).

O município registra atualmente um índice referente à densidade

demográfica de 1,426 habitantes por hectare (hab / ha). Nos parâmetros

da escala de densidade demográfica adotada pelo IBGE, índices

superiores a 100 hab./Km² ou 1 hab./ha são considerados de grande

concentração populacional.

Estima-se que mais de 100 mil turistas visitem Garopaba na alta

temporada. Mesmo sem considerar o aumento da população turística na

época de veraneio, a cidade já dispõe de um índice populacional

considerado elevado conforme foi constatado nos estudos que embasaram

a elaboração do novo Plano Diretor Municipal (JACOMEL, 2012; IBGE,

2015).

Os moradores fixos ocupam pouco mais da metade dos domicílios

em Garopaba, o que corresponde a cerca de 6.200, e que abrigam, em

média, três pessoas em cada uma das residências. As demais habitações

são residências de veraneio que pertencem a pessoas que visitam Garopaba (JACOMEL, 2012; JORNAL DA PRAIA, 2010).

56

Figura 1: Localização da área de estudo

Fonte: Google, 2016.

57

A ocupação urbana de Garopaba se deu inicialmente ao longo da

orla da praia Central e, posteriormente, no sentido praia – continente. A

Lagoa das Capivaras, localizada na zona central do município, com uma

área total de aproximadamente 20 hectares, seu entorno tornou-se um

foco do crescimento urbano no município.

O principal atrativo de crescimento é a qualidade de suas praias,

que impulsionou o desenvolvimento do turismo na região. Com o

aumento do turismo e sua estabilidade, a especulação imobiliária

aumentou, seguida de um processo de ocupação irregular e de

crescimento desordenado - inclusive com indicativos de uma grande

tendência de favelização nos próximos anos (BARROS, 2008;

JACOMEL, 2012).

Segundo o Plano Diretor Municipal, a ocupação do solo é um

ponto crítico em vários pontos da cidade, existindo um parcelamento sem

critérios, que é condutor de inúmeros conflitos na área. Loteamentos

clandestinos, aqueles sem aprovação na Prefeitura ou que estão

implantados de forma diferente daquela aprovada pelo poder público

municipal e/ou sem registro em cartório, qualificados como ocupação

irregular, estão tomando conta da zona costeira de Garopaba (JACOMEL,

2012).

O município é uma enseada, que se estende da praia da Gamboa

até a Praia do Ouvidor. O relevo, na maior parte do município, está em

ambiente de planície litorânea com áreas planas e onduladas, costões de

formação granítica, dunas e restingas, tendo o mar como influência direta

dessa configuração.

Parte do município de Garopaba está inserido dentro da área da

APA, que abrange cerca de 156.100 hectares e uma faixa de 130 km de

costa, entre o sul de Florianópolis e o Balneário Rincão.

A Unidade de Conservação, APA da Baleia Franca, foi criada em

2000, por um Decreto s/n°, com intuito de proteger a espécie Baleia

Franca Austral (Eubalaena australis) que vem para o litoral sul do país

para reproduzir. Este tem por objetivo a aplicação de normas de conduta

e manejo das atividades humanas a fim de preservar os recursos naturais

e a qualidade de vida das comunidades.

O município também faz parte da APA do Entorno Costeiro, criada

em 2009, a partir da Lei Estadual 14.661/2009, que reduziu a área do

Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, criado em 1975, através do

Decreto n° 1.260/75, e a maior unidade de conservação no Estado

ocupando aproximadamente 1% do território de Santa Catarina (REIS,

2012).

58

Figura 2 - Área de abrangência da Área de Proteção Ambiental da

Baleia Franca.

Fonte: ICMBIO, (2014)

Garopaba possui vegetação tropical atlântica e litorânea e uma

pluviosidade inferior a 1.400 ml, com menos de 120 dias de chuva/ano.

Tem como uso e padrão de cobertura de solo, uma vegetação secundária,

pastagens para a pecuária e lavouras. A geomorfologia e o relevo estão

caracterizados por planícies litorâneas e serras do leste catarinense

(MARTIN, 2013; GAROPABA, 2012).

O clima de Garopaba é mesotérmico úmido, sem estação seca.

Controlado por massas de ar frias e quentes, as quatro estações do ano são

bem definidas, sendo que no inverno pode atingir 10ºC e no verão

alcançar 38ºC, quando normalmente, na atualidade, o mar estará lotado.

A Massa Tropical Atlântica atua mais frequentemente na primavera e no

verão e a Massa Polar Atlântica no inverno e no outono (DA SOLLER,

2012).

3.2 CaracterísticaS da Pesquisa

A pesquisa utilizou a metodologia científica para obter novos

conhecimentos no campo da realidade social como conhecimentos sobre

a natureza, as populações e seus grupos territoriais bem como sua

organização e relacionamento (MARCONI; LAKATOS, 2010). Primeiramente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica,

abrangendo a bibliografia já tornada pública (artigos científicos, teses,

dissertações e livros) em relação ao tema de estudo, colocando o

pesquisador em contato com o que foi escrito, dito ou filmado sobre o

assunto (MARCONI; LAKATOS, 2008). A principal vantagem da

59

pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao pesquisador descobrir

uma série de acontecimentos e fatos mais vastos do que aquilo que

poderia ser pesquisado de modo direto (GIL,1994).

A pesquisa está inserida no âmbito da abordagem qualitativa que,

segundo Chizzotti (1998, p.79):

[...] parte do fundamento de que há uma relação

dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma

interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um

vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a

subjetividade do sujeito. O conhecimento não se

reduz a um rol de dados isolados, conectados por

uma teoria explicativa, o sujeito-observador é parte

integrante do processo do conhecimento e

interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um

significado.

A pesquisa tem uma perspectiva exploratória, que tem como

objetivo alcançar um panorama geral da situação, a fim de “[...] esclarecer

e modificar conceitos e ideias, com vistas na formulação de problemas

mais precisos [...]” (GIL, 1999, p. 44).

Foi realizada uma pesquisa de campo, que tem por objetivo

conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para

qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira

comprovar, ou, ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre

eles (MARCONI; LAKATOS, 2010).

O método utilizado no trabalho é o estudo de caso, que segundo

Goldenberg (2009), caracteriza-se por reunir um maior número de

informações detalhadas, com a finalidade de apreender a totalidade de

uma situação e descrever a complexidade de um caso concreto (p. 33).

Ainda, de acordo com Gil (1999), o estudo de caso, é recomendado

nas fases iniciais de uma investigação sobre temas complexos, para a

construção de hipóteses ou reformulação de problemas, “pois é uma

categoria de pesquisa cujo objeto é analisado de forma profunda” (GIL,

1999, p.79).

O tempo de estadia no campo pode variar bastante, dependendo

das pessoas pesquisadas, do seu grau de conhecimento e o relacionamento

do pesquisador com o grupo e do tipo de problema abordado. O

pesquisador precisa ganhar a confiança da comunidade, para poder obter

as informações necessárias e que lhe interessam de forma consciente

(ALBUQUERQUE; LUCENA; NETO, 2010).

60

O trabalho de campo é tarefa que toma um volume de tempo e

trabalho do investigador, exigindo paciência, esforço e cuidado com o

registro dos dados (MARCONI; LAKATOS, 2008). Estando inserida

uma vastidão de informações que darão enriquecimento aos resultados

desta pesquisa (CHIZZOTTI, 1991).

As atividades de campo foram desenvolvidas no período de março

a novembro do ano de 2016. Durante este período, além das entrevistas,

foram realizadas conversas informais com os moradores do município,

tendo-se um maior convívio com os mesmos.

O convívio com os moradores durante este período foi importante

para se ter um melhor conhecimento a respeito de seu cotidiano e seu

modo de vida, bem como entender melhor a organização da cidade tanto

no que diz respeito aos moradores quanto aos turistas. Cabe salientar que

neste período foi possível presenciar algumas atividades realizadas no

entorno da lagoa, como queimadas e cortes de árvores.

3.3 Levantamento de Dados

Para obtenção dos dados, foram utilizados os processos de

pesquisa documental e bibliográfica e os contatos diretos. A soma destes

materiais coletados contribuiu para descobrir indícios ou subsídios

importantes para o trabalho (MARCONI; LAKATOS, 2010).

O levantamento de dados ocorreu predominantemente de forma

direta, com o levantamento das informações (MARCONI; LAKATOS,

2010; GIL, 1999), através da utilização de entrevistas semiestruturadas,

as quais foram realizadas a partir de um roteiro predeterminado, foram

gravadas e transcritas, permitindo ainda a utilização de outros temas e

conteúdos esclarecidos no desenrolar da entrevista (CARVALHO;

TOZONI-REIS, 2009).

Para a realização das entrevistas, foi utilizada a metodologia Bola

de Neve, na qual um sujeito que já possui uma convivência com o

pesquisador indica outro sujeito para incluir na amostra. Esta metodologia

é utilizada quando se trata de populações específicas e de um número

pequeno de indivíduos (DEWES, 2013).

Vale destacar que a entrevista é uma técnica que o pesquisador se

apresenta em frente ao público-alvo e lhe faz questionamentos, com o objetivo de obtenção dos dados que lhe interessam para investigação,

sendo também uma forma de interação com os indivíduos investigados

(GIL, 1999).

O trabalho de campo foi realizado no Município de Garopaba, no

período compreendido entre março e novembro de 2016, com os

61

moradores do município. Para a realização das entrevistas, foram

entrevistados 25 moradores1 com, no mínimo 18 anos, privilegiando os

moradores que residem há mais de 10 anos no local (permanecendo o ano

inteiro).

A maioria dos entrevistados já vivia há mais de 25 anos no

município, sendo moradores nativos ou pessoas que iniciaram a veranear

na cidade e, posteriormente, firmaram residência. Os entrevistados possui

idade entre 35 e 88 anos, tendo estes ocupações diversas, como

pescadores, comerciantes, taxistas, aposentados ou possuem renda

através do aluguel de casas para veraneio.

No entorno da lagoa foram entrevistados apenas três moradores,

pois muitos daqueles que residiam no entorno da lagoa acabaram se

deslocando para outros bairros do município, conforme explicado no

decorrer do trabalho.

As entrevistas foram concedidas, em sua maioria, na própria casa

dos moradores e no seu local de trabalho. Algumas entrevistas foram

realizadas em grupos, tendo em vista a presença de familiares no local.

No entanto, vale ressaltar que a prevalência foi de entrevistas individuais.

3.4 Análise dos dados

A partir dos dados coletados e obtidos os resultados, partiu-se para

interpretação dos mesmos, constituindo o núcleo central da pesquisa

(MARCONI; LAKATOS, 2010).

Os dados dão um significado com maior amplitude as respostas,

vinculados a outros conhecimentos, expondo o verdadeiro significado do

material apresentado em relação aos objetivos e ao tema. A

sistematização foi realizada a partir de narrativas por meio das

informações, falas e conversas com o público-alvo (MARCONI;

LAKATOS, 2010; GIL, 1999).

Os dados coletados através das entrevistas foram transcritos e

analisados de modo a classificar alguns trechos das entrevistas, seguindo

a análise e interpretação de sentidos proposta por Gomes (2012). Os

trechos classificados, bem como comentários e observações, serviram de

ponto chave para interpretar a percepção ambiental dos moradores sobre

a situação anterior e atual da Lagoa.

1 De acordo com Bauer e Gaskell (2008), o número ideal de

entrevistas semiestruturadas em uma pesquisa qualitativa varia entre 15 e 25, o

que permite que um pesquisador realize a análise do material com profundidade.

62

63

4 A MEMÓRIA DOS MORADORES DE GAROPABA

4.1 AS LAVADEIRAS

Na década de 40 e 50, já quase entrando na década de 60, se tinha

um problema, a água e energia. O processo de modernização de Garopaba

ainda engatinhava e o primeiro sistema de abastecimento de água

encanada no estado foi na grande Florianópolis, em 1910 (CASAN,

2016), e, posteriormente, se deu aos demais municípios do estado

catarinense. A água da Casan em Garopaba, segundo um dos

entrevistados, contou com a ajuda de seu Dedê.

Victor Carlos Nauck, conhecido como Dedê, é de família alemã, o

primeiro a vir para o Brasil foi seu avô Alberto Nauck, alemão vindo de

Bohn, que aportou no Paraná, trazendo uma pequena fortuna em ouro, o

que permitiu adquirir várias propriedades em Florianópolis, onde casou e

formou família. Deste casamento, nasceu Victor Carlos Nauck (Dedê);

Antonina e Teobaldo, todos falecidos. Em meados de 1960, seu Dedê

doou um terreno no morro, onde hoje é o Loteamento Panorâmico, para

colocar a caixa de água, e abastecer a cidade (HÜBNER, 2011).

De acordo com os moradores, a Lagoa das Capivaras, até o início

da década de 90, era frequentada por moradores nativos do local, que a

tinham como uma fonte de recursos para sua própria subsistência.

Mulheres de classes populares utilizavam a lagoa para lavar roupas e os

homens para pesca.

A água não era encanada, e as mulheres iam até a Lagoa Pequena

para lavar as roupas de sua família e de pessoas de grande poder aquisitivo

– neste caso, os donos das salgas de peixe e “coronéis”, como eram

chamados os donos das fazendas que havia na região.

Minha mãe lavava as nossas roupas e as roupas dos

donos da salga que tinha há muito empo aqui, eles

tinha dinheiro para pagar porque podiam [...] eu

lembro bastante da gente fazendo mais que uma

viagem pra buscar as roupas porque tinha a nossa e

a deles né, aí a gente ia junto com a mãe pra buscar

as roupas depois da praça, ali no centro histórico

com a beira da roupa molhada (F, 55).

Segundo uma das entrevistadas, que fora lavadeira,

cada uma das mulheres tinha seu “tanquinho” para

lavar roupa e, quando necessário, ajudavam as

64

amigas que tinham maior volume de roupa.

Cada uma tinha um cocho, mas quando precisava

se dividia, se emprestava, dependendo do tempo

uma ajudava a outra, porque se chovesse ia ter mais

roupa (J, 58).

Além disso, a lagoa era própria para tal atividade, por ser mais rasa

que a lagoa grande (Lagoa das Capivaras) e havia possibilidade de todas

as mulheres ficarem ao seu redor dividindo o espaço e tornando o trabalho

ainda um momento de socialização. Não havia dia específico para a

atividade, era nos dias em que havia maior disponibilidade, devido aos

demais trabalhos domésticos realizados em suas casas.

Geralmente, as mulheres iniciavam seu trabalho nos primeiros dias

da semana, pois eram nestes dias que seus maridos partiam para as

viagens de pescaria, ficando a semana fora pescando em outros

municípios e até estados, além de contar com o tempo favorável para que

as roupas secassem a beira da lagoa. Seus maridos retornavam

normalmente no final da semana e elas deveriam estar em casa para

recebê-los, deixando as tarefas da casa como comida pronta, roupa

lavada, pátio limpo, prontas para sua chegada.

Em relato da entrevista, a entrevistada conta que o trabalho de

lavadeira era um meio de poder falar com as amigas sobre os problemas

familiares e até mesmo um momento de descontração e descanso para os

bate-papos e cochichos, que não podiam comentar em suas casas, além da

cantoria com canções antigas.

Nesse sentido, além de ser uma fonte de água doce onde as

mulheres podiam lavar roupas, a lagoa também constitui um importante

espaço de sociabilidade para estes sujeitos. A sociabilidade é uma forma

independente de sociação, sendo uma atividade livre, ou seja, uma

interação que não é obrigatoriamente necessária ou possui interesses

específicos, mas caracteriza uma satisfação de estar socializado, passando

a ser uma forma pura de socialização (SIMMEL, 1964).

Para Simmel (2006), as manifestações sociais reciprocamente

estabelecidas compreendem a essência de uma sociedade, em um

processo de constante construção. A sociabilidade é uma capacidade

natural da espécie humana para viver em sociedade, desenvolve-se pelo

processo de socialização. Diante deste contexto, a sociabilidade é definida

por um processo no qual inicia-se a interação dos indivíduos, em que estes

adotam sistemas de cooperação e colaboração, como o caso das

lavadeiras.

65

A lagoa era além de um espaço de lazer para as famílias que viviam

no entorno da lagoa na época, era também um espaço de trabalho, onde

era realizada uma atividade de trabalho informal por mulheres moradoras

do local. Tornou-se um ambiente de sociabilidade, solidariedade e trocas

de favores onde se era compartilhado das brigas e fofocas de terceiros e

próprios, além de conhecimentos não autorizados. Era um local de

aprendizado e ensino, onde compartilhavam também as receitas de chás

para cura de doenças e benzeduras.

No momento em que lavavam as roupas, estas mulheres

compartilhavam seus conhecimentos com as lavadeiras mais novas,

geralmente eram suas filhas, ou então com aquelas que vinham morar no

local, após se casarem com seus filhos. Por serem de pouca idade, cerca

17-18 anos, não tinham muita experiência e, por meio desta socialização,

aprendiam a melhor maneira de lavar a roupa, as ervas que serviam como

remédio, bem como algumas dicas culinárias.

Eu comecei nova a lavar roupa, eu ia com a minha

mãe né, eu ajudava ela antes de casar, aí depois eu

lavava as minhas. A gente começava a trabalhar

cedo, ajudava nossos pais desde cedo. Eu ajudava

a limpa a casa e a minha mãe me ensinou tudo, lava,

cozinha, limpa...tudo...tudo. Porque eu tinha que

sabe me vira sozinha também né (M, 88).

Ademais, tornou-se um local de lazer para estas mulheres, tendo

em vista que este era o momento em que podiam conversar com aquelas

que eram mais que colegas de trabalho, eram amigas, companheiras e até

parte de sua família, muitas vezes.

Lavar roupa era até divertido, porque a gente ficava

só em mulheres, e ali a gente conversava as coisa

que não podia ser falado na frente dos marido

(risos) [...] a gente se ajudava, eu ajudava bastante

a minha irmã também e as outras né, no fim das

contas era divertido porque a gente ria das coisas

(M, 88).

O cotidiano das lavadeiras possibilitava muitas interações, desde

a prática do trabalho, tendo um contato com outras lavadeiras em local

público, bem como com suas “patroas” para quem lavavam roupa,

aproximando mulheres de classes distintas. A pesquisa evidenciou que o

gênero é uma categoria chave para pensar as relações que os moradores

mais antigos estabeleceram com a lagoa.

66

Para Scott (1990), o gênero é “um elemento constitutivo de

relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos, e

o gênero é um primeiro modo de dar significado às relações de poder”.

Falar sobre gênero não necessariamente significa falar apenas de

mulheres, mas de relações socialmente construídas, marcadas, muitas

vezes, por relações de poder e desigualdades. Estudos demonstram como

as relações de gênero organizam as relações familiares, estabelecendo

tarefas e comportamentos considerados apropriados para homens e

mulheres (COSTA; SILVEIRA; MADEIRA, 2016).

O poder masculino mostrava-se muito forte tanto na vida das

mulheres quanto em relação à divisão sexual do trabalho, sendo o homem

o responsável pelo sustento da casa por meio da atividade de pesca.

Porém, a atividade de lavadeira era fundamental para a economia

doméstica:

Eu tinha que trabalhar, porque só a pescaria não

dava conta de sustentar a casa e meu marido ficava

dias fora de casa, e eu tinha que dar comida pras

criança (L, 82).

O trabalho realizado por estas mulheres era de suma importância,

porém não tão visível. Os paradigmas existentes no mundo do trabalho

instauraram, como principal característica, o termo "trabalho invisível",

que passou a ser recorrente para caracterizar tipos de ocupação, em geral,

com baixa qualificação, com pouco ou nenhum vínculo empregatício, em

sua grande maioria, temporário e que se encontra fora dos sistemas de

proteção social. Esse tipo de ocupação, muito presente na informalidade,

gera uma invisibilidade social, pois não existem vínculos nem com o

Estado nem com as instituições civis (NUNES, 2007). Deste modo, a

atividade de lavadeira era vista como um “quebra-galho”, e não como um

trabalho formal, já que as mulheres viam-se como “donas de casa, mas

também eram lavadeiras” (MORAES, 2005 p. 23), exercendo ainda o

cuidado da casa e dos filhos. Estudos apontam que a profissão de

lavadeira é antiga, pois iniciou-se com as mulheres negras escravizadas,

exclusivamente atividade das mulheres da época colonial.

Há diversos trabalhos a respeito deste contexto histórico em

diferentes regiões do Brasil (SANTOS, 2000; MORAES, 2005; NUNES NETO, 2005; CUNHA, 2006; MELO, 2007; WOLFART, 2008;

SAMPAIO, 2013 ROSLAVO, 2016). Relações de intimidade e amizades

entre as lavadeiras certamente eram construídas, bem como troca de

favores. Isso porque passavam grande parte do tempo juntas e somente

67

entre mulheres, fato este que propicia uma maior relação de confiança

para troca de confidências sobre acontecimentos pessoais que surgiam em

casa e, muitas vezes, não eram discutidas e compartilhadas com seus

maridos ou outros familiares do sexo masculino (SILVA, 2011).

Algumas destas mulheres, quando iam lavar suas roupas na lagoa,

tinham o costume de levar seus filhos consigo. Estes, por sua vez,

brincavam e nadavam na lagoa, e costumavam pescar com caniço. A

lagoa se tornou um local de ambiente familiar, onde havia relações e

interações, bem como transmissão de valores, saberes e atitudes que

possibilitam um processo de construção e ensinamento sobre as práticas

realizadas pelos seus pais.

Os filho ia comigo, enquanto eu lavava roupa as

menina brincava na lagoa, tomava banho porque

em casa não podia deixa e tinha a mais nova com

aninho naquela época, porque a gente tinha filho

bem nova antes, hoje já é mais tarde que a mulher

fica grávida (M, 85).

Para Garcia et al 2007, aquilo que é transmitido pelas gerações

mais velhas para as gerações mais novas não permanecem íntegro, eterno

com o passar dos anos. As gerações possuem características próprias que

as tornam diferentes da geração futura e provavelmente distintas das

próximas gerações. Estas distinções devem-se à interferência de fatores

históricos e sociais que fazem parte do contexto de tempo e espaço vivido

por essas gerações.

As lavadeiras traziam suas roupas como uma trouxa, na cabeça.

Não existia dia especifico para lavar roupa na lagoa, era o que dia em que

havia disponibilidade e que não chovesse, mas normalmente eram nos

primeiros dias da semana. Segundo um dos sujeitos da pesquisa, as

lavadeiras eram identificadas por estarem sempre com as trouxas de

roupa, algumas deixavam suas roupas secando a beira da lagoa e

aproveitavam para ir buscar mais roupas, que seriam de seus patrões e

passavam pela praça com suas saias molhadas. Posteriormente passavam

pela praça novamente com trouxas de roupas em direção à lagoa para

lavar mais uma remessa. O trabalho era árduo e com dificuldade, segundo uma das

entrevistadas, que lavava roupa na lagoa e disse que não era fácil como

hoje que existem máquinas que fazem este serviço. Naquele tempo, não

havia sabão em pó e amaciante, o sabão era feito em casa com sebo de

animais e soda cáustica. De acordo com as lavadeiras, o sebo e a soda

68

deixavam as roupas macias. Depois de batê-las na tábua (tanquinho) para

tirar as manchas, as roupas, por fim, tinham que ser engomada.

Segundo uma ex-lavadeira, suas mãos ficavam machucadas de

tanto esfregar e bater as roupas, causando calos e “rasgando o couro (pele)

da ponta dos dedos”. Destacou que isso acontecia normalmente no

inverno, período em que a água era mais gelada. No verão era mais

agradável, pois havia mais peixes na lagoa e aproveitavam para se

refrescar também, como pode ser visto na fala de um dos filhos de uma

lavadeira.

Era um divertimento, um lugar que eu ia pra me

divertir, pegar comida pra me alimentar, era muito

importante pra mim. Acordava de manhã, tomava

um cafezinho e ia lá pra lagoa pescar, me divertir,

respira aquele ar puro, o dia que era de verão

tomava banho, nadava (C, 52).

No processo de engoma da roupa, as lavadeiras utilizavam amido

de milho e o dissolviam em água dentro de baldes. Á água era aquecida

no fogareiro (pequena fogueira), onde ficavam mexendo o amido sem

parar até chegar no ponto desejado. Após, a goma era coada com auxílio

de um pano e, posteriormente, as lavadeiras banhavam as roupas na goma

e colocavam para secar.

Em entrevista com uma lavadeira, a mesma ressaltou que não havia

recursos para cuidar melhor da roupa e este era o meio que utilizavam

para deixar a roupa em melhor estado. A água limpa que existia na lagoa

contribuía para deixar a roupa limpa.

A água era boa e bem limpa, nós lavava a roupa e

deixava secando no sol, a água da lagoa não

deixava a roupa encardida, nós lavava sempre ali

(M, 88).

Uma entrevistada que fora lavadeira disse que quando, completou

24 anos de idade, conseguiu emprego na casa de um “coronel”, onde

trabalhou como empregada doméstica durante décadas até conseguir a

aposentadoria. Sua infância foi muito sofrida, contou que no centro de

Garopaba havia lavoura de mandioca e pomares de laranja, que se

estendiam do entorno da lagoa até as proximidades do centro histórico.

Quando os coronéis das fazendas autorizavam, os empregados podiam

pegar as frutas que caíam no chão para levar para casa, o que acontecia

sempre com a presença de um dos coronéis, pois eles não deixavam

69

apanhar a fruta diretamente do pé. A fruta “boa” era destinada somente

para venda.

Quando dava vento, nós vinha pedir laranja do

chão, aí tinha morador que ainda ficava esperando

a gente se a gente pegava laranja do pé, porque não

podia, só do chão (M, 88).

Para a ex-lavadeira, trabalhar na casa dos patrões era melhor,

porque a comida era variada e de melhor qualidade, podendo se fazer três

refeições durante o dia. O pagamento era recebido no final do mês e o

trabalho era realizado durante o dia todo. As famílias que pagavam pelo

serviço de empregada doméstica eram poucas, pois a maioria da

população era de origem humilde. Estas famílias mais abastadas que

podiam pagar pelo serviço viviam onde hoje é o centro histórico do

município de Garopaba.

As mulheres que não conseguiram emprego como empregadas

domésticas trabalhavam na salga do seu Dedê, um próspero comerciante

que impulsionou os negócios do município de Garopaba no século

passado. Juntamente com as mulheres, a salga contava com cerca de 200

funcionários. As mulheres, especificamente, trabalhavam salgando cação,

tainha e enchova. Uma das entrevistadas contou que sua mãe trabalhou a

vida toda nesta salga, além de fazer tranças para confeccionar chapéus de

palha.

Como se pode perceber, a atividade de lavadeira era característica

das mulheres dos pescadores que exerciam outro tipo de trabalho fora do

lar, para ajudar a complementar a renda de seus maridos.

A memória das lavadeiras é importante, pois traz à tona o universo

vivido por aquelas mulheres, suas experiências e vivencias,

principalmente junto as demais mulheres, construindo um ambiente

feminino. Junto de seus maridos, sustentaram seus filhos, tinham a

lavação de roupas como seu sustento e, ao mesmo tempo, tinham a lagoa

como um local de divertimento, e estabeleciam com ela uma relação de

equilíbrio ecológico.

4.2 A PESCA NA LAGOA

A pesca na lagoa, de acordo com relatos de alguns moradores de

origem pobre, constituía uma fonte alimentar importante para suas

famílias. O peixe mais pescado era o Cará (Geophaginae). Além de

70

alimento, este peixe também servia de isca para os pescadores pegarem

peixes maiores no mar.

Ali na lagoa pescava também, tinha bastante Cará

ali, é um peixe com bastante espinho, eu gostava,

mas agora nem sei se tem mais ali (J, 67).

Às vezes vinha gente pescar ali, eles pegava os

peixe pra ir pescar no mar depois mas muita gente

pegava pra comer mesmo, [...] como não tinha

outra coisa, nós era muito pobre e muita gente

também, era o que tinha (B, 48).

Os pescadores deslocavam-se, durante a temporada de pesca, para

outros municípios e/ou até outros estados e lá permaneciam por períodos

que variavam entre 15 e 45 dias, aproximadamente.

Quando pescavam em Garopaba, os pescadores saíam às quatro da

manhã e voltavam às cinco da tarde. Pescavam cação de quatro metros,

linguado, pampa pescado na linha na Praia da Silveira.

Figura 3 – Pescados na praia

Fonte: Foto cedida por um dos entrevistados.

Seu Dedê começou a comprar toda a produção de peixe,

sustentando todos os pescadores. Seu Dedê veio parar em Garopaba,

quando os pais faleceram, e a mãe doou o dinheiro da família para a

Irmandade dos Passos de Florianópolis. Assim, seu Dedê ingressou na

Polícia Militar e chegou a Garopaba como cavalariano. Em Garopaba

casou com Auta de Freitas Nauck, filha do ex-delegado Genuíno Freitas,

homem de costumes bastante rígidos. Seu Dedê e dona Auta tiveram três

filhos: Ernesto Henrique Nauck, pai de Vitor; Aurino e Lica, todos

também já falecidos.

A pesca, porém, era considerada uma atividade econômica

instável, e a renda obtida pelas mulheres com a lavação de roupas

71

contribuía para sustentar a família. É válido lembrar que a atividade de

lavadeira, doméstica e empregada na salga era trabalho para subsistência,

dependendo das necessidades, elas se propunham a trabalhar em qualquer

outra coisa, como afirma o trecho da entrevista de uma ex-lavadeira.

Os nosso marido ficavam fora pra pesca né, mas eu

não me importava não, não me arrependo de nada

do que eu fiz até aqui, eu tenho muito orgulho de

ter lavado roupa na lagoa, e se fosse pra fazer tudo

de novo eu fazia, e se tivesse que trabalhar em outra

coisa eu trabalhava também, porque minha mãe me

ensinou assim e se a gente não trabalha a gente não

tem as coisas (L, 79).

Havia pessoas de outras localidades que pescavam na lagoa

também e tinham esta atividade como lazer, porém quem pescava com

maior frequência na lagoa eram os nativos.

As pessoas começaram a vir aos poucos pescar na lagoa, como dito

no parágrafo acima quem pescava na lagoa eram os moradores nativos.

No entanto, podia-se ver pessoas de outras localidades, principalmente

nos finais de semana no entorno da lagoa. Muitas destas vinham

acompanhadas de suas famílias, utilizando a lagoa também como área de

lazer. Estas atividades realizadas na lagoa podem ter sido o início do

turismo na região, pela incidência de mais pessoas frequentando a área.

Atualmente, segundo os moradores, as pessoas não costumam mais

pescar na lagoa, isso porque a lagoa, além de diminuir de tamanho, está

contaminada. A presença de aguapés no entorno da lagoa e os poluentes

derivados da falta de saneamento básico acabaram por espantar os turistas

e até mesmo os moradores nativos. Ainda, segundo relato dos moradores,

é possível existir algum peixe no local, porém este está contaminado e

não serve como alimento. Além do mais, a lagoa tornou-se imprópria para

banho na década de 1980, deixando de ser uma área de lazer para turistas

e os próprios nativos.

4.3 A PRESENÇA DE POPULAÇÃO INDÍGENA

Foi relatado pelos entrevistados a existência de indígenas que

frequentavam a lagoa, cerca de 80-90 anos atrás.

Segundo Santos (2004), os indígenas habitavam o litoral

catarinense, antes mesmo da chegada de Pedro Álvares Cabral, ocupando

grande parte do litoral dividido em grupos e aldeias. Era uma população

72

de Tupi-Guarani, que habitavam o litoral e foram chamados pelos

europeus de Carijó. Estes grupos já conheciam a agricultura e tinham a

pesca como atividade de subsistência.

Os indígenas ficavam acampados à beira da lagoa onde

costumavam pescar e utilizavam a água para banho e cozinha. Segundo

um dos moradores entrevistados, eles vinham da floresta que existia na

região, referindo-se neste caso ao Parque Estadual da Serra do Tabuleiro.

É válido destacar que este parque foi criado em 1975 e abrangia a

área de nove municípios, incluindo Garopaba. Em 2009, houve a

recategorização2 de sua área, transformando o parque em um mosaico de

unidades de conservação, com regimes jurídicos diferenciados (REIS,

2012).

Atualmente, segundo o relato dos moradores, os indígenas ainda

frequentam as margens da lagoa, como pode ser observado na Figura 4.

Neste verão de 2016/2017, indígenas da etnia Kaigang, vindos do oeste

do estado de Santa Catarina também acamparam no local para venderem

seu artesanato, juntamente com seus filhos, segundo relato de uma

conversa informal tida com um dos orientadores desta dissertação que fez

contato com alguns destes indivíduos.

Os indígenas chegam para o período de veraneio - mais

especificamente em novembro e dezembro, indo embora entre março e

abril - estes trazem consigo seus filhos, que são responsáveis pela venda

dos artesanatos na praia, confeccionados pelos próprios indígenas.

2 São propostas do “Movimento pela Recategorização das Áreas

Costeiras do PEST”: 1. Reduzir a área do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro,

excluindo os territórios a Leste da BR-101, relativos a parte da região denominada

Área Costeira do Parque da Serra do Tabuleiro [incluindo as localidades de

Gamboa, Siriú (praia), Macacu e Areias do Macacu no município de Garopaba;

região do rio da Lagoa e da lagoa do Ribeirão no município de Paulo Lopes; Ponta

do Sul/Pedras Altas, Baixada do Maciambu (Campos de Araçatuba), Ilha dos

Papagaios Grande, Ilha dos Papagaios Pequena, Ponta da Pinheira, morro da

Guarda do Embaú e Ponta da Guarda no município de Palhoça; e, Naufragados,

Ponta dos Naufragados e Ponta do Frade no município de Florianópolis]; 2. Criar

uma nova Unidade de Conservação, nas áreas excluídas e adicionadas de outras,

com denominação proposta de Área de Proteção Ambiental Costeira do

Maciambu. Em síntese a redução da área do Parque Estadual da Serra do

Tabuleiro e subsequente criação de outra Unidade de Conservação menos

restritiva nas áreas costeiras do Parque, conforma a ideia da Recategorização.

73

Figura 4 – Acampamento indígena.

Fonte: da autora, 2015.

Tendo em vista este histórico, pode-se dizer que a tradição de vir

até a lagoa era algo comum entre os indígenas, e que esta era vista como

ponto de referência e recurso para acampamento de sua tribo. Havia muita

riqueza na fauna litorânea, que por sua vez através do fruto aglomerava

uma quantidade diversa de animais, tornando-se um local de riqueza para

os indígenas (SANTOS, 2004).

A riqueza da área servia de atrativo para os demais grupos, bem

como era motivo de disputas (SANTOS, 2004). A terra historicamente

tem sido motivo de luta dos povos indígena brasileiros, sendo esta a

garantia de sobrevivência e permanência histórica e cultural desses povos.

Mudaram os cenários e emergiram novos atores, ascendendo novos

conflitos denominados de conflitos socioambientais (HOEFEL et al,

2013), fato este, que acontece atualmente no entorno da Lagoa das

Capivaras. Com o inchamento das cidades brasileiras na década anterior,

aumentaram também os problemas relacionados à superpopulação, a falta

de justiça social, a diminuição da qualidade de vida, a violência e a

desigualdade econômica. O avanço caótico que proveu dessa soma de

fatores trouxe uma multiplicidade de atores e cenários para o espaço

público. Nesse sentido, a fala sobre o território passa a envolver novas possibilidades ao se tornar um elemento importantíssimo das

reivindicações nas cidades (VALVERDE, 2004). Neste caso, os atores

sociais que dominam a o setor imobiliário e moradores dos arredores,

veem a presença dos indígenas de forma negativa.

74

Os moradores entrevistados dizem que os indígenas acabam

deixando muito lixo no local e, por não terem estrutura apropriada,

acabam por fazer suas necessidades fisiológicas no entorno da lagoa,

tornando-se um incômodo para os turistas e moradores.

Os índio tão colocando barraca lá no verão, que

eles vem pra cá expor no verão. Os índios enche

tudo de barraca... é um lixo, uma catinga que eles

fico lá, o banheiro lá é tudo pra eles... aí botam

bastante barraca, coisa e fico lá pros filho vender

no verão não tem aí os filho sai tudo vender aí na

praia (V, 38).

É fato que tivemos e passamos por um processo de modernização,

processo este que nos remeteu a novos hábitos e costumes - e de higiene

também. Porém não podemos dizer que os indígenas que habitavam e

habitam o litoral catarinense em especial, vivem sem organização. Os

Carijós, grupo de indígenas do litoral catarinense, formavam sociedades

organizadas e inteiramente adaptadas ao ambiente (SANTOS, 2004).

Esta adaptação, tanto em relação as suas necessidades básicas

quanto ao seu modo de viver, não foi motivo pela degradação e

eutrofização da Lagoa das Capivaras, mas sim o processo de

modernização que levou ao uso abundante e sem controle dos recursos e

ao aterramento da Lagoa Pequena, dano irreversível.

Vieira e Ribeiro (1999) explicam que as atividades colígenas

(coleta, caça, pesca) não causam perturbações significativas e nem

processos irreversíveis a longo prazo. Entretanto, existe uma cultura de

consumo, o ser humano moderno tem a prática de aperfeiçoar a sua

tecnologia, chegando ao ápice de acabar com todos os estoques de plantas

e animais. Os turistas e demais atores sociais ligados à especulação

imobiliária, por sua vez, seguem os mesmos passos e, com ferramentas

ainda mais aprimoradas, comprometem a vida na natureza, tornando-a

temporária para os novos indivíduos urbanizados.

Para tanto, estes últimos devem “assumir certas adversidades

inerentes como a obrigação e se submeter ao princípio da prevenção de

danos irreversíveis” (VIERIA; RIBEIRO, 1999 p. 174). Estes danos são

aspectos esperados tendo em vista o modelo econômico vigente e as

práticas do ser humano em relação à natureza. No entanto, parte-se do

pressuposto do princípio da prevenção como um garantia de que estes

processos não tragam danos futuros ao meio ambiente, bem como uma

avaliação dos possíveis riscos e impactos.

75

5 A CIDADE CONTADA PELOS MORADORES

5.1 O PROCESSO DE OCUPAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO NO

ENTORNO DA LAGOA

A percepção do progresso no fim do século XIX, como sendo um

promotor de riqueza é visto no final do século XX como causador de

impactos ambientais. O pessimismo global em relação ao futuro

preocupa-se com o grau de consciência, de que a busca do progresso, que

anunciava-se como construção de uma utopia de bem-estar e felicidade,

hoje se revela como ameaça ao meio ambiente, aos recursos naturais e a

vida da população (BURSZTYN, 2001).

Neste sentido, nos encaminhamos para uma reflexão acerca de uma

série de problemas deste século (BURSZTYN, 2001), sendo um deles, a

forma como o sistema capitalista criou sob o espaço, um modelo de

mercado, reproduzindo-o como locais de compra e venda. Para Sánchez

(2010), o espaço não é apenas algo vendido na forma de uma parcela ou

terreno, mas sua comercialização “assemelha-se à venda de estilos de

vida” (p.48).

Segundo o Relatório Mundial das Cidades (2016), as áreas urbanas

onde se tem um sequente crescimento demográfico podem vir a ocasionar

índices de poluição, sendo maiores que as geradas nos últimos anos em

todo planeta. É válido destacar que parte dos efeitos, em razão dessas

emissões e contaminantes, já estão presentes nas cidades, tornando-se

necessárias medidas com maiores custos em infraestrutura, degenerando

a mobilidade e abortando terras agrícolas.

Segundo os moradores ouvidos pela pesquisa, era comum ver as

pessoas a beira da lagoa pescando, mas esta atividade entrou em declínio

após a diminuição dos peixes no local pela contaminação da água por

esgoto, em razão da ocupação desordenada do entorno da lagoa.

Menezes e Damázio (2005) explicam que a contaminação da água

pelo despejamento de esgoto acarreta em um processo chamado de

eutrofização, no qual um corpo de água adquire níveis altos de nutrientes,

especialmente fosfatos e nitratos, provocando o posterior acúmulo de

matéria orgânica em decomposição. Este processo facilita a reprodução

de plantas aquáticas e seu posterior alastramento no entorno da lagoa. A consciência de que a humanidade pode se autodestruir, por si

própria, através de suas atividades de degradação ambiental, remete a

ciência e tecnologia constituírem um papel de apelo por mudanças de

conduta, tornando a sociedade consciente do esgotamento dos recursos

naturais (BURSZTYN, 2001).

76

Para os entrevistados, a lagoa está diminuindo de tamanho por

conta de plantas aquáticas que estão nascendo em grande quantidade em

seu entorno. Segundo eles, estas plantas surgiram devido a uma mulher,

moradora de Garopaba que vivia no entorno da lagoa. Ela tinha o costume

de cultivar plantas à beira da lagoa e teria plantado uma muda desta

espécie, que foi se multiplicando e tomando conta do espaço, uma vez

que segundo os moradores esta planta não existia no local.

Figura 5 – Plantas no entorno da Lagoa

Fonte: da autora, 2016.

É valido lembrar que antes mesmo da mudança de cenário no

entorno da lagoa, ou seja, anterior à ocupação desordenada pela classe

média e alta, os moradores tinham o costume de plantar árvores frutíferas

e ervas medicinal para chá no entorno da lagoa, além de palmeiras. Ainda

existem três moradores nativos no entorno da lagoa, e uma das moradoras

entrevistadas disse ainda plantar palmeiras na lagoa. No entanto,

reclamou do desmatamento que ocorreu e ainda existe na área.

Na lagoa existiam capivaras que também constituíam uma fonte

alimentar para os moradores, além do peixe. De acordo com a maioria dos

entrevistados, a Lagoa das Capivaras é assim denominada devido à

presença desses animais em suas proximidades.

As capivaras são animais adaptados para viverem na terra e na água, justificando sua presença no entorno que era composto por

formações de montanha e dunas, as quais abrigavam estes animais. Por

estarem nestas regiões onde não havia água, vinham até a lagoa, pois era

o local mais próximo com presença de água doce, além de encontrarem

comida e abrigo de seus predadores (PEREIRA; ESTON, 2007).

77

Um dos sujeitos da pesquisa relatou que, antes de a lagoa sofrer

com o processo de urbanização, ao seu redor existiam dunas fazendo uma

ligação com a praia e chegavam até as encostas do morro, iniciando a

floresta. Estas foram desaparecendo aos poucos com a construção de

moradias pelos turistas. As dunas foram lentamente sendo plainadas, e

sua areia foi utilizada, em parte, na construção civil.

Em relação às demais plantas e árvores na lagoa, os entrevistados

contam que havia grande área verde no entorno. Era composta por árvores

frutíferas como o araçá (Psidium cattleyanum) e goiaba (Psidium

guajava), havia também bastante xaxim (Dicksonia sellowiana), dentre

outras, que foram posteriormente cortadas para construção das

residências.

Era bem arborizada, linda, linda nós andava de

barco debaixo das árvores, era bem arborizada

mesmo, com bastante árvore (P, 49).

Uma das entrevistadas, antiga lavadeira que atualmente mora

distante da lagoa e tem como fonte de renda o aluguel de casas para

veraneio, disse que, mesmo não morando nas proximidades, ainda

mantém contato com a lagoa, por meio do plantio de ervas. Relatou a ex-

lavadeira que pediu ao seu marido para que fosse até a lagoa plantar uma

muda de espinheira santa (Maytenus ilicifolia), pois não havia espaço em

sua casa para a planta.

Eu tinha aqui no canto da casa um pé de espinheira

santa, sabe né. Aí eu pedi pro meu marido ir lá

plantar na lagoa, porque assim, eu gosto dali e antes

a gente tinha mais espaço ali e agora quando eu

alugo a casa aqui no verão os turistas não cuidam e

ia roubar espaço e ela tava grande já. Aí ele foi lá

plantar, mas eu acho que ele plantou muito perto da

estrada, ele tinha que te plantado mais pra dentro

que aí ela ia vinga. E é bom né porque dai mais

gente pega pra fazer chá porque ela é bem boa pro

estômago (M, 88).

Com o processo de urbanização e vinda de mais pessoas para

Garopaba, o aluguel de casas passou a ser uma nova renda para os

moradores antigos, que deixaram as atividades de pesca, lavadeira e

outras que realizavam para se dedicar ao aluguel de casas. Isso se deve

também ao fato de a maioria destes moradores mais antigos estarem

aposentados. Em razão da nova renda adotada pela ex-lavadeira, o aluguel

78

de casas para veraneio, ela acabou perdendo o espaço que tinha no pátio

de sua casa para cultivar e cuidar de suas plantas. O espaço que existe no

pátio é utilizado pelos turistas de outra maneira, como, por exemplo, para

estacionar carro, fazer churrasco e outras atividades de recreação,

impossibilitando o plantio destas plantas.

Não planto mais aqui porque não posso plantar,

porque a gente aluga a casa então estrova, mas eu

gosto muito de plantar o verde (M, 88).

Percebemos então como a presença do "outro" no local nativo cria

outros espaços simbólicos que se interconectam e promove uma

reconstrução constante do local, bem como uma mudança de hábitos no

lugar.

As atividades realizadas na lagoa e em seu entorno tem um

significado de cuidado e costume para os moradores nativos. Estes

percebem a lagoa como uma extensão de sua casa, onde realizam e

desenvolvem atividades tanto em beneficio próprio quanto para o

coletivo, tendo a oportunidade de preservar seu espaço.

Um dos sujeitos da pesquisa, contou que gosta muito da lagoa, é

um local que faz parte de sua vida, sua história, e por gostar deste lugar

disse que sente vontade de cuidar e plantar flores e ervas para fazer chá,

como era antigamente, quando lavava roupas.

Eu tinha dois pezinho de espinheira santa aqui e

disse pro meu marido que eu ia lá plantar e fui, que

é pra chá, né, que é muito bom pra pessoa tomar...

aí, sabe, eu não vou tirar, vou plantar lá na lagoa,

eu gosto da natureza (M, 88).

Existem diferentes ocupações de espaço, sendo a apropriação do

espaço composto por lugares transitórios, como é o caso dos turistas que

alugam as casas, não tendo para estes um significado específico ou uma

relação de maior intensidade com o local, o sentimento de pertença, por

exemplo. Para os moradores, existe a apropriação de um espaço essencial,

o qual foi estabelecendo um vínculo e existe uma relação de maior

intensidade, como a lagoa para os moradores antigos, local este que se

tornou uma extensão de suas casas, por ser frequentado diariamente

(JERÔNIMO; GONÇALVES, 2013).

A apropriação pode ser definida como uma prática sócio-espacial,

indivíduos e grupos, com o passar do tempo, não só transformam o lugar,

mas também o utilizam para suas atividades cotidianas diversas,

79

específicas ou não, produzindo um espaço concreto e material. Os turistas

que visitam Garopaba no verão, bem como os veranistas que ficam no

município na alta temporada, apropriam-se do espaço temporariamente, e

é neste espaço que desenvolvem suas atividades, porém não

necessariamente criam um vinculo de afeto com o local, pois permanecem

por pouco tempo neste espaço (DIAS, 2015).

Já os moradores antigos e atuais moradores do local tendem a

produzir um espaço com símbolos, fenômenos sensíveis, projeções,

imaginário, utopias. A apropriação do espaço permite aos seus atores

organizá-lo de maneira que possam estabelecer uma relação entre o

espaço e as características próprias dos indivíduos. O ser humano vive no

espaço produzindo e reproduzindo-se continuamente, ou seja, apropria-se

do espaço de maneira que, através de suas relações sociais, vai

construindo um ambiente para suas necessidades cotidianas como casas,

cidades e estradas (DIAS, 2015; NARCISO, 2009).

Pode-se perceber que há, por parte dos moradores mais antigos,

uma manifestação de sentimentos pelo local onde moravam e passaram

grande parte de sua vida, sendo estes sentimentos importantes para sua

vida social e os relacionamentos com os demais grupos.

Um dos aspectos mais significativos para se perceber e poder

compreender o sentimento de pertença destes moradores nativos esta

relacionado ao passado histórico destas pessoas, sendo a causa expressiva

de sentimentos de amor e afeto dado ao lugar (TUAN, 1980). Para Santos

(1999), a memória coletiva é tida como substancial à conservação das

comunidades da sociedade, sendo um componente de conexão

assegurando a construção e continuidade de um futuro.

A sociedade, enquanto grupo, constrói e reproduz a sua

identificação através das relações que se estabelecem com o seu passado,

as quais são vinculadas pelos objetos, acontecimentos, fatos que o

representam. Estes são apropriados pela sua capacidade de (re)memorar

acontecimentos e convocar o passado, razão pela qual são conservados e

protegidos de forma a perpetuar a sua existência no tempo. A memória,

na concepção adotada neste trabalho, é, ao mesmo tempo, individual e

coletiva. Os sujeitos, através da percepção do espaço atual, podem

reconhecer e localizar as suas memórias, estabelecendo relações de

continuidade ou descontinuidade.

Nesse sentido, podemos deduzir que a construção da afinidade

destes moradores pelo local parece estar ligada à reconstrução do passado

a partir de acontecimentos e conflitos do presente, através de uma seleção

de fatos lembrados, debatidos e atualizados e a partir de estímulos de

agentes externos.

80

Salientou a ex-lavadeira, que prefere ver o “verde”, a natureza e

que não gosta de prédios, referindo-se à urbanização da cidade. A

consciência do passado é indispensável para o sentimento de amor ao

local de origem. Deste modo, pode ser este o fato de os turistas e visitantes

terem visões diferentes dos moradores nativos sobre determinados locais.

Para aqueles que veem o local pela primeira vez, a novidade é decisiva

para sua impressão e representação. Para o morador nativo, os

conhecimentos tradicionais e costumes são os fatores que os influenciam

para uma visão diferenciada (TUAN, 1980).

Assim sendo, é necessário estimular os moradores, bem como, suas

comunidades em manter o presente, de modo a manter sua identidade

histórica, tendo em vista que, com o passar dos anos, as histórias e

acontecimentos do passado podem ficar esquecidas.

Em uma sociedade em constante modificação pelos fluxos

migratórios derivados da globalização e por novas tecnologias, a

identidade está submetida a uma mistura cultural e trocas interculturais,

que consequentemente transformam os costumes de comunidades locais

(GIDDENS, 2002) fazendo com que as novas gerações esqueçam suas

origens, de onde vieram e como eram anteriormente.

Ou seja, fortalecendo e mantendo presente a memória destas

comunidades, tem-se a possibilidade de estabelecer sentimentos de

pertença pelo lugar.

5.2 INÍCIO DO PROCESSO DE CRESCIMENTO URBANO

O primeiro povoamento de Garopaba surgiu no ano de 1666 por

imigrantes açorianos que caracterizaram em definitivo a área, marcando

de modo particular o ambiente (SANTOS, 2004). Modo este ainda

presente pela exploração agrícola, em especial a farinha e produtos

derivados da cana-de-açúcar. Além disso, haviam as embarcações

associadas à atividade pesqueira e, principalmente, a armação baleeira,

com a caça da baleia como influência para permanecer no local

comercializando seu óleo e barbatanas, não mais presente no

município(GAROPABA, 2016).

A primeira vila de Garopaba foi criada em 1877, a qual era uma

vila pacata, frequentada por poucos turistas. A população de Garopaba vivia em torno onde é o Centro Histórico atualmente, com poucas casas

espalhadas pelas comunidades. A pesca, agricultura familiar e os

engenhos de farinha, eram as atividades econômicas. As estradas de

acesso eram ruins e ainda não asfaltadas, a BR 101 ainda não era

duplicada. O asfalto de acesso ao município foi inaugurado em 1986, e a

81

partir daí a cidade começou a tomar um novo rumo através do turismo,

que já existia, porém não tão forte como é hoje através da vinda do asfalto.

Em dezembro de 1961, Garopaba firmou sua situação como

município. Desde a construção da rodovia BR-101, na década de 1970, e

da SC-434, principal acesso ao município de Garopaba, intensificou-se a

taxa de urbanização e a ascensão do setor terciário em detrimento das

atividades primárias. Essas obras de pavimentação contribuíram para que

muitas famílias de agricultores e pescadores passassem a realizar outras

atividades remuneradas fora da agricultura e da pesca. Neste processo,

ainda em transição, os terrenos agrícolas foram dando lugar aos novos

loteamentos e a vários tipos de estabelecimentos comerciais atrelados à

indústria turística (CERDAN et al, 2010; JACOMEL, 2012).

Em Garopaba existiam duas lagoas uma ao lado da outra, a Lagoa

Pequena e a Lagoa das Capivaras. Atualmente, a Lagoa Pequena já não

existe mais, pois foi aterrada no ano de 1988 para implantação de um

empreendimento, fato este que motivou uma Ação Civil Pública em

decorrência do dano ambiental causado e que ainda vem trazendo sérias

consequências ao local.

A lagoa das Capivaras é um caso muito sério, vixi...

ali tem muita encrenca, muito peixe grande [...] ali

todo mundo quer, né, eles queria construir ali, os

grandão aqui de Garopaba queriam construir ali,

mas não deu certo porque fizeram coisa errada, eles

tamparam a lagoa de cá, né (M, 56).

Ali tinham duas lagoa, né, a lagoa das capivara que

era maior e se pescava e a lagoa pequena que era

mais para lavar roupa, as duas lagoa era boa e

saudável, água limpa, limpinha guria, uma era mais

funda... nós andava até de barco e a pequena mais

rasa que era pra lava roupa, que nós dizia que era a

lagoa pequena (R, 62).

A ocupação urbana de Garopaba se deu inicialmente ao longo da

orla da praia Central e, posteriormente, no sentido praia-continente. O

principal atrativo de crescimento do município são suas praias, que

impulsionaram o desenvolvimento do turismo na região.

82

Figura 6 – Entorno da Lagoa das Capivaras na década de 70 e em dias

atuais.

Fonte: foto cedida por um dos entrevistados e Google Maps, 2016.

De acordo com um dos entrevistados, o primeiro turista que chegou

em Garopaba foi Ernesto Neugebauer, dono da fábrica de chocolates

Neugebauer, de Porto Alegre, no início dos anos 70. Ele vinha de

caminhão Mercedes, com umas 20 pessoas, e acampava no município.

Disse ainda que o turismo começou no centro histórico, quando foi

construído o Hotel Litoral, de propriedade de Huri, 47 anos, irmão de

Dedê, com pequenos quartos de madeira que eram alugados para os

amigos da família e conhecidos.

Para um dos moradores entrevistados, se não fosse a vinda do

turismo para Garopaba, o município seria ainda uma colônia de

pescadores e é hoje um lugar privilegiado para viver: “não se vê violência,

gente pedindo esmola, a qualidade de vida é excelente e isso se deve ao

turismo, e 90% ao povo gaúcho, que descobriu Garopaba,” diz.

O mesmo entrevistado, ainda, ressaltou que os turistas se encantam

com Garopaba, embora ele veja muito descaso com o turismo, que seria

a “única indústria”. Ele lamenta que, apesar de tão bela, com “gente tão

boa e honesta”, em Garopaba prevalece, na política, o interesse particular.

Aterraram a lagoa pra construir, né, aterraram, tão

construindo casa e agora tá um matagal, tem um

pedaço que têm, mas tá aterrado, construíram casas

em volta, foram aterrando e agora é só de um (J,

42).

Com o aumento do turismo e sua estabilidade, a

especulação imobiliária aumentou seguida de um

processo de ocupação irregular e de crescimento

desordenado - inclusive com indicativos de uma

grande tendência de favelização nas áreas

periféricas nos próximos anos (BARROS, 2008;

JACOMEL, 2012).

83

Este processo de crescimento urbano em área periféricas se deu em

razão do processo de elitização dos espaços resultantes de certas políticas

de revalorização urbana. Ações articuladas com atores sociais interferem

na materialidade e paisagem do espaço, incentivando a criação de novos

locais. Consequentemente, conseguem atrair e fomentam o interesse das

classes mais abastadas, provocando a exclusão da população,

especialmente devido à especulação imobiliária (SILVA, 2008).

Segundo um dos entrevistados, em aproximadamente em 1970,

Garopaba era uma pequena vila. Em sua maioria, era habitada por

pescadores e sua praia era frequentada por um pequeno número de

turistas. Praticamente não existia nenhuma infraestrutura para os

visitantes, como estradas, restaurantes, hotéis etc. (Figura 7).

Figura 7: Município de Garopaba, aproximadamente em 1970.

Fonte: foto cedida por um dos entrevistados.

Atualmente, Garopaba é um dos balneários mais procurados pelos

turistas, caracterizado pela ocupação urbana na orla e ao redor da Lagoa

das Capivaras. A habitação é algo que não recebeu importância nas

últimas duas décadas nas agendas de desenvolvimento dos poderes

públicos. Cerca de 70% da superfície está ocupada por habitações,

determinando a forma urbana e sua densidade (Relatório Mundial das

Cidades, 2016).

No município de Garopaba, esta interferência da ocupação urbana

é acentuada sobre a Lagoa das Capivaras, que recebe esgoto sanitário das

residências do entorno, o que leva a uma eutrofização artificial da mesma,

devido à grande carga de poluentes despejada. Ainda, suas margens estão

sendo invadidas por habitações irregulares construídas ao longo dos anos,

ocasionando enorme impacto a este ecossistema que se configura como a

união de uma vasta multiplicidade de espécies.

A Lagoa das Capivara tá cada vez mais critica,

antes eu pescava, pegava peixe, hoje não passo

mais nem... não tenho coragem nem de molhar

meus pé lá, tenho até medo, que antes eu tomava

84

banho, mergulhava, brincava, a gente fazia

jangada, andava de uma lado para outro, nadava,

mergulhava... hoje não deu mais (C, 54).

Este processo de urbanização se deu em razão da apropriação de

regiões do município de Garopaba como local de segunda residência por

classes média e alta. Este processo de apropriação da praia está atrelado

ao “enobrecimento” das águas salgadas do mar e das faixas de praia da

costa brasileira (ARAÚJO, 2013), relacionado às transformações

urbanísticas decorrentes do crescimento e da modernização da zona

costeira para classes de alto poder aquisitivo.

Nesse sentido, o crescimento urbano de Garopaba está atrelado a

uma “construção social da praia” por uma sociedade de alto poder

aquisitivo (MACHADO, 2000), transformando a natureza em áreas

privadas, em artigo de luxo e de acesso restrito para as classes menos

abastadas (WENDEL, 2015). Este processo de urbanização da cidade não

está associado aos costumes e tradições dos moradores nativos, mas à

criação de um novo espaço para indivíduos e grupos que buscam uma

vida próxima à natureza (WENDEL, 2015).

Segundo Sánchez (2010), a criação desses novos espaços se dá pela

“imposição de uma ideologia da felicidade” (p. 42), derivada do consumo

e de um urbanismo moldado para as classes superiores, de alto poder

aquisitivo. Deste modo, partes das cidades estão subordinadas ao controle

e privatização, causando impactos a vida social de muitos moradores.

Estas “partes” das cidades estão sendo tomadas pelo mercado

capitalista, que por sua vez, introduz a um processo de reestruturação

urbana, podendo ser a produção (indústrias, empresas multinacionais,

obras de infraestrutura, etc.), ou pelo próprio consumo do espaço, através

de ações destinadas ao lazer e turismo como também ações imobiliárias,

que é o caso de Garopaba (SÁNCHEZ, 2010).

Como consequência deste processo, o entorno da Lagoa das

Capivaras passará a ter um acesso restrito, imposto por mudanças e modos

de uso e consumo, separando o espaço público do privado. O espaço antes

frequentado por moradores nativos é dominado pelo mercado imobiliário,

fortalecendo ainda mais a inclusão e exclusão de grupos sociais

(SÁNCHEZ, 2010).

Todo este processo de ocupação desigual pode originar uma fase

de estagnação e possível declínio do ponto de vista ecológico (POLETTE

et al., 2000), acarretando a uma mudança do espaço, ou até mesmo o

desaparecimento de áreas naturais, antes intocadas.

85

Um lugar tão bonito, tão saudável que era, pessoal

não tá mais respeitando a natureza né, tão

destruindo com a própria natureza, o homem

mesmo, tem um pessoal que tá jogando lixo lá,

jogando objetos que não servem mais para a casa

fogão velho, essas coisa tudo e fica assim, né, tão

poluindo, e ela tá se destruindo assim sem a ajuda

a ajuda da população, que falta assim que a

população se reunir e lá pra manter a lagoa como

era antes... e tá abandonado, infelizmente (U, 41).

Eu nasci aqui na beira da lagoa, fui criado aqui,

pescava e brincava e agora não dá mais né, tá

destruída mesmo (D, 55).

Polette (2000) presume um modelo de ciclo de evolução para áreas

de grande potencial turístico. Inicialmente, tem-se um pequeno

crescimento do local, em sequência esboçam uma rápida taxa de

crescimento, e posterior a consolidação da área, se tem o declínio. O autor

explica que, inicialmente, se terá um número pequeno de visitantes em

razão das dificuldades de acesso; as facilidades e acesso são

reformulados, dando suporte e estrutura para novos visitantes, bem como

para a vinda de mais pessoas. Após, com a divulgação do local, a área irá

criar renome e rapidamente crescerá. Consequentemente, se terá um

aumento da população e a capacidade de suporte do local entrará no seu

limite e, posteriormente, em declínio.

Este processo pode ser observado por meio de alguns fatores, como

a falta de água e de espaço, diminuição da qualidade do ar e da água,

transporte inadequado ou ausência de modo coletivo, excesso de

população de classe média/alta nas praias e afastamento da população

nativa, falta de saneamento básico. Deste modo, a área deixará de ser um

atrativo, tendo em vista seu intenso uso e o abalo causado pelos turistas,

como por exemplo, lixo, esgoto, barulho excessivo, havendo grande

propensão de eversão, ou seja, a destruição da zona costeira.

Pode-se citar exemplos como Fortaleza, onde especialmente a

Praia do Futuro, compreendendo as áreas de proteção ambiental praia,

pós-praia e campo de dunas, tem causado alterações na dinâmica dos

elementos geoambientais que compõem esta unidade (CORREA;

DANTAS, 2003).

A construção desenfreada de casas, edifícios e outros

empreendimentos, aliada à especulação imobiliária em áreas de dunas,

aumenta a cada dia na Praia do Futuro, comprometendo a quantidade e

86

qualidade das reservas aquíferas, da paisagem físico-ambiental e

contribuindo para a degradação ambiental da zona costeira (CORREA;

DANTAS, 2003).

Além desta, pode-se citar o exemplo do município de São José do

Ribamar, no Maranhão, que vem passando pelo mesmo problema, a ação

antrópica pela construção de casas e bares vinda a influenciar diretamente

na atividades costeiras. Os principais problemas que a área costeira de

Panaquatira enfrenta estão relacionados a mudanças na dinâmica praial,

no curso do igarapé, destruição do manguezal e das dunas para construção

das casas de veraneio e bares; estas obras ocupam toda a franja costeira

deixando pouco espaço para uso coletivo (SOUZA, et al., 2006).

Um exemplo mais próximo ao município de Garopaba é o caso da

destruição da orla marítima no município de Itajaí, no litoral catarinense,

por empresas do ramo imobiliário. Estas empresas foram denunciadas por

associações preservacionistas, gerando grandes embates. Estes embates

tiveram início nas últimas décadas do século XX, e se acirraram com a

pressão de empreiteiros e empresários para a liberação destas áreas de

preservação e a construção de empreendimentos imobiliários de luxo nas

praias do município de Itajaí (LUNA, 2014).

Não é somente o turismo em massa que irá levar ao declínio da

área, mas também as atividades predatórias industriais. Tendo em vista o

potencial ecológico da região, indústrias irão instalar-se no local,

consolidando atividades de comércio destinadas a atender a população

mundial, como a pesca industrial.

Segundo os entrevistados a chegada de barcos pesqueiros

industriais na região acarretou um declínio da pesca no município. Os

pescadores apontaram a falta de fiscalização como principal problema, já

que estes fazem uso de tarrafas produzidas por eles mesmos. Ainda,

segundo eles, muitos são pescadores novos, e "não sabem pescar", ou seja,

não possuem experiência na atividade pesqueira, e acabam por prejudicar

outros pescadores mais antigos, quando entram no mar na hora errada,

espantando os peixes – podendo ser reflexo das deficiências na

transmissão de conhecimentos entre gerações (CAPELESSO;

CAZELLA, 2011), em razão deste declínio da atividade pesqueira.

O surgimento de novas atividades e serviços são reflexos

dominantes da aceleração da atividade turística (SÁNCHEZ, 2010).

Segundo moradores, a atividade de construção civil está em alta na região,

principalmente nas áreas próximas à praia. São visíveis as construções de

casas para novos moradores, o que gera um aumento na demanda por

mão-de-obra. Por este motivo e pela demanda de mão-de-obra, parte dos

moradores nativos deixou de lado a atividade de pesca e começaram a

87

trabalhar como pedreiros. Desde então, estes moradores ainda continuam

trabalhando na construção civil.

Garopaba vivia da pesca e da lavoura. Hoje é

diferente, vive de turismo, mudou, entendeu?

Pessoal que trabalhava na lavoura saiu para

trabalhar, pra vir trabalhar em Garopaba na

construção civil, hotelaria, assim por diante, né,

através do turismo (G, 47).

Como consequência mais direta da ação urbana voltada para o

mercado capitalista ocorre um aumento de serviços e produtos destinados

ao consumo, onde os processos de gentrificação (CERQUEIRA, 2014),

sugerem a elitização dos espaços, desdobrando-se na promoção de um

espaço artificial, da criação de locais com qualidade de vida em contato

com a natureza, para um público abastado com valores distintos da vida

da comunidade local (SILVA, 2008).

88

89

6 A URBANIZAÇÃO TURISTICA NO MUNICIPIO DE

GAROPABA

6.1 O TURISMO E A APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO

A atividade turística contribui positivamente e negativamente para

a zona costeira, porém, o aspecto positivo é, muitas vezes, utilizado como

suporte para a aprovação de determinados empreendimentos destinados

ao turismo de massa e como publicidade das alterações econômicas e

“cartão de visita” para muitos municípios. Nesse sentido, esse aspecto

esconde os impactos negativos.

A urbanização dos municípios litorâneos vem ocorrendo com a

exploração turística sazonal. O fenômeno veraneio (MATOS; GRUBER,

2012) e a construção de segunda residência (SILVA; FONSECA, 2010),

ilustram o impacto no desenvolvimento dos assentamentos urbanos. A

possibilidade de proveito e gozo pelo ambiente litorâneo contribuiu, em

grande parte, para a urbanização dos municípios e para o surgimento da

especulação imobiliária.

De acordo com relatos dos sujeitos da pesquisa, o turismo em

Garopaba teve um crescimento significativo por volta da década de 90,

quando um pequeno número de indivíduos passou a veranear na área

próxima à praia e no entorno da lagoa, e, aos poucos, foram se alastrando

para outras áreas do município e fixando sua segunda residência.

A aquisição de uma segunda residência é um fenômeno comum no

litoral brasileiro, e foi marcado pela valorização da área costeira como

paisagem de consumo, tornando-se um seguimento voltado para a

população de alto poder aquisitivo, que está associado à tranquilidade,

suavidade e beleza de paisagens naturais distantes dos centros urbanos

(SILVA; FONSECA, 2010).

As pessoas com maior poder aquisitivo foram comprando lotes

existentes próximos à orla marítima e entorno da praia, onde

posteriormente foram construindo casas e condomínios fechados para

período de veraneio. O impacto nos meses de verão pode ser observado

através do quadro abaixo, podendo observar que no período de veraneio

se tem um aumento da densidade populacional no município de

Garopaba.

90

1 – População fixa e população flutuante (nos meses de verão)

GAROPABA

População (2010) 18.138*

População Estimada (2016) 21.573*

Área (Km²) 115,405*

Densidade Populacional (hab/km²) – (2010) 157,17*

População Flutuante 100.000**

Densidade Populacional Flutuante (hab/km²) 866,52***

Fonte: IBGE, 2010*; Prefeitura de Garopaba, 2016**.

Dado calculado pela pesquisadora***

Este aumento populacional retrata o tipo de residências construídas

na área costeira, que consequentemente expressam cada vez mais a

desigualdade entre estes moradores e a comunidade local que vive em

casas humildes.

O crescimento econômico e demográfico levou ao aumento de uma

malha edificada, potencializando o desenvolvimento de extensos

contínuos urbanizados que contribuíram para a solidificação das áreas

metropolitanas, e determinou grandes mudanças na paisagem (SILVA;

MARQUES; DELGADO, 2012). A paisagem urbana é uma paisagem

alterada ou proveniente da natural, podendo ser positivas ou negativas.

Através de um planejamento é possível fazer com que essa mudança na

paisagem seja positiva para a cidade, de modo a ter uma maior harmonia

com a natureza e as próprias pessoas que residem no local há muito mais

tempo (FREITAS, et al. 2012).

A vinda de mais pessoas para o município foi acompanhada pela

construção de uma maior e melhor infraestrutura urbana, como ruas,

saneamento básico, transporte, dentre outras. A partir do momento em

que estas facilidades foram providenciadas, aumentou-se o número de

turistas e veranistas, popularizando a área, que, com o passar dos anos,

cresceu. Segundo Araújo (2013, p. 03), “novos espaços e equipamentos

urbanos e novos serviços públicos e privados surgiram para fomentar os

recreios e a sociabilidade de inspiração da burguesa [...]”. Como

consequência, esta urbanização, beneficiada por estas facilidades, levou

ao aterramento da Lagoa Pequena, conforme relatado anteriormente.

Uma das maiores discussões sobre meio ambiente em zonas

costeiras concentra-se em buscar conciliar o desenvolvimento do turismo

e a ocupação urbana com a preservação de suas características naturais.

Além da necessidade de melhoria nos serviços básicos de habitação, para

receber elevado número de pessoas e com as facilidades de acesso à praia

91

para todos, tendo em vista que a procura pela área de litoral cresce a cada

dia.

O município, que é conhecido por suas praias e belezas naturais, é

visualizado pelo mercado imobiliário como objeto de venda subordinado

ao mercado capitalista. Entende-se, a partir deste contexto, a

mercadificação (HARVEY, 2005) dos espaços que até então estavam

sobre o domínio público, passaram a ser de domínio privado a partir do

avanço deste modelo capitalista.

A rápida urbanização tornou mais notória as desigualdades

econômicas e sociais nos entornos urbanos (RELATÓRIO MUNDIAL

DAS CIDADES, 2016). No que se refere à área de litoral a qual a cidade

objeto de estudo está localizada, podemos citar um exemplo próximo

Jurerê Internacional, no norte da Ilha de Santa Catarina, que foi

considerado o sexto bairro mais caro para se morar do Brasil em 2013, de

acordo com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). O local

está destinado para o estabelecimento de moradias para uma população

de altíssimo nível, seguindo os padrões arquitetônicos construídos com

uma identidade no estilo estadunidense. A venda destes espaços

construídos é qualificada pelas campanhas publicitárias vinculadas à

natureza, aliadas como sinônimo de qualidade de vida em harmonia com

a natureza (WENDEL, 2005).

Para Sánchez (2001), a transformação das cidades em mercadorias

indica que o processo de mercantilização do espaço, denominado por

Harvey (2005), chegou em outro nível, ou seja, em um produto, um objeto

de venda e troca do mundo da mercadoria, do capitalismo e do processo

de globalização presente. A autora ainda destaca que a existência de um

mercado de cidades é um acontecimento recente, e demonstra como o

mercado capitalista está tornando o espaço em mercadoria. A estratégia é

pela conquista do espaço, traçando todas as cidades e as colocando em

um mercado internacional, almejando a produção de um espaço social.

Este espaço natural é apropriado por empreendedores que os

colocam à disposição do mercado imobiliário, divulgando-os, muitas

vezes, como residência “verde”, ou seja, como construções

ambientalmente corretas. Esta apropriação do espaço pode ser associada

com o que Lefebvre (2006) denomina como objeto de venda e “coisas”,

que são comercializados entre a sociedade capitalista. Esse ambiente não

é natural, mas sim construído para saciar as necessidades de uma nova

geração de sociedade que busca a qualidade de vida ao entorno da

natureza.

Os novos empreendimentos imobiliários dos centros urbanos

persistem em unir sua imagem a da natureza visando um ambiente

92

tranquilo, saudável e com qualidade de vida para se viver. Para Sánchez

(2010), o ambiente urbano é requalificado para evidenciar a autoestima

dos moradores, bem como ganhar a confiança de novos investidores.

Deste modo, os componentes do meio ambiente são favorecidos

tendo um novo significado, se tornando interessantes para o mercado

imobiliário ao ponto de representarem a valorização de residências e

espaços da cidade, resultando em uma apropriação diferenciada do espaço

urbano (BRICALLI, 2010).

Este espaço de natureza artificial produzido para atender as

demandas de mercado encontra-se hoje em discussão no município de

Garopaba. A prefeitura está fazendo uma readequação da área para iniciar

o processo de recuperação do local, pois, segundo o Plano Diretor e

escrituras dos terrenos do entorno, a Lagoa das Capivaras já não existiria

mais. Ou seja, nos documentos do órgão municipal, a área da lagoa seria

um terreno disponível para uso. Segundo fontes da prefeitura, isso se deve

ao fato destes terrenos terem sido repassados para terceiros na forma de

herança familiar, mas que seriam propriedades que estão ainda em

processo de inventário e desmembramento.

É importante lembrar que o plano diretor municipal (PDM) é um

instrumento de planejamento e gestão de municípios (REZENDE;

ULTRAMARI, 2007), considerado extremamente importante para

facilitar a gestão municipal. O plano diretor municipal se apresenta hoje

como um instrumento básico do planejamento urbano nacional, com

intuito de construir cidades com uma qualidade urbana para todos. A

construção do Plano Diretor deve ocorrer por meio de mecanismos

democráticos, que viabilizem a prática da gestão compartilhada e

integrada, com a participação da comunidade no planejamento urbano

(MOREIRA, 2008).

Através dos relatos dos moradores e do órgão municipal, pode-se

perceber que a construção do plano diretor do município apresenta

informações que não coincidem com a realidade. A maioria dos

entrevistados disseram não participar das reuniões do plano diretor e

muitos nem se quer sabiam o que era o plano diretor.

Aqueles que disseram não participar das reuniões relataram não

saber destes encontros. Quanto aos entrevistados que tinham

conhecimento a respeito do plano diretor do município, uma das

entrevistadas disse que foi apenas a uma reunião e após não retornou, pois

não gostou do modo como a reunião era realizada, referindo-se ao fato de

estarem presentes somente os empresários locais. Além desta, outro

entrevistado disse que participou das reuniões do plano diretor e contou

que a maioria das pessoas que participavam das reuniões eram

93

empresários do município e funcionários da prefeitura e que a população

local não se fazia presente, eram raras às vezes quando havia algum

morador nativo.

Deste modo, pode-se ainda perceber que, diante do atrativo da área

para uso turístico, é de interesse público que a área se torne um

loteamento, para receber mais pessoas. Como explicou um dos moradores

entrevistados, “como a lagoa era bonita, todo mundo queria morar ali,

então o pessoal que tinha terreno foi vendendo aos poucos”. A venda

destas casas se deu além da boa oferta pelos empreendedores, bem como

pela necessidade dos moradores nativos, que viam a pesca como uma

atividade instável e em declínio devido aos arrastões que estavam

iniciando no município. Assim, podemos dizer que o local de moradia

articula o privado e o público, de acordo com o tempo ou interesse de seu

proprietário (SCARPELINE, 2012).

O espaço da casa traz inserido nele a vida de seu proprietário e de

seus familiares, que ali viveram por muito tempo e construíram um espaço

com usos e significados próprios (SCARPELINE, 2012). Conforme

explicado anteriormente, atualmente ainda existem apenas três moradores

nativos que ficaram no entorno da lagoa. Os moradores que venderam

seus terrenos migraram para bairros mais populares do município, como

Ambrósio, Macacu, Campo d’uma e Pinguirito, formando,

consequentemente, um novo conjunto de relações. Estes bairros

encontram-se mais distantes da lagoa, e consequentemente não possuem

a mesma estrutura do centro da cidade, fazendo com que muitos

moradores se desloquem para trabalhar todos os dias.

No início quando fizeram sua mudança para outro bairro, os

moradores ainda continuaram com suas atividades de pesca por um

tempo, porém, atualmente, não são mais pescadores, um deles vive do

aluguel de casas e o outro já está aposentado. Relataram que o problema

foi o fato de terem que conhecer novamente seus vizinhos, e isso foi um

ponto negativo para as suas esposas, pois tiveram que se adaptar ao novo

local.

Um dos moradores disse que sua mulher não gostou da mudança,

porque, além de refazer contato com as outras mulheres, não tinha amigas

para conversar, pois as mulheres do novo bairro tinham outra rotina,

acabavam saindo todos os dias para trabalhar no centro e sua mulher,

também aposentada, tem o costume de ficar em casa. Segundo a ex-

moradora, as mulheres no entorno da lagoa eram mais sociáveis e se

tinham um maior acolhimento pelos vizinhos. Hoje, relatou que já fez

amizades no novo bairro, por morar no local há algum tempo e, com o

passar dos anos, acostumou-se com a nova realidade do bairro.

94

Figura 8 - Localização dos bairros de Garopaba

Fonte: Garopaba, adaptado pela autora, 2016.

Este processo de mudança do entorno da lagoa pode ser

denominado de gentrificação, caracterizando-se pela ocupação de pessoas

de classe alta, com elevada remuneração em partes dos centros urbanos

das cidades, que por consequência acaba por retirar moradores nativos de

baixa remuneração do centro urbano, acarretando a estes moradores uma

mudança social (BATALLER, 2012).

Para Bataller (2012), a mudança de moradores antigos para outras

áreas é seguida de um processo de melhorias e investimentos tanto para

as moradias quanto para a área no geral. É fato que atualmente no entorno da Lagoa das Capivaras inexistem casas simples, o local é hoje ocupado

por casas de alto padrão, e até mesmo os três moradores que permanecem

no entorno reformaram e/ou construíram novas casas neste mesmo

padrão, as quais servem para aluguel em período de veraneio. Além disto,

95

a área foi modificada pela vinda e presença de mais pessoas, onde se teve

uma rua construída, bem como aumento de empreendimentos comerciais

e demais serviços destinados a atender a classe de alto poder aquisitivo.

Nas últimas décadas, o fato refletiu principalmente acima de

diversas áreas centrais urbanas que, continuamente eram objeto de ações

de valorização urbana, foram reinventadas como lugar de residência

moderna, consumo e lazer para uma parcela da população, as classes

superiores (CERQUEIRA, 2014), como é o caso do entorno da lagoa.

Atualmente, o entorno da lagoa configura-se como área nobre,

ocupado pela população de alta renda, com toda infraestrutura necessária

para atender a demanda de turistas e veranistas que são atraídos pelas

propagandas de residências em loteamentos seguros e com qualidade de

vida ao lado da natureza.

Para Sánchez (2010), a qualidade da vida parece quantificável, de

modo a ser contabilizada por uma matemática da cidade moderna, através

da construção de loteamentos e locais requintados e produzidos

esteticamente pelo mercado capitalista.

Em Garopaba, não é somente o entorno da Lagoa das Capivaras

que configura-se este contexto, mas também na entrada do município,

onde se encontras um processo de ocupação irregular do Banhado da

Palhocinha (JACOMEL, 2012). O local é caracterizado como área úmida

de transição entre ambientes terrestres e marinhos e preservados pela

legislação. Apesar disto, existem entraves relacionados à ocupação desta

área, dificultando o processo de negociação dos atores envolvidos, tendo

em vista a existência de divergências entre os interessados e o custo social

e ecológico que este empreendimento poderá causar.

É importante salientar que houve o embargo deste

empreendimento pelo Ministério Público Federal, porém as obras

introdutórias de infraestrutura não foram desfeitas, e neste caso ainda

continuam a ser realizadas. Estas obras tem o intuito de construir um

condomínio residencial de luxo – o Garopaba Internacional (JACOMEL,

2012), para receber turistas e futuros novos moradores de alto poder

aquisito, como é o caso de Jurerê Internacional (WENDEL, 2005).

Além do conflito existente mencionado acima, existe outro

conflito relacionado à ocupação urbana desordenada em outra lagoa do

município de Garopaba, a Lagoa de Garopaba. A existência do conflito é

relativa à abertura da barra, que nem sempre é aberta no período adequado

para entrada da água salgada e dos peixes que chegam do oceano,

conforme relatado pelos próprios pescadores.

A abertura da barra propõe a baixa do nível da lagoa e evitar a

elevação do lençol freático, que influencia no volume das fossas sépticas

96

de casas que foram construídas locais baixos, neste caso, ocupação

urbanas irregulares que, por consequência, são alugadas para turistas e

veranistas tornando-se fonte de renda para moradores destas cidades.

Além de se tornar uma fonte de renda, a vinda de pessoas em grande

escala para o local prejudicou a atividade pesqueira na Lagoa de

Garopaba, pois, segundo um dos entrevistados, os peixes são espantados

por luzes e barulho (CAPELESSO; CAZELLA, 2011).

Assim sendo, a ocupação urbana, além de afetar a área próxima à

Lagoa das Capivaras, causando degradação de seu ecossistema, também

afeta outras áreas do município, diminuindo o acesso à população de

baixa renda, tendo em vista que os terrenos em todas estas áreas tiveram

aumento em seu valor.

O planejamento desta área, bem como o controle da entrada de

efluentes domésticos lançados diretamente na Lagoa das Capivaras, é

uma das alternativas para recuperação e preservação da mesma, porém

exige novas posturas na gestão de políticas públicas e um planejamento

integrado.

Segundo Brito e Câmara (2001), a falta de visão global do governo

sobre o meio ambiente é a maior dificuldade para se viabilizar paradigmas

que tratem sobre as questões ambientais.

Os desafios se colocam, fundamentalmente, no esforço de prevenir

e frear o avanço territorial e contribuir para manter as características

tradicionais das comunidades. Avaliando cada espaço, pode-se

desenvolver metodologias para construir favoravelmente em um futuro

ecologicamente equilibrado.

6.2 PERSPECTIVAS FUTURAS PARA A LAGOA

Na busca de alternativas para a reversão dos processos de

degradação ambiental, encontra-se, foi proposto um projeto de um Plano

de Recuperação de Área Degradada (PRAD) para a Lagoa das Capivaras,

resultado na proposição de reparação por dano ambiental no processo de

liquidação de sentença. Trata-se de uma série de programas e ações que

permitem minimizar o impacto ambiental causado pela construção do

empreendimento, visando à estabilidade ambiental e ecológica da área.

Tendo em vista a importância do plano de recuperação da lagoa, é importante salientar que a proposta do uso futuro é transformar a lagoa

em um parque, que seria uma área de lazer (construída), que serviria como

atrativo a turistas e futuros moradores.

Quando questionados os moradores sobre o uso futuro da lagoa, ou

seja, como eles gostariam de ver a lagoa atualmente, a maioria respondeu

97

que gostaria que a lagoa fosse como era antes, cheia de peixes e com água

mais clara, como no tempo em que havia mulheres lavando roupa à beira

da lagoa e os homens pescando. Disse ainda uma das entrevistadas que o

recurso deve ser “tratado, não deixar o mato tomar conta da água e a lagoa

fechar”. Pois, consideram a lagoa como uma atração que existe no

município e que deve ser preservada.

Eu tenho a lagoa como lençol freático das água de Garopaba,

aquilo dali deve ser preservado, deve ser revitalizado, aquilo dali devia

ser uma área de lazer, uma área turística futuramente já era, não sei porque

que está assim... tem projeto, diz que têm projeto, acredito que tenha,

tomara, né, se tivesse eu troço pra isso, eu torço por Garopaba, então eu

vou torcer pra que faça algo pela lagoa (NSD, 49).

Os moradores entendem que o primeiro passo a ser dado para a

recuperação e revitalização da lagoa seria a retirada das plantas – aguapés

– no entorno, entendendo a retirada destas plantas como uma “limpeza” e

que ajudaria a lagoa voltar ao seu tamanho natural. Ressaltaram que o

crescimento destas plantas aquáticas fez com que a lagoa diminuísse de

tamanho.

Os entrevistados consideram que a lagoa está abandonada e muito

suja, conforme relatado por um dos entrevistados que costumava ir até a

lagoa para pescar e ter seus momentos de lazer e que hoje considera que

o recurso foi “deixado de lado”, por parte do poder público e dos próprios

moradores que hoje se encontram residindo no entorno, como pode ser

observado na Figura 9.

Todos os entrevistados manifestaram o interesse de ver a lagoa

recuperada e que a mesma se tornasse um ponto turístico do município,

voltando a ser atrativo como antes. Disseram que era um local com muito

verde, animais e agradável para frequentar, trazer os filhos nos finais de

semana para se divertir.

Ali tinha bastante árvore, era bem verde e tinha

capivara, jacaré e outros bicho, tinha passarinho. O

pessoal que vinha e até a gente ia ali né, pra toma

banho e fica ali, era bom (S, 53).

Eu vinha com meu pai ali, ele pescava e eu tomava

banho no verão, tinha umas mulher que ficava na

outra lagoa, as lavadeira né, mas nós ficava na

grande, era bem grande, tinha bastante mata ao

redor e peixe, dava bastante cará (J, 51).

98

Hoje ali só tem mato, eles tiraram as árvores bonita

que tinha e deixaram só as planta de água e tá feio,

se eles deixa assim vai tampa tudo ali e aí mesmo

que não vai ter lagoa pras criança brinca. As minha

filha brincavam bastante ali, hoje podia ser meus

netos se eles arrumassem (M, 64).

Figura 9 – Lagoa das Capivaras

Fonte: da autora, 2015.

Em fevereiro de 2016, a prefeitura fez uma limpeza na Lagoa das

Capivaras, limpeza esta que causou danos no local, como pode ser

observado na Figura 10. A limpeza realizada pelo órgão municipal foi

feita sem orientação de técnicos competentes, deste modo, caracterizou-

se como um desmatamento, tendo em vista que a margem da lagoa teve

suas árvores e plantas cortadas e posteriormente queimadas.

Após a “limpeza” realizada nas margens da lagoa, alguns

moradores se manifestaram denunciando um possível desmatamento na

área. Segundo uma ONG do município, a limpeza da Lagoa das Capivaras

que a Prefeitura Municipal fez é sem discernimento e sem estudo prévio

das espécies que foram cortadas. O ambiente deveria ter sido conservado

pela comunidade e pelo poder público local, pois contribui continuamente

para a manutenção do lençol freático, que é uma das fontes de

abastecimento de água do município.

99

Figura 10 - Entorno da lagoa após limpeza do órgão municipal.

Fonte: da autora, 2015.

Segundo um dos entrevistados, a prefeitura estaria limpando o

entorno da lagoa, e tirando os aguapés, após vários pedidos dos

moradores. Além disso, relatou que a prefeitura irá plantar mais árvores

no entorno da lagoa e construir um parque para que as famílias aproveitem

o espaço nos finais de semana. A ONG do município ressaltou que o corte

da vegetação e espécies nativas no entorno da Lagoa é incoerente e pode

ser tratado como crime ambiental por ser uma vegetação nativa de

restinga e protegida por Lei, tendo em vista que é considera como Área

de Preservação Permanente.

A prefeitura relatou que vem se comunicando com lideranças

estaduais para falar a respeito dos problemas da lagoa e sua revitalização,

com objetivo de estruturar um projeto de acordo com a legislação vigente.

Segundo a prefeitura, o primeiro passo será criar um cronograma de

trabalho, fazer um projeto para realizar a limpeza e melhorar o aspecto

visual da lagoa. Na sequência será feito um estudo ambiental para saber

qual o impacto que dará a dragagem da lagoa e, mais tarde, fazer daquela

região um espaço de lazer para a comunidade.

O estudo ambiental foi iniciado pela Universidade do Extremo Sul

Catarinense – UNESC, o qual não teve sequência por parte do poder

público municipal, e o que se pode ver no entorno da lagoa hoje é a

continuidade dos loteamentos, segundo relato de um dos moradores que

ainda vive no entorno da lagoa é contínua a construção de cercas

100

dividindo os terrenos, bem como a supressão da vegetação, como pode

ser observado na Figura 11.

A entrevistada ainda disse que as palmeiras que plantou no entorno

da lagoa também foram cortadas e que estes cortes são realizados no final

do dia para noite e em finais de semana, quando inexiste fiscalização por

parte de órgãos competentes, fato este que agrava mais ainda a situação

do local e coloca em risco a sobrevivência da lagoa.

Figura 11 – Entorno da lagoa das Capivaras

Fonte: da autora, 2016.

Como se pode perceber através das fotos, a Lagoa das Capivaras

corre o risco de ter o mesmo destino da Lagoa Pequena, ser aterrada para

construção de loteamento. Além disto, no que tange a fiscalização do

local, inexiste fiscalização da ocupação de seu entorno nem por moradias

e nem outras atividades. É uma realidade de muito tempo que os carros

apreendidos pela polícia estão depositados às margens da lagoa, onde é

possível perceber plantas e árvores crescendo dentro dos veículos, que

por sua vez acabam por causar danos ao ambiente, como pode ser

observado na Figura 12.

101

Figura 12 – Carros abandonados no entorno da lagoa

Fonte: da autora, 2016.

O fato é que os carros que ficam alocados no entorno da lagoa

acabam contaminando o ambiente, pelo meio físico contaminando o solo,

bem como as águas superficiais e águas subterrâneas, pois existe a

possibilidade de vazamento de óleo e combustível destes veículos e por

meio biológico, causando condições adversas para a existência da flora e

permanência de animais do próprio ecossistema, além de contribuir para

a existência de animais sinantrópicos, como ratos, baratas e insetos em

geral (NAIME et al, 2009).

O abandono destes carros às margens da lagoa representa um risco

à saúde pública, tendo em vista que estes veículos acabam por acumular

água em sua estrutura e tornando-se foco de água parada, contribuindo

para a criação de mosquitos.

Ademais, o abandono de carros contribui contra o aspecto estético

e urbanístico do local. A falta de iniciativa, tanto do público quanto do

privado, bem como de uma educação ambiental por partes da sociedade

em geral contribuem para este tipo de problema. O pensamento de que o

espaço público não é de ninguém onde nem todos cuidam e nem se

responsabilizam, podendo fazer o que quiser torna os espaços/lugares

abandonados, não tendo importância.

O ordenamento dos espaços públicos, sobretudo os de lazer, é

atualmente um dos aspectos vitais para a revitalização e a qualidade de

vida no meio urbano. O espaço público tem uma função e esta prevê um

uso, a natureza do espaço público está na maneira como este é usado pelos

atores sociais, ou seja, das práticas que possa abrigar, que se torna

102

possível ou até benéfico, podendo a sua forma, propiciar ou inibir essas

práticas (GOMES, 2002).

Este uso já não se faz só em razão das dimensões objetivas das

pessoas, isto é, idade, género, habilitações, classe social, estilo de vida,

etc., mas cada vez mais integram outros aspectos mais subjetivos, como

as motivações, as aspirações e os valores de uma população. A dimensão

simbólica tem força, pois os espaços são utilizados também pela sua

imagem, qualidade e conforto, bem como, quando estão localizados em

áreas verdes, tendo um maior contato com a natureza e longe da agitação

das cidades grandes (MATOS, 2010).

Gradativamente, a demanda pela construção de espaços públicos

destinados ao lazer vem sendo uma das maiores reinvindicações da

população, principalmente às administrações municipais. Os moradores

entrevistados relataram que o local seria um ponto forte para o turismo e

que, se recuperado, atrairia mais pessoas, tanto no período de temporada,

no verão, quanto no inverno, onde se tem uma baixa no fluxo de pessoas

que visitam o município. Alguns dos entrevistados disseram que não há

pontos turísticos em Garopaba no período de inverno, e que a Lagoa

poderia ser este ponto se fosse recuperada e transformada em um parque

com pedalinhos, ciclovia, quiosques e trilhas.

Os moradores sugerem que os quiosques poderiam ser alugados e,

consequentemente, ser uma renda para aqueles que têm seu sustento

baseado no turismo e no período de veraneio, vindo a ser uma alternativa

de renda na baixa temporada, além de ponto turístico.

Ia ajudar no turismo, ia trazer mais gente porque

seria uma área de lazer de verde, com água clara e

bonita como era antes e não escura. Ia ter bem

menos mato [...] acho que assim ia fica bom (A,

40).

Pode-se perceber, por meio dos relatos dos moradores, que a

maioria associou o uso futuro da lagoa ao Lago Negro, frequentemente se

referindo ao local gaúcho. O Lado Negro é um lago artificial da cidade de

Gramado no Rio Grande do Sul, oferece passeio de pedalinhos, bares,

restaurantes e lojas. É considerado um dos maiores pontos turísticos de

Gramado, que possui sua econômica baseada também no turismo, porém

no período de inverno.

Para os moradores entrevistados não há outro modelo de

desenvolvimento que seja melhor para o local, ou seja, em sua concepção

não consideram meios de evidenciar as qualidades locais e desenvolver

103

modelos próprios para a região, como prevê o conceito de

ecodesenvolvimento (SACHS, 1986; VIEIRA, 2013). Na realidade,

preveem em suas falas a concepção de usar o local para gerar lucro através

da atividade de turismo, comparando ainda a outros lugares distintos.

É possível observar que os moradores associam a Lagoa das

Capivaras ao Lago Negro pela fama e beleza que o mesmo possui, além

de ser grande atrativo de turismo. Um dos sujeitos entrevistados, que

trabalha no ramo hoteleiro, considera o Lago Negro cartão postal da

cidade gaúcha, foi construído. Em Garopaba, temos uma lagoa natural e

apropriada para tal atividade, porém abandonada, ressaltando que seu

abandono é devido à falta de iniciativa política.

Ali podia ser um lugar bonito, podia colocar

pedalinho, limpa de novo porque eles limparam

mais o mato cresceu de novo, podia ser uma área

de lazer para gente passear, levar os netos para

brincar, um lugar para comer pro nativo vende as

coisa dele no inverno, porque os turistas ia gosta

também, lá em Gramado eu já fui e é bem bonito,

podia ser aqui também, ia trazer mais turista (M,

34).

Deste modo, a modernização do ambiente urbano colaborou para

a mudança de hábitos sociais dos moradores de pequenas cidades. Além

das melhorias na infraestrutura, a modernização contribuiu na busca de

melhorias nos centros urbanos com o propósito de minimizar ou reverter

os impactos gerados pelo processo de industrialização sobre as cidades.

Paralelamente, essas intervenções, são definidas como melhoramento e

embelezamento da cidade, propiciando a introdução de praças, parques.

O objetivo é amenizar o ambiente urbano, atualmente perturbado, para

apropriação das elites (MENDONÇA, 2007).

6.3 CONTRIBUIÇÕES DA MEMÓRIA PARA A EDUCAÇÃO

AMBIENTAL

A presente dissertação tinha como objetivo inicial trabalhar a

educação ambiental com os moradores do município de Garopaba, mais precisamente os moradores do entorno da Lagoa das Capivaras.

É sabido que existem disputas políticas e econômicas em torno dos

projetos de desenvolvimento local, que opõem, de um lado, sujeitos

interessados na preservação ambiental, e, de outro, sujeitos que

pretendem a implantação de grandes empreendimentos privados no

104

município. Diante deste fato, parte da sociedade local vem se mobilizando

para a transformação de sua área em uma unidade de conservação.

Além disso, a lagoa é responsável por inúmeras funções, como

controle de inundações, reservatório de água salobra e drenagem,

manutenção do lençol freático, estabilidade do clima no local, além de ser

fundamental à produtividade biológica, mantendo a biodiversidade

inerente ao ambiente em causa. Também é responsável pela sobrevivência

de muitas espécies aquáticas e também na sobrevivência da fauna e flora

local. Por isto, a importância de recuperação e preservação do recurso

hídrico.

Sendo assim, foi proposto pela ONG (Organização Não-

Governamental) Associação Comunitária Amigos do Meio Ambiente

(AMA), Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC), Parque

Científico e Tecnológico (IPARQUE) um Plano de Recuperação de Área

Degradada (PRAD) ao poder público municipal e a necessidade da

execução do Diagnóstico Ambiental para qualquer ação de limpeza da

Lagoa das Capivaras, pois diversas espécies nativas protegidas, como o

xaxim (Dicksonia sellowiana), está na lista do IBAMA (Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais) entre as espécies

ameaçadas de extinção. Em 2001, uma resolução do CONAMA

(Conselho Nacional do Meio Ambiente) proibiu o corte e a exploração da

espécie.

A reunião entre a UNESC, AMA, IPARQUE e órgão municipal

possibilitou alguns encaminhamentos, como a necessidade do

Diagnóstico Ambiental da lagoa a fim de delimitar o Plano de

Recuperação e os recursos necessários; a questão fundiária dos terrenos

do entorno em áreas de APP (Área de Proteção Ambiental) sendo que

estes estão sendo ocupados de forma irregular, a criação do Parque

Municipal da Lagoa das Capivaras e a elaboração de um termo de

cooperação entre UNESC e Prefeitura para recuperação da Lagoa das

Capivaras.

Posteriormente a este contato, o qual não foi o primeiro, uma nova

reunião com os órgãos presentes teria de ter sido agendada, juntamente

com o Ministério Público e os órgãos envolvidos na elaboração do PRAD

para a lagoa. A UNESC juntamente com IPARQUE e AMA tentaram

entrar em contato novamente com o órgão municipal, mas não tiveram

sucesso e o Plano de Recuperação da Lagoa das Capivaras foi estagnado.

O objetivo preliminar desta pesquisa era, paralelamente ao Plano

de Recuperação, desenvolver um Programa de Educação Ambiental

voltado para a comunidade da área, mais especificamente voltados para

adultos, em ambientes não-formais de educação, privilegiando processos

105

participativos, com engajamento da comunidade local na preservação e

recuperação do meio ambiente.

Ainda, a pesquisa propunha que a memória poderia ser utilizada

como um instrumento de educação ambiental, pela valorização e

reelaboração dos saberes e experiências vividas pelos sujeitos da

pesquisa, possibilitar a reflexividade dos indivíduos envolvidos no

processo educativo. Ou seja, elaborar e desenvolver ações de educação

ambiental que proporcionassem a sensibilização dos moradores com

vistas à recuperação da lagoa.

A memória poderia também contribuir para que a comunidade

(r)estabeleça o sentimento de pertença em relação à Lagoa das Capivaras,

desenvolvendo princípios como o cuidado e a responsabilidade em

relação ao lugar em que vivem, bem como em relação aos acontecimentos

ocorridos no passado e à orientação das ações futuras. É válido lembrar

que os programas de educação ambiental existentes no município

contemplam apenas crianças do ensino fundamental3, por isto o trabalho

3 Um dos programas existentes é o Monitoramento Mirim Costeiro, um

projeto de educação para conscientização da limpeza, preservação das praias e

proteção da vida marinha pioneiro na costa brasileira. O projeto iniciou em 2012

e já envolveu 830 alunos com idades entre 8 e 11 anos, dos 4º e 5º anos de 9

escolas municipais de ensino fundamental de Garopaba, além de mais de 24

professores da rede municipal, realizou 82 saídas a campo, 161 aulas teórico-

participativas e colocou 21 placas educativas nas principais vias de acesso das

praias monitoradas. O projeto monitora 7 das 9 praias do município. Cada escola

cuida e monitora a praia do seu bairro ao longo do ano letivo, através de

atividades como: 1) Estudo das características das praias: tipo de areia, largura e

inclinação da praia, fauna e flora existente, variação do nível da maré, ondulação,

condições climáticas no dia de campo, análise da qualidade da água do mar e dos

córregos que desembocam nas praias. 2) Monitoramento dos resíduos sólidos na

areia das praias. 3) Avaliação da infraestrutura existente nas praias para atender

aos turistas e ao mesmo tempo para garantir o mínimo de impacto ambiental neste

ambiente. Por meio de atividades práticas e lúdicas na beira da praia e no

ambiente escolar, as crianças aprendem os problemas socioambientais atuais

dentro do contexto em que elas vivem, permitindo o desenvolvimento de uma

reflexão crítica sobre o cenário atual, por meio da vivência, da observação e do

diálogo. O projeto acredita no potencial do público infantil como futuros agentes

de mudança dos principais problemas enfrentados atualmente pela humanidade,

dentre eles o consumo excessivo e o descarte inadequado de resíduos sólidos no

ambiente natural, degradando a qualidade do mesmo e, consequentemente, a

qualidade de vida no Planeta Terra.

106

tinha o enfoque em trabalhar com adultos, os quais, em nosso

entendimento, devem ser incluídos em ações educativas como esta.

Mesmo com a paralização no projeto do PRAD, a pesquisa deu

continuidade, buscando, por meio da memória e da percepção,

compreender os processos de mudança e transformação ocorridos no local

a partir da perspectiva dos morados do município.

Com intuito de contribuir e colaborar com projetos de educação

ambiental, este trabalho traz como proposta e sugestão o uso da memória

como instrumento de educação ambiental. A memória é um conceito que

abrange várias áreas da ciência como a psicologia, a medicina, a biologia,

entre outras. Neste trabalho, a memória é trabalhada no âmbito social.

Através das lembranças, é possível preservar as tradições de um povo, as

brincadeiras antigas, o modo de vida, as ruas e casas, as árvores, pássaros,

rios, matas, de sua própria vida, a memória de quem já se foi (LE GOFF,

1990).

O recurso da memória serve como instrumento de investigação de

eventos histórico-sociais, mudando o olhar e a forma de escrever a

história, de modo que o narrador é parte da narrativa tornando-se parte da

história. Para Portelli (1997), o recurso da memória utilizado para

investigar eventos históricos de uma sociedade não se reduz a um

individuo unificado, pois os fatos relatados são contados de diferentes

pontos de vistas e maneiras. Neste contexto, se traz para a pesquisa novas

perspectivas, um novo olhar sobre os acontecimentos, de maneira a trazer

um novo ponto de vista através da narrativa do indivíduo que vivenciou

o acontecimento.

As falas dos indivíduos trazem consigo as experiências e

transformações individuais e coletivas, bem como as transformações

ocorridas no espaço em que estão inseridos. Partindo deste pressuposto,

pode-se refletir acerca de um novo ponto de vista sobre as mudanças

ocorridas, fazendo da memória um instrumento de grande potencial na

análise dos impactos ambientais.

Com o avanço da tecnologia, mecanização e industrialização ao

modelo de desenvolvimento atual, os lugares estão se modificando com

uma maior intensidade e cada vez mais impactos degradantes são gerados

ao meio ambiente em decorrência de um modo de vida mais urbanizado

(LEFF, 2008).

O município de Garopaba passou por um processo de urbanização

acelerado atrelado ao desenvolvimento da indústria turística que trouxe

ainda mais pessoas para residir no município. Contudo, o entorno da

Lagoa das Capivaras, uma das áreas mais afetadas, encontra-se em estado

de degradação grave, devido ao despejamento de esgotos em seu corpo

107

hídrico e supressão da vegetação do entorno, para a construção de casas

para pessoas de alto poder aquisitivo. Deste modo, houve uma

transformação no local, que pode ser percebida através do relato dos

moradores, descritos neste trabalho. Estes relatos servem de alerta ao

estado degradante do local e à forte tendência da lagoa desaparecer.

É importante salientar que o uso da memória é, ainda, um avanço

no que diz respeito à análise da história da sociedade, o sentimento de

identidade e pertença pelo lugar, espaço e suas relações com outros

grupos sociais e o ambiente. Sendo individual e coletiva, a memória é

parte importante para a continuidade de um sujeito ou de um grupo em

sua conexão com seu espaço e história (POLLAK, 1992).

Através da memória, pode-se conservar e lembrar as paisagens,

sucessos e derrotas de uma sociedade. Por meio da memória, recordamos

as marcas deixadas por um povo na construção e reconstrução do espaço,

sendo possível perceber as mudanças ocorridas na paisagem.

A rememoração do passado, dos lugares destruídos, por meio das

lembranças dos sujeitos, faz deles um novo grupo, criando uma

resistência que os mantém unidos. É possível alterar, ruas, espaços,

lugares, casas, pedras, mas não se destrói o vínculo deste grupo. Pode-se

perceber que as lembranças das pessoas são ligadas, frequentemente, a

sua casa, ao bairro e os locais próximos que mantinham relações com seus

vizinhos. Os lugares podem não existir mais, porém as lembranças de

convívio e momentos podem ter ficado presentes em suas memórias (LE

GOFF, 1990).

Assim, a memória pode contribuir para a educação ambiental, por

permitir aos indivíduos acessar, por meio de suas recordações, o processo

de modificação do espaço ocorrido ao longo do tempo e os impactos

causados, que modificaram a paisagem e o modo de vida de moradores

que viviam no entorno da Lagoa das Capivaras.

A utilização da memória pode sustentar a compreensão de vários

processos que o modo de vida, bem como a utilização dos recursos

naturais, e o processo de urbanização degradou nos dias atuais. Através

da memória daqueles que vivenciaram os processos de transformação,

bem como presenciaram a degradação da lagoa é possível fazer uma

associação das interações socioambientais do passado e do presente e as

perspectivas para o futuro.

Presente na memória destes moradores está um conhecimento

amplo do local, que pode ser usado para fins acadêmicos, sendo que suas

falas relatam as relações socioambientais e econômicas que, limitado ao

local, este poderá ser recuperado. É importante salientar que a memória

de uma sociedade pode ser uma maneira importante de avaliação da

108

qualidade ambiental e de sua relação para com o meio, bem como os

impactos decorrentes do histórico de sua trajetória e suas atitudes futuras

com o local (LE GOFF, 1990).

No cenário destes ambientes modificados pelo ser humano, se

configuram como essenciais a práxis da educação ambiental tendo a

memória ambiental como um instrumento pedagógico para subsidiar a

relação entre o processo educativo e o ambiente, as inter-relações entre o

homem e o ambiente, suas expectativas, anseios, satisfações e

insatisfações, julgamentos e atitudes nesse meio a partir de suas

lembranças (GRÜN, 1996).

A memória pode ser um meio para entender como moradores de

uma cidade compreendem e percebem o ambiente nos seus aspectos

sociais, ecológicos, econômicos e culturais a partir das mudanças ao

longo do tempo. A educação ambiental parte dessas compreensões e

percepções no intuito de propor ações viáveis e compatíveis do ponto de

vista metodológico e epistemológico para uma melhoria da qualidade de

vida da população.

A memória traz consigo os erros do passado, que podem ser

revistos a partir de um processo educativo, como uma alternativa crítica

de análise as ações futuras e para uma melhor compreensão de nossos

propósitos. Este processo consiste, ainda, em um processo de

sensibilização da sociedade e sua relação com a natureza. A educação

ambiental tem de ser compreendida como uma educação social do povo,

proporcionando a autogestão ética na relação com o meio (REIGOTA,

2001).

Sendo assim, é possível dizer que o processo educativo ambiental

é uma prática de constituir-se como cidadão (TOZONI-REIS, 2004),

através da apropriação e transmissão crítica modifica-se a história de vida

do ser humano com a natureza. Exige-se então que os conhecimentos

sejam apropriados e construídos de maneira coletiva e integrada,

participativa, interdisciplinar, indo ao encontro do ecodesenvolvimento

(VIEIRA, 2013).

109

7 CONCLUSÕES

Com a presente dissertação, a partir da memória e percepção dos

sujeitos pôde-se observar a relação entre turismo e urbanização, a maneira

como os sujeitos se relacionam com o meio e compreendem as

transformações e mudanças ocorridas no ambiente, mas especificamente

no entorno da Lagoa das Capivaras, pelo turismo, com ênfase nas

consequências espaciais da urbanização turística ao longo do processo

evolutivo da cidade. Esta relação se estabelece a partir da expansão do

turismo que requer uma significativa produção de bens e serviços,

integrando ao seu sistema de produção e consumo novas áreas, sejam elas

já dotadas de serviços e infraestrutura urbana ou não.

Constatou-se, mediante esta pesquisa, a relevância da atividade

turística como fenômeno de desenvolvimento regional para o município

de Garopaba, que anteriormente tinha como base de sua economia a

pesca. Por meio da pesquisa, foi possível perceber que muitos moradores

tem sua renda baseada na atividade turística.

Por outro lado, esse desenvolvimento também consiste numa

ameaça ambiental, em função da acelerada disseminação urbana. Por

meio dos relatos, a memória dos moradores de Garopaba, vimos o quanto

a Lagoa das Capivaras, a paisagem de seu entorno, bem como seu

ecossistema acabaram sendo alterados pelo processo de urbanização.

Os moradores rememoraram a sua vida no entorno da lagoa, os

moradores antigos e as atividades desenvolvidas na lagoa, as ruas, as

árvores, as plantas, as brincadeiras, os banhos na lagoa, a pesca, os

curiosidades, os atores sociais predominantes. As lembranças dos

moradores nos remetem para um tempo em que era possível fazer uso da

lagoa, podia-se pescar, banhar, lavar roupa ou simplesmente contemplar

sua beleza natural, suas águas, animais, suas árvores.

O mais proeminente no relato dos sujeitos da pesquisa é o fato de

como era a vida anterior a este processo de ocupação, transformação e

apropriação do espaço. Pode-se perceber a tristeza no relato de muitos

moradores ao verem a paisagem da infância e da juventude modificada

tão radicalmente, ver a lagoa que tanta felicidade e alimento lhe deram,

hoje sem vida. Para os entrevistados, mesmo que ainda considerem o

município um lugar agradável e calmo de se viver, ressaltaram a questão

da alta temporada, com a vinda de mais pessoas para a cidade, acabam

por modificar seu cotidiano calmo.

Seus relatos nos mostram o início do crescimento do município e

o processo de mudança das atividades de lavadeira e pescadores, para a

renda proveniente da atividade turística e a região da lagoa que foi

110

ocupada, gerando um grande impacto em seu ecossistema. O local era

ocupado por moradores nativos pescadores e lavadeiras, indígenas e

outras pessoas que vinham de bairros mais distantes e cidades vizinhas

para banhar e pescar.

A ausência de planejamento na área proveu dessa região a

construção intensiva de casas de classe média e alta, irregulares, além de

uma tentativa de implantação de um empreendimento, posteriormente

embargado. Esta apropriação do espaço fez com que muitos moradores se

deslocassem para outros bairros da cidade, de característica mais simples

e com infraestrutura faltante ou em processo de instalação.

Dessa forma, a atividade turística gera uma modificação nos

territórios costeiros, transformados em áreas de lazer, onde o turista

encontra diversão, se isolando da realidade dos moradores nativos.

Constata-se um tipo de turismo, às vezes incapaz de gerar melhoria na

qualidade de vida dos indivíduos, quando deveria representar uma

alternativa de desenvolvimento socioeconômico para as localidades onde

é praticado. Ou seja, é preciso pensar no espaço para o turista, de modo a

recebê-lo em um local com infraestrutura básica, porém não se pode

esquecer o espaço do sujeito local.

Para os moradores, os turistas são importantes e os veem de forma

positiva para o crescimento e desenvolvimento da cidade. No entanto, de

acordo com o relato dos moradores, foi a partir desse crescimento do

município que o impacto na lagoa e no entorno da mesma, se tornou mais

intenso. Além da ocupação do local, onde existia mata ciliar e animais,

existe um grande volume de esgoto que é despejado em suas águas. No

período de alta temporada, este volume aumenta gradativamente,

intensificando ainda mais o impacto sobre o recurso hídrico.

Ademais, conforme mostram as imagens do trabalho, encontram-

se depositados em suas margens carros apreendidos pela Polícia Militar,

que consequentemente acabam por poluir suas águas, trazer doenças e

alterar a paisagem. É válido lembrar que o processo de urbanização no

entorno da lagoa, como consequência o aterramento da Lagoa Pequena,

teve-se também outra importante transformação na paisagem, a abertura

de uma rua entre as duas lagoas, dando lugar à paisagem urbana.

No que se refere à mudança de paisagem no local, o Poder Público

Municipal, em uma tentativa de “limpar” a área, fez o corte de toda mata

nos arredores da lagoa, fato este visto para os moradores como algo

positivo, tendo em vista que a lagoa está diminuindo de tamanho pelo

processo de eutrofização, os sujeitos da pesquisa entendem que a limpeza

é uma solução para que a lagoa não desapareça.

111

A partir desse contexto, observa-se que é apenas diante dos

impactos ambientais negativos evidenciados pela sociedade através de

reinvindicações é que se iniciam o planejamento de ações mitigadoras

destes impactos, como a elaboração do Plano Diretor, criação de Parques

e Estudos de Impacto Ambiental para regularizar destas áreas.

Esta postura, embora mitigadora, é de extrema importância para o

(re)ordenamento espacial da função turística e demais funções urbanas do

município de Garopaba. Caso fossem implementados programas de

gerenciamento costeiro integrado, estes poderiam minimizar os efeitos

desta tendência evolutiva, ou seja, atingir o declínio segundo os diversos

estágios de evolução que experimentam os balneários.

Positivamente a esta situação, teoricamente, segundo o órgão

público municipal encontra-se em processo de construção um Plano de

Recuperação de Área de Degradada pelo Poder Público Municipal, no

intuito de recuperação e revitalização da área para construção de uma área

de lazer para os moradores. No entanto, existe por partes de alguns atores

uma pressão para que o local não seja revitalizado, bem como sua área

seja utilizada para a construção de casas, dando continuidade ao projeto

de construção de um empreendimento privado. Por meio do relato dos

sujeitos que sonharam, cresceram, esperaram e viveram com as mudanças

ocorridas na área, é possível perceber a vontade destas pessoas para que

o local seja recuperado e volte a ser como antes.

O projeto de um Plano de Recuperação de Área Degradada para a

Lagoa das Capivaras proposto pela Universidade do Extremo Sul

Catarinense (UNESC), pela ONG (Organização Não-Governamental)

Associação Comunitária Amigos do Meio Ambiente (AMA) e o Parque

Científico e Tecnológico (IPARQUE) para o órgão público municipal e

também proposto pelo próprio Ministério Público após sentença aos

condenados, tinha como sugestão para o local a criação de um Parque

Ecológico Municipal da Lagoa das Capivaras, como unidade de

conservação do município.

As unidades de conservação são espaços territoriais que têm a

função de assegurar a representatividade de amostras significativas e

ecologicamente viáveis das diferentes populações, habitat e ecossistemas

do território nacional e das águas jurisdicionais, preservando o patrimônio

biológico existente (MMA, 2016).

As unidades de conservação, segundo o SNUC, dividem-se em

dois grupos: o de Uso Sustentável e de Proteção Integral. As unidades de

Uso Sustentável compatibilizam a conservação da natureza com o uso

sustentável de parcela dos seus recursos naturais, as de Proteção Integral

112

preservam a natureza, sendo admitindo apenas o uso direto dos seus

recursos naturais (BRASIL, 2000).

A categoria de proteção integral englobaria o Parque, sendo as

atividades de recreação em contato com a natureza, turismo ecológico,

pesquisa científica, educação ambiental, entre outras, permitidas em seu

território.

No entanto, é possível perceber a vontade, por parte dos

entrevistados, de que o local seja transformado em um parque, que seja

destinado ao uso turístico, tornando-se uma renda para o município e seus

moradores. Através de seus relatos, é notória a comparação com outros

locais criados artificialmente, constituindo-se um atrativo turístico que

gera renda e atrai turistas de todos os lugares.

Entende-se que é essencial a compreensão do que foi perdido e

modificado com a degradação e desvalorização do meio ambiente, neste

caso a Lagoa Pequena, parte da Lagoa das Capivaras e sua área de

entorno. Neste sentido, buscou-se contribuir através da percepção dos

moradores atrelada às suas memórias o impacto ambiental causado pela

atividade antrópica e o processo de urbanização.

O litoral brasileiro vem passando por um intenso processo de

degradação. A cada dia mais estudos estão sendo realizados no intuito de

compreender a realidade deste ambiente e diagnosticar os efeitos

causados pela poluição, a falta de planejamento, o crescimento urbano e,

o turismo em massa na zona costeira (GUADAGNIN, 1999; PADILHA,

2001; CÂMARA, 2001; LEAL, 2002; CORREA; DANTAS, 2003;

FREITAS, 2004; MENEZES, 2005; ANDRADE 2008; BARROS, 2008;

MARIANO, 2010; NASCIMENTO, 2010; DA SOLLER, 2012;

JACOMEL, 2012; ASSIS, 2013; MARTIN, 2013, ROCHA, 2013).

A pesquisa, mesmo caracterizada por um estudo de caso, pode

ainda ajudar no entendimento das atividades desenvolvidas no ambiente

costeiro, bem como suas mudanças e transformações, tendo em vista que

a maioria dos problemas apresentados neste trabalho configuram a

realidade de muitos outros lugares, como os dos trabalhos referenciados

acima.

Todo o litoral brasileiro é alvo do turismo predatório e do aumento

da densidade demográfica, tornando-se característica de muitos

municípios a falta de infraestrutura e planejamento destas áreas para

atender a demanda de população que frequenta estas áreas.

Deste modo, ressalta-se a importância deste trabalho e sua

contribuição para a compreensão da importância ecológica do ambiente

costeiro e também econômica, tendo em vista que o turismo atualmente é

fonte de renda para muitos municípios costeiros. Além das consequências

113

dos impactos causados pelo ser humano, que ameaçam a resiliência e

conservação destas áreas.

Através dos objetivos propostos no trabalho, os relatos orais do

moradores de Garopaba podem contribuir no processo de educação

ambiental. De modo que a sua percepção dos fatos e espaço comparado

aos acontecimentos e imagens de suas memórias, possibilitem a estes uma

reflexão a cerca das transformações ocorridas ao longo dos anos. É uma

maneira de sensibilizar os indivíduos e estimulá-los a colaborarem e

participarem de ações que visem à recuperação do local, auxiliando em

programas de educação ambiental já existente, como o realizado pela

Associação Comunitária de Amigos da Natureza, o Monitoramento

Mirim Costeiro, um projeto socioeducativo para a preservação da zona

costeira, trazendo novos elementos para reflexão das áreas de

conhecimento.

Além disso, com intuito de contribuir com o Plano de Recuperação

de Área de Degradada do local, os resultados obtidos serão socializados

com os moradores. Tendo em vista que, além do relato dos moradores o

trabalho também traz a opinião, bem como suas vontades e desejos de

como gostariam que fosse o local futuramente, para que assim possam

desfrutar deste espaço, como faziam.

Sendo assim, a proposição de socializar os resultados com os

moradores é de suma importância no desenvolvimento da comunidade,

tanto em âmbito econômico como ambiental. Mostrando as possibilidades

da construção de um território com base no ecodesenvolvimento

territorial através da participação da comunidade como atores, sugerindo

propostas para resolver problemas, melhoria na sua qualidade de vida e

propiciando instrumentos de gestão para o presente e futuro de seus filhos.

114

115

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APÊNDICE

APÊNDICE 1:

ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA PARA OS

MORADOS DO ENTORNO DA LAGOA DAS CAPIVARAS

ENTREVISTA

1. Você é morador do Município de Garopaba ou vem somente para

passar o verão?

2. Onde você nasceu? (trajetória) quando veio pra cá? Porque?

3. Costuma passar o verão todo ano no Município?

4. O que lhe atrai para passar todo ano o verão em Garopaba?

5. O que você acha das pesosas que vem veranear aqui?

6. O que você acha de Garopaba? A cidade mudou muito depois que

você chegou? De que forma? Foi bom ou foi ruim essa mudança?

7. Qual sua opinião sobre a Lagoa das Capivaras atualmente? E Antes?

Como era? E agora?

8. O que você costumava fazer na Lagoa? O que lhe marcou durante sua

vida?

9. E a Lagoa Pequena, você conheceu? Você sabe por que ela foi

aterrada? Qual sua opinião sobre isso?

10. Como você gostaria que fosse este lugar hoje?

11. Você sabe por que a Lagoa se chama “Lagoa das Capivaras”? Quem

deu este nome?

12. Existiam capivaras na lagoa anteriormente? Eram caçadas? A lagoa

dava peixe? Que tipo de peixe? Tinha outros bichos? Que tipo de

bichos? Tem ainda? Quais? Vinham pessoas de outros lugares

pescar/caçar aqui?

13. Você tem conhecimento sobre o Plano Diretor do Município de

Garopaba?

14. Você costuma participar das reuniões? Como são estas reuniões?

Você entende o que eles estão fazendo/falando?