UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a...

79
UNIVERSIDADE DE UBERABA – UNIUBE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO IASSORRARA ISABEL DA SILVA POLDYEMERSON DA SILVA OS DIREITOS SOCIAIS DOS PACIENTES COM NEOPLASIA MALIGNA ATENDIDOS NO HOSPITAL DR. HÉLIO ANGOTTI UBERABA – MG UBERABA - MG 2009

Transcript of UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a...

Page 1: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

UNIVERSIDADE DE UBERABA – UNIUBE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

IASSORRARA ISABEL DA SILVA POLDYEMERSON DA SILVA

OS DIREITOS SOCIAIS DOS PACIENTES COM NEOPLASIA MALIGNA ATENDIDOS NO HOSPITAL DR. HÉLIO ANGOTTI –

UBERABA – MG

UBERABA - MG 2009

Page 2: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

IASSORRARA ISABEL DA SILVA POLDYEMERSON DA SILVA

OS DIREITOS SOCIAIS DOS PACIENTES COM NEOPLASIA MALIGNA ATENDIDOS NO HOSPITAL DR. HÉLIO ANGOTTI –

UBERABA – MG Trabalho de Conclusão do Curso apresentado como parte dos requisitos para obtenção do título de bacharel em Serviço Social da Universidade de Uberaba. Orientadora: Prof.ª Ivone Aparecida Vieira da Silva. Área de concentração: Saúde

UBERABA - MG NOVEMBRO / 2009

Page 3: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

UNIVERSIDADE DE UBERABA - UNIUBE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Este Trabalho de Conclusão de Curso elaborado pelos acadêmicos IASSORRARA ISABEL DA SILVA e POLDYEMERSON DA SILVA foram por mim Ivone Aparecida Vieira da silva acompanhados como Professora Orientadora, estando o mesmo em condições de ser apresentado à Universidade de Uberaba e posteriormente julgado pela Banca Examinadora.

________________________________________ Prof.ª Ivone Aparecida Vieira da silva

Professora Orientadora

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi apresentado mediante Banca Examinadora, que lhe atribuiu a nota _____ aos alunos IASSORRARA ISABEL DA SILVA e POLDYEMERSON DA SILVA, no Curso de Serviço Social da Universidade de Uberaba. BANCA EXAMINADORA Aprovado em: _____ / _____ / _____

________________________________________ Prof.ª Ivone Aparecida Vieira da silva

Professora Orientadora

________________________________________ Prof.ª Valquíria Alves Mariano

Professora Examinadora

________________________________________ Prof.

Professor examinador

Page 4: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

Dedico este trabalho a todos os profissionais dos mais diversos Serviços Sociais espalhados pelo Brasil, sobretudo aos assistentes sociais que lidam com a oncologia.

Page 5: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

AGRADECIMENTOS

Agradeço inicialmente a Deus e à minha família pelo apoio incondicional a

esta nova fase de nossas vidas.

À nossa Orientadora Prof.ª Ivone Aparecida Vieira da Silva, por toda a

dedicação ao longo do curso, mesmo com o tempo tão escasso por conta das

inúmeras tarefas acumuladas, mãe, docente, Diretora do Lar da Caridade, assistente

social, se esforçou para nos orientar. Foi muito mais que mestre e orientadora.

À nossa Supervisora de Estágio, Prof.ª Valquíria Alves Mariano, pela

reflexão do estágio na formação acadêmica, elencando a importância da

aproximação da realidade que proporciona uma vasta riqueza de conhecimentos

que foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de Conclusão de

Curso.

À assistente social do Hospital Hélio Angotti, Paula Rodrigues Rezende, que

contribuiu com suas ações e observações, nos proporcionado o aprimoramento de

nossos estudos, refletindo sobre o papel do profissional do Serviço Social junto à

saúde, e em especial aos direitos dos usuários com Neoplasia Maligna, bem como

na saúde e bem estar dos usuários e seus acompanhantes.

Page 6: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus: Tempo para nascer, e tempo para morrer; tempo para plantar, e tempo para arrancar o que foi plantado.

ECLESIASTES, 3: 1-2

Page 7: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

RESUMO

SILVA, Iassorrara Isabel; SILVA, Poldyemerson da Silva. Os direitos sociais dos pacientes com Neoplasia Maligna atendidos no hospital Dr. Hélio Angotti – Uberaba – MG. Universidade de Uberaba (UNIUBE). Professora Orientadora: SILVA, Ivone Aparecida Vieira da. Novembro de 2009. 79 p.

O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a Medicina e Assistência Social, sobretudo a partir da década de 1950, propiciam progressos consideráveis que culminaram na cura de diversas doenças, aumentando significativamente a expectativa média de vida, pela luta a favor dos direitos sociais. Nesse cenário, a questão da qualidade de vida, como proposta de universalização da dignidade, frente ao Serviço Social e aos serviços médicos, motivou os profissionais da saúde e da Assistência Social a avaliarem a qualidade do seu desempenho principalmente pela incidência de prevenção e aumento da sobrevivência em virtude dos movimentos em prol dos direitos sociais. Ao desenvolver esta pesquisa foi realizada uma pesquisa bibliográfica, cujas reflexões dos autores pesquisados foram entrelaçadas às reflexões com base em experiência vivida no estágio junto ao Hospital Hélio Angotti. Aponta-se para a importância da articulação entre o Serviço Social e o acolhimento médico, ao lidar com o usuário com Neoplasia Maligna. Essa nova conduta veio preencher uma lacuna tão grande no exercício da atividade médica e assistencial, que imediatamente foram adotadas em muitos países, como no Brasil, ao reconhecer o Assistente Social, como profissional da área da saúde. Desse modo, este estudo contribui para a reflexão em torno de acolhimentos multidisciplinares que se voltam para a união de conhecimentos a fim de minimizar os sofrimentos dos usuários com Neoplasia Maligna na perspectiva da qualidade de vida.

Palavras-chave: Assistência; Neoplasia Maligna; saúde; serviço social.

Page 8: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

ABSTRACT

SILVA, Iassorrara Isabel; SILVA, Poldyemerson da Silva. The social rights of patients with malignancy treated at the hospital Dr. Hélio Angotti - Uberaba - MG. Universidade de Uberaba (UNIUBE). Professora Orientadora: SILVA, Ivone Aparecida Vieira da. Novembro de 2009. 79 p.

The scientific and social development that in century XX, reached the Medicine and Social Assistance, over all from the decade of 1950, propitiating progresses considerable that had culminated in the cure of diverse illnesses, increasing significantly the average expectation of life, for the fight in favor of the social rights. In this scene, the question of the quality of life, as proposal of universal on of the dignity, front to the Social Service and the medical services, motivated the professionals of the health and the Social Assistance mainly to evaluate the quality of its performance for the incidence of prevention and increase of the survival in virtue of the movement in favor of the social rights. When developing this research was carried through a bibliographical research, whose reflections of the searched authors had been interlaced the experience lived in the period of training next to the Hospital Angotti Helium. One points with respect to the importance of the joint between the Social Service and the medical shelter, when dealing with the user with malignant cancer. This new behavior came to fill a so great gap in the exercise of medical and assistance the activity, that had been immediately adopted in many countries, as in Brazil, when recognizing the Social Assistant, as professional of the area of the health. In this manner, this study it contributes for the reflection around shelters to multidiscipline that they are turned toward the union of knowledge in order to minimize the sufferings of the users with malignant cancer in the perspective of the quality of life.

Key words: malignant cancer; social service; health; assistance.

Page 9: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

LISTA DE SIGLAS

ACCBC Associação de Combate ao câncer do Brasil Central AVCCU

Associação dos Voluntários de Combate ao Câncer de Uberaba

AIS Ações Integradas de Saúde APS Atenção primária de saúde ATAPREV

Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social

BPC Beneficio de Prestação Continuada CAM Centro de atendimento Médico Caps Caixas de Aposentadoria e Pensão CEBES Centro Brasileiro de Estudos de Saúde CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica de Uberaba CONASP

Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária

CEME Central de Medicamentos CESUBE Centro de ensino Superior de Uberaba CFESS Conselho Federal de Serviço Social CNS Conferência Nacional de Saúde EC Emenda Constitucional FACTHUS Faculdade Talentos Humanos FAS Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social FAZU Faculdade Associada de Uberaba FCETM Faculdade de Ciências econômica do Triangulo Mineiro FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço FUNABEM Fundação Nacional do Bem Estar do Menor HIV Vírus da Imunodeficiência Humana ICBC Instituto de Cegos do Brasil Central IAP Institutos de Aposentadorias e Pensões IAPAS

Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social

IAPB Institutos de Aposentadorias e Pensões para bancários IAPC

Institutos de Aposentadorias e Pensões para os Comerciários

IAPM

Institutos de Aposentadorias e Pensões para Marítimos e Portuários

IAPI Institutos de Aposentadorias e Pensões para Industriários IAPTEC

Institutos de Aposentadorias e Pensões para Trabalhadores em Transporte e Cargas

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INAMPS Instituto Nacional Assistência Médica Previdência Social INCA Instituto Nacional de Câncer INPS Instituto Nacional de Previdência Social INSS Instituto Nacional do Seguro Social IPASE

Institutos de Aposentadorias e Pensões para Servidores Públicos

LBA Fundação Legião Brasileira de Assistência

Page 10: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

LOAS Lei Orgânica de Assistência Social LOS Lei Orgânica da Saúde MPAS Ministério da Previdência e Assistência Social MRSB Movimento da Reforma Sanitária Brasileira MS Ministério da Saúde NOB Norma Operacional Básica OMS Organização Mundial de Saúde Pasep Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público PIASS

Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento para o Nordeste

PPA Plano de Pronta Ação PIS Programa de Integração Social PIB Produto Interno Bruto SALTE Saúde, Alimentação, Transporte e Energia SAMHPS

Sistema de Assistência Médico-hospitalar da Previdência Social

SINPAS Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social SNC Serviço Nacional de Câncer SUAS Sistema Único da Assistência Social SUDS Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde SUS Sistema Único de Saúde TFD Tratamento Fora do Domicílio UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro UFTM Universidade Federal do Triangulo Mineiro UNIPAC Universidade Antônio Carlos UNIUBE Universidade de Uberaba UNOPAR Universidade Norte do Paraná USP Universidade de São Paulo

Page 11: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11 2 HISTÓRICO DE UBERABA E DAS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE .......................... 15 2.1 BREVE HISTÓRIA DE UBERABA ...................................................................... 15 2.2 A NEOPLASIA MALIGNA E O HOSPITAL DR. HÉLIO ANGOTTI ..................... 22 3 POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS NA ÁREA DE SAÚDE ............................. 27 3.1 A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL E EM UBERABA ............................................ 27 3.2 HISTÓRICO DAS POLÍTICAS DE SAÚDE ........................................................ 31 4 O SERVIÇO SOCIAL E OS DIREITOS SOCIAIS NO BRASIL .............................. 46 4.1 OS DIREITOS SOCIAIS E A SAÚDE NO BRASIL ............................................. 46 4.2 DIREITOS SOCIAIS ESPECÍFICOS DO USUÁRIO COM NEOPLASIA MALIGNA ................................................................................................................................. 52 4.3 O SERVIÇO SOCIAL E OS DIREITOS DOS USUÁRIOS COM NEOPLASIA ATENDIDOS NO HOSPITAL HÉLIO ANGOTTI ....................................................... 57 4.3.1 Desafios e benefícios dos usuários do Hospital Helio Angotti ......................... 59 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 69 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 73 ANEXOS ................................................................................................................... 78

Page 12: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

11

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão de curso tem como objetivo geralconhecer

o trabalho profissional do assistente social no Hospital Dr. Helio Angotti –

especializado em neoplasia maligna – enquanto mediador e promotor das políticas

públicas de saúde, capaz de informar os usuários quanto ao acesso e utilização de

seus direitos sociais em Uberaba.

Nessa perspectiva, esta pesquisa busca analisar a importância dos

profissionais do Serviço Social no setor de oncologia, apontando aos usuários seus

direitos e buscando a dignidade pela qualidade de vida. Isso porque acreditamos

que somente quando o usuário com neoplasia for considerado como um todo, nas

suas dimensões biopsicossocial, poderá ser atendido de forma satisfatória,

conseqüentemente, este estudo propõe uma visão de Assistência Social coletiva e

ao mesmo tempo atenda as particularidades de cada paciente com câncer. Definiu-

se como tema desta pesquisa “Os direitos sociais dos usuários com neoplasia

maligna, atendidos no Hospital Dr. Hélio Angotti”.

Os objetivos específicos foram delineados para conhecer a política de saúde

brasileira; identificar as demandas dos pacientes com neoplasia maligna e suas

famílias e analisar o trabalho do assistente social frente as demandas dos usuários

atendidos no Hospital Dr. Helio Angotti.

O interesse pelo tema surgiu após vivência de estágio por parte de um dos

pesquisadores e a aproximação com o trabalho do assistente social no âmbito da

saúde, em especial no atendimento ao paciente com “câncer”, contribuindo para

uma observação mais crítica em relação ao Serviço Social enquanto profissão e sua

participação na efetivação dos direitos sociais e na democratização de informações

relativas ao processo de saúde.

Nessa lida contra o câncer, busca-se o prolongamento da vida desses

usuários, à custa de grandes dores e até mesmo mutilações, sendo que tais

sofrimentos desenvolveram nessas pessoas um verdadeiro terror pela doença. Com

os avanços das ciências sociais e humanas, apontam-se novos caminhos rumo à

qualidade de vida, com dignidade e acolhimento multidisciplinar, a fim de amenizar

os sofrimentos, os anseios, as angústias, procurando a melhoria da vida e a

dignidade do ser humano.

Page 13: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

12

Historicamente, a rápida disseminação e ampliação dos movimentos sociais

fez com que os profissionais da saúde percebessem que, no afã de prolongar a vida,

deveriam trabalhar em equipe, buscando subsídios nos conhecimentos de outros

profissionais como assistentes sociais, psicológicos, terapeutas ocupacionais,

fisioterapeutas, entre outros. Surgiu, então, uma nova conduta médico-assistencial,

com a intenção de estabelecer o equilíbrio entre os extremos da dor e da luta pela

vida, incluindo a assistência social

Na realidade, na luta contra a neoplasia maligna, buscam-se as respostas as

necessidades de uma sobrevivência com dignidade e a orientação de tratamento

vigoroso visando a cura, mas recomenda o tratamento precoce de todos os

sintomas. Nesse sentido, a prevenção, tanto quanto a cura são primordiais na união

entre as políticas sociais de Assistência Social e Saúde, objetivando as

possibilidades de tratamento, mantidos os necessários cuidados a fim de preservar a

sua qualidade de vida.

A contribuição desta pesquisa, está voltada para o enriquecimento da

produção de conhecimento que possa incentivar o desenvolvimento de um trabalho

profissional mais humanizado, sobretudo na área da neoplasia maligna, para o

profissional do Serviço Social.

Além de contribuir para o desenvolvimento de trabalhos futuros de outros

assistentes sociais e divulgar essa área, dentro dos campos de trabalho. Acredita-se

que esta pesquisa também possa colaborar com a instituição, possibilitando que os

profissionais, possam nortear metodologicamente com os conhecimentos produzidos

por meios dos resultados deste estudo.

No que se refere ao Serviço Social, espera-se que este estudo forneça

subsídios teóricos-metodológicos em uma possível intervenção com pacientes de

neoplasia. Desse modo, observar a instrumentalidade do assistente social, no

âmbito da saúde, especialmente ao lidar com pacientes com tumor maligno.

Com relação a sociedade, espera-se que esta pesquisa esclareça sobre as

demandas e direitos que envolvem as pessoas com Neoplasia Maligna, visto que

estas informações, muitas vezes, não chegam à população em geral, ficando restrita

apenas às famílias desses pacientes.

A problematização da pesquisa centrou-se em entender a importância da

atuação do assistente social na efetivação dos direitos sociais dos usuários com

neoplasia maligna atendidos no Hospital Dr. Helio Angotti, considerando sua

Page 14: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

13

participação como mediador entre o usuário, instituição e equipe de saúde e seu

compromisso ético-político profissional perante as diversas expressões da questão

social envolvidas com os usuários e sua família.

A base desse estudo foi voltada a pesquisa qualitativa, considerando a

aproximação com a teoria crítica, ou seja, o marxismo, possibilitando uma análise

concreta da realidade social, assim como a totalidade que permite compreender o

funcionamento do sistema capitalista.

O pesquisador é parte fundamental da pesquisa qualitativa. Ele deve, preliminarmente, despojar-se de preconceitos, predisposições para assumir uma atitude aberta a todas as manifestações que observa, sem adiantar explicações nem conduzir-se pelas aparências imediatas, a fim de alcançar uma compreensão global dos fenômenos. Essa compreensão será alcançada como uma conduta participante que partilhe da cultura, das práticas, das percepções e experiências dos sujeitos da pesquisa, procurando compreender a significação social por eles atribuída ao mundo que os circunda e aos atos que realizam. Essa participação não pode ser mera concessão de um sábio, provisoriamente humilde, para efeitos de pesquisa. Supõe que o conhecimento é uma obra coletiva e que todos os envolvidos na pesquisa podem identificar criticamente seus problemas e suas necessidades, encontrar alternativas e propor estratégias adequadas de ação. (CHIZZOTTI, 2003, p. 82).

Assim, inicialmente realizamos uma revisão de literatura para escolha do

material a ser estudado, explorando livros, revistas e artigos que abordam a história

da saúde em Uberaba, tendo como sustentação o processo histórico da saúde no

país, a participação do Serviço Social na saúde e a sua atuação junto aos pacientes

com neoplasia maligna na busca por seus direitos sociais.

Também utilizamos a pesquisa documental, promovendo um estudo dos

documentos relacionados à instituição Dr. Hélio Angotti em Uberaba (MG), com o

objetivo de conhecer o processo histórico e o funcionamento do hospital. Dentre os

documentos, tivemos acessos aos programas sociais desenvolvido pelo Serviço

Social no referido hospital, bem como as diretrizes para a intervenção do Assistente

Social

A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A única diferença entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. (GIL, 1999).

Page 15: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

14

Inicialmente, desejávamos trabalhar com a pesquisa de campo, porém não foi

possível, devido a dificuldade em conseguir a apreciação pelo Comitê de Ética da

Uniube, em tempo hábil. Esse motivo não possibilitou a realização da pesquisa de

campo envolvendo o Assistente Social e os usuários, limitando-se à observação

participante, por meio da experiência de estágio de um dos pesquisadores no

Hospital Dr. Helio Angotti.

A observação participante, em qual quer nível de profundidade em que for realizada ou em que teoria se baseie, tradicionalmente utiliza um instrumento denominado diário de campo. O diário de campo nada mais é do que um caderninho de notas, em que o investigador, dia por dia, vai anotando o que observa e que não é objeto de nenhuma modalidade de entrevista. Nele devem ser escritas impressões pessoais que vão se modificando com o tempo, resultados de conversas informais, observações de comportamento contraditórios com as falas, manifestações dos interlocutores quanto aos vários pontos investigados, dentre outros aspectos. [...] (MINAYO, 2006, p. 295).

Cada um dos capítulos integram-se aos princípios acima mencionados,

iniciando com o histórico das instituições de saúde, voltando-se para o enfoque da

neoplasia maligna desenvolvida junto ao Hospital Helio Angotti.

No segundo capítulo, analisam-se as políticas públicas brasileiras na área de

saúde, em seu caráter histórico e na perspectiva do Serviço Social. No terceiro

capítulo, a abordagem está voltada para o Serviço Social e os direitos sociais no

Brasil, com enfoque no usuário com Neoplasia Maligna acolhido junto ao Hospital

Hélio Angotti. Nesse contexto, vislumbra-se uma nova atitude frente à terapêutica,

ao trabalho do Serviço Social e principalmente ao usuário, que busca os serviços de

saúde para cura e amenizar seus sofrimentos.

Page 16: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

15

2 HISTÓRICO DE UBERABA E DAS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE

Neste capítulo será apresentado o contexto da pesquisa em uma abordagem

histórica, para se conhecer em que circunstâncias foi fundado o Hospital Dr. Hélio

Angotti em Uberaba. Desse modo, ao conhecer a evolução histórica do referido

hospital, torna-se relevante conhecer uma breve história da saúde no cenário

brasileiro, a fim de compreender a complexidade do sistema de saúde no Brasil.

2.1 BREVE HISTÓRIA DE UBERABA E AS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE

Uberaba está localizada na Microrregião do Triangulo Mineiro no Estado de

Minas Gerais, mais precisamente no Vale do Rio Grande e segundo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é uma cidade pólo microrregião

composta pelos Municípios de Uberaba, Água Comprida, Delta, Campo Florido,

Conquista, Conceição das Alagoas e Veríssimo ocupando uma área física total de

4.540,51 km2. Em sua trajetória histórica, houve grande exploração de ouro, e

diamantes ainda encontra-se no Rio Uberaba e no Ribeirão Santa Gertrudes, o

calcário e frequentemente encontrado na região bem como as e as águas

minerais.O clima na região e definido como: Inverno frio e seco e o verão quente e

úmido.

Uberaba foi formada pela migração geralista1, em busca de terras férteis para

se estabelecerem como agricultores e pecuaristas. Por se tratar de um local formado

por sete colinas e grandes quantidades de mananciais, sendo um município rico em

cursos d’água, o Rio Uberaba margeia a própria cidade, o Rio Araguari limita

Uberaba ao norte, o Rio Grande limita ao sul, o Rio Claro limita os municípios de

Uberaba e Nova Ponte.

1 Geralista era o nome que se dava ao habitante da província brasileira de Minas Gerais nos tempos coloniais e imperiais (do século XVIII ao XIX). Atualmente Minas Gerais é um estado da República Federativa do Brasil, e seu habitante é chamado de mineiro. (GERALISTA, 2009)

Page 17: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

16

Uberaba hoje polariza uma produção de 4 milhões de tonelada de grãos,

sendo que em 2006/2007 foi a maior produtora de soja e milho do Estado de Minas

Gerais. Segundo o último registro do IBGE a cidade e a 10ª maior produtora de leite

do país e a piscicultura, tendo ganhado destaque como novo desenvolvimento no

setor de agronegócio.

Uberaba é o maior centro biotecnologia do país de produção de embriões

bovinos. E o parque agro-industrial é responsável por 30% dos fertilizantes

utilizados no Brasil e primeiro produtor de adubos fosfatados da América Latina. A

indústria de Uberaba é diversificada em vários segmentos, e um comércio forte que

polariza uma vasta região.

A cidade de Uberaba se destaca ainda como uma cidade Universitária, nove

faculdades oferecem mais de 100 cursos de graduação, 50 pós-graduação (Latu

Sensu e Strito Sensu) são elas; UFTM - Universidade Federal do Triangulo Mineiro;

UNIUBE - Universidade de Uberaba; FCETM - Faculdade de Ciências econômica do

Triângulo Mineiro; FAZU - Faculdade Associada de Uberaba; CESUBE - Centro de

ensino Superior de Uberaba; CEFET - Centro Federal de Educação Tecnológica de

Uberaba; UNOPAR - Universidade Norte do Paraná; UNIPAC - Universidade Antônio

Carlos e FACTHUS - Faculdade Talentos Humanos.

Nessa evolução, o histórico das instituições de saúde na cidade de Uberaba

está fundamentado na pesquisa do Dr. José Soares Bilharinho, publicada em 1995.

A partir dela foi possível fazer um levantamento das informações básicas de cada

instituição de saúde no sentido de se compreender como foi o processo de evolução

da área de saúde em Uberaba.

A Santa Casa de Misericórdia foi construída por Frei Eugênio Marai de

Gênova, em 1859. Era o único hospital que Uberaba e região podiam contar durante

o período de 1859 a 1905. Embora o Estado se interessasse pelo bom andamento

dos serviços hospitalares e penitenciários, os recursos repassados à Santa Casa

eram escassos e incertos. Foi exatamente por essa razão que o hospital passou por

diversos momentos de paralisação, visto que os recursos recebidos não cobriam os

altos custos de manutenção. A partir da promulgação da Lei nº 301, de 14 de

dezembro de 1948, pela qual foi criada a subvenção “leito-dia”, é que o governo se

viu legalmente obrigado a contribuir anualmente com uma quantia calculada a partir

da quantidade de leitos ocupados. Com o passar dos anos, o número de leitos

passou a aumentar significativamente, chegando a atingir um número de 25.261

Page 18: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

17

pacientes em 1972.

No contexto da saúde uberabense, o Lar São Vicente de Paulo foi construído

para acolher os indigentes necessitados de cuidados médicos, sua inauguração

ocorreu em outubro de 1902, em abril de 1944 o Lar São Vicente de Paulo passou a

oferecer considerável serviço de socorros urgentes e a constituir novo hospital,

dirigido especificamente ao tratamento clínico e cirúrgico dos desafortunados.

Em 1945, passaram a funcionar, em Uberaba, os serviços de Pronto Socorro

e Assistência Pública, em 1949 foi inaugurado um novo pavilhão, com excelentes

instalações como: sala de cirurgias, de esterilização, farmácia com considerável

estoque e enfermarias. Em 1956, as instalações dos já extintos Serviços Médico-

cirúrgicos do Pavilhão “Vicente Rodrigues da Cunha” passaram então a serem

usadas pela Associação de Combate ao Câncer do Brasil Central até que fossem

concluídas as obras de construção de seu próprio hospital, o qual foi inaugurado

somente em 1959. Desde então, o Lar não dispõe de qualquer serviço médico,

tendo sido sua construção, em grande parte, demolida e parte de suas instalações e

material cirúrgico em caráter de empréstimo à Associação de Combate ao Câncer do

Brasil Central.

Atualmente, o Lar não possui qualquer serviço próprio assistencial, tendo que,

em decorrência da indisponibilidade de tais serviços, transferir os internados que

adoecem ao Hospital das Clínicas ou a casas de saúde particulares.

A Casa de Saúde Nossa Senhora de Lourdes foi fundada no dia 1º de janeiro

de 1905 o primeiro hospital particular da cidade. Em 1912 o hospital sofreu uma

completa reforma, um Gabinete de Bacteriologia, para exames de escarro, urina,

fezes e sangue, além de uma “seção de partos”, equipada com todas as

acomodações exigidas na época e um carro que ficava à disposição dos pacientes.

A Casa de Saúde São Geraldo começou a funcionar em março de 1926, o

hospital realizou inúmeros atendimentos até falecer seu fundador.

Em 11 de setembro de 1932 foi inaugurada a casa de Saúde Santa Rita, os

anos se passaram e em 1935 para substituir o Dr. Luiz de Paulo que havia se

afastado por motivo de enfermidade, o Dr. Dídimo Napoleão assumiu a direção do

Departamento Cirúrgico. Mais tarde, Dr. Dídimo resolve vender sua cota de capital,

abrindo mão de tal sociedade para atender seu antigo desejo de se transferir para o

Rio de Janeiro.

Em janeiro de 1966 passou a funcionar no antigo Sanatório Smith um novo

Page 19: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

18

nosocômico, o Hospital Vera Cruz, o qual foi fundado pelos Drs. Hiroji Okano e

Wandir Ferreira de Souza, em uma de suas dependências passou a funcionar um

Banco de Sangue. O novo hospital funcionou até a inauguração do Hospital Santa

Helena, onde atuou o Dr. Hiroji. Nesta ocasião o Dr. Wandir decidiu instalar seu

próprio instituto de Radiologia

Em 19 de março de 1939, no edifício situado à Praça Rui Barbosa, nº 57, foi

inaugurado pelo Dr. José Humberto Rodrigues da Cunha seu próprio

estabelecimento hospitalar: a Casa de Saúde São José. O hospital fez tanto sucesso

que em setembro do ano seguinte a Casa de Saúde São José já não comportava a

clientela do Dr. José Humberto, tornando, desde então, bastante numerosa,

resultando na emergente ampliação dos serviços, o que ocorreu em novembro de

1941, pela ocasião de aquisição do prédio, onde funcionava o hospital da Casa de

Saúde Santa Rita, na Rua Santo Antônio, negociado por Dr. Durval Furtado Nunes e

Dr. Dídimo Napoleão e seus outros fundadores.

Em 1952 começava a construção de um edifício de majestosas proporções,

anexo à Casa de Saúde. A obra demorou-se pouco menos de um ano e o novo

prédio acabou se transformando no hospital mais sofisticado da cidade, em termos

de cirurgia. A inauguração do novo prédio foi realizada em 19 de julho de 1953.

Por iniciativa do Dr. Sabino de Freitas Junior, inaugurou-se em maio de 1939

a construção do Sanatório Dr. Sabino, na Rua Olegário Maciel. Meses depois,

inaugurou-se a maternidade, e a nova Casa de Saúde oferecia serviços de

maternidade, berçário e cirurgia. O departamento de radiologia recebeu tratamento

especial e aprimoramento progressivo durante vários anos. Dr. Sabino decidiu-se

mudar para São Paulo e colocou à venda as instalações de sua Casa de Saúde.

O Dr. José Soares Bilharinho permaneceu à frente da administração do

hospital durante vinte anos, como cirurgião geral do estabelecimento. Em 1964,

vendeu sua parte aos novos colegas: Drs. Freud Gomes, Joaquim José de Oliveira,

Paulo Miguel de Mesquita, a qual passou, a partir de então, a funcionar como

Hospital São Paulo, onde hoje funciona a Clinica de Olhos.

Hospital São Luiz, inaugurado em 7 de outubro de 1945 na Avenida

Presidente Vargas, nº 22, permaneceu em funcionamento durante quatro anos. Dr.

Henrique Krüger em 02 de agosto de 1949, e colegas proprietários a iniciativa de

inaugurar nesta cidade, o primeiro serviço de tratamento de doenças vasculares

periféricas de todo Brasil Central.

Page 20: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

19

A sede do hospital foi utilizada como pensão de estudantes. Por volta de

1970, foi ali instalada pelo Dr. Joaquim José de Oliveira, o atual “Pronto Socorro de

Fraturas e Acidentados”.

Hospital Clinica Médico-Cirúrgica e Ortopedia de Uberaba foi fundada em

dezembro de 1945, em prédio alugado, situado na esquina da Rua Manoel Borges

com a Major Eustáquio. O hospital permaneceu em atividade por aproximadamente

cinco anos, sendo fechado no início de 1951.

O Hospital da Associação de Beneficência 1º de Dezembro, foi fundada em

1948, data de aniversário da Independência de Portugal. A construção da sede da

Associação foi realizada à Praça Comendador Quintino. No dia 22 de outubro de

1946, o hospital começou a ser construído. Em julho do ano seguinte era assinado

um contrato entre a Sociedade Beneficente e a General Eletric Raios X S.A. para a

compra e potente do aparelho radiológico.

No dia 28 de dezembro de 1947 inaugurava-se, com solenidade memorável, o

Hospital da Beneficência. De início, o hospital dispunha de 27 quartos e

apartamentos, mas com o tempo a ampliação foi inevitável, vários médicos se

fixaram por ali, como o cirurgião Dr. Hélio Angotti, cujo aos seus serviços de clientes

particulares, acrescentou a hospitalização de todos os pacientes cirúrgicos do

Institutos de Aposentadorias e Pensões para Trabalhadores em Transporte e Cargas

(IAPETEC). Dr. Hélio Angotti só deixou o hospital quando foi inaugurado o grande

estabelecimento hospitalar da Associação de Combate ao Câncer do Brasil Central,

onde passou a trabalhar. Em 1981 o hospital foi ampliado novamente com a

construção de novo pavilhão para melhor atender às necessidades da população.

Em outubro de 1953 o Hospital Santa Cecília começou a ser construído a

mando dos Drs. Romes e Rene Cecílio e foi bastante elogiada pela belíssima

arquitetura e por se tratar de um dos projetos mais completos realizados até aquele

momento, sua inauguração foi no dia 15 de fevereiro de 1955.

Atualmente no prédio do extinto Hospital Santa Cecília funciona uma Unidade

de Pronto-Atendimento (UPA – São Benedito).

O Hospital São Domingos nasceu pela iniciativa das irmãs Dominicanas em

janeiro de 1960. Foi construído com 80 leitos para ficar à disposição do público de

que procuram o atendimento particular. A inauguração deste Hospital teve

repercussão inigualável, tanto na área médica quanto no ambiente dos arquitetos.

Renomados médicos e arquitetos de todo o país estiveram em Uberaba para

Page 21: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

20

apreciar a nova e revolucionária obra hospitalar.

A Associação dos Cegos do Triângulo Mineiro teve início em agosto de 1942,

e após cinco anos, mais precisamente no dia 11 de julho de 1948, houve o

lançamento da pedra fundamental da Sociedade, com a denominação de Instituto de

Cegos do Brasil Central (ICBC). Em janeiro de 1962, o Dr. Eduardo Sampaio Velloso

Vianna, propôs ao Dr. Odilon Fernandes, Presidente do Instituto, a soma de esforços

para a consolidação de um Hospital Oftalmológico, junto ao ICBC, em Uberaba. No

dia 27 de agosto de 1967, foi o lançamento da pedra fundamental, do mesmo

edifício que ainda hoje abriga o hospital Oftalmológico, o Departamento Médico do

Instituto de Cegos do Brasil Central.

Hospital do Pênfigo2 fundado em 30 de outubro de 1957 trata-se de um

estabelecimento idealizado pela Dona Aparecida Conceição Ferreira, voltado ao

tratamento do pênfigo foliáceo Sul Americano. Em fevereiro de 1962, foi lançada a

pedra fundamental do hospital do Pênfigo, em uma área considerável, localizada na

esquina da Rua Castro Alves com a João Alfredo, bairro Abadia, sendo que hoje

ainda atende usuários com a doença de pênfigo foliáceo em Uberaba e região.

O Hospital São Paulo surgiu da continuação da Casa de Saúde e

Maternidade São Lucas, em 1944, à Avenida Presidente Vargas, 27. Já o Hospital

São Marcos foi edificado pela iniciativa do Dr. Jair Cristino Silva, à Rua Floriano

Peixoto, nº 18. Sua inauguração ocorreu no dia 21 de novembro de 1965. O

estabelecimento era dividido em Departamento de Pediatria e Seção de

Maternidade. Após alguns anos, o Hospital São Marcos deu lugar a um nosocômio

especializado no diagnóstico e tratamento dos males do coração. Depois da

realização de uma importante reforma e ampliação do prédio, a entidade passou a

se chamar: Hospital São Marcos – “Prevencor”, também conhecido como o Hospital

do Coração..

A Maternidade São Lucas foi fundada pela iniciativa de Dona Dolores de

Souza Afonso, enfermeira e parteira que teve um longo processo evolutivo em sua

vida pessoal e profissional. Em sociedade com o Sr. João Aurélio, dono do prédio

onde foi instalado o hospital Maternidade São Lucas, ambos procederam sua

inauguração no dia 4 de maio de 1969.

2 O pênfigo é doença conhecida como Fogo Selvagem, que causam o aparecimento de bolhas na pele e, algumas vezes, nas mucosas. Eles têm como característica comum a localização das bolhas na camada mais superficial da pele, a epiderme. (CAMPOS, 2003).

Page 22: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

21

A inauguração do Hospital Santa Lucia ocorreu no dia 17 de janeiro de 1970,

evento que reuniu autoridades, imprensa local, colegas, familiares e diversos amigos

dos proprietários. Este estabelecimento mantém seu padrão de exclusividade para o

diagnóstico e tratamento das doenças que afetam os olhos, ouvidos, nariz e

garganta. Atualmente, é um dos estabelecimentos mais procurados, sobretudo,

pelas pessoas que possuem convênios particulares.

Moderno e de grande porte, o Hospital Santa Helena foi construído por

iniciativa do Dr. Roberto Árabe Abdanur, na Avenida Santos Dumont, nº 10, cuja

inauguração se deu no dia 2 de maio de 1972. O Hospital dispunha, no início, de

oitenta leitos, sendo posteriormente, ampliado para cem, tornando-se o maior

hospital particular de Uberaba.

Hospital São Francisco, inaugurado no dia 18 de junho de 1972, pela iniciativa

dos irmãos uberabenses Drs. Jorge Resende Lopes e José Resende Lopes, os

únicos proprietários. Atualmente está em funcionamento neste prédio o Hospital

Universitário da Universidade de Uberaba.

Inaugurada em 13 de abril de 1974, na Avenida Santos Dumont a clínica

Cirurgia Plástica do Dr. Odo Adão.

Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro,

projetado e construído pelo Ministério da Educação e Cultura, o Hospital Escola foi

inaugurado no dia 31 de agosto de 1981, apresentando uma grandiosa estrutura

moderna e bem instalada. Seu atendimento, desde sua inauguração, tem sido os

mais completos de Uberaba, no que se refere aos estabelecimentos públicos.

Atende toda a população de Uberaba que depende da rede de saúde pública e é

local de estudo e aprendizagem dos formandos da Faculdade de Medicina do

Triângulo Mineiro, hoje sob a denominação de Universidade Federal do Triângulo

Mineiro.

Mesmo diante de tão vasta rede de atendimento na área de saúde, Uberaba

contempla apenas um único hospital que atende, especificamente, a neoplasia

maligna, sendo também o único equipado com aparelhos de radioterapia e

quimeoterapia de Uberaba e região. Desse modo, é importante conhecer a história

do referido hospital que é o contexto de estudo das ações do Assistente Social, na

presente pesquisa.

Page 23: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

22

2.2 A NEOPLASIA MALIGNA NO CONTEXTO DO HOSPITAL DR. HÉLIO ANGOTTI

Conforme dados coletados no INCA, no levantamento bibliográfico, no próprio

Hospital Hélio Angotti, as primeiras abordagens acerca do enfrentamento ao Câncer3

no Brasil retomam à década de 1920, de onde eram evidenciadas sobretudo, pela

constatação da doença através do diagnóstico e intervenção através do tratamento.

Neste momento não se falava em prevenção à doença, mesmo porque grande parte

das principais doenças que assolavam a sociedade era tratada através dos órgãos

da saúde pública, pela medicina curativa. Podemos citar o primeiro hospital instalado

em Belo Horizonte, em 1921, para tratamento de neoplasias, o Instituto de Radium.

Sobre a questão do câncer no Brasil, surgiram reivindicações populares

acerca das garantias de acesso à saúde, com ênfase para os trabalhadores, que

contavam somente com previdência e assistência social, exclusivamente voltadas

para a internação e medicação dos pacientes com câncer. A saúde pública ficava

por conta das Santas Casas, que atendiam à população no tratamento de doenças

como chagas e tuberculose.

Em 1941 com a necessidade de aumentar ainda mais as ações acerca do

combate ao câncer foi criado o Serviço Nacional de Câncer – SNC, que implicou em

diferentes frentes ao longo de todo o país, através de movimentos sociais regionais

na busca de assistência para as pessoas com neoplasias.

A segunda instituição destinada ao acompanhamento da neoplasia maligna

foi criada dezessete anos mais tarde com a denominação de Instituto Nacional de

Câncer (INCA, 2009), na Praia Vermelha, Rio de Janeiro, com 400 leitos. Este se

tornou o órgão oficial da campanha contra o Câncer no Brasil. Sua direção esteve

sob o poder do Dr. Mário Kroeff durante 15 anos. O terceiro hospital recebeu o nome

de “Vidal Napoleão Laureano”, fundado na cidade de João Pessoa (AL).

A Associação de Combate ao câncer do Brasil Central (ACCBC) - Hospital

Hélio Angotti, nasceu das próprias ações de combate ao câncer no País. Um dos

3 Câncer ou Cancro são nomes comuns da Neoplasia Maligna, que é a multiplicação descontrolada de células defeituosas, essas células se dividem rapidamente e são muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores, ou seja, acumulo de células cancerosas que podem se espalhar para lugares distantes no corpo, através de um processo chamado metástase. (CANCRO, 2009)

Page 24: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

23

mais compenetrados líderes na luta contra o câncer era o Dr. Turíbio Braz, médico

uberabense, radicado no Rio de Janeiro, que esteve por diversas vezes em Uberaba

proferindo palestras e conferências sobre a doença, incentivando seus colegas e

demais pessoas presentes em suas apresentações, a fundarem a Associação de

Combate ao Câncer do Brasil Central. A ideia teve efetivação imediata e acabou

fazendo com que Uberaba se tornasse a primeira cidade do interior brasileiro a ter

um serviço de tal natureza, consolidando-se numa grande conquista para a cidade e

toda região. Assim, a fundação da ACCBC ocorreu em 1951 por meio de um grupo

de médicos e pessoas valentes que se destacaram em toda a sociedade local pela

excelente iniciativa (BILHARINHO, 1995).

Após a fundação da sociedade, foram assentadas as bases definitivas para

iniciar as atividades da Associação de Combate ao Câncer do Brasil Central. Nessa

ocasião, houve profissionais da área da saúde que ficaram à disposição da ACCBC,

para a realização de cursos de especialização no Serviço Nacional de Câncer

voltados para rádio e radium terapêutica e cirurgia do câncer.

Dentre as finalidades da Associação, estão: a difusão de conhecimentos

gerais relacionados ao câncer e o seu combate; a vulgarização de sua profilaxia; a

promoção do diagnóstico precoce e tratamento; a realização de campanha educativa

da população, para o combate preventivo ao mal, sobretudo por intermédio da

imprensa, rádio, folhetos e exposição de gráficos e gravuras.

A elaboração dos estatutos foi feita a partir das normas do Serviço Nacional

de Combate ao Câncer. Deste foi utilizada a orientação técnica e social. Logo após a

fundação, foi organizada a Legião Feminina de Combate ao Câncer, atualmente

extinta.

O Ministro da Educação, Dr. Simões Filho, garantiu todo o seu apoio à

iniciativa Uberabense. O Deputado Mário Palmério, que se destacou na organização

ACCBC, conseguiu aprovação de uma subvenção anual de duzentos mil cruzeiros.

As outras contribuições estadual e municipal foram requeridas por autoridades de

prestígio em nosso meio político e social.

Foi decidido que a Associação possuiria três categorias de sócios:

contribuintes; efetivos, pessoas que desempenhassem profissões compatíveis com

os desígnios da instituição e beneméritos, que são pessoas que fazem donativos

valiosos para o patrimônio da sociedade.

A toda a população do Triângulo Mineiro solicitou-se que se inscrevesse na

Page 25: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

24

ACCBC. Aos uberabenses foi recomendado que dessem o exemplo, para mostrar a

razão pela qual Uberaba era a pioneira das cidades do interior a disponibilizar um

centro de profilaxia, diagnóstico e tratamento do câncer (BILHARINHO, 1995).

A contribuição e apoio da imprensa mereceram maior destaque. Os jornais

esforçaram-se em divulgar, consecutivamente, tudo quando pudesse corresponder

ao sucesso do complexo e proeminente empreendimento. Várias notas de

agradecimentos a doações, apelos e incentivos à iniciativa privada foram publicadas.

Além disso, médicos renomados de todo o País vieram a Uberaba para acompanhar

as solenidades da primeira posse da diretoria e para assistir palestras proferidas

pelo Dr. Kroeff.

Em pouco tempo, a Associação já se projetava no cenário médico nacional

como uma das mais competentes e credenciadas no combate à ardilosa moléstia.

Prova cabal do alto conceito de que gozava, presente no acordo celebrado entre o

Ministério da Saúde e o Estado de Minas Gerais, para disposição de verbas

destinadas pela administração federal aos Estados, no combate ao câncer. Por tal

convênio destinou-se à ACCBC a importância de duzentos mil cruzeiros, que deveria

ser aplicada na aquisição de material necessária para promover a assistência dos

cancerosos indigentes (BILHARINHO, 1995).

No dia 22 de janeiro de 1954, a construção do nosocômio foi iniciada, à Praça

Afonso Pena, nº 8 com a denominação de Hospital “Mário Palmério”.

Em fevereiro do mesmo ano, o Dr. Mário Kroeff foi substituído pelo Prof.

Antônio Prudente que, em São Paulo, conduzia a campanha contra o câncer.

Poucos dias após ser empossado, o novo Diretor do Serviço Nacional de Câncer

recebia o Deputado Mário Palmério e o Dr. Jorge Furtado. Já nessa primeira reunião

foi assegurado aos visitantes seu apoio integral à Associação.

Hoje com 58 anos de atuação na assistência de media e alta complexidade,

sempre pautando no preceito a busca permanente de fortalecimento da instituição,

sem perder o foco de atendimento ao paciente ontológico carente, é chamado de

"Centro de Excelência em Prevenção, Diagnóstico e Tratamento de Câncer".

O Hospital Dr. Hélio Angotti possui certificado de entidade de fins filantrópicos

concedido pelo Conselho Nacional de Assistência Social, para prestar atendimento a

pessoas carentes, prestando serviços públicos através do Sistema Único de Saúde

(SUS), convênios, particulares e tem caráter filantrópico.

Conforme dados coletados no próprio hospital, durante o estágio, constatou-

Page 26: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

25

se que este possui 95 leitos instalados e 63 em fase de construção, tendo 12.000 m²

de área construída; atendendo em media 280 pessoas por dia, entre internos e

ambulatoriais. Com 259 colaboradores, 78 médicos, área especifica no 3º andar

destinada à quimioterapia ambulatorial de curta e média duração, contando com 23

poltronas e 13 leitos em uma instalação moderna e confortável.

Pela observação participante, a pesquisadora percebeu que o hospital

destaca-se no grau de humanização, no que diz respeito aos usuários e seus

acompanhantes, disponibilizando leito e café da manhã, para que os familiares ou

responsáveis possam passar mais tempo ao lado dos pacientes, transmitindo

segurança e apoio familiar.

Nesse contexto, o hospital conta ainda com os voluntários anônimos que

ajudam na recuperação dos pacientes, com doações de lanches, descontraindo-os

com músicas, jogos lúdicos como forma de amenizar o sofrimento dos pacientes.

Conta também com a Associação de Voluntários de Combate ao Câncer de Uberaba

(AVCCU), atualmente uma entidade sem fins lucrativos, que ajuda na manutenção

do hospital.

O hospital é credenciado com um total de 48 leitos para atendimento ao

sistema único de saúde (SUS), possuindo ainda um laboratório de:

§ análise clínica patológica e citologia;

§ departamento de radiologia como acelerador linear;

§ sistema de planejamento computadorizado para radioterapia

tridimensional conformacionada;

§ braquiterapia de alta taxa de dose (HDR) e simulador de radioterapia de

última geração;

§ medicina nuclear;

§ tomografia computadorizada com extereotaxia;

§ ultra sonografia;

§ cintilografia;

§ densitometria óssea;

§ mamografia;

§ teste ergométrico;

§ gama câmara;

§ ambulatório;

Page 27: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

26

§ moderno centro cirúrgico;

§ UTI com 8 leitos bem equipados e um andar todo construído para a

quimioterapia ambulatorial de curta e média duração, contando ainda com

um excelente corpo clínico médico.

O Hospital atende pelo SUS toda população do município de Uberaba e

algumas cidades de Minas Gerais cujos usuários são acometidos de Neoplasia

Maligna. E particular, qualquer patologia: Pacientes Oncológicos (suspeitos ou com

diagnóstico de câncer de qualquer localidade).

Para internação, o usuário deve apresentar, além da documentação pessoal,

o encaminhamento médico, tanto para exames como para tratamentos, sendo a data

marcada antecipadamente. Importante ressaltar que há leitos para acolher as

urgências e emergências clínicas na área da neoplasia. Após a internação, os

usuários contam com atendimento ambulatorial e setor de internação, radioterapia,

medicina nuclear todos os dias, sendo que o Serviço Social atende apenas de

segunda a sexta-feira das 07:00 às 18:00 horas.

Os recursos para manutenção e despesas como salários, encargos,

manutenção predial, alimentação, medicamentos, são oriundos dos serviços

prestados ao Sistema Único de Saúde (SUS), de doações da sociedade, Particular e

Convênios

Page 28: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

27

3 POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS NA ÁREA DE SAÚDE

3.1 A SAÚDE PÚBLICA DO BRASIL E EM UBERABA

Não é preciso fazer uma pesquisa aprofundada para saber que a Saúde

Pública no Brasil não está suficientemente amparada pelo governo. O número de

postos de atendimento, em diversas regiões, apresenta-se insuficiente e muitos

apresentam carências de equipamentos e recursos. São inúmeras as reportagens

veiculadas pela mídia que denunciam tal precariedade.

Tal fato pode está intrinsecamente relacionado à problemática do

financiamento da saúde pública, a qual apresenta uma série de questões que se

relacionam desde a estrutura tributária dos países, que determina a parcela de

recursos à disposição do Estado, para que este realize a implementação das

políticas públicas, até a definição da parcela de recursos que deve ser aplicada no

setor e qual será o formato de financiamento determinado pelo pacto federativo e

pelos arranjos institucionais (BENEVIDES; ABREU, 2008).

Neste sentido, a parcela de recursos destinada à saúde, bem como a relação

entre o gasto público e o privado determina, simultaneamente, o que deve ser

priorizado e quais as necessidades de saúde das sociedades e o modo de atuação

do Estado em relação ao mercado. Além disso, todo esse seguimento resulta

também de um processo político, no qual as diversas áreas e instâncias

governamentais estabelecem entre si uma competição por recursos limitados, o que

acaba gerando certa instabilidade no fluxo de recursos para todos os setores. A

necessidade de regular tal competição intragovernamental já foi reconhecida e vem

sendo realizada sob a forma de vinculações orçamentárias, ou seja, define-se

legalmente que um percentual da receita governamental ou um imposto,

contribuição etc, irá compor o orçamento daquela área. Desta forma, a decisão de

quanto deverá gastar é definida pela proporção de receita orçamentária destinada

ao setor (BENEVIDES; ABREU, 2008).

No entanto, de acordo com estudos realizados sobre a Saúde Pública no

Brasil é possível constatar um considerável aumento e diversificação de muitas

Page 29: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

28

atividades no setor de saúde, sobretudo as que envolvem alta complexidade de

serviços. Nesta perspectiva, as cidades de porte médio conseguem, de um modo

geral, alcançar um crescimento bastante significativo no setor em questão, o que

acaba promovendo o surgimento de novas organizações espaciais, fortalecendo

ainda mais as teorias das hierarquias urbanas. Além da ampliação nos serviços de

saúde, pode-se constatar também o aumento no corpo técnico, inclusive no que se

refere ao desenvolvimento de novos equipamentos com funções bastante

complexas (SILVA; RAMIRES, 2008).

É relevante destacar também que a presença de hospitais universitários

vinculados às Instituições de Ensino Superior, que promovem múltiplas atividades de

ensino, pesquisa e atendimento hospitalar, tem se configurado como decisivo fator

na centralização de serviços de saúde, bem como em sua função de polarizador.

Outra questão que merece atenção é o crescimento dos estabelecimentos privados,

que pode ser resultado da precariedade dos serviços públicos de saúde, elevando a

valorização do setor e apresentando maior número de usuários, sobretudo os que

são associados a planos de saúde, em detrimento dos serviços públicos

Contudo, embora seja importante valorizar a importância conquistada pelo

setor privado, a rede pública de saúde ainda possui uma demanda de atendimento

significativa de pacientes, chegando inclusive a ultrapassar a capacidade de suporte

do setor, em função dos reduzidos recursos financeiros que continuam recebendo.

Assim como a maioria dos serviços de saúde no Brasil, os serviços de saúde

pública em Uberaba, Minas Gerais, ainda contam com modelos gerenciais

verticalizados e centralizadores, na medida em que são integrados aos modelos de

gestão plena do SUS, acabam sofrendo avaliações, preconizando uma gerência

altamente participativa. No entanto, deve-se considerar o fato de que não há estudos

sistematizados sobre o desenvolvimento da gestão de tais serviços, de modo que

contemplem a implicação dos trabalhadores nas propostas de reorganização dos

serviços de saúde e a respectiva gestão participativa recomendada pelo SUS

(GOULART; FREITAS, 2008).

A cidade de Uberaba se destaca como um respeitável centro urbano, com

uma rede de transporte e comunicação que possibilita maior possibilidade de

integração com outros espaços regionais e nacionais o que aumenta ainda mais seu

papel polarizador nos serviços de saúde. Neste sentido, os estudos sobre a saúde

pública ganham maior relevância na medida em que passam a caracterizar de modo

Page 30: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

29

sistemático os problemas que envolvem o setor, uma vez que podem servir como

subsídios ao poder público municipal no sentido de estabelecer políticas de saúde

que sejam realmente condizentes com as necessidades da população.

Dessa forma, cidades como Uberlândia e Uberaba possuem destaque como

os principais centros prestadores de serviços de saúde, sendo por isso,

consideradas como polarizadoras, uma vez que atendem tanto as regiões do

Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, quanto as outras localidades de regiões mais

distantes (SILVA; RAMIRES, 2008).

Em 1986, durante a VIII Conferência Nacional de Saúde realizada no país,

organizou-se o projeto da Reforma Sanitária Brasileira, estabelecido na nova

Constituição Nacional de 1988. Juntamente com este projeto o Sistema Único de

Saúde (SUS), órgão responsabilizado pela realização de atividades de saúde

pública no Brasil, também foi instituído na nova Constituição Brasileira, cabendo a

ele seguir os princípios de universalidade, equidade, integralidade, regionalização,

hierarquização, descentralização, participação social e participação complementar

do setor privado, normatizados pelas Leis 8.080 e 8.142, editadas em 1990

(GOULART; FREITAS, 2008).

Vale destacar um estudo realizado pelos autores Goulart e Freitas (2008)

acerca de dois ambulatórios municipais de especialidades, em Uberaba. O qual

mostrou alguns resultados sobre o SUS, referentes as implicações dos

trabalhadores em saúde, apontando para a importância de se compreender a

interação entre o modelo gerencial e a reorganização de serviços preconizados pelo

sistema SUS. O estudo mostrou que embora exista, por parte do governo, a

intenção de tornar os serviços de saúde um exercício da cidadania, ao buscar a

ampliação da democracia, visa humanizar as relações entre os profissionais e

pacientes. Tudo isso estimula inclusive a criação de vínculos entre trabalhadores e

comunidade, não é o que vem acontecendo em boa parte dos serviços de saúde

pública.

Segundo um estudo desenvolvido por Silva e Ramires (2008) desde meados

da década de 1980 que a cidade de Uberaba passou a ser referência no setor de

saúde pela disposição de hospitais e serviços agregados ao atendimento médico-

hospitalar. Destacando-se o Hospital Universitário, inaugurado em 1982, o qual está

vinculado à Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM, com enorme

importância na área da saúde.

Page 31: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

30

Já em relação a outros estabelecimentos de saúde, pode-se destacar:

[...] os que atendem com internação (13 estabelecimentos), sem internação (93 estabelecimentos) e com atendimento ambulatorial (106 estabelecimentos). Levando em consideração a população e o número de estabelecimentos de saúde presentes no município, pode-se afirmar que Uberaba possui uma boa rede de infra-estrutura de saúde, que consegue atender sua população local, bem como uma parcela significativa de usuários que residem nas regiões de sua influência. De acordo com informações Sistema Hospitalar do SUS – SIH/SUS (2003), a grande maioria dos leitos no município de Uberaba está distribuída pelos estabelecimentos de saúde privados, os quais representam 92% do total, e os 8% restantes estão presentes nos hospitais universitários, sendo que 242 deles são oferecidos pelo Hospital Escola da UFTM. (SILVA; RAMIRES, 2008, p. 4).

De acordo com os dados acima apresentados é possível notar que Uberaba

possui uma enorme rede de estabelecimentos privados, sendo que os demais são

oferecidos graças aos hospitais universitários, não apresentando, portanto a

participação de hospitais públicos.

Ainda de acordo com a pesquisa de Silva e Ramires (2008), o município de

Uberaba apresenta uma relevante infraestrutura de saúde na rede pública, que

conta com 26 Centros de saúde, 3 Policlínicas, 9 Ambulatórios de Unidade

Hospitalar Geral, 2 Pronto-Socorros Especializados, 42 Unidades de Saúde da

Família, dentre outros, chegando ao total de 119 unidades de saúde distintas pelo

tipo de serviço oferecido. É importante ressaltar ainda que, desse total de 119

Unidades de Saúde, 86 pertencem ao setor municipal, sendo 20 federais e 3

estaduais. Com todo esse aparato, o município conta apenas com um único hospital

para atender um amplo contingente de pessoas com neoplasia maligna, quando o

certo seria equipar e capacitar outros hospitais e unidades de saúde para atender

esse tipo de doença complexa de ser tratada.

Uberaba conta com um famoso Hospital Universitário na rede pública de

serviços de saúde – o Hospital Escola da Universidade Federal do Triângulo

(UFTM), que além de oferecer centros de acompanhamento, apoio e reabilitação e

possuir 41 Equipes de Saúde da Família, possui uma complexa rede de serviços de

saúde destinada ao atendimento de toda população do município (SILVA;

RAMIRES, 2008). Além disso, a cidade possui o Hospital Universitário que pertence

á Universidade de Uberaba, mas que não trata a neoplasia maligna.

Diante disso, pode-se observar que Uberaba, embora possua uma

considerável infra-estrutura, formada prevalentemente de estabelecimentos

Page 32: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

31

privados, é ainda grande a necessidade de maior participação do governo no setor

da saúde pública, já que a maioria da população não possui condições financeiras

para desfrutar de um plano de saúde, havendo aqueles que sequer tem trabalho,

necessitando, portanto, dos serviços oferecidos pela rede pública de saúde da

cidade.

3.2 HISTÓRICO DAS POLÍTICAS DE SAÚDE

Em um estudo realizado por Vasconcelos (2003) revelou que a falta de uma

análise sobre as políticas sociais, por parte dos assistentes sociais, está presente

em vários dos depoimentos coletados pela autora sobre saúde, bem como a falta de

conhecimento da Constituição Federal, no Código de Ética, da Lei Orgânica do

Município, de leituras sistemáticas relacionadas ao assunto.

Isto demonstra que quase todos os assistentes sociais, embora não haja uma

análise consistente, não referendam a política de saúde atual, apresentando críticas

e/ou apontando questões bastante diferenciadas. Somente 8% dos assistentes

sociais não quiseram se manifestar sobre esta questão, de acordo com a autora.

Para grande parte dos profissionais entrevistados no estudo de Vasconcelos

(2003), a política de saúde parece estar significativamente desvinculada dos

princípios do SUS. Neste sentido, ao considerar positiva a política do SUS, os

entrevistados apontam questões divergentes como a má administração, a não

avaliação das práticas de saúde e o desconhecimento da proposta, entre outras,

como possíveis causas da falta de qualidade da política de saúde.

Nessa perspectiva, torna-se necessário o estudo dos aspectos históricos das

Políticas Públicas de Saúde para que seja possível a compreensão de alguns fatos

relacionados ao processo de desenvolvimento das referidas Políticas.

Durante o período que vai de 1897 até 1930 os temas relacionados à saúde,

como funções públicas, eram abordados no Ministério da Justiça e Negócios

Interiores, em especial, na Diretoria Geral de Saúde Pública. A assistência à saúde

oferecida pelo Estado até a década de 1930 estava restrita às ações de saneamento

e combate às endemias. Também faz parte dessa época, o aparecimento e

desenvolvimento do famoso sanitarismo-campanhista, o qual esteve bastante

Page 33: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

32

presente até o final da década de 1940. Esta política buscava fornecer apoio ao

modelo econômico agrário-exportador, visando assegurar condições de saúde para

os trabalhadores empregados na produção e na exportação. As campanhas tinham

como objetivo combater endemias como a peste, a cólera, a varíola, dentre outras.

Gradualmente, o Estado vai definindo sua intervenção na área da saúde e, após a

segunda guerra mundial, passa a admitir obrigações financeiras relacionadas à

assistência à saúde da população (PAULUS JUNIOR; CORDONI JUNIOR, 2006).

A saúde pública passou a ser uma preocupação e uma prioridade política do

governo brasileiro na década de 1920. Com a criação de um programa federal de

profilaxia rural, que contava com o apoio da Fundação Rockfeller, houve a instalação

de dezenas de postos sanitários em áreas não urbanas do país. A agenda do

saneamento rural possuía inscrição em um projeto político de construção da

nacionalidade e do Estado nacional coordenado por eminentes sanitaristas da

época, que eram contra a ideologia do determinismo climático e genético como

forma de explicação para o subdesenvolvimento brasileiro. Tal agenda expressava

uma nítida distinção entre as ações vinculadas à saúde pública e a proteção médico-

assistencial individual, e era vigorada por uma recusa programática repleta de

profissionais ligados à saúde pública de congregarem ações curativas ao setor da

saúde pública (GERSCHMAN, 2006).

O Sistema de previdência Social no Brasil surgiu em 1923 com o Decreto

Legislativo que ficou famoso como a Lei Elói Chaves, com a criação das Caixas de

Aposentadoria e Pensão (CAPs). Tais caixas eram organizadas pelas empresas e

proporcionavam assistência médica, medicamentos, aposentadorias e pensões. No

período de 1923 a 1933 foram criadas 183 Caixas de Aposentadorias e Pensão. A

partir de 1933, começaram a surgir os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAP),

entidades de grande porte compreendendo os trabalhadores agrupados por ramos

de atividades. Estes institutos são: o IAPTEC (para trabalhadores em transporte e

cargas), IAPC (para os comerciários), IAPI (industriários), IAPB (bancários), IAPM

(marítimos e portuários) e IPASE (servidores públicos).

O primeiro modelo da assistência médica não era unânime e baseava-se nos

vínculos trabalhistas. Possuíam direito aos benefícios apenas os trabalhadores que

podiam contribuir para a Previdência, isto é, aqueles que eram registrados e por isso

tinham “carteira assinada”. Nesse caso, grande parte da população cuja carteira de

trabalho não esteve registrada não podia contar com o auxilio da previdência quanto

Page 34: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

33

se apresentavam doentes, buscando muitas vezes a ajuda filantrópica.

O Ministério da Educação e Saúde foi criado em 1930. Todas as atenções

predominantes dos governos até este momento, estavam direcionadas às ações de

natureza coletiva. Foi a partir desta década, que o enfoque governamental passa a

se voltar para a assistência médica individual.

Durante a delegação do General Eurico Gaspar Dutra, em 1948, o governo

federal estabelece o Plano SALTE (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia). E

em 1953, ainda sob a influência direta do Plano, foi fundado o Ministério da Saúde

(MS) que se destina às atividades de modo coletivo, como as campanhas e a

vigilância sanitária. O crescimento e o desenvolvimento da época ocorrem

simultaneamente ao lado da assistência médica no domínio das instituições

previdenciárias. Já se podia perceber a necessidade de assegurar a manutenção e

reprodução da força de trabalho cada vez mais civilizado e fabril, período iniciado

em 1930. Surge, então, o desenvolvimento da assistência médica no centro das

instituições previdenciárias como instrumento para minimizar conflitos sociais e

controlar a força de trabalho (PAULUS JUNIOR; CORDONI JUNIOR, 2006).

Vale destacar que além da ampliação profissional, de modo geral, o “novo”

conceito de Saúde, elaborado em 1948, destacando os aspectos biopsicossociais,

definiu a requisição de outros profissionais para atuar na área da saúde, entre eles o

assistente social. Mas só em 1999 houve a formalização desta necessidade.

Conforme destaca-se na Resolução CFESS n. 383/99:

Considerando a aprovação da presente Resolução pelo Plenário do Conselho Federal de Serviço Social, em reunião ordinária realizada em 27e 28 de março de 1999; Resolve: Art. 1º - Caracterizar o Assistente Social como profissional de saúde. Art. 2º - O Assistente Social atua no âmbito das políticas sociais e, nesta medida, não é um profissional exclusivamente da área da saúde, podendo estar inserido em outras áreas, dependendo do local onde atua e da natureza de suas funções.

Tal conceito se formou a partir de organismos internacionais, relacionados ao

agravamento das condições de saúde da população, sobretudo dos países

periféricos, e teve vários desdobramentos. Um deles foi o enfoque no trabalho em

equipe multidisciplinar – profissionais de diferentes áreas integrados no atendimento

da área de saúde – foi vista como solução inovadora, que possibilitou a redução da

falta de profissionais com a utilização de pessoal auxiliar em diferentes níveis, bem

como a ampliação da abordagem em Saúde, com a inclusão de conteúdos com

Page 35: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

34

enfoque na prevenção e educação. Dessa forma, promoveu a criação de programas

prioritários, com segmentos da população, em razão da inviabilidade de universalizar

a atenção médica e social (BRAVO; MATTOS, 2004).

Na década em que se institui o Governo Militar, as diversas instituições

previdenciárias e a variedade de tratamentos aos usuários incentivaram o governo à

padronização dos métodos com a promulgação da Lei Orgânica da Previdência

Social, em agosto de 1960. Os direitos e deveres acabaram sendo semelhantes

conforme os dispositivos da lei, o que viria contribuir futuramente, para a fusão dos

IAPs.

Nessa mesma década, o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), em

1966, surgiu da fusão dos IAPs, uniformizando e centralizando a previdência social.

Sendo assim, a previdência social se destacou como principal órgão de

financiamento dos serviços de saúde. Houve, então, uma concentração das políticas

de saúde com expansão da cobertura assistencial.

De acordo com tal tendência, decorrente a partir da década de 1950, na

década de 1970, a política de saúde apresentava-se completamente polarizada

entre as ações de natureza coletiva, a exemplo dos programas contra alguns

agravos, vacinação, vigilância sanitária e epidemiológica, na responsabilidade do

Ministério da Saúde e, a assistência médica individual concentrada no INPS, órgão

do Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), estabelecido em 1974. A

assistência médica individualizada passou a se estabelecer como dominante e a

política acabou privilegiando a privatização dos serviços e incentivou o

desenvolvimento das atividades hospitalares. O acelerado processo de

industrialização passou a se destacar a partir do mandato do Presidente Jucelino

Kubitscheck de Oliveira fortalecendo a economia dos centros urbanos e gerando

força de trabalho atendida pelo sistema de saúde. Este fato acentua a necessidade

do dever do Estado de atuar na saúde do trabalhador, conservando e restituindo sua

capacidade produtiva. A expansão da medicina hospitalar é notada em 1970 pela

internação de 2,9% da população brasileira, passando para 9,7% em 1980 (PAULUS

JUNIOR; CORDONI JUNIOR, 2006).

Em 1972 passou a iniciar o aumento da abrangência previdenciária. As

empregadas domésticas e os trabalhadores rurais passaram a ser favorecidos pela

cobertura de assistência médica no sistema de saúde e, em 1973 foram

incorporados os trabalhadores autônomos.

Page 36: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

35

Ao lado do desenvolvimento do sistema de saúde anteriormente descrito,

inicia-se um movimento intelectual e político de crítica ao referido sistema. Em 1976,

é criado o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES) – que configura o início

da mobilização social que se nomeou como Movimento da Reforma Sanitária

Brasileira – MRSB. O Movimento surgiu nos Departamentos de Medicina Preventiva

e no Curso de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de

São Paulo (USP) e velozmente se expandiu dentre os profissionais de saúde, tendo

como fundamental meio de difusão de ideias a revista do CEBES, Saúde em

Debate. O MRSB incorporava-se na luta contra a ditadura militar e preconizava um

novo modelo assistencial que enfatizava a importância da assistência primária de

saúde.

Em 1974 surge o Plano de Pronta Ação (PPA) e o Fundo de Apoio ao

Desenvolvimento Social (FAZ) para encarar a crescente demanda curativa. O FAS,

fundo de recursos públicos, emprestava quantias a juros totalmente subsidiados.

Estes recursos eram empregados predominantemente para a construção de

hospitais privados, os quais asseguravam o retorno do capital por meio do

credenciamento junto ao INPS.

O PPA foi um conjunto de ações que rompeu com a burocratização do

atendimento de urgência ao segurado, permitindo que toda população tivesse

acesso ao atendimento ambulatorial nos casos de urgência. O PPA é uma

importante referência por ter estabelecido o marco inicial da universalização do

atendimento. Na época, importantes investimentos foram empregados privilegiando

a assistência médica em unidades de saúde extinguindo assim as ações

preventivas.

Em 1975 houve a primeira tentativa de regulamentação do papel dos

municípios na política de saúde, com a Lei 6.229 de 17 de julho de 1975, a qual

abordava a organização do Sistema Nacional de Saúde, contendo, em seu artigo

primeiro as competências do município: a manutenção dos serviços de saúde, em

especial os de Pronto Socorro; manter a vigilância epidemiológica; promover

articulação entre os planos locais de saúde com os estaduais e federais; promover a

integração de seus serviços no sistema nacional de saúde. Tal Lei visa ampliar a

cobertura. Grande parte das prefeituras teve que investir importantes recursos em

atendimentos especializados, sobretudo os de pronto socorro dando pouca

prioridade aos atendimentos primários. Pode-se observar que, sob a Lei 6.229/75, a

Page 37: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

36

municipalização não obteve avanço.

Um dos programas de especial importância para destacar a necessidade de

Atenção Primária de Saúde (APS) foi o Programa de Interiorização das Ações de

Saúde e Saneamento para o Nordeste (PIASS), implementado em 1976, o qual

possuía como objetivo primordial levar a saúde pública às regiões carentes, de

acordo com uma nova concepção do pensamento sanitário baseando-se em

sistemas de atenção primária à saúde com o envolvimento da comunidade local.

Esta ideia de APS foi, primeiramente, desenvolvida somente para atender a região

do Nordeste, mas com o passar dos anos, acabou abrangendo todas as regiões do

país, tornando-se um programa de abrangência nacional.

Em 1977, entra em cena, por iniciativa do governo, outra grande criação, o

Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS), por meio da Lei

6.439/77. As instituições que compunham o SINPAS eram as seguintes: Instituto

Nacional de Previdência Social - INPS; Instituto Nacional de Assistência Médica da

Previdência Social - INAMPS; Fundação Legião Brasileira de Assistência - LBA;

Fundação Nacional do Bem Estar do Menor - FUNABEM; Empresa de

Processamento de Dados da Previdência Social - ATAPREV; Instituto de

Administração Financeira da Previdência e Assistência Social - IAPAS; e a Central

de Medicamentos – CEME.

Embora a Lei 6.229/75 busca a regulamentação do Sistema Nacional de

Saúde, na realidade não havia um sistema propriamente dito. As ações de saúde

eram desenvolvidas de forma bastante fragmentada e sem qualquer integração. A

saúde coletiva era avaliada como um direito de todos e a assistência médica

hospitalar individualizada como direito somente dos trabalhadores que contribuíam

com o Sistema Nacional de Previdência Social. Naquela época, o Ministério da

Saúde era responsável, ao menos teoricamente, pela formulação das políticas e o

desenvolvimento das ações coletivas; ao Ministério da Previdência e Assistência

Social cabia promover a realização da assistência médica por meio do INAMPS -

Instituto Nacional de Assistência Médica e de Previdência Social; o Ministério da

Educação tinha a responsabilidade de garantir a formação de recursos humanos

para saúde e a prestação de serviços nos hospitais universitários; ao Ministério do

Interior cabia desenvolver ações de saneamento e ao Ministério do Trabalho cuidar

da higiene e segurança do trabalho (PAULUS JUNIOR; CORDONI JUNIOR, 2006).

Cabe mencionar que, nesta época, o Estado tornou-se o único coordenador

Page 38: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

37

dos serviços de assistência médica, aposentadoria e pensões voltados às famílias

dos trabalhadores, a partir do desconto de 8% do salário mensal. Paralelamente,

aumentou o número de segurados e das atividades médicas subordinadas ao

Estado: em 1960 elas chegavam a quase 50% do total de consultas e

hospitalizações; 15 anos mais tarde, alcançavam mais de 90% (BERTOLLI FILHO,

2008).

Nessa nova estrutura sugerida pelo SINPAS a assistência médica ainda

permanecia sendo prestada, sobretudo por meio de contrato com setor privado com

os recursos provenientes da previdência. O conjunto de políticas públicas da década

de 1970 acabou levando a um modelo médico–assistencial totalmente privatista

assentado no Estado como maior financiador e no setor privado nacional como o

grande prestador, apresentando o setor privado internacional como o mais

importante produtor de insumos (PAULUS JUNIOR; CORDONI JUNIOR, 2006).

Em 1977 o Ministério da Saúde já podia reconhecer que o papel essencial da

esfera municipal era o de estruturar, tornando viável o funcionamento de uma rede

de serviços básicos nos princípios da atenção primária, no entanto, à época,

nenhuma ação concreta foi feita por ele neste sentido. Realizado em Campinas, em

maio de 1978, o primeiro encontro municipal do setor saúde, foi concluído pela

atenção primária à saúde como fator primordial dos municípios passando os casos

mais complexos (atendimentos secundários e terciários) para a União e para os

Estados.

O período que corresponde à redemocratização inicia-se na década de 1980,

mais precisamente, em março de 1985, após a luta pelas eleições diretas, as quais

mobilizaram todo o país com uma grande frente composta por todos os opositores

ao regime militar, conquistando a instauração de um governo civil, eleito de maneira

indireta em janeiro, tendo como Presidente da República Tancredo Neves e, como

Vice-Presidente, José Sarney. Com o falecimento de Tancredo, em 21 de abril,

Sarney passa a assumir o cargo de Presidente da República e, em 1986, é instalada

uma Assembleia Nacional Constituinte, na qual se aproveitou os próprios

congressistas eleitos.

Com o processo de redemocratização, a área de saúde passou a ser

influenciada pelo fortalecimento do movimento dos profissionais do setor, e da

crescente demanda da questão da saúde na sociedade como um todo. O cenário

atual representa uma situação sui generis, na qual o Movimento Sanitário em suas

Page 39: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

38

diferentes vertentes acumulou conquistas, forçando a realização de reformas

administrativas relevantes. Contudo, este processo se esbarra nas dificuldades em

levar à prática a descentralização e a unificação do Sistema de Saúde,

necessitando-se ainda de um apoio mais efetivo e constante, tanto dos profissionais

da área como da população organizada para fazer valer a proposta de Reforma

Sanitária (TEIXEIRA, 2006).

Com a redemocratização do país, o “controle social participativo” foi

estabelecido como uma política e como componente da institucionalização do

Estado, constituindo-se em um fenômeno ainda recente no processo histórico

brasileiro. A década de 1980, portanto, também se configura como o referencial

histórico de sua institucionalização, tornando real o princípio de participação da

comunidade na deliberação, gestão e fiscalização das políticas públicas (BRASIL,

2006).

Durante a VII Conferência Nacional de Saúde, que ocorreu em maio de 1980,

surgiram as idéias que iriam ganhar espaço em um programa racionalizador do

INAMPS chamado de PREVSAÚDE com a finalidade de generalizar o desempenho

adquirido com o Programa PIASS (Programa de Interiorização das Ações de Saúde

e Saneamento para o Nordeste) direcionado à assistência primária. Tal Programa

não saiu do papel em decorrência da crise econômica da Previdência, iniciada em

1981. A baixa prioridade dada às ações de saneamento e também à medicina

preventiva promovia o aparecimento de doenças que poderiam ser facilmente

solucionadas com medidas preventivas e APS. O crescente aparato de recursos

para a medicina curativa era ameaçador para o sistema previdenciário. Estimulava-

se a adoção de uma consciência de que era necessário repensar a política de saúde

(PAULUS JUNIOR; CORDONI JUNIOR, 2006).

As ideias disseminadas pelo MRSB passavam a repercutir no interior do

governo. Em 1982 nasce o Plano de Reorientação da Assistência à Saúde no

âmbito da Previdência Social, realizado pelo Conselho Consultivo de Administração

da Saúde Previdenciária, mais conhecido como Plano do CONASP, o qual foi

idealizado para racionalizar as ações de saúde. O modelo curativo que dominava na

época começava a ser abalado. Tal plano passou a atuar sobre a racionalização dos

custos com os gastos hospitalares dos serviços contratados com o Sistema de

Assistência Médico-hospitalar da Previdência Social (SAMHPS), excluindo a

modalidade em uso, denominado pagamento por unidade de serviço. Sem

Page 40: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

39

mencionar que o Plano refere-se também à aplicação da capacidade instalada de

serviços ambulatoriais públicos.

Em função do Plano do CONASP, buscando atingir uma maior e melhor

utilização da rede pública de serviços básicos, em 1982 passaram a ser firmados

convênios que envolviam os Ministérios da Previdência Social, Saúde e Secretarias

de Estado de Saúde, os quais mais tarde passaram a ser substituídos pelas Ações

Integradas de Saúde (AIS), com a intenção de gerar a universalização da

acessibilidade da população aos serviços de saúde. Tal objetivo abriu espaço para a

possibilidade de participação dos estados e, especialmente, municípios na política

nacional de saúde. A implementação das AIS, representou o marco inicial para o

processo de descentralização na saúde.

A partir das AIS, os serviços estaduais e municipais passaram a ser

incorporados à rede de serviços pagos pelo INAMPS integrando as esferas de

governo em comissões interinstitucionais de saúde. Os convênios passaram a ser

reconhecidos como um marco na instituição da gestão colegiada nas diferentes

esferas de governo e na responsabilização dos municípios como ponto de partida do

sistema. A partir daí os recursos da saúde passaram ser desconcentrados.

Os repasses de encargos e recursos foram relacionados a compromissos

adotados diante a União. Tal desconcentração teve como principal característica a

transferência de “recursos carimbados” aos municípios – recursos já alocados e

destinados ás cidades sem levantamento prévio – normalmente distantes das

prioridades locais. No entanto, as AIS, a partir da ideia de gestão colegiada, e na

sequencia o SUDS - Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde de 1987,

começaram a incorporar os ideais da Reforma Sanitária.

Ao passo que as AIS representaram um movimento de incentivo à

municipalização, o SUDS representou uma nova centralização no domínio das

secretarias estaduais de saúde. O SUDS não gerou maiores danos à

descentralização porque foi de mínima duração (de 1987 a 1990) e o movimento

político pró-municipalização estava muito bem fortalecido.

Cabe mencionar que, na opinião de Cordeiro (2001), as reformas deveriam

ser aceleradas para viabilizar a expansão da cobertura, valorizando o

estabelecimento de maior equidade, propiciando a viabilidade fiscal e financeira do

sistema de saúde, melhorando a eficiência, a qualidade e consequentemente a

satisfação dos usuários. No entanto, ainda segundo o autor, o aspecto principal foi o

Page 41: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

40

de implementar novas funções do Estado na elaboração e estabelecimento de

políticas públicas de saúde. A partir daí houve o debate ideológico, juntamente com

a ação real das agências internacionais de financiamento para tornar hegemônica a

percepção de que, como consequência de exigências técnicas da globalização, as

instituições públicas associadas ao Estado deveriam assumir o papel de reguladoras

e promotoras da equidade, incentivando o setor privado (lucrativo ou filantrópico) a

estender suas funções de prestador de serviços de caráter autônomo e competitivo.

Isso, evidentemente, só reforçava uma tendência que já se notara em vários países

da região, sobretudo no Brasil, em décadas anteriores.

O momento mais estratégico para a organização da Reforma Sanitária

ocorreu no 1º Simpósio sobre Política Nacional de Saúde, durante o qual realizou-se

debate e aprovação do documento: “A Questão Democrática na Área da Saúde”,

apresentado pela diretoria nacional do CEBES, fundamentada no trabalho elaborado

por pesquisadores do Instituto de Medicina Social da UERJ, contido das mais

importantes reivindicações do setor, consolidando-se em documento-base para as

conclusões finais do encontro. Tal documento, aprovado no 1º Simpósio de Política

Nacional de Saúde, em outubro de 1979, estabelece alguns dos princípios que, mais

tarde, seriam adotados pela Reforma Sanitária: o direito à saúde como direito

universal e inalienável; o caráter intersetorial dos determinantes da saúde; o papel

do Estado no sentido de regular “para obstaculizar os efeitos mais nocivos das leis

do mercado na área da saúde; descentralização, regionalização e hierarquização;

participação popular e controle democrático” (CORDEIRO, 2005, p. 25). Dentre as

medidas iniciais, ressalta-se criar o Sistema Único de Saúde (SUS).

A partir de 1988 a política de Saúde passa a ser reconhecida no texto

Constitucional como ”Direito de todos e Dever do Estado”, a qual vem sendo

implementada e efetivada por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). É

interessante ressaltar que refere-se ao conceito de saúde contido no Artigo 196 da

Constituição Federal de 1988 e no artigo 3º da Lei 8.080/1990, que destacam as

expressões da questão social, as quais devem ser compreendidas como o conjunto

das desigualdades da sociedade capitalista, que se anunciam por meio das

determinações econômicas, políticas e culturais que geram um impacto dentre as

classes sociais (CFESS, 2009).

A Constituição de 1988 estabeleceu, em correção da histórica distorção da

sociedade brasileira, que o direito à saúde era uma conquista universal, sem

Page 42: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

41

quaisquer exclusões. Um forte exemplo disso é o fato do registro no mercado formal

de trabalho não ser mais fonte de discriminação para o pleno exercício de tal direito.

Tal determinação constitucional, que possibilitaria a ativa implantação do Sistema

Único de Saúde — uma pretensão de décadas de grande parte dos profissionais de

saúde pública —, foi edificada a partir de duas garantias básicas: universalidade e

descentralização. O exercício da equidade, embora seja importante, foi suplantado

num primeiro momento pelas exigências da implementação da universalidade no

sistema (TREVISAN, 2007).

Após 1988 surgiram dois novos desafios no contexto da saúde pública

brasileira: a grande quantidade de brasileiros pobres, que passavam a obter garantia

constitucional para o enfrentamento da doença e o fortalecimento do então temido

“poder local” na estrutura constitucional do país. O que gerava considerável certeza

de que o SUS deixaria o papel da frígida letra da lei e se estabeleceria como marco

divisório, representado na história do sistema de gestão de saúde pública no Brasil,

ocorrido devido a esses dois elementos efetivos — o princípio do atendimento

universal e a descentralização — os quais conseguiram conquistar espaço no

processo decisório da saúde pública.

Ao se observar ao longo do tempo de quase uma década e meia, a

implantação do SUS apresenta dois descompassos gerenciais que geram alguns

antagonismos que, se não impedem, ameaçam a estratégia de eficiência do

ambiente SUS. Um deles é a distância entre as pressões e a imposição de uma

política pública de saúde de caráter universalista, devido ao fato das pressões serem

sempre maiores, por uma reforma do Estado, que possa reduzir custos como

princípio norteador (CORDEIRO, 2005). Ainda segundo o autor, o outro se refere à

dificuldade de convivência do princípio da descentralização com a crescente

implementação da ideia de rede, vista não somente como elo entre esferas

diferenciadas de gestão (públicas ou privadas), mas como a maneira pela qual o

acesso a um direito ou a um conhecimento, é exercido em rede. O princípio de

“rede”, principal essência do SUS, necessita ser entendido como complementar e

não contraposto ao de descentralização, como ocorre às vezes.

Segundo Trevisan (2007), é possível que esses dois descompassos tenham o

mesmo hábito de origem: a peculiar ingenuidade de que as resistências para a

implantação do SUS eram exógenas ao sistema e por isso deveriam ser

solucionadas em seguimentos externos, a mais evidente delas a da elaboração de

Page 43: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

42

leis e portarias. Ao longo do tempo pode-se verificar que a maior resistência ao

modelo é endógena à administração pública e está presente nos modos

operacionais do sistema, no modelo de gestão e, sobretudo, no fluxo de recursos. A

área de conflitos decisivos para a mudança de conceitos na saúde pública está

contida no que se denomina de três arcos de poder que ocorrem no SUS: no dia-a-

dia operacional, na definição da instância administrativa responsável pela

elaboração de normas e, por último, na precisa percepção de a quem pertence o

poder real, a quem cabe decidir quanto ao repasse de recursos para a gestão

descentralizada de saúde no Brasil.

As discussões que ocorreram na VIII Conferência Nacional da Saúde, em

março de 1986, acabaram resultando na formalização das propostas do MRSB,

preconizando mudanças fundamentadas no direito universal à saúde, no acesso

igualitário, na descentralização acelerada e efetiva participação da sociedade. A

Conferência também defendia a municipalização como meio de executar a

descentralização. As bases do sistema atual, o SUS – Sistema Único de Saúde –

foram determinadas por esta conferência que contou com a participação de mais de

5.000 pessoas e produziu um relatório que subsidiou a Constituição Federal de 1988

nos temas da Saúde (PAULUS JUNIOR; CORDONI JUNIOR, 2006).

A Constituição Federal de 1988 contribuiu decisivamente para dar nova forma

à saúde no Brasil, colocando-a como direito universal. Dessa forma, a saúde tornou-

se dever constitucional de todas as esferas de governo ao contrário do que ocorria

antes, já que pertencia apenas à União e relativo ao trabalhador segurado. A

concepção de saúde foi ampliada e vinculada às políticas sociais e econômicas. A

assistência passou a ser concebida de forma integral: preventiva e curativa. A

gestão participativa foi definida como importante inovação, assim como comando e

fundos financeiros singulares para cada esfera de governo.

Para Nogueira (2006), como resultado das lutas populares e sindicais o setor

da saúde foi o que mais atingiu o sucesso no que se refere ao fortalecimento dos

direitos sociais, conquista refletida na Constituição de 1988. Com representação

bastante programática em vários aspectos, a nova carta constitucional lançou a

proposta de um novo ordenamento à área da saúde, fornecendo um desenho

peculiar em aspectos ético-políticos primordiais. Fez-se a universalização do direito

à saúde, destacando a garantia do pleno acesso aos serviços sem o menor critério

de exclusão ou discriminação. Novos espaços foram abertos para decisões políticas

Page 44: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

43

no setor sanitário, as quais foram, inclusive, compartilhadas com os usuários e para

alavancar a gestão democrática dos serviços de saúde por meio da participação

popular, permitindo o controle social, através de diferentes sujeitos coletivos, que

interagem entre si e com o Estado. Tal avanço teve sua reiteração, em 1990, por

meio da aprovação das leis 8080 e 8142.

As Leis 8.080/90 e a 8.142/90 são peculiarmente relevantes para o novo

modelo, estabelecendo-se como uma espécie de estatuto da saúde no Brasil. A Lei

8.080/90 apresenta as orientações constitucionais do Sistema Único de Saúde. Já a

Lei 8.142/90 se refere ao envolvimento da comunidade na condução das questões

ligadas á saúde formando as conferências e os conselhos de saúde em cada

seguimento de governo como instâncias colegiadas orientadoras e deliberativas,

simultaneamente.

As conferências, estabelecidas de quatro em quatro anos, possuem a

participação de diferentes esferas sociais; nelas são determinadas as diretrizes para

a formulação da política de saúde nos respectivos seguimentos governamentais. A

Lei 8.142/90 também determina as transferências de recursos financeiros

diretamente de fundo a fundo sem precisar de convênios, como por exemplo, as

transferências diretas do Fundo Nacional de Saúde para Fundos Estaduais e

Municipais.

Também merecem destaque as normas operacionais editadas pelo MS nos

anos de 1991, 1993 e 1996 pela sua importância na orientação do novo modelo,

incluindo os aspectos do financiamento. A Norma Operacional Básica (NOB) de

1996, implementada somente em 1998, foi decisivamente importante para a

municipalização, uma vez que definiu modalidades de gestão, sendo a modalidade

mais avançada, denominada Gestão Semiplena, a qual ampliava as possibilidades

de autonomia administrativa para a gestão dos recursos financeiros da União que

eram repassados aos municípios. Tal modalidade acabou resultando na geração de

maior capacidade de planejamento para os municípios.

Em 13 de setembro de 2000 a Emenda Constitucional nª 29 (BRASIL, 2000)

que modifica os artigos 34, 35, 156, 160, 167 e 198 da Constituição Federal e

acrescenta aos Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para garantir os

recursos mínimos para o financiamento das ações e serviços públicos de saúde,

promulgada com a intenção de definir a forma de financiamento da política pública

de saúde de forma vinculada à receita tributária. A partir daí, o financiamento do

Page 45: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

44

SUS passou a ser garantido constitucionalmente.

Para assegurar o cumprimento da EC 29/2000 foi estipulado um período de

transição até 2004. Devendo o governo Federal corrigir anualmente o orçamento da

saúde baseando-se na variação do Produto Interno Bruto (PIB) do ano anterior. Já

aos Estados caberia a responsabilidade de aplicar pelo menos 12% da base

vinculável até 2004. A regra para os municípios é similar, sendo os percentuais de

pelo menos 15% da base vinculável a partir de 2004 (CORDEIRO, 2005).

Vale ressaltar aqui, como parte da compreensão dos fenômenos estudados

até agora, que durante os últimos trinta anos, houve consideráveis transformações

em ciência e tecnologia, sobretudo os que se aplicam à saúde, resultando na origem

de um fenômeno em que aspectos importantes da atenção à saúde passaram a ser

incorporados às condições mínimas de sobrevivência. Para centenas de milhões de

seres humanos, o acesso a algum meio de tratamento, como pessoas com HIV,

diabetes, diferentes tipos de câncer; é condição necessária para manutenção de sua

própria vida. Paralelamente, o consumismo associado ao exercício de uma clínica

limitada tem contribuído para a ampliação da medicalização social (assistência sem

mudança de realidades sociais), o que, inclusive, tem resultado na medicalização de

conflitos subjetivos e sociais, aumentando as despesas vinculadas ao combate a

esta prática (CAMPOS, 2007).

As discussões acerca da operacionalização da EC 29 no Governo Federal e

os debates sobre as despesas com saúde em todas as etapas de governo, bem

como outros empenhos ligados à desvinculação de receitas, parecem fugir às

determinações da Lei evidenciando dificuldades em sua implementação e, por

conseguinte, para o SUS.

Ainda assim, a viabilização do sistema de financiamento nos modos previstos

na Constituição Federal de 1988 e na Emenda Constitucional tem se destacado,

chamando a atenção dos estudiosos do setor. Tanto o Governo Federal, como

grande parte dos governos estaduais, têm resistido à aplicação de recursos na

saúde na forma de vinculação prevista na Emenda Constitucional 29/2000, deixando

o problema do financiamento das Políticas de Saúde ainda sem solução (PAULUS

JUNIOR; CORDONI JUNIOR, 2006).

Na perspectiva de outros autores, como Pires (2006), a institucionalização do

Sistema Único de Saúde - SUS, influenciada por princípios universalistas e

solidários, pode ser observada sob a ótica das tensões entre o mercado e a

Page 46: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

45

cidadania no âmbito da redemocratização que o Brasil viveu, cercado pelas lutas

políticas que agitaram o país na corrida pela elaboração da Constituição de 1988,

bem como na crise econômica que desenhou a década perdida e no arrefecimento

do Estado desenvolvimentista. Diante dos equívocos de um sistema de saúde que

se pretende equânime, numa situação dominada pela mercantilização do direito à

saúde, a expectativa é voltada para propostas e experiências de enfrentamento que

possam fortalecer o controle democrático da sociedade civil sobre a implementação

das políticas públicas.

Page 47: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

46

4 O SERVIÇO SOCIAL E OS DIREITOS SOCIAIS NO BRASIL

4.1 OS DIREITOS SOCIAIS E A SAÚDE NO BRASIL

Após a Segunda Guerra Mundial, institui-se a Declaração Universal dos

Direitos do Homem, em 1948, a qual propõe para a humanidade, em seu artigo 1º

que: “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São

dotadas de razão e consciência e devem agir em relação uma as outras com

espírito de fraternidade”. Nesse contexto, a condição humana é requisito único e

exclusivo, reitere-se, para a titularidade de direitos. Isto porque todo ser humano

tem uma dignidade que lhe é inerente, sendo incondicionada, não dependendo de

qualquer outro critério, senão ser humano. (UNESCO, 2005 apud ANJOS;

SIQUEIRA, 2007).

Nas palavras de Piovesan (2005, p. 23): [...] “a Declaração Universal de

1948, ao introduzir a concepção contemporânea de direitos humanos, acolhe a

dignidade humana como valor a iluminar o universo de direitos”. O valor da

dignidade humana se projeta, assim, por todo o sistema internacional de

proteção. Todos os tratados internacionais, ainda que assumam a roupagem do

positivismo jurídico, incorporam o valor da dignidade humana.

Em 1988, por meio da Constituição Federal, o Brasil marca a retomada de

sua democracia, após um período ditatorial garantindo o direito à vida a qualquer

pessoa individual (BRASIL, Constituição 1988, art. 1º).

Nas palavras de Piovesan (2005): “A Carta de 1988 demarca, no âmbito

jurídico, o processo de democratização do estado Brasileiro, ao consolidar a

ruptura com o regime autoritário militar, instalado em 1964.“ Tratados

Internacionais de direitos humanos foram homologados pelo Brasil, textos

constitucionais demonstram à relação atual de amparo legal as condições básicas

de sobrevivência, entretanto grande parte da sociedade não conhece seus

direitos, ou não os reivindica, ou não é disponibilizado pelo Estado na dimensão

apresentada pela norma ao cidadão.

Page 48: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

47

Nessa perspectiva, Castro (2007, p. 283) esclarece:

Impende enfatizar, nessa vertente de idéias, que a proteção à vida, que constitui o primeiro e mais fundamental dos direitos tutelados no caput do artigo 5º da Constituição da República, cuja inviolabilidade é garantida a todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país, refere-se não apenas e objetivamente ao estado de ser vivo, mas a um modo qualificado de exercer os predicados da existência, o que vale dizer – de acordo com os padrões de dignidade existencial que a própria Lei Maior, em disposições dispersar, reputa essenciais ao direito de viver. Nesse sentido, o direito à vida retrata o direito de viver uma vida digna segundo a valoração jurídico-social do que deva ser a existência com dignidade.

A luta pelo reconhecimento destes direitos foi árdua, pois apenas pequena

parcela da população já desfrutava destes direitos. Isto é um fato, mas a

dignidade ainda é uma dimensão a ser alcançado para as parcelas menos

favorecidas, sobretudo o usuário da saúde, a exemplo dos que sofrem de

Neoplasia Maligna e que muitas vezes dependem do Estado para o tratamento

dispendioso.

Outra ponderação é que o planejamento e a exigência ao Estado de ter

reconhecido o direito de viver surge no momento que se pensa em valores

singulares, como a liberdade, a dignidade e a vida saudável. Nesse sentido,

todos cidadãos são importantes e detentores de respeito e necessária parcela de

preocupação pelo Estado (CORDEIRO, 2005).

A cada valor social, a cada conquista deve ser dispensada, pelo Estado e

pela sociedade sua real importância, procurando evitar a idolatria, buscando

sempre impedir exageros incontroláveis, visto que mais importante do que a vida

é a vida vivida com autonomia e dignidade. Nesse contexto, ao se buscar

compreender os direitos dos usuários da saúde remete-se à questão das condições

socioeconômicas da população brasileira, além das próprias condições de vida dos

usuários. Nesse caso, ao buscar a compreensão de como estes têm tido acesso aos

seus direitos, durante o tratamento, é necessário analisar o perfil de cada usuários e

suas reais condições de vida (CORDEIRO, 2005).

Uma questão central e ao mesmo tempo um desafio planetário é a plena

oferta de um atendimento diferenciado e humanizado, sobretudo na esfera

pública. Nessa perspectiva, importante citar um trecho da Declaração dos Direitos

Humanos e Bioética que assim dispõe: “os seres humanos, sem distinção,

deveriam ser beneficiados pelos mesmos elevados padrões éticos nas pesquisas

Page 49: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

48

em medicina e nas ciências da vida” (UNESCO, 2005 apud ANJOS; SIQUEIRA,

2007).

Ao analisar criticamente a atual situação dos Direitos Humanos, pode-se

perceber que há avanços em relação à bioética (ética a favor dos cuidados

relativos ao organismo humano) que passa a integrar junto com os direitos

humanos, as diretrizes para harmonização e solidariedade entre as nações, a

diversidade humana e cultural. No entanto, essas prerrogativas dificilmente chega

aos que dela realmente necessita, como os usurários dos serviços de saúde com

neoplasia no Brasil.

Apesar de no Brasil, os movimentos culturais, profissionais e acadêmicos

das décadas de 1970/1980 terem levado o debate dos direitos humanos à

sociedade, buscando a contribuição daqueles que podem construir um País

melhor se patrocinarem a Justiça Social e Ambiental, faltam atitudes de ordem

específica. Um acolhimento a um usuário da saúde com neoplasia, por exemplo,

deve ser feito com a observância de que o paciente se constrange com a doença

e às vezes se encontra amedrontado. Por isso sua exposição deve ser mínima,

sobretudo nas salas de espera, onde pode aumentar o desconforto da

enfermidade em virtude da forma com a sociedade interpreta o câncer.

Embora os estudos sobre essa doença não tenha avançado para a cura, dos

casos notificados também teve crescente aumento nos últimos anos, diferentemente

das epidemias tratadas em meados de 1940, que foram parcialmente sanadas pelas

vacinações e prevenção com a melhoria dos hábitos alimentares e condições de

higiene e saneamento. A Neoplasia Maligna, no entanto, está alheia a tais

decorrências, se apresenta como doença moderna, e têm diversos fatores que a

influencia como produtos químicos, sol, radiações etc., todos estes sendo

participantes da vida contemporânea.

Importante faz-se aqui relacionar os avanços alcançados pela saúde pública

no Brasil, que vem do controle sanitário no período colonial, dos precários

tratamentos da época, das epidemias que matavam milhares de pessoas

(normalmente os mais pobres), da ideia de pobreza relacionada à imundice que

ocasionava doenças, dentre outros. Assim se davam o exercício da medicina

inteiramente ligada aos descendentes das famílias nobres, as epidemias e doenças

infecciosas ligadas à população pobre e a errônea afirmação de que os miasmas

ocasionavam as doenças, o que influenciava tanto na arquitetura dos palacetes

Page 50: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

49

quanto na localização e migração dos nobres na fuga aos contágios.

No século XX, as primeiras políticas brasileiras voltadas para a saúde que se

sabe, está relacionada à preocupação com a saúde dos trabalhadores, na década

de 1940, que necessariamente deveriam gozar de boa saúde para suas atividades

do labor. Organizavam-se então, as classes de trabalhadores Caixas de

Aposentadorias e Pensões que serviam de apoio àqueles que se apresentassem

incapazes para o trabalho, temporária ou definitivamente (BEHING, 2006). Com a

ampliação dessas Caixas destinadas à seguridade da saúde do trabalhador, obtém-

se uma maior extensão quanto à cobertura no que tange à saúde popular, abrindo aí

espaço para a discussão saúde pública.

Nesse contexto, à medida que a indústria se expande, no final da década

de 1940 e início da década 1950, com o fim da ditadura Vargas e da Segunda

Guerra Mundial, ocorre à demanda maior volume de trabalho, o que aumenta a

inclusão de grupos sociais na história do Estado de bem-estar brasileiro.

Com a criação do Ministério da Saúde em 1953, houve uma maior

preocupação em combater as doenças do interior, conhecidas como Endemas

Rurais, que se apresentavam tão graves neste período. Notoriamente, destacamos

as práticas de clientelismo que relacionavam serviços de saúde às campanhas

políticas, desvirtuando qualquer aproximação da saúde como direito social

(CORDEIRO, 2005).

Posteriormente durante o regime militar a saúde sofreu com a redução das

verbas destinadas, e as epidemias continuavam matando milhares de pessoas em

todo o país, agora com o alastramento da meningite e dengue. O ministério público

então trata precariamente da saúde pública como sendo fenômeno individual, e não

coletivo o que dificultava quanto ao acesso de todos às condições saudáveis de

vida. Assim a verba já reduzida destinada à saúde se via gravemente comprometida

para sustentar internações, tratamentos e vacinas, deixando a mercê o saneamento

e a água tratada acessível à população pobre.

Importante refletir sobre a criação e papel do Sistema Único de Saúde (SUS)

na promoção da saúde coletiva brasileira. Para tanto, a base histórica começa na

década de 1970, quando há a precariedade nos atendimentos de assistência à

saúde pública, mais especificamente á população de baixa renda.

Na década de 1970 o Estado, embora sob-regime militar, se organizou em

torno do contexto político da década do militarismo perpassado por autoritarismo,

Page 51: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

50

repressão, censura, precarizando o sistema de saúde. No final dessa mesma

década e início da década de 1980, destaca-se a abertura política, por meio de

eleições, viabilizando a reorganização de movimentos sociais, destacando-se a

Reforma Sanitária. Esta foi uma maneira dos integrantes da área da saúde a

criticarem os resultados da política de saúde oferecido à população e a falta de

organização eficácia do sistema da época (BRAVO, 2006).

Inicialmente este movimento se desloca para a segurança e saúde no

trabalho para depois alcançar proposta de reforma mais ampla inclusive nos

hospitais e seus atendimentos. Por meio dessa interação passou-se a reivindicar a

melhora na organização em defesa da saúde.

Ademais as lutas pela Reforma Sanitária propuseram alternativas para um

novo sistema de saúde com aspectos de uma participação democrática. Sendo

assim através dessa participação pode-se aumentar o número de reivindicadores

das mudanças no sistema de saúde, que tiveram a oportunidade de se expressar no

final da década de 1970, no I Simpósio Nacional de Política de Saúde, em que

ocorre a elaboração de um projeto de intervenção e reorientação do sistema de

saúde, a fim de estruturá-lo em um Sistema Único de Saúde.

Conforme Paim (1992, p. 9) este sistema único voltado para a saúde:

Propunha, ao lado da democratização geral da sociedade, a universalização do direito à saúde, um sistema de saúde racional, de natureza pública, descentralizado, integrando as ações curativas e preventivas e democrático, com participação popular.

Cabe dizer que o Estado passa a controlar a política de assistência médica na

década de 1980, em virtude dos elevados preços da saúde no setor privado. Sendo

assim, inicia-se uma política de consultas por médico para diminuir os custos de

manutenção do sistema.

Nessa mesma época, ocorre a implementação de ações integradas de saúde,

que ofereceram condições para a criação de vínculo com as instituições públicas de

saúde, em esferas estaduais e municipais, por meio do financiamento e repasses do

Ministério da Saúde. Dentro desse contexto, cria-se as comissões inter-institucionais

de saúde, que ficaram responsáveis pela supervisão na qualidade do atendimento.

No início do governo Sarney, dois anos antes da Constituinte, em 1986,

aumentaram-se os movimentos em prol da reforma sanitária, a exemplo da VIII

Conferência Nacional de Saúde (CNS), com o objetivo de debater uma nova diretriz

Page 52: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

51

de organização da política de saúde para o país. Em consequência dessas

manifestações, tiveram origem as propostas de reformulação do Sistema Nacional

de Saúde, mais conhecida como Reforma Sanitária (ESCOREL, 2005).

Antes disso, existiram discussões e conferências mundiais já visando à

humanização do acesso à saúde e sobre como promovê-la pensando não somente

no processo saúde-doença, mas na qualidade de vida saudável, ligada às questões

econômicas e sociais e na “possibilidade de proporcionar aos povos meios

necessários para melhorar sua saúde e exercer um maior controle sobre a mesma”,

conforme a Carta de Ottawa (OMS, 1986 apud ESCOREL, 2005, p. 28).

Sabe-se que o projeto da Reforma Sanitária foi elaborado e articulado na luta

contra o autoritarismo e pela ampliação dos direitos à saúde pública de qualidade.

Nesse sentido é importante dizer que lutar pelos direitos de cidadãos e pela melhoria

da qualidade de vida foi a tônica dos movimentos das décadas após a abertura

política de 1982.

Em 1988, com a aprovação da Constituição Federal, agregando várias partes

dos conceitos e propostas definidas para a saúde, passa a adotar a proposta da

Reforma Sanitária e do SUS. É importante dizer que a resistência profissional e

governamental que apoia o modelo médico assistencial distinguia-se determinados

grupos sociais. Entretanto, na criação e implementação de um único sistema, seria

preciso a formulação de leis, mas somente em 1990 foi aprovada a Lei Orgânica da

Saúde (LOS), inaugurando a era das leis orgânicas no país (leis ministeriais).

Mais tarde com a criação do Sistema Único de Saúde e sua implementação

em 1990, fica posto a Lei Orgânica da Saúde, como legislação que assegura a

atenção em saúde pública e o direito do cidadão do acesso à saúde e à assistência,

efetivando a cidadania que envolve os serviços e a participação da comunidade nas

esferas de governo.

Desde que os países assumiram o compromisso proposto pela Organização

Mundial de Saúde, de oferecer assistência médico-hospitalar e ações preventivas de

saúde o Brasil vêm se adequando às normas de efetivar tais propostas e levar

saúde de qualidade à população. Resultado dado em conjunto com a Constituição

Cidadã e o Sistema Único de Saúde, que veio oferecer ao país, as condições de

saúde universal.

È fato que as condições ofertadas à população ainda caminham para a real

efetivação dos direitos dos usuários da saúde. Como na carta dos direitos dos

Page 53: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

52

usuários temos os princípios que citam o acesso, tratamento, atendimento justo,

direito à cidadania, além de suas responsabilidades e comprometimento.

Analisando desta forma o processo da saúde no Brasil, e trazendo o papel do

Serviço Social hoje, é possível observar as imposições colocadas e os avanços

adquiridos e, em ambos os casos, destacamos a principal conquista: o

reconhecimento da pessoa humana, como sujeito de direitos e que tem papel ativo

na sociedade.

No contexto desta pesquisa, analisa-se a Neoplasia Maligna, na relação

saúde-doença, que historicamente, sempre foi concebida como doença grave

necessitando de uma atenção integral ao usuário. No Brasil têm-se reconhecida

altas taxas de falecimentos em virtude do agravamento da Neoplasia Maligna, quer

pelas dificuldades de custear o tratamento, quer pelo estágio grave em que o

usuário procura o atendimento médico. Na maioria dos casos em que o paciente não

possui esclarecimento sobre a gravidade da doença, geralmente não conhece seus

direitos, sendo que o Serviço Social tem contribuído para conscientizar a todos

sobre os benefícios que os usuários com câncer podem obter.

4.2 DIREITOS SOCIAIS ESPECÍFICOS DO USUÁRIO COM NEOPLASIA MALIGNA

Ao analisar o resgate de direitos sociais e a situação dos pacientes com

câncer, sobretudo os de baixa renda, o desafio está na obtenção dos recursos, pois

o Governo centraliza a oferta dos principais serviços de assistência social. Os

resultados em termos de qualidade dos serviços e facilidade de acesso, conforme

Cordeiro (2005), são apresentados em pequenas municipalidades como justificativa

para o repasse ao município-sede de recursos do SUS alocados a cada participante,

assim como a destinação de recursos do tesouro municipal para o fundo comum na

forma de cota mensal.

Destaca-se, como direitos gerais desses pacientes, a implementação do

Sistema Único de Saúde (SUS), que tornou-se uma das conquistas da Constituição

Federal de mesma data, juntamente com a Lei Orgânica da Saúde que vem

amenizar as diferenças quanto ao acesso a assistência à saúde.

Com a aprovação dessa lei, ocorreu uma intensa reafirmação da proposta do

Page 54: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

53

Sistema Único de Saúde, tanto que as Normas Operacionais Básicas (NOB)

determinam as estratégias e ações cabíveis que direcionam a viabilidade do SUS,

possibilitando sua implantação. Nessas normas, segundo Santos (1991), está

presente processos e procedimentos para efetuar o processo de descentralização

das ações para a saúde, conforme orientações do Conselho Nacional de Saúde, no

sentido de realizar a descentralização para Estados e municípios.

Apesar da existência dessas normas, por diversas vezes não houve repasse

de verba para as esferas estaduais e municipais. Sendo assim, as esferas públicas

dos Estados e municípios apresentaram dificuldades para alcançar os objetivos

iniciais do SUS. Nessa perspectiva, o Estado ainda faz uso de serviços médico de

particulares conveniados, pagos, quase totalmente pelo município.

Nas propostas do SUS aprovadas pelos profissionais, ministério e secretarias

da saúde buscam-se principalmente a universalização dos atendimentos gratuitos

com qualidade e de acordo com suas particularidades. Para tanto, busca atender de

forma globalizada (integral), com vistas a assistir e ao mesmo tempo promover a

prevenção e a cura, evitando agravamentos (BRAVO, 2006).

Pela reforma atual possibilita-se a coordenação das ações de modo que a

implementação do SUS seja feito no contexto de cada município. Sendo assim, as

ações para o tratamento de Neoplasia Maligna devem estar concentradas e

administradas pelos órgãos de saúde pública municipal, uma vez que ocorreu a

municipalização da saúde. Cabe dizer que segundo as particularidades de cada

município, ocorre o financiamento das esferas federais, o que sugere um orçamento

e planejamento coerente com a situação do Município, o que demanda estudos e

pesquisas.

Desse modo, para assegurar a qualidade, necessita-se oferecer ações na

área da saúde – curativas e preventivas – em diferentes níveis de atenção básica,

concentrando-se no perfil da comunidade em cada setor municipal, com o objetivo

de suplantar e arcar com suas necessidades. Nesse cenário, torna-se necessário

atentar para a contratação de serviços médicos ambulatoriais particulares, efetuando

o contrato em nível municipal, podendo trabalhar no controle e qualidade dos

serviços prestados (ESCOREL, 2005).

Quanto á eficácia e eficiência do SUS, este necessita solucionar os

problemas de saúde do usuário principal que é a população de baixa renda e os

trabalhadores registrados, a fim de assegurar qualidade e presteza nos serviços

Page 55: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

54

acabando com a morosidade. Entretanto a fim de que essa qualidade ocorra existe a

necessidade de ajustar-se à realidade coletiva e à disponibilização de recursos,

gerindo os recursos públicos de modo a buscar a universalização e a qualidade.

Ainda dentro dos direitos sociais gerais do usuário com câncer, deve-se

viabilizar e assegurar a participação de todos os elementos envolvidos nesse

sistema único, contribuindo para configurar uma política estadual e municipal, para

auxiliar e sugerir a melhor maneira de gestão que assegure a qualidade de vida e

dos atendimentos à esses pacientes. Nesse sentido, foram criados os Conselhos de

Saúde em nível federal, estadual e municipal que deveriam administrar em uníssono

em um trabalho intermunicipal e interestadual (BRAVO, 2006).

Atualmente, embora os atendimentos aos usuários com Neoplasia Maligna

tenham evoluído com a introdução de novas tecnologias e novos ramos de atuação

multidisciplinar, que foi ganhando mais e mais espaço no tratamento, ainda não se

alcançou a universalidade e a qualidade necessária à prevenção em saúde pública e

coletiva. No entanto, o SUS possui uma estrutura que o faria um bom plano de

saúde, porém a contribuição dos trabalhadores apenas não forma fundo suficiente

para patrocinar toda a saúde.

Para que o SUS seja um empreendimento viável, devem-se unir esforços

tanto dos usuários, comunidades, famílias, como Estados e Municípios a fim de

auxiliar a obtenção da qualidade e fazer com que o sistema Único funcione

realmente e promova a saúde das mais diferentes regiões brasileiras. Nessa

promoção, em que cada regionalidade deve ser respeitada, conhecida para se fazer

intervenções contextuais, tempestivas e de qualidade, o SUS é uma dimensão piloto

na saúde coletiva brasileira (ESCOREL, 2005), ou seja, uma inovação capaz de se

multiplicar por todo o território do país.

Uma característica da população brasileira, desde a república velha, que

remete ao sanitarismo, ao curandeirismo e até mesmo à caridades das antigas santa

casas de misericórdia que atendia a população carente, sempre em circunstancias

precárias devido à falta de recursos e superlotação das mesmas viu-se alterada a

partir do SUS, pela possibilidade e garantia do acesso universal à saúde (BRAVO,

2006). Nesse contexto, os pacientes com neoplasia necessitam dos benefícios e

atendimentos diferenciados, dispendiosos e que necessita do SUS, o que nos leva a

pensar em maior disponibilidade de leito para os usuários com câncer, bem como

medicação gratuita a todos.

Page 56: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

55

Quando se trata de pacientes com Neoplasia Maligna é importante

contextualizar sua enfermidade aos demais fatores pautando-nos na Lei nº 8.080,

afirmamos que as influências das condições de alimentação, moradia, renda,

trabalho, educação, etc., são determinantes para seu estado e então justificamos a

busca por compreender a importância de se mostrar seu real direito, fazendo-se aqui

extremamente relevante durante todo o processo de internação, tratamento e

permanência do paciente no hospital.

A Neoplasia Maligna se caracteriza por um conjunto de mais de 100 doenças

que tem em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem

os tecidos e órgãos. Assim devido aos fortes efeitos colaterais que o tratamento

proporciona ao paciente, as perspectivas que se criam quando não há cura e,

sobretudo, o retorno que se condiciona aos pacientes e familiares, devem ser

levados em consideração.

Diferentemente dos países industrializados, convivemos no Brasil com

situações paradoxais que vão desde a insistente presença de doenças nas nações

mais pobres do planeta até o registro significativo em nossas estatísticas de

mortalidade dos problemas comuns aos países mais avançados (câncer, problemas

cardiovasculares, acidentes de trânsito, etc.). Com o encarecimento dos meios de

diagnóstico e a natural sofisticação tecnológica decorrente do progresso científico,

os recursos aplicados em saúde começam a tornar-se insuficientes.

Conforme dados do INCA (2009), a discussão sobre "prioridades" começa a

adquirir conotações éticas, porém é responsabilidade do Estado e das instituições

públicas e privadas de saúde e o Serviço Social estabelecer um diálogo sobre a

relação saúde-usuários. Com o advento da Lei Orgânica de Assistência Social

(LOAS) institui-se o benefício de um salário mínimo mensal ao idoso a partir dos 65

anos, que não exerça atividade remunerada, e àqueles cidadãos com deficiência

incapacitante para o trabalho e para uma vida independente. Nos casos em que o

paciente sofra de doença em estágio avançado, ou sofra consequências de

seqüelas irreversíveis do tratamento oncológico.

Segundo dados do INCA (2009), o paciente pode também recorrer ao

benefício, desde que haja uma implicação do seu estado de saúde na incapacidade

para o trabalho e nos atos da vida autônoma. O usuário também não pode estar

vinculado a nenhum regime de previdência social ou receber quaisquer benefícios.

Mesmo quando internados, tanto o idoso como o deficiente têm direito ao benefício.

Page 57: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

56

O amparo assistencial é intransferível, não gerando direito à pensão a herdeiros ou

sucessores.

Na promulgação da Constituição Federal de 1988, a Assistência Social

passou a fazer parte do contexto da Seguridade Social (saúde, previdência e

assistência), permitindo à Assistência Social adentrar o campo de direitos, da

universalização e da responsabilidade estatal.

Com base nos dispositivos constitucionais, a fim de assegurar o cumprimento

dos direitos sociais, criou-se o Sistema Único da Assistência Social (SUAS), apoiado

na estratégia de construção de um sistema de proteção social, que possui como

exigências: constar no Plano Plurianual; a primazia da responsabilidade do Estado; a

Ética, elegendo a justiça social e o rompimento com o clientelismo. Além disso pode-

se citar a participação (controle social) e a defesa das necessidades (CARVALHO;

GERBER, 2007).

Nesse sentido, o SUAS não deve ser visto como uma política voltada apenas

para os mais necessitados e sim para todos aqueles que se encontram em situação

de vulnerabilidade, seja em decorrência da negligência, da violência ou de alguma

outra forma que ameace a segurança de sobrevivência do cidadão brasileiro. De

fato, o SUAS é considerado como a organização de uma rede de serviços, ações e

benefícios de diferentes complexidades que se dividem em níveis de proteção

social: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial.

Wanbergna (2005) afirma que, dentre os direitos conseguidos pelos

portadores de câncer. pode-se citar:

Aposentadoria por invalidez: é concedida ao paciente com câncer desde que sua incapacidade para o trabalho seja atestada pela perícia médica do INSS. Tem direito ao benefício o segurado que não esteja em processo de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência e que esteja na qualidade de segurado, isto é, inscrito no Regime Geral de Previdência Social. Tem ainda o Auxílio-doença que: é o benefício mensal a que tem direito o segurado, inscrito no Regime Geral de Previdência Social (INSS), quando fica temporariamente incapaz para o trabalho em virtude de doença por mais de 15 dias consecutivos. O portador de câncer tem direito ao auxílio desde que seja considerado incapacitado temporariamente para o trabalho.

Desse modo, percebe-se certos avanços da assistência ao usuário com

neoplasia maligna, pois muitas vezes a doença leva à incapacidade para o trabalho,

o que dificultaria a sobrevivência daqueles que não possuem renda para arcar com

as despesas sem o salário.

Page 58: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

57

Além disso, o paciente com câncer pode sacar o Fundo de Garantia do

Tempo de Serviço (FGTS). A Lei 8.922, de 25 de julho de 1994, passou a permitir a

movimentação da conta vinculada quando o trabalhador ou qualquer de seus

dependentes for acometido de Neoplasia Maligna (câncer).

Barbosa (2007) assegura que além do fundo de garantia, os usurários com

Neoplasia Maligna podem fazer saques do Programa de Integração Social (PIS) e

do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep): estes

benefícios podem ser retirados, pelo trabalhador cadastrado que tiver Neoplasia

Maligna ou possuir dependente portador de câncer. Também a autora cita que os

pacientes com câncer estão isentos do imposto de renda relativo aos rendimentos

de aposentadoria, reforma e pensão, inclusive as complementações. A doença será

comprovada por meio de laudo pericial. Só têm direito ao pedido de isenção os

pacientes aposentados.

Pode-se citar ainda a Portaria da Secretaria de Assistência á Saúde

(BARBOSA, 2007) que indica como benefícios o Transporte, a pousada, a

alimentação, assim como o Tratamento Fora do Domicílio (TFD). Conforme

informações constantes na portaria, os custos permitidos pelo TFD são aqueles

relativos a transporte aéreo, terrestre e fluvial; diárias para alimentação e pernoite

para paciente e acompanhante, devendo ser autorizadas de acordo com a

disponibilidade orçamentária do município/estado.

4.3 O SERVIÇO SOCIAL E OS DIREITOS DOS USUÁRIOS COM NEOPLASIA

ATENDIDOS NO HOSPITAL HÉLIO ANGOTTI

Nos últimos anos, assistentes sociais e a comunidade médica de várias

cidades brasileiras têm observado com satisfação o desenvolvimento crescente

de estudos relacionados com os aspectos sociais da Neoplasia Maligna, para os

quais as pesquisas na área representam uma importante contribuição (INCA,

2009). Com novos enfoques terapêuticos, sobretudo fundamentados em

intervenção multidisciplinar, esse enfoque veio sendo introduzido no Brasil

progressivamente.

Entretanto para uma maior disseminação de pesquisas e resultados

Page 59: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

58

positivos e satisfatórios, é imprescindível a sensibilização e capacitação da

equipe multidisciplinar, incluindo o assistente social. Isso porque o Serviço Social,

atualmente, está mais próximo dos usurários, humanizando, compartilhando seus

sofrimentos, suas dúvidas, cumprindo a grande missão de elo de ligação entre o

usuário doente e a equipe médica.

Nesse contexto, o Serviço Social tem como uma de suas finalidades

principais auxiliar os profissionais da saúde na determinação de prioridades

necessárias à prevenção e ao controle do câncer, permitindo a correlação da

qualidade de vida associada ao estilo de vida e a outras condições ambientais

favoráveis ao tratamento dessa complexa doença. Consequentemente, a atuação

do assistente social pode ser útil na identificação de fatores de riscos suspeitos, a

serem explorados em estudos epidemiológicos para a prevenção.

No hospital Helio Angotti, as demandas do Serviço Social, em sua maioria,

são encaminhadas por profissionais da área médica e da enfermagem, bem como

os colaboradores da área administrativa. Esse fato se dá em virtude da grande

demanda direcionada a uma só profissional para atender todos os usuários.

Durante o estágio curricular no Hospital Helio Angotti, pode-se observar que a

falta de condições monetária para o tratamento da Neoplasia Maligna é um dos

grandes problemas encontrados pelos usuários e seus familiares. Outro fato

curioso é que a maioria dos usuários que buscam o Serviço Social na referida

instituição não possui renda fixa, trabalhando na informalidade.

Ao relatar suas experiências sobre a Neoplasia Maligna em um hospital de

Florianópolis, a assistente social Franklin (1997, p. 119) afirma que: “o trabalho

que fazemos deve ser dirigido ao paciente e à família. Valendo-nos dos pontos

fortes de ambos, e encorajando-os, diminuiremos sua dependência, devolvendo-

lhes o direito à autodeterminação”. Entretanto é necessário, quando se for

apontar auxilio mais especializado à família, que os cuidados e as intervenções

sejam ajustados à necessidade de cada caso.

Nesse sentido, qualquer avaliação definitiva, baseada em apenas dois ou

três momentos com o usuário, seria insuficiente, mas à medida que os

assistentes sociais continuem a consolidar informações a partir dos relatórios e

prontuários, torna-se possível tecer estudos e análises mais consistentes sobre a

destinação dos benefícios que o Serviço Social pode oferecer. Em que pese as

inúmeras dificuldades que este serviço têm enfrentado no sentido de reunir

Page 60: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

59

informações consistentes, é provável, como se percebeu no estágio, a existência

de pequenas distorções – como a imprecisão das datas dos apontamentos e

horário e até mesmo o quarto/leito – o que inevitavelmente acaba por afetar a

qualidade dos atendimentos, mesmo que minimamente.

Contudo, fatos como os citados acima não devem desmotivar aqueles que

ainda tentam desenvolver ações de saúde, em tempos tão difíceis, pois a

organização dos programas dentro do hospital, terão a chance na captação de

recursos humanos e materiais para melhor atender o usuário. Segundo Coelho

(2000, p. 30): “Devem administrar os custos e benefícios, porque o importante

não é ter recursos e, sim, saber onde e como empregá-los adequadamente”.

Sendo assim, inicia-se, nesta pesquisa, a apresentação dos benefícios já

alcançados pelos usuários por meio de ações do Serviço Social no contexto do

Hospital Hélio Angotti.

4.3.1 Desafios e benefícios dos usuários do Hospital Helio Angotti

Inicialmente, vale refletir que as consequências da neoplasia transcendem

os limites da medicina assistencial, constituindo-se, portanto, objeto de interesse

coletivo e universal. Desse modo, o assistente social do hospital campo do

estágio, busca auxiliar os usuários na obtenção dos benefícios assistenciais.

Dentre esses benefícios, pode-se citar o Benefício de Prestação Continuada

(BPC). Nesse contexto, o BPC pode ser um benefício possível ao doente com

Neoplasia Maligna.

No entanto, a neoplasia, dentro do que regulamenta os critérios de

avaliação e regulamentação do BPC, não é uma patologia que caracterize

necessariamente perda das condições físicas de trabalho, embora a doença

desencadeie outras patologias. Por outro lado, há os usuários que contribuem

com a previdência-social, com direitos ao auxílio-doença, que pode dependendo

do caso, sobretudo quando demonstrar incapacidade para o trabalho, pode ser

afastado e receber os benefícios. O que tem acontecido, em muitos casos, são

usuários que não contribui ou não se encaixam no BPC pela fragmentação das

políticas sociais atuais. Desse modo, sugere-se uma maior reflexão sobre a

Page 61: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

60

condição do paciente com neoplasia, para que se possa compreender suas

ações, interpretações da realidade e enfrentamentos em situações de crise.

Segundo Schulze (1997, p. 19)

O câncer assume as mais diversas trajetórias no processo de vida dos doentes, porém, também os afeta de forma que podem ser universalmente reconhecidas. Uma das características marcantes do câncer é o fato de que o doente passa, como consequência do avanço da doença, por subsequentes mudanças de vida a que tem de se adaptar.

Uma das adaptações mais complexas é o tratamento além de dispendioso,

exige uma alimentação adequada para que o paciente possa ter uma maior

resistência no organismo e vencer, da melhor maneira possível, os efeitos

colaterais da medicação. Na realidade, a condição do usuário com neoplasia é a

de sofrimento contínuo e tal sofrimento pode assumir diferentes faces. Isso

porque os gastos do usuário não se limitam apenas à alimentação, mas ainda

com custos indiretos de tratamento. Sendo assim, a trajetória da doença

proporciona uma série de respostas emocionais e sociais que necessitam ser

compreendidas para que se possa chegar a uma atuação efetiva por parte dos

assistentes sociais.

Diariamente é encaminhado para as Casas de Apoio, a exemplo da Casa

de Apoio Danielle em Uberaba. Essas casas de apoio são instituições onde os

usuários e acompanhante, que não trazem em suas bagagens apenas roupas e o

sonho da cura. Isso porque, o câncer não traz só o sofrimento, ele vem

acompanhado de outras angustias, entre elas o abandono, condições indigna a

sobrevivência humana, as mais variadas violências, dificuldades de manter a si e

família.

Ao analisar a incidência de Neoplasia Maligna no Brasil e o quadro de

dificuldades em virtude de suas consequências, Kolfman (1999, p. 169) revela

que: “É dentro desse marco de referência, que a análise epidemiológica do

câncer no Brasil mostra-nos um quadro requerendo múltiplas abordagens dentro

de uma proposta visando seu controle sob a ótica da saúde pública”. Nesse

sentido, uma das principais prioridades certamente será assegurar a ampla oferta

de serviços de atenção à população, aí incluídos, entre outros, os exames para

detecção de pré-neoplasias para tratamento efetivo, sobretudo à população de

baixa renda.

Page 62: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

61

Em Uberaba, em apoio ao Hospital Hélio Angotti, pode-se contar com a

Associação dos Voluntários de Combate ao Câncer de Uberaba (AVCCU) para

onde são feitos encaminhamentos de usuários e familiares. Essa instituição foi

fundada em Dezembro de 1998, de caráter filantrópica, sem fins lucrativos. Nessa

associação, a diretoria e o corpo de voluntários desenvolvem um trabalho não

remunerado de apoio e ajuda às pessoas portadoras de câncer.

Dentre os objetivos da AVCCU direcionados para o Hospital Dr. Hélio

Angotti pode-se citar: atuar no combate ao câncer nas áreas de educação,

prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação; atendendo pacientes em

regime interno e externo. Além disso, busca conceder outros benefícios tais como

vale transporte, cestas básicas entre outras ajudas.

De acordo com informações do Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2009):

O Instituto Nacional de Câncer tem a preocupação constante em informá-lo cada vez mais e melhor. Em todas as nossas unidades hospitalares a equipe do Serviço Social busca identificar as questões sociais que possam interferir no processo de tratamento, viabilizando o acesso aos direitos sociais do paciente com câncer.

Tanto sob a perspectiva do instituto nacional, quanto do hospital campo de

estágio, nota-se que o trabalho da assistente social se concretiza através da

busca dos usuários por informações sobre seus direitos, onde a profissional

orienta quanto aos procedimentos documentais, orientando quanto à obtenção de

próteses. Importante salientar que o Serviço Social do referido hospital procura

esclarecer os usuários sobre benefícios que os órgãos oficiais oferecem. Nesse

esforço, tenta-se localizar os familiares de usuários internados em abandono,

sem acompanhantes e instruí-los sobre resoluções referentes a documentação

específica.

Sobre o papel do Serviço Social na oncologia, Guaringue (2009, p. 1)

assistente social do CRESS/PR, relata que:

Desde o final do século XIX, o Serviço Social tem participado na construção do conhecimento a respeito do ser humano, suas relações sociais e o enfrentamento de questões sociais em diversas áreas. Na área da saúde o Assistente social tem se destacado em sua prática, sendo um dos maiores campos de atuação. No entanto, a prática e a problematização relacionado ao tratamento do câncer ainda é recente, porém necessária diante da necessidade e complexidade que envolve todo o processo do tratamento.

Page 63: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

62

Nesse cenário, pode-se acrescentar as grandes dificuldades, inclusive

financeiras, na compra de medicamentos não oferecidos gratuitamente, bem

como os exames não ofertados pelo SUS. Na cultura brasileira, a discussão

envolve aspectos relacionados à alimentação, ao trabalho, à educação e ao

transporte.

Quanto ao transporte, um dos direitos das pessoas com neoplasia, muitos

não tem conseguido ter acesso a esse benefício na cidade de Uberaba, por não

existir uma política de saúde especifica aos usuários com neoplasia. Sendo

assim, os usuários passam a depender de ambulâncias, cujo serviço é moroso,

fazendo com que os usuários passem a arcar com a condução, pagando o

transporte coletivo. Nesse caso, comprometem ainda mais a renda familiar, pelos

constantes deslocamentos até o centro da cidade, onde se localiza o hospital.

Na verdade, torna-se importante ressaltar a necessidade de realização de

maiores estudos sobre as condições sociais dos pacientes com Neoplasia

Maligna, procurando analisar as especificidades do contexto social brasileiro

(KOLFMAN, 1999). As respostas às várias indagações dos usuários apenas

serão obtidas por meio de esforço conjunto de investigação, envolvendo o

Serviço social, ao esclarecer um pouco mais sobre os direitos socioeconômicos e

salutar dos usuários com neoplasia, seja em Uberaba, seja nos muitos “Brasis”

que compõem nossa realidade tão diversa.

Segundo foi apurado durante o estágio, o usuário com câncer tem a

necessidade de estar acompanhado semanalmente, ou pelo menos

quinzenalmente, para consultas de controle e orientação, o que nem sempre

acontece com os doentes de baixa renda, pela falta de recursos financeiros e

como consequência não podem arcar com o transporte coletivo.

Aborda-se essa realidade nas palavras de Schulze (1997, p. 21), quando

expõe: “Em geral, o paciente com câncer e seus familiares não são confrontados,

de uma só vez, com uma grande perda, mas sim com uma série de

desapontamentos”. No entanto, estes contratempos poderão ser superados com

um direcionamento e apoio apropriados, até que o paciente e familiares se

adaptem a essa nova realidade que é o tratamento complexo da neoplasia.

Não há legislação específica sobre o transporte coletivo para usuários com

Neoplasia Maligna, mas tem-se conhecimento de cidades como São Paulo, Rio

de Janeiro e Curitiba de pacientes que conseguiram tal benefício, conforme

Page 64: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

63

expõe Guaringue (2009). Por outro lado, os usuários de outros municípios têm

conseguindo acessar esse direito por meio do Tratamento Fora de Domicilio

(TFD), instituído pela Portaria nº 55 da Secretaria de Assistência à Saúde

(Ministério da Saúde), a qual garante, por meio do SUS, tratamento médico,

consultas e passagens de ida e volta à pacientes com doenças não tratáveis no

município de origem por falta de condições técnicas.

Percebeu-se, durante o estágio que a população desconhece seus direitos

por serem muito específicos. E o problema está na falta de divulgação e

informação, até por parte do Ministério da Saúde. Em contrapartida, se as

pessoas com neoplasia soubessem de seus direitos e como buscá-los,

certamente a qualidade de vida do paciente seria melhor. Por isso mesmo é muito

importante a orientação e o acompanhamento por parte do Serviço Social da

instituição.

A respeito da qualidade de vida para usuários com Neoplasia Maligna,

Kowács; Carvalho (1997, p. 225) afirmam que:

Atualmente se tem dado grande valor a estudos que levem a práticas que resultam em promoção de melhor qualidade de vida a pacientes gravemente enfermos. Quando falamos em qualidade de vida, estamos diante de termos tão difíceis de serem operacionalizados, mas que envolvem a possibilidade de satisfação com as circunstâncias da vida, e incluen muitos aspectos além da diminuição do sofrimento.

Nessa perspectiva, as ações do Serviço Social junto ao Hospital Hélio

Angotti refletem não apenas fatores físicos, mas também sociais, psicológicos,

emocionais e econômicos. Para melhora da qualidade das ações do assistente

social, esta têm relação com as Secretarias de Saúde dos municípios

conveniados com o hospital, por meio das demandas atendidas pelo SUS FÁCIL,

tais como: consultas emergenciais (até mesmo as filantrópicas), guias de

internação, medicação, visitas domiciliares, entre outras.

Atualmente se observa uma preocupação com a qualidade de vida

proporcionada por novos tratamentos em que os programas domiciliares se

tornaram a grande opção. Trata-se realmente de uma opção altamente valorizada

pela maior parte dos pacientes familiares e equipes de saúde, nas cidades onde

se presta esse tipo de serviço. De fato essa modalidade de tratamento não existe

no Hospital Hélio Angotti, porém, nas instituições assistenciais, há um grande

trabalho realizado, no que se refere às redes de serviços prestados, onde há

Page 65: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

64

sempre a conexão da profissional junto aos programas e projetos existentes.

Na atuação junto aos usuários com Neoplasia Maligna, o objetivo do

Serviço Social no Hospital Hélio Angotti, realiza um conjunto atuações voltadas

para os problemas, necessidades, interesses e dificuldades que se expressam

em nível social, alcançando pessoas individualmente, grupos sociais e

comunidades. Desse modo, o Serviço Social realiza um trabalho de orientação,

acompanhamento e encaminhamento dos pacientes e seus familiares ou

responsáveis, no período de internação, buscando atender as demandas

municipais.

Busca também a sensibilização dos pacientes para a continuidade do

tratamento a pós-alta. Nesse contexto, o Serviço Social do hospital consolida seu

exercício, visando atender e divulgar informações quanto aos direitos sociais dos

usuários, contribuindo-se para a cidadania. Conforme orientação do INCA (2009):

O Serviço Social tem como meta realizar um trabalho de acolhimento do paciente, contribuindo para a análise de sua trajetória, que engloba aspectos, como as dificuldades de acesso aos serviços de saúde e relativas ao convívio social. O assistente social orienta o paciente e familiares quanto aos direitos garantidos por lei em função da doença.

Além disso, no Hospital Hélio Angotti, a atuação da Assistente Social na

instituição tem sido realizada por meio de atendimentos individuais aos pacientes,

familiares e responsáveis, por meio de demanda espontânea e/ou encaminhada,

dentro de uma equipe multidisciplinar. Tal atuação se efetiva por meio do

acolhimento aos pacientes com Neoplasia Maligna, bem como a familiares e

usuários da instituição. Nesse caso, o trabalho profissional da assistente social

tem como objetivo pesquisar as situações de cada paciente segundo as

dimensões cultural, ambiental, social, pessoal e financeira, objetivando identificar

e intervir nas expressões da questão social que possa interferir no tratamento.

Nas palavras de Guaringue (2009), ao associar Serviço Social e oncologia:

“O Assistente Social é o elo entre o paciente e a instituição através da

socialização das informações, na busca de conhecer a demanda e suas

necessidades, contribuindo no acesso aos benefícios e programas de Saúde.

Nesse sentido, observa-se que a atuação do Serviço Social está voltado para a

conquista dos direitos sociais, culturais e políticos. Toda intervenção do

assistente social tem um caráter educativo, podendo atuar em vários níveis de

Page 66: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

65

assistência. Sendo assim, o Serviço Social no Hospital Dr. Hélio Angotti atende

aos setores de internação, ambulatório, quimioterapia, radioterapia, UTI e CTI.

Importante salientar que a infra-estrutura para esse tipo de abordagem

envolve a equipe do hospital que conta com os médicos especialistas e

generalistas, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas e o assistente social. Esse

tipo de assistência procura alcançar a qualidade de vida como continuidade ao

atendimento hospitalar, prestado ao usuário oncológico, com base em uma

atuação, que aborda: orientações e informações sobre as normas do hospital e

seus recursos, como também, a política de saúde adotada. Além disso, busca

realizar pesquisas, relatórios e parecer social, por meio da intervenção que pode

ser realizada por solicitação de outros integrantes da equipe interdisciplianr.

Segundo Kowács; Carvalho (1997, p. 227): “Alguns hospitais tem

mobilizado as suas equipes para oferecer atenção continuada em um

atendimento especializado”. No caso do hospital campo de estágio, busca-se, por

meio do assistente social, realizar acolhimento do paciente iniciante no

tratamento, para maior compreensão em relação ao mesmo, como forma de

atenção continuada. Pode-se citar como parte integrante do programa de atenção

continuada as visitas aos leitos, no sentido de acompanhar os pacientes

internados, identificando a situação social no momento da internação e do

tratamento.

Coelho (2000, p. 19) observa que: “Um problema especial, de difícil

descrição quantitativa em termos monetários, é a perda da qualidade de vida de

pacientes com câncer, prejudicando sua produtividade”. Nesse contexto, integra

as ações do Serviço Social do Hospital Hélio Angotti, os encaminhamentos para

Casas de Apoio, quando os pacientes e/ou familiares necessitam de abrigo,

alimentação e/ou hospedagem durante o tratamento.

Na sociedade contemporânea, os Serviços Sociais tem respondido

satisfatoriamente ao atuar na área da oncologia para melhorar o tratamento da

neoplasia e reabilitação dos pacientes (KOLFMAN, 1999). Para tanto, no hospital

campo de estágio, o assistente social envida esforços ao encaminhar os usuário

para realização de exames fora da unidade, quando não existe o recurso na

própria instituição. Além disso, orienta o usuário a procurar a Secretaria Municipal

ou Estadual de Saúde, para requerimento de medicação gratuita por meio de

processo legal, viabilizando, inclusive, a obtenção de medicamentos junto às

Page 67: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

66

farmácias de doação.

Para Schulze (1997, p.21):

Se o paciente tiver a chance de tomar um contato gradativo com a realidade de sua doença, dentro se sua capacidade, e se for encorajado a dividir seus sentimentos com os outros – considera-se estes outros aqueles pertencentes à família – esse paciente poderá compreender a sua condição sem experimentar um enorme pânico ou desespero.

É nessa linha de pensamento que faz parte do programa do Serviço Social

do Hospital Hélio Angotti, atender a família, quando o assistente social achar

necessário, ou por solicitação do paciente ou equipe de saúde. Nesse caso,

criam-se mecanismos para oportunizar ou promover o contato entre a equipe

médica e os familiares do paciente.

Um trabalho de suma importância desenvolvido neste hospital campo de

estágio é a interpretar dos aspectos psicossociais e econômicos que envolvem o

paciente nas reuniões e encontros com a equipe multidisciplinar. Segundo

Guaringue (2009), considera-se como elementos fundamentais para o tratamento

da neoplasia, além dos processos terapêuticos, o suporte familiar, a pesquisa e a

avaliação, bem como o tratamento associado a reeducação. Desse modo, o

assistente social visa providenciar as altas sociais, para pacientes sem familiares

ou sem condições de tratamento no domicílio.

Segundo dados do INCA (2009), a Organização Mundial de Saúde (OMS)

salienta que o tratamento do câncer deve ser acompanhado com o controle de

sintomas relacionados á doença, desde o diagnóstico e em todo processo de

tratamento. Portanto a equipe multidisciplinar é de suma importância, pois

durante o tratamento, contribui para a qualidade de vida, não apenas do usuário,

mas ainda de seus pacientes, realizadas de modo continuo e satisfatório.

Pensando nisso, o Serviço Social do Hospital Hélio Angotti, realiza

continuamente a caracterização sócio-econômica dos usuários para concessão

de benefícios junto à Associação dos Voluntários de Combate ao Câncer de

Uberaba (AVCCU), efetuado visita domiciliar quando necessário, orientar os

pacientes e familiares, quanto aos direitos assegurados por lei em virtude da

patologia.

Diante das informações obtidas com o referencial teórico, e sobretudo com

a prática do Serviço Social do Hospital Hélio Angotti, nota-se que a realidade

Page 68: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

67

sócio-econômica do Brasil demonstra a necessidade de ampliar o leque de

benefícios dos usuários do serviços de saúde com Neoplasia Maligna, sobretudo

para os de baixa renda. Não se pretende com estas informações apenas

esclarecer, educar e orientar futuros assistentes sociais no trabalho com a

oncologia. Mas orientar, por meio do relacionamento médico-usuário-família,

questão benefícios sociais e, portanto, situar-se melhor em nível de

possibilidades do assistente social em uma equipe interdisciplinar.

Nesse contexto, dúvidas e desafios, evidentemente, continuarão surgindo,

pois muitos não compreenderão o conteúdo das informações e seus objetivos.

Outros poderão contestar as reflexões aqui tratadas, entretanto, a discussão esta

lançada e, por meio de debates em encontros e conferencias dos Assistentes

Sociais, provavelmente, esta pesquisa poderá se ampliar e multiplicar os

resultados positivos obtidos no Hospital Hélio Angotti.

Cabe dizer que o conjunto de ações empreendidas pela Assistente Social,

para a busca da saúde, dependerá, integralmente, do grau de informação dos

pacientes, familiares, esfera pública e equipe de saúde. Todos que possam se

integrar e propagar as informações aqui discutidas podem, em nossa opinião, ter

a responsabilidade de “não apenas repassar dados e informes obtidos, mas, sim,

de adequar o acolhimento e a assistência utilizada, de maneira individual e

personalizada” (COELHO, 2000, p. 112), principalmente quando tal assistência

processar-se no âmbito da população mais carente e de baixo poder aquisitivo.

No contexto da assistência social, cabe dizer que, por meio das

informações demonstradas nesta pesquisa, tentou-se propagar informações de

utilidade pública, configurando-se, antes de tudo, um ato profissional, de modo

que se possam multiplicar esses conhecimentos juntos aos futuros assistentes

sociais. Com isso, busca-se a qualidade de vida, para amenizar e até mesmo

transformar os sofrimentos e os desafios aqui relatados em benefícios e melhoria

da saúde integral dos usuários com Neoplasia Maligna.

Nesta pesquisa, o conceito de qualidade de vida pode ser concebido como

um conceito central e integrador do marco teórico e prático aqui analisado, uma

vez que o sofrimento e as dificuldades sociais podem ser mais bem sanados

quando a presença do Serviço Social é marcante. Nesse caso, as informações

discutidas, muito além de ser um Trabalho de Conclusão de Curso, pode se

prestar a novos subsídios para a intervenção junto a pacientes oncológicos, com

Page 69: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

68

a finalidade de melhoria da qualidade de vida dos usuários e daqueles que o

acolhem.

Nessa perspectiva, o conceito de qualidade de vida abrange o cotidiano

dos pacientes e familiares, assim como decisões em nível assistencial, tanto da

equipe hospitalar, quanto das autoridades políticas e de planejamento econômico

que deve se voltar para a concessão de transporte coletivo gratuito aos usuários

com Neoplasia Maligna.

Instituições como o INCA em nível nacional e a OMS em dimensão

internacional e a AVCCU de cunho municipal, devem avançar nos cuidados

médicos e psicossociais, para se alcançar uma qualidade de vida adequada.

Schulze (1997, p. 125) argumenta que “o conceito deve levar em conta um

componente subjetivo, enfatizando o aspecto de percepção pessoal da doença”.

Desse modo, a percepção social da neoplasia talvez seja até mais importante, em

certas circunstâncias, do que o próprio tratamento radiológico ou quimeoterápico,

quando se considera o usuário como um ser humano integro e com necessidades

sociais.

Recentemente, a atuação do Serviço Social na oncologia, tem evoluído em

direção a um sistema interdisciplinar que consiste de fatores biológicos,

socioeconômicos e sociais. Isso pode ser evidenciado, com a prática que se fez

necessária durante o estágio realizado no Hospital Hélio Angotti, por meio do qual

se alcança domínios específicos da assistência social, como por exemplo: a

percepção de saúde, as atividades sociais, o bem-estar do paciente e dos

familiares. É precisamente na promoção da qualidade de vida que as variáveis

socioeconômicas desempenham um papel significativo.

Nossa opinião é a de que o conceito de qualidade de vida deve estar mais

explicitamente presente, tanto na pesquisa, como na intervenção junto aos

usuários com Neoplasia Maligna. Pode-se perceber nesta pesquisa, que a

atuação do assistente social pode detectar a natureza dos problemas dos

usuários em vários estágios da doença, pois quando se monitora a qualidade do

cuidado oferecido ao paciente e seus familiares, contribui-se para a melhoria da

qualidade de vida.

Page 70: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

69

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar esta pesquisa na área da saúde com delimitação em torno dos

direitos sociais dos pacientes com neoplasia maligna e o trabalho do profissional do

Serviço Social na efetivação dos direitos sociais do usuário, nessas condições de

saúde, uma questão que ficou evidente foi que o controle do sofrimento no câncer,

tem implicações diretas com as políticas de saúde nacional e de assistência social,

assim como com as instituições nacionais que regulamentam os benefícios sociais

em nível federal, estadual e municipal. Quanto à dimensão municipal, maior atenção

deveria ser dada, quanto ao benefício do transporte urbano gratuito, que poderia ser

instituído, após diagnóstico médico, enquanto durar todo o tratamento.

É importante ressaltar a significância do Hospital Dr. Hélio Angotti, que conta

com uma estrutura de alta complexidade hospitalar, sendo um espaço dedicado em

maior escala ao paciente com neoplasia maligna, com equipamentos e profissionais

que atendem e trabalham tanto em caráter privado, quanto com recursos do SUS,

cuja efetivação no Brasil se deu a partir de um longo período de lutas e

reivindicação de direitos, que discutiam a saúde do trabalhador e o direito a

condições dignas de trabalho, que foram discutidas com maior ênfase na

Constituição Federal de 1988, que garantiu o direito a saúde no Brasil.

Nesse sentido, voltado a garantia de direitos e lutas sociais adentramos na

participação do Serviço Social enquanto profissão no Brasil, que surgiu com o

objetivo de conter os movimentos sociais organizados pela classe trabalhadora.

Neste momento, a profissão trabalhava com uma identidade totalmente alienada a

classe dominante, com uma postura voltada a atender os interesses do capital.

Ao analisar a questão da equipe multidisciplinar voltada para atitudes médico-

assistenciais, aqui incluído o Serviço Social, divulga-se estratégias para a

implementação do programa de alívio do sofrimento, buscando consolidar os direitos

sociais. Recomenda-se que os municípios estabeleçam medidas específicas, tais

como a definição de uma política governamental para o transporte coletivo; o

estabelecimento de um programa de educação tanto público como dos profissionais

de saúde e a garantia dos direitos sociais universalizados. Essas medidas deveriam

Page 71: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

70

ser implementadas de forma que a atenção básica à saúde e à assistência social

viabilizasse a criação de uma política nacional sobre a dignidade e qualidade de vida

para os usuários com câncer. Tudo isso somado a um tratamento coerente na

assistência médico-hospitalar ao público, aos profissionais de saúde, aos

cuidadores, articulando com os responsáveis pela execução de políticas públicas,

com adequação dos direitos sociais e melhoria na situação socioeconômica,

especial daqueles que ficam impossibilitados de trabalhar para sua sobrevivência.

Conclui-se que há evidências de que as políticas públicas já alcançaram o

reconhecimento de que o assistente social é um profissional da saúde e integra

outros conhecimentos que poderá alcançar benefícios aos usuários com Câncer,

não apenas aos idosos ou portadores de necessidades especiais. Importante

ressaltar que a própria neoplasia maligna, já coloca o usuário em situação de risco e

por isso mesmo necessita de tratamento especial, tanto nas dimensões médicas,

psicológicas e sociais.

Ao analisar a história, tem-se evidenciado o número de casos em que as leis

e regulamentos estaduais e nacionais que eram vagos e ambíguos passaram a ser

revisados com o objetivo de legitimar os direitos à qualidade de vida, concebendo o

usuário como um ser biopsicossocial integro. Quanto à dimensão econômica, resta

ainda evidenciar os direitos à Previdência e aposentadoria que poderiam ser mais

amplos segundo a condição socioeconômica de cada usuário.

Cabe dizer que a experiência dos profissionais observados durante o estágio

nos convida a encontrar alternativas organizacionais e econômicas apropriadas a

nossa realidade. Propõe-se os passos que garantem o sucesso do programa da

OMS de controle do sofrimento no câncer, quando exercitado no contexto

multidisciplinar. Nesse contexto, percebemos a relevância do trabalho voltado para o

apoio à família e a importância de se respeitar as especificidades culturais de cada

usuário.

Acreditamos que uma marcada mudança de atitudes e de mentalidade deva

ocorrer concomitante à articulação entre Serviço Social e acolhimento médico. Essa

mudança deverá ter como base a crença de que a neoplasia é um estágio na vida

do usurário, que deve ser encarada na esperança de que o sofrimento, ao ser

minimizado, sempre que possível, determina a oportunidade de se viver com a

dignidade.

Podemos compreender que o Serviço Social no Hospital Dr. Hélio Angotti,

Page 72: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

71

ainda esta em processo de implantação, as demandas atendidas são apenas as

encaminhadas pelos demais profissionais. O fato de ser uma única assistente social,

também interfere no processo de informação dos direitos dos usuários.

O profissional do Serviço Social sempre se posicionou e conquistou sua

credibilidade profissional, porém é preciso ser um profissional propositivo e muito

criativo, pois as demandas dos usuários são muitas, e os recursos poucos diante

das necessidades e complexidade de cada usuário e família.

O Serviço Social no Hospital Dr. Hélio Angotiti, trabalha embasado no Projeto

Ético-Político Profissional, no Código de Ética Profissional e na Lei da Profissão,

desenvolvendo suas atividades voltadas ao compromisso com os usuários,

preservando seu espaço e o respeito perante os demais profissionais envolvidos

com no hospital.

É fundamental que o assistente social, juntamente com a equipe de saúde

tenham qualificação para trabalhar com o sentimento do usuário, sendo

indispensável a sintonia entre a equipe de saúde. Lembrando que o assistente social

na área da saúde não trabalha apenas com a viabilização das políticas de saúde,

mas também com proposta de conscientização do trabalho em equipe para melhoria

dos serviços do SUS.

O Serviço Social no Hospital Helio Angotti desenvolve um trabalho com

qualidade e compromisso com o usuário. Porém, as demandas superam o número

de profissionais, sendo proposto um aumento na quantidade de profissionais que

atuam na área hospitalar, a fim de proporcionar a melhoria do atendimento ao

usuário. Pois, recentemente a instituição contratou um profissional para trabalhar

com a captação de recursos, devido a crise financeira que a instituição passa.

É fundamental a participação dos assistentes sociais em uma proposta de

mobilização de atendimento ao usuário, que justifique a importância do Serviço

Social enquanto profissão dentro do complexo hospitalar, lembrando que não basta

um profissional para atender as demandas espontâneas ou encaminhadas, mas

uma equipe de assistentes sociais que possam acompanhar o ritmo do Hospital, a

fim de trabalhar as demandas e possibilitar estudos que contribuam para qualidade

do atendimento ao usuário, assim como na representatividade do Serviço Social no

hospital. Mas, não basta o aumento de profissionais, os mesmos devem esta

comprometidos e capacitados para realizar um trabalho de respaldo e compromisso

profissional.

Page 73: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

72

A pesquisa sobre os direitos sociais dos pacientes com neoplasia maligna

atendidos no Hospital Dr. Helio Angotti contribuiu para uma leitura da realidade

deste público, suas necessidades, direitos garantidos em lei, acesso a estes direitos,

e sobre a realidade do trabalho do assistente social, neste contexto.

Enfim, a pesquisa reflete ou apresenta os desafios e limites do Serviço Social

na área da saúde, em especial com usuários com neoplasia maligna, possibilitando

a reflexão sobre estratégias de enfrentamento das questões que interferem no

trabalho do mesmo, na sua proposta de preservar, informar e mobilizá-los na luta

por direitos sociais.

Page 74: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

73

REFERÊNCIAS

ANJOS, Márcio F. SIQUEIRA, José E. Bioética no Brasil: tendências e perspectivas. São Paulo: Idéias e Letras, 2007.

BARBOSA, Antonieta. Câncer: direito e cidadania. São Paulo: Arx, 2007.

BEHRING, E. R; BOSCHETTI, I. Política Social: fundamentos e história. São Paulo: Cortez, 2006.

BENEVIDES, R. P. S.; ABREU, R. V. Financiamento da Saúde Pública no Brasil: a situação atual e o impacto da vinculação constitucional de recursos (EC 29/2000). Florianópolis: UFSC, 2008. Disponível em: <http://www.ppgsp.ufsc.br/curso/arquivos/2007-11-25%2020:33:08.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2009.

BERTOLLI FILHO. Cláudio. História da saúde pública no Brasil. 4 ed. São Paulo: Ática, 2008.

BILHARINHO, José Soares. História da Medicina em Uberaba. v. 5. Arquivo Público de Uberaba, 1995.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado; 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 10 nov. 2009.

BRASIL. Lei n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário oficial da união, Brasília, DF, 19 set. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8080.htm>. Acesso em: 10 nov. 2009.

BRASIL. Lei nº 6.229, de 17 de julho de 1975. Dispõe sobre a organização do Sistema Nacional de Saúde. Diário oficial da união, Brasília, DF, 17 jul. 1975. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6229.htm>. Acesso em: 10 nov. 2009.

Page 75: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

74

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. A construção do SUS: histórias da Reforma Sanitária e do Processo Participativo. Brasília, 2006.

BRAVO, M. I. S. Política de saúde no Brasil. In: MOTA, A.E. (org.). Serviço Social e Saúde: formação e trabalho profissional. São Paulo: Cortez/OPAS/OMS/Ministério da Saúde; 2006. p. 88-110.

BRAVO, Maria Inês Souza; MATTOS, Maurílio de Castro. Projeto Ético Político do Serviço Social e sua relação com a Reforma Sanitária. Serviço Social e Saúde: Formação e Trabalho Profissional. 2004.

CANCRO (TUMOR). In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2009. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Cancro_(tumor)&oldid=17264835>. Acesso em: 11 nov. 2009.

CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa. O SUS entre a tradição dos Sistemas Nacionais e o modo liberal-privado para organizar o cuidado à saúde. Ciências e Saúde Coletiva. [On line]. v. 12, supl. nov. 2007, p. 1865-1874.

CAMPOS, Shirley de. Dermatologia/Pele – Pênfigo. 2003. Disponível em: <http://www.drashirleydecampos.com.br/noticias/688>. Acesso em: 09 nov. 2009.

CARVALHO, V. C.; GERBER, L. M. L. O Suas – Sistema Único da Assistência Social em perspectiva. In: CRESS, 2007. Disponível em: <http://www.amavi.org.br/sistemas/pagina/setores/associal/arquivos/ArtigoOSuasEmPerspectiva.pdf?PHPSESSID=aeb809a4b2bf74423260d694f330c087>. Acesso em: 07 jun. 2009.

CASTRO, Carlos Roberto Siqueira, A constituição e o direito ao corpo humano. In: Nos limites da Vida: Aborto, clonagem humana e eutanásia sob a perspectiva dos direitos humanos. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Júris, 2007.

CFESS, Conselho Federal de Serviço Social. Parâmetros para atuação de assistentes sociais na saúde. Brasília, mar. 2009.

CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2003

Page 76: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

75

COELHO, F. R. G. Câncer: manual de orientação para pacientes e interessado. 2. ed. São Paulo: Robe, 2000.

CORDEIRO, Hésio. O Instituto de Medicina Social e a luta pela reforma sanitária: contribuição à história do SUS. Revista de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, 2005.

_______. Descentralização, universalidade e eqüidade nas reformas da saúde. Ciências saúde coletiva. [Online] v. 6, n. 2, 2001, pp. 319-328.

ESCOREL, S. As origens da Reforma Sanitária e do SUS. In: Saúde e Democracia: História e perspectivas do SUS, São Paulo: OPAS, 2005.

FRANKILIN, Julia. Apoio ao enlutado no cuidado paliativo. In: SCHULZE, Célia M. N. Dimensões da Dor no Câncer. São Paulo: Robe, 1997.

GERALISTA. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2009. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Geralista&oldid=14549919>. Acesso em: 11 nov. 2009.

GERSCHMAN, Silvia; SANTOS, Maria Angélica Borges dos. O Sistema Único de Saúde como desdobramento das políticas de saúde do século XX. Revista Brasileira de Ciências e Sociedade, v. 21, n. 61, 2006, pp. 177-190.

GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5ª. Ed. São Paulo: Atlas, 1999.

GOULART, B. F. FREITAS, M. I. de F. A implicação de trabalhadores de ambulatórios municipais, em Uberaba, Minas Gerais, Brasil, na reorganização de serviços preconizada pelo Sistema Único de Saúde. Cadernos de Saúde Pública [online]. 2008, vol. 24, no. 9, pp. 2123-2130. Disponível em: <http://www.scielosp.org/pdf/csp/v24n9/18.pdf>. Acesso em 05 jun. 2009.

GUARINGUE, Cleuza M. P. O papel do serviço social na oncologia. Ponta Grossa: Ispon, 2009.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/>. Acesso em: 13 set. 2009.

Page 77: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

76

INCA. Direitos dos pacientes com câncer. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Câncer, 2009.

KOLFMAN, Jorge. Incidência de câncer no Brasil. MINAYO, Maria Cecília S (org.). Os muitos Brasis. Rio de Janeiro: Abrasco, 1999.

KOWÁCS; Maria J.; CARVALHO, Vicente A.Qualidade de Vida em Pacientes com Câncer. In: SCHULZE, Célia M. N. Dimensões da Dor no Câncer. São Paulo: Robe, 1997.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 9. ed. São Paulo: Hucitec, 2006. 406 p.

NOGUEIRA, Vera Ribeiro; MIOTO, Regina Célia Tamaso. Desafios atuais do Sistema Único de Saúde – SUS e as exigências para os Assistentes Sociais. Serviço Social: Formação e Trabalho Profissional. [On line] jun. 2006.

OMS (Organização Mundial da Saúde), 1986. Carta de Ottawa. In: Promoção da Sáude e Saúde Pública (P. M. Buss, org.), pp. 158-162, Rio de Janeiro: ENSP.

PAIM, J. S. Reforma Sanitária e a Municipalização. Sociedade e Saúde, v. 1, n. 2, p. 59-47, 1992.

PAULUS JUNIOR, Aylton; CORDONI JUNIOR,Luiz. Políticas Públicas de Saúde no Brasil. Revista Espaço para a Saúde, Londrina, v.8, n.1, p.13-19, dez. 2006.

PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos, o princípio da dignidade humana e a constituição brasileira de 1988. São Paulo, Revisa dos Tribunais, v. 83, n. 3, p. 41-53, 2005.

PIRES, Maria Raquel Gomes Maia; DEMO, Pedro. Políticas de saúde e crise do Estado de Bem-Estar: repercussões e possibilidades para o Sistema Único de

SAÚDE. Saúde e sociedade. [On line] v. 15, n. 2, 2006, pp. 56-71.

Page 78: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

77

RESOLUÇÃO CFESS N. 383/99. Ementa: Caracteriza o Assistente Social como profissional da saúde. Disponível em: <http://www.cressd.org.br/2006/6/22/Página37Print.htm>. Acesso em: jun. 2009.

SANTOS, N. R. As reformas federais e a descentralização da gestão, controle e avaliação. Saúde e Sociedade, v. 1, n. 1, p. 11-14,1991.

SCHULZE, Célia M. N. Dimensões da Dor no Câncer. São Paulo: Robe, 1997.

SILVA, K. N. S.; RAMIRES, J. C. L. O acesso à Saúde Pública na cidade de Uberaba: caracterização e espacialização. Uberlândia: UFU, 2008. Disponível em: <http://www.ic-ufu.org/anaisufu2008/PDF/IC2008-0098.PDF>. Acesso em: 5 jun. 2009.

TEIXEIRA, Sonia Fleury (Org.). Reforma sanitária: em busca de uma teoria. 3 ed. São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, 2006.

TREVISAN, Leonardo. Das pressões às ousadias entre a descentralização tutelada e a gestão em rede no SUS. Revista de Administração Publica. [On line] v. 41, n. 2, mar./abr. 2007, p. 237-254.

UNESCO. Universal Draft Declaration on Bioethics and Human Rights. Paris, mimeo, 24 de junho 2005. In: GARRAFA, Volnei. Inclusão social no contexto político da bioética. Disponível em: <http://www.bioetica.catedraunesco.unb.br/htm/X%20-%20htm/biblio/htm_RBB/RBB%201-2/03_artigos12.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2009.

VASCONCELOS, Ana Maria de. A prática do serviço social: cotidiano, formação e alternativas na área da saúde. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2003.

WANBERGNA, L. Câncer: o paciente deve lutar pelos seus direitos. O Povo. Fortaleza, n. 5, out., 2005. Disponível em: <http://www.ibvivavida.org.br/portal>. Acesso em: out. 2009.

Page 79: UNIVERSIDADE DE UBERABA - · PDF fileque foi um dos pontos nevrálgicos para a construção do Trabalho de ... O desenvolvimento científico e social que no século XX,alcançou a

78

ANEXOS