UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE...
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Faculdade de Formação de Professores
Sub-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa
Educação-Básica
Luciana Rodrigues de Araujo
PERSPECTIVAS DE FORMAÇÃO CONTINUADA NO COTIDIANO DE
UMA ESCOLA PÚBLICA MUNICIPAL: CONTRIBUIÇÕES DA GESTÃO
São Gonçalo
2014
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Luciana Rodrigues de Araujo
PERSPECTIVAS DE FORMAÇÃO CONTINUADA NO COTIDIANO DE
UMA ESCOLA PÚBLICA MUNICIPAL: CONTRIBUIÇÕES DA GESTÃO
Monografia apresentada a Sub-Reitoria de
Pós-Graduação e Pesquisa Educação-Básica da
Faculdade de Formação de Professores da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro como
requisito parcial para obtenção de Pós-Graduação
especialização em Gestão Escolar.
Orientadora: Profª Drª Inês Bragança
São Gonçalo
2014
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CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/CEH/D
A663 Araujo, Luciana Rodrigues. Perspectiva de formação continuada no cotidiano de uma
escola pública municipal: contribuições da gestão/Luciana Rodrigues Araujo- 2014.
45f Orientadora: Prof.ª Drª Inês Bragança Monografia (Especialização em Educação Básica: Gestão
Escolar) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Formação de Professores.
1. Formação de professores. 2. Prática de ensino 3. Escolas -
Administração. I. Bragança, Inês II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Formação de Professores. III. Título.
CDU 371.13
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Luciana Rodrigues de Araujo
PERSPECTIVAS DE FORMAÇÃO CONTINUADA NO COTIDIANO DE
UMA ESCOLA PÚBLICA MUNICIPAL: CONTRIBUIÇÕES DA GESTÃO
Monografia apresentada a Sub-Reitoria de
Pós-Graduação e Pesquisa Educação-Básica da
Faculdade de Formação de Professores da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro como
requisito parcial para obtenção de Pós-Graduação
especialização em Gestão Escolar.
Aprovada em: _______________________________________________
Banca examinadora: __________________________________________
________________________________________
Profª Drª Inês Ferreira de Souza Bragança (Orientadora)
________________________________________
Profª Drª Lúcia Velloso Maurício
São Gonçalo
2014
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DEDICATÓRIA
Agradeço primeiramente a Deus, por ter me proporcionado esta vitória.
A memória da minha querida mãe que não teve a oportunidade de viver este momento.
E principalmente ao meu pai pelos valores recebidos que fazem diferença em todas as
áreas da minha vida.
Também quero agradecer aos meus irmãos e familiares que sempre acreditaram e
torceram por mim.
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AGRADECIMENTOS
A minha orientadora Inês Bragança pelo auxílio, compromisso, dedicação,
disponibilidade de tempo, material, compreensão e o imenso carinho durante a produção do
meu trabalho.
Aos meus Pastores Eliane de Oliveira Dias e Saulo de Mello Dias que me apoiaram
dando-me a oportunidade de produzir este trabalho com segurança, liberdade e incentivo.
A todos que de uma forma ou de outra possibilitaram a conclusão desta monografia.
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A política de conhecimento que massifica o professor traz em seu bojo discursos
fascinantes que se propõem a transformar a escola de um momento para outro desde que o
professor se dispa de sua experiência acumulada e incorpore a nova prática proposta. Essa
política vem para emudecer o professor, levando-o a repetir discursos já prontos. Apesar
disso, o professor continua resistindo e instituindo espaços de reflexão.
(Inês Bragança, 1996)
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RESUMO
ARAUJO, Luciana Rodrigues de. Perspectivas de formação continuada no cotidiano de uma
escola pública municipal: contribuições da gestão. 2014. Monografia (Pós-Graduação
especialização Gestão Escolar) Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Este trabalho tem como foco principal analisar e discutir o processo de formação continuada
dos professores, bem como o papel da gestão escolar para que os docentes estejam em
permanente formação. As questões de estudo problematizam de que forma a gestão tem se
comportado em relação aos profissionais da educação no interior do seu campo de trabalho e
se as políticas públicas existentes colaboram para o desenvolvimento dos professores. A
pesquisa qualitativa foi realizada em uma escola municipal de Niterói, por meio da
observação do cotidiano escolar, de reuniões pedagógicas e da realização de entrevistas com
três professoras. A pesquisa revelou que a gestão escolar procura realizar seu trabalho de
forma democrática, contribuindo para a formação contínua dos seus professores. Os dados
aqui apresentados permitem afirmar que apesar de tantas contradições, dificuldades e desafios
existentes na instituição de ensino analisada e no sistema educacional, parte dos docentes
buscam efetuar seu trabalho com responsabilidade, comprometimento, eficiência e qualidade,
por isso estão buscando um processo contínuo de formação.
Palavras-chave: Formação continuada de professores, Prática de ensino, Gestão escolar.
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ABSTRACT
This work focuses primarily on analyzing and discussing the process of continuous training of
teachers, and the role of school management that teachers are in constant training. The study
questions problematize how management has behaved in relation to education professionals
within their field of work and whether existing policies collaborate for the development of
teachers. The study was conducted in a public school in Niterói, through the observation of
everyday school life, the educational meetings and interviews with three teachers. The
research revealed that the school management seeks to accomplish its work in a democratic
manner, contributing to the continuous training of its teachers. The data presented here allow
us to state that in spite of so many contradictions, difficulties and challenges of providing
educational institution analyzed and the educational system, teachers seek to effect their work
with responsibility, commitment, efficiency and quality, so we are seeking a continuous
process of training.
Keywords: Continuing education of teachers, practice teaching, school management.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................11
1 MEMORIAL........................................................................................................................13
1.1Os mestres que marcaram a minha trajetória escolar...................................................13
1.2 Mudanças ocorridas no nível fundamental II................................................................14
1.3 Dificuldades e desafios em relação a estudo e trabalho.................................................15
1.4 A formação continuada para aquisição de novos conhecimentos.................................16
2. UMA BREVE ANÁLISE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A FORMAÇÃO
CONTINUADA DOS DOCENTES NO BRASIL ATUAL.................................................18
2.1 Análise de alguns cursos de formação continuada no Brasil a partir da década de
1990...........................................................................................................................................20
2.2. Expansão dos cursos de formação superior para professores e aprimoramento do
corpo docente...........................................................................................................................22
2.3. Apesar da diversidade de cursos de formação continuada é possível perceber a
preocupação com a qualidade................................................................................................24
3 FORMAÇÃO CONTINUADA E GESTÃO NO COTIDIANO DE UMA ESCOLA
MUNICIPAL ..........................................................................................................................26
3.1 Apresentação do trabalho de campo...............................................................................29
3.11 A escola pesquisada.........................................................................................................29
3.12 Metodologia.....................................................................................................................30
3.2 Relatos sobre as práticas pedagógicas adotadas no interior da escola pesquisada.....31
3.3 Análises das entrevistas com as professoras...................................................................34
CONCLUSÃO.........................................................................................................................39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................41
ANEXO....................................................................................................................................43
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Introdução
A partir das reflexões sobre as informações e transformações aceleradas existentes no
sistema educacional brasileiro por meio do estudo de textos teóricos e discussões durante o
meu processo de formação no curso de Pós-Graduação, o tema escolhido para
desenvolvimento da monografia centrou-se nas perspectivas de formação continuada no
interior de uma escola pública municipal. Compreendo que o docente necessita ter uma
formação sólida, além de estar atualizado, por vivermos em uma sociedade que vem sofrendo
constantes modificações.
O presente estudo tem como enfoque principal compreender com mais profundidade
como tem acontecido o processo de formação continuada dos professores. A educação é alvo
de grande preocupação, o desenvolvimento de um país depende de uma educação de
qualidade, logo necessitamos de profissionais bem qualificados para realizar seu trabalho de
maneira efetiva.
Focalizo, assim, a partir de um aprofundamento teórico e pesquisa de campo, como os
professores vêm desenvolvendo seu processo de formação no cotidiano escolar. De que forma
a gestão tem se comportado em relação aos profissionais da educação no interior do seu
campo de trabalho? As políticas públicas existentes colaboram para o desenvolvimento dos
professores?
Para refletir sobre as perspectivas de formação contínua dos docentes, realizei este
trabalho em três capítulos. O primeiro aborda a minha trajetória escolar, com um recorte que
apresenta minhas experiências durante o período de escolarização desde as séries iniciais até a
minha inserção no curso de graduação, com destaque para os fatos importantes que
colaboraram para meu processo de construção pessoal e educacional.
No segundo capítulo trata-se de uma reflexão sobre as políticas públicas no contexto
brasileiro em relação à formação continuada dos professores; nos últimos anos houve um
aumento significativo da oferta desse tipo de formação no Brasil e é fundamental que estes
projetos sejam oferecidos com qualidade.
O terceiro capítulo retrata a gestão como um aspecto fundamental demonstrando as
dificuldades e os desafios do sistema educacional brasileiro e como eles têm atingido os
profissionais de educação. Nesse capítulo também são apresentadas as observações realizadas
no contexto escolar, especialmente, por meio do acompanhamento das reuniões pedagógicas,
bem como as entrevistas feitas com as professoras inseridas nesta escola, visando
compreender como estas relações vêm se estabelecendo.
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Enfim, nas considerações finais, reforço a necessidade de rever o processo educacional
brasileiro e as políticas públicas voltadas principalmente para a questão da formação contínua
dos professores, para que os docentes sejam contemplados com salários dignos, melhores
condições de trabalho, sejam mais valorizados e o trabalho na escola se desenvolva com
liberdade, no contexto de uma gestão democrática que respeite o profissional de ensino.
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CAPÍTULO 1: Memorial
Nasci no Estado do Rio de Janeiro, sou oriunda da classe popular. Meus pais não
estudaram muito tempo, apenas terminaram o Ensino Fundamental. Apesar dos meus pais não
terem uma formação escolar avançada, eles sempre se preocuparam com os estudos dos
filhos. Quando eu chegava da escola, a primeira pergunta que minha mãe fazia era a respeito
dos deveres escolares. Então, almoçava, descansava um pouco e depois tinha que fazer as
tarefas escolares para depois brincar.
Iniciei a minha trajetória escolar, estudando no turno da manhã, não tinha nenhum
problema de acordar cedo. Era uma criança que adorava ir para o colégio, não faltava um dia
de aula; quando chegava o final de semana ficava triste porque não poderia estar com meus
amigos. Sempre gostei de estudar. A escola para mim era um espaço de alegria, de fazer
amigos e de estudar.
Ao relatar minha história de vida e formação, assim como percebe Bragança (2009), as
narrativas são carregadas de emoções, lembranças, práticas e sentimentos. Quando
expressamos através da escrita nossas experiências escolares e pessoais, refletimos, nos
inquietamos, logo sentimos a necessidade de revelar os sentimentos mais profundos que
produzem marcas que nos acompanharão eternamente.
1.1 Os mestres que marcaram minha trajetória escolar
Tenho lembranças maravilhosas do período de escolaridade. Recordo-me de duas
professoras que contribuíram de modo marcante na minha formação enquanto cursava o
quinto ano. Elas eram extremamente amorosas, afetivas, me tratavam com muito carinho. A
professora Eliane dava aula de matemática e a professora Regina Lúcia dava aula de
português. Como cita Freire (1997), “é impossível ser professora sem amar os alunos, mesmo
que amar só não baste e se gostar do que se faz”.
Eu gostava de sentar nas primeiras mesas perto das professoras. Sempre fui uma aluna
comportada, realizava as tarefas com dedicação, tirava boas notas, respeitava e dava atenção
às docentes. Meus pais me diziam que eu tinha que respeitá-las. Como afirma Nóvoa (2007),
há uma dicotomia em relação à história da profissão docente, ou seja, por um lado o professor
é privilegiado pelo fato de transmitir a visibilidade social, reforçando assim, o seu prestígio,
por outro a pressão provocada pelos órgãos estatais tem criado mecanismos de controle
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contribuindo para a desvalorização das competências e perda de autonomia. Além dos salários
serem incompatíveis com o trabalho realizado como também em relação a sua formação,
outro aspecto seria a precariedade das condições de efetuarem suas tarefas no ambiente
escolar.
1.2 Mudanças ocorridas no nível fundamental II
Quando passei para o 6º ano, tive dificuldades, percebi que as relações afetivas eram
diferentes. Estava vivendo uma nova fase, as modificações eram claras, a quantidade de
professores e matérias aumentou, o nível de aprendizagem era maior. Portanto, precisava me
dedicar mais aos estudos para as minhas notas continuarem no mesmo padrão. As avaliações
eram motivo de preocupação, queria continuar sendo uma aluna aplicada. Os professores
usavam uma linguagem mais erudita, a relação professor/aluno não era tão próxima. Os
docentes tratavam os estudantes como adultos. Essa mudança me causou muito sofrimento.
No intervalo do recreio eu corria para a sala dos professores para ver e conversar com minhas
queridas educadoras do quinto ano, elas agiam comigo da mesma maneira.
Adelaide foi a minha professora do 6º ano da matéria de matemática, ela era muito
rígida, lembro que quando chegava dentro da sala de aula, todos os alunos ficavam
amedrontados, tinham um respeito grande por ela. Achávamos muito exigente, suas práticas
pedagógicas eram desafiadoras. No meado do ano letivo, percebi que apesar da sua prática de
ensino ser difícil, trouxe grandes benefícios para a turma, a maioria dos alunos conseguiu
alcançar os objetivos propostos por ela. Depois de algum tempo, percebemos que ela era uma
pessoa amável, pois quando ela entregava as provas, os testes, as avaliações, escrevia um
bilhete parabenizando o esforço de cada aluno, chamando-os de “queridos alunos”. Ela
expressava através da escrita a admiração por cada um.
A satisfação e a alegria dela pelos resultados obtidos era notório. A metodologia
adotada pela professora Adelaide aconteceu de forma positiva, pois chegamos ao final do ano
letivo com um número significativo de estudantes aprovados. A maioria dos discentes
alcançou os objetivos da educadora, todos os alunos agradeceram a dedicação, o esforço, o
incentivo, a confiança que a mesma depositou na vida de cada estudante.
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1.3 Dificuldades e desafios em relação estudo e trabalho
Cursei o Ensino Médio no Colégio Cenecista Felisberto de Carvalho no ano de 1992,
era uma escola privada. Aos 16 anos de idade comecei a trabalhar para pagar os estudos,
trabalhava durante o dia e a noite estudava. Foi um período muito difícil para mim, eu
chegava quase todo dia atrasada na aula por causa dos engarrafamentos. Chegava à escola
cansada, com fome, me esforçava para compreender o que os educadores ensinavam.
Acordava bem cedo e dormia muito tarde. Para concluir os estudos precisei ser perseverante,
e superar muitos obstáculos.
Logo depois que terminei o Ensino Médio, pensava em fazer uma faculdade, mas
minha mãe faleceu e tudo mudou em minha vida. Como era a filha mais velha, além de
trabalhar, as responsabilidades familiares recaíram sobre mim. Levei dez anos para me
organizar, então, resolvi voltar a estudar. Fiz um pré-vestibular comunitário durante dois anos
para conseguir ingressar na Faculdade de Formação de Professores (FFP).
Cursar o ensino superior para mim foi muito importante, trouxe um sentimento de
superação, fui a primeira pessoa da minha família a adquirir um diploma de graduação. Nesta
época trabalhava em comércio o dia inteiro, inclusive em finais de semana e feriados, não foi
fácil. As dificuldades foram aumentando à medida que mudava de período. Estudei muitas
vezes durante a madrugada. Concluí a faculdade trabalhando, lutando a cada dia para realizar
este sonho.
O curso superior me fez enxergar o mundo de outra maneira. Como afirma Freire
(1996), “a educação é uma forma de intervenção no mundo”. Foi isso que aconteceu comigo,
as leituras dos textos teóricos, os diálogos na sala, as trocas de experiências entre os
docentes/discentes foram contribuindo para o meu processo de formação como educadora. A
permanência na faculdade me permitiu compreender o complexo sistema educacional, os
fracassos escolares causados pela desvalorização do ensino público. O descaso por parte das
autoridades governamentais, toda esta problemática, colaboraram para o meu processo de
aprendizagem, levando-me a uma leitura crítica do mundo.
Depois da realização deste sonho e dos benefícios que o curso superior me
proporcionou, compreendo que o indivíduo e, principalmente o pedagogo, necessita obter
uma contínua formação. A nossa sociedade tem se transformado de modo bastante acelerado;
como a função do professor é mediar os processos de construção do conhecimento, ele precisa
acompanhar a transformação. Atualmente estou trabalhando em uma empresa exercendo a
função de secretária, em breve será inaugurada uma creche neste local e terei a oportunidade
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de atuar como gestora, com o propósito de colocar em prática os conhecimentos construídos
na graduação.
1.4 A formação continuada para aquisição de novos conhecimentos
Resolvi fazer um curso de Pós-Graduação primeiramente pela necessidade vivida em
meu trabalho. Como fiz minha graduação na Faculdade de Formação de Professores (FFP),
gostaria de dar continuidade ao meu processo de formação obtendo os mesmos padrões
adquiridos no curso superior. Resolvi pesquisar no site da FFP, um curso de Pós-Graduação.
Para minha surpresa, dentro de alguns dias iniciariam as inscrições para o curso de
especialização em Gestão Escolar, este era o curso que pretendia fazer!
Pesquisei as bibliografias indicadas para o processo seletivo e comecei a estudar. Fiz
minha inscrição, a prova e fui aprovada, fiquei muito feliz! Eu não tinha condições financeiras
para pagar uma Pós-Graduação e também não queria fazer este curso em uma Universidade
particular. Fiquei muito satisfeita ao iniciar este curso na (UERJ).
Compreendo a importância de ser uma docente preparada profissionalmente,
percebendo que o processo de formação é contínuo. O ser humano está em constante
transformação. Como afirma Nóvoa (1992), os profissionais de educação que buscam uma
especialização nas instituições de ensino conquistam um espaço de autonomia.
Os debates, as leituras teóricas reflexivas ocorridas no curso de especialização básica,
me levaram a perceber que a/o docente que possui uma formação sólida, é valorizado,
respeitado, pode exigir um salário compatível com a sua formação, encontra menos
dificuldades para atuar dentro das instituições escolares, o curso de Pós-Graduação é uma
forma de aprimoramento.
Além disso, o professor é responsável por transmitir o conhecimento de uma forma
que os estudantes possam compreender, tendo uma visão crítica da realidade. Portanto, é
fundamental que este educador esteja preparado para realizar seu trabalho com seriedade,
tranquilidade e profissionalismo. Como afirma Sheibe (2011), atualmente a sociedade tem
exigido professores qualificados, atualizados, o docente é um intelectual, o seu papel é ter
uma visão ampla do mundo, do trabalho, da ciência e da cultura.
São grandes os desafios encontrados pelos educadores; como cita Sheibe (2011), é
preciso romper com o processo histórico de desvalorização social do docente, que afeta a
qualidade dos cursos de formação de professores; a qualidade de formação precisa ser mais
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igualitária e valorizada, apesar desta desvalorização referida, a procura por uma melhor
formação tem acontecido, ainda que seja de maneira lenta.
Diante de todos estes desafios, percebo a necessidade que possui o docente de buscar
uma contínua formação, me colocando no lugar de futura educadora e compreendendo que
cada indivíduo também vive em constante processo de aprendizagem e de aperfeiçoamento.
Assim como afirma Nóvoa (1992), “quando os professores aprendem mais, os alunos
têm melhores resultados”. Compreendo que este é o caminho, desejo contibuir para a
construção de uma sociedade de cidadãos críticos e reflexivos.
Enfim, escrever sobre fatos, experiências vivenciadas na minha trajetória de vida
escolar, foi relembrar de muitas situações que me fizeram voltar ao passado e perceber que
estas lembranças colaboraram para a construção do que sou como pessoa e profissional. As
reflexões do tempo de infância até a fase adulta nos diversos espaços de ensino me revelaram
características que estão interligadas a tudo que vivi no passado, um passado que está presente
e um futuro com o qual sonho.
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CAPÍTULO 2: Uma breve análise das políticas públicas para a formação continuada
dos docentes no Brasil atual
Conforme cita Gatti (2008), nos últimos anos houve um aumento significativo de
políticas voltadas para formação continuada. Estes cursos são oferecidos para professores que
já possuem a graduação e para aqueles que ainda não cursaram o ensino superior. Como
afirma a autora, as formas e maneiras de oferecer os cursos de formação contínua são bem
diversificadas e a formação continuada tem contribuído para a melhoria e desempenho dos
profissionais da educação.
A formação continuada é realizada como reflexão, discussão, troca de experiências;
estes elementos favorecem aos docentes um possível aperfeiçoamento em suas práticas
cotidianas. Esta formação acontece através de diversos cursos e programas. Estes cursos são
efetuados de maneira flexível, como por exemplo, à distância, semipresencial, via internet ou
com materiais impressos. (GATTI, 2008)
As redes estaduais, federais, municipais e instituições privadas são os responsáveis por
oferecerem estes cursos de formação continuada. Existem cursos que são realizados em curto
tempo, ou seja, sua duração pode acontecer de um a três dias, como também ter longo prazo,
em um período de quatro anos.
Como afirma Gatti (2008), as regiões sul e sudeste do Brasil oferecem um número
maior de cursos de formação contínua e geralmente estes cursos são pagos. Na
contemporaneidade a variedade de cursos tem aumentado de forma desordenada. O
crescimento da diversidade desses cursos tem acontecido devido às dificuldades existentes no
processo de aprendizagem por parte dos gestores e professores, constatadas também através
de pesquisas, logo então, surgiu o discurso em prol da necessidade de atualização e renovação
de conhecimento.
Atualmente vivemos muitos desafios no cotidiano das escolas e, nesse sentido, é
necessário reformular os cursos de formação inicial e continuada. É fundamental que estes
cursos sejam estruturados de maneira que os conteúdos abordados e a prática de ensino
estejam interligados. O distanciamento entre conteúdos abordados e a prática afetam os
sistemas de ensinos, gerando resultados negativos. (NÓVOA, 2012)
Portanto é primordial a junção entre a teoria e a prática, ou seja, temos que fazer uma
reflexão crítica sobre as discussões teóricas e o repensar das práticas adotadas no interior das
instituições de ensino. O melhor lugar para o docente aprimorar a sua prática pedagógica seria
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no interior da escola, em uma ação reflexiva através das experiências vivenciadas no
cotidiano escolar. Nas palavras de Freire (1996, p. 39):
Por isso é que, na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática.
O sistema educacional brasileiro contemporâneo está fragmentado e sobrecarregado
devido à falta de investimento e compromisso dos setores responsáveis pela gestão
educacional no Brasil. A falta de interesse das autoridades governamentais acaba contribuindo
para um processo educacional com pouco êxito, entretanto, as trasformaçãoes necessárias
acontecem de maneira lenta. Cabe aos docentes sinalizar os problemas existentes na escola e
reivindicar transformações, com objetivo de se criar mecanismos que diminuam a tensão
causada pela falta de apoio e incentivo do complexo Sistema Educacional Brasileiro que
acabam prejudicando os estabelecimentos de ensino. (NÓVOA, 2012)
Concordo com o autor Nóvoa (2012), quando afirma que a educação assumiu muitas
tarefas, além de reforçar um discurso construído no contexto histórico que busca culpalizar os
docentes pelos efeitos da crise econômica na escola. “É o fenômeno da escola transbordante”,
tudo é transportado para os ambientes escolares. Existem outros setores institucionais que
deveriam assumir também o papel educador para que as escolas estivessem realizando apenas
o que realmente seria de sua responsabilidade.
É possível trilhar outros caminhos para amenizar e solucionar as dificuldades no
campo educacional, como por exemplo, há instituições que também podem assumir
responsabilidades científicas, culturais e educacionais, é fundamental que haja uma parceria, a
escola necessita de apoio, amparo, etc. Uma nova forma de organização, de estrutura, outro
modelo, as mudanças devem acontecer. Outro apontamento interessante seria a integração
entre centros acadêmicos, espaço de pesquisa e campo de trabalho. As experiências
compartilhadas entre docentes que possuem uma formação mais longa e os recém formados
contribuem para a construção de uma formação melhor. Esta perspectiva é bem coerente, mas
pode parecer inviável para os profissionais da educação pelo fato da carreira docente ser
desvalorizada e o salário ser incompatível com a sua formação. (NÓVOA, 2012)
No Brasil as extensões destes cursos de formação continuada se concretizaram no
sentido de suprir a precariedade dos cursos de formação inicial, e não para que os docentes
aprofundem seus conhecimentos. Segundo Gatti (2008) os cursos de nível superior de
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formação docente oferecidos no Brasil não são de qualidade. As pesquisas, as avaliações e os
concursos públicos revelam que os professores não possuem nível adequado de
conhecimento, por isso é necessária a criação e ampliação dos cursos de formação com mais
qualidade para solucionar este problema. A maioria das iniciativas públicas de formação são
realizadas como programas compensatórios, e não como meio de atualização e
aprofundamento de conhecimento, o objetivo seria o de superar as dificuldades causadas pela
má-formação. (GATTI, 2008)
Conforme afirma Nóvoa, a ciência e a sociedade vêm se modificando com muita
rapidez, portanto é necessário que os docentes utilizem métodos novos, atualizados. As
práticas adotadas atualmente estão ultrapassadas, é preciso estabelecer práticas pedagógicas
inovadoras, buscar novos conhecimentos, como também há a necessidade de modificação na
estrutura física dos estabelecimentos de ensino. O espaço escolar recebe pessoas
diversificadas e de culturas diferentes. A diversificação cultural, social contribui para o
processo de aprendizagem das crianças. Segundo o filósofo inglês Hebert Spence (1820-
1903), citado por Nóvoa (2012):
Tudo que une e tudo que liberta. O que une são as raízes, o que liberta é o mundo. O que une são as culturas a que pertencemos. O que liberta são as ciências e as outras culturas. O que une são as tradições. O que liberta é o conhecimento sobre outras realidades. Sempre que perdemos a segunda dimensão ou a deixamos de lado propositalmente, confinamos as crianças em espaços coerentes, porém muito mais pobres.
A escola verdadeiramente é o lugar em que podemos nos relacionar com uma
variedade de sujeitos diferentes uns dos outros. É neste ambiente que aprendemos a respeitar e
a conviver com a diversidade, quebrando os preconceitos e as discriminações. As experiências
que o docente vivencia no cotidiano escolar contribuem, assim, para um processo contínuo de
formação.
2.1 Análise de alguns Cursos de Formação Continuada no Brasil a partir da Década de
1990
Gatti (2008) analisa dois programas de educação continuada no meado dos anos 1990,
sendo estes projetos referências de inovação. O primeiro Programa de Capacitação de
Professores (PROCAP) foi criado no estado de Minas Gerais pela Secretaria de Educação,
contemplando docentes que atuavam no 2º ano ao 5º ano nas redes estaduais e municipais
(MINAS GERAIS, 1996) e o segundo, o Programa de Educação Continuada (PEC), realizado
21
pela Secretaria de Educação do estado de São Paulo para os professores de ensino
fundamental.
Como relata a referida autora, o PROCAP tinha como objetivo capacitar mais de 80
mil professores, do primeiro segmento, nas disciplinas de ciências, geografia, história,
matemática, português, como também fazer com que os docentes refletissem sobre suas
práticas pedagógicas. A formação foi realizada a distância, os docentes faziam o curso no
horário de trabalho dentro do espaço escolar de atuação. Este processo se dava de maneira
centralizada e em currículo único. (MINAS GERAIS, 1996)
O PEC foi criado entre os anos de 1996 e 1998 com o objetivo do desenvolvimento de
todos os profissionais que atuam na área educacional, tais como: coordenador pedagógico,
diretores, professores do Ensino Fundamental e técnicos. Este programa aconteceu de modo
presencial. O surgimento deste projeto se deu a partir das necessidades expressas pela rede em
19 pólos. Os pólos que sinalizaram esta dificuldade de aperfeiçoamento foram divididos e
deslocaram seus educadores para as instiuições de ensino superior e agências capacitadas que
ofereciam esses treinamentos. Este projeto teve a participação de mais de noventa mil
indivíduos. (GATTI, 2008)
Estes programas foram financiados pelo Banco Mundial. Em uma pesquisa realizada
pela a autora Vanda Duarte (2004), citada por Gatti (2008), comparando ambos os projetos,
percebeu-se que o programa efetuado pelo estado de Minas foi menos detalhado e de menor
número em relação a São Paulo. No projeto mineiro os participantes foram menos
questionadores. Na cidade de São Paulo houve uma grande variedade de questionamentos,
cada região apontou questionamentos diferenciados. As explicações expressas pela a autora
são:
[...] o fato de que programas mais padronizados e centralizados geralmente implicam pouco questionamento por parte dos treinados, que estão habituados a apresentar uma postura passiva diante da capacitação; segundo, programas não padronizados podem gerar satisfação e insatisfação, dependendo de como e por quem são ministrados; terceiro, programas que mobilizem postura mais ativa e crítica diante da capacitação podem resultar em avaliações com o mesmo perfil; quarto, falhas no processo de avaliação, que não captou as dificuldades/ insatisfações. (p.162)
Segundo Duarte (2004) citado por Gatti (2008), as capacitações que obtiveram
melhores resultado na cidade de São Paulo foram as que promoveram uma negociação mais
próxima entre gestores e instituições com um número maior de contingente. A autora através
da pesquisa efetuada percebeu que o pequeno envolvimento por parte da Secretaria de
Educação do Estado de São Paulo pela difusão do programa quase que total, prejudicou em
22
certa medida o desenvolvimento dos treinamentos. Em Minas Gerais, os cursos padronizados,
definidos em um único modelo não contemplaram em sua totalidade as necessidades dos
docentes. Podemos citar alguns pontos positivos do PEC, tais como, a tentativa de
atendimentos a necessidades regionais, a conscientização de que o professor seja um agente
ativo no processo de capacitação, a utilização de métodos voltados para a ação-reflexão nos
cursos de formação. Os pontos positivos no PROCAP são: o comprometimento das agências
central e locais com o curso de capacitação, a inclusão de todas as escolas e o incentivo para
que os professores participem do projeto.
De acordo com Gatti (2008), O Programa de Formação de Professores em Exercício
(Proformação), elaborado pelo Ministério da Educação (MEC) oferecia diploma de ensino
médio para os docentes que não possuíam nenhum tipo de formação. Esses cursos eram
estruturados em módulos com variedades de métodos de ensino articulados e currículo
organizado. Este programa era realizado nas regiões Centro-oeste, nordeste e norte, até 2006
cinqüenta mil docentes já tinham passado por este projeto. O PEC-Formação universitária, da
Secretaria de educação do Estado de São Paulo com parceria com outras instituições, USP,
UNESP, e PUC-São Paulo; assumiram características diferenciadas. Cada instituição era
responsável pelo seu conteúdo, programação e materiais didáticos. No órgão Estadual o
projeto contemplou oito mil professores. A rede municipal também recebeu este projeto,
porém com algumas modificações, cujo nome, (PEC-Municípios). A UNESP desenvolveu o
Programa pedagogia Cidadã atendendo primordialmente municípios do Estado de São Paulo,
na área de Educação Infantil, principalmente os professores que não possuíam o Ensino
Superior, estes cursos atenderam cinco mil educadores. Esses cursos são fundamentais e
possuem um tempo de duração.
2.2 Expansão dos cursos de formação superior para professores e aprimoramento do
corpo docente
A profissão docente exige um aprender contínuo. Os cursos de formação devem se
debruçar sobre dois aspectos fundamentais, o primeiro seria o professor como agente e o
segundo a escola como um espaço de crescimento profissional permanente. “A formação é
um ciclo que abrange a experiência do docente como aluno (educação de base), como aluno-
mestre (graduação), como estagiário (práticas de supervisão), como iniciante (nos primeiros
anos da profissão) e como titular (formação continuada)”. A fase em que o docente necessita
de mais apoio seria o início de sua atuação profissional, este momento é decisivo para o
23
professor, quando ele encontra um suporte metodológico, científico e profissional ele
consegue superar as dificuldades existentes no sistema educacional e prossegue em sua
carreira. (NÓVOA, 2012, p.01)
O Projeto Veredas é um curso de Formação Superior de Professores em parceria com
o governo do Estado de Minas Gerais, incluindo diversas instituições de ensino superior e
universidades no interior da região de Minas Gerais. Este projeto tem a duração de quatro
anos, os participantes são os professores que atuam nos primeiros anos do ensino fundamental
nos estabelecimentos educacionais públicos do estado. Durante o curso são oferecidas
ferramentas tecnológicas variadas, além de o treinamento ser realizado em serviço. O curso é
oferecido em dois momentos, ou seja, uma parte acontece à distância e a outra presencial. No
ano de 2001, já contabilizava cerca de 30 mil educadores (MINAS GERAIS, 2001).
Conforme Gatti, (2008), neste mesmo período o governo também criou políticas de
aperfeiçoamento para os gestores educacionais. Cabe ao gestor assumir a responsabilidade de
efetuar seu trabalho de maneira coletiva, além, de sua função exigir uma formação contínua e
permanente com o objetivo de se criar uma escola de qualidade e democrática, sendo assim:
[...] Destaca-se a importância de se desenvolver programas de formação voltados para as especificidades do trabalho dos gestores, alicerçados na articulação entre as dimensões admistrativas, pedagógicas e metodológicas de formação, além de se proporcionar diálogo e encontros entre pessoas, valores, concepções, práticas e emoções. (ALMEIDA, 2005)
Portanto é fundamental a criação de cursos de aperfeiçoamento, como o Programa de
Capacitação a Distância para Gestores Escolares (Progestão), este projeto foi desenvolvido
pelo Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação (CONSED), em parceria com
os estados no ano de 2001, sendo estendido para todos os estados do Brasil. Podemos citar
alguns estados, como Pernambuco, Santa Catarina e Tocantins, os docentes e os gestores
participaram deste curso. Os dados apresentado pelo monitoramento do CONSED afirmam
que em 2006 o Progestão já tinha atendido em todo o país 128.764 gestores. Em 2001, no
Estado de São Paulo foi implementado o programa Circuito Gestão pela a Secretaria estadual
de Educação contemplando todos os gestores de instituições estaduais (SÃO PAULO,
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, 2001).
O MEC também possui vários programas com o propósito de melhoria para as escolas
estaduais e municipais, tais como: Um salto para o Futuro; Parâmetros em Ação; Programa de
Desenvolvimento Profissional continuado; aceleração de estudos, todos estes projetos com o
objetivo de melhorar o processo de alfabetização infantil, o aperfeiçoamento do ensino de
24
matemática, língua portuguesa e outras disciplinas. Melhoria na gestão, oferecendo curso de
formação continuada para o corpo docente em serviço. As parcerias foram realizadas entre
universidades e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), em
vários estados e municípios. Outros programas como: Programa Pra ler, que incentiva à
leitura e à escrita, para os docentes do 2º ao 5º ano do ensino fundamental, Programa de
Gestão da Aprendizagem Escolar – Gestar, do Fundescola, do Instituto Ayrton Senna,
Projetos Acelera Brasil, Se liga e Gestão; Projeto Informática da Wicrosoft/PUC – SP;
Programa Intel – Educação para o futuro; o Formando Gestores, da Fundação Lemann; o
projeto Poronga, da Fundação Roberto Marinho; os projetos de escrita e leitura, formação na
escola para o ensino de língua portuguesa; e o Entre na Roda, do CENPEC, existem tantos
outros que não poderemos citar. (GATTI, 2008)
Estamos vivendo em um período como cita a referida autora, onde o número de
proposta para a oferta de formação continuada tem aumentado significadamente, pois se torna
necessário analisar a estrutura destes cursos para avaliar o seu nível de eficácia. Os gestores e
os legisladores têm discutido e compartilhado suas inquietações com relação ao padrão destes
programas de formação continuada. Os administradores públicos têm se movimentado para
que estes projetos sejam oferecidos com qualidade e credibilidade. Sendo assim, algumas
universidades públicas (federais e estaduais), a Fundação Getúlio Vargas, a Fundação
Pinheiro e outras instituições tradicionais em parceria com o MEC e as Secretarias de
Educação estaduais e municipais têm oferecido essas formações com o objetivo de manter o
padrão de qualidade do ensino.
2.3 Diversidade de cursos de formação continuada e preocupação com o padrão de
qualidade
Estes cursos têm sido fiscalizados e avaliados pela Fundação Getúlio Vargas e
Cesgranrio. Outros tipos de pesquisas realizadas pela a universidade Federal de Minas Gerais,
universidade de São Paulo, universidade Federal do Ceará, universidade Federal do Rio
Grande do Sul, universidade Federal do rio Grande do Norte, universidade Federal de Santa
Maria e a universidade Federal do Mato grosso do Sul. Ainda como percebe Gatti (2008),
através de levantamento de fontes e dados foi verificado que os órgãos públicos ofereciam o
curso de formação continuada para os docentes em todos os estados do Brasil, e em grande
parte das cidades metropolitanas. Algumas consultorias foram contratadas para oferecer os
treinamentos, todas com acompanhamento.
25
Como cita Géglio (2006), citado por Gatti (2008), depois de dois anos do projeto de
formação continuada foi realizada uma pesquisa narrativa com os docentes que participaram
dos cursos de Formação Universitária do Estado de São Paulo e o Programa de Educação
Continuada no Município de São Paulo, foi possível perceber um discurso contraditório por
parte de alguns educadores afirmando que não obtiveram nenhum tipo de conhecimento,
posteriormente declararam que adquiriram muitas aprendizagens em que aprenderam coisas
novas e relembraram de situações que tinham esquecido. Ainda percebemos na fala dos
professores que após a conclusão do curso as práticas adotadas dentro da sala de aula eram
diferentes, ou seja, foram modificadas, até mesmo aqueles que negaram não ter recebido
nenhum tipo de aprendizagem confessaram haver mudanças em suas práticas. Assim, como:
O professor não deve se comportar “apenas como objeto da história”, mas o sujeito. Portanto, “no mundo da história, da cultura, da política,” o docente constata os fatos ocorridos em sua sociedade não para se adaptar a realidade, porém, mas para transformar a situação por meio de suas práticas. Sobretudo, o educador ao buscar por um processo contínuo de formação certamente utilizará ferramentas eficazes que possivelmente trará grandes benefícios no desenvolvimento intelectual de seus alunos. (FREIRE, 2009, p. 77)
Enfim, diante de tudo que foi relato através da pesquisa realizada, percebo uma
preocupação profunda em relação às dificuldades e desigualdades que sempre existiram no
campo da educação e que vem se agravando cada vez mais com as transformações ocorridas
no mundo atual. Um dos aspectos que me conforta, apesar destes conflitos e desafios, seria a
perseverança, expectativa e esperança de alcançarmos as mudanças necessárias que a nossa
sociedade tanto precisa. Portanto, é fundamental que os profissionais da educação tenham
uma formação sólida, sejam educadores que possuam uma reflexão crítica do mundo e
acreditem que é possível mudar.
Este estudo por meio de revisão da literatura trouxe algumas inquietações a respeito do
processo de formação continuada dos docentes. No entanto, realizei uma pesquisa de campo
no interior de uma instituição municipal de ensino para analisar o processo de formação das
professoras. Através de entrevistas perceber a realidade cotidiana destes profissionais e fazer
perguntas como: Quais as contribuições da formação continuada para a prática pedagógica? O
que eles pensam a respeito dos desafios educacionais? Existe apoio ou incentivo dos órgãos
centrais do sistema educacional para que os docentes dêem continuidade a sua formação?
26
CAPÍTULO 3: Formação continuada e gestão no cotidiano de uma escola municipal
A gestão é um elemento fundamental para a qualidade da educação básica. Ela deve
envolver todos os indivíduos que fazem parte do estabelecimento de ensino, portanto, é no
diálogo com o outro que se constitui a gestão. O trabalho realizado de maneira coletiva dentro
das instituições escolares leva a bons resultados, pois as pessoas sentem-se parte deste
ambiente, responsáveis pelos projetos e objetivos propostos pelo coletivo. Como cita Vieira,
(2009) “sem interesse e compromisso com a mudança não há boa estrutura que por si possa
fazer a escola funcionar bem”.
A Lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei 9.394, de 1996, reafirma
a gestão democrática como princípio orientador na organização do trabalho em escolas
públicas. No entanto é importante ressaltar que cada estabelecimento escolar é responsável
por criar mecanismos que envolvam a participação dos professores nos seus projetos. A
legislação ressalta, ainda, o princípio que garante o “pluralismo de ideais e concepções
pedagógicas”. De acordo com a LDB a democratização da gestão da escola é pautada na
autonomia e no trabalho coletivo. (GARCIA, 2009; CORREA, 2007)
Apesar da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de nº 9.394, de 1996,
afirmar que as instituições de ensino devem realizar seu trabalho a partir de uma gestão
democrática, percebemos que no Brasil isto ainda não se tornou realidade, pelo fato de
historicamente as escolas brasileiras possuírem um sistema centralizador e hierárquico. Há
uma luta constante por parte dos docentes para conseguir a garantia de um tempo e um espaço
de reflexão. Outro aspecto que podemos perceber seria em relação ao posicionamento de
muitos diretores em elaborar seu trabalho como um gerenciador e controlador do serviço dos
professores, neste caso os profissionais de educação se sentem coagidos pela figura do gestor.
(GARCIA, 2009; CORREA, 2007)
Conforme citam Garcia (2009) e Correa (2007), o Sistema educacional é estruturado
de maneira que o trabalho docente em sua maioria acontece de modo estritamente técnico, não
havendo uma articulação com os demais professores, sendo assim, o trabalho não é efetuado
de forma coletiva e tão pouco em ações articuladas. Os indivíduos que exercem outras
funções fora da sala de aula raramente participam do projeto pedagógico da escola. A
democracia sem envolvimento não existe, percebo que a gestão democrática ainda é
considerada uma proposta e não uma realidade.
27
É importante que o gestor desenvolva estratégias que motivem a participação dos
docentes nas propostas da escola. A relação entre o gestor e o corpo docente deve acontecer
com proximidade, liberdade de expressão, diálogo e compreensão. Para os professores
efetuarem seu trabalho com eficácia é fundamental que a escola disponibilize materiais
pedagógicos, como também suporte para os profissionais.
Conforme indica Vieira (2009) a escola sendo “um lugar de encontro e de diálogo”, o
docente é uma figura fundamental. Concordo com a afirmação realizada por um recente
documento internacional de pesquisa sobre educação, o Relatório Mc Kinsey & Company:
How the world’s best-performing school systems come out on top ( 2007), citado por Vieira,
(2009, p.144), no qual acentua que “uma escola é tão boa quanto são seus professores”.
Portanto é fundamental que as instituições de ensino invistam na formação contínua dos
docentes.
Compreendendo a importância que possui o docente em relação às ações promovidas
pelas instituições escolares e ao processo de aprendizagem dos alunos, o estudo Aprova
Brasil, realizado pelo Ministério da educação e pelo UNICEF (2006) expressa claramente a
importância do professor, assim como:
O professor e a professora têm um papel central no processo educativo. Além de sua tarefa específica de coordenar as atividades cotidianas do aprender e da maior convivência e interação com os alunos, é para eles que são dirigidas as expectativas de aprendizagem, de reconhecimento, de afetividade, de superação e de vivências dos alunos. Todo projeto pedagógico depende das condições objetivas que a política oferece e da competência, compromisso profissional e consciência ética de todos os profissionais envolvidos. No caso dos professores, esses fatores tornam-se mais cruciais, porque é ele ou ela quem estabelece os vículos, orienta as ações e, junto com as crianças e os adolescentes, determina o rítmo do processo de aprendizagem. Não será exagero dizer que o professor é a alma do processo educativo. (MEC/UNICEF, 2006, p. 79 apud VIEIRA, 2009)
A educação é um processo complexo e contínuo, portanto demanda um investimento
financeiro expressivo e uma boa equipe profissional. Como citado anteriormente, ainda se
torna distante da nossa realidade um modelo de gestão totalmente democrático devido à falta
de investimento econômico e as ações políticas que possuem um discurso democrático,
porém, continuam exercendo uma prática centralizadora. Podemos tomar como exemplo para
esta afirmação a implantação de políticas voltadas para o gestor escolar ocorrido na rede
estadual do Estado de São Paulo, em que a Secretaria de Estado de Educação e a Fundação
Vanzolini disponibilizam aos gestores materiais prontos para efetuarem seu trabalho seguindo
um manual de instrução, chamado “Caderno de Gestor”, nesta apostila encontra-se medidas
relacionadas ao Currículo, Avaliação e Expectativas de Aprendizagem. (SÃO PAULO,
28
2008b, citado por GARCIA, 2009; CORREA, 2007). As escolas que desejam e possuem a
intenção de efetuar seu trabalho de forma democrática são vetadas devido à estrutura do
Sistema Educacional brasileiro.
Conforme afirmam Garcia (2009) e Correa (2007), estas medidas aconteceram
individualmente, com a ausência do conselho de escola, ou da gestão democrática. As
autoridades governamentais do Estado de São Paulo vem implementando uma lógica
administrativa tipicamente empresarial, com uma estrutura falha pelo fato de não garantir
elementos materiais necessários para realizar o objetivo proposto. Estas medidas são
contraditórias, por um lado, padroniza-se o “ensino” e se estabelecem instrumentos externos
para o controle da qualidade, mas por outro lado, não existem recursos para os centros de
ensinos e nem para o aprimoramento dos profissionais de educação. Sendo assim:
[...] é fundamental que a escola tenha sua “filosofia político pedagógica norteadora” resultante, como já mencionado, de uma análise crítica da realidade nacional e local expressa em um projeto político pedagógico que caracteriza em sua singularidade, permetindo um acompanhamento e avaliação contínuos por parte de todos os participantes da comunidade escolar (estudantes, pais, professores, funcionários e direção) e local (entidades e organizações da sociedade civil identificados com o projeto da escola). (BRASIL, 2004, p. 24-16)
Percebemos que o discurso político é totalmente contraditório as práticas exigidas
pelas autoridades governamentais de São Paulo dentro dos estabelecimentos de ensino. Então
o Caderno do Gestor elaborado pela Secretaria de Estado de São Paulo revela claramente a
intenção de se efetuar um currículo único, padronizado, para todas as instituições escolares da
rede estadual, impossibilitando a implantação de uma gestão democrática no interior das
escolas. Sabemos que cada escola possui característcas próprias, no entanto não podemos
utilizar apenas uma proposta para vários estabelecimentos de ensino, necessitamos analisar a
particularidade de cada instituição escolar para elaborar mecanismos que contribuam para um
trabalho de qualidade.
É verdade que o Sistema educacional brasileiro está passando por um processo
bastante crítico no que se refere à gestão democrática da escola pública e também na garantia
de uma qualidade de ensino que seja oposta à lógica do mercado, porém é possível a
modificação desta realidade, através da conscientização de que o professor é um intelectual
capaz de interferir nas mudanças que necessitam ser realizadas no interior das escolas
públicas. (GARCIA, 2009; CORREA, 2007)
Como afirmam Garcia (2009) e Correa (2007) as políticas não são “materializadas” na
escola tal e como foram formuladas, já que os indivíduos pertecentes a este espaço possuem
29
diversas maneiras de interpretá-las, resistindo ou alterando seu significado original, sendo
assim:
Na compreensão de que mesmo tendo uma tradição verticalista e centralista em políticas públicas no Brasil, a consideração dos contextos em que elas transitam reafirma o quanto as políticas educacionais não são formulações “dadas” a execução para sua implantação, mas são formulações que passam por múltiplos processos de comunicação, apropriação, eliminação, ressignificação, supressão e fragmentação. (WERLE et al, 2007, p.125)
Portanto é primordial que o docente tenha uma visão ampla da política de modo a
problematizá-la e, em alguns casos, até mesmo rejeitá-la. Pouco se discute nas instituições de
ensino sobre políticas, logo não há uma reflexão sobre o que venha a ser de modo mais
profundo a democracia. Quais os deveres e direitos do cidadão em um país “supostamente
democrático”? Os professores, alunos e todo sujeito tem o direito de expressarem suas
opiniões, ou seja, o que pensam, mesmo que suas opiniões sejam opostas, é necessário se
realizar uma reflexão crítica do nosso cotidiano.
3.1 Apresentação do trabalho de campo
3.1.1 A escola pesquisada
A Unidade Municipal de Educação Infantil Rosalina de Araújo Costa (UMEI) está
localizada no Barreto, bairro da zona norte da cidade de Niterói, Rio de Janeiro. Inaugurada
em 24 de junho de 1959.
A UMEI é mantida pela Fundação Municipal de Educação de Niterói e atende a 280
alunos entre 3 e 6 anos, distribuídos em 16 turmas, sendo 8 por turnos (3 do 4º ano da Ed. Inf.,
2 do 5º ano da Ed. Inf e 3 do 6º ano da Ed. Inf., no 1º turno, e 2 do 4º ano da Ed. Inf., 3 do 5º
ano da Ed. Inf e 3 do 6º ano da Ed. Inf., no 2º turno).
A escola conta com trinta e sete professores, um auxiliar de portaria, um agente de
coordenação de turno, dois agentes de administração Educacional, dois agentes educadores
infantis, cinco merendeiras, seis auxiliares de serviços gerais, uma supervisora, uma
orientadora educacional, uma diretora e uma diretora adjunta.
A escola Rosalina tem oito salas de aula, incluindo sala de leitura, casa de bonecas,
pátio coberto, dois parques de areia, play, banheiros infantis e de adultos, sala de recursos,
sala de professores, cozinha, refeitórios, secretaria e sala de direção.
30
A escolha da escola para realizar a pesquisa deu-se pelo fato de ser uma instituição
escolar que possui uma prática pedagógica consolidada e diferenciada, possui mais de quatro
décadas de existência no município de Niterói.
3.1.2 Metodologia: a pesquisa qualitativa em educação
Conforme Bogdan e Biklen (1994), na pesquisa qualitativa, a fonte primordial de
dados é o ambiente natural e o investigador o agente principal. É necessário que o
investigador esteja um bom tempo no seu campo de estudo com o intuito de mergulhar nas
questões educativas. Existem diversos meios que o pesquisador pode utilizar para realizar seu
trabalho como: vídeos, áudios, além do registro escrito que é fundamental.
O investigador qualitativo se desloca para o local de pesquisa porque se preocupa e
quer compreender o contexto. As ações podem ser melhor compreendidas quando o
pesquisador realiza suas observações no ambiente de estudo. Por meio do contato, do
convívio, do diálogo e da aproximação vai encontrando e construindo pistas fundamentais ao
trabalho, durante o tempo que o pesquisador está inserido no seu campo de estudo. “Para o
investigador qualitativo divorciar o acto, a palavra ou o gesto do seu contexto é perder de
vista o significado”. (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.48). Sendo Assim:
Se a interpretação antropológica consiste na construção de uma leitura dos acontecimentos, então, divorciá-la do que se passa – daquilo que em determinado momento espaço-temporal pessoas particulares afirmam, fazem, ou sofrem de entre a vastidão de acontecimentos do mundo – é o mesmo que divorciá-la das suas aplicações, tornando-a oca. Uma boa interpretação do que quer que seja – um poema, uma pessoa, uma história, um ritual, uma instituição, uma sociedade- conduz-nos ao coração daquilo que pretende interpretar. (GEERTZ, 1973, p. 13)
Na presente pesquisa o trabalho de campo foi desenvolvido na Escola Municipal
Rosalina de Araújo Costa, no município de Niterói, através da participação nas reuniões
pedagógicas que são realizadas uma vez por semana no interior da escola. A partir do relato
da coordenadora pedagógica, da gestora e das professoras, durante o planejamento das aulas,
realizei observação dos diálogos e interações corpo docente, fazendo registro no diário de
campo da pesquisa que muito contribuíam para a construção do meu trabalho.
Realizei entrevista com três professoras, procurando compreender como acontecia o
processo de formação de cada uma. Se as docentes possuiam ou estavam realizando algum
curso de formação continuada e se estes cursos corroboraram com o trabalho pedagógico
31
realizado no cotidiano escolar. Ainda durante o diálogo com as educadoras pude também
refletir sobre a dinâmica da gestão naquele local.
3.2 Relatos sobre as práticas pedagógicas adotadas no interior da escola pesquisada
No primeiro dia da pesquisa de campo assisti a reunião pedagógica. Inicialmente a
coordenadora Carla apresentou alguns problemas existente na escola, as professoras também
falaram sobre algumas dificuldades. Todos os docentes são ouvidos e podem opinar em
relação aos problemas. Mas percebi que nem todas as profesoras querem se envolver nos
conflitos da escola. Existem educadoras desmotivadas, cansadas, sabemos que a realização de
um bom trabalho egixe dedicação, comprometimento, disposição, ou seja, é preciso sair da
zona de conforto. Há liberdade de diálogo entre o corpo docente para tentar solucionar os
conflitos. Quando não se resolve os problemas a coordenadora anota o que está acontecendo
para buscar uma solução. Portanto pude perceber que o trabalho é realizado de maneira
dialógica.
No segundo momento a coordenadora divulgou um comunicado da Secretaria de
Educação a respeito de apresentação de trabalho. Este trabalho é opcional, fica a critério de
cada docente. Isto demonstra que o professor possui a liberdade de escolha, o interesse em dar
continuidade à sua formação é um processo individual. Mais uma vez pude obsevar que não
são todas as professoras que se interessaram por este comunicado. Com bastante clareza as
docentes que demostraram interesse são as que se envolvem e contribuiem durante o
planejamento escolar. A coordenadora procura exercer sua prática através de uma gestão
democrática.
No terceiro momento a coordenadora entregou uma pasta de diário de campo para
cada professora e explicou a importância de descrever algo interessante que tivesse
acontecido no interior da sala de aula e também fazer uma reflexão sobre sua prática cotidiana
no término da aula. Esta atitude é fundamental, além de compreender que a teoria e prática de
ensino devem se interligar, este é o papel do docente, refletir sobre seu trabalho.
O planejamento pedagógico se consolida na criação de projetos envolvendo os
estudantes, pois a escola trabalha de forma democrática envolvendo todos em suas ações. É
fundamental ouvir o que os alunos pensam e podem realizar em relação às atividades
propostas. Assim como o da “inconclusão do ser que se sabe inconcluso” (FREIRE, 1996, p.
59). Esta frase se encaixa muito bem na figura do discente como participante e peça
fundamental dos objetivos da escola em formar cidadãos críticos e reflexivos.
32
Durante as reuniões pedagógicas a coordenadora Carla comunicou e apresentou as
professoras locais onde acontecem eventos culturais como sugestão para que as professoras
possam levar os alunos para participar de uma atividade externa. Ao longo da pesquisa
observei a preocupação do gestor escolar em criar mecanismos e ferramentas que possibilitem
aos estudantes um desenvolvimento reflexivo e crítico do mundo. As práticas adotadas pela
gestora são voltadas para que os discentes desde o início tenham autonomia, liberdade de
expressão e reflita em suas ações. Como “ensinar exige autonomia do ser educando”.
(FREIRE, 1996, P. 59)
Nas reuniões pedagógicas são citados alunos que estão passando por problemas, a
coordenadora e algumas professoras conversam buscando soluções para resolver e amenizar
as dificuldades. O objetivo da gestão seria adotar uma prática de formação continuada através
do compartilhamento das experiências cotidianas das professoras. Como citado no texto
anterior, tomando como referência a autora (GATTI, 2008). Porém, apenas uma parte das
educadoras corresponde às medidas da escola.
Durante a pesquisa a coordenadora apresentou um projeto oferecido pela Secretaria de
Educação de Niterói. Se o projeto for aprovado a escola ganhará um determinado valor
financeiro para comprar materiais pedagógicos em benefício do estabelecimento escolar.
Ficou decidido que a Carla em parceria com as professoras que aceitaram participar deste
trabalho iriam elaborar o projeto. Como é fundamental o apoio e o incentivo da gestora em
uma ação realizada de maneira democrática, este trabalho só foi possível ser realizado porque
estes profissionais possuem uma boa formação, estão dispostos a superar os desafios,
compreendem que a função do professor é estar em contínua formação, são indivíduos
capazes de efetuar uma produção científica bem elaborada.
Em outra reunião a coordenadora conversou sobre um projeto que a instituição de
ensino está planejando para envolver as famílias dos discentes. Este evento será realizado em
um sábado para que os familiares participem. Serão realizadas diversas oficinas com o
objetivo de envolver os responsáveis e as crianças. Algumas professoras relataram sobre
questões das dificuldades que enfrentam em inserir os familiares nas propostas da escola.
Podemos perceber a preocupação dos docentes em relação à importância de fazer com que os
pais entendam que eles têm o direito de colaborar e optar no trabalho que a escola está
desenvolvendo. Vejo que os professores compreendem a necessidade de se estabelecer uma
parceria entre o ambiente escolar e a comunidade para efetuar um bom trabalho. O tempo
todo o corpo docente faz uma reflexão sobre a teoria e prática de ensino em busca de
mecanismos que favoreçam o desempenho de um bom trabalho em benefício dos alunos. O
33
comportamento de alguns profissionais dão indícios de comprometido e seriedade em suas
tarefas. Esta afirmação é coerente quando se diz que “a prática docente crítica, implicante do
pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o
fazer”. (FREIRE, 1996, P. 38)
Em outro momento na reunião pedagógica a coordenadora Carla divulgou um curso de
especialização em uma determinada instituição de ensino, as docentes que se interessarem
podem pedir informações mais detalhadas. Outro aviso sobre uma atividade externa para que
as professoras se organizem e levem os discentes para participarem do evento. Nesse
estabelecimento de ensino os profissionais estão sempre envolvidos em formação contínua,
buscando novos ambientes de conhecimento, o educador está em constante atualização. Uma
gestão democrática que compreende a importância de aperfeiçoamento. Uma escola em
movimento, viva, como citado anteriormente é um ambiente que possui indivíduos, portanto a
rotatividade e o dinamismo estão presentes.
Durante a pesquisa, em uma reunião, uma professora compartilhou com o corpo
docente, através da escrita (um diário de campo), relatando desde início do ano até aquele
momento sua reflexão sobre o seu trabalho com a turma e aspectos que necessitam de
mudanças no interior da escola. Foi um momento muito comovente, a coordenadora ficou
muito emocionada com a postura, dedicação, comprometimento, preocupação que
demonstrou a docente, a vontade de realizar seu trabalho de maneira eficaz, o interesse de
ensinar aos alunos buscando resultados positivos, a ansiedade de querer fazer o melhor para
conquistar o objetivo proposto, a superação de suas expectativas. O sistema educacional é
complexo, desafiador, mas existem profissionais que acreditam que mudar é possível. A
formação ética deve caminhar junto da estética. É possível realizar um bom trabalho.
(FREIRE, 1996, p. 32)
A professora em seu relato expressou a necessidade de se criar novos instrumentos de
aprendizagem, como valorizar a música, criar projetos de cultura, conhecer outros espaços de
formação, os discentes devem ter contato com outros ambientes. Mas este trabalho só é
possivel se houver a cooperação e o apoio de outros professores, é preciso sair da zona de
conforto, do comodismo. O trabalho coletivo, o pensar juntos para se criar novos mecanismos
de ensino, compartilhar as experiências que deram certo e interiorizar as práticas pedagógicas
que são efetivas. A integração da sala de leitura com os conteúdos dados pelos docentes para a
continuidade do processo de conhecimento. As propostas de ensino devem ser unificadas.
Outro aspecto muito interessante em uma das falas na reunião pedagógica foi sobre a
importancia da motivação, ou seja, uma professora motivada contagia a equipe, é preciso
34
sonhar, acreditar na transformação da educação. A ansiedade e a vontade de mudar suas
práticas foram notórias na fala de algumas docentes. Como fazer? O que fazer? É preciso
romper com práticas tradicionais, o conflito entre o tradicional e novo. A dificuldade que
algumas professoras enfrentam em desapegar de métodos antigos e vivenciar o novo.
Compreendo a dificuldade que possui o indivíduo em desconstruir o antigo para construir o
novo, deixar a maneira que sempre aprendeu e ensinar algo novo, viver o risco é preocupante.
A profissão docente é realmente desafiadora.
3.3 Análises da entrevista com as professoras
A professora Ana Carolina Batista Maia Ramos trabalha na Unidade Municipal de
Educação Infantil Rosalina de Araújo Costa, disse que sempre gostou da profissão docente.
Depois que terminou o Ensino Médio prestou o vestibular para a área de educação porque
gosta de atuar como educadora. Ela passou para os cursos de letras e pedagogia, porém
escolheu o curso de pedagogia. Iniciou a graduação na Faculdade de Formação de Professores
(FFP), mas foi morar no Rio Grande do Sul, e pediu transferência para Universidade do Vale
do Rio dos Sinos aonde concluiu a faculdade.
A professora Ana Carolina possui seis anos de profissão docente e atualmente está
concluindo um curso de Pós-Graduação em Formação Básica em Educação na FFP. Esta
afirmação da professora nos revela, como citado anteriormente, que a carreira docente é um
processo contínuo de formação.
O estabelecimento escolar que trabalha oferece muitos cursos de formação continuada,
ela disse que estuda constantemente, a escola oferece seminários, palestras, os próprios
professores coletivamente organizam e realizam estes cursos, também trazem pessoas de
outras instituições para efetuar curso de formação continuada. Interessante esta parceria,
compartilhar experiências com outros ambientes de ensino, conhecer o cotidiano de outros
profissionais, a troca de conhecimentos impulsiona a maturidade para atuar com mais firmeza
diante dos conflitos educacionais. A pedagoga traz textos para as docentes estudarem.
Conforme cita a docente:
Nas reuniões pedagógicas estudamos coletivamente, o tempo inteiro estamos nos aperfeiçoando. Sempre que tem cursos, a gestão incentiva, apoia, informa e nos libera para irmos fazer o treinamento. Há um escala para que todos os docentes possam participar.
35
Entretanto, existe uma preocupação da gestão em adquirir profissionais capacitados e
em contínua formação. A Prefeitura de Niterói normalmente oferece cursos de formação
continuada. Logo no início do ano letivo são realizados estes cursos com duração de quatro
dias aproximadamente. A Ana Carolina afirma a importância de fazer os cursos de formação
continuada, ela fez um curso de autismo e hiperatividade que contribuiu muito para trabalhar
com um aluno que possui estes sintomas. Como relata a professora:
Pude compreender as dificuldades e limitações que o aluno possuia. Anteriormente eu pensava que simplesmente o estudante não queria participar das atividades. Após o término do curso entendi o problema do educando, então refleti em minha prática pedagógica e coloquei em ação o que aprendi durante o treinamento.
A educadora declara que o curso de Pós-graduação contribuiu para refletir sua prática
de ensino, ela pôde fazer uma auto-reflexão com o objetivo de melhorar as ações realizadas na
sala de aula e corrigir os erros cometidos. Além de afirmar que os textos teóricos discutidos
durante o curso de especialização, os debates entre os discentes que já atuavam como
docentes em outras escolas e as professoras das disciplinas, como também as experiências
positivas relatadas pela turma colaboram para a reformulação de sua metodologia de ensino.
Os diálogos e as experiências compartilhadas foram primordiais na continuidade do processo
de conhecimento.
Na escola é realizado um planejamento coletivo no qual são expostos dificuldades
entre professores e alunos, o docente que anteriormente trabalhou com este estudante orienta e
auxilia a educadora recém-chegada. Uma equipe que se dispõe em ajudar e apoiar os
profissionais que estão vivenciando dificuldades. Esta instituição de ensino efetua seu
trabalho de forma coletiva e democrática, construindo um entrosamento entre o corpo
docente. Uma escola comprometida com a qualidade de ensino e a valorização de seus
funcionários.
A professora Késia cursou o Ensino Médio no Instituto de Educação Clélia Nanci. A
escolha do curso surgiu por opção própria, mesmo tendo em sua família muitas professoras,
sua mãe não queria que ela fosse educadora, porém, desde criança queria ser docente. Esta
escola antigamente era referência, ela estudava o dia inteiro, adquiriu um processo sólido de
aprendizagem. Ao concluir o curso normal entrou no mercado de trabalho. Iniciou sua carreira
docente em escolas particulares, ela afirmou que foi bom porque estava com muitas idéias,
expectativas, tudo seria novidade. Inseriu-se em uma universidade particular, porque
trabalhava e não tinha tempo de estudar para concorrer a uma vaga em uma faculdade pública.
Fez pedagogia, já tinha experimentado a prática, os textos teóricos ampliaram o conhecimento
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de análise, o diferencial seriam as disciplinas de políticas públicas e educação empresarial.
Naquela época abriu-se a oportunidade para os pedagogos trabalharem em empresas, isto o
motivou, se entusiasmou, então resolveu dar continuidade a graduação. Foi convidada para
trabalhar em um colégio da Marinha. Porém, passou no concurso da Prefeitura de Educação
de Niterói e se desligou da escola da Marinha.
Resolveu fazer um curso de Pós-graduação em Psicopedagogia. Atua como docente há
dezessete anos, porém está nesta escola há pouco tempo, mas está muito feliz pelo fato de
poder trabalhar com liberdade. Afirmou que a gestão apóia, confia, e acredita nas docentes.
Os funcionários se sentem seguros e amparados. O objetivo da gestão é efetuar um trabalho
com qualidade. As professoras são orientadas a transmitir um conhecimento diferenciado. O
discente é educado de maneira autônoma, reflexiva, como citado no capítulo anterior quando
diz formar cidadãos críticos e reflexivos, levar a criança a compreender que ela é capaz de
realizar as tarefas exigidas, gerando um sentimento de confiança. Ao longo do ano a
professora percebe o desenvolvimento, crescimento, a autonomia dos discentes. A construção
do conhecimento foi demonstrada através de um jogo de boliche abordando várias questões,
as crianças coletivamente construíram suas regras, montaram o time, o jogo, “foi
surpreendente, um momento muito especial e gratificante”, declarou a professora. Quando os
alunos vão para outras atividades com outras professoras, elas comentam sobre o nível de
aprendizagem dos estudantes. O caminho percorrido é muito significativo, pois a autonomia é
benéfica para ambos os lados, facilita o trabalho da educadora.
A professora Fabiane Lima Rosa atua como educadora há dezenove anos, ela diz que
foi praticamente obrigada a fazer a faculdade de pedagogia, não teve a oportunidade de
escolher o curso que gostaria de fazer. A mãe possuía uma escola pequena e queria que ela se
tornasse a diretora daquele estabelecimento de ensino. Era muito nova e não possuía
maturidade suficiente para expressar sua vontade, não sabia conversar. Teve uma criação
rígida e severa, fazia parte de uma família tradicional e não poderia ter contato com homens,
ela foi bastante repremida. Naquela época os indivíduos não podiam expressar suas idéias,
pensamentos.
Apesar de ter passado por muitas dificuldades, no decorrer do curso se apaixonou pela
educação, e teve a convicção de que queria ser professora. Ela gosta de se relacionar com
pessoas e ver o desenvolvimento e a formação dos discentes, “é gratificante ver os resultados
do nosso trabalho”. Ela trabalha em outra instituição com adolescentes, também já trabalhou
com Jovens e adultos. A oportunidade de trabalhar com Educação Infantil, Ensino
Fundamental, Jovens e Adultos pôde compartilhar estas experiências com os alunos para que
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eles compreendam a realidade cotidiana e valorizem o tempo de estudo. Ela afirmou que gosta
do que faz.
A Fabiane realizou um curso de especialização em história e educação infantil. A
escola Municipal Rosalina de Araujo Costa na realidade se transforma em um curso de
formação contínua, “estamos o tempo inteiro refletindo nossas práticas pedagógicas”, no
cotidiano escolar aprendemos algo novo. Os filhos da docente Fabiane estudaram nesta
instituição e adquiriram uma formação escolar muito sólida. Esta instituição utiliza métodos
que colaboram para o crescimento da criança, ela aprende a se comportar com um nível de
maturidade elevado. Segundo a fala da docente as crianças não são educadas como bebês, eles
são sujeitos ativos, nós ensinamos a eles se posicionarem enquanto indivíduos, nós
valorizamos os saberes comunitários de cada discente, tomo com referência a afirmação em
que é necessário estabelecer uma “intimidade” “entre os saberes curriculares fundamentais
aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos”. (FREIRE, 1996, P. 30)
As histórias dos estudantes são ouvidas e respeitadas. No momento a professora não
está realizando nenhum curso de formação continuada fora do espaço escolar. Porém como
falado no diálogo com as demais docentes, a Prefeitura de Educação de Niterói oferece cursos
de formação continua, a escola promove um grupo de estudo em forma de rodízio onde as
professoras estudam antes do horário de planejamento. Os temas abordados são
correlacionados as práticas educacionais, a coordenadora apresenta projetos de outros centros
de ensino que obtiveram resultados positivos, eles são discutidos e aplicados. O
estabelecimento escolar está sempre em busca de experiências que deram certo em outros
espaços e que podem ser útil para eles. É fundamental o apoio da gestão. O trabalho se torna
produtivo quando há um comprotimento mútuo entre a gestão e o corpo docente. O tempo de
planejamento deve ser utilizado na concretização dos objetivos propostos. No momento do
estudo coletivo como afirma a professora pode-se refletir na prática, utilizando-se métodos
para corrigir erros.
A escola está localizada próximo a uma comunidade, as crianças brincam de armas, o
seus heróis são os “maus elementos” (bandidos), os objetos são transformados em armas, são
as imagens da realidade cotidiana dos estudantes refletidas em suas ações. Assim, como cita a
educadora: A implantação da formação continuada na escola proporciona um diálogo entre a equipe, os textos teóricos nos ajudam nas decisões que necessitamos tomar, com o objetivo de reeducar os alunos. É fundamental desmontar esta visão errada do que eles vivenciam, nós discutimos com eles estas questões, depois apresentamos os
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projetos que vamos trabalhar. Não fugimos da realidade deles, mas queremos realizar o nosso trabalho de maneira encantadora.
A professora afirmou que a formação continuada tem contribuído para sua prática, no
momento das trocas de experiências, podem ajustar o modo de trabalho. A docente conta que
foi alfabetizada em um modelo simples. Portanto, ela declara que foi difícil, doloroso, aceitar
e acreditar em um novo modelo de alfabetização, como diz o “Paulinho da Viola que as coisas
que estão no mundo, é preciso aprender”. As crianças quando lidam com as letras, com as
palavras, elas aprendem, os docentes apenas fazem a interferência. Em todos os lugares os
alunos podem unir as imagens e fazer a leitura do mundo. “No momento em que eles estão
brincando estão construindo conhecimento, quando eles estão no parque eu faço observações,
o que acontece de diferente, registro e compartilho nas reuniões pedagógicas”. É um processo
contínuo de aprendizagem, as educadoras estão o tempo todo construindo conhecimento, é
tudo muito dinâmico, a escola é movimento.
Atualmente se fosse escolher outra graduação faria um curso de medicina ou
veterinária, porque gosta de animais. Há um desgaste pelo tempo extenso na profissão e a
idade, são os aspectos que geram conflitos, discordância e insatisfação relacionados a algumas
exigências da Secretaria de Educação de Niterói. Durante a entrevista observei a praticidade
em que a docente orienta seus alunos, os métodos utilizados de maneira democrática,
liberdade de pensamento e atitude espontânea. Apesar dos professores trabalharem de forma
liberal, existem regras que os estudantes devem cumprir, deve-se respeitar a autonômia da
professora. Anteriormente foi citado que o educador mesmo realizando seu trabalho com
liberdade deve manter o controle e a autonomia no interior da sala de aula, o trabalho deve ser
direcionado pela professora.
Foi notório e gratificante perceber ao longo das entrevistas o potencial que cada
profissional possui, o comprometimento e o desejo de se construir um trabalho com seriedade
e responsabilidade. A educação é um sistema complexo e desafiador e para enfrentá-lo, nada
como pessoas que acreditam na mudança e não desistem de lutar por uma educação para todos
e de qualidade.
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Conclusão
Este estudo propiciou a importância de compartilhar as experiências através da escrita
sobre a construção da trajetória educacional e profissional enquanto indivíduo, bem como a
investigação sobre as experiências relatadas e vivenciadas no sistema educacional, em que a
formação continudada dos professores necessita do apoio das políticas públicas
governamentais, fundamentado em alguns autores teóricos como Almeida, (2005), Bragança,
(2009), Brasil (l998), Biklen, (1994), Bogdan (1994) e Garcia (2009). Outros autores como,
Correa (2007), Gatti (2008), Geertz (1973), Freire (1996), Nóvoa (2007), Scheibe (2011) e
Werle (2007) também contribuíram como aportes teóricos ao trabalho, sem os quais
provavelmente não teria sido possível compreender as reflexões durante a realização.
Deste modo as questões discutidas e analisadas colaboraram sobremaneira para o
exercício da reflexão pelo qual se percebe a necessidade em que o docente esteja em constante
reformulação de sua prática com o objetivo de efetuar seu trabalho da melhor forma possível.
Considero o tema uma fonte inesgotável de estudos, visto que o sistema educacional atual
vem sofrendo constantes modificações.
Diante do mundo contemporâneo os conflitos e as dificuldades existentes nas
instituições de ensino vêm criando certo desconforto para os gestores e os professores, há uma
preocupação constante em se criar metodologias e ferramentas na tentativa de amenizar os
problemas. Tomando como referência o autor Nóvoa (2012), em afirmar que os instrumentos
utilizados no Sistema Educacional brasileiro são ultrapassados, é fundamental que os docentes
apresentem as dificuldades existentes na escola com o objetivo de modificar a realidade.
No estabelecimento de ensino onde foi realizada a pesquisa foram identificadas, por
parte de alguns docentes, a disposição e o desejo de efetuar o trabalho com responsabilidade,
seriedade, compromisso e dedicação. Porém, o descaso e a falta de apoio das autoridades
govenamentais prejudica o trabalho do corpo docente, onde muitos professores estão
desmotivados.
As questões de estudo problematizaram de que forma a gestão tem se comportado em
relação aos profissionais da educação no interior do seu campo de trabalho e se as políticas
públicas existentes colaboram para o desenvolvimento dos professores.
Esta investigação revelou que a gestão proporciona espaço para a formação
continuada, entretanto, apenas uma parte da equipe corresponde às demandas da escola. Nem
todos os docentes se interessam pelos cursos de formação contínua. Durante a pesquisa pude
perceber diferentes perfis profissionais, parte dos professores apesar das contadições e da
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complexidade existente na escola e no sistema educacional efetuam seu trabalho com
responsabilidade, comprometimento, eficiência e qualidade, permanecem motivados,
buscando um aperfeiçoamento contínuo, respondendo aos objetivos da instituição escolar.
Outras realizam seu trabalho sem perspectiva de mudança, não querem se envolver com os
desafios e problemas da escola. A proposta da instituição de ensino é promover uma gestão
democrática. As ações promovidas pelo estabelecimento de ensino são voltadas para o
desenvolvimento educacional dos discentes e aperfeiçoamento dos profissionais que desejam
dar continuidade em sua formação.
As transformações ocorridas no sistema educacional vêm acontecendo de forma lenta,
desejamos que as modificações sejam aceleradas, para que os professores sejam valorizados
profissionalmente, seu esforços também sejam reconhecidos. Precisamos de uma escola
alegre e estruturada com recursos materiais e financeiros. Queremos uma sociedade mais
igualitária, justa. Que os indivíduos sejam respeitados, ouvidos e possam desfrutar dos seus
direitos.
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REFERÊNCIAS:
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democrática. In: Salto para o Futuro. Série integração de tecnologias, linguagens e
representações. Rio de janeiro: TV Escola, SEED-MEC, 2005. Disponível em:
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Porto (Portugal): Porto Editora, 1994.
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BRAGANÇA, I. F.S. O/A professor/a e os espelhos da pesquisa educacional. Revista
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GARCIA, T. O. G. Desafios à democratização da gestão escolar e a atuação dos professores
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NÓVOA, Antônio. (org.). Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992.
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NÓVOA, ANTÔNIO. Conferência. Desenvolvimento profissional de professores para a
qualidade e para a equidade da Aprendizagem ao longo da vida. Lisboa, Parque das Nações –
Pavilhão Atlântico – Sala Nónio, 27 e 28 de Setembro de 2007.
NÓVOA, A. A educação assumiu muitas tarefas: é o fenômeno da escola transbordante.
Publicado em Nova Escola. Edição 255. Outubro, 2012. Disponível em:
http://revistaescola.abril.com.br/formacao/entrevista-educador-portugues-antonio-novoa-
716412.shtml?page=1. Acesso: 28.05.2014.
SHEIBE, L. Universalização da formação superior dos professores é tendência mundial. Edição 54 - Formação de Professores. Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/conteudoJornal.html?idConteudo=1650.Acesso: 28.06.2014.
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acerca da formação do professor rural. Série Estudos: periódico do mestrado em Educação da
UCDB, Campo Grande, n. 24, p. 121-132, jul/dez.2007.
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ANEXO
Universidade do Estado do Rio de Janeiro Faculdade de Formação de Professores
Sub-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Educação Básica
Orientadora: Profª Drª Inês Ferreira de Souza Bragança
Orientanda: Luciana Rodrigues de Araujo
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Temática central da investigação – Formação: Perspectivas de formação continuada
no cotidiano de uma escola pública municipal: contribuições da gestão
Nome da entrevistada:_________________________________________________
Escola:_____________________________________________________________
Data: _______________ Duração:________________________________________
Autoriza a divulgação do seu nome?________ E o da escola?__________________
• Narre os caminhos trilhados em sua trajetória de formação e de atuação
profissional. (o que levou à docência? Qual a sua formação? Possui nível
superior? Tem quantos anos de profissão docente?)
• Você tem curso de formação continuada? Ou está realizando algum curso de
formação continuada no presente momento?
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• Caso você esteja realizando algum curso de formação continuada, este
processo aconteceu de que maneira?
• O estabelecimento escolar em que você atua oferece algum tipo de formação
continuada?
• De que forma a gestão escolar onde você atua como docente contribui ou não
para o seu processo de formação continuada?
• A escola na qual atua tem momentos de planejamentos ou estudos coletivos?
Como se desenvolve a dinâminca desses encontros? Como avalia essa
oportunidade de encontro com os colegas?
• Relate sobre formação continuada. (benefícios, mudanças, resultados, etc)
45
• A formação continuada contribui em sua prática cotidiana? De que maneira?