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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I CURSO DE PEDAGOGIA Luciane Alves dos Santos “VOCÊ SABE DESENHAR?: VISLUMBRES DA CONCEPÇÃO DO PROFESSOR SOBRE O DESENHO DE SEU ALUNO NO USO DE ATIVIDADES EM SALA DE AULA Salvador 2009

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I

CURSO DE PEDAGOGIA

Luciane Alves dos Santos

“VOCÊ SABE DESENHAR”?: VISLUMBRES DA CONCEPÇÃO DO PROFESSOR SOBRE O DESENHO

DE SEU ALUNO NO USO DE ATIVIDADES EM SALA DE AULA

Salvador 2009

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LUCIANE ALVES DOS SANTOS

“VOCÊ SABE DESENHAR”?: VISLUMBRES DA CONCEPÇÃO DO PROFESSOR SOBRE O DESENHO

DE SEU ALUNO NO USO DE ATIVIDADES EM SALA DE AULA

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, sob orientação da Profª. Dra. Isa Trigo.

Salvador 2009

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LUCIANE ALVES DOS SANTOS

VOCÊ SABE DESENHAR?: VISLUMBRES DA CONCEPÇÃO DO PROFESSOR SOBRE O DESENHO

DE SEU ALUNO NO USO DE ATIVIDADES EM SALA DE AULA

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, sob orientação da Profª. Dra. Isa Trigo.

Salvador, _____ de _______________ de 2009

_____________________________________________________ Profª Dra. Isa Trigo (Orientador) - UNEB

_________________________________________________ Profª Rosemeire de Fátima Batistela-UNEB

_________________________________________________ Profª Mônica Lemos Bitencourt - UNEB

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Dedico esse trabalho à minha

mãe, meu eterno exemplo de vida, por todo incentivo e apoio, às crianças que de inúmeras formas encantam-me e surpreendem a cada dia.

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AGRADECIMENTOS

Ao senhor Deus, que me capacita e está comigo em todos os momentos.

À professora Drª. Isa Maria Faria Trigo, minha valiosa e querida orientadora

neste caminho de desafios e conquistas. Muito obrigada pelas oportunidades

de crescimento e aprendizagens!

À minha família, pelos significativos momentos de apoio.

Ao meu irmão, Valter Leite, que colaborou na edição dos vídeos.

Ao meu amigo, Luciano Vieira, que com muito carinho colaborou na revisão do

texto.

Aos meus amigos, Catarina Xavier, Raquel Machado e Alexandre Barbosa pela

solidariedade nos momentos difíceis.

À diretora, professores, colegas e funcionários da Escola Municipal Antonio

Pithon Pinto pela disponibilidade e atenção.

Aos docentes, sujeitos desta pesquisa, pelas ricas contribuições no meu

trabalho de conclusão de curso.

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“Pelo convívio diário com o

aluno, o professor tem condições de conhecê-lo mais profundamente, desde que se disponha a vê-lo e ouvi-lo em todas as atividades na escola. O desenho é mais uma possibilidade de interlocução com a criança.”

(FERREIRA, 2001, pág. 145)

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RESUMO

O presente trabalho teve por objetivo refletir de que forma a concepção do professor sobre o desenho do seu aluno influencia no uso de atividades com desenhos em sala de aula. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica e a análise de entrevistas feitas com professores da rede municipal de ensino, na cidade de Salvador- Bahia. Nos resultados obtidos percebe-se que o professor tem pouco conhecimento acerca do desenho infantil enquanto atividade artística promotora do desenvolvimento emocional, afetivo, cognitivo, social e percepto-motor da criança. Foi constatado que o desenho é visto no contexto escolar como uma atividade destituída de valor educacional, estando sempre em segundo plano dentro das ações pedagógicas dos professores, tendo a escrita um valor maior neste contexto. O trabalho motivou reflexões, sugestões, no sentido de pensar as possibilidades e estratégias para modificar essa problemática abordada. Palavras-chave: Desenho Infantil, Artes Visuais, Educação.

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ABSTRACT

This study aimed to reflect how the design of the teacher on the design of their influence on student use of activities with cartoons in the classroom. The methodology used was a literature review and analysis of interviews with teachers of municipal schools in the city of Salvador, Bahia. According to the results it is noticed that the teacher has little knowledge about the design's artistic activity while promoting the emotional, affective, cognitive, social and perceptual-motor of the child. It was found that the design is seen in the school context as an activity devoid of educational value and is always in the background in the actions of the teachers, and writing a higher value in this context. The work led to thoughts, suggestions, in order to discuss the possibilities and strategies to modify this problem addressed. Keywords: Children's Drawing, Visual Arts, Education.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1................................................................................. 10 Figura 2.................................................................................. 14 Figura 3................................................................................. 31 Figura 4................................................................................. 56

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................. 10

2 DESENHO INFANTIL..................................................................14

2.1 COMPREENDENDO O DESENHO INFANTIL................................ 15 2.1.1 O Desenho como Linguagem Gráfica........................................... 16 2.1.1.1 O Desenho como Alternativa de Brincadeira.....................................19 2.1.1.1.1 As fases do Desenho, desde as Primeiras Garatujas........................23

3 VISLUMBRES DA CONCEPÇÃO DO PROFESSOR.........31

3.1 REFLEXÕES ACERCA DAS ATITUDES DO PROFESSOR FACE ÀS EXPRESSÕES DE DESENHOS DE SEU ALUNO....................32

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................... 57

REFERÊNCIAS............................................................................... 62 APÊNDICE A – ENTREVISTAS...................................................... 64

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1 INTRODUÇÃO

Figura 1. Imagem retirada da internet em 28/07/2009

http://images.google.com.br

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Neste trabalho, analisarei as diversas tendências que orientam as

concepções dos professores acerca do desenho da criança, o modo como as

práticas com desenhos vêm sendo trabalhadas em sala de aula, e como essas

práticas têm desvalorizado o processo de criação do desenho da criança;

porque partem de um modelo pronto e, muitas vezes de propostas

descontextualizadas, sem valor para as crianças. Partindo dessas indagações

e observações da prática buscando encontrar respostas, decidi fazer este

trabalho.

Movida por essas inquietações e partindo das experiências vividas como

estagiária em classes de educação infantil, busquei investigar e discutir as

atitudes do professor em relação aos desenhos das crianças de 4 e 5 anos de

idade, no sentido de oferecer às mesmas múltiplas possibilidades de vivenciar

a ação do desenhar; e na tentativa de ajudar aos docentes a compreenderem

a importância do desenho no desenvolvimento da criança, percebendo que em

cada registro feito através do desenho, a criança passa o seu olhar sobre o

mundo que a cerca e como se vê interagindo com ele.

O desenho é uma representação contida no imaginário da criança, uma

expressão de pensamento e das experiências de mundo que a criança possui

ao longo de sua vida. Através das atividades com desenhos proporcionadas

pelo professor em sala de aula, a criança pode construir linguagem, que com

certeza possui sentido e vocabulário. Por meio do desenho, a criança organiza

seu pensamento, estimula sua motricidade, expressa idéias, estimula seu

processo de criação, desenvolve aspectos afetivos, sociais, sensoriais, constrói

sua identidade e autonomia. Dessa forma, nos deparamos com a seguinte

problemática: De que forma a concepção do professor sobre o desenho do seu

aluno influencia no uso de atividade com desenho em sala?

Percebe-se no contexto escolar uma desvalorização das atividades com

desenho infantil, tornando assim necessário, um estudo maior acerca desse

tema, para que seja possível investigar que aspectos podem ser revelados

através do desenho e qual sua relevância nas práticas escolares e nas ações

pedagógicas.

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As idéias do questionário- Nele são discutidas as idéias dos

entrevistados, entrevendo rumos que sinalizam as visões de cada um a

respeito dos aspectos cognitivos da criança, as fases de desenvolvimento

infantil do desenho, e a concepção do professor no uso de atividades com

desenho no contexto escolar, e o modo como as práticas com desenhos vêm

sendo trabalhadas em sala de aula. As experiências e os dados dos

professores participantes dessa pesquisa tornaram efetivamente possível

explorar, no que tange à problemática ora trazida, suas características,

dificuldades, concepções, e, reflexões que, espera-se que sejam úteis para o

desfecho de algumas questões relacionadas às ações pedagógicas das

professoras através do uso de atividades com desenhos em sala de aula. Estes

profissionais entrevistados têm vivências significativas em sala de aula,

especialmente no que diz respeito às atividades com desenho, o que

possibilitou, ao discutir suas idéias e a de outros autores, vislumbrarem quais

caminhos apontam para mudanças desejáveis; assim como poder levantar,

graças a essas vivências, características e problemas específicos das práticas

de desenhos realizadas pelas professoras em sala de aula.

Os referenciais teóricos mais importantes foram: Viktor Lowenfeld, Edith

Derdyk, J.C, Arfouilloux, Sueli Ferreira, Philippe Greig, Marina Lisboa Soares,

Paulo de Tarso Cheida Sans, através desses pressupostos teóricos foi possível

discorrer melhor acerca dessa problemática.

Temos por objetivo deste trabalho, compreender o desenho infantil

enquanto linguagem gráfica, conceituar as fases de desenvolvimento do

desenho, perceber possíveis aspectos demonstrados através do desenho

infantil, verificar a concepção do professor acerca do desenho, no que tange a

uma valorização do desenho como expressão pessoal da criança.

Buscando-se responder ao problema e os objetivos citados, este

trabalho está estruturado da seguinte forma:

O primeiro capítulo vai tratar da possível compreensão do desenho

infantil, no qual analiso o desenho como linguagem gráfica, o desenho como

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alternativa de brincadeira e as fases do desenho, desde as primeiras garatujas,

estas fases dos desenhos definem formas de desenhar que são bastante

similares em todas as crianças, apesar das diferenças e experiências

individuais de sensibilidade e temperamento.

O segundo capítulo busca investigar a concepção do professor sobre o

desenho de seu aluno no uso atividades em sala de aula e também descrever

e justificar o modelo de pesquisa adotado, os objetivos e objetos de análise, os

sujeitos, os instrumentos dessa pesquisa.

Nas considerações finais tenta-se estabelecer uma interlocução entre as

questões e as categorias formuladas junto ao quadro teórico adotado, no intuito

de chegar ao uma análise reflexiva. E também ressalto algumas sugestões

para a melhoria do ensino de desenho em sala de aula, a partir do

conhecimento das práticas com desenhos pelos educadores, como forma dos

mesmos promoverem o desenvolvimento gráfico de seus alunos. Por fim, são

expostos as referências bibliográficas e os anexos.

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2 DESENHO INFANTIL

Figura 2. Imagem retirada da internet em 28/07/2009 http://images.google.com.br

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Este capítulo é o resultado de um levantamento bibliográfico das obras

de autores que se dedicaram a estudar o desenho infantil, seu conceito, as

fases do desenho e as possibilidades do desenho como linguagem gráfica ou

como alternativa de brincadeira. Durante a leitura deste capítulo pode-se

observar que os autores como: Viktor Lowenfeld, Edith Derdyk, Sueli Ferreira,

Philippe Greig e Paulo de Tarso Cheida Sans, dentre outros, concebem o

desenho da criança como uma atividade artística promotora do

desenvolvimento emocional, afetivo, cognitivo, social e percepto-motor infantil.

A pesar de cada autor ter suas possibilidades e peculiaridades quanto à

função e funcionamento dessas atividades de desenho é possível encontrar

conceitos comuns a todos.

2.1 COMPREENDENDO O DESENHO INFANTIL

O desenho infantil é objeto de estudo por parte de muitos pedagogos,

artistas, psicólogos e educadores. Explicar e compreender o desenho da

criança possibilita uma análise dos registros gráficos da criança como forma de

expressão, contribuindo para a renovação e transformação das práticas

pedagógicas dos professores num ato de respeito à criança e a seus

conteúdos.

Apesar da importância, constitui-se numa tarefa complexa, que apresenta

diferentes respostas e caminhos, conforme a pesquisa teórica contemplada. E

para iniciarmos a discussão sobre o desenho infantil, partiremos de uma

afirmativa de Marina Lisboa Soares, quando expressa:

Falar sobre o desenho infantil é falar em desenvolvimento, aquisição de conhecimentos, construção de conceitos, organização de idéias, formulação de opiniões, capacidade intelectual e de comunicação e muito mais. A riqueza do grafismo infantil possibilita à criança não só o prazer em desenhar, mas também todos esses aspectos abordados acima. (SOARES, 2003, p. 18)

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Dessa forma, a autora coloca que, ao desenhar, a criança conta um

pouco de si, suas fantasias, seus pensamentos, sentimentos, medos,

inseguranças, alegrias e descobertas. No momento da atividade com desenho,

a criança age e interage com o meio ao seu redor, seu corpo se envolve numa

ação, traduzida em marcas que serão transpostas em seus desenhos, criando

e recriando a cada dia novas formas de ver suas próprias produções

registrando um pouco de si e das suas experiências vividas.

A autora Maria Angélica Albano Moreira (1999) também comunga da

mesma idéia de que, através do desenho a criança expressa sentimentos, se

comunica, se diverte, cria e recria, ou seja, o desenho possui uma importância

não meramente ilustrativa, mas de cunho emocional, pois através deste é

possível revelar a evolução da criança no que concerne aos diversos aspectos

que, muitas vezes estão internalizados na criança, possibilitando uma

externalização que traz crescimento interno e amadurecimento. Perceber o

mundo, fantasiar e se ver nele, ajudam a criança, sem censura e preconceitos,

de forma lúdica e prazerosa, a crescer intelectualmente e emocionalmente,

aprendendo como lidar com o mundo em que vive e a interagir com ele. Seria

então o desenho um tipo de linguagem gráfica? Existe algum tipo de expressão

através dos desenhos da criança? O que é desenho para a criança? Porque é

prazeroso para ela desenhar e rabiscar?

2.1.1 O Desenho como Linguagem Gráfica

Segundo Ricardo Ottoni Vaz Japiassu, em seu artigo: Do desenho de

palavras à palavra do desenho, (2006) “as representações gráficas das

crianças são formas de linguagem, e por isso passíveis de serem objeto de

estudo por parte de pedagogos, psicólogos e arte-educadores”. Para Moreira

(1999) “o desenho é a primeira escrita da criança. É através do desenho que a

criança afirma sua capacidade motora, criadora, através dele é capaz de

designar, nomear, relacionar pessoas e objetos”, e quem vai reforçar essa

afirmação é Edith Derdyk, quando ela acena:

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A criança rabisca pelo prazer de rabiscar, de gesticular e de se afirmar. O grafismo que daí surge é essencialmente motor, orgânico, biológico, rítmico. Quando o lápis escorrega pelo papel, as linhas surgem. Quando a mão pára, as linhas não acontecem. Aparecem, desaparecem. A permanência da linha no papel se investe de magia e esta estimula sensorialmente a vontade de prolongar este prazer, que significa uma intensa atividade interna, incalculáveis por nós, adultos. (DERDYK, 2003, p.56)

A autora sinaliza que apesar da criança ainda apresentar pouca idade,

ela já é capaz de pegar no lápis e construir pequenos rabiscos e quanto isso se

repete por diversas vezes, a criança percebe com grande satisfação que seu

gesto mesmo que ainda, com a pouca assiduidade de seu esforço gráfico, seus

rabiscos vão se transformando e adquirindo firmeza, seja através de uma ação

impulsiva, ou em formas diversas, que na maioria das vezes, são

acompanhadas de pequenos rabiscos que no futuro se tornarão símbolos

propriamente ditos. Dessa forma, as crianças começam a perceber que

rabiscar dá certo prazer, e no decorrer do tempo sentem-se atraídas por esta

forma de expressão, ou melhor, elas começam a emitir sinais gráficos que

traduzem a sua maneira de ver o mundo ao seu redor e questioná-lo.

No desenvolvimento do seu texto, Louis Porcher¹ (1982) vai

destacar a maneira como o professor se comporta em relação à atividade de

desenho em sala e como alguns deles não concebem o desenho como uma

atividade simbólica que envolve aspectos motores, sociais, afetivos e

cognitivos da criança. Isso ocorre porque o professor desconhece o precioso

valor de criar atividades que desafiem as crianças, promovendo o interesse

pelo ato de desenhar. Sendo assim, nem sempre o professor percebe que

através das atividades com desenhos podemos obter dados sobre o

desenvolvimento da criança, assim como levantar hipóteses sobre seu

desenvolvimento emocional-afetivo, perceptivo, motor e intelectual, devendo

assim em diversas situações em sala de aula promover momentos em que as

crianças desenhem.

_____________ 1 Considerando a amplitude de estudos já realizados acerca do desenho infantil, não caberia neste trabalho, repetir os vários levantamentos de referências já realizados a respeito do assunto abordado e selecionei apenas alguns autores mais conhecidos para embasar e ilustrar os pressupostos teóricos que aqui discuto.

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Esse desconhecimento da importância do desenho explica porque

alguns professores adotam uma ou outra forma de observar as produções

gráficas do seu aluno sem darem a elas o devido valor.

Sendo assim, nem sempre o professor percebe que através das

atividades com desenhos podemos obter dados sobre o desenvolvimento da

criança, assim como levantar hipóteses sobre seu desenvolvimento emocional-

afetivo, perceptivo, motor e intelectual, devendo assim em diversas situações

em sala de aula promover momentos em que as crianças desenhem. Esse

desconhecimento da importância do desenho explica porque alguns

professores adotam uma ou outra forma de observar as produções gráficas do

seu aluno sem darem a elas o devido valor.

E quando se deparam com os desenhos da criança, estes, muitas vezes,

intimidam o docente, que diante de um emaranhado de linhas e traços, reduz a

possibilidade de universos que o desenho significa e representa para a criança,

porque não sabem interpretá-los ou a eles não dá o significado devido. Dessa

forma, buscar um conhecimento intenso sobre a evolução do desenho infantil,

suas características, entender o que representa para as crianças o ato de

desenhar torna-se muito produtivo para o adulto. E quem nos mostra o que

significa entrar no universo infantil de desenho das crianças é J.C. Arfouilloux,

quando diz:

O desenho é como uma janela aberta para uma “terra incógnita”, um continente perdido, onde moramos há muito tempo, e domínio de seres muito enigmáticos: as crianças. De nosso lugar de adulto o que vemos por essa janela pode parecer-nos bem desajeitado. Não é absolutamente o mundo tal qual como o imaginamos, tal como pensamos que ele realmente é, e, no entanto é esse mundo que a criança procura reproduzir em seus desenhos. (ARFOUILLOUX, 1975, p.128)

Para o autor, todas as crianças são únicas nas suas formas de

expressão; através da linguagem de seus desenhos, elas conseguem transmitir

a sua experiência subjetiva e o que está vivo na sua mente e no seu interior de

formas diversas, deixando transparecer as suas íntimas emoções e o seu mais

profundo imaginário.

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Para Edith Derdyk (2003), “o desenho do adulto e o desenho da criança

não são estanques, ambos participam do patrimônio humano de aquisição de

conhecimento, complementando-se”. A criança desenha, entre outras tantas

coisas, para se divertir. Um jogo em que não existem companheiros, em que a

criança é dona de suas próprias regras. Nesse jogo solitário, ela vai aprender a

estar só, “aprender a só ser”. A criança é fiel as suas criações, necessidades e

com a espontaneidade que faz parte do seu cotidiano, seja em casa ou na

escola, ela mostra, através de seus desenhos como é capaz de dar novos

significados para sua própria realidade.

Quando a criança desenha é estimulada pelo prazer, com seus gestos a

criança passa a dominar e a reinventar, até que o desenho se torne natural,

interagindo com o objeto desenhado, com as pessoas ao seu redor. Nos

momentos em que ocorre o desenhar as crianças constroem um espaço ao seu

redor como se fosse um jogo de criação, no qual se desenha algo para poder

brincar com ele. Não há nada melhor para se conhecer uma criança, senão

ouvindo-a e tomando o cuidado de falar-lhe adequadamente. É importante

observá-la para que possamos entendê-la e vê-la desenhando e ao mesmo

tempo brincando. A forma como a criança desenha seu espaço e como

externaliza suas histórias dizem muito sobre ela, pois, para elas, o desenho é a

sua linguagem e sua primeira escrita ainda que não tenham eventualmente

total consciência disso. Nele são mostrados seus anseios, sua capacidade

intelectual, e sua capacidade de organizar idéias. E quem reforça as

afirmações citadas acima, é Maria Angélica Albano Moreira, quando

complementa:

O que é preciso considerar diante de uma criança que desenha é aquilo que ela pretende fazer: contar-nos uma história e nada melhor que uma história, mas devemos também reconhecer, nesta intenção, os múltiplos caminhos de que ela se serve para exprimir aos outros a marcha dos seus desejos, de seus conflitos e receios. (MOREIRA, 1999, p.20)

A autora ressalta a importância de se perceber que a criança utiliza

várias formas gráficas para expor toda uma simbologia contida nos seus

anseios, idéias; que usa uma variedade de elementos representantes do seu

cotidiano e do seu imaginário infantil, com diversas formas e cores que possam

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refletir seu interior, e sua interação com a realidade percebida. Quando existe

um interesse da criança pelo desenho, pode-se orientá-la acerca de algumas

técnicas, oferecendo-lhe diferentes materiais para que os prove.

A seguir, falarei do desenho infantil como possibilidade da criança brincar e desenhar ao mesmo tempo.

2.1.1.1 O Desenho como Alternativa de Brincadeira Paulo de Tarso Cheida Sans, em seu livro A criança e o artista, (1994)

vai tratar do desenho “como possibilidade de brincar”, fazendo uma analogia

interessante, em que vai retratar o desenho como forma da criança estar

brincando enquanto desenha. Desse modo, ele esclarece que:

O brincar e o desenhar para a criança manifestam-se

impulsionados pela mesma essência motivadora, que é caracterizada pela ação lúdica. Acontece um constante relacionamento mútuo entre esses dois atos que podem estar tão interligados que em vários momentos estarão simultaneamente numa mesma função. A ação de brincar pode acontecer no ato de desenhar, assim como a ação de desenhar pode também se inserir no ato de brincar. (Sans, 1994, p. 39)

O autor ressalta que ao brincar, a criança estará ativando o seu senso

compositivo, direcionando-o à sua atenção na brincadeira. De certa maneira,

esse senso compositivo vai se manifestar quando a criança desenha,oscilando

a sua visão de acordo com sua intenção interpretativa. Entretanto, o sentido

harmônico que a criança pode criar poderá acontecer em ambos os casos, pois

a criança não brinca com seus brinquedos de forma aleatória e nem desenha

de forma aleatória. O que acontece é que as crianças se utilizam de critérios

pré- definidos, de acordo com sua necessidade, vontade e gosto. Na verdade,

quando as crianças desenham, elas escolhem temáticas preferidas, o que elas

desenham provém de sua própria realidade.

No desenvolvimento do seu texto Moreira (1999, p.27) vai acompanhar o

desenvolvimento do desenho através das mesmas etapas desenvolvidas por

Piaget, em sua obra A formação do símbolo na criança. Dessa forma, a autora

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levanta uma íntima semelhança entre as etapas do jogo com o

desenvolvimento do desenho infantil, pois para ela o desenho é uma forma de

jogo simbólico – vínculo subjetivo entre significante e significado.

Para Marina Lisboa Soares (2003, pg. 18), “a criança quando brinca,

deixa sua marca, inventando jogos, contando histórias, dançando e cantando,

mas ao desenhar ela constrói um espaço ao seu redor como se fosse um jogo

de criação, no qual desenha algo para poder brincar com ele”. Não há nada

melhor para se conhecer uma criança, senão ouvindo-a e tomando o cuidado

de falar-lhe adequadamente. Observá-la é fundamental para que possamos

entendê-la e nada melhor do que vê-la desenhando/brincando. E reforça

Moreira (1999, p.37): “a criança brinca porque não pode viver de outra forma”.

Nessa perspectiva, em relação à citação acima podemos trazer como

exemplo, quando a criança está desenhando uma borboleta voando pelo jardim

de sua casa, mas, num certo momento ela poderá estar encarnada neste

personagem, como se ela estivesse “voando² pelo jardim dentro do seu próprio

desenho, mas elas não perdem a noção do real. Nesse contexto, isso é

atingido com a precisão do gesto, com a ampliação de suas possibilidades

expressivas. Pois, a criança reconhece o rabisco como produção sua e passa a

manipulá-lo, passando a desenhar qualquer coisa relacionada a seu cotidiano,

fantasias, lembranças de sua própria imaginação. Dessa forma ela enxerga,

relaciona, combina, cria e se apercebe, aceita as sugestões que seus traços

podem lhe proporcionar. É o que nos mostra a autora ao afirmar que, por trás

de um rabisco, aparentemente caótico, pode existir um desenho muito bem

elaborado para a criança. Porque quando o professor não acompanha o

processo evolutivo do desenho de seu aluno, jamais entenderá do que se trata.

_____________ ² Para a criança pequena, o objeto ou qualquer outra coisa que ela desenha se move, sai de um local para o outro. Isso é alcançado porque a criança consegue criar personagens e dá vida aos seus desenhos brincando mesmo em situações de produções artísticas.

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No momento do brincar, através de alguns traços aleatórios nasce o

desenho da criança:

O olho que acompanha a mão, tal como acompanhamos em seguida um guia numa estrada que não conhecemos, assume uma outra postura. Agora o olho também pode ser o comandante do barco, fazendo com que não seja sua passageira. (DERDYK, 2003, p. 69)

A autora sinaliza que a criança pequena desenha pelo prazer do gesto,

logo após, pelo prazer de produzir alguma marca. No decorrer do tempo, esse

exercício vai adquirindo novas formas. Os primeiros rabiscos são quase

sempre efetuados sobre livros e folhas aparentemente estimuladas pelo adulto,

possessão simbólica do universo adulto, tão valorizado pela criança pequena.

Esses rabiscos refletem, sobretudo, o prolongamento de movimentos

rítmicos de ir e vir se transformam em formas definidas que apresentam maior

ordenação e podem estar se referindo a objetos naturais, objetos imaginários

ou outros objetos.

De acordo com Moreira (1999) nesse estágio (desenvolvimento-

exercício) “a criança ainda não se interessa pela cor, que aparece por acaso,

por estar disposta a criança no momento do desenho”. Sendo assim, as

garatujas vão se modificando, adquirindo novas formas, que vai-e-vem, vão se

arredondando, dando origem às famosas bolinhas. A conquista dos círculos

representa o inicio da representação. Nesse instante o rabisco assume o

caráter de jogo simbólico. A criança desenha para entender o mundo, para

fazer de conta. E essa conjunção mão/olho/cérebro torna-se evidente no ato de

desenhar, como afirma Florence Mèredieu (1974, p. 37) “o desenho só entra na

categoria de jogo simbólico quando permite a criança exprimir um pensamento

individual”. O desenho consegue, nesse momento, reunir o aspecto imagético

(projetar, idealizar) e o operacional, este por sua vez, no sentido da criança

assimilar dados e estruturas de transformação para organizar o real em ato ou

em pensamento, mostrando o que a criança compreendeu e como interage

com o que foi internalizado no decorrer do tempo. Nessa fase, segundo

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Moreira, a relação com a fantasia muda. E para essa autora a mudança não

chega a ser uma perda na qualidade, mas uma mudança de apreensão.

Na fase do jogo simbólico a fantasia se expressa pelo descompromisso com o real, e se manifestava, mas no nível da linguagem plástica: a arbitrariedade, da cor, da representação espaço-temporal. Agora a fantasia se manifesta ao nível da idéia representada: são heróis, fadas, princesas encantadas, viagens interplanetárias, porém dentro de concepções visuais preestabelecidas, buscando uma linearidade espaço-temporal. (MOREIRA, 1999, p. 49)

Dessa maneira, vale ressaltar que a autora chama a atenção para a

estruturação do pensamento da criança enquanto brinca e desenha, pois as

ações das crianças, manifestadas através de suas fantasias, utilizando a figura

de heróis, princesas, e outros tipos de personagens que venham surgir no

momento, podem ser erradamente compreendidas como forma de

empobrecimento da criatividade das mesmas. Nesse sentido, mais uma vez, a

importância do adulto entender as etapas representativas do desenho da

criança, visando o crescimento das mesmas como um ser social.

A seguir, vamos discutir as etapas do desenho infantil, desde o início

dos primeiros rabiscos e como as crianças se relacionam com eles no decorrer

do desenvolvimento de seu desenho.

2.1.1.1.1 As fases do Desenho, desde as Primeiras Garatujas

As crianças despertam muito cedo para a vontade de rabiscar ou realizar

garatujas, de forma quase automática, fazendo parte da sua rotina, sem que

para isso haja intervenção do adulto. Ao final do seu primeiro ano de vida, a

criança já é capaz de manter ritmos regulares e produzir seus primeiros traços

gráficos, fase conhecida como dos rabiscos ou garatujas, assim definida por

Viktor Lowenfeld (1970), no seu livro O desenvolvimento da capacidade

criadora.

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O desenvolvimento progressivo do desenho implica mudanças

significativas que, no início, dizem respeito à passagem dos rabiscos iniciais da

garatuja para construções cada vez mais ordenadas, fazendo surgir os

primeiros símbolos. Essa passagem é possível graças às interações da criança

com o ato de desenhar e com desenhos de outras pessoas. Na garatuja, a

criança tem como hipótese que o desenho é simplesmente uma ação sobre

uma superfície, e ela sente prazer ao constatar os efeitos visuais que essa

ação produz. E quem vai chamar a atenção para o cuidado na interpretação

das primeiras garatujas das crianças é Viktor Lowenfeld, (1970, p.117) quando

fala que “A forma como essas primeiras garatujas forem recebidas pode ter

enorme importância em seu contínuo crescimento. É lamentável que a palavra

“garatuja” tenha conotações negativas para o adulto”.

O que o autor esclarece é que tanto os pais quanto os professores

devem dar a importância devida aos primeiros rabiscos da criança e, caso isso

não aconteça, a criança pequena pode desenvolver atitudes que a deixarão

introspectiva e insegura, até chegar à escolaridade formal, sem ter passado

pelas experiências que os primeiros rabiscos a fazem passar. O incentivo se

mostra importante e rico, porque possibilita a descoberta e o crescimento das

crianças abrindo espaço para que sintam, criem e recriem através de sua

imaginação. Sobre essa falta de interesse pelas primeiras garatujas das

crianças, Philippe Greig (2004) compartilha das mesmas idéias de Lowenfeld

(1970), quando se refere:

A falta de interesse dos adultos e até mesmo de inúmeros profissionais pelos rabiscos faz com que se prossigam e se sobrecarreguem os traços até se tornarem ilegíveis. A paixão de certas crianças de enegrecer a página faz o resto. É importante, em vez disto, estar sempre oferecendo uma nova folha à criança que rabisca, para que seu traçado fique suficientemente claro para revelar sem dificuldades a trajetória de mão e os caracteres do traçado. (GREIG, 2004, p.24)

O autor incisivamente chama a atenção em relação à valorização dos

primeiros rabiscos das crianças, porque se os adultos não observam e nem

valorizam esses primeiros traçados, a criança pode deixar de desenhar por

falta de motivação do profissional ou até mesmo da família. Em conseqüência

disso, as crianças não conseguem avançar das garatujas e prosseguir para as

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outras fases do desenho que também acompanham o desenvolvimento da

criança.

No meu ponto de vista, é primordial respeitar os ritmos de cada criança e

permitir que ela possa desenhar livremente, sem intervenção direta de adultos,

explorando diversos materiais existentes no cotidiano escolar. Dessa forma o

docente estará alimentando a produção de desenhos e oferecendo meios

apropriados para criança criar seus próprios desenhos de maneira produtiva e

criativa.

Os autores já citados concordam com as idéias de Greig (2004) em

relação à valorização do desenho da criança pelo adulto, porque muitas vezes

este mesmo adulto impõe sua própria forma de interpretar as criações de

desenho da criança. Segundo Derdyk:

Geralmente, o adulto impõe sua própria imagem de infância ao interpretar o desenho infantil. Esta projeção revela a desatualização do seu próprio conteúdo. Estático no tempo, o adulto é o oposto da criança que está continuamente em movimento. O adulto afinado com a percepção dinâmica e poética da criança compartilha mais do que ensina. (DERDYK, 2003, p.50)

Muitas vezes o olhar que o professor dirige as produções das crianças

apóia-se nas suas próprias concepções que ele tem sobre o desenho e nas

possibilidades que o ato de desenhar pode oferecer para uma criança,

certamente uma noção adquirida de sua experiência profissional e em suas

próprias vivências quando criança. O papel do educador deve ser o de levar,

mediar, orientar, encaminhar o seu aluno às descobertas que o universo

mágico do desenho lhe oferece, ampliando suas capacidades e

potencialidades e estabelecendo princípios que nortearão estas conquistas.

Respeitar suas individualidades e seu processo de desenvolvimento de cada

aluno, mostrar a beleza das coisas através da ação criadora dos próprios

alunos, incentivar a estética no momento em que ocorre o desenhar, e motivar

o aluno a ser cada dia mais criativos, são meios de auxiliar as relações que a

criança vai estabelecer entre as suas conquistas e descobertas.

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Quanto mais autoconfiante a criança, mais ela se arrisca a criar e a se

envolver com o que faz. A criança segura se concentra com mais facilidade nas

atividades. Nenhum treino ou exercício de coordenação motora fará com que a

criança expresse sua criatividade. Uma criança segura tem maior capacidade

de envolvimento, de concentração e de prazer em criar possibilidade que a

façam avançar em seu próprio desenvolvimento. Assim, a criança se

desenvolve em harmonia e se organiza no contexto espaço/temporal,

posicionando-se frente à vida, descobrindo o significado que a vida tem para si

e percebendo-se como criadora de sua própria história.

Lowenfeld (1970) considera difícil perceber onde uma etapa termina e a

outra tem inicio, já que o desenvolvimento desse processo é contínuo. As

diferenças de cada criança devem ser levadas em conta, isto é, nem todas

passam de uma fase para outra na mesma época e da mesma forma. O

educador precisa entender as características das etapas evolutivas do grafismo

infantil para compreender que elas são necessárias para a evolução do

desenho dos seus alunos.

Rudolf Arnheim (1980) compartilha da mesma visão de Lowenfeld

(1970), quando se refere à evolução gráfica da criança. À luz das teorias

perceptivas, ele traz uma importante contribuição acerca da possibilidade de

acompanhamento da produção gráfica infantil desde os primeiros momentos,

embora essa construção seja considerada mais sensório-motora do que

representativa. Para Arnheim, a criança compreende as estruturas globais

(gestálticas) das coisas, e ela desenha o que está ao alcance de sua visão, o

que é percebido ao seu redor, e seus primeiros desenhos não têm como

objetivo uma representação significativa. Segundo Arnheim, não há uma

relação estável entre a idade e a fase dos desenhos das crianças, é através

deles que as mesmas refletem variações individuais em proporção ao

desenvolvimento de produção artística.

Referindo-se as fases de desenvolvimento do desenho infantil,

Lowenfeld (1977) classifica em seis categorias principais: A primeira como fase

das garatujas que se subdividem em três, a segunda como a fase pré-

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esquemática, a terceira como a fase esquemática, a quarta como a fase do

realismo, a quinta etapa, é o estágio pseudorealístico, e a sexta etapa, estágio

da decisão. A seguir detalharei mais estes estágios.

Na primeira etapa, iniciam-se as primeiras garatujas – A criança tem

entre 2 à 4 anos de idade.

- Desordenadas, a criança encontra-se nesta fase entre um ano e meio e dois

anos. Neste momento os primeiros traços são geralmente fortuitos, e a criança

parece não se aperceber de que poderia fazer dos traços o que quiser. As

garatujas desordenadas variam em comprimento e direção, embora possam

repertir-se algumas vezes, à medida que a criança movimenta o braço para

trás e para frente. A criança pode olhar para os outros enquanto desenha,

ignora os limites do papel e mexe todo o corpo para desenhar. Já na etapa das

- controladas, a criança encontra-se no segundo ano de vida. Na fase da

garatuja controlada, a criança descobre a relação do gesto-traço. Passa a olhar

o que faz, começa a controlar o tamanho, a forma e a localização do desenho

no papel. Descobre que pode variar as cores. Começa a fechar suas figuras

em formas circulares ou espiraladas. Perto dos três anos, começa a segurar o

lápis como o adulto. Copia intencionalmente um círculo, mas não um quadrado.

- nomeadas, acontece em média no terceiro ano de vida. A criança faz a

passagem do movimento sinestésico, motor, ao imaginário, ou seja, representa

o objeto concreto através de uma imagem gráfica. Distribui melhor os traços no

papel. Anuncia o que vai fazer, descreve o que fez, relaciona o desenho com o

que vê ou viu, sendo que o significado do seu desenho só é inteligível para ela

mesma. Começa a dar forma à figura humana. Neste momento, a utilização da

cor tem papel secundário no momento das primeiras garatujas, pois nas duas

primeiras fases a coordenação dos movimentos mostra-se mais importante.

Desse modo, a preocupação com a cor pode tirar o foco da intencionalidade

dessa fase, o movimentar. É também na fase das garatujas nomeadas, que é a

fase da atribuição de nomes que a cor pode desempenhar o papel de apoio ao

atribuir diferentes significados para seus traçados, que por sua vez, são muito

semelhantes.

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A segunda etapa, fase pré-esquemática: Primeiras tentativas de

representação, a criança tem entre 4 e 7 anos de idade.

Nesta etapa os desenhos são frutos de uma evolução de um conjunto

indefinido de linhas até uma definida configuração representativa. Os

movimentos circulares e longitudinais convertem-se em formas reconhecíveis,

e essas tentativas de representação procedem, diretamente, das fases das

garatujas. Em geral, o primeiro símbolo criado é um homem, tipicamente o

homem é desenhado com um círculo indicando a cabeça e duas linhas

verticais, as pernas. São características da fase pré-esquemática:

• A criança descobre e conquista a forma (bolinhas)

• Não existe uma relação temática, nem espaço entre objetos

desenhados, começa a surgir a figura humana.

• Pode surgir a vontade na criança de escrever semelhante ao adulto

(grafismo).

• Começam a ser construídos símbolos.

Boneco girino- tem início o desenho da figura humana, com braços e pernas

que saem da cabeça. Mais na frente, os membros saem do corpo. Exagero-

não há proporção nem perspectiva. As figuras são grandes ou pequenas.

Omissão- faltam partes do corpo ou do rosto. Um braço pode ser mais

comprido que o outro. Justaposição, as figuras são misturadas na folha, sem

linha de base (chão e céu). Não há uma organização espacial. O sol pode

surgir na parte de baixo.

A terceira etapa, fase esquemática: A conquista do conceito e da forma,

a criança tem entre 7 à 9 de idade.

Nesta etapa os desenhos infantis, são determinados pelo modo como a

criança vê alguma coisa, pelo significado emocional que ela lhe atribui, pelas

suas experiências sinestésicas, pelas impressões táteis do objeto ou pela

forma como o objeto funciona ou se comporta ao seu redor. Para algumas

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crianças, o esquema pode conter um conceito muito rico, enquanto para outras

pode ser apenas um símbolo precário. As diferenças entre elas vão depender

do tipo de personalidade de cada criança, e do grau em que o professor seja

capaz de ativar o conhecimento passivo da criança, enquanto esta dá formas

ao seu próprio conceito. As principais características dos desenhos

esquemáticos são:

• As figuras se encontram segundo temas e com uma ordem espacial

clara;

• As formas são compostas de quadrado, triângulo e círculo;

• As coisas da terra (chão) se localizam borda inferior da folha, as coisas

do céu pertencem à parte superior da folha;

• Há integração dos temas;

• Há intenção do que representar e uma preocupação de como

representar, permitindo a elaboração de projetos coletivos e individuais.

A quarta etapa, fase do realismo, a criança tem entre 9 à 11 anos de

idade.

Nesta etapa, existe uma simbolização nos desenhos, mas a criança

consegue ter uma maior consciência visual, e não usa exageros, ela não se

omite e nem comete desvios para expressar suas emoções. Nas etapas

anteriores, a criança tinha prazer em mostrar seus desenhos. Em contrapartida,

neste último estágio prefere ocultar os desenhos da observação do adulto,

justamente por terem certa consciência de si mesmo e do ambiente em que

vive, desenvolvendo uma autocrítica que não despertava antes de forma

acentuada.

A quinta etapa é a do estágio pseudorealístico, a criança tem entre 11

a 13 anos de idade.

Nesta etapa do desenho, as crianças já caracterizam o amor à ação e a

dramatização. A criança já consegue introduzir nos seus desenhos articulações

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na figura humana, ela estabelece atenção visual às mudanças de movimento.

Dessa forma, aparecem aqui dois tipos de tendências: visual (realismo,

objetividade); háptico (expressão da subjetividade).

A sexta etapa é o estágio da decisão: crise da adolescência: entre 13 à

17 anos.

Nesta fase, a criança já tem consciência crítica ao meio e ao resultado

representacional. Ela consegue perceber o tipo visual, impressões do meio no

qual o criador se sente espectador, tem interpretação visual da luz e da

sombra, perspectiva espacial, mudanças na qualidade da cor em relação aos

ambientes.

As fases descritas por Lowenfeld (1977) são estágios paralelos aos

piagetianos do desenvolvimento intelectual da criança. É importante observar

que as idades correspondentes a cada fase, nem sempre correspondem ao

nível de desenvolvimento infantil, cada um tem seu próprio momento da

evolução gráfica. Com o passar do tempo, as crianças desenvolvem seus

esquemas mentais e interagem com o meio, elas ampliam o seu repertório

criador, utilizando-se de vários elementos externos, internos, associando

idéias, trazendo para sua realidade de criação acontecimentos passados e

atuais, sem jamais perder suas significações anteriores.

Nesse sentido, o desenvolvimento do desenho da criança não é igual

para todas, porque vai depender das experiências a que serão submetidas nas

situações que ocorrem o desenhar das oportunidades de experimentação e

manipulação de diversos materiais, das formas de pensar de cada criança

envolvida, assim como das influências da cultural local e regional. Isso é

alcançado porque as crianças estão mergulhadas em culturas que são visuais

e as imagens às quais as crianças têm acesso intensificando suas idéias

acerca do desenho.

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3 CONCEPÇÃO DO PROFESSOR

Figura 3. Imagem retirada da internet em 28/07/2009

http://images.google.com.br

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3.1 REFLEXÕES ACERCA DAS ATITUDES DO PROFESSOR FACE ÀS EXPRESSÕES DE DESENHOS DE SEU ALUNO

Este capítulo tem como objetivo relatar, discutir e refletir de que forma a

concepção do professor sobre o desenho do seu aluno influencia no uso de

atividades com desenhos em sala, utilizando as entrevistas realizadas com

quatro professoras da Escola Municipal Antonio Pithon Pinto, localizada no

bairro de Fazenda Coutos 3, Subúrbio Ferroviário de Salvador. Espera-se

demonstrar uma visão mais ampliada e representativa da vivência desses

sujeitos com as práticas de atividades com desenhos. Tais entrevistas exibem

a visão de algumas professoras em relação ao desenho infantil, e dão maior

realidade ao assunto. Elas dão suporte a possíveis sugestões de resolução

para os problemas ocorridos entre as concepções sobre as atividades com

desenho em sala.

Esse estudo trata de uma pesquisa exploratória em uma abordagem

qualitativa. Segundo Gil (2002), o objetivo da pesquisa exploratória é

proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais

explícito ou a constituir hipóteses.

De acordo com Cervo e Bervian (2002), o estudo exploratório é o passo

inicial no processo de pesquisa científica e tem como objetivo familiarizar-se

com o fenômeno estudado ou obter nova percepção do mesmo e descobrir

novas idéias a seu respeito.

O caráter exploratório se deve à maneira como as entrevistas foram

conduzidas e pensadas. Nesse contexto, devido à greve das escolas

municipais, deflagrada no mês de Junho, em Salvador, conversando com

minha orientadora Isa trigo, optamos por ir até as residências de duas

professoras envolvidas nessa pesquisa, e em seguida realizar a gravação com

as outras três na escola onde trabalham, uma vez que no decorrer desse

tempo houve a finalização da greve. E assim foram conduzidas as entrevistas.

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No começo da pesquisa, pensei em realizar este trabalho com 8 (oito)

professoras. Considerando o tempo que eu tinha para execução desse

trabalho, resolvi juntamente com minha orientadora Isa trigo, trabalhar apenas

com 5 ( cinco) professoras, conseguindo assim, abranger 100% do corpo

docente formado pela escola participante dessa pesquisa. Acredito que um dos

fatores que concorreram para esta disponibilidade das docentes tenha sido

porque as professoras já me conheciam. Em Abril de 2008, comecei um

estágio extracurricular na escola, e desde o primeiro contato com as

professoras sempre deixei claro meu respeito pessoal, profissional por cada

uma, e acredito que isso ajudou para que a entrevista e também devido à

postura da diretora que reconhece a importância desse trabalho e da

participação dos sujeitos.

Para realizar a pesquisa foi elaborada uma entrevista semi-estruturada

(anexo A), instrumento utilizado com os professores, que me possibilitou o

acesso a uma série de informações antes indisponíveis, como posturas, voz,

gestos, que permitem investigar as concepções das professoras a respeito das

atividades com desenhos em sala de aula e do desenvolvimento infantil, numa

perspectiva dinâmica e articulada, promotora de visões panorâmicas que, se

devidamente investigados, poderão suscitar outras investigações e pesquisas

acerca do assunto.

O roteiro da entrevista foi dividido em duas partes: uma contemplando os

dados pessoais das professoras (esses dados não foram filmados nem

tampouco gravados, apenas anotados em um caderno, optei por assim fazer a

pedido das docentes) e a outra com as perguntas propriamente ditas e

filmadas. Em relação aos dados pessoais das professoras, busquei obter

informações sobre a idade, tempo de experiência de serviço e formação de

cada docente entrevistada.

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Tabela 1- Dados pessoais das professoras entrevistadas

Todos os sujeitos entrevistados são do sexo feminino e suas idades

variam entre 27anos a 51 anos. Em relação ao exercício docente, há duas

professoras em início de carreira, duas em situação intermediária e uma com

tempo de serviço quase completo.

Foram elaboradas onze questões semi-estruturadas que de alguma

maneira embasam a minha pesquisa. Destas, selecionei apenas oito, as quais

considero mais relevantes, porque viabilizam maiores informações e detalhes

acerca da problemática abordada, pois acredito que não há espaço e nem

tempo para uma discussão mais prolongada. Pretendo futuramente

desenvolver uma pesquisa com as três últimas questões localizadas no quadro

demonstrativo abaixo, caso haja oportunidade de ingressar no mestrado.

Para se ter uma maior clareza sobre a entrevista, expõe-se abaixo um

quadro demonstrativo com as questões realizadas com as docentes e, em

seguida, suas justificativas.

SUJEITO SEXO IDADE TEMPO DE EXPERIÊNCIA

FORMAÇÃO

E. G. F 51 24 ANOS GRADUADA EM PEDAGOGIA

E. S. F 27 4 ANOS GRADUADA EM PEDAGOGIA

G. O.

F 29 11 ANOS GRADUADA EM PEDAGOGIA

L. F 40 15 ANOS GRADUADA EM PEDAGOGIA

A.R. F 34 3 ANOS GRADUADA EM PEDAGOGIA

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Tabela 2- Entrevistas realizadas com as professoras da Escola Municipal Antonio Pithon Pinto

Note-se que as questões como foram formuladas têm pontos em

comum. Essa estratégia pretendeu observar como se constroem as

concepções sobre o desenho infantil no ambiente de atuação de cada docente

e possibilitar ao docente ser estimulado a responder sobre coisas importantes

em várias ocasiões. Dentro desse contexto, buscou-se refletir, discutir as

concepções dos professores em relação aos desenhos de seus alunos, sendo

esta a intenção desse trabalho.

O objetivo da primeira questão é verificar se as docentes estabelecem

ou não um planejamento prévio semanal, para a elaboração de atividades com

desenhos e também perceber em quais momentos elas desenvolvem

atividades com desenhos em suas salas. Através dessa pergunta pude

compreender qual a concepção que as docentes têm acerca dos momentos

que podem ser dedicados as atividades gráficas no decorrer da semana. A

segunda questão quer descobrir se as professoras têm consciência e

percebem os tipos de interações que podem ocorrer com as crianças e o

ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA 6 Você intervém enquanto a criança desenha? De que forma?

1 Quantas vezes por semana acontecem o desenho na sua sala? Em quais momentos você acha que deve inserir o desenho?

7 O que as professoras costumam fazer com os desenhos produzidos pelas crianças?

2 Que tipo de interação pode ocorrer entre as crianças e seus colegas e entre o professor e suas crianças quando ocorre o desenhar?

8 Você considera que a escola tem um espaço adequado para o desenvolvimento de atividades com desenhos? Em caso positivo, quais são? Em caso negativo, é possível pensar em espaços a serem adaptados?

3 Você considera o desenho uma atividade importante para a criança? Por quê?

9 Em algum momento, parte do aluno a sugestão de desenhar? E vem com pedido ou coincide com algum momento lúdico ou pedagógico?

4 Que tipos de materiais utilizam? A professora interfere na escolha do material a ser utilizado pela criança na atividade com desenho?

10 Que tipos de atividades com desenhos você realiza? Dê exemplos e fale um pouco como funcionam para você?

5 Quando as crianças desenham você costuma fazer elogios?

11 Quando desenham livremente, existem temas ou assuntos sobre os quais eles prefiram desenhar? Você observa algum tipo de recorrência desse tipo?

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próprio professor no momento do desenhar, levando-as a refletir sobre suas

ações em sala; a terceira questão pretendeu-se verificar de maneira mais

específica, a importância pedagógica ocupada em relação ao desenho na

concepção das professoras envolvidas e se elas acreditam que as atividades

com desenhos podem ser promotoras do desenvolvimento emocional, afetivo,

cognitivo, social e percepto-motor da criança; na quarta questão pretendeu-se

verificar quais os materiais que as professoras disponibilizam para as crianças

no momento da atividade com desenhos, e se elas mantêm a atitude de

interferência ou não nessa escolha; na quinta questão buscou-se verificar se as

professoras fazem comentários positivos ou negativos em relação aos

desenhos de seus alunos, ou se não fazem comentários, se fazem juízo de

valor nas produções de desenhos infantis; na sexta questão procurou-se

identificar se as professoras fazem ou não alguma intervenção enquanto o

aluno desenha, e quais as considerações das professoras acerca dessa atitude

de intervir ou não nas produções gráficas infantis; na sétima questão buscou-se

investigar se as docentes preocupam-se sobre o que fazer com as atividades

de desenhos realizadas pelas crianças na escola no decorrer do ano letivo.

Através dessa pergunta pude constatar o olhar que cada docente direciona

para as atividades gráficas de seus alunos; na oitava questão procurou

perceber se as professoras consideram que a escola onde atuam tem um

espaço adequado para realização de atividades com desenhos como: um

ateliê, uma sala de artes específica para o desenvolvimento da expressão

infantil; na nona questão buscou-se saber se as professoras percebem durante

as suas ações pedagógicas se as crianças pedem para desenhar, e se esse

pedido vem acompanhado de um momento pedagógico (propostas dirigida

pelas docentes) ou lúdico (envolvendo brincadeiras), na décima questão

procurou-se investigar quais tipos de atividades com desenhos eram propostas

pelas docentes, e qual o nível de importância que era dado para essas

atividades; na décima primeira questão pretendeu-se verificar se quando as

crianças desenham de forma livre, e se as professoras percebem se existe

uma temática específica sobre a qual seus alunos desejam desenhar, ou se

não existe esse tipo de recorrência em suas salas.

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Em relação à recepção e condução da entrevista, o número de

participantes ficou dividido. No momento da entrevista, duas entre as quatro

professoras demonstraram vívido interesse em responder as questões

formuladas, chegando mesmo a se estender além do tempo previsto. Por sinal,

três docentes solicitaram que as interrompessem caso falassem muito além do

tempo previsto. As outras duas, apesar de não terem se recusado a falar, nem

a gravar, ao contrário das outras demonstraram certa insegurança e

indisposição desde o primeiro contato para realização da entrevista e até

mesmo durante as gravações. Isto pode ser percebido na postura corporal de

enfado quanto em determinadas atitudes. Por exemplo: Nos intervalos entre

uma pergunta e outra, algumas deixaram transparecer insegurança e

nervosismo. Isso foi percebido em expressões do tipo: Qual a próxima

pergunta? Nos outros casos, apesar das professoras se sentirem tranqüilas e

dispostas houve certa ansiedade para o término da entrevista. Acredito que tais

posturas sejam normais, porque a entrevista foi realizada através de áudio e

vídeo, talvez esse cenário explique tais posturas das docentes.

Com exceção dos problemas relacionados à postura e atitudes dos

professores no decorrer das entrevistas, as mesmas foram conduzidas em um

clima de muita tranqüilidade e respeito. A média de tempo em cada entrevista

foi de aproximadamente 20 minutos. No momento das gravações procurei

deixar os sujeitos à vontade, inclusive, no caso de duas entrevistadas cheguei

a ir às suas residências, no intuito delas se sentirem ainda mais confortáveis e

seguras. Durante as entrevistas, quase não houve intervenção acerca do

assunto pela entrevistadora.

E. G., ao longo de sua entrevista, vai nos brindar com suas declarações

acerca de suas concepções em relação às atividades com desenhos realizadas

em sala, e como ela interfere ou não nas atividades com desenhos de seus

alunos. Em relação aos dias disponibilizados para as atividades com desenhos

a professora declarou que em todos os dias acontecem o desenhar, até porque

os materiais ficam disponíveis para seus alunos tentarem desenhar livremente,

sempre que despertarem o desejo de fazer algum desenho. Mas, sinalizou que

como a escola é pública não é possível trabalhar com materiais diversos. No

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transcorrer da entrevista, é notado o desconhecimento da professora em

relação a outras possibilidades de se promover a ação do desenhar, quando a

mesma culpabiliza a escola pela falta de materiais. Alguns teóricos, como Luis

Porcher (1982), sugerem outras formas de se motivar atividades com desenhos

em sala de aula. Nesse sentido, esse autor esclarece que na escola tudo pode

servir de suporte, o professor poderá utilizar pedras, madeira, vidros, tela,

azulejos, plásticos, cartolina, papel, casca e folhas de árvores. Dessa maneira,

mesmo nas situações adversas ocorridas na escola, o professor deve estimular

e favorecer a necessidade que a criança tem de se expressar através de seu

desenho, reconhecendo que essa atividade é um modo de expressão tanto

quanto um meio da criança liberar tudo aquilo que está internalizado dentro

dela. O dever do docente é criar um clima estimulante e agradável na aula, e

observar no seu planejamento se está dando as plenas condições que

permitam à criança se expressar da sua maneira. Vale ressaltar ainda, o que

deve ser evitado no momento em que as crianças estão desenhando; é que o

professor imponha assuntos, técnicas a serem desenvolvidas pelas mesmas, e

evitar fazer juízo de valor sobre o resultado dos desenhos infantis.

Em relação aos momentos em que se devem ser introduzidas atividades

com desenhos, a professora E. G., declarou que, na sua concepção, deve ser

inserido após as atividades, mas não deixou claro se essas atividades seriam

dirigidas ou não. O que foi dito por ela é que as atividades com desenho

sempre acontecem, normalmente após a rodinha, após o acolhimento, após um

vídeo exposto na sala, ou até mesmo depois de uma história. Ela ressaltou que

seus alunos gostam muito de desenhar personagens existentes nas histórias.

Sendo assim, através desses desenhos as crianças podem expressar

sentimentos e a sua realidade.

Já a professora É. S., ao longo de sua entrevista vai discordar da

professora E. G., quando deixa claro que o desenhar acontece de forma

espontânea, sem que se priorize um dia ou momento específico. É. S. fez

questão de ressaltar que os materiais ficam disponíveis ao alcance das

crianças para que as mesmas possam criar seus próprios desenhos. Nessa

perspectiva, ela deixou claro que as crianças sentem-se motivadas, porque

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esses materiais ficam localizados na altura delas. E no decorrer de sua fala,

deixa bem claro que o desenho tem acesso livre nas salas de educação infantil,

ao menos na escola onde atua no momento.

A professora É. S. demonstra crer, através de sua fala, que a produção

gráfica das crianças deve surgir espontaneamente como conseqüências das

vivências infantis. Para a professora, o contato da criança com diversos

materiais de desenho é suficiente para a construção do grafismo infantil. Na

sua fala, senti falta dela se remeter à mediação de um sujeito mais experiente

de sua cultura, como aspecto motivador da construção do desenho da criança.

Dessa forma, os desenhos caracterizam-se para É. S., como uma atividade

livre, espontânea e natural. Esta concepção de desenho apresentada pela

professora sustenta uma idéia de que toda criança desenha de forma

espontânea, o que não a leva a questionar e a perceber que seus alunos

possam ter suas possibilidades de representação gráfica limitada por

condições cognitivas, físicas, afetivas, materiais e sociais. O desconhecimento,

por parte da docente, acerca da complexidade destes diversos aspectos de

ordem biológica e cultural envolvidos nas produções gráficas das crianças

diminui a qualidade e o desenvolvimento da sua ação mediadora reduzindo as

oportunidades das crianças desenvolverem seu traço gráfico no ambiente

escolar.

Em contrapartida, as professoras M. L. e A. R., declaram no transcorrer

da entrevista, terem a necessidade de estabelecer dias específicos para a ação

do desenhar em suas salas; elas disseram que as atividades com desenhos

devem ocorrer sempre após um conto infantil. E em seguida a professora G.

O., compartilha da mesma opinião das referidas professoras citadas acima(

DVD.1), dizendo que também insere os desenhos após uma atividade, porque

é uma forma das crianças utilizarem a pré-escrita, já que não dominam ainda

este tipo de linguagem, pois é subjacente a esta etapa da vida delas.

Todos os dias eles desenham. Normalmente eu insiro o desenho após contar uma história, eles recontam. É uma forma que eles utilizam para o reconto, pra pré-escrita, porque eles

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ainda não dominam a língua escrita. Então eles desenham muito nesta fase.

Outro aspecto observado na fala de G. O., diz respeito às situações em

que a linguagem oral não é suficiente para o alcance do que os alunos querem

expressar, e nesses momentos a linguagem gráfica, plástica - o desenho, é

concebido como forma de expressão para exteriorizar desejos, sensações,

pensamentos e idéias. E de acordo com o que foi exposto pela professora, ela

costuma fazer uso do livro de história. Percebe-se que a professora parece

acreditar que a interação da criança com outro produto cultural, no caso o livro

de histórias infantis, pode possibilitar à criança desenvolver melhor seu traço,

sua imaginação e sua expressão. Nesse contexto, a docente media à interação

da criança com a cultura, trazendo para o convívio da criança um novo

repertório de imagens, contribuindo para a construção de outras formas de

produções gráficas. A professora conta para as crianças uma história de um

livro de literatura infantil, e com isso, prevê o desenvolvimento de desenhos

relacionados à história, parecendo crê numa concepção quase mecânica de

ensino e aprendizagem baseada em apreensão e transmissão do

conhecimento. Dessa forma, para a docente, de um lado o aluno fica “livre”

para expressar seus sentimentos, criatividade, por outro, as crianças

desenham algo restrito relacionado ao livro que ela mesma contou, com o

objetivo dos alunos alcançarem a linguagem escrita mais precocemente.

Em relação às intervenções realizadas nas atividades com desenhos,

todas as docentes declararam que só intervém quando solicitadas pelas

crianças, ou quando percebem que as crianças estão desenhando algo fora do

contexto solicitado. Quando solicitada pelos alunos em atividades com

desenhos, a professora A. R. se posiciona de forma a não interferir na criação

dos desenhos de seus alunos, ela explica que sempre diz: “Não, você é capaz”,

“Faz do jeito que você souber”. Fica evidente nos seus discursos, que as

professoras estão atentas aos acontecimentos na sala de aula, no entorno e

nos interesses dos alunos. Além disso, todas elas declararam que apesar das

propostas feitas nas aulas, as crianças não deixam de fazer seus próprios

desenhos, muitos deles já interiorizados, apreendidos com adultos, como a

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cópia de personagens de histórias infantis, ou através de desenhos de

observado, sendo este último realizado na presença de alguns objetos

significativos pelas crianças, como por exemplo: brinquedos, elementos da

natureza, imagens de animais e desenhos de TV. Pode-se perceber esses

aspectos em relação à mediação do professor no desenho de seu aluno,

através da fala da professora G.O. quando diz:

Às vezes, se o desenho tiver uma direção. Por exemplo, se eu trabalhei o dia do meio ambiente, peço a eles pra desenharem o meio ambiente e se eu percebo que eles estão desenhando outras coisas, aí eu interfiro. Eu pergunto: - O que você está desenhando? Isso faz parte?

Foi observado durante a entrevista que a professora G. O, M. L., E. e É.,

consideram as produções gráficas das crianças uma atividade significativa para

o aluno expressar-se de modo criativo. A meu ver, é necessário que o

professor valorize o desenho de todos e dialogue com seus alunos sem fazer

críticas e nem transpor o desenho de acordo com suas concepções. É

importante que o professor tenha muito cuidado ao perguntar para a criança

que desenha "o que é isso”?, “O que você está desenhando? ou pedir que eles

contem a história do desenho, considero não ser muito recomendável porque

pode paralisar ou retardar a evolução do desenho da criança. Essa atitude do

docente acaba obrigando a criança a interpretar o desenho e a dar nome a

traços que não foram feitos com a preocupação de serem nomeados. Sendo

assim, é aconselhável pedir para as crianças que falem espontaneamente de

seus desenhos, assim elas estarão menos expostas a qualquer tipo de crítica

do adulto”.

No decorrer da entrevista, a professora G. O., deixa evidente no

seu discurso que o desenho está relacionado à expressão da criança e ao

desenvolvimento da linguagem escrita, quando responde sobre a importância

da atividades com desenhos para as crianças:

Muito importante, porque como falei no início principalmente nesta fase da educação infantil onde eles ainda não dominam a escrita, eles se utilizam dessa linguagem, que é o desenho pra se expressar. Então, é uma fase da escrita, a fase do desenho, e também a partir dos desenhos deles agente percebe muitas coisas da vida deles até pessoal, dá para perceber às vezes, motivos de muitos

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comportamentos diferentes que interferem em muitas coisas, basta ter um olhar perceptivo.

Através da fala da professora G.O., pode-se perceber que, ela concebe

o desenho como recurso provisório enquanto a criança não adquire a

linguagem escrita, deixando transparecer que no momento em que a criança

alcançar este nível de aprendizagem (linguagem escrita) o desenho não será

mais necessário. Esta concepção é muito comum em algumas escolas, ao

fazerem mais o uso da linguagem verbal e escrita, e utilizarem com menor

freqüência da não verbal, nesse caso, o desenho. Através de sua fala, e ações

pedagógicas a professora G. O. demonstra acreditar que a produção gráfica

das crianças (antes da escrita) deve contribuir para que se percebam através

de seus desenhos suas necessidades, comportamentos, limitações, e algumas

emoções internalizadas na criança. Vale ressaltar, o cuidado que deve existir

na forma como esses desenhos serão interpretados pelo professor, porque se

não houver critérios específicos, como o olhar que será direcionado para essas

atividades, a sensibilidade do educador, a quantidades de sessões de

desenhos direcionadas a mesma criança, as mesmas podem ser avaliadas

com diagnósticos imprecisos, levando assim a conclusões contraditórias acerca

dos comportamentos e aprendizagem dos alunos no contexto escolar.

A professora M. L., no início de suas colocações, traz divergências em

relação às visões da professora G. O., esclarecendo que antes ela tinha um

olhar negativo sobre os desenhos das crianças, mas, com o passar do tempo

aprendeu a valorizar essa linguagem.No final de sua fala ela afirma seu avanço

em relação ao conhecimento e valorização do desenho infantil, quando declara:

No decorrer do meu trabalho eu via o desenho como brincar. Eu achava uma perda de tempo parar colocar os meninos pra pintar, eu achava que deveriam aprender os conteúdos, aprender evidências. Mas, com o passar do tempo eu fui me sensibilizando para esse desenhar. E, hoje, eu vejo o desenhar como forma de se expressar e é fundamental.

No transcorrer da entrevista, percebemos que as docentes, apesar de

afirmarem ter certa valorização sobre os desenhos infantis, ainda demonstram

certo desconhecimento sobre a especificidade dessa linguagem. Torna-se

assim limitado o trabalho com o desenho infantil em sala de aula.

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Outro aspecto discutido na entrevista foi o tipo de materiais que as

crianças costumam utilizar nas atividades com desenhos. E de acordo com as

respostas das entrevistadas, o uso desses materiais variou muito pouco,

prevaleceu o uso de lápis comum, lápis de cera, lápis de cor. As professoras

enfatizaram que os materiais ficavam ao alcance das crianças no momento do

desenhar propiciando uma ambiente favorável para o desenvolvimento do

desenho. Em relação ao uso e disponibilidade dos materiais para realização

de desenhos em sala de aula, e a interferência do professor na escolha desses

materiais pelos alunos, comenta a professora G. O. “Eles utilizam papel ofício,

lápis de cor, o lápis de escrever, borracha. Aí eu não interfiro, eles usam o que

eles quiserem lápis de cera, lápis de madeira”.

A professora A. S., também concorda com a utilização desses mesmos

materiais que a professora G. O. disponibiliza para seus alunos, A.S apenas

acrescentou exemplos de outros materiais que podem ser utilizados pelos

alunos, como: tinta, pincéis e canetas.

Em relação à resposta da professora M. L., foi verificado, que a mesma

não interfere na escolha do material a ser utilizado pelas crianças nas possíveis

atividades com desenhos em sua sala. A docente diz que dar sugestões para a

compra de novos materiais, mas sinaliza que nem sempre seu pedido é

atendido, devido ao fato da escola pertencer à rede pública. Sua insatisfação,

devido à falta de materiais na escola é percebida quando diz:

Na escola só tem lápis de cera e lápis de cor. E é o que nós utilizamos. O professor costuma dar sugestões para compra do material, como a escola é pública nem sempre acontece. Caso tivesse outros materiais, (tinta) estaria sendo utilizado. Mas, no momento não tem, então é utilizado cera e lápis de cor.

Por suas ações pedagógicas a professora M. L. parece considerar que

lápis cera, lápis de cor são insuficientes para elaboração de atividades com

desenhos, No entanto, dependendo da concepção de desenho, nem sempre a

pequena variedade de materiais restringe a criatividade e a imaginação de

quem desenha. Apesar da realidade da escola dificultar a aquisição de uma

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gama maior de materiais específicos para desenhos, esse fator por si só não

seria impeditivo da diversificação de atividades gráficas de seus alunos através

de estratégias pedagógicas que não envolvessem gastos financeiros como, por

exemplo: utilizar materiais naturais como (galhos de árvores, flores), areia,

pedras, variar o tamanho da folha, incentivar o desenhar em diferentes locais e

posições, fazer desenhos de observação. Dessa maneira, os parcos recursos

que a docente oferece para as crianças desenharem estão intimamente

associados à concepção de desenho da professora e suas experiências

relacionadas à produção gráfica das crianças, até porque numa outra pergunta

dessa entrevista, a professora confirma que no inicio de seu trabalho via o

desenho como forma de passar o tempo, apenas relacionado a brincadeira

sem nenhum tipo de visão de cunho pedagógico.

No que diz respeito à questão do elogiar ou não elogiar os desenhos das

crianças, (não fazer comentários sobre seus desenhos), foi mais freqüente

entre as entrevistadas a opção de “fazer elogios”. Percebeu-se que as

professoras E G., G. O., A. R., e É. S. fazem elogios para que seus alunos

possam se sentir mais seguros e atraídos pelas atividades com desenhos

propostas em sala sejam elas, atividades dirigida ou livre. No que se refere à

atitude do professor em elogiar as produções de desenhos dos seus alunos, a

professora M. L., em sua entrevista, destaca:

O elogio é um convite para a próxima atividade. Então, quando você chega lá e diz que está lindo, que você gostou muito, ele se sente tão bem, que a próxima atividade com certeza vai ser acolhida por ele de forma inexplicável.

A professora A. R. complementa:

Claro que sim. Eles sempre têm de ser elogiados. Não pode fazer um desenho igual às pessoas estão fazendo, não. Eles têm de fazer da forma que querem, e eles sempre têm de ser incentivados de forma que eles aprendam com isso.

As falas das professoras acima evidenciam uma postura de

comprometimento e valorização do traço da criança. As docentes fazem-nos

refletir acerca do valor que é dado ao potencial criador da criança. Contudo, a

idéia de que o professor, muitas vezes, não compreende o desenho infantil

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deve ser revista, pois todos devem encorajar as crianças a serem criativas,

tornando-as mais seguras e espontâneas. E quem vai complementar essa

afirmativa é Viktor Lowenfeld, quando afirma que:

Se fosse possível que as crianças se desenvolvessem sem nenhuma interferência exterior, não seria necessário estímulo algum para seu trabalho criativo. Toda criança usaria seus impulsos criadores, profundamente arraigados, sem inibição, confiante em seus próprios meios de exprimir-se. (Lowenfeld, 1970, p.19)

Quando as crianças desenham na escola, antes de qualquer coisa,

devem ter o valor do seu potencial reconhecido pelos educadores, dando-lhes

condições para lidar com as provações e fracassos que surgirão naturalmente

ao longo da vida. Se tiverem encorajamento e permissão para explorar,

questionar, refletir, mudar, criar e testar suas idéias, através de sua própria

iniciativa, assumindo responsabilidades, dificuldades e fracassos, certamente

serão vencedores de si mesmos.

No que se refere à questão da interação que pode ocorrer entre as

crianças e seus colegas e entre o professor e suas crianças quando ocorre o

desenhar, observei que as docentes durante a entrevista atrelavam esse

intercâmbio de aproximação entre as crianças nas atividades com desenhos,

como forma de seus alunos estarem desenvolvendo atitudes de imitação de

seus próprios desenhos. No início da fala da professora G.O pode-se perceber

que ela comunga dessa mesma opinião, quando declara:

Eles quando estão desenhando olham os desenhos dos colegas. Alguns até mudam seus próprios desenhos porque viu os colegas desenhando. E eles interagem entre si sobre os desenhos. E comigo eles me perguntam, ás vezes, me pedem para eu fazer um desenho para eles pintarem. Tem muito disso. Eles querem desenhar uma flor. Pró faça uma flor aí no quadro pra eu ver como é que é. Então faça uma flor que vier na sua imaginação, da forma que você imaginou a flor desenhe. Mas, às vezes, eu sento com eles para desenhar também. Mas, eu não gosto muito de fazer isso, porque eles tendem todos a fazer o desenho igual ao meu.

O que observei na fala da docente é que ela parece desconsiderar esse

momento de trocas das crianças durante a construção do grafismo infantil. No

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transcorrer da entrevista, foi observado que a professora G.O não consegue

perceber que esse “momento de interação” pode ser uma maneira das

crianças estarem ampliando seus traços, fazendo comentários e elaborando

críticas em relação aos desenhos dos outros colegas, trazendo sugestões,

fazendo da atividade de desenho em sala uma produção de co-autores.

Esses intercâmbios no momento da atividade com desenhos entre as

crianças se fazem importante porque além de enriquecer e desenvolver com

mais criatividade os desenhos, ampliam a possibilidade de interação entre as

crianças e desenvolve a oralidade.

Já a professora E. G, pensa diferente da professora G.O; no seu discurso

ela deixa claro, a importância desse momento para o desenvolvimento do

grafismo infantil, quando na sua fala declara:

Assim é muito interessante. Os meninos é, eles interagem com os colegas assim. Ao fazerem os desenhos eles estão compartilhando, mostrando aos colegas. Esses desenhos a gente vê várias situações, por exemplo: o da própria sala, do projeto, família né, agente percebe toda a vida da criança.

A professora M. L. compartilha da mesma opinião da professora E.G,

quando no momento de sua fala ela acrescenta sua visão positiva em relação

às interações das crianças quando ocorre o desenhar, afirmando que esse

intercâmbio entre seus alunos é acompanhado de muito aprendizado. A

docente chama a atenção que no momento da atividade com desenho, o

professor pode está trabalhando a questão do respeito ao outro.

Situação de aprendizado tanto de aluno para aluno como de professor para aluno e de respeito atualmente agente procura desenvolver porque as crianças (eles) interferem muito no pintar do outro. Acha no desenho do outro que tá feio acha que o outro fez errado né. Agente pode está trabalhando esse respeito nessa hora, é aprendizado, a todo o momento é aprendizado dentro da sala de aula.

Em contrapartida, a professora A. R, parece estar confusa em relação as

interações que podem ocorrer entre as crianças e seus colegas e entre o

professor e suas crianças quando ocorre o desenhar. No momento da

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entrevista, quando foi feita essa pergunta, observei que a docente ficou

apreensiva para responder essa postura fica evidente no início da sua fala,

quando declara: As crianças e os colegas não têm uma ajuda totalmente nula. Eles estão ali desenhando cada um na sua mesinha, fazendo seu desenho. E aí faz assim: - Oh! Eu coloquei alguma coisa. Olha! Um olha pro outro e faz assim: - Eu não vou fazer igual a fulano e eles vão tentando. O seu não está igual ao meu. Assim, eles estão interagindo ali. E eu venho observando: - Puxa tá bonito, ah ficou legal, sabe então incentiva eles a desenvolverem as habilidades deles né, no desenho.

O que observei na fala da professora A. R , é que no inicio de suas

colocações ficou meio confusa sua resposta. Mas no decorrer do seu

discurso ela conseguiu mostrar suas verdadeiras concepções acerca das

interações que podem ocorrer com seus alunos no momento do desenhar. A

docente declara que as crianças de suas próprias cadeiras conseguem

interagir com o colega do lado. Essa declaração deixou-me intrigada, pois dá

a impressão que as crianças ficam estáticas nas suas mesas e cadeiras, e

que não se movimentam durante as atividades com desenho. No final de sua

fala, a docente enfatiza que durante esse processo de desenvolvimento do

desenho, ela observa e faz elogios no momento do desenhar. Na sua

concepção, o elogio é uma forma de incentivo e promove o desenvolvimento

da habilidade do desenho na criança.

No decorrer da entrevista foi perguntado para as professora o que elas

costumam fazer com os desenhos produzidos pelas crianças. A professora E.G

no início de sua fala esclarece que essas produções de desenhos são

recebidas com muito cuidado e respeito, como forma de valorização daquilo

que o aluno produz na sala. Através de suas palavras, pode-se perceber sua

concepção acerca das produções gráficas das crianças, quando declara:

Na minha escola, na Antonio Pithon, nós é... Na própria rede municipal há uma preocupação de que nós precisamos tratar essas produções com muito cuidado e respeito. Então agente junta essas produções, e a cada semestre, final de semestre, a gente entrega as famílias essas produções que são realizadas pelas crianças, tanto é para as famílias perceberem o que foi feito, os desenhos que foram realizados pelas crianças, os

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trabalhos de alfabetização e letramento, para a família se apropriar do que foi feito na escola.

Ao longo de sua resposta, quando a professora se refere à família, foi

percebida certa preocupação em demonstrar para os pais os resultados obtidos

pelas crianças, como forma de estar mostrando para eles aquilo que

efetivamente as crianças produzem na escola. Nesse momento surge uma

inquietação na entrevistadora, que faz a seguinte pergunta:- E a senhora

percebe um retorno positivo das famílias em relação ao envio dessas

atividades?

As famílias gostam de receber essas atividades, mas, há assim constantemente da parte dos pais um questionamento sobre os desenhos, os pais não entendem o valor e a importância das atividades de desenhos. Então acho que cabe a nós professores, na reunião de pais estarmos mostrando aos pais como trabalhamos, e os materiais que utilizamos as técnicas, o porquê do desenho na educação infantil, porque se não eles ficam achando que é perda de tempo, porque na cabeça deles, no grupo 5, os meninos precisam ser alfabetizados né. E aí a gente precisa mostrar a eles a importância que o desenho tem nesse processo também de alfabetização e letramento, além de está fazendo a criança crescer na criatividade, na expressão de seu pensamento, na percepção de mundo. Então, os pais precisam saber disso né, então agente tem procurado né dentro das reuniões de pais, não entregar simplesmente essa pastinha ou esse envelope com as atividades, mas explicar aos pais de uma forma assim de forma geral e sucinta o que foi produzido nesse período.

As palavras da professora E.G. demonstram o motivo do excesso de

preocupação em enviar as atividades de desenhos para as famílias. Foi

observado no seu discurso, que os pais gostam de receber o retorno daquilo

que as crianças fazem na sala. Porém, a professora afirma que as famílias

adotam uma atitude de resistência em relação às atividades com desenhos, a

docente alega que os pais não compreendem o valor e a importância do

desenvolvimento do grafismo infantil. Ao longo de seus esclarecimentos acerca

da valorização dos desenhos infantis pela família, E.G atrela ao professor a

responsabilidade de mostrar para os pais o desenvolvimento do desenho no

contexto escolar. No final de seu discurso esclarece que no momento da

entrega dessas atividades as famílias, existem uma preocupação em está

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mostrando os motivos, e os benefícios de se trabalhar com desenhos na

escola. A docente acredita que mantendo esse diálogo com pais, estará

promovendo a sensibilização e a valorização dos mesmos com relação às

atividades com desenhos desenvolvidas na escola onde atua no momento.

Já a professora G.S acrescenta “Normalmente, alguns, a gente

expõe na parede da escola, da sala, os outros a gente guarda para no final da

unidade anexar tudo num envelope e entregar aos pais”.

Com relação à fala da professora G. O, dá a impressão que os pais de

seus alunos, não mantêm a mesma postura de desvalorização do desenho

infantil quando comparados aos da professora E. G. Ao longo de sua fala,

muito tranqüila afirma que alguns desenhos ficam expostos pela escola e os

outros são guardados, e somente no final de cada unidade são entregues aos

pais. A fala da professora chama a atenção, porque ela afirma que alguns

desenhos são expostos e “outros não”; essa atitude da docente leva-nos a

refletir os motivos pelos quais os outros desenhos também não são expostos

na sala. O que pode ser observado, é que certamente na sua concepção

aqueles desenhos que são guardados não são considerados bonitos e nem

tampouco agradáveis quanto os escolhidos por ela para expor nas paredes da

escola. Durante à sua fala, em nenhum momento a docente se referiu a falta de

espaço para a colocação de todas as atividades de desenhos nas paredes.

Como pode ser visto na citação acima, ela apenas finaliza dizendo que os

outros desenhos que não são colados nas paredes, são colocados no envelope

e entregue aos pais. Nesse contexto, a docente não percebe que sua atitude

de escolher os desenhos melhores para expor na sala, pode provocar várias

conseqüências no futuro das crianças, na sua personalidade, podendo

desencadear a falta de interesse pelo grafismo, medo e vergonha de desenhar

na escola.

A professora M. L., tem uma concepção um pouco diferente das

professoras E.G, e G. O.,em relação às produções de desenhos das crianças.

No decorrer de sua fala, ela deixa claro que dá a oportunidade da criança falar

oralmente sobre seus desenhos, ao contrário, das outras duas professoras

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E.G, e G.O, que em nenhum momento afirmaram promover situações em que

motive seus alunos a comentarem sobre suas produções de desenhos. Mas no

final da sua fala, houve certa semelhança com a atitude da professora G.O,

quando a professora M. L., também escolhe algumas atividades e expõe na

parede da escola.

No momento após a atividade cada aluno é convidado a falar sobre o que desenhou... é um seminário, em que ele vai ali na frente sozinho, e em voz alta ele expressa normalmente o que ele expressou no papel. Mando dizer o que desenhou, porque desenhou. E depois disso, aqui na minha sala de aula eu só posso está colocando essas atividades dentro da pasta de cada aluno, porque não temos espaço e não há como está colocando na parede na sala de aula, porém alguns trabalhos né, eu costumo levar para parede lá de fora da escola, onde lá tem um espaço adequado.

No momento da entrevista, inquieta com as afirmativas da professora

L., a entrevistadora interfere, e refaz a pergunta novamente: - É, porque os

trabalhos, essas atividades não ficam expostas nas paredes? A professora M.

L. pergunta:- Da sala? A entrevistadora responde. – Sim. Ao compreender a

pergunta, a professora M. L., responde: - Muito úmido, não segura tinta, não é

placa, a gente não pode colocar prego, aí fica difícil. O que observei, é que os

motivos pelos quais a docente não pendura todas as atividades de desenho na

parede, são devido às condições físicas e estruturais da escola. Ela finaliza sua

fala, alegando que as paredes da escola são úmidas, e não percebe outra

forma de solucionar o problema. Em minha opinião, os problemas físicos

existentes na escola não devem ser motivos de fazer juízo de valor em relação

aos desenhos de cada criança. A partir do momento, que por algum motivo, a

professora opta por tal desenho, acaba desenvolvendo atitudes de julgamentos

acerca das produções de desenhos das outras crianças, que não tiveram suas

atividades escolhidas para serem penduradas na parede da escola.

A professora É.S, durante a entrevista declarou que os desenhos

produzidos pelas crianças são guardados numa caixa organizadora; no final de

cada semestre, ela senta em roda com as crianças, e separa com eles. A

professora diz que coloca o nome das crianças nas atividades, para que eles

levem para casa e apreciem junto com a família essas artes. Segundo a

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docente, as famílias têm a oportunidade de perceber a evolução gráfica das

crianças. E finaliza seu discurso dizendo que é muito importante respeitar o

ritmo individual de cada criança.

No final da entrevista, foi perguntado para as docentes se elas

consideram que a escola onde atuam tem um espaço adequado para o

desenvolvimento de atividades com desenhos, e se era possível pensar em

espaços a serem adaptados. Com relação às respostas, a maioria das

docentes afirmou que as escolas onde trabalham não possuem espaços

adequados para o desenvolvimento das atividades com desenhos. A

professora E. G., declarou:

Na realidade, assim nós temos algumas dificuldades, a sala não tem um mobiliário adequado para educação infantil, isso tem sido, é motivado algumas dificuldades com desenhos né, com o trabalho de escrita de forma geral. Porque as mesas são mesas de braços não mesas normais. Então, assim, agente tem permitido né que as crianças desenhem no chão, aí ele tem um espaço mais aberto, e ele pode produzir melhor né, ao invés da mesinha que é tão apertada.

De acordo com as palavras da professora E. G. percebeu-se sua

insatisfação pela falta de um espaço adequado para o desenho na escola onde

trabalha. A docente afirma que as crianças não possuem o mobiliário próprio

da educação infantil. Nesse contexto, ela tenta de alguma maneira superar

essas limitações estruturais e econômicas da escola. No final de sua fala, ela

deixa claro que tem permitido que seus alunos desenhem no chão, justificando

que é um espaço mais aberto, já que na sala de aula as mesas e cadeiras são

apertadas. Nesse momento, a entrevistadora interferiu e fez a seguinte

pergunta: - Então, pode ser possível pensar em outros espaços?.Logo em

seguida a professora E. G. respondeu:

É assim. Na medida, na mesma intenção que a gente usa o chão da sala, a roda, o meio da sala que a gente chama roda, a gente pode usar outros espaços na escola. A entrada da escola, mas também a criança estará utilizando o chão, ou levar as crianças para o refeitório lá tem as mesinhas grandes que dá, são parecidas com as mesas de educação infantil. Aí dá para eles fazerem um trabalho melhor. Então, assim é importante que agente esteja atento também a isso né,

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promover permitir que a criança tenha um espaço adequado, que elas tenham as condições básicas para ela produzir de uma forma mais tranqüila né.

No que se refere à resposta da professora acima, foi possível perceber

que ela ampliou sua visão a respeito dos possíveis espaços para o

desenvolvimento do desenho na escola onde trabalha. No decorrer de sua fala,

a docente diz ser capaz de improvisar lugares para o desenho dentro da

própria escola, ela pensa na possibilidade de utilizar o refeitório da escola, e

uma área específica, que fica localizada na entrada da escola, que é um

espaço amplo e poderá ser bastante útil. No final de sua fala, mostrando certa

indignação, afirma ser necessário promover espaços adequados para as

crianças desenharem, para que elas possam ter as condições básicas para

evoluírem nos seus desenhos.

Já a professora G. O, concorda com as declarações da professora E.G,

no que diz respeito à falta de espaço na escola quando diz:

Olha só, na escola que eu trabalho infelizmente esse ano, não estamos trabalhando com o mobiliário da educação infantil, são essas cadeiras de braços. Então, às vezes, dificulta porque eles são pequenos, as cadeiras são grandes, não tem espaço para colocar os lápis, eles têm de se levantar pra pegar. Mas agora, na escola, onde eu trabalho foi inaugurado o refeitório, onde tem as mesas grandes, então a partir de agora agente vai poder, no momento desses do desenho, quando não for horário do lanhe agente ir pra esse lugar para utilizar para fazer desenho. Ou então também quando o chão tá limpo, agente senta no chão.

Nas falas das professoras E.G e G.O, podemos perceber que as duas

comungam da mesma visão. As duas professoras consideram ser possível

pensar em novos espaços para a realização de atividades com desenhos. No

decorrer de suas falas, observei certa semelhança nas respostas, pois as duas

docentes pensaram em utilizar os mesmos espaços na escola onde trabalham.

No momento da entrevista, percebi que a escola onde ambas trabalham possui

uma área gradeada e espaçosa próximo a sala da diretora. Em minha opinião,

acredito que esse espaço poderia ser utilizado também. Considerando os

momentos em que essa área não estiver sendo utilizada, as professores

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podem criar atividades com desenhos, basta um pouco mais de dedicação,

motivação e criatividade.

Nesta outra resposta, a professora M. L., esclarece “A escola não tem

um espaço determinado para o desenhar, para a arte né. Eu creio que

nenhuma escola pública tenha um espaço só para a arte. Eu nunca vi, possa

ser que exista né. Agora se eu tenho sugestões, sua pergunta?”

De acordo com sua resposta, a docente generaliza afirmando que

nenhuma escola pública tem um espaço adequado para a arte. Mas, com certo

tom de ironia não descarta a possibilidade de existir uma escola pública

comprometida em promover espaços para as artes infantis. No seu discurso, a

professora não falou sobre as possibilidades da ampliação de espaços para o

desenho na escola onde trabalha.

No final da entrevista, a professora pareceu-me meio confusa. Durante

sua resposta, ela pergunta a entrevistadora: - Agora se eu tenho sugestões,

sua pergunta? A entrevistadora responde: - Isso. A professora pergunta

novamente: - Se é possível adaptar agora aqui um lugar?. E novamente

confirma: - Não, não temos espaço prá isso. Estamos correndo atrás de uma

biblioteca, e ainda não conseguimos. Lá sim poderia também acontecer. No

momento em que já estava finalizando a entrevista, a docente declarou que

existe uma possibilidade da construção de uma biblioteca na escola, afirmando

que nesse espaço seria possível desenvolver atividades com desenhos.

Após ter realizado a análise das entrevistas, constatou-se que, de forma

geral, as atividades de desenho não eram programadas e por isso os temas

eram livres, sem qualquer intervenção do professor, ou até mesmo

improvisados pelas docentes. No decorrer da entrevista, as professoras

deixaram claro que o desenho era uma atividade espontânea da criança; e,

para que elas pudessem desenhar, apenas seriam necessários materiais

diversos à disposição na sala. Isto confirma dados da literatura que aborda

acerca do desenho infantil, quando se refere a desvalorização do desenho

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dentro do contexto escolar, em comparação aos conteúdos da linguagem

escrita.

No desenvolvimento da entrevista, foi percebido que uma das

professoras sempre se referia ao desenho como uma atividade relacionada ao

desenvolvimento da linguagem escrita. Para ela, trabalhar com atividades com

desenhos em sala, seria uma forma das crianças anteciparem essa linguagem.

A meu ver, a professora, mantendo a atitude de “valorização da linguagem

escrita” e da “desvalorização da linguagem artística” da criança no momento de

suas produções gráficas, está desprezando a experiência de desenvolver,

através das atividades com desenhos, novos horizontes, a possibilidade de

percepção de mundo e a expressão gráfica da criança. Tal postura mostra o

distanciamento do professor em relação à atividade de desenho e em relação

ao processo criativo de seu aluno. Se houvesse uma compreensão a respeito

da importância das atividades de desenho para o desenvolvimento dos

aspectos afetivos, cognitivos, sociais e motores, a professora poderia

efetivamente exercer seu papel de mediadora de processo de ensino

aprendizagem da criança no momento da ação do desenhar na escola. Na

medida em que o professor compreende e reconhece que o desenho não é

apenas uma manifestação criadora da criança, ele começa a entender como a

criança desenha e se permite compreender como se dá o desenvolvimento

global dessa linguagem.

A partir das questões formuladas para a entrevista, foi possível perceber

que existe um distanciamento entre discurso e prática. Durante as falas das

docentes pareciam que elas queriam dar respostas “politicamente corretas”.

Apesar de terem afirmado fazer uso freqüente de atividades com desenhos em

suas salas, demonstravam pouco conhecimento acerca do desenho da criança,

no que se refere a seus aspectos culturais, interacionais e sociais. Nesse

contexto, através da análise das falas de cada docente entrevistada, percebe-

se que o desenho ocupa um espaço secundário dentro de suas ações

pedagógicas em sala de aula, e os professores têm pouca informação e/ ou

formação para administrar atividades com desenhos em sala de aula.

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No transcorrer da entrevista, observei que uma das docentes

entrevistadas, vê o desenho como substituto da escrita, tenta interpretar o

desenho da criança como se estivesse aflita em busca de informações e

palavras que, na sua concepção, o desenho não retrata. No decorrer de sua

fala, a docente parecia pressupor que todo desenho precisa revelar alguma

coisa nomeável. Esta possível suposição reduz a criatividade da criança, a

imaginação e a sua comunicação através de seus traços gráficos. Durante a

entrevista, três professoras afirmaram que as atividades com desenhos eram

vistas como uma atividade espontânea e natural, inerente a criança,

constituindo assim, uma visão inatista, de que as crianças desenham pelos

simples fato de serem crianças. A ação do desenhar já estaria determinada

previamente para todos os indivíduos, cabendo ao professor, perante essa

atividade uma atitude passiva, sem que o mesmo pudesse realizar mediações

durante o processo de produção de desenhos em sala.

Em contrapartida, durante a entrevista, duas docentes pareciam crer

numa visão ambientalista do desenho em que as crianças teriam que ser

ensinadas a construir desenhos, pois nessa visão alguns professores

acreditam que a criança não traz nenhum tipo de conhecimento de suas

experiências de vida. Nessa concepção o professor coloca no ambiente a

responsabilidade pelo desenvolvimento gráfico de seus alunos. No âmbito

escolar o professor estará sempre como personagem central do processo

pedagógico, por ser ele que escolhe, dirige e estabelece quais atividades com

desenhos serão realizadas e quais os resultados deverão ser atingidos pelos

alunos.

Durante a entrevista, apenas uma docente mostrou trabalhar atividades

com desenhos numa concepção interacionista, pois ela afirma propor uma

relação de equilíbrio entre aquilo que é inerente à criança desde seu

nascimento e as condições materiais oferecidas no contexto em que a criança

vive. Nessa perspectiva, o docente é o mediador que realiza atividades que

levam em consideração as habilidades individuais de cada criança e valorizam

as riquezas das diferentes culturas e grupos sociais.

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Dessa forma, o professor tem um papel importante na escola e

especificamente na sala de aula, pois é através de suas ações pedagógicas e

de suas concepções que o conteúdo de qualquer área irá se desenvolver.

Nesse contexto, sugere-se que o professor deve ter acesso às teorias

referentes ao desenvolvimento do desenho infantil e que pesquise acerca dos

aspectos afetivos, cognitivos, percepto- motores e sociais, para que possa

elaborar e executar atividades criativas, interessantes e que tenham realmente

o objetivo de promover o desenvolvimento e aprendizagem da criança.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Figura 4. Imagem retirada da internet em 28/07/2009 http://images.google.com.br

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Com base nas análises dos dados, foi possível investigar as práticas das

professoras sobre as atividades de desenhos em sala de aula e a

responsabilidade do professor em promover a construção de um ambiente

favorável para o desenvolvimento do desenho da criança no contexto escolar.

O que se observa é que o prazer que a criança tem em construir seus

próprios desenhos poderá deixar de existir se não forem permitidas a

exploração de sua função expressiva e a realização de seu potencial criador,

por isso, com base nos resultados alcançados durante a pesquisa, analiso

que o docente deve repensar as expectativas quanto ao desenho da criança,

assim como o diálogo que estabelece com ela a respeito de suas produções

gráficas.

Alguns fatores contribuíram para a escolha desse tema, entre elas a

minha trajetória como estagiária nas classes de educação infantil e participação

em seminários, oficinas e grupos de estudos, pois esses elementos levaram a

perceber a importância do desenho infantil nas salas de aula, através das

concepções das professoras participantes dessa pesquisa.

A partir da análise e discussão das concepções de cinco professoras

sobre o desenho infantil e sobre quais conhecimentos embasavam suas

práticas educativas com seus alunos, constata-se que, no contexto escolar,

compete ao professor propor as atividades com desenhos em sala de aula na

concepção de uma linguagem gráfica visual e representativa. Durante as

entrevistas foi observado que as práticas com desenhos são alicerçadas com

propostas de desenho livres e a utilização do desenho como um recurso

didático de grande valia em todos os conteúdos de outras disciplinas.

O professor, jamais, em situação alguma, deverá sugerir qualquer tipo

de forma ou padrão de desenho, pois não estaria a fazer mais do que impor

barreiras de limitação da criatividade e imaginação da criança. O espírito de

invenção e de iniciativa que se liberta pela realização de atividades com

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desenhos, ajudará a desenvolver a personalidade da criança. Paralelamente,

todos os materiais devem permitir uma iniciação à criatividade, tendo em conta

o grau de desenvolvimento da mentalidade, maturação visual da criança e o

desenvolvimento de sua motricidade.

Neste contexto, a tarefa do educador será a de criar situações que

despertem a visão e a imaginação das crianças. A experiência artística tem um

significado para cada criança, e a sua criatividade reflete sempre o estado de

desenvolvimento visual em que se encontra. Todos têm potencialidades de

criar, são originais nas suas formas de percepção, nas suas experiências de

vida e nas suas fantasias. Dessa maneira, elas se sentirão motivadas a ponto

de superar obstáculos e vencer desafios. E nesse contexto de possibilidades,

a criança poderá perceber que pode ser capaz de criar algo novo. Segundo

Fayga Ostrower, Criar é poder dar forma a algo novo. Em qualquer que seja o

campo da atividade, trata-se, nesse “novo”, de novas coerências que se

estabelecem para a mente humana, fenômenos relacionados de modo novo e

compreendidos em termos novos. O ato criador abrange, portanto a

capacidade de compreender; e esta por sua vez, a de relacionar, ordenar,

configurar, significar.

Dessa maneira, é importante que o professor no momento de criação de

desenho da criança por volta dos quatro ou cinco anos, tenha a atitude de

perceber que ela já é capaz, através de seus desenhos de emitir seus

pensamentos, sensações e sentimentos no meio de suas expressões

criadoras. A meu ver, as escolas devem estimular o processo de criação da

criança, através de atividades promovidas por professores capazes de

estimular cada aluno, para que se identifiquem com suas próprias formas de

criar e ajudá-lo a desenvolver, ao máximo, os conceitos que expressem os

seus verdadeiros sentimentos, as suas emoções e sua própria sensibilidade

estética.

O papel pedagógico do professor como mediador, sugerindo, ouvindo

promovendo momentos de experiências e contato com materiais diversos ajuda

a criança a desenvolver o seu desenho. Nessa perspectiva, as ações

pedagógicas do professor incentivando e valorizando as produções gráficas em

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várias maneiras através da utilização de suportes e técnicas, permitem às

crianças descobrirem as possibilidades desses materiais, que podem

desencadear num caráter criativo e lúdico aos desenhos em sala de aula.

No que se referem às professoras entrevistadas, os materiais

disponibilizados para as crianças variou muito pouco, em quase todas as

respostas prevaleceu o uso de lápis de cor, lápis cera, tinta, lápis comum,

borracha. Segundo elas, esses materiais ficavam ao alcance das crianças na

sala de aula. Inclusive, todo o restante dos materiais era fornecido pelas

professoras durante as atividades e recolhidos após as atividades.

Ao desenhar a criança utiliza-se de uma linguagem carregada de

símbolos gráficos que co-habitam com um mundo que vai além de si mesmo,

onde todo o seu corpo participa de forma incisiva no processo da ação do

desenhar. Em seus desenhos, as crianças claramente expressam seus

pensamentos e transmitem as informações do seu eu e do seu meio. O

desenho torna-se sua linguagem, destituída de valor educacional, mas

constituída de valor expressivo, imagético e emotivo.

Quando o professor desenvolve atividades com desenho em sala de

aula desde a educação infantil, não ocorre o empobrecimento do grafismo, que,

de acordo com a leitura aprofundada de vários autores, se dá a partir dos nove

anos de idade. Isso acontece, porque à medida que a criança vai crescendo,

vai desenvolvendo seu espírito crítico em relação as suas produções artísticas,

muitas vezes, essa consciência crítica supera seu desejo de expressar-se

criativamente; principalmente nos casos em que a criança passa com rapidez

da infância para a adolescência em um prazo curto, não podendo ajustar-se em

relação à sua nova consciência crítica e ficando assim, insatisfeita com suas

realizações.

Durante essa pesquisa, foi avaliado como, quando e com qual objetivo

as professoras propõem atividades com desenhos em sala de aula, tendo

como pressuposto, a compreensão do desenho como uma forma de

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expressão, como linguagem. Assim, optou-se por investigar e discutir as ações

desencadeadas pelas docentes no ensino de desenho no âmbito escolar.

Dessa maneira, espera-se estar trazendo elementos motivadores da

relação ensino- aprendizagem, contribuindo para que todos os sujeitos

envolvidos na pesquisa ampliem sua capacidade cognitiva, perceptiva, assim

como o seu fazer, através das suas práticas com atividades com desenhos em

salas de aula.

Após ter realizado a análise das entrevistas cheguei à conclusão que as

professoras as quais entrevistei, apesar de terem afirmado fazer uso freqüente

de atividades com desenhos em suas salas, a maioria demonstrava pouco

conhecimento acerca do desenho da criança. Para esses profissionais as

atividades com desenhos ou eram vistos como uma atividade natural, inerente

a criança, constituindo assim, uma visão inatista, de que as crianças desenham

pelos simples fato de serem crianças, ou seja, a ação do desenhar já estaria

determinada previamente para todos os indivíduos cabendo ao professor

perante essa atividade uma atitude passiva. Em contrapartida numa visão

ambientalista as crianças teriam que ser ensinadas a construir desenhos, elas

precisava ser treinadas, constantemente por um professor com intenso saber

técnico, pois nessa visão alguns professores acreditam que a criança não traz

nenhum tipo de conhecimento de suas experiências de vida.

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REFERÊNCIAS

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MOREIRA, Ana Angélica Albano. O espaço do desenho: a educação do Educador. São Paulo, SP: Loyola, 1995. OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. Petrópolis, Vozes, 1987. PORCHER, Louis. Educação Artística: Luxo ou necessidade?, São Paulo, Summus, 1982. SANS, Paulo de Tarso Cheida. A criança e o artista: Fundamentos para o ensino das artes plásticas/Paulo de Tardo Cheida Sans-Campinas, SP: Papirus, 1994- (Coleção Ágere).

SOARES, Marina Lisboa. O Desenho Infantil. Flórida Review, Miami /FLA- USA. Seção Educação, ano18, n.353, p.18, 01 ago 2003.

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APÊNDICE A- ENTREVISTAS

Roteiro de entrevista:

1)Quantas vezes por semana o desenho acontece em sua sala? Em quais momentos você acha que deve inserir o desenho? 2)Em algum momento, parte do aluno a sugestão de desenhar? E vem com algum pedido, ou coincide com algum momento lúdico ou pedagógico? 3)Você intervém enquanto a criança desenha? De que forma exemplifique. 4)Quando as crianças desenham você costuma fazer elogios? 5)Você considera o desenho uma atividade importante para a criança? Por quê? 6)Que tipos de atividades com desenho você realiza? Dê exemplos e me fale um pouco como funcionam para você? 7)Quando desenham livremente, existem temas ou assuntos sobre os quais eles prefiram desenhar? Você observa algum tipo de recorrência desse tipo? Sobre o que eles desenham? 8)Que tipo de interação pode ocorrer entre as crianças e seus colegas e entre o professor e as suas crianças quando ocorre o desenhar? 9)Você considera que a escola tem um espaço adequado para o desenvolvimento de atividades com desenhos?Em caso positivo, quais são?Em caso negativo, é possível pensar em espaços a serem adaptados? 10)Que tipos de materiais utilizam? A professora interfere na escolha do material a ser utilizado pela criança na atividade com desenho? 11)O que as professoras costumam fazer com os desenhos produzidos pelas crianças?

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Agora somente as perguntas e respostas das docentes utilizadas nesse

trabalho.

Professora: A 1) Quantas vezes por semana acontecem o desenho na sua sala? Em quais momentos você acha que deve inserir o desenho?

Uma vez por dia. Nos momentos de acordo com o que agente planeja né, nós contamos algumas histórias, e aí, eles querem desenhar sempre, também tem aquela questão, inclusive deixar a criança para desenhar o que ela quer. 2) Você intervém enquanto a criança desenha? De que forma? Eu só interfiro quando eles me solicitam, quando eles pedem e dizem assim: - Professora não estou conseguindo fazer esse desenho. E digo: - Faça da maneira que vocês conhecem, imagina aí como seja e desenhe. Não existe certo, nem errado quero que vocês desenhem da forma que vocês sabem. 3) Você considera o desenho uma atividade importante para a criança? Por quê? Concerteza. Muito importante porque desenvolve a motricidade, a coordenação motora deles e eles aprendem com isso, e envolve também a vida adulta aí. 4) Que tipos de materiais utilizam? A professora interfere na escolha do material a ser utilizado pela criança na atividade com desenho? Geralmente eu coloco na mesa todos os materiais que eles podem ter necessidade, a tinta, o pincel, a caneta, o lápis, a borracha, os pincéis. Eles escolhem livremente o que eles querem utilizar. Se o desenho for livre, ou se tiver atividade programada, eles desenham da mesma forma com o material que eles escolhem com lápis de cera ou lápis de cor. 5) Quando as crianças desenham você costuma fazer elogios? Claro que sim. Eles sempre têm de ser elogiados. Não pode fazer um desenho igual às pessoas estão fazendo, não. Eles têm de fazer da forma que querem, e eles sempre têm de ser incentivados de forma que eles aprendam com isso.

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Professora: G 1) Quantas vezes por semana acontecem o desenho na sua sala? Em quais momentos você acha que deve inserir o desenho? Todos os dias eles desenham. Normalmente eu insiro o desenho após contar uma história, eles recontam. É uma forma que eles utilizam para o reconto, pra pré-escrita, porque eles ainda não dominam a língua escrita. Então eles desenham muito nesta fase. 2) Você intervém enquanto a criança desenha? De que forma? Às vezes, se o desenho tiver uma direção. Por exemplo, se eu trabalhei o dia do meio ambiente, peço a eles pra desenharem o meio ambiente e se eu percebo que eles estão desenhando outras coisas, aí eu interfiro. Eu pergunto: - O que você está desenhando? Isso faz parte? 3)Você considera o desenho uma atividade importante para a criança? Por quê? Muito importante, porque como falei no início principalmente nesta fase da educação infantil onde eles ainda não dominam a escrita, eles se utilizam dessa linguagem, que é o desenho pra se expressar. Então, é uma fase da escrita, a fase do desenho, e também a partir dos desenhos deles agente percebe muitas coisas da vida deles até pessoal, dá para perceber às vezes, motivos de muitos comportamentos diferentes que interferem em muitas coisas, basta ter um olhar perceptivo. 4) Que tipos de materiais utilizam? A professora interfere na escolha do material a ser utilizado pela criança na atividade com desenho? Eles utilizam papel ofício, lápis de cor, o lápis de escrever, borracha. Aí eu não interfiro, eles usam o que eles quiserem lápis de cera, lápis de madeira etc. 5) Quando as crianças desenham você costuma fazer elogios? Faço. Muitos 6) Que tipo de interação pode ocorrer entre as crianças e seus colegas e entre o professor e suas crianças quando ocorre o desenhar? Eles quando estão desenhando olham os desenhos dos colegas. Alguns até mudam seus próprios desenhos porque viu os colegas desenhando. E eles interagem entre si sobre os desenhos. E comigo eles me perguntam, ás vezes, me pedem para eu fazer um desenho para eles pintarem. Tem muito disso. Eles querem desenhar uma flor. Pró faça uma flor aí no quadro pra eu ver como é que é. Então faça uma flor que vier na sua imaginação, da forma que você imaginou a flor desenhe. Mas, às vezes, eu sento com eles para desenhar também. Mas, eu não gosto muito de fazer isso, porque eles tendem todos a fazer o desenho igual ao meu.

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7) O que as professoras costumam fazer com os desenhos produzidos pelas crianças? Normalmente, alguns, agente expõem na parede da escola, da sala os outros agente guarda para no final da unidade anexar tudo num envelope e entregar aos pais. 8) Você considera que a escola tem um espaço adequado para o desenvolvimento de atividades com desenhos? Em caso positivo, quais são? Em caso negativo, é possível pensar em espaços a serem adaptados? Olha só, na escola que eu trabalho infelizmente esse ano, não estamos trabalhando com o imobiliário da educação infantil, são essas cadeiras de braços. Então, às vezes, dificulta porque eles são pequenos, as cadeiras são grandes, não tem espaço para colocar os lápis, eles têm de se levantar pra pegar. Mas agora, na escola, onde eu trabalho foi inaugurado o refeitório, onde tem as mesas grandes, então apartir de agora agente vai poder, no momento desses do desenho, quando não for horário do lanhe agente ir pra esse lugar para utilizar para fazer desenho. Ou então também quando o chão tá limpo, agente senta no chão.

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Professora: M.L 1) Quantas vezes por semana acontecem o desenho na sua sala? Em quais momentos você acha que deve inserir o desenho? Eu costumo estabelecer duas ou três vezes por semana o desenho na sala de aula. 2) Você intervém enquanto a criança desenha? De que forma?

A minha intervenção é só em nível de está sabendo o que eles estão fazendo. Nada que possa influenciar no que ele está colocando no papel no momento. 3) Você considera o desenho uma atividade importante para a criança? Por quê? No decorrer do meu trabalho eu via o desenho como brincar. Eu achava uma perda de tempo para colocar os meninos pra pintar, eu achava que deveriam aprender os conteúdos, aprender evidências. Mas, com o passar do tempo eu fui me sensibilizando para esse desenhar. E, hoje, vejo o desenhar como forma de se expressar e é fundamental. 4) Que tipos de materiais utilizam? A professora interfere na escolha do material a ser utilizado pela criança na atividade com desenho? Na escola só tem lápis de cera e lápis de cor. E é o que nós utilizamos. O professor costuma dá sugestões para compra do material, como a escola é pública nem sempre acontece. Caso tivesse outros materiais, (tinta) estaria sendo utilizado. Mas, no momento não tem, então é utilizado cera e lápis de cor. 5) Quando as crianças desenham você costuma fazer elogios?

Vários. O elogio é um convite para a próxima atividade. Então, quando você chega lá e diz que está lindo, que voe gostou muito, ele se sente tão bem, que a próxima atividade concerteza vai ser acolhida por ele de forma inexplicável.

6) Que tipo de interação pode ocorrer entre as crianças e seus colegas e entre o professor e suas crianças quando ocorre o desenhar? Situação de aprendizado tanto de aluno para aluno como de professor para aluno e de respeito atualmente agente procura desenvolver porque as crianças (eles) interferem muito no pintar do outro. Acha no desenho do outro que tá feio acha que o outro fez errado né. Agente pode está trabalhando esse respeito nessa hora, é aprendizado, a todo momento é aprendizado. 7) O que as professoras costumam fazer com os desenhos produzidos pelas crianças? No momento após a atividade cada aluno é convidado a falar sobre o que desenhou... é um seminário, em que ele vai ali na frente sozinho, e em voz alta ele expressa

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normalmente o que ele expressou no papel. Mando dizer o que desenhou, porque desenhou. E depois disso, aqui na minha sala de aula eu só posso está colocando essas atividades dentro da pasta de cada aluno, porque não temos espaço e não como está colocando na parede na sala de aula, porém alguns trabalhos né, eu costumo levar para parede lá de fora da escola, onde lá tem um espaço adequado. A entrevistadora pergunta novamente: É, porque os trabalhos, essas atividades não ficam expostos nas paredes? Professora pergunta:- Da sala? Muito úmido, não segura tinta, não é placa, agente não pode colocar prego, aí fica difícil. 8) Você considera que a escola tem um espaço adequado para o desenvolvimento de atividades com desenhos? Em caso positivo, quais são? Em caso negativo, é possível pensar em espaços a serem adaptados? A escola não tem um espaço determinado para o desenhar, para a arte né. Eu creio que nenhuma escola pública tenha um espaço só para a arte. Eu nunca vi, possa ser que exista né. Agora se eu tenho sugestões, sua pergunta? Entrevistadora: Isso. A professora pergunta novamente: - Se é possível adaptar agora aqui um lugar? Não, não temos espaço prá isso. Estamos correndo atrás de uma biblioteca, e ainda não conseguimos. Lá sim poderia também acontecer.

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Professora E. G. No que se refere às respostas dessa docente, apenas foram transcritas para o trabalho as perguntas (6,7,8). As outras (1, 2, 3, 4,5) foram somente citadas no decorrer do trabalho. 1) Quantas vezes por semana acontecem o desenho na sua sala? Em quais momentos você acha que deve inserir o desenho? 2) Você intervém enquanto a criança desenha? De que forma? 3) Você considera o desenho uma atividade importante para a criança? Por quê? 4) Que tipos de materiais utilizam? A professora interfere na escolha do material a ser utilizado pela criança na atividade com desenho? 5) Quando as crianças desenham você costuma fazer elogios? 6) Que tipo de interação pode ocorrer entre as crianças e seus colegas e entre o professor e suas crianças quando ocorre o desenhar? Assim é muito interessante. Os meninos é, eles interagem com os colegas assim. Ao fazerem os desenhos eles estão compartilhando, mostrando aos colegas. Esses desenhos agente vê várias situações, por exemplo: o da própria sala, do projeto, família né, agente percebe toda a vida da criança. 7)O que as professoras costumam fazer com os desenhos produzidos pelas crianças? Na minha escola, na Antonio Pithon, nós é... Na própria rede municipal há uma preocupação de que nós precisamos tratar essas produções com muito cuidado e respeito. Então agente junta essas produções, e a cada semestre, final de semestre, a gente entrega as famílias essas produções que são realizadas pelas crianças, tanto é para as famílias perceberem o que foi feito, os desenhos que foram realizados pelas crianças, os trabalhos de alfabetização e letramento, para a família se apropriar do que foi feito na escola. A entrevistadora: E a senhora percebe um retorno positivo das famílias em relação ao envio dessas atividades? As famílias gostam de receber essas atividades, mas, há assim constantemente da parte dos pais um questionamento sobre os desenhos, os pais não entendem o valor e a importância das atividades de desenhos. Então acho que cabe a nós professores, na

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reunião de pais estarmos mostrando aos pais como trabalhamos, e os materiais que utilizamos as técnicas, o porquê do desenho na educação infantil, porque se não eles ficam achando que é perda de tempo, porque na cabeça deles, no grupo 5, os meninos precisam ser alfabetizados né. E aí agente precisa mostrar a eles a importância que o desenho tem nesse processo também de alfabetização e letramento, além de está fazendo a criança crescer na criatividade, na expressão de seu pensamento, na percepção de mundo. Então, os pais precisam saber disso né, então agente tem procurado né dentro das reuniões de pais, não entregar simplesmente essa pastinha ou esse envelope com as atividades, mas explicar aos pais de uma forma assim de forma geral e sucinta o que foi produzido nesse período.

8)Você considera que a escola tem um espaço adequado para o desenvolvimento de atividades com desenhos? Em caso positivo, quais são? Em caso negativo, é possível pensar em espaços a serem adaptados? Na realidade, assim nós temos algumas dificuldades, a sala não tem um mobiliário adequado para educação infantil, isso tem sido, é motivado algumas dificuldades com desenhos né, com o trabalho de escrita de forma geral. Porque as mesas são mesas de braços não mesas normais. Então, assim, agente tem permitido né que as crianças desenhem no chão, aí ele tem um espaço mais aberto, e ele pode produzir melhor né, ao invés da mesinha que é tão apertada. A entrevistadora: Então, pode ser possível pensar em outros espaços? É assim. Na medida, na mesma intenção que agente usa o chão da sala, a roda, o meio da sala que agente chama roda, agente pode usar outros espaços na escola. A entrada da escola, mas também a criança estará utilizando o chão, ou levar as crianças para o refeitório lá tem as mesinhas grandes que dá, são parecidas com as mesas de educação infantil. Aí dá para eles fazerem um trabalho melhor. Então, assim é importante que agente esteja atento também a isso né, promover permitir que a criança tenha um espaço adequado, que ela as condições básicas para ela produzir de uma forma mais tranqüila né.