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UNIVERSIDADE DA FORÇA AÉREA CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM CIÊNCIAS AEROESPACIAIS Instrução de voo na Academia da Força Aérea: relação entre os acidentes aeronáuticos e a percepção do risco RIO DE JANEIRO 2016 ADALBERTO SANTOS PRADO, TEN CEL AV

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UNIVERSIDADE DA FORÇA AÉREA

CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM CIÊNCIAS AEROESPACIAIS

Instrução de voo na Academia da Força Aérea: relação entre os acidentes

aeronáuticos e a percepção do risco

RIO DE JANEIRO

2016

ADALBERTO SANTOS PRADO, TEN CEL AV

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ADALBERTO SANTOS PRADO

Instrução de voo na Academia da Força Aérea: relação entre os acidentes

aeronáuticos e a percepção do risco.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Aeroespaciais da Universidade da Força Aérea, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Aeroespaciais.

Prof. Doutor – Flavio N H Jasper Orientador

RIO DE JANEIRO

2016

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ADALBERTO SANTOS PRADO

Instrução de voo na Academia da Força Aérea: relação entre os acidentes

aeronáuticos e a percepção do risco.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Aeroespaciais da Universidade da Força Aérea, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Aeroespaciais, tendo sido julgado pela Banca Examinadora formada pelos professores:

____________________________________________________________

Presidente: Prof. Doutor Flavio Neri Hadmann Jasper – Orientador, UNIFA

____________________________________________________________

Membro: Prof. Doutor Newton Hirata, ACADEMIA DA FORÇA AÉREA (AFA)

____________________________________________________________

Membro: Prof. Doutor Marcos Cardoso dos Santos, ESCOLA SUPERIOR DE

GUERRA (ESG)

____________________________________________________________

Membro: Prof. Doutor Carlos César De Castro Deonísio, UNIFA

Dissertação aprovada em 27 de julho de 2016 - UNIFA

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AGRADECIMENTOS

Meus agradecimentos aos meus pais, Geraldo Prado e Maria Zilah, pelo exemplo.

Aos meus irmãos, Luís Cláudio e Lilian, pela companhia.

À minha esposa Débora, pela compreensão e carinho.

Aos meus filhos, Alicia, Maria Eduarda, Matheus e Mariana, pela inspiração e

esperança.

Aos professores e colegas do Curso, pela troca de experiências.

Em especial aos professores Cel Jasper, Cel Bacellar e Cel Leite, pelo apoio e

incentivo.

Aos efetivos do CPORAER-SJ e SERIPA IV, pelo auxílio durante os estudos.

Aos instrutores e cadetes da AFA, que participaram da pesquisa.

À Universidade da Força Aérea e ao CENIPA, pela oportunidade.

A Deus, por iluminar meus passos, de meus familiares e amigos.

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RESUMO

A Academia da Força Aérea (AFA) é a Organização de Ensino do Comando da Aeronáutica (COMAER) responsável pela formação dos pilotos da Força Aérea Brasileira. Embora as atividades de prevenção tenham obtido sucesso na redução da quantidade de acidentes na AFA, houve aumento no índice de mortes e perdas totais de aeronaves (aeronaves totalmente destruídas) no período estudado, indicando a necessidade de se pesquisar novos métodos preventivos. Dessa forma, esta pesquisa tem por objetivo comparar as percepções dos riscos à segurança de voo entre os instrutores de voo e os cadetes aviadores do Segundo Esquadrão em 2014, e a estatística dos acidentes aeronáuticos na AFA entre os anos de 1985 e 2012, possibilitando aperfeiçoar os métodos preventivos relacionados à segurança de voo na AFA. A pesquisa foi realizada com os cadetes aviadores do Segundo Esquadrão por serem os alunos que receberam instrução de voo apenas em 2014. A limitação temporal, entre 1985 e 2012, foi selecionada em virtude de serem utilizadas aeronaves T-25 e T-27 e as investigações dos acidentes ocorridos nesse período já estarem concluídas. Utilizou-se o método hipotético-dedutivo, tendo em vista a possibilidade de testar-se empiricamente a hipótese de pesquisa. Estudaram-se os Relatórios de Investigação de Acidentes Aeronáuticos (RELIAA) desse período e aplicou-se um questionário aos aviadores pesquisados para que fossem medidas suas percepções em relação aos riscos presentes na instrução aérea. Utilizando-se o Coeficiente de Concordância de Kendall (W) e o Coeficiente de Correlação de Spearman (ρ), identificou-se uma fraca concordância entre as percepções do risco pelos aviadores, consideradas individualmente. Porém, houve forte correlação entre a estatística de acidentes da AFA e a percepção do risco de instrutores e cadetes considerada coletivamente. Conclui-se, assim, que a baixa concordância na percepção do risco pelos aviadores pesquisados pode representar uma vulnerabilidade no sistema, tendo em vista que aviadores com percepção do risco tendenciosa se tornam mais suscetíveis a acidentes. Além disso, a forte correlação da estatística com a percepção geral do risco por instrutores e cadetes indica coerência nos resultados obtidos por duas técnicas de medição diferentes. Assim sendo, pode-se utilizar o resultado desta pesquisa para definir prioridades no gerenciamento do risco, buscando-se reduzir os índices de mortes e perdas totais na AFA, objetivo principal da segurança de voo, uma vez que representam custos econômicos e operacionais, além da vida, um valor prioritário e incomensurável. Palavras-chave: Acidente. Risco. Segurança de Voo.

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ABSTRACT

The Brazilian Air Force Academy (AFA) is responsible for graduating pilots of the Brazilian Air Force. Although prevention activities have been successful in reducing the number of accidents in the AFA, there was an increase in the rate of deaths and total losses of aircraft, during the study period, indicating the need to search for new prevention methods. Therefore, the objective of this study is to analyze the relationship between the perceptions of risks by flight instructors and cadets of the Second Squadron and the statistics of aircraft accidents in AFA between 1985 and 2012 allowing improve prevention methods related to flight safety in the AFA. The survey was conducted with the aviators of the Second Squadron cadets because they received flight instruction only in 2014. The limitation in time, between 1985 and 2012, was selected due to be used T-25 and T-27 aircraft and accident investigations that occurred in this period has been completed. Hypothetical-deductive methodology was used to develop this work. It was used the Aeronautical Accidents Investigation Reports and was applied a questionnaire to measure the pilots` perceptions of the risks present in the air instruction. Using the Kendall’s Concordance Coefficient, there was a weak correlation between perceptions of risk by aviators. However, using the Spearman's Correlation Coefficient, there was strong correlation between the accident statistics of the AFA and the perceived risk of instructors and cadets, considered collectively. Thus, the low concordance in the perception of risk by pilots may represent vulnerability in the system, as aviators with biased perception of risk become more susceptible to accidents. In addition, the strong correlation of statistics to the general perception of risk by instructors and cadets indicates consistency in the results obtained by two different methodologies. Therefore, the results of this research can be used to define priorities in manage risks, seeking to reduce rates of deaths and total losses in the AFA, the main goal of flight safety. Keywords: Accident. Risk. Flight Safety.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Teoria da causa única. ........................................................................... 26

Figura 2 - Teoria das causas múltiplas .................................................................. 27

Figura 3 - Limites aceitáveis de desempenho ....................................................... 30

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Índice de acidentes, mortes e perdas totais entre 1985 e 2012. ............. 42

Gráfico 2 – Percentual de fatalidades nos acidentes aeronáuticos da AFA entre 1985

e 2012. ...................................................................................................................... 43

Gráfico 3 – Percentual de perdas totais nos acidentes aeronáuticos da AFA entre

1985 e 2012. ............................................................................................................. 43

Gráfico 4 – Índice de acidentes, mortes e perdas totais por tipo de aeronave entre

1985 e 2012. ............................................................................................................. 44

Gráfico 5 – Índice de acidentes por aeronave entre 1985 e 2012. ............................ 45

Gráfico 6 – Percentual de acidentes por aeronave entre 1985 e 2012. .................... 45

Gráfico 7 - Estatística de acidentes com aeronaves de treinamento ......................... 46

Gráfico 8 - Índice de perda total de aeronaves.......................................................... 47

Gráfico 9 – Índice de tipos de acidentes entre 1985 e 2012. .................................... 48

Gráfico 10 – Índice de acidentes, mortes e perdas totais. ......................................... 48

Gráfico 11 – Índices de mortes por tipo de acidente. ................................................ 49

Gráfico 12 – Índices de perdas totais por tipo de acidente. ....................................... 50

Gráfico 13 – Índices de acidentes, mortes e perdas totais por tipo de acidentes entre

1985 e 2012. ............................................................................................................. 51

Gráfico 14 - Estatística relativa a aviação comercial mundial ................................... 53

Gráfico 15 - Severidade de ocorrências na aviação comercial mundial .................... 54

Gráfico 16 - Fatores contribuintes na aviação militar entre 1994 e 2005 .................. 55

Gráfico 17 - Fatores contribuintes na aviação civil entre 2003 e 2012 ...................... 56

Gráfico 18 – Índice de fatores contribuintes na AFA entre 1985 e 2012. .................. 57

Gráfico 19 – Índice de fatores contribuintes para acidentes. ..................................... 58

Gráfico 20 – Dois tipos de acidentes mais votados pelos aviadores como o mais

severo quanto à possibilidade de causar mortes. ..................................................... 61

Gráfico 21 – Os dois tipos de acidentes mais votados pelos aviadores como o mais

severo quanto à possibilidade de causar perda total. ............................................... 62

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Média de fatores contribuintes por acidente fatal ..................................... 41

Tabela 2 – Ordenamento da probabilidade dos tipos de ocorrências conforme a

percepção de instrutores e cadetes. ......................................................................... 59

Tabela 3 – Ordenamento da severidade dos tipos de ocorrência (quantidade de

mortes) conforme a percepção de instrutores e cadetes. ......................................... 60

Tabela 4 – Ordenamento da severidade dos tipos de ocorrências (perda total)

conforme a percepção de instrutores e cadetes. ....................................................... 62

Tabela 5 – Ordenamento da probabilidade de ocorrência dos fatores contribuintes

conforme a percepção de instrutores e cadetes. ....................................................... 63

Tabela 6 – Ordenamento da probabilidade dos tipos de ocorrências conforme a

percepção dos aviadores e os registros dos Relatórios de Investigação. ................. 66

Tabela 7 – Ordenamento da severidade dos tipos de ocorrência (quantidade de

mortes) conforme a percepção dos aviadores e os registros dos Relatórios de

Investigação. ............................................................................................................. 66

Tabela 8 – Ordenamento da severidade dos tipos de ocorrências (perda total)

conforme a percepção dos aviadores e os registros dos Relatórios de Investigação

de Acidentes Aeronáuticos. ....................................................................................... 67

Tabela 9 – Ordenamento da probabilidade de ocorrência dos fatores contribuintes

conforme a percepção dos aviadores e os registros dos Relatórios de Investigação

de Acidentes Aeronáuticos. ....................................................................................... 68

Tabela 10 – Coeficientes de Correlação de Spearman (ρ), segundo o tipo de

ocorrência, a possibilidade de causar morte, perda total e fatores contribuintes para

as ocorrências. .......................................................................................................... 70

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AFA Academia da Força Aérea

AHP Processo de análise hierárquica

ARC Contato anormal com a pista

BIRD Colisão com Aves

CAD Cadete

CCI Cadeia de Comando Investigador

CFIT Voo controlado contra o terreno

CFOAV – Curso de Formação de Oficiais Aviadores

COMAER Comando da Aeronáutica

EGPWS Equipamentos de aviso de proximidade de obstáculos

END Estratégia Nacional de Defesa

EPCAR Escola Preparatória de Cadetes do Ar

FUEL Relativo a combustível

ICAO International Civil Aviation Organization

IN Instrutor

LALT Durante operação a baixa altura

LOC-G Perda de controle no solo

LOC-I Perda de controle em voo

MAC Colisão de aeronaves em voo

MCDA Métodos de apoio à decisão multicritério

NSCA Normas do Comando da Aeronáutica

OM Organização Militar

OTHR Outros

Ρ Coeficiente de Correlação de Spearman

PND Política Nacional de Defesa

PT Perda total da aeronave

RE Saída da pista

REL Relatórios de Investigação

RELFIN Relatório Final

RELIAA Relatório de Investigação de Acidente Aeronáutico

SCF-NP Falha ou mau funcionamento de componente – não propulsor

SCF-PP Falha ou mau funcionamento de componente – propulsor

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SIPAA Seção de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos

SIPAER Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos

SMM Manual de Gerencial da Segurança

SMS Safety Management Systems

USOS Pouso antes ou após a pista

W Coeficiente de Concordância de Kendall

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12

1 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................ 18

1.1 EMPREGO DO PODER AÉREO .................................................................. 19

1.2 HISTÓRICO DAS TEORIAS RELATIVAS À PERCEPÇÃO DO RISCO ...... 20

1.3 HISTÓRICO DOS ESTUDOS SOBRE SEGURANÇA DE VOO ................... 23

1.4 HISTÓRICO DA SEGURANÇA DE VOO NO BRASIL ................................. 31

2 METODOLOGIA ........................................................................................... 34

2.1 DELIMITAÇÃO DO UNIVERSO .................................................................... 36

2.2 PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES NA AFA ...................... 37

2.2.1 Taxionomia .................................................................................................... 38

2.3 QUESTIONÁRIO ........................................................................................... 39

2.4 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ....................................................................... 39

3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS .............................................. 40

3.1 ESTATÍSTICA DE ACIDENTES AERONÁUTICOS NA AFA ENTRE 1985 E

2012 .............................................................................................................. 42

3.2 CONCORDÂNCIA DA PERCEPÇÃO DO RISCO ENTRE INSTRUTORES E

CADETES ..................................................................................................... 58

3.2.1 Ordenamento da probabilidade ..................................................................... 58

3.2.2 Ordenamento da severidade (mortes) ........................................................... 59

3.2.3 Ordenamento da severidade (Perda total) .................................................... 61

3.3 CONCORDÂNCIA ENTRE AVIADORES E RELATÓRIOS.......................... 65

3.3.1 Ordenamento da probabilidade ..................................................................... 66

3.3.2 Ordenamento da severidade (quantidade de mortes) ................................... 66

3.3.3 Ordenamento da severidade (perda total) ..................................................... 67

3.3.4 Ordenamento da probabilidade ..................................................................... 68

3.3.5 Teste da hipótese de pesquisa ...................................................................... 69

4 CONCLUSÃO ............................................................................................... 71

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 74

APÊNDICE A – PESQUISA DIRIGIDA AOS AVIADORES DA AFA ............. 79

APÊNDICE B – TABELA DE VALORES CRÍTICOS DOS COEFICIENTES

DE CORRELAÇÃO DE SPEARMAN ................................................................... 83

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INTRODUÇÃO

O primeiro acidente aeronáutico com fatalidade que se tem notícia ocorreu em

17 de setembro de 1908, na cidade de Fort Myer, Virginia, e provocou a primeira

investigação de acidente aeronáutico da história. A aeronave acidentada era pilotada

por Orville Wright, um dos irmãos Wright, e o passageiro, Tenente Thomas Selfridge,

foi a primeira vítima fatal da aviação mundial (EBER, 1982; WIEGMANN; SHAPPEL,

2003).

A partir desse evento trágico, o homem buscou desenvolver a atividade

aérea, mas também evitar as perdas materiais e humanas.

Inicialmente, adotava-se uma postura fly-crash-fly, (STOLZER; HALFORD;

GOGLIA, 2008), ou seja, os voos eram realizados até que algum acidente ocorresse,

fosse investigado, ações corretivas fossem adotadas e a atividade aérea era

retomada. As causas eram atribuídas às condições meteorológicas, às falhas

mecânicas e, geralmente, ao erro humano, principalmente do piloto. Nesse último

caso, a antiga filosofia recomendava, basicamente, encorajar os demais pilotos a

não cometerem o mesmo erro e o ciclo de prevenção era considerado concluído

(STOLZER; HALFORD; GOGLIA, 2008).

Atualmente, a segurança de voo abrange conceitos de Safety Management

Systems (SMS), que já eram utilizados em outros setores, como na indústria

química, alimentícia, elétrica, e foram incorporados aos documentos da ICAO

(International Civil Aviation Organization). SMS é um sistema dinâmico de

gerenciamento de risco, baseado nos princípios de gerenciamento da qualidade,

adaptado para o risco operacional e aplicado a um ambiente de cultura de

segurança (STOLZER; HALFORD; GOGLIA, 2008). Dessa forma, os conceitos de

segurança podem ser utilizados em todas as atividades que envolvam riscos, como

aviação militar ou civil, programas espaciais, energia nuclear, transportes, dentre

outros.

Alinhados com a evolução dos conceitos de segurança de voo, as

Organizações Militares do Comando da Aeronáutica adotaram esses embasamentos

teóricos para reduzir a probabilidade de ocorrências aeronáuticas. A Academia da

Força Aérea (AFA) destaca-se nessa conjuntura, pois é responsável pela

apresentação da mentalidade de segurança aos pilotos militares já no início de suas

carreiras. Na AFA os acidentes são investigados conforme os critérios estabelecidos

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pelo SIPAER (Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) e

são utilizados para a prevenção de novos acidentes. Porém, além de estudar a

evolução dos métodos preventivos, faz-se necessário abordar também a importância

da AFA no contexto do Poder Aeroespacial Brasileiro, observando-se a estrutura

legal vigente, conforme apresentado a seguir.

A Escola de Aeronáutica foi criada pelo Decreto-Lei nº 3.142, de 21 de março

de 1941, no lendário Campo dos Afonsos, na cidade do Rio de Janeiro. A

denominação atual, Academia da Força Aérea (AFA), foi dada pelo Decreto nº

64.800, de 10 de julho de 1969 (BRASIL, 1941, 1969). Por meio do Decreto n°

69.416, em 1971, foi determinada a transferência dos principais órgãos e da sede da

AFA para a cidade de Pirassununga – SP, onde se encontra atualmente (BRASIL,

1971). Sua finalidade é formar Oficiais da ativa da Aeronáutica, nos quadros de

aviação de intendência e de infantaria.

O processo seletivo para ingresso na AFA faz-se mediante concurso público,

incluindo exame teórico, médico e psicológico, além de teste de condicionamento

físico e teste de aptidão à pilotagem militar (TAPMIL1) (BRASIL, 2011). Os

candidatos aprovados, juntamente com os alunos provenientes da Escola

Preparatória de Cadetes do Ar (EPCAR), que também passam pelo TAPMIL, são

matriculados no primeiro ano.

Os instrutores de voo da AFA são Oficiais Aviadores, originários de diversas

Organizações Militares (OM) do COMAER. Para ministrar instrução de voo na AFA,

é necessário ser aprovado em Curso de Padronização de Instrutores de Voo (CPIV)

realizado na AFA. Nesse curso, são padronizados procedimentos, estabelecidos

critérios, além do treinamento da prática de instrução a bordo das aeronaves da

AFA. São transmitidos também, durante esse curso, informações de segurança de

voo que devem ser respeitadas durante as instruções (BRASIL, 2015, 2016a,

2016b).

Atualmente, o Curso de Formação de Oficiais Aviadores (CFOAV) é realizado

em quatro anos. Durante o segundo ano de curso, o cadete participa das instruções

1 TESTE DE APTIDÃO À PILOTAGEM MILITAR (TAPMIL): bateria informatizada de testes

psicológicos, que tem por objetivo avaliar o potencial de aprendizagem à pilotagem militar, com vistas ao aprimoramento com sucesso na instrução de voo realizada na AFA, de maneira isolada ou combinada, aferindo, dentre outras habilidades: capacidade psicomotora (coordenação e tempo de reação), raciocínio espacial, atenção seletiva, processamento de informação (auditiva e visual) e capacidade de gerenciar tarefas múltiplas (psicomotora e cognitivas combinadas).

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aéreas no Segundo Esquadrão de Instrução Aérea (2º EIA). Os cadetes do quarto

ano realizam as instruções aéreas no Primeiro Esquadrão de Instrução Aérea (1º

EIA).

No 2º EIA, utiliza-se a aeronave T-25 Universal para cumprir a instrução aérea

básica. Trata-se de uma aeronave triciclo retrátil, convencional, monomotor a pistão,

fabricada pela Neiva.

A aeronave T-27 Tucano é utilizada na instrução aérea avançada, realizada

no 1º EIA. Fabricada pela Embraer, é uma aeronave triciclo retrátil, convencional,

monomotor turbo hélice e equipada com dois assentos ejetáveis.

Além das aeronaves utilizadas na instrução, para melhor se compreender os

aspectos envolvidos na formação dos Oficiais da ativa da Aeronáutica, faz-se

necessário considerar também os custos envolvidos, conforme informa Demo (2006):

De acordo com uma estimativa calculada em 2003, para uma previsão orçamentária referente a 2004, o custo por Cadete anualmente é de, em média, R$ 27.418,52 para o CFOINT, R$ 33.150.39 para o CFOINF e R$ 94.332,11 para o CFOAV, levando em conta seus soldos, fardamento, alimentação, salários dos professores, as horas de voo gastas em instruções, restauração das instalações, entre outros itens. (DEMO, 2006, p. 51)

Considerando-se o contexto legal em que a AFA se insere, destaca-se

primeiramente a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que define

o Brasil como um Estado Democrático de Direito e que tem na soberania um de seus

fundamentos. Prevê, ainda, que é competência da União assegurar a defesa

nacional. Determina, também, que as Forças Armadas, constituídas pelo Exército,

Marinha e Aeronáutica, destinam-se à defesa da Pátria, dos poderes constitucionais,

da lei e da ordem. (BRASIL, art. 142, 1988).

A Política Nacional de Defesa (PND) é o documento que estabelece o preparo

e emprego de meios militares e civis com vistas à defesa da pátria, considerando

todas as esferas do Poder Nacional. Nesse documento, consta que o País deve

manter a capacidade de vigiar, controlar e defender seu espaço aéreo (BRASIL,

2013d).

A Estratégia Nacional de Defesa (END) é o documento responsável por

vincular a política de independência nacional e seu conceito às Forças Armadas,

que devem preservar essa independência. Estabelece, também, a necessidade de

mobilidade dos meios de defesa em virtude da extensão territorial brasileira

(BRASIL, 2013d). Atualmente, essa mobilidade requer o emprego de vetores aéreos,

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cujos operadores são formados na AFA.

O Livro Branco de Defesa Nacional é o documento que esclarece para a

sociedade brasileira e também para a comunidade internacional os objetivos das

atividades de defesa do Brasil. Segundo esse documento, cabe à Força Aérea

defender a Pátria mantendo a soberania no espaço aéreo brasileiro, negando seu

uso para ações contrárias aos interesses do País (BRASIL, 2013d).

A AFA desempenha a Ação Complementar de formar tripulantes para o

cumprimento de diferentes Ações de Força Aérea (BRASIL, 2012). Sua missão

contribui para atender o que prevê a Constituição da República Federativa do Brasil,

a PND, a END e o Livro Branco de Defesa Nacional, por meio da capacitação de

recursos humanos necessários ao cumprimento de missões específicas do Poder

Aeroespacial.

Examinando-se os Relatórios de Investigação de Acidente Aeronáutico

(RELIAA) e comparando-se o número dessas ocorrências, em instrução aérea na

AFA, entre dois períodos consecutivos de 14 anos (1985 a 1998 e 1999 a 2012),

observou-se:

a) redução no número de acidentes a cada cem mil horas voadas em

instrução (de 9 acidentes por cem mil horas de voo entre os anos de 1985

e 1998, para 4,33 acidentes por cem mil horas de voo entre 1999 e 2012);

b) aumento na taxa de mortes por cem mil horas voadas em instrução (de

2,41 mortes por cem mil horas de voo entre os anos de 1985 e 1998, para

3,51 mortes por cem mil horas de voo entre os anos de 1999 e 2012);

c) aumento no número de perdas totais de aeronaves por cem mil horas

voadas em instrução (de 2,41 perdas totais por cem mil horas de voo

entre os anos de 1985 e 1998, para 3,24 perdas totais por cem mil horas

de voo entre os anos de 1999 e 2012).

Dessa forma, embora tenha havido redução na probabilidade, o aumento na

severidade dos acidentes ocorridos na instrução aérea justifica a abordagem

proposta nesta pesquisa, de gerenciar a segurança de voo por meio do estudo do

risco.

Para que as atribuições da AFA sejam desenvolvidas com o máximo de

eficiência, deve-se evitar a ocorrência de acidentes aeronáuticos, pois esses

significam perda de recursos para o cumprimento das instruções previstas (BRASIL,

2009). Levando-se em conta o valor do Real no dia 6 de março de 2016,

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considerando-se apenas os acidentes em que houve perda total de aeronave, o

prejuízo estimado a cada 100 mil horas de voo, no período de 1985 a 2012, foi de

R$ 3.384.688,64 para a aeronave T-27 e R$ 503.203,77 para a aeronave T-25, sem

mencionar a vida de instrutores e alunos, de valor incalculável (BRASIL, 2009).

Assim sendo, a prevenção de acidentes na AFA influencia a consecução da PND.

Em relação à estrutura da instrução aérea na AFA, o corpo de instrutores, e

os alunos pertencentes ao Segundo e ao Quarto Esquadrões do Corpo de Cadetes

da Aeronáutica são os atores principais da atividade aérea naquela Organização

Militar (OM) e foram consultados no desenvolvimento desta pesquisa. Segundo

Kouabenan (2009), um fator que afeta o nível de segurança da organização é a

percepção que os integrantes deste sistema possuem em relação aos riscos, o que

causa os acidentes e como evitá-los. Nesse cenário, insere-se o problema desta

pesquisa: em que medida a percepção do risco pelos instrutores de voo e cadetes

aviadores do Segundo Esquadrão em 2014, está relacionada à estatística dos

acidentes aeronáuticos na AFA entre os anos de 1985 e 2012?

Em decorrência do problema apresentado, o objetivo deste estudo é

comparar a percepção do risco entre os instrutores de voo e os cadetes aviadores

do Segundo Esquadrão em 2014, considerando-se os fatores levantados nos

acidentes aeronáuticos na AFA, entre os anos de 1985 e 2012, com a estatística

gerada pelas investigações oficiais, a fim de possibilitar a utilização desses

resultados no gerenciamento do risco na instrução aérea. As descobertas desta

pesquisa podem indicar novos caminhos para a redução da estatística de acidentes

aeronáuticos, mortes e perdas totais de aeronaves naquela OM como consequência

do aumento do conhecimento sobre os principais riscos atinentes à instrução de voo

na AFA.

Para se atingir esse objetivo geral, são elencados os seguintes objetivos

específicos:

a) Comparar as percepções dos riscos à segurança de voo entre os

instrutores da AFA em 2014;

b) Comparar as percepções dos riscos à segurança de voo entre os

cadetes do Segundo Esquadrão em 2014;

c) Comparar as percepções do risco à segurança de voo entre os

instrutores da AFA e os cadetes aviadores do Segundo Esquadrão em

2014.

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Em decorrência do problema e objetivos apresentados, surge a seguinte

hipótese de pesquisa: a percepção do risco pelos instrutores de voo e cadetes

aviadores do Segundo Esquadrão em 2014 está relacionada à estatística dos

acidentes aeronáuticos na AFA, entre os anos de 1985 e 2012, possibilitando utilizar

a estatística de acidentes e a percepção dos aviadores como fontes relevantes para

o aperfeiçoamento do gerenciamento do risco na AFA.

A análise do problema exposto justifica-se não somente pela necessidade de

avanços no setor de defesa pela preservação de recursos humanos e materiais, mas

também pelo ordenamento jurídico vigente, uma vez que a vida é um direito

constitucional garantido aos brasileiros e aos estrangeiros residentes neste País

(Brasil, 1988). Desse modo, a pesquisa por métodos e programas que busquem

preservar a vida, além de ser uma atitude humanitária, é também uma atribuição

legal do Estado (BRASIL, 1982).

Ressalta-se que o volume de horas voadas na AFA é relativamente elevado

em comparação às demais OM brasileiras. Portanto, a elevada exposição aos

eventos adversos, em virtude do quantitativo de horas voadas, torna mais evidente a

necessidade da constante atualização de métodos preventivos para a manutenção

dos riscos dentro de um nível aceitável ao desenvolvimento da instrução aérea.

Para que os objetivos fossem atingidos, estruturou-se esta pesquisa em cinco

capítulos. No segundo capítulo, após esta introdução, serão apresentadas as

principais teorias sobre o poder aéreo, o risco e a ocorrência de acidentes. A

metodologia será apresentada no terceiro capítulo, descrevendo-se a aplicação dos

questionários e o levantamento de dados estatísticos na AFA. No quarto capítulo

realizar-se-á a análise dos dados, comparando-se as respostas dos questionários à

estatística de acidentes na AFA. Por fim, será apresentada uma conclusão

considerando-se a hipótese da pesquisa, pois caso as percepções do risco pelos

aviadores da AFA estejam relacionadas à estatística de acidentes aeronáuticos entre

os anos de 1985 e 2012, essas informações podem ser utilizadas no controle do

risco na instrução aérea.

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1 REFERENCIAL TEÓRICO

A AFA é a OM brasileira responsável pela formação dos pilotos militares,

fornecendo subsídios para que a Força Aérea Brasileira mantenha a soberania do

espaço aéreo do Brasil. Dessa forma, os treinamentos, a doutrina e a postura

adotada durante as instruções atende às necessidades para operação em combate,

diferenciando-se, portanto, das demais utilizações dos aviões. A AFA forma,

também, oficiais estrangeiros e de outras Forças.

Enquanto as empresas de transporte aéreo valorizam a segurança, conforto

do passageiro e operacionalidade para auferir lucro, a aviação militar necessita de

treinamento específico, buscando preparar suas tripulações para reduzir as margens

de segurança e conforto quando necessário. Nesse sentido, há que se falar em

formação especializada, especificamente planejada para forjar verdadeiros

guerreiros dos ares, capazes de empregar suas aeronaves nos limites de suas

capacidades.

Atendendo às necessidades de contextualização desta pesquisa ao emprego

militar do meio aéreo, foram apresentados, inicialmente, alguns conceitos

desenvolvidos por teóricos do poder aéreo, tendo em vista que a AFA é responsável

por formar recursos essenciais à utilização desses vetores na defesa do Brasil.

Exploraram-se também os estudos sobre percepção do risco, considerando-

se os principais fatores psicológicos e sociais envolvidos na instrução aérea da AFA.

Por fim, foram abordadas as teorias sobre segurança de voo, o erro humano e

a ocorrência do acidente, por serem utilizadas, não somente como base para as

atividades de segurança de voo no Brasil, tanto na aviação civil quanto militar, como

também internacionalmente, conforme se observa nos documentos brasileiros e da

ICAO. Dessa forma, além de auxiliar na definição da percepção do risco, esse

embasamento teórico contribuiu para localizar o risco no processo que pode levar ao

acidente aeronáutico.

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1.1 Emprego do poder aéreo

Antes de a aviação assumir o papel determinante atualmente reconhecido na

condução dos conflitos armados, Dumont (1958) já registrara em seu livro “O que eu

vi, o que nós veremos”, escrito em 1918:

Sem embargo fazem 12 anos que eu disse que as máquinas aéreas tomariam parte nas futuras guerras e todos, incrédulos, sorriram. Em 14 de julho de 1903, voei sobre a revista militar de Long-champs. Nela tomavam parte 50.000 soldados e em seus arredores se acumulavam 200.000 espectadores. Foi a primeira vez que a navegação aérea figurou em uma demonstração militar. Naquela época, predisse que a guerra aérea seria um dos aspectos mais interessantes das futuras campanhas militares. Minha predição foi ridicularizada por alguns militares; outros, entretanto, houve que, desde logo, alcançaram as futuras e imensas utilidades da navegação aérea. (SANTOS-DUMONT, 1958, p.84).

A missão da AFA é consequência dessa utilização das aeronaves em

combate, criando a necessidade de formar recursos humanos capazes de conduzir a

guerra nos ares. Para o estabelecimento do poder aéreo como protagonista nos

conflitos atuais, foram desenvolvidas teorias que buscavam analisar a importância

desta nova descoberta da humanidade durante ações de combate. Alguns

pensamentos de Giulio Douhet, Hugh Montague Trenchard, William Lendrum

Mitchell e Alexander Nikolaievich Prokofiev de Seversky destacaram-se nesse

cenário.

A principal tese de Douhet (1988) era que o poder aéreo, por meio de um

bombardeio de longo alcance, cuidadosamente planejado, poderia devastar uma

nação e dispensar a guerra por terra. Porém, era necessário conquistar a

superioridade aérea para que os bombardeios fossem bem-sucedidos. Defendia,

também, que não havia distinção entre combatentes e não combatentes, sendo

importante atacar alvos que comprometessem o bem-estar social. Essa meta

deveria ser alcançada atacando-se inicialmente aviões no solo e as fábricas. Após,

deveria atacar as cidades inimigas, as comunicações, transporte, suprimentos e

população civil. O objetivo desses ataques seria eliminar a vontade de lutar da

nação inimiga, causando uma pressão da população contra seus governantes para

encerrar o conflito (CHUN, 2004)

Mitchell (2006) defendia ataques aéreos à infraestrutura, centros industriais e

de comando. Ele concordava com Douhet (1988) sobre a necessidade de

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superioridade aérea, porém pregava a batalha aérea utilizando vetores de combate

e não apenas o bombardeio de aeronaves em solo inimigo (CHUN, 2004).

Trenchard (1989) dizia que era possível vencer a guerra abatendo a vontade

de lutar da população inimiga, atacando alvos como indústrias e comunicações.

Dessa forma, seria possível provocar uma pressão popular sobre o governo para

sair da guerra, semelhante ao que proclamava Douhet. Também estabelecia como

pré-requisito dos ataques aéreos o controle do ar (CHUN, 2004). Para Trenchard

(1989), os efeitos dos bombardeios aéreos sobre o moral inimigo eram vinte vezes

mais significativos do que os estragos materiais propriamente ditos, porém não

pregava ataques diretos à população. Defendia também ataques noturnos em

complemento aos ataques diurnos (CHUN, 2004).

Seversky (1943, 1950) teve poucas ideias originais, porém refinou e divulgou

muitas teorias de Mitchell. Para Seversky, para qualquer campanha, seja marítima,

terrestre ou aérea, deveria primeiramente ser conquistada a superioridade aérea

(CHUN, 2004).

Segundo Seversky (1943, 1950), o poder aéreo isoladamente não venceria a

guerra, porém causaria diversas perdas na capacidade industrial, comunicações,

transporte e linhas de suprimento (CHUN, 2004).

1.2 Histórico das teorias relativas à percepção do risco

Nos anos 60 do século XX a percepção do risco era estudada devido à

rejeição popular às novas tecnologias, principalmente a nuclear. Sowby (1965)

tentou reduzir essa rejeição ao propor uma comparação entre riscos. Concluiu que o

risco de contrair uma doença provocada pelo fumo, ou se acidentar ao dirigir um

carro ou utilizar transporte público era muito maior do que os riscos decorrentes de

morar próximo a uma usina nuclear. Assim, argumentou que se as pessoas

assumiam o risco de fumar cigarros, seria razoável aceitar também a energia

nuclear.

Após a pesquisa de Sowby, Starr (1969) estudou o gerenciamento do risco e

os fatores que influenciavam a sua percepção, tolerância e aceitação. Assim,

concluiu que a sociedade aparentemente aceitava melhor os riscos quando

associados a benefícios e se a exposição fosse voluntária. Dessa forma, a

voluntariedade da exposição ao risco pode afetar a percepção de instrutores e

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cadetes da AFA, corroborando a necessidade de pesquisar se esses fatores podem

influenciar a segurança.

Atualmente, predominam duas diferentes perspectivas na pesquisa sobre a

percepção do risco: o paradigma psicométrico e a teoria cultural.

O paradigma psicométrico foi desenvolvido por Slovic (1987) e outros

pesquisadores, fundamentados na psicologia, na teoria da decisão e construído por

meio de pesquisas empíricas. Esses pesquisadores defendem que as diferenças

individuais na percepção do risco são provocadas por fatores cognitivos individuais.

A teoria cultural, proposta por Douglas e Wildavsky (1982) e defendida por

antropólogos e sociólogos, propõe que fatores culturais e sociais são os principais

influenciadores da percepção do risco. Dake (1990) desenvolveu pesquisas para

testar empiricamente essa teoria.

Nesta dissertação, foram utilizados os conceitos sobre percepção do risco

tanto sob a luz do paradigma psicométrico quanto da teoria cultural, uma vez que

todo fator relevante para a percepção do risco dos aviadores da AFA foi considerado

no desenvolvimento desta pesquisa, e o estudo de ambas as teorias contribui na

mitigação do risco.

O sentimento pessoal influencia os julgamentos sobre o risco e o benefício

das atividades. Há uma tendência de interpretar atividades com sentimentos

favoráveis como sendo de baixo risco e muito benéficas, enquanto se avaliam as

atividades que são desfavoráveis como sendo de alto risco e pouco benéficas

(Finucane et al., 2000). Consequentemente, o sentimento favorável dos instrutores e

alunos da AFA, todos voluntários e selecionados, pode afetar a percepção desses

militares em relação aos riscos a que estão expostos.

Segundo Kouabenan (1998), se a percepção do risco influencia a atitude das

pessoas, é possível modificar essas atitudes alterando-se a percepção do risco.

Esse entendimento reforça a necessidade de direcionamento na percepção do risco

para que as atitudes de todos os envolvidos na instrução aérea sejam adequadas às

reais vulnerabilidades do sistema.

Kouabenan (2009) defende que a percepção do risco é influenciada por

crenças a respeito de suas características, como familiaridade, probabilidade,

controlabilidade, utilidade, abrangência, natureza e severidade de suas possíveis

consequências, assim como quantas pessoas podem ser atingidas e se os efeitos

são imediatos ou retardados. Considera, também, a divulgação na mídia, a

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voluntariedade ou obrigatoriedade da exposição e se as motivações são

tecnológicas ou naturais.

Considerando-se que a divulgação, assim como a severidade das possíveis

consequências do risco influenciam a sua percepção, pode-se dizer que acidentes

fatais e não fatais afetam diferentemente a percepção do risco. Dessa forma, pode-

se esperar que acidentes fatais, principalmente aqueles que causam comoção

social, divulgação na mídia ou vitimem pessoas pertencentes a determinado grupo

provoquem maior influência na percepção do risco pelos seus membros.

Em relação a variáveis psicológicas, Kouabenan (2009) defende que a

percepção do risco sofre influência da idade, sexo, experiência, personalidade,

motivação, cultura e valores. Fatores cognitivos também são considerados por

Kouabenan (2009), como capacidade de processamento de informações,

conhecimento, quantidade de informações disponíveis, expertise, avaliação da

exposição pessoal e habilidade em lidar com o risco. A percepção do risco ainda é

influenciada pela missão da corporação, política de segurança, cultura

organizacional, normas sociais, e pressão do grupo. Na AFA, os instrutores e alunos

foram aprovados em concurso público, receberam formação militar e treinamento

para lidar com o risco e estão expostos a condições sociais semelhantes. Dessa

forma, espera-se que haja uma concordância na percepção do risco entre os

aviadores da AFA.

Por outro lado, há diferença na experiência entre oficiais e cadetes. Nesse

caso, o conhecimento tácito pode influenciar a percepção do risco, o que pode ser

verificado empiricamente.

Para Kouabenan (2009), as percepções e atitudes individuais em relação ao

que consideram como os principais riscos organizacionais e qual seria o

comportamento mais apropriado, tendem a embasar as normas e os regulamentos,

formais ou informais. Uma consequência da influência da percepção do risco nas

normas pode ser observada na elevada padronização e cobrança em relação aos

procedimentos de emergência, considerada uma situação de risco mais elevado que

durante procedimentos normais. Esses procedimentos de emergência aparecem de

forma destacada nos manuais de voo e os tripulantes dedicam tempo especial para

comentá-los antes de cada missão, além de passarem por constante revisão e

treinamento. Destaca-se, assim, a importância do estudo da percepção do risco nas

organizações, haja vista sua influência nas práticas e normas institucionais.

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Segundo Kouabenan (2009), os funcionários precisam ser informados dos

riscos a que estão expostos e treinados para lidar com eles. Além disso, devem

reconhecer e evitar percepções tendenciosas dos riscos, por meio de informações

atualizadas e corretas sobre suas exposições e as limitações de suas impressões

pessoais. Esse quadro ideal somente é possível por meio do adequado

gerenciamento do risco e divulgação sistemática das reais vulnerabilidades aos

membros das organizações.

Outro fator relevante seria a propensão ao risco em situações de perda e

aversão ao risco em situações de ganho (Kahneman; Tversky, 1979). Nesse sentido,

o investimento em prevenção pode ser percebido pela direção como uma situação

de perda, pois geralmente os acidentes evitados não podem ser objetivamente

observados e computados, o que evidencia apenas o valor monetário despendido,

aparentemente sem retorno. Dessa forma, haveria uma tendência a assumir riscos

de ocorrência de acidentes aeronáuticos para não aumentar a “perda” de recursos

em atividades preventivas. Psicologicamente, seria o mesmo que evitar um gasto

certo na prevenção de um acidente que pode não se concretizar, resultando em

perda nula.

1.3 Histórico dos estudos sobre segurança de voo

A ICAO divide a história da segurança de voo em três eras:

a) Era técnica: até o final da década de 60, a aviação surgia como forma

de transporte e os temas de segurança eram relacionados a problemas

técnicos e tecnológicos. A partir da década de 50, o progresso tecnológico

trouxe uma redução na estatística de acidentes e a segurança de voo

incorporou questões de cumprimento de regras e supervisão.

b) Era dos fatores humanos: do início da década de 70 até meados da

década de 90, a frequência dos acidentes aeronáuticos já havia sido

reduzida devido aos avanços tecnológicos e a aviação tornara-se o meio

de transporte mais seguro. Dessa forma, buscou-se um novo foco para

continuar a reduzir a estatística de acidentes aeronáuticos. Surgiram

estudos sobre a interação homem-máquina e o desempenho humano nas

tarefas relacionadas às atividades aeronáuticas. Não havia, porém, o

entendimento de que o comportamento humano poderia ser influenciado

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por diversas condições ambientais e organizacionais, modificando sua

performance.

c) Era organizacional: a partir da segunda metade da década de 90, a

segurança de voo passou a ser vista de forma sistêmica, considerando-se

não somente fatores humanos e tecnológicos, mas também

organizacionais. A partir de então, foram considerados os impactos das

culturas organizacionais e das políticas de segurança no controle dos

riscos, mantendo-os dentro de um nível aceitável. A metodologia de coleta

e análise de dados também foi reformulada. Anteriormente, os estudos de

segurança de voo eram baseados em informações colhidas após eventos

negativos, basicamente acidentes e incidentes graves, medidas

essencialmente reativas. Por meio de uma perspectiva proativa, passou-

se a monitorar constantemente indicadores de níveis de segurança, além

de identificar perigos e gerenciar riscos, buscando prevenir acidentes

(ICAO, 2013).

Alinhado com essa divisão histórica da segurança de voo apresentada pela

ICAO (2013), observa-se que, anteriormente ao estudo do risco como uma forma

proativa de gerenciar a segurança, o método reativo era a principal ferramenta de

prevenção. Os acidentes aeronáuticos eram investigados, os responsáveis punidos

e o ciclo da prevenção era considerado concluído. A antiga metodologia gerava

estatísticas elevadas e que poderia inviabilizar a utilização do meio aéreo pelo

homem (STOLZER; HALFORD; GOGLIA, 2008).

Por meio de outras técnicas, como por exemplo regressão bivariada e

multivariada, os dados obtidos das investigações de acidentes aeronáuticos podem

ser utilizados para estudar as relações entre os diversos fatores contribuintes e

identificar vulnerabilidades no sistema de segurança. Apesar das novas teorias

utilizadas para reduzir os índices de eventos indesejáveis, conforme se observa na

identificação de perigos para o gerenciamento do risco, ou na teoria da resiliência,

onde a segurança é medida pelos eventos positivos, a análise de ocorrências

aeronáuticas será sempre uma ferramenta útil à prevenção (STOLZER; HALFORD;

GOGLIA, 2008).

De acordo com a ICAO (2013) e Reason (1997), o primeiro passo para o

gerenciamento da segurança de voo é a identificação de perigos. Para esse

levantamento, recomenda-se três metodologias: reativa, proativa e preditiva.

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A metodologia reativa é baseada em análise de dados de ocorrências

aeronáuticas, ou seja, são colhidos os ensinamentos dos resultados de

investigações para evitar futuras ocorrências semelhantes.

Uma abordagem proativa significa identificar perigos antes das ocorrências

adversas. Para isso, devem-se utilizar questionários, vistorias, ferramentas de

reporte voluntário e outros.

Métodos preditivos são utilizados quando há uma pesquisa sobre as

possibilidades futuras de constituição de perigos. Neste caso, mesmo antes do

surgimento de ameaças às operações, medidas podem ser adotadas para que o

sistema funcione com segurança.

Não há uma distinção rígida entre as três metodologias utilizadas na

identificação de perigos. Para impulsionar a segurança de voo, devem-se mesclar

todas as metodologias e criar novas ferramentas, utilizando os dados disponíveis

para implementar medidas preventivas eficazes (STOLZER; HALFORD; GOGLIA,

2008).

Em relação às teorias sobre a ocorrência do acidente, com o objetivo de

aumentar a segurança nas indústrias, Herbert William Heinrich formulou a teoria da

causa única ou teoria do dominó. Trata-se de um modelo linear do tipo causa-efeito,

onde a investigação estaria focada nos fatores mais intimamente ligados aos

acidentes, conforme representado na figura 1. Heinrich não considerava proveitoso,

por exemplo, investigar os mais altos níveis gerenciais.

Esse modelo faz uma analogia entre a ocorrência do acidente aeronáutico e a

queda sequenciada de peças de um dominó. Dessa forma, assim como a queda de

uma peça provocaria a queda da peça subsequente, até que caísse a última peça do

dominó, a ocorrência sequenciada de diversos fatores formaria uma cadeia de

eventos que culminaria no acidente. Ele defendia que seria possível evitar o sinistro,

mesmo após a queda da primeira peça do dominó, se fosse retirada uma das pedras

da sequência, em especial os atos inseguros. (Heinrich, 1931).

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Figura 1 – Teoria da causa única.

Fonte: adaptado de HEINRICH (1931).

O modelo de James Reason conhecido como “Queijo Suíço”, teoria das

causas múltiplas ou teoria epistemológica não defende uma causa única como

desencadeadora de uma sequência de eventos que levaria ao acidente, mas

combinações lineares de condições latentes e falhas ativas que constituem várias

cadeias e, após ultrapassarem as barreiras de segurança pelo alinhamento de suas

vulnerabilidades, culminam no acidente, conforme figura 2. Reason destaca a

influência da organização na ocorrência dos acidentes. Assim, as investigações

devem procurar condições latentes que possam induzir situações propícias às falhas

ativas. Dessa forma, a prevenção mais efetiva deveria identificar perigos e gerenciar

os riscos. (Reason, 1997).

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Figura 2 - Teoria das causas múltiplas

Fonte: adaptado de REASON (1997, p. 12).

Para Reason (1997), a segurança de uma organização pode ser medida

comparando-se a resistência com as vulnerabilidades. Quanto maior a resistência

aos perigos e menores as vulnerabilidades, mais segura será a organização. Por

outro lado, reduzindo-se a resistência e aumentando-se as vulnerabilidades, obtêm-

se instituições menos seguras.

Existe, dessa forma, um espaço de segurança no qual a empresa ou

organização pode operar, desde a máxima segurança sem inviabilizar sua atividade

fim, até o mínimo de segurança que permita a operação sem que um evento

catastrófico comprometa sua sobrevivência.

Há organizações que operam mais próximas à área de máxima segurança e

outras que tendem à máxima vulnerabilidade. É necessário identificar a posição da

organização em relação aos limites de segurança, para não prejudicar a consecução

dos objetivos e também não provocar a insustentabilidade da operação em virtude

de acidentes.

O conhecimento do posicionamento dentro do espaço de segurança deve ser

obtido por meio de indicadores reativos e proativos. HERRERA (2012), diz que os

indicadores reativos são aqueles captados após eventos indesejáveis, como por

exemplo, o índice de acidentes aeronáuticos. Indicadores proativos buscam captar

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tendências e mudanças que reflitam redução na segurança operacional antes de

culminar em ocorrências aeronáuticas. São exemplos de indicadores proativos a

quantidade de atrasos ou cancelamentos de missões, tempo de solo das aeronaves,

jornada de trabalho, dentre outros.

A identificação de indicadores reativos e proativos pode auxiliar, por exemplo,

no levantamento de possibilidade de ocorrência de erro humano. De acordo com

Reason (1990), quando uma ação planejada não atinge os objetivos, sem a

interferência de fatores imprevisíveis, pode-se dizer que houve um erro. Dessa

forma, segundo Reason (1990), todo erro é humano, uma vez que equipamentos e

máquinas não planejam suas ações, mas são construídos e programados pelo

homem.

Reason (1997) defende que o erro é o resultado de um processo causado por

condições propícias a sua ocorrência e que esse processo pode ser gerenciado por

meio do controle dessas variáveis. Porém, opina que sempre haverá erro na

atividade humana. Portanto, o erro não explicaria um acidente, mas seria um fator

que deve ser explicado para corrigir a conjuntura de sua ocorrência.

Para Reason (1997), o gerenciamento do processo que leva ao erro requer

inicialmente a limitação de sua ocorrência. Quando não é possível, procura-se

corrigir a situação indesejada e, por fim, busca-se reduzir as consequências

daqueles erros já consumados, uma vez que é impossível eliminar totalmente o erro.

Dessa forma, mesmo nas missões aéreas completadas com êxito, houve erros

devidamente corrigidos ou mitigados, culminando no sucesso final pretendido.

Por exemplo, caso um piloto se esqueça de reduzir uma das manetes de

potência durante o pouso, seria útil que houvesse um aviso sonoro na aeronave

para alertá-lo e aumentar a possibilidade de correção daquele erro. Supondo que,

mesmo após o aviso sonoro, o piloto não reduza a manete, deveria haver uma área

livre de obstáculos após a pista, para reduzir as consequências do erro cometido.

A ICAO utilizou as teorias propostas por Reason, dentre outras, para a

confecção da terceira edição do Manual de Gerenciamento da Segurança (SMM),

em 2013. Esse manual foi publicado para orientar os Estados membros no

desenvolvimento e implementação dos seus programas de segurança, de acordo

com as padronizações e práticas recomendadas pela ICAO, assim como

disponibilizar material para embasar o estabelecimento de requisitos para a

efetivação e manutenção dos sistemas de gerenciamento de segurança nesses

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Estados. Embora a aviação militar não seja regulada pela ICAO, as teorias relativas

à segurança de voo são comuns a todas as atividades de risco e podem ser úteis em

diferentes cenários.

Segundo Reason (2007), o risco é a consequência do perigo, medida em

termos de probabilidade e severidade. Esse conceito de risco também é adotado

pela ICAO (2013) e utilizado nesta pesquisa por sua aceitação e emprego na

aviação mundial.

Neste estudo, a probabilidade representa a frequência com que determinado

evento negativo poderia ocorrer. A severidade é a capacidade de produzir dano caso

o evento adverso se concretize (REASON, 2007).

Dessa forma, a ICAO (2013) alinhou-se à teoria de Reason para estabelecer

a metodologia que deveria ser utilizada para o gerenciamento do risco na aviação

mundial. Enfatizou-se, por exemplo, a influência de fatores culturais na percepção do

risco, o que reforça a valorização desses indicadores para a segurança de voo.

Para Dekker (2011), não seriam gastos tantos recursos nas investigações de

acidentes caso a sociedade os considerasse realmente aleatórios. Dessa forma,

existe uma tentativa de identificar padrões e similaridades entre as ocorrências para

que possam ser feitas previsões e as ações preventivas sejam adotadas.

Atualmente há uma tendência de representar o acidente por meio de modelos

sistêmicos. Segundo Hollnagel (2004), a adaptação do modelo de Rasmussen

(1997), representado na figura 3, originou esta nova perspectiva, na qual o acidente

não seria mais analisado sob uma ótica de linearidade, mas por múltiplos fatores de

atuação desordenada e simultânea.

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Figura 3 - Limites aceitáveis de desempenho

Fonte: adaptado de RASMUSSEN (1997, p.190).

Hollnagel (2004) defende que um sistema varia conforme um modelo

estocástico, pois a manifestação dessas variações é aleatória e indeterminada.

Porém, o somatório das variações agindo simultaneamente pode potencializar a

possibilidade dos acidentes.

Na visão de Hollnagel (2004), as investigações de acidentes não devem

procurar uma relação de causa-efeito para criar defesas ou barreiras, pois as

variações nas interações internas tornam ineficaz essa abordagem para a prevenção

de acidentes. Dessa forma, seria mais adequado investigar todo o sistema, suas

interações e variações, para que a prevenção seja baseada no acompanhamento da

variabilidade e na capacidade de adaptação às pressões, considerando-se fatores

que podem atuar no sistema de maneira estocástica e ressonante. A resiliência

torna-se o principal critério de segurança, em virtude da necessidade de adaptação

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às mudanças, da flexibilidade dos sistemas complexos e da imprescindível

capacidade de retornar ao equilíbrio após uma instabilidade.

O modelo sistêmico, embora não linear, não representa uma total ruptura com

as representações anteriores, pois os diversos fatores que influenciam a segurança

continuam relevantes durante as investigações. Além disso, esta pesquisa não se

aprofundará na teoria da resiliência em virtude de as características da instrução

aérea na AFA, com mudanças lentas e raras inovações metodológicas, adequarem-

se melhor à teoria mais adotada na aviação mundial: epistemológica ou das causas

múltiplas.

1.4 Histórico da segurança de voo no Brasil

Em relação ao desenvolvimento das atividades aeronáuticas no Brasil,

inicialmente, as investigações das ocorrências eram feitas pelo Exército Brasileiro,

por meio de Inquérito Policial Militar (IPM), e pela Marinha do Brasil, via Inquérito de

Acidente Aeronáutico (IAA). A principal finalidade destas apurações era a

responsabilização pela ocorrência.

Em 1941, foi criado o Ministério da Aeronáutica sendo a Inspetoria Geral da

Aeronáutica responsável pelas investigações de acidentes aeronáuticos. O Inquérito

de Acidente Aeronáutico e o Inquérito Policial Militar foram substituídos pelo

Inquérito Técnico Sumário (ITS), com o objetivo de proporcionar maior agilidade às

investigações de acidentes aeronáuticos.

O Serviço de Investigação de Acidentes Aeronáuticos foi estabelecido em 5

de abril de 1948, por meio do Decreto nº 24.749, definindo o objetivo das

investigações. Neste documento, foi prevista a adoção de medidas preventivas ou

repressivas para evitar novos acidentes. Dessa forma, competia ao Comandante de

Zona Aérea e aos Comandantes de Unidades imporem sanções disciplinares

àqueles responsáveis pelos acidentes, reforçando-se o caráter punitivo da

segurança de voo àquela época. No caso de indício de crime ou contravenção,

deveria ser instaurado IPM paralelamente ou após a investigação aeronáutica

descrita no Decreto.

Foi organizada, na Terceira Divisão da Inspetoria do Estado Maior da

Aeronáutica, uma seção responsável pelos assuntos afetos a acidentes

aeronáuticos, com a incumbência de fiscalizar o cumprimento do Decreto, orientar os

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32

Encarregados de Acidentes das unidades e as Comissões de Acidentes sobre os

métodos mais adequados às investigações, sugerir medidas preventivas, receber e

analisar os processos de acidentes, além de realizar cálculos estatísticos e divulgar

os resultados (BRASIL, 1948).

Em 11 de outubro de 1965, por meio do Decreto n° 57.055, houve uma

mudança significativa no modelo das investigações de acidentes aeronáuticos no

Brasil, pois esses passaram a ser analisados considerando-se os fatores humano,

material e operacional. O ITS e o Relatório Sumário foram substituídos pelo

Relatório de Investigação de Acidente Aeronáutico (RELIAA) e Relatório Final

(RELFIN) (BRASIL, 1965).

Por meio do Decreto nº 69.565, de 19 de novembro de 1971, a sigla SIPAER

passou a significar Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos,

criando-se o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos

(CENIPA) como órgão central desse sistema (BRASIL, 1971). A partir de então, o

termo inquérito não seria mais utilizado nas investigações de ocorrências

aeronáuticas e o propósito das investigações tornou-se exclusivamente preventivo,

conforme normas internacionais.

Em 1973, para estabelecer clara distinção entre os procedimentos de

investigação de acidentes aeronáuticos com finalidade preventiva e as investigações

para apurar responsabilidades, o Brasil sugeriu à ICAO a substituição do termo

inquérito por investigação. Em 1974, a ICAO aceitou e adotou a proposta brasileira.

Atualmente, a NSCA 3-6 (aeronaves militares) (BRASIL, 2013c) e a NSCA 3-

13 (aeronaves civis) (BRASIL, 2014a) estabelecem os protocolos de investigação de

ocorrências aeronáuticas sob responsabilidade do Brasil. Embora a metodologia

utilizada na investigação de acidentes aeronáuticos seja a mesma para aeronaves

militares e civis, há diferenças nos processos, trâmites e divulgação das conclusões

que justificam a existência de duas normas distintas.

No caso da aviação civil, o CENIPA encaminha à ICAO o Final Report e o

Accident/Incident Data Reporting (ADREP), quando a ocorrência contempla os

critérios de gravidade e peso máximo de decolagem estabelecidos

internacionalmente. Essas informações passam a compor o banco de dados da

ICAO utilizado para gerenciar a segurança de voo mundial.

A Lei N° 12.970, de 8 de maio de 2014, dispõe sobre as investigações

realizadas pelo SIPAER e estabelece que o único propósito dessas investigações é

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33

a prevenção de outros acidentes e incidentes. Define, também, que as

Recomendações de Segurança podem ser emitidas em qualquer fase da

investigação e que serão consideradas inclusive as hipóteses para a identificação de

fatores contribuintes (BRASIL, 2014). Esse aspecto diferencia a investigação

SIPAER, com finalidade preventiva, da investigação policial, que possui outras

finalidades. As hipóteses e demais fatores investigados pelo SIPAER não obedecem

necessariamente aos critérios exigidos para a atribuição de responsabilidade civil ou

criminal, pois defendem a vida, direito prioritário no ordenamento jurídico do Brasil. O

sigilo profissional e proteção à informação previstos nesta lei contribuem para a

eficácia da investigação realizada pelo SIPAER, uma vez que incentiva o

fornecimento voluntário de informações importantes para a prevenção de novos

acidentes. O sigilo das fontes utilizadas nas investigações SIPAER é uma questão

delicada, sendo um desafio mundial operacionalizar sua aplicação

independentemente de atores e interesses diversos, como empresas seguradoras,

indenizações e responsabilidades.

Assim sendo, a investigação SIPAER não se preocupa com a autoria e a

materialidade das ocorrências. Não há direito a contraditório e ampla defesa, pois

não há acusação ou partes (HONORATO, 2015). O investigador SIPAER não realiza

perícia técnica, mas investigação aeronáutica. Consequentemente, as análises e

conclusões dessa investigação não devem ser utilizadas pelas investigações

policiais.

O Brasil, por ser signatário da Convenção de Chicago de 1944, recepcionada

pelo Decreto n° 21.713, de 27 de agosto de 1946, segue as recomendações

emitidas pela ICAO (BRASIL, 1946). Dessa forma, a teoria do “Queijo Suíço” é

utilizada nas atividades de segurança de voo, não somente para a implementação

de ações preventivas, mas também na investigação de acidentes aeronáuticos,

conforme se observa nas referências utilizadas para a confecção das Normas do

Comando da Aeronáutica (COMAER), NSCA 3-3 (BRASIL, 2013b), NSCA 3-6

(BRASIL, 2013c) e NSCA 3-13 (BRASIL, 2014a).

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2 METODOLOGIA

Foi realizada uma pesquisa qualitativa e quantitativa, descritiva, utilizando-se

o método hipotético-dedutivo. Estudaram-se os RELIAA da AFA e aplicou-se um

questionário aos instrutores de voo da AFA e cadetes que pertenciam ao Segundo

Esquadrão em 2014.

A escolha do método hipotético-dedutivo deveu-se a sua aceitação

acadêmica e aplicabilidade nesta pesquisa. Dessa forma, em resposta ao problema

de pesquisa, foi proposta uma hipótese passível de refutação empírica, a qual foi

submetida a testes estatísticos. O não falseamento da hipótese de pesquisa

corrobora-a, porém não definitivamente, pois os resultados obtidos podem ser

confirmados ou refutados em pesquisas futuras.

Para tanto, as duas variáveis da pesquisa, a percepção do risco e a

estatística de acidentes aeronáuticos da AFA, foram medidas segundo critérios

estabelecidos na literatura sobre o tema.

Aplicando-se os conceitos de gerenciamento do risco e utilizando-se a

estatística de acidentes aeronáuticos na aviação mundial foi possível identificar, por

exemplo, o voo controlado contra o terreno (CFIT) como o principal risco à

segurança de voo, o que poderia até mesmo comprometer este meio de transporte

caso a quantidade de ocorrências aumentasse na mesma proporção do tráfego

aéreo. Dessa forma, foram criadas proteções, como os equipamentos de aviso de

proximidade de obstáculos (EGPWS), além de melhorias na instrução,

gerenciamento de recursos de tripulação e consciência situacional, reduzindo a

probabilidade desse tipo de ocorrência. Como resultado dessas medidas, o CFIT

deixou de ser o principal risco ao transporte aéreo.

O fundamento desse bem-sucedido trabalho foi a priorização dos riscos

baseada na estatística de acidentes aeronáuticos. A própria criação de um tipo de

acidente denominado CFIT objetivou medir seu impacto na segurança de voo em

virtude da reincidência de acidentes com características comuns (ICAO, 2013).

Seguindo esta mesma linha de raciocínio, a priorização dos riscos utilizando dados

estatísticos de acidentes aeronáuticos também foi adotada nesta pesquisa,

buscando os mesmos resultados alcançados pela ICAO. Porém, foi acrescida de

outra variável, também bastante abordada em pesquisas sobre segurança: a

percepção do risco.

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Dejoy (1994), ao afirmar que as ações preventivas são baseadas mais em

inferências casuais do que em reais causas de acidentes, ratifica o propósito desta

pesquisa, de analisar as reais causas de acidentes e compará-las às percepções

dos mais experientes operadores da instrução aérea na AFA, ou seja, os instrutores

e também dos alunos, neste caso os cadetes aviadores do Segundo Esquadrão em

2014, para que possa ser avaliada a adequabilidade das medidas de segurança já

implementadas e propor melhorias.

De acordo com Slovic (1987), a percepção do risco pode ser medida e até

mesmo prevista, permitindo comparar as percepções de diferentes grupos. Dessa

forma, pesquisas foram desenvolvidas para avaliar diferenças e semelhanças de

percepção de risco em diferentes culturas, localidades, faixas etárias,

conhecimentos e outros aspectos de interesse. Especificamente nesta dissertação

compararam-se as percepções dos riscos entre instrutores e alunos à estatística de

acidentes aeronáuticos na AFA.

Para medir a relação entre as variáveis deste estudo, foi utilizado o

Coeficiente de Concordância de Kendall (W) e o Coeficiente de Correlação de

Spearman (ρ). O Coeficiente de Concordância de Kendall é indicado para medir a

concordância entre vários avaliadores, após o ordenamento por postos, podendo

variar entre 0 (totalmente aleatório), até 1 (totalmente concordante). Para o

ordenamento por postos, as variáveis da pesquisa foram medidas em escala ordinal,

após comparação, segundo a percepção de instrutores e alunos, atribuindo-se aos

maiores valores a posição 1 (primeiro posto) e, aos menores, a posição n (último

posto). O Coeficiente de Correlação de Spearman é recomendado para identificar a

correlação entre o ordenamento por postos realizado por dois avaliadores, variando

entre -1 (totalmente discordante), até 1 (totalmente concordante). Esses cálculos,

não paramétricos, foram utilizados por serem adequados à escala de medida

utilizada nos questionários e por atenderem ao objetivo da pesquisa.

Utilizou-se o programa Minitab 16 para realizar os cálculos estatísticos

anteriormente descritos.

Realizou-se uma pesquisa com os instrutores da AFA para ordenar suas

percepções dos riscos à segurança de voo identificados nos acidentes aeronáuticos

daquela OM. Utilizando-se o Coeficiente de Concordância de Kendall (W), analisou-

se se as percepções dos riscos pelos instrutores relacionavam-se mutuamente.

Utilizando-se o mesmo procedimento adotado para a comparação da

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percepção do risco entre os instrutores, realizou-se uma pesquisa com os cadetes

do Segundo Esquadrão em 2014, para ordenar suas percepções dos riscos à

segurança de voo identificados nos acidentes aeronáuticos da AFA. Utilizando-se o

Coeficiente de Concordância de Kendall (W), analisou-se se as percepções dos

riscos pelos cadetes relacionavam-se mutuamente.

Posteriormente, as percepções do risco à segurança de voo pelos instrutores

da AFA foram somadas e reunidas em uma ordenação única. Da mesma forma, as

percepções dos cadetes também foram somadas e convertidas em outra ordenação,

representando a percepção deste grupo. Assim sendo, foi possível utilizar o

Coeficiente de Correlação de Spearman (ρ) para analisar a relação entre a

percepção do risco à segurança de voo pelo grupo de instrutores da AFA e a

percepção do risco à segurança de voo pelo grupo de cadetes aviadores do

Segundo Esquadrão em 2014.

Finalmente, foram estudadas as investigações de acidentes aeronáuticos

ocorridos entre 1985 e 2012 e disponíveis na Seção de Investigação e Prevenção de

Acidentes Aeronáuticos (SIPAA) da AFA, para comparar a estatística com a

percepção do risco pelos aviadores. As percepções do risco à segurança de voo

foram ordenadas somando-se dois valores em escala ordinal: a percepção final do

grupo de instrutores e a percepção final do grupo de Cadetes. Essa soma produziu

uma ordenação única correspondente à percepção do grupo de aviadores da AFA

participantes da pesquisa, destacando-se que a percepção do grupo de instrutores

recebeu o mesmo peso que a percepção do grupo de cadetes, uma vez que houve

correlação entre esses dois grupos. Desse modo, para testar a hipótese de

pesquisa, o Coeficiente de Correlação de Spearman (ρ) foi utilizado para comparar

as percepções dos riscos à segurança de voo dos aviadores com a estatística dos

acidentes aeronáuticos na AFA entre os anos de 1985 e 2012.

2.1 DELIMITAÇÃO DO UNIVERSO

A pesquisa foi realizada considerando-se os cento e vinte e cinco instrutores

de voo da Academia da Força Aérea e cento e vinte e oito cadetes aviadores do

Segundo Esquadrão, em 2014. Também foram utilizados os RELIAA da AFA entre

os anos de 1985 e 2012. Dessa forma, não foram selecionadas amostras, mas

pesquisado todo o universo (censo).

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37

Foi escolhido o Segundo Esquadrão para a aplicação do questionário por ser

o único grupo de alunos que realizou todas as suas missões de instrução de voo na

AFA no ano de 2014.

Para diagnosticar o desenvolvimento da segurança de voo naquela

organização de ensino, foram consultados os RELIAA entre os anos de 1985 e 2012

na SIPAA da AFA. O ano de 1985 foi escolhido em virtude de, a partir de então,

serem utilizadas apenas as aeronaves T-25 e T-27 na instrução aérea da AFA. Não

foram utilizados os acidentes aeronáuticos após 2012 para garantir que todas as

investigações consideradas estariam concluídas na data da coleta de dados.

2.2 Processo de investigação de acidentes na AFA

Em virtude de as investigações de acidentes ocorridos na AFA terem sido

utilizados no levantamento de dados, faz-se necessário esclarecer como eram

desenvolvidas no período estudado.

Todo acidente aeronáutico ocorrido na AFA é formalmente investigado por

uma comissão formada por militares especializados e chefiada por um investigador

formado pelo CENIPA, de acordo com o estabelecido na NSCA 3-6 (BRASIL,

2013c). Conforme previsto à época investigada, o RELIAA era aprovado pelas

autoridades que compunham a Cadeia de Comando Investigador (CCI). Após a

finalização do RELIAA, o CENIPA confeccionava o Relatório Final (RELFIN) que era

aprovado pelo Chefe do Estado-Maior ou Comandante da Aeronáutica.

Dessa forma, a aprovação do RELFIN encerrava um trabalho sistemático

investigativo, amparado na lei brasileira e reconhecido internacionalmente. Esses

documentos contêm informações úteis à prevenção de acidentes aeronáuticos e

foram explorados na identificação de riscos à segurança de voo na instrução da

AFA. O tempo necessário para a conclusão da investigação depende da

complexidade do evento.

Por meio dos RELIAA foram extraídas informações como: tipo de ocorrência,

data, modelo e matrícula das aeronaves, horas de voo e idade dos tripulantes,

danos pessoais e materiais, fatores contribuintes e fase de operação.

Para selecionar os riscos à segurança de voo que seriam utilizados nos

questionários e nas comparações estatísticas, consideraram-se as classificações

dos acidentes e os fatores contribuintes.

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2.2.1 Taxionomia

Um dos critérios utilizados na integração do grupo é o estabelecimento de

uma comunicação autêntica. “Quando todos os membros já estabeleceram uma

linguagem comum, recorreram a símbolos e códigos próprios, diz-se haver sido

estabelecida a comunicação autêntica. ” (MINICUCCI, 1987, p. 201).

Embora não seja objetivo desta pesquisa aprofundar-se na taxionomia

utilizada na investigação de acidentes aeronáuticos, faz-se necessário esclarecer

qual critério foi utilizado na classificação das ocorrências e fatores contribuintes, uma

vez que produz consequências nos resultados obtidos nas análises quantitativas e

qualitativas.

Para a classificação dos acidentes aeronáuticos da AFA e para a confecção

dos questionários respondidos pelos instrutores de voo e cadetes aviadores do

Segundo Esquadrão foi utilizada a Aviation Occurrence Categories (categorias de

ocorrências em aviação), taxionomia desenvolvida em conjunto pela ICAO e

Commercial Aviation Safety Team (CAST), com a participação de especialistas de

companhias aéreas, fabricantes de aeronaves, fabricantes de motores, associações

de pilotos, autoridades reguladoras, entidades de segurança de voo, membros do

Canadá, União Europeia, França, Itália, Japão, Países Baixos, Reino Unido e

Estados Unidos da América, formando uma equipe denominada CAST/ICAO

Common Taxonomy Team (CICTT). Alguns acidentes da AFA foram reclassificados

nesta pesquisa, para atender aos critérios estabelecidos pela taxionomia

desenvolvida pela CICTT.

A taxionomia desenvolvida pela CICTT foi escolhida por ser

internacionalmente aceita, reconhecida e por apresentar vantagens práticas no

diagnóstico dos acidentes aeronáuticos. Por exemplo, alguns acidentes foram

originalmente classificados como Pouso Forçado. Porém, essa tipificação pouco

auxilia na adoção de medidas preventivas, afinal o mais importante seria identificar o

que motivou o pouso forçado. Assim, muitos acidentes classificados como Pouso

Forçado foram, na verdade, falha do motor em voo, provocando um posterior pouso

forçado.

Outra vantagem da taxionomia desenvolvida pela CICTT é que determinado

acidente pode ser classificado em mais de um tipo de ocorrência. Por exemplo, se

houve falha de motor da aeronave e, após, uma colisão em voo, o acidente pode ser

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classificado nesses dois tipos de ocorrência. Dessa forma, evita-se que informações

importantes de segurança sejam perdidas.

A taxionomia internacional apresentada anteriormente foi utilizada para

classificar os tipos de acidentes. Em relação aos fatores contribuintes, foram

mantidos aqueles identificados pelos investigadores, considerando-se, por

conseguinte, a taxionomia estipulada pelo CENIPA à época de cada investigação.

O CENIPA está atualizando o Manual de Investigação de Acidentes

Aeronáuticos, contemplando a taxionomia utilizada pelo SIPAER.

2.3 Questionário

A pesquisa foi realizada por meio de questionário (Apêndice A) dirigido aos

cento e vinte e cinco instrutores de voo da Academia da Força Aérea e aos cento e

vinte e oito cadetes aviadores que pertenciam ao Segundo Esquadrão, em 2014.

Realizou-se uma pesquisa inicial com 10 instrutores para o aperfeiçoamento

do questionário, antes de sua aplicação final. Não houve sugestões de melhorias e

os instrutores completaram todos os itens propostos.

Foi utilizada a escala ordinal de medida para identificar a percepção dos

respondentes em relação aos riscos relativos à instrução de voo na AFA. Escolheu-

se a ordenação dos riscos por ser mais adequada para a captação de dados de

precisão limitada, porém passível de verificação por meio de cálculos estatísticos

não paramétricos.

2.4 Limitações da pesquisa

Para o desenvolvimento desta pesquisa foram extraídas informações dos

RELIAA da AFA, tarefas desempenhadas por seres humanos, os quais não estão

imunes a erros, conforme defende Reason (1997). Dessa forma, os RELIAA contêm

não somente elementos factuais, mas também análises e conclusões do Comando

Investigador, as quais, a exemplo de toda pesquisa científica, são passíveis de

refutação. Essa limitação, porém, é reduzida por meio da revisão e aprovação formal

dos relatórios pela Cadeia de Comando Investigador.

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3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Embora a AFA apresente riscos próprios, devido às peculiaridades da

instrução aérea voltada para o emprego militar das aeronaves, faz-se necessário

compará-los com a aviação civil mundial, assim como outros contextos de atividade

aérea, possibilitando um enquadramento mais abrangente dos fatos estudados.

Baseados nesta pesquisa, decisores podem comparar os índices da AFA a

outras atividades, como usina nuclear, transporte público, indústria química e

alimentícia, aeronaves não tripuladas, etc., aplicando métodos já utilizados por

outros pesquisadores, como Sowby, Starr e Slovic, que compararam o risco e sua

percepção em diferentes áreas de interesse.

Os dados apresentados neste trabalho foram retirados dos RELIAA da AFA,

utilizando-se um índice de 100 mil horas de voo. Após, encontram-se os resultados

dos questionários respondidos pelos instrutores de voo da AFA e cadetes aviadores

do Segundo Esquadrão. Por fim, verifica-se a relação entre a estatística de

acidentes da AFA, obtidas dos RELIAA, e a percepção de instrutores de voo e

cadetes aviadores do Segundo Esquadrão em 2014.

O questionário aplicado aos instrutores de voo da AFA, em 2014, resultou em

49 respostas válidas, de um total de 125 instrutores, o que representa 39,2% da

população. Já dos 128 cadetes aviadores do Segundo Esquadrão foram obtidas 109

respostas válidas, ou seja, 85,2% da população. Os instrutores que não

responderam o questionário estavam envolvidos em outras atividades, como viagens

e cursos, e dezenove cadetes não estavam presentes quando a pesquisa foi

conduzida em auditório da AFA, em virtude de dispensas médicas e viagens. Em

ambos os casos, porém, as quantidades foram suficientes para os testes estatísticos

aplicados.

Explorando as vantagens de indicadores reativos, Reason (1997) cita uma

pesquisa em que foram analisados 90 acidentes fatais envolvendo helicópteros,

aviões leves da aviação geral e companhias aéreas, conforme representado na

tabela 1. Consideraram-se dezesseis possíveis fatores contribuintes: falha no motor,

sustentação, falha em sistemas, problemas de combustível, pouca experiência do

piloto no tipo de aeronave, períodos de descanso, erro do piloto, problemas com o

operador, mudança de plano, hora do dia ou da noite, condições de gelo,

visibilidade, vento, precipitação, controle de tráfego aéreo e comunicação via rádio.

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As médias de fatores contribuintes por acidente fatal foram de 1,95 para os

helicópteros, 3,38 para as aeronaves da aviação geral e 4,46 para as companhias

aéreas.

Tabela 1 - Média de fatores contribuintes por acidente fatal

Fatores Contribuintes Quantidade de fatores contribuintes por acidente fatal

Helicópteros Aviação Geral Companhia Aérea

Falha no motor

1,95 3,38 4,46

Sustentação

Falha em sistemas

Problemas de combustível

Pouca experiência

Períodos de descanso

Erro do piloto

Problemas com o operador

Mudança de plano

Hora do dia ou da noite

Condições de gelo

Visibilidade

Vento

Precipitação,

Controle de tráfego aéreo

Comunicação via rádio

Fonte: adaptado de REASON (1997).

Na AFA, entre os anos de 1985 e 2012 houve uma média de 3,54 fatores

contribuintes por acidentes, quantidade compatível com o resultado da pesquisa

citada por Reason, bem próxima à quantidade de fatores contribuintes observados

na aviação geral. Esse resultado indica que, quanto mais protegido for o sistema,

maior quantidade de fatores contribuintes, em média, será necessária para quebrar

as defesas e provocar o acidente. Dessa forma, para serem certificadas, as

aeronaves de transporte aéreo regular de passageiros, por exemplo, possuem

redundâncias nos sistemas e baixa probabilidade de falha, sendo necessário vários

fatores contribuintes simultâneos para ultrapassar essas barreiras de segurança.

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Conforme defende Reason (1997), dificilmente os acidentes aeronáuticos

considerados individualmente produzem ensinamentos efetivos na prevenção de

novas ocorrências. Embora os acidentes da AFA tenham sido investigados e

resultado na emissão de recomendações de segurança, uma observação geral

desses eventos negativos pode revelar reincidências, tendências ou repetições de

causas e efeitos, podendo ser aproveitados nas atividades de segurança.

3.1 ESTATÍSTICA DE ACIDENTES AERONÁUTICOS NA AFA ENTRE 1985 E

2012

Segundo Reason (1997), a quantidade de acidentes, mortes e perdas totais

de aeronaves são indicadores reativos da segurança de voo das organizações.

Embora não devam ser o único método de avaliação da segurança, são informações

importantes para assessorar nas tomadas de decisão relativas às medidas

preventivas. Os índices da AFA estão representados no gráfico 1.

Gráfico 1 – Índice de acidentes, mortes e perdas totais entre 1985 e 2012.

Fonte: O autor.

A severidade dos acidentes da AFA também pode ser identificada no gráfico 2

e no gráfico 3, conforme a porcentagem de acidentes que causaram perda total de

aeronave ou morte.

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Gráfico 2 – Percentual de fatalidades nos acidentes aeronáuticos da AFA entre 1985 e 2012.

Fonte: O autor.

Gráfico 3 – Percentual de perdas totais nos acidentes aeronáuticos da AFA entre 1985 e 2012.

Fonte: O autor.

Nota: Perda total da aeronave (PT).

Os índices de acidentes, mortes e perdas totais da aeronave T-25 foram

maiores que os índices da aeronave T-27, conforme gráfico 4, sugerindo maior risco

na operação da aeronave T-25, uma vez que, segundo Reason (1997), o risco pode

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ser definido como as consequências dos perigos, medidas em termos de

probabilidade e severidade.

Gráfico 4 – Índice de acidentes, mortes e perdas totais por tipo de aeronave entre 1985 e 2012.

Fonte: O autor.

Em virtude de as quantidades anuais de acidentes não serem suficiente para

realizar cálculos estatísticos e análises de tendência, dividiram-se os 28 anos

pesquisados em dois períodos iguais de 14 anos e algumas variações foram

identificadas. Considerando-se a estatística de acidentes na AFA nos períodos de

1985 a 1998 e 1999 a 2012, houve redução na quantidade de acidentes por 100 mil

horas de voo envolvendo tanto aeronaves T-25 quanto T-27. No caso das aeronaves

T-25, a quantidade de acidentes diminuiu de 6.58, para 2.43, ou seja, uma redução

de 63%. Já em relação às aeronaves T-27, o número de acidentes diminuiu de 2.85

para 1.89, uma redução de 34% (gráfico 5). Houve, consequentemente, uma

aproximação na proporção das contribuições das aeronaves T-25 e T-27 para o total

de acidentes ocorridos na AFA, considerando-se esses dois períodos consecutivos

de 14 anos, conforme gráfico 6. Esses resultados indicam que houve maior redução

nos acidentes envolvendo aeronaves T-25 do que envolvendo T-27, aproximando o

risco nessas duas operações.

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45

Gráfico 5 – Índice de acidentes por aeronave entre 1985 e 2012.

Fonte: O autor.

Gráfico 6 – Percentual de acidentes por aeronave entre 1985 e 2012.

Fonte: O autor.

O gráfico 7 indica os índices de mortes e perdas totais de aeronaves de

treinamento (treinadores) durante operação no Brasil e nos Estados Unidos da

América, ressalvando-se que os períodos relativos a essas estatísticas não são

coincidentes. Os dados relativos às aeronaves T-38, T-37, T-41, T-6 e T-1 foram

publicamente divulgados pela Air Force Safety Center (2016), por meio da

INTERNET.

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46

Gráfico 7 - Estatística de acidentes com aeronaves de treinamento

Fonte: O autor.

Comparando-se a estatística da aviação militar de alguns países membros da

Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), baseando-se na pesquisa

realizada por Soeters e Boer (2000) com a estatística da instrução na AFA, em

relação a quantidade de perdas totais, obtém-se o gráfico 8. Ressalta-se que as

perdas totais da OTAN mostradas no gráfico 8 consideram todas as perdas,

independentemente de terem ocorrido em treinamento ou operação real. Porém,

embora a atividade aérea durante conflitos apresente diferenças na aceitabilidade

dos riscos, essa comparação em cenários diferentes é válida para que se reflita em

até que ponto a atividade de instrução em tempo de paz pode apresentar índices de

perdas próximos aos observados em operação real. A mesma lógica de pensamento

foi utilizada por Slovic (1987) ao comparar vários riscos, como fumo, usina nuclear,

automóveis, aeronaves, etc., além de outras pesquisas com a mesma finalidade.

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Gráfico 8 - Índice de perda total de aeronaves

Fonte: adaptado de SOETERS e BOER (2000, p. 124).

A análise da frequência dos tipos de acidentes é utilizada mundialmente para

identificar as principais vulnerabilidades e definir prioridades nas atividades de

prevenção. No gráfico 9 está representada a frequência dos tipos de acidentes na

AFA. Observa-se, assim, que a falha de motor em voo foi o tipo de acidente mais

comum na AFA e provocou perdas materiais elevadas comparativamente aos

demais tipos de acidentes. Por outro lado, a falha do motor em voo não foi o tipo de

acidente que provocou maior quantidade de vítimas fatais, em virtude de, muitas

vezes, o piloto conseguir realizar o pouso forçado, conforme observado nas análises

do RELIAA acessados na AFA. Ressalta-se, assim, a importância de haver locais

apropriados para pouso de emergência na área de instrução e a dificuldade imposta

ao piloto quando a falha de motor ocorre a baixa altura, não somente pela

dificuldade em visualizar um local adequado para o pouso de emergência, como

também reduz-se o tempo para realizar todos os procedimentos previstos.

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Gráfico 9 – Índice de tipos de acidentes entre 1985 e 2012.

Fonte: O autor.

Nota: Falha ou mau funcionamento de componente – propulsor (SCF-PP); Contato anormal com a

pista (ARC); Colisão de aeronaves em voo (MAC); Durante operação a baixa altura (LALT); Saída da

pista (RE); Relativo a combustível (FUEL); Falha ou mau funcionamento de componente – não

propulsor (SCF-NP); Perda de controle em voo (LOC-I); Colisão com Aves (BIRD); Perda de controle

no solo (LOC-G); Pouso antes ou após a pista (USOS).

As atividades de prevenção na AFA foram bem-sucedidas na redução da

quantidade de acidentes aeronáuticos em instrução. Porém, houve aumento dos

índices de mortes e perdas totais de aeronaves, conforme gráfico 10. Esse resultado

indica a necessidade de priorizar as ações de segurança, para reduzir a estatística

das ocorrências com consequências mais severas. Para tanto, necessita-se

identificar quais os tipos de acidentes foram os principais responsáveis pelo aumento

nos índices de mortes e perdas totais de aeronaves.

Gráfico 10 – Índice de acidentes, mortes e perdas totais.

Fonte: O autor.

A empresa Boeing (2014) publicou uma pesquisa estatística sobre os

acidentes na aviação comercial mundial, com as seguintes informações: entre os

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anos de 1959 e 2013, 33% dos acidentes foram fatais, e 67% não foram fatais. Já

entre 2004 e 2013, os acidentes fatais reduziram para 18%. Consequentemente,

considerando-se as ocorrências a partir de 2004, 82% dos acidentes não foram

fatais. Esses números indicam uma redução na severidade das consequências dos

acidentes em virtude da redução no percentual de acidentes fatais, objetivo que

deve ser buscado também na instrução aérea da AFA.

Na AFA, as mortes por acidente aeronáutico em instrução no período

pesquisado foram provocadas por apenas seis tipos de ocorrências, conforme

gráfico 11, representando uma pequena parcela dos 34 tipos de acidentes previstos

na taxionomia adotada pela ICAO. Ressalta-se que nos primeiros 14 anos

pesquisados, apenas quatro tipos de acidentes provocaram mortes (MAC, LALT,

SCF-PP e LOC-I). Nos 14 anos seguintes, além da repetição dos quatro tipos já

observados nos 14 anos anteriores, surgiram mais dois novos tipos de acidentes

provocando mortes (ARC e OTHR). Esse quadro indica que os tipos de acidentes

que provocam mortes em instrução na AFA provavelmente não são aleatórios.

Dessa forma, podem ser mapeados e combatidos com as medidas preventivas

recomendadas pelas teorias sobre a ocorrência de acidentes aeronáuticos.

Gráfico 11 – Índices de mortes por tipo de acidente.

Fonte: O autor.

Nota: Colisão de aeronaves em voo (MAC); Durante operação a baixa altura (LALT); Falha ou mau

funcionamento de componente – propulsor (SCF-PP); Perda de controle em voo (LOC-I); Contato

anormal com a pista (ARC); Outros (OTHR).

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Houve, na AFA, cinco tipos de acidentes que causaram perda total de

aeronave nos dois períodos de 14 anos analisados, conforme gráfico 12 (SCF-PP,

MAC, LALT, ARC e LOC-I). Desses cinco tipos reincidentes, quatro tipos também

causaram morte nos dois períodos de 14 anos (SCF-PP, MAC, LALT e LOC-I).

Reforça-se, assim, a característica de provável não aleatoriedade nas

consequências dos acidentes da AFA.

Dessa forma, o aumento na severidade dos acidentes da AFA, apesar da

redução do número de ocorrências, pode ter sido provocado pelo que se observa

nos seguintes tipos de acidentes: Falha ou mau funcionamento de componente –

propulsor (SCF-PP), Colisão de aeronaves em voo (MAC), Contato anormal com a

pista (ARC) e Perda de controle em voo (LOC-I), os quais contribuíram para o

aumento das mortes e perdas totais de aeronaves entre 1999 e 2012, em

comparação ao período de 1985 a 1998, conforme anteriormente representado no

gráfico11 e também no gráfico 12 apresentado a seguir.

Gráfico 12 – Índices de perdas totais por tipo de acidente.

Fonte: O autor.

Nota: Falha ou mau funcionamento de componente – propulsor (SCF-PP); Colisão de aeronaves em

voo (MAC); Durante operação a baixa altura (LALT); Contato anormal com a pista (ARC); Perda de

controle em voo (LOC-I); Falha ou mau funcionamento de componente – não propulsor (SCF-NP);

Relativo a combustível (FUEL); Saída da pista (RE).

Segundo Marais, Dulac e Leveson (2004), nas organizações com mudanças

mais lentas (semelhante ao observado na AFA) o aprendizado com a experiência

dos acidentes e incidentes sofridos torna-se mais efetivo. A provável não

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aleatoriedade dos tipos de acidentes nos dois períodos consecutivos de 14 anos

ocorridos na AFA confirma a viabilidade de utilizar essas informações com

efetividade na prevenção de novas ocorrências.

Embora a análise dos acidentes fatais da AFA indique certa constância, os

dois tipos de ocorrência que surgiram no segundo período de 14 anos e que

provocaram mortes, corroboram o que defende Reason (1997): não se deve basear

somente em indicadores reativos para implementar medidas preventivas. Conforme

disseram Marais, Dulac e Leveson (2004), um satélite de bilhões de dólares foi

perdido quando as medidas preventivas foram baseadas somente em acidentes já

ocorridos. Assim, esta pesquisa não pretende criar um método único para gerenciar

a segurança de voo, mas identificar possíveis padrões nos acidentes da AFA,

relacionando-os às percepções dos pilotos, para prevenir novas ocorrências.

A severidade dos tipos de acidentes pode ser observada no gráfico 13. São

mais severos os tipos de acidentes em que os índices das mortes ou das perdas

totais são proporcionalmente elevados em comparação aos índices do número de

acidentes.

Gráfico 13 – Índices de acidentes, mortes e perdas totais por tipo de acidentes entre 1985 e 2012.

Fonte: O autor.

Nota: Falha ou mau funcionamento de componente – propulsor (SCF-PP); Contato anormal com a

pista (ARC); Colisão de aeronaves em voo (MAC); Durante operação a baixa altura (LALT); Saída da

pista (RE); Relativo a combustível (FUEL); Outros (OTHR); Falha ou mau funcionamento de

componente – não propulsor (SCF-NP); Perda de controle em voo (LOC-I).

Observa-se, no gráfico 13, a elevada severidade principalmente dos acidentes

dos tipos Colisão de aeronaves em voo (MAC), durante operação a baixa altura

(LALT) e Perda de controle em voo (LOC-I).

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Por meio da análise desse mesmo gráfico é possível inferir que ações

preventivas em relação a colisão de aeronaves em voo, durante operação a baixa

altura e perda de controle em voo deveriam ser priorizadas para a preservação da

vida humana. Em relação à perda total de aeronaves, a falha do motor em voo,

colisão de aeronaves em voo e durante operação a baixa altura representam os

maiores riscos. Conforme defende Herrera (2012), a priorização dos riscos é de

grande valia para identificar onde as ações preventivas seriam mais efetivas.

A ICAO (2014) divulgou estudo sobre a aviação comercial mundial no qual

identificou os três tipos de ocorrência de maior risco, considerando-se a estatística

entre os anos de 2009 e 2013, com os seguintes resultados: Os três tipos de

ocorrência de maior risco, foram relativos a segurança na pista, perda de controle

em voo e voo controlado contra o terreno. Esses três tipos de ocorrências foram

responsáveis, em 2013, por 68% dos acidentes, 78% dos acidentes fatais e 80% das

fatalidades na aviação comercial mundial, conforme gráfico 14. Consideram-se

acidentes fatais aqueles acidentes em que houve ao menos uma morte.

Consideram-se fatalidades, as mortes causadas pelos acidentes aeronáuticos.

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Gráfico 14 - Estatística relativa a aviação comercial mundial

Fonte: adaptado de ICAO (2014, p. 24).

Ainda se considerando a pesquisa realizada pela ICAO (2013), podemos

observar no gráfico 15 que a perda de controle em voo foi responsável por 60% das

fatalidades e 33% dos acidentes fatais, embora represente apenas 3% do total de

acidentes.

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Gráfico 15 - Severidade de ocorrências na aviação comercial mundial

Fonte: adaptado de ICAO (2014, p. 25).

Esse resultado indica que as consequências da perda de controle em voo

apresentam alta severidade, não só na instrução de voo na AFA (gráfico 13), como

também na aviação comercial mundial (gráfico 15).

Além da perda de controle em voo, as ocorrências relativas a colisão de

aeronaves em voo e operação a baixa altura apresentam maior risco em instrução

na AFA, enquanto o voo controlado contra o terreno e ocorrências relativas à

segurança na pista representam maior risco na aviação comercial, confirmando que

a análise de risco deve ser individualizada para cada tipo de operação,

considerando-se suas peculiaridades. Ou seja, o perfil de voo desenvolvido na AFA

apresenta características próprias que justificam uma análise individualizada da

segurança de voo naquela instituição de ensino, identificando-se riscos diferentes da

aviação comercial. Contudo, o estudo e apresentação, nesta pesquisa, dos dados

relativos à aviação civil mundial justifica-se em favor do reconhecimento da validade

de análises estatísticas para priorização das ações de segurança, haja vista os

benefícios de identificar e combater os tipos de ocorrência mais severos,

metodologia bem-sucedida aplicada pela ICAO e proposta à AFA neste trabalho.

A quantificação dos fatores contribuintes para a ocorrência de acidentes

aeronáuticos é um critério utilizado mundialmente para identificar vulnerabilidades

específicas de determinadas atividades. Por exemplo, O CENIPA (2006) realizou

estudos de casos abrangendo cento e trinta e seis acidentes aeronáuticos na

aviação militar brasileira, no período de 1994 a 2005. Conforme demonstra o gráfico

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16, constatou-se que os três principais fatores contribuintes foram julgamento,

supervisão e aspecto psicológico.

Gráfico 16 - Fatores contribuintes na aviação militar entre 1994 e 2005

Fonte: CENIPA (2006).

O CENIPA (2013) divulgou os principais fatores contribuintes dos acidentes

com aeronaves civis de instrução de matrícula brasileira entre os anos de 2003 a

2012, sendo os fatores contribuintes mais comuns o julgamento, a supervisão e a

aplicação de comandos, presentes em 63,8%, 48,8% e 48,8% dos acidentes,

respectivamente (BRASIL, 2013a) (gráfico 17).

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Gráfico 17 - Fatores contribuintes na aviação civil entre 2003 e 2012

Fonte: CENIPA (2013).

No caso da AFA, o ordenamento dos fatores contribuintes para os acidentes

entre os anos de 1985 e 2012 apresenta o julgamento, a experiência de voo, a

supervisão e o aspecto psicológico como os principais fatores contribuintes (gráfico

18). Novamente, a instrução de voo na AFA apresentou características próprias ao

comparar seus acidentes aos encontrados na aviação militar e também à instrução

de voo na aviação civil. Corrobora-se, dessa forma, a importância de desenvolver

estudos específicos para a AFA em detrimento de dados gerais compilados em toda

a aviação militar, assim como reforça as diferenças na formação dos pilotos militares

e civis, considerando-se as diferenças nos riscos envolvidos.

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Gráfico 18 – Índice de fatores contribuintes na AFA entre 1985 e 2012.

Fonte: O autor.

Nota: O gráfico apresenta, no eixo das ordenadas, o número de acidentes por 100.000 h de voo onde

esteve presente cada um dos fatores contribuintes.

Considerando-se a estatística de acidentes na AFA nos períodos de 1985 a

1998 e 1999 a 2012, houve redução dos três fatores contribuintes mais frequentes

para acidentes aeronáuticos, conforme gráfico 19, sugerindo êxito das ações

preventivas na redução das ocorrências aeronáuticas na AFA. Porém, conforme já

demonstrado nesta pesquisa, houve aumento nos índices de mortes e perdas totais.

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Gráfico 19 – Índice de fatores contribuintes para acidentes.

Fonte: O autor.

Nota: Experiência de voo (EXP VOO).

3.2 CONCORDÂNCIA DA PERCEPÇÃO DO RISCO ENTRE INSTRUTORES E

CADETES

A Concordância da percepção do risco entre instrutores e cadetes foi medida

considerando-se as opiniões sobre o ordenamento da probabilidade dos tipos de

ocorrências (tabela 2), o ordenamento da severidade dos tipos de ocorrências

considerando-se a possibilidade de causarem morte (tabela 3), o ordenamento da

severidade dos tipos de ocorrências considerando-se a possibilidade de causarem

perda total (tabela 4) e o ordenamento da probabilidade de ocorrência dos fatores

contribuintes (tabela 5).

3.2.1 Ordenamento da probabilidade

A interpretação dos coeficientes de correlação não obedece a critérios rígidos,

pois depende do contexto pesquisado. De acordo com Dancey e Reidy (2004),

considera-se fraco um coeficiente de correlação de 0,10 até 0,39; de 0,40 até 0,69 a

correlação seria moderada; e de 0,70 até 1, uma correlação forte. Já Cohen (1988),

cujos parâmetros aplicam-se nesta pesquisa, considera fracos os valores entre 0,10

e 0,29, moderados entre 0,30 e 0,49 e forte entre 0,50 e 1.

Comparando-se as percepções entre os instrutores e também se comparando

as percepções entre os cadetes, conforme o ordenamento da probabilidade dos

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tipos de ocorrência, encontra-se um Coeficiente de Concordância (W) fraco em

ambos os casos.

Analisando-se a Correlação entre a percepção do grupo de instrutores com a

percepção do grupo de cadetes, encontra-se um Coeficiente (ρ) elevado, indicando

forte correlação entre a percepção dos instrutores e a percepção dos cadetes,

conforme se observa na tabela 2.

Tabela 2 – Ordenamento da probabilidade dos tipos de ocorrências conforme a percepção de

instrutores e cadetes.

Tipo MAC FUEL ARC SCF-NP SCF-PP LALT LOC-I LOC-G RE USOS W ρ

IN 1 8 5 3 2 6 4 9 7 10 0.21 0.745

CAD 5 7 3 1 2 8 6 9 4 10 0.16

Fonte: O autor.

Nota: Foi ordenada a probabilidade dos tipos de ocorrência, conforme questionário respondido por

instrutores e cadetes, utilizando-se a seguinte codificação: Instrutor (IN); Cadete (CAD); Colisão de

aeronaves em voo (MAC); Relativo a combustível (FUEL); Contato anormal com a pista (ARC); Falha

ou mau funcionamento de componente – não propulsor (SCF-NP); Falha ou mau funcionamento de

componente – propulsor (SCF-PP); Durante operação a baixa altura (LALT); Perda de controle em

voo (LOC-I); Perda de controle no solo (LOC-G); Saída da pista (RE); Pouso antes ou após a pista

(USOS); Coeficiente de Concordância de Kendall (W); Coeficiente de Correlação de Spearman (ρ). O

número 1 representa o tipo de ocorrência mais provável.

3.2.2 Ordenamento da severidade (mortes)

Comparando-se as percepções entre os instrutores e também se comparando

as percepções entre os alunos conforme o ordenamento da severidade dos tipos de

ocorrência, considerando-se a possibilidade de provocar mortes, encontra-se um

Coeficiente de Concordância (W) moderado em ambos os casos.

Analisando-se a Correlação entre a percepção do grupo de instrutores com a

percepção do grupo de cadetes, encontra-se um Coeficiente (ρ) forte, indicando forte

correlação entre a percepção dos instrutores e a percepção dos cadetes, conforme

observado na tabela 3.

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Tabela 3 – Ordenamento da severidade dos tipos de ocorrência (quantidade de mortes) conforme a

percepção de instrutores e cadetes.

Tipo MAC FUEL ARC SCF-NP SCF-PP LALT LOC-I LOC-G RE USOS W ρ

IN 1 5 7 6 3 4 2 9 10 8 0.46 0.964

CAD 1 5 7 6 2 3 4 9 10 8 0.48

Fonte: O autor.

Nota: Foi ordenada a severidade dos tipos de ocorrência, considerando-se a possibilidade de causar

mortes, conforme questionário respondido por instrutores e cadetes, utilizando-se a seguinte

codificação: Instrutor (IN); Cadete (CAD); Colisão de aeronaves em voo (MAC); Relativo a

combustível (FUEL); Contato anormal com a pista (ARC); Falha ou mau funcionamento de

componente – não propulsor (SCF-NP); Falha ou mau funcionamento de componente – propulsor

(SCF-PP); Durante operação a baixa altura (LALT); Perda de controle em voo (LOC-I); Perda de

controle no solo (LOC-G); Saída da pista (RE); Pouso antes ou após a pista (USOS); Coeficiente de

Concordância de Kendall (W); Coeficiente de Correlação de Spearman (ρ). O número 1 representa o

tipo de ocorrência mais severo.

A maioria dos instrutores e cadetes considerou a colisão de aeronaves em

voo (MAC) como o tipo de acidente com maior possibilidade de provocar mortes,

conforme se observa no gráfico 20.

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Gráfico 20 – Dois tipos de acidentes mais votados pelos aviadores como o mais severo quanto à

possibilidade de causar mortes.

Fonte: O autor.

Nota: Colisão de aeronaves em voo (MAC); Falha ou mau funcionamento de componente – propulsor

(SCF-PP).

3.2.3 Ordenamento da severidade (Perda total)

Comparando-se as percepções entre os instrutores e também se comparando

as percepções entre os alunos sobre o ordenamento da severidade dos tipos de

ocorrência considerando-se a possibilidade de provocar perda total, encontra-se um

Coeficiente de Concordância (W) moderado em ambos os casos.

Analisando-se a Correlação entre a percepção do grupo de instrutores com a

percepção do grupo de cadetes, encontra-se um Coeficiente (ρ) forte, indicando forte

correlação entre a percepção dos instrutores e a percepção dos cadetes, conforme

observado na tabela 4.

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Tabela 4 – Ordenamento da severidade dos tipos de ocorrências (perda total) conforme a percepção

de instrutores e cadetes.

Tipo MAC FUEL ARC SCF-NP SCF-PP LALT LOC-I LOC-G RE USOS W ρ

IN 1 9 5.5 10 3 5.5 2 8 7 4 0.35 0.754

CAD 1 8 3 7 2 4 5 10 9 6 0.29

Fonte: O autor.

Nota: Foi ordenada a severidade dos tipos de ocorrência, considerando-se a possibilidade de causar

perda total, conforme questionário respondido por instrutores e cadetes, utilizando-se a seguinte

codificação: Instrutor (IN); Cadete (CAD); Colisão de aeronaves em voo (MAC); Relativo a

combustível (FUEL); Contato anormal com a pista (ARC); Falha ou mau funcionamento de

componente – não propulsor (SCF-NP); Falha ou mau funcionamento de componente – propulsor

(SCF-PP); Durante operação a baixa altura (LALT); Perda de controle em voo (LOC-I); Perda de

controle no solo (LOC-G); Saída da pista (RE); Pouso antes ou após a pista (USOS); Coeficiente de

Concordância de Kendall (W); Coeficiente de Correlação de Spearman (ρ). O número 1 representa o

tipo de ocorrência mais severo.

A maioria dos instrutores e cadetes considerou a colisão de aeronaves em

voo (MAC) como o tipo de acidente com maior possibilidade de provocar perda total

de aeronaves, conforme se observa no gráfico 21.

Gráfico 21 – Os dois tipos de acidentes mais votados pelos aviadores como o mais severo quanto à

possibilidade de causar perda total.

Fonte: O autor.

Nota: Colisão de aeronaves em voo (MAC); Falha ou mau funcionamento de componente – propulsor

(SCF-PP).

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4.2.4 Ordenamento da probabilidade de ocorrência dos fatores contribuintes

Comparando-se as percepções entre instrutores e também se comparando as

percepções entre os cadetes sobre o ordenamento da probabilidade de ocorrência

dos fatores contribuintes, encontra-se um Coeficiente de Concordância (W)

moderado em ambos os casos (tabela 5).

Tabela 5 – Ordenamento da probabilidade de ocorrência dos fatores contribuintes conforme a

percepção de instrutores e cadetes.

Fator Contribuinte IN CAD

APLICAÇÃO DE COMANDOS 3 5

APOIO 18 17

COORDENAÇÃO DE CABINE 7 6

ESQUECIMENTO 4 2

EXPERIÊNCIA DE VOO 2 1

FABRICAÇÃO 17 15

FISIOLÓGICO 12 9

INFRAESTRUTURA 16 13

INSTRUÇÃO 6 14

JULGAMENTO 1 4

MANUSEIO DE MATERIAL 14 11

MANUTENÇÃO 8 7

MEIO AMBIENTE 15 16

METEOROLOGIA 9 8

PLANEJAMENTO 11 10

PROJETO 13 18

PSICOLÓGICO 5 3

SUPERVISÃO 10 12

COEFICIENTE DE CONCORDÂNCIA DE KENDALL (W) 0.30 0.27

COEFICIENTE DE CORRELAÇÃO DE SPEARMAN (ρ) 0.843

Fonte: O autor.

Nota: Instrutores (IN); Cadetes (CAD). O número 1 representa o fator contribuinte mais provável.

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Analisando-se a Correlação entre a percepção do grupo de instrutores com a

percepção do grupo de cadetes, encontra-se um Coeficiente (ρ) forte, indicando

elevada correlação entre a percepção dos instrutores e a percepção dos cadetes,

conforme observado na tabela 5.

Dessa forma, houve similaridade nos quatro ordenamentos apresentados

anteriormente: segundo o Coeficiente de Concordância de Kendall (W), houve fraca

ou moderada concordância entre os instrutores e também fraca ou moderada

concordância entre os cadetes, considerados individualmente. Após se unificar a

percepção de todos os instrutores e de todos os cadetes, o Coeficiente de

Correlação de Spearman (ρ) indicou forte correlação entre a percepção do grupo de

instrutores e a percepção do grupo de cadetes.

Esse resultado indica que, apesar de haver muitos instrutores e muitos

cadetes com desvios consideráveis em seus julgamentos, há uma convergência na

percepção dos instrutores fortemente relacionada a uma também convergente

percepção dos cadetes. Dessa forma, a forte correlação (ρ) entre as respostas do

grupo de instrutores e do grupo de cadetes indica uma similaridade na priorização

dos riscos, o que pode ser útil para o gerenciamento do risco na AFA.

Por outro lado, a fraca ou moderada concordância na percepção dentro do

grupo de instrutores e dentro do grupo de cadetes pode indicar uma vulnerabilidade

no sistema, afinal esses aviadores com desvios de percepção em relação ao grupo

podem estar com uma percepção tendenciosa dos riscos a que estão expostos, e,

consequentemente, mais suscetíveis a acidentes. Essas vulnerabilidades podem ser

abordadas sob a ótica da teoria do “Queijo Suíço” de James Reason (1997).

Nesta perspectiva, os instrutores e alunos com percepções discordantes

sobre os riscos a que estão expostos formariam condições latentes no sistema, o

que poderia contribuir para um acidente aeronáutico. Porém, Reason defende que

podemos identificar essas vulnerabilidades ocultas e criar defesas, aumentando a

segurança.

Neste caso específico, podem-se atualizar os tripulantes em relação à

potencialidade dos riscos a que estão expostos, após uma análise formal realizada

pelo setor responsável pelo gerenciamento da segurança de voo na organização.

Kouabenan (2009) defende que os funcionários precisam ser informados dos

riscos a que estão expostos e que devem reconhecer e evitar percepções

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tendenciosas dos riscos, por meio de informações atualizadas e corretas sobre suas

exposições e as limitações de suas impressões pessoais.

Observa-se também que, quando é realizada a ordenação das percepções

considerando-se a quantidade de mortes como indicador de severidade, há uma

elevação não só nos Coeficientes de Concordância de Kendall (W), como também

nos Coeficientes de Correlação de Spearman (ρ), indicando maior afinidade entre as

percepções de instrutores e cadetes.

Esse resultado pode ser explicado pela maior comoção social quando o

acidente aeronáutico causa mortes na AFA, pois no grupo de instrutores e alunos

todos se conhecem e há valorização da integração entre seus membros, conhecido

no meio militar como “Espírito de Corpo”. Dessa forma, o resultado apresenta

indícios de melhor percepção do risco e aprendizado coletivo nos acidentes fatais,

corroborando as teorias sobre o tema. Conforme afirma Kouabenan (2009), a

natureza e a severidade de suas possíveis consequências influencia a percepção do

risco.

3.3 CONCORDÂNCIA ENTRE AVIADORES E RELATÓRIOS

Conforme observa-se nas tabelas 6, 7, 8 e 9, apresentadas a seguir, houve

similaridade nos quatro ordenamentos: o Coeficiente de Correlação de Spearman (ρ)

indicou forte correlação entre a percepção dos aviadores e os registros dos

Relatórios de Investigação.

Esse resultado indica que, apesar de haver muitos instrutores e muitos

cadetes com desvios consideráveis em seus julgamentos, há uma convergência na

percepção dos aviadores (instrutores e cadetes), fortemente relacionada à estatística

de acidentes aeronáuticos. Dessa forma, a elevada correlação entre as respostas

dos aviadores à estatística de acidentes aeronáuticos indica uma possível não

aleatoriedade na priorização dos riscos, o que pode ser aproveitado no

gerenciamento da segurança de voo da AFA.

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3.3.1 Ordenamento da probabilidade

Tabela 6 – Ordenamento da probabilidade dos tipos de ocorrências conforme a percepção dos

aviadores e os registros dos Relatórios de Investigação.

Tipo MAC FUEL ARC SCF-NP SCF-PP LALT LOC-I LOC-G RE USOS ρ

AV 3 8 4 1.5 1.5 7 5 9 6 10 0.654

REL 3 6 2 7 1 4.5 8 9.5 4.5 9.5

Fonte: O autor.

Nota: Foi ordenada a probabilidade dos tipos de ocorrência, conforme questionário respondido por

instrutores e cadetes, os registros dos Relatórios de Investigação, utilizando-se a seguinte

codificação: Aviadores (AV); Relatórios de Investigação (REL); Colisão de aeronaves em voo (MAC);

Relativo a combustível (FUEL); Contato anormal com a pista (ARC); Falha ou mau funcionamento de

componente – não propulsor (SCF-NP); Falha ou mau funcionamento de componente – propulsor

(SCF-PP); Durante operação a baixa altura (LALT); Perda de controle em voo (LOC-I); Perda de

controle no solo (LOC-G); Saída da pista (RE); Pouso antes ou após a pista (USOS); Coeficiente de

Correlação de Spearman (ρ). O número 1 representa o tipo de ocorrência mais provável.

3.3.2 Ordenamento da severidade (quantidade de mortes)

Tabela 7 – Ordenamento da severidade dos tipos de ocorrência (quantidade de mortes) conforme a

percepção dos aviadores e os registros dos Relatórios de Investigação.

Tipo MAC FUEL ARC SCF-NP SCF-PP LALT LOC-I LOC-G RE USOS ρ

AV 1 5 7 6 2 4 3 9 10 8 0.808

REL 1 8 5 8 4 2 3 8 8 8

Fonte: O autor.

Nota: Foi ordenada a severidade dos tipos de ocorrência, considerando-se a possibilidade de causar

mortes, conforme questionário respondido por instrutores e cadetes, instrutores e cadetes, os

registros dos Relatórios de Investigação, utilizando-se a seguinte codificação: Aviadores (AV);

Relatórios de Investigação (REL); Colisão de aeronaves em voo (MAC); Relativo a combustível

(FUEL); Contato anormal com a pista (ARC); Falha ou mau funcionamento de componente – não

propulsor (SCF-NP); Falha ou mau funcionamento de componente – propulsor (SCF-PP); Durante

operação a baixa altura (LALT); Perda de controle em voo (LOC-I); Perda de controle no solo (LOC-

G); Saída da pista (RE); Pouso antes ou após a pista (USOS); Coeficiente de Correlação de

Spearman (ρ). O número 1 representa o tipo de ocorrência mais severo.

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3.3.3 Ordenamento da severidade (perda total)

Tabela 8 – Ordenamento da severidade dos tipos de ocorrências (perda total) conforme a percepção

dos aviadores e os registros dos Relatórios de Investigação de Acidentes Aeronáuticos.

Tipo MAC FUEL ARC SCF-NP SCF-PP LALT LOC-I LOC-G RE USOS ρ

AV 1 8.5 4 8.5 2 5 3 10 7 6 0.785

REL 2 7.5 4 5.5 1 3 5.5 9.5 7.5 9.5

Fonte: O autor.

Nota: Foi ordenada a severidade dos tipos de ocorrência, considerando-se a possibilidade de causar

perda total, conforme questionário respondido por instrutores e cadetes, os registros dos Relatórios

de Investigação, utilizando-se a seguinte codificação: Aviadores (AV); Relatórios de Investigação

(REL); Colisão de aeronaves em voo (MAC); Relativo a combustível (FUEL); Contato anormal com a

pista (ARC); Falha ou mau funcionamento de componente – não propulsor (SCF-NP); Falha ou mau

funcionamento de componente – propulsor (SCF-PP); Durante operação a baixa altura (LALT); Perda

de controle em voo (LOC-I); Perda de controle no solo (LOC-G); Saída da pista (RE); Pouso antes ou

após a pista (USOS); Coeficiente de Correlação de Spearman (ρ). O número 1 representa o tipo de

ocorrência mais severo.

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3.3.4 Ordenamento da probabilidade

Tabela 9 – Ordenamento da probabilidade de ocorrência dos fatores contribuintes conforme a

percepção dos aviadores e os registros dos Relatórios de Investigação de Acidentes Aeronáuticos.

Fator Contribuinte AV REL

APLICAÇÃO DE COMANDOS 4.5 5.5

APOIO 18 15

COORDENAÇÃO DE CABINE 6 7.5

ESQUECIMENTO 3 8

EXPERIÊNCIA DE VOO 1 2

FABRICAÇÃO 17 14

FISIOLÓGICO 10.5 12

INFRAESTRUTURA 14 16.5

INSTRUÇÃO 9 5.5

JULGAMENTO 2 1

MANUSEIO DE MATERIAL 13 16.5

MANUTENÇÃO 7 10

MEIO AMBIENTE 15.5 12

METEOROLOGIA 8 12

PLANEJAMENTO 10.5 7.5

PROJETO 15.5 9

PSICOLÓGICO 4.5 3.5

SUPERVISÃO 12 3.5

COEFICIENTE DE CORRELAÇÃO DE SPEARMAN (ρ) 0.735

Fonte: O autor.

Nota: Aviadores (AV); Relatórios de Investigação (REL). O número 1 representa o fator contribuinte

mais provável.

Após as análises apresentadas, pode-se responder em que medida a

estatística dos acidentes aeronáuticos na AFA entre os anos de 1985 e 2012 está

relacionada à percepção do risco pelos instrutores de voo e cadetes aviadores do

Segundo Esquadrão em 2014, da seguinte forma:

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Coeficiente de Correlação (ρ) de 0.654 (forte) para os tipos de acidentes

conforme a probabilidade de acontecerem durante instrução na AFA;

Coeficiente de Correlação (ρ) de 0.808 (forte) para os tipos de acidentes

conforme a possibilidade de causar mortes, durante instrução na AFA;

Coeficiente de Correlação (ρ) de 0.785 (forte) para os tipos de acidentes

conforme a possibilidade de causar perda total de aeronaves, durante instrução na

AFA;

Coeficiente de Correlação (ρ) de 0.735 (forte) para os fatores contribuintes

conforme a probabilidade de estarem presentes em acidentes aeronáuticos durante

instrução na AFA.

Além das análises apresentadas, outros ensinamentos poderiam ser

adquiridos se houvesse o registro sistemático de informações úteis especificamente

nos casos de ocorrências em instrução na AFA. Não foi possível investigar, por

exemplo, se houve relação entre as fases de instrução, exercício realizado,

experiência em instrução e a ocorrência de acidentes, pois essas informações não

estão previstas nos relatórios padronizados para a investigação de acidentes. A

inclusão desses itens nos relatórios de investigação de acidentes da AFA poderia

gerar dados importantes para a segurança de voo.

3.3.5 Teste da hipótese de pesquisa

Para testar a hipótese de pesquisa, deve-se procurar rejeitar a hipótese nula

(H0) de que a percepção do risco pelos aviadores (instrutores e cadetes) é

independente da estatística de acidentes aeronáuticos na AFA, entre os anos de

1985 e 2012, em favor da hipótese alternativa (H1) de que há relação entre essas

duas variáveis. Não foi avaliado nexo causal entre as variáveis, mas somente a

relação entre elas.

Os Coeficientes de Correlação de Spearman (ρ), assim como os valores

mínimos para o nível de significância de 5% estão representados na tabela 10.

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Tabela 10 – Coeficientes de Correlação de Spearman (ρ), segundo o tipo de ocorrência, a

possibilidade de causar morte, perda total e fatores contribuintes para as ocorrências.

TIPO MORTE PERDA TOTAL FATORES CONTRIBUINTES

IN/CAD 0.745 0.964 0.754 0.843

AV/REL 0.654 0.808 0.785 0.735

VALOR

MÍNIMO 0.564 0.564 0.564 0.399

Fonte: O autor.

Nota: utilizou-se a seguinte codificação: Instrutores (IN); Cadetes (CAD); Aviadores (AV); Relatórios

de Investigação (REL); O “VALOR MÍNIMO” representa o menor valor absoluto encontrado para o

Coeficiente de Correlação de Spearman (ρ) a partir do qual se admite a rejeição da hipótese nula (H0)

em favor da hipótese alternativa (H1), a um nível de significância de 5%.

Realizando-se o teste de significância de ρ por meio de consulta à tabela de

valores críticos dos Coeficientes de Correlação de Spearman (Apêndice B), observa-

se que é possível rejeitar a hipótese nula em favor da hipótese alternativa e

consequentemente assumir como verdadeira a hipótese desta pesquisa, a um nível

de significância de 5%, para todos os Coeficientes de Spearman (ρ) encontrados,

conforme representado na tabela 10.

Por conseguinte, assume-se a hipótese formulada nesta pesquisa de que a

estatística dos acidentes aeronáuticos na AFA entre os anos de 1985 e 2012 está

relacionada à percepção do risco pelos instrutores de voo e cadetes aviadores do

Segundo Esquadrão em 2014, a um nível de significância de 5%.

Dessa forma, a ordenação dos riscos percebida pelos aviadores, assim como

a estatística de acidentes da AFA pode ser utilizada para aprimorar o gerenciamento

da segurança de voo naquela OM.

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4 CONCLUSÃO

Considerando-se o problema motivador desta pesquisa, conclui-se que a

estatística dos acidentes aeronáuticos na AFA, entre os anos de 1985 e 2012, está

relacionada à percepção do risco pelos instrutores de voo e cadetes aviadores do

Segundo Esquadrão, em 2014.

As percepções do risco pelos instrutores de voo e cadetes aviadores do

Segundo Esquadrão, na AFA, em 2014, foram medidas por meio de questionário.

Houve baixa ou moderada concordância (W) entre os instrutores e também entre os

cadetes, considerando-se suas respostas individualmente e comparando-as dentro

de seu respectivo grupo. Contudo, houve forte correlação (ρ) comparando-se a

resposta do grupo de cadetes à resposta do grupo de instrutores, indicando

convergência das percepções de cadetes e instrutores.

Comparando-se o resultado final das percepções de instrutores e cadetes à

estatística de acidentes aeronáuticos na AFA, encontra-se um Coeficiente de

Correlação (ρ) de 0.654 (forte) para os tipos de acidentes conforme a probabilidade

de acontecerem durante instrução na AFA; Coeficiente de Correlação (ρ) de 0.808

(forte) para os tipos de acidentes conforme a possibilidade de causar mortes,

durante instrução na AFA; Coeficiente de Correlação (ρ) de 0.785 (forte) para os

tipos de acidentes conforme a possibilidade de causar perda total de aeronaves,

durante instrução na AFA; e Coeficiente de Correlação (ρ) de 0.735 (forte) para os

fatores contribuintes conforme a probabilidade de estarem presentes em acidentes

aeronáuticos durante instrução na AFA. Esse resultado indica que as avaliações dos

riscos feitas pelos aviadores estão adequadas à realidade das operações naquela

OM. Dessa forma, essas informações podem ser utilizadas na avaliação dos riscos

na AFA, importante ferramenta para o gerenciamento da segurança de voo.

Assume-se como válida, por conseguinte, a hipótese de pesquisa: a

estatística dos acidentes aeronáuticos na AFA entre os anos de 1985 e 2012 está

relacionada à percepção do risco pelos instrutores de voo e cadetes aviadores do

Segundo Esquadrão em 2014. Consequentemente, os riscos conforme percebidos

pelos instrutores e confirmados pela estatística, podem ser utilizados para a

implementação de medidas preventivas.

A fraca ou moderada concordância (W) nas percepções individuais do risco

entre os instrutores e entre os cadetes indica que há aviadores cujas percepções

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dos riscos a que estão expostos desviam-se das demais, havendo possibilidade de

estarem mais suscetíveis a acidentes.

Ressalta-se, ainda, o aumento nos índices de concordância quando o fator de

severidade considerado refere-se à possibilidade de causar mortes, corroborando o

que diz Kouabenan (1998) sobre a influência de fatores emocionais na percepção do

risco, uma vez que todos os coeficientes de correlação foram mais elevados quanto

à possibilidade de provocar mortes.

O resultado desta pesquisa confirma também o que defendem Marais, Dulac

e Leveson (2004) sobre a maior eficácia do estudo de acidentes aeronáuticos com

fins preventivos em organizações onde as mudanças são menos acentuadas,

conforme podemos observar na AFA. Diferentemente de agências espaciais, por

exemplo, onde as atividades se desenvolvem na fronteira do conhecimento e novos

riscos surgem frequentemente, a atividade de instrução na AFA apresenta relativa

estabilidade, comprovada pela utilização das mesmas aeronaves desde 1985, com

pequenas modificações. A estatística de acidentes da AFA corrobora a teoria de

Marais, Dulac e Leveson (2004) ao indicar a repetição dos tipos de acidentes

causadores de perdas totais e mortes, confirmando que as consequências desses

eventos provavelmente não são aleatórias.

Recomenda-se, dessa forma, a criação de um banco de dados completo,

incluindo reportes voluntários de ameaças à segurança de voo, perigos, erros,

ocorrências anormais, incidentes e acidentes. Sugere-se, ainda, que esse banco de

dados contenha as boas práticas, ou seja, ações que evitaram ou reduziram as

consequências dos eventos negativos. Essas informações podem produzir análises

importantes para evitar perdas humanas e materiais, por meio de correlações,

regressões e análises de tendências. Deve-se incentivar o reporte voluntário, não

somente dos erros e eventos negativos, mas também das boas práticas e soluções

que “deram certo”, utilizando-se o “Relatório do Prevenção” para tal finalidade.

A divulgação dos ensinamentos referentes à segurança de voo deve ser

sistematizada. Todas as recomendações de segurança de voo já produzidas pelas

investigações da AFA devem estar facilmente acessíveis aos tripulantes e demais

envolvidos na instrução aérea. Recomendações antigas e ainda válidas também

devem estar disponíveis, reduzindo-se os efeitos negativos do viés da

disponibilidade em que ocorrências antigas são desconhecidas e negligenciadas em

favor de sinistros recentes e vivenciado pelos aviadores.

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73

Finalmente, o estudo da percepção do risco, comparado à estatística de

ocorrências aeronáuticas pode originar uma metodologia útil para o aperfeiçoamento

do gerenciamento do risco nas Organizações da Aeronáutica contribuindo, dessa

forma, para o desenvolvimento da segurança de voo, repercutindo na capacidade de

emprego do vetor aéreo.

Em pesquisas futuras, sugere-se o estabelecimento de indicadores para

identificar o posicionamento da AFA no espaço de segurança, segundo a teoria de

James Reason (2008). Essa medida é importante para reconhecer quando a

organização está se aproximando do limite da segurança e está mais sujeita a um

acidente.

Esses indicadores devem ser reativos e proativos. Indicadores reativos

poderiam ser, por exemplo, quantidade de erros reportados em fichas de voo ou

Relatórios de Prevenção, incidentes e ocorrência de solo. Exemplos de indicadores

proativos seriam, o tempo médio entre o pouso e nova decolagem das aeronaves, a

quantidade de abortivas, a disponibilidade de aeronaves, a quantidade de missões

por instrutor, a disponibilidade de instrutores, a quantidade de pedidos de

movimentação de mecânicos e instrutores da AFA ou para a AFA, os recursos

investidos em segurança de voo, o número anual de Vistorias de Segurança de Voo,

diferença hierárquica entre o responsável pela área operacional e pela segurança de

voo da OM e a experiência de voo dos instrutores.

Novas pesquisas podem ser desenvolvidas na AFA utilizando-se a mesma

metodologia apresentada neste trabalho. Pode-se verificar, por exemplo, se a

percepção do risco dos instrutores de voo está relacionada às suas aviações de

origem: caça, transporte, patrulha, helicóptero, reconhecimento, busca e salvamento,

e se esse aspecto influencia no perfil ideal do instrutor da AFA.

Pode-se também avaliar se há relação entre a percepção dos riscos e o

desempenho dos cadetes desligados em voo. Verifica-se, dessa forma, se há

aversão a determinados erros cometidos pelos alunos, em virtude de aumento na

percepção de determinados riscos, o que pode contribuir para a redução do atrito

durante a instrução aérea no segundo ano da AFA.

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APÊNDICE A – PESQUISA DIRIGIDA AOS AVIADORES DA AFA

UNIVERSIDADE DA FORÇA AÉREA

Prezado companheiro, Esta pesquisa foi elaborada para coletar os dados necessários para a confecção de trabalhos científicos na Universidade da Força Aérea (UNIFA). Por favor, baseie-se em sua experiência. É essencial que a pesquisa seja realizada individualmente. Não é necessária a identificação do formulário e as contribuições serão tratadas de forma sigilosa, sendo que os dados coletados poderão ajudar a salvar vidas.

Para tanto a sua contribuição reveste-se de fundamental importância para o adequado tratamento do assunto. A pesquisa é composta por quatro atividades de ordenamento de variáveis, estimando-se 15 minutos para sua conclusão. A taxionomia relativa aos tipos de acidentes utilizada nesta pesquisa encontra-se no link: http://www.intlaviationstandards.org/Documents/OccurrenceCategoryDefinitions.pdf. Muito obrigado pela valorosa colaboração! Respeitosamente

Adalberto Santos Prado Ten Cel Av Observações: Considere apenas os acidentes em voos de instrução, treinamento ou viagens em aeronaves T-25 e T-27 da Academia da Força Aérea. Não considere os voos do Esquadrão de Demonstração Aérea. Qualquer observação, dúvida ou sugestão, favor encaminhar para o email: [email protected]. Escola de Comando e Estado Maior da Aeronáutica - ECEMAR Ten Cel Av Adalberto Santos Prado AV. Marechal Fontenelle, 1200 Campo dos Afonsos Rio de Janeiro - RJ CEP 21740-002

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Segundo sua percepção, ordene os tipos de acidentes conforme a probabilidade de acontecerem durante instrução na AFA. Atribua o número 1 (um) para o tipo mais provável, sucessivamente, até o número 10 (dez) para o tipo menos provável.

Tipo de Ocorrência Ordenação da Probabilidade de ocorrência

Colisão de aeronaves em voo (MAC)

Relativo a combustível (FUEL)

Contato anormal com a pista (ARC)

Falha ou mau funcionamento de componente – não propulsor (SCF-NP)

Falha ou mau funcionamento de componente – propulsor (SCF-PP)

Durante operação a baixa altura (LALT)

Perda de controle em voo (LOC-I)

Perda de controle no solo (LOC-G)

Saída da pista (RE)

Pouso antes ou após a pista (USOS)

Segundo sua percepção, ordene os tipos de acidentes conforme a possibilidade de causar mortes, durante instrução na AFA. Considere os números totais absolutos de óbitos e não a quantidade de vítimas por acidente. Atribua o número 1 (um) para o tipo mais letal, sucessivamente, até o número 10 (dez) para o tipo menos letal.

Tipo de Ocorrência

Ordenação da possibilidade

de Causar Mortes

Colisão de aeronaves em voo (MAC)

Relativo a combustível (FUEL)

Contato anormal com a pista (ARC)

Falha ou mau funcionamento de componente – não propulsor (SCF-NP)

Falha ou mau funcionamento de componente – propulsor (SCF-PP)

Durante operação a baixa altura (LALT)

Perda de controle em voo (LOC-I)

Perda de controle no solo (LOC-G)

Saída da pista (RE)

Pouso antes ou após a pista (USOS)

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Segundo sua percepção, ordene os tipos de acidentes conforme a possibilidade de causar perda total de aeronaves, durante instrução na AFA. Considere os números totais absolutos de aeronaves irrecuperáveis e não os danos por acidente. Atribua o número 1 (um) para o tipo mais danoso, sucessivamente, até o número 10 (dez) para o tipo menos danoso.

Tipo de Ocorrência

Ordenação da possibilidade

de causar perda total

Colisão de aeronaves em voo (MAC)

Relativo a combustível (FUEL)

Contato anormal com a pista (ARC)

Falha ou mau funcionamento de componente – não propulsor (SCF-NP)

Falha ou mau funcionamento de componente – propulsor (SCF-PP)

Durante operação a baixa altura (LALT)

Perda de controle em voo (LOC-I)

Perda de controle no solo (LOC-G)

Saída da pista (RE)

Pouso antes ou após a pista (USOS)

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Segundo sua percepção, ordene os fatores contribuintes conforme a probabilidade de estarem presentes em acidentes aeronáuticos durante instrução na AFA. Atribua o número 1 (um) para o fator contribuinte mais provável, sucessivamente, até o número 18 (dezoito) para o fator contribuinte menos provável.

Fator Contribuinte

Ordenação da Probabilidade de

comporem um acidente

APLICAÇÃO DE COMANDOS

APOIO

COORDENAÇÃO DE CABINE

ESQUECIMENTO

EXPERIÊNCIA DE VOO

FABRICAÇÃO

FISIOLÓGICO

INFRAESTRUTURA

INSTRUÇÃO

JULGAMENTO

MANUSEIO DE MATERIAL

MANUTENÇÃO

MEIO AMBIENTE

METEOROLOGIA

PLANEJAMENTO

PROJETO

PSICOLÓGICO

SUPERVISÃO

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APÊNDICE B – TABELA DE VALORES CRÍTICOS DOS COEFICIENTES DE

CORRELAÇÃO DE SPEARMAN

N Nível de Significância (teste mono-caudal)

.05 .01

4 1.000 5 .900 1.000 6 .829 .943 7 .714 .893 8 .643 .833 9 .600 .783

10 .564 .746 12 .506 .712 14 .456 .645 16 .425 .601 18 .399 .564 20 .377 .534 22 .359 .508 24 .343 .485 26 .329 .465 28 .317 .448 30 .306 .432

Fonte: adaptado de OLDS (1938).

Nota: N representa o número de fatores ordenados.