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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS ARTES
“PATRIMÓNIO, EDUCAÇÃO E CIDADANIA – PROJETO
DE SERVIÇO EDUCATIVO NA CASA DOS PATUDOS
MUSEU DE ALPIARÇA”
VANDA BELA MAXIMIANO LUCIANO
MESTRADO EM PATRIMÓNIO PÚBLICO, ARTE E MUSEOLOGIA
2012
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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE BELAS ARTES
MESTRADO EM PATRIMÓNIO PÚBLICO, ARTE E MUSEOLOGIA
ORIENTADO PELO PROFESSOR DOUTOR LUÍS GONÇALVES
CO-ORIENTADO PELA MESTRE ANA RITA CANAVARRO
2012
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Pela memória do meu pai e pelos meus filhos
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Agradecimentos Agradeço aos meus filhos, pelo tempo que lhes tomei. À minha cara-metade que acreditou
em mim, mais do que eu mesma e quando me afastava do meu objetivo, me encaminhava para o mesmo.
Agradeço ao Professor Doutor Manuel Calado pelo entusiasmo que criou em mim através da
Educação Patrimonial, durante as aulas do 1º ano do Mestrado de Património Público, Arte e Museologia.
Agradeço à Mestre Ana Rita Canavarro por me ter dado apoio incondicional, ter lido e relido o
que escrevi, apesar da doença que a acometeu e de ter sido mãe, nunca deixou de dar resposta às minhas questões, à minha tese, tendo sido a minha “bóia de salvação”.
Ao Professor Doutor Luís Gonçalves por ter aceite orientar-me, apesar de estar sempre muito
ocupado com tudo o que é inerente à burocracia das funções que exerce na Faculdade de Belas-Artes e do pouco tempo que lhe restava me ter ouvido diligentemente.
Ao Professor Doutor João Pedro Fróis por me ter disponibilizado bibliografia tão atual para o
meu trabalho e pelas palavras de apoio. Agradeço ao meu amigo e conservador da Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça, Dr. Nuno
Prates pela disponibilidade com que me acompanhou e pelas diligências efectuadas, por acreditar no projeto e em mim.
Agradeço ainda à Câmara Municipal de Alpiarça, neste caso na pessoa do Dr. Mário Pereira,
Presidente da autarquia por se ter sempre disponibilizado para me prestar esclarecimentos no que concerne ao património cultural de Alpiarça e me ter posto à vontade para trabalhar com o Museu.
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Resumo
Parte-se para a criação de um projeto de Serviço Educativo para um organismo específico, Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça, com o intuito de permitir a perpetuação da memória e aproximar os habitantes do seu património. Esta ideia deriva de uma premissa a aplicar assente na ideia do projeto “Património, Educação e Cidadania”. Acreditamos que se aproximar-mos as pessoas do seu património poderemos tornar este visível, sendo este de uma dimensão incomensurável.
Criamos ideias de atividades que podem aproximar públicos de várias gerações, permitindo a coalescência entre os mais velhos e os mais novos, no sentido de perpetuar conhecimento do património cultural que os rodeia, incentivando-os a ir ao Museu e a tornar seu, o que afinal é de todos.
A intenção de todo este trabalho, vem no seguimento de perceber que são as próprias pessoas do concelho que menos são conhecedoras do seu património, sem promovermos este conhecimento não conseguimos promover educação pela cultura, nem tão pouco apelar a uma cidadania que se quer ativa.
A memória, a identidade são legados do passado sendo estes que nos definem quer seja localmente, regionalmente ou até mesmo no âmbito nacional, é o que nos posiciona aqui ou ali, diferenciando-nos. O passado é o caminho para o futuro, sabendo quem somos sabemos para onde queremos ir e de que forma o que queremos fazer.
Palavras Chave: Património; Educação; Cidadania; Inclusão; Memória; Identidade; Serviço Educativo.
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Abstract
It starts to create a project of Educational Service for a specific organization, Casa Patudos -
Museum Alpiarça, in order to allow the perpetuation of the memory and bring the inhabitants of their heritage. This idea stems from a premise to apply based on the idea of the "Heritage, Education and Citizenship." We believe that if we bring people of their heritage can make this visible, this being an immeasurable dimension.
We create ideas for activities that can bring audiences of several generations, allowing the coalescence between the older and younger, to perpetuate knowledge of cultural heritage that surrounds them, encouraging them to go to the Museum and make your, which after all is all. The intent of all this work follows on realizing that they are the very people of the county who are less knowledgeable of their heritage, without this knowledge can not we promote education by promoting culture, appeal to a citizenry that wants active.
Memory, identity are legacies of the past and those that define us either locally, regionally or even nationally, is what positions us here or there, differentiating us. The past is the way forward, knowing who we are, we know where we want to go and how we want to do. Keywords: Heritage, Education, Citizenship, Inclusion, Memory, Identity, Educational Services.
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Índice de matérias: Introdução _____________________________________________ p. 1;
a) Enquadramento do Estudo _______________________________ p. 3; b) Motivações iniciais _____________________________________ p. 3; c) Objetivos _____________________________________________ p. 5; d) Importância ___________________________________________ p. 6; e) Limitações do estudo ___________________________________ p. 6; f) Organização __________________________________________ p. 7;
Capítulo I ______________________________________________________ p. 9;
1.1. Função educativa dos Museus no âmbito internacional e nacional e breve história dos Serviços Educativos _____________________ p.10; 1.1.1. Âmbito internacional – matizes entre países no continente europeu e fora dele
_________________________________________________________ p.10; 1.1.2. Âmbito Nacional – breves referências históricas do século XVIII ao século XX
_________________________________________________________ p.13;
1.2. Construção de memória e reforço da identidade ______________ p.15; 1.3. Noção de Património ___________________________________ p.16; 1.4. Cidadania ativa: participar para mudar ______________________ p.16;
1.5. “Projetar” o Museu – Estratégias de aproximação a “novos” públicos-alvo _________________________________________________ p.17;
1.6. Definição de raio de ação ________________________________ p.18; 1.6.1. Âmbito local ______________________________________________ p.18; 1.6.2. Âmbito Regional e Nacional __________________________________ p.18; 1.6.2.1. Área de influência ___________________________________ p.18; 1.6.3. Públicos _________________________________________________ p.19; 1.6.3.1. Crianças e Jovens ___________________________________ p.19; 1.6.3.2. A maior massa populacional da terra: Os idosos ___________ p.19; 1.7. Estado da Questão da Casa dos Patudos e análise de serviços
educativos em outros espaços ____________________________ p.20; 1.7.1. Casa-Museu Braamcamp Freire (Santarém) _____________________ p.20; 1.7.2. Casa-Estúdio Carlos Relvas (Golegã) __________________________ p.20;
1.8. Análise do estado da questão da Casa dos Patudos face aos serviços
educativos em outros espaços equiparados _________________ p.21;
Capítulo II _____________________________________________________p.23;
2.1. Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça: Ontem e hoje __________ p.24; 2.1.1. História e Caráter Institucional ________________________________ p.24; 2.1.2. Vocação/Missão de instituição ________________________________ p.25; 2.1.3. Dependência Orgânica e Financeira/Tutela ______________________ p.25;
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2.1.4. Coleções e Plano de Atividades _______________________________ p.25; 2.1.5. Relações com exterior ______________________________________ p.29;
2.2. Roteiros de visita adequados aos diferentes públicos __________ p.30; 2.3. O que tem sido feito, em iniciativas pontuais, na Casa do Patudos –
Museu de Alpiarça _____________________________________ p.30; 2.4. O que se pretende fazer atendendo à inexistência de um “Serviço
Educativo” e que se quer implementar ______________________ p.31; 2.5. Análise FOFA ou SWOT ________________________________ p.31;
2.5.1. “Strengths” (Forças) ________________________________________ p.31; 2.5.2. “Opportunities” (Oportunidades) _______________________________ p.32; 2.5.3. “Wicknesses” (Fraquezas) ___________________________________ p.32; 2.5.4. Threaths” (Ameaças) _______________________________________ p.32;
Capítulo III ____________________________________________________ p.33;
3.1. Ideias para conteúdos a explorar nos “Serviços Educativos” _____ p.34; 3.1.1. “Narrativas e formas de ver – a história e as estórias que os objetos/obras
contam…” (crianças/jovens e seniores) _________________________ p.34; 3.1.2. “Baú das memórias – Épocas, cultura e formas de vestir” (crianças/jovens e
seniores) _________________________________________________ p.34; 3.1.3. “Mundo dos tapetes” – a estória de um tapete voador” (crianças) _____ p.35; 3.1.4. “Rumo ao colecionismo” (crianças) _____________________________p.36; 3.1.5. “Jardim” das experiências (crianças e jovens, famílias e seniores) ____ p.36; 3.1.6. “Pequenos profissionais” no Museu (crianças) ____________________ p.36; 3.1.7. “Os leques da D. Eugénia Relvas” (crianças) _____________________ p.37; 3.1.8. “Rural Sketcher’s – Movimentos rurais” (crianças/jovens e seniores) __ p.38; 3.1.9. Visitas programadas com escolas (crianças/jovens): “Ao encontro da
República: O escudo” ______________________________________ p.39; 3.1.10. Visita dramatizada e orientada: “A governanta da casa Relvas, Dona Aurélia Xavier” _________________________________________________________ p.40; 3.1.11. “A mala da música – de Domenico Scarlati a Beethoven” ___________ p.41;
3.2. Explorar o uso das novas tecnologias como potenciadoras de uma
maior interacção com o Museu ___________________________ p.42;
Síntese final ___________________________________________________p.43; O papel da Casa dos Patudos na Educação Patrimonial tendo em conta a criação de Memória e Identidade voltada para uma Cidadania Activa com enfoque na criação de um “Serviço Educativo” ____________________ p.44;
Bibliografia Consultada ________________________________________ p.49; Webgrafia consultada __________________________________________p.53;
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Índice de figuras: Figura 3.1. – Fotografia de época da Casa dos Patudos;
Acervo fotográfico da Casa dos Patudos; Digitalização do original, gentilmente cedida pelo Dr. Nuno Prates, Conservador da Casa dos Patudos _____________________________________________________p.34;
Figura 3.2. – Tapete de Arraiolos;
Séc. XVIII; Seda sobre linho; N.º inventário: 84.326 Fotografia em formato digital gentilmente cedida pelo Dr. Nuno Prates, Conservador da Casa dos Patudos _____________________________________________________p.36;
Figura 3.3. – Um dos leques pertencentes à coleção de D. Eugénia Relvas
Séc. XVIII ou XIX; Tartaruga, papel e madrepérola; N.º de inventário: 86.73; Fotografia em formato digital gentilmente cedida pelo Dr. Nuno Prates, Conservador da Casa dos Patudos
_____________________________________________________ p.37; Figura 3.4. – Gravura da Casa dos Patudos; Desenho a carvão;
Autor desconhecido; Digitalização gentilmente cedida pelo Dr. Nuno Prates, Conservador da Casa dos Patudos _____________________________________________________p.38;
Figura 3.5. – José Relvas proclamando a República, nos Paços do Concelho de
Lisboa, a 5 de Outubro de 1910; Fotografia de Joshua Benoliel; Acervo fotográfico da Casa dos Patudos; Digitalização de fotografia original, gentilmente cedida pelo Dr. Nuno Prates, Conservador da Casa dos Patudos; _____________________________________________________p.39;
Figura 3.6. – Atividade desenvolvida entre Escola e Museu onde se recriaram as
vivências da época da famíllia Relvas; Digitalização de fotografia, gentilmente cedida pelo Dr. Nuno Prates, Conservador da Casa dos Patudos; _____________________________________________________p.40;
Figura 3.7. – Jarra “Beethoven”;
Autor: Rafael Bordalo Pinheiro; N.º de inventário: 84.357 Fotografia: Vanda Luciano, 2012; ____________________________________________________ p.41;
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Índice de gráficos: Gráfico 1 – Representatividade percentual dos visitantes infantis (<12 anos) e
jovens >12 anos, durante o biénio de 2011-2012 ______________p.47;
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Índice de anexos: Anexo 1 – Excerto da Lei-quadro n.º 47 de 19 de Agosto de 2004 publicada em
Diário da República, I série A, n.º 195 ______________________ p.56; Anexo 2 – Excerto da Lei de bases n. 46/86 do Sistema Educativo publicada em Diário da República, I série, n.º 237 __________________________________ p.64;
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A “Nova Museologia” alia-se a uma coalescência entre as coleções, na sua conservação, na
satisfação das necessidades dos públicos, com um enfoque na educação e comunicação. É neste
contexto que o Museu deve estar ao serviço das pessoas, dos públicos, deixando de centrar-se em si
mesmo. A mudança que se deu ao nível do aproveitamento do Museu, permitiu que este seja visto
atualmente como um meio didático e/ou educativo. As razões que levaram a esta mudança são
várias, desde as de ordem científica, às de ordem pedagógica, didática, tecnológica e civilizacional.
Este novo contexto associado aos Museus veio alterar por completo a sua dinâmica em termos
organizacionais, reequacionando a estrutura funcional das ações a desenvolver. É desta forma que o
Serviço Educativo, a sua dimensão e projeção ao nível da escola vem complementar o seu sentido,
nas aprendizagens, assumindo na educação museológica um impacto significativo. Aliás, o Serviço
Introdução:
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Educativo é tido como uma projeção pedagógica do objecto, mais do que do texto, que se prende ao
artefacto. O objecto tido como factor de informação e estímulo capaz de produzir interesse por mais
conhecimento1. Assim, a função dos objetos é insubstituível e ao mesmo tempo o seu manuseamento
importante, para que o pensamento se possa estruturar. Esta ideia assenta numa premissa que é
hands on e brains on, porque fazer implica pensar e há aprendizagem sempre que fazemos algo:
learning by doing2.
Contudo, importa não esquecer todo o aspecto emocional associado ao processo de encontro
entre indivíduo e objeto. Ao estudar a inteligência emocional podemos aperceber-nos que os bens
culturais transmitem conceitos, desde os associados à História como os associados à beleza, capaz
de levar a situações de inferência de gosto. Importa perceber que o Museu é um espaço de educação
e de comunicação3. Esta dinâmica só mudaria por completo na Europa no decurso da 1ª Guerra
Mundial, sob influência do modelo americano, em que o papel do Museu enquanto espaço educativo
e social passa a ter uma nova dinâmica. Em Portugal seria nos anos 60 que o seu papel ganharia
impulso e em 2004 que seria legislado o seu papel (44 anos depois). Esta situação de alteração veio
na sequência da aprovação da Lei Quadro dos Museus 47/2004, por altura da sua promulgação,
sendo que a partir desta considera-se que o papel dos Museus será o desenvolvimento científico e
artístico, assente numa missão eminentemente pedagógica e social4.
Tendo em conta toda esta dinâmica, consideramos de extrema importância desenvolver um
projeto ligado à Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça, no sentido de potenciar o caráter identitário,
de cidadania participativa, de educação voltados para o património imensurável que este pode
oferecer. Cabendo a Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça na designação dada pela Lei-Quadro
47/2004, importa salientar os aspetos a desenvolver de acordo com as seguintes premissas atinentes
ao seu funcionamento:
1. Dotar de sentido todo o acervo do Museu, valorizando-o através da investigação,
incorporação, inventário, documentação, exposição, tendo por base objetivos científicos, lúdicos e
pedagógicos;
2. Facultar o acesso regular das obras ao público, fomentando a democratização da
cultura, promoção pessoal e desenvolvimento social;
A ideia seria dar um nome e um “corpo” ao projeto, que designa por “PensArte: Projeto de
Património, Educação e Cidadania voltada para a Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça”.
a) Enquadramento do Estudo:
O presente estudo enquadra-se na necessidade de criação de um Serviço Educativo na Casa
dos Patudos – Museu de Alpiarça, até agora inexistente. A recente reabertura, após obras profundas
de requalificação, trouxe um grande aumento na procura por parte de visitantes e constatamos que
entre estes, as escolas e grupos infantojuvenis ocupam uma pequena percentagem. Ora, como
1 RIVIÈRE, Georges Henri (1989) – La Museologia. Curso de Museologia/Textos y testimonios, pág.474. 2 RUSSEL, Terry (1994) – The enquiring visitor: usable learning theory for museum contexts, 1994, pp. 19-20. 3 HERNÁNDEZ, Francisca Hernández (1998) – El museo como espacio de comunicatión. 4 Lei-quadro 47/2004 de 19 de Agosto, D.R. Série I-A.
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poderá sobreviver um Museu, nos dias de hoje, sem este público? Pode este, ser um verdadeiro
investimento para o futuro!
A resposta parte justamente da criação de um gabinete de Serviço Educativo e que este
possa ir ao encontro das escolas, fazendo com que venham ao Museu e que usufruam de
experiências únicas dentro do seu espaço, criando laços que os acompanhem durante a sua vida,
contraponto para este público está também o público Sénior. Neste caso no sentido de enriquecer o
acervo da Casa com as suas memórias e experiências vividas em torno da presença desta, em
Alpiarça, e da família Relvas, sua proprietária.
A Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça é um espaço voltado para a Arte e História. Desta
forma, o Museu pode ser visto como um meio capaz de facultar aprendizagens e criar temáticas
enquadráveis nos currículos escolares com vista à aprendizagem pela Arte através da criação de
ateliers, workshops, mediação de visitas teatralizadas, etc. Neste momento existem atividades no
sentido de criar esta dinamização, mas não um serviço pedagógico como em outros organismos no
mesmo patamar. Seria, portanto, urgente que se pudesse solucionar esta situação, tendo em conta
uma programação pedagógica e a criação deste serviço exponenciando as mais diversas áreas
temáticas, que a Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça apresenta.
b) Motivações iniciais:
A escolha do tema para dissertação prende-se com uma série de motivos, pessoais e não só.
Tendo em conta o interesse demonstrado e o gosto pelo ensino e sendo mãe, resolvi direcionar este
estudo para o Serviço Educativo, tendo por base um tema: “Património, Educação e Cidadania”,
orientando-o para um Museu específico, a Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça, terra de onde sou
natural. Portanto, será o designado tema, associado a um conceito criado por mim, o qual apelidei de
“PensArte” e que consiste em trabalhar com as Artes, no sentido de que estas permitem, em termos
de educação uma maior aproximação cognitiva, afetiva, motora e social. As Artes são importantes na
capacidade do Saber-Ser, mais do que no Saber-Fazer5, a educação pela arte permite-nos ser mais
assertivos e criar ideias, conceptualizar. É neste sentido, que pretendo orientar a minha dissertação
para que crie a apreensão do significado de preservação, de cidadania ativa em relação ao
Património, seja este material ou imaterial, tangível ou intangível. Esta ideia será a base para a
conceptualização de um elemento criador e potenciador, de identidade e memória, que espero que se
“frutifique” nas gerações vindouras, isto porque a experienciação direta é muito mais ampla do que a
apreensão cognitiva. Por isso as experiências que se podem proporcionar no Museu podem ser
directrizes “formadoras” da personalidade, daqueles que podem ser levados a interagir com este.
Portanto, a importância de proporcionar esta aproximação deste património incomensurável das
pessoas poderá ser a “ponte” para uma linguagem de afetos que poderão ser o garante da
sobrevivência e transmissão do saber sobre este.
O esboço deste trabalho deve ser feito numa análise profunda dos públicos a quem quero
chegar, neste caso o infantojuvenil, enquadrando as escolas, levando a uma interacção
5 SOUSA, Alberto B. (2003) – Educação pela arte e Artes na Educação, Col. Horizontes Pedagógicos, vol. 1, Lisboa, pp. 109-113.
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Museu/Escola, não esquecendo o público Sénior, falando deste mais adiante. Esta ideia vem sendo
aceite e tida como importante, desde 1986, quando saiu a Lei 46/86 que dita que a educação por via
da Arte é tida como alavanca para o desenvolvimento das capacidades de expressão, a imaginação
criativa, a atividade lúdica, promovendo a Educação Artística e Estética, desde o Pré-escolar até ao
Ensino Especial6. A oficialização da Educação Artística veio como que aclarar o seu sentido no artigo
nº 3 alínea b) da Lei 46/86, no intuito de “Contribuir para a realização do educando, através do pleno
desenvolvimento da personalidade, da formação do caráter e da cidadania, preparando-o para uma
reflexão consciente sobre os valores espirituais, estéticos, morais e cívicos e proporcionando-lhe um
equilibrado desenvolvimento físico”.
Voltando a falar no público sénior, sendo que este em termos de número são a maior “fatia”
populacional na Vila de Alpiarça, teria interesse fazer a sua inclusão no projecto e também o
enquadramento através da Universidade Sénior, entrecruzando experiências geracionais.
A educação é um pilar dos valores de uma comunidade, sendo o património o espelho de
valores dessa comunidade. Não é um termo por si só fácil de projectar, no entanto, vemos a
educação como um meio, uma ferramenta principal para chegar a um público. Neste trabalho, ir ao
encontro a uma temática que cremos fazer todo o sentido: “Património, Educação e Cidadania”. Estes
conceitos devem andar de “mãos dadas”, afim de projetar a temática que queremos desenvolver, na
área da Educação Patrimonial voltada, claro está, para os serviços educativos. Tendo por ideia
primacial que o objectivo da educação é formar o corpo, o coração, o espírito do educando”7, gostaria
que este fosse o fim último da nossa abordagem, numa vertente prática, resultado este, que
pudéssemos visualizar nos educandos.
Importa, por isso, consciencializar o respeito pelo património cultural, valorizando as
diferenças, para que a diversidade cultural possa criar complementaridade e não fragmentação. Pois,
se tivermos consciência das nossas raízes, teremos uma noção de pertença mais forte.
Em conclusão, o projecto prende-se ao ensino através do património, com vista à criação de
identidade e memória, em torno de conceitos importantes: o de “Inclusão”, o de “Cidadania Ativa” e
“Participação no Património” com vista à integração na comunidade de faixas etárias distintas. Afinal,
o património é algo que herdamos dos nossos antepassados, implicando um sentido de apropriação,
relacionado com uma manifesta relação de uma comunidade com a sua terra e tudo o que dela faz
parte. No entanto, não podemos esquecer que a temática associada à cidadania implica essa noção
de apropriação de património dependente de direitos e deveres. Promovendo esta
interdisciplinaridade, podemos criar uma oportunidade de processo activo de conhecimento crítico do
património, com vista à valorização do mesmo. A missão deste trabalho é, sendo educador ou
professor, fazer reflectir os mais jovens, sensibiliza-los para a “Cidadania Patrimonial”, abordando o
património local, com o intuito de incentivar atitudes de preservação e apreensão das noções de
cidadão ativo, no que concerne á protecção do património e mormente à sua responsabilidade social
perante este, através do trabalho do Serviço Educativo do Museu.
6 SOUSA, A.B. (1998) – Programação e avaliação desenvolvimental, na pré-escolaridade e no 1º ciclo do ensino básico, Lisboa, Instituto Piaget. 7 GARRETT, Almeida (1829) – Da Educação, Lisboa, Gulbenkian.
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O papel da História na construção dos valores e na preparação de um exercício consciente
da cidadania permite que se criem competências que facultem desde cedo a preservação do
património, que acaba por ser de todos8. A inclusão destas temáticas nos programas curriculares
resultaria de uma maior aproximação, das crianças/jovens em relação aos Museus, fazendo nova
ressalva para a importante participação dos mais idosos, que se pretende que sejam uma mais-valia
na interação com o público mais jovem, tentando por via da sua “inclusão” reforçarem-se os laços
entre estes e a comunidade, com o património local.
c) Objetivos:
Este trabalho nasce da necessidade de aproximar as pessoas do seu património, no sentido
das educar ou reeducar, com um leque variado de aprendizagens. Esta ideia será, portanto, o mote
para que se possa criar um Serviço Educativo de raiz, justificado pela criação identitária de uma
população afastada de si, isto é do seu património local. Pretende-se ajudar a criar, a incutir noções
de património, cidadania e educação nas pessoas, abordando temáticas atinentes à Casa dos
Patudos – Museu de Alpiarça. Estas temáticas poderão ser o início de um longo percurso, que
acredito poder dar “frutos”, a médio-longo prazo.
Poderá também ser o projeto um fator de “inclusão” para a faixa etária idosa, que se mantém
um pouco afastada deste património, o da Casa, assim como para as crianças que ainda parecem ser
vistas neste tipo de “Museus” como um mal necessário. Portanto, o objetivo primacial do estudo é
criarmos um projeto de Serviço Educativo adequado a esta Casa-Museu, potenciando a sua relação
com os demais e dando a conhecer: o imenso e importante acervo da Casa, o homem por detrás do
colecionismo, o republicano, o músico, numa dimensão antropológica, artística e histórica de José de
Mascarenhas Relvas.
d) Importância:
Este estudo revela-se de suma importância, na medida em que há uma lacuna nesta área, a
do Serviço Educativo, assente numa programação pedagógica. Poderá este estudo ser um
importante contributo e permitir que a Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça possa vir a integrar o
ICOM. Poderá também garantir a sua sustentabilidade, aproximando as pessoas do seu património
local e podendo estas ser responsáveis pela sua preservação futura. Mais uma vez, sublinho a sua
importância na medida em que se pode estender o leque de aprendizagens, que se podem reforçar
laços identitários localmente e ser este um foco de desenvolvimento da cultura local, podendo criar
ecos para outras realidades próximas de si.
8 ROLDÃO, M.C. (2003) – Gerir o currículo e avaliar competências – as questões dos professores, Lisboa, Presença.
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O êxito do Museu vai depender da qualidade das experiências que este pode proporcionar,
na forma como lida com o seu “currículo”, tendo em conta que se devem definir as atividades de
acordo com este, atendendo à sua especificidade. A qualidade física, as condições expositivas do
trabalho de curadoria estão intimamente relacionadas com a qualidade das experiências e com as
características sócio-psicológicas, culturais e educacionais dos visitantes nas exposições. Para que
num Museu deste tipo se torne numa experiência aprazível há que despertar o interesse das pessoas
e ter o domínio dos saberes transversais, para que esta não se torne fatigante. A dimensão educativa
inerente a este projeto poderá ser uma ação preventiva e curativa de um certo tipo de “cegueira”, i.e.,
considero que devemos prevenir certos tipos de rótulos e reservas que se criam face a uma má
experiência, que pode levar a memórias negativas que facilmente se transpõem para outras
experiências vindouras. É neste sentido que devemos “fazer trabalhar as obras9 e daí permitir que a
tal ação seja curativa, restaure de novo a confiança, para que se possa criar uma nova experiência,
que seja mais enriquecedora.
A importância da dimensão educativa e sua explanação neste projeto deverá ser um meio
para o desenvolvimento da experiência estético-artística de quem visita a Casa, tida como “Ex-líbris”
da Vila de Alpiarça, povoação essa, que tem apagada a sua importância turístico-cultural, face a
Santarém, Golegã, Torres Novas e Tomar.
e) Limitações do estudo
As limitações do estudo prenderam-se muito com a base da minha formação não ser voltada
para as questões da educação per si, embora a educação seja uma temática de interesse para mim e
que muito me inspira. No estudo teve também impacto a escolha da bibliografia, que apesar de ser já
alguma em serviços educativos e pedagógicos é, no entanto, reduzida a que está em português, no
que diz respeito a conceitos que queria desenvolver, tais como a “educação patrimonial”. Este
conceito tem bibliografia diversa, mas mais focalizado em países como o Brasil, Espanha, Reino
Unido, França, o que também levou a uma abordagem mais voltada para a temática do projeto
“Património, Educação e Cidadania”, sendo a sua conceptualização mais ampla, menos centrada e
tão-só na “Educação Patrimonial”. A questão de o Museu ser visitáveis seis dias por semana e só
poder aceder-se, mais livremente, às coleções no dia em que este está fechado ao público (isto no
que concerne, a investigadores e estudantes) também limitou um pouco o estudo.
f) Organização
No Capítulo I abordamos o que se passa a nível internacional e nacional, o início do Serviço
Educativo, a sociedade e as mutações que levaram ao surgimento deste. Referimos também os
principais conceitos presentes ao longo da tese, assente na questão da Identidade, na Cidadania
Ativa, no Património e na Educação. Estes conceitos são primaciais, é por isso importante fazer uma
abordagem destes.
9 GOODMAN, Dennis (1984) – Of Mind and Other Matters; Cambridge, Harvard University Press.
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No Capítulo II referimos a origem deste Museu, da sua tutela e da sua orgânica. Falamos
ainda da coleção em exposição permanente na Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça, procedendo-
se depois a uma análise do que deste acervo tem maior potencial em termos pedagógicos. Este
Capítulo também tem inerente a análise FOFA (SWOT), percebendo quais as (F)orças,
(O)portunidades, (F)raquezas e (A)meaças inerentes ao caso em estudo. faremos uma análise do
estado da questão nesta Casa-Museu, contrastando com outros exemplos regionais, no sentido de
perceber o que poderá ou não resultar em termos de atividades de “Serviços Educativos”, tentando
desde logo perceber dinâmicas.
No Capítulo III inserimos as atividades que consideramos ser importantes como “balão de
ensaio” para o projeto, fomentando o uso de peças de Arte Portuguesa, tendo por base sempre a
questão identitária e definidora das nossas raízes. A escolha das atividades refere à partida o
material a trabalhar, os objetivos e as datas em que fará sentido agilizar as mesmas. Estas atividades
podem ser alargadas, são somente ideias que cremos resultar, pois algumas delas já foram
experienciadas e revelaram-se potenciadoras de uma aproximação por parte dos habitantes de
Alpiarça. A ideia será a partir destas despoletar um “brainstorming” para aqueles que futuramente se
dediquem ao Serviço Educativo da Casa - Museu dos Patudos.
Finalizando, teremos uma “Síntese final”, onde figurarão as considerações finais, tendo em
conta a análise dos capítulos anteriores e extrapolando para área de estudo em questão “Património,
Educação e Cidadania”, nunca esquecendo o mote para a elaboração de todo o projeto, tendo em
conta os desafios com que nos confrontamos, atendendo à necessidade de reforçarmos os laços da
comunidade com o seu património.
19
“Há que conservar o passado para viver no presente. Cada geração tem a importante tarefa de transmitir à seguinte, nas melhores condições, o legado artístico-histórico das gerações anteriores. Qualquer indivíduo deve assumir a responsabilidade de defender, conservar e transmitir os bens da colectividade a que pertence.
Isabel Cottinelli Telmo, op. cit., p.7.
20
1.1. Função educativa dos Museus no âmbito internacional e nacional e breve história dos
Serviços Educativos:
1.1.1. Âmbito internacional – matizes entre países no continente europeu e fora dele:
A abertura dos Museus ao público surge nos finais do século XVIII, fruto de uma série de
mutações sociopolíticas na organização da sociedade e nas comunidades. O caso do Museu do
Louvre, que surge no século XVIII, assenta na ideia inerente à Revolução Francesa de 1789, com
base em ideários como “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, modificando por completo valores
culturais, educacionais e civilizacionais. Sendo, portanto, num contexto de alfabetização alargado a
todos, que “nasce” a “educação do povo e das nações”, tendo os Museus o papel de educadores e de
Capítulo I
21
“veículo de educação”, por excelência. Mas a alusão à missão pedagógica começa antes da data
mencionada, em 1561-1626, com Francis Bacon, quando pela 1ª vez este faz alusão à Casa de
Salomão, onde “as maravilhas da ciência e retratos de grandes inventores se expunham para o bem
de todos os cidadãos”. Foi com esta sensibilidade que se criaram os primeiros Museus em França,
passando as coleções do domínio privado para o domínio público, sendo vista a educação e o
conhecimento como um instrumento que devia chegar a todos os cidadãos.
Do século XIX em diante, o Museu passa a ser visto como parte integrante da sociedade,
uma instituição ligada impreterivelmente à educação daquela sociedade ou comunidade. A
alfabetização é o meio privilegiado para o fomento das atividades ligadas aos Museus, que agora se
mostram mais voltadas para a educação e para a sociedade. Estes são tutelados pelo Estado ou
coleções privadas, passando a ser o acesso a estas, regular e crescente. Aliás, em 1815 dá-se uma
significativa mudança decorrente do Tratado de Viena pela criação de Museus descentralizados nas
províncias e criam-se academia das artes com sede em coleções locais. O Serviço Educativo surge
neste âmbito, na Alemanha, através de Alfred Lichtwart (1852-1914), diretor do Museu de Arte de
Hamburgo, sendo também protagonista da educação estética, entendo o Museu como território para
a educação cultural e artística dos indivíduos.
Esta descentralização dos Museus havia novamente sido posta à prova com o advento da
Revolução Industrial, em que as cidades novamente começam a ganhar terreno aos locais mais
ruralizados. Iniciando-se uma série de mudanças que viriam a revolucionar em termos tecnológicos a
sociedade. Pela primeira vez começa a encarar a cultura, os Museus atendendo à dinâmica do
“custo-benefício” que poria em causa a premissa que a educação/cultura devia chegar a todos. Nesta
direção vários movimentos artísticos tiveram perda de importância, perda de genialidade artística face
a estas mudanças geradas pela Revolução industrial.
A Igreja também por esta altura perde poder, assim como a realeza, dadas as caraterísticas
desta nova sociedade emergente, esta mudança leva a que os bens destes sejam transferidos para o
Estado que por sua vez cria um maior número de Museus Estatais. Portanto ao longo do século XIX
os Museus vão-se direcionando para o ensino artístico e para a sociedade. Na decorrência destas
mudanças e da corrente positivista que marcou este século foram muitas as inovações, tais como o
surgimento do restauro, da conservação, documentação desses bens culturais, com reflexos também
nas profissões técnicas ligadas a estes espaços.
No início do século XX os Museus são encarados como locais de “autoeducação”, que
poderiam muitas vezes colmatar as falhas do ensino, da instrução. Já no século XX, o Museu
assume-se como espaço de valor patrimonial e educativo, organizando-se de forma sistemática e
metodológica permitindo que hajam novas abordagens e discursos acerca das coleções presentes
nestes espaços. Criam-se pela primeira vez espaços de raiz para albergar coleções, permitindo que o
espaço do Museu tenha uma projeção mais global.
Uma série de transformações veio permitir que muitos diretores de Museus se apercebessem
do impacto que estes espaços tinham nas pessoas, daí que se iniciam uma série de atividades
públicas, tidas como o cerne daquele lugar.
22
No período da 1ª Guerra Mundial (1914-1918) dá-se a destruição de muitos Museus com
excelentes coleções, a constante alienação do património continua a sentir-se. Muitos outros Museus
fecham devido à corrente instabilidade da guerra.
No tempo que decorre entre as duas guerras mundiais, os Museus europeus, fruto das
mudanças históricas associadas à guerra são levados a ter uma ação educativa (desde a logística,
até aos espaços, em virtude da guerra ter destruído as escolas, albergando-as). Os quadros
disponibilizados são maioritariamente femininos, seniores, face à situação de guerra em que se vive,
em que os homens são chamados a combater.
As temáticas ligadas às exposições estão muitas das vezes associadas à guerra, ao modus
vivendi da época (exemplo enfoque na saúde pública, segurança nas cidades, etc.). A “Educação
para Adultos” começa a ganhar forma pela necessidade crescente da sua alfabetização, dadas as
circunstâncias atuais da guerra e o convívio entre as mais diversas classes sociais.
Já no período da 2ª Guerra Mundial (1939-1945) o posicionamento dos Museus altera-se
devido ao despojamento e destruição de património que sofreram, levando-os a ter uma ação menos
interventiva e mais de proteção, i.e., os Museus tendem a “fechar-se sobre si mesmos”, como medida
de salvaguarda. Portanto, a atuação dos profissionais ligados aos Museus passa a ser mais de
“preservar” e “conservar”, em detrimento das atividades educativas. Isto porque um novo conceito
surge, o de patriotismo, em que os discursos revelam uma raiz muitas vezes ideológica, política. O
Museu é palco de discursos entre o poder e os cidadãos, sendo um meio de comunicação por
excelência.
A crescente importância da função educativa delineia-se de uma forma geral a todos os
Museus no século XX.
Com base neste intercâmbio e evolução sentiu-se a necessidade de criar um organismo
internacional, o International Council of Museums (ICOM) dependente da UNESCO, tendo duas
novas comissões uma ligada à juventude e outra à educação. Este organismo surge em 1946, com
sede em Paris, sendo a primeira organização profissional não governamental dedicada aos Museus,
altera substancialmente o modo como estes funcionavam. Pela primeira vez criam-se mecanismos de
proteção do património cultural, tangível e intangível, de forma também a formar profissionais dos
Museus nesse sentido10.
As conferências deste organismo passam a ter um peso imenso no que diz respeito ao
desenvolvimento do Museu, enquanto
A dimensão social do espaço do Museu só se volta a sentir novamente por volta da década
de 60/70, ressurgindo a sua dimensão pedagógica, assente em teorias de Molly Harrison11, Renée
Marcousé12 ou em obras de arte e na função da história de arte na educação global do homem13. As
10 http://www.icom-portugal.org/pagina 123,152.aspx. 11 HARRISON, Molly (1948-1949) – L’Education et les Musées – conseils pratiques, Paris, Unesco. 12 MARCOUSÉ, Renée (1969) – “Introduction and personnal reponse” in Actas Meeting on the role of Museums in education and cultural action. Paris, ICOM: pp. 1-5, pp. 91-96. 13 BERGER, René (1968) – Découvert de la peinture, Col. Marabout University, nº172, Lausanne, Ed.Spes; HUYGUÈ, René (1955) – Diálogo com o visível, s.l., Livraria Bertrand; READ, Herbert (1956) – Education Throught Art, London, Phanteon Books; VENTURI, Lionello (1954) – Para compreender a pintura – de Giotto a Chagall, Lisboa, Ed. Estúdios Ler; HOOPER-GREENHILL (1991) – Museum and Gallery Education, Leicester, University Press.
23
teorias destes autores vêm sendo testadas desde então pelos Museus (exemplo da França, Países
de Leste, Reino Unido) como práticas educativas subordinadas a uma política cultural, muitas vezes
“fruto” dos regimes e sua ideologia.
A evolução dos Museus, o seu papel na Educação e na sociedade foi sem dúvida importante,
tornando-os espaços museológicos voltados para o conhecimento do património, permitindo diversas
abordagens, aproximando as pessoas destes espaços. Portanto, é neste contexto “nesse final de
século” que se volta ao “início de século”.14
A realidade norte-americana e a realidade europeia mostram matizes diferentes, e estes
matizes residem na importância da “Velha Europa” ter um património histórico, artístico e cultural
mais longo. A “Velha Europa” tem um vasto património edificado, onde por sua vez se instalaram os
Museus (em velhos palácios ou casas senhoriais), e sempre pensou defender e preservar a sua
longa história e património. Em contraponto, a sociedade norte-americana é considerada recente face
à história europeia, o que em grande medida a terá condicionado. Esta terá assente a sua história
mais na base da “Democracia e Liberdade” assente quase sobre o “mito” da sua Independência,
segundo aquilo por que toda a nação se rege, na população que a constitui e sendo chamada a agir
civicamente e ativamente de acordo com estes princípios orientadores. Portanto, o espaço do Museu
está imbricado nesta dinâmica associado à educação e Cultura, assentes nesta base de Democracia
e Liberdade.
Durante o século XIX nos Estados Unidos evidenciamos a criação de novos Museus, sejam
eles com Coleções de Arte, História ou Ciências. Estas sobrevivem na sua maioria através de capitais
privados assentes na criação de fundações com funções maioritariamente ligadas ao
desenvolvimento cultural científico, cívico e físico. Logo, como o capital é privado a exigência dos
utentes também é maior, pois envolve toda a população, em última análise esta situação de capitais
privados permite também a contratação de pessoas com preparação técnica adequada, que visa
levar a um trabalho continuado e reconhecido. Isto, no entanto, não quer dizer que outros Museus
dependentes de capital público não tenham os melhores profissionais, pelo contrário, mas o que é
certo é que dadas as circunstâncias atuais de crise, a orçamentação para alguns organismos públicos
diminui e aí terão que se tomar medidas e aferir cortes que podem prejudicar o funcionamento do
Serviço Educativo. Nos Estados Unidos, surgem nomes como Albert Barnes (1872-1951) e Thomas
Munro (1901-1973), tal como na Europa surgiu Albert Lichtwark.15 Estes contribuíram para a
afirmação do Serviço Educativo e acreditaram que as artes tinham o “poder” de civilizar e humanizar
através da convocação de atividades inteletuais, morais e estéticas dos cidadãos. Com a abertura
dos espaços dos Museus aos públicos, estes entenderam que seria importante a conservação e
facilitação de acesso dos públicos às obras, promovendo diversas atividades ligadas ao envolvimento
das populações. Outra personalidade que surge como muito importante, é a de Albert Barnes,
14 HOOPER-GREENHILL, Eilean (1991) – Museum and Gallery Education, Leicester, University Press.
15 FRÓIS, João Pedro (2008) – “Os Museus de Arte e a Educação – Discursos e Práticas Contemporâneas”, Museologia, nº 2, Projetos e Experiências; pp. 63-75.
24
médico, “capitão da indústria” americana, colecionador de arte que privou com Jonh Dewey (1859-
1952). O seu sucesso a nível empresarial, permitiu-lhe a criação de uma fundação, que este pôs ao
serviço da promoção e progresso da educação e apreciação das belas-artes, desejando desde
sempre implementar um método científico de apreciação e avaliação das obras de arte, tendo sido o
contato com Dewey, determinante para este tipo de abordagens. Com Barnes considerou-se a
apreciação artística a fusão entre emoção e inteligência, ambas necessárias para a compreensão das
obras de arte. Visava principalmente, o enriquecimento cultural dos indivíduos.
Os Museus na América do Norte conseguiram também na questão atinente aos profissionais
destes organismos potenciá-los. Existem dois tipos de profissionais, uns ligados à conservação e
investigação das coleções (curadores) e outros ligados à educação. Os profissionais ligados ao
trabalho com base nas coleções podem exponenciar estas, das mais diversas formas e são somente
direcionados para esta tarefa, que é lidar com os públicos e aproximá-los dos objetos. Na Europa
esta situação tem-se invertido e profissionais ligados à conservação estão também ligados muitas
vezes à educação, mesclam-se as tarefas de uns e dos outros, mas isto não é taxativo, depende de
muitos outros fatores. O certo é, que o fim último é sempre aproximar o público dos objetos, das
coleções.
1.1.2. Âmbito Nacional – breves referências históricas do século XVIII ao século XX
Em Portugal a “Educação em Museus” inicia-se no século XVIII com os Museus
Universitários, conceito este ligado essencialmente à Universidade de Coimbra. Só no século XIX
viria a ser estendido à Universidade de Lisboa e do Porto. São, no entanto, Museus Científicos,
voltados para áreas como a botânica, antropologia, zoologia, mineralogia, onde a dimensão educativa
se desenvolve ab initio muito em função do público escolar, mas também num contexto mais alargado
associado à “Educação Popular”, associando-o ao “progresso científico”.16
Aparecem também Museus Escolares com um peso significativo nesta missão pedagógica: o
do Colégios dos Jesuítas de S. Fiel, na Covilhã e o de Campolide, extintos na 1ª República.17 No
entanto, é importante realçar que existem outras raízes assentes nesta dinâmica museológico-
educativa, com vocações e pesos diferentes, como é o caso da Academia Real das Bellas-Artes de
Lisboa e do Porto, com o ensino associado muitas vezes a artes maiores e artes menores, assente
no incentivo aos alunos para a “compreensão” da arte. A aprendizagem do olhar sobre estas é de
suma importância, tendo em vista o seu desenvolvimento artístico. Esta dinâmica levaria ao
desenvolvimento do ensino e do crescimento voltado para as artes e ofícios em Portugal.18
Em 1953, o MNAA (Museu Nacional de Arte Antiga) e os seus profissionais são pioneiros na
integração dos públicos que visitam as suas coleções e sentem a necessidade de criar visitas
mediadas, iniciando-se uma nova era com um dimensionamento, que até aquela data, não existia. Já
16 GOUVEIA, Henrique Coutinho (2007) – “Progresso Científico e Educação Popular – organização dos Museus oitocentistas”; Sep. da Revista Museu, IV Série, nº 16, Porto, Ed. Círculo José Figueiredo: pp. 97-150. 17 MENESES, Maria de Fátima Faria Pinto de (2003) – Museus e Ensino:uma análise histórica sobre os Museus pedagógicos e escolares em Portugal (1836-1933), Dissertação de Mestrado em Museologia e Património apresentado à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, [policopiado]; 18 GOMES, Filomena Sousa (1980) – Estudos para a História da Educação no séc. XIX, Coimbra, Almedina: pp.147-157.
25
em 1956, João Couto, então diretor deste Museu, preocupava-se muito com as questões de ordem
pedagógica: “tenho dito e redito que o Museu em plena atividade, além de preparar os que lá
trabalham, deve educar o público num ensinamento permanente que abranja todas as idades e graus
de aprendizagem. (…) O Museu Moderno deve ser uma casa em constante movimento”.19 Isto é,
defendendo que a formação deve ser adequada, visando estimular o olhar dos públicos, derivando
esta ideia mais tarde num serviço, voltado para o público mais infantil, na forma de um embrionário
“Serviço Educativo”, pela mão de Madalena Cabral. Desde logo, potencia-se também este tipo de
aproximação no Museu Nacional Soares dos Reis, estendendo-se depois a outros museus, durante
os anos 60. A expansão e a criação dos “Serviços Educativos” irão propagar-se, não só a Museus
Municipais, mas também locais e nacionais como se irá estender também ao domínio privado.
Perante este panorama, devemos salientar a importância que teve a Fundação Calouste de
Gulbenkian, que desempenhou com o seu apoio financeiro um desenvolvimento destas áreas, que
servem de suporte aos Museus, às visitas e às suas obras em exposição, promovendo um melhor
conhecimento dos espaços e das artes.
Todavia, a História dos Serviços Educativos em Portugal, começa inicialmente no papel, não
com esta aceção, mas de acordo com a premissa no D.L. 27084/1934. No seu artigo nº10 que “prevê
e recomenda a visita dos alunos e professores dos estabelecimentos de ensino, a ida a museus de
arte e monumentos nacionais”, sendo nesta diretiva que se cria a necessidade de envolver as
pessoas que visitam estes espaços. Concretiza-se então mais tardiamente, como referimos acima,
pela “mão” de João Couto, mas só na década de 80, é que se cria legislação no sentido da formação
e caracterização dos monitores associados a estes serviços educativo-pedagógicos, exigindo um
trabalho de reflexão, para que se pudesse determinar a verdadeira aceção deste “serviço” e de quem
o presta.
Sendo que a designação de “Serviço de Educação” é utilizada por Madalena Cabral de 1953
a 198320, as ideias e a criação de um “Serviço Educativo” vêm sendo cimentadas, com base nas
ideias desde logo pensadas e projetadas por João Couto que, sem sombra de dúvida, deu um grande
contributo na profissionalização das pessoas ligadas ao museu e à educação, nunca se podendo
esquecer a dimensão cívica deste tipo de serviço, educacional e pedagógico, criando-se a partir
destas ações, verdadeiras confluências de saberes, aprendizagens e experiências diversificadas.
No período após a revolução de abril, as autarquias “explodem” com projetos museológicos,
havendo a necessidade de se estabelecer uma relação privilegiada com o público. Começaram a
surgir as visitas guiadas, visitas com animação, ateliers, exposições, tornando-se a Escola-Museu-
Comunidade um “triângulo de ouro”21. Pela primeira vez toma-se consciência da importância do
“Serviço Educativo”, que este em grande medida é o elo de ligação entre os objetos em exposição e o
público visitante.
19 COUTO, João (1948-1950) – “Justificação do arranjo de um Museu” in Boletim do Museu Nacional de Arte Antiga, vol.II, fasc. 1, Lisboa: pp. 1-21. 20 CABRAL, Madalena (1983) – Museu Nacional de Arte Antiga – Serviço de Educação, Relatório 1953-1983, Lisboa, [policopiado]. 21 DUARTE, Ana; VITOR, Isabel (1996) – “Os Serviços Educativos e as actividades de extensão cultural nos Museus. O caso dos Museus Municipais de Setúbal” in Cadernos de Sociomuseologia, nº8: pp. 83-93.
26
1.2. Construção de memória e reforço da identidade:
A memória é tida como um aspeto estruturante da sociedade, sendo através desta que
perpetuamos o conhecimento do passado, tendo em vista a perceção de coisas reais que
depreendemos do próprio passado. Não podemos esquecer a sua interação com o momento
presente. Acredita-se que o presente é condicionado, na sua compreensão pelo passado como
também o inverso. A memória é tida como sensação, vestígio do passado e redenção e não só com
forma de compreender, mas também de interpretar, uma alternativa à racionalidade contemporânea,
seja de ordem cognitiva ou interpretativa.
A memória coletiva é muitas vezes projetada em instituições e estruturas coletivas, noutros
casos é simplesmente a estrutura ligada ao esquecer ou lembrar de certo ou determinado evento,
enquanto prática social. Trata-se pois, de uma dinâmica “memória e poder”, ou até mesmo
extrapolando, “museu e poder”. Neste sentido, a memória é tida como “fruto” de diversas perceções,
diferentes experiências sociais, não podendo ser entendida de forma simplista. Como sabemos, cada
sociedade é condicionada pelo contexto histórico e social de cada época, criando formas distintas
para a transmissão de memória coletiva. Autores como Bergson (1939)22 propõem que a memória é
mais do que uma função do cérebro. É uma construção material, ou segundo Connerton, a memória
pode ser categorizada, no sentido de memória pessoal, cognitiva ou memória-hábito.23
A perceção está directamente ligada à matéria, percebemos antes de agir, sendo que o real
acontece, no sentido de ajudar a entender informações que sejam reflexo de uma prática. Exige,
portanto, que as aptidões do corpo e da consciência estejam interligadas, articuladas, surgindo outro
conceito associado, o da memória articulada com a lembrança. A memória é o que faz com que as
lembranças sejam trabalhadas pelo individuo, que lhe permite perceber e formar objetos,
materializando-os. Nesse sentido, a memória passa a ser entendida como recurso de trazer
lembranças dos atos e sensações do passado, sendo através destas que se dá construção do
passado e do presente. Assim, o património enquanto percebido e interiorizado pela sua comunidade,
torna-se agente difusor de memória coletiva.24 Criando consciência, fazendo-o transportar da sua
memória para a sua materialidade o património adquirirá contornos mais explícitos, sendo na sua
apreensão que criamos laços físicos, cívicos (percebendo-o), e mormente educando através do
património, criando memória e assimilando valores como os de “identidade”.
Laura Chapman diz que “as pessoas vão ao Museu para se recrearem e educarem”25 sendo
com este objetivo que devemos desenvolver estratégias, levar a despertar os potenciais públicos para
a sua participação na proteção e dinamização da memória coletiva.
1.3. Noção de Património:
22 BERGSON, Henri (2008) – Matiére et Memóire, Paris, PUF (Édition Critique). 23 CONNERTON, Paul (1989/1993) - Como as sociedades recordam, Oeiras, Celta. 24 DUARTE, Ana; VITOR, Isabel (1996) – “Os Serviços Educativos e as actividades de extensão cultural nos Museus. O caso dos Museus Municipais de Setúbal” in Cadernos de Sociomuseologia, nº8: pp. 83-93. 25 CHAPMAN, Laura (1982) – “The future and Museum Educations” in Museum News, July/August.
27
Afinal o que é património? Este termo deriva do latim tardio, tido como legado, bens da
família. Em sentido figurado, significa abundância, profusão, riqueza. Mas no sentido deste trabalho,
o património é o conjunto dos bens culturais ou naturais de um determinado lugar, de importância
reconhecida.
Quando falamos em património, temos impreterivelmente que ter bem cimentada a ideia de
viver no presente para que conservemos o passado como “baluarte” da nossa existência. Deverá
assumir-se a responsabilidade de transmitir às gerações vindouras esse legado, o de defender e
conservar, os bens da coletividade a que pertencemos. A aceção de património é lata e poderá
remeter para vários tipos de designações: património tangível ou intangível, património imóvel ou
móvel. Mesmo com esta diversificação do conceito, devemos ter em conta que é o património que
define o nosso enraizamento numa determinada comunidade e é a partir deste, que se define muitas
vezes esse grupo local.
1.4. Cidadania ativa: participar para mudar:
Quando falamos em cidadania ativa remetemos para uma atitude consciente, um
envolvimento responsável e participativo na vida em sociedade. Claro que este conceito está
intimamente ligado ao estar bem informado o que nos torna mais “despertos” para aquilo que nos
rodeia.
O conceito de cidadania está intimamente ligado à educação, na medida em que é com esta
que desenvolvemos conhecimentos, atitudes e competências. Sendo que através da educação
formam-se consciências, personalidades, preparando-se e trilhando-se caminhos para uma atitude
mais consciente, mais ativa em relação ao que nos rodeia. A cidadania e a educação aliadas ao
património, à proteção do “legado” podem revelar-se mais-valias para a continuidade e perpetuidade
deste.
Este é portanto, para nós um conceito chave, essencial e que interessa desenvolver.
1.5. “Projetar” o Museu – Estratégias de aproximação a “novos” públicos-alvo:
Consideramos que o “Serviço Educativo” a implementar neste Museu, à semelhança dos
restantes, deverão funcionar como Serviços Externos ou, mais concretamente, fazendo a publicitação
do Museu junto das Instituições Públicas e Privadas, com o sentido de procurar novos públicos e
assim trazer gente que, de outra forma, apenas viria de forma fortuita ou por relação de proximidade
com o espaço. Para isso, não bastarão as crianças que vêm nas visitas de estudo das Escolas,
principalmente do Distrito de Santarém, nem os idosos em visitas organizadas pelos Centros de Dia.
Há que estabelecer um perímetro de ação para prospetar novos “clientes”, tendo como objetivo os
públicos que por si só possam garantir a constante fluência de visitantes ao Museu. Para isso, foi
pensada uma estratégia que vai de encontro a “novos” públicos-alvo. “Novos”, porque realmente
28
foram sempre os mesmos desde sempre, mas agora com uma abordagem diferente: primeiro que
tudo, é o Museu que vai de encontro ao público-alvo, sendo que depois esse mesmo público lhe
“retribui a visita”. Faz todo o sentido criar uma maleta pedagógica para “poder levar o Museu às
escolas”, preparando as visitas a priori. Assim dinamiza-se, no sentido de uma aprendizagem inicial,
orientada para uma futura visita ao Museu e melhor compreensão do mesmo.
Atualmente, não existe um direcionamento claro em relação a um público-alvo para o Museu.
Maioritariamente, temos grupos com visitas por marcação (adultos ou crianças), ou visitantes de
passagem. As crianças são, no entanto, o público mais diminuto, quanto às visitas na Casa dos
Patudos – Museu de Alpiarça. O movimento é intermitente e, embora, claramente após a reabertura
da Casa ao público em novembro de 2011, com maior intensidade, não conseguimos definir um
período de maior afluência de visitantes. Carece, portanto, de uma política de “procura de mercado”,
ou seja, de aproximar o próprio Museu das comunidades locais e regionais, como garante de
crescimento da procura e sua sustentabilidade.
Essa relação deve ser dimensionada, sendo premissa numa faixa etária mais baixa (3-6
anos), criando um serviço educativo apoiado em material didático, voltado para peças do Museu,
assente numa mediação, criadora de discurso, não se fazendo a visita a mais de 14 crianças de cada
vez. Tendo em conta que não se conseguiria controlar o grupo, podemos confrontar as crianças,
explicando o que é uma Casa-Museu, levando a uma comparação com as suas próprias casas,
abrindo assim caminho ao diálogo. Poderemos também dimensionar o discurso no sentido de falar no
aspeto do espírito colecionista do dono da casa, dando a conhecer o espólio da família Relvas. Nas
idades mais recuadas os processos de aprendizagem resultam de uma forma mais consistente,
desde que depois, o reforço dessas aprendizagens seja um objectivo a cimentar.
As faixas etárias mais avançadas (público sénior) também não devem ser esquecidas,
devemos potenciar também o seu envolvimento, considerando as atividades mais ligadas à memória,
ao seu entrosamento com atividades ligadas a Alpiarça, e à sua matiz cultural tão própria. Podemos
considerar a criação de ateliers, onde se cruzem experiências/vivências entre estas duas faixas
etárias e onde essa partilha de património imaterial possa ser gratificante e enriquecedora. Portanto,
será balizando e programando o “projeto” dos “Serviços Educativos”, numa dinâmica de
aprendizagens diversas, direcionadas para o património da Casa-Museu, que este poderá “crescer” e
manter-se “vivo”. As temáticas em que assentam os ateliers e workshops terão sempre por base as
peças do Museu, os espaços exteriores e interiores, bem como outros temas ligados ao património
concelhio, sendo sempre o objetivo principal, o reforço dos saberes, da preservação do património e
do sentido de identidade ligado a este. Afinal, os Museus são espaços mágicos, terrenos férteis, que
possibilitam “aguçar” a curiosidade e dar “asas” à criatividade. Nesta interação, possibilita-se que se
potencie a imaginação: “Todo o conhecimento humano parece estar de algum modo ligado a
empreendimentos criativos que permitem visualizar o mundo com um olhar inquiridor e também
formular ideias mais complexas. Neste processo, a imaginação é a ferramenta necessária para
utilizar as impressões ou imagens que se formam na mente, possibilitar a reconstrução do passado
29
através do presente e permitir antever outras situações imaginárias, em particular, respeitantes ao
futuro.”26
1.6. Definição de raio de ação: 1.6.1. Âmbito local:
A Casa dos Patudos é, não o esqueçamos, uma referência maior em termos de Cultura a
nível local. Por isso e por uma questão de proximidade, de criação de identidade e sentido de
apropriação cultural, Alpiarça será sempre o seu principal terreno para a prospeção de “novos”
visitantes. Deverá ter em atenção a população autóctone e é com toda a certeza esta, que transmitirá
com maior facilidade a outros a sua riqueza patrimonial associada à Casa dos Patudos – Museu de
Alpiarça. Para isso, é necessário aproximarmos o Museu da população, que há muitos anos parece
“desavinda” com o seu próprio património. A criação de um serviço vocacionado para as
aprendizagens durante os períodos de férias e durante os períodos letivos dos alunos da localidade
poderá potenciar estas dinâmicas de aproximação. Também os seniores não serão esquecidos, na
medida em que se poderá enquadrar a Universidade Sénior e o Centro de Dia de Alpiarça ou outros,
de áreas próximas, para efeitos de atividades programadas, tendo em conta as características deste
grupo específico.
1.6.2. Âmbito Regional e Nacional:
1.6.2.1. Área de influência:
Poderemos estabelecer, para além desse espectro, um perímetro mais abrangente onde o
Museu pode e deve fazer a sua prospeção de “novos” públicos. A região de Lisboa é, dada a sua
proximidade (cerca de 80 km), uma das áreas privilegiadas para contactos com as suas inúmeras
escolas, podendo no início de cada ano letivo proceder-se ao envio de uma carta em que conste a
programação do “Serviço Educativo”, para que o mesmo se inclua nos currículos escolares, mediante
as matérias lecionadas, consideradas pertinentes no enquadramento.
Os distritos de Leiria, Portalegre e Évora poderão ser outras áreas onde o Museu pode
buscar visitantes, tendo o mesmo objetivo que anteriormente mencionámos.
1.6.3. Públicos:
1.6.3.1. Crianças e Jovens:
Valorando as crianças e jovens de Alpiarça, o esforço de prospeção de “novos” públicos seria
feito principalmente no seu município, podendo depois extrapolar-se para fora dele. Pretende-se com
o projeto criar identidade, memória, sentido de pertença e de gosto e, portanto, dar primazia aos
naturais da terra, com vista a que, num futuro próximo, estes possam ser o garante da transmissão
do seu património a outros, mesmo fora da localidade.
26 BIDARRA, J.; MARTINS, O. (2008). “O Geódromo e o Climatógrafo: Ambientes Virtuais Multimédia no Ensino das Ciências”. In Educação, Formação & Tecnologias , http://eft.educom.pt (Acessível em 30 Maio de 2010).
30
Alarga-se o espectro em relação a esta faixa etária, numa estratégia de aproximação dos
jovens e identificação com o seu património, bem como a criação de gosto pelas Artes. Enfim,
fazendo Educação Patrimonial, trilhando um caminho em direção à valorização da sua identidade,
das suas raízes, do seu cerne. Parece-nos importante esta dimensão de apropriação do património
com vista à sua preservação, à sua valorização e dando visibilidade ao mesmo, através de vários
tipos de iniciativas.
Ao contrário da vantagem que têm as crianças e jovens de Alpiarça, onde poderemos alargar
o espectro do número de anos escolares abrangidos. Nos distritos apontados anteriormente, a opção
passa pelos 4.º, 6.º, 9.º, 11.º e 12.º anos de escolaridade, ou seja, quando enquadrados os conteúdos
programáticos da disciplina de História nas temáticas expositivas da Casa ou dos seus proprietários.
Poderemos também abordar as temáticas em Estudo do Meio e a nível da Educação Tecnológica e
Visual, desde que integrado a nível curricular explanando conceitos ligados às temáticas presentes
na Casa dos Patudos- Museu de Alpiarça.
Contudo, podemos também enquadrar neste âmbito, os jovens inseridos em meio
universitário, sendo um público já mais especializado, derivado das suas competências académicas,
muitas vezes recém-adquiridas. Pode-se, nesta medida, fazer um enquadramento e estabelecer um
possível protocolo, visando trocas de experiências com as Universidades.
1.6.3.2. A maior massa populacional da terra: Os idosos
A maior massa populacional é idosa. Sendo estes, uma fonte de recursos infindáveis ao nível
da tradição oral podem ser uma mais-valia, no reforço dos saberes em relação ao património material
e imaterial de Alpiarça, ligado à Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça e não só (podendo
considerar-se o património concelhio não só decorrente desta). Potenciando o cruzamento de
saberes entre a população mais jovem e os idosos, levando a uma prática continuada de “Serviço
Educativo”, fazendo interagir gerações diferentes, proporcionando também uma inclusão positiva dos
idosos e potenciando uma abertura a um novo público, igualmente capaz e interessado. Sendo que,
para os idosos também existe uma função psicopedagógica associada, não só estimulando as suas
faculdades, como fazendo-os despontar de uma forma mais assertiva para o seu património e a uma
nova forma de o problematizar. Afinal, a inclusão destes poderá ser usada para consciencializar para
temáticas ligadas ao envelhecimento, ao respeito por esta faixa etária que poderão ser um contributo
muito positivo na História concelhia através da transmissão de conhecimento (adquirido através de
experiências vivenciais). Será um verdadeiro exercício de cidadania a inclusão de atividades para o
público sénior.
1.7. Estado da questão da Casa dos Patudos face à análise de serviços educativos em
outros espaços equiparados:
Neste momento, noutros Museus com a mesma orientação da Casa dos Patudos – Museu de
Alpiarça, isto é, nas proximidades deste tem-se focado a importância do Serviço Educativo. Nesta
vertente existem uma série de serviços voltados para a Educação pela Arte, criando-se uma relação
de proximidade com os visitantes, atendendo a conteúdos potenciadores de aprendizagem, entre
31
estes e o monitor/guia/educador. Os Serviços Educativos estão ligados a ateliers (que se fazem com
marcação prévia), visitas orientadas, projetos com escolas e orientações pedagógicas dirigidas ao
público escolar. Privilegia-se o contacto e interação com todos os públicos, permitindo uma maior
interconexão com todos os visitantes. Afinal de contas, todos os públicos são importantes!
1.7.1. Casa-Museu Braamcamp Freire (Santarém):
No exemplo prático da Casa-Museu Anselmo Braamcamp Freire, a realidade é diferente. Esta
tem sido alvo de várias adaptações ao longo do tempo, no sentido de servir as necessidades
contemporâneas. Tem, no entanto, o Serviço Educativo a funcionar fora desta e associados de uma
forma geral ao Município de Santarém, que é o órgão que a tutela. O Serviço Educativo funciona só
sob marcação, o que limita a sua atuação imediata junto da população local ou exterior àquela zona,
visto não terem pessoas em permanência alocadas à Casa-Museu e que possam dinamizar de forma
a que o serviço seja permanente e possam ter o seu usufruto em qualquer altura. A fragmentação do
Serviço Educativo da Casa-Museu Braamcamp Freire, poderá ser um pólo desagregador, pelo fato de
este ter de ser marcado, para que possa acontecer. Note-se que, para além de Casa-Museu, neste
espaço funciona também a Biblioteca Municipal de Santarém, criada por vontade testamentária de
Braamcamp Freire e que per si, justificaria a presença permanente de um gabinete de Serviço
Educativo no local.
Neste momento, o Serviço Educativo está com problemas de funcionamento devido à falta de
profissionais, as contingências financeiras associadas às verbas disponibilizadas pelas autarquias
também limitaram este, na medida da sua dependência orgânica.
1.7.2. Casa-Estúdio Carlos Relvas (Golegã):
Outro exemplo regional que podemos ter como base de análise é o da Casa-Estúdio Carlos
Relvas. Esta possui um gabinete de Serviço Educativo, que foi há pouco tempo reformulado,
aproveitando a simultânea requalificação do edifício, para modernização dos espaços de apoio. Esta
tem uma dinâmica assente na pedagogia inerente a temáticas ligadas à localidade e à Casa-Estúdio
(explorando espaços interiores e exteriores, com vista a aprendizagens diversas). A dinâmica vai ao
encontro ao público infantil e sénior, numa necessidade contemplativa e de uso de ferramentas que
permitam criar aprendizagens, tornando os visitantes assertivos em relação a este imenso património.
Este foca-se em um conjunto de atividades que considero um pouco redutoras e que podiam ser
melhor dinamizadas e exploradas, sendo que devia fazer também a inclusão de grupos familiares
nesta partilha de conhecimento.
Na Casa-Estúdio Carlos Relvas, as atividades vão desde a área do teatro, ao restauro,
arquitetura, música, espaços exteriores (jardim e sua inclusão) e meios de transporte. Esta última
atividade acaba mesmo por transpor os limites físicos da Casa-Estúdio, levando os visitantes numa
viagem de caleche pela Vila da Golegã, dando uma dimensão alargada a outras realidades para além
das que se podem viver intramuros, porém nunca se afastando da figura incontornável de Carlos
Relvas.
32
No entanto, em termos de temáticas a explorar encontra-se em desvantagem se a
contrapusermos com a Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça, pois esta última tem muito mais
acervo que se pode potenciar e trabalhar. Se por um lado temos um espaço de trabalho, que era de
Carlos Relvas (pai de José Relvas), por outro lado temos efetivamente o espaço habitado do seu
estúdio. O espólio que aí se encontra resume-se basicamente ao seu acervo fotográfico, documental
e material fotográfico e pouco ao vivencial. Ao contrário, na Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça, o
acervo tem como base uma casa de família, com toda a sua carga material e imaterial, voltada para
as Artes Plásticas e Performativas (Música), podendo oferecer um largo espectro de atividades que
podem ser desenvolvidas em prol do visitante.
Os preços das atividades na Casa-Estúdio Carlos Relvas variam entre os 2€ e os 6.81€. O
preço também é um fator, sem dúvida determinante, face ao contexto económico atual, para a
frequência do Serviço Educativo. Importa entender que, embora possa ser limitador da sua
frequência, também o valor pago para o usufruto destes, acaba por ser um garante para que possam
continuar a existir. Este é também limitado pela marcação prévia que tem de se fazer para se ter
acesso à atividades prestadas pelo Serviço Educativo.
Sendo esta Casa um antigo atelier de fotografia, faria todo o sentido usar a fotografia para
criar um reforço temporal e espacial da história local ou nacional, recriando a ambiência em que o
artista trabalhou27.
1.8. Análise do estado da questão da Casa dos Patudos face aos serviços educativos em
outros espaços equiparados
A Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça poderá e deverá ser um estímulo à iniciativa, à
escolha e à crítica, com uso de meios ativos. Estes devem ser postos como premissas ao
desenvolvimento das capacidades de comunicação e expressão. A dimensão cívica da ação
educativa do Museu deve organizar as temáticas de acordo com os setores de vida do país e
servindo as comunidades que o rodeiam, sendo mais abrangente e destinando-se a todos os
públicos. O Museu deve passar a ser visto localmente como um pólo dinamizador, um espaço de
sinergias diversas, voltando-se para a pedagogia, atividades lúdicas, culturais e educativas num
âmbito de aprendizagem formal e não formal, em prol do desenvolvimento do indivíduo28 e da sua
comunidade. Neste caso específico tem-se feito algumas iniciativas pontuais ligadas à pedagogia e
ensino pela Arte, mas sem que se tenha um Serviço Educativo, implementado e estruturado de raiz.
Será portanto, necessário ter em conta a realização de uma programação pedagógica adaptada à
realidade deste Museu e é necessário fomentar a sua necessidade, através de uma explanação
objetiva das mais-valias que este serviço poderá trazer. No caso concreto, da Casa dos Patudos –
Museu de Alpiarça, deve-se fazer uma ação de sensibilização, no sentido de tentar projetar a
necessidade da criação do Serviço Educativo.
27 ECO, Humberto (2005) – “El museo en el tercer milénio”, In Revista de Ocidente, n.º 290-291: pp. 33-53. 28 AZEVEDO, Rosário (2007) – “A ação Pedagógica do Serviço Educativo do Museu Calouste Gulbenkian”, In Revista Museologia, nº1/2007; pp.34-41.
33
34
2.1. Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça: Ontem e hoje.
2.1.1. História e Caráter Institucional:
A Casa dos Patudos é, na realidade um Serviço Educativo de Arte, e ao mesmo tempo, um
Serviço Educativo Monográfico representativo da figura do seu fundador, José de Mascarenhas
Relvas (1858-1929).
José Relvas nasceu na Golegã em 1858, filho de Carlos Relvas (notável fotógrafo, cavaleiro
tauromáquico) e faleceu em Alpiarça em 1929. Abastado e culto proprietário, era nas vésperas do 5
de Outubro de 1910, um dos mais destacados líderes do Partido Republicano (PRP). Escolheu o
republicanismo mais como reação política, do que como ideologia.29Desempenhou elevados cargos
29 SERRA, Bonifácio (2006) – José Relvas e a República: Notas para uma biografia política,
Capítulo II
35
na República: deputado constituinte e senador, ministro, embaixador em Madrid, chefe de Governo.
Foi uma figura notável na vida política e diplomática portuguesa do período da 1ª República, homem
de espírito superior, dotado de um gosto refinado e artístico particular, igualmente um violinista
notável, tendo até actuado no Real Coliseu dos Recreios de Lisboa. A sua casa, a Casa dos Patudos,
foi também palco de diversas atuações e serões culturais, que Malhoa chegou mesmo a retratar, na
sua obra “Glória e Vinhos”.
A Casa dos Patudos – Serviço Educativo de Alpiarça tem um acervo vasto baseado numa
dinâmica de colecionismo do seu antigo proprietário. Portanto, tem peças de variadas épocas e
formas artísticas, desde o séc. XVI ao séc. XX, sendo descrita como uma coleção eclética.
A Casa dos Patudos – Serviço Educativo de Alpiarça tem ainda uma colecção de
Arqueologia, acervo deixado pelo sobrinho de José Relvas, Mendes Correa, sendo este de um
caráter também excecional e podendo ser potenciado futuramente com este projecto.
Convém ressalvar que a arquitetura da casa é também um elemento a explorar, visto ser esta
da autoria do arquiteto Raul Lino e integrada no movimento da Arte Nova. A arquitetura da casa é tida
como uma habitação “poética”, dentro das características deste, associado ao “bom gosto”, “caráter”,
“nobreza” e “decoro”. A Casa dos Patudos, Solar de Alpiarça, como é designada em 1904, ano em
que é encomendada a Raul Lino, promove um efeito paradoxal da contradição entre o reivindicado
espírito das “casinhas” populares e a própria monumentalidade da construção, fruto do espírito do
proprietário e da sua riqueza. Neste caso específico foi isso mesmo a excessiva acumulação de
referências, associadas a uma ampla volumetria, dá origem a uma obra menos verdadeira e
característica do arquitecto, quanto aos conteúdos genuínos portugueses, a que nos habituou nas
suas construções. É, no entanto, possível encontrar nesta casa, atualmente transformada em Serviço
Educativo, preocupações de acolhimento, hospitalidade, proteção, intimidade e privacidade, típicas
das chamadas “casas bem educadas” de Raul Lino. Os pormenores da casa, embora ainda ligados à
Arte Nova, parecem híbridos, remetendo para um todo mais palaciano que para o espírito simples do
habitar nacional (defendido pelo arquiteto)30.
A temática da arquitetura, pode ser potenciada através do “Serviço Educativo” de uma forma
dinâmica e que permita uma multidisciplinaridade de interações, dando a conhecer o arquiteto e a sua
obra dentro da temática da Arte Nova.
2.1.2. Vocação/Missão de instituição:
A divulgação da vida e obra deste Museu faz-se através da família Relvas. Este vive
essencialmente das suas coleções artísticas, com incidência na Arte Portuguesa, nascendo por
vontade de José Relvas, que em escritos do seu espólio pessoal manifesta sua vontade de mostrar
aos portugueses, o que melhor se fazia ao nível das Belas-Artes e das Artes Decorativas. A sua casa
é ela própria, um projecto ambicioso e excelentemente concretizado pelo arquiteto Raul Lino.
Também a biblioteca é digna de nota, visto ser composta por estudos das coleções, primeiras
edições de obras exemplares, correspondência pessoal com artistas, políticos e músicos da época.
30 RIBEIRO, Irene (s/d) – “Raul Lino revisitado: Memórias de uma Arquitectura” Arte Nova” Portuguesa”, Porto.
36
O intuito e ideia principal é divulgar a vasta herança artística e documental, deixada pela
família Relvas, com o intuito de preservar e criar identidade com o mesmo, sendo intenção da
programação pedagógica divulgar a Casa dos Patudos a todos, sejam turistas, historiadores,
conhecedores ou não, tentando também fazer a “ponte entre as Escolas e o Museu”, na tentativa de
criar laços na comunidade com este Museu: Esta ideia vem no sentido de “educar a preservar o
património como forma de cidadania ativa”, não esquecendo também a faixa etária sénior que deve
ser enquadrada na dinâmica do projeto.
Pretende-se que seja um Museu atual, voltado para os desafios de uma sociedade em
mutação, criando uma programação pedagógica sustentável e direcionada. Sendo premissa da
própria instituição “Educar para a Cidadania e desenvolvimento do homem como um todo”.
2.1.3. Dependência Orgânica e Financeira/Tutela:
Após a morte de José Relvas e não havendo descendentes, todo o seu legado foi deixado à
Câmara Municipal de Alpiarça e constituída a sua casa enquanto Museu. Desta forma, após a sua
abertura em 1960, o Museu esteve sempre tutelado diretamente pela Câmara Municipal, tendo como
seu gestor directo um Conservador nomeado pela Edilidade.
2.1.4. Coleções e Plano de Atividades:
As coleções patentes na Casa são expostas com caráter de permanência. No fundo, toda a
Casa está disposta, como se fosse ainda habitada. Aos visitantes são dadas simultaneamente três
perspetivas diferentes, três formas de abordagem ao espaço e que são experienciadas de forma
variada, conforme o tipo de visitante:
Uma casa de gente viva – porque se apresenta da mesma forma que os seus donos a
conservavam e algumas peças por ordem testamentária devem estar alocadas a um sítio
determinado, específico;
Uma casa de gente morta – porque efetivamente já ninguém a habita há muitos anos,
ainda que mantenha o seu aspeto vivido;
Um “Museu de Arte” – pela constante vertente de galeria de mostra de arte, desde a
escultura, pintura, mobiliário e artes decorativas;
O acervo é igualmente complementado por um espaço de reservas, que compreende peças
de pintura, mobiliário, tapeçaria, periódicos, fotografias e livros da época.
A coleção, considerada eclética pela sua diversidade e abrangendo largo espetro de tempo
está distribuída pelas muitas salas da Casa, normalmente dividindo-se por temáticas, nos dois pisos
visitáveis. Assim, por exemplo, poderemos ver no piso inferior (R/C):
“Sala Carlos Relvas” – pintura e acessórios ligados ao pai de José Relvas, evidenciando
a sua ligação à tauromaquia;
37
Hall de entrada com a escadaria que dá acesso ao piso intermédio e em que se destaca
a arte da azulejaria portuguesa, pela mão do artista Jorge Pinto e dois “Anjos
Lucíferários”, par de candeeiros em pau santo, ladeando a escada;
1º Andar:
o “Sala dos Retratos”, que remete para os antepassados da família Relvas,
também esta um hall de acesso ao segundo piso;
o “Sala D. Eugénia”, dedicada à proprietária da casa, decorada com quadros da
Escola Espanhola, Flamenca, e um tapete de Arraiolos do século XVI.
o “Sala da Família”, com retratos da família Relvas pintados por José Malhoa e
António Carneiro, antecâmara para uma das antigas áreas privadas da Casa;
o “Sala da Música”, onde a família Relvas se reunia para desfrutar de um dos seus
maiores prazeres, justamente a música, sobressaindo igualmente a pintura às
artes decorativas, ligadas à temática da música, onde ressaltam à vista um
quadro único que retrata Domenico Scarlatti, uma peça de Bordalo Pinheiro:
Jarra Beethoven (Beethoven terá sido uma das inspirações de José Relvas);
o “Sala Das Colunas”, esta encerra em si, pintura e artes decorativas, bem como
uma decoração rica e luxuosa, voltada para a Antiguidade Clássica e para a
pintura do séc. XVII e XVIII, onde encontramos quadros da Escola Francesa,
Espanhola e Flamenca;
o “Sala S. Francisco”, onde sobressai a arte da azulejaria, e onde predominam
motivos ligados à arte sacra;
o “Sala dos Primitivos”, onde se encerram 4 dos retábulos do séc. XVI, que
retratam os passos da vida de Cristo (estes são parte de uma coleção total de 16,
alguns que estão entre a pertença do Museu de Arte Antiga);
o “Sala Boileau”, dedicada à pintura, sobressaindo numa das paredes um
Delacroix, um outro quadro da Escola Francesa, retratando o Cardeal Richelieu,
escultura e mobiliário século XVIII;
o “Sala Silva Porto”, como o próprio nome indica, com uma vasta coleção do
designado pintor;
o “Galeria Verde”, onde encontramos pintura e escultura, sobressaindo Soares dos
Reis, Tomáz da Anunciação, Silva Porto, Malhoa e Martinho da Fonseca e as
obras de escultura “O Artista na Infância” de Soares dos Reis e um estudo para a
estátua a D. Afonso Henriques (Guimarães), do mesmo escultor;
o “Sala das Aguarelas”, onde se destacam várias obras pintadas com a técnica da
aguarela, entre elas uma da Escola Francesa;
o “Sala de Jantar”, com a sua coleção de azulejaria de inspiração Mudéjar,
sobressaindo a coleção de loiça (Companhia das Índias), pintura de Josefa de
Óbidos (naturezas mortas), peças de arte decorativa associadas ao uso da casa
(faiança portuguesa);
38
o “Salão Renascença” ou “Arraiolos”, onde podemos encontrar um dos elementos
mais emocionantes da visita à Casa: um quadro retratando o filho de José
Relvas, Carlos Relvas, praticamente em tamanho natural, colocado junto ao seu
piano. Este quadro, por vontade testamentária de José Relvas, jamais poderá
sair daquele local, tal como o piano jamais poderá ser tocado de novo.
Sobressaem também nesta sala a imponente lareira, as tapeçarias e os leques
antigos, usados por D. Eugénia Relvas.
o O “Escritório e biblioteca”, onde se encontram milhares de obras, muitas delas 1as
edições dos mais variados autores portugueses e estrangeiros; Duas secretárias
estão aqui lado-a-lado, locais de trabalho de pai e filho, José e Carlos Relvas,
encimada uma delas por um antigo calendário onde a página do dia do suicídio
deste último jamais deverá ser voltada e flores frescas sempre em ambas (por
vontade testamentária); escultura, pintura e fotografia também fazem parte do
acervo deste;
2.º Andar - está adstrito à parte privada, aberta ao público como novo espaço em outubro
de 2011, sendo designado “José Relvas entre os seus”.
o “Quarto de José Relvas” com algumas obras do artista e amigo da família José
Malhoa, na sua maioria ensaios a carvão, outras obras ligadas a temáticas
Maçons.
o “Quarto de João Chagas” amigo pessoal e visita assídua da Casa. Neste
destaca-se um quadro Madame Pompadour, da Escola Francesa, séc. XVIII, de
entre o mobiliário e as peças decorativas.
o “Quarto Carlos Relvas”, fechado por disposição testamentária.
o “Quarto D. Eugénia”, com retratos dos seus filhos Maria Luísa e João, bem como
uma fotografia do marido. Sobressaindo, no entanto, algumas peças como: a
mala da escola da filha, de José Relvas e D.Eugénia, uns pratos pintados por
José Malhoa, com o retrato dos filhos (Maria Luísa e João), e algumas peças de
roupa de época, pertencentes a D.Eugénia.
o No corredor destacam-se várias obras de pintura, desde Federico Amutio, Inácio
Dias, José Rodrigues, Artur Loureiro, José Malhoa, João Vaz, Acácio Lino,
Romero Torres, João Queiroz e Silva Porto.
o Casa de banho da família.
O Plano de Atividades atual é feito de acordo com o próprio calendário da Câmara Municipal,
que geralmente associa a Casa aos eventos culturais de Alpiarça, quer através do aproveitamento do
seu espaço, mais concretamente num anexo à Casa dos Patudos, onde outrora eram o lagar de José
Relvas. Este espaço do lagar é atualmente um espaço polivalente, que a direção da própria Casa usa
para desenvolver esses eventos, mas também utiliza outros espaços fora desta (veja-se a Mostra de
Arqueologia realizada para a XIX Feira do Livro de Alpiarça em abril de 2012). A dinamização dos
espaços com exposições temporárias vem enriquecer as dinâmicas associadas à Casa e permite
39
uma maior afluência a esta através da divulgação dos eventos, que normalmente se associam a
visitas a esta.
O Plano de Atividades deve ser adaptado à coleção em exposição, tendo por base a criação
e objetivo primacial os aspetos emocionais-sentimentais, tendo que escolher as obras para as levar
aos alunos, à escola para testar a sua resposta às mesmas, no sentido do entendimento destas. A
importância das obras e o objetivo de as levar às crianças/jovens, vem no sentido de acreditar que a
formação da personalidade e da identidade de cada indivíduo carece de referências consistentes. As
obras podem ser o elo de ligação ao património, permitem trabalhar o desenvolvimento da
assertividade, uso da criatividade e desenvolver um sentido de gosto, no que concerne a uma
experiência estética de aproximação ou não das obras. A ideia será criar um sistema de valores que
podemos construir de forma progressiva, levando ao desenvolvimento de um sentido de preservação
de património, educando e muitas vezes reeducando, com o objectivo de a Educação Patrimonial ser
uma mais-valia e ser vista como tal. Assim, apela-se à Escola como importante pólo de devendo ter o
apoio do Professor.
Este trabalho levou a várias reflexões: como se deveria intervir, de forma pedagógica, junto
das escolas; quais as implicações e como deveria abordar a temática, integrando-a nos currículos ou
somente tendo por base uma atividade direcionada para a temática escolhida?
As colecções podem ser levadas à escola tendo em conta os conteúdos programáticos,
tentando enquadrar as obras numa dinâmica temporal, de forma a permitir aprendizagens materiais
acerca de uma época histórica, levando as crianças/jovens a “Viajar no Tempo”, com bens palpáveis
e que lhe transmitirão um maior sentido de realidade e quem sabe até de pertença.
A programação da colecção deve ter em conta uma contextualização temática ou por épocas,
ou escolas de artistas, para que se possa criar um discurso coerente e coeso. A colecção deve estar
disponível, acessível, o que muitas vezes constitui um problema. É relevante ter noção desse impacto
no indivíduo. Esta abordagem poderá ser útil, no sentido de conseguirmos visualizar e tentar
compreender o papel do museu na sociedade. Esta poderá estar ligada também a outras atividades
artísticas, que a podem de alguma forma beneficiar as obras de arte, por exemplo, associando a uma
época uma obra de arte, poder-se-ia estimular o sentido dos das crianças/jovens, dos seniores, bem
como de outros públicos, com uma música ambiente contemporânea da peça a exibir, recriando a
ambiência que estava ligada ao próprio artista ou ao objecto. O visitante neste caso específico tem a
possibilidade de criar uma imagem da obra e do espaço temporal em que a mesma foi criada.
A mediação que deve ser feita, neste caso, educando. Deve adaptar-se, por isso, o Museu,
ao público que se quer trabalhar. A importância da mediação do discurso em relação aos objetos vem
no sentido de se reforçarem as estruturas cognitivas.31 Portanto, creio ser importante uma
programação voltada para as visitas guiadas, mais interactivas, com animação teatral, jogos, ateliês,
vídeos, dispositivos interactivos móveis (veja o caso do Museu Coleção Berardo com o protocolo com
a Nintendo e uma aplicação direcionada para o conteúdo expositivo, aproveitando as possibilidades
inerentes a um dispositivo informático). A estes dispositivos devemos juntar outros, para que se
reforcem aprendizagens, tais como workshops, cursos de formação, celebração de dias especiais
31 WALLON, H. (1942) – De l’ Act à la Pensée, Paris, Flammarion.
40
direccionados para certos públicos, com destaque também para parcerias com outras organizações e
informações on-line acerca das obras. A ideia será portanto, programar no sentido de uma
aproximação maior das escolas, a este Museu, podendo as diretrizes estender-se mais tarde a outros
espaços.
Devemos, portanto, ter em conta na programação as faixas etárias e a criação de
signos/símbolos associados á pintura, escultura ou artes decorativas, com o intuito de apreensão de
conhecimento por parte das crianças, criando laços, empatia com as obras. A criação de uma
história, de um discurso que permita chegar ao público infantojuvenil, esta dinâmica deve ser tida em
conta. Contudo, devemos ter em atenção as imagens-lógica de forma a criarmos discurso, empatia e
até algum tipo de sentimento em relação a uma obra, no final de contas teremos que adaptar
discurso.
No caso do público sénior poder-se-ão criar outras valências, explorando outro tipo de
recursos, mais práticos e voltados para a experiência adquirida por este público ao longo da sua vida,
potenciando o uso ativo do seu intelecto, como forma de acionar as suas capacidades. Afinal de
contas, as obras de arte são entidades, que isoladamente, podem não ter sentido, a não ser que
encontrem um olhar atento, uma mente que pensa e um “coração que sente”32, sendo esta máxima
para aqueles que já vivenciaram e experienciaram inúmeras coisas ao longo da sua vida, de suma
importância.
2.1.5. Relações com exterior:
A Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça, pela componente cultural que lhe é inerente, acaba
por ser, como acima referido, um complemento de importância relevante ao próprio Pelouro da
Cultura de Alpiarça. É com a Edilidade que acaba pode ter as relações mais fortes, obviamente
devido também ao facto de dela estar dependente. Portanto, as suas relações com entidades
externas ou pessoas individuais são sempre ditadas pela Câmara Municipal, mediante um parecer
desta e de acordo com a pessoa do conservador.
2.2. Roteiros de visita adequados aos diferentes públicos
As vistas guiadas assentes num roteiro já existem, tidas como uma ideia, recém-escrita por
parte da Casa – Museu, o que poderá contribuir, em grande medida, para uma maior compreensão
do imenso acervo e possibilitar ao visitante outro tipo de experiência. As obras não se encontram
legendadas, o que em grande medida dificulta a associá-las ao seu “autor”, a não ser que sejamos
conhecedores e da escola estética onde se inserem ou que sejamos assertivos e perguntemos ao
guia.
O roteiro facilitará a visita, criando desde logo uma maior aproximação do público não
conhecedor aproximando as pessoas das obras.
32 HOOPER-GREENHILL, Eillean (2000) – “Learning in Art Museums: Strategies of Interpretation” In Testing the Water, Liverpool, Liverpool University Press: pp. 136-145.
41
Esse roteiro deverá ter em linha de conta também os espaços exteriores e a própria
arquitetura da casa, com vista a exponenciar a visita. Esses roteiros de visita devem ser
experimentados, no sentido de perceber o que se adequa e pode ser transversal a todos os grupos.
Deverá este ser um suporte útil e de fácil compreensão para todos visando um fim último conhecer o
Museu.
2.3. O que tem sido feito, em iniciativas pontuais, na Casa do Patudos – Museu de Alpiarça
Desde a abertura do novo circuito museológico e renovação da Casa dos Patudos – Museu
de Alpiarça, que se tem assistido a um maior desenvolvimento da relação com os mais jovens e com
um público mais conhecedor do seu espólio.
Têm-se feito conferências, ateliers, formações e visitas teatralizadas. Estas iniciativas têm
causado bastante impacto junto da população e também através das redes sociais a outros que não
os residentes, levando a um acréscimo das visitas. Importa explorar as dinâmicas associadas às
necessidades sentidas, mas também atender ao “Custo-Benefício” destas atividades. Alguns
exemplos das atividades realizadas, encontram-se reproduzidos fotograficamente.
É necessário reforçar a importância do Serviço Educativo como garante, a longo prazo da
memória e projeção do património concelhio o que facilitará a sua continuidade, isto porque as
atividades que promovem aprendizagens são de suma importância. O Serviço Educativo não é o
“remédio” para a sustentabilidade do património local, mas poderá ser um garante da continuidade da
sua visibilidade e de potenciais visitas futuras de outros grupos, que não vão com tanta frequência ao
Museu. Portanto, o reforço de laços da comunidade com o seu património, reforçando a sua
identidade através de atividades continuadas, pensadas, estruturadas, poderá a longo prazo
potenciar a preservação deste. Incluindo nas temáticas a abordar: a “Educação Patrimonial” como
forma de potenciar a preservação das raízes locais, seja de caráter antropológico, etnográfico,
gastronómico ou patrimonial. A importância de um património que é de todos, para todos,
reminiscência do nosso passado, dos nossos antepassados e que deverá ser um elemento positivo,
de referência para as gerações vindouras.
2.4. O que se pretende fazer atendendo à inexistência de um “Serviço Educativo” e que se quer implementar
Pretende-se implementar uma série de atividades que se liguem à temática da Casa – Museu
e possam ao mesmo tempo desenvolver competências, seja num público mais jovem, seja num
público de idade mais avançada. A existência deste serviço terá sempre como premissa a
salvaguarda do património, o enraizamento e reforço da identidade. A ideia será portanto, criar
discurso através do património capaz de envolver as pessoas, de criar laços e apreender acerca de
temáticas ligadas às artes. O “Serviço Educativo” seria, portanto, uma extensão do Museu, um lugar
de aprendizagens, de interação mais direta, física e “palpável” com esse espaço e com a sua
coleção.
42
Para a sua implementação será sempre necessário compreender a necessidade face aos
públicos que queremos que vão ao Museu, aos que queremos trabalhar e por sua vez proceder a um
projeto de programação pedagógica. Poderá ter-se em conta a programação já existente no que
concerne a alguns dias comemorados pela autarquia e adaptarem-se outros, de acordo com as
épocas festivas, aniversários ou temáticas relacionadas com a Casa-Museu. A programação terá
conteúdos fixos e outros sazonais ou de cariz pontual. Deverá fazer-se uma avaliação do impacto que
as referidas atividades tenham nos públicos, afim de se “limarem arestas”.
Esta programação ajudará a potenciar a criação do “Serviço Educativo” e será a base de
trabalho para a criação de muitas outras atividades que potenciarão a relação a desenvolver entre os
“alpiarcenses” e o seu património.
2.5. Análise FOFA ou SWOT:
Afigura-se necessário desenvolvermos uma análise “FOFA” ou “SWOT” à Casa dos Patudos
– Museu de Alpiarça, para verificar quais os pontos que podem ser potenciados – “Forças” e
“Oportunidades” – bem como aqueles que têm forçosamente que ser desenvolvidos no sentido de
deixarem de ser “Fraquezas” e “Ameaças”, a fim de se poder encetar uma política de Serviços
Educativos no Museu, de raiz com vista ao pleno entrosamento das pessoas e dos mais variados
públicos com este, potenciando as visitas e a sobrevivência deste espólio.
2.5.1. “Strengths” (Forças):
A reabertura, em novembro de 2011, após a primeira fase de obras de requalificação; O aspeto
renovado;
A reabertura de espaços expositivos que estiveram fechados ao público durante alguns anos e
que despertam sempre a curiosidade: os aposentos privados da família Relvas;
Ter aberto um pólo multiuso que permite acolher exposições temporárias;
2.5.2. “Opportunities” (Oportunidades):
A proximidade da comunidade escolar de Alpiarça;
A proximidade do Lar de Idosos, para desenvolver contato com o público sénior;
2.5.3. “Wicknesses” (Fraquezas):
Falta de recursos humanos, devidamente formados;
Falta de recursos monetários, visto estar adstrito ao orçamento camarário e a dotações
governamentais;
43
Falta de programação pedagógica e de Serviços Educativos;
Não fazer parte do ICOM, da rede Portuguesa de Museus;
2.5.4. “Threaths” (Ameaças):
Os recursos humanos especializados mas que se encontram em vésperas de aposentação;
A renovação difícil dos recursos humanos especializados ou formados como guias para as
visitas, tendo em conta a tamanha diversidade do acervo que exige muita preparação e
conhecimento.
44
3.1. Ideias para conteúdos a explorarem nos “Serviços Educativos”:
3.1.1. “Narrativas e formas de ver – a história e as estórias que os objetos/obras contam…” (crianças/jovens e seniores):
Material: Peças expostas, escolhidas para o efeito.
Objetivos: Confiança, imaginação, comunicação e aprendizagens que permitem
desenvolvimento pessoal.
Programação: Pode ser usado e enquadrado na escolha pela Casa-Museu, da peça do mês.
Capítulo III
45
Explorando-se os temas das objetos/obras, fazendo-as contar uma narrativa, apelando à
criatividade e à imaginação dos participantes. Dá-se o mote, e desenrola-se uma estória à volta do
tema introduzido.
As obras que podem ser escolhidas para trabalhar estas dinâmicas poderão ser a escultura
de Soares dos Reis, “O artista na infância”; o quadro de Malhoa, que retrata um velho, “Velho
Regedor”; painéis de azulejos de Jorge Pinto retratando cenas da vida rural na Quinta dos Patudos; a
Jarra “Beethoven” de Bordalo Pinheiro.
3.1.2. “Baú das memórias – Épocas, cultura e formas de vestir” (crianças/jovens e
seniores):
Material: Recurso a fotografias do acervo.
Objetivos: Reforço da identidade, da memória, reforça laços e aprendizagens, entre faixas
etárias distintas.
Programação: Em qualquer altura.
Fazendo uso do acervo fotográfico e do arquivo, criando memórias de tempos passados e
vivências passadas, de modos de vida diferentes dos de hoje. Como se vestiam as pessoas nos
finais do séc. XIX, inícios do séc. XX e o que faziam nos tempos livres. Tudo isto pode ser trabalhado
com revistas de época, do arquivo de José Relvas, com imagens do acervo fotográfico, potenciando
mais conhecimentos acerca da família e do seu tempo.
Figura 3.1. – Fotografia de época da Casa dos Patudos (Acervo fotográfico da Casa dos Patudos)
46
3.1.3. “Mundo dos tapetes” – a estória de um tapete voador” (crianças)
Material: Papel, lápis ou tintas.
Objetivos: Reforço da aprendizagem lógico-matemática, criatividade.
Programação: Em qualquer altura.
Levando a experienciarem texturas, cores, formas através da análise dos tapetes, existentes
na Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça. Recriando através do que existe a sua própria estória,
representado através da pintura do objeto. Formular uma estória acerca de um tapete voador, quase
como se tratasse do conto das 1001 noites, tendo sempre associadas as temáticas presentes, dos
tapetes persas ou de Arraiolos expostos, neste espaço.
3.1.4. “Rumo ao colecionismo” (crianças)
Material: Objetos colecionáveis (revistas, selos, moedas, livros, etc.).
Figura 3.2. – Tapete de Arraiolos datado do séc. XVIII, em exposição na Casa;
47
Objetivos: apreensão de noções lógico-matemáticas, valor quantitativo e qualitativo dos
objetos, aprendizagens diversas associadas à componente histórica.
Programação: Dia da abertura oficial da casa, enquanto Museu.
Imbuir as crianças no espírito do colecionismo, voltando-as para noções mais lógico-
matemáticas, que lhes permite estabelecer padrões e quantidades associadas aos objetos. O
colecionismo como atividade centrada nos objetos, atendendo ao seu valor, simbólico, afetivo ou
material. A valorização dos objetos pela sua história, herança e a importância da cultura material.
Tentativa a posterori de criar um dia específico por mês dedicado ao colecionismo, sendo
feita uma feira no espaço exterior da Casa-Museu, ou promover um encontro. Esta atividade
dinamizará o exterior da Casa-Museu, potenciando o vislumbre dos seus jardins e da arquitetura da
mesma.
3.1.5. “Jardim” das experiências (crianças/jovens, famílias e seniores)
Material: Utensílios de jardinagem e sementes.
Objetivos: Potenciar o uso dos espaços exteriores, criando uma ligação entre este e as
pessoas intervenientes neste processo deixando a sua “marca” pessoal no jardim.
Programação: primavera/ verão.
O “Jardim” como espaço de vivências, criando-se uma ligação dos visitantes com o espaço
envolvente da Casa. A ideia de poder deixar a sua “marca” pessoal neste espaço, que outrora foi
prolífero em várias espécies de flores e árvores e que agora se encontra distanciado dessa realidade.
Cria-se através desta iniciativa uma aproximação com o espaço exterior podendo abrir portas a novas
atividades, que leve os visitantes a desfrutar das envolventes do Museu.
3.1.6. “Pequenos profissionais” no Museu (crianças)
Material: Nenhum.
Objetivos: Valorização de pessoal, relação com o outro, desempenho de papéis
permitirá compreender a dinâmica do espaço e reforçar laços.
Programação: Durante todo o ano.
Levando os mais pequenos a desenrolarem um role play associado às funções de um
profissional ligado ao Museu, quer seja no papel de guia, conservador ou técnico de conservação e
restauro. Todos os papéis permitem conhecer a importância do trabalho, destes profissionais, que
permitem que o Museu possa funcionar corretamente. Esta técnica permite utilizar a imaginação
criadora, tomando-se consciência dos limites, das relações com os outros, do desempenho de uma
determinada função e do seu impacto na sua relação com os demais.
3.1.7. “Os leques da D. Eugénia Relvas” (crianças)
48
Material: Papel e tintas.
Objetivos: Permite conhecer o espólio ligado à família e dar uso à criatividade, tendo por mote
este adereço.
Programação: Aniversário da D. Eugénia Relvas.
Usando a temática dos leques que estão expostos na Casa, levar os intervenientes a
observarem-nos, e em uma folha de papel representarem estes e criarem depois um leque. Cada um,
claro está, representa à sua forma o que viu e recria à sua maneira o leque. Será uma temática ligada
à plasticidade do objeto e ao mesmo tempo aprendizagem e criatividade.
3.1.8. “Rural Sketcher’s – Movimentos rurais” (crianças/jovens e seniores)
49
Material: Bloco de desenho A5, lápis, caneta pincel, aguarelas ou outros.
Objetivos: Desenvolvimento pessoal e artístico, conhecimento profundo de aspetos
associados à Casa-Museu, exterior e interiormente.
Programação: Em qualquer altura do ano.
Criando cada um o seu diário gráfico, através de uma visita, quer aos espaços interiores e
exteriores, captando o que para si parece ser mais importante. Permitirá dar largas à imaginação,
recriar e criar com um cunho muito pessoal. Será quase que, um álbum de memórias, de uma visita a
um espaço fantástico, que quer pela sua arquitetura, quer pelo seu espólio poderão trazer “belas
narrativas gráficas” aos seus participantes. Sendo estes pequenos diários portáteis, além de levarem
consigo uma lembrança consigo daquele espaço, poderão continuar a explorar outros, abraçando o
interesse pelo desenho.
3.1.9. Visitas programadas com escolas (crianças/jovens): “Ao encontro da
República: O escudo”
Material: Suporte em gesso, tintas, pincéis e lápis.
Objetivos: Dar a conhecer o período histórico em questão e a importância de José Relvas na
temática da Instauração da República.
Programação: No dia que se comemora a implantação da República.
50
Tendo sido José Relvas um dos responsáveis pela implantação da República, considerado
por muitos a “cara” do Escudo, poderá explorar-se esta temática no que concerne aos temas ligados
à queda da monarquia, ao valor da moeda e ao que esta representa. Cada Jovem poderá “cunhar” a
sua própria moeda e decorá-la, incentivando à expressão mais plástica e criativa.
3.1.10. Visita dramatizada e orientada: “A governanta da casa Relvas, Dona Aurélia Xavier”
Material: Vestuário de época;
Objetivos: Dar a conhecer a história da Casa, da família e perceber a época histórica da
altura.
Programação: No aniversário da sua abertura ao público, no aniversário da morte do seu
proprietário.
Figura 3.5. – Fotografia de José Relvas proclamando a República, nos Paços do Concelho de Lisboa, a 5 de Outubro de 1910; Fotografia de Joshua
51
Visita guiada e dramatizada por esta personagem contemporânea à família, permitindo que
se retrate uma época, que se fale e se dê a conhecer a família e os seus espaços. Este entrosamento
poderá permitir uma aprendizagem mais profunda e assertiva das crianças/jovens, da história de José
Relvas, da importância deste na implantação da República.
3.1.11.“A mala da música – de Domenico Scarlati a Beethoven”:
Material: Música, instrumentos musicais.
Objetivos: Associação de melodias a épocas, entendimento da ligação entre esta e os donos
da Casa, ensino pela música.
Programação: Qualquer altura.
Figura 3.6. – Fotografia de atividade desenvolvida entre Escola e Museu onde se recriaram as vivências da época da famíllia Relvas
52
Explorar as temáticas destes autores e épocas respetivas. Esta escolha não é feita ao acaso,
pois José Relvas tem dois retratos destes dois compositores na Sala da Música, visto a família ter
uma profunda ligação com o piano e o violino, para além de serem os seus compositores favoritos.
Poderão articular-se estes objetos e a música no sentido de permitir experiências auditivas e
sensoriais, criando uma ambiência diferente, explorando sons e temas tão diferentes das vivências de
hoje.
3.2. Explorar o uso das novas tecnologias como potenciadoras de uma maior interacção com o
Museu:
O uso de novas tecnologias no envolvimento de espaços como o dos Museus tem tido
impacto, veja o exemplo da Coleção Berardo presente no CCB, em que se usa as Nintendo DS como
elemento potenciador da visita guiada, aproximando o visitante das obras ali expostas.
Resume-se a atividade: em tirar fotografias com a dita consola às peças que vão sendo
vistas. Poderá ser tirada a fotografia à peça no todo ou em parte (pormenor), no fim da visita compõe-
53
se através da obra existente, uma totalmente “nova” feita por um programa designado Art Gallery.
Cabe depois desta atividade, juntar o grupo de pessoas e criar uma narrativa acerca da obra dando-
se uso à criatividade e à imaginação.
Este tipo de atividades é além de pedagógica e lúdica capaz de proporcionar experiências,
sendo sistemas formais direcionados para a veiculação de regras e objetivos. Podemos ver esta
dimensão mais interativa como um desafio ao que está há muito estabelecido, promovendo-se
através destes sistemas uma maior aproximação ao que já se vem implementando nas escolas
através do ensino das tecnologias da informação.
Claro está que esta iniciativa terá alguns custos, nomeadamente poder-se-ia criar um
protocolo vantajoso para poder potenciar esta atividade no Museu, mas primeiramente terão que se
testar estas ideias através de estudos de viabilidade e já com o Serviço Educativo a funcionar.
54
O papel da Casa dos Patudos na Educação Patrimonial com enfoque na criação de Memória e Identidade voltada para uma Cidadania Activa com enfoque na criação de um “Serviço Educativo”.
Em síntese, após a análise do que se passa em âmbito regional, com a oferta de Serviço
Educativo, torna-se mais fácil perceber onde se está a errar, o que falta fazer, o que se poderá
melhorar. Para que Serviço Educativo seja uma realidade na Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça
terá que haver investimento por parte do órgão que tutela o Museu, para isso dadas as circunstâncias
atuais de “crise”, é necessário fazer perceber a sua importância.
Síntese final
55
A importância deste será no sentido de poder ser garante de uma aproximação dos públicos
infantojuvenis e seniores deste património, sendo este o testemunho “vivo” daquilo que a Vila de
Alpiarça tem para oferecer no que diz respeito ao seu espaço de Museu. Este trabalho pretende que
se reforcem os laços entre o património e as pessoas, possibilitando que as raízes, a identidade dos
habitantes saia reforçada, com vista a uma cidadania que se quer ativa. Para isso é preciso muitas
vezes educar e reeducar as pessoas, promover o conhecimento, formar e repensar estratégias. A
criação do Serviço Educativo assente no projeto que exploramos no Capítulo II deverá ter sempre em
conta a premissa inicial “Património, Educação e Cidadania”, sendo este o fim último.
O principal objetivo deverá ser: criar através da educação um sentido de apropriação de
identidade, criar mecanismos de aprendizagens diversificadas através do contato dos públicos com o
património concelhio. O objetivo será um e único: o caminho para uma cidadania activa ligada ao
património e à sua preservação. Esta ideia remete-nos para a conservação do passado como forma
de viver no presente, quase como escolha consciente de que sabendo de onde viemos podemos
trilhar o caminho para onde queremos ir.
A ideia principal é a aproximar as pessoas de objetos palpáveis, que transmitem
conhecimento, que detêm história e que podem criar aprendizagens, reforçando a sua identidade. A
promoção da aproximação das crianças/jovens e seniores dos objetos culturais e dos centros
culturais, museus ou outros organismos transmissores de cultura nesta comunidade são a chave para
sustentabilidade do projeto.
Claro que não esquecemos que a opção de vir a um Museu envolve uma ligação de
interesses, de desejos pessoais e sociais, associados ao contexto físico e também às atividades
associadas a este espaço. A tomada de decisão apoia-se sempre no “Custo-Benefício”33 associada à
escolha destas atividades que se farão nos tempos livres dessas pessoas. O custo económico ligado
às atividades do Serviço Educativo será com toda a certeza importante na escolha das pessoas,
sendo que é também pensado para que todos possam usufruir.
Há, no entanto, outras situações a ter em conta na escolha: a proximidade do Museu, o preço da
entrada e se existem condições de lá passar o dia. Todos estes fatores são importantes na tomada
de decisão. Teremos que pensar em estratégias concertadas, de modo que seja possível conseguir
um equilíbrio entre o custo e o benefício que daí possa advir, para que este possa justificar a sua
existência. Quanto às outras questões podem ser concertadas, na medida de se unirem esforços
para que se criem condições de passar o dia na Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça até porque
existem espaços que se podem aproveitar nesse sentido.
Neste Museu específico (Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça) podemos aferir que existem
algumas condicionantes que devem ser trabalhadas e que o próprio Serviço Educativo poderá
minimizar. Criado esse leque de atividades orientadas e aproveitando desde os espaços interiores e
exteriores, potenciando a utilização do Museu de uma forma plena, o que até hoje, não foi feito.
Poderão estas novas dinâmicas redimensionar a Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça, no sentido
de potenciar este espaço no seu todo. Hoje, em dia as visitas são aos interiores, espaços mais
33 MARTINEZ, Pedro Soares (1998) – Economia Política, Coimbra, Livraria Almedina: pp. 108-125.
56
privados e menos privados, mas os jardins, a envolvente e a própria arquitetura da casa tem ficado
um pouco esquecida.
A Casa dos Patudos - Museu de Alpiarça deverá com o projeto de Serviço Educativo
potenciar o desenvolvimento cultural e social da comunidade, fazer a inclusão de uma “fatia”
considerável da população que está esquecida (seniores). A participação dos seniores será uma
mais-valia, no sentido de exponenciar as suas vivências, as suas estórias e história, enfim, as suas
memórias, enfatizando a importância deste público. Visto a nossa população estar envelhecida e
termos que nos lembrar que este público poderá potenciar novas abordagens sobre o património,
criar “novas” memórias. Consideramos por isso ser importante reconhecer estes como potenciais
públicos, alargando o leque das pessoas que o visitam.
O que constatamos é que quer os mais velhos quer os mais novos se afastaram do
património concelhio e isto a longo prazo poderá ter repercussões, que poderão desembocar na
perda de identidade, de se autorreconhecerem neste património levando a um distanciamento, que
poderá onerar o futuro e sustentabilidade do Museu, face aos condicionalismos atuais e à sua
dependência municipal.
Como se pode constatar não criamos atividades para famílias, porque consideramos de
acordo com os profissionais da Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça que o que se tem feito não
tem surtido efeito neste grupo específico. Talvez se trabalharmos retirando estes grupos familiares,
de início e depois de cimentada a relação deste património com os infantojuvenis e seniores, se
possa trabalhar no sentido de potenciar atividades mais ligadas às famílias.
Acreditamos que se começarmos pelos que estão mais próximos deste imenso património,
podemos exponenciá-lo “lá fora”, i.e., fora do concelho. A nossa intenção seria começar a trabalhar
dentro do próprio concelho, atribuindo tarefas aos residentes e projetar no Serviço Educativo a
importância do seu património promovendo a sua participação, apostando-se assim numa cidadania
ativa. Através da interação das pessoas com o Serviço Educativo promovido pelo Museu, com a
criação de ateliers, workshops, exposições, podemos facilmente entrecruzar os munícipes e os
visitantes exteriores ao município em dinâmicas que potenciem conhecimentos amplos sobre este
enorme acervo.
Este projeto deve ter em conta que a definição das atividades propostas devem ser
preparadas e devidamente programadas, tal como sugerimos no Capítulo II. Sugerimos estas
atividades, mas poderão futuramente ser outras, vai depender da criação/implementação do Serviço
Educativo, dos seus profissionais e do brainstorming que a partir desta linha condutora se possa criar.
Deparamo-nos com diversas dificuldades quanto á questão da Educação em Museus, no que
concerne à atitude, assumindo-se esta, muitas vezes como forma de preconceito. Notamos
insensibilidade à questão por parte do Estado (na figura dos nossos governantes) que afeta
directamente os Museus, considerando a Cultura muitas vezes como algo supérfluo. Teremos,
portanto, que educar não só as gerações vindouras como as atuais e reeducar aqueles que muitas
vezes estão ligados aos organismos públicos para que se faça “luz” da importância do património,
enquanto legado, raízes e identidade de um povo. Isto deve ser feito, no sentido de clarificar o
57
impacto que a educação pode ter, sendo que a educação aliada a um Museu poderá torná-lo
sustentável através das ofertas de atividades diversas, exponenciando-o.
As questões estatutárias são muitas vezes um obstáculo, não fazendo face ás necessidades
da sociedade atual, tornando os próprios Museus obsoletos, i.e., condicionando a própria captação de
fundos, o que muitas vezes faz com que estes vão definhando lentamente.34Este não é o caminho
que queremos para o Museu de Alpiarça - Casa dos Patudos. Queremos exponenciar a sua coleção,
a sua dimensão histórica, antropológica com a sua aproximação dos públicos que menos o visitam,
no sentido, que estes depois de “trabalhados” possam ser o garante da preservação do Museu, que
se possa criar uma necessidade real de importância deste património, no fim de contas seria isso que
o proprietário da Casa dos Patudos quereria.
O Serviço Educativo é a imagem do Museu, porque é através deste, que contactámos com as
pessoas, que se estabelecem ligações entre o sujeito e o objeto, entre o passado e o presente,
criando a partir daqui memória. O Serviço Educativo deverá guiar-se na sua missão e objetivos, por
um conjunto de atividades lúdicas e pedagógicas dirigidas a públicos diversos. O principal objetivo
será sempre a divulgação das coleções artísticas da Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça, mas
pretende ainda:
Fomentar o gosto pela arte e pelo património, com sentido de o valorizar;
Contribuir para o desenvolvimento do indivíduo, no seu todo;
Fomentar o respeito e a valorização da diversidade cultural, numa dimensão de
educação, cidadania e conhecimento;
Criar experiências sociais entre crianças, jovens e seniores, assim como experiências
culturais que sejam gratificantes e significantes, numa perspetiva de aprendizagem
formal e não-formal;
Proporcionar aprendizagem interdisciplinar em coordenação com outros serviços
adstritos à autarquia e outros organismos, tais como Lar de Idosos, Universidade
Sénior, ATL, Reserva Natural, Agrupamento de Escolas do concelho.
A atuação deve englobar visitas orientadas à exposição permanente e exposições
temporárias que venham a ser organizadas, devem criar-se oficinas de expressão criativa, assim
como formações que possam capacitar os profissionais educativos afectos ao Museu. As parcerias
serão também uma mais-valia, como já referimos anteriormente, promovendo a integração social do
projeto.
O Serviço Educativo inserido numa dimensão assente na Educação Patrimonial, possibilitará
dotar de ferramentas o individuo, no sentido de o aproximar, de compreender, de respeitar o seu
património, podendo esta ideia estender-se a todas as faixas etárias, fazendo a inclusão de
grupos/faixas etárias que muitas vezes não são inclusas nos projetos. Será nesta linha de linguagem
34 FRÓIS, João Pedro (2008) – “Os Museus de Arte e a Educação: Discursos e Práticas Contemporâneas”, in Museologia.pt, nº2, IMC, Lisboa: pp.62-75.
58
comum, de experiências partilhadas e vivenciadas que se incutirá a responsabilidade da herança
cultural daquela comunidade35.
Será, no entanto, a divulgação do Serviço Educativo um ponto fundamental para o sucesso
deste. O suporte informático e as atuais redes sociais são sem dúvida uma mais-valia para que este
possa funcionar em toda a sua plenitude. A coalescência de meios informáticos e de atividades
assentes nas tecnologias da informação não deve ser esquecida, tendo por base sempre o aspeto
lúdico-pedagógico. Também a ligação deste serviço aos Media poderá ser um contributo positivo, na
medida da sua divulgação.
É nossa intenção que o projeto possa ter viabilidade pelo baixo custo e na medida em que o seu
benefício em prol da Casa dos Patudos – Museu de Alpiarça possa ser vantajoso, trazendo mais
visitantes, atraindo públicos mais diversificados e aproximando os habitantes do seu património,
servindo um fim único que se prende à identidade e preservação do património com base nessa
premissa. Afinal, os Museus são casas e “espaços que suscitam sonhos”36, fica com toda a certeza
vincada a humanidade deste espaço, que não sendo apenas casa que somente conserva e preserva
vestígios do passado, mas também sendo fonte de imaginação, criatividade, “ponte” para o futuro,
futuro esse com base no passado, despertando-nos para a sua importância. É esta dimensão
humanizada e de ambiência de “sonhos” que nos leva a uma dimensão criativa, imaginativa, podendo
ser por aí que se trace um caminho frutífero para a instalação do projeto de Serviço Educativo neste
Museu.
Para terminar e tendo em conta a inclusão deste gráfico, onde, em percentagens, damos qual
o peso das visitas de crianças e jovens estudantes, percebemos o afastamento destas faixas etárias
que, como já concluímos, são vitais para a sustentabilidade a longo-prazo da Casa dos Patudos –
Museu de Alpiarça. Per si, estes dados justificam a criação do projeto de Serviço Educativo.
Atendendo ao potencial que este público tem e em função da facilidade com que absorvem
35 HORTA, Maria de Lurdes (2000) – “Património Cultural e Cidadania”, in Museologia Social, Porto Alegre, Unidade Editorial da Secretaria Municipal da Cultura: pp. 11-20. 36 BENJAMIN, Walter (2005) – “Espaços que suscitam sonhos, Museus, pavilhões de fontes hidrominerais” in CHAGAS, Mário (org.) Revista do Património: Museus, antropofagia da memória e do património, n.º 31, Brasília, Iphan: pp. 132-147.
Gráfico 1 - Representatividade percentual dos visitantes infantis (<12 anos) e jovens >12 anos, durante o biénio de 2011-2012
4%
20%
76%
Crianças <12 anos
Jovens >12 anos
Adultos
59
conhecimento, poder-se-á moldar os seus comportamentos no sentido da preservação do seu
património. Com exceção feita para a brilhante coleção de leques de D.ª Eugénia Relvas, que, dada a
variedade de temas, não ignorámos, uma vez que permitem toda uma série de abordagens
pedagógicas, não foi inocente a escolha das restantes peças que aqui incluímos e pretendemos
trabalhar nas actividades, uma vez que se tratam de obras feitas em Portugal, por Portugueses.
Tentamos assim, aliar também a formação pedagógica e artística do visitante, ao conhecimento
histórico dos artistas que produziram estas obras. Afinal de contas, “A Educação é sobejamente
reconhecida como um pilar da Cidadania. Daí a sua importância para desenvolver os conhecimentos,
atitudes e competências essenciais para se ser cidadão. É, essencialmente, através da Educação
que formamos consciências, construímos personalidades e preparamos cidadãos capazes de intervir
de uma forma activa, mas tranquila; Descontraída e natural, mas responsável.”37
37 RIO, Olinda (2012) – “O Tratado de Maastricht e os cidadãos: Cidadania ativa em contexto Europeu”, in Debater a Europa, n.º 6 (Janeiro-Junho 2012), CIEDA, p.121.
60
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Webgrafia consultada:
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http://expresso.sapo.pt/casa-dos-patudos-uma-visita-guiada-ao-portugal-da-i-republica-video-e-fotogaleria=f689489
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Anexos:
Anexo 1 – Lei n.º 47/2004 de 19 de Agosto – Lei Quadro dos Museus Portugueses
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Anexo 1 – Lei n.º 47/2004 de 19 de Agosto – Lei Quadro dos Museus Portugueses
Anexo 1 – Lei n.º 47/2004 de 19 de Agosto – Lei Quadro dos Museus Portugueses
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Anexo 1 – Lei n.º 47/2004 de 19 de Agosto – Lei Quadro dos Museus Portugueses
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Anexo 1 – Lei n.º 47/2004 de 19 de Agosto – Lei Quadro dos Museus Portugueses
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Anexo 1 – Lei n.º 47/2004 de 19 de Agosto – Lei Quadro dos Museus Portugueses
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Anexo 1 – Lei n.º 47/2004 de 19 de Agosto – Lei Quadro dos Museus Portugueses
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Anexo 2 – Excerto da Lei de bases n. 46/86 do Sistema Educativo
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Anexo 2 – Excerto da Lei de bases n. 46/86 do Sistema Educativo