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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE QUÍMICA E BIOQUÍMICA Efeito de extractos aquosos de Plectranthus barbatus e de Peumus boldus na acção do etanol e na absorção conjunta de colesterol em linhas celulares Francesca Guzzetti de Amaral MESTRADO EM BIOQUÍMICA ESPECIALIZAÇÃO EM BIOQUÍMICA MÉDICA 2011

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA E BIOQUÍMICA

Efeito de extractos aquosos de Plectranthus barbatus e de Peumus boldus na acção do etanol e na absorção conjunta de colesterol em

linhas celulares

Francesca Guzzetti de Amaral

MESTRADO EM BIOQUÍMICA ESPECIALIZAÇÃO EM BIOQUÍMICA MÉDICA

2011

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA E BIOQUÍMICA

Efeito de extractos aquosos de Plectranthus barbatus e de Peumus boldus na acção do etanol e na absorção conjunta de colesterol em

linhas celulares

Francesca Guzzetti de Amaral

Dissertação orientada por: Prof. Doutora Maria Luísa Serralheiro (orientadora) Prof. Doutora Margarida Meireles (co-orientadora)

MESTRADO EM BIOQUÍMICA MÉDICA ESPECIALIZAÇÃO EM BIOQUÍMICA MÉDICA

2011

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Agradecimentos

Este trabalho resultou graças ao apoio de um conjunto de pessoas que

estiveram comigo ao longo da execução do mesmo. Por isso, em primeiro lugar,

gostaria de agradecer à Professora Doutora Maria Luísa Serralheiro e ao meu colega

Pedro Falé por toda ajuda e por tudo o que me ensinaram durante estes longos meses.

Este agradecimento estende-se também às minhas colegas Ana Margarida e Catarina,

não só pela ajuda mas também por todos os intervalos passados, e à Professora

Doutora Margarida Meireles.

Ao Doutor Paulo Madeira do grupo de Espectrometria de Massa, agradeço pela

sua disponibilidade e por todas as identificações feitas no espectrómetro de massa.

Ao grupo de Enzimologia, agradeço em especial à Professora Doutora Marta

Silva pela sua disponibilidade em me transmitir os seus conhecimentos sobre

electroforese e por todo o apoio que me deu nestes últimos meses.

Um agradecimento especial aos meus colegas do CQB por todo o apoio que me

deram e por todas as horas que me ajudaram passar ao longo dos momentos de

espera.

Por fim, tenho que agradecer a todas as pessoas que me acompanharam

durante estes anos: aos meus amigos e à minha família.

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Índice Agradecimentos i Abreviaturas e Siglas v Resumo vii Abstract viii

I. Introdução 1 II. Objectivos 3

III. Revisão bibliográfica 3 1. Plantas medicinais 3

1.1. Plantas utilizadas como medicinais 3 1.2. Peumus boldus 4 1.3. Plectranthus barbatus 5

2. Enzima Acetilcolinesterase 6 3. Actividade antioxidante 4. Álcool e Colesterol 8

4.1. Problemas associados à ingestão de álcool 9 4.2. Colesterol 11 4.3. Interacção Álcool e Colesterol 12

IV. Material e Métodos 15 1. Material vegetal 15 2. Reagentes 15 3. Preparação dos Extractos 16 4. Determinação da Actividade Antioxidante 17 5. Determinação da Inibição da actividade do enzima acetilcolinesterase 18 6. Análise dos extractos por HPLC-DAD 19 7. Digestão dos extractos por β-Glucuronidase de Escherichia coli 20 8. Espectrometria de Massa com Ionização por Electrospray 20 9. Metabolismo gastro-intestinal, in vitro, dos extractos 21

9.1. Metabolismo in vitro dos extractos pelo Suco Gástrico artificial 21 9.2. Metabolismo in vitro dos extractos pelo Suco Pancreático artificial 21 10. Cultura de células HeLa e Caco-2 22

10.1. Ensaios de Citotoxicidade em células HeLa e Caco-2 22 10.2. Extracção de proteínas de células HeLa 24 10.3. Análise da expressão proteíca por electroforese SDS-PAGE 24 10.4. Análise da expressão proteíca por electroforese bidimensional 25

11. Análise estatística 26

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V. Resultados e Discussão 27 1. Actividade Bioquímica e digestão in vitro de extractos aquosos de P. boldus 27 1.1. Actividade antioxidante 27

1.2. Actividade inibitória do enzima acetilcolinesterase 29 1.3. Identificação dos compostos maioritários do Peumus boldus 31 1. 3.1. Análise do extracto P. boldus por HPLC-DAD 32 1.3.2. Digestão do extracto por β-Glucuronidase de Escherichia coli 34 1.3.3. Análise do extracto P boldus por MS com ionização por electrospray 35 1.4. Metabolismo in vitro do extracto aquoso de P. boldus pelo suco gástrico e pelo suco pancreático 40

2. Citotoxicidade do etanol, do colesterol e dos extractos em linhas celulares 44 2.1. Citotoxicidade de extractos de P. boldus e P. barbatus em células HeLa e Caco-2 44 2.2. Acção conjunta dos extractos aquosos na toxicidade do etanol e do Colesterol 46 2.3. Análise de toxicidade a nível da expressão proteica 51

2.3.1. Análise da expressão proteica por electroforese SDS-PAGE 51 2.3.2. Análise da expressão proteica por electroforese bidimensional 53

VI. Conclusão 57

VII. Perspectivas 59 VIII. Referências Bibliográficas 61

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Abreviaturas e siglas

AChE Acetilcolinesterase (do inglês Acetylcholinesterase)

AChI Iodeto de acetiltiocolina (do inglês Acetyltiocholine Iodide)

BHT Di-terc-butil metil fenol (do inglês Butylated Hydroxytoluene)

BSA Albumina do soro bovino (do inglês Bovine Serum Albumine)

Caco-2 Células epiteliais de adenocarcinoma colo-rectal

CHAPS 3-(3-colamidopropil)-dimetilamonio)-propano sulfonato (do inglês 3-(3-

cholamidopropyl)-dimethylammonio)-propanesulfonate)

DMEM Dulbecco´s Modified Eagle Medium

DMSO Dimetilsulfóxido

DPPH 2,2-difenil-1-picrilhidrazil

DTNB 5,5-ditiobis (2-nitrobenzoato) (do inglês 2,2-diphenylpicrylhydrazyl)

DTT Ditiotreitol

E. coli Escherichia coli

EC50 Concentração correspondente a 50 % de extinção

HDL Lipoproteínas de alta densidade (do inglês High-density Lipoprotein)

HeLa Células epiteliais de adenocarcinoma cervical

Hepes Ácido 4-(2-hidroxietil)-1-piperazinoetanossulfónico

HPLC-DAD Cromatografia líquida de alta resolução-detector de diodos (do inglês High

Precision Liquid Chromatography- Diod Array Detector)

IC50 Concentração correspondente a 50% de inibição do enzima

LDL Lipoproteínas de baixa densidade (do inglês Low-density Lipoprotein)

MTP Proteína microssomal de transferência de triacilglicéridos (do inglês microssomal

triglyceride transfer protein)

MTT Brometo de 3-(4,5-dimetilazol-2-il)-2,5-difenil tetrazólio (do inglês 3-(4,5-

Dimethylthiazol-2-yl)-2,5-diphenyltetrazolium bromide)

mRNA RNA mensangeiro

MS Espectrometria de massa (do inglês Mass Spectrometry)

m/z Razão massa/carga do ião

OMS Organização Mundial de Saúde

P. barbatus Plectranthus barbatus

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P. boldus Peumus boldus

PBS Tampão de sais de fosfatos (do inglês Phosphates Buffer Solution)

Pen-Strep Pencilina e Estreptomicina

PPARα Receptor activado do proliferador dos peroxissomas (do inglês peroxisome

proliferator-activated receptor)

SDS Dodecil Sulfato de Sódio

SDS-PAGE Electroforese em gel de poliacrilamida na presença de SDS (do inglês

Sodium Dodecyl Sulfate Polyacrylamide Gel Electrophoresis)

TFA Ácido trifluoroacético

TR Tempo de retenção

UA Unidades de absorvência

UV-Vis Ultravioleta-visível

VLDL Lipoproteínas de muita baixa densidade (do inglês Very Low-density Lipoprotein)

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Resumo

O estudo do efeito dos extractos aquosos de plantas (“chás” de ervas) em linhas

celulares na acção do etanol e na acção do colesterol foi iniciado com a preparação de

infusões e decocções de Peumus boldus e Plectranthus barbatus, de um modo

semelhante à recomendada nas formas terapêuticas.

Os “chás” foram estudados no que respeita à eventual alteração de estrutura

química dos compostos neles existentes, sob acção do sistema digestivo, uma vez que

antes de exercerem acção fisiológica no sistema vivo, terão de ser consumidos e

atravessar o tracto gastro-intestinal. Aqui estão sujeitos, entre outras, à acção do suco

gástrico e pancreático. Para facilitar a análise de eventuais alterações por acção do

sistema digestivo, escolheram-se duas actividades biológicas como marcadores, a

actividade antioxidante e a inibição do enzima acetilcolinesterase. Deste modo

analisaram-se, in vitro, em linhas celulares extractos aquosos de P. boldus no que

respeita à sua actividade antioxidante (EC50 de 18,5 ± 0,1 μg/mL) e actividade inibitória

do enzima acetilcolinesterase (IC50 de 0.93 ± 0,01 mg/mL). A digestão in vitro,

simulando o processo gastro-intestinal, não demonstrou existirem alterações

significativas.

Para se poder estudar a acção destes “chás” no transporte do colesterol ou na

citotoxicidade do etanol foi feito um estudo inicial de determinação dos níveis de

toxicidade destes compostos em linhas celulares humanas. Verificou-se que o IC50 para

as células HeLa e Caco-2 foi de 1,39 ± 0,12 e 1,5 ± 0,02 M para o etanol

respectivamente e de 1,03 ± 0,18 e 1,5 ± 0,02 M para o colesterol respectivamente. A

acção conjunta do extracto aquoso P. boldus e P. barbatus e do colesterol, aumentou o

efeito protector do “chá” face à toxicidade do colesterol, quando associados ao etanol

potenciam a citotoxicidade deste composto em células HeLa e reduzem ligeiramente a

citotoxicidade deste em células Caco-2.

Como se encontrou toxicidade para os extractos de P. boldus em células HeLa (IC50

de 0,66 ± 0,02 mg/mL), optou-se por analisar a acção desta toxicidade a nível da

expressão proteica, para o que se utilizou electroforese bidimensional. Electroforese

bidimensional demonstrou diferenças significativas a nível da expressão de proteínas.

Palavras-chave: Plectranthus barbatus; Peumus boldus; Acetilcolinesterase;

Antioxidante; Citotoxicidade.

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Abstract

The study of the effect of aqueous extracts of plants ("tea") on the action of

ethanol and cholesterol began with the preparation of infusions and decoctions of

Peumus boldus and Plectranthus barbatus, in a method similar to the recommended in

therapeutic way.

The “teas” were studied to have a possible alteration of chemical structure of

compounds under the action of the digestive system, once before to have

physiological action in the living system, must be consumed and pass through the

gastro-intestinal tract. The “teas” are submited, among others, to the action of gastric

and pancreatic juices. To facilitate the analysis of any change by the action of the

digestive system, two activities were chosen like biological markers, the antioxidant

activity and the inhibition of the enzyme acetylcholinesterase. Thus, we analyzed in

vitro aqueous extracts of P. boldus with consider to its antioxidant activity (EC50 of 18,5

± 0,1 mg/mL) and its inhibition of the enzyme acetylcholinesterase (IC50 of 0,93 ± 0,01

mg/mL). The digestion in vitro, simulating the gastro-intestinal process, showed no

significant changes.

In order to study the action of these "teas" in the transport of cholesterol or

cytotoxicity of ethanol, an initial study was made to determine levels of toxicity of

these compounds in human cell lines. It was found that the IC50 for HeLa and Caco-2

cells was 1,39 ± 0,12 and 1,5 ± 0,02 M for ethanol and 1,03 ± 0,18 and 1,5 ± 0,02 M for

cholesterol. The joint action of aqueous extract P. boldus and P. barbatus and

cholesterol increased the protective effect of "tea", when combined with ethanol,

aqueous extract increases the cytotoxicity of this compound in HeLa cells and reduces

the cytotoxicity of ethanol in Caco-2 cells.

Since it was found toxicity of extracts of P. boldus in HeLa cells (IC50 of 0,66 ±

0,02 mg/mL), we choose to analyze the action of this toxicity at the level of protein

expression, which was used two-dimensional electrophoresis. It showed significant

differences in protein expression in HeLa cells.

Keywords: Plectranthus barbatus; Peumus boldus; Acetylcholinesterase; Antioxidant;

Cytotoxicity.

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I. Introdução

Apesar do pouco conhecimento científico sobre plantas medicinais, foi a elas que

várias culturas, durante séculos, recorreram, para o tratamento, cura e prevenção das

suas doenças.

Os “chás”, bebidas preparadas a partir de infusões e/ou decocções de plantas, têm

vindo a demonstrar propriedades antioxidantes e inibitória de enzimas, entre outras,

que poderão ajudar a explicar a sua acção benéfica. No caso dos enzimas poder-se-á

referir o enzima acetilcolinesterase que tem sido alvo de inúmeros estudos numa

tentativa de encontrar e explicar o comportamento de alguns “chás” sobre doenças do

foro neurológico e acção digestiva.

O Plectranthus barbatus (“falso boldo”), pertencente à família Lamiaceae, e o

Peumus boldus (“boldo“), pertencente à família Monimiaceae, são duas espécies de

plantas extensamente utilizadas sob a forma de “chás”. O P. barbatus é pouco

consumido em Portugal, no entanto tem largo consumo em países como o Brasil, onde

tem aplicações no combate aos excessos de álcool. Na bibliografia é descrito como

uma das funções do P. barbatus acções benéficas sobre a digestão e no tratamento

contra doenças neurológicas. O P. boldus é recomendado em Portugal com a finalidade

de diminuir o nível de colesterol sanguíneo.

No grupo de investigação onde este trabalho foi desenvolvido, têm sido feitos

vários estudos com extractos aquosos de P. barbatus, que evidenciaram, de facto,

actividade antioxidante e inibitória da AChE, podendo deste modo contribuir para

explicar a sua acção protectora a nível neurológico e digestivo. Uma vez que esta

planta é conhecida como “falso boldo” seria interessante conhecer o comportamento

do verdadeiro “boldo” relativamente às referidas actividades. Por outro lado, para que

estes extractos possam manter a sua actividade e serem consumidos sem contra-

indicações é necessário que seja atestado que estes não sofrem alteração durante o

processo digestivo e que, pelo menos, não se revelem tóxicos para as células do

epitélio intestinal ou outras com as quais venham a estar em contacto.

Vê-se assim que o estudo de plantas medicinais, em especial dos seus extractos

aquosos, em variados aspectos, é fundamental para que a sua aplicação como

fitoterapêuticos possa proporcionar à população o tratamento de diversas

enfermidades.

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II. Objectivos

A utilização de plantas medicinais sob a forma de infusão de folhas tem sido

extensamente utilizada como recurso terapêutico.

Para verificar a possibilidade da acção biológica dos extractos aquosos foi primeiro

necessário saber se através de estudos in vitro, estes sofrem alteração após

metabolização gastro-intestinal através da acção dos sucos digestivos gástrico e

pancreático. Para avaliar a actuação dos sucos digestivos sobre os extractos aquosos

foram seleccionadas duas actividades biológicas importantes: a actividade

antioxidante que as infusões têm e a capacidade de inibição do enzima

acetilcolinesterase que poderá contribuir para a explicação da actividade que as

infusões têm auxiliando no processo digestivo.

Pretende-se também avaliar a citotoxicidade dos extractos aquosos de Peumus

boldus e de Plectranthus barbatus em linhas celulares humanas e ainda estudar a sua

acção preventiva sob os efeitos citotóxicos do colesterol e do etanol.

III. Revisão bibliográfica 1. Plantas medicinais 1.1. Plantas utilizadas como medicinais

O conhecimento primordial das plantas medicinais remonta ao século 27 a.C. e são

ainda, por vezes, o único recurso terapêutico de muitas comunidades e grupos étnicos

[1]. Desde a pré-história, o homem procurou aproveitar os princípios activos existentes

nas plantas, embora de modo totalmente empírico ou intuitivo, baseado em

descobertas ao acaso [2]. Esta actividade simboliza uma das mais antigas formas de

prática medicinal da humanidade [3]. O conhecimento tradicional sobre o potencial

carácter curativo das plantas medicinais, foi sendo transmitido de geração em geração

durante séculos, e muito desse conhecimento empírico encontra-se ainda disponível

presentemente.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS 1979), plantas

medicinais são todas as plantas que contêm na sua composição substâncias que

possam ser utilizadas para fins terapêuticos ou que sejam precursoras de semi-síntese

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químico-farmacêutica [1]. Nos países em desenvolvimento, 80% da população

depende da medicina tradicional para as suas necessidades básicas de saúde e cerca

de 85% da medicina tradicional envolve o uso de extractos de plantas [1].

Actualmente e cada vez mais, a indústria farmacêutica tem vindo a despertar

interesse em torno das plantas medicinais para a produção de novos fármacos. Porém,

é preciso ter em atenção toda a constituição química da planta, pois esta poderá

conter inúmeros compostos que, em sinergia, poderão apresentar efeitos secundários

nocivos [4]. Assim, a comprovação científica dos efeitos benéficos das plantas

medicinais torna-se fundamental.

Com base no que foi dito anteriormente, Peumus boldus e Plectranthus

barbatus, duas espécies de plantas intensamente utilizadas na medicina tradicional,

foram objecto de estudo neste trabalho de investigação.

1.2. Peumus boldus

Peumus boldus, pertencente à família Monimiaceae, relativo à subordem

Monimiineae da ordem Laurales, é referido como uma planta medicinal na

farmacopeia [5]. É conhecido popularmente como “boldo“ ou “boldo-do-chile” por ser

originário do bosque esclerófilo da zona típica do Chile [5]. Folhas de Peumus boldus

são comumente tomadas, após refeições, sob a forma de infusão devido às potenciais

propriedades curativas que ostenta [5].

Esta planta é uma espécie arbórea dióico que se caracteriza pela sua copa

globosa, densamente ramificada e pela sua tonalidade esverdeada [6][7]. É composta

por folhas opostas, curtamente pecioladas e intensamente aromáticas, devido a óleos

essenciais sintetizados; por flores esbranquiçadas a amareladas, unissexuais, pistiladas

e estaminadas; e por frutos do tipo drupa carnosas [6][7].

Na medicina popular, P. boldus é indicado para o tratamento de diversas

infecções a nível do sistema digestivo e hepatobiliar [7][8]. Para além do seu papel

como protector hepático e estimulante digestivo, P. boldus é também

tradicionalmente utilizado como agente anti-inflamatório, colagogo e colerético [9],

antiespasmódico e sedativo nervoso [8][9][10].

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As folhas de P. boldus são caracterizadas pela presença de flavonóides, óleos

essenciais contendo terpenos, sesquiterpenos e esteróides, e alcalóides pertencentes

à classe dos benzoquinolínicos, sendo a boldina o alcalóide mais abundante [5][8][11].

O´Brien et al (2006) verificaram que as propriedades antioxidantes do P. boldus

se devem à boldina, servindo desta forma como marcador químico para a espécie

[10][11][12]. Actividade antioxidante atribuída à boldina, parece estar relacionada com

a capacidade em captar radicais hidroxilo e peroxilo [5]. Estudos in vivo realizados por

Santanam et al (2003), observaram que a tolerância dos seres humanos à boldina

poderá substituir o papel de outros antioxidantes como a vitamina E [13].

Prosseguindo para estudos ex vivo em ratos tratados com boldina, Santanam et al

(2003), verificaram uma diminuição da oxidação da lipoproteína de baixa densidade

(LDL), lipoproteína responsável pelo transporte do colesterol do fígado até aos tecidos,

crucial no metabolismo do colesterol [13]. Por outro lado, estudos desenvolvidos por

Basilia et al (2005) em amostras de sangue humano e de coelho, revelaram que, in

vitro, a boldina era também responsável pela inibição da agregação plaquetária

decorrente da não formação do tromboxano A2 [14]. Deste modo conclui-se que

pacientes sob terapia anti-coagulante não devem ingerir “chás” de P. boldus.

1.3 Plectranthus barbatus

Plectranthus constitui um dos género botânico mais citado em levantamentos

etnobotânicos de plantas medicinais e contém cerca de 300 espécies encontrados na

África tropical, Ásia e Austrália [15]. Este género representa uma valiosa reunião de

espécies de plantas com diversas actividades biológicas [16].

Plectranthus barbatus é popularmente conhecido como “falso boldo” e é

tradicionalmente usado como “chá” de ervas e como vegetal cozido na alimentação,

devido às suas propriedades curativas a nível do sistema digestivo e a nível de

desordens no sistema nervoso [15].

É classificado como pertencente ao filo Angiosperma, classe Magnoliatae,

ordem Lamiales e família Lamiaceae [17]. É uma planta perene de ramos semi-

lenhosos com folhas opostas pecioladas, elípticas e aveludadas e flores pentâmeras

com tonalidades azuladas. [17]

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Plectranthus barbatus é constituído por diterpenoides, compostos fenólicos e

óleos essenciais [18]. O ácido rosmarínico é o seu principal composto em extractos

aquosos, sendo responsável pela capacidade inibitória do enzima acetilcolinesterase e

pela actividade antioxidante (Porfirio et al 2010) [19]. Os compostos acacetina e (16S)-

coleon E contribuem também para as actividades inibitórias do enzima

acetilcolinesterase e actividade antioxidante das infusões (Porfirio et al 2010) [20].

O interesse pelo estudo fitoquímico da espécie Plectranthus barbatus foi

estimulado pelo amplo uso popular das suas folhas para o tratamento de problemas

digestivos em substituição do Peumus boldus [21]. Entretanto outras acções

farmacológicas foram também atribuídas à espécie: acção hipotensiva, inotrópica

positiva, cardiovascular, bronco-dilatadora, activação do enzima adenilato ciclase

(catalisando a conversão de ATP a AMPc, uma importante molécula na transdução de

sinal), inibição da agregação de plaquetas, antitumoral, antinociceptivo, anti-

inflamatório e contra a ressaca alcoólica [17][18][21][22].

2. Enzima acetilcolinesterase

Neste trabalho de investigação o Peumus boldus foi testado quanto à sua

actividade inibitória do enzima acetilcolinesterase em estudos in vitro. Inibidores do

enzima acetilcolinesterase, os quais aumentam a função colinérgica central, têm vindo

a ser considerados como uma estratégia promissora para o tratamento de distúrbios

neurológicos como a doença de Alzheimer e utilizados também no tratamento de

algumas patologias do tracto gastro-intestinal [23][24].

A doença de Alzheimer é uma desordem neurodegenerativa crónica e

progressiva que se manifesta a nível das regiões cerebrais associadas às funções

mentais superiores, particularmente ao córtex frontal e ao hipocampo [25].

Morfologicamente encontram-se nos doentes de Alzheimer baixos níveis de diversos

neurotransmissores como a acetilcolina, a noradrenalina e a serotonina [23][26][27]. A

hipótese colinérgica postula que os sintomas que os doentes com Alzheimer sofrem

sejam devido à uma diminuição da actividade colinérgica, assim as estratégias

terapêuticas mais utilizadas envolvem a administração de inibidores da

acetilcolinesterase [26].

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A acetilcolina faz parte do sistema nervoso parassimpático, estando envolvida

nas sinapses associadas ao controle motor, memória e cognição e é ainda responsável

pela contracção dos músculos lisos, dilatação dos vasos sanguíneos e pela regulação da

taxa de batimentos cardíacos [25]. A acetilcolina é biossintetizada a partir do acetil-

coenzima A e da colina por acção do enzima colina-acetiltransferase. Por outro lado, o

enzima acetilcolinesterase ao catalisar a hidrólise da ligação éster da acetilcolina acaba

com o impulso transmitido por esta [11]. O centro activo da acetilcolinesterase é

constituído por uma tríade catalítica formada por resíduos de serina (Ser-200),

histidina (His-440) e glutamato (Glu-327) e o mecanismo de hidrólise por parte deste

enzima envolve o ataque nucleofílico da serina ao carbono da acetilcolina [25].

Os inibidores do enzima acetilcolinesterase tem vindo a demonstraram ser os

mais eficientes no tratamento clínico de doentes com doença de Alzheimer (Trevisan

et al 2002) [27]. Assim, a procura de novos inibidores do enzima acetilcolinesterase em

extractos de plantas tem-se tornado intensa tendo em vista a redução dos sintomas

cognitivos, funcionais e comportamentais dos pacientes a longo prazo [28][29].

Inibidores do enzima acetilcolinesterase têm vindo também a ser promissores

como potenciais alternativos para o tratamento de disfunções na motilidade gastro-

intestinal. Estudos realizados por Jarvie et al (2008) em ratos, indicam que inibidores

do enzima acetilcolinesterase estimulam a motilidade gastro-inestinal [24]. A

aceleração do trânsito gastro-intestinal pode ser produzida pela estimulação directa da

acetilcolina (ACh) com um agonista do receptor apropriado para o aumento da

libertação da acetilcolina dos terminais nervosos colinérgicos ou pela inibição do

enzima acetilcolinesterase (Dittmeyer et al 2009) [30]. No tracto gastro-intestinal, a

acção da acetilcolina é mediada pelos receptores nicotínicos e muscarínicos M1 que se

encontram localizados predominantemente no plexo mioentérico do sistema nervoso

entérico e pelos receptores muscarínicos M2 e M3 localizados no músculo liso (Law et

al 2001) [31]. A estimulação parassimpática estimula, através do neurotransmissor

acetilcolina, as actividades gastro-intestinais [31].

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3. Actividade antioxidante

O “chá”, uma das bebidas mais consumidas e mais antigas do mundo, tem

vindo a ser considerado como fonte de antioxidantes naturais devido à presença de

compostos capazes de inibir e/ou diminuir os efeitos provocados pelos agentes

oxidantes [32]. O stress oxidativo corresponde a um desequilíbrio entre a taxa de

produção de agentes oxidantes e sua degradação [33]. A produção de radicais livres é

controlado nos seres vivos por diversos compostos antioxidantes, os quais podem ter

origem endógena ou serem provenientes da dieta alimentar [34]. Quando há limitação

na disponibilidade de antioxidantes podem ocorrer lesões oxidativas tornando-se

acumulativas. Os antioxidantes são capazes de estabilizar ou desactivar os radicais

livres antes que ataquem alvos biológicos nas células [35][36].

A manutenção das defesas antioxidantes em equilíbrio dinâmico com a

formação de espécies reactivas de oxigénio é de extrema importância para

sobrevivência dos organismos. As espécies reactivas de oxigénio são entidades

químicas que contêm radicais livres de oxigénio como o radical superóxido (O2.-),

radical hidroxilo (OH.), óxido nítrico (NO), peroxinitrito (ONOO-) e ainda as espécies

não radicais livres como o peróxido de hidrogénio (H2O2) e o oxigénio singuleto (O2)

[37]. Estas espécies reactivas podem reagir com biomoléculas, causando lesões e

morte celular. A peroxidação lipídica é a principal consequência do stress oxidativo

resultando na danificação das membranas, levando à perda da sua forma de mosaico

fluído e consequente flexibilidade e função biológica [33] . Agentes oxidantes poderão

levar assim ao desenvolvimento de certas doenças crónicas como o cancro, diabetes,

artrite, doença de Alzheimer, esclerose múltipla e doença de Parkinson

[34][36][38][39].

Os antioxidantes sintéticos como o butil hidroxianisolo (BHA), butil

hidroxitolueno (BHT) e terc-butil-hidroquinona (TBHQ) têm sido amplamente utilizados

no controlo da oxidação lipídica em alimentos [39]. No entanto, o uso destes

antioxidantes sintéticos tem sido questionado devido à sua toxicidade.

Atribui-se o efeito antioxidante das plantas à presença de grupos hidroxilos nos

seus compostos fenólicos [32]. Os compostos fenólicos desempenham um papel

importante na neutralização ou sequestro de radicais livres e quelação de metais de

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transição, agindo tanto na etapa de iniciação como na propagação do processo

oxidativo [35][39]. Assim, a busca de antioxidantes naturais tem sido intensificada nos

últimos anos no sentido de encontrar produtos naturais com actividade antioxidante,

os quais permitirão substituir os antioxidantes sintéticos ou fazer associação entre

eles.

4. Álcool e Colesterol 4.1.Problemas associados à ingestão de álcool

Ao longo da história da alimentação humana, as bebidas alcoólicas têm tido um

contributo importante nos aspectos cultural, social, religioso e até curativo. A relação

entre o consumo de etanol e saúde, desde há longos anos, tem sido estabelecida de

múltiplas formas controversas. Todavia existem inúmeros estudos que evidenciam o

papel primordial do álcool como factor de risco para doenças e morte: constitui factor

de mortalidade para os países mais pobres e para os países mais ricos constitui o

terceiro factor de risco para problemas de saúde [40][41]. Por ano, os efeitos do

consumo de álcool em excesso resultam em aproximadamente em 2,5 milhões de

mortes por ano (OMS 2011).

A ressaca é um síndrome, um conjunto de sintomas, resultante de uma

intoxicação causada pela ingestão excessiva de álcool com gravidade suficiente para

perturbar o desempenho das actividades diárias [42][43]. Kinney e Coyle (2005), num

estudo com estudantes universitários, verificaram que efectivamente, o consumo

excessivo de álcool conduzia posteriormente a alterações de humor, perturbações do

sono, aumento da ansiedade e produção de sintomas físicos e emocionais [44]. Esses

efeitos causados pelo etanol dependem de vários factores tais comoa quantidade

ingerida e sua frequência, grau de concentração no sangue e agentes interferentes na

absorção.

O etanol é metabolizado principalmente pelo fígado podendo seguir por duas

vias [45]. Na 1ª via, o etanol sofre acção do enzima álcool desidrogenase no

citoplasma, e seguidamente pelo enzima aldeído desidrogenase no mitocôndrio

(equação 1) [45]:

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(1)

A metabolização do etanol leva à acumulação de NADH. A acumulação de

NADH leva à inibição da gluconeogénese impedindo a oxidação de lactase a piruvato,

levando à hipoglicemia e à acidose láctica [45]. Por outro lado, a acumulação de NADH

inibe também a oxidação de ácidos gordos – acumulação de triacilgliceróis no

fígado[45].

A segunda via da metabolização do etanol envolve o citocromo P450 que

produz acetaldeído e por consequência acetato, enquanto que NADPH é oxidado a

NADP+ (equação 2) [45].

(2)

A acção lesiva do consumo do álcool consiste na produção de grande

quantidade de acetaldeído e de espécies reactivas de oxigénio (ROS) [46]. O organismo

dispõe de mecanismos antioxidantes capazes de neutralizar esses radicais livres mas

frente ao consumo de etanol, estes encontram-se com a sua actividade diminuída [47].

Ward et al (1989) observaram a actuação do etanol na redução dos níveis

plasmáticos/séricos dos antioxidantes dietéticos: α-tocoferol, ácido ascórbico e

selénio [48].

A hepatotoxicidade do etanol está também intimamente relacionada com a

absorção de endotoxinas e outros produtos da flora intestinal associadas à redução da

barreira intestinal induzida pelo etanol [41][47]. Por sua vez, estes produtos agem

sobre as células de Kupffer, que se encontram nos sinusóides, promovendo a produção

de citocinas (TNFα, IL-1, IL-6 e IL-8) favorecendo a inflamação, a agressão hepatocitária

e a indução de fibrose [41].

Álcool

desidrogenase

CYP450

Aldeído

desidrogenase Etanol

NADH NAD+

Acetato Acetaldeído

NADP+

Aldeído

desidrogenase Etanol

NADH NAD+ NADH NAD

+

Acetato Acetaldeído

NADPH

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4.2 Colesterol

O colesterol é o esterol mais abundante no tecido humano. Desempenha

diversas funções no organismo humano entre elas: composição estrutural da

membrana celular, síntese de hormonas sexuais, formação da vitamina D, síntese de

sais biliares [37][49][50].

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, em 2008 cerca de 39% de

adultos (idade superior a 25 anos) apresentava níveis elevados de colesterol. Níveis

altos de colesterol constituem um factor de risco para o desenvolvimento de doenças

cardiovasculares [50]. Estudo desenvolvido por Anitschkow e Chalatow (1913) associou

níveis elevados de colesterol à aterosclerose: induziram formação de placas de

ateroma em coelhos alimentados com dieta rica em gema de ovo [51].

Posteriormente, Muller (1930) demonstrou essa relação, ou seja concentrações

elevadas de colesterol implicam aterosclerose em humanos [51].

Os mamíferos obtêm colesterol através da síntese de novo, a partir de acetil-

CoA através da absorção a partir da dieta e pela bílis [49][50]. O fígado é o principal

órgão de biossíntese do colesterol. O colesterol livre e os ésteres de colesterol são

transportados para os outros tecidos na forma de lipoproteínas, que solubilizam esses

lípidos para serem transportados pelo sangue [37].

Existem 4 tipos de lipoproteínas: quilomicrons, lipoproteínas de muita baixa

densidade (VLDL), lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e lipoproteínas de alta

densidade (HDL) [52]. Ao contrário das VLDL e LDL, HDL não apresenta apolipoproteína

B-100 na sua constituição. HDL apresenta um comportamento protector: responsável

pelo transporte reverso, transportando o colesterol dos tecidos para o fígado

diminuindo a probabilidade de se desenvolver aterosclerose [52].

Durante os últimos anos, um número crescente de estudos tem demonstrado

que os flavonóides podem retardar ou prevenir as doenças ateroscleróticas devido à

sua actividade antioxidante sobre as lipoproteínas de baixa densidade (LDL)

responsáveis pelo transporte do colesterol do fígado até às células dos outros tecidos.

Reduzindo a oxidação das LDL, os flavonóides apresentam assim acção inibidora na

formação da placa ateromatosa (Heim et al 2002) [53]. Um agente antioxidante

natural do organismo humano é o enzima paraoxonase (PON1), que possui papel

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fundamental na prevenção da aterosclerose ao impedir a oxidação da LDL e HDL e

inactivação de lípidos oxidados da LDL [54]. Rozenberg et al (2003), em estudos in

vitro, mostraram que PON1 pode proteger a HDL da oxidação e diminuir a oxidação da

LDL por hidrolisar os lípidos oxidados nas lipoproteínas, nos macrófagos e nas lesões

ateroscleróticas [55].

4.3. Interacção Álcool e Colesterol

Vários estudos epidemiológicos, clínicos e experimentais têm colocado em

evidência o efeito protector do consumo moderado de bebidas alcoólicas contra as

doenças cardiovasculares [56][57][58]. Considera-se como sendo consumo moderado

de álcool o equivalente à ingestão diária de até 30 g de etanol [59]. Sabe-se que

apolipoproteína–A1 juntamente com a lipoproteína HDL desempenham um papel

primordial ao promover o transporte do colesterol dos tecidos extra-hepáticos até ao

fígado (transporte reverso do colesterol). Níveis baixos da apolipoproteína-A1 foram

identificados assim como um factor de risco no desenvolvimento e progressão de

lesões na coronária [60][61]. Damodaran et al (2006), utilizando “zebrafish” como

sistema modelo, estudaram efeitos do etanol a nível da expressão de proteínas do

cérebro e observaram que após ingestão de álcool os níveis da apoliproteína-A1

aumentaram [61].

Porém, o álcool poderá desempenhar um papel de risco para a saúde. Sabe-se

que o Receptor Activado do Proliferador dos Peroxisomas (PPARα) se encontra

envolvido na regulação da oxidação e transporte de ácidos gordos, desempenhando

um papel protector contra acumulação de triglicéridos [62] . Estudos desenvolvidos

por Galli et al (2001) em células CV-1 (linhagem derivada do rim de um macaco verde)

e células H4IIEC3 (células de hepatoma de rato) constataram que os ácidos gordos se

encontram elevados no fígado durante o metabolismo do etanol [63]. Galli et al

observaram assim que durante o metabolismo do etanol ocorre o bloqueio

transcripcional da activação do PPARα *63]. A acumulação de lípidos no fígado poderá

também ser devida a desordens a nível do uptake e/ou síntese de ácidos gordos

influenciados pelo metabolismo do etanol (Sozio et al 2010) [62]. Estudos de Ameen et

al (2005) em ratos corroboram a diminuição dos níveis de expressão de vários genes

regulados pelo PPARα na presença de consumo de etanol [64].

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A proteína microssomal de transferência de triacilglicéridos (MTP) encontra-se

também envolvida no transporte de lípidos. Esta é responsável pela exportação das

VLDL [62]. Sozio et al (2010) observaram que níveis de MTP encontram-se baixos em

fígados de animais na presença de etanol [62]. Constataram ainda, Galli et al (2001)

que agonistas de PPARα, sobreexpressam MTP e aumentam também a exportação de

lipoproteínas VLDL [62].

De acordo com estes estudos, é de esperar assim que níveis elevados de ácidos

gordos em hepacitócitos, após consumo de álcool, sejam controlados por fármacos

e/ou plantas medicinais que activem o sistema PPARα [63][65].

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IV. Material e Métodos

1. Material vegetal

Os extractos utilizados para os ensaios foram preparados a partir de folhas secas de

Peumus boldus colhidas em território Português e comercializadas pelo ervanário -

Diética® e a partir de folhas frescas de Plectranthus barbatus colhidas no Jardim

Botânico da Universidade de Lisboa durante a Primavera/ Verão 2009.

2. Reagentes

Os reagentes utilizados para a determinação da inibição da actividade do enzima

acetilcolinesterase foram: Acetilcolinesterase (AChE) tipo VI-S extraído da enguia

eléctrica contendo 426 U/mg sólido, Iodeto de acetiltiocolina (AChI), 5,5’- Ditiobis [2-

nitrobenzoato] (DTNB), Tampão Ácido 4-(2-hidroxietil)-1-piperazinoetanossulfónico

(HEPES) da Sigma® e Cloreto de Sódio e Cloreto de Magnésio da Panreac®.

Para a determinação da actividade antioxidante os reagentes utilizados foram:

Metanol da Panreac® e 2,2-difenil-1-picrilidrazila (DPPH) da Sigma®.

Para a determinação da Actividade β-Glucuronidase utilizou-se β-Glucuronidase

tipo IX-9 de Escherichia coli da Sigma®.

Para os ensaios da digestão dos extractos com os Sucos Gástrico e Pancreático

artificiais utilizou-se: Ácido Clorídrico e Fosfato Dipotássico da Riedel de Haen®;

Hidróxido de Sódio da Baker Analyzes Reagent®; Hidróxido de potássio e

Hidrogenofosfato de Potássio da Merck®; Pepsina 0,53 U/mg da Fluka® e Pancreatina

de pâncreas de suíno da Sigma®.

Para a análise dos extractos por Cromatografia de Alta Eficiência e Espectrometria

de massa utilizaram-se os seguintes reagentes: Acetonitrilo da Sigma®; Ácido

trifluoroacético da Merck®; Metanol da Panreac®; Ácido Fórmico da Fluka®; padrões

rutina, quercetina, luteolina, apigenina, ácido rosmarínico e ácido clorogénico da

Sigma®; padrão ácido cafeíco da Fluka® e Água Mili-Q.

Para a avaliação da citotoxidade utilizaram-se dois tipos de linhagens celulares:

Linha de células epiteliais de adenocarcinoma cervical - HeLa – que foram gentilmente

cedidas pelo Professor Doutor Fernando Antunes do GBOA (Grupo de Bioquímica dos

Oxidantes e Antioxidantes) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e Linha

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de células epiteliais de adenocarcinoma colo-rectal –Caco-2– que foram gentilmente

cedidas pelo Professor Doutor Carlos Farinha do BIOFIG (Biodiversity, functional and

integrative genomics) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Quanto aos

reagentes utilizados nesta etapa foram: Etanol absoluto, Brometo de 3-(4,5-

dimetilazol-2-il)-2,5-difenil tetrazólio (MTT), Dimetilsulfoxido (DMSO) e Colesterol da

Sigma®; Meio DMEM (Dulbecco´s Modifies Eagle Medium), Soro fetal bovino (FBS), L-

Glutamina, Penicilina 100 U/mL e estreptomicina 100 U/mL (pen-strep), Tampão

fosfato salino (PBS) e Tripsina da Lonza®.

Para a extracção de proteínas em linha celular HeLa utilizou-se um tampão de

extracção constituído por: 3-(3-colamidopropil)-dimetilamonio)-propano sulfonato

(CHAPS) e Ureia da Sigma®. Para a quantificação de proteínas pelo método de

Bradford recorreu-se ao reagente corado concentrado Farbstoff-Konzentrat da Bio-

Rad® e à Albumina de soro bovino (BSA) da Sigma®. Para análise da expressão proteica

em gel desnaturante SDS-PAGE utilizaram-se os seguintes reagentes: N,N,N´,N´-

tetrametilnediamida (TEMED), Glicina, Dodecilo sulfato de sódio (SDS) da Promega®;

Acrilamida/Bis 30% da Bio-Rad®; β-Mercaptoetanol, Azul de bromofenol,

Tris(hidroximetil) aminometano (Tris), Persulfato de amónio da Sigma®; Ácido acético

glacial da J.T. Baker® e Glicerol da AnalaR®.

Quanto à análise da expressão proteica em gel bidimensional, os reagentes

utilizados foram os seguintes: Ditiotreitol (DTT) da Fluka®; IPG buffer (immobilized pH

gel) pH 3-11 NL (ref. 17-6004-40), Detergente para lavagem de “sarcófagos” (ref. 80-

6452-78), Strip 7 cm pH 3-11 NL (ref. 17-6003-73) da GE Healthcare®, Óleo “Dry strip

cover fluid Plusone” (ref. 17-1335-01) da Amersham Biosciences®; Iodoacetamida da

Sigma®; Marcadores de Massa Molecular “Kaleidoscope standards precision Plus

protein” (ref.161-0375) da Bio-Rad®; Kit Plusone Silver Staining- protein da GE

Healthcare®.

3.Preparação dos Extractos

O extracto de Peumus boldus foi preparado sob a forma de (a) decocção e (b)

infusão. 10 g de folhas de Peumus boldus foram (a) colocadas a ferver durante 10

minutos em 300 mL de água destilada a uma temperatura de 100oC (b) colocadas

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durante 20 minutos em 300 mL de água destilada fervida. De seguida as soluções (a) e

(b) foram filtradas num papel de filtro Whatman Nº1 e sofreram um processo de

liofilização durante uma semana num liofilizador Heto® Power Dru LL3000. O

rendimento da extracção foi de (a) 116 mg de extracto/g de planta e (b) 19 mg de

extracto/g de planta.

O extracto de Plectranthus barbatus foi preparado sob a forma de decocção. 10 g

de folhas de Plectranthus barbatus foram colocadas a ferver durante 10 minutos em

100 mL de água destilada a uma temperatura de 100oC. De seguida o extracto foi

filtrado num papel de filtro Whatman Nº1 e sofreu um processo posterior de

liofilização durante 3 dias num liofilizador Heto® Power Dru LL3000. O rendimento da

extracção foi de 140 mg de extracto/g de planta.

4.Determinação da Actividade Antioxidante

A actividade antioxidante dos extractos aquosos de Peumus boldus, de infusão e

decocção, foi avaliada pelo método DPPH descrito na literatura por Falé et al (2009)

[66]. O método DPPH tem por base a actividade sequestradora do radical livre estável

DPPH (2,2-difenil-1-picrilidrazila) em solução metanólica [66]. Este radical possui

absorção na região do ultravioleta e quando “capturado” por um antioxidante, capaz

de doar um protão, apresenta um decréscimo na absorvência que pode ser seguido

espectrofotometricamente a um comprimento de onda de 517 nm [66][67]. O DPPH

reduzido passa assim da tonalidade violeta para um tom amarelado (equação 3):

(3) [68]

Para a determinação da actividade antioxidante são assim adicionados 25 µL de

solução de extracto (1-5 µg/mL) a 2,5 mL de uma solução metanólica de DPPH (2 mg

de DPPH em 100 mL de MeOH) e durante 30 minutos a solução é incubada à

temperatura de 20oC. Ao fim do tempo de incubação, a absorvência foi medida a um

comprimento de onda de 517 nm no espectrofotómetro M350 Double Beam UV-

Visible-Camspec®. O branco utilizado corresponde à solução de 25 µL de extracto em

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2,5 mL de metanol em substituição da solução metanólica de DPPH. As medições

foram feitas em triplicado.

A actividade antioxidante foi calculada segundo a seguinte equação (4):

(4)

em que AA é a actividade antioxidante em percentagem, Aextracto é a absorvência do

extracto e ADPPH é a absorvência do DPPH. A concentração de extracto para qual a

actividade antioxidante é de 50% foi determinada a partir da regressão da actividade

antioxidante em função da concentração de extracto.

5.Determinação da Inibição da actividade do enzima acetilcolinesterase

O método seguido para determinar a inibição da actividade do enzima

acetilcolinesterase dos extractos aquosos de Peumus boldus, de infusão e decocção, foi

o descrito por Falé et al (2009) [66]. O método consiste na reacção da acetilcolina na

presença de acetilcolinesterase, resultando nos produtos: acetato e tiocolina.

Posteriormente é adicionado DTNB (5,5’- Ditiobis [2-nitrobenzoato]) à tiocolina,

formando-se um produto de coloração amarela (figura 1). Quando o composto

analisado exibe actividade inibitória ao enzima acetilcolinesterase, a tonalidade

amarelada é diminuída, podendo ser verificada por espectroscopia UV a 405 nm [69].

Figura 1- Representação esquemática da reacção utilizada para a determinação da actividade do enzima acetilcolinesterase [69]

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Para a determinação da inibição da actividade do enzima acetilcolinesterase, foi

adicionado numa cuvette 325 µL de tampão HEPES (50mM pH 8), 100 µL de extracto

(3-10 µg/mL) e 25 µL de solução de acetilcolinesterase contendo 0,26 U/mL. A cuvette

com a mistura reaccional foi incubada durante 15 minutos à temperatura ambiente.

De seguida foram adicionados 75 µL de AChI (0,023 mg/mL) e 475 µL de DTNB 3 mM. A

absorvência foi medida de 30 em 30 segundos, e durante 4 minutos, a um

comprimento de onda de 405 nm no espectrofotómetro M350 Double Beam UV-

Visible-Camspec®. Para o ensaio do branco, substituiu-se o enzima acetilcolinesterase

pelo tampão HEPES. As medições foram feitas em triplicado.

A percentagem de inibição da actividade do enzima acetilcolinesterase foi

calculada segundo a seguinte equação (5):

(5)

em que I corresponde à percentagem de inibição do acetilcolinesterase, Vextracto à

velocidade inicial do extracto e Vcontrolo à velocidade inicial do controlo (sem extracto).

A concentração de extracto para qual ocorre inibição de 50% da actividade do enzima

acetilcolinesterase foi determinada a partir da regressão da inibição do enzima em

função da concentração de extracto.

6. Análise dos extractos por HPLC-DAD

Os extractos foram analisados e os seus compostos foram separados por HPLC-

DAD (Cromatografia líquida de alta eficiência com detector de diodos) baseado na

diferente partição dos componentes da amostra entre as fases estacionária e móvel,

com base nas diferenças de solubilidade. Recorreu-se assim a um aparelho de HPLC-

DAD da marca FinniganTM Surveyor® Plus Modular LC System equipado com uma

coluna Purospher® STAR RP-18 da Merck® e software Xcalibur. Foram injectados 25 µL

de extracto (0,1 mg/mL) num gradiente de eluição composto por: metanol, acetonitrilo

e 0,05% ácido trifluoroacético (tabela 1), num fluxo constante de 1,0 mL/min.

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Tabela 1- Gradiente de eluição, em percentagem, ao longo do tempo

Padrões 100 µM foram também injectados no HPLC-DAD nas mesmas

condições. A análise dos resultados é feita usando um software Xcalibur.

7.Digestão dos extractos por β-Glucuronidase de Escherichia coli

β-Glucuronidase é responsável pela hidrólise de metabolitos glucuronados de

quercetina [70]. Para se estudar a actividade do β-Glucuronidase nos extractos

aquosos de Peumus boldus adaptou-se o método descrito por Justino et al (2004) [71].

Inicialmente misturaram-se 12 mg/mL do extracto em tampão fosfato de potássio (50

mM pH 7,4) juntamente com 567,3 U/mL de β-Glucuronidase de E.coli. Incubou-se a

reacção durante 2 horas a uma temperatura de 37oC num banho de água

termostatizada Lauda®. De seguida centrifugou-se durante 10 minutos a 5000 g numa

Mini Spin F45-12-11 Eppendorf®, analisou-se o sobrenadante por HPLC-DAD e

determinou-se a sua actividade antioxidante e a inibição da actividade do enzima

acetilcolinesterase. Foram realizados 2 ensaios em branco: (a) reacção sem extracto

aquoso de Peumus boldus e (b) reacção sem β-glucuronidase.

8. Espectrometria de Massa com Ionização por Electrospray

Identificaram-se os compostos maioritários do extracto aquoso de P. boldus,

recorrendo ao HPLC-DAD (ponto 6) para separar e recolher as fracções maioritárias e,

posteriormente, à espectrometria de massa (MS) LCQ Duo Thermoquest da Finnigan®.

O espectrómetro de massa é constituído por um analisador de massa ion trap e

equipado com uma fonte de ionização electrospray. As fracções foram injectadas na

bomba de seringa a uma velocidade constante de 5 µl/min. O fluxo de gás nebulizador

Tempo (min)

Metanol (%)

Acetonitrilo (%)

0,05 % Ácido trifluoroacético (%)

0 8 2 90

15 28 2 70

18 35 5 60

30 40 10 50

32 40 10 50

34 8 2 90

37 8 2 90

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(azoto) foi ajustado para 40 (unidades arbitrárias), o fluxo de gás auxiliar (azoto) foi

ajustado para 20 e a voltagem aplicada ao spray na fonte para 4 KV, a uma

temperatura de 220oC. Os espectros de massa foram adquiridos no modo negativo na

razão massa/carga (m/z) de 100-1000. Na recolha das fracções do extracto por HPLC-

DAD, no gradiente de eluição o ácido trifluoroacético 0,05% foi substituído por ácido

fórmico 0,1%.

9. Metabolismo gastro-intestinal, in vitro, dos extractos

9.1.Metabolismo in vitro dos extractos pelo Suco Gástrico artificial

Para o estudo dos ensaios de digestão dos extractos aquosos de Peumus

boldus, de infusão e decocção, pelo suco gástrico artificial, foi seguido o método

adaptado por Yamamoto et al (1999) [72]. Adicionaram-se 3,5 mL de extracto (12

mg/mL) a 3,5 mL de solução de suco gástrico artificial (200 mg de NaCl; 2,4 mL de HCl

0,1 M e 11,2 mg de pepsina em 100 mL). A mistura reaccional foi incubada durante 4h

a uma temperatura de 37oC num banho de água termostatizada Lauda®. Amostras (90

µL da mistura reaccional) foram retiradas de hora em hora. Adicionou-se NaOH para

parar a reacção (pH final 5) e perfez-se o volume para 1000 µL com água destilada.

Centrifugou-se a solução durante 5 minutos a 5000 g numa Mini Spin F45-12-11 da

Eppendorf® e o sobrenadante foi analisado por HPLC-DAD. Ao mesmo tempo foi-se

retirando 1000 µL de amostra e analisou-se a actividade antioxidante e a inibição da

actividade do enzima acetilcolinesterase. Os ensaios foram realizados em triplicado.

9.2.Metabolismo in vitro dos extractos pelo Suco Pancreático artificial

Para o estudo dos ensaios de digestão dos extractos aquosos de Peumus boldus,

de infusão e decocção, pelo suco pancreático artificial, foi seguido o método adaptado

por Yamamoto et al (1999) [72]. 3,5 mL de extracto (12 mg/mL) foram adicionados a

3,5 mL de suco pancreático (10 mL de tampão fosfatos de potássio 50 mM pH 8 e 250

mg de pancreatina). A mistura foi incubada durante 4h e a uma temperatura de 37oC

num banho de água termostatizada Lauda®. Amostras (90 µL da mistura reaccional)

foram retiradas de hora em hora e foi-se adicionando HCl para parar a reacção (pH

final 3) e perfez-se o volume para 1000 µL com água destilada. Centrifugou-se a

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solução durante 5 minutos a 5000 g numa Mini Spin F45-12-11 da Eppendorf®, e o

sobrenadante foi analisado por HPLC-DAD. Ao mesmo tempo foi-se retirando 1000 µL

de amostra e analisou-se a actividade antioxidante e a inibição da actividade do

enzima acetilcolinesterase. Os ensaios foram realizados em triplicado.

10.Cultura de células HeLa e Caco-2

Para os ensaios de citotoxicidade foram utilizadas duas linhas celulares humanas:

Células epiteliais de adenocarcinoma cervical (HeLa) e de adenocarcinoma colo-rectal

(Caco-2).

Células HeLa e Caco-2 foram cultivadas em meio de cultura DMEM (Dulbecco´s

Modifies Eagle Medium), suplementado com 10% soro bovino (FBS), 100 U/mL

penicilina e 100 U/mL estreptomicina e 2 mM L-glutamina, e incubadas numa estufa

Shelf Lab® a 37oC em atmosfera com 5% CO2.

De maneira a garantir células suficientes para os vários ensaios, quando necessário:

removeu-se o meio de cultura das células e lavou-se a placa de cultura com 3 mL de

Tampão fosfato salino (PBS). Posteriormente, para ressuspender as células viáveis,

adiciona-se 1 mL de tripsina e incuba-se as células durante 5 minutos a uma

temperatura de 37oC na estufa. Após incubação, as células foram ressuspendidas e

semeadas em novas placas de petri. Este trabalho foi executado numa câmara de fluxo

laminar Esco® de forma a evitar contaminações.

10.1. Ensaios de Citotoxicidade em células HeLa e Caco-2

A citotoxicidade do colesterol, do etanol e da combinação destes, na ausência e

presença dos extractos aquosos de Peumus boldus e de Plectranthus barbatus, foi

avaliada através do método colorimétrico MTT, método descrito por Chen et al (2008)

[73], contudo sujeito a algumas modificações. O ensaio MTT é caracterizado pela

facilidade de utilização, precisão e indicação rápida da proliferação celular e

citoxicidade [74]. O sal amarelado MTT (brometo de 3-(4,5-dimetilazol-2-il)-2,5-difenil

tetrazólio) é reduzido por desidrogenases do mitocôndrio de células viáveis a

formazan, cristais púrpura insolúveis (equação 6).

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23

(6)

Posteriormente o formazan é solubilizado pelo dimetilsulfoxido (DMSO) [75]. A

quantidade de produto formado é proporcional ao número de células viáveis. A

densidade óptica resultante do teste MTT é determinada espectrofotometricamente.

A citotoxicidade foi determinada em células HeLa e em células Caco-2. Em

microplacas de 96 poços semearam-se 5x104 células/100 µL por poço e deixou-se

crescer durante 48 h para as células HeLa e 120 h para as células Caco-2 e esperou-se

que estas aderissem à placa. Seguidamente substituiu-se o meio das células por

concentrações crescentes de extracto ou compostos a analisar e incubou-se a

microplaca durante 4 horas a uma temperatura de 37oC de maneira a simular-se a

digestão gastro-intestinal. Após incubação, retirou-se as células mortas (não aderidas à

placa) e voltou-se a substituir a solução anteriormente aplicada por uma solução de

MTT (5 mg/mL). Mais uma vez incubou-se a microplaca a 37oC. Após 2 horas de

incubação, retirou-se a solução de MTT e aplicou-se 100 µL de DMSO em cada poço.

Por fim, e após 1 hora de incubação à temperatura ambiente com DMSO, efectuou-se

a leitura óptica. A leitura óptica foi realizada num espectrofotómetro multi-canal -

leitor de microplacas - Tecan SunriseTM a 570 nm com um comprimento de onda de

referência a 630 nm.

A densidade óptica média dos poços foi comparada com a densidade óptica média

dos poços de controlo. O IC50, que representa a concentração que provoca a

diminuição de 50% da viabilidade celular, foi determinada a partir de uma regressão

linear, onde se relacionou a percentagem de inibição em função do logaritmo das

concentrações testadas.

Calculou-se a percentagem de viabilidade celular através da equação 7:

(7)

Os ensaios foram realizados em quadruplicados.

Desidrogenases do

mitocôndrio

Formazan MTT

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10.2. Extracção de proteínas de células HeLa

Células HeLa foram semeadas em placas de petri sendo posteriormente tratadas

com meio suplementado com o extracto e/ou composto a analisar em concentrações

tóxicas (viabilidade celular 50%). Após 4 horas em contacto com o meio suplementado

a 37oC, retirou-se o meio e lavou-se as placas 3 vezes com Tampão PBS (KCl 2,7 mM;

Na2HPO4 4,3 mM; KH2PO4 1,4 mM a pH 7,5) - sem NaCl para diminuir interferências na

isoelectrofocagem. De seguida adicionou-se 500 µL de tampão de lise (CHAPS 2% e

ureia 8 M) e raspou-se a placa de cultura (esta sempre mantida em gelo) com um

raspador de maneira a garantir o maior rendimento na extracção das proteínas.

Posteriormente, centrifugou-se a amostra a 10 000 g a 4oC durante 10 minutos numa

Mini Spin F45-12-11 da Eppendorf®. Analisou-se a fracção solúvel (fracção 2). Analisou-

se também a fracção insolúvel (fracção 1), esta ressuspendida em tampão constituído

por ureia 7 M, tioureia 2 M e CHAPS 4%. O meio que esteve em contacto com as

células também foi analisado. O meio foi então centrifugado a 3 000 g durante 7

minutos a uma temperatura de 4oC numa centrífuga 5804R da eppendorf®. De seguida

retirou-se o meio (fracção 4) e adicionou-se PBS e centrifugou-se novamente durante 5

minutos. Retirou-se o PBS e ressuspendeu-se o pellet com tampão de lise (fracção 3).

O branco corresponde a células tratadas unicamente com meio DMEM.

As proteínas foram quantificadas pelo método de Bradford: absorvências a 595 nm

foram lidas no espectrofotómetro M350 Double Beam UV-Visible-Camspec® a partir de

soluções de 200 µL de Reagente de Bradford com 800 µL da solução proteíca (5 µL das

proteínas em 795 µL de água) contra solução de 200 µL de Reagente de Bradford com

5 µL de tampão de extracção diluído em 795 µL de água. Realizou-se curva de

calibração de Albumina do soro bovino diluído em tampão de extracção de proteínas.

As proteínas foram armazenadas a -80oC.

10.3. Análise da expressão proteíca por electroforese SDS-PAGE

Realizou-se electroforese em gel de poliacrilamida na presença de dodecilsulfato

de sódio para análise da expressão proteica em células HeLa. Introduziu-se gel

resolvente a 12 % T e gel de concentração a 5% T na “sandwich” (placa de vidro e

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espaçador de 0,75 mm) e montou-se na câmara electroforética Bio-Rad® com tampão

de electroforese (Tris 0,025 M; Glicina 0,192 M; SDS 0,1 % a pH 8,3 ± 0,2). As amostras

(20 µg) diluídas em tampão de aplicação de amostra (Tris-HCl 0,0625 M pH 6,8; SDS 2

%; β-mercaptoetanol 5 %; glicerol 10 % e azul de bromofenol 0,004 %) e fervidas (5

minutos), são então adicionadas nos seus respectivos poços. Ligou-se os eléctrodos à

fonte de tensão Pharmacia® e regulou-se a voltagem para 100 V. Após o azul de

bromofenol atingir o fim do gel resolvente, corou-se o gel com solução corante de azul

de Coomassie sob agitação durante 2 horas. Revelou-se o gel com solução descorante

forte (metanol 50 %; ácido acético glacial 10%) até se observaram nitidamente as

bandas correspondentes às várias proteínas.

10.4. Análise da expressão proteíca por electroforese Bidimensional

Realizou-se electroforese bidimensional para uma melhor análise da expressão

proteica em células HeLa. Primeiramente, na 1ª dimensão, solubilizou-se a amostra (66

μg para um volume final de 125 μL em tampão de lise) em 0,5 % de IPG buffer pH 3-11

NL e 1,25 mg do agente redutor ditiotreitol (DTT) durante 1h em agitação. Após

solubilização, colocou-se a amostra no “sarcófago” juntamente com a “strip” pH 3-11

NL e cobriu-se com 1 mL de óleo (Dry strip cover fluid). Tapou-se o sarcófago e

colocou-se no aparelho de isoelectrofocagem EttanTM IPGphor IITM da Amesham

Biosciences® e correu-se a amostra no seguinte programa (tabela 2):

Tabela 2 - Programa de corrida da amostra no aparelho de isoelectrofocagem

12 h 30 V

100 V 150 Vh

250 V 250 Vh

1000 V 1000 Vh

2500 V 2500 Vh

8000 V 30´gradient

8000 V 12 000 Vh

Após separação das proteínas da amostra por ponto isoeléctrico, a amostra foi

sujeita a uma separação por Massa molecular relativa. Assim, para o tratamento da

amostra numa 2ª dimensão, incubou-se a strip com 50 mg do agente redutor DTT e 5

mL de Equilibrium buffer (Ureia 6 M; 1,5 M Tris pH 8,8; Glicerol 29,3 %; SDS 2 %;

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0,002% de Bromofenol Blue) durante 15 minutos à temperatura ambiente numa

agitação de 15 rpm. De seguida, voltou-se a incubar a strip com 125 mg do agente

alquilante iodoacetamida e Equilibrium buffer nas mesmas condições. Após preparação

das amostras, introduziu-se a strip num gel resolvente de 12 % T (espaçador de 1,5

mm) e cobriu-se com uma solução de Agarose (Agarose; Bromofenol Blue 1 %; Tampão

de electroforese) e montou-se na câmara electroforética Bio-Rad® juntamente com

tampão de electroforese (Tris 0,025 M; glicina 0,192 M; SDS 0,1 % a pH 8,3 ± 0,2).

Foram também aplicados no gel padrões de massa molecular conhecida da Bio-Rad®.

Ligou-se os eléctrodos à fonte de tensão Pharmacia® e regulou-se a voltagem para 100

V. Após o azul de bromofenol atingir o fim do gel resolvente, corou-se o gel com

nitrato de prata de acordo com o kit Plusone Silver Staining da GE Healthcare®.

Recorreu-se ao programa Image Master 2D Platinum para digitalizar os géis.

11. Análise estatística

A análise estatística é baseada em média ± desvio padrão de triplicados e o

software usado foi Microsoft® Office Excel 2007.

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VII. Resultados e Discussão

Este trabalho teve por base os estudos desenvolvidos no grupo de RLSN (Grupo de

Radicais Livres, Saúde e Nutrição) em que tem sido estudado a acção antioxidante e

inibitória do enzima AChE em vários “chás” de ervas.

Na preparação do “chá” de P. boldus utilizaram-se as quantidades recomendadas

nas ervanárias para a sua ingestão. No estudo que se apresenta em seguida, utilizou-se

também a forma de decocção, pois permite extrair compostos em maior quantidade, o

que facilitará a observação em laboratório dos efeitos biológicos em análise.

1. Actividade Bioquímica e digestão in vitro de extractos aquosos de P.

boldus

O estudo da acção dos extractos aquosos de plantas a nível celular refere o

conhecimento prévio do comportamento deste extracto após a sua ingestão, isto é, o

extracto a estudar depende de sofrer ou não alteração na sua composição química

inicial e alteração na sua actividade bioquímica.

O estudo do metabolismo in vitro pelo tracto digestivo, será facilitado se se

analisar, para além da alteração nos compostos químicos, algumas actividades no que

concerne à sua actividade inicial e à resultante após digestão gastro-intestinal.

São os resultados deste estudo, actividade antioxidante (VII 1.1), actividade

inibitória do enzima acetilcolinesterase (VII 1.2), identificação de compostos

maioritários do P. boldus (VII 1.3) e digestão in vitro (VII 1.4) que se apresentam neste

sub-capítulo 1.

1.1. Actividade antioxidante

Peumus boldus foi avaliado quanto ao seu papel como potencial antioxidante. Os

antioxidantes protegem o organismo da acção dos radicais livres trazendo inúmeras

vantagens face ao combate de variadas doenças [34]. Recorreu-se ao método do DPPH

que é baseado na actividade sequestradora do radical livre estável 2,2-difenil-1-

picrilhidrazil (DPPH).

Os resultados da actividade antioxidante do extracto de P. boldus preparado tanto

por infusão como por decocção estão representados na figura 2.

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Figura 2- Representação gráfica da extinção do radical DPHH (%) em função da concentração de extractos aquosos de P. boldus preparado por decocção e infusão. Ensaios realizados em triplicado.

Analisando a figura 2, observa-se uma relação de proporcionalidade entre a

concentração de extracto aquoso de P. boldus e a sua actividade antioxidante: para

concentrações mais baixas de extracto, percentagem de extinção do radical DPPH é

inferior. Na tabela 3 encontra-se representada a actividade antioxidante pela

concentração de extinção (EC50), sendo esta a concentração de extracto necessária

para haver capturação de metade da quantidade de radical livre DPPH presente na

solução.

Tabela 3- Actividade antioxidante do P. boldus (infusão e por decocção)

DPPH Infusão Decocção

EC50 (µg/mL) 18,7 ± 0,1 18,5 ± 0,1

Comparando o EC50 obtido para as duas formas de preparação de extracto,

depara-se que não existem alterações significativas no valor da actividade antioxidante

entre a forma de infusão e a forma de decocção.

Para se avaliar a actividade antioxidante dos extractos aquosos de P. boldus

comparou-se a sua capacidade inibitória com a capacidade inibitória do padrão

antioxidante definido pela literatura e utilizada na indústria alimentar: BHT (2,6-di-

terc-butil-4-metil-fenol). O valor de EC50 obtido para o BHT foi de 15,7 ± 0,2 µg/ml

(Mata et al 2006) [6]. Como estes valores são da mesma ordem de grandeza da

actividade encontrada para os extractos de P. boldus poderá dizer-se então que P.

boldus apresenta uma boa capacidade antioxidante.

0

20

40

60

80

100

120

0 20 40 60

Exti

nçã

o d

e D

PH

H (

%)

Concentração de extracto (μg/mL)

P. boldus - Decocção

0

20

40

60

80

100

120

0 50 100

Exti

nçã

o d

e D

PH

H (

%)

Concentração de extracto (μg/mL)

P.boldus - Infusão

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A actividade antioxidante de extractos aquosos de Plectranthus barbatus (falso

boldo) determinado pelo mesmo método encontra-se descrito na literatura por Falé et

al (2009) [66]. Constata-se que extractos aquosos obtidos por decocção de P. boldus

(EC50 de 18,5 ± 0,1 µg/mL) apresentam um maior potencial antioxidante quando

comparado com extractos aquosos de P. barbatus (EC50 de 45,8 ± 0,5 µg/mL). O que já

não se verifica quando preparado por infusão: P. boldus com EC50 de 18,7 ± 0,1 µg/mL;

P. barbatus com EC50 de 10,4 ± 0,35 µg/mL. Quanto menor o consumo de DPPH por

parte do extracto, maior será o seu EC50, e menor será a sua actividade antioxidante.

Também Mata et al (2010) avaliaram a capacidade antioxidante de extractos

aquosos da espécie Lamiaceae utilizando o método DPPH: Mentha spicata (EC50 de 5,7

± 0,4 µg/mL) e Mentha pulegium (EC50 de 8,9 ± 0,2 µg/mL) [6]. Estes valores de EC50

quando comparados com os valores determinados para o extracto aquoso de P.

boldus, verifica-se uma capacidade antioxidante semelhante.

Extractos aquosos obtidos através de folhas de P. boldus (infusão e decocção)

poderão ser assim utilizados como potenciais antioxidantes naturais em substituição

dos antioxidantes sintéticos no combate aos danos provocados pelos agentes

oxidantes.

1.2. Actividade inibitória do enzima acetilcolinesterase

Actualmente são utilizados inibidores reversíveis do enzima acetilcolinesterase em

ensaios clínicos para o tratamento de inúmeras doenças neurodegerativas tais como a

doença de Alzheimer e desordens do tracto gastro-intestinal relacionado com a

motilidade [24][77]. Avaliou-se o potencial do P. boldus como inibidor da actividade do

enzima acetilcolinesterase.

Os resultados da actividade inibitória do enzima acetilcolinesterase do extracto de

P. boldus preparado tanto por infusão como por decocção estão representados na

figura 3:

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Figura 3- Representação gráfica da inibição da actividade do enzima acetilcolinesterase (%) em função da concentração de extractos aquosos de P. boldus preparado por decocção e infusão. Ensaios realizados em

triplicado.

Verifica-se uma relação linear entra a concentração de extracto e a inibição da

actividade do enzima acetilcolinesterase.

Na tabela 4 encontra-se representada a actividade inibitória do enzima

acetilcolinesterase pela concentração inibitória (IC50), sendo esta a concentração de

extracto necessária para haver inibição de 50 % da actividade do enzima

acetilcolinesterase presente na solução:

Tabela 4- Actividade inibitória do enzima acetilcolinesterase do P. boldus (infusão e decocção)

AChE Infusão Decocção

IC50 (mg/mL) 1,24 ± 0,03 0,93 ± 0,02

Comparando o IC50 obtido para os dois meios de preparação de extracto

aquoso de P. boldus, constata-se que quando o extracto é preparado por decocção,

este apresenta um maior potencial para inibir o enzima acetilcolinesterase

relativamente ao extracto preparado por infusão que apresenta um valor de IC50

maior. Quanto maior o valor de IC50, menor será a sua capacidade de inibir a actividade

do enzima. Pode-se inferir assim que extracto aquoso de P. boldus preparado sob a

forma de decocção apresenta um maior rendimento na extracção de compostos

responsáveis pela actividade inibitória do enzima acetilcolinesterase.

Comparou-se a capacidade inibitória do enzima acetilcolinesterase por parte

dos extractos aquosos de P. boldus com a capacidade inibitória do padrão descrito na

literatura- galantamina. A galantamina é um alcalóide isolado de várias espécies

0

10

20

30

40

50

60

0 500 1000

Inib

ição

da

acti

vid

ade

do

AC

hE

(%)

Concentração de extracto (µg/mL)

P. boldus - Decocção

0

10

20

30

40

50

60

700 1200

Inib

ição

da

acti

vid

ade

do

AC

hE

(%)

Concentração de extracto (µg/mL)

P.boldus - Infusão

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vegetais da família Amaryllidaceae e mostrou ser um inibidor do enzima

acetilcolinesterase [25]. Apresenta uma longa acção selectiva, reversível e competitiva

para inibir o enzima acetilcolinesterase, exibindo IC50 de 0,21 ± 0,02 µg/ml (Hernadez

et al 2010) [78]. Ao comparar com o padrão galantamina, constata-se que o extracto

aquoso de P. boldus, apresenta uma capacidade menor de inibição da actividade do

enzima acetilcolinesterase. No entanto é de notar que os extractos aquosos em estudo

resultam na mistura de compostos enquanto que o padrão galantamina apresenta-se

num grau de pureza elevado.

Na literatura, a maioria dos estudos descritos sobre a inibição do enzima

acetilcolinesterase por extractos de plantas foi feita recorrendo a extractos etanólicos.

A capacidade inibitória do enzima acetilcolinesterase por parte dos extractos

aquosos de P. barbatus (falso boldo) determinado pelo mesmo método em estudo

encontra-se descrito na literatura por Falé et al (2009) [66]. A inibição do enzima

acetilcolinesterase por parte dos extractos aquosos de P. Plectranthus parece estar

relacionado com as concentrações de ácido rosmarínico (IC50 de 0,44 mg/mL),

presentes na sua composição [66]. Constata-se assim que extractos aquosos obtidos

por infusão e decocção de P. boldus (IC50 de 1,24 ± 0,03 e 0,93 ± 0,02 mg/mL

respectivamente) apresentam uma menor capacidade inibitória ao enzima

acetilcolinesterase quando comparado com extractos aquosos de P. barbatus.

Ao inibir o enzima responsável pela hidrólise do neurotransmissor acetilcolina-

acetilcolinesterase, P. boldus poderá ser assim um possível candidato no alívio de

sintomas de doenças a nível do sistema nervoso central. Por outro lado, o efeito

laxante que é descrito tradicionalmente para o P. boldus poderá também ser

justificado pela sua actividade inibitória ao enzima acetilcolinesterase uma vez que

este último é responsável pela redução da motilidade gastro-intestinal.

1.3. Identificação dos compostos maioritários do Peumus boldus

Para a identificação dos compostos de P. boldus optou-se por analisar o

extracto aquoso preparado sob a forma de decocção uma vez que este apresentou um

maior rendimento na extracção dos compostos quando comparada com a forma de

infusão.

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1.3.1. Análise do extracto P. boldus por HPLC-DAD: comparação com

padrões

O extracto de P. boldus foi analisado por Cromatografia líquida de alta eficiência

com detector de diodos (HPLC-DAD). Os cromatogramas obtidos para os extractos

aquosos preparados por difusão e decocção encontram-se representados na figura 4:

Figura 4- Cromatograma obtido por HPLC-DAD do extracto do P. boldus preparado por infusão (-) e decocção(---).

Analisando o cromatograma obtido na figura 4 observa-se que os extractos

aquosos de P. boldus apresentam na sua constituição vários compostos e que estes

não variam qualitativamente na composição do extracto quer este seja preparado por

infusão quer seja preparado por decocção. Os picos maioritários do extracto de P.

boldus preparado sob a forma de decocção apresentam os seguintes tempos de

retenção: 11,02 (pico 1); 12,73 (pico 2); 20,87 (pico 3); 22,10 (pico 4); 23,60 (pico 5);

24,76 (pico 6) 25,83 (pico 7). Quando o extracto é preparado sob a forma de infusão os

picos maioritários apresentam os seguintes tempos de retenção: 11,93 (pico 1); 13,75

(pico 2); 21,44 (pico 3); 22,68 (pico 4); 24,20 (pico 5); 25,70 (pico 6); 26,80 (pico 7). Ao

comparar os tempos de retenção obtidos para o extracto preparado por infusão com o

extracto preparado por decocção depara-se que existem pequenas variações, não

significativas, devido à sensibilidade do aparelho. É de notar ainda que extractos

aquosos de P. boldus preparados por decocção apresentam um maior rendimento de

extracção de compostos 4, 5 e 6.

-20000

0

20000

40000

60000

80000

100000

0 5 10 15 20 25 30

Inte

nsi

dad

e (μ

AU

)

Tempo (min)

Peumus boldus Decocção

Infusão

7

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33

Padrões foram também injectados no HPLC-DAD no mesmo sistema de eluição

de forma a poder-se identificar compostos presentes no extracto. Os padrões

injectados foram: quercetina, ácido cafeíco, luteolina, apigenina, ácido rosmarínico,

ácido clorogénico e rutina. Por comparação com os tempos de retenção e espectros

UV-Visível obtidos para os diferentes padrões, é possível associar os compostos como

pertencentes ou não ao extracto aquoso em análise. Detectou-se assim o composto

rutina como o único composto, dos padrões injectados, como pertencente à

constituição do extracto aquoso de P. boldus (figura 5).

Figura 5- Espectro de absorção UV-Vis obtido (a) padrão rutina no tempo de retenção de 24,60 min e (b) extracto aquoso P. boldus decocção no tempo de retenção de 22,10 min.

O pico com tempo de retenção 22,10 min no extracto preparado sob a forma

de decocção e 22,68 min no extracto preparado sob a forma de infusão foram

identificados, em comparação com o padrão, como compostos de rutina por

apresentar espectros de absorção UV-Visível muito semelhantes.

Constata-se assim que, por uma análise qualitativa por HPLC-DAD, extractos aquosos

de P. boldus são constituídos entre outros compostos por rutina, uma flavona da classe

dos flavonóides (Figura 6).

Figura 6- Estrutura molecular do flavonóide rutina.

0

500000

1000000

1500000

2000000

2500000

3000000

200 250 300 350 400 450

Inte

msi

dad

e (µ

Au)

Cdo (nm)

Rutina

350 227

0

20000

40000

60000

80000

100000

120000

140000

160000

180000

210 260 310 360

Inte

nsi

dad

e (µ

Au

)

Cdo (nm)

P. bodus decocção

230

253

354 256 a b

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34

1.3.2. Digestão dos extractos por β-Glucuronidase de Escherichia coli

Com o intuito de se avaliar a actividade do β-Glucuronidase no extracto aquoso

de Peumus boldus e se existem compostos glucuronados, recorreu-se ao β-

Glucuronidase da E.coli. Teve-se assim como principal objectivo verificar a existência

ou não de metabolitos da quercetina: luteolina, apigenina e acacetina na composição

do extracto de P. boldus [19].

Os cromatogramas apresentados na figura 7 representam a digestão do

extracto de P. boldus com β-Glucuronidase durante as 2 horas de incubação.

Figura 7- Cromatograma do extracto Peumus boldus (decocção) após 2 horas de digestão com β-Glucuronidase

Analisando os cromatogramas obtidos, observa-se que durante as 2 horas de

digestão com β-Glucuronidase não existe qualquer tipo de alteração significativa na

composição do extracto aquoso de P. boldus. Observa-se portanto que o extracto de P.

boldus não apresenta compostos glucuronizados.

A actividade antioxidante e a actividade inibitória ao enzima acetilcolinesterase

do extracto P. boldus após digestão com β-Glucuronidase também foi avaliada (tabela

5).

Tabela 5- Actividade antioxidante e actividade inibitória ao enzima acetilcolinesterase do extracto aquoso P. boldus (decocção) após 2 horas de digestão com β-glucuronidase

-20000

0

20000

40000

60000

80000

100000

0 5 10 15 20 25 30 35

Inte

nsi

dad

e (µ

AU

)

Tempo (min)

Digestão do P. boldus com β-Glucuronidase 2 horas

0 horas

Horas DPPH IC (%) AChE IC (%)

0 100 ± 0,01 100 ± 0,01

2 109,49 ± 0,03 92,81 ± 0,02

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35

As actividades antioxidante e inibitória ao enzima acetilcolinesterase do

extracto aquoso de P. boldus não sofreram alterações significativas após digestão com

β-Glucuronidase. O que indica que o extracto aquoso de P. boldus não sofre reacções

de desglucuronidação, não tendo portanto compostos glucuronados.

1.3.3. Análise do extracto aquoso P. boldus por MS com ionização

electrospray

Identificaram-se 7 picos maioritários do extracto aquoso de P. boldus,

separados por HPLC-DAD (figura 5), por espectrometria de massa.

A análise dos espectros de massa foi feita em modo negativo para todos os

compostos tornando possível uma maior resolução dos picos. Com este modo

provoca-se a dissociação do composto, originando o ião do composto (C-) e o protão

(H+). No estudo em modo negativo, pretende-se observar assim o ião correspondente

ao composto desprotonado, isto é, pretende-se que o composto, molécula neutra,

perca um protão (H+).

Recorreu-se ao banco de dados de espectrometria de massa – MassBank- para

confirmar os espectros dos compostos [79].

Ao introduzir a fracção do pico 1 (fracção recolhida no tempo de retenção de

11,02 min) no espectrómetro de massa obteve-se o seguinte espectro em modo de

ionização negativo (figura 8):

Figura 8- Espectro de massa MS2

do composto com Tr =11.02 min, obtido em modo de ionização negativo, com varrimentos entre os 100 e os 600 Da.

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Identificou-se assim o composto obtido pelo espectro de massa (figura 8) como

epicatequina-(4β→8)-catequina (procianidina B1/B2), com fórmula molecular de

C30H26O12 e com razão massa/carga (m/z) experimental de 577,08.

Quanto à fracção do pico 2 correspondente ao tempo de retenção de 12,73 min

obteve-se o seguinte espectro (figura 9):

Figura 9- Espectro de massa MS2 do composto com Tr =12.73 min, obtido em modo de ionização negativo, com

varrimentos entre os 100 e os 300 Da.

Ao analisar o espectro da figura 9 pode-se observar a presença do composto

catequina com fórmula molecular de C15H1406 e com uma razão massa/carga

experimental de 289,06.

Na fracção do pico 3 recolhida no tempo de retenção de 20,87 o espectro

obtido foi o seguinte (figura 10):

Figura 10- Espectro de massa MS2 do composto com Tr =20.87 min, obtido em modo de ionização negativo, com

varrimentos entre os 150 e os 600 Da.

245

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37

Atribui-se ao espectro de massa obtido o composto ácido dicafeolquínico com

fórmula molecular C25H24O12 e com razão massa/carga experimental de 514,93.

Quanto à fracção do pico 4 recolhida no tempo de retenção 22.01 min,

podemos observar a presença do composto rutina (figura 11).

Figura 11- Espectro de massa MS2 do composto com Tr =22.01 min, obtido em modo de ionização negativo, com

varrimentos entre os 150 e os 600 Da.

A rutina com a fórmula molecular de C27H30016 apresenta uma razão

massa/carga experimental de 609,09. A identificação do composto rutina na fracção

do pico 4 foi anteriormente confirmada por HPLC-DAD (figura 5 na secção 1.3.1) por

comparação com o espectro de absorção UV-Visível obtido para o padrão rutina.

Ao composto presente na fracção do pico 5 (tempo de retenção 23,60 min)

atribui-se a fórmula molecular C27H30015 correspondente ao kaempferol-3-0-rutinosido

com razão massa/carga experimental de 593,15 como se pode observar na figura 12.

Figura 12- Espectro de massa MS2 do composto com Tr =23.60 min, obtido em modo de ionização negativo, com

varrimentos entre os 150 e os 600 Da.

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Na fracção do pico 6 correspondente ao tempo de retenção de 24,76 min

(figura 13), identificou-se a presença do composto isoramnetina desoxihexosil-

pentosido:

Figura 2- Espectro de massa MS2 do composto com Tr =24,76 min, obtido em modo de ionização negativo, com

varrimentos entre os 150 e os 600 Da.

O composto identificado, isoramnetina desoxihexosil-pentosido, apresenta

uma fórmula molecular de C26H27015 com razão m/z experimental de 593,1.

Na fracção do pico 7 (tempo de retenção de 25,83 min), podemos constatar a

presença do composto isoramnetina di-ramnosido cuja fórmula molecular é C28H32015

com razão m/z experimental de 607,05 (figura 14):

Figura 3- Espectro de massa MS2 do composto com Tr =25.83 min, obtido em modo de ionização negativo, com

varrimentos entre os 150 e os 650 Da.

Através de uma identificação por espectrometria de massa, pode-se concluir

que o extracto aquoso de P. boldus é constituído maioritariamente por (tabela 6):

447

461

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39

Tabela 6- Compostos identificados do extracto aquoso de P. boldus por espectrometria de massa em modo negativo

Tr (min)

Compostos Estrutura molecular

m/z experimental

11,02 Procianidina B1/B2 C30H26O12 577,08

12,73 Catequina C15H1406 289,06

20,87 Ácido dicafeoilquínico C25H24O12 514,93

22,01 Rutina C27H30016 609,09

23,60 Kaempferol-3-0-rutinosido C27H30015 593,15

24,76 Isoramnetina desoxihexosil-pentosido C25H28015 593,1

25,83 Isoramnetina di-ramnosido C28H32015 607,05

Os compostos identificados como constituintes de P. boldus têm vindo a

despertar interesse devido às diversas propriedades curativas que apresentam,

justificando assim as propriedades atribuídas à espécie:

A procianidina, pertencente à classe dos taninos, tem demonstrado em vários

estudos o seu contributo como potencial antioxidante e habilidade em neutralizar

espécies reactivas de oxigénio e azoto (Hammerstone et al 2000) [80].

Kaempferol e rutina têm demonstrado o seu papel como inibidores reversíveis

do enzima butirilcolinesterase (BChE) (Kataliníc et al 2010) [81]. Doentes de Alzheimer,

têm apresentado um aumento nos níveis de actividade de BChE em cerca de 40-90%

nas zonas do córtex temporal e hipocampus [81]. Sabe-se que BChE contribui também,

para além do AChE, para a agregação da proteína β-amilóide. Kataliníc et al (2010)

comprovaram assim o potencial de vários flavonóides, nomeadamente kaempferol e

rutina, como potenciais inibidores de BChE [81].

Santos et al (1999) verificaram o efeito hipolipidémico do flavonóide catequina

[82]. Oliveira et al (2010) demonstraram que o composto catequina protege o

colesterol-LDL da oxidação [83].

Estudos realizados por Kleemann et al (2011) envolvendo o composto

Isoramnetina em macrófagos de ratos verificaram que este diminui os níveis de mRNA

e o nível das proteínas do Factor de Necrose Tumoral (TNF-α) *84].

Estudos realizados por Pelzer et al (1998) sobre o efeito de trinta flavonóides das

classes flavanonas, flavonas e flavonóis, mostraram que o composto rutina era um dos

flavonóides que apresentava os melhores efeitos antinflamatórios - permitia a inibição

do desenvolvimento do granuloma induzido na pata de ratos [85]. Por outro lado,

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40

Santos et al (1999) estudaram a acção hipolipidémica da rutina [82]. Observaram que

os efeitos benéficos da rutina, com elevação do colesterol-HDL e consequente papel

preventivo na aterosclerose, estão associados à actuação deste flavonóide na

activação do enzima antioxidante superóxido dismutase [86]. Cook et al (1996)

comprovaram que o efeito antioxidante, por parte da rutina, parece estar relacionada

com a sua acção antitrombótica. Constataram que a rutina liga-se à membrana de

plaquetas, restabelecendo a biossíntese e a acção da prostaciclina endotelial e do

factor de relaxamento derivado do endotélio, os quais são inibidos pelos radicais livres

[86][87]. Segundo Cotelle et al (1992), comparando o efeito do α-tocoferol, do ácido

ascórbico e da rutina no processo de peroxidação, a rutina é o mais potente inibidor de

radicais livres hidroxilo e superóxido [88].

Constata-se assim que os compostos maioritários identificados no extracto de P.

boldus – flavonóides compostos não sintetizados pelo nosso organismo, apresentam

propriedades fundamentais em diversas patologias, destacando-se o seu papel em

situações patológicas geradas pelo stress oxidativo como o cancro, doenças

cardiovasculares e doenças neurodegenerativas bem como no envelhecimento.

1.4. Metabolismo in vitro do extracto aquoso de Peumus boldus pelo suco gástrico e

pelo suco pancreático

Com o objectivo de avaliar se o extracto aquoso de P. boldus sofre qualquer tipo de

metabolização com a digestão gastro-intestinal, incubou-se o extracto (decocção e

infusão) com o suco gástrico e com suco o pancreático artificial. A actividade

antioxidante e a actividade inibitória ao enzima acetilcolinesterase foram avaliadas

após as digestões com os sucos.

A digestão do extracto aquoso de P. boldus em condições ácidas (pH 1) com

pepsina simularam o suco gástrico. Prosseguiu-se à análise por HPLC (figura 15).

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41

Figura 4- Cromatograma do extracto de P. boldus obtido por HPLC após digestão com suco gástrico (a) infusão (b) decocção.

Ao analisar-se os cromatogramas da figura 15 verifica-se que não existem

degradações nem formação de novos compostos ao se incubar o extracto aquoso de P.

boldus com o suco gástrico. A análise da actividade antioxidante e da actividade

inibitória ao enzima acetilcolinesterase antes e após digestão com suco gástrico,

encontra-se representada na seguinte tabela 7:

Tabela 7- Actividade antioxidante e actividade inibitória ao enzima acetilcolinesterase do P. boldus após digestão com suco gástrico

Horas

Infusão Decocção

DPPH (%) AChE (%) DPPH (%) AChE (%)

0 100 ± 0,07 100 ± 0,05 100 ± 0,07 100 ± 0,06

1 104,62 ± 0,07 98,94 ± 0,05 101,37 ± 0,07 102,49 ± 0,08

2 99,39 ± 0,04 97,48 ± 0,07 102,48 ± 0,05 100,28 ± 0,12

3 102,77 ± 0,02 100,45 ± 0,05 104,55 ± 0,06 99,47 ± 0,10

4 102,1 ± 0,07 98,27 ± 0,06 104,55 ± 0,02 105,64 ± 0,09

-15000

-5000

5000

15000

25000

35000

45000

55000

65000

75000

0 5 10 15 20 25 30

Inte

nsi

dad

e (

µA

U)

Tempo (min)

Digestão P. boldus infusão com suco gástrico artificial

Após 4 horas

Após 0 horas

-15000

-10000

-5000

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

35000

0 5 10 15 20 25 30

Inte

nsi

dad

e (

µA

U)

Tempo (min)

Digestão P. boldus decocção com suco gástrico artificial Após 4 horas

Após 0 horas

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Analisando a tabela 7 constata-se que ao se incubar o extracto aquoso de P. boldus

com suco gástrico, este não provoca alterações significativas tanto na actividade

antioxidante como na actividade inibitória ao enzima acetilcolinesterase após as 4

horas de incubação.

As condições pancreáticas foram também simuladas através da mistura de enzimas

hidrolíticos amilase, lipase e protease em condições alcalinas (pH 8). Prosseguiu-se a

análise por HPLC (figura 16).

Figura 5- Cromatograma do extracto aquoso de P. boldus (a) infusão (b) decocção obtido por HPLC após digestão com suco pancreático.

-20000

-10000

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

80000

0 5 10 15 20 25 30

Inte

nsi

dad

e (µ

AU

)

Tempo (min)

Digestão P. boldus infusão com suco pancreático artificial 4 horas 0 horas Branco suco pancreático

-20000

0

20000

40000

60000

80000

0 5 10 15 20 25 30

Inte

nsi

dad

e (µ

AU

)

Tempo (min)

Digestão P. boldus decocção com suco pancreático artificial Após 4 horas

Após 0 horas

Branco suco pancreático

1 2

3

a b

4

5

6

7

1 2

3

a b

4

5

6

7

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Ao analisar-se os cromatogramas da figura 16 verifica-se que após as 4 horas de

incubação com o suco pancreático não existem alterações significativas na composição

do extracto aquoso de P. boldus. É de notar que o aparecimento dos picos a (tempo

retenção de 7 min) e b (tempo retenção de 19 min), devem-se a compostos

constituintes do suco pancreático quando comparado com o cromatograma obtido

para o branco do suco pancreático.

De seguida avaliou-se se estas metabolizações afectavam a actividade

antioxidante e a actividade inibitória ao enzima acetilcolinesterase (tabela 8).

Tabela 8- Actividade antioxidante e actividade inibitória ao enzima acetilcolinesterase do P. boldus após da digestão com suco pancreático

Horas

Infusão Decocção

DPPH (%) AChE (%) DPPH (%) AChE (%)

0 100 ± 0,08 100 ± 0,04 100 ± 0,01 100 ± 0,09

1 98,10 ± 0,06 99,78 ± 0,02 103,53 ± 0,04 97,74 ± 0,01

2 106,91 ± 0,02 96,68 ± 0,04 103,76 ± 0,02 95,92 ± 0,04

3 102,71 ± 0,04 100,17 ± 0,05 99,39 ± 0,04 98,87 ± 0,01

4 100,99 ± 0,08 99,57 ± 0,08 109,46 ± 0,01 100,14 ± 0,03

Analisando a tabela 8 constata-se que ao se incubar o extracto de P. boldus

com suco pancreático não existem alterações significativas na actividade antioxidante

e na actividade inibitória ao enzima acetilcolinesterase ao fim das 4 horas de

incubação, quer este seja preparado sob a forma de decocção quer sob a forma de

infusão.

Quanto ao extracto aquoso de P. barbartus e sua digestão gastro-inestinal

artificial, é descrito na literatura por Porfirio et al (2010) que este não apresenta

alterações na sua composição nem alterações nas suas actividades biológicas

(antioxidante e inibidora ao enzima acetilcolinesterase) quando digerido com o suco

gástrico [19]. Quando digerido com o suco pancreático artificial, Porfirio et al já

verificaram degradações a nível dos flavonóides glucuronoides e a nível dos

diterpenoides tipo abietano. Quanto à actividade inibitória ao enzima

acetilcolinesterase após as 4 horas de digestão com o suco pancreático artificial,

verificaram uma diminuição de cerca de 50 % da actividade inicial [19].

Ao comparar a digestão gastro-intestinal do extracto aquoso de P. boldus

realizado neste trabalho com a digestão gastro-intestinal do extracto aquoso de P.

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barbatus realizado por Porfírio et al (2010), constata-se que os compostos do extracto

aquoso de P. boldus são menos susceptíveis à acção do suco pancreático.

Esta tarefa teve assim como intuito principal saber se poder-se-ia utilizar o

extracto inicial da planta para os seguintes estudos. Como não se verificou qualquer

tipo de alteração química na composição do extracto, sendo o extracto bastante

estável na presença dos sucos gástrico e pancreático, prosseguiu-se assim o estudo

com o extracto inicial.

2. Citotoxicidade do etanol, do colesterol e dos extractos em linhas

celulares

O estudo da acção protectora dos “chás” sobre o efeito do etanol e da

biodisponibilidade do colesterol foi feito utilizando linhas celulares humanas, células

Hela, células epiteliais do adenocarcinoma cervical e células Caco-2, células epiteliais

de adenocarcinoma colo-rectal.

Este estudo foi iniciado com a detecção dos valores de toxicidade pelos “chás”

(2.1), pelo próprio etanol e colesterol, seguido do estudo pelo efeito concomitante dos

“chás” sobre a toxicidade do etanol e do colesterol (2.2).

Uma vez que se encontrou efeito tóxico do “chá” de P. boldus em células HeLa,

optou-se por analisar se esta alteração poderia reflectir a nível da expressão proteica

(2.3).

2.1. Citotoxicidade de extractos de P. boldus e P. barbatus em células

HeLa e Caco-2

As plantas medicinais assim como os fármacos são terapêuticos numa dose e

tóxicas em outra.

A citotoxicidade dos extractos aquosos de P. barbatus e de P. boldus; do colesterol

e do etanol; e da combinação destes foi avaliada em duas linhas celulares humanas

distintas: células epiteliais do adenocarcinoma cervical (células HeLa) e células

epiteliais de adenocarcinoma colo-rectal (células caco-2). Estas linhagens celulares

apresentam uma grande utilidade neste tipo de estudo uma vez que constituem o

protótipo de células do epitélio humano, constituindo frequentemente o primeiro local

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45

de contacto dos compostos tóxicos no organismo (células HeLa), e permitem a

formação de uma monocamada simulando, in vitro, a barreira mucosa intestinal

(células Caco-2) [6][75].

Recorreu-se ao método colorimétrico MTT para quantificar a viabilidade celular

após presença dos extractos/compostos. Os extractos/compostos estiveram em

contacto com as células durante um período de 4 horas.

Avaliou-se a citotoxicidade dos extractos aquosos P. boldus e P. barbatus. Através

da análise da viabilidade celular (figura 17), constata-se que células HeLa são sensíveis

a extractos aquosos de P. boldus e insensíveis a extractos aquosos de P. barbatus

enquanto que células Caco-2 são insensíveis a estas duas espécies de plantas.

Figura 6- Representação gráfica da viabilidade celular em função da concentração dos extractos Peumus boldus e Plectranthus barbatus após 4 horas de contacto em (a) células HeLa e (b) células Caco-2.

Ao analisar os resultados de citotoxicidade depara-se que extractos aquosos de

P. boldus provocam uma diminuição da viabilidade celular de células HeLa,

0

20

40

60

80

100

120

0 0,5 1

Via

bili

dad

e ce

lula

r (%

)

Concentração de extractos (mg/mL)

Citotoxicidade em células HeLa Peumus boldus

Plectranthus barbatus

0

20

40

60

80

100

120

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4

Via

bili

dad

e ce

lula

r (

%)

Concentração de extractos (mg/mL)

Citotoxicidade em células Caco-2

P.barbatus

P. boldus

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apresentando um IC50 isto é, a concentração de extracto necessária para haver uma

diminuição de 50% da viabilidade celular, de 0,66 ± 0,02 mg/mL.

Células Caco-2 foram insensíveis a concentrações crescentes de P. boldus (até

3,5 mg/mL) não apresentando uma diminuição da sua viabilidade celular. Na literatura,

Ruiz et al (2008) em estudos toxicológicos, aconselham que o consumo de “chá” de P.

boldus deve ser feito com moderação, principalmente no primeiro trimestre da

gravidez e no uso por tempo prolongado, uma vez que verificaram indícios de

teratogenia e hepatotoxicidade após uso prolongado do extracto [5].

Por outro lado, extractos aquosos de P. barbatus não apresentaram efeitos

tóxicos tanto em células HeLa como em células Caco-2 (até 3,5 mg/mL). Na literatura,

Figueiredo et al (2010), aprovam o uso de extractos aquosos de folhas de P. barbatus

uma vez que esta espécie apresenta baixos níveis de toxicidade [20].

Estudos realizados por Cárdenas et al (2006) em células HeLa e por Oonsivilai et

al (2007) em células Caco-2 em extractos de plantas, atribuíram propriedades não

tóxicas a compostos que em concentrações de 10 µM não diminuíssem a viabilidade

celular em mais de 50 % [89][90].

2.2 Acção conjunta dos extractos aquosos na toxicidade do etanol e do

colesterol

Um dos efeitos pelo qual o boldo é recomendado consiste na redução do colesterol

na corrente sanguínea e o falso boldo é descrito como contrariando os efeitos

provocados pela ingestão excessiva do álcool. Portanto, pretende-se saber se as

decocções de boldo e falso boldo têm efeito na toxicidade destes compostos,

colesterol e etanol. As interacções entre plantas medicinais e compostos podem

potenciar ou diminuir o efeito terapêutico ou toxicológico de cada composto.

A citotoxicidade provocada pelo etanol, agente causador de diversas doenças,

foi testada em células HeLa e células Caco-2 (figura 18).

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Figura 7- Representação gráfica da viabilidade celular em função da concentração de etanol após 4 horas de contacto em (a) células HeLa e (b) células Caco-2.

Analisando a figura 18, constata-se que células HeLa foram sensíveis ao etanol,

apresentando um IC50 de 1,39 ± 0,12 M. Os resultados obtidos quando comparados

com dados da literatura, IC50 de 1,5 ± 0,02 M para 3 horas (Malich et al 1997), indicam

que embora o método MTT apresente uma boa precisão, este apresenta uma baixa

sensiblidade, uma vez que este é influenciado nomeadamente pelo tempo de

exposição [74]. Etanol também apresentou efeitos tóxicos em células Caco-2 (IC50 de

1,33 ± 0,17 M). Constata-se assim que deve-se ter precaução ao ingerir bebidas

alcoólicas com valores superiores a 8,18 ± 0,71 % de etanol segundo ensaios em

células Hela e superiores a 7,8 ± 1 % segundo ensaios em células Caco-2.

Posteriormente, a fim de analisar se os extractos de P. boldus e P. barbatus (0,5

mg/mL e 0,2 mg/mL respectivamente), em sinergia com o etanol, reduzem ou

potenciam o efeito tóxico do etanol, realizou-se também ensaios de MTT da

combinação destes. Analisando os resultados obtidos, constatou-se que a

citotoxicidade do etanol com extractos de P. boldus e P. barbatus em sinergia

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

0,5 1 1,5 2 2,5

Via

bili

dad

e (%

)

Etanol (M)

Citotoxicidade em células HeLa Etanol Etanol + P boldus 0,2 mg/mL Etanol + P. barbatus 0,2 mg/mL Etanol + Colesterol 0,1 M

0

20

40

60

80

100

120

140

160

0,5 1 1,5 2 2,5

Via

bili

dad

e (%

)

Etanol (M)

Citotoxicidade em células caco-2

Etanol

Etanol + P, boldus 0,5 mg/mL

Etanol + P. barbatus 0,5 mg/mL

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potenciam o efeito tóxico do etanol (IC50 de 1,39 ± 0,12 M) em cerca de 60,44 % (IC50

de 0,55 ± 0,09 M e 0,55 ± 0,05 M respectivamente) em células HeLa. Quanto mais

baixo o valor de IC50, maior o efeito de toxicidade. Quanto aos ensaios em células

Caco-2, constatou-se que extractos de P. boldus e P. barbatus em sinergia com etanol

reduzem ligeiramente o efeito tóxico deste (IC50 de 1,33 ± 0,17 M) em cerca de 5,06 %

e 10,71 % respectivamente (IC50 de 1,58 ± 0,03 M e 1,63 ± 0,09 M).

Vários estudos têm destacado o efeito protector do consumo moderado de

álcool contra as doenças cardiovasculares [56][57][58]. Citotoxicidade do etanol em

sinergia com o colesterol também foi avaliado (figura 18). Constatou-se que o

colesterol não influi no efeito citotóxico do etanol em células HeLa (IC50 = 1,33 ± 0,28

M).

O colesterol, esterol responsável pelo desenvolvimento de doenças

cardiovasculares também foi testado pelo método colorimétrico MTT (figura 19).

Figura 8- Representação gráfica da viabilidade celular, em células HeLa, em função da concentração de colesterol após 4 horas de contacto em (a) células HeLa e (b) células Caco-2.

0

20

40

60

80

100

0 0,5 1 1,5 2

Via

bili

dad

e ce

lula

r (%

)

Colesterol (M)

Citotoxicidade em células HeLa Colesterol

Colesterol + Peumus boldus 0,2 mg/mL Colesterol + Plectranthus barbatus 0,2 mg/mL Colesterol + Etanol 4%

0

20

40

60

80

100

120

140

1,5 2 2,5 3 3,5

Via

bili

dad

e ce

lula

r (%

)

Colesterol (M)

Citotoxicidade em células Caco-2

Colesterol + P boldus 0,5 mg/mL

Colesterol + P. barbatus 0,5 mg/mL

Colesterol

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Células HeLa e células Caco-2 foram sensíveis ao colesterol. O colesterol em

células HeLa apresenta um IC50 de 1,03 ± 0,18 M e em células Caco-2 apresenta um IC50

de 2,16 ± 0,48 M. Células Caco-2 são menos sensíveis ao efeito tóxico do colesterol.

Segundo estes resultados, verifica-se assim que o colesterol presente num ovo (0,7 M)

não é prejudicial para a saúde.

De seguida avaliou-se o efeito sinérgico do colesterol com os extractos

aquosos. Extractos aquosos de P. boldus e de P. barbatus reduzem o efeito tóxico do

colesterol. Em células HeLa, P. boldus diminuiu o efeito citotóxico do colesterol em

cerca de 28,47 % (IC50 de 1,44 ± 0,37 M) e P. barbatus em mais de 31,3 % (IC50 > 1,5

M). Em células Caco-2, P. boldus diminui o efeito tóxico do colesterol em cerca de 3,57

% (IC50 2,24 ± 0,05 M) e P. barbatus em cerca de 10,37 % (IC50= 2,41 ± 0,2 M).

Constata-se assim que extracto aquoso de P. barbatus é o mais eficaz na redução da

toxicidade do colesterol, tanto em células HeLa como em células caco-2, quando

comparado com o efeito do extracto aquoso de P. boldus.

Citotoxicidade do colesterol em sinergia com o etanol também foi avaliado

(figura 19.a). Constatou-se que o etanol potencia o efeito tóxico do colesterol (IC50 de

1,03 ± 0,18 M) em células HeLa em mais de 80,6 %(IC50 <0,2 M). Latour et al (1999)

observaram que a absorção do colesterol é aumentada pela presença do álcool [91].

Observa-se assim que para além de haver uma absorção aumentada do colesterol na

presença de álcool existe ainda uma reacção colateral indesejável: aumento da

toxicidade do colesterol.

Avaliando agora o efeito sinérgico dos extractos aquosos em conjunto com o

etanol e colesterol em simultâneo (figura 20):

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Figura 9- Representação gráfica da viabilidade celular, em células HeLa, em função da concentração etanol após 4 horas de contacto.

Constata-se que ao fazer o ensaio dos extractos aquosos P. boldus e P. barbatus

em sinergia com etanol e colesterol em simultâneo, o efeito tóxico do etanol é

extensamente aumentando em células HeLa. Verifica-se assim um efeito acumulativo

no aumento da citotoxidade do etanol por parte dos extractos aquosos P. boldus e P.

barbatus juntamente com o colesterol.

Tabela 9 - Ensaios de citotoxicidade em células HeLa e Caco-2 em viabilidade celular (IC50) (a) extractos, colesterol e etanol (b) acção dos efeitos sinergéticos

a)

Células P. boldus (mg/mL) P. barbatus (mg/mL) Etanol

(M) Colesterol

(M)

HeLa 0,66 ± 0,02 a) 1,39 ± 0,12 1,03 ± 0,18

Caco-2 a) a) 1,5 ± 0,02 2,16 ±0,47 b)

Células Etanol + P.

boldus1

Etanol + P. barbatus

1

Colesterol + P. boldus

1 Colesterol + P.

barbatus1

Colesterol + etanol 0,7 M

Etanol + colesterol 0,1 M

HeLa (M) 0,55 ± 0,09 0,55 ± 0,05 1,44 ± 0,37 b) < 0,2 1,33 ± 0,28

Caco-2 (M) 1,58 ± 0,03 1,63 ± 0,17 2,24 ± 0,05 2,41 ± 0,2 Não determinado Não determinado

1) P.boldus e P.barbatus utilizados em concentrações de 0,2 mg/mL em células HeLa e de 0,5 mg/mL em células Caco-2 a) Valor de IC50 não encontrado para valores inferiores a 3,5 mg/mL b) Valor d IC50 não encontrado para valores superiores a 1,5 M

Em suma, efeitos sinergísticos de extractos aquosos de P. barbatus ou P. boldus

com etanol potenciam a citotoxicidade do etanol em células HeLa e reduzem

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

0,5 1 1,5 2 2,5

Via

bili

dad

e (%

)

Etanol (M)

Citotoxicidade em células HeLa

Etanol + Colesterol 0,1 M + P.boldus 0,2 mg/mL

Etanol + Colesterol 0,1 M + P.barbatus 0,2 mg/mL

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ligeiramente a citotoxicidade deste em células Caco-2; com colesterol diminuem a

citotoxicidade do colesterol, quer em células HeLa quer em células Caco-2.

2.3.Análise de toxicidade a nível de expressão proteica Uma vez que o extracto aquoso de P. boldus mostrou toxicidade em células

HeLa (IC50 de 0,66 ± 0,02 mg/mL), analisou-se se esta toxicidade se poderia expressar a

nível proteico.

2.3.1. Análise da expressão proteica por electroforese SDS-PAGE

Com o intuito de se fazer uma análise da expressão proteica de células HeLa

sujeitas a condições de stress por parte do extracto aquoso P. boldus realizou-se

electroforese em gel de poliacrilamida na presença de dodecilssulfato de sódio (SDS-

PAGE).

Em estudos de proteomica, uma boa preparação da amostra, ou seja, a

extracção do máximo número de proteínas de uma dada célula é o passo mais

importante para a subsequente separação, resolução e identificação das proteínas

(Park, 2004) [92]. Uma padronização do processo de extracção proteica para o tipo de

células em estudo é essencial para maximizar o número de proteínas presentes na

amostra a ser avaliada.

Optimizaram-se diferentes metodologias na extracção de proteínas de células

HeLa, para aplicação em electroforese SDS-PAGE. O tampão constituído pelo

detergente CHAPS 2 % e ureia 8 M, para solubilizar as proteínas, foi o tampão que

apresentou o melhor resultado (figura 21). Ao extrair proteínas de células HeLa

(2,5x107 células de uma placa de 100 mm) com este tampão, com subsequente

sonicação, obteve-se uma grande quantidade proteica (1,17 ± 0,41 µg/µL para a

fracção insolúvel e 4,12 ± 0,52 µg/µL para a fracção solúvel), não havendo perdas

visíveis de material proteico (verificado no microscópio óptico).

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Figura 10- Análise electroforética de extractos proteicos de células HeLa em gel SDS-PAGE corado com azul de Coomassie. Fracção insolúvel: 1-Controlo (Células não sujeitas a stress) 2- P. boldus (Células sujeitas ao stress do P. boldus); Fracção solúvel: 3- Controlo 4- P. boldus ; Fracção insolúvel do meio de cultura: 5- Controlo 6 - P. boldus; 7- Meio sem contacto com as células; Fracção solúvel do meio de cultura: 8- controlo 9- P. boldus.

Efectuou-se um fraccionamento celular dos extractos proteicos por

centrifugação. Analisando a fracção insolúvel (poços 1 e 2), este constituído

maioritariamente pela fracção nuclear, verifica-se que células HeLa apresentam um

perfil proteico complexo. Quando são sujeitadas ao stress do extracto aquoso de P.

boldus (poço 2), este em condições tóxicas, não se verificam diferenças a nível

proteómico numa análise por electroforese SDS-PAGE. Quanto à fracção solúvel (poço

3 e 4), constituída maioritariamente pela fracção citosólica e mitocondrial, não se

verificam também diferenças entre a expressão proteica por parte das células HeLa

(controlo) e as células HeLa sujeitas ao stress citotóxico (3 e 4 respectivamente).

As células HeLa estabelecem ligações de adesão entre si. Adesão intracelular

é uma propriedade biológica fundamental em organismos multicelulares

desempenhando um papel importante no crescimento e na diferenciação morfológica

(Deman et al 1974) [93]. Como tal, analisou-se também o meio de cultura que esteve

em contacto com as células uma vez que verificou-se que após 4 horas de incubação

com o extracto aquoso de P. boldus as células, anteriormente aderidas à placa de

cultura, encontravam-se numa minoria “soltas” na placa. Numa primeira análise,

mediu-se o pH dos meios. Tanto o meio de cultura das células controlo como o meio

de cultura das células sujeitas ao stress por parte do extracto aquoso de P. boldus

exibiam um pH básico constante (pH 8) após 4 horas de incubação. Assim, chegou-se à

conclusão que hidrólise química não era o agente responsável por estas quebras de

ligação.

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Albumina

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Sabe-se que a tripsina, um enzima pertencente à classe dos endopeptidases

responsável por catalisar ligações peptídicas que envolvam os grupos carboxilo da

arginina e lisina, é um agente causador do desprendimento de glicoproteínas de

membrana de células HeLa (Deman et al 1974) [93]. Assim, foi-se analisar se o

processo de desprendimento das proteínas causado pelo efeito citotóxico do extracto

de P. boldus apresentava uma “assinatura” nas proteínas libertadas para o meio

exterior. Analisando a fracção solúvel do meio de cultura (poços 8 e 9), verificou-se

que realmente existe uma quantidade significativa de proteínas secretadas para o

meio exterior. Ao comparar as proteínas secretadas para o meio exterior sujeitas ao

stress do extracto de P. boldus com o controlo (poço 7) não se verificam novamente

diferenças. Analisando a fracção insolúvel do meio de cultura, após centrifugação,

verificou-se que a quantidade de proteínas “retidas” no pellet não é significativa

(poços 5 e 6). É de notar ainda a presença da proteína albumina em grande quantidade

nos poços 8 e 9 devido ao meio de cultura celular (poço 7).

2.3.2 Análise da expressão proteíca por electroforese bidimensional

Prosseguiu-se a análise dos extractos proteicos de células HeLa por

electroforese bidimensional a fim de se obter uma melhor resolução do perfil proteico

(figura 22).

A electroforese bidimensional separa proteínas pela sua focalização

isoeléctrica, na primeira dimensão e pelo seu peso molecular, na segunda dimensão.

Assim quando combinadas, as técnicas de focalização isoeléctrica e SDS-PAGE,

resultam num método mais eficiente, permitindo uma maior sensibilidade na

separação de proteínas.

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Figura 22- Análise electroforética de extractos proteicos de células HeLa em gel SDS-PAGE corado com nitrato de prata após isoelectrofocagem (pH 3-11) dos extractos (66 µg). Fracção insolúvel das proteínas: a) Controlo e b)

Células sujeitas ao stress do P. boldus. Fracção solúvel das proteínas: c) Controlo e d) Células sujeitas ao stress do P. boldus

Ao analisar os géis obtidos após electroforese bidimensional (figura 22 a-d),

correspondentes respectivamente aos poços 1-4 da figura 21: controlo da fracção

insolúvel (poço 1), células sujeitas ao stress do P. boldus- fracção insolúvel (poço 2),

controlo da fracção solúvel (poço 3) e células sujeitas ao stress do P. boldus - fracção

solúvel (poço 4), constata-se mais uma vez que células HeLa apresentam um perfil

proteico complexo. Numa primeira dimensão, após isoelectrofocagem, constata-se

que o perfil proteico apresenta um intervalo de ponto isoeléctrico entre 4 e 10. Numa

segunda dimensão, após separação por massa molecular, observa-se que células HeLa

são constituídas por proteínas com peso molecular de 10 a 250 KDa. Associando estas

duas propriedades, ponto isoeléctrico e massa molecular, consegue-se fazer assim

uma análise mais detalhada do perfil proteico.

Mr (kD)

250

150 100 75 50 37

25

20

15

10

a)

d) c)

b) Controlo

Controlo Mr (kD)

250

150 100 75 50 37

25

20

15

10

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Ao comparar o gel controlo, de extractos proteicos de células HeLa tratadas

unicamente com meio (figura 13.a), com o gel de extractos proteicos de células HeLa

sujeitas ao stress do P. boldus (figura 13.b) ao qual foi aplicado a mesma quantidade

proteica, verifica-se que o perfil proteíco que ambos apresentam contém diferenças

notórias. Uma vez que se aplicou a mesma quantidade proteica nos 2 géis pode-se

concluir que a acção citotóxica do extracto aquoso de P. boldus influencia na expressão

de certas proteínas tanto na fracção nuclear- fracção insolúvel (figura 13.a e 13.b)

como na fracção citosólica- fracção solúvel (figura 13.c e 13.d). Constata-se também

que o perfil proteico encontrado na fracção solúvel é totalmente diferente do perfil

proteico encontrado na fracção insolúvel.

Com base no dogma central da bioquímica de que a informação genética está

contida no DNA, sendo esta transferida para o mRNA e deste para a proteína, é de se

esperar que a expressão do mRNA se reflicta exactamente o mesmo que o proteoma.

No entanto, pouco se sabe a respeito da capacidade das células em prognosticar que

um aumento na expressão proteica seja devido a um aumento na expressão do mRNA.

Algumas modulações a nível de expressão proteica podem representar um ajuste em

resposta ao ambiente. Uma proteína pode ocorrer em diferentes posições num gel

como consequência de diferenças na modificação pós-traducional. Como tal, para uma

análise mais detalhada é crucial a quantificação da expressão proteica e de suas

modificações.

Existem poucos estudos sobre a acção de “chás” a nível da expressão proteica

das células eucariotas. Romero-Romero et al (2002) estudaram a nível celular as

alterações bioquímicas de plantas sujeitas ao stress de aleloquímicos1. De acordo com

o que foi descrito pelos autores, é possível que proteínas que tiveram síntese

aumentada em resposta ao stress estejam relacionadas com mecanismos de defesa

tais como as proteínas de choque térmico. Por outro lado as que tiveram sua síntese

diminuída são descritas como proteínas envolvidas em processos de divisão celular

[94].

1 Aleloquímicos – compostos libertados por plantas ou seus resíduos e que podem ter efeito negativo ou positivo noutras plantas.

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VIII. Conclusão

Extractos aquosos de Peumus boldus, constituídos maioritariamente por

procianidina B1/B2, catequina, ácido dicafeoilquínico, rutina, kaempferol-3-0-

rutinosido, isoramnetina desoxihexosil-pentosido e isoramnetina di-ramnoside, foram

inicialmente sujeitos à acção dos sucos gástrico e pancreático artificiais, não

demonstrado alterações a nível da composição química e a nível das actividades

biológicas, actividade antioxidante e actividade inibitória ao enzima

acetilcolinesterase, após simulação do processo digestivo.

Extractos aquosos de P. boldus demonstraram ser potenciais antioxidantes

naturais (EC50 decocção de 18,5 ± 0,1 µg/mL e EC50 infusão de 18,7 ± 0,1 µg/mL) e potenciais

inibidores do enzima acetilcolinesterase (IC50decocção de 0,93 ± 0,02 mg/mL e IC50infusão

de 1,24 ± 0,03 mg/mL).

Após verificação que o “chá” de P. boldus passa o tracto gastro-intestinal sem

ser metabolizado, teve-se como principal objectivo contribuir para a compreensão de

algumas propriedades etnobotânicas tradicionalmente atribuídas ao P. boldus

(diminuição do colesterol na corrente sanguínea) e P. barbatus (acção sobre a

toxicidade do etanol). Prosseguiu-se assim para o estudo de citotoxicidade em linhas

celulares humanas.

Constatou-se que células HeLa são sensíveis a extractos aquosos de P. boldus

(IC50 de 0,66 ± 0,02 mg/mL) e insensíveis a extractos aquosos de P. barbatus, enquanto

que células Caco-2 são insensíveis a estas duas espécies de plantas. Quanto ao etanol,

este demonstrou ser tóxico quer em células HeLa (IC50 1,39 ± 0,12 M), quer em células

Caco-2 (IC50 1,5 ± 0,02 M). Quanto ao colesterol, o IC50 encontrado para as células HeLa

foi de 1,03 ± 0,18 M enquanto que para as células Caco-2 foi de 1,5 ± 0,02 M.

Efeitos sinergéticos foram também avaliados: P. boldus/P. barbatus quando

administrados concomitante com o etanol potenciam a citotoxicidade do etanol em

células HeLa (IC50 0,55 ± 0,09/ 0,55 ± 0,05 M) e reduzem ligeiramente a citotoxicidade

deste em células Caco-2 (IC50 1,58 ± 0,03/1,63 ± 0,17 M); associados ao colesterol

diminuem a citotoxicidade deste quer em células HeLa (IC50 1,44 ± 0,37/ > 1,5 M) quer

em células Caco-2 (IC50 2,24 ± 0,05/ 2,41 ± 0,2 M).

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58

Como o extracto aquoso de P. boldus demonstrou toxicicidade em células Hela,

foi-se averiguar se essa toxicidade tinha influência na expressão proteica em células

HeLa. Optimizou-se assim a análise de extractos proteicos por parte de células HeLa

por electroforese SDS-PAGE e electroforese bidimensional. Foram detectadas

diferenças a nível da expressão das proteínas de células HeLa por electroforese

bidimensional.

No final deste trabalho, pode-se concluir que os “chás” obtidos a partir de P.

boldus e P. barbatus podem ser utilizados como potenciais antioxidantes, inibidores da

actividade do enzima acetilcolinesterase e como redutores da toxicidade do colesterol.

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59

IX. Perspectivas

Para estudos futuros, seria relevante isolar por HPLC-DAD os compostos

constituintes dos extractos e seguidamente determinar as actividades biológicas de

cada composto. Assim seria possível identificar novos compostos “puros” responsáveis

por essas actividades biológicas e por consequência identificar potenciais candidatos

no alívio de sintomas de diversas doenças.

Seria também importante estender o estudo da digestão gastro-intestinal dos

extractos aquosos. A acção da amilase salivar poderá também exercer alterações /

degradações nos compostos dos extractos assim como as próprias células HeLa e Caco-

2 poderão metabolizar os compostos constituintes dos extractos aquosos.

Produtos à base de plantas medicinais podem reduzir ou potencializar o efeito

de diversos fármacos. Torna-se assim relevante o estudo da administração

concomitante dos extractos aquosos com os fármacos convencionais.

Quanto ao perfil proteico das células e suas alterações com o stress induzido,

um estudo mais aprofundado em electroforese bidimensional exerceria uma melhor

análise das alterações a nível do perfil proteico. Identificação das proteínas sensíveis

ao stress induzido seria também importante na compreensão dos efeitos a nível

molecular.

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