UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS...
Transcript of UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS...
UNIVERSIDADE DE LISBOAFACULDADE DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
Catarina Susana Antunes Alves
Mestrado em Arqueologia
2010
Volume I
UNIVERSIDADE DE LISBOAFACULDADE DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
Catarina Susana Antunes Alves
Mestrado em Arqueologia
Dissertação orientada pelo Prof. Doutor Carlos Fabião
2010
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
À memória de Carla Matias
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
Agradecimentos
A concretização deste projecto não teria sido possível sem a contribuição de inúmeras
pessoas que me apoiaram e incentivaram ao longo deste percurso, pelo que aqui expresso o
meu mais profundo agradecimento.
Em primeiro lugar, ao Prof. Doutor Carlos Fabião que, com imensa paciência,
acompanhou e orientou todas as linhas que compõem este texto, sempre com uma análise
crítica que me guiou por “caminhos” mais sensatos.
À Prof. Doutora Ana Margarida Arruda pela disponibilidade e partilha de alguns
critérios de classificação cerâmica.
À Prof. Doutora Catarina Viegas pela prontidão em partilhar comigo alguma da
bibliografia de difícil acesso, cuja consulta se mostrou fulcral para a concretização deste
projecto.
Ao Mataloto, que acompanhou, bem de perto, todo o processo, pelas conversas e
questões sempre pertinentes. Por toda a ajuda e incentivo muito obrigado.
Agradeço na mesma medida à Susana Estrela pelas estimulantes conversas sobre
Mesas do Castelinho que em muito beneficiaram este trabalho.
Não posso deixar de agradecer ao Carlos Pereira que disponibilizou bibliografia difícil
de aceder.
À Márcia perita em “moer juízos”, à Tisha pela sua permanente boa disposição e
incentivo, à Loira, ao Bocas e à Guida amigos de longa data e sempre presentes apesar da
distância.
Ao Josué pela paciência e apoio essencial em momentos de desânimo.
Por último, mas nunca em último, um agradecimento muito especial à minha família,
que me aturou e albergou nestes últimos meses e sem a qual nada, mas mesmo nada, seria
possível.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
Resumo: O sítio arqueológico Mesas do Castelinho, Almodôvar, é de um povoado fortificado fundado nos
finais do séc. V‐IV a.C. que mais tarde, já em pleno séc. II da mesma Era, pelas evidências materiais, revela,
fortes e precoces, contactos com o mundo Romano, sem sinais de qualquer espécie de violência.
A ocupação Romana Republicana do povoado caracteriza‐se pela reorganização arquitectónica, que
definiu um urbanismo ortogonal, já sem sistema defensivo, bem como por um acervo material de dimensões
impressionantes, cujas potencialidades informativas, acompanhadas das leituras estratigráficas fornecidas
por um sítio escavado de acordo com os pressupostos metodológicos avançados por Ph. Barker (Barker, 1982)
e complementados pela leitura estratigráfica preconizada por E. Harris (Harris, 1991), definem o povoado
como um dos mais importantes para a compreensão da evolução das comunidades indígenas face à nova
realidade e poder romano.
Da imensa colecção de material arqueológico recolhido, ao longo de 20 campanhas de escavação,
são aqui apresentados os dados referentes à cerâmica campaniense. O conjunto, um dos mais expressivos de
todo o território actualmente português, pelo menos dos que se conhecem publicados, encerra em si diversas
questões, como a existência de formas raras ou únicas, mas talvez mais importante a constatação de
sequências estratigráficas que permitem abordar o tema da romanização do povoado, relações com o
território envolvente e a sua integração nos circuitos comerciais de ligação com o mundo litoral e a bacia do
Mediterrâneo.
Palavras‐chave: Mesas do Castelinho, Romano Republicano, Cerâmica Campaniense.
Abstract: The archaeological site of Mesas do Castelinho, in Almodôvar, is a fortified settlement founded on
the late 5th to 6th Century B.C., which subsequently, by its material evidence, on the 2nd Century B.C.,
reveals significant and early contacts with the Roman world with no signs of conflict.
The Roman Republican occupation of the settlement is characterized by architectural reorganization
in the form of an orthogonal plan no longer having a defence system, as well as an impressive material
collection, with huge amount of information, along with the stratigraphic readings that an excavated site can
provide following the methodology of Ph. Barker (Barker, 1982) complemented by the stratigraphic reading
recommended by E. Harris (Harris, 1991), making the site one of the most important settlements to
understand the evolution of native communities facing the new Roman rule.
Here we present the data concerning campanian ware originated from the vast collection of
archaeological material recovered over 19 excavation campaigns. The ensemble, one of the most significant
on what is currently Portuguese territory, at least from those already published, encompasses various issues,
such as the existence of rare or unique forms on the ensembles already published, but perhaps most
importantly, the observation of stratigraphic sequences that allow us to establish a connection with the
Romanization of the settlement, the relations with the surrounding territory and its integration on
commercial circuits that were connected to the Mediterranean basin coastline.
Keywords: Mesas do Castelinho, Roman Republican, Campanian ware.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
Índice
Volume I
1. O POVOADO DE MESAS DO CASTELINHO NA ANTIGUIDADE 1.1 Enquadramento natural ......................................................... ......................................................8
1.2 Mesas do Castelinho e o território envolvente: enquadramento histórico-arqueológico......9
2. BREVE SINOPSE DOS TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS EM MESAS DO CASTELINHO
2.1 O pré 1986…………………………….. ............................................. ......................................................11 2.2 A intervenção de C.J. Ferreira ......................................................................................................13 2.3 O projecto Mesas do Castelinho (1988 a 2008) ...........................................................................13 2.3.1 Síntese dos resultados: faseamento e arquitectura ..............................................................14 2.3.1.1 Ocupação da Idade do Ferro .............................................................................................15 2.3.1.2 Ocupação Romana Republicana .......................................................................................15 2.3.1.3 Ocupação Romana Imperial ..............................................................................................18 2.3.1.4 Ocupação Islâmica ............................................................................................................19
3. A CERÂMICA CAMPANIENSE
3.1 História da investigação (breve sinopse) ......................................................................................19 3.2 O estudo em Portugal ...................................................................................................................22 3.3 O actual estado dos conhecimentos, seus condicionalismos e questões.................................... 23
4. A COLECÇÃO DO SÍTIO MESAS DO CASTELINHO
4.1 Metodologia….. ............................................................................................................................24 4.1.1 Composição, tratamento da amostra e critérios de quantificação...................................24
4.2 Áreas de produção .......................................................................................................................28 4.2.1 Campânia………………. .........................................................................................................28 4.2.1.1 cerâmica Campaniense A…………….. ...............................................................................28 4.2.1.2 cerâmica Campaniense B de Cales .................................................................................32 4.2.2 Etrúria…..……….. .................................................................................................................34 4.2.2.1 cerâmica Campaniense B de Arezzo…..……….. ...............................................................34 4.2.3 “local regional” de verniz negro…..……….. ........................................................................36 4.2.3.1 cerâmica de pasta cinzenta com verniz negro de imitação de Campaniense B ............38 4.2.3.2 cerâmica de pasta laranja com verniz negro de imitação de Campaniense A…40
4.3 Caracterização dos fabricos identificados ....................................................................................41 4.3.1 Fabrico da Campânia F1 ....................................................................................................41 4.3.1.1 Fabrico da Campânia F2 ..................................................................................................41 4.3.2 Fabrico de Cales F3 ............................................................................................................42 4.3.2.1 Fabrico de Cales F4 ..........................................................................................................42
Preâmbulo.............................................................................................................................................6
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
4.3.3 Fabrico de Arezzo F5 ................................................................................................43 4.3.3.1 Fabrico de Arezzo F6 ...............................................................................................43 4.3.4 Fabrico local ou regional F7.......................................................................................43 4.3.4.1 Fabrico local ou regional F8 ....................................................................................44 4.3.5 Análise dos dados ................................................................................................45
4.4 Categorias cadas 4.4.1 categoria 1000 ............................................................................................................50 4.4.2 categoria 2000……… ....................................................................................................59 4.4.3 categoria 3000………................................................................................................... 70 4.4.4 categoria 7000……… ....................................................................................................72
4.4.6 decorações……… ......................................................................................................... 76 4.4.7 grafitos…………… ...........................................................................................................80 4.4.8 marcas de oleiro .......................................................................................................... 81
5. CONTEXTUALIZAÇÃO ESTRATIGRÁFICA DOS MATERIAIS EM ANÁLISE (1987-2008) 5.1 Dinâmica de evolução da ocupação do grafia e cronologias)...........................81
5.2 Evolução económica ............................................................................................................ 90
6. A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO NA DINÂMICA COMERCIAL ROMANA REPUBLICANA DO SÉCULO II E I A.C. NO SUDOESTE PENINSULAR..........................93
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 101
8. BIBLIOGRAFIA…………………………………………………………………………………………………..……… .105
Volume II
Anexo I. Figuras Anexo II. Tabelas Anexo III. Estampas Anexo IV. Listagem descri va e pológica do material estudado Anexo V. Listagem descri va das Unidades áficas contempladas
4.4.5 outras.......................................................................................................................... 74
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
6
Preâmbulo
A escolha do tema desta dissertação recua aos tempos da licenciatura, ainda que nessa
altura este objectivo estivesse longe dos meus horizontes. Assim, no âmbito da disciplina
Arqueologia do Mundo Provincial Romano, e em conjunto com Carla Matias, estudámos uma
pequena amostra da cerâmica campaniense proveniente das intervenções de Mesas do
Castelinho. Nos anos que se seguiram, o Prof. Doutor Amílcar Guerra sugeriu investirmos no
estudo daquele tipo cerâmico, dando início ao tratamento de uma amostra mais alargada (que
incluiria todos os contextos da plataforma superior daquele sítio arqueológico), com a
finalidade de publicar os dados. Infelizmente, não pudemos concretizar conjuntamente esse
projecto e apenas eu pude dar‐lhe seguimento, ainda que já sob a forma de dissertação de
mestrado.
As primeiras publicações que divulgam a presença de cerâmica campaniense em
Mesas do Castelinho datam dos anos ‘90 (Fabião e Guerra, 1994 e Fabião, 1998). O trabalho
que aqui se desenvolve pretende continuar e aprofundar o estudo desse conjunto, pelo que
alargámos a amostra, incluindo os registos de mais nove anos de intervenções arqueológicas.
A especificidade cronológica desta cerâmica, presente no actual território português
entre os sécs. II e I a.C., transforma‐a num excelente indicador, a par das produções anfóricas
vinárias com a mesma origem itálica, dos primeiros contactos com o mundo romano. O seu
potencial informativo (tipológico e cronológico), cruzado com o dos restantes materiais com
que convive nas diferentes sequências estratigráficas escavadas, permite entendê‐la como um
excelente contributo para a caracterização económica de um sítio, e respectivamente, região.
A escassa informação que se tem da sua presença em território hoje português,
associada à disparidade das amostras conhecidas, muitas vezes sem contextos arqueológicos,
limita uma apreciação geral do panorama nacional.
É nosso objectivo congregar toda a informação que o conjunto recolhido em Mesas do
Castelinho providencia, beneficiando dos contextos estratigráficos seguros, na tentativa de
contribuir para uma melhor compreensão sobre ocupação republicada deste povoado do
interior do Sul peninsular.
Pese embora as agressões a que o sítio foi sujeito (naturais e especialmente
antrópicas), que conduziram à destruição de muitos dos seus contextos estratigráficos, grande
parte do povoado, especialmente a plataforma inferior, encontrava‐se muito bem preservado.
De tal forma, que proporcionou leituras estratigráficas fulcrais no contributo, que pensamos
ser incontornável, para a compreensão da evolução dos núcleos indígenas nos alvores da
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
7
romanização, bem como nas dinâmicas económico‐comerciais dos povoados do interior
meridional peninsular com a região envolvente e a bacia do Mediterrâneo.
A estruturação deste trabalho conta com dois volumes. O primeiro dividido em sete
capítulos e o segundo em V anexos, figurativos, que auxiliam a leitura do texto.
O primeiro capítulo refere‐se à “biografia” do sítio, com uma caracterização geográfica
do povoado e onde delimitamos, sumariamente, o quadro de acontecimentos histórico‐
arqueológicos, que de alguma maneira se relacionam com a “vida” daquele povoado e com a
região em que se insere.
No capítulo 2 expõe‐se, de forma sintética, as escavações arqueológicas e os
resultados obtidos, sob a direcção científica dos Profs. Doutores Amílcar Guerra e Carlos
Fabião, ao longo de 19 campanhas, logo após as destruições de 1986 e da intervenção de
emergência supervisionada pelo Dr. C.J. Ferreira.
Tentámos, no capítulo 3, dar uma perspectiva geral da história da investigação da
cerâmica campaniense, seus condicionalismos e o actual estado da questão.
O capítulo 4 é dedicado ao estudo dos materiais que dão mote a este trabalho. Aqui
são expostos os princípios metodológicos que regeram toda a análise qualitativa e quantitativa
do material, para em seguida analisar as áreas de produção identificadas, fabricos e tipologias
presentes no conjunto de Mesas do Castelinho.
Com base nos contextos mais significativos e com maior potencial informativo, o
capítulo 5 serve para contextualizar a cerâmica campaniense na diacronia de ocupação do
povoado, permitindo algumas considerações sobre as suas dinâmicas.
Antes das considerações finais, onde tentamos condensar as linhas fortes que resultam
da análise da cerâmica campaniense de Mesas do Castelinho e o seu contributo para a
compreensão do sítio (capítulo 7), tentamos traçar o quadro de dinâmicas de comércio que a
região interior do Sul do actual território português, na qual se insere Mesas do Castelinho,
mantém com a bacia do Mediterrâneo durante os sécs. II e I a.C. (capítulo 6).
No segundo volume pode encontrar‐se, no anexo I, um conjunto de figuras de apoio à
compreensão do texto. O anexo II refere‐se a um conjunto de tabelas referentes à
quantificação cerâmica e dispersão de formas no actual território português que têm paralelos
em Mesas do Castelinho, bem como uma base de dados onde estão representados as
contagens e os contextos estratigráficos de onde se recolheu campaniense inclassificável.
Seguem‐se as estampas, no anexo III e o anexo IV com o catálogo de peças analisadas. Por
último, no anexo V é possível consultar uma base de dados com a descrição das Unidades
Estratigráficas contempladas neste trabalho.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
8
1. O Povoado de Mesas do Castelinho na Antiguidade
1.1 Enquadramento natural
O povoado Mesas do Castelinho situa‐se na Herdade do Monte Novo do Castelinho, a
cerca de 2 quilómetros a Sul da aldeia de Santa Clara‐a‐Nova, no concelho de Almodôvar. Este
sítio pode‐se localizar nas seguintes coordenadas geográficas: Latitude = 37˚ 08’ 22’’ e
Longitude = 08˚ 07’ 30’’, segundo a CMP 1:25 000, folha nº 572, Dogueno‐Almodôvar (v. fig. 1
e 2).
Implanta‐se numa área de fronteira natural, que permite a passagem entre o Baixo
Alentejo e o Algarve, num ponto de transição entre as áreas mais elevadas da peneplanície
alentejana e o relevo acidentado da Serra do Caldeirão. Este fenómeno orográfico ocorre
desde Mértola e acompanha‐se “… ao longo do interflúvio principal, seguido em grande parte
pela estrada de Almodôvar para a serra” (Oliveira et al., 1992). Esta peculiaridade geográfica
esteve na origem da existência de alguns caminhos que atravessam a serra, e que aliados à
proximidade do Guadiana determinam, compreensivelmente, as ocupações antigas da região.
O sítio arqueológico, circunscreve‐se a uma plataforma a Norte (designada Plataforma
B ou inferior) de planta genericamente rectangular, coberta por estevas e olival e que se
adossa a outra (designada Plataforma A ou superior), na extremidade Sul, a uma cota superior,
de menores dimensões e forma arredondada. Regista‐se ainda, a Oeste desta última
plataforma, uma terceira que a circunda e que, aparentemente, não se regista em todo o seu
perímetro. Num total de cerca de 4 hectares o povoado assume o seu eixo maior no sentido
Norte – Sul com cerca de 250 metros, por uma média de 100 metros de largura.
Hidrograficamente implanta‐se na margem Sul da ribeira de Mora, de escasso caudal, sendo
circundado por dois barrancos, a Este e a Oeste, de fluxo actualmente inexistente. Integra‐se
numa região xistosa e de fracas aptidões agrícolas decorrentes dos solos esqueléticos do
maciço antigo, onde a cobertura vegetal é, predominantemente, constituída por azinheiras,
sobreiros e estevas.
Relativamente às actividades económicas do povoado, trabalhos levados a cabo em
1992 revelaram a ausência de vestígios de redução primária de metais (Beau, 1994), o que
contrasta com a proximidade da faixa piritosa Alentejana e a conhecida exploração, em grande
escala, na área de Aljustrel. Essa presença na economia local foi atestada em recentes
escavações arqueológicas, por sugerirem a existência, no sector 3 da Plataforma B (v. capítulo
2), de um conjunto de fornos integrados num esquema de produção industrial metalúrgica,
num contraste evidente com os espaços de combustão de cariz doméstico da restante área do
povoado (Fabião et al., 2007, p. 11). Apesar deste facto, a conjugação das características
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
9
naturais do local levam a supor que a principal actividade económica do povoado seria a
pecuária (Fabião, 1998, p. 277).
Actualmente, o sítio possui uma aparente defensibilidade natural suportada pelos
taludes bem marcados a Norte, Este e Oeste. Possui um acesso fácil a Sul e superfícies
aplanadas. Estas ter‐lhe‐ão conferido o topónimo por que ficou conhecido: Mesas, e
distinguem‐no numa paisagem dominada por elevações com perfis ondulados (v. fig. 3). Esta
artificialidade topográfica é consequência da natural acumulação de terras, resultante das
diferentes ocupações ali presentes. Abel Viana descreveu a área Sul do povoado como um
“…pico vulcânico, por causa da sua forma cónica.” (Viana, Ferreira e Serralheiro, 1957),
referindo‐se, no entanto, às ruínas da fortificação Omíada, que os diferentes processos de
erosão cobriram (v. fig. 4). Mais tarde, em 1992, C.J. Ferreira publicou um registo gráfico que
documentava 5 metros de estratigrafia ocupacional, desde o topo ao sopé da encosta Este na
plataforma B, e que suportada pela muralha da Idade do Ferro contribuiu para esta noção
topográfica errónea.
Atendendo à sua descrição orográfica percebe‐se que a escolha do local não se pautou
por critérios de defensibilidade, já que o povoado Mesas do Castelinho em nada se destaca do
que originalmente seria a topografia da paisagem envolvente. Esta estratégia de implantação
deveu‐se, antes, a factores geográficos porque permite controlar um dos poucos corredores
naturais (Noroeste – Sudeste) entre o Baixo Alentejo e o Algarve. O povoado terá funcionando
como “posto” de controlo de via terrestre, ainda que secundária (Fabião, 1998, p. 276), já que
a proximidade e navegabilidade do rio Guadiana, faziam deste a mais importante via de
circulação de produtos, gentes e ideias. A preferência desta área na comunicação entre
regiões, transporte e circulação de gentes assume uma perenidade até aos dias correntes e
materializa‐se na construção da Estrada Nacional nº 2 e, posteriormente, na Auto‐Estrada A2,
caso que se repete por todo o território.
1.2 Mesas do Castelinho e o território envolvente: enquadramento histórico‐
arqueológico
Desde o século V‐IV a.C. até à I Guerra Púnica, Cartago recorre à utilização de
mercenários ibéricos, nomeadamente dos povos indo‐europeus do Norte e Centro do
território (Fabião, 1997, p. 195). As fontes clássicas são omissas relativamente a este período o
que deve ser entendido à luz da interpretação do segundo Tratado romano‐cartaginês, dado a
conhecer por Políbio, em 348 a.C. O referido documento impõe o condicionamento da
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
10
circulação de Roma no Mediterrâneo ocidental, com limites fixados em Mastia e Tarseion
(Arruda, 2004a, p. 331), o que, consequentemente, limitava a circulação daqueles que
elaboravam as “fontes antigas”. Apesar de se desconhecerem os contornos das
movimentações cartaginesas os actuais dados arqueológicos não suportam a existência de
uma efectiva ocupação do território.
A luta entre Roma e Cartago pela hegemonia do Mediterrâneo central e o pedido de
auxílio de Sagvntvm, em 220, motivada pelo descontentamento em relação à soberania de
Cartago, desencadeou o retomar das hostilidades entre as duas potências.
Em 218, Aníbal Barca ataca Roma a partir da Península Ibérica e dá‐se início à II Guerra
Púnica, cujo palco dos confrontos foi a área meridional da Península Ibérica, excluindo, ao que
tudo indica, o actual território português (Fabião, 1997, p. 197). Roma, até então, não
manifestara interesse em conquistar o território da Península ibérica, mas a necessidade em
afastar a ameaça cartaginesa, fazendo‐os recuar para o Norte de África, conduz à presença
física romana no território hispânico.
Desde 218, ano em que C. Cornélio Cepião desembarca em Emporion, até 202, ano do
fim da II Guerra Púnica, que Roma conquista e consolida posições no vale do Ebro, assim como
na área meridional da Península Ibérica. Se nos finais do século III a.C. a presença romana era
essencialmente militar, com a incumbência de manter a ordem e controlo, posteriormente, e
já consciente das potencialidades do extremo ocidente, inicia mecanismos de exploração e
organização do território, com a implantação do primeiro ensaio administrativo (Hispânia
Ulterior e Hispânia Citerior), em 197 a.C.
As Guerras Lusitanas marcam um momento importante de forte instabilidade e
transformação do ocidente peninsular. Estes avanços guerreiros, alguns bem sucedidos, têm
de ser entendidos numa perspectiva de “Banditismo Social” aliado, segundo alguns autores, a
um provável excesso populacional e procura de terrenos para explorar, não se tratando desta
forma de puros ataques contra o poder de Roma (Fabião, 1998).
A união dos governadores romanos da península, o enfraquecimento dos Lusitanos e a
impossibilidade de continuarem a sustentar a guerra, leva‐os a aceitar a paz em 139 aC.
Segundo alguns investigadores, em meados deste século o domínio de Roma já abrangia o
médio e baixo Vale do Ebro e toda a Andaluzia e Algarve estariam pacificados, tal como parte
do Alentejo (Blázquez, 1988, p. 95) (v. fig. 5). Se a Sul o território não estivesse sob o seu
domínio não faria sentido que, segundo as fontes clássicas, o novo governador da Ulterior,
Décio Júnio Bruto, em 138 a.C., tivesse estabelecido o seu quartel‐general em Móron,
localizado, ao que tudo indica, no vale do Tejo, e fortificado Olisipo, com o intuito de facilitar o
abastecimento marítimo dos exércitos, preparando‐se para o início do que é considerado
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
11
como a primeira grande campanha militar romana, que teria seguido um trajecto análogo ao
que mais tarde se tornaria a via romana Olisipo – Bracara.
Os conflitos decorrentes da disputa pelo poder de Roma entre a aristocracia romana
intensificam‐se nos inícios do século I a.C. e ocorrem em parte na Hispânia. É neste contexto
que Sertório, partidário de Mário, regressa à Península Ibérica para combater Sula por o
considerar usurpador do poder de Roma. A estratégia de combate incluía a criação de pactos
de hospitalidade e clientela com as populações indígenas que serviam, simultaneamente, para
vencer Sula e consolidar o seu poder na Hispânia, favorecendo a romanização (Fabião, 1997, p.
207‐211).
No actual território português conhecemos várias instalações com diferentes soluções
arquitectónicas e funcionais adoptadas durante o período romano republicano. Contudo, a
área geográfica a que nos reportamos, Baixo Alentejo, carece de muito trabalho de escavação
e investigação para melhor compreender a malha deste povoamento. Certo será que o sítio
Mesas de Castelinho não estaria isolado. Cerca de 50 quilómetros a Nordeste implanta‐se o
povoado pré‐romano de Myrtilis, um importante entreposto comercial entre o Mediterrâneo e
o Alentejo que terá servido de pólo aglutinador de toda a região e que manteve contactos com
Mesas do Castelinho, como sugere o espólio numismático ali recolhido.
Não será este o local indicado para analisar o tema, pelo que nos limitamos a uma
simples menção aos designados castella enquanto produto de um modelo (os) de instalação já
expressivo, diga‐se em número de presenças, no Baixo Alentejo. Cronologicamente, surgem
entre a segunda metade do séc. I a.C. e a primeira da centúria seguinte e deverão
corresponder a estruturas de fundação romana, não necessariamente itálica (Fabião, 1997,
2004b), cuja funcionalidade e enquadramentos continuam sob acesso debate científico.
O sítio Mesas do Castelinho insere‐se num grande grupo de ocupações de fundação
pré‐romana que continua a funcionar em período romano. Esta diacronia de ocupação torna‐o
fulcral na compreensão das transformações do espaço, hábitos e cultura material que
acompanham a instalação do poder e influência romana nas populações indígenas.
2. Breve sinopse dos trabalhos arqueológicos em Mesas do Castelinho
2.1 O pré 1986
O sítio arqueológico Mesas do Castelinho é referido, pela primeira vez, em finais do
séc. XIX, por J.L. Vasconcelos, numa das suas visitas ao Baixo Alentejo (apud, Fabião, 1998, p.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
12
278). No entanto, é em meados e 3º quartel do século seguinte que o local é amplamente
mencionado nas publicações portuguesas.
Em 1948, João Almeida integra o povoado no Roteiro dos Monumentos Militares
Portugueses, sugerindo tratar‐se de uma “…almenara do tempo dos Mouros.” (Almeida, 1948,
p. 298). Passados dez anos, Abel Viana, Octávio da V. Ferreira e o pároco local António
Serralheiro voltam a mencioná‐lo, bem mais pormenorizadamente, no que é considerada
como a 1ª notícia de carácter científico. Os autores, ainda que ludibriados pelo efeito das
terraplanagens agrícolas, pequenos saques ilícitos e pela degradação natural das plataformas,
tecem comentários topográficos e cronológicos, integrando o povoado no panorama
arqueológico regional. Importa salientar, que o seu mais importante legado reside nas duas e
únicas fotos publicadas (Viana et al., 1957, p. 471) que registam o sítio antes das grandes
destruições dos anos ’80. Simultaneamente, alertam para a necessidade da sua escavação
“…enquanto a moderna maquinaria agrícola não entrar ali e destruir tudo.” (Viana et al., 1957,
p. 464), tal como viria a suceder, ainda que não com o propósito de cultivar o terreno.
Relativamente ao material cerâmico publicado, também aqui Viana e seus colegas são
pioneiros, referindo uma pequena taça hemisférica de cerâmica ática da forma 2770/80, da
tipologia de Morel (Lamboglia 21‐24) e apresentando, na estampa I, uma tigela inteira em
cerâmica campaniense (F2300/Lamb. 1) (Viana et al., 1957, p. 470). Mais tarde, em 1971,
Manuela Delgado retoma a referência daquela peça grega (F2786/Lamb. 24A), datada do séc.
IV‐III a.C. (Delgado, 1971, p. 419) que, curiosamente, pertencia à colecção pessoal do pároco
Serralheiro. Três anos depois, Teresa Gamito e José Arnaud referem a presença de cerâmica
estampilhada inserindo o sítio, definitivamente, no contexto da II Idade do Ferro (Arnaud e
Gamito, 1974‐77, p. 195)
Em suma, o povoado foi desde muito cedo conhecido e divulgado entre a comunidade
científica, integrando, desde 1960, as representações cartográficas do Bronze Final (Schubart,
1975, p. 287) e Idade do Ferro. Porém, isso não impediu os atrozes actos de vandalismo, uns
conscientes, outros talvez não, mas que danificaram, irremediavelmente, alguns contextos do
povoado.
A par da transposição de terras da cota mais elevada do povoado para a mais baixa, e
nesta de Oeste para Este, a propósito do plantio de olival, torna‐se impossível não
remontarmos ao ano de 1986. Nesta data, o então proprietário arrasou cerca de 1/3 do
povoado, utilizando um bulldozer, sob o pretexto não assumido de descobrir um tesouro.
Assim, a plataforma A encontrava‐se bastante revolvida, o que resultou da abertura de uma
imensa vala Este ‐ Oeste junto à face interna da muralha e que danificou, irremediavelmente,
toda a área Sul. A Este da periferia do sítio, registou‐se outro corte de tal forma profundo que
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
13
na plataforma B se detectou um perfil de 5 m de altura (v. fig. 6). Os dados que permitiriam a
compreensão entre ambos os espaços (plataforma A e B) foram, igualmente, comprometidos
pela abertura de uma terceira vala no sentido Este ‐ Oeste que afectou o talude e a própria
muralha. Felizmente, a restante área da plataforma B ficou a salvo pelo simples facto de não
ser pertença daquele proprietário.
Só após este triste episódio se reuniram esforços para estudar e salvar o sítio,
começando por dar seguimento à sua classificação como imóvel de Interesse Público, o que
ocorreu em 1989 (DL 29/90 de 89.07.17).
2.2 A intervenção de C.J. Ferreira
As primeiras intervenções arqueológicas no sítio devem‐se ao Dr. Carlos Jorge Alves
Ferreira, técnico superior do Departamento de Arqueologia do antigo Instituto Português do
Património Cultural (IPPC), que numa acção de emergência dá início aos trabalhos de limpeza
dos cortes resultantes da acção mecânica de 1986, com registo gráfico dos mesmos, recolha
de materiais à superfície e levantamento topográfico do povoado (Ferreira, 1992).
A constatação do elevado índice de destruição do sítio não impediu a percepção da
existência de uma diacronia de ocupação longa, que se estenderia desde a II Idade do Ferro ao
período Islâmico, com uma ocupação intermédia com datação romana republicana. Não terá
sido possível a identificação da presença romana em momento Imperial, dado que os pontos
abordados no terreno não seriam, como as escavações futuras viriam a demonstrar, as áreas
onde essa ocupação se registava/conservava.
2.3 O projecto Mesas do Castelinho (1988‐2008)
Dois anos após o grande atentado patrimonial e a convite do IPPC o Dr. Carlos Fabião e
o Dr. Amílcar Guerra assumem a direcção dos trabalhos, que se mantêm até aos dias de hoje,
com interregno no ano de 2004.
O projecto de investigação que contemplava a salvaguarda e valorização daquele
património contou com inúmeros apoios, nomeadamente UNIARQ (Centro de Arqueologia da
Universidade de Lisboa), Câmara Municipal de Almodôvar, Junta de Freguesia de Santa‐Clara‐
a‐Nova e seus moradores, Somincor, Instituto Português da Juventude, Exército, entre outros,
sem os quais seria impossível ter levado a cabo este projecto.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
14
O primeiro ano de intervenções consistiu na limpeza das áreas revolvidas decorrentes
das interfaces negativas abertas em 1986 (v. supra).
A escavação da fortificação Omíada iniciou‐se no ano seguinte, com a delimitação do
sector A1 (v. fig. 7), e estendeu‐se a 1992, ano em que se iniciam as escavações de um
conjunto de construções romanas republicanas subjacentes ao castelo. Seguiram‐se diferentes
alargamentos a Noroeste, no ano 1990, e a Sul e Este em 1994. Este último ano marca o fim da
escavação dos níveis republicanos e início dos contextos da II Idade o Ferro.
A escavação do sector A2, localizado a Sudoeste do A1, iniciou‐se em 1992, tendo sido
retomada apenas em 1995, devido a questões orçamentais. Uma das valas de destruição, já
referidas, cortava a estratigrafia presente entre A1 e A2, pelo que na tentativa de articular os
dados provenientes de ambos os sectores, definiu‐se, a Oeste da plataforma, um novo sector:
A3.
Se nos primeiros anos os trabalhos na plataforma B se circunscreveram à colmatação
das crateras infligidas pelo bulldozer, em 1996 os investigadores implantaram uma pequena
sondagem (B1) no topo da secção 3, do Corte C‐B desenhado por C.J. Ferreira, em 1987 (v. fig.
8 e 9).
Em 1997, iniciaram‐se os trabalhos no quadrante Sudoeste desta plataforma (sector
B2) que à partida se esperava melhor preservado. A finalização das escavações neste sector e a
consequente necessidade em perceber como se comportava o interior do povoado impôs um
natural alargamento a Este, naquilo que seria identificado com o sector B3. Estávamos no ano
de 2002.
Seguidamente, faremos a síntese dos principais aspectos caracterizadores das
diferentes ocupações que o sítio conheceu, ainda que com especial incidência no período que
aqui nos importa. Este exercício teve como base os relatórios de escavação do sítio, entre os
anos 1988 e 2008, pelo que correndo o risco de nos tornarmos repetitivos, abstemo‐nos de
multiplicar as indicações de referências bibliográficas ao longo deste sub‐capítulo (2.3.1).
2.3.1 Síntese dos resultados: faseamento e arquitectura
No decorrer das escavações foi possível identificar materiais arqueológicos de datação
Calcolítica e da Idade do Bronze. No entanto, são apenas o resultado de recolhas de superfície
e material residual presente em níveis de cronologias mais recentes, o que invalida
considerações peremptórias quanto à natureza da ocupação do local nestes momentos mais
remotos.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
15
2.3.1.1 Ocupação da Idade do Ferro
A presença de um fragmento de uma taça Cástulo na [376], do ambiente (Amb.) VIII,
do sector B2, sobreposto a um nível com cerâmicas com decorações estampilhadas, (que lhes
confere, definitivamente, uma antiguidade no contexto da área do actual território português),
sugere uma primeira ocupação do povoado em meados do século V a.C. Isto é, inserível na
designada II Idade do Ferro do Sudoeste peninsular, e em estreita proximidade cronológica
com os núcleos das áreas de Neves Corvo (Almodôvar/Castro verde) e Fernão Vaz (Ourique).
Arquitectonicamente, tanto no sector A2 e A3, como no B1, verifica‐se a construção de
casas adossadas à linha de muralha, situação que não ocorre no extremo Sudoeste da
plataforma inferior, onde se localiza o sector B2. Aqui, e ao que tudo indica, a área
habitacional de dois edifícios, sem comunicação entre si e com portas voltadas a Este, articula‐
se mediante a construção de paredes justapostas à muralha. Estratigraficamente esta relação
de justaposição poderá representar a posterioridade da edificação da estrutura defensiva ou
relacionar‐se com técnicas de construção que dão essa ilusão. Esta estrutura terá adquirido
maior robustez dado que o espaço que a mediava do paramento exterior das construções pré‐
existentes foi preenchido com entulho pétreo e sedimentar. Na plataforma superior, na área
anexa ao “complexo de construções do século I a.C.” (v. infra), sob o qual se identificaram,
igualmente, construções pétreas de cantos arredondados, muito danificadas ou reutilizadas
pela ocupação posterior, detectou‐se uma sequência estratigráfica com associação de
estruturas precárias (buracos de poste, lareira e pavimentos). Esta situação sugere uma
ocupação sob a forma de cabanas aquando da construção do sistema defensivo, mais do que
um espaço aberto do tipo pátio.
A localização topográfica do sítio, sobranceiro a linhas de água e vertentes marcadas a
Norte, Este e Oeste, coloca o povoado antigo (da II Idade do Ferro) no tipo III de aglomerados
fortificados desta cronologia, segundo a tipologia de implantação definida por L. Berrocal para
a área céltica do Sudoeste peninsular (Berrocal‐Rangel, 1992, p. 205).
A propósito, existe em curso uma dissertação de mestrado acerca da fundação do
povoado que irá trazer à discussão novos dados, pelo que aguardamos os resultados.
2.3.1.2 Ocupação romana republicana
Numa área central da plataforma A, também escolhida para a edificação do Castelo
Omíada e respectivo fosso, foi edificado um “complexo de construções do século I a.C.”.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
16
Compunha‐se de quatro compartimentos domésticos (Amb. VII, VIII, X e XI) bem conservados,
dois parcialmente destruídos (Amb. VI e IX) e um último (Amb. XII), que não foi
intervencionado na íntegra (v. fig. 10). As destruições a que a área foi sujeita impedem
perceber se se trata de um conjunto único ou se parte deste pertence a outros blocos de
construção. Numa fase, diga‐se, fundacional e estruturante da construção do complexo terá
sido erguida uma parede mestra com duplo paramento [74] e [78], que delimitando a Sul o
Amb. VIII se apoia a uma sequência estratigráfica da Idade do Ferro. Este conjunto
arquitectónico sugere que a ocupação romana se estenderia para Sul, mas a uma cota
superior, tendo os seus vestígios sido removidos pelas destruições Islâmicas e
Contemporâneas, e reflecte, igualmente, a grande remoção de terras dos níveis pré‐romanos,
aquando da construção do complexo.
A circulação dentro do complexo faz‐se no eixo Sul ‐ Norte, rodando 180˚
relativamente à ocupação pré‐romana, da qual reutiliza estruturas e destrói a maioria. Já numa
segunda fase a organização muda radicalmente e o eixo de circulação passa a ser Este ‐ Oeste,
excepção feita ao Amb. IX que poderia ter funcionado com corredor. Tecnicamente, as paredes
que criavam os diferentes ambientes foram construídas por pedra e adobe ou taipa, e os pisos
foram criados, maioritariamente, em terra batida. Já as portas possuíam molduras de pedra e
as coberturas, à falta de provas em contrário, utilizariam materiais perecíveis. Funcionalmente
é de difícil interpretação, não se vislumbrando nada que distinguisse nenhuma das divisões. O
conjunto artefactual é homogéneo e semelhante àquele associado às construções da
plataforma B.
A construção do complexo data de finais do séc. II, inícios do I a.C., e o seu abandono
não ultrapassará o 3º quartel da última centúria, dadas as ausências de fragmentos de terra
sigillata e ânforas Dressel 7‐11.
Na área a Noroeste do complexo, já amplamente descrita noutro lugar (Fabião e
Guerra, 1994), não se vislumbram rupturas, sendo que o material exumado é muito
homogéneo e, genericamente, datado dos três primeiros quartéis do séc. I a.C. Portanto, trata‐
se de segmentos de um mesmo urbanismo, anexos a áreas de construção menos precária.
Refira‐se, ainda, o sector A3 por corroborar a análise efectuada nas restantes áreas
intervencionadas na plataforma superior. Arquitectonicamente verifica‐se a construção de um
espaço doméstico sobre os escombros da antiga muralha e dos derrubes das casas a ela
adossadas, sendo que o material mais recente se trata de um asse de Cneio Pompeio, datado
do ano 45 a.C., pelo que a ocupação não deverá ter ultrapassado o 3º quartel desse século.
Excepção feita a este compartimento, de curta duração e erguido após a regularização do
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
17
terreno, os restantes vestígios romano republicanos resumem‐se, mais uma vez, a estruturas
precárias.
A plataforma inferior encontra‐se muito melhor preservada, pelo que foi possível
conhecer o plano urbanístico implementado em período romano republicano.
Assim, ao contrário do que sucede noutros pontos do povoado, na área mais a Oeste ‐
sector B2 – assiste‐se à edificação de um conjunto de paredes justapostas que delimitam a
área residencial sem recurso à muralha, que já se encontrava desactivada. Não sendo
fortificado assume‐se como um “povoado cego”, ou seja, fechado ao exterior já que todas as
aberturas deste núcleo periférico do povoado estão viradas a Este.
Genericamente, o esquema urbanístico romano republicano de Mesas do Castelinho
(sector B2 e B3) caracteriza‐se pela justaposição de blocos de cariz habitacional virados para
um espaço comum de circulação – Ruas. Até ao momento não existem provas categóricas, mas
é expectável que existam outros eixos Este ‐ Oeste de ligação entre arruamentos.
Importa referir, que mesmo que nalguns pontos as construções republicanas se
sobreponham a outras, pré‐romanas (como no sector A1 e B2), a reestruturação do espaço é
marca deste novo urbanismo. Assim, os dois grandes edifícios pré‐romanos localizados no
sector B2 são substituídos por quatro compartimentos alongados com orientação Oeste ‐ Este
(Amb. I a VI), cujas portas estão voltadas a Este e dão acesso à Rua 1.
Os arranjos são uma constante e vão desde a escolha diferenciada do tipo de
pavimentos (argila ou pedra) até à alternância entre paredes de pedra ou taipa, tal como do
fecho e abertura de novos acessos, por vezes, ligando compartimentos, num conjunto que terá
sido edificado num único momento. A determinação funcional destas casas continua uma
incógnita, excepção feita ao Amb. V, cuja identificação de vestígios de um tear sugere tratar‐se
de um espaço artesanal. Os restantes partilham a homogeneidade artefactual, pelo que
mesmo em termos cronológicos é complicado aferir datações mais finas que o séc. I a.C.
No lado Nascente da Rua 1 (sector B3) identificaram‐se outros dois edifícios de
maiores dimensões, organizados segundo um sistema bipartido: a Norte Amb. XXII/XXXIII e a
Sul I/II, para, mais tarde, o lado setentrional ser convertido num só compartimento de feições
quadrangulares (Amb. XI). Comunicam a Oeste com a Rua 1 e possuíam um segundo piso que
resulta do alteamento da parede que os dividia, cujo acesso seria feito pela Rua 1, mas num
momento inicial não fundacional.
Contrariamente ao que se constata nas construções mais próximas do limite Oeste da
plataforma (sector B2), estas não se sobrepõem a níveis pré‐romanos, mas assentam
directamente sobre a rocha, tanto mais que as soleiras das primeiras casas republicanas do
sector B2, que permitem o acesso aos primeiros pisos da Rua 1, sobrepõem‐se aos muros da
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
18
Idade do Ferro, logo, a área central do povoado republicano fez‐se, muito provavelmente, num
espaço vazio. Deste modo, a exclusividade de materiais pré‐romanos identificados em níveis
que se apoiam à fase inaugural das construções republicanas, da Rua 1, 1º, 2º e 3º
quarteirões1, (v. fig. 11) sugere uma continuidade na utilização de formas e decorações
cerâmicas, ou, por outro lado, são vestígios de um enorme arrasamento decorrente de uma
regularização do terreno para as edificações romanas.
Nas traseiras dos dois edifícios mencionados adossavam‐se‐lhes outras construções
sem haver qualquer comunicação entre si, implicando que o eixo de circulação ocorria no
sentido Oeste ‐ Este em direcção à 2ª Rua. O esquema urbanístico repete‐se até ao 3º
quarteirão. A arquitectura do 2º quarteirão destaca‐se, dos demais, pela sucessão dinâmica
dos espaço construídos, tal como, pela abundância de estruturas de combustão, não só de
cariz doméstico, como industrial e de associação metalúrgica (fornos).
Neste quarteirão, o início das importações romanas é constatado num dos seus Amb.
fundacionais (XXIX) mediante a recolha de um fragmento de unguentário em vidro azul da
forma III de Harden. Numa posterior utilização do espaço [855], já associada ao Amb. XXXVIII,
foi detectado um conjunto cerâmico enquadrável, igualmente, no séc. II a.C., do qual se
destacam duas formas de campaniense A, uma cabeça feminina em terracota de cariz exótico,
fragmentos de “prato de peixe” do “tipo Kouass” e duas formas de ânforas pré‐romanas.
O terceiro quarteirão caracteriza‐se pela dicotomia entre uma monotonia
arquitectónica do edifício Nascente (Amb. XIII, XIV e XVI) e a precariedade e dinâmica das
construções a Poente. Desta última, importa referir, a existência de uma estrutura tipo forno,
com antecâmara e de planta genericamente quadrangular.
2.3.1.3 Ocupação romana imperial
Ao invés do que sucede na plataforma A, na qual esta cronologia é representada
apenas por materiais descontextualizados, na B detecta‐se uma reestruturação do povoado,
centrada no séc. I d.C., com reaproveitamento de estruturas antigas, reorganização de espaços
e utilizando um tipo de construções notoriamente precário e de menor cuidado. Assim, e a
título de exemplo, refiram‐se as alterações efectuadas no 1º quarteirão do sector B3. A Rua 1 é
desactivada, enquanto espaço de circulação, pela divisão imposta por um muro e os edifícios, a
Nascente, assumem uma divisão interna definitivamente quadripartida, mantendo a existência
1 Por quarteirão entende‐se um conjunto de casas romanas voltadas para um espaço comum de circulação do tipo rua, sendo que
a respectiva numeração é atribuída de Oeste para Este. Ver fig. 11
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
19
de um piso aéreo com acesso por escadaria. O material arqueológico recolhido em nada
sugere que esta ocupação se estenda para lá dos finais do séc. I da nossa Era.
2.3.1.4 Ocupação islâmica
Por último, e após sete séculos de interregno, Mesas do Castelinho é reocupado sob a
forma de uma fortificação Omíada e respectivo fosso. Estes localizavam‐se na zona mais
elevada do povoado e articulavam‐se com um hishn instalado na plataforma inferior, cuja
ocupação terá sido de curta durabilidade (séc. IX a XI). Infelizmente, o sistema defensivo e as
estruturas domésticas do tipo silo/fossa, que proliferam por todo o povoado, são um dos
principais agentes de destruição dos níveis arqueológicos mais antigos.
3. A Cerâmica Campaniense
3.1 História da investigação (breve sinopse)
Numa altura em que a cerâmica campaniense era referida sob a designação “etrusco‐
campana”, naquele que é considerado o primeiro olhar sobre a cerâmica ocidental de verniz
negro, da autoria de G.F. Gamurrini, (apud Lamboglia, 1952, p. 139, nota 1), Nino Lamboglia
procedeu, em 1952, à publicação da primeira experiência de sistematização deste tipo
cerâmico. Aliás é assim mesmo que o autor vê o seu trabalho, na medida em que o intitulou na
separata das Atti del 1º Congresso Internazionale di Studi Liguri, como “Per una classificazione
preliminare della ceramica campana”.
O autor baseia‐se em 3 critérios base para organizar a proposta tipológica. São eles o
morfológico, ordenado segundo o tecnológico e cronológico, definindo as produções de A, B e
C, além de um conjunto, mais ou menos numeroso, de imitações com difusão local (Lamboglia,
1952, p. 140). Desta forma, agrupa na Campaniense B as formas 1 a 162 (comuns à C, com
excepção da forma 4 e 8 a 15, e das quais apenas as 3 a 6 correspondiam também às
produções em A), 17 a 20 pertencentes à classe C e 21 a 63 típicas da Campaniense A. O autor
faz uma diferenciação dentro da sequência numérica atribuída à Campaniense A com
implicações cronológicas, pelo que as formas 21 a 29 correspondem à “la transizione tra la
ceramica attica, la “precampana” e la campana vera e propria” (Ibidem, p. 169); as 30 a 36 são
“…peculiari della ceramica campana del III e del II secolo,…” (Ibidem, p. 179) e as formas 2 oito anos após aquela publicação, e numa revisão ao seu próprio trabalho, Lamboglia faz corresponder as formas 17 a 20 à classe
B (Lamboglia, 1960, p. 295).
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
20
decoradas 40 a 63 “…più direttamente derivate da prototipi greci, si estinguono precocemente
nella prima metà dell III secolo…” (Ibidem, p. 184). Existe um intervalo, nº 37 a 39, para o qual
não há referência alguma.
Existe um conjunto de publicações dispersas e anteriores a esta que, na opinião de J.P.
Morel, contribuíram para o arranque da investigação da cerâmica campaniense. Destaque‐se o
trabalho que C.L. Wolley sobre a cerâmica calena, o de A.K. Lake sobre a campaniense de
Minturno ou mesmo o de N. Lamboglia sobre o conjunto de Albintimilium (Morel, 1981, p. 39‐
40). Estes, ainda que bastante imprecisos, baseiam‐se em dados arqueológicos e dão, pela
primeira vez, atenção a determinados detalhes que se vieram a revelar fundamentais no
estudo da cerâmica campaniense. Mas é, sem dúvida, o trabalho de 1952, da autoria de
Lamboglia, que confere a verdadeira caminhada para a consolidação do estudo deste tipo
cerâmico. Nos anos que se seguem esta cerâmica antiga, diga‐se “não artística”, começa a
ganhar mais atenção nos conjuntos publicados como os dos vasos de verniz negro de Cápua,
da autoria de Mingazzini, ou os de Cosa, publicados por Taylor.
Se por um lado a sistematização de N. Lamboglia conferiu uma maior importância a
nível científico a este tipo cerâmico, por outro, as novidades, em quantidade e diversidade, do
material arqueológico recuperado nas escavações que se seguiram, a par das publicações de
outras já antigas, colocava sérias dúvidas quanto à aplicabilidade daquela seriação tipológica. A
título de exemplo, refira‐se o estudo dos materiais do Museu Guarnacci, elaborado por M.
Pasquinucci, na medida em que surgem 150 formas para as quais raramente foi possível
estabelecer correspondência com a Classificazione (Taborelli, 2005, p. 60). Na sequência
destas dificuldades assiste‐se à complexificação da proposta de Lamboglia passando pela
adição de formas novas (ignorando os pressupostos de criação daquela tipologia, numa
simples adição que se fazia por ordem de publicação), pela assimilação de formas já existentes
(pelo facto das novas combinarem aspectos das de base, o que se traduz, por exemplo, na
criação da Lamb. 5/7) e pela criação de variantes. É certo que estes aspectos não podem ser
imputáveis ao autor italiano, mas demonstram a impermeabilidade da Classificazione. Outros
aspectos que limitavam esta tipologia referem‐se ao facto do autor não contemplar áreas
importantes como o Norte de África, não fazer menção às produções regionais e, por exemplo,
misturar formas áticas numa tipologia de cerâmica romana (Morel, 1981, p. 19).
É neste cenário, de urgência em criar uma nova base de trabalho para dar resposta à
acumulação da cerâmica de verniz negro do ocidente, com uma nova organização
caracterizada pelo seu carácter “aberto” à introdução de novas formas e com inclusão de
todas as informações referentes às diferentes regiões de onde se conhecia produção
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
21
campaniense, que surge, em 1981, Céramique Campanienne: Les Formes, da autoria de Jean
Paul Morel.
A relativização de alguns aspectos tecnológicos, na hora de definir grupos de fabrico,
como a intensidade do brilho, aderência do verniz e coloração das pastas, bem como a
importância concedida a alguns detalhes formais, nomeadamente à forma dos pés, com
implicações tipológicas e cronológicas, foram alguns aspectos que já haviam sido tidos em
conta na Classificazione e que ganham consistência na tipologia de Morel. Relativamente aos
aspectos técnicos importa referir que, em 1971, M. Picon, M. Vicky e G. Chapotat publicam um
artigo intitulado Note sur la composition des céramiques campaniennes de type A et B, onde
explicam os processos químicos e técnicos que conduzem às oscilações na coloração da pasta
das peças, demonstrando que isso não significa, taxativamente, tratarem‐se de produções
diferentes (Picon et al., 1971). Por outro lado, e no que respeita aos aspectos morfológicos,
diga‐se que a sistematização de alguns pormenores (como a forma dos pés) foi um assunto a
que outros investigadores prestaram especial atenção, por também lhe reconhecerem
validade tipológica e cronológica. Como exemplo, refira‐se Sanmartí Greco, na sua obra de
1978, sobre Emporion e Rhode (Sanmartí, 1978, p. 595‐602) antes mesmo da sistematização
detalhada de Morel, em 1981.
A tipologia preconizada por Morel assenta numa estrutura que privilegia o perfil das
peças, e ainda que atribua valor aos aspectos tecnológicos, funcionais e cronológicos estes não
são determinantes em toda a concepção e organização do trabalho. Trata‐se de uma
classificação em cadeia, baseada nos pressupostos taxonómicos das ciências naturais,
colocando o indivíduo, ou seja, o tipo numa série, espécie, género e por último categoria (o
termo mais genérico que abrange um padrão de recipientes com atributos morfológicos que
os torna muito semelhantes entre si). Desta forma, utiliza um sistema numérico para
determinar a inserção em cada um destes estádios como, por exemplo, F1122a 1, ou seja,
categoria 1000, género 1100, espécie 1120, série 1122 e tipo 1122a 1. Esta tabela é um
trabalho que, ao contrário do seu precursor, proporciona a inclusão de novas variantes, ou
formas, sem que dissolva a concepção inicial, pelo que esta organização, puramente formal,
não se esgotará nas possibilidades de inclusão e não correrá os mesmos riscos da anterior.
Este é talvez o grande contributo de Morel, a par da exaustiva sistematização, já mencionada,
que concedeu aos perfis dos pés e à importância que atribuiu às produções de difusão dita
“não universal”, que dizem respeito a diferentes centros produtores, cuja localização, na
maioria dos casos, é desconhecida3. Para além disso lança uma nova visão sobre o que se
3 Algumas destas oficinas foram identificadas como, seja o caso, do “atelier das pequenas estampilhas”, “Nikia‐Ion” ou o das “três
palmetas radiais” (Morel, 1981, p. 48).
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
22
entende por “imitação”, caracterizando não aqueles modelos que apresentam parecenças com
o protótipo, mas aquelas peças que foram voluntariamente copiadas num momento
obrigatoriamente posterior (Morel, 1981).
A investigação continuou na tentativa de determinar os inúmeros centros produtores
espalhados pelo Mediterrâneo ocidental, bem como com o intuito em caracterizar as
diferentes facies das diversas produções e sua distribuição no mundo romano. A possibilidade
de efectuar algumas análises petrográficas e químicas a alguns conjuntos, permitiu a definição
de centros produtores, reestruturando a concepção que se tinha das áreas de produção e
relações económicas entre regiões.
3.2 O estudo em Portugal
A primeira notícia, plausível de se relacionar com a presença deste tipo cerâmico em
território nacional, data de 1910 e refere‐se a Chibanes (Setúbal). O autor, A.I. Marques Costa
apresenta descrições e material fotográfico que parece conferir credibilidade à sua classificação
(apud, Luís, 2008, p. 21). Certamente existiram outras referências ao que hoje conhecemos pela
designação de cerâmica campaniense mas a dificuldade à altura de a identificar, complexifica,
actualmente e na impossibilidade de analisar o material, a sua associação. Mais uma vez
confirmando o impulso dado pela Classificazione verifica‐se que em Portugal as referências
àquele tipo cerâmico se reproduzem a partir de 1950.
Em 1971, Veiga Ferreira publica um conjunto de materiais de diferentes pontos do país
passíveis de se interpretarem como campaniense, mas ainda muito envolto em confusão pela
presença de outros tipos de cerâmica e muito vago em informação, o mesmo já não se pode
dizer da síntese elaborada por Manuela Delgado nesse mesmo ano.
M. Delgado toma por base a tipologia de Lamboglia, fazendo acompanhar as
descrições, mais ou menos pormenorizadas da pasta, verniz e decoração, do respectivo
desenho. Simultaneamente, já refere os primeiros trabalhos de Morel, pelo que podemos dizer
ter‐se tratado de um marco bibliográfico na história da evolução do estudo das cerâmicas
campanienses em Portugal. Assim, a autora detectou produções de A, B, outras produções
“locais/regionais”, que designa de imitações e a que atribuiu as letras de D a I (ainda que as
imitações D e E se devam, como aconselha Morel na Table ronde de Conimbriga, incluir nas
produções da B (Delgado, 1976a, p. 92)), para além de imitações de cerâmica comum, e por fim
escassas C. A sua amostra reportou‐se ao material de Vaiamonte, Alcácer do Sal, Algarve e
Setúbal, existentes no Museu Nacional de Arqueologia e no Municipal de Santiago do Cacém, a
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
23
par do do Castelo da Lousa (Mourão) e Conímbriga, num total de 98 exemplares. Dando
seguimento ao seu trabalho, em 1976, publica um conjunto de 86 fragmentos de campaniense
e produções “locais/regionais”, dos tipos F, G e H, de Conimbriga (Delgado, 1976b, p. 21‐26).
Dois anos depois, Joaquina Soares publica, sob a forma de nótula, o segundo artigo
português, acerca exclusivamente da cerâmica campaniense, tomando por base os materiais do
interior do Castelo de Alcácer do Sal. Aqui já se notam preocupações relativas à distinção entre
as diferentes produções de B e imitações, bem como a referência às obras mais recentes e
importantes sobre o assunto.
Existe um sem número de publicações que não sendo, especificamente, dedicadas ao
estudo de cerâmica campaniense têm‐lhe feito menção e das quais destacamos: Santarém
(Diogo, 1984); Castelo Velho de Veiros (Arnaud, 1970); Pedrão, em Setúbal (Soares e Silva,
1973); necrópole de Torre de Ares (Nolen, 1994); Mesas do Castelinho (Fabião e Guerra, 1994);
Forte de São Sebastião, em Castro Marim (Arruda e Pereira, 2008); Monte Molião (Elisa e Serra,
2006); algum material referente aos castella do Baixo Alentejo (Maia, 1987), entre outras.
Existem outras que, parcialmente ou integralmente, são dedicadas ao estudo de
conjuntos de cerâmica campaniense: Lomba do Canho, com uma síntese da história das
investigações e apresentação do panorama bibliográfico conhecido até então, tipologias e
cronologias (Fabião e Guerra, 1996b); material depositado no Museu de Sintra (Sousa, 1996);
Mesas do Castelinho (Fabião, 1998); Cabeça de Vaiamonte (Fabião, 1998); Santarém (Bargão,
2006); Faro, Balsa e Castro Marim (Viegas, 2009); Mértola (Luís, 2008); Castelo da Lousa (Luís,
2010), entre outras.
3.3 O actual estado dos conhecimentos, seus condicionalismos e questões
Em Portugal tem havido alguma resistência quanto à utilização da tipologia
preconizada por Morel, prevalecendo, na maioria dos casos, o recurso às formas antigas de
Lamboglia. Percebemos que tal suceda devido ao facto de trabalharmos com fragmentos
muito reduzidos, mas consideramos que se deverá fazer o esforço pela atribuição morfológica
com base em Les Formes, ainda que sempre acompanhada da respectiva forma de Lamboglia
(já que as referências mais antigas baseiam‐se naquela tipologia), de modo a uniformizarmos a
linguagem.
A Mesa Redonda Internacional de Ampúrias, realizada no ano 1998, sobre as cerâmicas
de verniz negro dos sécs. II e I a.C., conferiu algumas directrizes e conclusões importantes no
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
24
avanço das investigações4. Em primeiro lugar, e devido ao uso abusivo que se tem vindo a dar
à aplicação do termo b‐óide, convencionou‐se a sua anulação e substituição pela designação
de cerâmica calena média ou tardia.
Decidiu‐se, igualmente, considerar a Campaniense B etrusca como “não universal”,
tendo em conta a sua escassa representatividade no Mediterrâneo ocidental, pelo que esta
constatação talvez se possa alargar à cerâmica Campaniense C.
Uma das questões centrais deste debate residiu na terminologia. Para alguns
investigadores a designação de campaniense é ambígua, dado que, remete para uma realidade
geográfica muito concreta e é utilizada para designar produções com origens geográficas
muito díspares. Daí que prefiram a designação de verniz negro. Seguindo os pressupostos da
Mesa Redonda, optámos por designar cerâmica Campaniense B ou produções da B, sempre
que nos referirmos àquelas peças cuja origem se desconhece. Utilizamos a designação
“local/regional” para as campanienses que imitam os reportórios formais da A e B, em pastas
laranjas e cinzentas (com verniz negro), sendo que a campaniense “verdadeira” será designada
de Campaniense B etrusca e as restantes, sempre que se conheçam os centros produtores,
anexamos‐lhes a sua origem geográfica. Ou seja, acrescentar, sempre que possível, a origem à
classe. As restantes (campaniense A e C) não encerram este tipo de problemas.
Esta Mesa Redonda serviu para a divulgação compilada da caracterização de
produções “locais/regionais” de vários pontos da Península Ibérica; para a sintetização de um
quadro de distribuição da Campaniense A, conhecida até ao momento, suas cronologias e
discussão acerca da substituição desta pela Campaniense B. Os autores expuseram os seus
dados, igualmente, quanto ao âmbito cronológico que consideram ser o do fim da importação
da campaniense no ocidente peninsular.
4. A colecção do sítio Mesas do Castelinho
4.1 Metodologia
4.1.1 Composição, tratamento da amostra e critérios de quantificação
Os materiais que deram origem a este trabalho provêm de 19 anos de campanhas de
escavação no sítio Mesas do Castelinho, da responsabilidade científica do Dr. Amílcar Guerra e
Dr. Carlos Fabião, bem como do espólio recolhido por C.J. Ferreira aquando da sua intervenção
de emergência, após as grandes destruições de 1986.
4 Os dados que se seguem referem‐se ao capítulo de conclusões daquela Mesa Redonda (Aquilué Abadias, et al., 2000).
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
25
O conjunto contempla toda a cerâmica de verniz negro de produção itálica,
cronologicamente enquadrável nos sécs. II e I a.C., bem como os fragmentos de cerâmica
Campaniense de produção “local/regional”, sejam da Península Ibérica ou Itálica, com verniz
negro. No entanto, o debate estratigráfico e contextual, situado entre finais do séc. II a.C. e 3º
quartel do seguinte, sempre que possível e necessário, é auxiliado pela referência a outro tipo
de cerâmicas datantes, nomeadamente as ânforas. Sobre as quais já existe uma síntese, sob a
forma de tese de mestrado, da autoria do Dr. Jorge Parreira (Parreira, 2009).
A primeira fase de análise material foi feita segundo um critério qualitativo, isolando
todos os fragmentos que possuíssem bordo, fundo, asa, ou que apesar de serem bojos
tivessem vestígios de decoração, portanto, tudo o que normalmente se considera classificável.
Seguidamente a esta triagem, e após a marcação dos diferentes fragmentos (com indicação do
topónimo, ano, campanha e proveniência estratigráfica), que na maioria dos casos já estava
feita, procedeu‐se à atribuição sequencial dos números de inventário, com início no número
3000. Em alguns casos foram inventariados vários fragmentos pertencentes a uma mesma
peça. Este lapso poderia induzir‐nos em erro aquando de uma análise estatística, pelo que
optámos pela introdução em inventário (v. Anexo IV) de apenas um fragmento, sendo que no
campo de observações são mencionados os restantes a que indevidamente se atribuiu
numeração.
Desta forma, num total de 2532 fragmentos recolhidos (diga‐se classificáveis e
inclassificáveis), 511 correspondiam a bordos; 286 a fundos; 16 a bojos decorados; seis a asas,
numa mesma proporção que as peças com perfil completo e um a uma carena. Desta
contabilização apenas 658 fragmentos permitiram uma atribuição tipológica, à qual se
acrescentam as três peças, provenientes da [72], do sector A1, já publicadas (Fabião, 1998) e
depositadas no Museu Etnográfico de Santa‐Clara‐a‐Nova.
Após estas fases de triagem e marcação, o estudo dos exemplares passou por vários
estádios, nomeadamente, desenho gráfico e respectiva tintagem (mediante a utilização do
programa Adobe Illustrator CS4), caracterização dos diferentes grupos de fabrico identificados,
atribuição tipológica e cronológica a cada exemplar e análise quantitativa.
Seria impossível privilegiar a classificação tipológica descurando os diferentes grupos
de fabrico cerâmico, pelo que se tentou conciliar ambas as caracterizações.
A caracterização de pastas deve ser entendida no contexto de um conjunto de
constrangimentos inerentes à análise efectuada, puramente macroscópica. Tal como a
investigação arqueológica tem vindo a alertar, o cenário indicado deve contar com análises
químicas que permitam comparações e possibilitem a determinação de áreas exactas de
proveniência dos produtos. Ora, as impossibilidades óbvias, inerentes a este conjunto, levam‐
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
26
nos a cingir a sua análise à utilização de uma lupa de 15 aumentos para uma identificação dos
elementos não plásticos (enp’s) inclusos, para a caracterização da sua textura, grau de dureza
e depuração, de modo a criar grandes grupos divididos em fabricos e efectuar comparações
com os dados bibliográficos conhecidos até ao momento.
A referência às tonalidades observadas suportou‐se da consulta da tabela de cores de
Münsell Color Soil. Neste campo foi novamente necessário matizar os dados e determinar
grandes grupos, até porque a grande variabilidade de tons observados pode não ter que ver,
necessariamente, com diferentes grupos de fabrico, mas com alterações aleatórias aquando
do processo de cozedura das peças, ou até mesmo relacionar‐se com o desgaste/uso dos
recipientes. Como tal, o critério de coloração deve ser relativizado (Picon et al, 1971).
No que concerne à tipologia utilizada, na classificação dos exemplares, recorremos ao
trabalho de J.P. Morel (Morel, 1981). Fizemo‐lo por considerarmos o trabalho de síntese mais
completo, que tem em conta, por exemplo, uma série de detalhes formais e decorativos
fundamentais na interpretação do material analisado, embora reconheçamos algumas
limitações. Paralelamente, optámos por estabelecer correspondência com os grupos formais
definidos naquela que é o primeiro ensaio de tipologia da cerâmica campaniense, da autoria
de N. Lamboglia (Lamboglia, 1952), na medida em que continua a ser uma base de trabalho
muito utilizada e que ao contrário da primeira, por não ser tão pormenorizada, permite uma
fácil visualização mental da forma a que nos referimos.
A importância em determinar os critérios de quantificação cerâmica e,
simultaneamente, a forma de apresentação desses resultados centra‐se na necessidade de
comparar as diferentes Unidades Estratigráficas (U.E.’s) e, consequentemente, faseamentos de
um mesmo sítio arqueológico e entre vários de uma mesma cronologia, tendo sido nesta
perspectiva que teve lugar a Mesa Redonda, em Mont Beuvray, no ano de 1998.
Actualmente, existem diversos métodos utilizados na quantificação do material
cerâmico, estando longe de se encontrar uma fórmula universal e perfeita. A dificultá‐la
encontram‐se múltiplas variáveis, das quais destacamos o estado de conservação dos
fragmentos recuperados, aliado aos processos tafonómicos e tipos de utilização que os
mesmos sofreram, muitas vezes influenciando as necessárias tentativas de classificação
tipológica de cada registo. Um dos critérios que mais condiciona as possibilidades de
comparação entre sítios é, efectivamente, a utilização de tipologias e nomenclaturas
diferentes, pelo que neste caso, utilizando as duas tipologias de referência, esperamos matizar
essa dificuldade. Nesta medida, na tabela 3 do anexo II, onde se sintetizam os resultados da
quantificação cerâmica, são referidas as séries ou espécies da tipologia de Morel, consoante o
grau de precisão que foi possível atingir, e respectiva correspondente na tipologia de
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
27
Lamboglia. Assim, os sistemas mais utilizados para determinar os indivíduos presentes são:
Número mínimo de indivíduos (NMI), número máximo de indivíduos (nmi), Estimated Vessel
Equivalent (EVE), entre outros (Raux, 1998, p. 13).
No presente estudo, optou‐se por utilizar o sistema de determinação de NMI.
Primeiramente, efectuaram‐se as colagens possíveis (dentro de cada U.E. ou entre U.E.’s
distintas), para depois considerarmos um indivíduo todos aqueles fragmentos que pelas suas
características técnicas, formais e decorativas não deixaram margem para dúvidas quanto a
tratarem‐se do mesmo recipiente.
Numa segunda fase, determinámos o NMI de cada forma presente em cada grupo de
fabrico identificado, sendo que o critério utilizado para a contagem regeu‐se pelo elemento
que melhor a caracteriza e que seja percentualmente mais expressivo no contexto em que
surge. Com aplicação a todas as morfologias, este sistema implica que se em determinado
contexto não existirem registos de bordos, mas somente os respectivos fundos dessa forma,
este último seja o elemento utilizado na contabilização de NMI. No caso da F2250‐2280 (Lamb.
5/7) e da F2300 (Lamb. 1) tanto os bordos, como os fundos são seus caracterizadores e
existem em grandes quantidades, pelo que na presença, por exemplo, de cinco bordos e seis
fundos do género F2300 foram contabilizados seis indivíduos. Os bojos decorados foram,
igualmente, considerados como indivíduos. Desta forma tentámos criar critérios que fiabilizem
as contagens e os dados serão apresentados segundo as propostas do Protocole de Beuvray
(Protocole de Beuvray, 1998, p. 141‐157).
A fiabilidade desta análise, de cariz quantitativo, impôs que fosse aplicada,
exclusivamente, ao conjunto de material detectado em contextos romano republicanos. Assim
sendo, e excluídos todos os fragmentos provenientes de recolhas de superfície, ou
remobilizados para contextos Contemporâneos, Medievais e Imperiais, tratámos 316
fragmentos. Esta quantificação teve por base a definição, em cada sector, de grandes
momentos de abandono/destruição onde o número de fragmentos foi convertido em NMI,
para posteriormente e em momentos com construções associadas o exercício de quantificação
ser feito individualmente para cada ambiente identificado.
A unidade mínima de registo (U.E.) é aqui, tal como no protocolo de Beauvray, eleita
como elemento base de quantificação, designadamente, para o cálculo do NMI. No caso em
análise, afigura‐se pertinente introduzir algumas “nuances”, uma vez que diferentes U.E.’s de
um mesmo Ambiente podem conter fragmentos de um mesmo vaso. Pensamos que este será
o melhor método, na medida em que, a sequência estratigráfica do interior de cada ambiente
se revela cronologicamente homogénea e a probabilidade de migração de fragmentos está,
efectivamente, circunscrita pelas paredes que os constituem.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
28
Refira‐se, igualmente, que a interpretação qualitativa incidiu, obviamente, sobre este
mesmo conjunto, o que não invalida a elaboração de uma síntese final que congrega os
restantes dados dispersos por toda a estratigrafia, importantes na percepção das grandes
tendências comerciais e volumes de importação de cerâmica campaniense. Trata‐se de
cerâmicas descontextualizadas, provenientes de outros momentos do povoado, pelo que cada
fragmento terá de ser tido como um indivíduo. Este exercício permitirá perceber se algumas
conclusões retiradas através dos materiais em contexto republicano são questionadas pela
análise global, bem como tornar possível a comparação com outros conjuntos publicados,
como seja o caso de Mértola, geograficamente mais próximo e cuja colecção se compõe de
elementos todos eles fora de contexto.
Resta referir que em anexo será apresentado o inventário geral com a classificação e
caracterização de todos os exemplares, bem como uma tabela onde se podem consultar as
descrições físicas, estratigráficas e associação de outros materiais arqueológicos, de todas as
unidades estratigráficas das quais provem este conjunto. Numa tentativa de tornar o texto
menos descritivo, optámos por criar um quadro onde compilámos a informação relativa às
formas cerâmicas que, em território actualmente português, têm paralelos no conjunto de
Mesas do Castelinho.
A ilustração do material foi feita a uma escala 1/2, salvo os casos com respectiva
referência, e as cerâmicas decoradas ou com marca de oleiro fazem‐se acompanhar de
fotografia. No que respeita à organização das estampas, optámos por seguir a organização da
tipologia de J.P. Morel, baseada nos pressupostos taxonómicos das ciências naturais:
categorias – géneros – espécies – séries.
4.2 Áreas de produção
4.2.1 Campânia
4.2.1.1 cerâmica Campaniense A
Desde o séc. VIII a.C. que todo o Mediterrâneo ocidental foi economicamente
influenciado pelos mercados da Magna Grécia (Arruda, 1997, p. 87). Como resultado desta
longa tradição helenística verifica‐se uma especial predilecção por recipientes de verniz negro,
perfeitamente atestada em povoados como Castro Marim (Arruda, 1997, p. 122‐136), Mértola,
(Luís, 2003), ou Alcácer do Sal (Arruda, 1997, p. 88‐90), para citar alguns exemplos.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
29
É precisamente neste cenário, e com a rarefacção dos vasos áticos nestes mercados,
que devemos entender o início da produção e comercialização da cerâmica Campaniense A
(séc. IV a.C.).
Originária da Campânia, terá sido produzida por oleiros de todo o Golfo de Nápoles,
que recolheram as argilas nos barreiros da ilha de Ischia. Numa fase inicial, que se cingia à
reprodução formal de protótipos áticos, a produção era feita a uma escala reduzida, apenas
com exportação para o Golfo de Lyon e para um reduzido número de lugares mediterrânicos
que faziam parte do eixo comercial itálico, tal como Lattes (Adroher Auroux et al., 1996, p. 13).
Mas é no séc. III a.C., com a chegada de Roma à Campânia, que esta região ganha especial
relevo no abastecimento dos mercados sob domínio romano.
Não se pode afirmar, categoricamente, que a expansão do comércio da Campânia seja
determinada pelo avanço dos exércitos romanos. Contudo, é inegável, que a necessidade em
abastecer os contingentes militares, estacionados na região do Sul da Gália e Norte de África,
por ocasião da II Guerra Púnica, ou mesmo na Península Ibérica, proporcionou o primeiro
contacto das populações indígenas com aqueles novos produtos. Durante o processo de
aculturação e habituação aos costumes romanos, o mundo indígena terá aceitado este novo
serviço de mesa, que incluía, inclusive, formas novas, diga‐se estranhas ao dia a dia pré‐
romano. Por outro lado, o já supracitado gosto por outros recipientes de verniz negro terá,
igualmente, contribuído para o consumo daqueles produtos itálicos (Adroher Auroux et al.,
1996, p. 15‐16).
Este tipo cerâmico constituía parte dos carregamentos dos navios que abasteciam os
mercados provinciais, mas numa perspectiva de carga subsidiária e nunca como o principal
produto de abastecimento. Assim, nos dois primeiros quartéis do séc. II a.C. constata‐se que a
Campaniense A acompanha os contentores anfóricos do tipo greco‐itálico para mais tarde, na
transição entre o séc. II e o I a.C., incorporar as cargas de navios que transportavam os tipos 1
da tabela de Dressel, ou seja, relacionada com o comércio de vinho itálico (Adroher Aurox et
al, 2000).
Jean Paul Morel definiu 5 etapas de produção/comercialização da cerâmica napolitana
(Morel, 1981, p. 47), que ainda hoje, grosso modo, prevalecem. Contudo, e cada vez mais, a
aplicação desta periodização necessita de uma abordagem crítica. Isto porque existem,
correntemente, casos de fragmentos tidos como Campaniense A clássica, que nos apontam
para uma cronologia de séc. II a.C., mas cujas características técnicas se afiguram medíocres e
portanto, incompatíveis com aquele momento de produção. Este exemplo, que foge ao
esquema definido pelo autor, pode e deve ser entendido à luz de várias condicionantes: falta
de técnica do oleiro, problemas de cozedura das argilas, uso intensivo da peça, degradação pós
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
30
deposicional ou relacionar‐se com uma perduração do uso de determinadas formas, alargando
o intervalo de produção das mesmas (Ventura Martínez, 2000, p. 178‐179). Daí que a
investigação deva ter em conta os contextos estratigráficos em que os fragmentos surgem,
bem como uma análise cuidada do restante espólio associado, evitando limitações impostas
por conceitos e cronologias tradicionalmente aceites. Nesta medida podemos correr o risco de
considerar, erradamente, residuais aquelas formas detectadas em contextos cronológicos
onde não seriam expectáveis.
Atendendo às características e contextos de proveniência do conjunto aqui analisado,
importa debruçarmo‐nos, especificamente, sobre a fase final da produção de A média (190/80‐
100 a.C.) e sobre a produção tardia (100‐50/40 a.C.).
A transição entre a produção e exportação de cerâmica Campaniense A média e tardia
continua sob aceso debate, sendo que os dados de Pollentia e de Valência parecem, por ora,
lançar algumas luzes sobre o assunto (Aquilué Abadías, et al., 2000).
No porto de Pollentia, fundado em 123 a.C., o conjunto cerâmico de Campaniense A
corresponde, exclusivamente, à sua fase tardia (Aquilué Abadias et al., 2000, p. 336). Por
oposição, em Valentia, cuja fundação data de 138 a.C., esta etapa produtiva ainda não se
identifica, verificando‐se apenas Campaniense A média (Marín Jordá, 2000, p. 91‐92).
Conciliando as presenças ‐ ausências e as datações de ambos os sítios parece que a transição
entre a produção de A média e A tardia, ou, pelo menos, a sua difusão para a Península Ibérica,
terá ocorrido no último quartel do séc. II a.C.
No que concerne aos reportórios formais de uma e outra etapa constata‐se, por um
lado a tendência à rarefacção de algumas formas, por outro a criação de novos recipientes. A
pátera da espécie F2230 da tipologia de Morel (Lamb. 55) desaparece para ser substituída pela
F2250 (Lamb. 5) e surge uma nova série Lamb. 5/7 (ausente dos contextos de séc. II a.C.).
Verificam‐se, igualmente, algumas incorporações do reportório tradicionalmente atribuído à
Campaniense B, numa clara tentativa em agradar aos mercados agora dominados pela
produção calena. Um outro constrangimento à produção napolitana assenta na hegemonia
económica que a cerâmica de paredes finas alcança no Mediterrâneo ocidental (Py, 1993f, p.
511) que parece ser consequência do desaparecimento dos recipientes de cerâmica
campaniense com asas, associados à ingestão de bebidas.
A perda de qualidade dos recipientes produzidos em Campaniense A, quer ao nível dos
vernizes aplicados, quer ao nível do tratamento das argilas, começa a fazer‐se sentir,
paulatinamente, ao longo da segunda metade do séc. II a.C. e torna‐se mais nítida nos finais
deste, para caracterizar todo o século seguinte na fase de produção correspondente à A tardia.
Assim, o verniz perde brilho e assume nuances metálicas vermelhas e acastanhadas, torna‐se
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
31
menos espesso e, como tal, a aderência diminui, para além de já não cobrir a totalidade da
superfície das peças. Esta degradação constata‐se, na mesma medida, na aplicação do verniz
por se notarem dedadas do oleiro na face externa do pé. As pastas assumem uma tonalidade
rosada, contrastando com as mais avermelhadas das primeiras fases de produção e possuem
uma matriz fina e depurada, por vezes com vacúolos alongados. As paredes dos recipientes
tornam‐se mais espessas, os pés baixos e tendencialmente trapezoidais, passando a ser
visíveis, sob o verniz, as estrias de alisamento das pastas. Estas tornam‐se mais porosas e é
possível identificar elementos não plásticos de maior dimensão (Aquilué Abadias et al, 2000).
A fase final da Campaniense A média caracteriza‐se pela rarefacção de motivos
decorativos, nomeadamente das estampilhas com palmetas, passando a predominar a
impressão de folhas de parreira, dispersas de forma radial e rodeadas por círculos concêntricos
incisos. Os finais do séc. II a.C. caracterizam‐se, igualmente, pela presença de bandas de
círculos pintados no fundo interno das peças, cujo bordo podia ter duas bandas pintadas a
branco e mais comummente a castanho. Já a fase correspondente à A tardia resume‐se aos
círculos concêntricos no interior dos fundos, segundo o que já sucedia nas produções da B.
Assim, a Campaniense A tardia, numa clara tentativa de competir com o mercado
dominado pelas produções de B, e especialmente pela B de Cales, imprime importantes
transformações no seu reportório. Esta nova realidade traduz‐se na imitação de algumas
formas que as oficinas etruscas e calenas já produziam, reduzindo qualidade na sua produção
e simplificando os esquemas decorativos. Esta estratégia determinou uma produção mais
célere e com custos menores, decorrentes, igualmente, da utilização de uma mão‐de‐obra
menos qualificada.
Em mercados específicos, como os sud‐gálicos, as formas em Campaniense A
destinadas ao consumo de bebidas alcançam uma maior durabilidade, mesmo em momentos
em que estes já estariam invadidos pelo reportório formal da Campaniense B (Aquilué Abadias
et al., 2000, p. 402). Dada a proximidade geográfica às oficinas da área etrusca, e
especialmente de Cales, este cenário deve ser entendido numa perspectiva de
conservadorismo de hábitos de consumo e não de constrangimentos geográficos relacionados
com a dinâmica das rotas comerciais.
Por oposição, os conjuntos da Península Ibérica de finais do séc. II e I a.C. demonstram
uma predilecção por serviços constituídos por páteras F2250‐80 (Lamb. 5 e 5/7) e tigelas
F2300 (Lamb. 1), reflectindo a diminuição da recepção de Campaniense A em prol de um maior
consumo da B calena.
Verifica‐se, igualmente, uma dicotomia entre os povoados do interior e litoral andaluz.
Ao que tudo indica nos de litoral a substituição de A por B é precoce e resulta da maior
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
32
capacidade de recepção e renovação dos serviços, gerada pela sua posição geográfica. Sendo
que nos lugares de interior se constata um equilíbrio entre os dois tipos cerâmicos, decorrente
da sua necessária sujeição às dinâmicas das rotas comerciais, o que os levava à conservação e
manutenção dos recipientes em A por mais tempo (Aquilué Abadias et al., 2000, p. 403).
Não nos parece suficiente justificar este facto pela posição geográfica de ambos.
Mesas do Castelinho comprova essa convivência, entre A e B, cuja diferenciação percentual
não é gritante, mas geograficamente foi desde sempre um sítio relativamente central no plano
das dinâmicas económico comerciais, dada a proximidade e navegabilidade do rio Guadiana.
Por estas razões, pensamos que a clarificação deste fenómeno não é tão linear e pode ser
explicado a outros níveis, pelo que remetemos esta discussão para outro lugar (v. subcapítulo.
5.2).
Genericamente considera‐se que o fim da produção/recepção de campaniense (em
todos os seus registos) está relacionado com a invasão dos mesmos mercados que esta
abastecia pela terra sigillata, em cerca de 40/30 a.C., bem como pelo início da importação de
vinho hispânico em detrimento dos produtos itálicos.
4.2.1.2 cerâmica Campaniense B de Cales
O Norte da Campânia possui uma ampla tradição na produção de cerâmica de verniz
negro de diferentes períodos cronológicos (Cápua, Cales, Teano e Minturno). Recentes análises
arqueométricas efectuadas a um conjunto de fragmentos cerâmicos provenientes de
diferentes pontos daquela região demonstraram que a composição química é muito
semelhante tornando‐se complexo diferenciar cada registo (Olcese e Picon, 1998).
A história da investigação das produções originárias da região de Cales, no Norte da
Campânia, começa pela identificação da sua primeira fase de comercialização e exportação.
Efectuada a uma escala reduzida, é certo, prima pela peculiaridade das suas páteras com
decoração em relevo e, especialmente, pelas marcas impressas pelos oleiros locais que não
colocavam dúvidas quanto à sua proveniência (Pedroni, 2001, p. 147‐153). Mais complexa foi a
caracterização da cerâmica Campaniense lisa de Cales, ou seja, o produto da natural evolução
destes centros oleiros.
Por surgir em quantidade nas escavações de Byrsa, em Cartago, foi considerada
como proveniente do Norte de África e recebeu a designação de Byrsa 661 (Morel, 1986, p.
31). No entanto, a identificação em Valência dessa mesma Byrsa 661, em contextos do último
quarto do séc. II a.C. e primeiro do seguinte, não corroborava aquela origem púnica que não
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
33
podia, a ver pela data de destruição de Cartago, ir além de 149‐146 a.C. Este facto, cruzado
com os contextos arqueológicos da antiga colónia latina de Cales, já definida como um grande
centro oleiro entre o séc. II e I a.C., e as análises químicas efectuadas a ambos os conjuntos,
levou a concluir que o seu reportório não se fazia exclusivamente das cerâmicas com
decoração em relevo, mas também por boa parte do que se tinha, até então, designado como
b‐óide e pelas supracitadas Byrsa 661 (Pedroni, 2001, p. 250).
Actualmente, é comum considerar‐se toda a cerâmica Campaniense B detectada na
Hispânia em contextos de séc. II‐I a.C. e cujas características técnicas e morfológicas se
aproximam das B etruscas, como cerâmica Campaniense lisa de Cales.
Na nossa perspectiva, essa tendência deve ser acautelada pela realização de análises
químicas aos conjuntos cerâmicos, evitando perpetuar na história da investigação da cerâmica
campaniense uma noção errónea da realidade, imposta pela assumpção dessa proveniência
sem debate prévio e sem equacionar todas as restantes possibilidades conhecidas.
A caracterização das diferentes etapas de produção calena encontra‐se sistematizada
na bibliografia de referência (Pedroni, 1986, 2000, 2001), pelo que apenas descreveremos a
sua 4ª fase (tardia), dado que é a identificada em Mesas do Castelinho.
A fase tardia da cerâmica campaniense lisa calena é predominante nos contextos
arqueológicos detectados por toda a Hispânia, nomeadamente em Iluro (García Roselló, 2000,
p. 63) ou nos contextos de destruição de Valentia, em 75 a.C. (Marín Jordá, 2000, p. 93‐96).
Caracteriza‐se por uma pasta calcária, bege alaranjada, dura e compacta, e por um
verniz negro mate de fraca qualidade, que lasca com muita facilidade e que, como resultado
da irisão, obtém os típicos reflexos metálicos que oscilam entre os tons dourado, azulado,
esverdeado ou acinzentado. Normalmente, os fundos externos das peças não são
envernizados, notando‐se as marcas dos dedos do oleiro decorrentes do processo de imersão
da peça, no verniz. É frequente a identificação do disco de empilhamento no fundo interno das
peças, muito comum na Campaniense A tardia.
A nível formal predominam as páteras F2250‐60 (Lamb. 5/7) e as tigelas F2300
(Lamb. 1), numa continuação tipológica com a fase de produção antecedente.
Simultaneamente, partilha com a calena média semelhanças tecnológicas e decorativas, o que
dificulta a sua diferenciação. Um dos poucos elementos que as diferencia assenta na utilização,
durante a fase tardia, de uma estampilha com a forma de losango (com pontas côncavas e
vértices a terminar numa palmeta degradada), tal como nos círculos de estrias oblíquas e na
degradação dos vernizes.
Curiosamente, e apesar de fabricar uma produção de melhor qualidade que os seus
vizinhos napolitanos, cuja produção começa a decair, as primeiras produções de cerâmica
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
34
campaniense lisa calena são discretas. Desempenham um papel secundário no âmbito dos
centros oleiros da Campânia e exportam, exclusivamente, para as cidades romanas próximas.
Em finais do séc. II a.C. ocorre um “…processo che, accelerato dalle transformazioni
politiche economiche e sociali di età annibalica, porta grandi cambiamenti nel repertório
formale, decorativo, e nel modo di produzione.” (Pedroni 1986, p. 187). Esta mutação consistiu
na simplificação e redução tipológica das formas que copiavam a cerâmica Campaniense A e
que em associação ao desenvolvimento de um reportório próprio, baseado nos produtos
etruscos, resulta numa produção em larga escala e a baixo custo com características
singulares.
Portanto, parece‐nos que Cales para além de uma tradição oleira que remonta ao
séc. IV a.C. tem uma dinâmica evolutiva muito própria e não pode ser entendida como uma
mera imitação das tradições técnicas e tecnológicas da sua vizinha etrusca. Não se pode
ignorar as suas semelhanças mas considerá‐la sua sucessora, numa perspectiva difusionista,
não é cronológica e historicamente sustentável. Podemos, no entanto, assumir que em
determinada altura da vida desta área produtora, talvez ainda durante a fase de produção de
cerâmica calena em relevo, terá ocorrido um qualquer fenómeno de emigração de oleiros
etruscos, que com o seu conhecimento técnico contribuem para uma produção paralela
àquela (Adroher Auroux, 2000, p. 153).
4.2.2 Etrúria
4.2.2.1 cerâmica Campaniense B de Arezzo
No âmbito da produção de cerâmica Campaniense B da região da Etrúria, Arezzo inicia
a sua actividade ainda durante o séc. II a.C. Mas foi no século seguinte que atingiu o auge da
sua comercialização, com a exportação, em larga escala, por toda a Itália centro‐setentrional
(Taborell, 2005, p. 72).
A escassez de cerâmica Campaniense aretina nos contextos arqueológicos da
Península Ibérica demonstra a sua modesta difusão marítima, visivelmente diferente do que
sucedeu com os restantes produtos da B calena. O índice percentual da sua presença pode, no
entanto, ter que ver, como adiante se verá, com a dificuldade de identificação desta produção
de B e, como tal, não ser tão expressivo como parece. Quando surge, aparece associada a
contextos do 3º quartel do séc. I a.C.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
35
Trata‐se de uma produção cuja definição e compreensão se deve, primordialmente, às
escavações efectuadas em Bolsena e Magdelensberg, por Goudineau e Schindler (Adroher
Auroux et al., 2000, p. 155).
Esta produção relaciona‐se com a tradição dos padrões morfotécnicos e decorativos da
cerâmica Campaniense B “verdadeira”, da Etrúria. J.P Morel considerou‐a como pertencente
ao “círculo da B” (Morel, 1981, p. 76), suportado pela proximidade geográfica de ambos os
centros produtores – área da Etrúria ‐ como pela proximidade temporal das duas produções.
Na sua génese trata‐se de um “ramo do tronco” de produções de verniz negro da Etrúria, do
qual fazem parte, entre outras, as oficinas de Malacena, das “asas em orelha”, …
Genericamente, caracteriza‐se por possuir um verniz de elevada qualidade, de um
negro intenso sem reflexos, muito aderente e que se associa a uma pasta dura, homogénea e
acetinada ao toque, com coloração bege – rosada. Estas afinidades que a aproximam, então,
da B etrusca e muitas vezes da B calena de melhor qualidade tornam muito difícil a sua
distinção.
Nesta medida, os produtos provenientes deste centro produtor são identificáveis, com
maior facilidade, e na ausência de análises químicas, pela presença de determinados
pormenores formais ou decorativos. Esta estratégia de análise confere alguma segurança na
apreciação dos conjuntos cerâmicos, contudo, o risco em relegar, inadvertidamente, parte do
acervo de origem aretina para outras áreas de proveniência é um factor a ter em conta. Este
lapso pode suceder pelo facto de, na maioria dos casos, lidarmos com fragmentos de reduzida
dimensão que podem não ter conservado aqueles descritores identificativos.
Em termos formais, a par das dimensões da peça e da altura que separa o bordo da
carena nas páteras, é possível efectuar uma precisa identificação da cerâmica aretina de verniz
negro mediante a observação do típico ressalto/escalonamento na face interna dos pés.
Ao nível da decoração interna dos fundos esta produção caracteriza‐se pela impressão
de estampilhas quadradas, com associação de caneluras concêntricas muitíssimo finas. As
estampilhas geométricas em forma de 2C’s justapostos e as nominais, dispostas radialmente e
ao centro no fundo interno dos recipientes, são, igualmente, características e seguem uma
tradição pré‐aretina. Q.AF é uma das mais conhecidas marcas de oleiro aretinas, existindo em
diferentes províncias romanas como Hispânia, Gália e Mauritânia, tal como na própria Etrúria,
Campânia e Lácio (OCK, 2000). Ainda que noutras variantes este sigillum surge,
posteriormente, impresso na cerâmica aretina de verniz vermelho. Segundo alguns autores
como Roca, poderíamos estar na presença de uma evolução interna do mesmo oleiro (apud
Adroher Aurox et al., 2000), mas a justificação poderá relacionar‐se com uma continuidade na
utilização de marcas que identifiquem por tradição aquela área de produção.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
36
Assim, o reportório formal é reduzido e maioritariamente constituído por páteras de
grandes dimensões, com bordos muito altos, genericamente enquadráveis nas séries F2286 e
F2287 da tipologia de Morel (Lamb. 7). A par destas verifica‐se a reprodução em larga escala
de páteras da espécie F2250 (Lamb. 5 e 5/7), bem como da série F2862 (Lamb. 27).
Verifica‐se, portanto, que as oficinas de Arezzo continuam muitas das tradições da
cerâmica Campaniense B da Etrúria, nomeadamente, a qualidade do verniz, a pasta e o próprio
reportório formal, apenas com introduções de alguns pormenores formais que permitem a sua
individualização.
4.2.3 “local/regional” com verniz negro
Importa, desde já, esclarecer que o termo aqui utilizado para designar esta (as) área
(as) de produção reporta‐se a um espaço geográfico que pode extravasar a envolvência do
território em que se insere o sítio Mesas do Castelinho. Tratam‐se de produções com verniz5
negro/acinzentado que se inspiram ou mesmo copiam os modelos formais da cerâmica
Campaniense B e em menor proporção da A. Estas oficinas estariam localizadas um pouco por
toda a Península Ibérica e até mesmo no seio da Península Itálica, e ao contrário das ditas
produções “universais” não teriam tido uma difusão marítima.
Identificar com precisão a dispersão destes centros oleiros de produção de cerâmica
Campaniense “local/regional” assume‐se como uma tarefa difícil, na medida em que, na
maioria das vezes, apenas conhecemos as áreas de consumo. Assim, em alguns casos, sugere‐
se a associação destas oficinas a uma determinada área de produção com base, exactamente,
na dispersão de um mesmo produto sem, no entanto, as ter identificado fisicamente no
terreno.
Genericamente, existem duas formas de imitação cerâmica, aquela em que os oleiros
recebem influências dos grandes centros produtores e aquela em que, com base nos
protótipos originais, os oleiros copiam fielmente as formas e os detalhes decorativos das
produções de verniz negro itálico dos sécs. II e I a.C. Durante o processo de aculturação
romana estas populações indígenas seguem “modas” impostas pelos ditos centros produtores
de difusão marítima e adquirem hábitos e gostos exógenos, pelo que imitar o reportório
formal deste tipo cerâmico, ainda que com recurso às suas técnicas tradicionais, é reflexo disso
mesmo.
5 Como já foi referido, este trabalho apenas inclui a cerâmica campaniense com origem itálica dos sécs. II e I a.C. e a cerâmica
Campaniense “local/regional”com verniz, pelo que excluímos deste estudo a cerâmica comum de imitação campaniense.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
37
Uma das limitações impostas ao estudo destas produções reside na concepção de que
tudo o que mostra uma técnica medíocre pode ser interpretado como “afim” de campaniense.
No entanto, como noutros casos, v. supra, essa aparência pode derivar de diferentes factores,
como seja, a capacidade técnica do oleiro, não significando, por inerência, tratar‐se de uma
produção periférica à região da Etrúria e da Campânia.
É visível que em alguns casos os oleiros da periferia das produções itálicas souberam
interiorizar a técnica de reprodução dos modelos originais, produzindo, inclusive, um verniz
negro comparável àqueles. Contudo, a carência técnica e cognitiva da maioria dos oleiros
indígenas, a falta de habilidade de alguns ou simplesmente o interesse na obtenção de
determinada forma, apenas lhes permite uma aproximação ao produto original. Casos há em
que se pode equacionar a hipótese de emigração de oleiros estrangeiros, ditos itálicos, e que
conhecedores da técnica, porque a praticaram no centro de origem, trabalham em oficinas
externas ao círculo itálico. Aqui são condicionados pelas matérias‐primas disponíveis6 e pela
utilização das técnicas de tradição indígena, pelo que o produto final será sempre uma
aproximação ao original. Posto isto, torna‐se complicado considerar a existência de um
qualquer fenómeno de evolução no interior destes centros indígenas, exógenos aos grandes
centros de produção da Campânia e Etrúria, que conduza à produção de cerâmica
campaniense, devemos antes considerá‐los inequívocas imitações destes.
As diferenças são, igualmente, marcantes na natural simplificação de alguns detalhes
formais e das decorações mais elaboradas características da Campaniense A ou B, num claro
propósito em agilizar o processo.
Estas produções são principalmente influenciadas pelo gosto dos mercados a que se
dirigem, assumindo um papel determinante na continuidade e extinção de determinadas
formas. Se por um lado podemos falar em produção e exportação itálica especializada para
mercados específicos7, por outro, e excluindo hipóteses de sobrevivência de formas, os ditos
centros oleiros “locais/regionais” podem continuar a produção de determinado recipiente,
cujo centro oleiro de origem já deixou de produzir ou que o faz mas em menor quantidade,
numa clara resposta às suas necessidades e gostos.
Cronologicamente estas produções centram‐se, preferencialmente, no decorrer do
séc. I a.C. e imitam os protótipos mais tardios da Campaniense A e B, predominando nos
segundos as formas 1 e 5/7, da tipologia de Lamboglia, F2300 E F2230‐80, respectivamente.
6 Em que a utilização de barreiros diferenciados quimicamente e uma falta de tratamento das argilas afasta o produto final das
típicas pastas calcárias da cerâmica campaniense B e das pastas rosadas da A. 7 Como seja o caso da Gália, onde o gosto pelo uso dos vasos de beber de cerâmica campaniense A reflecte‐se numa utilização da
F3131 (Lamb. 48) em cronologias mais tardias (Arcelin, 2000, p. 303), relativamente a outros lugares do mundo romano e em maior proporção se comparado com própria península itálica.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
38
Em Mesas do Castelinho identificaram‐se dois tipos de cerâmica Campaniense
“local/regional”. Um de pastas laranjas com verniz negro (F8) e outro que poderá ser
aparentado das cerâmicas de pasta cinzenta com verniz negro (F7). Este último não poderá ser
confundido com a Campaniense C, que ao que tudo indica se trata de uma produção pouco
difundida no extremo ocidente peninsular e a avaliar pelos dados de Mesas do Castelinho
ausente nestas paragens8.
4.2.3.1 cerâmica de pasta cinzenta com verniz negro de imitação de Campaniense B
No âmbito das cerâmicas “locais/regionais” com verniz negro, as de pasta cinzenta têm
vindo a revelar‐se, na Península Ibérica, como um dos grupos de imitação de campaniense
mais comuns em contextos do século I a.C. Porém, a variedade de tipos e, consequentemente,
proveniências, na maioria desconhecidas, complexifica a sua definição. Parece evidente que
estas oficinas ter‐se‐ão multiplicado por todo o território hispânico, um pouco na concepção
de uma produção à escala reduzida para fazer frente às imediatas necessidades
“locais/regionais”, evitando gastos excessivos e o acesso moroso da aquisição dos produtos
originais. Nesta perspectiva teriam uma produção e difusão restrita que nunca terá competido
com a difusão marítima das cerâmicas de verniz negro itálico dos sécs. II e I a.C.
Apesar de tudo, parece‐nos plausível que o sucesso de algumas oficinas tenha
permitido a exportação dos seus produtos a uma escala maior. Senão vejamos, por exemplo,
Ibiza onde foi identificado um centro produtor de cerâmica de pasta cinzenta que imita, entre
o séc. III e II a.C., a campaniense itálica (Morel, 1981, p. 47), cuja exportação foi além dos seus
limites terrestres e terá sido uma das poucas formas de integração desta ilha nas rotas
comerciais existentes. Assim, encontra‐se material que aparenta uma proveniência ibicénica
na Catalunha (Ampúrias), Valência e na Mauritânia (Mariano Amo, 1970, p. 202).
Se numa fase inicial do estudo da cerâmica campaniense estas produções não
assumiam especial relevância nas considerações dos investigadores e, por vezes, eram alvo de
classificações erradas, com a consciência de que tiveram lugar relevante na economia das
províncias romanas começa‐se a investir no estudo das suas áreas de produção e difusão.
Na Andaluzia ocidental, e portanto mais próximo do território que aqui nos interessa,
existe uma variante caracterizada pelas suas pastas cinzentas, pouco compactas, com presença
de enp’s micáceos e com um verniz pouco aderente, cinzento‐escuro com manchas negras ou
8 Pelo que se conhece de momento a campaniense C não teve grande difusão na Ibéria, com presença minoritárias em Ampúrias
(Sanmartí, 1978, p. 301‐307 e 449) ou, por exemplo, na província de Sevilha com uma dispersão fraca que corresponde ao eixo fluvial do Guadalquivir (Sala Sellés, 1997, p. 127).
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
39
acastanhadas, podendo possuir decoração impressa sob a forma de losango, típica da
cerâmica calena (Ventura Martínez, 2000, p. 185). O autor sugere a existência de uma oficina
ou conjunto de oficinas radicadas, provavelmente, no vale do Guadalquivir, atendendo às
características da pasta e à sua dispersão na Península Ibérica (Baixo Guadalquivir e toda a
zona costeira de Cádiz). Refere, ainda, alguns paralelos na costa atlântica magrebina, talvez
relacionados com o tipo D de Marrocos, definido por Jean Paul Morel (Morel, 1981, p. 48),
sugerindo um eixo de contactos comerciais entre o vale do Guadalquivir e o Norte de África.
Corroborando esta hipótese, em 2007, J. Principal Ponce e J. Sanmatín Greco divulgam a
existência de duas novas séries, uma Norte africana e outra localizada no Mediterrâneo central
ou ocidental, defendendo que a circulação da primeira relacionava as áreas de estudo de
Ventura Martínez (Andaluzia ocidental) e a zona Mauritânia (apud, Viegas, 2009, p. 134), ou
seja, na esfera ibero‐púnica.
Apesar de não incorporar a amostra que nos propusemos estudar importa referir que
se encontra em fase de estudo a identificação de, segundo os autores, duas séries de pastas
cinzentas, diferenciadas das supracitadas pela ausência de verniz, que é substituído por um
alisamento ou brunido. Numa mesma lógica as formas presentes imitam maioritariamente o
reportório tardio da Campaniense B e fora a identificação de uma imitação da forma F1300
(Lamb. 36) o restante espólio é consentâneo do séc. I a.C. (Adroher Auroux e López Marcos,
2000, p. 158). A síntese apresentada pelos autores sugere, assim, a existência no Alto
Guadalquivir (Porcuna e Cástulo) e nas planícies granadinas de duas produções de cerâmica
cinzenta oretana e bastetana, respectivamente.
Deste modo, os últimos dados relativos à identificação e difusão destes centros de
produção na Ulterior parecem começar a contrariar a ideia de múltiplas micro regiões de
produção de Cerâmica “local/regional” de imitação campaniense (com verniz negro), para
começarmos a pensar na possibilidade de existência de áreas de difusão mais alargadas. Esta
questão continuará em aberto pois carece de mais dados e, especialmente, de melhores
caracterizações dos conjuntos, com respectivas publicações. Estes grupos de pastas cinzentas
de época romana republicana deverão ser submetidos a métodos arqueométricos, pois só
após este tipo de abordagem se poderá avançar na investigação e conhecer diferentes e mais
assertivas hipóteses de proveniência e difusão.
No actual território português os estudos referentes a estes grupos cerâmicos só
agora, com a síntese elaborada por Catarina Viegas sobre a ocupação romana do Algarve
central e oriental (Faro, Balsa e Castro Marim), começam a aprofundar‐se. A autora equaciona
a possibilidade de parte dos conjuntos estudados se relacionarem com as produções do vale
do Guadalquivir e alerta para o facto de também ali se detectarem outros produtos,
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
40
nomeadamente anfóricos (Classe 67 e Haltern 70) e cerâmica comum, com a mesma
proveniência (Viegas, 2009, p. 141‐142). Portanto, o espectro de difusão das oficinas do vale
do Guadalquivir poderá ser mais abrangente que o definido há 10 anos por ocasião da Mesa
Redonda de Ampúrias.
Pontualmente, têm vindo a ser publicados alguns materiais com pastas cinzentas
definidos como imitações de campaniense em produções “locais/regionais” com verniz negro,
dos quais destacamos, no Alto Alentejo, os sítios como os Soeiros, Monte do Almo, Moinho do
Tojal e Mariano (Mataloto, 2002).
Não podemos deixar de fazer referência, igualmente, ao trabalho de síntese de
Manuela Delgado nos anos 70 sobre a cerâmica campaniense de Portugal. Já então, ficou
perceptível da análise que efectuou a alguns sítios do Sul de Portugal a variedade e quantidade
de grupos existentes, ainda que consideremos que muitos correspondam às produções calenas
do séc. II e I a.C. Contudo, e a propósito da cerâmica de pastas cinzentas de imitação de
campaniense, Manuela Delgado refere uma peça depositada no Museu Municipal da Figueira
da Foz (Delgado, 1971, Est. III, nº 34), cuja proveniência se desconhece, em que as
características descritas parecem permitir a sua inclusão nestas séries.
Existem outros exemplos na bibliografia portuguesa mais antiga, como seja no Castelo
Velho de Veiros (Estremoz) (Arnaud, 1970), em Alcácer do Sal (Soares, 1978) ou no conjunto
de Conímbriga (Delgado, 1976b). Porém, estamos em crer que por serem uma produção
“local/regional” que recorre à utilização de vernizes muito finos, que facilmente desaparecem,
não permite uma fácil associação às cerâmicas de pastas cinzentas que imitam a campaniense.
4.2.3.2 cerâmica de pastas laranjas com verniz negro de imitação de Campaniense A
No actual estado de investigação a análise deste tipo não nos permite grandes
considerações. Na Mesa Redonda de Ampúrias, Adroher Auroux e López Marcos referem a
existência em Almuñecar de um pequeno conjunto de fragmentos cerâmicos de pastas
castanhas avermelhadas, homogéneas, porosas e com enp’s esbranquiçados, revestidas por
um verniz negro com tons avermelhados e de muito má qualidade. As formas identificadas,
F2600 e F2950‐77‐78 (Lamb. 28 e 31), reproduzem os protótipos de Campaniense A do séc. II
(Adroher Auroux e López Marcos, 200, p. 152).
Parece óbvio que estas pastas seriam preferencialmente utilizadas na tentativa de
imitar formas de Campaniense A, sejam do séc. II ou I a.C., dada a sua tonalidade e intenção de
aproximar as características do produto “local/regional” às do protótipo itálico. Em Mesas do
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
41
Castelinho apenas foi identificado um exemplar classificável passível de ser inserido nesta série
de imitações.
4.3 Caracterização dos fabricos identificados
A identificação dos diferentes grupos de fabrico tem por objectivo determinar grandes
áreas de proveniência. Por mais exaustivos que sejamos, a impossibilidade em sujeitar os
diferentes fragmentos a análises químicas, para posterior comparação de dados, determina a
subjectividade dos resultados, que podem vir a ser corroborados ou refutados em futuras
investigações.
Desde o primeiro momento optámos por relativizar as pequenas diferenças, por
exemplo, ao nível da coloração das pastas, privilegiando, pelo contrário, os aspectos comuns
caracterizadores dos grandes grupos de fabrico.
4.3.1 Fabrico da Campânia F1
Este grupo individualiza‐se pela elevada
granulosidade e porosidade (vacúolos de grandes
dimensões e formas alongadas) da pasta, por ser pouco
compacta, depurada e possuir fracturas irregulares.
Assume uma coloração rosa velho (2.5yr 5/6) em
ambiente redutor, com arrefecimento oxidante e são visíveis pontos de moscovite, sendo
muito raras as partículas de calcário.
Foram registados 277 fragmentos identificáveis com este grupo de fabrico,
representando 10,93 % da totalidade do conjunto. Em contextos republicanos foram
detectados 41 NMI, num total de 316 fragmentos com classificação tipológica.
4.3.1.1 Fabrico da Campânia F2
No 2º grupo definido, a pasta é, igualmente,
granulosa, depurada e conta com a presença de pontos
de calcário e moscovite. No entanto, e
comparativamente com o anterior grupo é menos
porosa, mais compacta e muito polvorenta. No que
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
42
concerne à sua coloração a variação é uma constante, mas, genericamente, os tons
aproximam‐se do rosa alaranjado (2.5yr 6/6), resultantes de uma cozedura em ambiente
redutor com arrefecimento oxidante.
Foram registados 737 fragmentos identificáveis com este grupo de fabrico,
representando 29,11 % da totalidade do conjunto. Em contexto republicano foram detectados
82 NMI, num total de 316 fragmentos com classificação tipológica.
4.3.2 Fabrico de Cales F3
Trata‐se de uma pasta de granulosidade
elevada, muito porosa (vacúolos circulares e de pequena
dimensão), pouco compacta e depurada. Os elementos
não plásticos, passíveis de uma identificação
macroscópica, resumem‐se a pequenas partículas de
moscovite e vários pontos de calcário, dispersos de forma homogénea por toda a superfície. A
coloração desta pasta oscila entre o bege alaranjado (7.5yr 7/6) e o amarelado muito claro
(7.5yr 7/4), sendo que o segundo ocorre em menor percentagem. São pastas calcárias e
sofreram um processo de cozedura em atmosfera redutora com arrefecimento oxidante.
Foram registados fragmentos 344 identificáveis com este grupo de fabrico,
representando 13,59 % da totalidade do conjunto. Em contexto republicano foram detectados
59 NMI, num total de 316 fragmentos com classificação tipológica.
4.3.2.1 Fabrico de Cales F4
O designado fabrico 4 partilha com o anterior
(F3) os mesmos índices de granulosidade e depuração,
coloração e modo de cozedura, tal como a presença do
mesmo tipo de enp’s.
À partida nada os faria diferenciar, não fosse o
facto desta pasta ser mais compacta, menos porosa e extraordinariamente polvorenta, pelo
que as peças, quando manuseadas, soltam um pó que nos suja as mãos. Fractura boleada.
Foram registados 1047 fragmentos identificáveis com este grupo de fabrico,
representando 41,35 % da totalidade do conjunto. Em contexto republicano foram detectados
116 NMI, num total de 316 fragmentos com classificação tipológica.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
43
4.3.3 Fabrico de Arezzo F5
Este grupo caracteriza‐se pela elevada
compacticidade da pasta, por se apresentar muito
depurada e pouco porosa. Possui uma textura acetinada
ao toque e fractura boleada. Assume uma coloração
bege rosada (7.5 7/4) e foi cozido em ambiente redutor
com arrefecimento oxidante. Relativamente aos enp’s
apenas nos foi possível a identificação de pequenas partículas de moscovite.
Foram registados 3 fragmentos identificáveis com este grupo de fabrico,
representando 0,12% da totalidade do conjunto. Em contexto republicano foram detectados 1
NMI, num total de 316 fragmentos com classificação tipológica.
4.3.3.1 Fabrico de Arezzo F6
O grupo de fabrico que se segue possui uma pasta
granulosa, pouco porosa, tal como a anterior, algo
compacta e muito depurada. Os enp’s variam entre as
pequenas partículas de moscovite e calcário. Produziu‐se
em atmosfera redutora com arrefecimento oxidante e é
muito polvorenta, ou seja, liberta constantemente uma espécie de pó. Como coloração
assume um tom bege alaranjado (7.5yr 7/6), muitas vezes muito claro (7.5yr 7/4).
Foram registados 18 fragmentos identificáveis com este grupo de fabrico,
representando 0,71 % da totalidade do conjunto. Em contexto republicano foram detectados
11 NMI, num total de 316 fragmentos com classificação tipológica.
4.3.4 Fabrico “local /regional” F7
Trata‐se de uma pasta granulosa, pouco porosa,
compacta e depurada. Tem presentes como enp’s
pequenos pontos de calcário e moscovite. Assume uma
coloração acinzentada (2.5yr 5/1), obtida em ambiente
redutor e é muito polvorenta.
Foram registados 27 fragmentos identificáveis com este grupo de fabrico,
representando 1,07 % da totalidade do conjunto. Em contexto republicano foram detectados 5
NMI, num total de 316 fragmentos com classificação tipológica.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
44
4.3.4.1 Fabrico “local/regional” F8
O seguinte grupo de fabrico de tonalidade
laranja (5yr 6/8) caracteriza‐se por uma pasta granulosa,
pouco compacta, depurada e pouco porosa, cujos
vacúolos são de pequena e média dimensão e forma
circular. Produzidas em ambiente redutor com
arrefecimento oxidante.
Foram registados 79 fragmentos identificáveis com este grupo de fabrico,
representando 3,12 % da totalidade do conjunto. Em contexto republicano foram detectados 1
NMI, num total de 316 fragmentos com classificação tipológica.
Exceptuando 16 exemplares (0,63% do total do conjunto estudado) os restantes
encontravam‐se revestidos por um verniz negro aplicado por imersão da peça, provavelmente,
numa tina. O elevado grau de deterioração dos fragmentos analisados, seja resultado do uso
intensivo das peças, da sua fraca qualidade ou decorrente de fenómenos pós deposicionais a
que estiveram expostos após o seu abandono, impede uma associação directa entre os
diferentes tipos de pastas e os vernizes, multiplicando‐se as conjugações sem significado
aparente.
As cores dos vernizes variam entre os castanhos (V1) com 2,18 %, os negros com algum
brilho (V2) com 75,06 %, os negros mate (V3) com 20,46 % e os avermelhados (V4) com 0,36
%. Destes, 31,60 porcento têm um brilho metalizado com reflexos (devido à irisão) que podem
oscilar entre os esverdeados (a), azulados (b), dourados (c) ou acinzentados (d). Acreditamos
que a maioria dos vernizes haveria de ter um aspecto brilhante, ainda que não
necessariamente metalizado, e que o uso intensivo dos recipientes ou a deterioração natural,
após o seu abandono, conduziu à degradação do verniz.
Genericamente, verifica‐se uma maior associação à cerâmica campaniense calena de
vernizes menos espessos e menos aderentes, que facilmente se desprendem das pastas e que
assumem um aspecto lascado. Nesta produção cerâmica é comum detectar, em Mesas do
Castelinho, a ausência de verniz no fundo externo dos recipientes, nomeadamente nos
exemplares do género F2300 (Lamb. 1), bem como um maior desgaste nas zonas carenadas e
no topo dos bordos, ou seja, nas arestas de maior exposição e contacto com outras superfícies.
Foi possível identificar, em 50 fragmentos, a existência sob o verniz de uma espécie de
engobe laranja ou acastanhado, que serviria para favorecer a aderência do verniz à pasta. Por
vezes este é de tão má qualidade que se mistura com o próprio engobe, resultando numa cor
roxa. Esta tonalidade foi registada em inúmeros fragmentos onde não foi possível identificar o
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
45
engobe sob o verniz, mas cuja associação é uma possibilidade, sendo que a sua ausência pode
resultar de uma qualquer reacção ao verniz. Contabilizámos todas as possibilidades e,
aparentemente, esta técnica não terá ultrapassado a centena de registos em Mesas do
Castelinho.
Nos fragmentos de cerâmica Campaniense A são muitas vezes observadas sobre verniz
as estrias de alisamento das argilas, o que é característico de uma fase de produção napolitana
tardia, tal como as marcas de empilhamento, reproduzidas pelo anel avermelhado presente na
no fundo interno de alguns recipientes. Esta situação está, igualmente, documentada nas
produções calenas, mas em 19 casos 13 são produções napolitanas e a maioria refere‐se às
F2250‐80, de Morel. Normalmente, os fundos em Campaniense A não estão totalmente
envernizados, excepção feita aos exemplares que possuem decoração.
As marcas digitais dos oleiros, presentes na face externa do pé e arranque da parede
da peça cerâmica, resultam da imersão rápida e descuidada dos recipientes no verniz e são
frequentemente detectados no conjunto em análise. A existência de escorrências resulta,
simultaneamente, da velocidade e falta de cuidado impressos neste processo de acabamento
do recipiente. É possível verificá‐las tanto nos exemplares de Campaniense A, como nos de B
calena, o que corrobora as descrições tardias destas produções.
4.3.5 Análise de dados
A definição destes oito grupos de fabrico de cerâmica campaniense teve por base uma
análise puramente macroscópica. Atendendo à impossibilidade em sujeitar o conjunto a
análises químicas, importa, desde já, salientar que as indicações das áreas de produção que
aqui apontamos não têm a pretensão de ser conclusivas. Estamos certos de que a identificação
dos centros produtores mediterrânicos não está concluída, muito menos no que respeita às
produções da Península Ibérica, diga‐se “locais/regionais”, e que o estudo sistemático dos já
conhecidos modificará o panorama que actualmente é a nossa base de trabalho.
Baseados nos diferentes reportórios formais que caracterizam as produções de
cerâmica de verniz negro dos sécs. II e I a.C., bem como nas suas características técnicas, não
foi difícil agrupar os fragmentos nas diferentes áreas de produção de difusão dita “universal”.
As características técnicas e químicas das produções de A são bem diferenciáveis das
da B. Hoje, sabemos que a maior ou menor percentagem de calcário presente nas argilas
determina o aspecto das fracturas das peças e a coloração das pastas, não sendo o índice de
óxido de ferro presente nas argilas que confere uma coloração avermelhada/alaranjada às
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
46
pastas, mas a baixa percentagem de calcário. Até porque, segundo Picon, existem exemplares
de Campaniense B ricos em óxido de ferro e que nem por isso deixam de ter pastas claras.
Portanto, é a conjugação de pastas calcárias com altas temperaturas, criadas no interior dos
fornos onde são cozidas, que origina a tonalidade bege/amarelada das pastas das produções
da Campaniense B etrusca e do Norte da Campânia (Picon et al., 1971, p. 83).
Assim, e excluindo a cerâmica Campaniense A originária do Golfo de Nápoles (F1 e F2),
no seio das produções da Campaniense B distinguimos peças com origem na região calena (F3
e F4) e outras que terão sido importadas da área de Arezzo (F5 e F6), ainda que em termos
técnicos e a “olho nu” a distinção seja quase que imperceptível. Ambas possuem pequenas
partículas de calcário, textura, compacticidade e coloração idênticas, pelo que foi muito difícil
diferenciar F6 de F4. Como já referimos o conjunto de cerâmica de verniz negro identificado
como aretino é muito reduzido no âmbito das importações itálicas da Península Ibérica, tal
como sucede no povoado Mesas do Castelinho. Esta situação prende‐se, provavelmente, com
a dificuldade em associar a esta produção fragmentos que não possuam os detalhes formais
que as individualizam (v. 4.2.2.1) ou marcas de oleiro que não suscitam dúvidas quanto à sua
proveniência. Daí que aceitemos que o conjunto aqui identificado como cerâmica calena
possa, inadvertidamente, incluir fragmentos de cerâmica de verniz negro aretina, que pela sua
reduzida dimensão ou desgaste não nos permitiu uma clara aferição do tipo e respectivo
centro de produção.
Mais complexo, na aferição da sua área de produção, encontra‐se um conjunto de
fragmentos que apesar de possuírem verniz negro e serem formas de campaniense não são
enquadráveis nas classes A ou B de origem itálica. Tratam‐se de produções “locais/regionais”
de cerâmicas de pasta laranja (F8) ou cinzenta (F7), com verniz negro de imitação de
campaniense. As primeiras imitam o reportório formal da Campaniense A e as segundas o
reportório da B, tendo sido estas, provavelmente, produzidas na região do vale do
Guadalquivir (v. supra).
Conscientes de que a atmosfera de cozedura de um forno não é 100% reproduzível
não considerámos relevante, aquando da atribuição ao centro produtor, algumas variações
nos tons das pastas, já que podem ocorrer em diferentes fornadas de produção dentro de uma
mesma oficina.
Após a definição das grandes áreas de proveniência identificámos, dentro de cada uma
delas, duas variantes, cujas diferenças eram evidentes e em nosso entendimento suficientes
para uma individualização. Deste modo, da cerâmica produzida no Golfo de Nápoles
registámos o fabrico 1 e 2, da proveniente da região calena o 3 e 4 e da Etrúria, mais
precisamente de Arezzo, o fabrico 5 e 6.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
47
Tomaremos como exemplo a 1ª produção referida para depois percebermos que as
seguintes considerações são extensíveis aos restantes fabricos, exceptuando F7 e F8, já
mencionados. Assim, a grande diferenciação entre os grupos de fabrico F1 e F2 assenta,
essencialmente, na polvorosidade que F2 apresenta face a um fabrico (F1) de pastas menos
compactas e depuradas, mais porosas e com fracturas rectilíneas. Este principal elemento
distintivo entre grupos de fabrico de uma mesma área de produção poderá ter que ver com a
composição e tratamento das argilas, nomeadamente com o que diz respeito à depuração das
mesmas, ou seja, conectado com o maior ou menor índice de adição de enp’s. Apesar de nos
encontramos no plano conjectural, sem conhecermos se esta é a exacta razão que confere
este aspecto poeirento às pastas, parece‐nos tratar‐se da explicação mais plausível. Na mesma
medida não nos foi permitido aferir se as argilas adquirem estas características durante o seu
fabrico ou se se alteram apenas mais tarde, numa reacção a algum episódio tafonómico.
Apesar de tudo é inquestionável a sua visibilidade e parece‐nos motivo suficiente para
considerar dois fabricos ainda que pertencentes a uma mesma área de produção.
Não deixa de ser curioso o facto deste fenómeno se detectar nos grupos que
individualizámos para a cerâmica napolitana (F2), calena (F4) e para a aretina (F6). Seria
tentador pensar que este aspecto decorre de uma qualquer reacção pós deposicional sem
conexão com as características físicas da própria peça. Porém, existem exemplares de fabricos
distintos, uns poeirentos outros não, que foram detectados no mesmo contexto sob as
mesmas agressões tafonómicas.
Apesar de percentualmente as pastas polvorentas de cada grupo estarem em maioria
não se detectaram elementos suficientes que distingam a nível morfológico e cronológico os
fabricos F1 de F2 da cerâmica Campaniense A, o F3 de F4 da Campaniense B de Cales e o
fabrico F5 de F6 da cerâmica de verniz negro aretina. Nesta medida, consideramos estar na
presença de fabricos associados a diferentes oficinas no seio da mesma área de produção e
âmbito cronológico. Trata‐se da produção do mesmo tipo cerâmico característico de
determinada área de produção, no entanto, porque produzidos por diferentes oleiros, de
diferentes oficinas é natural a ocorrência de pormenores que diferenciam ligeiramente os
fabricos, sem os descaracterizar ou haver necessidade de os considerar originários de áreas de
produção distintas.
No sítio Mesas do Castelinho é notória a predominância dos produtos de origem
calena. Esta produção encontra‐se diferenciada do segundo maior grupo (Campaniense
napolitana) por apenas cerca de 15 pontos percentuais. Esta constatação tem,
necessariamente, conotações cronológicas e culturais relacionadas com as dinâmicas de
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
48
comércio itálico no Mediterrâneo ocidental e com a evolução interna do próprio povoado.
Gráfico 1. Contabilização do número de fragmentos classificáveis9 (barra azul) e inclassificáveis10 (bojos sem classificação tipológica) (barra vermelha) por área de proveniência
Assim, em Mesas do Castelinho verifica‐se que os fabricos F1 e F2, de origem
napolitana, estão representados por 38,92% do total do material classificável proveniente dos
contextos romano republicanos.
Por outro lado, o terceiro e quarto fabricos correspondem a um conjunto de formas
que na periodização da cerâmica calena, da autoria de Pedroni (Pedroni, 1986, 1990, 2000,
2001), nos apontam para o séc. I a.C., das quais destacamos as espécies F2250/80 (Lamb. 5/7 e
7), F2300 (Lamb. 1, 1/8, 8) e F1220. A representatividade da cerâmica calena classificável em
contextos republicanos é de 55,38%.
Tendo em conta o que já referimos acerca da cerâmica campaniense aretina é
compreensível que esta esteja representada pelas formas que melhor a caracterizam. Ou seja,
as grandes páteras, com bordos muito altos e quase verticais das espécies F2250‐80 (Lamb.
5/7), com especial incidência nas 2270 (Lamb. 7) e 2280 (Lamb. 5/7), sendo que nas suas
variantes o fabrico que mais se destaca é o F6. Pelas razões já expostas, associadas às
dificuldades da sua identificação e à sua diminuta difusão marítima, compreende‐se a fraca
representatividade dos exemplares de cerâmica Campaniense B de Arezzo em Mesas do
Castelinho (3,80% do total detectado em níveis republicanos).
A produção de cerâmica Campaniense de pastas cinzentas (F7) (1,58 % do conjunto),
provavelmente originária de oficinas do Mediterrâneo ocidental, nomeadamente da Península 9 Por norma quando utilizamos o termo classificável referimo‐nos a todos os fragmentos que permitiram uma classificação
tipológica, excepção feita aos dados referentes a este gráfico que contempla todos os bordos, fundos, asas, carenas e bojos decorados com ou sem definição tipológica. 10 Para consultar proveniências exactas v. tabela 1 do anexo II
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
49
Ibérica – vale do Guadalquivir, faz‐se representar por exemplares de três das formas mais
comuns detectadas nos contextos romano republicanos da Península Ibérica. Referimo‐nos às
espécies F2360 (Lamb. 1), sem caneluras sob o bordo e pé ligeiramente diferente das típicas
F2300; F2250 (Lamb. 5) e F1200 (Lamb. 2). No âmbito destas cerâmicas de verniz negro de
imitação da campaniense as de pastas laranjas (F8) encontram‐se na proporção de um
exemplar classificável (v. Est. XXX, nº 3229), ainda que tenhamos algumas reservas na sua
associação tipológica (F2784/87/88). Assim, as produções “locais/regionais” de cerâmica
campaniense totalizam 1,90% do material classificável detectado em contextos republicanos
em Mesas do Castelinho.
Se ao analisarmos os dados relativos aos contextos republicanos de Mesas do
Castelinho ficamos com a noção de que a cerâmica arenita possui um índice de importação
maior que o da “local/regional”, a verdade é que se ignorarmos a sua proveniência
estratigráfica e contabilizarmos os restantes contextos cronológicos o cenário inverte‐se.
Quadro 1. Distribuição dos fabricos da totalidade da cerâmica campaniense de Mesas do Castelinho
Verificamos, então, que existe 4,19% de fragmentos de cerâmica “local/regional” de
imitação de campaniense, face a 0,83 pontos percentuais de Campaniense aretina. Assim fica,
desde já, assumido que as produções em pastas “locais/regionais” de imitação das formas de
verniz negro itálico assumem uma maior relevância no povoado se comparadas com as
produções aretinas. Parece‐nos que este aspecto terá que ser analisado à luz da importância
que as oficinas peninsulares obtiveram no decorrer do séc. I a.C., ainda que a escassez
verificada em Mesas do Castelinho, se comparada com outros sítios, não nos permita grandes
considerações e caracterizações sobre estes conjuntos.
11 As duas últimas referem‐se a produções “locais/regionais”
Nº fragm.
% NMI %
Campaniense A (F1+F2) 1014 40,05 218 33,80 Campaniens B de Cales (F3+F4) 1391 54,93 398 61,71 Campaniense B de Arezzo (F5+F6) 21 0,83 21 3,26 Campaniense pasta cinzenta (F7) Campaniense pasta laranja (F8)11
27 79
1,07 3,12
7 1
1,08 0,15
TOTAIS 2532# 100% 645# 100%
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
50
Gráfico 2. Distribuição do conjunto total de cerâmica campaniense de Mesas do Castelinho por grupos de fabricos
No confronto entre os valores de cerâmica calena e napolitana dos níveis republicanos
e nos restantes, indiferenciadamente da sua cronologia, verificamos que a primeira continua
presencialmente superior à segunda, aumentando um pouco a diferença que as separava.
4.4 Categorias identificadas12
4.4.1 categoria 1000
4.4.1.1 espécie 1120 (Lamb.23) (v. Est. I)
A espécie F1120 diferencia‐se dos restantes pratos/páteras do reportório de cerâmica
campaniense por se tratar de uma forma aberta e pouco profunda, com perfil rectilíneo e
bordo exageradamente pendente, conjugado com um fundo com pé anular que apresenta
uma espécie de reservatório côncavo localizado na sua base interna.
Trata‐se de um dos mais antigos pratos de cerâmica campaniense característicos da
classe A, que surge durante o séc. IV a.C. A sua exportação é mais tardia e terá cessado, tal
como a sua produção, na primeira metade do séc. II a.C. (Morel, 1981, p. 82‐83).
Não sendo uma forma original recebe influência da cerâmica helenística, se bem que
alguns investigadores equacionam a hipótese da sua origem ter que ser articulada, igualmente,
com “…l’Orient de tradition phénicienne…” (Morel, 1981, p. 83). Portanto, parece que a
convergência entre os “pratos de peixe” de engobe vermelho e os protótipos formais da
cerâmica ática terão influenciado as produções de “pratos de peixe” da cerâmica romana
republicana de verniz negro itálico.
12 Dentro de cada categoria apresentaremos, exclusivamente, as espécies ou séries presentes no conjunto analisado e em anexo
(Anexo II) poder‐se‐á consultar a tabela 2 com os respectivos paralelos no actual território português.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
51
A longa tradição da utilização deste tipo de recipientes remonta ao séc. V‐IV a.C.,
altura em que os vasos áticos foram um produto amplamente exportado no Mediterrâneo
ocidental (Py et al., 1993, p. 103 e Arruda, 1997), tendo sido substituídos no séc. III a.C. pelo
êxito da cerâmica de “tipo Kouass” (Sousa, 2005, p. 85).
Em todos estes tipos cerâmicos o nome que se lhe atribuiu está relacionado com a
representação de motivos piscícolas na cerâmica ática de figuras vermelhas, nomeadamente
peixes e cefalópodes. A aceitação desta funcionalidade relaciona‐se, na mesma medida, com
alguns casos onde foram detectados restos de fauna ictiológica ainda no interior do prato,
como, por exemplo, na necrópole de Palermo (Morel, 1981, p. 82).
A tradição gastronómica mediterrânica do consumo de preparados piscícolas reforça e
propicia a conexão destes recipientes com o consumo daquele produto, onde a depressão
central teria funcionado como reservatório para conter um qualquer molho ou condimento.
Ao que tudo indica a evolução formal deste recipiente traduz‐se na obtenção de perfis
mais curvos e depressões menos destacadas da parede, com tendência a tornarem‐se planas.
Pese embora seja esta a percepção não foi possível, até ao momento, determinar
cronologicamente esta divisão.
Nas intervenções levadas a cabo em Mesas do Castelinho foi possível identificar dois
exemplares (nº 3213 e 3214). Tratam‐se de bordos totalmente revestidos por um verniz negro
brilhante, aderente, com reflexos metálicos e uma pasta característica das produções
napolitanas. Foram ambos exumados do aterro [145], no sector A3, e encontram‐se em
associação com fragmentos de paredes finas, produções anfóricas itálicas no tipo Dr.1 e
ânforas de tradição pré‐romana, na sua variante T‐9.1.1.1, cujo auge de exportação ocorre na
segunda metade do séc. II a.C.
Tendo em conta o horizonte do final da produção desta forma torna‐se inegável que a
sua chegada ao povoado tenha ocorrido em meados do séc. II a.C., sem que o possamos fazer
recuar muito mais. Não é plausível que a ocupação romana do povoado remonte à primeira
metade do séc. II a.C. e parece consensual que a campaniense não é importada antes da
presença militar romana, pelo que a existência destes materiais no sítio devem ser
enquadrados no âmbito das movimentações dos exércitos romanos no território peninsular,
cujos ritmos de progressão não contrariam esta análise, sem que isso signifique uma efectiva e
precoce romanização do povoado. Por outro lado, coloca‐se a hipótese de após o
estabelecimento do pacto de submissão entre Roma e Cádiz, em finais do séc. III a.C., os
produtos itálicos começarem a polvilhar toda a faixa costeira daquele porto atlântico que,
rapidamente, e sem, forçosamente, ter que ver com os avanços militares em direcção ao
Norte, entram nos contextos mais interiores (v. cap. 6).
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
52
Resulta estranho que aceite a hipótese de que os lugares que recebem cerâmica ática
serão os que mais tarde importam cerâmica campaniense13 (demonstrando a perenidade dos
intercâmbios comerciais) e que existe uma contemporaneidade na chegada dos produtos
itálicos aos povoados de litoral e interior, como reflexo das rápidas movimentações dos
exércitos de Sul para Norte (Fabião, 1998, p. 311), que sítios como Monte Molião14 e Mesas do
Castelinho sejam os únicos que apresentem evidências deste tipo formal. A escassez destes
pratos nos centros litorais do Sul deverá estar relacionada com uma de duas situações: ou os
contextos mais antigos ainda não foram intervencionados ou o uso a que se destinariam era já
desempenhado, por tradição, por outro tipo cerâmico. Nos sítios do litoral algarvio a cerâmica
de “tipo Kouass” surge em quantidade em contextos de finais do séc. II inícios do I a.C.,
bastante influenciada pelos protótipos de cerâmica campaniense portanto, em pleno período
romano republicano, tal como se constata em Faro e nas zonas envolventes ao Monte Molião
(Sousa, 2008, p. 110). A localização geográfica destes sítios, os conjuntos cerâmicos (“pratos de
peixe” em cerâmica comum e em cerâmica “tipo Kouass”, contentores anfóricos) e a tradição
alimentar mediterrânica comprovam a preferência no consumo de preparados piscícolas
utilizando recipientes de características mediterrânicas. Privilegiados pelos contactos com a
faixa andaluza e Norte de África inserem‐se desde cedo num intercâmbio comercial de
tradição indígena. A cerâmica de “tipo Kouass” estava fortemente enraizada nos hábitos de
consumo daquelas populações e a proximidade aos seus centros de produção dificultava a
distribuição e o sucesso daquele produto itálico. Cádiz desempenhou papel relevante, ainda na
Idade do Ferro, por se ter transformado num centro polarizador e reestruturante de toda a
economia do chamado “círculo do Estreito”, que terá influenciado os modelos de gestão e
organização do território em fases cronologicamente posteriores, já sob o domínio romano.
Relativamente aos contextos interiores, e ainda que os avanços militares propiciem uma
rápida difusão dos produtos itálicos, por não terem uma dieta alimentar tão fortemente
enraizada no que respeita ao consumo de produtos piscícolas é natural que as percentagens
de recipientes (campaniense ou “tipo Kouass”) associados àquele uso sejam minoritárias.
Ao contrário do que sucede no actual território português a F1120 é comum nos
contextos do séc. II a.C. da Andaluzia ocidental e segundo Ventura Martínez faz parte do
reportório característico da Campaniense A clássica daqueles sítios (Ventura Martínez, 2000, p.
186). O mesmo se passa nos povoados costeiros da Alta Andaluzia, onde o sítio de Almuñecar
se destaca pela superioridade de “pratos de peixe” face a uma ausência de páteras F2230‐
2280 (Lamb. 5, 7 ou 5/7), frequentes nos restantes sítios (Adrouher Auroux e López Marcos,
13 Ainda que sujeitos a dinâmicas e ritmos diversos refira‐se, a título de exemplo, Castro Marim, Cerro da Rocha Branca, Mértola, …
14 Informação gentilmente cedida pela Prof. Doutora Ana Margarida Arruda
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
53
2000, p. 151). Estes dados, díspares em relação ao restante mundo ocidental mediterrânico
podem dever‐se a um qualquer fenómeno comercial ou de consumo, ou ainda terem que ver
com as amostras analisadas e os sítios conhecidos, pelo que até ao momento é difícil optar por
uma resposta.
Ainda que proveniente das terras superficiais importa referir a identificação de um
terceiro exemplar que corresponde a um fundo de “prato de peixe” de produção calena (nº
3007). Este fragmento não suscita qualquer dúvida quanto à sua atribuição formal pela
presença de uma depressão central profunda, possui pasta calcária, bege alaranjada e
conservou apenas resquícios de um verniz castanho mate. Na bibliografia referente ao
conjunto de cerâmica Campaniense calena é possível verificar uma produção única da F1121.
Esta é tida como tal com base na sua “…dimensione miniaturistica…” (Pedroni, 1990, p. 141) e
por não ser caso único nos contextos calenos. O exemplar de Mesas do Castelinho carece, mais
uma vez, de confirmação arqueométrica.
4.4.1.2 espécie 1220 (Lamb. 2) (v. Est. I)
Trata‐se de uma forma típica da cerâmica Campaniense B e ausente no reportório
formal das produções napolitanas, que terá derivado dos perfis côncavos e passagens bruscas
da parede para o fundo das Lamb. 28 (F2600). São vasos sem asas, profundos, com pé largo e
oblíquo, tal como as Lamb. 1 (F2300), possuem uma inflexão carenada (muito angulosa) na
base da parede que, por sua vez, se desenvolve de forma mais ou menos côncava, consoante
as séries, e possuem um bordo exvertido e arredondado.
Cronologicamente ocorre entre o último terço do séc. II a.C. e o principado de
Augusto. Surge em Cosa, em finais do séc. II a.C., e em Ampúrias, em estratos do séc. I a.C.
(Sanmartí Greco, 1978).
Por norma encontram‐se em associação com as F2300 (Lamb. 1) (Lamboglia, 1952, p.
144), tal como sucede nos povoados republicanos do ocidente peninsular.
Esta forma terá sido desde cedo alvo de imitações “locais/regionais” pelo que nos
sítios arqueológicos portugueses onde se identificou encontramos ambas as produções. Nas
campanienses produzidas na Península Ibérica, Norte de África e Gália estes recipientes
tornam‐se menos profundos e assiste‐se a um engrossamento das paredes.
O panorama da representatividade desta forma em território actualmente português
deve, certamente, ser mais expressivo e a nosso ver apenas reflecte não só a insuficiente
publicação de dados das diferentes intervenções efectuadas até ao momento, como a
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
54
dificuldade em identificar a forma pela parte superior do corpo, já que o que claramente a
individualiza das demais é a parte inferior. Tal como fica explícito pela exposição feita em
anexo (II) na maioria dos casos a forma 2 de Lamboglia ocorre em produções “locais/regionais”
de cerâmica campaniense (em pasta cinzenta, com verniz negro). Terá, igualmente, sido
bastante imitada na cerâmica comum (com polimento), pelo que uma análise cuidada aos
conjuntos cerâmicos detectaria, com toda a certeza, mais exemplares destas variantes, que
tecnologicamente não são tão apelativas e por isso desprezadas nos raros momentos de
publicação. Trata‐se de uma forma típica de contextos do séc. I a.C., pelo que é espectável que
o índice da sua presença seja substancialmente maior e, se não como produto itálico, pelo
menos como produção de oficinas, ainda por determinar, talvez no seio da Península Ibérica. A
propósito das imitações de campaniense em cerâmica comum importa realçar o amplo
levantamento da sua distribuição, com especial predilicção pela forma Lamb. 2 (F1220),
efectuado, em 1998, por Carlos Fabião (Fabião, 1998).
Tal como em Castro Marim, também em Mesas do Castelinho foram detectados 12
fragmentos da espécie F1220. Destes, seis encontravam‐se em contexto romano republicano,
quatro bordos e dois fundos, num total de 5NMI (v. Anexo II, tabela 3). Dos contextos onde
esta forma foi recolhida parece‐nos relevante salientar a [668], no 3º quarteirão do sector B3.
Trata‐se de um piso de ocupação, no interior do Amb. XIV, onde foi recolhido um bordo (nº
3874) e um fundo (nº 3872) da espécie F1222, que consideramos importados da área de Cales,
a par de um fragmento que talvez possa ser enquadrado na espécie F1230, de pasta cinzenta
fina, polida, porosa, compacta e depurada (nº 3876). Este apresenta um bordo exvertido e
ligeiramente pendente, possui paredes finas e está revestido por um verniz negro mate, muito
mal conservado. Numa analogia directa com os tipos definidos por M. Delgado este exemplar
parece fazer parte do que autora chama de “outras imitações de campaniense”, sendo que a
peça 34 da Est. II, não pela forma mas pelas características da pasta e do verniz, será o paralelo
mais próximo (Delgado, 1971, p. 418). Ou seja, trata‐se de uma campaniense de produção
“local/regional” com verniz negro que imita o reportório formal da Campaniense B. As
características da pasta (textura e tonalidade) sugerem uma proximidade tecnológica às
cerâmicas “cinzentas finas polidas” de tradição antiga, tendo resultado de um fenómeno
idêntico ao verificável na zona turdetana, onde as imitações de campaniense utilizam um
verniz vermelho numa manutenção das tradições locais fenício‐púnicas (Fabião, 1998, p. 464).
4.4.1.3 género 1300 ‐ 1500 (Lamb. 36) (v. Est. II)
Esta pátera possui uma variedade imensa de perfis o que, quando na presença de
fragmentos mais pequenos, dificulta uma identificação mais fina na tipologia existente.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
55
Genericamente trata‐se de recipientes com diâmetros muito grandes, bordos em aba de faces
paralelas, ligeiramente curvos e pendentes, com lábios arredondados. Apresentam ainda um
ressalto anguloso na parte superior da parede, mais ou menos marcado consoante a série,
pelo que o bordo não prolonga linearmente a parede da pátera.
São uma produção quase exclusiva da Campaniense A e detêm o seu intervalo de
fabrico entre o último quartel do séc. III e o 3º do séc. I a.C. (Py, 1993b, p. 148), sendo
produtos importados desde o séc. II a.C. Funcionalmente faria parte do serviço de loiça para
levar à mesa.
Trata‐se de mais um caso cujo perfil se inspira nos protótipos gregos do séc. IV a.C.
parecendo notar‐se, no processo evolutivo dos exemplares mais antigos, uma tendência ao
espessamento dos bordos (Lamboglia, 1952, p. 183).
Nos sítios da Provença ocidental foi possível constatar que os bordos destas páteras
tendem à horizontalidade, tornando‐se menos pendentes e menos largos durante o séc. I a.C.
(Arcelin, 1978, p. 108)15 a que acrescentamos, com base nos dados de Mesas do Castelinho,
paredes mais espessas e diâmetros mais pequenos.
Este material cerâmico surge em associação a, por exemplo, taças F2970 (Lamb. 31) e
são espectáveis, essencialmente, em contextos do séc. II a.C., pelo que quando identificados
em contextos posteriores são normalmente associados a estes horizontes mais antigos e de
feição arcaizante, sem que, como já se viu, tenham taxativamente de o ser.
Desde já, importa referir que os exemplares de Mesas do Castelinho determinados
dentro do intervalo dos géneros F1300‐1400 ou num caso F1300‐1600 representam carenas ou
bordos que, por se encontrarem muito fragmentados e possuírem lábios totalmente
destruídos, foi impossível associá‐los a tipologias mais finas. Como tal, possuem intervalos
cronológicos muito latos, sem que possamos tecer mais comentários a não ser o da sua
presença e integração num grupo de formas de Campaniense A de feição arcaica. Assim,
registámos 4NMI em contextos romano republicanos enquadrados no intervalo de géneros
F1300‐1400 (ao que se soma mais quatro remobilizados noutros contextos); um de
classificação ainda mais genérica F1300‐1600 e 5NMI que se incluem no género F1300 (ao que
se soma três remobilizados noutros contextos). Dentro deste género pudemos afinar o tipo de
2NMI, F1312g e 1312g 1, datados de finais do séc. II a.C.
A presença de uma destas peças (nº 3129) (com lábio deteriorado, o que nos
impossibilita uma correcta orientação do fragmento) na [39], datada de fins do 3º quartel do
15 Pensamos que o autor se refira ao género F1500 da tipologia de Morel. O seu artigo remonta ao ano 1978 e a tipologia Les
Formes surge três anos depois, daí que P. Arcelin utilize a referência Lamb. 36 de forma muito genérica. Por outro lado na fig. 3 (nº 3 e 4) onde são apresentados os desenhos de cerâmica Campaniense A tardia remete‐nos para formas mais aproximadas do género F1300. Não é muito claro mas teremos esta informação em consideração na análise do espólio de Mesas do Castelinho.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
56
séc. I a.C. (sector A1), tem de ser entendida do ponto de vista da possibilidade de migração de
fragmentos, tanto mais que estamos a falar de uma área sem construções associadas, onde os
depósitos se acumulam progressivamente e por isso de difícil individualização. No sector B3 os
contextos onde a maioria destes exemplares foram recolhidos podem ser datados, pelos
materiais associados, à segunda metade do séc. II a.C. ou transição entre séculos. Regra geral,
estes fragmentos associam‐se às primeiras fases de reorganização dos espaços, após a
edificação dos muros fundacionais do urbanismo republicano, de cujos primeiros níveis
associados não se recolheram materiais de importação itálica (como está bem patente no 1º
quarteirão). Excepção feita a um dos Ambientes fundacionais que caracteriza as construções
republicanas no 2º quarteirão, onde foi possível identificar um depósito fundacional, [855],
associado ao primeiro piso de ocupação do espaço, datado da segunda metade do séc. II a.C.
Em estratos posteriores, já pertencentes ao Amb. XV, que anula o anterior, o conjunto
cerâmico de campanienses continua muito homogéneo e concorda com estas cronologias de
finais do séc. II a.C. Estes dados terão de ser suportados pelo estudo do restante espólio
recolhido para uma melhor avaliação das indicações cronológicas que a cerâmica campaniense
sugere.
Em Mesas do Castelinho são muito raras, como era de supor, em níveis do séc. I a.C.
Pensamos que possam ter que ver não só com factores de ordem cronológica como também
com o sucesso da F2230‐80 (Lamb. 5/7) que surge em força nos contextos do séc. I a.C.
Esta forma coloca inúmeros problemas, nomeadamente, como já referimos, a reduzida
dimensão dos fragmentos e a ausência do lábio na maioria. Contudo, a análise que
efectuámos, àqueles onde isso foi possível aferir, indica‐nos que quando presentes em
contextos claramente do último século da nossa Era, fazem‐se representar, maioritariamente,
pelas variantes com bordo a tender para a horizontalidade. Se a percepção que P. Arcelin
retirou da análise dos contextos da Provença ocidental estiver correcta e incluir o género 1300,
então os dados do sítio alentejano concordam com aquele.
O caso de Almuñecar é exemplificativo da natural coexistência desta forma com os
“pratos de peixe” e sem registo de páteras Lamb. 5/7, pelo contrário, em Villaricos, onde
dominam as Lamb. 5 e 5/7 não há registo de Lamb. 36 (Adroher Auroux, 2000, p. 150‐151).
Esta diversidade de contextos na costa oriental andaluza ocorre, segundo o autor, por
questões cronológicas, dada a escassez da amostra ou relaciona‐se com critérios de consumo e
acesso aos produtos, ainda por explicar (Ventura Martínez, 2001, p. 151). No caso de Mesas do
Castelinho apenas podemos constatar que nas fases que consideramos de pleno século I a.C., e
onde é possível assistir a uma inversão de presenças entre produções de campaninese A e de B
calena, sem que as primeiras desapareçam, existem raros exemplares da forma 36 face a um
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
57
predomínio avassalador da F2230‐80. Posto isto, os contextos de Mesas do Castelinho
parecem concordar com as cronologias e tendências mais tardias da vertente clássica da forma
F1300, sendo que, quando presentes em contextos do séc. II a.C., a reduzida dimensão dos
fragmentos e sua deterioração impede grandes considerações.
Ainda com relação à forma 36 de Lamboglia resta‐nos referir a presença de quatro
fragmentos do género F1500. Tratam‐se de formas com bordos espessados ainda mais curtos
que os anteriores, tendo‐se identificado apenas um em Faro (Viegas, 2009, p. 137). Dos 4 NMI
que identificámos no sítio Mesas do Castelinho apenas dois foram identificados em contexto
tardo republicanos. Um corresponde à última fase de construção/ocupação do sector B2 e o
outro, detectado no enchimento da vala de roubo [110] do muro [43], do Amb. II (sector B3),
corresponde, provavelmente, a uma ocupação centrada nos finais do séc. II, inícios do I a.C.
4.4.1.4 espécie 1410 (Lamb. 4) (v. Est. III)
A presente forma identifica‐se pelo seu pé muito alto, plano ou oblíquo, de paredes
grosseiras, pelo bordo com aba larga que pode ser descendente ou horizontal e ondulado.
Possui um ângulo muito marcado entre o bordo e a parede interior, sendo um recipiente
muito pouco profundo. As variações ao nível da ondulação e inclinação do bordo, altura e
inclinação do fundo são diversas e podem ter conotações cronológicas.
Trata‐se de uma produção típica da Campaniense B e suas imitações, produzida desde
o início do séc. II a.C. e que se prolonga até ao 3º quartel do século seguinte. Parecem existir
variantes na produção napolitana, mas já sob perfis simplificados (Lamboglia, 1952, p. 145 e
167) e em percentagem minoritária, como em Valência (Marín Jordá et al., 2000, p. 92).
Até ao momento ainda não foi possível definir a forma Lamb. 4 quanto à sua
funcionalidade. Alguns autores defendem poder tratar‐se de um recipiente preparado para
receber outro vaso, tendo em conta a possibilidade de encaixe que o perfil do bordo descreve
(reentrância circular). Como tal entraria na categoria de suporte.
Dos três exemplares recolhidos em Mesas do Castelinho, todos produções da B calena,
apenas um pertencia a um contexto republicano. Trata‐se de um piso do Amb. XII (sector B3),
[397], em que estão em associação fragmentos de paredes finas, contentores ânforicos do tipo
Dressel 1 de produção itálica, cerâmica comum cinzenta e outras produções de campaniense,
neste caso, napolitanas com cronologias de séc. I a.C., à sua semelhança. Este contexto
reveste‐se de especial importância por caracterizar o primeiro momento de utilização romana
republicana de pleno séc. I a.C., no seio de uma sequência estratigráfica (do 2º quarteirão do
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
58
B3) que até então se enquadrava na segunda metade do século anterior e transição entre
ambos.
A escassez da representatividade desta forma no actual território português poderá ter
que ver, em nosso entender, com a dificuldade de associação de pequenos fragmentos àquela
forma específica ou com o seu aparecimento em cerâmica campaniense de imitação, dado que
nada faz supor uma ausência tão marcada nos contextos do séc. I a.C., dominantes no
território. No Colloque à propos des Cèramiques de Conimbriga, de 1976, fica evidente a
confusão gerada em torno desta forma. Joaquina Soares apresenta um fragmento orientado
com se fosse o pé de um fundo, duvidando, no entanto, se a interpretação formal estaria
correcta (Delgado, 1976a). Na realidade trata‐se, sem grandes margens para dúvidas, de um
bordo de uma Lamb. 4. Assim, a escassez aliada à fragmentação destes registos pode dificultar
a identificação e a percepção da sua distribuição geográfica e quantificação. Por outro lado, e
na incerteza a que uso se destinariam, também colocamos a hipótese de não terem tido
grande sucesso nos serviços peninsulares por serem, eventualmente, desadequados aos
gostos ou necessidades das populações.
4.4.1.5 série 1443 (Lamb. 6) (v. Est. III)
Morfologicamente, e em termos genéricos, a série F1443 distingue‐se pelo perfil do
seu bordo horizontal e ondulado, com lábio arredondado e caracteriza‐se por paredes
exteriores convexas com ressalto na passagem para o bordo, a par de um fundo plano ou
oblíquo.
Trata‐se de uma forma cuja produção se inicia em meados do séc. II a.C. e se prolonga
pelo século seguinte (Py, 1993b, p. 147). É muito frequente em Campaniense A, surgindo,
igualmente, nas produções de B e suas imitações, tendo origem na cerâmica não decorada do
séc. V e IV a.C. (Lamboglia, 1952, p. 168).
Funcionalmente faria parte do serviço de loiça para servir à mesa.
Devido à reduzida expressividade desta forma e ao facto de apenas um exemplar se
enquadrar nos níveis do período romano republicano do povoado (já na sua vertente tardia),
apenas podemos assinalar a sua presença enquanto forma e referir que todos se enquadram
nas produções napolitanas. Em questão de presenças temos 6NMI no total do espólio
recolhido no sítio. Das poucas peças que possuem perfuração importa referir que o nº 3578
que cola com 3645 (F1443j 1, da segunda metade do séc. II a.C.) possui dois orifícios sobre a
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
59
aba do bordo mesmo ao centro, sugerindo tratar‐se de vestígios de elemento de suspensão,
mais do que reparação.
4.4.2 categoria 2000
4.4.2.1 série 2154 (Lamb. 33a) (v. Est. IV)
Trata‐se de uma taça muito profunda, dotada de perfil com ligeira convexidade,
assumindo uma forma cónica. O fundo desta taça surge completamente plano ou com pé
tenuemente saliente, de tal forma que, quando na presença de fragmentos muito rolados, é,
extraordinariamente, difícil detectá‐lo.
Com origem na cerâmica ática, o início da sua produção deve localizar‐se dentro do
séc. III a.C., sendo particularmente frequente na Sicília, Etrúria e Lácio (Morel, 1981, p. 469,
Py, 1993b, p. 148 e Lamboglia, 1952, p. 180) e na Catalunha por volta do ano 200 a.C. (Morel,
1981, p. 469).
Este é um caso de uma forma que pela tradição da história da investigação estava
relacionada com os finais do séc. III e primeira metade pouco avançada do séc. II a.C., mas
que está documentada nos contextos de Valentia, datados da segunda metade deste século
(Marín Jordá et al., 2000, p. 92).
Esta variante formal típica do reportório da Campaniense A foi muito imitada pelas
produções provinciais e seria utilizada para beber.
Em Mesas do Castelinho foram recolhidos 7NMI em cerâmica Campaniense A, dos
quais cinco em níveis republicanos. Reflectindo a mais fácil identificação desta forma, a
maioria, em número de quatro, são fundos. Dos contextos em que foram detectados importa
destacar no sector A1 a [72]. Esta unidade estratigráfica reveste‐se de especial importância
por preencher na base o espaço delimitado pelos muros [74] e [78], que marcam o início da
edificação do “complexo de construções do séc. I a.C.”. Um dos fragmentos identificados no
povoado provém desta u.e. que, a par das restantes importações itálicas ali detectadas e já
publicadas noutro lugar (Fabião, 1998, p. 292) se data de finais do séc. II.
4.4.2.2 espécies 2230‐2280 (Lamb. 5/7) (v. Est. IV a XXI)
Quando lidamos com fragmentos de reduzida dimensão e com uma tipologia em que
algumas das formas só se podem aferir na presença da totalidade do perfil torna‐se
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
60
complicado optar por uma espécie ou série. Deste modo, a utilização do intervalo das espécies
F2230‐2280 refere‐se àquele conjunto de páteras, usadas para servir à mesa, impossíveis de
precisar quanto à espécie, mas que se inserem neste tipo de recipientes.
Trata‐se de uma forma cujo auge de produção se atinge com o desenrolar do séc. I
a.C., especialmente quando integrou o reportório da cerâmica Campaniense calena que
dominou os mercados do Mediterrâneo ocidental e que justifica a sua presença abundante
nestas paragens.
Esta pátera é considerada a base do serviço de mesa tardo republicano, sendo nos
contextos de Mesas do Castelinho a forma mais representada. Dos 322 registos 87 (77NMI), a
que foi atribuída a designação genérica de F2230‐80 (v. Est. IV a VI), foram detectados em
níveis republicanos. Destes, 17NMI correspondem a produções napolitanas, 65NMI a
importações do Norte da Campânia e 4NMI de Arezzo. Importa salientar o nº 3134 (v. Est. XIII),
por ser classificado como imitação ática da segunda metade do séc. IV a.C., muito raro em
contextos do séc. I a.C. (Morel, 1981, p. 447).
Apesar do panorama monótono da morfologia dos pés, verifica‐se que os pertencentes
à forma 55 de Lamboglia (F2230) se diferenciam dos restantes por se tratarem de pés com
feições mais rectilíneas, bastante oblíquos e trapezoidais e no caso do tipo F2234f 1 possuírem
um ressalto muito característico, acentuadamente côncavo, que liga a sua face externa à
parede, pelo que foi possível precisar no sítio de Mesas do Castelinho 6NMI deste tipo, todos
referentes a produções napolitanas, como é típico (v. Est. VII e VIII). Dentro do que
considerámos F2230‐80 existem duas variantes, os pés com perfil em S (P152) mais ou menos
suave, datados da primeira metade do séc. I a.C. e exclusivos das produções da Campaniense B
(Morel, 1981, p. 453) e, mais raros, os exageradamente exvertidos, quase que arrebitados
(P140‐141), datados dos finais do séc. II a.C. (Morel, 1981, p. 456). Resta referir, a propósito
dos fundos, que a facies tardia da Campaniense A caracteriza‐se pelo umbigo destacado e
pelos fundos mais escavados, numa clara premonição do que será a produção de terra
sigillata.
Relativamente aos bordos existem diferentes graus que precisão passíveis de se
alcançar. É relativamente fácil distinguir os bordos das F2230 (Lamb. 55) (v. Est. VII) das F2250
(Lamb. 5) e das F2270 (Lamb.7) pela altura e orientação da inflexão do bordo. Nos primeiros
casos trata‐se de páteras pouco profundas, com paredes oblíquas, ligeiramente côncavas que
terminam num bordo reentrante e espessado para o interior, podendo mesmo o lábio assumir
uma forma arredondada. Nos terceiros a inflexão é muito alta e tendencialmente são bordos
direitos com carenas mais acentuadas, diferenciáveis das curvaturas mais suaves e bordos
menos altos das espécies F2250 e F2260. Assim, as opções que tomámos baseiam‐se no
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
61
diâmetro, inclinação ou altura do bordo e tipo de inflexão. Por tudo isto é fácil assumir que
nestes conjuntos a parte superior da peça fornece‐nos melhores pistas tipológicas se
comparada com a base, excepção feita àquelas em que algum pormenor formal se destaque e
permita melhor precisão.
No que concerne à espécie F2230 apenas conseguimos identificar a série F2234 pelo
que lhe faremos especial menção. Trata‐se de uma produção original do Golfo de Nápoles com
produção que remonta aos finais do séc. III a.C. e terá terminado no fim do seguinte (Py,
1993b, p. 150).
Num universo de 22NMI registámos 10NMI em níveis republicanos, dos quais cinco
pertencem ao tipo F2234f 1, datado do 3º quartel do séc. II a.C., ou seja, perfeitamente de
acordo com o momento mais antigo de contacto com os romanos registado no povoado. A
razão pela qual esta série não está bem representada nos contextos do actual território
português terá, em nosso entender, que ver com aspectos cronológicos. Isto porque, explicar o
facto com a dificuldade de associação do fragmento ao tipo não nos parece verosímil, pois o
ressalto na ligação da face externa do pé à parede é um detalhe formal característico da
Campaniense A média da segunda metade do séc. II a.C.
A forma 5 de Lamboglia (F2250‐2260) foi inicialmente produzida depois do 2º quartel
do séc. II a.C. no Golfo de Nápoles, para um quarto de século mais tarde se produzir uma
forma idêntica nas produções da Campaniense B. O términos da sua produção localiza‐se em
meados do séc. I a.C. para as produções de A e 3º quartel do mesmo para as de B (Py, 1993b,c,
p. 147 e 152), acompanhando o final da produção e exportação de cerâmica campaniense. As
diferenças entre ambas as produções não são exclusivamente técnicas, pois existem
determinados detalhes formais que as distinguem, como a base plana e fundo interno mais
inclinado das produções com pastas calcárias e os fundos simples, trapezoidais e oblíquos
típicos das produções tardias da Campaniense A.
Trata‐se de uma forma com muito sucesso, sendo muito frequente encontrá‐la nas
produções calenas e foi imensamente reproduzida pelas campanienses de imitação, por
exemplo, nas oficinas de Lyon (Morel, 1981, p. 496) e pelos produtos “contrafeitos” em pastas
cinzentas em todo o ocidente mediterrânico.
O tipo F2255 em Campaniense B, já em uso no 3º quartel do séc. II a.C. em Cartagena
(Sanmartí e Principal, 1997, p. 41), encontra‐se representado em Mesas do Castelinho por
apenas 1NMI, em nível republicano. A sua raridade terá que ver não com factores de ordem
cronológica, porque também ocorre em contextos mais tardios já de séc. I a.C., mas com
respeito ao incremento das F2230‐80 (Lamb. 5/7), ou seja de modelos de páteras mais tardios
que vingaram no ocidente.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
62
A forma 7 de Lamboglia (F2270‐80) (v. Est. XVIII a XX) é originária da Etrúria de meados
do séc. II a.C., ainda que tenha sido produzida em Campaniense C, tal como a Lamb. 5, e
termina em 25 a.C. (Py, 1993c, p. 152). Em Cartagena esta forma é exclusiva das produções de
verniz negro aretino, em Campaniense C e noutras de pasta cinzenta de produção
”local/regional” (Pérez Ballester, 2000, p. 131).
Neste povoado alentejano dos 15NMI detectados em níveis republicanos cerca de 33%
são produções aretinas, à semelhança do que sucede em Cartagena, e correspondem na
íntegra a fragmentos de bordos. De todos, o tipo F2272a (v. Est. XVIII), datado de 75/65 a.C.,
poderá, eventualmente, afinar algumas cronologias. Refira‐se, a título de exemplo, os três
exemplares recolhidos no Amb. XVI (sector B3) que, cruzados com os restantes materiais de
tipo campaniense, permitem colocar a construção e ocupação daquele espaço na primeira
metade do séc. I a.C., talvez em meados. Trata‐se de bordos altos com uma suave depressão
longitudinal entre o lábio e a carena na superfície externa, pouco frequentes nos contextos do
ocidente peninsular e que neste sítio surgem em considerável número. Conhecem‐se
exemplares na Lomba do Canho e Cabeça de Vaiamonte (Fabião e Guerra, 1996b).
Genericamente estas formas relacionam‐se com o tipo F2272a 1, com paralelos no segundo
naufrágio de Grand Conglué e numa peça da “villa” de Settefinestre (apud Fabião e Guerra,
1996b, p. 113), de peças etruscas datadas da primeira metade do séc. I a.C. Apesar de Morel
não considerar relevante os acidentes no bordo (Morel, 1981, p. 157) parece‐nos plausível
tratar‐se de uma produção específica caracterizada por este detalhe formal.
Numa análise global verifica‐se que cerca de 90% do conjunto de páteras de Mesas do
Castelinho não ultrapassa os 25 centímetros de diâmetro máximo e que dominam as páteras
pouco profundas.
Num total de 2532 fragmentos de cerâmica campaniense recolhida no povoado
apenas se registaram 13 casos de recipientes com vestígios de “furos de reparação”, sendo
que oito deles foram aplicados às páteras. Este fenómeno de reparação de algo para continuar
a utilizar é tradicionalmente conectável com o carácter luxuoso ou exótico de determinado
produto de difícil aquisição. No caso de Mesas do Castelinho a maioria encontra‐se associada
ao tipo de recipiente em cerâmica campaniense que existe em maior quantidade, se
comparado com os restantes exemplares das diferentes classes, ou seja, o produto com maior
índice de importação. Desta forma, esta prática não estará relacionada com a dificuldade de
aquisição dos habitantes ou da disponibilidade do produto. Por outro lado, por ser a forma
com maior representatividade no conjunto será a que com maior probabilidade terá associada
a identificação de mais vestígios de reparações, e uma daquelas que pelo seu contexto de uso
se quebrará com maior facilidade. Ao contrário dos recipientes para consumo de líquidos, que
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
63
uma vez quebrados dificilmente se conseguirá recuperar a sua função original, a reparação das
páteras é um processo simples e na maior das vezes seria possível recuperar a peça e
continuá‐la a utilizar com o mesmo objectivo.
4.4.2.3 género 2300 (Lamb. 1) (v. Est. XXII a XXVIII)
Com origem na Kylix ática o género F2300 consiste numa taça com pé acentuadamente
oblíquo, baixo e curto, parede curva e caneluras abaixo do bordo, em número variado
consoante a série, simples ou aplanado. Existe uma grande percentagem destas taças com
presença de caneluras concêntricas na superfície interna do fundo, caracterizando deste
modo esta produção. A variedade de pequenas nuances, especialmente ao nível do bordo,
perfil e número de incisões não coloca dúvidas na sua classificação, pois no conjunto
revestem‐se de traços comuns que lhes confere uma coerência indiscutível.
Esta forma surge sempre em quantidade nos níveis do séc. I a.C., a par das variantes de
Lamb. 5/7 (F2230‐2280) e é muito frequente nos contextos da Península Ibérica, sendo das
mais comuns nos sítios republicanos do actual território português e toda a Ulterior. Assim,
cronologicamente, a sua produção situa‐se entre a segunda metade do séc. II e todo o séc. I
a.C. até ao período Augustano (Py, 1993c, p. 151).
Ao que tudo indica funcionalmente corresponde ao grupo de recipientes usados na
ingestão de líquidos.
Das espécies existentes, e que nos interessa para este estudo analisar, a F2310 (por
exemplo, nº 2819, v. Est. XXII), característica pela sua parede convexa ‐ côncava e sem
caneluras, é produzida sobretudo no ocidente setentrional, como na Gália e Hispânia. A
F2320 tem produção na área etrusca e Norte da Campânia (Cales), tal como nas províncias do
mundo romano, e ao contrário da anterior a parede desta é apenas curva e o pé sempre
biselado. Com pés mais altos e pouco oblíquos a espécie F2340 reveste‐se de um cariz
“local/regional” e tal como a F2360 (Lamb. 1/8) (v. Est. XXVIII) possui pé muito baixo e
arredondado, ainda que oblíquo e já sem caneluras, como se caracterizam os exemplares
mais tardios e do final da produção desta forma, sobretudo nas produções hispânicas (Morel,
1981, p. 163‐164).
Ainda que seja uma produção quase exclusiva da Campaniense B (etrusca ou não) há
casos como Mértola e Castro Marim, com um fragmento cada, em que a forma surge como
produção napolitana (Luís, 2003, p. 103 e Viegas, 2009, p. 414). Esta situação deriva do facto
do reportório da Campaniense A, em meados do séc. II a.C., imitar algumas formas com mais
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
64
sucesso da produção sua concorrente. No entanto, em território actualmente português são
escassos os exemplares resultantes desse fenómeno.
Em Mesas do Castelinho foram recolhidos 138 fragmentos deste género, mas apenas
58 encontravam‐se em níveis republicanos, num total de 56NMI. Com excepção de dois casos
de fabrico “local/regional” a esmagadora maioria terá sido produzida na região calena,
atendendo às características da pasta. Os fundos (20NMI) deste conjunto são muito oblíquos,
baixos, com perfil triangular e finos. Apesar de algumas peças estarem algo roladas foi
possível identificar em 10NMI um ressalto côncavo na passagem da face interna do pé para a
superfície externa do fundo, a maioria das vezes já centrada nesta zona. Assim, mais ou
menos acentuado, mais ou menos largo são uma característica individualizadora das séries
F2321‐F2322 (v. Est. XXV a XXVII).
No que respeita aos bordos cerca de 67,5% possuem duas caneluras, logo abaixo do
bordo na superfície externa, 25% apenas possuem uma canelura e em 5% dos casos regista‐
se uma incisão característica do tipo F2361 (5NMI). Os restantes não apresentam canelura
alguma e integram‐se na espécie F2310 (2NMI) e na espécie F2360 (8NMI).
Importa destacar, que a identificação da espécie F2360 como produção
“local/regional”, provavelmente hispânica (Morel, 1981, p. 166‐167), não é corroborada na
nossa análise, dado que as pastas dos respectivos recipientes não se diferenciam dos
produtos identificados como originários da região calena.
Este tipo de recipiente, como já referimos, figura como um dos produtos cerâmicos do
serviço de mesa tipo campaniense que mais se importou na Península ibérica e cujas
cronologias permitem datar os níveis onde surgem, genericamente, do séc. I a.C. No povoado
Mesas do Castelinho, pela presença, em determinados contextos, de algumas destas peças,
cuja aferição tipológica nos permitiu obter cronologias mais finas, foi possível corroborar
algumas das ideias que já haviam sido publicadas ao longo dos anos, como apontar
cronologias mais finas para outros contextos.
Deste modo, e no que respeita à sequência [39] – [41] – [43], detectada no sector A1
(v. Fabião e Guerra, 1994), numa área livre de construções registou‐se a única Lamb. 1
(F2361) com datação da segunda metade do séc. I a.C. Encontrava‐se no nível mais recente,
sendo o restante conjunto, no que diz respeito à cerâmica campaniense, bastante genérico
(85% de origem calena) e com sugestões cronológicas centrada nos sécs. II‐I a.C. Ou seja, a
presença de Lamb. 1 mais tardia, com uma presença minoritária de ânforas de produção
itálica face ao incremento das produções ocidentais da forma Haltern 70 e Classe 67,
permitem corroborar a datação do nível de ocupação mais recente, nesta área do povoado,
do 3º quartel do séc. I a.C. A peça em análise não seria suficiente por si só para datar o
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
65
contexto, no entanto, vistas as associações e especialmente as ausências de material datante
do último quartel do séc. I a.C. (terra sigillata e Dressel 7‐11), a hipótese do penúltimo
quartel desse século ganha consistência. A sequência destes níveis de ocupação e os
materiais que os acompanham sugerem não ter havido uma solução de continuidade do uso
do espaço, que se deve enquadrar nos três primeiros quartéis do séc. I a.C. (Fabião e Guerra,
1994, p. 277). Relativamente ao estrato imediatamente subjacente a [39] podemos
considerá‐lo de meados do séc. I a.C., talvez 2º quartel, suportados não só na presença do
contentor Classe 67 (ausente no estrato mais antigo) de produção hispânica, datável do 2º e
3º quartel a.C., como na identificação dos tipos F2341a 2 (3NMI) e F2362a 1 (2NMI), 100+‐50
e 80+‐50 a.C., respectivamente, que reforçam a primeira hipótese. Estes tipos encontram‐se
ausentes na restante área ocupada e parecem‐nos reforçar as cronologias apresentadas. O
estrato mais antigo, [43], destaca‐se apenas pelo facto de na sua escassa presença de
cerâmica de verniz negro itálico a maioria ser de produção napolitana. Porém, as cronologias
sugeridas pelas morfologias presentes nesta U.E. abarcam todo o séc. I a.C., sem grande
precisão. Deste modo, temos que recorrer ao restante espólio associado e verificar que o
conjunto anfórico, nomeadamente as Lamboglia 2, sugere uma cronologia centrada em
momentos muito iniciais do séc. I a.C., mas dificilmente mais recuados.
Um outro dado curioso reside na análise da [70], do Amb. VIII, do “complexo de
construções do sector A1”. Na sequência de dois derrubes, cobertos por [0],
correspondentes aos muros deste espaço, marcando, portanto, o fim da ocupação do
mesmo, os materiais associados remetem‐nos para cronologias centradas na primeira
metade do séc. I a.C. ou meados do mesmo, a avaliar pelo pé P251a 2 da F2321‐2322 (Morel,
1981, p. 465). Assim, parece haver alguma discrepância pontual (concretamente do Amb.
VIII) mediada por um ou dois quartos de século entre o abandono físico da ocupação deste
compartimento e as áreas sem construções associadas, na plataforma superior do povoado.
Não se deverá, obviamente, conceder especial importância a este pormenor, na medida em
que o abandono de um ou outro compartimento não representa o abandono do sítio, que
aliás continuou com a ocupação imperial.
Da mesma forma no sector B3, por exemplo, na Rua 3 foi recolhido tanto no estrato de
preparação [645], como do último piso [605] de ocupação republicana, um fragmento da
F2361, datada da segunda metade do séc. I a.C. Ora, a ausência de terra sigillata e mais uma
vez de Dressel 7‐11 (datados do último quartel do séc. I a.C.) permite‐nos com alguma
segurança avançar com um terminus ante quem para a ocupação republicana centrada no 3º
quartel do séc. I a.C.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
66
No conjunto de construções do sector B2 (ala mais a Oeste do 1º quarteirão do sector
B3, separado desta pela Rua 1) esta forma está ausente da 1ª fase de
construção/utilização/abandono republicano e só aparece no 1º bloco de remodelações a
que o espaço foi sujeito, pelo que talvez num momento mais avançado do séc. I a.C.
Posto isto, é claramente um elemento caracterizador da ocupação romana republicana
de séc. I a.C. também no povoado de Mesas do Castelinho e um bom indicador cronológico,
especialmente quando conjugado com outros, para cronologias mais tardias.
4.4.2.4 género F2600 (Lamb. 28) (v. Est. XXIX)
Dos diferentes tipos que definem este género de taças presentes no conjunto em
estudo, e que por essa razão importa destacar, refira‐se o F2614, com 2NMI de contextos
republicanos, num total de 3NMI (nº 3480, 3562 e 3563, v. Est. XXIX). Caracteriza‐se por um
perfil convexo – côncavo, bordo exvertido com curvatura algo marcada na metade inferior da
peça e base com pé anular, alto e trapezoidal. Possui diâmetros muito largos e fundos com
paredes quase planas.
É preferencialmente um produto com origem nas oficinas etruscas do séc. II a.C., mas
foi fabricado por outras, como sejam as localizadas no Golfo de Nápoles (Morel, 1981, p. 191)
e de onde provêm os exemplares de Mesas do Castelinho.
Do tipo F2648 os únicos dois fragmentos (2NMI) provêm de níveis republicanos e
diferenciam‐se morfologicamente do anterior por apresentarem um perfil mais rectilíneo (v,
nº 3314, Est. XXIX) e bordos triangulares e pendentes.
Cronologicamente são típicas de contextos do séc. II, podendo chegar ao I a.C. e
características das produções da Campaniense A e respectivas imitações, inspirando‐se nos
protótipos helenísticos (Morel, 1981, p. 200‐201).
Os quatro exemplares de Mesas do Castelinho detectaram‐se aos pares no sector A3 e
B3. No primeiro sector estão associados a uma fase de ocupação centrada, muito
provavelmente, na primeira metade do séc. I a.C. Isto porque desde cedo nesta sequência
estratigráfica, e associados a um piso, [130], foram recolhidos fragmentos de contentores
anfóricos do tipo Haltern 70, portanto com datações que oscilam entre os anos 60 a.C. e o
século seguinte. Os fragmentos recolhidos no 1º quarteirão do sector B3, mais precisamente
no piso de ocupação [129], têm a particularidade de serem as primeiras peças de cerâmica
campaniense detectadas nos contextos mais antigos desta área. Provêm do Amb. II e
pensamos enquadrarem‐se na ocupação de finais do séc. II a.C. do povoado. No momento de
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
67
abandono correspondente a esta fase, a percentagem de Campaniense A dispara, sempre
esmagadoramente superior às produções calenas, para no último momento de utilização do
espaço os valores se inverterem. Neste, as produções anfóricas acompanham as mudanças
verificadas no registo da campaniense, detectando‐se agora produtos mais tardios, como as
Haltern 70, Castelinho 1 (Parreira, 2009) e por exemplo Classe 67, que nos apontam para um
momento avançado do período republicano.
4.4.2.5 série F2787 (Lamb.27a) (v. Est. XXX)
Esta espécie caracteriza‐se por bordos muito reentrantes, paredes muito curvas, com
inflexão acentuada e muito alta, rematada por um bordo simples e arredondado. Possui
diâmetros reduzidos e fundos mais ou menos côncavos, com pés oblíquos.
O início da sua produção terá ocorrido por volta do séc. III a.C. (talvez mesmo ainda no
final do século anterior) nas oficinas da Itália central, para um século mais tarde ser uma forma
produzida pelos oleiros do Golfo de Nápoles (Morel, 1981, p. 225).
O material recolhido nos contextos republicanos de Mesas do Castelinho são,
exclusivamente, fundos e a escolha tipológica que aqui assumimos, ainda que com algumas
reservas, pois lidamos com fragmentos, baseia‐se na forma como a parede do recipiente se
desenvolve (em nosso entender o mais importante critério) e nas suas reduzidas dimensões,
que os afastam de outras possibilidades.
A presença deste tipo de taça no povoado deve ser considerada residual, já que na
restante estratigrafia e fora do seu âmbito cronológico foram detectados apenas mais dois
fragmentos passíveis de se relacionarem com a série. Dos 6NMI identificados quatro possuíam
decoração na superfície interna dos fundos, demonstrando uma grande variedade decorativa
(impressão de folhas de parreira, bandas pintadas) que nos remete para as produções de
melhor qualidade (v. infra 4.4.5).
Do conjunto que aqui analisamos resta‐nos assinalar que apenas um dos exemplares
não terá sido importado da Campânia (nº 3229, v. Est. XXX). Trata‐se de um fundo cujas
características técnicas o relacionam com as produções “locais/regionais” peninsulares (?) de
verniz negro e pastas laranjas que imitam o reportório formal da Campaniense A, e por isso
mesmo à qual ter‐se‐á obviamente que atribuir uma cronologia mais tardia que o seu
protótipo, ainda que, sem problemas, possa centra‐se no séc. II a.C.
Dos contextos em que surge salientamos no sector B2 a lareira [98] e o piso [197].
Ambos os contextos pertencem à primeira fase de construção/utilização republicana,
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
68
imediatamente sobrepostos aos estratos mais antigos, coerentes com os compartimentos da
Idade do Ferro. A escavação do referido piso permitiu conhecer a associação de contentores
ânforicos do tipo T‐8.2.1.1, (cujo período de produção, desde 2008, tem vindo a ser avançado
e colocado, por Saéz Romero, na transição entre o séc. II e I a.C. (apud, Parreira, 2009, p. 45)),
com este tipo de cerâmica de verniz negro, pelo que a conjugação de dados permite‐nos
pensar, e mais uma vez corroborar, uma ocupação romana republicana inicial localizada nos
finais do séc. II, inícios do I a.C.
4.4.2.6 espécie 2820 (Lamb.27c) (v. Est. XXXI a XXXIV)
Muito características da facies da cerâmica Campaniense A de época clássica as séries
F2822 (nº 3861, v. Est. XXXIII) a F2825 (v. Est. XXXIV) caracterizam‐se morfologicamente pela
presença de bordos quase verticais, nada reentrantes e fundos altos, na maioria dos casos,
trapezoidais. O perfil destas taças é muito simples, ainda que possua uma inflexão mais ou
menos marcada na parte superior do corpo, nos casos da série F2825 mesmo carenada.
Cronologicamente, e exceptuando as séries mais tardias F2821 e F2824, das quais não
possuímos registo (salvo dois exemplares da série F2824, recolhidos fora de contexto
estratigráfico – nº 3041 e 3027, v. Est. XXXIV), a forma 27c de Lamboglia (que corresponde ao
intervalo de séries apresentado e presente no povoado) surge ainda durante o séc. III e atinge
o seu auge em meados ou 3º quartel do II a.C. (Morel, 1981, p. 227‐229).
Trata‐se de uma das formas mais comuns nos diferentes sítios que receberam
importações do Golfo de Nápoles.
No povoado Mesas do Castelinho num total de 25NMI existem 14 recolhidos em níveis
romano republicanos, sendo que destes foi possível apurar o tipo F2822b 1 e a série F2825, na
proporção de dois fragmentos cada. O primeiro data da primeira metade do séc. I a.C. e a
segunda de meados ou 3º quartel do séc. II a.C., portanto, coerentes com a diacronia de
ocupação republicana do povoado. A posição estratigráfica dos restantes não permite grandes
considerações dada a amplitude cronológica da espécie.
4.4.2.7 espécie 2970 (Lamb.31b) (v. Est. XXXV a XXXVII)
Trata‐se de uma taça bastante profunda e diâmetro de grandes proporções, com
parede algo côncava, assumindo uma forma cónica. Possui bordo simples que continua a
parede do recipiente sem inflexões e lábio arredondado, ainda que por vezes se note um
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
69
ligeiro espessamento para o interior ou termine biselado. Estas taças são rematadas por pés
anulares, altos, ligeiramente oblíquos e de feições rectilíneas.
À semelhança de tantas outras, esta forma, típica da Campaniense A, recebe
influências da cerâmica de verniz negro usada no séc. V e IV a.C. e tem produção marcada a
partir, provavelmente, do séc. III a.C. (Lamboglia, 1952, p. 180, Py, 1993b, p. 148, Morel, 1981,
p. 240‐243). Ainda que surjam habitualmente em contextos do séc. II a.C. e sejam
características da facies deste momento, algumas variantes, como a série F2974 (com os
típicos bordos biselados), possuem cronologias de produção que apontam para o 3º quartel do
séc. II e reportam‐se a ocupações centradas no século seguinte (Ibidem).
Apesar de ser conectada, quase exclusivamente, com as produções napolitanas, na
Catalunha, entre outras, surge como produções da B (“locais regionais”) (Morel, 1981, p. 241‐
242), pelo que terá sido um produto “contrafeito” nas zonas provinciais do mundo romano.
Funcionalmente são relacionáveis com a ingestão de bebidas, mas parecem‐nos
perfeitamente adequáveis ao acondicionamento de sólidos e prontas para servir à mesa.
Em Mesas do Castelinho a reduzida dimensão dos fragmentos não nos permitiu afinar
tipologicamente todas as séries destas peças, pelo que num total de 42NMI, detectáveis em
contextos republicanos, apenas 8NMI foi possível inserir no tipo F2978a (v. Est. XXXVII). Esta
aferição é baseada na presença de um bordo com lábio biselado e de uma parede que
descreve um perfil pouco oblíquo se comparado com o tipo F2974, cuja forma do lábio é muito
similar. Tendo em conta a forma do lábio e orientação da parede existem fortes possibilidades
de parte dos fragmentos (10NMI), classificados genericamente com F2970, pertencerem ao
tipo F2974 e por isso indicativos de contextos tardo republicanos (diga‐se séc. I a.C.). Contudo,
pelas dificuldades, já acima expostas, pareceu‐nos mais seguro esta generalização.
Pela análise efectuada é perceptível que na maioria dos casos esta forma surge
associada a contextos já centrados no séc. I a.C. e dispersa sequencialmente por toda a
estratigrafia. Como já referimos existem alguns casos que poderão relacionar‐se com o tipo
F2974 e, se essa hipótese se confirmar, não era de estranhar a sua coexistência com os
restantes materiais datados do 2º e 3º quartel do séc. I a.C.
Por outro lado, o último quartel do séc. II a.C. encontra‐se bem representado na [227],
do sector A1, por 4NMI da F2970, com lábio boleado. Este depósito, imediatamente
subsequente à ocupação da Idade do Ferro e numa eventual relação directa com o mesmo
momento de construção das paredes [74] e [78] e respectivo enchimento [72] (Fabião e
Guerra, 1995, p. 10‐11), v. supra, vem reforçar as cronologias propostas para a ocupação mais
antiga do povoado, em período republicano, no âmbito dos primeiros contactos com o mundo
romano.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
70
Se analisarmos a presença desta forma em toda a diacronia de ocupação do povoado
verificamos que os valores crescem, mas sem grandes repercussões interpretativas. Assim
contabilizando a totalidade das presenças registam‐se 64 fragmentos, sendo que destes, aos
8NMI da série F2978a, se acrescem 3 unidades. Trata‐se de uma das formas da facies do séc. II
a.C. com maior representatividade no povoado Mesas do Castelinho.
4.4.2.8 série 2984‐85 (v. Est. XXXVII)
Taça profunda, com diâmetro largo e perfil côncavo. Possui uma base relativamente
larga e bordo que, consoante a série, pode ser quase direito ou um pouco exvertido.
Trata‐se de uma forma produzida em Campaniense A ou nas suas imitações e
cronologicamente atribuível à segunda metade do séc. II a.C. e inícios do seguinte (Morel,
1981, p. 244).
Em Mesas do Castelinho recolheram‐se dois fragmentos passíveis de se relacionarem
com esta variante (nº 3071 e 3226, v. Est. XXXVII), sendo que apenas um pertencia a um dos
contextos romano republicanos mais antigos [227], que se associa à edificação do “complexo
de construções” detectadas no sector A1 (v. supra).
4.4.3 categoria 3000
4.4.3.1 série 3131 (Lamb. 48) (v. Est. XXXVII)
A taça em análise define‐se morfologicamente por um corpo quase hemisférico, muito
profundo e pela presença de duas asas verticais. Estas são compostas por dois rolos de argila
unidos por um terceiro que se dispõe transversalmente aos primeiros e localiza‐se logo abaixo
do lábio. Possui um bordo arredondado e na maioria dos casos, e em número variado,
caneluras na superfície externa, logo abaixo do bordo.
São formas produzidas originalmente na região do Golfo de Nápoles e em diferentes
províncias romanas (na Península Ibérica e Norte de África) com recurso a uma argila clara,
numa tentativa bem sucedida das produções “locais/regionais” em imitar o reportório formal
da cerâmica de verniz negro itálico da classe A.
Parecem ter uma cronologia muito fina do 2º quartel do séc. II a.C. e, segundo a
análise de J. P. Morel, existem algumas dúvidas de que tenham chegado ao 3º quartel do séc. II
a.C. (Morel, 1981, p. 249).
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
71
Fazem parte dos contextos de séc. II a.C. da Andaluzia ocidental e são raras nos níveis
republicanos dos sítios do actual território português. Em Mesas do Castelinho existem dois
fragmentos que, ainda que com algumas reservas, incluímos nesta série. Apenas uma está em
níveis datados do período republicano, mais concretamente do último quartel do séc. I a.C.,
dada a presença de fragmentos de terra sigillata e de uma fíbula em Omega, ou seja,
completamente descontextualizada do seu âmbito original.
Trata‐se de um fragmento com pé acentuadamente oblíquo, trapezoidal, muito alto e
espessado, com face externa ligeiramente convexa, sendo que, já quase junto à passagem para
a parede possui uma saliência larga convexa (típico destas produções). O segundo fragmento
consiste num bordo com asa bífida, ainda que não possua a tal barra transversal presente
nesta forma, mas cujo perfil não lhe permite a inserção noutra espécie (nº 3431, v. Est. XXXVII).
A conjugação da classe a que pertencem com estas características tipológicas levou‐nos a
assumir a presença desta forma no povoado. Voltamos a frisar que foi com algumas reservas
que classificámos estes dois fragmentos. Uma hipótese que nos é impossível aferir dado que
não lhe conhecemos paralelos perfeitos nas espécies conhecidas. Assim tratar‐se‐ão de
produções de Campaniense em pastas que imitam a classe A e respectivo reportório? A
qualidade técnica do exemplar nº 3431 faz‐nos suspeitar dessa mesma possibilidade.
4.4.3.2 série 3451 (Lamb. 10) (v. Est. XXXVIII)
Trata‐se de um pote com pança bastante larga e baixa, que descreve perfil em “S” e
termina num bordo exvertido e engrossado. Possui duas asas verticais, logo abaixo do bordo e
um fundo de paredes espessadas, com pé anular. A sua face externa apresenta‐se convexa ‐
côncava e interna muito oblíqua não se distinguindo da superfície externa do fundo.
A atribuição cronológica desta espécie é dificultada, por um lado, pela ausência na
maioria dos recipientes recuperados das asas (já que lidamos com fragmentos muito
reduzidos) e por outro, pela falta de indicação nas publicações da sua representação (quando,
obviamente, é perceptível essa existência, ainda que não se tenham conservado) tal como
sucedeu com a forma 10b da tipologia de Lamboglia (Morel, 1981, p. 262).
É muito comum nos contextos de séc. II a.C. e continua a ser utilizado ao longo do
século seguinte, ainda que escasseie na transição entre ambos (Morel, 1981, p. 262).
De Mesas do Castelinho recuperaram‐se dois fragmentos (2NMI) de contextos datáveis
da primeira metade do séc. I a.C., que concordam com a cronologia da série a que pertencem:
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
72
F3451c, também presente no segundo naufrágio Grand Conglué (Morel, 1981, p. 262) (nº 3301
e 3907, v. Est. XXXVIII).
4.4.4 categoria 7000
4.4.4.1 género 7500 (Lamb. 3) (v. Est. XXXVIII)
Dentro daqueles recipientes que podemos designar de pyxides o género F7500 (Lamb.
3) é o mais comum nos sítios arqueológicos do actual território português. Trata‐se de um vaso
de forma cilíndrica caracterizado por um pé largo, oblíquo e muito saliente, com base
tendencialmente plana. A parede do fundo é muito baixa e rectilínea ou pouco côncava. O
corpo do vaso desenvolve‐se de forma mais ou menos côncava a vertical e termina num bordo
que não se destaca do perfil da peça.
Este é mais um caso de uma forma com filiação na cerâmica grega do séc. V e IV a.C.,
ainda que seja produzida em cerâmica campaniense bastante mais tarde (sécs. II e I a.C.).
Encontra‐se com muita frequência na Etrúria e regiões vizinhas (Morel, 1982, p. 409‐410),
sendo na sua maioria considerada como uma das formas de fabrico caleno (Pedroni, 1986), e
tendo sido, imensamente, reproduzida por todo o mundo romano.
Cronologicamente a sua produção parece ter início ainda no séc. II a.C., mas alcança o
seu maior êxito durante todo o século seguinte (Morel, 1981, p. 411‐415 e Py, 1993c, p. 151‐
153).
Detectam‐se, preferencialmente, em produções de cerâmica Campaniense B, mas
existem raros casos em fabrico napolitano. Os produtos com esta última origem são facilmente
diferenciados por determinados pormenores formais, como seja o facto do fundo e pé serem
totalmente rasos e assentarem por completo na superfície onde os colocarmos (Lamboglia,
1952, p. 166).
Em termos funcionais Beazley definiu‐os como copos para conter sal (apud Morel,
1981, p. 409), contudo, segundo informação da literatura clássica, nomeadamente de Plínio e
Tito Lívio, os vasos que continham sal eram em prata, dado que para os romanos aquele
condimento revestia‐se de um carácter ritual (apud Morel, 1981, p. 409, nota 551). Em
Vaiamonte existe uma pyxide “…de invulgares dimensões, com um sulco paralelo ao plano do
bordo, evocando a forma dos copos metálicos ditos de “tipo Idria.” (Fabião, 1998, p. 327).
Assim, uma outra alternativa remete‐nos para a sua utilização enquanto copo para beber.
Das diferentes espécies existentes iremos abordar as que foram identificadas em
Mesas do Castelinho, ou seja, F7540 e F7550. A primeira encontra‐se dividida em dois grandes
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
73
grupos, o referente aos tipos F7541 e F7542 e o segundo que congrega as restantes séries. Esta
divisória define‐se pela presença, no primeiro, de um ressalto entre a face interna do pé e a
externa do fundo, tendo sido considerado por Lamboglia como elemento definidor das
produções da B etrusca (“verdadeira”), pelo que as outras seriam imitações ocidentais dela.
J.P. Morel defende que esse pormenor formal não pode ser sobrevalorizado, na medida em
que é de fácil e rápida execução, pelo que pode ser facilmente copiado pelas produções das
províncias (Morel, 1981, p. 413 e 443). A ver pelo que se conhece deste tipo cerâmico, ou seja,
pela existência em quantidade de pyxides da F7540, que claramente não reúnem as
características técnicas da excelência da produção etrusca, mas possuem o dito ressalto não
podemos assumir as palavras do autor italiano como correctas.
No âmbito da espécie F7550 o tipo F7553 caracteriza‐se, exactamente, pela ausência
do dito ressalto e por possuir, à semelhança do tipo 7551, pés não só salientes mas mais
arrebitados, com um fundo muitíssimo baixo, rectilíneo e paredes mais côncavas.
Dos níveis republicanos detectados em Mesas do Castelinho foram recolhidos como
pertencentes à F7500 9NMI, num total de 22NMI correspondentes à cerâmica Campaniense B
de Cales. Destes, cinco pertencem aos dois primeiros estratos da sequência estratigráfica na
área a Noroeste do sector A1 ([39] e [41]), já mencionado por ocasião da F2300, sendo que foi
possível afinar o tipo de uma das peças (nº 3169, v. Est. XXXVIII). Trata‐se de um bordo
pertencente ao tipo F7553d 1, datado de 100 +‐ 50 a.C. (Morel, 1981, p. 415) e, como tal,
coerente com as cronologias já propostas, reforçando‐as.
A maioria dos fragmentos desta forma foi localizada na plataforma superior, sendo
representados na inferior por um em contexto seguro, posterior ao 2º quartel do séc. I a.C., no
2º quarteirão do B3. No sector B2 recolheram‐se dois fundos em duas u.e.’s equivalentes, [27]
= [82], pertencentes à última fase de abandono/destruição da ocupação republicana que se
encontravam imediatamente subjacentes a contextos Medievais e Contemporâneos. A
cronologia destas peças, cruzada com os intervalos cronológicos tidos para as ânforas Classe
67, Dressel 12 e tipo Mesas do Castelinho 1 (Parreira, 2009), presentes igualmente na [27],
definem o abandono daquelas construções republicanas num momento centrado no 3º
quartel do séc. I a.C.
Apesar de, na maioria dos casos, não ter sido possível afinar a espécie correspondente,
extrapolando os dados cronológicos das peças melhor conservadas e por isso de mais fácil
atribuição, pensamos não ser desprovido de sentido supor que as restantes correspondem a
um momento de importação e consumo relativamente circunscrito à primeira metade do séc. I
a.C., com presença na fase final da ocupação republicana do sítio (3º quartel do séc. I a.C.), até
porque formalmente correspondem aos protótipos mais tardios, com pés angulosos e baixos.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
74
4.4.5 outras
4.4.5.1 F2586 (Lamb. 29b?) (v. Est. XXIX)
Apesar de completamente ausente dos contextos seguramente republicanos
identificados em Mesas do Castelinho parece‐nos relevante fazer referência ao fragmento nº
3787, proveniente da [480] de cronologia Imperial (sector B3). A particularidade do perfil deste
exemplar reside na presença de uma canelura na superfície externa da peça, distante do
bordo. Na tipologia de Morel esta característica é tida como comum e está bem representada
nas produções da Campânia e da zona do Adriático meridional e centro‐meridional, depois do
ano 300 a.C. (Morel, 1981, p. 32). Para o caso importa‐nos apenas a 1ª região referida.
Não estamos bem seguros da atribuição tipológica ao exemplar alentejano, que
encontra variantes em Mértola (Luís, 2003, fig. XV, nº1), mas, efectivamente, esta é a série da
qual o perfil daquele fragmento mais se aproxima. Por outro lado, trata‐se de um fabrico
caleno (F3), com verniz negro brilhante e pasta bastante calcária, dada a sua tonalidade bege
alaranjada. Trata‐se de uma série que é definida com base na produção da cerâmica de Cápua
entre o IV e o III séc. a.C., ou seja, a designada proto campaniense. A impossibilidade em
aceitarmos cronologias tão recuadas para o exemplar alentejano e a pertença a um fabrico
centrado na Campânia setentrional leva‐nos a questionar se não estaremos perante uma nova
variante formal à tipologia seguida. Tratar‐se‐á de uma reprodução daquele perfil mas já
centrada nos últimos séculos a.C.? com exportação até ao momento quase desconhecida para
a Península Ibérica, mas presente em Mesas do Castelinho? É um exemplar residual dos do seu
tipo, mas cuja presença no sítio não pode ser ignorada.
4.4.5.2 Ricci E (lucerna) (v. Est. XXXIX)
A quase exclusividade, na história da investigação, da publicação dos modelos
atribuíveis já ao período Imperial, nomeadamente aos modelos decorados e com interesse
epigráfico, mais apelativos, restringe o conhecimento que se tem das lucernas tardo
republicanas.
Com base nos dados disponíveis é possível afirmar que os sítios que possuem maiores
quantidades deste artefacto estão relacionados com uma efectiva presença militar que,
portanto, agiam de acordo com um padrão de consumo tipicamente romano (Cáceres El Viejo
ou Vaiamonte) ou com os centros urbanizados com forte presença romana, mais do que
propriamente relacionados com a aquisição de hábitos ou gostos exógenos (Fabião, 1998).
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
75
As lucernas romanas produzidas no Golfo de Nápoles foram influenciadas pelos
protótipos da cerâmica ática de verniz negro, numa combinação com os de origem púnica,
determinando a variedade morfológica desta produção itálica.
A análise deste tipo de artefacto é dificultada pela inexistência de um estudo e
respectiva sistematização das diferentes morfologias e suas origens, cronologias e áreas de
difusão. Infelizmente, e apesar dos avanços no estudo da cerâmica campaniense preconizados,
em 1981, com o trabalho de síntese de J. P. Morel – Céramique Campanienne: Les Formes – o
autor não trata este tipo de artefacto, pelo que contamos com o contributo de vários autores,
sem, no entanto, existir uma obra de referência única que cruze as informações e congregue
os dados. Desta forma o estudo das lucernas tardo republicanas deve‐se, essencialmente, a
Marina Ricci que definiu oito novos tipos ou variantes que não incorporavam,
compreensivelmente, a tabela de Dressel, já que esta apenas contemplava as produções de
época imperial.
O exemplar que aqui apresentamos tem paralelo, exactamente, no tipo E (b) de Ricci
(Ricci, 1973, p. 218, fig. 28). Importa, desde já, salientar que acrescentamos a letra ‐ b ‐ ao tipo
referido pela autora, na medida em que ambas as peças representadas sob a mesma
classificação (E), descrição e cronologia são morfologicamente diferentes. Deste modo o
exemplar de Mesas do Castelinho não tem paralelo no detectado na Cabeça de Vaiamonte,
que se refere à fig. 27 do, igualmente, tipo E de Ricci (Ricci, 1973, p. 217).
Apesar de não figurar entre os níveis de cronologia romana republicana mas sim
imperial, pela sua excelência, estado de conservação (perfil completo, excepção feita à asa) e
por ser peça única no povoado, parece‐nos importante efectuar especial menção ao exemplar
de Mesas do Castelinho (nº 3677). Trata‐se de uma peça com corpo troncocónico, com fundo
em pé de anel, alto e com bico torneado por volutas desenvolvidas. Possui uma pasta de
tonalidade rosa alaranjada, pertencente ao fabrico F1, e o verniz está muito degrado, ainda
que os vestígios nos permitam dizer ter assumido uma cor negra com brilho. O orifício de
alimentação apresenta‐se destruído, ainda que nos pareça de maiores dimensões se
comparado com o exemplar da fig. 28 apresentado pela autora. De qualquer modo é típica da
Campaniense A e amplamente documentada no Mediterrâneo ocidental, com exemplares em
Cartago, Numância e com paralelo na Andaluzia ocidental (Adroher Auroux e López Marcos,
2000, p. 200, nº 339), o que não invalida a sua reprodução em centros periféricos da Península
Itálica destinados à exportação ”local/regional” (Ricci, 1973, p. 219). Estas produções em
pastas claras que não se enquadram nos fabricos napolitanos estão documentadas por um
exemplar na Cabeça de Vaiamonte, pelo que segundo o autor do estudo essas produções
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
76
chegaram aos lugares mais recônditos do mundo romano e não se cingiram a uma distribuição
intra‐peninsular (Fabião, 1998, p. 433).
Dos poucos naufrágios identificados onde foi possível atestar que este tipo de material
fazia parte do carregamento e não só do uso a bordo, destaque‐se o de Madrague de
Montedron, datado do séc. II – I a.C., que transportava essencialmente ânforas de tradição
pré‐romana e Campaniense A (Ricci, 1973, p. 126). São tipos de lucerna muito presentes em
contextos do séc. II a.C. e que começam a escassear na primeira metade do século seguinte.
Em Mesas dos Castelinho foi ainda possível associar um fragmento de asa a este tipo
de cerâmica de iluminação ainda que de tipo indeterminado. A patente escassez no povoado é
consentânea com a ideia da fraca adesão das comunidades romanizadas a este tipo de
produto e hábito itálico.
Posto isto, muito há a fazer no campo da sistematização deste tipo de recipiente e
infelizmente, porque proveniente de um contexto revolvido, o exemplar de Mesas do
Castelinho, tipo E (b) de Ricci, não acrescenta muito se não a confirmação da importação em
território actualmente português daquela forma de produção napolitana e a prova, porque
única, de que os sistemas de iluminação romana ainda se não tinham afirmado no sítio.
4.4.6 Decoração
Ao contrário do que sucedia nos momentos anteriores à massificação da cerâmica
campaniense os produtos de finais do séc. II, inícios do I a.C. não gozam de composições
(impressas ou pintadas) elaboradas e recorrentes. Muito pelo contrário, em todas as classes da
cerâmica campaniense verifica‐se uma padronização e simplificação dos motivos decorativos
numa clara resposta à necessidade de uma produção itálica volumosa, com fim a uma
exportação massiva.
Gráfico 3. Distribuição em percentagem dos tipos de decoração presente no sítio.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
77
Deste modo os motivos estampilhados reduzem‐se a palmetas, com predomínio de
folhas dispersas irregularmente e de forma radial, rodeadas por círculos incisos concêntricos,
chegando mesmo a desaparecer nos contextos do séc. I a.C. Aliás, já na segunda metade do
séc. II a.C. se constata o predomínio avassalador dos círculos incisos na superfície interna dos
fundos, que no caso da Campaniense A se explica pela influência das produções de
Campaniense B, que nesse momento concorrem e com êxito com elas.
No panorama das cerâmicas campanienses de Mesas do Castelinho é possível observar
apenas quatro registos de palmetas impressas (3NMI em contextos republicanos). O exemplar
nº 3018 (v. Est. VII) recolhido nas terras de superfície do povoado é o único que conserva a
totalidade do fundo e, como tal, toda a composição decorativa. Esta insere‐se no esquema das
formas datadas de meados do séc. II a.C. (F2234) da Campaniense A e conta com a presença
de quatro palmetas dispostas de forma radial, rodeadas por um guilhoché oblíquo. Os
restantes exemplares, porque quebrados, apresentam parcialmente a sua decoração e,
genericamente, trata‐se do mesmo motivo associado à forma antiga de Lamboglia 55 e 5/7
(por exemplo, nº 3451, v. Est. VIII). Na mesma proporção registaram‐se fragmentos de fundos
com impressão de “folhas de parreira”, tidas como mais antigas (2NMI em contextos
republicanos), ainda que neste caso exista uma clara superioridade da aplicação dos motivos
às taças F2820, datadas, genericamente, do séc. II a.C. (por exemplo nº 3365, v. Est. XXXII). Nos
acampamentos numantinos é possível verificar uma manutenção das decorações com “folha
de parreira" no 3º quartel do séc. II a.C., altura em que as palmetas desaparecem do
reportório ali identificado (Sanmartí e Principal, 1997, p. 41). Este penúltimo quartel de século
corresponde, grosso modo, ao desaparecimento das decorações impressas, dando lugar, ainda
durante a variante média da classe A, de meados do II a.C., às decorações com círculos
concêntricos típicos da B (Aquilué Abadías, 2000, p. 401). Aliás este intervalo cronológico
parece coerente com o facto de em Pollentia, fundada em 123 a.C., a Campaniense A não
possuir decorações impressas de todo (Sanmartí Grego et al., 2000, p. 145).
Em termos estratigráficos verifica‐se que em Mesas do Castelinho há uma maior
concentração de motivos impressos nos contextos do sector B2, referentes à primeira fase de
construção/utilização republicana, imediatamente sobre os compartimentos pré‐romanos.
Não é de estranhar, dado que os restantes materiais deste momento são consentâneos com
um início de ocupação centrado em finais do séc. II, inícios do I a.C., altura em que ainda
sobrevivem algumas produções na sua facies tardia que se suportam neste tipo de decoração
mas que, efectivamente, já tendem a escassear.
Um outro aspecto particularmente curioso reside na grande percentagem de aplicação
de guilhoché (cerca de 99% em páteras F2230‐80) maioritariamente conjugado com a incisão
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
78
de caneluras concêntricas (v., por exemplo, Est XIII). Dos 31 casos (independentemente da sua
posição estratigráfica) 19 coexistem com caneluras concêntricas na proporção de 1, 2 ou 3
faixas. Este motivo de roleta surge quase sempre associado a estampilhas mas neste caso,
dado o grau de fragmentação dos exemplares, não é possível comprová‐lo.
Um dos motivos característicos da facies antiga da Campaniense A e pouco presente
nos contextos do actual território português é, efectivamente, a roseta central impressa nos
fundos. Neste conjunto a sua presença é muito diminuta e apenas representada por um
indivíduo em contextos republicanos (nº 3323 da F2970 – v. Est. XXXI). Trata‐se de uma roseta
muito mal conservada, se não mesmo mal impressa, pelo que apenas se pode vislumbrar 50%
da mesma, o que nos dificultou a procura de paralelos. O fundo nº 3438 (v. Est. XXXIII) poderá
relacionar‐se com o nº 940 dos conjuntos presentes da Andaluzia ocidental. Este caracteriza‐se
por sete pétalas ovais, muito juntas e colocadas numa cartela circular (Ventura Martínez, 2000,
p. 202), mas como o exemplar alentejano está apenas conservado em 25% da sua área é difícil
sermos assertivos nesta classificação. O mesmo se passa para as restantes. Por norma, este
motivo está associado a recipientes da forma antiga de Lamboglia 28, contudo, os exemplares
que aqui apresentamos colocam severas dúvidas quanto à sua classificação, sem que
percebamos se estão em conformidade com a tendência geral.
O fundo nº 3400 (v. Est. XXXIX) possui impressão de uma folha (não a única
certamente) bem marcada e rodeada por um guilhoché de tamanho irregular e oblíquo, com
paralelo no nº 275 da panóplia relativa aos contextos republicanos da Andaluzia ocidental
(Ventura Martínez, 2000, p. 201).
Das seis estampilhas identificadas em recipientes de Campaniense B calena apenas em
dois o seu grau de deterioração não nos impediu identificar o motivo.
A estampilha do nº 3627 (v. Est. VI) refere‐se a uma pátera F2230‐80 e consiste no
típico losango das produções tardias da cerâmica calena do Norte da Campânia (séc. I a.C.16). O
exemplar de Mesas do Castelinho entra na categoria dos losangos com quatro braços, sendo
que dois terminam sob a forma de quatro pétalas e os restantes, mais simples, sem
ramificações. Ao centro descrevem um ponto rodeado por uma moldura quadrangular de
laterais convexas. Importa referir a existência de um segundo fragmento (nº 3807, v. Est. XL)
com este motivo decorativo, ainda que a sua classificação tipológica tenha sido impossível de
definir dado que se trata de uma parede de fundo (sem pé e arranque de parede). Ambos
foram recuperados de contextos Imperiais.
16 A determinação do aparecimento deste motivo complexifica‐se com as oscilações na datação da carga do naufrágio do navio
Spargi, mas, atendendo à ausência nos níveis de Valentia até à sua fase final (75 a.C.), e por ter sido uma colónia onde o reportório caleno de século II (decoração em “coração”) está bem atestado, o mais provável é só ter surgido no final do 1º quartel do séc. I a.C. (Pedroni, 2000, p. 197).
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
79
Este motivo, outrora tido como típico das produções de Byrsa, é, na realidade, uma
característica individualizadora dos produtos calenos e encontra‐se um pouco por todo o
ocidente mediterrânico, como seja o caso de Castro Marim (Viegas, 2009, p. 417), Castelo da
Lousa (Delgado, 1971, Est.II, nº 27), Pedra Furada (Ferreira, 1971, p. 320, nº 3) e Monte
Manuel Galo (Maia, 1987, p. 56, Est.III, nº 2). A determinada altura terão começado a ser
imitados pelas produções de Campaniense de pastas cinzentas, como provam os exemplares
recolhidos nos contextos da Andaluzia, tidos como produções “locais/regionais” do vale do
Guadalquivir (Ventura Martínez, 2000, p. 185). Esta estampilha surge, simultaneamente, aos
motivos em roleta, numa clara mutação técnica que teve por base a necessidade da agilização
do processo decorativo. Por norma este era moroso e discordante com a necessidade de
produção em massa que os índices de exportação exigiam à altura.
Dentro deste grupo da cerâmica calena estampilhada existem dois fragmentos de
fundo (nº 3763 e 3780, v. Est. VI) que partilham a forma, algures no intervalo F2230‐80, e o
motivo. Trata‐se de um motivo radial onde é possível destrinçar 5 ou 6 pétalas muito esguias
que se iniciam numa outra central que, aparentemente, as suporta na base. Desconhecemos
paralelos exactos para estes exemplares, sendo que o que mais se aproxima é uma estampilha
de palmeta nº 1196 de Cales (Pedroni, 2000, p. 179).
De toda a cerâmica importada as caneluras incisas concêntricas, em número variável,
no fundo interno dos recipientes, figuram como a técnica decorativa mais frequente e quase
exclusivamente associada à cerâmica calena, existindo escassos casos na Campaniense
napolitana e aretina. Este é, pois, o motivo decorativo com maior representatividade no
povoado (v. supra gráfico 3) e maioritariamente associado às páteras F2230‐80, seguido pelas
tigelas da espécie F2300.
A decoração sob a forma de uma ou duas faixas pintadas na parede interna, logo
abaixo do bordo é o terceiro maior motivo decorativo representado em Mesas do Castelinho e
resulta da simplificação das decorações mais elaboradas da facies antiga, característico da
Lamb. 31 e 33. Maioritariamente sob a forma de duas faixas negras, ocorre um caso com três e
em três situações com duas. Nos exemplares mais tardios (finais séc. II a.C., séc. I a.C.) a cor
das bandas assume tonalidades acastanhadas ou mesmo negras, pelo que se compreende a
escassez em número único de exemplares com pintura branca em Mesas do Castelinho
(F2970) (nº 3441, v. Est. XXXVI). Não tão comum, mas presente em cinco fundos, registaram–
se faixas concêntricas, ainda que pouco simétricas, pintadas a castanho ou negro que terão, a
par dos círculos incisos, substituído as estampilhas na viragem do século (v. Est. XXX) Este tipo
decorativo surge associado, maioritariamente, à F2970 se comparado com um único exemplar
da F2952a 1 e F2984‐85 (ambos de níveis não republicanos) e ainda que muito representado
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
80
nos produtos napolitanos tardios terá sido motivo predilecto nos produtos “contrafeitos” fora
da Península Itálica (Lamboglia, 1952, p. 180‐181).
Em termos decorativos, as semelhanças entre as taças F2154 e as F2970 são muito
claras. Os exemplares mais antigos (sécs. III e II a.C.) das primeiras possuem na parede interna,
junto ao bordo interno uma linha de elementos vegetais (folha com três pétalas ou falos)
pintados a branco. Numa fase posterior, estas taças começam a ser decoradas com duas faixas
pintadas a branco, igualmente sobre o bordo, com ou sem aqueles elementos vegetais, sendo
que os casos que apresentam uma incisão pós cozedura que contorna de forma ondulada as
folhas pintadas reportam‐se a uma técnica precoce. No conjunto estudado existem dois casos,
um na F2154c (séc. II a.C.) (nº 3747, Est. IV) outro na F2574a 1 (nº 3076, v. Est. XXIX) (primeira
metade do séc. II a.C.), com duas faixas pintadas a negro ou castanho‐escuro avermelhado,
respectivamente, entre as quais se desenha um destes motivos pintado a negro. Reporta‐se a
contextos de cronologias posteriores à sua produção (Imperial e Contemporânea), no entanto,
a peculiaridade da decoração e a escassez em território actualmente português exige a sua
menção do ponto de vista da presença, sem que outras considerações estratigráficas possam
ser avançadas. Saliente‐se, apenas, a existência de um caso raro, em Mértola, sob a forma de
falos dispostos de forma radial no fundo de um recipiente (Luís, 2003, p. 5, Est. XXII, I) e outro
em Santarém (Bargão, 2006, p. 83 e Est. XXXII, nº 296) que, certamente relacionado com a
reduzida dimensão do fragmento, ainda que não possua conservado os motivos fálicos, tudo
sugere que a presença da linha incisa pós cozedura se coadune com a composição associada
aos conjuntos mais antigos da F2154.
4.4.7 Grafitos
No conjunto analisado foi possível identificar cinco peças com grafitos que se dividem
em dois grupos diferentes. Um simples, aplicado, exclusivamente, a exemplares de produção
calena, definido por diferentes composições de incisões sem nexo, na superfície externa do
fundo, ou por um trio de incisões paralelas, na superfície externa do bordo (nº 3046, 3536 e
3689, respectivamente). No segundo grupo a combinação de traços incisos cria um símbolo ou
letra. Registámos assim, na face externa da parede de um recipiente de produção napolitana
de morfologia indeterminada (nº 3559, v. Est. LX), um grafito sob a forma de uma seta
composta por dois traços (um deles quebrado), com ponta junto ao início da face externa do
pé. Um segundo grafito na superfície externa de um fundo de uma pátera (F2230‐80) que
sugere tratar‐se de um A simples (nº 3738, v. Est. XVI). Se esta letra representa a inicial de um
nome, a imensa diversidade de nomes latinos ou indígenas romanizados que deverão começar
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
81
por A torna uma qualquer opção interpretativa num jogo de sorte. Por fim, o único exemplar
pertencente a este grupo que não se trata de uma produção napolitana e que tem paralelos
em Castro Marim (Viegas, 2009, p. 419) no mesmo tipo formal e produção, que consiste num
grafito sob a forma de um X no fundo externo da peça (nº 3689, v. Est. XXVI).
Nas suas diferentes variantes estes grafitos representam a necessidade de alguém
marcar a sua propriedade sobre o objecto, com excepção talvez do X que pode estar
relacionado com uma marcação qualitativa ou quantitativa do oleiro, acerca da fornada de que
fizeram parte (Pedroni, 1990, p. 158‐159).
4.4.8 marcas de oleiro (v. Est. XXI)
Apenas uma peça possuía marca de oleiro. Trata‐se de um fundo de pátera, cujas
características formais bastavam para aferir a sua proveniência e cronologia. De pasta muito
depurada e acetinada ao toque (F5) e com verniz negro brilhante e aderente, o fragmento de
fundo com diâmetro de grandes dimensões (12 cm), com base plana e ressalto marcado na
face interna do pé denunciavam‐no à partida, com correspondência à F2286a e ao pé
classificado em Bb, pl 221, 16 (Morel, 1981, p. 444) típico da cerâmica aretina do séc. I a.C. A
corroborar esta classificação possui dois selos radiais e um central no interior de uma cartela
rectangular com a leitura Q.AF, emoldurados por duas caneluras concêntricas e no exterior por
pelo menos quatro faixas de guilhoché curto e pouco oblíquo. Será importante referir que um
dos selos radiais se encontra sobreposto pela moldura criada pela roleta e pelas caneluras,
apagando‐o parcialmente. A marca representa o oleiro Quintvs Afranivs –Q.AF (3) (OCK, 51) de
Arezzo que produziu entre o ano 40 e 20 a.C. (OCK –CD ROM). A avaliar pelos dados
conhecidos presentes no OCK, com 33 087 vasos em catálogo, a produção deste oleiro foi
vasta e teve como destino as diferentes províncias romanas, nomeadamente a Tarraconensis,
Baetica e Lusitania, tal como as próprias províncias itálicas (v. supra 4.2.2.1).
5 Contextualização estratigráfica dos materiais em análise (1987‐2008)
5.1 Dinâmica da ocupação do sítio (estratigrafia e cronologias)
Seria colossal a exposição de toda a sequência estratigráfica romano republicana do
povoado, sua análise e discussão, sendo que este não é o momento nem o lugar indicado para
tal exercício. Deste modo, o texto que se segue tem por base as sequências estratigráficas
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
82
mais relevantes, numa tentativa de perceber as implicações económicas e cronológicas da
importação e utilização da cerâmica campaniense na evolução no sítio.
Desde já importa assinalar a ausência de um inventário geral relativo ao material
classificável, recolhido nos diversos contextos estratigráficos, que nos permitiria o suporte das
sugestões fornecidas pela análise da cerâmica campaniense, pelo que assumimos a
possibilidade de nos tempos futuros estes dados terem de ser reavaliados. Apesar de algumas
formas de cerâmica fina nos fornecerem importantes indicações cronológicas, com algumas
implicações económicas e culturais, este tipo de cerâmica não pode servir isoladamente como
fóssil director para a datação e compreensão de um sítio. A sua correlação com os restantes
materiais é fundamental para corroborar ou refutar as directrizes que apontam. Assim,
suportámos as nossas ilações no cruzamento de dados relativos ao conjunto anfórico de
cronologia romana republicana, detectado em Mesas do Castelinho, já defendido sob a forma
de dissertação de mestrado pelo Dr. Jorge Parreira (Parreira, 2009).
Na plataforma superior, como já houve ensejo de comentar, foi edificado um conjunto
de construções datadas, genericamente, do séc. I a.C. A relativa homogeneidade do espólio
recolhido nos diferentes ambientes torna impeditiva a atribuição de uma datação fina às
diferentes remodelações a que o complexo foi sujeito ao longo do seu tempo de vida (Fabião,
1998). Esta imagem está bem patente no conjunto de campanienses ali recolhido e pode ser
alargada ao resto do povoado republicano.
A cerâmica campaniense detectada em associação com este complexo de construções
encontra‐se muitas vezes revolvida, fora dos seus contextos primários. Por outro lado, como já
referimos várias vezes, temos de ter sempre presente a possibilidade da reutilização de terras
de outros pontos do povoado, relativas a ocupações mais antigas, nos diferentes aterros de
âmbito cronológico mais tardio. A que se acrescenta a possibilidade de perduração de algumas
formas cerâmicas, tendencialmente correlacionadas com outros parâmetros cronológicos, pelo
que é complexo gerir todas estas possibilidades.
Não será certamente o caso do aterro [72]. Este aterro de pedras preenche a base do
espaço delimitado pela estrutura pétrea [78], que delimita a Sul o “complexo de construções
do séc. I a.C.”17, e a [74], que seria já parte integrante do Amb. VIII, delimitando‐o a Sul (v. fig.
10). Os materiais recolhidos neste nível conferem o terminus post quem para a construção do
complexo edificado. Deste estrato foi possível identificar três peças de Campaniense A, já
publicadas (Fabião, 1998, p. 291), cujas formas (F2940/43 e F2954) indicam os finais do séc. II
a.C. como limite máximo da construção do complexo. A acrescentar a esta informação no
17 A realidade imediatamente a Sul do complexo define‐se pela precariedade das suas construções e está talvez associada a um
pátio localizado num nível altimetricamente superior aos dos primeiros pisos republicanos, inacessível pelo interior destes.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
83
decorrer deste trabalho foi detectado um quarto fragmento, F2154, com datação
tradicionalmente centrada na primeira metade, pouco avançada, do séc. II a.C., mas cujos
níveis das intervenções em Valentia atestaram‐na já na segunda metade desse século (Marín
Jordá et al., 2000) e portanto, coerente com os dados já outrora avançados.
Outro dos mais relevantes e antigos estratos arqueológicos relacionados com os
primeiros momentos de contacto com o mundo romano, e que auxilia na interpretação
cronológica dos mesmos, reside no sedimento [227]. Trata‐se de um estrato associado,
igualmente, à 1ª fase de construção do mesmo complexo e de onde, sem outro material
datante associado, foi possível recuperar 18 fragmentos de bojo de fabrico “local/regional”
(F8) e sete bordos todos de produção napolitana (F2), dos quais foi possível determinar a
forma de cinco, F2970 e F2984‐85. Se a primeira aponta para cronologias centradas no último
quartel do séc. II a.C., a segunda é maioritariamente conhecida em contextos de segunda
metade desse século, podendo chegar aos inícios do seguinte. É certo que um pouco por toda
a sequência estratigráfica vamos encontrando este tipo de formas (especialmente as
primeiras) mas em associação com outras que lhes retiram a validade cronológica por serem
mais tardias. Aqui, pelo contrário, o conjunto é muito homogéneo e coerente do ponto de
vista cronológico e a definição estratigráfica não levanta dúvidas, pelo que estamos na
presença de dois dos contextos republicanos mais antigos do povoado Mesas do Castelinho.
Grande parte dos níveis onde lográmos identificar este tipo de importações itálicas
reportam‐se aos últimos níveis de derrube correspondentes ao momento de abandono dos
Amb. VI, VII, VIII e IX, do sector A1. As cronologias nestes casos são bastante latas, mas sem
definirem também não contrariam as propostas pelos materiais anfóricos ali recolhidos.
Tomemos, a título de exemplo, o derrube final do Amb. IX, [135], onde foi possível recolher
fragmentos de Dr.20A, para além de ânforas de importação itálica e de tradição pré‐romana. A
forte presença destas produções do Guadalquivir (Dr.20A) em estratos dos finais da ocupação
republicana reforça o recuo anunciado do seu início de produção, pelo menos, ao 3º quartel
do séc. I a.C. (Parreira, 2009, p. 64‐65) o que, a par da ausência de fragmentos de terra
sigillata, cujo início de importação é tido como do último quartel do mesmo século, torna
coesa a hipótese do abandono do complexo nos finais daquele quartel de século.
De todos, o ambiente X foi o que providenciou maior e melhor conjunto de materiais
arqueológicos, entre metais e cerâmicas. Este fenómeno dever‐se‐á relacionar com aspectos
de conservação e amortização do espaço, sem que se possam equacionar justificações
cronológicas para o sucedido. Encontrava‐se selado pelo derrube a Sul da [78], certamente a
última a cair de todo o conjunto, revelando‐se assim importante na compreensão da diacronia
de ocupação do espaço. Da análise da sucessão de estratos (ocupação e abandono) foi possível
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
84
determinar o seu preenchimento, genericamente, compreendido entre o 2º e 3º quartel do
séc. I a.C., tal como já havia sido publicado anteriormente (Fabião, 1998, p. 297), dado que a
sua sequência estratigráfica revelou níveis de ocupação com ânforas Classe 67 ([189] na base
da estratigrafia) e Dr.7‐11 ([138] associada aos níveis mais recentes). Diga‐se que a presença
aqui de Dr.7‐11, cujo auge de exportação ocorre já em período Imperial, a par da ausência de
terra sigillata nos autoriza, cremos, a propor essa baliza cronológica. O conjunto de
fragmentos de cerâmica campaniense daqui proveniente consiste em formas transversalmente
presentes nos séc. II e I a.C., ainda que a grande quantidade de formas enquadradas no
intervalo F2230‐80 (7NMI) revele a sua natural integração na facies característica do séc. I a.C.
Já a presença de uma pátera F2272a (na [138]) com a típica depressão longitudinal entre o
bordo e a carena, aponta‐nos uma cronologia entre o ano 75 e 65 a.C.
Do ponto de vista da interpretação cronológica da ocupação republicana, no contexto
das áreas anexas ao conjunto edificado, a detectada a Noroeste, [39] – [41] – [43], permanece
como a sequência de estratos mais relevante (v. fig. 12). Trata‐se de uma sequência de níveis
decorrentes de uma acumulação continuada no tempo, pelo que terá sido complexa, em
alguns pontos, a sua diferenciação física. A [43] testemunha os primeiros contactos do
povoado indígena com o mundo romano e as [41] e [39] parecem representar um grau maior
de integração dos hábitos e vivências delegadas por aquela nova realidade. Assim, do primeiro
momento sem construções associadas, existe um conjunto de materiais que nos reportam aos
finais do séc. II a.C., em clara paridade com o início da construção do complexo edificado nas
imediações. O conjunto anfórico era composto por importações itálicas, Dr.1 da costa
tirrénica, por importações do Sul da Península Ibérica, de entre as quais Classe 8 e Maña C2 e
produtos de tradição pré‐romana, na forma T‐8.2.1.1, a par do único fragmento de vidro
mosaico policromo (tipo millefiori), encontrado em contexto tardo republicano no território
actualmente português (Fabião e Guerra, 1994, p. 279). A cerâmica campaniense não permite
considerações categóricas que reportem este primeiro momento ocupacional à segunda
metade do séc. II a.C., dada a presença de três tigelas F2360, cujas cronologias estão já
centradas em pleno século seguinte, (a não ser que estejamos na presença de mais um caso de
formas cujos intervalos cronológicos de produção tenham que ser revistos, que nos parece ser
o caso). As dificuldades enunciadas pelos directores de escavação quanto à diferenciação física
entre este depósito e o que imediatamente o sobrepunha sugerem que a posição estratigráfica
daquele material esteja indefinida. Situação corroborada pela homogeneidade do restante
material arqueológico quanto à sua integração cronológica. A título de exemplo, refira‐se a
existência de T‐8.2.1.1 e Maña C2, associadas a um conjunto significativo de cerâmicas de
tradição ibero‐turdetana e potes com bandas pintadas, que sugerem a formação daquele
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
85
estrato durante a segunda metade do séc. II a.C. Importa, igualmente, referir o unguentário,
F7111, em cerâmica campaniense A, séc. II a.C. (Fabião e Guerra, 1994, p. 279). A constatação
da elevada percentagem de cerâmica Campaniense A, que vai diminuindo nos estratos
seguintes, ainda que não seja critério chave para a interpretação cronológica é sem dúvida um
reforço do enquadramento cronológico proposto.
Os estratos que se seguem reportam‐se ao séc. I a.C. Assim, associado a um primeiro
conjunto de construções precárias (lajeado [40] e [44] articulado com uma estrutura coberta e
sustentada por um conjunto de buracos de poste) registou‐se o estrato [41], sendo que o [39],
após uma remodelação do espaço, se associa a restos de um compartimento muito mal
conservado e que seria talvez o único construído neste último momento de ocupação. É claro
o crescimento das importações itálicas nestas unidades com uma concentração de produções
calenas, F7500 e F2300, a par obviamente da grande quantidade de páteras F2230‐80.
Daquelas que foi possível classificar com melhor precisão destacamos os três exemplares da
[41] do tipo F2341a 2 e F7553d 1 que abarcam a primeira metade do séc. I a.C., coerente com
a cronologia proposta pelo tipo F2362a 1 (80+‐50 a.C.). O espólio anfórico concorda com esta
proposta, especialmente pela presença das produções hispânicas da Classe 67. Importa referir
que a presença de terra sigillata deverá ser relativizada, já que estes estratos são cortados
pela vala de implantação de uma oliveira [28]. Em termos morfológicos e índices de presença
ao nível da cerâmica campaniense e ânforas as [39] e [41] não têm grande diferenciação,
excepção feita à cerâmica comum e paredes finas. Neste último estrato nota‐se uma presença
maioritária das Formas I e III de Marabini e de cerâmicas comuns já plenamente romanizadas,
para além de se ter registado Haltern 70 (Fabião e Guerra, 1994, p. 280) e uma forma
campaniense, F2361, que nos apontam já para a segunda metade do séc. I a.C.
Relativamente à plataforma superior, resta salientar a [145] do sector A3 pela sua
posição estratigráfica (v. fig. 13). Trata‐se de um estrato que preenche uma depressão
efectuada na rocha, que caracteriza o início de uma nova fase de construção e ocupação no
povoado, logo após o momento de amortização da muralha pré‐romana e portanto, coerente
com os primeiros contactos com o mundo e influências romanas. Registaram‐se formas
campanienses típicas do último quartel do séc. II a.C., F2970, ou mais genericamente de todo
esse século, F2820, cronologia suportada pelas produções anfóricas de tradição pré‐romana, T‐
9.1.1.1, que cessam na primeira metade do séc. I a.C., mas cujo auge de exportação se cinge à
segunda metade do século anterior. Diga‐se, uma vez mais, que a antiguidade dos contactos
entre romanos e indígenas, nesta região, é sublinhada pela presença nesta U.E. dos já
mencionados “pratos de peixe”, F1122, de produção napolitana, datáveis de finais do séc. III,
inícios do séc. II a.C.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
86
A plataforma inferior, B, muito melhor preservada, fornece alguns contextos
associados a um organizado plano urbanístico romano republicano, pelo que, à semelhança do
que se fez para as realidades da plataforma superior, destacaremos, por sector, algumas das
mais relevantes sequências estratigráficas para a compreensão da ocupação do sítio.
No sector B2, ao contrário do que sucede no B3 (ou seja, na ala a Este da Rua 1 que
separa ambos), os materiais de importação itálica estão presentes logo nos primeiros estratos
romano republicanos. Ainda que não seja abundante a presença de importações itálicas na
primeira fase de ocupação (Romano Republicano III) (v. fig. 14), os contextos do Amb. V são
particularmente expressivos dos primeiros contactos com o mundo romano, ainda no séc. II
a.C. Refira‐se o piso [197], onde foi documentada uma concentração de três peças de
Campaniense A, todas com motivos decorados sob a forma de estampilha (palmeta), e formas
anfóricas T‐8.2.1.1. Portanto, esta associação, sem nenhum elemento que a contrarie,
permite‐nos falar em contextos referentes à inauguração da utilização deste espaço em finais
do séc. II a.C., podendo mesmo remontar aos seus meados. Situação que, atendendo à
organização arquitectónica em que se insere, não tem porque não ser extensível aos restantes
compartimentos.
A maior parte da cerâmica campaniense detectada neste sector provém da sua fase da
ocupação republicana intermédia (Romano Republicano II) e caracteriza‐se por um predomínio
de formas típicas da facies do séc. I a.C. da Península Ibérica, como sejam as páteras F2230‐80
de produção calena.
A sequência ocupacional do Amb. V demonstra que a construção/utilização dos pisos
que sucedem a [197] já se enquadram em pleno séc. I a.C. Destes destacamos o [147], pela
presença de um fundo de pátera, F2286, de produção aretina com marca de oleiro, Q.AF, com
produção situada entre 40 e 20 a.C. (OCK, 2000). A identificação no mesmo piso de um
fragmento de terra sigillata e a ausência de vestígios de alterações à estratigrafia original, que
justifiquem a sua presença naquele estrato, coloca algumas questões. A convivência de uma
produção com a outra não pode ser debatida com base nos dados de Mesas do Castelinho,
contudo, os espectros de utilização, no primeiro caso, da sua fase final e no segundo, da sua
fase inicial, permitem fenómenos de sobreposição como este observado em Mesas do
Castelinho, sem que isso signifique contemporaneidade das produções. Na verdade, não existe
razão para surpresas dado que existem inúmeros casos de convivência entre campaniense e
terra sigillata no último quartel do séc. I a.C., como, por exemplo, em Ambrussum (Adroher
Auroux e López Marcos, 2000, p. 162).
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
87
A última fase de ocupação deste sector encontra‐se, como se viu, bem representada
no Amb. V mas, a maioria da cerâmica campaniense a ela associada provém do Amb. IV, que
apresenta um padrão muito homogéneo e concordante com o expectável para o séc. I a.C.
Ainda que com algumas dúvidas, a imagem que transparece da análise efectuada
sugere uma ocupação prolongada, senão mesmo mais tardia, dos Amb. IV e V. Esta ideia
poderá estar desvirtuada da realidade pela escassez de informação que os restantes
providenciaram (reflectida na parca presença de campaniense). Contudo, a avaliar pelos dados
existentes, aqueles dois espaços têm a maior concentração de fragmentos com cronologias
mais tardias, pelo que parecem ter sido mais intensamente ocupados durante o séc. I a.C. e
talvez tenha mesmo ocorrido um qualquer episódio de desentulhamento e reocupação em
momentos mais tardios.
Na Rua 1 (à qual acediam as casas do sector B2 e as mais a Oeste do B3) parece ter
ocorrido um qualquer fenómeno de enchimento sucessivo com recurso a terras de outros
pontos do povoado, daí a inclusão nos seus estratos de imenso material descontextualizado e
discordante com o que as relações estratigráficas com as áreas anexas insinuam. Por outro
lado, foi alvo de imensas intrusões decorrentes do seu uso em época imperial. Deste modo, a
sequência estratigráfica ali presente não pode ser assumida como fiável na atribuição e
definição de fases, ainda que nos pareça digno de registo o facto de não se ter identificado
qualquer registo de campaniense na sua fase inaugural. As primeiras importações deste
género, a que se acrescentam os produtos anfóricos também de origem itálica, estão
documentadas apenas nos momentos contemporâneos às reconstruções no sector B3, por
ocasião da anulação da divisão do edifício mais a Norte a favor da criação de um único espaço
(Amb. XI) (V. fig. 15).
O sector B3 revela algumas novidades e confirma algumas ilações já evidenciadas nos
restantes. Aparentemente, só após as primeiras grandes remodelações, já em pleno século I
a.C., a importação da campaniense ganha consistência. Os últimos momentos de ocupação dos
edifícios do 1º quarteirão deverão corresponder já à segunda metade do séc. I a.C. A validar
esta proposta contamos com as produções anfóricas do vale do Guadalquivir, que a partir de
finais do primeiro quartel do séc. I a.C. foram uma presença frequente nos contextos do
ocidente peninsular. Suportamo‐nos, igualmente, nas produções da Bética Costeira, na forma
Castelinho 1, predominantes em contextos após a segunda metade da centúria (Parreira, 2009,
p. 68‐69), ainda que o autor não descarte a hipótese de, ocasionalmente, ocorrerem em
cronologias ligeiramente mais recuadas. As presenças de cerâmica campaniense não
esclarecem, mas também não contradizem esta proposta. Comparativamente com o espólio
recolhido nas fases imediatamente anteriores, em que a campaniense evidencia uma matriz
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
88
mais antiga com formas, F2970, F1300‐1400, típicas do séc. II a.C. (Ventura Martínez, 2000, p.
186) e onde ficam claros os indícios relacionáveis com as ocupações/movimentações romanas
no território, nesta o espólio reporta‐se a formas que podendo existir nos contextos de séc. II
a.C., são predominantes no seguinte, como F2230‐80, para não falar daquelas que são
exclusivas, em contextos peninsulares, como F2300.
Ainda que não consideremos como fóssil director de contextos mais antigos a
superioridade da cerâmica Campaniense A sobre as demais classes, a verdade é que,
analisando o tipo de formas presentes, estas remetem‐nos para uma facies mais antiga. Como
veremos, a Campaniense A mantém‐se bem representada nos níveis mais tardios do povoado,
o que terá que ver com a continuidade e contemporaneidade dos mercados de ambas e
especialmente com o período de amortização da campaniense A no povoado.
À semelhança do que sucedeu com as ocupações do sector B2 também aqui se assiste
a um predomínio da Campaniense napolitana sobre a calena e “local/regional”, excepção feita
ao derradeiro momento de utilização do Amb. XI.
Num claro episódio ritual de inauguração da construção do Amb. XXXVIII do 2º
quarteirão (v. fig. 16) foi depositado numa depressão no afloramento rochoso, logo abaixo do
seu 1º piso de ocupação, [855], um conjunto de materiais arqueológicos quebrados em
conexão. Neste contexto é possível assistir à convivência de um “prato de peixe” em cerâmica
“tipo Kouass” com três fragmentos de Campaniense A, F2820, datáveis genericamente do séc.
II a.C. O conjunto contemplava, igualmente, uma cabeça feminina em terracota de cariz
exótico, para o qual até ao momento se desconhecem paralelos; cerâmica pintada e com
engobe vermelho e castanho; cerâmica manual com decoração incisa em espinha e produções
anfóricas de tradição pré‐romana. Trata‐se de um contexto romano republicano em que a
convivência entre todos estes tipos cerâmicos de tradição indígena e importação itálica,
combinados com a inauguração de um dos primeiros espaços da 1ª fase de remodelação
daquele quarteirão, traduzem a simbiose existente entre o “novo” e o “antigo”. Não se pode
ignorar a presença, em momento anterior relacionado com o piso [707], do Amb. XXIX (este
sim fundador da divisão do espaço urbanizado), de um fragmento de unguentário em vidro
azul da forma III de Harden (Fabião et al., 2008). Este e o piso [708], do Amb. XXX, estariam em
uso aquando da fundação do Amb. XXXVIII, pelo que comungam uma fase da sua utilização
perfeitamente integrável em pleno séc. II a.C. O registo revela que o fenómeno de importação
dos produtos itálicos ocorre com maior incidência, e logo em quantidade, a partir da
inauguração do Amb. XXXVIII. Aqueles habitantes já estariam perfeitamente integrados num
esquema de contactos com o mundo romano e a mutação visível em termos arquitectónicos é
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
89
prova disso mesmo, já que apesar de não corresponder a nenhum modelo tipicamente
romano, não se correlaciona certamente com o mundo pré‐romano.
Esta convivência material e simbiose entre os primeiros contactos com o mundo
romano e consequente aculturação do antigo povoado indígena continuam a constatar‐se
noutras zonas do povoado. As remodelações sucessivas do espaço mediado entre a 2ª Rua e as
traseiras dos Amb. I, II, XXII, XXIII (depois XI), com definição dos Amb. XV, XVII, XVIII, XXXII e
XXXV providenciaram a recolha de Campaniense, exclusivamente, napolitana, convivendo com
a cerâmica estampilhada de tradição pré‐romana. Em apenas dois dos Ambientes foi possível
determinar a tipologia destas produções, a saber: Amb. XVII com um fragmento F1300 e XV
com a maioria do conjunto, duas F2234, uma das quais com aferição do tipo f 1, uma F2154,
F2820, F2250 e F1300‐1400. Ou seja, um conjunto relativamente coeso, referente a
morfologias típicas da facies clássica da produção napolitana, com cronologias perfeitamente
enquadráveis na segunda metade do séc. II a.C. Relativamente às ânforas, a ausência de
produções peninsulares, muito recorrentes nos contextos romano republicanos do povoado, e
a exclusividade de produções itálicas podem ser outro indicativo da antiguidade deste
conjunto.
Após o momento de abandono destes compartimentos segue‐se uma intensa
reestruturação do espaço que abrange todo o quarteirão, dando origem à fundação de novos
ambientes, como o XII e o XXXVI. O espólio cerâmico, nomeadamente a campaniense, reflecte
essa transformação, que não é meramente urbanística, na medida em que se assiste à
“substituição” da cerâmica Campaniense A pela B de Cales, desaparecendo do registo a
primeira. Esta é a única sequência estratigráfica do povoado onde essa inversão de classes se
pode constatar. Parece complexo associá‐la com as novas dinâmicas de comércio do povoado,
porque, se assim o fosse, essa realidade ter‐se‐ia que ver nas restantes áreas ocupadas suas
contemporâneas. Nestas, o que sucede é a convivência até momentos bem avançados do séc. I
a.C. da Campaniense A tardia com a B calena, sem se notar grandes disparidades entre ambas,
embora haja uma ligeira superioridade das produções do Norte da Campânia.
Curiosamente, as únicas Campanienses da classe A identificadas, F2230, F2250‐80 e
F2970, ainda que proeminentes no séc. II não estão ausentes no I a.C., na sua feição tardia.
Estas Concentram‐se no nível [318], que preenche uma depressão efectuada imediatamente
antes da construção do forno [311], no Amb. XXXVI, e dado o tipo de contexto pode ter havido
alguma intencionalidade na constituição desse depósito.
O leque de formas que caracteriza o momento de amortização do Amb. XII e a
construção dos mais recentes espaços romano republicanos deste quarteirão, Amb. III, VIII e
XXXI, não varia, mantendo‐se a quase exclusividade da associação de cerâmica Campaniense B
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
90
calena nas séries F2250‐80 e F2320. Tanto o Amb. III como já o XII revelaram indicativos
formais, caso da F2361 da Campaniense B calena e ânforas Classe 67, que sugerem uma
ocupação romano republicana já centrada na segunda metade do séc. I a.C.
O material arqueológico aqui analisado reporta‐se às intervenções decorridas até ao
ano 2008, nesta altura a escavação em profundidade do 3º quarteirão encontrava‐se em
curso, pelo que os contextos aqui analisados reportam‐se, exclusivamente, às fases mais
recentes da ocupação romano republicana relacionada com os Amb. XIII, XIV, XVI e o forno XXI,
ainda que, e até ao momento, nada sugira que se comportará de modo desigual às restantes
ocupações romano republicanas mais antigas do sítio.
A Rua 3, ao contrário da 2, de onde não se recolheu qualquer vestígio de cerâmica
campaniense classificável, forneceu um conjunto expressivo. Será de realçar, em particular, o
piso de circulação [605], pertencente à fase de utilização em que o forno XXI já se encontrava
instalado e os pisos e aterros aqui documentados encostavam à sua face externa (v. fig. 17).
Este, à semelhança dos pisos [668], do Amb. XIV, e [669], do XVI, (provavelmente a mesma
realidade), continha um conjunto de cerâmica campaniense muito expressivo e homogéneo,
com as típicas formas de Campaniense B de produção calena do séc. I a.C. Da fase anterior à
presença do forno não temos qualquer registo, até ao momento, de forma campaniense
classificável.
5.2 Evolução económica
Perante o que temos vindo a expor, fica então bem patente que nos primeiros
momentos de construção/utilização romana republicana o cunho de toda a tradição indígena
está ainda muito presente. Só após as primeiras transformações arquitectónicas deste novo
urbanismo se verificam vestígios das primeiras importações de campaniense itálica, que se
podem estender, ao que tudo indica, aos restantes tipos cerâmicos com a mesma origem
(greco‐itálicas) ou aos provenientes de áreas do Sul da Península Ibérica, já submetidas ao
domínio romano.
Estes tipos cerâmicos exógenos vão conviver no povoado com cerâmicas de tradição
indígena de fabrico manual, demonstrando uma simbiose entre os dois mundos. O povoado
indígena é afectado pelo novo contexto político e económico da região, imposto pelo mundo
romano, sabendo aproveitar e adaptar‐se a esta nova influência, integrando os principais
fluxos comerciais e elevando a pujança económica dos habitantes locais, expressa não só na
cultura material como na arquitectura e área útil do povoado.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
91
A significativa presença destas importações cerâmicas testemunha os primeiros
contactos romanos com o sítio e a prosperidade económica do mesmo, para além de reforçar
a ideia de que esta precoce presença romana interagiu com o povoado indígena sem recurso a
qualquer tipo de imposição violenta.
A análise do material permitiu a identificação de um conjunto expressivo de
Campaniense A e B calena e uma pequena percentagem de B aretina e Campaniense
“local/regional” com verniz negro. Esta última, não definindo o consumo do sítio, insere‐o no
quadro das importações e relações, aparentemente, com a zona do vale do Guadalquivir.
A diferenciação percentual entre a Campaniense A e a B calena resume‐se a 15% (v.
supra quadro 1). Efectivamente, seria de esperar uma clivagem mais expressiva dado que a
maior parte do tempo de vida republicana do povoado se centra durante o séc. I a.C. Ou seja, a
altura em que a cerâmica calena alcança o expoente máximo da sua produção e exportação
para o Mediterrâneo ocidental (v. razões em 4.2.1.2) dominando estes mercados. Esta
evidência histórica não se repercute no registo arqueológico de Mesas do Castelinho pois,
ambas as produções caminham a passo em número de presenças nos diferentes momentos
identificados, sendo que nalguns casos, como seja no sector B2, a Campaniense napolitana é
mesmo superior em número de fragmentos à calena. Esta situação é exemplificativa da
impossibilidade em valorizar excessivamente a presença maioritária de Campaniense calena
como elemento de determinação cronológica.
A Campaniense A representa 40,5% do conjunto analisado e foi possível determinar a
forma, independentemente da sua posição estratigráfica, de 212 fragmentos. É bastante
abundante e revela um conjunto formal diversificado.
O decréscimo de qualidade do verniz e pasta não tem necessariamente que
corresponder aos produtos tardios da Campaniense A (Ventura Martínez, 2000, p. 178). Neste
sentido, a possibilidade que temos em Mesas do Castelinho em trabalhar com um sistema de
registo que permite a percepção diacrónica do sítio e baseando‐nos nos restantes materiais
que ajudam a contextualizar os níveis escavados, a divisão cronológica da Campaniense A
deriva da conjugação de todos estes elementos apensos à determinação da sua tipologia.
Assim, as formas mais comuns são as F2970, F2820, F1300‐1400 e uma boa
percentagem de F2234, com presenças minoritárias de F1122, F1443, F2154, F2614 e F2648,
F2787, F2840 e F3131. Comparando este reportório com o dos sítios mais próximos da
Andaluzia ocidental nota‐se uma equiparação tipológica importante pelo facto de se incluir na
facies do séc. II a.C. da Campaniense A clássica, definido por Ventura Martínez (Ibidem, p. 186).
Ainda que não muito comum no povoado, existe um conjunto de matrizes decorativas
impressas características desta fase clássica que reduz a sua expressividade nesta altura para
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
92
tornar‐se residual na Campaniense A tardia. Neste momento adopta os esquemas decorativos
mais simples e rápidos da Campaniense calena, como as incisões concêntricas nos fundos. A
facies tardia está bem representada pelas páteras F2250 e F2260‐80, bem como por alguns
exemplares das formas F2970 e F1300‐1500 que revelaram pormenores decorativos e
morfológicos relacionáveis com momentos mais tardios da sua produção, como seja o lábio
biselado associável às F2974, também documentados em Faro (Viegas, 2009, p. 138), e os
pratos com bordos mais curtos, espessos e com tendência à horizontalidade da F1300. Assim,
esta amostra é bastante reveladora da existência de uma fase de ocupação compreendida
entre a segunda metade do séc. II e o I a.C. Dúvidas houvesse seriam dissipadas pela
comunhão, nas respectivas sequências estratigráficas, de contentores anfóricos com
produções coevas a cada período.
Não se vislumbra a diferenciação no que respeita às produções calenas identificadas
no sítio com os diversos locais onde ela foi registada, como seja o caso de Faro e Mértola. Há
um predomínio avassalador das tigelas F2300 (com alguns casos relevantes do ponto de vista
cronológico, como seja a presença de F2360, datável da segunda metade do séc. I a.C.,
balizando as derradeiras ocupações republicanas) e das páteras F2230‐80, a par das constantes
decorações típicas do séc. I a.C. A panóplia de formas e decorações presentes neste conjunto
insere‐o na variante tardia das produções calenas (82‐40 a.C.) podendo remontar à média
(130/120‐90/80 a.C.) (Pedroni, 2000, p. 345‐350).
Após a análise da evolução quantitativa das presenças de cerâmica campaniense
estamos em crer que nos momentos iniciais da ocupação romano republicana (segunda
metade do séc. II a.C.) a importação deste material era muito menor, para aumentar
exponencialmente logo desde os inícios do séc. I a.C.
Como já se aludiu seria tentador observar no 2º quarteirão do sector B3 um fenómeno
de substituição da Campaniense A pela B, suportado numa sequência estratigráfica que
permite uma quantificação estatística e a determinação de um momento em que os valores se
invertem drasticamente. No entanto, não faz sentido atribuir‐lhe significado cronológico e
relacioná‐lo com as dinâmicas comerciais existentes, dado que na restante área do povoado,
contemporânea destas fases, a clivagem entre uma e outra classe não é tão acentuada e por
vezes mesmo inexistente.
Deste modo, pensamos que uma possível explicação terá de ser articulada com a
funcionalidade a que aquele espaço se destinaria. Esta zona central do povoado destaca‐se
pela concentração de estruturas de combustão de carácter industrial‐metalúrgico (fornos),
diferentes das lareiras do resto do povoado, bem como por uma permanente remodelação dos
espaços (v. fig. 18) que decorre de modo contínuo sem nunca se abandonar fisicamente a área
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
93
(Fabião et al., 2008). Atendendo à facilidade de aquisição deste tipo de Campaniense do Norte
Campânia, a sua perda, desgaste ou destruição era menos problemática se comparada com o
estrago do serviço de mesa com origem napolitana. Este é o cenário óbvio numa área de
trabalho, pelo que pensamos que a associação/concentração de campaniense quase
exclusivamente calena relaciona‐se com essa situação e não com a substituição efectiva da
importação da classe B sobre a A.
Na costa andaluza recebe‐se Campaniense A até pelo menos ao 3º quartel do séc. I
a.C., sendo que nos sítios do interior a substituição desta pela B calena é muito mais precoce e
repentina (Aquilué Abadías et al., 2000, p. 402‐403).
O sítio Mesas do Castelinho é, talvez, um caso intermédio entre estas duas situações,
por um lado não deve ter importado até tão tarde, por outro a campaniense B não substitui
radicalmente a A, mantendo‐se o equilíbrio entre ambas as produções até aos momentos
finais da ocupação. Parece‐nos que terá que ver, antes, com fenómenos de amortização tardia
de formas, cuja produção já teria inclusive cessado e daí a convivência entre ambas. Neste sítio
a amortização da utilização do serviço de mesa napolitano, caleno e aretino terá coincidido
com a chegada de novas influências e hábitos (terra sigillata) já característicos do novo padrão
económico‐político de Roma.
Por último, importa referir que nos parece errado continuar a considerar este tipo de
cerâmica como um produto de luxo, na medida em que se assume como um produto
comercializado e exportado em larga escala, via marítima e para todo o Mediterrâneo
ocidental durante o séc. I a.C. Para além disso a amostra de Mesas do Castelinho (uma das
maiores já publicada) é parca em exemplares com vestígios de reparação, o que sugere a
existência em quantidade daqueles produtos que dispensava o reparo que as peças de difícil
aquisição exigiam.
6 A cerâmica campaniense na dinâmica comercial romano republicana do século II e
I a.C. no Sudoeste peninsular
A ausência de importações do séc. III a.C., no território actualmente português, é difícil
de justificar se confrontada com as relações comerciais intensas que o extremo ocidental da
Península Ibérica manteve com o Mediterrâneo, durante os sécs. V e IV a.C. (Arruda, 1997).
Seria de esperar a “continuidade” dos fluxos comerciais entre ambas as realidades geográficas,
tanto mais que aqueles sítios sem interrupção ocupacional e importadores de cerâmica
campaniense são os que, outrora, receberam cerâmica de verniz negro ático, como seja o caso
de Mértola, Alcácer do Sal, Santarém, Cerro da Rocha Branca, Mesas do Castelinho…
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
94
Não faz sentido que o fragmento de pré campaniense do Castro do Coto da Pena,
Caminha, seja o único vestígio de importação do séc. III a.C., na medida em que
geograficamente o povoado encontra‐se, inclusive, afastado dos fluxos comerciais de ligação
com o Mediterrâneo. Deste modo, o vazio que se constata no âmbito das importações de
verniz negro, entre a “quebra” de importação dos produtos áticos e o início da aquisição do
serviço de mesa de cerâmica campaniense, poderá estar relacionado com os momentos
conturbados da I Guerra Púnica, que resultaram na dificuldade dos romanos penetrarem no
ocidente peninsular (Fabião e Guerra, 1996b, p. 123 e Fabião, 1998, p. 304). Existem várias
outras hipóteses, até ao momento por confirmar, quanto às possíveis formas de colmatação
da “quebra” dos fluxos de intercâmbio com o Mediterrâneo, que podem também passar pela
importação de cerâmica do “tipo Kouass”, durante o séc. III a.C. Por outro lado, este vazio
pode, simplesmente, ser demonstrativo do muito que ainda há a fazer no campo da
investigação e publicação de dados.
Posto isto, e no actual estado dos conhecimentos, nada permite afirmar que as
importações de cerâmica campaniense sejam anteriores à presença dos exércitos romanos no
ocidente peninsular (Fabião e Guerra, 1996b).
Ainda que pouco frequente, não é surpresa a constatação de produções itálicas
datadas da primeira metade do séc. II a.C., integradas numa relação comercial incipiente,
antes da massificação da importação das produções da B, associada, provavelmente, aos
produtos consumidos pelos agentes da romanização do território, que paulatinamente vão
integrando os hábitos de consumo das populações peninsulares. Destes, destacamos, por
exemplo, o fragmento do tipo F2574a 1 (nº 3076, v. Est. XXIX), de entre os materiais com
produção exclusiva da primeira metade do séc. II a.C., ou os fragmentos de “pratos de peixe”,
com produção final nesta mesma metade de século, recuperados das intervenções de Mesas
do Castelinho. Neste sentido, a constatação, no principio dos anos ‘80, do Prof. Doutor Jorge
de Alarcão, de que a cerâmica Campaniense A em Portugal seria datada na totalidade da
segunda metade do séc. II a.C. (Alarcão, 1983) encontra‐se, perante estes novos dados,
ultrapassada.
Já em 1998, a fraca representatividade da importação de cerâmica Campaniense A era
desvalorizada por fazer‐se corresponder com o défice de publicações portuguesas (Fabião,
1998, p. 305‐306). Actualmente, com a publicação dos dados referentes aos contextos de
Mértola, Faro e agora Mesas do Castelinho fica clara a alteração desse panorama.
Os fluxos comerciais e a circulação de gentes que as movimentações militares romanas
acarretam parecem contribuir, assim, para a dispersão da cerâmica campaniense em território
actualmente português. Se nos momentos iniciais da sua presença estaria associada às suas
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
95
necessidades específicas, a generalização deste consumo, que resulta da integração das
populações peninsulares nos emergentes fluxos comerciais com a Península Itálica, é
obviamente decorrente do processo de romanização. De qualquer forma cremos ser
importante equacionar a hipótese do porto de Cádiz ter sido também responsável pela
presença inicial de material itálico, nomeadamente campanienses, na Ulterior. A submissão de
Cádiz ao poder romano, datada já de finais do séc. III a.C., a sua longa tradição comercial, o
domínio das antigas rotas comerciais com o Sul da Península Ibérica e o conhecimento dos
locais receptores poderá ter contribuído para a precoce introdução de produtos itálicos na
área meridional da península. Assim, ainda que coincidentes, estas existências podem não
estar, exclusivamente, relacionadas com a presença física dos exércitos romanos na Ulterior, o
que não invalida que sejam, obviamente, decorrentes de toda a sua acção na Península
Ibérica.
Os conjuntos já publicados do actual território português revelam uma concentração
de cerâmica campaniense datada da segunda metade do séc. II a.C. nas zonas meridionais,
facto que segundo os investigadores Carlos Fabião e Amílcar Guerra deverá estar directamente
relacionado com os tempos de progressão dos contingentes militares romanos.
Nomeadamente com a campanha de Décimo Júnio Bruto, que ao que tudo indica em 138 a.C.
já teria fortificado Lisboa e estabelecido ali a sua base militar de progressão para Norte (Fabião
e Guerra, 1996b, p. 123). Como já houve ensejo de comentar, esta proposta implica que a Sul,
o território já estivesse pacificado, ou seja, estariam reunidas as condições para a integração
nos circuitos do comércio Mediterrânico estabelecido pelo poder romano, ainda durante a
segunda metade do séc. II a.C., ou talvez mesmo meados (Viegas, 2010, p. 498 e Adroher
Auroux e López Marcos, 1996, p. 16).
A maioria dos conjuntos de cerâmica campaniense estudados em Portugal provém de
colecções de Museus, prospecções e dragagens sem contexto estratigráfico associado o que
lhes confere reais problemas de interpretação. Uma análise comparativa daqueles sítios que
fornecem leitura estratigráfica, como seja Castro Marim, Santarém ou Mesas do Castelinho, …
deve ser acautelada pelo tipo de ocupação a que se refere, já que podemos estar a misturar
contextos e cronologias (por exemplo: Lomba do Canho, contexto militar e Faro, contexto
urbano) que necessariamente devem ser vistos de perspectivas diferentes. A maioria dos
contextos de importação refere‐se a ocupações domésticas, exceptuando a necrópole do
Olival do Senhor dos Mártires, Alcácer do Sal, e de Torre de Ares, Balsa.
Ao que parece não existe dicotomia entre os sítios do litoral e interior no que respeita
à distribuição e inserção cronológica da cerâmica campaniense detectada nuns e noutros. A
título de exemplo, refira‐se a espécie F2820, com presença em Vaiamonte, na Pedra Furada,
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
96
Setúbal, e em Santiago do Cacém (Fabião e Guerra, 1996b, p. 121), que cremos coerente com a
ideia de que a acção concertada dos exércitos romanos facilitou e agilizou a inserção dos
contextos mais interiores nos circuitos comerciais do Mediterrâneo.
No actual estado dos conhecimentos, os conjuntos mais expressivos de cerâmica
campaniense resumem‐se no Algarve a Castro Marim, com 186 fragmentos classificáveis, dos
504 recolhidos (Viegas, 2009, p. 513) e a Faro, com 452 fragmentos, em que 121 são
classificáveis (Viegas, 2009, p. 136) e no Baixo Alentejo a Mértola, com 572, dos quais 123
possuem forma identificável. O sítio Mesas do Castelinho destaca‐se no panorama nacional
pelos seus 2532 fragmentos, dos quais 65818 permitiram uma atribuição tipológica.
Esta disparidade de presenças não pode servir, exclusivamente, de base a outras
interpretações pois, dever‐se‐á relacionar com a escolha e volume das áreas escavadas. Por
outro lado, não é, certamente, coincidência o facto dos maiores conjuntos de cerâmica
campaniense conhecidos serem os provenientes destes sítios recentemente abordados de
forma mais extensa ou exclusiva. Deste modo, cremos que a quantidade conhecida estará
estritamente relacionada com o índice de investigação e publicação. Até porque não faz
sentido que Mértola, por exemplo, um dos principais centros redistribuidores para as zonas
mais afastadas do curso do Guadiana tenha um volume de importações inferior àquele
detectado nos núcleos que deveria abastecer, como Mesas o Castelinho. Se bem que neste
caso a explicação para esta imagem desfasada do que é espectável ter‐se‐á que relacionar com
a ausência de escavação de estratos romanos republicanos.
Cronologicamente, os materiais revelam ocupações centradas entre meados do séc. II
e o I a.C. Em Faro nota‐se um predomínio, ainda que pouco expressivo, da Campaniense A, na
ordem dos 51% do total do conjunto. Destas presenças mais antigas destacamos a variedade
do conjunto formado por Lamb. 36, 33a, 55, 28, 27c e 31, F1300‐1400, 2154, 2230, 2600, 2820
e 2970, respectivamente (Viegas, 2009). Do território algarvio importa ainda referir o sítio do
Monte Molião e as intervenções das áreas anexas que indiciam importantes e coesos vestígios
do séc. II a.C., contemporâneos dos primeiros contactos com os romanos (Arruda et al, 2008 e
Sousa e Serra, 2006). Em Mértola, o conjunto é muito semelhante a Faro, e ao contrário do
que sucede neste local, tal como em Mesas do Castelinho as produções da B parecem,
segundo Luís Luís, não surgir em força para começar a decair nos princípios do séc. I a.C., o que
terá, certamente, que ver com a amostra estudada (Luís, 2003, p. 111). No caso do Castelo de
Castro Marim, a escassez da Campaniense napolitana (2%) reflecte o contexto cronológico em
que se insere, 50‐30 a.C., sendo as formas mais abundantes F2300 (Lamb. 1) e F2230‐80
18 Atendendo que o conjunto aqui analisado tem como limite as intervenções de 2008, este número e após duas outras
campanhas já se encontra desactualizado.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
97
(Lamb. 5/7) (Arruda, 1988 e Viegas, 2009). Alcácer do Sal e Miróbriga mostram um conjunto de
formas de feição arcaica, como F1300‐1400 (Lamb. 36), F2820 (Lamb. 27c), F2600 (Lamb. 28),
F2970 (Lamb. 31) e F3130 (Lamb. 48), de meados/segunda metade do séc. II a.C. O mesmo
sucede com o Forte de São Sebastião, Castro Marim, com inclusão no seu reportório de F2230
(Lamb. 55), a par de F2970 (Lamb. 31), com balizas entre os finais do séc. II e inícios do I a.C.,
segundo os autores atendendo “…ao considerável conjunto de Campaniense A, associada à
completa ausência de produções B‐óide…”, bem como pela “…inexistência de cerâmicas
produzidas exclusivamente no decorrer do século I a.C., como por exemplo as ânforas da área
do Guadalquivir, …” (Arruda e Pereira, 2008).
As restantes evidências da dispersão deste tipo de material itálico em cronologias que
testemunham os contactos com o mundo romano encontram‐se um pouco por todo o
território, com maior ou menor concentração, cremos, devido à lacuna provocada pela falta de
publicações monográficas dos sítios até hoje intervencionados.
O mapa de distribuição conhecido até ao momento permite falar de um comércio a
longa distância, que abarcava os grandes portos da bacia Mediterrânica e que, numa acção
concertada com a vontade política romana, estabelecia redes secundárias de distribuição para
as zonas mais afastadas dos centros de recepção destes produtos. Aqui, a navegabilidade dos
cursos dos rios Tejo, Sado e Mondego facilitariam a chegada dos produtos a Lisboa,
Santarém…, a Alcácer do Sal…, ou Conímbriga…, respectivamente e a título de exemplo.
A Sul do Tejo e contrapondo a via de abastecimento de cariz atlântico (Fabião e
Guerra, 1996b, p. 122‐123) a estreita relação de contactos comerciais e culturais com a bacia
do Mediterrâneo dá‐se pela navegabilidade do rio Guadiana, que se impôs como via
privilegiada entre o entreposto comercial de Mértola e o mundo Mediterrânico. Esta cidade,
localizada no limite da navegabilidade do rio, terá tido um papel fundamental na difusão
destes materiais, com recurso a vias complementares terrestres, abarcando todo o Baixo
Alentejo (Luís, 2003, p. 59). Apesar de se tratar de um sítio de interior, essa aparentemente
limitação, não impediu que o povoado Mesas do Castelinhose integrasse as grandes redes de
distribuição comercial (como provam os contactos frequentes com aquele entreposto, visíveis
tanto no espólio numismático ali identificado, como nas similitudes que o espólio cerâmico
recuperado em ambos apresenta), tendo recebido consideráveis volumes de importações
itálicas. A sua localização, na antiga zona de passagem entre o Algarve e o Baixo Alentejo,
atenua essa interioridade e coloca em evidência outra possibilidade de comunicação com o
litoral mediterrânico.
Não existem registos literários que resolvam esta questão, pelo que a determinação
das vias escolhidas para a difusão deste comércio terá que se vislumbrar pela dispersão dos
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
98
produtos que o caracterizavam. Esta hipótese encerra em si graves problemas, na medida que
se encontra condicionada pela evolução e grau de precisão das investigações. De qualquer
modo é inegável a, já mencionada, presença de cerâmica campaniense nos sítios que outrora
recebiam os produtos áticos, o que faz suspeitar da perenidade dos caminhos e das rotas
utilizadas por ambos os comércios.
O transporte de produtos alimentares acondicionados em contentores anfóricos é,
efectivamente, o principal produto de carregamento dos navios provenientes da Campânia ou
Etrúria, sendo que a cerâmica de mesa, neste caso particular a campaniense, seria carga
subsidiária e nos primeiros momentos mesmo serviço de uso da tripulação.
Apesar das dificuldades existentes, aquando da sua inserção cronológica, os
naufrágios assumem especial importância na documentação dos tipos de comércio e
respectiva associação de produtos exportados. Dos carregamentos com cronologias mais
antigas, ainda que envolto em polémica mas, certamente, centrado na segunda metade do
séc. II a.C. (140/130), o naufrágio de L’Estartit, na Ilha Pedrosa, na costa catalã (Morel, 1981, p.
63) destaca‐se pela associação de ânforas Dr.1 e greco‐itálicas tardias. Em Mesas do Castelinho
a percentagem de greco‐itálicas é visivelmente reduzida e os contentores Dr.1, de origem
maioritariamente itálica, bastante frequentes e predominantes no conjunto, com 68NMI
(Parreira, 2009, p. 81). Portanto, pode‐se tentar visualizar aqui, como já se fez para outros
sítios, uma relação directa entre a importação dos produtos vinários e a Campaniense A. Em
relação às greco‐itálicas as presenças são muito diminutas e como tal impedem maiores
considerações, o que, também, poderá traduzir o “… desinteresse de Roma por estes
territórios durante a primeira fase da conquista … e evidencia de uma forma clara a
inexistência de uma tradição comercial com o mundo itálico anterior à chegada dos primeiros
contingentes militares ao ocidente peninsular.” (Pimenta, 2005, p. 120). Importa referir que, à
semelhança da análise efectuada por C. Viegas para os conjuntos de Faro e de Castro Marim,
também em Mesas do Castelinho se verifica que os conjuntos anfóricos, que eram carga
principal dos navios, Dr.1 principalmente, acompanhados pela Campaniense A, não se
encontram, ainda assim, representados no sítio na quantidade que seria expectável face ao
índice de presença daquele serviço de mesa. De qualquer forma, convém realçar, que ao
contrário daqueles sítios algarvios, Mesas do Castelinho é um povoado de interior, pelo que
existem outras estratégias para ali fazer chegar os alimentos. Seria mais fácil o transporte de
cerâmicas finas que o de ânforas carregadas, que mais facilmente se quebrariam no caminho,
pelo que os produtos que estas transportariam poderiam chegar ao povoado noutro tipo de
recipientes, daí a sua reduzida representatividade face à cerâmica de mesa.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
99
Para os conjuntos mais tardios, e segundo C. Fabião, um dos naufrágios mais
relevantes será talvez o La Madrague De Giens, Var, datado de meados do séc. I a.C., cuja
carga, muito semelhante aos contextos identificados no Castelo de Castro Marim (Fabião,
1998, p. 333), era composta por ânforas Haltern 70, Lamb. 2, Dr.1B e cerâmica Campaniense B
de Cales (tardia), representada pelas formas Lamb. 1, 2, 3, 4, 5/7, 5, 7, 8b, 10, bem como
decorações sob a forma de losango (Ribera i Lacomba, 2001, p. 298).
Em Mesas do Castelinho a campaniense surge de forma modesta (pelo menos nos
primeiros estratos, ainda de séc. II a.C., associados aos primeiros contactos com o mundo
romano) para rapidamente, a partir de finais desse século, passar a ser um tipo cerâmico com
elevado índice de representação. Esta tendência de integração progressiva e mais intensa nos
fluxos comerciais deste período não é exclusiva da cerâmica fina e estende‐se às restantes
importações itálicas (Arruda e Almeida, 1999), nomeadamente às anfóricas, como ocorre em
Mesas do Castelinho (Parreira, 2009, p. 95).
De acordo com a afirmação de J. P. Morel na Table Ronde ténue à Conimbriga, parece‐
nos que boa parte dos exemplares conhecidos terá que se relacionar com os ritmos de
importação do séc. II a.C., na sua facies clássica, dado a boa qualidade dos fragmentos e
registos formais.
Como já referimos, o sítio Mesas do Castelinho não poderá ser entendido como um
sítio marginal às dinâmicas e fluxos comerciais que dominavam o território mas, pelo
contrário, parte integrante destes. Não é coincidência que o volume e características do
conjunto aqui analisado tenham reais paralelos com sítios como Faro e Mértola, inclusive nas
evidências monetárias ali recolhidas, em contexto de abandono acidental (Fabião, 1998, p.
457) que provam os contactos comerciais entre estas geografias, inserindo‐o na esfera do
comércio da bacia do Mediterrâneo.
Resta mencionar a possível inserção no circuito “local/regional” de comércio das
cerâmicas Campanienses de pastas cinzentas, provavelmente, do vale do Guadalquivir. A
representatividade deste material em Mesas do Castelinho é, efectivamente, baixa, mas não
podemos deixar de assinalar os possíveis contactos com aquela região, também atestados
pelos contentores anfóricos. A afirmação desta região remonta à primeira metade do séc. I
a.C. e as reproduções de modelos Dr.1 estão bem representados neste sítio (Parreira, 2009, p.
56), demonstrando a importância do papel dos produtos alimentares peninsulares no
povoado.
Na sua fase final de importação não se observa uma diminuição do volume consumido
até ao seu desaparecimento total, pelo contrário, as produções de B calena parecem manter‐
se nas mesmas proporções ao longo de todo o séc. I a.C., para por volta do final do 3º quartel
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
100
desse século, e acompanhando o final da ocupação romano republicana, deixar de se utilizar,
quase de forma brusca, como reflexo da mutação de influências e hábitos do novo quadro
económico‐político romano.
O fim da importação da campaniense é um assunto ainda envolto em muita discussão
pelo que se deverá tentar perceber em cada sítio e distinguir o fim da produção, da
amortização de determinadas formas e tipos cerâmicos. Não é certamente uma transição
homogénea, nem será seguramente linear, dependendo das condições económicas, redes de
intercâmbio comercial, hábitos e gostos de cada povoado ou região.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
101
7 Considerações finais
O Mediterrâneo ocidental é abastecido por cerâmica de verniz negro desde o séc. V
a.C., com a importação dos produtos cerâmicos áticos, até à aquisição em massa de cerâmica
campaniense do séc. I a.C. Desde os inícios do séc. II a.C. que a produção de campaniense
napolitana está bem integrada nos circuitos comerciais, assumindo o abastecimento dos
mercados abandonados pela produção de cerâmica de verniz negro ático. Apesar de parte do
reportório se basear nos produtos da Magna Grécia as formas e as produções vão evoluindo
entre os sécs. IV e I a.C., passando de uma Campaniense napolitana muito arcaizante para uma
produção do Norte da Campânia renovadora, onde se assiste à simplificação de formas (com
desaparecimento das mais complexas destinadas à ingestão de bebidas e preferência pelas
mais abertas, predominando as páteras F2230‐80).
Parece‐nos incontornável a afirmação de que Mesas do Castelinho é um povoado pré‐
romano de fulcral importância na tentativa de descodificar os mecanismos da transição, mais
do que constatar os efeitos, que resultaram dos primeiros contactos com o mundo romano
durante o séc. II a.C. A convivência de elementos de tradição indígena com as primeiras
importações contemporâneas da influência romana revelam a identidade do povoado pré‐
romano, que se vai adaptando ao novo contexto político e económico da região imposto pelo
mundo romano. As evidências da cultura material e a evolução arquitectónica demonstram
que este aglomerado concretizou a transição em seu benefício, integrando os principais fluxos
comerciais da época.
A cerâmica campaniense é tida como um excelente fóssil director que testemunha
esses primeiros contactos do sítio e no caso, expressa, simultaneamente, a prosperidade
económica que o povoado conhece neste período. Esta pujança económica, acompanhada
pela expansão da área ocupada, é particularmente interessante se confrontada com as
dificuldades, relacionadas com os diversos contextos beligerantes conhecidos durante o séc. I
a.C., que se faziam sentir por toda a Península Ibérica.
O mesmo cenário se pode vislumbrar à luz dos dados que o estudo do material
anfórico permitiu conhecer (Parreira, 2009).
O sítio Mesas do Castelinho conta com um volume e variabilidade de importações de
cerâmica de verniz negro de produção itálica, integrável nos sécs. II e I a.C., revelador da
participação do sítio nos grandes fluxos comerciais republicanos, acompanhando as tendências
comerciais Mediterrânicas. É, então, exemplo da tradicional existência de redes de ligação
comercial que vincularam o interior alentejano à bacia do Mediterrâneo.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
102
A existência, suscitada pela análise do Itinerário de Antonino, datado provavelmente
de inícios do séc. III d.C., de uma via que partia de Faro para Norte, atravessando a serra
algarvia em direcção a Almodôvar é pacífica entre os investigadores. Assim, a localização
geográfica do povoado, próxima do limite da navegabilidade do rio Guadiana e das vias
terrestres que estabeleciam ligação entre o Baixo Alentejo e o Algarve, entre a peneplanície
alentejana e a serra do Caldeirão, favoreceu a sua ocupação humana, bem como a integração
nos ritmos comerciais e económicos do período romano republicano.
É bastante complexo definir intervalos cronológicos finos no que respeita aos
momentos de construção/utilização e abandono do povoado republicano, na medida em que
se vislumbra uma homogeneidade material presente nestes contextos incompatível com esse
propósito.
Os contactos com o mundo romano estão bem patentes na presença de materiais
datáveis da primeira metade do séc. II a.C., contudo, não é credível que a ocupação
republicana seja anterior a meados desse século, altura em que se terá dado início ao
rearranjo urbanístico do povoado. A presença destes materiais mais antigos poderá estar
articulada com a acção do porto de Cádiz, controlado no final do séc. III a.C., por Roma, que
mantém a sua acção organizadora e distribuidora do comércio no Sul da fachada atlântica da
Ulterior, paralelamente à progressão e movimentação dos contingentes militares romanos por
toda a bacia mediterrânica e durante o processo de conquista do Sul da península.
A realidade verificada em Mesas do Castelinho reporta‐se ao maior conjunto estudado
em território português, ainda que, e mais uma vez, alertemos para o facto de os 2532
fragmentos de cerâmica campaniense ali recolhidos não significarem um maior índice de
importação relativamente a outros sítios, mas sim poder estar relacionado com as amostras
estudadas ou com as escolhas das áreas intervencionadas.
Durante a segunda metade do séc. II a.C. a Campaniense A sofre importantes
transformações, visíveis no reportório e patentes no registo arqueológico deste povoado.
Raras são as decorações, já quase inexistentes neste período, a qualidade dos produtos decai e
acaba por ser suplantada pela massificação das produções calenas. Estas invadem os mercados
peninsulares de forma, cremos, bastante repentina. Não nos parece que a importação de
Campaniense A cesse assim que a produção calena passe a fazer parte dos serviços de mesa
peninsulares, mas paulatinamente vai‐se tornando mais difícil a aquisição desta. Apesar de se
tentar equiparar à célere e massiva produção da B do Norte da Campânia, esta ganha terreno,
até porque é suportada por transformações políticas, como seja a abertura do porto de Delos
e a criação da província romana da Ásia, em 129 a.C., com repercussões económicas,
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
103
impossíveis de ignorar, que contribuíram, decisivamente, para o impacto que teve por todo o
mundo romano (Pedroni, 2000, p. 348).
Ao contrário do que sucede em locais como Valentia (Marín Jordá, et al., p. 93) com
índices de presença de Campaniense A e produções da B muito díspares e a que foi possível
atribuir cronologias, em Mesas do Castelinho não foi possível determinar o momento de
mutação dos mercados de importação da cerâmica Campaniense A pela B, pelo menos não
nesta perspectiva de substituição. Trata‐se de um local com importação indirecta, ao contrário
de Valentia, e como tal a observação desses fenómenos torna‐se mais complexa. O panorama
aqui detectado parece resultar da tardia amortização do reportório napolitano, que em
momento algum pode ser considerado como residual, apesar do povoado, obviamente, não
ser alheio às alterações no sistema produtivo itálico e respectiva difusão para o ocidente.
Assim, não se podendo identificar uma substituição efectiva de A por B, porque de
facto ela não ocorreu nesse sentido, pode‐se constatar um momento, algures centrado nos
princípios do séc. I a.C., em que a B calena integra os mercados e, consequentemente, a
realidade artefactual de Mesas do Castelinho, sendo naturalmente, e em termos percentuais,
ligeiramente superior já em momentos avançados do séc. I a.C.
Das restantes importações de campaniense destacamos a escassa representatividade
de cerâmica de verniz negro aretino, centrada em momentos avançados do séc. I a.C., como
seria de esperar, e que demonstra a fraca difusão que teve nos contextos mais a ocidente do
Mediterrâneo. Inédito no actual território português é, sem dúvida, a identificação, já referida
em relatório de escavação (Fabião et al., 2001), da marca de oleiro Q.AF, correspondente à
produção da oficina aretina de Quintvs Afranivs, que terá produzido entre o ano 40 e 20 a.C.
Desconhece‐se qualquer outra evidência deste género nesta área geográfica, sendo que no
mesmo sítio, proveniente da campanha de 2010, foi possível recuperar um outro fragmento
com marca característica desta produção, referimo‐nos à impressão dos 2 C’s contrapostos19.
O conjunto com esta proveniência relaciona‐se com formas típicas do último século antes da
viragem da Era, ou seja, F2230‐80, especialmente F2270 e F2280, com grandes páteras, de
bordos muito altos característicos desta produção.
Um aspecto que nos parece relevante e susceptível de ser considerado no futuro
deriva da possibilidade de terem existido reproduções da cerâmica calena de oficinas
localizadas na Península Ibérica. Em fases em que os exércitos se movimentavam pela
península não é de todo estranho a migração e fixação de oleiros nestas paragens, o que está,
aliás, bem documentado para a produção de terra sigillata de tipo itálico, em finais do séc. I
19 Informação oral gentilmente cedida pelo Prof. Doutor Carlos Fabião.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
104
a.C. junto dos acampamentos de Herrera de Pisuerga e Lyon (Morillo e García‐Marcos, 2001),
ainda que estes estejam directamente relacionados com oficinas militares. De qualquer forma,
a hipótese que avançamos só poderá ser testada pela concretização de análises químicas às
pastas das produções da B, recolhidas nos centros receptores da Península Ibérica.
A amostra de Campaniense “local/regional” em pastas cinzentas e laranjas com verniz
negro, imitando o reportório das produções da B e da napolitana, é muito reduzida e a
determinação das áreas de proveniência continua por apurar. De qualquer modo, e
aparentemente, a área do vale do Guadalquivir terá tido um conjunto de oficinas produtoras
de uma variante da cerâmica Campaniense “local/regional” de pastas cinzentas (Ventura
Martínez, 2000), semelhantes com as identificadas em Mesas do Castelinho.
Apesar do estudo da cerâmica campaniense permitir avanços no campo da percepção
dos fluxos e relações comerciais em período romano republicano, é imperativo que estes
dados sejam confrontados com os passíveis de se extrair dos restantes elementos que
caracterizam estes contextos, corroborando ou refutando as informações prévias. O
conhecimento de uma ocupação, seja ela qual for, não pode ser limitado, nem se esgota, ao
que um tipo cerâmico pode “dizer” sobre si. Neste sentido é imperativo que se procedam a
estudos integrados que contemplem toda a informação estratigráfica e material, de modo a
obtermos uma mais completa imagem das dinâmicas locais.
A falta de investigação e publicação de dados contribui, obviamente, para uma
imagem trémula e precária do conhecimento que actualmente temos acerca da distribuição,
caracterização e implicações económicas e sociais da cerâmica campaniense. Perante este
cenário, crê‐se que, este pequeno contributo, que não pretende esgotar em si todo o espectro
de debate sobre a questão da presença desta produção em Mesas do Castelinho, poderá
ajudar a esbater esse vazio.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
105
8 BIBLIOGRAFIA
AQUILUÉ ABADÍAS, X., GARCÍA ROSELLÓ, J. e GUITART DURAN, J. (coords.) (2000) ‐ La ceràmica
de vernís negre dels segles II i I a.C.: Centres productors mediterranis I comercialització a la
Península Ibèrica. Taula rodona, (Empúries 1998). Mataró: Museu de Mataró / Museu de Catalunya (Empúries) / Universitat Autónoma de Barcelona, 412 p.
ADROHER AUROUX, A. M. e LÓPEZ MARCOS, A. (1995) ‐ Las cerámicas de barniz negro. I. Cerámicas áticas y protocampanienses. Florentia Iliberitana. Granada. 6, p. 11‐53.
(1996) ‐ Las cerámicas de barniz negro. II. Cerámicas campanienses. Florentia Iliberitana. Granada. 7, p. 11‐37.
ADROHER AUROUX, A. M. e LOPÉZ MARCOS, A. (2000) – Contextos de barniz negro en la Alta Andalucia entre los siglos II y I a.C. In AQUILUÉ ABADÍAS, X., GARCÍA ROSELLÓ, J. e GUITART DURAN, J. (coords.) (2000) ‐ La ceràmica de vernís negre dels segles II i I a.C.: Centres
productors mediterranis I comercialització a la Península Ibèrica. Taula rodona, (Empúries 1998). Mataró: Museu de Mataró / Museu de Catalunya (Empúries) / Universitat Autónoma de Barcelona. p. 149‐176.
ALARCÃO, J. de (1983) – Portugal Romano. Lisboa: Verbo. 3ª edição.
(1988) – O domínio Romano em Portugal. Mem Martins: Publicações Europa‐América, 4ª edição, 199 p.
ALMEIDA, J. A. (1953) ‐ Introdução ao estudo das lucernas romanas em Portugal. In O Arqueólogo Português. Lisboa. S.2., p. 5‐208.
AMO DE LA HERA, M. (1970) ‐ La ceramica campaniense de importacion y las imitaciones campanienses en Ibiza. Trabajos de Prehistoria. Madrid. 27, p. 201‐245.
ANDRÉS BOSCH, J. (1998) ‐ Grafitos Ibéricos sobre cerámicas campanienses procedentes de la Serrada del Mas de Martí del Moll (Morella, els Ports). Cuadernos de Pré‐historia y Arqueologia Castalhonense. 19, p. 441‐443.
ARCELIN, P. (1978) – Note sur les céramiques a vernis noir tardives en Provence Occidentale. In Morel (coord.) Journées d’étude de Montpellier sur la céramique campanienne. Archeologie en
Languedoc. Montpellier: Fédération Archéologique del’heraul, p. 105‐125.
(1998) – Quantifier les céramiques d’un site. Choix préalables et traitements de l’information archéologique. In ARCELIN, P. et TUFFREAU‐LIBRE, M. (dir) – Actes de la table ronde du Centre archéologique européen du Mont Beavray: La quantification des céramiques. Conditions et protocole. Glux‐en‐Glenne: Centre archéologique européen du Monte Beuvray. Bibracte. 2, p. 37‐46.
(2000) – Les importations de vaisselle italique à vernis noir ao Ier siècle avant J. –C. sur la façade Méditerranéenne de la Gaule. Noveaux regards économiques et culturels. In AQUILUÉ ABADÍAS, X., GARCÍA ROSELLÓ, J. e GUITART DURAN, J. (coords.) (2000) ‐ La ceràmica de vernís
negre dels segles II i I a.C.: Centres productors mediterranis I comercialització a la Península
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
106
Ibèrica. Taula rodona, (Empúries 1998). Mataró: Museu de Mataró / Museu de Catalunya (Empúries) / Universitat Autónoma de Barcelona. p. 293‐332.
ARCELIN, P. et TUFFREAU‐LIBRE, M. (dir) (1988) ‐ La quantification des céramiques. Conditions et protocole. Actes de la table ronde du Centre archéologique européen du Mont Beavray: La
quantification des céramiques. Conditions et protocole. Glux‐en‐Glenne: Centre archéologique européen du Monte Beuvray. Bibracte. 2, p. 141‐157
ARNAUD J.M e GAMITO T.J. (1974‐77) – Cerâmica estampilhada da Idade do Ferro do Sul de Portugal: I – Cabeça de Vaiamonte – Monforte. O Arqueólogo Português. Lisboa. 3ª série, 7‐9, p. 165‐202.
ARNAUD, J. M. (1970) ‐ O Castelo Velho de Veiros (Estremoz): campanha preliminar de escavações de 1969. Actas das I Jornadas Arqueológicas, II. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses, p. 309‐328.
ARRUDA, A.M. (1988) ‐ Nota sobre a ocupação romana ‐ republicana do Castelo de Castro Marim. In Actas do 5º Congresso do Algarve. Vol. 1. Silves: Racal Clube, p. 13‐17.
(1997) ‐ As cerâmicas áticas do castelo de Castro Marim. Lisboa: Colibri.
(2004a) – O expansionismo de Cartago e o território actualmente português, In Medina, J. (ed.) História de Portugal. Amadora: Ediclube, vol. 2, p. 323‐339.
(2004b) – Os primeiros contactos: a conquista, In Medina, J. (ed.) História de Portugal. Amadora: Ediclube, vol. 2, p. 345‐370.
(2004c) – O Mundo Luso‐Romano: a estrutura político‐administrativa, In Medina, J. (ed.) História de Portugal. Amadora: Ediclube, vol. 2, p. 421‐431.
ARRUDA, A. M. E ALMEIDA (1999) ‐ Importações de vinho itálico para o território português: contextos, cronologias e significado. In Actas da IIIe Table ronde sur la Lusitanie romaine, (Madrid, 1 e 2 de Dezembro 1997). Madrid: Casa de Velazquez, p. 307‐337.
ARRUDA, A. M. e GONÇALVES, L. J. (1993) ‐ Sobre a romanização do Algarve, Actas do II Congresso Peninsular de História Antiga. Coimbra, 18 a 20 de Outubro de 1990. Coimbra: Instituto de Estudos Clássicos e Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras de Coimbra, p. 455‐466.
ARRUDA, A. M. e PEREIRA, C. (2008) ‐ As ocupações antigas e modernas no Forte de S. Sebastião, Castro Marim. In Actas do 5º Encontro de Arqueologia do Algarve, (Silves, Outubro de 2007). Xelb 8, Vol. I, Comunicações e conferências. Silves: Câmara Municipal de Silves, p. 365‐395.
ARRUDA, A. M., SOUSA, E., BARGÃO, P. e LOURENÇO, P. (2008) ‐ Monte Molião (Lagos): resultados de um projecto em curso. In Actas do 5º Encontro de Arqueologia do Algarve, (Silves, Outubro de 2007). Xelb 8, Vol. I, Comunicações e conferências. Silves: Câmara Municipal de Silves, p. 137‐168.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
107
ARTHUR, M. L. C. (1983) – Meróbriga, Santiago do Cacém (Portugal). Caesaraugusta. Nº57‐58, p. 51‐109.
BARBERÁ FARRAS, J. (1958) ‐ La necrópolis ibérica de Cabrera de Mar (Colección Rubio de la Serna). Ampurias. Barcelona. 30, p. 97‐150.
(1959) ‐ Hallazgo submarino de un pecio con cargamento de ceramica campaniense, Varia. Zephyrvs. Salamanca. X, p. 173‐175
(1964‐65) ‐ La cerámica barnizada de negro del poblado ilergeta del Tossal de les Tenalles, de Sidamunt (Lérida). Ampúrias. Barcelona. 26‐27, p. 135‐163.
(1969‐70) ‐ La necrópolis Ibérica de Cabrera de Mar. Ampurias. Barcelona. 31‐32, p. 169‐189.
BARGÃO, P. (2006) ‐ As importações anfóricas do Mediterrâneo durante a época Romana
republicana na Alcáçova de Santarém. Dissertação apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa para obtenção do garu de Mestre. (Policopiado).
BEAU, B. (1994) – A brief archaeo‐metallurgical survey at Mesas do Castelinho, Almodôvar, Portugal, in July 1992. Actas das V Jornadas Arqueológicas da Associação dos Arqueólogos. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses. Vol.2, p. 291‐294.
BELTRÁN LLORIS, M. (1976), La cerámica del acampamento de Cáceres El Viejo (Cáceres). V Congreso de Estudios Extremeños. (Ponencias VII y VIII). Badajoz. p. 1‐23.
Bernal Casasola D. e Ribera i Lacomba A. (eds.) (2008) ‐ Cerámicas hispanorromanas. Un
estado de la cuestión. XXVI Congreso Internacional de la Asociación Rei Cretariae Romanae Fautores. Cádiz: Universidad de Cádiz /Fundación Pouroulis, 808 p.
BERROCAL‐RANGEL, L. (1992) ‐ Los pueblos célticos del Suroeste de la Península Ibérica. Complutum Extra 2, Madrid.
BLÁZQUEZ, J.M. et alli (1988) – História de España Antiga. Hispânia Romana. Madrid: Cátedra, tomo II, p. 95
CASTANYER, P.; SANMARTÍ, J. e TREMOLEDA, J. (1993) – Céramique punique à vernis noir. In PY, M. (dir,) ‐ Lattara 6. Dicocer – Dictionnaire des céramiques antiques (VIIe s. áv.n. è – VIIe s.
de n.è.) en Mediterranée nord‐occidentale (Provence, Languedoc, Ampurdan). Lattes, p. 539‐541.
CHICARRO, C.F. (1953) ‐ La colección de vasos griegos, italogriegos y cerámica campaniense del Museo Arqueológico de Sevilha. Zephyrus. Salamanca. IV, p. 193‐207.
CUADRADO, E. (1978) ‐ Ceramica campaniense de el Cigarralejo. Boletin de la Asociacion Española de Amigos de la Arqueologia. Madrid. 9, p. 23‐32.
CURA i MORENA M. (1985) ‐ Les ceràmiques de verníz negre de Can Solsona i l’estratigrafia comparada dels jaciments pre‐romans del Solsonès. Faventia. Barcelona. 7:2, p. 105‐113.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
108
DELGADO, M. (1971) ‐ Cerâmica campaniense em Portugal. Actas do II Congresso Nacional de Arqueologia. Coimbra. Vol. II, p. 403‐ 424.
(1976a) ‐ Céramiques campaniennes et de type campanien. In AA.VV ‐ A propos des céramiques de Conímbriga Table ronde tenue à Conimbriga les 25‐26‐27, Mars 1975. Publ. du Centre Pierre Paris. Paris: Ed. De Boccard, p. 88‐92.
(1976b) – Céramiques campaniennes et de type campanien. In ALARCÃO J. (ed.) e ETIENNE, R. (dir) Fouilles de Conimbriga VI, Céramiques diverses et verres. Paris: Diffusion E. de Boccard. vol. VI, p. 21‐26.
DIOGO, A. M. D. (1984) ‐ O material romano da 1ª campanha de escavações na Alcáçova de Santarém (1979). Conimbriga. Coimbra: Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra. 23, p. 111‐141.
DIOGO, A. M. D. e TRINDADE. L. (1993‐1994) ‐ Materiais provenientes dos Chões de Alpompé (Santarém). Conimbriga. Coimbra: Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra. 32‐33, p. 263‐281.
FABIÃO, C. (1996) ‐ O povoado fortificado da Cabeça de Vaiamonte (Monforte). A Cidade. Lisboa. Nova série. 11, p. 35‐84.
(1997) – O passado proto‐histórico e romano. In MATTOSO, J., ed. lit. ‐ História de Portugal. Lisboa: Editorial Estampa. Vol. I, p. 79‐271.
(1998) ‐ O mundo indígena e a sua romanização na área céltica do território hoje português. Lisboa: Faculdade de Letras de Lisboa. 3 volumes, 418, 553, 337 p. Dissertação de doutoramento. [policopiado].
(1999) – A propósito do depósito de Moldes, Castelo de Neiva, Viana do Castelo: a baixela romana tardo‐republicana em bronze no extremo ocidente peninsular. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia. 2:1, p. 163‐198.
(2004a) – Os contextos da conquista romana. In Medina, J. (ed.) História de Portugal. Amadora: Ediclube, vol. 2, p. 381‐400.
(2004b) – Arqueología militar romana da Lusitania: textos e evidências materiais. In PÉREZ GONZÉLEZ, C. e ILLARREGUI GOMEZ, E. (coords.) Actas de arqueología militar romana en Europa. Castilla y Léon: Universidad Internacional SEK. p. 53‐74.
FABIÃO, C. e GUERRA, A. (1988) – Trabalhos no povoado fortificado de “Mesas do Castelinho”,
Almodôvar ‐ 1988. Lisboa. [Policopiado].
(1991a) – Mesas do Castelinho, Almodôvar. A campanha 2 ‐ 1990. Lisboa. [Policopiado].
(1991b) ‐ O povoado fortificado de “Mesas do Castelinho”, Almôdovar. Actas das IV Jornadas Arqueológicas. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses, p. 305‐319.
[1992] – Mesas do Castelinho, Almodôvar. A campanha 3 ‐ 1991. Lisboa. [Policopiado].
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
109
(1993) – Uma fortificação Omíada em Mesas do Castelinho (Almodôvar). Arqueologia Medieval. Porto: Afrontamento. 2, p. 85‐102.
(1994) – As ocupações antigas de Mesas do Castelinho, resultados preliminares das campanhas de 1990‐92. Actas das V Jornadas Arqueológicas da Associação dos Arqueólogos. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses. Vol. II, p. 275‐289.
[1995] – Mesas do Castelinho, Almodôvar. Campanha 6 ‐ 1994. Lisboa. [Policopiado].
[1996a] – Mesas do Castelinho, Almodôvar. Campanha 7 ‐ 1995. Lisboa. [Policopiado].
(1996b) – A cerâmica campaniense do acampamento da Lomba do Canho (Arganil). Ophiussa. Lisboa: Edições Colibri/Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras de Lisboa. N. 0, p. 109‐131.
(2001) – Mesas do Castelinho, Almodôvar: uma fortificação rural islâmica do Baixo Alentejo. In FERNANDES, I. C. (coord.) – Mil anos de fortificações na Península Ibérica e no Magreb (500‐
1500): Actas do Simpósio Internacional sobre Castelos. Lisboa: Edições Colibri/Câmara Municipal de Palmela, p. 171‐176.
(2008) – Mesas do Castelinho (Almodôvar): um projecto com vinte anos. Al‐madan. Almada: Centro de Arqueologia de Almada. S2, 16, p. 92‐105.
(2009) – Mesas do Castelinho, Almodôvar. Relatório de Campanha 19 ‐ 2008. Lisboa. [Policopiado].
FABIÃO, C., GUERRA, A., ALMEIDA, R. e RAMOS, C. [2006] – Mesas do Castelinho, Almodôvar.
Relatório de Campanha 16 ‐ 2005. Lisboa. [Policopiado].
FABIÃO, C., GUERRA, A., LAÇO, T. e ALMEIDA, R. [2004] – Mesas do Castelinho, Almodôvar.
Relatório de Campanha 15 ‐ 2003. Lisboa. [Policopiado].
FABIÃO, C., GUERRA, A., LAÇO, T., RAMOS, A. [2001] – Mesas do Castelinho, Almodôvar.
Relatório de Campanha 12 ‐ 2000. Lisboa. [Policopiado].
FABIÃO, C., GUERRA, A., LAÇO, T., RAMOS, A. [2003] – Mesas do Castelinho, Almodôvar.
Relatório de Campanha 14 ‐ 2002. Lisboa. [Policopiado].
FABIÃO, C., GUERRA, A., LAÇO, T., RAMOS, A. e MELRO, S. [2000] – Mesas do Castelinho,
Almodôvar. Relatório de Campanha 11 ‐ 1999. Lisboa. [Policopiado].
FABIÃO, C., GUERRA, A., RAMOS, A., MELRO, S. e LAÇO, T. [1998] – Mesas do Castelinho
(Almodôvar). Campanha 9 (1997). Lisboa. [Policopiado].
FABIÃO, C., GUERRA, A., ROCHA, A. e ESTRELA, S. (2006) – Mesas do Castelinho, Almodôvar.
Relatório de Campanha 17 ‐ 2005. Lisboa. [Policopiado].
FABIÃO, C., GUERRA, A., ROCHA, A. e ESTRELA, S. (2007) – Mesas do Castelinho, Almodôvar.
Relatório de Campanha 18 ‐ 2006. Lisboa. [Policopiado].
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
110
FABIÃO, C., GUERRA, A., ROCHA, A. e ESTRELA, S. (2008) – Mesas do Castelinho, Almodôvar.
Relatório de Campanha 19 ‐ 2007. Lisboa. [Policopiado].
FARRAS, J. B. (1975) ‐ Grafitos ibéricos sobre cerámica campaniense en el Poblado Ibérico del Castellar (Albocácer). Cuadernos de Prehistorià y Arqueologia Castellonense. Castelló. Vol. 2, p. 165‐167.
FERREIRA, C. J. A. (1992) ‐ Escavações no povoado fortificado das Mesas do Castelinho (Almodôvar), Relatório Preliminar. Vipasca. Aljustrel: Unidade de Arqueologia de Aljustrel. 1, p. 19‐37.
FERREIRA, O. da V. (1971) ‐ Cerâmica negra de tipo grego encontrada em Portugal. Arqueologia e História. Lisboa. S. 9, vol. 3, p. 313‐332.
GONZÁLEZ LÓPEZ, M. A. (2005) La vajilla de barniz negro. Campaniese C. In ROCA ROUMENS, M.; FERNÁNDEZ GARCÍA, I. (coords) – Introduccíon al estúdio de la cerâmica romana. Una
breve guia de referencia. Málaga: Universidad de Málaga, Serviço de Publicaciones, p. 63‐80.
GUERRA, A. (1994) – Os textos. In Medina, J. (ed.) História de Portugal. Amadora: Ediclube, vol. 2, p. 371‐381.
(2004) ‐ Caepiana, uma reavaliação crítica do problema da sua localização e enquadramento histórico. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia. 7:2, p. 217‐235.
GUERRA, A. e FABIÃO, C. (1990) – Trabalhos no povoado fortificado de “Mesas do Castelinho”,
Almodôvar ‐ 1989. Lisboa. [Policopiado].
[1993] – Mesas do Castelinho, Almodôvar. Campanha 4 ‐ 1992. Lisboa. [Policopiado].
(1994) – Mesas do Castelinho, Almodôvar. Campanha 5 ‐ 1993. Lisboa. [Policopiado].
GUERRA, A., FABIÃO, C., RAMOS, A., PIRES, I. e BRITO, M. [1999] – Mesas do Castelinho,
Almodôvar. Campanha 10 ‐ 1998. Lisboa. [Policopiado].
GUERRA, A., FABIÃO, C., RAMOS, A., PIRES, I., PINTO, M., MELRO, S. e LAÇO, T. (1997) – Mesas
do Castelinho, Almodôvar. Relatório da 8ª Campanha de Escavações Arqueológicas (1996). Lisboa. [Policopiado].
GUERRA, A., FABIÃO, C., RAMOS, A., SAMUEL, M., LAÇO, T. e NOBRE, M. [2002] – Mesas do
Castelinho, Almodôvar. Relatório de Campanha 13 ‐ 2001. Lisboa. [Policopiado].
HARRIS, E. C. (1991) ‐ Principios de Estratigrafia Arqueológica. Barcelona: Editorial Critica.
JIMÉNEZ i FERNÁNDEZ M. C. (1992) ‐ Baetulo, La ceràmica de vernis negre: Una contribuició a
l’estudi de la romanització a la Laietània. Badalona: Monografies Badalonnes, Museo de Badalona. 17.
VENTURA MARTÍNEZ, J.J. (2000) – La cerâmica de barniz negro de los siglos II‐I a.C. en Andalucía occidental. In AQUILUÉ ABADÍAS, X., GARCÍA ROSELLÓ, J. e GUITART DURAN, J.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
111
(coords.) (2000) ‐ La ceràmica de vernís negre dels segles II i I a.C.: Centres productors
mediterranis I comercialització a la Península Ibèrica. Taula rodona, (Empúries 1998). Mataró: Museu de Mataró / Museu de Catalunya (Empúries) / Universitat Autónoma de Barcelona. p. 177‐215.
LAMBOGLIA, N. (1952) ‐ Per una classificazione preliminare della ceramica campana. In Atti del 1º Congresso Internazionale di Studi Liguri. Bordighera: Istituto Internazionale di Studi Liguri, p. 139‐206 .
LAMBOGLIA, N. (1960) ‐ Polemiche campana. Rivista di Studi Liguri. Bordighera 25:1‐4, p. 292‐304.
LUÍS, L. (2003) – As cerâmicas campanienses de Mértola. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia; 27), 149 p.
(2010) – Cerâmica campaniense. In ALARCÃO, de A., CARVALHO P.C., GONÇALVES A. (coord.) ‐ Castelo da Lousa‐Intervenções Arqueológicas de 1997 a 2002. Stvdia Lusitana. Mérida, p. 101‐138.
MAIA, M. (1987) – Romanização do território hoje português a sul do Tejo.Lisboa: Faculdade de Letras de Lisboa, 3 volumes. Dissertação de doutoramento. [Policopiado].
MARÍN JORDÁ, C. e RIBERA I LACOMBA, A. (2000) – Las cerâmicas de barniz negro de Valentia. In AQUILUÉ ABADÍAS, X., GARCÍA ROSELLÓ, J. e GUITART DURAN, J. (coords.) (2000) ‐ La ceràmica de vernís negre dels segles II i I a.C.: Centres productors mediterranis I
comercialització a la Península Ibèrica. Taula rodona, (Empúries 1998). Mataró: Museu de Mataró / Museu de Catalunya (Empúries) / Universitat Autónoma de Barcelona. p. 91‐105.
MATALOTO, R. (2002) ‐ Fortins e recintos‐torre do Alto Alentejo: “antecâmara” da romanização dos campos. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. Vol 5, n.1, p. 161‐220.
MOREL, J‐P. (1978) ‐ Journées d’étude de Montpellier sur la céramique campanienne. Archeologie en Languedoc. Montpellier: Fédération Archéologique del’heraul, 1, 169 p.
(1981) ‐ Céramique campanienne: Les formes. Paris: École Française de Rome.
(1986) ‐ La Céramique à vernis noir de Carthage, sa diffusion, son influence, Cahiers des Études Anciennes XVIII, Carthage VIII (Actes du congrés‐troisième partie), Québec.
MORILLO, A. e GARCÍA‐MARCOS, V. (2001) – Producciones cerámicas militares de época Augusteo‐Tiberiana en Hispania. Rei Cretariae Romanae Favtorvm. Acta XXXVII. Bélgica: Monaci Baivariorum, p. 147‐155.
NOLEN, J. U. S. (1994) ‐ Cerâmicas e Vidros de Torre de Ares, Balsa, incluindo o espólio ósseo e
medieval. Lisboa: SEC, MNA, IPM.
OCK ‐ OXÉ, A.; COMFORT, H. e KENRICK, P. (2000) ‐ Corpvs Vasorvm Arretinorvm, A Catalogue
of the signatures, shapes, and chronology of italian sigillata, Second Edition, completely revised and enlarged. Bonn: Rudolf. Habelt, Gmbh (Antiquitas. 3, 41). (CD‐Rom).
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
112
OLCESE, G. e PICON, M. (1998) – Ceramiche a vernice nera in Italia e analisi di laboratorio: fondamenti teorici e problemi aperti. In PATRIZIA FRONTINI, C. e GRASSI, M. T. Indagini archeometriche relative alla ceramica a vernice nera: nuovi dati sulla provenienza e la
diffusione. Milano, p. 31‐37.
OLIVEIRA, J. T. et al (1992) – Carta Geológica de Portugal – escala 1:200 000, Notícia explicativa da folha 8. Lisboa: Serviços Geológicos de Portugal.
PARREIRA, J. (2009) – As ânforas romanas de Mesas do Castelinho. Dissertação de Mestrado em Arqueologia apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (policopiada).
PEDRONI, L. (1986) ‐ Ceramica a vernice nera da Cales. Nápoles: Liguori editore.
(1990) ‐ Ceramica a vernice nera da Cales 2. Nápoles: Liguori editore.
(2001) ‐ Ceramica calena a vernice nera. Produzione e diffusione. Napoles.
PEDRONI, L.; BALLESTER, J.P. e NICOSA, A. (2005) ‐ Aquinum, Rullius y Caesius a propósito de algunas estampillas sobre vasos tardorrepublicanos. Mastia. Cartagena: Revista del Museo Arqueológico Municipal de Cartagena «Enrique Escudero de Castro». 4, p. 11‐27.
PÉREZ BALLESTER, J. (1986) ‐ Las ceramicas de barniz negro “Campanienses”: Estado de la cuestion. Boletin del Museo Arqueológico Nacional. Madrid. IV, p. 27‐45.
(2000) ‐ Cerámicas de barniz negro de los niveles republicanos del anfiteatro (Cartagena). In AQUILUÉ ABADÍAS, X., GARCÍA ROSELLÓ, J. e GUITART DURAN, J. (coords.) ‐ La ceràmica de
vernís negre dels segles II i I a.C.: Centres productors mediterranis I comercialització a la
Península Ibèrica. Taula rodona, (Empúries 1998). Mataró: Museu de Mataró / Museu de Catalunya (Empúries) / Universitat Autónoma de Barcelona. p. 129‐ 141.
(2003) ‐ La cerámica de barniz negro del Santuario de Juno en Gabii. Série Arqueológica. Roma. 8, p. 215‐340.
PICON, M., VICHY, M e CHAPOTAT, G. (1971) – Note sur la composition des céramiques campaniennes de type A et B. Rei Cretariae Romanae Favtorvm. Acta XIII. Bélgica: Monaci Baivariorum, p. 82‐87.
PIMENTA, J. (2005) – As ânforas romanas do Castelo de São Jorge (Lisboa). Lisboa: Instituto Português de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia; 41), 163 p.
PRINCIPAL, J. (2005) Las cerámicas del grupo de las pequeñas estampilhas. In ROCA ROUMENS, M.; FERNÁNDEZ GARCÍA, I. (coords) – Introduccíon al estúdio de la cerâmica romana. Una
breve guia de referencia. Málaga: Universidad de Málaga, Serviço de Publicaciones, p. 11‐22.
(2005b) Las cerámicas del círculo de la campaniese B. In ROCA ROUMENS, M.; FERNÁNDEZ GARCÍA, I. (coords) – Introduccíon al estúdio de la cerâmica romana. Una breve guia de
referencia. Málaga: Universidad de Málaga, Serviço de Publicaciones, p. 47‐62.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
113
PY, M. (1993a) – Céramique à reliefs d’applique de Calès et productions apparentées. In PY, M. (dir,) ‐ Lattara 6. Dicocer – Dictionaire dês Céramiques Antiques (VIIs av.n. e – VIIs de n.e.) en
Mediterranée nord‐occidentale (Provence, Languedoc, Ampurdan). Lattes, p. 144‐145.
(1993b) – Campaniense A. In PY, M. (dir,) ‐ Lattara 6. Dicocer – Dictionaire dês Céramiques
Antiques (VIIs av.n. e – VIIs de n.e.) en Mediterranée nord‐occidentale (Provence, Languedoc,
Ampurdan). Lattes, p. 146‐150.
(1993c) ‐ Campanienne B. In PY, M. (dir,) ‐ Lattara 6. Dicocer – Dictionaire dês Céramiques
Antiques (VIIs av.n. e – VIIs de n.e.) en Mediterranée nord‐occidentale (Provence, Languedoc,
Ampurdan). Lattes, p. 151‐152.
(1993d) ‐ Campanienne C. In PY, M. (dir,) ‐ Lattara 6. Dicocer – Dictionaire dês Céramiques
Antiques (VIIs av.n. e – VIIs de n.e.) en Mediterranée nord‐occidentale (Provence, Languedoc,
Ampurdan). Lattes, p. 153‐154.
(1993e) – Céramique Campanienne à pâte grise du type de l’épave de Giens. In PY, M. (dir,) ‐ Lattara 6. Dicocer – Dictionaire des Céramiques Antiques (VIIs av.n. e – VIIs de n.e.) en
Mediterranée nord‐occidentale (Provence, Languedoc, Ampurdan). Lattes, p. 155.
(1993f) – Céramique à parois fines. In PY, M. (dir,) ‐ Lattara 6. Dicocer – Dictionaire dês Céramiques Antiques (VIIs av.n. e – VIIs de n.e.) en Mediterranée nord‐occidentale (Provence,
Languedoc, Ampurdan). Lattes, p. 511‐521.
(1993g) – Atelier dês petites estampilles. In PY, M. (dir,) ‐ Lattara 6. Dicocer – Dictionaire dês Céramiques Antiques (VIIs av.n. e – VIIs de n.e.) en Mediterranée nord‐occidentale (Provence,
Languedoc, Ampurdan). Lattes, p. 525‐526.
PY M., ADROHER AUROUX A.M., CASTANYER P., SANMARTÍN E. e TREMOLEDA J. (1993) – Céramique attique à figures noires. In PY, M. (dir,) ‐ Lattara 6. Dicocer – Dictionaire des Céramiques Antiques (VIIs av.n. e – VIIs de n.e.) en Mediterranée nord‐occidentale (Provence,
Languedoc, Ampurdan). Lattes, p. 90‐102.
RAUX, S. (1998) – Méthodes de quantification du mobilier céramique. Etat de la question et pistes de réflexion. In ARCELIN, P. et TUFFREAU‐LIBRE, M. (dir) – Actes de la table ronde du Centre archéologique européen du Mont Beavray: La quantification des céramiques. Conditions
et protocole. Glux‐en‐Glenne: Centre archéologique européen du Monte Beuvray. Bibracte. 2, p. 11‐16
RIBERA i LACOMBA, A. (2001) – Los pecios com cerâmicas calenas de barniz negro: problemas y soluciones. In PEDRONI, L. Ceramica calena a vernice nera. Produzione e diffusione. Napoles, p. 246‐278.
RICCI, M. (1973) – Per una cronologia delle lucerne tardo‐repubblicane. Rivista di Studi Liguri. XXXIX, Bordighera. 2‐4, p. 167‐234.
RUIZ VALDERAS, E. (1994) ‐ Las cerámicas de barniz negro de Cales en la primera mitad del siglo II a.C., en el cerro del Molinete (Cartagena). Revista d’Arqueologia de Ponent. Lleida. n.4, p. 47‐61.
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
114
SALA SELLÉS, F. e FERRANDIS BALLESRER, E. (1997) ‐ Los Vasos Campanienses de la Tienda de Alfarero de la Alcudia (Enche, Alicante). Complutum. Madrid. 8, p. 223‐231.
SANMARTI‐GREGO, E. (1973) ‐ El taller de las pequeñas estampillas en la Península Ibérica. Ampurias. Barcelona. 35, p. 135‐173.
(1975) ‐ Las cerámicas finas de importación de los poblados prerromanos del Bajo Aragón (Comarca del Matarranya). Cuadernos de Prehistorià y Arqueologia Castellonense. Castelon: Diputacion Provincial de Castellon de la Plana Departamento de Arqueologia. Vol. 2, p. 87‐135.
SANMARTI GREGO, E. (1978) ‐ La ceramica campaniense de Emporion y Rhode, Monografies
Emporitanes IV. Barcelona. Tom I e II, 382 p.
SANMARTI‐GREGO, E.; GUSI, F. (1975) ‐ Nuevos materiales procedentes del Poblado Ibérico del Castell (Almenara). Cuadernos de Prehistorià y Arqueologia Castellonense. Castelon: Diputacion Provincial de Castellon de la Plana Departamento de Arqueologia. vol. 2, p. 167‐172.
SANMARTI GREGO, E.; PRINCIPAL, J. (1997) ‐ Las cerámicas de importación, itálicas e ibéricas, procedentes de los campamentos numantinos. Revista d’Arqueologia de Ponent. Lleida: Unitat d’Arqueologia, Prehìstoria, Història Antiga, n. 7, p. 35‐76.
(2000) – Les Ceràmiques campanianes tardanes. Algunes impressions a partir de la fácies documentada a Pollentia. In AQUILUÉ ABADÍAS, X., GARCÍA ROSELLÓ, J. e GUITART DURAN, J. (coords.) (2000) ‐ La ceràmica de vernís negre dels segles II i I a.C.: Centres productors
mediterranis I comercialització a la Península Ibèrica. Taula rodona, (Empúries 1998). Mataró: Museu de Mataró / Museu de Catalunya (Empúries) / Universitat Autónoma de Barcelona. p. 145‐ 147.
SCHUBART, H. (1975) – Die Kultur der Bronzezeit im Sudwesten der Iberischen Halbinsel. Text. Madrider Forschungen. 9. Vol 1. Berlin: Walter de Gruyter & Co. / Deutsches Archaologisches Institut. Abteilung Madrid, p. 287.
SEPÚLVEDA, E. de; SOUSA, É. M. de; FARIA, J. C; FERREIRA, M. (2001) ‐ Cerâmicas romanas do lado ocidental do castelo de Alcácer do Sal, 2: “cerâmicas de verniz negro” e cinzentas. O Arqueólogo Português. Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia. S. 4, 19, p. 199‐233.
SILVA, C. T. e SOARES, J. (1980‐81) – Escavações Arqueológicas no Castelo de Alcácer do Sal (campanha de 1979). Setúbal Arqueológica. Nº 6 e 7, p. 149‐218.
SOARES, J. (1978) ‐ Nótula sobre cerâmica campaniense do Castelo de Alcácer do Sal. Setúbal Arqueológica. Setúbal. 4, p. 133‐143.
SOARES, J. e SILVA, C.T. (1973) – Ocupação do período proto‐romano do povoado do Pedrão (Setúbal). Real Associação dos Architetos civis e archeologos portugueses. Lisboa. Vol 1, p. 245‐305.
SOUSA, E. R. B. de (2005) ‐ A cerâmica de “tipo Kuass” do Castelo de Castro Marim e de Faro. Dissertação de Mestrado em Pré‐História e Arqueologia apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (policopiada).
A CERÂMICA CAMPANIENSE DE MESAS DO CASTELINHO
115
SOUSA, E. R. B. de, e SERRA, M. (2006) ‐ Resultados das Intervenções Arqueológicas realizadas na Zona de Protecção do Monte Moleão (Lagos). Actas do 3º Encontro de Arqueologia do Algarve, (Silves, 20 a 22 de Outubro de 2005). XELB 6. Vol.I, p. 11–26.
SOUSA, É., M., de, (1996) ‐ Cerâmicas ditas campanienses e de imitação conservadas no Museu Regional de Sintra. Conímbriga. Coimbra: Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra. 35, p. 37‐58.
SOUSA, V. C. de e SEPÚLVEDA E. de (2001) – Cerâmicas finas romanas do museu municipal de Torres Vedras: as lucernas. Conimbriga. Coimbra: Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra. 40, p. 237‐280
TABORELLI, L. B. (2005) Ceramiche a vernice nera. In GANDOLFI, D. La ceramica i materiali de
etá romand, classi, produzioni, commerci e consumi. Bordighera: Instituto Internazionale di Studi Liguri, p. 59‐102.
TORREIRA, L.P.; VELASCO, J.A.S. (1984) ‐ La coleccion de ceramica campaniense de Ibiza en el museo arqueologico nacional. Lucentum. Alicante: Anales de la Universidad de Alicante. III, p. 67‐77.
VENTURA MARTÍNEZ, J.J. (1985) – La cerámica campaniense “C” y pseudocampaniense de pasta gris en la província de Sevilha. Lucentum. Alicante, p. 125‐132.
(1992) ‐ Ceramica campaniense en la Corduba romana. Anales de Arqueologia Cordobesa. Córdova. 3, p. 137‐170.
VIANA, A.; FERREIRA, O. da V. e SERRALHEIRO, P. A. (1957) ‐ Apontamentos arqueológicos dos concelhos de Aljustrel e Almodôvar. XXIII Congresso Luso‐Espanhol para o progresso das ciências. Coimbra: Associação Portuguesa para as Ciências Históricas e Filológicas, p. 461 a 470.
VIEGAS C. (2009) – A ocupação romana do Algarve: estudo do povoamento e economia do Algarve central e oriental do período romano. Dissertação de Doutoramento em Arqueologia apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (policopiada).
VIVAR LOMBARTE, G. (2005) ‐ La cerámica campaniese A. In ROCA ROUMENS, M.; FERNÁNDEZ GARCÍA, I. (coords) – Introduccíon al estúdio de la cerâmica romana. Una breve guia de referencia. Málaga: Universidad de Málaga, Serviço de Publicaciones, p. 23‐46.
2000 ‐ Munsell soil color charts. Revised washable edition