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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE CIÊNCIAS DE ADMINISTRAÇÃO PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL - GDLS EDEILTON JULIÃO DE SOUZA PERSPECTIVAS DE SUSTENTABILIDADE NO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO: O OLHAR DE GESTORES E MONITORES DE ESCOLAS ESTADUAIS DE PERNAMBUCO Recife, 2014

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO

FACULDADE DE CIÊNCIAS DE ADMINISTRAÇÃO

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DO

DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL - GDLS

EDEILTON JULIÃO DE SOUZA

PERSPECTIVAS DE SUSTENTABILIDADE NO PROGRAMA MAIS

EDUCAÇÃO: O OLHAR DE GESTORES E MONITORES DE ESCOLAS

ESTADUAIS DE PERNAMBUCO

Recife, 2014

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EDEILTON JULIÃO DE SOUZA

PERSPECTIVAS DE SUSTENTABILIDADE NO PROGRAMA MAIS

EDUCAÇÃO: O OLHAR DE GESTORES E MONITORES DE ESCOLAS

ESTADUAIS DE PERNAMBUCO

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado

Profissional em Gestão do Desenvolvimento Local

Sustentável da Universidade de

Pernambuco/Faculdade de Ciências da

Administração, como requisito para obtenção do

grau de Mestre em Gestão do Desenvolvimento

Local Sustentável.

Linha de pesquisa: Formação de Pessoas para o

Desenvolvimento Local Sustentável.

Orientadora: Professora Dra. Fátima Gomes

Recife, 2014

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EDEILTON JULIÃO DE SOUZA

PERSPECTIVAS DE SUSTENTABILIDADE NO PROGRAMA MAIS

EDUCAÇÃO: O OLHAR DE GESTORES E MONITORES DE ESCOLAS

ESTADUAIS DE PERNAMBUCO

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Gestão do

Desenvolvimento Local Sustentável da Universidade de Pernambuco/Faculdade de

Ciências da Administração, como requisito para obtenção do grau de Mestre em Gestão

do Desenvolvimento Local Sustentável.

Aprovada em 04 de junho de 2014.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________________

Orientadora: Professora Dra. Fátima Gomes

______________________________________________________________________

1ª Examinadora: Professora Dra. Débora Amorim Gomes da Costa Maciel

______________________________________________________________________

2ª Examinadora: Professora Dra. Andrea Karla Pereira da Silva.

______________________________________________________________________

3ª Examinador: Professora Dra. Maria Cristina Alves de Almeida.

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AGRADECIMENTOS

À Deus, presença constante na minha vida, em especial aos mentores espirituais que

acredito, em vários momentos, contribuíram de forma significativa para construção

desta pesquisa.

Aos/as gestores(as) das Gerências Regionais de Educação, Coordenador Estadual do

Programa Mais Educação, os(as) gestores(as) das escolas, e aos/as monitores(as) das

escolas de educação básica, por me receberem de forma tão acolhedora.

À minha orientadora professora Fátima Gomes, por aceitar participar comigo dessa

jornada desafiadora, desde a concepção desse projeto ao seu nascimento.

À minha “ex” ou “sempre” orientadora Professora Sônia Pinto, por ter me mostrado o

caminho do respeito, da ética, da empatia. E acima de tudo, do olhar para o “grupo”,

que se apresenta sempre como um constante desafio para compreender a complexidade

dessas relações. Conceber essas ideias constitui um divisor de águas da minha formação

acadêmica e pessoal.

À professora, Wedna Galindo, grande amiga e companheira, presente sempre, desde a

concepção e nascimento desse estudo. Pelo cuidado constante, escuta atenta, e acima de

tudo, o respeito e o carinho sempre doado.

A meu companheiro de tantas jornadas Leonildo Severino da Silva, por todo o carinho e

apoio durante todos esses anos, sempre presente, mesmo distante, me impulsionando a

seguir em frente e refletindo sobre cada passo.

À minha mãe, Maria do Carmo de Souza, meu pai, Julião Amaro de Souza, minhas

irmãs, Josefa do Livramento de Souza, Maria da Paz de Souza, Maria Aparecida de

Souza, Edjane Maria de Souza e Enilda Maria de Souza e meu irmão, Edilson Julião de

Souza, por me apoiarem em diversos momentos, e em outros nem tanto, sempre

cautelosos e me protegendo e nunca desacreditando em meu potencial.

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À minha madrinha Tereza Lúcia Felix, pessoa incrível, mãe, amiga, exerce mais do que

seu papel de madrinha na minha vida, e a minha “mãe preta” in memoriam, Maria

Lindalva do Nascimento, a partir das quais estendo meus agradecimentos a toda minha

família.

À minha amiga Lúcia Helena Carvalho Marinho, a quem nem tenho a ousadia de só

agradecer, tenho uma dívida especial por todo o apoio, abrigo, carinho, respeito, força,

coragem e vontade de seguir em frente nos caminhos mais tortuosos.

Ao colega de mestrado Rodrigo Correia e a “sempre” secretária do mestrado Célia

Chimenez, por ter dividido com eles momentos alegres e tristes.

À minha banca examinadora, desde o projeto de dissertação, ou seja, a professora

Andrea Karla, o professor Fábio Pedrosa, e, em especial à professora Débora, esta

última convidada apenas na defesa, que gentilmente aceitou o convite.

Às professoras que me fizeram um profissional mais político e engajado nos propósitos

dessa profissão por vezes tão desvalorizada, cito a professora a Cristina Botelho, e a

professora Carmem Lúcia.

À Secretaria Estadual de Educação, pelo apoio e confiança, pela concessão do

afastamento no período da pesquisa e por acreditar em meu potencial científico, em

nome da qual saúdo toda essa pasta do governo da qual faço parte, em nome da

Professora Gilvaní Alves Pilé Torres.

Às amigas e amigos apoiadores desde sempre, e sem as (os) quais não teria avançado

em tantas etapas da minha vida, entre estes(as) Sóstenes Cruz, Humberto Cruz, Andrea

Castro e Darly Keily.

À toda equipe da Gerência Regional de Educação das escolas objeto desse estudo, a

qual sempre me atendeu de forma atenciosa.

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Às autoras e autores dos textos de grandes pesquisas, inspiradoras, as(os) quais não

citarei nomes, para não cometer injustiça.

À Coordenação do Mestrado Profissional em Gestão de Desenvolvimento Local

Sustentável, por todo o apoio ao longo do curso.

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Eu fico emocionado em falar da educação,

Quando funciona bem eleva o nível de excelência

Pois um alto nível da educação

Só demonstra amor e competência

De quem se dedica a essa ciência.

Ele é o professor, mas deve ter o respeito de um doutor.

Souza Julião

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SOUZA, Edeilton Julião. Perspectivas de sustentabilidade no Programa Mais

Educação: o olhar de gestores e monitores de escolas estaduais de Pernambuco.

2014. 120f. Dissertação (mestrado em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável)-

Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco, Universidade de Pernambuco,

Recife, 2014.

RESUMO

Esta pesquisa teve como objeto de estudo o Programa Mais Educação na perspectiva da

sustentabilidade, ou seja, analisou-se modos de sustentabilidade desse Programa para a

Educação Básica. O referido Programa constitui-se em importante indução como

proposta de política para “educação integral” e “escola de tempo integral”. Além de

funcionar como construção da articulação entre currículo e projeto político-pedagógico

das escolas, proporcionar uma educação que ultrapasse os muros da escola e uma ação

de fortalecimento da identidade escolar. Anuncia ainda a aproximação do conhecimento

formal e informal. Para tanto, exige um novo fazer pedagógico que converge para uma

prática educativa pautada na ação-reflexão-ação. Dessa forma, este estudo teve por

objetivos: investigar se o Programa Mais Educação está articulado com o currículo e o

projeto político-pedagógico das escolas de educação básica; compreender em que

medida as ações do referido Programa se direcionam para o fortalecimento dos sujeitos

na perspectiva da ação-reflexão-ação; e, identificar se monitores estão preparados para

atuarem nas diversas atividades promovidas pelo Programa. Foi desenvolvido por meio

de entrevista semiestruturada com a Gestora de uma Gerência Regional de Educação,

com o Coordenador Estadual do Programa Mais Educação, com Gestores escolas de

educação básica e Monitores do referido Programa, sendo todos os entrevistados na

cidade do Recife-Pernambuco. Os dados obtidos foram tratados por meio da análise de

conteúdo. Os principais resultados apontaram para a necessidade de maior articulação

entre o currículo e o projeto político-pedagógico das escolas, para uma melhor

efetivação do Programa Mais Educação, no que diz respeito à estrutura da escola, à

qualificação dos monitores e à incorporação do mesmo por todos os sujeitos envolvidos.

Sendo assim, afere-se a necessidade do debate sobre a interface que o Programa Mais

Educação estabelece com o currículo e o projeto político-pedagógico, na perspectiva de

“educação integral” e, da “escola de tempo integral”. Conclui-se que as escolas não têm

tempo pedagógico para discussão da unificação das atividades do Programa Mais

Educação com a proposta de educação da escola. Por outro lado, a falta de

conhecimento prévio, pelos monitores, e de infraestrutura adequada não contribuem

para os resultados almejados. Além disso, os professores da rede estadual de ensino, que

trabalham com os estudantes no turno regular, desconhecem os pressupostos do

Programa. Anuncia-se, ainda, que os frutos da implantação do Programa Mais Educação

inspiram a sua expansão e, ao mesmo tempo, nos convidam para uma discussão mais

apropriada sobre a “educação integral” e a “escola de tempo integral” propostas pelo

Programa.

Palavras-chaves: Educação Sustentável. Educação Integral. Ação-reflexão-ação.

Currículo. Projeto Político-Pedagógico.

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SOUZA, Edeilton Julião. Prospects for sustainability in More Education Program:

the look of managers and monitors state schools in Pernambuco. 2014. 120f.

Dissertation (MSc in Management of Sustainable Local Development) - Faculty of

Management Sciences of Pernambuco, University of Pernambuco, Recife, 2014.

ABSTRACT

This research was to study the object More Education Program from the perspective of

sustainability, i.e., we analyzed modes sustainability of this program for Basic

Education. That program is important in induction as policy proposal for

"comprehensive education" and "school full-time." Besides acting as building links

between curriculum and political-pedagogical project of schools provide an education

that goes beyond the school walls and an action to strengthen school identity. Also

announced the approach of formal and informal knowledge. To do so requires a new

pedagogical practice that converges to a guided educational practice in action-

reflection-action. Thus, this study aimed to: investigate whether the More Education

Program is coordinated with the curriculum and the political-pedagogical project of the

schools of basic education; understand to what extent the actions of that program are

directed toward strengthening the subject from the perspective of action-reflection-

action; and identify if monitors are prepared to work in the various activities sponsored

by the Program. Was developed through semistructured interviews with the

Management of a Regional Management Education with the State Coordinator of

Education More Program Managers with basic education schools and monitors the

Program, with all respondents in Recife-Pernambuco. The data were treated by means

of content analysis. The main results show the need for greater coordination between the

curriculum and the political-pedagogical project of the schools, for better realization of

More Education Program, with regard to the structure of the school, the qualifications of

monitors and the incorporation of it by all those involved. Thus, it measures the need of

the debate on the interface the More Education Program establishes the curriculum and

the political-pedagogical project, the prospect of "integral education" and the "school

full-time." We conclude that schools have no teaching time for discussion of the

unification of the activities of More Education Program with the proposed school

education. Moreover, the lack of prior knowledge, the monitors, and adequate

infrastructure do not contribute to the desired results. In addition, teachers of state

schools, working with students in regular turn, unaware of the assumptions of the

Program. Also announced also that the fruits of deploying More Education Program

inspire its expansion and at the same time, invite us to a more appropriate discussion of

"integral education" and "school full time" proposed by the program.

Keywords: Sustainable Education. Integral Education. Action-reflection-action.

Curriculum. Political-Pedagogical Project.

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LISTA DE SIGLAS

FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

IDEB Índice Desenvolvimento da Educação Básica

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

PDDE Programa Dinheiro Direto na Escola

PDE Plano de Desenvolvimento da Educação

PME Programa Mais Educação

PNAI Plano Nacional de Alimentação Escolar

PPP Projeto Político-Pedagógico

SAEPE Sistema de Avaliação Educacional de Pernambuco

SEB Secretaria de Educação Básica

SECAD Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade

SIMEC Sistema Integrado de Monitoramento do Ministério da Educação

UEx Unidade Executora

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 12

1 PLANEJAMENTO DAS AÇÕES NO EXERCÍCIO DE 2012, DO SISTEMA

INTEGRADO DE MONITORAMENTO DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO –

SIMEC, REFERENTE ÀS ESCOLAS QUE SERVIRAM DE CAMPO A ESTA

INVESTIGAÇÃO ......................................................................................................... 16

2 ARTICULAÇÕES DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO COM O

CURRÍCULO E O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DAS ESCOLAS

CAMPO DESTA INVESTIGAÇÃO .......................................................................... 21

2.1 Breve histórico sobre o Programa Mais Educação ................................................... 21

2.2 Refletindo sobre currículo e projeto político-pedagógico da escola de educação

básica. ............................................................................................................................. 26

2.3 Analisando a percepção dos gestores e dos monitores sobre currículo e projeto

político-pedagógico ........................................................................................................ 33

2.3.1 A percepção dos gestores sobre a articulação das ações do Programa Mais

Educação com o currículo e o Projeto Político Pedagógico das escolas campo de

atuação ............................................................................................................................ 33

2.3.2 A percepção dos monitores sobre a articulação das ações do Programa Mais

Educação com o currículo e o Projeto Político Pedagógico das escolas campo de

atuação ............................................................................................................................ 39

3 O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO NA PERSPECTIVA DA AÇÃO-

REFLEXÃO-AÇÃO ..................................................................................................... 44

3.1 Pressupostos teóricos sobre a ação-reflexão-ação .................................................... 44

3.2 Analisando a percepção dos gestores e dos monitores sobre a ação-reflexão-ação no

Programa Mais Educação ............................................................................................... 54

3.2.1 A percepção de gestores sobre a ação-reflexão-ação no Programa Mais Educação

........................................................................................................................................ 55

3.2.2 A percepção dos monitores sobre a ação-reflexão-ação no Programa Mais

Educação ......................................................................................................................... 59

4 SUSTENTABILIDADE DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO ......................... 65

4.1 Perspectivas de Sustentabilidade do Programa Mais Educação ............................... 65

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4.2 Analisando a percepção dos gestores e dos monitores sobre a sustentabilidade no

Programa Mais Educação ............................................................................................... 71

4.2.1 A percepção dos gestores sobre a sustentabilidade do Programa Mais Educação 71

4.2.2 A percepção dos monitores sobre a sustentabilidade do Programa Mais Educação

........................................................................................................................................ 77

5 METODOLOGIA ...................................................................................................... 83

5.1 A abordagem de pesquisa utilizada nesta investigação ............................................ 83

5.2 Instrumentos para coleta de dados ............................................................................ 83

5.2.1 O recurso às entrevistas neste estudo .................................................................... 85

5.3 O lócus desta pesquisa .............................................................................................. 85

5.4 Os sujeitos da pesquisa ............................................................................................. 86

5.5 Análise dos dados ..................................................................................................... 86

5.6 A opção pela pesquisa-ação neste estudo ................................................................. 87

5.7 As categorias de análise ............................................................................................ 89

5.7.1 Currículo ................................................................................................................ 89

5.7.2 Ação-reflexão-ação ................................................................................................ 89

5.7.3 Sustentabilidade da educação ................................................................................ 91

5.8 Aspectos éticos ......................................................................................................... 92

6 CONCLUSÃO ............................................................................................................ 93

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 98

APÊNDICE A - UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PARA A

SUSTENTABILIDADE DA EDUCAÇÃO BÁSICA NUMA REGIONAL DE

EDUCAÇÃO DO ESTADO DE PERNAMBUCO – A CRIAÇÃO DO GRUPO DE

ESTUDO: “EDUCAÇÃO INTEGRAL” E “ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL” –

“TERRITÓRIOS DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO”. ................................. 103

APÊNDICE B - ROTEIRO DAS ENTREVISTAS E QUESTIONÁRIOS

REALIZADOS, TERMO DE CONSENTIMENTOS LIVRE ESCLARECIDO. 115

ANEXO ........................................................................................................................ 118

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa teve como objeto de estudo o Programa Mais Educação - PME na

perspectiva da sustentabilidade, ou seja, analisaram-se modos de sustentabilidade desse

Programa para a Educação Básica. Destaca-se a importância deste Programa para as

escolas de Educação Básica, visto que o mesmo propõe para as unidades educacionais, a

“educação em tempo integral” e a “escola de tempo integral”, a exemplo do que refere

Moll (2012, p. 98), ou seja, que a instituição deste Programa “traz a agenda da

Educação Integral para o bojo das políticas de Educação Básica do Ministério da

Educação, buscando superar, também, na estrutura da gestão, as possíveis e indesejadas

dicotomias turno/contraturno, currículo/ações complementares”. Tem uma política de

ação contra a pobreza, à exclusão social e marginalização cultural e prevê ações

socioeducativas no contraturno das escolas de educação básica, numa perspectiva da

sustentabilidade da educação.

O Programa Mais Educação é um dos programas governamentais que foi criado

por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola - PDDE e atua por meio de Unidades

Executoras. Consiste no repasse anual de recursos às escolas públicas, de educação

básica estaduais, municipais e do Distrito Federal. Trata-se de um importante programa

do Governo Federal e está entre uma das ações que compõem o Plano de

Desenvolvimento da Educação - PDE. Sua finalidade é de prestar assistência financeira,

em caráter suplementar, às escolas de educação básica (BRASIL, 2013).

Dentro do PDDE, o Programa Mais Educação é uma ação estratégica do

Governo Federal para induzir a efetivação da Educação Integral enquanto política

pública. Assim, por meio do repasse voluntário de recursos, garante a ampliação de

tempos, espaços e oportunidades educativas. Este programa tem por objetivos,

conforme Decreto nº 7.083 (BRASIL, 2010a),

I formular política nacional de educação em tempo integral; II

promover diálogo entre os conteúdos escolares e os saberes locais; III

favorecer a convivência entre professores, estudantes e suas

comunidades; IV disseminar as experiências das escolas que

desenvolvem atividades de educação integral; e V convergir políticas

e programas de saúde, cultura, esporte, direitos humanos, educação

ambiental, divulgação científica, enfrentamento da violência contra

crianças e adolescentes, integração entre escola e comunidade, para o

desenvolvimento do projeto político-pedagógico da educação integral.

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O PME é operacionalizado pela Secretaria de Educação Básica - SEB, por meio

do Programa Dinheiro Direto na Escola - PDDE, do Fundo Nacional de

Desenvolvimento da Educação - FNDE, e destinado às escolas de territórios prioritários,

que são aquelas localizadas nos territórios do Plano Brasil sem Miséria. As atividades

fomentadas são organizadas nos macrocampos: Acompanhamento Pedagógico;

Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável; Esporte e Lazer; Educação em

Direitos Humanos; Cultura, Artes e Educação Patrimonial; Cultura Digital; Prevenção e

Promoção da Saúde; Comunicação e Uso de Mídias; Investigação no Campo das

Ciências da Natureza e Educação Econômica/ Economia Criativa. Propõe ampliar o

tempo de permanência escolar no contraturno escolar (ROSA, 2012).

A expansão dos projetos para consolidação de propostas que tenham como

pressuposto o aumento da jornada escolar no Brasil deu-se, principalmente, após a

promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em 1996. Esta

Lei propõe que o ensino fundamental no Brasil deve ser progressivamente ministrado

em tempo integral. Assim, vários aparelhos estaduais e municipais vêm trabalhando

para esse modelo de escola. O governo federal vem buscando implementar essa forma

de organização da “escola de tempo integral”, por meio de Programa Mais Educação,

que visa colaborar com a ampliação da jornada escolar, através do contraturno, nas

instituição de educação básica.

Nesse sentido, este estudo procurou analisar a sustentabilidade da educação que

supostamente tem vindo a ser desencadeada pelo Programa Mais Educação, em virtude

dos impactos dessas ações sobre a escola, ferramentas didáticas utilizadas, currículo e

Projeto Político Pedagógico, pensados para a escola, e muitas vezes sem a presença da

mesma.

Dessa forma, se teve como objeto teórico desta investigação a sustentabilidade

da educação básica e o como objeto empírico o Programa Mais Educação. A

problemática que impulsionou o desenvolvimento deste estudo diz respeito à falta de

relação entre as atividades do PME e o currículo das escolas de educação básica,

impulsionada pela falta de diálogo entre os conteúdos escolares e os saberes locais, bem

como a ausência de diálogo entre professores, estudantes e sua comunidade com as

atividades do PME. Essa problemática suscitou as seguintes questões orientadoras desta

pesquisa:

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– Até que ponto o Programa Mais Educação (PME) está articulado com o currículo e o

PPP das escolas de educação básica?

– Em que medida as ações do PME se direciona para o fortalecimento dos sujeitos na

perspectiva da ação-reflexão-ação?

– Até que ponto os monitores estão preparados para atuarem nas atividades?

Dessa forma, este estudo teve por objetivos: investigar se o Programa Mais

Educação está articulado com o currículo e o PPP das escolas de educação básica;

compreender em que medida as ações do PME se direcionam para o fortalecimento dos

sujeitos na perspectiva da ação-reflexão-ação; e, identificar se monitores estão

preparados para atuarem nas diversas atividades promovidas pelo PME.

Com relação à organização textual desta dissertação, é de referir que este estudo

foi organizado em três capítulos teóricos que também estão consubstanciados por dados

empíricos, cuja análise foi realizada por meio da análise de conteúdo analítico-

descritiva. O primeiro capítulo reflete-se a propósito das atividades, no

planejamento das ações do exercício de 2012, do Sistema Integrado de Monitoramento

do Ministério da Educação – SIMEC, referente às escolas que serviram de campo à esta

investigação. Nessas reflexões, pode-se verificar quais atividades e macrocampos

foram eleitos pela escola para serem vivenciadas no contraturno escolar. O debate

assenta-se em como a gestão escolar realiza o planejamento para inclusão destas

atividades e como essas atividades dialogam com a realidade local.

O segundo capítulo intitulado, “Articulações do Programa Mais Educação com

o currículo e o projeto político-pedagógico das escolas, campo desta investigação”, situa

as experiências vigentes no cenário nacional sobre o currículo, o projeto político-

pedagógico e o PME e analisa a percepção dos gestores e monitores sobre a articulação

das ações do PME com o currículo e o PPP das escolas campo de atuação.

O terceiro capítulo com o título, “O Programa Mais Educação na perspectiva da

ação-reflexão-ação”, apresenta os pressupostos teóricos sobre a ação-reflexão-ação, bem

como sua importância para construção de uma educação sustentável e analisa também a

percepção dos gestores e dos monitores sobre a ação-reflexão-ação no PME.

O quarto capítulo, sob o título, “Sustentabilidade do Programa Mais Educação”,

discute perspectivas de sustentabilidade no Programa Mais Educação e os elementos

necessários para consolidar uma prática sustentável do Programa, e quais os

conhecimentos prévios que os monitores deverão possuir para o desenvolvimento das

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diversas atividades do PME na perspectiva da ação-reflexão-ação. Apresenta ainda uma

análise da percepção dos gestores e dos monitores sobre a sustentabilidade no PME.

Seguidamente aos capítulos teórico-empíricos, apresentam-se os procedimentos

metodológicos, ou seja, os caminhos trilhados para a coleta e a análise dos dados

referentes a esta investigação. Nessa parte do trabalho apresenta-se a abordagem de

pesquisa a ser utilizada, aos instrumentos para coleta de dados, à técnica utilizada para a

coleta de dados que aqui se fez por meio de entrevistas semiestruturadas, ao lócus da

pesquisa, aos sujeitos, aos procedimentos para a análise dos dados, justificando-se

também a opção pela pesquisa-ação neste estudo. Alude-se e conceituam-se as

categorias de análise que nortearam a análise dos dados teórico-empírico e aos aspectos

éticos que orientaram esta pesquisa.

Por fim, na conclusão, são lançadas algumas evidências da proposta em curso do

Programa Mais Educação nas três escolas que serviram de campo para este estudo, que

recomenda esforço por parte da Secretaria Estadual de Educação, Gerências Regionais

de Educação e das escolas, em particular de uma melhor compreensão e articulação do

Programa, a fim de aprimorar seu andamento. Anuncia-se, ainda, que os frutos da

implantação do PME, inspiram a sua expansão, ao mesmo tempo nos convidam para

uma discussão mais apropriada sobre a “educação integral” e a “escola de tempo

integral” propostas pelo PME. E é, pois, nessa perspectiva que no apêndice A desta

dissertação, apresenta-se uma proposta de intervenção referente ao objeto de estudo

desta pesquisa a ser consolidada através da criação do grupo de estudo que estará

subordinado ao tema: “Educação Integral” e “Escola de Tempo Integral” – “Territórios

do Programa Mais Educação”.

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1 PLANEJAMENTO DAS AÇÕES NO EXERCÍCIO DE 2012, DO SISTEMA

INTEGRADO DE MONITORAMENTO DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO –

SIMEC, REFERENTE ÀS ESCOLAS QUE SERVIRAM DE CAMPO A ESTA

INVESTIGAÇÃO

Nesta parte deste trabalho, apresentam-se ações do exercício de 2012, do

Sistema Integrado de Monitoramento do Ministério da Educação – SIMEC, referente às

escolas que serviram de campo a esta investigação.

Assim sendo, as escolas que serviram de campo a esta pesquisa, apresentaram

em seus registros, informações referentes ao cadastramento de suas atividades no

planejamento das ações no exercício de 2012 no Sistema Integrado de Monitoramento

do Ministério da Educação – SIMEC, as quais relataremos abaixo, visto que o

planejamento do exercício de 2012 norteou os macrocampos e atividades que foram

vivenciadas na escola.

A escola I, localizada na cidade do Recife, de médio porte (avaliada de acordo

com o número de estudantes), iniciou seus trabalhos com o Programa Mais Educação

em 2008, ano em que o Programa começa a ser implantado nas escolas públicas. No

planejamento dos macrocampos e atividades, em 2012, definiu assim suas ações:

macrocampo Esporte e Lazer. E no âmbito desse macrocampo foram definidas as

atividades de ginástica rítmica, xadrez tradicional e judô; macrocampo Cultura e Artes

foi escolhida a atividade de dança e no macrocampo Acompanhamento Pedagógico foi

eleita as atividades de matemática e letramento.

A escola II, também situada na cidade do Recife, de médio porte, iniciou seus

trabalhos com o Programa Mais Educação também em 2008. No planejamento dos

macrocampos e atividades, em 2012, definiu assim suas ações: macrocampo Esportes

definiu a atividade do Programa Segundo Tempo; macrocampo Cultura, Artes e

Educação foram escolhidas as atividades de pintura, banda fanfarra; macrocampo

Cultura Digital escolheu a atividade de tecnologias educacionais e macrocampo

Acompanhamento Pedagógico: atividades de matemática e letramento.

A escola III, também na cidade do Recife, é de grande porte e também iniciou

seus trabalhos com o Programa Mais Educação em 2008. No seu planejamento dos

macrocampos e atividades em 2012, definiu assim suas ações: no macrocampos,

Esporte e Lazer foram escolhidas as atividades de tênis de mesa, voleibol e futsal;

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macrocampo Cultura Digital, a atividade de ambiente de redes sociais e macrocampo

Acompanhamento Pedagógico elegeu matemática e letramento.

A tabela a seguir sintetiza as atividades eleitas nos macrocampos:

Ao analisarmos os dados acima, verificamos que o macrocampo

acompanhamento pedagógico foi escolhido por todas as escolas pesquisadas, bem

como as atividades de português e matemática. Este fato justifica-se porque o referido

macrocampo é obrigatório para todas as escolas que desejam participar do programa.

Mesmo que todos os macrocampos possam fazer parte da sustentabilidade da educação,

verificamos que alguns dialogam de maneira a potencializar os pressupostos dessa

sustentabilidade e não são escolhidos no momento do planejamento anual. Esses

macrocampos são: Aspectos da Educação Ambiental e Desenvolvimento Local

Sustentável, Aspectos da Economia Criativa, Aspectos ligados à Saúde e Aspectos

da Educação e Direitos Humanos.

Dado o exposto, faz-se os seguintes questionamentos: Por que os macrocampos

referidos anteriormente não são escolhidos? Quais são os atores que participam dos

encontros pedagógicos para construir o planejamento anual do Programa Mais

Educação? Os professores da rede estadual compreendem a relação da sustentabilidade

da educação? Esses professores trabalham na perspectiva da sustentabilidade da

educação no que tange suas atividades pedagógicas?

Macrocampo Atividades

Escolhidas

Escolas

I II III

Acompanhamento

Pedagógico

Português X X X

Matemática X X X

Esporte e Lazer Tênis de Mesa

X

Voleibol X

Futsal X

Ginástica Rítmica X

Xadrez Tradicional X

Judô X

Programa Segundo

Tempo

Cultura Digital Ambientes de

Redes Sociais X

Tecnologias

Educacionais X

Cultura, Artes e

Educação

Pintura X

Banda Fanfarra X

Dança X

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Durante esta pesquisa, procurou-se estabelecer um diálogo com vários

professores das escolas, a propósito da impressão deles sobre o Programa Mais

Educação. Nas respostas, os docentes, deixavam claro que não conhecem, de fato, o

referido Programa, no qual os estudantes do PME ficavam no contraturno escolar. Além

disso, desconheciam que tipo de atividades eram desenvolvidas. Em suas falas pareciam

não enxerga a importância do PME para indução da “sustentabilidade”, da “educação

integral” e “escola de tempo integral”. Esse desconhecimento pressupõe que os mesmos

não participavam das discussões fomentadas para eleger os macrocampos e atividades

para o Programa. Por outro lado, todos disseram que a escola não possuía o coordenador

do PME previsto na legislação, fato que sobrecarrega a gestão escolar já comprometida

com outras demandas.

Em relação ao motivo pelo qual as escolas não elegem as atividades que

potencializam a sustentabilidade da educação, infere-se que isto acontece devido ao fato

de a escola enxergar o PME como “reforço escolar” e práticas de descontração. Ou seja,

o turno regular é visto como a parte “dura do currículo” de maneira pouco criativa,

contrapondo-se ao contraturno, no qual os estudantes devem “brincar”. Corroborando

com este tema, Moll (2012) acrescenta que a vida escolar não pode ser concebida na

perspectiva de turno e contraturno, por tratar-se de uma proposta de descontinuidade da

educação. Visto que, invariavelmente, o turno que capta as disciplinas tradicionais, que

constituem o núcleo duro do currículo, é tido como abstruso. Por outro lado, no

contraturno prevalecem as atividades que propõem o tempo escolar em uma proposta de

tempo escolar agradável, mas no ponto de vista de atividades recreativas e/ou lazer.

No período de coleta de dados para esta investigação, em que houve uma

aproximação com o campo, era comum ver os estudantes chegarem à escola e

perguntarem onde aconteciam as aulas de reforço de português ou matemática,

demonstrando não haver um olhar sobre o PME como uma política de “escola de tempo

integral”, mas como um reforço escolar. Em relação aos monitores, os mesmos

possuíam um cuidado para que as aulas fossem “divertidas”, compreendendo que não

podiam reproduzir em sua sala da aula a “mesmice” dos professores da rede regular.

Esforçavam-se para que as aulas fossem mais “atrativas”. Sobre esta perspectiva,

Cavaliere (2012, p. 283) esclarece que o PME “expressa, ao mesmo tempo, dois

movimentos aparentemente diferentes: o fortalecimento da ação política emanada do

Governo Federal em relação à ponta do sistema de educação básica e a tendência de

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descentralização das políticas sociais”. Neste sentido, aparece a questão se de fato o

PME é uma política de emancipação da escola indutora da “educação integral” ou uma

política neoliberal de participação mínima do estado, responsabilizando a sociedade

civil para resoluções dos problemas sociais, políticos, educacionais e econômicos.

Envolve observar que embora o referido Programa proponha a intencionalidade

da busca de uma integração entre os diferentes saberes se manifeste de forma explícita

constituindo a espinha dorsal da proposta, ele não se apropria da prática de atos

currículo, integrado as atividades vivenciadas na escola no bojo do desenvolvimento de

suas atividades. Fato observado no desenvolver deste estudo, nas escolas objeto desta

investigação. Acreditamos, entretanto, que enfrentar essa distância que hoje caracteriza

as relações entre escola, gestor, professor, monitor e comunidade, pode ampliar as

dimensões das experiências educadoras na perspectiva de uma prática educativa baseada

na ação-reflexão-ação e, portanto, uma prática sustentável.

A mobilização de possíveis parceiros para formação de uma comunidade

educativa que compreende a conexão entre a educação formal e informal torna-se uma

tarefa de mão única superior às possibilidades da instituição escolar, visto que o

desempenho do referido Programa não acontece por professores da rede, mas por

voluntários que em, alguns casos, desconhecem os aportes teóricos do PME, além de

desconhecerem as competências necessárias para uma prática educativa inclusiva e

sustentável. Ao mesmo tempo, a intervenção do governo na “facilitação” desse processo

introduz questões que contribuem para descontinuidade do referido, visto que para

programar e praticar o PME não são construídas de novas salas de aula ou outros

espaços educativos para escola. Assim, o Programa desenvolve suas atividades em

espaços improvisados e inapropriados para uma condução sustentável por parte do

PME.

Assim sendo, o conceito de sustentabilidade da educação e de educação integral

aparece como uma síntese híbrida das ideias sobre a educação e a escola mobilizadas

pelo Programa. Ele expressa, ao mesmo tempo, o sentido de uma educação com

objetivos ampliados, de uma educação assumida por diferentes instâncias de governo e

sociedade, uma educação voltada para o combate à desigualdade e uma educação

praticada em conjunto com os pais, a comunidade e o bairro onde a escola se localiza

que apresenta e dialoga com o conceito de cidade educadora. Mas, ao mesmo tempo,

ausente de uma prática consiste que venha a garantir a consolidação de conceitos tão

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implicados para construção de uma sociedade mais digna, inclusiva e sustentável. O

que remete, por conseguinte, como os episódios relacionados ao PME podem ser

construtivos, no momento em que ocorra o entrelaçamento com os pressupostos teóricos

e o que acontece de fato em relação ao PME.

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2 ARTICULAÇÕES DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO COM O

CURRÍCULO E O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DAS ESCOLAS

CAMPO DESTA INVESTIGAÇÃO

Neste capítulo, reflete-se acerca do Programa Mais Educação (PME),

considerando-se a relação deste com o projeto político-pedagógico e o currículo. Desse

modo, faz-se inicialmente, uma apresentação do Programa Mais Educação e em

seguida, alude-se ao projeto político-pedagógico, compreendendo-o como uma proposta

de organização do trabalho administrativo e pedagógico da escola na sua totalidade, na

busca de trilhar caminhos para materializar uma prática pedagógica que desenvolva a

criticidade dos estudantes. Na sequência, reflete-se sobre currículo escolar, uma vez que

este se constitui num importante instrumento de organização dos conteúdos para

composição dos componentes curriculares e os temas transversais, estabelecendo uma

construção social dos conteúdos e sugerindo uma sistematização para consolidação

desses conhecimentos na forma de agir dos estudantes.

2.1 Breve histórico sobre o Programa Mais Educação

Nesta parte deste trabalho apresenta-se um breve histórico do Programa Mais

Educação - PME, desenvolvido no âmbito da Secretaria de Educação Continuada,

Alfabetização e Diversidade - SECAD-MEC. O PME é um programa governamental

criado em abril de 2007, por meio da portaria interministerial nº 17 (BRASIL, 2007). É

um Programa do Ministério da Educação que teve como signatários os Ministérios do

Esporte e do Desenvolvimento Social e combate a fome. A intersetorialidade supõe

trocas sustentadas na horizontalidade das relações políticas, gerenciais e técnicas. Não

se trata, pois, de equivalências, mas, sobretudo, do reconhecimento da capacidade que

cada política setorial tem a apontar ao propósito comum. É operacionalizado pela

Secretaria de Educação Básica por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola -

PDDE e o Plano Nacional de Alimentação Escolar - PNAI, através do Fundo de

Desenvolvimento da Educação - FNDE e tem uma política de ação contra a pobreza, à

exclusão social e marginalização cultural. Contribuem tanto com a diminuição das

desigualdades educacionais quanto com a valorização da diversidade cultural brasileira,

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apostando na ampliação de tempo e espaços educativos com ações socioeducativas no

contraturno das escolas de educação básica (BRASIL, 2009a)

Uma de suas particularidades mais definidas consiste no fato de sua proposta

incorporar nas escolas de Educação Básica a “educação integral” e “escola de tempo

integral”, além de introduzir um conjunto de concepções de gestão da educação pública

que pretende ser inovador ao sugerir uma série de macrocampos1 esquematizados por

um conjunto de atividades que deverão ser vivenciadas pelos estudantes no contraturno

escolar; lançando, ainda, o desafio das referidas atividades estarem pautadas em relação

ao currículo e o Projeto Político-Pedagógico escolar. Uma vez implantado na escola,

promoveria mudanças significativas na concepção e construção de uma escola inclusiva,

através da aproximação das escolas com as famílias bem como na ação educacional do

sistema público brasileiro de Educação Básica.

Há de se considerar, neste momento, algumas concepções acerca da “Educação

Integral”, “Escola de Tempo Integral” e “Educação Sustentável.” Vale ponderar a

semelhança e contendas entre suas definições. A Educação Integral proposta por Ana

Cavaliere (2012, p. 281) ressalta que “[...] não é obra apenas da escola ou dos setores de

governo diretamente ligados à educação”. “[...] Reforça os sentidos de

responsabilização coletiva da sociedade pela educação das crianças e jovens”. Nesta

perspectiva, a autora propõe que a educação integral proposta para o Programa Mais

Educação está inserida na parceria e compromisso entre o estado, sociedade civil, pais e

estudantes. Sugerindo ainda a participação de toda comunidade em todas as etapas do 1 Decreto 7083, de 27 de janeiro de 2010: A . Ensino undamental:

Matemática, etramento Ci ncias, História, eografia, ínguas Estrangeiras. Ensino Médio, Matemática,

eitura e Produção de Texto ou Português, Cinética, Reações uímicas, Eletroquímica, uímica

orgânica, ísica ótica, Circuitos elétricos, Calorimétrica, Célula animal Estrutura do NA Coleta de

sangue, História e eografia, ilosofia e Sociologia, ínguas estrangeiras. 2. Meio ambiente. Com -

Vidas, Agenda 21 na escola, Educação para Sustentabilidade, Horta Escolar e ou Comunitária. 3. Esporte

e lazer. Recreação e azer, Voleibol, utebol, Basquete, Handebol, T nis de Mesa, udô, arate,

Tae ondo, oga, Natação, adrez Tradicional, adrez Virtual, Atletismo, inástica Rítmica, Corrida

de Orientação, Ciclismo, T nis de Campo, Basquete de rua, Programa Segundo Tempo. 4. Direitos

Humanos. Direitos Humanos e Ambiente Escolar, Aprendizagem e Convivência. 5. Cultura e Arte.

Leitura, Banda anfarra, Canto Coral, Hip Hop, anças, Teatro, Pintura, rafite, esenho, Escultura,

Percussão, Capoeira, lauta oce, Cineclube, Práticas Circenses, Mosaico. 6. Cultura digital. Soft are

educacional, Informática e tecnologia da informação, Ambiente de Redes Sociais. P

Alimentação saudável, saúde bucal, práticas corporais e educação do movimento

saúde sexual, reprodutiva e prevenção ST AI S, prevenção ao uso do tabaco e outras drogas, saúde

ambiental promoção da cultura de paz, prevenção às viol ncias e acidentes, estratégias de promoção da

saúde, prevenção à dengue, febre amarela, malária, hanseníase, anemia falciforme e outras, (Articulação

com o Programa Saúde na Escola- MEC/MS). C . ornal Escolar, Rádio

Escolar, Histórias em uadrinhos, otografia, Vídeo. I

natureza. aboratório, eiras e Projetos Científicos. E ireitos do Consumidor,

Educação inanceira, Empreendedorismo, Cidadania iscal.

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processo de gestão da escola, incluindo o planejamento administrativo, pedagógico e a

gestão dos recursos.

Na “Escola de Tempo Integral”, aqueline Moll (2012, p. 95), salienta que,

[...] Em sentido restrito refere-se à organização escolar na qual o

tempo de permanência dos estudantes se amplia para além do turno

escolar. [...] Em sentido amplo, abrange o debate da educação integral

– consideradas as necessidades formativas nos campos cognitivo,

estético, ético, lúdico, físico-motor, espiritual, entre outros.

Nesta categoria de Escola de Tempo Integral percebe-se uma harmonia

existente entre os diversos atores da escola com esse espaço interno, procurando,

também com isso aproximar a comunidade ao seu redor numa forma de reinventar a

relação existente entre o cotidiano dos estudantes dentro e fora da escola.

A sustentabilidade na educação revela-se como o cerne desta pesquisa.

Conceituá-la constitui um desafio importante para que possamos debater o Programa

Mais Educação, a Educação Integral, Escola de Tempo Integral e sua Sustentabilidade.

Ao descrever tais conceitos, verificam-se aproximações e distinções bastante curiosas.

Para construir o conceito da sustentabilidade da educação básica nos apropriamos de

considerações como: “educação integral”, a “escola de tempo integral”, articulação das

diversas atividades do PME com o currículo e o PPP, e ainda uma prática ética

educativa que ultrapasse os muros da escola. Ao mesmo tempo, que este conceito surgiu

à luz de leituras de diversos autores como Paulo Freire (1987), Moacir Gadotti (2005),

Edgar Morin (2011), Jaqueline Moll (2012), Juan Ignácio Pozo (1998) e Ana Maria

Cavaliere (2012). Desta forma, a sustentabilidade da educação reflete, de certo modo, o

ensejo de uma educação que venha corroborar para a consolidação de valores para uma

sociedade mais equânime. Visto que a sustentabilidade na educação “compreende a

educação como um desafio para as escolas e comunidades e pretende dialogar com a

complexidade dos agentes sociais, territórios e saberes que envolvem as experiências

comunitárias, buscando constituir-se para além do espaço escolar” (BRASIL, 2009b, p.

15). Ou seja, uma educação que busca o encontro dos diversos atores da educação

formal e informal como elemento de conexão com o passado, presente e futuro,

construindo uma ponte entre os saberes intencionais com os saberes da comunidade.

Compreender a educação como um desafio para escolas e comunidades é

dialogar com a complexidade de diversos agentes sociais, territórios e saberes que

envolvem as experiências comunitárias, buscando construir uma prática pedagógica que

se estende para além do espaço escolar, que ultrapassa os muros da escola faz parte dos

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objetivos formativos das concepções da educação integral. Dentro desta perspectiva,

Morin (2011, p.65) recomenda que,

A educação deve contribuir para a autoformação da pessoa e ensinar

como se tornar cidadão. Um cidadão é definido, em uma democracia

por sua solidariedade e responsabilidade em relação a sua pátria. O

que supõe nele o enraizamento de sua identidade nacional. Portanto,

identidade de sujeito crítico-reflexivo.

Dentro desta premissa que discorre sobre uma educação que ultrapassa o repasse

mecânico de informações, e que enfatiza que tais informações precisam ser

significativas para o estudante e corroborando, de certa forma, com esse pensamento,

Pozo (1998, p. 15) acrescenta que “o verdadeiro objetivo da aprendizagem da solução

de problemas é fazer com que o aluno adquira o hábito de propor problemas e de

resolvê-los como forma de aprender”, desvelando uma nova perspectiva de

aprendizagem que se baseia na conquista contínua da criticidade.

Para Gadotti (2005), é neste panorama que ingressa o papel importante da

educação, o da formação para a cidadania ativa, busca-se consolidar um conceito de

uma ecopedagogia, que passa por uma re-educação do estudante baseada em uma

cultura de direitos humanos, democracia e participação, equidade, proteção das minorias

e resolução pacífica dos conflitos. Esses pilares são cimentados por uma visão de

mundo solidário, consciência planetária e respeito da diferença.

Percebe-se, assim, que cada vez mais, a educação nas escolas públicas vem

passando por modificações que recomendam entrever a importância do conhecimento

formal, tradicional e científico aliado ao saber fazer da educação informal da

comunidade. Buscar admitir os conhecimentos prévios dos estudantes que se constitui

em uma tentativa de identificá-los como sujeitos possuidores de cultura, de sua própria

educação, não somente objeto dela. Para tanto, é necessário desenvolvermos nas escolas

uma educação dentro da perspectiva proposta por Freire (1996) que compreende o

inacabamento do sujeito e sua condição de estar com o outro, de um ser social.

Diferente, portanto, da “educação bancária” que enxerga os estudantes desprovidos de

conhecimento prévio.

Todavia, observando o desenvolvimento das políticas de educação básica no

sistema educacional brasileiro, constatamos a separação entre uma educação para as

elites e uma educação para as massas populares. Assim, temos uma educação de elites

sempre abonada pelas classes hegemônicas, por outro lado, a educação das grandes

massas populares garantidas simplesmente pela ação dos âmbitos nos níveis das classes

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invisíveis que não têm uma grande representação perante uma sociedade conservadora e

antiquada. Estas contradições dificultam a construção da identidade cultural das massas

populares, bem como a elaboração de um roteiro educativo capaz de transformar a

escola em um espaço de construção de saberes, onde a população possa minimizar os

limites impostos pelas classes dominantes. Para que, desta forma possam legitimar um

de sistema educacional democrático (GADOTTI, 1992).

Sobre este contexto, reire (1987, p.40) adverte que “quanto mais às massas

populares desvelam a realidade objetiva e desafiadora sobre a qual elas devem incidir

sua ação transformadora, tanto mais se “inserem” nela criticamente”2. Assim, é

importante compreendermos que a liberdade para a reflexão da realidade não se constrói

através de uma relação de doação, mas de uma conquista constante da liberdade, que

busca a concretização de uma realidade sem opressão baseada na concepção dos

homens como seres inconclusos.

Assim, confere-se que o PME almeja contribuir tanto para a diminuição das

desigualdades educacionais, como para a valorização da diversidade cultural brasileira,

apostando na ampliação de tempo e espaços educativos com ações socioeducativas no

contraturno das escolas de educação básica. Uma de suas particularidades mais

definidas consiste no fato de sua proposta pretender se incorporar, nas escolas

envolvidas, a “educação integral” e “escola de tempo integral”, lança, ainda, o desafio

das referidas atividades, estarem articuladas ao currículo e o projeto político-

pedagógico escolar. Uma vez implantado na escola, o referido Programa propõe-se a

promover mudanças na concepção e construção de uma escola inclusiva, através da

aproximação das escolas com as famílias bem como na ação educacional do sistema

público brasileiro de Educação Básica.

Desta forma, apresenta-se uma reflexão acerca do projeto político-pedagógico

das escolas de educação básica e sobre sua importância como um instrumento de

planejamento intencional das atividades administrativas e pedagógicas das escolas.

Refere-se, ainda sobre o currículo que em seus aportes teóricos propõe a consolidação

de saberes sistematizados, como forma dos atos de currículo constituir uma práxis

formativa.

2 Destaque feito pelo autor .

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2.2 Refletindo sobre currículo e projeto político-pedagógico da escola de educação

básica.

O projeto político-pedagógico, da escola de educação básica, envolve diversos

processos que compreendem as etapas de planejar, executar, avaliar, reavaliar e

redimensionar os objetivos da escola. É necessário estabelecer a missão, a visão de

futuro e os objetivos presentes nos planos da escola. Isto significa que o planejamento

escolar é um processo pedagógico intencional e deliberado, visto que objetiva promover

relações significativas entre o estudante e o conhecimento formal já construído, e

possibilitar o acesso à cultura e ao conhecimento informal produzido pela sociedade ao

longo do tempo (MOROSSINI, et al., 2012).

Na elaboração do projeto político-pedagógico - PPP é necessário que se perceba

a escola em sua totalidade, visando a uma ação estratégica, não apenas voltada para a

dimensão pedagógica, visto que o PPP é uma ferramenta de gestão que ajuda a escola a

definir suas prioridades estratégicas administrativas e pedagógicas, e como alcançar tais

prioridades. O projeto político-pedagógico vai além de um simples agrupamento de

planos de ensino e atividades diversas, não é algo que é construído e, em seguida,

arquivado ou encaminhado às autoridades educacionais como prova do cumprimento de

tarefas burocráticas. Tal projeto revela-se indispensável para seu processo decisório,

visto que na sociedade contemporânea não se imagina mais uma instituição com seu

processo de gestão marcado pelo improviso, com serviços de pouca qualidade e

desperdício de recursos.

Veiga (1988, p. 02) indica que O PPP consiste na “formação do cidadão

participativo, responsável, compromissado, crítico e criativo”. Entretanto, para edificar

este modelo de gestão inclusivo, é necessário um esforço conjunto para mobilizar os

professores de forma espontânea, que lhes permitam aprender a pensar e a realizar o

fazer pedagógico de forma coerente. É necessário criar comissões de pais e mestres e

encarregá-las de atividades com o propósito de gerar sentimento de pertencimento,

elementos indispensáveis para que o processo educativo possa promover uma escola

descentralizada, autônoma e de qualidade.

Promover a inclusão da família nas escolas ainda constitui um desafio, visto que

inclui uma complexidade de papéis e responsabilidades compartilhadas pela unidade de

ensino e família. A escola é concebida como espaço social marcado por práticas

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contraditórias, que assinalam a luta e/ou acomodação de todos os envolvidos na

organização do trabalho pedagógico. Consolidar uma nova escola que permita a

convivência ativa da comunidade e da família requer discutir esses territórios de

ocupação e elaborar novos paradigmas, onde a participação de todos os envolvidos é

determinante na construção de um projeto político-pedagógico na concepção da

educação autônoma com participação e reflexão.

É preciso pensar sobre o que impede a participação ativa dos pais no território

escolar. Alguns fatores podem ser mencionados: baixa escolaridade, jornada dupla de

trabalho, não acreditar no sistema educativo, pouca criticidade e postura passiva diante

do processo político. Por outro lado, a participação dos pais na escola provoca uma

descentralização do poder e das decisões por parte da gestão escolar, o que pode

consistir em uma dificuldade na partilha dessas responsabilidades e ações, que

anteriormente eram vistas apenas como da escola, como: participação dos pais em

avaliações do aluno, definição do calendário e horário escolar, controle de falta de

professores e funcionários, demarcação daquilo que se deve ensinar na escola e

avaliação dos professores.

Assim, para que a escola tenha uma concepção emancipadora, deverá refletir a

cultura e os anseios da comunidade e precisará ser vista como uma instituição social

inserida na sociedade, que reflete no seu interior as determinações e contradições dessa

sociedade. Neste estudo, seguiremos o conceito de PPP, discutido por Veiga (1988), ao

dizer que o projeto político-pedagógico está fundado nos princípios que deverão nortear

a escola democrática, pública e gratuita. Dentre eles, Igualdade de acesso e

permanência na escola que requer uma oferta de vagas para todos em idade escolar e

uma escola pública eficiente; Qualidade, que não pode representar privilégio de

minorias de classes hegemônicas, econômicas e sociais; Gestão democrática propõe

que a escola enfrente questões históricas de exclusão, reprovação e marginalização de

classes menos favorecidas; Liberdade, na qual está pertinente a ideia de autonomia e

liberdade que constituem a natureza do ato pedagógico; Valorização do magistério uma

discussão que abarca a escola na tarefa de formar cidadãos que requerem qualidade de

ensino, condições de trabalho e remuneração.

Ao discorrermos sobre o projeto político-pedagógico, torna-se indispensável

discutirmos, também, acerca do currículo. A reflexão sobre o currículo está instalada

como tema central nos projetos político-pedagógicos das escolas e nas propostas dos

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sistemas de ensino, tendo como objetivo atribuir significados ao estudante para que ele

possa atuar de forma crítica-reflexiva e autônoma, capaz de estabelecer seus conceitos e,

também reconstruí-los. A esse propósito, refere Moreira (2008, p. 01) que: “essa

perspectiva exige a aprendizagem de saberes e habilidades, a adoção de valores, bem

como o desenvolvimento da identidade pessoal e da consciência de si como um

indivíduo que, inevitável e continuamente, deverá julgar e agir sempre”.

Fortalecendo esse conceito da necessidade da “práxis” entre o currículo e a prática

pedagógica, Sacristán (2000, in MOROSINI et al., 2012) acrescenta que o currículo é

uma prática antes que um objeto estático construído dentro de pressupostos legais

carregado de aprendizagens necessárias das crianças e dos jovens, que também não se

esgota na parte explicita do projeto de convivência cultural nas escolas. Mas, encontra a

sua práxis pedagógica no seu desenvolvimento nas escolas que comumente chamamos

de educação. O autor mencionado salienta que o currículo e o projeto político-

pedagógico se constituem em instrumentos dinâmicos na escola, norteando todas as

ações intencionalmente pensadas na construção da aprendizagem.

Nesta pesquisa, tomaremos o conceito de currículo, para análise de dados neste

estudo, proposto por Santiago (In VEIGA; FONSECA, 2001, p. 154) quando este

refere,

As decisões sobre o currículo são opções éticas e políticas de

competência exclusiva da escola e da comunidade por ela responsável.

Propostas organizadas com base em modelos externos, sejam eles

orientações oficiais sejam “cópias” de experi ncias bem-sucedidas,

em outras realidades, correm o risco de ser incorporadas como meras

técnicas de condução do ensino que, sem aporte teórico necessário à

iluminação das práticas, apenas introduzem um novo jeito de

administrar o conservadorismo, ou seja, de reproduzir os significados

e as representações que o grupo dominante tem de si, dos outros e do

mundo.

Nesse processo, não existem extrusões radicais nem continuidade inabaláveis, o

processo das relações lança o movimento contínuo, que precisa ser considerado na

ampliação dos propósitos curricular. Santiago (in VEIGA; FONSECA, 2001, p. 153)

acrescenta, ainda, que “perceber o currículo como espaço de conflito e dar lugar à

diversidade não significa abdicar do direito e do compromisso de propor alternativas”.

Mas, procura ampliar a discussão acerca de destruir com composições tradicionais, ao

mesmo tempo preservando as diferenças e diversidades saberes, a escola proponha

oportunidade de saberes para todos.

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Por outro lado, Macedo (2013, p. 43) propõe um currículo multirreferenciado,

que traz em sua base o gosto pela heterogeneidade como processo formativo, sugerindo:

Imaginarmos que o currículo é um texto complexo em constante

escrita e reescrita, mesmo que os tecnicista não queiram vê-lo assim, e

que os discursos antinômicos, que acabam embotando analiticamente

seu acontecimento eminentemente relacional, perderam de vez essa

pertinência e relevância, a ideia de perspectivava sistêmica e

acionalista por nós cunhada de ato de currículo vem justamente

potencializar o caráter socioconstrucionista e relacional deste potente

dispositivo de formação.

Esta perspectiva de currículo sugere em seus aportes teóricos um combate para

superarmos séculos de entendimentos de que o normal é homogeneizar para ser

eficiente em termos educacionais e curriculares, portanto, para consolidação de saberes

sistematizados.

O referido autor, em suas considerações, elucida que os atos de currículo

instituem uma práxis formativa, considerando que os conteúdos dialogados não

deveram permanecer no universo da exterioridade, mas vivenciados de forma

significativa. Essa proposta de currículo multirrefenciado propõe, em seu bojo, que as

experiências trabalhadas a partir do currículo ou atos de currículo devam surgir uma

esperteza adquirida apenas em situações de políticas de sentido para o sujeito

(MACEDO, 2013).

Compete mencionar que a malha curricular de uma escola é composta por

componentes curriculares desenhados por disciplinas passíveis de avaliação de

aprendizagem e temas transversais. A transversalidade deve ser vista como uma forma

de se tratarem temas que devem ser difundidos continuamente no ensino formal, através

de todos os componentes curriculares e níveis de ensino. Visto que sua complexidade

faz com que, sendo trabalhada isoladamente, seja insuficiente para abordar seus

conteúdos.

O destaque da transversalidade impõe um desafio para todos os professores,

visto que eles terão que discutir o viés sustentabilidade em suas áreas de conhecimento

específico. Para que a transversalidade possa ocorrer é preciso partir de uma formação

interdisciplinar, quando o que ocorre nas escolas é uma formação baseada por

disciplina. e acordo com Séguin (2000, p. 67), “para que a transversalidade funcione

na educação é mister que o corpo docente esteja preparado”. Para tanto é necessário que

o professor disponha de tempo pedagógico para o planejamento de suas atividades, o

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que na prática não acontece em virtude do acúmulo de jornada de trabalho, necessária à

sobrevivência.

Essa concepção de arranjo de conteúdos demanda repensar o papel de promover

o processo ensino/aprendizagem e requalificar as práticas pedagógicas e os espaços

educativos. Nesse contexto, o PME sugere às escolas, aos gestores, aos professores,

estudantes, aos monitores e a toda a comunidade uma prática educativa que vincula o

ensino formal acadêmico aos temas transversais, discutindo as práticas cotidianas dos

estudantes, impregnadas de situações de aprendizagens. Essa tarefa exige revisitar o

projeto político-pedagógico, uma vez que é através dele que podemos possibilitar o

encontro das atividades vinculadas ao ensino informal e os temas curriculares. Visto que

a construção do PPP “não se constitui na simples produção de um documento, mas na

consolidação de um processo de ação-reflexão-ação que exige o esforço conjunto e a

vontade política do coletivo escolar” (VEI A, p. 56, 2001).

Sobre o currículo e projeto político-pedagógico, Menezes (2007, p. 3) indica

que,

O currículo, como componente pedagógico significativo, deve ser

elaborado e implementado a partir das necessidades concretas, que a

realidade (social, econômica, política e cultural) propõe como desafios

e necessidades históricas (situadas num determinado tempo e lugar). A

contextualização deixa de ser um adjetivo do currículo e passa a ser

um substantivo. Currículo e Contextualização são dois elementos tão

imbricadamente associados, que o entendimento de um, leva ao

aprofundamento do outro e vice versa.

Assim, no processo de repensar o papel de fomentar o procedimento ensino/

aprendizagem e requalificar as práticas pedagógicas e os espaços educativos, o PME

propõe que as escolas e toda a comunidade tenham uma prática educativa que vincule o

ensino formal acadêmico com a vida cotidiana dos estudantes. Esta tarefa exige revisitar

o projeto político-pedagógico, uma vez que é por meio dele que podemos possibilitar o

encontro das atividades vinculadas ao ensino formal com o cotidiano dos estudantes.

Neste sentido, precisamos de uma concepção educacional que possa levar a

escola contemporânea à construção de novas configurações educativas que possam

colaborar para construção de práticas educacionais que nos ajudem a superar os desafios

históricos da educação pública, nos quais escola e comunidade estão convidadas a fazer

este exercício de reflexividade. Há que se considerar, igualmente, que a reorientação da

educação atual em direção à consolidação de uma sociedade sustentável deve se dar em

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todos os níveis, de tal forma que se aproxime da realidade dos estudantes, visando

auxiliar o estudante na tomada de decisões em direção ao futuro que vão encontrar.

Para transformar a escola em um espaço de educação sustentável é necessária

uma gestão democrática, onde todos os envolvidos possam entender e colaborar com

projetos e práticas para trazer o debate intencional das questões de sustentabilidade e

manter uma relação equilibrada com o meio ambiente que vai além de plantar mudas de

árvores em datas comemorativas e de colocar o lixo na lixeira, mas uma prática que

permita a construção de valores e o desenvolvimento de tecnologias apropriadas,

possibilitando, assim, qualidade de vida para as gerações presentes e futuras.

A escola pública não pode limitar-se à função de ensinar. Cada vez mais recaem

sobre ela responsabilidades que vão além da sala de aula, como aproximação da

comunidade local e criação de novos espaços de aprendizagens. Para tanto, o programa

mais educação, através de seus pressupostos, propõe o desenvolvimento de atividades

que venham a integrar o conhecimento acadêmico com a cultura da comunidade e

promover a articulação escola-família-comunidade, conciliando os acontecimentos de

datas históricas e comemorativas com eventos festivos da cultura local. Podendo,

através dessa prática, utilizar outros espaços de consolidação de práticas educativas que

vão além da sala de aula, como: cinema, teatro, bibliotecas, centros culturais, feiras e

praças. Significa provocar com essas atividades a aproximação possibilitando a

socialização entre a escola e a comunidade, elemento essencial para sedimentação de

uma prática inclusiva.

Trazer o PME como uma atividade planejada e com participação em todas as

dimensões (administrativa, financeira e pedagógica) sustentando o diálogo com todas as

atividades da escola, ainda aparece como um desafio a ser afrontado, visto que membros

da equipe gestora, administrativa e professores parecem não conhecer os aportes

teóricos do programa, sua finalidade e funcionamento. Isto provoca uma fragmentação

da escola em seus processos educacionais, dividindo os estudantes em turno (ensino

regular) e contraturno (PME), sugerindo que essa falta de diálogo entre professores e

monitores (voluntários que são responsáveis pelo trabalho com os estudantes) provoca

uma ruptura entre o conhecimento que é sistematizado no ensino regular com as

atividades propostas pelo PME.

O PME propõe aumentar o número de horas para permanência dos estudantes na

escola, na perspectiva da educação em tempo integral. Pensar na elaboração de uma

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proposta de educação integral como política pública das escolas brasileiras é refletir

sobre a transformação do currículo escolar ainda tão impregnado das práticas

disciplinares da modernidade. O processo educativo, que se dinamiza na vida social

contemporânea, não pode continuar sustentando a certeza de que a educação é uma

tarefa restrita ao espaço físico, ao tempo escolar e aos saberes sistematizados do

conhecimento universal. Também não é mais possível acreditar que o sucesso da

educação está em uma proposta curricular homogênea e descontextualizada da vida do

estudante (BRASIL, 2010b).

O PME tem como premissa a formação interdisciplinar entre os diversos

conteúdos da educação básica. Ocorre que o modelo vivenciado na educação formal,

ainda, é um modelo baseado na repetição resultante de uma educação bancária. Para

termos sucesso na execução do programa, deveríamos trabalhar dentro da formação

critico-reflexiva, libertadora, complexa, que trabalha dentro da perspectiva da

interdisciplinaridade. Romper com os limites impostos pela rigidez de um projeto

político-pedagógico engessado e setorial constitui-se como uma contribuição do PME,

que poderá possibilitar que a convivência entre professores, estudantes, monitores e

comunidade aconteça de forma horizontal, para que esta forma de pensar e agir em

relação à educação seja capaz de sedimentar as bases para a construção de uma cultura

intercultural baseada nos valores sustentáveis, onde todos são responsáveis pelo

desenvolvimento de sua escola, comunidade e sociedade.

Nesse sentido, surge a necessidade de verificar se o PME, que tem no seu

pressuposto legal promover a articulação entre a escola e a realidade local, está

articulado com o currículo. Há que se considerar, também, que a reorientação da

educação atual em direção à consolidação de uma sociedade sustentável deve ocorrer

em todos os níveis, de tal forma que se aproxime da realidade dos estudantes. Portanto,

é necessário repensar a malha curricular, os componentes curriculares, a disciplina e as

áreas de conhecimento, visando programar projetos com a temática sustentável, de

modo a imprimir novas dinâmicas na relação ensino/aprendizagem, fazendo com que o

currículo se aproxime mais da realidade vivenciada pelos estudantes.

Foi, portanto, com essa preocupação, a de identificar que percepção tinha os

gestores e monitores do PME sobre a articulação das ações do PME com o currículo e o

PPP, que no âmbito desta investigação, ouviram-se esses sujeitos e se fez, a seguir, uma

análise de suas percepções sobre esta situação.

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2.3 Analisando a percepção dos gestores e dos monitores sobre currículo e projeto

político-pedagógico

2.3.1 A percepção dos gestores sobre a articulação das ações do Programa Mais

Educação com o currículo e o Projeto Político Pedagógico das escolas campo de

atuação

Neste item analisam-se a percepção dos gestores sobre a articulação das ações

do PME das escolas campo de atuação com o currículo e o PPP, as quais pertencem a

uma Gerência Regional de Educação situada na cidade do Recife-PE. Para coletar a

percepção dos gestores escolares sobre a articulação do PME com o currículo e o PPP,

indagou-se a esses profissionais sobre essa articulação. Portanto, neste ponto, deste

trabalho analisa-se o conteúdo do discurso dos entrevistados considerando as suas

percepções sobre essa questão. Ressalta-se que os sujeitos desta pesquisa, gestores

escolares, serão aqui designados da seguinte forma: Gestor 1 (G1), Gestor 2 (G2) e

Gestor 3 (G3), constituem-se nos gestores das três escolas que serviram de campo a esta

investigação. Já o Gestor Regional de Educação e o Coordenador Estadual do PME

estão aqui designados respectivamente por GR e CPME. Fizeram parte também da

coleta de dados referente a este item, outros gestores de outras escolas da referida

regional, onde são desenvolvidas ações do PME ao quais estão aqui designados por

Gestor Grupo (GG).

Na sequência destas reflexões, apresenta-se a seguir uma análise sobre a

percepção dos gestores e coordenador a propósito da articulação das ações do PME com

o currículo e o PPP das escolas campo de atuação. Assim sendo, quando indagados

sobre a relação existentes entre as práticas vivenciadas no PME e sua articulação com o

PPP e/ou currículo, os Gestores e o Coordenador afirmaram que,

“Para que haja uma articulação efetiva do PME com o currículo e o

PPP das escolas é necessário que se cumpra do documento do MEC e

se designe um professor com carga horária para coordenar as

atividades”. [GG]

“Na realidade são bem separados [o PME e o ensino regular], pois

em muitas escolas eu vejo uma rejeição pelos alunos do Programa

Mais Educação [contraturno], como se eles não fizesse parte da

escola” [G4].

“Considero, como tem a parte de reforço em português e matemática,

a gente sempre indica aos pais, principalmente aos dos alunos que

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possuem mais dificuldade, que geralmente causam mais problema”.

[G2]

“Considero que deveria ser dada uma atenção diferenciada as demais

atividades [temas transversais] por serem agregadoras de vários

saberes que estão interligados com o PPP da unidade de ensino. No

entanto, outras atividades como: pintura, música, esportes não

contribui com o aprendizado específico, com a formação do

estudante” [GR]

“Todos os documentos orientadores do Programa Mais Educação,

instigam para a integração e o diálogo entre o currículo, o projeto

pedagógico das escolas. Os processos de formação que

desenvolvemos junto às equipes do programa, também, provocam

essa discussão. Qualquer programa que a escola desenvolva, precisa

dialogar com o currículo. Currículo, não é um conjunto de conteúdos

agregados em disciplina”. [CPME]

“Acredito que sim, porém por termos um foco para o estudante do

ensino fundamental, muitos deles são oriundos de grupos familiares

bem fragilizados e, não absorvem efetivamente a proposta que é

repassada e vivenciada nas atividades ministradas o que vai gerar um

baixo aproveitamento. Contudo, é visível que o estudante que está no

programa por mais de um ano começa a externar suas

habilidades/conhecimentos de forma mais apropriada e positiva”.

[G1]

“Sim, porque as ações que desenvolvemos no PME são escolhidas de

acordo com as necessidades que detectamos em nossa escola e que

estão elencadas como proposta de trabalho em nosso PPP e currículo

escolar. Essas ações, como são bem direcionadas fortalecem o

trabalho pedagógico na escola, aumenta a auto-estima dos nossos

alunos, a responsabilidade e a vontade de aprender”. [G3]

Os gestores [GG] e [G4] falam de maneira manifesta que não existe articulação

entre o currículo e o PPP nas atividades desenvolvidas no PME, quando revelam que

“para que haja uma articulação efetiva do PME com o currículo e o PPP das escolas é

necessário que se cumpra do documento do MEC e se designe um professor com carga

horária para coordenar as atividades”, enquanto [G4] acrescenta: “na realidade são

bem separados [o PME e o ensino regular], pois em muitas escolas eu vejo uma

rejeição pelos alunos do PME [contraturno], como se eles não fizesse parte da escola”.

Este distanciamento entre o PME e o planejamento da escola provoca uma dificuldade

em colocar a política do PME em prática, denunciando que o referido Programa não

consegue sedimentar as mudanças no cotidiano das escolas, tão necessárias. Neste ponto

de vista, Rosa (2012, p. 13) indica que o PME “trata-se de uma política que, nas

entrelinhas, mostra o que deve ser camuflado: que a educação é aparelho de hegemonia

do capital, com dupla função, dentro de uma perspectiva dialética – conservar e superar

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as estruturas capitalistas”. Indica, ainda, que o não cumprimento do que consta a

legislação acerca do professor comunitário, que deve ter no mínimo quarenta aulas

atividades para coordenar o PME, contribui para conservação de práticas que não

corroboram para uma educação baseada na ação-reflexão-ação. Diferente, portanto, da

educação transformadora proposta por Freire (1987), que propõe que a educação não se

constrói através de uma relação de doação, mas de conquista.

Sugerem também que as atividades do PME desenvolvidas no contraturno

escolar, por monitores que não pertencem ao quadro efetivo de professores da rede e são

voluntários que recebem uma bolsa para custear o transporte. Os referidos

monitores/voluntários podem ser estudantes dos cursos de pedagogia ou licenciatura,

preferencialmente deviam ter, ou estar em formação acadêmica compatível com a

atividade que fossem desenvolver na escola. Outra forma de seleção desses monitores é

por meio de pessoas do entorno da escola com conhecimentos e habilidades

reconhecidas pela comunidade escolar, conforme o Decreto nº 7.083/2010 (BRASIL,

2010a).

A proposta do PME visa articular o conteúdo proposto para as atividades do

programa com os diversos conteúdos dos componentes curriculares propostos na malha

curricular e com o Projeto Político Pedagógico. Para que o PME possa alcançar seus

propósitos é indispensável verificar se existe diálogo entre os professores efetivos com

os monitores do programa, visto que, caso isto não ocorra , pode provocar uma

separação entre o que é vivenciado na sala de aula regular e no programa, fazendo

parecer que as atividades do PME compõem uma nova escola. É necessário

compreender, também, que as práticas realizadas além do horário escolar precisam estar

sintonizadas com o currículo e os desafios acadêmicos. Entretanto, [G2] diz que o que

ocorre no cotidiano da escola é uma prática bem separada do ensino regular e do

contraturno (PME), quando refere: “Na realidade são bem separados” [o PME e o

ensino regular].

O PME como uma estratégia de indução à política de educação integral das

escolas públicas precisa melhor articular-se às ações previstas no PPP e do Currículo.

Deve incluir temas transversais que proponham a discussão da identidade cultural da

comunidade para sedimentar uma aprendizagem significativa aos estudantes, com a

mesma relevância que os componentes curriculares. Entretanto, como isso pode

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acontecer se os professores da rede não estabelecem diálogo com os monitores, como

fica evidenciado nas falas dos gestores?

As atividades que acontecem no contraturno da escola precisam estar articuladas

com o currículo e o PPP de maneira a motivar os estudantes na conquista da

aprendizagem significativa e problematizadora. Contudo, isto não ocorre, colocando em

risco os resultados previstos para o PME. Sobre isso, nos adverte Arroyo (2012, p. 33),

“se um turno já é tão pesado para tantos milhões de crianças e adolescentes condenados

a opressivas reprovações, repetências, evasões e para tão extensos deveres de casa, mais

uma dose do mesmo será insuportável”.

Deste modo, para que as escolas possam enfrentar tantos desafios é preciso

semear a concepção de uma escola para todos, que aguce a curiosidade e inquietude do

educando para a ação-reflexão-ação. Para que o PME possa atingir seus objetivos

propostos se faz necessário entender que o programa não trata de compromissos

estranhos à escola por parte dos educadores, educandos, monitores e comunidade, mas

de uma proposta pedagógica que poderá, em consonância com o currículo, o PPP e

adesão de toda comunidade escolar, produzir resultados significativos no enfrentamento

a uma concepção errônea de uma escola fragmentada e mecanicista. Sobre o assunto,

Pacheco (2009) acresce que “a educação e o currículo são projetos de questionamento,

construído na diversidade e pluralidade de marcas pessoais e sociais, compreensíveis na

base de uma conversação complexa”. Para tanto, é necessário que o diálogo se

estabeleça entre todos os atores, que além de encontrarmos as limitações que impedem o

fortalecimento do PME possamos buscar ações para resolver as questões que provocam

a descontinuidade do mesmo. Percebe-se, na fala de [G2]: “Considero, como tem a

parte de reforço em português e matemática, a gente sempre indica aos pais,

principalmente aos dos alunos que possuem mais dificuldade, que geralmente causam

mais problema” que o PME está articulado ao currículo e ao PPP da escola nas

disciplinas de português e matemática. Dentro da perspectiva de reforço escolar,

diferente do que revela os pressupostos do PME, que discorre sobre uma educação

emancipadora, além dos muros da escola. Tal fato deduz-se das escolhas dessas

atividades, pois essas disciplinas estão incorporadas no macrocampo acompanhamento

pedagógico que é obrigatório para todas as escolas que participam do Programa. A

importância dada às duas disciplinas justifica-se, também, por serem instrumentos de

cálculo nas avaliações de larga escala como Prova Brasil, Índice Desenvolvimento da

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Educação Básica (IDEB) e Sistema de Avaliação Educacional de Pernambuco

(SAEPE).

Sobre este tema, das atividades de português e matemática, serem reconhecidas

como reforço escolar, os gestores falam de maneira manifesta que visualizam uma

relação de proximidade/reforço nos conteúdos trabalhados nas atividades do PME e do

ensino regular, apenas nas atividades de português e matemática. Sugerindo que tais

componentes curriculares por pertencer ao “núcleo duro do currículo” e por serem

cobradas nas avaliações de larga escala são mais exploradas.

Arroyo (2012, p. 33) nos adverte que “uma forma de perder seu significado

político será limitar-nos há oferecer mais tempo na escola, ou mais um turno – turno

extra – ou mais educação do mesmo tipo de educação”. Mais um turno de educação com

práticas pouco criativas poderá provocar falta de interesse dos estudantes pelas

atividades do PME. Por outro lado, como é revelado na conversa com o gestor que não

existe diálogo entre as atividades realizadas no turno regular com as ações que são

desenvolvidas no contraturno pelos monitores do PME: “outras atividades como:

pintura, música, esportes não contribui com o aprendizado específico, com a formação

do estudante” [GR]. Essa fala sugere uma aus ncia de comunicação entre a “educação

formal” e a “educação informal”. A falta de diálogo e descontinuidade das ações apenas

contribui para uma fragmentação do conhecimento, o que demonstra a ausência da

práxis, e, portanto, a não concretização do ato curricular.

Observa-se na fala do gestor da Gerência Regional [GR] “Considero que

deveria ser dada uma atenção diferenciada as demais atividades [temas transversais]

por ser agregadora de vários saberes que estão interligados com o PPP da unidade de

ensino” a manifestação da necessidade de uma relação de maior proximidade das

atividades de outros macrocampos do PME com o currículo e o PPP, indicando que tais

atividades também mantêm relação de aderência com o currículo e o PPP. Portanto,

pensar na elaboração de uma proposta de “Educação Integral” e “Escola de Tempo

Integral”, sugerida pelo PME, como política pública nas escolas brasileiras é refletir

sobre a transformação do currículo escolar ainda tão impregnado das práticas

disciplinares da modernidade. O processo educativo, que se dinamiza na vida social

contemporânea, não pode continuar sustentando a certeza de que a educação é uma

tarefa restrita ao espaço físico, ao tempo escolar e ao saber sistematizado do

conhecimento universal. Também não é mais possível acreditar que o sucesso da

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educação está em uma proposta curricular homogênea e descontextualizada da vida do

estudante (BRASIL, 2010b). É necessário entender que não existe neutralidade no

currículo, ele é veículo de ideologia, de filosofia e de intencionalidade educacional.

Dentro desta perspectiva verifica-se a necessidade de um aprofundamento do

debate sobre como o PME e sua articulação com o currículo e o PPP das escolas de

educação básica, se de fato ele está contribuindo para a “educação integral” e a “escola

de tempo integral”, com vista a promover uma educação crítico-reflexiva, e em que

medida as ações do PME se direcionam para o fortalecimento dos sujeitos na

perspectiva da educação inclusiva. Considerando-se, ao mesmo tempo, que a prática de

uma “educação integral” sugere uma educação baseada na ação-reflexão-ação e tempo

pedagógico para o planejamento, o que na prática verifica-se que ainda não acontece.

Corroboram com esse pensamento de forma latente os sujeitos: CPME, G3 e G1

quando afirmam que “todos os documentos orientadores do Programa Mais Educação,

instigam para a integração e o diálogo entre o currículo, o projeto pedagógico das

escolas. Os processos de formação que desenvolvemos junto às equipes do programa,

também, provocam essa discussão. Qualquer programa que a escola desenvolva,

precisa dialogar com o currículo. Currículo, não é um conjunto de conteúdos

agregados em disciplina” [CPME] e [G3] “Sim, porque as ações que desenvolvemos no

PME são escolhidas de acordo com as necessidades que detectamos em nossa escola e

que estão elencadas como proposta de trabalho em nosso PPP e currículo escolar”.

Enquanto G1 diz que “Acredito que sim, porém por termos um foco para o estudante do

ensino fundamental, muitos deles são oriundos de grupos familiares bem fragilizados e,

não absorvem efetivamente a proposta que é repassada e vivenciada nas atividades

ministradas o que vai gerar um baixo aproveitamento. Contudo, é visível que o

estudante que está no programa por mais de um ano começa a externar suas

habilidades/conhecimentos de forma mais apropriada e positiva”. Consolidar, portanto,

o PME como uma política de educação integral é um desafio para as escolas públicas de

educação básica, uma ação que somente poderá ter sucesso dentro da escola se for

desenvolvido com “muitas mãos”, com a participação de toda comunidade escolar,

sociedade civil e representante da União, estados e municípios.

Por fim, há que se pensar que o movimento de luta e resistência dos educadores

é indispensável para ampliar as possibilidades e apressar as mudanças que se fazem

necessária dentro e fora dos muros da escola. Assim, precisamos entender que o PME

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apresenta-se como uma política para induzir as mudanças que as escolas precisam para

sedimentar uma prática educacional problematizadora capaz de envolver os conteúdos

dos componentes curriculares e, também os temas transversais. Precisamos, pois,

encontrar uma forma de sociabilização e acompanhamento interdisciplinar entre as

atividades do ensino regular e as atividades do PME, com o objetivo de assegurar uma

prática pedagógica que possa nos levar a construção de uma educação significativa.

2.3.2 A percepção dos monitores sobre a articulação das ações do Programa Mais

Educação com o currículo e o Projeto Político Pedagógico das escolas campo de

atuação

Neste item deste trabalho analisa-se a percepção dos monitores sobre a

articulação das ações do PME nas escolas campo de atuação já citadas, indagando-os

sobre a articulação do PME com o currículo e o PPP. Portanto, neste ponto, analisa-se o

conteúdo do discurso dos entrevistados relacionando-os à ideia de currículo e PPP

presente nesta investigação. Os sujeitos desta pesquisa, monitores escolares do PME,

serão aqui designados da seguinte forma: Monitor 1 (M1), Monitor 2 (M2), Monitor 3

(M3), Monitor 4 (M4), Monitor 5 (M1), Monitor 6 (M6), Monitor 7 (M7), Monitor 8

(M8) e Monitor 9 (9). Constituem-se os monitores das três escolas que serviram de

campo a esta investigação. Fizeram parte também da coleta de dados referente a este

item, outros monitores de outras escolas, da referida regional, onde são desenvolvidas

ações do PME ao quais estão aqui designados por Monitor Grupo (MG).

Na sequência destas reflexões, apresenta-se uma análise sobre a percepção dos

monitores a propósito da articulação das ações do PME com o currículo e o PPP das

escolas campo de atuação. Assim sendo, quando indagados sobre a relação existentes

entre as práticas vivenciadas no PME e sua articulação com o PPP e/ou currículo, os

monitores afirmaram que,

“O Projeto Político Pedagógico não está atrelado ao Programa Mais

Educação, é interessante que com a ajuda do gestor haja uma

articulação com os professores do quadro, para nos integrarmos dos

conteúdos e dificuldades existentes”. [MG]

“Quando se fizesse o planejamento pedagógico, os monitores PME

deveriam participar, pois iriam conhecer como funciona o PPP da

escola e como funciona cada professor, e ai sim, trabalhando nessa

irmandade daria mais resultado. Se eu como professor [monitor]

começo a conhecer o aluno através das capacidades analisadas e

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revistas pelo professor, eu poderia melhorar o desenvolvimento

cognitivo desse aluno”. [M2]

“Como não conheço o PPP da escola, não posso te responder essa

pergunta”. [M2]

“Não existe, porque falta o dialogo entre o PME e os professores”.

[M4]

“Mais ou menos, quando chegamos foi falado como seria o

programa, acerca de documentação não. Acho que tem, mas não o

suficiente”. [M3]

“Tem um pouco de cada. Como cheguei a pouco tempo, não ouve

entrosamento entre o corpo docente da escola. Esse ano o tema foi

Vinícius de Moraes, mas não havia trabalhado samba, o trabalho

ficou fora do contexto mas nos apresentamos”. [M8]

“Na matemática, você sabendo a base, consegue resolver problemas

mais difíceis. Como é uma disciplina exata, todas as noções básicas,

são o início, meio e fim de um assunto difícil, pois na verdade irão se

aplicar apenas regras”. [M5]

“Minha oficina, como é de xadrez, talvez no sentido de atenção

agilidade e raciocínio. Mas como nos temos letramento, na parte de

Português e Matemática, dá certo reforço ao que é visto na sala de

aula nas aulas convencionais”. [M1]

“Sim, eu procuro trabalhar os conteúdos que eles possuem

dificuldade, então tento esclarecer esses conteúdos para que eles

possam compreender, entretanto, isso não é feito de forma direta com

os professores, mas através das dúvidas expostas pelos alunos”. [M7]

“Sim, no caso a Matemática, em que é empregado quantidades de

tinta, figuras geométricas. [demais matérias] não, pois os professores

das demais disciplinas desprezam o projeto. Pois os professores

enxergam os alunos que participam do projeto como se eles não

tivessem solução”. [M6]

“Não, vejo mais como uma atividade recreativa para eles” [M9].

Para garantir uma boa ética global é preciso que se amplie a participação ativa

das escolas interessadas em trabalhar com projetos educacionais que contemplem o

processo de aprendizagem dentro da perspectiva da interdisciplinaridade, baseada em

uma ética que agreguem conhecimento e valor ao indivíduo, escola, comunidade e

sociedade. Esta transformação somente poderá ser concretizada a partir do desafio de

repensar a escola, que entre outras ações, requer repensar o currículo escolar e o PPP

das escolas.

Para uma melhor compreensão das concepções que envolvem a escola e o PPP

dentro visão da educação emancipadora, é necessário à participação de todos os atores

que participam do processo educativo da escola. Entretanto, os monitores [MG] e [M2]

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trazem de forma manifesta a falta de articulação entre o PME, PPP e currículo, quando

referem: “O PPP não está atrelado ao PME, é interessante que com a ajuda do gestor

haja uma articulação com os professores do quadro, para nos integrarmos dos

conteúdos e dificuldades existentes” [MG], por outro lado [M2] afirma: “Quando se

fizesse o planejamento pedagógico, os monitores PME deveriam participar, pois iriam

conhecer como funciona o PPP da escola e como funciona cada professor, e ai sim,

trabalhando nessa irmandade daria mais resultado. Se eu como professor [monitor]

começo a conhecer o aluno através das capacidades analisadas e revistas pelo

professor, eu poderia melhorar o desenvolvimento cognitivo desse aluno”.

Demonstra o desejo que os monitores possuem de participar de maneira mais

ativa das atividades da escola. Ratifica esse pensamento a fala do monitor [MG] quando

diz que o PME não está atrelado ao PPP da escola. Estes relatos são muito

significativos e evidencia necessidades de mudanças nas práticas das escolas para

consolidação de uma educação inclusiva. Os monitores citados demonstram pretensão

de uma participação ativa no momento de articular as atividades do PME com o

currículo. E, ainda uma participação nas decisões do planejamento das atividades da

escola envolvendo gestores, professores e monitores, para que através desse diálogo

promover a disseminação de uma cultura escolar dialógica.

Este ponto de discussão do estudo evidencia uma contradição, visto que o PME

somente atingirá seus resultados se os professores da rede discorrer com os monitores e

mostrar interesse com o Programa. Entretanto, os professores não demonstram interesse

pelo PME, o que fica demonstrado de forma manifesta na fala de [M4] “Não existe

[articulação do PME com o PPP], porque falta o dialogo entre o PME e os

professores”.

Por outro lado, os monitores mostram-se ávidos por aceitação e valorização do

seu trabalho por parte dos professores do turno regular. Portanto, é indispensável

reestabelecer o diálogo na escola, como forma de coibição do “opressor”, sobre o risco

de perpetuarmos as desigualdades históricas das relações dominado/dominador.

Corroborando com a questão sobre opressor e oprimido, Freire (1987, p. 68) adverte

que, “em verdade, não seria possível à educação problematizadora, que rompe com os

esquemas verticais característicos da educação bancária, realizar-se como prática da

liberdade, sem superar a contradição entre o educador e os educandos”.

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Pode-se verificar que sobre o planejamento, os monitores [M3], [M8] e [M7]

não mencionaram a utilização de nenhum documento legal da escola para nortear seu

planejamento, em momento algum vincularam suas maneiras de conduzir seu

planejamento vinculado ao PPP da escola, quando referem: “mais ou menos, quando

chegamos foi falado como seria o programa, acerca de documentação não. Acho que

tem, mas não o suficiente” [M3], “como cheguei a pouco tempo, não houve

entrosamento entre o corpo docente da escola. Esse ano o tema foi Vinícius de Moraes,

mas não havia trabalhado samba, o trabalho ficou fora do contexto mas nos

apresentamos” [M8], “eu procuro trabalhar os conteúdos que eles possuem

dificuldade, então tento esclarecer esses conteúdos para que eles possam compreender,

entretanto, isso não é feito de forma direta com os professores, mas através das dúvidas

expostas pelos alunos” [M7].

Ao mesmo tempo, os monitores anunciam que fazem o seu planejamento para as

atividades que iram desenvolver no PME, baseado nas conversas com os estudantes,

mostrando vinculação aos pressupostos do PME, caso nos depoimentos acima. Este fato

assinala a necessidade de novos pactos entre governo, sociedade, escola, monitores e

estudantes para que essa articulação entre o PME e o PPP aconteça e possa abrir espaço

para o debate sobre a reorganização do cotidiano da escola. Sobre o assunto, Freire

(1996, p. 96), acrescenta que “o fundamental é que professor e alunos saibam que a

postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não

apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve”. É importante que professores, gestores,

monitores e estudantes possam se assumir como sujeitos epistemologicamente curiosos

e motivados para implantar as mudanças tão necessárias para uma escola significativa.

A escola é pensada como espaço de congregação marcado pelo intercâmbio de

informações entre os diversos atores do processo de gestão que envolve manifestações

de práticas e políticas contraditórias e congruentes, lutas e acomodações que fazem

parte do processo histórico e epistemológico do ambiente escolar. Infere-se, portanto,

que esse processo somente poderá ocorrer com uma educação fundamentada no

conhecimento integral, diferente da ciência fragmentada, dividida em disciplina, uma

vez que esse modelo apenas contribui para destituir do educando o significado do

conteúdo. Entretanto, os monitores [M5 e M1] abordam a pertinência temática de seus

conteúdos em alguns componentes curriculares, o que demonstra por parte dos mesmos

uma dificuldade de enxergar a transversalidade que permeia todos os conteúdos

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curriculares, quando afirmam que, “na matemática, você sabendo a base, consegue

resolver problemas mais difíceis. Como é uma disciplina exata, todas as noções

básicas, são o início, meio e fim de um assunto difícil, pois na verdade irão se aplicar

apenas regras”. [M5], “minha oficina, como é de xadrez, talvez no sentido de atenção

agilidade e raciocínio. Mas como nos temos letramento, na parte de Português e

Matemática, dá certo reforço ao que é visto na sala de aula nas aulas convencionais”.

[M1]. Justifica-se o fato, em virtude, da ausência de uma formação acadêmica na área

pedagógica ou mesmo uma falta de formação prévia por parte da escola para discussão

dos referidos temas, indispensáveis para consolidar os objetivos previstos na

regulamentação do PME.

Além disso, os monitores [M6 e M9] referem-se em relação ao PME e aos

professores com destaque ao desprezo que é manifestado pelos professores do ensino

regular, e também, uma percepção de que o PME é apenas uma atividade recreativa,

destituído de intenção pedagógica e curricular: “no caso a Matemática, em que é

empregado quantidades de tinta, figuras geométricas. [demais matérias] não, pois os

professores das demais disciplinas desprezam o projeto. Pois os professores enxergam

os alunos que participam do projeto como se eles não tivessem solução”. [M6], “[o

PME] vejo mais como uma atividade recreativa para eles” [M9].

A propósito do PPP e sua articulação com o PME Cavaliere (2012, p. 06),

adverte-nos que o projeto político-pedagógico “é entendido como a própria organização

do trabalho pedagógico da escola. A construção do PPP parte dos princípios de

igualdade, qualidade, liberdade, gestão democrática e valorização do magistério”.

Ressalta-se, ainda que o projeto político-pedagógico guarda em sua intimidade a

manifestação do currículo escolar, indicando como fazer e mensurar os propósitos

orientados na malha curricular. Entretanto, dado o exposto, percebe-se a falta de

acomodação do PME no núcleo da escola e, além disso, a sua desarticulação do

planejamento, o que corrobora para manutenção de uma escola baseada na falta de

criticidade dos estudantes, elemento indispensável para construção de uma sociedade

com valores sustentáveis.

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3 O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO NA PERSPECTIVA DA AÇÃO-

REFLEXÃO-AÇÃO

Este item está organizado sob três eixos de discussões. O primeiro consiste em

focalizar a dialogicidade como essência de uma educação assente na ação-reflexão-

ação. Para tanto, recorre-se aos autores Freire (1996), Gadotti (2005) e Bordenave

(2008). No segundo eixo, procura-se ajustar o conceito do Programa Mais Educação,

desde sua concepção a uma educação sustentável com o termo cidade educativa e

bairro-escola nesse novo paradigma da educação. Por fim, procura-se discutir as

práticas do Programa mais Educação para uma sociedade comprometida com valores

sustentáveis.

3.1 Pressupostos teóricos sobre a ação-reflexão-ação

O Programa Mais Educação propõe a concepção problematizadora da educação,

buscando por meio da constante ação transformadora da realidade objetiva, sedimentar

nos educandos um aprendizado através da ação-reflexão-ação, enraizada na sua

realidade e em sua vida, como seres histórico-sociais. O Programa consiste em uma

indução da política de “educação integral” e “escola de tempo integral” que traz para o

cenário da educação básica uma proposição para construção de uma educação que

precisa vencer os desafios impostos por uma concepção de educação baseada na

“enfadonha” repetição na qual o professor, detentor do conhecimento, deposita todo seu

conhecimento nos estudantes como se eles fossem um “recipiente vazio”. Para reire

(1987, p. 58) “o educador, que aliena a ignorância, se mantém em posições fixas,

invariáveis. Será sempre o que sabe, enquanto os educandos serão sempre os que não

sabem. A rigidez destas proposições nega a educação e o conhecimento como processos

de busca”. Avanços, desafios e questionamentos são elementos presentes para uma

reorganização curricular capaz de ampliar os tempos e espaços para sedimentar uma

prática educativa significativa, capaz de levar os estudantes a pensar e questionar o seu

cotidiano, na perspectiva de consolidar uma escola sustentável (MOLL, 2012).

Assim, o termo sustentabilidade passa a ganhar espaço nas concepções

pedagógicas propõe estabelecer uma compreensão antagônica entre a busca incessante

do homem por produção e riqueza e o cuidado necessário com o ambiente e com as

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pessoas. A busca por conhecimento e evolução está inserida numa visão dominadora

que divide os países desenvolvidos e subdesenvolvidos, dominador e dominado. Para a

compreensão de que o desenvolvimento sustentável deve alcançar equidade na

distribuição de riquezas, a perspectiva é de que as desigualdades sociais e econômicas

possam ser superadas numa abrangência local e global, sendo a educação um dos

mecanismos para alcançar tamanhos objetivos. Todavia, Freire (1987, p. 67) adverte

que “a educação que se impõe aos que verdadeiramente se comprometem com a

libertação não pode fundar-se numa compreensão dos homens como seres “vazios a

quem o mundo “encha” de conteúdo”. Mas, de homens comprometidos em ação

intencionada para um mundo mais equitativo, inserindo o indivíduo numa comunidade

que é global, regional e local concomitantemente.

O Programa Mais Educação pode representar um caminho para sedimentação de

uma educação que proponha com intencionalidade o envolvimento de todos para

consolidação de uma prática educativa sustentável, visto que o PME só poderá ser

desenvolvido de maneira coletiva, com muitas mãos. Isso implica a necessidade de

abertura ao novo e a incorporação de novas complexidades, que segundo Cavaliere

(2012, p. 292), necessita de uma nova “ordem epistemológica, política, e pedagógica

que caracterizam o nosso presente, e nos parece que se faz sem receitas e roteiros

prévios, mas talvez ainda com algumas certezas ou apostas”. Indica que ainda não

elaboramos uma prática sustentável para o PME, mas aliado à prática da ação-reflexão-

ação poderemos consolidar este porvir.

Esta concepção pode levar a escola contemporânea à construção de novas

configurações educativas colaborando para a construção de práticas educacionais que

ajudem os estudantes a superar os desafios históricos da educação pública, nos quais

escola e comunidade estão convidadas a fazer este exercício (BRASIL, 2009b). Freire

(1996, p. 15) corrobora com este pensamento ao sugerir que “não podemos nos assumir

como sujeitos da procura, da decisão, da ruptura, da ação, como sujeitos da opção, como

sujeitos históricos, transformadores, a não ser assumindo-nos como sujeitos éticos”.

Partindo desta premissa, alguns pressupostos teóricos foram difundidos, sobre os

quais iremos discorrer nesta discussão. A ecopedagogia abordada por Gadotti (2005, p.

16) propõe a educação ajustada nos princípios da sustentabilidade que:

Vai além da preservação dos recursos naturais e da viabilidade de um

desenvolvimento sem agressão ao meio ambiente. Ele implica um

equilíbrio do ser humano consigo mesmo e com o planeta, mais ainda,

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com o universo. A sustentabilidade que defendemos refere-se ao

próprio sentido do que somos de onde viemos e para onde vamos

como seres do sentido e doadores de sentido a tudo o que nos cerca.

Em sua apresentação sobre a ecopedagogia, Gadotti (2005) permite-nos

vislumbrar valores que apontam para uma educação baseada na complexidade,

interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, que recomenda a busca de uma educação

que possa vir a estabelecer valores vinculados e educação sustentável. Uma pedagogia

que tende à promoção da aprendizagem a partir da percepção e valorização das coisas

vivenciadas no cotidiano dos educandos. Propondo que essas vivências experimentadas

por eles estão impregnadas de significados capazes de possibilitar a construção e

consolidação da aprendizagem significativa e ao mesmo tempo sustentável.

Para Bordenave e Pereira (2008, p. 10), “embora os autores não tomem posição

com respeito à solução para os diversos problemas analisados, reconhecem que não são

neutrais na oposição entre dois tipos de educação: a educação ‘bancária’ ou

‘convergente’ e a educação ‘problematizadora’ ou ‘libertadora’”. A educação bancária

está baseada na transmissão do conhecimento e da experiência do professor, atribuindo

uma importância suprema ao “conteúdo da matéria” e consequentemente, espera que os

alunos o absorvam sem modificações e o reproduzam fielmente nas provas. Seu

objetivo fundamental é produzir um aumento de conhecimentos ao estudante, sem

preocupar-se com ele como pessoa integral e como membro de uma comunidade.

Como consequência natural, o aluno é passivo, grande tomador de notas, exímio

memorizador, prefere manejar conceitos abstratos a resolver de forma original e

criadora problemas concretos da realidade em que vive. Na educação

“problematizadora”, uma pessoa só conhece bem algo quando a transforma,

transformando-se ela também no processo. A solução do problema implica na

participação ativa e no diálogo constante entre alunos e professores. A aprendizagem é

concebida como a resposta natural do aluno ao desafio de uma situação-problema

(FREIRE, 1996).

Enquanto na prática “bancária” da educação, que tem como característica a

repetição como instrumento da construção da aprendizagem, é também antidialógica por

essência, por isto, não comunicativa. Visto que o educando não é incentivado ao

diálogo, à reflexão. Enquanto o educador é o senhor do conhecimento, que deposita no

educando o conteúdo programático dos componentes curriculares, baseado em seu

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modelo não dialógico. Neste contexto, não investiga no cotidiano dos educandos os

temas que suscitaram sua curiosidade e reflexividade. Por outro lado, o educando na

prática problematizadora, condutora da prática educativa que objetiva levá-lo à reflexão,

à dialogicidade e à ação-reflexão-ação por excelência, o conteúdo jamais é

“depositado”, mas se organiza e se constitui na visão do mundo dos educandos, em que

se encontram seus temas geradores (FREIRE, 1987). Nosso trabalho será conduzido por

este pressuposto, desencadeador da ação-reflexão-ação.

Atualmente, a educação integral e/ou em tempo integral vem discutir a

perspectiva de a escola ofertar uma formação pedagógica baseada na ação-reflexão-ação

em que todas as esferas de governo terão que confrontar-se para atender seus

pressupostos previstos no Plano Nacional de Educação. Como forma de enfrentar este

desafio e minimizar esses impasses, em 2008, no Brasil, foi implementado um novo

programa financiado pelo Ministério da Educação (MEC), através do Fundo Nacional

de Desenvolvimento da Educação (FNDE) o Programa Mais Educação (PME), que tem

como pressuposto básico aumentar de quatro para sete horas o tempo escolar dos alunos

da Educação Básica, dentro de uma perspectiva da Educação em Tempo Integral. Esta

proposta nasce em meio a este debate e apresenta uma visão capaz de levar a escola

contemporânea a uma ampliação das necessidades formativas do sujeito, contemplando

as dimensões afetiva, ética, estética, social, cultural, econômica, política e cognitiva

(BRASIL, 2009b).

O PME é composto por macrocampos e atividades que poderão permitir o

dialogo sobre a educação sustentável, visto que, traz em seu bojo a construção de

conhecimentos, de habilidades, de competências e de atitudes para conquista da

sustentabilidade socioambiental. Além disso, propõe o debate sobre a transformação das

escolas em espaços educadores sustentáveis, com intencionalidade pedagógica de

estimular formas sustentáveis de ser e estar no mundo; possibilita práticas educacionais

que têm por finalidade promover o respeito aos direitos humanos e liberdades

fundamentais, contribuindo para que os estudantes sejam protagonistas da construção e

promoção de uma cultura de direitos humanos; e, ainda propõe atividades que

promovam educação para um consumo sustentável, participação no controle social dos

gastos públicos, bem como o protagonismo e empreendedorismo social e sistemas

solidários de economia (BRASIL, 2012a).

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Traz, também, em seus pressupostos a concepção da “educação integral” e

“escola em tempo integral”, procurando através da constante ação transformadora da

realidade objetiva debater esse fato. Para tanto, Cavaliere (2012, p. 280), em relação ao

PME, acrescenta que “abarca diferentes aspectos da condição humana, tais como os

cognitivos, emocionais e societários, por isso, com frequência, o termo aparece ao

conceito de ‘homem integral’”. Dentro desta expectativa, busca-se conciliar os temas

dos componentes curriculares comuns com a parte diversificada ou transversal, na

perspectiva de que os monitores possam, através da observação constante dos

educandos, estabelecer um canal de comunicação e diálogo que permita a inclusão de

uma metodologia criativa e dialógica no desenvolvimento das atividades desse

Programa. De modo que os educandos possam desenvolver o seu poder de apreensão e

de compreensão do mundo que lhes aparece, não mais como uma realidade estática, mas

como uma realidade em transformação (FREIRE, 1987).

O PME é um programa federal que traz em seus pressupostos teóricos a

fundamentação de uma prática pedagógica que busca em sua conjectura uma formação

dialógica. É um programa que surge com a promessa de suscitar o debate entre a

educação formal e informal e apresenta uma visão capaz de levar à escola

contemporânea a uma concepção de que a educação integral não se limita, apenas, ao

aumento do tempo e espaço nos projetos de educação, mas parte da ideia de que os

estudantes são seres portadores de uma complexa experiência social e merecem atenção

diferenciada porque são frutos de processos igualmente diferenciados.

O Programa objeto deste estudo aparece como uma estratégia para desenvolver a

formação para o Desenvolvimento Local Sustentável, que propõe uma compreensão

entre crescimento econômico, equidade social, aliada à preservação ambiental.

Relacionando ações e atividades humanas pautadas no uso inteligente dos recursos

naturais, descarte adequado dos resíduos e compreensão de que o uso consciente dos

recursos naturais implica a sobrevivência do planeta, com ampliação da melhoria da

qualidade de vida.

Busca também dialogar com o enfrentamento das dicotomias impostas por um

modelo de educação que dificulta ou inibe a curiosidade do estudante. Esse Programa

vem sendo implementado pelos governos estaduais e municipais em parceria com o

governo federal, na busca de transformar a escola em um espaço educativo para todos:

gestores, educadores, estudantes e comunidade em seu em torno. Assim, em seus

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pressupostos, valoriza a educação popular defendida por Freire (1996) que em suas

diretrizes incentiva a valorização dos saberes populares, sem com isso distanciar-se da

busca pelo planejamento e rigorosidade de liberdade e autoridade.

Neste contexto, enfatiza-se que o processo de seleção para as escolas

participarem do PME é baseado no baixo Índice de Desempenho da Educação Básica -

IDEB. Os estudantes, público-alvo desse programa, são aqueles que apresentam baixo

rendimento do IDEB e cujas famílias são beneficiadas com a bolsa família. Além

desses, há também os que gostam de permanecer na escola. Dado o exposto, temos uma

ambiguidade na efetivação dessa política, pois não sabemos se de fato o PME cumpre

um papel como política educacional indutora da escola em tempo integral e de educação

integral ou se possui um caráter político de elevação dos indicadores de desempenho

com o propósito de cumprir metas e acordos nacionais e internacionais.

Entretanto, muitas dessas ações parecem não possuir em seu bojo a resolução

efetiva dos problemas educacionais existentes nas escolas públicas, tais como:

infraestrutura precária, desvalorização dos professores e baixo aprendizado dos

estudantes. Na maioria das vezes, estas ações, se constituem em medidas pontuais para

resolver provisoriamente os problemas, direcionando a inclusão dos estudantes em

projetos que visam o aparelhamento da escola em recursos tecnológicos e práticas

permeadas de interesses de elevação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

- IDEB. O que revela que as escolas ao fazerem seu planejamento de inclusão no

Sistema Integrado de Monitoramento Execução e Controle - SIMEC, invariavelmente,

optam pelas disciplinas de português e matemática.

Portanto, para as escolas participarem do PME é necessário que façam adesão ao

mesmo, cadastrando seu Plano de Atividade de Educação Integral através do SIMEC.

As atividades que serão elencadas deverão ser fruto de discussões sobre a proposta

pedagógica da escola e do impacto que a execução das atividades eleitas irá provocar,

sobretudo na maneira de pensar, organizar, desenvolver e avaliar os resultados, o que,

em muitos casos, sugere uma necessidade de (re) visitar seu Projeto Político Pedagógico

- PPP, bem como o termo de compromisso de gestão.

O referido Programa pretende atuar numa perspectiva de educação integral que

dialogue com a complexidade de saberes que envolvem também as experiências

comunitárias para dentro do espaço escolar. Esta prática pedagógica que propõe a

autonomia do educando encontra na pedagogia libertadora proposta por Paulo Freire,

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um caminho para autossuperação, bem como uma educação contextualizada, libertadora

e dialógica. Apoiada na relação educador-educando de forma reflexiva, capaz de

superar as dicotomias procedentes de uma crise civilizatória alimentada por uma

educação bancária e aliada a um sistema capitalista perverso e destruidor das

singularidades culturais. Também propondo relações horizontais mais apropriadas entre

os diversos autores, dentro de uma prática educativa crítica capaz de promover uma

educação baseada na autonomia (FREIRE, 1996). Embora a prática do PME não se

assente ainda em tais pressupostos.

Frequentemente as escolas da educação básica tendem a adotar o PME como

uma forma de sedimentar a educação integral, prevista no Plano Nacional de Educação

que normatiza que todas as escolas de educação básica deverão oferecer educação em

tempo integral até 2021 (BRASIL, 2001). Entretanto, se faz necessário pesquisar se este

programa da forma que vem sendo executado nas escolas públicas estaduais é capaz de

equacionar essa questão. Visto que, percebe-se que da maneira que vem sendo realizado

tem provocado outros desafios dentro das escolas, como a execução de atividades do

PME no contraturno escolar e novos arranjos na gestão escolar com o surgimento do

voluntariado, uma vez que os monitores não são professores da rede estadual, mas

voluntários que da forma que são selecionados hoje contribui para reafirmar uma visão

missionária da proposta de educar, realizada por “tios” e “tias” ( REIRE, 1987)

Observa-se que as escolas públicas estaduais funcionam normalmente em dois

turnos. Por outro lado, o desenvolvimento do PME demanda algumas adaptações de

espaço físico, em relação tuno/contraturno. Ao mesmo tempo, é preciso discutir se os

monitores selecionados para desenvolver as atividades do PME, possuem os

conhecimentos necessários para desenvolver suas atividades dentro da prática baseada

na ação-reflexão-ação. Ou se vêm desenvolvendo as atividades do programadas através

de métodos permeados por pouca criatividade e ausência de discussão dialógica.

Assim sendo, quais perspectivas pode-se esperar de uma escola que abraça o

PME, sem dialogar com toda comunidade escolar sobre o impacto que o programa pode

apontar para toda comunidade escolar, visto que os pressupostos teóricos do programa

induzem a uma mudança na prática pedagógica e admitem estreitar os laços entre o

conhecimento formal e o informal, possibilitando a vivência dos conteúdos propostos

pela malha curricular, através de práticas e metodologias de ensino que contribuam para

a construção de uma formação dialógica?

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Salienta-se, ainda, que a simples inserção desse programa não é suficiente para

vencer o desafio de enfrentamento à evasão escolar, à violência, e ao baixo índice de

aprovação. De acordo com Freire (1987, p. 68), “ensinar não se esgota no objeto ou do

conteúdo, superficialmente feito, mas se alonga à produção das condições em que

aprender criticamente é possível”. Dentro deste pressuposto, o mesmo autor acrescenta

que “o educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado,

em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa”.

É necessário fazer uma reflexão sobre a prática pedagógica com a intenção

trocar modelos mentais cristalizados ao longo do tempo de uma postura pedagógica que

se baseava em ensinar-aprender, o que até então era tido como certo e verdadeiramente

aceito na comunidade acadêmica. Esse modelo acaba destituindo o indivíduo da

construção de uma nova ideia, de um novo saber, no qual resolver problemas antigos

requer uma contextualização contemporânea de novas necessidades e desejos, de uma

nova escola, de um novo educador a partir de uma necessidade que emerge de toda a

sociedade, na qual essa nova proposta de sistematização metodológica da construção do

saber inclui a possibilidade de errar, ancorada nos desejos dos mestres, dos alunos e da

escola. Para Freire (1996, p. 53):

Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades

para sua própria produção ou a sua própria construção. Quando entro

em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto à indagações, à

curiosidade, às perguntas dos alunos, às suas inibições; um ser crítico

e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar e não

a de transferir conhecimento.

De fato é preciso construir uma nova educação, um novo sistema de pensar a

escola, o aluno e a função do educador, evidenciando um misto de erros e acertos, novo

e velho, e, sobretudo de um novo homem, criando novos caminhos de identificação e

construção de novos mapas conceituais para quebrar paradigmas, onde é consubstancial

agregar à inovação tecnológica um processo de desenvolvimento escolar significativo.

Esta forma de ensinar encontra na construção da autonomia do sujeito uma

pedagogia que poderá levar o aprendiz a um conhecimento significativo. Formosinho et

al. (2010, p. 91) refere que “autonomia não resulta apenas na outorga formal e legal de

um poder e de uma liberdade, mas também do uso que cada indivíduo, cada grupo, cada

organização ou cada coletividade faz desse poder e liberdade”. O que dar a entender

que não podemos construir a autonomia fora do contexto da percepção do estudante

enquanto sujeito de direito capaz de compreender e ser agente de construção de sua

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história. Condição que não pode ser edificada a partir da valorização mecânica e

repetição do objeto ou conteúdo, visto que, nesta perspectiva, o aprendiz funciona muito

mais como paciente do que como sujeito curioso capaz de compreender e construir sua

história (FREIRE, 1996).

Orientar o currículo para a solução de problemas significa procurar e planejar

situações suficientemente abertas para induzir nos alunos uma busca e apropriação de

estratégias adequadas não somente para darem resposta a perguntas escolares como

realidade cotidiana (POZO, 1998, p. 14). Todavia, como podemos discutir e sedimentar

uma cultura de respeito ao próximo e igualdade em nossas escolas, quando vivenciamos

uma coletividade marcada pelas desigualdades que gera discriminação, violência,

opressão e bullying? Para sedimentar na escola um espaço que respeite o diálogo,

precisamos de uma educação que impulsione o respeito e a construção de relações

paritárias entre as pessoas, e o cuidado de um com o outro, com a escola e comunidade.

Concepções aceitas e visualizadas na edificação da educação sustentável.

Dentro do contexto, de promover uma educação que ultrapasse os muros da

escola, reconhecendo que as práticas pedagógicas não ocorrem apenas na sala de aula,

propomos trazer para o bojo das discussões o conceito de cidade/bairro educador. O

conceito de Cidade Educadora parte do ponto de vista, de uma educação que ultrapassa

os espaços e tempos educativos dos muros da escola, elementos necessários para que

uma educação integral possa vir a ser desenvolvida nas práticas cotidianas dos

estudantes que podem ultrapassar os muros de uma educação formativa para uma

educação que compreende os seus espaços públicos como, cinema, praças, feiras, teatro,

biblioteca, entre outros, como espaços de construção de saberes necessários ao

desenvolvimento de suas habilidades e competências. Para que uma cidade se

transforme em educadora é necessário que assuma, através das suas políticas, a

intencionalidade formativa nos seus projetos, com vista a apoiar o desenvolvimento

integral do(s) cidadão(s), dentro de uma visão interdisciplinar do conhecimento. Não

objetiva apenas a formação no ambiente escolar, mas também atender a comunidade

como um todo, visando à melhoria da qualidade de vida (COSTA, 2012).

O termo “cidade educadora” aproxima a comunidade em seu entorno com o

propósito intencional de enfrentar os desafios propostos para uma educação que

pretende consolidar os conhecimentos do estudante a partir de seus conhecimentos

prévios, compreendendo que o mesmo possui experiências cotidianas impregnadas de

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saberes. Diferente da educação mecânica da consciência, como nos diz Freire (1987, p.

67) “que o v como algo vazio a ser preenchido”, um dos fundamentos implícitos na

visão “bancária criticada”. A educação que contempla os espaços educativos da cidade

requer uma educação dialógica que leve o estudante a problematizar os desafios do

cotidiano. Vale ressaltar que esse conceito não deve restringir-se apenas à cidade, nos

termos de zona urbana, mas que uma comunidade qualquer que seja, pode tornar-se uma

sociedade sustentável.

Dentro desta concepção, Costa (2012, p. 481), ao estudar tais conceitos,

identificou quatro condições elementares para a construção e sustentabilidade das

comunidades educativas:

A articulação de espaços democráticos de debate de construção de

projetos coletivos e integradores por parte dos agentes locais, o

desenvolvimento de práticas educativas que articulem o currículo

formal aos saberes comunitários, a produção e livre circulação de

informações sobre o território e a identificação e fomento dos

potenciais culturais, em especial, a ocupação positiva de espaços

públicos.

Portanto, trabalhar a escola e o bairro-escola como espaço educativo é

compreender a cidade como grande espaço para consolidação da aprendizagem

significativa, que propõe para professores e estudantes experiências no espaço formal e

no comunitário, possibilitando que o conhecimento informal possa compor instrumentos

de aprendizagens não apenas incluídos nos temas transversais, mas de forma articulada

com todo currículo escolar.

Para enfrentarmos tantos desafios é preciso semear a ideologia de uma escola

para todos, que aguce a curiosidade e a inquietude do educando para a ação-reflexão-

ação. Desta forma, para que o PME possa atingir seus objetivos propostos se faz

necessário entender que o programa não se trata de compromissos estranhos à escola

por parte dos educadores e educandos, mas de uma proposta pedagógica que poderá, em

consonância com o currículo, com o PPP e a adesão de toda comunidade escolar

produzir resultados significativos no enfrentamento a uma concepção errônea de uma

escola fragmentada e mecanicista.

É indispensável uma educação que fortaleça uma prática para construção de

valores de uma prática educacional sustentável capaz de promover o diálogo entre o

currículo. Nesta forma de pensar a educação, Freire (1997, p. 93) argumenta sobre o

fazer pedagógico que pudesse “levar o homem a uma nova postura diante dos

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problemas de seu tempo e de seu espaço. A da intimidade com eles. A da pesquisa ao

invés da mera, perigosa e enfadonha repetição de trechos e de afirmações desconectadas

das suas condições mesmas de vida”. Mas da prática dialógica que leve o educando a

refletir sobre a construção de valores sustentáveis capazes de preencher de significado

sua forma de ser e estar no mundo.

É imprescindível entendermos como fazer uma escola sustentável para

sociedades sustentáveis, como nos diz Boff (2012, p. 244): “A educação se propõe

suscitar nos estudantes a criatividade de descobrir novas conexões, inventar novas

linguagens, criar novos símbolos e forjar modelos de aparatos e objetos para extração de

benefícios da natureza”. As escolas podem ser espaços educadores sustentáveis,

possibilitando a prática de uma gestão participativa onde todos os atores da comunidade

escolar poderão participar do processo decisório que envolve os desafios de enfrentar as

mudanças sociais, econômicas e ambientais. Permitindo, dessa maneira, que ela possa

se transformar em espaços de aprendizagens significativas, de uma educação que,

segundo Freire (1967, p. 93):

Levasse o homem a uma nova postura diante dos problemas de seu

tempo e de seu espaço. A da intimidade com eles. A da pesquisa ao

invés da mera, perigosa e enfadonha repetição de trechos e de

afirmações desconectadas das suas condições mesmas de vidas.

Precisamos, por conseguinte, promover uma educação popular que promova

inclusão para formação de sujeitos críticos-reflexivos do seu ser e estar no mundo, de

uma educação sustentável que como nos fala Paulo Freire (1987) que promova

cidadania, na qual o oprimido ao conquistar os seus direitos historicamente negados,

liberta seu opressor de seu excessivo individualismo, abrindo caminhos para uma

educação solidária, responsável, dialógica, inclusiva e sustentável.

Foi deste modo, com essa preocupação, a de identificar que percepção tinha os

gestores e monitores do PME sobre a relação das ações do PME com ação-reflexão-

ação, que no âmbito desta investigação ouviram-se esses sujeitos e se faz a seguir uma

análise de suas percepções sobre esta situação.

3.2 Analisando a percepção dos gestores e dos monitores sobre a ação-reflexão-ação

no Programa Mais Educação

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3.2.1 A percepção de gestores sobre a ação-reflexão-ação no Programa Mais Educação

Neste item deste trabalho analisa-se a percepção dos gestores sobre a articulação

das ações do PME nas escolas campo de atuação, as quais pertencem a uma Gerência

Regional de Educação situada na cidade do Recife. Para coletar a percepção dos

gestores escolares sobre se há contribuições do PME para construção do conhecimento

na perspectiva da ação-reflexão-ação, indagou-se a esses profissionais sobre essa

articulação. Portanto, neste ponto deste trabalho analisa-se o conteúdo do discurso dos

entrevistados e procura-se inferir a propósito de conteúdos alusivos à presença da ação-

reflexão-ação na prática de gestores e monitores ligados ao PME. Os sujeitos desta

pesquisa, gestores e monitores escolares, serão aqui designados da seguinte forma:

Gestor 1 (G1), Gestor 2 (G2) e Gestor 3 (G3), constituem-se nesta nos gestores das três

escolas que serviram de campo a esta investigação. Já o Gestor Regional de Educação e

o Coordenador Estadual do PME estão aqui designados respectivamente por GR e

CPME. Fizeram parte também da coleta de dados referente a este item deste trabalho

outros gestores de outras escolas, da referida regional, onde são desenvolvidas ações do

PME os quais estão aqui designados por Gestor Grupo (GG).

Na sequência destas reflexões, apresenta-se a seguir, uma análise sobre a

percepção dos gestores e coordenador a proposito se há contribuições do PME para

construção do conhecimento na perspectiva da ação-reflexão-ação, das escolas campo

de atuação. Assim sendo, quando indagados sobre se há contribuições do PME para

construção do conhecimento na perspectiva da ação-reflexão-ação, estes afirmaram que,

“O processo de ação-reflexão-ação acontece no momento em que os

professores se permitem rever suas práticas retomando o assunto com

seus alunos de forma diferenciada. Isto requer planejamento e tempo

pedagógico o que não acontece com monitores do PME. Além disso,

não há articulação com as atividades desenvolvidas pelos professores

em sala de aula. Tecnicamente o programa é ideal, no entanto no real

não acontece”. [GR]

“Não, não tem como, não tem tempo. Os monitores ainda

acompanham os problemas dos alunos. Quando a gente ver algo

errado, agente comenta e conserta. Eles tem o cuidado de trazer

alunos para resolver problemas”. [G2] “Nas atividades que eles

gostam mais: dança e Judô; Alguns alunos se tornaram lutadores em

outras instituições como SESC, [ganharam] várias medalhas, algumas

famílias se envolvem e apoiam. Um aluno, por exemplo, conseguiu

uma colocação para um campeonato nacional no Rio de Janeiro,

[mas] a família não deu apoio” [G2].

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“Precisamos realizar um diagnóstico para identificar as áreas de

interesse dos estudantes: Programar atividades contextualizadas e

criativas, palestras motivadoras com temas variados, gincanas

solidárias e torneios”. [GG]

“As escolas são orientadas para fazer adesão ao programa e escolher

entre as atividades àquelas que melhor representam sua realidade”

[CPME]

“Mesmo com esta melhora do desempenho vejo que o trabalho vem

sendo desenvolvido por monitores e não por profissionais da rede

(professores) não tem e nem traz os resultados almejados na melhoria

da qualidade da educação. Buscamos alinhar as ações do professor

em sala de aula e a do monitor, mas o êxito ainda é pequeno”. [G1].

“Os nossos monitores desenvolvem um trabalho bastante rico

nesse sentido. Exemplo do jornal escolar e educação ambiental em

que os alunos se deparam com questões e situações ricas do ponto de

vista reflexivo que ajudam a desenvolver o raciocínio crítico e a

percepção de mudanças” [G3]

Procurando compreender sobre uma educação, na qual os conhecimentos

sedimentados na prática pedagógica ultrapassam os muros da escola, através de

informações que permitem ao estudante formular seus problemas, bem como propor

soluções para os mesmos, verificou-se que os gestores [GR e G2] trazem de forma

manifesta em sua fala que no PME não existe tempo pedagógico para esse tipo de

prática ação-reflexão-ação. Ao revelarem que, “o processo de ação-reflexão-ação

acontece no momento em que os professores se permitem rever suas práticas

retomando o assunto com seus alunos de forma diferenciada. Isto requer planejamento

e tempo pedagógico o que não acontece com monitores do PME. Além disso, não há

articulação com as atividades desenvolvidas pelos professores em sala de aula.

Tecnicamente o programa é ideal, no entanto no real não acontece” [GR] e “não, não

tem como, não tem tempo. Os monitores ainda acompanham os problemas dos alunos.

Quando a gente ver algo errado, agente comenta e conserta. Eles tem o cuidado de

trazer alunos para resolver problemas” [G2]. Também comunicam, de forma pontual,

que essa prática pedagógica é comprometida por uma falta de continuidade entre o

ensino regular (professores da rede) e os monitores no contraturno (PME).

Denunciando, assim a não existência da prática crítica-reflexiva no referido Programa.

Entretanto, o referido gestor [G2] denuncia [em sua fala] que “não tem como,

não tem tempo. Os monitores ainda acompanham os problemas dos alunos. Quando a

gente ver algo errado, agente comenta e conserta. Eles tem o cuidado de trazer alunos

para resolver problemas”. Revelando que os monitores acompanham o estudante no

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seu cotidiano, em relação aos seus problemas domésticos e busca alternativas com

outros sujeitos implicados no processo educacional para acompanhar e resolver as

questões da sala de aula. Não seria esta uma ação pedagógica capaz de provocar a ação-

reflexão-ação. Por outro lado, as falas dos gestores convergem ao elucidarem que no

PME não existe tempo pedagógico para a ação intencional do PME na perspectiva da

sustentabilidade da educação.

Verifica-se, portanto, que os estudantes não são estimulados a pensar seu papel

no processo de ensino aprendizagem. Isto evidencia que é preciso requalificar as

práticas pedagógicas em seus espaços educativos, visto que a construção de uma prática

critico-reflexiva é fruto de um trabalho de muitas mãos e sugere às escolas na figura de

seus gestores, professores, estudantes, monitores e toda a comunidade, uma prática

educativa que vincula o ensino formal acadêmico com a vida cotidiana dos (as)

estudantes. Essa tarefa exige revisitar o PPP, uma vez que é por meio dele que podemos

possibilitar o encontro das atividades vinculadas ao ensino informal e os temas

curriculares (GADOTTI, 1992).

O processo educativo é dinâmico e não pode continuar sustentando a certeza de

que a educação é uma tarefa restrita ao espaço-tempo escolar e aos saberes

sistematizados do conhecimento acadêmico. Para propor um processo de mudança desta

realidade é necessária a elaboração de um Projeto Político-Pedagógico articulado com a

comunidade escolar, pois não é mais possível acreditar que o sucesso da educação está

em uma proposta curricular obtusa e descontextualizada da vida do estudante (MOLL,

2010). Isso significa que o planejamento escolar é um processo pedagógico intencional

e deliberado, visto que objetiva promover relações significativas entre o estudante e o

conhecimento já produzido, ou seja, possibilitar o acesso à cultura e ao conhecimento

produzido pela sociedade ao longo do tempo (MOROSSINI, et al., 2012). Corrobora

com esse assunto, o gestor [GPME] quando diz que “as escolas são orientadas para

fazer adesão ao programa e escolher entre as atividades àquelas que melhor

representam sua realidade”.

O referido autor recomenda que toda escola deve ter uma definição bastante

clara de seu planejamento, inclusive no momento da definição das atividades do PME,

de modo a definir as atividades que melhor dialogam com a comunidade, da qual está

inserida a escola. O planejamento do PME e do PPP possui a responsabilidade de

promover unidade de valores e ações capazes de orientar os princípios e regras que

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possam orientar a ação pedagógica cotidiana que envolve a escola no seu turno regular e

contraturno. Entretanto, os gestores vêm anunciando, de maneira recorrente, que não

existe tempo pedagógico para concretização deste formato de ação.

Há que se considerar que a reorientação da educação atual em direção à

consolidação de uma sociedade sustentável deve se dar em todas as atividades do turno

e contraturno escolar, de tal forma que se aproxime da realidade dos estudantes, visando

auxiliá-los na tomada de decisões em direção ao futuro. Contribuindo na perspectiva de

uma educação dialógica, o PME tem como premissa a formação interdisciplinar entre os

diversos conteúdos do currículo da educação básica. Entretanto, o modelo vivenciado na

educação formal ainda é baseado na repetição oriunda de uma educação bancária. Para

Freire (1987, p. 58), “na visão “bancária” de educação, o “saber” é uma doação dos que

se julgam sábios aos que julgam nada saber”. Para termos sucesso na execução do PME

precisaríamos trabalhar dentro da formação critico-reflexiva, libertadora e complexa,

que se baseia na perspectiva da interdisciplinaridade. Assim, romper limites impostos

pela rigidez de um PPP engessado e setorial e, também, da ausência desses

planejamentos requer contribuição de todos os atores da escola, pois, desta forma

poderemos edificar uma prática pedagógica na perspectiva da ação-reflexão-ação.

As atividades propostas pelo PME são relacionadas com a sustentabilidade da

educação, que propõe nas atividades do contraturno escolar uma prática criativa e

integrada a realidade local, que contempla um novo fazer. Entretanto, o gestor [GG] diz

que é “preciso realizar um diagnóstico para identificar as áreas de interesse dos

estudantes e programar atividades contextualizadas e criativas, palestras motivadoras

com temas variados, gincanas solidárias e torneios”. Revelando de forma latente o

desejo de implantar esse novo fazer dentro da escola, através de uma prática que

demanda parcerias. Por outro lado, O gestor diz que, “Os nossos monitores

desenvolvem um trabalho bastante rico nesse sentido. Exemplo do jornal escolar e

educação ambiental em que os alunos se deparam com questões e situações ricas do

ponto de vista reflexivo que ajudam a desenvolver o raciocínio crítico e a percepção de

mudanças” [G3], demonstrando que os monitores da referida escola já encontraram

uma forma de desenvolver uma prática reflexiva nas ações do PME.

Assim, temos um caminho extenso para o devir cheio de esperanças e incertezas,

para que venhamos sedimentar experiências significativas no cotidiano dos estudantes,

além dos muros da escola, articuladas com os saberes locais, usando o conceito de

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cidade educadora e utilizando espaços como: teatro, câmara municipal, feiras, praças e

outros parceiros. O gestor [G2] acrescenta, em sua fala, “nas atividades que eles gostam

mais: dança e Judô; Alguns alunos se tornaram lutadores em outras instituições como

SESC, [ganharam] várias medalhas, algumas famílias se envolvem e apoiam. Um aluno,

por exemplo, conseguiu uma colocação para um campeonato nacional no Rio de

Janeiro, [mas] a família não deu apoio”.

Essa experiência bem sucedida do estudante que participa de outras atividades

com parceiros da escola, apresenta resultados bem animadores, principalmente na área

de esporte. Nesta perspectiva, verifica-se a necessidade de aprofundamento do debate

para que as ações desenvolvidas no âmbito da “bairro cidade educadora” possam

despontar em uma parceria com as atividades do PME no fortalecimento dos sujeitos na

perspectiva da ação-reflexão-ação.

3.2.2 A percepção dos monitores sobre a ação-reflexão-ação no Programa Mais

Educação

Neste item deste trabalho analisa-se a percepção dos monitores sobre a

articulação das ações do PME nas escolas campo de atuação, as quais pertencem a uma

Gerência Regional de Educação situada na cidade do Recife. Para coletar a percepção

dos monitores escolares sobre se há contribuições do PME para construção do

conhecimento na perspectiva da ação-reflexão-ação, analisou-se o conteúdo do discurso

dos entrevistados e relacionou-se à categoria da ação-reflexão-ação presente nesta

investigação. Os sujeitos de desta pesquisa, gestores escolares, serão aqui designados da

seguinte forma: Monitor 1 (M1), Monitor 2 (M2), Monitor 3 (M3), Monitor 4 (M4) ,

Monitor 5 (M1), Monitor 6 (M6) , Monitor 7 (M7), Monitor 8 (M8) e Monitor 9 (9).

Constituem-se nesta nos monitores das três escolas que serviram de campo a esta

investigação. Fizeram parte também da coleta de dados referente a este item deste

trabalho outros monitores de outras escolas, da referida regional, onde são

desenvolvidas ações do PME ao quais estão aqui designados por Monitor Grupo (MG).

Na sequência destas reflexões, apresenta-se a seguir uma análise sobre a

percepção dos monitores a proposito se há contribuições do PME para construção do

conhecimento na perspectiva da ação-reflexão-ação. Assim sendo, quando indagados

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sobre se há contribuições do PME para construção do conhecimento na perspectiva da

ação-reflexão-ação, os monitores afirmaram que,

“Contar com a participação dos familiares que possam incentivar [o

PME]. O projeto deve ser visto como prêmio e não como castigo”.

[MG]

“Alguns alunos chegam pra gente com dúvidas de alguns conteúdos

que não conseguiram compreender nas aulas normais”. [M8].

“Eles exigem atividades diferentes do já vivenciado em sala de aula.

Alguns aproveitam para tirar dúvidas, mas muitos não querem

vivenciar a mesma rotina, que é escrever, estar em sala de aula

realizando atividades matemáticas, mas [preferem] assistir filmes e

realizar atividades inovadoras que muitas vezes não são exercidas no

ensino regular”. [M9]

“Sim, por exemplo, quando nos entramos, os alunos possuíam

temperamento muito forte, então a gente começou a desenvolver uma

postura acerca do controle de voz. Eu acredito que o projeto

funciona, só precisa colocar umas pessoas que gostem do que está

fazendo”. [M2]

“Comunicação, na escola acontece reunião, só que os monitores não

participam da reunião, e quando somos convidados para algum

projeto, somos chamados em cima da hora, então fica difícil articular

[ação-reflexão-ação]. Se fizéssemos partes das reuniões, aconteceria

uma maior interação, ficaríamos a par te tudo que acontece. Sentimo-

nos excluídos, como se fossemos um anexo. [ação-reflexão-ação] Não,

vejo mais como uma atividade recreativa para eles”. [M5]

“Sim, há diferenciação, geralmente os alunos do programa são visto

como os excluídos, além disso, há conflitos entre os alunos do ensino

regular e os do programa” [M9].

“Eles conseguem transportar. Alguns alunos trazem curiosidades de

fora para as aulas. A maioria deles possuem problemas em casa, e os

pais jogam a responsabilidade pra escola. Eu acolho eles, e tento

passar essa ideia de acolhimento para os demais monitores.

Acabamos nos tornando “Mãezona” , “Paizão” deles”. [M6]

“Consegue, tenho uma aluna aqui que faz grafitagem, mas ela não

quer, pois muitos dizem que é coisa de maloqueiro, e o que

conversamos ela levou pra mãe que depois veio me buscar

esclarecimento”. [M3]

“Os alunos sofrem isso [o contraturno], antigamente os alunos do

programa comia depois dos alunos do ensino regular e às vezes

faltava merenda para os alunos do programa ou pegavam o que

sobrou.” [M2].

“A gente sair com eles ao espaço ciência, ao Marco Zero, seria muito

interessante para eles, levar para academia da cidade, para outros

locais, para eles seria incrível”. [M9]

“Eu acho, a pessoa reflete acerca da minha ação e depois age acerca

do que foi refletido” [M4]

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“Com certeza, não só nos baseamos nas atividades que

desenvolvemos, mas valores, princípios, o papel social que todos nós

temos. Alguns dos nossos alunos são de comunidade carente, levam o

que aprende aqui para as comunidades”. [M1]

“Sim, eu gosto de abordar, geralmente distribuo jornais para eles

escolherem um tema polêmico e abordar em uma redação, e depois

debatemos em classe. Sempre gosto de trabalhar assuntos polêmicos

para que os que não têm conhecimento aprendam através daqueles

que expõem o que conhece, se forma que não influencie, mas que eles

próprios criem seu próprio senso crítico”.[M7]

O Programa Mais Educação trabalha na perspectiva da aproximação do

conhecimento acadêmico com o conhecimento informal, uma educação para o

reconhecimento de valores que propõe motivar e envolver indivíduos e grupos sociais

para reflexão de um modo de vida baseado em valores como: respeito pela vida, ao

ambiente, a dignidade da pessoa, e a ética nas relações, tão necessários para

consolidação de uma sociedade mais equânime.

Para o estudante que participa do PME no contraturno escolar, as atividades

desenvolvidas pelos monitores precisam estar impregnadas de experiências capazes de

melhorar seu desempenho na escola e na vida. Nesse conteúdo, o monitor [MG] diz que,

“Contar com a participação dos familiares que possam incentivar [o PME]. O projeto

deve ser visto como prêmio e não como castigo”. Revelando a necessidade do

envolvimento da família, de modo que ela perceba o PME não apenas, como um

Programa que garanta a participação do estudante para o recebimento da bolsa-família,

visto que a participação dos alunos no PME tem esse propósito de garantia do repasse

dos recursos referente à bolsa. Dentro da política de intersetorialidade previsto em sua

regulamentação (BRASIL, 2010b). Mas, que ocorra também um envolvimento da

família com o referido Programa como um prêmio, onde o estudante poderá

desenvolver suas competências.

Os monitores [M8 e M9] sinalizam entender a ação-reflexão-ação quando os

estudantes abordam na aula do PME (contraturno) a dificuldade de entender as aulas

normais (turno regular), ao revelarem que, “alguns alunos chegam pra gente com

dúvidas de alguns conteúdos que não conseguiram compreender nas aulas normais”.

[M8] e “eles exigem atividades diferentes do já vivenciado em sala de aula [turno

regular]. Alguns aproveitam para tirar dúvidas, mas muitos não querem vivenciar a

mesma rotina, que é escrever” [M9]. Fato que demonstra envolvimento das atividades

do PME com as atividades dos professores do ensino regular. Isso indica um

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ajuntamento sobre a educação formal e informal, elemento fundamental para o

enfrentamento do desafio da construção da autonomia. Para Costa (2012, p. 477)

“autonomia e o senso de responsabilidade que o processo educativo pode propiciar aos

indivíduos e aos grupos a que pertencem são a espinha dorsal de um novo sistema que

pode superar a lógica da exclusão, da desigualdade e da opressão”. É preciso, portanto,

compreender essa dialética e construir uma prática educativa nas escolas que trabalham

com o PME que aproxime os seus diversos atores – estudantes, professores, gestores,

monitores e pais, de modo que possibilite a criação de oportunidades educativas capaz

de promover o exercício sistemático da cidadania e criar condições para que os

estudantes tornem-se autônomos, indivíduos capazes de fazer escolhas responsáveis

para si mesmos e para com o mundo. Ocorre, porém, que no cotidiano das escolas,

desenvolver as atividades propostas pelo PME constitui-se em um grande desafio. Mas,

uma prática possível como traz o monitor [M2], “quando nos entramos [no PME], os

alunos possuíam temperamento muito forte, então a gente começou a desenvolver uma

postura acerca do controle de voz. Eu acredito que o projeto funciona, só precisa

colocar umas pessoas que gostem do que está fazendo”. O fato evidencia que no

contraturno os estudantes que participam das atividades do PME podem consolidar

valores para uma educação significativa.

O PME traz para realidade das escolas públicas estaduais de Pernambuco a

divisão da vida escolar em turnos, o que se constitui em restrições as ações necessárias

para sua evolução. E, ainda, o voluntariado para as escolas na figura dos monitores, que

grosso modo não são envolvidos nas atividades escolares como um todo. Tal questão

trata-se de um olhar, a ser desconstruído, fato evidenciado na fala do monitor [M5]

quando diz que “na escola acontece reunião, só que os monitores não participam da

reunião, e quando somos convidados para algum projeto, somos chamados em cima da

hora, então fica difícil articular [ação-reflexão-ação]. Se fizéssemos partes das

reuniões, aconteceria uma maior interação, ficaríamos a par te tudo que acontece.

Sentimo-nos excluídos, como se fossemos um anexo. Não vejo [ação-reflexão-ação] mais

como uma atividade recreativa para eles”. Bem como o monitor [M9] quando fala que,

“sim, há diferenciação, geralmente os alunos do programa são visto como os excluídos,

além disso, há conflitos entre os alunos do ensino regular e os do programa”.

Por outro lado, no turno regular, chamado de turno fixo, em que prevalecem as

disciplinas tradicionais, que constituem o núcleo duro do currículo e os contraturnos

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flexíveis, em que prevalecem as atividades que procuram tornar o tempo escolar

agradável. É preciso superar essa ambiguidade que separa a escola em turno, para uma

prática interdisciplinar. Para Moll (2012, p. 97) constitui em grande “desafio a ser

enfrentado e que, seguramente, acompanhará a proposição das Diretrizes Curriculares

Nacionais de Educação Integral em Tempo Integral a serem propostas pelo Conselho

Nacional de Educação em 2012”.

Verifica-se na fala dos monitores que as atividades do PME são desenvolvidas

em espaços precários, fato revelado quando o monitor diz: “os alunos sofrem com isso

[o contraturno], antigamente os alunos do programa comia depois dos alunos do ensino

regular e às vezes faltava merenda para os alunos do PME ou pegavam o que sobrou.”

[M2]. Tais procedimentos precisam ser repensados para que a metodologia baseada na

problematização e valorização dos conhecimentos prévios dos estudantes possam ser

alcançadas nas práticas do PME. Segundo Costa (2012, p. 478) “Essas questões

estruturais denunciam que, no âmbito das politicas educacionais, prevalecem

concepções que privilegiam um modelo educativo marcado pela verticalização das

relações e por uma concepção curricular esvaziada de sentido [...]”. Apesar disso, em

muitos casos, percebermos as práticas equivocadas dentro das escolas e no PME, mas

demoramos muito para mudar. Ou, em outros casos temos mantido tais práticas com

inexplicável insistência.

Considerando que a escola não é o único espaço de construção do conhecimento,

mas que os demais grupos sociais e espaços dos quais os estudantes participam estão

impregnados de vivências que podem desenvolver habilidades cognitivas, o monitor

[M9] diz como seria significativa a vivência de prática educativas em outros espaços,

“sair com eles ao espaço ciência, ao Marco Zero, seria muito interessante para eles,

levar para academia da cidade, para outros locais, para eles seria incrível” [M9].

Revela, portanto, de forma manifesta a importância desta prática para ação-reflexão-

ação. Esse método corrobora com os pressupostos de Gadotti (2005, p. 23) quando

adverte-nos que “a educação para a cidadania planetária implica uma revisão dos

nossos currículos, uma reorientação de nossa visão de mundo, da educação como espaço

de inserção do indivíduo, não numa comunidade local mais global [...]”. esta forma,

cabe identificar que precisamos construir na escola um modelo de educação baseada no

todo e, não em suas partes. Turno, contraturno, gestores, professores, monitores e

estudantes em mesmo debate da educação integral.

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Os monitores demonstram interesse em desenvolver atividades além dos muros

da escola. Entretanto, as comunidades, onde o Programa Mais Educação é

preferencialmente eleito, não oferecem as condições e as estruturas necessárias para que

as atividades curriculares possam ultrapassar os muros da escola e possibilitar a

valorização do conhecimento informal, visto que são áreas que compreendem uma

realidade de precarização de assistência social, política e de segurança, áreas de

diminuição da miséria. Concorda com esse pensamento Costa (2012, p. 478) quando

acrescenta que “hoje, na maior parte das regiões que apresentam altas taxas de

vulnerabilidade social, a escola é o único equipamento público existente, o que significa

que ela representa praticamente a única presença do Estado na vida dessas

comunidades”. eralmente, essas escolas refletem o descaso da aus ncia do poder

público, apresentando problemas de descontinuidade das políticas públicas.

Considerando os aportes teóricos do PME para consolidação de valores do ponto

de vista da ação-reflexão-ação, verificamos neste item que nem todos os monitores

compreendem o sentido epistemológico desta prática. Fato revelado quando da

entrevista, apenas o monitor [M4] disse de maneira objetiva sobre a prática da ação-

reflexão-ação, “eu acho, a pessoa reflete acerca da minha ação e depois age acerca do

que foi refletido”. Os outros monitores demonstraram problemas metodológicos e

operacionais do programa.

Os monitores [M1 e M7] relataram que alguns estudantes do PME levam o que

aprendem na escola para suas comunidades, quando falaram que, “alguns dos nossos

alunos são de comunidade carente, levam o que aprende aqui para as comunidades”

[M1] e “sempre gosto de trabalhar assuntos polêmicos para que os que não têm

conhecimento aprendam através daqueles que expõem o que conhece, de forma que não

influencie, mas que eles próprios criem seu próprio senso crítico” [M7]. Essa prática

demonstra os fundamentos do PME que pressupõem para quem não tem o

conhecimento aprende junto daqueles que expõem o que conhecem, de forma a

fortalecer e construir seu próprio senso crítico.

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4 SUSTENTABILIDADE DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO

Este capítulo propõe-se a refletir sobre a sustentabilidade do Programa Mais

Educação, sugerindo discutir os pressupostos da educação que reside no pensamento da

sustentabilidade da educação. Por conseguinte, insinua o debate da responsabilidade

socioambiental no cotidiano das escolas, tendo a sustentabilidade como um recurso de

ensino-aprendizagem para o cuidado e a preservação do nosso ecossistema. Desse

modo, discutiremos também a prática pedagógica sobre a perspectiva de uma educação

que aprecia os conhecimentos prévios do estudante, bem como, o lugar onde o mesmo

está inserido.

4.1 Perspectivas de Sustentabilidade do Programa Mais Educação

Numa época de convergência de crises, com a chegada da tecnologia, do

aquecimento global, de profundas mudanças climáticas, e do aumento da produção cada

vez mais marcada pelo uso estouvado dos recursos naturais, surgem evidências que

apontam para a impossibilidade do desenvolvimento econômico que não esteja pautado

no desenvolvimento sustentável. Com dimensões que garantam a qualidade de vida para

todos, o uso racional dos recursos naturais e uma educação voltada para

sustentabilidade, através de diferentes correntes epistemológicas capazes de sedimentar

valores, para precipitar uma sociedade mais equânime (GADOTTI, 2010).

Diante destas crises da sociedade, o avanço do conhecimento científico e

tecnológico tem produzido significativas mudanças nos sistemas sócio-histórico-

econômico-culturais. Dessa forma, as tensões decorrentes dessas mudanças provocaram

o aparecimento de movimentos, como: Conferência das Nações Unidas sobre o

Ambiente Humano (Estocolmo-1972), Workshop Internacional de Educação Ambiental

(Carta de Belgrado-1975), 1ª Conferência Intergovernamental em Educação Ambiental

(conferência de Tibilisi-1977), Conferência de Jomitien (1990), Conferência sobre O

Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 1992), Meio Ambiente e Sociedade: Educação

e Consciência Pública para Sustentabilidade (Conferência de Tessalônica-1997), I

Conferência Nacional de Educação Ambiental (Brasília-1997), Rio (2012) em prol da

superação desse desafio que evidencia a crise da sustentabilidade, colocando a educação

para valores sustentáveis como um caminho em destaque para enfrentá-lo.

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Para ulia Tomchins y (in A OTTI, 2010, p. 08) a “construção de uma nova

forma de existência no planeta implica aprendizado sobre nossa escola, nosso bairro,

nossa casa, nossa cidade e sobre como podemos transformá-los num lugar de vida

comunitária [...]”, de modo que a responsabilidade pela criação da “vida que se vive”

seja construída de maneira solidária e democrática. Para tanto, é necessário uma política

educacional que promova os repasses de recursos financeiros para custear projetos

educacionais de curto e longo prazo, com propósitos intencionais de consolidar uma

educação pública capaz de desenvolver uma prática pedagógica baseada na autonomia

do sujeito, permitindo que esses espaços educacionais sejam reconhecidos como um

espaço de coligação da comunidade.

Os repasses de recursos federais para garantir a política de autonomia financeira

das escolas são repassados as escolas através do conselho escolar, cuja função envolve

as deliberações da gestão dos recursos da unidade executora - UEx, que deve ser

composto por membros da escola (diretores, professores e alunos) e por membros da

comunidade que deverão deliberar sobre as ações que serão definidas para que a escola

possa atingir seus fins determinados no Projeto Político-Pedagógico. Neste processo de

tomada de decisão sobre os rumos da escola, cabe uma indagação: Os membros do

Conselho Escolar que não fazem parte do quadro da escola (colaboradores ou

voluntários) detêm o conhecimento das diretrizes sugeridas no PPP e do currículo?

Por meio do modelo de gestão pública, cada unidade educativa deve possuir uma

UEx, que possui como papel, aprofundar os laços com a comunidade através da gestão

autônoma e participativa, fazendo com que as escolas e agrupamentos escolares

participem dos problemas da gestão escolar, com uma postura ativa na análise e

resolução dos problemas. Buscando, assim, por meio dessas parcerias, apreenderem que

o conhecimento não seja instrumento de dominação, mas de libertação. Ocorre que em

relação ao PME, o que percebemos é uma discussão superficial das informações e das

diretrizes para que o mesmo se direcione para construção de novos sentidos

direcionados a uma ação educativa, o que provoca a fragmentação do processo

ensino/aprendizagem por parte dos membros da escola e membros do conselho escolar.

Por outro lado, o Programa Mais Educação traz em seus pressupostos teóricos o

desenvolvimento de atividades educacionais baseados nos princípios que pretende

intencionalmente “fomentar, nos termos da portaria que o criou, a “educação integral” e

uma escola que se proponha em ultrapassar os conhecimentos além dos muros da

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escola, de alunos da rede pública de educação básica de todo o país, por meio de um

conjunto de ações socioeducativas e da aproximação das escolas com as famílias”

(Cavaliere, 2012, p. 278). Os macrocampos apresentados, para que as escolas possam

eleger suas atividades de acordo com sua realidade local, compõem atividades que

deverão dialogar com o PPP e a realidade onde a escola está inserida. Após eleger as

atividades e cadastrá-las na plataforma SIMEC, as escolas receberão suplementos

financeiros para aquisição de bens e serviços (custeio e capital) para o desenvolvimento

de atividades que deverão acontecer no contraturno escolar. Assim, o PME se

desenvolve na perspectiva de consolidar uma política educacional indutora da

“educação integral” e “escola de tempo integral”, como instrumento de formação da

escola cidadã que venha fortalecer os sujeitos para uma aprendizagem pautada na ação-

reflexão-ação.

O desenvolvimento dessa aproximação entre a unidade escolar e a comunidade,

bem como, a conciliação entre o conhecimento formal e o informal e, ainda, o

desenvolvimento das atividades do PME no contraturno escolar, colabora para a

“educação integral” e “escola em tempo integral”. Sobre este contexto, Cavaliere (2012,

p. 283) acrescenta que “a educação integral está relacionada à aproximação entre a

escola, às famílias e as comunidades, não apenas do ponto de vista da gestão, mas do

encontro de saberes”. É uma concepção de formação escolar na qual surge a educação

formal, científica e curricular, aliada a uma educação não formal e construída através de

acontecimentos espontâneos, aliados ao saber escolar. Isso se dá de tal modo que pode

contribuir para o aprendizado significativo dos sujeitos, no qual as experiências de

aprendizagem continuarão para além dos muros da escola, compreendendo que o

processo educativo não é restrito ao ambiente escolar, mas se constrói no dia a dia das

experiências do educando. Portanto, a mobilização de parceiros educacionais oriundos

da comunidade, grosso modo, precisa tornar-se uma tarefa de mão dupla, com várias

possibilidades de experiências e conhecimentos socializados entre a instituição escolar e

a comunidade.

Entendemos que um longo caminho repleto de desafios e incertezas, mas

principalmente de esperança, ainda deva ser percorrida para fazer do PME uma

educação para sustentabilidade, uma estratégia que contemple tanto a sustentabilidade

como a inclusão social e cultural. Para isso, não podemos fugir à discussão dialética,

sob pena de ser uma farsa, de uma educação que se estabelece entre a socialização e

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individualização do estudante, partindo da premissa de construção da autonomia. Ou

seja, a formação de indivíduos capazes de assumir uma postura crítica-reflexiva do

mundo. Como nos adverte Freire (1987, p. 67) sobre a prática pedagógica que contribui

para formação comprometida com o desbravamento de uma escola que promova a

democratização dos saberes e oportunidades: “a educação que se impõe aos que

verdadeiramente se comprometem com a libertação não pode fundar-se numa

compreensão dos homens como seres ‘vazios’ a quem o mundo ‘encha’ de conteúdo

[...]”, mas de homens livres capazes de aprender e construir a sua própria história no

mundo.

Para trilharmos o caminho para construir a “educação integral” e a “escola de

tempo integral”, através do PME, sugerimos neste cenário o conceito de Bairro-Escola,

que propõe as trilhas educativas compostas através dos interesses e indagações dos

estudantes em relação a sua escola, bairro, comunidade, cidade, do mundo a sua volta e

de sua própria vida. Nessa conjuntura, como resposta às indagações dos estudantes, os

mesmos são convidados a vivenciar os conhecimentos curriculares, a partir dos espaços

indutores dessas aprendizagens, como praça, feiras, cinema, teatro e museus. Tais

experiências intencionalmente planejadas para construção desses saberes poderão

desenvolver nos estudantes uma aprendizagem significativa.

Para Costa (2012, p. 480), nessa junção de conhecimentos “os saberes formais

passam a ganhar sentido ao serem experimentados no contexto do cotidiano dos

estudantes. As questões que fazem parte da realidade e do imaginário desses sujeitos são

consideradas elementos indutores do currículo”. É por essa razão que entendemos que o

processo educativo não deve ser reduzido à escola, mas a todos os processos formais e

informais os quais se constituirão em um processo educativo que poderá conduzir a

escola e a sociedade para o fortalecimento da democracia e do exercício da cidadania.

Resultados esperados no desenvolvimento das atividades do PME previstos em sua

normatização.

Portanto, para que o PME venha a atingir os resultados esperados, o que

significa uma prática pedagógica voltada para valores sustentáveis, precisa ser

desenvolvido em conexão com o currículo e o projeto político-pedagógico. Porém, para

que as escolas possam enfrentar tantos desafios é preciso uma gestão escolar integrada

com todos os seus atores, na procura de uma escola para todos, que aguce a curiosidade

e inquietude do educando para a ação-reflexão-ação. É necessário que todos os atores:

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Ministério da Educação, Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco, as

Gerências de Educação, escolas, professores e monitores e comunidade participem do

referido Programa de forma interdisciplinar para garantir a consolidação de sua

conjuntura na concepção de uma educação sustentável.

O PME recomenda evidenciar é uma educação que busque superar o processo de

escolarização tão centrado na figura da escola, propondo, assim, um processo de

formação cidadã, o qual contribuirá para que o estudante tenha uma postura crítica na

sociedade e se perceba como parte integrante e transformadora. Desta forma, não

estamos minimizando a importância da escola, visto que a mesma é, de fato, o lugar de

aprendizagem legítimo dos saberes curriculares e oficiais da sociedade, mas não

devemos tomá-la como única instância educativa. Assim, integrar diferentes saberes,

espaços educativos, pessoas da comunidade, cultura e conhecimentos, é tentar construir

uma educação que pressupõe uma relação da aprendizagem para a vida, uma

aprendizagem voltada para valores de uma educação sustentável (BRASIL, 2009c).

Além disso, o Programa Mais Educação provoca a necessidade da escola e

comunidade se organizarem para que possam enfrentar coletivamente os problemas e

desafios que afetam diretamente a escola, os professores, monitores e estudantes. Para

que possam aprender com as próprias experiências organizativas e compreender que não

se deve encontrar saídas individuais, no enfrentamento de problemas coletivos. Que a

melhoria que se almeja para a escola, para o bairro e para a cidade, somente poderá ser

concretizada quando todos se comprometerem com as mudanças, e também acompanhar

a construção daquilo que deseja ver realizado. Diante disso, pode-se fazer duas

reflexões centrais que são colocadas para o debate: qual o projeto de educação e de

escola que queremos e como podemos nos organizar nos coletivos (escola, comunidade

e estudantes) para garantir a escola que queremos?

Procurando compreender e equacionar esse dilema, desde os anos 1960 foram

organizados vários eventos no Brasil e no mundo para discussão sobre como os países e

indivíduos poderão fazer para contribuir para um modelo de produção que utilize os

recursos naturais de forma racional e debates sobre a concepção de uma educação que

pudesse desenvolver nos estudantes valores para uma sociedade sustentável e ética.

Gadotti (2010, p. 13) diz que “foi só no evento paralelo da Cúpula da Terra (ECO-92),

no chamado Fórum Global, realizado no Rio de janeiro, em 1992 que foi redigida a

primeira versão da ‘Carta da Terra’”. Este órum lobal foi promovido por entidades

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da sociedade civil e com representantes de organizações governamentais de vários

países.

A Carta da Terra surge como uma alternativa promissora para criação e

discussão de práticas pedagógicas voltadas para sustentabilidade da educação. Sobre o

assunto, adotti (2010, p. 19) acrescenta que “‘A Carta da Terra’, é o equivalente à

Declaração Universal dos Direitos Humanos, apropriada para os tempos atuais,

constituindo-se num documento baseado na afirmação de princípios éticos [...]”.

Valores que deverão nortear as ações de indivíduos e nações para o desenvolvimento de

uma cultura voltada para a construção de valores para a sustentabilidade. Os referidos

valores consolidam, também, uma prática para o aprofundamento das competências e

conhecimentos esperado por monitores do PME e professore da escola, que permitam

aos estudantes um olhar local e global ao mesmo tempo, para eles possam participar e

intervir na realidade onde estão inseridos de forma criativa e responsável, vindo a

contribuir para a qualidade de vida de todos os seres vivos.

A partir da Carta da Terra, da Agenda 21 e o Tratado de Educação Ambiental o

Instituto Paulo Freire traz para discussão a “Carta da Ecopedagogia” em defesa de uma

Pedagogia da Terra, baseada nos seguintes princípios (GADOTTI, 2010, p. 20):

1. O planeta como uma única comunidade. 2. A Terra como mãe,

organismo vivo e em evolução. 3. Uma nova consciência que sabe o

que é sustentável, apropriado, o que faz sentido para a nossa

existência. 4. A ternura para com essa casa, nosso endereço comum, a

Terra. 5. A justiça sócio-cósmica: a Terra, como organismo vivo, é

também um oprimido. 6. Uma pedagogia que promova a vida:

envolver-se, comunicar-se, compartilhar, problematizar, relacionar-se.

7. O conhecimento só é integral quando é compartilhado. 8. Caminhar

coerente e com sentido na vida cotidiana. 9. Uma racionalidade

intuitiva e comunicativa, afetiva, não instrumental. 10. Novas atitudes:

reeducar o olhar, o coração. 11. Cultura da sustentabilidade: ampliar

nosso ponto de vista.

A partir da elaboração da Carta da Ecopedagogia, que tem como princípio o

apoio pedagógico e técnico para o desenvolvimento de uma prática pedagógica voltada

para sustentabilidade, o Instituto Paulo Freire engajou-se também na promoção da

Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável e procura não discutir

separadamente princípios ético-políticos e planos de ação concretos. Desse modo,

pretende motivar, preparar e envolver indivíduos e grupos sociais na reflexão sobre o

nosso modo de vida, na tomada de decisões baseadas no estabelecimento de caminhos

para um mundo mais sustentável. Contribuindo, assim, de maneira decisiva para que o

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desenvolvimento e a educação sustentável possam sair do universo do discurso e assim

alojar-se no plano das ações.

No entanto, o mundo contemporâneo já não admite indivíduos apenas executores

de tarefas elementares e rotineiras, mas sujeitos com novas habilidades, novas

capacidades e portadores de novas ferramentas profissionais. Como nos adverte

Gutiérrez-Pérez (2005) profissionais capazes de:

1 - Tomar decisões de forma autônoma; 2 - Trabalhar em equipes

dinâmicas e móveis; 3 - Compreender a atividade produtiva em seu

conjunto; 4 - Assumir responsabilidades; 5 - Responder as às

contingências que ocorrem no dia a dia; 6 - Planejar e executar

projetos complexos; 7 - Adquirir novos conhecimentos e atitudes de

forma rápida e efetiva; 8 - Identificar problemas e propor soluções; 9 -

Criativos e flexíveis no desempenho de suas atividades e funções.

Foi, então, com essa preocupação, a de identificar que percepções tinham os

gestores e monitores do PME sobre quais os conhecimentos prévios que os monitores

devem possuir para atuarem nas diversas atividades promovidas pelo PME, que no

âmbito desta investigação ouviram-se esses sujeitos e se faz a seguir uma análise de

suas percepções sobre esta situação.

4.2 Analisando a percepção dos gestores e dos monitores sobre a sustentabilidade

no Programa Mais Educação

4.2.1 A percepção dos gestores sobre a sustentabilidade do Programa Mais Educação

Neste item deste trabalho analisa-se a percepção dos gestores sobre a articulação

das ações do PME nas escolas campo de atuação, as quais pertencem a uma Gerência

Regional de Educação situada na cidade do Recife. Nesse sentido e com o objetivo de

identificar a sustentabilidade desse Programa no que se refere às competências

necessárias aos monitores para atuarem nas diversas ações/atividades promovidas pelo

PME, indagou-se aos gestores: considera que os monitores possuem as competências

necessárias para atuarem nas diversas ações/atividades promovidas pelo PME? De que

maneira?

Portanto, neste ponto desta pesquisa, analisa-se o conteúdo do discurso dos

entrevistados relativamente a essa questão e relaciona-se o discurso à ideia de

sustentabilidade da educação aqui presente. Os sujeitos desta pesquisa, gestores

escolares, serão aqui designados da seguinte forma: Gestor 1 (G1), Gestor 2 (G2) e

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Gestor 3 (G3). Estes se constituem em gestores das três escolas que serviram de campo

a esta investigação. Já o Gestor Regional de Educação e o Coordenador Estadual do

PME, aqui, designados, respectivamente por GR e CPME. Fizeram parte também da

coleta de dados referente a este item do trabalho outros gestores de outras escolas, da

referida regional, na qual são desenvolvidas ações do PME considerados aqui como

Gestor Grupo (GG).

Na sequência destas reflexões, apresenta-se a seguir uma análise sobre a

percepção dos gestores e coordenador a propósito das competências necessárias para os

monitores atuarem nas diversas ações/atividades promovidas pelo PME das escolas

campo de atuação. Assim sendo, quando indagados a esse respeito eles afirmaram,

“Tenho como base os primeiros monitores da implantação do PME

não existiam as competências mínimas necessárias para atender as

atividades promovidas desde a formação-graduação. Com o

desenvolvimento e com o acompanhamento mais efetivo esta

realidade foi mudando, e hoje temos profissionais bem capacitados no

desenvolver das atividades e conhecedores da proposta do PME”.

[G1].

“Mesmo com esta melhora do desempenho vejo que o trabalho vem

sendo desenvolvido por monitores e não por profissionais da rede

(professores) não tem e nem traz os resultados almejados na melhoria

da qualidade da educação. Buscamos alinhar as ações do professor

em sala de aula e a do monitor, mas o êxito ainda é pequeno” [G1].

“Temos ainda muito a crescer na utilização de temas que direcionam

seus resultados de maneira indireta. Atividades como: pintura, música

e esporte [são vistas] como se não contribuísse com o aprendizado

específico, com a formação do estudante” [G3].

“Acredito e colocamos sempre nas reuniões com os monitores que

vemos a educação integral como o caminho para mudanças na

modalidade de ensino, é uma preparação para o ensino médio

integral, porém os frutos seriam melhores se fossem profissionais da

educação a frente do PME” [G3].

“Como é do conhecimento de todos, os monitores recebem um valor

simbólico pelas oficinas, tornando-se um trabalho quase voluntário.

Isto tem dificultado a contratação de “bons” oficineiros. Sendo assim,

a maioria dos que desenvolvem as atividades é apenas para cumprir

carga horária do programa”. [GR]

“O programa vem fomentando a ideia de articulação entre as

instituições de ensino superior para envolvimento dos estudantes na

execução das atividades, em também aproximando de programação

de iniciação à docência. No entanto, esse ainda é um grande entrave.

Sabemos que em virtude da abrangência do programa, muitos locais

não possuem pessoas com a qualificação adequada”. [CPME]

“Realizar um diagnóstico para identificar as áreas de interesse [em

relação ao PME] dos estudantes; realizar gincanas solidárias” [GG].

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“Precisam-se de uma evolução tanto dos monitores como do

programa. Promovendo eventos de capacitação para os docentes,

como: Conhecimento básico, planejamento e metodologia, formação

acadêmica, domínio de turma, experiência com trabalhos/atividades

com jovens e disponibilidade”. [GG]

“Devido ao baixo valor pago como ressarcimento do voluntário, não

despertar interesse nas pessoas que detenham conhecimento

(português/matemática) levam as escolas a trabalhar com pessoas da

comunidade sem a qualificação desejada”. [GG].

“A monitora de dança, é aluna de uma ex-professora nossa de ballet.

Ela já trabalha em outro local com dança de rua, hip-hop . Aqui ela

trabalha de forma mais livre. O judô , a monitora é professora de

Educação Física, trabalha com Judô no SESC, ela é muito cuidadosa

e responsável. O monitor de Xadrez ele sabe jogar muito bem. A

professora de Português é universitária, mas não em letras, mas ela é

muito boa e faz o trabalho direitinho”. [G2]

Pensar em sustentabilidade da educação no PME implica em entendermos as

relações de trabalho que se estabelecem entre os atores da escola de uma educação

integral e complexa. O gestor [G1] afirma que as relações entre

monitor/professor/gestor precisam ser repensadas, ao mesmo tempo em que revela a

importância do referido Programa ser executado por professores ao invés de

monitores/voluntários, quando fala que “vejo que o trabalho vem sendo desenvolvido

por monitores e não por profissionais da rede (professores) não tem e nem traz os

resultados almejados na melhoria da qualidade da educação. Buscamos alinhar as

ações do professor em sala de aula e a do monitor, mas o êxito ainda é pequeno”. Por

outro lado, torna-se difícil articular reuniões com todos os atores da escola e

comunidade local, quando o tempo pedagógico está tão comprometido com os duzentos

dias letivos. E, ainda, uma malha curricular carregada de conteúdos impõem uma

barreira para problematização dos conteúdos no processo de construção das diversas

competências. A contínua sistematização desta prática, de pouco diálogo, vem

contribuindo para perpetuação de uma “pedagogia da repetição”.

Percebe-se, através da fala do gestor, que já existe uma compreensão que o PME

é indutor da educação integral, e apresenta-se como um caminho de mudança para uma

educação problematizadora e complexa. Entretanto, demonstra o fato do fortalecimento

do PME através de contratação de professores. Todavia, escolher melhor as atividades,

através de planejamento intencional, também pode provocar uma melhor articulação

entre as atividades do PME e toda escola. Evento evidenciado quando o gestor fala que,

“realizar um diagnóstico para identificar as áreas de interesse [em relação ao PME]

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dos estudantes” [GG]. Procedimento que, ainda, constitui-se como um grande desafio

da gestão deste Programa dentro das escolas. Sobre essa temática, Cavaliere (2012 p.

284) acrescenta que “em certa medida a concepção da educação integral desenvolvida

nos documentos do PME é formada pela intersetorialidade e descentralização na gestão

e pela multiplicação e diferenciação dos agentes educativos diretos”. Enfatizando, desta

forma, a importância da parceria entre escola, gestor, professor, monitor, estudantes e

comunidade, para o debate com esses tópicos a fim de podermos minimizar as barreiras

que se impõem e dificultam a prática de ações mais articuladas com o PME, currículo e

a prática da ação-reflexão-ação.

Para que as escolas possam desenvolver uma educação pautada na utilização de

metodologias criativas quando do desenvolvimento dos temas curriculares, se faz

necessário que os monitores possuam determinados conhecimentos, habilidades e

atitudes. No que tange a competência dos monitores o gestor [G3] falou que “acredito

e colocamos sempre nas reuniões com os monitores que vemos a educação integral

como o caminho para mudanças na modalidade de ensino, é uma preparação para o

ensino médio integral, porém os frutos seriam melhores se fossem profissionais da

educação a frente do PME”. O que ratifica o desejo de sistematizar uma educação

significativa no PME com professores da rede estadual. Visto que esses professores

devem possuir as competências para atuar de maneira significativa. Assim como,

estabelecer um plano de ação capaz de provocar o diálogo com o conhecimento

acadêmico e o informal.

É preciso, portanto, comprometimento de todos para construção do

conhecimento na proposta de uma educação dialógica, que possa colaborar com a

mudança de valores inapropriados, passando a corroborar com uma escola inclusiva,

dialógica e sustentável. Esta forma de ensinar encontra na construção da autonomia do

sujeito uma pedagogia que poderá levar o aprendiz a um conhecimento significativo.

Entretanto, o gestor [ 1] denuncia ao revelar que “buscamos alinhar as ações do

professor em sala de aula e a do monitor, mas o êxito ainda é pequeno”. Portanto, essa

discussão ainda não está sendo vivenciado nas atividades, ficando os desafios propostos

apenas no plano do discurso. Acrescenta-se, igualmente, que não podemos construir a

autonomia fora do contexto da percepção do estudante enquanto sujeito de direito capaz

de compreender e ser agente de construção de sua história. Condição essa que não pode

ser edificada a partir da valorização mecânica e repetição do objeto ou conteúdo. Visto

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nesta perspectiva, o aprendiz funciona muito mais como paciente do que como sujeito

curioso capaz de compreender e construir sua história (FREIRE, 1996).

O Programa Mais Educação traz em seus pressupostos teóricos a fundamentação

de uma prática pedagógica que busca em seus aludidos uma formação dialógica.

Entretanto, a falta de estrutura física e a adesão de voluntários sem conhecimento

adequado da cultura local e do conhecimento acadêmico faz com os resultados sejam

tímidos, como revelam os gestores: “temos ainda muito a crescer na utilização de

temas que direcionam seus resultados de maneira indireta. Atividades como: pintura,

música e esporte [são vistas] como se não contribuísse com o aprendizado específico,

com a formação do estudante” [G3]. “tenho como base os primeiros monitores da

implantação do PME não existiam as competências mínimas necessárias para atender

as atividades promovidas desde a formação-graduação.”. [G1]. Apóia esse

pensamento (Freire 1987, p. 69) ao revelar que “desse modo, o educador

problematizador refaz, constantemente, seu ato na cognoscitividade dos educandos”.

Sobre o mesmo conteúdo outro gestor acrescenta que, “mesmo com esta

melhora do desempenho vejo que o trabalho vem sendo desenvolvido por monitores e

não por profissionais da rede (professores) não tem e nem traz os resultados almejados

na melhoria da qualidade da educação. Buscamos alinhar as ações do professor em

sala de aula e a do monitor, mas o êxito ainda é pequeno” [G1], outro aponta que

“precisa-se de uma evolução tanto dos monitores como do programa. Promovendo

eventos de capacitação para os docentes, como: Conhecimento básico, planejamento e

metodologia, formação acadêmica, domínio de turma, experiência com

trabalhos/atividades com jovens e disponibilidade” [GG]. Isso indica a necessidade de

promover formação para gestores, professores, educadores de apoio e monitores, para

que através deste envolvimento, os pressupostos do programa venham a ser efetivados.

O que poderia expandir a prática pedagógica significativa para além dos muros da

escola, promovendo nos estudantes a capacidade não só de compreender os conteúdos

para respostas corretas no momento da avaliação escolar, mas também que eles possam

problematizar sua realidade, bem como, promover soluções para tais demandas.

Sobre a competência dos monitores do PME, os gestores [GR e GPME] afirmam

que os mesmos precisam ter conhecimentos acadêmicos e da cultura local para que

possam sedimentar uma educação significativa, pautada na dialogicidade: “como é do

conhecimento de todos, os monitores recebem um valor simbólico pelas oficinas,

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tornando-se um trabalho quase voluntário. Isto tem dificultado a contratação de

“bons” oficineiros. Sendo assim, a maioria dos que desenvolvem as atividades é apenas

para cumprir carga horária do programa” [GR], o outro “o PME vem fomentando a

ideia de articulação entre as instituições de ensino superior para envolvimento dos

estudantes na execução das atividades, em também aproximando de programação de

iniciação à docência. No entanto, esse ainda é um grande entrave. Sabemos que em

virtude da abrangência do programa, muitos locais não possuem pessoas com a

qualificação adequada” [CPME].

Os referidos gestores apresentam de forma manifesta que um dos grandes

entraves do PME é trabalhar com monitores que não possuem os conhecimentos

epistemológicos da prática pedagógica, revelando a fragilidade dos monitores em

relação ao domínio e vivência desses conteúdos, tão necessários para consolidação de

uma educação sustentável. Através dos relatos desses sujeitos, identificamos que as

atividades do PME não são conduzidas pelos professores do quadro da escola, mas por

voluntários, que em muitos casos não têm uma formação em licenciatura ou pedagogia.

O surgimento do monitor na escola promove uma concepção de trabalho voluntário, o

que suscita uma visão de que na educação não é necessário remuneração, ou seja,

qualquer um poderá realizá-la, dentro de uma “visão missionária”.

Neste ponto, dialogamos com Freire (1987, p. 67), quando este diz que os

professores “não podem basear-se numa consciência especializada, mecanicistamente

compartimentada, mas nos homens como ‘corpos conscientes’ e na consci ncia como

consci ncia intencionada ao mundo”. Apoiando essa ideia, Silva (2006, p. 56) adverte

sobre “as possibilidades da exist ncia de uma pedagogia da sustentabilidade a qual

deverá ter por base a validação de ‘novos’ esquemas teórico-didáticos referentes à

sustentabilidade e que tem como categoria de análise a complexidade [...]”. Como na

prática das escolas são os monitores que executam as ações do Programa, é preciso

pensar em uma formação continuada para eles, para assim consolidar a amplitude e a

profundidade de uma prática pedagógica pautada no “protagonismo dos diversos atores”

da escola.

Percebemos, também, a necessidade de valorização do professor e monitor para

que atinjam resultados mais significativos. Percepção anunciada na fala dos gestores ao

anunciar que “precisam-se de uma evolução tanto dos monitores como do programa.

Promovendo eventos de capacitação para os docentes, como: Conhecimento básico,

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planejamento e metodologia, formação acadêmica, domínio de turma, experiência com

trabalhos/atividades com jovens e disponibilidade” [GG].

Compreender a educação como um desafio para escolas e comunidades é

dialogar com a complexidade de diversos agentes sociais, territórios e saberes que

envolvem as experiências comunitárias. Construir uma prática pedagógica que se

estenda para além do espaço escolar, uma prática pedagógica que ultrapasse os muros

da escola, faz parte dos objetivos formativos da concepção da educação integral. Esta

formação, como sugere Freire (1996), deve proporcionar uma identidade de sujeito

crítico-reflexivo.

4.2.2 A percepção dos monitores sobre a sustentabilidade do Programa Mais Educação

Neste item deste trabalho analisa-se a percepção dos monitores sobre a articulação

das ações do PME nas escolas campo de atuação, as quais pertencem a uma Gerência

Regional de Educação situada na cidade do Recife. Para coletar a percepção dos

monitores escolares sobre a sua atuação no PME e anuir sobre a sustentabilidade desse

Programa, indagou-se: consideram que possuem as competências necessárias para

atuarem nas diversas ações/atividades promovidas pelo PME? De que maneira?

Essa questão permite analisar o conteúdo do discurso dos entrevistados para

relacionar o seu discurso à ideia de sustentabilidade da educação aqui presente. Os

sujeitos desta pesquisa, gestores escolares, serão aqui designados da seguinte forma:

Monitor 1 (M1), Monitor 2 (M2), Monitor 3 (M3), Monitor 4 (M4) , Monitor 5 (M1),

Monitor 6 (M6) , Monitor 7 (M7), Monitor 8 (M8) e Monitor 9 (9). Constituem-se nesta

nos monitores das três escolas que serviram de campo a esta investigação. Fizeram parte

também da coleta de dados referente a este item deste trabalho, outros monitores de

outras escolas, da referida regional, nas quais são desenvolvidas ações do PME,

doravante, considerados, nesta pesquisa, como Monitor Grupo (MG).

Na sequência destas reflexões, apresenta-se a seguir uma análise sobre a

percepção dos monitores a respeito de sua atuação no PME. Assim sendo, quando

indagados acerca de suas competências para atuarem nas diversas ações e atividades

promovidas pelo programa, eles afirmaram que:

“Nós como cidadãos reclamamos do governo por não estar investindo

na educação, mas às vezes o governo está investindo, mas o trabalho

não estar sendo bem feito. Então gostaria que todos os monitores

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tivessem consciência de que eles auxiliam os alunos não só na escola,

mas na vida” [M5].

“A própria vivência do professor, para que primeiro se conquiste os

alunos para depois trabalhar. Eu posso afirmar que um professor

preparado, com formação, mas que tenha essa vivência para saber

como lidar com os alunos. Alguns [monitores] são excelentes, alguns

deixam a desejar” [M2].

“[os monitores] são bem capacitados, já trazem carga de fora” [M8].

“Tem que ter um conhecimento sobre a oficina que ele vai dar ter um

conhecimento de mundo, o professor tem que estar aberto, a maioria

trabalha em outras escolas” [M7].

“A base legal da educação, os pré-requisitos. De início pensávamos

que o PME era um reforço, mas não é. Além disso, ter aptidão, saber

lidar com os alunos” [M4].

“O conhecimento na área de sua oficina, e saber compreender os

alunos. Nem todos têm” [M9].

“Mais ou menos, eu acho que deveria ser feito de forma mais

organizada, a gente como professor deveria ter um manual, sobre

aquilo o que deve ser dado em sala, como um roteiro a seguir. Seria

bem mais fácil montar um plano de aula, que não foi exigido, mas eu

estou fazendo” [M3]. “

“Aqui, a gente estar com três que sim, mas dois que não, que estão

aqui só por estar, que não entenderam o sentido do projeto. Eu sinto

que há necessidade de haver mais encontros, mais capacitação”

[M6].

“Trabalho de campo com troca de conhecimento, envolvendo escolas

de diferentes regiões; cursos de aperfeiçoamento dos monitores para

atendimento em libras” [MG].

“[os monitores] Participando da elaboração da [construção] do

Projeto Político-Pedagógico; reunião dos professores no início do

ano letivo; Articulação na elaboração do plano de aula; trabalhar de

forma interdisciplinar entre professores e monitores [MG].

“[precisamos de] Comunicação e transparência; capacitação dos

monitores para cada oficina específica; entrega prévia do Kit

[material didático]; acesso ao manual operacional; interação do

corpo PME com o corpo docente da escola; mais reuniões para

debater assuntos pedagógicos e tratar de conhecimentos [MG].

“Estar inserida [no mundo] e buscar nas atividades, através da

realidade dos alunos, para que desta forma haja um bom desempenho

do mesmo, com: Criminalidade, sexualidade, drogas e valores dos

alunos [MG]”.

O debate sobre “educação integral” e “escola de tempo integral”, hoje, no Brasil,

ganha força diante do desafio de encararmos um grave problema que, em pleno século

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XXI, ainda acompanha a vida de milhares de crianças e adolescentes brasileiros, como a

falta de oportunidade educacional, a violência e a opressão. Percepções evidenciadas na

análise da fala do [M5]: “nós como cidadãos reclamamos do governo por não estar

investindo na educação, mas às vezes o governo está investindo, mas o trabalho não

estar sendo bem feito. Então gostaria que todos os monitores tivessem consciência de

que eles auxiliam os alunos não só na escola, mas na vida” [M5]. O monitor revela, de

forma latente, que nem todos os monitores que participam do PME demonstram

interesse no desempenho das atividades, supostamente por não possuir as competências

necessárias para desenvolver as referidas atividades.

Para Costa (2012, p. 477), “as inúmeras condições de vulnerabilidades sociais as

quais os jovens se encontram submetidas em todas as regiões do país, entre elas, a

qualidade da educação oferecida pelas escolas, sejam públicas ou particulares”. Sobre

este tema, os monitores cujas ações deveriam ser implementadas na escola, para que o

PME pudesse contribuir de maneira mais significativa no processo educacional dos

estudantes, [M2] afirma ser imprescindível ver os educandos como seres histórico-

sócio-culturais em constante processo de desenvolvimento para dar continuidade a

nossa história a qual é fruto também de um processo complexo de constituição do

conhecimento, que não é construído aos “pedaços”, mas “inteiro” e a partir de muitas

dimensões: “a própria vivência do professor, para que primeiro se conquiste os alunos

para depois trabalhar. Eu posso afirmar que um professor preparado, com formação,

mas [precisa] que tenha essa vivência para saber como lidar com os alunos. Alguns

[monitores] são excelentes, alguns deixam a desejar” [M2]. Para Henz (2012, p 83), é

preciso ultrapassar as repetições vazias das palavras e desenvolver uma prática

pedagógica na qual os “educadores e educadoras, busquem organizar e desenvolver,

com os educandos, práxis educativas que entrelacem no mínimo as cinco dimensões: a

ético-política, a técnico-científica, a epistemológica, a estético-afetiva e a pedagógica”.

Entretanto, sobre as competências necessárias para os monitores desenvolverem

suas atividades, os monitores trazem de forma manifesta a importância dos

conhecimentos prévios como base para uma boa prática pedagógica, ao falarem que:

“[os monitores] são bem capacitados, já trazem carga de fora” [M8], “tem que ter um

conhecimento sobre a oficina que ele vai dar ter um conhecimento de mundo, o

professor tem que estar aberto, a maioria trabalha em outras escolas” [M7], “a base

legal da educação, os pré-requisitos. De início pensávamos que o PME era um reforço,

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mas não é. Além disso, ter aptidão, saber lidar com os alunos” [M4], por fim “o

conhecimento na área de sua oficina, e saber compreender os alunos. Nem todos têm”

[M9].

Ao mesmo tempo, falam da importância de uma boa base teórica para

construção, em sala de aula, de situações de aprendizagem. Porém, todos colocam que

não é qualquer proposta de aula ou interação que promoverá a aprendizagem. Salienta-

se, ainda, a importância da troca de conhecimentos entre os monitores e entre outras

escolas para que o conhecimento não seja sedimentado apenas para respostas

acadêmicas, mas para vida. Ao evidenciar que “trabalho de campo com troca de

conhecimento, envolvendo escolas de diferentes regiões; cursos de aperfeiçoamento dos

monitores para atendimento em libras” [MG].

Demonstra, portanto, que a fundamentação de uma prática pedagógica em que se

busca acontecer uma formação dialógica, indica a necessidade de promover formação

para gestores, professores, educadores de apoio e monitores, para que através deste

envolvimento, os pressupostos do programa venham a ser efetivados. O que poderia

expandir a prática pedagógica significativa para além dos muros da escola. Promovendo

nos estudantes, a capacidade de não só compreender os conteúdos para respostas

corretas no momento da avaliação escolar, mas que eles possam problematizar sua

realidade, bem como, promover soluções para tais demandas.

Sobre a competência dos monitores do PME que precisam ter conhecimentos

acadêmicos e da cultura local para que possam sedimentar uma educação significativa,

pautada na dialogicidade, corroboramos com Freire (1988, p. 67) quando este diz a

prática educativa “não pode basear-se numa consciência especializada,

mecanicistamente compartimentada, mas nos homens como “corpos conscientes” e na

consci ncia como consci ncia intencionada ao mundo”. Por outro lado, Silva (2006, p.

56) adverte sobre “as possibilidades da exist ncia de uma pedagogia da sustentabilidade

a qual deverá ter por base a validação de “novos” esquemas teórico-didáticos referentes

a sustentabilidade e que tem como categoria de análise a complexidade [...]”.

Percebe-se, também, a necessidade de valorização do professor e do monitor

para termos resultados mais significativos. Como vimos às atividades do PME não são

conduzidas pelos professores do quadro da escola, mas por voluntários, que em muitos

casos não têm uma formação em licenciatura ou pedagogia. O surgimento do monitor na

escola promove uma concepção de trabalho voluntário, o que suscita uma visão de que

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na educação não é necessário remuneração, ou seja, qualquer um poderá realizá-la,

dentro de uma “visão missionária”.

Discorreu-se, também, com os monitores sobre quais ações deveriam ser

implementadas na escola, para que o PME pudesse contribuir de maneira mais

significativa no processo educacional dos estudantes, quando perguntamos aos

monitores sobre como eles entendiam que poderiam contribuir de forma mais efetiva

com o PME, eles afirmaram que: “[os monitores] participando da elaboração da

[construção] do Projeto Político-Pedagógico; reunião dos professores no início do ano

letivo; Articulação na elaboração do plano de aula; trabalhar de forma interdisciplinar

entre professores e monitores “[M ], “[precisamos de] Comunicação e transparência;

capacitação dos monitores para cada oficina específica; entrega prévia do Kit [material

didático]; acesso ao manual operacional; interação do corpo PME com o corpo

docente da escola; mais reuniões para debater assuntos pedagógicos e tratar de

conhecimentos [MG], por fim “estar inserida [no mundo] e buscar nas atividades,

através da realidade dos alunos, para que desta forma haja um bom desempenho do

mesmo, com: Criminalidade, sexualidade, drogas e valores dos alunos” [MG].

Os monitores trazem em suas articulações elementos de inclusão e transparência

que deveriam acontecer por parte da gestão e professores, os quais são considerados

imprescindíveis para que avistemos nossos educandos como seres humanos histórico-

sócio-cultural, com os quais estamos buscando edificar para nossa história em um

processo complexo de constituição do conhecimento, que não é aos “pedaços”, mas

“inteiro” e de muitas dimensões. Tendo em vista que aprender é uma atividade

complexa que exige do ser humano procedimentos diferenciados para sedimentação do

conhecimento. Portanto, equacionar conhecimentos, as competências e o currículo

requerem do educador habilidades diversificadas para despertar no educando a

curiosidade de aprender. Fato que precisa ser concretizado na efetivação do referido

Programa, visto que verificamos a prática de ações desconectadas com o currículo

escolar, com pouca criatividade, portanto, contrárias à ação-reflexão-ação e inibidora da

formação do sujeito crítico-reflexivo.

No entanto, as escolas, comunidades e Governos sempre desejaram e se

empenharam de algum modo, em complementar o turno escolar de suas crianças e

jovens com atividades artísticas, de lazer, línguas estrangeiras e fruição de vivências

culturais. Mesmo nos contextos de desigualdade, a escola pública, por iniciativas e

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esforços próprios, também é marcada por iniciativas de complementação das atividades

escolares, nesses casos ela está, em geral, apoiada por um conjunto de práticas sociais e

comunitárias. Nesse contexto, o referido Programa mostra-se em um intenso expediente

para o planejamento de tais atividades no contraturno escolar. Esse planejamento de

atividade deverá representar os anseios da comunidade escolar e deve ser consolidado

no Sistema Integrado de Monitoramento do Ministério da educação – SIMEC. Evento

que será discutido no próximo capítulo.

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5 METODOLOGIA

5.1 A abordagem de pesquisa utilizada nesta investigação

Para esta pesquisa, optou-se pela abordagem qualitativa, uma vez que esta

prioriza procedimentos descritivos, à medida que sua visão de conhecimento

explicitamente admite a inferência subjetiva, pois o conhecimento não é verdade

rigorosa. Esse tipo de pesquisa permite o contato direto com a situação na qual os

fenômenos ocorrem naturalmente e são influenciados pelo contexto social e econômico

dos participantes da pesquisa. Também é possível, com essa abordagem, visualizar

gestos e palavras que devem ser devidamente referenciados, pois fazem parte do

universo de significados e motivos dos participantes, a maneira como encararam as

questões que estão sendo levantadas, permitindo iluminar o dinamismo interno das

situações (MINAYO, 2010).

A pesquisa qualitativa é multimetodológica quanto ao seu foco, envolvendo

abordagens interpretativas e naturalísticas dos assuntos. Isto significa que o pesquisador

qualitativo estuda coisas em seu ambiente natural, tentando dar sentido ou interpretar os

fenômenos, segundo o significado que as pessoas lhe atribuem (DENZIN; LINCOLN,

1994, p.2).

A observação do cenário dos procedimentos qualitativos mostra diferentes

perspectivas de uma mesma situação, influenciado pela concepção de cada sujeito, é um

meio para explorar e entender o significado que os indivíduos ou grupos dão a um

mesmo problema social ou humano (CRESWELL, 2010).

5.2 Instrumentos para coleta de dados

Os instrumentos utilizados nesta pesquisa para coleta de dados foram entrevistas

semiestruturadas, aplicadas à gestora da Gerência de Educação que serviu de lócus a

esta pesquisa, ao coordenador estadual do PME, aos gestores escolares e aos monitores

das escolas da Gerência Regional de Educação (GRE), campo deste estudo. Os dados

recolhidos a partir das entrevistas foram transcritos e analisados, qualitativamente, com

as seguintes intenções: o estabelecimento de uma compreensão acerca dos dados

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coletados, sustentação dos objetivos da pesquisa e a acréscimo do conhecimento sobre o

assunto pesquisado.

A proposito da técnica de entrevista, ela é realizada por iniciativa do

entrevistador, e tem objetivo de construir informações acerca do objeto de estudo. Ao

mesmo tempo, que se apresenta com a finalidade, assim classificadas por Minayo

(2012, p. 64), como: “I – Sondagem de opinião; II – semiestrurada; III – aberta ou em

profundidade; IV – focalizada; e V – projetiva”. A referida autora acrescenta que as

entrevistas podem ser baseadas em “histórias biográficas”, “etnobiografias”, ou “etno-

histórias”. ado o exposto, percebemos, portanto, algumas variedades de construção e

condução da entrevista. Ao passo que, identificamos em suas variedades a mesma

dinâmica que busca a revelação do fenômeno existente na sociedade, e em particular,

em revelar as nuances do objeto de estudo.

Durante o momento de aproximação com o campo, foram realizados dois

encontros para conhecimento e discussão dos sujeitos em relação ao objeto de estudo.

No primeiro grupo de discussão, composto por gestores, propomos um debate sobre os

acontecimentos que ocorrem no cotidiano da escola, a partir do planejamento, execução

e avaliação do Programa mais Educação. O grupo foi dividido em subgrupos para que

pudessem fazer suas análises acerca da articulação das atividades do PME com o

currículo escolar, e sobre se a prática pedagógica das diversas atividades do referido

Programa são desenvolvidas na perspectiva da ação-reflexão-ação e, por fim se os

monitores do PME possuem os conhecimentos prévios necessários para o

desenvolvimento das atividades do PME, considerando que esta dimensão de análise,

sobre os conhecimentos prévios dos monitores necessários para o desenvolvimento das

atividades do PME, pretendeu verificar a sustentabilidade da educação nas práticas

educativas do PME.

Feita a discussão e síntese dos conteúdos propostos, realizou-se, então, um

debate para culminância com o grande grupo. Os mesmos procedimentos metodológicos

foram adotados no encontro com os monitores. Os dados obtidos nesses encontros estão

postos na parte teórico-empírica desta pesquisa, já analisados na parte inicial deste

trabalho.

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5.2.1 O recurso às entrevistas neste estudo

A entrevista representa um dos instrumentos básicos para coleta dos dados em

pesquisa qualitativa, por isso não deve haver por parte do entrevistador uma postura

hierárquica, pelo contrário, esse tipo de instrumento pede uma relação de interação,

havendo uma influência recíproca entre quem entrevista e quem é entrevistado,

especialmente nas entrevistas não totalmente estruturadas (LUDKE, 1986).

Kahn e Cannel (1962, apud MINAYO, 2010) oferecem a seguinte definição para

o que denominam “entrevista de pesquisa”:

Conversa a dois, feita por iniciativa do entrevistador, destinada a

fornecer informações pertinentes para um objeto de pesquisa, e

entrada (pelo entrevistador) em temas igualmente pertinentes com

vista a este objetivo.

Para Triviños (1987, p. 146) a entrevista semiestruturada tem como

característica questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que se

relacionam ao tema da pesquisa. Os questionamentos dariam frutos a novas hipóteses

surgidas a partir das respostas dos informantes. O foco principal seria colocado pelo

investigador-entrevistador. Complementa o autor, afirmando que a entrevista

semiestruturada “[...] favorece não só a descrição dos fenômenos sociais, mas também

sua explicação e a compreensão de sua totalidade [...]” além de manter a presença

consciente e atuante do pesquisador no processo de coleta de informações (TRIVIÑOS,

1987, p. 152).

5.3 O lócus desta pesquisa

O presente estudo foi realizado em escolas públicas de uma Gerência Regional

de Educação (GRE) do Estado de Pernambuco. A escolha dessa Gerência ocorreu em

função da proximidade da temática no campo do trabalho, visto que, nesta GRE, o

pesquisador trabalha na coordenação financeira do PME, onde se percebe que os

macrocampos propostos no plano de educação integral possuem atividades que

possibilitam a discussão sobre a temática da sustentabilidade da educação, as quais

despertaram a inquietação para construção do objeto desta pesquisa.

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Para compor o universo de amostra desta pesquisa, decidiu-se trabalhar com três

escolas da GRE supracitada. A escolha para trabalhar com essas escolas foi intencional,

por levar em consideração o fato das escolas estarem trabalhando com o PME desde o

início da sua implantação. Tais escolas iniciaram a implementação do projeto há mais

tempo, e, isso nos permitiu supor que o PME já estava consolidado. Além disso, as

escolas se situam na região central da cidade do Recife, o que permite uma maior

aproximação geográfica com o pesquisador.

Assim sendo, as escolas que serviram de campo a esta pesquisa, apresentaram

em seus registros, informações referentes ao cadastramento de suas atividades no

planejamento das ações desde o exercício de 2008 até o exercício de 2012 no Sistema

Integrado de Monitoramento do Ministério da Educação – SIMEC.

A escola I, localizada na cidade do Recife, de médio porte, iniciou seus trabalhos

com o Programa Mais Educação em 2008, ano em que o Programa começa a ser

implantado nas escolas públicas. Enquanto, a escola II, também situada na cidade do

Recife, de médio porte, iniciou seus trabalhos com o Programa Mais Educação também

em 2008. Por fim, a escola III, também na cidade do Recife, é de grande porte e também

iniciou seus trabalhos com o Programa Mais Educação em 2008.

5.4 Os sujeitos da pesquisa

Os sujeitos deste estudo foram o gestor da GRE, os gestores e monitores das

escolas objeto deste estudo. Também, o coordenador estadual do referido Programa. O

quantitativo de participantes foram 16 (dezesseis), sendo 03 (três) gestores de escolas,

01 (um) gestor da GRE, 01 (um) coordenador estadual do PME, e 09 (nove) monitores

do Programa Mais Educação, 01 (um) gestor do grupo de discussão e 01 (um) monitor

do grupo de discussão.

5.5 Análise dos dados

Para a análise de dados nesta pesquisa, optou-se pela técnica de análise de

conteúdo, numa perspectiva analítica e descritiva, que segundo Bardin (1979, apud

MINAYO, 2012, p.83) é:

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Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter,

por procedimento sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo

das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a

inferência de conhecimentos relativos às condições de

produção/recepção (variáveis inferidas destas mensagens).

Tendo como intenção facilitar a análise das entrevistas, para responder ao

questionamento do estudo, criamos três unidades de registro, ou categorias analíticas

para compor a discussão desta pesquisa, as quais são: currículo, reflexividade e

sustentabilidade. A análise de conteúdo, nessa pesquisa justifica-se por tratar-se de uma

metodologia de analise do discurso que permite as falas dos sujeitos, ao passo de

decodificar e analisar suas ideias expostas a partir de uma pergunta geradora, reveladora

do objeto do qual estamos investigando com propósito de revelar inferência. A partir

dos resultados da análise, segundo Bardin (1977, p. 22) “se pode regressar às causas, ou

até descer aos efeitos das características das comunicações”. Trata-se, portanto, de

descrever e apresentar o comportamento, assim como as ideias em resposta a um

estímulo, com o maior rigor e observação da cientificidade.

5.6 A opção pela pesquisa-ação neste estudo

A pesquisa-ação é definida como uma prática que associa pesquisadores e

autores em uma mesma estratégia de ação para modificar uma dada situação e uma

estratégia de pesquisa para adquirir um conhecimento sistemático sobre a situação

identificada. Em vários aspectos, aproxima-se da concepção de Kurt Lewin, ao se tentar

estabelecer um vínculo com a ação social planejada, vista como processo de resolução

de problemas (DIONNE, 2007).

Segundo levantamento bibliográfico feito por Dionne (2007), não somente no

Brasil a pesquisa-ação foi incorporada ao campo da pesquisa qualitativa. Conforme

apontado por Sommer e Amick (2003), a pesquisa-ação independe da técnica, podendo

ser utilizada com experimento ou observação. Observa-se, ainda, uma junção entre a

pesquisa-ação e a pesquisa participante (BRANDÃO, 1987).

Para Severino (2007, p. 120), “a pesquisa-ação é aquela que, além de

compreender, visa intervir na situação, com vistas a modificá-la. O conhecimento

articula-se a uma finalidade intencional de alteração da situação pesquisada”. ustifica-

se desta forma o uso desta metodologia visto que, após a coleta de dados através das

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entrevistas e observação participante, almejamos realizar um diagnóstico e propor

mudanças nos métodos verificados como forma de aperfeiçoar o processo.

A pesquisa-ação é então vista como principal contribuição para a dinâmica de

tomada de decisão no processo de ação planejada. A pesquisa-ação é, principalmente,

uma modalidade de intervenção coletiva, inspirada nas técnicas de tomada de decisão,

que associa atores e pesquisadores em procedimentos conjuntos de ação com vista a

melhorar uma situação precisa, avaliada com base em conhecimentos sistemáticos de

seu estado inicial e apreciada com base em uma formulação compartilhada de objetivos

de mudança (DIONNE, 2007).

Inserindo a pesquisa-ação em um procedimento de tomada de decisão, queremos

salientar que a pesquisa-ação deve ser considerada principalmente como técnica de

intervenção. “A pesquisa-ação não deve acreditar em sua própria autonomia”. Seu

propósito se revela baseado no projeto sociopolítico do pesquisador e se torna

“expressão dos desafios sociopolíticos ligados ao fenômeno de dominação social e de

controle do saber” (ZUÑI A in DIONNE, 2007). A pesquisa-ação adquire logo um

alcance singular, transversal e multirreferencial, que faz explodir os referenciais

disciplinares. Em última instância, ela se torna formadora de nossa maneira de ser no

mundo. Entretanto, não se deve concluir, com base nisso, que a pesquisa-ação seja um

tipo de ciência-ação em que se privilegie o agir para conhecer.

A pesquisa-ação conserva a distinção entre a abordagem científica e a

abordagem da ação em si mesma, o que exige intensas relações entre os pesquisadores e

atores da situação-problema, na busca de revelar equivalências muitas vezes implícitas

entre a abstração teóricas e a táticas de ação. E é, com base nessa perspectiva de

pesquisa-ação, que buscamos nesse estudo, uma prática em que o pesquisador pode

expressar sua ideologia social e implicar-se na descoberta de outras, ainda não

observada ou revelada. Outrossim, o intuito dessa forma de pesquisa não resume-se na

análise linear do objeto, mas também, de forma sistemática ao passo de propor ações

para, ao mesmo tempo, resolver um problema concreto pelos atores-pesquisadores e

para enriquecer o saber pensar e agir do público envolvido (DIONNE, 2007).

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5.7 As categorias de análise

5.7.1 Currículo

Para Arroyo (2011, p. 13) “na construção espacial do sistema escolar, o currículo

é o núcleo e o espaço central mais estruturante da função da escola. Por causa disso, é o

território mais cercado, mais normatizado. Mas também o mais politizado, inovado,

ressignificado”. Tal reflexão se torna particularmente fundamental para nosso objeto de

estudo, visto que irá esse conceito irá amparar nossa análise. O currículo precisa

acompanhar as mudanças culturais que ocorrem no núcleo das comunidades a qual

circunda a escola.

Por outro lado, Veiga (1998, p. 8) acresce que,

Currículo implica, necessariamente, a interação entre sujeitos que

têm um mesmo objetivo e a opção por um referencial teórico que o

sustente. Currículo é uma construção social do conhecimento,

pressupondo a sistematização dos meios para que esta construção se

efetive; a transmissão dos conhecimentos historicamente produzidos e

as formas de assimilá-los, portanto, produção, transmissão e

assimilação são processos que compõem uma metodologia de

construção coletiva do conhecimento escolar, ou seja, o currículo

propriamente dito.

Em relação à organização curricular, este estudo há de considerar alguns pontos

significativos do que constitui essa categoria de análise em nossa pesquisa. O primeiro

é o de que o currículo não é um instrumento neutro, ele passa ideologia, além da

definição de quais fatos deverão ser estudados e discutidos, revela ainda quais autores

deverão ser elencados para tal discussão. A escola precisa identificar e desvelar os

componentes ideológicos do conhecimento escolar que a classe dominante utiliza para a

manutenção de privilégios. Para que de posse desta informação, possamos sedimentar

uma prática educativa baseada na ação-reflexão-ação, a determinação do conhecimento

escolar, portanto, implica uma análise interpretativa e crítica, tanto da cultura

dominante, quanto da cultura popular (VEIGA, 1998).

5.7.2 Ação-reflexão-ação

O processo de reflexão crítica tem como base a pedagogia crítica de Freire

(1987) e parte da premissa que uma formação crítica deve conduzir ao desenvolvimento

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de cidadãos que sejam capazes de analisar suas realidades social, histórica e cultural,

criando possibilidades para transformá-la, conduzindo alunos e professores a uma maior

autonomia e emancipação. O paradigma da reflexividade postula a capacidade do

professor refletir sobre sua própria prática profissional, construindo conhecimento a

partir dessa reflexão, que podem se constituir em instrumentos privilegiados de

ressignificação, tanto no âmbito da teoria quanto da prática educativa. Princípios

norteadores de uma educação pautada na ação-reflexão-ação que somente poderá

acontecer quando os sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem

professores/estudantes estão abertos para o novo, o desconhecido que constitui a

emblemática práxis para construção da aprendizagem.

Ainda, sobre a formação crítico-reflexiva, Zeichner (apud ALMEIDA, 2001,

p.24) diz que:

A ação reflexiva também é um processo que implica mais do que a

busca de soluções lógicas e racionais para os problemas. A reflexão

implica intuição, emoção e paixão; não é, portanto, nenhum

conjunto de técnicas que possa ser empacotado e ensinado aos

professores, como alguns tentaram fazer.

Esse pensamento, muitas vezes, considerado utópico tem na pedagogia da

autonomia proposta por Freire (1996) uma de suas probabilidades de alinhamento com a

realidade objetiva. Por isso mesmo, pode motivar o desejo de vivenciar no cotidiano

das escolas uma formação educativa pautada no cotidiano dos sujeitos e também voltada

para alegria de uma comunidade envolvida com seus valores e crenças. Por isso, não

podemos abrir mão do sonho, de reagir às mutilações dos nossos processos singulares e

históricos, da solidariedade e da simplicidade inerente ao saber da competência da

prática pedagógica inclusiva e, portanto sustentável. É, neste contexto, de compilação,

que buscamos construir na escola pública de educação básica um espaço de

reafirmação, negação, criação e resolução de saberes que somente se constituem através

da formação docente de qualidade e alinhada aos pressupostos de uma educação capaz

de superar as desigualdades históricas entre opressor e oprimido.

Por outro lado, Carmargo (2007) acerca do assunto acrescenta que:

Ao se considerar o professor como profissional reflexivo, tem-se que

admitir que ele é capaz de pensar, reformular e aperfeiçoar sua prática

à luz de novos referenciais teóricos. Essa atitude leva ao

reconhecimento de que a produção de conhecimentos sobre o que é

um ensino de qualidade não é propriedade exclusiva das universidades

e centros de investigação e desenvolvimento e de que os professores

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também têm teorias que podem contribuir para uma base codificada de

conhecimentos do ensino.

Assim, a noção de aprender e ensinar não parte apenas partir do conhecimento

acadêmico, mas também das construções cotidianas do sujeito popular, a noção de

ensinar contando histórias a partir dos fatos vivenciados e catalogados de significados,

transformando a educação em ato de conhecimento e transformação, a poeticidade da

educação possibilitando um legado para a educação popular, à pedagogia crítica para

construção da ação-reflexão-ação (GADOTTI, 1992).

5.7.3 Sustentabilidade da educação

Diariamente, nos deparamos com discursos sobre a necessidade imediata de

adotarmos práticas mais sustentáveis como forma de contribuir para sobrevivência da

espécie. Ao mesmo tempo, verificamos, nos diversos tipos de mídias fatos que apenas

confirmam nossa incapacidade de lidarmos com a natureza de maneira harmoniosa.

Capra (1997, p. 25) apresenta um conceito de sustentabilidade dentro de uma percepção

ecológica ao revelar que,

Reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos, e

o fato de que, enquanto indivíduos e sociedade estão todos encaixados

nos processos cíclicos da natureza (e, em última análise somos

dependentes desses processos).

O que demonstra a ênfase nas partes, ao mesmo tempo, também no todo de

forma hibrida e holística, orgânica e ecologia. Anunciando um pensamento integrado e

complexo, o qual norteia e dirige a construção do referido conceito neste estudo.

Acerca do tema sustentabilidade, Jesus (2006, p. 25) acrescenta, ainda, que “é

um processo que mobiliza pessoas e instituições buscando a transformação da economia

e da sociedade local, criando oportunidades de trabalho e renda, superando dificuldades

para favorecer a melhoria das condições de vida da população”. Esse modelo de

desenvolvimento sustentável requer um novo. Enquanto, a sustentabilidade na educação

“compreende a educação como um desafio para as escolas e comunidades e pretende

dialogar com a complexidade dos agentes sociais, territórios e saberes que envolvem as

experiências comunitárias, buscando constituir-se para além do espaço escolar”

(BRASIL, 2009b). Ou seja, uma educação que busca o encontro dos diversos atores da

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educação formal e informal como elemento de conexão com o passado, presente e

futuro.

Dentro deste enunciado que discorre sobre a sustentabilidade da educação, neste

estudo, que ambiciona ultrapassar o repasse mecânico de informações, afora as referidas

informações possam ir além dos muros da escola. Para tanto, tais informações precisam

ser significativas para o estudante e corroborando, de certa forma, com esse

pensamento, Pozo (1998, p. 15) acrescenta que “o verdadeiro objetivo da aprendizagem

da solução de problemas é fazer com que o aluno adquira o hábito de propor problemas

e de resolvê-los como forma de aprender”, desvelando uma nova perspectiva de

aprendizagem que se baseia na conquista contínua da criticidade.

5.8 Aspectos éticos

Esta pesquisa foi desenvolvida conforme todas as normatizações contidas na

resolução 466 de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL,

2012b), referente aos aspectos éticos das pesquisas envolvendo seres humanos. O

projeto, cadastrado na Plataforma Brasil, juntamente com carta de anuência emitida pela

Secretaria de Educação foi aprovado sob o número CAAE: 21110213.0.0000.5207, em

dezembro de 2013.

Para cada sujeito participante desta pesquisa foi esclarecido o teor da pesquisa,

garantindo-lhes o anonimato, a privacidade e a possibilidade de desistência, a qualquer

momento, sem prejuízo para os mesmos. A partir de então foi solicitada a assinatura do

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (apêndice B).

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93

6 CONCLUSÃO

O Programa Mais Educação, formulado como uma estratégia do Governo

Federal para consolidar ações em busca de uma concepção da educação que visa: I

formular política nacional de educação em tempo integral; II promover diálogo entre os

conteúdos escolares e os saberes locais; III favorecer a convivência entre professores,

estudantes e suas comunidades; IV disseminar as experiências das escolas que

desenvolvem atividades de educação integral; e V convergir políticas e programas de

saúde, cultura, esporte, direitos humanos, educação ambiental, divulgação científica,

enfrentamento da violência contra crianças e adolescentes, integração entre escola e

comunidade, para o desenvolvimento do projeto político-pedagógico da educação

integral.

Para consolidar tamanhos objetivos que sugerem também dialogar com a

complexidade de saberes que envolvem as experiências comunitárias e acomodar os

conhecimentos dentro do espaço escolar para edificação de uma pedagogia reflexiva.

Compreendemos que o caminho para consolidação desta prática será possível através da

pedagogia libertadora proposta por Paulo Freire (1996), que aponta um caminho de

autossuperação na busca por uma educação contextualizada, libertadora e dialógica,

apoiada na relação educador-educando de forma reflexiva capaz de superar as

dicotomias procedentes de uma crise civilizatória.

O referido Programa consiste na ampliação do tempo escolar e oferece no

mínimo três horas a mais no contraturno escolar, elevando a jornada diária de quatro

horas para sete horas. Propõe, em seus pressupostos, gerar para os educandos muito

mais que aulas relacionadas ao currículo escolar, mas também oportunidades para que

os educandos possam aprender a desenvolver competências que ultrapassam os

conteúdos curriculares, que provocam mudanças de sua percepção como sujeito e do

seu território, que eles possam compreender os problemas de sua comunidade e, ao

mesmo tempo, atuar como agente de mudanças. Para tanto, é necessário uma formação

que se baseia nos conhecimentos prévios dos estudantes e na aproximação do seu

cotidiano, buscando problematizá-lo e sugerir soluções, baseado no modelo da

sustentabilidade da educação: pensar e perceber global e agir local.

Os pressupostos teóricos do PME propõem provocar repercussões interessantes,

como a aproximação da comunidade em seu entorno, concepção de que o cotidiano dos

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estudantes está impregnado de práticas de práticas educativas, além da presença dos

monitores da comunidade que participam do programa como voluntário das diversas

atividades propostas pelos macrocampos aumenta de três horas de tempo escolar, o que

permite que o estudante fique na escola durante sete horas. Propondo, assim, contribuir

para uma melhor formação, através da participação de atividades que devem estar

articuladas com projeto político pedagógico e o currículo escolar. Entretanto, na prática

este Programa ainda se encontra distante de atingir os referidos pressupostos dado a

identificação dos seguintes fatos: I - As escolas não têm tempo pedagógico para

discussão da unificação das atividades do PME com a proposta de educação da escola;

II - falta de conhecimentos prévios dos monitores; II - Infraestrutura precária, não

contribui para o alcance dos resultados almejados; III - Os professores da rede estadual,

que trabalham com os estudantes no turno regular, desconhecem os pressupostos do

PME, tal como apontado por monitores e gestores; IV - O voluntariado/monitores - tal

relação de “trabalho” impõe novos arranjos e, portanto, novos desafios e

responsabilidades para todo corpo docente e comunidade e sugere uma visão

missionária da educação; V - Dificuldade de articular os monitores com as ações do

PPP pelo fato da bolsa não ser atrativa e pouca comunicação entre os diversos atores da

escola; pouca criatividade metodológica dos monitores concentrados no desempenho

em sala de aula, como se a educação fosse uma prática que apenas será consolidada no

enclausuramento; VI - As ações do PME, no momento, desenvolvem-se como um

apêndice da escola, nos seus “quartinhos e cubículos”.

Para implantação do PME, como determina sua legislação, é necessário um

professor da escola chamado de coordenador do Programa, com uma carga horária

disponível para a sua organização, com no mínimo quarenta por cento do seu total de

aula atividade. Este professor coordenador se constitui de um elemento imprescindível

para composição da equipe que irá gerir as diversas ações do PME. Esta cedência do

professor para coordenação do programa representa a contrapartida do Estado na

efetivação do PME, que se propõe a induzir a “educação integral” e a “escola de tempo

integral”, tão necessária para a consolidação de valores relacionados à sustentabilidade

da educação. Entretanto, as escolas ainda não dispõem deste professor para articular o

referido Programa com as demais atividades da escola. Isso vem provocando uma

dificuldade ainda maior, no que se refere à aproximação das atividades do PME com

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conhecimento acadêmico e o popular, tão necessário para que o estudante possa

entender e problematizar sua realidade.

Entretanto, como vimos nas discussões ao longo de todo este trabalho, as

escolas não têm tempo pedagógico para discussão da unificação das atividades do

programa com a proposta de educação da escola, e, por outro lado, há a falta de

formação adequada dos monitores, a falta de infraestrutura, e tudo isso não traz os

resultados almejados para qualidade da educação. Acrescenta-se, ainda, que os

professores da rede estadual, que trabalham com os estudantes no turno regular,

desconhecem os pressupostos do PME como indutor da política de educação integral,

contribuindo para que os conteúdos desenvolvidos no horário regular não tenham uma

continuidade nas atividades desenvolvidas no programa e para que as atividades

desenvolvidas pelos monitores do PME sejam vistas apenas como uma execução da

carga horária prevista na legislação.

Junto ao PME surge o voluntariado, uma vez que os monitores ao aceitar

participar do PME assinam o termo de voluntariado. Tal relação de “trabalho” impõe

novos arranjos organizacionais e, portanto, novos desafios e responsabilidades para todo

corpo docente e comunidade. Sugere, ainda, uma visão missionária da educação, visto

que a dificuldade de articular os monitores com as ações se justifica pelo fato da bolsa

do voluntário ter um valor pouco atrativo. Este fato insinua que as atividades do PME

venham sendo desenvolvidas sem um diálogo com o currículo, e descontextualizadas do

PPP, tendo em vista que o envolvimento desses processos requer tempo pedagógico, o

que na prática não ocorre.

Por outro lado, o modelo de planejamento e execução das atividades do

Programa não aproxima gestão e professores da rede para um diálogo e discussão das

ações do PME, uma vez que isso poderia contribuir para construção de uma educação

mais inclusiva. Além dessa dificuldade de comunicação e tempo pedagógico, recai

sobre o gestor escolar toda uma cobrança de responsabilidades legais, administrativas,

pedagógicas e jurídicas em relação ao planejamento das ações, execução e prestação de

contas do Programa Mais Educação. Esse modelo de gestão vivenciado no referido

Programa demonstra uma política de participação mínima do Estado, dentro de uma

politica neoliberal.

Ultrapassar a pouca criatividade de metodologias aplicadas no espaço escolar

pelos monitores do PME, se constitui como um desafio, visto que as aulas são

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concentradas dentro sala, como se a educação fosse uma prática que apenas será

consolidada no enclausuramento da escola. Desafio que não será enfrentado apenas

colocando um turno extra, com a promessa que tais atividades serão desenvolvidas na

perspectiva da formação integral, de forma lúdica e cultural. Deixando transparecer que

as aulas nos horários curriculares devam ser rígidas e no formato clássico,

desconectadas do cotidiano do estudante, baseada na aprovação-reprovação. Dualismo

antipedagógico que precisa ser extrapolado para que tenhamos uma formação dentro da

escola, baseada em uma visão de inclusão do PME dentro das atividades curriculares da

mesma. Esse ideal distancia-se da atual realidade do PME, que se desenvolve no como

um apêndice da escola, nos seus “quartinhos e cubículos”. Portanto, promover o

envolvimento desses processos requer tempo pedagógico, o que de fato não ocorre, para

assim edificar uma prática baseada na ação-reflexão-ação, indispensável para consolidar

a escola inclusiva e cidadã.

Para o Programa Mais Educação atingir seus pressupostos teóricos deverá incluir

a concepção relacionada ao conceito de cidade educadora e bairros educadores.

Considerações que preveem que, através de parceria público-privada as atividades

propostas pelo PME, possam ultrapassar os muros da escola e invadir as praças, feiras,

cinemas, teatros e praças, podem permitir que os estudantes vivenciem experiências

educativas em outros espaços diferentes da sala de aula. Entretanto, é necessário

compreender que as escolas que aderem ao programa são aquelas localizadas em bairros

com desafios do enfrentamento à pobreza e a violência, representando um local de

concentração das ações do estado, o que torna a perspectiva das ações do PME para

além dos muros da escola, como uma alternativa pouco atrativa.

Os frutos obtidos no curto espaço de tempo da implantação do Programa Mais

Educação inspiram a sua expansão, mas ao mesmo tempo nos convida para uma

mobilização e discussão mais apropriada sobre a “educação integral” e a “escola de

tempo integral” proposta pelo PME. Isso instaura o debate para que as escolas e o

Governo possam oferecer à sociedade uma contribuição mais firme e explícita nos

resultados alcançados por esse Programa. Ao mesmo tempo, possibilita repensar o PME

como uma política de educação integral, baseada em experimentos gerenciais tanto da

gestão pública como do setor privado (controle interno e controle externo), do ponto de

vista de fortalecermos os laços com os mecanismos internos da gestão escolar e com

métodos mais amadurecidos do Governo.

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Para que desta forma, tenhamos a consolidação de uma política de educação

básica em tempo integral baseada na amplitude e complexidade do que representa a

educação. Para tal, carecemos de inovações curriculares, de projeto político-pedagógico

que dialoga com gestor, professor, estudantes, pais de alunos e comunidade como um

todo, além de método para gestão democrática e participativa. Portanto, para que a

escola possa retomar seu papel de protagonista da história, seus atores devem agir, de

fato, como protagonistas.

Assim, a proposta de suscitar o debate entre a educação formal e informal e

apresentar uma visão capaz de levar à escola contemporânea a uma concepção de que a

educação integral não se limita, apenas, ao aumento do tempo e espaço nos projetos de

educação, mas parte da ideia de que os estudantes são seres portadores de uma

complexa experiência social e merecem atenção diferenciada porque são frutos de

processos igualmente diferenciados. Contudo, diante da fala dos sujeitos, esta escola

inclusiva e sustentável ainda encontra-se no campo da utopia. Além disso, as discussões

sobre o PME apontam para necessidade de desenvolver o protagonismo juvenil, para

enfrentar coletivamente os problemas e desafios que afetam o cotidiano das escolas e

comunidade. Aprender com as próprias experiências organizativas poderá promover nos

estudantes o sentimento de protagonistas de sua história, levando-o a compreender a

importância do trabalho coletivo para resolução dos desafios da complexidade que nos

confere o novo século.

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103

APÊNDICES

APÊNDICE A - UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PARA A

SUSTENTABILIDADE DA EDUCAÇÃO BÁSICA NUMA REGIONAL DE

EDUCAÇÃO DO ESTADO DE PERNAMBUCO – A CRIAÇÃO DO GRUPO DE

ESTUDO: “EDUCAÇÃO INTEGRAL” E “ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL” –

“TERRITÓRIOS DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO”

Esta proposta tem por objetivo enfatizar a necessidade de incorporar ao

Programa Mais Educação e a outros programas que se orientem pelas vias da

sustentabilidade da educação, novas ideias, isentas de inocência, e que situem

educadores e educandos na atualidade do Século XXI, considerando a lógica dos

mercados e das políticas de avanço da educação, bem como, discutir sobre quais

conhecimentos e competências são necessários para os profissionais de educação que

seguirão para a futura geração. Para tal, antes de apresentarmos a proposta de

intervenção que aqui se intitula: A criação do grupo de estudo: “educação integral” e

“escola de tempo integral” – “territórios do Programa Mais Educação”, fazemos

algumas considerações sobre o conceito de competência que, em nossa opinião, deverá

permear a prática dos monitores, de modo que essa possa ser de fato, sustentável. Após

essas considerações, apresentamos a referida proposta de intervenção.

Estas reflexões iniciais à proposta de criação de um grupo de estudos que

investigue e intervenha nas práticas educativas relacionadas ao PME, tem como foco

uma compreensão e melhoria dos conhecimentos, habilidades e atitudes que os

monitores deverão possuir, previamente, para o desenvolvimento das atividades no

referido Programa para que, paulatinamente, as escolas possam organizar-se na

perspectiva da Educação Integral, materializada através dos macrocampos com a oferta

de atividades que se desenvolvem no horizonte formativo dos estudantes. Para tanto,

Moll (2012, p. 96), acrescenta que os tais macrocampos tratam-se da “Educação Integral

como um conjunto de vivências, linguagens e conhecimentos disciplinares incorporados

ao currículo por legislação, por iniciativas locais, por políticas intersetoriais e outras

iniciativas [...]” que apresenta um novo cenário para a escola consolidando o desafio de

articular o conhecimento formal com experiências além dos muros da escola,

possibilitando a aproximação da comunidade tão necessária para a prática da “escola de

tempo integral”.

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Considera-se que os saberes escolares devem enveredar-se pelas vias da

interdisciplinaridade, uma vez que a fragmentação do conhecimento leva ao

esvaziamento do significado do conteúdo para os estudantes, causando distanciamento

entre o sujeito e o objeto. A prática pedagógica vivenciada através do todo nas partes e

das partes no todo, se assenta na necessidade de uma educação dialógica e

interdisciplinar, que, infere-se, constitui a base do arcabouço teórico do PME. Para que,

de algum modo, possa-se construir novos mapas para um mundo complexo e

constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a bússola que permita navegar através dele.

Como nos adverte Morin (2005, p. 14), que:

A supremacia do conhecimento fragmentado de acordo com as

disciplinas impede frequentemente de operar o vínculo entre as partes

e a totalidade, e deve ser substituído por um modo de conhecimento

capaz de aprender os objetos em seu contexto, sua complexidade, seu

conjunto.

Desse modo, a condição humana deveria ser o objeto essencial de todo o ensino,

visão que repousa em necessidade insaciável do conhecimento e cultura – capaz de lhe

proporcionar uma bagagem cada vez mais associada aos seus conhecimentos prévios e

experiências cotidiana, possibilitando que o estudante seja autor de sua história. Visto

que já não é possível, nem adequada, uma educação fragmentada, cartesiana e linear.

Fortalecendo essa concepção pedagógica, o Programa Mais Educação propõe ações que

devem abarcar os diversos saberes como arte, cultura, esporte, lazer, educação para os

direitos humanos, economia criativa, novas tecnologias e saúde e consciência corporal,

mobilizando-os para melhoria do desenvolvimento uma prática pedagógica puramente

qualitativa, buscando aguçar no estudante a educacional, como também para o cuidado

nas relações entre professores, alunos, monitores e comunidades (CAVALIERE, 2012).

Para enfrentar os desafios do próximo século, é preciso assinalar novos objetivos

à educação, e, portanto, mudar a ideia que se tem da sua utilidade. Uma nova concepção

ampliada de educação deve fazer com que todos possam descobrir, reanimar e fortalecer

o seu potencial criativo. Morin (2005, p. 45), adverte-nos ainda que “o século viveu

sob o domínio da pseudo-racionalidade que presumia ser a única racionalidade, mas

atrofiou a compreensão, a reflexão e a visão em longo prazo”. O mesmo autor defende

que a educação pautada na racionalização afasta a prática educativa do humano, daí a

dificuldade de lidar com os conflitos e problemas do seu tempo, que são cada vez mais

desafiadores. A consolidação de um modelo de educação integral impõe para as escolas

a necessidade do conhecimento que é construído junto, trazendo, para professores,

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gestão escolar, monitores do PME e comunidade, o desenvolvimento de conhecimentos

e competências de um mundo global para agir local.

Para estabelecer uma educação que possa dar resposta às várias demandas que

foram incorporadas ao fazer pedagógico, foi elaborado o relatório de Derlors, o qual

trata dos quatro pilares da educação contemporânea. Segundo esse documento, para

poder responder ao conjunto das suas missões, a educação deve organizar-se em torno

de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda a vida, serão de algum

modo será necessário para cada indivíduo, os pilares do conhecimento: Aprender a

conhecer, que compreende os processos de adquirir os instrumentos da compreensão de

maneira cognitiva; Aprender a fazer para poder agir sobre o meio social, consiste em

saber utilizar os conhecimentos, do modo, a atingir resultados intencionais; Aprender a

viver juntos, a fim de participar e cooperar com os outros em todas as atividades

humanas, estabelecer relações interpessoais que fortaleçam a vivência em grupo;

Aprender a ser via essencial que integra as três precedentes, permitindo que o

indivíduo possa compreender seus processos individuais de forma menos conflituosa.

Isto supõe que se ultrapasse a visão puramente instrumental da educação, considerada

como obrigatória para obter certos resultados (MORIN, 2005).

Não basta, de fato, que cada um acumule no começo da vida uma determinada

quantidade de conhecimentos de que possa abastecer-se indefinidamente. É, antes de

tudo, necessário a está altura aproveitar e explorar, aprofundar e enriquecer estes

primeiros conhecimentos, e se adaptar a um mundo em mudança. A ampliação e a

complexidade das fontes legítimas de saberes, e, a necessária coer ncia entre o “saber-

fazer e o saber pedagógico”, constitui diferencial imensurável na construção dos saberes

cognitivos do seu tempo. Paulo Freire (1996), aponta para a necessidade de assumirmos

uma postura vigilante contra todas as práticas de desumanização e falta de cuidado, para

tal o saber-fazer da autorreflexão crítica constitui um conhecimento que requer

vigilância constante, para que o educador não adote uma postura conservadora de

detentor do conhecimento. Essa atenção permanente pode nos ajudar a fazer a

necessária leitura crítica das verdadeiras causas da degradação humana e a razão de ser

do discurso fatalístico da globalização.

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Freire (1996), muito a frente do seu tempo, adverte-nos quando:

Anuncia a solidariedade enquanto compromisso histórico de homens e

mulheres, como uma das formas de lutas capazes de promover e

restaurar a “ética universal do ser humano”. Essa dimensão utópica

tem na pedagogia da autonomia uma de suas possibilidades, por isso

mesmo pode ser movida pelo desejo e vivida com alegria, sem abrir

mão do sonho, do reagir, da solidariedade e da simplicidade inerente

ao saber da competência.

A ideia provocativa e corajosa faz-nos refletir sobre a necessidade de construção

de uma educação que possa instaurar nos sujeitos (educando e educador) o desejo da

busca de uma formação que seja espaço de reafirmação do exercício da “não

submissão” do educando, como aquele que como um “recipiente” vazio recebe do seu

mestre o conhecimento acabado e academicista. É necessário que a escola seja espaço

da construção de espaços educativos capazes de consolidar uma prática educativa

libertadora e de esperança.

A educação e sua importância para o bem-estar de uma nação já foi bastante

documentada. Muitos estudos apontam e consideram que o investimento em capital

humano é responsável por grande parte das diferenças de produtividade entre os países.

No Brasil, as diferenças educacionais na população são grandes assim como os

diferenciais salariais associados a estas diferenças educacionais, sugerindo o quanto

ainda temos que avançar no sentido da construção de uma educação para valores

igualitários que possa garantir uma sociedade mais equânime. Portanto, a escola precisa

conceber seus projetos pedagógicos intencionalmente pensados para sua própria

inovação, a partir de uma concepção do conhecimento como um todo, e não

fragmentado em pedaços. Uma concepção de conhecimento que vai de encontro a uma

visão por “disciplina” que destitui o todo das partes, além de provocar falta de sentido

aos conteúdos que são trabalhados com os educandos. Compartilha da mesma ideia

Morin (2005, p. 48), quando afirma que:

O humano continua esquartejado, partido como pedaços de um

quebra-cabeça ao qual falta uma peça. Aqui se apresenta um problema

epistemológico; é impossível conceber a unidade complexa do ser

humano pelo pensamento disjuntivo, que concebe nossa humanidade

de maneira insular, fora do cosmos que a rodeia da matéria física e do

espírito do qual somos constituídos, bem como pelo pensamento

redutor, restringe a unidade humana a um substrato puramente bio-

anatômico.

Esta abordagem epistemológica não propõe a compreensão do todo, visto que,

de fato, o todo está presente nas partes. Contudo, é necessária uma análise criteriosa

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quando subjugamos essa análise de síntese, para que a complexidade não venha a ser

abandonada em função de um entendimento fragmentado e reducionista.

O Programa Mais Educação, de modo geral, constitui-se na educação integral e

sugere uma ação educacional que envolve dimensões variadas e abrangentes da

formação dos indivíduos. Verificamos que o seu aporte teórico propõe uma prática

pedagógica para uma educação baseado na proposta da complexidade. Entretanto, a

oferta das atividades escolares no contraturno apresenta limitações que precisam ser

enfrentadas de forma corajosa, para as atividades do Programa esteja em consonância

com o currículo e o PPP. Como os alunos do turno da manhã participam das atividades

do PME no turno da tarde e os estudantes do turno da tarde participam no turno da

manhã, gera um dualismo na escola. Ocorre que os alunos do PME, quando estão no

horário das atividades do Programa, são vistos como “ap ndice” da escola, como uma

presença que gera apenas mais trabalho para gestão escolar. Grosso modo, as atividades

que são vivenciadas não funcionam como complemento dos conteúdos tradicionais

discutidos em sala de aula. Ao que parece esta dualidade de turnos e contraturnos

precisam ser dialogadas de forma séria com todos os atores deste processo de gestão

(MOLL, 2012).

A articulação das atividades diferenciadas do Programa Mais Educação necessita

de abertura para o diálogo entre gestão escolar, professores, monitores e educandos para

construção de uma proposta, na qual os conteúdos curriculares e o conhecimento

informal não se limitem a prática pedagógica dos professores em sala de aula. E, que

seja incluída nas oficinas e na malha curricular oficial, transformando o modelo

fragmentado posto no planejamento e articulação do PME. Para que, assim, possamos

conceber e vivenciar as diversas atividades do Programa Mais educação como uma

prática educativa pautada na complexidade e ação-reflexão-ação, haja vista que são

entendidas, muitas vezes, como de menor valor.

No processo de construção, na escola, do Programa Mais Educação faz-se

necessário o envolvimento de toda comunidade para que através desse envolvimento

possa-se edificar um planejamento ou um plano construído a partir de um diagnóstico,

para posteriormente traçar um plano de meta nas dimensões da gestão escolar,

professores, monitores, estudantes e comunidade, de modo que venhamos edificar um

projeto para o PME respeitando as especificidades locais. Ocorre que a educação que

ainda vem sendo desenvolvida nas escolas é baseada no repetido modelo “bancário”,

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definido por Freire (1996), que limita a participação desses diversos atores na

elaboração de uma proposta educativa emancipadora, visto que tais sujeitos não

possuem uma formação crítica-reflexiva para garantia de direitos e deveres.

Compreende-se, pois, ser este o motivo pelo qual as políticas públicas, na maioria dos

casos, sejam definidas no topo máximo dos escalões hierárquicos com pouco

envolvimento dos sujeitos beneficiários.

Assim, surge uma dicotomia para a escola, cabendo a ela um desafio duplo: ser

agente de mudanças de paradigma desse cenário de acomodação e passividade dos

sujeitos perante garantia de direitos, visto que em todas as instâncias compreende-se que

a educação representa o significado dessas mudanças. Ao mesmo tempo, que a escola

funciona como aparelho ideológico de reprodução de um modelo arcaico, fragmentado e

baseado na repetição que inibe a participação dos sujeitos na reinvindicação de direitos

historicamente negados, representa também um local capaz, portanto, de motivar

grupos, indivíduos e comunidades para preservar as diferenças e no estabelecimento de

caminhos para um mundo mais sustentável.

As evidências apontam para a impossibilidade de um desenvolvimento que não

esteja permeado, envolvido de forma intensa com os valores da sustentabilidade e,

portanto da educação integral. Corroborando com a temática, Cavaliere (2012, p. 280)

considera que “as políticas que tentam dar conta do fracasso escolar e dos problemas de

integração social e escolar de determinados grupos sociais investem mais fortemente em

uma concepção ampliada de educação escolar [...].” Sugerindo, portanto, que o processo

de mudança ocorre na escola, e para que isso acontecer precisamos de uma educação

ideológica, onde os professores e monitores não tenham uma atitude de “tio” ou “tia”,

mas de sujeitos crítico-reflexivo com conhecimentos e competências capazes de

aproximar a consolidação de uma educação emancipadora, colocada hoje no lugar da

utopia.

Desse modo, o desenvolvimento da sociedade irá ocorrer quando homens e

mulheres forem conscientes e sujeitos críticos individuais, ao mesmo tempo membros

de uma comunidade e de um planeta, que suas ações individuais terão reflexo no todo,

visto que nossa ação local provocará repercussões no global. Assim, é um erro

pensarmos de maneira isolada e, ao mesmo tempo, uma ilusão pensar que vamos

consolidar uma educação inclusiva quando não tivermos problemas ou conflitos, de

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forma que tais acontecimentos fortalecem os conhecimentos e nos sugerem um caminho

para evolução a partir desta reflexão. Morin (2005, p. 19) nos esclarece que:

Todo conhecimento comporta o risco do erro e da ilusão. A educação

do futuro deve enfrentar o problema de dupla face do erro da ilusão. O

maior erro seria subestimar o problema do erro; a maior ilusão seria

subestimar o problema da ilusão. O reconhecimento do erro e da

ilusão é ainda mais difícil, porque o erro e a ilusão não se reconhecem,

em absoluto, como tais.

Compreende-se, pois, que o conhecimento não é estanque, parado, academizado.

Se as pessoas mudam, a natureza muda, então as verdades não são absolutas. O que é

tido hoje como verdade não pode sentir-se ameaçado pela mudança do futuro, o que era

anteriormente conhecido como verdade agora não incide em um erro. Visto que o novo

é o velho de “roupa nova”. Constitui-se, também, como verdade que é uma ilusão não

nos enganarmos em dado momento sobre uma verdade ou um conceito, ainda que tudo

vá ser construído e edificado de forma harmoniosa e sem problemas. Como humanos

que somos carregamos em nossa intimidade elementos do complexo, portanto dos

conflitos, da harmonia e da verdade (MORIN, 2005).

A sustentabilidade da educação não é uma tarefa inocente isenta de

intencionalidade e propósitos, nem se trata de ensinar para os educandos como o mundo

anda desalinhado com os valores para emancipação do sujeito, nem tampouco ocultá-lo.

É preciso refletir de maneira decisiva para o debate do que de fato se constitui os

valores para uma educação planetária, entendendo que a educação não pode ser vista

como filantropia que pode ser aliada tanto das concepções de uma “educação bancária”

como, também, para consolidação de uma “educação para autonomia”. Assim, é

necessário sedimentarmos uma prática pedagógica voltada para transformação e

mudanças de conhecimentos, habilidades e atitudes para políticas que garantam uma

sociedade mais equânime e cooperativa, não apenas resultados incipientes de curto

prazo, mas no plano da dimensão política e valor educativo voltado para práticas

sustentáveis.

Exige-se, por sua vez, da complexidade intrínseca somada à demanda de

comunicação transfronteiriça entre as tradições do passado de uma escola conservadora

e, as necessidades do presente, que possam aguçar os valores éticos-culturais-históricos.

Para que desta forma possamos enfrentar o problema da superespecialização do

conhecimento que, à primeira vista ocorre em função da simplificação do complexo,

como forma de simplificar o conhecimento. Entretanto, o que ocorreu foi à valorização

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das partes do todo, tornando o conhecimento disciplinar e destituído do complexo.

Provocando nos sujeitos uma falta de visão de sentido para o seu cotidiano, de alguma

forma “coisificando” o conhecimento. A questão que nos colocamos nesta altura do

discurso é se os educadores devem se preocupar, além de sua parcelazinha de

superespecialização ou deverão se apropriar da totalidade das partes, do complexo em

suas vivências educativas (MORIN, 2005).

Por outro lado, cabe uma reflexão acerca de em medida as universidades tem se

preocupado com essa formação pautada no “todo complexo” ou continuam pautada em

formação por “disciplina” desconectada de sentidos para os educando. espejando na

rua diplomados que deverão tratar da vida e se formar, adotando cada vez mais uma

postura de pouca preocupação com a consolidação de valores capazes de vencer uma

crise ética-histórica-cultural do passado e do presente. Sendo assim, é possível

estabelecer uma nova ordem de valores, onde o homem passaria a compreender a

necessidade de ações conectadas com o “todo” e as “partes”, constituindo um arcabouço

teórico que seja capaz da construção de uma sociedade menos desigual e preparada para

o cuidado com todos os seres vivos e com o planeta. Pois, educação além de encerrar

um tesouro, possui a fórmula sagrada da mudança social e a transformação das

consciências coletivas (GUTÉRREZ-PEREZ, 2005).

A educação não é uma salvação, ela permite que as pessoas se protejam de quem

os exploram, através do conhecimento3. Este pensamento traz a reflexão da necessidade

de formamos cidadãos crítico-reflexivo, presente nas discussões de seu tempo, tanto as

acadêmicas quanto aquelas que se revelam no dia a dia dos indivíduos. Compreender

este conhecimento lhe dará os aportes para o exercício de uma cidadania com

participação social, política e para o exercício de direitos e deveres.

A criação do grupo de estudos: “Educação Integral” e “Escola de Tempo Integral” –

“Território do Programa Mais Educação”.

Com o propósito de fomentar o debate da “educação integral” e da “escola em

tempo integral”, bom como sedimentar o Programa Mais Educação como uma política

indutora desta proposta e, de fato, sustentável, sugerimos que a Secretaria Estadual de

3 Cf. https://www.youtube.com/watch?v=xLZYsCn2Y4g. Acesso em 02 de abril de 2014.

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Educação de Pernambuco, por meio da Gerência Regional de Educação Recife Norte e

com a colaboração do Programa de Mestrado Profissional em Gestão do

Desenvolvimento Local Sustentável da Universidade de Pernambuco, crie um grupo de

estudos subordinado ao tema: e “E I l” “E l T I l” –

Território do Progra M E ” que atue com reuniões mensais e através de

um fórum, online, permanente de discussões. Propõe-se que esse grupo seja orientado

pelos objetivos, metas e metodologia mencionados na sequência desta proposta.

O referido grupo terá um caráter consultivo e será formado por uma gestão

colegiada formada por um conjunto de pessoas de diferentes setores da sociedade,

incluindo representação do Comitê do Programa Mais Educação, da Fundação Joaquim

Nabuco (sendo um da rede estadual e um da rede municipal). O grupo de estudo deverá

agrupar os seguintes atores: membros da Gerência Regional de Educação objeto deste

estudo com interesse nesse tema, gestores de escolas, professores e monitores da

referida Gerência de Educação, assim como, a comunidade envolvida. As discussões

terão o caráter de aproximar a academia, gestores, professores, monitores, estudantes e

comunidade para discussão das práticas pedagógicas e ações que possam pensar um

caminho para que o conhecimento veiculado na academia possa encontrar, na educação

informal, situações de aprendizagens capazes de aproximar o educando dos problemas

do seu tempo. Outros sujeitos poderão aparecer espontaneamente, a partir de interesses

pertinentes e abertura para o debate sobre os temas supramencionados.

Caberá, entre outras ações, acompanhar a execução do Programa Mais

Educação, sociabilizar experiências visando à qualificação da política pública de

educação integral no Estado. Prever-se reuniões mensais para o debate sobre a política

de “educação integral” e, também, acerca das dificuldades verificadas neste estudo, tais

como:

As escolas não têm tempo pedagógico para discussão da unificação das

atividades do PME com a proposta de educação da escola;

Por outro lado, a falta de conhecimento prévios dos monitores, a falta de

infraestrutura, não contribuem para resultados almejados;

Os professores da rede estadual, que trabalham com os estudantes no turno

regular, desconhecem os pressupostos do PME;

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O voluntariado/monitores - tal relação de “trabalho” impõe novos arranjos e,

portanto, novos desafios e responsabilidades para todo corpo docente e

comunidade;

Sugere uma visão missionária da educação, visto que a dificuldade de articular

os monitores com as ações do PPP justifica pelo fato da bolsa não ser atrativa;

Pouca criatividade, dos docentes e monitores concentrados, no desempenho em

sala de aula, como se a educação fosse uma prática que apenas será consolidada

no enclausuramento.

O PME, no momento desenvolve-se como um apêndice da escola, nos

“quartinhos e cubículos” da mesma.

Reiteramos que o ato de pensar a propósito de uma educação sustentável sugere

estudos aprofundados, ou seja, há pela frente um grande desafio dado à diversidade de

metodologias e práticas que envolvem a educação. E esta surge como um referencial de

esperança para apontar um caminho para um futuro que se inicia marcado pela crise do

capitalismo, no qual a solidariedade entre as pessoas diminui a cada dia em função do

crescimento da competitividade. Isto nos faz reforçar a importância da educação para a

sustentabilidade neste cenário político, econômico e social. Uma educação que

vislumbre a construção de uma sociedade mais solidária nesse início de terceiro milênio

e que, no âmbito desta proposta pretende se consolidar com base nos seguintes

objetivos, metas e procedimentos metodológicos.

OBJETIVOS:

I – Acomodar os conceitos prévios, dos sujeitos, que participarão do grupo de estudo,

acerca do pensamento sobre sustentabilidade da educação;

II - Identificar os conceitos prévios, dos sujeitos, que participarão do grupo de estudo

acerca do pensamento sobre a prática pedagógica baseada na ação-reflexão-ação;

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III – Definir práticas e ações que venham a promover a articulação, de forma hibrida,

entre a educação formal e educação informal;

VI – Intercalar conceitos, entre os diversos membros do grupo de estudo, sobre a

“educação integral” e “escola de tempo integral”.

METAS:

I – Construir um plano de ação, capaz de levar os membros do grupo de estudo, a

consolidação da “educação integral” e “das escolas de tempo integral”.

II – Definir no bojo das atividades do referido Programa, como consolidar a educação

informal e educação formal;

III – Elaborar um roteiro de atividades, de modo que venhamos a identificar e articular o

conceito de cidade educadora e ações pontuais capaz de envolver a escola nesse circuito

de espaço tão importante para educação significativa.

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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DESTA PROPOSTA.

ATIVIDADES METODOLOGIA PESSOAL

ENVOLVIDO

RECURSOS

HUMANOS E

MATERIAIS

NECESSÁRIOS

Encontros

pedagógicos, para

provocar a

discussão de temas,

que leve o grupo a

compreender e

discutir a educação

sustentável.

Discussão dialógica

e formação de

grupos de estudo,

para posterior

sociabilização.

Gestores,

professores,

monitores e

membros da

comunidade

interessados na

educação integral.

Data show,

computador, som,

papel ofício,

cartolina e hidrocor.

Encontros

pedagógicos, para

provocar a

discussão de temas,

que leve o grupo a

compreender e

discutir a educação

sustentável, através

de filmes sobre o

tema.

Assistir ao filme,

para posterior

discussão dialógica

e formação de

grupos de estudo,

para posterior

sociabilização.

Gestores,

professores,

monitores e

membros da

comunidade

interessados na

educação integral.

Data show,

computador, som,

papel ofício,

cartolina e hidrocor.

Encontros

pedagógicos, para

provocar a

discussão de temas,

com membros da

comunidade

acadêmica e

informal.

Discussão

expositiva e

formação de grupos

de estudo, para

posterior

sociabilização dos

temas debatidos.

Gestores,

professores,

monitores e

membros da

comunidade

interessados na

educação integral.

Data show,

computador, som,

papel ofício,

cartolina e hidrocor.

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APÊNDICE B - ROTEIRO DAS ENTREVISTAS E QUESTIONÁRIOS

REALIZADOS, TERMO DE CONSENTIMENTOS LIVRE ESCLARECIDO.

ROTEIRO DAS ENTREVISTAS

Dimensões de Análise Categorias Questões

Articulação do PME com o

currículo e o PPP das escolas

de Educação Básica.

Contribuições do PME para

construção do conhecimento

na perspectiva da ação-

reflexão-ação.

Competências dos monitores

para o desenvolvimento das

diversas ações do PME.

Currículo

Reflexividade

Sustentabilida

-de do PME

1- Considera que há

articulações entre o

PME, o currículo

escolar e o PPP desta

escola? Por quê?

2- Em sua opinião, as

ações do PME são

desenvolvidas na

perspectiva da ação-

reflexão-ação? Por

quê?

3- Quanto aos monitores,

considera que possuem

competências

necessárias para

atuarem nas diversas

ações/atividades

promovidas pelo PME?

Por quê?

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116

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado (a),

Você está sendo convidado (a) a participar como voluntário (a) da pesquisa intitulada

UMA ANÁLISE DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO NUMA PERSPECTIVA DA

SUSTENTABILIDADE. Esta pesquisa compõe o projeto de dissertação de mestrado e

está sob responsabilidade do pesquisador EDEILTON JULIÃO DE SOUZA,

administrador e mestrando do Programa de Pós-graduação em Gestão do

Desenvolvimento Local Sustentável da Universidade de Pernambuco, sob a orientação

da pesquisadora: MARIA DE FÁTIMA GOMES DA SILVA, doutora em educação e

docente da Universidade de Pernambuco.

Assinando este Termo de Consentimento, estou ciente que:

1) Compreender a educação como um desafio para escolas e comunidades é dialogar

com a complexidade de diversos agentes sociais, territórios e saberes que envolvem as

experiências comunitárias, buscando construir uma prática pedagógica que se estende

para além do espaço escolar, uma prática pedagógica que ultrapassa os muros da escola

faz parte dos objetivos formativos das concepções do Programa Mais Educação, nesse

sentido, o pesquisador tem como objetivo geral Investigar a perspectiva da

sustentabilidade na Educação Básica através do Programa Mais Educação – em Escolas

Públicas do Estado de Pernambuco;

2) Os riscos para mim e para os demais participantes da pesquisa podem estar

relacionados à possibilidade de algum cansaço em responder a algumas das perguntas,

por tratar-se da rotina de cada um, no entanto, serão formuladas com proposições

simples e diretas, podendo ser respondidas facilmente;

3) Os benefícios esperados com o resultado desta pesquisa são: a pesquisa sobre o

estudo do Programa Mais Educação na perspectiva da sustentabilidade pode apresentar

benefícios relacionados à construção de práticas singulares na sedimentação de uma

educação sustentável, considerando aspectos culturais e centrados nas necessidades da

comunidade escolar, principalmente no que tange sustentabilidade, currículo,

reflexividade e fortalecimento dos sujeitos envolvidos no processo educacional, tendo

em vista às concepções culturais dessa comunidade em relação à temática;

4) Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente

sobre minha participação na referida pesquisa, inclusive com um prazo estipulado por

mim para assinar este termo e participar da pesquisa;

5) Durante a coleta de dados o pesquisador irá fazer observações (participando ou

não) da nossa rotina diária, as ações do Programa Mais Educação e também fará uma

entrevista com roteiro semiestruturado, em dia e horário escolhido por mim, cujas

respostas poderão ser gravadas em aparelho, se eu permitir, cujos dados serão

armazenados com o pesquisador por um período de 5 anos, junto com este termo, mas

que garantem o anonimato de todas as informações pó mim passadas, e autorizo a

destruição do material passado este tempo;

6) Meus dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos por

meio da pesquisa serão utilizados apenas para alcançar o objetivo do trabalho, exposto

acima, incluída sua publicação na literatura científica e especializada, portanto os

resultados serão divulgados por meio da dissertação do pesquisador e de artigos

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científicos enviados para publicações em revistas, bem como apresentações em eventos

científicos, nos quais mais uma vez serão garantidos o anonimato com o uso de

pseudônimos;

7) O pesquisador esclareceu que não haverá ônus para os participantes da pesquisa

e se responsabiliza junto com a sua orientadora por qualquer tipo de dano previsto ou

não neste termo de consentimento, prestando-lhe assistência integral, e/ou indenização

caso seja necessário.

Caso concorde em particular, conforme já lhe convidamos, pedimos que assine este

termo, sendo que uma cópia ficará em suas mãos e outra com o pesquisador. Estaremos

à sua disposição para qualquer momento que deseje.

O projeto desta pesquisa e este Termo de Consentimento e Livre Esclarecimento

foram apreciados pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da

Universidade de Pernambuco, caso tenha alguma dúvida ou reclamação sobre o mesmo,

você poderá recorrer ao Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da

Universidade de Pernambuco, localizado à Av. Agamenon Magalhães, S/N, Santo

Amaro, Recife-PE ou pelo telefone 81-3183.3775 ou através do e-mail

comitê[email protected]

Também poderá entrar em contato com de dúvidas e esclarecimentos o

pesquisador: Edeilton Julião de Souza, Rua Coelho Leite, 80, Santo Amaro, Recife-PE,

CEP: 50100-140, ou através do telefone (81) 8709-1871 ou pelo e-mail:

[email protected].

Consentimento Livre e Esclarecido

Eu______________________________________________, após ter recebido todos os

esclarecimentos e ciente dos meus direitos, concordo em participar desta pesquisa, bem

como autorizo a divulgação e a publicação de toda informação por mim transmitida em

publicações e eventos de caráter científico. Desta forma, assino este termo, juntamente

com o pesquisador, em duas vias de igual teor, ficando uma via sob meu poder e outra

em poder do pesquisador.

Recife, ____/____/____

___________________________________ ______________________________

Assinatura do Sujeito (ou responsável) Assinatura do Pesquisador Para menores de 18 anos a autorização é assinada pelo Pai ou Responsável

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ANEXO

Parecer consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa

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