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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL
SIMULAÇÃO FÍSICA DO PROCESSO DE FORMAÇÃO DOS ATERROS HIDRÁULICOS APLICADO A
BARRAGENS DE REJEITOS
LUÍS FERNANDO MARTINS RIBEIRO
Orientador: ANDRÉ PACHECO DE ASSIS, PhD
TESE DE DOUTORADO EM GEOTECNIA PUBLICAÇÃO: G.TD-005A/00
Brasília / DF: Novembro / 2000
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL
SIMULAÇÃO FÍSICA DO PROCESSO DE FORMAÇÃO DOS ATERROS HIDRÁULICOS APLICADO A BARRAGENS DE REJEITOS
LUÍS FERNANDO MARTINS RIBEIRO
Tese de doutorado submetida ao Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Doutor. Aprovado por: ______________________________________ André Pacheco de Assis, PhD, UnB (ORIENTADOR) ______________________________________ Ennio Marques Palmeira, PhD, UnB (EXAMINADOR INTERNO) ______________________________________ José Henrique Feitosa Pereira, PhD, UnB (EXAMINADOR INTERNO) ______________________________________ Bela Petry, MSc, IHE, Delft/Holanda (EXAMINADOR EXTERNO) ______________________________________ Roberto Francisco Azevedo, PhD, UFV (EXAMINADOR EXTERNO) Brasília, 27 de novembro de 2000
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FICHA CATALOGRÁFICA RIBEIRO, LUÍS FERNANDO MARTINS
Simulação Física do Processo de Formação dos Aterros Hidráulicos Aplicado a Barragens de Rejeitos. [Distrito Federal] 2000.
xxi, 235 p, 297 mm (ENC / FT / UnB, Doutor, Geotecnia, 2000) Tese de Doutorado - Universidade de Brasília. Faculdade de Tecnologia. Departamento de Engenharia Civil e Ambiental 1. Barragem de Rejeito 2. Aterro Hidráulico 3. Modelagem Física 4. Ensaios de Laboratório I. ENC / FT / UnB II.Título (série)
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA RIBEIRO, L.F.M. (2000). Simulação Física do Processo de Formação dos Aterros Hidráulicos Aplicado a Barragens de Rejeitos. Tese de Doutorado, Publicação G.TD-005A/00, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 235 p. CESSÃO DE DIREITOS NOME DO AUTOR: Luís Fernando Martins Ribeiro TÍTULO DA TESE DE DOUTORADO: Simulação Física do Processo de Formação dos Aterros Hidráulicos Aplicado a Barragens de Rejeitos. GRAU: Doutor ANO: 2000 É concedida à Universidade de Brasília a permissão para reproduzir cópias desta tese de doutorado e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta tese de doutorado pode ser reproduzida sem a autorização por escrito do autor.
________________________________________
Luís Fernando Martins Ribeiro
Rua João Pinheiro, 23/401 – Jardim Glória
36.015-040 - Juiz de Fora – MG - Brasil
Tel. (32) 3212-5850
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DEDICATÓRIA
“E é sempre melhor o impreciso que embala que o certo que basta,
Porque o que basta acaba onde basta, e onde acaba não basta,
E nada que se pareça com isto devia ser o sentido da vida...”
ao meu pai José Raphael
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AGRADECIMENTOS
Ao Prof. André Assis pela excelente orientação e importantes discussões durante todo este trabalho, em particular pelo seu apoio e incentivo, mas acima de tudo pela grande amizade. Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Geotecnia da UnB pelos conhecimentos transmitidos, especialmente os professores Ennio Palmeira, Eraldo Pastore e José Henrique Feitosa Pereira pelas importantes discussões e amizade. Ao Prof. Petry pela importante convivência, apoio, amizade e incentivos durante o período de permanência no IHE/Delft. Ao Prof. Klaasssen (IHE/Delft) e Prof. Lubking (GeoDelft) pela importante contribuição durante a fase de desenvolvimento desta pesquisa na Holanda. À Profa. Sara Lenharo e Profa. Edi Guimarães do Instituto de Geociências da UnB pelo apoio e orientação na fase de preparação e realização dos ensaios de difratometria. Aos professores e funcionários do IHE/Delft pela importante acolhida, apoio e suporte técnico durante a fase de realização desta pesquisa na Holanda. Aos professores, pesquisadores e técnicos do GeoDelft pelo apoio técnico e científico e de forma especial ao Prof. de Groot pelas valiosas discussões e incentivos. Aos técnicos do Laboratório de Geotecnia da UnB pelo apoio nos ensaios realizados e de forma especial o estagiário Paulo pela importante ajuda nos ensaios no ESDH. Ao Departamento de Engenharia Civil da Escola de Minas da UFOP pelo apoio, compreensão e incentivo durante a realização deste doutorado, principalmente aos professores da Área de Geotecnia. À CAPES e IEL/MG pelo suporte financeiro. À SAMITRI, S.A. Mineração da Trindade, pelo apoio no envio de material para realização dos ensaios, principalmente pelo constante interesse e suporte nos estudos desenvolvidos na área de rejeitos e também pelo suporte financeiro. Ao CME/UnB pelo apoio técnico na construção dos diversos componentes e acessórios do ESDH e de forma especial ao Sr. José Gonçalves pelas idéias, projetos e pela grande amizade. Aos manos da Colina Adilson, Ângelo, Evaldo e Nélvio pela importante convivência e amizade. Ao grande amigo Rideci pelo importante suporte na fase de montagem e ajustes do ESDH. Ao André Brasil e Terezinha pelas importantes conversas e discussões no importante universo do comportamento dos rejeitos.
v
À grande amiga Marilene pela dedicada amizade e principalmente por representar um forte exemplo de dedicação e competência, mostrando que a persistência é o grande caminho para se atingir importantes objetivos. Aos amigos Graça e Maurício, os fiéis companheiros do doutorado, pelo apoio, incentivo e amizade durante as várias etapas desta tese. À Neusa e Lilian, pelo importante apoio nas fases mais difíceis deste trabalho, mas principalmente pelas longas conversas e excelente amizade. Ao grande amigo Haroldo não só pelos grandes momentos de descontração e viagens, mas principalmente por mostrar a simplicidade de uma grande amizade. Aos amigos Hans, Birgit e Malaika, minha a verdadeira “Dutch Family”, pela amizade, disponibilidade e carinho. Aos amigos da Geotecnia, Alcino, Alessandra, Álvaro, Ana Cristina, André Fahel, Carlos Alberto, Cláudia, Cynthia, Edison, Gilson, Janaina, Kátia, Luciana, Manoel, Marisaides, Nelson, Paola, Paulo, Roberto, Rômulo, Silvana, Silvrano por tornarem Brasília mais divertida, mais amiga e porque não, diferente... Aos pseudo-holandeses, Bilale, Diana, Juliano, Karki, Laurence, Pablo, Ravi e Oscar pela importante convivência e amizade durante o período de estudo no IHE/Delft. À Graciela pelo apoio e presença constante principalmente durante a fase final desta tese. Um agradecimento especial a todo este carinho e compreensão que me incentivou e me tornou muito mais feliz. E finalmente, um agradecimento especial aos meus pais pelo amor, carinho e dedicação em todos os momentos da minha vida.
vi
RESUMO As barragens de rejeito alteadas pelo método de montante e construídas com a técnica de
aterro hidráulico apresentam sérios problemas relacionados aos aspectos construtivos e de
segurança, pois existem poucas especificações técnicas relacionadas a este tipo de
estrutura. O material é lançado de forma quase aleatória sem o controle das variáveis que
influenciam no processo de deposição. Neste contexto, propõe-se um estudo a partir da
simulação em laboratório das variáveis que influenciam o processo de deposição hidráulica
tais como vazão e concentração. O objetivo principal desta tese é analisar a influência
destas variáveis na formação dos aterros hidráulicos, avaliando, principalmente, a
geometria do talude do depósito e os valores da densidade “in situ”, densidade real dos
grãos, porosidade, etc. O estudo proposto tem como base a utilização de um Equipamento
de Simulação de Deposição Hidráulica (ESDH), desenvolvido dentro desta tese, visando
simular o processo de formação das barragens de rejeito construídas com a técnica de
aterro hidráulico. Este equipamento permite o controle das variáveis que afetam a
deposição hidráulica como a vazão e a concentração da lama. São apresentados os detalhes
do equipamento de Simulação de Deposição Hidráulica e também os resultados obtidos a
partir das simulações realizadas no ESDH com o rejeito de minério de ferro da Mina de
Morro Agudo (SAMITRI). De uma maneira geral a vazão e a concentração tendem a afetar
o comportamento do aterro, alterando principalmente a geometria do depósito e sua
densidade “in situ”. Maiores valores de concentração e menores valores de vazão geram
aterros mais inclinados. Devido a presença de minerais de ferro, o processo de segregação
hidráulica foi controlado pelo peso das partículas. Fica evidente que próximo ao ponto de
descarga, o depósito fica mais denso, com baixa porosidade e maior concentração de
partículas mais pesadas. A partir daí, a densidade “in situ” decresce e a porosidade cresce
assintoticamente ao longo do talude depositado. Adicionalmente, foi desenvolvido um
modelo matemático preliminar visando obter o perfil de segregação causado pelo
transporte de sedimentos, considerando principalmente a presença de dois tipos diferentes
de sedimentos, ou seja com diferentes densidades dos grãos.
vii
ABSTRACT
Tailings dams built by the upstream method using hydraulic fill techniques present some
deficiencies related to construction and safety aspects. These deficiencies are, mainly,
related to the lack of technical variable control linked to this type of structures. In general,
the material is placed randomly without control of the variables that affect the depositional
process. In this context, it is proposed a study based on laboratory simulation of the
variables that affect in the hydraulic deposition process such as flow rate and slurry
concentration. The main objective of this thesis is to analyse the influence of these
variables during the hydraulic fill formation, evaluating, mainly, the slope configuration,
“in situ” densities, specific gravity, porosity etc. The proposed study is based on the
Hydraulic Deposition Simulation Test (HDST), developed as part of this thesis, aiming to
simulate tailings dam construction using hydraulic fill techniques. This equipment allows
the control of hydraulic parameters (flow rate and slurry concentration), in order to
simulate the hydraulic fill formation. Details of the HDST equipment and the main results
obtained from these simulations using the Morro Agudo Mine (SAMITRI) iron wastes are
presented. In general, the flow rate and slurry concentration tends to affect the deposit
behaviour, mainly the slope configuration and its respective “in situ” density. High slurry
concentrations and small flow rates generate steeper slopes. The hydraulic segregation
process was controlled by particle weights due to the iron particles present in the waste. It
is clear that near to the discharge point, the deposit is denser, with low porosity due to high
concentration of heavy particles. From this point on, “in situ” density decreases and the
porosity increase asymptotically along the deposit. Additionally, a preliminary
mathematical model was developed in order to evaluate the segregation profile in function
of the sediment transport mechanism, considering different types of sediments, in other
words, sediments with different specific gravity.
viii
ÍNDICE
CAPÍTULO PÁGINA 1.INTRODUÇÃO............................................................................................................... 1 1.1.CONTEXTO GERAL.................................................................................................. 1 1.2. OBJETIVOS................................................................................................................ 5 1.3. ESCOPO DA TESE.................................................................................................... 6 2. ATERROS HIDRÁULICOS.......................................................................................... 9 2.1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 9 2.2. PRIMEIRAS BARRAGENS DE ATERRO HIDRÁULICO..................................... 10 2.3. EXPERIÊNCIA SOVIÉTICA..................................................................................... 13 2.4. BARRAGENS BRASILEIRAS CONSTRUÍDAS COM A TÉCNICA DE ATERRO HIDRÁULICO..................................................................................................
18
2.5. MECANISMO DO PROCESSO DE DEPOSIÇÃO HIDRÁULICA......................... 20 2.5.1. Seqüência de formação de camadas em função da velocidade de fluxo.................. 22 2.5.2. Processo de formação das praias de aterro hidráulico.............................................. 25 2.6. CARACTERÍSTICAS DOS ATERROS HIDRÁULICOS........................................ 27 2.6.1. Segregação................................................................................................................ 27 2.6.2. Densidade................................................................................................................. 29 2.6.3. Geometria................................................................................................................. 32 2.7. CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DOS ATERROS HIDRÁULICOS.............. 42 2.8. ATERROS HIDRÁULICOS APLICADOS A BARRAGENS DE REJEITOS......... 47 3. SIMULAÇÕES FÍSICAS DO PROCESSO DE DEPOSIÇÃO HIDRÁULICA........... 53 3.1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 53 3.2. CARATERÍSTICAS DOS ENSAIOS DE SIMULAÇÃO FÍSICA............................ 54 3.3. CARACTERÍSTICAS DOS DIFERENTES ENSAIOS DE SIMULAÇÃO DE DEPOSIÇÃO HIDRÁULICA REPORTADOS NA LITERATURA................................
55
3.3.1. Ensaio de simulação do aterro da barragem de Porto Primavera............................. 55 3.3.2. Ensaio de Lakefield (Canadá).................................................................................. 58 3.3.3. Ensaios realizados na África do Sul......................................................................... 59 3.3.4. Ensaios realizados no US Bureau of Mines............................................................ 60 3.3.5. Ensaios realizados em Delft, Holanda...................................................................... 60
ix
3.3.6. Equipamento da Universidade de Queensland, Austrália........................................ 64 3.3.7. Equipamento do Departamento de Química da Universidade de Alberta, Canadá.. 67 3.3.8. Equipamento do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Alberta, Canadá................................................................................................................................
69
3.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS VÁRIOS ENSAIOS DE SIMULAÇÃO DE DEPOSIÇÃO HIDRÁULICA............................................................................................
80
4. CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DOS MODELOS REDUZIDOS............................. 85 4.1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 85 4.2. TEORIA DA SEMELHANÇA E ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE SEMELHANÇA.................................................................................................................
86
4.3. TEORIA DOS MODELOS......................................................................................... 88 4.4. DETERMINAÇÃO DA ESCALA DE UM MODELO.............................................. 90 4.4.1 Forças de gravidade................................................................................................... 91 4.4.2 Forças de viscosidade................................................................................................ 96 4.5. PROBLEMAS DE ESCALA...................................................................................... 97 4.6. MODELOS APLICADOS AO TRANSPORTE DE SEDIMENTOS EM RIOS....... 99 4.7. PROCESSO DE SEMELHANÇA.............................................................................. 103 5. EQUIPAMENTO DE SIMULAÇÃO DE DEPOSIÇÃO HIDRÁULICA (ESDH)...... 108 5.1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 108 5.2. CARACTERÍSTICAS DO ESTUDO EXPERIMENTAL......................................... 110 5.3. DESCRIÇÃO DO EQUIPAMENTO SIMULAÇÃO DE DEPOSIÇÃO HIDRAULICA (ESDH).....................................................................................................
113
5.3.1. Canal de deposição................................................................................................. 114 5.3.2. Sistema de alimentação............................................................................................ 115 5.3.3. Sistema de descarga.................................................................................................. 118 5.3.4. Sistema de drenagem................................................................................................ 119 5.4. ARRANJO GERAL DO EQUIPAMENTO................................................................ 120 5.5. METODOLOGIA DO ENSAIO................................................................................. 121 6. PROGRAMA EXPERIMENTAL.................................................................................. 129 6.1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 129 6.2. CARACTERIZAÇÃO DO REJEITO DA MINA DE MORRO AGUDO................. 130 6.3. ENSAIOS REALIZADOS NO ESDH........................................................................ 138 6.3.1. Densidade................................................................................................................. 139 6.3.2. Segregação hidráulica............................................................................................... 139 6.3.3. Massa específica dos grãos....................................................................................... 143
x
6.3.4. Geometria................................................................................................................. 144 7. MODELO MATEMÁTICO........................................................................................... 146 7.1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 146 7.2. CARACTERÍSTICAS DOS MODELOS MATEMÁTICOS..................................... 147 7.3. CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO DO PROCESSO DE FORMAÇÃO DOS ATERROS HIDRÁULICOS..............................................................................................
150
7.3.1. Análise da velocidade de queda da partícula............................................................ 152 7.3.2. Arraste de fundo....................................................................................................... 158 8. ANÁLISE DOS RESULTADOS................................................................................... 171 8.1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 171 8.2. DESCRIÇÃO DO FLUXO......................................................................................... 173 8.3. GEOMETRIA............................................................................................................. 179 8.3.1. Perfil típico (MELENT’EV, 1973).......................................................................... 184 8.4. SEGREGAÇÃO HIDRÁULICA................................................................................ 186 8.5. DENSIDADE.............................................................................................................. 202 8.6. COMPARAÇÕES COM ALGUNS RESULTADOS DE CAMPO.......................... 208 9.CONCLUSÕES............................................................................................................... 212 9.1. CONCLUSÕES GERAIS........................................................................................... 212 9.2. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS......................................................... 217 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................... 220 A. DADOS DOS ENSAIOS DE SIMULAÇÃO DE DEPOSIÇÃO HIDRÁULICA........ 229
xi
LISTA DE FIGURAS
FIGURA PÁGINA
2.1 - Seção típica da barragem de Fort Peck (modificado - HSU, 1988)...................... 12 2.2 - Grupos de materiais de empréstimo de acordo com a norma SNIP-II-53-73
(modificado – MORETTI & CRUZ, 1996)...........................................................
14 2.3 - Seção típica de uma barragem heterogênea (modificado - KUPPER, 1991)........ 15 2.4 - Seção típica de uma barragem homogênea (modificado - KUPPER, 1991)......... 16 2.5 - Seção típica de uma barragem mista (modificado - KUPPER, 1991)................... 16 2.6 - Gráfico de Hjulstrom mostrando a variação da velocidade crítica em função do
tamanho das partículas (HJULSTROM, 1935)...............................................
21 2.7 - Gráfico esquemático da velocidade de sedimentação em relação ao diâmetro do
sedimento (modificado – SELLEY, 1988)............................................................
22 2.8 - Seqüência de formação de camadas em função da velocidade de fluxo
(SUGUIO & BIGARELLA, 1990)........................................................................
23 2.9 - Formação de terraços em uma praia de aterro hidráulico (modificado -
WINTERWERP et al., 1992)................................................................................
26 2.10 - Método de descarga: a) por ponto único b) em linha........................................... 28 2.11 - Esquema geométrico da praia de aterro hidráulico............................................... 33 2.12 - Efeitos da vazão de descarga sobre a inclinação da praia de aterro hidráulico no
campo (modificado – KÜPPER, 1991).................................................................
34 2.13 - Efeitos da concentração da lama sobre a inclinação da praia de aterro
hidráulico no campo (modificado - KÜPPER, 1991)............................................
35 2.14 - Relação entre inclinação do talude e vazão para três diferentes tamanhos de
sedimentos (modificado - HOOKE & ROHRER,1979)........................................
35 2.15 - Esquema do perfil típico associado às praias de aterros hidráulicos (modificado
- MORRIS & WILLIAMS, 1996)........................................................................
38 2.16 - Comparação entre o perfil típico de Melent’ev a partir de simulações no campo
e laboratório: a) material total; b) material fino; c) material grosso (modificado – BLIGHT, 1994).................................................................................................. 40
2.17 - Correlações entre o ângulo de atrito e a densidade relativa para solos granulares (modificado – SCHMERTMAN, 1978)................................................................
45
2.18 - Métodos Construtivos de Barragens de Rejeito.................................................... 48
3.1 - Arranjo físico do equipamento utilizado por FERREIRA et al. (1980)................ 56 3.2 - Esquema do equipamento desenvolvido em Delft, Holanda (modificado - DE
GROOT et al., 1988).............................................................................................
62
xii
3.3 - Variação da concentração ao longo da profundidade de fluxo (modificado - WINTERWERP et al., 1990)................................................................................
64
3.4 - Esquema simplificado do equipamento de simulação desenvolvido na Univ. de Queensland (modificado – MORRIS & WILLIAMS, 1996)................................
65
3.5 - Perfis de uma praia de rejeito de carvão obtidos a partir de simulações em laboratório (modificado – FOURIE, 1988)...........................................................
67
3.6 - Visão geral do perfil obtido em ensaios de simulação no Dep. Química da Univ. Alberta (modificado - FAN & MASLIYAH, 1990)....................................
69
3.7 - Visão geral do equipamento de simulação desenvolvido por KÜPPER (1991) na Universidade de Alberta...................................................................................
71
3.8 - Variação do talude global com a concentração para simulações em laboratório do rejeito da Mina de Syncrude (KÜPPER, 1991)................................................
73
3.9 - Variação do talude global com a vazão para simulações em laboratório do rejeito da Mina de Syncrude (KÜPPER, 1991).....................................................
74
3.10 - Variação da massa específica seca com a concentração para o rejeito da Mina de Syncrude (modificado – KÜPPER, 1991)........................................................
74
3.11 - Variação da massa específica seca com a vazão de descarga para o rejeito da Mina de Syncrude (modificado – KÜPPER, 1991)...............................................
75
3.12 - Variação da massa específica seca com a distância ao ponto de descarga para vários ensaios de campo (modificado KÜPPER, 1991)........................................
78
3.13 - Efeitos da concentração da lama na massa específica seca média no campo (modificado – KÜPPER, 1991).............................................................................
79
3.14 - Efeitos na inclinação média no campo em função da concentração e do diâmetro médio (modificado – KÜPPER, 1991).............................................................
79
3.15 - Variação do talude da praia com a concentração para os vários ensaios de simulação em laboratório (modificado – KÜPPER, 1991)...................................
82
3.16 - Variação do talude da praia com a vazão para os vários ensaios de simulação em laboratório (modificado – KÜPPER, 1991)....................................................
83
3.17 - Variação da densidade do aterro em função da concentração da lama e da vazão de descarga (modificado - KÜPPER, 1991)..........................................................
84
5.1 - Esquema do Equipamento de Simulação de Deposição Hidráulica (ESDH)........ 113 5.2 - Detalhe do processo de deposição da camada de revestimento do fundo do
canal.......................................................................................................................
115 5.3 - Detalhe dos reservatórios e sistema de recirculação............................................. 116 5.4 - Detalhe do sistema de mistura............................................................................... 117 5.5 - Detalhe do Controlador de Fluxo.......................................................................... 119 5.6 - Visão geral do equipamento ESDH....................................................................... 121 5.7 - Esquema de deposição da extremidade final do depósito..................................... 126 5.8 - Detalhe do equipamento desenvolvido para avaliação do perfil do depósito....... 127
xiii
6.1 - Localização da Mina de Morro Agudo.................................................................. 132 6.2 - Pilha de rejeito do Monjolo (modificado - GEOCONSULTORIA, 1996)........... 133 6.3 - Curva granulométrica típica do rejeito de Morro Agudo...................................... 133 6.4 - Difratometria de Raio X realizada na Amostra 1.................................................. 136 6.5 - Difratometria de Raio X realizada na Amostra 2.................................................. 136 6.6 - Difratometria de Raio X realizada na Amostra 3.................................................. 136 6.7 - Microscopia ótica realizada no rejeito de Morro Agudo (ESPÓSITO, 2000)...... 137 6.8 - Curva granulométrica típica dos diferentes tipos de partículas do rejeito de
Morro Agudo ........................................................................................................
137
7.1 - Esquema das camadas (modificado – SLLOFF, 1993)......................................... 150 7.2 - Esquema simplificado do processo de deposição (fase de equilíbrio).................. 152 7.3 - Esquema de forças para determinação da velocidade de queda............................ 153 7.4 - Esquema do processo de movimentação da partícula no momento da descarga
no ESDH................................................................................................................
156
7.5 - Trajetória aproximada da partícula em função da profundidade de fluxo: a) quartzo e velocidade de fluxo de 0,052 m/s; b) quartzo e velocidade de fluxo de 0,208 m/s; c) ferro e velocidade de fluxo de 0,052 m/s; d) ferro e velocidade de fluxo de 0,208 m/s.................................................................................................
157
7.6 - Distâncias de deposição em função do diâmetro do sedimento em relação ao ponto de descarga para velocidade de fluxo: a) velocidade de fluxo de 0,052 m/s e b) velocidade de fluxo de 0,208 m/s............................................................ 157
7.7 - Elemento unitário usado para definir a equação da continuidade para um fluxo horizontal...............................................................................................................
160
7.8 - Perfil básico da camada efetiva............................................................................. 162 7.9 - Esquema de alteração da camada efetiva.............................................................. 163
7.10 - Variação da composição do depósito em função da cota do topo da camada de intercâmbio considerando quartzo como um sedimento único.............................
167
7.11 - Variação da composição do depósito em função do tempo considerando o quartzo como um sedimento único........................................................................
167
7.12 - Variação da composição do depósito para os três tipos de sedimentos em função da cota do topo da camada de intercâmbio................................................
168
7.13 - Variação da composição do depósito para os três tipos de sedimentos em função do tempo....................................................................................................
169
8.1 - Padrão de fluxo na superfície do aterro, mostrando os pequenos canais ao
longo da superfície das ilhas e barreiras formadas em função da velocidade de fluxo....................................................................................................................... 174
8.2 - Estratificações compostas por bandas de ferro e quartzo intercaladas..................
175 8.3 - Estratificações presentes na praia de rejeito no campo......................................... 176
xiv
8.4 - Bandas de material fino intercaladas com ferro e quartzo no campo.................... 177 8.5 - Evolução do processo de deposição e a variação do nível d’água na
extremidade final do depósito...............................................................................
177 8.6 - Detalhe da região correspondente à deposição subaquática.................................. 178 8.7 - Perfis obtidos para Q=5 l/min e concentrações entre 5 e 20%.............................. 179 8.8 - Perfis obtidos para Q=10 l/min e concentrações entre 5 e 20%............................ 179 8.9 - Perfis obtidos para Q=20 l/min e concentrações entre 5 e 20%............................ 180
8.10 - Perfis obtidos para c=8% e vazões entre 5 e 20 l/min........................................... 180 8.11 - Perfis obtidos para c=14% e vazões entre 5 e 20 l/min......................................... 180 8.12 - Perfis obtidos para c=20% e vazões entre 5 e 20 l/min......................................... 181 8.13 – Variação da inclinação global do depósito com a concentração........................... 182 8.14 - Variação da inclinação global do depósito com a vazão....................................... 182 8.15 - Variação da inclinação global com a concentração para os diferentes ensaios de
simulação de deposição hidráulica........................................................................
183
8.16 - Variação da inclinação global com a vazão para os diferentes ensaios de simulação de deposição hidráulica........................................................................
184
8.17 - Variação dos parâmetros n e b com a concentração da lama................................ 183 8.18 - Concavidade dos perfis obtidos nas simulações no ESDH para Q= 5l/min e
c=14%....................................................................................................................
186 8.19 - Variação das características granulométricas com a distância do ponto de
descarga para uma vazão de aproximadamente 5 l/min........................................
189 8.20 - Variação das características granulométricas com a distância do ponto de
descarga para uma vazão de aproximadamente 10 l/min......................................
190 8.21 - Variação das características granulométricas com a distância do ponto de
descarga para uma vazão de aproximadamente 20 l/min......................................
191 8.22 - Variação das características granulométricas com a distância do ponto de
descarga para uma concentração de aproximadamente 8%..................................
192 8.23 - Variação das características granulométricas com a distância do ponto de
descarga para uma concentração de aproximadamente 14%................................
193 8.24 - Variação das características granulométricas com a distância do ponto de
descarga para uma concentração de aproximadamente 20%................................
194 8.25 - Variação de Gs para Q=5 l/min e concentrações entre 5 e 20%........................... 196 8.26 - Variação de Gs para Q=10 l/min e concentrações entre 5 e 20%......................... 196 8.27 - Variação de Gs para Q=20 l/min e concentrações entre 5 e 20%......................... 197 8.28 - Variação de Gs para c=8% e vazões entre 5 e 20 l/min........................................ 197 8.29 - Variação de Gs para c=14% e vazões entre 5 e 20 l/min...................................... 197 8.30 - Variação de Gs para c=20% e vazões entre 5 e 20 l/min...................................... 198 8.31 - Variação do teor de ferro para Q=5 l/min e concentrações entre 5 e 20%............ 200 8.32 - Variação do teor de ferro para Q=10 l/min e concentrações entre 5 e 20%.......... 200
xv
8.33 - Variação do teor de ferro para Q=20 l/min e concentrações entre 5 e 20%.......... 201 8.34 - Variação do teor de ferro para c= 8% e vazões entre 5 e 20 l/min........................ 201 8.35 - Variação do teor de ferro para c=14% e vazões entre 5 e 20 l/min....................... 201 8.36 - Variação do teor de ferro para c=20% e vazões entre 5 e 20 l/min....................... 202 8.37 - Variação de ρd para Q=5 l/min e concentrações entre 5 e 20%............................ 203 8.38 - Variação de ρd para Q=10 l/min e concentrações entre 5 e 20%.......................... 203
8.39 - Variação de ρd para Q=20 l/min e concentrações entre 5 e 20%.......................... 204 8.40 - Variação de ρd para c=8% e vazões entre 5 e 20 l/min......................................... 204 8.41 - Variação de ρd para c=14% e vazões entre 5 e 20 l/min........................................ 204
8.42 - Variação de ρd para c=20% e vazões entre 5 e 20 l/min...................................... 205
8.43 - Variação da porosidade para Q=5 l/min e concentrações entre 5 e 20%.............. 206 8.44 - Variação da porosidade para Q=10 l/min e concentrações entre 5 e 20%............ 206 8.45 - Variação da porosidade para Q=20 l/min e concentrações entre 5 e 20%............ 206 8.46 - Variação da porosidade para c=8% e vazões entre 5 e 20 l/min........................... 207 8.47 - Variação da porosidade para c=14% e vazões entre 5 e 20 l/min......................... 207 8.48 - Variação da porosidade para c=20% e vazões entre 5 e 20 l/min......................... 207 8.49 - Variação da densidade dos grãos e do teor de ferro ao longo depósito no campo
(modificado – ESPÓSITO, 2000)..........................................................................
209 8.50 - Variação da porosidade ao longo do depósito no campo (modificado –
ESPÓSITO, 2000).................................................................................................
210 8.51 - Comparação entre os valores de ρd obtidos na Pilha do Monjolo em 07/99 e os
valores obtidos nas simulações em laboratório.....................................................
210
A.1 - Curvas granulométricas dos pontos amostrados ao longo do depósito para o
ensaio MA-1..........................................................................................................
230 A.2 - Curvas granulométricas dos pontos amostrados ao longo do depósito para o
ensaio MA-2..........................................................................................................
230 A.3 - Curvas granulométricas dos pontos amostrados ao longo do depósito para o
ensaio MA-3..........................................................................................................
230 A.4 - Curvas granulométricas dos pontos amostrados ao longo do depósito para o
ensaio MA-4..........................................................................................................
231 A.5 - Curvas granulométricas dos pontos amostrados ao longo do depósito para o
ensaio MA-5..........................................................................................................
231 A.6 - Curvas granulométricas dos pontos amostrados ao longo do depósito para o
ensaio MA-6..........................................................................................................
231 A.7 - Curvas granulométricas dos pontos amostrados ao longo do depósito para o
ensaio MA-7..........................................................................................................
232 A.8 - Curvas granulométricas dos pontos amostrados ao longo do depósito para o
ensaio MA-8..........................................................................................................
232
xvi
A.9 - Curvas granulométricas dos pontos amostrados ao longo do depósito para o ensaio MA-9..........................................................................................................
232
A.10 - Perfil do depósito obtido no ensaio MA-1............................................................ 233 A.11 - Perfil do depósito obtido no ensaio MA-2............................................................ 233 A.12 - Perfil do depósito obtido no ensaio MA-3............................................................ 233 A.13 - Perfil do depósito obtido no ensaio MA-4............................................................ 234 A.14 - Perfil do depósito obtido no ensaio MA-5............................................................ 234 A.15 - Perfil do depósito obtido no ensaio MA-6............................................................ 234 A.16 - Perfil do depósito obtido no ensaio MA-7............................................................ 235 A.17 - Perfil do depósito obtido no ensaio MA-8............................................................ 235 A.18 - Perfil do depósito obtido no ensaio MA-9............................................................ 235
xvii
LISTA DE TABELAS
TABELA PÁGINA
2.1 - Aterros hidráulicos no Brasil construídos pela Light & Power Co. (modificado - NEGRO JR. et al., 1979).....................................................................................
19
3.1 - Dimensões e arranjo dos equipamentos de simulação e o programa de ensaios
realizados em Delft, Holanda (modificado - WINTERWERP et al., 1990)..........
61 3.2 - Parâmetros médios das areias usados nos ensaios de simulação em laboratório
(modificado – KÜPPER, 1991).............................................................................
70 3.3 - Diferentes tipos de ensaio de simulação deposição hidráulica.............................. 81
4.1 - Critérios para fluxos turbulentos e rugosos (modificado – SHARP, 1981).......... 100
6.1 - Características do rejeito da Mina de Morro Agudo............................................. 134 6.2 - Resumo dos ensaios............................................................................................... 138 6.3 - Ensaios de densidade............................................................................................. 140 6.4 - Granulometria........................................................................................................ 142 6.5 - Ensaios de determinação da massa específica dos grãos....................................... 144 6.6 - Geometria do depósito no ESDH.......................................................................... 145
8.1 - Valores de n e b relacionados à caracterização do perfil mestre........................... 185
xviii
LISTA DE ABREVIAÇÕES, NOMENCLATURAS E SÍMBOLOS
SÍMBOLO
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
Al2O3 Alumina
b Parâmetro admensional da equação de SMITH et al. (1986)
c Concentração
cm Centímetro
C Coeficiente de Chézy
Cd Coeficiente de atrito
CME Centro de manutenção de Equipamento Científicos
d Diâmetro do sedimento
D10 Diâmetro efetivo
D50 Diâmetro médio dos sedimentos
D90 Diâmetro correspondente a 90%
ESDH Ensaio de Simulação de Deposição Hidráulica
Fe Ferro
FeO Óxido de Ferro
Fw Força de atrito
g Aceleração da gravidade g Grama
GS Densidade das partículas sólidas
i Inclinação do talude de deposição (%) I Inclinação do gradiente de energia (%)
Im Inclinação média do talude de deposição (%) ICOLD Comitê Internacional de Grandes Barragens
IHE International Institute for Infrastructural, Hydraulic and Environment
h Profundidade média da água (m) H altura do depósito (m) k Rugosidade equivalente
kg Quilograma
kN QuiloNewton
xix
kPa QuiloPascal
l Litro
m Metro
min Minuto
mm Milimetro
MA Morro Agudo
Mi Massa que entra no elemento
Mo Massa que sai do elemento
n Porosidade
n Coeficiente de Manning
NA Nível d’água
NBR Norma Brasileira
p1δ Porcentagem de sedimento 1 (quartzo) na camada de intercâmbio
p2δ Porcentagem de sedimento 2 (ferro) na camada de intercâmbio
q Vazão especifica
Q Vazão total
Qf Vazão de fluido
Qs Vazão de sedimentos
R Raio hidráulico
s Segundo
S Volume de sedimento transportado por metro de canal Si Volume de sedimento que entra no canal
S1i Volume de sedimento 1 (quartzo) que entra no canal
S2i Volume de sedimento 2 (ferro) que entra no canal
S3i Volume de sedimento 3 (quartzo/ferro) que entra no canal
So Volume de sedimento que sai do canal
S1o Volume de sedimento 1 (quartzo) que sai do canal
S2o Volume de sedimento 2 (ferro) que sai do canal
S3o Volume de sedimento 3 (quartzo/ferro) que entra no canal
SAMITRI S. A. Mineração da Trindade
SiO2 Silica
t Coordenada do tempo t Tonelada u Velocidade de fluxo u Velocidade média de fluxo
xx
UFOP Universidade Federal de Ouro Preto
UnB Universidade de Brasília
v* Velocidade de cisalhamento
x Coordenada na direção de fluxo ws velocidade de queda do sedimento
ws,m velocidade de queda do sedimento corrigida
W Peso
Ws Peso de sedimentos
Wt Peso total
zb Nível da camada acima da uma superfície de referência
z0 Nível da camada estacionária
δ Espessura da camada de intercâmbio
δeff Espessura da camada efetiva
ν Viscosidade cinemática
ρd Massa específica seca
ρf Massa específica do fluido
ρs Massa específica das partículas sólidas
ρt Massa específica total
ω Teor de umidade
xxi
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO 1.1. CONTEXTO GERAL
As barragens de rejeito projetadas com a técnica de aterros hidráulicos apresentam grandes
problemas relacionados aos aspectos construtivos e de segurança, pois existem poucas
especificações técnicas relacionadas a este tipo de estrutura. De uma maneira geral, o
material é lançado de forma quase aleatória não sendo estabelecido nenhum controle das
variáveis que influenciam o processo de deposição. O conhecimento dos mecanismos de
deposição hidráulica resultaria num maior entendimento do comportamento destes aterros
sob o ponto de vista geotécnico, e desta forma poder-se-ia controlar a qualidade do
processo construtivo, mesmo que durante a construção as variáveis de descarga e
lançamento fossem alteradas.
Neste contexto, existe uma necessidade de analisar o comportamento geotécnico destas
estruturas durante as fases de projeto e de construção. Mas, devido a variabilidade
construtiva destas estruturas, existem ainda muitos problemas relacionados a previsão de
seu desempenho e segurança. O histórico das barragens construídas com a técnica de
aterros hidráulicos tem revelado muitos insucessos com relação ao desempenho e
estabilidade deste tipo de estrutura.
De uma maneira geral, os problemas estão associados às características dos projetos e a
falta de controle da metodologia construtiva. Estes problemas foram tão importantes,
gerando inúmeras rupturas, que culminaram no abandono da técnica do aterro hidráulico
no mundo ocidental, principalmente aplicada à construção de barragens de acumulação de
água. Contudo, a técnica de aterro hidráulico por pressões econômicas e de ordem prática
se manteve aplicada à disposição de rejeitos, mas com um controle construtivo bastante
precário.
1
É importante notar que juntamente com a perda da eficiência e a detecção do baixo
controle geotécnico dos aterros hidráulicos, o desenvolvimento das técnicas de
compactação contribuíram fortemente para a marginalização desta metodologia. Todo o
respaldo tecnológico e controle construtivo deram suporte a técnica de aterros
compactados em detrimento à aleatória tecnologia da hidromecanização.
Parece estranho imaginar que uma tecnologia tão antiga, pudesse de uma forma imediata
ser esquecida e considerada como responsável por todos os problemas de ruptura.
Observa-se que durante anos o processo de hidromecanização foi utilizado na construção
de diques, desvios de rios, barragens de contenção de cheias e era a única forma
econômica e viável de construir estas estruturas. É claro que o desenvolvimento da ciência
revelou incertezas e problemas que o empirismo ou a própria experiência não puderam
responder. No entanto não se pensou em desenvolver, naquela época, técnicas de projeto e
metodologias construtivas que minimizassem os riscos de rupturas, e assim a técnica de
aterro hidráulico foi abandonada.
Pelo acompanhamento histórico sobre o desenvolvimento da técnica de aterros hidráulicos,
sabe-se que a ruptura da Barragem de Fort Peck nos Estados Unidos pôs fim à tecnologia
de aterros hidráulicos no mundo ocidental, fazendo com que o termo aterro hidráulico
fosse sempre associado à liquefação. Contudo, o problema não era da técnica de aterros
hidráulicos mas relacionado à inobservância de normas de controle construtivos já
impostas (HAZEN, 1920) e que não eram seguidas, como foi o caso de Fort Peck.
Preconceito ou precaução, mas a realidade dos aterros hidráulicos após a ruptura de Fort
Peck não foi muito boa, existindo poucas estruturas desta natureza construídas a partir da
década de 40. Algumas restrições impostas por JUSTIN et al. (1945) com relação a
acidentes e rupturas envolvendo aterros hidráulicos mudaram o cenário desta tecnologia e
durante anos pouco se contribuiu no aprimoramento da técnica de aterros hidráulicos. As
contribuições obtidas no 14th Congresso Internacional de Grandes Barragens em 1982 são
um reflexo desta postura na prática ocidental, poucos trabalhos e projetos foram
relacionados à técnica construtiva de aterro hidráulico (PENMAN, 1982 e
D’ANGREMOND et al., 1982).
Entretanto, os soviéticos se mostraram como grandes incentivadores da implementação e
2
manutenção da técnica de aterros hidráulicos, a partir de 1936. Inicialmente os soviéticos
adotaram o modelo americano, mas a partir de 1945 o processo foi gradualmente
aprimorado com tecnologias e experiências próprias, sendo construídas mais de cem
barragens. BOROVOI et al. (1982) apresentaram a visão do Comitê Nacional de Grandes
Barragens da Rússia e demais repúblicas soviéticas e mostraram que o método de aterro
hidráulico era bastante comum na União Soviética.
Na prática soviética as recomendações propostas por HAZEN (1920) foram seguidas e
mais tarde passaram a ser baseadas na própria experiência, adquirida com o emprego e
aprimoramento técnico. Baseados nestas experiências, MELENT’EV et al. (1973)
propuseram as primeiras recomendações de controle construtivo associadas às estruturas
de aterros hidráulicos. Estas normas, embora empíricas, já revelavam a importância da
caracterização correta do material empregado e das características do método de
lançamento.
No Brasil a hidromecanização representou um papel importante nas construção de
barragens entre 1906 e 1945, entretanto estas barragens apresentavam um baixo controle
geotécnico, sendo relatadas algumas rupturas relacionadas aos altos valores de índices de
vazios e às baixas densidades. De uma forma geral, os aterros brasileiros apresentaram
problemas na fase de projeto e durante a construção. A falta de controle do método de
lançamento foi também o principal responsável pelas dúvidas e incertezas do método no
Brasil, principalmente aplicado na construção de barragens para fins hidroelétricos.
Contudo, na década de 80, houve uma tentativa de resgate desta técnica pela viabilização
de um projeto pioneiro envolvendo a construção da Barragem de Porto Primavera, no Rio
Paraná. A tecnologia empregada seria de aterro hidráulico, usando a metodologia
construtiva baseada nas recomendações da técnica soviética. Embora tenha sido
comprovada a viabilidade e a vantagem econômica do método, optou-se pela utilização da
técnica de aterro compactado.
O que se observa é que, embora vista com restrições, a técnica de aterro hidráulico pode
ser considerada viável, principalmente se forem analisadas as características básicas dos
projetos, os materiais utilizados e principalmente a metodologia construtiva, isto é, o
método de lançamento. Pode-se perceber ainda a grande aplicabilidade deste tipo de
3
estrutura associada à disposição de rejeitos e às vantagens econômicas e técnicas que este
tipo de método apresenta.
Contudo, mesmo abandonada no contexto das barragens convencionais a técnica de aterro
hidráulico sobreviveu devido à sua aplicabilidade no processo de disposição de rejeitos. A
imposição de técnicas de baixos custo, as características dos rejeitos, as condições de
transporte, geralmente por via hidráulica, foram fundamentais na manutenção da técnica na
prática corrente da maioria das atividades de mineração.
Mas mesmo sendo uma técnica atrativa para as mineradoras, as barragens de rejeitos
construídas com a técnica de aterro hidráulico não apresentavam um controle técnico
rigoroso, possivelmente pelo descaso técnico que era associado a estas obras no passado.
Atualmente, pelas imposições dos órgãos ambientais e mesmo devido aos riscos
associados às obras envolvendo grandes volumes de rejeitos construídas recentemente, o
panorama geral de controle e segurança destes empreendimentos têm mudado. Muitos
estudos tem sido propostos desde a década de 70 atraindo pesquisadores como MITTAL &
MORGENSTERN (1975), KLOHN (1981), VICK (1983) e outros citados por
MORGENSTERN & KÜPPER (1988), buscando entender o comportamento dos aterros
hidráulicos e garantir a sua segurança. Estes estudos têm se baseado em metodologias de
construção adequadas revendo as causas das rupturas e avaliando os métodos construtivos
empregados.
Dentro desta característica o Comitê Internacional de Grandes Barragens (ICOLD, 1989)
tem destacado os riscos associados às barragens construídas no passado, principalmente
pelo método de montante em que o controle de qualidade bastante precário resultou em
numerosos processos de ruptura. Este mesmo tipo de experiência foi reportado por
VALENZUELA (1996) para as barragens de rejeito construídas no Chile e sujeitas a
condições sísmicas muito severas. A falta de controle técnico fez com que o método de
montante fosse eliminado da prática chilena e no Brasil este método tem sido
desaconselhado pela norma brasileira (ABNT, 1993).
Entretanto, o que se observa é que existe um a tendência de avaliar o comportamento dos
aterros hidráulicos, mas toda a possibilidade de aperfeiçoamento tecnológico esbarra nas
dificuldades associadas ao controle de qualidade e à complexidade dos métodos de
4
lançamento. Não se pode admitir que uma tecnologia tão importante seja desprezada pelas
dificuldades técnicas associadas ao método de aterro hidráulico e nem que os problemas
relacionados ao controle do método de lançamento interrompa ou simplesmente elimine
esta técnica. Sabe-se que existem muitas variáveis interferindo no processo de formação
destas estruturas, mas que o controle de campo e as simulações em laboratório tendem a
gerar dados capazes de melhorar a qualidade técnica dos aterros hidráulicos e no futuro
poderão possivelmente estabelecer uma metodologia construtiva viável e segura para os
aterros hidráulicos, principalmente quando aplicados às barragens de rejeitos.
1.2. OBJETIVOS
É com base no conceito apresentado anteriormente que se fundamenta este trabalho,
constituindo-se numa tentativa de resgate e melhoria da qualidade técnica dos aterros
hidráulicos. Assim, o objetivo básico desta tese é tentar entender o mecanismo de
deposição hidráulica baseado em simulações de laboratório que possam controlar e avaliar
os efeitos das variáveis de deposição hidráulica no comportamento global destas estrutura.
No laboratório as variáveis podem ser isoladas e simuladas de forma mais rápida e
econômica que no campo e os parâmetros obtidos podem ser utilizados na avaliação do
comportamento geotécnico destas estruturas.
Assim, a proposta deste trabalho consiste no desenvolvimento de um equipamento de
simulação em laboratório das características dos processos de deposição hidráulica visando
estudar o comportamento geotécnico destes depósitos. Este ensaio possibilita gerar
amostras representativas do processo de deposição hidráulica semelhante ao que ocorre no
campo e, desta forma, obter parâmetros geotécnicos mais realísticos deste tipo de estrutura.
Estes estudos visam o estabelecimento de técnicas construtivas adequadas à realidade
destes projetos, possibilitando estabelecer parâmetros de controle de qualidade da maioria
das estruturas envolvendo disposição de rejeitos em função das variáveis que afetam o
processo de deposição hidráulica, como a vazão e a concentração da lama.
É importante notar que esta pesquisa faz parte de intenso processo de investigação a
respeito do comportamento das barragens de rejeitos, visando aprimorar a sua qualidade
técnica, desenvolvido no âmbito do Programa de Pós-graduação em Geotecnia da
5
Universidade de Brasília. Outros estudos têm sido realizados no sentido de prever o
comportamento do material já depositado no campo, a partir do controle de qualidade
baseado em métodos estatísticos e probabilísticos relacionando porosidade e resistência
(ESPÓSITO, 2000). Considerando a variabilidade do processo de construção de barragens
de rejeitos, as análises estatísticas têm se revelado como uma ferramenta importante na
previsão do comportamento deste tipo de estrutura. Esta aplicabilidade tem sido estendida
para simulação da variabilidade da composição do rejeito, principalmente relacionada a
influência do teor de ferro no comportamento geotécnico das barragens (LOPES, 2000).
Também têm sido desenvolvidos estudos relacionados à geração de poro-pressão durante e
após o processo de deposição no campo (CAVALCANTE, 2000).
1.3. ESCOPO DO TRABALHO Esta tese foi estruturada em nove capítulos e um apêndice. O Capítulo 1 apresenta o
contexto geral da evolução e dos problemas associados aos aterros hidráulicos, enfatizando
a sua aplicação à disposição de rejeitos. O objetivo básico desta tese também é apresentado
neste capítulo, juntamente com o escopo da tese.
No Capítulo 2 é apresentada uma revisão das características gerais dos aterros hidráulicos
associadas aos processos de deposição, parâmetros hidráulicos e características
geotécnicas relacionados, principalmente, à disposição de rejeitos. É feito um breve
histórico da evolução da técnica de aterros hidráulicos, relatando algumas rupturas, dados
e recomendações técnicas. Devido à importância do mecanismo de transporte hidráulico
associado à hidromecanização são apresentados alguns detalhes do processo de deposição
que ocorre na praia formada pela deposição dos materiais.
As diversas simulações do processo de deposição hidráulica realizadas em laboratório,
reportadas na literatura, são apresentadas no Capítulo 3. Neste capítulo são descritos o
arranjo físico de cada equipamento, as particularidades dos parâmetros e investigações e,
também, as propostas técnicas relacionadas a cada um deles. Devido aos grandes problemas associados às simulações utilizando modelos reduzidos, o
Capítulo 4 apresenta alguns conceitos relacionados às técnicas de modelagem, fatores de
escala, distorções e análise de semelhança. Este capítulo visa fornecer uma idéia geral do
6
processo de modelagem e justificar a metodologia adotada no desenvolvimento do
equipamento de simulação de deposição hidráulica desenvolvido nesta tese.
O Capítulo 5 apresenta a descrição do equipamento, apresentando os detalhes do projeto
de cada componente que compõe o ensaio de simulação de deposição hidráulica (ESDH).
Adicionalmente, são descritas as metodologias de ensaio adotadas, cuidados durante a
execução e processo de amostragem ao longo do canal de deposição. Uma grande ênfase
foi dada à metodologia e cuidados durante a realização dos ensaios de densidade no
depósito.
O Capítulo 6 descreve o programa experimental adotado baseado na realização dos ensaios
no ESDH. O objetivo do programa experimental foi analisar as características do rejeito da
Mina de Morro Agudo e também avaliar as potencialidades do equipamento no estudo do
comportamento dos aterros hidráulicos. A caracterização dos rejeito da Morro Agudo
também é apresentada neste capítulo que descreve as principais particularidades deste tipo
de material.
Numa tentativa de fornecer o suporte teórico ao processo de deposição que ocorre no
ESDH, foi proposto um modelo matemático objetivando simular o processo de transporte
de sedimentos que ocorre na superfície do depósito. Este modelo foi inicialmente
desenvolvido no International Institute for Infrastructural, Hydraulic and Environmental
Engineering (IHE), em Delft na Holanda (doutorado sanduíche), sofrendo algumas
mudanças até a fase de finalização desta pesquisa. Assim, são mostradas no Capítulo 7 as
equações básicas que regem o processo e também as primeiras simulações realizadas em
função das características dos diferentes sedimentos presentes no rejeito.
As análises dos resultados obtidos nas simulações realizadas no ESDH são apresentadas no
Capítulo 8. Os dados foram analisados em função dos valores da vazão e concentração
adotados, enfatizando o comportamento do depósito com relação ao processo de
segregação hidráulica, geometria, densidade e teor de ferro. São apresentadas algumas
comparações com outras simulações realizadas em laboratório de natureza semelhante.
Este capítulo mostra também análises qualitativas realizadas com parâmetros obtidos na
própria pilha de rejeito, no campo, objetivando avaliar as potencialidades do equipamento
desenvolvido na previsão dos parâmetros e comportamento do rejeito não campo.
7
O Capítulo 9 relata as conclusões oriundas das avaliações e análises realizadas nesta tese,
incluindo também algumas sugestões para pesquisas futuras.
O Apêndice A reúne os dados relativos ao perfil obtido para cada depósito obtido no
ESDH e as curvas granulométricas obtidas para cada ponto ensaiado ao longo do depósito,
relativas a cada simulação realizada no equipamento de simulação de deposição hidráulica.
8
CAPÍTULO 2
ATERROS HIDRÁULICOS
2.1. INTRODUÇÃO
Os aterros hidráulicos são comparáveis a outras obras geotécnicas no sentido em que a
composição da mistura (material de construção) e o método de lançamento afetam suas
propriedades geotécnicas e desta forma devem ser projetados de tal maneira que os aterros
se comportem satisfatoriamente. Sendo assim, é necessário o conhecimento dos fatores que
influenciam o comportamento dos aterros hidráulicos no sentido de projetá-los
adequadamente.
Os aterros hidráulicos estão associados aos processos de transporte, separação e deposição
de sólidos usando água ou outros tipos de fluido e suas características estão totalmente
vinculadas a estes processos. As barragens de aterro hidráulico são obras de terra em que
no processo de construção o material é transportado e distribuído por via úmida. A
Holanda foi um dos primeiros países a utilizar a técnica de aterro hidráulico, o que ocorreu
por volta do Século XVII. Embora utilizando técnicas de hidromecanização rudimentares,
este tipo de construção obteve grande sucesso na remoção de sedimentos de portos e canais
e nos processos de recuperação de áreas abaixo do nível do mar. Os equipamentos
utilizados nestes trabalhos foram os precursores das dragas modernas (DE JODEN, 1977).
Além da Holanda, a técnica de dragagem também foi amplamente utilizada na escavação
do Canal de Suez em 1856, bem como na remoção de 120 milhões m3 do solo de cobertura
da mina de ferro Step Rock, no Canadá, entre 1955 e 1960. Além disso, entre 1947 e 1973
mais de 100 estruturas de projetos hidroelétricos foram construídas usando o processo de
hidromecanização nos países que formavam a antiga União Soviética.
9
Muitos insucessos relacionados a este tipo de estruturas foram reportados na literatura
(SCHUYLER, 1906; HAZEN, 1920; PLUMMER & DORE, 1940; JUSTIN et al., 1945,
SHERARD et al., 1963; BABB & MERMEL, 1968; NEGRO JR. et al., 1979; HSU, 1988;
KÜPPER et al., 1992a; MORETTI & CRUZ, 1996). Analisando os dados existentes pode-
se concluir que cerca de 60% das rupturas ocorreram devido a projetos inadequados e falta
de controle dos métodos construtivos.
Embora vista com restrições, a técnica de aterro hidráulico tem sido muito utilizada,
principalmente na construção de barragens de rejeitos, diques de contenção, recuperação
de áreas submersas e ilhas artificiais. Neste sentido, muitos estudos tem sido realizados
atualmente visando melhorar a qualidade dos projetos e métodos construtivos associados
aos aterros hidráulicos.
Dentro da proposta de melhoria da qualidade técnica das barragens de aterros hidráulicos,
seria importante citar outros procedimentos de controle baseados principalmente no
controle geotécnico durante o período de construção. Este procedimento estaria
condicionado à avaliação das características do material empregado e ao monitoramento da
obra através de instrumentação ou ensaios de avaliação das densidades no campo
(ESPÓSITO, 2000).
2.2. PRIMEIRAS BARRAGENS DE ATERRO HIDRÁULICO
O método de aterro hidráulico foi considerado por vários anos como uma técnica
tipicamente americana iniciada durante o período de exploração do ouro na Califórnia
(HSU, 1988). Utilizando esta tecnologia era possível proceder de forma econômica
escavações e transporte de areais a pedregulhos usando água. Assim, até 1930 os aterros
hidráulicos eram a única forma econômica e viável de construir grandes aterros de terra.
Com isto, muitas barragens de até 80 m de altura envolvendo cerca de 200 milhões de m3
foram construídas na América do Norte. Contudo, a qualidade técnica destes aterros era
baixa e a tecnologia empregada era baseada em especificações relacionadas às experiências
e dificuldades encontradas em projetos anteriores e em conceitos individuais propostos por
SCHUYLER (1906). Somente a partir de 1925, com o reconhecimento da Mecânica dos
Solos como ciência, é que a qualidade técnica destes aterros passou a ter um controle mais
rigoroso.
10
Inicialmente a seção típica de uma barragem de aterro hidráulico era constituída de um
talude de montante de 1V:3H, um talude de jusante de 1V:2H e um núcleo impermeável de
argila. Entretanto, a falta de controle construtivo levava a ruptura destas estruturas ainda na
fase de construção, devido principalmente às diferenças nas propriedades mecânicas dos
diferentes materiais. Geralmente, as causas das rupturas estavam associadas ao
adensamento lento do material do núcleo, normalmente de alta plasticidade, em oposição
às altas velocidades de lançamento do aterro.
Devido aos problemas de ordem construtiva e às rupturas associadas a estas estruturas,
HAZEN (1920) propôs algumas medidas de controle construtivo que deveriam ser
incorporadas aos projetos de aterro de hidráulico:
uso de enrocamentos de pé como medida de controle de infiltrações e estabilização
dos taludes de jusante;
remoção das frações finas coloidais do núcleo, admitindo-se o máximo de 10% de
partículas com diâmetro inferior a 0,01 mm, como medida de aceleração do processo
de adensamento do núcleo ainda na fase de construção;
redução da largura do núcleo e aumento da largura do espaldar como medida de
estabilização do aterro;
redução dos índices de vazios por compactação dos espaldares arenosos como medida
de segurança à possibilidade de ruptura por liquefação.
Embora rigorosas e suportadas tecnicamente, estas recomendações não foram seguidas de
imediato e muitas barragens continuaram a ser construídas sem este controle técnico. A
inobservância destas medidas levou à ruptura por liquefação de grande parte do espaldar
arenoso da barragem de Fort Peck, nos Estados Unidos, desencadeada por deformações
excessivas no solo de fundação pouco resistente (CASAGRANDE, 1965).
Analisando, então, o caso da ruptura da barragem de Fort Peck, que ocorreu ainda na fase
de construção, observa-se que este deslizamento ocorreu quando a barragem de 80 m de
altura máxima estava próxima da sua finalização, em setembro de 1938 (CREAGER et al.,
1945). A seção típica da barragem de Fort Peck é mostrada na Figura 2.1 Esta barragem foi
construída em Montana, EUA, entre 1934 e 1941, pela técnica de aterro hidráulico
utilizando grandes dragas e equipamentos auxiliares para remover o material das áreas de
empréstimo localizadas a cerca de 8 km e mantendo uma produção média diária de 95.000
11
m3. O comprimento total da barragem, incluindo o dique inicial de partida, era de 64 km e
o volume de total era de 94,8 x106 m3, sendo considerada a maior barragem de aterro
hidráulico já construída. O núcleo era constituído de um silte argiloso, com ângulo de atrito
31° e coesão nula. O diâmetro efetivo do material dos espaldares era baixo, D10 = 0,13
mm, mas com um coeficiente de não uniformidade igual a 3,0 e ângulo de atrito efetivo de
36°. Quando o deslizamento ocorreu o aterro tinha cerca de 67 m de altura. Durante a
ruptura cerca de 8 milhões de m3 da zona de montante deslizaram para dentro do
reservatório. As retro-análises mostraram que a ruptura ocorreu devido a baixa resistência
do solo de fundação, um xisto alterado. Devido a esta ruptura uma parte do maciço sofreu
um processo de liquefação (CREAGER et al., 1945). Entretanto, MIDDLEBROOKS
(1942) aponta que o aterro hidráulico não foi a causa da ruptura. Juntamente com outros
consultores da época, este autor considera que o desempenho do material do aterro foi
excelente em vistas das severas circunstâncias durante o deslizamento. No processo de
reconstrução foram utilizados taludes mais suaves e a recuperação do núcleo foi feita com
aterro compactado. Analisando o material empregado na construção do aterro, embora não
sendo a principal causa da ruptura, percebe-se a inobservância das recomendações
propostas por HAZEN (1920). No caso de Fort Peck o material constituinte do núcleo
continha mais de 20% de partículas menores que 0,01 mm e a falta de controle é
evidenciada pela ocorrência da ruptura ainda na fase de construção.
Superfície de ruptura (1938) 105,0 m
Seção reparada (aterro compactado)
1:7,7
1:111:7,7
1:5
Filtro de pé1:4
1:3,3
1:5,0
Núcleo
Cortina de injeção
NA 85,5 m
Figura 2.1 – Seção típica da barragem de Fort Peck (modificado - HSU, 1988)
Assim, enquanto o método de construção de aterros hidráulicos se manteve associado à
disposição de material dragado e à recuperação de áreas, ele praticamente desapareceu em
aplicações vinculadas à construção de estruturas de armazenamento de água na prática
ocidental. A ruptura de Fort Peck foi a grande causa deste procedimento, principalmente
nos Estados Unidos a partir de 1940. Com isto o termo aterro hidráulico sempre esteve
relacionado com o complexo fenômeno de liquefação de areais.
12
Em virtude da grande dificuldade de estabelecer parâmetros relativos ao projeto e
construção de aterros hidráulicos, esta técnica foi por muitos anos abandonada
principalmente quando aplicada à estruturas de retenção de água. São poucos os casos de
utilização de aterros hidráulicos em barragens de armazenamento de água, principalmente
no mundo ocidental. Um intensivo estudo na literatura sobre estruturas em aterros
hidráulicos no lado ocidental mostram que, devido a algumas restrições impostas por
JUSTIN et al. (1945) com relação a acidentes e rupturas envolvendo aterros hidráulicos,
existem poucas estruturas desta natureza construídas a partir da década de 40.
As contribuições obtidas no 14th Congresso Internacional de Grandes Barragens em 1982
são um reflexo deste preconceito na prática ocidental, onde poucos trabalhos e projetos
foram devotados à técnica construtiva de aterro hidráulico (PENMAN, 1982;
D’AGREMOND et al., 1982). O trabalho de BOROVOI et al. (1982) representa uma visão
do Comitê Nacional de Grandes Barragens da Rússia e demais repúblicas soviéticas e
mostra que o método de aterro hidráulico é bastante comum na União Soviética associado,
principalmente, ao armazenamento de água e fins hidroelétricos. As técnicas para atingir
altas taxas de construção são o ponto fundamental da prática soviética. MENLET’EV
(1980) considera que com uma técnica construtiva própria e equipamentos adequados os
aterros hidráulicos podem atingir intensidades de construção de 300.000 m3/d. Entretanto,
a taxa de construção deve manter-se dentro de valores razoáveis de modo a assegurar a
estabilidade da estrutura e permitir um processo de controle de qualidade durante a
construção.
Apesar dos aterros hidráulicos apresentarem graves problemas quando submetidos a abalos
sísmicos, principalmente os de baixa densidade, VOLNIN & IVANOVSKAYA (1977)
apresentam casos de excelente desempenho de algumas estruturas de aterros hidráulicos
submetidas a efeitos sísmicos. Observa-se que, embora passível de apresentar problemas, a
técnica de aterro hidráulico desde que controlada e bem avaliada tecnicamente, pode ser
considerada uma excelente alternativa de construção, principalmente aplicada à disposição
de rejeitos.
2.3. EXPERIÊNCIA SOVIÉTICA
Nos países da antiga União Soviétca o início do grande desenvolvimento do processo da
13
hidromecanização ocorreu por volta de 1936. Inicialmente as barragens de aterro
hidráulico soviéticas foram construídas de forma similar às americanas, mas a partir de
1945 o processo de hidromecanização foi gradualmente aprimorado, devido principalmente
à experiência acumulada na construção de diversas barragens de usinas hidroelétricas.
Desta forma, mais de 100 barragens foram construídas envolvendo cerca de 600 km de
estruturas como barragens, diques de proteção, quebra-mares, ensecadeiras e aterros
submersos, cujo volume ultrapassou 800 milhões de m3. Considerando que os
equipamentos destinados à construção de aterros compactados não foram bem
desenvolvidos na URSS, os aterros hidráulicos eram considerados uma excelente e
econômica técnica construtiva. Durante a fase inicial, verifica-se uma perfeita observância
das recomendações impostas por HAZEN (1920), principalmente relacionadas ao tempo de
estabilização do núcleo argiloso e às baixas velocidades de lançamento. Entretanto, após
1973, a experiência soviética gerou suas próprias recomendações (MELENT’EV et al.,
1973 e YUFIN, 1965). Baseado nestas recomendações a norma soviética considera que a
mais importante característica a ser observada nos aterros hidráulicos refere-se a
distribuição granulométrica do material de empréstimo. De acordo com esta consideração a
norma divide os solos em cinco classes distintas cada um deles associados a um tipo
específico de seção (Figura 2.2).
Figura 2.2 – Grupos de materiais de empréstimo de acordo com a norma SNIP-II-53-73
(modificado – MORETTI & CRUZ, 1996).
A norma soviética recomenda que sejam utilizados preferencialmente os solos
correspondentes aos grupos I e II. Os solos do grupo I devem ser utilizados em barragens
14
de seção homogênea e os do grupo II são mais adequados aos aterros heterogêneos. Os
materiais com as características do grupo V somente devem ser utilizados na construção
dos espaldares e os do grupo IV como material do núcleo. Com relação aos solos do grupo
III, algumas restrições e cuidados devem ser tomados, principalmente com relação às
velocidades de lançamento.
Existem três tipos principais de barragens propostas pela tecnologia soviética, as de seção
heterogênea com núcleo central e espaldares de areia, as de seção homogênea construídas
com materiais com coeficiente de não uniformidade menor que 2, e as de seção mista com
espaldares compactados e o centro preenchido com material lançado hidraulicamente. Uma
breve descrição destes tipos de configuração é apresentada a seguir:
Barragens Heterogêneas - Estas barragens são muito comuns na tecnologia soviética. A
seção assemelha-se a um perfil zonado (Figura 2.3), devido a presença de um núcleo
constituído por um material menos permeável que o material usado nos espaldares.
Este tipo de seção é usado quando o coeficiente de não uniformidade do material de
empréstimo a ser utilizado nos espaldares varia de 2 a 3 (YUFIN, 1965). Este tipo de
barragem apresenta problemas relacionado ao tempo e à quantidade de material
empregado condicionado ao processo de adensamento do núcleo. Devido a estes
aspectos a tecnologia soviética tem privilegiado mais os aterros de seção homogênea.
����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������
Núcleo
Espaldar Transição
1
2 - 5
1
2 - 8
Figura 2.3 – Seção típica de uma barragem heterogênea (modificado - KUPPER, 1991).
Barragem Homogênea – A seção homogênea é caracterizado pela utilização de
materiais com a mesma distribuição granulométrica preenchendo toda a seção do
aterro. A mistura de água e sólidos flui livremente sobre distâncias longas formando
taludes bem abatidos e sem a utilização de diques de contenção. Este tipo de seção
(Figura 2.4) tem provado ser bastante efetivo para barragens de até 30 m. Para maiores
alturas o volume de material é muito alto devido aos taludes longos e de declividade
15
suave que são normalmente formados.
Dreno
1
3 - 720 - 50
1Rampa para resistência de ondas
Figura 2.4 - Seção típica de uma barragem homogênea (modificado - KUPPER, 1991).
Barragem Mista - Este outro tipo de seção, embora menos comum, é composto por uma
seção mista. Uma parte é constituída por um material mecanicamente lançado e
compactado e a outra parte é preenchida hidraulicamente (Figura 2.5). O processo
construtivo inicia com o lançamento e compactação dos espaldares e em seguida o
preenchimento do vão central com aterro hidráulico. A vantagem da colocação dos
espaldares é a limitação da largura da barragem, além de proporcionar o aumento da
resistência da estrutura em regiões de alta sismicidade.
Aterro Hidráulico
EspaldarEnrocamento Espaldar
Enrocamento
Figura 2.5 - Seção típica de uma barragem mista (modificado - KUPPER, 1991).
Algumas estruturas de controle de percolação e nível da linha freática são instaladas no
interior do maciço, como tapetes drenantes e filtros de pé. Outras alternativas relacionadas
à espessura do núcleo também são utilizadas no sentido de garantir a segurança e
estabilidade destas estruturas. A adoção de taludes abatidos (1V:20H a 1V:50H) é uma
característica das barragens soviéticas, onde a proteção do talude de montante torna-se
desnecessária, principalmente por funcionar como praia para ondas do reservatório. Além
disso, não é necessário a instalação de diques de contenção lateral o que resulta num menor
prazo construtivo e o processo de deposição pode ocorrer livremente para montante e/ou
jusante. Estes aspectos, em muitos casos, tornam as barragens de perfil abatido uma
alternativa economicamente vantajosa, apesar de envolver maior volume de material
16
quando comparado com as barragens usuais em areias, que apresentam taludes
relativamente mais íngremes. Considerando esta alternativa construtiva, verifica-se a
grande aplicabilidade dos aterros hidráulicos na construção de barragens de rejeitos.
Os avanços e conhecimentos dos soviéticos no processo de hidromecanização permitiram
uma considerável melhoria na qualidade das estruturas de aterros hidráulicos,
principalmente pela eliminação de núcleos de alta plasticidade e, como apresentado
anteriormente, pela adoção estruturas homogêneas e taludes abatidos. Este processo facilita
a execução dos aterros principalmente devido à simplicidade técnica. Entretanto, um
controle rigoroso da granulometria do material utilizado e das técnicas de lançamento
foram incorporados aos projetos.
Embora exista um número limitado de informações relativas a acidentes envolvendo
barragens de aterro hidráulico soviéticas e ao seu desempenho em regiões sísmicas,
verifica-se somente algumas rupturas provocadas ainda na fase de construção devido às
altas velocidades de lançamento. Um outro caso, provocado por uma explosão acidental,
resultou em uma pequena ruptura na barragem de Svir em 1935 (HSU, 1988). Em poucos
segundos uma parte do talude de montante se liqüefez e fluiu, destruindo parte da estrutura
de sustentação de concreto. A ruptura total da barragem foi evitada devido a presença de
um núcleo de argila compactada que permaneceu intacto (CASTRO, 1969). As barragens
de seção homogênea, mesmo em zonas sísmicas, apresentaram um bom desempenho.
SEED et al. (1978) relatam as boas condições de estabilidade com que três barragens de
perfil homogêneo teriam suportado acelerações de até 0,2 g. Este dado reforça a prática
soviética de privilegiar os aterros de seção homogênea. De um modo geral, a adoção de
compactação dos espaldares é rara, e a tecnologia soviética prefere taludes mais suaves à
densificação do corpo da barragem.
Considerando a experiência soviética em projetos e construção de aterros hidráulicos
MELENT’EV et al. (1973) apresenta considerações teóricas e experiências práticas,
fornecendo dados de desempenho das barragens construídas na antiga URSS. De acordo
com MELENT’EV et al. (1973) a distribuição granulométrica final do aterro pode ser
estimada a partir da distribuição granulométrica e da angularidade do grão do material.
Dados de permeabilidade e posição da linha freática também são apresentados
relacionando experiência e tipo de material empregado. Algumas estimativas do valor da
17
densidade são também obtidas em função da analogia com a velocidade de lançamento e
concentração.
Ressalta-se a importância do trabalho de MELENT’EV et al. (1973) como uma ferramenta
fundamental na avaliação da qualidade e característica dos aterros hidráulicos, apesar de
suportado por experiências prévias e dados empíricos. Alguns modelos reduzidos foram
utilizados no estabelecimento de alguns parâmetros apresentados visando estimar as
características mecânicas dos aterros. De uma forma geral todo o trabalho é baseado em
analogias com obras já executadas com materiais similares de forma a obter os parâmetros
inicias de projetos.
2.4. BARRAGENS BRASILEIRAS CONSTRUÍDAS COM A TÉCNICA DE
ATERRO HIDRÁULICO
A técnica de hidromecanização representou um recurso utilizado na construção da
primeiras barragens brasileiras no início do século, sendo que a maioria delas encontra-se
ainda em operação. A experiência brasileira envolveu cerca de dezesseis aterros de baixa
altura, construídas entre 1906 e 1945, adotando principalmente o modelo americano. Estas
estruturas têm em média 30 m de altura foram formadas a partir de um núcleo de argila
siltosa e espaldares de areia fina lançados hidraulicamente. É importante notar que estas
barragens foram construídas com um baixo controle geotécnico e os materiais utilizados
normalmente provieram de jazidas próximas à obra, sendo lançados diretamente sobre o
aterro. A Tabela 2.1 apresenta um resumo das principais barragens brasileiras construídas
pela técnica do aterro hidráulico. Dentro desta série de barragens construídas pelo método
da hidromecanização destacam-se, pela importância e tamanho, as barragens de Rio
Grande e Guarapiranga.
Durante a construção da barragem de Rio Grande ocorreu uma ruptura provocada pelo
deslizamento de uma massa de solo de 30000 m3. Este acidente ocorreu devido às altas
velocidades de lançamento do aterro, contudo a seção danificada foi imediatamente
recuperada e reiniciado o processo de construção (GUERRA & FRANÇA, 1986). É
importante notar que, embora apresentem um desempenho satisfatório, a maioria destas
barragens apresentavam altos índices de vazios e baixas densidades. Neste contexto,
investigações geotécnicas posteriores foram realizadas e vários destes aterros foram
18
reforçados nestes últimos anos, principalmente Guarapiranga e Rio Grande (MORETTI &
CRUZ, 1996).
Tabela 2.1 – Aterros hidráulicos no Brasil construídos pela Light & Power Co.
(modificado - NEGRO JR. et al., 1979)
Inclinação do Talude No Nome
Período de
Construção
Altura
Max (m)
Comp. da
Crista (m)
Volume
(m3)
Rip-Rap
(m3)
Largura da
Crista (m) Montante Jusante
1 Rio Grande 1926-1937 30 1380 2500000 126500 10 1:5 1:2
2 Summit Control 1926-1936 22 250 213000 17000 2 1:4 1:1,75
3 Pequeno 1934-1937 13 160 105500 6400 13 1:2,5 1:2,5
4 Córrego Preto 1936-1937 7 470 116500 2500 8 1:3,5 1:3,5
5 Marcolino 1930-1934 19 400 403000 12300 10 1:3,5 1:2,5
6 Passareuva 1934-1937 10 470 391000 10200 10 1:3,5 1:2,5
7 Cubatão de Cima 1933-1935 12 300 200000 5000 10 1:3,5 1:2,5
8 Cascata 1926-1928 25 90 47700 1700 6-10 1:1,5-3,5 1:1,5-3
9 Cascata (Dique) 1926-1928 18 70 19300 1300 8 1:1,5-3 1:1,5-3
10 Dique no1 1936-1936 3 220 10500 - 10 1:3 1:2
11 Dique no2 1936-1936 5 400 41000 - 10 1:3,5 1:2
12 Dique no3 1936-1936 4 180 14500 - 10 1:3 1:2
13 Rio Pequeno 1929-19339 14 700 214200 - 17 1:2,25 1:2,25
14 Guarapiranga 1906-1909 14 1640 490000 19200 5-15 1:3 1:2
15 Cacaria no1 1941-1944 23 73 84000 - 10 1:3,34 1:2,25
16 Cacaria no2 1941-1944 23 124 171000 - 10 1:3,34 1:2,25
Observa-se que, embora estas barragens tenham apresentando um desempenho
satisfatório, o método de lançamento, característica fundamental dos aterros hidráulicos,
sempre representou um problema tanto na fase de construção como na estabilidade global
da estrutura definitiva. A falta de controle do método de lançamento foi a grande causa das
restrições e dúvidas sobre o método de hidromecanização. Este fato, associado às rupturas
e ao desenvolvimento das técnicas de compactação, fizeram com que o aterros hidráulicos
também fossem abandonados na prática corrente brasileira de construção de barragens para
fins hidroelétricos.
Passados cerca de 70 anos, houve uma tentativa de resgate da técnica de aterro hidráulico
através de um projeto pioneiro envolvendo a barragem de Porto Primavera, no Rio Paraná.
19
Dentro das análises da viabilidade técnica deste projeto, um aterro experimental de 10 m
de altura foi construído e vários estudos foram realizados objetivando utilizar novamente a
técnica da hidromecanização. No caso de Porto Primavera a tecnologia construtiva foi
totalmente fundamentada na experiência soviética. Foram realizados estudos em modelos
reduzidos com o objetivo de descrever a metodologia de lançamento e fornecer a ordem de
grandeza dos parâmetros obtidos através da realização de ensaios geotécnicos nos
materiais das áreas de empréstimo (FERREIRA et al., 1980). Embora a viabilidade técnica
e econômica da utilização do aterro hidráulico tenha sido comprovada, optou-se pela
utilização da mais amplamente aplicada e consagrada técnica de aterros compactados. Esta
decisão foi influenciada principalmente pela disponibilidade de equipamentos de
compactação e a rotina deste tipo de técnica, dispensando a aquisição de novos
equipamentos necessários no processo de deposição hidráulica. Além disso o caráter pouco
comum da técnica de aterros hidráulico aplicado e este tipo de estrutura representou um
outro ponto negativo na escolha desta alternativa construtiva.
2.5. MECANISMO DO PROCESSO DE DEPOSIÇÃO HIDRÁULICA
O transporte e a deposição de sedimentos são governados pelas leis da física. O
comportamento dos sólidos granulares em movimento com os fluidos tem sido
extensivamente estudado por físicos e engenheiros. Muitos destes trabalhos tem sido
documentados e encontram-se em textos da hidráulica e dinâmica dos fluidos, utilizando
diferentes parâmetros e faixas de velocidade, enfocando detalhes do fluxo e a interação
com os sedimentos em movimento e a camada de deposição (DAILEY & HARLEMAN,
1966; HENDERSON, 1966; SHARP, 1981; SUGUIO & BIGARELLA, 1990).
Outros estudos dos processos físicos de sedimentação baseados na descrição das estruturas
sedimentares resultantes sob um ponto de vista geológico têm sido dado por ALLEN
(1970, 1985) e SELLEY (1988). Estes enfoques são um pouco diferentes dos interesses da
Engenharia Geotécnica, que é mais concentrada na determinação das propriedades físicas e
mecânicas do material depositado, embora intimamente relacionada aos aspectos físicos do
processo de deposição hidráulica.
A construção de aterros hidráulicos consiste na descarga da mistura de sólidos e fluido
sobre uma determinada área, onde a maioria dos sólidos é depositada. Em lamas
20
segregáveis, a água e os grãos se comportam como fases independentes, em oposição às
lamas não segregáveis, que se comportam como um fluido viscoso monofásico.
O número de Reynolds é usado para caracterizar dois diferentes tipos de comportamento
de fluido em escoamentos. Para baixos valores do número de Reynolds, o fluxo é laminar,
e as linhas de fluxo são paralelas à superfície do contorno do escoamento. Para valores
altos do número de Reynolds o fluxo é turbulento caracterizado por turbilhões,
redemoinhos e vórtices. Um outro importante coeficiente da dinâmica dos fluidos é o
número de Froude que diferencia escoamentos sub-críticos (Froude < 1) e super-críticos
(Froude > 1).
Um consideração importante é feita com relação a velocidade de fluxo necessária para
mover uma partícula. Esta velocidade é função dos números de Reynolds e Froude e do
tamanho e peso da partícula. Numerosos experimentos e estudos teóricos tem sido
realizados para determinar a velocidade crítica para vários tamanhos de sedimentos
(HJULSTRÖM, 1935) que mostram a variação da velocidade em função deste parâmetro
(Figura 2.6). Como pode ser esperado velocidade crítica aumenta com o tamanho da
partícula, exceto para o caso de leitos de argilas coesivas, que devido a sua resistência
inercial é necessária uma velocidade alta para iniciar o movimento. Os grãos se movem
quando as tensões cisalhantes ao longo da camada plana de escoamento excedem um valor
crítico que corresponde a velocidade crítica que provoca o movimento das partículas.
LOG GRAIN SIZE (mm)
LOG
VEL
OC
ITY
(cm
/s)
DEPOSIÇÃO
TRANSPORTE
Camada Não-Coesiva
Camada Coesiva
EROSÃO
0.001 0.01 0.1 1.0 10 100 1000
0.1
1.0
10
100
Logaritmo do Tamanho da Partícula (mm)
Loga
ritm
o da
Vel
ocid
ade
de F
luxo
(cm
/s)
Figura 2.6 - Gráfico de Hjulström mostrando a variação da velocidade crítica em
função do tamanho das partículas (modificado - HJULSTRÖM, 1935).
Considerando os estudos anteriores baseados em um único tipo de sedimento pode-se
21
esperar que velocidade crítica aumente exclusivamente com o tamanho da partícula, mas
considerando partículas de características mineralógicas diferentes, este padrão de
comportamento pode ser alterado em vista da densidade do grão e não ocorrer
exclusivamente relacionada ao seu tamanho.
A Figura 2.7 mostra como partículas pequenas, porém mais pesadas, se movem com a
mesma velocidade que os grãos de quartzo. Este tipo de comportamento justifica a
presença de minerais finos e pesados, em regiões de alta energia de deposição,
disseminados com partículas maiores de quartzo. É importante notar que este tipo de
afirmação é válida considerando partículas de forma semelhante. Algumas diferenças na
forma da partícula tende a influenciar significativamente o mecanismo de transporte e
consequentemente o valor da velocidade crítica (SELLEY, 1988).
Diâmetro do sedimento
Velo
cida
de d
e se
dim
enta
ção
Quartzo (Gs = 2,65)
Minerais pesados (Gs > 3,00)
Equivalentehidráulico
Aumento na densidade do sedimento
Figura 2.7 – Gráfico esquemático da velocidade de sedimentação em relação ao diâmetro
do sedimento (modificado – SELLEY, 1988)
2.5.1. Seqüência de formação de camadas em função da velocidade de fluxo
Analisando o caso especifico de aterros hidráulicos aplicado à disposição de rejeitos, em
que o tamanho dos grãos se encontra predominantemente na faixa de areia, nota-se que,
após ultrapassado o valor crítico da velocidade, o fluxo provoca um movimento nas
partículas de tal forma que resulta numa superfície coberta de formas assimétricas e
onduladas denominadas micro ondulações (Figura 2.8). Estas pequenas ondulações são
controladas pelas condições de fluxo nos limites da camada viscosa e portanto,
22
independem da profundidade do fluxo. Este tipo de movimento gera depósitos que
apresentam uma pequena escala de estratificação, porém com uma alta taxa de deposição
de sedimentos, podendo desenvolver estratificações onduladas (ALLEN, 1970).
Um aumento na velocidade gerará o desenvolvimento de ondulações maiores (dunas), que
contribuem para o aumento a taxa de transporte de sedimentos. As dunas são similares às
pequenas ondulações em sua forma geral (Figura 2.8), mas são dominadas por fenômenos
que ocorrem na camada limite e não apenas devidos a viscosidade. Consequentemente, as
características das dunas dependem da profundidade do fluxo e as seções formadas
apresentam estratificações em larga escala (ALLEN, 1970).
Micro-ondulações
Mega-ondulações com micro-ondulações super-impostas
Mega-ondulações (Dunas)
Arrasamento das mega-ondulações
Camada plana
Antidunas
Antidunas de “quebra”
Antidunas “em corredeira”
REGIME DE FLUXO INFERIOR REGIME DE FLUXO SUPERIOR
Figura 2.8 - Seqüência de formação de camadas em função da velocidade de fluxo
(modificado - SUGUIO & BIGARELLA, 1990).
Se a velocidade de fluxo aumenta ainda mais as dunas serão gradualmente eliminadas e,
após um estágio de transição, a superfície torna-se plana (SIMONS & RICHARDSON,
1961). O regime de fluxo que ocorre antes do estágio de transição é denominado Regime
de Fluxo Inferior, caracterizado pela alta resistência ao fluxo, pequena taxa de transporte e
23
fluxo em regime subcrítico. Após o estágio de transição a resistência ao fluxo decresce, a
taxa de transporte de sedimentos aumenta e o fluxo tende a ser super crítico e é
denominado Regime de Fluxo Superior.
O leito plano que segue o estágio de transição apresenta uma baixa resistência ao fluxo e
está associado a um intenso transporte de sedimentos com a maioria do material
transportado sendo confinado a uma zona delgada próxima ao leito (Figura 2.8). O leito
plano do estágio superior tem uma estrutura interna plana e laminações quase horizontais
variando de 5 a 10 vezes a espessura do grão (LEEDER, 1982).
Depois que o estágio superior de leito plano é estabelecido, um novo aumento de
velocidade provoca a formação de ondas na superfície da água e que estão em fase com as
ondas formadas pelas camadas de areia. Estas novas ondas são denominadas antidunas e
resultam da interação entre a superfície livre do fluido e a camada, ocorrendo como
extensas seqüências de ondas simétricas em fluxos superficiais muito rápidos (Figura 2.8).
Para níveis de energia muito baixos são formadas pequenas ondas em fase com as ondas de
areia, a resistência ao fluxo é similar ao regime de leito plano, entretanto o transporte de
sedimentos é levemente superior. As estruturas sedimentares formadas são caracterizadas
por laminações fracas e de baixa inclinação (ALLEN, 1970).
Caso a velocidade de fluxo atinja níveis ainda mais altos as estruturas formadas são do tipo
cascata e lagoa (antidunas de quebra e em corredeira). Estas seqüências são marcadas pela
sucessão de quedas em que o fluxo superficial super crítico acelera antes de entrar
bruscamente no lago, cuja velocidade de fluxo é subcrítica, formado um ressalto hidráulico
(Figura 2.8), podendo ocorrer acumulação de sedimentos em regiões relativamente
tranqüilas do lago de deposição. Os depósitos formados por estas seqüências são
usualmente associados a inclinações íngremes e altas descargas de sedimentos (ALLEN,
1970).
SIMONS & RICHARDSON (1961) foram os primeiros a sistematizar a seqüência
evolutiva de camadas com o aumento da resistência de fluxo baseados em um programa
extensivo de ensaios em canais. As diferentes formas de leito tem sido observadas em
depositos naturais e em laboratório sob uma variedade de condições. De uma maneira geral
elas dependem da natureza do fluxo, de sua veleocidade, do tamanho do sedimento e da
24
forma da superfície do fundo camada em função dos diferentes valores de resistência ao
fluxo.
2.5.2. Processo de formação das praias de aterro hidráulico
Assim, verifica-se que após a lama ser descartada, os grãos tendem a depositar ou fluir
próximo à superfície do aterro sob diferentes regimes de fluxo, constituindo o arraste de
fundo. Neste caso, o processo de deposição e transporte cria um padrão de fluxo sobre a
camada erodível estabelecendo uma interação entre o fluxo de sedimentos e o material
presente na camada. Desta forma, a configuração da camada superficial é alterada em
função dos processos erosivos e/ou pelo acúmulo de material depositado. Os sedimentos
se movem e criam uma organização dentro dos elementos morfológicos (camada de
intercâmbio), resultando em diferentes formas de acamamentos. O contorno móvel também
afetará as condições de fluxo pela deformação das linhas de fluxo e pela imposição da
resistência ao fluxo (rugosidade da camada). Assim, uma interação complexa é
desenvolvida entre as estruturas turbulentas do fluxo e as propriedades físicas e
geométricas das camadas.
Aliado às mudanças na camada de superfície, também ocorrem alterações na configuração
global do talude de deposição em função do padrão de fluxo, concentração da mistura e do
tipo de sedimento. Assim, durante a formação do depósito, um talude temporário é
desenvolvido, inicialmente mais plano que o talude final de equilíbrio (MELENT’EV et al.
1973; BLIGHT, 1994). Desta forma a inclinação é ajustada com o tempo e neste processo
a velocidade de fluxo e a concentração são alteradas constantemente a partir do ponto de
descarga. Neste intervalo são desenvolvidos canais e meandros que provocam o
direcionamento do fluxo para a zona mais baixa do depósito. A configuração do talude é
alterada, resultando em regiões planas e íngremes seguidas de um ressalto hidráulico.
Estes ressaltos ocorrem em distâncias regulares (ordem de metros) dependendo das
condições de campo. Assim, três feições distintas podem ser visualizadas, cascata, ressalto
hidráulico e terraço (Figura 2.9). Embora estas feições sejam comuns na maioria destes
tipos de processo de deposição, é importante notar que em uma análise mais específica do
tipo de estrutura formada pode-se perceber que ela depende fundamentalmente das
condições de fluxo e das características do sedimento.
25
Quando o padrão de fluxo permanece constante durante o período de deposição, as
alterações geométricas tendem a se tornar pequenas e o talude de equilíbrio é atingido
(MELENT’EV et al., 1973). Assim, a análise do tipo de mecanismo de deposição que é
capaz de manter o perfil da praia constante seria fundamental para avaliação da geometria
do depósito formado. Neste sentido é fundamental a realização de ensaios de simulação
bem controlados de modo a garantir a acurácia destas investigações.
∆h
talude médio
ponto de descarga
cratera
α
cascata salto terraço
Figura 2.9 – Formação de terraços em uma praia de aterro hidráulico (modificado -
WINTERWERP et al., 1992).
Como se observa, o material granular depositado sob diferentes condições de fluxo
desenvolverá estruturas sedimentares bastantes distintas e consequentemente apresentará
características geotécnicas diferentes. Entretanto, pela análise de cada mecanismo de
deposição pode ser possível relacionar o tipo de estrutura sedimentar formada e avaliar o
seu comportamento geotécnico. Em resumo, verifica-se que o processo de segregação
numa praia de aterro hidráulico cria acamamentos e assim a obtenção de uma condição
ótima de fluxo poderia maximizar a densidade do aterro. Neste contexto, um projeto
racional que pudesse maximizar a densidade dos depósitos ou pelo menos controlar o
processo de deposição incluiria dois estágios: uma fase inicial de determinação da
condição de fluxo que criasse uma camada ótima para o tipo de material a ser depositado e
o subsequente estabelecimento dos parâmetros de descarga apropriados que pudesse
produzir na praia as condições de fluxo determinadas anteriormente.
Em resumo, verifica-se que a variabilidade do depósito está associada a diferentes fatores:
fatores externos relativos às características do processo de deposição, como a
velocidade de descarga, vazão e concentração da lama ou mistura, e a altura e
26
inclinação do canhão de lançamento;
fatores internos relativos à mistura (polpa), caracterizados pelas características dos
grãos, densidade e viscosidade do fluido;
fatores relacionados à interação entre as camadas e o processo de intercâmbio,
caracterizados pela forma do leito, concentração da camada de leito e de intercâmbio,
rugosidade e espessura da camada de intercâmbio.
2.6. CARACTERÍSTICAS DOS ATERROS HIDRÁULICOS
Baseado nas considerações anteriores observa-se uma tendência em avaliar de forma
segura a qualidade das barragens construídas através da técnica de aterro hidráulico. Estas
considerações envolvem a avaliação correta dos projetos e metodologias construtivas
relacionados a estas estruturas. Contudo, o mais importante é resgatar a confiança na
utilização dos aterros hidráulicos, baseado principalmente na estabilidade e segurança
destas obras.
Neste sentido, é importante ressaltar algumas características relevantes ao processo de
formação dos aterros, objetivando indicar como as variações no regime de fluxo,
características do sedimentos e processos de descarga tendem a alterar cada um destes
parâmetros.
2.6.1. Segregação
A segregação é uma característica importante dos aterros hidráulicos e refere-se à
tendência da fração sólida, ou parte dela, sedimentar, criando um gradiente de
concentração dentro do conjunto. O comportamento de uma lama em relação ao processo
de segregação depende do tipo de fluido, tipos e quantidade de aditivos químicos presentes
no fluido, características dos sedimentos, concentração da lama, distribuição
granulométrica e condições de fluxo. A segregação apresenta efeito direto na distribuição
granulométrica do depósito. O fluxo de uma lama sujeita a processos de segregação
provoca a seleção de partículas que são depositadas em diferentes locais ao longo da
trajetória de fluxo, gerando uma enorme variabilidade estrutural alterando
significativamente os parâmetros de resistência, deformabilidade e permeabilidade.
27
Os métodos mais comuns de descarga incluem uma deposição em praia por um único
ponto (Figura 2.10a) ou vários pontos em linha a partir de hidrociclones ou canhões
(spigots) (Figura 2.10b). Em alguns casos pode ocorrer o retrabalho da praia pela
movimentação do material do aterro por pás carregadeiras e/ou tratores, que tende a alterar
a distribuição granulométrica que ocorre durante a formação do aterro. No caso dos
hidrociclones o processo de separação da fração fina ocorre antes do lançamento, neste
caso somente a fração grosseira é lançada no corpo do aterro. A fração fina normalmente é
usada em outras regiões do depósito ou descartada em outras barragens específicas para
contenção de finos.
Descarga ativa
Segmentos de tubos desconectados
PraiaLagoa de
decantação
Descargas anteriores Aterro
(a)
Spigots (Hidromonitor)
Lagoa dedecantação
Praia
Spigots (Hidromonitor)
Aterro
Tubulação de descarga de rejeito
(b)
Figura 2.10 – Método de descarga: a) por ponto único b) em linha.
ABADJIEV (1985b) sumariza alguns métodos para determinação da distribuição
granulométrica ao longo das praias de aterros hidráulicos formados por areias utilizando
canhões (spigots). BLIGHT & BENTEL (1983) desenvolveram uma relação para avaliar o
processo de segregação que ocorre nos aterros hidráulicos e obtiveram uma boa
concordância analisando o processo de deposição de rejeitos de ouro e platina.
Considerando o processo de ciclonagem, verifica-se o aumento da utilização deste tipo de
28
tecnologia visando eliminar os finos. A grande vantagem da utilização deste procedimento
estaria no aumento da estabilidade deste tipo de estrutura, pela manutenção do alto
coeficiente de permeabilidade ao evitar que a fração fina também preencha o aterro.
TRONCOSO & VERDUGO (1985) consideram que seria importante concentrar esforços e
investimentos nos mecanismos de ciclonagem de modo a obter baixas concentrações de
finos no material do aterro. Estas preocupações já refletem uma evolução no processo de
construtivo das barragens de aterros hidráulicos objetivando controlar o processo de
segregação antes de atingir a praia. Como visto anteriormente, o controle de finos nos
aterros foi também a grande preocupação das normas soviéticas. Percebe-se que a maior
uniformidade dos sedimentos acarretaria certamente numa menor variabilidade
granulométrica ao longo da praia e consequentemente obter-se-ia um maior controle dos
seus parâmetros geotécnicos.
2.6.2. Densidade
Existem vários pontos que devem ser considerados no projeto de aterros hidráulicos.
Entretanto, o mais crítico é o estabelecimento da densidade do material de aterro. A
obtenção de uma densidade relativamente alta é essencial para a estabilidade da estrutura
sob condições estáticas e dinâmicas. Os aterros hidráulicos são particularmente
susceptíveis aos processos de liquefação devido às condições de deposição que favorecem
a formação de depósitos arenosos fofos e saturados. Assim, a densidade e
consequentemente a porosidade torna-se essencialmente crítica para os aterros hidráulicos.
Em estruturas de disposição de rejeitos, tais como barragens e depósitos de material
dragado, uma densidade elevada do material depositado representa um benefício adicional
no aumento da sua vida útil. A densidade é uma medida indireta da estrutura dos solos, e
consequentemente dos seus parâmetros geotécnicos, sendo importante ter uma metodologia
adequada para projetar estes aterros de modo a maximizar o valor da densidade.
Nos projetos de aterros compactados, a densidade pode ser estimada na fase de projeto.
Sabe-se que para um dado material a densidade aumenta com o aumento da energia de
compactação assim que o teor de umidade se aproxima de um valor ótimo. Estes
parâmetros são obtidos em laboratório, através do ensaio de compactação, durante a fase
de projeto, de modo que o método construtivo pode ser especificado previamente, e assim
29
obter o aterro com a densidade e parâmetros geotécnicos adequados.
Este fato não ocorre nos projetos de aterros hidráulicos, embora conhecendo-se as
características iniciais do material utilizado no aterro, a segregação e a perda de finos
durante o processo de deposição fazem com que o material no aterro se comporte de
maneira bastante diferente. Além disso, durante a deposição, o solo apresentará variações
estruturais provocadas pelas diferentes velocidades de fluxo e taxa de transporte de
sedimentos. Estas características micro e macro estruturais provocadas principalmente
pelos efeitos de transporte das partículas ao longo da praia de deposição são praticamente
impossíveis de serem reproduzidas em laboratórios convencionais de Mecânica dos Solos,
embora tenham um efeito importante nos parâmetros geotécnicos do depósito. Neste caso,
o entendimento destes mecanismos tem se baseado na simulação do processo de deposição
hidráulica no laboratório, visando criar condições similares às de campo e avaliar de forma
rápida e econômica seu comportamento geotécnico.
Como apresentado anteriormente, algumas recomendações empíricas relacionadas à
densidade são encontradas na literatura soviética (MELENT’EV et al., 1973), mas que não
são utilizadas no mundo ocidental, principalmente nos EUA. Estas recomendações
sugerem a utilização de lamas com baixa concentração de sólidos e baixas velocidades de
lançamento com o objetivo de atingir altas densidades. Entretanto, as análises de
estabilidade e percolação são feitas adotando valores que podem estar muito longe dos
valores encontrados no aterro. Assim, a maioria dos projetos de aterros hidráulicos está
normalmente relacionada à geometria, arranjo físico e especificações de controle
construtivo baseadas apenas em experiências prévias e neste caso a densidade é uma
característica muito pouco explorada.
Neste contexto, percebe-se que ainda não é muito clara a maneira como a densidade pode
ser avaliada a partir dos ensaios de laboratório, similarmente ao que ocorre para os aterros
compactados. Existe, entretanto, uma carência de métodos de projeto de aterro hidráulico
que maximize a densidade ou que pelo menos estabeleçam algum controle construtivo.
Mesmo que o valor da densidade não possa ser obtido na fase de projeto seria interessante,
como primeira tentativa, obter bases para especificar uma metodologia construtiva que
pudesse produzir depósitos mais estáveis.
Baseado na tentativa de estabelecer uma metodologia construtiva que pudesse prever o
30
comportamento dos aterros hidráulicos, faz-se necessário um estudo do processo
construtivo relacionado a estas estruturas. No caso dos aterros compactados a base
metodológica refere-se à energia de compactação empregada e a relação entre tipo de solo
e a umidade que produz a máxima densidade. Nos aterros hidráulicos o caminho inicial
seria avaliar os parâmetros hidráulicos envolvidos e a sua relação com o tipo de material a
ser transportado e em seguida prever as características do depósito formado. Observa-se
uma interdependência dos parâmetros hidráulicos, tais como: velocidade de fluxo, tamanho
de sedimentos, regime de fluxo e taxa de transporte com as características do aterro. Neste
contexto, a avaliação dos aterros hidráulicos esta intimamente ligada ao mecanismo de
transporte que o produz. Assim, percebe-se uma importante interação entre a Mecânica
dos Sedimentos e a Mecânica dos Solos no sentido de avaliar o comportamento dos aterros
hidráulicos. Algumas combinações teóricas, ensaios de simulação em laboratório e estudos
comparativos de campo tem se mostrado bastante importante na melhoria da qualidade e
técnica construtiva dos aterros hidráulicos.
Algumas correlações empíricas tem sido propostas de modo a descrever a separação de
partículas que ocorrem durante a deposição e a sua influência no valor da
compressibilidade e resistência destas estruturas (ABADJIEV, 1985a). Com relação aos
ensaios de laboratório, as contribuições ainda são um pouco limitadas no sentido de
estimar os parâmetros geotécnicos associados a estas estruturas. A maioria dos ensaios
desenvolvidos privilegiam a definição da geometria da praia dos aterros hidráulicos
(BLIGHT et al., 1985; BLIGHT, 1987; DE GROOT et al., 1988, WINTERWERP et al.,
1990). MELENT’EV et al. (1973) consideram que para uma determinada condição de
fluxo e um determinado tipo de material é possível obter um perfil único de equilíbrio.
SMITH et al. (1986); FAN & MASLIYAH (1990); BLIGHT (1994) e MORRIS &
WILLIAMS (1996) têm confirmado, tanto em laboratório como por ensaios de campo, as
observações a respeito do perfil proposto por MELENT’EV et al. (1973). A consideração
deste tipo de perfil típico representa uma importante característica relacionada aos aterros
hidráulicos e assim será tratada com mais detalhe nos itens subsequentes.
Considera-se assim, numa análise baseada nos diversos ensaios de laboratório, que a
maioria das contribuições estão associadas à determinação do ângulo de inclinação da praia
e às propriedades físicas do aterro em função dos parâmetros de descarga, como a
composição da mistura e velocidade de descarga. Segundo KÜPPER (1991) estes
31
resultados tem apresentado uma baixa contribuição na obtenção de relações entre as
características do aterro no campo devido às diferenças nas escalas campo e laboratório.
Entretanto, KÜPPER (1991) considera que experimentos bem controlados são necessários
para validar a importância destes ensaios na previsão dos comportamento dos aterros
hidráulicos. Neste contexto, KÜPPER (1991) desenvolveu um equipamento de simulação
de deposição hidráulica objetivando estudar as características geotécnicas dos aterros
hidráulicos. A grande vantagem deste tipo de estudo foi a possibilidade de efetuar
comparações diretas com dados obtidos a partir da deposição de campo realizada em
paralelo com as análises de laboratório. Os resultados apresentados por KÜPPER (1991)
serão discutidos e comparados com os dados obtidos neste trabalho.
Seguindo esta mesma linha de pesquisa FERREIRA et al. (1980) também apresentam
dados referentes a avaliação dos parâmetros geotécnicos dos aterros hidráulicos. Ambos os
estudos representam uma visão mais apurada das influências do processo de deposição no
valor da densidade. KÜPPER (1991) e FERREIRA et al. (1980) são os únicos estudos
reportados que analisam as estruturas lançadas hidraulicamente à luz dos parâmetros da
Mecânica dos Solos analisando principalmente o valor da densidade.
2.6.3. Geometria
As praias de aterros hidráulicos são formadas pela deposição da fração sólida após a lama
ser descartada. As propriedades da praia, incluindo a geometria, são funções das
características do material a ser depositado e do método de descarga. Observa-se que o
arranjo físico pode ser alterado em função destas variáveis e do processo de segregação
que ocorre na praia.
A geometria típica de uma praia de aterro hidráulico é definida por um perfil côncavo,
mais inclinado próximo o ponto de descarga se tornando mais suave na parte final da praia
(Figura 2.11). A inclinação média da praia e a forma côncava do perfil são fatores
importantes no projeto dos aterros hidráulicos. A inclinação média do talude determina o
comprimento da praia e este dado se torna importante na avaliação do tamanho e da
localização da lagoa de decantação. Consequentemente, o talude global terá uma
importante influência no arranjo físico geral da estrutura e na área ocupada pelo aterro. No
caso de barragens de rejeitos estes fatores podem afetar também outros aspectos
32
relacionados aos acessos a lavra e localização dos sistemas de britagem e tratamento do
minério. ������������������������������������������������������������������������������������crista
h
i(x)
praia lagoa
H
L
Figura 2.11 – Esquema geométrico da praia de aterro hidráulico.
Embora a área do aterro e o arranjo físico da seção possam ser determinados usando
somente o talude global, para determinação do volume total do aterro são necessários o
conhecimento da inclinação global, da forma real da praia e da densidade. Estes fatores são
necessários para estimar os custos relativos ao projeto, tempo da construção, tamanho do
dique de partida, vida útil da barragem, capacidade de armazenamento, etc. No caso de
disposição de rejeitos, a habilidade de prever o perfil real da praia permite estimar a taxa
de alteamento da barragem e consequentemente planejar o cronograma da construção. Vê-
se claramente que a definição da geometria da praia é uma característica importante no
projeto e construção dos aterros hidráulicos.
A geometria dos aterros hidráulicos pode ser determinada pelas características da fração
sólida e pelos parâmetros de descarga como a vazão da lama, concentração e velocidade de
descarga. Alguns ensaios de simulação em deposição hidráulica (flumes) têm sido
realizados aplicados ao estudo da geometria dos aterros hidráulicos (FERREIRA et al.,
1980; BLIGHT et al., 1985; BLIGHT, 1987; DE GROOT et al., 1988, WINTERWERP et
al., 1990; KÜPPER, 1991). Os resultados destes ensaios mostraram que o talude global é
função da vazão de descarga, concentração da lama, diâmetro médio dos grãos da fração
sólida.
Para altos valores da vazão de descarga o talude resultante tende a ser mais suave,
entretanto para altos valores de concentração da lama o talude tende a ser mais íngreme. A
33
mesma condição ocorre quando o diâmetro das partículas aumenta, assim materiais mais
grossos tendem a apresentar taludes mais inclinados.
KÜPPER (1991) apresenta o mesmo esquema de variação da inclinação do talude com a
variação da vazão de descarga, concentração e tamanho da partícula analisando dados
oriundos de observações de campo. A Figura 2.12 mostra um decréscimo na inclinação
global do talude (altura máxima do depósito dividida pela distância entre a crista e a
extremidade final da praia) com o aumento da vazão de descarga da lama. É importante
notar que existe uma grande dispersão nos dados apresentados, mas este fato é justificado
pela dificuldade de obter em campo valores precisos da vazão de descarga além de
algumas dispersões devido às pequenas variações na distribuição granulométrica dos
materiais utilizados.
0
2
4
6
8
10
0 2000 4000 6000 8000Vazão de Descarga (l/min)
Incl
inaç
ão G
loba
l (%
) Küpper (1991)
Boldt (1988)
Figura 2.12 – Efeitos da vazão de descarga sobre a inclinação da praia de aterro hidráulico
no campo (modificado - KÜPPER, 1991).
Adicionalmente, são feitas análises do efeito da concentração no valor da inclinação global
do talude. Similarmente ao encontrado nas análises de laboratório, a inclinação tende a
crescer com o aumento da concentração da lama. A Figura 2.13 apresenta o efeito da
concentração no valor da inclinação global do talude (KÜPPER, 1991).
A influência do tamanho da partícula tem sido considerada como um fator fundamental na
formação dos taludes de rios e estuários (GILBERT, 1914; RUBEY, 1938 e MACKIN,
1948) e também dos leques aluviais (HOOKE, 1967;1968). A diminuição da inclinação do
talude com a diminuição do tamanho do sedimento e altas vazões de fluxo para os leques
aluviais foi observado por HOOKE & ROHRER (1979). A Figura 2.14 apresenta esta
consideração. Entretanto, o cruzamento entre as curvas na parte inferior do gráfico
34
representa uma condição anômala, sendo causado por efeitos de contorno ou pelo fato do
talude de equilíbrio não ter sido realmente atingido. A concentração da lama foi
considerada constante, embora possam ter havido pequenas variações durante o processo
de descarga. Esta simplificação é bastante grosseira e poderia ter contribuído também nos
erros mencionado anteriormente.
0
2
4
6
8
20 30 40 50 60 70Concentração (%)
Incl
inaç
ão G
loba
l (%
)Küpper (1991)Boldt (1988)Winterw erp et al. (1990)
Figura 2.13 – Efeitos da concentração da lama sobre a inclinação da praia de aterro
hidráulico no campo (modificado - KÜPPER, 1991).
3
6
9
12
15
40 90 140 190Velocidade de Descarga (cm3/s)
Incl
inaç
ão d
o Ta
lude
(%) D50 = 1,30 mm
D50 = 0,54 mm
D50 = 0,17 mm
210Vazão (cm3/s)
Figura 2.14 - Relação entre inclinação do talude e vazão para três diferentes tamanhos de
sedimentos (modificado - HOOKE & ROHRER,1979).
LANE (1955) propôs uma relação qualitativa para análise de morfologia de rios que
resume os efeitos da vazão, concentração da lama e tamanho da partícula para todos os
tipos de aterros hidráulicos, naturais e artificiais:
iQDQ f50s ∝ (2.1)
35
onde: Qs = vazão de sedimentos
Qf = vazão de fluido
D50 =diâmetro médio dos sedimentos
i = inclinação do talude
A Equação 2.1 é consistente com as tendências discutidas acima, podendo prever o
aumento da inclinação do talude com aumento do tamanho da partícula e da vazão de
sedimentos (concentração) e com o decréscimo da vazão do fluido.
O efeito da velocidade de descarga sobre a praia não tem sido diretamente discutido.
Entretanto, na maioria dos casos de construção de aterros hidráulicos a velocidade e a
vazão estão diretamente relacionadas desde que a descarga seja realizada por condutos de
seção constante trabalhando a seção plena. Neste caso um aumento ou decréscimo no valor
da vazão está associado a um aumento ou decréscimo no valor da velocidade. Assim
ambos os parâmetros causam o mesmo efeito sobre a inclinação da praia de aterro
hidráulico. Nestes casos a associação entre este dois parâmetros é aceitável para maioria
dos casos práticos. Entretanto, seria interessante fazer uma distinção entre efeitos
provocados por estes dois parâmetros de forma a permitir uma otimização dos diâmetros e
posição das tubulações de descarga.
Existem outros parâmetros relacionados ao processo de descarga que afetam a inclinação
do aterro. A altura do tubo de lançamento em relação à praia e sua inclinação em relação a
horizontal podem alterar significativamente as condições de fluxo e consequentemente a
geometria da praia de deposição. Estes parâmetros podem representar grandes variações no
processo de deposição, principalmente pela forma da cratera que se forma logo abaixo do
ponto de descarga e pelo direcionamento de fluxo no momento que toca a praia.
Como apresentado anteriormente os aterros hidráulicos desenvolvem um perfil côncavo
compatível com os parâmetros de fluxo envolvidos. O decréscimo da inclinação com a
distância pode ser explicado pela separação de partículas que ocorre sobre a praia
(MELET’EV et al., 1973; BLIGHT & BENTEL, 1983; BLIGHT et al., 1985 e BLIGHT,
1994). A praia é inclinada na região próxima ao ponto de descarga onde as partículas mais
grossas são depositadas e mais suave longe desta região onde as partículas mais finas são
predominantes. Este fato tende a concordar com o processo de segregação que é gerado na
36
praia onde as partículas maiores tendem a se concentrar na região próxima ao ponto de
descarga.
A segregação embora contribua com a concavidade da praia, KÜPPER (1991) apresenta
dados de praias côncavas obtidas a partir de depósitos uniformes de areias grossas, em que
a variação do tamanho do grão ao longo da praia de deposição é muito pequena. Este fato
revela que um outro fator também contribui para a definição da curvatura do perfil do
aterro, neste caso o efeito da infiltração da água na região próxima ao ponto de descarga.
Entretanto, o fator responsável pela formação dos taludes côncavos é a variação na
concentração de sedimentos da massa transportada. Perto do ponto de descarga a
concentração é alta, produzindo taludes mais íngremes. Com a perda da energia de
transporte os sedimentos vão depositando e a concentração da massa tende a cair a medida
que se afasta do ponto de descarga, consequentemente a concentração se torna
progressivamente menor e o talude formado vai se tornando mais abatido. Esta
consideração também foi apresentada por BLIGHT (1994) considerando que a maior
capacidade de transporte ocorre na porção inicial da praia ocorrendo uma maior
interferência na configuração do talude.
Considerando todos os efeitos que afetam a configuração da geometria das praias de
aterros hidráulicos, MELENT’EV et al. (1973) propuseram a existência de um perfil típico
de equilíbrio, condicionado pelas diferentes condições de fluxo e sedimentos que
interferem no processo de deposição, porém independente da escala de ensaio. Neste
contexto, MELENT’EV et al. (1973) consideram que este perfil típico pode ser descrito
pela seguinte equação:
n
Lx1
Hy
−= (2.2)
onde: L = comprimento da praia;
H = elevação máxima;
n = parâmetro adimensional que depende do material e do método de deposição.
A Figura 2.15 apresenta um esquema do perfil típico relacionado aos aterros hidráulicos,
37
mostrando a concavidade e a relação entre o comprimento e a altura da praia, parâmetros
referentes à Equação 2.2 proposta por MELENT’EV et al. (1973). Nota-se também uma
mudança na inclinação da praia quando o processo de deposição ocorre na região da lagoa
de decantação no final da praia. A Equação 2.2 está somente relacionada a praia do aterro,
submetida a uma condição de deposição aérea, ou seja, no caso do talude dentro da lagoa a
equação de MELENT’EV et al. (1973) não é válida.
Vários ensaios de campo e laboratório têm tentado demostrar a validade desta equação na
previsão do perfil das praias de aterros hidráulicos (BLIGHT & BENTEL, 1983; BLIGHT
et al., 1985; SMITH et al., 1986; FAN & MASLIYAH, 1990; BLIGHT, 1994 e MORRIS
& WILLIAMS, 1996). O objetivo principal é verificar a influência do tipo de material e do
processo de lançamento na obtenção dos valores de n e a conseqüente extrapolação para
realidade de campo.
x
y
L
HPERFIL DA PRAIA
ÁREA A*
LAGOA
Figura 2.15 – Esquema do perfil típico associado as praias de aterros hidráulicos
(modificado - MORRIS & WILLIAMS, 1996)
SMITH et al. (1986) mostraram que o perfil da praia pode ser descrito por uma relação
exponencial. Estes autores sugerem a seguinte a expressão para o perfil de equilíbrio:
−=
Lxbexpa
Hy (2.3)
onde: a e b são constantes dependentes do material e do método de deposição.
Considerando que para x = 0 por definição y tende a ser igual a H a equação 2.3 pode ser
38
modificada para:
−=
Lxbexp
Hy (2.4)
Esta simplificação foi considerada válida pelos experimentos realizados por SMITH et al.
(1986), em que os valores de a obtidos foram sempre próximos de 1. Nota-se que, embora
a Equação 2.4 define claramente o ponto de deposição (x = 0) ela não consegue definir o
ponto de interseção do final da praia com a superfície da lagoa de decantação (y = 0).
Quando a descarga da lama acontece sobre condições constantes a inclinação global não
varia muito durante o processo de deposição. O talude normalmente evolui a uma taxa
constante de inclinação, através de uma deposição paralela à deposição anterior. Este fato
foi observado em laboratório por SONI (1981) e FAN (1989). O talude formado é
considerado o talude de equilíbrio, significando uma dependência direta com os parâmetros
de descarga envolvidos no processo de deposição.
Se a concentração da lama, por exemplo, aumentar, o fluxo gerará uma nova condição de
deposição, assim o talude irá apresentar uma mudança em função das alterações
provocadas pela variação na concentração. Estas alterações irão ocorrer até a nova
configuração atingir o equilíbrio com este novo padrão de deposição. O mesmo tipo de
efeito irá ocorrer quando a concentração diminuir e a velocidade de fluxo aumentar, assim
um novo perfil será estabelecido devido ao processo de erosão que irá ocorrer na parte
inicial do talude. Para estas novas condições um perfil mais abatido será criado compatível
com a mudança de regime de fluxo. Atingido o equilíbrio, as alterações geométricas
tendem a ser paralisadas e o talude se desenvolve novamente sem alteração.
Para um dado valor de concentração, diâmetro médio de partículas e velocidade de fluxo
um perfil de praia irá se desenvolver de acordo com as considerações estabelecidas por
MELENT’EV et al. (1973). Este perfil irá ocorrer, dentro de um certo limite, considerando
a distância vertical e horizontal entre o ponto de descarga e o fim da praia. A forma do
perfil típico para um determinado conjunto de circunstâncias e propostas de projeto pode
ser encontrado pela analogia com ensaios de deposição em escala reduzida em laboratório,
desde que as condições do protótipo sejam semelhantes às condições simuladas pelo
39
modelo (BLIGHT, 1994).
Adicionalmente, BLIGHT (1994) considera que para determinadas condições específicas
de fluxo, concentração e descarga, o perfil típico proposto por MELENT’EV et al. (1973)
realmente ocorre em ambas situações no campo e nas simulações em laboratório. Através
da análises de vários perfis obtidos a partir de simulações feitas com rejeitos de ouro,
BLIGHT (1994) mostra boas correlações entre os perfis obtidos no campo para uma
concentração média de 50% e laboratório (Figura 2.16). Estes mesmos gráficos apresentam
a influência do valor do diâmetro e da concentração na configuração do perfil. Observa-se,
a partir da Figura 2.17, que a curvatura do perfil torna-se mais acentuada quando o valor da
concentração aumenta e a que as diferenças entre os perfis de campo e laboratório se
acentuam quando o diâmetro médio das partículas aumenta.
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,00,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
x/L
y/H
70% de sólidos50% de sólidos
60% de sólidos
Perfil de campo
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
y/H
x/L
70% de sólidos
50% de sólidos60% de sólidos
Perfil de campo
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
y/H
x/L
Perfil de campo
60% de sólidos50% de sólidos
70% de sólidos
a)
c)
b)
Figura 2.16 – Comparação entre o perfil típico de Melent’ev a partir de simulações no
campo e laboratório: a) material total; b) material fino; c) material grosso (modificado –
BLIGHT, 1994).
Pode-se considerar uma boa correlação entre os dados de campo e laboratório relacionada
à configuração do talude e à sua dependência direta com os parâmetros que condicionam o
40
processo de deposição. Estas considerações justificam a importância das simulações em
laboratório no estudo do comportamento dos aterros hidráulicos. Contudo, ressalta-se que
um controle rigoroso deve existir na concepção dos modelos propostos.
MORRIS & WILLIAMS (1996) apresentam estudos relativos a semelhança cinemática dos
modelos e protótipo, que é assegurada pela semelhança entre os parâmetros de descarga e
contornos de fluxo presentes no modelo e no protótipo. Entretanto, a semelhança completa
é fisicamente impossível nestes tipos de modelos hidráulicos. Consequentemente, os
modelos de uma forma geral privilegiam semelhanças dos parâmetros dominantes,
enquanto asseguram que os outros efeitos sejam os menores possíveis, adotando-se
algumas simplificações. Baseado nestas dificuldades de simulação considerou-se que as
análises do perfil típico obtido a partir dos modelos reduzidos ainda são imprecisas, sendo
necessário dispor-se um maior volume de dados e investigações para validar complemente
estas investigações.
Apesar de basearem-se em poucos dados MORRIS & WILLIAMS (1996), e
posteriormente MORRIS & WILLIAMS (1998), consideram que a relação exponencial se
ajusta melhor ao estabelecimento do perfil típico que a relação de potência. Além disso, a
inclinação da praia na região da lagoa de decantação definida pela equação proposta por
MELENT’EV et al. (1973) é incompatível com os conceitos da Engenharia Hidráulica
(WILLIAMS & MORRIS, 1989). Baseado nestas considerações defendeu-se o uso da
relação exponencial em lugar relação de potência.
Considerando a proposta de estimativa da área abaixo do perfil típico dos aterros
hidráulicos, baseado na integração direta das equações propostas em relação ao
comprimento, pode-se assim estimar o volume de material estocado. Verifica-se que a
difernça entre as duas considerações é bem pequena, da ordem de 1%. Neste contexto,
MORRIS & WILLIAMS (1996) consideram que existe uma diferença muito pequena,
neste caso, para justificar a escolha de uma ou outra equação. Entretanto, a sensibilidade de
previsão global de ambas as equações é proporcional aos erros oriundos da má escolha dos
parâmetros de entrada.
É importante ressaltar que existem dificuldades de aplicar as Equações 2.3 e 2.4 em
projetos que ainda não tenham sido desenvolvidos ou sem referência passada de casos
41
semelhantes. Neste caso, mesmo que se tenha o conhecimento dos parâmetros n ou b
relativos a um certo tipo de material ou parâmetros de descarga, somente a relação entre
x/L e y/H é conhecida. Neste caso estes dados não são suficientes para definir o perfil,
exceto quando se conhece o valor de H ou L relativos ao protótipo ou ao modelo. A
solução para problema poderia estar na escolha do valor de H baseado em especificações
de projeto e o valor de L poderia ser calculado a partir da posição do sistema de descarga e
a extremidade final do aterro. Neste caso ter-se-ia a posição final da lagoa de decantação.
DE GROOT et al. (1988) e WINTERWERP et al. (1990) consideram a existência de um
talude de equilíbrio gerado a partir de um balanço entre a sedimentação e a erosão. Esta
consideração parece ser relevante na análise da evolução da superfície do aterro, em que
cada nova superfície tende a ser paralela à superfície anterior, mantendo o equilíbrio do
processo.
A importância no estabelecimento do perfil típico constitui um interessante desafio
relacionado ao fenômeno físico, principalmente considerando as diferentes variáveis
hidráulicas e transporte de sedimentos envolvidas. Entretanto, o estabelecimento do perfil
típico relacionado às praias de aterros hidráulico representa uma grande vantagem no
estabelecimento de projetos e metodologias construtivas relativas à este tipo de estrutura.
Neste caso poder-se-ia analisar a vida útil da barragem, o comprimento máximo em função
da altura de projeto e a conseqüente instalação da lagoa de decantação. Adicionalmente,
poder-se-ia otimizar processo de descarga, pela avaliação da melhor posição dos canhões
de lançamento e obter um maior controle das características do aterro.
Embora descreva de maneira razoável as características geométricas da praia de aterros
hidráulicos, o perfil típico apresenta várias dificuldades de obtenção, principalmente na
fase de projeto. A determinação das constantes adimensionais é uma tarefa bastante difícil,
e mais complexo ainda é avaliar os fatores que realmente as afetam.
2.7. CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DOS ATERROS HIDRÁULICOS
A maioria dos materiais utilizados em aterros hidráulicos são não-coesivos, sendo bastante
simples de caracterizar em relação às argilas, embora existam algumas estruturas de
armazenamento de rejeitos que apresentam granulometria fina. Os solos não-coesivos são
42
tradicionalmente complexos sob o ponto de vista de amostragem e inspeção e o
comportamento destes materiais é dominado basicamente pela composição, densidade in
situ, estrutura e estado de tensões. Existe uma grande tendência da utilização de ensaios de
campo na previsão do comportamento dos solos arenosos, embora os ensaios de
laboratório, desde que bem controlados, têm-se mostrado bastante eficazes nas previsões
qualitativas das características do processo de deposição hidráulica.
A utilização dos ensaios de campo visa contornar os problemas relativos a obtenção de
amostras representativas da realidade de campo e a conseqüente validade dos ensaios de
laboratório. Assim, tem-se verificado a utilização dos ensaios de campo na previsão dos
parâmetros de resistência e compressibilidade dos solos arenosos relacionados aos valores
da densidade in situ. Adicionalmente, esta aplicabilidade tem se estendido às simulações de
laboratório. Neste caso é necessário, também, avaliar as características do depósito
formado nos modelos em escala reduzida, assim irá ocorrer o mesmo problema de
avaliação da densidade. Neste contexto, a utilização de equipamentos miniatura,
compatíveis com a realidade destes pequenos depósitos, tem se mostrado eficaz e tornando
viável a utilização dos resultados oriundos destas investigações.
Considerando a importância do valor da densidade nas estruturas construídas
hidraulicamente, o ensaio de cone tem sido incorporado aos programas recentes de
controle de qualidade destas estruturas. Este tipo de ensaio apresenta várias vantagens
sobre os métodos de controle baseados somente em avaliações de laboratório, pois permite
avaliar a qualidade do aterro em regiões abaixo e acima do nível freático e facilita a
detecção de material não granular ou quantidades excessivas de partículas finas. Além
disto, estes ensaios são relativamente rápidos e baratos, possibilitando a execução de um
extenso programa de investigações concentrado sobre uma mesma região, gerando dados
que podem ser imediatamente disponibilizados (ATHMER & PYCROFT, 1986).
A determinação da densidade das areias é bastante difícil, pois a obtenção de amostras
perfeitamente representativas é praticamente impossível. A densidade do material é
normalmente afetada durante o processo de amostragem, mesmo mantendo todos os
cuidados necessários. Além disso, os processos de amostragem demandam muitos
cuidados e requerem um enorme consumo de tempo, principalmente quando a amostragem
é realizada a grandes profundidades.
43
Devido às razões apresentadas acima tem-se procurado obter métodos alternativos e mais
precisos de avaliar a densidade dos depósitos arenosos. Os ensaios de determinação da
densidade in situ tem-se mostrado uma excelente ferramenta no sentido de obter valores
mais realísticos da densidade, embora ainda seja necessário calibrar os procedimentos e
diminuir o empirismo das correlações disponíveis.
LUNNE et al. (1997) apresenta uma descrição qualitativa da aplicabilidade dos ensaios de
cone na previsão do comportamento dos solos arenosos. Destaque tem sido dado ao
equipamento de cone elétrico e o piezocone devido a precisão com que estes equipamentos
podem prever a densidade, o perfil e a variabilidade granulométrica dos solos arenosos.
BEGEMANN (1965) foi o primeiro a sugerir que os parâmetros de resistência obtidos a
partir dos ensaios de cone poderiam ser usados na classificação das camadas do solo. Este
tipo de aplicação tem gerado bons resultados a partir da aplicação de equipamentos mais
modernos, como o cone elétrico e o piezocone. A base desta identificação esta vinculada à
variação dos resultados do cone em função das características do solo. No caso dos solos
arenosos existe uma tendência em apresentar altas resistência de ponta e baixos
coeficientes de atrito lateral.
Entretanto, existem vários fatores que influenciam os parâmetros oriundos do ensaios de
cone. Estudos teóricos e ensaios de laboratório têm mostrado que a tensão horizontal
efetiva ( ) tem efeito dominante sobre a resistência do cone e o atrito lateral (LUNNE et
al., 1997). A história de tensões do solo torna-se significante na interpretação do valores
obtido nos ensaios de cone. As correlações de densidade relativa e resistência ao
cisalhamento nas areais são também bastante influenciadas pelas tensões horizontais. A
compressibilidade influencia significativamente a resistência de ponta e o atrito lateral.
Assim, areias altamente compressíveis tendem a apresentar baixas resistências de ponta e
de uma maneira geral alto índice de atrito lateral (LUNNE et al., 1997).
'hoσ
Algumas correlações tem sido feitas entre a densidade relativa e a resistência dos solos
baseados nos resultados obtidos a partir dos ensaios de cone. No caso dos solos arenosos
um aumento no valor da densidade representa um aumento no valor do ângulo de atrito.
De acordo com MEIGH (1987) o valor do ângulo de atrito pode ser estimado usando o
44
valor da densidade relativa como um parâmetro intermediário. Esta consideração está
baseada no trabalho realizado por SCHMERTMAN (1978) cujas correlações obtidas entre
este dois parâmetros esta apresentada na Figura 2.17.
28
32
36
40
44
0 20 40 60 80 100Densidade relativa, Dr (%)
Âng
ulo
de a
trito
,'(o )
28
32
36
40
44
PEDREGULHO UNIFORME
PEDREGULHO-AREIA-SILTE BEM GRADUADO
AREIA GROSSA UNIFORME
AREIA MÉDIA BEM GRADUADA
AREIA MÉDIA UNIFORME
AREIA FINA UNIFORME
AREIA FINA BEM GRADUADA
Figura 2.17 – Correlações entre o ângulo de atrito e a densidade relativa para solos
granulares (modificado – SCHMERTMAN, 1978).
Outros tipos correlação têm sido propostas entre as porosidades relativas e a resistência dos
aterros construídos com rejeitos arenosos de minério de ferro baseadas em avaliações e
campo e ensaios de laboratório (ESPÓSITO, 2000 e LOPES, 2000). Entretanto, estas
correlações ao invés de apresentarem relações lineares, tendem a mostrar que para este tipo
de material esta relação tende a ser exponencial.
Alguns ensaios de cone tem sido realizados no sentido de estabelecer correlações entre a
densidade relativa das areias e avaliar sua sensibilidade e acurácia. Alguns estudos têm
sido realizados considerando camadas superficiais e submetidas a baixas tensões (KARKI,
2000) visando avaliar as potencialidades do cone na previsão dos parâmetros geotécnicos
de diques construídos hidraulicamente e aterros rodoviários construídos com solos
arenosos.
Adicionalmente, tem sido estudado os efeitos da forma e do tamanho do cone nos valores
obtidos a partir do ensaios de cone e os problemas relativos a interpretação dos resultados.
Uma ênfase tem sido dada à aplicabilidade do cone miniatura na rotina dos ensaios de
45
campo e em modelos reduzidos em laboratório.
Um outro fator relacionado aos aterros arenosos e que se torna impossível de ser
reproduzido em laboratório devido a sua completa destruição no processo de reconstituição
de amostras refere-se ao efeito do envelhecimento (aging). Este fenômeno representa um
ganho de resistência provocado pelas alterações na micro-estrutura do depósito com o
tempo (GARGA & TRONCOSO, 1990).
SHANKER (2000) também realizou estudos considerando o efeito do envelhecimento dos
depósitos arenosos. Neste trabalho, as análises também foram realizadas a baixas
profundidades e utilizando diferentes equipamentos de avaliação in situ. A importância
deste trabalho foi avaliar as potencialidade dos ensaios de campo, principalmente do ensaio
de cone e mini-cone na previsão e quantificação deste fenômeno com o tempo.
A importância da caracterização da densidade é justificada pela necessidade de garantir a
estabilidade da estrutura. Depósitos fofos, saturados, estratificações, variações
granulométricas, efeitos de envelhecimento etc. geram uma grande variabilidade nos
parâmetros geotécnicos associados aos aterros hidráulicos e necessitam ser avaliados. Um
grande problema relacionado às estruturas construídas hidraulicamente tem sido a
formação de depósitos com baixas densidades e consequentemente susceptíveis ao
processo de liquefação.
Como descrito anteriormente, a maioria das rupturas ocorridas no início do século foram
devidas ao potencial de liquefação do aterros quando submetidos a carregamentos
dinâmicos. Certamente estas rupturas estavam relacionadas ao empirismo técnico da época
ou mesmo ao desconhecimento do potencial de liquefação destas estruturas. Os soviéticos
pouco se atentaram para o problema da liquefação, e para evitar este tipo de problema, a
prática soviética não recomendava a utilização de barragens de areias em zonas de alta
sismicidade. Em zonas assísmicas os soviéticos não revelam nenhuma preocupação com o
potencial de liquefação de suas barragens de areia.
Estes problemas associados aos depósitos arenosos mostraram a necessidade de avaliar o
seu potencial de liquefação. De acordo com MORETTI & CRUZ (1996) os primeiros
estudos foram realizados por A. Casagrande e algumas décadas depois por CASTRO
46
(1969). Estes autores avaliaram potencial de liquefação mesmo sob condições estáticas,
através da utilização de ensaios não drenados de tensão controlada. O procedimento destes
ensaios consistia em romper os corpos de prova a volume constante e sem alívio do
carregamento. A avaliação foi feita usando corpos de prova moldados para diferentes
valores de índices de vazios e em função deste parâmetro poderiam liqüefazer
complemente, liqüefazer parcialmente ou dilatar. Outros estudos visando a caracterização
do potencial de liquefação baseados em carregamentos dinâmicos foram realizados
inicialmente por SEED & LEE (1966).
2.8. ATERROS HIDRÁULICOS APLICADOS A BARRAGENS DE REJEITOS
No caso de disposição de rejeitos existem poucas opções técnicas de construção
comparadas com as diversas técnicas utilizadas na maioria das barragens de acumulação de
água, principalmente pela imposição de técnicas de baixo custo associadas ao volume de
rejeito a ser estocado e à viabilidade das operações da mina, fatores preponderantes para a
manutenção da técnica de aterro hidráulico. Além disso, as operações de mina produzem
rejeitos úmidos cujo meio de transporte mais viável e econômico é por via hidráulica.
Assim, o método de aterro hidráulico é naturalmente atrativo para construir estruturas de
retenção de rejeitos.
Os rejeitos não apresentam valor econômico direto, mas existe uma importante pressão
para se estabelecer um método mais econômico de disposição de rejeitos. A construção de
uma barragem de rejeito é feita pela própria mineradora e a barragem é alteada de acordo
com a necessidade de armazenamento do rejeito. Este processo apresenta uma vantagem
econômica quando comparado com as barragens compactadas convencionais que são
usualmente finalizadas num curto período de tempo antes do enchimento. Entretanto, o
controle construtivo destas barragens de rejeito é na maioria das vezes pobre e podem
ocorrer rupturas associadas a má aplicação das práticas construtivas e ao descaso técnico.
Dentre os métodos de construção de barragens pela técnica de aterro hidráulico o mais
antigo, mais simples e econômico é o Método de Montante. Neste método o rejeito é
lançado a montante da crista por canhões (spigots) e/ou por hidro-ciclones em um único
ponto de descarga ou em linha sobre a praia do aterro, que servirá de suporte para o
próximo alteamento (Figura 2.18).
47
MÉTODO DE LINHA DE CENTRO
LAGOAN. A.
PRAIA DE REJEITO
REJEITODUTO
DIQUE DE PARTIDA
MÉTODO DE JUSANTE
REJEITODUTO
LAGOA N. A.
PRAIA DE REJEITO
DIQUE DE PARTIDA
MÉTODO DE MONTANTE
LAGOA N. A.
PRAIA DE REJEITO
DIQUE DE PARTIDA
REJEITODUTO
Figura 2.18 - Métodos construtivos de barragens de rejeitos.
Apesar de várias barragens de rejeitos terem sido construídas de uma maneira aceitável, as
rupturas eram comuns devido a diversos problemas de ordem construtiva e geotécnica.
Este fato revelou, inicialmente, que o método original de montante não resultava em
estruturas seguramente adequadas e assim propostas de modificações desta estrutura
tradicional eram defendidas. Isto também, resultou no aumento da utilização dos Métodos
da Linha de Centro e de Jusante (Figura 2.18).
O Método de Jusante tem a vantagem de que a barragem não é alteada sobre o rejeito
previamente depositado, existindo uma previsão de compactação e controle de percolação
através da instalação de sistemas de drenagem durante a evolução do aterro. O Método de
Linha de Centro é uma variação do Método de Jusante, porém o alteamento da crista segue
verticalmente e não para jusante e a construção pode ocorrer rapidamente usando a fração
grossa do underflow do ciclone. Um tapete drenante pode ser instalado no momento em
que a barragem é construída, possibilitando o controle da linha de saturação.
Analisando o documento elaborado pelo Comitê Internacional de Grandes Barragens
(ICOLD, 1989) verifica-se que a maioria das barragens construídas no passado privilegiava
a técnica de alteamento à montante. Durante muitas décadas este método foi usado
empiricamente, com um baixo controle construtivo. Neste caso, o método de montante
envolvia a construção de pequenos diques inicias e os rejeitos eram descarregados na
direção de montante no topo destes diques. O dique era alteado com o rejeito obtido da
48
parte seca e em seguida recoberto com a camada seguinte de deposição. Com este
procedimento o material seguinte era sempre depositado sobre camadas fofas constituídas
pelo próprio rejeito. Com esta configuração a barragem estava sujeita a riscos de rupturas
provocadas pela possibilidade de elevação da linha freática e processos de liquefação,
devido à condição fofa e saturada do rejeito.
Embora potencialmente susceptível a riscos de ruptura e desaconselhada através da norma
NBR 13028 (ABNT, 1993), as barragens construídas por alteamentos sucessivos à
montante ainda representam uma opção usual no processo disposição de rejeitos no Brasil.
Este fato é reforçado pela facilidade executiva e economia diluída ao longo do período de
construção.
CARRIER (1991) entretanto, recomenda que as barragens alteadas à montante devam ser
evitadas devido justamente ao prolongado tempo de construção, que dificulta o controle e o
acompanhamento dos projetos. Outro ponto também mencionado refere-se à dificuldade de
prever o comportamento não drenado destas barragens na fase de projeto. Embora com
estas restrições, CARRIER (1991) conclui que estes fatos não inviabilizam a técnica de
montante recomendando a utilização de um projeto condicionado à realização de análises
de estabilidade drenadas e não drenadas durante os alteamentos e que se estabeleça uma
integração perfeita entre o projeto e a construção.
Analisando o contexto mundial das barragens de rejeito, verifica-se uma grande
contribuição da experiência chilena neste tipo de projeto. VALENZUELA (1996) relata
que o Chile tem uma importância fundamental no processo de disposição de rejeitos,
devido a grande quantidade de rejeitos produzidos. Neste país a utilização de barragens
tem sido uma alternativa bastante viabilizada pela maioria das mineradoras. Até 1960 a
maioria das barragens de rejeitos no Chile eram construídas utilizando a técnica de aterros
hidráulicos com o próprio rejeito e alteadas à montante. Existem poucos casos de utilização
do método de linha de centro neste período. Considerando que o Chile apresenta grande
atividade sísmica e que a maioria das rupturas das barragens de rejeitos estavam associadas
aos processos de liquefação, verificou-se que a adoção do método de montante deveria ser
revista. Este fato foi impulsionado pela ruptura das barragens de Barahona e El Cobre
causando perdas humanas, contaminação ambiental e destruição de cidades.
49
Estas rupturas geraram amplas discussões a respeito das metodologias construtivas até
então empregadas e uma forte pressão publica resultou no estabelecimento de normas de
projeto e controle construtivo das barragens de rejeitos. Como conseqüência desta
pressões, os projetos passaram a ter um caráter extremamente conversativo. Em 1970, o
governo Chileno assinou um decreto de regulamentação de construção e operação de
barragens de rejeitos. Este decreto estabelecia uma série de normas, restrições e
procedimentos de projeto. A permissão para construção de barragens de rejeitos estava
condicionada ao cumprimento deste decreto, e após sua implantação nenhuma barragem de
rejeito pelo método de montante foi construída no Chile (VALENZUELA,1996).
Observa-se que embora com dimensões catastróficas, as rupturas ocorridas no Chile até
1970 podem ser interpretadas como um grande aprendizado, mostrando a importância de
estudos sismológicos adequados e a caracterização do potencial de liquefação associados a
estes tipo de depósitos. Estes estudos evidenciam a importância do controle geotécnico
vinculado às barragens de rejeitos no sentido de garantir a segurança e a adequabilidade
dos projetos.
Neste contexto, VALENZUELA (1999) apresenta algumas considerações relativas ao
projeto e construção de barragens de rejeito no Chile:
adoção do método de Jusante;
utilização de rejeitos granulares provenientes do processo de ciclonagem;
adoção de taludes de jusante de 1:4;
porcentagem de finos no material da ordem de 10 a 20% em peso, mas garantindo uma
permeabilidade final acima de 10-4 cm/s;
utilização de um eficiente sistema de drenagem;
manutenção do reservatório distante do barramento;
monitoramento das poro-pressões através de instrumentação;
controle e avaliação do sistema de drenagem.
Pode-se considerar que, embora muitas rupturas tenham ocorrido, um grande número de
barragens de rejeito construídas pelo método de montante apresentaram um desempenho
satisfatório. As rupturas eram comuns devido a falta de controle dos parâmetros
geotécnicos e até mesmo durante a fase de construção. Observa-se que, ainda hoje existe
uma grande dificuldade de se estabelecer metodologias construtivas que envolvam todas as
50
variáveis envolvidas no processo de construção destes tipos de estruturas. Neste sentido
pode ser citada a experiência canadense mostrando a viabilidade do método de montante
em regiões de baixa a moderada sismicidade, revelando um bom desempenho destas
estruturas condicionada a um controle construtivo e de projeto (MARTIN &
TISSINGTON, 1996).
Devido à sua grande aplicabilidade, o projeto e construção de barragens de rejeitos tem
atraído um grande número de pesquisadores desde a década de 70 (MITTAL &
MORGENSTERN, 1975; KLOHN, 1981; VICK, 1983). Outros também são citados por
MORGENSTERN (1985) e MORGENSTERN & KÜPPER (1988). E mais recentemente
ESPÓSITO (2000) e LOPES (2000) apresentaram estudos de controle de qualidade destes
tipos de barragens usando métodos estatísticos baseados no controle da porosidade de
campo. Estas experiências atuais com aterros hidráulicos na construção de barragens de
rejeitos tem revelado certas características que atuam sobre o projeto e o desempenho das
estruturas e que são bastante importantes nas várias aplicações desta técnica. KÜPPER
(1991) considera, entretanto, que as mais significativas são: segregação, drenagem,
densificação e resistência à sismos.
Assim, a necessidade de analisar o desempenho das barragens de rejeitos com o objetivo
de aumentar sua segurança advém do crescimento deste tipo de estrutura no processo de
disposição de rejeitos utilizado pela maioria das minerações em todo mundo e da grande
quantidade de rejeito a ser estocado. No contexto da segurança e qualidade técnica tem-se
notado um aumento das exigências de projeto, mudanças nos métodos construtivos,
controle geotécnico mais rigoroso nos projetos e durante a fase de construção. Neste
contexto, medidas de controle do nível freático, processo adicionais de densificação,
implantação de sistemas eficientes de drenagem e utilização de camadas de transição têm
sido incorporados aos processo construtivos atuais. O empirismo soviético ainda representa
um elemento básico na viabilidade desta tecnologia, mas a utilização dos aterros
hidráulicos como estrutura viável e econômica de disposição de rejeitos tem contribuído
para o avanço tecnológico desta metodologia, sendo responsável pelo seu resgate técnico e
reavaliação da segurança e estabilidade do método de montante.
Neste contexto, a Geotecnia tem contribuído muito para melhoria da qualidade dos
projetos relacionados à disposição de rejeitos. Nota-se, hoje, que muitas barragens
51
construídas pelo método de montante teriam se mantido estáveis se tivesse havido um
controle geotécnico na fase de projeto e construção. O conhecimento dos efeitos das
variáveis hidráulicas e sua importância no processo de formação do depósito poderiam
otimizar o processo construtivo e garantir a qualidade dos aterros hidráulicos. As análises
de laboratório, mesmo com limitações relativas ao efeito de escala, têm apresentado um
potencial importante na avaliação da densidade, segregação, geometria e estrutura dos
depósitos. Enfim, pode-se afirmar que o controle geotécnico associado a um processo
controlado de deposição durante a fase de construção da barragem poder-se-á reduzir a
gama de fatores que prejudicam o desempenho e a segurança destas estruturas. Assim, os
métodos de controle de campo juntamente com as análises de laboratório podem contribuir
de forma sistemática e efetiva na qualidade técnica dos aterros hidráulicos.
52
CAPÍTULO 3
SIMULAÇÕES FÍSICAS DO PROCESSO DE DEPOSIÇÃO
HIDRÁULICA
3.1. INTRODUÇÃO
O gerenciamento do material depositado hidraulicamente é uma importante componente na
avaliação do comportamento dos aterros hidráulicos. Observa-se que quando a lama é
descartada, as partículas mais grossas e/ou mais pesadas tendem a depositar formado a
praia, enquanto as partículas finas e água tendem a se concentrar na parte final do depósito,
formando muitas vezes uma lagoa de decantação. Embora conhecendo este mecanismo
básico de transporte e deposição que gera o processo de segregação, as variações nos
parâmetros de descarga podem causar outros tipos de alteração em que a experiência e/ou
os conceitos teóricos são insuficientes para avaliar o que realmente ocorre no processo de
formação destes depósitos.
Mudanças nas características do material, na concentração, na vazão de descarga e outros
efeitos podem alterar profundamente o mecanismo de deposição e alterar
significativamente as propriedades físicas e mecânicas dos aterros hidráulicos. Analisando
os parâmetros geotécnicos associados a estes tipos de depósito, verifica-se que as
alterações no processo de formação podem representar mudanças significativas na
estabilidade dos aterros, provocadas por variações nas características de deformabilidade,
resistência e permeabilidade.
A ausência de dados técnicos tem feito com que a maioria dos projetos de aterros
hidráulicos concentrem-se basicamente na análise da geometria e arranjo físico do aterro.
As especificações construtivas de controle tem sido relacionadas puramente às
experiências prévias. As análises de estabilidade e percolação são feitas comumente a
53
partir da adoção de parâmetros que muitas vezes estão muito longe dos valores reais do
aterro. Além disso, o processo de deposição hidráulica cria características estruturais
típicas como estratificações, acamamentos, micro-estruturas deposicionais, etc., em função
das diversas variáveis que controlam o processo de deposição e que não podem ser
reproduzidas em laboratórios convencionais de Mecânica dos Solos. Então, uma proposta
de solução destes problemas poderia estar na interface entre a Mecânica dos Sedimentos e
a Mecânica dos Solos através de uma combinação de técnicas de ensaios de laboratório,
estudos de campo e aspectos teóricos.
Neste contexto, existe uma grande aplicabilidade na utilização de modelos físicos de
simulação em laboratório visando estudar o comportamento de aterros hidráulicos. No
ensaio de simulação de deposição hidráulica (Flume), os mecanismos de deposição podem
ser observados de perto e os ensaios podem ser desenvolvidos de forma mais econômica e
controlada do que no campo. Além disso, é possível a realização de um grande número de
ensaios simulando os efeitos das variáveis que controlam os processos de deposição
hidráulica, principalmente vazão, concentração e possivelmente a altura de lançamento do
rejeito.
3.2. CARACTERÍSTICAS DOS ENSAIOS DE SIMULAÇÃO FÍSICA
De uma maneira geral os ensaios de deposição hidráulica representam uma importante
ferramenta na avaliação das propriedades dos aterros hidráulicos. Contudo, existem
algumas limitações e dificuldades associadas à obtenção dos fatores de escala relacionados
aos fenômenos hidráulicos que envolvem transporte de sedimentos. Um fator limitante é
vinculado à simulação do tamanho da partícula, pois sua representação em escala atinge
limites em que ela se torna demasiadamente fina de modo que as forças coesivas são
introduzidas, podendo invalidar o modelo (SHARP, 1981 e GOMES, 1993). Existem
também limites práticos para parâmetros variáveis como densidade e viscosidade do fluido,
além da densidade do sedimento e o próprio regime de escoamento. Entretanto, uma
aproximação lógica da escala real para os testes de laboratório pode ser feita usando os
conceitos de modelagem hidráulica (YALIN, 1971; SHARP, 1981) ou utilizando o
processo da semelhança (HOOKE, 1968) que serão apresentados com mais detalhes no
Capítulo 4.
54
Em resumo, o processo da semelhança é uma aproximação direta que fornece uma base
para geração de hipóteses e que pode revelar novas informações a respeito dos processos e
tendências de comportamento, associados a conclusões qualitativas extraídas do sistema
experimental aplicadas ao sistema de campo. Esta forma de aproximação é bem adaptada
ao estudo dos mecanismos da deposição hidráulica em que o interesse está em investigar os
conceitos gerais relevantes aos aterros hidráulicos e não um caso em particular. É baseado
neste princípio que a maioria dos ensaios de simulação de deposição hidráulica tem sido
propostos e as análises realizadas apresentam geralmente um caráter puramente qualitativo.
3.3. CARACTERÍSTICAS DOS DIFERENTES ENSAIOS DE SIMULAÇÃO DE
DEPOSIÇÃO HIDRÁULICA REPORTADOS NA LITERATURA
Inúmeros ensaios de simulação de deposição hidráulica (Flume) são reportados na
literatura envolvendo fluxo de água e sedimentos. Muitos destes ensaios são destinados ao
estudo da resistência de fluxo, taxa de transporte de sedimentos e estratigrafia de depósitos
para condições específicas de fluxo e sedimentos dentro de um contexto sedimentológico
ou hidrodinâmico. Somente alguns ensaios foram desenvolvidos para estudos específicos
de comportamento de aterros hidráulicos enfatizando aspectos geotécnicos (FERREIRA et
al. 1980; BLIGHT et al., 1985; DE GROOT et al., 1988; FAN & MASLIYAH, 1990;
KÜPPER,1991). A maioria dos equipamentos existentes apresenta propostas semelhantes,
diferindo apenas na concepção de projeto e arranjo físico. Entretanto o controle das
variáveis que afetam o processo é bastante similar durante a execução do ensaio.
Em geral a maioria destes ensaios representa uma avaliação global do processo de
deposição hidráulica. A maioria dos estudos está relacionada com a previsão do talude de
equilíbrio para uma condição específica de fluxo. Além disso, alguns deles apresentam
resultados relevantes às características físicas e mecânicas dos aterros formados. As
principais diferenças encontram-se relacionadas ao arranjo físico e às características do
sistema de alimentação e descarga.
3.3.1. Ensaio de simulação do aterro da barragem de Porto Primavera
Um equipamento foi construído com o objetivo de auxiliar os estudos de viabilidade do
projeto e construção da Barragem de Porto Primavera, inicialmente projetada para ser 55
construída com a técnica de aterros hidráulicos. Estes estudos de laboratório, apresentados
por FERREIRA et al. (1980), seguiram a metodologia e a norma soviética, baseada
principalmente na adoção de ensaios de simulação de deposição hidráulica em laboratório
para avaliar as potencialidades e características do material disponível quando aplicado à
técnica da hidromecanização. Este procedimento foi extensivamente utilizado pelos
soviéticos até a consolidação do método e o estabelecimento de tecnologias e normas de
construção. Com a normalização e utilização em larga escala do processo de
hidromecanização, os ensaios de laboratório passaram a ter um uso restrito na rotina
soviética, mas foram largamente utilizados na fase inicial de implantação da técnica
(FILIMONOV, 1979).
Nos estudos da barragem de Porto Primavera, o processo de deposição foi realizado com
um material tipicamente arenoso de granulometria fina (D50= 0,20 mm) oriundo das áreas
de empréstimo. Um equipamento de simulação foi construído, constituído de um canal de
11,0 m de comprimento, 0,8 m de largura e 0,8 m de altura, acoplado a um sistema de
descarga com alimentação independente de água e areia. A água era descarregada através
de um vertedor triangular e a areia através de um dispositivo de controle de saída.
Entretanto, antes de entrar no canal, a água e a areia eram misturadas num tubo vertical que
abastecia os vários bocais instalados em diferentes alturas ao longo deste tubo. Os bocais
tinham um pequeno prolongamento direcionado para cima, possivelmente para diminuir o
impacto da descarga. Um sistema de comportas foi utilizado para concentrar o fluxo em
cada bocal separadamente e manter o processo de elevação do aterro. Assim, a medida que
o aterro evoluía as comportas dos bocais superiores eram sucessivamente abertas. A Figura
3.1 apresenta um esquema geral do equipamento utilizado por FEREIRA et al. (1980).
Areia
Água
Praia
Piscina flutuante Piscina real
Nível máximoNível mínimo
Tubo dedrenagem
Comporta deemergência
Núcleo (Silte e Argila)Transição (Areia e Silte)Espaldar (Areia)
Figura 3.1 – Arranjo físico do equipamento utilizado por FERREIRA et al. (1980).
56
A parte inferior do canal era constituída de uma base de cascalho revestida com uma
camada de concreto magro. O controle de drenagem era feito pelo fundo do canal por
aberturas de 20 cm na camada de concreto magro e revestidas com geotêxtil. Uma válvula
de controle de drenagem, ligada a estes drenos, era usada para controlar o fluxo após o
processo de deposição, mantendo uma velocidade de fluxo da ordem de 4m/s. A abertura
desta válvula era feita após a estabilização das leituras dos piezômetros instalados na base
e nas laterais do canal.
Foram realizados apenas três ensaios adotando uma concentração em torno de 10% em
peso. A vazão específica de descarga (vazão nominal dividida pela largura do canal) variou
entre 3,3 a 13 cm3/s. FERREIRA et al. (1980) dividem o depósito em três regiões em
função das características granulométricas do material obtidas após a deposição. Uma
porção inicial considerada como espaldar, predominantemente arenosa, uma porção
intermediária, zona de transição, constituída por siltes e areias, e uma porção final, com
material mais fino, considerada com núcleo (Figura 3.1). Analisando os resultados obtidos
por FERREIRA et al. (1980), observa-se um nítido padrão de segregação por tamanho
devido ao processo de deposição hidráulica e as características do sedimento. O padrão de
estratificação em todos os casos foi sempre horizontal, embora tenha sido destacada a
presença de meandros em todos os ensaios que poderiam ter alterado o padrão de
estratificação obtido.
As avaliações da concentração foram realizadas durante todo período de realização da fase
de deposição. Algumas amostras foram coletadas na extremidade final do canal com o
objetivo de verificar a perda de material durante o ensaio, principalmente quantificar a
perda de finos. Após o processo de descarga e a conseqüente estabilização do depósito a
drenagem era liberada, aguardando cerca de 72 h para iniciar os ensaios de determinação
da massa específica seca e distribuição granulométrica em pontos espaçados a cada meio
metro ao longo do canal. Estas medidas foram realizadas em amostras coletadas na base e
no topo do depósito. A permeabilidade foi determinada a partir de amostradores cilíndricos
cravados nas direções horizontal e vertical em relação a direção das estratificações. Os
ensaios de cisalhamento direto foram realizados com amostras obtidas no depósito porém
em laboratório nas mesmas condições de campo.
Os resultados obtidos revelam uma densidade de 58% para o material depositado no canal, 57
correspondendo a uma massa específica seca de 1,6 g/cm3. Algumas dispersões foram
encontradas devido às variações no processo de deposição que as vezes ocorria debaixo
d’água, pelo aumento excessivo do nível máximo da lagoa existente no final do canal.
As diferenças no valor da permeabilidade nas direções vertical e horizontal confirmaram a
anisotropia provocada pelas estratificações. A relação kh/kv variou entre 1 e 10. O valor da
permeabilidade obtido a partir de amostras moldadas em laboratório com o mesmo índice
de vazios foram sistematicamente inferiores aos obtidos para o fluxo perpendicular às
estratificações. Esta característica indica que o rearranjo de grão na remoldagem criou um
caminho mais longo (sinuoso) de percolação (FERREIRA et al., 1980).
A compressibilidade obtida para as amostras remoldadas também foi levemente menor que
a obtida para amostras indeformadas obtidas no canal, o que significa que a
hidromecanização conduz a formação de uma certa estrutura, talvez mantida pelas forças
capilares. Entretanto, as diferenças encontradas foram bem pequenas.
Os parâmetros de resistência foram semelhantes para os três ensaios, mesmo realizando
rupturas nas direções paralela e perpendicular às estratificações. Os valores dos ângulos de
atrito obtidos variaram entre 30 e 32o para todos os ensaios. Este fato denota que a
influência da anisotropia, tipo de moldagem, metodologia e execução dos aterros, nestas
simulações de laboratório, foram muito pequenas.
3.3.2. Ensaio de Lakefield (Canadá)
Este tipo de investigação reportada por KÜPPER (1991) constou da realização de ensaios
de simulação de deposição hidráulica objetivando obter dados para o projeto da Barragem
de Rejeitos de East Kemptville, Nova Scotia. Uma série de ensaios foi realizada com
diferentes inclinações no canal de simulação e diferentes concentrações. Contudo,
KÜPPER (1991) relata que somente os dados referentes à distribuição granulométrica do
material grosso utilizado nos ensaios foram disponibilizados. Estes dados são relativos a
dois ensaios realizados com valores de concentração de 20 e 45%. Infelizmente, não
existem referências sobre os valores da vazão utilizada e nem sobre os procedimentos de
ensaio. A não existência de uma lagoa de decantação é único dado referente a configuração
do depósito e a forma de deposição. As informações sobre a geometria relatam a formação 58
de taludes mais íngremes nas simulações de laboratório comparados com os taludes
encontrados no campo usando o mesmo material.
3.3.3. Ensaios realizados na África do Sul
BLIGHT et al. (1985) apresentam alguns detalhes dos ensaios de simulação de deposição
hidráulica realizados na Universidade de Witwatersrand, África do Sul. O objetivo destes
ensaios era estudar o conceito do perfil típico proposto por MELENT’EV et al. (1973). De
acordo com BLIGHT (1994) estes estudos iniciaram a partir da tradução dos trabalhos
publicados por Melent’ev na década de 70. A idéia da determinação do perfil típico
associado as praias de aterros hidráulicos mostrava ser bastante relevante no processo de
disposição de rejeitos, principalmente pela possibilidade de obter dados a respeito do
volume de material estocado, área ocupada e vida útil do depósito.
Os ensaios foram realizados com diferentes tipos de rejeitos de mineração de ouro, cobre,
platina, bauxita e carvão adotando valores de concentração de 50, 60 e 70%. O canal de
deposição usado era de pequenas dimensões com um comprimento de aproximadamente
2,0 m e o sistema de alimentação consistia de um reservatório único de 220 l, com ponto
de descarga localizado na base do reservatório. BLIGHT et al. (1985), embora usando um
reservatório único para água e partículas sólidas, não apresenta detalhes de como a
concentração da lama era mantida constante durante o processo de descarga e nem da
maneira como a lama era descartada no canal. Os procedimentos de ensaio e os valores das
vazões utilizadas também não são apresentados. A maioria das análises envolvendo o perfil
típico baseou-se em comparações dos valores de concentração no campo e laboratório.
Estudos mais recentes apresentados por BLIGHT (1994) seguem esta mesma linha de
pesquisa e as informações referentes aos ensaios e equipamento são também limitadas.
Entretanto, alguns dados sobre a segregação e a distribuição granulométrica são
apresentados evidenciando sua influência na configuração global do perfil da praia obtida.
As conclusões apresentadas revelam a dificuldade do entendimento completo do perfil
típico, mas consideram que o perfil obtido é fundamentalmente influenciado pela
concentração, distribuição granulométrica e características do processo de deposição.
59
3.3.4. Ensaios realizados no US Bureau of Mines
Estes ensaios foram realizados pelo US Bureau of Mines Research Centre, localizado no
estado de Washington (EUA), e apresentados por Boldt em 1988 citado por KÜPPER
(1991). Nestes ensaios foram utilizados rejeitos de cobre e prata (D50 = 0,0135 mm) e
rejeitos de uma mineração mista de cobre, prata e chumbo (D50 = 0,097mm).
A deposição era realizada em um canal inclinado construído com perfis de madeira. O
rejeito era misturado com a água em um tanque de alimentação de 6400 l e em seguida
bombeado para dentro do canal de deposição a uma vazão constante. A vazão adotada nos
ensaios variou entre 58 e 130 l/min. A concentração, também mantida constante durante
cada ensaio, variou entre 20 e 57%. De acordo com KÜPPER (1991) ocorreram alguns
distúrbios no fluxo provocados pelo efeito das paredes do canal e uma conseqüente
alteração na formação do depósito.
Após a deposição, o aterro era parcialmente drenado, seguindo-se a coleta das amostras,
usando amostradores de parede fina tipo Shelby para realização de ensaios de resistência,
permeabilidade e análise granulométrica. A geometria final da praia era avaliada pela
medida direta da inclinação do talude obtendo-se sua inclinação média.
3.3.5. Ensaios realizados em Delft, Holanda
Os ensaios do grupo de Delft, Holanda foram realizados dentro de um programa
experimental e teórico associado ao estudo do comportamento dos diques de contenção
construídos na parte sudeste da Holanda. A maioria destas estruturas está relacionada às
pequenas barragens para contenção de cheias cuja técnica construtiva empregada tem sido
a técnica de aterros hidráulicos (DE GROOT et al., 1988; WINTERWERP et al., 1990 e
WINTERWERP et al., 1992). As análises realizadas visaram basicamente otimizar o
processo construtivo destas estruturas e melhorar a qualidade da metodologia construtiva
empregada.
A proposta inicial foi a avaliação do processo de deposição que ocorria após a lama ser
descartada sobre uma camada pré-depositada ou mesmo diretamente sobre o material de
fundação. Assim, foram realizadas medidas de campo e simulações em laboratório em 60
diferentes escalas juntamente com os estudos teóricos associados ao processo de
deposição. Dados recentes de barragens já construídas também serviram de base para a
avaliação dos dados e estudos comparativos.
Foram usados dois equipamentos de simulação de deposição hidráulica de diferentes
dimensões para analisar três tipos de areias de granulometria fina a média (Tabela 3.1). Os
valores de concentração adotados variaram entre 32 e 68% e a vazão de descarga de
sedimentos variou de 7 a 35 l/min para o equipamento de pequena escala. Para o
equipamento de grande escala, os valores da vazão variaram entre 180 e 2700 l/min e os
valores de concentração mantiveram aproximadamente os mesmos valores adotados no
equipamento de menores dimensões, porém cobrindo uma faixa maior entre 0 e 64 % (DE
GROOT et al., 1988). É importante notar que os valores de vazão utilizados foram muito
maiores que os normalmente utilizados para maioria dos ensaios de simulação reportados
na literatura, além disso ressalta-se que a concentração foi obtida em termos de volume e
não pela relação entre pesos.
Tabela 3.1 – Dimensões e arranjo dos equipamentos de simulação e o programa de ensaios
realizados em Delft, Holanda (modificado - WINTERWERP et al., 1990).
Dimensões e arranjo físico Equipamento de pequenas dimensões Equipamento de grandes dimensões
Comp. – Largura – Prof. (m) 1,5 – 0,118 – 0,045 9,0 – 0,3 – 0,3
Volume do reservatório (m3) 0,067 10,0
D50 da camada pré-depositada na base do canal (mm) 0,134 0,500
Sistema de controle de fluxo Válvula de controle manual Medidor de fluxo eletromagnético
Alimentador de areia e água Sistema independente Circuito fechado e recirc. da mistura
Vazão específica (m2/s) Entre 1 e 5 10, 20, 30, 50, 100 e 150
Concentração (%) Entre 15 e 45 0, 5, 10 , 20, 30, 40
D50 da mistura (mm) 0,134 0,120 e 0,225
As análises foram feitas baseadas em medidas de campo e laboratório. No campo, os dados
eram obtidos a partir do acompanhamento do processo de deposição durante o período de
construção. As avaliações envolviam o controle da vazão de descarga, concentração da
lama, profundidade de fluxo, largura do canal, inclinação da praia e distribuição
granulométrica. No laboratório, os dados eram obtidos a partir de equipamentos especiais
de medição construídos especialmente para avaliar o processo de deposição nestas
simulações e controlar as variáveis de descarga.
61
O equipamento de simulação em grande escala consistia de um canal de 9,0 m de
comprimento com inclinação ajustável e sistema de alimentação único da água e
sedimentos. O material na parte final do canal era coletado e bombeado novamente para
dentro do reservatório através de um sistema de recirculação. A Figura 3.2 apresenta um
esquema do arranjo físico do equipamento de grandes dimensões utilizado nestas
investigações. Detalhes adicionais destes equipamentos são também apresentados por
MASTBERGEN et al. (1988) e BZUIJEN & MASTBERGEN (1988).
A definição do perfil de equilíbrio foi um ponto importante destas investigações.
WINTERWERP et al. (1990) considera que um talude de equilíbrio é alcançado quando
existe um balanço entre a sedimentação e a erosão, formando um sistema dinamicamente
estável que é responsável pela configuração global da geometria do depósito.
Válvula de controle de fluxo
Tanque com sistema de mistura
Canal
Bomba
Inclinação ajustávelCâmara de amortecimento
9,00 m
0,30 m
Figura 3.2 – Esquema do equipamento desenvolvido em Delft, Holanda (modificado - DE
GROOT et al., 1988).
Algumas medidas de densidade são reportadas objetivando avaliar a estabilidade destas
estruturas. Estes ensaios foram realizados nas simulações em laboratório e no campo,
utilizando principalmente o mini-cone holandês. Vale ressaltar que a utilização dos ensaios
de cone na previsão das densidades destes depósitos é uma rotina da prática holandesa,
principalmente nos aterros construídos acima d’água. Como os aterros construídos
possuíam partes também submersas, verificou-se baixos valores de densidades quando o
62
material era depositado sob a água em relação aos valores obtidos em regiões secas.
Observou-se, também, uma baixa influência dos parâmetros de descarga quando o material
era lançado debaixo d’água. Entretanto as características dos sedimentos apresentaram
grande influência nos depósitos construídos nestas regiões. De uma maneira geral os dados
obtidos em deposições acima d’água apresentaram valores de densidade 4 a 5% maiores
que os obtidos a partir do mesmo processo embaixo d’água, consequentemente menos
susceptíveis ao processo de liquefação.
A inclinação do talude foi bastante influenciada pela granulometria do material e pelos
parâmetros de descarga. Baseado nestes dados, WINTERWERP et al. (1992) propuseram
uma formulação empírica para avaliar a característica do talude do depósito. Esta fórmula
foi obtida a partir de análises dos dados obtidos no campo e no laboratório em função dos
parâmetros de fluxo e das características do sedimentos. De uma maneira geral, os
resultados obtidos, a partir da formulação proposta, apresentaram boa concordância com
dados oriundos das simulações físicas.
Embora tenha sido proposta, inicialmente, uma análise da estabilidade destas estruturas, os
parâmetros analisados referem-se basicamente à geometria do aterro, sendo os parâmetros
geotécnicos pouco explorados nestas investigações. A densidade foi usada apenas como
um parâmetro comparativo e nenhuma consideração é feita relacionando este parâmetro
com as variáveis de deposição ou características dos sedimentos.
A grande vantagem destas investigações foi a adoção de tecnologias de ponta de medição
no próprio depósito, levando ao desenvolvimento de equipamentos especiais para
viabilizar estas medições e à garantia da qualidade e precisão dos parâmetros hidráulicos
nas regiões próximas à superfície do depósito. Uma importante análise foi realizada com
relação à variação da concentração ao longo da profundidade de fluxo na extensão do
depósito. A Figura 3.3 mostra como a concentração é alta na região próxima a superfície
do aterro, atingindo valores de 35% para areias com D50 = 0,120 mm e 40% para areias
com D50 = 0,225 mm (WINTERWERP et al., 1990).
A partir dos resultados obtidos, concluiu-se que um talude mais suave é formado quando a
velocidade de fluxo é pequena e o processo de sedimentação é preponderante em relação a
erosão. Entretanto, para altas velocidades, o fluxo tende a erodir a camada já depositada e o 63
talude resultante é geralmente mais íngreme. Embora analisando este balanço existente
entre a erosão a deposição em função da velocidade de descarga, WINTERWERP et al.
(1990) consideram que o talude de equilíbrio das praias de aterros hidráulicos é função da
concentração média, densidade dos grãos, ângulo de atrito entre os grãos e não
exclusivamente da velocidade de fluxo. Adicionalmente, consideram que as mudanças que
ocorrem no talude formado são responsáveis pelas variações nos parâmetros obtidos
durante e após o processo de deposição.
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
00 10 20 30 40
Distribuição deconcentração
c (%)10203040
q = 0,10 m2/sD = 0,12 mm
Teórico
Concentração - c (%)
Posi
ção
verti
cal r
elat
iva
- z /
h
Figura 3.3 – Variação da concentração ao longo da profundidade de fluxo (modificado -
WINTERWERP et al., 1990).
3.3.6. Equipamento da Universidade de Queensland, Austrália
Estes ensaios, apresentados por FOURIE (1988), visaram a determinação do perfil típico
associado a cada tipo de material ensaiado. O objetivo principal destes estudos era a
caracterização dos depósitos de rejeitos, visando avaliar sua capacidade de
armazenamento, geometria, área de estocagem de rejeitos e vida útil das barragens, e assim
otimizar o processo construtivo e aumentar a qualidade destes projetos. Neste contexto,
FOURIE (1988) considera que a caracterização da geometria do depósito, relacionada a
um tipo específico de rejeitos, seria um fator importante nos projetos e construção de 64
barragens de rejeitos. Entretanto, são ressaltadas as dificuldades em obter estes parâmetros
na fase inicial dos projetos, devido principalmente a falta de conhecimento do
comportamento do material quando submetido ao processo de deposição hidráulica. Uma
vez mais se reforça a aplicabilidade das simulações de laboratório como uma fonte
importante na obtenção dos parâmetros geométricos do depósito.
O equipamento usado na Universidade de Queensland consiste de um canal de 2,0 m de
comprimento, 0,6 m de largura e 0,6 m de profundidade. O sistema de alimentação é
constituído por um único reservatório de água e sólidos e dotado de um agitador elétrico
que garante a manutenção da concentração constante. A descarga da lama no canal era
feita através de um controlador de fluxo, constituído de um tubo horizontal com quatro
furos de 1,0 cm de diâmetro localizados na parte inferior ao longo da largura do canal.
Uma placa de dissipação de energia foi instalada logo abaixo do controlador de fluxo
evitando erodir a crista do depósito, minimizando o impacto da descarga. A Figura 3.4
apresenta um esquema simplificado do equipamento de simulação utilizado na
Universidade de Queensland.
Reservatório de rejeitos
Controlador de fluxo
Tanque coletor
Placa de amortecimento
2,00 m
0,60 m
Depósito
Figura 3.4 – Esquema simplificado do equipamento de simulação desenvolvido na
Universidade de Queensland (modificado – MORRIS & WILLIAMS, 1996).
65
Durante a realização do ensaio, o fluxo de lama era regulado através de uma válvula que
mantinha uma vazão constante de 8,30 cm3/s. A formação da lagoa na extremidade final do
canal foi evitada pela instalação de um sistema de drenos na mesma cota da base do canal
que impedia a concentração da água na porção final do depósito, aumentando o
comprimento da praia com deposição sempre acima d’água.
Os rejeitos utilizados foram de granulometria fina, oriundos das minerações de bauxita,
níquel e carvão localizadas em regiões próximas à Queensland. KÜPPER (1991),
analisando também estes ensaios, considera que os materiais utilizados se comportaram
como lamas não segregáveis e desta forma não puderam ser comparados com os outros
ensaios de simulação reportados na literatura, por apresentar reologia distinta. Nas lamas
não segregáveis, os sólidos e o fluido não se comportam independentemente, atuando
como um fluido viscoso e neste caso os fenômenos físicos envolvidos são totalmente
distintos em relação aos demais casos estudados que envolvem lamas segregáveis,
formadas por grãos mais grossos.
Durante o processo de deposição foi evidente a observação do transporte de sedimentos na
camada de base do depósito. As partículas se depositavam rapidamente próximo ao ponto
de descarga e logo eram arrastadas pelo fluxo de material subsequente que atingia a
camada. Observa-se que, embora utilizando partículas finas, o mecanismo de transporte
predominante foi de arraste de fundo.
Com relação a geometria do depósito, FOURIE (1988) mostra uma variação da geometria
do depósito com a concentração da lama para as simulações realizadas com o rejeito de
carvão. Pela Figura 3.5 pode-se observar uma grande dependência da geometria da praia
com o teor de sólidos. Estas análises mostram que para baixas concentrações o perfil tende
a ser bastante suave, quase horizontal, em oposição às altas concentrações que tendem a
torná-lo mais inclinado. Entretanto, a adição de dispersantes apresentou uma influência
significativa na configuração do perfil. O ensaio número 1 mostrado na Figura 3.5, embora
com uma concentração de 43% apresentou um perfil bastante abatido, devido à influência
do dispersante segregando as partículas.
Algumas evidências de perfil convexo foram apresentadas, mas estas condições são
bastantes particulares quando comparadas com outros ensaios de simulação realizados.
FOURIE (1988) considera que esta particularidade poderia estar relacionada à baixa
segregação que ocorreu nestes ensaios, em oposição ao que acorreu com os perfis 66
côncavos, onde o processo de segregação foi mais evidente. Ainda neste caso, o acúmulo
de partículas grossas na porção inicial do depósito gerou uma praia mais inclinada. Embora
mencionando este comportamento atípico, FOURIE (1988) parece não concordar com
estas disparidades, sugerindo maiores investigações no sentido de comprovar e validar esta
hipótese.
0
1
2
3
4
5
0 25 50 75 100 125 150 175Distancia do ponto de descarga (cm)
Altu
ra a
cim
a da
bas
e (c
m)
1 - c = 43% c/ Dispersante
2 - c = 50% s/ Dispersante
3 - c = 15% s/ Dispersante
4 - c = 48% s/ Dispersante
Figura 3.5 – Perfis de praias de rejeitos de carvão obtidos a partir de simulações em
laboratório (modificado – FOURIE, 1988).
No estabelecimento do perfil típico característico destes tipos de depósito este autor adota
a relação potencial proposta por MELENT’EV et al. (1973) apresentada na Equação 2.2.
De acordo com estas investigações o valor de n é bastante sensível às variações na
distribuição granulométrica, mas pouco influenciado pela concentração e pelas
características da água que compõe a mistura.
Alguns ensaios de adensamento utilizando uma célula edométrica tipo Rowe (ROWE &
BARDEN, 1966) foram realizados objetivando avaliar o coeficiente de permeabilidade do
material depositado. Os resultados obtidos revelam que o coeficiente de permeabilidade é
bastante influenciado pela graduação dos material desde o ponto de descarga até a porção
final do depósito.
3.3.7. Equipamento do Departamento de Química da Universidade de Alberta,
Canadá
O objetivo destes ensaios era estudar a variação do perfil da praia de aterro hidráulico em
67
função do tempo e da distancia ao ponto de descarga para diferentes valores de
concentração e vazão de descarga (FAN, 1989). As características do equipamento
utilizado foram descritas por FAN & MASLIYAH (1990), consistindo de um canal de 4,87
m de comprimento, 0,31 m de largura e 0,46 m de profundidade. O canal possui um
dispositivo de ajuste de inclinação, embora todos os ensaios tenham sido realizados com
uma inclinação fixa de 0,54%. Um sistema de alimentação independente descarregava os
sólidos e água em um alimentador mecânico que assegurava a concentração e vazão
constante durante o ensaio. O material excedente da deposição era coletado e decantado na
parte final, visando avaliar a quantidade de sedimentos que não conseguiam depositar
durante a evolução do ensaio.
O material utilizado foi uma areia média e fina (D50 = 0,267 mm) com massa específica
das partículas sólidas de 2,65 g/cm3. O processo de deposição foi realizado para vazões
variando de 114 a 280 m3/s e concentrações inferiores a 14%. A evolução do perfil foi
acompanhada através fotografias sucessivas ao longo do comprimento do canal. Estas
fotografias possibilitaram avaliar a geometria do depósito e as características da camada
formada em função dos diferentes parâmetros de fluxo utilizados.
Concordando com os ensaios apresentados anteriormente, a capacidade de transporte de
sedimentos por suspensão era muito baixa. Neste contexto, a maioria dos grãos tendia a
depositar rapidamente e o mecanismo de transporte predominante era de arraste de fundo,
por saltação ou rolagem. A parte mais inclinada do talude ocorreu próxima ao ponto de
descarga, apresentando uma configuração côncava e tornando mais abatido na parte final.
A Figura 3.6 mostra fotografias sucessivas do perfil obtido durante a evolução do ensaio,
mostrando a configuração do perfil ao longo do processo de deposição, podendo ser
observado também a presença de estratificações horizontais.
Os dados obtidos a partir dos ensaios de simulação foram utilizados de forma sistemática
nas formulações matemáticas para determinação do perfil baseadas, principalmente, nos
diferentes parâmetros de descarga. FAN & MASLIYAH (1990) relatam a influência da
concentração da mistura na inclinação do talude e principalmente na velocidade de
crescimento do depósito. Embora as variações nas vazões de fluxo apresentaram pouca
influência na inclinação do talude, seu efeito foi considerável na velocidade de evolução do
depósito. 68
A formulação numérica foi baseada na analogia ao transporte de sedimentos que ocorre em
leitos de rios usando a equação clássica de transporte de sedimentos proposta por MEYER-
PETER & MÜLLER (1948), embora com algumas adaptações para realidade do problema.
Os dados obtidos a partir desta formulação apresentaram boa concordância com os dados
obtidos em simulações de laboratório. Adicionalmente, FAN & MASLIYAH (1990)
utilizaram a equação empírica para o perfil típico mestre proposta por SMITH et al. (1986),
Equação 2.3, e da mesma forma obtiveram bons resultados.
Figura 3.6 – Visão geral do perfil obtido em ensaios de simulação no Departamento de
Química da Universidade de Alberta (modificado - FAN & MASLIYAH, 1990).
É importante observar que a abordagem de FAN (1989) enfatiza os aspectos
sedimentólogicos e hidráulicos dos depósitos. Apesar de utilizar uma estreita e baixa faixa
de valores de concentração e vazão de fluxo, as características das simulações são muito
próximas do esquema de transporte que ocorre nos aterros hidráulicos em função da
pequena profundidade de fluxo adotada nestas simulações.
3.3.8. Equipamento do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de
Alberta, Canadá
Estes ensaios foram descritos por KÜPPER (1991) e são bastante relevantes nas análises
69
do comportamento dos aterros hidráulicos. A densidade foi um importante parâmetro
analisado nestas investigações aliado às considerações geotécnicas relacionadas aos
projetos e metodologias construtivas dos aterros hidráulicos. Um intenso programa
experimental envolvendo simulações de campo e laboratório foi desenvolvido por
KÜPPER (1991), objetivando avaliar a influência dos parâmetros de descarga no
comportamento dos depósitos construídos hidraulicamente. Os principais parâmetros
analisados estão relacionados com as características granulométricas do material
empregado, vazão de descarga e concentração da mistura.
O programa experimental constou da avaliação do comportamento durante e após o
processo de deposição de três tipos diferentes de areias submetidas a diferentes valores de
vazão e concentração em um equipamento de simulação de deposição hidráulica. A Tabela
3.2 apresenta as características básicas das areais utilizadas nestas investigações.
Tabela 3.2 – Parâmetros médios das areias usados nos ensaios de simulação em laboratório
(modificado – KÜPPER, 1991).
Areia D50 (mm) D10 (mm) % de finos D90/D10 D60/D10
SS 0536 0.348 0 3.16 1.70
TS 0.178 0.090 4 3.16 2.17
KS 0.466 0.251 0 3.98 2.18
SS – areia comum comercialmente encontrada na região de Edmonton; TS – rejeito arenoso da Mina de Syncrude em Alberta, obtida nas parte mais alta do depósito; KS – areia artificial, comercializada pela indústria Kiel como areia # 7.
Adicionalmente, foram realizados ensaios na Mina de Syncrude, avaliando o processo de
deposição no campo. A importante contribuição das simulações de campo foi a
possibilidade de realizar um controle rigoroso das variáveis de deposição e obter dados
mais realísticos dos parâmetros de descarga no campo e a conseqüente caracterização do
depósito na escala real. Este fato é um dos de maior relevância nos estudos desenvolvidos
por KÜPPER (1991), principalmente analisando a grande dificuldade relacionada ao
controle destas variáveis no campo. Normalmente o processo de deposição no campo
ocorre como conseqüência das características do beneficiamento e processamento dos
minérios, sendo difícil alterar ou mesmo controlar a sua evolução. No caso das
investigações realizadas por KÜPPER (1991) houve um controle bastante razoável do
processo de deposição no campo viabilizando as comparações propostas.
70
O equipamento utilizado nas simulações em laboratório consistiu de um canal de 6,1 m de
comprimento, 0,6 m de largura e 1,2 m de profundidade. O canal principal era dividido em
duas partes de 0,3 m otimizando a execução dos ensaios, pois a estabilização da praia e
coleta de amostras podiam ser realizadas simultaneamente com outro processo de
deposição ocorrendo no canal adjacente. Esta divisão interna podia também ser removida
aumentado a largura do canal.
O sistema de alimentação era independente e a mistura era formada pela descarga conjunta
de água e areia em um funil de alimentação acoplado ao controlador de fluxo. A entrada de
água era controlada por um medidor de fluxo e areia era descarregada através de um
vibrador helicoidal que controlava a quantidade de areia necessária para atingir a
concentração pré-definida. Um controlador de fluxo garantia a uniformidade da descarga e
evitava os efeitos provocados pelas paredes do canal pela instalação de palhetas, paralelas
às paredes do canal, no interior do controlador. É importante notar que adoção deste tipo
de controlador de fluxo apresentou uma importante função na manutenção da
características do fluxo ao longo do canal, pela minimização dos distúrbios provocados por
possíveis turbulências devido ao atrito nas paredes. A Figura 3.7 apresenta uma visão geral
do equipamento desenvolvido por KÜPPER (1991).
Figura 3.7 – Visão geral do equipamento de simulação desenvolvido por KÜPPER (1991)
na Universidade de Alberta.
71
Os ensaios foram realizados pela deposição da lama preparada para diferentes valores de
concentração em peso variando entre 5 a 40% e submetida a diferentes valores de vazão
entre 3 e 20 l/min, sobre uma camada plana de areia pré-depositada no fundo do canal. A
evolução do perfil resultante era acompanhada através de medições realizadas em vários
intervalos de tempo durante a deposição e no final do ensaio.
KÜPPER (1991) apresenta uma descrição detalhada das características de fluxo sobre o
depósito pela observação direta da deposição que ocorria no canal, o que é considerado
fundamental para o entendimento do processo de formação das praias no ensaios de
simulação. A profundidade de fluxo foi bastante pequena e a concentração bastante alta,
caracterizando o transporte que ocorre no processo de formação dos aterros hidráulicos no
campo. O tipo de transporte foi caracterizado pelo arraste hidráulico das partículas que
depositavam rapidamente logo que saiam do controlador de fluxo, tendendo a se
movimentar por rolagem e/ou saltação. De acordo com BAGNOLD (1973) esta camada
fina que se move justamente acima da camada estacionária é que constitui a carga de
fundo, cujo movimento é devido ao contato sólido-sólido.
Durante a deposição, o fluxo na praia tende a se concentrar em canais criando meandros
que tendem a se separar e/ou se juntar ao longo da superfície do depósito, formando
pequenos canais preferenciais de fluxo, provocando alterações na configuração do talude
pela formação de pequenas ilhas ou barreiras. Para altas velocidades de fluxo, o fluido
tende a cobrir toda extensão do depósito minimizando a influência das ilhas e das barreiras.
As alterações provocadas pelo mecanismo de deposição que ocorre nos depósitos em
função dos parâmetros de descarga tiveram uma influência significativa no valor da
densidade do material depositado ou mesmo da camada já depositada, podendo ser
observadas lineações e estratificações horizontais neste tipos de depósitos.
Para determinação da densidade do material foram obtidas amostras ao longo do canal de
deposição. Amostras adicionais foram obtidas para análises da estrutura do material e para
realização de ensaios triaxiais. Devido aos problemas relacionados ao processo de
amostragem de solos arenosos, KÜPPER (1991) relata a execução de ensaios para
quantificar o grau de amolgamento das amostras durante o processo de cravação dos
amostradores. Assim um cilindro bi-partido foi cravado junto à parede do canal, sendo
observadas as alterações na estrutura do material. Verificou-se através das paredes 72
transparentes do canal que um anel de cerca de 1,0 cm em contato com a parede do
amostrador indicava traços de amolgamento. É importante considerar que os amostradores
usados por KÜPPER (1991) tinha dimensões da ordem de 7,5 e 10,0 cm de diâmetro e
consequentemente apresentam grandes problemas relacionados a amostragem em
depósitos formados em laboratório, cujas dimensões são bem reduzidas. Após a cravação
amostras eram levemente congeladas e em seguidas extraídas dos amostradores e o anel
supostamente perturbado era desbastado. As amostras eram mantidas congeladas até o
momento de serem utilizadas.
KÜPPER (1991) apresenta a influência da concentração e da vazão de fluxo nas
características do depósito. De uma maneira geral o perfil obtido foi côncavo de baixa
inclinação, tendendo a ser tornar mais íngreme com o aumento da concentração e
decréscimo da vazão de fluxo. A Figuras 3.8 e 3.9 mostram a variação do perfil global em
função da concentração e da vazão de descarga, respectivamente, para os ensaios
realizados com o rejeito da Mina de Syncrude.
0
5
10
15
20
0 10 20 30 40 5Concentração (%)
Incl
inaç
ão G
loba
l (%
)
0
TS (Q= 5l/min) TS (Q= 10l/min) TS (Q=15l/min) TS (Q=20l/min)
Figura 3.8 – Variação do talude global com a concentração para simulações em laboratório
do rejeito da Mina de Syncrude (KÜPPER, 1991).
Com relação a densidade, as altas concentrações tenderam a formar depósitos mais fofos
em oposição a vazão que tende a formar depósitos mais densos quanto mais rápida for a
descarga de lama. A Figura 3.10 apresenta a relação entre a massa específica seca e a
concentração e a Figura 3.11 mostra a variação deste mesmo parâmetro com a vazão de
73
descarga para as simulações em laboratório da deposição do rejeito da Mina de Syncrude.
0
5
10
15
20
0 5 10 15 20 25Vazão (l/min)
Incl
inaç
ão G
loba
l (%
) TS (c=2%)TS (c=6%)TS (c=10%)TS (c=15%)TS (c=20%)TS (c=25%)TS (c=30%)TS (c=35%) TS (c=40%)
Figura 3.9 – Variação do talude global com a vazão para simulações em laboratório do
rejeito da Mina de Syncrude (KÜPPER, 1991).
1,3
1,35
1,4
1,45
1,5
1,55
1,6
0 10 20 30 40 5Concentração (%)
0
d (g
/cm
3)
TS
Figura 3.10 – Variação da massa específica seca com a concentração para o rejeito da Mina
de Syncrude (modificado – KÜPPER, 1991).
Com relação ao processo de segregação, os materiais depositados hidraulicamente
apresentam uma variação do diâmetro médio (D50) com a distância ao longo do canal. De
uma maneira geral os grãos grossos tendem a depositar primeiro e os mais finos tendem a
depositar mais longe. Isto é válido para os grãos de mesma característica mineralógica, em
que a densidade das partículas é a mesma e o tamanho é o fator predominante no processo
74
de seleção hidráulica. Contudo, KÜPPER (1991), usando o mesmo tipo de sedimento,
relata que na maioria dos resultados obtidos o valor de D50 tendeu a aumentar com o
aumento da distância ao ponto de descarga. Uma das justificativas encontradas para estas
tendências foi o alto grau de uniformidade destes materiais e a possibilidade de que as
partículas finas possam ter sido removidas durante a deposição. De acordo com KÜPPER
(1991), nos ensaios com o rejeito da Mina de Syncrude, o coeficiente de não uniformidade
(CU) obtido após a simulação apresentou um valor menor que o do material originalmente
ensaiado. De uma forma geral pode-se concluir que as variações na distribuição
granulométrica com a distância para os ensaios realizados não apresentaram nenhuma
correlação com os valores de concentração e vazão adotados, possivelmente pela
uniformidade do material ensaiado.
1,3
1,35
1,4
1,45
1,5
1,55
1,6
0 5 10 15 20 25Qt (l/min)
d (g
/cm
3)
TS
Figura 3.11 – Variação da massa específica seca com a vazão de descarga para o rejeito da
Mina de Syncrude (modificado – KÜPPER, 1991).
Embora com algumas disparidades, os efeitos da concentração e da vazão representaram
grande influência nas maioria das características dos depósitos obtidos nas simulações em
laboratório. Algumas considerações adicionais foram apresentadas relacionando os dados
obtidos na simulações em laboratório com os dados obtidos no campo. Estas avaliações
caracterizam um importante passo na melhoria da qualidade das estruturas de aterros
hidráulicos pela análise da viabilidade e aplicabilidade das simulações em laboratório.
KÜPPER (1991), complementando seu trabalho de investigação, realizou ensaios
75
controlados na barragem de rejeito de Syncrude objetivando avaliar o desempenho das
simulações em laboratório em relação ao mesmo processo que ocorre no campo. Assim,
foram realizados cerca de oito ensaios visando avaliar a influência da metodologia
construtiva, posição dos canhões (spigots), variação da concentração ao longo da tubulação
de condução do rejeito, características de fluxo na praia, etc. Embora limitados às
condições normais de operação da mina, mas com processo de descarga controlados, estes
ensaios tiveram uma fundamental importância devido a obtenção de parâmetros reais do
processo de deposição. Durante os ensaios, a vazão de descarga e a concentração eram
acompanhadas e todo o processo de evolução da praia era constantemente monitorado.
Um primeiro ensaio foi realizado com objetivo de avaliar as características e
particularidades do processo de deposição e serviu de base para as especificações,
metodologias e seleção dos equipamentos de leitura a serem empregados nos ensaios
seguintes, além de auxiliar na caracterização e análise dos ensaios de laboratório. Os
ensaios subsequentes foram realizados com objetivos mais específicos, principalmente de
verificar a influência da vazão e concentração da mistura na formação do depósito. A
velocidade de descarga foi controlada através de um medidor de fluxo ultra-sônico
instalados nos canhões em todos os pontos de descarga. A elevação da praia era medida a
partir de estacas graduadas e a concentração avaliada através de amostras coletas nas
saídas dos canhões e no tubo principal de descarga. KÜPPER (1991) relata algumas
dificuldades no processo de amostragem devido principalmente às baixas temperaturas e
ao difícil acesso aos pontos próximos aos canhões. Mas, mesmo assim, amostras
indeformadas foram obtidas em vários pontos ao longo da praia por cravação estática e
dinâmica de amostradores de 100 mm, sendo mantidos os mesmos cuidados e
procedimentos empregados nas amostragens no laboratório. O teor de umidade e a
densidade foram avaliados diretamente no campo usando um densímetro nuclear, embora
avaliações de laboratório também tenham sido usadas na checagem destes parâmetros.
A velocidade de descarga obtida durante a deposição foi de 5,5 m/s, correspondendo a uma
vazão de 100 l/s para o ensaio piloto, e 3,3 m/s e uma vazão correspondente de 60 l/s para
os demais ensaios. A concentração relacionada a todos os ensaios variou de 30 a 65%.
Verificou-se, entretanto, que a concentração no interior do tubo principal tendia a aumentar
em direção à base, assim os canhões foram instalados em diferentes posições ao longo da
seção do tubo, avaliando os efeitos da concentração na descarga e no próprio depósito. 76
Analisando o material da praia, verificou-se a ocorrência do processo de segregação
hidráulica. Embora o rejeito fosse bem uniforme, houve uma tendência da fração se tornar
mais fina em direção ao final do depósito. O teor de betume contido no rejeito foi menor
que o encontrado no material originalmente lançado, 0,17% contra 0,28% presentes na
descarga. A perda de betume deveu-se a capacidade do betume flutuar e escoar diretamente
para lagoa no final da praia.
Com relação aos resultados obtidos observou-se uma grande variação no valor da
concentração em função do posicionamento do canhão de descarga no tubo. A
concentração variou cerca de 38% em relação a concentração média no tubo quando o
canhão era instalado na parte central e aumentando em cerca de 63% quando o canhão se
localizava na base do tubo. Este fato ocorreu devido a sedimentação dos sólidos no tubo
durante a descarga, sendo maior quanto mais lenta for a velocidade de descarga. Assim,
para diferentes posições de instalação dos canhões valores diferentes de concentração
atingiam a praia. Baseado na alteração da concentração em função do posição no tubo,
KÜPPER (1991) considera que a rotação dos canhão tem sugerido um caminho econômico
de variar a concentração, embora limitado a faixa de concentração que ocorre no tubo.
No caso da Mina de Syncrude devido a uniformidade do rejeito a segregação foi muito
pequena. De acordo com a norma soviética (SNIP-II- 53-73) a segregação não é muito
significativa para solos cuja D50/D10 ≤ 2,5 e D90/D10 ≤ 5. De acordo com KÜPPER (1991)
as frações do rejeito de Syncrude encontram-se próximos destes limites apresentando
assim uma limitada segregação. Mas mesmo assim uma pequena variação granulométrica
foi encontrada no campo contrariando as observações de laboratório. No depósito no
campo os grãos mais grossos tenderam a se concentrar próximos à descarga enquanto as
partículas finas se concentraram na extremidade final. Os efeitos das ilhas e barreiras e até
dos canais foi percebido, em alguns pontos, pela concentração de partículas mais
grosseiras, similarmente às simulações em laboratório.
A densidade da praia foi obtida no campo pelo densímetro nuclear e no laboratório a partir
de amostras indeformadas. Da mesma forma que nas simulações de laboratório, a
densidade não obedeceu nenhuma tendência, apresentando uma grande dispersão. Assim,
tanto as simulações de laboratório como as de campo refletem as dificuldades associadas à
determinação da densidade de solos arenosos e também a variabilidade dos parâmetros de 77
fluxo, que alteram profundamente os valores da densidade. KÜPPER (1991) considera que
o processo de deposição hidráulica resulta na formação de camadas delgadas que podem
diferir levemente uma da outra na composição e estrutura e consequentemente alterar o
valor da densidade. Pela análise das amostras observa-se grandes variações nas camadas
obtidas. Estas variações reforçam a necessidade do entendimento dos mecanismos de fluxo
na praia do aterro na tentativa de quantificar estas variações. Sabe-se que localmente o
fluxo tende a variar e a velocidade tende a decrescer nas partes mais baixas, facilitando a
sedimentação e gerando depósitos com densidades mais baixas. A Figura 3.12 apresenta a
variação da massa específica seca com a distância nos ensaios realizados na Mina de
Syncrude, onde é possível notar uma grande variabilidade deste parâmetro ao longo do
depósito. Embora pouco representativo da realidade, KÜPPER (1991) adota valores
médios da massa específica seca para realizar as comparações e análises ao longo da sua
investigação.
1,2
1,3
1,4
1,5
1,6
1,7
0 50 100 150 200Distância do ponto de descarga (m)
d (g
/cm
3 )
Ensaio 1
1,2
1,3
1,4
1,5
1,6
1,7
0 50 100 150 200Distância do ponto de descarga (m)
d (g
/cm
3 )
Ensaio 21,2
1,3
1,4
1,5
1,6
1,7
0 50 100 150 200Distância do ponto de descarga (m)
d (g
/cm
3 )
Ensaio 4
1,2
1,3
1,4
1,5
1,6
1,7
0 50 100 150 200Distância do ponto de descarga (m)
d (g
/cm
3 )
Ensaio 0
Figura 3.12 – Variação da massa específica seca com a distância ao ponto de descarga
para vários ensaios de campo ( modificado KÜPPER, 1991).
A variação da massa específica seca com a concentração é apresentada na Figura 3.13. Não
se observa nenhuma tendência de variação para os valores de concentração utilizados e da
mesma forma KÜPPER (1991) adota valores médios em suas análises. Também é 78
apontado que outros fatores estariam atuando juntamente com a concentração
influenciando os valores da massa específica e dificultando as interpretações.
1,2
1,3
1,4
1,5
1,6
0 20 40 60 8Concentração (%)
0
d (g
/cm
3 )
Ensaio 1 - SpigotsEnsaio 2 - SpigotsEnsaio 4 - SpigotsEnsaio 1 - Média Ensaio 2 - MédiaEnsaio 4 - Média
Figura 3.13 – Efeitos da concentração da lama na massa específica seca média no campo
(modificado – KÜPPER, 1991).
A inclinação global do talude depende basicamente da composição e concentração da
lama, tendendo a aumentar para misturas mais densas e materiais mais grossos. Os
resultados obtidos por KUPPER (1991) refletem esta tendência, onde a inclinação global
aumenta com o aumento da concentração e do diâmetro médio (Figura 3.14).
0
2
4
6
8
10
0 0,1 0,2 0,3 0,4D50 (mm)
Incl
inaç
ão m
édia
(%)
Ensaio 0
Ensaio 1
Ensaio 2
Ensaio 40
2
4
6
8
10
0 20 40 60 80Concentração (%)
Incl
inaç
ão m
édia
(%)
Ensaio 1 - Spigots
Ensaio 2 - Spigots
Ensaio 4 - Spigots
Ensaio 1 - Média
Ensaio 2 - Média
Ensaio 4 - Média
Figura 3.14 – Efeitos na inclinação média no campo em função da concentração e do
diâmetro médio (modificado – KÜPPER, 1991).
Embora com algumas dispersões provocadas pelas variabilidades comuns nas deposições
de campo, os ensaios realizados por KÜPPER (1991) representam um importante subsídio
79
para avaliar as reais características de um depósito de aterro hidráulico. Como esperado,
observa-se uma grande dependência da configuração do perfil com as variáveis de
deposição hidráulica e com as características físicas dos sedimentos. Apesar da carência de
dados representativos dificultar as análises a respeito da densidade, a tendência da
diminuição da densidade na porção final do depósito foi evidente, revelando uma
fragilidade nesta região da barragem.
3.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS VÁRIOS ENSAIOS DE SIMULAÇÃO DE
DEPOSIÇÃO HIDRÁULICA
A maioria dos ensaios de deposição hidráulica apresentados anteriormente tiveram o
objetivo de estudar o comportamento dos aterros hidráulicos. Entretanto, cada um deles
apresenta algumas sutilezas relativas à especificidade de cada caso estudado e a ênfase da
área predominante da investigação. Como resultado, as variáveis que foram estudadas e os
parâmetros analisados não são necessariamente os mesmos em todos os programas.
Algumas diferenças nos procedimentos experimentais podem em alguns casos influenciar
nas análises e resultados obtidos, como no caso dos ensaios realizados em Delft, Holanda
(DE GROOT et al., 1988; WINTERWERP et al., 1990 e WINTERWERP et al., 1992) e no
Departamento de Química da Universidade de Alberta, Canadá (FAN, 1989 e FAN &
MASLIYAH, 1990).
No caso dos ensaios de Delft a definição do talude de equilíbrio é baseada no balanço entre
o processo de deposição e erosão e as velocidades de fluxo adotadas para as simulações no
equipamento de grandes dimensões são bastante altas em comparação aos demais ensaios
apresentados.
FAN (1989) revela outras particularidades relativas ao desenvolvimento de suas
simulações. No caso destes ensaios o processo de descarga de areia ocorre num sistema
preestabelecido de fluxo de água dentro do canal ao invés da mistura ser descartada
diretamente. Apesar das baixas concentrações utilizadas, a adoção de baixas profundidades
de fluxo (menor que 1 cm) tornam o fenômeno de deposição semelhantes aos outros
ensaios analisados.
Considerando todos os ensaios de simulação, observa-se que a concentração varia entre 0 e 80
70% em peso, cobrindo uma faixa de valores de concentração utilizados nas maiorais das
barragens de rejeitos (30 a 55%), barragens de aterros hidráulicos da ex União Soviética
(10 a 20%) e nos diques de contenção de cheias da Holanda construídos com material
dragado (25 a 60%). As vazões apresentam uma grande extensão de valores,
principalmente considerando os valores adotados por DE GROOT et al. (1988). A Tabela
3.3 apresenta um resumo das características destes ensaios já descritos anteriormente.
Tabela 3.3 - Diferentes tipos de ensaio de simulação deposição hidráulica.
Características do ESDH Características do Ensaio
Referência L x W x H
(m)
Sist. de Alim.
D50
(mm)
Conc.
Ws / Wt (%)
Vazão Total
(cm3/s)
FERREIRA ET AL. (1980) 11,0 x 0,8 x 0,8 I 0,140 6,7-9,5 260-1040
BLIGHT ET AL. (1985) 1,8 x 0,3 x 0,6 R 0,023-0,084 50-70 -
BOLDT (1988) 12,2 x 0,6 x 0,6 R 0,014-0,097 20-57 965-2172
DE GROOT ET AL. (1988) 1,5 x 0,12 x 0,5 R 0,134 32- 68 118-590
WINTERWERP ET AL. (1990) 9,0 x 0,3 x 0,3 RR 0,120-0,134 0-64 (3-45)x103
FOURIE (1988) 2,0 x 0,6 x 0,6 R 0,008-0,149 15-50 8.3
FAN & MASLIYAH (1990) 4,9 x 0,3 x 0,5 I 0,267 8-14 114-218
KÜPPER (1991) 6,1 x 0,3 x 1,2 I 0,178-0,536 1,5-40,4 53-348
I - Reservatórios independentes de material sólido e água a e mistura ocorre no momento da descarga; R - Reservatório único dotado de um misturador que mantém a concentração da lama constante durante o ensaio; RR - Sistema de recirculação de lama para um reservatório único dotado de um misturador. O materiais utilizados na maioria destes ensaios foi constituído por sedimentos de
granulometria típica de areia fina a media, cujo diâmetro médio variou entre 0,084 e 0,536
mm. Entretanto, os ensaios realizados nos Estados Unidos (BOLDT, 1988) e na Austrália
(BLIGHT et al., 1985) apresentaram frações com granulometria típica de siltes.
As análises da segregação granulométrica ao longo do processo de deposição foi
apresentada somente por FERREIRA et al. (1980), BOLDT (1988) e KÜPPER (1991).
Estes resultados, entretanto, mostram uma limitada segregação, devido principalmente à
uniformidade dos sedimentos depositados. KUPPER (1991), conforme apresentado
anteriormente, mostra um padrão de segregação bastante atípico. FERREIRA et al. (1980)
relatam a existência de uma zona de transição onde existe um aumento do diâmetro médio
do material pelo acúmulo de partículas de granulometria mais grossa, mas em zonas mais
distantes e até mesmo no final desta região de transição já percebe o aumento considerável 81
de partículas finas. Admitiu-se que este comportamento estaria associado às diferenças nos
valores do peso especifico das partículas mais grossas (Gsgrossa = 2,62) levemente inferior
ao das partículas mais finas (Gsfinos = 2,65).
Adicionalmente, pode-se considerar que as diferenças encontradas nos resultados obtidos
nos diferentes ensaios podem estar associadas às diferenças na forma dos grãos,
angularidade, características das superfícies do sedimento, etc., porém não mencionadas na
maioria dos trabalhos.
Com relação ao perfil formado, todos os ensaios apresentaram perfis côncavos e de baixa
inclinação, bastante característicos de lamas com comportamento segregável. A variação
da concentração e da vazão tendem a alterar a configuração do perfil, alterando a
inclinação global em cerca de 4 a 5%. A granulometria do material também provocou
alterações nas características da praia, mostrando que uma combinação de todos estes
parâmetros tende a alterar ainda mais a configuração final do depósito. A Figura 3.15
reflete esta consideração, mostrando uma grande dispersão nos valores do perfil global em
função da concentração. Parece claro que além da concentração outros fatores
influenciaram nos resultados apresentados nesta figura, principalmente granulometria e as
características de alguns sedimentos.
0
10
20
30
40
0 20 40 60Concentração (%)
Incl
inaç
ão G
loba
l (%
)
80
KS - D50=0,466mm (KÜPPER, 1991)
TS - D50=0,178mm (KÜPPER, 1991)
DL1 - D50=0,120mm (W INTERW ERP et al., 1990)
DL2 - D50=0,225mm (W INTERW ERP et al., 1990)
F - D50=0,267mm (FAN, 1989)
UPP - D50=0,140mm (FERREIRA et al.,1980)
USA - D50=0,014mm (BOLDT, 1988)
USB - D50=0,097mm (BOLDT, 1988)
DS -D50=0,134mm (De GROOT et al., 1988)
Figura 3.15 – Variação do talude da praia com a concentração para os vários ensaios de
simulação em laboratório (modificado – KÜPPER, 1991).
82
Analisando a influência da vazão no talude formado (Figura 3.16) verifica-se que para altas
vazões de descarga o talude tende a se tornar mais plano. É importante notar as dispersões
encontradas pelos pesquisadores de Delft utilizando o equipamento de pequenas
dimensões. Embora com comportamento bastante distinto em relação aos demais ensaios
analisados, não foi apresentada nenhuma justificativa ou explicação para este fato.
0
10
20
30
40
0 20 40 60 80 100 120 140 160Vazão (l/min)
Incl
inaç
ão G
loba
l (%
)
KS - D50=0,466mm c=2-29% (KÜPPER, 1991)
TS - D50=0,178mm c=2-40% (KÜPPER, 1991)
F - D50=0,267mm c=8-14% (FAN, 1989)
UPP - D50=0,140mm c=7-10% (FERREIRA et al.,1980)
USA - D50=0,014mm c=26-57% (BOLDT, 1988)
USB - D50=0,097mm c=20-50% (BOLDT, 1988)
DS -D50=0,134mm c=32-59% (De GROOT et al., 1988)
Figura 3.16 - Variação do talude da praia com a vazão para os vários ensaios de simulação
em laboratório (modificado – KÜPPER, 1991).
Com relação a densidade poucos estudos foram devotados a este parâmetro. Parece que as
dificuldades na determinação da densidade ou o próprio enfoque das pesquisas
dificultaram este tipo de análise. A Figura 3.17 mostra a variação da massa específica seca
com a com a concentração da mistura e com a vazão, apresentada exclusivamente por
KÜPPER (1991) e FERREIRA et al. (1980). Observa-se uma grande dispersão dos
resultados devido, provavelmente, às diferenças nos parâmetros relacionados a cada ensaio
e às próprias dificuldades na determinação precisa deste parâmetro. As diferenças nos
valores obtidos por KÜPPER (1991) e FERREIRA et al. (1980) podem estar associadas às
diferenças nas características dos sedimentos e não uniformidade do material utilizado
principalmente por FERREIRA et al. (1980). Embora apresentando uma dispersão
considerável estes dados revelam a tendência da densidade aumentar com o aumento da
vazão e decrescer com o aumento da concentração, concordando com a tendência
apresentada por YUFIN (1965).
83
1,3
1,4
1,5
1,6
1,7
0 5 10 15Vazão Específica (cm3/s.cm)
d (g
/cm
3)
TS (D50=0,178 mm) - KÜPPER (1991)
KS (D50=0,466 mm - KÜPPER (1991)
SS (D50=0,536 mm - KÜPPER (1991)
UPP (D50=0,140 mm) FERREIRA et al. (1980)1,3
1,4
1,5
1,6
1,7
0 10 20 30 40 50Concentração (%)
d (g
/cm
3)TS (D50=0,178 mm) - KÜPPER (1991)
KS (D50=0,466 mm - KÜPPER (1991)SS (D50=0,536 mm - KÜPPER (1991)
UPP (D50=0,140 mm) FERREIRA et al. (1980)
Figura 3.17– Variação da densidade do aterro em função da concentração da lama e da
vazão de descarga ( modificado - KÜPPER, 1991).
De uma maneira geral o objetivo destas comparações foi analisar principalmente a
tendência dos resultados e avaliar a sua aplicabilidade na previsão do comportamento dos
aterros hidráulicos. Observa-se que, embora analisando resultados e propostas diferentes,
existem importantes considerações e semelhanças entre as simulações apresentadas. Os
efeitos das variáveis de fluxo e características do processo de deposição são claramente
percebidos, mostrando importantes tendências capazes de caracterizar os depósitos
formados em função destes parâmetros. Neste contexto, conclusões consistentes podem ser
obtidas destes tipos de simulação, sugerindo que, pelo menos qualitativamente, os ensaios
de simulação de deposição hidráulica são adequados para avaliar o fenômeno físico que
ocorre no campo.
84
CAPÍTULO 4
CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DOS MODELOS REDUZIDOS
4.1. INTRODUÇÃO
O uso de modelos reduzidos envolvendo investigações hidráulicas tem-se mostrado como
uma boa alternativa na análise e previsão de fenômenos que ocorrem na natureza. Estes
fenômenos, devido a sua grande complexidade física, não podem ser descritos por uma
equação matemática. Assim, os modelos são usados para fornecer informações necessárias
para completar um projeto aumentando sua eficiência e precisão. Até mesmo em situações
relativamente simples sob ponto vista hidráulico é impossível prever a exata natureza do
fenômeno sem conduzir as avaliações a partir de modelos reduzidos. As escalas de tempo,
forças e velocidades podem prever condições e características de comportamento que
seriam, em termos práticos, impossíveis de serem observadas na escala real.
De uma maneira geral, o modelo pode ser idealizado como um dispositivo de previsão em
que o fenômeno real é reproduzido numa escala reduzida. Os modelos mais comuns são os
modelos geométricos e nestes casos as dimensões geométricas do protótipo são reduzidas
na mesma proporção. Entretanto, este tipo de redução pode gerar alterações em outras
grandezas físicas, consideradas importantes no contexto do fenômeno que se deseja
reproduzir, o que, em alguns casos, pode invalidar o modelo. Assim, a análise do tipo de
fenômeno e da previsão a ser feita é um ponto fundamental que irá nortear todas as
características e critérios da modelagem.
Uma reprodução em escala reduzida de um fenômeno físico pode ser cientificamente
válida somente quando certas condições de proporcionalidade satisfazem determinadas
condições. Estas condições de proporcionalidade referem-se a escala que o modelo deve
85
ser projetado, e assim reproduzir o fenômeno que ocorre no sistema natural. A reprodução
correta refere-se a manutenção da semelhança das características mais relevantes do
fenômeno. Existem casos em que podem ser adotadas simplificações pela desconsideração
de efeitos que apresentam pouca relevância e podem ser considerados negligenciáveis.
Estas simplificações na maioria dos casos não invalidam o modelo, mas devem ser
adotadas respeitando os critérios de escala e as propostas de simulação incorporadas ao
modelo e de uma forma geral ao caráter qualitativo ou quantitativo das extrapolações.
Devido às diferentes características dos modelos e aos complexos critérios de escala
envolvidos na modelagem, foi realizado um estudo simplificado dos conceitos básicos de
modelagem e os principais problemas relacionados à obtenção da correta escala do
modelo. Entretanto, o objetivo desta descrição teórica foi tentar avaliar e justificar a
metodologia empregada nos diversos modelos de simulação de deposição hidráulica
reportados na literatura, apresentados no Capítulo 3, e também subsidiar a metodologia
adotada no modelo físico desenvolvido nesta pesquisa que será apresentado no Capítulo 5.
4.2. TEORIA DA SEMELHANÇA E ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE
SEMELHANÇA
A teoria da semelhança representa o conjunto de princípios a serem obedecidos para que o
projeto, a construção, a operação e a interpretação dos sistemas (modelos) possam
representar a realidade ou as características de comportamento de outros sistemas aos
quais se deseja prever (protótipo). Estes princípios determinam as relações de transferência
entre os dois sistemas e estabelece o tipo de relação entre as grandezas intervenientes ao
fenômeno físico de modo a subsidiar sistematicamente os dados mais significativos.
A teoria da semelhança fundamenta-se na análise dimensional que expressa diferentes
grandezas em função de outras grandezas consideradas fundamentais. A consideração de
um comportamento semelhante significa que um mesmo fenômeno, relacionado às
mesmas grandezas regidas pela leis da físicas, se passa nos dois sistemas. Assim, para cada
categoria de grandezas existem relações constantes, conhecidas e independentes dos
valores absolutos de cada uma.
Existem vários métodos para prever o comportamento dos sistemas físicos. Os métodos
86
analíticos se baseiam na utilização de leis gerais que permitem efetuar previsões dos
valores das grandezas em função de outras que regem os fenômenos físicos. O método
analítico apresenta algumas limitações em função do número de grandezas envolvidas e do
número de observações necessárias para estabelecer as leis de previsão. Os métodos
empíricos são baseados em observações a partir de sistemas construídos para estabelecer e
prever o comportamento futuro relacionado às hipóteses formuladas e apoiadas em
considerações de que o sistema e suas características não se alterarão. O último método
refere-se ao método do modelo reduzido. Neste caso as observações são efetuadas em
outros sistemas com comportamento semelhante, mas de menores dimensões. A vantagem
da redução nas dimensões do sistema é permitir modificações ou controlar as grandezas
mais representativas do sistema a ser previsto.
Em sistemas mecânicos as grandezas consideradas fundamentais são o comprimento (L), a
massa (M) e o tempo (T). Estas grandezas são consideradas fundamentais em vista da
facilidade que se tem em percebê-las e quantificá-las. Pode-se assim, de forma simples,
estabelecer relações entre estas grandezas fundamentais e descrever leis e grandezas mais
complexas.
O método de previsão por meio de modelos físicos também apresenta limitações. O
importante ao se modelar é identificar as grandezas mais importantes na previsão a ser
feita e que intervém no fenômeno físico. Existem casos que a simples redução nas
dimensões geométricas geram forças que não se manifestam no sistema real, podendo
invalidar o modelo. Neste sentido, o processo de modelagem pode envolver além da escala
geométrica outros fatores que devem ser analisados e submetidos ao processo de escala.
Na modelagem tem-se que considerar as condições de semelhança física, significando
formular condições de semelhança relativas a geometria, materiais e forças atuantes.
Assim, sob um ponto de vista da análise de semelhança os modelos podem ser
caracterizados como:
Modelos Geometricamente Semelhantes - são modelos cuja geometria é determinada
pela redução, segundo um mesmo fator, de todas as características geométricas do
protótipo;
Modelos Geometricamente Distorcidos - são modelo que utilizam diferentes fatores de
redução nas diversas características geométricas do protótipo. A distorção geométrica
constitui um caso particular de um conceito mais geral de distorção. Observa-se que a
87
manutenção da semelhança das forças presentes ou do próprio funcionamento físico do
sistema pode exigir uma outra distorção. Assim, o modelo geometricamente distorcido
pode conter outras distorções além da geométrica;
Modelos Analógicos - são modelos que não apresentam semelhança geométrica com os
respectivos protótipos e reproduzem fenômenos qualitativamente diferentes daqueles
que devem ser previstos para o protótipo, mas as equações que regem os fenômenos no
modelo e protótipo tem a mesma estrutura formal, como por exemplo a analogia de um
fenômeno puramente mecânico com um fenômeno térmico. Os modelos analógicos são
muito usados quando a redução das características geométricas do sistema acarretaria
em inviabilidades físicas e mecânicas ou perda da semelhança das forças presentes.
Um exemplo clássico deste tipo de problema seria o escoamento em meios porosos,
impossível de proceder a redução dos interstícios que conduzem o fluxo.
Considerando a condição de análise dimensional que está normalmente associada à
concepção dos modelos, pode-se considerar que o estabelecimento de um estado de
igualdade só é possível entre duas grandezas que tenham mesma dimensão e a razão entre
elas é independente da unidade em que são medidas, desde que ambas apresentem a
mesma unidade.
As principais funções da análise dimensional são a classificação e a verificação das
equações que traduzem os fenômenos físicos, a transformação de sistemas de unidades, a
previsão da forma da relação entre as grandezas que intervém em um dado fenômeno
físico e o estabelecimento das condições de semelhança para concepção, construção e
interpretação de modelos físicos.
4.3. TEORIA DOS MODELOS
Existem problemas na engenharia, para os quais não há solução possível por métodos
analíticos. Observa-se que a análise dimensional fornece técnicas para prever a forma das
relações que regem os fenômenos físicos, ou pelo menos para nortear o método
experimental, que seja capaz de fornecer estas relações. Entretanto, existem casos em que
é simplesmente inviável aplicar o método experimental a sistemas em verdadeira grandeza,
seja porque as variáveis não podem ser controladas, ou seja porque a previsão a ser feita se
88
refere aos efeitos da interação entre um sistema natural e uma obra a ser construída no
futuro.
Assim, o estabelecimento de equações de previsão a partir de observações da natureza se
torna impossível por duas razões: os agentes naturais (ondas, vazões fluviais, etc.) não
variam sob controle humano e em conseqüência, levariam muito tempo para a coleta de
dados significativos para o estabelecimento de uma equação de previsão e os efeitos que
interessam prever não estariam ligados ao puro processo de natural mas em mudanças
provocadas pelas alterações no meio natural (inserção de elementos, estruturas ou mesmo
mudanças no regime de fluxo). Neste sentido este tipo de problema requer a utilização de
modelos reduzidos como forma de auxílio e interpretação aos estudos deste tipo de
fenômeno.
De uma forma geral, os problemas que normalmente necessitam de modelagem física estão
relacionados a fenômenos nos quais intervêm um grande número de variáveis cuja
resolução por métodos analíticos torna-se bastante complexa. Embora com maiores
restrições no passado, atualmente, com desenvolvimento da informática este tipo de
problema tem se tornado menor, acarretando até uma redução na utilização da modelagem
física. Apenas os problemas com condições físicas difíceis de modelar matematicamente
que se mantém dentro do processo de modelagem física.
Outra limitação dos métodos analíticos refere-se aos problemas em que as funções que
descrevem o fenômeno e que relacionam as variáveis são desconhecidas, sendo inviável
determiná-la experimentalmente a partir de observações na escala real. Estes problemas
estão, normalmente, relacionados aos fenômenos de transporte de sedimentos, pois embora
conheça-se as variáveis intervenientes no fenômeno, ignora-se as funções que são capazes
de ligá-las e descrever o fenômeno.
A vantagem dos modelos reduzidos é a possibilidade de efetuar observações em sistemas
de menores dimensões, mas de comportamento semelhante, e de forma mais rápida que no
sistema natural cujo comportamento se quer prever. Contudo, o conceito de semelhança
física apresenta dois conceitos básicos, um conceito qualitativo e um conceito quantitativo:
Aspecto qualitativo - admite o fato que o mesmo fenômeno envolvendo as mesmas
grandezas relacionadas pela mesma lei, se passam tanto no modelo quanto no
89
protótipo.
Aspecto quantitativo - admite a existência de relações constantes bem conhecidas e
independentes dos valores particulares das grandezas entre os valores que ocorrem no
modelo e os que ocorrem no protótipo.
Assim, a escala de um modelo é a razão entre cada valor que uma dada grandeza assume
no modelo e o valor correspondente que a mesma grandeza assume no protótipo. neste
contexto, existem escalas geométricas, de massa, de forças, de tempo, de vazões, etc.
Ao elaborar um modelo reduzido devem ser formuladas as condições de semelhança para
todas as relações de diversas grandezas. Isto significa que o modelo deve estabelecer
condições de semelhança relativas à geometria, materiais e forças presentes. Os modelos
podem ser verdadeiros quando as reduções nas dimensões geométricas são homólogas ao
protótipo, seguindo uma escala de redução. Neste caso existe semelhança para todos os
tipos de forças presentes no protótipo, quaisquer que sejam as grandezas presentes no
fenômeno produzido. De outra forma os modelos podem ser considerados adequados nos
quais não há semelhança para todos os tipos de forças presentes, devido as reduções
geométricas adotadas. Mas, estes modelos são capazes de fornecer previsões válidas, pois
as forças para as quais os modelos não apresentam semelhança desempenham papel
desprezível ou secundário no protótipo. Pode-se também determinar os limites para os
quais estes modelos são válidos baseados nos valores destas forças.
4.4. DETERMINAÇÃO DA ESCALA DE UM MODELO
A escala fundamental para qualquer modelo é a escala geométrica, que é a razão entre um
comprimento no modelo em relação ao comprimento correspondente no protótipo. A
escolha de uma escala geométrica apropriada depende do tipo sistema que se deseja
estudar e do espaço disponível para implantação do modelo. Contudo, após a escala do
modelo ter sido fixada, os requisitos para semelhança dinâmica podem ser usados para
determinar outras escalas do modelo. Estes requisitos são necessários no processo de
operação do modelo, assim ele será dinamicamente semelhante ao protótipo e todas as
medidas realizadas no modelo podem ser usadas para determinar os valores
correspondentes ao protótipo. A escala de vazão, por exemplo, permite determinar a faixa
de fluxo no modelo que deve ser usada para simular uma determinada faixa de fluxo no
90
protótipo.
Assegurar a semelhança completa de todas as forças é impossível, devido, principalmente,
a incompatibilidade nas escalas geométricas e de velocidade. Contudo, é possível realizar
modelos adequados e extremamente úteis na previsão dos fenômenos através do
estabelecimento das semelhanças das forças predominantes. Assim de uma forma geral o
modelo deve satisfazer:
o critério de semelhança geométrica;
o critério de semelhança global da rugosidade;
critério de semelhança das forças de inércia e de gravidade, representado pela
semelhança do número de Froude;
critério de semelhança das forças de inércia e de viscosidade, representado pela
semelhança do número de Reynolds.
Embora o critério de escala dependa de uma lei particular de modelagem, ou leis, a serem
seguidas, o procedimento usado para gerar estas escalas não varia. Deste modo, o uso de
duas leis mais apropriadas para os modelos hidráulicos é suficiente para demonstrar este
procedimento. Estas leis são as escalas de modelagem para as forças de gravidade e de
viscosidade. Neste contexto, são descritos a seguir os critérios baseados nestes dois tipos
de escala referentes aos critérios, leis e princípios de modelagem hidráulica apresentados
por YALIN (1971) e SHARP (1981).
4.4.1 Forças de gravidade
Quando as forças inerciais e de gravidade são importantes, o número de Froude, deve ser o
mesmo no modelo e no protótipo:
pmgLu
gLu
=
(4.1)
onde: u = velocidade de fluxo (m/s);
g = aceleração da gravidade (m/s2);
91
L = grandeza geométrica (m);
e os índices m e p referem ao modelo e ao protótipo.
Assumindo que a aceleração da gravidade é constante em toda a superfície da terra, e desta
forma a mesma para o modelo e protótipo, pode-se rescrever a Equação 4.1, tendo-se
então a escala de velocidades:
p
m
p
m
LL
uu
= (4.2)
Neste caso a razão Lm/Lp é a escala geométrica.
A Equação 4.2 e outras escalas que serão desenvolvidas podem ser empregada de duas
formas diferentes. Em primeiro lugar podem ser usadas na determinação da velocidade
com que o modelo deve ser simulado e assegurar uma precisa simulação da velocidade
existente no protótipo. E, similarmente, na condição mais usual, podem ser usadas para
prever as velocidades do protótipo a partir da medição das velocidades obtidas no modelo.
Outros fatores de escala podem ser derivados a partir da modificação das condições da
semelhança do número de Froude em diferentes formas, usando as relações entre as
grandezas. Pode-se assim determinar a escala de vazão a partir da relação entre a
velocidade e a área da seção transversal, assim:
2LQu ∝ (4.3)
onde: Q = vazão (m3/s)
Substituindo na Equação 4.2, obtém-se:
5
p
m
p
m
LL
= (4.4)
92
Assim, pela Equação 4.4 obtém-se a escala de vazão que é comumente empregada para
determinar a descarga que o modelo deve ser submetido de forma a simular a descarga
relativa ao protótipo. Da mesma forma pode-se obter a escala de tempo, a partir da
transformação da velocidade, assim:
tLu ∝ (4.5)
Então:
p
m
m
p
LL
tt
= (4.6)
As escalas de força são determinadas sobre diferentes bases, devido às forças de inércia
estarem envolvidas em todos os sistemas de fluxos. É comum basear as escalas de força na
razão entre a força medida e a força de inércia. Assim, usando a Equação 4.1 como a base
da semelhança, é possível usar:
p22
m22 uL
FuL
F
ρ
=
ρ
(4.7)
onde: ρ = massa específica do fluido (kg/m3)
Ou:
2
p
m
2
p
m
p
m
p
m
uu
LL
FF
ρρ
= (4.8)
Considerando, neste caso que o modelo e o protótipo são operados com o mesmo tipo de
fluido, o valor da razão entre as densidades é igual a unidade. Substituindo o resultado em
função da escala de velocidade dada na Equação 4.2, tem-se que:
93
3
p
m
p
m
LL
FF
= (4.9)
Estas análises consideram que a escala vertical e horizontal são as mesmas e que o modelo
é natural ou não distorcido, como definido anteriormente. Entretanto, como também já
mencionado, existem casos relacionados, particularmente, a movimentos de rios e marés,
onde o modelo não pode representar precisamente as características do protótipo a menos
que o modelo seja extremamente grande, inviabilizando sua construção e/ou operação.
Nestes casos é necessário e possível sair da semelhança estreita, mas sem perder a
precisão, de modo que as distâncias verticais possam ser reduzidas menos que as distâncias
horizontais, resultando em modelo exagerado ou distorcido. Se o fluxo de fluidos é
envolvido, os fatores de escala obtidos a partir das equações 4.2 a 4.9 devem ser
modificados levando em conta as duas escalas geométricas agora distorcidas. Estas escalas
podem ser escritas da seguinte forma:
p
mX
XHorizontalEscala = (4.10)
onde: X = distância horizontal (m).
p
mY
YVerticalEscala = (4.11)
onde: Y = distância vertical (m).
Retornando ao requisito básico da semelhança de Froude (Equação 4.2), é necessário
decidir a substituição da grandeza geométrica pela distância horizontal ou pela distância
vertical, ou mesmo por uma combinação entre as duas. Considerações de energia podem
ser usadas para mostrar que a velocidade depende essencialmente da profundidade do
fluido e isto implica que na Equação 4.2 a dimensão geométrica usada para definir a escala
de velocidade deveria ser a dimensão vertical. Entretanto, mesmo sem provas rigorosas,
pode ser inferido a partir do conhecimento básico de Mecânica dos Fluidos que a
velocidade depende essencialmente da profundidade do fluxo.
94
Assim no modelo distorcido a escala de velocidade baseada na semelhança de Froude pode
ser definida pela expressão:
p
m
p
m
YY
uu
= (4.12)
Considerando a escala de vazão, não é mais possível substituir a seção transversal do fluxo
pelo quadrado de uma das dimensões. Neste caso:
XYQ
AQu ∝∝ (4.13)
Assim, substituindo a Equação 4.13 em 4.12 tem-se:
3
p
m
p
m
p
m
YY
XX
= (4.14)
Obviamente se X=Y, a Equação 4.14 se torna igual a Equação 4.4. A escala de tempo pode
ser tratada da mesma forma, pois:
tXu ∝ (4.15)
Desta forma escala de tempo para o modelo distorcido é:
p
m
p
m
p
m
YY
XX
tt
= (4.16)
Observa-se que a Equação 4.16 é válida somente para velocidades medidas no plano
horizontal. Entretanto, esta transformação é aceitável porque os modelos distorcidos são
limitados para estas situações em que os fluxos são predominantemente horizontais, fator
condicionante da necessidade de distorcer o modelo.
95
4.4.2. Forças de viscosidade
As escalas para os modelos envolvendo forças inerciais e de viscosidade são desenvolvidas
da mesma maneira que as escalas relativas as forças de gravidade, porém são baseadas nos
requisitos para semelhança das forças de viscosidade. Desta forma o requisito básico de
semelhança está relacionado à igualdade do número de Reynolds para o modelo e o
protótipo, assim:
pm
uLuL
ν=
ν (4.17)
onde: ν = viscosidade cinemática (m2/s).
ou:
m
p
p
m
p
m
LL
uu
νν
= (4.18)
Seguindo o mesmo método desenvolvido para as forças de gravidade, as escalas de
descarga, tempo e força podem ser calculadas de forma análoga e desta forma:
p
m
p
m
p
m
LL
νν
= (4.19)
2
p
m
m
p
p
m
LL
tt
ν
ν= (4.20)
2
p
m
p
m
p
m
FF
νν
ρρ
= (4.21)
Estas escalas foram desenvolvidas principalmente para mostrar as diferenças entre as
escalas necessárias para simular os efeitos da viscosidade e da gravidade. Mas a maioria
dos modelos hidráulicos estão ligados primeiramente aos efeitos devido a gravidade. As
96
força de viscosidade, se relevantes, são freqüentemente operadas em conjunto com
resultados dos modelos e formulações analíticas. As escalas de viscosidade são
importantes em modelos que trabalham com fluidos diferentes da água e em casos como
testes em submarinos em que o efeito da gravidade é ausente (SHARP, 1981). Devido aos
diferentes fluidos usados no modelo e no protótipo, nestes casos, as densidades e
viscosidade nas equações 4.18 e 4.21 não são consideradas iguais no modelo e no
protótipo. A Equação 5.20, por exemplo, mostra que se um submarino é ensaiado na água
(νm/νp=1) para uma escala de 1/50, a velocidade no modelo deve ser 50 vezes maior que a
velocidade do protótipo. Isto é obviamente impraticável e a solução regularmente
empregada é ensaiar o modelo dentro de um túnel de baixa velocidade em que a razão da
viscosidade cinemática é considerada menor que 1.
No caso de modelos aplicados a fenômenos envolvendo fluxo em rios ou transportes de
sedimentos é necessário assegurar a manutenção do número de Reynolds num valor bem
acima do limite de transição entre o escoamento laminar e turbulento, mas mantendo as
características turbulentas do fluxo, mesmo que os valores no modelo e no protótipo sejam
numericamente diferentes.
4.5. PROBLEMAS DE ESCALA
Cada tipo de escala considerado anteriormente foi baseado em um requisito particular da
semelhança. As Equações 4.1 a 4.16 foram derivadas a partir da igualdade do número de
Froude e as Equações 4.17 a 4.21 foram derivadas a partir da igualdade do número de
Reynolds. Entretanto, os sistemas de fluido estão invariavelmente sujeitos a forças que
atuam sobre o sistema de modo que nem sempre é possível satisfazer todos os critérios de
semelhança física. Se um fluido flui com uma superfície livre devido a força da gravidade,
a viscosidade e a tensão superficial do fluido terão algum efeito sobre o fluido mesmo que
estes efeitos sejam pequenos. Comparações entre as Equações 4.2 e 4.18 mostram
claramente que se o mesmo fluido é usado no modelo e no protótipo, não é possível
satisfazer simultaneamente os critérios baseados nos números de Reynolds e Froude. Por
exemplo, se uma escala geométrica fosse adotada de 1/100 baseada na semelhança de
Froude necessitaria de uma velocidade de 1/10, enquanto a semelhança baseada na
viscosidade (semelhança de Reynolds) determina um escala de velocidade de 100/1. Se
outras forças atuantes são consideradas, um outro conjunto de valores de escala seria
97
obtido. Estas variações no critério de escala mostram que é praticamente impossível
construir um modelo fisicamente semelhante em todos os aspectos com o protótipo.
O que deve ser feito para modelar um protótipo é escolher as forças dominantes como a
base da escala e desprezar as outras forças cujos efeitos são menos importantes. Esta
simplificação resultará em erros conhecidos como erros de escala. Contudo, se as forças
dominantes são selecionadas corretamente, os erros de escala associados serão pequenos e
em alguns casos desprezíveis (YALIN, 1971). O fluxo turbulento de água em um canal é
dominado, obviamente pelas forças de gravidade. Neste caso, as forças de viscosidade,
embora presentes, são muito pequenas e pouco importantes que poderiam ser
desconsideradas. Assim, o fluxo poderia ser modelado exclusivamente com base na
semelhança do número de Froude. As forças de viscosidade e de tensão superficial
poderiam estar fora de escala devido aos seus efeitos serem muito pequenos comparado ao
efeito das forças de gravidade e nestes casos os erros de escala seriam desprezíveis.
Entretanto, os erros de escala nem sempre são pequenos e nem sempre podem ser
desprezados. Os modelos de navegação são exemplos clássicos de casos em que as forças
de gravidade e de viscosidade são importantes. Um modelo verdadeiro pode ser operado
somente com a garantia de que as Equações 4.2 e 4.18 sejam satisfeitas simultaneamente.
Mas esta condição somente poderá ser alcançada se dois tipos diferentes de fluido forem
usados no modelo e no protótipo, corrigindo as distorções das reduções geométricas, desta
forma:
3
p
m
p
m
LL
=
νν
(4.22)
Os erros de escala podem também ser causados pela construção e operação do modelo, de
forma que as forças que são pouco importantes no protótipo podem se tornar importantes
no modelo devido ao processo de redução. Considerando que o modelo é
consideravelmente menor que o protótipo, seria inevitável que as forças de viscosidade e
de tensão superficial se tornem proporcionalmente maiores em relação a redução do
tamanho do sistema de fluido. Este tipo de problema nem sempre pode ser evitado e
corrigido, mas é possível evitar modelos excessivamente reduzidos de modo a garantir que
98
estas forças não se tornem excessivamente importantes.
4.6. MODELOS APLICADOS AO TRANSPORTE DE SEDIMENTOS EM RIOS
Um dos maiores problemas de modelar rios refere-se ao estabelecimento da escala
geométrica. Normalmente os modelos de rios são projetados para simular fenômenos que
ocorrem num raio de vários quilômetros em que a profundidade é da ordem de poucos
metros. Neste caso um fator de 103 ou até maior poder estar envolvido na relação entre as
distâncias horizontal e vertical. Se as dimensões verticais são representadas por uma
distância razoável no modelo consequentemente as dimensões horizontais, para esta
mesma escala, deverão ser muito grande. Quando se deseja estudar pequenos rios ou
pequenas distâncias, estas relações de escalas podem ser viáveis, mas em muitos casos
simular ambas dimensões na mesma escala pode se tornar inviável economicamente. Ou,
possivelmente, gerar um modelo em que as dimensões verticais são extremamente
pequenas inviabilizando a geração de dados e prejudicando a precisão das simulações.
A utilização de modelos distorcidos, conforme já apresentado anteriormente, representa
uma solução importante para estes problemas em que a semelhança exige uma escala
razoável em ambas a dimensões. Os modelos distorcidos representam uma importante
ferramenta na simulação de fenômenos em que as dimensões horizontais e verticais do
protótipo são bastante diferentes, justamente o caso dos problemas envolvendo rios e
canais.
De uma forma geral os modelos de simulação de rios englobam dois casos básicos. Um
primeiro caso, mais simples, em que o movimento dos sedimentos não é importante, no
qual o modelo pode ser construído com uma camada fixa ou adotando um material
suficiente denso incapaz de mover sob a ação do fluxo de água. E um outro caso, mais
complexo sob o ponto de vista da modelagem, em que o movimento dos sedimentos é
importante, sendo normalmente relacionado aos processo de erosão, deposição e transporte
de partículas provocados pelo fluxo d’água. Neste tipo de problema é necessário assegurar
a semelhança do fenômeno morfológico e assim, além das semelhanças relativas ao efeito
da dinâmica da água, é necessário modelar a dinâmica dos sedimentos.
Observa-se que a complexidade dos modelos envolvendo canais e leitos de rios é função
99
de diversas variáveis e do tipo de fenômeno que se deseja simular. Os mais simples
envolvem somente a análise do efeito do fluxo d’água e os critérios de escala são obtidos
com precisão razoável, podendo ser feitas boas previsões quantitativas. Entretanto, nos
casos mais complexos em que envolvem transportes de sedimentos, efeitos de ondas,
marés e processos morfológicos bastante complexos fazendo com que os processos
envolvidos se compliquem tanto que a própria ciência tenha de ser reforçada, ou mesmo
seja substituída pela experiência (SHARP, 1981).
Nos modelos de fundo fixo o maior interesse encontra-se na simulação das características
do movimento da água, neste caso as características do fluxo ocorrem sob influência das
forças da gravidade, assim seguindo o critério de semelhança do número de Froude.
Contudo, as forças de atrito presentes tendem a retardar o fluxo, alterando as velocidades e
neste caso é necessário assegurar também a semelhança do número de Reynolds.
Entretanto, como apresentado anteriormente, altos números de Reynolds estão associados
a fluxos turbulentos e neste caso as forças de arraste são dominadas pela forma do arraste
ou pelo atrito dos contatos. Desta forma, para modelar os efeitos de arraste num fluxo
turbulento e rugoso é suficiente assegurar que o regime de fluxo seja também turbulento e
que a resistência ao atrito devido a rugosidade seja corretamente modeladas. Vários
critérios para fluxos turbulentos e rugosos tem sido propostos, alguns deles são listados na
Tabela 4.1.
Tabela 4.1 – Critérios para fluxos turbulentos e rugosos (modificado – SHARP, 1981).
CHOW (1959) 500vR>
υ
RUSSEL (1964) 1000vR>
υ
HENDERSON (1966) 100k*v>
υ
DE VRIES (1971) 800a400vh>
υ
YALIN (1971) menteaproximada70k*v>
υ
Os critérios mais realistas são aqueles em que o número de Reynolds é especificado em
100
termos da velocidade de cisalhamento (v*) e da rugosidade equivalente (k), dada pela
relação:
100k*v>
υ (4.23)
A velocidade de cisalhamento (v*) é a relação entre a tensão de cisalhamento na camada
pela densidade do fluido, sendo dada por:
( )ghI*v =ρτ
= (4.24)
onde: τ = tensão de cisalhamento (N/m2);
g = aceleração da gravidade (m/s2);
h = profundidade de fluxo (m);
I = inclinação da linha de energia.
O uso direto deste critério é muito difícil devido à impossibilidade de estabelecer um valor
preciso para rugosidade. Normalmente, a rugosidade está relacionada com as
características dos sedimentos e nem sempre é simples obter o valor de k diretamente a
partir do tamanho ou da característica da partícula. Nestes casos k pode ser obtido através
de outros métodos que estabelecem um valor aproximado da rugosidade. Alguns critérios
alternativos são apresentados na Tabela 4.1, sendo geralmente mais simples pela adoção
do raio hidráulico ou da profundidade de fluxo como o termo relacionado à dimensão
geométrica. Além disso, a velocidade pode ser considerada como sendo a velocidade
média para canais relativamente largos.
A semelhança da resistência de atrito será assegurada fazendo com que o modelo e o
protótipo obedeçam a mesma lei de resistência. Novamente, várias equações foram
desenvolvidas para descrever a resistência de atrito, uma delas é equação de Manning,
provavelmente uma das mais utilizadas:
21
32
IR1vn
= (4.25)
101
onde: n = coeficiente de Manning;
R = raio hidráulico (m).
De maneira semelhante a rugosidade pode ser obtida a partir de outra equação de
resistência, como por exemplo a equação de Chézy:
RICv = (4.26)
onde: C = coeficiente de Chézy.
Contudo, quando o modelo apresenta uma camada que pode mover-se livremente pela
ação do fluxo da água, os requisitos de escala tornam-se mais rigorosos e o problema da
modelagem torna-se também mais complexo. Em adição à modelagem do fenômeno
hidrodinâmico, deve-se dar atenção aos processos morfológicos envolvidos que são
fundamentalmente importantes, e que justificam o fato dos modelos de fundo móvel serem
particularmente usados para estudar os movimentos de camadas ou de sedimentos. Neste
caso os efeitos hidrodinâmicos apresentam uma menor importância. As dificuldades
encontradas estão relacionadas à obtenção de uma semelhança razoável, causadas pelo
aumento da complexidade dos requisitos de escala porque não é mais possível controlar a
resistência de atrito em toda extensão do canal como no caso dos modelos de fundo fixo.
No caso dos modelos de fundo fixo, a resistência pode ser modificada por tentativas até
atingir o padrão de fluxo desejado, mas no caso do fundo móvel, como as camadas se
movem, é impossível conseguir um ajuste da situação e estabelecer o padrão de fluxo, pois
para cada situação a forma das camadas se altera devido ao movimento e às características
do fluxo e dos sedimentos.
Alguns detalhes de escala e critérios de projeto podem ser encontrados quando o fenômeno
envolvido é amplamente conhecido de forma que as variáveis mais importantes possam ser
selecionadas e os requisitos mais críticos da modelagem possam ser satisfeitos. Assim o
uso de modelos de fundo móvel torna-se bastante complexo do ponto de vista da
modelagem, pois nem sempre se consegue o controle total das variáveis e o
comportamento dos sedimentos no campo também é muito difícil. Embora com estas
dificuldades, o uso dos modelos de fundo móvel não foi abandonado. Alguns modelos
foram desenvolvidos e operados com bases empíricas, admitindo-se que alguns ajustes
102
poderiam ser feitos para reproduzir eventos que poderiam ocorrer no protótipo ou mesmo
indicar eventos que iriam ocorrer no protótipo. A escolha do material da camada, escalas,
inclinação da camada, etc. foram largamente baseadas em experiências e desta forma
diferentes laboratórios desenvolveram técnicas, normas e métodos de projetos próprios.
Alguns dados teóricos foram incorporados objetivando fornecer um direcionamento
adicional e sugerir meios de fixar as distorções. Estes fatos geraram uma base fundamental
para a concepção dos modelos, embora muitos modelos foram também bem sucedidos
usando dados e normas baseados em avaliações teóricas.
Métodos para escolha de escalas de forma mais criteriosa foram desenvolvidos com o
aumento do conhecimento do fenômeno físico que ocorre nos sistemas de fundo móvel.
Este desenvolvimento tem ocorrido ainda recentemente e estão relacionados aos trabalhos
desenvolvidos principalmente por SHIELDS (1936); EINSTEIN & CHING (1956) e
YALIN (1971). Entretanto, apesar dos avanços obtidos, o campo dos modelos de fundo
móvel é ainda dominado por várias controvérsias e as experiências obtidas empiricamente
ainda continuam introduzindo critérios sobre o projeto dos modelos. Os resultados obtidos
dos métodos explícitos de escala são similares aos que tem sido usados por vários anos e,
consequentemente, é provável que o desenvolvimento atual represente uma justificativa
teórica para as práticas que certamente se encontram bem estabelecidas a menos que bases
teóricas possam ser geradas de modo que novas práticas possam ser logicamente
desenvolvidas. 4.7. PROCESSO DE SEMELHANÇA
HOOKE (1968) apresenta uma análise crítica dos problemas encontrados nas modelagens
envolvendo fluxos naturais e de sedimentos, mostrando que o rigor dos requisitos das
normas de modelagem tem desencorajado os pesquisadores, que normalmente não são
especializados em hidráulica, de realizar estudos de laboratório envolvendo simulações
físicas. As considerações feitas por HOOKE (1968) relatam suas próprias experiências e
também discussões e críticas a respeito de outros trabalhos envolvendo estas simulações
em escala reduzida.
Pela carência de um formalismo teórico envolvendo os estudos de fundo móvel, as
investigações a respeito deste tipo de problema tem se norteado em duas diferentes
103
alternativas de aproximação. A primeira envolve os procedimentos formais da teoria de
modelos hidráulicos, bastante aplicada quando são necessárias análises quantitativas e
extrapolações diretas. Nestes casos, como já descrito anteriormente, os requisitos de
semelhança, considerados fundamentais, são plenamente satisfeitos, sendo realizadas
calibrações e comparações adicionais com o sistema natural, ajustando os padrões de
escala de modo que os efeitos e as características observadas no protótipo possam ser
reproduzidas com precisão no modelo. Esta fase de calibração consiste de ajustes nas
escalas de tempo, velocidade e descarga, podendo também ser realizados ajustes na
inclinação da base do canal ou mesmo na graduação dos sedimentos. Uma vez que o
modelo é verificado, os efeitos das mudanças e alterações provocadas durante o
funcionamento do modelo podem ser estudados com segurança e factíveis de serem
extrapolados para o sistema natural (protótipo).
No caso das análises geomorfológicas dos depósitos, este tipo de aproximação é
impraticável (HOOKE, 1968). Nestes casos as preocupações estão relacionadas a um
princípio geral que possa ser aplicado e/ou extendido a um outro conjunto de sistemas de
comportamento semelhante e raramente a análise se baseia em um problema particular.
Assim, um outro tipo de aproximação poderia se concentrar num processo de semelhança
proposto por HOOKE (1968) em que os sistemas de simulação em laboratório são tratados
como sistemas reduzidos independentes, semelhantes ao modelo real mas não uma versão
em escala rigorosa do mesmo.
As condições básicas propostas por HOOKE (1968) para as simulações em laboratório
baseado neste tipo de aproximação são:
um padrão de escala geral deve ser alcançado, estabelecendo uma escala básica entre o
modelo e protótipo;
o modelo deve reproduzir as características morfológicas básicas do modelo
investigado (protótipo), caracterizado pela reprodução global do processo de descarga,
estrutura da camada, padrão de deposição, tipo de sedimento, densidade, etc;
os mecanismos que produzem certas características no modelo possam ser
considerados como tendo o mesmo efeito no sistema natural, como por exemplo a
manutenção das mesmas condições de fluxo, regime de escoamento, mecanismos de
transporte, concentração da mistura.
104
Um exemplo deste tipo de consideração pode ser relacionado aos problemas de
determinação de taludes de leques aluviais. A primeira condição poderia ser encontrada
com o ajuste do tamanho dos detritos (sedimentos) e da descarga, lembrando sempre dos
limites práticos de semelhança, pois partículas muito finas podem alterar o mecanismo a
ser reproduzido e partículas muito grosseiras podem exigir descargas muito altas.
Entretanto, a combinação apropriada do tamanho do sedimento e das características de
descarga poderia gerar leques com taludes semelhantes aos obtidos na natureza, que tem
em média de 2 a 12 graus. Uma segunda fase poderia revelar maiores características do
processo de formação dos leques aluviais como por exemplo relacionar a velocidade
descarga com a inclinação obtida. Evoluindo mais o processo de investigação, poder-se-ia
extrapolar qualitativamente os efeitos observados no laboratório e inferir algumas
características de comportamento no campo. No caso dos leques, observa-se que grandes
leques drenam grandes bacias de drenagem e que as grandes bacias de drenagem
apresentam altas descargas. Assim, pode-se observar a influência da velocidade de
descarga também no sistema de campo, pois leques com grandes áreas normalmente
apresentam baixas inclinações devido às altas velocidades de descargas. Embora
simplificado este exemplo representa uma visão global da proposta de HOOKE (1968) e os
possíveis alcances e extrapolações dos modelos baseados neste tipo de aproximação.
A validação deste processo pode necessitar de estudos adicionais, principalmente no
sentido de certificar a acurácia e a precisão dos resultados. Entretanto, de acordo com
HOOKE (1968), a absoluta certeza é praticamente impossível de ser atingida, devido as
dificuldades de comparações com o mesmo sistema ocorrida no campo principalmente
numa escala temporal. Mas mesmo assim os ensaios de laboratório são extremamente
importantes pois sugerem uma explicação lógica para as observações dos fenômenos de
campo e apresentam um bom suporte para estas constatações.
Pode-se considerar um outro exemplo, mais aplicado a realidade da proposta desta
pesquisa, onde a simulação é realizada em um canal com fundo revestido de areia. Neste
caso, dependendo das condições de escoamento podem ocorrer duas profundidades de
fluxo. Para cada profundidade, um mecanismo de transporte pode ser gerado em função do
valor da velocidade de fluxo. Como comparação ao esquema de campo poder-se-ia avaliar
o efeitos de diferentes fenômenos naturais com enchentes ou períodos de secas que alteram
as profundidades do canais e consequentemente o padrão de fluxo. Entretanto a
105
quantificação das taxas de transportes por exemplo não poderiam ser extrapoladas para o
sistema natural.
Embora com bastantes requisitos de semelhança, os modelos hidráulicos formais ainda
apresentam algumas limitações devido a impossibilidade de formalizar todas as relações
(HOOKE, 1968). Atualmente, muitos modelos são usados para estabelecer teorias e
formulações que ainda não se encontram disponíveis. Estes modelos, em muitos casos,
estão relacionados ao empirismo de cada simulação devido as dificuldades impostas pelos
próprios fenômenos naturais. Até hoje, estes tipos de modelos não podem fornecer dados
quantitativos capazes de reproduzir as alterações geomorfologicas que ocorrem no sistema
natural e neste caso mesmo com todo o formalismo teórico eles ainda apresentam
deficiências.
HOOKE (1968) acredita que embora simples, a aproximação dos sistemas de laboratório
como pequenos sistemas independentes represente uma alternativa produtiva de obter
dados e respostas para o entendimento dos fenômenos naturais. Contudo, não considera
que este tipo de proposta seja melhor que a adoção de sistemas de escalas em que os
requisitos de semelhança sejam plenamente atingidos. A justificativa baseia-se na
simplicidade e na maneira direta com que os estudos podem ser conduzidos. Outro tipo de
consideração refere-se a não existência de riscos de uma extrapolação quantitativa
duvidosa pelas próprias limitações do modelo. Além disso, as análise de sistemas gerais e
não um único e particular sistema fornecendo informações gerais, reforçam a
características qualitativas destas simulações. A adoção de sistemas exclusivos
condicionam o desenvolvimento de um modelo específico para cada tipo de problema
individual e neste caso justificaria a adoção da escala formal, mas devido a diversidade dos
problemas estudados ter-se-ia que desenvolver mais de um tipo de modelo, podendo
inviabilizar as simulações.
Baseado nesta proposta, apresentada por HOOKE (1968), foi estabelecido o modelo físico
desenvolvido nesta tese e aprestado em detalhe no Capítulo 5. Analogamente a este tipo de
consideração outros equipamentos de simulação foram desenvolvidos adotando este
mesmo processo de semelhança (KÜPPER et al., 1992b). As características das
investigações realizadas reforçadas pelas características das simulações e análises
relacionadas ao sistema de campo podem justificar a adoção de um modelo adequado e
106
menos formal. Neste contexto, proposta de HOOKE (1968) de adotar sistemas
independentes é uma boa alternativa para contornar os formalismos de escala, bastante
difíceis de serem satisfeitos neste tipo de simulações. Acredita-se que embora simples,
estas aproximações representam uma alternativa produtiva de obter dados e respostas para
o entendimento qualitativo do processo de formação dos depósitos de aterro hidráulico e
particularmente os que estão associados à formação das barragens de rejeitos.
107
CAPÍTULO 5
EQUIPAMENTO DE SIMULAÇÃO DE DEPOSIÇÃO HIDRÁULICA
(ESDH)
5.1. INTRODUÇÃO
Pelo exposto no Capítulo 3 observa-se a grande aplicabilidade dos ensaios de simulação de
deposição hidráulica na análise do comportamento dos aterros hidráulicos. Embora com
algumas limitações relacionadas às propostas de cada tipo de investigação e restrições nas
escalas de redução, as simulações em laboratório tem se revelado como uma excelente
alternativa no entendimento e na caracterização dos mecanismo do processo de deposição,
fenômeno extremamente complexo para ser analisado exclusivamente no campo.
Apesar das limitações relativas ao efeito de escala, mencionado principalmente por
HOOKE (1968), YALIN (1971), SHARP (1981), KÜPPER et al. (1992a) dentre outros,
verifica-se que as propostas dos ensaios de simulação tem reforçado a idéia de que um dos
caminhos para avaliar e otimizar os projetos de aterros hidráulicos tem sido a utilização
dos modelos de laboratório.
Neste contexto, é clara a aplicabilidade das simulações em laboratório para estudar o
comportamento dos aterros hidráulicos e principalmente aplicado ao processo de
construção de barragens de rejeitos. Neste caso específico, torna-se imperiosa a
necessidade de simular os parâmetros de fluxo e as características do rejeito devido,
principalmente, a falta de controle técnico relacionado a estas estruturas.
Através das simulações de laboratório é possível realizar um grande número de
experimentos de uma maneira rápida e econômica, possibilitando estudar os efeitos das
diversas variáveis que atuam no processo de deposição hidráulica. Embora com poucas
108
informações relacionadas aos requisitos e fatores de escala de modelagem adotados, os
ensaios de simulação reportados na literatura tem demonstrado como estes efeitos atuam
nas características gerais do material depositado e enfatizam a aplicabilidade destas
simulações em laboratório.
Observa-se também que as características dos dados apresentados sugerem que o
formalismo da modelagem hidráulica não foi totalmente satisfeito. Caracterizações
puramente qualitativas tem sido apresentadas e somente alguns casos parecem ter se
aproximado do rigor imposto pelas técnicas de modelagem. Nestes casos os resultados tem
servido para gerar e calibrar formulações propostas.
Como foi visto na descrição dos conceitos de modelagem, existem dificuldades de
submeter à escala, fenômenos que envolvem transporte de sedimentos. Um dos fatores
limitantes é o tamanho do sedimento, que pode ser reduzido somente até um certo ponto,
pois após este limite ele se torna muito fino e as forças coesivas e de tensão superficial
tendem a atuar, invalidando o modelo. Além disso, as características da forma e superfície
do grão afetam a resistência do fluxo, o transporte de sedimentos, o talude de equilíbrio, a
densidade do depósito, etc., e são muito difíceis senão impossíveis de reduzir. Existem
também limites práticos para variar os parâmetros como densidade e a viscosidade do
fluído e a própria densidade do sedimento, dificultando a ainda mais o processo de
modelagem.
O processo de semelhança proposto por HOOKE (1968), detalhado no Capítulo 4,
representa uma importante ferramenta no sentido de contornar os formalismos impostos
pelo rigor da modelagem hidráulica. É evidente que se fosse conseguida uma redução
perfeita de todas as dimensões, a modelagem formal seria certamente adotada, mas como
descrito anteriormente, é impossível atingir este tipo de perfeição nos problemas
envolvendo transporte de sedimentos. Assim, a adoção de sistemas independentes, não
necessariamente uma versão perfeita em escala do sistema natural, tem revelado uma
alternativa interessante no sentido de contornar as dificuldades da modelagem verdadeira.
Nestes casos e como, certamente, adotado na maioria dos ensaios descritos no Capítulo 3,
as simulações visam as semelhanças dos fenômenos e as observações obtidas nos modelos
têm um caráter puramente qualitativo. Mas pelo exposto pode ser observado que os
109
resultados representam um ganho considerável no desenvolvimento e interpretação da
técnica construtiva dos aterros hidráulicos.
Neste contexto, a proposta do equipamento desenvolvido nesta pesquisa envolveu um
modelo reduzido baseado nas recomendações propostas por HOOKE (1968). O tipo de
análise e os parâmetros utilizados representam uma justificativa para este tipo de
consideração. Além disto, estas considerações são reforçadas pela metodologia de projeto e
construção de um equipamento semelhante que foi desenvolvido por KÜPPER (1991),
simulando e caracterizando o mesmo tipo de problema.
5.2. CARACTERÍSTICAS DO ESTUDO EXPERIMENTAL
Objetivando simular as características dos aterros hidráulicos e mais especificamente este
tipo de estrutura associado à disposição de rejeitos, foi elaborado um estudo experimental
baseado nas simulações em laboratório do processo de deposição hidráulica que ocorre no
campo. É importante notar, como foi apresentado no Capítulo 4, que existem muitas
dificuldades associadas aos modelos de simulação de fenômenos que envolvem transporte
de sedimentos e neste caso específico os problemas se tornam maiores devido às altas taxas
de sedimentos envolvidos, às diferenças nas propriedades dos sedimentos e aos parâmetros
de descarga.
Um extenso estudo na literatura relacionada à simulação do processo de deposição em
laboratório, já apresentada anteriormente, revelou que adoção de modelos baseados em
canais abertos com fundo móvel representa uma ferramenta adequada a este tipo de
análise. Observou-se que a maioria das simulações, embora com proposta diferentes,
apresentam características de modelagem semelhantes. Com relação às dificuldades
associadas à extrapolação dos resultados, estas simulações também apresentam as mesmas
dificuldades devido principalmente às limitações dos modelos e impossibilidade de cobrir
todos os aspectos envolvidos e satisfazer todos os critérios de semelhanças. Embora não
sendo descrito formalmente, esquemas semelhantes ao proposto por HOOKE (1968),
descritos no Capítulo 4, foram considerados na concepção da maioria das simulações
descritas no Capítulo 3 em vista das simplificações associadas e do próprio caráter das
simulações. Este tipo de consideração foi reforçado pela análise das características dos
resultados apresentados em comparação com a realidade do fenômeno em escala real. Este 110
procedimento foi adotado por KÜPPER (1991), sendo o requisito principal que norteou a
concepção e a caracterização física de seu equipamento. Alguns poucos ensaios de
simulação apresentam dados relacionados aos tipos de critério de semelhança adotado, mas
mesmo assim observa-se também algumas limitações e problemas de escala. Entretanto,
verifica-se que algumas alterações ou mesmo calibrações entre os sistemas são efetuadas
de modo a melhorar a qualidade dos dados e corrigir as distorções. Mas, de uma forma
geral, todos os estudos mencionados no Capítulo 3 apresentam problemas relacionados às
avaliações quantitativas do problema.
Neste contexto, a metodologia adotada neste trabalho foi estabelecer um sistema de
modelagem capaz de simular as variáveis envolvidas tentando estabelecer regimes de fluxo
com valores do numero de Reynolds bem acima dos limites turbulentos, garantindo um
regime de fluxo turbulento como o que ocorre no campo. Quanto ao número de Froude,
tentou-se estabelecer uma faixa de valores dentro dos limites próximo aos estimado no
campo, embora este tipo de consideração tenha sido bastante difícil de avaliar nas
simulação realizadas.
Seria conveniente ressaltar as dificuldades relacionadas ao coeficiente de rugosidade
associado aos modelos de fundo móvel e mesmo a redução em escala do tamanho dos
sedimentos, devido as limitações dos processo de transporte quando o sedimento se torna
muito pequeno. Neste caso estes critérios de escala são muito complexos e difíceis de
simular, embora sejam de grande importância na precisão dos resultados, pois a resistência
do fluxo, mecanismos de transporte de sedimentos, talude de equilíbrio, densidade, etc. são
bastante afetadas pela forma e superfície do grão. Entretanto, optou-se por adotar o mesmo
tipo de material encontrado no campo nas simulações de laboratório, mas conhecendo as
implicações que este tipo de escolha poderia causar.
Baseado nas dificuldades associadas ao estabelecimento e satisfação de todos os critérios
estabelecido pelas normas e técnicas da modelagem foi então decidido construir um
modelo de simulação adequado às realidades do problema, considerando o modelo como
um ensaio fundamental. A base destes ensaios consiste na caracterização geral do
fenômeno com objetivo principal de entendê-lo fisicamente e desenvolver bases
conceituais e formulações que possam ser usadas para o estudo em escala real, pelo menos
de forma qualitativa (HOOKE, 1968). Nestes casos, se os valores numéricos puderem ser 111
transferidos diretamente do laboratório para o campo, isto irá representar uma segunda
conseqüência, mas não necessariamente a base e nem a característica principal deste tipo
de aproximação. Alguns exemplos deste tipo de aproximação são os estudos de leques
aluviais desenvolvidos por HOOKE (1967) e WEAVER (1984) e os ensaios de flume
realizados no US Geological Survey (SIMONS & RICHARDSON, 1963 e GUY et al.
1966). Estes ensaios relatam o desenvolvimento de conceitos e formulações provendo
bases fundamentais para o entendimento de vários aspectos de sedimentologia, embora os
resultados destes ensaios puderam ser somente aplicados qualitativamente.
Cabe ressaltar, que embora visto com restrições para maioria dos geotécnicos,
principalmente face às dificuldades e aproximações envolvidas no projeto de aterros
hidráulicos, as simulações em laboratório são rotinas em outras áreas como a
sedimentologia, neste caso como um ensaio fundamental e na engenharia hidráulica,
obedecendo um maior rigor nos aspectos de escala.
Em resumo, estas simulações objetivam o estudo dos mecanismos da deposição hidráulica
baseado nos efeitos da composição da lama e métodos de lançamento verificando sua
influência nas propriedades geotécnicas do aterro. Neste contexto, as simulações baseiam-
se no entendimento do mecanismo de deposição e as suas alterações devido às variações
nos parâmetros de descarga. Assim, o equipamento proposto deve contemplar estas
considerações e fornecer dados que possam auxiliar na caracterização do fenômeno da
deposição hidráulica. Desta forma, estas observações detalhadas de laboratório visam
analisar qualitativamente como as variações nos parâmetros de descarga alteram as
propriedades do depósito no campo.
Pelo exposto anteriormente, a concepção do equipamento de simulação de deposição
hidráulica (ESDH) desenvolvido nesta pesquisa, baseou-se numa intensa análise a respeito
dos processos de escala relacionados aos modelos reduzidos. Como foi observado, existem
várias dificuldades associadas a este tipo de projeto. Mas como apresentado anteriormente,
optou-se por um esquema simplificado levando em conta principalmente a experiência
adquirida nos diversos modelos relacionados às simulações de transporte hidráulico
reportados na literatura.
112
5.3. DESCRIÇÃO DO EQUIPAMENTO DE SIMULAÇÃO DE DEPOSIÇÃO
HIDRAULICA (ESDH)
Considerando a importância do ensaio de ESDH na previsão do comportamento dos aterros
hidráulicos, foi desenvolvido um equipamento de simulação de deposição hidráulica na
Universidade de Brasília. Este equipamento foi desenvolvido durante esta tese de
doutoramento, permitindo simular em laboratório diferentes condições de descarga que
podem ser submetidos os aterros hidráulicos.
O equipamento de ESDH consiste basicamente de três partes fundamentais que funcionam
de forma integrada durante todo o período de realização dos ensaios, provendo a
manutenção dos parâmetros de fluxo e as condições necessárias para um processo
controlado de deposição hidráulica. A parte principal do equipamento consiste de um canal
de deposição, onde são realizadas as simulações dos diferentes parâmetros de descarga e
onde ocorre a formação do depósito. Integrado ao canal encontra-se um sistema de
alimentação acoplado a um sistema de controle de descarga. A Figura 5.1 mostra um
esquema do equipamento de ESDH, sendo apresentado a seguir os detalhes de cada um dos
sistemas que compõe o ESDH.
RESERVATÓRIO PRINCIPAL
MISTURADOR
BOMBA
������������������������������������
������������������������������������
���������������������
CANAL
ATERRO HIDRÁULICO
DRENO AJUSTÁVEL
CONTROLADOR DEFLUXO
6.00 m
1.00
m
RESERVATÓRIOSECUNDÁRIO
2.50
m
������������������������������������
������������������������������������
MOTOR
TELA����������
����������
Figura 5.1 - Esquema do Equipamento de Simulação de Deposição Hidráulica (ESDH).
113
5.3.1. Canal de deposição
O canal de deposição tem 6,00 m de comprimento, 0,40 m de largura e 1,00 m de altura. O
canal foi construído usando perfis metálicos que sustentam as paredes laterais de vidro
temperado de 1,00 m2 e 10 mm de espessura, capazes de suportar o empuxo provocado
pelo material depositado. Este tipo de parede permite a visualização do processo de
deposição ao longo de toda extensão do canal. É importante ressaltar que as ligações entre
as placas de vidro na parte interna do canal foram feitas de modo a minimizar a existência
de irregularidades e descontinuidades no contato entre as placas de vidro. Este tipo de
cuidado durante o processo de fixação dos vidros visou evitar problemas no regime de
fluxo dentro do canal provocado por possíveis ressaltos nestas ligações. Uma viga
principal treliçada localizada na extremidade inferior do canal promove a sustentação
global da estrutura e permite a mudança da inclinação do canal pela instalação de um
macaco hidráulico na extremidade inicial do canal que encontra-se apoiada sobre a torre
principal de sustentação do equipamento.
A base do canal é constituída por uma chapa metálica de 5 mm de espessura protegida com
uma camada de tinta Epoxi. A utilização desta chapa na base do canal visou garantir a
estabilidade do fundo do depósito e resistir aos esforços provocados pelo peso do material
depositado, mantendo-se horizontalmente estável. Uma manta de geotêxtil não-tecido de
gramatura 600 g/m2 foi fixada sobre esta chapa objetivando manter estabilidade do
material da camada pré-depositada e uniformizar o processo de drenagem na base do
depósito. Esta camada pré-depositada foi constituída pelo próprio material utilizado nos
ensaios, apresentando uma espessura de aproximadamente 7,0 cm (Figura 5.2).
A deposição desta camada de fundo foi realizada manualmente, utilizando o material
praticamente seco, aplicado diretamente sobre a manta de gotêxtil. Após a colocação do
material a superfície da camada foi nivelada, sofrendo um leve processo de densificação.
Inicialmente o nivelamento foi realizado manualmente com a cota final controlado pela
extremidade superior do perfil metálico localizado na parte inferior do canal e
posteriormente, após a instalação da plataforma de acesso ao fundo do canal, o
nivelamento foi realizado com auxílio de uma palheta niveladora instalada na base da
plataforma, cuja cota final era determinada pelo ajuste da altura da plataforma no interior
do canal. A utilização desta plataforma facilitou o processo de nivelamento das camadas 114
possibilitando assim realizar ensaios em cotas superiores sem muitas dificuldades de
garantir a perfeita horizontalidade das camadas em regiões mais elevadas do canal.
Figura 5.2 – Detalhe do processo de deposição da camada de revestimento do fundo do
canal.
5.3.2. Sistema de alimentação
O sistema de alimentação do ESDH consiste de dois reservatórios, um principal localizado
na parte superior do canal e um outro secundário localizado ao lado do equipamento onde é
feita a preparação da mistura. Os dois reservatórios são interligados através de uma bomba
especial para sólidos que mantém a recirculação da mistura durante todo período de
realização do ensaio. O nível do reservatório superior é mantido constante através de
sistemas de saída localizados em diferentes pontos ao longo da profundidade do
reservatório. Dependendo da vazão requerida, uma ou mais válvulas são abertas variando
assim o nível d’água dentro deste reservatório. A Figura 5.3 apresenta um esquema do
sistema de recirculação podendo também ser observado os pontos de coleta das amostras
para verificação da concentração e as válvulas de controle de nível do reservatório
superior.
A adoção deste sistema duplo de reservatórios deveu-se a necessidade de abastecer o
115
equipamento durante o período de evolução dos ensaios e este procedimento poderia afetar
as características iniciais da concentração da mistura. Além disso, a própria localização do
reservatório principal inviabilizava este procedimento. Outro ponto importante,
relacionado a este sistema, refere-se à adoção do sistema de recirculação, facilitando e
aumentando a eficiência dos misturadores pelo turbilhonamento gerado dentro dos
reservatórios. Devido aos altos valores da massa específica das partículas de ferro
presentes no rejeito, um sistema simples de agitação não seria suficiente para manter as
partículas em suspensão e garantir a eficiência da mistura. Assim, após uma longa
avaliação da real capacidade dos sistema de mistura, optou-se por usar a recirculação como
um sistema adicional para garantir a eficiência da mistura, e neste sentido foi estudada a
melhor posição para localização dos tubos de entrada e saída nos dois reservatórios.
Figura 5.3 – Detalhe dos reservatórios e sistema de recirculação.
A adoção de um sistema único de alimentação representou um problema adicional na
concepção e construção do ESDH. Neste tipo de construção era necessário a utilização de
um sistema de mistura eficiente e que garantisse uma concentração constante durante todo
período de realização do ensaio. As limitações da velocidade de rotação das pás devido a
capacidade dos reservatórios e ao processo de formação de vórtex poderiam prejudicar a
uniformidade da mistura ao longo do próprio reservatório. A análise destes fatores foi
essencial no dimensionamento dos misturadores. A criação de vortex é uma característica
116
bastante crítica neste tipo de sistema devido a concentração de uma quantidade excessiva
de partículas na região central do reservatório.
Um sistema de pás metálicas vazadas com seção levemente inferior ao diâmetro dos
reservatórios foi instalado no eixo central dos mesmos. A velocidade de rotação adotada
foi de 60 rpm, calculada em função das diversas medidas de concentração realizadas ao
longo da profundidade e da seção dos reservatórios. A manutenção da velocidade foi
possível através de um sistema de polias de redução acopladas a um motor de 1 CV, que
garantiam um torque necessário para mover a lama dentro do reservatório mesmo
considerando a máxima concentração adotada e densidade das partículas de ferro presentes
no rejeito. O cálculo e arranjo físico destas pás foram baseados em dados obtidos em
projetos de sistema semelhante usado em estações de esgotos e sistemas de
homogeneização de misturas de sólidos e líquidos (PERRY & CHILTON, 1973).
Adicionalmente, foi instalado na parte inferior do eixo central das pás uma haste em forma
hélice objetivando manter os sedimentos acumulados na parte central do fundo em
suspensão, evitando assim a concentração de material e aumentando a eficiência do
sistema. A Figura 5.4 apresenta um detalhe dos misturadores, mostrando a configuração
das pás adotadas.
Figura 5.4 – Detalhe do sistema de mistura.
117
Para a avaliar a concentração da mistura e a eficiência do sistema de mistura foram
instalados em diferentes pontos do reservatório superior válvulas que permitem a coleta de
material. Estas válvulas tiveram uma importância fundamental durante o processo de
calibração do misturadores e do próprio sistema de alimentação pela avaliação da
concentração ao longo da profundidade do reservatório e também analisando sua
uniformidade em relação ao ponto de descarga, a saída do controlador de fluxo. Nesta fase
foi possível verificar o desempenho do arranjo físico adotado evitando estabelecer este
mesmo tipo de controle durante os ensaios, embora as avaliações das concentrações eram
realizadas em diferentes intervalos de tempo durante o período de execução dos ensaios.
5.3.3. Sistema de descarga
A descarga da lama dentro do canal é feita através de um controlador de fluxo projetado
para produzir uma condição de fluxo uniforme ao longo do canal pelo direcionamento do
fluxo sempre paralelo às paredes do canal. O objetivo principal deste controlador foi o
estabelecimento de um fluxo unidimensional e minimizar os efeitos provocados pelas
paredes. O projeto deste controlador foi baseado numa proposta inicial apresentada no
equipamento desenvolvido por KÜPPER (1991) na Universidade de Alberta, Canadá. O
controlador de fluxo foi construído em acrílico transparente permitindo a visualização do
processo de descarga no seu interior. A extremidade final do controlador apresenta um
sistema de ajuste que permite aumentar ou diminuir a abertura de saída de fluxo,
permitindo a variação da velocidade de descarga que entra no canal. Contudo, em todos os
ensaios realizados o controlador de fluxo funcionou em seção plena, ou seja com abertura
máxima do dispositivo de restrição de fluxo. A Figura 5.5 mostra alguns detalhes deste tipo
de dispositivo.
Um sistema de elevação foi acoplado ao controlador de fluxo, possibilitando sua ascensão
em função da velocidade de subida da crista do aterro. Este sistema garante uma altura
constante entre a superfície de deposição e a base do controlador de fluxo. Assim, o
controlador de fluxo é suspenso por um sistema de cabos acoplado à três polias miniaturas
localizadas na estrutura de sustentação do canal, permitindo a manutenção da sua posição
perfeitamente paralela à base do depósito. Um pequeno motor foi instalado tracionando os
cabos e promovendo o movimento de subida e descida do controlador. O movimento
uniforme dos cabos era controlado através de um parafuso de rosca sem fim soldado ao 118
eixo do motor, que mantinha os cabos enrolados dentro dos fios da rosca. Um sistema de
ajuste de velocidade possibilita o controle da velocidade do controlador, permitindo que a
velocidade seja ajustada em pequenos incrementos variando entre 5,0x10-4 a 2,0x10-3 m/s.
Desta forma, a velocidade de ascensão do controlador era ajustada nos instantes inicias do
ensaio em função dos parâmetros de fluxo adotados, condicionados à velocidade de
crescimento do depósito no canal.
��������������������������������������������������
420 mm
280
mm
50 mm
AC
RÍL
ICO
FLE
XÍV
EL
TUBO CONDUTOR
DISTRIBUIDOR DE FLUXO
120 mm
30 m
mPARAFUSO DE AJUSTE
380
mm
Figura 5.5 – Detalhe do Controlador de Fluxo.
O controlador era conectado ao reservatório principal através de um tubo de diâmetro
levemente inferior ao tubo condutor do controlador permitindo a sua penetração a medida
que o controlador movia-se verticalmente em função da subida da crista do depósito. Um
funil também foi instalado no topo do controlador evitando a perda de material durante a
descarga.
5.3.4. Sistema de drenagem
Um sistema de drenos foi instalado no final do canal de forma a manter o nível d’água
constante na praia. A altura de cada de dreno pode ser ajustada em função da altura do
depósito mantendo uma superfície livre de 1,00 m a partir da extremidade final da praia. O
sistema de ajuste era feito a partir da liberação da abertura da tubulação descontando o
119
tubo que bloqueava o fluxo. Estes pontos foram instalados em quatro alturas diferentes em
função da altura da cada processo de deposição. Assim, o tubo mais baixo estava associado
a deposição dos primeiros 25 cm seguindo pelos outros com cotas 25 cm superiores entre
si. O cálculo deste drenos foi baseado na estimativa de depósitos com inclinação média de
10% e comprimento máximo de 3,00 m obtido a partir de um depósito piloto realizado com
cota da drenagem do canal coincidindo com cota do fundo do canal. Neste ensaio, embora
sem restrições de altura do ponto de drenagem, ocorreu a formação de uma pequena lagoa
na base do depósito devido a baixa velocidade de saída do fluxo em função da velocidade
descarga.
Este sistema de drenos no final visava manter o nível da lagoa de decantação e evitar que o
processo de deposição ocorresse debaixo d’água, pela concentração excessiva de água no
canal. A manutenção da lagoa representa um aspecto importante na manutenção da
semelhança das características da deposição que ocorre no campo. Neste caso o tipo de
aterro hidráulico simulado nestas investigações consistiu de um arranjo com deposição na
parte superior da crista na direção de montante e no final do depósito havia a formação de
uma lagoa de decantação.
Foi instalada uma tela para contenção de partículas, antes do sistema de drenos e com o
objetivo de evitar perda de material fino pela descarga na saída do canal. Esta tela
funcionava como uma barreira de contenção de finos, preenchendo toda a seção transversal
do canal e mantendo praticamente todas as partículas na lagoa de decantação. Esta
proteção apresenta uma estrutura principal metálica que sustenta uma tela de tramas
plásticas revestida por uma manta de geotêxtil de gramatura 300 g/m2.
5.4. ARRANJO GERAL DO EQUIPAMENTO
Todos os sistemas apresentados anteriormente funcionam de forma integrada e compõe o
arranjo geral do equipamento. Uma conexão direta é estabelecida entre eles desde a fase
inicial, no momento da preparação da mistura, até a descarga final no canal. A eficiência
de todos os sistemas foi avaliada passo a passo e depois em conjunto na realização do
ensaio piloto. Todos os ajustes foram realizados previamente de forma a garantir o perfeito
desempenho do equipamento durante o programa experimental. Esta fase demandou um
120
certo tempo devido principalmente aos ajustes e modificações no sistema de mistura, o
ponto crucial da adoção de sistemas de alimentação único.
Após verificado os problemas, foram realizados os ajustes necessários, garantindo a
perfeita integração entre os sistemas de descarga, mistura e deposição, estabelecendo o
arranjo final do ESDH. A Figura 5.6 mostra uma visão geral do arranjo final do
equipamento de simulação de deposição hidráulica desenvolvido na Universidade de
Brasília. É importante considerar que a construção deste equipamento contou com o apoio
financeiro da Universidade Federal de Ouro Preto e da Samitri, além de um grande apoio
técnico fornecido pelo Centro de Manutenção de Equipamentos Científicos (CME) da
UnB.
Figura 5.6 – Visão geral do equipamento ESDH.
5.5. METODOLOGIA DO ENSAIO
No primeiro estágio do ensaio, a lama é preparada no reservatório secundário e
imediatamente após sua preparação, o misturador é acionado promovendo a
homogeneização da mistura e mantendo a concentração da lama constante. O valor da
concentração foi obtido a partir de uma relação entre pesos. Encontra-se na literatura
alguns ensaios cujo valor da concentração é obtido em função do volume de sólidos e água.
121
Entretanto, esta relação é bastante complexa sob o ponto de vista da determinação precisa
do volume de sólidos envolvidos devido a dificuldade de avaliar o índice de vazios durante
a preparação. Entretanto, este tipo de abordagem é muito comum nos ensaios e
procedimentos utilizados na maioria das simulações realizadas na ex-União Soviética.
Contudo, devido a maior facilidade e aplicabilidade deste tipo de consideração, a
concentração adotada neste programa experimental foi obtida a partir da relação entre os
pesos de água e sólidos considerando a seguinte equação:
%100WW
ct
s ×= (5.1)
onde: c = concentração da mistura;
Ws = peso de sedimentos
Wt = peso total
Considerando-se a Equação 5.1, o material é preparado para uma concentração pré-
definida, estabelecendo os pesos de solo e água correspondentes. Os sólidos eram
introduzidos diretamente no reservatório com auxílio de sacos plásticos contento cerca 5
kg de material pesados previamente. O número de sacos adicionados e frações de peso
necessárias eram calculados previamente em função do valor da concentração adotada. É
importante notar que eram realizadas correções de umidade do material utilizado. Contudo,
devido a maioria dos ensaios ter sido realizado no período de seca, as correções em função
do teor de umidade natural da amostra total foram muito pequenas. O material era
submetido ao primeiro reservatório onde era preparada a mistura. A água era adicionada
diretamente neste reservatório a partir de um outro reservatório localizado próximo a este
reservatório e com cota de saída concidente com o nível máximo do reservatório
secundário. O controle da quantidade de água adicionada era feito por graduações
existentes nas laterais do reservatório, correspondentes a quantidade de água necessária
para cada estágio de preparação. Objetivando facilitar o processo de preparação da
mistura, optou-se por manter a quantidade de água adicionada sempre constante e variar
somente o peso de sólidos em função do valor da concentração. Após a homogeneização
completa, a lama era bombeada para o reservatório principal localizado na parte superior
do equipamento.
122
O bombeamento era realizado pelo acionamento da bomba de sucção e abertura das
válvulas que liberavam o fluxo para o reservatório principal. Uma ou mais válvulas de
controle de nível do reservatório principal eram abertas dependendo do valor da vazão
requerida. Entretanto, este sistema apresentou um pequeno problema quando a bomba
trabalhava na potência máxima. Nesta caso era necessário manter as duas válvulas
extravasoras abertas para evitar o transbordamento do reservatório. Este fato inviabilizou a
possibilidade de utilizar o primeiro nível do reservatório, pois era impossível manter
somente uma válvula aberta. Com isto somente o segundo e o terceiro níveis do
reservatório foram utilizados garantido a estabilização do processo de recirculação
Entretanto, esta limitação não inviabilizou a realização dos ensaios com baixas vazões pois
os níveis alcançados foram suficientes para assegurar a faixa de vazões propostas. Após a
estabilização do processo de recirculação da lama nos dois reservatórios, garantindo o
nível de material constante no reservatório principal, iniciava-se o processo de avaliação da
concentração no sistema.
A concentração era avaliada em pontos instalados ao longo da profundidade do
reservatório principal e no próprio reservatório secundário, verificando a eficiência do
sistema de recirculação e do misturadores. Toda a eficiência deste sistema era garantida
pela manutenção do sistema de mistura funcionando constantemente nos dois reservatórios
e auxiliada pelo sistema de recirculação, mantendo os sólidos em suspensão. A avaliação
da vazão de descarga era feita com uma auxílio de um pequeno reservatório localizado ao
lado do canal onde a vazão era medida antes de liberar o fluxo para o canal. Válvulas de
controle foram instaladas de modo a desviar o fluxo para o canal e/ou reservatório de
medição. Estas válvulas também foram fundamentais no processo de troca de tubulações,
ajuste do controlador de fluxo e mesmo limpeza de tubulações sem prejudicar o
desenvolvimento do ensaio ou esgotar os reservatórios.
Após a estabilização da concentração nos reservatórios e ajustada a vazão de descarga, a
lama era descartada no canal através do controlador de fluxo. Em uma fase inicial era
necessário ajustar a velocidade de ascensão do controlador de fluxo em função
principalmente da relação entre a vazão e concentração adotadas e consequentemente da
velocidade de evolução do aterro, visando assegurar a altura de deposição sempre
constante entre a superfície do depósito e a base do controlador de fluxo. Em todos os
ensaios optou-se por realizar a deposição sempre próxima a superfície do aterro (altura de 123
lançamento próxima de zero) e assim o controlador de fluxo se manteve sempre próximo a
cota da crista do aterro.
O ajuste do controlador de fluxo era feito visualmente nos primeiros 20 minutos de
evolução da deposição. Neste intervalo, eram feitos pequenos ajustes no regulador de
velocidade, acoplado ao motor, de modo a conseguir uma velocidade próxima da
velocidade de evolução do aterro. Um nível de bolha foi instalado na superfície do
controlador de fluxo objetivando controlar a horizontalidade do controlador e manter o
processo de descarga uniforme ao longo da seção do canal, evitando concentrações de
fluxo em uma das laterais do canal.
Em função da velocidade de descarga, a crista do aterro sofria pequenos processos de
erosão que caminhavam desde a extremidade final do aterro até atingir a crista. Neste caso
eram necessários pequenos ajustes na altura do controlador de fluxo de forma a corrigir
estas pequenas diferenças e manter a altura constante durante todo o ensaio. Assim, um
acompanhamento direto da evolução da praia era realizado, minimizando os efeitos das
condições adversas na formação do depósito. Contudo, estas variações eram muito
pequenas e os ajustes eram as vezes desnecessários, pois na maioria dos casos a própria
evolução do processo de deposição corrigiam estas pequenas diferenças.
Em função da velocidade de descarga e do valor da concentração eram necessários
reabastecimentos dos reservatórios. O ensaio era paralisado por um pequeno intervalo de
tempo, necessário à preparação e homogeneização da mistura e o conseqüente
restabelecimento das condições iniciais. Após este procedimento o fluxo era novamente
liberado para a deposição no canal. A vazão e a concentração eram novamente avaliadas e
medidas subsequentes eram realizadas em intervalos de tempo prefixados, de modo a
observar as possíveis variações ocorridas. Pelo acompanhamento dos ensaios, observou-se
que mesmo durante este procedimento os parâmetros permaneciam praticamente
inalterados, devido aos cuidados que eram tomados durante o reabastecimento. Visando
obter dados mais realísticos do valor da concentração que gerava o depósito foram feitas
avaliações sistemáticas na saída do tubo de descarga, sendo este valor considerado como o
da concentração nominal do ensaio. A adoção deste procedimento revelou que estes
valores eram bem próximos das avaliações realizadas nos reservatórios mas, mesmo assim,
este tipo de avaliação foi realizada em todos os ensaios realizados. 124
Mantendo estes cuidados, avaliações sistemáticas da vazão e da concentração foram
realizadas durante todo o período de execução dos ensaios com objetivo de verificar
possíveis anormalidades nos sistemas de bombeamento e desempenho dos misturadores.
Verificou-se pequenas variações neste parâmetros, da ordem de 1 a 2% para os valores de
concentração e de 0,2 a 0,5% para os valores de vazão. Este fato poderia ser justificado
pelas altas concentrações de sólidos nas tubulações de 38 mm que descarregavam a lama
no controlador dificultando o fluxo e possivelmente devido às variação do nível de
material no reservatório secundário alterando o desempenho dos misturadores. As baixas
variações ocorridas nos valores medidos durante o ensaio possibilitaram a utilização da
média dos valores como parâmetros nominais correspondentes a cada ensaio.
Os drenos do final do canal também eram ajustados em função da evolução do aterro e da
vazão de descarga. Este valor era condicionado à manutenção da lagoa de decantação na
parte final do canal. Embora dimensionados para manter uma distância de cerca de 2,50 m
da extremidade final do canal até a praia, os drenos criaram uma lagoa com comprimento
um pouco maior devido à formação de depósitos com comprimento máximo de 2,6 m
restando cerca de 3,0 a 3,5 m para atingir a extremidade final do canal. Neste caso o
comprimento da lagoa foi maior que o esperado, porém submergindo somente 5,0 cm da
porção final do depósito, como era o objetivo inicial. Desta forma, a região com deposição
em baixo d’água manteve as proporções semelhantes ao depósito no campo, isto é,
somente uma pequena porção do aterro se manteve submersa. Assim, toda evolução do
depósito ocorreu acima do nível d’água. A Figura 5.7 mostra o esquema de deposição
ocorrido na extremidade final do depósito. É importante notar que com o evolução do
aterro esta região deslocava em direção ao final do canal, mas mantendo sempre a altura
submersa de cerca de 5,0 cm. A evolução desta região e seu deslocamento é evidenciada
pela existência de pequenas regiões onde podem ser visualizadas algumas diferenças na
granulometria e arranjo dos grãos em função da deposição subaquática. Estas
considerações serão mais detalhadas no Capítulo 8, quando os mecanismos de fluxo serão
analisados.
O processo de deposição era acompanhado verificando o comportamento do fluxo sobre a
praia e a movimentação dos sedimentos. As paredes de vidro do canal e a baixa
concentração de finos facilitaram estas observações. Outro fator importante que facilitou
este tipo de observação foi a presença de minerais de ferro de coloração escura podendo 125
perceber claramente o mecanismo de deposição e transporte que ocorria. Neste caso, o
acompanhamento direto dos ensaios foi fundamental na avaliação do processo de
deposição, auxiliando nas adoção de formulações apropriadas para a caracterização do
mecanismo de transporte.
��
≈ 3,5 m
Depósito 0,05 m0,
03 a
0,0
5 m
Dreno
Canal
Tela
NA
Figura 5.7 – Esquema de deposição da extremidade final do depósito.
Após o aterro atingir uma altura de aproximadamente 25 a 30 cm, o processo de deposição
era paralisado sendo realizadas as primeiras leituras referentes a configuração final do
talude. Estas medidas foram feitas com auxílio de um equipamento de medida dotado de
um sensor de umidade que sinalizava quando encontrava a camada superficial ainda úmida
do aterro (Figura 5.8). Este equipamento foi desenvolvido exclusivamente para avaliar o
perfil do aterro em diferentes pontos do canal, devido principalmente à dificuldade acesso
ao depósito na parte inferior do canal. É evidente que nas laterais do depósito as medidas
poderiam ser feitas através das paredes externas do canal, mas devido a espessura do vidro
utilizado, as leituras poderiam sofrer algumas distorções e, por isso, preferiu-se realizar
todas as avaliações no interior do canal, usando o equipamento desenvolvido. A partir das
medidas obtidas na praia foram feitos estudos sobre a configuração do talude e
determinada sua inclinação média.
Foram realizadas avaliações da densidade, padrão de segregação, teor de umidade,
distribuição granulométrica e massa específica das partículas sólidas ao longo do depósito.
Com isto, amostras deformadas e indeformadas foram coletadas em diferentes pontos ao
longo do depósito, espaçadas de 20 cm a partir do ponto de descarga. As amostras foram
obtidas na parte central do depósito utilizando uma plataforma que possibilitava o acesso
ao fundo do canal sem tocar na praia, evitando perturbar o depósito. Contudo, nos
126
primeiros ensaios a amostragem ocorreu sem auxílio da plataforma, dificultando um pouco
mais o processo. Percebendo estas dificuldades, um excessivo cuidado foi tomado durante
estes procedimentos de forma a não perturbar o depósito principalmente na fase de
determinação da densidade.
Figura 5.8 – Detalhe do equipamento desenvolvido para avaliação da do perfil do depósito.
Após a etapa de coleta de amostras o ensaio era finalizado e o material restante no canal
era removido, porém mantendo a configuração inicial da camada pré-depositada existente
no fundo do canal. Após este processo de remoção do material depositado, a camada de
base era nivelada para receber o material do novo ensaio. Embora fosse possível realizar
deposições sucessivas ao longo da profundidade do canal a partir do nivelamento do
depósito anterior, optou-se por remover todo o depósito e realizar as deposições sempre na
parte inferior do canal sobre a camada pré-depositada inicialmente. Este tipo de
procedimento visava facilitar o processo de remoção do material e evitar possíveis
alterações no novo depósito provocadas pela segregação existente e, possivelmente, não
corrigidas com o nivelamento da camada depositada anteriormente. Além disso o aumento
da altura inicial do depósito alteraria as características de drenagem da praia, dificultando
as comparações podendo alterar o valor da densidade do material.
127
Os detalhes e procedimentos dos ensaios de densidade, granulometria, massa específica
dos grãos e avaliação do perfil do ESDH estão apresentados no Capítulo 5, juntamente
com o programa experimental e a caracterização do material utilizado nas simulações. O
enfoque básico deste capítulo foi fornecer uma visão geral das características do ESDH
desenvolvido nesta pesquisa e detalhar as metodologias utilizadas durante a execução das
simulações.
128
CAPÍTULO 6
PROGRAMA EXPERIMENTAL
6.1. INTRODUÇÃO
A possibilidade de associar o processo de deposição de rejeitos à verificação das
potencialidades do equipamento de simulação hidráulica (ESDH) desenvolvido foi a base
do programa experimental proposto. Neste contexto, foi estabelecido um programa de
ensaios utilizando o rejeito de uma mina de minério de ferro objetivando verificar o
desempenho do ESDH na previsão das propriedades do depósito em função da simulação
do processo de deposição. A justificativa da utilização deste tipo de material, um rejeito de
minério de ferro, foi a aplicabilidade da tecnologia de aterros hidráulicos à construção de
barragens de rejeitos e a falta de controle geotécnico associado a este tipo de estrutura no
campo. A obtenção de dados mais realistas relacionados a este tipo de material, utilizado
como principal componente das barragens de rejeitos, torna-se imperiosa na melhoria da
qualidade e segurança destas estruturas. O fator condicionante desta escolha foi a
possibilidade de acompanhamento do processo construtivo, uma vez que existem muitas
barragens de rejeitos sendo construídas com a técnica de aterro hidráulico, principalmente
relacionada aos rejeitos de minério de ferro.
Pelas características construtivas e propostas de investigação, o ESDH permite a
simulação das diversas variáveis que influenciam no processo de deposição hidráulica.
Assim o programa experimental foi baseado na adoção de diferentes valores de
concentração e vazão de descarga. Estes valores foram adotados em função das
características físicas do equipamento, contudo avaliando qualitativamente como a
variação nestes parâmetros poderiam alterar as características do depósito formado.
Embora conhecendo as limitações de escala do ESDH, dificultando a extrapolação direta 129
dos resultados para realidade de campo, optou-se por usar o rejeito de Mina de Morro
Agudo, cujas características serão descritas no Item 6.2, pela facilidade de
acompanhamento do processo construtivo de um aterro hidráulico realizado com este
mesmo material no campo. Além disso, a disponibilidade de dados e o próprio controle
geotécnico que vem ocorrendo neste depósito favoreceram a comparação dos dados e
possibilitaram análises qualitativas do comportamento nos dois sistemas.
Neste contexto, como proposta geral, este capítulo apresenta uma um visão global das
características do rejeito oriundas do processo de caracterização ocorrido na própria
mineradora e complementados por estudos recentes desenvolvidos no Programa de Pós-
Graduação em Geotecnia da Universidade de Brasília e por outras investigações adicionais
realizadas nesta tese. Estas avaliações adicionais objetivaram a caracterização individual
dos componentes principais do rejeitos, o ferro o quartzo, devido a importância da análise
do tipo de sedimento em relação as características do processo de transporte hidráulico.
Para os ensaios no ESDH o programa experimental desenvolvido representa uma
combinação da variação dos principais parâmetros de descarga (vazão e concentração) que
interferem diretamente nas propriedades do aterro.
6.2. CARACTERIZAÇÃO DO REJEITO DA MINA DE MORRO AGUDO
Antes de iniciar o programa experimental desenvolvido seria importante fornecer uma
visão geral das características do material utilizado em todos os ensaios realizados. O
rejeito utilizado consiste basicamente de um solo tipicamente arenoso proveniente do
processo de beneficiamento do minério de ferro na Mina de Morro Agudo, pertencente à
SAMITRI (S.A. Mineração da Trindade), localizada no município de Rio Piracicaba, MG.
Algumas pesquisas já foram realizadas ou estão em andamento no Programa de Pós-
Graduação em Geotecnia da Universidade de Brasília, visando basicamente avaliar o
comportamento das barragens de rejeitos. Estas pesquisas objetivam gerar dados para
investigações e comparações através do acompanhamento do processo construtivo da Pilha
do Monjolo, a barragem de rejeitos da Mina de Morro Agudo, que encontra-se em
execução.
Formalizando estes estudos a Universidade de Brasília e a SAMITRI vêm mantendo uma 130
parceria de pesquisa através de um convênio firmado em 1994. Estes estudos tem
fornecido importantes dados a respeito do comportamento geotécnico dos rejeitos visando
melhorar e aperfeiçoar as técnicas construtivas das barragens de rejeitos. É importante
notar que este apoio possibilitou o desenvolvimento de uma linha de pesquisa relacionada
ao comportamento dos rejeitos de mineração. Baseado nesta cooperação foram enviadas
para o Laboratório de Geotecnia da Universidade de Brasília cerca de oito toneladas de
rejeitos oriundos da pilha de rejeito do Monjolo para ser utilizado nas simulações no
ESDH, complementado o processo de investigação que foi iniciado com avaliações de
campo (ESPÓSITO & ASSIS, 1997).
Dentro deste programa de cooperação, foram desenvolvidas recentemente pesquisas
relacionadas à avaliação da variabilidade dos parâmetros de resistência do rejeito em
função do processo de segregação hidráulica (LOPES, 2000), ao comportamento das poro-
pressões nas diversas regiões do depósito durante e após processo de deposição
(CAVALCANTE, 2000) e ao controle de qualidade da metodologia construtiva dos aterros
hidráulicos a partir de métodos estatísticos e probabilísticos baseados nos valores da
porosidade do depósito (ESPÓSITO, 2000).
Compondo um importante polo de produção de minério de ferro do quadrilátero ferrífero, a
Mina de Morro Agudo fica situada a 140 km de Belo Horizonte, no município de Rio
Piracicaba, MG. Esta mina está em operação desde 1963 e suas reservas estão estimadas
em mais de 10 milhões de toneladas de minério de ferro hematítico de alto teor e 120
milhões de toneladas de itabiritos. Juntamente com Morro Agudo a SAMITRI gerencia
outras três minas, Alegria, Córrego do Meio e Andrade, também localizadas na região do
quadrilátero ferrífero. A Figura 6.1 apresenta um esquema da localização da Mina de
Morro Agudo.
O sistema de beneficiamento do minério é realizado por espirais, um processo que
funciona por gravidade e que devido ao alto teor de ferro das jazidas de Morro Agudo não
é necessário a adição de produtos químicos. Neste caso somente a água pura atua no
processo. Embora contendo minerais pesados, este rejeito é quimicamente inerte. A
disposição do rejeito da Mina de Morro Agudo é feita através do lançamento hidráulico da
mistura oriunda da planta de beneficiamento diretamente na barragem. Atualmente, o
rejeito é lançado por bombeamento, embora a estação de bombeamento tenha sido 131
instalada recentemente. Até início do ano passado o rejeito era transportado até a barragem
por gravidade, mas com a evolução da barragem e elevação da cota da crista fez-se
necessária a instalação do sistema de bombeamento. Este procedimento representou um
importante fator no controle da vazão da descarga da lama proporcionando uma maior
eficiência no processo de deposição.
Figura 6.1 – Localização da Mina de Morro Agudo
A barragem de rejeito da mina de Morro Agudo está sendo construída com o próprio
rejeito lançado hidraulicamente através de canhões (spigots) localizados na crista da
barragem na direção de montante. Inicialmente foi construído um dique de partida com
enrocamento de pé (cota 800) seguido de alteamentos sucessivos realizados com o próprio
rejeito até a cota 900, cota final da crista da barragem. Os taludes de jusante são
retrabalhados mantendo uma inclinação de 1V:2H, com bermas de 8 m de largura e 10 m
de altura. Um dreno de fundo foi instalado na base da barragem, com uma extensão de
aproximadamente de 150 m seguido de um extravasor localizado na base do talude de
jusante. Toda água oriunda da drenagem de fundo é acumulada em um pequeno dique,
sendo bombeada e reaproveitada na própria planta de beneficiamento. A seção transversal
típica da barragem do Monjolo é apresentada na Figura 6.2.
O rejeito produzido na separação por espirais tem granulometria na faixa de areia fina a
média. A Figura 6.3 apresenta a curva granulométrica típica do rejeito de Morro Agudo. É
importante notar que esta curva representa o rejeito como um todo, isto é, na saída do tubo
de descarga. As curvas apresentadas na Figura 6.3 referem-se aos dois tipos de análise
132
granulométrica realizadas, com o granulômetro a laser e pelo método convencional de
peneiramento e sedimentação, mostrando uma excelente correspondência entre os dois
métodos. Os detalhes da metodologia usada na avaliação granulométrica serão
apresentados no Item 6.3.2 deste capítulo.
21
21
1.51
ENROCAMENTO
DRENOTRANSIÇÃOENROCAMENTODRENO
NA MÁXIMONA NORMAL876
868858
850839
826820
810
900890
880870
860850
840830
820 810800
785781.50
Figura 6.2 - Pilha de rejeito do Monjolo (modificado - GEOCONSULTORIA, 1996).
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0,0001 0,001 0,01 0,1 1 10Diâmetro (mm)
% q
ue p
assa
Am. Total (Granulômetro)
Am Total (Gran. convencional)
Figura 6.3 – Curva granulométrica típica do rejeito de Morro Agudo.
Considerando a variabilidade que normalmente ocorre nas características básicas dos
rejeitos, estudos adicionais foram realizados considerando o material no campo e aquele
enviado para esta pesquisa, donde observou-se que mesmo coletado em períodos diferentes
a granulometria não apresentou variações significativas. Outras amostras foram obtidas
durante o período de desenvolvimento desta pesquisa e da mesma forma a granulometria
obtida foi bastante semelhante. Este fato tem revelado a uniformidade granulometria do
rejeito de Morro Agudo principalmente devido a manutenção do processo de separação por
espirais e o controle rigoroso do processo de produção do minério.
A massa específica dos grãos constituintes deste rejeito é da ordem de 3,127 g/cm3. O que
133
se observa é que o valor de ρs depende essencialmente da quantidade de ferro presente no
rejeito. No caso do rejeito de Morro Agudo, o teor de ferro é da ordem de 23%.
ESPÓSITO (2000) apresenta uma relação entre o valor de ρs e o teor de ferro, mostrando a
proporcionalidade e a relação direta entre estas grandezas. Esta relação será analisada mais
detalhadamente no Capítulo 8, considerando a variação de ρs devido ao processo de
segregação durante a deposição e a correspondente variação do teor de ferro ao longo da
praia do aterro hidráulico.
Observou-se, também, que de uma maneira geral o rejeito oriundo deste processo apresenta
pequenas variações no teor de ferro, da ordem de 5% em relação aos 23% encontrado. Esta
característica condiciona também pequenas variações no valor da massa específica das
grãos das amostras analisadas. A constância do teor de ferro do rejeito representa uma
vantagem adicional na manutenção das propriedades do aterro formado. A manutenção do
teor de ferro constante no rejeito diminui a variabilidade dos parâmetros iniciais que
influenciam no processo de formação da barragem. No entanto, são os minerais de ferro
presentes no rejeito que condicionam o processo de segregação durante a deposição. A
Tabela 6.1 apresenta as características básicas deste rejeito, envolvendo características
granulométricas, composição química e teor de ferro.
Tabela 6.1 – Características do rejeito de Mina de Morro Agudo.
D10 (mm) D50 (mm) D90 (mm) Cu Gs Fe (%) SiO2 (%) Al2O3 (%)
0,06 0,19 0,48 4 3,13 23 67 0,40
Considerando a porcentagem de ferro no rejeito e sua influência no processo de segregação
foram feitas análises individuais do dois minerais principais presentes no rejeito, o ferro e
o quartzo (Tabela 6.1). Este tipo de análise objetivou a verificação da distribuição
granulométrica correspondente a cada um deles.
A primeira etapa do trabalho constou da separação dos minerais pelo método de separação
magnética, usando o equipamento Franz. Durante o processo de separação, utilizou-se
amperagens progressivas para aumentar o campo magnético e consequentemente aumentar
cada vez mais a eficiência da separação. A adoção deste método de separação foi
justificada pela elevado grau de magnetismo das partículas de hematita em relação à
134
característica inerte do quartzo. Entretanto, durante o processo de separação, observou-se
que uma grande quantidade de partículas de coloração clara tendiam a se concentrar junto
com as partículas escuras (minerais de ferro). Isto é, estas partículas também estavam
sendo atraídas pelo campo magnético gerado no Franz. Este comportamento atípico destas
partículas de quartzo levou a proceder uma análise mais complexa deste tipo de grão.
Assim as amostras oriundas do processo de separação foram submetidas ao ensaio de
difratometria de raio X no Instituto de Geociências da Universidade de Brasília. Estas
análises objetivaram inicialmente avaliar a precisão do processo de separação, e
posteriormente avaliar as características dos minerais constituintes de cada fração. Desta
forma, foram analisados três tipos de partículas. As partículas de coloração escura, o ferro
típico (Amostra 1), as partículas de coloração clara, não magnéticas (Amostra 2) e as
partículas consideradas intermediárias, isto é o “quartzo” que apresentava um certo
magnetismo (Amostra 3). As Figuras 6.4, 6.5 e 6.6 apresentam os resultados obtidos a
partir dos ensaios de difratometria.
Analisando estas figuras observa-se que o processo de separação foi bastante eficiente. A
Amostra 1 representa certamente os minerais de ferro, embora possa ser visualizadas
alguns minerais de quartzo. A eficiência do método foi mais precisa para as partículas de
quartzo puro (Amostra 2). O fato mais interessante foi a análise da Amostra 3, neste caso
percebe-se uma grande concentração de partículas de quartzo e juntamente com elas uma
grande predominância de minerais de ferro. Com isto verifica-se que o magnetismo
presente nesta amostra estava associado à presença de minerais de ferro, entretanto não
ocorrendo de forma individual, mas provavelmente associados aos grãos de quartzo.
Na tentativa de comprovar estas suspeitas a Amostra 3 foi analisada, inicialmente, numa
lupa binocular e sendo então percebido a presença de pequenos pontos de hematita
aderidos à superfície das partículas de quartzo. Analisando os ensaios de microscopia
realizados por ESPÓSITO (2000), no mesmo rejeito, pode ser observada a presença de
pequenos pontos escuros (minerais de ferro) nas partículas de coloração clara que
representam o quartzo (Figura 6.7). Desta forma observa que o rejeito apresenta na
realidade três tipos básicos de partículas. Assim, considerando o processo de deposição, a
existência deste terceiro tipo de partícula poderá mudar significativamente o processo de
segregação que ocorre na praia, principalmente por este estar relacionado ao peso. 135
Quartzo - SiO2
Hematita -Fe3O3
Magnetita -Fe3O4
Figura 6.4 – Difratometria de Raio X realizada na Amostra 1.
Quartzo - SiO2
Gibsita - Al(OH)3
Hematita -Fe3O3
Magnetita -Fe3O4
Figura 6.5 – Difratometria de Raio X realizada na Amostra 2.
Quartzo - SiO2
Hematita -Fe3O3
Magnetita -Fe3O4
Figura 6.6 – Difratometria de Raio X realizada na Amostra 3.
136
0,18 mm
Figura 6.7 – Microscopia ótica realizada no rejeito da Pilha do Monjolo (ESPÓSITO,
2000)
Considerando então a existência de três tipos distintos de partículas, foram feitas as
análises granulométricas das amostras obtidas no processo de separação magnética (Figura
6.8). De uma forma geral as partículas de quartzo puro apresentam uma granulometria
levemente superior à do ferro. Contudo as amostras de quartzo associadas com ferro são
sensivelmente mais grossas. Este fato tende a revelar mais uma particularidade em relação
às partículas que compõem o rejeito, podendo possivelmente justificar algumas diferenças
de comportamento associadas ao processo de deposição hidráulica.
0
20
40
60
80
100
0,000 0,001 0,010 0,100 1,000 10,000diâmetro (mm)
% p
assa
Quartzo PuroQuartzo/FerroFerro
Figura 6.8 – Curva granulométrica típica dos diferentes tipos de partículas do rejeito de
Morro Agudo.
137
6.3. ENSAIOS REALIZADOS NO ESDH
O programa experimental consistiu de ensaios realizados com diferentes valores de
concentração associados a três diferentes valores de vazão de descarga. Assim os ensaios
eram preparados de acordo com a concentração adotada, seguindo a metodologia de
preparação apresentada no Capítulo 5, e em seguida depositados no ESDH para valores de
vazão de 5, 10 e 20 l/min. Assim, foram realizados nove ensaios considerando três níveis
de concentração variando entre 5 e 20%. A Tabela 6.2 sumariza os ensaios realizados, bem
como suas características iniciais.
Tabela 6.2 – Resumo dos ensaios
Ensaio Q (l/min) Q (m3/s) q (m2/s) c (%)
MA – 1 4,80 0,80 x 10-4 2,00 x 10-4 8,90
MA – 2 9,68 1,61 x 10-4 4,03 x 10-4 13,92
MA – 3 19,33 3,22 x 10-4 8,05 x 10-4 7,74
MA – 4 19,20 3,20 x 10-4 8,00 x 10-4 14,04
MA – 5 20,2 3,37 x 10-4 8,43 x 10-4 20,20
MA – 6 5,92 0,99 x 10-4 2,48 x 10-4 20,38
MA – 7 5,92 0,99 x 10-4 2,48 x 10-4 13,12
MA – 8 9,26 1,54 x 10-4 3,86 x 10-4 8,84
MA – 9 9,35 1,61 x 10-4 4,02 x 10-4 19,65
OBS: Q = vazão total; q = vazão específica; c = concentração
Após o processo de deposição foram realizados ensaios de determinação da densidade,
granulometria e massa específica dos grãos ao longo de todo o depósito no canal, em
pontos pré-fixados e espaçados de 20 cm a partir do ponto inicial de descarga, coincidente
com a extremidade final do controlador de fluxo. Estes ensaios objetivaram avaliar a
densidade do depósito ao longo do caminho de fluxo e o efeito da segregação que ocorria
na praia devido ao processo de deposição. Neste sentido, os pontos amostrados foram
selecionados de modo a obter um mapeamento das propriedades do depósito em função da
geometria do depósito em função do ponto de descarga.
Todos os ensaios de caracterização do rejeito realizados seguiram os procedimentos
preconizados pelas normas da ABNT relacionadas principalmente aos ensaios de
caracterização dos solos. Algumas exceções foram feitas com relação a utilização do
138
granulômetro a laser ao invés do ensaio de granulometria convencional e ao ensaio de
determinação da densidade do depósito, que neste caso optou-se por usar o método de
cravação do cilindro (HEAD, 1984).
6.3.1. Densidade
Os ensaios de densidade foram realizados utilizando um cilindro biselado de parede fina
(2 mm), projetado especialmente para realização deste tipo de ensaio no canal do ESDH.
As dimensões do cilindro, considerando uma boa proporcionalidade entre o diâmetro e
altura, foi de 47,5 mm de diâmetro interno e 55,0 mm de altura. Estas dimensões foram
adotadas visando uma maior facilidade de obtenção das amostras, minimizando as
perturbações provocadas pelo processo de cravação e as dificuldades relacionadas a
amostradores de maiores dimensões, inviáveis devido a própria limitação da escala do
ensaio. Normalmente, estes ensaios eram realizados 24 a 30 h após a finalização da fase de
deposição. A superfície do aterro era nivelada e o cilindro era cuidadosamente cravado,
evitando perturbar a amostra. Este tipo de procedimento é bastante sensível aos processo
de amolgamento. Assim, a cravação era feita juntamente com o desabaste da região
amostrada, tentando eliminar ao máximo o material existente no entorno da amostra.
Imediatamente após a coleta da amostra o cilindro era pesado e em seguida procedia-se a
determinação do teor de umidade da amostra em três pontos diferentes do cilindro, topo,
base e centro da amostra. Este material era então seco ao ar e em seguida utilizado nas
análises granulométricas. Os valores referentes a massa específica total, massa específica
seca e teor de umidade obtidos em diferentes pontos do depósito para cada ensaio de
simulação realizados estão apresentados na Tabela 6.3.
6.3.2. Segregação hidráulica
O processo de segregação hidráulica que ocorria na praia devido ao processo de deposição
foi avaliado a partir da determinação da distribuição granulométrica do rejeito ao longo do
perfil do depósito. Assim, foram realizados ensaios de granulometria nas amostras
coletadas no ESDH utilizando o granulômetro a laser existente no Laboratório de
Geotecnia da Universidade de Brasília. O processo consiste na passagem de uma pequena
porção de solo em uma câmara onde o material é diluído em água destilada a então
submetido a um feixe de raios laser que analisa através da obscuração da lente o diâmetro 139
das partículas presentes no solo. Este equipamento utiliza um programa de saída de dados
que permite a visualização das curvas granulométricas obtidas nas diversas análises
iterativas realizadas. Ao fim deste processo iterativo uma curva média é obtida e
considerada como a curva representativa do solo.
Tabela 6.3 – Ensaios de densidade
MA-1 MA-2 MA-3 Dist. (m)
ρt (g/cm3) ω (%) ρd (g/cm3) ρt (g/cm3) ω (%) ρd (g/cm3) ρt (g/cm3) ω (%) ρd (g/cm3)
0,0 2,70 18,09 2,29 2,95 21,64 2,43 2,91 17,42 2,48
0,2 2,16 24,23 1,74 2,18 25,52 1,74 2,78 18,20 2,35
0,4 2,12 26,02 1,68 2,18 29,09 1,69 2,30 22,82 1,87
0,6 2,05 29,40 1,58 2,09 30,20 1,61 2,11 24,90 1,69
0,8 2,05 28,68 1,59 2,06 30,93 1,57 2,05 25,80 1,63
1,0 1,98 30,85 1,51 2,09 33,37 1,57 2,03 25,72 1,61
1,2 1,97 32,80 1,48 1,99 29,96 1,53 1,99 25,25 1,59
1,4 - - - 2,06 30,70 1,58 1,96 26,6 1,55
1,6 - - - 2,06 32,78 1,55 1,96 29,63 1,51
1,8 - - - - - - 2,01 28,64 1,56
2,0 - - - - - - 1,99 29,60 1,54
MA-4 MA-5 MA-6 Dist. (m)
ρt (g/cm3) ω (%) ρd (g/cm3) ρt (g/cm3) ω (%) ρd (g/cm3) ρt (g/cm3) ω (%) ρd (g/cm3)
0,0 3,07 11,50 2,75 2,88 17,78 2,45 2,84 18,49 2,40
0,2 2,44 17,70 2,07 2,35 23,50 1,90 2,31 22,17 1,89
0,4 2,07 21,09 1,71 2,38 23,86 1,92 2,02 27,34 1,59
0,6 2,06 19,81 1,72 2,22 24,78 1,78 1,98 27,50 1,55
0,8 2,09 21,53 1,72 2,31 26,26 1,83 2,00 26,57 1,58
1,0 2,06 23,69 1,67 2,24 26,65 1,77 2,02 26,10 1,60
1,2 2,05 21,04 1,69 2,15 27,10 1,69 1,88 24,33 1,51
1,4 2,07 22,90 1,68 2,10 26,32 1,66 - - -
1,6 2,07 23,35 1,68 2,13 27,12 1,68 - - -
1,8 2,06 25,17 1,65 2,00 27,40 1,57 - - -
MA-7 MA-8 MA-9 Dist. (m)
ρt (g/cm3) ω (%) ρd (g/cm3) ρt (g/cm3) ω (%) ρd (g/cm3) ρt (g/cm3) ω (%) ρd (g/cm3)
0,0 2,85 18,72 2,40 3,29 15,68 2,84 2.9 17.12 2.48
0,2 2,34 26,32 1,86 2,46 23,10 1,99 2.46 19.6 2.05
0,4 2,32 26,34 1,84 2,30 21,71 1,89 2.17 24.01 1.75
0,6 2,24 27,60 1,75 2,19 25,80 1,74 2.14 26.37 1.7
0,8 2,12 24,99 1,70 2,15 28,02 1,68 2.10 27.91 1.64
1,0 2,03 27,16 1,60 2,19 25,23 1,75 2.11 27.05 1.66
1,2 2,05 26,02 1,63 2,11 28,14 1,65 2.02 29.21 1.56
1,4 - - - 1,98 30,57 1,52 2.04 30.22 1.57
140
Embora ainda existam algumas restrições com relação ao uso deste equipamento na
previsão da granulometria de alguns solos, principalmente solos silto-argilosos, no caso
desta pesquisa nenhum tipo de problema foi detectado, devido principalmente ao caráter
arenoso do rejeito estudado. Análises comparativas foram efetuadas considerando o ensaio
de granolumetria convencional NBR 7181/84 (ABNT, 1984) e o realizado no granulômetro
a laser, onde observou-se que para ambos os procedimentos a curva granulométrica obtida
foi idêntica (Figura 6.3), reforçando a consideração de que para solos arenosos a análise
realizada no granulômetro a laser não apresenta nenhum tipo de problema. Com base neste
resultados adotou-se o granulômetro como equipamento padrão para realização de todos os
ensaios subsequentes de avaliação granulométrica.
O processo de preparação das amostras utilizadas no granulômetro foi bastante simples
devido às características granulométricas do material, sem a necessidade de realizar um
peneiramento prévio das partículas mais grossas. No caso do rejeito de Morro Agudo todo
o material foi analisado no granulômetro, otimizando a campanha de ensaios de
granulometria. As amostras obtidas a partir dos cilindros de determinação da densidade
eram secas ao ar e introduzidas no sistema de mistura acoplado ao granulômetro e após a
homogeneização e avaliação da obscuração em torno de 30% (MANSO, 1999) eram
procedidas as análises. Alguns cuidados foram necessários com relação a limpeza das
tubulações que conduziam o material para a câmara de laser. Devido às características do
rejeito era necessário recircular diversas vezes água destilada para remover o excesso de
material e evitar erros nos ensaios seguintes por contaminação de partículas que se
mantinham nas lentes de vidro da câmara. Maiores detalhes a respeito dos procedimentos,
metodologias e cuidados relativos à análise granulométrica utilizando o granulômetro
podem ser encontrados em MANSO (1999).
Algumas amostras adicionais foram coletadas no próprio depósito no ESDH para
complementar a avaliação global do processo de segregação. Estas amostras coincidiram
com os 40 cm finais do depósito, onde devido a reduzida altura do depósito não foi
possível realizar a cravação do cilindro para determinação da densidade. A Tabela 6.4
apresenta os parâmetros obtidos a partir das curvas granulométricas correspondentes a cada
simulação realizada referentes às amostras obtidas ao longo do caminho de deposição. As
curvas granulométricas correspondentes a cada ensaio realizado no ESDH estão
apresentadas no Apêndice A. 141
Tabela 6.4 – Granulometria
MA-1 MA-2 MA-3 Dist. (m)
D10 (mm)
D50 (mm)
D90 (mm)
Cu D10 (mm)
D50 (mm)
D90 (mm)
Cu D10 (mm)
D50 (mm)
D90 (mm)
Cu
0,0 0,04 0,11 0,27 3,4 0,05 0,12 0,27 3,0 0,04 0,11 0,30 3,0
0,2 0,06 0,17 0,58 4,7 0,07 0,16 0,31 2,6 0,04 0,11 0,25 3,0
0,4 - - - - 0,12 0,26 0,44 2,3 0,06 0,17 0,38 3,2
0,6 0,07 0,20 0,45 3,3 0,12 0,27 0,51 2,6 0,06 0,21 0,47 4,3
0,8 0,09 0,23 0,46 3,2 0,11 0,28 0,54 3,0 0,06 0,26 0,58 4,8
1,0 0,09 0,24 0,47 3,1 0,11 0,29 0,56 3,0 0,06 0,20 0,45 3,9
1,2 0,09 0,23 0,47 3,1 0,17 0,38 0,63 2,4 0,06 0,19 0,43 3,7
1,4 0,06 0,22 0,56 5,0 0,13 0,28 0,57 2,5 0,08 0,27 0,57 3,6
1,6 0,05 0,18 0,47 5,1 0,11 0,24 0,61 3,5 0,09 0,28 0,55 3,2
1,8 0,02 0,11 0,32 6,5 0,09 0,28 0,58 3,6 0,07 0,27 0,55 4,0
2,0 - - - - 0,08 0,21 0,47 3,3 0,07 0,23 0,51 3,8
2,2 - - - - 0,03 0,20 0,50 8,6 0,06 0,20 0,49 3,7
2,4 - - - - - - - - 0,02 0,10 0,41 6,5
MA-4 MA-5 MA-6 Dist. (m)
D10 (mm)
D50 (mm)
D90 (mm)
Cu D10 (mm)
D50 (mm)
D90 (mm)
Cu D10 (mm)
D50 (mm)
D90 (mm)
Cu
0,0 0,03 0,10 0,22 3,2 0,06 0,18 0,48 3,5 0,07 0,22 0,48 3,9
0,2 0,04 0,11 0,22 3,2 0,06 0,19 0,48 3,4 0,07 0,22 0,42 3,9
0,4 0,05 0,19 0,38 4,7 0,07 0,21 0,50 3,5 0,17 0,37 0,63 2,4
0,6 0,06 0,26 0,52 4,7 0,11 0,30 0,60 3,4 0,14 0,32 0,59 2,7
0,8 0,05 0,19 0,40 4,7 0,09 0,24 0,56 3,4 0,15 0,32 0,61 2,5
1,0 0,05 0,21 0,41 5,2 0,09 0,24 0,55 3,3 0,15 0,33 0,61 2,6
1,2 0,06 0,21 0,42 3,8 0,08 0,38 0,70 5,8 0,13 0,37 0,63 3,2
1,4 0,05 0,29 0,61 8,0 0,10 0,24 0,59 3,2 0,08 0,27 0,60 3,9
1,6 0,05 0,22 0,49 5,4 0,08 0,23 0,43 3,6 0,10 0,30 0,60 3,5
1,8 0,04 0,22 0,51 6,5 0,09 0,31 0,65 4,3 0,10 0,37 0,63 4,0
2,0 0,04 0,17 0,42 4,7 0,09 0,23 0,55 3,3 0,02 0,06 0,21 5,3
2,2 0,04 0,27 0,56 8,3 0,07 0,31 0,60 5,4 - - - -
2.4 0,01 0,06 0,21 8,9 0,02 0,27 0,41 9,8 - - - -
2.5 - - - - 0,01 0,06 0,17 5,0 - - - -
MA-7 MA-8 MA-9 Dist. (m)
D10 (mm)
D50 (mm)
D90 (mm)
Cu D10 (mm)
D50 (mm)
D90 (mm)
Cu D10 (mm)
D50 (mm)
D90 (mm)
Cu
0,0 0,12 0,30 0,56 2,7 0,04 0,16 0,31 4,4 0,04 0,11 0,28 3,5
0,2 0,12 0,37 0,69 3,6 0,06 0,20 0,44 3,8 0,07 0,18 0,41 3,0
0,4 0,17 0,37 0,69 2,5 0,06 0,21 0,48 4,3 0,07 0,20 0,40 3,2
0,6 0,17 0,35 0,69 2,6 0,10 0,28 0,58 3,1 0,14 0,30 0,60 2,4
0,8 0,15 0,33 0,60 2,5 0,13 0,30 0,60 2,8 0,15 0,36 0,65 2,7
1,0 0,18 0,40 0,60 2,4 0,16 0,38 0,64 2,5 0,13 0,32 0,63 2,9
1,2 0,12 0,38 0,61 3,6 0,14 0,32 0,59 2,7 0,08 0,35 0,61 5,1
1,4 0,47 0,30 0,56 0,7 0,15 0,33 0,61 2,5 0,11 0,30 0,61 3,5
1,6 0,01 0,07 0,22 9,7 0,12 0,28 0,58 2,8 0,09 0,27 0,54 3,6
1,8 - - - - 0,05 0,30 0,60 7,8 0,08 0,23 0,48 3,6
2,0 - - - - 0,02 0,06 0,18 5,0 0,02 0,09 0,26 6,7
142
6.3.3. Massa específica dos grãos
Considerando a presença de minerais de ferro no rejeito da Mina de Morro Agudo, fez-se
necessária a determinação da variação da massa especifica das partículas ao longo do
depósito. A adoção deste tipo de análise e o tratamento especial dado a este parâmetro
deveu-se principalmente às grandes variações no valor da massa específica dos grãos
durante o processo de segregação hidráulica. No caso do rejeito de minério de ferro a
existência de dois tipos de partículas relacionado aos dois minerais predominantes no
rejeito, o quartzo e o ferro, confere a este solo um caráter particular de segregação, em que
o peso é preponderante em relação ao diâmetro do sedimento.
Analisados separadamente, a massa específica dos grãos correspondente ao quartzo puro é
da ordem de 2,65 g/cm3, valor comumente encontrado para a maioria dos solos estudados
cuja composição mineralógica é bastante semelhante. Em contrapartida, a hematita,
mineral de ferro típico do rejeito de Morro Agudo, tem um valor excessivamente mais alto
da ordem de 5,5 g/cm3. Estas partículas quando submetidas a um processo de transporte
hidráulico apresentam comportamentos totalmente distintos. Este tipo de consideração se
torna ainda mais complexo ao se considerar a existência do terceiro tipo de partícula
presente no rejeito, conforme discutido no Item 6.2.
Considerando então o processo de deposição hidráulica em que a o processo de segregação
ocorre pelo mecanismo de transporte hidráulico, verifica-se que as características destas
partículas em relação ao seu peso tem uma importância fundamental neste processo de
seleção. Desta forma a densidade das partículas sólidas apresentará variações em função da
capacidade de transporte do fluxo sobre o depósito e da porcentagem de ferro presente no
rejeito. Pelo processo de segregação as partículas de ferro poderão se concentrar em áreas
específicas do depósito e além da variabilidade granulométrica a variação da porcentagem
de ferro ao longo do depósito condicionará o valor da massa específica dos grãos. Assim,
uma proposta de avaliação do processo de segregação relacionado ao peso da partícula
estaria na determinação da massa específica das partículas sólidas ao longo do depósito em
relação ao ponto de descarga.
Neste contexto, usando a mesma metodologia anterior, foram realizados ensaios de
determinação da massa específica dos grãos em pontos também espaçados a cada 20 cm ao 143
longo do depósito a partir do ponto de descarga. A amostras obtidas foram coletadas na
parte central do depósito em locais próximos aos pontos onde foram cravados os cilindros
para determinação da densidade. Este tipo de cuidado foi tomado de modo a obter amostras
com as mesmas características e facilitar as comparações e análises dos resultados. A
tabela 6.5 apresenta os valores da massa específica dos grãos obtidas nos diversos pontos
do depósito nas diferentes simulações realizadas.
Tabela 6.5 – Ensaios de determinação da massa específica dos grãos
MA-1 MA-2 MA-3 MA-4 MA-5 MA-6 MA-7 MA-8 MA-9 Dist. (m)
ρs (g/cm3) ρs (g/cm3) ρs (g/cm3) ρs (g/cm3) ρs (g/cm3) ρs (g/cm3) ρs (g/cm3) ρs (g/cm3) ρs (g/cm3)
0,0 3,64 3,86 4,16 4,12 3,72 3,73 4.01 4,41 3,71
0,2 2,96 2,95 4,03 3,65 3,77 3,53 3,68 3,46 3,42
0,4 3,22 3,095 3,58 3,01 3,18 3,02 3,17 3,16 3,10
0,6 2,81 2,98 3,10 3,05 2,99 2,94 3,08 3,09 2,97
0,8 2,77 3,03 3,30 3,03 2,97 3,02 3,04 3,04 3,02
1,0 2,76 2,963 3,19 3,01 2,98 3,02 3,05 3,05 2,995
1,2 2,82 2,93 3,01 2,97 2,99 2,96 3,01 3,00 2,97
1,4 2,85 2,85 2,89 2,84 2,90 2,96 3,06 2,94 2,94
1,6 2,89 2,78 2,84 2,82 2,84 2,85 3,02 2,95 2,84
1,8 3,07 - 2,83 2,79 2,84 2,90 - 2,87 2,88
2,0 - 2,95 2,80 2,76 2,77 - - - 2,79
2,2 - 3,20 2,81 2,83 2,86 - - - -
2,4 3,19 - 3,09. - 2,89 - - - -
6.3.4. Geometria
144
A geometria do depósito foi determinada a partir da medição direta da altura do talude ao
longo do canal. Neste tipo de avaliação foi utilizado um equipamento desenvolvido
especificamente para realizar estas medidas no inerior do canal, conforme apresentado no
Capítulo 5. A adoção deste dispositivo foi fundamental na avaliação das diferenças
ocorridas no talude da praia devido aos processo de erosão, formação de canais, meandros
e barreiras, alterando localmente a inclinação do talude. Todas estas anormalidades
geométricas geradas durante a deposição foram mapeadas e analisadas localmente na
avaliação da geometria. Contudo, a avaliação do perfil foi feita desconsiderando estas
feições. Em alguns casos optou-se por adotar as leituras referentes à parte central do canal
visando obter uma configuração global do depósito. Em outros casos, quando toda a praia
apresentava anormalidades era realizada uma comparação de todas as leituras e, após uma
avaliação global da inclinação, estabelecia-se uma média ponderada das leituras e
determinava-se a inclinação média do depósito.
A metodologia de avaliação da geometria do perfil foi feita através de medidas da altura da
praia em diferentes pontos na superfície do depósito, situados a cada 10 cm a partir do
ponto de descarga. Para cada leitura foi adotado um plano de referência, no caso a cota do
topo da viga superior de sustentação do canal. O equipamento de leitura era fixado nesta
viga e posicionado de acordo com a região do canal onde deveria ser feita a leitura. A
estrutura de fixação deste equipamento permitia um deslocamento lateral ao longo da seção
transversal do canal, possibilitando a realização das leituras nas partes esquerda e direita do
depósito sem alterar a posição inicial em relação ao ponto de descarga. As leituras
seguintes eram realizadas deslocando a estrutura de fixação do equipamento em direção ao
final do depósito, cobrindo toda a sua extensão longitudinal. Quando o dispositivo
sinalizador tocava a superfície do aterro, a trena era travada sendo obtida a leitura
correspondente a ponto considerado. A Tabela 6.6 apresenta os dados referentes a
inclinação global média (inclinação da reta de interpolação dos pontos ao longo do
depósito no ESDH) obtida para os vários ensaios de simulação realizados, as curvas
mostrando a evolução do aterro para cada uma destas simulações estão aparentadas no
Apêndice A.
Tabela 6.6 - Geometria do depósito no ESDH
Ensaio Altura da crista (m)
Comprimento (m)
Im (%)
MA-1 0,147 1,86 7,68
MA-2 0,165 2,28 7,56
MA-3 0,140 2,39 5,39
MA-4 0,150 2,38 6,81
MA-5 0,181 2,57 7,47
MA-6 0,169 2,10 9,21
MA-7 0,142 1,99 8,22
MA-8 0,152 1,89 6,76
MA-9 0,166 2,01 8,68
OBS: Im = Inclinação global média
145
CAPÍTULO 7
MODELO MATEMÁTICO
7.1. INTRODUÇÃO
O processo de transporte de sedimentos que ocorre nos aterros hidráulicos apresenta uma
característica muito particular quando comparado aos fenômenos convencionais de
transporte de partículas. No caso dos aterros hidráulicos, a quantidade de sedimentos
envolvida é muito maior devido às altas concentrações com que o material é lançado. Além
disso, as próprias características de lançamento diretamente sob a superfície do aterro
condicionam baixas profundidades de fluxo e altas velocidades. Neste caso, o mecanismo
de arraste predominante pode ser considerado como um transporte de carga de fundo, em
que as partículas tendem a se mover por saltação, rolagem, deslizamento ou colisão.
De uma maneira geral é bastante complexo, do ponto de vista da hidráulica dos
sedimentos, estabelecer uma equação matemática que possa descrever com precisão o
comportamento dos sedimentos. Alguns estudos têm sido realizados no sentido de
enquadrar as características das deposições que ocorrem nos aterros hidráulicos dentro de
simulações numéricas e equações já definidas pela teoria de transporte de sedimentos.
Entretanto, não existe até agora nenhuma equação formal que possa descrever todo o
processo de transporte e deposição que ocorre na formação dos aterros hidráulicos.
Algumas equações têm sido propostas baseadas nas análise de estudos de campo ou
simulações em laboratório aplicados a problemas específicos de engenharia em que a
técnica de aterro hidráulico é aplicada. Alguns destes estudos foram apresentados no
Capítulo 3 e referem-se a determinação da geometria do depósito (BLIGHT et al. (1985);
FAN & MASLIYAH, 1990; BLIGHT, 1994; MORRIS & WILLIAMS, 1996) e a variação
da concentração ao longo da profundidade de fluxo (DE GROOT et al., 1988;
146
WINTERWERP et al., 1990 e 1992). Entretanto, pouco se tem feito no sentido de
quantificar o processo de seleção que ocorre na praia do aterro hidráulico.
Observa-se que devido às características de transporte, a variabilidade dos parâmetros
envolvidos, as formulações matemáticas capazes de descrever o fenômeno são complexas e
as soluções normalmente se tornam complicadas devido à dificuldade de estabelecer os
contornos e as condições reais dos fenômenos envolvidos. Além disso, a própria
característica dos sedimentos e o processo de segregação que ocorre durante a deposição
não parecem ser uma tarefa fácil de descrever usando as formulações básicas de transporte
de sedimentos. Mesmo reconhecendo todas estas dificuldades, é apresentada uma primeira
tentativa de avaliar o processo de segregação hidráulica que ocorre nos aterros hidráulicos,
de modo particular aplicado ao processo de formação das barragens de rejeito.
Alguns estudos tem sido desenvolvidos considerando a não uniformidade dos sedimentos e
a sua relação com o processo de segregação. Entretanto, no caso de rejeitos de mineração,
além da não uniformidade existente em relação ao tamanho dos sedimentos, existe uma
não uniformidade em relação ao peso da partícula devido a presença de minerais pesados.
Desta forma, embora envolvidas em algumas aproximações e teorias de transporte de
sedimentos, as diferenças nas características das partículas representaram um desafio
adicional no estabelecimento deste modelo. A caracterização e o estabelecimento do
modelo de segregação associado a sedimentos de diferentes densidades tem se mostrado
bastante difícil.
A idéia do estabelecimento do modelo originou-se durante a avaliação dos mecanismos de
transporte que ocorriam no ESDH e da possibilidade de verificar as potencialidades do
ESDH na caracterização do fenômeno para a realidade de campo. Isto é, a partir do
estabelecimento das formulações via ESDH poder-se-ia gerar dados para o controle dos
depósitos no campo. Contudo, deve ser ressaltado que a variabilidade dos parâmetros
hidráulicos e a característica do processo de deposição no campo ainda representam uma
barreira na caracterização e avaliação do comportamento dos aterros hidráulicos.
7.2. CARACTERÍSTICAS DOS MODELOS MATEMÁTICOS
Considerando o efeito do transporte de partículas baseado no processo de arraste 147
hidráulico, diferentes tipos de proposições podem ser feitas relacionadas a este tipo de
fenômeno. Uma primeira aproximação poderia ser feita baseada na análise do mesmo tipo
de fenômeno de transporte que ocorre devido ao arraste hidráulico dos sedimentos
constituintes de um leito de rio. Algumas diferenças podem ocorrer principalmente na
análise da quantidade de sedimentos e da forma de descarga. No entanto, os princípios
básicos relativos ao transporte de sedimentos podem ser considerados bastante
semelhantes, principalmente numa análise do processo de intercâmbio entre a camada de
fundo e os sedimentos que atuam no processo de transporte. Similarmente, este mesmo
tipo de intercâmbio de camadas irá ocorrer no processo de formação dos aterros
hidráulicos, porém a descarga de sedimentos é certamente maior.
De uma forma geral é possível fazer uma analogia entre os dois processos e estabelecer
uma correlação entre as formulações normalmente propostas para dinâmica de rios e o
fenômeno de transporte e deposição dos aterros hidráulicos. Estas correlações encontram
suporte na avaliação do processo de deposição e erosão que ocorrem nos leitos de rios
devido ao fluxo ou mesmo a carga de sedimentos que os rios transportam. As alterações
morfológicas que ocorrem na camada de intercâmbio provocada pelas variações devido aos
processos de transporte e deposição nos leitos dos rios é semelhante às alterações que
ocorrem na praia do aterro hidráulico, quando o fluxo de lama atinge a camada pré-
depositada do aterro.
Vários tipos de modelos matemáticos tem sido desenvolvidos objetivando avaliar a
capacidade de transporte de rios provocados pela alterações nos seus cursos ou por
descargas sólidas. Outros estudos analisam as alterações morfológicas provocadas pelo
transporte e mudanças na graduação dos sedimentos devido a abrasão (MURILO-
MUÑOZ, 1998). Estes estudos foram realizados utilizando o modelo Acronym5 (CUI &
PARKER, 1998) e objetivam avaliar o processo de segregação que ocorre devido ao
processo de abrasão baseado no diâmetro inicial da partícula. Embora caracterizando o
processo de abrasão devido ao transporte e devido às variações no tamanho da partícula,
este modelo não considera as mudanças na densidade das partículas.
Analisando outros tipos de modelos aplicados ao transporte de sedimentos em rios pode-se
considerar as modelagens matemáticas propostas por RIBBERINK (1987) relacionadas à
previsão das alterações morfológicas nos rios com sedimentos não uniformes. Considera-se 148
que o transporte seletivo pode levar a grandes alterações morfológicas devido ao processo
de segregação longitudinal e ainda que o processo de erosão pode descobrir e expor
camadas de sedimentos ao processo de fluxo, alterando toda característica inicial do leito
do rio. O modelo desenvolvido por RIBBERINK (1987) objetiva prever as alterações
morfológicas que ocorrem nas escalas de tempo e espaço provocadas pelas alterações
impostas pela própria natureza do rio ou pela interferência humana, como a construção de
barragens e variações nas características físicas do rio. Seguindo a mesma linha de
pesquisa, ARMANINI (1996) apresenta um modelo baseado no conceito de camada ativa,
considerando que a taxa de transporte de uma mistura de sedimentos não uniformes pode
ser calculada assumindo que a taxa de transporte de cada classe de sedimento é igual a taxa
de transporte do material considerado como uniforme, porém multiplicada pela
porcentagem de cada classe presente na camada.
Um outro tipo de consideração poderia ser feita a partir da análise do processo de formação
de leques aluviais. Esta consideração dentro de uma análise mais realista de alguns
parâmetros de formação das barragens de rejeitos parece ter uma aplicabilidade mais
direta, principalmente considerando o processo de formação que ocorre no campo.
Entretanto, as formulações propostas apresentam um grau de complexidade bastante alto e
a possibilidade de adaptações ao fenômeno que ocorre no campo implicariam em análises
bem mais complexas.
Um dos principais trabalhos relacionados à modelagem matemática do processo de
formação de leques aluviais foi descrito por PARKER (2000), que apresenta uma visão
geral da evolução da modelagem dos leques aluviais mostrando as principais
características dos modelos propostos aliados à caracterização do comportamento dos
leques aluviais no campo e no laboratório. A teoria moderna de formação dos leques
aluviais deriva dos modelos de bacias de deposição desenvolvidos por PAOLA (1988 e
1989). Neste caso o transporte de sedimentos é descrito usando uma relação de difusão, em
que a taxa de transporte é proporcional à inclinação do talude da camada da bacia.
PAOLA (1988) mostra que a relação de difusão para o transporte de sedimentos pode ser
derivada das equações básicas de fluxo e transporte de sedimentos em rios e canais. A
formulação pode ser adaptada para canais em forma de meandros, canais entrelaçados e
fluxo laminares (PAOLA et al., 1999). 149
Dentro de uma análise relacionada a quantidade de sedimentos, algumas comparações
relativas ao fenômeno de avalanches (debris flow) podem ser feitas. Entretanto, as
velocidades de fluxo e as inclinações dos taludes são bem maiores que as relativas ao
fenômeno de formação dos aterros hidráulicos. Além disso, no caso das avalanches o
fenômeno de transporte tem uma característica predominantemente erosiva. SLLOFF
(1993) apresenta estudos relacionados à modelagem das alterações morfológicas em rios
de taludes vulcânicos, que levam a um modelo unidimensional simulando um fluxo super-
crítico e não permanente, considerando valores de concentrações em volume menores que
10%. O modelo é baseado na consideração que o transporte por arraste de fundo é função
da velocidade fluxo e das características dos sedimentos. A formulação é baseada na lei da
continuidade e da quantidade de água, entretanto, considerando três camadas distintas
dentro do sistema de transporte: uma camada de base, uma camada de transporte de fundo
e uma camada de transporte de material em suspensão. O modelo é estabelecido pela
combinação das equações da continuidade para uma profundidade média para estas três
camadas. A Figura 7.1 mostra o esquema das camadas adotado por SLLOFF (1993). Neste
esquema são apresentadas as característica do sistema de transporte e a alteração nas
camadas devido ao processo de erosão e/ou deposição (variação de zb). Uma característica
importante do modelo proposto por SLLOFF (1993) é a consideração conjunta do
transporte do material suspenso e a variação da concentração ao longo da profundidade de
fluxo (Cs).
z
x
u(z)u
a
Cs
Sb
ζ
zo
zb
Figura 7.1 – Esquema das camadas (modificado – SLLOFF, 1993)
7.3. CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO DO PROCESSO DE FORMAÇÃO DOS
ATERROS HIDRÁULICOS
Devido a complexidade do processo de formação dos aterros hidráulicos que ocorre no 150
campo foi feita uma primeira tentativa de avaliar o processo de deposição que ocorria
durante as simulações no ESDH. Esta consideração foi viabilizada pela possibilidade de
controle das variáveis envolvidas e as próprias características dos ensaios. Entretanto, a
utilização do próprio rejeito nas simulações em laboratório aumentaram as dificuldades nos
estabelecimento do modelo matemático. Mas este tipo de consideração foi importante pois
a variação nas características das partículas do rejeito é o fator condicionante das seleção
hidráulica que ocorre durante a formação dos depósitos, sendo fundamental o
estabelecimento de modelos que possam avaliar esta característica.
Como já foi descrito, a modelagem matemática representa um dado adicional neste
trabalho e objetiva iniciar o estudo relacionado à previsão analítica do comportamento dos
aterros hidráulicos. Este tipo de estudo foi realizado durante o período de realização de
parte desta tese no International Institute for Infrastructural, Hydraulic and Environment
(IHE), em Delft, Holanda. O objetivo final deste estudo estaria centrado na análise do
fenômeno no campo baseado no controle estabelecido em laboratório e na extrapolação das
considerações e formulações desenvolvidas baseadas nas simulações no ESDH. A
complementação desta análise numérica já encontra-se em desenvolvimento na própria
Universidade de Brasília dentro desta mesma linha de pesquisa de análise e
comportamento de rejeitos de mineração.
Analisando o processo de deposição que ocorre no ESDH observa-se que, após a descarga
no canal, as partículas tendem a se depositar ou serem transportadas em direção a porção
final do canal em função das suas características físicas e dos parâmetros iniciais de
descarga. Observa-se que as partículas mais leves tendem a ser transportadas juntamente
com fluido e a as partículas mais pesadas tendem a cair em regiões próximas ao ponto de
descarga. Neste contexto podem ser distinguidos dois tipos básicos de mecanismo de
transporte, um relacionado às partículas menores e/ou mais leves transportadas juntamente
com o fluido em suspensão e um segundo tipo de transporte relacionado ao movimento das
partículas próximas à camada de fundo, constituindo o mecanismo de arraste de fundo.
Inicialmente o material é lançado, e em função da velocidade de descarga e da velocidade
de queda das partículas, os sedimentos irão depositar em regiões próximas ao ponto de
descarga. O aterro começa a evoluir e um complexo processo de transporte das partículas
já depositadas começa a ocorrer. Nesta fase, a inclinação do talude do aterro ainda sofre 151
algumas variações até atingir uma situação de equilíbrio, em que o processo de deposição e
erosão começam a se contrabalançar. O talude sofre alterações devido ao processo de
deposição mas ao mesmo tempo o fluxo de sedimentos provoca alterações na configuração
do talude de modo que a inclinação é compensada desde a crista até a porção final do
depósito. A Figura 7.2 representa um esquema simplificado do processo de deposição já na
fase de equilíbrio, onde o acréscimo de altura na camada devido a deposição inicial
sedimentos é alterada pela energia do fluxo. É importante ressaltar que a fase inicial de
alteração da inclinação é muito rápida e logo que o aterro atinge os primeiros centímetros a
condição de equilíbrio é atingida. Por isto as considerações de fluxo e análise geral do
processo de deposição foram realizadas baseadas nesta condição de equilíbrio já que a
maior parte do processo de deposição ocorre sob estas condições.
Figura 7.2 – Esquema simplificado do processo de deposição (fase de equilíbrio).
Embora conhecendo que o mecanismo de transporte predominante na formação dos aterros
hidráulicos é o transporte da carga de fundo, foi feita uma análise preliminar do
comportamento das partículas em relação a sua velocidade de queda para, em seguida,
analisar o mecanismo de transporte predominante. O objetivo desta análise foi verificar o
comportamento da partícula em relação a velocidade de descarga e observar qual seria a
influência da posição inicial da partícula na camada em relação ao processo de segregação.
Baseado nestas considerações são descritos a seguir os dois tipos de análise.
7.3.1. Análise da velocidade de queda da partícula
Este estudo foi realizado baseado no valor de densidade da partícula e do diâmetro
correspondente. O objetivo inicial foi verificar as diferenças encontradas no
comportamento dos dois tipos básicos de sedimentos encontrados no rejeito em função das
diferenças no valor das suas densidades.
152
O cálculo da velocidade de queda limite foi baseado na fórmula da velocidade de queda,
considerando o balanço entre o peso da partícula (forças de gravidade) e as forças de atrito.
Assim, a partir do balanço entre estas forças (Figura 7.3) pode-se determinar a velocidade
de queda da partícula.
Ws
Fw(atrito)
W (Peso)
��������������������������
��������������������������
����������������������������
������������
������������
������������
��������������������������
��������������������������
��������������������������
����������������������������
������������
������������
������������
��������������������������
Figura 7.3 – Esquema de forças para determinação da velocidade de queda.
Assim o peso da partícula pode ser determinado pela expressão:
( )g6dW fs
3
ρ−ρπ
= (7.1)
onde:
d = diâmetro do sedimento (m);
ρf = massa específica do fluido (t/m3);
ρs = massa específica do sedimento (t/m3);
g = aceleração da gravidade (m/s2).
As forças de resistência podem ser caraterizadas por:
2s
2
Dfw w4dC
21F
πρ= (7.2)
onde:
CD = coeficiente de atrito;
ws = velocidade de queda do sedimento (m/s).
Calculando a resultante das forças que atuam sobre a partícula e isolando ws
153
correspondente ao valor da velocidade de queda da partícula tem-se:
( )Df
fs2s C
gd34w
ρρ−ρ
= (7.3)
O coeficiente de atrito pode ser expresso em função do número de Reynolds, assim:
Re24CD = (7.4)
Sendo:
υ
=dw sRe (7.5)
onde: = viscosidade cinemática (mυ 2/s)
Logo:
dw24C
sD
υ= (7.6)
Substituindo a Equação 7.6 na Equação 7.3 tem-se:
gd181w 2
f
fss
ρ
ρ−ρ= (7.7)
Assim usando a Equação 7.7 foram obtidos os valores da velocidade de queda limite para
as partículas de ferro e quartzo. Os valores foram obtidos considerando partículas de
diâmetros variando de 0,05 a 1,0 mm associadas aos valores de massa especifica da ordem
de 2,65 para partículas de quartzo e de 5,50 para partículas de ferro. Adicionalmente, foi
realizado o mesmo tipo de análise para o mesmo intervalo de diâmetros, mas considerando
uma massa específica da ordem de 3,13, correspondente ao valor da massa específica do
um material intermediário, grãos de quartzo associados com os pequenos grãos de hematita
154
(Capítulo 6). Este valor foi considerado aproximado devido a dificuldade de obter um valor
preciso da massa específica dos grãos associada a este tipo de partícula.
Um outro fator importante considerado no cálculo da velocidade de queda foi a influência
da concentração da lama. Observa-se que para altas concentrações o valor da velocidade de
queda tende a ser maior em função do aumento do coeficiente de atrito pelo aumento da
quantidade de partículas e possivelmente pelo aumento da viscosidade do fluido. Este
fenômeno é denominado “hindered settling” (sedimentação retardada). Algumas equações
foram propostas para quantificar o efeito da concentração no valor da velocidade de queda.
Contudo, a correção adotada nestas análises seguiu a formulação proposta por OLIVER
(1961) em que a velocidade de queda pode ser corrigida em função do valor da
concentração da mistura, pela seguinte expressão:
( ) ( ) s33,0
m,s wc075,01c15,21w −−= (7.8)
onde: c = concentração da mistura (%);
ws = velocidade de queda do sedimento corrigida (m/s).
Desta forma todos o valores encontrados para velocidade de queda obtidos a partir da
Equação 7.7 foram corrigidos utilizando a Equação 7.8. Considerando que estas análises
objetivavam a avaliação do movimento da partícula em relação a sua velocidade de queda,
induzidas por uma certa velocidade de descarga adotada, os cálculos foram executados
inicialmente para uma concentração média (15%) e em vista dos resultados obtidos,
avaliações adicionais poderiam ser realizadas. Estas avaliações foram realizadas, mas o
comportamento em função da concentração não foi muito alterado. Na realidade o peso da
partícula e profundidade de fluxo foram os fatores mais importantes neste tipo de análise.
Contudo, optou-se por apresentar a seguir as análises realizadas com a concentração média
suficiente para justificar o comportamento já esperado.
Com os valores da velocidade de queda obtidos, foi necessário realizar as análise do efeito
da velocidade de fluxo sobre a partícula e estabelecer qual seria o ponto ao longo do
depósito mais provável da deposição em função das duas componentes de velocidade
atuando sobre a partícula. A Figura 7.4 apresenta um esquema das duas componentes
155
atuando sobre a partícula e uma possível trajetória média linearizada seguida em função da
resultante. É importante notar que a profundidade de fluxo é um parâmetro fundamental no
estabelecimento deste tipo de transporte. No caso das simulações no ESDH e mesmo nos
casos de campo, as profundidades de fluxo são muito baixas e neste sentido a trajetória
descrita pela partícula é muito pequena evidenciando o fato de que a deposição ocorre
muito próxima do ponto de descarga. No caso dos ensaios no ESDH, a profundidade de
fluxo variou entre 3 e 5 mm.
0,3 - 0,5 cm
u
Ws
Depósito
Figura 7.4 – Esquema do processo de movimentação da partícula no momento da descarga
no ESDH.
Analisando então a trajetória da partícula obtida a partir da velocidade de fluxo utilizada no
ESDH e considerando uma profundidade de fluxo de 4 mm, vê-se que a menor e mais leve
partícula irá se depositar cerca de 1,00 m do ponto de descarga para a mais alta velocidade
de fluxo e a cerca de 0,30 m para a velocidade mais baixa. Entretanto, a maioria das
partículas irá se depositar muito próxima do ponto de descarga (Figura 7.5). O mesmo tipo
de comportamento pode ser observado para as partículas de ferro, porém por serem mais
pesadas depositam mais rápido que as partículas de quartzo.
Complementando as análises, foi realizado um estudo comparativo da posição da partícula
em função do diâmetro e da massa específica para duas velocidades e três valores de massa
específica dos grãos (Figura 7.6). Estes gráficos representam um resumo dos gráficos
anteriores. Entretanto, mostram a variação da posição da partícula na base do depósito.
Observa-se que os sedimentos correspondentes a fração argila (Gs = 2,65) tendem a ser
transportados juntamente com fluido para longas distâncias e representam cerca de 3% do
material presente no rejeito. Da mesma forma as partículas menores consideradas como
partículas de ferro e que também representam uma pequena parcela na fração de ferro
encontrado no rejeito (D50 = 0,26 mm) foram depositadas a longas distâncias. Já a maioria
156
das partículas se depositam a uma distância entre 5 a 10 cm do ponto de descarga e depois
são transportadas dentro da própria camada gerada por elas.
0,000
0,002
0,004
0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30
∆ x (m)
z (m
)
0,05 mm 0,1 mm0,2 mm 0,3 mm0,4 mm 0,5 mm0,6 mm 0,7 mm0,8 mm 0,9 mm1,00 mm
0,000
0,002
0,004
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10
∆ x (m)
z (m
)
0,05 mm 0,1 mm0,2 mm 0,3 mm0,4 mm 0,5 mm0,6 mm 0,7 mm0,8 mm 0,9 mm1,00 mm
0,000
0,002
0,004
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20
∆ x (m)
z (m
)
0,05 mm 0,1 mm0,2 mm 0,3 mm0,4 mm 0,5 mm0,6 mm 0,7 mm0,8 mm 0,9 mm1,00 mm
0,000
0,002
0,004
0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35
∆ x (m)
z (m
)
0,05 mm 0,1 mm0,2 mm 0,3 mm0,4 mm 0,5 mm0,6 mm 0,7 mm0,8 mm 0,9 mm1,00 mm
a) b)
c) d)
Quartzo - u = 0,052 m/s
Ferro - u = 0,052 m/s
Quartzo - u = 0,208 m/s
Ferro - u = 0,208 m/s
Figura 7.5 – Trajetória aproximada da partícula em função da profundidade de fluxo: a)
quartzo e velocidade de fluxo de 0,052 m/s; b) quartzo e velocidade de fluxo de 0,208 m/s;
c) ferro e velocidade de fluxo de 0,052 m/s; d) ferro e velocidade de fluxo de 0,208 m/s
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30
∆ x (m)
Diâ
met
ro d
o gr
ãos
(mm
)
Quartzo (Gs = 2,65) C = 15 %
Mistura (Gs = 3,13) C = 15 %
Ferro (Gs = 5,5) C = 15 %
0,00
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20
∆ x (m)
Diâ
met
ro d
o gr
ãos
(mm
)
Quartzo (Gs = 2,65) C = 15 %
Mistura (Gs = 3,13) C = 15 %
Ferro (Gs = 5,5) C = 15 %
a) b)
Figura 7.6 – Distâncias de deposição em função do diâmetro do sedimento em relação ao
ponto de descarga para velocidade de fluxo: a) velocidade de fluxo de 0,052 m/s e b)
velocidade de fluxo de 0,208 m/s.
157
A partir destas análises pode-se concluir que o mecanismo de transporte predominante é o
de carga de fundo, devido a deposição dos sedimentos imediatamente após a descarga no
canal. Assim, um mecanismo de iteração entre os sedimentos é desenvolvido gerando
mudanças na camada de sedimentos já depositada. O fluxo, ao mesmo tempo que promove
a deposição, gera um processo de intercâmbio entre as partículas que entram no processo e
as que já estavam presentes na camada.
7.3.2. Arraste de fundo
Analisando as alternativas propostas optou-se por estabelecer inicialmente uma
modelagem baseada nas equações que regem o transporte de sedimentos em leitos de rios,
considerando principalmente a variação da porcentagem de sedimentos durante o processo
de transporte e as alterações impostas pelo processo de fluxo na camada superficial do
leito, a chamada camada de intercâmbio.
As equações básicas que regem o transporte de sedimentos em rio são relativas à
continuidade da água e dos sedimentos (JANSEN et al., 1994). Estão disponíveis na
literatura várias fórmulas de transporte de sedimentos para fluxos uniformes. Elas são
utilizadas para determinar a capacidade de carga de um fluxo específico e requerem
informações sobre os parâmetros hidráulicos e o tipo dos sedimentos, representado pelas
características da partícula (D50, Gs, etc.). Considerando que estas fórmulas dependem de
uma forma geral do diâmetro das partículas, verifica-se que para determinadas condições
hidráulicas, a capacidade de transporte de uma partícula pequena pode ser maior que a
capacidade de transporte de uma outra de maior diâmetro. Este transporte seletivo de
tamanho de partículas dentro de uma mistura de partículas é conhecido como segregação
hidráulica. No caso do modelo unidimensional é denominado segregação longitudinal. É
importante observar que além da consideração do tamanho, de fato a segregação hidráulica
ocorre em função do peso, relacionando outra característica do sedimento, o peso
específico dos grãos (γs). Observa-se que esta consideração é relevante quando se analisa
transporte de diferentes tipos de sedimentos cujas diferenças mineralógicas sejam bastante
evidentes. Baseado nesta consideração, é importante considerar dentro das formulações
básicas de transporte de sedimentos as alterações provocadas por um processo seletivo
global e estabelecer mecanismos que possam avaliar as diferenças no valor de ρs.
158
As análises de transporte de sedimentos para condições uniformes é uma tarefa difícil para
a hidráulica fluvial. A dificuldade essencial de trabalhar com este fenômeno é a presente
limitação em fazer uma descrição quantitativa satisfatória do processo de transporte de
sedimentos. Embora o esquema de equações de movimento represente uma importante
ferramenta para descrever este processo, ele é confrontado por três fatores: as fórmulas de
transporte de sedimentos e do atrito entre partículas que fornecem notoriamente previsões
pouco realistas; os mecanismos de transporte de sedimentos são freqüentemente muito
simplificados em sistemas de modelagem; e as soluções dos algoritmos numéricos que são
comumente grosseiras introduzindo possivelmente erros nos resultados.
A modelagem do fluxo unidimensional de um canal com um pequeno gradiente pode ser
descrita pela equação da continuidade que exprime a lei da conservação de massa. Assim
considerando um elemento infinitesimal de largura unitária situado no interior de uma
massa de fluido (Figura 7.7), a acumulação de massa neste elemento em função do tempo
pode ser obtida por:
( )dtht
dxMa ρ∂∂
= (7.9)
onde: ρ = massa específica do fluido (t/m3);
h = profundidade média da água (m);
x = coordenada na direção de fluxo (m);
t = coordenada do tempo (s).
A massa que entra no elemento é dada por:
dtuhMi ρ= (7.10)
onde: u = velocidade de fluxo (m/s)
A quantidade de massa que sai do elemento pode ser definida por:
( ) dtdxuhx
uhMo
ρ
∂∂
+ρ= (7.11)
159
dxxuu
∂∂
+
u
dx
h
dtth
∂∂
Largura unitária
Figura 7.7 – Elemento unitário usado para definir a equação da continuidade para um fluxo
horizontal.
Efetuando os balanço entre a massa que entra e a que sai do elemento, tem-se:
( ) ( ) ( ) dtdxuhx
uhdtuhht
dx
ρ
∂∂
+ρ−ρ=ρ∂∂ (7.12)
Simplificando a Equação 7.12, chega-se a:
0x
)uh(th
=∂ρ∂
+∂ρ∂ (7.13)
No caso do fluido ser homogêneo em x e ρ ser constante em x e t, a Equação 7.13 se reduz
à equação da continuidade para um fluido incompressível:
0x
)uh(th
=∂
∂+
∂∂ (7.14)
Transformando a Equação 7.14 para o caso de transporte de sedimentos, obtém-se a
equação da continuidade de sedimentos:
160
0xS
tzb =
∂∂
+∂
∂ (7.15)
onde: S = sedimento transportado por metro de canal (m3/m);
t = coordenada do tempo (s);
x = coordenada na direção de fluxo (m);
zb = altura da camada acima da uma superfície de referência (m).
As Equações 7.14 e 7.15 representam as equações de continuidade da água e dos
sedimentos. Na Equação 7.15, a quantidade de sedimentos pode ser estimada por uma
equação básica de transporte de sedimentos (MEYER-PETER & MUELLER, 1948;
ENGELUND & HANSEN, 1967). Algumas vezes é vantajoso simplificar estas equações
por uma fórmula empírica de potência relacionada a velocidade de fluxo. Neste caso S é
uma função da velocidade de fluxo [ , assim: ( )ufS = ]
nmuS = (7.16)
onde: m e n = constantes empíricas e função das propriedades dos sedimentos;
u = velocidade de fluxo.
As fórmulas de previsão de sedimentos, como Meyer-Peter & Müller ou Engelund–Hansen
podem ser ajustadas dentro da Equação 7.16. Alguns exemplos de aplicações e soluções
deste conjunto de equações pode ser encontrado na literatura (CUNGE et al., 1980;
ABBOT & CUNGE, 1982; BHALLAMUDI & CHAUDRY, 1991; JANSEN et al., 1994).
Considerando a equação de transporte de sedimentos proposta por MEYER-PETER &
MUELLER (1948) e considerando n = 5 a Equação 7.16 pode ser reescrita:
( )( ) 3
505.02
s
5
CDg1Gu05.0S
−= (7.17)
Sendo
161
hiCu = (7.18)
onde: C = coeficiente de Chézy;
D50 = diâmetro médio dos sedimentos (mm);
GS = densidade das partículas sólidas;
g = aceleração da gravidade (m/s2);
i = inclinação do talude de deposição;
h = profundidade média da água (m);
u = velocidade de fluxo (m/s).
A proposta do modelo matemático adotado baseia-se na teoria de transporte de sedimentos
considerando uma única camada efetivamente sujeita ao processo de transporte
(RIBBERINK, 1987). Esta camada sofre diferentes alterações provocadas pelo processo
erosivo ou de acúmulo de sedimentos (Figura 7.8). Este tipo de alteração normalmente
ocorre devido às variações nos parâmetros de fluxo, principalmente à velocidade de fluxo.
Normalmente o padrão de fluxo condiciona a característica do modelo de deposição.
Considerando o transporte de material sólido cuja a concentração de partículas é bastante
alta, o efeito da concentração representa um importante parâmetro no estabelecimento do
processo de deposição e transporte de partículas.
h
δeff
Zo
ΤZb
Camada efetiva
Substrato
Referência
Figura 7.8 – Perfil básico da camada efetiva
O modelo matemático deve, neste caso, avaliar e prever as alterações morfológicas
provocadas pelo processo de fluxo. Estas alterações normalmente ocorrem devido ao
transporte de sedimentos e este tipo de intercâmbio de sedimentos pode ser descrito usando
a teoria de uma camada. Este tipo de análise leva em conta a condição de que apenas uma 162
porção da camada próxima ao movimento se altera em função do tipo de transporte. Este
tipo de consideração de uma camada superficial é essencial para a caracterização da
mistura de sedimentos disponível no processo de transporte. Assim, pode-se avaliar o
processo de intercâmbio da camada efetiva baseado na equação da continuidade do
sedimento (Equação 7.15). Neste sentido é apresentado o esquema básico de evolução do
transporte de sedimentos através da descarga da mistura de sedimentos e água na
extremidade do canal e a sua interação com a camada preexistente. Como o fenômeno se
processa de maneira continua, a camada anterior representa a base do próximo
intercâmbio. Todo o mecanismo ocorre com o tempo e a Equação 7.15 representa a
compensação entre o material depositado e a variação da espessura da camada (zb) com o
tempo. É importante considerar que este processo de compensação também pode avaliar o
processo de erosão, neste sentido zb apresenta um decréscimo com a evolução do processo.
A Figura 7.9 apresenta um esquema simplificado do modelo de deposição.
δeff δ
z
∆x
ttzb ∆∂
∂Sii
Sio
t=∆t
t=0piδ
h
zb
uq
S
Figura 7.9 – Esquema de alteração da camada efetiva
Considerando a Equação 7.15 podem ser consideradas duas possibilidades com relação ao
estabelecimento do valor inicial de zb. No primeiro caso zb representa a altura total de
sedimentos mais poros, assim a Equação 7.15 apresenta o mesmo aspecto apresentado
anteriormente. Caso seja considerada a influência dos poros é necessário introduzir na
Equação 7.15 um fator de correção e, neste caso, a equação original é alterada para:
( ) 0xS
tz
n1 b =∂∂
+∂
∂− (7.19)
onde: n = porosidade. 163
Admitindo que o aumento de volume do material depositado está relacionado com a
diferença entre o volume de sedimento que entra e sai do canal ao longo do tempo e
considerando a interação entre o fluxo de sedimentos e a camada preexistente. Desta
forma, tendo como base a Equação 7.19 pode-se escrever que:
( ) ( tSSxpxtt
zn1t
tp
p o1i11b1
1 ∆−=∆δ−∆
∆
∂∂
−+δ
∆
∂∂
+ δδ
δ ) (7.20)
onde: p1δ = porcentagem de sedimento 1 (quartzo) na camada de intercâmbio;
S1i = volume de sedimento 1 (quartzo) que entra no canal (m3);
S1o = volume de sedimento 1 (quartzo) que sai do canal (m3);
t = coordenada de tempo (s);
x = coordenada na direção de fluxo;
zb = nível da camada acima da uma superfície de referência;
δ = espessura da camada de intercâmbio.
A Equação 7.20 representa a quantidade de sedimentos acumulada numa camada de
comprimento ∆x em um intervalo de tempo t em função da quantidade de sedimentos que
entra e sai desta camada. Desenvolvendo a Equação 7.20:
( ) ( ) ( ) ( ) tSSxpxtt
zn1
tp
xtt
pxt
tz
n1pxp o1i112b11b
11 ∆−=∆δ−∆∆∂
∂−
∂∂
+∆∆∂
∂δ+∆∆
∂∂
−+∆δ δδδ
δδ
( ) ( ) ( ) ( ) tSSxtt
zn1
tp
xtt
pxt
tz
n1p o1i12b11b
1 ∆−=∆∆∂
∂−
∂∂
+∆∆∂
∂δ+∆∆
∂∂
− δδδ
Obtém-se então a porcentagem do sedimento 1 na camada:
( ) ( o1i11b
1 SSxt
px
tz
n1p −=∆∂
∂δ+∆
∂∂
− δδ ) (7.21)
De forma similar para o sedimento 2:
( ) ( o2i22b
2 SSxt
px
tz
n1p −=∆∂
∂δ+∆
∂∂
− δδ ) (7.22)
164
onde: p2 δ = porcentagem de sedimento 2 (ferro) na camada de intercâmbio;
S2i = volume de sedimento 2 (ferro) que entra no canal (m3);
S2o = volume de sedimento 2 (ferro) que sai do canal (m3);
Vale observar que a soma dos percentuais de sedimentos é igual a 1, tem-se:
1pp 21 =+ δδ (7.23)
Este tipo de aproximação foi considerado admitindo, inicialmente, a existência de dois
tipos exclusivos de sedimentos, isto é, admitiu-se que o material utilizado nas simulações
no ESDH era constituído predominantemente de partículas de ferro e quartzo. Sendo
assim, todo o processo de deposição seria governado por estes dois tipos de sedimentos.
Entretanto, após uma tentativa de quantificar e qualificar estes sedimentos, observou-se a
existência de um terceiro tipo de sedimento, conforme detalhado no Capítulo 6, que
poderia ter um comportamento intermediário entre estes dois tipos padrão de sedimentos.
Assim, de acordo com esta nova análise, observou-se a presença de partículas de quartzo
com pequenas incrustações de ferro, que consequentemente tende a alterar a massa
específica deste mineral e mudar toda a característica de transporte até então apresentada.
A influência poderia ser pequena se a porcentagem de partículas deste tipo fosse pequena.
Entretanto, a porcentagem deste tipo de material é da ordem de 50% e, conforme pode ser
observado na análise granulométrica apresentada no Capítulo 6, estas partículas compõe a
fração mais grosseira dos grãos de quartzo.
Considerando esta tendência de comportamento foram mantidas as mesmas considerações,
porém incorporando nos cálculos da porcentagem de sedimentos que tendem a ser
transportados em função do peso as partículas de quartzo com minerais de ferro. Assim, a
Equação 7.21 pode ser adotada também para o sedimento 3:
( ) ( o3i33b
3 SSxt
px
tz
n1p −=∆∂
∂δ+∆
∂∂
− δδ ) (7.24)
onde: p3δ = porcentagem de sedimento 3 (quartzo+ferro) na camada de intercâmbio;
165
S3i = volume de sedimento 3 (quartzo+ferro) que entra no canal (m3);
S3o = volume de sedimento 3 (quartzo+ferro) que sai do canal (m3);
Agora a relação entre as porcentagens passa a ser:
1ppp 321 =++ δδδ (7.25)
Efetuando o balanço de sedimentos pelo somatório da deposição dos três tipos de
sedimentos, tem-se:
( ) oib SSxt
zn1 −=∆
∂∂
− (7.26)
onde: Si = volume total de sedimento que entra no canal;
So = volume de sedimento que sai do canal.
A Equação 7.26 representa o acréscimo de zb com o tempo, isto é, a diferença entre a
quantidade de sedimento que entra e a quantidade de sedimento que passou para o ∆x
seguinte. Assim, zb representa a quantidade de sedimento retida no espaço ∆x.
Calculando então a variação da quantidade de sedimento na camada de intercâmbio com o
tempo, tem-se para o sedimento 1:
( )δ∂
∂−−
δ∆−
=∂
∂δ
δ 1t
zn1p
xSS
tp b
1o1i11 (7.27)
Similarmente para os sedimentos 2 e 3:
( )δ∂
∂−−
δ∆−
=∂
∂δ
δ 1t
zn1p
xSS
tp b
2o2i22 (7.28)
( )δ∂
∂−−
δ∆−
=∂
∂δ
δ 1t
zn1p
xSS
tp b
3o3i33 (7.29)
166
Baseado nas Equações 7.27 a 7.29 foi possível estabelecer uma primeira aproximação da
porcentagem acumulada na camada, considerando inicialmente dois tipos de sedimentos, o
ferro e o quartzo. Neste caso foi adotado um valor médio de granulometria e massa
específica para as partículas de quartzo, adotando-se um valor de 3,1 g/cm3 para a massa
específica dos grãos e D50=0,4 mm. Na resolução do problema foi utilizada uma planilha
simples do Excel com objetivo de obter os primeiros dados relativos a este processo de
acumulação. Algumas simplificações foram adotadas e os primeiros resultados relativos a
estas porcentagens estão apresentados na Figura 7.10 e 7.11.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07Cota do topo da camada de intercâmbio (m)
Com
posi
ção
do d
epós
ito (%
)
p1d (Quartzo Médio)
p2d (Ferro)
Figura 7.10 – Variação da composição do depósito em função da cota do topo da camada
de intercâmbio considerando quartzo como um sedimento único.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000Tempo (s)
Com
posi
ção
do d
epós
ito (%
)
p1d (Quartzo Médio)
p2d (Ferro)
Figura 7.11 – Variação da composição do depósito em função do tempo considerando o
quartzo como um sedimento único.
167
Estas figuras representam a porcentagem de sedimentos acumulada na camada em função
da cota do topo da camada de intercâmbio em função do tempo. Observa-se que a
porcentagem de partículas de ferro tende a crescer nos pontos iniciais devido a sua alta
densidade. Esta tendência parece ser coerente com relação a influência do valor da massa
específica das partículas de ferro. Entretanto, a consideração de percentuais
complementares, adotada como simplificação parece não ter conseguido prever as
complexas interações entre os grãos durante o transporte e deposição. O que se observa é
que a tendência das simulações é coerente, mas a quantificação correta das porcentagens
acumuladas necessitaria de uma equação de controle. Esta equação deveria descrever o
mecanismo de transporte relacionado a cada tipo de sedimento em função de suas
características dentro do processo de transporte.
O problema se torna mais complexo quando se analisa os três sedimentos em conjunto.
Neste caso a equação de controle simplificada foi definida pela ponderação entre as três
porcentagens. Da mesma forma que observado anteriormente, a tendência de acúmulo na
camada é bastante razoável para as partículas de ferro. Entretanto, para os outros dois
sedimentos, a porcentagem acumulada apresenta um comportamento bastante atípico
(Figuras 7.12 e 7.13). Este tipo de abordagem reforça a necessidade do estabelecimento de
uma equação de controle associada às formulações propostas neste modelo.
0
10
20
30
40
50
60
0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07Cota do topo da camada de intercâmbio (m)
Com
posi
ção
do d
epós
ito (%
)
p1d (Quartzo)p2d (Ferro)p3d (Ferro/Quartzo)
Figura 7.12 – Variação da composição do depósito para os três tipos de sedimentos em
função da cota do topo da camada de intercâmbio
168
0
10
20
30
40
50
60
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000Tempo (s)
Com
posi
ção
do d
epós
ito (%
)
p1d (Quartzo)p2d (Ferro)p3d (Ferro/Quartzo)
Figura 7.13 – Variação da composição do depósito para os três tipos de sedimentos em
função do tempo.
Verifica-se também que as porcentagens inicias correspondentes a cada tipo de sedimento
no rejeito e adotadas como parâmetros iniciais na modelagem apresentaram uma
considerável influência no valor das porcentagens calculadas, alterando significativamente
os resultados, como pode ser observado nos Figuras 7.10 a 7.13. Na primeira avaliação,
considerando somente quartzo e ferro, adotou-se uma composição próxima da composição
do rejeito na forma natural (20% de ferro e 80% de quartzo). No segundo caso as
proporções foram de 20% de minerais de ferro, 30% de quartzo puro e 50% de quartzo
com partículas de ferro. Verifica-se, assim, a necessidade de se estabelecer corretamente a
porcentagem correspondente à cada sedimento presente no rejeito.
Acredita-se que o estabelecimento da equação de controle não seja um tarefa fácil em vista
dos diversos parâmetros que atuam neste tipo de transporte e principalmente devido a
variabilidade dos sedimentos presentes no rejeito. É importante notar que estes resultados
referem-se à fase inicial de estabelecimento do modelo e a adoção de uma equação
matemática que possa descrever este complexo processo de transporte ainda necessita de
estudos e calibrações. Neste sentido, percebe-se que uso do ESDH na geração de novos
dados é extremamente importante na evolução e aprimoramento desta proposta.
Considera-se ainda que, por tratar de um modelo preliminar os resultados obtidos são
considerados bem simples dentro da complexa ótica das simulações realizadas no ESDH
ou mesmo deste mesmo fenômeno no campo. Neste contexto, as comparações com os
169
resultados obtidos nas simulações em laboratório foram dificultadas devido principalmente
às diferenças nas duas simulações. No caso do ESDH a segregação hidráulica é avaliada no
sentido longitudinal, isto é, ao longo do caminho de deposição e a solução fornecida pelo
modelo matemático refere-se ao acúmulo de sedimentos em relação à altura da camada
(segregação vertical). Assim, o modelo para gerar dados compatíveis com as simulações
realizadas deve ser expandido de forma a reproduzir o processo de segregação
longitudinal, que é uma conseqüência da segregação vertical que ocorre nos diversos
pontos do depósito.
Por fim, vale observar que este modelo matemático proposto mostra os passos de inicias de
uma formulação que visa estabelecer o perfil longitudinal de segregação, quando dois ou
mais tipos de sedimentos (diferentes densidades dos grãos) estão presentes no processo.
Foi demonstrado a priori que o processo de sedimentação (velocidade de queda das
partículas) é praticamente insignificante no processo de formação do depósito. Na
realidade ele representa apenas um parâmetro inicial da camada de intercâmbio. Depois,
prevalecem os processos de arraste de fundo onde os sedimentos vão sendo depositados e
arrastados pelo impacto das partículas que vão chegando a este local. Certamente o
processo é ainda mais complicado devido a outros processos de agregados, tais como
saltação, formação de escudos (armouring), e conseqüentes alterações na velocidade de
fluxo que ocorrem no interior da camada de intercâmbio. Assim, este modelo, embora
limitado pelas simplificações adotadas e ainda preliminar, corresponde a um avanço no
sentido de melhor entender os processos de arraste de fundo, quando mais de um tipo de
sedimento esta envolvido, no processo de deposição hidráulica que ocorre nas barragens de
rejeitos.
170
CAPÍTULO 8
ANÁLISE DOS RESULTADOS
8.1. INTRODUÇÃO
Os ensaios de simulação e deposição hidráulica representam uma importante ferramenta no
estudo do comportamento dos aterros hidráulicos. No laboratório as variáveis que
influenciam o processo de deposição podem ser controladas e isoladas de uma maneira
mais simples e econômica que no campo. Como foi apresentado, os ensaios de simulação
de deposição hidráulica (ESDH) permitem a realização de ensaios com diferentes valores
de concentração e vazão, possibilitando avaliar as características do depósito formado em
função destes parâmetros.
De uma forma geral, os resultados obtidos permitem a avaliação qualitativa do
comportamento do aterro e podem ser fundamentais principalmente na fase de projeto ou
mesmo na viabilização da aplicação do aterro hidráulico. No caso da disposição de
rejeitos, a grande aplicabilidade do ESDH estaria na avaliação da vida útil do depósito e no
possível estabelecimento da geometria básica do depósito, pela avaliação do perfil
esperado em função das variáveis de deposição.
Entretanto, a viabilização completa destas simulações é ainda dificultada pela
complexidade dos fenômeno de transporte envolvidos e das condições de contorno do
problema, nem sempre possíveis de serem reproduzidas em escala. Algumas
simplificações têm sido propostas na concepção destes sistemas de simulação, mas de uma
maneira geral os resultados obtidos tem se mostrado coerentes com as propostas de cada
tipo de simulação desenvolvida.
As vantagens do ESDH tem sido evidenciada pelo inúmeros ensaios de simulação
171
reportados na literatura, conforme descrito no Capítulo 3. Embora com características e
metodologias específicas, todos estes ensaios apresentam o mesmo objetivo, isto é, avaliar
o comportamento dos aterros hidráulicos. Uma ênfase poderia ser dada ao trabalho
realizado por FERREIRA et al. (1980) mostrando a aplicabilidade do ESDH na fase de
concepção e justificativa da utilização da técnica da hidromecanização. O enfoque dado
por FERREIRA et al. (1980) é bastante interessante sob o ponto de vista geotécnico e
mostra como os parâmetros de deposição tendem alterar o comportamento do aterro.
Adicionalmente, o trabalho de KÜPPER (1991) estabelece um avanço no processo de
comparação entre as condições de campo e laboratório. Embora com limitações devido ao
efeito de escala, as correlações obtidas evidenciam a aplicabilidade do ensaio de simulação
como um importante método de previsão do comportamento dos aterros hidráulicos como
um fenômeno geral.
No caso desta pesquisa, o objetivo principal foi investigar a influência dos parâmetros de
deposição no comportamento geotécnico das barragens de rejeito de minério de ferro.
Assim foi verificada a influência da vazão e concentração de fluxo utilizando o
equipamento desenvolvido (ESDH). Embora, este equipamento possibilite a realização de
ensaios com diferentes alturas de lançamento (Capítulo 5), optou-se por realizar todos os
ensaios com o controlador de fluxo posicionado na superfície do aterro, simplificando um
pouco mais a análise dos resultados.
Observa-se que os efeitos das variáveis de deposição hidráulica mostram-se evidentes no
comportamento global do depósito. Neste contexto, são avaliadas as variações na
geometria do talude, densidade, segregação hidráulica, teor de ferro, etc. ao longo do
caminho de deposição em função dos diferentes valores de concentração e vazão adotados.
Seria importante ressaltar alguns problemas relacionados aos efeitos de escala que
normalmente estão associados a este tipo de simulação, já descritos no Capítulo 5,
dificultando uma comparação direta com os resultados obtidos no campo. Entretanto, em
vista da disponibilidade de dados obtidos na própria barragem procurou-se estabelecer
alguma comparações como o fenômeno que ocorre no campo, mas observando as
restrições mencionadas por HOOKE (1968) YALIN (1971) e SHARP (1981) com relação
a características do modelo e extrapolações viáveis.
172
8.2. DESCRIÇÃO DO FLUXO
Considerando que o padrão de fluxo que ocorre na praia do aterro hidráulico é
extremamente importante no processo de formação do depósito, torna-se importante
detalhar as características do fluxo observadas durante o processo de deposição no ESDH.
Observa-se que todo mecanismo de transporte esta condicionado ao padrão de fluxo, a
forma como a lama é descartada e a maneira como ela tende a fluir na superfície do aterro.
A velocidade de descarga, a profundidade de fluxo, a concentração e as características dos
sedimentos podem agir variando significativamente o processo de transporte de partículas.
As paredes de vidro do ESDH facilitaram o acompanhamento direto de toda a evolução do
depósito e permitiram a observação da configuração final do depósito após sua completa
estabilização. Analisando o processo de deposição que ocorre no ESDH verifica-se que a profundidade
de fluxo que ocorre durante a deposição no ESDH é bastante pequena, da ordem de 3 a 5
mm e a concentração de sedimentos é bastante alta. O fluxo, devido ao uso do controlador
de fluxo, é inicialmente bem distribuído ao longo da seção transversal do canal. Entretanto,
logo após deixar o controlador, o fluxo tende a se concentrar em pequenos canais ou
meandros que se desenvolvem ao longo da superfície do aterro em função da velocidade
do fluxo (Figura 8.1). Para baixas velocidades, o fluxo tende a se distribuir em canais
sinuosos que se separam e se juntam em torno das ilhas ou barreiras. KÜPPER (1991)
considera que o grau de entrelaçamento e sinuosidade dos canais é função da vazão de
fluxo. Para altas velocidades, o fluxo tende a cobrir a maior parte da superfície do
depósito, minimizando a influência das ilhas e barreiras.
Em resumo, existe um processo contínuo e dinâmico de migração dos canais associados
aos eventos de erosão, deposição ou mesmo abandono e retomada de fluxo nos canais.
Normalmente, a deposição ocorre na parte interna das curvas dos canais enquanto as
barreiras e ilhas vão sendo erodidas pela mudança na configuração dos canais.
Durante a deposição foi possível observar o movimento das partículas ao longo do canal.
O grãos maiores e mais pesados tendiam a depositar imediatamente após deixar o
controlador e iniciavam o movimento rolando e/ou deslizando ao longo da superfície
inclinada do depósito, constituindo a camada de intercâmbio, já referenciada no Capítulo
173
7. A presença de minerais de ferro no rejeito facilitou ainda mais a observação deste tipo
de movimento. Estes grãos de coloração bastante escura eram facilmente visualizados
através das paredes do canal.
Figura 8.1 – Padrão de fluxo na superfície do aterro, mostrando os pequenos canais ao
longo da superfície das ilhas e barreiras formadas em função da velocidade de fluxo.
A camada de intercâmbio na maioria dos ensaios realizados foi muito pequena da ordem
de 2 a 3 mm. Os sedimentos tendiam a se mover intermitentemente até encontrar uma
barreira ou perder a energia na parte mais plana do depósito. A espessura da camada de
intercâmbio encontra-se em concordância com as considerações feitas por Williams, citado
por KÜPPER (1991), em que a espessura da camada é superior a oito vezes o tamanho
médio das partículas. Williams, em KUPPER (1991), considera ainda que a altura da
camada de intercâmbio é independente da profundidade de fluxo, mas tende a aumentar
com aumento da taxa de transporte.
O tipo de transporte por rolagem e deslizamento na camada próxima a camada estacionária
é evidenciado pela formação de estratificações paralelas à direção do fluxo. A Figura 8.2
174
mostra a presença de regiões com altas concentrações de ferro intercaladas por faixas de
partículas mais grossas de quartzo. Este tipo de comportamento pode estar também
associado ao efeito de escudo (“armouring”) e/ou ao bloqueio provocado pelas partículas
mais grossas e/ou mais pesadas, impedindo o movimento das partículas menores. Este tipo
de comportamento é mais significativo quanto menor for a energia capaz de mover a
partícula, isto é, a velocidade de fluxo. Observa-se também que este comportamento
apresenta um papel fundamental na densidade do depósito, pela alteração no processo
normal de segregação granulométrica e, no caso do rejeito, pela manutenção de partículas
de baixa densidade em pontos onde deveriam estar concentradas as partículas mais densas.
Este comportamento será mais detalhado no Item 8.3 a partir da avaliação da massa
específica do grãos ao longo do depósito.
Figura 8.2 – Estratificações compostas por bandas de ferro e quartzo intercaladas.
A presença de estratificações também foi observada nas avaliações feitas no campo. De
uma forma geral, as características de deposição no campo são muito semelhantes às que
ocorrem nas simulações em laboratório. Analisando a superfície da praia de rejeitos é
possível observar o mesmo processo de formação de ilhas e barreiras, canais tortuosos que
se separam e se juntam e canais maiores provocados pelas variações nos parâmetros de
descarga. Em relação às estratificações, é possível perceber regiões com altas
concentrações de quartzo intermeadas por lineações de partículas de ferro paralelas à
direção de fluxo (Figura 8.3). Observa-se que o processo de estratificação é bastante
175
paralelo e praticamente horizontal devido provavelmente a baixa inclinação do aterro.
Figura 8.3 – Estratificações presentes na praia de rejeito no campo.
Em algumas regiões da praia, e mesmo em regiões próximas ao ponto de lançamento,
pode-se perceber também a presença de bandas de material mais fino. Este
comportamento atípico sob o ponto de vista do processo convencional de deposição,
certamente não representa uma característica do padrão de fluxo. Pode-se considerar que
estas bandas de material fino advém do processo de mudança do ponto de descarga. Este
procedimento ocorre com freqüência e durante esta operação o fluxo é interrompido
acarretando uma perda de energia de transporte, favorecendo a deposição do material fino
em suspensão, principalmente nas depressões formadas pelos canais que percorrem a praia.
É importante notar que devido à pequena porcentagem de finos presente no rejeito estas
intercalações são extremamente delgadas, embora possam representar grandes variações
nas características de permeabilidade e resistência do depósito. São exatamente estes
filmes de material fino que podem causar problemas de estabilidade nas barragens de
rejeitos. Sob o ponto de vista construtivo, recomenda-se remover ou escarificar esta
camada antes iniciar o novo processo de lançamento. A Figura 8.4 mostra um detalhe deste
tipo de estratificação.
176
Figura 8.4 – Bandas de material fino intercaladas com ferro e quartzo no campo.
Algumas particularidades também puderam ser observadas em alguns locais do depósito
no ESDH. Uma destas particularidades refere-se ao tipo de transporte que ocorre na porção
final do depósito devido a presença da água. Nestas regiões, durante a evolução do
depósito, era visualizado um padrão de deposição bastante distinto, devido principalmente
às condições de deposição, neste caso, subaquática. Assim, a inclinação desta região era
um pouco mais íngreme que o resto do depósito, embora com dimensões pequenas, mas
favorecendo o acúmulo de partículas mais grosseiras que caiam rapidamente próximo a
ponta final do depósito. Esta condição esta detalhada na Figura 8.5 mostrando o processo
de evolução do depósito, podendo-se observar que esta região tende a se deslocar em
direção ao final do canal com a continuidade do processo de deposição.
����
≈ 3,5 m
Depósito 0,05 m0,
03 a
0,0
5 m
Dreno
Canal
Tela
NA
Cota Final
Evoluçãodo depósito
Figura 8.5 – Evolução do processo de deposição e a variação do nível d’água na
extremidade final do depósito.
177
Este comportamento tende a causar algumas anomalias no padrão convencional de
segregação, principalmente nas regiões próximas à base do depósito. De uma forma geral,
o que se observa é presença de partículas de tamanhos diferentes organizadas de acordo
com a configuração do talude correspondente a esta porção final, conforme pode ser visto
na Figura 8.6.
Figura 8.6 – Detalhe da região correspondente à deposição subaquática.
Entretanto, analisando os depósitos no campo, com lagoas de decantação localizadas
também na extremidade final do depósito, verifica-se que este comportamento pode atingir
proporções consideráveis. Neste caso, dependendo do nível d’água da lagoa e da dimensão
desta região submersa, poder-se-ia ter regiões com características granulométricas bastante
distintas, além de regiões com baixas densidades associadas à deposição subaquática.
Outro fator de alteração da configuração do talude do aterro está associado ao aumento da
velocidade em áreas de altas concentrações de fluxo. Nestas regiões ocorrem a formação
de pequenas ondas em fase com a camada de sedimentos, similarmente ao que ocorre no
campo. Estas ondas são chamadas antidunas, já descritas no Capítulo 2, e causam um
remodelamento na superfície do aterro, movendo-se na direção oposta do fluxo, erodindo
e alterando a configuração global do talude. A dimensão desta região de alteração é
proporcional a profundidade de fluxo e no caso dos ensaios realizados foi da ordem de 0,5
a 1,5 cm.
178
8.3. GEOMETRIA
De uma maneira geral a geometria do talude obtido no ESDH é similar à maioria dos
ensaios realizados, sendo côncava e de baixa inclinação. As Figuras 8.7 a 8.12 apresentam
o perfil obtido para os ensaios realizados. De forma a facilitar as comparações optou-se por
considerar o perfil normalizado e adotando o valor 1 m como ordenada da crista do
depósito (denominada altura nominal).
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3Distância ao ponto de descarga (m)
Altu
ra N
omin
al (m
)
MA - 1 (c=8,90%; Q=4,80 l/min)MA - 7 (c=13,12%; Q=5,92 l/min)MA - 6 (c=20,38%; Q=5,92 l/min)
Figura 8.7 – Perfis obtidos para Q=5 l/min e concentrações entre 5 e 20%.
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3Distância ao ponto de descarga (m)
Altu
ra N
omin
al (m
)
MA - 8 (c=8,84% Qt=9,26 l/min)MA - 2 (c=13,92%; Q=9,68 l/min)MA - 9 (c=19,65%; Q=9,35 l/min)
Figura 8.8 – Perfis obtidos para Q=10 l/min e concentrações entre 5 e 20%.
179
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3Distância ao ponto de descarga (m)
Altu
ra N
omin
al (m
)
MA - 3 (c=7,74%; Q=19,33 l/min)MA - 4 (c=14,04%; Q=19,20 l/min)MA - 5 (c=20,20%; Q=20,20 l/min)
Figura 8.9 – Perfis obtidos para Q=20 l/min e concentrações entre 5 e 20%.
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3Distância ao ponto de descarga (m)
Altu
ra N
omin
al (m
)
MA - 1 (c=8,90%; Q=4,80 l/min)MA - 8 (c=8,84% Qt=9,26 l/min)MA - 3 (c=7,74%; Q=19,33 l/min)
Figura 8.10 – Perfis obtidos para c=8% e vazões entre 5 e 20 l/min.
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3Distância ao ponto de descarga (m)
Altu
ra N
omin
al (m
)
MA - 7 (c=13,12%; Q=5,92 l/min)MA - 2 (c=13,92%; Q=9,68 l/min)MA - 4 (c=14,04%; Q=19,20 l/min)
Figura 8.11 – Perfis obtidos para c=14% e vazões entre 5 e 20 l/min.
180
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3Distância ao ponto de descarga (m)
Altu
ra N
omin
al (m
)
MA - 6 (c=20,38%; Q=5,92 l/min)MA - 9 (c=19,65%; Q=9,35 l/min)MA - 5 (c=20,20%; Q=20,20 l/min)
Figura 8.12 – Perfis obtidos para c=20% e vazões entre 5 e 20 l/min.
Pode-se observar que a geometria é afetada pelos valores da concentração e da vazão e
consequentemente pela distribuição dos sedimentos ao longo do depósito, isto é, a
segregação hidráulica. Normalmente, a região onde se concentram as partículas mais
grossas tende a apresentar um inclinação mais acentuada. No caso do rejeito analisado, o
maior fator de interferência foi o peso da partícula. Neste caso a inclinação foi bastante
uniforme ao longo do perfil tornando-se, entretanto, mais abatida na porção final, isto é na
região de maior concentração de partículas mais finas.
Analisando outros ensaios reportados na literatura usando solos arenosos (FERREIRA et
al., 1980; BLIGHT et al., 1985; BLIGHT, 1987; DE GROOT et al., 1988; WINTERWERP
et al., 1990; KÜPPER, 1991 e BLIGHT, 1994), verifica-se que as diferenças obtidas na
inclinação do talude são mais significativas que as obtidas para o rejeito estudado. No caso
do rejeito de Morro Agudo a presença de minerais pesados pode ter dificultado o processo
de migração das partículas devido, possivelmente, às baixas velocidades de fluxo
utilizadas, incapazes de produzir uma maior movimentação nas partículas mais densas.
De uma forma geral o perfil tende a ser mais íngreme com o aumento da concentração e
tende a se tornar mais abatido com o aumento da vazão. As Figuras 8.13 e 8.14 apresentam
esta tendência. É importante notar que o valor obtido para cada ensaio refere-se a
inclinação global do perfil, obtida a partir da inclinação média do talude do depósito como
um todo. Este tipo de consideração não invalida as análises no caso do rejeito estudado,
pois a concavidade obtida para os depósitos foi bastante baixa, como será apresentado no
181
Item 8.3.1 através da análise do perfil típico proposto por MELENT’EV (1973).
0
5
10
15
0 5 10 15 20 25Concentração (%)
Incl
inaç
ão G
laba
l (%
)
MA - 1 (Q=4,80l/min) MA - 2 (Q=9,68l/min) MA - 3 (Q=19,33l/min)MA - 4 (Q=19,20l/min) MA - 5 (Q=20,20l/min) MA - 6 (Q=5,92l/min)MA - 7 (Q=5,92l/min) MA - 8 (Q=9,26l/min) MA - 9 (Q=9,35l/min)
Figura 8.13 – Variação da inclinação global do depósito com a concentração.
0
5
10
15
0 5 10 15 20 25Vazão (l/min)
Incl
inaç
ão G
laba
l (%
)
MA - 1 (c=8,9%) MA - 2 (c=13,92%) MA - 3 (c=7,74%)MA - 4 (c=14,04%) MA - 5 (c=20,20%) MA - 6 (c=20,38%)MA - 7 (c=13,12%) MA - 8 (c=8,84%) MA - 9 (c=19,65%)
Figura 8.14 – Variação da inclinação global do depósito com a vazão.
A baixa concavidade obtida corresponde a pequena variação na inclinação entre as porções
iniciais e finais do depósito. A granulometria do rejeito bastante uniforme e a presença de
minerais pesados dificultou o processo convencional de segregação por tamanho. Neste
caso não houve uma separação nítida de grãos entre o início e o fim do depósito. No caso
do rejeito de Morro Agudo, contrariando o processo convencional de segregação, as
partículas mais grossas se concentraram na porção central do talude, e isto provavelmente
diminuiu a concavidade do perfil. Esta consideração se torna relevante, pois a segregação
que ocorre nas praias de aterro hidráulico é também responsável pela variação na
inclinação do talude, ou seja, quanto mais grossas as partículas, mais inclinados são os
182
taludes formados (HOOKE, 1967; HOOKE & ROHRER, 1979; FOURIER, 1988;
KÜPPER, 1991).
Contudo, de uma forma geral o talude obtido em todos os ensaios foi côncavo e de baixa
inclinação sendo nitidamente percebidas as influências dos parâmetros iniciais, isto é, a
vazão, concentração e distribuição granulométrica do rejeito. Analisando o perfil global
obtido em relação aos demais ensaios de simulação detalhados no Capítulo 3, observa-se
uma total correspondência com os resultados oriundos destas simulações. A Figura 8.15
apresenta os resultados destes ensaios, juntamente com os resultados obtidos neste
trabalho, em função da concentração. Observa-se, como já mencionado anteriormente,
uma nítida tendência de aumento da inclinação global do talude depositado como aumento
da concentração. As dispersões encontradas podem estar relacionadas aos ensaios
realizados com materiais mais finos e mostram como a distribuição granulométrica tende a
alterar o comportamento dos aterros.
0
10
20
30
40
0 20 40 60Concentração (%)
Incl
inaç
ão G
loba
l (%
)
80
KS - D50=0,466mm (KÜPPER, 1991)
TS - D50=0,178mm (KÜPPER, 1991)
DL1 - D50=0,120mm (W INTERW ERP et al., 1990)
DL2 - D50=0,225mm (W INTERW ERP et al., 1990)
F - D50=0,267mm (FAN, 1989)
UPP - D50=0,140mm (FERREIRA et al.,1980)
USA - D50=0,014mm (BOLDT, 1988)
USB - D50=0,097mm (BOLDT, 1988)
DS -D50=0,134mm (DE GROOT et al., 1988)
MA D50=0,20mm (Presente estudo)
Figura 8.15 – Variação da inclinação global com a concentração para os diferentes ensaios
de simulação de deposição hidráulica.
Considerando agora a influência da vazão na inclinação global do talude depositado para
estes mesmos ensaios, observa-se a mesma tendência apresentada anteriormente para o
rejeito de Morro Agudo. Isto é, quanto maior a vazão, mais abatido será o depósito. Assim
a Figura 8.16 apresenta o efeito da vazão no valor da inclinação global e revela mais uma
vez a correspondência entre os ensaios analisados. É importante notar a grande dispersão
dos resultados obtidos por DE GROOT et al. (1988) com relação aos efeitos da vazão na
183
inclinação global, embora para o caso da concentração os resultados tenham apresentado
uma boa correlação com os demais ensaios. Este fato já foi mencionado no Capítulo 3.
Entretanto, os autores não fazem nenhuma consideração sobre este tipo de problema.
0
10
20
30
40
0 20 40 60 80 100 120 140 160Vazão (l/min)
Incl
inaç
ão G
loba
l (%
)
KS - D50=0,466mm c=2-29% (KÜPPER, 1991)
TS - D50=0,178mm c=2-40% (KÜPPER, 1991)
F - D50=0,267mm c=8-14% (FAN, 1989)
UPP - D50=0,140mm c=7-10% (FERREIRA et al.,1980)
USA - D50=0,014mm c=26-57% (BOLDT, 1988)
USB - D50=0,097mm c=20-50% (BOLDT, 1988)
DS -D50=0,134mm c=32-59% (DE GROOT et al., 1988)
MA D50=0,20 mm c=5-20% (Presente estudo)
Figura 8.16 – Variação da inclinação global com a vazão para os diferentes ensaios de
simulação de deposição hidráulica.
8.3.1. Perfil típico (MELENT’EV, 1973)
MELENT’EV et al. (1973) consideram a existência de um perfil típico relacionado a
condições específicas de fluxo e sedimentos. Conforme já apresentado no Capítulo 2,
considerou-se que uma condição específica de fluxo, associado a um determinado tipo de
sedimento, é capaz de gerar um perfil característico denominado perfil típico. Baseado
nesta consideração, vários estudos têm sido realizados no sentido de certificar a existência
deste perfil típico. BLIGHT (1994) apresenta um intenso estudo no sentido de verificar a
existência deste perfil e posteriormente MORRIS & WILLIAMS (1996) realizaram outros
estudos no sentido de verificar a validade das equações propostas por MELENT’EV et al.
(1973) e por SMITH et al. (1986).
Baseado nestes estudos foi realizada uma investigação da existência do perfil típico
associado aos depósitos obtidos no ESDH. Considerando a proposta apresentada por
MORRIS & WILLIAMS (1994), foram obtidos os valores dos parâmetros correspondentes
184
às duas equações propostas já apresentadas no Capítulo 2, a Equação 2.2 proposta por
MELENT’EV et al. (1973) e a Equação 2.3 proposta por SMITH et al. (1986).
De uma maneira geral os valores obtidos para os parâmetros n (MELENT’EV et al., 1973)
e b (SMITH et al.,1986) foram bastante semelhantes, constatando ser b ligeiramente
superior a n. Assim, o parâmetro n se manteve entre 1,0 e 2,0, enquanto os valores de b se
mantiveram entre 1,2 e 2,2 (Tabela 8.1). Observou-se que existia uma leve tendência
destes parâmetros aumentarem com o aumento da concentração, significando um aumento
da concavidade do depósito com o aumento da concentração. A Figura 8.17 apresenta a
variação do valor de n e b com a concentração, podendo ser observada a tendência descrita
anteriormente. As dispersões encontradas podem estar associadas a determinação do valor
médio da inclinação utilizada na definição destes parâmetros.
Tabela 8.1 – Valores de n e b relacionados à caracterização do perfil mestre.
Ensaio Qt (l/min) C (%) n b
MA – 1 4,80 8,90 1,22 1,58
MA – 2 9,68 13,92 1,13 1,48
MA – 3 19,33 7,74 1,06 1,37
MA – 4 19,20 14,04 1,44 2,07
MA – 5 20,2 20,20 1,40 1,78
MA – 6 5,92 20,38 1,55 2,18
MA – 7 5,92 13,12 1,91 2,15
MA – 8 9,26 8,84 1,01 1,20
MA – 9 9,35 19,65 1,03 1,37
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
0 5 10 15 20 25
Concentração (%)
n
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
b
n (MELENT EV et al., 1973)
b (SMITH et al., 1986)
Figura 8.17 – Variação dos parâmetros n e b com a concentração da lama.
185
Devido à influência da curvatura do depósito na determinação do valor correto de n e b,
optou-se por apresentar a evolução da curvatura do depósito seguindo as análises propostas
por BLIGHT (1994). A partir destas curvas é possível observar o grau de curvatura dos
taludes e a influência dos parâmetros de descarga na formação do perfil do aterro
hidráulico. A Figura 8.18 mostra as variações da concavidade do perfil em função dos
parâmetros de descarga, evidenciando principalmente as mudanças de inclinação e a
conseqüente variação de n e b nas porções inicial e final do depósito. BLIGHT (1994)
analisa estas curvas para as simulações realizadas no campo e laboratório e concorda com
a existência do perfil típico proposto por MELENT’EV et al. (1973).
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1x/L
y/H
MA - 1 (c=8,90%; Q=4,80 l/min)MA - 7 (c=13,12%; Q=5,92 l/min)MA - 6 (c=20,38%; Q=5,92 l/min)
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1x/L
y/H
MA - 7 (c=13,12%; Q=5,92 l/min)MA - 2 (c=13,92%; Q=9,68 l/min)MA - 4 (c=14,04%; Q=19,20 l/min)
Figura 8.18 – Concavidade dos perfis obtidos na simulações no ESDH para Q= 5l/min e
c=14%.
No caso do rejeito estudado pode-se concluir que as variáveis de deposição e o tipo de
material utilizado condicionaram a configuração do perfil, embora sejam necessários mais
estudos e simulações para validar esta proposta para o rejeito estudado. Adicionalmente,
devem ser viabilizadas correlações com os dados de campo como foi proposto por
BLIGHT (1994). Contudo, estas correlações foram inviabilizadas devido a falta de dados
disponíveis com relação a configuração final do depósito e dados mais realistas dos
parâmetros de descarga e geometria da praia.
8.4. SEGREGAÇÃO HIDRÁULICA
A segregação hidráulica é uma característica importante dos aterros hidráulicos e
representa um efeito direto na distribuição granulométrica do depósito formado. De uma
186
forma geral, os grãos tendem a depositar próximo a ponto de descarga em função da
energia de transporte gerada pelo processo de descarga. O processo de segregação depende
do tipo de fluido, tipo de sedimento, distribuição granulométrica, concentração da lama,
condições de fluxo e presença de aditivos químicos.
O processo de segregação tende a provocar grandes mudanças em toda a estrutura do
aterro em função, principalmente, do processo de seleção de partículas que ocorre em
diferentes regiões ao longo da trajetória de fluxo. Esta variabilidade estrutural tende a
alterar significativamente os parâmetros de resistência, deformabilidade e permeabilidade.
Embora comumente analisada como função exclusiva do tamanho do sedimento, a
segregação hidráulica se torna bastante complexa quando os sedimentos apresentam
características mineralógicas diferentes, em que a densidade dos sedimentos pode não ser a
mesma. Nestes casos, o processo de seleção pode ocorrer devido a peso da partícula e não
exclusivamente em função do tamanho, principalmente se as diferenças na massa
específica dos grãos forem significativas. Considerando o rejeito de minério de ferro
observa-se uma total dependência do valor da densidade das partículas sólidas. A grande
diferença no valor da massa específica dos grãos de ferro em relação ao quartzo, minerais
predominantes no rejeito da Mina de Morro Agudo, fez com que o processo de segregação
ocorresse predominantemente devido ao peso das partículas. Desta forma, o processo de
segregação comum por tamanho foi suplantado pela total dependência do peso.
Pelos resultados obtidos pode-se observar uma nítida tendência de aumento do diâmetro
médio do grão (D50) na porção média do talude e um decréscimo deste valor em direção
às extremidades. Assim, um atípico, mas coerente processo de segregação ocorre neste tipo
de material em que o peso da partícula é o fator dominante no modelo de seleção. A
evidência deste tipo de processo de seleção pode ser visualizada através da distribuição
granulométrica do rejeito ao longo do talude de deposição, representada pelos parâmetros
D10, D50 e D90 apresentados nas Figuras 8.19 a 8.24. Embora as variações apresentadas
sejam pequenas, devido principalmente o grau de uniformidade do rejeito, pode ser
verificada a sensibilidade do processo de segregação com o peso da partículas de ferro.
Este fato é evidenciado pela constatação da presença de partículas finas, porém mais
densas próximas ao ponto de descarga.
187
Algumas dispersões encontradas neste tipo de modelo de segregação podem ser
justificadas pela análise individual dos sedimentos presentes no rejeito, conforme
apresentado no Capítulo 6. Durante estas análises, foi verificada a presença de pequenas
partículas de ferro incrustadas na superfície dos grãos de quartzo. A existência destes
pequenos pontos de hematita no quartzo também foram responsáveis pelas variações no
processo convencional de segregação. Contudo, a quantificação das diferenças que esta
particularidade representa no processo de transporte parece ser bastante complexa,
necessitando de um estudo intenso baseado na caracterização individual de cada
sedimento.
Os pontos de hematita, embora muito pequenos, parecem alterar o peso da partícula de
quartzo e, neste caso, tendem a trabalhar como retardadores do movimento normal destas
partículas devido ao aumento da densidade. Alguns estudos serão propostos no sentido de
avaliar o grau de influência no processo de segregação. Entretanto, é importante notar que
este tipo de fator tende a reforçar a complexidade do estudo envolvendo os rejeitos, devido
às suas características mineralógicas. Outros parâmetros importantes referem-se à forma
dos grãos, rugosidade e propriedades magnéticas, que tendem certamente a aumentar a
complexidade das interações partícula-partícula e partícula-fluido. Este tipo de
consideração torna-se extremamente importante em função do processo de transporte ser
governado por estes tipos de interações e podem justificar as possíveis anomalias
encontradas.
Com relação aos efeitos dos valores da concentração e vazão utilizados nas simulações,
observa-se uma pequena influência destes parâmetros (Figuras 8.19 a 8.24) devido a
uniformidade do rejeito em relação ao tamanho dos grãos. Neste caso, as características
granulométricas (D10, D50, D90) do material ao longo do depósito tendem a variar muito
pouco, da ordem de 0,1 a 0,2 mm e podem ser considerados como bastantes semelhantes
em termos de granulometria. Entretanto, pode ser feita uma consideração com relação ao
aumento da vazão de descarga tendendo a produzir materiais um pouco mais grosseiros.
Este fato pode ser explicado pelo aumento da capacidade de transporte devido ao aumento
da vazão, apresentando uma tendência de carregar maiores porcentagens de finos para
regiões mais distantes ao longo da trajetória de fluxo. Com relação à concentração não foi
observada nenhuma tendência de comportamento relacionada à distribuição
granulométrica ao longo do depósito.
188
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50Distância ao ponto de descarga (m)
D10
(mm
)
MA - 1 (c=8,90%; Q=4,80 l/min)MA - 7 (c=13,12%; Q=5,92 l/min)MA - 6 (c=20,38%; Q=5,92 l/min)
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50Distância ao ponto de descarga (m)
D50
(mm
)
MA - 1 (c=8,90%; Q=4,80 l/min)MA - 7 (c=13,12%; Q=5,92 l/min)MA - 6 (c=20,38%; Q=5,92 l/min)
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50Distância ao ponto de descarga (m)
D90
(mm
)
MA - 1 (c=8,90%; Q=4,80 l/min)MA - 7 (c=13,12%; Q=5,92 l/min)MA - 6 (c=20,38%; Q=5,92 l/min)
Figura 8.19 – Variação das características granulométricas com a distância ao ponto de
descarga para uma vazão de aproximadamente 5 l/min.
189
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50
Distância ao ponto de descarga (m)
D10
(mm
)
MA - 2 (c=13,92% Qt=9,68 l/min)MA - 8 (c=8,84% Qt=9,26 l/min)MA - 9 (c=19,65%; Q=9,35 l/min)
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50
Distância ao ponto de descarga (m)
D50
(mm
)
MA - 2 (c=13,92% Qt=9,68 l/min)MA - 8 (c=8,84% Qt=9,26 l/min)MA - 9 (c=19,65%; Q=9,35 l/min)
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50
Distância ao ponto de descarga (m)
D90
(mm
)
MA - 2 (c=13,92% Qt=9,68 l/min)MA - 8 (c=8,84% Qt=9,26 l/min)MA - 9 (c=19,65%; Q=9,35 l/min)
Figura 8.20 – Variação das características granulométricas com a distância ao ponto de
descarga para uma vazão de aproximadamente 10 l/min.
190
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50Distância ao ponto de descarga (m)
D10
(mm
)
MA - 3 (c=7,74%; Q=19,33 l/min)MA - 4 (c=14,04%; Q=19,20 l/min)MA - 5 (c=20,20% Qt=20,2 l/min)
,
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50Distância ao ponto de descarga (m)
D50
(mm
)
MA - 3 (c=7,74%; Q=19,33 l/min)MA - 4 (c=14,04%; Q=19,20 l/min)MA - 5 (c=20,20% Qt=20,2 l/min)
,
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50Distância ao ponto de descarga (m)
D90
(mm
)
MA - 3 (c=7,74%; Q=19,33 l/min)MA - 4 (c=14,04%; Q=19,20 l/min)MA - 5 (c=20,20% Qt=20,2 l/min)
,
Figura 8.21– Variação das características granulométricas com a distância ao ponto de
descarga para uma vazão de aproximadamente 20 l/min.
191
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50Distância ao ponto de descarga (m)
D10
(mm
)
MA - 1 (c=8,90%; Q=4,80 l/min)MA - 8 (c=8,84% Qt=9,26 l/min)MA - 3 (c=7,74%; Q=19,33 l/min)
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50Distância ao ponto de descarga (m)
D50
(mm
)
MA - 1 (c=8,90%; Q=4,80 l/min)MA - 8 (c=8,84% Qt=9,26 l/min)MA - 3 (c=7,74%; Q=19,33 l/min)
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50Distância ao ponto de descarga (m)
D90
(mm
)
MA - 1 (c=8,90%; Q=4,80 l/min)MA - 8 (c=8,84% Qt=9,26 l/min)MA - 3 (c=7,74%; Q=19,33 l/min)
Figura 8.22 – Variação das características granulométricas com a distância ao ponto de
descarga para uma concentração de aproximadamente 8%.
192
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50Distância ao ponto de descarga (m)
D10
(mm
)
MA - 7 (c=13,12%; Q=5,92 l/min)MA - 2 (c=13,92% Qt=9,68 l/min)MA - 4 (c=14,04%; Q=19,20 l/min)
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50Distância ao ponto de descarga (m)
D50
(mm
)
MA - 7 (c=13,12%; Q=5,92 l/min)MA - 2 (c=13,92% Qt=9,68 l/min)MA - 4 (c=14,04%; Q=19,20 l/min)
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50Distância ao ponto de descarga (m)
D90
(mm
)
MA - 7 (c=13,12%; Q=5,92 l/min)MA - 2 (c=13,92% Qt=9,68 l/min)MA - 4 (c=14,04%; Q=19,20 l/min)
Figura 8.23 – Variação das características granulométricas com a distância ao ponto de
descarga para uma concentração de aproximadamente 14%.
193
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50Distância ao ponto de descarga (m)
D10
(mm
)
MA - 6 (c=20,38%; Q=5,92 l/min)MA - 9 (c=19,65%; Q=9,35 l/min)MA - 5 (c=20,20% Qt=20,2 l/min)
,
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50Distância ao ponto de descarga (m)
D50
(mm
)
MA - 6 (c=20,38%; Q=5,92 l/min)MA - 9 (c=19,65%; Q=9,35 l/min)MA - 5 (c=20,20% Qt=20,2 l/min)
,
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50Distância ao ponto de descarga (m)
D90
(mm
)
MA - 6 (c=20,38%; Q=5,92 l/min)MA - 9 (c=19,65%; Q=9,35 l/min)MA - 5 (c=20,20% Qt=20,2 l/min)
,
Figura 8.24 – Variação das características granulométricas com a distância ao ponto de
descarga para uma concentração de aproximadamente 20%.
194
KÜPPER (1991) relata o mesmo tipo de problema no estabelecimento de correlações entre
a variação da granulometria ao longo do depósito e os parâmetros iniciais de fluxo e
considera que esta dificuldade está relacionada ao grau de uniformidade dos materiais que
são normalmente utilizados nos aterros hidráulicos e possivelmente à perda de finos que
pode ocorrer durante o processo de transporte e deposição. KÜPPER (1991) apresenta
algumas disparidades com relação ao processo de segregação em suas simulações. Em
alguns casos simulados, os valores de D10, D50 e D90 tendem a aumentar levemente com
a distância. Embora considere este comportamento bastante atípico, as causas que geraram
esta tendência não foram identificadas.
Algumas explicações para as dispersões ou mesmo a presença de sedimentos em locais não
esperados podem estar relacionadas ao padrão de fluxo que é estabelecido na praia do
aterro hidráulico, formando meandros, canais, barreiras e pequenas ilhas. Estas feições,
como já descrito, tendem a impedir o processo normal de transporte, pela retenção de fluxo
e/ou sedimentos, ou mesmo pela aceleração do fluxo e aumento da capacidade de
transporte. Adicionalmente, a concentração de partículas mais grossas e/ou mais pesadas
em determinados locais do depósito tende a dificultar o movimento dos sedimentos
menores e/ou mais leves, bloqueando a passagem ou mesmo funcionando como um escudo
(“armouring”) sobre os sedimentos menores, mantendo-os em posições nem sempre
coerentes com a sua característica dentro do padrão convencional de transporte. Este fato
tende a justificar as diferenças encontradas nos resultados obtidos e reforça a idéia de que
o mecanismo de fluxo é fundamental na caracterização e quantificação do processo de
segregação.
Devido à particularidade do processo de segregação em função do peso, foram feitas
análises da massa específica dos grãos em relação ao ponto de descarga. As Figuras 8.25 a
8.30 mostram a variação da densidade das partículas sólidas (Gs) em função da distância
ao ponto de descarga para os diferentes valores de concentração e vazão adotados.
Verifica-se uma boa concordância com as proposições apresentadas a respeito da
segregação granulométrica. O valor de Gs tende a reforçar as considerações anteriores e
revela a grande particularidade do rejeito em relação ao processo convencional de
transporte de sedimentos. Como já mencionado nos capítulos anteriores, poucos estudos
têm sido apresentados considerando a não uniformidade dos sedimentos em relação ao
peso. Na maioria dos casos os sedimentos analisados apresentam as mesmas caraterísticas
195
mineralógicas e o processo de segregação refere-se, basicamente, à não uniformidade
granulométrica.
No caso do rejeito de Morro Agudo, a presença de cerca de 23% de minerais de ferro tende
a condicionar todo o processo de segregação. Pode-se considerar que a segregação
granulométrica é uma conseqüência da segregação por peso (tipo de mineral). Neste
sentido, a sensibilidade do equipamento desenvolvido e os parâmetros de descarga
utilizados foram fundamentais na caracterização deste tipo de comportamento, revelando
um fator importante na análise do comportamento do rejeito durante o processo de
transporte hidráulico.
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
0 0,5 1 1,5 2 2,5Distância ao ponto de descarga (m)
Gs
MA - 1 (c=8,90%; Q=4,80 l/min)
MA - 7 (c=13,12%; Q=5,92 l/min)
MA - 6 (c=20,38%; Q=5,92 l/min)
Figura 8.25 – Variação de Gs para Q=5 l/min e concentrações entre 5 e 20%.
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
0 0,5 1 1,5 2 2,5Distância ao ponto de descarga (m)
Gs
MA - 8 (c=8,84% Qt=9,26 l/min)
MA - 2 (c=13,92%; Q=9,68 l/min)
MA - 9 (c=19,65%; Q=9,35 l/min)
Figura 8.26 – Variação de Gs para Q=10 l/min e concentrações entre 5 e 20%.
196
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
0 0,5 1 1,5 2 2Distância ao ponto de descarga (m)
Gs
,5
MA - 3 (c=7,74%; Q=19,33 l/min)MA - 4 (c=14,04%; Q=19,20 l/min)MA - 5 (c=20,20%; Q=20,20 l/min)
Figura 8.27– Variação de Gs para Q=20 l/min e concentrações entre 5 e 20%.
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
0 0,5 1 1,5 2 2,5Distância ao ponto de descarga (m)
Gs
MA - 1 (c=8,90%; Q=4,80 l/min)MA - 8 (c=8,84% Qt=9,26 l/min)MA - 3 (c=7,74%; Q=19,33 l/min)
Figura 8.28 – Variação de Gs para c=8% e vazões entre 5 e 20 l/min.
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
0 0,5 1 1,5 2 2Distância ao ponto de descarga (m)
Gs
,5
MA - 7 (c=13,12%; Q=5,92 l/min)MA - 2 (c=13,92%; Q=9,68 l/min)
MA - 4 (c=14,04%; Q=19,20 l/min)
Figura 8.29 – Variação de Gs para c=14% e vazões entre 5 e 20 l/min.
197
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
0 0,5 1 1,5 2 2,5Distância ao ponto de descarga (m)
Gs
MA - 6 (c=20,38%; Q=5,92 l/min)MA - 9 (c=19,65%; Q=9,35 l/min)MA - 5 (c=20,20%; Q=20,20 l/min)
Figura 8.30 – Variação de Gs para c=20% e vazões entre 5 e 20 l/min.
As Figuras 8.25 a 8.30 mostram também a influência do valor da concentração e da vazão
no valor de Gs em relação ao ponto de descarga. Pode-se observar que o aumento da
concentração tende a diminuir a mobilidade das partículas ao longo da trajetória de fluxo,
principalmente considerando o movimento das partículas de quartzo. Assim, verifica-se
uma pequena redução no valor de Gs próximo ao ponto de descarga, provocado pela
permanência deste tipo de sedimento nesta região. Entretanto, nos pontos subsequentes, o
efeito inicial da concentração parece ter perdido sua influência, verificando-se algumas
dispersões. Este fato pode ser explicado pela mudança no esquema de transporte quando os
sedimentos entram em contato com a superfície do depósito, devido à ocorrência de uma
maior interação entre as camadas já depositadas e os sedimentos que são transportados.
A vazão de descarga parece ter pouca influência na variação de Gs e este fato pode estar
associado às baixas velocidades utilizadas nas simulações. Desta forma o valor de Gs
obtido nas simulações para diferentes valores de vazão não apresentaram nenhuma
tendência de variação. Acredita-se que a particularidade na composição mineralógica do
rejeito tenha dificultado o processo de seleção mais específico em função deste parâmetro.
Contudo, nota-se que para baixas velocidades de fluxo, o valor de Gs tende a se estabilizar
mais rapidamente para o valor de 2,65, correspondente ao solo sem partículas de ferro, do
que para altas vazões. Este fato enfatiza as considerações anteriores de que as baixas
velocidades tendem a manter as partículas de ferro mais próximas ao ponto de descarga.
Em resumo, nota-se claramente que o comportamento do rejeito com relação ao processo
de segregação é bastante atípico e a avaliação do Gs representa uma forma de justificar a
198
seleção que ocorre em função da densidade do grão. Assim observa-se que as partículas de
ferro mais finas e mais pesadas se concentram na região próxima ao ponto de descarga e o
quartzo mais grosso e mais leve tende a se depositar e/ou se deslocar até a porção média do
depósito. Na extremidade final do depósito, o processo volta a ocorrer convencionalmente
pelo tamanho, onde são encontradas as partículas da fração silte e argila.
Comprovando a hipótese da predominância de minerais de ferro nas regiões próximas ao
ponto de descarga foram feitas análises do teor de ferro nas amostras obtidas. A primeira
idéia era avaliar a porcentagem de ferro em cada amostra pela separação dos minerais
presentes no rejeito através de um processo de vibração na mesa Wilfler e/ou um processo
magnético usando o equipamento Franz. Entretanto, as características atípicas do rejeito
(Capítulo 6) dificultaram o processo de separação por estes dois métodos. A principal
dificuldade foi relacionada a presença de minerais de ferro aderidos às partículas de
quartzo que inviabilizaram as metodologias disponíveis, principalmente o processo de
separação magnética. É importante notar que a análise individual de cada tipo de
sedimento e a investigação mais precisa desta particularidade, apresentados na Capítulo 6,
originaram-se das dificuldades encontradas nas separações destes minerais em laboratório.
Assim, devido às dificuldades encontradas, optou-se por usar a equação proposta por
ESPÓSITO (2000) que relaciona a porcentagem de ferro com o valor da densidade das
partículas. Esta equação foi obtida a partir de análises de rotina para determinação do teor
de ferro realizadas na própria Mina de Morro Agudo e relacionadas com o valor de Gs
correspondente. Assim, a equação proposta por ESPÓSITO (2000) para o rejeito da Mina
de Morro Agudo e utilizada nas análises da determinação do teor de ferro é apresentada a
seguir:
%10050,2
60,2Fe s
−ρ= (8.1)
onde: Fe = porcentagem de partículas de ferro presentes no rejeito;
ρs = massa específica dos grãos.
Assim, a Equação 8.1 foi considerada na obtenção dos valores do teor de ferro
apresentados nas Figuras 8.31 a 8.36. Pode-se observar uma grande concentração de
199
partículas de ferro nos pontos próximos à descarga, mostrando uma relação direta do teor
de ferro com o valor de Gs. De uma forma geral, o teor de ferro próximo ao ponto de
descarga se manteve entre 40 e 70% (média de 60%) para maioria dos casos analisados.
Algumas reduções no valor do teor de ferro poderiam estar associadas às diferenças no
valor da vazão e/ou a presença de alguns grãos de quartzo com incrustações de ferro
alterando o valor global de Gs.
As considerações feitas para os valores de Gs podem ser extrapoladas para as análises do
teor de ferro devido a dependência entre estes dois parâmetros. Assim, analisando o efeito
da vazão e da concentração com relação a variação do teor de ferro, observa-se a mesma
tendência apresentada para o valor de Gs.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0 0,5 1 1,5 2 2,5Distância ao ponto de descarga (m)
Teor
de
Ferr
o (%
)
MA - 1 (c=8,90%; Q=4,80 l/min)MA - 7 (c=13,12%; Q=5,92 l/min)
MA - 6 (c=20,38%; Q=5,92 l/min)
Figura 8.31 – Variação do teor de ferro para Q=5 l/min e concentrações entre 5 e 20%.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0 0,5 1 1,5 2 2Distância ao ponto de descarga (m)
Teor
de
Ferr
o (%
)
,5
MA - 8 (c=8,84% Qt=9,26 l/min)
MA - 2 (c=13,92%; Q=9,68 l/min)
MA - 9 (c=19,65%; Q=9,35 l/min)
Figura 8.32 – Variação do teor de ferro para Q=10 l/min e concentrações entre 5 e 20%.
200
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0 0,5 1 1,5 2 2,5Distância ao ponto de descarga (m)
Teor
de
Ferr
o (%
)
MA - 3 (c=7,74%; Q=19,33 l/min)
MA - 4 (c=14,04%; Q=19,20 l/min)
MA - 5 (c=20,20%; Q=20,20 l/min)
Figura 8.33– Variação do teor de ferro para Q=20 l/min e concentrações entre 5 e 20%.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0 0,5 1 1,5 2 2Distância ao ponto de descarga (m)
Teor
de
Ferr
o (%
)
,5
MA - 1 (c=8,90%; Q=4,80 l/min)
MA - 8 (c=8,84% Qt=9,26 l/min)
MA - 3 (c=7,74%; Q=19,33 l/min)
Figura 8.34 – Variação do teor de ferro para c= 8% e vazões entre 5 e 20 l/min.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0 0,5 1 1,5 2 2,5Distância ao ponto de descarga (m)
Teor
de
Ferr
o (%
)
MA - 7 (c=13,12%; Q=5,92 l/min)MA - 2 (c=13,92%; Q=9,68 l/min)MA - 4 (c=14,04%; Q=19,20 l/min)
Figura 8.35– Variação do teor de ferro para c=14% e vazões entre 5 e 20 l/min.
201
0
10
20
30
40
50
60
70
80
0 0,5 1 1,5 2 2Distância ao ponto de descarga (m)
Teor
de
Ferr
o (%
)
,5
MA - 6 (c=20,38%; Q=5,92 l/min)
MA - 9 (c=19,65%; Q=9,35 l/min)
MA - 5 (c=20,20%; Q=20,20 l/min)
Figura 8.36 – Variação do teor de ferro para c=20% e vazões entre 5 e 20 l/min.
Embora sem fornecer dados muito precisos em relação às variações destes parâmetros em
função da vazão e concentração, a importância destas considerações refere-se à
caracterização do mecanismo de seleção predominante, no caso do rejeito, o peso da
partícula. Assim, uma importante tendência a ser analisada é a variação da densidade das
partículas ao longo da trajetória de fluxo juntamente com o tamanho da partícula. Além
disto, os efeitos da densidade das partículas tende a afetar fortemente a densidade do
depósito e consequentemente alterar significativamente seu comportamento geotécnico.
8.5. DENSIDADE
Considerando que a densidade é um parâmetro importante na avaliação do comportamento
geotécnico dos aterros hidráulicos, foi realizada uma avaliação do valor da densidade ao
longo do depósito obtido nas simulações no ESDH. Neste contexto, a densidade foi
determinada em vários pontos ao longo do depósito de modo a verificar a tendência deste
tipo de parâmetro com a distância ao ponto de descarga. As Figuras 8.37 a 8.42 mostram a
variação da massa específica seca (ρd) com a distância ao ponto de descarga. A partir
destas figuras pode ser observado um considerável aumento do valor da massa específica
seca próximo ao ponto de descarga, coincidindo com a região de maior concentração de
partículas de ferro.
De uma forma geral o valor de ρd tende a ser bastante alto no início do depósito tendendo
a estabilizar em valores próximos a 1,7 g/cm3 em direção à extremidade final do depósito.
202
Os resultados obtidos não revelam uma tendência clara de variação de ρd com a vazão e a
concentração, embora verifique uma leve tendência da densidade aumentar com o aumento
da vazão e decrescer com o aumento da concentração. Este tipo de consideração foi
também apresentado por KÜPPER (1991) e FERREIRA et al. (1980), entretanto ambos
trabalhos ressaltam as dificuldades associadas a determinação da densidade e as dispersões
encontradas ao analisar estes parâmetros.
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
0 0,5 1 1,5 2 2,5Distância ao ponto de descarga (m)
d (g/
cm3 )
MA - 1 (c=8,90%; Q=4,80 l/min)
MA - 7 (c=13,12%; Q=5,92 l/min)
MA - 6 (c=20,38%; Q=5,92 l/min)
Figura 8.37 – Variação de ρd para Q=5 l/min e concentrações entre 5 e 20%.
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
0 0,5 1 1,5 2 2Distância ao ponto de descarga (m)
,5
d (g/
cm3 )
MA - 8 (c=8,84% Q=9,26 l/min)
MA - 2 (c=13,92%; Q=9,68 l/min)
MA - 9 (c=19,65%; Q=9,35 l/min)
Figura 8.38 – Variação de ρd para Q=10 l/min e concentrações entre 5 e 20%.
203
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
0 0,5 1 1,5 2 2Distância ao ponto de descarga (m)
,5
d (g/
cm3 )
MA - 3 (c=7,74%; Q=19,33 l/min)
MA - 4 (c=14,04%; Q=19,20 l/min)
MA - 5 (c=20,20%; Q=20,20 l/min)
Figura 8.39 – Variação de ρd para Q=20 l/min e concentrações entre 5 e 20%.
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
0 0,5 1 1,5 2 2Distância ao ponto de descarga (m)
,5
d (g/
cm3 )
MA - 1 (c=8,90%; Q=4,80 l/min)
MA - 8 (c=8,84% Q=9,26 l/min)
MA - 3 (c=7,74%; Q=19,33 l/min)
Figura 8.40 – Variação de ρd para c=8% e vazões entre 5 e 20 l/min.
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
0 0,5 1 1,5 2 2,5Distância ao ponto de descarga (m)
d (g/
cm3 )
MA - 7 (c=13,12%; Q=5,92 l/min)
MA - 2 (c=13,92%; Q=9,68 l/min)
MA - 4 (c=14,04%; Q=19,20 l/min)
Figura 8.41 – Variação de ρd para c=14% e vazões entre 5 e 20 l/min.
204
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
0 0,5 1 1,5 2 2,5Distância ao ponto de descarga (m)
d (g/
cm3 )
MA - 6 (c=20,38%; Q=5,92 l/min)
MA - 9 (c=19,65%; Q=9,35 l/min)
MA - 5 (c=20,20%; Q=20,20 l/min)
Figura 8.42 – Variação de ρd para c=20% e vazões entre 5 e 20 l/min.
KÜPPER (1991) estabelece uma simplificação tentando estabelecer um valor médio da
densidade para os depósitos obtidos em suas simulações. Contudo, este tipo de
simplificação não parece adequada à realidade dos aterros hidráulicos em que a densidade
apresenta um importante padrão de variação ao longo da distância. O estabelecimento de
um valor médio para todo o depósito poderia acarretar grandes erros na determinação e
avaliação dos parâmetros geotécnicos associados a este tipo de depósito, já que existe um
grande variabilidade estrutural, principalmente, entre a porção inicial e final da praia.
Adicionalmente foi realizada a avaliação do valor da porosidade ao longo do depósito,
sendo obtido os valores da porosidade para cada ponto amostrado ao longo do canal do
ESDH. As Figuras 8.43 a 8.48 mostram a variação da porosidade com a distância ao ponto
de descarga para os diferentes valores de vazão e concentração utilizados. Observa–se uma
tendência de aumento da porosidade com o aumento da distância ao ponto de descarga.
Desta forma, a porção inicial do depósito apresenta, além de partículas mais densas, um
baixo índice de vazios, representando certamente a região mais estável do depósito. Pode-
se considerar que além da influência do mecanismo de transporte, as características dos
minerais de ferro favoreceram a este tipo de configuração. Uma situação oposta ocorre na
porção final do depósito, onde a configuração do fluxo e as características dos sedimentos
que atingiram esta parte do depósito condicionaram a formação de camadas mais fofas.
Este fato é facilmente visualizado em todas as curvas apresentadas.
205
0
10
20
30
40
50
60
0 0,5 1 1,5 2 2,5Distância ao ponto de descarga (m)
n (%
)
MA - 1 (c=8,90%; Q=4,80 l/min)
MA - 7 (c=13,12%; Q=5,92 l/min)
MA - 6 (c=20,38%; Q=5,92 l/min)
Figura 8.43 – Variação da porosidade para Q=5 l/min e concentrações entre 5 e 20%.
0
10
20
30
40
50
60
0 0,5 1 1,5 2 2Distância ao ponto de descarga (m)
n (%
)
,5
MA - 8 (c=8,84% Q=9,26 l/min)
MA - 2 (c=13,92%; Q=9,68 l/min)
MA - 9 (c=19,65%; Q=9,35 l/min)
Figura 8.44 – Variação da porosidade para Q=10 l/min e concentrações entre 5 e 20%.
0
10
20
30
40
50
60
0 0,5 1 1,5 2 2,5Distância ao ponto de descarga (m)
n (%
)
MA - 3 (c=7,74%; Q=19,33 l/min)
MA - 4 (c=14,04%; Q=19,20 l/min)
MA - 5 (c=20,20%; Q=20,20 l/min)
Figura 8.45 – Variação da porosidade para Q=20 l/min e concentrações entre 5 e 20%.
206
0
10
20
30
40
50
60
0 0,5 1 1,5 2 2Distância ao ponto de descarga (m)
n (%
)
,5
MA - 1 (c=8,90%; Q=4,80 l/min)
MA - 8 (c=8,84% Q=9,26 l/min)
MA - 3 (c=7,74%; Q=19,33 l/min)
Figura 8.46 – Variação da porosidade para c=8% e vazões entre 5 e 20 l/min.
0
10
20
30
40
50
60
0 0,5 1 1,5 2 2,5Distância ao ponto de descarga (m)
n (%
)
MA - 7 (c=13,12%; Q=5,92 l/min)
MA - 2 (c=13,92%; Q=9,68 l/min)
MA - 4 (c=14,04%; Q=19,20 l/min)
Figura 8.47 – Variação da porosidade para c=14% e vazões entre 5 e 20 l/min.
0
10
20
30
40
50
60
0 0,5 1 1,5 2 2Distância ao ponto de descarga (m)
n (%
)
,5
MA - 6 (c=20,38%; Q=5,92 l/min)
MA - 9 (c=19,65%; Q=9,35 l/min)
MA - 5 (c=20,20%; Q=20,20 l/min)
Figura 8.48 – Variação da porosidade para c=20% e vazões entre 5 e 20 l/min.
207
Os valores de concentração e vazão adotados não indicaram nenhuma tendência
significativa no valor das porosidade obtidas. É importante notar, que embora tenham sido
tomados todos os cuidados relacionados à determinação da densidade, este tipo de
parâmetro é bastante sensível aos processos de amostragem. Alguns estudos foram
realizados junto ao GeoDelft, na Holanda no sentido de obter medidas mais precisas do
valor da densidade dos aterros arenosos. Ensaios realizados com o mini-cone elétrico, em
depósitos arenosos na Holanda mostraram a viabilidade deste tipo de equipamento na
determinação da densidade no campo em depósitos no laboratório. Infelizmente, o tempo
necessário para aquisição deste equipamento inviabilizou sua utilização nas avaliações da
densidade no ESDH.
Em resumo, verifica-se que a vazão e a concentração tendem a alterar de forma
significativa o comportamento dos depósitos construídos hidraulicamente. De uma forma
geral, a geometria do depósito se mostrou totalmente dependente destes parâmetros. Os
valores da densidade das partículas e da porosidade não mostraram uma tendência clara
com a vazão e concentração, mas apresentaram um perfil de variação ao longo do
depósito. Assim, um ponto adicional a ser considerado a respeito desta tendência estaria na
possibilidade da avaliação do volume de material acumulado no depósito pela análise
conjunta de Gs, porosidade e geometria. Neste contexto, poder-se-ia determinar a vida útil
da barragem.
8.6. COMPARAÇÕES COM ALGUNS RESULTADOS DE CAMPO
Embora conhecendo as limitações relativas aos efeitos de escala do modelo de simulação
proposto, tentou-se estabelecer alguns correlações entre as simulações realizadas e os
dados oriundos do campo. É importante notar que este tipo de consideração objetiva
fornecer uma idéia geral do comportamento do aterro a partir de correlações qualitativas.
Sabe-se, como descrito na própria concepção do modelo, que qualquer tipo de
extrapolação quantitativa necessitaria um maior rigor de escala entre os dois sistemas.
Neste contexto, foram realizadas algumas comparações com os valores do teor de ferro e
porosidades obtidos nas campanhas de campo realizadas por ESPÓSITO (2000) e algumas
avaliações da massa específica em campanhas de controle de densidade da pilha de rejeito
em julho de 1996 e 1997 (ESPÓSITO & ASSIS, 1997).
208
Com relação aos dados obtidos por ESPÓSITO (2000) pode-se observar a mesma
tendência apresentada nas simulações em laboratório, em que o teor de ferro tende a ser
maior nas regiões próximas ao ponto de descarga e tendendo a decrescer em direção ao
final do depósito (Figura 8.49). Nota-se, entretanto, que o teor de ferro obtido nos ensaios
realizados por ESPÓSITO (2000) são levemente inferiores aos obtidos nas simulações em
laboratório. Contudo estas diferenças podem estar relacionadas às variações iniciais no
teor de ferro do rejeito, função do processo de beneficiamento.
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
0 10 20 30 40 50 6Distância ao ponto de descarga (m)
Teor
de
Ferr
o (%
)
0
Pilha do Monjolo (MA) - Espósito (2000)
Figura 8.49 – Variação do teor de ferro ao longo depósito no campo (modificado –
ESPÓSITO, 2000).
Os valores de porosidade obtidos por ESPÓSITO (2000) mantiveram-se na mesma ordem
de grandeza que os obtidos no ESDH (Figura 8.50). A tendência de variação da porosidade
no campo foi semelhante a encontrada nas simulações em laboratório, isto é, a porosidade
tende a crescer com o aumento da distância ao ponto de descarga.
Outro tipo de comparação foi realizada baseada no valor da massa específica seca obtida
em outras duas campanhas de campo. A determinação da massa específica “in situ”
baseou-se no método do frasco de areia NBR7185 (ABNT, 1986), ensaio de rotina na
Mina de Morro Agudo. A Figura 8.51 mostra os resultados obtidos nestas campanhas
juntamente com os dados oriundos das simulações no ESDH.
209
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
0 10 20 30 40 50 6Distância ao ponto de descarga (m)
n (%
)
0
Pilha do Monjolo (MA) - Espósito (2000)
Figura 8.50 – Variação da porosidade ao longo depósito no campo (modificado –
ESPÓSITO, 2000).
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
0 0,5 1 1,5 2 2,5
Distância ao ponto de descarga (m) - Laboratório
d (g
/cm
3)
0 50 100 150 200 250Distância ao ponto de descarga (m) - Campo
MA - 8 (c=8,84% Q=9,26 l/min)MA - 2 (c=13,92%; Q=9,68 l/min)MA - 9 (c=19,65%; Q=9,35 l/min)Pilha Monjolo (MA) - 07/96 (Q = 7633,33 l/min)Pilha Monjolo (MA) - 07/99 (Q = 7633,33 l/min)
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
0 0,5 1 1,5 2 2Distância ao ponto de descarga (m) - Laboratório
,5
d (g
/cm
3)
0 50 100 150 200 250Distância ao ponto de descarga (m) - Campo
MA - 6 (c=20,38%; Q=5,92 l/min)MA - 9 (c=19,65%; Q=9,35 l/min)MA - 5 (c=20,20%; Q=20,20 l/min)Pilha Monjolo (MA) - 07/96 (Q = 7633,33 l/min)Pilha Monjolo (MA) - 07/99 (Q = 7633,33 l/min)
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
0 0,5 1 1,5 2 2,5Distância ao ponto de descarga (m) - Laboratório
d (g/
cm3 )
0 50 100 150 200 250Distância ao ponto de descarga (m) - Campo
MA - 3 (c=7,74%; Q=19,33 l/min)MA - 4 (c=14,04%; Q=19,20 l/min)MA - 5 (c=20,20%; Q=20,20 l/min)Pilha Monjolo (MA) - 07/96 (Q = 7633,33 l/min)Pilha Monjolo (MA) - 07/99 (Q = 7633,33 l/min)
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
0 0,5 1 1,5 2 2Distância ao ponto de descarga (m) - Laboratório
,5
d (g
/cm
3)
0 50 100 150 200 250Distância ao ponto de descarga (m) - Campo
MA - 6 (c=20,38%; Q=5,92 l/min)MA - 9 (c=19,65%; Q=9,35 l/min)MA - 5 (c=20,20%; Q=20,20 l/min)Pilha Monjolo (MA) - 07/96 (Q = 7633,33 l/min)Pilha Monjolo (MA) - 07/99 (Q = 7633,33 l/min)
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
0 0,5 1 1,5 2 2,5Distância ao ponto de descarga (m) - Laboratório
d (g
/cm
3)
0 50 100 150 200 250Distância ao ponto de descarga (m) - Campo
MA - 1 (c=8,90%; Q=4,80 l/min)MA - 6 (c=20,38%; Q=5,92 l/min)MA - 7 (c=13,12%; Q=5,92 l/min)Pilha Monjolo (MA) - 07/96 (Q = 7633,33 l/min)Pilha Monjolo (MA) - 07/99 (Q = 7633,33 l/min)
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
0 0,5 1 1,5 2 2,5Distância ao ponto de descarga (m) - Laboratório
d (g/
cm3 )
0 50 100 150 200 250Distância ao ponto de descarga (m) - Campo
MA - 1 (c=8,90%; Q=4,80 l/min)MA - 8 (c=8,84% Q=9,26 l/min)MA - 3 (c=7,74%; Q=19,33 l/min)Pilha Monjolo (MA) - 07/96 (Q = 7633,33 l/min)Pilha Monjolo (MA) - 07/99 (Q = 7633,33 l/min)
Figura 8.51 – Comparação entre os valores de ρd obtidos na Pilha do Monjolo em 07/99 e
os valores obtidos nas simulações em laboratório.
210
Analisando estas figuras pode–se observar uma estreita correspondência entre as duas
simulações. A ordem de grandeza e a tendência de variação da massa específica com a
distância se mostraram bastante semelhantes. Contudo, este tipo de consideração deve ser
analisada com reservas. Na realidade os dados revelam um excelente correspondência, mas
qualquer consideração a respeito de quantificar os dados a partir destes tipos de simulações
seria ainda prematuro.
É importante considerar que a adoção da escala entre as distâncias no campo e no
laboratório numa proporção de 100 vezes, não obedeceu nenhum formalismo de escala,
sendo este valor adotado devido a sua adequabilidade à realidade das comparações.
Qualquer tipo de consideração a respeito deste valor, como a escala formal entre o modelo
e o sistema de campo poderia incorrer em erros em função da outras variáveis presentes no
fenômeno e que não obedecem este mesmo padrão de redução. Assim ressalta-se o caráter
puramente geométrico das comparações e os dados devem ser analisados como um padrão
global de comportamento, concordando com as proposições básicas de concepção do
modelo baseadas no princípio da semelhança proposto por HOOKE (1968).
Outros tipos de aproximação entre os sistemas de campo e laboratório são reportados na
literatura. O estudos apresentados por BLIGHT (1987 e 1994) apresentam comparações
diretas entre os valores da inclinação do perfil típico no campo nas simulações em
laboratório. KÜPPER (1991) também apresenta comparações entre os dois sistemas,
relatando inclusive as dificuldades associadas neste tipo de abordagem. KÜPPER (1991)
estabelece dados baseados na normalização das distâncias ao invés de tentar estabelecer
um fator de escala geométrica. DE GROOT et al. (1988) e WINTERWERP et al. (1990)
buscam estabelecer correlações entre campo laboratório baseados na semelhança do
fenômeno físico e tentam extrapolar as formulações obtidas para o sistema de campo.
Neste contexto, observa-se que o objetivo básico destas diferentes comparações é mostrar
que embora com limitações relativas aos formalismo das teorias de modelagem física, os
ensaios de simulação em laboratório são capazes de fornecer subsídios para a previsão de
parâmetros e características de comportamento dos aterros hidráulicos.
211
CAPÍTULO 9
CONCLUSÕES
9.1. CONCLUSÕES GERAIS
Os aterros hidráulicos são de grande importância para os processos de disposição de
rejeitos. Embora possam também ser relacionados a outros tipos de estruturas como diques
de contenção, ilhas artificiais, etc., a utilização dos aterros hidráulicos na construção de
barragens de rejeitos é muito atrativa devido as suas vantagens práticas e econômicas. No
caso específico da disposição de rejeitos, a grande vantagem desta técnica está na
utilização do material na forma de lama, coincidente com a forma que o rejeito é liberado
do processo de separação do minério.
Apesar de apresentar estas grandes vantagens, vários aspectos relacionados aos aterros
hidráulicos não são bem entendidos, incluindo o mecanismo de deposição e a real
influência dos parâmetros que afetam a formação dos depósitos. Em geral, os projetos de
aterros hidráulicos tendem a ser bastante limitados e realizados de forma quase aleatória, o
que resulta em estruturas de baixa qualidade e pouco seguras.
No caso específico de barragens de rejeitos, o método de montante é o mais utilizado pelas
maioria das mineradoras devido principalmente à sua vantagem econômica. Entretanto,
pela sua própria característica construtiva o método de montante é considerado susceptível
a instabilidades. Os problemas deste método estão relacionados às características com que
o rejeito é depositado e pela deficiência de dados e metodologias de controle dos processos
de descarga. Assim, considerando a aplicabilidade do método de montante seria
importante definir uma metodologia de controle que pudesse assegurar a qualidade destas
estruturas e torná-las mais seguras. Estas considerações poderiam ser extendidas para
outros métodos já que o completo entendimento dos mecanismos de deposição estaria
relacionado a todos os tipos de projeto envolvendo os aterros hidráulicos.
212
Neste contexto, um estudo experimental foi desenvolvido objetivando investigar os
mecanismos de deposição e a sua influência nas propriedades geotécnicas do aterro. Os
parâmetros avaliados foram a vazão e a concentração da mistura, sendo estabelecida uma
caracterização do depósito em função destes parâmetros. Alguns estudos de campo foram
incorporados nas análises, estabelecendo-se comparações qualitativas entre as simulações
de laboratório e as realizadas no campo.
Observa-se que os ensaios de simulação de deposição hidráulica foram desenvolvidos
principalmente para prover um suporte teórico ao projeto dos aterros hidráulicos. Assim é
importante notar que os dados obtidos a partir deste tipo de ensaio podem dar subsídios à
análise do comportamento deste tipo de estrutura no campo. O maior desafio relacionado a
esta simulação em laboratório tem sido a extrapolação direta dos dados para o campo
devido à falta de controle das variáveis de campo e aos problemas de escala. Contudo,
analisando os parâmetros obtidos a partir dos ensaios de simulação hidráulica (ESDH),
pode-se avaliar sua importância na análise qualitativa do comportamento dos aterros
hidráulicos, principalmente na caracterização do fenômeno de deposição e da sua
influência no comportamento do depósito. Observa-se que a interação entre a Hidráulica
do Transporte de Sedimentos e a Geotecnia foi fundamental na avaliação do
comportamento dos aterros hidráulicos.
Os resultados obtidos a partir das simulações realizada no ESDH encontram-se em
consonância com a maioria dos estudos realizados e reportados na literatura. O talude
obtido é côncavo e de baixa inclinação, apresentando variações durante o processo de
deposição até atingir uma condição de equilíbrio (BLIGHT, 1994) que irá condicionar o
processo de deposição. Verificou-se que qualquer alteração no regime de fluxo ou na
concentração da lama irá provocar alterações na configuração da camada devido,
principalmente, à predominância do efeito de erosão ou aumento do processo de
deposição. Com isto, observou-se também que o talude formado foi influenciado pelos
parâmetros de descarga, sendo que de uma maneira geral, a inclinação do talude tendeu a
decrescer com o aumento da vazão e crescer com o aumento da concentração.
A concavidade do perfil obtido para a maioria dos ensaios foi baixa, sendo evidenciada
pela análise dos valores de n e b relativos às equações do perfil típico propostas por
213
MELENT’EV et al. (1973) e SMITH et al. (1984), respectivamente. Assim os valores
destes parâmetros variaram entre 1,5 e 2,3, evidenciando também uma pequena variação
na configuração do perfil entre as regiões inicial e final do depósito. Este fato revela a
uniformidade do rejeito em relação à granulometria, pois a presença de partículas grossas
localizadas em regiões específicas do depósito tendem a aumentar a inclinação do talude.
A baixa curvatura também indica que a presença de partículas de ferro no rejeito não
mudou a configuração do talude na região inicial do depósito, local de maior concentração
deste tipo de partículas. Neste caso, a presença de minerais mais densos não alterou a
geometria do depósito, mostrando que a densidade das partículas parece não afetar o perfil
do aterro.
Com relação ao processo de segregação, o depósito formado no ESDH tendeu a apresentar
um padrão de segregação atípico, influenciado pelo peso das partículas. A presença de
minerais de ferro mais densos em relação aos outros minerais constituintes do rejeito
condicionou todo o processo de segregação. Desta forma, observou-se em todos os
depósitos analisados uma predominância de partículas mais grossas na porção central do
depósito e as partículas mais finas se localizaram nas extremidades. Na parte próxima ao
ponto de descarga observou-se que as partículas finas eram correspondentes aos minerais
de ferro e as localizadas na parte central eram predominantemente grãos de quartzo. Esta
consideração foi confirmada pela análise dos valores da densidade dos grãos e do teor de
ferro ao longo do depósito. Assim, verificou-se que as maiores porcentagens de partículas
de ferro estavam concentradas na parte inicial do depósito sendo responsáveis pela
elevação do valor de Gs correspondente a esta região. Assim as partículas de ferro menores
que as partículas de quartzo tenderam a se concentrar na região próxima a descarga devido
a sua densidade.
Conclui-se assim que no caso do rejeito estudado a densidade das partículas condicionou
todo o processo de segregação. Este tipo de análise apresenta uma característica importante
na avaliação do comportamento dos aterros hidráulicos, principalmente por que a
segregação tende a alterar as propriedades geotécnicas do aterro. Neste sentido seria
importante incorporar este tipo de análise no processo de disposição de rejeitos no campo,
em vista da variabilidade granulométrica que ele pode gerar. Esta consideração torna-se
também importante nos processos convencionais de separação das partículas de rejeitos em
que a densidade da partícula nem sempre é avaliada. Neste caso seria importante alertar
214
para uso convencional de hidociclones onde a separação do material é normalmente
atribuída ao tamanho da partícula. Em rejeitos como o estudado nesta pesquisa, contendo
partículas de densidades diferentes, este fenômeno pode prejudicar a eficiência do
hidrociclone. Onde o “underflow” pode conter partículas mais pesadas e não
necessariamente de tamanho maior. Assim, no caso dos rejeitos pode-se garantir que a
densidade das partículas é um fator extremamente relevante no processo de segregação.
A densidade do depósito também foi avaliada. Observou-se também que as características
de fluxo e o próprio processo de segregação tenderam a alterar o valor densidade ao longo
do depósito. De uma forma geral o depósito tendeu a apresentar altos valores de massa
específica seca perto do ponto de descarga e tendendo a decrescer para um valor
assintótico em direção a extremidade final do depósito. Os altos valores deste parâmetro
estão associados à presença de minerais de ferro nas regiões próximas ao ponto de
descarga. Embora apresentando uma tendência de variação ao longo do depósito, a
densidade não mostrou uma nítida correlação com os parâmetros de fluxo. Percebe-se
apenas uma leve tendência da densidade decrescer com o aumento da concentração em
algumas simulações. Observa-se que a determinação da densidade in situ é bastante crítica,
podendo influenciar os resultados e assim justificar estas possíveis dispersões.
Analisando as porosidades obtidas nos depósitos nas simulações realizadas, observou-se
que porosidade foi mais baixa na região próxima ao ponto de descarga tendendo a
aumentar em direção à porção final do canal. A avaliação da porosidade se torna muito
interessante na previsão das características de resistência do depósito, além de possibilitar
correlações com o volume de material depositado e com a geometria da praia.
Com relação aos mecanismos de transporte e formação dos aterros hidráulicos, observa-se
uma completa dependência entre os parâmetros obtidos e as características de deposição
que ocorre na superfície do aterro. Estes mecanismos são influenciados pelas diversas
variáveis que atuam no processo e agem durante a formação dos aterros. De uma forma
geral, estes mecanismos tendem a causar uma grande variabilidade nos depósitos formados
e está associada a diferentes fatores:
fatores externos relativos às características do processo de deposição, como a
velocidade de descarga, vazão e concentração da lama ou mistura, e a altura e
inclinação do canhão de lançamento;
215
fatores internos relativos à mistura (polpa), relacionados pelas características dos
grãos, densidade e viscosidade do fluido;
fatores relacionados à interação entre as camadas e o processo de intercâmbio,
caracterizados pela forma do leito, concentração da camada de leito e de intercâmbio,
rugosidade e espessura da camada de intercâmbio.
Com isto, conclui-se que o mecanismo de deposição é bastante complexo e apresenta
diferentes características que podem alterar significativamente o comportamento do
depósito. Além disso, no caso do rejeito estudado, as características das partículas
tenderam a aumentar ainda mais a complexidade do processo de formação do depósito.
Uma ênfase pode ser dada a característica particular de alguns grãos de quartzo contendo
partículas de ferro encontrados no rejeito, além da própria porcentagem de minerais de
ferro alterando todo o mecanismo de deposição no rejeito.
Durante esta pesquisa percebeu-se a importância das simulações de laboratório no sentido
de avaliar os mecanismos de transporte e deposição que ocorrem nos aterros hidráulicos
aplicados a barragens de rejeitos. Conhecia-se a priori a complexidade deles, mas a
caracterização foi possível pela análise dos processo de deposição no ESDH. Este fato
revela a grande aplicabilidade das simulações em laboratório na avaliação deste tipo de
mecanismos e interações.
De uma forma geral o desempenho do equipamento mostrou-se satisfatório à realidade da
pesquisa proposta, embora algumas modificações possam ser incorporadas ao equipamento
de modo a facilitar a execução e aprimorar a qualidade dos ensaios. Outro ponto a ser
considerado refere-se a sua aplicabilidade direta à realidade de campo. É clara a
possibilidade de correlações, mas uma extrapolação direta de dados usando este tipo de
simulação ainda pode ser considerada prematura, devido às dificuldades associadas às
diferenças nas escalas entre os dois sistemas. Além disso, a variabilidade e a falta de
controle dos parâmetros de campo tem dificultado muito as possíveis comparações
esperadas.
Em resumo, verifica-se que a vazão e a concentração tendem a alterar de forma
significativa o comportamento dos depósitos construídos hidraulicamente influenciando de
forma significativa as propriedades do aterro formado. A geometria do depósito se mostrou
216
completamente dependente da vazão e da concentração. Os valores da densidade das
partículas e da porosidade, embora não tendo mostrado uma tendência de variação clara
com a vazão e concentração, apresentaram um perfil de variação bastante característico ao
longo do depósito. Neste contexto, uma consideração importante poderia ser feita com
relação a avaliação do volume de material acumulado no depósito pela análise conjunta
dos valores de Gs, porosidade e geometria e determinar a vida útil do depósito.
Na tentativa de avaliar matematicamente o processo de deposição nas simulações em
laboratório foi proposto um modelo matemático visando descrever principalmente o
processo de segregação que ocorria devido à presença de diferentes tipos de sedimentos. O
modelo matemático apresentado representa uma complementação dos estudos de
laboratório. No entanto, este tipo de estudo encontra-se numa fase inicial principalmente
devido às dificuldades relacionadas a este tipo de simulação e à completa adequabilidade à
realidade do processo de deposição aplicado à disposição de rejeitos. Estas dificuldades
estão associadas a uma realidade bastante distinta das análises clássicas do transporte de
sedimentos, principalmente devido à presença de dois ou mais tipos de sedimentos
bastante distintos sob o ponto de vista da densidade. Assim, as análises deste processo
tem-se mostrado muito complexas sob um ponto de vista da Hidráulica de Sedimentos,
revelando até mesmo um pioneirismo em relação aos estudos convencionais de transporte
de sedimentos em que o tamanho da partícula é o único parâmetro relevante na maioria das
análises já desenvolvidas.
As limitações impostas devido às simplificações e o próprio caráter preliminar das
investigações dificultaram a obtenção de conclusões mais efetivas a respeito das
simulações realizadas. Mas mesmo assim, pode-se considerar que este tipo de investigação
corresponde a um avanço no sentido de avaliar o processo de transporte que ocorre durante
a deposição de rejeitos, devido a presença de mais de um tipo de sedimento com
densidades diferentes.
9.2. SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS
As conclusões obtidas anteriormente revelaram a complexidade das análises envolvendo a
caracterização e avaliação do comportamento dos aterros hidráulicos. Observa-se que o
equipamento desenvolvido apresentou uma grande aplicabilidade na avaliação dos
217
parâmetros que afetam o processo de deposição hidráulica e as análises realizadas
forneceram subsídios para avaliar estas estruturas sob o ponto de vista geotécnico.
Contudo sabe-se que muitos aspectos podem ser mais detalhadamente investigados
contribuindo para um melhor entendimento do processo de formação dos aterros
hidráulicos, principalmente aplicado à barragens de rejeitos.
Embora o equipamento de simulação de deposição hidráulica tenha apresentado um
desempenho satisfatório, sugere-se a implementação de equipamentos mais precisos de
medição, principalmente relacionados ao controle da vazão de descarga. Adicionalmente,
propõe-se também a utilização de equipamentos de avaliação da densidade no ESDH
visando contornar as dificuldades associadas à determinação da densidade dos solos
arenosos. Assim, sugere-se a utilização do mini-cone para avaliação da densidade no
ESDH.
Com relação a caracterização do processo de deposição para diferentes tipos de
sedimentos, sugere-se o uso de esferas plásticas com diferentes densidades, de forma a
caracterizar melhor este parâmetro. Mantendo as características básicas dos sedimentos
(tamanho, rugosidade, forma etc) e variando somente a densidade poder-se-ia obter a real
influência da densidade das partículas no processo de transporte e segregação hidráulica.
Adicionalmente, propõe-se a realização de ensaios com partículas de areia pura visando
analisar a influência dos parâmetros de fluxo no comportamento do depósito formado,
evitando que o efeito da densidade das partículas perturbe os resultados. Este tipo de
sugestão poderia auxiliar na melhoria da qualidade dos sistemas de controle e medição do
ESDH e poderia também fornecer subsídios para o estabelecimento de formulações e
parâmetros aplicados ao modelo matemático.
Para a avaliação das propriedades das partículas constituintes do rejeito, propõe-se a
realização de ensaios de caracterização individual das partículas, visando estudar métodos
alternativos e eficazes de separação. Com a individualização das partículas poder-se-ia
obter dados mais precisos a respeito das características de cada uma delas e quantificar sua
influência na composição do rejeito e, consequentemente, no processo de deposição
hidráulica. No caso específico das partículas mistas de quartzo e ferro encontradas no
rejeito, sugere-se quantificar os efeitos das incrustações de ferro verificando as alterações
218
na massa específica da partícula, no formato do grão, rugosidade, etc. e sua real
interferência no processo de segregação.
Em relação às avaliações de campo, sugere-se a realização de campanhas de avaliação da
densidade campo, mas associadas aos parâmetros de descarga, objetivando verificar a
influência destes parâmetros no comportamento do aterro formado. Neste caso seria
importante estabelecer critérios de controle da vazão e concentração da lama.
No caso do modelo matemático, o mais importante seria fornecer parâmetros que
pudessem auxiliar no estabelecimento da equação de controle associada ao cálculo da
porcentagem acumulada na camada. Neste sentido, propõe-se a realização de ensaios
adicionais de simulação no ESDH visando obter dados para o estabelecimento desta
formulação e verificar quais os parâmetros que tendem a condicionar o processo de
segregação. Além disso, seria importante implementar o modelo para a avaliação do
processo de segregação longitudinal
219
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APÊNDICE A
DESCRIÇÃO DO EQUIPAMENTO E PROCEDIMENTO DE ENSAIO A.1 – EQUIPAMENTO DE SIMULAÇÃO DE DEPOSIÇÃO HIDRÁULICA O equipamento desenvolvido neste trabalho consiste basicamente de uma calha de deposição acoplada a um sistema de alimentação de lama e na extremidade final um sistema de drenagem, responsável pela extravasão de água oriunda do processo de descarga. O canal (Figuras A.1 e A.2) tem 6,0 m de comprimento, 0,4 m de largura e 1,0 m de profundidade. As paredes do canal são de vidro temperado de 10 mm de espessura sustentados por perfis metálicos de 5 cm de largura formando quadros de 1m2. As placas de vidro são fixadas e seladas com silicone. A base do canal é constituída por uma chapa metálica de 5 mm de espessura protegida com uma camada de tinta Epoxi. Os detalhes da estrutura do canal são aprestados na Figuras A.3 até A.6. O canal esta apoiado sobre uma viga metálica treliçada que garante a sustentação do canal. Esta treliça foi construída com chapa de aço dobrada de 5 mm de espessura e seção retangular vazada de 10x5 cm. Os detalhes desta estrutura estão apresentados nas Figuras A.7 e A.8. Toda esta estrutura se apoia diretamente numa base triangular de 50 cm localizada na extremidade final do canal e na parte inicial o sistema de apoio se faz na estrutura de sustentação do reservatório superior provendo o equilíbrio global da estrutura. Elevando o ponto de apoio do canal localizado nesta estrutura é possível altera a inclinação global do canal de deposição. É importante considerar que cada painel de 1 m2 de vidro e a correspondente estrutura metálica podem ser removidos ou mesmo pode-se adicionar outros painéis e aumentar o comprimento do canal, através da adição destes módulos. O sistema de alimentação é formado por três reservatórios cilíndricos. O primeiro com capacidade de 500 l é utilizado para abastecimento de água durante a preparação da mistura. O segundo localizado no nível do chão recebe inicialmente o rejeito seco e em seguida a água necessária a obtenção da concentração. Este reservatório é dotado de um sistema de mistura a ser detalhado a seguir, acionado imediatamente a pós adição da água e rejeito. A transferência da lama para o reservatório superior e feita através de uma bomba de 1 CV especialmente projetada para bombeamento de misturas de sólidos e água. O reservatório superior e também denominado reservatório principal é também dotado pelo mesmo sistema de mistura que mantém a concentração constante durante todo o ensaio. A manutenção da concentração neste dois reservatórios é auxiliada pelo sistema de recirculação provocado pelo sistema de bombeamento e extravasão da mistura no reservatório superior através de tubulações que mantém o nível d’água constante. As tubulações utilizadas neste sistema de recirculação são tubos de PVC rígido de 2” e válvulas de esfera de PVC. Os detalhes deste sistema estão apresentados na Figura A.9. O sistema de descarga no canal é feito através de tubos de PVC de 1 ½” que direcionam o fluxo diretamente a um dispositivo de descarga (controlador de fluxo) que mantém o fluxo de
sedimentos paralelo às paredes do canal. Antes da descarga no controlador de fluxo foram instaladas duas válvulas que possibilitam a verificação da vazão da lama e restringem a velocidade de entrada de lama no canal (Figura A.10). O controlador de fluxo foi projetado exclusivamente para este tipo de ensaio e visa basicamente a minimização do efeito das paredes do canal durante o processo de deposição. Este controlador foi baseado na proposta inicial apresentada no equipamento desenvolvido por KÜPPER (1991) na Universidade Alberta, Canadá. Este controlador tem aproximadamente 38 cm de largura apresentando na sua extremidade final três palhetas que direcionam o fluxo na direção paralela ao canal. Este controlador foi construído com acrílico transparente de modo a visualizar o desempenho do fluxo durante a realização do ensaio. Na extremidade de saída do fluxo do controlador foi instalado um dispositivo capaz de diminuir ou aumentar a seção de saída de fluxo do controlador possibilitando uma variação na velocidade de saída do fluxo de material. O sistema de ligação entre a tubulação e o controlador é feito através de um funil que possibilita a coleta de todo material a ser descarregado e facilita a entrada do tubo de descarga na sua base durante o movimento de ascensão do controlador de fluxo durante o período de realização do ensaio. A finalidade do funil é garantir a entrada de todo material descarregado através da tubulação, embora a possibilidade de perda de material é mínima devido a manutenção da distância entre a extremidade do tubo e o topo do funil é praticamente nula. Dependendo da altura do aterro formado tubulações de diferentes tamanhos vão sendo instaladas de modo a garantir a prefeita ascensão do controlador de fluxo e a manutenção da distância entre a topo do funil e a extremidade do tubo de descarga . O sistema de mistura foi baseado na proposta de um sistema semelhante usado em estações de esgotos e sistemas de homogeneização de misturas de sólidos e líquidos (PERRY & CHILTON, 1973). Devido a presença de material sólido foi importante dimensionar um tipo especial de pás misturadoras que pudessem movimentar em alta velocidade, mas evitassem a formação de vortex e prejudicasse a eficiência do processo de mistura. A criação de vortex é bastante crítica devido a possibilidade de concentrar um maior número de partículas no centro do reservatório. Diversos estudos foram realizados no sentido de dimensionar as pás de modo a evitar este tipo de fenômeno. Assim optou-se pela utilização de pás vazadas que pudessem percorrer toda extensão do reservatório. A Figura A11 e A.12 apresentam respectivamente um detalhe das pás e uma visão geral do sistema de mistura. Visando evitar mesmo assim uma concentração de material na parte central do fundo do reservatório, foi instalado na parte inferior e no eixo central das pás uma hélice objetivando manter os sedimentos acumulados no fundo em suspensão e aumentar a eficiência do sistema (Figura A.13) A utilização de minerais pesados, como as partículas de ferro representou um desafio adicional na qualidade e na eficiência deste tipo de sistema, necessitando de maiores velocidades para manter as partículas de ferro em suspensão. Assim foi adotado uma altura máxima de material dentro do reservatório e sistemas de quebra de vortex foram instalados nas extremidade do reservatório. Este sistema é impulsionado por um motor monofásico de 1 CV, com sistema mecânico de ajuste de velocidade através de polias que podem ser trocadas permitindo assim variar a velocidade de rotação das pás. Entretanto, nestes ensaios optou-se por utilizar uma única velocidade (60 rpm) e manter o mesmo sistema de polias para todos os ensaios.