UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE MEDICINA … · Educação Física da UNICAMP, por...

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO DEPARTAMENTO DE MEDICINA SOCIAL ÁTILA ALEXANDRE TRAPÉ Relação entre aptidão física, fatores de risco para doenças cardiovasculares e aspectos socioeconômicos em adultos e idosos Ribeirão Preto - SP 2012

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    UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRO PRETO

    DEPARTAMENTO DE MEDICINA SOCIAL

    TILA ALEXANDRE TRAP

    Relao entre aptido fsica, fatores de risco para doenas cardiovasculares e aspectos socioeconmicos

    em adultos e idosos

    Ribeiro Preto - SP 2012

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    TILA ALEXANDRE TRAP

    Relao entre aptido fsica, fatores de risco para doenas cardiovasculares e aspectos socioeconmicos

    em adultos e idosos

    Dissertao apresentada ao Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, como requisito para a obteno do ttulo de Mestre.

    rea de concentrao: Sade na Comunidade

    Orientador: Prof. Dr. Laercio Joel Franco

    Ribeiro Preto - SP 2012

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    Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

    convencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a

    fonte.

    FICHA CATALOGRFICA

    FOLHA DE APROVAO CAMILA MARIA SEVERI MARTINS

    Trap, Atila Alexandre Relao entre aptido fsica, fatores de risco para doenas

    cardiovasculares e aspectos socioeconmicos em adultos e idosos / Atila Alexandre Trap; orientador: Larcio Joel Franco- Ribeiro Preto, 2012.

    123 f.: il. 30cm. Dissertao (Mestrado)- Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto

    da Universidade de So Paulo. Departamento de Medicina Social. rea de concentrao: Sade na Comunidade.

    1. Envelhecimento. 2. Aptido Fsica. 3. Exerccio Fsico. 4. Fatores

    de Risco para Doenas Cardiovasculares. 5. Aspectos Socioeconmicos

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    TRAP, A. A. Relao entre aptido fsica, fatores de risco para doenas cardiovasculares e aspectos socioeconmicos em adultos e idosos. Dissertao apresentada ao Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, como requisito para a obteno do ttulo de Mestre. rea de concentrao: Sade na Comunidade. Aprovado em:

    Ribeiro Preto, ____ de ______________ de ______.

    Banca Examinadora

    _______________________________________________________

    Prof. Dr. Laercio Joel Franco Universidade de So Paulo

    Orientador

    _______________________________________________________ Prof. Dr. Eduardo Kokubun

    Universidade Estadual Paulista Membro

    _______________________________________________________

    Prof. Dr. Sueli Marques Universidade de So Paulo

    Membro

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    minha famlia, em especial minha me, pelo seu esforo e dedicao na minha criao e de meus irmos

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeo Deus pelo dom da vida, bem maior do ser humano. Ainda pela

    presena constante em minha vida, permitindo-me caminhar com segurana,

    hombridade e determinao.

    minha famlia, pelo amor e apoio oferecido, alm da torcida que fazem a

    cada batalha que tenho que enfrentar. Em especial a minha me, que mesmo diante

    de todas as dificuldades enfrentadas no percurso da vida, sempre priorizou a

    educao dos filhos. Obrigado por todo o esforo para permitir que eu estudasse e

    realizasse meu sonho de ser atleta. Sou muito grato pela vida que a senhora me

    proporciona e cada conquista minha tambm sua.

    Ao meu grande amigo Rafael, por acreditar e apoiar todos os meus sonhos,

    pela dedicao e amizade, alm de me acompanhar durante todo o mestrado.

    A todos os participantes desta pesquisa, em especial para as idosas que hoje

    compem a turma de treinamento funcional para a terceira idade no Centro de

    Esportes da USP. Obrigado pelos sorrisos, abraos e troca de experincias.

    Ao voleibol, que muito me ensinou e fez amadurecer no meu percurso de

    atleta, alm de me proporcionar amizades que duram at hoje, alm da bolsa de

    estudos no Colgio Campos Salles, etapa inesquecvel. Obrigado Prof. Lus

    Fernando Butti por acreditar em mim.

    Aos Prof. Srgio Rodrigues e Prof. Angelo Battaglion, meus superiores

    durante este perodo, e demais companheiros de trabalho, pelo apoio e

    compreenso oferecida na luta diria em conciliar as atividades acadmicas e

    profissionais. Em especial, meus tambm amigos Prof. Leonardo de Souza, Prof.

    Flvia Ntolo, Prof. Patrcia Silva e Prof. Filipe Oliveira, o apoio e ajuda de vocs foi

    essencial para o desenvolvimento deste trabalho.

    Aos pais e irm de corao, alm de companheiros da rea, Leopoldo

    Hirama, Cassia Joaquim e Aline Modena, pelo apoio, ensinamentos e troca de

    experincias.

    Aos tambm amigos, Cau Ranzeiro, Cadu Boscariol, Marcelo Alves, Marcelo

    Thomazin, Goreti Leite, Fred Roma, Ricardo Navas, Lus Pavan, Junior Costa,

    Marcelo Zaneti, Jos Tiago, Hugo Cardoso, Igor Miranda, Renan Villarim, Nahim

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    Correa, Marcos Gonalves, Mauro Prato, Everton Padilha, Leandro Stefanelli e

    Marcelo Piccinin pelo apoio e momentos de lazer.

    A todos os funcionrios, docentes e companheiros de turma, do curso de

    Educao Fsica da UNICAMP, por participarem do meu amadurecimento

    profissional e acadmico.

    s minhas orientadoras de iniciao cientfica, Prof. Elaine Prodcimo

    (UNICAMP) e Prof. Maria Aparecida Nery (UNIITALO), pela pacincia e

    ensinamentos nos meus primeiros passos na vida acadmica. Ao Banco Santander

    pela Bolsa de Estudos durante a graduao e a oportunidade de estudar por um

    semestre na Espanha e ao Prof. Juan Antonio Moreno (Universidad de Elche), pela

    tutoria oferecida.

    Aos meus supervisores de estgio e chefes dos lugares onde trabalhei por

    participarem da minha formao profissional. A todos os meus alunos pela troca de

    experincias diria.

    Ao Departamento de Medicina Social, da Faculdade de Medicina de Ribeiro

    Preto (USP). Em especial aos funcionrios da secretaria Srgio, Paula e Mnica,

    sempre dispostos a ajudar e auxiliar e, ainda, pela pacincia.

    Aos docentes do Departamento de Medicina Social, que de certa forma,

    contriburam para o meu aprendizado e ampliao do conhecimento, ao longo do

    mestrado.

    Ao CNPq e FAPESP pelo auxlio financeiro na realizao desta pesquisa.

    Ao Prof. Dr. Larcio Joel Franco da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto

    (FMRP), pelo apoio e ateno que me ofereceu, sempre que solicitado. Prof. Dra.

    Camila de Moraes da Escola de Educao Fsica e Esportes de Ribeiro Preto

    (EEFERP) a quem recorri em busca de esclarecimentos em alguns momentos.

    Aos estudantes de graduao do Grupo de Pesquisa Exerccio Fsico e o

    Processo de Envelhecimento da EEFERP, em especial Adriele Franqui e Andr

    Jacomini, pela participao em conjunto, troca de experincias e por confiarem em

    mim.

    Ao Laboratrio de Bioqumica da Faculdade de Cincias Farmacuticas de

    Ribeiro Preto (FCFRP), em especial s funcionrias Lusa e Luciana. Tambm ao

    Laboratrio de Farmacologia Cardiovascular da FMRP, sob coordenao do Prof.

    Dr. Jos Eduardo Tanus dos Santos, em especial aos funcionrios Riccardo Lachini

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    e Sandra Conde, e os companheiros de ps-graduao Joice e Jonas, pela anlise

    bioqumica das amostras dos participantes.

    minha amiga e companheira de ps-graduao Elisngela Soares, pela

    parceria e auxlio na anlise estatstica dos dados desta pesquisa, alm de toda a

    pacincia e explicaes.

    Prof. Dr. Sueli Marques, ao Prof. Dr. Eduardo Kokubun e Prof. Dr. Amaury

    Lelis Dal Fabbro, pela participao e sugestes na minha banca de qualificao e

    novamente aos Profs. Sueli e Eduardo pela participao e sugestes na minha

    Banca Examinadora. Aos Profs. Renato Marques e Henrique Luiz Monteiro pela

    suplncia na Banca Examinadora.

    Ao Prof. Dr. Anderson Saranz Zago, pela oportunidade no mestrado e

    sugesto dos caminhos do conhecimento, alm do empenho e apoio neste

    processo. Aprendemos muito juntos e nem mesmo em meio a tantas mudanas e

    dificuldades, o projeto parou.

    Agradeo a todos aqueles que fizeram parte deste processo, direta ou

    indiretamente, e que por ventura eu no tenha recordado de citar o nome, mas que

    com certeza guardo um carinho especial.

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    A idade de ser feliz

    Existe somente uma idade para a gente ser feliz, somente uma poca da vida de

    cada pessoa em que possvel sonhar e fazer planos e ter energia bastante para

    realiz-los a despeito de todas as dificuldades e obstculos.

    Uma s idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente e

    desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer.

    Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida nossa prpria imagem e

    semelhana e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores e

    entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor.

    Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio mais um convite luta que a gente enfrenta com toda disposio de

    tentar algo NOVO, de NOVO e de NOVO, e quantas vezes for preciso.

    Esta idade to fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE e tem a durao

    do instante que passa.

    Mrio Quintana

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    RESUMO

    TRAP, A. A. Relao entre aptido fsica, fatores de risco para doenas cardiovasculares e aspectos socioeconmicos em adultos e idosos. 123 f. Dissertao (Mestrado) Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo, Ribeiro Preto/SP, 2012.

    Introduo: A diminuio da aptido fsica e a maior vulnerabilidade para o surgimento de doenas crnicas, em especial para as doenas cardiovasculares (DCVs), destacam-se dentre as alteraes associadas ao processo natural de envelhecimento. Nesse contexto, a prtica regular de exerccios fsicos pode ser considerada como uma das principais medidas que contrapem esses fatores. Entretanto, a frequncia de sedentarismo elevada e parece estar associada com aspectos socioeconmicos, indicando que a escolha pelo estilo de vida ativo no depende somente de atitudes individuais. Objetivos: investigar a relao existente

    entre a aptido fsica e os fatores de risco para DCVs; verificar se o tempo de prtica de exerccios fsicos e a superviso de um professor de educao fsica esto relacionados melhores resultados; e, investigar a relao entre as caractersticas socioeconmicas e demogrficas e a aptido fsica. Mtodo: Estudo transversal

    realizado em Ribeiro Preto, SP, com adultos (50 a 59 anos) e idosos. As variveis estudadas foram: as relacionadas aos fatores de risco para DCVs; aspectos socioeconmicos e demogrficos; nvel habitual de atividade fsica (NHAF); aptido fsica de duas formas: VO2max indireto; e bateria de testes motores que permitiu o clculo ndice de aptido funcional geral (IAFG). O tratamento dos dados deu-se por estatstica descritiva; coeficiente de correlao de Pearson; ANOVA (tempo de prtica e superviso); modelo linear generalizado de comparao de grupos (NHAF e IAFG); e, modelo de regresso linear mltipla (variveis dependentes: IAFG e VO2max; variveis independentes: aspectos socioeconmicos). Resultados: 213 participantes com mdia de idade de 61,4 (8,4) anos. O coeficiente de correlao de Pearson evidenciou associao negativa entre o IAFG e IMC (r=-0,4*), PAS (r=-0,31*) e PAD (r=-0,3*); entre VO2max e IMC (r=-0,46*) e PAS (r=-0,31*); e, entre a idade e o IAFG (r=-0,44*) e o VO2max (r=-0,56*). E associao positiva entre IAFG e VO2max (r=0,7*). O modelo linear generalizado de comparao de grupos evidenciou diferena quanto ao NHAF para o IAFG e VO2max; e, quanto ao IAFG, para o IMC, TG, PAS e PAD. Os grupos com maior NHAF e IAFG apresentaram melhores resultados nestas variveis. Por meio da ANOVA foi evidenciada diferena entre os grupos quanto ao tempo de prtica e superviso com a renda, anos de estudos, IAFG, VO2max, IMC e PAD. Os grupos com tempo de prtica superior a 6 meses apresentaram melhores resultados, com alguns resultados ainda melhores para o grupo supervisionado. O modelo de regresso linear mltipla evidenciou associao do IAFG com a cor da pele, a escolaridade, a renda e a idade, bem como, associao entre o VO2max e renda, gnero e a idade. Consideraes finais: Os dados apontam para a existncia de relao entre aptido fsica e fatores

    de risco para DCVs, e, indicam associao entre aptido fsica e aspectos socioeconmicos. O tempo de prtica e a superviso de um professor de educao fsica apresentaram associao com os fatores de risco para DCVs e os aspectos socioeconmicos. Desta forma, baseado nos resultados deste estudo, sugere-se o desenvolvimento de polticas pblicas visando a melhoria da sade deste segmento populacional.

    Palavras-chaves: envelhecimento, aptido fsica, exerccio fsico, fatores de risco

    para doenas cardiovasculares, aspectos socioeconmicos.

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    ABSTRACT TRAP, A. A. Relationship among physical fitness, risk factors for cardiovascular disease and socioeconomic aspects in adults and elderly. 123 f.

    Dissertao (Mestrado) Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo, Ribeiro Preto/SP, 2012.

    Introduction: Low levels of physical fitness and higher vulnerability to the emergence of chronic diseases, especially cardiovascular disease (CVD), stand out among the changes in the natural aging process. In this context, regular physical exercise can be considered the main factor against these changes. However, the sedentary lifestyle rate is high and can be associated with socioeconomic factors, indicating that the choice for the active lifestyle not only depends on individual attitudes. Objectives: Investigate the relationship between physical fitness and risk factors for CVD; check if different time of practice and supervision are related with better results; and, investigate the relationship among the socioeconomic and demographic characteristics and physical fitness. Methods: Cross-sectional study in

    Ribeiro Preto, SP, Brazil, with adults (50 to 59 years old) and elderly. The variables studied were: related to risk factors for CVDs - blood pressure (BP), body mass index (BMI) and lipid profile; socioeconomic and demographic aspects (age, income, education, skin color and gender); usual level of physical activity (ULPA), assessed by IPAQ; physical fitness in two ways: indirect VO2max, and AAHPERD physical test battery. The general functional fitness index (GFFI) was obtained by the sum of score-percentile of each test, as described previously. Data analysis was performed by descriptive statistics, Pearson correlation coefficient, ANOVA (practice time and supervision), generalized linear model for comparison groups (ULPA and GFFI), and model of multiple linear regression (dependents variables: VO2max and GFFI; independents variables: socioeconomic and demographic aspects). Results: 213 participants with 61.4 (8.4) years old. The Pearson correlation coefficient showed a negative association between GFFI and BMI (r=-0,4*), SBP (r=-0,31*) and DBP(r=-0,3*); and between VO2max and BMI (r=-0,46*) and SBP (r=-0,31*); and between age and GFFI (r=-0,44*) and VO2max (r=-0,56*). Positive association was found between GFFI and VO2max (r=0,7*). The comparison groups generalized linear model showed difference in ULPA to GFFI and VO2max; and as for GFFI, BMI, TG, SBP and DBP. The greatest NHAF and GFFI groups showed better results in these variables. Through ANOVA showed difference among groups regarding practice time and supervision with income, years of study, GFFI, BMI and DBP. Groups with practice time more than six months showed better results, with some even better results for the supervised group. The model of multiple linear regression still showed association with GFFI and skin color, education, income and age. And yet, association between VO2max and income, gender and age. Final Thoughts: The

    results of this study demonstrate the relationship between physical fitness and risk factors for CVDs, as well as indicate an association between physical fitness and socioeconomic aspects. Still time to practice and supervision of a physical education teacher were associated with risk factors for CVDs and socioeconomic aspects. Thus, based on the results of this study, it is suggested that the development of public politic is essential to improve the health of this population segment.

    Keywords: aging, physical fitness, exercise, risk factors for cardiovascular disease, socioeconomic aspects.

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Estrutura relativa por sexo e idade Brasil 1940/2050 ..................... 20

    Figura 2 Proporo de crianas, jovens e adultos, e de idosos em relao ao total da populao Brasil 1940/2050 ....................................................

    21

    Figura 3 Resumo das avaliaes em cada dia de coleta .................................... 49

    Figura 4 Ilustrao grfica do teste de coordenao ............................................ 55

    Figura 5 Montagem do teste de flexibilidade de alcanar sentado ....................... 55

    Figura 6 Representao esquemtica do teste de agilidade e equilbrio dinmico ..................................................................................................

    56

    Figura 7 Matriz de grficos do coeficiente de correlao de Pearson com a varivel de referncia IAFG. *p

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Prevalncia de incapacidade funcional em mobilidade de idosos, avaliada pela declarao indicativa de dificuldades em ABVDs e AIVDs, Brasil 2000 .............................................................................

    26

    Tabela 2 Risco de morte, por 100 mil habitantes, por doenas isqumicas do corao (DIC) e cerebrovasculares (DCbV) por faixas etrias decenais a partir de 30 anos no Brasil, 2005 ........................................

    29

    Tabela 3 Mortalidade proporcional da populao com 60 anos ou mais de idade, por grandes regies, segundo algumas causas de morte 1996/2005 .............................................................................................

    31

    Tabela 4 Dados sobre inatividade fsica da populao mundial .......................... 36

    Tabela 5 Dados sobre inatividade fsica da populao brasileira e os principais fatores associados ................................................................................

    37

    Tabela 6 Dados sobre sedentarismo e inatividade fsica da populao idosa brasileira e os principais fatores associados ......................................

    38

    Tabela 7 Valores Normativos para consumo mximo de oxignio (VO2max) por sexo e idade ..........................................................................................

    53

    Tabela 8 Resultados de uma participante de 50 anos e o procedimento para clculo do IAFG ....................................................................................

    57

    Tabela 9 Valores de referncia e classificao da presso arterial ..................... 58

    Tabela 10 Valores de referncia e classificao do ndice de Massa Corporal (IMC), ajustado para idosos ..................................................................

    59

    Tabela 11 Valores de referncia e classificao dos lipdios plasmticos ............ 60

    Tabela 12 Caractersticas socioeconmicas, demogrficas e relacionadas aptido fsica (qualitativas) dos participantes .......................................

    65

    Tabela 13 Caractersticas dos adultos e idosos participantes quanto s variveis quantitativas da aptido fsica e as relacionadas aos fatores de risco para DCVs ............................................................................................

    66

    Tabela 14 Comparao de grupos tendo como varivel independente a classificao no IPAQ ...........................................................................

    69

    Tabela 15 Comparao de grupos tendo como varivel independente o ndice de Aptido Funcional Geral (IAFG) .......................................................

    70

    Tabela 16 Comparao de grupos tendo como varivel independente o tempo de prtica de exerccio e a superviso de um professor de Ed. Fsica

    71

    Tabela 17 Caractersticas socioeconmicas e demogrficas que se associaram com o IAFG. Anlise Mltipla ................................................................

    72

    Tabela 18 Caractersticas socioeconmicas e demogrficas que se associaram

    com o maxOV 2 . Anlise Mltipla ..........................................................

    73

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AAHPERD American Alliance for Health, Physical Education, Recreation

    and Dance

    ABVDs Atividades Bsicas da Vida Diria

    ACSM American College Sports Medicine

    AHA American Heart Association

    AIVDs Atividades Instrumentais da Vida Diria

    CEFER Centro de Educao Fsica, Esportes e Recreao

    CELAFISCS Centro de Estudos do Laboratrio de Aptido Fsica de So

    Caetano do Sul

    CEMEQ Centro de Mtodos Quantitativos

    CESP Companhia Energtica de So Paulo

    CIF Classificao Internacional de Funcionalidade

    CT Colesterol Total

    DCbVs Doenas Cerebrovasculares

    DCNTs Doenas Crnicas No-Transmissveis

    DCVs Doenas Cardiovasculares

    DIC Doena Isqumica do Corao

    EEFERP Escola de Educao Fsica de Ribeiro Preto

    FCFRP Faculdade de Cincias Farmacuticas de Ribeiro Preto

    FMRP Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto

    HAS Hipertenso Arterial Sistmica

    HDL-c High Density Lipoprotein Colesterol

    IAFG ndice de Aptido Funcional Geral

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IGLA ndice Global de Limitao das Atividades

    IMC ndice de Massa Corporal

    IPAQ International Physical Activity Questionnaire

    LDL-c Low Density Lipoprotein Colesterol

    MET Equivalente metablico

    NHAF Nvel Habitual de Atividade Fsica

    NHC National Health Commitee (Nova Zelndia)

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    NIH National Institutes of Health

    PA Presso Arterial

    PAD Presso Arterial Diastlica

    PAS Presso Arterial Sistlica

    PES Programa de exerccios fsicos supervisionado

    PIC Programa de Integrao Comunitria

    PNAD Pesquisa Nacional de Amostras por Domiclio

    QV Qualidade de Vida

    SBH Sociedade Brasileira de Hipertenso

    TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    TG Triglicerdeos

    UNAERP Universidade de Ribeiro Preto

    USP Universidade de So Paulo

    maxOV 2 Consumo Mximo de oxignio

    VIGITEL Vigilncia de Fatores de Risco e Proteo para Doenas

    Crnicas por Inqurito Telefnico

    WHO World Health Organization

  • 15

    DEFINIO DE TERMOS

    ATIVIDADES BSICAS DA VIDA DIRIA (ABVDs): atividades de cuidado pessoal,

    como alimentar-se, banhar-se, vestir-se, entre outras (AIJANSEPPA et al., 2005).

    ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DA VIDA DIRIA (AIVDs): habilidades de

    mobilidade ou de atividades para manuteno do ambiente; englobam tarefas mais

    complexas muitas vezes relacionadas participao social do sujeito, como por

    exemplo, realizar compras, atender ao telefone e utilizar meios de transporte

    (ESPEJO et al., 1997).

    ATIVIDADE FSICA: uma expresso genrica que pode ser definida como

    qualquer movimento corporal, produzido pelos msculos esquelticos, que resulta

    em gasto energtico maior do que os nveis de repouso (CARPENSEN; POWELL;

    CHRISTENSON, 1985).

    APTIDO: estrutura complexa de capacidades que difere de indivduo para

    indivduo em magnitude e direo. vista pela maioria como predominantemente

    gentica, mas as influncias ambientais so responsveis pelo nvel e qualidade da

    aptido de um indivduo. H uma interao entre gentica e meio ambiente

    (BARBANTI, 2003).

    APTIDO FSICA: conjunto de atributos que as pessoas possuem ou podem

    alcanar e que se relaciona com a capacidade de realizar atividade fsica.

    composta pela agilidade, equilbrio, composio corporal, resistncia aerbia,

    coordenao, flexibilidade, fora e resistncia muscular e velocidade. O grau em que

    as pessoas possuem estes atributos pode ser medido com testes especficos. Pode

    ser dividida em dois grupos: um relacionado sade e outro capacidade atltica

    (CARPENSEN; POWELL; CHRISTENSON, 1985).

    APTIDO FUNCIONAL: Envolve os componentes da aptido fsica para

    desempenhar as demandas ordinrias e inesperadas da vida diria de forma segura

    e eficaz (CLARK, 1989).

  • 16

    CAPACIDADE FUNCIONAL: pode ser definida como o potencial que o indivduo

    apresenta para decidir e atuar em sua vida de forma independente, no seu cotidiano.

    Inclui a capacidade de realizar atividades de vida diria e a independncia para

    execut-las (MATSUDO, 2010).

    CAPACIDADES MOTORAS: capacidades gerais para realizar uma variedade de

    habilidades motoras. Acredita-se que so determinadas geneticamente e

    influenciadas por experincia de aprendizagem. Termo genrico para as diferentes

    capacidades, tais como: fora, velocidade, resistncia, agilidade, flexibilidade. No

    Esporte, fatores pessoais que determinam o rendimento so categorizados

    diferentemente. Outros termos genricos comuns so: caractersticas motoras,

    caractersticas motoras bsicas, principais componentes da aptido motora, bases

    fsicas do rendimento, atributos fsicos (BARBANTI, 2003).

    ENVELHECIMENTO: a soma de todas as alteraes biolgicas, psicolgicas e

    sociais que, depois do indivduo alcanar a idade adulta e ultrapassar a idade de

    potencial mximo de desempenho, ocorre uma reduo gradual das capacidades

    psicofsicas (WEINECK, 1991).

    EXERCCIO FSICO: uma atividade fsica planejada, estruturada e repetitiva que

    tem como objetivo final ou intermedirio aumentar ou manter a sade/aptido fsica

    (CARPENSEN; POWELL; CHRISTENSON, 1985).

    FATOR DE RISCO PARA DOENAS CARDIOVASCULARES: fatores comuns

    entre os indivduos que apresentam um evento cardiovascular grave. Podem ser

    classificados entre modificveis e no modificveis (LOTUFO, 2008).

    HABILIDADES MOTORAS: atos motores que surgem dos movimentos da vida

    diria do ser humano e dos animais; expressam uma qualidade de coordenao dos

    movimentos. A habilidade motora encontra-se nos movimentos do dia-a-dia e do

    trabalho, como tambm na rea dos esportes (BARBANTI, 2003).

  • 17

    SUMRIO

    1. INTRODUO ................................................................................................ 19

    1.1 O processo de envelhecimento populacional ............................................... 19

    1.2 Processo de envelhecimento e aptido fsica ............................................... 23

    1.3 Processo de envelhecimento, aptido fsica e fatores de risco para

    doenas cardiovasculares ..................................................................................

    28

    1.4 Sedentarismo e Inatividade Fsica Mundial e da Populao Brasileira: um

    olhar crtico a partir das esferas objetiva e subjetiva da Qualidade de Vida .......

    36

    2. PROBLEMATIZAO E JUSTIFICATIVA ..................................................... 43

    3. OBJETIVOS ................................................................................................... 46

    3.1 Objetivo Geral ............................................................................................... 46

    3.2 Objetivos Especficos .................................................................................... 46

    4. MTODO ........................................................................................................ 47

    4.1 Tipo de estudo .............................................................................................. 47

    4.2 Participantes/Amostragem ............................................................................ 47

    4.3 Procedimentos para a coleta de dados ........................................................ 48

    4.4 Avaliao do nvel habitual de atividade fsica ............................................. 50

    4.5 Avaliao da aptido fsica ........................................................................... 51

    4.5.1 Teste para medida indireta do consumo mximo de oxignio maxOV 2 .... 52

    4.5.2 Avaliao da aptido funcional geral ......................................................... 53

    4.6 Avaliao dos fatores de risco para doenas cardiovasculares ................... 57

    4.6.1 Presso Arterial ........................................................................................ 58

    4.6.2 ndice de Massa Corporal ........................................................................ 58

    4.6.3 Perfil Lipdico ............................................................................................ 59

    4.7 Anlise Estatstica ......................................................................................... 60

    4.7.1 Clculo do Tamanho Amostral ................................................................. 60

    4.7.2 Anlise estatstica dos dados ................................................................... 61

  • 18

    5. RESULTADOS ............................................................................................... 65

    5.1 Caractersticas socioeconmicas e demogrficas, relacionadas aptido

    fsica e aos fatores de risco para doenas cardiovasculares dos participantes .

    65

    5.2 Relaes entre nvel habitual de atividade fsica, aptido fsica, fatores de

    risco para doenas cardiovasculares ..................................................................

    67

    5.3 Relaes entre prtica de exerccio fsico regular supervisionada ou no

    supervisionada, aptido fsica, fatores de risco para doenas cardiovasculares

    e aspectos socioeconmicos e demogrficos ..................................................

    70

    5.4 Relaes entre aptido fsica e aspectos socioeconmicos e demogrficos 71

    6. DISCUSSO ................................................................................................... 74

    6.1 Caractersticas gerais dos participantes ....................................................... 74

    6.2 Relaes entre o nvel habitual de atividade fsica, aptido fsica e fatores

    de risco para doenas cardiovasculares .............................................................

    75

    6.3 Relaes entre aptido fsica e fatores de risco para doenas

    cardiovasculares .................................................................................................

    79

    6.4 Relaes entre tempo de prtica, superviso de um profissional de

    educao fsica, aptido fsica e fatores de risco para doenas

    cardiovasculares .................................................................................................

    83

    6.5 Relaes entre aspectos socioeconmicos e demogrficos, aptido fsica

    e prtica regular de exerccios fsicos supervisionada ........................................

    86

    7. LIMITAES DO ESTUDO ............................................................................ 96

    8. CONSIDERAES FINAIS ............................................................................

    97

    REFERNCIAS .. 98

    APENDICES ... 118

    ANEXOS . 121

  • 19

    1. INTRODUO

    1.1 O processo de envelhecimento populacional

    Nos ltimos anos, estudos que abordam o processo de envelhecimento tm

    recebido destaque, especialmente devido ao crescimento da expectativa de vida da

    populao em ritmo acelerado (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E

    ESTATSTICA, 2008) e da constante preocupao em proporcionar um

    envelhecimento saudvel e com melhores condies de vida aos adultos e aos

    idosos.

    Segundo Mazo, Lopes e Benedetti (2009), o envelhecimento populacional

    vem ocorrendo nos pases em desenvolvimento em um espao de tempo mais curto

    em relao aos pases desenvolvidos. As razes que esto levando a esta transio

    demogrfica so:

    Reduo da mortalidade, especialmente aps a Revoluo Industrial por meio

    do desenvolvimento socioeconmico dos pases desenvolvidos; e,

    aprimoramento tecnolgico dos pases de um modo geral, incluindo as

    vacinas, antibiticos, equipamentos, entre outros (HOMMA et al., 2011);

    Reduo da fecundidade e a consequente baixa natalidade (nmero de

    nascidos vivos por mil habitantes). Nos pases em desenvolvimento, a

    natalidade comeou a diminuir drasticamente nas dcadas de 60 e 70, no

    ocorrendo reduo gradativa como nos pases desenvolvidos. A utilizao dos

    mtodos contraceptivos, como a plula anticoncepcional e esterilizao

    feminina, apresentada como varivel importante na determinao dos nveis

    de fecundidade (TAVARES; LEITE; TELLES, 2007).

    A queda nas taxas de mortalidade e fecundidade acompanhou os processos

    de urbanizao e industrializao, os quais facilitaram a ampliao da cobertura dos

    sistemas de proteo social e melhorias das condies de habitao, alimentao,

    trabalho e saneamento bsico, alm do acesso educao, aos servios de sade,

    aos programas de planejamento familiar e s mudanas no estilo de vida (IBGE,

    2009; KALACHE; VERAS; RAMOS, 1987; VERMELHO; MONTEIRO, 2003).

  • 20

    O crescimento da populao idosa no Brasil, seguindo a tendncia mundial,

    foi reflexo tambm do declnio das taxas de mortalidade e de fecundidade (DANTAS;

    VALE, 2008; WONG; CARVALHO, 2006). As transformaes no padro demogrfico

    comearam a ocorrer de forma tmida, sendo que a partir de 1940 foi possvel notar

    um consistente declnio dos nveis de mortalidade, no acompanhada por um

    processo concomitante nos nveis de natalidade. O quadro se acentuou a partir de

    1960 quando a populao continuou apresentando diminuio na taxa de

    mortalidade, e ocorreu reduo da fecundidade. Este fato desencadeou profundas

    mudanas na distribuio etria, iniciando a caracterizao de uma nova pirmide

    etria com o estreitamento da base e o consequente alargamento do topo (IBGE,

    2009).

    A Figura 1 ilustra a estrutura relativa por sexo e idade no Brasil, baseada nos

    dados dos censos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    (IBGE, 2009) a partir de 1940, e as projees para 2020 e 2050.

    Figura 1 Estrutura relativa por sexo e idade Brasil 1940/2050.

    Fonte: IBGE (2009)

    possvel observar no censo do ano 2000, a caracterizao da nova pirmide

    etria e as projees para 2020 e 2050 nos levam a visualizar o novo formato, em

    forma de barril perdendo o aspecto triangular apresentado anteriormente.

    Em 1940, a vida mdia do brasileiro era de 45,5 anos, j em 2010 passou

    para 73,1 anos. A diferena de idade entre os sexos em 2010 foi de 7,6 anos,

    cabendo aos homens uma expectativa de vida de 69,4 anos ao nascer e s

  • 21

    mulheres, 77 anos (IBGE, 2010). De acordo com as projees do IBGE (2010), o

    pas continuar envelhecendo ao longo dos anos, com uma expectativa de vida de

    81,3 anos em 2050, basicamente o mesmo nvel que possui atualmente os pases

    com melhores expectativas de vida do mundo como a Austrlia (81,20), Sua

    (81,70), Islndia (81,80), Hong Kong1 (82,20) e o Japo (82,60).

    Segundo o IBGE (2010), a populao idosa no Brasil, composta pelas

    pessoas com 60 anos ou mais de idade, representada por cerca de 20 milhes de

    habitantes ou 10,8% da populao total brasileira e at 2020, estima-se que a

    populao idosa ir compor um contingente de 31,8 milhes de pessoas. Esse

    segmento populacional, ao crescer quinze vezes no perodo entre 1950 e 2020,

    situar o Brasil como o sexto pas do mundo em proporo de idosos (VERAS,

    2002). A projeo para 2050 da pirmide etria (Figura 1) nos permite observar

    ainda, o aumento da populao adulta com idade a partir dos 50 anos, nos

    remetendo no somente aos cuidados de ateno para a populao idosa, como

    tambm destes adultos de idade avanada.

    A Figura 2 mostra a proporo de crianas, jovens e adultos, e idosos em

    relao ao total da populao e nos permite realizar uma comparao a partir dos

    dados dos censos realizados entre 1940 e 2000, e as projees para as prximas

    dcadas (IBGE, 2009).

    Figura 2 Proporo de crianas, jovens e adultos, e de idosos em relao ao total da

    populao Brasil 1940/2050. Fonte: IBGE (2009)

    1 A partir de 1 de julho de 1997, Hong Kong tornou-se uma Regio Administrativa Especial (SAR) da China

  • 22

    possvel observar que a faixa etria de 0 a 14 anos de idade diminui em

    termos percentuais ao longo dos anos e a populao entre 15 e 59 anos se mantm

    quase inalterada at 1980, quando apresenta um ligeiro aumento. Entretanto, pode-

    se observar aumento importante no percentual de idosos, com variao de 4,1% em

    1940 para 10% no ano 2000, e projeo de 29,8% para 2050.

    Essa mudana na estrutura etria da sociedade resulta em mudanas

    econmicas e no aumento dos problemas sociais, alm de maior vulnerabilidade

    para algumas doenas, especialmente nos pases em desenvolvimento

    (CHAIMOVICZ, 2006; GUIMARES et al., 2004; VERMELHO; MONTEIRO, 2003).

    Por definio, entende-se o envelhecimento humano como um processo

    contnuo que afeta progressivamente as funes no decorrer do ciclo vital (NERI,

    2005; SHEPARD, 2003). O mesmo caracterizado por processos progressivos e

    dinmicos, com alteraes funcionais, fisiolgicas, bioqumicas e comportamentais

    que podem gerar dificuldades tanto na manuteno da capacidade de adaptao

    homeosttica frente a situaes inesperadas quanto na adaptao s constantes

    mudanas do ambiente, podendo comprometer o funcionamento de determinado

    sistema do organismo, gerando um risco maior para o surgimento de doenas

    (CHODZKO-ZAJKO et al., 2009; GUIMARES et al., 2004; JANI; RAJKUMAR, 2006;

    PERES, 2003; PORTO, 2008; ZIMERMAN, 2000).

    Dentre essas diversas alteraes, destacam-se a diminuio da aptido

    fsica, que envolve prejuzos nas capacidades e habilidades motoras (fora

    muscular, coordenao, resistncia aerbia, flexibilidade, agilidade e equilbrio) e

    possui relao direta com a capacidade de desempenhar as demandas ordinrias e

    inesperadas da vida diria de forma segura e eficaz, podendo levar perda gradual

    de autonomia e independncia; e, uma maior vulnerabilidade para o surgimento de

    doenas crnicas no transmissveis (DCNTs), com destaque para as doenas

    cardiovasculares (DCVs) (BALTES; SILVERBERG, 1995; CLARK, 1989; McARDLE;

    KATCH; KATCH, 2003; NASSER; PIUCCO, 2005; OTTO, 1987; PAULI et al., 2009;

    SPIRDUSO, 2005; WEINECK, 1991), reconhecidas como doenas de maior

    prevalncia e principal causa de morte em adultos e idosos aps a transio

    epidemiolgica, responsvel por alteraes relevantes no quadro de morbi-

    mortalidade, marcada pelo declnio das doenas infecto-contagiosas e aumento das

    DCNTs (CHODZKO-ZAJKO et al., 2009; PITANGA, 2010). Atualmente, as doenas

    infecto-contagiosas representam 10 % das mortes no Brasil enquanto que as DCVs

  • 23

    representam cerca de 30 a 40% (IBGE, 2009; SOCIEDADE BRASILEIRA DE

    HIPERTENSO, 2010).

    Normalmente, essas alteraes indesejadas que ocorrem com o processo

    natural de envelhecimento, especialmente as citadas anteriormente, podem estar

    relacionadas adoo de um estilo de vida sedentrio (DANTAS; VALE, 2008;

    GEIS; RUB, 2003; PAPALO NETO, 1996; PORTO, 2008). Como consequncia,

    cria-se um ciclo malfico que leva situao de dependncia e perda de autonomia,

    haja vista que parece existir relao direta entre inatividade fsica e piores condies

    de sade (BAKER et al., 1993; BLAIR; CHENG; HOLDER, 2001; GOBBI; VILLAR;

    ZAGO, 2005).

    1.2 Processo de envelhecimento e aptido fsica

    O indivduo desenvolve sua aptido fsica at prximo dos 30 ou 35 anos de

    vida, e aps esta idade, o seu desempenho funcional vai declinando at chegar a

    patamares indesejveis, podendo diminuir a capacidade funcional e, desta forma,

    comprometer a realizao de tarefas cotidianas, impossibilitando assim o indivduo

    de desempenhar suas funes dirias de forma segura e eficaz, mesmo em simples

    tarefas, como subir escadas, transportar objetos, atravessar ruas, amarrar os

    cadaros dos sapatos, ultrapassar obstculos e mesmo caminhar, podendo levar

    assim a um quadro de dependncia (PAPALO NETTO, 1996; ZAGO, 2002). Neste

    contexto, Sanchez (2000) coloca que uma incapacidade orgnica no condio

    necessria nem suficiente para a dependncia, j que em muitos casos possvel

    reverter ou pelo menos amenizar tal incapacidade, por meio de um programa de

    reabilitao, em que bastante comum a utilizao de exerccios fsicos. E, ainda,

    pensando no idoso, algumas estratgias e adaptaes no ambiente e nas relaes

    sociais podem preservar a independncia do mesmo. A autora chama ateno para

    uma anlise mais profunda diante da tendncia de associar a dependncia fsica

    com a perda total de autonomia, reforando que no existe uma relao direta entre

    estas duas situaes, j que um idoso dependente, mas com preservao da

    capacidade cognitiva, pode manter sua autonomia. Neste sentido, pode-se entender

  • 24

    a autonomia como a capacidade que o indivduo tem de ser responsvel pelos

    prprios atos e tomar as prprias decises (ABREU; FORLENZA, BARROS, 2005).

    O indicador de incapacidade funcional utilizado pelo IBGE (2009) para

    avaliar as condies de sade de adultos e idosos, j que muitos desenvolvem

    DCNTs que geram diferentes impactos sobre a vida cotidiana. A incapacidade

    funcional definida como a dificuldade, devido a uma deficincia, para realizar as

    atividades tpicas e pessoalmente desejadas na sociedade (CLASSIFICAO

    INTERNACIONAL DE FUNCIONALIDADE, 2003). Neste sentido, avaliar a

    incapacidade funcional importante para identificar as dificuldades para realizar

    atividades bsicas da vida diria (ABVDs), relacionadas ao cuidado pessoal, como

    comer, ir ao banheiro, tomar banho, caminhar, entre outras, e para atividades

    instrumentais da vida diria (AIVDs), consideradas mais complexas, necessrias

    para viver de forma independente na comunidade (IBGE, 2009). Esta avaliao

    juntamente com o levantamento de outras informaes so relevantes para

    estabelecer relaes entre o estado funcional, caractersticas socioeconmicas e

    demogrficas e condio de sade (GURALNIK et al. 1995).

    A partir de dados do IBGE (2009), observa-se que em mbito nacional, de

    uma maneira geral, os estudos sobre a incapacidade funcional tm utilizado as

    informaes do Suplemento Sade da Pesquisa Nacional de Amostras por

    Domiclios (PNAD) de 1998 e 2003 e do Censo Demogrfico 2000.

    O estudo de Costa (2006) avaliou a incapacidade funcional da populao

    brasileira com idade igual ou superior a 14 anos, por meio dos dados da PNAD de

    2003, baseando tais anlises em escalas de avaliao das ABVDs e AIVDs, e

    ressaltando a importncia deste tipo de avaliao no mbito das consequncias das

    doenas crnicas. A limitao das atividades foi menos frequente na faixa dos 14

    aos 39 anos e mais elevada a partir dos 60 anos, independente da atividade

    investigada. Entre os idosos, mais de 5% dos entrevistados relataram no conseguir

    realizar as atividades investigadas, exceto a realizao de cuidados pessoais e

    andar cerca de 100 metros atividades cujo comprometimento sugeriria limitaes

    mais graves para as quais as prevalncias de limitao foram de 2,4% e 1,3%,

    respectivamente. Dos 40 aos 59 anos, as prevalncias de alguma limitao de

    atividades como correr, levantar objetos pesados, praticar esportes ou realizar

    trabalhos pesados, subir ladeira ou escada e abaixar-se, ajoelhar-se e curvar-se

    atingiram valores entre 20 e 30%. J as propores da populao nesta faixa etria

  • 25

    que relataram no conseguir realizar tais atividades variaram de 1% a 4%. A

    distribuio do ndice Global de Limitao das Atividades (IGLA) foi mais favorvel

    entre os homens, independentemente da idade. Os valores mdios do IGLA no sexo

    masculino foram sempre superiores aos observados para as mulheres, aumentando

    as diferenas com o avanar da idade. Entre os homens idosos, o escore mdio

    encontrado foi de 79, que indica que 79% da capacidade funcional estariam

    preservadas para eles, ou, inversamente, um grau de limitao das atividades

    investigadas de 21%. Entre as mulheres idosas, o IGLA mdio foi igual a 70,5.

    Em relao aos dados do Censo Demogrfico 2000, a Tabela 1 apresenta a

    prevalncia de incapacidade funcional em mobilidade dos idosos de 60 anos ou

    mais de idade, por sexo, em ordem crescente, segundo os municpios das capitais,

    demonstrando padro semelhante aos dados da PNAD 2003, apresentados

    anteriormente.

  • 26

    Tabela 1 Prevalncia de incapacidade funcional em mobilidade de idosos,

    avaliada pela de declarao indicativa de dificuldades em ABVDs e AIVDs, Brasil 2000

    Municpios das capitais

    Prevalncia de incapacidade funcional em mobilidade dos idosos com 60 anos ou mais de idade, por sexo, em ordem crescente (%)

    Municpios das capitais

    Prevalncia de incapacidade funcional em mobilidade dos idosos com 60 anos ou mais de idade, por sexo, em ordem crescente (%)

    Mulheres Homens

    So Paulo

    20,1

    So Paulo

    15,8

    Curitiba 24,9 Rio de Janeiro 19,0 Florianpolis 25,4 Florianpolis 19,3 Cuiab 26,6 Belo Horizonte 19,5 Rio de Janeiro 26,7 Curitiba 20,0 Porto Velho 27,2 Palmas 20,1 Campo Grande 27,3 Vitria 20,4 Belo Horizonte 27,4 Porto Alegre 20,6 Porto Alegre 28,2 Braslia 20,9 Vitria 28,2 Porto Velho 21,1 Braslia 29,1 Salvador 21,4 Boa Vista 29,1 Campo Grande 21,8 Goinia 29,3 Goinia 22,4 So Lus 29,6 Belm 22,7 Fortaleza 30,5 So Lus 22,7 Belm 30,5 Fortaleza 22,7 Manaus 31,9 Boa Vista 23,0 Salvador 32,4 Recife 23,3 Natal 33,3 Cuiab 23,5 Recife 33,9 Aracaju 23,8 Joo Pessoa 34,7 Macap 25,2 Rio Branco 35,2 Natal 25,8 Macap 35,7 Joo Pessoa 25,9 Teresina 36,2 Manaus 25,9 Aracaju 37,3 Rio Branco 26,4 Macei 37,3 Teresina 27,2 Palmas 38,5 Macei 28,2

    Fonte: IBGE (2009)

    Os dados brasileiros apresentados na Tabela 1 so alarmantes se

    comparados com os de pases desenvolvidos como a Alemanha, Holanda e Sucia,

    que apresentam um percentual mdio de incapacidade funcional em torno de 8,4%,

    11,6% e 12,1%, respectivamente (MONT, 2007); ainda, chamam a ateno para a

    desigualdade regional dentro do territrio brasileiro, mostrando que os idosos

  • 27

    moradores das Regies Norte e Nordeste do Pas encontram-se em desvantagem

    quanto condio funcional, quando comparados com as demais Regies,

    indicando que fatores socioeconmicos podem influenciar negativamente para o

    quadro de incapacidade funcional.

    H na literatura diversos estudos que relacionam adequada capacidade

    funcional e a sade geral da populao com a aptido fsica geral, mostrando que

    polticas pblicas focadas em programas que melhorem a aptido fsica da

    populao adulta e idosa, poderiam ser uma soluo para o processo de

    envelhecimento saudvel, principalmente no que diz respeito manuteno e

    melhora do desempenho funcional, j que aptido fsica e capacidade funcional

    esto diretamente relacionadas (COSME; OKUMA; MOCHIZUKI, 2008;

    GONALVES et al., 2010; MATSUDO, 2001; ZAGO; GOBBI, 2003).

    Vrios so os fatores que podem contribuir para o declnio da aptido fsica

    durante o processo natural de envelhecimento, por exemplo, decrscimos na fora

    muscular, resistncia aerbia e coordenao (PORTO, 2008; SHEPARD, 2003;

    SPIRDUSO, 2005), e, possivelmente grande parte deste declnio, ocorre devido ao

    aumento da inatividade fsica ao invs das prprias mudanas ocasionadas pelo

    envelhecimento.

    Felizmente, o organismo mesmo em processo de envelhecimento no perde

    seu potencial de adaptao ao exerccio fsico. Estudos demonstram que adultos e

    idosos que praticam exerccios fsicos regularmente tendem a apresentar melhor

    aptido fsica. Os efeitos positivos dos exerccios fsicos sobre a funcionalidade

    fsica do adulto e do idoso so confirmados com a participao em um programa de

    exerccio regular, j que esta uma modalidade de interveno efetiva para reduzir

    e/ou prevenir um nmero de declnios funcionais associados ao envelhecimento,

    incluindo melhora da fora muscular, da resistncia, do equilbrio, da sade ssea,

    da estabilidade postural, da flexibilidade e da amplitude de movimento, reduzindo,

    consequentemente, o risco de quedas, leses e fraturas associadas (CHODZKO-

    ZAJKO et al., 2009; HASKELL et al., 2007; GARBER et al., 2011).

    Tal afirmao ainda pode ser exemplificada pelo estudo de Dias et al. (2006)

    que encontraram melhoras no quadro funcional (componente aerbio e de fora) de

    mulheres adultas e com sobrepeso que foram submetidas a quatro semanas de

    treinamento misto, composto de treinamento aerbio, de fora localizada e de fora

    em circuito. Cosme, Okuma e Mochizuki (2008), em estudo transversal, traaram o

  • 28

    perfil funcional de idosas ativas, saudveis e fisicamente independentes, por meio

    de testes que avaliaram a flexibilidade, agilidade, equilbrio esttico, fora abdominal

    e de membros inferiores e superiores. As participantes foram divididas em quatro

    grupos etrios: 60 a 64 anos; 65 a 69 anos; 70 a 74 anos; 75 anos ou mais. Os

    resultados mostraram que no foram encontradas diferenas entre as faixas etrias

    para todas as variveis com exceo da agilidade, pois o grupo 75 anos ou mais

    apresentou pior desempenho em relao aos grupos de 60 a 64 anos e o de 65 a 69

    anos, e o grupo 70 a 74 anos um desempenho pior que o grupo 60 a 64 anos,

    evidenciando que o perfil funcional de idosas fisicamente ativas mantm-se em

    condies timas at idades avanadas. Borges, Benedetti e Farias (2011), em

    estudo com idosas fisicamente ativas e participantes de um grupo de convivncia,

    encontraram associao entre o nvel habitual de atividade fsica (NHAF) e

    capacidade funcional relatada, sendo que 83,7% foram classificadas como ativas ou

    muito ativas; 81,5% com capacidade funcional muito boa e 14,1% com uma

    capacidade boa.

    Em suma, a prtica de exerccio fsico regular parece exercer papel

    importante na aptido fsica diante do processo de envelhecimento, j que os

    estudos encontrados, mesmo analisando a aptido fsica em diferentes contextos,

    com variadas populaes, alm de formas de treinamento distintas, o resultado

    encontrado foi sempre positivo.

    1.3 Processo de envelhecimento, aptido fsica e fatores de risco para doenas

    cardiovasculares

    Atualmente as DCVs tm sido consideradas como as doenas de maior

    prevalncia na populao adulta e idosa (SAVIOLI NETO; MAGALHES, 2005;

    SBH, 2010). As DCVs so consideradas como as principais causas de morte em

    adultos a partir dos 50 anos e idosos (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2005;

    CARMO et al., 2010; MARAFON et al., 2003; MATHIAS; JORGE; LAURENTI, 2004;

    STRONG et al., 2005), inclusive no Brasil (IBGE, 2009; LOTUFO, 2004; MANSUR et

    al., 2009).

  • 29

    O estudo de Almeida et al. (2002), utilizando os dados da PNAD de 1998,

    comprovaram o aumento da prevalncia das DCNTs com o avano da idade,

    destacando-se neste contexto as DCVs. Neste estudo, a prevalncia variou, de

    17,7% no grupo etrio de 15 a 24 anos, 37,5% no de 25 a 44 anos, 65,7% de 45 a

    64 anos e 80,8% no grupo de 65 anos ou mais. Esses resultados foram

    dependentes do nvel social, pois foi identificada a reduo da prevalncia de

    DCNTs com o aumento da escolaridade e da renda.

    Segundo as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertenso, publicadas pela

    Sociedade Brasileira de Hipertenso (SBH, 2010), em 2007 as DCVs foram as

    principais causas de morte no Brasil (29,4% do total), tendo sido responsveis por

    mais que o dobro das mortes resultantes da segunda causa, os cnceres.

    Destacaram-se as doenas cerebrovasculares (DCbV) e a doena isqumica do

    corao (DIC), que em 2007 compuseram mais de 60% dos bitos por DCVs,

    grande parte delas atribudas elevao da presso arterial (PA), sendo a maioria

    em pases de baixo e mdio nvel econmico e mais da metade em indivduos entre

    45 e 69 anos.

    A Tabela 2 apresenta dados sobre o risco de morte por DIC e DCbV no Brasil

    no ano de 2005.

    Tabela 2 Risco de morte, por 100 mil habitantes, por doenas isqumicas do corao (DIC) e cerebrovasculares (DCbV) por faixas etrias decenais a partir de 30 anos no Brasil, 2005.

    Grupo Etrio DCbV DIC

    Mulheres Homens Mulheres Homens

    30 a 39 anos 1,93 2,11 0,95 2,35 40 a 49 anos 7,98 8,34 5,21 12,14 50 a 59 anos 13,62 19,35 12,43 29,23 60 a 69 anos 24,29 37,94 24,48 48,04 70 a 79 anos 29,54 41,62 25,78 40,74

    Fonte: Adaptada de Mansur et al. (2009)

    De acordo com os dados acima, possvel observar que no Brasil, a o risco

    de morte por DIC maior do que as DCbV nos homens, com exceo da faixa etria

    de 70 a 79 anos que apresentou comportamento semelhante. Nas mulheres, o risco

    de morte por DCbV foi maior do que as DIC, com exceo do grupo etrio 60 a 69

    anos que apresentou comportamento parecido para DCbV e DIC. Contudo, os

  • 30

    autores ressaltam que em mulheres das regies mais desenvolvidas do Brasil,

    predomina o risco de morte por DIC.

    Levando em considerao os dados da populao com 60 anos ou mais, a

    Tabela 3 apresenta a mortalidade proporcional da populao, por grandes regies,

    segundo algumas causas de morte, em 1996, 2000 e 2005. Os dados mostram que

    a mortalidade por DCVs chegava a superar o valor de 40% em 1996, para aqueles

    que viviam nas reas mais dinmicas do Pas (Sudeste e Sul), observando-se, no

    entanto, tendncia de suave reduo desses percentuais quando observado

    somente os dados de 1996 e 2005. Este fato pode estar ocorrendo em funo da

    melhoria no atendimento pelos servios de sade e/ou da maior conscientizao, por

    parte da populao, quanto aos hbitos saudveis de vida, mas os nmeros ainda

    so preocupantes. No Norte e Nordeste, os percentuais, embora pouco menores, ao

    contrrio, apresentaram tendncia de aumento nesses mesmos anos, podendo ser

    reflexo, tambm, da melhoria da qualidade da informao em andamento nos

    ltimos anos. Nota-se que nas Regies Norte e Nordeste as causas maldefinidas

    ocupavam, em 1996, o primeiro lugar no agregado geral de causas de morte entre

    os idosos, representando, respectivamente, 33% e 42% do total de bitos

    declarados, e declinando para patamares em torno de 22%.

  • 31

    Tabela 3 Mortalidade proporcional da populao com 60 anos ou mais de idade,

    por grandes regies, segundo causas de morte 1996/2005.

    Algumas causas de morte

    Mortalidade proporcional da populao 60 anos (%)

    Brasil

    Grandes Regies

    Norte

    Nordeste

    Sudeste

    Sul

    Centro Oeste

    Total

    100,0

    1996

    100,0

    100,0

    100,0

    100,0

    100,0 Neoplasias Doenas do aparelho circulatrio Doenas do aparelho respiratrio

    13,3 38,1 12,4

    8,0 30,4 6,9

    14,8 27,6 13,9

    16,1 41,7 15,3

    13,1 41,6 10,1

    13,3 38,3 12,4

    Sintomas e sinais mal definidos Outras

    Total

    Neoplasias Doenas do aparelho circulatrio Doenas do aparelho respiratrio Sintomas e sinais mal definidos Outras

    Total

    Neoplasias Doenas do aparelho circulatrio Doenas do aparelho respiratrio Sintomas e sinais mal definidos Outras

    18,2 18,1

    100,0 14,6 36,9 12,1 16,7 19,8

    100,0 16,0 36,5 12,6 11,9 23,0

    33,1 21,7

    2000

    100,0 11,3 29,5 9,6

    31,6 18,0

    2005 100,0 12,6 31,1 12,3 23,1 20,8

    41,9 1,7

    100,0 9,0

    29,0 7,9

    36,2 17,8

    100,0 12,0 34,3 9,2

    22,0 22,4

    10,1 16,7

    100,0 16,1 39,1 13,5 10,4 20,9

    100,0 17,0 37,1 13,7 8,4

    23,8

    10,5 22

    100,0 18,0 41,8 14,2 7,1 18,8

    100,0 19,8 38,4 14,2 6,3 21,3

    13,9 22,2

    100,0 14,7 39,5 11,9 10,3 23,6

    100,0 15,9 39,1 13,9 5,9 25,1

    Fonte: IBGE (2009)

    Vale destacar que piores condies socioeconmicas, incluindo educao,

    renda per capita e aspectos da condio de vida (saneamento bsico, alimentao,

    acesso servios de sade, entre outros) podem contribuir para quadros negativos

    quanto prevalncia de DCVs e de seus fatores de risco associados (CAVALINI;

    LEON, 2008; CREBER et al., 2010; ISER et al., 2011; ISHITANI et al., 2006). Ainda,

    h a necessidade de ateno para as diferenas sociais relativas gnero e cor da

    pele (LUNZ et al., 2010).

    Mesmo com estes dados alarmantes, e com uma maior necessidade de

    ateno para a elaborao de novas polticas pblicas objetivando o controle das

    mortes por DCVs, historicamente, no foi possvel identificar uma causa especfica

    para as DCVs e somente a partir de 1948 com o Framinghan Heart Study, comeou-

    se a identificar os fatores comuns entre os indivduos que apresentavam um evento

  • 32

    cardiovascular grave, surgindo o conceito de fator de risco para DCVs (LOTUFO,

    2008). At o incio dos anos 90, as aes de preveno eram direcionadas sobre um

    nico fator de risco, com destaque para duas diretrizes de origem americana que

    focalizavam sua aplicao para a Hipertenso Arterial Sistmica (HAS)

    (CHOBANIAN et al., 2003) e para os valores elevados de colesterol total (CT)

    (NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH, 2002). Apenas em 1993, o National Health

    Commitee (NHC) da Nova Zelndia, publicou um documento introdutrio, sendo a

    proposta de ao publicada em 1995, na qual se apresentou uma tabela

    relacionando fatores de risco para DCVs (NATIONAL HEALTH COMMITEE, 1995).

    Esta publicao foi importante para o entendimento de que a agregao desses

    fatores est associada ao risco maior do que o esperado pela soma dos riscos

    individuais de cada fator (EBRAHIM; MONTANER; LAWLOR, 2004).

    Os fatores de risco para DCVs so classificados em modificveis, que podem

    ser prevenidos, controlados e tratados, e no-modificveis. Dentre os modificveis

    esto: a HAS, as dislipidemias, diabetes mellitus, obesidade, tabagismo,

    sedentarismo, dietas inadequadas e uso de lcool. Histria familiar ou

    hereditariedade, o sexo, a idade e a raa/etnia, so classificados como no

    modificveis (BROOKS, 2007; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2002).

    Com o avanar da idade, ocorre aumento da incidncia de fatores de risco

    para as DCVs destacando-se dentre os modificveis, a HAS, a obesidade e as

    dislipidemias (DREA; LOTUFO, 2001; FERREIRA et al., 2010; ISER et al., 2011;

    KRAUSE et al., 2008; REPETTO; RIZZOLLI; BONATTO, 2003).

    Os resultados apresentados quanto mortalidade por DCVs podem refletir o

    inadequado controle de seus fatores de risco. Em relao HAS, a SBH (2010)

    aponta que o fator de risco mais prevalente na populao brasileira e nas camadas

    menos favorecidas da populao, sendo que a prevalncia na populao adulta

    ultrapassa os 30%. Estes valores aumentam ainda mais com o avanar da idade,

    chegando a 50% entre 60 e 69 anos e 75% em indivduos acima de 70 anos. A

    adoo de um estilo de vida sedentrio pode agravar ainda mais este quadro (SBH,

    2010). Os dados brasileiros so semelhantes aos encontrados nos pases da

    Amrica Latina (PASSOS et al., 2006) e Estados Unidos (EGAN et al., 2010).

    A obesidade considerada atualmente um dos principais problemas de

    sade pblica, tanto em pases desenvolvidos como em desenvolvimento, ocorrendo

    concomitantemente diminuio progressiva do gasto energtico em atividades

  • 33

    laborais, no lazer, no cumprimento de afazeres domsticos e como decorrncia de

    modificaes no padro alimentar (CATENACCI; HILL; WYATT, 2009; DUTTON;

    McLAREN, 2011). Dados nacionais (VIGILNCIA DE FATORES DE RISCO E

    PROTEO PARA DOENAS CRNICAS POR INQURITO TELEFNICO, 2012),

    apontaram uma prevalncia de excesso de peso de 48,5% e de obesidade de

    15,8%. Em ambos os sexos, a frequncia dessas condies tendeu a aumentar com

    a idade. A maior frequncia de excesso de peso e obesidade, em homens, foi

    observada no estrato de maior escolaridade e, em mulheres, no estrato de menor

    escolaridade. Dentre os indicadores antropomtricos e de estado nutricional

    utilizados para a realizao de estudos, vale destacar o ndice de Massa Corporal

    (IMC), que uma medida utilizada para avaliar o estado nutricional, um parmetro

    recomendado pela World Health Organization (WHO, 2000).

    As dislipidemias aparecem como outro importante fator de risco, por sua

    associao com o desenvolvimento das DCVs e devido progresso da

    aterosclerose em adultos e idosos. Contudo, estudos referentes sua frequncia na

    populao brasileira ainda so escassos, principalmente entre os idosos (KRAUSE

    et al., 2008; SPOSITO et al., 2007). O estudo de Sposito et al. (2007) apresentou

    dados de nove capitais apontando para a prevalncia de dislipidemias em adultos de

    38% para os homens e 42% para as mulheres. A prevalncia foi maior no sexo

    feminino e nas faixas etrias mais elevadas. Uma metanlise com 25 estudos

    encontrou que o CT, o LDL-colesterol (LDL-c) e as concentraes de triglicerdeos

    (TG) estavam todos relacionados com manifestaes clnicas de DIC em idosos.

    Nas mulheres as concentraes plasmticas de HDL-colesterol (HDL-c) tambm

    estavam inversamente relacionadas ao risco de DCVs (MANOLIO et al., 1992).

    A principal forma que tem sido apontada para a preveno das DCVs a

    mudana no estilo de vida (DANTAS; VALE, 2008; GEIS; RUB, 2003; MAZO;

    LOPES; BENEDETTI, 2009; PORTO, 2008; ROS; VILA, 2004). Ter uma

    alimentao saudvel e manter-se fisicamente ativo so atitudes que podem

    melhorar praticamente todos os parmetros, contrapondo-se assim aos efeitos

    deletrios do envelhecimento (GOTTLIE et al., 2007; SHEPARD, 2003),

    O exerccio fsico realizado de forma regular e sob a superviso de um

    educador fsico tem sido utilizado como abordagem auxiliar e como ferramenta no

    farmacolgica na preveno primria em sade e mesmo para o controle dos fatores

    de risco que predispem o indivduo ao desenvolvimento de DCNTs, destacando-se

  • 34

    as DCVs (BRASIL, 2006; CREBER et al., 2010; SBH, 2010). Os profissionais de

    Educao Fsica foram reconhecidos pelo Conselho Nacional de Sade, em sua

    resoluo n 218/1997 como profissionais da rea de sade. A construo da

    integralidade da ateno sade, preceito constitucional do Sistema nico de

    Sade (SUS), requer a atuao de equipes multiprofissionais e neste sentido, a

    Educao Fsica reconhecida como rea do conhecimento e de interveno

    acadmico-profissional envolvida com a promoo, preveno, proteo e

    reabilitao da sade (CONSELHO FEDERAL DE EDUCAO FSICA, 2010).

    Em posicionamento oficial, o American College of Sports Medicine (ACSM)

    (CHODZKO-ZAJKO et al., 2009) aponta que baixos nveis de aptido fsica podem

    estar associados a maior incidncia de DCVs e piora da condio de vida na

    populao adulta e idosa.

    Apesar de existir relao entre exerccio fsico, aptido fsica e fatores de

    risco para DCVs, no h um consenso sobre qual o melhor tipo de exerccio fsico a

    ser praticado levando em conta a preveno e auxlio no controle de alguns fatores

    de risco, como a HAS, a obesidade e as dislipidemias. Observa-se que os estudos

    (SUZUKI; MORAES; FREITAS, 2011; ZAITUNE et al., 2010) so desenvolvidos, de

    uma maneira geral, utilizando questionrios que buscam avaliar o NHAF, ou ainda,

    estudos de interveno, que utilizam um tipo de treinamento especfico, geralmente

    treinamento aerbio ou de fora. Existem poucos estudos publicados que realizaram

    interveno ou buscaram estabelecer algum tipo de relao, levando em

    considerao a prtica multicomponente (MARQUES et al., 2009), envolvendo o

    trabalho das diversas capacidades e habilidades motoras, ou a aptido fsica global.

    Em alguns estudos, a PA apresentou melhora com diferentes tipos de

    treinamento e, em outros, nenhum efeito aps o perodo de interveno. O estudo

    de Zago et al. (2010) encontrou diminuio nos valores da presso arterial sistlica

    (PAS) e presso arterial diastlica (PAD) em mulheres adultas e idosas pr-

    hipertensas que apresentavam determinadas alteraes genticas (polimorfismos),

    porm esta mesma melhora no foi evidenciada em mulheres adultas e idosas pr-

    hipertensas sem essas alteraes genticas que realizaram o treinamento em

    esteira ergomtrica, por seis meses, trs vezes por semana, intensidade de at 70%

    do maxOV 2 e durao de at 40 minutos por sesso. Collier et al. (2011) estudaram

    homens e mulheres pr-hipertensos (PAS entre 120 e 139 mmHg; PAD entre 80 e

  • 35

    89 mmHg) e hipertensos I (PAS entre 140 e 149 mmHg; PAD entre 90 e 99 mmHg),

    que no tomavam nenhum tipo de medicamento anti-hipertensivo, com idade entre

    40 e 60 anos. Homens e mulheres foram divididos em dois grupos separados. Cada

    grupo foi dividido em dois, um que sofreu interveno com exerccio aerbio e outro

    com treinamento de fora, realizados trs vezes por semanas, durante quatro

    semanas, com intensidade moderada. A PAS e PAD entre as mulheres diminuram

    mais no grupo treinamento de fora quando comparado ao grupo exerccio aerbio,

    enquanto nos homens foi possvel observar diminuio parecida nos dois tipos de

    exerccio.

    Em relao obesidade e ao excesso de peso, observa-se que o mesmo

    padro dos estudos relacionados HAS foi seguido, encontrando-se controvrsias

    na anlise dos resultados. Marques et al. (2009) no encontraram diferena no IMC

    e porcentagem de gordura corporal em idosas que foram submetidas a um programa

    de treinamento de exerccios multicomponente (fora, resistncia aerbia,

    flexibilidade, coordenao, agilidade e equilbrio) ou treinamento de fora, durante

    oito meses, duas vezes por semana, durante uma hora. Uma limitao importante do

    estudo foi a falta de avaliao ou controle da dieta. Por outro lado, o estudo de

    Frank, Andersen e Schmidt (2004) mostrou uma relao positiva entre exerccio

    fsico e composio corporal. Os autores analisaram 10.878 adultos e idosos, de

    ambos os sexos, em 13 regies de Atlanta, Estados Unidos e concluram que cada

    quilmetro de caminhada por dia estava associado diminuio de 8% no risco de

    obesidade; e, em contraponto, constataram que cada hora de transporte de carro

    por dia significava aumento de 6% no risco de obesidade.

    Ainda, a mesma relao pde ser encontrada em estudos sobre o perfil

    lipdico. O estudo de Dalacorte (2008), realizado com homens e mulheres idosos no

    encontrou diferenas entre os grupos classificados pelo International Physical

    Activity Questionnaire (IPAQ) como insuficiente, suficiente ou muito ativo para as

    variveis analisadas relacionadas aos valores de TG e HDL-c, concluindo que no

    havia associao entre NHAF e perfil lipdico. Por outro lado, o estudo de Guedes e

    Gonalves (2007) associou o NHAF, a partir de informaes colhidas pelo IPAQ,

    com o perfil lipdico de homens e mulheres adultos. Esses autores evidenciaram

    diferena entre os grupos muito ativo e sedentrio para as variveis CT, LDL-c e TG,

    com melhores resultados para o grupo muito ativo.

  • 36

    1.4 Sedentarismo e Inatividade Fsica Mundial e da Populao Brasileira: um

    olhar crtico a partir das esferas objetiva e subjetiva da Qualidade de Vida

    Mesmo com os benefcios relacionados prtica regular de exerccios fsicos

    apresentados anteriormente, as Tabelas 4, 5 e 6 apresentam dados de estudos

    indicando que a maior parte da populao mundial e brasileira ainda pode ser

    considerada sedentria ou inativa e, por isso, h a necessidade de maior ateno

    por parte das polticas pblicas para este problema, j que muitas das alteraes

    relacionadas ao processo de envelhecimento, em especial a diminuio da aptido

    fsica e maior vulnerabilidade para o surgimento de DCNTs, com destaque para as

    DCVs, podem ser decorrentes de um estilo de vida menos ativo e menos saudvel

    adotado desde a infncia (ZAGO, 2002).

    A Tabela 4 apresenta os dados sobre inatividade fsica do estudo realizado

    por Hallal et al. (2012) com a populao adulta e idosa em 122 pases membros da

    WHO agrupados em seis regies. Os pases estudados representam 88,9% da

    populao mundial. A avaliao da atividade fsica incluiu todos os domnios (tempo

    de lazer, ocupao, transporte e trabalho domstico) e os dados mundiais

    apontaram para o aumento da inatividade fsica com a idade e para maior frequncia

    de inatividade fsica nas mulheres.

    Tabela 4 Dados sobre inatividade fsica da populao mundial

    Estudo Dado apresentado Populao

    Hallal et al. (2012) 31,1% foram considerados inativosa Mundial 27,5% foram considerados inativosa frica 43,3% foram considerados inativosa Amricas 34,8% foram considerados inativosa Europa 43,2% foram considerados inativosa Mediterrneo Orientalb

    33,7% foram considerados inativosa Pacfico Ocidentalc

    17% foram considerados inativosa Sudeste da siad

    a ativo aquele que cumpriu qualquer um dos trs critrios: (1) 30 minutos de atividade moderada pelo menos cinco dias/semana; (2) 20 minutos de atividade vigorosa pelo menos trs dias/semana; (3) combinao para alcanar 600

    equivalentes metablicos (METs) por semana. 1 MET definido como a energia gasta quando um indivduo est em repouso. Neste ltimo critrio, o nmero de minutos/semana de atividade fsica foi multiplicado por oito METs (vigorosa) e por quatro METs (moderada). b Regio de pases membros da WHO que inclui Egito, Ir, Iraque, Lbano, Paquisto, Sria, Somlia, dentre outros pases.

    c Regio de pases membros da WHO que inclui Austrlia, China, Japo, Nova Zelndia, dentre outros pases.

    d Regio de pases membros da WHO que inclui ndia, Indonsia, Tailndia, Timor-Leste, dentre outros pases.

  • 37

    A Tabela 5 apresenta os dados de estudos realizados com a populao adulta

    e idosa sobre inatividade fsica no Brasil e os principais fatores associados.

    Tabela 5 Dados sobre inatividade fsica da populao brasileira e os principais

    fatores associados

    Estudo/Populao Dado apresentado Fatores associados

    VIGITEL (2011) Capitais dos estados brasileiros mais o Distrito Federal

    85,1% foram considerados inativos no tempo livrea (variao de 77,6% no DF a 88,7% em Rio Branco)

    Prevalncia maior no sexo feminino (88,3%) do que no masculino (81,4%). Em ambos os sexos, a frequncia de ativos no tempo livre aumentou com a escolaridade.

    Knuth et al. (2011) Dados PNAD 2008 Brasil

    89,5% foram considerados inativos no tempo livrea

    Homens e indivduos mais jovens foram mais ativos; relao direta entre escolaridade e atividade fsica no tempo livre.

    VIGITEL (2012) Capitais dos estados brasileiros mais o Distrito Federal

    69,7% foram considerados inativos no tempo livreb (variao de 58,6% em Florianpolis a 73,7% em Porto Velho)

    Prevalncia maior no sexo feminino (77,6%) do que no sexo masculino (60,4%) O % de ativos tendeu a diminuir com o aumento da idade entre os homens. Em ambos os sexos, o percentual de ativos cresceu com a escolaridade.

    Suzuki, Moraes e Freitas (2011) Ribeiro Preto/SP

    Prevalncia de prtica insuficiente de atividade fsica em 62,5% dos homens e 67,9% das mulheresc

    A prtica insuficiente nos homens apresentou associao com horas de trabalho/dia superior a dez horas e nas mulheres com um a trs anos de estudos e no possuir renda ou renda abaixo de R$ 520.

    Hallal et al. (2003) Pelotas/RS

    41,1% foram considerados inativosc

    A inatividade fsica apresentou associao positiva com a idade e negativa com a renda e a escolaridade.

    Monteiro et al. (2003) - Nordeste e Sul do Brasil

    96,7% foram considerados inativos no tempo livred

    A inatividade fsica apresentou associao negativa com a idade e a renda e a escolaridade.

    a

    ativo no tempo livre pelo critrio da WHO at 2011: aquele que praticava exerccio fsico vigoroso durante pelo menos trs dias por semana, com durao diria de 20 minutos ou mais; ou caminhada ou outra modalidade de exerccio fsico ou esporte moderado durante pelo menos cinco dias por semana, com durao diria de 30 minutos ou mais.

    b ativo no tempo livre pelo critrio da WHO a partir de 2011: no estipula um nmero mnimo de dias na semana

    para a prtica da atividade fsica suficiente no tempo livre, passando desta forma a considerar, pelo menos, 150 minutos semanais de atividade fsica de intensidade leve ou moderada ou, pelo menos 75 minutos semanais de atividade de

    intensidade vigorosa. c

    inatividade fsica ou prtica insuficiente de atividade fsica inclui, pela classificao do IPAQ, os insuficientemente ativos A e B, e sedentrios.

    d ativo no tempo livre (critrio definido pelos prprios autores): aquele que realizou atividade fsica por cinco ou mais

    dias da semana durante pelo menos 30 minutos.

  • 38

    A Tabela 6 apresenta os dados de estudos realizados com a populao idosa

    brasileira sobre sedentarismo e inatividade fsica no tempo livre no Brasil e os

    principais fatores associados.

    Tabela 6 Dados sobre sedentarismo e inatividade fsica da populao idosa

    brasileira e os principais fatores associados

    Estudo/Populao Dado apresentado Fatores associados

    Benedetti et al. (2008) Florianpolis/SC

    74,3% foram considerados inativos no domnio lazer do IPAQa

    Verificou-se associao inversa entre atividade fsica total e atividade fsica de lazer com a demncia e depresso.

    Zaitune et al. (2010) Estado de So Paulo

    26,1% foram considerados inativos na atividade fsica habituala e 71,6% inativos no tempo livreb

    O percentual de ativos quanto ao NHAF foi maior em mulheres (78,5%) do que em homens (67,7%). Quanto ao tempo livre, o NHAF foi maior em homens (32,3%) do que nas mulheres (25,7%). Observou-se maior % de ativos quanto ao NHAF em idosos mais jovens. No tempo livre, a prtica mostrou-se mais frequente nos indivduos de cor da pele branca e com maior escolaridade e renda familiar.

    Zaitune et al. (2007) Campinas/SP

    70,9% foram considerados sedentrios no lazerb

    A prevalncia de sedentarismo no lazer foi maior nos idosos de menor renda e do sexo feminino.

    Barbosa e Lebro (2007) Municpio de So Paulo

    78,7% das mulheres e 75,1% dos homens foram considerados inativosc

    Em ambos os sexos, a proporo de inativos foi maior nos grupos etrios de idade mais avanada.

    Pitanga e Lessa (2005) Salvador/BA

    77,7% foram considerados sedentrios no lazerd

    O sedentarismo foi mais frequente em pessoas com baixo nvel de escolaridade.

    a

    inatividade fsica ou prtica insuficiente de atividade fsica inclui, pela classificao do IPAQ, os insuficientemente

    ativos A e B, e sedentrios. b ativo no tempo livre (critrio definido pelos prprios autores): aquele que realiza atividade fsica no contexto do

    lazer pelo menos uma vez na semana.

    c critrio definido pelos prprios autores: resposta dicotmica (sim, no) ao seguinte questionamento: Nos ltimos 12

    meses, voc tem feito exerccios ou realizado atividades fsicas vigorosas regularmente, como esportes, caminhada rp ida, dana ou trabalho pesado, trs vezes por semana?

    d critrio definido pelos prprios autores: Foi realizada a seguinte pergunta: Como voc classificaria sua atividade

    fsica de lazer? Foram considerados como sedentrios no lazer aqueles que informaram no participar de atividades

    fsicas nos momentos de lazer, considerando a semana tpica habitual.

  • 39

    Evidenciou-se que estudos sobre as prevalncias de inatividade fsica e

    sedentarismo conduzidos no Brasil, utilizaram instrumentos e pontos de corte

    distintos, indicando a necessidade de cuidado na interpretao e comparao destes

    estudos. Observa-se de uma maneira geral, que os dados so preocupantes, e que

    estes dados quando associados ao processo natural de envelhecimento, podem

    estar relacionados aos altos ndices de limitaes funcionais e DCVs. A falta de

    estratgias e programas que combatam a prevalncia de sedentarismo e outros

    comportamentos de risco sade , em parte, decorrente da inexistncia de uma

    poltica de vigilncia epidemiolgica focalizando a exposio de comportamentos de

    risco (como a inatividade fsica) e no apenas os desfechos (morbidade e

    mortalidade). Como exemplo, o estudo de Rauber (1999), analisando os gastos em

    sade efetuados pelas organizaes administradoras de sade norte-americanas,

    apontou para uma estrutura de gastos que destina 84% dos recursos para

    tratamento e recuperao e apenas 16% para preveno dos agravos, sendo a

    prtica de exerccio fsico regular, uma importante ferramenta preventiva de diversas

    doenas.

    Considerando as relaes existentes entre prevalncia de sedentarismo,

    inatividade fsica e aspectos socioeconmicos, como sexo, cor da pele, escolaridade

    e renda, por exemplo, entende-se que a escolha pela adeso e manuteno da

    prtica de exerccios fsicos no depende apenas de deciso individual, mas sim, de

    um quadro social amplo e complexo. Como forma de explorar dos componentes que

    envolvem esta discusso tem-se o conceito de Qualidade de Vida (QV), que envolve

    as complexidades contemporneas, o interesse pela vida e o desejo que as pessoas

    sentem de viver bem, aparecendo no somente como uma questo individual, mas

    tambm social e comunitria, em que os campos do cio e das atividades

    produtivas, inclusive as novas tecnologias, influenciam as polticas e as prticas

    (ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012).

    A forma mais comum de QV aquela apresentada pela mdia que a trata

    como algo a ser alcanado e que depende unicamente da boa vontade e da atitude

    individual do sujeito em mudar seus hbitos (BARBOSA, 1998). Entretanto,

    possvel estabelecer que a QV no seja algo a ser alcanado, que deve ser

    incorporado vida a partir de esforo e dedicao individual. No existe uma

    definio consensual de QV, mas os pesquisadores parecem concordar que a QV

    um conceito dinmico, amplo, subjetivo e polissmico (LANDEIRO et al., 2011).

  • 40

    Apesar de no haver uma nica definio, a WHO (1994) define QV como a

    percepo do indivduo de sua proteo na vida, no contexto da cultura e sistema de

    valores nos quais ele vive e em relao aos seus objetivos, expectativas, padres e

    preocupaes (WHO, 1994). Nessa definio, a WHO toma como base uma

    natureza multifatorial da QV, considerando seis domnios que objetivam demonstrar

    as diferentes dimenses do ser humano na determinao dos nveis de qualidade de

    vida de cada indivduo. Domnios estes categorizados em sade fsica, sade

    psicolgica, nvel de independncia, relaes sociais, meio ambiente e padro

    espiritual (DANTAS; SAWADA; MALERBO, 2003).

    Neste sentido, vale destacar as esferas objetiva e subjetiva da QV. A esfera

    objetiva quantificvel e concreta, podendo ser transformada pela ao humana;

    inclui as necessidades mais elementares da vida, como alimentao, moradia,

    acesso sade, emprego, saneamento bsico, educao e transporte (MINAYO et

    al., 2000). A esfera objetiva pode limitar ou permitir a esfera subjetiva, que inclui a

    percepo da QV e diz respeito ao estilo de vida do sujeito, caracterizado como os

    hbitos aprendidos e adotados durante toda a vida, relacionados com a realidade

    familiar, ambiental e social. As aes relacionadas esfera objetiva possibilitam a

    escolha do indivduo e a adoo ou no de prticas no seu cotidiano, relacionadas

    ao estilo de vida (esfera subjetiva), como a nutrio equilibrada, o exerccio fsico

    regular e os cuidados preventivos com a sade (GONALVES, 2004; NAHAS,

    2001). Vale ressaltar que a definio proposta pela WHO, citada anteriormente,

    contempla as concepes de subjetividade do indivduo e de objetividade das

    condies materiais.

    Considerando a ocorrncia das diferentes formas de consumo entre as

    distintas estruturas sociais, entende-se que as chances de ao, geradas pelas

    condies socioeconmicas, no so colocadas da mesma forma para todos, ou

    seja, algum que tenha oramento e condies de subsistncia melhores ter

    maiores possibilidades de escolhas em relao s prticas adotadas em seu estilo

    de vida (ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012).

    De acordo, com Vilarta e Gonalves (2004), as possibilidades de escolhas so

    criadas de acordo com a condio e o modo de vida do indivduo (esfera objetiva),

    que permitiro o direcionamento do seu estilo de vida (esfera subjetiva).

    Gonalves (2004) define modo de vida como a garantia das necessidades de

    subsistncia do indivduo, por meio de sua condio econmica e, em parte, por

  • 41

    polticas pblicas; e condies de vida como os determinantes poltico-

    organizacionais da sociedade como um todo, que norteiam a relao entre os

    grupos de sujeitos e as variantes de saneamento, transporte, habitao,

    alimentao, educao, cuidados sade, entre outros.

    Estilo de vida o conjunto de aes habituais que refletem as atitudes, os

    valores e as oportunidades na vida dos sujeitos (NAHAS, 2001). Entretanto, vale

    destacar mais uma vez, que a esfera objetiva da QV (modo e condio de vida) pode

    limitar a esfera subjetiva (estilo de vida). Sendo assim, a definio dos nveis de QV

    dos sujeitos passa pela interao entre esses trs aspectos, sendo as prticas

    pessoais (estilo de vida) com maior influncia direta, porm, com dependncia direta

    das possibilidades permitidas pelos fatores objetivos, os determinantes

    socioeconmicos (modo e condio de vida).

    Gonalves (2004) aponta que nem sempre so criadas condies sociais

    favorveis adoo de hbitos saudveis, que ainda dependem de uma rotina

    apropriada. difundida, por meios de comunicao e algumas polticas pblicas, a

    ideia de que para melhorar a vida algumas prticas devem ser incorporadas ao

    cotidiano, como se isso dependesse exclusivamente da vontade do indivduo,

    responsabilizando-o de forma integral por seu nvel de QV.

    Tal processo denominado como culpabilizao da vtima, prtica que pode

    esconder o funcionamento inadequado de alguns servios pblicos, levando o

    prprio indivduo a se sentir culpado em um determinado contexto, mesmo sem que

    as condies necessrias sejam oferecidas (ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES,

    2012). Logo, existe um limite de responsabilizao do sujeito frente a seus nveis de

    QV, devido s suas reais possibilidades de escolha de hbitos e estilos de vida.

    Sendo assim, como exigir estilo de vida ativo e saudvel de um indivduo,

    que, por exemplo, possui dois empregos, trabalha cerca de catorze horas por dia e

    leva cerca de 2 horas no trajeto de ida e volta para o trabalho? Ou ainda, daquele

    que se sente inseguro para caminhar pela rua devido falta de estrutura fsica, por

    medo da violncia e pela falta de segurana? Ser que a construo e adaptao de

    espaos em parques pblicos e academias ao ar livre garantem a prtica do

    exerccio fsico regular ou existe um contexto social mais complexo que influencia a

    escolha pelo estilo de vida ativo?

    Por exemplo, Florindo et al. (2011) mostraram que as pessoas com percepo

    positiva de segurana apresentaram mais chances de serem ativas no

  • 42

    deslocamento. Essa percepo foi representada pelo escore geral composto pelos

    itens segurana para caminhar, andar de bicicleta ou praticar atividade fsica durante

    o dia ou durante a noite e boa iluminao das ruas prximas das residncias durante

    a noite. Esse resultado ressalta que, para a promoo da atividade fsica, entre

    outros fatores, pode ser interessante investir em segurana pblica e na preveno

    da violncia.

    O conhecimento de dados sobre a inatividade fsica, bem como os seus

    determinantes e fatores associados, resultam em contribuies para a sade

    pblica, porque podem embasar o gerenciamento de atividades de incentivo

    prtica de atividades fsicas em subgrupos populacionais mais afetados por este tipo

    de comportamento (PITANGA, 2010).

  • 43

    2. PROBLEMATIZAO E JUSTIFICATIVA

    Em termos gerais, tem sido observado o aumento significativo do nmero de

    idosos na populao e, infelizmente, este fenmeno est sendo acompanhado por

    alguns fatores que podem comprometer a sade desta populao. Dentre estes

    fatores destacam-se a diminuio da aptido fsica, que possui relao com a

    capacidade de desempenhar de maneira satisfatria as ABVDs e AIVDs e, uma

    maior vulnerabilidade para o surgimento de DCNTs, com destaque para as DCVs.

    Neste sentido, a prtica regular de exerccios fsicos pode ser considerada

    como uma das principais medidas que contrapem esses fatores associados ao

    processo natural de envelhecimento, dentre elas, melhora da aptido fsica,

    preveno e auxlio no controle dos fatores de risco para DCVs. Entretanto, alm da

    prevalncia de sedentarismo e inatividade fsica ser extremamente elevada, a

    variedade na prtica de exerccios fsicos muito ampla, o que leva falta de

    consenso sobre qual a melhor combinao de tipo de exerccio, frequncia,

    intensidade e volume e, ainda, resultados controversos na literatura quanto aos

    efeitos benficos do exerccio fsico no organismo. Faz-se necessrio a realizao

    de estudos que busquem estabelecer uma relao positiva mais direta entre

    exerccio fsico, aptido fsica e fatores de risco para DCVs, principalmente no que

    diz respeito ao processo de envelhecimento.

    Apesar das controvrsias existentes e falta de consenso entre os estudos,

    ainda prevalece o conceito de que indivduos ativos fisicamente tendem a apresentar

    melhor aptido fsica e menor chance de desenvolver problemas relacionados

    sade, principalmente em relao s DCVs (BLAIR et al., 2001).

    A maioria destes estudos (COLLIER et al., 2011; FETT; FETT; MARCHINI,

    2009) que utilizam qualquer um dos fatores relatados no presente estudo, o fazem

    de forma independente, focalizando apenas em uma das capacidades motoras, em

    especial, a capacidade aerbia ou a fora, avaliando o indivduo, de certa forma,

    parcialmente. O mais comum a populao realizar principalmente caminhada ou

    musculao. Contudo a