UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - Biblioteca Digital de Teses e ... · aquela situação que você mesmo...
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UNIVERSIDADE DE SO PAULOUNIVERSIDADE DE SO PAULOUNIVERSIDADE DE SO PAULOUNIVERSIDADE DE SO PAULO
FACULDADE DE CINCIAS FARMACUTICAS DE RIBEIRO PRETOFACULDADE DE CINCIAS FARMACUTICAS DE RIBEIRO PRETOFACULDADE DE CINCIAS FARMACUTICAS DE RIBEIRO PRETOFACULDADE DE CINCIAS FARMACUTICAS DE RIBEIRO PRETO
Estudo do efeito modulatrio de derivados de 3Estudo do efeito modulatrio de derivados de 3Estudo do efeito modulatrio de derivados de 3Estudo do efeito modulatrio de derivados de 3----fenilcumarinafenilcumarinafenilcumarinafenilcumarina
nas funes de neutrfilos estimulados por imunocomplexosnas funes de neutrfilos estimulados por imunocomplexosnas funes de neutrfilos estimulados por imunocomplexosnas funes de neutrfilos estimulados por imunocomplexos
e anlise da relao estruturae anlise da relao estruturae anlise da relao estruturae anlise da relao estrutura----atividadeatividadeatividadeatividade....
Luciana Mariko KabeyaLuciana Mariko KabeyaLuciana Mariko KabeyaLuciana Mariko Kabeya
Ribeiro PretoRibeiro PretoRibeiro PretoRibeiro Preto
2006200620062006
LUCIANA MARIKO KABEYLUCIANA MARIKO KABEYLUCIANA MARIKO KABEYLUCIANA MARIKO KABEYAAAA
Estudo do efeito modulatrio de derivados de 3-fenilcumarina
nas funes de neutrfilos estimulados por imunocomplexos
e anlise da relao estrutura-atividade.
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em
Cincias Farmacuticas da Faculdade de Cincias
Farmacuticas de Ribeiro Preto, Universidade de So
Paulo, para obteno do ttulo de Doutor em Cincias
Farmacuticas.
rea de Concentrao:rea de Concentrao:rea de Concentrao:rea de Concentrao: Produtos Naturais e Sintticos
Orientadora:Orientadora:Orientadora:Orientadora: Profa. Dra. Yara Maria Lucisano Valim
Ribeiro PretoRibeiro PretoRibeiro PretoRibeiro Preto
2006200620062006
AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS
DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
FICHA CATALOGRFICAFICHA CATALOGRFICAFICHA CATALOGRFICAFICHA CATALOGRFICA
Kabeya, Luciana Mariko
Estudo do efeito modulatrio de derivados de 3-fenilcumarina
nas funes de neutrfilos estimulados por imunocomplexos e
anlise da relao estrutura-atividade. Ribeiro Preto, 2006.
192 p.: il.; 30cm
Tese de Doutorado, apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Cincias Farmacuticas (rea de concentrao:
Produtos Naturais e Sintticos) da Faculdade de Cincias
Farmacuticas de Ribeiro Preto/USP.
Orientadora: Lucisano-Valim, Yara Maria.
1. Neutrfilos. 2. Imunocomplexos. 3. Cumarinas. 4. Relao
estrutura-atividade. 5. Antioxidantes.
FOLHA DE APROVAOFOLHA DE APROVAOFOLHA DE APROVAOFOLHA DE APROVAO
Autora:Autora:Autora:Autora: Luciana Mariko Kabeya
Ttulo:Ttulo:Ttulo:Ttulo: Estudo do efeito modulatrio de derivados de 3-fenilcumarina nas funes de
neutrfilos estimulados por imunocomplexos e anlise da relao estrutura-atividade.
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em
Cincias Farmacuticas da Faculdade de Cincias
Farmacuticas de Ribeiro Preto, Universidade de So
Paulo, para obteno do ttulo de Doutor em Cincias
Farmacuticas.
rea de Concentrao:rea de Concentrao:rea de Concentrao:rea de Concentrao: Produtos Naturais e Sintticos
Banca ExaminadoraBanca ExaminadoraBanca ExaminadoraBanca Examinadora
Prof(a). Dr(a)._______________________________________________________________________
Instituio________________________________Assinatura:________________________________
Prof(a). Dr(a)._______________________________________________________________________
Instituio________________________________Assinatura:________________________________
Prof(a). Dr(a)._______________________________________________________________________
Instituio________________________________Assinatura:________________________________
Prof(a). Dr(a)._______________________________________________________________________
Instituio________________________________Assinatura:________________________________
Prof(a). Dr(a)._______________________________________________________________________
Instituio________________________________Assinatura:________________________________
Aprovado pela Comisso Julgadora em: _______/_______/_______.
Agradecimentos
Tempo Certo
De uma coisa podemos ter certeza: De nada adianta querer apressar as coisas;
tudo vem a seu tempo, dentro do prazo que lhe foi previsto, mas a natureza humana no muito paciente.
Temos pressa em tudo, a acontecem os atropelos do destino, aquela situao que voc mesmo provoca
por pura ansiedade de no aguardar o Tempo Certo. Mas algum poderia dizer: qual esse Tempo Certo?
Bom, basta observar os sinais... Quando alguma coisa est para acontecer ou chegar at sua vida,
pequenas manifestaes do cotidiano enviaro sinais indicando o caminho certo.
Pode ser a palavra de um amigo, um texto lido, uma observao qualquer;
mas com certeza, o sincronismo se encarregar de colocar voc no lugar certo, na hora certa, no momento certo,
diante da situao ou da pessoa certa. Basta voc acreditar que nada acontece por acaso.
Tente observar melhor o que est a sua volta. Com certeza alguns desses sinais j esto por perto,
e voc nem os notou ainda. Lembre-se que o universo sempre conspira a seu favor,
quando voc possui um objetivo claro e uma disponibilidade de crescimento interior.
(Paulo Coelho)
A Deus
Por Sua infinita bondade, que tem me concedido amparo nas lutas do dia-a-dia. Pelos inmeros companheiros de jornada que tem colocado em meu caminho, que parecem surgir por acaso , como mensageiros de Suas
palavras de afeto, conforto, incentivo e esperana. Por Seus eternos ensinamentos de Amor, Paz e Sabedoria, que tm sido essenciais em
minha caminhada evolutiva.
A benignidade do Senhor grande para conosco, e a Sua verdade dura para sempre(Salmo 117: 2)
Aos meus pais, Akiko e Natio, e aos meus irmos, Adriana e Rogrio
Em meio a tantas palavras existentes no Universo, no h uma sequer capaz de expressar a minha imensa gratido a vocs. Pelo imenso apoio
moral e espiritual, que foram imprescindveis para que eu pudesse chegar at aqui. Pelo constante incentivo e pelos ensinamentos de cada dia, to valiosos para que eu me torne um ser humano melhor e capaz de trilhar os caminhos da Verdade. Acima de tudo, pelo infinito sentimento de amor que nos une,
por alm da eternidade, que tem sido a grande razo de minha felicidade interior.
Quando os ensinamentos do Mestre vibram entre quatro paredes
de um templo domstico, os pequeninos sacrifcios tecem a felicidade comum. (Chico Xavier)
Profa. Dra. Yara Maria Lucisano Valim
Pela preciosa amizade, pela compreenso e pelo respeito s minhas dificuldades. Por todo o apoio, que sempre foi muito alm do profissional, e
essencial para o meu crescimento pessoal. Pelo exemplo de carter e de conduta tica que prima pelo respeito ao Ser Humano como filho de
Deus. Pela sensibilidade especial, que nos ensina a olhar para alm do que as aparncias podem nos mostrar.
" No basta ensinar ao homem uma especialidade, porque tornar-se- uma mquina utilizvel, mas no uma personalidade.
necessrio que adquira um sentimento, um senso prtico do que belo, do que moralmente correto. Deve aprender a compreender as motivaes dos homens,
suas quimeras e suas angstias, para determinar com exatido seu lugar em relao a seus prximos e a sua comunidade."
(Albert Einstein)
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
(CNPq), pelo auxlio financeiro concedido para a realizao deste
trabalho (processo 140462/2003-1).
Andria C. K. K. Takara, pela amizade incondicional e eterna, pela constante presena com palavras de carinho, apoio e incentivo, e pelos inmeros momentos de alegria compartilhados. Ana Carolina F. Motta, pela preciosa amizade, pela solidariedade e pelas sbias e iluminadas palavras de apoio nos mais diversos momentos. Renata Takeara, pela grande amizade sincera, construda ao longo de muitos anos, por pequenos momentos de convvio. Lilian S. C. Bernardes, pela amizade preciosa, pelas palavras de conforto e esperana, e pelo incentivo constante. Helosa D.C. Francescato, pela solidariedade, compreenso e incentivo em minha jornada profissional. Gyselle C. Baccan, pela amizade e pelas reflexes, que me ajudaram a enxergar a vida por outros ngulos. oRicardo L.M. Sousa, pela amizade, pela pacincia em ouvir e pelas sbias palavras de incentivo. Ao Eduardo Ricci Junior, pela amizade preciosa, pelos momentos de riso compartilhados e pelo apoio constante. Aos amigos do Batura, pela acolhida afetuosa, pelo apoio e companheirismo, e pelos iluminados ensinamentos e reflexes.
Aos companheiros de jornada do Laboratrio de Bioqumica da FCFRP-USP : Alexandre Kanashiro, pela amizade preciosa, pelo apoio constante e muitas vezes silencioso, pelos momentos de reflexo filosfica, e pelo grande exemplo de solidariedade. Denise P.S. Leito, pela amizade incondicional e sincera, pelas palavras afetuosas de conforto, e pelo imprescindvel apoio nos momentos mais difceis da caminhada evolutiva. Adriana B.P. Paschoalato, pela amizade sincera, pelo apoio e cooperao, e pelo belo exemplo de humildade, solidariedade e bom humor. Livia M.C.S. Ambrosio, pela amizade verdadeira, generosidade e companheirismo, e pelos inesquecveis momentos de reflexo filosfica. Mirian R. Moreira, pela amizade, pelo incentivo constante, e pelos inmeros momentos de aprendizado e crescimento compartilhados. Ana Paula L. Librandi, pela amizade, pelo apoio constante e pelas reflexes, que tanto contriburam para o meu aprendizado. Elisa M.S. Russo-Carbolante, pela amizade, pela pacincia em ouvir, e pela sinceridade em suas palavras de conforto e incentivo. Cleni M.M.Marzocchi-Machado, pela amizade, pela cooperao, e pela valiosa contribuio para o meu aprendizado. Fbio E. Mingatto, pela amizade, pela prontido em ajudar e cooperar nos mais diversos momentos, e pelos inmeros ensinamentos profissionais e pessoais.
Celma G. Duarte, pela amizade mpar, pelas palavras de apoio, incentivo e esperana, e pelos inmeros momentos de riso compartilhados. Viviane K.S. Kawata, pela amizade, pela solidariedade e prontido em ajudar. As ps-graduandas Celene M.O.S. Alves, Daiani C.O. Andrade e Fabiana S. Paula, pela amizade e por ressaltarem a importncia do esprito de cooperao para o crescimento de um grupo de pesquisa. Os estagirios Andrea S.G. Figueiredo, Joel G. Souza e Tatiana S. Marasca, que imprimem uma alegria mpar ao grupo de pesquisa, pela amizade e imprescindvel cooperao. Os ps-graduandos Accio A. Pigoso, Anaisa F.C. Helena, Cssio B. Pontes, Czar R. Pestana, Cludia S. Bitencourt, Clayton S. Freitas, Daniel J. Dorta, Fernando A.M. Souza, Laura M. Valdevite, Mateus F. Leite, Tiago Rodrigues, Wagner R. Sousa, pela agradvel convivncia. Os estagirios Ana Lcia C. Cunha, Ana Paula S. Oliveira, Carlos Eduardo Pulici, Cludia M. Siqueira, Daniela G. Pantalena, Edson L.N. Rios, Elaine A. Kauvauti, Jennifer M.C. Yokoya, Larissa D. Figueiredo, Lus Eduardo F.A. Silva, Marina Biagioni, Slvia A. Cardoso, Tas N. Chrysostomo, pela agradvel convivncia.
Aos funcionrios do Laboratrio de Bioqumica da FCFRP-USP : Maria Regina de P. Raphaloski, pela amizade sincera, pelo apoio constante e incondicional, pelas inesquecveis palavras de incentivo e esperana, e pelos inmeros momentos de reflexo filosfica. Ana Elisa C.S. Azzolini, pela amizade, pela prontido em ajudar, pela imprescindvel cooperao para a realizao deste trabalho, pelos diversos momentos de crescimento e aprendizado pessoal e profissional compartilhados, e pelos agradveis momentos de convivncia. Ana Cristina M. Polizelo, pela amizade, pelo apoio e auxlio constantes, e pelos agradveis momentos de convivncia e aprendizado. Ieda M.R. Prado, pela amizade, pelo apoio muitas vezes silencioso, e pelos agradveis momentos de convivncia e aprendizado. Nadir Mazzucato, pela amizade sincera, pelo carinho maternal e apoio espiritual, demonstrado em pequenas e singelas atitudes. Alcides S. Pereira, pela amizade, pelos momentos de aprendizado proporcionados, e pela importante colaborao para a realizao deste trabalho. Aos Professores: Dra. Ana Isabel de Assis Pandochi, Dra. Carem Gledes Vargas Recchia, Dr. Carlos Curti e Dr. Augusto Csar Cropanese Sapdaro, pelos ensinamentos acadmicos e lies de vida transmitidos, pela agradvel convivncia, e pelos momentos de riso e de reflexo compartilhados. Ao Prof. Dr. Srgio A. Uyemura, do laboratrio de Bioqumica Clnica da FCFRP-USP, pela amizade e cooperao, pelos diversos esclarecimentos prestados, e pela prontido em ajudar.
Aos ps-graduandos do Laboratrio de Bioqumica Clnica da FCFRP-USP : Flvia Martinello, Frederico M. Soriani, Sheila Maria Soares, Taisa Magnani, Valria G. Tudella eVicente P. Martins, pela agradvel convivncia e pela prontido em ajudar. Profa. Dra. Mnica T. Pupo, do Laboratrio de Qumica Farmacutica da FCFRP-USP, pelo fornecimento das 3-fenilcumarinas, pelo imprescindvel auxlio e orientao durante o desenvolvimento deste trabalho. Ao Prof. Dr. Carlos A. Oliveira, da Universidade Federal de Uberlndia, pela amizade, pela cooperao nas anlises de microscopia eletrnica, pela prontido em ajudar, e pelas frutferas discusses no decorrer do trabalho. Ao Prof. Dr. Carlos H.T.P. Silva, do Laboratrio de Qumica Farmacutica da FCFRP-USP, pela valiosa contribuio nos estudos de modelagem molecular. Ao Prof. Dr. Bernardo Mantovani, e aos tcnicos Silvana C. Silva e Jos Antnio da Silva, do Laboratrio de Bioqumica da FMRP-USP, pela preciosa cooperao e pelas importantes discusses sobre os ensaios biolgicos. Profa. Dra. Ivone de Carvalho, do Laboratrio de Qumica Farmacutica da FCFRP-USP, pela importante contribuio na elaborao deste trabalho. Profa. Dra. Lcia H. Faccioli, do Laboratrio de Imunologia da FCFRP-USP, pelos diversos esclarecimentos prestados, e pela importante contribuio no desenvolvimento deste trabalho.
Ao Prof. Dr. Joo Luis C. Lopes, do Laboratrio de Qumica Orgnica da FCFRPUSP, pela amizade, pelos inmeros esclarecimentos prestados, e pela constante cooperao. Ao Prof. Dr. Antnio Cardozo dos Santos, do Laboratrio de Toxicologia da FCFRP-USP, pela agradvel convivncia e por estar sempre aberto a esclarecimentos dos mais diversos tipos. Aos Funcionrios da FCFRP-USP Cludia C. Macedo, Cssio L. Rodrigues e Sonia A.C. Dreossi, pela prontido em ajudar e pela agradvel convivncia. s Funcionrias da Seo de Ps-Graduao da FCFRP-USP Ana Lcia T. Barbosa, Eleni A. Passos e Rosana F.L.S. Florncio, pela pacincia e pela imprescindvel assistncia durante o desenvolvimento deste trabalho. Aos Funcionrios do Biotrio da FCFRP-USP e do Biotrio Central do Campus de Ribeiro Preto, pelo cuidado no tratamento dos animais. Aos Funcionrios da Biblioteca Central do Campus de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo, pela simpatia, pela ateno e pela prontido em ajudar.
A todos aqueles que, embora no citados, contriburam de alguma forma para a realizao deste trabalho.
Resumo
KABEYA, L.M. Estudo do efeito modulatrio de derivados de 3Estudo do efeito modulatrio de derivados de 3Estudo do efeito modulatrio de derivados de 3Estudo do efeito modulatrio de derivados de 3----fenilcumarina nas funes fenilcumarina nas funes fenilcumarina nas funes fenilcumarina nas funes
de neutrfilos estimulados por imude neutrfilos estimulados por imude neutrfilos estimulados por imude neutrfilos estimulados por imunocomplexos e anlise da relao estruturanocomplexos e anlise da relao estruturanocomplexos e anlise da relao estruturanocomplexos e anlise da relao estrutura----atividade. atividade. atividade. atividade.
2006. 192f. Tese (Doutorado) Faculdade de Cincias Farmacuticas de Ribeiro Preto,
Universidade de So Paulo, Ribeiro Preto, 2006.
A formao de complexos antgeno-anticorpo ou imunocomplexos (ICs) na
circulao e sua eliminao faz parte dos mecanismos de defesa imune humoral do ser
humano. Em algumas patologias, como lupus eritematoso sistmico, artrite reumatide e
vasculite auto-imune, ocorre um desequilbrio nesse processo, que leva deposio dos
ICs nos tecidos e ao desencadeamento de uma reao inflamatria. Esta, por sua vez,
envolve o recrutamento e ativao de neutrfilos, que tm importante participao na
patognese dessas doenas.
A ativao dos neutrfilos pelos ICs, via receptores para a poro Fc de IgG
(FcR) e receptores de complemento (CR), desencadeia diversas funes efetoras, tais
como fagocitose, desgranulao e o metabolismo oxidativo, com a produo de espcies
reativas de oxignio (EROs). Estas funes esto envolvidas na digesto dos ICs, na
morte de microorganismos, e na regulao do processo inflamatrio. Entretanto, nas
doenas mediadas por ICs, os neutrfilos ativados liberam grandes quantidades de
enzimas e EROs para o meio extracelular, contribuindo para a leso dos tecidos do
hospedeiro e a amplificao do processo inflamatrio.
Neste trabalho foi avaliado o efeito modulatrio de vinte derivados de 3-
fenilcumarina nas funes de neutrfilos estimulados por ICs de ovalbumina (OVA) e IgG
anti-OVA. Alm disso, foi feita a investigao mecanismos de ao dessas substncias e
a anlise da relao estrutura-atividade.
O metabolismo oxidativo dos neutrfilos ativados por ICs foi medido por ensaio
de quimioluminescncia dependente de lucigenina ou de luminol (QLlucPMN e QLlumPMN,
respectivamente). Observou-se que as 3-fenilcumarinas contendo o grupo substituinte
3,4-metilenodioxi e o grupo substituinte 6,7-orto-diidroxi (C13C13C13C13) ou 6,7-orto-diacetoxi
(C13aC13aC13aC13a), bem como a 3-fenilcumarina 6,7,3,4-tetraacetoxilada (C24aC24aC24aC24a), apresentaram
atividade inibitria maior que a quercetina (QUERQUERQUERQUER) sobre a QLlucPMN e a QLlumPMN. Para
as demais substncias avaliadas, que foram to ou menos ativas que a QUERQUERQUERQUER, as
caractersticas estruturais relacionadas inibio da QLlucPMN foram um pouco
diferentes daquelas relacionadas inibio da QLlumPMN. Alm disso, as 3-
fenilcumarinas estudadas e a QUERQUERQUERQUER no apresentaram efeito txico sobre os neutrfilos,
avaliado pela liberao de lactato desidrogenase e pelo ensaio de excluso ao corante
Azul de Tripan, nas condies empregadas.
Para as trs 3-fenilcumarinas que apresentaram maior efeito inibitrio sobre o
metabolismo oxidativo dos neutrfilos (C13C13C13C13, C13aC13aC13aC13a e C24aC24aC24aC24a), o aumento do tempo de pr-
tratamento levou a uma tendncia de reduo do efeito inibitrio da substncia C24aC24aC24aC24a,
mas no influenciou na atividade biolgica das substncias C13C13C13C13 e C13aC13aC13aC13a. Essas trs
substncias no interferiram na capacidade fagoctica das clulas, avaliada por
microscopia eletrnica de transmisso.
Para todas as 3-fenilcumarinas foi avaliada tambm a capacidade antioxidante
frente ao radical livre 2,2-difenil-1-picril-hidrazil e o efeito inibitrio dessas
substncias sobre a quimioluminescncia produzida pela reao horseradish
peroxidase-H2O2-luminol (QLHRP). Foi observado que a QUERQUERQUERQUER e as 3-fenilcumarinas
contendo o grupo substituinte orto-diidroxi (C13C13C13C13, C23C23C23C23, C24C24C24C24) tiveram atividade
antioxidante e inibiram a QLHRP, mas suas anlogas acetoxiladas (C13aC13aC13aC13a, C23aC23aC23aC23a, C24aC24aC24aC24a),
bem como as demais substncias avaliadas, foram significativamente menos ativas
nesses modelos experimentais no celulares.
O conjunto de resultados deste trabalho sugere que as atividades biolgicas das
3-fenilcumarinas estudadas foram dependentes de suas estruturas qumicas, e pequenas
modificaes nestas podem levar a alteraes significativas na magnitude de seus
efeitos biolgicos. Alm disso, tanto a lipofilicidade das substncias quanto a sua
capacidade antioxidante parecem ser relevantes para a modulao eficiente do
metabolismo oxidativo dos neutrfilos e da conseqente leso tecidual.
PalavrPalavrPalavrPalavrasasasas----chave:chave:chave:chave: neutrfilos, imunocomplexos, cumarinas, relao estrutura-atividade,
antioxidantes.
Abstract
KABEYA, L.M. Study of the modulatory effect of 3Study of the modulatory effect of 3Study of the modulatory effect of 3Study of the modulatory effect of 3----phenylcoumarin derivatives in the phenylcoumarin derivatives in the phenylcoumarin derivatives in the phenylcoumarin derivatives in the
immune compleximmune compleximmune compleximmune complex----stimulated neutrophil functiostimulated neutrophil functiostimulated neutrophil functiostimulated neutrophil functions and analysis of the structurens and analysis of the structurens and analysis of the structurens and analysis of the structure----activity activity activity activity
relationship.relationship.relationship.relationship. 2006. 192f. Thesis (Doctoral) Faculdade de Cincias Farmacuticas de
Ribeiro Preto, Universidade de So Paulo, Ribeiro Preto, 2006.
Formation and clearance of circulating antigen-antibody complexes or immune
complexes (ICs) take part in the humoral immune defense mechanisms. In some
diseases, as systemic lupus erythematosus, rheumatoid arthritis and auto-immune
vasculitis, an imbalance of this process occurs, leading to the ICs deposition within
tissues and triggering an inflammatory reaction. The last one involves the recruitment
and activation of neutrophils, which have an important role in the pathogenesis of such
diseases.
Neutrophil activation by ICs, via receptors for the Fc portion of IgG (FcR) and
complement receptors (CR), triggers a sort of effector functions, such phagocytosis,
degranulation and the oxidative metabolism, which produces reactive oxygen species
(ROS). These functions are involved in the ICs digestion, microbial killing and the
inflammatory process regulation. However, the activated neutrophils release large
amounts of enzymes and ROS to the extracellular milieu, contributing to the tissue
damage and amplification of the inflammatory process in the IC-mediated diseases.
In this work, we evaluated the modulatory effect of twenty 3-phenylcoumarin
derivatives in the neutrophil functions stimulated by ICs of ovalbumin (OVA) and IgG
anti-OVA. In addition, the mechanisms of action of these compounds were investigated,
and the structure-activity relationship was analyzed.
The IC-activated neutrophil oxidative metabolism was measured by lucigenin-
or luminol-dependent chemiluminescence assay (CLlucPMN and CLlumPMN, respectively).
It was observed that the 3-phenylcoumarins bearing a 3,4-methylenodioxy and the
6,7-orto-dihydroxy (C13C13C13C13) or the 6,7-orto-diacetoxy (C13aC13aC13aC13a) group, as well as the
6,7,3,4-tetraacetoxylated 3-phenylcoumarin (C24aC24aC24aC24a), inhibited CLlucPMN and CLlumPMN
more than quercetin (QUERQUERQUERQUER). Regarding the other evaluated compounds, whose
inhibitory effects were similar to or lower than QUERQUERQUERQUER, the structural features related to
the CLlucPMN inhibition were different from those related to the CLlumPMN inhibition.
Moreover, the studied 3-phenylcoumarins and QUERQUERQUERQUER had no toxic effects on
neutrophils, as evaluated by lactate dehydrogenase release and Trypan Blue exclusion,
under the assessed conditions.
With respect to the three 3-phenylcoumarins that had the highest inhibitory
effects on the neutrophil oxidative metabolism (C13C13C13C13, C13aC13aC13aC13a and C24aC24aC24aC24a), the increase of
the cell pre-treatment period showed a tendency to decrease the inhibitory ability of
compound C24aC24aC24aC24a, but did not influence the biological activity of compounds C13C13C13C13 and
C13aC13aC13aC13a. These three compounds did not interfere in the neutrophil phagocytic ability, as
evaluated by transmission electron microscopy.
The antioxidant activity against the 2,2-diphenyl-1-picrylhydrazyl free radical
and the inhibitory effect in the chemiluminescence generated by the horseradish
peroxidase-H2O2-luminol reaction (CLHRP) were evaluated for all 3-phenylcoumarins. It
was found that QUERQUERQUERQUER and those 3-phenylcoumarins bearing the orto-dihydroxy group
(C13C13C13C13, C23C23C23C23, C24C24C24C24) had antioxidant activity and inhibited the CLHRP. However, their
acetoxylated analogues (C13aC13aC13aC13a, CCCC23a23a23a23a, C24aC24aC24aC24a) and the other evaluated compounds were
significantly less active on these cell-free experimental models.
Taken together, the results of the present work suggest that the biological
activities of the 3-phenylcounarins here investigated were dependent on their chemical
structures, and small changes on the molecule can lead to significant changes on the
magnitude of their biological effects. Moreover, both lipophilicity and antioxidant
capacity of these compounds seem to be relevant to an efficient modulation of the
neutrophil functions and the consequent tissue damage.
Key words:Key words:Key words:Key words: neutrophils, immune complexes, coumarins, structure-activity relationship,
antioxidants.
Lista de abreviaturas
ANCA anticorpos citoplasmticos anti-neutrfilo
ANOVA anlise de varincia
ATP trifosfato de adenosina
BPI protena promotora de permeabilidade bacteriana
C3b, C3bi, C5a fragmentos de ativao do sistema complemento
CD cluster de diferenciao
CI50 concentrao que inibe 50% da resposta biolgica
CoA coenzima A
c.p.m. ftons contados por minuto (counted photons per minute)
CR receptor de complemento
CR1, CR3 receptores de complemento tipo 1 e 3
CR50 concentrao que promove 50% de reduo do DPPH
DAF fator acelerador de decaimento
DCFH diclorofluorescena
DCFH-DA diacetato de diclorodiidrofluorescena
DEAE dietilaminoetil
DMSO dimetilsulfxido
DP desvio padro
DPPH 2,2-difenil-1-picrilhidrazil
EGFR receptor para fator de crescimento epidrmico
EROs espcies reativas de oxignio
F(ab)2 fragmentos de ligao ao antgeno da molcula de anticorpo
Fc fragmento cristalizvel da molcula de anticorpo
FcR receptore para poro Fc de IgG
FcRIIA, FcRIIIB isoformas de receptores FcR
gp91phox glicoprotena de 91 KDa componente do complexo da NADPH
oxidase
G-CSF fator estimulante de colnia de granulcito
GRO produto gnico relacionado a crescimento
GTP trifosfato de guanosina
hCAP-18 peptdeo catinico antimicrobiano 18 humano
HRP horseradish peroxidase
IC imunocomplexo
IC F(ab)2-OVA imunocomplexo de OVA e fragmento F(ab)2 de IgG anti-OVA
IC F(ab)2-OVA-SC imunocomplexo de OVA e fragmento F(ab)2 de IgG anti-OVA,
opsonizado com soro de coelho
IC IgG-OVA imunocomplexo de OVA e IgG anti-OVA
IC IgG-OVA-SC imunocomplexo de OVA e IgG anti-OVA, opsonizado com soro
de coelho
ICAM molcula de adeso intracelular
IFN- interferon gamma
IgG imunoglobulina da classe G
IL interleucina
IP-10 protena 10 indutvel pelo interferon gamma
I-TAC quimioatraente de clulas T indutvel pelo interferon gamma
LDH lactato desidrogenase
LTB4 leucotrieno tipo B4
MCP-1 protena quimioatraente de moncitos
MIG monocina indutvel pelo interferon gamma
MIP-1, MIP-1 protena inflamatria de macrfagos tipo 1 e 1
M.M. massa molecular
MMP8, MMP9, MMP25
metaloproteinase de matriz tipo 8, 9 e 25
MPO mieloperoxidase
NADH nicotinamida adenina dinucleotdeo (forma reduzida)
NADPH nicotinamida adenina dinucleotdeo fosfato (forma reduzida)
NCF fator citoslico de neutrfilo
n-fMLP n-formil-metionil-leucil-fenilalanina
OVA ovalbumina
p22phox, p40phox,
p47phox, p67phox
protenas de 22, 40, 47 e 67 KDa, componentes do complexo
da NADPH oxidase
PAR-4 receptor do tipo 4 ativado por protease
PBS soluo salina tamponada com fosfato
PECAM-1 molcula de adeso endotlio-plaquetrio tipo 1
phox oxidase de fagcito (phagocyte oxidase)
PMA acetato de miristoilforbol
p/v peso/volume
QLHRP quimioluminescncia produzida pela reao HRP-H2O2-luminol
QLlucPMN quimioluminescncia dependente de lucigenina
QLlumPMN quimioluminescncia dependente de luminol
QUER quercetina
RF fator de retardamento
SC soro de coelho
S/D sem diluir; no diludo
SDS dodecil sulfato de sdio
SLPI inibidor de protease secretria de leuccitos
SOD superxido dismutase
TGF- fator de transformao e crescimento tipo alfa
TNF- fator de necrose tumoral tipo alfa
VEGF fator de crescimento do endotlio vascular
v/v volume/volume
Ziops zimosan opsonizado
Sumrio
1. INTRODUO............................................................................................................................. 29
1.1. Neutrfilos ........................................................................................................................... 30
1.1.1. Caractersticas morfolgicas .................................................................................... 30
1.1.2. Funes fisiolgicas .................................................................................................. 32
1.1.2.1. Participao na resposta inflamatria.......................................................... 32
1.1.2.2. Produo de mediadores inflamatrios........................................................ 34
1.1.2.3. Desgranulao .............................................................................................. 36
1.1.2.4. Fagocitose .................................................................................................... 41
1.1.2.5. Produo de espcies reativas de oxignio (EROs).................................... 44
1.2. Doenas mediadas por imunocomplexos (ICs) ................................................................... 50
1.2.1. Aspectos fisiopatolgicos ......................................................................................... 50
1.2.2. Participao de neutrfilos........................................................................................ 54
1.3. Cumarinas ............................................................................................................................ 56
1.3.1. Biognese e ocorrncia............................................................................................. 56
1.3.2. Atividades biolgicas................................................................................................. 58
1.4. 3 Fenilcumarinas............................................................................................................... 61
1.5. Flavonides.......................................................................................................................... 63
1.5.1. Biognese e ocorrncia............................................................................................. 63
1.5.2. Quercetina ................................................................................................................. 64
1.6. Desenvolvimento de frmacos a partir de produtos naturais ............................................ 66
2. OBJETIVOS................................................................................................................................. 68
3. MATERIAL E MTODOS............................................................................................................ 70
3.1. Abordagem experimental .................................................................................................... 71
3.2. Sustncias estudadas........................................................................................................... 72
3.2.1. 3 Fenilcumarinas .................................................................................................... 72
3.2.2. Quercetina ................................................................................................................. 75
3.2.3. Avaliao da solubilidade das 3 fenilcumarinas em meio aquoso......................... 75
3.3. Animais................................................................................................................................. 77
3.4. Isolamento de neutrfilos .................................................................................................... 77
3.5. Obteno de soro normal..................................................................................................... 78
3.6. Obteno, purificao e caracterizao da preparao de IgG total
rica em IgG anti OVA.........................................................................................................
78
3.6.1. Obteno do soro imune rico em IgG anti OVA..................................................... 79
3.6.2. Purificao do soro imune para obteno de IgG total ............................................ 79
3.6.3. Caracterizao da preparao de IgG total rica em IgG anti OVA........................ 82
3.6.3.1. Anlise eletrofortica da frao IgG total do soro imune ........................... 82
3.6.3.2. Determinao do ponto de equivalncia da reao
antgeno anticorpo .....................................................................................
84
3.7. Preparo de fragmentos F(ab)2 a partir de molculas de IgG ntegra............................... 87
3.8. Preparo de ICs .................................................................................................................... 87
3.9. Opsonizao dos ICs ........................................................................................................... 88
3.10. Ensaios em sistemas celulares......................................................................................... 88
3.10.1. Padronizao de ensaio para avaliao da atividade do complexo
enzimtico de NADPH oxidase de neutrfilos .....................................................
88
3.10.2. Avaliao da toxicidade das 3 fenilcumarinas sobre neutrfilos...................... 91
3.10.3. Avaliao da atividade biolgica das 3 fenilcumarinas sobre o metabolismo
oxidativo de neutrfilos estimulados via receptores FcR ..................................
92
3.10.4. Avaliao da atividade biolgica das 3 fenilcumarinas C13C13C13C13, C13aC13aC13aC13a
e C24aC24aC24aC24a sobre o metabolismo oxidativo de neutrfilos estimulados
via receptores FcR, em funo do tempo de pr-tratamento ...........................
96
3.10.5. Avaliao da atividade biolgica das 3 fenilcumarinas C13C13C13C13, C13aC13aC13aC13a
e C24aC24aC24aC24a sobre o metabolismo oxidativo de neutrfilos estimulados
via receptores FcR e/ou CR................................................................................
96
3.10.6. Avaliao da atividade biolgica das 3 fenilcumarinas C13C13C13C13, C13aC13aC13aC13a
e C24aC24aC24aC24a sobre a fagocitose de ICs.........................................................................
99
3.11. Ensaios em sistemas no celulares............................................................................... 100
3.11.1. Avaliao da atividade antioxidante das 3 fenilcumarinas
frente ao radical livre DPPH...................................................................................
100
3.11.2. Avaliao da atividade antioxidante das 3 fenilcumarinas empregando
a reao HRPH2O2luminol....................................................................................
101
3.12. Avaliao da interao das 3 fenilcumarinas com a HRP por docking......................... 103
3.13. Anlise dos dados............................................................................................................. 104
4. RESULTADOS............................................................................................................................. 105
4.1. Ensaios em modelos experimentais celulares, empregando neutrfilos de coelho .......... 106
4.1.1. Avaliao da toxicidade das 3 fenilcumarinas sobre neutrfilos .......................... 106
4.1.2. Efeito das 3 fenilcumarinas sobre o metabolismo oxidativo de neutrfilos
estimulados via receptores FcR...............................................................................
108
4.1.2.1. Avaliao preliminar de atividade na concentrao de 50 mol/L.............. 108
4.1.2.2. Avaliao da atividade biolgica em funo da concentrao..................... 112
4.1.2.3. Anlise qualitativa da relao estrutura atividade.................................... 118
4.1.2.3.1. Caractersticas estruturais das 3 fenilcumarinas
relacionadas inibio de QLlucPMN ............................................
118
4.1.2.3.2. Caractersticas estruturais das 3 fenilcumarinas
relacionadas inibio de QLlumPMN ...........................................
122
4.1.3. Efeito das 3 fenilcumarinas C13C13C13C13, C13a C13a C13a C13a e C24a C24a C24a C24a sobre o metabolismo
oxidativo de neutrfilos estimulados via receptores FcR,
em funo do tempo de pr-tratamento...................................................................
125
4.1.4. Efeito das 3 fenilcumarinas C13,C13,C13,C13, C13aC13aC13aC13a e C24aC24aC24aC24a sobre o metabolismo
oxidativo de neutrfilos estimulados via receptores FcR e/ou CR ........................
127
4.1.5. Efeito das 3 fenilcumarinas C13C13C13C13, C13aC13aC13aC13a e C24aC24aC24aC24a sobre a fagocitose
de ICs por neutrfilos, mediada por receptores FcR .............................................
130
4.2. Ensaios em sistemas no celulares.................................................................................. 132
4.2.1. Avaliao da atividade antioxidante das 3 fenilcumarinas frente
ao radical livre DPPH................................................................................................
132
4.2.1.1. Avaliao preliminar de atividade na concentrao de 50 mol/L .............. 132
4.2.1.2. Avaliao da porcentagem de reduo do DPPH em funo da
concentrao das 3 fenilcumarinas............................................................
135
4.2.1.3. Anlise qualitativa da relao estrutura atividade .................................... 137
4.2.2. Avaliao da atividade antioxidante das 3 fenilcumarinas, empregando
a reao HRP H2O2 luminol..................................................................................
138
4.2.2.1. Avaliao preliminar de atividade na concentrao de 50 mol/L .............. 138
4.2.2.2. Atividade biolgica das 3 fenilcumarinas em funo da concentrao..... 141
4.2.2.3. Anlise qualitativa da relao estrutura atividade .................................... 143
4.3. Avaliao da interao entre as 3 fenilcumarinas e a HRP por docking......................... 144
5. DISCUSSO ................................................................................................................................ 147
5.1. Efeito modulatrio das 3 fenilcumarinas nos modelos experimentais celulares............ 148
5.2. Efeito modulatrio das 3 fenilcumarinas nos modelos experimentais no celulares ..... 157
5.3. Consideraes finais............................................................................................................ 162
6. CONCLUSO .............................................................................................................................. 164
REFERNCIAS ................................................................................................................................ 167
ANEXO ............................................................................................................................................ 191
29
1. Introduo
30
1.1. Neutrfilos1.1. Neutrfilos1.1. Neutrfilos1.1. Neutrfilos
1.1.1. Caractersticas morfolgicas1.1.1. Caractersticas morfolgicas1.1.1. Caractersticas morfolgicas1.1.1. Caractersticas morfolgicas
O sangue perifrico constitudo por trs diferentes linhagens celulares:
glbulos brancos ou leuccitos; glbulos vermelhos, eritrcitos ou hemcias;
plaquetas ou trombcitos. Os leuccitos formam o grupo mais heterogneo de
clulas do sangue, tanto do ponto de vista morfolgico quanto fisiolgico, e
desempenham papel de defesa do organismo, sendo que cada subtipo
leucocitrio detm funes bastante especficas e distintas entre si, que, em
conjunto, estruturam o sistema imunolgico (ZAGO; FALCO, 2004).
Os leuccitos so agrupados em mononucleares e polimorfonucleares. Os
primeiros incluem os linfcitos, plasmcitos e os moncitos, cuja caracterstica
peculiar a de possuir um ncleo nico e uniforme. Os ltimos, tambm
chamados de granulcitos pela presena de granulao citoplasmtica, incluem
os neutrfilos, eosinfilos e basfilos e possuem um ncleo multiforme e
segmentado (BAINTON; ULLYOT; FARQUHAR, 1971; JOHNSON; VARANI;
SMOLEN, 1992).
Os leuccitos polimorfonucleares foram descobertos por Paul Erlich,
quando as tcnicas de fixao e colorao celular possibilitaram a identificao
do ncleo lobulado e da presena dos grnulos citoplasmticos (ERLICH;
LAZARUS, 1900 apud BORREGAARD; COWLAND, 1997). Os granulcitos
neutrfilos, ou simplesmente neutrfilos so assim chamados pela sua
tonalidade neutra nas coloraes de Romanowsky, enquanto os eosinfilos
possuem grande avidez pela eosina e os basfilos so facilmente identificados
31
pela presena de grnulos citoplasmticos grandes e de cor escura
(BORREGAARD; COWLAND, 1997).
Os neutrfilos representam cerca de 50 a 70% do total de leuccitos no
sangue perifrico de adultos. Os neutrfilos circulantes so clulas esfricas de
10 a 20 m de dimetro, com ncleo segmentado constitudo de cromatina
purprea escura e densa, com 3 a 5 lbulos interligados por um tnue filamento
de cromatina, muitas vezes invisvel na microscopia convencional. O citoplasma
abundante, contendo fina granulao especfica, a qual formada durante o
processo de maturao da clula (FAURSCHOU; BORREGAARD, 2003; RAVEL,
1997) (Figura 1.1).
Os neutrfilos so produzidos e armazenados na medula ssea, sendo
liberados na sua forma madura para o sangue perifrico, onde tem uma mdia
de vida em circulao bastante curta, de 6 a 7 horas. O local de destruio final
dos neutrfilos no bem conhecido, mas so encontrados na saliva, no trato
gastrointestinal e tambm podem ser removidos da circulao pelo fgado,
pulmes e bao (BAINTON; ULLYOT; FARQUHAR, 1971; JOHNSON; VARANI;
SMOLEN, 1992; FALCO, 2004).
Figura 1.1.Figura 1.1.Figura 1.1.Figura 1.1. Neutrfilo com morfologia caracterstica, apresentando ncleo
multilobulado e granulao citoplasmtica. Adaptado de Lekstrom-Himes e Gallin
(2000).
32
1.1.2. Funes fisiolgicas1.1.2. Funes fisiolgicas1.1.2. Funes fisiolgicas1.1.2. Funes fisiolgicas
1.1.2.1. Participao na resposta inflamatria1.1.2.1. Participao na resposta inflamatria1.1.2.1. Participao na resposta inflamatria1.1.2.1. Participao na resposta inflamatria
A inflamao definida como um processo fisiolgico atravs do qual os
tecidos vascularizados respondem a leses teciduais de diferentes naturezas,
provocadas por traumas, infeces, isquemia ou reaes auto-imunes, atravs
da participao de componentes do sistema imune (SHERDWOOD; TOLUIVER-
KINSKY, 2004). O recrutamento de leuccitos sanguneos para o local da leso
um dos primeiros eventos da resposta inflamatria, sendo mediado por
agentes exgenos como endotoxinas bacterianas e produtos virais, e agentes
endgenos, como citocinas, quimiocinas, mediadores lipdicos e componentes do
sistema complemento (GOUWY et al., 2005).
Dentre os leuccitos, os neutrfilos so os primeiros componentes
celulares do sistema imune que chegam nos stios inflamatrios, sendo, por esta
razo, considerados a primeira linha de defesa do organismo (LEHRER et al.,
1988; QUINN; GAUSS, 2004; HENSON, 2005). Essas clulas desempenham um
papel crtico na defesa do hospedeiro durante a resposta inflamatria aguda em
decorrncia da sua capacidade de envolver e destruir uma variedade de
patgenos que ocasionalmente penetram nas barreiras fsicas do organismo
(ALLEN, 2003; LEE; HARRISON; GRINSTEIN, 2003; QUINN; GAUSS, 2004).
O processo de migrao dos neutrfilos do sangue para os tecidos
envolve uma seqncia de passos conhecidos: contato, rolamento, adeso,
diapedese e quimiotaxia (LEY, 2002). Inicialmente, o processo de rolamento
mediado por molculas da famlia das selectinas, enquanto que o processo de
adeso mediado por molculas de alta afinidade de ligao, como as integrinas
33
(CD11/CD18) presentes nos leuccitos, e as molculas de adeso intracelular
(ICAM) expressas pelas clulas endoteliais. Finalmente, o evento conhecido
como diapedese mediado por molculas de adeso endotlio-plaquetrio do
tipo 1 (PECAM-1) (LIU et al., 2004; ZAGO; FALCO, 2004).
Uma vez no local da leso, os neutrfilos atuam na defesa do organismo
atravs de mecanismos dependentes de oxignio, que envolvem a produo de
espcies reativas de oxignio (EROs), e de mecanismos independentes de
oxignio, que compreendem a fagocitose, desgranulao, produo de
mediadores anti- e pr-inflamatrios (FAURSCHOU; BORREGAARD, 2003;
QUINN; GAUSS, 2004; SEGAL, 2005). Essas clulas podem ainda atuar como
apresentadoras de antgenos para linfcitos T (POTTER; HARDING, 2001).
Algumas horas aps o influxo de leuccitos para o local da inflamao, o
processo de resoluo natural da inflamao se inicia. De modo geral, este
processo envolve as seguintes etapas: (a) a remoo do estmulo inicial; (b)
decrscimo na produo de mediadores pr-inflamatrios, como prostaglandinas
e leucotrienos, que atraem novos leuccitos para o local da leso; (c) aumento
da produo de mediadores anti-inflamatrios, como as resolvinas e as
protectinas, que induzem a apoptose de neutrfilos, e as lipoxinas, que retardam
a entrada de novos neutrfilos para o stio inflamatrio, reduzem a
permeabilidade vascular e ativam os macrfagos para ingerir e eliminar
neutrfilos apoptticos; (d) remoo das clulas inflamatrias e debris celulares
para permitir o reparo final. Este processo termina com a partida dos
macrfagos via sistema linftico (HENSON, 2005; SERHAN; SAVILL, 2005).
34
Em circunstncias normais, a estrutura e a funo tecidual so
restauradas aps uma resposta inflamatria. Entretanto, se o delicado balano
entre inflamao e resoluo se torna desregulado, a inflamao pode levar ao
desenvolvimento de doenas crnicas como artrite, doena inflamatria
intestinal e asma. Nesses casos, onde a leso geralmente extensa ou
persistente, os tecidos lesados so substitudos por material fibroso, o que pode
ocasionar a perda da funo tecidual (BIASI et al., 2003; HENSON, 2005;
SERHAN; SAVILL, 2005).
1.1.2.2. Produo de mediadores inflamatrios1.1.2.2. Produo de mediadores inflamatrios1.1.2.2. Produo de mediadores inflamatrios1.1.2.2. Produo de mediadores inflamatrios
Os neutrfilos so usualmente conhecidos como a populao de
leuccitos envolvida em respostas inflamatrias agudas, agindo como a primeira
linha de defesa contra microrganismos invasores (QUINN; GAUSS, 2004;
HENSON, 2005). Descobertas recentes, entretanto, tm mostrado que os
neutrfilos sintetizam citocinas e quimiocinas, que desempenham papis
fundamentais na coordenao das respostas do sistema imune, no
desenvolvimento de linfcitos B e T, e na modulao da angiognese (ZLOTNIK;
YOSHIE, 2000; KASAMA et al., 2005; NATHAN, 2006).
Assim como os moncitos, os neutrfilos so capazes de sintetizar e
secretar o fator de crescimento do endotlio vascular (VEGF), citocinas pr-
inflamatrias [fator de necrose tumoral tipo alfa (TNF-), interleucinas (IL) IL-
12, IL-1R, IL-1], e quimiocinas, como IL-8, IP-10 [protena 10 indutvel pelo
interferon gamma (IFN)], GRO (produto gnico relacionado a crescimento),
35
MIG (monocina indutvel pelo IFN), MIP-1 e MIP-1 (protena inflamatria de
macrfagos) (STRIETER et al., 1990; BAZZONI et al., 1991; KASAMA et al.,
1994; GASPERINI et al., 1995; CASSATELLA et al., 1997; SCAPINI et al.,
2000).
A capacidade dos neutrfilos de expressar os genes para I-TAC
(quimioatraente de clulas T indutvel pelo IFN) e MCP-1 (protena
quimioatraente de moncitos tipo 1) foram descritas, mas ainda no h
informao sobre a sua secreo. (GASPERINI et al., 1999; KASAMA et al.,
2005; GOUWY et al., 2005).
Devido ao fato de que estes mediadores so primariamente quimiotticos
para neutrfilos, moncitos, clulas dendrticas imaturas e linfcitos T,
provvel que o neutrfilo desempenhe importante papel no recrutamento de
tipos distintos de leuccitos para o tecido inflamado (SCAPINI et al., 2000;
GOUWY et al., 2005). Por exemplo, os neutrfilos no so apenas os
produtores, mas tambm os alvos primrios para a IL-8, respondendo a este
mediador por quimiotaxia, desgranulao, produo de EROs, aumento da
expresso de molculas de adeso e aderncia aumentada a clulas endoteliais
(WILLEMS et al., 1989; BAGGIOLINI; DEWALD; MOSER, 1994). Alm disso, a
IL-8 tambm fator quimiottico para basfilos e linfcitos T, embora muito
menos potente do que para neutrfilos, e descrito como fator angiognico
(ROLLINS, 1997; HOFFMANN et al., 2002). Em relao a MIP-1 e MIP-1,
estas quimiocinas agem como potentes fatores ativadores e quimiotticos para
moncitos, macrfagos, clulas natural killer, clulas dendrticas imaturas e
clulas T helper 1 (SIVEKE; HAMMAN, 1998; GOUWY et al., 2005).
36
A secreo de citocinas e quimiocinas por neutrfilos ativados, regulada
por citocinas imuno-regulatrias, tais como IFN-, IL-4, IL-10 e IL-13, est
geralmente aumentada durante certas condies patolgicas, como artrite
reumatide, doenas inflamatrias intestinais e infeces micobacterianas
(BILLIAU, 1996; LUSTER, 1998; GOUWY et al., 2005).
1.1.2.3. Desgranulao1.1.2.3. Desgranulao1.1.2.3. Desgranulao1.1.2.3. Desgranulao
H mais de um sculo, o Dr. Eli Metchnikoff observou que neutrfilos
ingeriam partculas bacterianas e que, coincidentemente com o processo de
desgranulao, as bactrias paravam de se dividir (METCHNIKOFF, 1968 apud
LEVY, 2004). Ao longo dos anos seguintes, evidncias cientficas sugeriam que
os leuccitos matavam as bactrias atravs de mecanismos dependentes e
independentes de oxignio.
Na dcada de 1930, foi observado que os neutrfilos sofrem um aumento
no metabolismo respiratrio, evento que foi relacionado com a ativao da
enzima oxidase de fagcitos, hoje conhecida como complexo da NADPH oxidase
(BALDRIDGE; GERARD, 1933; BABIOR, 1999; ROOS; VAN BRUGGEN;
MEISCHL, 2003). Entretanto, uma grande variedade de agentes independentes
de oxignio, com atividade microbicida direta, foi descoberta antes e depois da
identificao dessa enzima. Na dcada de 1930, Alexander Flemming descreveu
a lisozima (HARE, 1983; LEVY, 2004), encontrada em fagcitos. Hirsch (1956) e
Zeya e Spitznagel (1963) examinaram a atividade microbicida de extratos brutos
de neutrfilos e iniciaram a caracterizao de alguns polipeptdeos catinicos
37
antimicrobianos. Com o advento de novas tcnicas cromatogrficas, vrios
grupos nas dcadas de 1970 e 1980 relataram a purificao de novas protenas
e peptdeos antimicrobianos derivados dos grnulos de leuccitos (revisado por
LEVY, 2004).
Os grnulos intracelulares dos neutrfilos so atualmente classificados
em primrios (ou azurfilos), secundrios (ou especficos), tercirios (ou de
gelatinase) e vesculas secretrias. Os diferentes tipos de grnulos
compartilham algumas protenas, como a lisozima, enquanto que outras so
encontradas em apenas um dos tipos de grnulos, servindo como marcadores
especficos, como mieloperoxidase (MPO), lactoferrina, gelatinase e albumina
(BORREGAARD; COWLAND, 1997; GUDMUNDSSON; AGERBERTH, 1999;
MOLLINEDO; BORREGAARD; BOXER, 1999). Os principais componentes de
cada tipo de grnulo so mostrados na Tabela 1.1.
Os componentes dos grnulos esto relacionados fagocitose e morte
intracelular de microrganismos, uma vez que a sua matriz rica em enzimas e
peptdeos com atividade microbicida, e as suas membranas so os principais
reservatrios do flavocitocromo b558 (gp91phox/p22phox), um componente
essencial da NADPH oxidase, e tambm de receptores de membrana dos
neutrfilos (BORREGAARD; COWLAND, 1997; ROOS; VAN BRUGGEN;
MEISCHL, 2003). Conforme a membrana dos grnulos se funde com a
membrana plasmtica, as protenas presentes nas membranas dos grnulos
translocam para a superfcie da membrana plasmtica da clula e fornecem
novos receptores e outras protenas funcionais (BORREGAARD; COWLAND,
1997).
38
Tabela 1.1.Tabela 1.1.Tabela 1.1.Tabela 1.1. Principais componentes dos grnulos dos neutrfilos.(a)
GrnulosGrnulosGrnulosGrnulos
primriosprimriosprimriosprimrios
GrnulosGrnulosGrnulosGrnulos
ssssecundriosecundriosecundriosecundrios
GrnulosGrnulosGrnulosGrnulos
tttterciriosercirioserciriosercirios
VesculasVesculasVesculasVesculas
secretriassecretriassecretriassecretrias
mieloperoxidase lactoferrina gelatinase albumina
defensinas lisozima lisozima tetranectina
lisozima histaminase acetiltrasferase citocromo b558
fosfatase cida colagenase 2microglobulina fosfatase alcalina
glucuronidase heparanase citocromo b558 CR1
esterase hCAP-18 CD11b CD11b
catepsinas citocromo b558 receptor para fMLP receptor para fMLP
elastase CD11b CD14
proteinase-3 receptores para CD16
sialidase TNF- DAF
-manosidase laminina
1-antitripsina vitronectina
CD63 fibronectina
CD68 fMLP
(a) Fontes: Borregaard e Cowland (1997); Gudmundsson e Agerberth (1999); Mollinedo,
Borregaard e Boxer (1999); Zago e Falco (2004). CD: cluster de diferenciao; CR:
receptor de complemento; DAF: fator acelerador de decaimento; fMLP: n-formil-metionil-
leucil-fenilalanina; hCAP-18: peptdeo catinico antimicrobiano 18 humano; TNF-: fator
de necrose tumoral tipo alfa.
O primeiro tipo de grnulo a ser liberado a vescula secretria. Durante
o processo de rolagem do neutrfilo sobre o endotlio, a membrana da vescula
secretria funde-se membrana plasmtica, levando ao aumento da expresso
da 2-integrina Mac-1 (2, CD11b/CD18) na membrana do neutrfilo, o que
contribui para a adeso firme deste clula endotelial (BORREGAARD et al.,
1990). Na seqncia, so liberados os grnulos secundrios e tercirios, que so
ricos em enzimas que degradam estruturas teciduais como laminina, colgeno,
39
proteoglicanas e fibronectina, facilitando o processo de migrao dos
neutrfilos para o local da inflamao. Dentre estas enzimas destacam-se as
metaloproteinases de matriz (MMP8, MMP9 e MMP25), colagenase e gelatinase.
Conforme a concentrao de agentes quimiotticos aumenta, os prximos a
serem liberados so os grnulos primrios, ricos em defensinas e MPO. Esta
ltima converte o H2O2 em potentes agentes antimicrobianos, como HOCl, HOBr
e HOI (HAMPTON; KETTLE; WINTERBOURN, 1998; FAURSCHOU;
BORREGAARD, 2003; NATHAN, 2006).
Alm da funo microbicida, as enzimas e os peptdeos contidos nos
grnulos de neutrfilos tambm desempenham uma variedade de funes
regulatrias em processos inflamatrios (GUDMUNDSSON; AGERBERTH, 1999;
LEVY, 2004; WIEDOW; MEYER-HOFFERT, 2005). Por exemplo, as
defensinas, pequenas protenas ricas em arginina e cistena, atuam como
fatores quimiotticos e estimuladores da liberao de IL-8 por clulas T,
contribuindo para o recrutamento clulas inflamatrias (YANG et al., 2000;
YANG; CHERTOV; OPPENHEIM, 2001). Essas protenas participam tambm na
fase de resoluo do processo inflamatrio, estimulando a mitognese de
fibroblastos para o reparo tecidual e a apoptose de clulas inflamatrias
(LEHRER; LICHTENSTEIN; GANZ, 1993; ANDREU; RIVAS, 1998).
A proteinase-3, contida nos grnulos primrios, converte os precursores
inativos de TNF-, IL-1 e IL-18 em suas formas ativas (ROBACHE-GALLEA
et al., 1995; SUGAWARA et al., 2001; WIEDOW; MEYER-HOFFERT, 2005).
Alm disso, essa enzima converte o hCAP-18 (peptdeo catinico
antimicrobiano 18 humano), armazenado como pr-forma nos grnulos
40
secundrios dos neutrfilos, em sua forma ativa, o peptdeo linear catinico LL-
37. Esse peptdeo, alm de antimicrobiano, tambm quimioatraente para
neutrfilos, moncitos e clulas T do sangue perifrico humano via interaes
com o receptor para n-fMLP (n-formil-metionil-leucil-fenilalanina),
demonstrou atividade angiognica e parece estar envolvido na cicatrizao de
leses (GUDMUNDSSON; AGERBERTH, 1999; YANG; CHERTOV; OPPENHEIM,
2001; SCOTT et al., 2002; KOCZULLA et al., 2003; LEVY, 2004).
A catepsina G parece cooperar com a trombina na ativao do receptor
tipo 4 ativado por protease (PAR-4), iniciando a agregao plaquetria
(SAMBRANO et al., 2000). A elastase cliva a pro-TGF- (fator de
transformao e crescimento tipo alfa) ligada membrana e libera a sua forma
ativa solvel, que por sua vez, liga-se ao EGFR (receptor para fator de
crescimento epidrmico), estimulando a proliferao celular de queratincitos
(MEYER-HOFFERT; WINGERTSZAHN; WIEDOW, 2004). Alm disso, a elastase
degrada o G-CSF (fator estimulante de colnia de granulcito), regulando a
granulopoiese, e se liga ao receptor de complemento (CR) do tipo 3 (CR3)
revertendo a adeso leucocitria (CAI; WRIGHT, 1996; EL OURIAGHLI, 2003).
A lactoferrina, por meio do seu domnio lactoferricina N-terminal,
aumenta a atividade fagoctica de neutrfilos, aparentemente via mecanismos
opsnicos, e tambm modula a liberao de citocinas, aumenta a liberao de
IL-6 e TNF- por clulas mononucleares de sangue perifrico e inibe a
liberao de IL-1 e IL-2. (ADAMIK et al., 1998; MIYAUCHI et al., 1998;
CACCAVO et al., 2002).
41
1.1.2.4. Fagocitose1.1.2.4. Fagocitose1.1.2.4. Fagocitose1.1.2.4. Fagocitose
Os fagcitos, considerados os principais componentes celulares do
sistema imune inato, desempenham um papel fundamental na defesa do
hospedeiro durante a resposta inflamatria aguda, em decorrncia da sua
capacidade de envolver e destruir uma variedade de patgenos que
ocasionalmente penetram nas barreiras fsicas do organismo (QUINN; GAUSS,
2004). A funo da fagocitose na defesa do hospedeiro foi descoberta por Elie
Metchnikoff no final do sculo dezenove, e est descrita em seu trabalho
publicado em 1883 (BABIOR, 2000a).
A fagocitose pode ser dividida em quatro etapas sucessivas: adeso
entre o neutrfilo e o antgeno, ingesto, desgranulao, digesto do antgeno
ingerido. A fagocitose de partculas, tais como microrganismos e
imunocomplexos, requer a reorganizao do citoesqueleto na regio da
membrana plasmtica que entra em contato com a partcula. A mobilizao dos
filamentos de F-actina nessa regio iniciada por sinais que surgem da
interao de receptores promotores de fagocitose na superfcie da clula com
ligantes na superfcie da partcula (ALLISON; DAVIES; PETRIS, 1971;
GREENBERG, 1995; ADEREN; UNDERHILL, 1999).
A adeso dos neutrfilos aos microrganismos facilitada quando os
ltimos esto recobertos por anticorpos, protenas do sistema complemento ou
outros fatores sricos para os quais o neutrfilo dispe de receptores
especficos, processo denominado opsonizao. Os receptores para opsoninas
melhor caracterizados so os receptores FcRs [receptores para a poro Fc
(fragmento cristalizvel) de imunoglobulina da classe G (IgG)] e os receptores
42
para os componentes C3b e C3bi do sistema complemento, CR1 e CR3,
respectivamente. Os neutrfilos podem tambm interagir diretamente com os
microrganismos, por meio do reconhecimento de determinantes antignicos
expressos na superfcie desses alvos. (GREENBERG, 1995; BROWN, 1995;
LFGREN et al., 1999; TJELLE; LOVDAL; BERG, 2000).
Quando o neutrfilo adere bactria ou outros detritos, os pseudpodos
os envolvem e englobam em vacolos delimitados pelo segmento de membrana
invaginado, denominado fagossomas. O contedo dos grnulos dos neutrfilos
pode ser descarregado no interior dos fagossomas ou para o meio extracelular
(exocitose). Em conjunto com esse processo, ocorre a gerao de EROs, com
grande potencial microbicida (HAMPTON; KETTLE; WINTERBOURN, 1998;
FAURSCHOU; BORREGAARD, 2003).
Dois tipos de receptores FcR so expressos em neutrfilos humanos,
FcRIIA (CD32) e a forma de FcRIII ligada por uma ncora de
glicosilfosfatidilinositol (CD16, FcRIIIB) (LFGREN et al., 1999; RAVETCH;
BOLLAND, 2001; SONDERMANN; KAISER; JACOB, 2001). Embora no possua a
regio transmembrana e a citoplasmtica, a ativao de FcRIIIB em neutrfilos
induz a liberao intracelular de clcio, polimerizao de F-actina e a produo
de EROs (RAVETCH; BOLLAND, 2001). A ligao de FcRIIA leva fosforilao
de tirosinas de diversas protenas, incluindo a fosfolipase C1 e p72syk. Esta
ltima essencial para a fagocitose mediada por Fc em macrfagos e moncitos
(DARON, 1997; LFGREN et al., 1999).
Acreditava-se que a interao devida ao CR no levava ingesto do
eritrcito opsonizado, e que somente a interao da molcula de IgG ligada
43
partcula com o seu stio receptor no neutrfilo era necessria para induzir o
mecanismo de fagocitose (MANTOVANI, 1975). Hoje sabe-se que existem
vrios tipos de receptores CR expressos na membrana dos neutrfilos, com
funes distintas, sendo CR1 e CR3 os mais relevantes quando se refere
fagocitose (SENGELV, 1995).
Os receptores CR3 pertencem famlia das 2 integrinas, consistindo de
3 heterodmeros no-covalentemente ligados (CD11a/CD18, CD11b/CD18,
CD11c/CD18). Todas essas integrinas so expressas em neutrfilos, sendo
CD11b/CD18 a mais abundante (LFGREN et al., 1999). A ativao especfica
de CR3 induz atividade da fosfolipase D, polimerizao de actina e produo
intracelular de EROs. O CR3 interage com FcRIII, acentuando a sinalizao
interna mediada por esses receptores (ZHOU; BROWN, 1994; SENGELV,
1995).
Os receptores CR1 presentes em neutrfilos so responsveis pela
aderncia de partculas revestidas por C3b, sem iniciar a fagocitose. Por outro
lado, a ativao simultnea de CR1 e FcR, por partculas revestidas por C3b e
IgG, leva ao aumento da liberao intracelular de clcio e da fagocitose, quando
comparada a esses eventos mediados apenas por FcR (ERNST; ROSALES;
ZIMMERLI, 1995; KIMBERLY; SALMON; EDBERG, 1995). De modo semelhante,
CR1 e CR3 cooperam no englobamento de eritrcitos revestidos por C3b, onde
CR1 medeia a adeso inicial e CR3 responsvel pela sinalizao celular que
leva fagocitose (SENGELV, 1995).
A ativao de neutrfilos via receptores FcR, em cooperao ou no com
CR promove ainda a desgranulao, a ativao do metabolismo do cido
44
araquidnico, produo de mediadores lipdicos, como o leucotrieno B4, induo
da sntese e liberao de citocinas, a ativao do metabolismo oxidativo, e
aumento da expresso de enzimas envolvidas em processos inflamatrios, como
a ciclooxigenase e a xido ntrico sintase (LUCISANO; MANTOVANI, 1984,
1988; DARON, 1997; ALONSO et al., 1998; MARZOCCHI-MACHADO et al.,
2002; JANCAR; CRESPO, 2005).
1.1.2.5. Produo de espcies reativas de1.1.2.5. Produo de espcies reativas de1.1.2.5. Produo de espcies reativas de1.1.2.5. Produo de espcies reativas de oxignio (EROs) oxignio (EROs) oxignio (EROs) oxignio (EROs)
O processo de fagocitose acompanhado de um conjunto de alteraes
metablicas nas clulas fagocticas, denominado "burst", surto ou exploso
respiratria, metablica ou oxidativa. Essa funo celular caracterizada pelo
aumento do consumo de oxignio e de trifosfato de adenosina (ATP), do
aumento da oxidao da glicose pela via da hexose monofosfato, do transporte
de eltrons e da produo de grande quantidade de EROs (CHEUNG;
ARCHIBALD; ROBINSON, 1983; JOHNSON; VARANI; SMOLEN, 1992; ROSEN et
al., 1995; BABIOR, 1999). Essas EROs so potentes agentes oxidantes que
atuam em conjunto com os constituintes dos grnulos para matar e digerir os
antgenos fagocitados.
A exploso respiratria pode ser desencadeada quando as clulas
fagocticas so estimuladas por ionforos, complexos imunes, partculas
antignicas opsonizadas (zimosan, ltex), acetato de miristoilforbol (PMA) e por
alguns mediadores do processo inflamatrio, como cido araquidnico, TNF-,
n-fMLP, C5a, leucotrieno tipo B4 (LTB4) (BROWN, 1995; SELVACITI et al.,
45
2006). Esse processo inicia-se com a formao do complexo da NADPH
oxidase, que catalisa a produo de radicais superxido (O2-) a partir do O2
dissolvido no meio, sendo, portanto caracterizado pelo aumento do consumo de
O2. O radical superxido produzido ento convertido a H2O2, que, por sua vez,
gera outras EROs (HOCl, 1O2, HO), por meio de reaes qumicas e enzimticas
(BABIOR, 1999). As clulas fagocticas geram as EROs utilizando basicamente
quatro grupos de enzimas: o complexo da NADPH oxidase, a superxido
dismutase (SOD), a MPO e as xido ntrico sintases NOS (HALLIWELL, 1999;
BABIOR, 2000a) (Figura 1.2).
O aumento do consumo de O2 pelos neutrfilos durante a fagocitose foi
descrito pela primeira vez por Baldridge e Gerard (1933) (BABIOR, 2000a).
Investigaes dos mecanismos bioqumicos envolvidos na fagocitose levaram s
observaes de que o aumento do consumo de O2 e de glicose ocorria na
presena de inibidores da respirao mitocondrial, indicando que este processo
no era devido ao requerimento de energia para o processo de fagocitose
(SBARRA; KARNOVSKY, 1959). Em 1964, Rossi e Zatti demonstraram que o
consumo de O2 durante a exploso respiratria estava relacionado ativao de
uma NADPH oxidase, e Iyer et al. (1961) e Klebanoff (apud BABIOR 2000a)
demonstraram que o O2 extra consumido era utilizado para a produo de EROs.
46
Figura 1.2.Figura 1.2.Figura 1.2.Figura 1.2. Representao simplificada das reaes que ocorrem durante o metaboismo
oxidativo dos neutrfilos. (1): (1): (1): (1): O nion superxido (O2-) produzido pelo complexo
enzimtico da NADPH oxidase. (2):(2):(2):(2): A dismutao do O2- pela SOD produz o H2O2. (3):(3):(3):(3): A
MPO proveniente dos grnulos citoplasmticos catalisa a produo de HOCl e outras
espcies halogenadas a partir do H2O2. (4):(4):(4):(4): As EROs produzidas pelas etapas 1, 2 e 3
so convertidas a outras espcies oxidantes, por meio de diversas reaes qumicas.
(5):(5):(5):(5): As espcies oxidantes e os constituintes dos grnulos que extravasam para o
citosol e/ou para o meio extracelular so inativadas pelos componentes do sistema de
defesa celular e tecidual (alguns deles esto representados em verde). Esquema
adaptado de Klein (1990), Weiss (1989) e Halliwell (1999). Abreviaturas: CATAbreviaturas: CATAbreviaturas: CATAbreviaturas: CAT: catalase;
GPO:GPO:GPO:GPO: glutationa peroxidase; GSH:GSH:GSH:GSH: glutationa reduzida; GSSG:GSSG:GSSG:GSSG: glutationa oxidada; MPOMPOMPOMPO:
mieloperoxidase; SLPI:SLPI:SLPI:SLPI: inibidor de protease secretria de leuccitos; SOD:SOD:SOD:SOD: superxido
dismutase.
FAGOSSOMO
DESGRANULAO
H2O
O2-
SOD
CAT
GPO H2O2 H2O
GSH GSSG
H2O2
Fe2+
HO ONOO-
NO.
SOD
NADPH
NADP+ O2-
O2
HOCl MPO
Cl-
Fe3+
-aminocidos
cloraminas
O2-
NADPH Oxidase
H2O2
Cl- CAT
HOCl
H2O
GSH
GSSG
GPO
MPO
MPO, elastase,
peptdeos, etc.
SLPI
2 - macroglobulina
1 - antitripsina
-caroteno cido ascrbico
ubiquinona
ferritina
CITOSOL
TECIDO
MPO, elastase,
peptdeos, etc.
2222 3333
4444
4444 4444 4444
5555
5555
5555
5555
47
A NADPH oxidase pode ser encontrada em clulas endoteliais (BABIOR,
2000b), em clulas renais (SHIOSE et al., 2001), em fagcitos profissionais
(moncitos, macrfagos, neutrfilos) e em linfcitos B (BABIOR, 1999). O
complexo da NADPH oxidase de fagcitos profissionais composto por cinco
componentes principais: p40phox, p47phox, p67phox, p22phox e gp91 phox (phox =
phagocyte oxidase). Os trs primeiros existem no citosol na forma de um
complexo e os outros dois formam o citocromo b558, localizado na membrana de
vesculas secretrias e de grnulos especficos. As subunidades p47phox e
p67phox so tambm conhecidas como fator citoslico de neutrfilos tipo 1 e 2,
(NCF-1, NCF-2), respectivamente. A atividade da NADPH oxidase depende de
ainda da presena de uma GTPase (Rac 1-2) (BABIOR, 1999; BABIOR, 2000a;
VIGNAIS, 2002; SHEPPARD et al., 2005; SELVACITI et al., 2006).
Seguchi e Kobayashi (2002) descreveram, baseados em anlises de
microscopia eletrnica, que aps estimulao de neutrfilos com n-fMLP, o O2----
gerado inicialmente dentro de um compartimento intracelular especializado
contendo fosfatase alcalina, e no na membrana plasmtica. De acordo com
esses autores, os grnulos geradores de O2---- posteriormente se ligam
membrana plasmtica ou fundem-se entre si, formando estruturas maiores que
eventualmente se associam membrana plasmtica, levando liberao
extracelular de O2----, aumentando a probabilidade de significante oxidao
extrafagossomal.... Karlsson e Dahlgren (2002) sugerem que a ativao da
NADPH ocorre tambm nas membranas dos grnulos, e que ocorre a fuso
intra-citoplasmtica desses grnulos produtores de O2---- com outros tipos de
48
grnulos dos neutrfilos, levando formao de grnulos geradores de outras
EROs, que ento se fundem com a membrana plasmtica ou com o fagossomo.
O papel da NADPH oxidase na defesa do organismo clinicamente
comprovado, uma vez que defeitos nos diferentes genes que codificam suas
subunidades resultam em uma patologia rara conhecida como doena
granulomatosa crnica. Esta doena gentica caracterizada pela reduo da
expectativa de vida decorrente de uma alta incidncia do organismo contra
infeces provocadas por vrias classes de microrganismos, como bactrias e
fungos (WIENTJES; SEGAL, 1995; HEYWORTH; CROSS; CURNUTTE, 2003;
NATHAN, 2006).
Outra enzima importante envolvida no metabolismo oxidativo de
neutrfilos a MPO. Ela catalisa a oxidao de ions haleto (Cl----, Br----, I----) e
tiocianato (SCN----) para cidos hipo-halosos, utilizando H2O2 como substrato. O
HOCl o principal produto, devido elevada concentrao de Cl- nos fluidos
corporais. Alm disso, o HOCl contribui para a produo de radicais HO e de
oxignio singlete (1O2) (MALECH; GALLIN, 1987; McPHAIL; STRUM; LEONE,
1992; ROSEN et al., 1995; BABIOR, 1999; DAHLGREN; KARLSSON, 1999;
PULLAR et al., 2000).
Os cidos hipo-halosos, ou halognios oxidados, podem, por sua vez
reagir com diversas aminas encontradas no sistema biolgico, especialmente
aminocidos e protenas, produzindo mono- e di-cloraminas. As cloraminas
podem ter efeito txico para os microrganismos e para as clulas do
hospedeiro, cuja intensidade depende da sua estrutura e capacidade de
atravessar membranas. As cloraminas derivadas de -aminocidos so
49
susceptveis degradao, gerando aldedos que por si s so txicos (PULLAR
et al., 2000; BABIOR, 2000a).
Alm da conhecida funo microbicida, h vrias evidncias de que os
oxidantes derivados de neutrfilos tambm desempenham outras funes. O
H2O2, HOCl, e algumas cloraminas so pequenas molculas no carregadas que
podem cruzar as membranas e difundir do fagossoma para o espao
extracelular. Alvos potenciais incluem quaisquer clulas nas imediaes dos
neutrfilos ativados, particularmente aquelas s quais eles esto aderidos, assim
como os prprios neutrfilos ativados (HAMPTON; WINTERBOURN, 2002;
NATHAN, 2006).
Por exemplo, as EROs tm sido descritas como mediadores essenciais da
sinalizao para muitos receptores de citocinas e hormnios, tais como aqueles
para insulina, fatores de crescimento derivados de plaquetas, fatores de
crescimento de fibroblastos, angiotensina e TNF- (SWAIN; ROHN; QUINN,
2002; NATHAN, 2003). O mecanismo molecular mais estudado de sinalizao
mediada por EROs a inativao temporria de tirosino fosfatases por oxidao
reversvel de seus grupos sulfidrilas de cistena ativos (HAMPTON;
WINTERBOURN, 2002; OWUOR; KONG, 2002).
As EROs podem tambm contribuir para a liberao de proteases da
matriz de peptidoglicanos nos grnulos, ou seja, ajudam na mobilizao de
proteases de neutrfilos (NATHAN, 2006). Os oxidantes derivados da NADPH
oxidase tm sido propostos como reguladores da apoptose espontnea de
neutrfilos, e como desencadeadores da exposio de fosfatidilserina e
50
eliminao de neutrfilos ativados (KASAHARA et al., 1997; FADEEL et al.,
1998).
O HOCl pode desempenhar um papel fundamental na patofisiologia de
doenas inflamatrias, atuando como mensageiro secundrio na transduo
intracelular de sinais, e tambm induz a produo da citocina TNF- em clulas
mononucleares por vias dependentes de tirosina-quinase (SCHIEVEN; DE FEX;
STEPHENSON, 2002). Alm disso, tem sido demonstrado que a MPO, enzima
produtora do HOCl, est envolvida em um grande nmero de processos
inflamatrios, incluindo ativao e inativao de protenas secretadas pelos
neutrfilos, inativao de toxinas e de mediadores inflamatrios (FORMAN;
THOMAS, 1986; HAMPTON; KETTLE; WINTERBOURN, 1998;
WINTERBOURN; KETTLE, 2000).
1.2. Doenas mediadas por imunocomplexos (ICs)1.2. Doenas mediadas por imunocomplexos (ICs)1.2. Doenas mediadas por imunocomplexos (ICs)1.2. Doenas mediadas por imunocomplexos (ICs)
1.2.1. Asp1.2.1. Asp1.2.1. Asp1.2.1. Aspectos fisiopatolgicosectos fisiopatolgicosectos fisiopatolgicosectos fisiopatolgicos
A interao de substncias estranhas e microrganismos com anticorpos
especficos leva formao de complexos antgeno-anticorpo, os quais so
tambm conhecidos como complexos imunes ou imunocomplexos (ICs). Os
antgenos que compem esses ICs so geralmente provenientes de alimentos,
medicamentos e componentes endgenos (auto-antgenos) (STEENSGAARD;
JOHANSEN, 1980). Este processo constitui parte essencial dos mecanismos de
defesa imune do organismo, sendo geralmente seguido por reaes secundrias,
como ativao do sistema complemento, que capacitam o organismo a
51
neutralizar e eliminar os antgenos citados (SCHIFFERLY; TAYLOR, 1989;
ALONSO et al., 1998).
Em indivduos saudveis, pequenas quantidades de ICs circulantes podem
ser encontrados no soro. Esses ICs circulantes inicialmente levam ao aumento
da fagocitose e remoo do antgeno por macrfago no fgado e no bao. Alm
disso, hemcias que tem receptores CR1/CR3 podem se ligar aos ICs
opsonizados com protenas do sistema complemento e transport-los ao fgado,
onde esses ICs so removidos pelas clulas de Kupfer (HEBERT, 1991;
PASCUAL; SCHIFFERLI, 1992). medida que so formadas quantidades
maiores de ICs, alguns deles se depositam nos leitos vasculares (FERNNDEZ;
JANCAR; CRESPO, 2004).
Vrios fatores determinam se a formao de ICs levar deposio
tecidual e doena. O tamanho dos complexos parece ser importante, sendo que
os menores circulam por perodos maiores e se ligam com menor afinidade s
clulas fagocticas, o que aumenta a probabilidade de deposio nos tecidos
(JARVIS et al., 1995, 1999). Um segundo fator a disfuno do sistema
fagoctico mononuclear, que aumenta a possibilidade de persistncia dos ICs na
circulao. Pode-se citar ainda a capacidade dos ICs de ativar o sistema
complemento e o processo de fagocitose (MARZOCCHI-MACHADO et al.,
1999; MICHELIN et al., 2002; ALVES et al., 2003). Alm disso, a sobrecarga do
sistema fagoctico com grandes quantidades de ICs tambm compromete sua
habilidade de mediar a eliminao dos mesmos da circulao (DAVIES, 1995).
Os anticorpos presentes nos ICs depositados ativam a cascata do sistema
complemento, que leva liberao de fragmentos biologicamente ativos (C3a,
52
C5a). Esses fragmentos desencadeiam uma resposta inflamatria, com o
recrutamento e ativao de leuccitos, predominantemente os neutrfilos, nos
locais de deposio dos ICs (WEDMORE; WILLIAMS, 1981). Os ICs tambm
podem ativar clulas inflamatrias e mastcitos a secretar citocinas e
mediadores vasoativos, o que causa aumento da adeso de leuccitos ao
endotlio, aumento da permeabilidade vascular e aumento da deposio de ICs
nas paredes dos vasos por aumento dos espaos interendoteliais (ALONSO et
al., 1998; JANCAR; CRESPO, 2005).
Os neutrfilos se ligam aos anticorpos dos ICs por meio de seus
receptores FcR, e s opsoninas do sistema complemento por meio de
receptores CR. Essas clulas liberam enzimas lisosomais e metablitos txicos
de oxignio enquanto fagocitam os ICs, e causando a destruio da parede dos
vasos com microhemorragias associadas nos tecidos (WEISS; WARD, 1982;
FERNNDEZ; JANCAR; CRESPO, 2004). As clulas endoteliais incham e
proliferam, as plaquetas se agregam no lmen, e a fibrina depositada dentro e
em volta do vaso, levando ativao da cascata de coagulao. Em fases
posteriores da leso, ocorre a infiltrao de macrfagos e linfcitos (MARRACK;
KAPPLER; KOTZIN, 2001).
De modo semelhante a outros tipos de inflamao, as reaes mediadas
por ICs podem ser benficas ou prejudiciais. Este tipo de inflamao
freqentemente ocorre em conjunto com outros fenmenos mediados por
anticorpos, como opsonizao, durante respostas imunes normais. Por outro
lado, o mecanismo primrio envolvido em vrios tipos de hipersensibilidade. A
reao de Arthus, por exemplo, pode freqentemente ser observada em locais
53
de inoculao subcutnea de antgenos para tratamento de alergia, e tambm
ocorre como resposta a picadas de insetos ou medicamentos injetados. Essas
reaes so geralmente limitadas a edema e infiltrao celular moderada, com
leso vascular de pequena intensidade (SYLVESTRE; RAVETCH, 1994; RAJAN,
2003).
Os locais mais favorveis para deposio dos ICs so os pequenos vasos,
rins e articulaes, uma vez que os capilares dos glomrulos renais e da sinvia
das articulaes so vasos nos quais o plasma ultrafiltrado (para a formao
da urina e do lquido sinovial, respectivamente) atravessando a parede do
capilar em presso hidrosttica elevada. Por esta razo, as manifestaes
clnicas e patolgicas das doenas mediadas por ICs, tambm chamadas de
reaes de hipersensibilidade do tipo III, so vasculite, nefrite e artrite
(SCHIFFERLI; TAYLOR, 1989; JANCAR; CRESPO, 2005).
As doenas associadas com a deposio tecidual de ICs incluem
infeces virais (hepatite B, citomegalovrus) e bacterianas (meningococcus,
streptococcus, staphylococcus); vrias doenas inflamatrias com componentes
auto-imunes, como a artrite reumatide, sndrome de Sjgren, lupus
eritematoso sistmico; reaes de hipersensibilidade a drogas, como
antibiticos, antiinflamatrios no esteroidais e antidepressivos (JANCAR;
CRESPO, 2005).
54
1.2.2. Participao dos neutrfilos1.2.2. Participao dos neutrfilos1.2.2. Participao dos neutrfilos1.2.2. Participao dos neutrfilos
A presena de receptores de membrana das classes FcR e CR nos
neutrfilos confere a essas clulas a propriedade de interagir com ICs e
fagocit-los (ERNST; ROSALES; ZIMMERLI, 1995; LFGREN et al., 1999). Nas
doenas mediadas por ICs, onde geralmente h intensa formao e deposio de
ICs em diversos rgos, como rins e articulaes, as clulas fagocticas no
conseguem englobar a grande massa de IC depositada. Este processo leva
"fagocitose frustrada", onde ocorre liberao macia das diversas proteases dos
grnulos dos neutrfilos e das EROs derivadas do metabolismo oxidativo para o
meio extracelular (SCHIFFERLI; TAYLOR, 1989; WEISS, 1989).
O organismo se protege das leses pelas enzimas lticas liberadas pelos
neutrfilos atravs das anti-proteinases, como a 1-anti-proteinase presente
em abundncia nos pulmes (MALECH; GALLIN, 1987; NATHAN, 2006), e das
EROs atravs de enzimas (SOD, catalase, glutationa peroxidase, DT diaforase),
de protenas quelantes de ferro (lactoferrina, ferritina), e de compostos
antioxidantes (vitamina E, cido ascrbico, -caroteno, cido rico, glutationa,
ubiquinona, ceruloplasmina) (HALLIWELL, 1990; DAVIES, 2000). Os
componentes do sistema de defesa antioxidante podem ser encontrados nos
fluidos biolgicos, nos tecidos e em diferentes compartimentos celulares. O
organismo conta ainda com sistemas de reparo e de remoo de constituintes
celulares danificados (DAVIES, 2000).
Em certas condies como intensa atividade fagoctica e inflamaes
crnicas pode haver aumento da produo de oxidantes e/ou depleo das
defesas antioxidantes, de modo que os mecanismos de defesa so superados e
55
a leso tecidual ocorre. Este desequilbrio conhecido como "estresse
oxidativo" (HALLIWELL, 1990; KEHRER, 1993; DAVIES, 2000; BABIOR,
2000a).
Alm disso, as EROs inativam pelo menos trs das principais anti-
proteases teciduais [1-antitripsina, 2-macroglobulina, SLPI (inibidor de
protease secretria de leuccitos)], favorecendo a atuao deletria das
proteases liberadas pelos neutrfilos sobre os tecidos (WEISS, 1989; NATHAN,
2006). Recentes descobertas indicam que as EROs desempenham ainda um
papel-chave na modulao da ativao de neutrfilos, atravs da regulao
positiva das respostas celulares mediadas por receptores FcR, favorecendo a
amplificao da leso tecidual (PRICOP; SALMON, 2002).
Alm das EROs e das enzimas proteolticas, os peptdeos e protenas
antimicrobianos produzidos por neutrfilos, particularmente a elastase,
catepsina G, proteinase-3, azurocidina e a protena promotora de
permeabilidade bacteriana (BPI), tambm tm sido descritos como alvos de
auto-anticorpos em uma variedade de doenas auto-imunes. A azurocidina e a
proteinase-3 so alvos de anticorpos citoplasmticos anti-neutrfilos (ANCA)
em pacientes com vasculites sistmicas, incluindo a granulomatose de Wegner
(ZHAO; LOCKWOOD, 1996; PENDERGRAFT et al., 2004). Pacientes com fibrose
cstica, doena inflamatria intestinal, vasculite geralmente desenvolvem ANCA
contra BPI. A presena de BPI-ANCA em tais pacientes associada com
elevada atividade de doena inflamatria e leso em rgos (SCHULTZ et al.,
2001; HEERINGA; HUUGEN; TERVAERT, 2005).
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1.3. Cumarinas1.3. Cumarinas1.3. Cumarinas1.3. Cumarinas
1.3.1. Biognese e ocorrncia 1.3.1. Biognese e ocorrncia 1.3.1. Biognese e ocorrncia 1.3.1. Biognese e ocorrncia
As cumarinas constituem uma classe de metablitos secundrios
produzidos principalmente por plantas, encontrados em diferentes famlias de
Angiospermae como Apiaceae, Rutaceae e Asteraceae (GRAY; WATERMAN,
1978; MURRAY, 1989; RIBEIRO; KAPLAN, 2002). Estruturalmente, as
cumarinas so lactonas do cido orto-hidroxicinmico (2H-1-benzopiran-2-
onas), sendo que a Cumarina (1,2-benzopirona) a representante mais simples
dos compostos dessa classe (GRAY; WATERMAN, 1978) (Figura 1.3).
Figura 1.3.Figura 1.3.Figura 1.3.Figura 1.3. Ncleo fundamental das cumarinas. (KUSTER; ROCHA, 2004).
A palavra cumarina originria do caribenho cumaru, nome popular de
Dipteryx odorata (Aubl.) Willd., Fabaceae. O cumaru, tambm conhecido por
fava-tonka, encontrado no norte do Brasil e suas sementes contm grande
quantidade de cumarina, em torno de 1 a 3%. A maioria das cumarinas
encontradas em plantas derivada biogeneticamente da via metablica do cido
chiqumico (KUSTER; ROCHA, 2004) (Figura 1.4).
As cumarinas simples so encontradas com maior freqncia, enquanto
que as cumarinas com estruturas qumicas mais complexas, como as
furanocumarinas, piranocumarinas, lignocumarinas, bis-cumarinas e tris-
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cumarinas ocorrem em poucas famlias, notadamente as mais primitivas
(RIBEIRO; KAPLAN, 2002; KUSTER; ROCHA, 2004). Alguns derivados de
cumarinas so encontrados em microrganismos, como os agentes
antimicrobianos novobiocina, clorobicina e coumermicina A, produzidos por
Streptomyces spp. (KAWASE et al., 2001), e as aflatoxinas, produzidas por
Aspergillus spp. (PALMGREN; CIEGLER, 1983 apud HOULT; PAY, 1996).
Figura 1.4.Figura 1.4.Figura 1.4.Figura 1.4. Esquema simplificado das vias metablicas envolvidas na biossntese de
cumarinas e flavonides em plantas. CoA: coenzima A. Adaptado de Santos (2004).
glicose
cido chiqumico
fenilalanina
cido cinmico
cumarinas
cido p-hidroxicinmico
acetil-CoA
malonil-CoA
4-cumaroil-CoA
chalconas
flavonides
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1.3.2. Atividades biolgicas1.3.2. Atividades biolgicas1.3.2. Atividades biolgicas1.3.2. Atividades biolgicas
A Cumarina tem odor adocicado, e comercialmente utilizada como