UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA UNAMA CARLOS OLIMPIO CASSEB QUEBRA · Q3r Quebra, Carlos Olimpio Casseb....

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA UNAMA PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ADMINISTRAÇÃO CARLOS OLIMPIO CASSEB QUEBRA RESPONSABILIDADE SOCIAL OU FILANTROPIA: A EXPERIÊNCIA DE UMA EMPRESA DO SEGMENTO DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA BELÉM PARÁ 2017

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA – UNAMA

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ADMINISTRAÇÃO

CARLOS OLIMPIO CASSEB QUEBRA

RESPONSABILIDADE SOCIAL OU FILANTROPIA: A EXPERIÊNCIA DE UMA

EMPRESA DO SEGMENTO DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

BELÉM – PARÁ

2017

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CARLOS OLÍMPIO CASSEB QUEBRA

RESPONSABILIDADE SOCIAL OU FILANTROPIA: A EXPERIÊNCIA DE UMA

EMPRESA DO SEGMENTO DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

Dissertação acadêmica apresentada ao Curso de

Mestrado em Administração da UNAMA, como

parte dos requisitos para obtenção do título de

Mestre em Administração.

Orientador: Prof. Dr. Milton Cordeiro Farias

Filho.

BELÉM – PARÁ

2017

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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Carlos Dantas CRB2/1388

__________________________________________________________________________

658.408

Q3r Quebra, Carlos Olimpio Casseb.

Responsabilidade social ou filantropia: a experiência de uma

empresa do segmento de transmissão de energia elétrica / Carlos Olimpio

Casseb Quebra. – Belém, 2017.

98 f.: il; 21 x 30 cm.

Dissertação (Mestrado) – Universidade da Amazônia, Pró-Reitoria

de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão, Programa de Mestrado em

Administração.

Orientador: Profº. Dr. Milton Cordeiro Farias Filho.

1. Responsabilidade social. 2. Filantropia. 3. Estratégica. 4.

Legitimidade. I. Farias Filho, Milton Cordeiro. II. Título.

__________________________________________________________________________

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CARLOS OLÍMPIO CASSEB QUEBRA

RESPONSABILIDADE SOCIAL OU FILANTROPIA: A EXPERIÊNCIA DE UMA

EMPRESA DO SEGMENTO DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA

Dissertação acadêmica apresentada ao Curso de

Mestrado em Administração da UNAMA, como

parte dos requisitos para obtenção do título de

Mestre em Administração.

Orientador: Prof. Dr. Milton Cordeiro Farias

Filho.

APROVADA: ______/______/______

____________________________________________

Professor Dr. Milton Cordeiro Farias Filho

(Orientador)

____________________________________________

Professor Dr.Armin Mathis

(Examinador Externo)

____________________________________________

Professor Dr. Mario Miguel Amin

(Examinador Interno)

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Dedicatória

À minha mãe, Wilma (in memorian), pela

dedicação incansável com a qual sempre me

conduziu aos estudos.

Ao meu neto, Bento, que sem dizer, ainda, uma

única palavra, me mostra, a todo o momento, que

eu só tenho motivos para agradecer.

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Agradecimentos

A Deus, por tudo. Especialmente pelos desafios.

À minha família (pai, irmão, esposa, filhos, genro e nora), pelo apoio sempre

presente e, principalmente, por acreditarem na minha capacidade de realização.

Aos meus professores por me emprestarem o próprio saber para a construção de um

novo caminho.

Ao meu orientador em especial, Professor Doutor Milton Cordeiro Farias Filho,

pelos ensinamentos, paciência e crença no meu desempenho.

A todos os colegas de turma por compartilharem suas experiências, enriquecendo o

meu olhar para trilhar novos caminhos.

Aos que se tornaram amigos, Ana Maria Morkazel, Ana Sabrina Favacho, Kelly

Silveira e Sebastião Abdon, principalmente pelo companheirismo quase que incondicional.

Aos que se dispuseram a contribuir com a pesquisa, tanto no questionário como na

entrevista, pela imensa colaboração com o que pensam sobre assunto.

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A você

Meu

Estímulo de

Luta

Muito obrigado.

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Epígrafe

O trabalho social precisa de mobilização das forças.

Cada um colabora com aquilo que sabe fazer ou com

o que tem para oferecer. Deste modo, fortalece-se o

tecido que sustenta a ação e cada um sente que é

uma célula de transformação do país.

(Zilda Arns)

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo avaliar o nível de entendimento sobre as iniciativas de

caráter social, desenvolvidas por uma organização que adota os preceitos da Responsabilidade

Social, como um dos principais pilares do seu modelo de gestão. A Responsabilidade Social,

uma preocupação do início do século XX, surge como um movimento para resgatar a

capacidade de inserção social, esta reduzida com os atropelos causados pelos interesses

econômicos. A filantropia, por sua vez se individualiza por uma ação social pura e simples,

isolada ou coletiva, sem o compromisso de fazer em face de uma visão organizacional,

caracterizada por ações esporádicas, doações e outros gestos de caridade desvinculados das

estratégias empresariais. A teoria institucionalista, como determinante à edificação das

organizações, bem como os conceitos de estratégia e de legitimidade foram utilizados para

interpretar estas controvérsias e, ao mesmo tempo, avaliar o quanto a empresa pode ser

considerada uma organização socialmente responsável. Optou-se por uma pesquisa descritiva,

com a utilização de um questionário e de uma entrevista estruturada. O questionário para

permitir coletar informações de maneira organizada, e a entrevista estruturada, e direcionada,

como instrumento complementar, para considerar opiniões relevantes e anuídas pela maioria

do contingente que compõe a organização. Os resultados da pesquisa na organização estudada

sinalizaram que as ações ditas como de responsabilidade social ainda se revelam

predominantemente filantrópicas. Concluiu-se, portanto, que existem sim ações voltadas para

beneficiar a sociedade, mas estas aparecem fragmentadas — ora como iniciativas de caráter

estritamente assistencialista, ora como tentativa de instrumentalizar o cidadão para o próprio

desenvolvimento, contrariando o entendimento, indispensável, de complementaridade entre

Filantropia e responsabilidade Social.

Palavras-chave: Responsabilidade Social; Filantropia; Estratégia; Legitimidade.

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ABSTRACT

This study aims to evaluate the understanding level of social initiatives developed by an

organization that adopts the principles of Social Responsibility, as one of the main pillars of

its management model. Social responsibility, a concern of the early twentieth century, appears

as a movement to rescue the capacity of social inclusion, which was reduced by the fumbling

caused by economic interests. Philanthropy in turn, is represented by a pure and simple social

action, individually or collectively, without the commitment to address an organizational

vision, characterized by sporadic actions, donations and others charitable gestures that are

separated from business strategies. The institutionalist theory, as a determinant of

organizational building, as well as the concepts of strategy and of legitimacy, were used to

interpret these controversies and at the same time, to evaluate how much the company can be

considered a socially responsible organization. We chose a descriptive research, using a

questionnaire and a structured interview. The questionnaire to gather information in an

organized manner, and the structured, directed interview, as a complementary tool, to

consider relevant opinions and agreed by the majority of the contingent that composes the

organization. The research results in the studied organization signaled that the actions said to

be of social responsibility still reveal to be predominantly philanthropic. It was concluded,

therefore, that there are actions aimed at benefiting society, but these appear fragmented -

sometimes as strictly assistentialist initiative, or as an attempt to instrument the citizen for his

own development, contradicting the indispensable understanding of complementarity between

Philanthropy and Social responsibility.

Keywords: Social Responsibility; Philanthropy; Strategy; Legitimacy.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................... 1Erro! Indicador não definido.

1 CAPÍTULO I: OS CONCEITOS EM QUESTÃO .......................................................... 17

1.1- Filantropia: origem, concepção conceitual e sua aproximação com a

responsabilidade social. .......................................................................................... 17

1.2- A construção do conceito de responsabilidade social ............................................ 22

1.3- O que fazem as organizações: responsabilidade social ou filantropia? .................. 27

2 CAPÍTULO II: OUTROS CONCEITOS RELACIONADOS ......................................... 29

2.1- Algumas interpretações de estratégia ..................................................................... 29

2.2- A responsabilidade social como estratégia ............................................................. 32

2.3- Sobre legitimidade .................................................................................................. 34

3 CAPÍTULO III: INTERPRETANDO AS ORGANIZAÇÕES ......................................... 37

3.1- Como as organizações se edificam ......................................................................... 37

3.2- A teoria institucionalista para compreensão das organizações .............................. 40

3.3- Uma relação de construção e complementaridade entre instituições e

organizações ........................................................................................................... 44

3.4- Propósitos da organização ...................................................................................... 45

4 CAPÍTULO IV: ORGANIZAÇÃO OOBJETO DE PESQUISA ..................................... 52

4.1- A instituição e os seus propósitos........................................................................... 52

4.2- Como a instituição se vê em relação à Responsabilidade Social ........................... 53

4.3- Algumas evidências de ações de Responsabilidade Social .................................... 56

5 CAPÍTULO V: METODOLOGIA DA PESQUISA ......................................................... 60

6 CAPÍTULO VI: RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................... 62

6.1- Avaliação do questionário ...................................................................................... 62

6.2- Avaliação das Entrevistas ....................................................................................... 75

7 CONCLUSÃO .................................................................................................................. 89

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8 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 92

9 ANEXOS ........................................................................................................................... 96

9.1- Anexo – 1: Questionário........................................................................................ 96

9.2- Anexo – 2: Entrevista ............................................................................................. 98

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INTRODUÇÃO

As abordagens sobre Responsabilidade Social são variadas em diversificação de

entendimentos, dando-nos a impressão de que o volume de informações, apesar de vasto, não

proporciona esclarecimentos suficientes para nortear práticas que a sustentem. Até a tentativa

de individualizá-la, como ação, representa um complicador, na medida em que quaisquer

iniciativas, em especial as empresariais, vão, de alguma forma, afetar a vida das pessoas,

independentemente do vínculo existente entre estas e a organização, sejam essas pessoas

empregados, dependentes, fornecedores, clientes etc. (BARBIERI; CAJAZEIRA, 2009, p. v).

Da mesma forma, é possível observar o entendimento sobre Filantropia. Cunha (2005,

p. 1), ressalta que a Filantropia já se configurou como um mecanismo de controle sobre

pessoas de extrema carência e, ao mesmo tempo, foi utilizada para impor uma submissão de

massas trabalhadoras aos interesses de classes dominantes, considerando essa submissão

como indispensável às estratégias de dominação.

Ao contrário, Santos (2003, p. 20) ressalta que a filantropia deve ser vista como uma

ação social à parte de quaisquer estratégias empresariais. Trata-se de um ato de caridade

pontual e não de uma iniciativa que vise, pela sua prática, galgar outros benefícios às

organizações. Ou seja, o que a autora nos convida a refletir é que, decidir por um

comportamento altruísta, só garante este valor se representar um ato de humanidade na

essência de seu significado. Um ato totalmente desvinculado de qualquer outro objetivo, que

não seja o de, única e exclusivamente, ajudar a comunidade pela comunidade em si.

O Instituto Ethos1 de Empresas e Responsabilidade Social se enquadra como um

desses exemplos. Nele está estabelecido como o principal compromisso, fazer com que as

empresas entendam a importância de desenvolverem seus negócios, preservando a sociedade

sobre os aspectos que garantam sustentabilidade, entendendo-se como um dos itens desta

sustentabilidade, principalmente, o direito de preservação à própria cultura. O instituto Ethos,

1 O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, criado em 1998, é uma Organização da Sociedade

Civil de Interesse Público, cuja missão é mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de

forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade justa e sustentável. O

objetivo do Instituto Ethos é disseminar a prática da responsabilidade social empresarial, ajudando as

organizações a: 1) compreender e incorporar de forma progressiva o conceito do comportamento empresarial

socialmente responsável; 2) implementar políticas e práticas que atendam a elevados critérios éticos,

contribuindo para o alcance do sucesso econômico sustentável em longo prazo; 3) assumir suas

responsabilidades com todos aqueles que são atingidos por suas atividades; 4) demonstrar a seus acionistas a

relevância de um comportamento socialmente responsável para o retorno em longo prazo sobre seus

investimentos; 5) identificar formas inovadoras e eficazes de atuar em parceria com as comunidades na

construção do bem-estar comum; e 6) prosperar, contribuindo para um desenvolvimento social, econômica e

ambientalmente sustentável. Disponível em http://www3.ethos.org.br/conteudo/sobre-o-instituto/principios-e-

compromissos/#.V4gecmf2bIU. Acessado em 14-07-2016 às 21:00h.

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inclusive, coloca esta conduta como determinante para que as empresas interessadas a ele se

associem.

Apesar das inúmeras possibilidades de divergência sobre o conceito de

Responsabilidade Social, o Instituto Ethos destaca um número significativo de Empresas que

já a concebem de uma única forma, não obstante à abrangência de seu entendimento e do que

definem como significado.

Empresas como a Business for Social Responsibility (BRS), a Corporate Social

Responsibility (CSR-Europe), o prórpio Instituo Ethos de Empresas e Responsabilidade

Social, a International Finance Corporation (IFC), a Sustainability Institute, o Institute of

Social and Ethical Accountability, as Organizações pelo Desenvolvimento Sustentável etc,

entendem que a Responsabilidade Social Empresarial se estabelece no atendimento das

demandas de seus stakeholders2 em qualquer época (ETHOS, 2007, p. 5). Englobam-se a

esses stakeholders, todas as organizações de interesse civil, social e ambiental, bem como o

público que faz parte direta da atuação dos gestores (o público interno, os acionistas e, é

óbvio, os clientes, principal foco de qualquer organização).

Inúmeras podem ser as possibilidades: desde um auxílio simplório, demandado por

uma necessidade básica de sobrevivência (alimentação, abrigo, segurança etc.), até uma ação

de apoio ao desenvolvimento pessoal e/ou comunitário (a oferta de uma profissão, o incentivo

ao cooperativismo, o apoio ao empreendedorismo etc.). Tudo cabe neste contexto de utilidade

social. Isto, no entanto, não define, claramente, se a ação é de filantropia; se é de

responsabilidade social; ou, ainda, se há uma interdependência entre elas.

Souza Filho, Pereira e Barbieri (2011, p. 2) abordam que os interesses por considerar

ações sociais como parte integrante do mundo dos negócios remontam períodos relativamente

distantes, como à época do mercantilismo, por exemplo. Nesse período era comum, por parte

de quem detinha algum poder econômico, a prática de doações de alimentos e insumos aos

mais necessitados.

Nos dias de hoje, iniciativas com estas características são comumente enquadradas

como ações exclusivas de filantropia. Entende-se, porém, que a doação, pura e simples,

pouco, ou quase nada, contribui para o desenvolvimento de uma coletividade, além de

fomentar uma dependência econômica capaz de anular quaisquer reações em busca do

autossustento, bem como de inibir a vontade de trabalhar pela mudança e melhoria das

próprias condições de vida.

2 Stakeholders: Entenda-se como todas as partes interessadas nos resultados da Organização, compreendendo:

empregados, acionistas, clientes e sociedade.

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Admitindo-se que as empresas, especialmente as que representam o Estado, compõem

o rol de responsáveis diretos pelo desenvolvimento da sociedade, torna-se indispensável que

este desenvolvimento seja consolidado com iniciativas que garantam autonomia para

sobrevivência e crescimento contínuo daqueles que são afetados e/ou criam expectativas em

torno do empreendimento empresarial. Teme-se, todavia, que as controvérsias conceituais

sobre filantropia e responsabilidade social, possam comprometer o atendimento desta

necessidade, na medida em que as ações de uma podem ser interpretadas como atribuições da

outra, e o desenvolvimento em si, como propósito maior de retorno à coletividade, não se

enquadre como uma preocupação empresarial.

O interesse pela elaboração deste trabalho foi despertado, inicialmente, por uma

inquietação provocada a partir de uma comparação, grosseira, entre o que se imaginava ser

ação de Responsabilidade Social e o que, de fato, se pratica e/ou se propala no dia-a-dia

laboral da Eletrobras Eletronorte - quer por meio de comentários informais, ou até por

divulgações oficiais - presentes em sites, relatórios, reuniões, conferências etc. Assim sendo, a

questão que conduziu esta pesquisa foi: as ações concebidas como de responsabilidade

social, desenvolvidas pela Eletrobras Eletronorte, são consideradas como tal ou como

filantropia?

Consonante ao postulado de Borger (apud LOURENÇO et al, 2003), que destaca a

necessidade de se aprofundar cada vez mais nos estudos sobre Responsabilidade Social, dada

à diversidade de interesses vinculados a ela, por parte das empresas - e daí a possibilidade de

desviá-la dos procedentes fins - passa a ser, então, o principal objetivo desta pesquisa:

identificar se as práticas sociais desenvolvidas pela Eletrobras Eletronorte correspondem ao

que se concebe como iniciativas de Responsabilidade Social, ou se podem ser consideradas,

especificamente, como ações de filantropia.

Busca-se também, com base nas suas iniciativas, verificar se há clareza sobre

especificidades conceituais, e correlações práticas entre Filantropia e Responsabilidade

Social. Se suas práticas, denominadas de Ações de Responsabilidade Social estão, de fato,

inseridas no conjunto de interesses estratégicos da organização e, principalmente, se lhe dão

legitimidade como uma organização socialmente responsável.

De uma maneira geral pretende-se transitar pelo maior número de conceitos até aqui

elaborados sobre Responsabilidade Social, suas convergências e divergências, em especial as

que fazem referência à filantropia, relacionando-os às ações da empresa estudada e, por meio

de análises críticas dos resultados, identificar consonâncias com seus objetivos e com o que a

literatura considera ser uma empresa socialmente responsável.

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A pesquisa, classificada como descritiva, foi realizada com o auxílio de dois (02)

instrumentos. Inicialmente por um questionário fechado, complementada com uma entrevista

estruturada, buscando-se, por meio deles, estabelecer relações entre variáveis, utilizando

técnicas padronizadas de coleta de dados (DENCKER, 2001, p. 124).

Vários questionamentos mostraram que os investigados não enxergam claramente a

Eletrobras Eletronorte como uma empresa plenamente engajada nos princípios da

Responsabilidade Social. A razão, no entanto, e pelos relatos, não se evidencia na ausência de

iniciativas, parece estar muito mais atrelada a uma caracterização inconsistente do que seja

realmente uma ação de Responsabilidade Social, ou pelo total desconhecimento do que se

pratica para este fim.

Nos demais questionamentos foi possível verificar, predominantemente, que o público

pesquisado tem dúvidas sobre o que verdadeiramente seja uma ação de Responsabilidade

Social. Esta dúvida, inclusive, fica bem evidente quando se menciona a possibilidade de

relacioná-la com o exercício do voluntariado, envolvendo doações de caráter material ou

imaterial, uma preocupação até certo ponto referendada por Santos (2003, p. 20), que coloca o

voluntariado como uma atitude isolada, e o destaca muito mais como uma ação de caridade do

que como uma obrigação de qualquer natureza.

No geral a pesquisa sugeriu que as ações desenvolvidas pela empresa ainda não detêm

consistência suficiente para legitimá-la como socialmente responsável. Outras pesquisas,

provavelmente identificariam causas complementares, vinculadas à melhoria da gestão dos

investimentos dispensados; da preparação dos responsáveis pelo desenvolvimento do

processo como um todo e, principalmente, pelo correto entendimento conceitual da matéria e

dos seus desafios.

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1 CAPÍTULO I: OS CONCEITOS EM QUESTÃO

A Responsabilidade Social é um movimento cada vez mais crescente no meio

empresarial mundial. É notória também, a necessidade de estudá-la como suporte de uma

diversidade de interesses, especialmente no universo das organizações. Sua importância

apresenta-se destacada tanto nos modelos de gestão, como nas propostas de desenvolvimentos

social, econômico e ambiental.

Sabe-se, no entanto, que ao longo de décadas, muitas ações desenvolvidas com este

fim, se tornaram alvo de questionamentos sobre a legitimidade de seus propósitos.

Caracterizadas por doações pura e simples, sem qualquer preocupação com o

desenvolvimento — pelo menos que se mostrasse evidenciada — facilmente eram rotuladas

como iniciativas filantrópicas, voltadas para combater a miséria e dissociadas de qualquer

obrigação com o crescimento humano.

Entende-se que fatores dessa natureza, contribuíram para que os conceitos, tanto de

filantropia, quanto de responsabilidade social, no seu processo de construção, fossem se

misturando — ora sincronizados, ora controversos e ora complementares — o que remete à

necessidade de estudá-los de forma mais específica, para que as próprias organizações, a

partir desse entendimento, amadureçam sua compreensão e direcionem com efetividade o que

pretenderem adotar como objetivo nessas linhas.

1.1- Filantropia: origem, concepção conceitual e sua aproximação com a

responsabilidade social.

A palavra ―Filantropia‖ vem do Grego philanthropia, e significa ―benevolência,

humanidade‖. Trata-se de uma composição do termo philos, ―o que gosta de‖, mais

anthropos, entendido, nesta construção, como ―gênero humano‖, ou seja, etimologicamente,

filantropia é concebida como ―amizade pela humanidade‖ (VIARO, 2011).

Originalmente, no início do século XX, o conceito de filantropia foi desenvolvido com

a concepção de que uma ação social parte, na sua essência, de uma iniciativa individual, ou

seja, entende-se que alguém, com recursos de qualquer natureza, principalmente financeiro,

crê que, por meio de doações direcionadas a entidades específicas, ou a determinadas causas,

é possível transformar a qualidade de vida de algumas pessoas - em especial, daquelas que

estiverem diretamente prejudicadas pelos impactos sociais (FARIA E SAUERBRONN,

2008).

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Aprimorando esse conceito surge também a ideia de que a filantropia atua como um

segmento da sociedade civil que objetiva construir alternativas para evitar contextos que

fomentem a exclusão do ser humano (SANTOS, 2003, p. 20).

Este autor ressalta, no entanto, que a transformação dessa ideia em realidade está

diretamente vinculada à utilização do recurso privado como uma das fontes de benefício

público, cujo foco principal é fazer com que a sociedade alcance patamares mais elevados de

desenvolvimento. Este desenvolvimento se daria a partir de projetos criadores de

oportunidades às camadas consideradas menos favorecidas; de iniciativas que tornem bens e

serviços mais acessíveis e do estabelecimento de relações consistentes entre os mais variados

setores da sociedade; mitigando, com isso, e preferencialmente em escala, os impactos

normalmente causados pelas diferenças sociais.

Na prática, complementa Santos (2003, p. 22), o ato filantrópico é o auxílio dado a

indivíduos, grupos de indivíduos, instituições etc, que se propõem à criação de atividades com

elevado preceito social, ou seja, aquelas cujo propósito é, antes de qualquer outro objetivo,

resguardar os princípios básicos da dignidade humana.

Afirma que este auxílio, em geral, é disponibilizado por meio de desembolso

monetário ou, na impossibilidade deste, utilizando-se de outros recursos que possam ser

transformados em resultados financeiros. E destaca: como, na sua essência, a filantropia é

caracterizada por ―amor a humanidade‖, aqueles que se lançam ao seu exercício, o fazem com

a crença de que são capazes de mudar os rumos da sociedade, sem precisar do governo para

este fim.

Há casos que também são caracterizados como atos de filantropia, que se revelam, por

exemplo, a partir de iniciativas de determinados empresários ou de profissionais bem

sucedidos, que não acreditam na forma como o Estado se posiciona em relação a esse aspecto,

e decidem se unir àqueles que, por esse caminho, desejam transformar a sociedade. O

importante, porém, para este trabalho, é deixar claro que a filantropia, por tudo que dá suporte

ao seu conceito, e pela forma como é praticada, tem particularidades que a distingue

claramente da Responsabilidade Social.

Segundo Santos (2003, p. 25), é fundamental atentar para uma diferença básica, pois a

filantropia se individualiza por uma ação social pura e simples, podendo ser desenvolvida

isolada ou sistematicamente, mas sem qualquer compromisso de fazer face à visão de uma

empresa ou ao planejamento estratégico de sua ação social. Diz ainda, que a filantropia se

caracteriza por ações esporádicas, por doações e por outros gestos de caridade, desvinculados

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das estratégias empresariais, o que não se admite quando as atividades são resultados de um

compromisso da organização com a Responsabilidade Social.

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (2002a) reforça esta

concepção quando afirma que a Responsabilidade Social deve estar inserida nas estratégias da

empresa, como um instrumento de gestão, na medida em que precisa alcançar a cadeia de

negócios da organização - uma composição que reúne acionistas, empregados, fornecedores,

clientes, prestadores de serviços, governo e meio ambiente - atendendo demandas e

necessidades advindas deste conjunto.

Esta construção conceitual corrobora, de certa forma, com o modelo de Mapa

Estratégico concebido pela Eletrobras Eletronorte (figura-1), mostrando que na dimensão

―processos‖, um dos pilares é a ―integração e a eficientização da gestão dos programas sociais

e ambientais‖. Em outras palavras, a empresa declara em seu Planejamento Estratégico que

esta integração deve ser garantida por meio da total sinergia entre todos os processos e todas

as equipes que desenvolvam atividades sociais e ambientais adicionais aos requisitos legais

compulsórios. Que estas atividades estejam em perfeita harmonia com os programas

governamentais, e sob a responsabilidade de uma coordenação centralizada, o que, na sua

visão, contribui para a racionalização de recursos.

Figura 1: Mapa Estratégico da Eletrobras Eletronorte.

Fonte: Plano Estratégico Eletrobras Eletronorte – Ciclo 2015-2030 – Revisão 2015

Mapa Estratégico

Visão:

2015 Classe mundial com resultado sustentável 2030 – Energia limpa e rentabilidade

Valor para os acionistas: geração de caixa e rentabilidade

Valor para os clientes: preço, qualidade, acesso, continuidade, prazo e negócio sustentável

2. Obter reconhecimento como empresa classe mundial 3. Desenvolver portfólio de

negócios

4. Solucionar questões estruturais

5. Aumentar a eficiência e a eficácia operacional

6. Aumentar a eficiência e a eficácia na gestão do

conhecimento 7. Integrar e eficientizar a gestão dos programas

sociais e ambientais

1. Alcançar resultados sustentáveis

8. Garantir conhecimentos,

habilidades e atitudes para a execução dos negócios

9. Disponibilizar tecnologias e infraestrutura para suportar os

negócios 10. Liderar a execução das

estratégias

Valores: Foco em resultado; ética e transparência; valorização e comprometimento das pessoas; empreendedorismo e inovação; sustentabilidade

Fin

ance

ira

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nte

s P

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A Responsabilidade Social é um movimento crescente no meio empresarial mundial, o

que torna prudente estudá-la como um dos suportes de uma diversidade de interesses. Sua

importância apresenta-se destacada tanto nos modelos de gestão, como nas propostas de

desenvolvimento social, econômico e ambiental. Lourenço, Bicalho, Simeone et al (2003)

enxergam a Responsabilidade Social como uma reação política aos efeitos causados pela

globalização, que estão constantemente ameaçando a coesão social e a preservação ambiental.

Complementa, fazendo-nos entender que, quando se discute sobre Responsabilidade Social,

várias são as hipóteses colocadas como suas finalidades.

Pesquisas desenvolvidas em organizações brasileiras, mais especificamente no Norte e

no Nordeste do país, asseguram que as pressões socioinstitucionais têm sido determinantes no

atual modelo de Responsabilidade Social Empresarial (DRUVOT; DRUVOT, 2011). Estes

mesmos autores afirmam existir uma relação direta entre a coerência da política de

Responsabilidade Social Empresarial e os desenvolvimentos, sustentável e da própria

empresa, além de dar consistência à legitimidade organizacional, ainda que demande relativo

esforço para colocá-la em prática.

Barbieri e Cajazeira (2009, p. 53) ressaltam que independentemente do referencial

teórico utilizado para dar suporte às práticas de Responsabilidade Social Empresarial, as

dificuldades para implementá-las sempre existirão, dada a diversidade de motivos que

envolvem direitos, obrigações e expectativas de diferentes públicos, dentro e fora das

organizações.

Os entendimentos sobre as empresas e a relação destas com a sociedade são variados,

o que representa mais uma dificuldade para definir práticas de Responsabilidade Social,

principalmente porque nada do que for feito poderá prescindir da necessidade de buscar

resultados econômicos favoráveis que justifiquem a existência das organizações empresariais.

Uma forma utilizada para lidar com esta complexidade é o modelo desenvolvido por

Carroll (1979) de desagregação dos componentes que estruturam as ações de

Responsabilidade Social. Na sua concepção, uma empresa socialmente responsável é aquela

que atende expectativas econômicas, legais, éticas e filantrópicas, ressaltando a filantropia

como uma restituição à sociedade do que a organização se apropriou para se estabelecer.

Dias (2011) por sua vez, não considera a filantropia como uma ação de

Responsabilidade Social e a classifica como iniciativas eventuais, em forma de doações,

desvinculadas de quaisquer compromissos. A seu ver Responsabilidade Social faz parte das

estratégias de uma empresa para colocá-la em consonância com as necessidades de

desenvolvimento da sociedade, o que representa algo bem maior que uma ação filantrópica.

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Como se observa, então, as controvérsias em torno do significado de uma, e outra,

estão sempre em destaque, independentemente da época.

Ao longo de muitos anos as organizações empresariais traçaram seus objetivos sem

preocupações pontuais com outros aspectos, senão os voltados para a alta produtividade,

aliada, quase que exclusivamente, à busca de altos lucros. Os impactos desta postura, se

prejudiciais ou não, não faziam parte dos cuidados dos seus gestores, independentemente das

perdas que pudessem causar à sociedade onde estivessem inseridas (DRUCKER, 2012).

A concepção de vida, no entanto, vem se transformando por meio de uma dinâmica

constante de estabelecimento de novas exigências, oriundas de todas as vertentes sociais,

impondo — até por força de uma concorrência cada vez mais acirrada — novos modelos de

gestão, onde não cabe, em hipótese alguma, negligenciar responsabilidades, cujos resultados

denotem falta de compromisso da empresa com a redução da distância entre interesses de

caráter estritamente financeiros e Responsabilidade Social, quer dentro ou fora da organização

(JOHNSON; SCHOLES; WHITTINGTON, 2011).

Sabe-se, porém, que o entendimento sobre o que verdadeiramente significa

Responsabilidade Social passa por concepções conceituais diversas, muitas, inclusive,

consideradas extremamente distorcidas, pela forte confusão com ações assistencialistas. E é

essencialmente dentro da necessidade de se fazer essa diferença, que convém refletir sobre a

visão das instituições e das organizações neste sentido. Lourenço, Bicalho, Simeone et al

(2003) nos convida a uma reflexão crítica com a seguinte questão: Afinal, qual é o papel das

empresas na sociedade?

O autor destaca que num primeiro momento, só o fato da organização existir já

significa uma demonstração de compromisso com a sociedade, por tudo que ela representa em

termos de prosperidade social - uma visão predominante dos seus gestores, acionistas e/ou

outros grupos de interesses específicos (stakeholders). Em seguida, concebe a ideia de que a

recompensa com auxílios, doações, bônus financeiros etc., principalmente para a força de

trabalho da própria organização, caracteriza uma responsabilidade empresarial, sem se dar

conta de que é exatamente neste ponto que a confusão com o assistencialismo mais se

evidencia. Por último, enfatiza que a Responsabilidade Social propriamente dita só se

consolida quando, da organização, demandar uma proposta de desenvolvimento concomitante

com o desenvolvimento da sociedade. Nada que ignore as especificidades organizacionais,

mas com a obrigação de que as medidas em direção a esse desenvolvimento sejam parte

integrante de planejamentos, objetivos e metas em qualquer tempo.

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Como se observa há uma variedade de entendimentos sobre o que verdadeiramente

seja Responsabilidade Social, o que, de certa forma, pode dificultar como deva ser pensada,

estruturada, desenvolvida, consolidada e medida sua eficácia na legitimidade das

organizações.

1.2- A construção do conceito de responsabilidade social

A preocupação com Responsabilidade Social aparece destacada em, pelo menos, três

fases. A primeira, que representa sua origem, se deu no início do século XX, nos Estados

Unidos da América do Norte, a partir do surgimento das ciências administrativas, que

trouxeram no bojo de suas inquietações, muitos debates sobre a dimensão social das empresas

(REIS; MEDEIROS, 2012).

O entendimento predominante nesse período era de que a Responsabilidade Social se

evidenciava pelas ações que as empresas adotavam para resguardar o indivíduo em duas

dimensões, quais sejam: disponibilidade de emprego e garantia de segurança no ambiente de

trabalho. Isto, na visão de muitos administradores da época, representava a total integridade

do homem, aqui representado exclusivamente pelo operário — uma visão extremamente

limitada, diga-se de passagem, na medida em que se dispensavam quaisquer preocupações

com os impactos que essas ações pudessem causar em outras instâncias e/ou em outras épocas

(COSTA, 2011).

Avaliando-se esse entendimento é possível perceber que a ética empresarial, como um

dos pilares da Responsabilidade Social, não compunha o rol de cuidados por parte das

organizações. Tanto que em 1953, Bowen (Apud FREIRE et al, 2008, p. 4), em um livro

intitulado Responsibility of the Businessman, atribuiu à alta produção das empresas —

consequência de um crescendo impulsionado pela Revolução Industrial — o motivo maior

dos impactos sociais. Por isso também alertou sobre a necessidade de que as obrigações e as

decisões dos empresários fossem sempre sustentadas pelos valores desejáveis da sociedade.

A segunda fase, mais de meio século depois, especificamente de 1960 a 1980, revelou

um período marcado por cenários de grandes turbulências sociais, cujos movimentos se

caracterizaram por fortes pressões às empresas.

Essas pressões eram pautadas, inicialmente, em preocupações com poluição, consumo

excessivo e redução de empregos (um temor diretamente vinculado ao desenvolvimento

tecnológico acelerado). Depois se configuraram por frequentes debates sobre economia,

política e limites de crescimento, o que impunha às organizações obrigações mais amplas que

a mera rentabilidade (FARIA; SAUERBRONN, 2008). Ainda segundo estes autores, essas

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circunstâncias foram determinantes para, ao final da década de 1970, surgir a ideia de

Responsabilidade Social Corporativa (RSC), que representou a mudança da perspectiva

individual para a organizacional.

Os exemplos apresentados a seguir são declarações propriamente ditas, formuladas e

divulgadas, ao longo dos anos, pela empresa utilizada como objeto de pesquisa neste trabalho.

Percebe-se que não há diferenças significativas dos exemplos citados anteriormente, ao ponto

de exigirem algum tratamento diferenciado, mas são fundamentais para dar suporte às

questões teórico-práticas que sustentam este estudo:

Quadro-1: CREDO ELETROBRAS ELETRONORTE (Exemplo-1)

Visão Ser referencial no negócio de energia elétrica pela excelência da gestão e integração com a

sociedade.

Missão Contribuir para o desenvolvimento da Amazônia e do Brasil, disponibilizando soluções de

energia elétrica com excelência.

Valores

Valorização das pessoas; respeito ao meio ambiente; excelência na gestão; qualidade;

integração; transparência; responsabilidade social; comprometimento; criatividade;

aprendizado contínuo; segurança; foco no cliente.

Fonte: Planejamento Estratégico da Eletronorte 2004-2006

Quadro-2: CREDO ELETROBRAS ELETRONORTE (Exemplo-2)

Visão Com energia e comprometimento, ser uma Empresa sustentável, referencial de excelência

e valorizada pela sociedade.

Missão Atuar no negócio de energia elétrica com rentabilidade e responsabilidade socioambiental.

Valores

Excelência na gestão: compromisso em oferecer serviços de qualidade;

Valorização das pessoas: estimulando a criatividade, a iniciativa e a produtividade;

Comprometimento: entusiasmo, responsabilidade e determinação pelo crescimento da

Empresa;

Aprendizado contínuo: buscando a ampliação do capital intelectual da Empresa;

Empreendedorismo: Incentivando a proatividade e coragem para inovao como forma de

garantir aperenidade da Empresa;

Ética e transparência: nas decisões, no comportamento e no trato dos negócios.

Fonte: Planejamento Estratégico da Eletronorte 2007-2010

Quadro-3: CREDO ELETROBRAS ELETRONORTE (Exemplo-3)

Visão

Estar entre as 3 maiores empresas globais de energia limpa e entre as 10 maiores do

mundo em energia elétrica com rentabilidade comparada às melhores do setor e sendo

reconhecida por todos os seus públicos de interesse.

Missão Atuar nos mercados de energia de forma integrada, rentável e sustentável.

Valores Foco em resultados; ética e transparência; valorização e comprometimento das pessoas;

empreendedorismo e inovação; sustentabilidade.

Fonte: Planejamento Estratégico Eletrobras Eletronorte 2010-2030 – Revisão 2012

Ainda sobre as discussões acerca da atuação social corporativa, Tenório (2006)

confirma que as mesmas realmente iniciaram nos primeiros anos do século XX. Cita o

filantropismo como uma das particularidades motivadoras desse movimento, acrescentando

que já no período pós-industrial houve uma evolução do conceito, passando a incorporar os

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anseios dos agentes sociais e a integrar as estratégias empresariais. Assim, diz-se que a

filantropia está inserida no conceito de Responsabilidade Social.

Carrol (1991), no entanto, ressalta ser esse apenas um de seus aspectos. A

Responsabilidade Social, segundo ele, inclui contribuições filantrópicas, mas não está

limitada a estas. Acrescenta que a filantropia é extremamente desejada e valorizada, contudo,

menos importante que outras três categorias indispensáveis a esta concepção: as contribuições

econômica, legal e ética - cada uma com suas especificidades, embora inter-relacionadas

numa infinidade de circunstâncias.

A responsabilidade econômica, por exemplo, é intrínseca à organização, uma vez que,

historicamente, as empresas são desenvolvidas com o objetivo de gerar bens e serviços à

sociedade, revertidos em lucro com a comercialização. Já as responsabilidades legais estão

atreladas ao cumprimento de regras impostas pelas esferas federal, estadual e municipal,

estabelecidas como pré-requisito para o seu funcionamento. A responsabilidade ética, por sua

vez, faz referência à obediência de uma série de normas que, embora não apareçam explícitas

em alguma legislação ou código, compõem o conjunto de expectativas que a sociedade tem

em relação às organizações. Estão relacionadas a princípios e valores dos atores sociais.

Sempre é prudente, no entanto, revisitar o conceito de ética, pois, a complexidade para

interpretá-lo pode estabelecer um direcionamento a exigências de condutas fortemente

desconexas do seu verdadeiro propósito. Neste sentido, Singer (1994, p.10-23) ressalta, com

razoável detalhe, o que a ética não é, e o que a ética é, exatamente para nos desvencilhar dos

enganos que têm se repetido em torno do seu entendimento. Ele diz que a ética não é um

conjunto pré-estabelecido de proibições. Que quaisquer decisões, independentemente do

objeto motivador, podem envolver considerações diversas, como: de honestidade, de

preocupação com o outro, de prudência etc, mas não há nisso nada que se caracterize como

proibição.

Singer (1994, p.10-23) também alerta que não se pode enxergar a ética como um

sistema ideal de grande nobreza na teoria, mas de extrema complexidade operacional, ou até

completamente inaproveitável na prática. Para esses casos, afirma que ―um juízo ético que

não é bom na prática deve ressentir-se também de um defeito teórico, pois a questão

fundamental dos juízos éticos é orientar a prática‖. Além disso, afasta a ética de algo que só

tem sustentação no contexto das religiões, na medida em que entre elas próprias, diz, há uma

infinidade de contradições sobre o que pensam e como se comportam seus seguidores. Nesta

linha, nos põe a refletir sobre o cotidiano, onde considera claro que na conduta humana o

comportamento ético não se caracteriza, exclusivamente, por uma ou outra concepção

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religiosa. Inúmeras são as atitudes dignas de uma classificação nobre, cujos autores são

cidadãos sem quaisquer vínculos dessa natureza.

Por último, Singer afirma não aceitar, em hipótese alguma, a ideia de que a ética seja

algo subjetivo ou relativo. Discorda da subjetividade quando defende uma prática viável e de

fácil compreensão dos comportamentos éticos, assim como, também discorda da relatividade,

pela infundada e insistente difusão de que a ética está condicionada à sociedade em que se

vive. Considera que esta maneira de vê-la pode levar a um entendimento superficial da

matéria, capaz de fragilizar o compromisso ético que qualquer cidadão deve ter,

principalmente pela responsabilidade que todos carregam como produtores desse meio.

Não obstante à complexidade mencionada sobre o conceito de ética — o que exigiria,

para melhor compreendê-lo, uma exploração minuciosa de uma infinidade de

comportamentos, relacionando-os, um a um, a circunstâncias e características específicas da

sociedade onde tiverem ocorrido — e ainda por não ser esta a proposta maior deste trabalho,

entende-se como suficiente, para justificar o terceiro pilar de sustentação do conceito de

Responsabilidade Social, considerar a parte mais abrangente do postulado de Singer que

defende a ética como uma concepção que atribui à razão um papel determinante nas atitudes

classificadas como decisões éticas.

O cerne, portanto, está em entender que atitudes éticas são aquelas que mostram

compatibilidade entre interesses pessoais e princípios éticos de bases mais amplas. As ações

de Responsabilidade Social, dentro deste pensamento, precisam transcender o que for apenas

conveniente para a organização, na medida em que a noção de ética está composta de

objetivos maiores que qualquer alvo de foco individual. Isto significa que as organizações

quando forem defender iniciativas desta matéria, com o discurso de total enquadramento em

condutas de bases éticas, precisam provar que os resultados dessas condutas não se restringem

a benefícios próprios, mas contemplam um público bem maior, principalmente aquele

estabelecido no entorno da empresa e que teve sua estrutura social afetada de alguma forma.

Outros autores confirmam este entendimento. Sá (2010, p. 3), por exemplo, ao

ressaltar que a Ética, no sentido amplo, deve ser entendida como a ciência da conduta humana

perante o ser e seus semelhantes, nos impele, por meio de uma analogia simples, a procurar

enxergar as organizações pelo mesmo prisma, ou seja, não somente responsáveis pelos

resultados que se revertem em benefícios de si mesmas, mas também pelos impactos que suas

ações podem causar em outras esferas da sociedade.

Como é possível perceber, no modelo de Responsabilidade Social proposto por

Carroll (1991), o desafio das empresas é desenvolver práticas empresariais que satisfaçam as

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quatro responsabilidades (a econômica, a legal, a ética e a filantrópica), garantindo-lhes a

caracterização de empresas ―socialmente responsáveis‖.

Autores como Melo Neto e Froes (2001) vão mais além nesta concepção. Em

complementação ao postulado de Carroll, propõem, como num desdobramento, a necessidade

indispensável de se considerar várias visões para analisar e compreender o conceito de

Responsabilidade Social, quais sejam:

Como atitude e comportamento empresarial ético e responsável, traduzidos numa

relação de transparência com governo, clientes, fornecedores, comunidade, etc;

Como um conjunto de valores, capazes de elevar a autoestima dos funcionários, por

exemplo;

Como estratégica empresarial, capaz de gerar retorno financeiro à organização;

Como estratégia de melhoria do relacionamento, especialmente com clientes,

fornecedores e distribuidores;

Como estratégia de marketing institucional, focada na melhoria da imagem da

empresa, dentre outras.

Como se observa, o conceito de Responsabilidade Social tem uma amplitude que reúne

vários significados: de cidadania corporativa; de desenvolvimento sustentável; de crescimento

sustentável; de sustentabilidade; de capitalismo sustentável; de filantropia empresarial; de

marketing social etc. Todos se referindo a um conjunto de ações das empresas em relação à

sociedade (GARCIA, 2004).

É óbvio que ações de Responsabilidade Social contribuem para a melhoria da

comunicação da empresa com a sociedade e, de certa forma, entende-se ser este um forte

caminho para legitimá-la. No entanto, quando se observa a intercalação de iniciativas, entre

áreas diferentes dentro de uma organização - ora de desenvolvimento, ora essencialmente

filantrópicas - surgem os questionamentos sobre o nível de segurança creditado a essas ações

para os fins que as justificam: de estratégia de legitimidade da organização junto à sociedade.

Como são inúmeras as concepções conceituais de Responsabilidade Social, cada

empresa acaba atuando de forma diferenciada, e como melhor lhe convier. As questões,

portanto, são: até que ponto pode estar distorcido, dentro de determinadas empresas, o que

fora pensado como a essência da Responsabilidade Social, ainda que respeitadas suas

especificidades? Pode-se afirmar que o modelo de Responsabilidade Social instituído por

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algumas organizações, está devidamente enquadrado no rol de estratégias de seus negócios, e

lhes garante legitimidade como socialmente responsáveis?

São questões que nos remetem à necessidade de, também, discorrer sobre os conceitos

de Estratégia e Legitimidade, considerando-se, pelo menos, o mínimo necessário ao exercício

dessa avaliação.

1.3- O que fazem as organizações: responsabilidade social ou filantropia?

Um dos primeiros cuidados que se precisa ter quando do entendimento das

organizações empresariais é a certeza de que, independentemente do que se propõem a

fazerem - sejam elas de desenvolvimento de produtos ou de prestação de serviços, quer como

instituições públicas ou de iniciativa privada - são órgãos que pertencem à sociedade, criados

para atendê-la, em torno de uma ou de várias necessidades específicas (DRUCKER, 2002).

Diz ainda o autor, que mesmo que as empresas se determinem a trabalhar nas suas

especificidades, estritamente focadas no que declaram como seus objetivos, sua existência só

se justifica pela responsabilidade imprescindível de atendimento social. Que as empresas não

existem para si próprias e sim como meios de atendimento às demandas da sociedade. Uma

afirmativa que, inclusive, vem alertar sobre como se deve procurar enxergá-las no contexto

social.

Inicialmente, é importante entender que a administração é uma necessidade intrínseca

da empresa - longe de ser pensada como algo opcional. Que suas iniciativas e procedimentos

devem transcender os limites da organização, dada à carga de expectativas da sociedade,

tornando mais fácil a compreensão de suas tarefas.

Segundo Drucker (2002), uma organização precisa dispensar toda a atenção necessária

à identificação de sua finalidade, sem a qual fica extremamente difícil definir a missão que

está em condições de assumir. Neste sentido, e como ferramenta, a administração precisa ser

utilizada para explorar características e especificar propósitos, entendendo que neles é

impreterível deixar claro quais serão as realizações pretendidas pela empresa. Essas

realizações têm que se mostrar sustentadas por trabalhos que promovam o desenvolvimento,

dentro e fora da organização, e, ao mesmo tempo, compor a lista de fatores de realização do

trabalhador. Nesta linha de pensamento, ressalta que as dimensões da administração são de

especificar a finalidade da organização; de tornar o trabalho fonte de desenvolvimento e de

realização do trabalhador, bem como, de gerir impactos e obrigações próprias junto à

sociedade.

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Pela importância desses fatores, é prudente detalhá-los para uma compreensão sólida

de sua representatividade, principalmente quanto às obrigações sociais, foco de maior

preponderância neste trabalho, dada a certeza de que qualquer feito empresarial impacta, de

alguma forma, no ambiente, e a administração precisa dar conta dessas influências.

Portanto, independentemente do que as organizações se propuserem a fazer - quer com

a denominação de Responsabilidade Social ou de Filantropia - no rol dos seus objetivos

precisa conter estratégias de atendimento às expectativas da sociedade, esta que se

disponibiliza, de forma voluntária ou por imposição do próprio desenvolvimento, com todos

os insumos (de caráter intelectual e/ou material) que suportam os interesses empresariais.

Como qualquer organização que se estabelece tem, na sua essência, a busca pela

perenidade, é comum vê-las traçando desafios para alcançar benefícios que se estendam por

longo prazo. Para este fim, e porque metas de longo prazo são inerentes à sua concepção,

entende-se que algum conhecimento sobre estratégia, seja um dos caminhos a trilhar, daí à

necessidade de discorrer um pouco mais sobre o assunto como parte do próximo capítulo.

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2 CAPÍTULO II: OUTROS CONCEITOS RELACIONADOS

Discorrer, pura e simplesmente, sobre os conceitos de filantropia e responsabilidade

social, pode não dar o suporte suficiente ao que se pretende estudar do comportamento das

organizações, a respeito dos seus interesses e/ou obrigações com a sociedade.

Diversas causas atuam como motivadoras das iniciativas de uma empresa, sejam elas

de responsabilidade em si ou até de movimentos voluntários. Se essas iniciativas se traduzirão

em resultados positivos, se são estratégicas para o desenvolvimento das organizações, se

garantem a legitimidade das mesmas como empresas socialmente responsáveis, tudo está

atrelado a outros entendimentos, razão pela qual, neste capítulo, abordam-se algumas

interpretações de estratégia; a responsabilidade social como estratégia e o que se entende

sobre legitimidade.

2.1- Algumas interpretações de estratégia

Classicamente estratégia significa a ―arte militar de planejar e executar movimentos e

operações de tropas, navios e/ou aviões, visando alcançar ou manter posições relativas e

potenciais bélicos favoráveis a futuras ações táticas sobre determinados objetivos‖

(FERREIRA, 1984, p.586). Outros significados, na essência, também farão menções a

procedimentos militares, no entanto, estratégia é um termo que hoje transita em inúmeras

esferas e, em particular, se faz sempre presente no desenvolvimento das organizações,

determinando condutas que garantam permanência e competitividade no mercado.

Cavagnari (1996) faz um histórico sobre a evolução da estratégia, destacando que nos

séculos XVII e XVIII o alto custo de organização e manutenção dos exércitos estimulou a

preocupação de se estabelecer regras que melhorassem a capacidade de assédio. Que

Frederico, o Grande, durante a Guerra dos Sete Anos, concebeu como estratégia, a alta

disciplina do seu exército e o fato de se sentir geograficamente privilegiado, por ocupar uma

posição central em relação aos inimigos. O autor também faz referência às principais medidas

estratégicas adotadas na primeira e segunda guerras mundiais. Ou seja, são significados e

concepções que consolidam o termo Estratégia, originalmente, quase sempre concebido como

procedimentos exclusivamente militares.

Observando, no entanto, os destaques de Cavagnari (1996), é possível identificar, pela

ênfase dada ao alto custo de organização e manutenção dos exércitos nos séculos XVII e

XVIII, uma preocupação específica com o suporte financeiro da organização para garantir

suas rotinas. O custo, portanto, traduzia-se, neste caso, como o foco principal de significado

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estratégico. Já na conduta de Frederico, o Grande, durante a Guerra dos Sete Anos, o destaque

está em um determinado padrão de comportamento e ao melhor posicionamento físico da

organização, como vantagens competitivas. Ambos os casos são ressalvas que, de certa forma,

particularizam o conceito de estratégia, talvez um dos erros conceituais, como veremos no

decorrer do texto.

Johnson, Scholes e Whittington (2011, p. 24) definem Estratégia como sendo o

direcionamento dado à organização para, em longo prazo, tornar-se competitiva,

independentemente das oscilações do ambiente, suportada por uma estrutura de recursos e

competências capazes de atender às expectativas dos stakeholders. Neste sentido, desmembra

a estratégia num conjunto de características aparentemente particulares, mas extremamente

associadas e dependentes umas das outras para se legitimarem. Na sua visão, estratégia e

decisões estratégicas estão atreladas à orientação de longo prazo; ao alcance das atividades da

organização; à vantagem da organização sobre seus concorrentes; à adaptação estratégica ao

ambiente de negócios; aos recursos e competências da organização e aos valores e

expectativas de seus stakeholders, sendo fatores que podem suportar qualquer pensamento

voltado para tornar a organização forte e até diferenciada no mercado.

Esses fatores, ao mesmo tempo em que mostram uma particularidade de foco, chama à

atenção para uma forte interdependência, na qual, a iniciativa escolhida sempre dependerá das

demais para se consolidar, conforme ilustrado na Figura 2.

Figura 2: A interdependência entre os fatores de construção da estratégia.

Fonte: Johnson, Scholes e Whittington (2011, p.24-25)

com foco

Estratégia e

Decisões

Estratégicas

Na Orientação de Longo Prazo

No alcance das atividades da organização

Na vantagem da organização sobre seus concorrentes

Na adaptação estratégica ao ambiente de negócios

Nos recursos e competências da organização

Nos valores e expectativas de seus stakeholders

A Orientação de Longo Prazo

O alcance das atividades da organização

A vantagem da organização sobre seus concorrentes

A adaptação estratégica ao ambiente de negócios

Os valores e expectativas de seus stakeholders

Deve considerar

Os recursos e competências da organização

Deve considerar

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Da mesma forma como, de acordo com o que a figura mostra, a Orientação de Longo

Prazo deve considerar as demais características, todas as outras, analogamente, devem se

valer da mesma consideração.

Apesar da abrangência desses fatores, permeando por praticamente todas as vertentes

organizacionais, é fundamental também saber identificar o que não é estratégia, até para se

evitar a superficialidade exagerada sobre o entendimento do seu conceito.

Este é um comportamento que, dentre outras coisas, evidencia claramente a resistência

à mudança, que passa pela sensação de perda do poder já conquistado sobre o que se executa;

pela ideia de que a nova proposta representa um aumento significativo de trabalho e,

principalmente, por não ter segurança quanto à garantia de que a mudança se traduzirá em

benefícios.

Conner (1995) diz que resistência à mudança é uma força que se contrapõe a qualquer

troca significativa do status quo. Por se sentirem ameaçadas, as pessoas lutam pela

manutenção do atual, e uma das formas utilizadas é o empenho no aperfeiçoamento

operacional das rotinas. Vale ressaltar que esta conduta não é exclusividade de um ou outro

escalão da estrutura organizacional e sim uma reação humana, presente inclusive em quem

idealiza novas estratégias.

Conner (1995) acrescenta, ainda, que apesar das mudanças velozes e significativas nos

últimos cinquenta anos, particularmente em tecnologia e estilo de vida, ainda são modestas as

transformações nos processos de gestão. Preserva-se muito dos antigos rituais, que abrangem,

nos modelos tradicionais, a manutenção da hierarquia; a exigência de lealdade da mão de obra

operacional em relação às decisões superiores e as estratégias e decisões importantes, quase

sempre deliberadas por quem está no topo — tudo parecendo tratar-se de uma imobilidade da

gestão, mesmo com o passar de tanto tempo.

Especula-se, no entanto, que repetidas inovações vêm gradativamente reduzindo

caminhos para novos aprimoramentos e tornando a gestão cada vez mais vulnerável a erros.

Apesar disso, muitos problemas foram superados com sua evolução, tais como divisão de

tarefas complexas; adesão à padronização; coordenação e centralização de esforços, avaliação

de custos e lucros etc (DRUCKER, 2002).

A gestão atual transcende a um conjunto de técnicas e ferramentas e adota a dimensão

de um paradigma que, de certa forma, impacta como um acorrentador de condutas — é o

paradigma da eficiência sempre colocado acima de qualquer outro objetivo.

Hamel (2007, p. 10) diz que assim como os seres humanos, as empresas também

possuem um DNA - especificamente na sua linha gerencial - que estabelece limitações, razão

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pela qual algumas iniciativas desenvolvem-se relativamente fácil, enquanto outras parecem

completamente impossíveis.

Romper com o passado é um dos desafios, que mesmo não estando na categoria dos

impossíveis, é algo extremamente difícil de ser conquistado. Durante muitos anos, e ainda

hoje muito presente, as organizações defendem como principal objetivo a melhoria contínua

das atividades em prática.

Não obstante a todo o movimento revolucionário que se estabelece para alcançar este

feito, o que está por trás dessa defesa é a busca pela preservação do status quo, que, como

ainda afirma Hamel (2007, p.15) representa o interesse de muitos dentro das organizações.

Conclui o autor, portanto, que o desafio de uma nova estratégia está muito além de somente

implementar modificações técnicas; aquisição de novas competências ou algo que o valha.

Há, principalmente, um verdadeiro exército de preservadores a ser combatido.

Esta análise permite compreender a preocupação de Porter (2009, p.37) quando diz

que eficácia operacional não é estratégia. Que para se construir uma estratégia é fundamental

que as empresas entendam que o mercado exige uma nova postura - que requer flexibilidade

para reagir rapidamente à presença dos competidores, por exemplo.

As empresas precisam sair de seus limites e identificar as melhores práticas, num

exercício constante de benchmark, ou seja, existe todo um mundo de aprendizado fora da

organização que deve ser transformado em aliado durante essa construção.

Porter (2009, p.4) destaca que o estrategista deve conhecer profundamente este mundo

para compreender e poder definir a melhor forma de enfrentar a competição. No seu

entendimento, os gestores têm uma visão muito limitada das ameaças e do que precisam

enfrentar em termos de competição. Em geral definem que a concorrência se restringe àqueles

que trabalham com a mesma linha de atuação, o que acaba contribuindo para a construção de

uma estratégia de pequeno alcance.

2.2- A responsabilidade social como estratégia

Apesar do entendimento de que são os interesses econômicos que predominam no

mundo empresarial, a Responsabilidade Social vem gradativamente evoluindo e ocupando um

espaço cada vez mais destacado, tanto no rol das obrigações das empresas quanto no das

cobranças da sociedade.

Embora não seja um modelo novo de exigências às empresas, considerando que a

preocupação com Responsabilidade Social data do início do século XX, observa-se ainda

certa dose de imaturidade nas iniciativas adotadas para torná-la evidente e reconhecida. Isto é

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consequência, talvez, de um tratamento desorganizado, sem a atenção e profundidade

necessárias para enxergá-la como estratégica (KRAMER; PORTER, 2009, p. 483 e 484).

Este entendimento é ratificado pelos próprios autores quando afirmam que as medidas

de Responsabilidade Social tomadas pelas empresas, pela falta de vinculação com os negócios

e a estratégia das mesmas, acabam ofuscando grandes oportunidades de benefícios à

sociedade. Ressaltam, ainda, que as empresas deveriam se ater à Responsabilidade Social com

o mesmo rigor que estudam e determinam seus negócios.

Na verdade, as empresas não devem enxergar ―negócios‖ e ―responsabilidade social‖

como objetivos distintos. Esta é uma visão distorcida que pode levá-las a desprezar

obrigações com a sociedade sempre que sua saúde financeira for ameaçada por qualquer

motivo, e induzi-las a não perceber o quanto este trato de superficialidade pode se tornar uma

grande lacuna no conjunto de fatores estratégicos.

É óbvio que quando se busca, nas empresas, justificativas para essas reservas — sobre

a importância do investimento em Responsabilidade Social — quase sempre o motivo

encontrado é o mesmo: gestores, em grande parte, defendendo não fazer parte do foco

principal e ainda representar um custo adicional que vai comprometer as finanças da

organização, ou seja, longe de qualquer visão competitiva.

Contrapondo-se a este posicionamento, Porter e Kramer (2009, p. 488) criticam os

gestores que se negam a enxergar a Responsabilidade Social dentro de uma perspectiva

estratégica, e afirmam que desta forma estão apenas adiando os custos necessários à sua

aplicação, com o risco, inclusive, de torná-los mais onerosos pela possibilidade da empresa ter

sua imagem manchada com acusações de não cumprir o que lhe é devido perante a sociedade.

Para reforçar, ainda mais, o entendimento da relação das empresas com a

Responsabilidade Social, Drucker (2012, p. 60), se utiliza do pensamento de Milton

Friedman3 e destaca o quanto considera sem sentido sua insistência em defender que às

empresas só cabe a responsabilidade pelo desempenho econômico, e que ações sociais

desviam os recursos financeiros da organização, prejudicando o compromisso com acionistas,

empregados e consumidores.

3 Milton Friedman foi um dos mais destacados economistas do século XX. Prêmio Nobel em 1976 e um dos

mais influentes teóricos do liberalismo econômico. Principal apóstolo da Escola Monetarista e membro da

Escola de Chicago, além de defensor do laissez faire e do mercado livre. Todavia, fortemente criticado por sua

concepção de que a única responsabilidade social das empresas é a maximização do lucro. Que o poder exercido

pelos gestores deve ser utilizado para produzir o máximo de dinheiro possível aos acionistas. E que ações de

cunho social não devem fazer parte de suas preocupações, na medida em que retiram dinheiro dos acionistas, em

forma de dividendos mais baixos; dos empregados em forma de salários mais baixos e dos consumidores, em

forma de preços mais altos. Agindo assim, as empresas estariam garantindo um progresso econômico perene e,

como consequência a redução gradativa das desigualdades sociais.

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É óbvio que no postulado de Drucker não se verifica qualquer interesse em desmerecer

a importância da saúde e do crescimento finaceiro. Ele até reforça que as organizações devem

colocá-lo em primeiro plano, e justifica: ―Uma empresa que não apresenta uma relação

equilibrada entre lucro e capital empregado é irresponsável. É o desempenho econômico que

dá suporte à empresa no cumprimento de outras obrigações. Sem desempenho econômico

satisfatório a empresa não tem estrutura de emprego confiável. A falta deste desempenho lhe

impossibilita do exercício de empresa cidadã.‖

Vê-se que não são poucas, nem se esgotam nestas, as razões que colocam o

desempenho econômico das empresas numa relevância expressiva e, sem dúvidas, como um

fator preponderante na determinaçao do poder das organizações. Todavia, Drucker (2012, p.

60) preocupa-se em nos alertar que o poder, desatrelado da responsabilidade social, em geral,

assume uma característica de opressão, com força suficiente para promover o mau

desempenho. Como não é possível ignorar que o bom desempenho é indispensável à

sobrevivência de qualquer empresa, a necessidade de organizações socialmente responsáveis

só tende a aumentar.

Cabe, no entanto, que este raciocínio seja fechado, pelo menos até aqui, com o cuidado

de não rotular qualquer iniciativa que busque se vincular a essa linha, como uma ação de

responsabilidade social, uma tendência motivada pela dimensão que o tema vem alcançando

gradativamente. A falta desses cuidados pode, inclusive, tornar questionável, no âmbito das

responsabilidades sociais, a legitimidade da organização.

2.3- Sobre legitimidade

Muitos significados sustentam o termo legitimidade. Em Teoria Geral do Direito, em

Ciência Política e em Filosofia Política, a legitimidade é definida como a qualidade de uma

norma ou de um governo ser conforme a um mandato legal, à Justiça, à Razão ou a qualquer

outro mandato ético-legal. Outros a concebem como o produto de um consenso social, ligada

à vontade do indivíduo ou de uma coletividade, livre do condicionamento ao poder legal e ao

seu discurso, o que resulta em práticas sociais instituídas, a partir de necessidades

reconhecidas como reais, justas e éticas (SILVA, 2003).

Este entendimento, de consenso social, é o mais apropriado para o que se pretende

observar com este trabalho, na medida em que busca identificar se há aceitação espontânea e

reconhecimento pelo que as organizações adotam como ações socialmente responsáveis. Daí

ser prudente também discorrer sobre o que se defende como sendo uma ação social.

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Quando o termo ―ação‖ é colocado em destaque em qualquer circunstância, quase

sempre vem explicado por meio de uma atitude que mostre algo realizado. Aqui, no entanto,

onde se pretende pela predominância do referencial sociológico, uma ―ação‖ representa o

significado de qualquer decisão, ainda que esta se configure pela ausência total de iniciativas,

em qualquer tempo (WEBER, 2010, p.37). Ou seja, o autor destaca Ação Social como

qualquer atitude, quer de omissão ou de aquiescência, motivada por situações passadas, por

momentos presentes ou como perspectivas de resultados futuros.

Em relação ao passado podem se manifestar, por exemplo, como reações a ameaças de

variadas naturezas; ao presente pelos enfrentamentos constantes aos desafios do dia-a-dia, e

ao futuro pelos investimentos de toda ordem que, em geral, têm como objetivo a construção

de melhores condições de vida.

Apesar de toda a aparente abrangência sobre o que significa uma ação social, Weber

(2010, p.37) faz questão de ressaltar que nem toda atitude deve ser considerada como uma

ação social. Há casos em que o direcionamento formal para determinadas iniciativas lhes

furtam essa característica, na medida em que não trazem como resultado uma manifestação

comportamental de outros. É o caso, por exemplo, de um novo posicionamento de objetos

inanimados.

Desta forma, ressalta: ―devem ser consideradas ação social apenas aquelas que são

orientadas à ação de outros‖. E dentro deste raciocínio faz questão de particularizar a

necessidade do comedimento em relação aos interesses econômicos, afirmando que a

atividade de um indivíduo só pode ser considerada como social, neste contexto, se estiverem

reservadas as necessidades de terceiros. ...―Mais concretamente, é social se, por exemplo, em

relação ao consumo de uma pessoa, as necessidades futuras de outras são levadas em conta e

determinam, portanto, a ‗poupança‘ desta pessoa‖.

É importante também entender que ações sociais possuem características próprias,

razão pela qual Weber (2010, p. 41) cria uma classificação que as define como manifestadas

de quatro formas: a primeira denominada de ações relacionadas a fins, cujo intuito é buscar o

atendimento de expectativas com retorno material, ou motivar comportamentos no outro que

permitam alcançar determinados objetivos. A segunda, identificada como ações relacionadas

a valores, sustentadas na crença de que determinadas atitudes se justificam pelo seu valor

absoluto, independentemente dos resultados que delas possam advir, simplesmente porque

obedecem a padrões éticos, estéticos ou religiosos. A terceira, como ações caracterizadas pela

afetividade: diz-se dos indivíduos que as praticam por razões estritamente emocionais,

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reveladas em sentimentos. E a quarta, como ações seguidoras de uma tradição, consequência

de habitualidade instituída.

Qualquer atitude, independentemente de suas características, deve ser considerada

como resultado de uma orientação que busca legitimá-la - seja ela orientada por um indivíduo;

por um grupo de indivíduos, ou mesmo por uma grande organização - o que descarta a ideia

de acontecimentos como ―obras do acaso‖ - um dito popular que tenta justificar fenômenos

que não revelam explicitamente uma relação de causa e efeito. No entanto, para uma ação ser

considerada realmente legítima, é indispensável que os princípios que a orientam estejam, de

alguma forma, validados.

A alta probabilidade de que uma ação venha a acontecer, por exemplo, se configura

como um dos fatores dessa validação, desde que desvinculado de uma rotina sem substância,

meramente produzida por costumes ou interesses particulares (WEBER, 2010, p.53). Esta

validação adquire consistência quando a atitude é reconhecida como um modelo digno de ser

seguido.

Convém deixar claro, no entanto, que não se pretende com essas colocações

desmerecer a importância de interesses e costumes na legitimação, até porque neles se

sustentam iniciativas e desenvolvimento de processos que envolvem quaisquer ações. Logo,

as ações sociais não estão isentas de tais influências.

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3 CAPÍTULO III: INTERPRETANDO AS ORGANIZAÇÕES

Entende-se como importante, para este trabalho, fazer uma análise mais focada de

como as organizações se estabelecem, procurando conhecer alguns fatores que influenciam na

sua construção, e até a correlação de sua existência com outras teorias. Neste capítulo

procurou-se fazer esta análise vinculada à teoria institucionalista, dada à representatividade

desta como determinante das características organizacionais. A abordagem, portanto está

subdividida em entender como as organizações de edificam; como compreendê-las com base

na teoria institucionalista; qual a relação de construção e complementaridade entre instituições

e organizações; e, em geral, quais os propósitos de uma organização.

3.1- Como as organizações se edificam

Uma das maneiras de comprovar esta forma de explicar as organizações é observando

como a maioria das empresas se estabelece. Instrumentos como estatutos, organogramas,

credos (declarando visão, missão, valores, princípios etc.), códigos de ética, manual de

organização e métodos, ou quaisquer outros documentos dessa natureza, que, na sua essência,

são determinadores de condutas, revelam esse caráter formal, na medida em que definem

caminhos, estrutura hierárquica, objetivos e regras de comportamento. São modelos que

pretendem definir limites de responsabilidades e, ao mesmo tempo, ter controle das interfaces

entre as várias partes de um corpo maior.

Um dos aspectos bem fortes nas características das organizações é a predominância da

impessoalidade para justificar seu funcionamento. Embora sua dinâmica seja resultado único

e exclusivo de manifestações humanas, Selznick (1972, p. 6) diz que os fenômenos ali

desencadeados não contam integralmente com o que fazem os participantes, ainda que haja

uma suplementação relativa de informalidade - impossível de se dispensar, por estar inerente

à personalidade do indivíduo. No entanto, ainda hoje, criam-se relações formais nas

organizações, para controlar papéis e não, como deveria ser, para gerir pessoas, no sentido de

incentivá-las e ajudá-las a descobrir a dimensão, sem limites, de suas competências.

Os organogramas, em seus modelos tradicionais, retratam essa realidade. Neles, mais

do que um desenho que busca mostrar o funcionamento da organização, está evidenciado

quem manda e quem obedece, ainda que não façam referências a pessoas e sim a cargos

estabelecidos, simbolizando uma relação de obediência muito presente nas organizações, em

especial àquelas caracterizadas pelo modelo burocrático rígido.

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Meyer e Rowan (1977) confirmam este entendimento quando dizem que há uma ideia

chave para se compreender as estruturas formais das organizações. Elas mostram, ao mesmo

tempo, propriedades simbólicas e capacidade de gerar ações, ou seja, aparecem revestidas de

significados socialmente legitimados - o que dá ênfase à base institucional -; revelam suas

funções ―objetivas‖ e podem servir para apresentá-las a qualquer público.

Percebe-se aí a formalidade das organizações sendo utilizada para medir forças, muitas

vezes produzidas por vaidades particulares ou até por interesses de grupos específicos. Pode-

se dizer que aqui fica evidenciada outra influência de uma das características das instituições

e, mais especificamente, do Novo Institucionalismo. A utilização da hierarquia como

instrumento para designação de recursos corrobora com o que dizem March e Ousen (1984)

sobre o privilégio dado a determinadas instituições e seu impacto nos fenômenos sociais. Se

cabe às instituições políticas, numa analogia simples, também faz sentido aos interesses

econômicos.

O importante, porém, é considerar que, independentemente de qualquer formalização,

a força dos indivíduos que compõem o grupo organizacional definirá outros vieses de

comportamento que, segundo Selznick (1972, p.8), podem atuar como inibidores e

desagregadores do que estiver pré-estabelecido, na medida em que os interesses dos

indivíduos podem alcançar proporções capazes de superar as regras e os limites da

organização, com foco na proteção da integridade do grupo, caracterizada por uma rivalidade

permanente entre o que é proposto e o que é dado como aceito.

As organizações são idealizadas para se tornarem estruturas capazes de atuar como um

sistema maior, composto de subsistemas específicos e perfeitamente modelado para inter-

relacionarem-se, independentemente de suas funções diferenciadas, quer no contexto interno,

quer na sua interface com toda e qualquer influência que transcenda o ambiente

organizacional. Como subsistemas internos, considere-se: finanças; recursos humanos; saúde

ocupacional; produção etc, e externos: política governamental; mercado; legislação ambiental

e outros.

De certa forma, sistemas e subsistemas podem ser vistos como ambientes

institucionalizados. Carvalho, Vieira e Lopes (1999) utilizam esta concepção para nos fazer

entender que é deles que vêm as formas e as ações adotadas pelas organizações, bem como

seus parâmetros de legitimidade, alcançados por um processo de adaptação às exigências do

meio em que estiverem inseridas, e com fins de se manterem vivas no mercado, respondendo,

a qualquer tempo, com eficiência e velocidade às suas oscilações.

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Em termos estruturais, as organizações, além da existência de objetivos e expectativas,

destacam-se também por um elemento a mais que é a presença de componentes burocráticos

de dimensões definidas, que desempenham um papel nos sistemas sociais representado pela

divisão interna do trabalho (BLAU, 1977, p.111). Estes movimentos permitem estudar as

relações de poder e os fenômenos culturais que influenciam a Estrutura Organizacional.

A institucionalização merece ser estudada a partir de variadas leituras e uma delas

pode ser a que leva em consideração os trabalhos desenvolvidos com a tradição filosófica da

fenomenologia. A fenomenologia, uma composição oriunda do grego e dividida em duas

partes (fenômeno - aquilo que se mostra, que se apresenta a nós, e logos - que significa

explicação, estudo, reflexão sobre os eventos), afirma que os fatos devem ser estudados em

torno de si mesmos e considerando a forma como são percebidos pelo indivíduo que está

diretamente envolvido com eles.

Utilizando-a como parâmetro, Motta e Vasconcelos (2006) descrevem a

institucionalização como um conjunto de procedimentos capazes de criar grupos sociais,

torná-los duradouros e até de perpetuá-los. Partindo deste princípio, e para se dizer, portanto,

que a Responsabilidade Social está institucionalizada na organização, é preciso que se

enxergue perspectivas de perenidade nas ações e nos objetivos que a sustentam. Há

necessidade que as iniciativas que trazem seu rótulo transcendam - como mencionam

Johnson, Scholes e Whittington (2011, p. 122) - às obrigações mínimas com stakeholders,

especificadas numa regulamentação empresarial, principalmente pela natural desigualdade

com que são concebidos os direitos de diferentes atores no conjunto de interesses das

organizações.

É óbvio que a habitualidade não se dá sem uma razão que a justifique. Convém não

deixar de perceber que a todo momento vive-se novas situações; com elas a possibilidade de

novos problemas; alguns, inclusive, se repetindo com certa frequência. A lida com esses

cenários, repletos de diversidades, e a necessidade de dar respostas às suas demandas,

contribuem para o surgimento de determinados comportamentos que, mesmo tendo sido

desenvolvidos empiricamente, são naturalmente tomados pelas pessoas como as condutas

corretas para atender suas inquietações. Esses elementos vão dando suporte ao conceito de

instituição, por se tratarem de comportamentos que se manifestam naturalmente,

caracterizados como respostas costumeiras aos estímulos que mobilizam os indivíduos e os

grupos.

Ao longo do tempo esses comportamentos vão adquirindo formas específicas que lhes

creditam classificações próprias e associação direta com determinados atores sociais, até

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atingirem uma imagem de condutas consideradas generalizadas, independentemente das

características das pessoas que as manifestam. Zucker (1987 apud MOTTA;

VASCONCELOS, 2006) denominou este processo de objetificação, e a ele atribuiu o caráter

de estar entre os elementos determinantes do desenvolvimento da institucionalização. Resta,

portanto, olhar com maior exclusividade à organização tomada como objeto de pesquisa para

este trabalho, na expectativa de que o resultado traduza-se em mais um referencial para

maturação dos principais conceitos aqui abordados, no caso, o de Filantropia e de

Responsabilidade Social.

3.2- A teoria institucionalista para compreensão das organizações

A teoria institucionalista, para análise de organizações e suas correlações com outras

variáveis interorganizacionais, teve início com os estudos de Selznick (1972), os quais

colocam as organizações como parte de um contexto institucional. Estando elas inseridas no

que denominou ―matriz institucional‖, as mesmas sofrem influência do meio no qual estão

imersas, o que as obriga a se adequarem a essa estrutura.

Com base nessas ideias surgiu o neo – institucionalismo e, nesse novo enfoque, a

institucionalização como um processo pelo qual atores individuais transmitem o que é

socialmente definido como real. Zucker (1987, apud MOTTA E VASCONCELOS, 2006).

Sendo assim, as empresas são consideradas pelo Neo-institucionalismo como atores sociais.

Para Scott (1987, apud MOTTA E VASCONCELOS, 2006) os atores sociais adotam

certas atitudes e seguem determinados modelos, pois muitos deles são para as empresas ―fonte

de legitimidade, reconhecimento e recursos, o que permite aumentar a capacidade de

sobrevivência em determinado meio‖.

De acordo com o neo-institucionalismo, o Estado e as associações corporativistas e

profissionais têm papel fundamental na geração e manutenção das organizações, fatores que

compõem o rol de influências para que as organizações adotem modelos de normas e

estruturas levando em conta quatro tipos de institucionalização: Coerção, Normalização,

Indução e Mimetismo Organizacional. (MOTTA; VASCONCELOS, 2008).

A coerção é feita pelo Estado, nem sempre legitimado, mas detentor do monopólio de

uso da força, ratificando, de certa forma, Dimaggio e Powell (1999), que dizem que as normas

impostas por autoridades vistas como legítimas — e que não está garantida na figura do

Estado — são obedecidas com menos resistência, diferentemente de coerção.

A normalização ou autorização se dá quando as organizações tentam se adequar a

modelos impostos, mesmo que de maneira superficial, para que sejam reconhecidas e que

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possam atuar com maior credibilidade no mercado, como é o caso dos títulos fornecidos pelas

certificações (Inmetro; Prêmio Nacional da Qualidade; ISO 9000, 9001, etc.).

A indução, por sua vez, ocorre quando não pode haver coerção, o que leva os agentes

econômicos utilizarem estímulos financeiros indiretos a fim de convencer as organizações a

se moldarem de acordo com seus interesses e, consequentemente seus próprios modelos.

No mimetismo organizacional há a adoção de modelos, quando a organização procura

imitar, no seu meio ambiente ou fora dele, iniciativas concebidas por outras organizações, que

julga superior ao que atualmente adota.

A teoria neo-institucionalista, em especial na vertente econômica, acredita que a

conformidade das organizações aos modelos institucionalizados do setor em que estão

localizadas é que garante a sua sobrevivência (MOTTA; VASCONCELOS, 2008).

A instituição se constitui a partir das pressões e necessidades sociais, o que a

caracteriza como um organismo adaptável e receptivo. Numa analogia psicológica pode

também ser vista como produto e produtora do meio. Sua concepção está demonstrada nas

práticas dos grupos sociais, sejam elas planejadas ou ―naturalmente‖ manifestadas. Estas

manifestações estabelecem formas específicas de interação e adaptação, como o receptáculo

do idealismo de um grupo, nem sempre tão facilmente perceptível (SELZNICK, 1972).

Pode-se considerar, portanto, a instituição como um meio que não se caracteriza por

espaços físicos, porventura ocupados, mas por um conjunto de regras atreladas a

regulamentos, formais ou informais. Sua função é estabelecer, por meio dessas regras,

mecanismos de controle social que determinam e regulam condutas e relações em seu

contexto. Este meio é um instrumento de articulação das diversidades que justificam seu

funcionamento. (BLAU, 1977).

Convém, no entanto, entender que as práticas se revelam, de fato, no ambiente

organizacional, cuja característica diferenciadora mais forte é a ausência da naturalidade, ao

contrário da instituição, onde esta se faz presente em quase todos os momentos. Além disso, o

perfil técnico das organizações também é um referencial de particularidade e determinante no

embasamento de toda sua estruturação.

A organização se constitui com formalidades, utilizadas para definir regras e objetivos,

(SELZNICK, 1972). Este autor ressalta, ainda, que a organização, pelo seu caráter formal,

tem como função principal a mobilização das energias humanas para fins previamente

estabelecidos, ou seja, é constituída como um meio para alcançar objetivos planejados e

passíveis de monitoramento.

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Dentro dessa visão, de que as organizações agem reproduzindo conceitos

institucionalizados em uma dada sociedade, para serem aceitas e consolidadas, podemos

incluir a concepção de Responsabilidade Social, na medida em que as organizações quando a

adotam, o fazem por se tratar de um valor institucionalizado em, praticamente, todas as

sociedades, e também porque delas é esperado que cumpram com suas obrigações

econômicas, legais, éticas e filantrópicas.

Os padrões organizacionais vivem submetidos a constantes transformações, por

exigências de diferentes setores - econômico, político, social, ambiental etc - que impõem

novos modelos de gestão. Daí a necessidade de melhor entender sobre o que verdadeiramente

impacta nessas exigências.

Numa análise conceitual, convém abordar sobre o que alicerça a formação das

instituições e o que se exige como regras de funcionamento às Organizações. As determinadas

pelos modelos burocráticos rígidos podem ser vistas como um dos exemplos, principalmente

pelo forte impacto que causam no desenvolvimento.

A menção que se faz ao termo instituição comumente está associada a uma estrutura

física que, mesmo funcionando com fins específicos, pode não estar composta de todos os

elementos que caracterizam sua fundamentação. Sua existência decorre, antes de tudo, de

necessidades sociais básicas, que não se restringem a interesses particulares do indivíduo,

nem a iniciativas com objetivos exclusivamente financeiros, como se costuma pensar na

maioria dos casos. Acima de tudo, busca explicar as interações do indivíduo com o grupo, e se

destaca com um caráter de relativa permanência e identificação de valor, atribuído aos

códigos de conduta de seus componentes, muitos inclusive legalmente reconhecidos.

É importante ter este entendimento para compreender os movimentos sociais - cada

um com suas especificidades - e principalmente distinguir origem, função, poder de influência

e objetivos para os quais as instituições se propõem. Isto é tão verdadeiro, que tornou o estudo

das instituições um referencial para a construção de outros saberes, como é o caso da ciência

política que, segundo Peters (2003, p. 13) tem suas raízes na análise desse funcionamento,

apesar da resistência, por vezes revelada, em admiti-la como forte fator de influência no

comportamento humano. Esta contestação se apega à justificativa de que as manifestações

humanas estão estritamente suportadas por decisões individualistas - umas geradas como

respostas a estímulos determinados, que caracterizam o modelo behaviorista, e outras como

consequências de escolhas racionais.

Não obstante a quaisquer dúvidas levantadas, o certo é que há pelo menos duas

décadas vem se considerando o desempenho das instituições como de suma importância para

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explicar o funcionamento de grandes corporações. O setor público, por exemplo, ainda

conforme Peters (2003, p. 13) é uma prova disto, quando mostra as políticas de governo

fortemente alicerçadas a regras de desenvolvimento institucional. E aí se pode destacar uma

primeira inquietação: dificilmente se passa mais de vinte anos desenvolvendo um estudo sem

a mínima possibilidade de qualquer fundamentação. O fato de nem sempre estar representadas

por estruturas formalmente reconhecidas, não torna as instituições inconsistentes e tão pouco

exclusas de desenvolvimento.

North (1990) nos faz enxergar esta consistência quando ressalta um dos principais

papéis das instituições na sociedade, que é o de reduzir as incertezas relacionadas à

estabilidade das interações humanas e do desenvolvimento, e de admitir constantes mudanças,

oriundas de convenções, códigos de conduta e normas comportamentais. Tudo dentro de uma

dinâmica perene, mesmo que lenta, cuja chave da explicação se evidencia nas mais diversas

alterações impostas aos caminhos da história. Tanto que North (1990) parte do princípio de

que as decisões, quer de caráter econômico ou social, são construídas em cima de incertezas,

o que contribui para aumentar ou reduzir o custo de transação dos bens da economia e, por

conseguinte, dos interesses sociais.

Este contexto, na sua visão, representa a origem das instituições, inicialmente

concebidas como meio de garantir a melhor utilização dos recursos econômicos. Dimaggio e

Power (2001) corroboram com esta concepção quando afirmam que a teoria institucional nos

permite enxergar, com visão diferenciada, os fenômenos sociais, econômicos e políticos, ou

seja, dá um suporte científico ao que, a priori, pode parecer um conjunto de manifestações

aleatórias. Este entendimento, de certa forma, ratifica-se no estudo das organizações, cujos

formatos são estabelecidos a partir das pressões impostas pelo ambiente, uma visão que,

segundo Carvalho, Vieira e Lopes (1999), era defendida por Selznick (1972) - e que

denominava esses aspectos como sendo o processo de institucionalização das organizações.

Observando o movimento da sociedade é possível identificar a existência de algumas

condutas pacificamente aceitas e outras fortemente reprimidas. Os parâmetros de aceitação ou

repúdio são o que se pode chamar de estrutura funcional das instituições. São eles que

definem os comportamentos e sua fundamentação sociológica e/ou psicológica. Trata-se de

um entendimento suportado pela teoria funcionalista, que se caracteriza por mostrar que os

fenômenos sociais reproduzem a função das instituições, e de como essas funções modelam a

sociedade. Esta dinâmica nos permite enfatizar que as instituições se consolidam em normas

criadas pelo próprio homem, para regulamentar, mesmo que informalmente, sua maneira de

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agir e interagir no grupo onde estiver inserido. Empiricamente não é tão difícil identificar

essas dinâmicas.

Grupos diversos como os familiares, os religiosos, os políticos, os acadêmicos etc,

mesmo não rotulando literalmente cada fase de seus movimentos, relacionam-se por meio de

constantes revelações sobre o que está e não está permitido naquele contexto. São

manifestações que caracterizam a particularidade e a solidez institucional de cada grupo,

onde, ainda que se admita a mudança, há subjacente uma estrutura relacional que o identifica

como específico.

Uma vez que sua estrutura se caracteriza por um conjunto de normas criadas pelo

homem, há de se considerar que houve uma decisão por fazê-la, motivada por interesses, o

que afasta a hipótese de naturalidade como algo involuntário - pelo menos à luz da psicologia,

onde geralmente busca-se explicar e compreender o comportamento humano. Como pano de

fundo destacam-se os interesses políticos, sociais e econômicos, uma tríade determinante,

muito disputada em qualquer processo de desenvolvimento e trabalhada em detalhes pelo

homem, quer individualmente ou em grupo. Nela se alicerça a estrutura do trabalho nas

organizações.

3.3- Uma relação de construção e complementaridade entre instituições e

organizações

Quando se pensa em avaliar determinadas ações de uma organização, bem como seus

objetivos e reflexos, convém ter o cuidado de não preterir a indispensável análise dos fatores

impactantes na sua constituição e no seu desenvolvimento. Uma organização não se

estabelece a partir de si mesma, sua existência é o resultado de demandas institucionais que ao

longo do tempo vão se configurando com os suportes subjacentes da sociedade.

Carvalho (2005, p.3-4) diz que as instituições funcionam como guias para a interação

humana e, dependendo do contexto social, qualquer pessoa tende a moldar seu

comportamento para adaptar-se ao meio em que estiver inserida. Na mesma linha, diz que o

comportamento das instituições também é um processo de adaptação, que se diferencia de

acordo com o país ou com a cultura predominante.

Para analisá-las propõe que se transite pelas concepções formais e informais. A formal

é onde estão estabelecidas as regras de submissão dos grupos sociais, defendidas como

indispensáveis para a formação e manutenção de uma sociedade ideal. É prudente considerar,

no entanto, que esta é a visão de quem cria as regras, o que não descarta outras hipóteses. Já

na concepção informal encontram-se os aspectos de caráter relacional e os códigos de

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comportamento individual e de grupos. Além disto, o autor também destaca que as

instituições podem ser criadas a partir de instrumentos legais, os quais têm o propósito de

estabelecer limites do que é e do que não é permitido numa sociedade. A constituição de um

país, por exemplo, pode ser vista como um desses instrumentos.

Pelo que se observa, todavia, com o volume de regras que são contrariadas no

cotidiano, há um cenário de predominância da informalidade nas relações sociais. Esta

compreensão deve ser utilizada como referência primeira dos estudos que pretendam analisar

o movimento das instituições e das organizações para qualquer fim, na medida em que

quaisquer iniciativas só se concretizam pelas ações do indivíduo, resultantes de suas

interações nos grupos.

Assim sendo, como se pretende estudar comportamentos organizacionais em torno de

objetivos específicos - neste caso o desenvolvimento e os resultados de ações de

Responsabilidade Social - é importante compreender que tudo começa a partir do que

determinam as instituições, e que estas, num movimento cíclico, ajustam-se continuamente às

consequências das próprias iniciativas. A necessidade de buscar consistência nesse

entendimento talvez resida nas inúmeras abordagens até então exploradas dentro do tema;

com direcionamentos diversificados, mas que não se bastam em si mesmas.

3.4- Propósitos da organização

Nenhuma organização busca se estabelecer, a não ser por estar atrelada a determinados

propósitos - referência para definir sua missão. Esta, no entanto, jamais poderá prescindir de

sua obrigação social, embora nem sempre se constate tal preocupação como princípio

irrefutável.

Duas grandes categorias permitem classificar as organizações: as empresariais e as

não-empresariais. Uma ou outra, por tudo que se observa, tem o desempenho econômico

como um dos fatores de maior importância na estruturação de seus objetivos, seja para auferir

lucros, o que, em geral, aparece como principal foco na iniciativa privada; seja para

multiplicar investimentos, defendido pelas chamadas ―organizações sem fins lucrativos‖; seja,

também, para perenizar compromissos sociais, processando recursos provenientes de doações,

por exemplo, muito comum nas organizações que se mantêm suportadas por iniciativas de

voluntariado (DRUCKER, 2002).

Independentemente das características das organizações e do papel que vierem a

desempenhar na sociedade, a dependência econômico-financeira sempre existirá, quer como

suporte ou como atividade fim.

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Ainda que não se tenha o desempenho econômico como o único propósito das

organizações - o que, sem dúvida, é uma visão procedente e importante - sem ele, e

principalmente sem um saldo positivo no seu resultado, torna-se extremamente difícil trazer à

tona, conquistar e consolidar outras necessidades sociais, tais como: instrução, assistência à

saúde, segurança, progressão do saber etc. (DRUCKER, 2002).

A organização quando se estabelece precisa deixar clara a razão de sua existência.

Considerando que a sociedade, uma vez formada por pessoas, vive motivada por expectativas,

tudo que a ela se apresente deve indicar propostas sintonizadas aos seus anseios, ainda que

num primeiro momento, esta mesma sociedade, possa nem saber exatamente o que exigir de

um novo visitante. A importância de a organização ter uma missão bem definida e

formalizada está, sem dúvida, fixada numa série de fatores. Sem a pretensão, no entanto, de

defender uma lista finita, convém ressaltar que pelo menos três desses fatores estejam

declarados, quais sejam: Os produtos e/ou serviços que pela organização serão oferecidos; a

quais clientes eles se destinam e, acima de tudo, quais os valores que nortearão seu

relacionamento com a sociedade. (CERTO; PETER, 1993, p.76-78).

Embora a missão seja um compromisso focado em objetivos específicos, desejados de

mensuração e preferencialmente tangíveis, sua característica de abrangência permanece

intacta, com possibilidades de impactar nos mais variados setores sociais, ainda que alguns

sejam difíceis de monitoramento e nem sempre palpáveis com simplicidade, o que requer, no

decorrer do desenvolvimento dos processos organizacionais, consideração permanente e

análise crítica minuciosa de todas as informações geradas como respostas do ambiente. Este

cuidado, de acordo com a visão de Certo e Peter (1993, p.76-78), faz a missão viabilizar um

crescimento que se reveste de consequências favoráveis à organização, tais como:

Pessoas direcionadas para um mesmo objetivo;

A missão como um referencial confiável para investimentos da organização; e

A missão permitindo enxergar uma relação de amplitude entre o que se faz e as

várias outras responsabilidades da organização. E aqui, em especial, a

Responsabilidade Social, um conceito nem sempre claro em todas as instâncias,

mas presente (ou ausente) em qualquer atitude.

Este conjunto de fatores, mesmo estando longe do total de benefícios possíveis para a

organização que mostra solidez no que estabelece como missão, já justifica a necessidade de

tê-la bem definida e compreendida por todos, na medida em que norteia e contribui para

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manter o rumo dos processos internos, e ao mesmo tempo serve de parâmetro para

fiscalização e reconhecimento social.

Os exemplos que se seguem visam, sinteticamente, ilustrar como as organizações vêm

formatando e divulgando seu credo (Visão, Missão, Objetivos, Valores etc); a relação destes

com o postulado de Peter Drucker, acima mencionado, principalmente no que diz respeito ao

compromisso de se manterem sintonizadas com ações de responsabilidade social:

Eletrobras

Missão Atributos da

Missão Síntese dos Atributos

Atuar nos

mercados de

energia de

forma integrada,

rentável e

sustentável

Atuar nos mercados Atuação do Sistema Eletrobras para além das fronteiras do País, em

consonância com as tendências e expectativas dominantes.

Energia Abertura para outros ramos de energia, nos curto, médio e longo

prazos.

Atuar de forma

integrada

Ação sinérgica com as diferentes empresas do Sistema, investindo na

cultura organizacional e na gestão de pessoas.

Atuar de forma

rentável

Busca e ampliação de resultados por meio de boas práticas de

governança corporativa e competências especializadas.

Atuar de forma

sustentável

Desenvolvimento harmônico nas dimensões ambiental, social e

econômica.

Fonte: Planejamento Estratégico do Sistema Eletrobras 2010 - 2020

Petrobras

Missão Atuar de forma segura e rentável, com responsabilidade social e ambiental, nos

mercados nacional e internacional.

Visão Seremos uma das cinco maiores empresas integradas de energia do mundo e a preferida

pelos nossos públicos de interesse.

Atributos da visão Forte presença internacional; Referência mundial em biocombustíveis; Excelência

operacional; Rentabilidade; Referência em responsabilidade social e ambiental

Comprometimento com o desenvolvimento sustentável.

Valores Desenvolvimento sustentável; Integração; Resultados; Prontidão para mudanças;

Empreendedorismo e inovação; Ética e transparência; Respeito à vida; Diversidade

humana e cultural; Pessoas; Orgulho de ser Petrobras

Fonte: Portal Petrobras – Relatório de Sustentabilidade 2010

Os dois exemplos mostram as organizações declarando consciência de sua obrigação

com ações de responsabilidade social. Esta consciência, no entanto, pelo que se costuma ouvir

em diferentes fóruns - e neste trabalho algumas partes da pesquisa corroboram com esta

percepção -, não parece estar institucionalizada em todas as instâncias das organizações, o que

pode ser resultado de controvérsias conceituais, passivas de tratamento para torná-la

reconhecida, acompanhada, criticada, aprimorada e, principalmente, perene - razões

suficientes para que, na sua essência, se busque conhecê-la mais detalhadamente.

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A vasta literatura, e sempre crescente, sobre o significado de Responsabilidade Social,

mostra ainda não existir um conceito, cujo entendimento satisfaça plenamente os mundos

acadêmico e empresarial. Talvez, por isso, e na tentativa de desenvolver ações capazes de

alcançar a maior abrangência possível, o que se percebe nas práticas implementadas para este

fim, é a busca pelo atendimento de todos os públicos de interesse ligados à organização - os

chamados stakeholders.

Costa (2011, p.15), afirma que o entendimento da Responsabilidade Social depende

do quanto se consegue conhecer sobre as ligações e os vieses existentes entre o Estado, as

empresas privadas, as estatais e as Organizações não Governamentais, de um lado, e de outro,

as comunidades consideradas carentes e vulneráveis. Vale ressaltar, porém, que a concepção

de carência e vulnerabilidade, no caso, pode ser vista, ainda, como circunstâncias

fomentadoras de iniciativas essencialmente filantrópicas, que não representam, na íntegra, o

cerne da Responsabilidade Social.

Santos (2003) enfatiza que, embora a Filantropia se evidencie como as primeiras

iniciativas rumo à Responsabilidade Social, elas não são a mesma coisa. Que a filantropia se

caracteriza por ações calcadas em motivos estritamente humanitários, ao passo que a

Responsabilidade Social está atrelada a contextos mais abrangentes, devendo compor o

planejamento estratégico e se configurar como fator determinante na cultura das organizações.

Aqui, não se tem como objetivo, apenas, transferir essa incumbência, integralmente,

para as empresas, nem, tão pouco, de eximir o Estado de quaisquer responsabilidades. Acima

disso, trata-se da criação de alternativas para adequar-se à crise do contrato social. O contrato

que atribuia ao Estado o papel de ator-chave, e responsável exclusivo pela geração e

operacionalidade das políticas sociais, dando ao mesmo a classificação de Estado-Providência

(COSTA, 2011, p.32).

Esta concepção de Estado-Providência, no entanto, foi objeto de interpretações

variadas e criticadas por alguns autores. Com ela, dava-se ao Estado, a total responsabilidade

de garantir o bem-estar básico dos cidadãos, como preservação da cidadania. Todavia, a

preservação da cidadania, para se garantir, precisa transcender os limites das ações

filantrópicas, que, muitas vezes, veem no Estado um provedor assistencialista incondicional.

Sping-Andersen (1991, apud COSTA, 2011, p.33) refuta ser este o papel do Estado,

criticando, inclusive as iniciativas para ajudar, exclusivamente a pobres e/ou pessoas que

comprovem necessidades, na medida em que essa postura rotula, como incapazes, os

beneficiários desse sistema.

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Precebe-se, hoje, que pensar em Responsabilidade Social requer disponibilizar-se a

uma análise não tão simples como, inicialmente, possa parecer. O próprio termo

responsabilidade social dá margem a uma infinidade de interpretações, levando as

organizações, quando exigidas, a criarem e desenvolverem projetos em direções variadas,

algumas até antagônicas, exatamente pela quantidade de dúvidas que do seu entendimento

podem demandar (FEDATO, 2005, p. 25).

Talvez por isso também, e atrelado a uma nova postura da sociedade em relação às

empresas - na medida em que impõe expectativas outras, que combatem interesses de cunho

exclusivamente econômico - este assunto tem se tornado cada vez mais presente e como

objeto de preocupação nas organizações, inclusive nas organizações da iniciativa privada, um

cenário, até então, considerado incomum. Daí o grande volume de discussões em setores

acadêmicos, empresariais e sociais, sobre o verdadeiro papel das empresas no desenvolvimeto

social — em especial as empresas do setor privado (FEDATO, 2005, p. 25).

É de fundamental importância afastar a ideia de que uma empresa, para criar e

desenvolver ações de responsabilidade social, precise prescindir de outros objetivos,

principalmente dos objetivos econômicos, até porque, a partir deles, se constroem vários

benefícios em prol da própria sociedade. O que acontece, porém, é que os impactos de uma

organização no meio em que ela se encontra, não se resumem estritamente a esses aspectos,

como se seus donos enriquecessem de um lado e a comunidade empobrecesse do outro. Há

um conjunto de outros fatores que impõem uma dinâmica diferente da situação até então

predominante no grupo social.

A existência de empresas já representa, por si só, uma ação de impacto social, por se

configurar como um fator de desenvolvimento. No entanto, há derivações deste impacto, cujas

características transcendem o habitual do meio onde se instalam, e sua absorção pela

sociedade, em geral, se dá com alguma turbulência. Não se trata do impacto de ser ou não ser

benéfico para a comunidade, mas do simples fato de fomentar comportamentos outros que

não compunham seu cotidiano, provocados, tanto pela relação direta da população com

produtos e/ou serviços das empresas, como pela intermediação de terceiros, envolvendo tudo

que for produzido pelas organizações. (BORGER, 2001, p. 9).

Entende-se que qualquer sociedade gostaria de ver, no rol de responsabilidades do

Estado, suas necessidades garantidas, em especial as consideradas básicas. Mas a realidade

tem mostrado que essa busca está cada vez mais direcionada às empresas. Espera-se que as

organizações admitam sua responsabilidade social, estruturando e desenvolvendo iniciativas

que não se restrinjam exclusivamente aos seus principais produtos e serviços. Espera-se ver,

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nelas, construídas relações de parceria com seus empregados (a tão falada relação ganha

ganha). Espera-se que ofereçam serviços à comunidade, que denotem preocupação com:

proteção ambiental; saúde; educação; desenvolvimento e renovação urbana etc. Ou seja, há,

praticamente uma associação automática por parte da população que enxerga na chegada das

empresas a perspectiva de novos e melhores tempos (SCHROEDER; SCHROEDER, 2004,

p.5)

Percebe-se, no entanto, que muitas organizações, no afã de dar respostas a essas

exigências — cada vez mais difundidas pelos meios de comunicação, e cobradas em

diferentes instâncias da sociedade — acabam implementando ações de contribuição, sem o

devido acompanhamento dos resultados alcançados. Há nessas ações, uma tendência de se

configurarem como iniciativas filantrópicas, embora, numa interpretação mais rigorosa, este

entendimento possa apresentar controvérsias, principalmente em se tratando de empresas que

operam com recursos públicos.

Sabe-se que há um histórico de filantropia empresarial no Brasil de, pelo menos, uns

cinquenta anos. Coutinho (2012, p. 172) destaca, como comprovação deste histórico, a criação

dos Serviços Sociais da Indústria e do Comércio, órgão estruturado para este fim. Esta autora

ressalta, no entanto, que este tipo de atuação tomou proporções bem maiores no final da

década de 1990, migrando da concepção de simples doações para o que fora denominado

como uma filantropia em busca da cidadania planetária, fruto de uma leitura

desenvolvimentista sobre educação e assistência à pobreza.

Também verifica-se controvérsias entre essa iniciativa de transformação e o

significado primeiro de filantropia. Neste a filantropia é caracterizada, exclusivamente, como

demonstação de pura generosidade, traduzida no ato de ajudar os mais necessitados,

dissociado da ideia de quaisquer interesses. A prórpria origem etimológica da palavra

(―philos‖, que pode ser traduzido como amor, e ―anthropos‖, que significa ser humano)

contribui para essa conotação de doação incondicional, contrapondo-se a ideia dessa prática

no âmbito das empresas, principalmente quando inseridas nas ações de responsabilidade

social.

Coutinho (2012, p. 175) reforça, ainda, que algumas empresas até tentam passar uma

imagem de que estão tomadas pelo espírito filatrópico e humanista, mas acrescenta que esta

tentativa, em geral, se limita à propaganda, muito longe de estar consolidada como uma

mudança de paradigma, que denote disposição de compartilhar, com a sociedade, toda a

riqueza por elas produzida.

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Ações dessa natureza, com predominância à filantropia, diz a autora, estão muito

distantes da neutralidade. O foco, invariavelmente, é o mercado, tanto que as ações voltadas

para apoiar a educação e o combate à pobreza são, cada vez mais centradas numa clientela

que pode se transformar em benefício para esse próprio mercado, tipo: apoio a programas de

jovens aprendizes; requalificação de trabalhadores obsoletos à nova lógica produtiva;

assistência a jovens em situação de risco etc.

A filantropia, independentemente da essência do seu significado, segundo Cunha

(2005, p. 1), historicamente, tem sido ultilizada como ferramenta para controlar uma grande

parcela da sociedade — predominantemente a que detém forte carência dos recursos mais

básicos de sobrevivência. São afirmações dessa natureza, dentre outras, que reforçam a

necessidade de se rever, permanentemente, a congruência entre o que se conceitua e o que se

pratica, e como se relacionam o que é defendido pelas organizações como filantropia e

responsabilidade social.

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4 CAPÍTULO IV: ORGANIZAÇÃO OBJETO DE PESQUISA

Considerando que a preocupação com a responsabilidade das empresas, em relação à

sociedade, vem crescendo gradativamente, entende-se que a expansão das pesquisas sobre

esse papel também já se configura como uma necessidade, não somente aumentando o

número de organizações pesquisadas, como estendendo esses estudos a diferentes atores no

mundo dos negócios.

Para este trabalho especificamente, embora desenvolvido em uma única unidade

empresarial, como fator de compensação, procurou-se por uma organização de grande porte,

com atuação em áreas de grandes dimensões territoriais, e com características sociais

significativamente diversificadas.

Neste capítulo são apresentados a instituição propriamente dita e os seus propósitos;

como ela se vê em relação à responsabilidade social; e algumas evidências de iniciativas nesta

linha.

4.1- A instituição e os seus propósitos

O presente estudo fará uma análise da diferença entre os conceitos de filantropia e

Responsabilidade Social e de como esses conceitos estão sendo interpretados pela empresa e

pelos demais públicos de interesse. Aqui, mais especificamente, o caso da Eletrobras

Eletronorte.

A Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. – Eletrobras Eletronorte - ELN, sociedade

anônima de economia mista e subsidiária da Centrais Elétricas Brasileiras S.A. – Eletrobras, é

uma concessionária de serviço público de energia elétrica, criada pela Lei nº 5824, de 14 de

novembro de 1972, e constituída por escritura pública, em 20 de junho de 1973, autorizada a

funcionar pelo Decreto nº 72.548, de 30 de julho de 1973.

Com sede no Distrito Federal, a Empresa possui suas principais instalações

operacionais na região da Amazônia Legal, nos Estados do Acre, Amapá, Amazonas,

Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, e instalações administrativas

no Distrito Federal. Além de atender aos clientes localizados nesses Estados, a Eletrobras

Eletronorte também fornece energia elétrica para as demais regiões brasileiras, por meio do

Sistema Interligado Nacional – SIN.

Seus principais produtos e serviços são: energia elétrica; conexão elétrica;

infraestrutura de linhas e equipamentos de transmissão disponíveis; infraestrutura para

telecomunicações; serviços de operação e manutenção de ativos de geração e transmissão;

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ensaios e testes; inventários e estudos de viabilidade de aproveitamentos hidrelétricos e

engenharia para desenvolvimento de novos negócios de geração e transmissão de energia

elétrica.

Com base nos dados do Censo 2010 divulgados pelo IBGE, mais de 25 milhões de

habitantes vivem nos estados onde a Eletrobras Eletronorte tem ativos de geração e

transmissão. Desses, mais de 15 milhões se beneficiam da energia elétrica proveniente das

quatro usinas hidrelétricas sob sua responsabilidade, quais sejam: Tucuruí (PA) — a maior

usina genuinamente brasileira e a quarta maior do mundo, Coaracy Nunes (AP), Samuel (RO)

e Curuá-Una (PA), além dos parques termelétricos existentes nos Estados do Acre e Amapá.

4.2- Como a instituição se vê em relação à Responsabilidade Social

Formalmente a área de Responsabilidade Social está estabelecida na Coordenação de

Relações Institucionais – PRI da Eletrobras Eletronorte, conforme mostrada no organograma

abaixo:

Fonte: www.eln.gov.br/opencms/opencms/aEmpresa/ - Acessado em 07-03-2017, às 17:00h.

ASSISTENTES

PRESIDÊNCIA

SECRETARIA GERAL GABINETE DA PRESIDÊNCIA

ASSESSORIA DE GESTÃO OUVIDORIA GERAL

COORDENAÇÃO DE PLANEJAMENTO E

SUSTENTABILIDADE

EMPRESARIAL

COORDENAÇÃO DE COMERCIALIZAÇÃO

DE ENERGIA

COORDENAÇÃO DE COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL

CONSULTORIA JURÍDICA

COORDENAÇÃO DE RELAÇÕES

INSTITUCIONAIS

Gerência do Escritório de Estratégia e

Sustentabilidade

Gerência do Escritório de Projetos e

Processos Corporativos

Gerência de Análise de Custos e Riscos

Gerência de Contabilização e

Liquidação

Gerência de Contratos de Venda de Energia

Gerência de Contratos da Transmissão

Gerência de Relações

Públicas e Publicidade

Gerência de Imprensa

Gerência de Direito

Administrativo

Gerência de

Contencioso

Gerência de Direito de Energia, Societário e

Tributário

Gerência de Direito Trabalhista

Gerência de Apoio Administrativo e

Comercial

Gerência Jurídica de Assessoramento de

Licitações e Contratos

Gerência de Assuntos

Regulatórios

Gerência de Responsabilidade

Social

Gerência de Relações Institucionais do Eixo

Oeste

Gerência de Relações Institucionais do Eixo

Leste

Gerência de Relações Institucionais do Eixo

Norte

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Em se tratando de iniciativas voltadas à Responsabilidade Social, a Eletrobras

Eletronorte enfatiza como compromisso a criação de programas direcionados à melhoria da

qualidade de vida e ao desenvolvimento sustentável de comunidades e regiões onde a empresa

atua. No entorno do reservatório da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, por exemplo,

destaca o Plano de Inserção Regional da Usina Hidrelétrica de Tucuruí – PIRTUC, por meio

do qual, dentre outros benefícios, contribuiu para a criação de mais de sete mil vagas no

ensino fundamental.

Ainda dentro deste Plano, destaca, também, o desenvolvimento de ações

compensatórias e estruturantes nos municípios de Breu Branco, Nova Ipixuna, Novo

Repartimento, Goianésia do Pará, Itupiranga, Jacundá e Tucuruí, cujas obras são defendidas

por um Conselho Gestor formado por 21 entidades da sociedade civil, representantes das sete

prefeituras e órgãos das administrações estadual e federal.

A ilustração a seguir destaca, por meio da Agência Eletronorte de notícias, uma das

ações consolidadas no referido Plano:

Programa de Inserção Regional entrega escolas em Tucuruí

A Diretoria da Eletrobras Eletronorte esteve em Tucuruí nos dias 12 e 13 de agosto de 2013, cumprindo

agenda de visitas a duas escolas entregues recentemente à comunidade. A comitiva – integrada pelo diretor-

presidente, Josias Matos de Araujo, e pelos diretores de Operação, Wady Charone Junior, e de Planejamento e

Engenharia, Adhemar Palocci – vistoriou as escolas Gumercindo Gomes (Getat) e Manoel Carlos Silva (Nova

Matinha), construídas com recursos do Plano de Inserção Regional dos Municípios à Montante da UHE Tucuruí

– PIRTUC. Os diretores foram homenageados com o título de Cidadão Tucuruiense, ao lado do superintendente

de Meio Ambiente, Antonio Raimundo Santos Ribeiro Coimbra, e de Damião Apolinário Pereira, colaboradores

da Eletrobras Eletronorte. A homenagem foi entregue em sessão solene realizada na quadra poliesportiva do

Colégio Manoel Carlos Silva, na Nova Matinha. Na manhã da terça-feira, 13, o diretor-presidente, Josias Matos

de Araujo, o diretor de Operação, Wady Charone Júnior, e o superintendente de Geração Hidráulica, Antonio

Augusto Bechara Pardauil, descerraram a placa inaugural da Casa Eficiente. Depois da visita, os diretores

participaram de uma conversa com toda a força de trabalho, no Centro Cultural.

Fonte: Agência Eletronorte de Notícias – Edição de 19-08-2013

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Além dessas iniciativas, mas ainda na linha de preocupação com a dimensão social, a

Eletrobras Eletronorte destaca:

a) Participação efetiva no programa Luz para Todos4.

b) Programa de Estágio Remunerado contemplando, anualmente e de forma

sistemática, estudantes de nível médio e superior, em cuja seleção está inserida

também uma parcela direcionada especificamente à população de baixa renda;

c) Atuação como uma das unidades de aplicação do Programa ―Jovem Aprendiz‖5,

por meio de um convênio com o Serviço Nacional da Indústria – SENAI.

Este programa é mantido pela Eletrobras desde 1997, e está voltado para a melhor

qualificação técnico-profissional de jovens estudantes na qualidade de aprendizes.

Na unidade Belém capacita, anualmente, um grupo de jovens pertencentes a

famílias de baixa renda, cujo propósito maior é prepará-los para o acesso do

primeiro emprego;

d) Participação efetiva no Programa Navega Pará.

Considerado o maior projeto de inclusão digital do Brasil, este programa nasceu a

partir de um convênio com o Governo do Estado do Pará, para atuar

essencialmente em três áreas da gestão pública: saúde, segurança e educação;

e) Participação efetiva nas Campanhas de Vacinação, em parceria com o Governo do

Município de Belém; e

f) Parceria com Centros Comunitários do entorno de suas unidades de negócios,

disponibilizando estruturas para o desenvolvimento de competências artesanais,

voltadas essencialmente para geração de renda capaz de promover a

autossustentação familiar.

4 O Programa Luz para Todos é um programa do Governo Federal que visa levar energia elétrica para a

população do meio rural, de forma gratuita. Foi criado pela ex-ministra de Minas e Energia Dilma Rousseff e

coordenado nacionalmente pelo engenheiro João Ramis. O Programa Luz para Todos foi lançado em novembro

de 2003 com o desafio de acabar com a exclusão elétrica no país. A meta era levar energia elétrica para mais de

10 milhões de pessoas do meio rural até o ano de 2008, tendo sido atingida em maio de 2009 e em 2010 já se

somava mais de 12 milhões de beneficiados, ultrapassando as metas iniciais. 5 Sob a responsabilidade do Serviço Nacional da Indústria – SENAI, o Programa Jovem Aprendiz é um tipo de

educação profissional voltada a qualificar jovens aprendizes para a indústria, que envolve atividades teóricas e

práticas, organizadas em tarefas de complexidade progressiva, desenvolvidas no ambiente de trabalho, e

caracteriza-se pela articulação entre formação e trabalho.

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4.3- Algumas evidências de ações de Responsabilidade Social

A Eletrobras Eletronorte, em obediência a um sistema maior, promove, na dimensão

social, políticas e ações voltadas para a valorização do seu quadro funcional. Além disso,

apoia projetos comunitários voltados para: educação e qualificação profissional; geração de

emprego e renda; saúde; inclusão social e desenvolvimento local, focando,

predominantemente, no atendimento das comunidades do entorno de seus empreendimentos.

Promove e apoia programas de engajamento das comunidades atingidas por operações

na sua área de atuação, sendo alguns programas derivados da efetivação das políticas públicas

e outros como atribuição da sua missão institucional, na implantação de empreendimentos

elétricos. (ELETROBRAS ELETRONORTE, 2015, p.70).

Para apresentar evidências, além das declarações institucionais relacionadas no item

anterior, selecionou-se, por ordem cronológica, quatro eventos que ratificam ações para este

fim, conforme a seguir:

Alunos do Programa Jovem Aprendiz 2016 recebem boas vindas

29-10-2015: A Eletrobras Eletronorte com a finalidade de oportunizar o desenvolvimento de

potencialidades pessoais e profissionais para jovens vindos de famílias de baixa renda, em

parceria com Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), apresentou sete alunos

para participarem do programa do governo federal ―jovem aprendiz‖.

Durante o ano de 2016 esses jovens realizarão um curso técnico-profissionalizante de

Eletricista de Manutenção Eletroeletrônico no SENAI e irão aplicar a teoria na prática dentro

da Empresa. Além disso, esta oportunidade é considerada como primeiro emprego para esses

jovens, que já ingressarão no mercado de trabalho com alguma experiência profissional.

A Eletrobras Eletronorte se compromete a assegurar ao aprendiz inscrito no programa, a

aprendizagem com formação técnico-profissional metódica, compatível com seu

desenvolvimento físico, moral e psicológico.

Fonte: Jornal Novo Tempo Pará – Edição de 10-11-2015

Infocentro capacita aluno portador de deficiência

19-12-2015: Realizada a formação de mais uma turma de Informática Básica do Infocentro,

localizado no Centro de Tecnologia da Eletrobras Eletronorte - (OCT), em Belém. Além de

representar a formação de mais uma turma, nesta, especificamente, houve a peculiaridade de

um dos alunos ser portador de necessidades especiais. O estudante de 16 anos, surdo e mudo,

cujas limitações não se caracterizaram como obstáculos à sua formação.

Fonte: Jornal Novo Tempo Pará – Edição de 07-01-2016

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Eletrobras Eletronorte entra na luta em combate ao Aedes Aegypit

23-02-2016: No mês de fevereiro, a Eletrobras Eletronorte, em Belém, aderiu a campanha

#ZikaZero, para conscientização da força de trabalho na luta contra a Dengue, Zika vírus e

Chikungunya. Empregados, estagiários, familiares e comunidades vizinhas à Subestação

Guamá e ao Centro de Tecnologia (OCT) receberam informações importantes sobre o vetor

dessas doenças, em uma palestra coordenada pela área de Responsabilidade Social, em

parceria com a Secretaria Municipal de Saúde e Meio Ambiente (SESMA).

Fonte: Jornal Novo Tempo Pará – Edição de 01-03-2016 Painel do Estágio chega a sua 18ª edição

06 e 07-12-2016: Realizada a 18ª edição do Painel do Estágio da Eletrobras Eletronorte.

Criado em 1998, o objetivo deste Painel é incentivar os estagiários a desenvolverem ações

criativas, inovadoras e empreendedoras, visando à melhoria de processos internos e inovação

tecnológica nas áreas onde o estágio é realizado. Além de promover o compartilhamento de

ideias entre funcionários e estagiários, o Painel também possibilita intercâmbio de

conhecimentos e experiências entre os próprios estudantes.

Nesta edição foram apresentados 28 trabalhos no auditório e 8 na Expo Painel (espaço

reservado para, inclusive, ilustrar os trabalhos com simulações e/ou outras demonstrações

praticas).

Os trabalhos foram avaliados por profissionais ex-empregados com alta capacidade

profissional e larga experiência nas áreas técnica e de gestão.

Fonte: Jornal Novo Tempo Pará – Edição de 23-12-2016

Estas iniciativas podem ser vistas como respostas aos novos questionamentos sobre a

Responsabilidade Social das empresas, onde deve predominar preocupações com tudo que dá

suporte ao bem-estar humano, dentro e fora das organizações, dado o poder de transformação

que estas exercem sobre o meio onde estão instaladas. Keneth Arrow6 e Berle e Means, apud

Barbieri e Cajazeira (2009, pp. 24 e 25), corroboram com este entendimento quando

observam que:

―... A regra da maximização do lucro é socialmente ineficiente, por exemplo, quando

os custos não são pagos, como no caso da poluição e do congestionamento, ou

quando o vendedor possui consideravelmente mais informações sobre seu produto

do que o comprador, particularmente com respeito à segurança.

6 Kenneth Joseph Arrow: Economista norte-americano de formação matemática, nascido em 23 de agosto de

1921, em Nova Iorque, fez o doutoramento em Economia em 1951. Lecionou nas Universidades de Chicago,

Stanford e, desde 1968, em Harvard. É simultaneamente consultor de empresas, tendo sido consultor do

presidente Kennedy. Na sua principal obra, datada de 1951, Social Choice and Individual Values, defende a

impossibilidade de encontrar uma regra de escolha social baseada unicamente na ordenação dos indivíduos dessa

sociedade. Devemos-lhe então o conceito de escolha pública. Usando a matemática, tomou o modelo de equilíbrio

geral de Walras e estabeleceu-o em bases rigorosas e definitivas. Escreveu também Essays in the Theory of Risk-

Bearin, assim como alguns artigos sobre a teoria do investimento social ótimo. Foi-lhe atribuído o Prêmio Nobel de

Economia em 1972, juntamente com John Hicks pelas suas contribuições pioneiras para a teoria do equilíbrio

econômico geral e a teoria do bem-estar.

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... A maximização do lucro é socialmente injustificada em mercados imperfeitos,

onde entre os efeitos negativos estaria o de eliminar as motivações altruístas da

sociedade.

... A sociedade anônima acumula um tremendo poder econômico controlado por

poucos, podendo prejudicar ou beneficiar multidões, afetar distritos inteiros,

deslocar as correntes comerciais, trazer ruína ou prosperidade às comunidades. E

que por razões como estas, é claramente imprescindível que a ideia sobre

responsabilidade social exprima obrigações éticas, morais e legais‖.

Há, no entanto, um rol de outras atividades, entendidas aqui como ações

essencialmente filantrópicas, quais sejam:

Distribuição de cestas básicas por ocasião das festividades do Círio de Nazaré, onde

uma comunidade é escolhida aleatoriamente para ser contemplada;

Ação denominada ―Adote uma Criança‖ por ocasião das festividades de Natal, onde,

de forma voluntária, o empregado decide por atender uma ou mais cartas endereçadas

ao ―Papai Noel‖;

Distribuição de Cestas de Natal para prestadores de serviços vinculados as atividades

de vigilância, zeladoria, condução de veículos etc.

O que fica como questionamento é que estas ações, predominantemente filantrópicas,

têm sido rotuladas como de Responsabilidade Social, e as controvérsias sobre este

entendimento têm-se revelado tanto na concepção das áreas responsáveis pelas iniciativas,

como por outros públicos — em geral empregados — que levantam dúvidas sobre sua

importância para a empresa. Neste sentido, algumas interrogações tornam-se preponderantes

como norteadores desta pesquisa, quais sejam:

As ações sociais desenvolvidas pela Eletrobras Eletronorte são ações de

Responsabilidade Social Empresarial ou de Filantropia?

Essas ações estão garantindo a legitimação da Eletronorte, junto à sociedade,

como uma empresa socialmente responsável?

Que categorias têm sido mais determinantes na legitimação da Eletronorte,

como uma empresa socialmente responsável?

Com base nessas informações, e no que, até aqui, apresenta-se como sustentação

teórica das mesmas, julga-se fundamental conhecer, também, o que pensam os trabalhadores

da organização pesquisada sobre Responsabilidade Social e Filantropia, e reunir os dados para

adentrar um pouco mais nesse entendimento, buscando identificar se têm significados

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diferentes; se têm o mesmo significado; se um está inserido no outro; ou, até, se um

complementa o outro.

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5 CAPÍTULO V: METODOLOGIA DA PESQUISA

Para atender aos objetivos deste trabalho, optou-se por uma pesquisa descritiva, onde,

por suas características é possível estabelecer relações entre variáveis, utilizando técnicas

padronizadas de coleta de dados. (DENCKER, 2001, p. 124). No rol dessas técnicas destaca-

se o uso do questionário e da entrevista.

A utilização do questionário se justifica por ser um instrumento que permite coletar

informações de maneira organizada a respeito das variáveis que impactam na investigação,

considerando populações ou amostras específicas. A partir dessas informações podem ser

avaliados dados relacionados a opiniões, sentimentos, expectativas etc. (DENCKER, 2001, p.

146).

Esse estudo foi delimitado nas ações sob responsabilidade da unidade Belém dentro da

Eletrobras Eletronorte, com possibilidades futuras de expandi-lo a outros polos da empresa,

utilizando a relação entre os conceitos de instituição e organização como referencial de

análise crítica das iniciativas de Responsabilidade Social e Filantropia.

O questionário utilizado para a realização dessa pesquisa foi composto de dezoito (18)

questões fechadas, e avaliadas com a utilização da Escala de Likert, com fins de quantificar

concordância e discordância em relação aos quesitos de investigação. A Escala de Likert faz

parte de um grupo de Escalas de Atitudes, utilizadas em estudos psicossociológicos quando,

dentre outros objetivos, busca-se levantar opiniões. (DECKEN, 2001, p.152).

Também faz parte deste instrumento, uma (01) questão aberta, com o objetivo de

disponibilizar um espaço estruturado, e formal, para registrar, subjetivamente, o que as

questões fechadas, por ventura, não tenham permitido contemplar, e se configure como um

desejo do respondente (Anexo – 1).

Oitenta questionários foram respondidos, cujo público reuniu empregados de áreas

técnica e administrativa, com tempo de serviço variando entre dez (10) e trinta (30) anos;

prestadores de serviço e estagiários das mesmas áreas, ambos vinculados à organização há,

pelo menos seis (06) meses.

Somou-se a essa pesquisa uma entrevista estruturada, pautada em um roteiro

previamente estabelecido e direcionada a um público específico. Trata-se, este público, de um

número reduzido de pessoas, porém, com instrução mínima de graduação superior, atuando

em áreas diferenciadas, e consideradas formadoras de opinião dentro da empresa estudada.

(Anexo – 2).

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As pessoas selecionadas ocupam cargos, dentro da organização, ligados às áreas de

engenharia, de gerência formal, de assessoria jurídica, de coordenação de responsabilidade

social, de segurança do trabalho e de liderança sindical.

A decisão pela utilização de uma entrevista estruturada e direcionada, como

instrumento complementar da pesquisa, foi para considerar opiniões vistas como relevantes e

anuídas pela maioria do contingente que compõe a organização. Vê-se também, neste

instrumento, a oportunidade de avaliar opiniões que não tenham sido previstas no grupo de

questões fechadas e que, pela sua relevância, possam nortear escolhas da organização por

caminhos que a legitimem como uma empresa socialmente responsável. A entrevista é uma

técnica de pesquisa apropriada nos casos em que os dados pretendidos não estão disponíveis

em registros ou fontes documentais. (DECKEN, 2001, p. 138).

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6 CAPÍTULO VI: RESULTADOS E DISCUSSÃO

Antes de iniciar a análise propriamente dita do que fora respondido no questionário,

procurou-se agrupar as questões que, na sua essência, mostram uma correlação, pela

similaridade do que buscam avaliar. Assim concluiu-se pela formação do seguinte quadro:

Nº QUESTÃO DO INSTRUMENTO FATOR EM COMUM

04 Em sua opinião a Eletronorte vem investindo em Responsabilidade

Social? Iniciativas voltadas à

Responsabilidade Social estão

inseridas, de fato, no rol de

objetivos instituídos na

Eletronorte.

13 Pra você, a Eletronorte adota medidas que garantam a inclusão

social?

17 Em sua opinião, na Eletronorte, as ações de Responsabilidade

Social têm a mesma importância que os demais objetivos?

18 Você classificaria a Eletronorte como uma empresa socialmente

responsável?

05 Pra você, Responsabilidade Social é fazer trabalho voluntário? Responsabilidade social é um

conjunto de doações voluntárias,

materiais e imateriais.

06 Pra você, Responsabilidade Social é fazer doações à comunidade?

16 Em sua opinião, as empresas devem fazer doações para atender às

expectativas da comunidade?

07 Pra você, Responsabilidade Social deve estar vinculada ao

Marketing Institucional, fortalecendo a imagem da empresa? Responsabilidade Social é um

fator determinante na imagem

positiva da Empresa, junto à

sociedade. 09

Pra você, Responsabilidade Social é uma boa estratégia de

reconhecimento da empresa junto à sociedade?

08 Pra você, Responsabilidade Social está implicitamente vinculada

ao desenvolvimento da população local ou regional? Ações de Responsabilidade

Social compõem os meios que

viabilizam a inclusão social. 12 Pra você, trabalhar com Responsabilidade Social significa adotar

medidas que garantam a inclusão social?

10 Você conhece a política de Responsabilidade Social da

Eletronorte? As ações de Responsabilidade

Social da Eletronorte são de

conhecimento público. 11 Você acredita que os projetos de Responsabilidade Social da

Eletronorte estão sendo bem divulgados?

14

Na prática, as ações de Responsabilidade Social devem adotar

posturas não discriminatórias no atendimento dos públicos interno

e externo à empresa? As ações de Responsabilidade

Social devem contemplar, sem

discriminação, os públicos

interno e externo à organização. 15

E na Eletronorte é assim que acontecem as ações de

Responsabilidade Social? Sem discriminação no atendimento aos

públicos interno e externo à empresa?

6.1- Avaliação do questionário

Uma das variáveis inseridas no questionário foi a ―faixa etária‖, distribuída nos

seguintes grupos: de 18 a 25 anos; de 26 a 35 anos; de 36 a 55 anos e acima de 55 anos.

Os conceitos, tanto de filantropia como de responsabilidade social, conforme já

demonstrado, foram sendo construídos ao longo de décadas. E durante todo esse tempo, que já

soma mais de um século, alguns entendimentos foram confirmados e outros, parcial ou

totalmente modificados.

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O objetivo desta variável é avaliar o quanto, ao longo dos últimos cinquenta anos, os

conceitos atribuídos à Filantropia e à Responsabilidade Social vêm se consolidando, se

transformando, convergindo ou divergindo opiniões sobre o que essas iniciativas se propõem

a realizar e, principalmente, sobre o que geram como expectativas à sociedade.

O gráfico abaixo mostra os percentuais de respondentes, de acordo com a faixa etária.

O grupo situado na faixa entre 18 e 25 anos, destacou dois fatores como

representativos à sua visão, quais sejam: a necessidade da empresa criar ações de

responsabilidade social direcionadas às comunidades do seu entorno, e a importância de

efetuar ampla divulgação dessas iniciativas. Veja-se, por exemplo, alguns depoimentos:

―A Eletronorte deveria se fazer mais presente no entorno da empresa, incentivando

campanhas educativas e manifestações culturais das populações que moram nas

proximidades do empreendimento, e têm tanta carência desse tipo de atividade.

Além disso, a empresa deve divulgar mais essas ações.‖

―Investir e promover atos sociais nas comunidades do entorno da empresa, tais

como: gincanas, palestras, capacitação profissional etc.‖

―Continuar investindo em diferentes áreas, como artes, educação e saúde, que

contribuam para minimizar os problemas da comunidade local.‖

Esses depoimentos contribuem para validar uma das concepções sobre o conceito

de Responsabilidade Social. Mendes, Vieira e Chaves (2009, p.193), ressaltam que, na mesma

proporção que vêm crescendo as exigências por ações de responsabilidade social, o seu

significado vem se expandindo, incluindo-se nele, também, a preocupação com a comunidade.

Embora a ressalva de Cardoso possa ser considerada recente - datada de 2002 - esse

entendimento já remonta algumas décadas. Bower (apud MENDES; VIEIRA; CHAVES,

2009, p. 199), por exemplo, já em 1957, colocou em questão o que deveria ser considerado

como responsabilidade social dos homens de negócios e transformado em práticas das

22%

26%30%

20%

2%

Faixa Etária

18 a 25 anos

26 a 35 anos

36 a 55 anos

> 55 anos

Não Informaram

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organizações empresariais. Para ele, o termo responsabilidade social estava diretamente

atrelado à responsabilidade pública, a obrigações sociais e à moralidade social. São termos

que corroboram os depoimentos dos pesquisados, quando entendem ser responsabilidade da

empresa participar efetivamente do desenvolvimento da comunidade ao seu redor.

Rico (2004, p. 73) também afirma não se tratar de algo recente a preocupação com a

área social no mundo dos negócios. Que muitas organizações já procuram desenvolver uma

gestão que contemple a inserção e garanta a manutenção de valores éticos na sua conduta

perante a sociedade. Para este fim, estas enxergam a responsabilidade social como um dos

princípios de condução das suas iniciativas, não só discutindo o que fazer, mas como

implementar ações que integrem e preservem os interesses de todos que compõem suas

relações, dentre eles: os clientes, os fornecedores, os consumidores, a comunidade etc,

considerando que todos, de alguma forma são afetados por um novo empreendimento,

independentemente de suas características e de seus objetivos.

No que diz respeito à divulgação sobre as ações de responsabilidade social

desenvolvidas pela Empresa, pode-se considerar esse mecanismo fundamental para legitimá-

la como uma organização socialmente responsável. Os depoimentos a seguir revelam essa

necessidade, vejamos:

―Não sei se a Eletronorte já faz isso, mas seria interessante que a Responsabilidade

ocorresse na forma de um programa da empresa que contemplasse vários aspectos,

como: inclusão social e digital; acessibilidade; cultura; esporte; capacitação, enfim,

seja completo.‖

―Com relação às atividades da responsabilidade social, elas deveriam ser avisadas

com mais antecedência para o público interno e externo.‖

―Ampliar a divulgação sobre responsabilidade social para os seus empregados,

tornando-a parte do dia-a-dia da empresa. Além disso, daria oportunidade para as

pessoas que compõem a organização participarem de forma voluntária.‖

―As políticas de responsabilidade social da empresa Eletronorte são muito

internalizadas. Eu não sabia de nenhuma parte da empresa com responsabilidade

social, seja pela falta dela ou por falta de divulgação.‖

Entende-se que qualquer organização que se propõe a investir em responsabilidade

social, quer se ver reconhecida pelo feito. Neste sentido, a utilização dos canais de

comunicação, em todos os níveis, se faz determinante. Sousa Filho e Wanderley (2007, p. 5)

colocam a divulgação dessas iniciativas como preponderante para esse objetivo. É por meio

dela que é possível viabilizar a integração de todos os públicos impactados pelo

empreendimento empresarial, sejam eles internos ou externos, envolvendo os mais variados

vínculos e/ou interesses nessa relação. Estes públicos, quase sempre se repetem. Neles, se

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inserem os clientes, os fornecedores, as comunidades e todos os outros que estiverem

intrinsecamente ligados à sociedade que dá suporte e, ao mesmo tempo, é afetada pela

organização.

Apesar destes dois fatores (obrigações com a comunidade e a importância da

divulgação das ações de responsabilidade social) representarem mais de 90% (noventa por

cento) das opiniões desta faixa etária, um depoimento se revela totalmente contrário em

relação ao que se deve esperar das organizações em termos de responsabilidade social.

Vejamos:

―A responsabilidade social não é responsabilidade das organizações e sim do poder

público, que, por executar de maneira ineficiente, transferiu parte de suas obrigações

às empresas. Criou-se uma expectativa e, ao mesmo tempo, "pressão" sobre as

empresas para que atendam à sociedade. A Eletronorte já executa além de suas

obrigações. É uma empresa comprometida socialmente. ‖

Trata-se de uma visão consonante, ainda que parcialmente, com o postulado de

Milton Friedman. Para Friedman, segundo Sousa Filho e Wanderley (2007, p. 3), não há

dúvidas de que deve existir responsabilidade social. A questão é que, na sua concepção, isto

não cabe às empresas. Estas, ressalta Friedman, existem para o cumprimento de

responsabilidades econômicas. É isto que esperam aqueles que investem na sua criação. Isto,

porém, na visão de Friedman, não impede que iniciativas de pessoas físicas sejam adotadas

para o exercício da responsabilidade social. Cada empresário, cada executivo, cada cidadão

em si pode, a partir de recursos próprios, desenvolver ações em prol da sociedade. No entanto,

decidir por este exercício, utilizando o dinheiro da organização, representa desviar o

cumprimento do principal objetivo da empresa, que é de fazer crescer todos os investimentos

ali colocados.

Pode-se dizer, todavia, que parte do depoimento revelado na pesquisa (―A Eletronorte

já executa além de suas obrigações. É uma empresa comprometida socialmente.‖), tem

proximidade com o pensamento de Friedman. Além disto, o próprio negócio, energia, já

representa um bem indispensável à sociedade, ao mesmo tempo em que resguarda o objetivo

para o qual a empresa fora criada. Não deveria ser este o verdadeiro sentido da

responsabilidade social? Além de diferenciá-la, mais claramente, da concepção de filantropia?

No grupo de pesquisados, que compreende a faixa etária entre 26 e 35 anos, a

preocupação com a comunidade do entorno da empresa, também, aparece como um fator

preponderante, conforme a seguir:

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―Ser socialmente responsável para mim, é desenvolver projetos que contribuam

significativamente para o desenvolvimento da comunidade onde a empresa está

inserida. Portanto, a Eletronorte deveria realizar projetos duradouros que

contribuíssem para mudar a realidade da comunidade à sua volta, pois, na minha

opinião, a empresa ainda realiza muitas ações de filantropia apenas, porém

denominando de RSE. ‖

―Investir em atividades de inclusão social, projetos educativos, que possibilitem a

capacitação da comunidade.‖

―Sugiro que sejam elaborados projetos que ajudem a desenvolver as melhorias nas

condições sociais da comunidade.‖

Observa-se, portanto, não se tratar de sentimentos isolados em relação a este ponto de

vista, além do que são depoimentos que reforçam o referencial teórico até aqui utilizado para

esta questão.

Outro fator que, ainda neste grupo, a pesquisa mostrou como necessário, e que deve

estar inserido nas propostas de responsabilidade social, é a utilização da educação como

ferramenta de desenvolvimento dos diversos públicos que se relacionam com a empresa. Na

visão dos pesquisados, trabalhar no sentido de educar as pessoas para que percebam o reflexo

de suas atitudes, onde quer que sejam aplicadas, também se configura como uma ação de

responsabilidade social. Assim, algumas declarações enfatizam:

―Treinamento de empregados; criação de objetivos específicos quanto à área de

responsabilidade social; estabelecimento de metas e realização de campanhas

institucionais‖.

―Montar oficinas junto a instituições de treinamentos profissionalizantes (SENAI,

SESI etc), com vistas a orientar crianças e jovens sobre carreiras e apresentar

alternativas para o desenvolvimento social desses indivíduos dentro de suas

comunidades‖.

―Palestras semestrais, abertas ao público, sobre conscientização do uso racional e

eficiente da energia elétrica e sobre saúde, doenças e qualidade de vida‖.

Enxerga-se como muito pertinentes estas opiniões, baseado no que se entende e no

que se espera conquistar com o exercício da educação. A educação é, comprovadamente, um

instrumento de transformação. Por meio dela torna-se possível fazer com que o homem exerça

uma cidadania plena, pautada na construção do indivíduo para a vida social, onde quer que ele

esteja atuando (RODRIGUES, 2001, p.234).

O autor destaca, ainda, o quanto a educação é capaz de tornar abrangente a formação

humana. Por meio dela, em resposta à sua condição de cidadão, o homem pode ser preparado

para assumir as responsabilidades que lhe cabem na vida coletiva, multiplicando condições de

trabalho e utilizando coerentemente suas competências em prol do bem comum. Neste

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sentido, a educação como uma iniciativa de responsabilidade social pode ser exercida por

qualquer um, seja o autor um indivíduo, um grupo ou mesmo uma organização.

Na faixa etária entre 36 e 55 anos, do grupo de pesquisados, surge novamente a ideia

de que a empresa tem obrigações com a sociedade, em especial com as comunidades do seu

entorno. Percebe-se, porém, em um único depoimento, uma concepção mais madura e bem

ampla, destacando-se, inclusive a educação como ferramenta primordial para atender a esses

objetivos e até para impactar na cultura local. Veja-se:

―Partindo do principio básico de que na Responsabilidade Social as empresas devem

contribuir, de forma voluntária, para uma sociedade mais justa, entendo que as ações

empresariais de responsabilidade social na empresa, devem ser voltadas para

viabilização de condições que permitam a mudança de cultura e de comportamento

da sociedade. Deve haver o investimento em programas de educação e capacitação

profissional dos membros da comunidade/sociedade e também dos empregados,

culminando com a melhoria de condições e qualidade de vida desta sociedade.‖

Um outro depoimento desta faixa etária, também apresenta uma certa semelhança

com um dos destaques do grupo com idade entre 18 e 25 anos, qual seja:

―Responsabilidade social não é fazer doações, ajudar a comunidade local.

Responsabilidade social é uma estratégia de negócio da empresa para com os seus

stakeholders (Governo, sociedade, órgãos ambientais, clientes, empregados,

acionistas, etc) de forma que a marca seja fortalecida e a empresa ganhe dinheiro

(aumento do lucro, da rentabilidade) a médio e longo prazo.‖

É uma visão que se mostra em conformidade com a visão de Porter e Kramer (2009,

pp. 483 e 484) quando enfatizam que as empresas devem enxergar a Responsabilidade Social

como um fator estratégico para os seus negócios, e que negligenciar este cuidado só trará

como resultado um impacto negativo à sua imagem, atrelado a custos elevados para revertê-la.

Pode-se dizer, também, tratar-se de uma visão que, pelo menos em parte, corrobora o

pensamento de Friedman (apud SOUSA FILHO; WANDERLEY, 2007, p.3) de que as

empresas existem para dar retorno a tudo que nela for investido, ainda que muitas das suas

iniciativas sejam denominadas como ações de Responsabilidade Social. E complementa que,

fugindo deste foco, se for para ajudar a sociedade, que os interessados o façam lançando mão

de recursos próprios.

Isto, no entanto, não significa que a empresa esteja impedida de proporcionar

benefícios à sociedade, sem preterir ao que Friedman defende como sendo suas únicas

responsabilidades, e sem negligenciar fatores estratégicos ao seu desenvolvimento. A

declaração abaixo, também oriunda do grupo de pesquisados entre 36 e 55 anos, aponta uma

alternativa bem aderente a este fim, veja-se:

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―Incentivar ainda mais no estudo de energia limpa e renovável possibilitando um

aumento na demanda de energia, a baixo custo para a sociedade.‖

Pode-se dizer, inclusive, tratar-se de um entendimento fortemente enquadrado na

concepção de Responsabilidade Social sem a presença da dimensão filantrópica. Também

deste grupo, surgiu uma declaração que chamou à atenção. Ela destaca:

―Na Eletronorte os Gestores não estão engajados na Responsabilidade Social, só

estão interessados em atingir metas. Enquanto este fato existir, a Responsabilidade

Social ficará para o último projeto.‖

Não deixa de ser um sentimento que denota falta, ou no mínimo, pouca legitimidade à

empresa como uma organização socialmente responsável, o que é validado pela concepção de

Weber (2010, p. 64) quando defende que os procedimentos pra serem considerados legítimos,

têm que estar instituídos como um conjunto de atitudes que se desenvolvem naturalmente na

organização. Se em algum momento essas ações só existiam porque faziam parte de um

processo previamente formatado, hoje elas se sustentam em si mesmas, independentemente de

qualquer rotina pré-estabelecida.

O último grupo que foi pesquisado, no que diz respeito à faixa etária, foi o grupo

acima de 55 anos. Observa-se que os depoimentos, embora diferentes nas expressões, têm

similaridade com o que já fora mencionado pelos grupos anteriores, por exemplo:

―Concordo, em parte, que somos uma empresa socialmente responsável, pois

participamos de alguns programas do governo para inclusão de menores no setor

educativo, apenas por imposição legal, ou atendemos minimamente, sem verbas

específicas, comunidades impactadas por nossos empreendimentos, ainda assim, por

imposição legal.‖

Ou seja, neste exemplo, verifica-se uma visão que, novamente, denota a ausência da

legitimidade da empresa, conforme já mencionado na análise dos discursos do grupo anterior.

―Que a Eletronorte continue com seu excelente trabalho de Responsabilidade Social,

que é muito bom para a nossa sociedade, em especial nas áreas ribeirinhas, onde o

problema é mais grave e se faz necessário. A Eletronorte já é uma empresa

socialmente responsável.‖

Aqui, ao contrário dos exemplos anteriores, já existe uma convicção de que a empresa

está realmente engajada no seu papel de ser uma organização socialmente responsável. Se isto

for um fato, podemos entender que o reconhecimento não atinge a corporação como um todo,

reservando espaços para melhor divulgar tudo que esteja sendo desenvolvido para este fim,

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conforme, também, já fora tratado e recomendado no postulado de Sousa Filho e Wanderley

(2007, p. 5), que colocam a divulgação como pré-requisito para integração e formação de

opinião coletiva. Outra citação deste grupo foi:

―Fazer um levantamento para saber aonde tem mais carência de necessidade de

trabalho para atuação de responsabilidade Social em Belém. A Eletronorte poderia

atuar com trabalhos voltados à comunidade carcerária. Seria uma boa atuação em

relação à necessidade da nossa Cidade, para melhorar a visão do homem carcerário.

Eu vejo uma grande ausência de trabalhos de Educação nessa área.‖

Apesar da particularidade do público destacado neste exemplo, o fator em comum

com exemplos anteriores é a utilização da educação como ferramenta de transformação do

homem, legitimando a visão de Rodrigues (2001, p. 234), que destaca o poder que a educação

possui para alcançar o homem em todas as suas dimensões, tornando-o um cidadão convicto

de responsabilidades que o fazem sentir-se obrigado a zelar pelo bem comum.

Por último, ainda dentro deste grupo, com idade acima de 55 anos, surge uma

colocação fazendo ressalva à questão ética, da seguinte forma:

―A dimensão ética é uma necessidade para a própria sobrevivência da empresa. A

princípio é simples, é fazer a coisa certa com naturalidade. Acredito muito, também,

na dimensão filantrópica. Quando colaborei no programa PRODEEM7, na região do

Baixo Tocantins, pude ver de perto a chegada de energia elétrica promovendo a

redução da desigualdade social. ‖

Torna-se interessante considerar não somente a preocupação com a dimensão ética,

declarada pelo pesquisado, como também o destaque feito com a dimensão filantrópica,

porque vai ao encontro do pensamento de Carrol (1991) quando admite que a

Responsabilidade Social inicia com contribuições filantrópicas, mas não se resume

exclusivamente a isto. Para ser completa precisa considerar aspectos econômicos, legais e

éticos, cada um com suas particularidades, embora sempre interrelacionados, onde quer que

forem aplicados.

Terminada esta análise, segue-se com a interpretação das respostas às perguntas

correlacionadas pela similaridade do que buscam pesquisar.

7 O Programa de Desenvolvimento Energético dos Estados e Municípios – PRODEEM é um programa do

Governo Federal, instituído em 1994 para atender às localidades isoladas não supridas de energia elétrica pela

rede convencional, obtendo essa energia de fontes renováveis locais. Assim, o PRODEEM busca promover o

desenvolvimento autossustentável, social e econômico, dessas localidades. Disponível em

http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/59255.html. Acessado em 16-09-2016 às 19:47h.

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70

O primeiro grupo de perguntas, formados pelas questões de nº 04, 13 17 e 18, buscou

avaliar se as iniciativas voltadas à Responsabilidade Social estão inseridas, de fato, no rol de

objetivos instituídos na Eletronorte.

Observa-se, neste grupo, uma predominância na categoria dos que ―concordam em

parte‖ com a concepção de que a Responsabilidade Social esteja inserida nos propósitos da

Eletronorte. Pode-se dizer, neste caso que, ou não há realmente essas iniciativas nos seus

objetivos, ou, se houverem, não estão reconhecidas pelo púbico pesquisado.

Dois fatores podem estar contribuindo para essa percepção. O primeiro atrelado à

falta de legitimidade, na medida em que as ações de Responsabilidade Social não se revelam

com naturalidade, ao ponto de serem consideradas como parte integrante dos processos da

organização. Isto caracterizaria uma preocupação da empresa em atender necessidades reais

da sociedade, admitidas como justas e enquadradas nas suas responsabilidades éticas (SILVA,

2003).

O segundo fator, diz respeito à divulgação, ou seja, se as iniciativas de

Responsabilidade Social estiverem realmente inseridas nos propósitos da Eletronorte, a falta

1%

11%

25%

21%

31%

11%

Questão nº 17

Não responderam Não sabem dizer

Discordam totalmente Discordam em parte

Concordam em parte Concordam totalmente

0%

8%6%

6%

66%

14%

Questão nº 18

Não responderam Não sabem dizer

Discordam totalmente Discordam em parte

Concordam em parte Concordam totalmente

2% 5% 4%

9%

63%

17%

Questão nº 04

Não responderam Não sabem dizerDiscordam totalmente Discordam em parteConcordam em parte Concordam totalmente

1%

11%5%

6%

58%

19%

Questão nº 13

Não responderam Não sabem dizerDiscordam totalmente Discordam em parteConcordam em parte Concordam totalmente

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71

de divulgação impede que sejam visualizadas, o que é determinante, segundo Dufloth e

Bellumat (apud SOUSA FILHO; WANDERLEY, 2007, p.5), os quais destacam a divulgação

como indispensável para construir uma opinião coletiva, ao mesmo tempo em que contribui

para um processo de integração com a comunidade, e de reconhecimento desta em relação à

organização.

O segundo grupo, formado pelas questões de nº 05, 06 e 16, buscou avaliar o quanto

que os pesquisados enxergam a Responsabilidade Social como um conjunto de atitudes

voluntárias, que envolvem doações materiais e imateriais.

Novamente verifica-se uma predominância na categoria dos que ―concordam em

parte‖. No entanto, nas três questões surge, também, um percentual representativo dos que

discordam, seja ―totalmente‖ ou ―em parte‖. Considerando que no rol das dúvidas dos que

―concordam em parte‖ pode existir motivos desconhecidos e que, se descobertos podem

aumentar o percentual de discordância, cuja soma, já é representativa (na questão 05,

totalizando 49%; na questão 06, 56% e na questão 16, 40%), entende-se como pertinente

0%0%

26%

23%39%

12%

Questão nº 5

Não responderam Não sabem dizer

Discordam totalmente Discordam em parte

Concordam em parte Concordam totalmente

0% 0%

29%

27%

37%

7%

Questão nº 6

Não responderam Não sabem dizer

Discordam totalmente Discordam em parte

Concordam em parte Concordam totalmente

0% 0%

16%

24%

49%

11%

Questão nº 16

Não responderam Não sabem dizer

Discordam totalmente Discordam em parte

Concordam em parte Concordam totalmente

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72

admitir este sentimento (de discordância), até porque atitudes voluntárias e doações materiais

e imateriais estão mais aderentes à Filantropia do que à Responsabilidade Social.

O postulado de Santos (2003, p. 20), convida a fazer esta diferença, quando enfatiza

tais iniciativas como algo isolado, desvinculado de quaisquer compromissos com os

propósitos estratégicos da organização; sem exigências de manutenção e muito mais

caracterizados por gestos de caridade do que por obrigação com a sociedade.

O terceiro grupo, formado pelas questões de nº 07 e 09 fora utilizado para avaliar o

quanto a Responsabilidade Social é um fator determinante na imagem positiva da Empresa,

junto à sociedade.

Aqui é notória a convicção dos pesquisados sobre a importância das ações de

Responsabilidade Social como fator impactante na imagem da organização. Se somarmos os

que concordam, seja ―em parte‖ ou ―totalmente‖ obteremos percentuais que variam de 77 a

95%, mais do que representativo para esta concepção. Kramer e Porter (2009, p.488),

inclusive, criticam os gestores que negligenciam esta necessidade como um fator estratégico

para a organização, e destacam que muitas empresas, por conta desta postura, acabam tendo

prejuízos com o seu negócio e gastos imprevisíveis para reverter o quadro financeiro e

resgatar a qualidade da sua imagem diante da sociedade.

O quarto grupo, formado pelas questões de nº 08 e 12 fora utilizado para medir o

quando as Ações de Responsabilidade Social compõem os meios que viabilizam a inclusão

social.

1% 0%

11%11%

36%

41%

Questão nº 7

Não responderam Não sabem dizer

Discordam totalmente Discordam em parte

Concordam em parte Concordam totalmente

0% 1% 4% 0%

24%

71%

Questão nº 9

Não responderam Não sabem dizer

Discordam totalmente Discordam em parte

Concordam em parte Concordam totalmente

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73

Este grupo, mais do que os outros apresenta um alto grau de concordância. Mesmo

que não considerássemos os que concordam só ―em parte‖, o número dos que concordam

―totalmente‖ já representa mais de 50% dos respondentes. De certa forma, não se trata de uma

visão isolada ou restrita a este grupo de pesquisados. Autores como Rico (2004, p.73), já

destacam este aspecto quando enfatizam que as organizações que se preocupam em

desenvolver sua gestão, cujas ações primem por atitudes socialmente responsáveis inseridas

no próprio negócio, devem trilhar seus caminhos, pautados em modelos éticos, para que, além

de garantirem a integração dos protagonistas de sua existência (clientes, fornecedores,

consumidores, comunidade local, governo, direção etc), garantam, por meio desta escolha,

construir uma sociedade preocupada em promover a igualdade de oportunidades e a inclusão

social no país.

O quinto grupo, formado pelas questões de nº 10 e 11 fora utilizado para medir o

quanto as ações de Responsabilidade Social da Eletronorte são de conhecimento público.

O resultado da pesquisa para este grupo se mostrou muito semelhante ao que fora

apresentado no primeiro grupo, com predominância, porém, num provável desconhecimento

do público sobre o que a Eletronorte faz em termos de Responsabilidade Social. Repete-se

1% 1% 3% 2%

33%

60%

Questão nº 8

Não responderam Não sabem dizer

Discordam totalmente Discordam em parte

Concordam em parte Concordam totalmente

0%0%

0%

5%

44%51%

Questão nº 12

Não responderam Não sabem dizer

Discordam totalmente Discordam em parte

Concordam em parte Concordam totalmente

11%

33%

46%

10%

Questão nº 10

Não Muito pouco Mais ou Menos Bastenate

1%

11%

23%

26%

36%

3%

Questão nº 11

Não responderam Não sabem dizer

Discordam totalmente Discordam em parte

Concordam em parte Concordam totalmente

Bastante

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aqui, portanto, a necessidade de sistematizar um processo de divulgação sobre as realizações

da empresa, caso seja de seu interesse ver suas iniciativas devidamente reconhecidas. Isto

ratificaria a visão de Dufloth e Bellumat (apud SOUSA FILHO; WANDERLEY, 2007, p. 5),

que colocam a divulgação como indispensável para a organização se mostrar transparente à

coletividade.

A divulgação não somente informa, ela também revela uma disposição por se fazer

conhecer, o que contribui para promover a integração e validar o reconhecimento.

O sexto grupo, formado pelas questões de nº 14 e 15 fora elaborado para medir o

quanto que as ações de Responsabilidade Social devem contemplar, sem discriminação, os

públicos interno e externo à organização.

Não há dúvidas de que o índice de concordância nas questões em destaque, valida

esta concepção, e é corroborado pelo postulado de Schroeder e Schroeder (2004, p.5). Os

autores enfatizam que há uma expectativa de que as organizações entendam que estão

obrigadas ao compromisso com a Responsabilidade Social. Que seus objetivos não se limitam

aos produtos que a identificam no mercado de negócios. Que é indispensável construir

caminhos de crescimento em parceria com seus empregados e, principalmente, que a

comunidade se veja envolvida no rol de seus interesses. Isto pode ser comprovado por meio

de iniciativas voltadas à qualidade de vida da população (ações de preservação do meio

ambiente ou de investimento em educação, por exemplo), ao ponto desta enxergar a chegada

de uma empresa como sinônimo de desenvolvimento e prosperidade urbana.

0% 2% 0% 1%

16%

81%

Questão nº 14

Não responderam Não sabem dizer

Discordam totalmente Discordam em parte

Concordam em parte Concordam totalmente

0%

35%

5%

8%27%

25%

Questão nº 15

Não responderam Não sabem dizer

Discordam totalmente Discordam em parte

Concordam em parte Concordam totalmente

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6.2- Avaliação das Entrevistas

O outro instrumento utilizado para a pesquisa foi uma ―entrevista estruturada‖,

conforme já mencionado. Por se tratar de um grupo previamente selecionado, determinou-se

um número de onze (11) pessoas para serem entrevistadas, enquadradas no perfil de interesse,

ou seja, com instrução mínima de graduação superior, atuando em áreas diferenciadas, e

consideradas formadoras de opinião dentro da empresa estudada.

Para melhor organizar a análise, e por se tratar de um número reduzido, optou-se pela

criação de quadros, mostrando, em cada um deles, uma pergunta; a resposta dos onze

entrevistados para a referida pergunta, e a análise para cada grupo de respostas, conforme a

seguir:

Pergunta Nº 01: O que você entende por Responsabilidade Social?

Respostas

É o comprometimento consciente que cada um tem com o ambiente físico, psíquico e social no qual está

inserido. Todos, enquanto pessoa física e jurídica, temos a realizar nossa parcela de cooperação na

manutenção das condições básicas para as pessoas que se encontram mais carentes, sem deixar de estimulá-

las a se educarem e trabalharem dignamente.

Conjunto de atitudes orientadas para construção de uma sociedade mais justa.

Iniciativas voltadas ao desenvolvimento de boas condições, envolvendo qualidade de vida; desenvolvimento

socioeconômico e/ou cultural.

É o dever que todos, empresas e indivíduos, temos para com o próximo ou uma comunidade, no sentido de

minimizar o sofrimento deles.

São ações afirmativas voltadas ao atendimento de toda a comunidade, com propósitos de contribuir para a

diminuição de desigualdades sociais. Responsabilidade social diz respeito ao cumprimento dos deveres e

obrigações dos indivíduos e empresas para com a sociedade em geral. É o retorno à sociedade da exploração

dos recursos naturais, como os recursos hídricos.

É o compromisso da organização em assumir um comportamento ético e responsável para com os diversos

públicos (empregados, fornecedores, governo, vizinhos etc).

Estratégia empresarial desenvolvida para aliar o crescimento institucional com a redução de impactos sociais

que podem ser gerados pela própria empresa, permitindo o desenvolvimento, também, da comunidade que

sedia determinada instituição, atuando, esta última, com os instrumentos que são próprios do perfil de cada

empresa.

É a colocação em prática de deveres e obrigações dos indivíduos e/ou empresas para com a sociedade em

geral.

Conjunto de ações planejadas que buscam soluções ou mitigações aos problemas sociais tendo como

finalidade a transformação social de um ou mais segmentos da sociedade

É a forma como uma empresa lida com o negócio de tal forma que contribui para o desenvolvimento e apoio

social interno e externo com projetos de âmbito social.

É o atingimento do nível de conscientização da alta administração das empresas em destinar uma parcela do

lucro auferido na sua área de atuação, de volta a sociedade daquelas microrregiões, para contribuir na

melhoria do desenvolvimento das pessoas, ou seja, nos IDH´s locais (Indicadores tipo; analfabetismo,

mortalidade infantil, escolaridade, mortalidade materno infantil) na QTV, no aumento da renda e no combate

a fome e a miséria.

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De forma geral, todas as respostas enxergam a Responsabilidade Social como uma

obrigação das empresas em relação à sociedade, com ênfase na construção de um

desenvolvimento paralelo, ou seja, o desenvolvimento da organização só se justifica se, junto

com ele, o crescimento da sociedade estiver garantido. Peter Drucher (2002, p. 31) ratifica

esta visão, quando menciona que as empresas não existem para atender a si mesmas. Sua

existência deve ser concebida como um instrumento para viabilizar o alcance das demandas

sociais.

Da mesma forma, o Instituto Ethos (2007, p. 5), que é uma organização preocupada

com as obrigações sociais das empresas, declara já existir um grande grupo de organizações

conscientes de que o desenvolvimento de seus negócios não pode prescindir do atendimento

às demandas de seus stakeholders, englobando-se nestes, os púbicos de interesse civil, social e

ambiental. Logo, a Responsabilidade Social, tanto na visão dos pesquisados como dos autores

aqui mencionados, mais que uma opção, se revela como uma obrigação de qualquer empresa.

Pergunta Nº 02: O que você entende por Filantropia?

Respostas

É trabalhar por um ideal com o objetivo de melhorar o mundo sem quase nenhuma exigência de mudança

para quem recebe a assistência. É um trabalho de doação importante para o mundo, mas que foca

predominantemente a assistência aos mais necessitados sem exigir-lhes nada em troca.

Entendo filantropia como sinônimo de doação, caridade, por exemplo, doação de donativos, como roupas,

comida, dinheiro.

Ações de generosidade voltadas a grupos específicos, caracterizados por alguma carência.

Ato de ajudar os menos favorecidos, materialmente e espiritualmente.

São ações, a partir de trabalhos voluntários que na sua essência não devem ter como finalidade a

lucratividade. Acredito que estas ações podem ser desenvolvidas por empresas públicas ou não

governamentais com o objetivo de apoiar outras instituições com propósitos específicos de ajudar a

humanidade a ter uma melhor qualidade de vida.

Filantropia é o ato de ajudar alguém. Uma doação, uma esmola, ou outra forma não sistemática de ação.

Ações assistencialistas que são desenvolvidas nos diversos campos, sem, necessariamente, terem a ver com

os impactos gerados diretamente por uma empresa.

É a prática de ações humanitárias e atividades de mérito social, sem fins lucrativos.

É uma forma de responsabilidade social onde prevalece o desejo de realizar ações mitigadoras do sofrimento

humano através de campanhas, por exemplo, de sensibilização para que mais pessoas contribuam para

reverter uma situação degradante ao ser humano.

É a atitude de ajudar o próximo, fazer caridade. Amor ao próximo.

São doações sem fins lucrativos ou políticos baseado na solidariedade e caridade humana.

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Todas as respostas revelam um entendimento sobre Filantropia que se enquadra em

ações de caridade, sem qualquer preocupação com outros objetivos, senão o de ajudar os mais

necessitados quase que incondicionalmente. Esta concepção vai ao encontro do que destaca

Sanglard (2005, p. 29), ao abordar a Filantropia como um conjunto de iniciativas construídas

de forma gradativa, e atreladas a outros significados, dentre eles, o da beneficência, cujas

características principais são a individualização dos atos (pessoal ou organizacional) e o

sentido de doação, desvinculados de quaisquer perspectivas de retorno, que não seja o de ver

aliviado, ou eliminado, o sofrimento humano.

Santos (2003, p. 20) reforça esta visão, quando diz que a Filantropia é uma ação

social, desatrelada de outros interesses empresariais. Que é uma iniciativa pontual e que não

deve estar voltada para alcançar benefícios aos seus autores. Trata-se de atos exclusivamente

focados para ajudar o outro, pelo outro.

Pergunta Nº 03: Pra você, Filantropia e Responsabilidade Social são a mesma coisa? Sim, ou não? Por

quê?

Respostas

Não. Responsabilidade Social tem entre seus objetivos resgatar o cidadão. Na Filantropia prevalece o

assistencialismo contínuo.

Não. A primeira se relaciona a doação no aspecto material e a segunda em seu aspecto imaterial.

Não. A Filantropia é uma iniciativa movida por sentimento de generosidade em favor de pessoas que têm alguma

carência (ação paliativa).

A Responsabilidade Social corresponde a ações voltadas ao desenvolvimento das pessoas, com a finalidade de

mudar uma realidade (solução definitiva).

Sim. Por ter o mesmo objetivo.

Não. Enquanto a RESPONSABILIDADE SOCIAL é um cumprimento de um dever de todos, seja pessoa física ou

jurídica, para o benefício de toda uma comunidade, indistintamente, a FILANTROPIA é uma ação direcionada a

uma parte deste todo, que estejam sendo menos favorecida com relação a um mínimo de qualidade de vida, com a

preservação e defesa dignidade da pessoa humana.

Não. Acho que filantropia pode fazer parte da responsabilidade empresarial, mas, é feita de forma não

sistematizada. Filantropia está mais ligada a doações sem representar compromisso de continuidade e é desatrelada

do negócio. A filantropia não trata das questões ambientais, por exemplo, que é um dos focos da RS

Não. Porque a primeira, Filantropia, pretende assistir às diversas demandas originárias das carências

socioeconômicas que não foram geradas pelos impactos provocados por uma instituição/empresa, especificamente,

enquanto que a segunda ocorre como um contrato social que se estabelece entre duas personagens, a empresa e a

comunidade, com o compromisso de reabilitar ou impedir prejuízos socioeconômicos na comunidade, estes

últimos causados pela própria empresa.

Não. Ao contrário da Responsabilidade Social, a prática da Filantropia é espontânea, e não pressupõe um dever ou

obrigação.

Não. Porque na filantropia busca-se muito mais a sobrevivência humana e na responsabilidade social está voltada

mais para desenvolvimentos de habilidades e competências sociais para que o indivíduo ou coletivo busque formas

de sobrevivência, de educação e geração de renda, entre outros.

Não. A responsabilidade social abrange apenas uma pequena parcela e de forma setorial, já a filantropia é a forma

de doar algo de coisas matérias a tempo em determinadas ações.

Não. São complementares. As carências sociais são tão elevadas que carecem uma da outra.

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Apenas um dos entrevistados enxerga a Responsabilidade Social e a Filantropia como

sendo a mesma coisa, e justifica sua resposta por entender que ambas têm o mesmo objetivo.

Esta resposta, no entanto, não apresentou argumentos suficientemente profundos para melhor

justificá-la, diferentemente das demais que discorreram com maior propriedade sobre seu

posicionamento. Além disto, a predominância do ―não‖ está de acordo com o que é defendido

por, praticamente, todos os autores pesquisados, reservando-se algumas nuances que, em si,

não chegam a contrariar as opiniões levantadas nas entrevistas.

Tenório (2006), por exemplo, destaca o filantropismo como um dos elementos

motivadores das iniciativas de Responsabilidade Social, até admite que o primeiro esteja

inserido no outro, mas não os caracteriza como detentores dos mesmos objetivos. Semelhante

à visão de Carrol (1991), para quem o exercício da Responsabilidade Social, embora inclua

contribuições filantrópicas, mas não se limita a elas. No seu entendimento, inclusive, a

Filantropia, neste contexto, pode até ser muito desejada, mas, em termos de importância, está

aquém de outras contribuições indispensáveis: a contribuição econômica, a contribuição legal

e a contribuição ética.

Santos (2003), por sua vez, aceita a Filantropia como uma das primeiras iniciativas

rumo à Responsabilidade Social, mas é muito mais enfático na diferenciação, e diz: não são a

mesma coisa. A filantropia se caracteriza por ações de caráter estritamente humanitário, ao

passo que a Responsabilidade Social tem uma abrangência que impacta em estratégias e na

cultura das organizações.

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Pergunta Nº 04: Se você respondeu “não” na questão anterior, há, pelo menos, no seu entender, alguma

relação entre Filantropia e Responsabilidade Social? Sim, ou não? Por quê?

Respostas

Sim, os objetivos de ambas contemplam a intenção de minimizar a miséria e o desamparo daqueles que

perderam a condição de vida digna.

Sim, são atos de doação e com aspecto humanitário.

Não, as finalidades são distintas. A primeira depende de um sentimento (generosidade) individual ou de um

grupo e tem ações imediatistas. A segunda é voltada à solução de problemas existentes ou potenciais.

Sim, tanto a FILANTROPIA quanto a RESPONSABILIDADE SOCIAL, são ações direcionadas a

diminuição da desigualdade social e melhor qualidade de vida, com o objetivo da se garantir a dignidade da

pessoa humana.

Sim, dentro das ações de responsabilidade social podem ocorrer ações de filantropia. Por exemplo, a doação

de dinheiro para grupos culturais, esporte amador etc.

Sim, é possível, por exemplo, que a resposta que precisa ser dada à comunidade não possa acontecer através

da reabilitação ou prevenção dos impactos gerados especificamente pela empresa, e atua-se filantropicamente

nas mais variadas carências de uma determinada comunidade, para garantir, dessa maneira, alguma "aliança"

entre esses dois agentes, empresa e comunidade.

Sim, aceito a ideia de que a Responsabilidade Social representa a evolução da Filantropia ao longo do tempo.

Sim, a filantropia pode ser um estágio inicial, primitivo, de uma futura ação de responsabilidade social.

Sim, ambas em seus trabalhos visam a ajuda a sociedade menos favorecida.

Sim, ambas buscam contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas (IDH, QTV, RENDA E

COMBATE À FOME).

Semelhante à pergunta anterior, nesta, apenas um dos entrevistados, também, se

manifestou em oposição aos demais. Percebe-se, no entanto, que a argumentação utilizada

pelo mesmo não foi suficientemente fundamentada. Ao contrário, chega a ter grande

similaridade com a visão dos outros, o que, de certa forma, pode representar um entendimento

unânime à questão, até porque há controvérsias quando os termos ―generosidade‖ e ―solução

de problemas‖, utilizados como justificativa por este respondente, são colocados como

seguimentos opostos. Ao contrário, nada impede que solucionemos problemas com atos de

generosidade, o que os tira de posições opostas.

Assim sendo, e pelas características das respostas, o mais apropriado é que a

filantropia seja vista como parte integrante da Responsabilidade Social, quer como elemento

de sua origem, tanto na evolução do conceito quanto na construção das ações; quer como um

dos pilares, sempre presentes na prática de suas iniciativas propriamente ditas.

Este entendimento vai, exatamente, ao encontro do que Sanglard (2005, p. 29) destaca

em relação ao que os ―filósofos das Luzes‖ defendiam sobre o verdadeiro objetivo da

filantropia. Estes lhe atribuíam um papel muito mais abrangente do que um simples ato de

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80

caridade. Pra eles, a filantropia tinha uma utilidade social, e como tal deveria ser reforçada,

para, muito mais que somente amenizar a miséria, ser transformada num mecanismo de

prevenção da qualidade de vida, o que compõe o cerne da Responsabilidade Social.

Pergunta Nº 05: Você vê a Eletronorte como uma Empresa socialmente responsável? Sim, ou não? Por

quê?

Respostas

Sim. A educação empresarial de seus empregados é focada na manutenção do fornecimento de suprimento de

energia, pois a energia atinge diretamente a todas as pessoas (abrigados e desabrigados, saudáveis e enfermos,

idosos e jovens, empregados e desempregados); a manutenção dos vínculos com as universidades para a

formação de novos profissionais; a atenção aos projetos da comunidade que está inserida para melhoria da

convivência...

Sim. Bons programas: programa de Estágio muito elogiado pelos usuários, Pirjus e Pirtuc são exemplos.

Não, porque as ações são ínfimas diante do potencial técnico e intelectual existente na Empresa.

Sim. Acho que as ações da empresa neste sentido ainda são muito superficiais, ou seja, o que hoje se faz

acredito que seja apenas para cumprir formalidades. Quem sabe um dia a empresa seja socialmente

responsável por cultura.

Não. Hoje, as ações que a empresa toma estão mais destinadas a promoverem a sua autoimagem perante ao

Governo Federal, do que aos olhos da população menos favorecida.

Quais ações poderiam ser citadas, que visam o desenvolvimento de nossa região, com vistas a melhorar a

qualidade de vida e diminuir a desigualdade social em nossa região?

Por muito tempo, tivemos municípios circunvizinhos da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, que após a sua

entrada em operação, permaneciam sem energia elétrica. Qual o tratamento dispensado aos atingidos pela

barragem.

O que aconteceu com eles e com a sua cultura? (povos de floresta, nativos, ribeirinhos, índios, pequenos

agricultores, pescadores etc.)

Sim. Apesar de ainda ser um processo em estágios iniciais a empresa já consegue destacar varias ações de

responsabilidade social. Programa de equidade de gênero, etnia e raça, PPRS, incentivo a educação,

telecentros, estagio profissional, incentivo a educação, voluntariado e outros.

Sim. Na minha opinião, uma das ações que pode gerar redução de impactos socioeconômicos e permitir o

desenvolvimento da comunidade é a oferta de vagas de estágio que dá prioridade para as pessoas que

pertencem ao entorno da empresa e esta é uma ação empreendida pela Eletronorte que produz um retorno

direto de benefícios que são usufruídos pela comunidade e que permite a independência desses sujeito

beneficiados em relação à empresa, por possibilitar o desenvolvimento de habilidades e aquisição de

conhecimentos que poderão ser generalizadas para futuros empregos.

Sim. Pelo fato da exploração do seu negócio estar inserida numa região caracterizada por abismos sociais,

onde a presença do poder público é praticamente inexistente, a empresa é, de alguma forma, responsável por

algumas ações e programas que interferem na vida da comunidade mais carente, em especial as comunidades

ribeirinhas.

Sim, mas em parte, porque em termos de responsabilidade social interna, ela cumpre o que é legalmente

imposto, tais como plano de benefícios. No entanto sua maior incapacidade gerencial é não encarar com a

mesma seriedade e compromisso quanto à responsabilidade social externa. Nesse último aspecto, para o

tamanho da empresa e de sua tecnologia, deixa muito a desejar, ou seja, ainda engatinha e não se porta como

uma grande empresa.

Sim, pelos diversos projetos sociais em que está envolvida.

Sim, principalmente nos novos empreendimentos que têm contemplado ações socioambientais

compensatórias e mitigadoras. Há ações, embora esparsas, nos empreendimentos mais antigos,

principalmente na área de geração, como exemplo: A casa de abrigamento das mulheres em Tucurui.

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Dos onze entrevistados, apenas dois não enxergam a Eletronorte como uma empresa

socialmente responsável. Um deles justifica que as ações ainda são ínfimas, se considerarmos

o potencial da empresa. Até certo ponto, esta argumentação não nega totalmente a existência

de ações de responsabilidade social, só destaca que poderiam ser maiores do que se mostram

ser. O outro, da mesma forma, também não nega, só observa que as ações desenvolvidas têm

objetivos estritamente políticos, na medida em que só visam a promoção da própria imagem

da empresa aos olhos do governo federal, sem a preocupação mais nobre que seria a

preocupação com a população menos favorecida.

A maioria, no entanto, admite que a Eletronorte é uma empresa socialmente

responsável, e se esta é a visão de um grupo formador de opinião, considerado com um alto

nível de discernimento, pode-se dizer que há legitimidade da Eletronorte no que diz respeito

às iniciativas adotadas como de Responsabilidade Social.

A legitimidade, segundo Silva (2003) é o produto de um reconhecimento social, a

partir do momento em que enxergam as ações totalmente ligadas à vontade do cidadão

(isolado ou coletivamente), independentemente de qualquer imposição do poder legal, ou seja,

essencialmente espontâneas. Silva (2003) ainda reforça, quando diz que são práticas

instituídas, não pela imposição, mas pelo reconhecimento de necessidades reais, justas e

éticas.

Pergunta Nº 06: Você conhece as ações da Eletronorte caracterizadas como de Responsabilidade

Social?

Respostas

Sim. Todos os entrevistados responderam SIM

A unanimidade nesta questão só corrobora com a análise das respostas da questão

anterior.

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Pergunta Nº 07: Se você respondeu “sim” na questão anterior, cite, pelo menos três (03) delas.

Respostas

1. Estágio para universitários ( com ou sem deficiência física )

2. Programa Menor Aprendiz

3. Ações junto à comunidade

4. Programa de educação ―contra queimadas‖

5. O Natal das crianças da comunidade

6. Campanha de Doação de Sangue

7. Para combater a agiotagem, criação da Cooperativa de Crédito pelos empregados da Eletronorte.

Programa de estágio, PIRJUS e PIRTUC

1. Programa Jovem Aprendiz (parceria com o Governo Federal);

2. INFOCENTRO (Inclusão digital, no Centro de Tecnologia em Belém);

3. Projeto de inclusão social ―Boa Vizinhança‖ (Belém).

Em geral, há ações independentes, coordenadas por alguns empregados, que não são de Responsabilidade

Social e que, ainda, não consigo assegurar que são filantrópicas, pois, apesar de isentas de fins lucrativos,

sempre são agregadas a um ―retorno‖ a quem colabora. Percebo, também, que há um equívoco no

entendimento, principalmente, por parte das pessoas que coordenam essas ações.

Curso de corte e costura de parceria com o SENAI; Apoio a comunidade do Pantanal; Entrega de brinquedos

para as crianças do entorno da Eletronorte e Organização de colônia de férias para as crianças.

LUZ PARA TODOS. Só lembro deste que por sinal, segundo notícias veiculadas na empresa, está paralisado,

como se contemporaneamente a energia fosse algo não essencial. Porém fica uma indagação. Esta LUZ é

realmente para todos?

Incentivo a educação, Reciclanorte, telecentros, PPRS e voluntariado.

Estágio acadêmico, Campanha de Doação de Alimentos (não recordo o nome) e COEP (Rede Nacional de

Mobilização Social)

Programa Jovem Aprendiz; Projeto Boa Vizinhança; PDJUS; Procel educação; Programa Pró-Equidade de

Gênero e Raça etc.

Programa Indígena com os indígenas Waimiri-atroari; Programa de Benefícios e do plano de saúde e

recuperação social; programa de estágio.

Cursos livres de informática e outros para a comunidade;

Apoio aos moradores do entorno do lago da UHE – Tucuruí;

Educação ambiental para comunidade.

a) Parceria no Projeto de Escalpelamento; b) Inclusão Digital para as comunidades do entorno dos

empreendimentos Guamá e Miramar; c) Parceria nos Cursos Profissionalizantes do SENAI, com foco nas

comunidades do entorno dos empreendimentos da Empresa . Temos exemplos de cursos concretizados em

Tucurui e Guamá.

O conjunto de ações aqui destacado, com algumas ressalvas, também valida — e agora

com evidências — o que já fora mencionado nas duas questões imediatamente anteriores.

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Pergunta Nº 08: Das ações desenvolvidas pela Eletronorte, ditas como de Responsabilidade Social,

qual, ou quais, você eliminaria? Por quê?

Respostas

Nenhuma. Cresce o número de pessoas carentes, qualquer contato e evento que promova um momento de

descontração serve para aliviar o desamparo, ainda que momentaneamente.

Patrocínios aprovados no inicio do ano. Não vejo retorno nos patrocínios.

Das ações de Responsabilidade Social, de fato, desenvolvidas pela Eletronorte, não eliminaria nenhuma.

Porém, das ações ―ditas‖ como de Responsabilidade Social, mas que são iniciativas de alguns empregados, eu

eliminaria todas. Porque essas ações não são corporativas. São iniciativas de alguns empregados.

Nenhuma. Acredito que precisamos melhorar as ações existentes, pois percebemos que a Eletronorte entra

com um percentual muito pequeno.

Não eliminaria. Porém, devemos ter transparência nas ações de Responsabilidade Social.

Doações de equipamentos a prefeituras. A chance de capitalização partidária é muito grande e o trabalho se

perde nos meandros políticos.

Campanha de Doação de Alimentos. Acho que é uma ação que se dá pela via do assistencialismo, que nega à

comunidade a crença de que ela pode ser co-participativa em seu desenvolvimento, mantendo-a numa

condição miserável e dependente em relação à empresa.

Nenhuma. Qualquer investimento das empresas no lado social da Amazônia ainda é pouco, levando-se em

consideração a exploração desenfreada e sem critérios desta região.

Nenhuma seria eliminada, pois há carência de ações de responsabilidade social, tanto interna quanto externa.

Nenhuma. Cada ação desenvolvida pela Eletronorte, atende a uma necessidade social, um apoio a

comunidade sendo incabível eliminar qualquer tipo de ação, porém deve-se continuamente revisar tais ações é

pertinente ao local verificando a eficiência da ação.

As ações demandadas de caráter político. Quase sempre não agregam visibilidade para a marca

ELETRONORTE.

Das pessoas que dizem que retirariam alguma ação, todas só o fariam para evitar a

utilização indevida dessas iniciativas, em especial, aquelas que atenderiam interesses

estritamente políticos, ou seja, longe de preservar a essência da Responsabilidade Social.

Esta preocupação se revela no posicionamento de Carroll (1991), quando menciona

que o desafio das empresas, em se tratando de Responsabilidade Social, é de desenvolver

práticas que atendam demandas econômicas, legais, éticas e filantrópicas, ou seja, não há

qualquer conotação de cunho estritamente político, principalmente pela concepção política

que hoje permeia a nossa sociedade.

Garcia (2004) reforça esta visão quando enfatiza que as iniciativas de

Responsabilidade Social têm amplitude numa grande quantidade de significados, sem

envolver quaisquer aproveitamentos de promoção política, quais sejam: de cidadania

corporativa; de desenvolvimento sustentável; de crescimento sustentável; de sustentabilidade;

de capitalismo sustentável; de filantropia empresarial; de marketing social etc, todos, no

entanto, voltados predominantemente para a qualidade de vidada da sociedade.

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Pergunta Nº 09: Que ações você recomendaria à Eletronorte para legitimá-la como uma Empresa

socialmente responsável? Por quê?

RESPOSTAS

Formação básica em eletricidade para jovens. A Eletronorte tem profissionais que podem ministrar aulas gratuitas

em escolas da comunidade com o objetivo de despertar o interesse dos jovens pela formação técnica ou

universitária

Trabalhar com comunidades vizinhas das instalações.

Ações voltadas à produção de energias alternativas como fotovoltaica e eólica;

Ações corporativas mais expressivas de inclusão social;

Porque há um considerável potencial técnico na Eletronorte, pouco explorado e pouco motivado.

Ações voltadas para a educação de jovens do entorno das nossas instalações. Para redução da marginalidade e da

criminalidade nessas áreas.

Ações afirmativas. Especificamente não saberia informar, mas algo referente a ações afirmativas com o objetivo de

diminuir a desigualdade social existente no entorno dos empreendimentos da empresa.

Reciclanorte. Existe a possibilidade de ajudar um número grande de pessoas e beneficiar o meio ambiente.

Não sei nomear uma ação, mas pensar em estratégias que estejam vinculadas com aquilo que a comunidade precisa,

conjuntamente com o que pode ser oferecido pela empresa. Nesse sentido, diria que os estágios acadêmicos

ilustram o que pretendo dizer.

Ela deveria ir além da obrigação de respeitar as leis, pagar impostos e observar as condições adequadas de

segurança e saúde para os trabalhadores, porque isto faz parte do papel (pelo menos deveria ser assim) de qualquer

empresa civilizada.

Encarar com seriedade os programas de ações de responsabilidade social semelhantemente como trata a

necessidade de garantir a confiabilidade e a continuidade do sistema

Aumentar o número de cursos ofertados a comunidade, para a capacitação e desenvolvimento do interesse no saber.

Fazer constar nos desdobramentos das ações estratégicas recursos para os projetos de ação social corporativo e

locais.

As empresas que se destacaram como responsáveis socialmente, focam na destinação de um percentual de sua

receita líquida para esse tipo de ação.

Todas as recomendações complementam a questão 07 e reforçam a análise feita à

questão 08.

Pergunta Nº 10: Você conhece outras empresas que trabalham com Responsabilidade Social?

Sim, ou não?

Respostas

Sim para a maioria. Dos onze respondentes, dez responderam ―sim‖. Apenas um (01) respondeu

―não‖.

Ou seja, Responsabilidade Social, deixou de ser opcional e já assume uma necessidade

empresarial de forte impacto nas estratégias e na legitimidade das organizações. Tanto que

Porter e Kramer (2009, p. 488) ressaltam que as medidas de Responsabilidade Social, se

desvinculadas dos negócios e das estratégias das organizações, nos afastam das oportunidades

de garantir benefícios à sociedade. E isto é consequência de uma visão limitada das empresas

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em relação à mesma, na medida em que não dão a ela a mesma importância que atribuem aos

próprios negócios.

Desprezar obrigações com a sociedade, sempre que sua saúde financeira for ameaçada,

é o caminho mais curto para criar uma grande lacuna estratégica. Como diz Drucker (2012,

pp. 60 e 61): ―Todas as organizações devem assumir plena responsabilidade por seu impacto

sobre os trabalhadores, o ambiente, clientes, pessoas e coisas que impacta. Isso é sua

responsabilidade social.‖

Pergunta Nº 11: Se você respondeu “sim” na questão anterior, cite o máximo que souber.

Respostas

1. Supermercado Líder ( reciclagem de lixo);

2. Supermercado Formosa (doação de alimentos, com validade a vencer em poucos dias, a instituições carentes).

Google, Nestlé, Itaú. Penso que todas as grandes empresas possuem setor de responsabilidade social.

Microsoft, Nestlé, Hydro, Intel, Volkswagen, Google, Disney, BMW, Sony, Apple.

Conheço uma ação da Alunorte, acredito que seja “menino bom de bola” em que durante um ano, meninos e

meninas são selecionados para participar de torneio internacional. Nesse ano essas crianças participam de

treinamentos, aulas de inglês e acompanhamento das suas notas na escola.

Albrás, Vale, Alunorte, C&A, Sol Informática e Serasa.

Universidades de maneira geral, Bancos, Mineradoras.

CEF; BB; BASA; AGROPALMA; PETROBRAS; NATURA.

Albrás, Alunorte, Serpro, Embrapa, Banco do Brasil, Itaipú, Tribunal do Trabalho, Votorantim, Cargill, Instituto

ETHOS.

Vale.

BB/NATURA/NESTLE/PETROBRAS/ VALE.

O número de empresas identificadas como atuantes na área de Responsabilidade

Social ratifica a preocupação destacada na análise da questão anterior. Convém ressaltar que o

crescimento deste número, sem dúvidas, não se configura como uma adesão gratuita, e sim

como uma imposição da própria sociedade às empresas, alertada por inúmeros movimentos

mundiais, focados na melhoria da qualidade de vida do homem em quaisquer dimensões. É o

entendimento de Drucker (2012, pp. 60 e 61) quando diz que as grandes organizações,

independentemente de seus objetivos, com ou sem fins lucrativos, vêm se tornando alvo da

sociedade para combater os grandes males sociais.

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Pergunta Nº 12: Por que você considera as empresas que citou, na questão anterior, como empresas

socialmente responsáveis?

Respostas

São atividades que geram apenas despesas para a empresa, mas que são realizadas para cooperar com a saúde

do meio ambiente e das pessoas que são atendidas diretamente por outras instituições. Trata-se de um

comprometimento empresarial com o meio social que está inserido.

Sinceramente, não acredito em nenhuma delas.

Porque essas empresas têm Programas voltados ao desenvolvimento de pessoas; Programas de estímulo ao

conhecimento; Programas que visam melhorar a qualidade de vida de forma sustentável.

As multinacionais, em geral, trabalham com Responsabilidade Social porque essa prática faz parte da cultura

dos países desenvolvidos.

Acredito que a ação realizada pela Alunorte é uma ação efetiva de educação.

Dentro do conceito de responsabilidade social empresarial, essas empresas mantêm programas que

contemplam os diversos interessados e procuram ―retribuir‖ à sociedade o lucro que esta lhes proporciona.

Essas empresas têm programas de incentivo ao voluntariado, incentivo educacional, telecentros e outros

modelos de educação as populações carentes, programas de gestão ambiental, canais de comunicação com a

comunidas onde estão inseridas e planos de saúde a seus empregados. Para citar uma, o grupo C&A trabalha

a RS e tem como política não usar seus programas de RS como estratégia de marketing.

As duas últimas, Bancos e Mineradoras, cito-as pela divulgação feita pela mídia de massa que veicula dados

sobre a atuação responsável das mesmas, e as primeiras pelo compromisso direto com as comunidades, seja

através das práticas de estágio, das iniciações científicas, como também das instituições vinculadas às

universidades, como hospitais universitários, juizados, tribunais, clínicas de atendimento à comunidade etc.

O meu conhecimento advém apenas do que leio ou assisto nas mídias, de ações e prática de programas sociais

destas empresas, não tendo maior aprofundamento sobre o assunto.

Porque desenvolvem programas além do que lhe é legalmente cobrado e não escondem que tem problemas

socioambientais; encaram de frente as suas falhas e apresentam soluções; cumprem o orçamento da

responsabilidade social integralmente; possuem também fundos de emergências sociais; mídia a favor.

Devido os mais variados projetos patrocinados ou mesmo executados pela Vale quanto a desenvolvimento e

ajuda social.

Foram empresas destacadas: no estudo ―Monitor de Responsabilidade Social Corporativa‖ realizado pelo

Instituto de Pesquisa de Mercado e Opinião MARKET ANALYSIS e na revista Exame, publicadas em 2010

e 2011, respectivamente.

A exceção de uma das respostas, que revela uma descrença total no interesse das

empresas com essas iniciativas, no entender dos demais entrevistados, as organizações foram

consideradas socialmente responsáveis por desenvolverem ações além das estritamente

vinculadas aos seus principais negócios, e voltadas predominantemente às comunidades de

seu entorno. Schroeder e Schroeder (2004, p.5) admitem que a sociedade gostaria que essas

iniciativas fossem naturalmente engendradas pelo Estado, mas, a ausência deste tem

direcionado as expectativas para as empresas. Espera-se que elas desenvolvam e implantem

projetos de cunho social ainda que não estejam exclusivamente atrelados aos seus principais

produtos e serviços. Espera-se enxergá-las como parceiras tanto de seus empregados como da

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comunidade, em prol de ações que se preocupem com proteção ambiental; saúde; educação;

desenvolvimento profissional etc.

Considerações Adicionais.

Considerações

―Não, porque as ações são ínfimas diante do potencial técnico e intelectual existente na Empresa‖

Apesar de existir, oficialmente, dentro da estrutura organizacional da Eletronorte, áreas de ―Responsabilidade

Social‖, entendo que as ações praticadas por essas áreas ainda estão muito aquém do que entendo como

Responsabilidade Social, de fato.

Normalmente, essas áreas são coordenadas por pessoas que não têm o entendimento correto, com isso, a

Empresa desperdiça ou subutiliza aquele potencial técnico e intelectual ao qual me refiro.

―As multinacionais, em geral, trabalham com Responsabilidade Social porque essa prática faz parte da cultura

dos países desenvolvidos‖.

O equilíbrio econômico, político, cultural e social dos países desenvolvidos é o ambiente perfeito ao

desenvolvimento de ações socialmente responsáveis. As empresas se adaptam aos modelos de Gestão Pública.

No Brasil, onde a gestão pública — que deveria ser a maior ―responsável pela sociedade‖ — pratica todos os

atos de descaso e desrespeito à sociedade, encontrar uma empresa, genuinamente brasileira, que pratique a

Responsabilidade Social em seu verdadeiro sentido, ainda é uma aspiração.

―A caridade é a virtude fundamental que deve sustentar todo edifício das virtudes terrestres; sem ela, as outras

virtudes não existem. Sem a caridade, não há esperança em uma sorte melhor, não há interesse que nos guie;

sem a caridade, não há fé, porque a fé é um raio de luz, que faz uma alma caridosa brilhar‖. (São Vicente de

Paulo, Paris 1858).

Em relação a essas considerações, alguns aspectos podem ser destacados, quais sejam:

Parte delas ressalta que as ações desenvolvidas pela Eletronorte - quer pela incipiência dos

investimentos aplicados, ou por estarem sob a coordenação de pessoas que não detêm o

entendimento correto do que significa Responsabilidade Social - ainda não são

suficientemente consistentes para legitimá-la como uma organização socialmente responsável.

Pode-se dizer que esta percepção está de acordo com o pensamento de Weber (2010,

p.64) quando coloca a legitimidade como o reconhecimento de atitudes naturais e

espontâneas, neste caso, as atitudes voltadas para a Responsabilidade Social,

independentemente dos resultados alcançados. Ou seja, ainda que não tenha sido obtido o que

se pretendia, a intenção era legítima e consequentemente reconhecida, logo, a legitimidade

permanecerá instituída.

O outro grupo de considerações atribuiu uma carência de ações de Responsabilidade

Social, por se tratar de uma organização brasileira que, em comparação com as organizações

de outros países, considerados desenvolvidos, ainda deixa muito a desejar, e destacou fatores

do tipo: não fazer parte da nossa cultura, o que seria natural nesses países; a gestão pública

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dessas nações já tem no seu portfólio a preocupação com a Responsabilidade Social, e que

está longe de ser a postura da gestão pública no Brasil.

Por fim, um dos entrevistados, optou por uma citação de São Vicente de Paula, de

1858, que na sua essência ressalta a importância da atitude filantrópica como o maior recurso

para elevar a alma.

Ou seja, mesmo sendo um grupo de pesquisados, considerados com um nível de

entendimento mais amadurecido, ao ponto de se configurarem como formadores de opinião,

ainda é possível observar controvérsias conceituais sobre o verdadeiro significado de

Responsabilidade Social e o quanto ele está aderente ou conflitante com ações de Filantropia.

Barbieri e Cajazeira (2009, p. v) ressaltam que a dúvida do entendimento talvez esteja,

exatamente, pela insistência de individualizá-las (de separar Responsabilidade Social de

Filantropia), ao invés de enxergá-las como complementares, ou interdependentes. Desta forma

ficaria validada a concepção de Souza Filho, Pereira e Barbieri (2011, p. 2) que destacam as

demandas sociais como indispensáveis de se fazerem integrantes do mundo dos negócios,

independentemente do conceito a elas atribuídos.

Assim sendo, é possível concluir que na Eletrobras Eletronorte existem sim ações

voltadas para beneficiar a sociedade, mas estas aparecem fragmentadas, ora como iniciativas

de caráter estritamente assistencialista, ora como tentativa de instrumentalizar o cidadão para

o próprio desenvolvimento, o que, de certa forma, coloca a Filantropia dissociada da

Responsabilidade Social, contrariando o entendimento da complementaridade entre ambas,

destacado no postulado de Carrol (1991) que via as contribuições filantrópicas como parte

integrante da Responsabilidade Social.

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7 CONCLUSÃO

O mote da Responsabilidade Social, que ao longo dos anos tem se transformado numa

obrigação imposta às empresas, atualmente vem se mostrando como objeto de vigilância da

sociedade em relação às organizações, em especial às grandes organizações. O próprio

mercado de produtos e serviços, com a prática de estabelecer parâmetros variados para

construir indicadores de qualidade que permitam facilitar escolhas, vem fazendo com que

essas empresas enxerguem nas iniciativas de Responsabilidade Social, possibilidades de

desenvolver ações que possam impactar favoravelmente na sua imagem e consequentemente

torná-las mais atraentes no mundo dos negócios.

Uma grande empresa, como é o caso da Eletrobras Eletronorte, inevitavelmente não

iria prescindir de se enquadrar como uma dessas organizações, até pela responsabilidade de

atuar, predominantemente, em uma região com elevado nível de carência, como é o caso da

Região Norte, se comparada às demais regiões brasileiras.

Além disso, grande parte dessas ações são desenvolvidas a partir de interesses isolados

de alguns empregados, sem a participação formal da Organização, o que seria fundamental

para colocá-la, no mínimo, também como uma das principais interessadas pelo feito.

Entende-se que esses fatores precisam estar devidamente organizados para se

tornarem estratégicos à empresa, quer no seu desafio de ocupação do mercado, quer em se ver

reconhecida como uma organização socialmente responsável. Por isso, ao mesmo tempo em

que desmembram a estratégia em características aparentemente particulares, tais como:

orientação de longo prazo; adaptação ao ambiente de negócios; adaptação aos recursos e

competências da organização etc, também alertam para que estas mesmas características

sejam organizadas num único conjunto, respeitando a interdependência existente entre elas.

Entende-se que isto pode contribuir para tornar a organização forte e até diferenciada no

mercado, bem como, reconhecida não somente pelo beneficiado direto, mas, principalmente,

pela própria força de trabalho.

Por último, pode-se dizer que a legitimidade da Eletrobras Eletronorte, como uma

empresa socialmente responsável, ainda se mostra sendo construída, pouco consistente, com

muitas iniciativas setorizadas, mas desvinculadas de planejamentos; de rotinas; de

acompanhamento; de qualquer sistematização. Suas ações, ditas de Responsabilidade Social,

não se revelam como plenamente reconhecidas pela maioria dos empregados e, quando

destacadas, normalmente fazem menção às doações pura e simples, o que representa apenas

uma das partes desse conceito, pelo que aqui fora estudado.

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Os resultados da pesquisa colocam como contribuição aos estudos de

Responsabilidade social, a necessidade de aprimorar os conceitos até aqui estabelecidos, dado

o volume significativo de opiniões que a enxergam pela via do assistencialismo, sem a

preocupação de promover o desenvolvimento e, ao mesmo tempo, fomentar o

autodesenvolvimento das categorias beneficiadas.

Embora não represente uma diferença, e sim uma confirmação, se comparada a outras

pesquisas realizadas ao longo dos últimos cinco anos, percebe-se aqui, que os resultados se

mostram fortemente vinculados ao momento social. Atualmente, o cenário mundial se

configura como uma crise econômica, traduzida num alto índice de desemprego, uma

circunstância pela qual o estado de carência nas comunidades aumenta significativamente.

Este contexto, de certa forma, fomenta a ideia da obrigatoriedade de prestação de assistência

às categorias mais atingidas pela situação.

Os resultados também mostram que há uma tendência de se conceituar como ação de

Responsabilidade Social a maioria das iniciativas de qualquer assistência às comunidades.

Tanto que na empresa onde se realizou a pesquisa, percebe-se que as pessoas canalizam os

interesses que têm em ajudar, independentemente das características dos mesmos, para serem

conduzidos por um área específica, a área que tem a incumbência de operacionalizar a

Responsabiliadde Social da organização.

É óbvio que, como qualquer pesquisa, esta também tem suas limitações, tanto por ter

sido realizada em uma única unidade, das muitas existentes na empresa estudada, como pelo

público consultado, que não representa todo o público que tem relação direta ou indireta com

a organização, e de onde muitas opiniões, das mais variadas características poderiam

enriquecer o entendimento do que fora pesquisado.

Entende-se, também, que resultados diferentes podem ser obtidos a partir de

modificações na própria pesquisa, quer estendendo-a para outros públicos da unidade

pesquisada; quer estendendo-a para outras unidades da própria empresa — o que permitiria

avaliar as diferentes formas de atuação dentro da mesma organização, e para o mesmo

propósito —; quer pela utilização de outros instrumentos, e até pela utilização do mesmo

modelo em empresas que atuam em outros setores da sociedade.

Por fim, o trabalho despertou uma necessidade complementar e de extrema

importância para os resultados pretendidos. Nele só foram questionadas as ações originadas

na organização e destinadas aos beneficiados. Em momento algum se verificou como as

iniciativas da empresa são utilizadas por quem as recebe; que destino é dado a cada um dos

benefícios; que modificações essas iniciativas têm proporcionado no meio de quem as recebe.

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É possível que a realização de pesquisas empírica e prática possa dar respostas a estas

questões.

Estas pesquisas complementares validariam se os efeitos causados pelas iniciativas da

organização podem ser enquadrados como consequências de ações que caracterizam

Responsabilidade Social ou ações estritamente de Filantropia, ou ainda, se existe e, até

mesmo, a intensidade da relação entre ambas.

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ANEXOS

Anexo – 1: Questionário

Prezado,

O objetivo deste instrumento de pesquisa é subsidiar a elaboração de uma Dissertação de

Mestrado sobre Controvérsias Conceituais entre Responsabilidade Social e Filantropia. Sua

colaboração é fundamental, razão pela qual pedimos seu apoio respondendo às questões que se

seguem.

Não há qualquer necessidade de se identificar nominalmente, o que reserva sua identidade e ao

mesmo tempo lhe deixa livre para responder sem restrições. As informações relacionadas à idade, sexo

e vínculo com a empresa, são exclusivamente para identificar a extensão do conhecimento sobre as

ações corporativas e localizadas da empresa, bem como o perfil do público pesquisado.

Desde já, muitíssimo obrigado por sua participação.

1. Faixa etária:

( ) De 18 a 25 anos ( ) Acima de 25 até 35 anos ( ) Acima de 35 até 55 anos ( ) Acima de 55 anos

2. Sexo:

( ) Masculino ( ) Feminino

3. Vínculo com a Empresa

( ) Empregado ( ) Prestador de Serviços ( ) Cliente Externo ( ) Membro das Comunidades ( )

Sem vínculo

4. Em sua opinião a Eletronorte vem investindo em Responsabilidade Social?

( ) Não sei dizer ( ) Discordo totalmente ( ) Discordo em parte ( ) Concordo em parte ( ) Concordo

totalmente

5. Pra você, Responsabilidade Social é fazer trabalho voluntário?

( ) Não sei dizer ( ) Discordo totalmente ( ) Discordo em parte ( ) Concordo em parte ( ) Concordo

totalmente

6. Pra você, Responsabilidade Social é fazer doações à comunidade?

( ) Não sei dizer ( ) Discordo totalmente ( ) Discordo em parte ( ) Concordo em parte ( ) Concordo

totalmente

7. Pra você, Responsabilidade Social deve estar vinculada ao Marketing Institucional, fortalecendo a

imagem da empresa?

( ) Não sei dizer ( ) Discordo totalmente ( ) Discordo em parte ( ) Concordo em parte ( ) Concordo

totalmente

8. Pra você, Responsabilidade Social está implicitamente vinculada ao desenvolvimento da população

local ou regional?

( ) Não sei dizer ( ) Discordo totalmente ( ) Discordo em parte ( ) Concordo em parte ( ) Concordo

totalmente

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9. Pra você, Responsabilidade Social é uma boa estratégia de reconhecimento da empresa junto à

sociedade?

( ) Não sei dizer ( ) Discordo totalmente ( ) Discordo em parte ( ) Concordo em parte ( ) Concordo

totalmente

10. Você conhece a política de Responsabilidade Social da Eletronorte?

( ) Não ( ) Muito pouco ( ) Mais ou menos ( ) Bastante ( ) Totalmente

11. Você acredita que os projetos de Responsabilidade Social da Eletronorte estão sendo bem divulgados?

( ) Não sei dizer ( ) Discordo totalmente ( ) Discordo em parte ( ) Concordo em parte ( ) Concordo

totalmente

12. Pra você, trabalhar com Responsabilidade Social significa adotar medidas que garantam a inclusão

social?

( ) Não sei dizer ( ) Discordo totalmente ( ) Discordo em parte ( ) Concordo em parte ( ) Concordo

totalmente

13. Pra você, a Eletronorte adota medidas que garantam a inclusão social?

( ) Não sei dizer ( ) Discordo totalmente ( ) Discordo em parte ( ) Concordo em parte ( ) Concordo

totalmente

14. Na prática, as ações de Responsabilidade Social devem adotar posturas não discriminatórias no

atendimento dos públicos interno e externo à empresa?

( ) Não sei dizer ( ) Discordo totalmente ( ) Discordo em parte ( ) Concordo em parte ( ) Concordo

totalmente

15. E na Eletronorte é assim que acontecem as ações de Responsabilidade Social? Sem discriminação no

atendimento aos públicos interno e externo à empresa?

( ) Não sei dizer ( ) Discordo totalmente ( ) Discordo em parte ( ) Concordo em parte ( ) Concordo

totalmente

16. Em sua opinião, as empresas devem fazer doações para atender às expectativas da comunidade?

( ) Não sei dizer ( ) Discordo totalmente ( ) Discordo em parte ( ) Concordo em parte ( ) Concordo

totalmente

17. Em sua opinião, na Eletronorte, as ações de Responsabilidade têm a mesma importância que os demais

objetivos?

( ) Não sei dizer ( ) Discordo totalmente ( ) Discordo em parte ( ) Concordo em parte ( ) Concordo

totalmente

18. Você classificaria a Eletronorte como uma empresa socialmente responsável?

( ) Não sei dizer ( ) Discordo totalmente ( ) Discordo em parte ( ) Concordo em parte ( ) Concordo

totalmente

Se você pudesse fazer recomendações à Eletronorte, com base no que entende sobre Responsabilidade

Social, qual(is) sugestão(ões) você daria para que ela se tornasse uma empresa socialmente responsável?

______________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

______________________________________________________________________________________

Muito obrigado!

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Anexo – 2: Roteiro de entrevista

1ª Questão: O que você entende por Responsabilidade Social?

Resposta:

2ª Questão: O que você entende por Filantropia?

Resposta:

3ª Questão: Pra você, Filantropia e Responsabilidade Social são a mesma coisa?

Resposta: ( ) Sim ( ) Não

Por que?

4ª Questão: Se você respondeu ―não‖ na questão anterior, há, pelo menos, no seu entender, alguma

relação entre Filantropia e Responsabilidade Social?

Resposta: ( ) Sim ( ) Não

Por que?

5ª Questão: Você vê a Eletronorte como uma Empresa socialmente responsável?

Resposta: ( ) Sim ( ) Não

Por que?

6ª Questão: Você conhece as ações da Eletronorte caracterizadas como de Responsabilidade

Social?

Resposta: ( ) Sim ( ) Não

7ª Questão: Se você respondeu ―sim‖ na questão anterior, cite, pelo menos três (03) delas.

Resposta:

8ª Questão: Das ações desenvolvidas pela Eletronorte, ditas como de Responsabilidade Social,

qual ou quais você eliminaria?

Resposta:

Por que?

9ª Questão: Que ações você recomendaria à Eletronorte para legitimá-la como uma Empresa

socialmente responsável?

Resposta:

Por que?

10ª Questão: Você conhece outras empresas que trabalham com Responsabilidade Social?

Resposta: ( ) Sim ( ) Não

11ª Questão: Se você respondeu ―sim‖ na questão anterior, cite o máximo que souber.

Resposta:

12ª Questão: Por que você considera as empresas que citou, na questão anterior, como empresas

socialmente responsáveis?

Resposta:

Considerações

adicionais, se

houver: