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Universidade de Brasília - UnB Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares- CEAM NúcleodeEstudosdaCultura,Oralidade,ImagemeMemória- NECOIM Multiuso I- Bloco A - Sala AT, 15 Campus Darcy Ribeiro Asa Norte - Caixa Postal 4410 - CEP 70910 - 900 Brasília - DF Fones: 61. 3307-2938 / 3307-2922 1 E-mail: [email protected] e [email protected] PROPOSTA DE EXPOSIÇÃO José Walter Nunes Natália Guerra Brayner Apresentação O Distrito Federal localiza-se no Planalto Central brasileiro. Conforme apontam os estudos do Professor Paulo Bertran 1 , desde a pré-história brasileira até a colonização no século XVIII esta região foi domínio incontestável dos povos Jê 2 , especializados em viver nos cerrados. As bandeiras percorriam a região desde o século XVI, mas a colonização somente terá início em 1700, em Minas Gerais, depois Mato Grosso (1718) e, por último, Goiás (1726). Passada a febre do ouro, permaneceram, no século XIX, as cidades coloniais, roças e fazendas de gado. Na década de 40, do século XX, com a criação da Fundação Brasil Central, institucionalizou-se um processo de ocupação do Centro-Oeste do Brasil que objetivava a promoção do desenvolvimento e a modernização desta porção central do Brasil. (SARAIVA, 2004) 3 . Ainda conforme interpretação de Bertran (2000) 4 , a construção de Goiânia, nos anos 30, e de Brasília, no final dos anos 50, teriam consolidado o processo de extinção de uma “mitopoética dos sertões”, sertões de Guimarães Rosa, Bernardo Elis, Mário Palmério, Carmo Bernardes, sertões de cultura essencialmente barroca e sertaneja. A construção da cidade de Brasília marcou a atual configuração social do Distrito Federal. Desde então, intensificou-se a vinda de grupos de migrantes de diversas partes do país para esta região. Esses grupos, com seus sonhos, desejos e lutas configuraram e reconfiguram continuamente a cidade planejada para ser a capital do país e o seu entorno. A partir das interações construídas nesta região estas pessoas constituíram patrimônios culturais que remetem às suas lutas histórico-sociais por direitos humanos fundamentais como moradia, educação, saneamento básico, e também a direitos culturais, como o direito à memória, à história e a sua identidade.

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Multiuso I- Bloco A - Sala AT, 15 Campus Darcy Ribeiro Asa Norte - Caixa Postal 4410 - CEP 70910 - 900 Brasília - DF Fones: 61. 3307-2938 / 3307-2922

1E-mail: [email protected] e [email protected]

PROPOSTA DE EXPOSIÇÃO

José Walter Nunes Natália Guerra Brayner

Apresentação

O Distrito Federal localiza-se no Planalto Central brasileiro. Conforme

apontam os estudos do Professor Paulo Bertran1,

desde a pré-história brasileira até a colonização no século XVIII esta região foi

domínio incontestável dos povos Jê2, especializados em viver nos cerrados. As

bandeiras percorriam a região desde o século XVI, mas a colonização somente terá

início em 1700, em Minas Gerais, depois Mato Grosso (1718) e, por último, Goiás

(1726). Passada a febre do ouro, permaneceram, no século XIX, as cidades

coloniais, roças e fazendas de gado. Na década de 40, do século XX, com a criação

da Fundação Brasil Central, institucionalizou-se um processo de ocupação do

Centro-Oeste do Brasil que objetivava a promoção do desenvolvimento e a

modernização desta porção central do Brasil. (SARAIVA, 2004)3. Ainda conforme

interpretação de Bertran (2000)4, a construção de Goiânia, nos anos 30, e de

Brasília, no final dos anos 50, teriam consolidado o processo de extinção de uma

“mitopoética dos sertões”, sertões de Guimarães Rosa, Bernardo Elis, Mário

Palmério, Carmo Bernardes, sertões de cultura essencialmente barroca e sertaneja.

A construção da cidade de Brasília marcou a atual configuração social do

Distrito Federal. Desde então, intensificou-se a vinda de grupos de migrantes de

diversas partes do país para esta região. Esses grupos, com seus sonhos, desejos e

lutas configuraram e reconfiguram continuamente a cidade planejada para ser a

capital do país e o seu entorno. A partir das interações construídas

nesta região estas pessoas constituíram patrimônios culturais que remetem às suas

lutas histórico-sociais por direitos humanos fundamentais como moradia,

educação, saneamento básico, e também a direitos culturais, como o direito à

memória, à história e a sua identidade.

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Hoje, novas interações são construídas entre descendentes das primeiras

gerações de migrantes, goianos e filhos e netos de goianos que aqui já viviam antes

da construção da cidade de Brasília e entre novos grupos de migrantes,

especialmente motivados pela possibilidade de melhoria de suas condições de vida

e de um futuro melhor para os seus filhos. O reconhecimento do valor destas

pessoas enquanto sujeitos da cultura e da história, pode também representar a

percepção de si próprios enquanto cidadãos capazes de transformar os contextos

sócio-culturais onde vivem.

Assim, a proposta de realização de uma exposição sobre as referências

culturais dessas pessoas articula-se ao objetivo de promoção do reconhecimento e

valorização do patrimônio cultural imaterial dos diferentes grupos sociais que

formaram e formam a população do Distrito Federal.

Esta proposta foi formulada a partir dos resultados obtidos com o

levantamento documental realizado em acervos públicos e privados do Distrito

Federal para identificar referências culturais das populações desta unidade da

Federação.

No Manual de Aplicação do Inventário Nacional de Referências Culturais

(2000, p.08)5 lê-se:

“Referências são edificações e são paisagens naturais. São também as

artes, os ofícios, as formas de expressão e os modos de fazer. São as festas e os

lugares a que a memória e a vida social atribuem sentido diferenciado: são as

consideradas mais belas, são as mais lembradas, as

mais queridas. São fatos, atividades e objetos que mobilizam a gente mais

próxima e que reaproximam os que estão distantes, para que se reviva o

sentimento de participar e de pertencer a um grupo, de possuir um lugar. Em

suma, referências são objetos, práticas e lugares apropriados pela cultura na

construção de sentidos de identidades, são o que popularmente se chama ‘raiz’

de uma cultura”.

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Foram mapeados acervos pertencentes ao Instituto Histórico e Geográfico

do Distrito Federal, ao Arquivo Público do Distrito Federal, ao acervo do Núcleo

de Estudos da Cultura, Oralidade, Imagem e Memória do Centro de Estudos

Avançados Multidisciplinares da Universidade de Brasília-CEAM-UnB, ao banco

de teses e dissertações da Biblioteca Central da Universidade de Brasília e o acervo

particular de fotografias de Mário Castro, pesquisador da história e cultura desta

região do Planalto Central. Como resultado desse levantamento documental foram

identificados bens culturais dessa unidade da federação que não se restringem à

materialidade das construções arquitetônicas da cidade de Brasília.

Justificativa

O reconhecimento e a valorização de outros patrimônios culturais,

especialmente daqueles de natureza imaterial, podem significar o reconhecimento

da história, cultura e identidade de grupos sociais que fazem parte da população do

DF, mas que, muitas vezes, não são percebidos e não se percebem como sujeitos da

história e da cultura da própria localidade onde vivem.

Objetivos da exposição

A disponibilização dos resultados deste mapeamento para escolas da rede

pública de ensino fundamental e de educação de jovens e adultos, por meio da

exposição de um panorama das referências culturais de populações do Distrito

Federal, visa provocar a construção de novas percepções sobre essa região. A

organização dos conteúdos da exposição pretende propiciar o reconhecimento da

existência de uma diversidade de referências culturais e provocar iniciativas locais

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de reflexão sobre os possíveis patrimônios culturais das pessoas e das comunidades

de cada escola.

A exposição também objetiva contribuir com o trabalho de professores das

escolas da rede pública desta unidade da federação, constituindo-se como um

material didático-pedagógico complementar.

Para que possam identificar e reconhecer suas referências culturais e seus

patrimônios locais, as pessoas precisam, primeiramente, conhecer sua história e

cultura. Ou seja, com essa proposta há a intenção de que sejam deflagrados

processos educativos de construção coletiva do conhecimento para que os

envolvidos (funcionários, professores, alunos, pais) desenvolvam e/ou fortaleçam

uma percepção de si próprio e do grupo ao qual pertence enquanto sujeitos de sua

própria história e cultura.

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A EXPOSIÇÃO

Patrimônios Culturais no Distrito Federal Formatação

Para atender aos objetivos propostos, a exposição terá um caráter itinerante

e será produzida em banners que poderão ser utilizados por docentes das escolas

em conjunto ou separadamente. Ou seja, a exposição como um todo poderá ser

montada em um ambiente mais amplo da escola, como o pátio, por exemplo, ou,

caso deseje, o professor poderá selecionar banners conforme a (s) temática (s) que

escolha trabalhar em sala de aula.

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Argumento e Roteiro

O mapeamento documental realizado possibilitou o reconhecimento da

presença de diferentes grupos sociais e de seus possíveis bens culturais por meio dos

vestígios indicativos da existência desses grupos (matérias de jornal, imagens

fotográficas de bens culturais ou mesmo dos próprios sujeitos sociais, como no caso

de reproduções fotográficas da chegada de nipo-brasileiros ao DF, encontradas em

livros que relatam a formação do cinturão verde da capital federal). A

identificação desses vestígios se deu a partir do entendimento de que as referências

culturais são sempre referências à memória, à história e à cultura de algum

indivíduo ou coletividade e que os documentos nos quais estes bens culturais estão

retratados, mesmo que de forma secundarizada, são textos de cultura, produzidos e

preservados em meio a teias de relações que explicitam não apenas a relação entre

passado e presente, mas também aquilo que se deseja para o futuro.

Nesses vestígios, identificamos paisagens, formas de expressão, saberes,

celebrações e lugares que evidenciam as diferentes tradições culturais formadas a

partir dos legados culturais de goianos, pernambucanos, maranhenses, cearenses,

baianos, mineiros, cariocas, nipo-brasileiros, entre outros; e também a contribuição

de trabalhadores-migrantes e de seus descendentes, por meio de suas lutas sociais,

para a atual configuração urbana e social do DF.

Além disso, percebemos que o Distrito Federal possui outros grupos sociais

que se identificam com culturas urbanas específicas. Para estes grupos, suas

diferenças são afirmadas por meio dos usos e da atribuição de sentidos e valores a

determinados lugares e paisagens que fazem parte do ambiente urbano em que

vivem e também por meio de formas de expressão artístico-culturais como a

música, as artes plásticas e o teatro.

Os três aspectos acima apontados constituirão os três grandes eixos

transversais da exposição. Estes eixos orientarão a organização dos conteúdos da

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exposição de forma a oferecer um quadro representativo da diversidade de grupos,

projetos e legados culturais existentes nesta unidade da federação.

O levantamento documental identificou como referência para a identidade

de grupos sociais do DF inúmeros bens: antigas fazendas da região, localidades

onde existiram acampamentos de obra e vilas de operários, igrejas construídas por

estes trabalhadores-migrantes, festas juninas tradicionais das cidades do DF, escolas

de samba e outras manifestações relativas ao carnaval candango, grupos de teatro

de mamulengo, espaços representativos de projetos culturais de grupos específicos

como a Casa do Cantador na Ceilândia e o Clube do Choro em Brasília, as escolas-

parque do DF, a Escola de Música de Brasília e o seu tradicional Curso de Verão,

cachoeiras e parques ecológicos que nos contam da relação das pessoas com o meio

ambiente local, espaços e eventos vinculados a expressões artísticas como o teatro,

o rock brasiliense, a cultura hip hop do DF, a moda de viola sertaneja, entre outros.

A apresentação desse panorama geral do conjunto de manifestações que

compõe o patrimônio cultural imaterial do DF implicou na escolha de

determinados bens em detrimento de outros sem deixar de lado a perspectiva de

integração nos três eixos temáticos acima apontados.

Além disso, deve-se considerar que cada bem cultural tem seu significado

ampliado ao ser percebido dentro de conjunto, ou complexo, mais amplos de bens

culturais. Denominamos esses conjuntos de “categorias”. A construção destas

categorias ocorreu a partir de um esforço de sistematização

dos bens culturais identificados por meio do mapeamento documental realizado

nos acervos pesquisados e articula-se a interpretações construídas pela equipe de

pesquisadores sobre os distintos períodos e processos de formação histórico-social

do DF. Entendemos que essa abordagem possibilita uma maior aproximação dos

significados de cada bem cultural. Os bens culturais foram sistematizados em seis

categorias:

1) Paisagens Culturais do Distrito Federal;

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2) Referências Culturais que remetem à história e a memória de movimentos

artístico-culturais no Distrito Federal;

3) Bens representativos do sincretismo místico-religioso;

4) Celebrações;

5) Bens representativos de grupos nipo-brasileiros;

6) Fazeres e saberes do cotidiano e representações do imaginário social.

Assim, na medida em que se objetiva elaborar a apresentação de um quadro

representativo de referências culturais de populações do Distrito Federal, selecionamos

até oito bens de cada “categoria”. Nesta seleção, tendo em vista a formatação

visual da exposição, também procuramos observar o tipo de fonte documental que

referencia o bem cultural em questão e privilegiamos aqueles cujas fontes

documentais são iconográficas (fotografias, desenhos) ou que pelo menos são

referenciados em depoimentos ou em matérias de jornal.

Panorama dos bens culturais imateriais do DF:

A exposição irá apresentar um conjunto diversificado de bens culturais divididos

em 06 eixos temáticos que correspondem às categorias construídas pela equipe no

processo de sistematização dos resultados do levantamento realizado:

1) Paisagens Culturais do Distrito Federal

2) Referências Culturais que remetem à história e a memória de movimentos

artístico-culturais no Distrito Federal

3) Bens representativos do sincretismo místico-religioso

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4) Celebrações

5) Bens representativos de grupos nipo-brasileiros

6) Fazeres e saberes do cotidiano e representações do imaginário social

Cada eixo temático apresentará referências culturais que também são

representativas dos eixos temáticos transversais: legados culturais diversos,

contribuições dos operários-migrantes para a atual configuração urbano-espacial

do DF e culturas urbanas.

Cada uma destas vertentes será apresentada em banners que reproduzam

imagens e/ou trechos de textos identificados nos acervos pesquisados. Para cada

eixo temático haverá também um banner contendo um texto explicativo

introdutório sobre a categoria em questão.

1. Paisagens Culturais do Distrito Federal

O conceito de paisagem cultural engloba uma percepção do meio ambiente na

sua relação com o homem. Isso significa dizer que ao se relacionar com uma dada

paisagem, a qual pode ou não haver sido alterada por ele, o homem constrói

representações, atribui valores e significados àquilo que sua percepção alcança. As

diferentes maneiras de perceber o espaço relacionam-se com as experiências

vivenciadas pelos indivíduos em determinados lugares e/ou com determinadas

paisagens.

Ao longo dos séculos os homens têm se relacionado com as paisagens e recursos

naturais do Planalto Central de diferentes formas: para sobreviver, aventurar-se

e/ou enfrentar desafios em busca de objetivos espirituais ou materiais. Os escassos

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estudos arqueológicos desenvolvidos em áreas do Distrito Federal indicam que a

presença humana nesta região pode ser datada de 7000 a 7500 anos atrás. Na “pré-

história do Planalto Central”6 habitavam a região grupos indígenas pré-ceramistas

da tradição Jê, especializados em viver nos cerrados.7. Ou seja, no Planalto Central

do Brasil, homens e mulheres têm convivido com estas terras e paisagens desde os

tempos imemoriais.

Para alguns outros grupos indígenas e, posteriormente, para os bandeirantes que

começam a percorrer a região no século XVI, estas terras constituir-se-iam em rotas

de passagem sazonais. A partir do século XVII, tem início a colonização do centro-

oeste do Brasil8. Formam-se povoados e cidades coloniais e passam a caracterizar a

região do Planalto Central as muitas rotas de tropeiros, peregrinos e viajantes que

percorriam os caminhos entre as terras onde hoje se localiza o Distrito Federal e

aquelas pertencentes aos atuais estados de Goiás, Minas Gerais, Bahia e São Paulo.

Moradores mais antigos da cidade de Planaltina, antigo Arraial Mestre

D’Armas, surgido no início do século XVIII, ao longo de uma estrada do Brasil

Colonial que ligava Salvador na Bahia às minas de Goiás na fronteira boliviana;

recordam-se da existência, ainda até as primeiras décadas do século XX, de um

tráfego intenso de viajantes, tropeiros e peregrinos nos “caminhos de cavaleiros”

que ligavam esta área a outros estados e regiões do Brasil, especialmente São Paulo,

Bahia e Minas Gerais, e também se referem a um fluxo constante de pessoas, ao

longo de todo o ano, entre as diversas fazendas da região.

O ritmo dessa movimentação era ditado pelas necessidades cotidianas relativas

à troca, aquisição ou venda de produtos, e também pelas festividades e celebrações

religiosas, como casamentos e batizados, além das tradicionais folias e romarias

que mobilizavam grande contingente populacional (folias do divino, folias de reis,

romaria à Gruta de Bom Jesus da Lapa na Bahia, entre outros)9.

Ainda hoje, no Distrito Federal, encontramos moradores mais antigos e mesmo

alguns de seus descendentes, que ainda se localizam no espaço e/ou fazem

referência a determinados lugares remetendo-nos a um passado onde diferentes

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formas de sociabilidade configuravam uma outra geografia à região10: estradas de

cavaleiros, fazendas e povoados goianos, rios e córregos onde se podia descansar

antes de seguir viagem, e mesmo as árvores frutíferas de um parque que, em um

tempo passado mais recente, pertenceram aos quintais das casas de

trabalhadores(as)-migrantes que participaram da construção da cidade de Brasília.

Assim, paisagens e lugares existentes nesta região do Distrito Federal detêm

uma historicidade própria e, para determinados grupos sociais, remetem a outras

temporalidades e formas de sociabilidade.

Cumpre ressaltar que, para o habitante do DF, destaca-se a sua relação com os

parques ecológicos e com outros espaços de preservação ambiental, hoje

comumente utilizados como locais de lazer e prática de esportes. Chamou-nos a

atenção esta relação entre homem e paisagens naturais da região, pois se destaca,

nas fontes documentais identificadas, a importância atribuída aos locais onde é

encontrada água em abundância.

As interpretações dos autores das fontes consultadas indicam que a presença ou

não deste elemento, essencial à sobrevivência do homem, é fator que influenciou na

trajetória das rotas que desde o século XVII cortam esta região do Planalto Central

brasileiro e na escolha de locais que dariam origem a povoados. Por exemplo, o

próprio Povoado de Mestre D’Armas, anteriormente citado, encontra-se em uma

região delimitada por rios. O Distrito de Mestre D’Armas foi criado em 1859 com

seus limites no sentido norte-sul desde o Rio Maranhão até o córrego Vicente-Pires,

nas imediações do atual Núcleo Bandeirante no Distrito Federal. A escolha do

local onde seria demarcado o quadrilátero do futuro distrito federal, ainda em 1892,

pela Comissão Cruls, recaiu sobre o trecho do Planalto Central onde se localizam

as Cabeceiras dos tributários dos três maiores rios brasileiros: o Maranhão, afluente

do Tocantins, o Preto, afluente do São Francisco e os rios São Bartolomeu e

Descoberto, afluentes do Paraná.

No Distrito Federal, as matas ciliares e de galeria já são consideradas, por lei,

áreas de preservação ambiental. Além de um patrimônio ambiental, estas paisagens

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naturais configurar-se-iam como patrimônio cultural na medida em que vêm

servindo, há milhares de anos, aos seres humanos como um oásis no cerrado seco

do Planalto Central do Brasil.

A mata ciliar ou de galeria ocorre ao longo de córregos, rios e outros cursos

d´água e é rica em madeiras de lei e árvores de alto porte. Pode ser vista ao longo

de cursos d´água em todo o Distrito Federal. Já são consideradas, por lei, áreas de

preservação permanente. A relação das populações que ao longo dos anos têm

habitado esta região - indígenas, bandeirantes, camponeses, fazendeiros, tropeiros,

populações goianas que aqui se estabeleceram nos séculos XVIII e XIX, migrantes

que a partir dos anos 50 são atraídos para a região devido à construção de Brasília,

entre outros - com estas paisagens naturais e com os recursos naturais nelas

existentes é muito intensa. Envolve desde práticas e conhecimentos tradicionais

herdados de gerações passadas até a utilização desses espaços como locais de lazer

e da prática de esportes.

Assim, nestes lugares, que remetem a outras temporalidades e formas de vida,

as pessoas que hoje os freqüentam ou que, de alguma forma interagem com estas

paisagens naturais, resignificam, continuamente, as relações com a natureza local e

com as paisagens naturais do Planalto Central. Logo, enquanto um legado de

outros povos que habitaram esta região e de antepassados de determinados grupos

populacionais do DF, entendemos que estes lugares e paisagens naturais, com os

quais, ainda hoje, as pessoas estabelecem relações, configuram-se como

patrimônios histórico-culturais dos moradores do Distrito Federal.

Ainda dentro da categoria que denominamos como “Paisagens Culturais”,

inserem-se lugares e edificações que remetem à formação de espaços urbanos no

Distrito Federal e que são referências das memórias e histórias de trabalhadores

(as)-migrantes que se estabeleceram nessa cidade a partir dos

anos 50, com a construção da cidade de Brasília. Tratam-se de edificações e lugares

cuja existência não estava prevista no planejamento inicialmente elaborado para a

cidade de Brasília e para o Distrito Federal.

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São espaços que remetem a memórias e histórias de trabalhadores e

trabalhadoras, oriundos de diferentes regiões do Brasil e que, por meio de suas

escolhas e ações, ao engendrar movimentos, politicamente organizados ou não, por

moradia, saúde, educação, cultura, entre outros direitos básicos, tornaram-se

sujeitos da história e da cultura desta região. Pessoas que vêm, ao longo dos anos,

alterando a configuração urbana prevista pelos que planejaram a cidade e

imprimindo suas marcas no espaço urbano que habitam. Alguns destes locais, mais

especificamente vilas e invasões formadas nos anos 50 e 60, não existem mais.

Entretanto, nas narrativas de pioneiros, estes lugares constituem-se como

referências sócio-espaciais importantes para a sua história de vida e para a própria

compreensão da atual configuração urbano-espacial do Distrito Federal.

Este eixo da exposição será organizado em torno das seguintes referências

centrais:

• Matas ciliares, córregos, rios, veredas, lagoas e cachoeiras;

• Parques Ecológicos e Vivenciais;

• Povoados e locais onde se localizavam e, em alguns casos, onde ainda se

localizam as fazendas goianas e suas sedes;

• Áreas territoriais onde se localizavam antigas vilas (formadas por famílias de

operários que trabalharam na construção de Brasília) e invasões extintas pela

ação de autoridades governamentais.

• Toponímia do Planalto Central

• Conhecimentos relacionados a técnicas construtivas

• Lugares e edificações que remetem à formação de espaços urbanos no

Distrito Federal e que são referências das memórias e histórias de

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14 E-mail: [email protected] e [email protected]

trabalhadores (as)-migrantes que se estabeleceram nessa cidade a partir dos

anos 50, com a construção da cidade de Brasília.

2. Referências Culturais que remetem à história e a memória de movimentos

artístico-culturais no Distrito Federal

Nesta categoria de bens culturais constam lugares, formas de expressão e

celebrações que remetem a práticas coletivas, vigentes ou não, que são

representativas de fazeres culturais presentes no cotidiano do Distrito Federal ao

longo dos anos.

Estão incluídos os festivais de música e teatro que marcaram época na história

da cidade, os movimento artístico-culturais que objetivavam impulsionar a vida

cultural na nova capital federal e também os lugares que contam a história do

desenvolvimento artístico-cultural do DF. Os Teatros Galpão e Galpãozinho do

Espaço Cultural da 508 sul, no Plano Piloto de Brasília; a Galeria do Povo, no

Gama; os tradicionais Festivais Canta Gavião que ocorriam, entre os anos de 1961

e 1993, no Cruzeiro; o barracão da Escola de Samba da ARUC; blocos

carnavalescos como o Pacotão e o Bloco dos Raparigueiros; as tradicionais bandas

de música da cidade de Planaltina; a Escola de Música de Brasília e o seu Curso

Internacional de Verão, que, desde 1976, é realizado nos meses de janeiro e

fevereiro; entre inúmeros outros.

São formas de expressão e lugares que constituem a especificidade de como

determinados eventos culturais e manifestações artísticas são ou foram

vivenciados pelas pessoas que habitam a cidade.

Com relação à música, por exemplo, Brasília é comumente referida em meios

midiáticos como a Capital do Rock, mas para determinados grupos sociais, a

vivência nesta cidade está mais estritamente vinculada à construção de tradições

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15 E-mail: [email protected] e [email protected]

musicais a partir de movimentos de divulgação e/ou revalorização de determinados

gêneros musicais como o samba, o choro, a moda de viola, o

hip hop e, mais recentemente, a música eletrônica. Ou seja, para seus habitantes,

Brasília pode ser também a cidade herdeira da tradição do samba, capital do choro

ou mesmo do “rap consciente”, como é definido o hip hop do Distrito Federal

pelos que vivem essa cultura no Rio de Janeiro e em São Paulo.

A trajetória histórica de movimentos artístico-culturais no Distrito Federal

nos permite perceber a existência de diferentes grupos sócio-culturais e identitários

e localizar espaços onde redes de sociabilidade específicas têm se desenvolvido em

contextos sócio-culturais diversos11.

Embora ainda escassos, os estudos acadêmicos sobre essa temática trazem

contribuições importantes para o entendimento das especificidades do teatro, da

música, das artes plásticas no Distrito Federal. Interpretações sobre como estas

manifestações artístico-culturais se articulam à vida cotidiana das pessoas no DF,

sobre os conteúdos que expressam e a que contextos sócio-culturais pertencem,

evidenciam fundamentalmente que a arte é produzida por alguém que deseja ser

visto, lido, ouvido. Pode-se procurar pensar, por exemplo, o quê representa, para a

atual juventude do DF e para a história das artes no DF, a memória dos Concertos

Cabeças que durante os anos 70 e 80 movimentaram a cena cultural da cidade de

Brasília. Ou ainda, como poderia ser definido o conclamado “rock brasiliense” e

em que ele se diferenciaria das expressões roqueiras existentes no resto do país.

Da mesma forma, quais seriam as condições que propiciaram a inauguração

e a estrondosa repercussão do movimento de revigoração do choro brasileiro em

Brasília? Haveria alguma relação com um cenário musical onde, conforme

interpretações de Costa (2000)12, ainda possuem um locus privilegiado a moda de

viola, a manifestação caipira e as reelaborações ‘urbanejas’ ditadas pela indústria

cultural?

E quanto a outras formas de expressão como o teatro e a literatura? De que

forma o seu desenvolvimento nesta cidade lhes confere especificidades e, ao mesmo

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16 E-mail: [email protected] e [email protected]

tempo, de que forma suas trajetórias, construídas pelas escolhas e ações de homens

e mulheres, são representativas para as pessoas deste lugar? Novamente, assim

como na música, cenários sócio-culturais específicos, dotados de historicidade onde

relações de forças, tramas e enredos muito próprios, contribuem com a constituição

do que denominamos como Movimento de Teatro Amador no Distrito Federal.13

Além da música e do teatro, a ambiência da cidade de Brasília e de seu

entorno impulsionam também a inventividade de escritores. Não cabe aqui uma

discussão mais aprofundada destes temas, entretanto, não podemos deixar de

incluir em nosso levantamento documentos bibliográficos e iconográficos que

trazem referências a todas estas formas de expressão. Independentemente das

escolhas estéticas dos grupos que as criaram, estas manifestações podem ser vistas

como um “complexo de bens culturais”, pois fazem parte ou se originaram em

“movimentos” que, em determinados momentos da história da cidade e do país,

questionaram a ordem estabelecida, procuraram modificar a realidade dada.

É importante ressaltar que esses “movimentos”, do teatro, da literatura, das

artes em geral, são executados por pessoas, por grupos sociais, para os

quais estas expressões culturais são mais do que um hobby no sentido estrito da

palavra. O rock, o samba, o choro, a viola caipira, o hip hop passam a ser ícones,

símbolos identificadores de determinados grupos identitários. Para os que fazem ou

fizeram parte de cada um desses movimentos há a questão de inserção em um

grupo social onde existem códigos e formas de sociabilidade específicas.

Assim, referenciar estas expressões artístico-culturais e suas trajetórias

históricas enquanto patrimônio cultural do DF significa dar reconhecimento à

diversidade dos fazeres culturais produzidos por seus habitantes, ao mesmo tempo

em que se evidencia a possibilidade de valorização das experiências das pessoas

enquanto um legado para as gerações futuras.

A apresentação deste eixo será feita a partir dos seguintes bens culturais:

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1) Moda de Viola

2) Escola de Música de Brasília/Curso Internacional de Verão

3) Concertos Cabeças

4) Movimento de Teatro Amador no Distrito Federal (Teatros Galpão e

Galpãozinho, Feira da Torre de TV, Grupo de Teatro Esquadrão da Vida)

5) Bandas de Música da Cidade de Planaltina

6) Teatro de Mamulengos

7) Casa do Cantador na Ceilândia

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18 E-mail: [email protected] e [email protected]

3. Bens representativos do sincretismo místico-religioso

A região do Planalto Central e especialmente a cidade de Brasília são

conhecidas como "lugares místicos". De fato, diversas seitas milenaristas

instalaram-se no DF antes da virada do século, com a crença de que a chegada de

uma Nova Era provocaria catástrofes em diversos lugares do mundo. O Planalto

Central, pela sua localização geográfica e altura em relação ao nível do mar, estaria

a salvo e, a partir desta região, a humanidade reconstruiria uma nova ordem

mundial. Mesmo após a virada do milênio em 2001, a cidade de Brasília continua

atraindo grupos místicos.

No âmbito do mapeamento documental realizado pela nossa equipe,

consideramos como referências culturais para populações do DF, filosofias,

movimentos e/ou crenças místico-exotéricas que possuem mitos de origem cujas

narrativas atribuem a esta região do Planalto Central ou à cidade de Brasília

funções determinadas dentro do sistema de crenças “revelado” aos líderes-

fundadores destes movimentos.

Este recorte permitiu à equipe a identificação de três principais grupos que

inserem-se no contexto de percepção desta região enquanto um lugar místico: a

Fraternidade da Cruz e do Lótus, cuja sede fica na cidade de Taguatinga; a Ordem

Espiritualista Cristã, como se autodenomina a comunidade mística do Vale do

Amanhecer, e a Fraternidade Eclética, que, assim como o Vale do Amanhecer,

possui a estrutura organizacional de uma cidade, conhecida como Cidade Eclética

e que localiza-se a 63 km do Plano Piloto de Brasília.

A organização da apresentação deste tópico da exposição será feito em torno

das seguintes referências:

1) Vale do Amanhecer

2) Cidade Eclética

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19 E-mail: [email protected] e [email protected]

3) Sede da Fraternidade da Cruz e do Lótus

4. Celebrações

Nos acervos documentais mapeados foi possível identificar referências

iconográficas (fotografias) e citações em obras bibliográficas relativas a celebrações

e manifestações tradicionais vinculadas ao calendário religioso

católico e também a celebrações cívicas e populares. No caso destas últimas, em

sua maioria trata-se de comemorações em torno dos aniversários de cidades do

Distrito Federal. Em geral, estas Festas de Aniversário são promovidas pelas

administrações locais e já se tornaram tradicionais.

A apresentação deste eixo será feita a partir das seguintes referências

culturais:

1) Festa de SAM João de Samambaia, Arraiá da Ema, Festas de São João no

Paranoá

2) Festa da Cidade de Planaltina (aniversário da cidade)

3) Partida de Futebol entre Casados e Solteiros no Carnaval/Campo de

Futebol da Metro

4) Folia da Roça/Festa do Divino em Planaltina

5) Via Sacra em Planaltina

6) Desfile de barcos no Lago Paranoá no dia de São Pedro

7) Encontro de Folias na Granja do Torto (Folia de Reis)

5. Bens representativos de grupos nipo-brasileiros

A presença de grupos nipo-brasileiros no Distrito Federal remete ao início

dos anos 60. O o plano de desenvolvimento de Brasília previa a implantação de

Núcleos Rurais que seriam responsáveis pelo abastecimento da cidade. Em Vargem

Bonita se estabeleceram famílias japonesas que vieram de São Paulo para Brasília,

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20 E-mail: [email protected] e [email protected]

atendendo ao chamado do Presidente Juscelino Kubitschek. Entre as primeiras que

se estabeleceram em Vargem Bonita, no início dos anos 60, estão as famílias Uema,

Niho, Iki e Koiama formadas por

imigrantes que já moravam no Brasil. Há indícios de que, em 1957, lotes nesta

região foram repassados a outras famílias que, devido às dificuldades, não

permaneceram no local. Posteriormente, em 1965, vieram da ilha de Okinawa no

Japão, mais nove famílias.

No início dos anos 70, com a expansão agrícola para o abastecimento de

Brasília, outras famílias de nipo-brasileiros vêm de Atibaia, estado de São Paulo, e

se estabelecem na cidade de Brazlândia. Este grupo implementa a produção de

morango na região.

Com relação à identificação de bens culturais que remetessem à história e

memória desses grupos de nipo-brasileiros que migraram para o Distrito Federal,

tendo em vista a escassez de pesquisas sobre o assunto, procuramos incluir, nesse

levantamento, pelo menos um bem cultural que possivelmente possa ser

considerado referencial para essas pessoas. Assim, não nos passou despercebida

uma reportagem jornalística sobre a Chácara Onoyama e uma dissertação de

mestrado onde estão apontados espaços referenciais de reprodução cultural dessa

comunidade nipo-brasileira de produtores de morango de Brazlândia. Entretanto,

temos clareza de que pesquisas

etnográficas junto às diversas comunidades nipo-brasileiras são necessárias para a

identificação de outros bens culturais representativos da memória, história e cultura

desses grupos.

A apresentação deste eixo será estruturada da seguinte forma:

1) Chegada de imigrantes japoneses a Brasília

2) Chácara Onoyama

3) Festa do Morango em Brazlândia

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6. Fazeres e saberes do cotidiano e representações do imaginário social

Por fim, dentro de uma categoria mais abrangente que denominamos como

“Fazeres e saberes do cotidiano e representações do imaginário social” estão

aqueles bens relacionados a mitos e lendas, à toponímia da região, a técnicas

construtivas, aos conhecimentos e usos de plantas medicinais desta região do

Planalto Central, às práticas artesanais e costumes que remetem ao cotidiano dos

habitantes do Distrito Federal em diferentes períodos.

Algumas destas práticas, como o costume de formar grupos de oração, em

congregações religiosas ou em comunidades, extrapola as funções usuais de

reafirmação de valores religiosos, configurando-se como um espaço de mobilização

social. Foi o que ocorreu com um grupo de mulheres da Vila Planalto que, em

reuniões do grupo de orações, denominado como “Grupo das Dez”, passaram a

discutir as problemáticas sociais que vivenciavam e, dessa forma, começaram a se

organizar na luta pela conquista de direitos sociais e pela moradia. Ou seja, em

contextos históricos diferenciados, como no caso do Grupo das Dez da Vila

Planalto14, esse costume pode ter sua significação

ampliada, pois não apenas representa tradições herdadas de gerações anteriores,

mas também, em alguns casos, remete à memória de grupos populares enquanto

sujeitos de sua própria história, pois criam e recriam outros valores socioculturais.

Na exposição, este seguimento está estruturado nos seguintes tópicos:

1) Ex-Votos de Cerâmica de Seu Belarmino

2) Artesanato com Flores Secas

3) Grupo das Dez/Vila Planalto

4) Lenda do Ouro do Urbano

5) Forró do Gilberto/Feira Central da Ceilândia

6) Feira Permanente de Sobradinho

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7) Bica d’Água da Metropolitana

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Sugestões de Acervos para o Roteiro da Exposição Eixo 1 - Paisagens Culturais do Distrito Federal - Acervo da Seção Brasília da Biblioteca Brasiliense Juscelino Kubitschek do

Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal – IHG-DF

- Acervo do Núcleo de Estudos da Cultura, Oralidade, Imagem e Memória do

Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da Universidade de Brasílila

(NECOIM-CEAM-UnB).

Eixo 2 - Referências Culturais que remetem à história e a memória de

movimentos artístico-culturais no Distrito Federal

- Acervo da extinta Fundação Cultural do Distrito Federal pertencente ao Arquivo

Público do Distrito Federal – ArPDF

Eixo 3 - Bens representativos do sincretismo místico-religioso

- Acervo da Seção Brasília da Biblioteca Brasiliense Juscelino Kubitschek do

Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal – IHG-DF

Eixo 4 - Celebrações

- Acervo da Seção Brasília da Biblioteca Brasiliense Juscelino Kubitschek do

Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal – IHG-DF

- Acervo do Núcleo de Estudos da Cultura, Oralidade, Imagem e Memória do

Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da Universidade de Brasílila

(NECOIM-CEAM-UnB).

- Acervo Particular do Pesquisador Mário Castro

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Eixo 5 - Bens representativos de grupos nipo-brasileiros

- Acervo da Seção Brasília da Biblioteca Brasiliense Juscelino Kubitschek do

Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal – IHG-DF

Eixo 6 - Fazeres e saberes do cotidiano e representações do imaginário social

- Acervo da extinta Fundação Cultural do Distrito Federal pertencente ao Arquivo

Público do Distrito Federal – ArPDF

- Acervo da Seção Brasília da Biblioteca Brasiliense Juscelino Kubitschek do

Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal – IHG-DF

- Acervo do Núcleo de Estudos da Cultura, Oralidade, Imagem e Memória do

Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da Universidade de Brasílila

(NECOIM-CEAM-UnB).

- Acervo Particular do Pesquisador Mário Castro

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Notas e Referências Bibliográficas 1 BERTRAN, Paulo. História da Terra e do Homem no Planalto Central. Eco-história do Distrito Federal: do indígena ao colonizador. Brasília: Verano, 2000. 2 Também conhecidos como Tapuia, em contraposição aos Tupi do litoral. Foram vulgarizados na literatura do século XIX como os Ubirajara, os Timbira. Ao entrar em Goiás, em 1722, Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera II, filho de bandeirante de mesmo nome, sabia dos índios Goiá e, conforme documentação da época, que encontraria índios Caiapó e Quirixá ou Crixá (BERTRAN, 2000, op. cit). Segundo Bertran (2000, op. cit., p.24, grifos do autor) havia, na região do planalto central do Brasil, desde os tempos imemoriais,

“uma verdadeira ‘Babilônia’ de gentes e conflitos potenciais, vindos desde as mais remotas

origens do homem nas Américas”. [...] E ainda:

“Pelos relatos históricos, a região do Distrito Federal configura-se como território de caça e

pequena agricultura de antigos grupos Macro-Jê. E ponto de contato de suas sub-etnias: os

caiapó, senhores do vale do Corumbá, ao sul; e os Acroá ou Acwa, ao Norte, a que julgamos pertencerem à extinta nação dos Crixá e Acroá, assim como os atuais Xavante, Xerente e

Xacriabá. Os índios Goiá, parece, foram grande nação, ocupando Minas e Goiás no século

XVII, foram totalmente exterminados pelos Caiapó antes da Conquista. [...] E seguramente vieram desde o litoral e desde o Vale do São Francisco, as migrações dos Tupi-Guarani,

acelerando-se ao tempo da conquista branca.” 3 SARAIVA, Regina Coelly Fernandes. Sertão, Cerrado e Identidades. In: Oralidade e Outras Linguagens. Cadernos do CEAM, Ano IV, nº 15, dez. 2004, p. 77-92. 4 BERTRAN, 2000, op. cit. 5 DEPARTAMENTO de Identificação e Documentação. IPHAN/MINC. Inventário Nacional de Referências Culturais: Manual de Aplicação. IPHAN/Ministério da Cultura, 2000. 6 Conforme discutido por Bertran (2000, op. cit.), é no ano de 1972 que começam a ser realizados os primeiros estudos arqueológicos na região do Distrito Federal. Segundo estes estudos, 12 mil anos seria a mais antiga datação da presença do homem no Brasil Central. Com relação aos vestígios da presença humana na área onde hoje está localizado o Distrito Federal, Bertran cita, entre outras, as pesquisas do arqueólogo Eurico Teófilo Miller, realizadas em sítios pré-históricos localizados em diferentes áreas do Distrito Federal. As pesquisas arqueológicas desenvolvidas por Miller identificaram sítios arqueológicos indígenas, com características cerâmicas e pré-cerâmicas, a oeste da cidade do Gama, próximo ao ribeirão Ponte Alta, na área do córrego Melchior em Taguatinga e na área do Rio Descoberto. Há hipóteses de que poderiam ter convivido no Distrito Federal duas culturas indígenas distintas e que ambas teriam chegado até o período da invasão colonizadora: uma de caçadores pré-cerâmicos e outra, de apenas mil anos, de agricultores ceramistas. 7 Bertran (2000, op cit., p. 13) cita os estudos da professora Dilamar Cândida Martins, da Universidade Federal de Goiás, realizados na cidade de Brasilinha no Distrito Federal, os quais identificaram a existência de uma oficina lítica, “uma verdadeira indústria pré-histórica de instrumentos de pedra”. A datação mais antiga da presença humana no

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Planalto Central, obtida por esta professora, até o ano 2000, era de 10.600 anos AP (até o presente). 8 Bertran (2000, op cit., p. 18, grifos do autor) apresenta um panorama deste processo ao mesmo tempo em que procura oferecer uma caracterização do homem destas paragens:

Com o passar do tempo, sem o tempo dos sertões centrais, formulava-se o Homo Cerratensis moderno.

Sua cultura plasmática primeira é do século XVIII, pelo que não podia fugir dos padrões

temáticos do iluminismo. Vagamente ateu, com inclinações às superstições, mais céptico do que fatalista, temente aos

caprichos da Varia Fortuna, o cerradeiro ou cerratense é por excelência um homem barroco.

Criado nos ocos sertanejos: acredita em liberdade, sua natural condição: daí a dificuldade em aceitar trabalho de rotina ou qualquer trabalho, a menos que lhe acene a deusa romana da

Varia Fortuna. Não tem preconceitos, como os terribilíssimos do universo nordestino de

Gilberto Freire. Em conseqüência é o povo mais miscigenado de negro do país e um dos

poucos em que, contraditoriamente, não há herança cultural marcadamente africana,

devorada pelo barroquismo imperante. [...]. 9 Ver entrevista realizada com o pesquisador Mário Castro. Entrevista realizada em setembro/2007 pelas pesquisadoras Natália Guerra Brayner e Virgínia Litwinczik no âmbito das atividades do Projeto Mapeamento Documental do Patrimônio Imaterial no Distrito Federal, acervo NECOIM-CEAM-UnB. 10 Ver entrevistas realizadas por pesquisadores do NECOIM-CEAM-UnB com antigos moradores do Paranoá e que foram realizadas no âmbito das atividades do Projeto Abrigos da Memória no Distrito Federal. Ver também o documentário histórico-videográfico intitulado Memórias de Cá e de Lá – Paranoá –DF, de outubro de 1998, dirigido pela Prof. Dra. Nancy Alessio Magalhães. Materiais pertencentes ao acervo do NECOIM-CEAM-UnB. 11 Costa (2000, op. cit., p. 50-51), ao discutir a pluralidade de manifestações musicais na cidade de Brasília, adota o conceito de “cenografia histórica”. Conforme esta autora, tal conceito remeteria ao espaço (topografia) e ao tempo (cronografia) a partir dos quais se desenvolve uma enunciação artística. Retomando os estudos do historiador Paulo Bertran, Costa procura pensar na “cenografia” do Centro-Oeste enquanto delimitadora do espaço topográfico onde historicamente surgiu o som da viola. Para esta autora, o Planalto Central, enquanto “lugar praticado”, se inscreve como uma das condições das manifestações culturais que peculiarizam a polifonia brasiliense. “Nesta parte, porém, tal condição não se articula aos respectivos estoques daqueles que aqui chegaram após a fundação da “cidade nova”, pois se inscreve como reverberação de cenários anteriores historicamente conhecidos”. 12COSTA, 2000, op. cit. 13 Em nosso entendimento, o termo “movimento” abarca inúmeros tipos de referências culturais que, em conjunto, adquirem uma significação mais ampla, pois estão vinculadas umas às outras pela história e memória do teatro no Distrito Federal. Assim, tanto os lugares de ensaio e apresentação de espetáculos quanto a memória de cada um dos grupos de teatro que atuavam e atuam em todo o DF contribuem com a construção de narrativas individuais e coletivas sobre o passado e o presente da vida cultural no DF. 14 Ver trecho de entrevista realizada em 1993 por pesquisadores do Núcleo de Estudos da Cultura, Oralidade, Imagem e Memória-NECOIM, do Centro de Estudos Avançados

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27 E-mail: [email protected] e [email protected]

Multidisciplinares da Universidade de Brasília-CEAM-UnB, com Dona Albaniza (Maria Albaniza Ribeiro Lopes Rebouças) líder comunitária e moradora da Vila Planalto –DF. In: MAGALHÃES, N.A.; SINOTI, M.L. Memória e Direitos: moradas e abrigos em Brasília. Brasília, NECOIM, 2001, p.48-51.