UNIVERSIDADE DE COIMBRA Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação CIÊNCIAS SOCIAIS...
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UNIVERSIDADE DE COIMBRA
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação
CIÊNCIAS SOCIAIS
Docente: Prof. Doutor José Manuel Canavarro
Introdução às Ciências Sociais
A SOCIOLOGIA NORTE-AMERICANA
Segundo Schwendinger & Schwendinger (1974), as
origens do pensamento sociológico norte-americano podem ser
descritas como politicamente liberais e não como
conservadoras, como foi o caso Europeu. A crença na liberdade
e no bem-estar individuais estavam presentes, bem como uma
visão evolucionária do progresso social (reformista ou laissez
faire).
As teses de Herbert Spencer foram extremamente
importantes na moldagem do pensamento sociológico norte-
americano. Tal fica a dever-se a vários factos: primeiro, Spencer
escreveu em inglês; segundo, Spencer escreveu de forma pouco
técnica o que permitia acessibilidade geral ao seu trabalho;
terceiro, a abordagem de Spencer era extremamente vasta.
Introdução às Ciências Sociais
A obra de Spencer foi influência de autores como
Sunner, Ward, Cooley e Park.
William G. Sunner (1840-1910) foi o primeiro a
ensinar uma cadeira ou curso de Sociologia numa
Universidade norte-americana. É o expoente do Darwinismo
Social nos EUA, adoptando uma abordagem de sobrevivência
dos mais fortes aplicada ao mundo social e suportando a
competitividade e a agressividade como características
fundamentais para o sucesso. Sunner entendia que não cabia
ao Estado o papel de apoiar os que não tinham sucesso.
Introdução às Ciências Sociais
Lester F. Ward (1841-1913) foi o primeiro
Presidente da American Sociological Society e Professor na
Brown University. Influenciado por Spencer, Ward defendia
uma sociologia prática, aplicada, ao serviço duma melhor
sociedade. Não era um darwinista social extremo, acreditava
na necessidade e na importância da reforma social.
Suner e Ward foram pioneiros da Sociologia nos EUA.
No entanto, nenhum deles conseguiu que a disciplina
atingisse um estatuto académico bem marcado e definido. Tal
só viria a ser atingido com a Escola de Chicago.
Introdução às Ciências Sociais
A ESCOLA DE CHICAGO E O INTERACCIONISMO SIMBÓLICO
W. I. Thomas (1863-1947) e o livro The Polish Peasant in
Europe and America, em co-autoria com Florian Znaniecki. Este livro
foi o produto de oito anos de investigação na Europa e nos EUA e
consistiu num estudo sobre desorganização social entre emigrantes
polacos.
Os resultados obtidos não foram muito importantes mas a
metodologia utilizada foi muito significativa.
Posteriormente, Thomas evoluiu para uma abordagem de
natureza mais micro, em contraste com as abordagens socio-
estruturais e socio-culturais dos europeus e, com essa posição,
ajudou a definir uma das características distintivas da Escola de
Chicago – o interaccionismo simbólico.
Introdução às Ciências Sociais
Uma outra figura instituidora importante da Escola de
Chicago foi Robert Park (1864-1944). Park foi durante o
final da década de 10 e década de 20 o Director do
Departamento de Sociologia. Park estudou na Europa com
Simmel e interessou-se pelo trabalhos deste autor sobre a
acção e a interacção, levando-os para Chicago. Park foi
jornalista e demonstrou sempre um interesse muito forte
pela aplicação, pelo trabalho de campo e sobretudo pelos
efeitos da urbanização o que determinou o interesse da
Escola de Chicago pela Ecologia Urbana e pela utilização de
técnicas de recolha de dados que passassem pela
observação pessoal e participada.
Introdução às Ciências Sociais
Charles Horton Cooley (1864-1929) é frequentemente
associado à Escola de Chicago embora tenha desenvolvido a sua
carreira académica no Michigan. Apresenta algumas afinidades
com Mead e focaliza-se sobre aspectos psicossociais da vida
social. A sua concepção de consciência, entendida como
insepraável do contexto social, o conceito de self (looking-glass
self) que indica que as pessoas possuem uma consciência
formada e moldada na interacção social é ilustrativo do seu focus.
Um outro conceito relevante é o de grupo primário, um
grupo intímo, face a face que desempenha um papel chave na
ligação do actor á sociedade, o grupo onde se forma o self.
Como Mead, Cooley rejeita o behaviorismo, tal como
revelam a sua concepção de self e a sua proposta metodológica
para o analisar – a introspecção simpatética ou simpática.
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George Herbert Mead (1863-1931) é considerado o
autor mais importante da Escola de Chicago e do interaccionismo
simbólico (cf. a obra Mind, Self and Society; 1934).
As ideias de Mead devem ser entendidas no contexto do
behaviorismo. O autor aceitava alguns dos pressupostos desta
teoria e enfatizava também a importância das acções dos
indivíduos e igualmente as recompensas e as punições derivadas
dessas acções. No entanto, e apesar da sua concordância geral
com os pressupostos behavioristas, Mead considerava a
abordagem behaviorista como limitada.
Introdução às Ciências Sociais
Mead interessou-se pela consciência, desenvolveu o
conceito de self, pai dos conceitos de identidade social e de
representação do indivíduo no mundo social, sustentando que
da tensão ente o self e sociedade, da acção e da interacção
dos sujeitos, resultaria a dinâmica dos comportamentos
individuais e, consequentemente, dos grupos e das
sociedades.
As ideias de Mead deram corpo a uma importante
corrente sociológica designada por Interaccionismo Simbólico.
Introdução às Ciências Sociais
Fundamentos do Interaccionismo Simbólico
1. Os seres humanos são seres com capacidade de pensar;
2. A capacidade para pensar é moldada pela interacção
social;
3. Na intercção social, as pessoas aprendem os sentidos e os
símbolos que lhe permitem pensar;
4. Estes sentidos e símbolos permitem às pessoas
desenvolver acções e interacções distintivamente
humanas;
Introdução às Ciências Sociais
Fundamentos do Interaccionismo Simbólico
[continuação]
5. As pessoas são capazes de modificar ou alterar os sentidos e
os símbolos que usam pela interpretação que fazem da
situação;
6. As pessoas são capazes de fazer essas modificações e
alterações porque, em parte, são capazes de interagir
consigo próprias, verificar das vantagens e desvantagens de
diversas opções de acção e interacção e seleccionar a que
considera como melhor;
7. Os padrões comuns de acção e de interacção fazem
desenvolver os grupos e as sociedades.
Introdução às Ciências Sociais
Em simultâneo com os desenvolvimentos da Escola de
Chicago e, em certa medida, também com os trabalhos de
Durkheim, Weber e Simmel na criação duma Sociologia
Europeia, um grupo de mulheres formou uma rede de trabalhos
de carácter sociológico, num espírito pioneiro e também
reformista.
De entre essas, destaca-se Jane Addams (1860-1935).
O trabalho desenvolvida por esta e outras autoras da sua época
não é considerado como Sociologia Científica, mas mais como
acção social ou serviço social. No entanto, foi um conjunto de
trabalhos que muito contribuíram para o aparecimento duma
Sociologia do Género e das Teorias Feministas.
Introdução às Ciências Sociais
A ESCOLA DE HARVARD E O FUNCIONALISMO ESTRUTURAL
Pitirim Sorokin (1889-1968) – Desenvolveu uma teoria sociológica com complexidade assinalável, de teor cíclico, onde descrevia a sociedade como oscilando de entre três tipos de mentalidade:
Sensitiva – enfatiza o papel dos sentidos para a compreensão da realidade;
Transcendental – sociedades dominadas por formas religiosas de ler os sentidos;
Idealista – sociedades que balançam entre os dois tipos anteriores.
Segundo Sorokin, a mudança ocorre quando uma sociedade atinge uma mentalidade extremada e, em consequência e por isso, dá-se uma mudança para outro tipo de mentalidade.
Introdução às Ciências Sociais
Talcott Parsons (1902-1979), para além de ter sido
um sociólogo notável, criou uma escola (o funcionalismo
estrutural) e foi inspirador dum conjunto de discípulos
importantes como, por exemplo, Robert Merton. A publicação,
em 1937, de The Structure of Social Action, marca a
importância histórica de Parsons.
Esta obra foi de grande significado para a Sociologia
Norte-Americana por diversas razões:
1. Introduziu nos EUA as grandes teorias sociológicas europeias
(Durkheim, Weber e Pareto);
Introdução às Ciências Sociais
2. Não dedicava quase nenhuma atenção às teorias de Marx, o
que contribui para a exclusão deste autor da sociologia
científica. Também não dedicava grande atenção a Simmel,
uma vez que este autor era, como vimos anteriormente, um
dos inspiradores do interaccionismo simbólico e da Escola de
Chicago. Até certo ponto, entre esta Escola e a de Parsons
havia diferenças substanciais e alguma concorrência ou disputa
por um certa primazia teórica;
Introdução às Ciências Sociais
3. Legitimou a teorização sociológica como uma actividade
importante no plano da sociologia científica;
4. Por último, mas muito significativo, Parson considerava-se
um “teórico da acção” e afirmava focalizar a sua atenção nos
actores, nos pensamentos e acções dos actores. No entanto, as
suas teses aproximaram-se mais do estudo de sistemas sociais
e culturais de larga escala e do desenvolvimento para o estudo
destes duma perspectiva funcionalista-estrutural.
Introdução às Ciências Sociais
Nos anos 50, com a publicação de Social System,
Parsons apresentou os principais pressupostos da sua
perspectiva teórica que se concentrava nas estruturas da
sociedade e nas relações inter-estruturais.
Estas estruturas eram entendidas como mutuamente
suportivas e em equilíbrio dinâmico. Era atribuída alguma
ênfase na forma como a ordem era mantida pelos vários
elementos da sociedade e a mudança social era entendida
como um processo ordenado.
Parsons definiu um modelo ou esquema ilustrativo das
usas ideias – o AGIL. Uma função seria um conjunto complexo
de actividades dirigidas para a satisfação ou cumprimento das
necessidades dum sistema.
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Parsons defendia que existem quatro imperativos
funcionais necessários para todos os sistemas – Adaptação (A);
Prossecução de Objectivos (G); Integração (I); e Latência
(L), ou manutenção dum padrão. Para sobreviver, qualquer
sistema deverá manter estas funções:
Adaptação – um sistema tem que lidar com exigência externas e
deve adaptar-se ao meio e adaptar o meio às suas necessidades;
Prossecução de Objectivos – um sistema deve definir e atingir
os seus objectivos primários;
Integração – um sistema dever regular a relação entre as suas
componentes e gerir a relação entre os imperativos funcionais;
Latência – um sistema deve fornecer, manter e renovar a
motivação dos indivíduos e os padrões culturais que criam e
sustêm essa motivação.
Introdução às Ciências Sociais
Parsons define quatro sistemas teóricos de acção
estruturantes da sociedade; o sistema comportamental que é
o que lida com a função adaptação. O sistema da
personalidade que define objectivos e mobiliza energias para
a respectiva prossecução. O sistema social lida com a função
integração fazendo o controlo das partes que o compõem. Por
último, o sistema cultural providencia aos actores as normas e
os valores que motivam para a acção.
O problema fundamental, ou pelo menos um dos
problemas fundamentais na obra de Parsons remete para a
questão da ordem social e o funcionalismo estrutural procura
dar resposta a esse problema.
Introdução às Ciências Sociais
O funcionalismo estrutural pode ser resumido em
sete assunções básicas:
1. Os sistemas são interdependentes;
2. Os sistemas tendem para uma ordem de auto-
manutenção ou equilíbrio;
3. Os sistemas podem ser estáticos ou dinâmicos, mas
quando dinâmicos obedecem sempre a uma ordem;
4. A natureza de uma das partes do sistema tem impacto
numa das outras partes;
Introdução às Ciências Sociais
5. Os sistemas mantém fronteiras com o meio;
6. A alocação e a integração são processos fundamentais
para um determinado equilíbrio do sistema;
7. Os sistemas mantém-se ou tendem para a manutenção
pelo envolvimento da manutenção de fronteiras e do
relacionamento entre as partes do todo, controlo das
variações do meio, e controlo de tendências de
mudança que possam surgir no interior.
Introdução às Ciências Sociais
Outros estruturalistas como Merton, Davis e Moore,
contribuíram fortemente para o desenvolvimento desta
corrente.
Davis e Moore (1945) analisar a estratificação social
sob uma perspectiva estruturalista, definindo a estratificação
como uma estrutura funcionalmente necessária para a
sociedade, para a sua existência (o que implicou determinados
pressupostos e também consequências ideológicos).
Merton (1949) acentuou a necessidade do
funcionalismo se dedicar também as disfunções ou
consequências dos sistemas de acção.
Introdução às Ciências Sociais
Os anos 70 marcam o declínio da proeminência das
teses funcionalistas no quadro da Sociologia.
George Huaco (1986) considera estas teses como
politicamente correctas em exagero, como em defesa da
preservação do sistema mais forte também pela defesa do
equilíbrio, que, em última análise mais não promovem que a o
imobilismo e reprodução sociais.
O funcionalismo estrutural e o interaccionismo
simbólico constituem duas das principais correntes da
Sociologia Moderna e têm repercussões na actualidade.