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Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
Modelagem do balanço hídrico para a determinação da evapotranspiração da soja no MATOPIBA por meio de
sensoriamento remoto
Álex Júnior Zanchet Bordignon
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Agronômica
Piracicaba (2018)
Álex Júnior Zanchet Bordignon
Modelagem do balanço hídrico para a determinação da evapotranspiração da soja no MATOPIBA por meio de sensoriamento remoto
Orientador: Prof. Dr. MARCOS VINICIUS FOLEGATTI
Trabalho de conclusão de curso apresentado para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Agronômica.
Piracicaba (2018)
2
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação DIVISÃO DE BIBLIOTECA – DIBD/ESALQ/USP
Bordignon, Álex Júnior Zanchet
Modelagem do balanço hídrico para a determinação da evapotranspiração da soja no MATOPIBA por meio de sensoriamento remoto / Álex Júnior Zanchet Bordignon. - - Piracicaba, 2018.
35 p.
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) - - USP / Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”.
1. Irrigação 2. Modelagem 3. Sensoriamento remoto 4. Glycine max L. Modelagem do balanço hídrico para a determinação da evapotranspiração da soja no MATOPIBA por meio de sensoriamento remoto
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DEDICATÓRIA
A Deus pela vida e suas bênçãos.
À minha mãe e a meu pai, que pelo amor, me ensinaram a aprender.
Às minhas irmãs e meu irmão pela energia em seguir a diante.
À minha madrinha e padrinhos por iluminarem e facilitarem meus caminhos.
Às minhas avós que por suas virtudes reproduzem o bem em minha vida.
Aos demais familiares e amigos pelos milagres da amizade.
Aos meus colegas acadêmicos e orientador por me inserirem nos caminhos da busca pelo
conhecimento.
4 AGRADECIMENTOS
À Fazenda Santa Isabel (Bom Jesus-PI) pela prontidão em ajudar em quaisquer
ocasiões.
Em especial:
Nelci Zanchet Bordignon
Lorinês Bordignon
Valmir José Bordignon, Soraia Gemelli Bordignon
Fábio Bordignon, Lisiane Scariot Bordignon
Idemar Piaia, Vânia Zanchet Bordignon
Valmor Luiz Bordignon, Zélia Queiroz de O. Bordignon
À gloriosa ESALQ e Departamento de Engenharia de Biossistemas pelo ensino e pelo
apoio.
Em especial:
Prof. Marcos Vinícius Folegatti
Beatriz Regina Duarte Novaes
Fernanda Barbosa Neves da Silva
Angela Márcia Derigi Silva
Gilmar Batista Grigolon
Prof. Fabio Ricardo Marin
Prof. Felipe Gustavo Pilau
À UNL e Daugherty Water For Food Global Institute pelo auxílio em conhecimento,
estrutura, equipamentos e softwares, todos indispensáveis para realização do trabalho.
Em especial:
Prof. Christopher Neale - Director of Research
Ivo Zution Gonçalvez - Postdoctoral Research Associate
Lacey Bodnar - Research Project Manager
Babak Safa - Postdoctoral Research Associate
À equipe da empresa Fitoagro atenção e coletas de solo para análise.
Em especial:
Andreza Bertoldo
Às pessoas importantes que me ajudaram nesta jornada.
Em especial:
Carolina Machado Marini
Ana Clara Zanchet Bordignon
Otávio Neto Almeida Santos
5
EPÍGRAFE
“A mind that is stretched by a new experience can never go back to its old dimensions”.
Oliver Wendell Holmes, Jr.
6 SUMÁRIO
RESUMO ................................................................................................................................................. 7
ABSTRACT ............................................................................................................................................. 8
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 10
1.1. PRODUÇÃO DE SOJA EM ÁREA DE EXPANSÃO .................................................................................. 10 1.2. NECESSIDADE DE IRRIGAÇÃO NO MATOPIBA ................................................................................ 14 1.3. OBJETIVO DO TRABALHO ............................................................................................................... 16
2. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................................. 17
2.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA ........................................................................................................... 17 2.2. INFORMAÇÕES METEOROLÓGICAS .................................................................................................. 18 2.1. SENSORIAMENTO REMOTO E MODELO DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO ESPACIAL ....................................... 20
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................................ 22
3.1. DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO E PRODUTIVIDADE .............................................. 22 3.2. BALANÇO HÍDRICO ........................................................................................................................ 24
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 26
7
RESUMO
Modelagem do balanço hídrico para a determinação da evapotranspiração da
soja no MATOPIBA por meio de sensoriamento remoto
A demanda da soja (Glycine max L.) impulsionada pela China tem contribuído
para a manutenção dos preços da commoditie no Brasil, incentivando a consolidação de
novas áreas sobretudo no MATOPIBA. Contudo a nova fronteira apresenta produção
irregular causada por ciclos de estiagem, sendo apontada a irrigação como solução. A fim
de oferecer subsídios para a implantação de projetos de irrigação em região com limitada
disponibilidade de água, o presente trabalho simulou, com o auxílio de imagens de satélite,
o balanço hídrico para a cultura da soja em três safras distintas para determinar os valores
de ETr e Kcb. Foi estimada a evapotranspiração espacial através do software SETMI para
uma área de 2.175 ha no estado do PI por meio do uso de imagens LANDSAT e MODIS.
O emprego da simulação espacial do balanço hídrico corrigido por imagens de satélite
mostrou-se satisfatória apresentando valores de ETr acumulado de 394 a 538 mm e
valores máximos de Kcb entre 1,06 e 1,29.
Palavras-chave: 1. Irrigação 2. Modelagem 3. Sensoriamento remoto 4. Glycine max L.
8 ABSTRACT
Modeling of the water balance for the determination of soybean
evapotranspiration in MATOPIBA through remote sensing
Demand from China-led soybeans (Glycine max L.) has contributed to commodity price
maintenance in Brazil, encouraging the creation of a new region to grow crops: MATOPIBA.
The new frontier appears with irregularities of production due to drought cycles and the
irrigation is indicated as a solution. In order to provide subsidies for the implementation of
irrigation projects in regions with low water availability, this work used satellite images to
run water balance for soybean crop in three different harvests to determine the values of
ETr and Kcb. A spatial simulation was developed using SETMI software for an area of
2,175 ha in the state of the PI using LANDSAT and MODIS images. The use of the spatial
water balance corrected by satellite images was satisfactory, showing ETr accumulated in
394 to 538 mm and the maximum values of Kcb between 1.06 and 1.29
Keywords: 1. Irrigation 2. Modeling 3. Remote Sensing 4. Glycine max L..
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10
1. INTRODUÇÃO
1.1. Produção de soja em área de expansão
O Brasil tem-se destacado pelo setor agrícola, consolidando-se como terceiro maior
exportador de alimentos do mundo com 5,7% do mercado, atrás dos EUA (11%) e União Europeia
(41,1%) (FAO, 2018). A balança comercial do agronegócio brasileiro em 2017 foi de US$ 96 bilhões,
dos quais 33% corresponde a soja (AGROSTAT, 2018). Na safra de 2017/2018 o Brasil produziu 119
milhões de toneladas de soja (CONAB, 2018), ficando atrás somente dos EUA com estimativa de 124,8
milhões de toneladas (USDA, 2018). Segundo DA SILVA e SCHNEIDER (2017), o crescimento da
produção se deve à maior produtividade das lavouras existentes e da expansão da produção em novas
áreas. Muitas dessas áreas encontram-se nos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, que
compõem região que, nos últimos anos, cresce em média cinco vezes mais que o Brasil na produção
de grãos, o MATOPIBA (acrônimo das siglas dos estados) (COLUSSI, 2017), (Figura 1).
Fonte: MIRANDA et al., 2014.
Figura 1: Delimitação territorial do MATOPIBA e as 31 microrregiões geográficas do IBGE que o compõem.
Com 73 milhões de hectares distribuídos em Tocantins (38%), Maranhão (33%), Bahia (18%)
e Piauí (11%), o MATOPIBA foi institucionalizado em 06/05/2015 pelo decreto presidencial Nº 8.447
como região de desenvolvimento no país. O MATOPIBA é caracterizado como última fronteira agrícola
11
do Brasil (DE SA et al., 2015; PESSOA et al., 2014) e a maior do mundo em área para expansão
(OECD/FAO, 2015). Além do mais essa região tem se destacando na crescente produção de milho,
algodão, feijão (LANDAU et al., 2014), e especialmente, a soja (SA et al., 2015) que teve seu
desenvolvimento rápido (Tabela 1) impulsionado pela expansão das atividades agrícolas e
investimentos relacionados (COLUSSI, 2017).
Tabela 1: Crescimento do PIB, Área cultivada e Valor da produção dos estados do MATOPIBA no período de 2005
a 2015.
Fonte: IBGE, 2018.
De acordo com a Tabela 1, o crescimento agrícola acelerado favoreceu o aumento do PIB
em todos os estados, exceto o Maranhão que apresentou crescimento equivalente. Contudo, esse
avanço tem sido prejudicado pelas condições precárias de comunicação, escoamento de produtos e
serviços financeiros. Esses fatores viabilizam apenas agricultores e empresas de grande porte (DE
LIMA FILHO et al., 2013; BRASIL, 2018) e ao mesmo tempo impedem que o desenvolvimento atinja as
classes menos favorecidas da população destes estados (DE SA et al., 2015).
No entanto, a participação do MATOPIBA na produção de grãos dos quatro estados cresceu
de 54,6% para 90,5% entre 1991 e 2011. No âmbito nacional a participação avançou de 3,0% para
8,2% (GARAGORRY et al., 2015), com expectativa de atingir 9,6% em 2021 (25,4 milhões de
toneladas) (BRASIL, 2018). Nesse cenário, destaca-se a soja, que na região ampliou sua participação
na produção de grãos de 24,05% em 1991 para 56,19% em 2011 (GARAGORRY et al., 2015).
O aumento da demanda de soja provocada pela China em conjunto com a desvalorização da
taxa cambial e instabilidade climática nas safras dos Estados Unidos e Argentina mantiveram a
PIB (bilhões de R$)
2005 2010 2015 Crescimento
2005-2010 (%)
Crescimento
2010-2015 (%)
Crescimento
2005-2015 (%)
BA 88,29 154,42 245,02 74,90 58,67 177,52
MA 25,10 46,31 78,48 84,47 69,46 212,60
PI 10,71 22,27 39,15 107,89 75,80 265,47
TO 7,71 16,40 28,93 112,85 76,35 275,36
Área cultivada (milhões ha)
2005 2010 2015 Crescimento
2005-2010 (%) Crescimento
2010-2015 (%) Crescimento
2005-2015 (%)
BA 3,54 4,69 5,00 32,73 6,51 41,37
MA 1,61 1,77 1,83 9,97 3,62 13,95
PI 0,99 1,26 1,56 27,34 23,56 57,35
TO 0,69 0,67 1.20 -2,50 79,25 74,78
Valor da produção no período (bilhões R$)
2005 2010 2015 Crescimento
2005-2010 (%) Crescimento
2010-2015 (%) Crescimento
2005-2015 (%)
BA 3,98 10,59 17,21 165,88 62,48 332,02
MA 1,31 2,46 3,89 87,21 58,27 196,29
PI 0,58 0,92 2,67 58,61 190,74 361,15
TO 0,73 1,27 3,17 74,68 149,32 335,50
12 rentabilidade da cultura (PESSOA et al., 2014), o que contribui para os investimentos em produtividade
e abertura de áreas na região. De 2000 a 2010, a produtividade média da região aumentou 13,35%
(DE LIMA FILHO et al., 2013) e a área ocupada pela cultura saltou de 0,59 milhões de ha em 1995 para
3,39 milhões de ha em 2014 (COLUSSI, 2017).
Nesse cenário de crescimento acelerado, muita atenção tem sido dada para o desmatamento.
A região possui várias aptidões, sendo que algumas áreas são aptas a mais de um sistema. Ao todo
26 milhões (35%) de ha aptos para agricultura intensiva, como produção de grãos (BOLFE et al., 2016),
cerca de 32,3 milhões de ha (43%) aptos para atividades de silvicultura e 43,7 milhões de ha (59%)
aptos para pastagens plantadas. A região teria cerca de 7,4 milhões de ha ou 10,1% que seriam inaptos
à produção agrícola (LUMBREJAS et al., 2015).
Em meio ao potencial agropecuário que a região do MATOPIBA oferece, simulações para
2050 demonstram que cerca de 35 milhões de ha serão desmatados, representando 47% da área
(AGUIAR, 2016). Somente no cerrado, que ocupa 91% do MATOPIBA, houve uma média de 0,7
milhões de ha desmatados a cada ano no período de 2008 a 2014, sendo os estados pertencentes ao
MATOPIBA os que desmataram a maior área relativa à área de cerrado dentro de cada estado (BOLFE
et al., 2017). Contudo, a região possui grande porção de áreas de preservação (Tabela 2), contribuindo
para manutenção dos ecossistemas.
Tabela 2: Quadro agrário da região do MATOPIBA.
Fonte: FONSECA, 2014.
Dos 73 milhões de ha da região, 17,76% são distribuídos em: Unidades de Proteção Integral,
Unidades de Uso Sustentável e Terras Indígenas; 5,41% em Assentamentos Rurais e Áreas
Quilombolas, totalizando (descontadas sobreposições) 21,42% da região (FONSECA, 2014).
Este total somado as Reservas Legais previstas no código ambiental, onde na região do
cerrado (no código, 60% do MATOPIBA) deve ser de 20% e na região da Amazônia legal (no código,
62% do MATOPIBA) 35%, confere um caráter sustentável para o progresso agrícola na região
(MAGALHAES & MIRANDA, 2014). Para Miranda et al. (2014) a agricultura do MATOPIBA avança mais
sobre áreas subutilizadas como pastagens nativas ou degradadas, savanas e áreas pouco produtivas,
do que sobre florestas, promovendo a mudança do uso da terra.
A expansão da agricultura no MATOPIBA sobre áreas subutilizadas foi possível graças a
grandes investimentos em tecnologias para melhorar as condições de solo, bem como a mecanização
das etapas da produção (LUMBREJAS et al., 2015) (FREITAS, 2011). Além disso, a região apresenta
grandes áreas planas de Chapadas e Depressões (MINGOTI et al., 2014) e tipos de solo (Figura 2) das
Classes dos Latossolos Amarelos (22,51 milhões de ha), Neossolos Quartzarênicos (9,58 milhões de
ha) e Plintossolos Pétricos (9,55 milhões de ha), os quais favorecem a agricultura mecanizada de larga
escala, não sendo aptos a manejos extrativistas (MAGALHAES & MIRANDA, 2014).
Área (ha) (%)
Área Total 73.173.485 100,00
Área Unidades de Conservação 8.838.764 12,08
Área Terras Indígenas 4.157.189 5,68
Área Assentamentos 3.706.699 5,07
Áreas Quilombolas 249.918 0,34
Conjunto 15.673.078 21,42
13
Fonte: MAGALHAES & MIRANDA, 2014.
Figura 2: MATOPIBA, classes de solo até o segundo nível categórico.
O clima da região é predominantemente tropical semiúmido, ocorrendo em cerca de 78% da
área, com temperatura média superior a 18 ºC em todos os meses e 4 a 5 meses sem chuva. Na
porção leste, o clima é semiárido, com 6 meses secos e temperaturas acima de 18 ºC em todos os
meses (Figura 3) (MAGALHAES & MIRANDA, 2014).
A região é em geral quente ao longo do ano, apresentando estação seca definida e
abundância em radiação solar (DE LIMA FILHO et al., 2013), duração do período sem chuvas entre 3,5
e 7,5 meses, bem como acentuada variação na pluviosidade (850 a 1800 mm) (Figura 3) (LUMBREJAS
et al., 2015).
14
Fonte: LUMBREJAS et al., 2015.
Figura 3: MATOPIBA, caracterização climática. C1: Precipitação entre 1600 e 2000 mm por ano, período de
estiagem de 3 a 4 meses. C2: Precipitação entre 1300 e 1600 mm por ano, período de estiagem de 5 a 6 meses. C3: Precipitação entre 1100 e 1300 mm por ano, período de estiagem de 6 a 7 meses. C4: Precipitação entre 900 e 1100 mm por ano, período de estiagem de 6 a 7 meses. C5: Precipitação entre 800 e 900 mm por ano; período de estiagem de 7 a 8 meses (LUMBREJAS et al., 2015).
1.2. Necessidade de irrigação no MATOPIBA
Apesar da quantidade de chuvas (Figura 3) e uma ampla época de semeadura para a cultura
da soja (DE ANDRADE JÚNIOR et al., 2001; EVANGELISTA et al., 2017), algumas regiões do
MATOPIBA apresentam veranicos frequentes durante o período chuvoso, prejudicando a produtividade
e a estabilidade da produção dessa cultura (Tabela 3) sobretudo no Centro-Sul do Piauí e Oeste da
Bahia (ASSAD et al., 1993).
Tabela 3 Produtividade média da cultura da soja em kg ha-1 das últimas 11 safras em toda extensão dos estados
do MATOPIBA.
Ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 Média
Brasil 2819 2817 2624 2939 3111 2635 2932 2858 3022 2894 3392 2913
MATOPIBA 2563 3009 2665 2763 3085 2918 2422 2654 2865 1781 2964 2699
Bahia 2700 3036 2552 3060 3360 2889 2288 2512 3134 2104 3242 2807
Piauí 2242 3231 2821 2531 2982 2793 1727 2375 2659 1147 2906 2492
Fonte: IBGE 2018.
O MATOPIPA registra produtividade de soja inferior à brasileira, fato que se estende até o
estado da Bahia o qual possui maior produtividade da região. No tocante à estabilidade da
produtividade ao longo das safras o MATOPIBA também está abaixo da média nacional com desvio
padrão (DV) de 348 kg ha-1 frente a 205 kg ha-1 nacional.
Em termos de produtividade e estabilidade da produção no MATOPIBA, o estado do Piauí é
o menos produtivo e o mais instável apresentando um desvio padrão (DV) de 577 kg ha-1 enquanto a
Bahia, o mais produtivo, apresenta 388 kg ha-1. Esta instabilidade ocorre devido à variabilidade das
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chuvas da região (ASSAD et al., 1993; MOLION & BERNARDO, 2000). Entretanto é notável que a
Bahia possui desempenho melhor em ambos os aspectos mesmo com regimes de chuva semelhantes.
Fato que pode explicar a baixa produtividade de soja do Piauí é a baixa expressividade da
agricultura irrigada. Em 2014 o estado contava com apenas 19 pivôs, enquanto o estado da Bahia já
possuía 1.231 pivôs (LANDAU et al., 2014). Pois, enquanto por um lado os cultivos de soja irrigada são
mais produtivos (MAEHLER et al., 2003; FERNANDES & TURCO, 2003; HERZOG et al., 2004), por
outro, a falta de água é o principal limitante da produtividade da soja, com perdas que podem chegar a
40% (EVANGELISTA et al., 2017).
Apesar de possuir a menor média de produtividade do MATOPIBA, o Piauí apresenta elevado
potencial produtivo. Na safra de 2008 o estado registrou média de 3.231 kg ha-1, 30% a mais que a
média. No estado da Bahia, BATTISTI, et al (2018) apresentaram produtividades de 4.967 kg ha-1 em
área comercial a uma eficiência climática de 0,48 (razão entre a máxima produtividade sem déficit
hídrico e a produtividade máxima atingível com déficit hídrico), sendo que, ainda segundo os mesmos,
a produtividade potencial para a região seria de 12.347 kg ha-1, a maior do Brasil.
Em meio a cenário de quebras de safra frequentes causados por falta de chuva e
produtividades reais distantes das potenciais, a irrigação vem como forma de estabilizar a produção e
elevar a produtividade. Entretanto a região apresenta limitada disponibilidade hídrica, fato que pode
comprometer a rentabilidade do novo sistema. Para calcular a rentabilidade de um sistema de irrigação
é necessário que se saiba a quantidade de água a ser aplicada e o retorno, em forma de rendimento.
Além disso, é necessário que se conheçam características importantes para o planejamento
e condução de um sistema de irrigação para cultura da soja, como: (i) evapotranspiração de cultura
(ETc), (ii) ETc máxima do ciclo (ETmax), (iii) evapotranspiração real da cultura (ETr), (iv) déficit hídrico
total da cultura (DH), (v) coeficiente de cultura (Kc), (vi) coeficiente de transpiração da cultura (Kcb),
(vii) precipitação efetiva (Pef). Estas variáveis resultam do balanço hídrico da cultura, onde:
i. É a soma total de água usada por uma cultura da semeadura à colheita, sem restrição hídrica
(ANGELOCCI et al., 2002). É necessária para que se conheça quanto a cultura utiliza de
água. Este valor multiplicado pela área resulta no volume de água necessário para que a
cultura complete seu ciclo na região sem que apresente estresse hídrico e, portanto,
expressando sua produtividade máxima (desconsiderando outras perdas).
ii. É o maior valor diário de ETc em todo o ciclo da cultura. É importante para o dimensionamento
do sistema de irrigação.
iii. Quantidade de água utilizada pela cultura em situações que pode ou não haver restrição
hídrica (ANGELOCCI et al., 2002). É a quantidade de água que de fato foi usada pela cultura,
sendo que quanto mais distantes forem os valores em relação à ETc mais estresse por falta
de água a cultura sofreu durante o ciclo.
iv. Somatória de toda água que deixou de ser evapotranspirada devido a restrições hídricas
durante o ciclo da cultura (ANGELOCCI et al., 2002). É importante para cálculos de quebra
de produtividade. Também é usado avaliar o ano climático e para zoneamento agrícola.
v. Também chamado de coeficiente de ajuste, é utilizado para calcular a ETc de forma indireta,
com base em medidas de estação meteorológica (ANGELOCCI et al., 2002). Seu valor varia
de acordo com o estádio de desenvolvimento da cultura e o índice de área foliar.
16 vi. Coeficiente de cultura basal ou, coeficiente de transpiração da cultura (ALLEN et al., 2005).
É o Kc subtraído o coeficiente de evaporação do solo (Ke). É mais indicado para manejo com
déficit e irrigação localizada, por levar em conta apenas a água efetivamente usada pela
cultura.
vii. Precipitação útil ou utilizável (SAMPAIO et al., 2000). Auxilia na modelagem de balanços
hídricos mais avançados.
Portanto o consumo de água da cultura da soja depende da demanda evaporativa da
atmosfera e do seu estágio de desenvolvimento. Assim, seu valor absoluto pode variar em função do
genótipo empregado, do ano climático, e da época de semeadura (FARIAS et al., 2001).
Da estatística experimental, para um estudo ser pertinente é exigido que seja representativo.
Para que se obtenham resultados amplos para a implantação de projetos de irrigação na região é
preciso que se realizem experimentos com cultivares, áreas, épocas de semeadura e anos climáticos
distintos, ou seja, manejos diferentes.
Tal procedimento seria oneroso com o uso de métodos convencionais para determinar a
evapotranspiração com o uso de lisímetros ou estimá-la por meio de metodologias como o tanque
classe A ou a razão de bowen. O uso de modelos é uma alternativa mais acessível para se conseguir
tais resultados. Para CORREA et al., (2012), modelos de simulações podem conseguir bons resultados
com baixo custo. Contudo, para que as simulações de um modelo representem bem a realidade é
necessário que esse esteja devidamente aferido.
A maioria dos modelos tradicionais necessitam de experimentos de campo para calibrar as
características intrínsecas a cultivar e ao ambiente utilizado. Sem a devida calibração e validação do
modelo, não é possível garantir a confiabilidade dos resultados a este tipo de simulação (CORREA et
al., 2012). Desta forma, apesar de menos onerosa que os métodos convencionais, os modelos também
requerem recursos para sua execução, sobretudo nas etapas iniciais (calibração e validação). Outro
entrave dos modelos convencionais é sua limitação a grandes áreas, uma vez que só podem extrapolar
os resultados para áreas próximas às simuladas.
A fim de obter melhores estimativas da evapotranspiração espaço-temporal e de estudar as
interações entre a terra e a atmosfera próxima à superfície, foi criado o SETMI (Spatial ET Modeling
Interface), modelo que utiliza imagens de sensoriamento remoto para fornecer estimativas de fluxos de
energia superficial e ET diário (GELI & NEALE, 2012). Esta característica não dispensa por completo
as calibrações, contudo as simplifica resumindo os experimentos de campo à coleta de algumas
informações da área de estudo.
Este modelo vem sendo utilizado em áreas do meio-oeste americano nas culturas de soja e
milho para irrigação de precisão a taxa variável (BARKER et al., 2015; BARKER et al., 2018). Além
disso, a região do MATOPIBA facilita o uso de sensoriamento remoto, uma vez que possuem topografia
plana e grandes áreas de cultivo.
1.3. Objetivo do trabalho
O presente trabalho tem como objetivo principal determinar a evapotranspiração da cultura
da soja por meio de simulações de balanço hídrico no software SETMI em área produtiva do
MATOPIBA em diferentes safras e tipos de manejo.
17
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Caracterização da área
O estudo foi realizado em uma área de cultivo de soja em sequeiro, localizada no estado do
Piauí, município de Bom Jesus (Latitude: -9°20’39’’; Longitude: -44°56’30”). O clima da região é
classificado como Aw (clima tropical com inverno seco) (KÖPPEN & GEIGER, 1928). As áreas
escolhidas foram quatro talhões, identificados como 1, 2, 3 e 4, os quais apresentam áreas de 760,
325, 835 e 255 ha, respectivamente (Figura 4). O histórico de toda a área é de 15 anos de cultivo de
culturas anuais, especialmente soja e milho.
Figura 4: Localização da propriedade e detalhe dos talhões.
O tipo de solo em todos os talhões é um Latossolo Amarelo distrófico típico de textura média
(cerca de 20% de argila). As umidades a Capacidade de Campo (FC) e Ponto de Murcha Permanente
(PMP) foram respectivamente de 0,23 e 0,1 m3m-3, determinados a partir de amostras de solo
indeformadas coletadas na área de estudo. Uma vez que os latossolos possuem boa drenagem, não
foi considerada a possibilidade escoamento superficial. Os talhões também apresentam características
físicas e químicas de solo que não comprometem o desenvolvimento das raízes em profundidade.
Entretanto, vale ressaltar a existência de variabilidade nas condições de fertilidade entre os
talhões. Embora todos os talhões apresentem saturação por bases acima de 65% e teor de fósforo alto
para seu teor de argila, os proprietários classificaram os talhões quanto a fertilidade em: Alta fertilidade
para os talhões 1 e 2 e média fertilidade para os talhões 3 e 4. Além da diferença de fertilidade entre
os talhões, existem também diferenças de manejo representadas na tabela 4.
As safras de 2012-2013, 2016-2017 e 2017-2018 foram escolhidas no presente estudo com
base nas produtividades médias obtidas na região, a partir das quais tais safras foram classificadas
como “ruim”, "adequada" e "boa", respectivamente. Também foram coletadas as produtividades reais
(Yr) dos registros de pesagem de grãos produzidos em cada talhão de cada safra (Tabela 4).
18
Tabela 4: Informações de manejo referentes cada talhão em cada safra referentes a cultivar empregada, duração
do ciclo em dias e data de semeadura (DS), e às produtividades reais (Yr) obtidas.
Talhão Cultivar Ciclo (dias)
DS Yr (kgha-1)
2012-2013
1 Pioneer Y70 120 09/11 2400,0
2 Pioneer Y71 120 24/11 2400,0
3 Monsoy 9350 135 10/11 1920,0
4 Monsoy 9351 135 10/11 1920,0
2016-2017
1 Agroeste 3810 115 04/12 3660,0
2 Agroeste 3811 115 04/12 3660,0
3 Monsoy 8349 120 22/11 3480,0
4 Monsoy 8350 120 22/11 3480,0
2017-2018
1 Monsoy 8808 130 12/11 4596,0
2 FT 4180 105 12/11 4680,0
3 Monsoy 8808 130 22/11 4620,0
4 Monsoy 8808 130 22/11 4620,0
2.2. Informações meteorológicas
Os dados climáticos foram obtidos em escala horária a partir de cinco estações
meteorológicas automáticas pertencentes ao Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Buscou-se
utilizar dados das estações mais próximas dentro do mesmo bioma da área de estudo (descartando-se
estação de área em desertificação no município de Gilbués-PI). As variáveis utilizadas foram: radiação
solar (RS), velocidade do vento (V), temperatura máxima (Tmáx), temperatura mínima (Tmín),
temperatura do ponto de orvalho (To) e Umidade Relativa (UR). A precipitação (P) foi o único parâmetro
medido no local a partir de leituras diárias (Tabela 5).
Tabela 5: Regime de chuvas das safras estudadas. Em que: P total, soma das chuvas do ano agrícola; P intervalo,
01 de novembro a 30 de abril (181) dias; DSP intervalo, Dias Sem Chuva; DCSP intervalo, Dias Consecutivos Sem Chuva; Período, datas de início e fim da contagem de dias sem chuva.
Safra P total (mm) P intervalo (mm) DSP intervalo DCSP intervalo Período
2012-2013 1055 1040 129 47 20/01/2013 a 07/03/2013
2016-2017 796 659 148 26 16/12/2016 a 10/01/2017
2017-2018 894 855 129 21 14/12/2017 a 03/01/2018
As estações utilizadas e suas respectivas distâncias em linha reta da propriedade foram: Bom
Jesus (PI), 73,5 km; Alto Parnaíba (MA), 112 km; Alvorada do Gurguéia (PI), 155 km; Uruçuí (PI), 220
km; Balsas (MA), 241 km. Os dados foram corrigidos e estimados para a localidade da seguinte forma:
I. Os dados faltantes de cada estação foram preenchidos com o auxílio do Software SDSS
(Statistical Package for the Social Sciences). Para isto, foram testados vários ajustes, sempre
adotando o que melhor representaria a realidade. Para RS foi adotada a média simples dos
10 valores mais próximos; para V foi adotada a mediana dos 40 valores mais próximos, para
Tmáx, Tmín e UR foi adotada a média simples dos 6 valores mais próximos, para To foi
adotada a média simples dos dois valores mais próximos. Falhas com cinco ou mais dias
consecutivos não foram corrigidas.
19
II. Uma interpolação dos dados foi realizada com base em média inversamente proporcional às
distâncias para estimar os valores para a localização da fazenda. Como ainda haviam dados
faltantes em todas as estações, foi realizada uma rotina com auxílio de planilha de Excel
onde, em caso de dado faltante em uma ou duas estações, utilizava-se os dados das
remanescentes com os pesos relativos às distâncias corrigidos.
III. A evapotranspiração de referência (ETo) foi calculada pelo método de Pennman-Monteith por
meio de um módulo do software Aquacrop (FAO) para essa finalidade. Os dados de entrada
foram: RS, Tmáx, Tmín, UR, V e To.
A interpolação das estações e a estimativa da ETo se mostraram pertinentes frente os dados
pluviométricos da propriedade (Figura 5). É possível observar que RS e V diminuem próximos aos dias
chuvosos, enquanto a UR e a To se elevam. Além disso a variabilidade de Tmáx, Tmín e ETo se eleva
no período chuvoso. Essas variações estão dentro do esperado em dias chuvosos. A coerência dos
dados estimados com os dados medidos melhora a credibilidade do método utilizado.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100Faz SI 2012-2013
0
15
30
45
60
75
90
105
120
135
150
0
3
6
9
12
15
18
21
24
27
30Faz SI 2012-2013
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100Faz SI 2016-2017
0
15
30
45
60
75
90
105
120
135
150
0
3
6
9
12
15
18
21
24
27
30Faz SI 2016-2017
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100Faz SI 2017-2018
UR Tmáx Tmín To
0
15
30
45
60
75
90
105
120
135
150
0
3
6
9
12
15
18
21
24
27
30Faz SI 2017-2018
P RS ETo V
20 Figura 5: Variáveis climatológicas para a localidade da propriedade em estudo com os respectivos anos agrícolas
de cada safra. Os dados encontram-se em escala diária, sendo: UR é umidade relativa média (%), Tmáx
é temperatura máxima registrada (°C), Tmín é temperatura mínima registrada (°C), To é a temperatura
do ponto de orvalho (°C), P é precipitação (mm), RS é radiação solar acumulada (MJ), ETo é a
evapotranspiração de referência estimada (mm), V é a média das rajadas de vento (ms-1).
2.1. Sensoriamento remoto e modelo de evapotranspiração espacial
Duas constelações de satélites artificiais foram usadas para fornecer as imagens: LANDSAT
(7 e 8) e MODIS, com resolução espacial de 30 x 30 m e 500 x 500 m e frequência de revisita de 16 e
8 dias respectivamente. Para cada talhão em cada safra foram utilizadas em média 6 imagens.
Apenas as imagens dentro do ciclo da cultura foram selecionadas. Imagens com nuvens que
obstruíssem a visualização de algum talhão foram descartadas. Portanto cada talhão teve uma seleção
a fim de aproveitar o máximo de imagens possível.
Além disso, as imagens da série LANDSAT passaram por um processamento de retirada de
nuvens, o qual localiza e apaga dados poluídos por nuvens. Este método permite o maior
aproveitamento de imagens e maior confiabilidade dos dados, entretanto pode fornecer imagens com
"buracos" (dados faltantes) para o software.
Por fim foram usadas as bandas 1 a 3; 2 a 4; e 1, 2 e 4 para LANDSAT 7 e 8, e MODIS
respectivamente. Estas bandas correspondem ao verde, vermelho e vermelho distante (ou
infravermelho próximo) as quais são usadas para os cálculos de NDVI e SAVI (equações 1 e 2)
(ELVIDGE & CHEN, 1995).
NDVI =(NIR - Red)
(NIR + Red)
(Equação 1)
Onde: NDVI, Índice de Vegetação da Diferença Normalizada (Normalized Difference Vegetation Index); NIR, banda do Infravermelho próximo (Near Infra Red) e Red, banda do vermelho.
SAVI =(NIR - Red)
(NIR + Red + L)×1+ L
(Equação 2)
Onde: SAVI, Índice de Vegetação Ajustado ao Solo (Soil Adjusted Vegetation Index); NIR, banda do Infravermelho próximo (Near Infra Red); Red, banda do vermelho e L, fator de ajuste do fundo do dossel, podendo variar de 0 a
1, sendo mais comumente usado o valor de 0,5.
Os índices são usados pelo sensoriamento remoto para acompanhar o desenvolvimento das
culturas. Ambos variam entre 0 e 1, onde, quanto maior este índice, mais vegetação fotossinteticamente
ativa há. Entretanto o SAVI é ajustado pelo fator L o qual diminui sua variação por descontar os erros
causados pela reflectância do solo.
Por fim foram inseridos no modelo SETMI (Interface de modelagem de evapotranspiração
espacial, do inglês: Spatial EvapoTranspiration Modeling) os dados referentes a clima, solo e manejo,
juntamente com as imagens de satélite (consultar Barker, 2017). Foi simulado o balanço hídrico para
os talhões de um a quatro, em cada uma das três safras, totalizando 12 simulações.
21
O Balanço hídrico da cultura foi realizado pelo modelo através dos coeficientes de
transpiração da cultura baseados em reflectância (Kcbrf) os quais são usados para ajustar as curvas de
estimativa de Kcb. Os valores de Kcbrf são obtidos através dos valores de SAVI das imagens de satélite
pela relação para a cultura da soja apresentada na equação 3.
Kcbr = 1,57 × SAVI – 0,0075
(Equação 3)
Onde: O coeficiente de transpiração da cultura baseado em reflectância (Kcbrf) fica em função do Soil Adjusted Vegetation Index (SAVI) conforme proposto por CAMPOS et al., (2017).
Além disso o modelo simula valores de Ke, coeficiente de estresse hídrico (Ksw) e coeficiente
de estresse por temperatura (Kst). Com os valores de Ke é calculado o coeficiente de cultura ajustado
(Kc ajustado) sendo: Kc ajustado = Kcb + Ke. Já com o uso de Ksw, Kst e Kcb é calculado coeficiente
de transpiração de cultura ajustado (Kcbaj) pela equação: ∑ (Kcb Ksw Kst) (CAMPOS et al., 2018).
Com Kcbaj foi calculada a produtividade estimada (Ye) pela seguinte equação:
Ye = HI × [14 × ∑ (Kcb Ksw Kst)] - 9,2
100
(Equação 4)
Onde: Ye, produtividade estimada; HI, índice de colheita (do inglês Harvest Index) tendo assumido o valor de 0,33 segundo Battist & Sentelhas (2015); Kcb, coeficiente de transpiração de cultura; Ksw, coeficiente de estresse hídrico, variando de 0 a 1, onde menores estresses são representados por valores maiores; Kst, coeficiente de estresse por temperatura, variando de 0 a 1, onde menores estresses são representados por valores maiores (CAMPOS et al., 2018).
Com base nos resultados do balanço hídrico e registros de produtividade dos talhões foram
calculadas a eficiência do uso da água por medida de ETr e a eficiência do uso da água pluvial com
base na P. A razão desses índices é a própria Pef.
Os dados de imagens do programa SETMI foram processados no software ArgGIS onde
foram montados mapas de variação espacial da ETr e ∑ (Kcb Ksw Kst). Esses mapas foram reduzidos
em 200 m partindo de todo o perímetro dos talhões ao seu centro. Este procedimento foi adotado pois
os pixels do satélite MODIS representam grande área, o que poderia causar erros por valores coletados
fora dos campos. Não foi adotado um valor superior a 200 m a fim de preservar os resultados. Os
mapas de cada talhão foram unidos, normalizando-os à mesma escala de forma a facilitar a
comparação entre talhões de uma mesma safra.
Além disso foram montados gráficos com base na média dos valores de balanço hídrico de 10
pixels escolhidos aleatoriamente em cada talhão.
Por fim foi rodada a estatística simples para cada talhão onde foram utilizados todos os pixels
de cada.
22
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Distribuição espacial da evapotranspiração e produtividade
As simulações geraram os mapas de ETr e ∑ (Kcb Ksw Kst) para os quatro talhões nas três
safras, apresentados na Figura 6. Estas imagens exibem variação espacial da soma da ETr e o índice
∑ (Kcb Ksw Kst) devido suas relevâncias no dimensionamento de projetos de irrigação, e no
entendimento da produtividade respectivamente. As análises foram feitas de maneira independente
para cada pixel em cada campo. Vale ressaltar que o modelo não preenche os dados faltantes
causados pela retirada das nuvens, o que explica os vazios das imagens.
A
B
ETr ∑ (Kcb Ksw Kst)
ETr ∑ (Kcb Ksw Kst)
23
Figura 6: Mapas de ETr (mm) e ∑ (Kcb Ksw Kst) gerados pelo programa para a safra de 2017-2018 (A), 2016-
2017 (B) e 2017-2018 (C) na Fazenda Santa Isabel (Bom Jesus PI).
Esse tipo de análise pode auxiliar no manejo prático da cultura e direcionamento dos
investimentos.
O menor valor de ETr simulado foi de 324 mm (Talhão 3, safra 2012-2013) (Figura 6A)
enquanto o maior foi de 555 mm (Talhão 1, safra 2017-2018) (Figura 6B) o que pode representar de
modo geral os limites inferior e superior de evapotranspiração para a região. Esses valores
correspondem ao menor resultado em safra climaticamente "ruim" (2012-2013) e ao melhor resultado
de uma safra climaticamente "boa" (2017-2018) (Tabela 5). Portanto a ETr teve uma amplitude de 231
mm na área de estudo.
Para a safra de 2012-2013, a ETr variou de 324 a 448 mm, com uma amplitude 107 mm. Essa
diferença corresponde a 38% do volume do limite inferior. Na safra 2016-2017 a ETr variou de 383 a
431 mm, divergindo em 48 mm. A diferença corresponde a 13% do limite inferior. Já na safra de 2017-
2018 a ETr variou de 380 a 555 mm com 175 mm de diferença. Esse valor corresponde a 46% do limite
inferior.
Essas diferenças de ETr em cada safra podem ser atribuídas a um conjunto de fatores não
controlados os quais não podem ser separados. Sendo eles: a distribuição espacial e temporal das
chuvas dentro e entre os talhões devido a coleta de dados em apenas um ponto na área (2.175 ha); a
heterogeneidade espacial das propriedades físicas e químicas do solo; diferentes épocas de
semeadura e uso de cultivares com ciclos diferentes (Tabela 4). Mesmo assim as imagens de satélite
juntamente com o modelo mostraram-se sensíveis ao detectar estas diferenças.
O índice ∑ (Kcb Ksw Kst) variou de 30 a 72 na safra 2012-2013, de 64 a 86 na safra 2016-
2017 e de 73 a 117 na safra 2017-2018 (Figura 6C). Esse índice pode ser utilizado para constrastar as
diferenças de produtividade dentro de cada talhão. Entretanto não apresentou-se adequado quando
utilizado para comparar as diferenças entre talhões, já que o talhão mais produtivo (Talhão 2, Tabela
4) apresentou valor equivalente ao talhão 1 da safra 2012-2013 que obteve quase metade de sua
produtividade (Tabela 4).
C
ETr ∑ (Kcb Ksw Kst)
24 As diferenças no índice ∑ (Kcb Ksw Kst) podem ser explicados pela menor duração do ciclo
da cultivar empregada no talhão 2 que na safra 2017-2018. Isso ocorre porque o índice leva em
consideração a soma da transpiração corrigida pelos estresses, sendo que esse valor tende a ser maior
ou menor conforme a duração de cada ciclo. Portanto este índice pode ser utilizado apenas entre
talhões com as mesmas cultivares ou com cultivares de ciclos próximos.
3.2. Balanço hídrico da cultura
Os resultados e estatística do balanço hídrico da cultura com base em todos os pixels das
imagens está representado na tabela 6.
Os valores da soma da ETr durante o ciclo variaram entre 394 e 538 mm, sendo que os
maiores valores aconteceram na safra 2017-2018 a qual teve o menor período sem chuva (Tabela 5).
Esses valores se aproximam ao encontrado por Oliveira, Meirelles e Franco (2011) de 471 mm em
cultivo de soja no cerrado do Distrito Federal.
A safra 2012-2013 que apresentou a menor Yr, obteve os menores valores médios de Kc,
enquanto que a safra com maior Yr (2017-2018) apresentou os maiores valores de Kc.
Existe relação entre Kc e Yr, pois o Kc é dependente da transpiração da cultura, e portanto,
de sua disponibilidade de água. Menores valores de Kc para uma mesma cultura podem indicar
fechamento estomático e consequentemente menor absorção de CO2 (biomassa) que compõe a
produtividade (MORANDO et al., 2014).
Além disso, de modo geral os talhões que apresentaram maiores valores de ∑ (Kcb Ksw Kst)
também foram os mais produtivos, com a exceção do talhão 2 que na safra 2017-2018 apresentou os
menores valores de ∑ (Kcb Ksw Kst), mesmo sendo o mais produtivo. Por ser um indicador de
biomassa, o ∑ (Kcb Ksw Kst) deve ser ajustado pelo índice de colheita de acordo com a duração dos
estádios reprodutivos da cultura (BATTIST & SENTELHAS 2015).
Contudo realizar este ajuste é um desafio para o sensoriamento remoto que trabalha com
dados limitados de data de semeadura e fenologia da cultura (BARKER, 2017). Para MAATOUG et al.,
(2013) o desenvolvimento das técnicas de acompanhamento da fenologia da soja por sensoriamento
remoto ainda enfrenta falta de dados ou de baixa qualidade.
Para as produtividades estimadas com base no índice ∑ (Kcb Ksw Kst) estas superestimaram
as produtividades da safra 2012-2013 e 2017-2018. Contudo para a safra 2016-2017 apresentou
valores mais próximos.
Na eficiência do uso da água os talhões produtivos também foram os mais eficientes, tanto
na comparação entre talhões das mesmas safras, quanto entre diferentes safras.
Portanto de forma geral os talhões que apresentaram maior ETr também apresentaram
maiores produtividades, obtendo também maiores valores de eficiência do uso da água.
25
EU
AP
(kg
mm
-1 *)
4,8
4,8
2,7
2,7
7,3
7,3
7,1
7,1
7,1
10
,4
7,0
7,0
EU
A
(kg
mm
-1 *)
5,6
5,7
4,4
4,5
8,9
9,0
8,6
8,7
8,7
11
,9
8,7
8,6
Pe
f
(mm
)
0,8
6
0,8
4
0,6
2
0,6
2
0,8
2
0,8
2
0,8
2
0,8
1
0,8
2
0,8
7
0,8
0
0,8
1
P
(mm
)
50
0,2
50
0,2
69
8,2
69
8,2
50
1,0
50
1,0
49
3,0
49
3,0
64
6,0
45
2,0
66
4,0
66
4,0
Ye
(kg
ha
-1)
31
37
,5
28
52
,1
25
94
,0
24
73
,7
36
49
,4
35
30
,4
33
80
,1
33
30
,3
48
37
,1
35
76
,4
49
30
,1
48
38
,8
Yr
(kg
ha
-1)
24
00
,0
24
00
,0
19
20
,0
19
20
,0
36
60
,0
36
60
,0
34
80
,0
34
80
,0
45
96
,0
46
80
,0
46
20
,0
46
20
,0
Kcb
aj d
ia-1
0,5
7
0,5
2
0,4
2
0,4
0
0,6
9
0,6
7
0,6
2
0,6
1
0,8
1
0,7
4
0,8
3
0,8
1
Kcb
aj ±
DP
68
,6 ±
2,6
62
,4 ±
1,3
56
,8 ±
6,1
54
,2 ±
2,5
79
,7 ±
3,2
77
,1 ±
2,0
73
,8 ±
5,2
72
,7 ±
1,5
10
5,4
± 4
,3
78
,1 ±
1,8
10
7,4
± 2
,9
10
5,4
± 4
,1
Kc
0,7
6
0,7
4
0,7
1
0,7
0
0,8
1
0,8
1
0,7
6
0,7
5
0,9
5
0,8
7
0,9
5
0,9
7
ET
r ± D
P
(mm
)
43
0,2
± 7
,4
42
2,0
± 2
,3
43
5,6
± 1
6,8
43
0,1
± 4
,2
41
1,4
± 9
,1
40
8,6
± 5
,0
40
4,5
± 1
2,4
40
1,6
± 4
,4
52
9,5
± 1
0,1
39
4,1
± 5
,0
52
9,7
± 9
,7
53
8,0
± 6
,9
ET
o
(mm
)
56
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56
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61
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61
6,9
50
6,9
50
6,9
53
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53
4,2
55
8,3
45
2,4
55
7,4
55
7,4
DS
09
/11
24
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10
/11
10
/11
04
/12
04
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22
/11
22
/11
12
/11
12
/11
22
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22
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13
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5
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08
Mo
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88
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1
2
3
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1
2
3
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1
2
3
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20
12
20
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20
16
20
17
20
17
20
18
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ET
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DP
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26 O balanço hídrico é apresentado com base no Kc ajustado (equação 5) e pelo coeficiente de
transpiração da cultura diário (Kcb diário).
Kc ajustado = Ksw × Kcb + Ke
(Equação 5)
Onde: Kc ajustado, coeficiente de cultura ajustado pelo estresse hídrico; Ksw, coeficiente de estresse hídrico (variando de 0 a 1); Kcb, coeficiente de transpiração da cultura; Ke, coeficiente de evaporação do solo.
No início do balanço hídrico da cultura o Kc ajustado apresenta-se superior ao Kcb diário
sobretudo nos dias com precipitação. Nesta situação o Ke contribui significativamente na perda de água
do solo para a atmosfera. Sendo assim a área formada pela curva de Kc acima da curva de Kcb
representa o total de água devolvida para a atmosfera em forma de evaporação.
Entretanto, com o desenvolvimento da cultura, a cobertura tende a aumentar, de modo que o
dossel cubra quase toda a superfície do solo, sendo os novos valores de Ke próximos a zero. Nestas
situações Kc ajustado ≈ Ksw × Kcb. Isto pode ser observado pelas curvas de Kc e Kcb ao apresentarem-
se em valores próximos (Figuras 9, 10 e 11).
Por outro lado, em situações de restrição hídrica há a diminuição dos valores de Ksw o que
caracteriza estresse hídrico da cultura. A diminuição dos valores de Ksw causam rebaixamento do Kc
ajustado em relação ao Kcb diário (transpiração ideal). A área formada pela curva do Kc ajustado abaixo
da curva de Kcb diário é o estresse hídrico total da cultura.
27
Figura 7: Gráfico do balanço hídrico dos campos, safra 2012-2013. P, precipitação (mm); Kcb diário, transpiração
diária estimada para cultura, Kcb imagem, transpiração da cultura estimada pelo SAVI da imagem de satélite, Kc ajustado, coeficiente de cultura ajustado.
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Graus dia (GD)
2012-2013 - Talhão 4
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28 O balanço hídrico para a safra 2012-2013 (Figura 7) apresentou curvas de Kcb diário
semelhantes, sendo que os valores se aproximam quando comparados entre as mesmas cultivares
(talhões 1 com 2 e 3 com 4) (Tabela 4).
De modo geral, os resultados apresentaram períodos de déficit hídrico (Ksw < 1) de 39, 38,
41 e 44 dias consecutivos com para os talhões de 1, 2, 3 e 4 respectivamente, correspondendo aos 47
dias consecutivos sem chuva na safra (Tabela 5). Isso pode explicar os menores valores de
produtividade para esta safra. Além disso os dias com estresse hídrico encontram-se no período que
parte do meio para o fim do ciclo da cultura, o que penaliza ainda mais a produtividade, uma vez que
neste período encontram-se os estádios reprodutivos da cultura que são mais sensíveis à falta de água.
As simulações também apresentaram Kcb máximo dentro do período de acúmulo de 940 a
1060 graus dia (GD) aos 65, 57, 80 dias após a semeadura, com os valores de 1,22; 1,06; 1,18 e 1,06
para os talhões 1, 2, 3 e 4 respectivamente.
Devido aos valores de Kws próximos a 0 a simulação encerrou o desenvolvimento da cultura
25 e 15 dias (talhões 3 e 4 respectivamente) mais cedo. Isso pode explicar a menor produtividade
apresentada pelos talhões 3 e 4 em relação aos talhões 1 e 2 da mesma safra.
29
Figura 8: Gráfico do balanço hídrico dos campos, safra 2016-2017. P, precipitação (mm); Kcb diário, transpiração
diária estimada para cultura, Kcb imagem, transpiração da cultura estimada pelo SAVI da imagem de satélite, Kc ajustado, coeficiente de cultura ajustado.
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Graus dia (GD)
2016-2017 - Talhão 4
P Kc ajustado Kcb diário Kcb imagem
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30 Os resultados (Figura 8) apresentaram de forma geral um pequeno período de déficit hídrico
situado entre 800 e 1000 GD (máximo de 17 dias no talhão 4) com valores de Ksw < 1. É importante
ressaltar que a cultura passou por um período de 26 dias sem chuva (Tabela 5), sendo que o déficit
hídrico baixo pode ser atribuído à reserva de água retida em 1 m graças a profundidade do sistema
radicular adotada. Apesar disso é possível afirmar que os valores correspondem bem às produtividades
registradas para os talhões (Tabela 4). Além do menor período com déficit hídrico em relação à safra
2012-2013 este se encontrou antes do meio do ciclo da cultura, o que representa estágio vegetativo e
estágios reprodutivos iniciais os quais são menos sensíveis ao estresse hídrico.
O balanço hídrico para a safra 2016-2017 simulou curvas de Kcb diário semelhantes para
todos os talhões. As médias das simulações apresentaram Kcb máximo dentro do período de acúmulo
de 1090 a 1290 GD aos 67, 71, 79 e 76 dias após a semeadura, com os valores de 1,29; 1,28; 1,17 e
1,16 para os talhões 1, 2, 3 e 4 respectivamente.
A simulação ainda apontou que os talhões 1 e 2 tiveram menor déficit hídrico e maior Kcb diário
máximo que os talhões 3 e 4. Esses valores são condizentes com as produtividades registradas (Tabela
4) as quais são superiores nos talhões 1 e 2.
31
Figura 9: Balanço hídrico dos campos, safra 2017-2018. P, precipitação (mm); Kcb diário, transpiração diária
estimada para cultura, Kcb imagem, transpiração da cultura estimada pelo SAVI da imagem de satélite, Kc ajustado, coeficiente de cultura ajustado.
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Graus dia (GD)
2017-2018 - Talhão 4
P Kc ajustado Kcb diário Kcb imagem
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32 Os resultados apresentaram de forma geral déficit hídrico quase inexistente para a safra de
2017-2018 (Figura 9). Isso condiz com as produtividades registradas as quais foram as maiores em
todas as três safras.
O balanço hídrico para a safra 2017-2018 simulou curvas de Kcb diário semelhantes para
todos os talhões. As médias das simulações apresentaram Kcb máximo dentro do período de acúmulo
de 1040 a 1340 GD aos 75, 67, 83 e 64 dias após a semeadura, com os valores de 1,27; 1,24; 1,26 e
1,27 para os talhões 1, 2, 3 e 4 respectivamente.
No final da simulação os valores de kcb permaneceram altos como o esperado devido às
aplicações de herbicida de dessecação no final do ciclo o que interrompeu de forma abrupta.
4. CONCLUSÕES
O sensoriamento remoto mostrou-se uma boa alternativa para a estimativa de
evapotranspiração da cultura da soja em grandes áreas em região do MATOPIBA.
O modelo SETMI apresentou bom desempenho na realização do balanço hídrico para a
estimativa da evapotranspiração espacial da cultura da soja para a estimativa da evapotranspiração
espacial em áreas na região do MATOPIBA.
Segundo o modelo SETMI a cultura da soja no MATOPIBA pode chegar a valores máximos
de Kcb entre 1,06 e 1,29 e ETr acumulada de 394 a 538 mm.
33
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