UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS...

117
UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO Catarina Susana Antunes Alves Mestrado em Arqueologia 2010 Volume I

Transcript of UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS...

Page 1: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

UNIVERSIDADE DE LISBOAFACULDADE DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

Catarina Susana Antunes Alves

Mestrado em Arqueologia

2010

Volume I

Page 2: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

UNIVERSIDADE DE LISBOAFACULDADE DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

Catarina Susana Antunes Alves

Mestrado em Arqueologia

Dissertação orientada pelo Prof. Doutor Carlos Fabião

2010

Page 3: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

À memória de Carla Matias 

 

Page 4: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

  

Agradecimentos 

A concretização deste projecto não teria sido possível sem a contribuição de inúmeras 

pessoas que me apoiaram e  incentivaram ao  longo deste percurso, pelo que aqui expresso o 

meu mais profundo agradecimento. 

  Em  primeiro  lugar,  ao  Prof.  Doutor  Carlos  Fabião  que,  com  imensa  paciência, 

acompanhou e orientou  todas as  linhas que  compõem este  texto,  sempre  com uma análise 

crítica que me guiou por “caminhos” mais sensatos. 

  À  Prof.  Doutora  Ana  Margarida  Arruda  pela  disponibilidade  e  partilha  de  alguns 

critérios de classificação cerâmica. 

À  Prof.  Doutora  Catarina  Viegas  pela  prontidão  em  partilhar  comigo  alguma  da 

bibliografia  de  difícil  acesso,  cuja  consulta  se  mostrou  fulcral  para  a  concretização  deste 

projecto. 

  Ao Mataloto,  que  acompanhou,  bem  de  perto,  todo  o  processo,  pelas  conversas  e 

questões sempre pertinentes. Por toda a ajuda e incentivo muito obrigado. 

  Agradeço  na  mesma  medida  à  Susana  Estrela  pelas  estimulantes  conversas  sobre 

Mesas do Castelinho que em muito beneficiaram este trabalho. 

Não posso deixar de agradecer ao Carlos Pereira que disponibilizou bibliografia difícil 

de aceder. 

  À  Márcia  perita  em  “moer  juízos”,  à  Tisha  pela  sua  permanente  boa  disposição  e 

incentivo,  à  Loira,  ao Bocas e  à Guida  amigos de  longa data e  sempre presentes  apesar da 

distância. 

  Ao Josué pela paciência e apoio essencial em momentos de desânimo. 

  Por último, mas nunca em último, um agradecimento muito especial à minha família, 

que me aturou e albergou nestes últimos meses e sem a qual nada, mas mesmo nada, seria 

possível. 

Page 5: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

  

Resumo: O  sítio  arqueológico Mesas do Castelinho, Almodôvar,  é de um povoado  fortificado  fundado nos 

finais do séc. V‐IV a.C. que mais tarde,  já em pleno séc.  II da mesma Era, pelas evidências materiais, revela, 

fortes e precoces, contactos com o mundo Romano, sem sinais de qualquer espécie de violência.  

A ocupação Romana Republicana do povoado caracteriza‐se pela reorganização arquitectónica, que 

definiu um urbanismo ortogonal, já sem sistema defensivo, bem como por um acervo material de dimensões 

impressionantes,  cujas  potencialidades  informativas,  acompanhadas  das  leituras  estratigráficas  fornecidas 

por um sítio escavado de acordo com os pressupostos metodológicos avançados por Ph. Barker (Barker, 1982) 

e  complementados pela  leitura  estratigráfica preconizada  por  E. Harris  (Harris,  1991),  definem o povoado 

como um dos mais  importantes para a  compreensão da evolução das  comunidades  indígenas  face à nova 

realidade e poder romano. 

Da  imensa colecção de material arqueológico recolhido, ao  longo de 20 campanhas de escavação, 

são aqui apresentados os dados referentes à cerâmica campaniense. O conjunto, um dos mais expressivos de 

todo o território actualmente português, pelo menos dos que se conhecem publicados, encerra em si diversas 

questões,  como  a  existência  de  formas  raras  ou  únicas,  mas  talvez  mais  importante  a  constatação  de 

sequências  estratigráficas  que  permitem  abordar  o  tema  da  romanização  do  povoado,  relações  com  o 

território envolvente e a sua integração nos circuitos comerciais de ligação com o mundo litoral e a bacia do 

Mediterrâneo.       

Palavras‐chave: Mesas do Castelinho, Romano Republicano, Cerâmica Campaniense.  

Abstract: The archaeological site of Mesas do Castelinho,  in Almodôvar,  is a fortified settlement founded on 

the  late  5th  to  6th  Century  B.C.,  which  subsequently,  by  its  material  evidence,  on  the  2nd  Century  B.C., 

reveals significant and early contacts with the Roman world with no signs of conflict. 

The Roman Republican occupation of the settlement is characterized by architectural reorganization 

in  the  form  of  an  orthogonal  plan  no  longer  having  a  defence  system,  as well  as  an  impressive  material 

collection, with huge amount of information, along with the stratigraphic readings that an excavated site can 

provide following the methodology of Ph. Barker (Barker, 1982) complemented by the stratigraphic reading 

recommended  by  E.  Harris  (Harris,  1991),  making  the  site  one  of  the  most  important  settlements  to 

understand the evolution of native communities facing the new Roman rule. 

Here  we  present  the  data  concerning  campanian  ware  originated  from  the  vast  collection  of 

archaeological material recovered over 19 excavation campaigns. The ensemble, one of the most significant 

on what is currently Portuguese territory, at least from those already published, encompasses various issues, 

such  as  the  existence  of  rare  or  unique  forms  on  the  ensembles  already  published,  but  perhaps  most 

importantly,  the  observation  of  stratigraphic  sequences  that  allow  us  to  establish  a  connection  with  the 

Romanization  of  the  settlement,  the  relations  with  the  surrounding  territory  and  its  integration  on 

commercial circuits that were connected to the Mediterranean basin coastline. 

Keywords: Mesas do Castelinho, Roman Republican, Campanian ware. 

 

Page 6: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

Índice

Volume I

1. O POVOADO DE MESAS DO CASTELINHO NA ANTIGUIDADE 1.1 Enquadramento natural ......................................................... ......................................................8

1.2 Mesas do Castelinho e o território envolvente: enquadramento histórico-arqueológico......9

2. BREVE SINOPSE DOS TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS EM MESAS DO CASTELINHO

2.1 O pré 1986…………………………….. ............................................. ......................................................11 2.2 A intervenção de C.J. Ferreira ......................................................................................................13 2.3 O projecto Mesas do Castelinho (1988 a 2008) ...........................................................................13 2.3.1 Síntese dos resultados: faseamento e arquitectura ..............................................................14 2.3.1.1 Ocupação da Idade do Ferro .............................................................................................15 2.3.1.2 Ocupação Romana Republicana .......................................................................................15 2.3.1.3 Ocupação Romana Imperial ..............................................................................................18 2.3.1.4 Ocupação Islâmica ............................................................................................................19

3. A CERÂMICA CAMPANIENSE

3.1 História da investigação (breve sinopse) ......................................................................................19 3.2 O estudo em Portugal ...................................................................................................................22 3.3 O actual estado dos conhecimentos, seus condicionalismos e questões.................................... 23

4. A COLECÇÃO DO SÍTIO MESAS DO CASTELINHO

4.1 Metodologia….. ............................................................................................................................24 4.1.1 Composição, tratamento da amostra e critérios de quantificação...................................24

4.2 Áreas de produção .......................................................................................................................28 4.2.1 Campânia………………. .........................................................................................................28 4.2.1.1 cerâmica Campaniense A…………….. ...............................................................................28 4.2.1.2 cerâmica Campaniense B de Cales .................................................................................32 4.2.2 Etrúria…..……….. .................................................................................................................34 4.2.2.1 cerâmica Campaniense B de Arezzo…..……….. ...............................................................34 4.2.3 “local regional” de verniz negro…..……….. ........................................................................36 4.2.3.1 cerâmica de pasta cinzenta com verniz negro de imitação de Campaniense B ............38 4.2.3.2 cerâmica de pasta laranja com verniz negro de imitação de Campaniense A…40

4.3 Caracterização dos fabricos identificados ....................................................................................41 4.3.1 Fabrico da Campânia F1 ....................................................................................................41 4.3.1.1 Fabrico da Campânia F2 ..................................................................................................41 4.3.2 Fabrico de Cales F3 ............................................................................................................42 4.3.2.1 Fabrico de Cales F4 ..........................................................................................................42

Preâmbulo.............................................................................................................................................6

Page 7: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

4.3.3 Fabrico de Arezzo F5 ................................................................................................43 4.3.3.1 Fabrico de Arezzo F6 ...............................................................................................43 4.3.4 Fabrico local ou regional F7.......................................................................................43 4.3.4.1 Fabrico local ou regional F8 ....................................................................................44 4.3.5 Análise dos dados ................................................................................................45

4.4 Categorias cadas 4.4.1 categoria 1000 ............................................................................................................50 4.4.2 categoria 2000……… ....................................................................................................59 4.4.3 categoria 3000………................................................................................................... 70 4.4.4 categoria 7000……… ....................................................................................................72

4.4.6 decorações……… ......................................................................................................... 76 4.4.7 grafitos…………… ...........................................................................................................80 4.4.8 marcas de oleiro .......................................................................................................... 81

5. CONTEXTUALIZAÇÃO ESTRATIGRÁFICA DOS MATERIAIS EM ANÁLISE (1987-2008) 5.1 Dinâmica de evolução da ocupação do grafia e cronologias)...........................81

5.2 Evolução económica ............................................................................................................ 90

6. A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO NA DINÂMICA COMERCIAL ROMANA REPUBLICANA DO SÉCULO II E I A.C. NO SUDOESTE PENINSULAR..........................93

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 101

8. BIBLIOGRAFIA…………………………………………………………………………………………………..……… .105

Volume II

Anexo I. Figuras Anexo II. Tabelas Anexo III. Estampas Anexo IV. Listagem descri va e pológica do material estudado Anexo V. Listagem descri va das Unidades áficas contempladas

4.4.5 outras.......................................................................................................................... 74

Page 8: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 6 

Preâmbulo 

A escolha do tema desta dissertação recua aos tempos da licenciatura, ainda que nessa 

altura  este  objectivo  estivesse  longe  dos  meus  horizontes.  Assim,  no  âmbito  da  disciplina 

Arqueologia do Mundo Provincial Romano, e em conjunto com Carla Matias, estudámos uma 

pequena  amostra  da  cerâmica  campaniense  proveniente  das  intervenções  de  Mesas  do 

Castelinho. Nos anos que se seguiram, o Prof. Doutor Amílcar Guerra sugeriu  investirmos no 

estudo daquele tipo cerâmico, dando início ao tratamento de uma amostra mais alargada (que 

incluiria  todos  os  contextos  da  plataforma  superior  daquele  sítio  arqueológico),  com  a 

finalidade de publicar os dados.  Infelizmente, não pudemos concretizar conjuntamente esse 

projecto e apenas eu pude dar‐lhe  seguimento, ainda que  já  sob a  forma de dissertação de 

mestrado. 

As  primeiras  publicações  que  divulgam  a  presença  de  cerâmica  campaniense  em 

Mesas do Castelinho datam dos anos  ‘90 (Fabião e Guerra, 1994 e Fabião, 1998). O trabalho 

que aqui se desenvolve pretende continuar e aprofundar o estudo desse conjunto, pelo que 

alargámos a amostra, incluindo os registos de mais nove anos de intervenções arqueológicas.  

A especificidade  cronológica desta  cerâmica, presente no actual  território português 

entre os sécs. II e I a.C., transforma‐a num excelente indicador, a par das produções anfóricas 

vinárias com a mesma origem  itálica, dos primeiros contactos com o mundo  romano. O  seu 

potencial  informativo  (tipológico e cronológico), cruzado com o dos  restantes materiais com 

que convive nas diferentes sequências estratigráficas escavadas, permite entendê‐la como um 

excelente contributo para a caracterização económica de um sítio, e respectivamente, região.  

A  escassa  informação  que  se  tem  da  sua  presença  em  território  hoje  português, 

associada à disparidade das amostras conhecidas, muitas vezes sem contextos arqueológicos, 

limita uma apreciação geral do panorama nacional. 

É nosso objectivo congregar toda a informação que o conjunto recolhido em Mesas do 

Castelinho  providencia,  beneficiando  dos  contextos  estratigráficos  seguros,  na  tentativa  de 

contribuir  para  uma  melhor  compreensão  sobre  ocupação  republicada  deste  povoado  do 

interior do Sul peninsular. 

Pese  embora  as  agressões  a  que  o  sítio  foi  sujeito  (naturais  e  especialmente 

antrópicas), que conduziram à destruição de muitos dos seus contextos estratigráficos, grande 

parte do povoado, especialmente a plataforma inferior, encontrava‐se muito bem preservado. 

De  tal  forma, que proporcionou  leituras estratigráficas  fulcrais no contributo, que pensamos 

ser  incontornável,  para  a  compreensão  da  evolução  dos  núcleos  indígenas  nos  alvores  da 

Page 9: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 7 

romanização,  bem  como  nas  dinâmicas  económico‐comerciais  dos  povoados  do  interior 

meridional peninsular com a região envolvente e a bacia do Mediterrâneo. 

A estruturação deste  trabalho conta com dois volumes. O primeiro dividido em  sete 

capítulos e o segundo em V anexos, figurativos, que auxiliam a leitura do texto. 

O primeiro capítulo refere‐se à “biografia” do sítio, com uma caracterização geográfica 

do  povoado  e  onde  delimitamos,  sumariamente,  o  quadro  de  acontecimentos  histórico‐

arqueológicos, que de alguma maneira se relacionam com a “vida” daquele povoado e com a 

região em que se insere. 

No  capítulo  2  expõe‐se,  de  forma  sintética,  as  escavações  arqueológicas  e  os 

resultados  obtidos,  sob  a  direcção  científica  dos  Profs.  Doutores  Amílcar  Guerra  e  Carlos 

Fabião,  ao  longo  de  19  campanhas,  logo  após  as  destruições  de  1986  e  da  intervenção  de 

emergência supervisionada pelo Dr. C.J. Ferreira. 

Tentámos,  no  capítulo  3,  dar  uma  perspectiva  geral  da  história  da  investigação  da 

cerâmica campaniense, seus condicionalismos e o actual estado da questão. 

O capítulo 4 é dedicado ao estudo dos materiais que dão mote a este trabalho. Aqui 

são expostos os princípios metodológicos que regeram toda a análise qualitativa e quantitativa 

do material, para em seguida analisar as áreas de produção identificadas, fabricos e tipologias 

presentes no conjunto de Mesas do Castelinho. 

Com  base  nos  contextos  mais  significativos  e  com  maior  potencial  informativo,  o 

capítulo  5  serve  para  contextualizar  a  cerâmica  campaniense  na  diacronia  de  ocupação  do 

povoado, permitindo algumas considerações sobre as suas dinâmicas. 

Antes das considerações finais, onde tentamos condensar as linhas fortes que resultam 

da  análise  da  cerâmica  campaniense  de  Mesas  do  Castelinho  e  o  seu  contributo  para  a 

compreensão do sítio (capítulo 7), tentamos traçar o quadro de dinâmicas de comércio que a 

região  interior do Sul do actual  território português, na qual  se  insere Mesas do Castelinho, 

mantém com a bacia do Mediterrâneo durante os sécs. II e I a.C. (capítulo 6). 

No segundo volume pode encontrar‐se, no anexo I, um conjunto de figuras de apoio à 

compreensão  do  texto.  O  anexo  II  refere‐se  a  um  conjunto  de  tabelas  referentes  à 

quantificação cerâmica e dispersão de formas no actual território português que têm paralelos 

em  Mesas  do  Castelinho,  bem  como  uma  base  de  dados  onde  estão  representados  as 

contagens  e  os  contextos  estratigráficos  de  onde  se  recolheu  campaniense  inclassificável. 

Seguem‐se as estampas, no anexo  III e o anexo  IV  com o  catálogo de peças analisadas. Por 

último, no  anexo V  é possível  consultar uma base de dados  com  a descrição das Unidades 

Estratigráficas contempladas neste trabalho.   

 

Page 10: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 8 

1. O Povoado de Mesas do Castelinho na Antiguidade 

1.1 Enquadramento natural 

O povoado Mesas do Castelinho situa‐se na Herdade do Monte Novo do Castelinho, a 

cerca de 2 quilómetros a Sul da aldeia de Santa Clara‐a‐Nova, no concelho de Almodôvar. Este 

sítio  pode‐se  localizar  nas  seguintes  coordenadas  geográficas:  Latitude  =  37˚  08’  22’’  e 

Longitude = 08˚ 07’ 30’’, segundo a CMP 1:25 000, folha nº 572, Dogueno‐Almodôvar (v. fig. 1 

e 2). 

Implanta‐se numa  área de  fronteira natural, que permite  a passagem entre o Baixo 

Alentejo e o Algarve, num ponto de  transição entre as áreas mais elevadas da peneplanície 

alentejana  e  o  relevo  acidentado  da  Serra  do  Caldeirão.  Este  fenómeno  orográfico  ocorre 

desde Mértola e acompanha‐se “… ao longo do interflúvio principal, seguido em grande parte 

pela estrada de Almodôvar para a serra” (Oliveira et al., 1992). Esta peculiaridade geográfica 

esteve na origem da existência de alguns caminhos que atravessam a  serra, e que aliados à 

proximidade do Guadiana determinam, compreensivelmente, as ocupações antigas da região. 

O sítio arqueológico, circunscreve‐se a uma plataforma a Norte (designada Plataforma 

B  ou  inferior)  de  planta  genericamente  rectangular,  coberta  por  estevas  e  olival  e  que  se 

adossa a outra (designada Plataforma A ou superior), na extremidade Sul, a uma cota superior, 

de  menores  dimensões  e  forma  arredondada.  Regista‐se  ainda,  a  Oeste  desta  última 

plataforma, uma terceira que a circunda e que, aparentemente, não se regista em todo o seu 

perímetro. Num total de cerca de 4 hectares o povoado assume o seu eixo maior no sentido 

Norte  –  Sul  com  cerca  de  250  metros,  por  uma  média  de  100  metros  de  largura. 

Hidrograficamente  implanta‐se na margem Sul da  ribeira de Mora, de escasso caudal, sendo 

circundado por dois barrancos, a Este e a Oeste, de fluxo actualmente  inexistente. Integra‐se 

numa  região  xistosa  e  de  fracas  aptidões  agrícolas  decorrentes  dos  solos  esqueléticos  do 

maciço  antigo, onde  a  cobertura  vegetal é, predominantemente,  constituída por  azinheiras, 

sobreiros e estevas.  

Relativamente  às  actividades  económicas do povoado,  trabalhos  levados  a  cabo  em 

1992  revelaram a ausência de  vestígios de  redução primária de metais  (Beau, 1994), o que 

contrasta com a proximidade da faixa piritosa Alentejana e a conhecida exploração, em grande 

escala,  na  área  de  Aljustrel.  Essa  presença  na  economia  local  foi  atestada  em  recentes 

escavações arqueológicas, por sugerirem a existência, no sector 3 da Plataforma B (v. capítulo 

2), de um  conjunto de  fornos  integrados num esquema de produção  industrial metalúrgica, 

num contraste evidente com os espaços de combustão de cariz doméstico da restante área do 

povoado  (Fabião  et  al.,  2007,  p.  11).  Apesar  deste  facto,  a  conjugação  das  características 

Page 11: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 9 

naturais  do  local  levam  a  supor  que  a  principal  actividade  económica  do  povoado  seria  a 

pecuária (Fabião, 1998, p. 277). 

Actualmente,  o  sítio  possui  uma  aparente  defensibilidade  natural  suportada  pelos 

taludes  bem  marcados  a  Norte,  Este  e  Oeste.  Possui  um  acesso  fácil  a  Sul  e  superfícies 

aplanadas.  Estas  ter‐lhe‐ão  conferido  o  topónimo  por  que  ficou  conhecido:  Mesas,  e 

distinguem‐no numa paisagem dominada por elevações com perfis ondulados (v. fig. 3). Esta 

artificialidade  topográfica  é  consequência  da  natural  acumulação  de  terras,  resultante  das 

diferentes  ocupações  ali  presentes. Abel Viana  descreveu  a  área  Sul  do  povoado  como um 

“…pico  vulcânico,  por  causa  da  sua  forma  cónica.”  (Viana,  Ferreira  e  Serralheiro,  1957), 

referindo‐se,  no  entanto,  às  ruínas  da  fortificação Omíada,  que  os  diferentes  processos  de 

erosão cobriram (v. fig. 4). Mais tarde, em 1992, C.J. Ferreira publicou um registo gráfico que 

documentava 5 metros de estratigrafia ocupacional, desde o topo ao sopé da encosta Este na 

plataforma B,  e que  suportada pela muralha da  Idade do  Ferro  contribuiu para  esta noção 

topográfica errónea. 

Atendendo à sua descrição orográfica percebe‐se que a escolha do local não se pautou 

por critérios de defensibilidade, já que o povoado Mesas do Castelinho em nada se destaca do 

que originalmente seria a topografia da paisagem envolvente. Esta estratégia de  implantação 

deveu‐se, antes, a  factores geográficos porque permite controlar um dos poucos corredores 

naturais (Noroeste – Sudeste) entre o Baixo Alentejo e o Algarve. O povoado terá funcionando 

como “posto” de controlo de via terrestre, ainda que secundária (Fabião, 1998, p. 276), já que 

a  proximidade  e  navegabilidade  do  rio  Guadiana,  faziam  deste  a  mais  importante  via  de 

circulação  de  produtos,  gentes  e  ideias.  A  preferência  desta  área  na  comunicação  entre 

regiões,  transporte e circulação de gentes assume uma perenidade até aos dias correntes e 

materializa‐se na construção da Estrada Nacional nº 2 e, posteriormente, na Auto‐Estrada A2, 

caso que se repete por todo o território.    

 

 

1.2 Mesas do Castelinho e o território envolvente: enquadramento histórico‐

arqueológico  

Desde  o  século  V‐IV  a.C.  até  à  I  Guerra  Púnica,  Cartago  recorre  à  utilização  de 

mercenários  ibéricos,  nomeadamente  dos  povos  indo‐europeus  do  Norte  e  Centro  do 

território (Fabião, 1997, p. 195). As fontes clássicas são omissas relativamente a este período o 

que deve ser entendido à luz da interpretação do segundo Tratado romano‐cartaginês, dado a 

conhecer  por  Políbio,  em  348  a.C.  O  referido  documento  impõe  o  condicionamento  da 

Page 12: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 10 

circulação  de  Roma  no  Mediterrâneo  ocidental,  com  limites  fixados  em Mastia  e  Tarseion 

(Arruda,  2004a,  p.  331),  o  que,  consequentemente,  limitava  a  circulação  daqueles  que 

elaboravam  as  “fontes  antigas”.  Apesar  de  se  desconhecerem  os  contornos  das 

movimentações  cartaginesas  os  actuais  dados  arqueológicos  não  suportam  a  existência  de 

uma efectiva ocupação do território.  

A  luta entre Roma e Cartago pela hegemonia do Mediterrâneo central e o pedido de 

auxílio de  Sagvntvm,  em  220, motivada pelo descontentamento  em  relação  à  soberania de 

Cartago, desencadeou o retomar das hostilidades entre as duas potências. 

Em 218, Aníbal Barca ataca Roma a partir da Península Ibérica e dá‐se início à II Guerra 

Púnica, cujo palco dos confrontos foi a área meridional da Península Ibérica, excluindo, ao que 

tudo  indica,  o  actual  território  português  (Fabião,  1997,  p.  197).  Roma,  até  então,  não 

manifestara  interesse em conquistar o  território da Península  ibérica, mas a necessidade em 

afastar a ameaça  cartaginesa,  fazendo‐os  recuar para o Norte de África,  conduz à presença 

física romana no território hispânico.  

Desde 218, ano em que C. Cornélio Cepião desembarca em Emporion, até 202, ano do 

fim da II Guerra Púnica, que Roma conquista e consolida posições no vale do Ebro, assim como 

na área meridional da Península Ibérica. Se nos finais do século III a.C. a presença romana era 

essencialmente militar, com a  incumbência de manter a ordem e controlo, posteriormente, e 

já  consciente  das  potencialidades  do  extremo  ocidente,  inicia mecanismos  de  exploração  e 

organização  do  território,  com  a  implantação  do  primeiro  ensaio  administrativo  (Hispânia 

Ulterior e Hispânia Citerior), em 197 a.C. 

As  Guerras  Lusitanas  marcam  um  momento  importante  de  forte  instabilidade  e 

transformação do ocidente peninsular. Estes avanços guerreiros, alguns bem sucedidos,  têm 

de ser entendidos numa perspectiva de “Banditismo Social” aliado, segundo alguns autores, a 

um provável excesso populacional e procura de terrenos para explorar, não se tratando desta 

forma de puros ataques contra o poder de Roma (Fabião, 1998).  

 A união dos governadores romanos da península, o enfraquecimento dos Lusitanos e a 

impossibilidade  de  continuarem  a  sustentar  a  guerra,  leva‐os  a  aceitar  a  paz  em  139  aC. 

Segundo  alguns  investigadores,  em meados deste  século o domínio de Roma  já  abrangia o 

médio e baixo Vale do Ebro e toda a Andaluzia e Algarve estariam pacificados, tal como parte 

do Alentejo  (Blázquez,  1988, p.  95)  (v.  fig.  5).  Se  a  Sul o  território não  estivesse  sob o  seu 

domínio não  faria  sentido que,  segundo  as  fontes  clássicas, o novo  governador da Ulterior, 

Décio  Júnio  Bruto,  em  138  a.C.,  tivesse  estabelecido  o  seu  quartel‐general  em  Móron, 

localizado, ao que tudo indica, no vale do Tejo, e fortificado Olisipo, com o intuito de facilitar o 

abastecimento  marítimo  dos  exércitos,  preparando‐se  para  o  início  do  que  é  considerado 

Page 13: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 11 

como a primeira grande campanha militar romana, que teria seguido um trajecto análogo ao 

que mais tarde se tornaria a via romana Olisipo – Bracara. 

Os conflitos decorrentes da disputa pelo poder de Roma entre a aristocracia romana 

intensificam‐se nos  inícios do século  I a.C. e ocorrem em parte na Hispânia. É neste contexto 

que  Sertório,  partidário  de  Mário,  regressa  à  Península  Ibérica  para  combater  Sula  por  o 

considerar usurpador do poder de Roma. A estratégia de combate incluía a criação de pactos 

de hospitalidade e clientela com as populações indígenas que serviam, simultaneamente, para 

vencer Sula e consolidar o seu poder na Hispânia, favorecendo a romanização (Fabião, 1997, p. 

207‐211).  

No actual território português conhecemos várias instalações com diferentes soluções 

arquitectónicas  e  funcionais  adoptadas  durante  o  período  romano  republicano.  Contudo,  a 

área geográfica a que nos reportamos, Baixo Alentejo, carece de muito trabalho de escavação 

e  investigação para melhor compreender a malha deste povoamento. Certo será que o sítio 

Mesas de Castelinho não estaria  isolado. Cerca de 50 quilómetros a Nordeste  implanta‐se o 

povoado pré‐romano de Myrtilis, um importante entreposto comercial entre o Mediterrâneo e 

o Alentejo que terá servido de pólo aglutinador de toda a região e que manteve contactos com 

Mesas do Castelinho, como sugere o espólio numismático ali recolhido.  

Não  será este o  local  indicado para analisar o  tema, pelo que nos  limitamos a uma 

simples menção aos designados castella enquanto produto de um modelo (os) de instalação já 

expressivo, diga‐se em número de presenças, no Baixo Alentejo. Cronologicamente,  surgem 

entre  a  segunda  metade  do  séc.  I  a.C.  e  a  primeira  da  centúria  seguinte  e  deverão 

corresponder  a  estruturas  de  fundação  romana,  não  necessariamente  itálica  (Fabião,  1997, 

2004b), cuja funcionalidade e enquadramentos continuam sob acesso debate científico.  

O  sítio Mesas do Castelinho  insere‐se num grande grupo de ocupações de  fundação 

pré‐romana que continua a funcionar em período romano. Esta diacronia de ocupação torna‐o 

fulcral  na  compreensão  das  transformações  do  espaço,  hábitos  e  cultura  material  que 

acompanham a instalação do poder e influência romana nas populações indígenas. 

 

 

2. Breve sinopse dos trabalhos arqueológicos em Mesas do Castelinho 

2.1 O pré 1986  

O  sítio arqueológico Mesas do Castelinho é  referido, pela primeira vez, em  finais do 

séc. XIX, por J.L. Vasconcelos, numa das suas visitas ao Baixo Alentejo (apud, Fabião, 1998, p. 

Page 14: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 12 

278). No entanto, é em meados e 3º quartel do  século  seguinte que o  local é amplamente 

mencionado nas publicações portuguesas.  

Em  1948,  João  Almeida  integra  o  povoado  no  Roteiro  dos  Monumentos  Militares 

Portugueses, sugerindo tratar‐se de uma “…almenara do tempo dos Mouros.” (Almeida, 1948, 

p.  298).  Passados  dez  anos,  Abel  Viana,  Octávio  da  V.  Ferreira  e  o  pároco  local  António 

Serralheiro  voltam  a  mencioná‐lo,  bem  mais  pormenorizadamente,  no  que  é  considerada 

como  a  1ª  notícia  de  carácter  científico. Os  autores,  ainda  que  ludibriados  pelo  efeito  das 

terraplanagens agrícolas, pequenos saques ilícitos e pela degradação natural das plataformas, 

tecem  comentários  topográficos  e  cronológicos,  integrando  o  povoado  no  panorama 

arqueológico regional. Importa salientar, que o seu mais importante legado reside nas duas e 

únicas  fotos  publicadas  (Viana  et  al.,  1957,  p.  471)  que  registam  o  sítio  antes  das  grandes 

destruições  dos  anos  ’80.  Simultaneamente,  alertam  para  a  necessidade  da  sua  escavação 

“…enquanto a moderna maquinaria agrícola não entrar ali e destruir tudo.” (Viana et al., 1957, 

p. 464), tal como viria a suceder, ainda que não com o propósito de cultivar o terreno.  

Relativamente ao material cerâmico publicado, também aqui Viana e seus colegas são 

pioneiros,  referindo uma pequena  taça hemisférica de cerâmica ática da  forma 2770/80, da 

tipologia  de Morel  (Lamboglia  21‐24)  e  apresentando,  na  estampa  I,  uma  tigela  inteira  em 

cerâmica  campaniense  (F2300/Lamb.  1)  (Viana  et  al.,  1957,  p.  470).  Mais  tarde,  em  1971, 

Manuela Delgado retoma a referência daquela peça grega (F2786/Lamb. 24A), datada do séc. 

IV‐III a.C. (Delgado, 1971, p. 419) que, curiosamente, pertencia à colecção pessoal do pároco 

Serralheiro. Três anos depois, Teresa Gamito e  José Arnaud referem a presença de cerâmica 

estampilhada  inserindo o  sítio, definitivamente, no  contexto da  II  Idade do  Ferro  (Arnaud e 

Gamito, 1974‐77, p. 195)  

Em suma, o povoado foi desde muito cedo conhecido e divulgado entre a comunidade 

científica,  integrando, desde 1960, as representações cartográficas do Bronze Final (Schubart, 

1975, p. 287) e Idade do Ferro. Porém,  isso não  impediu os atrozes actos de vandalismo, uns 

conscientes, outros talvez não, mas que danificaram, irremediavelmente, alguns contextos do 

povoado.  

A par da transposição de terras da cota mais elevada do povoado para a mais baixa, e 

nesta  de  Oeste  para  Este,  a  propósito  do  plantio  de  olival,  torna‐se  impossível  não 

remontarmos  ao  ano  de  1986.  Nesta  data,  o  então  proprietário  arrasou  cerca  de  1/3  do 

povoado,  utilizando  um  bulldozer,  sob  o  pretexto  não  assumido  de  descobrir  um  tesouro. 

Assim, a plataforma A encontrava‐se bastante revolvida, o que resultou da abertura de uma 

imensa vala Este ‐ Oeste junto à face interna da muralha e que danificou, irremediavelmente, 

toda a área Sul. A Este da periferia do sítio, registou‐se outro corte de tal forma profundo que 

Page 15: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 13 

na plataforma B se detectou um perfil de 5 m de altura (v. fig. 6). Os dados que permitiriam a 

compreensão entre ambos os espaços (plataforma A e B) foram,  igualmente, comprometidos 

pela abertura de uma  terceira vala no sentido Este  ‐ Oeste que afectou o  talude e a própria 

muralha. Felizmente, a restante área da plataforma B ficou a salvo pelo simples facto de não 

ser pertença daquele proprietário. 

Só  após  este  triste  episódio  se  reuniram  esforços  para  estudar  e  salvar  o  sítio, 

começando por dar seguimento à sua classificação como  imóvel de  Interesse Público, o que 

ocorreu em 1989 (DL 29/90 de 89.07.17). 

 

 

2.2 A intervenção de C.J. Ferreira  

As primeiras  intervenções arqueológicas no  sítio devem‐se ao Dr. Carlos  Jorge Alves 

Ferreira,  técnico superior do Departamento de Arqueologia do antigo  Instituto Português do 

Património Cultural (IPPC), que numa acção de emergência dá início aos trabalhos de limpeza 

dos cortes resultantes da acção mecânica de 1986, com registo gráfico dos mesmos, recolha 

de materiais à superfície e levantamento topográfico do povoado (Ferreira, 1992).  

A  constatação do elevado  índice de destruição do  sítio não  impediu a percepção da 

existência de uma diacronia de ocupação longa, que se estenderia desde a II Idade do Ferro ao 

período  Islâmico, com uma ocupação  intermédia com datação romana republicana. Não terá 

sido possível a  identificação da presença romana em momento Imperial, dado que os pontos 

abordados no terreno não seriam, como as escavações futuras viriam a demonstrar, as áreas 

onde essa ocupação se registava/conservava. 

 

 

2.3 O projecto Mesas do Castelinho (1988‐2008) 

Dois anos após o grande atentado patrimonial e a convite do IPPC o Dr. Carlos Fabião e 

o Dr. Amílcar Guerra assumem a direcção dos trabalhos, que se mantêm até aos dias de hoje, 

com interregno no ano de 2004.  

O  projecto  de  investigação  que  contemplava  a  salvaguarda  e  valorização  daquele 

património contou com inúmeros apoios, nomeadamente UNIARQ (Centro de Arqueologia da 

Universidade de Lisboa), Câmara Municipal de Almodôvar, Junta de Freguesia de Santa‐Clara‐

a‐Nova e seus moradores, Somincor, Instituto Português da Juventude, Exército, entre outros, 

sem os quais seria impossível ter levado a cabo este projecto.    

Page 16: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 14 

O primeiro ano de intervenções consistiu na limpeza das áreas revolvidas decorrentes 

das interfaces negativas abertas em 1986 (v. supra). 

 A escavação da fortificação Omíada iniciou‐se no ano seguinte, com a delimitação do 

sector  A1  (v.  fig.  7),  e  estendeu‐se  a  1992,  ano  em  que  se  iniciam  as  escavações  de  um 

conjunto de construções romanas republicanas subjacentes ao castelo. Seguiram‐se diferentes 

alargamentos a Noroeste, no ano 1990, e a Sul e Este em 1994. Este último ano marca o fim da 

escavação dos níveis republicanos e início dos contextos da II Idade o Ferro.  

A escavação do sector A2, localizado a Sudoeste do A1, iniciou‐se em 1992, tendo sido 

retomada apenas em 1995, devido a questões orçamentais. Uma das valas de destruição,  já 

referidas, cortava a estratigrafia presente entre A1 e A2, pelo que na tentativa de articular os 

dados provenientes de ambos os sectores, definiu‐se, a Oeste da plataforma, um novo sector: 

A3. 

Se nos primeiros anos os trabalhos na plataforma B se circunscreveram à colmatação 

das crateras  infligidas pelo bulldozer, em 1996 os  investigadores  implantaram uma pequena 

sondagem (B1) no topo da secção 3, do Corte C‐B desenhado por C.J. Ferreira, em 1987 (v. fig. 

8 e 9).   

Em 1997,  iniciaram‐se os  trabalhos no quadrante Sudoeste desta plataforma  (sector 

B2) que à partida se esperava melhor preservado. A finalização das escavações neste sector e a 

consequente necessidade em perceber como se comportava o interior do povoado impôs um 

natural alargamento a Este, naquilo que seria identificado com o sector B3. Estávamos no ano 

de 2002.   

Seguidamente,  faremos  a  síntese  dos  principais  aspectos  caracterizadores  das 

diferentes ocupações que o sítio conheceu, ainda que com especial incidência no período que 

aqui nos  importa. Este exercício teve como base os relatórios de escavação do sítio, entre os 

anos 1988 e 2008, pelo que correndo o  risco de nos  tornarmos  repetitivos, abstemo‐nos de 

multiplicar as indicações de referências bibliográficas ao longo deste sub‐capítulo (2.3.1). 

 

 

2.3.1 Síntese dos resultados: faseamento e arquitectura  

No decorrer das escavações foi possível identificar materiais arqueológicos de datação 

Calcolítica e da Idade do Bronze. No entanto, são apenas o resultado de recolhas de superfície 

e  material  residual  presente  em  níveis  de  cronologias  mais  recentes,  o  que  invalida 

considerações peremptórias quanto à natureza da ocupação do  local nestes momentos mais 

remotos. 

Page 17: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 15 

2.3.1.1 Ocupação da Idade do Ferro 

A presença de um fragmento de uma taça Cástulo na [376], do ambiente (Amb.) VIII, 

do sector B2, sobreposto a um nível com cerâmicas com decorações estampilhadas, (que lhes 

confere, definitivamente, uma antiguidade no contexto da área do actual território português), 

sugere uma primeira ocupação do povoado em meados do  século V a.C.  Isto é,  inserível na 

designada  II  Idade do  Ferro do  Sudoeste peninsular, e em estreita proximidade  cronológica 

com os núcleos das áreas de Neves Corvo (Almodôvar/Castro verde) e Fernão Vaz (Ourique). 

Arquitectonicamente, tanto no sector A2 e A3, como no B1, verifica‐se a construção de 

casas  adossadas  à  linha  de  muralha,  situação  que  não  ocorre  no  extremo  Sudoeste  da 

plataforma  inferior,  onde  se  localiza  o  sector  B2.  Aqui,  e  ao  que  tudo  indica,  a  área 

habitacional de dois edifícios, sem comunicação entre si e com portas voltadas a Este, articula‐

se mediante a construção de paredes justapostas à muralha. Estratigraficamente esta relação 

de  justaposição poderá representar a posterioridade da edificação da estrutura defensiva ou 

relacionar‐se  com  técnicas de  construção que dão essa  ilusão. Esta estrutura  terá adquirido 

maior robustez dado que o espaço que a mediava do paramento exterior das construções pré‐

existentes foi preenchido com entulho pétreo e sedimentar. Na plataforma superior, na área 

anexa ao  “complexo de  construções do  século  I a.C.”  (v.  infra),  sob o qual  se  identificaram, 

igualmente,  construções  pétreas de  cantos  arredondados, muito danificadas ou  reutilizadas 

pela  ocupação  posterior,  detectou‐se  uma  sequência  estratigráfica  com  associação  de 

estruturas  precárias  (buracos  de  poste,  lareira  e  pavimentos).  Esta  situação  sugere  uma 

ocupação sob a forma de cabanas aquando da construção do sistema defensivo, mais do que 

um espaço aberto do tipo pátio.  

A localização topográfica do sítio, sobranceiro a linhas de água e vertentes marcadas a 

Norte, Este e Oeste, coloca o povoado antigo (da II Idade do Ferro) no tipo III de aglomerados 

fortificados desta cronologia, segundo a tipologia de implantação definida por L. Berrocal para 

a área céltica do Sudoeste peninsular (Berrocal‐Rangel, 1992, p. 205).  

A  propósito,  existe  em  curso  uma  dissertação  de  mestrado  acerca  da  fundação  do 

povoado que irá trazer à discussão novos dados, pelo que aguardamos os resultados. 

 

 

2.3.1.2 Ocupação romana republicana  

Numa área  central da plataforma A,  também escolhida para a edificação do Castelo 

Omíada  e  respectivo  fosso,  foi  edificado  um  “complexo  de  construções  do  século  I  a.C.”. 

Page 18: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 16 

Compunha‐se de quatro compartimentos domésticos (Amb. VII, VIII, X e XI) bem conservados, 

dois  parcialmente  destruídos  (Amb.  VI  e  IX)  e  um  último  (Amb.  XII),  que  não  foi 

intervencionado  na  íntegra  (v.  fig.  10).  As  destruições  a  que  a  área  foi  sujeita  impedem 

perceber  se  se  trata  de  um  conjunto  único  ou  se  parte  deste  pertence  a  outros  blocos  de 

construção. Numa  fase, diga‐se,  fundacional e estruturante da construção do complexo  terá 

sido erguida uma parede mestra com duplo paramento  [74] e  [78], que delimitando a Sul o 

Amb.  VIII  se  apoia  a  uma  sequência  estratigráfica  da  Idade  do  Ferro.  Este  conjunto 

arquitectónico  sugere  que  a  ocupação  romana  se  estenderia  para  Sul,  mas  a  uma  cota 

superior,  tendo  os  seus  vestígios  sido  removidos  pelas  destruições  Islâmicas  e 

Contemporâneas, e reflecte, igualmente, a grande remoção de terras dos níveis pré‐romanos, 

aquando da construção do complexo.  

A  circulação  dentro  do  complexo  faz‐se  no  eixo  Sul  ‐  Norte,  rodando  180˚ 

relativamente à ocupação pré‐romana, da qual reutiliza estruturas e destrói a maioria. Já numa 

segunda fase a organização muda radicalmente e o eixo de circulação passa a ser Este ‐ Oeste, 

excepção feita ao Amb. IX que poderia ter funcionado com corredor. Tecnicamente, as paredes 

que criavam os diferentes ambientes foram construídas por pedra e adobe ou taipa, e os pisos 

foram criados, maioritariamente, em terra batida. Já as portas possuíam molduras de pedra e 

as coberturas, à falta de provas em contrário, utilizariam materiais perecíveis. Funcionalmente 

é de difícil interpretação, não se vislumbrando nada que distinguisse nenhuma das divisões. O 

conjunto  artefactual  é  homogéneo  e  semelhante  àquele  associado  às  construções  da 

plataforma B. 

A construção do complexo data de finais do séc. II, inícios do I a.C., e o seu abandono 

não ultrapassará o 3º quartel da última centúria, dadas as ausências de  fragmentos de  terra 

sigillata e ânforas Dressel 7‐11.  

Na  área  a  Noroeste  do  complexo,  já  amplamente  descrita  noutro  lugar  (Fabião  e 

Guerra,  1994),  não  se  vislumbram  rupturas,  sendo  que  o  material  exumado  é  muito 

homogéneo e, genericamente, datado dos três primeiros quartéis do séc. I a.C. Portanto, trata‐

se de segmentos de um mesmo urbanismo, anexos a áreas de construção menos precária. 

Refira‐se, ainda, o  sector A3 por  corroborar a análise efectuada nas  restantes áreas 

intervencionadas na plataforma superior. Arquitectonicamente verifica‐se a construção de um 

espaço  doméstico  sobre  os  escombros  da  antiga  muralha  e  dos  derrubes  das  casas  a  ela 

adossadas, sendo que o material mais recente se trata de um asse de Cneio Pompeio, datado 

do ano 45 a.C., pelo que a ocupação não deverá  ter ultrapassado o 3º quartel desse século. 

Excepção  feita  a  este  compartimento,  de  curta  duração  e  erguido  após  a  regularização  do 

Page 19: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 17 

terreno, os restantes vestígios romano republicanos resumem‐se, mais uma vez, a estruturas 

precárias. 

  A  plataforma  inferior  encontra‐se  muito  melhor  preservada,  pelo  que  foi  possível 

conhecer o plano urbanístico implementado em período romano republicano.   

Assim, ao contrário do que sucede noutros pontos do povoado, na área mais a Oeste ‐ 

sector B2 – assiste‐se à edificação de um  conjunto de paredes  justapostas que delimitam a 

área  residencial  sem  recurso  à  muralha,  que  já  se  encontrava  desactivada.  Não  sendo 

fortificado assume‐se como um “povoado cego”, ou seja, fechado ao exterior  já que todas as 

aberturas deste núcleo periférico do povoado estão viradas a Este. 

Genericamente, o esquema urbanístico  romano  republicano de Mesas do Castelinho 

(sector B2 e B3) caracteriza‐se pela  justaposição de blocos de cariz habitacional virados para 

um espaço comum de circulação – Ruas. Até ao momento não existem provas categóricas, mas 

é expectável que existam outros eixos Este ‐ Oeste de ligação entre arruamentos.   

Importa  referir,  que  mesmo  que  nalguns  pontos  as  construções  republicanas  se 

sobreponham a outras, pré‐romanas (como no sector A1 e B2), a reestruturação do espaço é 

marca  deste  novo  urbanismo.  Assim,  os  dois  grandes  edifícios  pré‐romanos  localizados  no 

sector B2 são substituídos por quatro compartimentos alongados com orientação Oeste ‐ Este 

(Amb. I a VI), cujas portas estão voltadas a Este e dão acesso à Rua 1. 

Os  arranjos  são  uma  constante  e  vão  desde  a  escolha  diferenciada  do  tipo  de 

pavimentos  (argila ou pedra) até à alternância entre paredes de pedra ou taipa, tal como do 

fecho e abertura de novos acessos, por vezes, ligando compartimentos, num conjunto que terá 

sido  edificado  num  único  momento.  A  determinação  funcional  destas  casas  continua  uma 

incógnita, excepção feita ao Amb. V, cuja identificação de vestígios de um tear sugere tratar‐se 

de  um  espaço  artesanal.  Os  restantes  partilham  a  homogeneidade  artefactual,  pelo  que 

mesmo em termos cronológicos é complicado aferir datações mais finas que o séc. I a.C. 

No  lado  Nascente  da  Rua  1  (sector  B3)  identificaram‐se  outros  dois  edifícios  de 

maiores dimensões, organizados segundo um sistema bipartido: a Norte Amb. XXII/XXXIII e a 

Sul I/II, para, mais tarde, o lado setentrional ser convertido num só compartimento de feições 

quadrangulares (Amb. XI). Comunicam a Oeste com a Rua 1 e possuíam um segundo piso que 

resulta do alteamento da parede que os dividia, cujo acesso seria feito pela Rua 1, mas num 

momento inicial não fundacional. 

Contrariamente ao que se constata nas construções mais próximas do limite Oeste da 

plataforma  (sector  B2),  estas  não  se  sobrepõem  a  níveis  pré‐romanos,  mas  assentam 

directamente  sobre a  rocha,  tanto mais que as  soleiras das primeiras  casas  republicanas do 

sector B2, que permitem o acesso aos primeiros pisos da Rua 1, sobrepõem‐se aos muros da 

Page 20: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 18 

Idade do Ferro, logo, a área central do povoado republicano fez‐se, muito provavelmente, num 

espaço vazio. Deste modo, a exclusividade de materiais pré‐romanos  identificados em níveis 

que  se  apoiam  à  fase  inaugural  das  construções  republicanas,  da  Rua  1,  1º,  2º  e  3º 

quarteirões1,  (v.  fig.  11)  sugere  uma  continuidade  na  utilização  de  formas  e  decorações 

cerâmicas, ou, por outro  lado, são vestígios de um enorme arrasamento decorrente de uma 

regularização do terreno para as edificações romanas. 

  Nas  traseiras  dos  dois  edifícios  mencionados  adossavam‐se‐lhes  outras  construções 

sem  haver  qualquer  comunicação  entre  si,  implicando  que  o  eixo  de  circulação  ocorria  no 

sentido  Oeste  ‐  Este  em  direcção  à  2ª  Rua.  O  esquema  urbanístico  repete‐se  até  ao  3º 

quarteirão. A arquitectura do 2º quarteirão destaca‐se, dos demais, pela  sucessão dinâmica 

dos  espaço  construídos,  tal  como, pela  abundância de  estruturas de  combustão, não  só de 

cariz doméstico, como industrial e de associação metalúrgica (fornos). 

Neste quarteirão, o  início das  importações romanas é constatado num dos seus Amb. 

fundacionais  (XXIX) mediante  a  recolha  de  um  fragmento  de  unguentário  em  vidro  azul  da 

forma III de Harden. Numa posterior utilização do espaço [855], já associada ao Amb. XXXVIII, 

foi  detectado  um  conjunto  cerâmico  enquadrável,  igualmente,  no  séc.  II  a.C.,  do  qual  se 

destacam duas formas de campaniense A, uma cabeça feminina em terracota de cariz exótico, 

fragmentos de “prato de peixe” do “tipo Kouass” e duas formas de ânforas pré‐romanas.  

O  terceiro  quarteirão  caracteriza‐se  pela  dicotomia  entre  uma  monotonia 

arquitectónica  do  edifício Nascente  (Amb.  XIII,  XIV  e  XVI)  e  a  precariedade  e  dinâmica  das 

construções a Poente. Desta última, importa referir, a existência de uma estrutura tipo forno, 

com antecâmara e de planta genericamente quadrangular. 

 

 

2.3.1.3 Ocupação romana imperial  

Ao  invés  do  que  sucede  na  plataforma  A,  na  qual  esta  cronologia  é  representada 

apenas por materiais descontextualizados, na B detecta‐se uma  reestruturação do povoado, 

centrada no séc. I d.C., com reaproveitamento de estruturas antigas, reorganização de espaços 

e utilizando um  tipo de  construções notoriamente precário e de menor  cuidado. Assim, e a 

título de exemplo, refiram‐se as alterações efectuadas no 1º quarteirão do sector B3. A Rua 1 é 

desactivada, enquanto espaço de circulação, pela divisão imposta por um muro e os edifícios, a 

Nascente, assumem uma divisão interna definitivamente quadripartida, mantendo a existência 

                                                            1 Por quarteirão entende‐se um conjunto de casas romanas voltadas para um espaço comum de circulação do tipo rua, sendo que 

a respectiva numeração é atribuída de Oeste para Este. Ver fig. 11 

Page 21: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 19 

de  um  piso  aéreo  com  acesso  por  escadaria.  O  material  arqueológico  recolhido  em  nada 

sugere que esta ocupação se estenda para lá dos finais do séc. I da nossa Era. 

 

 

2.3.1.4 Ocupação islâmica  

Por último, e após sete séculos de interregno, Mesas do Castelinho é reocupado sob a 

forma  de  uma  fortificação  Omíada  e  respectivo  fosso.  Estes  localizavam‐se  na  zona  mais 

elevada  do  povoado  e  articulavam‐se  com  um  hishn  instalado  na  plataforma  inferior,  cuja 

ocupação terá sido de curta durabilidade (séc. IX a XI). Infelizmente, o sistema defensivo e as 

estruturas  domésticas  do  tipo  silo/fossa,  que  proliferam  por  todo  o  povoado,  são  um  dos 

principais agentes de destruição dos níveis arqueológicos mais antigos. 

 

 

3. A Cerâmica Campaniense 

3.1 História da investigação (breve sinopse)  

Numa altura em que a cerâmica campaniense era referida sob a designação “etrusco‐

campana”, naquele que é considerado o primeiro olhar sobre a cerâmica ocidental de verniz 

negro, da autoria de G.F. Gamurrini,  (apud Lamboglia, 1952, p. 139, nota 1), Nino Lamboglia 

procedeu,  em  1952,  à  publicação  da  primeira  experiência  de  sistematização  deste  tipo 

cerâmico. Aliás é assim mesmo que o autor vê o seu trabalho, na medida em que o intitulou na 

separata das Atti del 1º Congresso Internazionale di Studi Liguri, como “Per una classificazione 

preliminare della ceramica campana”.   

O autor baseia‐se em 3 critérios base para organizar a proposta tipológica. São eles o 

morfológico, ordenado segundo o tecnológico e cronológico, definindo as produções de A, B e 

C, além de um conjunto, mais ou menos numeroso, de imitações com difusão local (Lamboglia, 

1952, p. 140). Desta  forma, agrupa na Campaniense B as  formas 1 a 162  (comuns à C,  com 

excepção  da  forma  4  e  8  a  15,  e  das  quais  apenas  as  3  a  6  correspondiam  também  às 

produções em A), 17 a 20 pertencentes à classe C e 21 a 63 típicas da Campaniense A. O autor 

faz  uma  diferenciação  dentro  da  sequência  numérica  atribuída  à  Campaniense  A  com 

implicações  cronológicas, pelo que as  formas 21 a 29  correspondem à  “la  transizione  tra  la 

ceramica attica, la “precampana” e la campana vera e propria” (Ibidem, p. 169); as 30 a 36 são 

“…peculiari  della  ceramica  campana  del  III  e  del  II  secolo,…”  (Ibidem,  p.  179)  e  as  formas                                                             2 oito anos após aquela publicação, e numa revisão ao seu próprio trabalho, Lamboglia faz corresponder as formas 17 a 20 à classe 

B (Lamboglia, 1960, p. 295).   

Page 22: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 20 

decoradas 40 a 63 “…più direttamente derivate da prototipi greci, si estinguono precocemente 

nella prima metà dell III secolo…” (Ibidem, p. 184).  Existe um intervalo, nº 37 a 39, para o qual 

não há referência alguma. 

Existe um conjunto de publicações dispersas e anteriores a esta que, na opinião de J.P. 

Morel, contribuíram para o arranque da investigação da cerâmica campaniense. Destaque‐se o 

trabalho  que  C.L. Wolley  sobre  a  cerâmica  calena,  o  de A.K.  Lake  sobre  a  campaniense  de 

Minturno ou mesmo o de N. Lamboglia sobre o conjunto de Albintimilium (Morel, 1981, p. 39‐

40).  Estes,  ainda  que  bastante  imprecisos,  baseiam‐se  em  dados  arqueológicos  e  dão,  pela 

primeira  vez,  atenção  a  determinados  detalhes  que  se  vieram  a  revelar  fundamentais  no 

estudo  da  cerâmica  campaniense.  Mas  é,  sem  dúvida,  o  trabalho  de  1952,  da  autoria  de 

Lamboglia,  que  confere  a  verdadeira  caminhada  para  a  consolidação  do  estudo  deste  tipo 

cerâmico. Nos  anos  que  se  seguem  esta  cerâmica  antiga,  diga‐se  “não  artística”,  começa  a 

ganhar mais atenção nos conjuntos publicados como os dos vasos de verniz negro de Cápua, 

da autoria de Mingazzini, ou os de Cosa, publicados por Taylor.  

Se por um  lado a  sistematização de N. Lamboglia conferiu uma maior  importância a 

nível científico a este tipo cerâmico, por outro, as novidades, em quantidade e diversidade, do 

material arqueológico recuperado nas escavações que se seguiram, a par das publicações de 

outras já antigas, colocava sérias dúvidas quanto à aplicabilidade daquela seriação tipológica. A 

título de  exemplo,  refira‐se o  estudo dos materiais do Museu Guarnacci,  elaborado por M. 

Pasquinucci,  na  medida  em  que  surgem  150  formas  para  as  quais  raramente  foi  possível 

estabelecer  correspondência  com  a  Classificazione  (Taborelli,  2005,  p.  60).  Na  sequência 

destas  dificuldades  assiste‐se  à  complexificação  da  proposta  de  Lamboglia  passando  pela 

adição  de  formas  novas  (ignorando  os  pressupostos  de  criação  daquela  tipologia,  numa 

simples adição que se fazia por ordem de publicação), pela assimilação de formas já existentes 

(pelo  facto das novas  combinarem aspectos das de base, o que  se  traduz, por exemplo, na 

criação da Lamb. 5/7) e pela criação de variantes. É certo que estes aspectos não podem ser 

imputáveis ao autor  italiano, mas demonstram a  impermeabilidade da Classificazione. Outros 

aspectos  que  limitavam  esta  tipologia  referem‐se  ao  facto  do  autor  não  contemplar  áreas 

importantes como o Norte de África, não fazer menção às produções regionais e, por exemplo, 

misturar formas áticas numa tipologia de cerâmica romana (Morel, 1981, p. 19).  

É neste cenário, de urgência em criar uma nova base de trabalho para dar resposta à 

acumulação  da  cerâmica  de  verniz  negro  do  ocidente,  com  uma  nova  organização 

caracterizada  pelo  seu  carácter  “aberto”  à  introdução  de  novas  formas  e  com  inclusão  de 

todas  as  informações  referentes  às  diferentes  regiões  de  onde  se  conhecia  produção 

Page 23: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 21 

campaniense, que surge, em 1981, Céramique Campanienne: Les Formes, da autoria de  Jean 

Paul Morel. 

A relativização de alguns aspectos tecnológicos, na hora de definir grupos de fabrico, 

como  a  intensidade  do  brilho,  aderência  do  verniz  e  coloração  das  pastas,  bem  como  a 

importância  concedida  a  alguns  detalhes  formais,  nomeadamente  à  forma  dos  pés,  com 

implicações  tipológicas  e  cronológicas,  foram  alguns  aspectos  que  já  haviam  sido  tidos  em 

conta na Classificazione e que ganham consistência na tipologia de Morel. Relativamente aos 

aspectos técnicos importa referir que, em 1971, M. Picon, M. Vicky e G. Chapotat publicam um 

artigo  intitulado Note sur  la composition des céramiques campaniennes de type A et B, onde 

explicam os processos químicos e técnicos que conduzem às oscilações na coloração da pasta 

das  peças,  demonstrando  que  isso  não  significa,  taxativamente,  tratarem‐se  de  produções 

diferentes  (Picon et al., 1971). Por outro  lado, e no que  respeita aos aspectos morfológicos, 

diga‐se que a sistematização de alguns pormenores (como a forma dos pés) foi um assunto a 

que  outros  investigadores  prestaram  especial  atenção,  por  também  lhe  reconhecerem 

validade  tipológica  e  cronológica.  Como  exemplo,  refira‐se  Sanmartí Greco,  na  sua obra  de 

1978, sobre Emporion e Rhode  (Sanmartí, 1978, p. 595‐602) antes mesmo da sistematização 

detalhada de Morel, em 1981. 

A  tipologia preconizada por Morel assenta numa estrutura que privilegia o perfil das 

peças, e ainda que atribua valor aos aspectos tecnológicos, funcionais e cronológicos estes não 

são  determinantes  em  toda  a  concepção  e  organização  do  trabalho.  Trata‐se  de  uma 

classificação  em  cadeia,  baseada  nos  pressupostos  taxonómicos  das  ciências  naturais, 

colocando o  indivíduo, ou seja, o  tipo numa  série, espécie, género e por último categoria  (o 

termo mais genérico que abrange um padrão de recipientes com atributos morfológicos que 

os  torna  muito  semelhantes  entre  si).  Desta  forma,  utiliza  um  sistema  numérico  para 

determinar  a  inserção  em  cada um destes  estádios  como, por  exemplo,  F1122a  1, ou  seja, 

categoria  1000,  género  1100,  espécie  1120,  série  1122  e  tipo  1122a  1.  Esta  tabela  é  um 

trabalho que, ao  contrário do  seu precursor, proporciona a  inclusão de novas  variantes, ou 

formas, sem que dissolva a concepção  inicial, pelo que esta organização, puramente  formal, 

não  se esgotará nas possibilidades de  inclusão e não  correrá os mesmos  riscos da anterior. 

Este é talvez o grande contributo de Morel, a par da exaustiva sistematização, já mencionada, 

que  concedeu aos perfis dos pés e à  importância que atribuiu às produções de difusão dita 

“não  universal”,  que  dizem  respeito  a  diferentes  centros  produtores,  cuja  localização,  na 

maioria  dos  casos,  é  desconhecida3.  Para  além  disso  lança  uma  nova  visão  sobre  o  que  se 

                                                            3 Algumas destas oficinas foram identificadas como, seja o caso, do “atelier das pequenas estampilhas”, “Nikia‐Ion” ou o das “três 

palmetas radiais” (Morel, 1981, p. 48). 

Page 24: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 22 

entende por “imitação”, caracterizando não aqueles modelos que apresentam parecenças com 

o  protótipo,  mas  aquelas  peças  que  foram  voluntariamente  copiadas  num  momento 

obrigatoriamente posterior (Morel, 1981).  

A  investigação continuou na tentativa de determinar os  inúmeros centros produtores 

espalhados  pelo  Mediterrâneo  ocidental,  bem  como  com  o  intuito  em  caracterizar  as 

diferentes facies das diversas produções e sua distribuição no mundo romano. A possibilidade 

de efectuar algumas análises petrográficas e químicas a alguns conjuntos, permitiu a definição 

de  centros  produtores,  reestruturando  a  concepção  que  se  tinha  das  áreas  de  produção  e 

relações económicas entre regiões. 

  

 

3.2 O estudo em Portugal  

A primeira notícia, plausível de se  relacionar com a presença deste  tipo cerâmico em 

território nacional, data de 1910 e refere‐se a Chibanes (Setúbal). O autor, A.I. Marques Costa 

apresenta descrições e material fotográfico que parece conferir credibilidade à sua classificação 

(apud, Luís, 2008, p. 21). Certamente existiram outras referências ao que hoje conhecemos pela 

designação de cerâmica campaniense mas a dificuldade à altura de a  identificar, complexifica, 

actualmente  e  na  impossibilidade  de  analisar  o  material,  a  sua  associação.  Mais  uma  vez 

confirmando  o  impulso  dado  pela  Classificazione  verifica‐se  que  em  Portugal  as  referências 

àquele tipo cerâmico se reproduzem a partir de 1950.  

Em 1971, Veiga Ferreira publica um conjunto de materiais de diferentes pontos do país 

passíveis de se  interpretarem como campaniense, mas ainda muito envolto em confusão pela 

presença de outros tipos de cerâmica e muito vago em  informação, o mesmo  já não se pode 

dizer da síntese elaborada por Manuela Delgado nesse mesmo ano.  

M.  Delgado  toma  por  base  a  tipologia  de  Lamboglia,  fazendo  acompanhar  as 

descrições,  mais  ou  menos  pormenorizadas  da  pasta,  verniz  e  decoração,  do  respectivo 

desenho. Simultaneamente, já refere os primeiros trabalhos de Morel, pelo que podemos dizer 

ter‐se  tratado  de  um  marco  bibliográfico  na  história  da  evolução  do  estudo  das  cerâmicas 

campanienses  em  Portugal.  Assim,  a  autora  detectou  produções  de  A,  B,  outras  produções 

“locais/regionais”, que designa de  imitações e a que atribuiu as  letras de D a  I  (ainda que as 

imitações D e E  se devam,  como aconselha Morel na Table  ronde de Conimbriga,  incluir nas 

produções da B (Delgado, 1976a, p. 92)), para além de imitações de cerâmica comum, e por fim 

escassas  C. A  sua  amostra  reportou‐se  ao material  de Vaiamonte, Alcácer  do  Sal, Algarve  e 

Setúbal, existentes no Museu Nacional de Arqueologia e no Municipal de Santiago do Cacém, a 

Page 25: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 23 

par  do  do  Castelo  da  Lousa  (Mourão)  e  Conímbriga,  num  total  de  98  exemplares.  Dando 

seguimento ao seu trabalho, em 1976, publica um conjunto de 86 fragmentos de campaniense 

e produções “locais/regionais”, dos tipos F, G e H, de Conimbriga (Delgado, 1976b, p. 21‐26). 

Dois  anos  depois,  Joaquina  Soares  publica,  sob  a  forma  de  nótula,  o  segundo  artigo 

português, acerca exclusivamente da cerâmica campaniense, tomando por base os materiais do 

interior do Castelo de Alcácer do Sal. Aqui já se notam preocupações relativas à distinção entre 

as diferentes produções de B  e  imitações, bem  como  a  referência  às obras mais  recentes  e 

importantes sobre o assunto. 

Existe um sem número de publicações que não sendo, especificamente, dedicadas ao 

estudo  de  cerâmica  campaniense  têm‐lhe  feito  menção  e  das  quais  destacamos:  Santarém 

(Diogo,  1984);  Castelo  Velho  de  Veiros  (Arnaud,  1970);  Pedrão,  em  Setúbal  (Soares  e  Silva, 

1973); necrópole de Torre de Ares (Nolen, 1994); Mesas do Castelinho (Fabião e Guerra, 1994); 

Forte de São Sebastião, em Castro Marim (Arruda e Pereira, 2008); Monte Molião (Elisa e Serra, 

2006); algum material referente aos castella do Baixo Alentejo (Maia, 1987), entre outras. 

Existem  outras  que,  parcialmente  ou  integralmente,  são  dedicadas  ao  estudo  de 

conjuntos  de  cerâmica  campaniense:  Lomba  do  Canho,  com  uma  síntese  da  história  das 

investigações  e  apresentação  do  panorama  bibliográfico  conhecido  até  então,  tipologias  e 

cronologias  (Fabião e Guerra, 1996b); material depositado no Museu de Sintra  (Sousa, 1996); 

Mesas do Castelinho  (Fabião, 1998); Cabeça de Vaiamonte  (Fabião, 1998); Santarém  (Bargão, 

2006); Faro, Balsa e Castro Marim (Viegas, 2009); Mértola (Luís, 2008); Castelo da Lousa (Luís, 

2010), entre outras. 

 

 

3.3 O actual estado dos conhecimentos, seus condicionalismos e questões  

Em  Portugal  tem  havido  alguma  resistência  quanto  à  utilização  da  tipologia 

preconizada por Morel, prevalecendo, na maioria dos casos, o  recurso às  formas antigas de 

Lamboglia.  Percebemos  que  tal  suceda  devido  ao  facto  de  trabalharmos  com  fragmentos 

muito reduzidos, mas consideramos que se deverá fazer o esforço pela atribuição morfológica 

com base em Les Formes, ainda que sempre acompanhada da respectiva forma de Lamboglia 

(já que as referências mais antigas baseiam‐se naquela tipologia), de modo a uniformizarmos a 

linguagem. 

A Mesa Redonda Internacional de Ampúrias, realizada no ano 1998, sobre as cerâmicas 

de verniz negro dos sécs. II e I a.C., conferiu algumas directrizes e conclusões  importantes no 

Page 26: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 24 

avanço das investigações4. Em primeiro lugar, e devido ao uso abusivo que se tem vindo a dar 

à aplicação do termo b‐óide, convencionou‐se a sua anulação e substituição pela designação 

de cerâmica calena média ou tardia.  

Decidiu‐se,  igualmente,  considerar  a  Campaniense  B  etrusca  como  “não  universal”, 

tendo em  conta a  sua escassa  representatividade no Mediterrâneo ocidental, pelo que esta 

constatação talvez se possa alargar à cerâmica Campaniense C.  

Uma  das  questões  centrais  deste  debate  residiu  na  terminologia.  Para  alguns 

investigadores a designação de campaniense é ambígua, dado que, remete para uma realidade 

geográfica  muito  concreta  e  é  utilizada  para  designar  produções  com  origens  geográficas 

muito díspares. Daí que prefiram a designação de verniz negro. Seguindo os pressupostos da 

Mesa Redonda, optámos por designar  cerâmica Campaniense B ou produções da B,  sempre 

que  nos  referirmos  àquelas  peças  cuja  origem  se  desconhece.  Utilizamos  a  designação 

“local/regional” para as campanienses que imitam os reportórios formais da A e B, em pastas 

laranjas e cinzentas (com verniz negro), sendo que a campaniense “verdadeira” será designada 

de Campaniense B etrusca e as  restantes,  sempre que  se  conheçam os  centros produtores, 

anexamos‐lhes a sua origem geográfica. Ou seja, acrescentar, sempre que possível, a origem à 

classe. As restantes (campaniense A e C) não encerram este tipo de problemas. 

Esta  Mesa  Redonda  serviu  para  a  divulgação  compilada  da  caracterização  de 

produções “locais/regionais” de vários pontos da Península Ibérica; para a sintetização de um 

quadro  de  distribuição  da  Campaniense  A,  conhecida  até  ao  momento,  suas  cronologias  e 

discussão  acerca da  substituição desta pela Campaniense B. Os  autores  expuseram os  seus 

dados, igualmente, quanto ao âmbito cronológico que consideram ser o do fim da importação 

da campaniense no ocidente peninsular. 

 

 

4. A colecção do sítio Mesas do Castelinho 

4.1 Metodologia 

4.1.1 Composição, tratamento da amostra e critérios de quantificação  

Os materiais que deram origem a este trabalho provêm de 19 anos de campanhas de 

escavação no sítio Mesas do Castelinho, da responsabilidade científica do Dr. Amílcar Guerra e 

Dr. Carlos Fabião, bem como do espólio recolhido por C.J. Ferreira aquando da sua intervenção 

de emergência, após as grandes destruições de 1986.  

                                                            4 Os dados que se seguem referem‐se ao capítulo de conclusões daquela Mesa Redonda (Aquilué Abadias, et al., 2000). 

Page 27: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 25 

O  conjunto  contempla  toda  a  cerâmica  de  verniz  negro  de  produção  itálica, 

cronologicamente  enquadrável  nos  sécs.  II  e  I  a.C.,  bem  como  os  fragmentos  de  cerâmica 

Campaniense de produção “local/regional”, sejam da Península  Ibérica ou  Itálica, com verniz 

negro. No entanto, o debate estratigráfico e contextual, situado entre finais do séc. II a.C. e 3º 

quartel do seguinte, sempre que possível e necessário, é auxiliado pela referência a outro tipo 

de cerâmicas datantes, nomeadamente as ânforas. Sobre as quais já existe uma síntese, sob a 

forma de tese de mestrado, da autoria do Dr. Jorge Parreira (Parreira, 2009). 

A primeira fase de análise material foi  feita segundo um critério qualitativo,  isolando 

todos  os  fragmentos  que  possuíssem  bordo,  fundo,  asa,  ou  que  apesar  de  serem  bojos 

tivessem vestígios de decoração, portanto, tudo o que normalmente se considera classificável. 

Seguidamente a esta triagem, e após a marcação dos diferentes fragmentos (com indicação do 

topónimo, ano, campanha e proveniência estratigráfica), que na maioria dos casos  já estava 

feita, procedeu‐se à atribuição sequencial dos números de  inventário, com  início no número 

3000.  Em  alguns  casos  foram  inventariados  vários  fragmentos  pertencentes  a  uma  mesma 

peça.  Este  lapso poderia  induzir‐nos  em  erro  aquando de  uma  análise  estatística, pelo que 

optámos pela introdução em inventário (v. Anexo IV) de apenas um fragmento, sendo que no 

campo  de  observações  são  mencionados  os  restantes  a  que  indevidamente  se  atribuiu 

numeração. 

Desta  forma,  num  total  de  2532  fragmentos  recolhidos  (diga‐se  classificáveis  e 

inclassificáveis), 511 correspondiam a bordos; 286 a fundos; 16 a bojos decorados; seis a asas, 

numa  mesma  proporção  que  as  peças  com  perfil  completo  e  um  a  uma  carena.  Desta 

contabilização  apenas  658  fragmentos  permitiram  uma  atribuição  tipológica,  à  qual  se 

acrescentam as três peças, provenientes da [72], do sector A1,  já publicadas (Fabião, 1998) e 

depositadas no Museu Etnográfico de Santa‐Clara‐a‐Nova. 

Após estas  fases de  triagem e marcação, o estudo dos exemplares passou por vários 

estádios,  nomeadamente,  desenho  gráfico  e  respectiva  tintagem  (mediante  a  utilização  do 

programa Adobe Illustrator CS4), caracterização dos diferentes grupos de fabrico identificados, 

atribuição tipológica e cronológica a cada exemplar e análise quantitativa.  

Seria  impossível privilegiar a classificação  tipológica descurando os diferentes grupos 

de fabrico cerâmico, pelo que se tentou conciliar ambas as caracterizações. 

A  caracterização  de  pastas  deve  ser  entendida  no  contexto  de  um  conjunto  de 

constrangimentos  inerentes  à  análise  efectuada,  puramente  macroscópica.  Tal  como  a 

investigação  arqueológica  tem  vindo a alertar, o  cenário  indicado deve  contar  com análises 

químicas  que  permitam  comparações  e  possibilitem  a  determinação  de  áreas  exactas  de 

proveniência dos produtos. Ora, as impossibilidades óbvias, inerentes a este conjunto, levam‐

Page 28: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 26 

nos a cingir a sua análise à utilização de uma lupa de 15 aumentos para uma identificação dos 

elementos não plásticos (enp’s) inclusos, para a caracterização da sua textura, grau de dureza 

e depuração, de modo a criar grandes grupos divididos em  fabricos e efectuar comparações 

com os dados bibliográficos conhecidos até ao momento.  

A referência às tonalidades observadas suportou‐se da consulta da tabela de cores de 

Münsell  Color  Soil.  Neste  campo  foi  novamente  necessário  matizar  os  dados  e  determinar 

grandes grupos, até porque a grande variabilidade de tons observados pode não ter que ver, 

necessariamente, com diferentes grupos de  fabrico, mas com alterações aleatórias aquando 

do  processo  de  cozedura  das  peças,  ou  até  mesmo  relacionar‐se  com  o  desgaste/uso  dos 

recipientes. Como tal, o critério de coloração deve ser relativizado (Picon et al, 1971). 

No que concerne à tipologia utilizada, na classificação dos exemplares, recorremos ao 

trabalho de J.P. Morel (Morel, 1981). Fizemo‐lo por considerarmos o trabalho de síntese mais 

completo,  que  tem  em  conta,  por  exemplo,  uma  série  de  detalhes  formais  e  decorativos 

fundamentais  na  interpretação  do  material  analisado,  embora  reconheçamos  algumas 

limitações. Paralelamente, optámos por estabelecer correspondência com os grupos  formais 

definidos naquela que é o primeiro ensaio de tipologia da cerâmica campaniense, da autoria 

de N. Lamboglia  (Lamboglia, 1952), na medida em que continua a ser uma base de  trabalho 

muito utilizada e que ao contrário da primeira, por não ser tão pormenorizada, permite uma 

fácil visualização mental da forma a que nos referimos. 

A  importância  em  determinar  os  critérios  de  quantificação  cerâmica  e, 

simultaneamente,  a  forma  de  apresentação  desses  resultados  centra‐se  na  necessidade  de 

comparar as diferentes Unidades Estratigráficas (U.E.’s) e, consequentemente, faseamentos de 

um  mesmo  sítio  arqueológico  e  entre  vários  de  uma  mesma  cronologia,  tendo  sido  nesta 

perspectiva que teve lugar a Mesa Redonda, em Mont Beuvray, no ano de 1998. 

Actualmente,  existem  diversos  métodos  utilizados  na  quantificação  do  material 

cerâmico,  estando  longe  de  se  encontrar  uma  fórmula  universal  e  perfeita.  A  dificultá‐la 

encontram‐se  múltiplas  variáveis,  das  quais  destacamos  o  estado  de  conservação  dos 

fragmentos  recuperados,  aliado  aos  processos  tafonómicos  e  tipos  de  utilização  que  os 

mesmos  sofreram,  muitas  vezes  influenciando  as  necessárias  tentativas  de  classificação 

tipológica  de  cada  registo.  Um  dos  critérios  que  mais  condiciona  as  possibilidades  de 

comparação  entre  sítios  é,  efectivamente,  a  utilização  de  tipologias  e  nomenclaturas 

diferentes, pelo que neste caso, utilizando as duas tipologias de referência, esperamos matizar 

essa dificuldade. Nesta medida, na tabela 3 do anexo  II, onde se sintetizam os resultados da 

quantificação cerâmica, são referidas as séries ou espécies da tipologia de Morel, consoante o 

grau  de  precisão  que  foi  possível  atingir,  e  respectiva  correspondente  na  tipologia  de 

Page 29: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 27 

Lamboglia. Assim,  os  sistemas mais  utilizados  para  determinar  os  indivíduos  presentes  são: 

Número mínimo de  indivíduos  (NMI), número máximo de  indivíduos  (nmi), Estimated Vessel 

Equivalent (EVE), entre outros (Raux, 1998, p. 13). 

No  presente  estudo,  optou‐se  por  utilizar  o  sistema  de  determinação  de  NMI. 

Primeiramente,  efectuaram‐se  as  colagens  possíveis  (dentro  de  cada  U.E.  ou  entre  U.E.’s 

distintas), para depois considerarmos um  indivíduo todos aqueles fragmentos que pelas suas 

características  técnicas,  formais e decorativas não deixaram margem para dúvidas quanto a 

tratarem‐se do mesmo recipiente.  

Numa segunda fase, determinámos o NMI de cada forma presente em cada grupo de 

fabrico  identificado,  sendo que o critério utilizado para a contagem  regeu‐se pelo elemento 

que melhor  a  caracteriza  e que  seja percentualmente mais  expressivo no  contexto  em que 

surge.  Com  aplicação  a  todas  as morfologias,  este  sistema  implica  que  se  em  determinado 

contexto não existirem registos de bordos, mas somente os respectivos  fundos dessa  forma, 

este último seja o elemento utilizado na contabilização de NMI. No caso da F2250‐2280 (Lamb. 

5/7)  e  da  F2300  (Lamb.  1)  tanto  os  bordos,  como  os  fundos  são  seus  caracterizadores  e 

existem em grandes quantidades, pelo que na presença, por exemplo, de cinco bordos e seis 

fundos  do  género  F2300  foram  contabilizados  seis  indivíduos.  Os  bojos  decorados  foram, 

igualmente, considerados como indivíduos. Desta forma tentámos criar critérios que fiabilizem 

as contagens e os dados serão apresentados segundo as propostas do Protocole de Beuvray 

(Protocole de Beuvray, 1998, p. 141‐157). 

A  fiabilidade  desta  análise,  de  cariz  quantitativo,  impôs  que  fosse  aplicada, 

exclusivamente, ao conjunto de material detectado em contextos romano republicanos. Assim 

sendo,  e  excluídos  todos  os  fragmentos  provenientes  de  recolhas  de  superfície,  ou 

remobilizados  para  contextos  Contemporâneos,  Medievais  e  Imperiais,  tratámos  316 

fragmentos.  Esta  quantificação  teve  por  base  a  definição,  em  cada  sector,  de  grandes 

momentos de  abandono/destruição onde o número de  fragmentos  foi  convertido  em NMI, 

para posteriormente e em momentos com construções associadas o exercício de quantificação 

ser feito individualmente para cada ambiente identificado. 

A unidade mínima de registo (U.E.) é aqui, tal como no protocolo de Beauvray, eleita 

como elemento base de quantificação, designadamente, para o cálculo do NMI. No caso em 

análise, afigura‐se pertinente  introduzir algumas “nuances”, uma vez que diferentes U.E.’s de 

um mesmo Ambiente podem conter fragmentos de um mesmo vaso. Pensamos que este será 

o melhor método, na medida em que, a sequência estratigráfica do interior de cada ambiente 

se  revela  cronologicamente homogénea e a probabilidade de migração de  fragmentos está, 

efectivamente, circunscrita pelas paredes que os constituem.  

Page 30: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 28 

Refira‐se,  igualmente, que a  interpretação qualitativa  incidiu, obviamente, sobre este 

mesmo  conjunto,  o  que  não  invalida  a  elaboração  de  uma  síntese  final  que  congrega  os 

restantes  dados  dispersos  por  toda  a  estratigrafia,  importantes  na  percepção  das  grandes 

tendências  comerciais  e  volumes  de  importação  de  cerâmica  campaniense.  Trata‐se  de 

cerâmicas descontextualizadas, provenientes de outros momentos do povoado, pelo que cada 

fragmento terá de ser tido como um  indivíduo. Este exercício permitirá perceber se algumas 

conclusões  retiradas  através  dos materiais  em  contexto  republicano  são  questionadas  pela 

análise  global,  bem  como  tornar  possível  a  comparação  com  outros  conjuntos  publicados, 

como  seja o caso de Mértola, geograficamente mais próximo e cuja colecção  se compõe de 

elementos todos eles fora de contexto.  

Resta referir que em anexo será apresentado o  inventário geral com a classificação e 

caracterização de  todos os exemplares, bem  como uma  tabela onde  se podem  consultar as 

descrições  físicas, estratigráficas e associação de outros materiais arqueológicos, de todas as 

unidades  estratigráficas das quais provem  este  conjunto. Numa  tentativa de  tornar o  texto 

menos descritivo, optámos por  criar um quadro onde  compilámos  a  informação  relativa  às 

formas  cerâmicas  que,  em  território  actualmente  português,  têm  paralelos  no  conjunto  de 

Mesas do Castelinho. 

A  ilustração  do  material  foi  feita  a  uma  escala  1/2,  salvo  os  casos  com  respectiva 

referência,  e  as  cerâmicas  decoradas  ou  com  marca  de  oleiro  fazem‐se  acompanhar  de 

fotografia. No que respeita à organização das estampas, optámos por seguir a organização da 

tipologia  de  J.P.  Morel,  baseada  nos  pressupostos  taxonómicos  das  ciências  naturais: 

categorias – géneros – espécies – séries. 

 

 

4.2 Áreas de produção 

4.2.1 Campânia 

4.2.1.1  cerâmica Campaniense A  

Desde  o  séc.  VIII  a.C.  que  todo  o  Mediterrâneo  ocidental  foi  economicamente 

influenciado  pelos mercados da Magna Grécia  (Arruda,  1997, p.  87). Como  resultado desta 

longa tradição helenística verifica‐se uma especial predilecção por recipientes de verniz negro, 

perfeitamente atestada em povoados como Castro Marim (Arruda, 1997, p. 122‐136), Mértola, 

(Luís, 2003), ou Alcácer do Sal (Arruda, 1997, p. 88‐90), para citar alguns exemplos.   

Page 31: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 29 

É precisamente neste cenário, e com a rarefacção dos vasos áticos nestes mercados, 

que devemos entender o  início da produção e  comercialização da  cerâmica Campaniense A 

(séc. IV a.C.). 

Originária da Campânia,  terá sido produzida por oleiros de  todo o Golfo de Nápoles, 

que  recolheram as argilas nos barreiros da  ilha de  Ischia. Numa  fase  inicial, que  se  cingia à 

reprodução  formal de protótipos áticos, a produção era  feita a uma escala  reduzida, apenas 

com exportação para o Golfo de Lyon e para um reduzido número de  lugares mediterrânicos 

que faziam parte do eixo comercial itálico, tal como Lattes (Adroher Auroux et al., 1996, p. 13). 

Mas é no  séc.  III a.C.,  com a chegada de Roma à Campânia, que esta  região ganha especial 

relevo no abastecimento dos mercados sob domínio romano.  

Não se pode afirmar, categoricamente, que a expansão do comércio da Campânia seja 

determinada pelo avanço dos exércitos romanos. Contudo, é  inegável, que a necessidade em 

abastecer os contingentes militares, estacionados na região do Sul da Gália e Norte de África, 

por  ocasião  da  II  Guerra  Púnica,  ou  mesmo  na  Península  Ibérica,  proporcionou  o  primeiro 

contacto  das  populações  indígenas  com  aqueles  novos  produtos.  Durante  o  processo  de 

aculturação e habituação aos costumes romanos, o mundo  indígena  terá aceitado este novo 

serviço  de  mesa,  que  incluía,  inclusive,  formas  novas,  diga‐se  estranhas  ao  dia  a  dia  pré‐

romano. Por outro  lado, o  já  supracitado gosto por outros  recipientes de verniz negro  terá, 

igualmente,  contribuído para o  consumo daqueles produtos  itálicos  (Adroher Auroux  et  al., 

1996, p. 15‐16). 

Este tipo cerâmico constituía parte dos carregamentos dos navios que abasteciam os 

mercados provinciais, mas numa perspectiva de  carga  subsidiária e nunca  como o principal 

produto de abastecimento. Assim, nos dois primeiros quartéis do séc. II a.C. constata‐se que a 

Campaniense A acompanha os contentores anfóricos do tipo greco‐itálico para mais tarde, na 

transição entre o séc. II e o I a.C., incorporar as cargas de navios que transportavam os tipos 1 

da tabela de Dressel, ou seja, relacionada com o comércio de vinho  itálico (Adroher Aurox et 

al, 2000).  

Jean Paul Morel definiu 5 etapas de produção/comercialização da cerâmica napolitana 

(Morel, 1981, p. 47), que ainda hoje, grosso modo, prevalecem. Contudo, e cada vez mais, a 

aplicação  desta  periodização  necessita  de  uma  abordagem  crítica.  Isto  porque  existem, 

correntemente,  casos de  fragmentos  tidos  como Campaniense A  clássica, que nos apontam 

para uma cronologia de séc. II a.C., mas cujas características técnicas se afiguram medíocres e 

portanto,  incompatíveis  com  aquele  momento  de  produção.  Este  exemplo,  que  foge  ao 

esquema definido pelo autor, pode e deve ser entendido à luz de várias condicionantes: falta 

de técnica do oleiro, problemas de cozedura das argilas, uso intensivo da peça, degradação pós 

Page 32: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 30 

deposicional ou relacionar‐se com uma perduração do uso de determinadas formas, alargando 

o  intervalo  de  produção  das  mesmas  (Ventura  Martínez,  2000,  p.  178‐179).  Daí  que  a 

investigação deva  ter em  conta os  contextos estratigráficos em que os  fragmentos  surgem, 

bem como uma análise cuidada do  restante espólio associado, evitando  limitações  impostas 

por conceitos e cronologias tradicionalmente aceites. Nesta medida podemos correr o risco de 

considerar,  erradamente,  residuais  aquelas  formas  detectadas  em  contextos  cronológicos 

onde não seriam expectáveis. 

Atendendo às características e contextos de proveniência do conjunto aqui analisado, 

importa debruçarmo‐nos, especificamente, sobre a fase final da produção de A média (190/80‐

100 a.C.) e sobre a produção tardia (100‐50/40 a.C.). 

A transição entre a produção e exportação de cerâmica Campaniense A média e tardia 

continua sob aceso debate, sendo que os dados de Pollentia e de Valência parecem, por ora, 

lançar algumas luzes sobre o assunto (Aquilué Abadías, et al., 2000). 

No porto de Pollentia,  fundado em 123 a.C., o conjunto cerâmico de Campaniense A 

corresponde,  exclusivamente,  à  sua  fase  tardia  (Aquilué  Abadias  et  al.,  2000,  p.  336).  Por 

oposição,  em  Valentia,  cuja  fundação  data  de  138  a.C.,  esta  etapa  produtiva  ainda  não  se 

identifica,  verificando‐se  apenas  Campaniense  A  média  (Marín  Jordá,  2000,  p.  91‐92). 

Conciliando as presenças ‐ ausências e as datações de ambos os sítios parece que a transição 

entre a produção de A média e A tardia, ou, pelo menos, a sua difusão para a Península Ibérica, 

terá ocorrido no último quartel do séc. II a.C. 

No que concerne aos  reportórios  formais de uma e outra etapa constata‐se, por um 

lado a tendência à rarefacção de algumas formas, por outro a criação de novos recipientes. A 

pátera da espécie F2230 da tipologia de Morel (Lamb. 55) desaparece para ser substituída pela 

F2250  (Lamb. 5)  e  surge uma nova  série  Lamb. 5/7  (ausente dos  contextos de  séc.  II  a.C.). 

Verificam‐se,  igualmente, algumas  incorporações do  reportório  tradicionalmente atribuído à 

Campaniense  B,  numa  clara  tentativa  em  agradar  aos  mercados  agora  dominados  pela 

produção  calena. Um  outro  constrangimento  à  produção  napolitana  assenta  na  hegemonia 

económica que a cerâmica de paredes finas alcança no Mediterrâneo ocidental (Py, 1993f, p. 

511)  que  parece  ser  consequência  do  desaparecimento  dos  recipientes  de  cerâmica 

campaniense com asas, associados à ingestão de bebidas. 

A perda de qualidade dos recipientes produzidos em Campaniense A, quer ao nível dos 

vernizes  aplicados,  quer  ao  nível  do  tratamento  das  argilas,  começa  a  fazer‐se  sentir, 

paulatinamente, ao  longo da segunda metade do séc.  II a.C. e torna‐se mais nítida nos finais 

deste, para caracterizar todo o século seguinte na fase de produção correspondente à A tardia. 

Assim, o verniz perde brilho e assume nuances metálicas vermelhas e acastanhadas, torna‐se 

Page 33: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 31 

menos espesso e, como  tal, a aderência diminui, para além de  já não cobrir a  totalidade da 

superfície das peças. Esta degradação constata‐se, na mesma medida, na aplicação do verniz 

por se notarem dedadas do oleiro na face externa do pé. As pastas assumem uma tonalidade 

rosada, contrastando com as mais avermelhadas das primeiras fases de produção e possuem 

uma matriz  fina e depurada, por vezes com vacúolos alongados. As paredes dos  recipientes 

tornam‐se  mais  espessas,  os  pés  baixos  e  tendencialmente  trapezoidais,  passando  a  ser 

visíveis,  sob o verniz, as estrias de alisamento das pastas. Estas  tornam‐se mais porosas e é 

possível identificar elementos não plásticos de maior dimensão (Aquilué Abadias et al, 2000).  

A  fase  final  da  Campaniense  A  média  caracteriza‐se  pela  rarefacção  de  motivos 

decorativos,  nomeadamente  das  estampilhas  com  palmetas,  passando  a  predominar  a 

impressão de folhas de parreira, dispersas de forma radial e rodeadas por círculos concêntricos 

incisos.  Os  finais  do  séc.  II  a.C.  caracterizam‐se,  igualmente,  pela  presença  de  bandas  de 

círculos pintados no  fundo  interno das peças,  cujo bordo podia  ter duas bandas pintadas  a 

branco e mais comummente a castanho.  Já a  fase correspondente à A  tardia  resume‐se aos 

círculos concêntricos no interior dos fundos, segundo o que já sucedia nas produções da B.  

Assim,  a  Campaniense  A  tardia,  numa  clara  tentativa  de  competir  com  o  mercado 

dominado  pelas  produções  de  B,  e  especialmente  pela  B  de  Cales,  imprime  importantes 

transformações  no  seu  reportório.  Esta  nova  realidade  traduz‐se  na  imitação  de  algumas 

formas que as oficinas etruscas e calenas já produziam, reduzindo qualidade na sua produção 

e  simplificando  os  esquemas  decorativos.  Esta  estratégia  determinou  uma  produção  mais 

célere  e  com  custos  menores,  decorrentes,  igualmente,  da  utilização  de  uma  mão‐de‐obra 

menos qualificada. 

Em  mercados  específicos,  como  os  sud‐gálicos,  as  formas  em  Campaniense  A 

destinadas ao consumo de bebidas alcançam uma maior durabilidade, mesmo em momentos 

em que estes já estariam invadidos pelo reportório formal da Campaniense B (Aquilué Abadias 

et  al.,  2000,  p.  402).  Dada  a  proximidade  geográfica  às  oficinas  da  área  etrusca,  e 

especialmente  de  Cales,  este  cenário  deve  ser  entendido  numa  perspectiva  de 

conservadorismo de hábitos de consumo e não de constrangimentos geográficos relacionados 

com a dinâmica das rotas comerciais. 

Por oposição, os conjuntos da Península Ibérica de finais do séc. II e I a.C. demonstram 

uma  predilecção  por  serviços  constituídos  por  páteras  F2250‐80  (Lamb.  5  e  5/7)  e  tigelas 

F2300 (Lamb. 1), reflectindo a diminuição da recepção de Campaniense A em prol de um maior 

consumo da B calena. 

Verifica‐se, igualmente, uma dicotomia entre os povoados do interior e litoral andaluz. 

Ao  que  tudo  indica  nos  de  litoral  a  substituição  de  A  por  B  é  precoce  e  resulta  da  maior 

Page 34: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 32 

capacidade de recepção e renovação dos serviços, gerada pela sua posição geográfica. Sendo 

que nos lugares de interior se constata um equilíbrio entre os dois tipos cerâmicos, decorrente 

da sua necessária sujeição às dinâmicas das rotas comerciais, o que os levava à conservação e 

manutenção dos recipientes em A por mais tempo (Aquilué Abadias et al., 2000, p. 403). 

Não  nos  parece  suficiente  justificar  este  facto  pela  posição  geográfica  de  ambos. 

Mesas do Castelinho  comprova essa  convivência, entre A e B,  cuja diferenciação percentual 

não é gritante, mas geograficamente foi desde sempre um sítio relativamente central no plano 

das dinâmicas económico comerciais, dada a proximidade e navegabilidade do rio Guadiana. 

Por estas  razões, pensamos que  a  clarificação deste  fenómeno não é  tão  linear e pode  ser 

explicado a outros níveis, pelo que remetemos esta discussão para outro lugar (v. subcapítulo. 

5.2).  

Genericamente  considera‐se  que  o  fim  da  produção/recepção  de  campaniense  (em 

todos  os  seus  registos)  está  relacionado  com  a  invasão  dos  mesmos  mercados  que  esta 

abastecia pela terra sigillata, em cerca de 40/30 a.C., bem como pelo início da importação de 

vinho hispânico em detrimento dos produtos itálicos.  

 

 

4.2.1.2  cerâmica Campaniense B de Cales    

  O Norte da Campânia possui uma ampla tradição na produção de cerâmica de verniz 

negro de diferentes períodos cronológicos (Cápua, Cales, Teano e Minturno). Recentes análises 

arqueométricas  efectuadas  a  um  conjunto  de  fragmentos  cerâmicos  provenientes  de 

diferentes  pontos  daquela  região  demonstraram  que  a  composição  química  é  muito 

semelhante tornando‐se complexo diferenciar cada registo (Olcese e Picon, 1998). 

  A história da  investigação das produções originárias da região de Cales, no Norte da 

Campânia,  começa pela  identificação da  sua primeira  fase de  comercialização e exportação. 

Efectuada  a  uma  escala  reduzida,  é  certo,  prima  pela  peculiaridade  das  suas  páteras  com 

decoração em  relevo e, especialmente, pelas marcas  impressas pelos oleiros  locais que não 

colocavam dúvidas quanto à sua proveniência (Pedroni, 2001, p. 147‐153). Mais complexa foi a 

caracterização da cerâmica Campaniense lisa de Cales, ou seja, o produto da natural evolução 

destes centros oleiros. 

  Por  surgir  em  quantidade  nas  escavações  de  Byrsa,  em  Cartago,  foi  considerada 

como proveniente do Norte de África e  recebeu a designação de Byrsa 661  (Morel, 1986, p. 

31). No entanto, a identificação em Valência dessa mesma Byrsa 661, em contextos do último 

quarto do séc.  II a.C. e primeiro do seguinte, não corroborava aquela origem púnica que não 

Page 35: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 33 

podia, a ver pela data de destruição de Cartago,  ir além de 149‐146 a.C. Este  facto, cruzado 

com os contextos arqueológicos da antiga colónia latina de Cales, já definida como um grande 

centro oleiro entre o séc.  II e  I a.C., e as análises químicas efectuadas a ambos os conjuntos, 

levou  a  concluir  que  o  seu  reportório  não  se  fazia  exclusivamente  das  cerâmicas  com 

decoração em relevo, mas também por boa parte do que se tinha, até então, designado como 

b‐óide e pelas supracitadas Byrsa 661 (Pedroni, 2001, p. 250). 

Actualmente, é comum considerar‐se toda a cerâmica Campaniense B detectada na 

Hispânia  em  contextos  de  séc.  II‐I  a.C.  e  cujas  características  técnicas  e  morfológicas  se 

aproximam das B etruscas, como cerâmica Campaniense lisa de Cales. 

Na nossa perspectiva, essa tendência deve ser acautelada pela realização de análises 

químicas aos conjuntos cerâmicos, evitando perpetuar na história da investigação da cerâmica 

campaniense uma noção errónea da  realidade,  imposta pela assumpção dessa proveniência 

sem debate prévio e sem equacionar todas as restantes possibilidades conhecidas.  

A caracterização das diferentes etapas de produção calena encontra‐se sistematizada 

na bibliografia de  referência  (Pedroni, 1986, 2000, 2001), pelo que apenas descreveremos a 

sua 4ª fase (tardia), dado que é a identificada em Mesas do Castelinho. 

A  fase  tardia  da  cerâmica  campaniense  lisa  calena  é  predominante  nos  contextos 

arqueológicos detectados por toda a Hispânia, nomeadamente em Iluro (García Roselló, 2000, 

p. 63) ou nos contextos de destruição de Valentia, em 75 a.C. (Marín Jordá, 2000, p. 93‐96).  

Caracteriza‐se por uma pasta calcária, bege alaranjada, dura e compacta, e por um 

verniz negro mate de fraca qualidade, que  lasca com muita facilidade e que, como resultado 

da  irisão,  obtém  os  típicos  reflexos metálicos  que  oscilam  entre  os  tons  dourado,  azulado, 

esverdeado  ou  acinzentado.  Normalmente,  os  fundos  externos  das  peças  não  são 

envernizados, notando‐se as marcas dos dedos do oleiro decorrentes do processo de imersão 

da peça, no verniz. É frequente a identificação do disco de empilhamento no fundo interno das 

peças, muito comum na Campaniense A tardia. 

A  nível  formal  predominam  as  páteras  F2250‐60  (Lamb.  5/7)  e  as  tigelas  F2300 

(Lamb.  1),  numa  continuação  tipológica  com  a  fase  de  produção  antecedente. 

Simultaneamente, partilha com a calena média semelhanças tecnológicas e decorativas, o que 

dificulta a sua diferenciação. Um dos poucos elementos que as diferencia assenta na utilização, 

durante a  fase  tardia, de uma estampilha  com a  forma de  losango  (com pontas  côncavas e 

vértices a terminar numa palmeta degradada), tal como nos círculos de estrias oblíquas e na 

degradação dos vernizes. 

Curiosamente, e apesar de fabricar uma produção de melhor qualidade que os seus 

vizinhos  napolitanos,  cuja  produção  começa  a  decair,  as  primeiras  produções  de  cerâmica 

Page 36: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 34 

campaniense  lisa  calena  são  discretas. Desempenham  um  papel  secundário  no  âmbito  dos 

centros oleiros da Campânia e exportam, exclusivamente, para as cidades romanas próximas.     

Em finais do séc. II a.C. ocorre um “…processo che, accelerato dalle transformazioni 

politiche  economiche  e  sociali  di  età  annibalica,  porta  grandi  cambiamenti  nel  repertório 

formale, decorativo, e nel modo di produzione.” (Pedroni 1986, p. 187). Esta mutação consistiu 

na simplificação e redução tipológica das  formas que copiavam a cerâmica Campaniense A e 

que  em  associação  ao  desenvolvimento  de  um  reportório  próprio,  baseado  nos  produtos 

etruscos,  resulta  numa  produção  em  larga  escala  e  a  baixo  custo  com  características 

singulares. 

Portanto, parece‐nos que Cales para além de uma  tradição oleira que  remonta ao 

séc.  IV a.C.  tem uma dinâmica evolutiva muito própria e não pode ser entendida como uma 

mera  imitação  das  tradições  técnicas  e  tecnológicas  da  sua  vizinha  etrusca.  Não  se  pode 

ignorar as  suas  semelhanças mas  considerá‐la  sua  sucessora, numa perspectiva difusionista, 

não  é  cronológica  e  historicamente  sustentável.  Podemos,  no  entanto,  assumir  que  em 

determinada altura da vida desta área produtora, talvez ainda durante a fase de produção de 

cerâmica  calena  em  relevo,  terá  ocorrido  um  qualquer  fenómeno  de  emigração  de  oleiros 

etruscos,  que  com  o  seu  conhecimento  técnico  contribuem  para  uma  produção  paralela 

àquela (Adroher Auroux, 2000, p. 153).  

 

 

4.2.2 Etrúria 

4.2.2.1 cerâmica Campaniense B de Arezzo  

No âmbito da produção de cerâmica Campaniense B da região da Etrúria, Arezzo inicia 

a sua actividade ainda durante o séc. II a.C. Mas foi no século seguinte que atingiu o auge da 

sua comercialização, com a exportação, em  larga escala, por toda a  Itália centro‐setentrional 

(Taborell, 2005, p. 72). 

A  escassez  de  cerâmica  Campaniense  aretina  nos  contextos  arqueológicos  da 

Península  Ibérica demonstra a sua modesta difusão marítima, visivelmente diferente do que 

sucedeu com os restantes produtos da B calena. O índice percentual da sua presença pode, no 

entanto, ter que ver, como adiante se verá, com a dificuldade de identificação desta produção 

de B  e,  como  tal, não  ser  tão  expressivo  como parece. Quando  surge,  aparece  associada  a 

contextos do 3º quartel do séc. I a.C.  

Page 37: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 35 

Trata‐se de uma produção cuja definição e compreensão se deve, primordialmente, às 

escavações  efectuadas  em  Bolsena  e  Magdelensberg,  por  Goudineau  e  Schindler  (Adroher 

Auroux et al., 2000, p. 155). 

Esta produção relaciona‐se com a tradição dos padrões morfotécnicos e decorativos da 

cerâmica Campaniense B “verdadeira”, da Etrúria.  J.P Morel considerou‐a como pertencente 

ao  “círculo da B”  (Morel, 1981, p. 76),  suportado pela proximidade geográfica de ambos os 

centros produtores – área da Etrúria  ‐ como pela proximidade temporal das duas produções. 

Na sua génese trata‐se de um “ramo do tronco” de produções de verniz negro da Etrúria, do 

qual fazem parte, entre outras, as oficinas de Malacena, das “asas em orelha”, … 

Genericamente,  caracteriza‐se  por  possuir  um  verniz  de  elevada  qualidade,  de  um 

negro intenso sem reflexos, muito aderente e que se associa a uma pasta dura, homogénea e 

acetinada ao toque, com coloração bege – rosada. Estas afinidades que a aproximam, então, 

da  B  etrusca  e  muitas  vezes  da  B  calena  de  melhor  qualidade  tornam  muito  difícil  a  sua 

distinção. 

Nesta medida, os produtos provenientes deste centro produtor são identificáveis, com 

maior  facilidade,  e  na  ausência  de  análises  químicas,  pela  presença  de  determinados 

pormenores  formais ou decorativos. Esta estratégia de análise confere alguma segurança na 

apreciação dos conjuntos cerâmicos, contudo, o risco em relegar, inadvertidamente, parte do 

acervo de origem aretina para outras áreas de proveniência é um factor a ter em conta. Este 

lapso pode suceder pelo facto de, na maioria dos casos, lidarmos com fragmentos de reduzida 

dimensão que podem não ter conservado aqueles descritores identificativos. 

Em  termos  formais, a par das dimensões da peça e da altura que separa o bordo da 

carena nas páteras, é possível efectuar uma precisa identificação da cerâmica aretina de verniz 

negro mediante a observação do típico ressalto/escalonamento na face interna dos pés. 

Ao nível da decoração interna dos fundos esta produção caracteriza‐se pela impressão 

de  estampilhas  quadradas,  com  associação  de  caneluras  concêntricas  muitíssimo  finas.  As 

estampilhas geométricas em forma de 2C’s justapostos e as nominais, dispostas radialmente e 

ao  centro no  fundo  interno dos  recipientes,  são,  igualmente,  características  e  seguem uma 

tradição pré‐aretina. Q.AF é uma das mais conhecidas marcas de oleiro aretinas, existindo em 

diferentes províncias romanas como Hispânia, Gália e Mauritânia, tal como na própria Etrúria, 

Campânia  e  Lácio  (OCK,  2000).  Ainda  que  noutras  variantes  este  sigillum  surge, 

posteriormente,  impresso  na  cerâmica  aretina  de  verniz  vermelho.  Segundo  alguns  autores 

como Roca, poderíamos estar na presença de uma evolução  interna do mesmo oleiro  (apud 

Adroher Aurox et al., 2000), mas a justificação poderá relacionar‐se com uma continuidade na 

utilização de marcas que identifiquem por tradição aquela área de produção. 

Page 38: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 36 

Assim, o reportório  formal é reduzido e maioritariamente constituído por páteras de 

grandes dimensões, com bordos muito altos, genericamente enquadráveis nas séries F2286 e 

F2287 da tipologia de Morel (Lamb. 7). A par destas verifica‐se a reprodução em  larga escala 

de páteras da espécie F2250 (Lamb. 5 e 5/7), bem como da série F2862 (Lamb. 27). 

Verifica‐se,  portanto,  que  as  oficinas  de  Arezzo  continuam  muitas  das  tradições  da 

cerâmica Campaniense B da Etrúria, nomeadamente, a qualidade do verniz, a pasta e o próprio 

reportório formal, apenas com introduções de alguns pormenores formais que permitem a sua 

individualização.  

  

 

4.2.3 “local/regional” com verniz negro  

Importa, desde  já, esclarecer que o  termo aqui utilizado para designar esta  (as) área 

(as) de produção  reporta‐se  a um espaço  geográfico que pode  extravasar  a  envolvência do 

território em que se  insere o sítio Mesas do Castelinho. Tratam‐se de produções com verniz5 

negro/acinzentado  que  se  inspiram  ou  mesmo  copiam  os  modelos  formais  da  cerâmica 

Campaniense B e em menor proporção da A. Estas oficinas estariam localizadas um pouco por 

toda  a Península  Ibérica e  até mesmo no  seio da Península  Itálica, e  ao  contrário das ditas 

produções “universais” não teriam tido uma difusão marítima. 

Identificar com precisão a dispersão destes centros oleiros de produção de cerâmica 

Campaniense  “local/regional”  assume‐se  como  uma  tarefa  difícil,  na  medida  em  que,  na 

maioria das vezes, apenas conhecemos as áreas de consumo. Assim, em alguns casos, sugere‐

se a associação destas oficinas a uma determinada área de produção com base, exactamente, 

na  dispersão  de  um  mesmo  produto  sem,  no  entanto,  as  ter  identificado  fisicamente  no 

terreno. 

Genericamente, existem duas formas de  imitação cerâmica, aquela em que os oleiros 

recebem  influências  dos  grandes  centros  produtores  e  aquela  em  que,  com  base  nos 

protótipos  originais,  os  oleiros  copiam  fielmente  as  formas  e  os  detalhes  decorativos  das 

produções  de  verniz  negro  itálico  dos  sécs.  II  e  I  a.C.  Durante  o  processo  de  aculturação 

romana estas populações indígenas seguem “modas” impostas pelos ditos centros produtores 

de  difusão  marítima  e  adquirem  hábitos  e  gostos  exógenos,  pelo  que  imitar  o  reportório 

formal deste tipo cerâmico, ainda que com recurso às suas técnicas tradicionais, é reflexo disso 

mesmo. 

                                                            5 Como  já  foi  referido, este  trabalho apenas  inclui a cerâmica campaniense com origem  itálica dos sécs.  II e  I a.C. e a cerâmica 

Campaniense “local/regional”com verniz, pelo que excluímos deste estudo a cerâmica comum de imitação campaniense. 

Page 39: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 37 

Uma das limitações impostas ao estudo destas produções reside na concepção de que 

tudo o que mostra uma técnica medíocre pode ser interpretado como “afim” de campaniense. 

No entanto, como noutros casos, v. supra, essa aparência pode derivar de diferentes factores, 

como  seja, a capacidade  técnica do oleiro, não  significando, por  inerência,  tratar‐se de uma 

produção periférica à região da Etrúria e da Campânia.  

   É visível que em alguns casos os oleiros da periferia das produções  itálicas souberam 

interiorizar a  técnica de  reprodução dos modelos originais, produzindo,  inclusive, um verniz 

negro  comparável  àqueles.  Contudo,  a  carência  técnica  e  cognitiva  da  maioria  dos  oleiros 

indígenas,  a  falta  de  habilidade  de  alguns  ou  simplesmente  o  interesse  na  obtenção  de 

determinada forma, apenas  lhes permite uma aproximação ao produto original. Casos há em 

que se pode equacionar a hipótese de emigração de oleiros estrangeiros, ditos itálicos, e que 

conhecedores da  técnica, porque  a praticaram no  centro de origem,  trabalham em oficinas 

externas ao círculo  itálico. Aqui  são condicionados pelas matérias‐primas disponíveis6 e pela 

utilização  das  técnicas  de  tradição  indígena,  pelo  que  o  produto  final  será  sempre  uma 

aproximação  ao  original.  Posto  isto,  torna‐se  complicado  considerar  a  existência  de  um 

qualquer  fenómeno de evolução no  interior destes centros  indígenas, exógenos aos grandes 

centros  de  produção  da  Campânia  e  Etrúria,  que  conduza  à  produção  de  cerâmica 

campaniense, devemos antes considerá‐los inequívocas imitações destes.  

As diferenças são,  igualmente, marcantes na natural simplificação de alguns detalhes 

formais e das decorações mais elaboradas características da Campaniense A ou B, num claro 

propósito em agilizar o processo. 

Estas produções são principalmente  influenciadas pelo gosto dos mercados a que se 

dirigem,  assumindo  um  papel  determinante  na  continuidade  e  extinção  de  determinadas 

formas. Se por um  lado podemos  falar em produção e exportação  itálica especializada para 

mercados específicos7, por outro, e excluindo hipóteses de sobrevivência de formas, os ditos 

centros  oleiros  “locais/regionais”  podem  continuar  a  produção  de  determinado  recipiente, 

cujo centro oleiro de origem  já deixou de produzir ou que o  faz mas em menor quantidade, 

numa clara resposta às suas necessidades e gostos.  

Cronologicamente  estas  produções  centram‐se,  preferencialmente,  no  decorrer  do 

séc.  I  a.C.  e  imitam  os  protótipos  mais  tardios  da  Campaniense  A  e  B,  predominando  nos 

segundos as formas 1 e 5/7, da tipologia de Lamboglia, F2300 E F2230‐80, respectivamente. 

                                                            6 Em que a utilização de barreiros diferenciados quimicamente e uma falta de tratamento das argilas afasta o produto final das 

típicas pastas calcárias da cerâmica campaniense B e das pastas rosadas da A. 7 Como seja o caso da Gália, onde o gosto pelo uso dos vasos de beber de cerâmica campaniense A reflecte‐se numa utilização da 

F3131  (Lamb. 48) em  cronologias mais  tardias  (Arcelin, 2000, p. 303),  relativamente a outros  lugares do mundo  romano e em maior proporção se comparado com própria península itálica. 

Page 40: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 38 

Em  Mesas  do  Castelinho  identificaram‐se  dois  tipos  de  cerâmica  Campaniense 

“local/regional”.  Um  de  pastas  laranjas  com  verniz  negro  (F8)  e  outro  que  poderá  ser 

aparentado das cerâmicas de pasta cinzenta com verniz negro (F7). Este último não poderá ser 

confundido com a Campaniense C, que ao que  tudo  indica se  trata de uma produção pouco 

difundida  no  extremo  ocidente  peninsular  e  a  avaliar  pelos  dados  de Mesas  do  Castelinho 

ausente nestas paragens8. 

 

 

4.2.3.1   cerâmica de pasta cinzenta com verniz negro de imitação de Campaniense B  

No âmbito das cerâmicas “locais/regionais” com verniz negro, as de pasta cinzenta têm 

vindo  a  revelar‐se, na  Península  Ibérica,  como um dos  grupos de  imitação de  campaniense 

mais comuns em contextos do século I a.C. Porém, a variedade de tipos e, consequentemente, 

proveniências, na maioria desconhecidas,  complexifica a  sua definição. Parece evidente que 

estas oficinas ter‐se‐ão multiplicado por todo o território hispânico, um pouco na concepção 

de  uma  produção  à  escala  reduzida  para  fazer  frente  às  imediatas  necessidades 

“locais/regionais”, evitando gastos excessivos e o acesso moroso da aquisição dos produtos 

originais. Nesta perspectiva teriam uma produção e difusão restrita que nunca terá competido 

com a difusão marítima das cerâmicas de verniz negro itálico dos sécs. II e I a.C.  

Apesar  de  tudo,  parece‐nos  plausível  que  o  sucesso  de  algumas  oficinas  tenha 

permitido a exportação dos seus produtos a uma escala maior. Senão vejamos, por exemplo, 

Ibiza onde foi identificado um centro produtor de cerâmica de pasta cinzenta que imita, entre 

o séc. III e II a.C., a campaniense itálica (Morel, 1981, p. 47), cuja exportação foi além dos seus 

limites  terrestres  e  terá  sido  uma  das  poucas  formas  de  integração  desta  ilha  nas  rotas 

comerciais existentes. Assim, encontra‐se material que aparenta uma proveniência  ibicénica 

na Catalunha (Ampúrias), Valência e na Mauritânia (Mariano Amo, 1970, p. 202). 

Se  numa  fase  inicial  do  estudo  da  cerâmica  campaniense  estas  produções  não 

assumiam especial relevância nas considerações dos investigadores e, por vezes, eram alvo de 

classificações  erradas,  com  a  consciência  de  que  tiveram  lugar  relevante  na  economia  das 

províncias romanas começa‐se a investir no estudo das suas áreas de produção e difusão.         

Na Andaluzia ocidental, e portanto mais próximo do território que aqui nos interessa, 

existe uma variante caracterizada pelas suas pastas cinzentas, pouco compactas, com presença 

de enp’s micáceos e com um verniz pouco aderente, cinzento‐escuro com manchas negras ou 

                                                            8 Pelo que se conhece de momento a campaniense C não teve grande difusão na Ibéria, com presença minoritárias em Ampúrias 

(Sanmartí, 1978, p. 301‐307 e 449) ou, por exemplo, na província de Sevilha com uma dispersão fraca que corresponde ao eixo fluvial do Guadalquivir (Sala Sellés, 1997, p. 127). 

Page 41: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 39 

acastanhadas,  podendo  possuir  decoração  impressa  sob  a  forma  de  losango,  típica  da 

cerâmica calena (Ventura Martínez, 2000, p. 185). O autor sugere a existência de uma oficina 

ou  conjunto  de  oficinas  radicadas,  provavelmente,  no  vale  do  Guadalquivir,  atendendo  às 

características da pasta e  à  sua dispersão na Península  Ibérica  (Baixo Guadalquivir e  toda  a 

zona  costeira de Cádiz). Refere, ainda, alguns paralelos na  costa atlântica magrebina,  talvez 

relacionados  com o  tipo D de Marrocos, definido por  Jean Paul Morel  (Morel, 1981, p. 48), 

sugerindo um eixo de contactos comerciais entre o vale do Guadalquivir e o Norte de África. 

Corroborando  esta  hipótese,  em  2007,  J.  Principal  Ponce  e  J.  Sanmatín  Greco  divulgam  a 

existência de duas novas séries, uma Norte africana e outra localizada no Mediterrâneo central 

ou  ocidental,  defendendo  que  a  circulação  da  primeira  relacionava  as  áreas  de  estudo  de 

Ventura Martínez  (Andaluzia ocidental) e a zona Mauritânia  (apud, Viegas, 2009, p. 134), ou 

seja, na esfera ibero‐púnica. 

Apesar de não incorporar a amostra que nos propusemos estudar importa referir que 

se encontra em fase de estudo a  identificação de, segundo os autores, duas séries de pastas 

cinzentas, diferenciadas das  supracitadas pela ausência de verniz, que é  substituído por um 

alisamento ou brunido. Numa mesma  lógica as  formas presentes  imitam maioritariamente o 

reportório  tardio da Campaniense B e  fora a  identificação de uma  imitação da  forma F1300 

(Lamb. 36) o restante espólio é consentâneo do séc.  I a.C.  (Adroher Auroux e López Marcos, 

2000,  p.  158).  A  síntese  apresentada  pelos  autores  sugere,  assim,  a  existência  no  Alto 

Guadalquivir  (Porcuna e Cástulo) e nas planícies granadinas de duas produções de cerâmica 

cinzenta oretana e bastetana, respectivamente.  

Deste modo,  os  últimos  dados  relativos  à  identificação  e  difusão  destes  centros  de 

produção  na  Ulterior  parecem  começar  a  contrariar  a  ideia  de  múltiplas  micro  regiões  de 

produção  de  Cerâmica  “local/regional”  de  imitação  campaniense  (com  verniz  negro),  para 

começarmos a pensar na possibilidade de existência de áreas de difusão mais alargadas. Esta 

questão  continuará  em  aberto  pois  carece  de  mais  dados  e,  especialmente,  de  melhores 

caracterizações dos conjuntos, com respectivas publicações. Estes grupos de pastas cinzentas 

de  época  romana  republicana  deverão  ser  submetidos  a  métodos  arqueométricos,  pois  só 

após este tipo de abordagem se poderá avançar na investigação e conhecer diferentes e mais 

assertivas hipóteses de proveniência e difusão.  

No  actual  território  português  os  estudos  referentes  a  estes  grupos  cerâmicos  só 

agora,  com  a  síntese  elaborada  por  Catarina  Viegas  sobre  a  ocupação  romana  do  Algarve 

central e oriental (Faro, Balsa e Castro Marim), começam a aprofundar‐se. A autora equaciona 

a possibilidade de parte dos conjuntos estudados se relacionarem com as produções do vale 

do  Guadalquivir  e  alerta  para  o  facto  de  também  ali  se  detectarem  outros  produtos, 

Page 42: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 40 

nomeadamente  anfóricos  (Classe  67  e  Haltern  70)  e  cerâmica  comum,  com  a  mesma 

proveniência  (Viegas, 2009, p. 141‐142). Portanto, o espectro de difusão das oficinas do vale 

do Guadalquivir poderá ser mais abrangente que o definido há 10 anos por ocasião da Mesa 

Redonda de Ampúrias. 

Pontualmente,  têm  vindo  a  ser  publicados  alguns  materiais  com  pastas  cinzentas 

definidos como imitações de campaniense em produções “locais/regionais” com verniz negro, 

dos quais destacamos, no Alto Alentejo, os sítios como os Soeiros, Monte do Almo, Moinho do 

Tojal e Mariano (Mataloto, 2002).  

Não  podemos  deixar  de  fazer  referência,  igualmente,  ao  trabalho  de  síntese  de 

Manuela  Delgado  nos  anos  70  sobre  a  cerâmica  campaniense  de  Portugal.  Já  então,  ficou 

perceptível da análise que efectuou a alguns sítios do Sul de Portugal a variedade e quantidade 

de grupos existentes, ainda que consideremos que muitos correspondam às produções calenas 

do  séc.  II  e  I  a.C.  Contudo,  e  a  propósito  da  cerâmica  de  pastas  cinzentas  de  imitação  de 

campaniense, Manuela Delgado refere uma peça depositada no Museu Municipal da Figueira 

da  Foz  (Delgado,  1971,  Est.  III,  nº  34),  cuja  proveniência  se  desconhece,  em  que  as 

características descritas parecem permitir a sua inclusão nestas séries.  

Existem outros exemplos na bibliografia portuguesa mais antiga, como seja no Castelo 

Velho de Veiros  (Estremoz)  (Arnaud, 1970), em Alcácer do Sal (Soares, 1978) ou no conjunto 

de  Conímbriga  (Delgado,  1976b).  Porém,  estamos  em  crer  que  por  serem  uma  produção 

“local/regional” que recorre à utilização de vernizes muito finos, que facilmente desaparecem, 

não permite uma fácil associação às cerâmicas de pastas cinzentas que imitam a campaniense. 

 

 

4.2.3.2   cerâmica de pastas laranjas com verniz negro de imitação de Campaniense A  

No  actual  estado  de  investigação  a  análise  deste  tipo  não  nos  permite  grandes 

considerações. Na Mesa Redonda de Ampúrias, Adroher Auroux  e  López Marcos  referem  a 

existência  em  Almuñecar  de  um  pequeno  conjunto  de  fragmentos  cerâmicos  de  pastas 

castanhas  avermelhadas, homogéneas, porosas  e  com  enp’s  esbranquiçados,  revestidas por 

um verniz negro com  tons avermelhados e de muito má qualidade. As  formas  identificadas, 

F2600 e F2950‐77‐78 (Lamb. 28 e 31), reproduzem os protótipos de Campaniense A do séc. II 

(Adroher Auroux e López Marcos, 200, p. 152). 

Parece  óbvio  que  estas  pastas  seriam  preferencialmente  utilizadas  na  tentativa  de 

imitar formas de Campaniense A, sejam do séc. II ou I a.C., dada a sua tonalidade e intenção de 

aproximar as características do produto “local/regional” às do protótipo  itálico. Em Mesas do 

Page 43: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 41 

Castelinho apenas foi identificado um exemplar classificável passível de ser inserido nesta série 

de imitações. 

 

 

4.3 Caracterização dos fabricos identificados  

A identificação dos diferentes grupos de fabrico tem por objectivo determinar grandes 

áreas  de  proveniência.  Por  mais  exaustivos  que  sejamos,  a  impossibilidade  em  sujeitar  os 

diferentes fragmentos a análises químicas, para posterior comparação de dados, determina a 

subjectividade  dos  resultados,  que  podem  vir  a  ser  corroborados  ou  refutados  em  futuras 

investigações. 

Desde  o  primeiro  momento  optámos  por  relativizar  as  pequenas  diferenças,  por 

exemplo, ao nível da coloração das pastas, privilegiando, pelo contrário, os aspectos comuns 

caracterizadores dos grandes grupos de fabrico. 

 

4.3.1 Fabrico da Campânia F1 

Este  grupo  individualiza‐se  pela  elevada 

granulosidade  e  porosidade  (vacúolos  de  grandes 

dimensões e formas alongadas) da pasta, por ser pouco 

compacta,  depurada  e  possuir  fracturas  irregulares. 

Assume  uma  coloração  rosa  velho  (2.5yr  5/6)  em 

ambiente  redutor,  com  arrefecimento  oxidante  e  são  visíveis  pontos  de  moscovite,  sendo 

muito raras as partículas de calcário. 

Foram  registados  277  fragmentos  identificáveis  com  este  grupo  de  fabrico, 

representando  10,93  %  da  totalidade  do  conjunto.  Em  contextos  republicanos  foram 

detectados 41 NMI, num total de 316 fragmentos com classificação tipológica. 

 

4.3.1.1 Fabrico da Campânia F2 

No  2º  grupo  definido,  a  pasta  é,  igualmente, 

granulosa, depurada e conta com a presença de pontos 

de  calcário  e  moscovite.  No  entanto,  e 

comparativamente  com  o  anterior  grupo  é  menos 

porosa,  mais  compacta  e  muito  polvorenta.  No  que 

Page 44: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 42 

concerne  à  sua  coloração  a  variação  é  uma  constante,  mas,  genericamente,  os  tons 

aproximam‐se  do  rosa  alaranjado  (2.5yr  6/6),  resultantes  de  uma  cozedura  em  ambiente 

redutor com arrefecimento oxidante. 

Foram  registados  737  fragmentos  identificáveis  com  este  grupo  de  fabrico, 

representando 29,11 % da totalidade do conjunto. Em contexto republicano foram detectados 

82 NMI, num total de 316 fragmentos com classificação tipológica. 

 

4.3.2 Fabrico de Cales F3 

Trata‐se  de  uma  pasta  de  granulosidade 

elevada, muito porosa (vacúolos circulares e de pequena 

dimensão), pouco compacta e depurada. Os elementos 

não  plásticos,  passíveis  de  uma  identificação 

macroscópica,  resumem‐se  a  pequenas  partículas  de 

moscovite e vários pontos de calcário, dispersos de forma homogénea por toda a superfície. A 

coloração desta pasta oscila entre o bege alaranjado  (7.5yr 7/6) e o amarelado muito  claro 

(7.5yr  7/4),  sendo  que  o  segundo  ocorre  em  menor  percentagem.  São  pastas  calcárias  e 

sofreram um processo de cozedura em atmosfera redutora com arrefecimento oxidante. 

Foram  registados  fragmentos  344  identificáveis  com  este  grupo  de  fabrico, 

representando 13,59 % da totalidade do conjunto. Em contexto republicano foram detectados 

59 NMI, num total de 316 fragmentos com classificação tipológica. 

 

4.3.2.1 Fabrico de Cales F4 

O  designado  fabrico  4  partilha  com  o  anterior 

(F3) os mesmos  índices de granulosidade e depuração, 

coloração e modo de cozedura, tal como a presença do 

mesmo tipo de enp’s.  

À partida nada os  faria diferenciar, não  fosse o 

facto desta pasta  ser mais compacta, menos porosa e extraordinariamente polvorenta, pelo 

que as peças, quando manuseadas, soltam um pó que nos suja as mãos. Fractura boleada.  

Foram  registados  1047  fragmentos  identificáveis  com  este  grupo  de  fabrico, 

representando 41,35 % da totalidade do conjunto. Em contexto republicano foram detectados 

116 NMI, num total de 316 fragmentos com classificação tipológica. 

 

 

 

Page 45: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 43 

4.3.3 Fabrico de Arezzo F5 

Este  grupo  caracteriza‐se  pela  elevada 

compacticidade  da  pasta,  por  se  apresentar  muito 

depurada e pouco porosa. Possui uma textura acetinada 

ao  toque  e  fractura  boleada.  Assume  uma  coloração 

bege rosada (7.5 7/4) e foi cozido em ambiente redutor 

com  arrefecimento  oxidante.  Relativamente  aos  enp’s 

apenas nos foi possível a identificação de pequenas partículas de moscovite. 

Foram  registados  3  fragmentos  identificáveis  com  este  grupo  de  fabrico, 

representando 0,12% da totalidade do conjunto. Em contexto republicano foram detectados 1 

NMI, num total de 316 fragmentos com classificação tipológica. 

 

4.3.3.1 Fabrico de Arezzo F6 

O grupo de fabrico que se segue possui uma pasta  

granulosa,  pouco  porosa,  tal  como  a  anterior,  algo 

compacta  e  muito  depurada.  Os  enp’s  variam  entre  as 

pequenas partículas de moscovite e calcário. Produziu‐se 

em atmosfera  redutora com arrefecimento oxidante e é 

muito  polvorenta,  ou  seja,  liberta  constantemente  uma  espécie  de  pó.  Como  coloração 

assume um tom bege alaranjado (7.5yr 7/6), muitas vezes muito claro (7.5yr 7/4).  

Foram  registados  18  fragmentos  identificáveis  com  este  grupo  de  fabrico, 

representando 0,71 % da totalidade do conjunto. Em contexto republicano foram detectados 

11 NMI, num total de 316 fragmentos com classificação tipológica. 

 

4.3.4 Fabrico “local /regional” F7 

Trata‐se de uma pasta granulosa, pouco porosa, 

compacta  e  depurada.  Tem  presentes  como  enp’s 

pequenos pontos de calcário e moscovite. Assume uma 

coloração acinzentada  (2.5yr 5/1), obtida em ambiente 

redutor e é muito polvorenta. 

Foram  registados  27  fragmentos  identificáveis  com  este  grupo  de  fabrico, 

representando 1,07 % da totalidade do conjunto. Em contexto republicano foram detectados 5 

NMI, num total de 316 fragmentos com classificação tipológica. 

 

Page 46: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 44 

4.3.4.1 Fabrico “local/regional” F8 

O  seguinte  grupo  de  fabrico  de  tonalidade 

laranja (5yr 6/8) caracteriza‐se por uma pasta granulosa, 

pouco  compacta,  depurada  e  pouco  porosa,  cujos 

vacúolos  são  de  pequena  e  média  dimensão  e  forma 

circular.  Produzidas  em  ambiente  redutor  com 

arrefecimento oxidante. 

Foram  registados  79  fragmentos  identificáveis  com  este  grupo  de  fabrico, 

representando 3,12 % da totalidade do conjunto. Em contexto republicano foram detectados 1 

NMI, num total de 316 fragmentos com classificação tipológica. 

 

Exceptuando  16  exemplares  (0,63%  do  total  do  conjunto  estudado)  os  restantes 

encontravam‐se revestidos por um verniz negro aplicado por imersão da peça, provavelmente, 

numa tina. O elevado grau de deterioração dos fragmentos analisados, seja resultado do uso 

intensivo das peças, da sua fraca qualidade ou decorrente de fenómenos pós deposicionais a 

que  estiveram  expostos  após  o  seu  abandono,  impede  uma  associação  directa  entre  os 

diferentes  tipos  de  pastas  e  os  vernizes,  multiplicando‐se  as  conjugações  sem  significado 

aparente.  

As cores dos vernizes variam entre os castanhos (V1) com 2,18 %, os negros com algum 

brilho (V2) com 75,06 %, os negros mate (V3) com 20,46 % e os avermelhados (V4) com 0,36 

%. Destes, 31,60 porcento têm um brilho metalizado com reflexos (devido à irisão) que podem 

oscilar entre os esverdeados (a), azulados (b), dourados (c) ou acinzentados (d). Acreditamos 

que  a  maioria  dos  vernizes  haveria  de  ter  um  aspecto  brilhante,  ainda  que  não 

necessariamente metalizado, e que o uso intensivo dos recipientes ou a deterioração natural, 

após o seu abandono, conduziu à degradação do verniz. 

Genericamente, verifica‐se uma maior associação à cerâmica campaniense calena de 

vernizes menos espessos e menos aderentes, que facilmente se desprendem das pastas e que 

assumem  um  aspecto  lascado. Nesta  produção  cerâmica  é  comum  detectar,  em Mesas  do 

Castelinho,  a  ausência  de  verniz  no  fundo  externo  dos  recipientes,  nomeadamente  nos 

exemplares do género F2300 (Lamb. 1), bem como um maior desgaste nas zonas carenadas e 

no topo dos bordos, ou seja, nas arestas de maior exposição e contacto com outras superfícies. 

Foi possível identificar, em 50 fragmentos, a existência sob o verniz de uma espécie de 

engobe laranja ou acastanhado, que serviria para favorecer a aderência do verniz à pasta. Por 

vezes este é de tão má qualidade que se mistura com o próprio engobe, resultando numa cor 

roxa. Esta tonalidade foi registada em inúmeros fragmentos onde não foi possível identificar o 

Page 47: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 45 

engobe sob o verniz, mas cuja associação é uma possibilidade, sendo que a sua ausência pode 

resultar  de  uma  qualquer  reacção  ao  verniz.  Contabilizámos  todas  as  possibilidades  e, 

aparentemente,  esta  técnica  não  terá  ultrapassado  a  centena  de  registos  em  Mesas  do 

Castelinho. 

Nos fragmentos de cerâmica Campaniense A são muitas vezes observadas sobre verniz 

as estrias de alisamento das argilas, o que é característico de uma fase de produção napolitana 

tardia, tal como as marcas de empilhamento, reproduzidas pelo anel avermelhado presente na 

no  fundo  interno  de  alguns  recipientes.  Esta  situação  está,  igualmente,  documentada  nas 

produções calenas, mas em 19 casos 13  são produções napolitanas e a maioria  refere‐se às 

F2250‐80,  de  Morel.  Normalmente,  os  fundos  em  Campaniense  A  não  estão  totalmente 

envernizados, excepção feita aos exemplares que possuem decoração.  

As marcas digitais dos oleiros, presentes na face externa do pé e arranque da parede 

da peça  cerâmica,  resultam da  imersão  rápida e descuidada dos  recipientes no verniz e  são 

frequentemente  detectados  no  conjunto  em  análise.  A  existência  de  escorrências  resulta, 

simultaneamente, da velocidade e falta de cuidado  impressos neste processo de acabamento 

do recipiente. É possível verificá‐las tanto nos exemplares de Campaniense A, como nos de B 

calena, o que corrobora as descrições tardias destas produções. 

 

 

4.3.5 Análise de dados  

A definição destes oito grupos de fabrico de cerâmica campaniense teve por base uma 

análise  puramente  macroscópica.  Atendendo  à  impossibilidade  em  sujeitar  o  conjunto  a 

análises químicas,  importa, desde  já,  salientar que as  indicações das áreas de produção que 

aqui apontamos não têm a pretensão de ser conclusivas. Estamos certos de que a identificação 

dos centros produtores mediterrânicos não está concluída, muito menos no que  respeita às 

produções da Península  Ibérica, diga‐se “locais/regionais”, e que o estudo sistemático dos  já 

conhecidos modificará o panorama que actualmente é a nossa base de trabalho. 

Baseados  nos  diferentes  reportórios  formais  que  caracterizam  as  produções  de 

cerâmica de verniz negro dos sécs. II e I a.C., bem como nas suas características técnicas, não 

foi difícil agrupar os fragmentos nas diferentes áreas de produção de difusão dita “universal”. 

As características técnicas e químicas das produções de A são bem diferenciáveis das 

da  B.  Hoje,  sabemos  que  a  maior  ou  menor  percentagem  de  calcário  presente  nas  argilas 

determina o aspecto das fracturas das peças e a coloração das pastas, não sendo o  índice de 

óxido  de  ferro  presente  nas  argilas  que  confere  uma  coloração  avermelhada/alaranjada  às 

Page 48: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 46 

pastas, mas a baixa percentagem de calcário. Até porque, segundo Picon, existem exemplares 

de Campaniense B  ricos em óxido de  ferro e que nem por  isso deixam de  ter pastas claras. 

Portanto, é a conjugação de pastas calcárias com altas  temperaturas, criadas no  interior dos 

fornos onde são cozidas, que origina a tonalidade bege/amarelada das pastas das produções 

da Campaniense B etrusca e do Norte da Campânia (Picon et al., 1971, p. 83).  

Assim, e excluindo a cerâmica Campaniense A originária do Golfo de Nápoles (F1 e F2), 

no seio das produções da Campaniense B distinguimos peças com origem na região calena (F3 

e F4) e outras que  terão sido  importadas da área de Arezzo  (F5 e F6), ainda que em  termos 

técnicos e a  “olho nu” a distinção  seja quase que  imperceptível. Ambas possuem pequenas 

partículas de calcário, textura, compacticidade e coloração idênticas, pelo que foi muito difícil 

diferenciar F6 de F4. Como  já referimos o conjunto de cerâmica de verniz negro  identificado 

como aretino é muito  reduzido no âmbito das  importações  itálicas da Península  Ibérica,  tal 

como sucede no povoado Mesas do Castelinho. Esta situação prende‐se, provavelmente, com 

a dificuldade em associar a esta produção  fragmentos que não possuam os detalhes  formais 

que as individualizam (v. 4.2.2.1) ou marcas de oleiro que não suscitam dúvidas quanto à sua 

proveniência.  Daí  que  aceitemos  que  o  conjunto  aqui  identificado  como  cerâmica  calena 

possa, inadvertidamente, incluir fragmentos de cerâmica de verniz negro aretina, que pela sua 

reduzida  dimensão  ou  desgaste  não  nos  permitiu  uma  clara  aferição  do  tipo  e  respectivo 

centro de produção.  

 Mais  complexo, na  aferição da  sua  área de produção,  encontra‐se um  conjunto de 

fragmentos que apesar de possuírem verniz negro e serem  formas de campaniense não são 

enquadráveis nas classes A ou B de origem  itálica. Tratam‐se de produções “locais/regionais” 

de  cerâmicas  de  pasta  laranja  (F8)  ou  cinzenta  (F7),  com  verniz  negro  de  imitação  de 

campaniense. As  primeiras  imitam  o  reportório  formal  da  Campaniense A  e  as  segundas  o 

reportório  da  B,  tendo  sido  estas,  provavelmente,  produzidas  na  região  do  vale  do 

Guadalquivir (v. supra). 

Conscientes de que a atmosfera de  cozedura de um  forno não é 100%  reproduzível 

não  considerámos  relevante,  aquando  da  atribuição  ao  centro  produtor,  algumas  variações 

nos tons das pastas, já que podem ocorrer em diferentes fornadas de produção dentro de uma 

mesma oficina. 

Após a definição das grandes áreas de proveniência identificámos, dentro de cada uma 

delas, duas variantes, cujas diferenças eram evidentes e em nosso entendimento suficientes 

para  uma  individualização.  Deste  modo,  da  cerâmica  produzida  no  Golfo  de  Nápoles 

registámos  o  fabrico  1  e  2,  da  proveniente  da  região  calena  o  3  e  4  e  da  Etrúria,  mais 

precisamente de Arezzo, o fabrico 5 e 6. 

Page 49: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 47 

Tomaremos  como exemplo a 1ª produção  referida para depois percebermos que as 

seguintes  considerações  são  extensíveis  aos  restantes  fabricos,  exceptuando  F7  e  F8,  já 

mencionados.  Assim,  a  grande  diferenciação  entre  os  grupos  de  fabrico  F1  e  F2  assenta, 

essencialmente, na polvorosidade que F2 apresenta  face a um  fabrico  (F1) de pastas menos 

compactas  e  depuradas,  mais  porosas  e  com  fracturas  rectilíneas.  Este  principal  elemento 

distintivo entre grupos de fabrico de uma mesma área de produção poderá ter que ver com a 

composição e tratamento das argilas, nomeadamente com o que diz respeito à depuração das 

mesmas, ou seja, conectado com o maior ou menor índice de adição de enp’s. Apesar de nos 

encontramos no plano  conjectural,  sem  conhecermos  se esta  é  a exacta  razão que  confere 

este aspecto poeirento às pastas, parece‐nos tratar‐se da explicação mais plausível. Na mesma 

medida não nos foi permitido aferir se as argilas adquirem estas características durante o seu 

fabrico  ou  se  se  alteram  apenas  mais  tarde,  numa  reacção  a  algum  episódio  tafonómico. 

Apesar  de  tudo  é  inquestionável  a  sua  visibilidade  e  parece‐nos  motivo  suficiente  para 

considerar dois fabricos ainda que pertencentes a uma mesma área de produção.  

Não  deixa  de  ser  curioso  o  facto  deste  fenómeno  se  detectar  nos  grupos  que 

individualizámos  para  a  cerâmica  napolitana  (F2),  calena  (F4)  e  para  a  aretina  (F6).  Seria 

tentador  pensar  que  este  aspecto  decorre  de  uma  qualquer  reacção  pós  deposicional  sem 

conexão com as características físicas da própria peça. Porém, existem exemplares de fabricos 

distintos,  uns  poeirentos  outros  não,  que  foram  detectados  no  mesmo  contexto  sob  as 

mesmas agressões tafonómicas.  

Apesar de percentualmente as pastas polvorentas de cada grupo estarem em maioria 

não se detectaram elementos suficientes que distingam a nível morfológico e cronológico os 

fabricos  F1 de  F2 da  cerâmica Campaniense A, o  F3 de  F4 da Campaniense B de Cales  e o 

fabrico F5 de F6 da cerâmica de verniz negro aretina. Nesta medida, consideramos estar na 

presença de  fabricos associados a diferentes oficinas no seio da mesma área de produção e 

âmbito  cronológico.  Trata‐se  da  produção  do  mesmo  tipo  cerâmico  característico  de 

determinada  área  de  produção,  no  entanto,  porque  produzidos  por  diferentes  oleiros,  de 

diferentes  oficinas  é  natural  a  ocorrência  de  pormenores  que  diferenciam  ligeiramente  os 

fabricos, sem os descaracterizar ou haver necessidade de os considerar originários de áreas de 

produção distintas.   

No  sítio  Mesas  do  Castelinho  é  notória  a  predominância  dos  produtos  de  origem 

calena.  Esta  produção  encontra‐se  diferenciada  do  segundo  maior  grupo  (Campaniense 

napolitana)  por  apenas  cerca  de  15  pontos  percentuais.  Esta  constatação  tem, 

necessariamente,  conotações  cronológicas  e  culturais  relacionadas  com  as  dinâmicas  de 

Page 50: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 48 

comércio  itálico  no Mediterrâneo  ocidental  e  com  a  evolução  interna  do  próprio  povoado. 

 

Gráfico  1.  Contabilização  do  número  de  fragmentos  classificáveis9  (barra  azul)  e  inclassificáveis10  (bojos  sem classificação tipológica) (barra vermelha) por área de proveniência  

Assim,  em  Mesas  do  Castelinho  verifica‐se  que  os  fabricos  F1  e  F2,  de  origem 

napolitana, estão representados por 38,92% do total do material classificável proveniente dos 

contextos romano republicanos.  

Por outro  lado, o  terceiro e quarto  fabricos correspondem a um conjunto de  formas 

que na periodização da  cerâmica  calena, da autoria de Pedroni  (Pedroni, 1986, 1990, 2000, 

2001), nos apontam para o séc. I a.C., das quais destacamos as espécies F2250/80 (Lamb. 5/7 e 

7), F2300 (Lamb. 1, 1/8, 8) e F1220. A representatividade da cerâmica calena classificável em 

contextos republicanos é de 55,38%. 

Tendo  em  conta  o  que  já  referimos  acerca  da  cerâmica  campaniense  aretina  é 

compreensível que esta esteja representada pelas formas que melhor a caracterizam. Ou seja, 

as grandes páteras,  com bordos muito altos e quase verticais das espécies F2250‐80  (Lamb. 

5/7),  com  especial  incidência  nas  2270  (Lamb.  7)  e  2280  (Lamb.  5/7),  sendo  que  nas  suas 

variantes  o  fabrico  que  mais  se  destaca  é  o  F6.  Pelas  razões  já  expostas,  associadas  às 

dificuldades da  sua  identificação e à  sua diminuta difusão marítima,  compreende‐se a  fraca 

representatividade  dos  exemplares  de  cerâmica  Campaniense  B  de  Arezzo  em  Mesas  do 

Castelinho (3,80% do total detectado em níveis republicanos). 

A produção de cerâmica Campaniense de pastas cinzentas (F7)  (1,58 % do conjunto), 

provavelmente originária de oficinas do Mediterrâneo ocidental, nomeadamente da Península                                                             9  Por  norma  quando  utilizamos  o  termo  classificável  referimo‐nos  a  todos  os  fragmentos  que  permitiram  uma  classificação 

tipológica,  excepção  feita  aos  dados  referentes  a  este  gráfico  que  contempla  todos  os  bordos,  fundos,  asas,  carenas  e  bojos decorados com ou sem definição tipológica. 10 Para consultar proveniências exactas v. tabela 1 do anexo II 

Page 51: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 49 

Ibérica  –  vale  do Guadalquivir,  faz‐se  representar  por  exemplares  de  três  das  formas mais 

comuns detectadas nos contextos romano republicanos da Península Ibérica. Referimo‐nos às 

espécies F2360  (Lamb. 1), sem caneluras sob o bordo e pé  ligeiramente diferente das típicas 

F2300; F2250  (Lamb. 5) e F1200  (Lamb. 2). No âmbito destas  cerâmicas de verniz negro de 

imitação  da  campaniense  as  de  pastas  laranjas  (F8)  encontram‐se  na  proporção  de  um 

exemplar  classificável  (v.  Est.  XXX,  nº  3229),  ainda  que  tenhamos  algumas  reservas  na  sua 

associação  tipológica  (F2784/87/88).  Assim,  as  produções  “locais/regionais”  de  cerâmica 

campaniense  totalizam 1,90% do material classificável detectado em contextos  republicanos 

em Mesas do Castelinho. 

Se  ao  analisarmos  os  dados  relativos  aos  contextos  republicanos  de  Mesas  do 

Castelinho  ficamos com a noção de que a cerâmica arenita possui um  índice de  importação 

maior  que  o  da  “local/regional”,  a  verdade  é  que  se  ignorarmos  a  sua  proveniência 

estratigráfica e contabilizarmos os restantes contextos cronológicos o cenário inverte‐se. 

 

 

 

 

  

 

 

 

Quadro 1. Distribuição dos fabricos da totalidade da cerâmica campaniense de Mesas do Castelinho 

Verificamos, então, que existe 4,19% de  fragmentos de cerâmica “local/regional” de 

imitação de campaniense, face a 0,83 pontos percentuais de Campaniense aretina. Assim fica, 

desde já, assumido que as produções em pastas “locais/regionais” de imitação das formas de 

verniz  negro  itálico  assumem  uma  maior  relevância  no  povoado  se  comparadas  com  as 

produções aretinas. Parece‐nos que este aspecto terá que ser analisado à  luz da  importância 

que  as  oficinas  peninsulares  obtiveram  no  decorrer  do  séc.  I  a.C.,  ainda  que  a  escassez 

verificada em Mesas do Castelinho, se comparada com outros sítios, não nos permita grandes 

considerações e caracterizações sobre estes conjuntos.  

                                                            11 As duas últimas referem‐se a produções “locais/regionais” 

  Nº fragm. 

%  NMI  % 

Campaniense A (F1+F2)  1014  40,05  218  33,80          Campaniens B de Cales (F3+F4)  1391  54,93  398  61,71          Campaniense B de Arezzo (F5+F6)  21  0,83  21  3,26          Campaniense pasta cinzenta (F7)  Campaniense pasta laranja (F8)11 

27  79 

1,07  3,12 

7  1 

1,08  0,15 

         TOTAIS  2532#  100%  645#  100% 

Page 52: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 50 

 

Gráfico 2. Distribuição do conjunto total de cerâmica campaniense de Mesas do Castelinho por grupos de fabricos  

No confronto entre os valores de cerâmica calena e napolitana dos níveis republicanos 

e nos restantes,  indiferenciadamente da sua cronologia, verificamos que a primeira continua 

presencialmente superior à segunda, aumentando um pouco a diferença que as separava. 

 

 

4.4 Categorias identificadas12 

4.4.1 categoria 1000 

4.4.1.1     espécie 1120 (Lamb.23) (v. Est. I)  

A espécie F1120 diferencia‐se dos restantes pratos/páteras do reportório de cerâmica 

campaniense  por  se  tratar  de  uma  forma  aberta  e  pouco  profunda,  com  perfil  rectilíneo  e 

bordo  exageradamente  pendente,  conjugado  com  um  fundo  com  pé  anular  que  apresenta 

uma espécie de reservatório côncavo localizado na sua base interna. 

Trata‐se de um dos mais antigos pratos de  cerâmica  campaniense  característicos da 

classe A, que surge durante o séc.  IV a.C. A sua exportação é mais  tardia e  terá cessado,  tal 

como a sua produção, na primeira metade do séc. II a.C. (Morel, 1981, p. 82‐83).  

Não sendo uma forma original recebe  influência da cerâmica helenística, se bem que 

alguns investigadores equacionam a hipótese da sua origem ter que ser articulada, igualmente, 

com  “…l’Orient  de  tradition  phénicienne…”  (Morel,  1981,  p.  83).  Portanto,  parece  que  a 

convergência  entre  os  “pratos  de  peixe”  de  engobe  vermelho  e  os  protótipos  formais  da 

cerâmica  ática  terão  influenciado  as  produções  de  “pratos  de  peixe”  da  cerâmica  romana 

republicana de verniz negro itálico. 

                                                            12 Dentro de cada categoria apresentaremos, exclusivamente, as espécies ou séries presentes no conjunto analisado e em anexo 

(Anexo II) poder‐se‐á consultar a tabela 2 com os respectivos paralelos no actual território português. 

Page 53: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 51 

A  longa  tradição  da  utilização  deste  tipo  de  recipientes  remonta  ao  séc.  V‐IV  a.C., 

altura  em  que  os  vasos  áticos  foram  um  produto  amplamente  exportado  no Mediterrâneo 

ocidental (Py et al., 1993, p. 103 e Arruda, 1997), tendo sido substituídos no séc.  III a.C. pelo 

êxito da cerâmica de “tipo Kouass” (Sousa, 2005, p. 85). 

Em  todos estes  tipos  cerâmicos o nome que  se  lhe atribuiu está  relacionado  com a 

representação de motivos piscícolas na cerâmica ática de  figuras vermelhas, nomeadamente 

peixes e cefalópodes. A aceitação desta funcionalidade relaciona‐se, na mesma medida, com 

alguns  casos onde  foram detectados  restos de  fauna  ictiológica  ainda no  interior do prato, 

como, por exemplo, na necrópole de Palermo (Morel, 1981, p. 82). 

A tradição gastronómica mediterrânica do consumo de preparados piscícolas reforça e 

propicia  a  conexão  destes  recipientes  com  o  consumo  daquele  produto,  onde  a  depressão 

central teria funcionado como reservatório para conter um qualquer molho ou condimento. 

Ao que tudo indica a evolução formal deste recipiente traduz‐se na obtenção de perfis 

mais curvos e depressões menos destacadas da parede, com tendência a tornarem‐se planas. 

Pese  embora  seja  esta  a  percepção  não  foi  possível,  até  ao  momento,  determinar 

cronologicamente esta divisão.  

Nas  intervenções  levadas a cabo em Mesas do Castelinho  foi possível  identificar dois 

exemplares (nº 3213 e 3214). Tratam‐se de bordos totalmente revestidos por um verniz negro 

brilhante,  aderente,  com  reflexos  metálicos  e  uma  pasta  característica  das  produções 

napolitanas.  Foram  ambos  exumados  do  aterro  [145],  no  sector  A3,  e  encontram‐se  em 

associação  com  fragmentos  de  paredes  finas,  produções  anfóricas  itálicas  no  tipo  Dr.1  e 

ânforas de tradição pré‐romana, na sua variante T‐9.1.1.1, cujo auge de exportação ocorre na 

segunda metade do séc. II a.C.  

Tendo em conta o horizonte do final da produção desta forma torna‐se inegável que a 

sua chegada ao povoado tenha ocorrido em meados do séc. II a.C., sem que o possamos fazer 

recuar muito mais. Não é plausível que a ocupação romana do povoado remonte à primeira 

metade  do  séc.  II  a.C.  e  parece  consensual  que  a  campaniense  não  é  importada  antes  da 

presença  militar  romana,  pelo  que  a  existência  destes  materiais  no  sítio  devem  ser 

enquadrados no âmbito das movimentações dos exércitos  romanos no  território peninsular, 

cujos ritmos de progressão não contrariam esta análise, sem que isso signifique uma efectiva e 

precoce  romanização  do  povoado.  Por  outro  lado,  coloca‐se  a  hipótese  de  após  o 

estabelecimento  do  pacto  de  submissão  entre  Roma  e  Cádiz,  em  finais  do  séc.  III  a.C.,  os 

produtos  itálicos  começarem  a  polvilhar  toda  a  faixa  costeira  daquele  porto  atlântico  que, 

rapidamente,  e  sem,  forçosamente,  ter  que  ver  com  os  avanços  militares  em  direcção  ao 

Norte, entram nos contextos mais interiores (v. cap. 6). 

Page 54: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 52 

Resulta estranho que aceite a hipótese de que os lugares que recebem cerâmica ática 

serão os que mais tarde  importam cerâmica campaniense13 (demonstrando a perenidade dos 

intercâmbios  comerciais)  e  que  existe  uma  contemporaneidade  na  chegada  dos  produtos 

itálicos  aos  povoados  de  litoral  e  interior,  como  reflexo  das  rápidas  movimentações  dos 

exércitos de Sul para Norte (Fabião, 1998, p. 311), que sítios como Monte Molião14 e Mesas do 

Castelinho  sejam os únicos que apresentem evidências deste  tipo  formal. A escassez destes 

pratos nos centros  litorais do Sul deverá estar relacionada com uma de duas situações: ou os 

contextos mais antigos ainda não foram intervencionados ou o uso a que se destinariam era já 

desempenhado, por tradição, por outro tipo cerâmico. Nos sítios do litoral algarvio a cerâmica 

de  “tipo  Kouass”  surge  em  quantidade  em  contextos  de  finais  do  séc.  II  inícios  do  I  a.C., 

bastante  influenciada pelos protótipos de cerâmica campaniense portanto, em pleno período 

romano republicano, tal como se constata em Faro e nas zonas envolventes ao Monte Molião 

(Sousa, 2008, p. 110). A localização geográfica destes sítios, os conjuntos cerâmicos (“pratos de 

peixe” em cerâmica comum e em cerâmica “tipo Kouass”, contentores anfóricos) e a tradição 

alimentar  mediterrânica  comprovam  a  preferência  no  consumo  de  preparados  piscícolas 

utilizando  recipientes  de  características mediterrânicas.  Privilegiados  pelos  contactos  com  a 

faixa  andaluza  e  Norte  de  África  inserem‐se  desde  cedo  num  intercâmbio  comercial  de 

tradição  indígena. A  cerâmica de  “tipo Kouass” estava  fortemente enraizada nos hábitos de 

consumo  daquelas  populações  e  a  proximidade  aos  seus  centros  de  produção  dificultava  a 

distribuição e o sucesso daquele produto itálico. Cádiz desempenhou papel relevante, ainda na 

Idade do Ferro, por  se  ter  transformado num centro polarizador e  reestruturante de  toda a 

economia do  chamado  “círculo do  Estreito”, que  terá  influenciado os modelos de  gestão  e 

organização do  território em  fases  cronologicamente posteriores,  já  sob o domínio  romano. 

Relativamente  aos  contextos  interiores,  e  ainda  que  os  avanços  militares  propiciem  uma 

rápida  difusão  dos  produtos  itálicos,  por  não  terem  uma  dieta  alimentar  tão  fortemente 

enraizada no que respeita ao consumo de produtos piscícolas é natural que as percentagens 

de recipientes (campaniense ou “tipo Kouass”) associados àquele uso sejam minoritárias.  

Ao  contrário  do  que  sucede  no  actual  território  português  a  F1120  é  comum  nos 

contextos  do  séc.  II  a.C.  da  Andaluzia  ocidental  e  segundo  Ventura  Martínez  faz  parte  do 

reportório característico da Campaniense A clássica daqueles sítios (Ventura Martínez, 2000, p. 

186). O mesmo se passa nos povoados costeiros da Alta Andaluzia, onde o sítio de Almuñecar 

se destaca pela  superioridade de  “pratos de peixe”  face  a uma  ausência de páteras  F2230‐

2280  (Lamb. 5, 7 ou 5/7),  frequentes nos restantes sítios  (Adrouher Auroux e López Marcos, 

                                                            13 Ainda que sujeitos a dinâmicas e ritmos diversos refira‐se, a título de exemplo, Castro Marim, Cerro da Rocha Branca, Mértola, … 

14 Informação gentilmente cedida pela Prof. Doutora Ana Margarida Arruda 

Page 55: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 53 

2000, p. 151). Estes dados, díspares em  relação ao  restante mundo ocidental mediterrânico 

podem dever‐se a um qualquer fenómeno comercial ou de consumo, ou ainda terem que ver 

com as amostras analisadas e os sítios conhecidos, pelo que até ao momento é difícil optar por 

uma resposta. 

Ainda  que  proveniente  das  terras  superficiais  importa  referir  a  identificação  de  um 

terceiro exemplar que corresponde a um  fundo de “prato de peixe” de produção calena  (nº 

3007).  Este  fragmento  não  suscita  qualquer  dúvida  quanto  à  sua  atribuição  formal  pela 

presença  de  uma  depressão  central  profunda,  possui  pasta  calcária,  bege  alaranjada  e 

conservou  apenas  resquícios  de  um  verniz  castanho  mate.  Na  bibliografia  referente  ao 

conjunto de cerâmica Campaniense calena é possível verificar uma produção única da F1121. 

Esta é tida como tal com base na sua “…dimensione miniaturistica…” (Pedroni, 1990, p. 141) e 

por não ser caso único nos contextos calenos. O exemplar de Mesas do Castelinho carece, mais 

uma vez, de confirmação arqueométrica. 

 

 

 4.4.1.2     espécie 1220 (Lamb. 2) (v. Est. I)  

Trata‐se  de  uma  forma  típica  da  cerâmica  Campaniense  B  e  ausente  no  reportório 

formal das produções napolitanas, que terá derivado dos perfis côncavos e passagens bruscas 

da parede para o fundo das Lamb. 28 (F2600). São vasos sem asas, profundos, com pé largo e 

oblíquo,  tal  como as  Lamb. 1  (F2300), possuem uma  inflexão  carenada  (muito angulosa) na 

base da parede que, por sua vez, se desenvolve de forma mais ou menos côncava, consoante 

as séries, e possuem um bordo exvertido e arredondado. 

Cronologicamente  ocorre  entre  o  último  terço  do  séc.  II  a.C.  e  o  principado  de 

Augusto. Surge em Cosa, em  finais do séc.  II a.C., e em Ampúrias, em estratos do séc.  I a.C. 

(Sanmartí Greco, 1978). 

Por norma encontram‐se em associação com as F2300 (Lamb. 1) (Lamboglia, 1952, p. 

144), tal como sucede nos povoados republicanos do ocidente peninsular.  

Esta  forma  terá  sido  desde  cedo  alvo  de  imitações  “locais/regionais”  pelo  que  nos 

sítios arqueológicos portugueses onde  se  identificou encontramos ambas as produções. Nas 

campanienses  produzidas  na  Península  Ibérica,  Norte  de  África  e  Gália  estes  recipientes 

tornam‐se menos profundos e assiste‐se a um engrossamento das paredes. 

O panorama da representatividade desta  forma em  território actualmente português 

deve,  certamente,  ser  mais  expressivo  e  a  nosso  ver  apenas  reflecte  não  só  a  insuficiente 

publicação  de  dados  das  diferentes  intervenções  efectuadas  até  ao  momento,  como  a 

Page 56: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 54 

dificuldade em  identificar a  forma pela parte  superior do  corpo,  já que o que  claramente a 

individualiza  das  demais  é  a  parte  inferior.  Tal  como  fica  explícito  pela  exposição  feita  em 

anexo (II) na maioria dos casos a forma 2 de Lamboglia ocorre em produções “locais/regionais” 

de  cerâmica  campaniense  (em  pasta  cinzenta,  com  verniz  negro).  Terá,  igualmente,  sido 

bastante  imitada  na  cerâmica  comum  (com  polimento),  pelo  que  uma  análise  cuidada  aos 

conjuntos  cerâmicos detectaria,  com  toda a  certeza, mais exemplares destas  variantes, que 

tecnologicamente  não  são  tão  apelativas  e  por  isso  desprezadas  nos  raros  momentos  de 

publicação. Trata‐se de uma forma típica de contextos do séc. I a.C., pelo que é espectável que 

o  índice da  sua presença  seja  substancialmente maior e,  se não  como produto  itálico, pelo 

menos como produção de oficinas, ainda por determinar, talvez no seio da Península Ibérica. A 

propósito  das  imitações  de  campaniense  em  cerâmica  comum  importa  realçar  o  amplo 

levantamento  da  sua  distribuição,  com  especial  predilicção  pela  forma  Lamb.  2  (F1220), 

efectuado, em 1998, por Carlos Fabião (Fabião, 1998). 

Tal  como em Castro Marim,  também em Mesas do Castelinho  foram detectados 12 

fragmentos da espécie F1220. Destes, seis encontravam‐se em contexto romano republicano, 

quatro bordos e dois  fundos, num  total de 5NMI  (v. Anexo  II,  tabela 3). Dos contextos onde 

esta forma foi recolhida parece‐nos relevante salientar a [668], no 3º quarteirão do sector B3. 

Trata‐se de um piso de ocupação, no  interior do Amb. XIV, onde  foi recolhido um bordo  (nº 

3874) e um fundo (nº 3872) da espécie F1222, que consideramos importados da área de Cales, 

a par de um fragmento que talvez possa ser enquadrado na espécie F1230, de pasta cinzenta 

fina, polida, porosa,  compacta  e depurada  (nº 3876).  Este  apresenta um bordo  exvertido  e 

ligeiramente pendente, possui paredes finas e está revestido por um verniz negro mate, muito 

mal conservado. Numa analogia directa com os tipos definidos por M. Delgado este exemplar 

parece fazer parte do que autora chama de “outras  imitações de campaniense”, sendo que a 

peça 34 da Est. II, não pela forma mas pelas características da pasta e do verniz, será o paralelo 

mais  próximo  (Delgado,  1971,  p.  418). Ou  seja,  trata‐se  de  uma  campaniense  de  produção 

“local/regional”  com  verniz  negro  que  imita  o  reportório  formal  da  Campaniense  B.  As 

características  da  pasta  (textura  e  tonalidade)  sugerem  uma  proximidade  tecnológica  às 

cerâmicas  “cinzentas  finas  polidas”  de  tradição  antiga,  tendo  resultado  de  um  fenómeno 

idêntico  ao  verificável  na  zona  turdetana,  onde  as  imitações  de  campaniense  utilizam  um 

verniz vermelho numa manutenção das tradições locais fenício‐púnicas (Fabião, 1998, p. 464).  

 

4.4.1.3     género 1300 ‐ 1500 (Lamb. 36) (v. Est. II) 

Esta  pátera  possui  uma  variedade  imensa  de  perfis  o  que,  quando  na  presença  de 

fragmentos  mais  pequenos,  dificulta  uma  identificação  mais  fina  na  tipologia  existente. 

Page 57: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 55 

Genericamente trata‐se de recipientes com diâmetros muito grandes, bordos em aba de faces 

paralelas,  ligeiramente curvos e pendentes, com  lábios arredondados. Apresentam ainda um 

ressalto  anguloso na parte  superior da parede, mais ou menos marcado  consoante  a  série, 

pelo que o bordo não prolonga linearmente a parede da pátera.  

São  uma  produção  quase  exclusiva  da  Campaniense  A  e  detêm  o  seu  intervalo  de 

fabrico  entre  o  último  quartel  do  séc.  III  e  o  3º  do  séc.  I  a.C.  (Py,  1993b,  p.  148),  sendo 

produtos  importados desde o séc.  II a.C. Funcionalmente faria parte do serviço de  loiça para 

levar à mesa. 

Trata‐se de mais um caso cujo perfil  se  inspira nos protótipos gregos do  séc.  IV a.C. 

parecendo notar‐se, no processo evolutivo dos exemplares mais  antigos, uma  tendência  ao 

espessamento dos bordos (Lamboglia, 1952, p. 183). 

 Nos sítios da Provença ocidental  foi possível constatar que os bordos destas páteras 

tendem à horizontalidade, tornando‐se menos pendentes e menos largos durante o séc. I a.C. 

(Arcelin, 1978, p. 108)15 a que acrescentamos, com base nos dados de Mesas do Castelinho, 

paredes mais espessas e diâmetros mais pequenos. 

Este material cerâmico surge em associação a, por exemplo, taças F2970 (Lamb. 31) e 

são espectáveis, essencialmente, em contextos do séc.  II a.C., pelo que quando  identificados 

em contextos posteriores  são normalmente associados a estes horizontes mais antigos e de 

feição arcaizante, sem que, como já se viu, tenham taxativamente de o ser. 

Desde  já,  importa  referir  que  os  exemplares  de Mesas  do  Castelinho  determinados 

dentro do intervalo dos géneros F1300‐1400 ou num caso F1300‐1600 representam carenas ou 

bordos  que,  por  se  encontrarem  muito  fragmentados  e  possuírem  lábios  totalmente 

destruídos,  foi  impossível  associá‐los  a  tipologias  mais  finas.  Como  tal,  possuem  intervalos 

cronológicos  muito  latos,  sem  que  possamos  tecer  mais  comentários  a  não  ser  o  da  sua 

presença  e  integração  num  grupo  de  formas  de  Campaniense  A  de  feição  arcaica.  Assim, 

registámos  4NMI  em  contextos  romano  republicanos  enquadrados  no  intervalo  de  géneros 

F1300‐1400  (ao  que  se  soma  mais  quatro  remobilizados  noutros  contextos);  um  de 

classificação ainda mais genérica F1300‐1600 e 5NMI que se incluem no género F1300 (ao que 

se soma três remobilizados noutros contextos). Dentro deste género pudemos afinar o tipo de 

2NMI, F1312g e 1312g 1, datados de finais do séc. II a.C.  

A  presença  de  uma  destas  peças  (nº  3129)  (com  lábio  deteriorado,  o  que  nos 

impossibilita uma correcta orientação do fragmento) na [39], datada de fins do 3º quartel do 

                                                            15 Pensamos que o autor se  refira ao género F1500 da  tipologia de Morel. O seu artigo  remonta ao ano 1978 e a  tipologia Les 

Formes surge três anos depois, daí que P. Arcelin utilize a referência Lamb. 36 de forma muito genérica. Por outro lado na fig. 3 (nº 3  e 4) onde  são  apresentados os desenhos de  cerâmica Campaniense A  tardia  remete‐nos para  formas mais  aproximadas do género F1300. Não é muito claro mas teremos esta informação em consideração na análise do espólio de Mesas do Castelinho.  

Page 58: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 56 

séc. I a.C. (sector A1), tem de ser entendida do ponto de vista da possibilidade de migração de 

fragmentos, tanto mais que estamos a falar de uma área sem construções associadas, onde os 

depósitos se acumulam progressivamente e por isso de difícil individualização. No sector B3 os 

contextos  onde  a  maioria  destes  exemplares  foram  recolhidos  podem  ser  datados,  pelos 

materiais associados, à segunda metade do séc. II a.C. ou transição entre séculos. Regra geral, 

estes  fragmentos  associam‐se  às  primeiras  fases  de  reorganização  dos  espaços,  após  a 

edificação  dos  muros  fundacionais  do  urbanismo  republicano,  de  cujos  primeiros  níveis 

associados não se recolheram materiais de  importação  itálica (como está bem patente no 1º 

quarteirão). Excepção  feita a um dos Ambientes  fundacionais que caracteriza as construções 

republicanas no 2º quarteirão, onde  foi possível  identificar um depósito  fundacional,  [855], 

associado ao primeiro piso de ocupação do espaço, datado da segunda metade do séc. II a.C. 

Em  estratos  posteriores,  já  pertencentes  ao  Amb.  XV,  que  anula  o  anterior,  o  conjunto 

cerâmico de campanienses continua muito homogéneo e concorda com estas cronologias de 

finais  do  séc.  II  a.C.  Estes  dados  terão  de  ser  suportados  pelo  estudo  do  restante  espólio 

recolhido para uma melhor avaliação das indicações cronológicas que a cerâmica campaniense 

sugere.  

Em Mesas do Castelinho são muito raras, como era de supor, em níveis do séc.  I a.C. 

Pensamos que possam ter que ver não só com factores de ordem cronológica como também 

com o sucesso da F2230‐80 (Lamb. 5/7) que surge em força nos contextos do séc. I a.C. 

Esta forma coloca inúmeros problemas, nomeadamente, como já referimos, a reduzida 

dimensão  dos  fragmentos  e  a  ausência  do  lábio  na  maioria.  Contudo,  a  análise  que 

efectuámos,  àqueles  onde  isso  foi  possível  aferir,  indica‐nos  que  quando  presentes  em 

contextos claramente do último século da nossa Era, fazem‐se representar, maioritariamente, 

pelas  variantes  com  bordo  a  tender  para  a  horizontalidade.  Se  a  percepção  que  P. Arcelin 

retirou da análise dos contextos da Provença ocidental estiver correcta e incluir o género 1300, 

então os dados do sítio alentejano concordam com aquele. 

O  caso de Almuñecar  é  exemplificativo da natural  coexistência desta  forma  com os 

“pratos  de  peixe”  e  sem  registo  de  páteras  Lamb.  5/7,  pelo  contrário,  em  Villaricos,  onde 

dominam as Lamb. 5 e 5/7 não há  registo de Lamb. 36  (Adroher Auroux, 2000, p. 150‐151). 

Esta  diversidade  de  contextos  na  costa  oriental  andaluza  ocorre,  segundo  o  autor,  por 

questões cronológicas, dada a escassez da amostra ou relaciona‐se com critérios de consumo e 

acesso aos produtos, ainda por explicar (Ventura Martínez, 2001, p. 151). No caso de Mesas do 

Castelinho apenas podemos constatar que nas fases que consideramos de pleno século I a.C., e 

onde é possível assistir a uma inversão de presenças entre produções de campaninese A e de B 

calena, sem que as primeiras desapareçam, existem raros exemplares da forma 36 face a um 

Page 59: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 57 

predomínio  avassalador  da  F2230‐80.  Posto  isto,  os  contextos  de  Mesas  do  Castelinho 

parecem concordar com as cronologias e tendências mais tardias da vertente clássica da forma 

F1300,  sendo que, quando presentes em  contextos do  séc.  II a.C., a  reduzida dimensão dos 

fragmentos e sua deterioração impede grandes considerações.   

Ainda  com  relação  à  forma 36 de  Lamboglia  resta‐nos  referir  a presença de quatro 

fragmentos do género F1500. Tratam‐se de formas com bordos espessados ainda mais curtos 

que os anteriores, tendo‐se identificado apenas um em Faro (Viegas, 2009, p. 137). Dos 4 NMI 

que  identificámos no sítio Mesas do Castelinho apenas dois foram  identificados em contexto 

tardo republicanos. Um corresponde à última  fase de construção/ocupação do sector B2 e o 

outro, detectado no enchimento da vala de roubo [110] do muro [43], do Amb. II (sector B3), 

corresponde, provavelmente, a uma ocupação centrada nos finais do séc. II, inícios do I a.C. 

 

 

 4.4.1.4     espécie 1410 (Lamb. 4) (v. Est. III)  

A presente  forma  identifica‐se pelo seu pé muito alto, plano ou oblíquo, de paredes 

grosseiras, pelo bordo  com  aba  larga que pode  ser descendente ou horizontal  e ondulado. 

Possui  um  ângulo  muito  marcado  entre  o  bordo  e  a  parede  interior,  sendo  um  recipiente 

muito  pouco  profundo. As  variações  ao  nível  da  ondulação  e  inclinação  do  bordo,  altura  e 

inclinação do fundo são diversas e podem ter conotações cronológicas.  

Trata‐se de uma produção típica da Campaniense B e suas imitações, produzida desde 

o início do séc. II a.C. e que se prolonga até ao 3º quartel do século seguinte. Parecem existir 

variantes na produção napolitana, mas  já sob perfis simplificados  (Lamboglia, 1952, p. 145 e 

167) e em percentagem minoritária, como em Valência (Marín Jordá et al., 2000, p. 92). 

Até  ao  momento  ainda  não  foi  possível  definir  a  forma  Lamb.  4  quanto  à  sua 

funcionalidade. Alguns  autores  defendem  poder  tratar‐se  de  um  recipiente  preparado  para 

receber outro vaso, tendo em conta a possibilidade de encaixe que o perfil do bordo descreve 

(reentrância circular). Como tal entraria na categoria de suporte.  

Dos três exemplares recolhidos em Mesas do Castelinho, todos produções da B calena, 

apenas um pertencia a um contexto republicano. Trata‐se de um piso do Amb. XII (sector B3), 

[397], em que estão em associação fragmentos de paredes finas, contentores ânforicos do tipo 

Dressel 1 de produção itálica, cerâmica comum cinzenta e outras produções de campaniense, 

neste  caso,  napolitanas  com  cronologias  de  séc.  I  a.C.,  à  sua  semelhança.  Este  contexto 

reveste‐se de especial importância por caracterizar o primeiro momento de utilização romana 

republicana de pleno séc. I a.C., no seio de uma sequência estratigráfica (do 2º quarteirão do 

Page 60: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 58 

B3)  que  até  então  se  enquadrava  na  segunda metade  do  século  anterior  e  transição  entre 

ambos. 

A escassez da representatividade desta forma no actual território português poderá ter 

que ver, em nosso entender, com a dificuldade de associação de pequenos fragmentos àquela 

forma específica ou com o seu aparecimento em cerâmica campaniense de imitação, dado que 

nada  faz  supor  uma  ausência  tão  marcada  nos  contextos  do  séc.  I  a.C.,  dominantes  no 

território.  No  Colloque  à  propos  des  Cèramiques  de  Conimbriga,  de  1976,  fica  evidente  a 

confusão gerada em  torno desta  forma.  Joaquina Soares apresenta um  fragmento orientado 

com  se  fosse  o  pé  de  um  fundo,  duvidando,  no  entanto,  se  a  interpretação  formal  estaria 

correcta  (Delgado, 1976a). Na  realidade  trata‐se, sem grandes margens para dúvidas, de um 

bordo de uma Lamb. 4. Assim, a escassez aliada à fragmentação destes registos pode dificultar 

a identificação e a percepção da sua distribuição geográfica e quantificação. Por outro lado, e 

na  incerteza  a  que  uso  se  destinariam,  também  colocamos  a  hipótese  de  não  terem  tido 

grande  sucesso  nos  serviços  peninsulares  por  serem,  eventualmente,  desadequados  aos 

gostos ou necessidades das populações. 

 

 

4.4.1.5     série 1443 (Lamb. 6) (v. Est. III)  

Morfologicamente, e em  termos genéricos, a  série F1443 distingue‐se pelo perfil do 

seu  bordo  horizontal  e  ondulado,  com  lábio  arredondado  e  caracteriza‐se  por  paredes 

exteriores  convexas  com  ressalto  na  passagem  para  o  bordo,  a  par  de  um  fundo  plano  ou 

oblíquo. 

Trata‐se de uma forma cuja produção se inicia em meados do séc. II a.C. e se prolonga 

pelo  século  seguinte  (Py,  1993b,  p.  147).  É muito  frequente  em  Campaniense  A,  surgindo, 

igualmente, nas produções de B e suas imitações, tendo origem na cerâmica não decorada do 

séc. V e IV a.C. (Lamboglia, 1952, p. 168).  

Funcionalmente faria parte do serviço de loiça para servir à mesa. 

Devido à  reduzida expressividade desta  forma e ao  facto de apenas um exemplar se 

enquadrar nos níveis do período romano republicano do povoado (já na sua vertente tardia), 

apenas podemos assinalar a sua presença enquanto forma e referir que todos se enquadram 

nas  produções  napolitanas.  Em  questão  de  presenças  temos  6NMI  no  total  do  espólio 

recolhido no sítio. Das poucas peças que possuem perfuração  importa referir que o nº 3578 

que cola com 3645 (F1443j 1, da segunda metade do séc.  II a.C.) possui dois orifícios sobre a 

Page 61: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 59 

aba do bordo mesmo ao centro, sugerindo tratar‐se de vestígios de elemento de suspensão, 

mais do que reparação.       

 

 

4.4.2 categoria 2000  

4.4.2.1     série 2154 (Lamb. 33a) (v. Est. IV)  

Trata‐se  de  uma  taça  muito  profunda,  dotada  de  perfil  com  ligeira  convexidade, 

assumindo uma  forma  cónica. O  fundo desta  taça  surge  completamente plano ou  com pé 

tenuemente saliente, de tal forma que, quando na presença de fragmentos muito rolados, é, 

extraordinariamente, difícil detectá‐lo. 

Com origem na cerâmica ática, o  início da  sua produção deve  localizar‐se dentro do 

séc. III a.C., sendo particularmente frequente na Sicília, Etrúria e Lácio (Morel, 1981, p. 469, 

Py, 1993b, p. 148 e Lamboglia, 1952, p. 180) e na Catalunha por volta do ano 200 a.C. (Morel, 

1981, p. 469). 

Este  é  um  caso  de  uma  forma  que  pela  tradição  da  história  da  investigação  estava 

relacionada com os finais do séc.  III e primeira metade pouco avançada do séc.  II a.C., mas 

que está documentada nos contextos de Valentia, datados da segunda metade deste século 

(Marín Jordá et al., 2000, p. 92). 

Esta  variante  formal  típica do  reportório da Campaniense A  foi muito  imitada pelas 

produções provinciais e seria utilizada para beber. 

Em  Mesas  do  Castelinho  foram  recolhidos  7NMI  em  cerâmica  Campaniense  A,  dos 

quais  cinco  em  níveis  republicanos.  Reflectindo  a  mais  fácil  identificação  desta  forma,  a 

maioria, em número de quatro, são fundos. Dos contextos em que foram detectados importa 

destacar no sector A1 a [72]. Esta unidade estratigráfica reveste‐se de especial  importância 

por preencher na base o espaço delimitado pelos muros [74] e [78], que marcam o início da 

edificação do “complexo de construções do séc. I a.C.”. Um dos fragmentos identificados no 

povoado provém desta u.e. que, a par das restantes  importações  itálicas ali detectadas e  já 

publicadas noutro lugar (Fabião, 1998, p. 292) se data de finais do séc. II. 

 

 

4.4.2.2     espécies 2230‐2280 (Lamb. 5/7) (v. Est. IV a XXI)  

Quando  lidamos com fragmentos de reduzida dimensão e com uma tipologia em que 

algumas  das  formas  só  se  podem  aferir  na  presença  da  totalidade  do  perfil  torna‐se 

Page 62: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 60 

complicado optar por uma espécie ou série. Deste modo, a utilização do intervalo das espécies 

F2230‐2280  refere‐se àquele conjunto de páteras, usadas para servir à mesa,  impossíveis de 

precisar quanto à espécie, mas que se inserem neste tipo de recipientes. 

Trata‐se de uma  forma  cujo auge de produção  se atinge  com o desenrolar do  séc.  I 

a.C.,  especialmente  quando  integrou  o  reportório  da  cerâmica  Campaniense  calena  que 

dominou os mercados do Mediterrâneo ocidental e que  justifica a  sua presença abundante 

nestas paragens. 

Esta pátera  é  considerada  a base do  serviço de mesa  tardo  republicano,  sendo nos 

contextos de Mesas do Castelinho a forma mais representada. Dos 322 registos 87 (77NMI), a 

que  foi  atribuída  a designação  genérica de  F2230‐80  (v.  Est.  IV  a VI),  foram detectados  em 

níveis  republicanos.  Destes,  17NMI  correspondem  a  produções  napolitanas,  65NMI  a 

importações do Norte da Campânia e 4NMI de Arezzo. Importa salientar o nº 3134 (v. Est. XIII), 

por  ser  classificado  como  imitação ática da  segunda metade do  séc.  IV a.C., muito  raro em 

contextos do séc. I a.C. (Morel, 1981, p. 447). 

Apesar do panorama monótono da morfologia dos pés, verifica‐se que os pertencentes 

à  forma 55 de  Lamboglia  (F2230)  se diferenciam dos  restantes por  se  tratarem de pés  com 

feições mais rectilíneas, bastante oblíquos e trapezoidais e no caso do tipo F2234f 1 possuírem 

um  ressalto  muito  característico,  acentuadamente  côncavo,  que  liga  a  sua  face  externa  à 

parede, pelo que foi possível precisar no sítio de Mesas do Castelinho 6NMI deste tipo, todos 

referentes  a  produções  napolitanas,  como  é  típico  (v.  Est.  VII  e  VIII).  Dentro  do  que 

considerámos F2230‐80 existem duas variantes, os pés com perfil em S (P152) mais ou menos 

suave, datados da primeira metade do séc. I a.C. e exclusivos das produções da Campaniense B 

(Morel,  1981,  p.  453)  e,  mais  raros,  os  exageradamente  exvertidos,  quase  que  arrebitados 

(P140‐141), datados dos  finais do séc.  II a.C.  (Morel, 1981, p. 456). Resta referir, a propósito 

dos  fundos,  que  a  facies  tardia  da  Campaniense A  caracteriza‐se  pelo  umbigo  destacado  e 

pelos  fundos  mais  escavados,  numa  clara  premonição  do  que  será  a  produção  de  terra 

sigillata.  

Relativamente  aos  bordos  existem  diferentes  graus  que  precisão  passíveis  de  se 

alcançar. É relativamente fácil distinguir os bordos das F2230 (Lamb. 55) (v. Est. VII) das F2250 

(Lamb. 5) e das F2270 (Lamb.7) pela altura e orientação da  inflexão do bordo. Nos primeiros 

casos trata‐se de páteras pouco profundas, com paredes oblíquas, ligeiramente côncavas que 

terminam num bordo reentrante e espessado para o interior, podendo mesmo o lábio assumir 

uma forma arredondada. Nos terceiros a  inflexão é muito alta e tendencialmente são bordos 

direitos  com  carenas  mais  acentuadas,  diferenciáveis  das  curvaturas  mais  suaves  e  bordos 

menos  altos  das  espécies  F2250  e  F2260.  Assim,  as  opções  que  tomámos  baseiam‐se  no 

Page 63: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 61 

diâmetro,  inclinação ou altura do bordo e  tipo de  inflexão. Por  tudo  isto é  fácil assumir que 

nestes  conjuntos  a  parte  superior  da  peça  fornece‐nos  melhores  pistas  tipológicas  se 

comparada com a base, excepção feita àquelas em que algum pormenor formal se destaque e 

permita melhor precisão.  

No que concerne à espécie F2230 apenas conseguimos  identificar a série F2234 pelo 

que lhe faremos especial menção. Trata‐se de uma produção original do Golfo de Nápoles com 

produção  que  remonta  aos  finais  do  séc.  III  a.C.  e  terá  terminado  no  fim  do  seguinte  (Py, 

1993b, p. 150).  

Num universo de 22NMI  registámos 10NMI  em níveis  republicanos, dos quais  cinco 

pertencem ao  tipo F2234f 1, datado do 3º quartel do  séc.  II a.C., ou  seja, perfeitamente de 

acordo  com o momento mais antigo de  contacto  com os  romanos  registado no povoado. A 

razão  pela  qual  esta  série  não  está  bem  representada  nos  contextos  do  actual  território 

português terá, em nosso entender, que ver com aspectos cronológicos. Isto porque, explicar o 

facto com a dificuldade de associação do fragmento ao tipo não nos parece verosímil, pois o 

ressalto  na  ligação  da  face  externa  do  pé  à  parede  é  um  detalhe  formal  característico  da 

Campaniense A média da segunda metade do séc. II a.C.  

A forma 5 de Lamboglia (F2250‐2260) foi  inicialmente produzida depois do 2º quartel 

do  séc.  II  a.C. no Golfo de Nápoles, para um quarto de  século mais  tarde  se produzir uma 

forma  idêntica nas produções da Campaniense B. O términos da sua produção  localiza‐se em 

meados do séc. I a.C. para as produções de A e 3º quartel do mesmo para as de B (Py, 1993b,c, 

p. 147 e 152), acompanhando o final da produção e exportação de cerâmica campaniense. As 

diferenças  entre  ambas  as  produções  não  são  exclusivamente  técnicas,  pois  existem 

determinados detalhes  formais que as distinguem,  como a base plana e  fundo  interno mais 

inclinado  das  produções  com  pastas  calcárias  e  os  fundos  simples,  trapezoidais  e  oblíquos 

típicos das produções tardias da Campaniense A. 

Trata‐se  de  uma  forma  com muito  sucesso,  sendo muito  frequente  encontrá‐la  nas 

produções  calenas  e  foi  imensamente  reproduzida  pelas  campanienses  de  imitação,  por 

exemplo, nas oficinas de Lyon (Morel, 1981, p. 496) e pelos produtos “contrafeitos” em pastas 

cinzentas em todo o ocidente mediterrânico. 

O tipo F2255 em Campaniense B, já em uso no 3º quartel do séc. II a.C. em Cartagena 

(Sanmartí  e  Principal,  1997,  p.  41),  encontra‐se  representado  em Mesas  do  Castelinho  por 

apenas 1NMI, em nível republicano. A sua raridade terá que ver não com factores de ordem 

cronológica,  porque  também  ocorre  em  contextos  mais  tardios  já  de  séc.  I  a.C.,  mas  com 

respeito ao incremento das F2230‐80 (Lamb. 5/7), ou seja de modelos de páteras mais tardios 

que vingaram no ocidente. 

Page 64: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 62 

A forma 7 de Lamboglia (F2270‐80) (v. Est. XVIII a XX) é originária da Etrúria de meados 

do  séc.  II  a.C.,  ainda  que  tenha  sido  produzida  em  Campaniense  C,  tal  como  a  Lamb.  5,  e 

termina em 25 a.C. (Py, 1993c, p. 152). Em Cartagena esta forma é exclusiva das produções de 

verniz  negro  aretino,  em  Campaniense  C  e  noutras  de  pasta  cinzenta  de  produção 

”local/regional” (Pérez Ballester, 2000, p. 131).    

Neste povoado alentejano dos 15NMI detectados em níveis republicanos cerca de 33% 

são  produções  aretinas,  à  semelhança  do  que  sucede  em  Cartagena,  e  correspondem  na 

íntegra a fragmentos de bordos. De todos, o tipo F2272a (v. Est. XVIII), datado de 75/65 a.C., 

poderá,  eventualmente,  afinar  algumas  cronologias.  Refira‐se,  a  título  de  exemplo,  os  três 

exemplares  recolhidos no Amb. XVI  (sector B3) que, cruzados com os  restantes materiais de 

tipo  campaniense,  permitem  colocar  a  construção  e  ocupação  daquele  espaço  na  primeira 

metade do séc. I a.C., talvez em meados. Trata‐se de bordos altos com uma suave depressão 

longitudinal entre o lábio e a carena na superfície externa, pouco frequentes nos contextos do 

ocidente  peninsular  e  que  neste  sítio  surgem  em  considerável  número.  Conhecem‐se 

exemplares  na  Lomba  do  Canho  e  Cabeça  de  Vaiamonte  (Fabião  e  Guerra,  1996b). 

Genericamente estas  formas  relacionam‐se com o  tipo F2272a 1, com paralelos no  segundo 

naufrágio de Grand Conglué e numa peça da “villa” de Settefinestre  (apud Fabião e Guerra, 

1996b, p. 113), de peças etruscas datadas da primeira metade do séc. I a.C. Apesar de Morel 

não  considerar  relevante  os  acidentes  no  bordo  (Morel,  1981,  p.  157)  parece‐nos  plausível 

tratar‐se de uma produção específica caracterizada por este detalhe formal.  

Numa análise global verifica‐se que cerca de 90% do conjunto de páteras de Mesas do 

Castelinho não ultrapassa os 25 centímetros de diâmetro máximo e que dominam as páteras 

pouco profundas.  

Num  total  de  2532  fragmentos  de  cerâmica  campaniense  recolhida  no  povoado 

apenas  se  registaram 13  casos de  recipientes  com vestígios de  “furos de  reparação”,  sendo 

que oito deles foram aplicados às páteras. Este fenómeno de reparação de algo para continuar 

a utilizar é  tradicionalmente  conectável  com o  carácter  luxuoso ou exótico de determinado 

produto de difícil aquisição. No caso de Mesas do Castelinho a maioria encontra‐se associada 

ao  tipo  de  recipiente  em  cerâmica  campaniense  que  existe  em  maior  quantidade,  se 

comparado com os restantes exemplares das diferentes classes, ou seja, o produto com maior 

índice de  importação. Desta  forma, esta prática não estará relacionada com a dificuldade de 

aquisição dos habitantes ou da disponibilidade do produto. Por outro  lado, por  ser a  forma 

com maior representatividade no conjunto será a que com maior probabilidade terá associada 

a identificação de mais vestígios de reparações, e uma daquelas que pelo seu contexto de uso 

se quebrará com maior facilidade. Ao contrário dos recipientes para consumo de líquidos, que 

Page 65: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 63 

uma vez quebrados dificilmente se conseguirá recuperar a sua função original, a reparação das 

páteras  é  um  processo  simples  e  na  maior  das  vezes  seria  possível  recuperar  a  peça  e 

continuá‐la a utilizar com o mesmo objectivo.   

 

 

4.4.2.3     género 2300 (Lamb. 1) (v. Est. XXII a XXVIII)  

Com origem na Kylix ática o género F2300 consiste numa taça com pé acentuadamente 

oblíquo,  baixo  e  curto,  parede  curva  e  caneluras  abaixo  do  bordo,  em  número  variado 

consoante a  série,  simples ou aplanado. Existe uma grande percentagem destas  taças com 

presença  de  caneluras  concêntricas  na  superfície  interna  do  fundo,  caracterizando  deste 

modo esta produção. A variedade de pequenas nuances, especialmente ao nível do bordo, 

perfil  e  número  de  incisões  não  coloca  dúvidas  na  sua  classificação,  pois  no  conjunto 

revestem‐se de traços comuns que lhes confere uma coerência indiscutível. 

Esta forma surge sempre em quantidade nos níveis do séc. I a.C., a par das variantes de 

Lamb. 5/7 (F2230‐2280) e é muito frequente nos contextos da Península  Ibérica, sendo das 

mais comuns nos sítios republicanos do actual território português e toda a Ulterior. Assim, 

cronologicamente, a sua produção situa‐se entre a segunda metade do séc. II e todo o séc. I 

a.C. até ao período Augustano (Py, 1993c, p. 151). 

Ao que  tudo  indica  funcionalmente  corresponde  ao  grupo de  recipientes usados na 

ingestão de líquidos.    

Das espécies existentes, e que nos  interessa para este estudo analisar, a F2310  (por 

exemplo,  nº  2819,  v.  Est.  XXII),  característica  pela  sua  parede  convexa  ‐  côncava  e  sem 

caneluras,  é  produzida  sobretudo  no  ocidente  setentrional,  como  na  Gália  e  Hispânia.  A 

F2320 tem produção na área etrusca e Norte da Campânia (Cales), tal como nas províncias do 

mundo  romano, e ao  contrário da anterior a parede desta é apenas  curva e o pé  sempre 

biselado.  Com  pés  mais  altos  e  pouco  oblíquos  a  espécie  F2340  reveste‐se  de  um  cariz 

“local/regional”  e  tal  como  a  F2360  (Lamb.  1/8)  (v.  Est.  XXVIII)  possui  pé  muito  baixo  e 

arredondado,  ainda que oblíquo  e  já  sem  caneluras,  como  se  caracterizam os  exemplares 

mais tardios e do final da produção desta forma, sobretudo nas produções hispânicas (Morel, 

1981, p. 163‐164). 

Ainda que seja uma produção quase exclusiva da Campaniense B (etrusca ou não) há 

casos como Mértola e Castro Marim, com um fragmento cada, em que a forma surge como 

produção napolitana (Luís, 2003, p. 103 e Viegas, 2009, p. 414). Esta situação deriva do facto 

do reportório da Campaniense A, em meados do séc. II a.C., imitar algumas formas com mais 

Page 66: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 64 

sucesso da produção sua concorrente. No entanto, em território actualmente português são 

escassos os exemplares resultantes desse fenómeno. 

Em Mesas do Castelinho foram recolhidos 138 fragmentos deste género, mas apenas 

58 encontravam‐se em níveis republicanos, num total de 56NMI. Com excepção de dois casos 

de  fabrico  “local/regional”  a  esmagadora  maioria  terá  sido  produzida  na  região  calena, 

atendendo às características da pasta. Os fundos (20NMI) deste conjunto são muito oblíquos, 

baixos,  com  perfil  triangular  e  finos.  Apesar  de  algumas  peças  estarem  algo  roladas  foi 

possível identificar em 10NMI um ressalto côncavo na passagem da face interna do pé para a 

superfície  externa  do  fundo,  a maioria  das  vezes  já  centrada  nesta  zona.  Assim, mais  ou 

menos acentuado, mais ou menos  largo são uma característica  individualizadora das séries 

F2321‐F2322 (v. Est. XXV a XXVII).   

 No que respeita aos bordos cerca de 67,5% possuem duas caneluras,  logo abaixo do 

bordo na superfície externa, 25% apenas possuem uma canelura e em 5% dos casos regista‐

se uma  incisão característica do  tipo F2361  (5NMI). Os  restantes não apresentam canelura 

alguma e integram‐se na espécie F2310 (2NMI) e na espécie F2360 (8NMI). 

Importa  destacar,  que  a  identificação  da  espécie  F2360  como  produção 

“local/regional”, provavelmente hispânica  (Morel, 1981, p. 166‐167), não é corroborada na 

nossa  análise,  dado  que  as  pastas  dos  respectivos  recipientes  não  se  diferenciam  dos 

produtos identificados como originários da região calena. 

Este tipo de recipiente, como já referimos, figura como um dos produtos cerâmicos do 

serviço  de  mesa  tipo  campaniense  que  mais  se  importou  na  Península  ibérica  e  cujas 

cronologias permitem datar os níveis onde surgem, genericamente, do séc. I a.C. No povoado 

Mesas do Castelinho, pela presença, em determinados contextos, de algumas destas peças, 

cuja  aferição  tipológica  nos  permitiu  obter  cronologias mais  finas,  foi  possível  corroborar 

algumas  das  ideias  que  já  haviam  sido  publicadas  ao  longo  dos  anos,  como  apontar 

cronologias mais finas para outros contextos.  

Deste modo, e no que respeita à sequência [39] – [41] – [43], detectada no sector A1 

(v.  Fabião  e  Guerra,  1994),  numa  área  livre  de  construções  registou‐se  a  única  Lamb.  1 

(F2361) com datação da segunda metade do séc. I a.C. Encontrava‐se no nível mais recente, 

sendo o restante conjunto, no que diz respeito à cerâmica campaniense, bastante genérico 

(85% de origem calena) e com sugestões cronológicas centrada nos sécs.  II‐I a.C. Ou seja, a 

presença  de  Lamb.  1 mais  tardia,  com  uma  presença minoritária  de  ânforas  de  produção 

itálica  face  ao  incremento  das  produções  ocidentais  da  forma  Haltern  70  e  Classe  67, 

permitem corroborar a datação do nível de ocupação mais recente, nesta área do povoado, 

do 3º quartel do  séc.  I  a.C. A peça  em  análise não  seria  suficiente por  si  só para datar o 

Page 67: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 65 

contexto, no entanto, vistas as associações e especialmente as ausências de material datante 

do  último  quartel  do  séc.  I  a.C.  (terra  sigillata  e  Dressel  7‐11),  a  hipótese  do  penúltimo 

quartel  desse  século  ganha  consistência.  A  sequência  destes  níveis  de  ocupação  e  os 

materiais que os acompanham sugerem não ter havido uma solução de continuidade do uso 

do espaço, que se deve enquadrar nos três primeiros quartéis do séc. I a.C. (Fabião e Guerra, 

1994,  p.  277).  Relativamente  ao  estrato  imediatamente  subjacente  a  [39]  podemos 

considerá‐lo de meados do séc.  I a.C.,  talvez 2º quartel, suportados não só na presença do 

contentor Classe 67 (ausente no estrato mais antigo) de produção hispânica, datável do 2º e 

3º quartel a.C., como na identificação dos tipos F2341a 2 (3NMI) e F2362a 1 (2NMI), 100+‐50 

e 80+‐50 a.C., respectivamente, que reforçam a primeira hipótese. Estes tipos encontram‐se 

ausentes na  restante área ocupada e parecem‐nos  reforçar as cronologias apresentadas. O 

estrato  mais  antigo,  [43],  destaca‐se  apenas  pelo  facto  de  na  sua  escassa  presença  de 

cerâmica de verniz negro itálico a maioria ser de produção napolitana. Porém, as cronologias 

sugeridas  pelas morfologias  presentes  nesta U.E.  abarcam  todo  o  séc.  I  a.C.,  sem  grande 

precisão. Deste modo,  temos que  recorrer ao  restante espólio associado e verificar que o 

conjunto  anfórico,  nomeadamente  as  Lamboglia  2,  sugere  uma  cronologia  centrada  em 

momentos muito iniciais do séc. I a.C., mas dificilmente mais recuados.  

Um  outro  dado  curioso  reside  na  análise  da  [70],  do  Amb.  VIII,  do  “complexo  de 

construções  do  sector  A1”.  Na  sequência  de  dois  derrubes,  cobertos  por  [0], 

correspondentes  aos  muros  deste  espaço,  marcando,  portanto,  o  fim  da  ocupação  do 

mesmo,  os  materiais  associados  remetem‐nos  para  cronologias  centradas  na  primeira 

metade do séc. I a.C. ou meados do mesmo, a avaliar pelo pé P251a 2 da F2321‐2322 (Morel, 

1981,  p.  465). Assim,  parece  haver  alguma  discrepância  pontual  (concretamente  do Amb. 

VIII) mediada por um ou dois quartos de século entre o abandono físico da ocupação deste 

compartimento e as áreas sem construções associadas, na plataforma superior do povoado. 

Não se deverá, obviamente, conceder especial importância a este pormenor, na medida em 

que o abandono de um ou outro compartimento não  representa o abandono do sítio, que 

aliás continuou com a ocupação imperial. 

Da mesma forma no sector B3, por exemplo, na Rua 3 foi recolhido tanto no estrato de 

preparação  [645],  como do  último  piso  [605]  de ocupação  republicana,  um  fragmento  da 

F2361, datada da segunda metade do séc. I a.C. Ora, a ausência de terra sigillata e mais uma 

vez  de  Dressel  7‐11  (datados  do  último  quartel  do  séc.  I  a.C.)  permite‐nos  com  alguma 

segurança avançar com um terminus ante quem para a ocupação republicana centrada no 3º 

quartel do séc. I a.C.  

Page 68: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 66 

No conjunto de construções do sector B2 (ala mais a Oeste do 1º quarteirão do sector 

B3,  separado  desta  pela  Rua  1)  esta  forma  está  ausente  da  1ª  fase  de 

construção/utilização/abandono  republicano  e  só  aparece no  1º bloco de  remodelações  a 

que o espaço foi sujeito, pelo que talvez num momento mais avançado do séc. I a.C.  

Posto isto, é claramente um elemento caracterizador da ocupação romana republicana 

de séc. I a.C. também no povoado de Mesas do Castelinho e um bom indicador cronológico, 

especialmente quando conjugado com outros, para cronologias mais tardias. 

 

 

4.4.2.4     género F2600 (Lamb. 28) (v. Est. XXIX)  

Dos  diferentes  tipos  que  definem  este  género  de  taças  presentes  no  conjunto  em 

estudo,  e  que  por  essa  razão  importa  destacar,  refira‐se  o  F2614,  com  2NMI  de  contextos 

republicanos, num total de 3NMI  (nº 3480, 3562 e 3563, v. Est. XXIX). Caracteriza‐se por um 

perfil convexo – côncavo, bordo exvertido com curvatura algo marcada na metade inferior da 

peça e base com pé anular, alto e  trapezoidal. Possui diâmetros muito  largos e  fundos com 

paredes quase planas.  

É preferencialmente um produto com origem nas oficinas etruscas do séc. II a.C., mas 

foi fabricado por outras, como sejam as localizadas no Golfo de Nápoles (Morel, 1981, p. 191) 

e de onde provêm os exemplares de Mesas do Castelinho. 

Do  tipo  F2648  os  únicos  dois  fragmentos  (2NMI)  provêm  de  níveis  republicanos  e 

diferenciam‐se morfologicamente do anterior por apresentarem um perfil mais  rectilíneo  (v, 

nº 3314, Est. XXIX) e bordos triangulares e pendentes.  

Cronologicamente  são  típicas  de  contextos  do  séc.  II,  podendo  chegar  ao  I  a.C.  e 

características  das  produções  da  Campaniense A  e  respectivas  imitações,  inspirando‐se  nos 

protótipos helenísticos (Morel, 1981, p. 200‐201). 

Os quatro exemplares de Mesas do Castelinho detectaram‐se aos pares no sector A3 e 

B3.  No  primeiro  sector  estão  associados  a  uma  fase  de  ocupação  centrada,  muito 

provavelmente, na primeira metade do séc.  I a.C.  Isto porque desde cedo nesta sequência 

estratigráfica,  e  associados  a um piso,  [130],  foram  recolhidos  fragmentos de  contentores 

anfóricos do tipo Haltern 70, portanto com datações que oscilam entre os anos 60 a.C. e o 

século seguinte. Os fragmentos recolhidos no 1º quarteirão do sector B3, mais precisamente 

no piso de ocupação [129], têm a particularidade de serem as primeiras peças de cerâmica 

campaniense  detectadas  nos  contextos  mais  antigos  desta  área.  Provêm  do  Amb.  II  e 

pensamos enquadrarem‐se na ocupação de finais do séc. II a.C. do povoado. No momento de 

Page 69: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 67 

abandono  correspondente a esta  fase,  a percentagem de Campaniense A dispara,  sempre 

esmagadoramente superior às produções calenas, para no último momento de utilização do 

espaço os valores se  inverterem. Neste, as produções anfóricas acompanham as mudanças 

verificadas no registo da campaniense, detectando‐se agora produtos mais tardios, como as 

Haltern 70, Castelinho 1 (Parreira, 2009) e por exemplo Classe 67, que nos apontam para um 

momento avançado do período republicano. 

   

 

4.4.2.5     série F2787 (Lamb.27a) (v. Est. XXX)  

Esta espécie caracteriza‐se por bordos muito reentrantes, paredes muito curvas, com 

inflexão  acentuada  e  muito  alta,  rematada  por  um  bordo  simples  e  arredondado.  Possui 

diâmetros reduzidos e fundos mais ou menos côncavos, com pés oblíquos.  

O início da sua produção terá ocorrido por volta do séc. III a.C. (talvez mesmo ainda no 

final do século anterior) nas oficinas da Itália central, para um século mais tarde ser uma forma 

produzida pelos oleiros do Golfo de Nápoles (Morel, 1981, p. 225). 

O  material  recolhido  nos  contextos  republicanos  de  Mesas  do  Castelinho  são, 

exclusivamente,  fundos e a escolha  tipológica que aqui assumimos, ainda que  com algumas 

reservas, pois  lidamos com  fragmentos, baseia‐se na  forma como a parede do  recipiente  se 

desenvolve  (em nosso entender o mais  importante critério) e nas suas reduzidas dimensões, 

que os afastam de outras possibilidades.  

A presença deste  tipo de  taça no povoado deve  ser  considerada  residual,  já que na 

restante  estratigrafia  e  fora do  seu  âmbito  cronológico  foram detectados  apenas mais dois 

fragmentos passíveis de se relacionarem com a série. Dos 6NMI identificados quatro possuíam 

decoração na superfície  interna dos fundos, demonstrando uma grande variedade decorativa 

(impressão  de  folhas  de  parreira,  bandas  pintadas)  que  nos  remete  para  as  produções  de 

melhor qualidade (v. infra 4.4.5). 

Do conjunto que aqui analisamos resta‐nos assinalar que apenas um dos exemplares 

não  terá  sido  importado  da  Campânia  (nº  3229,  v.  Est.  XXX).  Trata‐se  de  um  fundo  cujas 

características técnicas o relacionam com as produções “locais/regionais” peninsulares (?) de 

verniz negro e pastas  laranjas que  imitam o  reportório  formal da Campaniense A, e por  isso 

mesmo  à  qual  ter‐se‐á  obviamente  que  atribuir  uma  cronologia  mais  tardia  que  o  seu 

protótipo, ainda que, sem problemas, possa centra‐se no séc. II a.C.  

Dos  contextos em que  surge  salientamos no  sector B2 a  lareira  [98] e o piso  [197]. 

Ambos  os  contextos  pertencem  à  primeira  fase  de  construção/utilização  republicana, 

Page 70: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 68 

imediatamente sobrepostos aos estratos mais antigos, coerentes com os compartimentos da 

Idade do Ferro. A escavação do referido piso permitiu conhecer a associação de contentores 

ânforicos do tipo T‐8.2.1.1, (cujo período de produção, desde 2008, tem vindo a ser avançado 

e colocado, por Saéz Romero, na transição entre o séc. II e I a.C. (apud, Parreira, 2009, p. 45)), 

com  este  tipo  de  cerâmica  de  verniz  negro,  pelo  que  a  conjugação  de  dados  permite‐nos 

pensar, e mais uma vez corroborar, uma ocupação  romana  republicana  inicial  localizada nos 

finais do séc. II, inícios do I a.C. 

 

 

4.4.2.6     espécie 2820 (Lamb.27c) (v. Est. XXXI a XXXIV)  

Muito características da facies da cerâmica Campaniense A de época clássica as séries 

F2822 (nº 3861, v. Est. XXXIII) a F2825 (v. Est. XXXIV) caracterizam‐se morfologicamente pela 

presença de bordos quase  verticais, nada  reentrantes e  fundos altos, na maioria dos  casos, 

trapezoidais. O perfil destas  taças é muito  simples, ainda que possua uma  inflexão mais ou 

menos marcada na parte superior do corpo, nos casos da série F2825 mesmo carenada.  

Cronologicamente, e exceptuando as séries mais tardias F2821 e F2824, das quais não 

possuímos  registo  (salvo  dois  exemplares  da  série  F2824,  recolhidos  fora  de  contexto 

estratigráfico – nº 3041 e 3027, v. Est. XXXIV), a forma 27c de Lamboglia (que corresponde ao 

intervalo de séries apresentado e presente no povoado) surge ainda durante o séc. III e atinge 

o seu auge em meados ou 3º quartel do II a.C. (Morel, 1981, p. 227‐229). 

Trata‐se  de  uma  das  formas  mais  comuns  nos  diferentes  sítios  que  receberam 

importações do Golfo de Nápoles. 

No povoado Mesas do Castelinho num total de 25NMI existem 14 recolhidos em níveis 

romano republicanos, sendo que destes foi possível apurar o tipo F2822b 1 e a série F2825, na 

proporção de dois  fragmentos  cada. O primeiro data da primeira metade do  séc.  I  a.C.  e  a 

segunda  de  meados  ou  3º  quartel  do  séc.  II  a.C.,  portanto,  coerentes  com  a  diacronia  de 

ocupação republicana do povoado. A posição estratigráfica dos restantes não permite grandes 

considerações dada a amplitude cronológica da espécie.  

 

4.4.2.7     espécie 2970 (Lamb.31b) (v. Est. XXXV a XXXVII) 

Trata‐se  de  uma  taça  bastante  profunda  e  diâmetro  de  grandes  proporções,  com 

parede  algo  côncava,  assumindo  uma  forma  cónica.  Possui  bordo  simples  que  continua  a 

parede  do  recipiente  sem  inflexões  e  lábio  arredondado,  ainda  que  por  vezes  se  note  um 

Page 71: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 69 

ligeiro espessamento para o  interior ou termine biselado. Estas taças são rematadas por pés 

anulares, altos, ligeiramente oblíquos e de feições rectilíneas. 

À  semelhança  de  tantas  outras,  esta  forma,  típica  da  Campaniense  A,  recebe 

influências da cerâmica de verniz negro usada no séc. V e  IV a.C. e tem produção marcada a 

partir, provavelmente, do séc. III a.C. (Lamboglia, 1952, p. 180, Py, 1993b, p. 148, Morel, 1981, 

p.  240‐243).  Ainda  que  surjam  habitualmente  em  contextos  do  séc.  II  a.C.  e  sejam 

características  da  facies  deste  momento,  algumas  variantes,  como  a  série  F2974  (com  os 

típicos bordos biselados), possuem cronologias de produção que apontam para o 3º quartel do 

séc. II e reportam‐se a ocupações centradas no século seguinte (Ibidem). 

  Apesar  de  ser  conectada,  quase  exclusivamente,  com  as  produções  napolitanas,  na 

Catalunha, entre outras, surge como produções da B (“locais regionais”) (Morel, 1981, p. 241‐

242), pelo que terá sido um produto “contrafeito” nas zonas provinciais do mundo romano.  

Funcionalmente  são  relacionáveis  com  a  ingestão  de  bebidas,  mas  parecem‐nos 

perfeitamente adequáveis ao acondicionamento de sólidos e prontas para servir à mesa. 

Em Mesas do Castelinho a reduzida dimensão dos fragmentos não nos permitiu afinar 

tipologicamente  todas as séries destas peças, pelo que num  total de 42NMI, detectáveis em 

contextos republicanos, apenas 8NMI  foi possível  inserir no tipo F2978a  (v. Est. XXXVII). Esta 

aferição  é  baseada  na  presença  de  um  bordo  com  lábio  biselado  e  de  uma  parede  que 

descreve um perfil pouco oblíquo se comparado com o tipo F2974, cuja forma do lábio é muito 

similar. Tendo em conta a forma do lábio e orientação da parede existem fortes possibilidades 

de parte dos  fragmentos  (10NMI),  classificados  genericamente  com  F2970, pertencerem  ao 

tipo F2974 e por isso indicativos de contextos tardo republicanos (diga‐se séc. I a.C.). Contudo, 

pelas dificuldades, já acima expostas, pareceu‐nos mais seguro esta generalização.  

Pela  análise  efectuada  é  perceptível  que  na  maioria  dos  casos  esta  forma  surge 

associada  a  contextos  já  centrados  no  séc.  I  a.C.  e  dispersa  sequencialmente  por  toda  a 

estratigrafia. Como  já  referimos existem alguns  casos que poderão  relacionar‐se  com o  tipo 

F2974  e,  se  essa  hipótese  se  confirmar,  não  era  de  estranhar  a  sua  coexistência  com  os 

restantes materiais datados do 2º e 3º quartel do séc. I a.C.  

Por outro lado, o último quartel do séc. II a.C. encontra‐se bem representado na [227], 

do  sector  A1,  por  4NMI  da  F2970,  com  lábio  boleado.  Este  depósito,  imediatamente 

subsequente à ocupação da  Idade do  Ferro e numa eventual  relação directa  com o mesmo 

momento  de  construção  das  paredes  [74]  e  [78]  e  respectivo  enchimento  [72]  (Fabião  e 

Guerra, 1995, p. 10‐11), v. supra, vem reforçar as cronologias propostas para a ocupação mais 

antiga do povoado, em período republicano, no âmbito dos primeiros contactos com o mundo 

romano. 

Page 72: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 70 

Se analisarmos a presença desta forma em toda a diacronia de ocupação do povoado 

verificamos  que  os  valores  crescem,  mas  sem  grandes  repercussões  interpretativas.  Assim 

contabilizando a  totalidade das presenças registam‐se 64  fragmentos, sendo que destes, aos 

8NMI da série F2978a, se acrescem 3 unidades. Trata‐se de uma das formas da facies do séc. II 

a.C. com maior representatividade no povoado Mesas do Castelinho. 

 

 

4.4.2.8     série 2984‐85 (v. Est. XXXVII)  

Taça profunda, com diâmetro  largo e perfil côncavo. Possui uma base  relativamente 

larga e bordo que, consoante a série, pode ser quase direito ou um pouco exvertido. 

Trata‐se  de  uma  forma  produzida  em  Campaniense  A  ou  nas  suas  imitações  e 

cronologicamente  atribuível  à  segunda metade  do  séc.  II  a.C.  e  inícios  do  seguinte  (Morel, 

1981, p. 244). 

Em Mesas do Castelinho recolheram‐se dois fragmentos passíveis de se relacionarem 

com esta variante (nº 3071 e 3226, v. Est. XXXVII), sendo que apenas um pertencia a um dos 

contextos romano republicanos mais antigos [227], que se associa à edificação do “complexo 

de construções” detectadas no sector A1 (v. supra).   

 

 

4.4.3 categoria 3000 

4.4.3.1     série 3131 (Lamb. 48) (v. Est. XXXVII)  

A taça em análise define‐se morfologicamente por um corpo quase hemisférico, muito 

profundo e pela presença de duas asas verticais. Estas são compostas por dois rolos de argila 

unidos por um terceiro que se dispõe transversalmente aos primeiros e localiza‐se logo abaixo 

do  lábio.  Possui  um  bordo  arredondado  e  na  maioria  dos  casos,  e  em  número  variado, 

caneluras na superfície externa, logo abaixo do bordo.  

São  formas produzidas originalmente na região do Golfo de Nápoles e em diferentes 

províncias  romanas  (na Península  Ibérica e Norte de África) com  recurso a uma argila  clara, 

numa tentativa bem sucedida das produções “locais/regionais” em imitar o reportório formal 

da cerâmica de verniz negro itálico da classe A. 

Parecem  ter  uma  cronologia  muito  fina  do  2º  quartel  do  séc.  II  a.C.  e,  segundo  a 

análise de J. P. Morel, existem algumas dúvidas de que tenham chegado ao 3º quartel do séc. II 

a.C. (Morel, 1981, p. 249). 

Page 73: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 71 

Fazem parte dos contextos de séc. II a.C. da Andaluzia ocidental e são raras nos níveis 

republicanos dos  sítios do actual  território português. Em Mesas do Castelinho existem dois 

fragmentos que, ainda que com algumas reservas, incluímos nesta série. Apenas uma está em 

níveis datados do período  republicano, mais concretamente do último quartel do séc.  I a.C., 

dada  a  presença  de  fragmentos  de  terra  sigillata  e  de  uma  fíbula  em  Omega,  ou  seja, 

completamente descontextualizada do seu âmbito original.  

Trata‐se de um fragmento com pé acentuadamente oblíquo, trapezoidal, muito alto e 

espessado, com face externa ligeiramente convexa, sendo que, já quase junto à passagem para 

a parede possui uma saliência  larga convexa (típico destas produções). O segundo fragmento 

consiste  num  bordo  com  asa  bífida,  ainda  que  não  possua  a  tal  barra  transversal  presente 

nesta forma, mas cujo perfil não lhe permite a inserção noutra espécie (nº 3431, v. Est. XXXVII). 

A  conjugação  da  classe  a  que  pertencem  com  estas  características  tipológicas  levou‐nos  a 

assumir a presença desta forma no povoado. Voltamos a frisar que foi com algumas reservas 

que classificámos estes dois fragmentos. Uma hipótese que nos é  impossível aferir dado que 

não  lhe  conhecemos  paralelos  perfeitos  nas  espécies  conhecidas.  Assim  tratar‐se‐ão  de 

produções  de  Campaniense  em  pastas  que  imitam  a  classe  A  e  respectivo  reportório?  A 

qualidade técnica do exemplar nº 3431 faz‐nos suspeitar dessa mesma possibilidade.  

 

 

4.4.3.2     série 3451 (Lamb. 10) (v. Est. XXXVIII)  

Trata‐se de um pote com pança bastante  larga e baixa, que descreve perfil em “S” e 

termina num bordo exvertido e engrossado. Possui duas asas verticais, logo abaixo do bordo e 

um  fundo de paredes espessadas, com pé anular. A sua  face externa apresenta‐se convexa  ‐ 

côncava e interna muito oblíqua não se distinguindo da superfície externa do fundo. 

A  atribuição  cronológica  desta  espécie  é  dificultada,  por  um  lado,  pela  ausência  na 

maioria  dos  recipientes  recuperados  das  asas  (já  que  lidamos  com  fragmentos  muito 

reduzidos) e por outro, pela falta de indicação nas publicações da sua representação (quando, 

obviamente,  é  perceptível  essa  existência,  ainda  que  não  se  tenham  conservado)  tal  como 

sucedeu com a forma 10b da tipologia de Lamboglia (Morel, 1981, p. 262).  

É muito  comum nos  contextos de  séc.  II a.C. e  continua a  ser utilizado ao  longo do 

século seguinte, ainda que escasseie na transição entre ambos (Morel, 1981, p. 262).  

De Mesas do Castelinho recuperaram‐se dois fragmentos (2NMI) de contextos datáveis 

da primeira metade do séc. I a.C., que concordam com a cronologia da série a que pertencem: 

Page 74: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 72 

F3451c, também presente no segundo naufrágio Grand Conglué (Morel, 1981, p. 262) (nº 3301 

e 3907, v. Est. XXXVIII).  

 

 

4.4.4 categoria 7000  

4.4.4.1     género 7500 (Lamb. 3) (v. Est. XXXVIII)  

Dentro daqueles recipientes que podemos designar de pyxides o género F7500 (Lamb. 

3) é o mais comum nos sítios arqueológicos do actual território português. Trata‐se de um vaso 

de  forma  cilíndrica  caracterizado  por  um  pé  largo,  oblíquo  e  muito  saliente,  com  base 

tendencialmente plana. A parede do  fundo é muito baixa e  rectilínea ou pouco  côncava. O 

corpo do vaso desenvolve‐se de forma mais ou menos côncava a vertical e termina num bordo 

que não se destaca do perfil da peça. 

Este é mais um caso de uma forma com filiação na cerâmica grega do séc. V e IV a.C., 

ainda  que  seja  produzida  em  cerâmica  campaniense  bastante mais  tarde  (sécs.  II  e  I  a.C.). 

Encontra‐se  com  muita  frequência  na  Etrúria  e  regiões  vizinhas  (Morel,  1982,  p.  409‐410), 

sendo na sua maioria considerada como uma das formas de fabrico caleno (Pedroni, 1986), e 

tendo sido, imensamente, reproduzida por todo o mundo romano. 

Cronologicamente a sua produção parece ter início ainda no séc. II a.C., mas alcança o 

seu maior êxito durante todo o século seguinte (Morel, 1981, p. 411‐415 e Py, 1993c, p. 151‐

153).  

Detectam‐se,  preferencialmente,  em  produções  de  cerâmica  Campaniense  B,  mas 

existem raros casos em fabrico napolitano. Os produtos com esta última origem são facilmente 

diferenciados por determinados pormenores formais, como seja o facto do fundo e pé serem 

totalmente  rasos e  assentarem por  completo na  superfície onde os  colocarmos  (Lamboglia, 

1952, p. 166). 

Em  termos  funcionais  Beazley  definiu‐os  como  copos  para  conter  sal  (apud  Morel, 

1981, p. 409), contudo, segundo informação da literatura clássica, nomeadamente de Plínio e 

Tito  Lívio,  os  vasos  que  continham  sal  eram  em  prata,  dado  que  para  os  romanos  aquele 

condimento  revestia‐se  de  um  carácter  ritual  (apud  Morel,  1981,  p.  409,  nota  551).  Em 

Vaiamonte existe uma pyxide “…de invulgares dimensões, com um sulco paralelo ao plano do 

bordo,  evocando  a  forma dos  copos metálicos ditos de  “tipo  Idria.”  (Fabião,  1998, p.  327). 

Assim, uma outra alternativa remete‐nos para a sua utilização enquanto copo para beber. 

Das  diferentes  espécies  existentes  iremos  abordar  as  que  foram  identificadas  em 

Mesas do Castelinho, ou seja, F7540 e F7550. A primeira encontra‐se dividida em dois grandes 

Page 75: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 73 

grupos, o referente aos tipos F7541 e F7542 e o segundo que congrega as restantes séries. Esta 

divisória define‐se pela presença, no primeiro, de um ressalto entre a face  interna do pé e a 

externa  do  fundo,  tendo  sido  considerado  por  Lamboglia  como  elemento  definidor  das 

produções da B etrusca  (“verdadeira”), pelo que as outras  seriam  imitações ocidentais dela. 

J.P. Morel defende que esse pormenor  formal não pode  ser  sobrevalorizado, na medida em 

que é de fácil e rápida execução, pelo que pode ser facilmente copiado pelas produções das 

províncias (Morel, 1981, p. 413 e 443). A ver pelo que se conhece deste tipo cerâmico, ou seja, 

pela  existência  em  quantidade  de  pyxides  da  F7540,  que  claramente  não  reúnem  as 

características  técnicas da excelência da produção etrusca, mas possuem o dito  ressalto não 

podemos assumir as palavras do autor italiano como correctas. 

No âmbito da espécie F7550 o  tipo F7553 caracteriza‐se, exactamente, pela ausência 

do  dito  ressalto  e  por  possuir,  à  semelhança  do  tipo  7551,  pés  não  só  salientes mas mais 

arrebitados, com um fundo muitíssimo baixo, rectilíneo e paredes mais côncavas.  

Dos níveis  republicanos detectados em Mesas do Castelinho  foram  recolhidos  como 

pertencentes à F7500 9NMI, num total de 22NMI correspondentes à cerâmica Campaniense B 

de Cales. Destes, cinco pertencem aos dois primeiros estratos da sequência estratigráfica na 

área a Noroeste do sector A1 ([39] e [41]), já mencionado por ocasião da F2300, sendo que foi 

possível  afinar  o  tipo  de  uma  das  peças  (nº  3169,  v.  Est.  XXXVIII).  Trata‐se  de  um  bordo 

pertencente  ao  tipo  F7553d 1, datado de 100 +‐ 50  a.C.  (Morel, 1981, p. 415) e,  como  tal, 

coerente com as cronologias já propostas, reforçando‐as. 

A maioria  dos  fragmentos  desta  forma  foi  localizada  na  plataforma  superior,  sendo 

representados na inferior por um em contexto seguro, posterior ao 2º quartel do séc. I a.C., no 

2º quarteirão do B3. No sector B2 recolheram‐se dois fundos em duas u.e.’s equivalentes, [27] 

=  [82], pertencentes à última  fase de abandono/destruição da ocupação  republicana que  se 

encontravam  imediatamente  subjacentes  a  contextos  Medievais  e  Contemporâneos.  A 

cronologia destas peças, cruzada com os  intervalos cronológicos  tidos para as ânforas Classe 

67, Dressel 12 e  tipo Mesas do Castelinho 1  (Parreira, 2009), presentes  igualmente na  [27], 

definem  o  abandono  daquelas  construções  republicanas  num  momento  centrado  no  3º 

quartel do séc. I a.C. 

Apesar de, na maioria dos casos, não ter sido possível afinar a espécie correspondente, 

extrapolando  os  dados  cronológicos  das  peças melhor  conservadas  e  por  isso  de mais  fácil 

atribuição, pensamos não ser desprovido de sentido supor que as restantes correspondem a 

um momento de importação e consumo relativamente circunscrito à primeira metade do séc. I 

a.C., com presença na fase final da ocupação republicana do sítio (3º quartel do séc. I a.C.), até 

porque formalmente correspondem aos protótipos mais tardios, com pés angulosos e baixos.      

Page 76: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 74 

4.4.5 outras 

4.4.5.1 F2586 (Lamb. 29b?) (v. Est. XXIX)  

Apesar  de  completamente  ausente  dos  contextos  seguramente  republicanos 

identificados em Mesas do Castelinho parece‐nos relevante fazer referência ao fragmento nº 

3787, proveniente da [480] de cronologia Imperial (sector B3). A particularidade do perfil deste 

exemplar  reside  na  presença  de  uma  canelura  na  superfície  externa  da  peça,  distante  do 

bordo. Na tipologia de Morel esta característica é tida como comum e está bem representada 

nas produções da Campânia e da zona do Adriático meridional e centro‐meridional, depois do 

ano 300 a.C. (Morel, 1981, p. 32). Para o caso importa‐nos apenas a 1ª região referida. 

Não  estamos  bem  seguros  da  atribuição  tipológica  ao  exemplar  alentejano,  que 

encontra variantes em Mértola (Luís, 2003, fig. XV, nº1), mas, efectivamente, esta é a série da 

qual  o  perfil  daquele  fragmento  mais  se  aproxima.  Por  outro  lado,  trata‐se  de  um  fabrico 

caleno (F3), com verniz negro brilhante e pasta bastante calcária, dada a sua tonalidade bege 

alaranjada. Trata‐se de uma série que é definida com base na produção da cerâmica de Cápua 

entre  o  IV  e  o  III  séc.  a.C.,  ou  seja,  a  designada  proto  campaniense. A  impossibilidade  em 

aceitarmos  cronologias  tão  recuadas para o exemplar alentejano e a pertença a um  fabrico 

centrado na Campânia setentrional leva‐nos a questionar se não estaremos perante uma nova 

variante  formal  à  tipologia  seguida.  Tratar‐se‐á  de  uma  reprodução  daquele  perfil  mas  já 

centrada nos últimos séculos a.C.? com exportação até ao momento quase desconhecida para 

a Península Ibérica, mas presente em Mesas do Castelinho? É um exemplar residual dos do seu 

tipo, mas cuja presença no sítio não pode ser ignorada. 

 

 

4.4.5.2 Ricci E (lucerna) (v. Est. XXXIX)  

A  quase  exclusividade,  na  história  da  investigação,  da  publicação  dos  modelos 

atribuíveis  já  ao  período  Imperial,  nomeadamente  aos modelos  decorados  e  com  interesse 

epigráfico,  mais  apelativos,  restringe  o  conhecimento  que  se  tem  das  lucernas  tardo 

republicanas. 

Com base nos dados disponíveis é possível afirmar que os sítios que possuem maiores 

quantidades  deste  artefacto  estão  relacionados  com  uma  efectiva  presença  militar  que, 

portanto, agiam de acordo com um padrão de consumo tipicamente romano (Cáceres El Viejo 

ou  Vaiamonte)  ou  com  os  centros  urbanizados  com  forte  presença  romana,  mais  do  que 

propriamente relacionados com a aquisição de hábitos ou gostos exógenos (Fabião, 1998).  

Page 77: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 75 

As  lucernas  romanas  produzidas  no  Golfo  de  Nápoles  foram  influenciadas  pelos 

protótipos da  cerâmica  ática de  verniz negro, numa  combinação  com os de origem púnica, 

determinando a variedade morfológica desta produção itálica.  

A  análise  deste  tipo  de  artefacto  é  dificultada  pela  inexistência  de  um  estudo  e 

respectiva  sistematização das diferentes morfologias  e  suas origens,  cronologias  e  áreas de 

difusão. Infelizmente, e apesar dos avanços no estudo da cerâmica campaniense preconizados, 

em 1981, com o trabalho de síntese de J. P. Morel – Céramique Campanienne: Les Formes – o 

autor não trata este tipo de artefacto, pelo que contamos com o contributo de vários autores, 

sem, no entanto, existir uma obra de referência única que cruze as  informações e congregue 

os dados. Desta  forma o estudo das  lucernas  tardo  republicanas deve‐se, essencialmente, a 

Marina  Ricci  que  definiu  oito  novos  tipos  ou  variantes  que  não  incorporavam, 

compreensivelmente, a  tabela de Dressel,  já que esta apenas contemplava as produções de 

época imperial.  

O exemplar que aqui apresentamos tem paralelo, exactamente, no tipo E (b) de Ricci 

(Ricci, 1973, p. 218, fig. 28). Importa, desde já, salientar que acrescentamos a letra ‐ b ‐ ao tipo 

referido  pela  autora,  na  medida  em  que  ambas  as  peças  representadas  sob  a  mesma 

classificação  (E),  descrição  e  cronologia  são  morfologicamente  diferentes.  Deste  modo  o 

exemplar de Mesas do Castelinho não  tem paralelo no detectado na Cabeça de Vaiamonte, 

que se refere à fig. 27 do, igualmente, tipo E de Ricci (Ricci, 1973, p. 217). 

Apesar  de  não  figurar  entre  os  níveis  de  cronologia  romana  republicana  mas  sim 

imperial, pela sua excelência, estado de conservação (perfil completo, excepção feita à asa) e 

por ser peça única no povoado, parece‐nos importante efectuar especial menção ao exemplar 

de Mesas do Castelinho (nº 3677). Trata‐se de uma peça com corpo troncocónico, com fundo 

em  pé  de  anel,  alto  e  com  bico  torneado  por  volutas  desenvolvidas.  Possui  uma  pasta  de 

tonalidade  rosa alaranjada, pertencente ao  fabrico F1, e o verniz está muito degrado, ainda 

que  os  vestígios  nos  permitam  dizer  ter  assumido  uma  cor  negra  com  brilho. O  orifício  de 

alimentação  apresenta‐se  destruído,  ainda  que  nos  pareça  de  maiores  dimensões  se 

comparado com o exemplar da fig. 28 apresentado pela autora. De qualquer modo é típica da 

Campaniense A e amplamente documentada no Mediterrâneo ocidental, com exemplares em 

Cartago, Numância e com paralelo na Andaluzia ocidental  (Adroher Auroux e López Marcos, 

2000, p. 200, nº 339), o que não invalida a sua reprodução em centros periféricos da Península 

Itálica  destinados  à  exportação  ”local/regional”  (Ricci,  1973,  p.  219).  Estas  produções  em 

pastas  claras que  não  se  enquadram  nos  fabricos napolitanos  estão documentadas por  um 

exemplar  na  Cabeça  de  Vaiamonte,  pelo  que  segundo  o  autor  do  estudo  essas  produções 

Page 78: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 76 

chegaram aos lugares mais recônditos do mundo romano e não se cingiram a uma distribuição 

intra‐peninsular (Fabião, 1998, p. 433). 

Dos poucos naufrágios identificados onde foi possível atestar que este tipo de material 

fazia  parte  do  carregamento  e  não  só  do  uso  a  bordo,  destaque‐se  o  de  Madrague  de 

Montedron, datado do  séc.  II –  I a.C., que  transportava essencialmente ânforas de  tradição 

pré‐romana e Campaniense A  (Ricci, 1973, p. 126). São tipos de  lucerna muito presentes em 

contextos do séc. II a.C. e que começam a escassear na primeira metade do século seguinte. 

Em Mesas dos Castelinho foi ainda possível associar um fragmento de asa a este tipo 

de cerâmica de iluminação ainda que de tipo indeterminado. A patente escassez no povoado é 

consentânea  com  a  ideia  da  fraca  adesão  das  comunidades  romanizadas  a  este  tipo  de 

produto e hábito itálico. 

Posto  isto, muito há  a  fazer no  campo da  sistematização deste  tipo de  recipiente e 

infelizmente,  porque  proveniente  de  um  contexto  revolvido,  o  exemplar  de  Mesas  do 

Castelinho, tipo E (b) de Ricci, não acrescenta muito se não a confirmação da  importação em 

território  actualmente português daquela  forma de produção napolitana  e  a prova, porque 

única, de que os sistemas de iluminação romana ainda se não tinham afirmado no sítio. 

 

 

4.4.6 Decoração   

Ao  contrário  do  que  sucedia  nos  momentos  anteriores  à  massificação  da  cerâmica 

campaniense  os  produtos  de  finais  do  séc.  II,  inícios  do  I  a.C.  não  gozam  de  composições 

(impressas ou pintadas) elaboradas e recorrentes. Muito pelo contrário, em todas as classes da 

cerâmica campaniense verifica‐se uma padronização e simplificação dos motivos decorativos 

numa  clara  resposta  à  necessidade  de  uma  produção  itálica  volumosa,  com  fim  a  uma 

exportação massiva.  

 

Gráfico 3.  Distribuição em percentagem dos tipos de decoração presente no sítio.  

Page 79: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 77 

Deste modo  os motivos  estampilhados  reduzem‐se  a  palmetas,  com  predomínio  de 

folhas dispersas  irregularmente e de forma radial, rodeadas por círculos  incisos concêntricos, 

chegando mesmo a desaparecer nos contextos do séc.  I a.C. Aliás,  já na segunda metade do 

séc. II a.C. se constata o predomínio avassalador dos círculos incisos na superfície interna dos 

fundos,  que  no  caso  da  Campaniense  A  se  explica  pela  influência  das  produções  de 

Campaniense B, que nesse momento concorrem e com êxito com elas.  

No panorama das cerâmicas campanienses de Mesas do Castelinho é possível observar 

apenas quatro registos de palmetas impressas (3NMI em contextos republicanos). O exemplar 

nº 3018  (v. Est. VII)  recolhido nas  terras de superfície do povoado é o único que conserva a 

totalidade do fundo e, como tal, toda a composição decorativa. Esta insere‐se no esquema das 

formas datadas de meados do séc.  II a.C. (F2234) da Campaniense A e conta com a presença 

de  quatro  palmetas  dispostas  de  forma  radial,  rodeadas  por  um  guilhoché  oblíquo.  Os 

restantes  exemplares,  porque  quebrados,  apresentam  parcialmente  a  sua  decoração  e, 

genericamente,  trata‐se do mesmo motivo associado à  forma antiga de  Lamboglia 55 e 5/7 

(por exemplo, nº 3451, v. Est. VIII). Na mesma proporção registaram‐se fragmentos de fundos 

com  impressão  de  “folhas  de  parreira”,  tidas  como  mais  antigas  (2NMI  em  contextos 

republicanos), ainda que neste caso exista uma clara superioridade da aplicação dos motivos 

às taças F2820, datadas, genericamente, do séc. II a.C. (por exemplo nº 3365, v. Est. XXXII). Nos 

acampamentos numantinos é possível verificar uma manutenção das decorações com “folha 

de  parreira"  no  3º  quartel  do  séc.  II  a.C.,  altura  em  que  as  palmetas  desaparecem  do 

reportório ali identificado (Sanmartí e Principal, 1997, p. 41). Este penúltimo quartel de século 

corresponde, grosso modo, ao desaparecimento das decorações impressas, dando lugar, ainda 

durante  a  variante  média  da  classe  A,  de  meados  do  II  a.C.,  às  decorações  com  círculos 

concêntricos  típicos  da  B  (Aquilué  Abadías,  2000,  p.  401).  Aliás  este  intervalo  cronológico 

parece  coerente  com o  facto de  em  Pollentia,  fundada  em  123  a.C.,  a Campaniense A não 

possuir decorações impressas de todo (Sanmartí Grego et al., 2000, p. 145). 

Em  termos  estratigráficos  verifica‐se  que  em  Mesas  do  Castelinho  há  uma  maior 

concentração de motivos impressos nos contextos do sector B2, referentes à primeira fase de 

construção/utilização  republicana,  imediatamente  sobre  os  compartimentos  pré‐romanos. 

Não é de estranhar, dado que os restantes materiais deste momento são consentâneos com 

um  início  de  ocupação  centrado  em  finais  do  séc.  II,  inícios  do  I  a.C.,  altura  em  que  ainda 

sobrevivem algumas produções na sua facies tardia que se suportam neste tipo de decoração 

mas que, efectivamente, já tendem a escassear.  

Um outro aspecto particularmente curioso reside na grande percentagem de aplicação 

de guilhoché (cerca de 99% em páteras F2230‐80) maioritariamente conjugado com a  incisão 

Page 80: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 78 

de caneluras concêntricas (v., por exemplo, Est XIII). Dos 31 casos (independentemente da sua 

posição  estratigráfica) 19  coexistem  com  caneluras  concêntricas na proporção de 1, 2 ou 3 

faixas.  Este motivo  de  roleta  surge  quase  sempre  associado  a  estampilhas mas  neste  caso, 

dado o grau de fragmentação dos exemplares, não é possível comprová‐lo.  

Um dos motivos característicos da  facies antiga da Campaniense A e pouco presente 

nos contextos do actual  território português é, efectivamente, a  roseta central  impressa nos 

fundos.  Neste  conjunto  a  sua  presença  é  muito  diminuta  e  apenas  representada  por  um 

indivíduo em contextos republicanos (nº 3323 da F2970 – v. Est. XXXI). Trata‐se de uma roseta 

muito mal conservada, se não mesmo mal impressa, pelo que apenas se pode vislumbrar 50% 

da mesma, o que nos dificultou a procura de paralelos. O fundo nº 3438 (v. Est. XXXIII) poderá 

relacionar‐se com o nº 940 dos conjuntos presentes da Andaluzia ocidental. Este caracteriza‐se 

por sete pétalas ovais, muito juntas e colocadas numa cartela circular (Ventura Martínez, 2000, 

p. 202), mas como o exemplar alentejano está apenas conservado em 25% da sua área é difícil 

sermos assertivos nesta classificação. O mesmo  se passa para as  restantes. Por norma, este 

motivo está associado a recipientes da forma antiga de Lamboglia 28, contudo, os exemplares 

que  aqui  apresentamos  colocam  severas  dúvidas  quanto  à  sua  classificação,  sem  que 

percebamos se estão em conformidade com a tendência geral.  

O  fundo  nº  3400  (v.  Est.  XXXIX)  possui  impressão  de  uma  folha  (não  a  única 

certamente) bem marcada e rodeada por um guilhoché de tamanho  irregular e oblíquo, com 

paralelo  no  nº  275  da  panóplia  relativa  aos  contextos  republicanos  da  Andaluzia  ocidental 

(Ventura Martínez, 2000, p. 201). 

Das seis estampilhas identificadas em recipientes de Campaniense B calena apenas em 

dois o seu grau de deterioração não nos impediu identificar o motivo.  

A estampilha do nº 3627  (v. Est. VI)  refere‐se a uma pátera F2230‐80 e  consiste no 

típico losango das produções tardias da cerâmica calena do Norte da Campânia (séc. I a.C.16). O 

exemplar de Mesas do Castelinho entra na categoria dos  losangos com quatro braços, sendo 

que  dois  terminam  sob  a  forma  de  quatro  pétalas  e  os  restantes,  mais  simples,  sem 

ramificações.  Ao  centro  descrevem  um  ponto  rodeado  por  uma  moldura  quadrangular  de 

laterais convexas.  Importa referir a existência de um segundo fragmento (nº 3807, v. Est. XL) 

com este motivo decorativo, ainda que a sua classificação tipológica tenha sido impossível de 

definir dado que  se  trata de uma parede de  fundo  (sem pé e arranque de parede). Ambos 

foram recuperados de contextos Imperiais. 

                                                            16 A determinação do aparecimento deste motivo complexifica‐se com as oscilações na datação da carga do naufrágio do navio 

Spargi, mas, atendendo à ausência nos níveis de Valentia até à sua fase final (75 a.C.), e por ter sido uma colónia onde o reportório caleno de século II (decoração em “coração”) está bem atestado, o mais provável é só ter surgido no final do 1º quartel do séc. I a.C. (Pedroni, 2000, p. 197). 

Page 81: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 79 

Este motivo, outrora  tido  como  típico das produções de Byrsa, é, na  realidade, uma 

característica  individualizadora  dos  produtos  calenos  e  encontra‐se  um  pouco  por  todo  o 

ocidente mediterrânico, como seja o caso de Castro Marim (Viegas, 2009, p. 417), Castelo da 

Lousa  (Delgado,  1971,  Est.II,  nº  27),  Pedra  Furada  (Ferreira,  1971,  p.  320,  nº  3)  e  Monte 

Manuel Galo  (Maia,  1987,  p.  56,  Est.III,  nº  2). A  determinada  altura  terão  começado  a  ser 

imitados pelas produções de Campaniense de pastas cinzentas, como provam os exemplares 

recolhidos  nos  contextos  da Andaluzia,  tidos  como  produções  “locais/regionais”  do  vale  do 

Guadalquivir  (Ventura Martínez, 2000, p. 185). Esta estampilha surge, simultaneamente, aos 

motivos em roleta, numa clara mutação técnica que teve por base a necessidade da agilização 

do  processo  decorativo.  Por  norma  este  era  moroso  e  discordante  com  a  necessidade  de 

produção em massa que os índices de exportação exigiam à altura. 

Dentro  deste  grupo  da  cerâmica  calena  estampilhada  existem  dois  fragmentos  de 

fundo  (nº 3763 e 3780, v. Est. VI) que partilham a  forma, algures no  intervalo F2230‐80, e o 

motivo. Trata‐se de um motivo radial onde é possível destrinçar 5 ou 6 pétalas muito esguias 

que se  iniciam numa outra central que, aparentemente, as suporta na base. Desconhecemos 

paralelos exactos para estes exemplares, sendo que o que mais se aproxima é uma estampilha 

de palmeta nº 1196 de Cales (Pedroni, 2000, p. 179).  

De toda a cerâmica  importada as caneluras  incisas concêntricas, em número variável, 

no fundo  interno dos recipientes, figuram como a técnica decorativa mais frequente e quase 

exclusivamente  associada  à  cerâmica  calena,  existindo  escassos  casos  na  Campaniense 

napolitana  e  aretina.  Este  é,  pois,  o  motivo  decorativo  com  maior  representatividade  no 

povoado (v. supra gráfico 3) e maioritariamente associado às páteras F2230‐80, seguido pelas 

tigelas da espécie F2300.  

A  decoração  sob  a  forma  de  uma  ou  duas  faixas  pintadas  na  parede  interna,  logo 

abaixo do bordo é o terceiro maior motivo decorativo representado em Mesas do Castelinho e 

resulta  da  simplificação  das  decorações  mais  elaboradas  da  facies  antiga,  característico  da 

Lamb. 31 e 33. Maioritariamente sob a forma de duas faixas negras, ocorre um caso com três e 

em três situações com duas. Nos exemplares mais tardios (finais séc.  II a.C., séc.  I a.C.) a cor 

das bandas assume  tonalidades acastanhadas ou mesmo negras, pelo que  se compreende a 

escassez  em  número  único  de  exemplares  com  pintura  branca  em  Mesas  do  Castelinho 

(F2970) (nº 3441, v. Est. XXXVI). Não tão comum, mas presente em cinco fundos, registaram–

se faixas concêntricas, ainda que pouco simétricas, pintadas a castanho ou negro que terão, a 

par dos círculos incisos, substituído as estampilhas na viragem do século (v. Est. XXX) Este tipo 

decorativo surge associado, maioritariamente, à F2970 se comparado com um único exemplar 

da F2952a 1 e F2984‐85 (ambos de níveis não republicanos) e ainda que muito representado 

Page 82: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 80 

nos produtos napolitanos tardios terá sido motivo predilecto nos produtos “contrafeitos” fora 

da Península Itálica (Lamboglia, 1952, p. 180‐181). 

Em  termos decorativos,  as  semelhanças entre  as  taças  F2154 e  as  F2970  são muito 

claras. Os exemplares mais antigos (sécs. III e II a.C.) das primeiras possuem na parede interna, 

junto  ao  bordo  interno  uma  linha  de  elementos  vegetais  (folha  com  três  pétalas  ou  falos) 

pintados a branco. Numa fase posterior, estas taças começam a ser decoradas com duas faixas 

pintadas a branco, igualmente sobre o bordo, com ou sem aqueles elementos vegetais, sendo 

que os casos que apresentam uma  incisão pós cozedura que contorna de forma ondulada as 

folhas pintadas reportam‐se a uma técnica precoce. No conjunto estudado existem dois casos, 

um na F2154c (séc. II a.C.) (nº 3747, Est. IV) outro na F2574a 1 (nº 3076, v. Est. XXIX) (primeira 

metade do  séc.  II a.C.),  com duas  faixas pintadas a negro ou  castanho‐escuro avermelhado, 

respectivamente, entre as quais se desenha um destes motivos pintado a negro. Reporta‐se a 

contextos de cronologias posteriores à sua produção (Imperial e Contemporânea), no entanto, 

a peculiaridade da decoração e a escassez em  território actualmente português exige a  sua 

menção do ponto de vista da presença, sem que outras considerações estratigráficas possam 

ser avançadas. Saliente‐se, apenas, a existência de um caso raro, em Mértola, sob a forma de 

falos dispostos de forma radial no fundo de um recipiente (Luís, 2003, p. 5, Est. XXII, I) e outro 

em Santarém  (Bargão, 2006, p. 83 e Est. XXXII, nº 296) que,  certamente  relacionado  com a 

reduzida dimensão do fragmento, ainda que não possua conservado os motivos fálicos, tudo 

sugere que a presença da  linha  incisa pós cozedura se coadune com a composição associada 

aos conjuntos mais antigos da F2154. 

 

 

4.4.7 Grafitos  

No conjunto analisado foi possível identificar cinco peças com grafitos que se dividem 

em dois grupos diferentes. Um simples, aplicado, exclusivamente, a exemplares de produção 

calena, definido por diferentes  composições de  incisões  sem nexo, na  superfície externa do 

fundo, ou por um trio de  incisões paralelas, na superfície externa do bordo (nº 3046, 3536 e 

3689, respectivamente). No segundo grupo a combinação de traços incisos cria um símbolo ou 

letra. Registámos assim, na face externa da parede de um recipiente de produção napolitana 

de  morfologia  indeterminada  (nº  3559,  v.  Est.  LX),  um  grafito  sob  a  forma  de  uma  seta 

composta por dois traços (um deles quebrado), com ponta junto ao  início da face externa do 

pé. Um  segundo  grafito  na  superfície  externa  de  um  fundo  de  uma  pátera  (F2230‐80)  que 

sugere tratar‐se de um A simples (nº 3738, v. Est. XVI). Se esta letra representa a inicial de um 

nome, a imensa diversidade de nomes latinos ou indígenas romanizados que deverão começar 

Page 83: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 81 

por A torna uma qualquer opção interpretativa num jogo de sorte. Por fim, o único exemplar 

pertencente a este grupo que não se trata de uma produção napolitana e que tem paralelos 

em Castro Marim (Viegas, 2009, p. 419) no mesmo tipo formal e produção, que consiste num 

grafito sob a forma de um X no fundo externo da peça (nº 3689, v. Est. XXVI).  

Nas  suas  diferentes  variantes  estes  grafitos  representam  a  necessidade  de  alguém 

marcar  a  sua  propriedade  sobre  o  objecto,  com  excepção  talvez  do  X  que  pode  estar 

relacionado com uma marcação qualitativa ou quantitativa do oleiro, acerca da fornada de que 

fizeram parte (Pedroni, 1990, p. 158‐159). 

 

 

4.4.8 marcas de oleiro (v. Est. XXI)  

Apenas  uma  peça  possuía  marca  de  oleiro.  Trata‐se  de  um  fundo  de  pátera,  cujas 

características  formais bastavam para aferir a sua proveniência e cronologia. De pasta muito 

depurada e acetinada ao toque (F5) e com verniz negro brilhante e aderente, o fragmento de 

fundo com diâmetro de grandes dimensões  (12 cm), com base plana e  ressalto marcado na 

face  interna  do  pé  denunciavam‐no  à  partida,  com  correspondência  à  F2286a  e  ao  pé 

classificado em Bb, pl 221, 16 (Morel, 1981, p. 444) típico da cerâmica aretina do séc. I a.C. A 

corroborar esta classificação possui dois selos radiais e um central no  interior de uma cartela 

rectangular com a leitura Q.AF, emoldurados por duas caneluras concêntricas e no exterior por 

pelo menos quatro faixas de guilhoché curto e pouco oblíquo. Será importante referir que um 

dos  selos  radiais  se encontra  sobreposto pela moldura  criada pela  roleta e pelas  caneluras, 

apagando‐o parcialmente. A marca representa o oleiro Quintvs Afranivs –Q.AF (3) (OCK, 51) de 

Arezzo  que  produziu  entre  o  ano  40  e  20  a.C.  (OCK  –CD  ROM).  A  avaliar  pelos  dados 

conhecidos  presentes  no OCK,  com  33  087  vasos  em  catálogo,  a  produção  deste  oleiro  foi 

vasta e teve como destino as diferentes províncias romanas, nomeadamente a Tarraconensis, 

Baetica e Lusitania, tal como as próprias províncias itálicas (v. supra 4.2.2.1). 

 

 

5 Contextualização estratigráfica dos materiais em análise (1987‐2008) 

5.1 Dinâmica da ocupação do sítio (estratigrafia e cronologias)  

Seria colossal a exposição de  toda a  sequência estratigráfica  romano  republicana do 

povoado, sua análise e discussão, sendo que este não é o momento nem o lugar indicado para 

tal  exercício. Deste modo, o  texto que  se  segue  tem por base  as  sequências  estratigráficas 

Page 84: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 82 

mais  relevantes,  numa  tentativa  de  perceber  as  implicações  económicas  e  cronológicas  da 

importação e utilização da cerâmica campaniense na evolução no sítio.  

Desde  já  importa  assinalar  a  ausência  de  um  inventário  geral  relativo  ao  material 

classificável, recolhido nos diversos contextos estratigráficos, que nos permitiria o suporte das 

sugestões  fornecidas  pela  análise  da  cerâmica  campaniense,  pelo  que  assumimos  a 

possibilidade de nos tempos futuros estes dados terem de ser reavaliados. Apesar de algumas 

formas de  cerâmica  fina nos  fornecerem  importantes  indicações  cronológicas,  com algumas 

implicações económicas e culturais, este tipo de cerâmica não pode servir isoladamente como 

fóssil director para a datação e compreensão de um sítio. A sua correlação com os restantes 

materiais  é  fundamental  para  corroborar  ou  refutar  as  directrizes  que  apontam.  Assim, 

suportámos  as  nossas  ilações  no  cruzamento  de  dados  relativos  ao  conjunto  anfórico  de 

cronologia romana republicana, detectado em Mesas do Castelinho, já defendido sob a forma 

de dissertação de mestrado pelo Dr. Jorge Parreira (Parreira, 2009). 

Na plataforma superior, como já houve ensejo de comentar, foi edificado um conjunto 

de  construções datadas, genericamente, do  séc.  I a.C. A  relativa homogeneidade do espólio 

recolhido  nos  diferentes  ambientes  torna  impeditiva  a  atribuição  de  uma  datação  fina  às 

diferentes remodelações a que o complexo foi sujeito ao longo do seu tempo de vida (Fabião, 

1998). Esta  imagem está bem patente no conjunto de campanienses ali recolhido e pode ser 

alargada ao resto do povoado republicano. 

A cerâmica campaniense detectada em associação com este complexo de construções 

encontra‐se muitas vezes revolvida, fora dos seus contextos primários. Por outro lado, como já 

referimos várias vezes, temos de ter sempre presente a possibilidade da reutilização de terras 

de outros pontos do povoado,  relativas a ocupações mais antigas, nos diferentes aterros de 

âmbito cronológico mais tardio. A que se acrescenta a possibilidade de perduração de algumas 

formas cerâmicas, tendencialmente correlacionadas com outros parâmetros cronológicos, pelo 

que é complexo gerir todas estas possibilidades.   

Não será certamente o caso do aterro [72]. Este aterro de pedras preenche a base do 

espaço delimitado pela estrutura pétrea [78], que delimita a Sul o “complexo de construções 

do séc. I a.C.”17, e a [74], que seria já parte integrante do Amb. VIII, delimitando‐o a Sul (v. fig. 

10). Os materiais recolhidos neste nível conferem o terminus post quem para a construção do 

complexo  edificado.  Deste  estrato  foi  possível  identificar  três  peças  de  Campaniense  A,  já 

publicadas (Fabião, 1998, p. 291), cujas formas (F2940/43 e F2954) indicam os finais do séc. II 

a.C.  como  limite  máximo  da  construção  do  complexo.  A  acrescentar  a  esta  informação  no 

                                                            17 A realidade  imediatamente a Sul do complexo define‐se pela precariedade das suas construções e está talvez associada a um 

pátio localizado num nível altimetricamente superior aos dos primeiros pisos republicanos, inacessível pelo interior destes. 

Page 85: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 83 

decorrer  deste  trabalho  foi  detectado  um  quarto  fragmento,  F2154,  com  datação 

tradicionalmente  centrada  na  primeira  metade,  pouco  avançada,  do  séc.  II  a.C.,  mas  cujos 

níveis das  intervenções em Valentia atestaram‐na  já na segunda metade desse século (Marín 

Jordá et al., 2000) e portanto, coerente com os dados já outrora avançados.  

Outro  dos  mais  relevantes  e  antigos  estratos  arqueológicos  relacionados  com  os 

primeiros  momentos  de  contacto  com  o  mundo  romano,  e  que  auxilia  na  interpretação 

cronológica  dos  mesmos,  reside  no  sedimento  [227].  Trata‐se  de  um  estrato  associado, 

igualmente,  à  1ª  fase  de  construção  do  mesmo  complexo  e  de  onde,  sem  outro  material 

datante  associado,  foi possível  recuperar 18  fragmentos de bojo de  fabrico  “local/regional” 

(F8)  e  sete  bordos  todos  de  produção  napolitana  (F2),  dos  quais  foi  possível  determinar  a 

forma de cinco, F2970 e F2984‐85. Se a primeira aponta para cronologias centradas no último 

quartel  do  séc.  II  a.C.,  a  segunda  é  maioritariamente  conhecida  em  contextos  de  segunda 

metade desse século, podendo chegar aos inícios do seguinte. É certo que um pouco por toda 

a  sequência  estratigráfica  vamos  encontrando  este  tipo  de  formas  (especialmente  as 

primeiras) mas em associação com outras que  lhes retiram a validade cronológica por serem 

mais  tardias. Aqui, pelo  contrário, o  conjunto é muito homogéneo e  coerente do ponto de 

vista  cronológico  e  a  definição  estratigráfica  não  levanta  dúvidas,  pelo  que  estamos  na 

presença de dois dos contextos republicanos mais antigos do povoado Mesas do Castelinho.  

  Grande parte dos níveis onde  lográmos  identificar este  tipo de  importações  itálicas 

reportam‐se  aos últimos níveis de derrube  correspondentes  ao momento de  abandono dos 

Amb. VI, VII, VIII e  IX, do sector A1. As cronologias nestes casos são bastante  latas, mas sem 

definirem  também  não  contrariam  as  propostas  pelos  materiais  anfóricos  ali  recolhidos. 

Tomemos, a  título de exemplo, o derrube  final do Amb.  IX,  [135], onde  foi possível  recolher 

fragmentos de Dr.20A, para além de ânforas de importação itálica e de tradição pré‐romana. A 

forte presença destas produções do Guadalquivir (Dr.20A) em estratos dos finais da ocupação 

republicana reforça o recuo anunciado do seu  início de produção, pelo menos, ao 3º quartel 

do  séc.  I  a.C.  (Parreira,  2009,  p.  64‐65)  o  que,  a  par  da  ausência  de  fragmentos  de  terra 

sigillata,  cujo  início  de  importação  é  tido  como  do  último  quartel  do mesmo  século,  torna 

coesa a hipótese do abandono do complexo nos finais daquele quartel de século. 

De todos, o ambiente X foi o que providenciou maior e melhor conjunto de materiais 

arqueológicos, entre metais e cerâmicas. Este  fenómeno dever‐se‐á  relacionar com aspectos 

de  conservação  e  amortização  do  espaço,  sem  que  se  possam  equacionar  justificações 

cronológicas para o sucedido. Encontrava‐se selado pelo derrube a Sul da [78], certamente a 

última a cair de todo o conjunto, revelando‐se assim importante na compreensão da diacronia 

de ocupação do espaço. Da análise da sucessão de estratos (ocupação e abandono) foi possível 

Page 86: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 84 

determinar o  seu preenchimento, genericamente,  compreendido entre o 2º e 3º quartel do 

séc. I a.C., tal como  já havia sido publicado anteriormente (Fabião, 1998, p. 297), dado que a 

sua sequência estratigráfica revelou níveis de ocupação com ânforas Classe 67 ([189] na base 

da estratigrafia) e Dr.7‐11  ([138] associada aos níveis mais recentes). Diga‐se que a presença 

aqui de Dr.7‐11, cujo auge de exportação ocorre já em período Imperial, a par da ausência de 

terra  sigillata  nos  autoriza,  cremos,  a  propor  essa  baliza  cronológica.  O  conjunto  de 

fragmentos de cerâmica campaniense daqui proveniente consiste em formas transversalmente 

presentes  nos  séc.  II  e  I  a.C.,  ainda  que  a  grande  quantidade  de  formas  enquadradas  no 

intervalo F2230‐80 (7NMI) revele a sua natural integração na facies característica do séc. I a.C. 

Já a presença de uma pátera F2272a  (na  [138])  com a  típica depressão  longitudinal entre o 

bordo e a carena, aponta‐nos uma cronologia entre o ano 75 e 65 a.C.  

Do ponto de vista da interpretação cronológica da ocupação republicana, no contexto 

das áreas anexas ao conjunto edificado, a detectada a Noroeste, [39] – [41] – [43], permanece 

como a sequência de estratos mais relevante (v. fig. 12). Trata‐se de uma sequência de níveis 

decorrentes  de  uma  acumulação  continuada  no  tempo,  pelo  que  terá  sido  complexa,  em 

alguns  pontos,  a  sua  diferenciação  física.  A  [43]  testemunha  os  primeiros  contactos  do 

povoado indígena com o mundo romano e as [41] e [39] parecem representar um grau maior 

de integração dos hábitos e vivências delegadas por aquela nova realidade. Assim, do primeiro 

momento sem construções associadas, existe um conjunto de materiais que nos reportam aos 

finais do séc. II a.C., em clara paridade com o início da construção do complexo edificado nas 

imediações.  O  conjunto  anfórico  era  composto  por  importações  itálicas,  Dr.1  da  costa 

tirrénica, por importações do Sul da Península Ibérica, de entre as quais Classe 8 e Maña C2 e 

produtos  de  tradição  pré‐romana,  na  forma  T‐8.2.1.1,  a  par  do  único  fragmento  de  vidro 

mosaico policromo  (tipo millefiori), encontrado em  contexto  tardo  republicano no  território 

actualmente português (Fabião e Guerra, 1994, p. 279). A cerâmica campaniense não permite 

considerações  categóricas  que  reportem  este  primeiro  momento  ocupacional  à  segunda 

metade  do  séc.  II  a.C.,  dada  a  presença  de  três  tigelas  F2360,  cujas  cronologias  estão  já 

centradas em pleno século seguinte, (a não ser que estejamos na presença de mais um caso de 

formas cujos intervalos cronológicos de produção tenham que ser revistos, que nos parece ser 

o caso). As dificuldades enunciadas pelos directores de escavação quanto à diferenciação física 

entre este depósito e o que imediatamente o sobrepunha sugerem que a posição estratigráfica 

daquele  material  esteja  indefinida.  Situação  corroborada  pela  homogeneidade  do  restante 

material  arqueológico quanto  à  sua  integração  cronológica. A  título de exemplo,  refira‐se  a 

existência  de  T‐8.2.1.1  e Maña  C2,  associadas  a  um  conjunto  significativo  de  cerâmicas  de 

tradição  ibero‐turdetana  e  potes  com  bandas  pintadas,  que  sugerem  a  formação  daquele 

Page 87: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 85 

estrato durante a segunda metade do séc.  II a.C.  Importa,  igualmente, referir o unguentário, 

F7111, em cerâmica campaniense A, séc. II a.C. (Fabião e Guerra, 1994, p. 279). A constatação 

da  elevada  percentagem  de  cerâmica  Campaniense  A,  que  vai  diminuindo  nos  estratos 

seguintes, ainda que não seja critério chave para a interpretação cronológica é sem dúvida um 

reforço do enquadramento cronológico proposto. 

Os estratos que se seguem reportam‐se ao séc. I a.C. Assim, associado a um primeiro 

conjunto de construções precárias (lajeado [40] e [44] articulado com uma estrutura coberta e 

sustentada por um conjunto de buracos de poste) registou‐se o estrato [41], sendo que o [39], 

após  uma  remodelação  do  espaço,  se  associa  a  restos  de  um  compartimento  muito  mal 

conservado e que seria talvez o único construído neste último momento de ocupação. É claro 

o crescimento das importações itálicas nestas unidades com uma concentração de produções 

calenas,  F7500  e  F2300,  a  par  obviamente  da  grande  quantidade  de  páteras  F2230‐80. 

Daquelas que  foi possível classificar com melhor precisão destacamos os  três exemplares da 

[41] do tipo F2341a 2 e F7553d 1 que abarcam a primeira metade do séc. I a.C., coerente com 

a cronologia proposta pelo tipo F2362a 1 (80+‐50 a.C.). O espólio anfórico concorda com esta 

proposta, especialmente pela presença das produções hispânicas da Classe 67. Importa referir 

que a presença de  terra  sigillata deverá  ser  relativizada,  já que estes estratos  são  cortados 

pela vala de implantação de uma oliveira [28]. Em termos morfológicos e índices de presença 

ao  nível  da  cerâmica  campaniense  e  ânforas  as  [39]  e  [41]  não  têm  grande  diferenciação, 

excepção feita à cerâmica comum e paredes finas. Neste último estrato nota‐se uma presença 

maioritária das Formas I e III de Marabini e de cerâmicas comuns já plenamente romanizadas, 

para  além  de  se  ter  registado  Haltern  70  (Fabião  e  Guerra,  1994,  p.  280)  e  uma  forma 

campaniense, F2361, que nos apontam já para a segunda metade do séc. I a.C. 

Relativamente  à  plataforma  superior,  resta  salientar  a  [145]  do  sector  A3  pela  sua 

posição  estratigráfica  (v.  fig.  13).  Trata‐se  de  um  estrato  que  preenche  uma  depressão 

efectuada na rocha, que caracteriza o  início de uma nova  fase de construção e ocupação no 

povoado, logo após o momento de amortização da muralha pré‐romana e portanto, coerente 

com  os  primeiros  contactos  com  o  mundo  e  influências  romanas.  Registaram‐se  formas 

campanienses típicas do último quartel do séc. II a.C., F2970, ou mais genericamente de todo 

esse século, F2820, cronologia suportada pelas produções anfóricas de tradição pré‐romana, T‐

9.1.1.1, que cessam na primeira metade do séc. I a.C., mas cujo auge de exportação se cinge à 

segunda metade do século anterior. Diga‐se, uma vez mais, que a antiguidade dos contactos 

entre  romanos  e  indígenas,  nesta  região,  é  sublinhada  pela  presença  nesta  U.E.  dos  já 

mencionados “pratos de peixe”, F1122, de produção napolitana, datáveis de finais do séc. III, 

inícios do séc. II a.C. 

Page 88: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 86 

A  plataforma  inferior,  B,  muito  melhor  preservada,  fornece  alguns  contextos 

associados a um organizado plano urbanístico romano republicano, pelo que, à semelhança do 

que se fez para as realidades da plataforma superior, destacaremos, por sector, algumas das 

mais relevantes sequências estratigráficas para a compreensão da ocupação do sítio. 

No sector B2, ao contrário do que sucede no B3 (ou seja, na ala a Este da Rua 1 que 

separa ambos), os materiais de importação itálica estão presentes logo nos primeiros estratos 

romano  republicanos. Ainda que não  seja  abundante  a presença de  importações  itálicas na 

primeira  fase de ocupação  (Romano Republicano  III)  (v.  fig. 14), os contextos do Amb. V são 

particularmente expressivos dos primeiros contactos com o mundo  romano, ainda no  séc.  II 

a.C.  Refira‐se  o  piso  [197],  onde  foi  documentada  uma  concentração  de  três  peças  de 

Campaniense A, todas com motivos decorados sob a forma de estampilha (palmeta), e formas 

anfóricas  T‐8.2.1.1.  Portanto,  esta  associação,  sem  nenhum  elemento  que  a  contrarie, 

permite‐nos falar em contextos referentes à inauguração da utilização deste espaço em finais 

do  séc.  II  a.C.,  podendo  mesmo  remontar  aos  seus  meados.  Situação  que,  atendendo  à 

organização arquitectónica em que se insere, não tem porque não ser extensível aos restantes 

compartimentos. 

A maior parte da cerâmica campaniense detectada neste sector provém da sua fase da 

ocupação republicana intermédia (Romano Republicano II) e caracteriza‐se por um predomínio 

de formas típicas da facies do séc. I a.C. da Península Ibérica, como sejam as páteras F2230‐80 

de produção calena.  

A sequência ocupacional do Amb. V demonstra que a construção/utilização dos pisos 

que sucedem a  [197]  já se enquadram em pleno séc.  I a.C. Destes destacamos o  [147], pela 

presença de um fundo de pátera, F2286, de produção aretina com marca de oleiro, Q.AF, com 

produção  situada  entre  40  e  20  a.C.  (OCK,  2000).  A  identificação  no  mesmo  piso  de  um 

fragmento de terra sigillata e a ausência de vestígios de alterações à estratigrafia original, que 

justifiquem a sua presença naquele estrato, coloca algumas questões. A convivência de uma 

produção com a outra não pode  ser debatida com base nos dados de Mesas do Castelinho, 

contudo, os espectros de utilização, no primeiro caso, da sua fase final e no segundo, da sua 

fase  inicial,  permitem  fenómenos  de  sobreposição  como  este  observado  em  Mesas  do 

Castelinho, sem que isso signifique contemporaneidade das produções. Na verdade, não existe 

razão para surpresas dado que existem  inúmeros casos de convivência entre campaniense e 

terra sigillata no último quartel do séc.  I a.C., como, por exemplo, em Ambrussum  (Adroher 

Auroux e López Marcos, 2000, p. 162).  

Page 89: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 87 

A última  fase de ocupação deste sector encontra‐se, como se viu, bem representada 

no Amb. V mas, a maioria da cerâmica campaniense a ela associada provém do Amb. IV, que 

apresenta um padrão muito homogéneo e concordante com o expectável para o séc. I a.C.  

Ainda  que  com  algumas  dúvidas,  a  imagem  que  transparece  da  análise  efectuada 

sugere  uma  ocupação  prolongada,  senão  mesmo  mais  tardia,  dos  Amb.  IV  e  V.  Esta  ideia 

poderá  estar  desvirtuada  da  realidade  pela  escassez  de  informação  que  os  restantes 

providenciaram (reflectida na parca presença de campaniense). Contudo, a avaliar pelos dados 

existentes,  aqueles dois espaços  têm  a maior  concentração de  fragmentos  com  cronologias 

mais  tardias, pelo que parecem  ter sido mais  intensamente ocupados durante o séc.  I a.C. e 

talvez  tenha mesmo ocorrido um  qualquer  episódio de desentulhamento  e  reocupação  em 

momentos mais tardios. 

Na Rua 1  (à qual acediam as casas do sector B2 e as mais a Oeste do B3) parece  ter 

ocorrido  um  qualquer  fenómeno  de  enchimento  sucessivo  com  recurso  a  terras  de  outros 

pontos do povoado, daí a inclusão nos seus estratos de imenso material descontextualizado e 

discordante  com o que as  relações estratigráficas  com as áreas anexas  insinuam. Por outro 

lado, foi alvo de imensas intrusões decorrentes do seu uso em época imperial. Deste modo, a 

sequência  estratigráfica  ali  presente  não  pode  ser  assumida  como  fiável  na  atribuição  e 

definição de  fases, ainda que nos pareça digno de  registo o  facto de não se  ter  identificado 

qualquer  registo  de  campaniense  na  sua  fase  inaugural.  As  primeiras  importações  deste 

género,  a  que  se  acrescentam  os  produtos  anfóricos  também  de  origem  itálica,  estão 

documentadas  apenas  nos momentos  contemporâneos  às  reconstruções  no  sector  B3,  por 

ocasião da anulação da divisão do edifício mais a Norte a favor da criação de um único espaço 

(Amb. XI) (V. fig. 15). 

O sector B3 revela algumas novidades e confirma algumas ilações já evidenciadas nos 

restantes. Aparentemente, só após as primeiras grandes remodelações,  já em pleno século  I 

a.C., a importação da campaniense ganha consistência. Os últimos momentos de ocupação dos 

edifícios do 1º quarteirão deverão corresponder  já à segunda metade do séc.  I a.C. A validar 

esta proposta contamos com as produções anfóricas do vale do Guadalquivir, que a partir de 

finais  do  primeiro  quartel  do  séc.  I  a.C.  foram  uma  presença  frequente  nos  contextos  do 

ocidente peninsular. Suportamo‐nos,  igualmente, nas produções da Bética Costeira, na forma 

Castelinho 1, predominantes em contextos após a segunda metade da centúria (Parreira, 2009, 

p.  68‐69),  ainda  que  o  autor  não  descarte  a  hipótese  de,  ocasionalmente,  ocorrerem  em 

cronologias  ligeiramente  mais  recuadas.  As  presenças  de  cerâmica  campaniense  não 

esclarecem, mas  também não contradizem esta proposta. Comparativamente com o espólio 

recolhido nas  fases  imediatamente anteriores, em que a campaniense evidencia uma matriz 

Page 90: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 88 

mais antiga com formas, F2970, F1300‐1400, típicas do séc. II a.C. (Ventura Martínez, 2000, p. 

186) e onde ficam claros os indícios relacionáveis com as ocupações/movimentações romanas 

no território, nesta o espólio reporta‐se a formas que podendo existir nos contextos de séc. II 

a.C.,  são  predominantes  no  seguinte,  como  F2230‐80,  para  não  falar  daquelas  que  são 

exclusivas, em contextos peninsulares, como F2300. 

Ainda  que  não  consideremos  como  fóssil  director  de  contextos  mais  antigos  a 

superioridade  da  cerâmica  Campaniense  A  sobre  as  demais  classes,  a  verdade  é  que, 

analisando o tipo de formas presentes, estas remetem‐nos para uma facies mais antiga. Como 

veremos, a Campaniense A mantém‐se bem representada nos níveis mais tardios do povoado, 

o  que  terá  que  ver  com  a  continuidade  e  contemporaneidade  dos  mercados  de  ambas  e 

especialmente com o período de amortização da campaniense A no povoado. 

À semelhança do que sucedeu com as ocupações do sector B2 também aqui se assiste 

a um predomínio da Campaniense napolitana sobre a calena e “local/regional”, excepção feita 

ao derradeiro momento de utilização do Amb. XI.  

Num  claro  episódio  ritual  de  inauguração  da  construção  do  Amb.  XXXVIII  do  2º 

quarteirão (v. fig. 16) foi depositado numa depressão no afloramento rochoso, logo abaixo do 

seu  1º  piso  de  ocupação,  [855],  um  conjunto  de  materiais  arqueológicos  quebrados  em 

conexão. Neste contexto é possível assistir à convivência de um “prato de peixe” em cerâmica 

“tipo Kouass” com três fragmentos de Campaniense A, F2820, datáveis genericamente do séc. 

II  a.C.  O  conjunto  contemplava,  igualmente,  uma  cabeça  feminina  em  terracota  de  cariz 

exótico,  para  o  qual  até  ao  momento  se  desconhecem  paralelos;  cerâmica  pintada  e  com 

engobe vermelho e castanho; cerâmica manual com decoração incisa em espinha e produções 

anfóricas  de  tradição  pré‐romana.  Trata‐se  de  um  contexto  romano  republicano  em  que  a 

convivência  entre  todos  estes  tipos  cerâmicos  de  tradição  indígena  e  importação  itálica, 

combinados  com  a  inauguração  de  um  dos  primeiros  espaços  da  1ª  fase  de  remodelação 

daquele quarteirão, traduzem a simbiose existente entre o “novo” e o “antigo”. Não se pode 

ignorar a presença, em momento anterior relacionado com o piso  [707], do Amb. XXIX  (este 

sim  fundador da divisão do espaço urbanizado), de um  fragmento de unguentário em vidro 

azul da forma III de Harden (Fabião et al., 2008). Este e o piso [708], do Amb. XXX, estariam em 

uso aquando da  fundação do Amb. XXXVIII, pelo que comungam uma  fase da  sua utilização 

perfeitamente integrável em pleno séc. II a.C. O registo revela que o fenómeno de importação 

dos  produtos  itálicos  ocorre  com  maior  incidência,  e  logo  em  quantidade,  a  partir  da 

inauguração do Amb. XXXVIII. Aqueles habitantes  já estariam perfeitamente  integrados num 

esquema de contactos com o mundo romano e a mutação visível em termos arquitectónicos é 

Page 91: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 89 

prova  disso  mesmo,  já  que  apesar  de  não  corresponder  a  nenhum  modelo  tipicamente 

romano, não se correlaciona certamente com o mundo pré‐romano.   

Esta  convivência  material  e  simbiose  entre  os  primeiros  contactos  com  o  mundo 

romano  e  consequente  aculturação  do  antigo  povoado  indígena  continuam  a  constatar‐se 

noutras zonas do povoado. As remodelações sucessivas do espaço mediado entre a 2ª Rua e as 

traseiras dos Amb.  I,  II, XXII, XXIII  (depois XI), com definição dos Amb. XV, XVII, XVIII, XXXII e 

XXXV providenciaram a recolha de Campaniense, exclusivamente, napolitana, convivendo com 

a cerâmica estampilhada de tradição pré‐romana. Em apenas dois dos Ambientes foi possível 

determinar a  tipologia destas produções, a saber: Amb. XVII com um  fragmento F1300 e XV 

com a maioria do conjunto, duas F2234, uma das quais com aferição do tipo f 1, uma F2154, 

F2820,  F2250  e  F1300‐1400.  Ou  seja,  um  conjunto  relativamente  coeso,  referente  a 

morfologias típicas da facies clássica da produção napolitana, com cronologias perfeitamente 

enquadráveis  na  segunda  metade  do  séc.  II  a.C.  Relativamente  às  ânforas,  a  ausência  de 

produções peninsulares, muito recorrentes nos contextos romano republicanos do povoado, e 

a  exclusividade  de  produções  itálicas  podem  ser  outro  indicativo  da  antiguidade  deste 

conjunto.   

Após  o  momento  de  abandono  destes  compartimentos  segue‐se  uma  intensa 

reestruturação do espaço que abrange todo o quarteirão, dando origem à fundação de novos 

ambientes, como o XII e o XXXVI. O espólio cerâmico, nomeadamente a campaniense, reflecte 

essa  transformação,  que  não  é  meramente  urbanística,  na  medida  em  que  se  assiste  à 

“substituição”  da  cerâmica  Campaniense  A  pela  B  de  Cales,  desaparecendo  do  registo  a 

primeira. Esta é a única sequência estratigráfica do povoado onde essa inversão de classes se 

pode constatar. Parece complexo associá‐la com as novas dinâmicas de comércio do povoado, 

porque, se assim o  fosse, essa realidade ter‐se‐ia que ver nas restantes áreas ocupadas suas 

contemporâneas. Nestas, o que sucede é a convivência até momentos bem avançados do séc. I 

a.C. da Campaniense A tardia com a B calena, sem se notar grandes disparidades entre ambas, 

embora haja uma ligeira superioridade das produções do Norte da Campânia.  

Curiosamente,  as únicas Campanienses da  classe A  identificadas,  F2230,  F2250‐80 e 

F2970, ainda que proeminentes no séc.  II não estão ausentes no  I a.C., na sua  feição  tardia. 

Estas Concentram‐se no nível  [318], que preenche uma depressão efectuada  imediatamente 

antes da construção do forno [311], no Amb. XXXVI, e dado o tipo de contexto pode ter havido 

alguma intencionalidade na constituição desse depósito. 

O  leque  de  formas  que  caracteriza  o  momento  de  amortização  do  Amb.  XII  e  a 

construção dos mais recentes espaços romano republicanos deste quarteirão, Amb.  III, VIII e 

XXXI, não varia, mantendo‐se a quase exclusividade da associação de cerâmica Campaniense B 

Page 92: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 90 

calena  nas  séries  F2250‐80  e  F2320.  Tanto  o  Amb.  III  como  já  o  XII  revelaram  indicativos 

formais,  caso  da  F2361  da  Campaniense  B  calena  e  ânforas  Classe  67,  que  sugerem  uma 

ocupação romano republicana já centrada na segunda metade do séc. I a.C. 

O material arqueológico aqui analisado  reporta‐se às  intervenções decorridas até ao 

ano  2008,  nesta  altura  a  escavação  em  profundidade  do  3º  quarteirão  encontrava‐se  em 

curso,  pelo  que  os  contextos  aqui  analisados  reportam‐se,  exclusivamente,  às  fases  mais 

recentes da ocupação romano republicana relacionada com os Amb. XIII, XIV, XVI e o forno XXI, 

ainda que, e até ao momento, nada sugira que se comportará de modo desigual às restantes 

ocupações romano republicanas mais antigas do sítio. 

A Rua 3, ao  contrário da 2, de onde não  se  recolheu qualquer  vestígio de  cerâmica 

campaniense classificável, forneceu um conjunto expressivo. Será de realçar, em particular, o 

piso de circulação [605], pertencente à fase de utilização em que o forno XXI já se encontrava 

instalado e os pisos e aterros aqui documentados encostavam à sua face externa (v. fig. 17). 

Este, à  semelhança dos pisos  [668], do Amb. XIV, e  [669], do XVI,  (provavelmente a mesma 

realidade), continha um conjunto de cerâmica campaniense muito expressivo e homogéneo, 

com as típicas formas de Campaniense B de produção calena do séc. I a.C. Da fase anterior à 

presença  do  forno  não  temos  qualquer  registo,  até  ao  momento,  de  forma  campaniense 

classificável.  

 

 

5.2 Evolução económica  

Perante  o  que  temos  vindo  a  expor,  fica  então  bem  patente  que  nos  primeiros 

momentos de construção/utilização romana republicana o cunho de toda a tradição  indígena 

está ainda muito presente. Só após as primeiras  transformações arquitectónicas deste novo 

urbanismo  se  verificam  vestígios  das  primeiras  importações  de  campaniense  itálica,  que  se 

podem  estender,  ao  que  tudo  indica,  aos  restantes  tipos  cerâmicos  com  a  mesma  origem 

(greco‐itálicas)  ou  aos  provenientes  de  áreas  do  Sul  da  Península  Ibérica,  já  submetidas  ao 

domínio romano. 

Estes  tipos cerâmicos exógenos vão conviver no povoado com cerâmicas de  tradição 

indígena de  fabrico manual, demonstrando uma simbiose entre os dois mundos. O povoado 

indígena é afectado pelo novo contexto político e económico da região,  imposto pelo mundo 

romano,  sabendo  aproveitar  e  adaptar‐se  a  esta  nova  influência,  integrando  os  principais 

fluxos comerciais e elevando a pujança económica dos habitantes  locais, expressa não só na 

cultura material como na arquitectura e área útil do povoado. 

Page 93: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 91 

A  significativa  presença  destas  importações  cerâmicas  testemunha  os  primeiros 

contactos romanos com o sítio e a prosperidade económica do mesmo, para além de reforçar 

a ideia de que esta precoce presença romana interagiu com o povoado indígena sem recurso a 

qualquer tipo de imposição violenta. 

A  análise  do  material  permitiu  a  identificação  de  um  conjunto  expressivo  de 

Campaniense  A  e  B  calena  e  uma  pequena  percentagem  de  B  aretina  e  Campaniense 

“local/regional” com verniz negro. Esta última, não definindo o consumo do sítio,  insere‐o no 

quadro das importações e relações, aparentemente, com a zona do vale do Guadalquivir. 

A diferenciação percentual entre a Campaniense A e a B calena resume‐se a 15%  (v. 

supra quadro 1). Efectivamente,  seria de esperar uma  clivagem mais expressiva dado que a 

maior parte do tempo de vida republicana do povoado se centra durante o séc. I a.C. Ou seja, a 

altura em que a cerâmica calena alcança o expoente máximo da sua produção e exportação 

para  o  Mediterrâneo  ocidental  (v.  razões  em  4.2.1.2)  dominando  estes  mercados.  Esta 

evidência  histórica  não  se  repercute  no  registo  arqueológico  de Mesas  do  Castelinho  pois, 

ambas as produções caminham a passo em número de presenças nos diferentes momentos 

identificados, sendo que nalguns casos, como seja no sector B2, a Campaniense napolitana é 

mesmo  superior  em  número  de  fragmentos  à  calena.  Esta  situação  é  exemplificativa  da 

impossibilidade em  valorizar excessivamente a presença maioritária de Campaniense  calena 

como elemento de determinação cronológica. 

A Campaniense A representa 40,5% do conjunto analisado e foi possível determinar a 

forma,  independentemente  da  sua  posição  estratigráfica,  de  212  fragmentos.  É  bastante 

abundante e revela um conjunto formal diversificado. 

O  decréscimo  de  qualidade  do  verniz  e  pasta  não  tem  necessariamente  que 

corresponder aos produtos tardios da Campaniense A (Ventura Martínez, 2000, p. 178). Neste 

sentido, a possibilidade que temos em Mesas do Castelinho em trabalhar com um sistema de 

registo que permite a percepção diacrónica do  sítio e baseando‐nos nos  restantes materiais 

que  ajudam  a  contextualizar  os  níveis  escavados,  a  divisão  cronológica  da  Campaniense  A 

deriva da conjugação de todos estes elementos apensos à determinação da sua tipologia. 

Assim,  as  formas  mais  comuns  são  as  F2970,  F2820,  F1300‐1400  e  uma  boa 

percentagem de F2234, com presenças minoritárias de F1122, F1443, F2154, F2614 e F2648, 

F2787,  F2840  e  F3131.  Comparando  este  reportório  com  o  dos  sítios  mais  próximos  da 

Andaluzia ocidental nota‐se uma equiparação tipológica importante pelo facto de se incluir na 

facies do séc. II a.C. da Campaniense A clássica, definido por Ventura Martínez (Ibidem, p. 186). 

Ainda  que  não  muito  comum  no  povoado,  existe  um  conjunto  de  matrizes  decorativas 

impressas características desta fase clássica que reduz a sua expressividade nesta altura para 

Page 94: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 92 

tornar‐se residual na Campaniense A tardia. Neste momento adopta os esquemas decorativos 

mais simples e rápidos da Campaniense calena, como as  incisões concêntricas nos  fundos. A 

facies  tardia está bem  representada pelas páteras F2250 e F2260‐80, bem  como por alguns 

exemplares  das  formas  F2970  e  F1300‐1500  que  revelaram  pormenores  decorativos  e 

morfológicos  relacionáveis  com momentos mais  tardios da  sua produção,  como  seja o  lábio 

biselado  associável  às  F2974,  também  documentados  em  Faro  (Viegas,  2009,  p.  138),  e  os 

pratos com bordos mais curtos, espessos e com tendência à horizontalidade da F1300. Assim, 

esta  amostra  é  bastante  reveladora  da  existência  de  uma  fase  de  ocupação  compreendida 

entre  a  segunda  metade  do  séc.  II  e  o  I  a.C.  Dúvidas  houvesse  seriam  dissipadas  pela 

comunhão,  nas  respectivas  sequências  estratigráficas,  de  contentores  anfóricos  com 

produções coevas a cada período. 

Não se vislumbra a diferenciação no que  respeita às produções calenas  identificadas 

no sítio com os diversos locais onde ela foi registada, como seja o caso de Faro e Mértola. Há 

um predomínio avassalador das tigelas F2300 (com alguns casos relevantes do ponto de vista 

cronológico,  como  seja  a  presença  de  F2360,  datável  da  segunda  metade  do  séc.  I  a.C., 

balizando as derradeiras ocupações republicanas) e das páteras F2230‐80, a par das constantes 

decorações típicas do séc. I a.C. A panóplia de formas e decorações presentes neste conjunto 

insere‐o  na  variante  tardia  das  produções  calenas  (82‐40  a.C.)  podendo  remontar  à  média 

(130/120‐90/80 a.C.) (Pedroni, 2000, p. 345‐350).     

Após  a  análise  da  evolução  quantitativa  das  presenças  de  cerâmica  campaniense 

estamos  em  crer  que  nos  momentos  iniciais  da  ocupação  romano  republicana  (segunda 

metade  do  séc.  II  a.C.)  a  importação  deste  material  era  muito  menor,  para  aumentar 

exponencialmente logo desde os inícios do séc. I a.C. 

Como já se aludiu seria tentador observar no 2º quarteirão do sector B3 um fenómeno 

de  substituição  da  Campaniense  A  pela  B,  suportado  numa  sequência  estratigráfica  que 

permite uma quantificação estatística e a determinação de um momento em que os valores se 

invertem  drasticamente.  No  entanto,  não  faz  sentido  atribuir‐lhe  significado  cronológico  e 

relacioná‐lo com as dinâmicas comerciais existentes, dado que na restante área do povoado, 

contemporânea destas fases, a clivagem entre uma e outra classe não é tão acentuada e por 

vezes mesmo inexistente. 

Deste  modo,  pensamos  que  uma  possível  explicação  terá  de  ser  articulada  com  a 

funcionalidade  a que  aquele espaço  se destinaria. Esta  zona  central do povoado destaca‐se 

pela  concentração  de  estruturas  de  combustão  de  carácter  industrial‐metalúrgico  (fornos), 

diferentes das lareiras do resto do povoado, bem como por uma permanente remodelação dos 

espaços (v. fig. 18) que decorre de modo contínuo sem nunca se abandonar fisicamente a área 

Page 95: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 93 

(Fabião et al., 2008). Atendendo à facilidade de aquisição deste tipo de Campaniense do Norte 

Campânia, a sua perda, desgaste ou destruição era menos problemática se comparada com o 

estrago  do  serviço  de  mesa  com  origem  napolitana.  Este  é  o  cenário  óbvio  numa  área  de 

trabalho,  pelo  que  pensamos  que  a  associação/concentração  de  campaniense  quase 

exclusivamente  calena  relaciona‐se  com essa  situação e não  com  a  substituição efectiva da 

importação da classe B sobre a A.  

 Na costa andaluza  recebe‐se Campaniense A até pelo menos ao 3º quartel do séc.  I 

a.C., sendo que nos sítios do interior a substituição desta pela B calena é muito mais precoce e 

repentina (Aquilué Abadías et al., 2000, p. 402‐403). 

O sítio Mesas do Castelinho é, talvez, um caso  intermédio entre estas duas situações, 

por um  lado não deve ter  importado até tão tarde, por outro a campaniense B não substitui 

radicalmente  a  A,  mantendo‐se  o  equilíbrio  entre  ambas  as  produções  até  aos  momentos 

finais da ocupação. Parece‐nos que terá que ver, antes, com fenómenos de amortização tardia 

de formas, cuja produção já teria inclusive cessado e daí a convivência entre ambas. Neste sítio 

a amortização da utilização do  serviço de mesa napolitano,  caleno e aretino  terá  coincidido 

com a chegada de novas influências e hábitos (terra sigillata) já característicos do novo padrão 

económico‐político de Roma.   

Por último, importa referir que nos parece errado continuar a considerar este tipo de 

cerâmica  como  um  produto  de  luxo,  na  medida  em  que  se  assume  como  um  produto 

comercializado  e  exportado  em  larga  escala,  via  marítima  e  para  todo  o  Mediterrâneo 

ocidental durante o  séc.  I a.C. Para além disso a amostra de Mesas do Castelinho  (uma das 

maiores  já  publicada)  é  parca  em  exemplares  com  vestígios  de  reparação,  o  que  sugere  a 

existência em quantidade daqueles produtos que dispensava o reparo que as peças de difícil 

aquisição exigiam. 

 

6 A cerâmica campaniense na dinâmica comercial romano republicana do século II e 

I a.C. no Sudoeste peninsular 

 

A ausência de importações do séc. III a.C., no território actualmente português, é difícil 

de  justificar se confrontada com as relações comerciais  intensas que o extremo ocidental da 

Península  Ibérica manteve com o Mediterrâneo, durante os sécs. V e  IV a.C.  (Arruda, 1997). 

Seria de esperar a “continuidade” dos fluxos comerciais entre ambas as realidades geográficas, 

tanto  mais  que  aqueles  sítios  sem  interrupção  ocupacional  e  importadores  de  cerâmica 

campaniense são os que, outrora, receberam cerâmica de verniz negro ático, como seja o caso 

de Mértola, Alcácer do Sal, Santarém, Cerro da Rocha Branca, Mesas do Castelinho…  

Page 96: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 94 

Não  faz  sentido  que  o  fragmento  de  pré  campaniense  do  Castro  do  Coto  da  Pena, 

Caminha,  seja  o  único  vestígio  de  importação  do  séc.  III  a.C.,  na  medida  em  que 

geograficamente o povoado encontra‐se,  inclusive, afastado dos  fluxos comerciais de  ligação 

com  o Mediterrâneo. Deste modo,  o  vazio  que  se  constata  no  âmbito  das  importações  de 

verniz negro, entre a “quebra” de  importação dos produtos áticos e o  início da aquisição do 

serviço  de  mesa  de  cerâmica  campaniense,  poderá  estar  relacionado  com  os  momentos 

conturbados da  I Guerra Púnica, que  resultaram na dificuldade dos  romanos penetrarem no 

ocidente peninsular  (Fabião e Guerra, 1996b, p. 123 e Fabião, 1998, p. 304). Existem várias 

outras hipóteses, até ao momento por confirmar, quanto às possíveis  formas de colmatação 

da “quebra” dos fluxos de intercâmbio com o Mediterrâneo, que podem também passar pela 

importação de  cerâmica do  “tipo Kouass”, durante o  séc.  III  a.C. Por outro  lado,  este  vazio 

pode,  simplesmente,  ser  demonstrativo  do  muito  que  ainda  há  a  fazer  no  campo  da 

investigação e publicação de dados. 

Posto  isto,  e  no  actual  estado  dos  conhecimentos,  nada  permite  afirmar  que  as 

importações de cerâmica campaniense sejam anteriores à presença dos exércitos romanos no 

ocidente peninsular (Fabião e Guerra, 1996b).  

Ainda  que  pouco  frequente,  não  é  surpresa  a  constatação  de  produções  itálicas 

datadas  da  primeira  metade  do  séc.  II  a.C.,  integradas  numa  relação  comercial  incipiente, 

antes  da  massificação  da  importação  das  produções  da  B,  associada,  provavelmente,  aos 

produtos  consumidos  pelos  agentes  da  romanização  do  território,  que  paulatinamente  vão 

integrando  os  hábitos  de  consumo  das  populações  peninsulares.  Destes,  destacamos,  por 

exemplo,  o  fragmento  do  tipo  F2574a  1  (nº  3076,  v.  Est.  XXIX),  de  entre  os materiais  com 

produção exclusiva da primeira metade do séc. II a.C., ou os fragmentos de “pratos de peixe”, 

com produção final nesta mesma metade de século, recuperados das  intervenções de Mesas 

do Castelinho. Neste sentido, a constatação, no principio dos anos ‘80, do Prof. Doutor Jorge 

de  Alarcão,  de  que  a  cerâmica  Campaniense  A  em  Portugal  seria  datada  na  totalidade  da 

segunda  metade  do  séc.  II  a.C.  (Alarcão,  1983)  encontra‐se,  perante  estes  novos  dados, 

ultrapassada.  

Já em 1998, a fraca representatividade da importação de cerâmica Campaniense A era 

desvalorizada  por  fazer‐se  corresponder  com  o  défice  de  publicações  portuguesas  (Fabião, 

1998,  p.  305‐306).  Actualmente,  com  a  publicação  dos  dados  referentes  aos  contextos  de 

Mértola, Faro e agora Mesas do Castelinho fica clara a alteração desse panorama.  

Os fluxos comerciais e a circulação de gentes que as movimentações militares romanas 

acarretam parecem contribuir, assim, para a dispersão da cerâmica campaniense em território 

actualmente português. Se nos momentos  iniciais da  sua presença estaria associada às  suas 

Page 97: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 95 

necessidades  específicas,  a  generalização  deste  consumo,  que  resulta  da  integração  das 

populações  peninsulares  nos  emergentes  fluxos  comerciais  com  a  Península  Itálica,  é 

obviamente  decorrente  do  processo  de  romanização.  De  qualquer  forma  cremos  ser 

importante  equacionar  a  hipótese  do  porto  de  Cádiz  ter  sido  também  responsável  pela 

presença inicial de material itálico, nomeadamente campanienses, na Ulterior. A submissão de 

Cádiz ao poder romano, datada  já de  finais do séc.  III a.C., a sua  longa  tradição comercial, o 

domínio das antigas  rotas  comerciais  com o  Sul da Península  Ibérica e o  conhecimento dos 

locais  receptores poderá  ter  contribuído para  a precoce  introdução de  produtos  itálicos na 

área  meridional  da  península.  Assim,  ainda  que  coincidentes,  estas  existências  podem  não 

estar, exclusivamente, relacionadas com a presença física dos exércitos romanos na Ulterior, o 

que  não  invalida  que  sejam,  obviamente,  decorrentes  de  toda  a  sua  acção  na  Península 

Ibérica. 

Os conjuntos  já publicados do actual território português revelam uma concentração 

de  cerâmica  campaniense datada da  segunda metade do  séc.  II  a.C. nas  zonas meridionais, 

facto que segundo os investigadores Carlos Fabião e Amílcar Guerra deverá estar directamente 

relacionado  com  os  tempos  de  progressão  dos  contingentes  militares  romanos. 

Nomeadamente com a campanha de Décimo Júnio Bruto, que ao que tudo indica em 138 a.C. 

já teria fortificado Lisboa e estabelecido ali a sua base militar de progressão para Norte (Fabião 

e Guerra, 1996b, p. 123). Como já houve ensejo de comentar, esta proposta implica que a Sul, 

o território  já estivesse pacificado, ou seja, estariam reunidas as condições para a  integração 

nos  circuitos  do  comércio Mediterrânico  estabelecido  pelo  poder  romano,  ainda  durante  a 

segunda metade  do  séc.  II  a.C.,  ou  talvez mesmo meados  (Viegas,  2010,  p.  498  e Adroher 

Auroux e López Marcos, 1996, p. 16). 

A maioria dos conjuntos de cerâmica campaniense estudados em Portugal provém de 

colecções de Museus, prospecções e dragagens  sem contexto estratigráfico associado o que 

lhes confere  reais problemas de  interpretação. Uma análise comparativa daqueles sítios que 

fornecem leitura estratigráfica, como seja Castro Marim, Santarém ou Mesas do Castelinho, … 

deve ser acautelada pelo tipo de ocupação a que se refere,  já que podemos estar a misturar 

contextos  e  cronologias  (por  exemplo:  Lomba  do  Canho,  contexto  militar  e  Faro,  contexto 

urbano)  que  necessariamente  devem  ser  vistos  de  perspectivas  diferentes.  A  maioria  dos 

contextos  de  importação  refere‐se  a  ocupações  domésticas,  exceptuando  a  necrópole  do 

Olival do Senhor dos Mártires, Alcácer do Sal, e de Torre de Ares, Balsa.  

Ao que parece não existe dicotomia entre os sítios do litoral e interior no que respeita 

à distribuição e  inserção cronológica da cerâmica campaniense detectada nuns e noutros. A 

título de exemplo, refira‐se a espécie F2820, com presença em Vaiamonte, na Pedra Furada, 

Page 98: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 96 

Setúbal, e em Santiago do Cacém (Fabião e Guerra, 1996b, p. 121), que cremos coerente com a 

ideia  de  que  a  acção  concertada  dos  exércitos  romanos  facilitou  e  agilizou  a  inserção  dos 

contextos mais interiores nos circuitos comerciais do Mediterrâneo.  

No  actual  estado  dos  conhecimentos,  os  conjuntos  mais  expressivos  de  cerâmica 

campaniense resumem‐se no Algarve a Castro Marim, com 186 fragmentos classificáveis, dos 

504  recolhidos  (Viegas,  2009,  p.  513)  e  a  Faro,  com  452  fragmentos,  em  que  121  são 

classificáveis  (Viegas, 2009, p. 136)  e no Baixo Alentejo  a Mértola,  com 572, dos quais 123 

possuem  forma  identificável. O  sítio Mesas do Castelinho destaca‐se no panorama nacional 

pelos seus 2532 fragmentos, dos quais 65818 permitiram uma atribuição tipológica.  

Esta  disparidade  de  presenças  não  pode  servir,  exclusivamente,  de  base  a  outras 

interpretações pois, dever‐se‐á  relacionar com a escolha e volume das áreas escavadas. Por 

outro  lado,  não  é,  certamente,  coincidência  o  facto  dos  maiores  conjuntos  de  cerâmica 

campaniense  conhecidos  serem  os  provenientes  destes  sítios  recentemente  abordados  de 

forma mais  extensa  ou  exclusiva. Deste modo,  cremos  que  a  quantidade  conhecida  estará 

estritamente  relacionada  com  o  índice  de  investigação  e  publicação.  Até  porque  não  faz 

sentido que Mértola, por exemplo, um dos principais centros  redistribuidores para as  zonas 

mais  afastadas  do  curso  do  Guadiana  tenha  um  volume  de  importações  inferior  àquele 

detectado nos núcleos que deveria abastecer,  como Mesas o Castelinho. Se bem que neste 

caso a explicação para esta imagem desfasada do que é espectável ter‐se‐á que relacionar com 

a ausência de escavação de estratos romanos republicanos. 

Cronologicamente, os materiais revelam ocupações centradas entre meados do séc. II 

e o I a.C. Em Faro nota‐se um predomínio, ainda que pouco expressivo, da Campaniense A, na 

ordem dos 51% do total do conjunto. Destas presenças mais antigas destacamos a variedade 

do conjunto formado por Lamb. 36, 33a, 55, 28, 27c e 31, F1300‐1400, 2154, 2230, 2600, 2820 

e 2970, respectivamente (Viegas, 2009). Do território algarvio  importa ainda referir o sítio do 

Monte Molião e as intervenções das áreas anexas que indiciam importantes e coesos vestígios 

do séc. II a.C., contemporâneos dos primeiros contactos com os romanos (Arruda et al, 2008 e 

Sousa e Serra, 2006). Em Mértola, o conjunto é muito semelhante a Faro, e ao contrário do 

que  sucede  neste  local,  tal  como  em  Mesas  do  Castelinho  as  produções  da  B  parecem, 

segundo Luís Luís, não surgir em força para começar a decair nos princípios do séc. I a.C., o que 

terá, certamente, que ver com a amostra estudada (Luís, 2003, p. 111). No caso do Castelo de 

Castro Marim, a escassez da Campaniense napolitana (2%) reflecte o contexto cronológico em 

que  se  insere,  50‐30  a.C.,  sendo  as  formas  mais  abundantes  F2300  (Lamb.  1)  e  F2230‐80 

                                                            18  Atendendo  que  o  conjunto  aqui  analisado  tem  como  limite  as  intervenções  de  2008,  este  número  e  após  duas  outras 

campanhas já se encontra desactualizado. 

Page 99: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 97 

(Lamb. 5/7) (Arruda, 1988 e Viegas, 2009). Alcácer do Sal e Miróbriga mostram um conjunto de 

formas de feição arcaica, como F1300‐1400 (Lamb. 36), F2820 (Lamb. 27c), F2600 (Lamb. 28), 

F2970  (Lamb. 31) e F3130  (Lamb. 48), de meados/segunda metade do  séc.  II a.C. O mesmo 

sucede com o Forte de São Sebastião, Castro Marim, com inclusão no seu reportório de F2230 

(Lamb. 55), a par de F2970 (Lamb. 31), com balizas entre os finais do séc. II e inícios do I a.C., 

segundo os  autores  atendendo  “…ao  considerável  conjunto de Campaniense A,  associada  à 

completa  ausência  de  produções  B‐óide…”,  bem  como  pela  “…inexistência  de  cerâmicas 

produzidas exclusivamente no decorrer do século I a.C., como por exemplo as ânforas da área 

do Guadalquivir, …” (Arruda e Pereira, 2008).  

As restantes evidências da dispersão deste tipo de material itálico em cronologias que 

testemunham  os  contactos  com  o  mundo  romano  encontram‐se  um  pouco  por  todo  o 

território, com maior ou menor concentração, cremos, devido à lacuna provocada pela falta de 

publicações monográficas dos sítios até hoje intervencionados.  

O mapa de distribuição conhecido até ao momento permite  falar de um comércio a 

longa distância, que abarcava os grandes portos da bacia Mediterrânica e que, numa acção 

concertada com a vontade política romana, estabelecia redes secundárias de distribuição para 

as zonas mais afastadas dos centros de recepção destes produtos. Aqui, a navegabilidade dos 

cursos  dos  rios  Tejo,  Sado  e  Mondego  facilitariam  a  chegada  dos  produtos  a  Lisboa, 

Santarém…, a Alcácer do Sal…, ou Conímbriga…, respectivamente e a título de exemplo.  

A  Sul  do  Tejo  e  contrapondo  a  via  de  abastecimento  de  cariz  atlântico  (Fabião  e 

Guerra, 1996b, p. 122‐123) a estreita relação de contactos comerciais e culturais com a bacia 

do  Mediterrâneo  dá‐se  pela  navegabilidade  do  rio  Guadiana,  que  se  impôs  como  via 

privilegiada entre o entreposto comercial de Mértola e o mundo Mediterrânico. Esta cidade, 

localizada  no  limite  da  navegabilidade  do  rio,  terá  tido  um  papel  fundamental  na  difusão 

destes  materiais,  com  recurso  a  vias  complementares  terrestres,  abarcando  todo  o  Baixo 

Alentejo  (Luís, 2003, p. 59). Apesar de se  tratar de um sítio de  interior, essa aparentemente 

limitação, não impediu que o povoado Mesas do Castelinhose integrasse as grandes redes de 

distribuição comercial (como provam os contactos frequentes com aquele entreposto, visíveis 

tanto no espólio numismático ali  identificado,  como nas  similitudes que o espólio  cerâmico 

recuperado  em  ambos  apresenta),  tendo  recebido  consideráveis  volumes  de  importações 

itálicas. A  sua  localização, na  antiga  zona de passagem  entre  o Algarve  e  o Baixo Alentejo, 

atenua essa  interioridade e  coloca em evidência outra possibilidade de  comunicação  com o 

litoral mediterrânico. 

 Não existem registos  literários que resolvam esta questão, pelo que a determinação 

das vias escolhidas para a difusão deste comércio  terá que se vislumbrar pela dispersão dos 

Page 100: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 98 

produtos que o caracterizavam. Esta hipótese encerra em si graves problemas, na medida que 

se  encontra  condicionada  pela  evolução  e  grau  de  precisão  das  investigações. De  qualquer 

modo é inegável a, já mencionada, presença de cerâmica campaniense nos sítios que outrora 

recebiam  os  produtos  áticos,  o  que  faz  suspeitar  da  perenidade  dos  caminhos  e  das  rotas 

utilizadas por ambos os comércios.  

O  transporte  de  produtos  alimentares  acondicionados  em  contentores  anfóricos  é, 

efectivamente, o principal produto de carregamento dos navios provenientes da Campânia ou 

Etrúria,  sendo  que  a  cerâmica  de  mesa,  neste  caso  particular  a  campaniense,  seria  carga 

subsidiária e nos primeiros momentos mesmo serviço de uso da tripulação.   

  Apesar  das  dificuldades  existentes,  aquando  da  sua  inserção  cronológica,  os 

naufrágios  assumem  especial  importância  na  documentação  dos  tipos  de  comércio  e 

respectiva  associação  de  produtos  exportados.  Dos  carregamentos  com  cronologias  mais 

antigas,  ainda que envolto em polémica mas,  certamente,  centrado na  segunda metade do 

séc. II a.C. (140/130), o naufrágio de L’Estartit, na Ilha Pedrosa, na costa catalã (Morel, 1981, p. 

63) destaca‐se pela associação de ânforas Dr.1 e greco‐itálicas tardias. Em Mesas do Castelinho 

a  percentagem  de  greco‐itálicas  é  visivelmente  reduzida  e  os  contentores  Dr.1,  de  origem 

maioritariamente  itálica,  bastante  frequentes  e  predominantes  no  conjunto,  com  68NMI 

(Parreira, 2009, p. 81). Portanto, pode‐se  tentar  visualizar  aqui,  como  já  se  fez para outros 

sítios, uma relação directa entre a  importação dos produtos vinários e a Campaniense A. Em 

relação  às  greco‐itálicas  as  presenças  são  muito  diminutas  e  como  tal  impedem  maiores 

considerações,  o  que,  também,  poderá  traduzir  o  “…  desinteresse  de  Roma  por  estes 

territórios  durante  a  primeira  fase  da  conquista  …  e  evidencia  de  uma  forma  clara  a 

inexistência de uma tradição comercial com o mundo itálico anterior à chegada dos primeiros 

contingentes militares ao ocidente peninsular.” (Pimenta, 2005, p. 120). Importa referir que, à 

semelhança da análise efectuada por C. Viegas para os conjuntos de Faro e de Castro Marim, 

também  em  Mesas  do  Castelinho  se  verifica  que  os  conjuntos  anfóricos,  que  eram  carga 

principal  dos  navios,  Dr.1  principalmente,  acompanhados  pela  Campaniense  A,  não  se 

encontram, ainda assim,  representados no  sítio na quantidade que  seria expectável  face ao 

índice  de  presença  daquele  serviço  de  mesa.  De  qualquer  forma,  convém  realçar,  que  ao 

contrário daqueles sítios algarvios, Mesas do Castelinho é um povoado de  interior, pelo que 

existem outras estratégias para ali fazer chegar os alimentos. Seria mais fácil o transporte de 

cerâmicas finas que o de ânforas carregadas, que mais facilmente se quebrariam no caminho, 

pelo que os produtos que estas  transportariam poderiam chegar ao povoado noutro  tipo de 

recipientes, daí a sua reduzida representatividade face à cerâmica de mesa. 

Page 101: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 99 

Para  os  conjuntos  mais  tardios,  e  segundo  C.  Fabião,  um  dos  naufrágios  mais 

relevantes  será  talvez o  La Madrague De Giens, Var, datado de meados do  séc.  I  a.C.,  cuja 

carga,  muito  semelhante  aos  contextos  identificados  no  Castelo  de  Castro  Marim  (Fabião, 

1998, p. 333), era composta por ânforas Haltern 70, Lamb. 2, Dr.1B e cerâmica Campaniense B 

de Cales  (tardia),  representada pelas  formas  Lamb.  1,  2,  3,  4,  5/7,  5,  7,  8b,  10, bem  como 

decorações sob a forma de losango (Ribera i Lacomba, 2001, p. 298).  

Em Mesas  do  Castelinho  a  campaniense  surge  de  forma modesta  (pelo menos  nos 

primeiros  estratos,  ainda  de  séc.  II  a.C.,  associados  aos  primeiros  contactos  com  o  mundo 

romano) para rapidamente, a partir de finais desse século, passar a ser um tipo cerâmico com 

elevado índice de representação. Esta tendência de integração progressiva e mais intensa nos 

fluxos  comerciais deste período não  é  exclusiva da  cerâmica  fina  e  estende‐se  às  restantes 

importações  itálicas (Arruda e Almeida, 1999), nomeadamente às anfóricas, como ocorre em 

Mesas do Castelinho (Parreira, 2009, p. 95).  

De acordo com a afirmação de J. P. Morel na Table Ronde ténue à Conimbriga, parece‐

nos  que  boa  parte  dos  exemplares  conhecidos  terá  que  se  relacionar  com  os  ritmos  de 

importação  do  séc.  II  a.C.,  na  sua  facies  clássica,  dado  a  boa  qualidade  dos  fragmentos  e 

registos formais.  

Como  já  referimos, o  sítio Mesas do Castelinho não poderá  ser entendido como um 

sítio  marginal  às  dinâmicas  e  fluxos  comerciais  que  dominavam  o  território  mas,  pelo 

contrário,  parte  integrante  destes.  Não  é  coincidência  que  o  volume  e  características  do 

conjunto aqui analisado tenham reais paralelos com sítios como Faro e Mértola, inclusive nas 

evidências monetárias  ali  recolhidas,  em  contexto  de  abandono  acidental  (Fabião,  1998,  p. 

457)  que  provam  os  contactos  comerciais  entre  estas  geografias,  inserindo‐o  na  esfera  do 

comércio da bacia do Mediterrâneo.   

Resta  mencionar  a  possível  inserção  no  circuito  “local/regional”  de  comércio  das 

cerâmicas  Campanienses  de  pastas  cinzentas,  provavelmente,  do  vale  do  Guadalquivir.  A 

representatividade deste material em Mesas do Castelinho é, efectivamente, baixa, mas não 

podemos  deixar  de  assinalar  os  possíveis  contactos  com  aquela  região,  também  atestados 

pelos  contentores anfóricos. A afirmação desta  região  remonta à primeira metade do  séc.  I 

a.C. e as reproduções de modelos Dr.1 estão bem representados neste sítio (Parreira, 2009, p. 

56),  demonstrando  a  importância  do  papel  dos  produtos  alimentares  peninsulares  no 

povoado. 

Na sua fase final de importação não se observa uma diminuição do volume consumido 

até ao seu desaparecimento total, pelo contrário, as produções de B calena parecem manter‐

se nas mesmas proporções ao longo de todo o séc. I a.C., para por volta do final do 3º quartel 

Page 102: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 100 

desse século, e acompanhando o final da ocupação romano republicana, deixar de se utilizar, 

quase de  forma brusca,  como  reflexo da mutação de  influências e hábitos do novo quadro 

económico‐político romano. 

O fim da importação da campaniense é um assunto ainda envolto em muita discussão 

pelo  que  se  deverá  tentar  perceber  em  cada  sítio  e  distinguir  o  fim  da  produção,  da 

amortização  de  determinadas  formas  e  tipos  cerâmicos.  Não  é  certamente  uma  transição 

homogénea, nem será seguramente  linear, dependendo das condições económicas, redes de 

intercâmbio comercial, hábitos e gostos de cada povoado ou região.      

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Page 103: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 101 

7 Considerações finais  

O Mediterrâneo ocidental é abastecido por cerâmica de verniz negro desde o séc. V 

a.C., com a importação dos produtos cerâmicos áticos, até à aquisição em massa de cerâmica 

campaniense do  séc.  I  a.C. Desde os  inícios do  séc.  II  a.C. que  a produção de  campaniense 

napolitana  está  bem  integrada  nos  circuitos  comerciais,  assumindo  o  abastecimento  dos 

mercados abandonados pela produção de cerâmica de verniz negro ático. Apesar de parte do 

reportório se basear nos produtos da Magna Grécia as formas e as produções vão evoluindo 

entre os sécs. IV e I a.C., passando de uma Campaniense napolitana muito arcaizante para uma 

produção do Norte da Campânia renovadora, onde se assiste à simplificação de formas (com 

desaparecimento das mais  complexas destinadas  à  ingestão de bebidas  e preferência pelas 

mais abertas, predominando as páteras F2230‐80). 

Parece‐nos incontornável a afirmação de que Mesas do Castelinho é um povoado pré‐

romano de fulcral  importância na tentativa de descodificar os mecanismos da transição, mais 

do que  constatar os efeitos, que  resultaram dos primeiros  contactos  com o mundo  romano 

durante  o  séc.  II  a.C.  A  convivência  de  elementos  de  tradição  indígena  com  as  primeiras 

importações  contemporâneas  da  influência  romana  revelam  a  identidade  do  povoado  pré‐

romano, que se vai adaptando ao novo contexto político e económico da região imposto pelo 

mundo  romano. As evidências da  cultura material e  a evolução  arquitectónica demonstram 

que este aglomerado concretizou a transição em seu benefício, integrando os principais fluxos 

comerciais da época. 

A  cerâmica  campaniense  é  tida  como  um  excelente  fóssil  director  que  testemunha 

esses  primeiros  contactos  do  sítio  e  no  caso,  expressa,  simultaneamente,  a  prosperidade 

económica  que  o  povoado  conhece  neste  período.  Esta  pujança  económica,  acompanhada 

pela  expansão  da  área  ocupada,  é  particularmente  interessante  se  confrontada  com  as 

dificuldades, relacionadas com os diversos contextos beligerantes conhecidos durante o séc. I 

a.C., que se faziam sentir por toda a Península Ibérica.  

O  mesmo  cenário  se  pode  vislumbrar  à  luz  dos  dados  que  o  estudo  do  material 

anfórico permitiu conhecer (Parreira, 2009).  

O sítio Mesas do Castelinho conta com um volume e variabilidade de  importações de 

cerâmica  de  verniz  negro  de  produção  itálica,  integrável  nos  sécs.  II  e  I  a.C.,  revelador  da 

participação do sítio nos grandes fluxos comerciais republicanos, acompanhando as tendências 

comerciais  Mediterrânicas.  É,  então,  exemplo  da  tradicional  existência  de  redes  de  ligação 

comercial que vincularam o interior alentejano à bacia do Mediterrâneo. 

Page 104: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 102 

  A existência, suscitada pela análise do  Itinerário de Antonino, datado provavelmente 

de  inícios  do  séc.  III  d.C.,  de  uma  via  que  partia  de  Faro  para Norte,  atravessando  a  serra 

algarvia  em  direcção  a  Almodôvar  é  pacífica  entre  os  investigadores.  Assim,  a  localização 

geográfica  do  povoado,  próxima  do  limite  da  navegabilidade  do  rio  Guadiana  e  das  vias 

terrestres que estabeleciam  ligação entre o Baixo Alentejo e o Algarve, entre a peneplanície 

alentejana e a serra do Caldeirão, favoreceu a sua ocupação humana, bem como a integração 

nos ritmos comerciais e económicos do período romano republicano. 

É  bastante  complexo  definir  intervalos  cronológicos  finos  no  que  respeita  aos 

momentos de construção/utilização e abandono do povoado republicano, na medida em que 

se vislumbra uma homogeneidade material presente nestes contextos  incompatível com esse 

propósito. 

 Os  contactos  com  o mundo  romano  estão  bem  patentes  na  presença  de materiais 

datáveis  da  primeira  metade  do  séc.  II  a.C.,  contudo,  não  é  credível  que  a  ocupação 

republicana  seja  anterior  a  meados  desse  século,  altura  em  que  se  terá  dado  início  ao 

rearranjo  urbanístico  do  povoado.  A  presença  destes  materiais  mais  antigos  poderá  estar 

articulada com a acção do porto de Cádiz, controlado no final do séc.  III a.C., por Roma, que 

mantém a sua acção organizadora e distribuidora do comércio no Sul da fachada atlântica da 

Ulterior, paralelamente à progressão e movimentação dos contingentes militares romanos por 

toda a bacia mediterrânica e durante o processo de conquista do Sul da península.   

A realidade verificada em Mesas do Castelinho reporta‐se ao maior conjunto estudado 

em  território  português,  ainda  que,  e  mais  uma  vez,  alertemos  para  o  facto  de  os  2532 

fragmentos  de  cerâmica  campaniense  ali  recolhidos  não  significarem  um  maior  índice  de 

importação  relativamente a outros sítios, mas sim poder estar  relacionado com as amostras 

estudadas ou com as escolhas das áreas intervencionadas. 

Durante  a  segunda  metade  do  séc.  II  a.C.  a  Campaniense  A  sofre  importantes 

transformações,  visíveis  no  reportório  e  patentes  no  registo  arqueológico  deste  povoado. 

Raras são as decorações, já quase inexistentes neste período, a qualidade dos produtos decai e 

acaba por ser suplantada pela massificação das produções calenas. Estas invadem os mercados 

peninsulares  de  forma,  cremos,  bastante  repentina.  Não  nos  parece  que  a  importação  de 

Campaniense A cesse assim que a produção calena passe a fazer parte dos serviços de mesa 

peninsulares, mas paulatinamente vai‐se tornando mais difícil a aquisição desta. Apesar de se 

tentar equiparar à célere e massiva produção da B do Norte da Campânia, esta ganha terreno, 

até porque é suportada por transformações políticas, como seja a abertura do porto de Delos 

e  a  criação  da  província  romana  da  Ásia,  em  129  a.C.,  com  repercussões  económicas, 

Page 105: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 103 

impossíveis de ignorar, que contribuíram, decisivamente, para o impacto que teve por todo o 

mundo romano (Pedroni, 2000, p. 348).  

Ao contrário do que sucede em  locais como Valentia  (Marín  Jordá, et al., p. 93) com 

índices de presença de Campaniense A e produções da B muito díspares e a que foi possível 

atribuir  cronologias,  em  Mesas  do  Castelinho  não  foi  possível  determinar  o  momento  de 

mutação dos mercados de  importação da  cerâmica Campaniense A pela B, pelo menos não 

nesta perspectiva de substituição. Trata‐se de um local com importação indirecta, ao contrário 

de Valentia, e como tal a observação desses fenómenos torna‐se mais complexa. O panorama 

aqui  detectado  parece  resultar  da  tardia  amortização  do  reportório  napolitano,  que  em 

momento algum pode  ser considerado como  residual, apesar do povoado, obviamente, não 

ser alheio às alterações no sistema produtivo itálico e respectiva difusão para o ocidente. 

Assim, não  se podendo  identificar uma  substituição  efectiva de A por B, porque de 

facto ela não ocorreu nesse  sentido, pode‐se  constatar um momento, algures  centrado nos 

princípios  do  séc.  I  a.C.,  em  que  a  B  calena  integra  os  mercados  e,  consequentemente,  a 

realidade artefactual de Mesas do Castelinho, sendo naturalmente, e em termos percentuais, 

ligeiramente superior já em momentos avançados do séc. I a.C.  

Das restantes  importações de campaniense destacamos a escassa representatividade 

de cerâmica de verniz negro aretino, centrada em momentos avançados do séc.  I a.C., como 

seria de esperar, e que demonstra a fraca difusão que teve nos contextos mais a ocidente do 

Mediterrâneo. Inédito no actual território português é, sem dúvida, a identificação, já referida 

em  relatório de escavação  (Fabião et al., 2001), da marca de oleiro Q.AF,  correspondente à 

produção da oficina aretina de Quintvs Afranivs, que terá produzido entre o ano 40 e 20 a.C. 

Desconhece‐se qualquer outra  evidência deste  género nesta  área  geográfica,  sendo que no 

mesmo sítio, proveniente da campanha de 2010,  foi possível  recuperar um outro  fragmento 

com marca característica desta produção, referimo‐nos à  impressão dos 2 C’s contrapostos19. 

O conjunto com esta proveniência relaciona‐se com formas típicas do último século antes da 

viragem da  Era, ou  seja,  F2230‐80,  especialmente  F2270  e  F2280,  com  grandes páteras, de 

bordos muito altos característicos desta produção. 

Um  aspecto  que  nos  parece  relevante  e  susceptível  de  ser  considerado  no  futuro 

deriva  da  possibilidade  de  terem  existido  reproduções  da  cerâmica  calena  de  oficinas 

localizadas  na  Península  Ibérica.  Em  fases  em  que  os  exércitos  se  movimentavam  pela 

península não é de todo estranho a migração e fixação de oleiros nestas paragens, o que está, 

aliás, bem documentado para a produção de terra sigillata de tipo  itálico, em finais do séc.  I 

                                                            19 Informação oral gentilmente cedida pelo Prof. Doutor Carlos Fabião. 

Page 106: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 104 

a.C. junto dos acampamentos de Herrera de Pisuerga e Lyon (Morillo e García‐Marcos, 2001), 

ainda que estes estejam directamente relacionados com oficinas militares. De qualquer forma, 

a hipótese que avançamos só poderá ser  testada pela concretização de análises químicas às 

pastas das produções da B, recolhidas nos centros receptores da Península Ibérica. 

A amostra de Campaniense “local/regional” em pastas cinzentas e laranjas com verniz 

negro,  imitando  o  reportório  das  produções  da  B  e  da  napolitana,  é  muito  reduzida  e  a 

determinação  das  áreas  de  proveniência  continua  por  apurar.  De  qualquer  modo,  e 

aparentemente, a área do vale do Guadalquivir terá tido um conjunto de oficinas produtoras 

de  uma  variante  da  cerâmica  Campaniense  “local/regional”  de  pastas  cinzentas  (Ventura 

Martínez, 2000), semelhantes com as identificadas em Mesas do Castelinho.  

Apesar do estudo da cerâmica campaniense permitir avanços no campo da percepção 

dos  fluxos  e  relações  comerciais  em  período  romano  republicano,  é  imperativo  que  estes 

dados  sejam  confrontados  com  os  passíveis  de  se  extrair  dos  restantes  elementos  que 

caracterizam  estes  contextos,  corroborando  ou  refutando  as  informações  prévias.  O 

conhecimento de uma ocupação, seja ela qual for, não pode ser  limitado, nem se esgota, ao 

que um  tipo cerâmico pode “dizer” sobre si. Neste sentido é  imperativo que se procedam a 

estudos  integrados que contemplem  toda a  informação estratigráfica e material, de modo a 

obtermos uma mais completa imagem das dinâmicas locais. 

A  falta  de  investigação  e  publicação  de  dados  contribui,  obviamente,  para  uma 

imagem trémula e precária do conhecimento que actualmente temos acerca da distribuição, 

caracterização  e  implicações  económicas  e  sociais  da  cerâmica  campaniense.  Perante  este 

cenário, crê‐se que, este pequeno contributo, que não pretende esgotar em si todo o espectro 

de  debate  sobre  a  questão  da  presença  desta  produção  em  Mesas  do  Castelinho,  poderá 

ajudar a esbater esse vazio. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Page 107: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 105 

8   BIBLIOGRAFIA 

AQUILUÉ ABADÍAS, X., GARCÍA ROSELLÓ, J. e GUITART DURAN, J. (coords.) (2000) ‐ La ceràmica 

de  vernís negre dels  segles  II  i  I a.C.: Centres productors mediterranis  I  comercialització a  la 

Península  Ibèrica.  Taula  rodona,  (Empúries  1998).  Mataró:  Museu  de  Mataró  /  Museu  de Catalunya (Empúries) / Universitat Autónoma de Barcelona, 412 p.  

ADROHER  AUROUX,  A.  M.  e  LÓPEZ  MARCOS,  A.  (1995)  ‐  Las  cerámicas  de  barniz  negro.  I. Cerámicas áticas y protocampanienses. Florentia Iliberitana. Granada. 6, p. 11‐53. 

(1996)  ‐  Las  cerámicas  de  barniz  negro.  II.  Cerámicas  campanienses.  Florentia  Iliberitana. Granada. 7, p. 11‐37. 

ADROHER AUROUX, A. M. e LOPÉZ MARCOS, A. (2000) – Contextos de barniz negro en la Alta Andalucia entre  los siglos  II y  I a.C.  In AQUILUÉ ABADÍAS, X., GARCÍA ROSELLÓ,  J. e GUITART DURAN,  J.  (coords.)  (2000)  ‐  La  ceràmica  de  vernís  negre  dels  segles  II  i  I  a.C.:  Centres 

productors  mediterranis  I  comercialització  a  la  Península  Ibèrica.  Taula  rodona,  (Empúries 1998). Mataró: Museu de Mataró / Museu de Catalunya (Empúries) / Universitat Autónoma de Barcelona. p. 149‐176. 

ALARCÃO, J. de (1983) – Portugal Romano. Lisboa: Verbo. 3ª edição. 

(1988)  –  O  domínio  Romano  em  Portugal.  Mem  Martins:  Publicações  Europa‐América,  4ª edição, 199 p. 

ALMEIDA,  J.  A.  (1953)  ‐  Introdução  ao  estudo  das  lucernas  romanas  em  Portugal.  In  O Arqueólogo Português. Lisboa. S.2., p. 5‐208.  

AMO  DE  LA  HERA,  M.  (1970)  ‐  La  ceramica  campaniense  de  importacion  y  las  imitaciones campanienses en Ibiza. Trabajos de Prehistoria. Madrid. 27, p. 201‐245. 

ANDRÉS BOSCH, J. (1998) ‐ Grafitos Ibéricos sobre cerámicas campanienses procedentes de la Serrada del Mas de Martí del Moll (Morella, els Ports). Cuadernos de Pré‐historia y Arqueologia Castalhonense. 19, p. 441‐443. 

ARCELIN, P. (1978) – Note sur les céramiques a vernis noir tardives en Provence Occidentale. In Morel (coord.) Journées d’étude de Montpellier sur la céramique campanienne. Archeologie en 

Languedoc. Montpellier: Fédération Archéologique del’heraul, p. 105‐125. 

(1998) – Quantifier  les céramiques d’un site. Choix préalables et traitements de  l’information archéologique. In ARCELIN, P. et TUFFREAU‐LIBRE, M. (dir) – Actes de la table ronde du Centre archéologique  européen  du Mont  Beavray:  La  quantification  des  céramiques.  Conditions  et protocole. Glux‐en‐Glenne: Centre archéologique européen du Monte Beuvray. Bibracte. 2, p. 37‐46. 

(2000)  –  Les  importations de  vaisselle  italique  à  vernis noir  ao  Ier  siècle  avant  J.  –C.  sur  la façade Méditerranéenne de  la Gaule. Noveaux regards économiques et culturels. In AQUILUÉ ABADÍAS, X., GARCÍA ROSELLÓ, J. e GUITART DURAN, J. (coords.) (2000) ‐ La ceràmica de vernís 

negre dels  segles  II  i  I a.C.: Centres productors mediterranis  I comercialització a  la Península 

Page 108: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 106 

Ibèrica.  Taula  rodona,  (Empúries  1998).  Mataró:  Museu  de  Mataró  /  Museu  de  Catalunya (Empúries) / Universitat Autónoma de Barcelona. p. 293‐332. 

ARCELIN, P. et TUFFREAU‐LIBRE, M. (dir) (1988) ‐ La quantification des céramiques. Conditions et protocole. Actes de  la table ronde du Centre archéologique européen du Mont Beavray: La 

quantification des céramiques. Conditions et protocole. Glux‐en‐Glenne: Centre archéologique européen du Monte Beuvray. Bibracte. 2, p. 141‐157 

ARNAUD  J.M e GAMITO T.J.  (1974‐77) – Cerâmica estampilhada da  Idade do Ferro do Sul de Portugal: I – Cabeça de Vaiamonte – Monforte. O Arqueólogo Português. Lisboa. 3ª série, 7‐9, p. 165‐202. 

ARNAUD,  J.  M.  (1970)  ‐  O  Castelo  Velho  de  Veiros  (Estremoz):  campanha  preliminar  de escavações  de  1969.  Actas  das  I  Jornadas  Arqueológicas,  II.  Lisboa:  Associação  dos Arqueólogos Portugueses, p. 309‐328. 

ARRUDA, A.M.  (1988)  ‐ Nota  sobre  a  ocupação  romana  ‐  republicana  do  Castelo  de  Castro Marim. In Actas do 5º Congresso do Algarve. Vol. 1. Silves: Racal Clube, p. 13‐17. 

(1997) ‐ As cerâmicas áticas do castelo de Castro Marim. Lisboa: Colibri. 

(2004a) – O expansionismo de Cartago e o território actualmente português, In Medina, J. (ed.) História de Portugal. Amadora: Ediclube, vol. 2, p. 323‐339. 

(2004b)  –  Os  primeiros  contactos:  a  conquista,  In  Medina,  J.  (ed.)  História  de  Portugal. Amadora: Ediclube, vol. 2, p. 345‐370. 

(2004c)  –  O  Mundo  Luso‐Romano:  a  estrutura  político‐administrativa,  In  Medina,  J.  (ed.) História de Portugal. Amadora: Ediclube, vol. 2, p. 421‐431. 

ARRUDA, A. M. E ALMEIDA  (1999)  ‐  Importações de vinho  itálico para o território português: contextos,  cronologias  e  significado.  In  Actas  da  IIIe  Table  ronde  sur  la  Lusitanie  romaine, (Madrid, 1 e 2 de Dezembro 1997). Madrid: Casa de Velazquez, p. 307‐337. 

ARRUDA,  A.  M.  e  GONÇALVES,  L.  J.  (1993)  ‐  Sobre  a  romanização  do  Algarve,  Actas  do  II Congresso  Peninsular  de  História  Antiga.  Coimbra,  18  a  20  de  Outubro  de  1990.  Coimbra: Instituto de Estudos Clássicos e Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras de Coimbra, p. 455‐466. 

ARRUDA,  A.  M.  e  PEREIRA,  C.  (2008)  ‐  As  ocupações  antigas  e  modernas  no  Forte  de  S. Sebastião, Castro Marim. In Actas do 5º Encontro de Arqueologia do Algarve, (Silves, Outubro de 2007). Xelb 8, Vol.  I, Comunicações e conferências. Silves: Câmara Municipal de Silves, p. 365‐395. 

ARRUDA,  A.  M.,  SOUSA,  E.,  BARGÃO,  P.  e  LOURENÇO,  P.  (2008)  ‐  Monte  Molião  (Lagos): resultados  de  um  projecto  em  curso.  In  Actas  do  5º  Encontro  de  Arqueologia  do  Algarve, (Silves,  Outubro  de  2007).  Xelb  8,  Vol.  I,  Comunicações  e  conferências.  Silves:  Câmara Municipal de Silves, p. 137‐168. 

Page 109: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 107 

ARTHUR, M. L. C. (1983) – Meróbriga, Santiago do Cacém (Portugal). Caesaraugusta. Nº57‐58, p. 51‐109. 

BARBERÁ FARRAS,  J.  (1958)  ‐ La necrópolis  ibérica de Cabrera de Mar  (Colección Rubio de  la Serna). Ampurias. Barcelona. 30, p. 97‐150. 

(1959)  ‐ Hallazgo  submarino  de  un  pecio  con  cargamento  de  ceramica  campaniense, Varia. Zephyrvs. Salamanca. X, p. 173‐175 

 (1964‐65) ‐ La cerámica barnizada de negro del poblado ilergeta del Tossal de les Tenalles, de Sidamunt (Lérida). Ampúrias. Barcelona. 26‐27, p. 135‐163. 

(1969‐70) ‐ La necrópolis Ibérica de Cabrera de Mar. Ampurias. Barcelona. 31‐32, p. 169‐189. 

BARGÃO,  P.  (2006)  ‐  As  importações  anfóricas  do Mediterrâneo  durante  a  época  Romana 

republicana  na  Alcáçova  de  Santarém.  Dissertação  apresentada  à  Faculdade  de  Letras  da Universidade de Lisboa para obtenção do garu de Mestre. (Policopiado). 

BEAU, B.  (1994)  – A brief  archaeo‐metallurgical  survey  at Mesas do Castelinho, Almodôvar, Portugal,  in  July  1992. Actas  das V  Jornadas Arqueológicas  da Associação  dos Arqueólogos. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses. Vol.2, p. 291‐294. 

BELTRÁN  LLORIS, M.  (1976),  La  cerámica del acampamento de Cáceres El Viejo  (Cáceres). V Congreso de Estudios Extremeños. (Ponencias VII y VIII). Badajoz. p. 1‐23. 

Bernal  Casasola  D.  e  Ribera  i  Lacomba  A.  (eds.)  (2008)  ‐  Cerámicas  hispanorromanas.  Un 

estado  de  la  cuestión.  XXVI Congreso  Internacional de  la Asociación Rei Cretariae Romanae Fautores. Cádiz: Universidad de Cádiz /Fundación Pouroulis, 808 p. 

BERROCAL‐RANGEL,  L.  (1992)  ‐  Los  pueblos  célticos  del  Suroeste  de  la  Península  Ibérica. Complutum Extra 2, Madrid. 

BLÁZQUEZ, J.M. et alli (1988) – História de España Antiga. Hispânia Romana. Madrid: Cátedra, tomo II, p. 95 

CASTANYER, P.; SANMARTÍ, J. e TREMOLEDA, J. (1993) – Céramique punique à vernis noir.  In PY, M. (dir,) ‐ Lattara 6. Dicocer – Dictionnaire des céramiques antiques (VIIe s. áv.n. è – VIIe s. 

de n.è.) en Mediterranée nord‐occidentale  (Provence, Languedoc, Ampurdan). Lattes, p. 539‐541. 

CHICARRO, C.F. (1953) ‐ La colección de vasos griegos, italogriegos y cerámica campaniense del Museo Arqueológico de Sevilha. Zephyrus. Salamanca. IV, p. 193‐207.  

CUADRADO,  E.  (1978)  ‐  Ceramica  campaniense  de  el  Cigarralejo.  Boletin  de  la  Asociacion Española de Amigos de la Arqueologia. Madrid. 9, p. 23‐32. 

CURA  i MORENA M.  (1985)  ‐ Les ceràmiques de verníz negre de Can Solsona  i  l’estratigrafia comparada dels jaciments pre‐romans del Solsonès. Faventia. Barcelona. 7:2, p. 105‐113. 

Page 110: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 108 

DELGADO, M. (1971) ‐ Cerâmica campaniense em Portugal. Actas do II Congresso Nacional de Arqueologia. Coimbra. Vol. II, p. 403‐ 424. 

(1976a)  ‐  Céramiques  campaniennes  et  de  type  campanien.  In  AA.VV  ‐  A  propos  des céramiques de Conímbriga Table ronde tenue à Conimbriga les 25‐26‐27, Mars 1975. Publ. du Centre Pierre Paris. Paris: Ed. De Boccard, p. 88‐92. 

(1976b) – Céramiques campaniennes et de type campanien. In ALARCÃO J. (ed.) e ETIENNE, R. (dir) Fouilles de Conimbriga VI, Céramiques diverses et verres. Paris: Diffusion E. de Boccard. vol. VI, p. 21‐26. 

DIOGO, A. M. D.  (1984)  ‐ O material romano da 1ª campanha de escavações na Alcáçova de Santarém (1979). Conimbriga. Coimbra: Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra. 23, p. 111‐141. 

DIOGO, A. M. D. e TRINDADE. L. (1993‐1994) ‐ Materiais provenientes dos Chões de Alpompé (Santarém). Conimbriga. Coimbra:  Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra. 32‐33, p. 263‐281. 

FABIÃO,  C.  (1996)  ‐  O  povoado  fortificado  da  Cabeça  de  Vaiamonte  (Monforte).  A  Cidade. Lisboa. Nova série. 11, p. 35‐84. 

(1997) – O passado proto‐histórico e romano.  In MATTOSO,  J., ed.  lit.  ‐ História de Portugal. Lisboa: Editorial Estampa. Vol. I, p. 79‐271. 

(1998)  ‐ O mundo  indígena e a sua romanização na área céltica do território hoje português. Lisboa:  Faculdade  de  Letras  de  Lisboa.  3  volumes,  418,  553,  337  p.  Dissertação  de doutoramento. [policopiado].  

(1999) – A propósito do depósito de Moldes, Castelo de Neiva, Viana do Castelo:  a baixela romana tardo‐republicana em bronze no extremo ocidente peninsular. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia. 2:1, p. 163‐198. 

(2004a)  –  Os  contextos  da  conquista  romana.  In  Medina,  J.  (ed.)  História  de  Portugal. Amadora: Ediclube, vol. 2, p. 381‐400. 

(2004b)  – Arqueología militar  romana  da  Lusitania:  textos  e  evidências materiais.  In  PÉREZ GONZÉLEZ,  C.  e  ILLARREGUI  GOMEZ,  E.  (coords.)  Actas  de  arqueología  militar  romana  en Europa. Castilla y Léon: Universidad Internacional SEK. p. 53‐74. 

FABIÃO, C. e GUERRA, A. (1988) – Trabalhos no povoado fortificado de “Mesas do Castelinho”, 

Almodôvar ‐ 1988. Lisboa. [Policopiado]. 

(1991a) – Mesas do Castelinho, Almodôvar. A campanha 2 ‐ 1990. Lisboa. [Policopiado]. 

(1991b) ‐ O povoado fortificado de “Mesas do Castelinho”, Almôdovar. Actas das IV Jornadas Arqueológicas. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses, p. 305‐319. 

[1992] – Mesas do Castelinho, Almodôvar. A campanha 3 ‐ 1991. Lisboa. [Policopiado]. 

Page 111: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 109 

(1993)  –  Uma  fortificação  Omíada  em  Mesas  do  Castelinho  (Almodôvar).  Arqueologia Medieval. Porto: Afrontamento. 2, p. 85‐102. 

(1994) – As ocupações antigas de Mesas do Castelinho, resultados preliminares das campanhas de  1990‐92.  Actas  das  V  Jornadas  Arqueológicas  da  Associação  dos  Arqueólogos.  Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses. Vol. II, p. 275‐289. 

[1995] – Mesas do Castelinho, Almodôvar. Campanha 6 ‐ 1994. Lisboa. [Policopiado]. 

[1996a] – Mesas do Castelinho, Almodôvar. Campanha 7 ‐ 1995. Lisboa. [Policopiado]. 

(1996b) – A cerâmica campaniense do acampamento da Lomba do Canho (Arganil). Ophiussa. Lisboa: Edições Colibri/Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras de Lisboa. N. 0, p. 109‐131. 

(2001) – Mesas do Castelinho, Almodôvar: uma fortificação rural islâmica do Baixo Alentejo. In FERNANDES,  I. C.  (coord.) – Mil anos de fortificações na Península  Ibérica e no Magreb (500‐

1500):  Actas  do  Simpósio  Internacional  sobre  Castelos.  Lisboa:  Edições  Colibri/Câmara Municipal de Palmela, p. 171‐176. 

(2008) – Mesas do Castelinho  (Almodôvar): um projecto com vinte anos. Al‐madan. Almada: Centro de Arqueologia de Almada. S2, 16, p. 92‐105. 

(2009)  –  Mesas  do  Castelinho,  Almodôvar.  Relatório  de  Campanha  19  ‐  2008.  Lisboa. [Policopiado]. 

FABIÃO, C., GUERRA, A., ALMEIDA, R. e RAMOS, C. [2006] – Mesas do Castelinho, Almodôvar. 

Relatório de Campanha 16 ‐ 2005. Lisboa. [Policopiado]. 

FABIÃO, C., GUERRA, A.,  LAÇO, T. e ALMEIDA, R.  [2004] – Mesas do Castelinho, Almodôvar. 

Relatório de Campanha 15 ‐ 2003. Lisboa. [Policopiado]. 

FABIÃO,  C.,  GUERRA,  A.,  LAÇO,  T.,  RAMOS,  A.  [2001]  – Mesas  do  Castelinho,  Almodôvar. 

Relatório de Campanha 12 ‐ 2000. Lisboa. [Policopiado]. 

FABIÃO,  C.,  GUERRA,  A.,  LAÇO,  T.,  RAMOS,  A.  [2003]  – Mesas  do  Castelinho,  Almodôvar. 

Relatório de Campanha 14 ‐ 2002. Lisboa. [Policopiado]. 

FABIÃO,  C.,  GUERRA,  A.,  LAÇO,  T.,  RAMOS,  A.  e  MELRO,  S.  [2000]  – Mesas  do  Castelinho, 

Almodôvar. Relatório de Campanha 11 ‐ 1999. Lisboa. [Policopiado]. 

FABIÃO,  C.,  GUERRA,  A.,  RAMOS,  A.,  MELRO,  S.  e  LAÇO,  T.  [1998]  – Mesas  do  Castelinho 

(Almodôvar). Campanha 9 (1997). Lisboa. [Policopiado]. 

FABIÃO, C., GUERRA, A., ROCHA, A. e ESTRELA, S.  (2006) – Mesas do Castelinho, Almodôvar. 

Relatório de Campanha 17 ‐ 2005. Lisboa. [Policopiado]. 

FABIÃO, C., GUERRA, A., ROCHA, A. e ESTRELA, S.  (2007) – Mesas do Castelinho, Almodôvar. 

Relatório de Campanha 18 ‐ 2006. Lisboa. [Policopiado]. 

Page 112: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 110 

FABIÃO, C., GUERRA, A., ROCHA, A. e ESTRELA, S.  (2008) – Mesas do Castelinho, Almodôvar. 

Relatório de Campanha 19 ‐ 2007. Lisboa. [Policopiado]. 

FARRAS, J. B. (1975) ‐ Grafitos ibéricos sobre cerámica campaniense en el Poblado Ibérico del Castellar (Albocácer). Cuadernos de Prehistorià y Arqueologia Castellonense. Castelló. Vol. 2, p. 165‐167. 

FERREIRA,  C.  J.  A.  (1992)  ‐  Escavações  no  povoado  fortificado  das  Mesas  do  Castelinho (Almodôvar), Relatório Preliminar. Vipasca. Aljustrel: Unidade de Arqueologia de Aljustrel. 1, p. 19‐37. 

FERREIRA, O. da V. (1971) ‐ Cerâmica negra de tipo grego encontrada em Portugal. Arqueologia e História. Lisboa. S. 9, vol. 3, p. 313‐332. 

GONZÁLEZ LÓPEZ, M. A. (2005) La vajilla de barniz negro. Campaniese C. In ROCA ROUMENS, M.;  FERNÁNDEZ  GARCÍA,  I.  (coords)  –  Introduccíon  al  estúdio  de  la  cerâmica  romana. Una 

breve guia de referencia. Málaga: Universidad de Málaga, Serviço de Publicaciones, p. 63‐80. 

GUERRA, A. (1994) – Os textos. In Medina, J. (ed.) História de Portugal. Amadora: Ediclube, vol. 2, p. 371‐381. 

(2004)  ‐ Caepiana, uma reavaliação crítica do problema da sua  localização e enquadramento histórico. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia. 7:2, p. 217‐235. 

GUERRA, A. e FABIÃO, C. (1990) – Trabalhos no povoado fortificado de “Mesas do Castelinho”, 

Almodôvar ‐ 1989. Lisboa. [Policopiado]. 

[1993] – Mesas do Castelinho, Almodôvar. Campanha 4 ‐ 1992. Lisboa. [Policopiado]. 

(1994) – Mesas do Castelinho, Almodôvar. Campanha 5 ‐ 1993. Lisboa. [Policopiado]. 

GUERRA,  A.,  FABIÃO,  C.,  RAMOS,  A.,  PIRES,  I.  e  BRITO,  M.  [1999]  – Mesas  do  Castelinho, 

Almodôvar. Campanha 10 ‐ 1998. Lisboa. [Policopiado]. 

GUERRA, A., FABIÃO, C., RAMOS, A., PIRES, I., PINTO, M., MELRO, S. e LAÇO, T. (1997) – Mesas 

do  Castelinho,  Almodôvar.  Relatório  da  8ª  Campanha  de  Escavações  Arqueológicas  (1996). Lisboa. [Policopiado]. 

GUERRA, A., FABIÃO, C., RAMOS, A., SAMUEL, M., LAÇO, T. e NOBRE, M.  [2002] – Mesas do 

Castelinho, Almodôvar. Relatório de Campanha 13 ‐ 2001. Lisboa. [Policopiado]. 

HARRIS, E. C. (1991) ‐ Principios de Estratigrafia Arqueológica. Barcelona: Editorial Critica. 

JIMÉNEZ i FERNÁNDEZ M. C. (1992) ‐ Baetulo, La ceràmica de vernis negre: Una contribuició a 

l’estudi  de  la  romanització  a  la  Laietània.  Badalona:  Monografies  Badalonnes,  Museo  de Badalona. 17.  

VENTURA  MARTÍNEZ,  J.J.  (2000)  –  La  cerâmica  de  barniz  negro  de  los  siglos  II‐I  a.C.  en Andalucía  occidental.  In  AQUILUÉ  ABADÍAS,  X.,  GARCÍA  ROSELLÓ,  J.  e  GUITART  DURAN,  J. 

Page 113: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 111 

(coords.)  (2000)  ‐  La  ceràmica  de  vernís  negre  dels  segles  II  i  I  a.C.:  Centres  productors 

mediterranis I comercialització a la Península Ibèrica. Taula rodona, (Empúries 1998). Mataró: Museu de Mataró / Museu de Catalunya (Empúries) / Universitat Autónoma de Barcelona. p. 177‐215.  

LAMBOGLIA, N. (1952) ‐ Per una classificazione preliminare della ceramica campana. In Atti del 1º Congresso Internazionale di Studi Liguri. Bordighera: Istituto Internazionale di Studi Liguri, p. 139‐206 . 

LAMBOGLIA, N. (1960) ‐ Polemiche campana. Rivista di Studi Liguri. Bordighera 25:1‐4, p. 292‐304. 

LUÍS,  L.  (2003)  –  As  cerâmicas  campanienses  de  Mértola.  Lisboa:  Instituto  Português  de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia; 27), 149 p.  

(2010) – Cerâmica campaniense. In ALARCÃO, de A., CARVALHO P.C., GONÇALVES A. (coord.) ‐ Castelo da Lousa‐Intervenções Arqueológicas de 1997 a 2002. Stvdia Lusitana. Mérida, p. 101‐138. 

MAIA, M. (1987) – Romanização do território hoje português a sul do Tejo.Lisboa: Faculdade de Letras de Lisboa, 3 volumes. Dissertação de doutoramento. [Policopiado]. 

MARÍN JORDÁ, C. e RIBERA I LACOMBA, A. (2000) – Las cerâmicas de barniz negro de Valentia. In  AQUILUÉ  ABADÍAS,  X.,  GARCÍA  ROSELLÓ,  J.  e  GUITART  DURAN,  J.  (coords.)  (2000)  ‐  La ceràmica  de  vernís  negre  dels  segles  II  i  I  a.C.:  Centres  productors  mediterranis  I 

comercialització  a  la  Península  Ibèrica.  Taula  rodona,  (Empúries  1998).  Mataró:  Museu  de Mataró / Museu de Catalunya (Empúries) / Universitat Autónoma de Barcelona. p. 91‐105. 

MATALOTO,  R.  (2002)  ‐  Fortins  e  recintos‐torre  do  Alto  Alentejo:  “antecâmara”  da romanização dos campos. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. Vol 5, n.1, p. 161‐220. 

MOREL,  J‐P.  (1978)  ‐  Journées  d’étude  de  Montpellier  sur  la  céramique  campanienne. Archeologie en Languedoc. Montpellier: Fédération Archéologique del’heraul, 1, 169 p. 

(1981) ‐ Céramique campanienne: Les formes. Paris: École Française de Rome. 

(1986) ‐ La Céramique à vernis noir de Carthage, sa diffusion, son influence, Cahiers des Études Anciennes XVIII, Carthage VIII (Actes du congrés‐troisième partie), Québec. 

MORILLO,  A.  e  GARCÍA‐MARCOS,  V.  (2001)  –  Producciones  cerámicas  militares  de  época Augusteo‐Tiberiana  en  Hispania.  Rei  Cretariae  Romanae  Favtorvm.  Acta  XXXVII.  Bélgica: Monaci Baivariorum, p. 147‐155. 

NOLEN, J. U. S. (1994) ‐ Cerâmicas e Vidros de Torre de Ares, Balsa, incluindo o espólio ósseo e 

medieval. Lisboa: SEC, MNA, IPM. 

OCK ‐ OXÉ, A.; COMFORT, H. e KENRICK, P. (2000) ‐ Corpvs Vasorvm Arretinorvm, A Catalogue 

of  the  signatures,  shapes,  and  chronology  of  italian  sigillata,  Second  Edition,  completely revised and enlarged. Bonn: Rudolf. Habelt, Gmbh (Antiquitas. 3, 41). (CD‐Rom). 

Page 114: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 112 

OLCESE, G. e PICON, M.  (1998) – Ceramiche a  vernice nera  in  Italia e analisi di  laboratorio: fondamenti  teorici  e  problemi  aperti.  In  PATRIZIA  FRONTINI,  C.  e  GRASSI,  M.  T.  Indagini archeometriche  relative  alla  ceramica  a  vernice  nera:  nuovi  dati  sulla  provenienza  e  la 

diffusione. Milano, p. 31‐37.    

OLIVEIRA,  J.  T.  et  al  (1992)  –  Carta  Geológica  de  Portugal  –  escala  1:200  000,  Notícia explicativa da folha 8. Lisboa: Serviços Geológicos de Portugal. 

PARREIRA,  J.  (2009) – As ânforas romanas de Mesas do Castelinho. Dissertação de Mestrado em Arqueologia apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (policopiada). 

PEDRONI, L. (1986) ‐ Ceramica a vernice nera da Cales. Nápoles: Liguori editore. 

(1990) ‐ Ceramica a vernice nera da Cales 2. Nápoles: Liguori editore. 

(2001) ‐ Ceramica calena a vernice nera. Produzione e diffusione. Napoles. 

PEDRONI, L.; BALLESTER, J.P. e NICOSA, A. (2005) ‐ Aquinum, Rullius y Caesius a propósito de algunas  estampillas  sobre  vasos  tardorrepublicanos. Mastia.  Cartagena:  Revista  del  Museo Arqueológico Municipal de Cartagena «Enrique Escudero de Castro». 4, p. 11‐27. 

PÉREZ  BALLESTER,  J.  (1986)  ‐  Las  ceramicas  de  barniz  negro  “Campanienses”:  Estado  de  la cuestion. Boletin del Museo Arqueológico Nacional. Madrid. IV, p. 27‐45. 

(2000)  ‐ Cerámicas de barniz negro de  los niveles  republicanos del anfiteatro  (Cartagena).  In AQUILUÉ ABADÍAS, X., GARCÍA ROSELLÓ,  J. e GUITART DURAN,  J.  (coords.)  ‐  La  ceràmica de 

vernís  negre  dels  segles  II  i  I  a.C.:  Centres  productors mediterranis  I  comercialització  a  la 

Península  Ibèrica.  Taula  rodona,  (Empúries  1998).  Mataró:  Museu  de  Mataró  /  Museu  de Catalunya (Empúries) / Universitat Autónoma de Barcelona. p. 129‐ 141. 

(2003) ‐ La cerámica de barniz negro del Santuario de Juno en Gabii. Série Arqueológica. Roma. 8, p. 215‐340. 

PICON,  M.,  VICHY,  M  e  CHAPOTAT,  G.  (1971)  –  Note  sur  la  composition  des  céramiques campaniennes  de  type  A  et  B.  Rei  Cretariae  Romanae  Favtorvm.  Acta  XIII.  Bélgica: Monaci Baivariorum, p. 82‐87. 

PIMENTA,  J.  (2005) – As ânforas  romanas do Castelo de São  Jorge  (Lisboa). Lisboa:  Instituto Português de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia; 41), 163 p.  

PRINCIPAL, J. (2005) Las cerámicas del grupo de las pequeñas estampilhas. In ROCA ROUMENS, M.;  FERNÁNDEZ  GARCÍA,  I.  (coords)  –  Introduccíon  al  estúdio  de  la  cerâmica  romana. Una 

breve guia de referencia. Málaga: Universidad de Málaga, Serviço de Publicaciones, p. 11‐22. 

(2005b)  Las  cerámicas del  círculo de  la  campaniese B.  In ROCA ROUMENS, M.;  FERNÁNDEZ GARCÍA,  I.  (coords)  –  Introduccíon  al  estúdio  de  la  cerâmica  romana.  Una  breve  guia  de 

referencia. Málaga: Universidad de Málaga, Serviço de Publicaciones, p. 47‐62. 

Page 115: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 113 

PY, M. (1993a) – Céramique à reliefs d’applique de Calès et productions apparentées. In PY, M. (dir,) ‐ Lattara 6. Dicocer – Dictionaire dês Céramiques Antiques (VIIs av.n. e – VIIs de n.e.) en 

Mediterranée nord‐occidentale (Provence, Languedoc, Ampurdan). Lattes, p. 144‐145. 

(1993b) – Campaniense A.  In PY, M.  (dir,)  ‐  Lattara 6. Dicocer – Dictionaire dês Céramiques 

Antiques  (VIIs av.n. e – VIIs de n.e.) en Mediterranée nord‐occidentale  (Provence, Languedoc, 

Ampurdan). Lattes, p. 146‐150. 

(1993c)  ‐ Campanienne B.  In PY, M.  (dir,)  ‐  Lattara 6. Dicocer  – Dictionaire dês Céramiques 

Antiques  (VIIs av.n. e – VIIs de n.e.) en Mediterranée nord‐occidentale  (Provence, Languedoc, 

Ampurdan).  Lattes, p. 151‐152. 

(1993d)  ‐ Campanienne C.  In PY, M.  (dir,)  ‐  Lattara 6. Dicocer  – Dictionaire dês Céramiques 

Antiques  (VIIs av.n. e – VIIs de n.e.) en Mediterranée nord‐occidentale  (Provence, Languedoc, 

Ampurdan). Lattes, p. 153‐154. 

(1993e) – Céramique Campanienne à pâte grise du type de  l’épave de Giens. In PY, M. (dir,) ‐ Lattara  6.  Dicocer  –  Dictionaire  des  Céramiques  Antiques  (VIIs  av.n.  e  –  VIIs  de  n.e.)  en 

Mediterranée nord‐occidentale (Provence, Languedoc, Ampurdan). Lattes, p. 155. 

(1993f)  –  Céramique  à  parois  fines.  In  PY,  M.  (dir,)  ‐  Lattara  6.  Dicocer  –  Dictionaire  dês Céramiques Antiques  (VIIs av.n. e – VIIs de n.e.) en Mediterranée nord‐occidentale (Provence, 

Languedoc, Ampurdan). Lattes, p. 511‐521. 

 (1993g) – Atelier dês petites estampilles. In PY, M. (dir,) ‐ Lattara 6. Dicocer – Dictionaire dês Céramiques Antiques  (VIIs av.n. e – VIIs de n.e.) en Mediterranée nord‐occidentale (Provence, 

Languedoc, Ampurdan). Lattes, p. 525‐526. 

PY  M.,  ADROHER  AUROUX  A.M.,  CASTANYER  P.,  SANMARTÍN  E.  e  TREMOLEDA  J.  (1993)  – Céramique  attique  à  figures  noires.  In  PY,  M.  (dir,)  ‐  Lattara  6.  Dicocer  –  Dictionaire  des Céramiques Antiques  (VIIs av.n. e – VIIs de n.e.) en Mediterranée nord‐occidentale (Provence, 

Languedoc, Ampurdan). Lattes, p. 90‐102.   

RAUX, S.  (1998) – Méthodes de quantification du mobilier céramique. Etat de  la question et pistes de  réflexion.  In ARCELIN, P. et TUFFREAU‐LIBRE, M.  (dir) – Actes de  la  table  ronde du Centre archéologique européen du Mont Beavray: La quantification des céramiques. Conditions 

et protocole. Glux‐en‐Glenne: Centre archéologique européen du Monte Beuvray. Bibracte. 2, p. 11‐16 

RIBERA i LACOMBA, A. (2001) – Los pecios com cerâmicas calenas de barniz negro: problemas y soluciones. In PEDRONI, L. Ceramica calena a vernice nera. Produzione e diffusione. Napoles, p. 246‐278. 

RICCI, M. (1973) – Per una cronologia delle  lucerne tardo‐repubblicane. Rivista di Studi Liguri. XXXIX, Bordighera. 2‐4, p. 167‐234. 

RUIZ VALDERAS, E.  (1994)  ‐ Las cerámicas de barniz negro de Cales en  la primera mitad del siglo II a.C., en el cerro del Molinete (Cartagena). Revista d’Arqueologia de Ponent. Lleida. n.4, p. 47‐61. 

Page 116: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 114 

SALA SELLÉS, F. e FERRANDIS BALLESRER, E. (1997) ‐  Los Vasos Campanienses de la  Tienda de Alfarero de la Alcudia (Enche, Alicante). Complutum. Madrid. 8, p. 223‐231. 

SANMARTI‐GREGO,  E.  (1973)  ‐  El  taller de  las pequeñas  estampillas  en  la Península  Ibérica. Ampurias. Barcelona. 35, p. 135‐173. 

(1975)  ‐  Las  cerámicas  finas  de  importación  de  los  poblados  prerromanos  del  Bajo  Aragón (Comarca  del Matarranya).  Cuadernos  de  Prehistorià  y Arqueologia  Castellonense.  Castelon: Diputacion Provincial de Castellon de la Plana Departamento de Arqueologia. Vol. 2, p. 87‐135. 

SANMARTI GREGO, E.  (1978)  ‐ La ceramica campaniense de Emporion y Rhode, Monografies 

Emporitanes IV. Barcelona. Tom I e II, 382 p. 

SANMARTI‐GREGO, E.; GUSI, F. (1975) ‐ Nuevos materiales procedentes del Poblado Ibérico del Castell (Almenara). Cuadernos de Prehistorià y Arqueologia Castellonense. Castelon: Diputacion Provincial de Castellon de la Plana Departamento de Arqueologia. vol. 2, p. 167‐172. 

SANMARTI GREGO, E.; PRINCIPAL, J. (1997) ‐ Las cerámicas de importación, itálicas e ibéricas, procedentes de los campamentos numantinos. Revista d’Arqueologia de Ponent. Lleida:  Unitat d’Arqueologia, Prehìstoria, Història Antiga, n. 7, p. 35‐76. 

(2000)  –  Les  Ceràmiques  campanianes  tardanes.  Algunes  impressions  a  partir  de  la  fácies documentada a Pollentia. In AQUILUÉ ABADÍAS, X., GARCÍA ROSELLÓ, J. e GUITART DURAN, J. (coords.)  (2000)  ‐  La  ceràmica  de  vernís  negre  dels  segles  II  i  I  a.C.:  Centres  productors 

mediterranis I comercialització a la Península Ibèrica. Taula rodona, (Empúries 1998). Mataró: Museu de Mataró / Museu de Catalunya (Empúries) / Universitat Autónoma de Barcelona. p. 145‐ 147. 

SCHUBART, H. (1975) – Die Kultur der Bronzezeit im Sudwesten der Iberischen Halbinsel. Text. Madrider Forschungen. 9. Vol 1. Berlin: Walter de Gruyter & Co. / Deutsches Archaologisches Institut. Abteilung Madrid, p. 287. 

SEPÚLVEDA, E. de; SOUSA, É. M. de; FARIA, J. C; FERREIRA, M. (2001) ‐ Cerâmicas romanas do lado  ocidental  do  castelo  de Alcácer  do  Sal,  2:  “cerâmicas  de  verniz  negro”  e  cinzentas. O Arqueólogo Português. Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia. S. 4, 19, p. 199‐233. 

SILVA, C. T. e SOARES,  J.  (1980‐81) – Escavações Arqueológicas no Castelo de Alcácer do Sal (campanha de 1979). Setúbal Arqueológica. Nº 6 e 7, p. 149‐218.  

SOARES, J. (1978) ‐ Nótula sobre cerâmica campaniense do Castelo de Alcácer do Sal. Setúbal Arqueológica. Setúbal. 4, p. 133‐143. 

SOARES, J. e SILVA, C.T. (1973) – Ocupação do período proto‐romano do povoado do Pedrão (Setúbal). Real Associação dos Architetos civis e archeologos portugueses. Lisboa. Vol 1, p. 245‐305. 

SOUSA, E. R. B. de (2005) ‐ A cerâmica de “tipo Kuass” do Castelo de Castro Marim e de Faro. Dissertação de Mestrado em Pré‐História e Arqueologia apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (policopiada). 

Page 117: UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS …repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2994/1/ulfl082218_tm_1.pdf · acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre

A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO

 

 115 

SOUSA, E. R. B. de, e SERRA, M. (2006) ‐ Resultados das Intervenções Arqueológicas realizadas na  Zona  de  Protecção  do Monte Moleão  (Lagos).  Actas  do  3º  Encontro  de  Arqueologia  do Algarve, (Silves, 20 a 22 de Outubro de 2005). XELB 6. Vol.I, p. 11–26. 

SOUSA, É., M., de, (1996) ‐ Cerâmicas ditas campanienses e de imitação conservadas no Museu Regional  de  Sintra.  Conímbriga.  Coimbra:  Instituto  de  Arqueologia  da  Universidade  de Coimbra. 35, p. 37‐58.  

SOUSA, V. C. de e SEPÚLVEDA E. de (2001) – Cerâmicas finas romanas do museu municipal de Torres Vedras: as lucernas. Conimbriga. Coimbra: Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra. 40, p. 237‐280 

TABORELLI, L. B. (2005) Ceramiche a vernice nera. In GANDOLFI, D. La ceramica i materiali de 

etá  romand,  classi,  produzioni,  commerci  e  consumi.  Bordighera:  Instituto  Internazionale  di Studi Liguri, p. 59‐102. 

TORREIRA, L.P.; VELASCO, J.A.S. (1984) ‐ La coleccion de ceramica campaniense de Ibiza en el museo arqueologico nacional. Lucentum. Alicante: Anales de la Universidad de Alicante. III, p. 67‐77.  

VENTURA  MARTÍNEZ,  J.J.  (1985)  –  La  cerámica  campaniense  “C”  y  pseudocampaniense  de pasta gris en la província de Sevilha. Lucentum. Alicante, p. 125‐132. 

(1992)  ‐  Ceramica  campaniense  en  la  Corduba  romana.  Anales  de  Arqueologia  Cordobesa. Córdova. 3, p. 137‐170. 

VIANA, A.; FERREIRA, O. da V. e SERRALHEIRO, P. A. (1957) ‐ Apontamentos arqueológicos dos concelhos  de  Aljustrel  e  Almodôvar.  XXIII  Congresso  Luso‐Espanhol  para  o  progresso  das ciências. Coimbra: Associação Portuguesa para as Ciências Históricas e Filológicas, p. 461 a 470. 

VIEGAS C.  (2009) – A ocupação  romana do Algarve: estudo do povoamento e economia do Algarve central e oriental do período romano. Dissertação de Doutoramento em Arqueologia apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (policopiada). 

VIVAR LOMBARTE, G. (2005) ‐ La cerámica campaniese A. In ROCA ROUMENS, M.; FERNÁNDEZ GARCÍA,  I.  (coords)  –  Introduccíon  al  estúdio  de  la  cerâmica  romana.  Una  breve  guia  de referencia. Málaga: Universidad de Málaga, Serviço de Publicaciones, p. 23‐46. 

2000 ‐ Munsell soil color charts. Revised washable edition