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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Engenharia de Lorena – EEL Fernanda Maria de Oliveira Rodrigo Andrade Oliveira Análise do potencial energético do Aterro Sanitário de Cachoeira Paulista - SP Lorena - SP 2012

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Escola de Engenharia de Lorena – EEL

Fernanda Maria de Oliveira Rodrigo Andrade Oliveira

Análise do potencial energético do Aterro Sanitário de Cachoeira

Paulista - SP

Lorena - SP 2012

Fernanda Maria de Oliveira

Rodrigo Andrade Oliveira

Análise do potencial energético do Aterro Sanitário de Cachoeira Paulista - SP

Área de Concentração: Engenharia Ambiental

Orientadora: Profa. Dra. Diovana Aparecida dos Santos Napoleão

Lorena - SP

2012

Monografia apresentada à Escola de Engenharia de Lorena – EEL-USP como requisito para a conclusão de Graduação do curso de Engenharia Industrial Química.

AGRADECIMENTOS

A Deus por iluminar o nosso caminho e por nos acompanhar em todas as horas.

Aos nossos pais, Geraldo e Nilena, Fernando e Maria das Graças, pelo apoio,

incentivo e amor dedicado em todas as fases de nossas vidas. Agradecemos a

eles por terem nos ensinado a caminhar com nossas próprias pernas, sempre nos

orientando. Aos nossos irmãos, Guilherme e Fernanda, sempre amigos e

torcendo por nós, prontos para ajudar em qualquer momento.

À nossa orientadora Profa. Dra. Diovana Aparecida dos Santos Napoleão pela

orientação, confiança e críticas fundamentais ao desenvolvimento deste trabalho.

À Enga. Bruna Patrícia de Oliveira pelo apoio ao desenvolvimento deste trabalho.

Ao André Galvão da Vale Soluções Ambientais pela atenção e informações

cedidas.

A pesquisadora Caroline Mourão do INPE - Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais pelo apoio.

Enfim, obrigado a todos que de maneira direta ou indireta contribuíram para o

bom êxito e realização deste importantíssimo e significante trabalho.

EPÍGRAFE 

"Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma."

Antoine Lavoisier

Resumo A intensificação das atividades humanas nas cidades tem gerado um acelerado

aumento na produção de resíduos sólidos, os quais se constituem em grande

problema para as administrações públicas. Após dispostos nos aterros sanitários,

os resíduos sólidos urbanos, que contêm significativa parcela de matéria orgânica

biodegradável, passam por um processo de digestão anaeróbia, provocado pela

ação de microrganismos que transformam a matéria orgânica em um gás

denominado de biogás. Os principais constituintes da composição do biogás são

o metano e o dióxido de carbono. Estudos existentes indicam que, considerando

um período de 100 anos, 1 grama de metano contribui 21 vezes mais para o

potencial de aquecimento global (GWP – Global Warning Power) do que 1 grama

de dióxido de carbono. A queima do biogás transforma o metano em dióxido de

carbono e vapor d’água, reduzindo o GWP e possibilitando a participação no

Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) previsto no Protocolo de Quioto, ao

qual é permitida a venda de certificados de redução de emissão por países em

desenvolvimento. Os efeitos da liberação dos gases localmente variam do simples

odor até possíveis doenças cancerígenas na comunidade circunvizinha ao aterro.

Em relação à poluição atmosférica global, o principal efeito da liberação do biogás

é o aquecimento do globo terrestre que vem gerando grandes discussões nos

últimos anos. Esse trabalho analisa a emissão de biogás do aterro de Cachoeira

Paulista- SP através de modelos matemáticos com o objetivo de mensurar a

quantidade de biogás emitida pelo aterro sanitário, possibilitando avaliar o

potencial de geração de energia elétrica e o potencial de geração de créditos de

carbono. Trata-se de um aterro de médio porte, com o início de operação em

2006 e que possui o encerramento previsto para 2026 recebendo em média

83.950 toneladas de resíduos sólidos domésticos anualmente. A aplicação das

metodologias resultou em um valor teórico médio para a produção de biogás no

aterro de Cachoeira Paulista de 1.162.941 m3/ano para o ano de 2026, ano de

seu fechamento.

PALAVRAS-CHAVE: Aterro sanitário, resíduos sólidos, biogás, energia

Abstract

The human activities intensification in the cities has been generating an

accelerated increase in the solid residues production, which constitute a big

problem for the public administrations. After arranged in the sanitary landfill, the

urban solid residues, that contains biodegradable organic matter significant bit,

they pass through an anaerobic digestion process provoked by the

microorganisms action that transform the organic matter in a gas well-known as

biogas. Biogas main composition constituent are the methane and the carbon

dioxide. Existing studies indicate that, considering a period of 100 years, 1

methane gram contributes 21 times more for Global Warning Power (GWP) than 1

carbon dioxide gram. Biogas burning transforms the ethane in carbon dioxide and

water vapor, reducing the GWP and enabling the participation in the Clean

Development Mechanism foreseen in the Kyoto Protocol, to which is allowed the

certificates emissions reductions sales for countries in development. The effects of

the release of gases locally range from simple odor even possible cancerous

diseases in the community surrounding the sanitary landfill. In relation to the

atmospheric air pollution, the main effect of the release of biogas is global warm

that has generated much discussion in recent years. This current work analyzes

the emission of biogas in the sanitary landfill from Cachoeira Paulista - SP, For

that, existing equations in the literature was made use of with the goal of

measuring biogas quantity emitted by the sanitary landfill, enabling to evaluate the

electric power generation potential and for the carbon potential credits generation.

It is a medium size landfill, which began its operation in 2006 and has the

expected closure in 2026 receiving on average of 83,950 tons of municipal solid

residues yearly. The application of the methodology resulted in an average

theoretical value for the production of biogas from the landfill of Cachoeira Paulista

of 1,162,941 m3/year, for the year 2026, year of its closure.

KEYWORDS: Sanitary landfill, solid residues, biogas, energy

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Estudo da composição gravimétrica.................................................... 8

Figura 2 - Destinação dos resíduos sólidos urbanos produzidos nos municípios

do Brasil............................................................................................................... 9

Figura 3 - Representação esquemática do efeito estufa..................................... 14

Figura 4 - Fases de geração de gases em aterros sanitários.............................. 23

Figura 5 - Vista aérea do Aterro de Cachoeira Paulista - SP............................... 29

Figura 6 - Distribuição da quantidade de RSD ao longo dos anos...................... 37

Figura 7 - Estimativas de gerações de metano no aterro.................................... 42

Figura 8 - Estimativa de Potência disponível no aterro........................................ 43

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Classificação dos Resíduos Sólidos................................................... 7

Tabela 2 - Principais gases de efeito estufa (GEE)............................................. 15

Tabela 3 - Composição média do biogás em aterros.......................................... 20

Tabela 4 - População das cidades atendidas pelo Aterro................................... 29

Tabela 5 - Avaliação das Condições dos aterros municipais

por meio do IQR.................................................................................................. 30

Tabela 6 - Valores para o FCM........................................................................... 32

Tabela 7 - Teor de carbono orgânico degradável............................................... 33

Tabela 8 - Dados da constante de decaimento (K)............................................. 34

Tabela 9 - Índices de produção "per capita" de resíduos sólidos domiciliares

em função da população urbana........................................................................ 37

Tabela 10 - Valores para Rx............................................................................... 38

Tabela 11 - Composição percentual em peso dos RSD em Guaratinguetá...... 39

Tabela 12 - Valores encontrados para o cálculo de L0....................................... 40

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1

1.1 Considerações Iniciais .................................................................................. 1

1.2 Justificativa ................................................................................................... 3

1.3 Objetivos ....................................................................................................... 5

1.3.1 Objetivo Geral ......................................................................................... 5

1.3.2 Objetivos específicos .............................................................................. 5

1.4 A classificação dos resíduos ......................................................................... 6

1.5 Tratamento de resíduos sólidos .................................................................... 9

1.5.1 Compostagem ...................................................................................... 10

1.5.2 Incineração ........................................................................................... 10

1.5.3 Aterro Sanitário ..................................................................................... 11

1.6 Efeito Estufa................................................................................................ 13

1.7 Protocolo de Quioto .................................................................................... 15

1.8 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo ..................................................... 16

1.9 Emissão de metano em Aterros Sanitários ................................................ 17

2 BIOGÁS ............................................................................................................ 19

2.1 Geração de Gases em Aterros Sanitários .................................................. 19

2.2 Microbiologia de decomposição dos resíduos ............................................ 23

2.3 Fatores que influenciam a composição do biogás ...................................... 24

2.4 Fatores que influenciam a geração de biogás ............................................ 25

3 O ATERRO SANITÁRIO DE CACHOEIRA PAULISTA ..................................... 28

3.1 Os índices de qualidade de operação do aterro (IQR) ................................ 30

4 METODOLOGIA ............................................................................................... 31

4.1 Quantificação de Biogás em Aterros Sanitários ........................................... 31

4.2 Determinação da Potência Elétrica ............................................................. 34

4.3 Determinação da geração de Créditos de Carbono .................................... 35

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 36

5.1 Parâmetros para o calculo do potencial de geração de metano (L0) .......... 38

5.2 Calculo do L0 ............................................................................................... 40

5.3 Constante de decaimento (K) ..................................................................... 41

5.4 Escolha do método e obtenção das curvas de geração de Metano ............ 41

6 ESTIMATIVA DA POTÊNCIA ELÉTRICA ......................................................... 43

7 POTENCIAL DE GERAÇÃO DE CRÉDITOS DE CARBONO ........................... 44

8 CONCLUSÕES ................................................................................................. 45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 47 

 

1 INTRODUÇÃO  

1.1 Considerações Iniciais  

 

Acreditava-se no passado que a natureza seria capaz de absorver

qualquer quantidade de resíduos sem causar incômodo as comunidades

geradoras. A disposição de resíduos sólidos urbanos ou industriais diretamente

nos solos foi uma prática realizada por séculos. Somente a partir de grandes

situações nitidamente insalubres causadas à sociedade por depósitos de

resíduos, iniciou-se uma observação mais apurada sobre os mesmos. Em

decorrência do processo acelerado de urbanização que o Brasil tem passado nas

últimas décadas, acarretando impactos ambientais de toda a espécie, seja na

água no solo e/ou no ar, tornando-se necessário buscar alternativas para eliminar

ou mitigar as alterações do meio ambiente.

O território brasileiro está dividido em cinco grandes regiões: Norte,

Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul, totalizando uma extensão territorial de

aproximadamente 8.514.466,6 Km2. Diante de um extenso território e do fato de o

Brasil ter uma economia caracterizada por grande desigualdade social, é

pertinente que ocorra uma variação nas formas de disposição final e perfis

qualitativos e quantitativos dos resíduos nas diferentes regiões. As diferenças

regionais, físicas e econômicas, não permitem o estabelecimento de uma política

nacional de gerenciamento e dificultam as obtenções de dados estatísticos,

(Alves; Vieira, 2000). A inadequação da disposição de resíduos sólidos em alguns

municípios do Vale do Paraíba não difere da situação de muitos outros existentes

no país.

O aterro sanitário é uma das principais formas de disposição de resíduos

no mundo. Os resíduos depositados nestes ambientes entram em decomposição

gerando gases que podem afetar diretamente o meio ambiente. A emissão

descontrolada do biogás é um grave problema de poluição atmosférica local e

global que precisa ser mitigado. Os efeitos da liberação dos gases localmente

variam do simples mau odor até possíveis doenças cancerígenas na comunidade

circunvizinha ao aterro.

 

Em relação à poluição atmosférica global, o principal efeito da liberação

do biogás é o aquecimento do globo terrestre que vem gerando grandes

discussões nos últimos anos. O gás metano (CH4) é o segundo maior contribuinte

para o aquecimento global, atrás apenas do dióxido de carbono (CO2) entre as

emissões antrópicas de gases do efeito estufa. Estima-se que o CH4 seja

aproximadamente 21 vezes mais prejudicial que o CO2 no aprisionamento de

calor na atmosfera.

Em aterros sanitários fundamentados em critérios de engenharia, a

camada de cobertura final é fundamental para o impedimento da passagem

desses gases para a atmosfera, por ser o elo entre o ambiente externo e o interno

de um aterro sanitário. Camadas mal dimensionadas podem ocasionar problemas

ambientais.

Os estudos realizados nos países desenvolvidos levaram diversas

entidades internacionais a proporem modelos matemáticos para a previsão da

produção de biogás nos aterros de resíduos sólidos. Os modelos existentes para

quantificação da produção de gases em aterros sanitários podem ser

estequiométricos (cálculo estático) ou estimativas cinéticas (simulação dinâmica).

No modelo estequiométrico aborda o cálculo da produção máxima teórica,

levando em consideração as reações de decomposição anaeróbia da matéria

orgânica (Paraskaki e Lazaridis, 2005). Nas estimativas cinéticas, as taxas de

produção de gás são descritas por modelos empíricos, baseados em equações

matemáticas, que simulam o processo biológico e físico-químico da produção de

biogás no aterro (Paraskaki e Lazaridis, 2005). Inicialmente os modelos

apresentavam como pressupostos de origem dados típicos de países do

hemisfério norte, com desenvolvimento industrial e tecnológico diferenciado dos

países em desenvolvimento. Atualmente, observa-se que países em

desenvolvimento apresentam composição física típica dos resíduos sólidos

diferente da composição característica dos países desenvolvidos, entre outras

diferenças.

Há numerosos modelos disponíveis para estimar a produção de biogás.

Todos esses modelos podem ser usados para desenvolver uma curva de geração

que prediz a geração de gás por algum tempo. A produção de gás total e a taxa

em que os gases são gerados podem variar um pouco com os diferentes

modelos, mas o parâmetro de entrada mais importante, que é comum a todos os

 

modelos, é a quantidade do resíduo presumido passível de decomposição.

(Banco Mundial, 2004). Como exemplo pode-se citar o modelo de Scholl –

Canyon usados frequentemente para avaliar a produção de metano durante a

vida de um aterro. Esse modelo é adaptado para aterros específicos por

numerosas hipóteses sobre as condições no aterro. O modelo empírico mais

amplamente aceito, pois baseia-se na premissa de que há uma fração constante

de material biodegradável no aterro por unidade de tempo (Banco Mundial, 2004).

Outro modelo que pode-se citar é o de Tchobanoglous, o qual determina-se

o volume de gás a partir dos componentes lentamente e rapidamente

biodegradáveis do resíduo e da composição química de cada um de seus

elementos em ambientes anaeróbios. O volume de gás estimado supõe a

conversão completa dos resíduos orgânicos biodegradáveis em CO2 e CH4

(Tchobanoglous, 1993).

De forma geral, nos países em desenvolvimento a composição física dos

resíduos sólidos urbanos tem maiores quantidades de matéria orgânica que nos

países desenvolvidos. O clima de um país também influência a produção do

biogás, pois variações sazonais de temperatura e teor de umidade disponível no

ar alteram significativamente o processo de biodigestão anaeróbia (Banco

Mundial, 2004).

O reaproveitamento do Biogás para geração de energia elétrica viabiliza a

relação entre a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento econômico,

pois evita a emissão de poluentes para a atmosfera e promove o uso sustentável

e eficiente da energia elétrica.

O propósito deste estudo está associado a recuperação do biogás no

Aterro Sanitário da cidade de Cachoeira Paulista, visando a geração de energia,

através de modelos de equações existentes na literatura com o objetivo de

mensurar a quantidade de gases emitidos.

1.2 Justificativa  

 

O controle da emissão de biogás, mais especificamente do metano, reduz

a possibilidade de instabilidade dos aterros sanitários devido ao acúmulo de

 

bolsões de gases no interior dos mesmos, minimiza a migração dos gases para

as regiões circunvizinhas, evitando problemas ambientais locais e globais, além

de possibilitar uma melhor estimativa do potencial energético dos aterros

sanitários. Tendo em vista esses dois aspectos, a quantificação do metano

produzido e emitido pelos aterros sanitários se torna de fundamental importância

para seus administradores.

Algumas metodologias apresentadas na literatura científica foram

desenvolvidas para quantificar a geração de gases em aterros sanitários, porém

os valores são conflitantes e muitas das vezes não descrevem o real, pois foram

desenvolvidas para condições diferentes das apresentadas nos aterros

brasileiros.

Além dos aspectos expostos acima, a quantificação do metano pode

gerar renda aos administradores dos aterros, através da negociação dos créditos

de carbono. Tornando assim, a implantação e manutenção do aterro mais viável.

 

 

1.3 Objetivos 1.3.1 Objetivo Geral  

 

O presente trabalho tem como objetivo geral apresentar uma estimativa

das emissões de gases em um Aterro Sanitário de Cachoeira Paulista - SP para

análise do potencial energético.

1.3.2 Objetivos específicos  

 

Para o desenvolvimento dessa proposta de trabalho, estão previstos os

seguintes objetivos específicos:

• Analisar os dados de coleta de lixo do Aterro Sanitário de Cachoeira

Paulista;

• Estudar o modelo matemático a ser empregado;

• Estimar o CH4 gerado no aterro sanitário de Cachoeira Paulista

desde a sua abertura em 2006 através do modelo matemático escolhido;

• Analisar o potencial energético do aterro;

• Analisar o potencial de geração de créditos de carbono

 

1.4 A classificação dos resíduos  

 

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2004), através da

NBR 10.004/2004, define resíduo sólido com os seguintes termos:

Resíduos nos estados sólido e semi-sólido, que resultam de atividades de

origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de

varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de

tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle

de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem

inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou

exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face a melhor

tecnologia disponível.

A NBR 10.004/2004 (ABNT, 2004) apresenta a classificação dos resíduos

sólidos, motivada pela elevada produção de resíduos e pela sua heterogeneidade.

O critério essencial utilizado para classificação dos resíduos é o grau de

periculosidade, conforme apresentado no Tabela 1.

 

Tabela 1 - Classificação dos Resíduos Sólidos

Classe/Conceito Materiais

Classe I - Perigosos

Resíduos perigosos: que apresentam

pelo menos uma destas características

especificadas em norma:

inflamabilidade, corrosividade,

reatividade, toxidade, patogenicidade.

Anexo A (NBR10004/04): resíduos

perigosos de fontes não especificadas

Anexo B (NBR10004/04): resíduos

perigosos de fontes especificadas

Anexo C (NBR10004/04): substâncias

que conferem periculosidade aos

resíduos

Anexo D (NBR10004/04): substâncias

agudamente tóxicas

Anexo E (NBR 10004/04): substâncias

tóxicas

Classe II – Não Perigosos

II A – Não Inertes

Resíduos que podem ter propriedades

tais como: biodegradabilidade,

combustibilidade ou solubilidade em

água.

Anexo H (NBR 10004/04): codificação

de alguns resíduos classificados como

não perigosos:

Resíduos de restaurante (restos de

alimentos), resíduo de madeira, sucata

de metais ferrosos, resíduos de

materiais têxteis, sucata de metais não

ferrosos (latão, etc.), resíduos de

minerais não metálicos, resíduo de

papel e papelão, areia de fundição,

resíduos de plástico polimerizado,

bagaço de cana.

Classe II – Não Perigosos

II B – Inertes

Resíduos que, quando submetidos a um contato dinâmico e estático com água destilada ou desionizada, a temperatura ambiente, não tiver nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor.

Fonte: Adaptado da NBR 10.004/2004

 

Os resíduos sólidos pertencentes as classes “I” e “II b” têm origem

preponderante em lixo não doméstico. Esse trabalho utiliza o termo “resíduos

sólidos domésticos” quando se dirige aos resíduos depositados nos aterros

municipais, como forma de especificar o tipo de resíduo que orienta o foco do

estudo.

Para que fosse possível a aplicação do método Intergovernmental Panel

on Climate Change (IPCC, 2000) estimativa de emissões de Gases do Efeito

Estufa (GEE) no aterro de Cachoeira Paulista foi necessária uma classificação a

qual permitia o enquadramento dos resíduos em quatro categorias principais,

representados por:

- Papéis e têxteis;

- Folhas, podas de Jardim e material putrescível não alimentar;

- Resíduos alimentares;

- Madeira e palha;

Segundo o IPCC (2000), apenas estas categorias são empregadas para as

estimativas das emissões. Os demais resíduos foram classificados como Inertes e

Fósseis, não influenciando as estimativas de GEE.  

Os Resíduos no Brasil apresentam composição gravimétrica

característica com maior parcela de matéria orgânica. A Figura 1 apresenta a

composição gravimétrica dos RSD (Resíduos Sólidos Domésticos) no Brasil

apresentada por Figueiredo (2009). A pesquisa tem por base números da

Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais

(ABRELPE, 2009).

Figura 1 - Estudo da composição gravimétrica

Fonte: Figueiredo (2009)

 

Parcela considerável dos resíduos sólidos urbanos (RSU) produzidos no

Brasil tem destinação inadequada. A Figura 2 mostra a destinação dos resíduos

sólidos urbanos no Brasil, segundo os dados da ABRELPE (2009). Os dados

mostram as dificuldades da administração pública municipal em gerir a destinação

final dos resíduos sólidos produzidos.

Figura 2 - Destinação dos resíduos sólidos urbanos produzidos nos municípios do

Brasil Fonte: ABRELPE (2009)

Para a legislação brasileira, o lixo doméstico é de propriedade da

prefeitura, cumprindo-lhe a missão de assegurar sua coleta e destinação final

(Calderoni,1998). O lixo industrial é de responsabilidade do gerador, devido à sua

diversidade e potencial risco à saúde pública.

1.5 Tratamento de resíduos sólidos

De acordo com os estudos realizados por TAUK-TORNISIELO et al

(1995), dentre os métodos mais comuns de tratamento de resíduos sólidos,

adequados sob o ponto de vista sanitário e ecológico, podem ser consideradas as

seguintes técnicas apresentadas abaixo.

 

10 

 

1.5.1 Compostagem  

 

A compostagem é um método de tratamento de resíduos sólidos no qual a

matéria orgânica presente, em condições adequadas de temperatura, umidade e

aeração, é transformada num produto estável, denominado composto orgânico,

que tem propriedades condicionadoras de solo, sendo, portanto, de grande

aplicabilidade na agricultura (CETESB, 1997a).

Para um melhor tratamento dos resíduos, os diversos materiais que os

compõem são separados, obtendo-se, no final do processo, composto orgânico,

materiais recicláveis e rejeitos. Assim, este é um método que possibilita sensível

redução da quantidade de resíduos a serem destinados no solo, além da

devolução à natureza de parte dos materiais dela retirados, fato que se constitui

em grande vantagem ambiental.

Para IPT / CEMPRE (2000), compostagem é um processo biológico de

decomposição da matéria orgânica contida nos restos de origem animal ou

vegetal. Este processo tem como resultado final um produto (o composto

orgânico) que pode ser aplicado ao solo para melhorar suas características, sem

ocasionar riscos ao ambiente.

 

 

1.5.2 Incineração  

A incineração é o aproveitamento do poder calorífico do material

combustível presente no lixo através da sua queima para geração de vapor. É

aconselhável o uso de resíduos de maior poder calorífico como plásticos, papéis,

etc. Entre as vantagens deste uso podemos citar:

• Resulta em uso direto da energia térmica para geração de vapor

e/ou energia elétrica;

• Necessita de alimentação contínua de resíduos;

• Relativamente sem ruído e sem odores;

• Requer pequena área para instalação;

11 

 

• Redução significativa do volume dos resíduos, de 80% a 95% dos

resíduos tratados;

• Se bem operado, os produtos finais são: cinza e gases;

• Destrói organismos patogênicos e substâncias orgânicas;

• Opera independentemente das condições meteorológicas;

• Eliminação das características repugnantes dos resíduos patológicos

e de animais;

• Evita o monitoramento do lençol freático a longo prazo, visto que os

resíduos são destruídos e não guardados (Schneider; Rego; Caldart;

2001).

  

1.5.3 Aterro Sanitário  

 

Segundo a CETESB (1997a) temos por definição de Aterro Sanitário

como um aprimoramento de uma das técnicas mais antigas utilizadas pelo

homem para descarte de seus resíduos, que é o aterramento. Modernamente, é

uma obra de engenharia que tem como objetivo acomodar no solo resíduos no

menor espaço prático possível, causando o menor dano possível ao meio

ambiente ou à saúde pública. Essa técnica consiste basicamente na compactação

dos resíduos no solo, na forma de camadas que são periodicamente cobertas

com terra ou outro material inerte.

Ainda que sendo o método sanitário mais simples de destinação final de

resíduos sólidos urbanos, o aterro sanitário exige cuidados especiais e técnicas

específicas a serem seguidas, desde a seleção e preparo da área até sua

operação e monitoramento.

Atualmente, os aterros sanitários vêm sendo severamente criticados

porque não têm como objetivo o tratamento ou a reciclagem dos materiais

presentes no lixo urbano. De fato, os aterros sanitários são uma forma de

armazenamento de lixo no solo, alternativa que não pode ser considerada a mais

indicada, uma vez que os espaços úteis à essa técnica tornam-se cada vez mais

escassos. Porém, deve-se considerar que a maioria dos materiais utilizados pelo

12 

 

homem, na realidade, são combinações de várias substâncias trazidas dos mais

diferentes pontos do planeta. Assim, recuperar todos os materiais que utilizados é

praticamente impossível, seja por motivos de ordem técnica ou econômica.

Outras questões ainda devem ser consideradas. Os métodos de

acondicionamento e coleta adotados pela maioria das cidades resultam na

mistura de materiais que dificilmente são separados pelos processos de triagem

atualmente utilizados. Como consequência, tanto as “usinas de compostagem”

quanto as técnicas de “coleta seletiva” geram rejeitos que, obrigatoriamente,

devem ser descartados. Mesmo os incineradores, que, em tese, reduzem o

volume dos resíduos de 5 a 15% do volume original, geram escórias e cinzas que

precisam ser descartados em aterros.

Teoricamente, a maioria desses rejeitos também pode ser reciclada. Na

prática, não é o que ocorre. Os fatores de ordem técnica e econômica inviabilizam

grande parte dos processos deixando como alternativa o descarte em aterro. Não

se pode desprezar também a realidade dos países do terceiro mundo. Nem

sempre a comunidade dispõe de recursos suficientes para a implantação e

operação de técnicas para o tratamento de seus resíduos.

Desta forma, o aterro sanitário não deve ser considerado como um vilão,

ou como uma técnica ultrapassada dentro dos processos de proteção ambiental,

mas como a saída atualmente empregada para o descarte disciplinado de

resíduos no solo.

O objetivo principal do aterro sanitário é o de melhorar as condições

sanitárias relacionadas aos descartes sólidos urbanos evitando os danos da sua

degradação descontrolada. Os aterros podem ser divididos em diferentes tipos:

Aterro convencional: formação de camadas de resíduos compactados,

que são sobrepostas acima do nível original do terreno resultando em

configurações típicas de “escada” ou de “troncos de pirâmide”;

Aterro em valas: o uso de trincheiras ou valas visa facilitar a operação do

aterramento dos resíduos e a formação das células e camadas; assim sendo,

tem-se o preenchimento total da trincheira, que deve devolver ao terreno a sua

topografia inicial.

O aterro sanitário deve operar de modo a fornecer proteção ao meio

ambiente, evitando a contaminação das águas subterrâneas pelo chorume

(líquido de elevado potencial poluidor, de cor escura e de odor desagradável,

13 

 

resultado da decomposição da matéria orgânica), evitando o acúmulo do biogás

resultante da decomposição anaeróbia do lixo no interior do aterro. O biogás pode

sair do interior do aterro de forma descontrolada ou infiltrar pelo solo e atingir

redes de esgotos, fossas e poços rasos podendo causar explosões.

Segundo IPT / CEMPRE (2000), os aterros podem ser classificados em :

• Lixões: forma inadequada de deposição final de resíduos sólidos,

que se caracterizam pela simples descarga sobre o solo, sem medidas de

proteção ao meio ambiente ou à saúde pública;

• Aterros controlados: técnica de disposição de resíduos sólidos que

utiliza alguns princípios de engenharia para confinar os resíduos, cobrindo-os com

uma camada de material inerte na conclusão de cada jornada de trabalho.

Geralmente não dispõe de impermeabilização de base, nem de sistemas de

tratamento de percolado ou do biogás gerado;

• Aterros sanitários: técnica de disposição de resíduos no solo

baseada em critérios de engenharia e normas operacionais específicas, de modo

a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança da população,

minimizando os impactos ambientais.

1.6 Efeito Estufa  

 

O clima na Terra é regulado pelo fluxo constante de energia solar que

atravessa a atmosfera na forma de luz visível. Parte dessa energia é devolvida

pela Terra na forma de radiação infravermelha. Os gases de efeito estufa são

gases presente na atmosfera que têm a propriedade de bloquear parte dessa

radiação infravermelha. Muitos deles, como vapor d’ água, dióxido de carbono

(CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O) e ozônio (O3), existem naturalmente na

atmosfera e são essenciais para a manutenção da vida no planeta, pois sem eles

a Terra seria, em média, cerca de 30ºC mais fria. Como resultado das atividades

humanas (antrópicas), o nível de concentração de alguns desses gases, como

CO2, CH4 e N2O, vem aumentando na atmosfera. Além disso, passaram a ocorrer

a emissão de outros gases de efeito estufa, compostos químicos produzidos

somente pelo homem, como o clorofluorcarbonos (CFC), hidrofluorcarbonos

14 

 

(HFC), hidroflourclorocarbonos (HCFC), perfluorcarbonos (PFC) e hexafluoreto de

enxofre (SF6) (Ministério da Ciência e Tecnologia, 2011).

O gás metano tem aumentado consideravelmente na atmosfera,

principalmente por ação antropogênica. Estima-se que 66% das emissões totais

de gás metano sejam por ação humana, principalmente pela agricultura, pecuária

e aterros de resíduos sólidos. A geração de biogás por um aterro pode ter uma

sobrevida de vários anos após seu fechamento, dependendo dos diversos fatores

envolvidos no processo anaeróbio. A Figura 3 ilustra o processo do efeito estufa e

na Tabela 2 os principais gases.

Figura 3 - Representação esquemática do efeito estufa

Fonte: http://geographicae.wordpress.com/2007/05/08/o-efeito-de-estufa-ii/

15 

 

Tabela 2 - Principais gases de efeito estufa (GEE)

Espécies (GEE)

Fórmula química

Tempo de vida

[anos]

Potencial de aquecimento global(GWP1)

20 anos 100 anos 500 anos

Dióxido de Carbono

CO2 Variável 1 1 1

Metano CH4 12 ± 3 56 21 6,5

Óxido Nitroso N2O 120 280 310 170

Ozônio O3 0,1 – 0,3 n.d.2 n.d.2 n.d.2

CFCs n.d.2 n.d.2 n.d.2 n.d.2 n.d.2

1GWP (Global Warming Potential) dado o horizonte de tempo n.d.2 – não disponível Fonte: IPCC (2000) ; ALVES (2000)

 

1.7 Protocolo de Quioto  

 

O Protocolo de Quioto surgiu na Convenção - Quadro das Nações Unidas

sobre a Mudança do Clima (CQNUMC), assinada em 1992, a qual estabeleceu o

compromisso de estabilização das concentrações de gases de efeito estufa na

atmosfera em um nível que impeça uma interferência perigosa no sistema

climático, nível este que deveria ser atingido permitindo aos ecossistemas

adaptarem-se naturalmente às mudanças do clima, assegurando-se, ainda, o

desenvolvimento sustentável (Gonçalves & Tesser, 2012).

A Conferência culminou na decisão por consenso de se adotar um

Protocolo segundo o qual os países industrializados deveriam reduzir suas

emissões combinadas de gases de efeito estufa em pelo menos 5% em relação

aos níveis de 1990, entre o período de 2008 e 2012. Esse compromisso, com

vinculação legal, visa produzir uma reversão da tendência histórica de

crescimento das emissões iniciadas nesses países há cerca de 150 anos

(Ministério da Ciência e Tecnologia, 2011).

16 

 

O Protocolo de Quioto estabeleceu metas para que as emissões

antrópicas fossem reduzidas. Essas metas foram diferenciadas entre os

participantes e deveriam ser atingidas entre 2008 e 2012, primeiro período de

compromisso.

O Protocolo estimula os países a cooperarem entre si por meio de

algumas ações básicas: reformar os setores de energia e transportes; promover o

uso de fontes energéticas renováveis; eliminar mecanismos financeiros e de

mercado inapropriados aos fins da Convenção; limitar as emissões de metano no

gerenciamento de resíduos e dos sistemas energéticos, e proteger florestas e

outros sumidouros de carbono.

É determinado a estabilização dos GEE, definindo prazos de controle e

três mecanismos de flexibilização a serem utilizados para o cumprimento das

metas, quais são:

• Implementação Conjunta (IC) – Joint Implementation (JI) – (Art. 6 do

Protocolo);

• Comércio de Emissões (CE) – Emission Trading (ET) – (Art. 17 do

Protocolo);

• Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) - Clean Development

Mechanism (CDM) - (Art. 12 do Protocolo).

1.8 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo  

 

Segundo Lopes (2002), o propósito do Mecanismo de Desenvolvimento

Limpo (MDL) é prestar assistência às partes não incluídas no Anexo I do

Protocolo de Quioto, para que viabilizem o desenvolvimento sustentável, através

da implementação da respectiva atividade de projeto e contribuam para o objetivo

final da Convenção e, por outro lado, prestar assistência às Partes do Anexo I

para que cumpram seus compromissos quantificados de limitação e redução de

emissão de gases de efeito estufa, que estabelece como meta, no período de

2008 a 2012, a redução de 5% da emissão combinada de gases estufa pelos

países desenvolvidos em relação ao nível das emissões ocorridas em 1990.

17 

 

Lopes (2002) ainda afirma que para que seja considerado elegível no

âmbito do desenvolvimento de mecanismo limpo, o projeto deve colaborar para o

objetivo principal da Convenção, observando alguns critérios fundamentais, entre

eles o da adicionalidade, pelo qual uma atividade de projeto deve,

comprovadamente, resultar na redução de emissões de gases de efeito estufa

e/ou remoção de CO2, adicional ao que ocorreria na ausência da atividade de

projeto de desenvolvimento limpo. Outro critério é a linha base que representa um

cenário, de forma razoável, onde as emissões antrópicas de gases de efeito

estufa por fontes que ocorreriam na ausência do projeto proposto.

Além disto, a atividade de projeto deve contribuir para o desenvolvimento

sustentável do país no qual venha a ser implantada. Deve, ainda, ser capaz de

demonstrar benefícios reais, mensuráveis e de longo prazo relacionados com a

mitigação da mudança do clima.

As quantidades relativas às reduções de emissão de gases de efeito

estufa e/ou remoções de CO2 atribuídas a uma atividade de projeto resultam em

Certificados de Reduções de Emissões (CRE’s), medidas em tonelada métrica de

dióxido de carbono equivalente, conhecidos como créditos de carbono.

1.9 Emissão de metano em Aterros Sanitários  

 

O aterro sanitário pode ser conceituado como um reator bioquímico,

sendo suas principais entradas os resíduos sólidos e água e suas saídas os

biogases e os líquidos lixiviados. O biogás produzido em aterros sanitários é

composto de 45 a 60% de metano, a porcentagem restante é composta de CO2,

vapor de água e alguns gases traço.

O metano proveniente de aterros sanitários é umas das maiores emissões

antropogênicas desse gás. Uma tonelada de resíduos sólidos urbanos (RSU)

depositados em aterros resulta em aproximadamente 160 a 250 m3 de biogás.

Este biogás consiste de aproximadamente 55% de metano, 44% de CO2 e 1% de

outros gases. Portanto, uma tonelada de RSU produz aproximadamente 88 a 138

m3 de metano. Aproximadamente, 40 a 60 milhões de toneladas de metano são

anualmente gerados por aterros sanitários (Humer e Lechner, 1999). Para um

18 

 

aterro sanitário urbano em funcionamento com 20 m de espessura, Hummer e

Lechner (1999) prevêem um fator de emissão de cerca de 340 l CH4/ m2. dia.

Os aterros podem gerar cerca de até 125 metros cúbicos de gás metano

por tonelada de resíduo em um período de 10 a 40 anos. Segundo a Companhia

de Tecnologia de Saneamento Ambiental, CETESB (1999a), esta geração no

Brasil é de 677 t/ano, podendo representar cerca de 945 milhões de metros

cúbicos por ano.

19 

 

2 BIOGÁS  

 

Além dos danos causados pelo agravamento do efeito estufa, o biogás

gerado pelos aterros e “lixões” pode representar riscos para o ambiente local

quando não devidamente controlado, podendo migrar lateralmente para áreas

próximas ou mesmo emanar pela superfície, causando prejuízos à saúde humana

e à vegetação, decorrentes da formação de ozônio de baixa altitude ou da

exposição a alguns constituintes do biogás que podem causar câncer e outras

doenças que atacam fígado, rins, pulmões e o sistema nervoso central (USEPA,

1997b).

O Biogás é um combustível gasoso com um potencial energético elevado,

seu pode calorífico é em torno de 5.000 Kcal/Nm3, semelhante ao gás natural,

composto principalmente por hidrocarbonetos de cadeia curta e linear. A obtenção

do Biogás é pelo processo de digestão anaeróbica (biometanização) que consiste

de um complexo de cultura mista de microorganismos capazes de metabolizar

materiais orgânicos complexos tais como carboidratos, lipídios, e proteínas

produzindo metano (CH4), dióxido de carbono (CO2) e material celular que pode

ser utilizado como biofertilizante. (Magalhães, 2012).

2.1 Geração de Gases em Aterros Sanitários  

 

A composição do biogás resultante da biodegradação anaeróbia dos

resíduos sólidos em aterros depende da composição química dos resíduos

depositados e do universo de fatores influentes citados no escopo do capitulo. A

parcela de participação na composição pode sofrer variação, dependendo

inclusive da fase da biodecomposição ou, diretamente, da idade dos RSD

depositados no aterro.

A Tabela 3 apresenta uma composição típica para o biogás de acordo

com os estudos realizados por Tchobanoglous et al., (1993). A composição

resultou da análise realizada em 66 aterros da Califórnia, EUA.

20 

 

Tabela 3 - Composição média do biogás em aterros

Composição Porcentagem (Base seca)

Metano 45 - 60

Dióxido de Carbono 40 - 60

Nitrogênio 2 - 5

Oxigênio 0,1 - 1

Enxofre, Mercaptanas 0 - 1,0

Amônia 0,1 - 1,0

Hidrogênio 0 - 0,2

Monóxido de Carbono 0 - 0,2

Fonte: Tchobanoglous et al., (1993)

Os gases emitidos de aterros sanitários causam vários impactos nas

regiões circunvizinhas em diferentes escalas e impactos globais, como o aumento

do efeito estufa.

As emissões continuam por um longo período após o fechamento do

aterro sanitário. Estes podem gerar incômodos pelo mau cheiro e problemas de

saúde. São destacados abaixo alguns dos gases presentes nos aterros sanitários:

• Dióxido de Carbono

O CO2 é a principal forma gasosa do carbono. Este gás é produzido na

biodegradação da matéria orgânica tanto aerobiamente como anaerobiamente.

Por este motivo é um dos principais gases produzido em aterros sanitários. A

concentração de CO2 no biogás varia de 40 a 60%. O CO2 é classificado como

um gás intermediário entre tóxico e não tóxico. Acima de 5%, representa um

grave perigo para a vida. O valor limite de CO2 é 0,5%, com um limite de

exposição curta de 1%. Em 3%, respirar torna-se difícil e pode-se desenvolver

dores de cabeça ou sonolência (Fischer; Maurice; Lagerkvist,1999).

• Metano O metano é produzido na biodegradação anaeróbia da matéria orgânica e

sua concentração em aterros sanitários varia de 45 a 60%. O metano possui um

maior potencial de aquecimento global quando comparado ao dióxido de carbono.

Isso ocorre devido ao alto coeficiente de absorção por radiação ultra-violeta e

21 

 

longa residência na atmosfera (Christophersen et al., 2001 apud Lelieveld, 1998).

Vários valores do potencial de aquecimento global do metano são relatados na

literatura e variam entre 21 a 27 vezes maior que o CO2 (Fischer; Maurice;

Lagerkvist,1999; Barh et al., 2006).

Segundo USEPA (1997b) devido às altas concentrações de gás metano no

biogás, existe o risco de incêndios e explosões em instalações próximas aos

aterros. O intervalo de inflamabilidade para o metano em condições de pressão

atmosférica e temperatura ambiente é de 5 a 15%. O limite de concentração

seguro em ambientes fechados é de 1% (Fischer; Maurice; Lagerkvist, 1999).

• Hidrogênio O hidrogênio é um gás não venenoso, inodoro e incolor, mas altamente

inflamável. É produzido por bactérias acetogênicas e fermentativas e consumido

pelas metanogênicas. Como as bactérias metanogênicas são mais lentas, ocorre

um acúmulo de hidrogênio, principalmente em aterros Programa de Pós-

graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 13

jovens, chegando a concentrações maiores que o limite de explosividade de 4%

(Fischer; Maurice; Lagerkvist,1999).

• Compostos Orgânicos não-metanogênicos (NMOC) Os gases de aterros sanitários possuem uma variedade de compostos

orgânicos traços, que juntos constituem 1% do volume do biogás. Alguns estudos

detectaram entre 100 e 200 compostos diferentes. Esses compostos são

subprodutos de processos químicos e biológicos que ocorrem na massa de

resíduo e consistem dos compostos oxidados do carbono como: álcool, acetona,

ácidos orgânicos, furanos e compostos sulforados (Fischer; Maurice; Lagerkvist,

1999). O potencial de perigo de explosão varia pela química do componente.

Contudo, o benzeno e outros NMOCs sozinhos são improváveis de serem

coletados em concentrações altas o bastante para trazerem perigos de explosão

(Brito Filho, 2005).

Os aterros sanitários de resíduos sólidos constituem ecossistemas únicos,

nos quais várias espécies de microrganismos estão presentes. Os principais

decompositores da matéria orgânica presente na massa de resíduo são as

bactérias, e em menor escala fungos e protozoários. Os grupos de bactérias

22 

 

presentes na decomposição anaeróbia da matéria orgânica são as bactérias

fermentativas, acetogênicas produtoras de H2, acetogênicas consumidoras de H2

e as metanogênicas.

Segundo Castilhos et al., (2003), o processo de degradação dos resíduos

sólidos é um fenômeno constituído essencialmente pela superposição de

mecanismos biológicos e físico-químicos, catalisados pelo fator água, presente

nos resíduos pela umidade inicial e pelas águas dasprecipitações.

Segundo a USEPA (1997b) a produção do biogás pode ser realizada a

partir da vaporização, decomposição biológica e reações químicas. A vaporização

é a mudança de estado líquido para gasoso que ocorre até que sejam atingidas

concentrações de equilíbrio nos gases do aterro. A decomposição biológica

ocorre quando compostos orgânicos de grande massa molecular são

decompostos por bactérias, gerando compostos voláteis. A reação química ocorre

como resultado do contato entre o resíduo e os gases reativos gerados no aterro.

No entanto, para entender as interações químicas, físicas e biológicas

que ocorrem em aterros sanitários e o seu comportamento ao longo do tempo,

faz-se necessário estudar diversos fatores que interferem no processo de

degradação biológica, principalmente pelo fato de que, em países

subdesenvolvidos, a maior parte dos resíduos depositados é matéria orgânica

(Monteiro, 2003).

A biodegradação que ocorre nos aterros sanitários é predominantemente

anaeróbia, sem a presença de oxigênio, porém ocorre também a degradação

aeróbia, com presença de oxigênio, em um pequeno espaço de tempo, logo após

o aterramento. Logo, os microrganismos presentes na massa de resíduo que irão

proporcionar a degradação podem ser aeróbios (necessitam do oxigênio para

degradar a matéria orgânica), anaeróbios (degradam a matéria orgânica na

ausência de oxigênio) ou aeróbios facultativos (degradam a matéria orgânica na

presença ou ausência de oxigênio).

23 

 

2.2 Microbiologia de decomposição dos resíduos  

 

A decomposição dos resíduos é um dos principais fatores que influenciam

a geração de biogás.

Segundo Tchobanoglous et al., (1993) e Bidone (1999), a geração do

biogás ocorre em cinco fases, como ilustrado na Figura 4.

Figura 4 – Fases de geração de gases em aterros sanitários.

Fase I: A primeira fase é a de ajuste inicial. Nessa fase ocorre a

biodegradação aeróbia devido à quantidade de ar que é enterrado juntamente

com o resíduo.

Fase II: Fase identificada como fase de transição. O oxigênio é

consumido e as condições anaeróbicas começam a prevalecer. Os principais

aceptores finais de elétrons na fase anaeróbica são o nitrato e o sulfato. Ocorre a

conversão de matéria orgânica solúvel em ácidos graxos voláteis. Nesta fase

predomina a formação de CO2 e H2, conhecida como fase acidogênica.

Fase III: Fase ácida. As reações iniciadas na fase de transição são

aceleradas com a produção de quantidades significativas de ácidos orgânicos e

quantidades menores de gás hidrogênio. O dióxido de carbono é o principal gás

gerado durante esta fase e os microorganismos envolvidos nesta conversão,

descritos como não metanogênicos, são constituídos por bactérias anaeróbias

estritas e facultativas. Esta fase também é conhecida como acetogênica, pois

ocorre a conversão de ácidos graxos voláteis em acido acético (CH3COOH).

24 

 

Fase IV: Fase metanogênica. Nesta fase predominam microrganismos

estritamente anaeróbios, denominados metanogênicos, que convertem ácido

acético e gás hidrogênio em CO2 e CH4 em uma proporção de 40 - 60% e de 45 -

60%, respectivamente. A formação do metano e dos ácidos prossegue

simultaneamente, embora a taxa de formação dos ácidos seja reduzida

consideravelmente.

Fase V: Fase de maturação. Esta fase ocorre após grande quantidade do

material orgânico ter sido biodegradado e convertido em CH4 e CO2 durante a

fase metanogênica. A taxa de geração do gás diminui consideravelmente, pois a

maioria dos nutrientes disponíveis foi consumida nas fases anteriores e os

substratos que restam no aterro são de degradação lenta.

Condições aeróbias, pequenas quantidades de nitrogênio e oxigênio,

podem voltar a ocorrer dependendo da suscetibilidade do aterro a condições

atmosféricas.

2.3 Fatores que influenciam a composição do biogás  

 

A composição do biogás varia de um local para outro e mesmo de uma

célula para outra no mesmo aterro sanitário. Esta variação ocorre a todo o tempo.

Segundo a Agência Ambiental da Inglaterra (2012), os fatores que podem

influenciar a composição do biogás são os seguintes:

• Diferenças na composição do resíduo, pré-tratamento e armazenamento;

• Mudança na forma predominante da atividade microbiológica (anaeróbio

e/ou aeróbio);

• Idade do resíduo;

• Características hidráulicas do local;

• Propriedades físico-químicas dos componentes do resíduo;

• Diferentes propriedades dos componentes do biogás;

• Temperatura do aterro.

25 

 

2.4 Fatores que influenciam a geração de biogás  

 

A geração de gás em aterros sanitários é afetada por diversas variáveis,

entre as quais podem ser citadas: natureza dos resíduos, umidade presente nos

resíduos, estado físico dos resíduos (tamanho das partículas), pH, temperatura,

nutrientes, capacidade tampão e taxa de oxigenação. Estes fatores são os

responsáveis pelo desenvolvimento do processo de digestão anaeróbia de

substratos orgânicos (Castilhos et al., 2003).

Brito Filho (2005) apresenta os principais fatores que afetam a geração de

gases em aterros sanitários de acordo com a composição do resíduo:

• Umidade dos resíduos Em muitos aterros, depois da composição gravimétrica dos resíduos, o

teor de umidade é o fator mais importante para a taxa de produção de gás no

aterro. Existe uma faixa ótima de umidade, quanto maior o teor de umidade, maior

será a taxa de produção de gás, isso ocorre até a umidade de saturação. O teor

de umidade em um aterro convencional mudará ao longo do tempo. Essas

alterações no teor de umidade do aterro podem resultar das mudanças na

infiltração de águas superficiais e/ou influxo de águas subterrâneas, liberação de

água como resultado da decomposição dos resíduos, e variações sazonais do

teor de umidade dos resíduos.

• Tamanho das partículas Quanto menor a unidade ou partícula do resíduo disposto, maior será a

área da superfície específica. A partícula de resíduo com uma área superficial

maior decomporá mais rapidamente do que uma partícula com uma área menor.

Por exemplo, a decomposição de um tronco de madeira ocorrerá muito mais

rápida se este for cortado em pedaços menores do que se for disposto inteiro. Por

essa razão, um aterro que aceita pedaços de resíduo terá uma taxa de

decomposição mais rápida e completa (como por exemplo rápida taxa de geração

de gás) do que um aterro que recebe somente resíduos inteiros.

26 

 

• Idade do resíduo A geração de gás (metano) em um aterro possui duas variáveis

dependentes do tempo: tempo de atraso e tempo de conversão. O tempo de

atraso (retardo) é o período que vai da disposição dos resíduos até o início da

geração do metano (início da Fase III). O tempo de conversão é o período que vai

da disposição dos resíduos até o final da geração do metano (final da Fase V).

Por exemplo, os resíduos de jardim têm os tempos de atraso e conversão

menores, enquanto que o couro e o plástico possuem tempos de atraso e

conversão maiores.

• pH A faixa de pH ótimo para a maioria das bactérias anaeróbias é 6,7 a 7,5

ou próximo do neutro, como por exemplo pH = 7,0, (McBain et al., 2005). Dentro

da faixa ótima de pH, a metanogênese aumenta para uma taxa elevada de tal

modo que a produção de metano é maximizada. Fora da faixa ótima – um pH

abaixo de 6 ou acima de 8 – a produção de metano fica estritamente limitada. A

maioria dos aterros tende ter ambientes levemente ácidos.

• Temperatura As condições de temperatura de um aterro influenciam os tipos de

bactérias predominantes e o nível de produção de gás. A faixa ótima de

temperatura para bactérias mesofílicas é de 30 a 35ºC (86 a 95ºF), enquanto que

para as bactérias termofílicas é de 45 a 65ºC (113 a 149ºF). As termófilas

geralmente produzem altas taxas de geração de gás; contudo, a maior parte dos

aterros ocorre na faixa das mesófilas. As máximas temperaturas do aterro

freqüentemente são alcançadas dentro de 45 dias após a disposição dos resíduos

como um resultado da atividade aeróbia microbiológica. Uma vez desenvolvida as

condição anaeróbia, a temperatura do aterro diminui.

Grandes flutuações de temperatura são típicas nas camadas superficiais

de um aterro como um resultado de mudanças na temperatura de ar ambiente. Os

resíduos dispostos a uma profundidade de 15 m ou mais não sofrem a influência

da temperatura externa. Elevadas temperaturas de gás dentro de um aterro são o

27 

 

resultado da atividade biológica. As temperaturas típicas do gás produzido num

aterro variam entre 30 a 60ºC.

• Outros fatores Outros fatores que podem influenciar a taxa de geração de gás são a

presença de nutrientes, bactérias, potencial de oxidação-redução, compactação

dos resíduos, dimensões do aterro (área e profundidade), operação do aterro e

processamento de resíduos variáveis.

28 

 

3 O ATERRO SANITÁRIO DE CACHOEIRA PAULISTA  

 

A cidade de Cachoeira Paulista está no Vale do Paraíba, entre as Serras

da Mantiqueira e da Bocaina, em plena bacia sedimentar terciária. É um município

brasileiro do estado de São Paulo. Os municípios limítrofes são Cruzeiro a norte,

Silveiras a leste, Lorena a sul e oeste, Canas a sudoeste, entre Cachoeira e

Lorena, e Piquete a noroeste. População estimada em 2010 de 30.091 habitantes.

Possui uma área de 287,990 km². A densidade demográfica é de 104,49 hab/km².

Possui distância de 210 km de São Paulo e 212 km do Rio de Janeiro,

que são interligadas através da principal rodovia de acesso, a Rodovia Presidente

Dutra (BR 116), outro acesso a cidade é a Rodovia Nesrala Rubez (SP 52).

(http://www.cachoeirapaulista.sp.gov.br).

É uma região marcada pela forte cultura do café no século XIX e

atualmente vem crescendo através do aprimoramento de seu comércio e

prestação de serviços, aprimoramento da agropecuária e principalmente do

desenvolvimento do turismo religioso.

A necessidade da instalação de um aterro sanitário no Vale do Paraíba

surgiu devido a uma carência desse tipo de empreendimento. Antes da instalação

as prefeituras municipais e algumas entidades privadas não sabiam o que fazer

com o lixo e o jogavam em terrenos baldios sem qualquer tipo de tratamento. Em

Cachoeira Paulista, o aterro mais próximo ficava a 100 quilômetros de distancia, o

que encarecia o despejo. Após sérios estudos de viabilidade local decidiu-se a

instalação de um aterro sanitário na cidade de Cachoeira Paulista. O aterro

sanitário iniciou seus trabalhos em Junho de 2006. A empresa não recebe

resíduos Classe I que são aqueles que apresentam riscos a saúde pública e ao

meio ambiente, exigindo tratamento e disposição especiais em função de suas

características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e

patogenicidade.

O aterro possui terreno de 500.000 m2, onde 240.000 m2 são destinados

ao despejo dos resíduos sólidos. Possui capacidade de receber até 230

toneladas/dia. A Figura 5 apresenta uma vista aérea do Aterro Sanitário de

Cachoeira Paulista - SP.

29 

 

Figura 5 - Vista aérea do Aterro de Cachoeira Paulista - SP

As cidades que destinam os seus resíduos sólidos no Aterro de Cachoeira

Paulista são: Guaratinguetá, Cruzeiro, Lorena, Aparecida, Cachoeira Paulista,

Potim, Queluz, Roseira, Lavrinhas, Canas, São José do Barreiro, Cunha e

Silveiras. Sendo assim, atendendo aproximadamente 420.000 habitantes.

(http://www.valesolucoesambientais.com.br).

Na Tabela 4 são apresentados os dados obtidos do Censo 2010 referente

a população das cidades atendidas pelo Aterro Sanitário de Cachoeira Paulista

(IBGE, 2012).

Tabela 4 - População das cidades atendidas pelo Aterro

Cidades População Total Guaratinguetá 111.322

Cruzeiro 81.295 Lorena 77.001

Aparecida 34.817 Cachoeira Paulista 29.800

Potim 21.842 Queluz 19.392 Roseira 11.325

Lavrinhas 9.594 Canas 6.572

São José do Barreiro 5.786 Cunha 4.382

Silveiras 4.032 Total 417.160

Fonte: (IBGE, 2012)

30 

 

A temperatura média anual da cidade é de 22,05ºC e a precipitação média

é de 1.386,31 mm/ano para o período de 2006 a 2012 e encontra-se na Zona

Climática Tropical, dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais - INPE (http://sigma.cptec.inpe.br/prec_sat).

3.1 Os índices de qualidade de operação do aterro (IQR)  

 

A implantação do aterro em 2006 contou com o apoio da CETESB e

começou a ser avaliado por meio do Índice de Qualidade de Aterro de Resíduos

(IQR), sendo classificado com IQR 10 desde então. Tal índice busca avaliar as

condições de operação dos aterros de uma forma padronizada, utilizando índices

que variam entre 1 e 10, de acordo com a classificação da Tabela 5:

Tabela 5 – Avaliação das Condições dos aterros municipais por meio do IQR

Condições IQR Condições Inadequadas 0,0 a 6,0 Condições Controladas 6,1 a 8,0 Condições Adequadas 8,1 a 10

Fonte: Adaptado CETESB, 1999a

31 

 

4 METODOLOGIA

4.1 Quantificação de Biogás em Aterros Sanitários

O modelo utilizado para a estimativa foi o Método de Decaimento de

Primeira Ordem, (USEPA, 1997b; IPCC, 2000) considera a geração de metano

por uma quantidade de resíduo depositada no ano x durante os anos posteriores.

Como a cada ano novas quantidades de resíduos são depositadas, a quantidade

de metano gerada em um determinado ano será igual à geração do resíduo

depositado no ano T somada das gerações dos resíduos depositados nos anos

anteriores, referenciadas no ano T de acordo com a equação 1:

QT = F . Rx . k . L0 . e-k(T-x) (1)

Sendo:

QT = metano gerado no ano T [m3/ano]

F = fração de metano no biogás [%]

Rx = quantidade de resíduo depositado no ano x [kg]

k = constante de decaimento [ano-1]

L0 = potencial de geração de biogás [m3 de biogás/kg RSD]

T = ano atual

x = ano de deposição do resíduo

O resíduo disposto anualmente (Rx) é variável e depende de fatores

como a taxa de crescimento populacional, taxa de RSD produzido por habitante

ao ano e da porcentagem de resíduos que é coletada e disposta no aterro. A

multiplicação de todos estes fatores originam os valores de Rx.

A estimativa de soma das vazões (SQT) de metano é apresentada pela

equação 2, que representa a soma das vazões de metano correspondentes às

quantidades de resíduo depositadas no aterro ano a ano.

32 

 

∑QT = F . k . L0 . ∑ Rx e-k(T-x) (2)

Sendo:

∑QT = estimativa da soma das vazões de metano no ano considerado [m3

CH4/ano]

Portanto, esta estimativa é feita ano a ano, obtendo-se assim a emissão

de metano do aterro durante toda a sua vida útil e pelos anos seguintes após o

seu fechamento.

O potencial de geração de metano a partir do lixo (L0) pode ser obtido

pela metodologia do IPCC (1996), de acordo com a equação 3:

L0 = FCM . COD . CODf . F . (16/12) (3)

Sendo:

L0: potencial de geração de metano do lixo [kg de CH4/ kg de RSD]

FCM: fator de correção de metano [%]

COD: carbono orgânico degradável [kg de C/kg de RSD]

CODf: fração de COD dissociada [%]

F: fração em volume de metano no biogás [%]

(16/12): fator de conversão de carbono em metano [kg de CH4/ kg de C]

Segundo CETESB (1999a), o FCM varia em função do tipo de local. O

IPCC define quatro categorias de locais para os cálculos apresentados neste

trabalho: Aterros Inadequados, Aterros Controlados, Aterros Adequados (Aterro

Sanitário) e Aterros Sem Classificação e para cada uma das categorias o FCM

apresenta um valor diferente, como é destacado na Tabela 6:

Tabela 6 - Valores para o FCM

Tipo de local de disposição

FCM Profundidade (p) [m]

Lixão 0,4 p < 5 Aterro Controlado 0,8 5 ≤ p ≥ 10 Aterro Sanitário 1 p ≥ 10

Locais sem categoria 0,6 Não classificado Fonte: Adaptado de IPCC (2000)

33 

 

A determinação da quantidade de carbono orgânico degradável (COD) é

apresentado pela equação 4, sendo baseado na composição do lixo e na

quantidade de carbono em cada componente da massa de resíduo como

apresentado em IPCC (2000). Na Tabela 7 estão apresentados os valores de

COD para diferentes componentes do lixo.

Tabela 7 - Teor de carbono orgânico degradável

Componente Porcentagem COD (em massa) A) papel e papelão 40 B) resíduos de parques e jardins 17 C) restos de alimentos 15 D) tecidos 40 E) madeira* 30

* excluindo a fração de lignina que se decompõe muito lentamente.

Fonte: Bingemer e Crutzen (1987).

COD = (0,40 . A) + (0,17 . B) + (0,15 . C) + (0,40 . D) + (0,30 . E) (4)

Sendo:

COD: carbono orgânico degradável [kg de C/kg de RSD]

A: fração de papel e papelão no lixo

B: fração de resíduos de parques e jardins no lixo

C: fração de restos de alimentos no lixo

D: fração de tecidos no lixo

E: fração de madeira no lixo

A fração de COD dissociada (CODf), segundo Bingemer e Crutzen

(1987), indica a fração de carbono que é disponível para a decomposição

bioquímica, e pode ser obtida pela equação 5:

CODf = 0,014 T + 0,28 (5)

Sendo:

CODf: fração de COD dissociada [%]

T: temperatura na zona anaeróbia [°C]

34 

 

A constante de decaimento é função de fatores como disponibilidade de

nutrientes, pH, temperatura e principalmente umidade. Os valores sugeridos para

k podem variar de 0,05 ano-1 a 0,2 ano-1 como mostrado na Tabela 8.

Tabela 8 - Dados da constante de decaimento (K) Dados da constante de decaimento (k)

Zona Climática boreal e temperado Zona Climática tropical MAT <= 20º C MAT >= 20º C

Seco Úmida Seco Úmida (MAP/PET < 1) (MAP/PET > 1) (MAP < 1000mm) MAP >= 1000mm

default Faixa default faixa default faixa default faixa 0,05 0,05 – 0,06 0,09 0,08 – 0,1 0,065 0,05 – 0,08 0,17 0,15 - 0,2

Fonte: Adaptado IPCC, 2000

Onde:

MAT: Temperatura média anual

MAP: Precipitação média anual

Com a temperatura média superior a 20ºC e precipitação média superior a

1000 mm/ano, optou-se por utilizar o default de 0,17.

4.2 Determinação da Potência Elétrica  

 

Para a quantificação da estimativa da potência elétrica disponível do

biogás, considerou-se que este passará por um processo de separação e

purificação para que somente o gás metano seja aproveitado, fornecendo assim

um combustível de PCI de 35,53 MJ/m3 ou equivalente a 8.500 kcal/m3.

Para o cálculo da potência utilizou-se a equação 6:  

Potano = Qmetano. PCImetano . E (6) 31.536.000

 

35 

 

Sendo:

Potano : potência disponível a cada ano [kW]

Qmetano: vazão do metano a cada ano [m3 CH4/ano]

PCImetano: poder calorífico inferior [kJ/m3 CH4]

E: eficiência de coleta de gases (75%) [%]

31.536.000: fator de conversão [s/ano]

4.3 Determinação da geração de Créditos de Carbono  

 

O gás metano possui um potencial de aquecimento global (GWP - Global

Warning Power) 21 vezes maior que o dióxido de carbono considerando-se um

período de 100 anos. A implantação de projetos de aproveitamento energético de

biogás de aterro sanitário ajuda na redução das emissões de gases de efeito

estufa (GEE), pois a queima do biogás transforma o metano em dióxido de

carbono e vapor d’água.

A redução do potencial de efeito estufa possibilita que projetos como este

se enquadre como candidato ao financiamento externo do chamado mecanismo

de desenvolvimento limpo (MDL) previsto no Protocolo de Kyoto. O valor utilizado

como referência para o certificado de redução de emissão no mecanismo citado é

de US$ 5/t CO2 (UNFCCC, 2012).

Para os cálculos deste trabalho a tonelada de CO2 equivalente pode ser

obtida através da equação 7.

CO2 Eq = QCH4 . d CH4 . GWP (7) Sendo:

CO2 Eq: quantidade de CO2 equivalente [t de CO2]

QCH4: volume de metano [m3]

d CH4: densidade do metano [t/m3]

GWP: potencial de aquecimento global [CO2/CH4]

A densidade de metano utilizada nos cálculos é de 0,7167 . 10-3 t/m3

(Tchobanoglous et al., 1993).

36 

 

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO  

 

Para a determinação do potencial energético do Aterro Sanitário de

Cachoeira Paulista utilizou-se o ano de 2006 como o período de abertura e

deposição inicial de RSD e período de exploração de 20 anos, com isso o ano de

encerramento das atividades será em 2026. Como a geração de RSD é

proporcional à sua população, inicialmente levantou-se a população dos

municípios que despejam os seus resíduos no Aterro ao longo desse período. O

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,2012) fornece alguns dados

de população para o município de Cachoeira Paulista, Guaratinguetá, Cruzeiro,

Lorena, Aparecida, Potim, Queluz, Roseira, Lavrinhas, Canas, São José do

Barreiro, Cunha e Silveiras no período de 2010, quando realizou-se o Censo

2010. As populações dos anos intermediários a população dos anos fornecidos

pelo IBGE foram calculadas considerando um crescimento linear de 1% entre as

populações contadas. O tamanho do Aterro é de 240.000 m2 para disposição de RSD.

Segundo CETESB (1997a), as dimensões do aterro dependem da vida

útil que pretende-se dar à área. Como base de cálculo deve-se reservar cerca de

1 m2/t de resíduo a ser aterrada com 1 m de profundidade. Considerando uma

profundidade média para o aterro de 10 m, tem-se em 1 m2 cerca de 10 t de

resíduos dispostos. Como o tamanho do aterro é de 240.000 m2 pode-se dizer

que a capacidade máxima de RSD total no aterro é de 2.400.000 toneladas.

A USEPA (1997b) considera viável à exploração do biogás em aterros

que tenham pelo menos 1 milhão de toneladas de resíduos sólidos dispostos.

Um fator importante que pode ser apontado é o clima brasileiro, que tem

por característica temperaturas médias mais elevadas em relação ao clima

americano, sendo esta condição mais favorável à degradação anaeróbia do

resíduo orgânico. Portanto, este estudo considerará viável a exploração do biogás

no início (um ano após a abertura), durante e após o fechamento do aterro

(término da disposição de resíduo). Na Figura 6 é apresentado a distribuição da

quantidade de resíduo ao longo dos ano para o Aterro em estudo.

37 

 

Figura 6 - Distribuição da quantidade de RSD ao longo dos anos

Para estimar a quantidade de resíduos sólidos produzidos pelos

municípios que são depositados no aterro adotaram-se os índices de produção

por habitante apresentados na Tabela 9, onde se utilizou o valor médio de 0,6

kilogramas de resíduos diários por cada habitante do município.  

 

Tabela 9 - Índices de produção "per capita" de resíduos sólidos

domiciliares em função da população urbana

População [mil hab.] Produção [kg de RSD/hab. Dia] Até 100 0,4

100 a 200 0,5 200 a 500 0,6

Maior que 500 0,7 Fonte: CETESB (1997a)

 

Os dados da população ano a ano são apresentados na Tabela 10 assim

como os valores calculados para estimar a quantidade de resíduos sólidos

produzidos pelo município no intervalo de tempo de atividade do aterro de

Cachoeira Paulista.

38 

 

Tabela 10 - Valores para Rx

Ano População Total Taxa RSU (kg/hab.ano) Rx (Kg/ano) Rx (t/ano) 2006 400.722,232 219 87.758.168,705 87.758,169 2007 404.769,931 219 88.644.614,854 88.644,615 2008 408.858,516 219 89.540.015,004 89.540,015 2009 412.988,400 219 90.444.459,600 90.444,460 2010 417.160,000 219 91.358.040,000 91.358,040 2011 421.331,600 219 92.271.620,400 92.271,620 2012 425.544,916 219 93.194.336,604 93.194,337 2013 429.800,365 219 94.126.279,970 94.126,280 2014 434.098,369 219 95.067.542,770 95.067,543 2015 438.439,352 219 96.018.218,197 96.018,218 2016 442.823,746 219 96.978.400,379 96.978,400 2017 447.251,983 219 97.948.184,383 97.948,184 2018 451.724,503 219 98.927.666,227 98.927,666 2019 456.241,748 219 99.916.942,889 99.916,943 2020 460.804,166 219 100.916.112,318 100.916,112 2021 465.412,207 219 101.925.273,441 101.925,273 2022 470.066,330 219 102.944.526,176 102.944,526 2023 474.766,993 219 103.973.971,438 103.973,971 2024 479.514,663 219 105.013.711,152 105.013,711 2025 484.309,809 219 106.063.848,263 106.063,848 2026 489.152,908 219 107.124.486,746 107.124,487

5.1 Parâmetros para o calculo do potencial de geração de metano (L0)  

 

O valor adotado para o fator de correção de metano (FCM) baseia-se nas

características apresentadas para a construção de um aterro sanitário, portanto

conta-se com os fatores operacionais adequados à disposição dos resíduos como

formação de células de lixo cobertas com terra, impermeabilização do solo,

drenagem de gás e outros dispositivos característicos de um aterro sanitário

adequado. O valor adotado para o FCM de um aterro sanitário é 1, conforme o já

exposto na Tabela 6.

Para o aterro de Cachoeira Paulista não existe dados históricos sobre a

composição gravimétrica dos RSD produzidos de todos os municípios, porem

adotam-se os valores de um estudo realizado sobre a composição do lixo na

cidade de Guaratinguetá. Tal medida pode ser justificada devido ao fato das

39 

 

cidades serem vizinhas e pertencerem à mesma região do país, o que pode

indicar uma composição de lixo semelhante. Portanto, o cálculo do carbono

orgânico degradável (COD) é baseado na Tabela 11.

Tabela 11 - Composição percentual em peso dos RSD em Guaratinguetá

Especificação dos RSD % em peso Matéria orgânica 58,45% Papel e papelão 17,29% Vidro 2,81% Plástico e material têxtil 12,18% Metal 4,31% Outros materiais finos até 8 mm 2,49% Outros materiais finos até 16 mm 2,47%

Fonte: Marques (2001) Para o cálculo do COD não foi considerada a fração de madeira devido ao

fato da mesma não ter nenhum valor presente na Tabela 11. A fração de matéria

orgânica apresentada considera que 20% do seu valor representa restos de

jardins e 80% restos de comida, logo os valores para os mesmos em termos

percentuais são respectivamente 11,69% e 46,76% do total em massa da matéria

orgânica.

Com relação à composição de material plástico e têxtil, considerou-se

para a obtenção do material têxtil (utilizado no cálculo) a metade da composição

total apresentada, portanto o seu valor é de 6,09% em massa. A partir da

equação 4 obteve-se o valor do COD.

O valor de COD encontrado foi de 183,5 kg de C/t de resíduo e está

dentro do esperado para os padrões brasileiros.

Para o cálculo da fração de carbono orgânico degradável (CODf)

considerou-se a temperatura de digestão anaeróbia correspondente a 35ºC,

conforme trabalho apresentado por Bingemer e Crutzen (1997).

Ao empregar a equação 5, o valor de CODf obtido foi de 0,77, sendo este

valor recomendado pelo IPCC (2000).

A fração considerada de metano presente no biogás (F) é de 50%,

compatível com a faixa apresentada na Tabela 3. Este valor é considerado padrão

para aterros sanitários, porém, deve-se considerar que a composição do biogás

pode variar de acordo com a composição do resíduo e o local em que o mesmo é

40 

 

disposto e por isso, é importante que sejam feitas medições em campo para que

possa ser determinada a real composição e a fração de metano existente no

biogás, minimizando assim, possíveis erros na quantificação do mesmo.

5.2 Calculo do L0

 

 

O potencial de geração de metano é função da concentração de matéria

orgânica degradável no resíduo, podendo atingir valores de 125 a 310 m3 de

CH4/kg de RSD (World Bank, 2003). Segundo o mesmo autor, o valor de L0 é

estimado com base no conteúdo de carbono do resíduo, na fração de carbono

biodegradável e num fator de conversão estequiométrico.

O valor de L0 foi calculado através da equação 3 obtendo-se uma

quantidade igual a 94,2 kg de CH4/t de RSD ou 131,4 m3 de CH4/t de RSD. O

valor em m3 de CH4 foi obtido considerando-se a densidade do metano, que é

igual a 0,7167 kg/m3 (Tchobanoglous et al., 1993). O valor calculado de L0 e os

parâmetros necessários a esse cálculo estão apresentados na Tabela 12.

Tabela 12 - Valores encontrados para o cálculo de L0

Parâmetros Valores FCM 1 COD 183,5 kg de C/t de RSD CODf 0,77

F 50% de CH4 no biogás

L0 94,2 kg de CH4/t de RSD ou 131,4 m3 de CH4/t de RSD

Como pode ser observado, o valor de L0 obtido está dentro da faixa

apresentada pelo manual do World Bank (2003) e não muito distante do valor

padrão utilizado pela USEPA, que é de 170 m3 de CH4/t de RSD.

41 

 

5.3 Constante de decaimento (K)  

 

Todos os parâmetros presentes no método escolhido dependem de

fatores que são variáveis como por exemplo as condições climáticas, a umidade,

a composição do RSD, a fração de metano no biogás, entre outros. Deparando-se

com tal dificuldade, pois todos estes fatores podem mudar anualmente, decidiu-se

adotar como valor oficial para k o valor já apresentado na seção 3.3 (k=0,17 ano-1)

conforme Tabela 8.

5.4 Escolha do método e obtenção das curvas de geração de Metano

O Método de Decaimento de Primeira Ordem I (equação 1) é o mais

completo e o que mais se aproxima da realidade, visto que este leva em

consideração a emissão de gás metano em longos períodos de tempo,

considerando vários fatores que influenciam a taxa de geração do mesmo. Outro

fator que favorece a sua escolha é a disponibilidade de dados para a sua

aplicação, tais como a composição e a quantidade do RSD local. Dois fatores

importantes a serem utilizados na equação 1 que não variaram e permaneceram

comuns à elaboração de todos os cenários foram F e Rx. Na Figura 7 abaixo está

apresentado a estimativa da vazão de Metano ao decorrer dos anos.

42 

 

Figura 7 - Estimativas de gerações de metano no aterro

De acordo com a Figura 7 apresentada, pode-se observar que a produção

máxima de metano ocorre no ano de fechamento do aterro (2026) e também que

continua-se produzindo por muitos anos após o seu fechamento.

43 

 

6 ESTIMATIVA DA POTÊNCIA ELÉTRICA  

 

De acordo com a equação 6 e utilizando a vazão de metano obtida a cada

ano pode-se estimar a potência correspondente para cada ano.  

A Figura 8 apresenta a potência disponível pelo aproveitamento do biogás

no aterro desde sua abertura até seu fechamento e válida para o período

posterior a 2026.

Figura 8 - Estimativa de Potência disponível no aterro

Determinou-se a potência disponível no aterro, mas não se realizou um

estudo mais detalhado a respeito dos usos dessa potência. Esse pode ser um

tema para ser desenvolvido em estudo futuro. Como se sabe, o biogás pode ser

utilizado para cocção, em caldeiras a vapor, em uso veicular, em iluminação a

gás, em tratamento de chorume entre outros usos onde é empregada a queima

direta do biogás ou onde ele é empregado para a geração de eletricidade em

geradores e turbinas a gás (CETESB, 1999a).

 

44 

 

7 POTENCIAL DE GERAÇÃO DE CRÉDITOS DE CARBONO  

Aplicando-se a equação 7 obtivemos para o período de 2006 a 2046 uma

produção total de 23.456.548 m3 de CH4, que equivale a 353.037 t CO2.

O valor que pode ser obtido com a venda de CERs no período apresentado

na tabela é de US$ 1.765.187,37. Este valor só será obtido se for dada uma

utilização para todo o biogás gerado.

45 

 

8 CONCLUSÕES  

 

O biogás, emitidos em Aterros Sanitários, se lançado diretamente na

atmosfera, agrava o efeito estufa. Por se tratar de um combustível, pode ser

recuperado pela queima ou com aproveitamento energético. Para seguir o

caminho do desenvolvimento sustentável é de extrema importância que os

municípios envolvidos neste estudo incentivem a utilização de fontes de energia

renováveis e menos poluidoras. Desta forma, a utilização do gás metano para a

geração de energia enquadra-se nos quesitos de desenvolvimento sustentável,

tendo em vista a grande quantidade de emissões de metano que deixariam de ser

lançadas na atmosfera.

A metodologia adotada para a quantificação do biogás é amplamente

utilizada em projetos de recuperação por se aproximar das condições reais, pois

considera a emissão do biogás em longos períodos de tempo e os vários fatores

que influenciam a taxa de geração do mesmo.

A utilização do modelo do IPCC permitiu estimar o volume de biogás que

seria emitido nos próximos anos, desde a abertura do Aterro (2006) até seu

possível encerramento de atividades (2026), considerando também a emissão por

um período de 20 anos após o fechamento do Aterro (2046). Entre o período de

funcionamento do Aterro (2006 a 2026) estimou-se uma emissão de biogás de

17.390.164,83 m3 de CH4, e para o período de 2027 a 2046 observou-se que

ainda há produção de metano, obtendo um valor de 6.066.383,66 m3 de CH4.

Com estes valores de emissões quantificou-se a potência que seria gerada,

obtendo-se um valor de 19.820,47 kW. Para determinação do potencial de

geração de Crédito de Carbono a partir do metano estimado calculou-se a

quantidade de CO2 equivalente que seria emitido para atmosfera e utilizando

como referência o valor do certificado de redução de emissão de US$ 5/t CO2,

obtendo-se um valor de CERs de $1.765187,37.

O estudo realizado, embora preliminar, serve como base para novos

estudos e aperfeiçoamentos como, por exemplo, estudos de viabilidade

econômica para a definição da melhor forma de aproveitamento do gás.  A

possível implantação do projeto como sugestão para trabalho futuro trará

46 

 

benefícios socioambientais às cidades do estudo e consequentemente à região

do Vale do Paraíba.

47 

 

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