Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura ... · Agradeço ao Programa de Ecologia...

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Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” Centro de Energia Nuclear na Agricultura Educação Ambiental e políticas públicas em Fernando de Noronha: a participação na construção de escolas e sociedades sustentáveis Vivian Battaini Tese apresentada para obtenção do título de Doutora em Ciências. Área de concentração: Ecologia Aplicada Piracicaba 2017

Transcript of Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura ... · Agradeço ao Programa de Ecologia...

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    Universidade de So Paulo

    Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

    Centro de Energia Nuclear na Agricultura

    Educao Ambiental e polticas pblicas em Fernando de Noronha: a

    participao na construo de escolas e sociedades sustentveis

    Vivian Battaini

    Tese apresentada para obteno do ttulo de Doutora em

    Cincias. rea de concentrao: Ecologia Aplicada

    Piracicaba

    2017

  • Vivian Battaini

    Biloga

    Educao Ambiental e polticas pblicas em Fernando de Noronha: a participao na

    construo de escolas e sociedades sustentveis verso revisada de acordo com a resoluo CoPGr 6018 de 2011

    Orientador:

    Prof. Dr. MARCOS SORRENTINO

    Tese apresentada para obteno do ttulo de Doutora em

    Cincias. rea de concentrao: Ecologia Aplicada

    Piracicaba

    2017

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    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao

    DIVISO DE BIBLIOTECA DIBD/ESALQ/USP

    Battaini, Vivian

    Educao Ambiental e polticas pblicas em Fernando de Noronha: a

    participao na construo de escolas e sociedades sustentveis. / Vivian Battaini.

    verso revisada de acordo com a resoluo CoPGr 6018 de 2011. - - Piracicaba, 2017.

    271 p.

    Tese (Doutorado) - - USP / Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz.

    Centro de Energia Nuclear na Agricultura.

    1. Educao Ambiental 2. Polticas Pblicas 3. Participao 4. Fernando de

    Noronha I. Ttulo

  • todos aqueles e aquelas que sonham e lutam para um mundo mais

    justo, igualitrio, democrtico, solidrio, amoroso e feliz.

    Tudo que posso fazer como uma pessoa que educa colocar-me ao seu

    lado e dialogar com ela. Trocar vivncias, afetos e saberes. E, assim,

    partilhar com ela a experincia dialgica, inclusiva, solidariamente

    interativa, de partilhar a criao de saberes e a partir dos quais ela e eu,

    cada um a seu modo, realiza o seu aprender.

    Carlos Rodrigues Brando, 2012

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeo CAPES, pelo financiamento de parte desta pesquisa, e Petrobrs, pelo

    patrocnio ao Centro Golfinho Rotador, o recurso financeiro foi essencial para a realizao do

    campo e minha dedicao para a pesquisa.

    Agradeo ao Programa de Ecologia Aplicada por esses quatro, ou oito anos, de

    processo ensino-aprendizagem. Em especial Secretaria Mara Casarin, sempre disposta a me

    auxiliar na resoluo de dvidas e encaminhamentos burocrticos.

    Ao Centro Golfinho Rotador pela oportunidade de trabalhar como educadora

    ambiental na instituio, pelo apoio a realizao desta tese e pela oportunidade de viver um

    ano em Fernando de Noronha. Com um carinho muito especial, agradeo ao incentivo e

    oferecimento pelo Centro do Curso de Meditao Transcendental com a querida Cynthia

    Gerling. O curso e a prtica transformaram a minha vida para melhor. Agradeo ao Jos

    Martins pela parceria nesta pesquisa e no trabalho e por ter me colocado no foco deste

    doutorado em 2014. O empurro foi necessrio para no abandonar a Ps-Graduao.

    Agradecimento especial Cintia Gntzel-Rissato pela parceira profissional e

    indicao para o trabalho no Centro Golfinho Rotador.

    Administrao do Distrito Estadual de Fernando de Noronha, ao Conselho Distrital,

    ao Instituto Chico Mendes de Conservao e Biodiversidade, ao Conselho Noronhense de

    Educao e Escola de Referncia em Ensino Mdio Arquiplago Fernando de Noronha pelo

    apoio e parceria no desenvolvimento desta pesquisa.

    Agradeo toda a famlia Golfinho Rotador aqui representada pela Phi, todos os

    amigos noronhenses, representados por Maria Paula, Neto, Lis e Amandinha.

    todos aqueles que se dedicam ou se dedicaram para melhorar a qualidade

    socioambiental de Fernando de Noronha, em especial aos que vivem na Ilha, s dez

    instituies que trabalham com educao ambiental no Arquiplago, ao Marco Aurlio,

    Mariana Maciel e Alice Watson Cleto.

    Agradeo biodiversidade marinha do Arquiplago que trazem a paz necessria para

    permanecer ilhada. Em especial, aos mergulhadores que me auxiliaram no mergulho ao

    mundo subaqutico. Aos golfinhos por estarem presentes em nmero recorte no mar de

    Fernando de Noronha no dia em que eu e um grupo de crianas estvamos a bordo em sada a

    campo. As nadadeiras dorsais para todos os lados so imagens e sensaes inesquecveis.

  • Agradeo aos estudantes da EREM AFN pelo carinho e envolvimento, em especial aos

    estudantes da Comisso de Meio Ambiente e Qualidade de Vida. Esses estudantes me

    motivaram a continuar na Ilha e enfrentar todos os desafios para contribuir com a Educao

    no Arquiplago. Foram momentos intensos, de muito aprendizado, confiana, amizade e

    praia.

    Agradeo aos que apoiaram a criao e existncia da Com-vida, em especial a

    Organizao de Permacultura e Arte. Destaco aqui a parceria que extrapola a Ilha com a

    educadora Terena Zamariolli.

    Agradeo todos que aceitaram ser entrevistados nesta pesquisa.

    Agradeo Oca, seus pesquisadores e colaboradores, por existir e me abraar cada dia

    mais forte. Agradeo ao grupo de Ps-Graduao e Prtica Profissionalizante da Oca e demais

    amigos que contriburam com o aperfeioamento do texto, essencial, entre outros, para

    enfrentar os momentos de travao.

    Agradeo aos que me acolheram, me alimentaram e me divertiram e, assim, tornaram

    possvel a permanncia em Piracicaba.

    Agradeo todos os meus amigos que me incentivaram durante esses cinco anos.

    Agradeo minha famlia por todo apoio emocional, afetivo e financeiro.

    Por fim, agradeo ao Professor Marcos. A admirao cresce a cada dia, sua coerncia

    na prxis inspira a continuar a aprender sempre. Sua generosidade, carinho, profundidade e

    conhecimentos subsidiaram esses anos de ensino-aprendizagem.

    Agradeo todos que conseguiram ler at o fim meus agradecimentos que parecem

    sonhos nos quais as imagens vem e vo, tem cores, cheiros e sabores.

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    SUMRIO

    RESUMO .................................................................................................................................. 7 ABSTRACT .............................................................................................................................. 8 1. INTRODUO .................................................................................................................... 9

    1.1. APRESENTAO ............................................................................................................................................ 9 1.2. TRAJETRIA DE VIDA DA PESQUISADORA .................................................................................................... 10 1.3. TRAJETRIA DA PESQUISA .......................................................................................................................... 16 1.4. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................................................ 19 1.5. CARACTERIZAO DA REA DE ATUAO .................................................................................................. 20 1.6. HIPTESE E OBJETIVOS ............................................................................................................................... 23

    1.6.1. Hiptese ............................................................................................................................................. 23 1.6.2. Objetivo Geral .................................................................................................................................... 23 1.6.3. Objetivos especficos .......................................................................................................................... 23

    1.7 METODOLOGIA ......................................................................................................................................... 25 1.7. 1 Material e Tcnicas ............................................................................................................................ 28 1.7.2 Anlise dos dados ................................................................................................................................ 35

    REFERNCIAS .................................................................................................................................................... 38 2. RESULTADOS................................................................................................................... 41

    2.1 O DESAFIO DE PROCESSOS PARTICIPATIVOS NAS ATIVIDADES DE EDUCAO AMBIENTAL NO ARQUIPLAGO DE FERNANDO DE NORONHA PE BRASIL ............................ 41

    Resumo ......................................................................................................................................................... 41 2.2 EDUCAO AMBIENTAL E ESCOLA: NARRATIVAS DE MORADORES DE FERNANDO DE NORONHA PE .............................................................................................................................................. 67

    Resumo ......................................................................................................................................................... 67 2.3 PARTICIPAO EM ATIVIDADES DE EDUCAO AMBIENTAL: INDCIOS DE SUA QUALIFICAO A PARTIR DE UMA INVESTIGAO NO ARQUIPLAGO DE FERNANDO DE

    NORONHA - PE. .............................................................................................................................................. 91 Resumo ......................................................................................................................................................... 91

    2.4 O POTENCIAL DA EDUCAO AMBIENTAL PARA FOMENTAR O APRENDIZADO NAS UNIDADES ESCOLARES POR MEIO DO EXERCCIO DA PARTICIPAO ........................................ 121

    Resumo ....................................................................................................................................................... 121 2.5 DESAFIOS DE POLTICAS PBLICAS ESTRUTURANTES DE EDUCAO AMBIENTAL EM FERNANDO DE NORONHA - PE ................................................................................................................ 145

    Resumo ....................................................................................................................................................... 145 3 CONSIDERAOES FINAIS ...................................................................................... 169

    REFERNCIAS ................................................................................................................... 177 APNDICES......................................................................................................................... 191

    APNDICE 1 BAIRROS E ESCOLAS DO DISTRITO ESTADUAL DE FERNANDO DE NORONHA ............................ 191 APNDICE 2 ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA ...................................................................... 193 APNDICE 3 CARTA CONVITE DE APOIO PESQUISA ..................................................................................... 194 APNDICE 4 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ................................................................ 195 APNDICE 5 RETRATO DA EDUCAO AMBIENTAL NO DISTRITO ESTADUAL DE FERNANDO DE NORONHA

    ANLISE DE DOCUMENTOS OFICIAIS DE FERNANDO DE NORONHA ................................................................. 197 APNDICE 7 - DESCRIO DAS INTERVENES EDUCADORAS AMBIENTALISTAS ............................................ 225 APNDICE 8 A COMISSO DE MEIO AMBIENTE E QUALIDADE DE VIDA DA ESCOLA DE REFERNCIA EM ENSINO

    MDIO DO ARQUIPLAGO DE FERNANDO DE NORONHA .................................................................................. 245 APNDICE 9 PROJETO NORONHA ALM MAR: ENRAIZANDO A EDUCAO AMBIENTAL NA ESCOLA DE

    REFERNCIA EM ENSINO MDIO ARQUIPLAGO DE FERNANDO DE NORONHA ................................................ 257

  • RESUMO

    Educao Ambiental e polticas pblicas em Fernando de Noronha: a participao na

    construo de escolas e sociedades sustentveis

    A construo de processos de transio para sociedades sustentveis envolve, dentre

    outros, a criao e fortalecimento de democracias participativas. Tendo a Educao Ambiental

    (EA) um compromisso com a transformao social, qual seu potencial na promoo e

    fortalecimento de processos participativos? O recorte escolhido para o desenvolvimento desta

    pesquisa envolveu a educao ambiental realizada no contexto escolar pelo seu potencial

    educador e de articulao de indivduos e instituies de um territrio. O objetivo geral da

    pesquisa foi contribuir com o aprimoramento de polticas pblicas de educao ambiental

    comprometidas com o fortalecimento da participao na Escola e na construo de sociedades

    sustentveis. Os objetivos especficos foram analisar contribuies das atividades de educao

    ambiental para a qualificao da participao, para o aprendizado escolar dos indivduos e

    para o fortalecimento da relao escola/comunidade. A rea de estudo, Fernando de Noronha

    PE Brasil, peculiar por ser um Arquiplago, possuir duas unidades de conservao e

    apresentar situaes de efetivo e potencial impacto socioambiental. A pesquisa, cuja

    metodologia qualitativa, dialoga com a pesquisa-interveno e com a pesquisa etnogrfica.

    As tcnicas de coleta de dados utilizadas foram: anlise de documentos, observao

    participante, interveno educadora e entrevistas semiestruturadas. As anlises foram feitas a

    partir da triangulao de tcnicas e sujeitos, dialogando com referenciais tericos sobre

    educao ambiental, participao, educao escolar e polticas pblicas. Esta pesquisa

    evidenciou a contribuio do desenvolvimento de processos participativos fomentados pelas

    atividades de EA em Fernando de Noronha para a formao de pessoas comprometidas com a

    melhoria das condies socioambientais de seu lugar e com a cidadania planetria.

    Apresentou elementos que podem contribuir com os processos de qualificao da participao

    e subsidiar aes, projetos, programas e polticas pblicas de EA comprometidas com a

    transio para sociedades sustentveis. Em relao participao no contexto escolar

    evidenciaram-se dois processos simultneos e complementares: o fortalecimento de espaos

    institudos e o exerccio e estmulo da dimenso subjetiva da participao. Apontou que a

    Educao Ambiental e, em especial, a participao, nos processos educadores ambientalistas

    pode contribuir e fomentar a necessria transformao da comunidade escolar. Foram

    sugeridos trs processos simultneos para fortalecer a EA na Ilha: a) formao continuada de

    educadores ambientais locais, comunidade em geral e tomadores de deciso; b) enraizamento

    da EA nas instituies; c) construo de polticas pblicas na rea e ambientalizao de outras

    polticas. Por fim, foi proposta a criao de um Projeto Poltico Pedaggico (PPP) do Distrito

    de Fernando de Noronha como estratgia para fortalecer, formular e implantar polticas

    pblicas de EA comprometidas com um territrio educador e educado ambientalmente. A

    continuidade desta pesquisa de doutorado poderia se dar por meio da construo e formulao

    de polticas pblicas de Educao Ambiental (dentre as quais o PPP do Distrito) e na

    ambientalizao de outras polticas em Fernando de Noronha. Em paralelo, analisar este

    processo luz de suas contribuies para a transformao territorial no sentido da construo

    de sociedades sustentveis. A pesquisa tambm fortalece a necessidade da continuidade das

    pesquisas relacionadas s contribuies da Educao Ambiental para a comunidade escolar e

    sobre polticas pblicas de Educao Ambiental.

    Palavras chave: Educao Ambiental; Escola; Participao; Fernando de Noronha; Sociedades

    Sustentveis; Polticas Pblicas

  • 8

    ABSTRACT

    Environmental Education and public policies in Fernando de Noronha: participation in

    the construction of sustainable schools and societies

    The construction of transition processes for sustainable societies involves, among others,

    the creation and strengthening of participatory democracies. Environmental Education (EE)

    has the commitment to social transformation; so, what would be the EE potential in

    promoting and strengthening the participatory processes? The research focus of this work was

    the environmental education in school context and its educational fostering of the people and

    institutional articulation potential of the territory. The general objective of the research was to

    contribute to the improvement of environmental education public policies committed to

    strengthening the participation in the schools and construction of sustainable societies. The

    specific objectives were to analyze contributions of environmental education activities to

    improve participation, people school learning and to strengthen school/community

    relationship. The peculiar research place of Fernando de Noronha - PE - Brazil, an

    archipelago, has two conservation units and situations of effective and potential socio-

    environmental impact. The qualitative research dialogues with intervention research and

    ethnographic research. The techniques of data collection used were: document analysis,

    participant observation, educational intervention and semi-structured interviews. The analyzes

    were made from the triangulation of techniques and subjects, dialoguing with theoretical

    references on environmental education, participation, school education and public policies.

    The results evidenced the contribution of participatory processes promoted by the EE

    activities in Fernando de Noronha to people formation committed to the improvement of the

    socioenvironmental conditions of their territory and planetary citizenship. Some outlines

    presented can contribute to the improvement of participatory processes and subsidize EE

    actions, projects, programs and public policies committed to the transition to sustainable

    societies. In relation to the participation in the school context, there were two simultaneous

    and complementary processes: the strengthening of established spaces and the exercise and

    stimulation of the subjective dimension of participation. It was pointed out that environmental

    education and, in particular, participation in environmental education processes, can

    contribute to foster the school community transformation. Three simultaneous processes to

    strengthen EE in the island is suggested: a) continuous training of local environmental

    educators, community in general and decision makers; B) rooting of EE in institutions; C)

    construction of public policies in the area and the "environmentalization" of other policies.

    Finally, it was proposed the creation of a Political Pedagogical Project (PPP) in the District of

    Fernando de Noronha as a strategy to strengthen, formulate, and implement EE public policies

    committed to the environmentally educated territory. The continuity of this doctoral research

    could be done by means of the construction and formulation of public policies of

    Environmental Education (among which the District's PPP) and the "environmentalization" of

    other policies in Fernando de Noronha. At the same time, to analyze the contributions of this

    process to territorial transformation towards construction of sustainable societies. The results

    also strengthens the need for research continuity related to the contributions of Environmental

    Education to the school community and to the EE public policies.

    Keywords: Environmental Education; School; Participation; Fernando de Noronha;

    Sustainable Societies; Public Policies

  • 1. INTRODUO

    1.1. Apresentao

    Em Fernando de Noronha h Educao Ambiental, por diversos processos e caminhos,

    desde os primeiros anos da educao formal no Centro de Educao Infantil Bem-me-Quer

    at o final do Ensino Mdio na Escola de Referncia em Ensino Mdio Arquiplago Fernando

    de Noronha (EREM AFN). No mbito no formal diversas instituies atuam desde pelo

    menos 1989. No entanto, o territrio tem emergncias de uma situao de degradao

    socioambiental, de relaes humanas que esto na contra mo do que preconizado na

    literatura de Educao Ambiental. Qual o motivo disso? No suficiente o que j feito? Por

    qu?

    Na busca de compreenso da situao citada foi realizada uma investigao aqui

    relatada como uma tese de doutorado. O trabalho organiza-se com o presente captulo

    introdutrio que abrange esta apresentao do trabalho, a trajetria da pesquisadora e da

    pesquisa, a justificativa, os objetivos e a caracterizao da rea de estudo. A metodologia e as

    tcnicas utilizadas na pesquisa tambm esto presentes nesta introduo e algumas

    informaes so retomadas nos artigos que fazem parte do segundo captulo, nomeado como

    Resultados.

    Os resultados so apresentados no formato de cinco artigos, sendo construdos

    sucessivamente, de modo que as reflexes dos primeiros contriburam para as dos demais. O

    primeiro Os desafios de processos participativos nas atividades de Educao Ambiental no

    Arquiplago de Fernando de Noronha/ PE traz dados relacionados anlise de documentos

    oficiais e mapeamento das atividades de EA em Fernando de Noronha no ano de 2013.

    O segundo artigo, intitulado Educao Ambiental e escola: narrativas de moradores

    de Fernando de Noronha PE relata a perspectiva dos entrevistados sobre as temticas

    centrais da pesquisa: escola, Educao Ambiental, relaes institucionais e a influncia da EA

    no territrio. Pretende-se que o leitor tenha mais elementos para entender os entrevistados,

    suas percepes e a realidade local.

    O artigo Participao em polticas pblicas de Educao Ambiental: indcios de sua

    qualificao a partir de investigao no Arquiplago Fernando de Noronha PE reflete sobre

    caminhos para qualificao da participao nas aes de Educao Ambiental apoiados nos

    dados da observao participante, intervenes educadoras ambientalistas e entrevistas

  • 10

    semiestruturadas. Como estimular que as pessoas participem mais e melhor? Qual o papel da

    EA nesse processo?

    O quarto artigo, O potencial da Educao Ambiental para fomentar o aprendizado nas

    unidades escolares por meio do exerccio da participao, discute contribuies da Educao

    Ambiental para o aprendizado escolar e, em especial, o papel dos processos participativos.

    O quinto artigo, Desafios de polticas pblicas estruturantes de Educao Ambiental

    em Fernando de Noronha PE, mapeia condies institucionais, polticas e de contedo que

    interferem em Polticas Pblicas de Educao Ambiental em Fernando de Noronha e

    apresenta sugestes de aes, diretrizes e instrumentos de polticas pblicas de EA que

    fortaleam o compromisso mtuo entre a escola e outras instituies de Fernando de Noronha.

    O terceiro e ltimo captulo da tese, consideraes finais, relaciona os artigos entre si,

    reflete sobre a hiptese do trabalho, prope caminhos para a continuidade da pesquisa e

    apresenta desafios, angstias, felicidades e descobertas da pesquisadora durante os cinco anos

    dedicados a esta pesquisa.

    Ao final da presente tese esto os apndices, compostos por materiais descritivos e

    analticos elaborados pela presente pesquisa e aqui apresentados para a melhor compreenso

    das atividades desenvolvidas: roteiro das entrevistas semiestruturadas; carta convite

    encaminhada aos sujeitos entrevistados; anlise de documentos oficiais de Fernando de

    Noronha; mapeamento das atividades de EA do Distrito Estadual de Fernando de Noronha

    (DEFN); descrio das intervenes educadoras ambientalistas realizadas pela pesquisadora:

    Projeto Noronha Alm Mar; Comisso de Meio Ambiente e Qualidade de Vida; Projeto

    Frias Ecolgicas; e artigos encaminhados para congressos (A comisso de meio ambiente e

    qualidade de vida da EREM AFN; Projeto Noronha Alm Mar: enraizando a Educao

    Ambiental na EREM AFN).

    1.2. Trajetria de vida da pesquisadora

    Nessa seo me apresento, tendo trs premissas: subjetividade da pesquisa cientfica,

    influncia dos valores pessoais na escolha do objeto de estudo e a importncia de explicit-los

    (GOLDENBERG, 1999). Sendo assim:

    preciso reconhecer que na pesquisa sociolgica no possvel

    ignorar a influncia da posio, da histria biogrfica, da educao,

    interesses e preconceitos do pesquisador (MARTINS, 2004, p. 2).

  • Sou paulistana, nascida em 1983 nos arredores da Avenida Paulista. Passei infncia e

    adolescncia em playgrounds de prdios e clubes esportivos onde fui aprendendo a viver em

    coletivo no encontro com o outro. Momentos esses marcados pela competio e a vontade de

    superar os colegas. Sentimento reforado pela relao com o meu irmo mais velho: menino

    com corao maior que o corpo, que me mostrava solidariedade, companheirismo e

    cooperao, que s fui entender e exercitar anos mais tarde.

    A vida conturbada da cidade era tranquilizada pelas frequentes viagens para hotel

    fazenda, praia, stio e campo. Momentos de contato com a natureza e em famlia, composta

    por Sylvia (me), Evaldo (pai), Nilce (av materna), Dennis (irmo) e Max (cachorro).

    Minhas principais lembranas so: brincadeiras e andorinhas no hotel, mar e av postio na

    praia, mangueira e casa na rvore no stio, cavalos, frio e paisagens em Campos do Jordo.

    Lembro-me de ser uma menina tmida e medrosa, sempre contando com os cuidados

    do meu irmo que no tinha medo de nada e vivia se quebrando (literalmente). Juntos fomos

    educao infantil formal - Castelinho Mgico. O lugar era realmente mgico, com um

    quintal, que na minha perspectiva de criana, era gigantesco. L tive minha primeira reao

    alrgica por sentar em cima de um formigueiro e sem querer mais voltar escola, meu irmo

    foi curto e grosso: s no sentar mais na casa das formigas.

    Ao final dessa fase, fomos para a Escola bsica na qual passaria todos os meus anos

    escolares Colgio Santa Clara. Nessa escola conheci freiras influenciadas pela Teoria da

    Libertao e pelas ideologias de So Francisco de Assis. Apesar desse potencial de uma

    formao mais a esquerda do espectro poltico, a escola de elite paulistana fortemente

    influenciada pelas ideologias neoliberais. Foram anos contraditrios, de enfrentamento, com

    poucos amigos de verdade com os quais podia compartilhar perspectivas de outro mundo

    possvel. Porm, esse envolvimento poltico, social e ambiental no era forte na minha vida,

    minhas energias eram direcionadas para os esportes. A vida nos esportes, em especial no

    handebol, contribuiu com o desenvolvimento de disciplina e esprito de equipe.

    J no Ensino Mdio fui fortemente influenciada por Lena, professora de Biologia, que

    tinha amor por ensinar e paixo pela rea. Muitos professores utilizavam tcnicas de ensino-

    aprendizagem que estimulavam reflexo crtica, criatividade, aprendizagem ativa, autonomia,

    porm, Lena extrapolava todas essas possibilidades. Suas aulas eram todas a partir de

    seminrios dos estudantes e a posio dela era de problematizar e questionar.

    Eu era uma estudante com notas boas, porm nunca tive que fazer muito esforo.

    Tinha uma grande amiga, Jlia, que era muito inteligente. Estudvamos juntas e ela me

  • 12

    ajudava com as matrias de Humanas, que durante o ensino fundamental no me

    interessavam. No Ensino Mdio comecei a ajudar alguns colegas que tinham dificuldades de

    aprendizagem. Lembro-me bem de um em especial, adorava ajuda-lo, mas tinha pouca

    pacincia. Sabia que gostava de ensinar, mas no tinha muita esperana na Humanidade.

    Fui direcionada para o Curso de Cincias Biolgicas pela falta de crena nos seres

    humanos, pela influncia da professora de Biologia e pelo bem-estar que sentia nos ambientes

    naturais - o desejo de morar na praia e estudar os cetceos. Foram quatro anos na Unesp

    (Universidade Estadual Paulista) de Rio Claro. Logo no primeiro ano, compreendi como eram

    feitos os estudos de comportamento animal e desisti dos cetceos. Foi ento que meu amor

    pela Educao no se escondeu mais.

    No terceiro ano da faculdade comecei a me interessar pela Educao Ambiental e

    iniciei um estgio na Prefeitura de Rio Claro. Mas, antes de entrar nas guas da EA, quero

    registrar o aprendizado que tive ao sair da casa dos meus pais e ir morar em repblica. Clichs

    parte, ganhei uma segunda famlia (Ana Gouvea Bocchini, Lia Chaer, Lia Salomo, Laura

    Melo, Jlia Stuart e Carla Vilaronga), muitos amigos, mudei a minha alimentao e me perdi

    em diversos caminhos e encruzilhadas.

    No vou replicar o meu currculo profissional e sim destacar algumas contribuies

    que as atividades trouxeram para a minha formao enquanto educadora. Durante a faculdade

    trabalhei com Educao Ambiental no setor pblico (prefeitura, unidade de conservao e

    rea verde urbana) e no terceiro setor (servio prestado associao de bairro).

    Minhas experincias foram reforando sentimentos de equidade, solidariedade, justia

    social, qualidade de vida, e conservao da biodiversidade. Cada uma delas me levava de

    volta ao ambiente escolar, o qual acredito ser de extrema relevncia pelo fato de todos no

    Brasil serem obrigados a frequentar e o Estado obrigado a ofertar. Porm, as discrepncias

    entre essas unidades me motivam a trabalhar na perspectiva de um ensino pblico, gratuito e

    de qualidade. Tambm sempre tive a impresso, que foi se transformando em conhecimento

    da prxis, do potencial da Educao Ambiental para transformar as unidades escolares em

    ambientes mais felizes, bonitos, democrticos, solidrios, libertrios e participativos.

    As experincias isoladas e pontuais reforavam a vontade de trabalhar na escola, pois

    a compreendia como um espao que possibilitava a continuidade do trabalho, mesmo ainda

    no conhecendo a perspectiva de polticas pblicas.

    Algumas vivncias foram nicas, como a de ter um deficiente auditivo e um transexual

    integrando um grupo de adolescentes em atividades socioambientais vinculadas Prefeitura

  • de Rio Claro SP. Em inmeras situaes no sabia como me portar diante de suas

    necessidades. Os demais adolescentes me ensinaram que o amor, o respeito, a compaixo e a

    solidariedade permitiam a comunicao e a convivncia harmoniosa.

    Anos mais tarde tive que lidar com a dificuldade de me relacionar com crianas

    violentas na Associao de Bairro em Rio Claro. Nesse projeto contei com a aprendizagem de

    trabalhar numa equipe multidisciplinar que atuava em trs eixos: Linguagem, Sexualidade e

    Meio Ambiente. Enfrentamos a situao a partir da compreenso do contexto socioambiental

    de vida das crianas e do dilogo cotidiano com cada um e todos eles. No sei se foi o suporte

    terico da graduao dos pedagogos ou a sensibilidade deles, Ana Gouva Bocchini e Silvio

    Munari, que permitiram criar estratgias de ao.

    Nessa mesma Associao de Bairro vivenciei momentos difceis de influncia

    negativa da poltica partidria e de medo. Um candidato a vereador do bairro utilizou as

    crianas para fazer propaganda poltica. Fomos questionar a situao, fundamentados em

    nosso comprometimento com o trabalho e com os estudantes, na legislao e nas questes

    ticas. Imaginem trs jovens de vinte e poucos anos, num bairro de periferia, questionando a

    ao de um candidato a vereador que estava acordado com o gestor da Associao. Fomos

    ameaados de morte, tivemos muito medo, mas tambm no aceitando a situao optamos por

    abandonar o trabalho.

    A universidade me proporcionou tambm conhecer a Amaznia, via projeto Rondon.

    Ns questionvamos a viso assistencialista do Sul salvador do Norte, porm aproveitamos a

    oportunidade mostrando outras formas possveis de se relacionar. O sentimento de ter

    aprendido muito mais do que ensinado. Tive o desafio de estar sempre acompanhada por

    militares, que estavam l, segundo eles, para garantir a nossa segurana. Que situao

    constrangedora: o enfrentamento era dirio pelo fato de ter algum que estava acostumado a

    dar ordens e queria que eu as seguisse. Outros pontos foram: oportunidade de conhecer o

    Lula, que nos recepcionou em Braslia, conhecer a estrutura assustadora do exrcito brasileiro

    e perder o show dos Rolling Stones em Copacabana.

    Em Macap percebi que existem vrios Brasis no nosso Brasil. Tudo era to distinto.

    Porm, o que me marcou foi ter ficado doente. Eu via as crianas todas correndo,

    barrigudinhas, convivendo com vermes e/ou protozorios numa simbiose que no as

    deixavam padecer. Mas eu, paulistana que nunca havia entrado em contato com alguns desses

    minsculos seres, fui para o hospital, presso 3 X 5, quase morri. Percebi como criamos uma

    relao com o ambiente que nos cerca e como isso essencial para a nossa sobrevivncia.

  • 14

    A experincia de estgio no Parque Estadual da Ilha do Cardoso me levou para as

    maravilhas cnicas das unidades de conservao, aproximou-me dos ciclos naturais, do dia a

    dia na praia, porm evidenciou a fragilidade desses locais, a especulao imobiliria, a

    influncia negativa do capital e a dificuldade de gesto.

    Finalmente, o Trabalho de Concluso de curso numa rea verde urbana, em Registro

    SP fez a conexo entre as unidades de conservao e as escolas. A possibilidade de utilizar

    espaos pblicos como espaos educadores e integr-los s atividades escolares.

    J formada fui trabalhar no setor de Meio Ambiente de um hotel em Prado Bahia.

    Vivenciei a situao de ser o estranho no ninho: todas as minhas aes, posturas e falas

    eram questionadas pelos meus colegas de trabalho, tudo precisava de explicao, nada fazia

    sentido para eles. O sentimento era de um vazio interior, com saudades de encontrar no outro

    algo de mim mesma. Outro fato marcante foi o descaso com as questes ambientais,

    municpio que enterrava resduos slidos na restinga e considerava as multas por infraes

    ambientais como custo operacional.

    Aliado essas questes houve um conflito com a chefia que direcionou meus

    trabalhos para a rea de turismo, enquanto o meu interesse era o de trabalhar com a

    sustentabilidade interna. No nos entendemos e fui desligada do hotel e, de volta a So Paulo,

    decidi voltar para a Academia para ter liberdade para atuar.

    Cheguei Esalq procura de orientao com o Marcos Sorrentino, porm ele estava

    no Ministrio do Meio Ambiente poca e me indicou a Profa. Laura Martirani. Na nossa

    primeira reunio ficou evidente a nossa afinidade. Foram trs anos de muita aprendizagem

    que ultrapassam muito o que consegui sistematizar na minha dissertao de mestrado. Voltei

    a emergir no ambiente escolar com foco na educomunicao socioambiental, em busca de dar

    voz aos indivduos e fortalecer as sadas a campo1.

    Durante o mestrado, comecei a frequentar o Laboratrio de Educao e Poltica

    Ambiental, Oca, e tive outras experincias de trabalho como educadora, como professora na

    educao formal e atuando na formao de professores.

    Na Oca vivenciei bons encontros com pessoas que compartilho utopias de um outro

    mundo possvel. Local onde aprendi e exercito a autogesto e a busca continuada pela

    coerncia entre o pensar e o agir.

    1 BATTAINI, V. Educomunicao socioambiental no contexto escolar e conservao da bacia hidrogrfica do

    rio Corumbata. Dissertao (Mestrado em Cincias). Ps Graduao em Ecologia Aplicada. Escola Superior de

    Agricultura Luiz de Queiroz. Centro de Energia Nuclear na Agricultura, 2011.

    https://ocaesalq.files.wordpress.com/2013/07/vivian_battaini.pdfhttps://ocaesalq.files.wordpress.com/2013/07/vivian_battaini.pdf

  • Como educadora atuei junto a uma agncia de estudos do Meio; e em parques da

    cidade de So Paulo. Essas vivncias reforaram a importncia das sadas a campo e o contato

    com reas verdes para a educao formal.

    Minha atuao como professora na escola formal, disciplina de Cincias e Biologia, na

    escola pblica e Qumica na privada, contriburam para valorizar o(a) professor(a) e a

    compreender o funcionamento da escola, seus desafios, potencialidades e estrutura

    organizacional. Quatro situaes me marcaram na escola pblica.

    Eu dava duas aulas por perodo, s vezes atuava como professora substituta, porm

    seis aulas numa tarde fazia com que eu me estressasse muito e tomasse atitudes que eu mesma

    reprovava e posteriormente me culpava. A segunda o caso do estudante que era muito

    agitado na sala de aula, no seguia os acordos de convivncia combinados e comprometia a

    aprendizagem de todos os estudantes da classe. Conversei com o inspetor, pois gostaria de

    conversar com os pais dele, foi quando fui contextualizada de sua situao de abandono pela

    me que o deixou com o pai, que o deixou com a irm que j no estava mais aguentando

    cuidar dele. Como poderia eu ser mais uma pessoa a abandon-lo? Como acolh-lo tendo

    apenas duas aulas semanais de 50 minutos? Como no se sentir responsvel? Esse garoto me

    ensinou a influncia de nossa histria de vida nas nossas atitudes e comportamentos, me fez

    refletir sobre qual o papel da escola e do professor, e como a escola pode exercer sua funo

    social se direitos bsicos so negligenciados?

    Na escola privada, a coordenadora pedaggica era a dona da escola, tinha uma postura

    extremamente autoritria que limitava a atuao em sala de aula e gerava questionamentos

    sobre a coerncia entre fala e atitude. Como podemos dialogar sobre respeito com os

    estudantes se eles e os professores so desrespeitados pela coordenadora?

    A atuao com formao de estudantes, a provocao de minha orientadora de

    mestrado sobre a necessidade de trabalhar com a formao de professores(as), o

    amadurecimento profissional e as oportunidades de trabalho me levaram a atuar com

    formao de professores.

    Das experincias que tive nessa rea, ressalto que uma delas deu origem a um trabalho

    de Concluso de Curso de Especializao em EA realizado na USP de So Carlos2.

    2 BATTAINI, V. Formao continuada em educao ambiental: um estudo de caso com profissionais da

    educao infantil em Torrinha/SP. Curso de Especializao em Educao Ambiental e Recursos Hdricos.

    Universidade de So Paulo. Escola de Engenharia de So Carlos. Departamento de Hidrulica e Saneamento.

    Centro de Recursos Hdricos e Ecologia Aplicada. 2010.

  • 16

    Meu mestrado permitiu um maior contato com a realidade escolar e a aproximao

    com a educomunicao socioambiental. Por meio de oficinas em diversas escolas pblicas da

    Bacia do Rio Corumbata reforou-se a importncia das sadas a campo, do conhecimento do

    socioambiente em que se est inserido e a essencialidade de reforar os laos afetivos entre e

    com os estudantes.

    Essas experincias profissionais e pessoais foram contribuindo para o meu

    desenvolvimento pessoal e esta breve apresentao talvez contribua para a melhor

    contextualizao e compreenso sobre a perspectiva pela qual so desenvolvidas as anlises

    na presente pesquisa.

    1.3. Trajetria da pesquisa

    Nessa seo apresento a trajetria da pesquisa para auxiliar a compreenso dos leitores

    a cerca de como essa tese se construiu. Em 2012 trabalhava no Instituto Paulo Freire junto a

    Casa da Cidadania Planetria atuando na perspectiva de Municpio que Educa. Um dos

    projetos que me marcou foi o Grupo de Articulao Local realizado em duas escolas pblicas

    no municpio de Osasco SP. Essa experincia me fez refletir sobre o papel da Educao

    Ambiental nas unidades escolares, tendo-as como articuladoras de um territrio nas

    perspectivas de Municpio que Educa e Cidade Educadora. Essas inquietaes me levaram a

    escrever um projeto de doutorado com essa temtica.

    No ano de 2013 fui indicada para trabalhar no Centro Golfinho Rotador que uma

    organizao no governamental sediada no Arquiplago de Fernando de Noronha com a

    misso de desenvolver aes de pesquisa, Educao Ambiental e envolvimento comunitrio

    em prol da conservao dos golfinhos rotadores de Fernando de Noronha e da biodiversidade

    marinha.

    Morar em Fernando de Noronha era um sonho de criana, e trabalhar com Educao

    Ambiental no Arquiplago tornava a proposta irresistvel. Porm, tinha acabado de ingressar

    no doutorado. No via outra sada que no fosse abandonar a ps-graduao. Aps dilogos

    com o meu orientador com sua sabedoria e compreenso, fui estimulada a revisitar meu

    projeto.

    A vontade de ir Noronha, o estmulo do Marcos e dilogos com a Cintia Gntzel-

    Rissato, educadora ambiental que havia trabalhado na Ilha e me indicou para o emprego,

  • originaram o novo projeto intitulado Participao popular e enraizamento de polticas

    pblicas: a interface entre o Coletivo Educador de Fernando de Noronha e a Educao

    Ambiental escolar. Eu tinha a ambio de trabalhar na perspectiva de pesquisa- interveno e

    criar o Coletivo Educador de Noronha na perspectiva de Municpios Educadores Sustentveis,

    acreditando em seu potencial para articular e fortalecer aes de um territrio e contribuir

    com a transio local em direo uma Noronha mais sustentvel.

    Porm, minha funo na ONG era de educadora ambiental e minha atuao era

    direcionada s atividades na Escola de Referncia em Ensino Mdio Arquiplago Fernando de

    Noronha (EREM AFN). Meu trabalho era focado no Projeto Noronha Alm Mar,

    posteriormente ampliado para atuar na Comisso de Meio Ambiente e Qualidade de Vida, no

    Conselho Noronhense de Educao e nas Frias Ecolgicas.

    Trs foram as principais dificuldades para a formao do coletivo educador: tempo

    necessrio para fazer parte da comunidade e o meu de estadia na ilha; carga de trabalho que

    tinha na ONG; e relaes interinstitucionais. Outras ideias foram aparecendo, uma delas era

    direcionar a minha pesquisa nas intervenes educadoras que eu executava, muito motivada

    pelo coordenador geral do Projeto Golfinho Rotador, Jos Martins. Por muito tempo, achei

    que esse era o foco da pesquisa, pelo respeito aos conhecimentos do Z, a compreenso do

    Arquiplago que ele possui e sua capacidade de compreender o que seria significativo para a

    Educao Ambiental em Fernando de Noronha.

    Porm, ainda no estava satisfeita e ento tambm coletei dados relacionados s outras

    atividades de Educao Ambiental que aconteciam em Fernando de Noronha. Em fevereiro de

    2014 me desliguei do Projeto Golfinho Rotador (PGR) para focar no meu doutorado e voltei

    para Piracicaba - SP.

    A imerso no Arquiplago me permitiu uma afinidade com o territrio, valorizando-o

    enquanto significativo para a conservao da biodiversidade, especialmente marinha, mas

    tambm humana. Encantei-me com o territrio, criei uma relao de respeito, cuidado e

    compromisso com a Ilha e seus moradores, em especial com os estudantes. Esses ltimos me

    estimularam e estimulam a refletir sobre a educao em Fernando de Noronha.

    Noronha mexeu de uma forma curiosa comigo, foi um misto de amor e dio. De

    querer estar ilhada e de ter a necessidade de sair. Contrastando riqueza da biodiversidade

    socioambiental com o descaso do poder pblico; a beleza cnica com a situao de

    degradao socioambiental local; a qualidade de vida com a restrio e o alto custo alimentar;

    a possibilidade de ver e estar no mar diariamente com a sensao de estar sendo vigiada em

  • 18

    todos os cantos; a liberdade de atuao na Educao Ambiental com os limites de um

    territrio com inmeras relaes de poder institudas pelo controle, por exemplo, a

    permanncia de no ilhus na Ilha de responsabilidade de seus patres, caso o contrato seja

    rompido, a pessoa deve sair do Arquiplago imediatamente; a felicidade dos moradores

    mesmo com as moradias precrias. Entre tantos outros que fizeram emergir em mim, mas

    tambm em grande parte dos moradores, a euforonha, sentimento de bem-estar e euforia de

    estar na Ilha, e a neuronha, sentimentos ruins, de desespero que impulsionam a sada de

    Fernando de Noronha.

    A entrada na comunidade foi favorecida pela credibilidade e reconhecimento do

    Projeto Golfinho Rotador no Arquiplago. Ser educadora ambiental do PGR abriu as portas

    na comunidade, e, gradativamente, por meio da minha atuao educadora fui ganhando

    confiana dos moradores. Outro fator que favoreceu o contato e minha identificao junto aos

    ilhus foi atuar na escola com todos os estudantes.

    Dessa forma, a pesquisa foi crescendo dentro de mim medida que conhecia e

    interagia com o territrio e seus moradores:

    Uma das tradies analticas melhor formalizadas , sem dvida, aquela

    que deriva da teorizao enraizada. Nessa tradio, a anlise produto de

    uma interao entre sujeito e um objeto e ela se constri progressivamente,

    durante a coleta de dados. Uma tal abordagem integra (ao menos idealmente)

    as condies nas quais se desenvolvem os acontecimentos observados. O

    princpio-chave desse procedimento o de que as hipteses so

    constantemente revisitadas ao longo do processo de pesquisa at que o

    fenmeno observado seja consistente (CORBIN & STRAUSS, 1990). Nesse

    sentido, um movimento dialtico entre observaes feitas e anlises dos

    dados constitui o procedimento prprio observao participante

    (CHUACHAT, 1985: 116 apud JACCOUND & MAYER, 2008, p.276).

    Na qualificao, achei que a tese estava sendo direcionada para a Educao Ambiental

    na EREM AFN, porm crticas foram feitas em relao a no visualizao da escola no

    relatrio do trabalho. Muitas e muitas indagaes apareceram, entre elas, se a preocupao a

    escola, por que ela no aparece? Ser que o foco mesmo a escola?

    As reflexes continuaram e aps inmeras idas e vindas identificamos, eu e meu

    orientador, a linha condutora dessa pesquisa que a participao. O que participao? Qual

    sua relao com a Educao? Como ocorre nas unidades escolares? Como a EA participativa

    contribui para a sua concretizao? Como a EA contribui para o aprendizado nas unidades

    escolares? Qual o seu papel na transformao territorial em direo sustentabilidade

    socioambiental?

  • Sendo assim, essa pesquisa foca na EA no Arquiplago como um todo, sendo as

    minhas atuaes educadoras um suporte significativo para as reflexes apresentadas nessa

    pesquisa sobre participao, Educao Ambiental, aprendizagem escolar e polticas pblicas

    estruturantes no campo da sustentabilidade socioambiental.

    1.4. Justificativa

    O ponto de partida para a presente pesquisa so as minhas experincias relacionadas

    Educao Ambiental escolar e os estudos que venho desenvolvendo sobre a questo

    ambiental, educao, educao escolar, polticas pblicas, voltadas sustentabilidade

    socioambiental, entre outros, que apontam para a importncia do fortalecimento das relaes

    escola/comunidade para a melhoria da qualidade de vida local.

    O fortalecimento dessa relao por meio da maior responsabilidade e envolvimento

    das instituies de um territrio, tendo a escola como articuladora estratgica vislumbrando a

    sua ambientalizao, possibilita identificar benefcios obtidos, dificuldades enfrentadas e

    propor elementos para a construo de polticas pblicas que fortaleam o compromisso

    mtuo entre a escola e outras instituies para a construo de sociedades sustentveis.

    Tem-se como hiptese que a qualificao da participao contribui para a

    aproximao e fortalecimento da relao escola-comunidade, e dessa forma, para a construo

    de sociedades sustentveis. Para tanto, o trabalho procurou estimular e analisar uma Educao

    Ambiental comprometida com a qualificao da participao dos atores envolvidos na

    construo de uma escola e um territrio mais sustentvel.

    A partir de uma busca nos bancos de dados acadmicos, como portal da Capes e

    Scielo, foi possvel constatar que os trabalhos relacionados Educao Ambiental no

    Arquiplago de Fernando de Noronha se restringem a compartilhar experincias realizadas.

    No foi encontrado nenhum estudo que relaciona as experincias com as recomendaes e

    proposies de documentos oficiais, como Plano de Manejo do Parque Nacional Marinho de

    Fernando de Noronha (Parnamar) e da rea de Proteo Ambiental de Fernando de Noronha

    Rocas So Pedro e So Paulo (APA), Noronha + 20, e o impacto dessas na realidade local.

    Esse trabalho pretende elaborar o estado da arte da educao ambiental em Fernando de

    Noronha em 2013 e sugerir caminhos para que a Educao Ambiental possa contribuir

    positivamente para a construo de sociedades sustentveis no arquiplago.

  • 20

    A produo cientfica no campo da Educao Ambiental no Brasil tem ampliado

    significativamente (FRACALANZA, 2004; TOMAZELLO, 2005; REIGOTA, 2007;

    LORENZETI & DELIZOICOV, 2006; CARVALHO et.al, 2009). No entanto, poucos estudos

    se dedicam compreenso da relao entre Educao Ambiental e polticas pblicas,

    necessria para analisar o que tem contribudo e o que tem limitado a implementao das

    mesmas, alm da possibilidade de alcanarem o cotidiano das pessoas. As polticas pblicas

    podem colaborar para o fortalecimento, a articulao e a continuidade das aes

    desenvolvidas.

    A necessidade de construo de novos modos de viver e atuar na realidade apontado

    por diversos estudos, porm a relao entre distintas propostas de interveno com as polticas

    pblicas que permitam subsidiar outros processos educadores ambientalistas e a formulao e

    implantao de novas polticas pblicas foi pouco explorado.

    Soma-se s justificativas supracitadas a particularidade da rea de estudo, o

    Arquiplago de Fernando de Noronha, mundialmente reconhecido por suas belezas naturais e

    pela sua biodiversidade. Entretanto, os estudos existentes sobre o impacto socioambiental

    local apontam para um aumento significativo de prejuzos ambientais na Ilha e seu entorno, os

    quais devem ser considerados no planejamento Distrital. Refletir sobre a possibilidade de

    construo de sociedades sustentveis por meio de atividades de Educao Ambiental pode

    tornar-se uma ferramenta importante para a conservao da biodiversidade local com

    melhoria da qualidade de vida e com benefcios s relaes de ensino-aprendizagem no

    cotidiano escolar.

    1.5. Caracterizao da rea de atuao

    Fernando de Noronha apresenta muitas peculiaridades, destacam-se trs: ser um

    Arquiplago; ser o nico Distrito Estadual do pas; e formado por duas unidades de

    conservao.

    Fernando de Noronha um Arquiplago de 26 km (LINSKER, R., 2011) localizado

    no Oceano Atlntico, 375 Km distante da costa de Natal - RN e 575 Km de Recife PE. Sua

    localizao influenciou seu histrico de invases e ocupaes; e limita a entrada e sada de

    pessoas, insumos e resduos. A entrada e sada tem um alto custo devido distncia a ser

    percorrida de barco ou avio.

  • A Constituio do Estado de Pernambuco em seu artigo 96 instituiu o Distrito

    Estadual de Fernando de Noronha (DEFN), no qual o Administrador indicado pelo

    governador de Pernambuco. A existncia de apenas um Distrito Estadual no pas dificulta a

    regulao e funcionamento da Ilha e o fato de ter Administrador indicado limita o potencial

    democrtico do territrio.

    O Arquiplago constitudo por duas unidades de conservao. A rea de Proteo

    Ambiental (APA) de Fernando de Noronha Rocas So Pedro e So Paulo (Decreto

    Federal n 92.755 / 86) e o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (Parnamar)

    (Decreto Federal n 96.693 / 88), figura 1.

    Figura 1 - Unidades de Conservao de Fernando de Noronha - PE

    A populao da nica ilha habitada do Arquiplago (de mesmo nome Fernando de

    Noronha) est entre 2.630 habitantes (IBGE, 2010) e 4.000 habitantes (dados extraoficiais da

    administrao do Distrito Estadual de FN)3.

    O Sistema Nacional de Unidades de Conservao (SNUC) regulamenta os usos das

    unidades de conservao. Nas unidades de Proteo Integral, como o Parnamar, no

    permitido habitao permanente e a visitao destinada para pesquisa e educao ambiental.

    Na APA permitido residncia na zona urbana que delimitada no seu Plano de Manejo.

    Dessa forma, os noronhenses vivem em nove bairros distribudos na zona urbana da APA,

    figura 2 (mapa maior em apndice 1).

    3 Dados obtidos junto ao Setor de Migrao da ADEFN em 2013. Oliveira, 2015, p.9, indica 5000 habitantes, de

    acordo com informaes da ADEFN.

  • 22

    Figura 2 - Bairros e Escolas do Arquiplago de Fernando de Noronha

    No mapa tambm esto localizadas as duas unidades escolares de Fernando de

    Noronha. O Centro Bem-me-Quer de Educao Infantil (CIEI Bem-me-Quer) e a Escola de

    Referencia em Ensino Mdio Arquiplago Fernando de Noronha (EREM AFN). Na EREM

    AFN funciona Ensino Fundamental, Mdio e EJA com aproximadamente 495 estudantes.

    A gesto das unidades de conservao de responsabilidade do Instituto Chico

    Mendes de Biodiversidade e Conservao (ICMBio). A sobreposio de gesto do territrio

    (ADEFN e ICMBio) gera dificuldades e conflitos nas tomadas de deciso.

    Auxiliam o processo de gerenciamento seis conselhos consultivos: Educao,

    Turismo, Assistncia Social, APA, Parnamar e Sade. Existe tambm um Conselho Distrital

    com funo central de fiscalizar a ADEFN.

    Cada um dos artigos desta tese traz um pouco mais do histrico e do funcionamento

    do territrio.

  • 1.6. Hiptese e Objetivos

    1.6.1. Hiptese

    As atividades de Educao Ambiental na escola contribuem para a qualificao da

    participao, para o aprendizado escolar e para o fortalecimento da relao escola/

    comunidade.

    Os pressupostos desta hiptese so que uma EA pautada por uma perspectiva

    progressista de Educao, em dilogo com a educao integral, que vise emancipar os

    sujeitos, qualifica a participao e contribui para as pessoas participarem mais e melhor, ou

    seja, estarem presentes em mais espaos institudos, fomentarem a construo de novos

    espaos e ampliarem o seu potencial de participao. O sujeito participam com mais

    qualidade ao se apoderar do processo, compreender sua funo e subir na escala de

    participao proposta por Daz Bordenave em direo autogesto.

    1.6.2. Objetivo Geral

    Contribuir para o aprimoramento de polticas pblicas de Educao Ambiental

    comprometidas com o fortalecimento da participao na Escola e na construo de sociedades

    sustentveis.

    1.6.3. Objetivos especficos

    Identificar contribuies e limitaes das atividades de Educao Ambiental no

    Distrito Estadual de Fernando de Noronha para a qualificao da participao dos atores

    envolvidos.

    Analisar as possveis contribuies das atividades de Educao Ambiental no

    fortalecimento da relao escola/comunidade e no aprendizado escolar.

    Mapear condies institucionais, polticas e de contedo que interferem em

    Polticas Pblicas de Educao Ambiental em Fernando de Noronha.

    Contribuir com sugestes de objetivos, princpios, aes e instrumentos de

    polticas pblicas de EA que fortalea o compromisso mtuo entre a escola e outras

    instituies de Fernando de Noronha, podendo subsidiar outros territrios.

  • 24

  • 1.7 Metodologia

    De acordo com Batzn (1995), a metodologia qualitativa tanto processo como

    produto da investigao. Como processo, estabelece uma relao no apenas de estudar um

    determinado grupo em um trabalho de campo, mas de aprender com este. Explorou-se o

    potencial educativo da pesquisa na qual todos os envolvidos aprenderam e ensinaram algo.

    Como produto, constituiu-se no relatrio de todo o processo empreendido pelo pesquisador e

    de seus achados.

    O carter qualitativo ressalta a relao direta da pesquisadora com o territrio

    (LUDKE & ANDR, 1986); seu carter subjetivo e no neutro (GOLDENBERG, 1999); e,

    nesta investigao, o seu compromisso poltico com a melhoria e capilaridade da Educao

    Ambiental no pas.

    Ou dito de outra maneira, se no momento do nascimento das cincias

    sociais no sculo XIX a maior parte da preocupao era, conforme o modelo

    das cincias naturais, neutralizar o mais possvel os interesses polticos e

    ticos do analista, para atingir mais facilmente a realidade objetiva ou a

    verdade, o que esses autores preconizam que hoje o mais importante

    produzir um conhecimento alm de til, explicitamente orientado por um

    projeto tico visando a solidariedade, a harmonia e a criatividade (Pires,

    1997 apud MARTINS, 2004, p.8).

    Outra caracterstica alinhada com as vertentes qualitativas a relao "sujeito objeto"

    interativa. Diferentemente da viso da natureza quantitativa de afastamento entre esses

    sujeitos, fortalecendo o papel central do pesquisador na interpretao da realidade observada.

    os papis do observador evoluram desde as primeiras prticas da

    observao: ele foi, de incio, negado ou reduzido posio de simples

    informante, para depois ser reconhecido, antes de deter, progressivamente,

    um lugar enquanto varivel significativa (DELLA BERNARDINA,

    1989:23, apud JACCOUND & MAYER, 2008, p. 263).

    Apoia-se na compreenso de que uma, entre outras, explicaes possveis da

    realidade [...] a provisoriedade, o dinamismo e a especificidade so caractersticas

    fundamentais de qualquer questo social (MINAYO, 2002, p.13).

  • 26

    Partindo do princpio de que o ato de compreender est ligado ao universo

    existencial humano, as abordagens qualitativas no se preocupam em fixar leis

    para se produzir generalizaes. Os dados da pesquisa qualitativa objetivam,

    uma compreenso profunda de certos fenmenos sociais apoiados no

    pressuposto da maior relevncia do aspecto subjetivo da ao social

    (GOLDENBERG, 1999, p.49).

    A definio das tcnicas e mtodos utilizados tiveram como pressupostos o carter

    idiossincrtico (BECKER, 1999) das pesquisas do Laboratrio de Educao e Poltica

    Ambiental, Oca (OCA, 2016); e a necessidade de flexibilidade e criatividade nas pesquisas

    qualitativas. O carter idiossincrtico evidencia que cada pesquisador define o seu caminho,

    optando pelas tcnicas necessrias para o trabalho que est sendo feito, soma-se a isso o fato

    que:

    Os dados qualitativos consistem em descries detalhadas de situaes com

    o objetivo de compreender os indivduos e seus prprios termos. Esses dados

    no so padronizveis como os dados quantitativos, obrigando o pesquisador

    a ter flexibilidade e criatividade no momento de colet-los e analis-los

    (GOLDENBERG, 1999, p. 53).

    Dentre as pesquisas de natureza qualitativa, a pesquisa dialoga com a pesquisa-

    interveno e a etnografia. Gajardo (1986) indica que na perspectiva da pesquisa social e

    educacional, a produo de conhecimentos pode/deve acontecer a um s tempo, com a

    comunicao dos conhecimentos produzidos e ressignificados, integrando

    pesquisador/pesquisado e educador/educando, pesquisa/ao, em um processo de

    aprendizagem coletiva, no qual crenas, ideologias, desejos e vises de mundo dos

    participantes so considerados.

    A pesquisa-interveno uma tipologia dentro das pesquisas participativas que:

    surgem como um movimento frente s pesquisas cientificistas tradicionais,

    trazendo pressupostos vinculados problematizao das relaes entre o

    investigador e o que investigado, entre sujeito e objeto, teoria e prtica,

    com a perspectiva do estabelecimento de condies para captao/

    elaborao da informao no cotidiano das culturas, grupos e organizaes

    populares. Isso significa que as prticas que constituem o social e os

    referenciais que lhe do sentido vo se produzindo concomitantemente, uma

    vez que o conhecimento e a ao sobre a realidade so constitudos no curso

    da pesquisa de acordo com as anlises e decises coletivas, dando

    comunidade participante uma presena ativa no processo. O conhecimento

    se constri, assim, entre o saber j elaborado e incorporado nos pressupostos

    do pesquisador e o fazer enquanto produo contnua que organiza a ao

    investigativa (ROCHA, 2006, p.169).

  • A pesquisa-interveno (ROCHA & AGUIAR, 2003) pressupe uma interveno na

    realidade local por meio do dilogo entre as demandas do pesquisador, da comunidade local e

    outras que surjam no decorrer da pesquisa (ROCHA, 2006, p. 170).

    A pesquisa-interveno busca criar um campo de problematizao,

    escavando outras dimenses do cotidiano e instaurando tenso entre

    representao e expresso, com a perspectiva de dar consistncia a

    novos modos de subjetivao (ROCHA, 2006, p.171).

    A presente investigao influenciou-se pela perspectiva da pesquisa-interveno.

    Foram propostos processos educadores com a comunidade de Fernando de Noronha que

    subsidiaram aes e reflexes com todos os envolvidos. Soma-se a isso a essencialidade das

    intervenes para as reflexes presentes nos resultados desta tese. Elas foram analisadas em

    conjunto, associadas realidade local e as demais atividades de EA desenvolvidas no

    territrio. As intervenes esto detalhadas nos apndices desta tese e sua centralidade no

    trabalho evidenciada pela intencionalidade de contribuir com a transformao da realidade.

    Inspira-se na pesquisa etnogrfica pela imerso realizada na comunidade com o

    objetivo de conhec-la em profundidade. O ponto de partida desse mtodo a interao entre

    o pesquisador e seus objetos de estudo (FONSECA, 1999, p. 58).

    a etnografia uma forma especial de operar em que o pesquisador entra em

    contato com o universo dos pesquisados e compartilha seu horizonte, no

    para permanecer l ou mesmo para atestar a lgica de sua viso de mundo,

    mas para, seguindo-os at onde seja possvel, numa verdadeira relao de

    troca, comparar suas prprias teorias com as deles e assim tentar sair com

    um modelo novo de entendimento ou, ao menos, com uma pista nova, no

    prevista anteriormente (MAGNANI, 2009, p.135).

    Buscou-se compreender a realidade local em sua complexidade e registrar no dirio de

    campo tudo que fosse possvel, para posteriormente, selecionar os dados relacionados com o

    objeto do estudo especfico.

    A relao da etnografia com a Educao apoiou-se nos estudos de Marli Andr

    (ANDR, 2012), O que temos feito pois uma adaptao da etnografia educao, o que

    me leva a concluir que fazemos estudos do tipo etnogrfico e no etnografia no seu sentido

    estrito (ANDR, 2012, p.28). A imerso na realidade escolar permitiu o olhar atento para

    possibilidades e desafios de interferncia na realidade de Fernando de Noronha.

  • 28

    A natureza qualitativa da investigao dialogando com pesquisa-interveno e

    pesquisa etnogrfica possibilitaram a seleo de tcnicas para realizao da pesquisa.

    1.7. 1 Material e Tcnicas

    A escolha das tcnicas foi revista e atualizada aps o primeiro trabalho de campo

    realizado por meio da imerso durante um ano na comunidade de estudo (2013). A vivncia

    possibilitou a [....] formulao dos caminhos de pesquisa, atravs das descobertas de novas

    pistas (NETO, 2002, p.62). Foi possvel compreender melhor o cotidiano e o funcionamento

    do Distrito Estadual de Fernando de Noronha.

    Para a coleta de dados foram utilizadas as tcnicas: anlise de documentos, observao

    participante, interveno educadora ambientalista e entrevistas semiestruturadas.

    1.7.1.1 Anlise de documentos de Fernando de Noronha

    Essa tcnica foi utilizada na presente pesquisa para identificar de que forma a

    Educao Ambiental est presente nos documentos de Fernando de Noronha. E tambm para

    verificar se a participao citada e proposta. Sua utilizao justifica-se pelo fato de que

    [...] uma fonte to repleta de informaes sobre a natureza do contexto nunca deve ser

    ignorada, quaisquer que sejam os outros mtodos de investigao escolhidos (GUBA e

    LINCON, 1981, apud LUDKE & ANDR, 1986, p. 39).

    Os documentos analisados foram os Planos de Manejo da rea de Proteo Ambiental

    (APA) e do Parque Nacional Marinho (Parnamar); o Noronha + 20; Orientaes Pedaggicas

    para a Insero da Educao Ambiental no Ensino Bsico de Pernambuco; Projeto Poltico

    Pedaggico da Escola de Referncia em Ensino Mdio Arquiplago Fernando de Noronha;

    Lei Orgnica do Distrito Estadual de Fernando de Noronha; e Estatuto do Conselho

    Noronhense de Educao.

    1.7.1.2 Observao participante

    A observao participante permite:

    o acesso a informaes privilegiadas, incluindo aquela que ele recebe de

    sua prpria experincia (CAPLOW, 1970), graas a uma compreenso mais

  • intensa do vivido dos participantes observados (LAPERRIRE, 1984 apud

    JACCOUND & MAYER, 2008, p.264).

    A tcnica foi selecionada e desenvolvida durante um ano (2013) de vivncia no

    Arquiplago de Fernando de Noronha. Ocorreu em espaos formais, tais como, reunies dos

    conselhos, participao nas intervenes educadoras, reunies sobre meio ambiente, e

    tambm em dilogos informais do cotidiano da pesquisadora.

    Os dados foram registrados em dirios de campo: nele diariamente podemos colocar

    nossas percepes, angstias, questionamentos e informaes que no so obtidas atravs da

    utilizao de outras tcnicas (NETO, 2002, p.63).

    O tempo prolongado da observao participante, um ano, pode diminuir as bias (vis,

    parcialidade, preconceito) (GOLDENBERG, 1999), porm trouxe dificuldades na

    manuteno do dirio de campo, sendo que em alguns perodos o registo no foi realizado

    com tanta assiduidade.

    Para Tremblay (1985), as duas principais regras do trabalho de campo so a

    imerso total e a anotao sistemtica completa (o total recording). Ele

    reconhece, contudo, as exigncias contraditrias dessas regras: se a

    participao for intensificada, no se ter mais condio de registrar a

    totalidade das observaes, e vice-versa. Para resolver essa contradio, o

    pesquisador deve tender a um equilbrio entre a anotao e a observao

    (HAMMESLEY & ATKINSON, 1983 apud JACCOUND & MAYER,

    2008, p. 273 274).

    O equilbrio entre anotao e observao pode ter sido comprometido, tendo o caderno

    de campo maiores detalhes nos perodos iniciais de imerso. Outro fator que contribuiu para

    uma subestimao do caderno de campo foi a sobreposio de funes da pesquisadora que

    atuava tambm como educadora ambiental. Possivelmente uma maior aproximao

    geogrfica e pessoal com pesquisadores mais experientes, tais como, orientador e grupo de

    pesquisa, poderia ter auxiliado a ter uma maior disciplina com o Caderno de Campo4.

    Apesar de apontar esses problemas, o dirio de campo contribuiu significantemente

    para as anlises nessa pesquisa.

    4 A imerso em Fernando de Noronha PE distanciou a pesquisadora de seu laboratrio de pesquisa localizado

    em Piracicaba SP.

  • 30

    1.7.1.3 Interveno educadora ambientalista

    A pesquisadora trabalhou no Projeto Golfinho Rotador com a funo de construir,

    articular, executar e analisar propostas de Educao Ambiental no Arquiplago. Os projetos

    desenvolvidos foram nomeados nessa tese como interveno educadora ambientalista.

    A interveno educacional pode ser concretizada em intervenes na

    realidade socioambiental local, atravs de projetos pedaggicos em uma

    perspectiva freireana. Neste sentido, o projeto uma oportunidade de se criar

    um movimento no cotidiano de insero crtica dos atores. O projeto um

    desafio que se coloca para, ao entender a realidade, procurarmos enfrentar os

    problemas transformando a realidade e a ns, reciprocamente.

    GUIMARES, M. 2005 p. 196).

    proposta como um passo essencial do mtodo aqui proposto,

    evidenciando o aprender pela prxis, podendo ter diferentes alcances, de

    uma ao na prpria casa at um acordo internacional. O importante ser

    uma ao que mobilize os sujeitos a planejar, executar e refletir sobre o

    processo (OCA, 2016, p.85).

    Nesse sentido foram desenvolvidos projetos de interveno educadora no territrio,

    sendo seu carter ambientalista relacionado a utopia de contribuir com a transio de

    Fernando de Noronha para uma sociedade mais sustentvel tendo nos conceitos de

    comunidade, dilogo, identidade, potncia de ao e felicidade (ALVES, 2010) os princpios

    que os qualificam.

    As intervenes ocorreram por meio de trs projetos: Projeto Noronha Alm Mar na

    Escola de Referncia em Ensino Mdio Arquiplago Fernando de Noronha (maro a

    dezembro de 2013); Comisso de Meio Ambiente e Qualidade de Vida da Escola de

    Referncia em Ensino Mdio Arquiplago Fernando de Noronha (de 2013 e em julho de

    2014); e Projeto Frias Ecolgicas (janeiro de 2014).

    Os dados foram documentados no caderno de campo e em relatrios sobre cada uma

    das atividades. Esto tambm descritos nos apndices desta tese.

    1.7.1.4 Entrevistas semiestruturadas

    A partir da anlise dos dados coletados atravs das tcnicas citadas foram selecionados

    sujeitos para a realizao de entrevistas. A entrevista uma das principais tcnicas de

    trabalho em quase todos os tipos de pesquisa utilizados nas cincias sociais (LUDKE &

    ANDR, 1986, p.33) que permite a captao imediata e corrente da informao desejada

    (ibidem, p.34).

  • As entrevistas tiveram trs focos: contribuies das atividades de Educao Ambiental

    para a qualificao da participao de seus pblicos, o aprendizado escolar e o fortalecimento

    da relao escola/comunidade A partir destes focos foi construdo um roteiro de questes

    (apndice 2), porm no aplicado rigidamente, permitindo que o entrevistador faa as

    necessrias adaptaes (LUDKE & ANDR, 1986, p. 34), como recomendado na literatura

    para a entrevista semiestruturada.

    Quatro categorias foram criadas para a seleo dos sujeitos: proponentes de atividades

    de Educao Ambiental em Fernando de Noronha, profissionais da Educao, estudantes da

    EREM AFN e outros membros da comunidade (que inclui membros do Conselho Distrital de

    Educao, do Conselho escolar e pais). As categorias foram subdivididas em trs modalidades

    relacionadas ao envolvimento das pessoas com as atividades de EA na escola: a)

    organizadores, propositores, realizadores, motivadores; b) participantes; c) no envolvidos ou

    que pouco se envolveram nas atividades (figura 3).

    Figura 3 - Esquema dos sujeitos entrevistados

  • 32

    Os entrevistados foram contatados anteriormente por e-mail ou pessoalmente.

    Receberam uma carta convite (apndice 3) e agendaram a entrevista de acordo com a sua

    disponibilidade e vontade.

    A entrevista foi gravada e posteriormente transcrita. Foram criadas categorias para

    anlise dos dados tendo como base os objetivos da pesquisa, o referencial terico,

    conhecimento prvio do territrio e a sistematizao inicial dos dados j obtidos com outras

    tcnicas. As falas dos entrevistados foram segmentadas e organizadas de acordo com as

    categorias, sendo que novas categorias e subcategorias emergiram no processo de transcrio

    e anlise.

    Houve um perodo de afastamento entre a imerso na comunidade (de fevereiro de

    2013 a maro de 2014) e a realizao de entrevistas (junho de 2016). Destaca-se a

    importncia do distanciamento geogrfico e temporal da entrevistadora e dos entrevistados

    para focar nas questes centrais da pesquisa no momento de interao (GOLDENBERG,

    1999, p.59).

    cabe assinalar as possveis consequncias de uma interao de longo prazo

    com o objeto de estudo, em que difcil evitar sentimentos de amizade,

    lealdade e obrigao, que podem provocar censuras nos resultados de

    pesquisa (GOLDENBERG, 1999, p.51).

    Tendo como pano de fundo a pesquisa qualitativa, em especial a etnogrfica, julga-se

    necessrio a contextualizao histrica e social dos entrevistados. Essa foi realizada na

    caracterizao da rea de estudo e no artigo sobre as narrativas dos entrevistados5. De acordo

    com Fonseca:

    ...os informantes no foram escolhidos por serem estatisticamente

    representativos de algum tipo ideal. Mas, para o pesquisador tirar qualquer

    concluso de seu material, foi necessrio situar seus sujeitos em um contexto

    histrico e social. s ao completar esse movimento interpretativo, indo do

    particular ao geral, que o pesquisador cria um relato etnogrfico. Sem esta

    contextualizao (um tipo de representatividade pos ipso facto), o

    quantitativo no acrescenta grande coisa reflexo acadmica

    (FONSECA, 1999, p. 60) .

    5 Artigo intitulado Educao Ambiental e escola: narrativas de moradores de Fernando de Noronha PE,

    presente nos resultados dessa tese. Presente nos resultados desta tese, item 2.2.

  • Sujeitos das entrevistas

    Esta seo tem o objetivo de caracterizar os sujeitos entrevistados. Parte-se de

    identificao de gnero, faixa etria e atuao profissional, em seguida estruturado um quadro

    no qual cada sujeito apresentado individualmente.

    Dos quarenta e cinco (45) entrevistados, dezesseis (16) so do sexo masculino e vinte

    e nove (29) feminino (grfico 1); a faixa etria variada, sendo a maioria (15) estudantes

    entre 12 e 15 anos, seguidos por pessoas entre 15-20 e 30-35 anos, sete de cada, e cinco (5)

    entre 35-40 anos vide grfico 2.

    Grfico 1 - Gnero dos entrevistados

    Grfico 2 - Faixa etria dos entrevistados

    Foi identificada a atuao profissional dos entrevistados, vinte e quatro (24) deles so

    estudantes, oito (8) profissionais da educao, oito (8) proponentes de atividades de EA em

    FN, e cinco (5) tem atuaes profissionais diferenciadas (professora de yoga, analista do

    ICMBio, professora da Bem-me-Quer, Conselheiro distrital e presidente do Coned), vide

    grfico.

    16

    29

    Masculino

    Feminino

    15

    7 7

    5

    2

    2

    5 1 1

    12-15

    15 - 20

    30 -35

    35 - 40

    40-45

    45 -50

    50 -55

    60 -65

    NI

  • 34

    Grfico 3 - Profisso dos entrevistados

    O quadro abaixo traz uma apresentao geral dos entrevistados que inclui categoria,

    atuao, sexo, idade, tempo em Noronha e local de origem. Ressalta-se o longo tempo de

    moradia em Fernando de Noronha dos adultos entrevistados que resultou num dilogo mais

    aprofundado sobre o que a Ilha, as relaes de poder existentes e as atividades de Educao

    Ambiental. A tabela permite ao leitor o retorno sempre que achar necessrio durante a leitura

    desta tese.

    DESCRIO GERAL DOS ENTREVISTADOS6

    Identificao

    Atuao

    Sex

    o

    Idad

    e

    Tempo em

    Noronha Local de Origem

    Proponent

    es de

    atividades

    de

    Educao

    Ambiental

    em

    Fernando

    de

    Noronha

    Proponente ONG ONG Local M 53 27 Taquari RS

    Proponente pblico Setor pblico M 51 51

    Fernando de Noronha -

    PE

    Proponente ONG 2 ONG local M 34 6 Natal - RN

    Proponente Coletivo Circo Caracas M 35 17 Tijucas - SC

    Proponente pblico 2 Setor pblico F 52 30 Caruaru - PE

    Proponente privado Empresa privada F 50 25 Recife - PE

    Proponente pblico 3 Escola F 35 10 Vitria - PE

    Proponente ONG 3 ONG local F 48 8 So Paulo - SP

    Profissiona

    is da

    Educao

    Professor Professor M 30 7 Recife - PE

    Coordenador Coordenadora Escola F 37 12 Recife - PE

    Professor 1 Professor F 37 5 Carpina - PE

    Profissional da educao Psicopedagogo M 35 35

    Fernando de Noronha -

    PE

    Diretor Diretor M 46 16 Olinda - PE

    Professor 2 Professor F 51 3 Guaratingueta - SP

    Professor 3 Professor M 34 4 Olinda - PE

    Professor 4 Professor F 30 30

    Fernando de Noronha -

    PE

    6 Os estudantes da mesma turma no foram individualizados porque as entrevistas foram realizadas em grupos e

    suas falas foram transcritas no grupo e no individualmente.

    8

    8

    24

    5

    Proponentes de atividades

    de educao ambiental em

    Fernando de Noronha

    Profissionais da Educao

    Estudantes

    Outros

  • Estudantes

    Estudante EJA EJA F 42 42

    Fernando de Noronha -

    PE

    Estudante EJA 1 EJA F 44 44

    Fernando de Noronha -

    PE

    Estudante 9 Nono Ano

    F 14 Fernando de Noronha - PE

    Estudante 9 Nono Ano

    F 14

    Fernando de Noronha -

    PE

    Estudante 9 Nono Ano

    F 15 Fernando de Noronha - PE

    Estudante 9 Nono Ano

    M 14

    Fernando de Noronha -

    PE

    Estudante 9 Nono Ano

    M 14 Fernando de Noronha - PE

    Estudante 8 Oitavo Ano M 12

    Fernando de Noronha -

    PE

    Estudante 8 Oitavo Ano F 14

    Fernando de Noronha - PE

    Estudante 8 Oitavo Ano F 12

    Fernando de Noronha -

    PE

    Estudante 8 Oitavo Ano F 14

    Fernando de Noronha -

    PE

    Estudante 8 Oitavo Ano M 13

    Fernando de Noronha -

    PE

    Estudante 8 Oitavo Ano F 12

    Fernando de Noronha - PE

    Estudante 8 Oitavo Ano F 13

    Fernando de Noronha -

    PE

    Estudante 8 Oitavo Ano F 14

    Fernando de Noronha - PE

    Estudante 1 1 ano mdio F 16

    Fernando de Noronha -

    PE

    Estudante 1 1 ano mdio F 16

    Fernando de Noronha - PE

    Estudante 1 1 ano mdio F 14

    Fernando de Noronha -

    PE

    Estudante 1 1 ano mdio F 16

    Fernando de Noronha - PE

    Estudante 3 3 ano F 16

    Fernando de Noronha -

    PE

    Estudante 3 3 ano F 16

    Fernando de Noronha -

    PE

    Estudante 3 3 ano M 16

    Fernando de Noronha -

    PE

    Monitores FE M 14

    Fernando de Noronha -

    PE

    Monitores FE M 14

    Fernando de Noronha -

    PE

    Outros

    membros

    da

    comunidad

    e

    Comunidade Yoga professora yoga

    Professora de

    Yoga F 37 15 So Paulo - SP

    Comunidade me e analista do ICMBio Me F 37 4 Belm - PA

    Comunidade me e professora da Bem-me

    -quer Me F 35 17 Recife - PE

    Comunidade conselheiro distrital Setor pblico M NI Fernando de Noronha - PE

    Comunidade presidente do Coned Setor pblico F 61 61 Fernando de Noronha - PE

    Quadro 1 - Descrio geral dos entrevistados

    1.7.2 Anlise dos dados

    De acordo com Trivios (1987 apud GOMES, 2002) o processo de anlise dos dados

    inicia-se na coleta de dados, portanto, permeia todo o percurso metodolgico, anlise e

    interpretao esto contidas no mesmo movimento: o olhar atentamente para os dados de

    pesquisa (GOMES, 2002, p.68).

  • 36

    De acordo com Romeu Gomes so trs as finalidades da anlise de dados:

    compreender os dados coletados; confirmar ou refutar questes e pressupostos da pesquisa; e

    contribuir com conhecimentos sobre o tema de pesquisa (2002, p.69).

    As anlises iniciais foram feitas por meio da triangulao de tcnicas. De acordo com

    Paul (1996) e Jick (1984), citados em Cox e Hassard (2005), a triangulao permite um retrato

    mais completo e holstico do fenmeno em estudo. De acordo com Denzin a triangulao de

    dados significa coletar dados em diferentes perodos e de fontes distintas de modo a obter uma

    descrio mais rica e detalhada dos fenmenos (1978, p.4).

    Ao cruzar dados, comparar diferentes tipos de discurso, confrontar falas de

    diferentes sujeitos sobre a mesma realidade, constri-se a tessitura da vida

    social em que todo valor, emoo ou atitude est inscrita (FONSECA,

    1999, p.64).

    Foram cruzados os dados obtidos pelas tcnicas: anlise dos documentos, observao

    participante e intervenes educadoras. O cruzamento permitiu mapear as atividades de

    Educao Ambiental em Fernando de Noronha no ano de 2013, descrever as atividades de

    interveno e identificar indcios sobre a forma como as atividades de EA contribuem com a

    participao de seus pblicos, o aprendizado escolar e o fortalecimento escola/comunidade.

    Esses dados compuseram o relatrio de qualificao dessa tese, na qual enfatizou-se

    que:

    Quando se trata de coleta de dados, e, portanto, de sua produo, as

    reflexes e os conselhos metodolgicos se centram, sobretudo, na questo da

    seleo dos dados de observao e na classificao das anotaes de campo

    (JACCOUND & MAYER, 2008, p.273).

    Alm disso, evidenciou a falta de reflexividade quanto relao entre coleta de dados

    e a anlise, sendo as primeiras reflexes mais descritivas (FONSECA, 1999, p.273). Dessa

    forma, parte das anlises geraram um artigo7 e as demais, incorporadas nos apndices (5, 6 e

    7) deste trabalho, serviram de subsdios para novas reflexes. Ressaltando:

    A imensa massa de dados obtida dificulta a organizao e anlise, fazendo

    com que a eficcia do aproveitamento dependa, sobretudo, da capacidade do

    pesquisador e da definio de caminhos para o melhor aproveitamento do

    material coletado. De uma maneira geral, as crticas [ pesquisa qualitativa]

    7 BATTAINI,V. M. SORENTINO, M. SILVA-JR, J. O desafio de processos participativos nas atividades de

    educao ambiental no Arquiplago de Fernando de Noronha PE Brasil. Presente nos resultados desta tese,

    item 2.1.

  • acentuam o carter descritivo e narrativo, alm de ilustrativo que a maioria

    dos trabalhos apresenta, especialmente quando utilizam os mtodos da

    histria de vida (MARTINS, 2004, p. 5).

    Refora assim, que as anlises so um processo de funil (JACCOUND & MAYER,

    2008, p. 273). Num segundo momento, avaliou-se a importncia de compreender os sujeitos

    entrevistados e a perspectivas deles sobre as temticas centrais da pesquisa: escola, Educao

    Ambiental, relaes institucionais e a influncia da EA no territrio. Pretende-se que o leitor

    tenha mais elementos para entender os entrevistados, suas percepes e a realidade local.8

    Sendo um discurso nem falso, nem verdadeiro, mas que representa apenas uma dimenso de

    uma realidade social multifacetada (FONSECA, 1999, p.64)

    Os subsdios das anlises anteriores somadas a triangulao de sujeitos entrevistados e

    de tcnicas (observao participante, interveno educadora ambientalista e entrevista

    semiestruturada) contriburam para as reflexes sobre caminhos para qualificao da

    participao nas aes de Educao Ambiental9 e contribuies da Educao Ambiental para

    o aprendizado escolar e, em especial, dos processos participativos10

    .

    Por fim, mapeiam-se condies institucionais, polticas e de contedo que interferem

    em Polticas Pblicas de Educao Ambiental em Fernando de Noronha e apresentam-se

    sugestes de objetivos, princpio, aes e instrumentos de polticas pblicas de EA que

    fortalea o compromisso mtuo entre a escola e outras instituies de Fernando de Noronha,

    podendo subsidiar outros territrios11

    .

    Nas consideraes finais relacionam-se as anlises anteriores, reflete-se sobre a

    hiptese, prope caminhos para a continuidade da pesquisa e apresentando desafios,

    angstias, felicidades e descobertas da pesquisadora durante os cinco anos dedicados a esta

    pesquisa.

    Destaca-se que:

    Nunca podemos prever de antemo que o modelo que construmos seja a

    chave da compreenso ou sequer relevante quando lidamos com casos

    8 Educao Ambiental e escola: narrativas de moradores de Fernando de Noronha PE, presente nos

    resultados desta tese item 2.2. 9 Participao em atividades de educao ambiental: indcios de sua qualificao a partir de uma investigao

    no Arquiplago de Fernando de Noronha PE, presente nos resultados desta tese, item 2.3. 10

    O potencial da educao ambiental para fomentar o aprendizado nas unidades escolares por meio do exerccio

    da participao, presente nos resultados desta tese, item 2.4. 11

    Desafios de polticas pblicas estruturantes de educao ambiental em Fernando de Noronha PE, presente

    nos resultados desta tese, item 2.5.

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    especficos. Deve ser trabalhado como hiptese, a ser testada ao lado de

    outras hipteses. Serve para oferecer uma alternativa, para abrir o leque de

    interpretaes possveis, no para fechar os assuntos ou criar novas frmulas

    dogmticas (FONSECA, 1999, p.76).

    Referncias

    ALVES, D.M.G. et al. Em busca da sustentabilidade educadora ambientalista.

    Ambientalmente sustentable., v.1, n. 9-10, 2010. p. 7 34.

    ANDR, Marli Eliza D.A. de. Etnografia da prtica escolar. 18 ed. Campinas, SP: Papirus,

    2012. 128p.

    BATTAINI, Vivian. Educomunicao socioambiental no contexto escolar e conservao

    da bacia hidrogrfica do rio Corumbata. Dissertao (Mestrado em Cincias). Ps

    Graduao em Ecologia Aplicada. Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. Centro

    de Energia Nuclear na Agricultura, 2011.

    BATTAINI, Vivian. Formao continuada em educao ambiental: um estudo de caso

    com profissionais da educao infantil em Torrinha/SP. Curso de Especializao em

    Educao Ambiental e Recursos Hdricos. Universidade de So Paulo. Escola de

    Engenharia de So Carlos. Departamento de Hidrulica e Saneamento. Centro de Recursos

    Hdricos e Ecologia Aplicada. 2010.

    BATZN, A. Etnografa. Mtodos cualitativos en investigacin socio-cultural. Barcelona:

    Editorial Boixareu Universitaria, 1995.

    BECKER, Howard S. Mtodos de pesquisas em cincias sociais. 4 ed. So Paulo: Hucitec,

    1999. 178p.

    BRASIL. Decreto n. 92.755, 5 de junho de 1986. Declara rea de Proteo Ambiental o

    Territrio Federal de Fernando de Noronha, o Atol das Rocas e os Penedos de So

    Pedro e So Paulo, e d outras providncias. Distrito Federal, 1986.

    BRASIL. Decreto n. 96.693, 14 de setembro de 1988.