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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ CURSO DE PEDAGOGIA GRAZIELA MULLER BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: Um estudo sobre Aprendizagem e Desenvolvimento a partir das brincadeiras das crianças em uma Instituição de Educação Infantil São José 2013

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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

CURSO DE PEDAGOGIA

GRAZIELA MULLER

BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL:

Um estudo sobre Aprendizagem e Desenvolvimento a partir das

brincadeiras das crianças em uma Instituição de Educação Infantil

São José

2013

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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

CURSO DE PEDAGOGIA

GRAZIELA MULLER

BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL:

Um estudo sobre Aprendizagem e Desenvolvimento a partir das

brincadeiras das crianças em uma Instituição de Educação Infantil

Trabalho elaborado para a disciplina de Conclusão de Curso (TCCII) do Curso de Pedagogia, como requisito parcial para curso de graduação em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José- USJ. Orientadora: Profa. Ma. Arlete de Costa

Pereira

São José

2013

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GRAZIELA MULLER

BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL:

Um estudo sobre aprendizagem e desenvolvimento a partir das brincadeiras

das crianças em uma Instituição de Educação Infantil

Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito parcial para obtenção do grau de licenciada em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José – USJ avaliado pela seguinte banca examinadora:

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________ Profª. Ma. Arlete de Costa Pereira

Orientadora - USJ

_________________________________________________________ Prof. Dr. Adilson De Angelo Examinador - FAED/UDESC

_________________________________________________________ Profª. Ma. Keila Villamayor Gonzalez

Examinadora - USJ

São José, 25 de junho de 2013

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Dedico ao meu pai, Waldecir “in

memoriam,” pela sua ausência, por ser seu sonho, ver sua filha se formando

como professora; dedico também a minha mãe, Helena, pela presença

constante.

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AGRADECIMENTOS

Os meus agradecimentos são para todas as pessoas que compartilharam da

minha descoberta como profissional, no decorrer do curso de pedagogia,

despertando em mim a vontade de ser professora, principalmente quando

comecei os estágios. O da Educação Infantil foi o primeiro, e me permitiu

perceber que, ao estar perto das crianças, meu envolvimento e minha dedicação

estão presentes, portanto, agradeço a todas as crianças que fizeram parte desse

percurso, pois minha paixão por elas é imensa.

Agradeço ao meu marido, que sempre me incentivou e apoiou a continuar o

curso, pois certamente houve alguns momentos de cansaço e desânimo, por

estar bem ocupada com trabalho e estudos.

Agradeço também a minha mãe e ao meu pai, por me ensinarem muito do que

sei hoje, principalmente sobre as características de personalidade que deveria

levar para minha vida, em relação à educação, ao respeito, sempre me tratando

com muito amor e carinho, me aconselhando para ter a base que tenho hoje,

como pessoa.

Agradeço à minha irmã, por ser minha companheira de todos os momentos de

infância, e a meus padrinhos, Moacir e Luciana, por me olharem com orgulho

quando falo da faculdade, do curso, das crianças, das vivências com elas, me

entusiasmando e passando energia positiva através do olhar, com olhos cheios

de lágrimas. Sinto-me muito amada pelos dois, portanto, agradeço a toda minha

família, que de alguma forma me apoiou.

Agradeço a minha orientadora e professora Arlete, por me acompanhar desde o

estágio da Educação Infantil, me ensinando a enxergar além do que o nosso

olhar nos permite, olhar com a alma para cada criança. O que mais me chamou a

atenção foi ensinar por meio da brincadeira, respeitando sua individualidade e

sua cultura, logo, com o projeto do trabalho de conclusão de curso, ela me

passava segurança para que a elaboração e a transcrição fosse um aprendizado

prazeroso, bom de fazer.

Agradeço às professoras de estágios, da pesquisa do TCC e a todas que fizeram

parte do percurso do curso, trazendo sua didática e seus pensamentos, que

ajudaram e auxiliaram para ampliar os meus conhecimentos.

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Tenho aprendido com o tempo, que a felicidade vibra na frequência das coisas mais simples.

Que o que amacia a vida, acende o riso, convida a alma para brincar, são essas imensas coisas pequeninas bordadas com fios de luz no tecido áspero do

cotidiano. Como o toque bom do sol quando pousa na pele.

A solidão que é encontro. O café da manhã com pão quentinho e sonho compartilhado.

A lua quando o olhar é grande. A doçura contente de um cafuné sem pressa.

Ana Jácomo

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RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso apresenta os resultados da pesquisa de campo realizada como requisito parcial para a conclusão do Curso de Pedagogia, do Centro Universitário Municipal de São José - USJ, e discorre sobre o tema da brincadeira na Educação Infantil. Tem como objetivo investigar a importância das brincadeiras no desenvolvimento infantil, as influências que exercem na vida das crianças e as possibilidades de conciliar brincadeiras, desenvolvimento e aprendizagens no cotidiano de uma Instituição Educação Infantil. O trabalho de campo foi realizado em uma instituição de educação Infantil, pública, e teve como sujeitos da pesquisa, um grupo de crianças, composto de oito meninos e seis meninas, com idade entre 4 e 5 anos. A pesquisa, de abordagem qualitativa, teve como metodologia a observação em campo, com registros em Diário de campo, registros fotográficos e entrevistas semiestruturadas com a professora, crianças e coordenação pedagógica. As bases teóricas estão alicerçadas em autores que discutem a temática, na perspectiva do direito à brincadeira, como parte importante do desenvolvimento. A pesquisa permitiu uma compreensão sobre a importância das brincadeiras, nos aspectos que possibilitam a ampliação da imaginação, criação, recriação, faz de conta. Os papéis sociais e históricos estão presentes, nessas interações, possibilitando a transformação do pensamento concreto para o abstrato, do real para o imaginativo, havendo, assim, etapas que são importantes para o desenvolvimento infantil nas diferentes faixas etárias. Dentro desse percurso da pesquisa, os resultados foram obtidos, tendo em vista que foi possível constatar que a aprendizagem e o desenvolvimento estão presentes nas brincadeiras, enriquecendo o cotidiano das crianças, considerando que a brincadeira é fundamental e principal, ou seja, ela é uma atividade guia, e que nesses momentos da brincadeira, deve prevalecer o respeito ao sujeito social de direitos, buscando garantir a participação, a liberdade de pensamento, a criticidade, entre outros aspectos que favorecem o desenvolvimento infantil. Palavras-chave: Brincadeiras. Aprendizagem. Desenvolvimento Infantil. Direitos.

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LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1 – Cozinha dentro da sala da turma ....................................... 41

Fotografia 2 – Brincando na cozinha ........................................................ 41

Fotografia 3 – Casinha sobre um lenço grande e colorido ....................... 41

Fotografia 4 – Quebrando ovos ................................................................ 44

Fotografia 5 – Mexendo os ingredientes ................................................... 44

Fotografia 6 – Fizeram formas de caracol e minhoca .............................. 44

Fotografia 7 – Esperam com as placas e instrumentos ............................ 46

Fotografia 8 – Todos os grupos se reunindo, para sair juntos .................. 46

Fotografia 9 – Na manifestação, andam e cantam pelo Campus ............. 46

Fotografia 10 – Todas as crianças que fizeram a passeata ....................... 47

Fotografia 11 – Reivindicam sobre a limpeza e o brincar no bosque ......... 47

Fotografia 12 – Voltando da manifestação ................................................. 47

Fotografia 13 – Brincam com os tacos, girando-se ..................................... 49

Fotografia 14 – Escutam a explicação e as opções das brincadeiras ........ 49

Fotografia 15 – Brincando de jogar taco ..................................................... 49

Fotografia 16 – Organizam quem vai brincar primeiro ................................ 49

Fotografia 17 – Jogam uma pedrinha pra não pular naquele quadrado ..... 49

Fotografia 18 – A fila da amarelinha ficou grande ...................................... 49

Fotografia 19 – Brincando de escreve no quadro que tem na sala ............ 50

Fotografia 20 – Brincando com os carrinhos e com os discos .................... 50

Fotografia 21 – Brincando de casinha, mãe e filha ..................................... 50

Fotografia 22 – Pintando os papéis para sua caixa de história .................. 51

Fotografia 23 – Escrevendo seu nome como a professora ........................ 51

Fotografia 24 – Pintando de tinta guache o papel ...................................... 51

Fotografia 25 – Ela segura as bolas, concentrada ...................................... 52

Fotografia 26 – Segura todas para soltar e descer as bolas ...................... 52

Fotografia 27 – Ficam olhando as bolas de gude, descerem até cair ........ 52

Fotografia 28 – Na sala de artes a professora distribui os bodes ............... 53

Fotografia 29 – Escolhem cores para pintar os bodes de argila ................. 53

Fotografia 30 – Pintam com muita atenção e dedicação ............................ 53

Fotografia 31 – Perguntou a ela se queria ajuda para segurar a cesta ...... 54

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Fotografia 32 – Colocando as pinhas na cesta ........................................... 54

Fotografia 33 – Todos pegam pinhas, e a palha levam nas mãos ............. 54

Fotografia 34 – Todos elementos da história dentro da caixa .................... 55

Fotografia 35 – Abrindo a caixa de história e organizando ......................... 55

Fotografia 36 – Contando a história ............................................................ 55

Fotografia 37 – Brincam com fantasias ....................................................... 56

Fotografia 38 – Brinca com a roda de bastão, encaixando cores ............... 56

Fotografia 39 – Brinca na cozinha de fazer comida .................................... 56

Fotografia 40 – Pega todas ferramentas ..................................................... 57

Fotografia 41 – Martela no parafuso, para arrumar o telhado .................... 57

Fotografia 42 – Pinta o telhado com o rodo ................................................ 57

Fotografia 43 – O professor Giba, ensina a lixar as madeiras .................... 60

Fotografia 44 – As crianças lixam as madeiras (placas) ............................. 60

Fotografia 45 – O professor diz para sentir se tem mais farpas ................. 60

Fotografia 46 – Começaram a fazer o colar ................................................ 60

Fotografia 47 – Usam de pérolas, missangas, etc ...................................... 60

Fotografia 48 – A professora diz que está pronto o colar ........................... 60

Fotografia 49 – Roda para mostrar o presente no pacote (saco) ............... 61

Fotografia 50 – A professora escreve um bilhete, dando com o presente . 61

Fotografia 51 – No final do teatro o grupo dá o presente ........................... 61

Fotografia 52 – Joga o avião para mim, como se estivesse voando .......... 67

Fotografia 53 – Eu peguei o avião .............................................................. 67

Fotografia 54 – Joguei para ele o avião, voando também .......................... 67

Fotografia 55 – Brincam de escorregador ................................................... 68

Fotografia 56 – Brincam de balanço ........................................................... 68

Fotografia 57 – Brincam de gangorra ......................................................... 68

Fotografia 58 – Brincam conversando ........................................................ 68

Fotografia 59 – Brincam de sentar em cima da varanda ............................ 68

Fotografia 60 – Brincam e entram dentro da casinha ................................. 68

Fotografia 61 – Brinca de encher o balde de areia (comida) ...................... 69

Fotografia 62 – Levar até o amigo (filho), os baldes ................................... 69

Fotografia 63 – Levando a “comida” ........................................................... 69

Fotografia 64 – Os direitos da criança que nesta Instituição é respeitado,

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exposto em uma placa de vidro na parede do corredor ao

lado da secretária .............................................................. 69

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LISTAS DE ABREVIATUDAS

USJ – Centro Universitário Municipal de São José

UFSC – Universidade Federal de São José

CEI – Centro de Educação Infantil

NDI – Núcleo de Desenvolvimento Infantil

MEC – Ministério de Educação

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12

2 A BRINCADEIRA NA APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO INFANTIL ... 125

2.1 BRINCADEIRA: CONCEITOS E HISTÓRIA. ....................................................... 15

2.2 BRINCADEIRA E DESENVOLVIMETO INFANTIL ............................................. 21

2.2.1 Brincadeiras de Antigamente ........................................................................ 22

2.2.2 Brincadeiras de Faz de Conta ....................................................................... 23

2.2.3 Brincadeiras com Regras .............................................................................. 24

2.3 A BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORIENTAÇÕES LEGAIS ........ 24

2.3.1 A Brincadeira nas Diretrizes Curriculares Nacionais .................................. 24

2.3.2 A Brincadeira no documento “Critérios para um Atendimento” ................ 26

2.3.3 A Brincadeira nos Parâmetros Curriculares Nacionais .............................. 27

2.3.4 A Brincadeira no Referencial Curricular Nacional ...................................... 28

2.4 A BRINCADEIRA E A CONSTRUÇÃO DAS CULTURAS DE PARES ................ 28

2.4.1 A Construção da Cultura de Pares no Contexto da EI ................................ 29

2.5 A BRINCADEIRA E O DESENVOLVIMENTO DOS PAPÉIS SOCIAIS.............. 31

3 CAMINHOS METODOLÓGICOS ........................................................................... 33

3.1 ENFIM, A PESQUISA DE CAMPO ..................................................................... 36

4 CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO................................................................ 37

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISES DOS RESULTADOS DA PESQUISA ............... 39

5.1 ESPAÇO MÁGICO, PRÓPRIO PARA AS BRINCADEIRAS ............................... 39

5.2 AS BRINCADEIRAS “MEDIADAS E LIVRES” ..................................................... 41

5.3 CRIANÇAS SÃO SUJEITOS SOCIAIS DE DIREITOS........................................ 44

5.4 A LIBERDADE NAS ESCOLHAS DAS BRINCADEIRAS .................................... 47

5.5 BRINCADEIRAS COM A ARTE, A CURIOSIDADE E A IMAGINAÇÃO.............. 51

5.6 A INTENCIONALIDADE DA EQUIPE PEDAGÓGICA......................................... 60

5.7 ESPAÇO QUE RESPEITA AS CRIANÇAS ........................................................ 65

5.8 ENCANTOS E RELAÇÕES AFETIVAS COM AS CRIANÇAS ........................... 65

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 69

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 72

APÊNDICES ............................................................................................................. 75

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1 INTRODUÇÃO

Por que você tem que ser professora de outras crianças e não nossa? Queria

que você fosse nossa professora. Mateus

Esse trabalho discorre sobre o brincar como um Direito das crianças na

Educação Infantil, conforme os documentos do Ministério da Educação (MEC),

Critérios para Atendimento em Creches que Respeitem os Direitos das

Crianças (2009), Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil

(2010), Referencial Curricular Nacional (1998) e Parâmetros Curriculares

Nacionais (2006). De acordo com esses documentos, é importante garantir e

respeitar o direito à brincadeira como um direito fundamental.

Nessa perspectiva, a brincadeira na educação infantil possibilita trocas,

vivências e experiências entre as crianças, contemplando uma diversidade de

culturas e assim, ao interagir umas como as outras, as crianças vão se

constituindo no processo de aprendizagem.

A escolha da temática se deu a partir do estágio de Educação Infantil,

pois no decorrer das observações e atuações junto às crianças, comecei a

refletir e buscar respostas para uma série de indagações que foram surgindo

acerca da importância da brincadeira no desenvolvimento das crianças, da

articulação entre brincadeiras e aprendizagens, das influências que as

brincadeiras podem ou não ter nas interações e vivências infantis. Estas

questões acabaram significando os eixos que nortearam o trabalho de campo.

Segundo Dicionário Michaelis (2009, p.280) o desenvolvimento infantil “é

o crescimento ou expansão gradual”, etapas que existem uma progressão de

aprendizagens, pelas quais são ações e efeitos que as crianças tomam

conhecimento de determinados assuntos.

O objetivo geral desse trabalho é investigar sobre a importância das

brincadeiras no desenvolvimento infantil, as influências que exercem na vida

das crianças e as possibilidades de conciliar brincadeiras, desenvolvimento e

aprendizagens no cotidiano de uma Instituição Educação Infantil.

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Como objetivos específicos, procurei realizar um levantamento

bibliográfico sobre as produções teóricas que discutem a temática da

brincadeira em relação ao desenvolvimento infantil, nos últimos dez anos;

observar se a brincadeira influencia no cotidiano das crianças, nas interações

com os outros e nas relações que estabelecem dentro da Instituição de

Educação Infantil; entrevistar a professora, a coordenadora e as crianças, para

saber como a brincadeira aparece em seus planejamentos, se existe uma

intencionalidade pedagógica ou se é vista como uma atividade espontânea das

crianças; analisar as brincadeiras no processo educacional das crianças que

frequentam a Educação Infantil; investigar se a brincadeira representa uma

estratégia de estimulação na ampliação dos conhecimentos das crianças.

Portanto, o problema da pesquisa é compreender se existe uma

articulação direta entre as brincadeiras, o desenvolvimento e as aprendizagens

das crianças e como isso aparece nos cotidianos de Educação Infantil.

As contribuições que a pesquisa pode trazer para área são no sentido de

proporcionar às profissionais que atuam na Educação Infantil reflexões,

argumentos ou possibilidades de realizar práticas pautadas nas brincadeiras,

garantindo os direitos das crianças, as especificidades desta faixa etária e

também a intencionalidade do trabalho pedagógico para o desenvolvimento

das crianças.

No que se refere à brincadeira na Educação Infantil, existem diferentes

concepções que abordam a questão, aspectos favoráveis, conforme descritos

no documento do MEC, que orientam na garantia dos direitos fundamentais

das e para as crianças, como a importância dos espaços interativos, dos

conteúdos elaborados, da relação entre professora e criança, considerando

sempre o potencial das crianças.

A temática da pesquisa discorre sobre a brincadeira, com a intenção de

refletir sobre a importância dela para o desenvolvimento infantil, com princípios

relacionados às interações sociais e culturais, considerando as crianças como

sujeitos históricos e sociais, sendo embasada em autores que defendem a

garantia da brincadeira no processo educacional, como Kishimoto (2008),

Brougére (2008), Vigotski (2008), e Wajskop (2007).

As questões específicas que nortearam a pesquisa, que me instigaram a

querer aprofundar a temática, foram: Qual a importância do brincar no

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desenvolvimento das crianças? É possível, a partir do brincar, ensinar algo que

venha a contribuir para aprendizagem das crianças, considerando-as sujeitos

sociais de direitos? A brincadeira influencia no cotidiano de cada uma delas,

nas interações com os outros, nas relações que estabelecem no mundo em

que vivem?

Portanto, o trabalho tem como abordagem a brincadeira, referenciada

nos seguintes capítulos: A Brincadeira e sua importância na Aprendizagem e

no Desenvolvimento Infantil, são meus objetivos; Orientações Legais, os quais

são documentos que garantem o direito a brincadeira; A Brincadeira e a

Construção das Culturas de Pares na Educação Infantil, aborda o Brincar e a

valorização da cultura; A Brincadeira e o Desenvolvimento dos Papéis Sociais,

trata da relação com o convívio social da criança; Caminhos Metodológicos,

está descrito como foram feitos a elaboração e o percurso da pesquisa;

Caracterização da Instituição e Quem São os Sujeitos da Pesquisa, que

descreve como é o espaço e os critérios de matriculas; Apresentação e

Análises dos Resultados da Pesquisa /com Articulação Teórica, são os

registros de campo e as análises com base nos referenciais teóricos;

Considerações Finais/ algumas considerações/considerações provisórias, em

que analiso se consegui atingir meus objetivos.

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2 A BRINCADEIRA E SUA IMPORTÂNCIA NA APRENDIZAGEM E NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL 2.1 BRINCADEIRA: CONCEITOS E HISTÓRIA A Brincadeira é simplesmente descrita nos dicionários Mini Dicionário

Luft (1991) com o significado de ação de brincar, diversão, fazer-de-conta,

fingir-ser (p. 95), sendo meramente uma visão semelhante ao senso-comum

atribuído a deixar de lado a importância da brincadeira para o desenvolvimento

infantil.

A partir dos estudos de Kishimoto (2008), Wajskop (2007), Vigotski

(2008) e Brougère (2008), analisam-se contraposições e semelhanças dos

pensamentos desses autores sobre a Brincadeira.

Lev Semionovitch Vigotski, em um trabalho cujo título é A brincadeira e

seu papel no desenvolvimento da criança1(2008), analisa aspectos importantes

da brincadeira na educação infantil.

Partindo de comparações das faixas etárias de bebês até os três anos

(primeira infância) e de crianças acima de três anos até sete anos (pré-escola)

da educação infantil, o autor discute a brincadeira fazendo diferenciações das

idades, tendo em vista o desenvolvimento das crianças em cada etapa.

Para ele, “[...] a brincadeira não é uma forma predominante de atividade,

mas em certo sentido, é a linha principal do desenvolvimento na idade pré-

escolar.” (p.24, grifo nosso), ou seja, o desenvolvimento da criança na pré-

escola está relacionado à brincadeira como a intenção principal, o que faz

sentido, considerando, no geral das faixas etárias, a necessidade de impulsos

para a atividade da criança, impulsos afetivos que devem ser levados em

conta, como um modo de intelectualizá-la para ser valorizada a importância do

interesse que a criança demonstra.

Vigotski traz uma série de questionamentos sobre a brincadeira no

próprio texto, contudo, a criança é sempre seu foco de análise, delineando os

1 Publicado na Revista Virtual de Gestão de Iniciativas Sociais (GIS)- Educação Infantil

(2008), traduzido por Zoia Prestes. A tradutora explica que o texto em português que está sendo apresentado na revista é inédito e foi traduzido do original, publicado no livro Psikhologia Razvitia Rebionka (2004) e resulta de uma palestra estenografada proferida em 1933, no Instituto Gertsen de Pedagogia, de Leningrado.

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momentos da brincadeira que proporcionam a satisfação das crianças e que

dispõem de sentidos que relacionam a realidade, auxiliando no

desenvolvimento infantil e também possibilitando que os impulsos afetivos

aconteçam, demonstrando a vontade das crianças. Em seu ponto de vista,

deve haver esclarecimentos às crianças sobre seus desejos e vontades, no

início de uma brincadeira. O autor aponta as etapas que surgem no decorrer do

desenvolvimento, devido ao processo de modificação das faixas etárias.

Ao se referir à primeira infância e à idade pré-escolar, comparando as

duas, Vigotski analisa que na primeira infância o desejo de satisfação é

imediato, quando quer algo, a criança age de maneira irritada à situação,

diferente da pré-escola, em que, para realizar seus desejos, utiliza a

imaginação do faz de conta nas brincadeiras, suprindo suas vontades, pois, ao

brincar, seus desejos têm a possibilidade de acontecer.

Para ele, a realização dos desejos na brincadeira é imprescindível, pois

oportuniza a criança a ter atitudes afetivas. Porém, as crianças da pré-escola

têm consciência das atitudes afetivas quando se referem aos adultos, porque

na primeira infância essas atitudes afetivas são generalizadas, vendo os

adultos com respeito.

Portanto, as crianças não têm consciência dos motivos que as levam a

brincar de uma determinada maneira e somente na “adolescência” é que

começam a ter esse tipo de percepção.

A brincadeira e a atividade permitem deixar fluir a imaginação, tendo

bases fundamentais que envolvem a criança, como: a realidade, os sentidos,

os impulsos, o processo cognitivo e afetivo.

A partir de um longo processo de desenvolvimento da criança na

brincadeira, as situações começam a ser evidenciadas pela imaginação, não

ligada na própria realidade ou no objeto que ela está vendo, conseguindo

assimilar com as ações imaginárias.

Como demonstra Vigotski em sua constante comparação, na idade pré-

escolar, os objetos podem ter outro significado ou interpretação separada dos

objetos. Assim, por exemplo, um cabo de vassoura pode virar um cavalo.

Na primeira infância, a brincadeira remete a situações de percepção real

que ao longo do processo de desenvolvimento infantil se transformam. Em

outras palavras:

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Essencialmente, isso quer dizer que eu vejo o mundo não apenas de cores e formas, mas vejo-o como um mundo que possui significado e sentido. Vejo não algo redondo, negro, como dois ponteiros, mas vejo o relógio e posso separar uma coisa da outra. (VIGOTSKI, 2008, p.31).

O campo semântico tem outro sentido ou significado para a criança, tem

um objeto, que é visto por detrás da palavra, como o exemplo citado do cavalo

mentalmente imaginado (2008).

Segundo Vigotski, as brincadeiras têm seu destaque por evidenciarem

satisfação máxima, sendo as crianças os próprios autores e organizadores da

brincadeira que torna as realizações possíveis.

Nas brincadeiras, as crianças se situam em idades acima daquela que

possuem, em um comportamento elevado ou superior àquele que apresentam

em seu cotidiano. Nesse sentido, o autor afirma: “A brincadeira em forma

condensada contém em si, como na mágica de uma lente de aumento, todas

as tendências do desenvolvimento; ela parece tentar dar um salto acima do seu

comportamento comum.” (VIGOTSKI, 2008, p.35).

É uma forma de aprendizagem que auxilia para que o processo de

desenvolvimento aconteça e em que a criança se submete a ser adulta como

um desejo, uma vontade.

A brincadeira oportuniza o imaginário da criança, evidenciando situações

concretas, no decorrer do processo de desenvolvimento infantil, no período da

pré-escola, pois, quando a criança está na idade escolar os afazeres são

atribuídos frequentemente, distanciando-se da brincadeira. Como bem afirma

Vigotski:

Do ponto de vista do desenvolvimento, a criação de uma situação imaginária pode ser analisada como um caminho para o desenvolvimento do pensamento abstrato; a regra que se liga a isso parece-me levar ao desenvolvimento de ações da criança com base nas quais torna-se possível, em geral, a separação entre a brincadeira e os afazeres cotidianos, separação esta com que nos deparamos, na idade escolar, como um fato principal.(2008, p.36).

A brincadeira ajuda o desenvolvimento infantil por estar dispondo a

criança a imaginar, pensar, interagir de forma lúdica. De acordo com essas

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etapas de evolução gradativa, para o processo de desenvolvimento estar

presente, é necessário o respeito pela criança.

Na primeira infância, a criança não diferencia a situação real da situação

imaginária. Já na idade pré-escolar, é evidente a diferenciação entre

imaginação e realidade, como já foi abordado, e a criança vai aprendendo os

diversos significados que o objeto pode ter.

No campo semântico, cria-se uma relação que é evidente na brincadeira,

pois o imaginário e a realidade estão no brincar das crianças, porém, na idade

escolar, existe uma continuidade interna, proveniente das atividades cotidianas.

Vigotski (2008) defende, em seu texto sobre a brincadeira e o

desenvolvimento infantil, a ideia de que se deve primeiramente conhecer a

criança como um sujeito social, de vontades e desejos, interações essas que

auxiliam o processo de desenvolvimento, porque, dependendo da faixa etária

da criança, ela aprende de diferentes formas, gradativamente, evoluindo. Esses

momentos devem ser valorizados e respeitados, pois são provenientes dos

impulsos afetivos, da imaginação, da criação, que é essencial na idade pré-

escolar.

Portanto, para Vigotski, a Brincadeira possibilita a aprendizagem das

crianças, através de significações e percepções que são criadas e imaginadas

pelas mesmas. Porém, é nessas situações que o processo de apropriação de

conhecimento acontece se desvinculando do real, não tendo a necessidade de

relacionar a imaginação com a realidade, ou seja, com o concreto.

A autora Gisela Wajskop, em seu livro Brincar na Pré-Escola (2007),

refere-se a uma pesquisa feita numa escola pública de São Paulo, com ênfase

na educação infantil, abrangendo crianças na faixa etária de 3 a 5 anos,

baseada no cotidiano e na realidade, em que analisa a importância da

brincadeira no desenvolvimento infantil.

Ao confrontar a realidade com suas expectativas, a autora tem sua

concepção referente à teoria da brincadeira: “[...] a brincadeira não é

espontânea nem natural na infância, mas é resultado de aprendizagem,

dependendo de uma ação educacional voltada para o sujeito social criança.”

(WASJKOP, 2007, p.111).

Assim, levando em consideração a pesquisa feita na escola, por

Wajskop, em que buscou uma compreensão nas interações sociais das

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crianças e na relação entre professor e aluno, ela orientou e reelaborou

hipóteses que poderiam estar no cotidiano da Instituição.

Para Gisela Wajskop, a brincadeira está ligada à ação do sujeito que vai

resultar na aprendizagem, pensamento que se contrapõe à ideia de Vigotski, já

que este situa que a criança pode ir além da realidade, da ação/ato vivenciado.

Por sua vez, o autor Gilles Brougère, em sua concepção sobre a

brincadeira, que consta no livro O Brincar e suas teorias (2008), fala da

importância da dimensão e da construção cultural do indivíduo, que traz cortes

da realidade, representando por si ou da sua maneira o mundo em que vive,

pois cada cultura tem suas características, que podem ser determinantes

conforme já estabelecido, indicando-as num jogo. Em sua análise, o jogo está

relacionado às interações sociais, dando sentido à cultura existente do

indivíduo com a cultura lúdica:

Parece que a criança, longe de saber brincar, deve aprender a brincar, e que as brincadeiras chamadas de brincadeiras de bebês entre a mãe e a criança são indiscultivelmente um dos lugares essenciais dessa aprendizagem. (BROUGÈRE, 2008, p.22, grifo nosso).

Segundo Brougère, quando a criança brinca expondo o que sabe ou o

que tem em sua cultura preexistente, estabelece vínculos com sua realidade,

ela se lembra de suas vivências, recria situações, como, por exemplo: imitar a

mãe ou de esconder-se, com os parceiros ou sozinha.

Brougère analisa que as crianças, ao se relacionarem com a cultura

lúdica, evidenciam momentos de interesse no jogo, mas o fazem de formas

diferentes umas das outras, pois as crianças tem suas características,

convivem, mas têm histórias distintas.

A autora Tizuko Morchida Kishimoto, no livro Jogo, Brinquedo,

Brincadeira e Educação (2008), afirma que os jogos assumem sentidos

diversos, dependendo da sociedade em que a criança vive, podendo ser o

mesmo jogo com significados diferentes. Segundo esta autora, “entende-se

que o jogo, por ser uma ação voluntária da criança, um fim em si mesmo, não

pode criar nada, não visa a um resultado final. O que importa é o processo em

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si de brincar que a criança se impõe.” (KISHIMOTO, 2008, p. 24).

Nesta perspectiva, Brougère defende que:

[...] quando as situações lúdicas são intencionalmente criadas pelo adulto com vistas a estimular certos tipos de aprendizagem, surge a dimensão educativa. Desde que mantidas as condições para a expressão do jogo, ou seja, a ação intencional da criança para brincar, o educador está potencializando as situações de aprendizagem. (2008, p.36).

Para a Kishimoto, o jogo está sempre envolvido na brincadeira com

intenções, devendo ser ressaltada a conduta da ludicidade que leva à

motivação e ao estímulo. Os brinquedos podem ser utilizados como um recurso

que contribui no processo educativo, nos jogos e nas brincadeiras, na

percepção pedagógica dessas ações e como recurso relevante ao

desenvolvimento infantil.

No entender de Brougère, o jogo possibilita à criança desenvolver a

construção do conhecimento, motivando a ações de aprendizagens.

Em seus estudos, o autor aponta as brincadeiras nas dimensões

tradicionais, como as de faz de conta e as de construção. O autor considera as

brincadeiras tradicionais como reflexo da cultura popular e histórica, e

exemplifica, citando a brincadeira de amarelinha, de jogar pedrinhas, entre

outras, que transmitem cultura de um modo espontâneo, que é do brincar,

possibilitando desenvolver interações sociais. E a brincadeira de faz de conta,

quando a situação imaginária prevalece, deixando as vivências anteriores, está

presente, remetendo a representações simbólicas, transformando-se em

criações. As brincadeiras de construção têm sua importância atribuída ao ato

de estimular e motivar a criatividade, transformando o ato de brincar em

evolução gradativa da criança, devendo ser levada em conta a relevância da

realidade do mundo em que ela vive e suas representações.

Quando Gilles Brougère e Kishimoto fazem relação da brincadeira com o

jogo, apresentam pensamentos no mesmo sentido, pois defendem a

importância do jogo nas brincadeiras, contribuindo para o desenvolvimento

infantil e a aprendizagem das crianças no envolvimento das interações sociais.

A Brincadeira aproxima/possibilita as relações entre as crianças da

mesma idade, de outras idades e com os adultos, confrontando experiências,

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imitação, imaginação, criação e invenções em diferentes momentos. Além

disso, evidencia a construção de saberes, pois é composta por uma variedade

de formas de conhecer e descobrir o mundo, uma diversidade de expressões e

manifestações culturais advindas das crianças, ampliando os repertórios

infantis.

Prado (2002) afirma que a criança, quando brinca, está criando e

recriando formas diferentes de interagir no mundo em que vive. Ela reflete

sobre uma pesquisa que realizou com crianças de 0 a 3 anos, em uma creche

pública de Campinas-SP, onde observou as ações das crianças durante as

brincadeiras:

As crianças [...] inventavam suas brincadeiras e formas de brincar, recriando, no mundo da ordem, outra ordem, alternativa, entendida pelo adulto como desordem, barulho, bagunça. Transgredidamente, por vezes, aproveitando alguns momentos em que se encontravam sozinhas ou sem a participação do adulto, elas brincavam, livremente, escolhendo jogos e definindo regras, brincando simplesmente pelo prazer de o fazer, a brincadeira com um fim em si mesma, escolhendo parceiros e sendo escolhidas por eles, entre objetos, brinquedos, elementos e seres da natureza, porém, num tempo e espaço não definido por elas. (p.105).

Em síntese, brincadeira possibilita uma variedade de aprendizagens,

deixando as expressões das crianças fluírem livremente, contribuindo para

identificar as escolhas de brinquedos e parceiros dos momentos de interações,

encontrando e descobrindo características próprias da criança, possibilitando

invenções e imaginações pelo prazer do brincar.

2.2 BRINCADEIRA E DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Zoia Prestes2 fez a tradução de uma obra de Vigotski em que este autor

destaca que a relação do indivíduo com o outro é de pleno desenvolvimento de

2 Educação Infantil e Sociedade: Questões Contemporâneas, discussões sobre o

contexto histórico-cultural e histórico-filosófico até a atualidade (politicas) da Educação Infantil no Brasil. Livro que resulta de um curso de especialização coordenado pelo NDI (Núcleo de Desenvolvimento Infantil) da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e financiado pelo Ministério da Educação, em que foram feitos seminários, exposições e oficinas. Texto este organizado por Alexandre Fernandez Vaz e Caroline Machado Momm, editora Nova Harmonia, março de 2012.

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suas ideias e de seus pensamentos, no sentido de ampliar o conhecimento e o

acesso ao material cultural, e de almejar o desenvolvimento, inicialmente como

adaptação ao meio em que vive, com as interações, sendo fundamentado na

colaboração do indivíduo ou do adulto que tem a intenção de ensinar.

No processo de educação infantil atual evidenciam-se ideias

contraditórias às de Vigotski, pois na rotina das escolas, o horário, o

planejamento, ou seja, a padronização se faz presente, sem haver a

preocupação com o sujeito social que pode ser crítico e pensante em suas

interações (falas, vontades, desejos).

Portanto, a brincadeira tem essa articulação com o meio em que vive e

possibilita à criança a expressão livre, se desprendendo da rotina ou do senso

comum que está imposto na sociedade.

2.2.1 Brincadeiras de Antigamente

Uma autora que teve como preocupação, durante seu Mestrado,

pesquisar sobre as brincadeiras das crianças da educação infantil no parque,

foi Zenilda Ferreira De Francisco (2005)3, na Dissertação de mestrado cujo o

título é: “Zê, tá pertinho de ir pro parque? O tempo e o espaço do parque em

uma instituição de Educação Infantil”. Em seu trabalho, ela faz uma reflexão

sobre o momento do parque, quando a brincadeira pode estar vinculada com a

aprendizagem no cotidiano das crianças, evidenciando criações e trocas de

experiências entre as diversas classes sociais e culturais.

A influência das brincadeiras está vinculada ao passado, presente e

futuro, elas evidenciam um processo de transformações sociais, tendo em vista

que a vida, os pensamentos dos indivíduos são modificados com o passar dos

tempos.

Há muito tempo a sociedade descobriu a importância do brincar no

desenvolvimento infantil, porém, a partir da industrialização essa importância

diminuiu, já que a preocupação se resumia a transformar o indivíduo para o

“mercado de formação”. Os valores e as concepções sobre o processo

educativo foram tendo menos significado. (FRANCISCO, 2005).

3 Essa autora defendeu sua dissertação de mestrado na UFSC.

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2.2.2 Brincadeiras de Faz De Conta

Segundo Francisco (2005), as brincadeiras de faz de conta têm como

principal fundamento o modo de expressão relacionado às experiências da

realidade vivida. Elas evidenciam práticas de construção do mundo real,

quando se enfatiza repertórios infantis articulados às emoções das crianças,

alegrias e conflitos.

Com toda a imaginação que o faz de conta possibilita e a exploração de

objetos na brincadeira, existe o aperfeiçoamento da agilidade física e mental.

De acordo com as experiências que o brincar propõe, enfatizam-se os

sentidos, sentimentos e significados, importantes para o desenvolvimento do

próprio pensamento.

As aprendizagens que o faz de conta evidencia dispõem de uma

variedade de socializações, como: dançar, falar, interagir, tentativas de ler, de

entender os livros, de deitar no tapete que, dependendo do processo das

intencionalidades e propostas de um professor, podem produzir significados

para as crianças, de modo gradativo e entusiasmante.

Outra autora, Luciana Alvarez, da Revista EI simbólico papéis sociais,

linguagem e imaginação, deu sua contribuição sobre o faz de conta. Ela

descreve a importância do brincar que, em seu ponto de vista, deve ser

priorizado como uma abordagem séria quando se referir ao olhar do professor,

sendo prazeroso às crianças, pois elas gostam muito de estar brincando, sem

ter a noção de que estão aprendendo. Esses são momentos livres em que

utilizam a imaginação para criar e inventar se passando por outra pessoa e se

desprendendo da realidade e do ambiente ocupacional.

Segundo Alvarez, de forma natural e espontânea, as crianças

demonstram a capacidade de desenvolver seus pensamentos, aprendendo

umas com as outras diferentes habilidades, em uma relação social que pode

estar vinculada a sentidos e intenções.

Assim, a autora aponta que o incentivo à presença das brincadeiras na

rotina das Instituições de educação infantil deve ser priorizado na escola e

pelos professores, porque o faz de conta desperta a imaginação e fantasias

que favorecem o desenvolvimento infantil (ALVAREZ, 2012).

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2.2.3 Brincadeiras com Regras

Na análise de Vigotski (2008), quando este educador aborda o assunto

da brincadeira e suas regras, a criança situa-se na realidade, promovendo e

ditando regras, impondo ações a serem estabelecidas, pois quando imita mãe,

pai (parentes e próximos), está reinventando de acordo com alguma situação

passada, deixando o presente no brincar, motivado para evidenciar

imaginações e criações.

Segundo o autor, o adulto tem influência no comportamento da criança,

quando ela está brincando, se submetendo a regras, interagindo com adultos e

entre elas mesmas.

Vigotski analisa que as regras, na brincadeira, são diferentes das regras

que são impostas pelos pais, como, por exemplo, na situação em que alguém é

mandado ficar quieto na mesa, pois a brincadeira, mesmo com regras,

representa a expressão e a ideia das crianças.

2.3 A BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: ORIENTAÇÕES LEGAIS

2.3.1 A Brincadeira nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação

Infantil;

Nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (BRASIL,

2010) a importância da brincadeira é destacada, sendo a criança considerada

como sujeito social, digno de direitos, que pode construir sua identidade e

significado no mundo em que vive. Esse documento expressa claramente a

concepção de criança defendida pela área da Educação Infantil nos

documentos legais, definindo criança como:

Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura. (BRASIL, 2010, p.12).

A criança constrói sua própria identidade, advinda das relações

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interativas que vivencia, aprendendo os sentidos e significados das produções

culturais feitas pela sociedade e pela natureza, nas descobertas que enfatizam

o cotidiano.

No que tange à proposta pedagógica, com o objetivo de apropriação de

conhecimentos, entre outros, a brincadeira aparece como um dos direitos a

serem garantidos, pois é uma questão crucial para o desenvolvimento infantil.

Portanto:

A proposta pedagógica das instituições de Educação Infantil deve ter como objetivo garantir à criança acesso a processos de apropriação, renovação e articulação de conhecimentos e aprendizagens de diferentes linguagens, assim como o direito à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à brincadeira, à convivência e à interação com outras crianças. (BRASIL, 2010, p.18).

É fundamental a observação do professor no que se refere aos atos da

criança, às interações sociais e às brincadeiras, para acompanhar e auxiliar no

processo de aprendizagem.

A garantia da disponibilidade e do acesso aos brinquedos é importante

para as crianças, incentivadas e respeitadas como sujeitos de direitos, sendo

levadas em consideração questões socioculturais e ambientais de uma

comunidade.

É valido destacar que, de acordo com este documento, as brincadeiras e

interações devem estar incluídas, norteando as ações pedagógicas, conforme

dispõe a proposta curricular, enfatizando a garantia de experiências que devem

ser promovidas e possibilitadas na Educação Infantil, como: o conhecimento da

criança de si mesma e do mundo em que vive; a expressão da individualidade

pelas diferentes linguagens; o respeito pelos seus desejos e ritmos; o

envolvimento da oralidade e da escrita, das relações matemáticas; a ampliação

da participação, da confiança; a autonomia pelo cuidado pessoal, saudável e a

auto-organização; o estímulo ao questionamento, à exploração, à curiosidade,

relacionado com o meio social; a relação com diversas culturas; a

conscientização da sustentabilidade no cuidado e na preservação com a

natureza e o uso da tecnologias com materiais midiáticos. (BRASIL, 2010, p.25

e 26).

Estas são elaborações que integram a proposta curricular da Educação

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Infantil, sendo de acordo com as Instituições.

2.3.2 A Brincadeira no documento “Critérios para um Atendimento em

Creches que respeite os direitos fundamentais das crianças” (2009)

No documento do MEC, as autoras Maria Malta Campos e Fúlvia

Rosemberg estabelecem critérios para a organização e o funcionamento das

creches e apresenta uma série de direitos que devem ser garantidos em um

espaço educativo que respeite as crianças. O primeiro direito que a autora cita

é o direito das crianças à brincadeira.

O texto das autoras sobre os Critérios para um atendimento em creche

que respeite os direitos fundamentais das crianças (2009), ressalta alguns

critérios importantes para uma instituição de Educação Infantil, como: a

disponibilidade, o acesso e a organização dos brinquedos; o período de

duração das brincadeiras livres; a orientação à família sobre importância da

brincadeira para o desenvolvimento infantil; os espaços externos para as

brincadeiras; a escolha das brincadeiras e jogos pelas crianças e a participação

dos adultos nas brincadeiras.

O referido documento ainda destaca o reconhecimento de uma política

da creche que priorize: o orçamento para compra e reposição de brinquedos,

materiais e livros; o espaço externo e interno (infraestrutura); a disposição

adequada e suficiente de professores para brincadeira interativa; a mobília dos

prédios para uso, conservação e organização; a formação prévia dos

profissionais e um planejamento que reconheça e inclua os direitos das

crianças. (BRASIL, 2009).

A rotina e o espaço das Instituições Infantis devem ser adequados para

oportunizar a possibilidade das interações e manifestações culturais, dispondo

de acessibilidade aos brinquedos e materiais para, assim, promover o

desenvolvimento infantil.

Como já citado na introdução, um dos critérios fundamentais da

educação infantil é o da garantia de direitos às crianças para o atendimento de

qualidade nas creches, a fim de contribuir no desenvolvimento e na

aprendizagem de forma a conciliar toda a estrutura do processo infantil.

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Na política da Educação Infantil, o reconhecimento do direito à

brincadeira deve englobar a previsão de fundos para a manutenção dos

materiais e brinquedos, além da estrutura de espaços interacionais.

É importante considerar que os materiais precisam ser de qualidade e

em quantidade suficiente para todas as crianças. Além disto, precisam ser

substituídos com frequência, pois são materiais de consumo e não

permanente. A formação das professoras também é fundamental para garantir

que a brincadeira seja contemplada nas rotinas da Educação Infantil.

Fica evidente, a importância da organização e conservação, tanto por

parte das crianças como por parte dos professores, e a brincadeira deve ser

reconhecida por todos os membros da creche, sendo uma política de direito

das crianças cuidar de todos os fatores que favorecem o desempenho infantil.

2.3.3 A Brincadeira nos Parâmetros Curriculares Nacionais Para a

Educação infantil

O documento publicado pelo MEC, sobre Parâmetros Curriculares

Nacionais para Educação Infantil (2006), no que se refere à perspectiva

educacional, prioriza a cultura e o conhecimento da criança.

Entretanto, faz referência a outros assuntos como a importância do

contato com a natureza, para que possam brincar livremente, sentir a água, a

areia, o vento, de forma a contribuir para o processo do desenvolvimento

infantil.

O incentivo e o apoio dos professores devem estar presentes nos

momentos espontâneos das crianças, de maneira que elas ampliem o seu

repertório infantil com aprendizagens, tais como: o brincar, os movimentos, as

expressões, as imaginações.

Para garantir e promover a ampliação do conhecimento e da cultura,

dentro dos aspectos da natureza, com diversificação de atividades e escolhas

das interações, nas Instituições de Educação Infantil:

Alternam brincadeiras de livre escolha das crianças com aquelas propostas por elas ou eles, bem como intercalam momentos mais agitados com outros mais calmos, atividades ao ar livre com as desenvolvidas em salas e as desenvolvidas individualmente com as realizadas em grupos. (BRASIL, 2006, p.39).

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As crianças devem ter a possibilidade de livre escolha nas brincadeiras

propostas pelos professores, o que evidencia o desenvolvimento das crianças,

articulado ao processo de aprendizagem.

2.3.4 A Brincadeira no Referencial Curricular Nacional para a Educação

Infantil (1998)

A extrema importância do brincar na educação infantil, para a

aprendizagem das crianças, de forma interativa e prazerosa, vem a ser um

vínculo essencial ao processo de desenvolvimento infantil.

A brincadeira ocorre da imaginação para imitação, porém, com

significados e em situações diferentes, em transformação da realidade

existente do sujeito articulado a suas próprias ideias. De acordo com o

Referencial:

No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os espaços valem e significam outra coisa daquilo que aparentam ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam os acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que estão brincando. (BRASIL, 1998, p.27).

As crianças, no brincar, assumem papéis que caracterizam o seu

cotidiano, atribuindo sentidos substitutos aos objetos, ressignificando-os com

gestos e falas próprias. O brincar favorece a autoestima da criança como um

sujeito social, envolvendo a integração da diversidade cultural que permeia a

educação infantil.

A importância da brincadeira para o desenvolvimento da criança é

fundamental, pois vem a ser a base estrutural de diferentes aprendizagens em

que o professor pode mediar situações do cotidiano da educação infantil com

intencionalidades pedagógicas e elaborar registros de suas observações para

auxiliar neste processo de desenvolvimento.

2.4 A BRINCADEIRA E A CONSTRUÇÃO DAS CULTURAS DE PARES NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

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2.4.1 A Construção Da Cultura De Pares No Contexto Da Educação

Infantil.

No texto de Vanessa Ferraz Almeida Neves, da UFMG, a pesquisa

norteadora se fundamenta na educação infantil e enfoca a vontade de aprender

através do brincar, pois esta é uma fase em que está se estruturando a

personalidade da criança, baseada em suas vivências. A autora comenta que

isso é importante para o desenvolvimento infantil, enfatizado por inúmeras

brincadeiras que facilitam e se tornam prazerosas ao olhar e ao fazer das

crianças, que estão dispostas a descobertas e ao querer aprender.

Uma aprendizagem que é inicial, mas que pode ser transformadora,

dependendo de como for abordada segundo o interesse das crianças. O ato de

ler, escrever, contar histórias e números, na brincadeira, envolve uma

linguagem corporal e verbal, podendo incluir a possibilidade do respeito à

própria cultura da criança, pois há uma troca de vivências e experiências.

Assim, por exemplo, quando as crianças, geralmente as meninas, brincam de

casinha, elas evocam lembranças de como é em casa, imitam falas que

escutam dos familiares, reproduzindo de uma maneira diferente, recriando uma

“história parecida”, imaginando, com a outra criança, o que está em torno de si

mesmas. E ao enfatizar essa brincadeira, elas

podem se atribuir a relação social entre uma mãe que estimula uma filha a

estudar, a se alimentar. Pois, quando se brinca de casinha, se fala:

- Estuda bastante, filha, na escolinha, tá!

- Filha, come toda comida, senão você não vai brincar, hein!

Quando as crianças brincam estão aprendendo de acordo com a

realidade já existente e a que inventam, porém, nessas situações, elas

aprendem o cotidiano delas mesmas.

Portanto, diante dessas evidências, de brincar aprendendo, ou aprender

brincando, convém ressaltar uma leitura da Anped, “Construção da Cultura de

Pares na Educação Infantil: Brincar, Ler e Escrever” (Vanessa Ferraz Almeida

Neves, UFMG). Ao ler esse texto, é possível perceber que existe a

possibilidade de brincadeiras diferentes, cujo propósito está vinculado à

aprendizagem, baseado em reproduções interpretativas e criativas, articulado

na cultura do sujeito social e de seu desenvolvimento.

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Tratando-se de um relato de uma pesquisadora que elaborava, no texto,

os fatos do cotidiano escolar da educação infantil, comparando-os com a

educação fundamental em Escolas Públicas Municipais, ressalta-se a forma de

ensino e aprendizagem nos momentos em que a professora fazia uma roda de

leitura de livros de brincadeiras e as crianças mostravam interesse e

entusiasmo ao escutar. Assim que ela terminava de ler, convidava as crianças

para brincarem com ela, para poder ensinar, inicialmente, como funcionam

essas brincadeiras novas: Alerta 1,2,3, Acorda Senhor Urso e Cabra Cega.

Houve a rejeição de uma criança, que não queria brincar, mas a professora

respeitou sua atitude, pois na sequência das brincadeiras, a criança se

manifestou, em alguns momentos, pedindo para brincar, olhou e pegou um

livro, folheando, na tentativa de ler e conhecer palavras.

Depois conversaram em rodas, no grupo, para saber o que haviam

aprendido e qual era o significado dessas brincadeiras. Nessa brincadeira, o

vínculo com a aprendizagem está presente, mostrando a importância da leitura,

pois as crianças queriam ler também, pegavam livros e folheavam, num início

da aprendizagem de ler, escrever, conhecer as letras e palavras,

fundamentado para as séries iniciais.

Contudo, o relacionamento da cultura e história do grupo é a base de

fundamentação dos princípios do cotidiano escolar para efetivamente ocorrer o

desenvolvimento da criança.

A pesquisadora também relata uma entrevista com uma das crianças

daquele grupo em que estava fazendo sua pesquisa. Ela observa que o que

mais chamou a sua atenção foi o fato de que essa criança respondeu que

gostava quando a professora brincava com eles, pois isso mostra que há a

presença efetiva do adulto na brincadeira, e o que menos gostava era do

recreio, porque tinha conflitos com os outros, o que demonstra que os adultos

estão pouco envolvidos naquele momento, perdendo a intenção educativa.

As brincadeiras contribuem para a formação da personalidade da

criança, fundamentado no gostar, no querer, tendo escolhas e opiniões.

Em muitos casos, as crianças dispõem de experiências vividas, podendo

não ser as da própria criança, mas as do colega que está brincando, mas que

ela consegue assimilar como se as tivesse vivenciado, tornando-as uma

aprendizagem própria.

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A brincadeira articula culturas, de forma que deve ser respeitada no

processo educacional, contribuindo para o ensino na faixa etária da EI, tendo

uma intencionalidade pedagógica. Sendo assim,

o discurso do brincar teve como grande mérito trazer as crianças e suas culturas para o centro da prática pedagógica da Educação Infantil. Da mesma maneira, o discurso do brincar desafiou a tradição assistencialista atribuída a essa etapa da Educação Básica, bem como questionou o uso de atividades de coordenação motora nas práticas educativas desse nível de ensino, rejeitando o foco da Educação Infantil na preparação das crianças para o Ensino Fundamental. (NEVES, 2008, p.18).

Portanto, é função da Educação Infantil garantir o direito, o espaço, os

materiais, a estrutura para que as crianças possam brincar. Uma construção de

saberes com o brincar que torna a educação infantil articulada de maneira

favorável ao ensino fundamental, como um encontro pedagógico dentro de um

espaço escolar.

2.5 A BRINCADEIRA E O DESENVOLVIMENTO DOS PAPÉIS SOCIAIS

No livro Brincadeiras de papéis sociais na Educação Infantil (2006), a

autora Ligia Márcia Martins, em um dos seis capítulos, contribui com sua

abordagem sobre: A brincadeira de papéis sociais e a formação da

personalidade.

Segundo esta autora, as relações sociais da criança são decorrentes do

seu processo de desenvolvimento, construindo a consciência do mundo em

que vive por meio de atividades ou ações evolutivas, em que é ressaltada a

brincadeira de papéis, pois há predomínio (influência) na aprendizagem e no

desenvolvimento da criança, na fase em que se constitui a personalidade. No

cotidiano da criança, a brincadeira é evidente e ela a inclui no convívio social

através de suas interações.

Martins considera a brincadeira das crianças como uma atividade social,

assim como outras, que necessita da mediação de um adulto, para o

entendimento do sentido de estar no meio social, se apropriando de emoções,

movimentos físicos. Para ela, o vínculo das relações reais e da brincadeira é

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fundamental, acontecendo uma dramatização do real na brincadeira, utilizando

conteúdos e argumentos para evidenciar essas relações que se desenvolvem

em subsequência e que são imprescindíveis ao processo psíquico da criança.

Dentre os fatores a serem destacados, a atenção, a disposição afetiva, a

memória e a imaginação são os fundamentos que formam a personalidade.

Assim, tem-se um conjunto de desenvolvimento da criança, como o da

consciência, da afetividade, da moralidade, do caráter e das capacidades.

Portanto, a autora destaca que a personalidade se vincula com a

infância, sendo de extrema importância, para essa fase da criança que as

experiências individuais se constituam de forma distinta, de acordo com

situações e circunstâncias sociais e históricas de cada pessoa, como

decorrências de mudanças de níveis de evolução que ocorrem na vida das

pessoas.

Outra observação que a autora faz é a de que, na brincadeira de papéis,

a relação entre indivíduo e sociedade contém o princípio dialético de si mesmo

com a cultura. E que toda brincadeira tem a expressão da criança, em que ela

demonstra as condições objetivas de seus próprios atos e do desenvolvimento.

E ainda aponta que a brincadeira de papéis se torna social, e não

natural, ou seja, a criança está inserida na sociedade, onde existem condições

sociais que são transmitidas nas brincadeiras, promovendo a aprendizagem, a

criação e a recriação da atividade (brincadeira).

A última observação da autora diz respeito ao potencial educativo que

acontece na brincadeira de papéis, importante na educação infantil, na

mediação do professor ativamente, exercendo uma influência sobre a criança e

auxiliando no enriquecimento das apropriações requeridas, formando sua

personalidade e se desenvolvendo.

Portanto, ela destaca que a brincadeira é uma das atividades da vida da

criança em que se forma sua personalidade e que a orientação de um

professor no âmbito da educação é fundamental, pois passa por um processo

complexo que envolve formações psicológicas e determinações,

particularidades do meio social que, devido aos acontecimentos, deve estar no

planejamento da educação, com intencionalidade da formação da

personalidade.

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3 CAMINHOS METODOLÓGICOS

A pesquisa de abordagem qualitativa trata de estudo de campo, que

busca produzir e analisar dados a partir de referenciais de autores da área do

conhecimento ou do campo das ciências sociais. O trabalho passou por uma

fase de investigação e de exploração sobre a temática escolhida,

posteriormente refletida à luz do referencial teórico-metodológico, buscando

aprofundar o conhecimento sobre a temática na perspectiva analisada.

A primeira etapa da pesquisa foi a do levantamento bibliográfico e

documental, em que foram selecionados/as pesquisadores/as que se

debruçaram sobre a questão da brincadeira e também os documentos legais

orientadores, do Ministério da Educação, voltados para orientações na

educação infantil, relacionados ao tema. Foram utilizadas obras, como Revistas

de educação, livros, documentos do MEC e também sites como: ANPEd ,

SCIELO e Grupos de Pesquisa.

A seleção de leituras tendo como referência os autores que discutem a

brincadeira propiciou a reflexão sobre a importância desta no desenvolvimento

infantil, ampliando as ideias que tinha no início do trabalho.

A metodologia é baseada em fundamentos da abordagem qualitativa,

inspirada em princípios etnográficos, com vivências intensas de observações e

interações no campo de pesquisa, junto às crianças, sempre utilizando

registros em Diários de campo, registros fotográficos, pequenas filmagens e

entrevistas semiestruturadas.

Tive o desejo de realizar a pesquisa no Núcleo de Desenvolvimento

Infantil, do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Catarina

(NDI/CED/UFSC4), pois algumas leituras de pesquisas realizadas neste espaço

me deixaram curiosa e me fizeram querer conhecer a organização e o

funcionamento desta instituição, bem como observar como a brincadeira é

considerada, neste espaço e qual a importância que é atribuída a ela.

A pesquisa foi realizada, a partir de contatos presenciais, virtuais e

telefônicos, inicialmente efetuados pela orientadora de TCC e depois pela

pesquisadora. Com esforços conjuntos, foi possível entrar em campo e realizar

4 Estamos utilizando o nome da Instituição, os primeiros nomes das crianças e das

profissionais com as devidas autorizações de todos.

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o trabalho de observação, com a finalidade de analisar aspectos referentes à

temática da brincadeira e à sua importância no desenvolvimento e na

aprendizagem das crianças, relacionando aos conhecimentos teóricos

estudados.

O procedimento de observação teve inspiração em Luciana Ostetto

(2008) ao tratar da importância de observar e registrar a prática pedagógica na

formação de professoras de educação Infantil.

De acordo com Ostetto, os registros do cotidiano educativo são

fundamentais para dar sentido e significado ao processo pedagógico,

oferecendo auxílio e apoio no trabalho junto às crianças, contribuindo como

instrumento para o planejamento e para os momentos de avaliar.

Nessa perspectiva de registrar, se descrevem detalhes das vivências da

criança que são importantes e que podem ajudar a estabelecer um diálogo com

a prática, pois quando se lê, se retomam e relembram os momentos em que

surgem perguntas que levam à busca de respostas, permitindo reflexões para a

prática pedagógica. Explicando melhor:

podemos afirmar que o registro do educador contempla o vivido diariamente, apresentado na escrita de forma descritiva e também analítica. Não se trata apenas de contar o que aconteceu e se passou naquele determinado dia, dia a dia (embora isso já seja um ótimo começo!), mas de tentar compreender o passado, estabelecendo relações com a continuidade do trabalho, o que veio antes, o que virá depois ensaiar análises sobre o vivido para, assim, aprender com a experiência. (OSTETTO, 2008, p. 20).

Ao registrar e analisar os acontecimentos do cotidiano, o professor

amplia suas ideias e seus pensamentos, o que contribui para melhorar e

continuar o processo educativo.

O registro fotográfico é uma forma de obter informações e conclusões,

conforme Milton Guran, analisando os aspectos da fotografia que contribuem

nesse percurso que relaciona prática e teoria.

No entanto, para Guran, deve ser levada em consideração a

especificidade que está relacionada ao contexto da pesquisa. No caso, em que

analiso como as crianças brincam e suas interações, o ato de fotografar para

registrar as brincadeiras e os gestos desses momentos torna-se um rico

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instrumento de pesquisa, sendo de tal natureza que possibilita levantar

hipóteses para discutir e refletir sobre os dados que foram elaborados e

produzidos.

As fotografias mostram momentos inesperados que possibilitam uma

reflexão e uma compreensão. Elas registram a representação da realidade

transmitida pelas expressões e foram tiradas nas observações de campo, para

serem posteriormente analisadas, contribuindo para o enriquecimento do

contexto de produção no processo de pesquisa.

As imagens auxiliam a desenvolver a pesquisa antropológica,

fornecendo detalhes das situações, tornando evidentes e descobrindo atos

provenientes da realidade particular de cada um, no caso desta pesquisa, das

crianças, estando vinculada ao jeito e à personalidade de cada uma delas.

A entrevista semiestruturada com as professoras da turma foi elaborada

com base nas brincadeiras presentes no cotidiano educacional do NDI,

contendo perguntas para professoras, gestores e crianças sobre a importância

e o significado da brincadeira, a fim de comparar as respostas dadas por eles,

identificando se há interação conjunta nesses momentos.

A análise de documentos norteadores e também do planejamento da

professora foi realizada com o intuito de obter um olhar mais global das ações,

não fragmentando a rotina das crianças, que é baseada na brincadeira e nas

suas relações sociais na turma. Mas o vínculo das intencionalidades com cada

brincadeira é permeado, envolvendo as crianças na sua “própria história”.

No decorrer da pesquisa, foram dez idas em campo, com o mesmo

grupo: G 5A, com 14 crianças, sendo oito meninos e seis meninas, de 4 a 5

anos, que tinham uma professora e uma bolsista do curso de Fonoaudiologia.

Na primeira ida, houve a apresentação da Instituição, pela coordenadora

pedagógica, que explicou como é a organização dessa Instituição, dos

espaços, das salas, das professoras e crianças. Na última ida, foram feitos

alguns registros de campo, as entrevistas e também entreguei as lembranças

às crianças, à professora e à bolsista, com trocas de afetos, pois não iria mais

vê-los.

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3.1 ENFIM, A PESQUISA DE CAMPO A entrada na Instituição foi um momento de encantamento, pois pude

observar que é um amplo espaço, onde as crianças têm contato com a

natureza nos parques bem cuidados em que podem brincar. A conversa com a

coordenadora fez com que percebesse o quanto a criança é valorizada e como

seus direitos são respeitados.

As minhas expectativas eram de muito entusiasmo, mesmo antes de

conhecer o Núcleo, pois como já havia feito leituras de pesquisas realizadas

nesta Instituição, sabia do reconhecimento que a mesma tem dos meios

acadêmicos e da sociedade.

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4 CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO E QUEM SÃO OS SUJEITOS DA PESQUISA?

O Núcleo de Desenvolvimento Infantil- NDI/CED/UFSC é um lugar

amplo, onde cada espaço é planejado detalhadamente pensando nas crianças,

no desenvolvimento, na aprendizagem, imaginação, criatividade, nas

brincadeiras, logo, sempre com uma intencionalidade pedagógica visível.

O espaço pesquisado tem muitos ambientes5, além dos jardins onde a

natureza manifesta parte da sua beleza. Fica evidente que ali se procura

garantir os direitos das crianças, entre eles, o direito ao contato com a natureza

e o direito a um ambiente aconchegante, estimulante e também seguro6. De

fato, há um cuidado especial com todo o espaço, havendo um profissional,

jardineiro, responsável por este trabalho e se percebe igualmente que as

crianças são ensinadas a preservar o Meio Ambiente, cuidar e cultivar as

plantas, as árvores, as flores nos espaços que compõem a natureza do lugar.

Segundo Barbosa (2006), o espaço tem que ser diferenciado e se deve

construir um ambiente favorável para a Educação Infantil, pois nos últimos

séculos, vem se dando preferência à separação entre o mundo externo e o

mundo interno das Instituições. Os ambientes devem ter móveis, estimula-se o

uso de bastantes cores, de organização em cantos dentro da sala, os quais

favorecem a construção do conhecimento, diferenciando as rotinas, deixando

os espaços complexos, para desafiar e possibilitar experiências, ampliando

suas aprendizagens (p.135).

As salas são organizadas em três módulos, espaços apropriados e

distanciados, dependendo da faixa etária das crianças (Módulo 1, de zero a

dois anos; Módulo 2, de dois a quatro anos; Módulo 3, de quatro a seis anos).

Além das salas, do ateliê de artes, entre outros espaços, estão os três

parques, cada um para crianças de idades mais próximas, no entanto, de

acordo com o planejamento, as crianças podem aproveitar todos eles.

As salas são agradáveis e acolhedoras, e há também o setor de saúde,

com uma responsável, para cuidar dos horários e da quantidade de

5 MARIA CARMEM BARBOSA. Por Amor e por Força Rotinas na Educação Infantil. Porto

Alegre: Artmed, 2006. 6 Ver: BRASIL. Critérios para um atendimento em creches que respeite os direitos

fundamentais das crianças. 2. ed. Brasília: MEC/SEB, 2009.

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medicamentos das crianças, quando há necessidade de ministrá-los, e também

quando ocorre um imprevisto, por exemplo, quando alguma criança se

machuca. Existe uma biblioteca, que atualmente está em reforma. Há ainda o

espaço da coordenação, ambiente muito acolhedor e que tem anexa uma sala

para conversas com profissionais, reuniões com pais e/ou mães, entre outros.

O NDI possui ainda um auditório, onde as crianças fazem festas, organizam e

apreciam peças teatrais, apresentações diversas; uma sala de educação física;

uma secretaria; uma cozinha onde são ministradas aulas de culinária para as

crianças; banheiros infantis e de adultos.

Este é um lugar privilegiado! Esta foi a sensação que tive ao entrar ali,

pois a disponibilidade e o acesso, permeado e vivenciado pelas crianças no

cotidiano desta Instituição, possibilita que elas tenham amplos conhecimentos

e desenvolvimento de diferentes formas de linguagens e manifestações

diversas.

O espaço tem intencionalidades, nas quais as brincadeiras são sempre

privilegiadas, garantindo às crianças o respeito como sujeitos sociais de

direitos.

Os critérios para as crianças serem matriculadas nesta Instituição são

os seguintes: 30% das vagas para crianças da comunidade externa, que são

sorteadas, e 70% para a comunidade acadêmica ou filhos de funcionários,

professores e estudantes da Universidade, já que o NDI é situado no Campus

Universitário e mantido pelo Governo Federal. No entanto, nos últimos anos,

tem acontecido um debate sobre estes critérios e a partir disto, a intenção para

2014 é abrir 100% das vagas a toda a comunidade “popular”, através do sorteio

também.

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5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISES DOS RESULTADOS DA PESQUISA

COM ARTICULAÇÃO TEÓRICA

A análise do trabalho corrobora as elaborações e leituras que já havia

feito. Dessa maneira, na sequência, apresentarei os relatos sobre o modo

como a brincadeira aparece nesta Instituição e sobre a importância na

aprendizagem e no desenvolvimento infantil, percebida através de observações

e registros de campo, em que constatei que meus objetivos foram atingidos.

As análises por mim realizadas englobaram os seguintes aspectos:

Espaço Próprio Para Brincadeira; Brincadeiras Mediadas e Livres; Crianças

São Sujeitos Sociais de Direitos; A Liberdade nas Escolhas das Brincadeiras;

Brincadeiras que Envolvem a Arte, a Curiosidade e a Imaginação; Espaço que

Respeita as Crianças e que Transforma o Olhar Pedagógico – uma realização;

A Intencionalidade da Equipe Pedagógica com as Brincadeiras.

5.1 ESPAÇO PRÓPRIO PARA AS BRINCADEIRAS.

Ao conhecer a Instituição de Educação Infantil em que realizaria a

pesquisa do Trabalho de Conclusão de Curso, o entusiasmo e o encanto foi

imenso, passando isso para quem estivesse por perto, pois minha alegria

estava estampada em meu rosto e em minhas falas, quando mencionava o

lugar/espaço/ambiente amplo e organizado, pensando e respeitando as

crianças como sujeitos sociais de direitos.

No momento em que comecei a observar a sala do grupo 5 A, em que

realizaria minha pesquisa, pude perceber o ambiente acolhedor e

aconchegante, próprio para brincar bastante, e é isso que fazem. A seguir,

apresento o registro que foi feito na ocasião:

Quando eu e a professora entramos na sala, as crianças estavam todas brincando, e assim permaneceram em torno de duas horas aproximadamente. Pude perceber os espaços da sala, pois há uma caverna feita com um lenço grande e colorido, sobre a casinha deles, em que tem armário de cozinha, geladeira, cama, sofá, tapetes, e entre outros brinquedos como: carros, bolas, jogos, lego, baú, pinturas. (REGISTRO DE CAMPO, 10/04/2013).

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F

Fotografia 1: Cozinha dentro Fotografia 2: Brincando na Fotografia 3: Casinha sobre um

da sala da turma. cozinha. lenço grande e colorido.

Fonte: Da autora, abril de 20137.

Dessa maneira, com diferentes cantos de brincadeiras e interações, o

espaço dentro da sala se torna agradável e estimulante.

De acordo com o Manual de Orientação Pedagógica do Ministério da

Educação (MEC), cujo título é Brinquedos e Brincadeiras de Creche (2012), o

tema da brincadeira é elemento constitutivo na infância:

A brincadeira é para a criança um dos principais meios de expressão que possibilita a investigação e a aprendizagem sobre as pessoas e o mundo. Valorizar o brincar significa oferecer espaços e brinquedos que favoreçam a brincadeira como atividade que ocupa o maior espaço de tempo na infância. (BRASIL, 2012, p.7).

Isto ficou muito visível durante a pesquisa. Os espaços da sala

pesquisada são próprios para brincadeiras, ampliando o repertório de

conhecimentos da criança, relacionando com o “mundo” que ela conhece,

permeado por muita fantasia e imaginação. Assim foi registrado:

A professora pede para as crianças, em roda, andarem e dançarem, com uma música cantada por todos, sendo mediada pela professora, e ia chamando o nome das crianças em duplas, para sentarem no meio da roda, em que foi colocado dois tapetes com formato de tartaruga (menor e maior), chamados por eles de bacia, assim até

7 Todas as fotografias são da mesma autoria, e foram realizadas durante o mês de abril de

2013.

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ficar o último dançando, pois esse último iria pegar um da bacia para voltar para a roda, e o que voltasse pegaria outro, assim até voltar a roda, usando a imaginação deles como se fosse uma navegação de barcos, que tinham que pegar todos. (REGISTRO DE CAMPO, 10/04/2013).

A imaginação é evidente nessa brincadeira de roda, em que dançam e

cantam, interagindo uns com os outros, usando a música para fazer de conta

que estão em uma navegação.

Ao abordar a importância do jogo, brincadeira e brinquedo, Kishimoto

(2008)8 detalha situações que são intencionadas, cujas ações pedagógicas

envolvem a estimulação da aprendizagem, sendo uma mediação educativa.

Para a autora,

[...] ao permitir a ação intencional (afetividade), a construção de representações mentais (cognição), a manipulação de objetos e o desempenho de ações sensório-motoras (físico) e as trocas nas interações (social), o jogo contempla várias formas de representação da criança ou suas múltiplas inteligências, contribuindo para a aprendizagem e o desenvolvimento infantil. (KISHIMOTO, 2008, p.36).

Para ela, o jogo, em uma Instituição de Educação Infantil, é utilizado

como uma construção ou ampliação do conhecimento, através de brinquedos,

para desempenhar o desenvolvimento infantil. E na intencionalidade do

professor as ações podem ser atribuídas às crianças, com múltiplas

objetivações para a aprendizagem.

5.2 AS BRINCADEIRAS “MEDIADAS E LIVRES”.

Nesta Instituição observada, as brincadeiras são “livres e mediadas”.

Livres quando as crianças estão envolvidas em sala ou no parque, elaborando

suas próprias ações, auto-organizadas, sem a mediação direta da professora;

mediadas, como nas brincadeiras de rodas, em que a professora articula e

complexifica o faz de conta, pois além da roda da navegação, em seguida,

canta uma música da pipoca, incluindo outros elementos: “A professora ensina

às crianças uma música nova em que todos pulam e dançam imitando o ploc –

8 KISHIMOTO Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação (2008),

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ploc da pipoca na panela, viram de um lado para o outro se divertindo.”

(REGISTRO DE CAMPO, 10/04/2013). É importante destacar que mesmo nas

brincadeiras livres, existe uma intencionalidade da professora ao organizar o

espaço e os materiais para essa brincadeira.

No mesmo dia, ao final da manhã, observo que um menino do grupo

recria uma situação, cantando a música da pipoca, utilizando objetos para

representar: “O Miguel, derrama um pequeno balde de carrinhos no chão, e

coloca duas ou três bolas de gude dentro do balde, agita e diz: - Ploc – ploc,

pipoca.” (REGISTRO DE CAMPO, 10/04/2013).

A cena indica que ele se lembrou da música que a professora havia

ensinado e cantado com o grupo, recriando a história, colocando nomes nas

bolas de gude, fazendo de conta que era a pipoca, que estava pulando.

Ao agitar o balde e fazer ploc ploc, o menino demonstra estar

novamente entrando no faz de conta vivenciado antes, permitindo que o visual

se torne outro objeto ou brinquedo. Através de uma interação mediada pela

professora ele recria a situação.

Ele brinca a partir dos e com os elementos que a professora mostrou

anteriormente, o que vem ao encontro do que Brougère diz quando defende

que a brincadeira é aprendida socialmente, não é algo natural, portanto, a

criança “[...] deve aprender a brincar.” (BROUGERE, 2008, p. 22).

O faz de conta permite às crianças ter espaço para o mundo da

imaginação, da criação e recriação. É o momento de trazer o que a criança tem

como conhecimento, cultura, e transformar de acordo com o vivenciado, ou o

não vivenciado, podendo até mesmo inventar outra situação que muitas vezes

não aconteceu. A capacidade de imaginação, nestes momentos, é gigantesca,

podendo contribuir para o processo de aprendizagem, através do envolvimento

do momento presente, situado nessas brincadeiras.

A construção da identidade se vincula com a construção cultural, devido

à presença de momentos práticos do cotidiano que podem e devem ser

vivenciados na educação.

Ao me referir aos momentos de construção e produção de cultura, relato

uma interação que acompanhei durante a pesquisa e que é realizada nesta

Instituição, semanalmente, como uma proposta de atividade ou brincadeira,

com objetivos e intenções claras envolvendo a imaginação e o interesse das

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crianças. Trata-se da aula de culinária, em que as crianças fazem seus

próprios alimentos, como pão de queijo, com todas as etapas mediadas pela

professora, como é possível constatar no registro feito e apresentado a seguir:

As crianças fizeram pão de queijo, todas participaram, quebrando ovos, colocando água, despejando o trigo, e o pacote de farinha de pão de queijo, e mexiam depois a professora ajudou para sovar a massa, dividiu a massa um pedaço para cada criança, para eles sovarem, depois a professora juntou todas as massas novamente e sovou pela ultima vez e distribui pedaços, dizendo a eles para fazer o seu pão de queijo. As crianças fizeram pães em formatos de minhocas e caracóis em diferentes formas e tamanhos. Os pães foram colocados no forno para comerem no horário do lanche. (REGISTRO DE CAMPO, 12/04/2013).

Fotografia: 4 Quebrando ovo. Fotografia 5: Mexendo os Fotografia 6: Fizeram formas ingredientes. de caracol e minhoca.

Para muitas pessoas, o ato de fazer pão de queijo pode ser considerado

como um trabalho, mas nesse momento, para as crianças, havia uma

ludicidade presente. Elas estavam sendo consideradas como sujeitos sociais,

tendo a possibilidade de fazer o seu pão de queijo, lidando com o convívio

social. Além disso, pode ser uma aprendizagem a usar no cotidiano familiar,

uma vez que ao contar para os pais, eles dizem que irão tentar fazer em casa

também. Assim, a interação da novidade feita na aula de culinária das crianças,

para os pais, é entusiasmante.

A intenção dessas aulas, além de interação e significação da realidade, é

desenvolver uma proposta que envolve conhecimentos matemáticos, para que

as crianças possam aprender quantidades, dividir tarefas, saber o nome de

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produtos que são usados para fazer determinados alimentos, como bolos,

biscoitos, pão de queijo, entre outros, utilizando manuseios próprios e ao

mesmo tempo brincando.

Nestas aulas está muito presente a sua imaginação. Isto pode ser notado

no momento em que criam um desenho, uma forma para o pão de queijo,

deixando clara a motivação que é feita e a vontade de fazer como se

estivessem brincando de casinha, de fazer comida.

5.3 CRIANÇAS SÃO SUJEITOS SOCIAIS DE DIREITOS.

As crianças são respeitadas como sujeitos históricos, sociais e têm seus

direitos contemplados de acordo com a proposta da Instituição, onde a

vontade, a fala, a opinião está relacionada no cotidiano, no convívio social que

cada um estabelece.

Dentro dessa perspectiva, os objetivos favorecem a compreensão do

“mundo” em que vivem, motivando e conscientizando sobre a luta pela

cidadania, como foi direcionada essa brincadeira, que promoveu uma ação

social em defesa do direito de brincar no bosque:

[...] Na semana seguinte, as crianças estavam produzindo placas com desenhos e frases faladas por elas e escritas pela professora, para fazer uma manifestação para reivindicar sobre a limpeza do bosque, que é ao lado da Instituição, sendo um lugar para brincarem e lutaram para esse direito prevalecer, através da manifestação. (REGISTRO DE CAMPO, 17/04/2013).

As crianças formaram opiniões da realidade presente em seu cotidiano

na Instituição e, por meio de placas de papel, expressaram seus pensamentos

e vontades sobre um valor imenso que é a natureza (bosque), um dos espaços

para eles brincarem. Para deixar evidentes as falas das crianças que formaram

frases para a reivindicação, registrei-as em transcrições, acreditando ser

importante ressaltá-las aqui:

Não joga o lixo no bosque, porque se jogarem, não podemos brincar.

Se jogar o lixo no bosque vou chamar a polícia.

Lixo é na lixeira.

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Gisela Wajskop (2007)9, ao falar sobre a importância da história e do

contexto social em que vivem as crianças, ressalta que elas assimilam e

recriam situações vivenciadas ou experiências, com as quais são sociais e

históricas, estabelecendo interações e relações com os adultos, ou no mundo

em que estão situados, desenvolvendo-se desde cedo.

Portanto, é evidente que nesta manifestação foi defendido um tema,

relacionado ao direito de brincar, mas que ensina a criança a estabelecer

relações com a “sociedade” que neste local circula, ao pedir para permanecer

limpo, preservando a natureza. Ao participarem da manifestação, as crianças

vão se envolvendo com a proposta, se conscientizando como cidadãos que são

e encantando a todos justamente por serem crianças:

Os grupos 5 e 6 do período matutino da Instituição vão para o parque da frente, com instrumentos para fazer barulho, como: apito, reco-reco, pandeiros e pequenas vuvuzelas, assim todos se reúnem para iniciar a passeata pelo campus da Universidade, passam pela lanchonete, salas de aulas, Centro de Ciências da Educação, e pela Reitoria e cantam: “ão, ão , ão, o Bosque não é lixão! O bosque e sua limpeza, vamos fazer feliz a natureza!” Entre outras músicas e rimas. (REGISTRO DE CAMPO,17/04/2013).

Fotografia 7: Esperam com Fotografia 8: Todos os grupos Fotografia 9: Na manifestação, as placas e instrumentos. se reunindo, para sair juntos. andam e catam pelo Campus.

Deve ser salientado que as crianças fizeram esta reivindicação com

muito entusiasmo, querendo o bosque limpo, e que essa interação foi uma

brincadeira, pois utilizavam instrumentos de música, fazendo muito barulho.

9 WASJKOP, Gisela. Brincar na Pré - Escola (2007), Capítulo 2, Por que brincar na pré-escola?

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Por meio do microfone era oportunizada a fala deles, sendo este um dos

motivos de querer falar também: o uso do microfone, algo que parece trazer

satisfação a eles, um divertimento que a brincadeira possibilita:

Durante a caminhada, haviam paradas nesses lugares citados acima, passando o microfone para as crianças para dizerem o que queriam reivindicar e as crianças falavam: Se jogarem lixos pelas ruas, nós vamos ficar sem ar, e os animais, as plantas, e nós vamos morrer, porque vai ter muita poluição; Quem joga lixo no chão é porcão; Não jogue lixo no nosso bosque, ele vai ficar sujo e nós não vamos poder brincar lá; Jogue o lixo na lixeira. A maioria queria falar, contribuir na manifestação. (REGISTRO DE CAMPO, 17/04/2013).

Fotografia 10: Todas crianças Fotografia 11: Reivendicam sobre Fotografia 12: Voltando da

que fizeram a passeata. a limpeza e o brincar no bosque. Manifestação.

A interação das crianças com essa passeata foi com muitas falas, e com

muita vontade de reivindicar seus direitos, sabendo que esse espaço do

bosque era um lugar onde podiam brincar também.

Ressalto que neste momento houve, na Instituição, o envolvimento das

crianças. Isto vem ao encontro dos princípios destacados no documento da

Diretrizes, assim definidos: “Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da

criticidade e do respeito à ordem democrática.” (BRASIL, 2010, p.16).

Ao interagir umas com as outras e com a sociedade, desde pequenas, as

crianças vivenciam, na prática, o exercício da democracia. Elas estavam

dizendo o que tinham aprendido, o que pensavam sobre o assunto, o que

imaginavam, ou até mesmo dando suas opiniões sobre o lixo e a limpeza no

bosque - exercício crítico por parte das crianças, porque determinava o que

deveria ser feito para elas brincarem neste espaço, para manter um lugar

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limpo. São momentos como esses que nos mostram que as crianças são

sujeitos sociais de direitos desde que nascem, exercendo a cidadania.

Os momentos dessa Instituição são voltados às crianças, pois a equipe

pedagógica acredita que elas aprendem nessa interação umas com as outras,

portanto, os momentos de brincar são frequentes neste espaço. Em todos os

dias de minhas observações, durante a pesquisa, elas brincaram bastante nos

parques, na sala do grupo, na sala de arte e educação, no bosque, no próprio

campus da Universidade. Assim como foi essa manifestação, todos os outros

espaços que são frequentados possibilitam às crianças aproveitarem

intensamente cada ambiente desse amplo lugar.

5.4 A LIBERDADE NAS ESCOLHAS DAS BRINCADEIRAS.

Durante as observações, pude perceber que a liberdade de escolhas nas

brincadeiras, nos espaços e nos brinquedos é sempre respeitada, indo ao

encontro dos princípios éticos da autonomia, descritos nas Diretrizes

Curriculares e contemplados na proposta pedagógica da instituição. É o que

ressalto neste registro:

A professora explicou como jogar mostrando o taco e a bola, e quem quisesse brincar dessa brincadeira ficaria com ela, quem quisesse brincar de amarelinha ficaria comigo, e quem quisesse brincar de pula- corda ficaria com a Nicole. (REGISTRO DE CAMPO, 22/04/2013).

Fotografia 13: Brincam com Fotografia 14: Escutam a explicação Fotografia 15: Brincando

os tacos, girando-se. e as opções das brincadeiras. de jogar taco.

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Quando a professora me falou que brincaria com as crianças de

amarelinha, me perguntei: mas como, vou ter que desenhar uma amarelinha na

areia do parque? Com a participação das crianças, quando comecei a fazer foi

simples e entusiasmante:

Fotografia 16: Organizam Fotografia 17: Jogam uma pedrinha Fotografia 18: A fila da quem vai brincar primeiro. pra não pular naquele quadrado. amarelinha ficou grande

Nestes acontecimentos, havia interações e participação conjunta das

crianças, em que demonstravam o que já sabiam e o que podiam e queriam

aprender neste momento, então, relaciono novamente com os princípios éticos

da autonomia, assim descritos nas Diretrizes Curriculares Nacionais da

Educação Infantil (2010) que determinam que as propostas pedagógicas de

Educação Infantil devem respeitar os seguintes princípios:

Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades e singularidades. Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática. Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais. (BRASIL, 2010, p.16).

O respeito à escolha das brincadeiras é evidente (autonomia), sendo que

cada criança tem gostos e sua identidade (diferentes culturas), por isso mesmo

identifica-se mais com uma brincadeira do que com a outra, mas também pode

ter a oportunidade de brincar um pouco em cada uma dessas brincadeiras que

foram oportunizadas neste momento de parque.

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Os repertórios da infância são amplos e diversificados, em todos os

momentos, até mesmo quando estão em sala, pois como o acesso aos

brinquedos é fácil, constante, e o ambiente proporciona muitas brincadeiras, a

imaginação está sempre presente, dispondo desses momentos:

Na sala, as crianças brincam de carrinho, disco, casinha, ferramentas, jogo da memória, escrevem no quadro letras, eu perguntei a eles qual era essa letra apontando, e respondiam. Nisso, a professora foi chamando aos poucos algumas crianças para irem à mesa pintar e escrever seus nomes nos papéis, que iriam colar nas caixas de história, pois cada um tem a sua caixa que guardam seus “bonecos” de imaginação. (REGISTRO DE CAMPO, 22/04/2013).

Fotografia 19: Brincando de Fotografia 20: Brincando com Fotografia 21: Brincando de escreve no quadro da sala. os carrinhos e com os discos. casinha, mãe e filha.

A intenção de pintar o papel e escrever os seus nomes era utilizarem em

uma contação de história, de uma maneira lúdica, imaginária, cheia de

entusiasmo e prazer, desde o início do preparo da proposta, em que cada um

tem sua caixa de história, que é identificada com os seus nomes:

Assim que alguns vão terminando, vão brincando e os outros são chamados para pintarem e escreverem, alguns escrevem com ajuda da professora pegando na mão junto com eles, quando terminam, voltam a brincar também, brincam de bolas de gude, massinha de modelar. (REGISTRO DE CAMPO, 22/04/2013).

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Fotografia 22: Pintando os Fotografia 23: Escrevendo seu Fotografia 24: Pintando de papéis da sua caixa de história. nome com a professora. tinta guachê o papel.

É importante ressaltar que havia muitas trocas, interações entre crianças

e brinquedos. As crianças que brincavam com outros brinquedos, depois, iriam

brincar de pintar e escrever na caixa, trocando as brincadeiras. Ao escrever

sobre a brincadeira de bolas de gude, recordei que a concentração, a atenção

e a organização estiveram muito presentes nesta situação. Isto ficou evidente,

me provocando a olhar e perceber o quanto podem aprender nas brincadeiras:

.

Fotografia 25: Ela segura as Fotografia 26: Segura todas Fotografia 27: Ficam olhando as

bolas de gude, concentrada. para soltar e descer as bolas. bolas descerem até cair todas.

Os momentos de brincadeiras são direcionados e intencionais, deixando

as crianças brincarem, se divertirem e aprenderem com muitas possibilidades

de interação. Há muitas situações visivelmente planejadas e outras que,

aparentemente, não são planejadas, mas sempre há alguma intencionalidade

da professora para que a brincadeira aconteça, seja na disposição dos

materiais, na organização dos espaços, nas pequenas provocações. Por

exemplo, quando brincam de bola de gude, a situação não é mediada, mas

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aquele brinquedo com as bolas de gude é intencional, a professora,

propositalmente, oferece as bolas de gude, para que esses momentos de

brincadeira aconteçam.

5.5 BRINCADEIRAS QUE ENVOLVEM A ARTE, A CURIOSIDADE E A

IMAGINAÇÃO.

Nesta Instituição, em outro dia, as crianças, tiveram que mexer em

caixas para expressar a arte que existe dentro de cada uma, explorando vários

materiais na sala de artes, espaço que é preparado/planejado por uma

funcionária que vai lá, antes das crianças chegarem para continuarem a

construção das suas caixas de histórias:

A professora distribuiu os bodes de cada um, feitos de argila em um dia anterior cada um, sendo na sala de arte, e ela ensinava eles a cantar tro-tro-tro quando se referia ao bode grande, tra-tra-tra ao bode médio e tre-tre-tre ao bode pequeno, e as crianças cantavam junto com ela, eram sons e palavras diferentes, dependendo do tamanho do bode, no ritmo dessa música, as crianças pintavam seus bodes de tinta guache, usavam várias cores e diziam qual cor eles queriam, pois quando escutavam um amigo dizendo, o outro também queria, o outro também, e assim um aprende com o outro. (REGISTRO DE CAMPO, 24/04/2013)

Fotografia 28: Na sala de artes, Fotografia 29: Escolhem cores Fotografia 30: Pintam com a professora distribui os bodes. para pintar os bodes de argila. muita atenção e dedicação.

Esta é uma interação que leva à aprendizagem envolvendo animais,

cores, músicas, pinturas, expressão da arte, parceria, criatividade, e que deve

ser levada em consideração nesses momentos que garantem os princípios

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estéticos preconizados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação

Infantil (2010), pois a arte e a cultura estão presentes na atividade/brincadeira,

feita com muita liberdade de expressão, criatividade e cheia de manifestações

artísticas e culturais.

O respeito aos princípios estéticos está evidente, deixando as crianças

se envolverem neste ambiente lúdico e de arte, construindo e ampliando o

repertório infantil, que é oferecido e permeado no cotidiano da Instituição.

Ao analisar toda a pesquisa, percebo que cada momento proposto pela

professora tem objetivos que estão interligados, pois neste mesmo dia, foram

até o bosque com a professora e fizeram uma manifestação a favor do direito

de brincar no bosque, uma vivência que pode significar um momento de

interação e brincadeira:

Todos vão até o Bosque, que é ao lado da Instituição, juntam pinhas e palhas para a caixa de histórias deles, cada um tem que pegar uma pinha pequena, uma média e outra grande, nisso a Maria Catarina que é ajudante do dia, segura a cesta para os amigos colocarem dentro. (Registro de campo, 24/04/2013).

Fotografia 31: Perguntou se Fotografia 32: Colocando Fotografia 33: Todos pegam

queria ajuda pra segurar a cesta. as pinhas na cesta. pinhas e a palha levam nas mãos.

O envolvimento com todo o grupo é muito importante, pois são

momentos em que as crianças ajudam umas às outras e, nesta divisão de

tarefas, aprendem a ser organizadas e a ter responsabilidades, portanto, são

consideradas como sujeitos sociais, participando e interagindo neste

movimento e se sentindo curiosas para a contação de histórias que se seguirá

à proposta.

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Quando voltamos para a sala, a professora pediu para as crianças

colocarem as pinhas e as palhas em suas caixas de histórias. Distribuímos

entre elas as pinhas, sendo que a cada criança foi dada uma pequena, uma

média e uma grande, além das palhas, para guardar e arrumar dentro da caixa,

uma forma de organizarem para depois levar suas caixas para casa:

A professora e as crianças estão em roda, ela coloca um lençol no chão e conta a história, tendo o bode, o capim (palha), trova (bolinha coberta com um pequeno pano e amarrado com um pedaço de lã), e a ponte com pedaços pequenos de madeiras uma do lado da outra. Eles ficam prestando atenção e curiosos, e ao final a professora diz que irão levar suas caixas para casa e que irá escolher cada semana, um para trazer sua caixa para contar uma história. Ficam felizes e ansiosos para mostrar para as famílias. (REGISTRO DE CAMPO, 24/04/2013).

Figura 34: Todos elementos Figura 35: Abrindo a caixa de Figura 36: Contando a

da história dentro da caixa. história e organizando. história.

As crianças escutavam, prestando atenção à história, em um momento

de brincadeira de faz de conta, no auge da imaginação dos objetos fictícios, e

pensavam que haveria a oportunidade de expressar suas criações, contando

outra história, ou parecida, mas que inventaram ou reinventaram com base

naquela que foi contada, usando dramatizações que podem aparecer neste

mundo imaginário.

O Manual de Orientação Pedagógica, elaborado pelo Ministério da

Educação - MEC, cujo título é ‘Brinquedos e Brincadeiras de Creches’ (2012),

aponta toda uma contribuição da brincadeira para a aprendizagem e o

desenvolvimento infantil, sendo importante destacar, para essa situação da

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brincadeira do faz de conta (imaginação) na história, as formas de expressão,

que devem estar presentes nas Instituições de Educação Infantil: “[...] A

dramatização de situações imaginárias tanto nas brincadeiras de faz-de-conta

como no recontar histórias deve ser livre para que as crianças possam

expressar suas emoções e seus desejos.” (BRASIL, 2012, p.21).

A liberdade de emoções e desejos no faz de conta pode trazer à tona

vontades, desejos que a criança tem e que na brincadeira podem acontecer por

meio da imaginação e de ações que ela inventa e reinventa.

A história foi contada, com invenções de personagens e instrumentos

imaginários que na verdade eram utensílios, objetos que tinham outro

significado. Esta é uma forma de brincar que possibilita que as crianças criem e

assim estabeleçam vínculos com a realidade de cada uma. Não resta dúvida

de que:

As crianças gostam de ouvir vários tipos de histórias e, também, fazer comentários, mas não de ficar apenas ouvindo, caladas. Ao participarem, vão se tornando leitoras, ouvindo, vendo, falando, gesticulando, lendo, desenhando sua própria história e construindo novas histórias. (BRASIL, 2012, p.30)

A possibilidade das crianças trazerem a caixa para contar sua história,

aliada a sua vivência, auxilia a construir essa história, utilizando-se da

imaginação para recriar fatos, personagens, roteiros.

Este mesmo documento do MEC, referido anteriormente, também

recomenda que a brincadeira de faz de conta deve estar sempre presente na

Educação Infantil e que o espaço da instituição deve ser propício para esta

atividade:

Espaço do faz-de-conta - a estética adotada por cada cultura diferencia, por exemplo, a panela de barro ou de alumínio utilizada para fazer comida; a rede, o berço ou o cesto para pôr a boneca para dormir – a criança organiza os utensílios domésticos no espaço da casinha, conforme suas experiências prévias, adquiridas em casa. (BRASIL, 2012, p.42)

Na Instituição pesquisada, as crianças têm muitos brinquedos e brincam

de casinha de madeira (mamãe e filhinho), de cozinha (fazer comida), de jogo

da memória, de carrinhos, de roda de bastão (cores), de massa de modelar, de

vestir fantasias, de pião, de animais de brinquedo (emitem sons), de bolas de

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gude, de esconde-esconde, de pega-pega. É um espaço em que a criança tem

acesso a esses brinquedos e a outras brincadeiras que são mediadas e

planejadas pela professora.

Fotografia 37: Brincam com Fotografia 38: Brinca com a roda Fotografia 39: Brinca na fantasias. de bastão, encaixando cores. cozinha, de fazer comida

E na organização dos brinquedos há os momentos e as situações em

que são divididas tarefas para as crianças, estimulando-as a terem

responsabilidades.

Como meu objetivo de pesquisa era analisar a importância da

brincadeira e a relação com o desenvolvimento e as aprendizagens, houve, em

uma das minhas observações, uma brincadeira que me chamou muito a

atenção: foi quando um menino brincou de reformar uma casa de madeira que

existe na sala. A seguir, descrevo esse momento:

O Gabriel pega ferramentas de brinquedos, e em uma casa de madeira que tem na sala, ele diz: - Vou pegar o serrote para arrumar a casa. Pegou o martelo e o parafuso, e disse: - Tenho que arrumar essa casa, o telhado está todo estragado, e fico perto observando ele, e pergunto a ele quando pega um rodo pequeno de brincadeira, e passa no telhado, o que está fazendo? Ele me responde: Estou pintando o telhado, não chega muito perto porque você vai se machucar com essas ferramentas. E ele brinca por bastante tempo nisso. (REGISTRO DE CAMPO, 25/04/2013).

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Fotografia 40: Pega todas Fotografia 41: Martela no Fotografia 42: Pinta o telhado

ferramentas. parafuso para arrumar o telhado. com o rodo.

O menino Gabriel reinventou momentos que pode ter presenciado

quando estava em casa, pois, de acordo com uma conversa entre a mãe dele e

a professora da turma, a mãe relata que um vizinho está reformando a casa e

que Gabriel passa alguns momentos olhando as pessoas que estão

trabalhando nessa obra. Portanto, ele trouxe uma vivência de casa, recriando

uma história, fazendo como se fosse real, pois pediu para que eu me cuidasse

e não chegasse muito perto.

Foi realmente maravilhoso vê-lo brincando, dando outros sentidos aos

objetos, arrumar como se fosse de verdade.

Continuando a relacionar as orientações explicitadas no documento do

MEC (2012) com o cotidiano desta Instituição, enfatizo a situação descrita no

documento, com um exemplo muito parecido àquela situação observada e

registrada em parágrafos anteriores. Consta, no documento do MEC, o

seguinte relato:

Uma criança que, por exemplo, observa o pai reformar o jardim de sua casa e, na creche, reproduz a atividade a seu modo usando blocos de construção, fazendo um jardim similar ao construído por seu pai, está oferecendo um exemplo de vivência estética. Ela reproduz na brincadeira a mesma estética que o pai utiliza na organização dos blocos para construir o jardim de sua casa. (BRASIL, 2012, p.41).

Nesta situação, também nos deparamos com uma reforma, uma

construção de casa, e assim podemos perceber que é uma vivência de casa

que a criança traz para creche, com a recriação dos fatos do mundo real

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durante a brincadeira de faz de conta. São vivências de estética, com utilização

e organização desses objetos.

No mesmo dia, logo em seguida, um menino pegou um rodo e brincou

como se fosse um cavalo. Nesta oportunidade, a professora que também

observava, fez uma mediação:

A professora vê o Otavio brincando com um rodo de madeira como se fosse um cavalo, ela diz: É o príncipe no cavalo branco, veio para salvar as meninas! E pede para as meninas deitarem, elas deitam no chão para o príncipe salvar, dando um beijo nos rosto de cada uma. Assim que ele dá o beijo, elas vão se levantando. Foi muito divertido. (REGISTRO DE CAMPO, 25/04/2013).

Neste momento, me veio à mente o exemplo já citado e discutido

também por Vigotski, quando este autor explica que, em uma brincadeira, a

criança utiliza uma vassoura, fazendo como se fosse um cavalo. Nas

observações, percebi que ora o rodo se transformava em instrumento de

pintura, como no exemplo da obra, ora se transformava em cavalo, como nesta

brincadeira aqui citada.

Vigotski, em um trabalho cujo título é A brincadeira e seu papel no

desenvolvimento da criança (2008)10, ao abordar o tema da brincadeira na

educação infantil, faz uma descrição muito parecida com a situação

mencionada:

Devido ao fato de, por exemplo, um pedaço de madeira começar a ter o papel de boneca, um cabo de vassoura tornar-se um cavalo, a ideia separasse do objeto; a ação, em conformidade com as regras, começa a determinar-se pelas ideias e não pelo próprio objeto. (VIGOTSKI, 2008, p.30).

No momento em que o menino está brincando com um rodo, ele imagina

que o objeto é um cavalo, imitando-o, e ao fazer isso, dá outro sentido ao

objeto, dispondo de sua própria criatividade.

Para Vigotski, é esse o caminho para o desenvolvimento infantil,

passando do pensamento concreto para o pensamento abstrato (imaginação),

10

Revista Virtual de Gestão de Iniciativas Sociais (GIS), Disponível em: http://www.ltds.ufrj.br/gis/anteriores/rvgis11.pdf

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sendo ações que as crianças começam a separar na idade escolar. (2008,

p.36).

Nas Instituições de Educação Infantil o desenvolvimento infantil e a

aprendizagem são o foco primordial, com uma proposta pensando nas

crianças, é válido ressaltar o compromisso das professoras quanto às vivências

e brincadeiras infantis.

A brincadeira na Educação Física também é presente com o professor

Giba, uma vez que brincam até mesmo de esconde-esconde, tendo um projeto

chamado Corpo e Movimento. Este projeto está relacionado com a intenção da

professora do grupo, pois também utilizam a sala de artes e educação. Com

efeito, em continuação da manifestação, as crianças fizeram desenhos para

mostrar a limpeza do bosque, manifestando-se pelo direito de brincar neste

espaço:

As crianças escrevem frases e fazem desenhos sobre a limpeza do Bosque, na placa de madeira, o Giba distribui as madeiras e lixas, uma para cada, e assim as crianças lixam as madeiras, tirando as farpas, escrevem e pintam com giz de cera. (REGISTRO DE CAMPO, 25/04/2013)

Fotografia 43: O professor Giba, Fotografia 44: As crianças Fotografia 45: O professor diz

ensina a lixar as madeiras. lixam as madeiras (placas). para sentir se tem mais farpas.

A prática pedagógica é conciliada nas intenções e nos objetivos, fazendo

com que a interdisciplinaridade esteja presente, e isso se faz com o apoio e a

ajuda da professora da turma, assim, todos estão contribuindo nessa interação,

que também é uma brincadeira.

A professora ensina muito brincando, tendo objetivos que vão além dos

processos educacionais. Ela ensina também o valor pessoal e explica que deve

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se respeitar, amar e admirar as pessoas, no entanto, explica com um fato que

irá acontecer na Instituição:

As crianças irão ao auditório ver o teatro da Chapeuzinho Vermelho, sendo que é uma homenagem a uma funcionária que trabalhou muito tempo na Instituição, no setor da saúde, e como se aposentou, estava saindo. E para homenagear e presentear a funcionária, a professora e o grupo resolvem fazer um colar com pérolas, missangas, pingentes, pedras de várias cores (transparente), uma agulha, própria para criança, para todos participarem. (REGISTRO DE CAMPO, 26/04/2013).

Fotografia 46: Começaram a Fotografia 47: Usam de Fotografia 48: A professora diz

fazer o colar. pérolas, missangas, etc. que está pronto o colar.

O envolvimento das crianças para fazer o colar era de participação e

criação, por isso, foi prazeroso a eles. Pode ser considerado como uma

brincadeira, permeada pela imaginação, inclusive em relação ao pacote:

Quando terminam, a professora mostra a eles, coloca dentro de um pacote, em que eles dizem que é do Papai Noel, que parece o Trol, da história contada pela professora nessa mesma semana, e a professora faz um bilhete dizendo que é do grupo 5 A o presente. Ficam contentes por terem feito, isto é visto pelo sorriso expresso no rosto deles, e diziam: - Vou dar um presente. Assim, entregam o presente ao final da apresentação do teatro. (REGISTRO DE CAMPO, 26/04/2013).

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Fotografia 49: Roda para mostrar Fotografia 50: A professora Fotografia 51: No final do

o presente no pacote (saco). escreve um bilhete. teatro o grupo da o presente.

A professora ensina as crianças, sempre com muito afeto, contribuindo

para o desenvolvimento de sua personalidade, explicando e incentivando a

observância e a prática dos princípios éticos da solidariedade, da coletividade,

do respeito que as pessoas devem ter. Ela faz com que as crianças entendam

suas palavras, a partir de experiências e contribuições que elas assimilam no

meio social de sua vivência.

5.6 A INTENCIONALIDADE DA EQUIPE PEDAGÓGICA COM AS

BRINCADEIRAS.

Neste dia, fiz as entrevistas com a professora da turma e com a

coordenadora da Instituição. Foram elaboradas perguntas dialogadas para

saber o que elas pensavam sobre a brincadeira no espaço/ambiente

educacional.

Na entrevista com a professora, ela explicou como compreende a

brincadeira na educação infantil e, mais especificamente, deu detalhes sobre o

grupo em que atua, o mesmo em que fiz minha pesquisa com crianças de 4 a 5

anos de idade. Então, ressalto os apontamentos que ela fez sobre a

importância da brincadeira no cotidiano das crianças. Primeiramente, ela

considera a brincadeira importante no cotidiano das crianças, justamente por

entender que nessa faixa etária, de acordo com os autores na perspectiva

histórico-cultural, o brincar é a atividade principal do desenvolvimento infantil.

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Pelo fato da professora ter uma compreensão teórica sobre a

brincadeira, ela destaca a importância do espaço interno e externo, havendo

uma disponibilidade de brinquedos nesses momentos:

[...] a brincadeira tem um lugar, um espaço destacado e privilegiado,

no cotidiano desta Instituição, aparecendo nos espaços internos e externos, ou seja, no parque e na sala, permitindo a criança experimentar diferentes formas de brincadeira e reviver situações que por elas não são compreendidas, ou mantidas distantes, ao possibilitar esses espaços dentro da sala, ela pode reviver essas situações, articulando com muitos brinquedos: casinhas, jogos, bonecas, fantasias, tapetes, sofás, carrinhos, mesas, cozinhas que estão dispostos em sala.

A brincadeira aparece com frequência no cotidiano desta Instituição, no

entanto, ao questionar sobre a brincadeira em seu planejamento, ela responde:

A frequência das brincadeiras é importante no planejamento, principalmente incluir os momentos livres do brincar, e isso acontece no cotidiano dessa Instituição, no mínimo uma hora no período da entrada, e uma hora na saída.

Sobre as brincadeiras e os momentos preferidos, a professora destaca:

O parque, que possibilita a extensão corporal, a escorregar, a morar na casinha, a liberdade de se movimentar, que fascina bastante. Na sala é a casinha, a cozinha, que toma muito tempo deles, revivendo o cotidiano familiar, cuidando de neném, organizando a mesa, e para os meninos a brincadeira dos carrinhos, os jogos.

A brincadeira contribui para o desenvolvimento infantil, mas a professora

relata que se pode situar:

De inúmeras formas, um exemplo é a brincadeira de faz de conta, é a primeira forma de abstração para criança, quando ela faz que uma vassoura é um cavalo, tendo outro significado, fazendo um exercício de abstração, que é pré requisito para linguagem matemática e escrita, outro exemplo é quando se escreve elefante, e lê elefante, não vê um elefante, é a imaginação, portanto uma forma de abstração.

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Também relata que na brincadeira é possível conciliar a aprendizagem,

sendo momentos em que as crianças se envolvem, e para isso destaca “[...] a

importância da imitação, pois quando tenta imitar, não imita exatamente igual,

recria aquela história, amadurece a capacidade de objetivação nas

brincadeiras, que isso ocorre nesta faixa etária de 4 a 5 anos.” (02/05/2013).

A influência do cotidiano na brincadeira das crianças é perceptível em

situações em que o brincar possibilita, como em um exemplo que a professora

relata:

Que aconteceu uns dias atrás na Instituição uma menina brincar de casinha, estando com um neném (boneca) no colo, e chorava, e ela dizia não fica triste, a mamãe não vai trabalhar, não vai levar você na escolinha hoje. Revive, experimenta e compreende o que é ser mãe, estar do outro lado e dar o fim desejado, porque na brincadeira a mãe não vai trabalhar.

Ao final da entrevista, ela faz questão de enfatizar que “existe uma

intencionalidade pedagógica, disponibilizando brincadeiras e brinquedos que

associam a realidade, ao meio social em que vivem, sendo em momentos livres

ou mediados.”

Portanto, vale ressaltar os pensamentos de Vigotski (2008), que trago

neste trabalho, quando o autor se refere às brincadeiras, e que vêm ao

encontro dos relatos da professora, quando esta relaciona as situações de

imaginação em que existe a transformação do concreto para o abstrato, ou

seja, de um objeto em outro com novo significado/sentido. A professora

destaca, assim como Vigotski, que a brincadeira é a atividade principal para o

desenvolvimento infantil.

Na entrevista com a coordenadora da Instituição, esta também citou

exemplos que aconteceram quando era professora, entre outros apontamentos

que se referem à brincadeira nesta Instituição de Educação Infantil, abordando

as faixas etárias e relatando que:

A brincadeira é uma etapa na Educação Infantil, que dependendo da faixa etária da criança, existe propostas diferentes, quando tem até dois anos, o foco direcionado nas brincadeiras é a linguagem oral, gestos, funções dos objetos, através dos sentidos emocionais e afetivos.

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Quando a criança tem acima de dois anos, segundo a coordenadora, há:

A manipulação de objetos, se apropriando de características físicas como: cor, forma, tamanho, para assim começar o processo de criar funções psicológicas superiores, como: a percepção, a atenção, a memória, a linguagem, constituindo desde bebês essas aprendizagens, sendo mediada ao meio social, uma relação dialética, que faz a criança se desenvolver.

Ela continua sua exposição, dizendo que, quando a criança está com 3 a

4 anos,

geralmente começa a brincar de faz de conta, organizando papéis sociais, com a representação, vivenciando algo do cotidiano, do meio social que vive, estando presente nas situações que acontecem em sala, em que podemos observar, e se for necessário reorganizar o planejamento.

Esta foi uma situação que aconteceu em sala de aula, quando ela era

professora:

Trouxe uma caixa da Linda Rosa Juvenil, organizou uma roda e contou uma história, com a Bruxa, o Rei e a Rosa Juvenil. E deixou a caixa na sala intencionalmente, mas não sabia oque poderia surgir, no dia seguinte pegaram fantasias que havia dentro dessa caixa, se vestiram e fizeram um casamento. Nisso a professora fez um altar e depois fez uma reflexão e questionamentos sobre casamento com eles, algo que foi muito significante as crianças.

Outra situação que relatou foi quando teve a oportunidade de ter a

mesma turma em anos seguintes:

Ela observou uma menina quando tinha três anos e viu que a menina brincava de boneca no parque, dizendo ser sua filha, mas que deixou à filha no chão, e no ano seguinte a mesma menina pedi para essa professora (coordenadora no atual momento) segurar sua filha, ou seja cuidar, portanto foi uma evolução, uma maturidade, agregando mais elementos, através de suas vivências.

Sobre o planejamento e a intencionalidade pedagógica nas brincadeiras,

ela salienta que:

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Dentro de referencias sócio-histórico-cultural, a equipe pedagógica juntamente resolve o planejamento dessa Instituição, com discussões abordadas das situações provenientes. Com ênfase na proposta pensada na criança, e no desenvolvimento da mesma, a mediação das professoras deve estar presente, percebendo e estimulando a capacidade de aprendizagem de cada criança nas brincadeiras, com intencionalidades pedagógicas.

E ao final da entrevista, relata que o direito à brincadeira, nesta

Instituição, em seu ponto de vista:

É compreendido teoricamente e respeitada, pois acredita que nas situações mediadas pela professora a criança aprenda, mas também em brincadeiras livres, e que ela não aprende somente o conhecimento didático, aprende a espera sua vez, a maneira de falar, de conseguir algo, de organização, a própria brincadeira ensina a dividir papéis sociais.

A relação que a coordenadora faz com a brincadeira de acordo com as

faixas etárias das crianças está de acordo com o pensamento de Vigotski

quando o educador afirma que, dependendo da faixa etária, as etapas são

diferentes e vão evoluindo, com articulações nas brincadeiras, para assim

auxiliar no processo de desenvolvimento infantil.

A entrevista com as crianças foi realizada quando estavam brincando no

parque e em sala, mas vale ressaltar que as perguntas foram feitas e que

diferentes respostas foram obtidas, sendo um diálogo com eles. Assim, faço

alguns apontamentos sobre as respostas deles:

Gostavam de brincar no parque, resgate, boneca, casinha, escorregador redondo, de correr com o amigo, gangorra, balanço, carrinho, disco, pula-pula, jogo. Alguns diziam que aprendiam brincando, outros diziam que não. E gostavam quando a professora brincava com eles, e os momentos que a maioria das crianças gostavam na Instituição, era o parque ou então brincar de tudo.

Para as crianças, o importante é brincar, no entanto, uma menina diz que

gosta de brincar de tudo, enquanto outros dizem que gostam do parque,

variando as respostas entre eles.

Segundo Vigotski (2008), as crianças não têm consciência do porque

estão brincando, sendo que somente na adolescência começam a perceber

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isso. Algumas delas também diziam que não aprendiam brincando, pois não

tinham essa percepção.

Portanto, as observações e as entrevistas da pesquisa fizeram-me sentir

realizada, no sentido de encontrar as informações e respostas de minhas

perguntas e indagações, neste espaço de Educação Infantil, onde a brincadeira

é valorizada e utilizada para desenvolver e ensinar, além de proporcionar

momentos de prazer e interações, e as crianças aprendem, mesmo brincando,

ou seja, onde a brincadeira é considerada importante e relevante para o

desenvolvimento infantil.

5.7 ESPAÇO QUE RESPEITA AS CRIANÇAS E QUE TRANSFORMA O

OLHAR PEDAGOGICO – UMA REALIZAÇÃO.

No último dia da pesquisa, estava me sentindo angustiada, porque esta

experiência se tornou algo que jamais esquecerei, porque cada detalhe tinha

um significado importante, porque os momentos e as situações do cotidiano

desta Instituição de Educação Infantil são voltados às crianças, pensando

nelas, respeitando-as como sujeitos sociais de direitos.

Então, neste dia a professora reuniu as crianças em uma roda e explicou

que seria meu último dia ali. Assim ficou registrado:

Eu estou terminado minha pesquisa, sobre as brincadeiras deles, que estou estudando para dar aula para outras crianças, e que tenho lembranças para entregar a eles. Entrego um coração com uma mensagem: Um beijo bem grande em seu coração. Aprendi muito com você! Estagiária Graziela. E digo a eles que sentirei muita saudade, e leio a mensagem. As crianças me dizem que gostaram e que irão guardar. (REGISTRO DE CAMPO, 02/05/2013).

Foi, de fato, uma pesquisa encantadora, da qual gostei muito e em que

aprendi com todas as crianças e com a professora da turma, sendo todos os

momentos com eles de muita alegria e cumplicidade, pois sempre estava

participando e interagindo e também brincando com as crianças.

5.8 ENCANTOS E RELAÇÕES AFETIVAS COM AS CRIANÇAS.

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A relação e a interação das e com as crianças foi algo que me ajudou a

conhecê-las melhor e contribuiu para o meu trabalho, pois brincava muito com

elas, sendo que a vontade delas era que continuasse ali. Suas falas e seus

gestos demonstravam isto:

No final quando estava indo embora, fui dar um beijo e um abraço em todas as crianças e na professora da turma, em que estavam no parque, nesse momento o Mateus me perguntou: - Por que você tem que ser professora de outras crianças, e não nossa? Queria que você fosse nossa professora! Expliquei para ele que trabalhava em outra Instituição, que um dia poderia ser a professora dele, e disse para ele que nunca esqueceria ele, dei um beijo em seu rosto e abracei. (REGISTRO DE CAMPO, 02/05/2013).

Fotografia 52: Joga o avião para Fotografia 53: Eu peguei o Fotografia 54: Joguei o avião

mim, como se estivesse voando. avião. para ele, voando também.

Nesta hora, minha vontade foi a de continuar fazendo a pesquisa, pois o

carinho entre nós era muito forte, existia um afeto que contribuiu para que eu

soubesse do que mais gostavam de brincar, pois cada uma tinha sua

individualidade e sua identidade, portanto, gostos diferentes. Minha interação

com eles era intensa, era como se os conhecesse há muito tempo, havia uma

afetividade muito significativa para mim, houve, inclusive, momentos em que

dois meninos me falaram: Te amo! E isto mostra o quanto as crianças são

receptivas e acolhedoras, basta que se sintam respeitadas, ouvidas,

importantes para nós.

Dentre as observações feitas neste lugar, destaco ao finalizar, algo sobre

as brincadeiras, principalmente nos momentos do parque, pois no decorrer das

observações da pesquisa, esses momentos estavam presentes todos os dias.

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Portanto, o espaço oferecia às crianças o acesso a vários “brinquedos" e várias

possibilidades de brincar.

De escorregador, de balanço, de gangorra:

Fotografia 55: Brincam de Fotografia 56: Brincam de Fotografia 57: Brincam de escorregador. balanço. gangorra.

De casinha de madeira:

Fotografia 58: Brincam, Fotografia 59: Brincam de sentar Fotografia 60: Brincam e

conversando. em cima da varanda. entram.

De cozinha (fazer comida com a areia, utilizando baldes pequenos ou

pratos), mamãe e filho.

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Fotografia 61: Brinca de encher Fotografia 62: Leva até o Fotografia 63: Levando a

o balde de areia (comida). amigo (filho), os baldes. “comida”.

Ao final, apresento a foto de uma placa exposta na Instituição, que

informa os direitos das crianças, baseado no documento do MEC Critérios para

o Atendimento em creche, que respeita os direitos fundamentais das crianças

(2009), indicando que neste lugar são respeitados todos estes itens.

Figura 64: Os direitos da criança que nesta Instituição é respeitado, exposto em uma placa de

vidro na parede do corredor ao lado da secretária.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Trabalho de Conclusão de Curso foi uma realização feita

primeiramente a partir de um projeto contemplando elaborações teóricas que

subsidiaram a minha pesquisa, em uma Instituição pública de Educação

Infantil, lugar este em que meus objetivos foram alcançados. Ao investigar

sobre a brincadeira e sua importância no desenvolvimento infantil, comprovei

as teorias que havia estudado, relacionando-as com a prática que neste

espaço é presente.

A relação estabelecida com as crianças e com toda a equipe pedagógica

foi muito significativa, para que pudesse alcançar os objetivos da minha

pesquisa, pois os momentos de brincadeira se refletiam nas leituras feitas e

nas que realizei para complementar as análises, sendo, para mim, muito

gratificantes e inesquecíveis todas essas manhãs que passei lá, uma

verdadeira aprendizagem.

Havia brincadeiras das quais participava junto com as crianças e, com

isso, elas e eu fomos mantendo um vínculo de amizade, pois me convidavam

para brincar ou, às vezes, pediam para brincar junto. Estes momentos foram de

harmonia, conquista dessas crianças, pois foi brincando com afetividade que os

conquistei.

A brincadeira pode e deve ser utilizada no cotidiano da Educação Infantil,

assim havendo uma compreensão teórica das ações pedagógicas em relação

às faixas etárias. Dependendo da idade da criança, pode-se aplicar a

brincadeira de diferentes maneiras, sendo respeitados os interesses de acordo

com cada fase do desenvolvimento infantil.

As influências que as brincadeiras exercem no cotidiano das crianças

são evidentes, pois é nos momentos de imitações que há criações e

recriações, que as crianças revivem histórias que trazem de casa, da família ou

do meio social em que vivem.

A partir dessas situações, as crianças começam a formar sua

personalidade e sua identidade, ditando regras nas brincadeiras de papéis

sociais (representações). Dessa forma, quando vai ser a mãe, a filha, a médica,

a professora, a criança faz uma escolha com a qual se identifica e tal fato, sem

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dúvida, a estimula a ser criativa, e ajuda o processo de pensar por si própria,

proporcionando-lhe uma autonomia que, envolvida pela sua cultura, se

manifesta nessas interações.

Para o desenvolvimento e as aprendizagens na faixa etária em que

realizei minha pesquisa, pelo que pude observar e perceber, as brincadeiras

são fundamentais, permitindo que as crianças se desvinculem do “mundo real”,

do concreto, e se direcionem para o “mundo da imaginação”, para o abstrato. O

objeto que veem tem outro sentido e significado além daquele que é

convencionado. Acreditando ser outro objeto na brincadeira, as crianças

utilizam a imaginação e a criação para satisfazer suas vontades e seus

desejos.

Existe uma intencionalidade pedagógica nesta Instituição, nos momentos

de brincar, seja de forma livres ou mediada pela professora. Quando o

ambiente é estimulante e aconchegante, disponibilizando de diversos

brinquedos, torna-se um lugar de aprendizagem pelas interações que são

estabelecidas e que possibilitam o processo de desenvolvimento infantil. Além

de aprimorar os conhecimentos das crianças nas relações que a brincadeira

permite, o impossível da realidade é possível na brincadeira, pelo “mundo da

imaginação”.

Nos momentos de uma Instituição pública de Educação Infantil, a

brincadeira deve estar presente, enfatizando o que foi contemplado no

planejamento do cotidiano, garantindo o direito das crianças de brincar e

respeitando-as como sujeito social, com sua participação, cultura, história,

vivências relacionadas à sociedade em que vivem. Usando um exemplo deste

CEI, o da manifestação que foi feita, pelas crianças que lutavam pelo seu

direito de brincar no bosque, para isso acontecer, este lugar tinha que estar

limpo. Situações como essas permitem que haja o diálogo entre a professora e

a criança, instigando os pensamentos, as falas, a darem sua contribuição

crítica ao meio social em que vivem, envolvendo a capacidade crítica,

envolvendo a vivência plena da condição de criança cidadã.

Levando em conta todo o percurso que realizei no Trabalho de

Conclusão de Curso, as minhas expectativas foram superadas, desde a

elaboração teórica, as observações participativas, os registros de campo, as

entrevistas, as análises da pesquisa, até a sua finalização. Portanto, é com

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muita satisfação e plenamente realizada que escrevo estas considerações

sobre minhas aprendizagens, compreendendo a importância da brincadeira na

Educação Infantil, na aprendizagem e no desenvolvimento infantil como uma

atividade principal e fundamental para as crianças.

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICES

Apêndices 1 – Carta de apresentação

PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

APRESENTAÇÃO DO ACADÊMICO NO CAMPO

Pesquisa do TCC

São José, 09 de abril de 2013

Ilma Sra. Marilene Raupp

Diretora do Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI/CED/UFSC)

Prezada Diretora,

O Curso de Pedagogia da USJ realiza visitas de campo, intervenções,

observações participantes nas Escolas do Ensino Fundamental, Centros de Educação

Infantil das redes municipal, estadual e particular da Grande Florianópolis/SC,

inclusive nas 6ª, 7ª, e 8ª fases.

Nesse sentido, vimos apresentar a acadêmica Graziela Muller, regularmente

matriculada no curso de Pedagogia da USJ para que possa realizar a pesquisa do

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) nessa Instituição, cuja temática de estudo é:

Brincadeiras na Educação Infantil: um estudo sobre aprendizagem e

desenvolvimento a partir das brincadeiras das crianças.

Como proposta de ação, a acadêmica precisa participar da rotina de um grupo

de crianças, com idade aproximada de cinco anos, fazendo observações

participativas, registros escritos e fotográficos e entrevista com a professora. A

atividade de estágio se dará no período matutino e serão realizadas entre dez e quinze

observações, durante o mês de março e abril, com agenda a ser definida juntamente

com a equipe de profissionais da Instituição.

A referida pesquisa é requisito obrigatório para a formação profissional,

conforme Art. 65 da lei 9.394/96.

Sendo o que tínhamos para o momento, agradecemos.

Orientadora do TCC Coordenadora do Curso de Pedagogia

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Apêndices 2 - Roteiro da entrevista do TCC

Para professoras e auxiliares.

Você considera a brincadeira importante no cotidiano das crianças?

Como a brincadeira aparece na rotina da Instituição da Educação Infantil? Com

que frequência?

De que as crianças mais brincam? Quais os momentos preferidos das

crianças?

Na sua percepção o brincar contribui para o desenvolvimento delas?

Você se utiliza da brincadeira para ensinar algo às crianças? O que você pensa

disso?

É possível conciliar na brincadeira, a aprendizagem e o desenvolvimento com

as crianças na Instituição de Educação Infantil?

Você observa a influência de brincadeiras no cotidiano das crianças? Em que

situações?

A brincadeira aparece no seu planejamento?

Existe uma intencionalidade pedagógica na organização dos momentos de

brincadeira ou esta é uma atividade espontânea das crianças, portanto, sem a

necessidade de planejar?

Para equipe pedagógica (Coordenação/direção)

Como a brincadeira é tratada neste espaço de Educação infantil?

Quais as principais orientações passadas às professoras em relação às

brincadeiras das crianças? Existe uma intencionalidade pedagógica, por parte

das professoras, na organização das brincadeiras?

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Qual a relação entre brincadeira, aprendizagem e desenvolvimento? Justifique.

O direito de brincar é respeitado neste espaço?

Para as crianças

Você gosta de brincar?

Qual a brincadeira que você mais gosta? Por que?

Você gosta quando a professora brinca junto com vocês? Por que?

Você acha que aprendi brincando? O que?

Quais momentos que você gosta na Instituição?

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Apêndices 3 - Registros de Campo

Registro de Campo – 1

Data: 09/04/2013

Apresentação ao NDI – Núcleo de Desenvolvimento Infantil

A chegada no NDI, foi entusiasmante e encantador, a primeira impressão

ou visão é de um lugar “mágico”, pois o espaço é amplo, organizado e atribuído

pensando na criança, sendo respeitado como sujeitos sociais de direito.

A apresentação de todo o espaço foi mostrado por um das coordenadoras,

que foi a Sônia Maria Jordão de Castro, sendo que primeiro nos reunimos em

sua sala para uma conversa previa sobre como é a organização, a rotina,

ingresso dos alunos (critérios para serem matriculadas), o ensino através de

pesquisa e extensão dos professores, baseando-se em referenciais teóricos

para amplia o conhecimento das crianças, com a valorização da historicidade e

a cultura de cada um, os momentos de brincadeiras livres e de brincadeiras de

papéis, situações que evidenciem imaginação, curiosidade e a capacidade e a

estimulação da expressão.

Logo depois da conversa, a coordenadora Sônia foi mostrar o espaço e

apresentar a equipe pedagógica, conheci as salas, sendo que as mesmas são

organizadas por 3 grupos, espaços apropriados e distanciados dependendo da

faixa etária das crianças, (Grupo -1 de 0 á 2 anos, Grupo – 2 de 2 á 4 anos,

Grupo – de 4 á 6 anos), incluindo a sala em que realizarei a pesquisa do

Trabalho de Conclusão de Curso, algo que chamou muito minha atenção nesse

grupo que é o 5 A, é uma casinha de bonecas pequena feita de palitos pelas

crianças, em que comentei: Que linda! Com crianças de 4 a 5 anos de idade,

com a professora Soraia, ambiente esse muito prazeroso de estar, voltado as

crianças. Entre outros setores, mostrou os jardins que são bem cuidados,

natureza respeitada e cultivada, parques, salas aconchegantes e acolhedoras,

setor de saúde, biblioteca, coordenação, secretaria, auditório, sala de

educação física, cozinha de culinária para as crianças, banheiros, etc.

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Assim com informações que a coordenadora passou, houve a

combinação do cronograma, sendo que havia sido passado um cronograma de

principio, mas que pode ser alterado alguns dias de acordo com a professora e

a equipe pedagógica, em suas necessidades e agendamentos. A recepção foi

de apoio e entusiasmante por todos do NDI.

Registro de Campo – 2

Data: 10/04/2013

A manhã dessa quarta-feira, assim que cheguei, esperei a professora para

irmos juntas até a sala para apresentação para a turma, nesse momento antes

de entrar, ela me disse que havia brinquedos novos para as crianças, que ela

iria levar para eles, então ajudei ela a levar até a sala.

Quando eu e a professora entramos na sala, as crianças estavam todas

brincando, e assim permaneceram em torno de duas horas aproximadamente.

Pude perceber os espaços da sala, pois há uma caverna feita com um lenço

grande e colorido, sobre a casinha deles, em que tem armário de cozinha,

geladeira, cama, sofá, tapetes, e entre outros brinquedos como: carros, bolas,

jogos, lego, baú, pinturas.

Novamente cantando, a professora pede que todos se sentem, em roda,

que tem almofadas em um canto, algumas em forma de tartaruga menores e

maiores, algumas crianças dizem que é a mamãe e o filhinho essas

“tartarugas”.

Nessa roda a professora pergunta:

- Quantas crianças têm hoje? Vamos contar?

As crianças:

- Sim!

A professora pergunta então:

- Eu empresto o meu dedo e vocês a boca, pode ser?

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As crianças dizem:

- Sim

Assim a professora aponta com o dedo a criança, cada um em sua vez na

roda e eles vão contando, depois a professora pergunta:

- Quantas crianças têm hoje?

Eles respondem:

- Doze

Nessa turma há 14 crianças, uma vai entrar no próximo mês: maio, ficando

com o total de 15, nesse dia havia faltado duas crianças.

A professora pergunta quem sabe que dia é hoje, sendo que faz isso todos

os dias, usando um calendário (cartaz com o mês de abril), que coloca um imã

para cada dia, e eles respondem. Comunica às crianças que tem brinquedos

novos, mas avisa que é necessária a organização dos brinquedos, estimulando

eles a arrumarem, assim ela coloca no quadro, itens de brinquedos e os cantos

a serem arrumados na sala, e conversa juntamente a eles o que cada dupla irá

organizar, em seus devidos lugares, e pergunta se está combinado? Eles

respondem que sim. A professora fala também que todos devem dividir os

brinquedos.

Com a conversa entre a professora e as crianças, ela mostra os

brinquedos e tem um dos brinquedos que está dentro de uma cestinha de

palha, ela comenta que podem brincar com a cestinha também e uma menina

diz:

- De Chapeuzinho Vermelho!

A professora diz:

- Pode sim! E também na cozinha.

Logo a professora mostra o peão novo e pega outros tipos de peão que já

havia na sala, todos brincam tentando rodar o peão. A professora chama a

atenção das crianças dizendo que há diferenças nos formatos dos peões, e

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ainda pergunta se tem algum cheiro, eles dizem vários cheiros de frutas,

usando de suas imaginações.

Assim que termina de apresentar o peão, diz a eles: agora nos iremos

lavar as mãos para lanchar, para depois voltar a ver os outros brinquedos.

Então lavam as mãos, e sentam nas cadeiras com as mesinhas, a

professora me apresenta a turma, dizendo que estou observando as

brincadeiras deles, eles entendem. Há uma bolsista na turma que auxilia a

professora, do curso de fonoaudiologia.

Logo a professora sorteia o ajudante mostra a eles e pergunta:

- Quem sabe o nome que está escrito aqui?

E eles leem e respondem o nome, esse ajudante usa uma coroa, auxilia

em servi as frutas (banana, maçã) distribuídas em bandejas nas mesas, e diz a

todos:

- Bom apetite!

No momento em que estão se alimentando, a professora conversa com as

crianças, sobre colocar a casca da banana, nas pequenas lixeiras que têm nas

mesas, mastigar com a boca fechada (bons hábitos), tem uma pequena

bandeja de cenoura, e para que todas as crianças comam, a professora

estimula eles, comendo a cenoura e diz:

- Vamos comer que nem o coelho, porque a cenoura faz bem para os

olhos e para a pele.

Passa a bandeja de cenoura à criança que está em seu lado, e assim

consequentemente é passado a todos, passam o suco de laranja, e a

professora pergunta:

- Qual o sabor desse suco?

Eles respondem:

- De laranja.

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O ajudante distribui o prato para cada criança se servir, com pão,

manteiga ou queijo branco, e passam com uma faca sem ponta o que querem

colocar no pão.

Todos voltam para a roda a pedido da professora para continuarem a

ver os brinquedos novos, a brincadeira que é mostrada gato e rato em uma

lata, que é explicada pela professora, que tem que prestar atenção, pois cada

criança escolhe um rato, sendo que tem cinco de diferentes cores, e a lata é o

gato que ao agitar um dado que tem as cores do rato, e a cor que fica virada

para cima, é a cor do rato que tem de fugir do círculo para o gato (lata) não

pegar. O último que conseguir ficar no círculo é o ganhador, é uma brincadeira

que exige atenção, rapidez (agilidade), conhecer as cores.

Em seguida a professora mostra um jogo que colocam bichos, e acima

um pequeno pedaço de madeira, para o equilíbrio das crianças, e pergunta se

alguém sabe o que é equilíbrio, um menino responde que é conseguir ficar em

pé sozinho, ela concorda.

Outro brinquedo era uma roda (círculo) de buracos com cores diferentes,

com bastões que havia duas cores, sendo que o significado do brinquedo é

para a criança colocar em cada buraco a cor do bastão para virada para baixo

encaixando no buraco da mesma cor.

Depois a professora pede para que as crianças levantem e em roda

dançam andando, com uma música cantando por todos, sendo mediada pela

professora, o nome da dupla de crianças que sentariam no meio da roda, em

que foi colocado dois tapetes do formato de tartaruga (menor e maior),

chamados por eles de bacia, assim até ficar o ultimo dançando, pois esse

ultimo iria pegar um da bacia para voltar para a roda, e oque voltasse pegaria

outro, assim até voltar a roda, usando a imaginação deles como se fosse uma

navegação de barcos que tinham que pegar todos.

A professora ensina as crianças uma música nova em que todos pulam e

dançam imitando o ploc – ploc da pipoca na panela, viram de um lado para o

outro se divertindo.

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Em roda, todos sentados menos o caçador em que se fantasia com

chapéu e ferramenta (colher de madeira), escondido o gato (criança) o caçador

tinha que descobrir quando o gato miava, então o caçador pedia para o gato

miar, se caso não soubesse pela voz, mostrava a pata (mão ou pé) do gato, e

assim era trocado as crianças e quem fosse o caçador tinha que ficar fora da

sala, para descobrir quem era o gato, somente quando estivesse escondido

debaixo do lençol, que o caçador era chamado.

Ao acabar as brincadeiras mediadas pela professora, as crianças

brincaram com carrinhos, jogos de quebra-cabeça, até perguntei aos três que

estavam brincando de casinha:

- O que vocês estão brincando?

Eles responderam:

- De casinha, eu sou o irmão, ela é a mãe e ela é a filhinha.

Perguntei a eles o que vocês mais gostam de brincar?

O menino:

- De casinha.

Vocês também? Perguntei.

As meninas responderam que sim.

Em outro momento um menino derrama um pequeno balde de carrinhos

no chão, e coloca duas ou três bolas de gude dentro do balde, e diz: Ploc - ploc

pipoca. Agita, balança o balde com aquelas bolas. Lembrando da música que a

professora havia ensinado e cantou.

Como estava chovendo esse dia não brincaram no parque, pois a espera

dos pais é geralmente no parque brincando, pois a chegada dos pais é a partir

das 11:30 da manhã, até 12:10, as crianças em que os pais chegam, guardam

o brinquedo que estavam brincando e depois vai embora com os pais.

Registro de Campo – 3

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Data: 12/04/2013

Ao chegar na sala aproximadamente as 8:00 horas da manhã, a professora

estava brincando com algumas crianças de gato e rato na mesa, me sentei na

cadeira e brinquei junto com eles, algumas crianças chegando e até por alguns

minutos um pai brincou junto com seu filho de carrinho, depois foi embora.

A professora chama as crianças cantando para sentarem na roda, e todos

cantam a música da minhoca com os dedos da mão fazendo movimentos,

depois as crianças falam com o microfone, cada um em sua vez, falam oque

fizeram no dia anterior, que foram no teatro, brincaram em casa.

Após terminarem de contar, a professora pede para que lavem as mãos

para a aula de culinária, pois há uma cozinha própria para as crianças ao lado

da sala, assim todas as crianças ajudam a fazer o pão de queijo, quebrando

ovos, colocando água, despejando o trigo, e o pacote de farinha de pão de

queijo, e mexiam, depois a professora ajudou para sovar a massa, dividiu a

massa um pedaço para cada criança, para eles sovarem, depois a professora

junta todas as massas novamente e solva pela ultima vez e distribui pedaços,

dizendo a eles para fazer o seu pão de queijo, e fazem formato de minhoca e

caracol em diferentes formas é colocado no forno para no horário do lanche

comerem.

Todas as crianças lavam as mãos e vão para o parque junto com a

professora, brincaram de balanço feito de pneu, escorregador em casinha de

palha, casinha de madeira, gangorra, toca do arco-íris feito de madeira

coloridas e outros arco-íris por trás de garrafas pet.

Quando vi um menino colocando areia dentro de dois baldes pequenos,

enchendo, perguntei a ele:

- De que está brincando?

Ele respondeu que estava fazendo comida para levar a outro menino,

então, quando levantou como estava muito cheio deixou cair, mas colocou

areia novamente e levou ao amigo, o outro estava com um prato de plástico

com folhas, dizendo que era comida.

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Voltam a sala, fazem a higiene pessoal; lavam as mãos, e todos sentam

na cadeira em mesinhas, junto com as crianças, professora e a bolsista sento

junto, para todo um estímulo ao lanche da manhã das crianças, para se

alimentarem bem, o lanche era banana, laranja, suco de uva, pão integral com

mousse de figo, para que as crianças experimentassem a professora pergunta:

- Alguém sabe qual o sabor do mousse?

- Querem que eu coloque um pouco na mão de vocês para

experimentar?

A maioria quis experimentar, e alguns comeram com pão, e respondiam

que o sabor era de morango, goiaba, banana, assim aprendendo os sabores

dos alimentos.

A professora pega as formas de pão de queijo, feita por eles, coloca nas

mesinhas e alguns pegam aquele que a própria criança fez, dizendo que esse

é meu, adoraram comer pão de queijo feito por eles mesmo.

Depois todos voltam para o parque, as crianças sentam na toca do arco-

íris, dois funcionários do NDI conversam com as crianças, para pegarem as

garrafas pet e lavar para deixar o bosque limpo e fazer mais arco-íris de

garrafas, assim é feito, só deixaram para outro dia fazer o arco-íris, pois já

estava no horário dos pais chegarem para pegar eles.

Assim que terminam de lavar as garrafas, entregam aos funcionários

para guardar, sendo que outro dia utilizaram, pegam suas mochilas na sala a

pedido da professora, e voltam para esperar os pais no parque brincando,

deixando ir sozinhos com autonomia de ir e voltar.

Aos poucos todos vão das 11:30 a 12:10, enquanto isso brincam.

Registro de Campo – 4

Data: 17/04/2013

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Nessa manhã de quarta-feira quando cheguei na sala, estavam todos

brincando de diferentes brinquedos como: massinha, roda de bastão, quebra-

cabeça, urso, equilíbrio dos animais, estojo com caneta de hidrocor, lápis de

escrever, lápis de cor, borracha expostos nas mesas.

Havia algumas folhas brancas que a professora Soraia estava cortando ao

meio, para eles fazerem um desenho do bosque e ela escrevia uma frase dita

por eles, perguntando para eles oque falariam para as pessoas sobre a limpeza

do bosque.

As frases ficaram ótimas como: Não joga o lixo no bosque, porque se

jogarem, não podemos brincar; Se jogar o lixo no bosque vou chamar a policia;

Lixo é na lixeira, entre outras.

Nesse momento perguntei para a professora porque as crianças estavam

fazendo aqueles desenhos com frases, quando ela me respondeu que era para

eles usarem como uma placa pequeno em sua frente em uma manifestação

para pessoas da Universidade não jogarem lixo no bosque, em que iriamos sair

com eles e com outras turmas para essa manifestação, fiquei surpresa,

crianças de 4 e 5 anos fazendo isso, muito legal, conscientizando e

incentivando as crianças a lutarem pelos seus direitos, pois com o bosque sujo

as crianças, não conseguem brincar nesse espaço.

Assim que as crianças terminavam de fazer essa placa, entregavam para

mim e para a Nicole (bolsista do curso de fonoaudiologia da UFSC), furamos os

papeis para colocar o barbante, para ficar suspenso, pendurado no pescoço

deles, para ficar melhor para fazerem a manifestação pelo campus da UFSC.

Deixamos as placas para colocar depois neles, pois a professora Soraia

pede para eles guardarem os brinquedos cantando, depois todos sentam em

roda, ela pergunta quem sabe que dia é hoje e a cor do dia no calendário,

depois conta uma história para eles, e as crianças ficam prestando atenção.

Depois pensamos juntas, eu, a Soraia e a Nicole, algumas frases com

rimas que fosse referente a manifestação.

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Logo todos fazem o lanche da manhã, com o sorteio de um ajudante, que

foi a Alice, a professora pergunta se quer colocar a coroa, ela diz que sim, e

ajuda a distribuir os alimentos para eles mesmos se servirem com oque

querem sendo que tinha frutas como a banana e o morango; e o pão integral,

havendo manteiga, alface e beterraba, sugerido pela professora para fazerem

um sanduiche delicioso, a maioria aceito a sugestão, e o suco de uva, a

professora também fala que é bom para o coração, e como o grupo tem o

nome de Coração Forte, é bom eles tomarem, sempre estimulando para se

alimentarem de maneira saudável.

Quando as crianças terminam de se alimentar, fazem sua higiene

pessoal, para irem fazer a manifestação contra o lixo no bosque, lugar este

onde as crianças brincam, após a professora coloca as placas neles, e vão até

a sala de educação física, em que tem muitos instrumentos, e ela pede para

que cada criança pegue um instrumento para fazer o barulho para

manifestação, elas pegam apito, pandeiro, reco-reco, pequenas vuvuzela, entre

outros.

Logo todos vão para o parque, as crianças esperam brincando as outras

turmas chegarem, sendo que são os grupos 5 e 6 do NDI, do período matutino,

que iram, assim que se reúnem, começa a caminhada juntos pelo campus da

UFSC, passam pela lanchonete, salas de aulas, Centro de Ciências da

Educação, e pela Reitoria e cantam: ão, ão , ão, não jogue lixo no chão! O

bosque e sua limpeza, vamos fazer feliz a natureza! Entre outras músicas e

rimas.

E a professora Soraia que coordena a caminhada, manifestando e

explicando bem alto com um microfone e uma caixa de som sendo levada por

outra professora do NDI; Estamos todos aqui, nós professores, alunos,

bolsistas, estagiários do Núcleo de Desenvolvimento Infantil para dizer a todos

que queremos nosso bosque limpo, onde as crianças possam brincar, porque

lugar de lixo é nas lixeiras.

Sendo que durante a caminhada, havia paradas nos lugares citados

acima e até mesmo quando tinha bastante pessoas por perto, passando o

microfone para as crianças para dizerem oque querem reivindicar e as crianças

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falam: Se jogarem lixos pelas ruas, nos vamos ficar sem ar, e os animais, as

plantas, e nos vamos morrer, porque vai ter muita poluição; Quem joga lixo no

chão é porcão; Não jogue lixo no nosso bosque, ele vai ficar sujo e nós não

vamos poder brincar lá; Jogue o lixo na lixeira.

A maioria das crianças queria falar, contribuir na manifestação, sendo

algo que interagia um com outro e perante a sociedade, desde pequenas

crianças, estavam dizendo oque tinham aprendido, oque pensavam, oque

imaginavam, ou até mesmo oque tinham de opiniões sobre o lixo (limpeza),

oque deveria ser feito para eles brincarem no bosque, para manter um lugar

limpo, momentos esses que oportunizam as crianças serem sujeitos sociais de

direitos.

Ao chegar novamente no NDI, cada grupo vai para as suas salas, e o

grupo 5 A, que é o da professora Soraia, fazem suas higienes pessoais, a

pedido da professora pegam suas mochilas e vão com a Nicole tomar água e

esperam os pais no parque para irem embora.

Registro de Campo – 5

Data: 22/04/2013

No inicio da manhã, as crianças estavam brincando no parque, juntamente

com a professora Soraia e com a bolsista Nicole, brincam na casinha, nos

escorregadores, nas rodas de pneus se equilibrando, depois sentam dentro

dessa roda, conversam.

Logo a Soraia pega um brinquedo novo, e chama a turma dela: Grupo do

Coração Forte vem aqui comigo, quero explicar para vocês como uma

brincadeira nova.

Assim todos as crianças chegam perto, algumas já pegam o taco de jogar

tênis e brincaram de rodar, e depois a Soraia pede para se sentar um do lado

do outro no parque e pergunta:

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- Quem sabe ou já jogou tênis?

Três crianças levantam a mão dizendo que já jogaram.

Outras dizem que sabem, outras não.

Assim a professora joga comigo, com a Nicole e com a Maria Catarina

(uma criança do grupo), explicando a eles como iriam jogar. Assim a professora

diz a eles quem quiser brincar de tênis é para ficar com ela, quem quiser

brincar de amarelinha brinca com a Grazi (comigo), e quem quiser de pula

corda brinca com a Nicole.

Quando ela falou eu brincaria com as crianças de amarelinha, me

perguntei, mas como, vou ter que fazer uma, pois não tem nenhuma pronta,

então na areia do parque desenhei a amarelinha com letras e números, eles

iam dizendo a letra que conheciam e o contando os números e até me

ajudando a fazer. Depois todos brincam de jogar um disco com a professora e

todos correm para pegar, quem pega o disco, joga para as outras pegarem e

assim por diante.

Foi muito divertido a todos e sem nem as crianças perceber, elas estavam

aprendendo brincando, e uma com a outra, pois quando uma falava a letra a

outra falava a outra, havendo uma troca do que já sabiam, assim como em

outras brincadeiras acontecem.

Depois todos brincam de jogar um disco com a professora e todos correm

para pegar, quem pega o disco, joga para as outras pegarem e assim por

diante.

Após, a professora pede para as crianças irem para sala, foram e fizeram

suas higienes pessoais; lavaram as mãos para lancharem, e se sentam nas

mesas, a professora sorteia o ajudante, e pede para que leiam o pequeno

papel que ela sorteou, eles leem Aruanã, ela coloca a coroa de ajudante nele, e

todos desejam bom apetite com as mãos dadas, depois o Aruanã deseja a

todos, por ser o ajudante e serve as bandejas de alimentos: banana, maça,

aveia, granola, iorgute natural, mel, as crianças gostam bastante quando é

esse lanche.

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Depois as crianças lavam as mãos e vão brincar de carrinho, casinha,

ferramentas, jogo da memória, escrevem no quadro letras, eu perguntei a eles

qual era essa letra apontando, e respondiam, assim quando querem, trocam de

brincadeiras. Nisso a professora foi chamando aos poucos algumas crianças

para irem na mesa pintar e escrever seus nomes nos papeis, que iriam colar

nas caixas de história, pois cada um tem a sua caixa que guardam seus

“bonecos” de imaginação.

Assim que alguns vão terminando, vão brincando e os outros são

chamados para pintarem e escreverem, alguns escrevem com ajuda da

professora pegando na mão junto com eles, quando terminam, voltam a brincar

também, brincam de bolas de gude, massinha de modelar.

A professora Soraia pede para eles arrumarem os brinquedos, para

pegarem suas mochilas, esperarem os pais no parque que estava, pois já

estava perto do horário dos pais chegar para irem embora, assim fazem,

conforme ela pediu.

Registro de Campo – 6

Data: 24/04/2013

Quando cheguei no inicio da manhã, as crianças estavam brincando no

parque da entrada, a Isadora chega perto de mim e da Nicole, com um prato de

areia, pega uma colher e pergunta: Quer experimentar a comida, é de

framboesa? Para a Nicole, e para mim pergunta: Experimenta, é de chocolate?

Nós dissemos a ela que queríamos e que estava uma delicia.

A Soraia pediu para mim ir até a sala de arte - educação e verificar com a

responsável pela se a sala está desocupada e pode ir com as crianças e para

ela preparar as tintas, para as crianças pintarem os bodes, a responsável falou

que poderia ir que ela prepararia.

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Então avisei a Soraia, e ela chamou as crianças para pintarem os bodes de

argila que tinham feito no dia anterior, todos foram e foi distribuído os seus

bodes, tinha o bode grande, médio e o pequeno.

E a professora ensinava eles a cantar tro-tro-tro quando se referia ao bode

grande, tra-tra-tra ao bode médio e ter-ter-ter ao bode pequeno, e as crianças

cantavam junto com ela, era sons e palavras diferentes, dependendo do

tamanho do bode, no ritmo dessa música, as crianças pintavam seus bodes de

tinta guache, usavam varias cores e diziam qual cor eles queriam, pois

escutava um amigo dizendo o outro também queria, o outro também, e assim

um aprende com o outro.

Assim que as crianças vão terminando, colocam na bandeja, em papéis

que nós recortamos, colocamos os nomes, para identificar de quem era os

bodes, auxiliamos para colocar de acordo com os papéis escrito com o nome

da criança. Eles lavam as mãos na sala de artes mesmo, onde tem um

lavatório próprio para eles.

Depois as crianças foram para outro parque, esse é um dos parques que

não vão sempre, geralmente quem fica nesse parque é os grupos de crianças

com 2 e 3 anos. Eles brincam bastante, no escorregador, no balanço, na

casinha, de disco, de equilibrar se segurando.

Logo todos vão para a sala, lavam as mãos para fazer o lanche:

morango, maça, suco de acerola, bolo integral, a professora antes de

comerem, sorteia o ajudante que é a Maria Catarina, pede para o grupo ler o

nome da ajudante, eles respondem certo, e a ajudante ajuda a servi e deseja

bom apetite a todos, então todos comem.

Nessa interação a professora começa a perguntar alguns nomes, mas

indiretamente, para eles adivinharem, por exemplo: tem um nome que é

parecido com a primavera. Mas eles não adivinham, pensam, depois a

professora diz, porque na primavera tem flores, o Lucas fala bem rápido: É a

Flora. E assim continuam, pois de uma maneira prazerosa e boa as crianças, a

professora faz algumas brincadeiras e descontração do momento, e eles vão

aprendendo sem perceber.

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Depois de lancharem, todos vão até o Bosque, que é ao lado do NDI,

juntam pinhas e palhas para a caixa de histórias deles, cada um tem que pegar

uma pinha pequena, uma média e outra grande, nisso a Maria Catarina que é

ajudante do dia, segura a cesta para os amigos colocarem dentro.

Voltam para a sala, as crianças felizes e curiosas porque foram no

bosque e pegaram pinhas e palhas para colocar em suas caixas de histórias.

Então distribuímos a eles as pinhas, para cada um, uma pequena, uma média

e uma grande e as palhas, guardaram e arrumaram dentro da caixa.

A professora chama eles para a roda, coloca um lençol no chão e

conta a história, tendo o bode, o capim (palha), trova (bolinha coberto e

amarrado com um pequeno pano), e a ponte com pedaços pequenos de

madeiras uma do lado da outra. Eles ficam prestando atenção e curiosos, e ao

final a professora diz que iram levar suas caixas para casa e que irá escolher

cada semana, um para trazer sua caixa para contar uma história.

As crianças pegam suas caixas e vão para o parque esperar os pais,

muito felizes e alegres.

Registro de Campo - 7

Data: 25/04/2013

No inicio da manhã quando cheguei, algumas crianças estavam vestindo

fantasias, outras brincavam de carrinhos, de massa de modelar, roda de

bastão, de uma pequena casinha de madeira, jogo da memória, de um rolo de

linha que virou um binóculos, etc.

Mas um menino me chamou muita atenção nesse momento, o Gabriel

pega ferramentas de brinquedos, e em uma casa de madeira que tem na sala,

ele diz: vou pegar o cerrote para arrumar a casa. Pegou o martelo e o parafuso,

e disse: Tenho que arrumar essa casa, o telhado está todo estragado, e fico

perto observando ele, e pergunto a ele quando pega um rodo pequeno de

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brincadeira, e passa no telhado, o que está fazendo, ele me responde: Estou

pintando o telhado , não chega muito perto porque você vai se machucar com

essas ferramenta. E ele brinca por bastante tempo nisso.

O Gabriel reinventou momentos que passaram quando estava em casa,

pois de acordo com uma conversa entre a mãe dele e a professora, a mãe

relata que tem um vizinho na frente de sua casa que está reformando a casa, e

nisso o Gabriel passa alguns momentos olhando eles trabalhando nessa casa.

Portanto o ele trouxe uma vivencia de casa, recriando uma história, fazendo

como se fosse real, pois pediu para mim se cuidar e não chegar muito perto.

Foi realmente maravilhoso ver ele brincando, fazendo dos objetos serem outros

e a concentração de arrumar como se fosse de verdade.

A professora vê o Otavio brincando com um rodo de madeira como se

fosse um cavalo, ela diz é o príncipe no cavalo branco, veio para salvar as

meninas, e pede para as meninas deitarem, elas deitam no chão para o

príncipe salvar, dando um beijo nos rosto de cada uma. Assim que ele da o

beijo, elas vão se levantando. Foi muito divertido.

A Isadora e a Maria Catarina brincam de fazer comida, com a massa de

modelar e as panelas de brincadeira, o Mateus e o Lucas brincam com animais

de brincadeira, imitando o som que cada animal faz.

O Aruanã e o Miguel brincam com um rolo de lã, fazendo-de-conta que é

um túnel, passando uma bolinha de gude dentro desse ‘túnel’, ficaram por um

longo tempo nessa brincadeira.

A professora pede para as crianças guardar os brinquedos e depois

chama para a roda, conversa e combina com eles o que iram fazer naquela

manhã, desenha no quadro, e explica para o grupo, primeiro mostra o

calendário, com o dia de hoje, depois será o lanche, a educação física, e na

sala de artes e educação para fazer uma frase e desenhar na placa de

madeira, reivindicando pelo bosque limpo, pois será amarrado nas árvores para

visualização de todos que passam por ali durante o dia e a noite.

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Logo a todos lancham, sendo: banana, laranja, bergamota, suco de

maçã, pão integral, geléia de uva e margarina, a professora pergunta as

crianças se sabem o sabor da geléia, respondem que é de uva.

As crianças lavam as mãos para fazer a educação física, assim vão

com a Soraia até o parque, e o Giba professor de educação física, brinca com

eles de esconde-esconde, a Soraia participa se escondendo. A educação física

é como um projeto, chamado de corpo e movimento, interagindo um com o

outro.

Depois vão todos para sala de artes e educação, escrever a frase e

desenhar sobre a limpeza do Bosque, na placa de madeira, o Giba distribui as

madeiras e lixas, uma para cada, e assim as crianças lixam as madeiras,

tirando as farpas, escrevem e pintam com giz de cera.

Ao final as crianças vão com a professora Soraia, para o parque espera

os pais, pegam suas mochilas na sala e vão brincar.

Registro de Campo - 8

Data: 26/04/2013

As crianças brincavam quando cheguei, que foi no inicio da manhã, suas

brincadeiras eram casinha, ábaco aluno, quebra-cabeça, jogo da memória.

A professora chama as crianças para a roda, explicando oque irão fazer

neste dia, escreve no quadro que irão no auditório, ver o teatro da

Chapeuzinho Vermelho, sendo que é uma homenagem a uma funcionária que

trabalhou muito tempo no NDI, no setor da saúde, e como se aposentou,

estava saindo. E que depois irão lanchar, ao final teria a bela roda com uma

contação de história.

Para a professora Soraia e o grupo homenagear também, resolveram

fazer um colar com pérolas, missangas, pingentes, pedras de varias cores

(transparente), para presentear, sendo que a professora pegou sua caixa, onde

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havia todos esses utensílios citados a cima, uma agulha, própria para criança,

para todos participarem, fazendo o colar.

Nesse momento somente algumas crianças vão até a mesa, para

montar, conforme a professora vai chamando-os, e as outras ficam brincando,

eu me junto com os que estão brincando e brinco com o Mateus de fazer como

se um avião de brinquedo, voasse mesmo, jogando um para o outro, usando a

imaginação.

Também notei o entusiasmo das crianças ao fazer o colar, quando é

terminado, a professora mostra a eles, coloca dentro de um pacote, em que

eles dizem que é do papai noel, que parece o trol, da história contada pela

professora nessa mesma semana, e a professora faz um bilhete dizendo que é

do grupo 5 A o presente, ficam contentes por ter feito, visto pelo sorriso no

rosto deles, e diziam vou dar um presente.

O grupo antes ir para o auditório, passaram no bebedouro, para tomar

água junto com a professora, viram o teatro e quando terminou, foram entregar

o presente, dando um abraço nessa funcionária do NDI.

Ao voltar para sala, lancham sendo alimentos saudáveis: banana, caqui,

queijo branco, alface, pão integral, tomate, margarina. Neste dia as mesas

estavam distantes umas das outras, ficando em grupos.

Assim que terminam de lanchar, todos vão para a Bela Roda, para a

professora contar uma história, sendo essa: Pequeno herói da Holanda, traz

um instrumento, o cantuli, tocando e contando ela chama a atenção deles de

um maneira incrível, pois ficam com o olhar fixado, e respondem as perguntas

que a professora Soraia faz a eles, como por exemplo: Quem são os heróis,

alguns respondem que é os pais, mas ela retoma a pergunta, dizendo quem

salva a vida de outras pessoas, os bombeiros, os salva-vidas, e as crianças

ficam escutando e participando.

Depois pegam seus brinquedos da sala e vão brincar, na espera dos

pais chegarem para irem embora.

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Registro de Campo - 9

Data: 29/04/2013

As crianças estavam brincando livres com brinquedos na sala, de

joaninha, de gato da lata e o rato, neste momento observando eles brincando e

comento com um dos meninos, o Miguel, não me deu beijo hoje, ele me olhou

bem fixo, me deu um beijo no rosto, e disse: Grazi eu te amo! Eu senti aquela

frase dita por ele, tão sincera e profunda, pois ele parou e pensou antes de

falar, fiquei feliz e disse a ele que também amava-o, retribuindo esse carinho,

abracei ele e beijei.

Logo a professora da turma, canta para eles guardarem os brinquedos,

para fazer uma roda, conversando com eles como e quem guarda os

brinquedos em casa, e cada um relata com acontece em suas casas, dizendo

que guarda sozinho, que a mãe ajuda, entre outras respostas surgiram.

A professora então diz a eles oque irão fazer neste dia, desenhando no

quadro os itens de sequencia das atividades e brincadeiras. Relata desde o

começo, que irão fazer biscoitos de polvilho junto com uma mãe de uma

menina do grupo, a Alice, assim vão lanchar após ter feito, pois enquanto

assava, iam alimentando-se de outros lanches que o NDI oferece e dispõe em

sala de aula, para depois comer os biscoitos.

Assim que todos terminaram de lanchar, foram para sala de artes, pintar

a placa de tinta guache, alguns com auxilio, outros não para contornar a frase

que eles mesmos criaram sobre a limpeza do bosque e o direito deles

brincarem neste espaço.

Quando terminam vão para o parque, onde brincam bastante, interagindo

um com o outro. Até seus pais chegarem.

Registro de Campo - 10

Data: 02/05/2013

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Neste dia, estava me sentindo com o coração apertado, pois seria meu

ultimo dia com eles, ou seja ultimo dia de pesquisa, mas algo que jamais

esquecerei, pois em cada detalhe tinha um significado importante, mas como

assim importante? Porque todos os momentos e situações do cotidiano dessa

Instituição de Educação Infantil, era e é voltado as crianças, pensando nelas,

respeitando como sujeito social de direitos.

Mas voltando a relatar e escrever os detalhes do dia a dia dessas

crianças, quando cheguei estavam brincando com a bolsista Nicole, de

esconder um objeto, como se fosse um caçador, assim as crianças que iam

chegando participavam da brincadeira, e juntamente com ela diziam se o lugar

estava quente ou frio, sendo quente quando estavam prestes a achar o objeto

e frio quando estavam distantes.

Depois as crianças e a professora foram para o parque, e as crianças

brincaram de escorregador, balanço, de encher o balde de areia, de jogar

pedras pequenas.

Neste meio tempo faço a entrevista com eles no parque, e logo faço

com a professora, em uma sala que a equipe pedagógica faz seu lanche da

manhã.

Assim que terminamos a entrevista, a professora chama grupo do

coração forte no parque, para irem para sala, pede para fazer uma roda, e

pega os trabalhos que fizeram desenhando a profissão dos pais, sendo que

cada um conta nesta roda a profissão do pai e da mãe, conversando e

explicando o que fazem.

Deixando claro que no dia anterior, feriado foi dia do trabalhador, motivo

esse de abordar o tema e fazer um trabalho, assim a professora, explica sobre

como ocorreu as mudanças até hoje, incluindo jornada de trabalho, e que o pai

deve ajudar a mãe com as tarefas de casa e faz questionamentos por que os

pais trabalham, e as crianças vão respondendo, porque o pai tem que ter

dinheiro para comprar comida, tem que pagar as contas, comprar brinquedos,

assim conversam, mas de maneira que conscientizem eles do motivo dos pais

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trabalharem e participando de diálogos, trazendo o cotidiano de sua vivência,

se tornando algo significativo.

Nesta roda a professora explica que é o ultimo dia que iria ao NDI, e que

estava terminado minha pesquisa, sobre as brincadeiras deles, que estou

estudando para dar aula para outras crianças, e que tenho um lembrança para

dar a eles.

Entrego um coração com uma mensagem: Um beijo bem grande em seu

coração. Aprendi muito com você! Estagiária Graziela. E digo a eles que

sentirei muita saudade, e leio a mensagem.

As crianças dizem que gostaram do coração e que sentiram saudades

também, e perguntam se pode levar para casa, para guardar, digo que sim.

Depois as crianças, vão lavar as mãos para lanchar, e assim que

terminam brincam na sala, e depois vão para o parque.

Em quanto isso faço uma entrevista com a coordenadora do NDI, a

Sonia, com perguntas relacionadas a brincadeira.

No final quando fui dar um beijo e um abraço em todas as crianças e a

professora da turma, em que estavam, nesse momento o Mateus me perguntou

por que você tem que ser professora de outras crianças, e não nossa? Queria

que você fosse nossa professora. Expliquei para ele que trabalhava em outra

Instituição, que um dia poderia ser a professora dele, e disse para ele que

nunca esqueceria ele, dei um beijo em seu rosto e abracei.