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CHRISTINA FERRAZ MUSSE UNIVERSIDADE, COMUNICAÇÃO E CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE INSTITUCIONAL, NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO: O CASO DA UFJF DISSERTAÇÃO DE MESTRADO UFRJ/CFCH/ECO 2001

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CHRISTINA FERRAZ MUSSE

UNIVERSIDADE, COMUNICAÇÃO E CONSTRUÇÃO

DA IDENTIDADE INSTITUCIONAL,

NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO:

O CASO DA UFJF

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

UFRJ/CFCH/ECO

2001

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UNIVERSIDADE, COMUNICAÇÃO E CONSTRUÇÃO

DA IDENTIDADE INSTITUCIONAL,

NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO:

O CASO DA UFJF

Christina Ferraz Musse

Dissertação de mestrado apresentada ao

Programa de Pós-graduação em Comunicação

e Cultura da Escola de Comunicação da

Universidade Federal do Rio de Janeiro como

requisito parcial para a obtenção do grau de

Mestre em Comunicação.

Orientador: Prof. Dr. Geraldo Nunes.

2001

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UNIVERSIDADE, COMUNICAÇÃO E CONSTRUÇÃO

DA IDENTIDADE INSTITUCIONAL,

NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO:

O CASO DA UFJF

por

Christina Ferraz Musse

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Geraldo Nunes

(orientador)

Profa. Dra. Raquel Paiva

Prof. Dr. Dalmer Pacheco

Prof. Dr. Moha Elhajji

Rio de Janeiro, maio de 2001.

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O prazer, a sabedoria de ver,

chegavam a justificar minha

existência. Uma curiosidade

inextinguível pelas formas me

assaltava e me assalta sempre. Ver

coisas, ver pessoas na sua

diversidade, ver, rever, ver, rever. O

olho armado me dava e continua a

me dar força para a vida.

Murilo Mendes

Transístor - antologia de prosa, 1931-1974.

Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. p. 79.

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AGRADECIMENTOS

Ao Professor Geraldo Nunes, pelo incentivo à realização deste trabalho,

pelas observações sempre pertinentes, pela capacidade de ouvir, de orientar e de

compartilhar.

Aos demais Professores do Programa de Pós-Graduação em Comunicação

da UFRJ, que colaboraram com o Mestrado Interinstitucional em Comunicação,

realizado em convênio com a UFJF, em especial àqueles que, ao ministrar suas

aulas e emitir seus comentários, foram também um pouco co-autores deste

trabalho: Telênia Terezinha Hill, Kátia Valéria M. Toledo, Priscila Siqueira

Kupermam, Aluízio Ramos Trinta, José Amaral Argolo, Paulo Roberto G. Vaz,

Rogério Luz e André de Souza Parente.

Ao Núcleo de Pós-Graduação e à Direção da Faculdade de Comunicação

da UFJF pela possibilidade de concretizar o projeto (e o sonho) de muitos de nós,

viabilizando a parceria com a UFRJ.

Aos colegas do Curso de Pós-Graduação da UFJF, especialmente à Maria

Julieta Nunes de Souza, Maria Lúcia Vidal Mattos, Letícia de Sá Nogueira,

Márcia Cristina Vieira Falabella, Luciana Mendonça de Melo, Carlos Alberto

Marques, Ernani Ramos de Oliveira e Gilberto Barbosa Salgado, pela amizade e o

prazer do convívio acadêmico.

À secretária do Núcleo de Pós-Graduação da Faculdade de Comunicação

da UFJF, Marísia Ribeiro Pinto, pela boa-vontade de sempre.

Às amigas Inês e Ana Lúcia, pela força e cumplicidade.

Aos colegas da antiga Assessoria de Comunicação da UFJF, em especial

Alice Maria Freesz de Almeida, Marlos Andreucci Itaborahy e Aparecida das

Graças Silva Cardoso, que ajudaram a dar o ponta-pé inicial na idéia que, um dia,

viraria projeto.

Aos colegas do Fórum das IFES Mineiras e do FASCOM, em especial ao

Márcio Simeone Henriques, Léa Sá Fortes, Rosana Cabral Zucolo, Míriam Braz,

Lisa França, Clarisse Siedler, Rosângela Maria Ribeiro Muniz Costa e Moacir

Loth, que fizeram o fruto amadurecer e continuam parceiros constantes na

discussão sobre as políticas públicas de comunicação.

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Aos dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior, que

acreditaram (e acreditam) na comunicação, especialmente, aos ex-presidentes da

Andifes, Tomaz Aroldo da Mota Santos (UFMG) e Odilon do Canto (UFSM), e

aos ex-dirigentes da UFJF, Renê Gonçalves de Matos e Carlos Alberto Tarchi

Crivellari.

Aos professores da Faculdade de Comunicação da UFJF empenhados em

fazer um curso de excelência.

Aos alunos que justificam todo este esforço.

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Ao meu pai, Armando, e à minha

mãe, Margarida, que me ensinaram a

amar o conhecimento. Ao Carlos,

grande amor, companheiro dos

sonhos e do dia-a-dia. À Mariana,

Isabel e Bernardo, razão da minha

vida. A vocês, dedico este trabalho.

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SUMÁRIO

LISTA DE ANEXOS / IX

RESUMO / XI

ABSTRACT/ XII

APRESENTAÇÃO / XIII

INTRODUÇÃO / 1

Capítulo 1 - IDENTIDADE E MEMÓRIA / 5

1.1 - Uma história de estradas: o Caminho Novo / 7

1.2 - Ouro verde: o café invade as montanhas de Minas / 13

1.3 - Imigrantes e industrialização / 16

1.4 - Juiz de Fora se ilumina antes do Velho Mundo / 20

1.5 - Esvaziamento econômico / 24

1.6 - Os grandes projetos industriais e a era das privatizações / 27

Capítulo 2 - UNIVERSIDADE E CIDADE / 30

2.1 - As origens da Universidade no Medievo e seu percurso histórico / 30

2.1.1 - A Universidade nas Américas / 36

2.1.2 - A Universidade brasileira / 37

2.2 - Os primórdios da UFJF / 40

2.2.1 - Metodistas x católicos / 42

2.2.2 - O ensino superior laico / 46

2.2.3 - A gestação da Universidade (Federal) de Juiz de Fora / 50

2.3 - Quarenta anos de história / 53

Capítulo 3 - JUIZ DE FORA E A UFJF: NOVOS ATORES NO ENREDO

GLOBAL / 62

3.1 - O contexto de Juiz de Fora hoje / 62

3.2 - O perfil da UFJF hoje / 72

3.3 - Juiz de Fora e a UFJF: a questão do local x global / 79

Capítulo 4 - A INSTITUIÇÃO UNIVERSITÁRIA NO CENÁRIO

DE GLOBALIZAÇÃO / 88

4.1 - As instituições no mundo globalizado / 88

4.2 - A Universidade (brasileira) no cenário global / 92

4.3 - A Universidade de mercado / 97

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4.3.1 - O novo perfil do aluno / 104

4.3.2 - O perfil do aluno da UFJF / 106

4.4 - A comunicação como estratégia de inserção da Universidade na

sociedade / 109

Capítulo 5 - O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO NA UFJF / 111

5.1 - O projeto da rede humana de agentes de comunicação / 112

5.2 - A UFJF se volta para a comunidade / 116

5.3 - A UFJF como ator político e agente do desenvolvimento / 118

5.3.1 - Do brasão à logomarca / 120

5.3.2 - A UFJF e o Fórum Nacional de Assessores de Comunicação Social

das Instituições Federais de Ensino Superior (Fascom) / 123

5.3.2.1 - Jornal da Andifes / 128

5.3.2.2 - Eventos promovidos pelo Fascom / 129

5.3.2.3 - Plenárias Nacionais / 132

5.3.3 - A UFJF e o Grupo de Trabalho dos Assessores de Comunicação Social do

Fórum das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) de Minas

Gerais / 134

5.3.4 - Minuto no Campus / 136

5.3.5 - Implantação de um Sistema de Qualidade /143

5.4 - Eventos dão nova cara à UFJF / 145

5.4.1 - Recepção aos calouros / 146

5.4.2 - Formaturas / 149

5.4.3 - Eventos com foco na comunidade externa / 150

5.4.4 - Outros eventos / 153

5.5 - A UFJF na internet / 153

5.6 - A imprensa e a Universidade / 154

5.7 - Por uma comunicação estratégica / 159

CONCLUSÕES / 164

ANEXOS / 167

BIBLIOGRAFIA / 234

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LISTA DE ANEXOS

ANEXO 1 - Brasão e logomarca da UFJF

ANEXO 2 - Fotografias de eventos

2.1 - “Educação Superior: compromisso com Minas” - Assembléia Legislativa de

Minas Gerais - Belo Horizonte, nov. 1996. Estandes das IFES e da UFJF.

2.2 - “Educação Superior: compromisso com Minas” - Reitores apresentam

propostas no plenário e visitam estandes das IFES mineiras - Assembléia

Legislativa de Minas Gerais - Belo Horizonte, nov. 1996.

2.3 - IV Mostra da UFJF para estudantes do 2º grau - UFJF,1995 - e III

Congresso de Ciências Humanas, Letras e Artes e III Mostra de Ciências

Humanas, Letras e Artes das Universidades Federais de Minas Gerais - UFJF -

1997. Estande da UFJF e estande “itinerante” das IFES mineiras.

2.4 - Recepção aos calouros e formatura dos graduandos da UFJF.

2.5 - Domingo no Campus - evento com participação da comunidade.

ANEXO 3 - Material gráfico de divulgação ( boletins, folders, convites,

cartões)

3.1 - Folder do Seminário: Universidade 2000 - UFJF- nov. 1994.

3.2 - Folder de divulgação - UFJF - 1995.

3.3 - Jornal Universidade - UFJF - dez. 1995.

3.4 - Folder utilizado na divulgação dos serviços da Assessoria de Comunicação

Social, de acordo com o Sistema de Qualidade (NBR ISO 9004-2) - UFJF - 1997.

3.5 - Boletim Em Tempo - UFJF - jul. 1998.

3.6 - Convite para Seminário interno da Administração - UFJF - dez. 1999.

3.7 – Cartão-postal distribuído para os inscritos no vestibular - UFJF - 2000.

3.8 - Convite para a recepção ao calouro - UFJF - 2000.

3.9 - Convite de colação de grau - UFJF - 2000.

3.10 - Convite para a comemoração do Dia do Funcionário Público - UFJF - out.

2000.

3.11 - Cartão de Natal para servidores - UFJF - dez. 2000.

3.12 - Revista Nossa universidade - UFJF - 2000.

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ANEXO 4 - Concursos promocionais

4.1 - Festival Minuto no Campus (vídeos) - UFJF - dez. 2000.

4.2 - A cara da UFJF (concurso fotográfico) - UFJF - dez. 2000.

ANEXO 5 - Publicidade institucional na mídia impressa

5.1 - Publicidade da UFJF no encarte especial Relatório 2000, do jornal Tribuna

de Minas - Juiz de Fora - nov. 2000. p. 5.

5.2 - Publicidade do Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia

(CRITT)/UFJF no encarte especial Relatório 2000, do jornal Tribuna de Minas -

Juiz de Fora - nov. 2000. p. 5.

ANEXO 6 - A UFJF e o Grupo de Trabalho dos Assessores de Comunicação

das IFES mineiras

6.1 - Folder do Programa Integrado de Comunicação das IFES mineiras - Belo

Horizonte - 1997.

6.2 - Revista Educação Superior: compromisso com Minas - Viçosa, MG - 1996.

6.3 - Revista Universidade mineira: universidade cidadã - Belo Horizonte -

1997.

ANEXO 7 - A UFJF e o Fórum Nacional de Assessores de Comunicação das

IFES (Fascom)

7.1 - Folder do I Seminário de Comunicação para os dirigentes da Andifes -

Vitória - jun. 1997.

7.2 - Convite com a programação da I Plenária do Fórum Nacional de Assessores

de Comunicação Social das Instituições Federais de Ensino Superior (Fascom) -

Belo Horizonte - jul. 1997.

7.3 - Folder da II Plenária do Fórum Nacional de Assessores de Comunicação

Social das Instituições Federais de Ensino Superior (Fascom) - Rio de Janeiro -

set. 1998.

7.4 - Jornal da Andifes - Brasília - manchetes do nº 1, nov. 1995, e nº 12, set.

1997.

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RESUMO

MUSSE, Christina Ferraz. Universidade, comunicação e construção da

identidade institucional, na era da globalização: o caso da UFJF.

Orientador: Prof. Dr. Geraldo Nunes

Este trabalho propõe uma análise da Universidade e das relações da instituição,

através da comunicação, com a comunidade onde está inserida, isto é, com a

cidade, o município e a região. Procura mostrar a evolução do modelo de

Universidade, desde o contexto inicial do surgimento das cidades, na Idade

Média, até a contemporaneidade, momento em que as cidades tentam resgatar seu

papel de agente político e econômico, diante do novo cenário do mundo

globalizado. O trabalho mostra como a instituição universitária, principalmente a

pública, é fundamental para que os atores locais resgatem seu papel na esfera das

decisões políticas e econômicas e na conquista da qualidade de vida,

especialmente, em países em desenvolvimento, como o Brasil. Para tanto, faz um

estudo de caso da Universidade Federal de Juiz de Fora e mostra como ela foi

criada para atender um projeto das elites locais mas, hoje, se articula com a

comunidade regional e busca alternativas para os problemas da região, sem deixar

de procurar se inserir nos cenários nacional e mundial. Neste novo contexto, o

planejamento das ações de comunicação, que dão visibilidade ao projeto da UFJF,

legitimam a instituição junto à sociedade e lhe conferem um papel de ator

indispensável no reordenamento político e econômico que desafia o município, o

estado e o país.

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ABSTRACT

MUSSE, Christina Ferraz. University, communication and the construction

of the institutional identity in the age of globalisation: the UFJF’s case.

Adviser: Prof. Dr. Geraldo Nunes.

This research proposes an analysis of the University and the relationship, based

on communication, between the institution and the communities, where it is

inserted, meaning, the city, the town and the region. It tries do describe the

development of the model of the University, since the beginning of the cities, in

the Middle Age, until the present times, when cities try to bring off their role as

permanent political and economical agents in the new global world. This study

shows in which way an institution, mainly the Public University, is important to

other local organisations to bring off their roles in essential decisions, which can

improve the quality of life, specially in Brazil, a developing country. To do such,

this paper describes a case study which took place at the Universidade Federal de

Juiz de Fora. It tells us about the University, which was first created to attend the

high society interests, but, nowadays, the institution works articulating with the

communities, searching solutions to their main problems, without however being

aware about what is happening around the world. In this context, the planning of

the communication actions, which put the spot light on the Universidade Federal

de Juiz de Fora’s project, legitimy the University to the community and give it the

special role of an indispensable actor in the reorganisation of the society that

challenges the city of Juiz de Fora, the state of Minas Gerais and the country

itself.

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APRESENTAÇÃO

A nossa preocupação em pesquisar a construção da identidade institucional

da Universidade, sua relação com seus diversos públicos e parceiros, o

compromisso social da instituição e a adoção de políticas públicas de

comunicação, que dêem visibilidade e garantam a sobrevivência do Sistema

Federal de Ensino Superior, e, em especial, da Universidade Federal de Juiz de

Fora, surgiram no final de 1994, quando, depois de assumirmos a Assessoria de

Comunicação Social da Universidade, participamos do ECOMEC, encontro

promovido pelo Ministério de Educação e do Desporto - MEC -, na cidade de

Recife, em Pernambuco, reunindo os responsáveis pela comunicação de todos os

órgãos vinculados ao Ministério. O ministro da Educação, na época, era o

professor Murílio de Avelar Hingel, correligionário político, em Juiz de Fora, de

Itamar Franco, que ocupava a presidência.

Naquele evento, fizemos os contatos iniciais e compartilhamos das

preocupações dos colegas que defendiam a necessidade de articulação dos

profissionais de comunicação em torno da bandeira do ensino público, gratuito e

de qualidade, que se via ameaçado pelo prenúncio da redução, cada vez maior, da

gestão do Estado na economia nacional. Aquele grupo de profissionais acreditava

que a comunicação era uma ferramenta indispensável para dar visibilidade ao

Sistema Federal de Ensino Superior, que reúne 52 instituições, responsáveis pela

quase totalidade da pesquisa científica realizada no país, além da formação de

recursos humanos de alto nível, embora, hoje, o setor privado abocanhe números

bem mais expressivos nesta área, e da realização de ações de extensão da maior

importância, como a manutenção dos Hospitais Universitários.

Inicialmente, os assessores de comunicação das instituições federais de

ensino superior - IFES - tentaram se articular junto ao MEC para a adoção de

uma política pública de comunicação no setor. Mas as conversações não

evoluíram como o desejado. O MEC já tinha um projeto de comunicação

praticamente finalizado, pela equipe do ministro Paulo Renato de Souza, recém-

empossado no cargo. A relação entre o MEC e os dirigentes das IFES era também

bastante tensa, por causa dos cortes orçamentários e da ameaça de uma autonomia

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universitária imposta pelo Governo. Naquela época, a Associação Nacional dos

Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior - Andifes - se transformou

na grande interlocutora do governo, nas questões relativas às IFES, e seus

dirigentes, em especial, Antônio Diomário de Queiroz, da Universidade Federal

de Santa Catarina - UFSC-, Odilon do Canto, da Universidade Federal de Santa

Maria - UFSM - e Tomaz Aroldo da Mota Santos, da Universidade Federal de

Minas Gerais - UFMG -, foram grandes incentivadores do planejamento de ações

de comunicação, que dessem visibilidade ao Sistema Federal de Ensino Superior,

garantindo espaços na mídia e mostrando para a sociedade como as 52 IFES eram

importantes para o desenvolvimento de cada região, onde estavam inseridas, e

para o país, como um todo. O resultado é que os assessores de comunicação

acabaram por se alinhar junto à Andifes, onde foi criado um Núcleo de

Comunicação, inicialmente dirigido pelo jornalista Gilson Rebello, além de ser

criado o Fórum Nacional de Assessores de Comunicação Social das IFES, à

semelhança de outros fóruns de importância, na Associação, como o de Pró-

reitores de Extensão etc.

Na verdade, o trabalho iniciado pelos dirigentes e assessores em nível

nacional, teve repercussões regionais. Em Minas Gerais, por exemplo, foi criado

o Fórum das IFES Mineiras, reunindo os dirigentes das 12 IFES do estado, e o

Grupo de Trabalho - GT - dos assessores de comunicação, que desencadeou uma

série de ações importantes, para divulgação das IFES no estado, sempre norteadas

pela idéia de que as IFES colaboravam efetivamente para o desenvolvimento de

Minas Gerais.

Esses trabalhos em nível nacional e estadual coincidiram com o nosso

período de atuação à frente da Assessoria de Comunicação Social da UFJF e

também, o que é imprescindível, com a proposta política do reitor e do vice-reitor

da UFJF, entre 1994 e 1998, Renê Gonçalves de Matos e Carlos Alberto Tarchi

Crivellari, envolvidos com todas as ações desencadeadas pela Andifes e o Fórum

Mineiro e empenhados em sedimentar o compromisso social da UFJF com a

região na qual a instituição está inserida.

Esta conjunção de fatores criou um momento especialmente propício para

o desenvolvimento de ações de comunicação que procurassem estabelecer uma

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relação positiva da Universidade com seus diversos públicos, sedimentando a

imagem da instituição como agente do desenvolvimento regional. Vários

trabalhos foram desenvolvidos, embora não se tenha chegado ao ponto de

estabelecer uma política pública de comunicação para a UFJF.

O envolvimento com todas estas propostas e projetos, em nível local,

regional e nacional, fizeram-nos pensar em sistematizar a experiência, registrá-la

num suporte que permitisse o acesso de outras pessoas àquilo que restou do vivido

e que pode ser o estopim de novas discussões e futuros projetos na área de

comunicação social. A pesquisa bibliográfica, a troca de idéias com profissionais

das áreas de educação e comunicação, e a continuidade do trabalho, agora, como

assessora de comunicação da Reitoria da UFJF, levaram-nos a fazer esta

dissertação de mestrado, que resgata a nossa crença na Universidade como

equipamento do Estado indispensável à promoção do desenvolvimento, numa

perspectiva de valorização do poder local e da cidadania. Acreditamos que só

assim países como o Brasil podem escapar da subordinação aos modelos

estrangeiros, criando uma alternativa autóctone de desenvolvimento. Neste

sentido, a comunicação é instrumento indispensável à concretização do projeto de

inserção social, estabelecendo relações com os diversos parceiros e legitimando a

Universidade como instituição.

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INTRODUÇÃO

O cenário de perplexidade que marca o início do novo século, do novo

milênio, lança um desafio às instituições. As novas tecnologias, a revolução nos

conceitos de espaço e tempo, o enfraquecimento do Estado apontam para um novo

parâmetro de relação entre os povos e os países. Neste contexto, várias

instituições estão revendo seus objetivos, estabelecendo uma nova missão. Entre

estas instituições, está a Universidade, especialmente a Universidade pública que,

nos países de Terceiro Mundo, onde os efeitos da globalização e da política

neoliberal parecem mais perversos, tem sido obrigada a rever qual a sua tarefa

como agente político, incumbido de promover o bem-estar social.

A Universidade, no mundo ocidental, surge juntamente com as cidades,

ainda no período Medieval, e se transforma em símbolo das Luzes, opondo a

razão à barbárie. A revolução científica possibilita que a Revolução Industrial

acelere o processo de produção e de urbanização, criando uma nova classe, o

operariado, e delineando o perfil de um novo personagem, o consumidor. Este

consumidor inicia o século, sendo tratado como massa passiva, sem escolha e sem

opinião, mas chega ao final do século XX, tratado como cliente, único e

individual, capaz de dizer não. No novo capitalismo, na sociedade pós-industrial,

a informação vale mais que o produto, a marca mais que o patrimônio e o

conhecimento se dissemina a uma velocidade jamais vista.

A segmentação do mercado, a desregulamentação da economia, a retração

dos postos de trabalho e as novas tecnologias lançam a Universidade numa grande

crise. A instituição é obrigada a rever sua missão. Nos países em

desenvolvimento, em especial, a Universidade, criada pelas e para as elites, inicia

um penoso trabalho de articulação com outros segmentos da comunidade,

assumindo sua responsabilidade como ator econômico, político e cultural.

Em Juiz de Fora, a Universidade Federal tem, ao longo dos últimos

quarenta anos, confirmado sua vocação de agente do desenvolvimento regional.

Criada por Juscelino Kubitscheck, em dezembro de 1960, como segunda

Universidade federal do país, fora de capital, a UFJF tem sido responsável não

apenas pela formação de recursos humanos extremamente importantes para a

região, mas, principalmente, pelo desencadeamento de ações nas áreas de

prestação de serviços e cultura, além de ser um agente formulador de políticas,

que repensam a cidade e a região onde a Universidade está inserida.

A proposta desta dissertação de mestrado é a de fazer um estudo de caso

sobre a UFJF, mostrando como a comunicação tem sido uma ferramenta

indispensável na construção da identidade institucional da Universidade e na

intermediação das relações entre a instituição e seus diversos públicos, isto é,

todos os atores sociais de relevância, no cenário da região, onde a instituição está

inserida. Nossa hipótese é a de que a comunicação é que viabiliza e legitima a

Universidade na sociedade, dando visibilidade aos seus projetos e possibilitando

que ela se torne um agente de mudança. Sem a comunicação, a Universidade

estaria condenada ao isolamento e à morte.

Para Maria Helena Weber:

Informação e comunicação são atualmente os principais

indicadores de poder das organizações públicas, privadas, políticas,

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educacionais, de pesquisa, entidades de classe e outras. Neste

poder reside a capacidade de entendimento da organização com

seus diferentes públicos e a qualidade das suas imagens junto à

sociedade.1

Para fundamentar não apenas uma imagem, mais vulnerável, mas um

conceito, mais permanente, da instituição, é fundamental conhecer aquilo que

Weber chama de personalidade da instituição. “Este processo é decorrente da

história, da trajetória política e social da instituição; das atitudes e discursos de

seus dirigentes; da especificidade do espaço que ocupa junto à sociedade; da sua

missão e qualidade de serviços, produtos e resultados”2. A idealização de um

conceito institucional é que será capaz de marcar a diferença entre uma instituição

e outra e garantir àquela que tiver o melhor conceito, o melhor desempenho, em

outras palavras, a sobrevivência, num cenário extremamente mutante e

competitivo.

Este trabalho tem a proposta de estudar a UFJF, revelando como se

construiu, e se constróe, a sua identidade institucional, como se estabeleceram e

sedimentaram as relações da instituição com seus públicos, a comunidade regional

e a sociedade em geral, através da comunicação, o que resultou num conceito

positivo da instituição. Para tanto, foi feita uma investigação da história da cidade

de Juiz de Fora, onde a UFJF, está instalada, da trajetória de criação da UFJF e

dos diversos projetos de comunicação que têm tentado gerir as relações da

Universidade com seus públicos, parceiros e com a sociedade em geral.

No primeiro capítulo desta dissertação, estudamos as origens da cidade de

Juiz de Fora, até os dias atuais, mostrando como a cidade, que já teve uma

imagem associada ao pioneirismo industrial, que a caracterizou como Manchester

Mineira, também, hoje, se vê no dilema, como tantas outras cidades, de descobrir

e sedimentar uma nova identidade, mais voltada para a prestação de serviços e

levando em conta as características de um mundo globalizado e de uma sociedade

pós-industrial.

No segundo capítulo, acompanhamos a história das universidades no

mundo, nas Américas e, especialmente, no Brasil, tentando mostrar quais foram

as principais características e contradições que envolveram a instituição

universitária e que resultaram no atual Sistema Público Federal de Ensino

Superior, que reúne 52 instituições e é o maior responsável pela geração de

conhecimento e realização de pesquisas científicas no país, apesar de já ter sido

ultrapassado pelo setor privado no que se refere ao número de alunos

matriculados. Tudo isso para podermos entender melhor a trajetória da UFJF,

desde a criação, no final do século XIX, das primeiras unidades de ensino

superior, na cidade de Juiz de Fora, até os dias atuais. Durante a exposição, fica

evidente a relação entre as escolas superiores e o sonho das elites agrárias,

industriais e comerciais da cidade de formar quadros para dar suporte à gestão de

negócios. Inicialmente confessionais, as instituições de ensino superior de Juiz de

Fora passam para a esfera privada, e, finalmente, no início dos anos 60, para a

esfera do Estado. Hoje, a UFJF, como outras instituições, se ressente da escassez

1 WEBER, Maria Helena. Educação & Comunicação: exercícios de poder. Porto Alegre: UFRGS,

[s.d.]. p. 3. dig. 2 Id. Ibd. p. 3.

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3

de verbas, recursos humanos e da falta de um projeto identitário do Sistema

Público Federal de Ensino Superior.

No terceiro capítulo, mostramos qual é o contexto que caracteriza a cidade

de Juiz de Fora, neste início de século, e também como a cidade tenta se planejar

para o novo milênio. Também apresentamos a situação da UFJF no cenário atual

e discutimos a questão do poder local versus poder global, tentando resgatar o

papel da cidade e de suas instituições na manutenção da democracia e na

determinação de alternativas de desenvolvimento principalmente entre os países

de Terceiro Mundo.

No quarto capítulo, estudamos as contradições entre o modelo tradicional

de Universidade e o que se convencionou chamar de Universidade de mercado.

Apontam-se novos indicadores, como o perfil dos alunos, que mostram que a

instituição pública deve se adequar às novas demandas, mas, ao mesmo tempo,

evidenciam-se os riscos de uma Universidade exclusivamente voltada para o

imediatismo do mercado, o que ameaçaria inclusive a independência da

instituição, enquanto geradora de conhecimento.

No quinto capítulo, mostramos a experiência da UFJF como instituição

que procura se adequar aos novos tempos, estabelecendo uma relação ampla e

diversificada com a comunidade onde está inserida. Esta relação é mediada pelas

ações de comunicação. É feito um levantamento dessas ações, mostrando como

elas têm sido eficazes na criação da identidade institucional e de um conceito

positivo para a instituição, possibilitando que a UFJF, de fato, seja um ator social

de peso no desenvolvimento da região.

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4

Capítulo 1

IDENTIDADE E MEMÓRIA

Neste capítulo, pretendemos resgatar a história das origens da cidade de

Juiz de Fora, o que nos parece fundamental para uma melhor compreensão do

contexto em que a futura Universidade federal vai se instalar e para que possamos

compreender como tem sido tecida a identidade de Juiz de Fora e das instituições

que aqui têm inscrito a sua trajetória. Juiz de Fora não tem nenhuma tradição que

faça lembrar aquilo que o estado de Minas tem como marca maior: a tradição

colonial, forjada nas lavras de ouro e de diamantes, nas ladeiras sem fim, nas

conversas ao pé-do-ouvido, no silêncio das capelas e das alcovas do Brasil

Colonial. A Minas esculpida pelas mãos de Aleijadinho não é a Minas de Juiz de

Fora. Minas são muitas. Mas Juiz de Fora às vezes mais se assemelha a um

apêndice de Minas, que olha relutantemente para as montanhas, sempre à procura

do mar.

Para o médico e escritor Pedro Nava, nascido em Juiz de Fora, e que se

considerava “um pobre homem do Caminho Novo das Minas dos Matos Gerais”3,

a vida sempre hesitou entre dois rumos, o do mato dentro e do oceano afora,

constatação que nós poderíamos ampliar para todo aquele que nasce na cidade de

Juiz de Fora e que estaria fadado a viver dividido entre duas direções, dois

mundos:

A primeira é o rumo do mato dentro, da subida da Mantiqueira, da

garganta de João Aires, dos profetas carbonizados nos céus de

fogo, das cidades decrépitas, das toponímias de angústia, ameaça e

dúvida - Além Paraíba, Abre Campo, Brumado, Turvo,

Inficionado, Encruzilhada, Caracol, Tremedal, Ribeirão do Carmo,

Rio das Mortes, Sumidouro. Do Belo Horizonte (não esse, mas o

outro, que só vive na dimensão do tempo). E do bojo de Minas.

De Minas toda de ferro pesando na cabeça, vergando os ombros e

dobrando os joelhos dos seus filhos. A segunda é a direção do

oceano afora, serra do Mar abaixo, das saídas e das fugas por rias e

restingas, angras, barras, bancos, recifes, ilhas - singraduras de

vento e sal, pelágicas e genealógicas - que vão ao Ceará, ao

3 NAVA, Pedro. Baú de Ossos. São Paulo: Ateliê Editorial, 1999. p.5.

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Maranhão, aos Açores, a Portugal e ao encontro das derrotas latinas

do mar Mediterrâneo.4

Na verdade, a ocupação da Zona da Mata Mineira é resultado de um

processo diferente daquele que consagrou a ocupação do território mineiro.

Segundo os historiadores, o povoamento das Matas do Leste foi tardio. De acordo

com Carlos Alberto Hargreaves Botti, elas permanecem praticamente inabitadas

até o alvorecer do século XIX. E boa razão existia para isso:

A penetração apoucada das Matas do Leste, desde Caratinga até

Barra Mansa, deveu-se ao fato de serem estas matas reduto de

indígenas refratários e, por esse motivo, bravios. Tais indígenas

refratários, em expressiva maioria, foram expulsos do litoral

atlântico pela ação do colonizador europeu, franceses e

portugueses. Daí emerge a explicação do temor e do tremor das

populações brancas e de seus negros em penetrarem a Região das

Matas do Leste, em que os aguardavam - com endereço certo - a

prisão e a morte.5

Segundo Botti, era esse o motivo que levava aqueles que provinham de

São Sebastião do Rio de Janeiro a seguirem para a região do Centro do Ouro por

um caminho muito mais longo, conhecido como Caminho Velho.

Os fluminenses, em busca de bens preciosos, seguiam de

embarcação até Parati, desciam em direção a Taubaté, e daí

seguiam em direção ao norte para Barbacena, perfazendo a rota de

Fernão Dias, desde o Vale do Paraíba Paulista até o Centro do

Ouro.6

De acordo com o arquiteto Luiz Alberto do Prado Passaglia, “Juiz de Fora

e a região da mata mineira ficaram à margem do caminho e de todo o processo

cultural e econômico marcado pelo ciclo da mineração”.7 Segundo ele:

Este fato contrapõe-se ao que ocorrera no setor paulista desta bacia

hidrográfica (Paraíba do Sul), que tivera o seu território palmilhado

desde o século XVII, funcionando como ponto de partida das

4 Id. Ibd. p. 5. 5 BOTTI, Carlos Alberto Hargreaves (coord.). Companhia Mineira de Eletricidade. Juiz de

Fora: UFJF, 1994. p.18. 6 Id. Ibd. p. 18. 7 PASSAGLIA, Luiz Alberto do Prado. Preservação do patrimônio histórico de Juiz de Fora.

Juiz de Fora: Prefeitura Municipal, [198-]. p.21.

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bandeiras, tornando-se a região de passagem obrigatória para o

território das Minas.8

1.1 - Uma história de estradas: o Caminho Novo

No Álbum do Município de Juiz de Fora, de 1915, Albino Esteves resgata a

história de desbravamento do Caminho Novo:

Em 1701, o valente sertanista Garcia Rodrigues Paes (primogênito

de Fernão Dias Paes Leme) propoz-se a fazer uma picada que

partindo da Borda do Campo fosse á Raiz da Serra. Essa picada foi

levada a effeito, parte por Garcia Paes, que nesse emprehendimento

gastára todos os seus haveres, durante quatro annos de trabalho

rude, e parte pelo coronel Domingos Rodrigues, que o substituiu

nessa grande empreza. Garcia Rodrigues Paes fôra nomeado

Guarda Mór em 13 de Janeiro de 1698 e já abrira um caminho de S.

Paulo para os Campos Geraes de Cataguazes.9

Segundo Esteves, o Caminho Novo teve extrema importância nos tempos

coloniais e pode ser considerado, sem dúvida, como o “berço de Juiz de Fóra”.10

Eis o percurso da picada:

O Caminho Novo, partindo da Borda do Campo, atravessando a

Mantiqueira na garganta de João Ayres, passava em João Gomes,

Palmyra, Chapéo d’Uvas, Juiz de Fóra, Mathias Barboza, Simão

Pereira, Serraria, Entre Rios, Barra do Pirahy, descia a Serra do

Mar sobre Macacos, Inhauma, Pavuna, Penha e Rio de Janeiro.11

Juiz de Fora, como veremos no desenrolar deste trabalho, caracterizou-se

sempre como uma cidade de estradas. O Caminho Novo, que teve na figura de

Tiradentes , em 1781, um de seus comandantes de patrulha12

, foi a primeira das

muitas estradas que, de certa forma, contaram e contam a história de Juiz de Fora.

Passaglia nos lembra que “com a abertura do ‘Caminho Novo’, esta região foi

8 Id. Ibd. p. 18. 9 ESTEVES, Albino. Álbum do município de Juiz de Fora. 2.ed. Juiz de Fora: Prefeitura

Municipal, 1915, p.15. 10 Id. Ibd. p.16. 11 Id. Ibd. p.16. 12 Id. Ibd. p.17.

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parcelada e apropriada pelo sistema de concessão de terras através de

sesmarias”.13

A atual cidade de Juiz de Fora tem as suas origens entre os povoados

agrícolas, que se expandiam ao longo do Caminho Novo, que, em muitos trechos,

serpenteava o Paraibuna, afluente do Paraíba do Sul.

Entre os povoados que aí se desenvolveram, o primeiro de que se

tem notícia é o povoado do Morro da Boiada, dedicado à proteção

de Santo Antônio de Pádua. Juiz de Fora chamou-se,

originalmente, Santo Antônio do Morro da Boiada do Paraibuna.

E, por contração, ficou conhecida como o Arraial de Santo Antônio

do Paraibuna. Outros povoados eram o povoado do Alto dos

Passos, o povoado do Tapera e, o mais forte deles, o povoado que

se formou em torno da Fazenda Velha de Bustamante e Sá, um Juiz

de Fora aposentado.14

Na época, todos os povoados agrícolas da Região das Matas do Leste

estavam sob a jurisdição do governo do Rio de Janeiro, que doou sesmarias a seus

funcionários e agregados imediatos.

Na região em que hoje se situa Juiz de Fora, o governo, sediado em

São Sebastião do Rio de Janeiro, doou uma sesmaria a José

Antônio, secretário de governo. Esse sesmeiro jamais veio

localizar sua sesmaria e dela, portanto, não tomou posse efetiva.

Mas, como juridicamente lhe pertencia, vendeu-a a Bustamante e

Sá, aposentado da carreira jurídica no cargo de Juiz de Fora.15

Esteves registra que a tal fazenda já existia na região quando por aqui

passou Saint-Hilaire, em 1816. A impressão de Saint-Hilaire, que consta do seu

Voyages dans les provinces de Rio de Janeiro et de Minas Geraes, tem um trecho

traduzido por Esteves, que caracteriza o cenário onde se encontrava a fazenda do

Juiz de Fora:

A uma legoa e tres quartos do Marmello, encontra-se a pousada de

Juiz de Fóra, nome que, sem duvida provém do cargo que occupava

13 PASSAGLIA, Luiz Alberto do Prado. Preservação do patrimônio histórico de Juiz de Fora.

Op. cit. p.21. 14 BOTTI, Carlos Alberto Hargreaves (coord.). Companhia Mineira de Eletricidade. Op. cit.

p.19. 15 Id. Ibd. p.20.

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seu primeiro proprietario. Da venda de Juiz de Fóra tem-se deante

dos olhos encantadora paizagem.

Essa venda é construída na extremidade de um grande pasto,

cercado de collinas por todos os lados. O Parahybuna corre junto

ao caminho, há um pequeno corrego que nelle se lança, depois de

atravessar a estrada e, sobre o corrego, uma ponte construída de

madeira, de effeito muito pitoresco: junto della, uma cruz.

Mais longe vê-se uma capella abandonada e as ruinas de um

engenho de assucar.

Junto da venda um grande rancho, e bem perto um paiol para

milho.16

Para o jornalista Lindolfo Gomes, as observações de Saint-Hilaire eram

“inexatas”, já que, na comarca de São João del Rei, à qual pertencia o local, “não

havia em 1719 Juiz de Fora”, o que reforça o caráter “misterioso”, que reveste o

personagem lembrado por ele, em artigo publicado no antigo Diário Mercantil,

em 3 de julho de 1946, e citado por Passaglia:

... a tradição corrente é que tal denominação se origina do fato de

haver estado ali a passeio, como hóspede, demorando-se alguns

meses, um Juiz de Fora do Rio de Janeiro ou de outro qualquer

lugar, a quem os moradores da localidade iam visitar dizendo: -

“vamos ao sítio da vargem visitar o Juiz de Fora”, ocorrência que

deu ensejo a que o designativo da investidura do magistrado

passasse à casa onde ele se hospedava.17

Não há grandes informações sobre o Juiz de Fora e quase todas parecem se

prender à tradição oral. Botti pesquisou sobre o cargo que não parece assim tão

comum na literatura, dando a seguinte explicação:

... o cargo jurídico de Juiz de Fora foi trazido para as colônias

americanas pelos colonizadores portugueses e espanhóis. A

tradição ibérica assimilou essa função jurídica dos mouros,

invasores da Península Ibérica, durante a Idade Média Ocidental.

Os árabes, por sua vez, tomaram esse cargo jurídico das antigas

Alexandrias. Nas Alexandrias, Alexandre, o Grande, da

Macedônia, institui essa função para que o juiz das Alexandrias,

16 SAINT-HILAIRE, Voyages dans les provinces de Rio de Janeiro et de Minas Gerais.

[s.l.],[s.d.]. Apud ESTEVES, Albino. Álbum do município de Juiz de Fora. Op. cit. p.46. 17 GOMES, Lindolfo. Um documento histórico. Diário Mercantil, Juiz de Fora, 3 jul. 1946. Apud

PASSAGLIA, Luiz Alberto do Prado. Preservação do patrimônio histórico de Juiz de

Fora. Op. cit. p.177.

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morando fora da comunidade urbana, pudesse julgar com isenção

de pessoa.18

A figura do Juiz de Fora é curiosa em termos de investigação, porque

muito pouco se sabe sobre ele, há pouquíssimos registros históricos. De certa

forma, não fica clara para nós qual foi a sua atuação junto à comunidade. Alguns

intelectuais de Juiz de Fora acreditam mesmo que não é sem motivos que os

registros são escassos. Em texto publicado no boletim Contato, do Movimento

Familiar Cristão da cidade, há algumas referências ao juiz. O texto diz ter sido

encontrada, na Torre do Tombo, em Portugal, a carta de nomeação do Juiz de

Fora, Luiz Fortes Bustamante e Sá, para o Rio de Janeiro, em 1711, nomeação

esta assinada por D. João V. Posteriormente, no mesmo local, também foram

encontrados documentos comprovando que, aos 4 de setembro de 1713,

Bustamante adquirira de João de Oliveira - que teria recebido as terras, como

doação, do Vice-Rei Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho, em 15 de janeiro

de 1710 - a sesmaria que se limitava com a propriedade do Alcaide-Mor Tomé

Correa Vasques e a do Capitão-Mor José de Sousa Fragoso.19

De acordo com a

publicação:

O juiz de fora Luiz Forte Bustamante e Sá se metera em trambiques

durante a invasão francesa do Rio de Janeiro (1711). Apurado tudo

pelo Tribunal de Alçada foi ele degredado para Mazagão, na

África. Contudo o dito Bustamante subornou o carcereiro e ambos

fugiram para a Província de Minas Gerais, onde o primeiro

adquiriu fazendas. Pode-se concluir que o juiz desonesto, ao

adquirir aqui terras do tal João de Oliveira, já estava de caso

pensado. Tudo nos leva a crer que o Meretíssimo Bustamante

realmente não presidiu tribunais em nossa cidade porque assim que

fora nomeado... já havia se metido em encrencas bravas!20

Com a evolução da pesquisa historiográfica, obras recentes explicam

melhor a história oficial do Juiz de Fora e o fato da cidade acabar herdando, como

nome, o título do magistrado.

18 BOTTI, Carlos Alberto Hargreaves (coord.). Companhia Mineira de Eletricidade. Op. cit.

p.20.

19 .Cf. O JUIZ que era de fora. Contato. Juiz de Fora: MFC, mai. 2000, n.122. p. 7. 20 Id. Ibd. p. 7.

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Bustamante e Sá viveu com sua família na Fazenda Velha,

demolida nos anos quarenta deste século. Em torno do casarão da

Fazenda Velha formara-se um povoado com algumas vendas. Os

moradores dos povoados próximos ao Caminho Novo, ao longo das

margens do Rio Paraibuna, iam ali fazer as suas compras - nas

imediações da fazenda de Bustamante e Sá. Ao irem às compras,

essas pessoas diziam ir ao Juiz de Fora. Impõe-se a tradição oral de

toda essa região: os vários povoados passaram a ser chamados de

Santo Antônio do Paraibuna do Juiz de Fora.21

Na verdade, a casa do Juiz de Fora, foi um marco de referência desde cedo

para a cidade. Isto fica claro em outra reportagem apresentada no livro de

Passaglia, publicada originalmente no Diário da Tarde, edição de 10 de maio de

1950.

Segundo os estudiosos, tal casa fôra construída em 1719. Servira

de residência a numerosas figuras da história de Juiz de Fora, como

Antônio e Manoel Dias Tostes, Guilherme Henrique Fernando

Halfeld, do inconfidente Domingos Vidal Barbosa e de seu filho,

padre Francisco Vidal Barbosa, além de outros.22

A ocupação da cidade foi se dando aos poucos.

A área occupada por nossa cidade, coube a treze herdeiros do Juiz-

de-fóra.

Desses, Antonio Dias Tostes Junior e Manoel Dias Tostes, filhos

do tenente Antonio Dias Tostes, começaram a fazer doações, no

que foram seguidos por Guilherme Henrique Fernando Halfeld,

genro de Manoel Dias Tostes, casado em segundas nupcias com d.

Candida Maria Carlota.

Foram feitas doações para arranchação dos povos e separação de

sesmarias da fazenda - vinte cordas de um lado e de outro da

estrada, afim de retalhal-os pela venda a estranhos, para o

povoamento desejado.

O primeiro edifício construido por Dias Tostes, após a abertura da

estrada provincial de 1838, é o existente á Avenida Rio Branco, de

21 BOTTI, Carlos Alberto Hargreaves (coord.). Companhia Mineira de Eletricidade. Op. cit.

p.20.

22 COMO se acabam as coisas, responda quem souber - por que arrasaram a “Fazenda Velha?”.

Diário da Tarde, Juiz de Fora, 10 mai. 1950. Apud PASSAGLIA, Luiz Alberto do Prado.

Preservação do patrimônio histórico de Juiz de Fora. Op. cit. p.182.

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propriedade da exma. Viuva Queiroz. Nesse tempo o palmo de

terra custa dois tostões.23

Apesar de sua importância, a casa do Juiz de Fora foi demolida entre 1943

e 1946, mesmo havendo grande campanha em prol do tombamento e restauração,

encabeçada pela imprensa e várias lideranças locais. A casa ficava entre os

quarteirões formados pelas ruas Almada Horta, Barão de Juiz de Fora e avenida

Garibaldi. Várias tentativas de tombamento foram feitas junto ao Serviço do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - SPHAN -, que foi extremamente

sensível a esta demanda e chegou a ordenar o tombamento do prédio. De acordo

com matéria publicada no extinto Diário da Tarde e reproduzida no livro de

Passaglia, “o emissário do diretório do SPHAN encontrou, porém, tanta má

vontade que se não desanimou ao menos protelou as negociações”.24

O que fica

comprovado, através dos registros históricos, é que a burocracia pública é que

impediu que, a tempo, se evitasse a demolição e a venda da casa, aliás autorizada

pela Divisão de Obras da Prefeitura da época.

A destruição da “fazenda velha”, além de exemplificar o descuido da

Prefeitura com o patrimônio e a história municipal, reforça o caráter nebuloso em

que se encontra até hoje mergulhada a origem da cidade e do seu nome que, se

não é sina, parece estar de forma recorrente trazendo à tona um sentimento de

desenraizamento. Em artigo inédito, a psicóloga Regina Amélia G. Paula retoma

a questão delicada dessa identidade perdida:

Este objeto inicial, anônimo, introjetado como um objeto ruim, que

foi expurgado, que foi “de-jetado” ( lançado para fora ), e portanto,

na nossa identidade histórica, portamos essa ambiguidade. O que

está internalizado é ruim, e deve ser expurgado, por isso,

precisamos do reforço do que vem “de fora” para nos dar forma.25

Paula completa:

Somos pejorativamente apelidados de “cariocas do brejo” por

outros mineiros, que vêem com reservas esse nosso impasse de

23 ESTEVES, Albino. Álbum do município de Juiz de Fora. Op. cit. p.51. 24 Id. Ibd. p. 51. 25 PAULA, Regina Amélia G. Juiz de Fora: um nome significante ou um significante no

nome. Juiz de Fora:1994. p.15. dig.

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identidade histórica e cultural. “Cariocas”, porque importamos

muito, vivemos o que vem lá de fora (Rio), e do “brejo”, porque

ainda não pisamos na terra firme do solo mineiro, e ainda não

assumimos a nossa identidade.26

A jornalista Malu Lopes pinta ainda com mais detalhes o perfil ambíguo

do juizforano:

Entre o caminho do ouro, o mar e o sertão, Juiz de Fora convive

bem com toda a vizinhança. Mas é com o Rio de Janeiro que mais

se identifica. Mais velha do que Belo Horizonte, a capital do

estado, nunca foi influenciada pelo sotaque mineiro. Ao contrário,

adotou alguns “xis” cariocas, o que lhe vale até hoje uma certa

rivalidade com os belorizontinos, que chamam os juizforanos de

“cariocas do brejo”. Como resposta, dizem que não escutam os

deboches por causa do barulho das ondas do mar ou ainda que é

intenção da prefeitura liberar uma linha direta de ônibus entre a rua

Halfeld e a Avenida Vieira Souto, em Ipanema.27

A ambiguidade de estar em Minas, mas não se sentir mineiro, é também

compartilhada pelo poeta juizforano Affonso Romano de Sant’Anna, quando

relembra o período em que viveu na cidade, dos três aos vinte anos. “E a gente

achava Minas distante. Juiz de Fora só virou Minas depois que JK abriu a estrada

nova para Belo Horizonte.”28

A ambiguidade do ser ou não ser mineiro é confirmada por fatos curiosos

que pontuaram a história da cidade. No início do século XX, o dirigente da antiga

UDN, Jesus de Oliveira, fundador do jornal O Lynce, que circulou na cidade por

67 anos ininterruptos, desde 1912, lutou pela emancipação da Zona da Mata.

“Em ‘O Lynce’, defendeu a criação de um novo estado com a união da região e

alguns municípios do estado do Rio, que formariam o estado da Paraíba do Sul,

cuja capital seria Juiz de Fora”.29

26 Id. Ibd. p.16. 27 LOPES, Malu. “Xis” de Fora, uai!. Juiz de Fora, Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, ano 1, p.7,

27 jul. 1997. Encarte especial. 28 SANT’ANNA, Affonso Romano de. Um centro sofisticado. Juiz de Fora, Rio de Janeiro:

Jornal do Brasil, ano 1, p. 58, 27 jul. 1997. Encarte especial. 29 ROCHA, Isaura. Jesus de Oliveira: histórias de um idealista. Tribuna de Minas, Juiz de Fora,

7 fev. 2001, Caderno Dois, p. 1.

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1.2 - O ouro verde: o café invade as montanhas de Minas

Por volta de 1817 e por influência de Dom João VI, a região no entorno de

Juiz de Fora começava a ganhar novas características com a introdução da cultura

do café. Até então, por aqui, só existiam “roças”, com uma quase incipiente

agricultura de subsistência. O café que, inicialmente, é cultivado na Fazenda São

Mateus, se transforma na grande riqueza da região.

As extensas lavouras de café não representavam apenas quantidade

mas qualidade de alta consideração, o que se constituiu na razão

principal, pelo poder econômico e correlato poder político, na

consolidação de uma aristocracia cafeeira que brilhou, prestigiou e

manteve o “status” da progressiva e irrequieta comunidade.30

Para o transporte da nova riqueza da região, o lombo de burro não se

adequava mais e Juiz de Fora se rende mais uma vez à construção de uma estrada,

que vai mudar inclusive a sua configuração urbana. “Deve-se a Henrique

Guilherme Fernando Halfeld, engenheiro e militar alemão, a abertura da Estrada

do Paraibuna, que passou a desempenhar importantíssimo papel no crescimento e

desenvolvimento do povoado”.31

A construção da estrada marca o início da

urbanização, da ordenação do espaço urbano.

Halfeld, que adotou a nacionalidade brasileira, em 1840, fez parte de uma

geração de pioneiros que ajudaram a criar e a sedimentar a imagem da Juiz de

Fora de hoje. Nascido na Alemanha, em 1797, ele combateu as tropas

napoleônicas, tendo estado inclusive em Waterloo, e, depois, veio para o Brasil,

para trabalhar com mineração, já tendo o título de engenheiro. À sua rusticidade,

ele conseguia unir características extremamente refinadas. Citado por Pedro

Nava, no seu livro, Baú de Ossos, já que foi o primeiro marido da avó do escritor,

ele é descrito dessa forma:

30 BASTOS, Wilson de Lima. Do Caminho Novo dos Campos Gerais à estrada de rodagem União

e Indústria e estrada de ferro D. Pedro II. In: INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO,

História econômica de Juiz de Fora: subsídios. Juiz de Fora:1987, p.19.

31 Id. Ibd. p.18.

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...o que mostra que Halfeld, além da sua profissão, torneando

madeiras e metais, divertia-se fazendo jóias, móveis, dava-se a

observações astronômicas, meteorológicas e investigações naturais.

Seu gosto pelas últimas ficou comprovado nas coleções que ele

reuniu de minérios e de ovos de todas as aves mineiras.32

De acordo com as memórias de Pedro Nava, chamava a atenção a

qualidade da biblioteca do pioneiro Halfeld. “Cerca de 400 volumes de 318 obras

alemãs, francesas e inglesas que logo mostram o homem versado em outros dois

idiomas - além do seu e do português.”33

Em 1836, o engenheiro Halfeld contratou com o governo de Minas a

abertura de um caminho que fosse de Vila Rica a Paraibuna34

. A construção da

estrada do Paraibuna levou a uma mudança forçada dos habitantes do antigo

Morro da Boiada, que tiveram que se dirigir em direção à várzea e se concentrar,

agora, de forma ordenada, não sem protestos, em torno do novo traçado da futura

cidade, em torno do que é, hoje, a Av. Barão do Rio Branco.

O crescimento oriundo do café muda a vida do povoado. O município da

Vila de Santo Antônio do Paraibuna é criado pelo artigo 8º da Lei Provincial nº

472, de 31 de maio de 1850. Na primeira reunião da Câmara Municipal, em 7 de

abril de 1853, o município é instalado. A vila é elevada à cidade pela lei de 2 de

maio de 1856.35

Outras estradas iriam definir um novo perfil para o município. O Decreto

Imperial nº 1.031, de 7 de agosto de 1852, concedia a Mariano Procópio Ferreira

Lage a concessão para construir e explorar os serviços de uma nova estrada.36

Mariano Procópio, nascido em Barbacena, foi outro pioneiro a escrever a história

da cidade. Ele estudou em Congonhas do Campo, sob a tutela dos padres do

Caraça. Com o apoio do pai, conseguiu fazer uma viagem de estudos à Europa e,

32 NAVA, Pedro. Baú de ossos. Op. cit. p. 124. 33 Id. Ibd. p. 125. 34 Cf. ESTEVES, Albino. Álbum do município de Juiz de Fora. Op. cit. p.51.

35 BASTOS, Wilson de Lima. Do Caminho Novo dos Campos Gerais à estrada de rodagem União

e Indústria e estrada de ferro D. Pedro II. In: INSTITUTO HISTÓRICO E

GEOGRÁFICO, História econômica de Juiz de Fora: subsídios. Op. cit. p.19. 36 Id. Ibd. p.21.

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fascinado pelas novidades tecnológicas de meados do século XIX, acabou indo

para os Estados Unidos.

Um outro mundo abriu-se à sua visão e à sua percepção e, entre

tantas novidades, duas, sobretudo, o empolgaram porque vinham ao

encontro do referido projeto (realizar no Brasil muito mais do que

estava aprendendo): o novo processo de pavimentação do leito de

estradas e o sistema de cobrança de pedágios.37

Chegando ao Brasil, Mariano Procópio organizaria a Companhia União &

Indústria. Em 12 de junho de 1858, chegariam à cidade os primeiros colonos

alemães por ele contratados para a construção da estrada.

Agricultores e artesãos-operários formavam conjunto imigrado para

Juiz de Fora, que decisivamente influiu para a incorporação de

hábitos e objetivos de vida diversas da tradição dominante,

colaborando para que a cidade interiorana, não ficasse apenas

impregnada por um sistema patriarcal agrário.38

Newton Barbosa de Castro registra a importância da estrada na mudança

de hábitos que aos poucos vai sendo verificada:

A história de Juiz de Fora é ligada à história de estradas. A Estrada

União Indústria foi a primeira estrada com características modernas

construída no Brasil e significou para Juiz de Fora o início de uma

nova etapa no seu desenvolvimento. De pequeno povoado, Juiz de

Fora tornar-se-á a cidade mais importante da Província. Trouxe

também modificações importantes na própria mentalidade da

época, com seu dinamismo e sentido de modernidade. Representou

uma era que se iniciava, contrastando com um mundo que

agonizava, o das lentas tropas de muares.39

1.3 - Imigração e industrialização

37 Id. Ibd. p.22. 38 PASSAGLIA, Luiz Alberto do Prado. Preservação do patrimônio histórico de Juiz de Fora.

Op. cit. p.23. 39 CASTRO, Newton Barbosa de. A contribuição dos imigrantes alemães à industrialização de

Juiz Fora. In: INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO, História econômica de Juiz

de Fora: subsídios. Juiz de Fora: 1987. p.63.

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Os primeiros imigrantes chegaram à cidade em janeiro de 1856. Eram 150

pessoas, entre engenheiros, técnicos e operários. Dois anos depois, em 1858,

chegariam à cidade mais 1165 alemães, estes vinham com o objetivo de formarem

uma colônia para o abastecimento agrícola do mercado interno.

A estrada União e Indústria foi inaugurada em 23 de junho de 1861, com a

presença do imperador e da família imperial. Mas logo apresentaria dificuldades

de manutenção, tendo sido encampada pelo governo, em 1864. “Ao mesmo

tempo, já vinha sendo implantada a ferrovia, que era um sistema de transporte

mais eficiente na época. Em 1869, Mariano Procópio já se tornara diretor da

estrada de ferro D. Pedro II”.40

Por volta de 1870, a Companhia União e Indústria

já se encontrava praticamente extinta. Mariano Procópio morre prematuramente,

aos 50 anos, em 1872. Em 1876, foi feito o pedido de rescisão de todos os

contratos. Com tal situação, os empregados se viram obrigados a criar seus

próprios negócios.

Surgiram, então, oficinas de diversos tipos, fabriquetas e fábricas

maiores, merecendo registro diversas fábricas de cerveja, de

carroças e veículos de transporte, curtume, mecânicas, artefatos de

ferro e aço, estamparia, cartonagem, etc. Tornou-se a cidade centro

de notável prestação de serviços e, ao mesmo tempo, de alentado

movimento industrial.41

O curioso é observar que os Weiss, Scoralick, Surerus, Freesz e tantos

outros ainda conviveram por muito tempo com os barões, marqueses, condes e

viscondes do Império, que fizeram sua fortuna na exploração do café, num

evidente contraste entre a urbanização e a modernidade e a estrutura agrária

escravocrata. Para dar uma dimensão mais exata deste contraste, podemos

recorrer aos números da mão-de-obra escrava. Juiz de Fora, na época, era a

segunda cidade da Província em população escrava.

Se, em 1876, a maior população escrava na Província de Minas

Gerais era registrada em Leopoldina, num total de 15.253 cativos, a

liderança, em 1883, neste tipo de população, estava com Juiz de 40 Id. Ibd. p.65. 41 BASTOS, Wilson de Lima. Do Caminho Novo dos Campos Gerais à estrada de rodagem União

e Indústria e estrada de ferro D. Pedro II. In: INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÀFICO,

História econômica de Juiz de Fora: subsídios. Op. cit. p.25.

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Fora, que contava, então, 21.808, enquanto Leopoldina apresentava

16.001. Eram os dois mencionados municípios, naquela altura do

século XIX ( dezessete anos para o século XX ) os que maior

número de escravos possuíam, para uma população cativa global da

Província, estimada em 365.861.42

Entre os pesquisadores que se dedicaram ao período há, em vários

momentos, a preocupação em discriminar quais os setores que teriam atraído

novos capitais de investimento para a cidade, mudando o perfil de Juiz de Fora, no

final do século XIX, e criando uma nova identidade para a cidade, a identidade

industrial .

Newton Barbosa de Castro destaca a importância dos imigrantes alemães,

posteriormente seguidos pelos imigrantes italianos, neste processo de atração de

capitais. De acordo com o pesquisador, os imigrantes alemães praticamente

dobraram a população do núcleo urbano, com um forte contingente de mão-de-

obra especializada - artífices - e não especializada - colonos -, ampliaram o

mercado de trabalho, reinvestiram em ampliações, contribuíram para a criação de

uma infra-estrutura técnica que abrirá caminho para o estabelecimento de outros

investidores e também para a formação de uma classe média representativa, que

não sendo a aristocracia cafeeira, consumidora de importados, e nem a massa de

escravos impossibilitada de consumir, formou um mercado consumidor para

produtos manufaturados produzidos na região.43

Resgatando, hoje, este tema que trata da formação humana da cidade de

Juiz de Fora, o professor da Universidade Federal e poeta, Fernando

Fábio Fiorese Furtado, no artigo Cosmopolitismo desperdiçado, veiculado pela

internet, defende que a construção de uma identidade para a cidade de Juiz de

Fora passa necessariamente pela sua origem “polifônica”:

A construção de uma identidade histórica e afetiva de Juiz de Fora

deve privilegiar estratégias de afirmação do cosmopolitismo,

42 BASTOS, Wilson de Lima. Sob o signo da esperança. Juiz de Fora: Edições Paraibuna,1977.

Apud BASTOS, Wilson de Lima. Do Caminho Novo dos Campos Gerais à estrada de

rodagem União e Indústria e estrada de ferro D. Pedro II. In: INSTITUTO HISTÓRICO E

GEOGRÁFICO, História econômica de Juiz de Fora: subsídios. Op.cit. p.25. 43 Cf. CASTRO, Newton Barbosa de. A contribuição dos imigrantes alemães à industrialização de

Juiz de Fora. In: INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO, História econômica de

Juiz de Fora. Op. cit. p. 68-69.

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resgatando as origens polifônicas da cidade (negros, alemães,

sírios, italianos, portugueses, libaneses etc.) e criando espaços para

a incorporação de manifestações multiculturais. A continuar o

desperdício deste cosmopolitismo latente, Juiz de Fora corre o risco

não apenas de permanecer na contramão do provincianismo, mas

de declinar do papel de pólo regional, de cidade educadora, de

paradigma da Zona da Mata.44

O jornalista Wilson Cid analisa de forma criativa o espírito dos imigrantes

que tanto influenciaram a industrialização.

A experiência européia, aliou-se também a uma estrutura familiar

introspectiva; muito fechada, até mesmo para responder a uma

tradição religiosa de confissão luterana que esses estrangeiros

trouxeram. Sem afeição ao lazer, despreocupados com a

ostentação, intimistas, mais preocupados em guardar o dinheiro que

ganhavam, como segurança de seu grupo, tão distante das origens,

os prussianos pioneiros nada mais tinham a fazer além de reinvestir

em suas indústrias. O trabalho, quase uma religião, era a fonte de

prazer. Além disto, eram evidentes o esforço para a colaboração

grupal da colônia e a tendência de vincular o dinheiro a

empreendimentos comuns. O grande número das indústrias

mecânicas e, depois, da indústria cervejeira, pode explicar um

pouco essa preocupação com o estar junto.45

Para ilustrar o que o jornalista caracteriza como “um exemplo

absolutamente autêntico da iniciativa privada”46

, que marca Juiz de Fora no final

do século XIX e início do século XX, Cid enumera alguns fatores:

I - uma estrada - a “União e Indústria” - que não era apenas a maior

do País, mas uma das melhores do mundo, permitindo o

escoamento, a conquista de mercados e a atração de riquezas,

levando-nos a desempenhar o papel de movimentadíssimo empório,

destinado a atender não apenas à província e ao Estado, mas

também a outras regiões cujos interesses econômicos aqui

aportavam,

44 FURTADO, Fernando Fábio Fiorese. Cosmopolitismo desperdiçado. Disponível na

INTERNET via http://www.oclick.com.br/colunas/fiorese.htm1. Arquivo consultado em

nov.2000. 45 CID, Wilson. Visão da imprensa sobre o processo de desenvolvimento. In: INSTITUTO

HISTÓRICO E GEOGRÁFICO, História econômica de Juiz de Fora: subsídios. Juiz de

Fora: 1987. p.73. 46 Id. Ibd. p.72.

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II - a estrutura social com experiência européia que saltou da

“União e Indústria”, quando a empresa de Mariano Procópio já

periclitava, para as primeiras empresas mecânicas e de bebidas,

III - a capacidade amplíssima do agir e do fazer, sem o

intervencionismo do Estado, ao lado de uma confiança em normas

e instrumentos econômicos inalterados. Oferecia-se garantia ao

investimento,

IV - a existência de uma elite empreendedora, que veio do café.47

Voltando o olhar para o comportamento humano, é Cid quem

observa:

Ao contrário da característica aventureira da caça ao ouro e às

pedras preciosas, a atividade rural na região de Juiz de Fora, como,

de resto, em toda a Zona da Mata, vai desenvolver-se dentro de

padrões diferentes. Os homens são mais fechados, não gostam do

risco, desdenham as iniciativas aventureiras, passam a compreender

na plenitude o sentido da família, do ser agregado. E começam a

gostar da terra.

Pois bem: foram as fazendas, com seus imensos cafezais, a

agricultura de subsistência e a pecuária que deram a Juiz de Fora o

segredo do cofre que guardou grandes fortunas e que, mais tarde,

decadente o café, serviram para alimentar muitas indústrias como

também fariam da atividade bancária local uma das mais intensas

do país.

O café - é bom insistir - plantou as bases de uma estrutura de

baronato, do qual surgiria mais tarde a elite industrial e

capitalista.48

Para financiar a produção crescente, Juiz de Fora teve intenso movimento

bancário, no século passado, embora o mais antigo estabelecimento bancário de

Minas Gerais tenha sido o Banco Almeida Magalhães, fundado em 17 de março

de 1860, em São João del Rei. O Banco do Brasil, que iniciou suas atividades em

11 de dezembro de 1809, só teve agência em Juiz de Fora, em 1918. O primeiro

banco criado em Juiz de Fora foi o Banco Territorial e Mercantil de Minas Gerais,

em13 de julho de 1887. Ele funcionou por pouco tempo, tendo encerrado suas

atividades em maio de 1892, por problemas de má condução dos negócios.

47 Id. Ibd. p.73. 48 Id. Ibd. p.74.

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O segundo banco criado na cidade foi o Banco de Crédito Real, em 1888.

A montagem da estrutura do Banco de Crédito Real teve por

primeiro passo a reunião dos seus iniciadores, ocorrida em 18 de

setembro de 1888, plano advogado por elementos do maior realce

da sociedade juiz-forana de largo prestígio e que desfrutavam, além

disso, da fama de vitoriosas experiências em outros

empreendimentos. Eram homens de visão, criadores de riqueza,

experimentados sobretudo nas lides do comércio e marcados por

um raro sentimento de responsabilidade e de coragem.49

1.4 - Juiz de Fora se ilumina antes do Velho Mundo

Aos barões do café e aos imigrantes, juntaram-se outros empreendedores,

muitos vindos de outras cidades, que pareciam identificar em Juiz de Fora, no

final do século passado, as condições ideais para desenvolver seus negócios.

Entre estes, vale a pena nos determos um pouco sobre o grande personagem que

foi Bernardo Mascarenhas, que aqui instalou a primeira usina hidrelétrica da

América Latina e que fez com que a pacata Juiz de Fora substituísse os lampiões

de gás pela iluminação elétrica, antes mesmo que a Velha Europa.

Nascido em 1846, estudante do Colégio Caraça, Mascarenhas, muito cedo,

detecta a demanda por produtos têxteis, que poderiam ser fabricados no país,

concorrendo com as mercadorias importadas. Ele abre uma sociedade com dois

dos seus irmãos e viaja para os Estados Unidos, onde permanece por 18 meses,

“estudando física e mecânica, além de pesquisar especificamente processos de

fabricação de produtos têxteis”.50

Ao retornar ao Brasil, em plena Guerra do

Paraguai, surgem as dificuldades alfandegárias para liberação do material

comprado para a montagem da indústria e, não apenas isso, já que, só até Juiz de

Fora, estavam garantidas as boas condições de transporte do equipamento. “Daí

por diante, tratava-se de transportar 250 toneladas de máquinas por carro de boi.

49 ALVARENGA FILHO, José Tostes de. “Alguns eventos da história bancária de Juiz de Fora”.

In: História econômica de Juiz de Fora:subsídios. Juiz de Fora:1987. p.38. 50 BOTTI, Carlos Alberto Hargreaves (coord.). Companhia Mineira de Eletricidade. Op. cit.

p.22.

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Foram 30 dias de viagem”.51

Mas, apesar de todas essas dificuldades, a indústria

foi montada, em 1868.

Seis anos depois, os sócios resolvem abrir outra tecelagem, na Fazenda

Cachoeira. Em 1874, Bernardo Mascarenhas vai à Europa com o intuito de

atualizar conhecimentos e adquirir equipamentos. Ele inclui os Estados Unidos

no roteiro, onde se apaixona pelo papel da eletricidade no desenvolvimento da

indústria têxtil. Afoito, ele parecia estar à frente do seu tempo: mantinha, nas

empresas, uma “ avançada política de pessoal, que incluía um sistema de

premiação quinquenal progressiva, além da constituição de um fundo de

aposentadoria (‘Caixa Econômica`), mantido pelos próprios empregados”.52

Um

espírito tão arrojado não estaria livre de muitos embates com a família. Depois da

morte do pai, Bernardo deixa a sociedade com os irmãos e parte para Juiz de

Fora.

A idéia de iluminar Juiz de Fora através da eletricidade transforma-

se para Mascarenhas em forte determinação. Em agosto de 1887,

comparece à inauguração da iluminação elétrica da Cia. Industrial

Mineira (que pertencia ao grupo inglês) e decide não mais perder

tempo: em requerimento de 11 de outubro, solicita à Câmara

Municipal mudança no contrato de fornecimento de iluminação,

que passaria a ser gerada eletricamente, consideradas as vantagens

dessa alternativa sobre a iluminação a gás. Para esse fim, em 25 de

novembro, foi designada Comissão da Câmara, composta dos

vereadores Tenente-Coronel Bernardo Halfeld e dr. Ernesto

Braga.53

Nesta época, parecia haver uma verdadeira conjugação de fatores que

faziam de Juiz de Fora um excelente pólo de atração de investimentos. De acordo

com o professor Almir de Oliveira:

A cidade crescia. Sua população ganhara outra fisionomia. Aquela

urbs de gente rural assumia o aspecto de um burgo comercial e

industrial. Construíam-se edifícios públicos, melhoravam de

aspecto as construções particulares, veio o telefone, vieram os

bondes puxados a burros, multiplicaram-se as escolas secundárias e

51 Id. Ibd. p.22. 52 Id. Ibd. p.24. 53 Id. Ibd. p.28.

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chegaram as superiores, fazia-se saneamento, o poder público

introduzia melhoramentos... Em 1877, eram 872 as casas

residenciais aqui existentes, o que autoriza a estimativa de uma

população de cerca de 5.000 habitantes. Em 1855, essa população

já ascendera a 17.622 habitantes. Desenvolviam-se as atividades

culturais, multiplicavam-se os jornais.54

Passaglia considera a década de 1880 como aquela de reorganização da

urbe:

A década de 1880 pode ser considerada como sendo a da

organização da urbe, em moldes de uma cidade sintonizada com o

seu então mundo contemporâneo. Aquela fisionomia roceira,

apesar de nunca ter imperado, devido à contribuição pioneira do

imigrante alemão, via-se gradativamente substituída por um padrão

de vida que refletia os seus estreitos laços com a Corte.55

No dia 7 de janeiro de 1888, antes mesmo da aprovação final do projeto

pela Câmara Municipal, Mascarenhas promoveu a reunião de fundação da

Companhia Mineira de Eletricidade. Ao mesmo tempo, a tecelagem ia sendo

concretizada. “Funcionando em prédio imponente, com 46 janelas

estrategicamente dispostas de forma a possibilitar a penetração da luz solar, além

da livre circulação de ar, a Tecelagem Mascarenhas logo se incorpora à economia

de Juiz de Fora.”56

Antes da inauguração da iluminação, a cidade já se encontrava em franco

processo de industrialização. Já havia em Juiz de Fora nada menos do que dez

estabelecimentos industriais, além de quase uma centena de oficinas de artesanato

e manufatura.57

Mesmo assim, foram inúmeras as dificuldades enfrentadas por

Bernardo Mascarenhas, que teve que ir à imprensa para defender o seu projeto,

54 OLIVEIRA, Almir de. O advento da energia elétrica em Juiz de Fora. In: INSTITUTO

HISTÓRICO E GEOGRÁFICO, História econômica de Juiz de Fora: subsídios. Juiz de

Fora: 1987. p.87.

55 PASSAGLIA, Luiz Alberto do Prado. Preservação do patrimônio histórico de Juiz de Fora.

Op. cit. p.135. 56 BOTTI, Carlos Alberto Hargreaves (coord.). Companhia Mineira de Eletricidade. Op. cit.

p.30. 57 Cf. OLIVEIRA, Almir de. O advento da energia elétrica em Juiz de Fora. In: INSTITUTO

HISTÓRICO E GEOGRÁFICO. História econômica de Juiz de Fora: subsídios. Op. cit.

p.83-85.

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acusado do pôr em risco a vida dos cidadãos. Apesar das dificuldades, da

campanha da imprensa, que discutia os riscos da eletricidade, Juiz de Fora tem a

primeira experiência com iluminação pública, no dia 22 de agosto de 1889, às 21

horas.

A cidade virou uma festa. Foguetes, banda de música, a população

nas ruas saudava o evento. Pela primeira vez a parte sul do

continente visualizava as luzes da energia, captada da força de um

rio. Em passeata festiva, a multidão extasiada dirigiu-se à

Tecelagem Mascarenhas onde o Sr. Fonseca Hermes saúda

enfaticamente Bernardo Mascarenhas pelo sucesso da

experiência.58

Sobre este momento tão fundamental na vida da cidade, Oliveira tece os

seguintes comentários:

Numa época em que, na Exposição de Paris, a lâmpada elétrica

ainda era objeto de curiosidade pública, Juiz de Fora se iluminava

toda com ela! Enquanto no Velho Mundo ainda rodavam tantos

motores movidos a vapor, em Juiz de Fora instalavam-se motores

elétricos! Enquanto a indústria de energia elétrica ia se

implantando na base da força térmica, do carvão, Juiz de Fora

inaugurava na América do Sul a exploração industrial da energia

hidráulica! E, enquanto muitas cidades importantes deste País

afundavam no marasmo pós-abolição da escravidão, Juiz de Fora

arrancava para ser a mais importante cidade mineira e uma da mais

importantes do Brasil, oferecendo um exemplo que frutificou por

sua indiscutível excelência.59

Mascarenhas enfrentou inúmeras dificuldades para manter o sistema em

funcionamento e, não fosse a sua fibra e perseverança, teria provavelmente

desistido. Mas, pelo contrário, expandiu o fornecimento de energia que, em 1896,

já também atendia às indústrias instaladas na cidade. Aliás, a energia elétrica

atraiu para Juiz de Fora várias novas fábricas. “(Bernardo Mascarenhas) saiu a

fazer propaganda, na Capital do Império, da capacidade de Juiz de Fora e da sua

58 BOTTI, Carlos Alberto Hargreaves (coord.). Companhia Mineira de Eletricidade. Op. cit.

p.41. 59 OLIVEIRA, Almir de. O advento da energia elétrica em Juiz de Fora. In: INSTITUTO

HISTÓRICO E GEOGRÁFICO. História econômica de Juiz de Fora: subsídios. Op. cit.

p.92.

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indústria de energia elétrica para receber outras indústrias”.60

Ao mesmo tempo, a

Companhia diversificava as suas atividades, adquirindo, em 1893, a concessão do

serviço telefônico. Na cidade, existiam, na época, cerca de 100 aparelhos

telefônicos apenas. Apesar de seu grande empenho e energia, Bernardo

Mascarenhas não viveria o suficiente para ver completados todos os seus sonhos

de pioneiro. Em 9 de outubro de 1899, ele morre subitamente, depois de sofrer

um ataque cardíaco fulminante.

Pouco mais de uma década transcorreu após a morte de Mascarenhas, e

sua família, desinteressada de tocar o negócio, perde o controle acionário da

CME. Em 1907, a Companhia Mineira de Eletricidade, que já era proprietária

também da Ferro Carril Bondes de Juiz de Fora, passa às mãos do grupo Assis-

Penido. O oferecimento de energia hidrelétrica, na cidade, foi um fator inegável

de atração de novos investimentos. “... Juiz de Fora em 17 anos triplica seu

parque industrial, o que corresponde a uma taxa de crescimento da ordem de 13%

ao ano”.61

Na observação de Pedro Nava, havia, na cidade, no início do século, um

grupo de empreendedores, ainda ligados em sua maioria a uma estrutura familiar,

que se lançaram à construção de uma cidade, levando em conta um projeto que

não era apenas industrial, mas que pensava o perfil do local como um todo. Este

grupo privilegiado, junto aos imigrantes, deu a Juiz de Fora as características que

a fizeram uma cidade ímpar no cenário do início do século. Os Andradas, os

Penidos, os Burniers, os Monteiros, os Teixeira Leites, os Assis, os Ribeiros de

Oliveira, os Batistas de Oliveira, os Badarós, os Mascarenhas, os Valadares, entre

muitos outros, foram os donos de um império:

Das fazendas, das companhias, das empresas, das indústrias, das

fábricas, do prestígio nas profissões liberais, das santas-casas, das

confrarias, das obras pias, das gotas-de-leite, das sopas-dos-pobres,

das irmandades e dos apostolados. Uma piedade exemplar fazia

chover sobre todos as bênçãos da Igreja e os juros das apólices.

Deste modo, tocar num só era pôr en branle e a favor, o executivo,

o legislativo, o judiciário, os correligionários, os compadres, os

60 Id. Ibd. p. 87.

61 BOTTI, Carlos Alberto Hargreaves (coord.). Companhia Mineira de Eletricidade. Op. cit. p.

86.

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afilhados, os primos de primos dos primos, os contraparentes, Guy

de Fongaland, Santa Teresinha do Menino Jesus, Nossa Senhora do

Perpétuo Socorro, a dos Navegantes, a dos Aflitos, a de Lurdes, o

Padre, O Filho e o Espírito Santo... Desses degraus - não precisava

esforço para dominar politicamente. É o que aconteceu com essa

elite durante uns cem anos da história de Minas e da Mata, e se

agora ela começa a perder força, poder e cabedais - é em virtude

daquela lei pendular que dá a pais fascistas, filhos comunistas, e às

gerações poderosas, descendências demissionárias...62

1.5 - O esvaziamento econômico

Muitos pesquisadores têm se debruçado sobre a tarefa de tentar encontrar

as razões que tiraram de Juiz de Fora a posição de pioneirismo no estado,

deixando no ar uma nostalgia até hoje fácil de ser encontrada entre seus

habitantes. A sofreguidão do desenvolvimento observada no período de 1889 a

1914, já não se repete entre 1915 e 1930, quando se observa um prenúncio de

esvaziamento econômico. O pesquisador Domingos Giroletti aponta quatro

razões fundamentais para tal fato: a transferência de recursos para o Rio de

Janeiro, devido principalmente à capital federal centralizar a comercialização e

exportação de café; em segundo lugar, o deslocamento do eixo econômico do

país, do Rio de Janeiro para São Paulo, em face do desenvolvimento da lavoura

cafeeira naquele estado; a reordenação interna da economia mineira - a

implantação de nova malha ferroviária e rodoviária no estado que enfraquecia a

situação de Juiz de Fora como entreposto comercial, a transferência da capital de

Minas, de Ouro Preto para Belo Horizonte, que gerou custos elevadíssimos,

comprometeu a capacidade de investimento do estado e sobrecarregou a Mata

Mineira com forte contribuição fiscal -; finalmente, o interesse em viabilizar Belo

Horizonte como pólo econômico, o que atraiu a migração interna de capitais e

recursos humanos, além do distanciamento geográfico de Juiz de Fora em relação

à capital, que dificultava as condições de pressão política. O pesquisador também

identifica fatores estritamente locais, que contribuíram para a desaceleração

econômica: a difícil condição dos transportes de carga, cujas altas tarifas passam a

inviabilizar determinadas atividades econômicas, e o fornecimento de energia, que

62 NAVA, Pedro. Baú de ossos. Op. cit. p.270- 271.

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suscitava reclamações quanto ao preço das tarifas e, ao mesmo tempo, inicia a

década de 20 com a sua capacidade de fornecimento esgotada.63

A escritora Rachel Jardim capta um pouco do que foi este período da

história da cidade, em seu livro Os anos 40, descrevendo o sentimento que a

acompanha, depois de assistir à matinê do Cine Theatro Central:

A vida era mais imaginada do que vivida. Não havia sofreguidão

em viver. Havia espera. O ritmo era lento. Um dia me

perguntaram - o que vocês faziam em Juiz de Fora, naquela época?

Esperávamos. E nessa espera, fora e dentro de nós, as coisas

aconteciam.64

Juiz de Fora parecia esperar por um novo momento, por um novo ciclo

econômico que pudesse dar à cidade um Norte, um rumo a seguir, uma vocação.

Com o desenrolar da história, o prenúncio de uma nova década, os mineiros de

novo no poder com Juscelino Kubitscheck, uma nova dimensão de

desenvolvimento parecia se aproximar.

A tendência que parece clara, delineando-se no final dos anos 50, em

termos de um novo perfil da cidade, é que ela deixa definitivamente de lado o

modelo de Manchester Mineira, para se transformar, cada vez mais, num pólo de

referência na prestação de serviços. Neste aspecto, até mesmo a federalização das

antigas escolas e faculdades isoladas de ensino superior, como veremos no

decorrer do próximo capítulo, parece ter corroborado um processo natural da

tendência do crescimento da cidade.

Nos anos sessenta, talvez a imagem nacionalmente mais conhecida de Juiz

de Fora seja a da saída das tropas em direção ao Rio de Janeiro, na deflagração da

Revolução de 64. O antigo pioneirismo observado entre os capitalistas do início

do século parece ter cedido lugar ao conservadorismo das lideranças empresariais

e rurais, pouco à vontade com o discurso de esquerda, que aqui também formou

63 Cf. GIROLETTI, Domingos. Industrialização de Juiz de Fora. Juiz de Fora: EDUFJF, 1988.

Apud BOTTI, Carlos Alberto Hargreaves (coord.). Companhia Mineira de Eletricidade.

Op. cit. p. 97-98. 64 JARDIM, Rachel. Os anos 40: a ficção e o real de uma época. 2.ed. Rio de Janeiro: Livraria

José Olympio Editora, 1979. p.9.

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grandes lideranças sindicais, entre elas, a de Clodismith Riani, que foi presidente

da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria, e que liderou uma

campanha nacional de sensibilização do Congresso Nacional para a aprovação da

lei, que, em 1962, foi sancionada pelo presidente João Goulart, criando o 13º

salário.65

Nos anos setenta, observa-se uma mudança acelerada nas características da

cidade. Em janeiro de 1977, é criada a Agência de Desenvolvimento Regional de

Juiz de Fora, com a intenção de discutir o perfil do município. Talvez forjada no

mesmo modelo econômico adotado pela ditadura militar, observa-se, nesta época,

uma tendência à estatização e à concentração da atividade econômica nas mãos do

Estado. Símbolos do pioneirismo e da iniciativa privada desaparecem do cenário

da cidade:

O ano de 1979 marca o encerramento em Juiz de Fora das

atividades das duas empresas criadas por Mascarenhas. Em março,

o Diário Mercantil registra a falência da Companhia Têxtil

Bernardo Mascarenhas e, em dezembro, a Cemig assume o controle

acionário da Companhia Mineira de Eletricidade.66

1.6 - As privatizações e os grandes projetos industriais

No início da década seguinte, isto é, em 80, já em andamento o projeto de

abertura política, engendrado pelo general Figueiredo, a cidade de Juiz de Fora

vive um novo momento. É aquele em que o governo municipal tenta atrair para o

município grandes projetos industriais, que pudessem revigorar sua economia. A

cidade já não encontra, entre a sua elite empresarial, se é que ela ainda existe, o

perfil pioneiro, autóctone, que caracterizou o final do século XIX e o início do

século XX. No início dos anos 80, parece haver carência de lideranças capazes

de propor alternativas viáveis de desenvolvimento. O governo municipal apela,

então, para projetos de fora, externos, alguns sem a menor ligação com a tradição

industrial de Juiz de Fora, outros com algum vínculo com a cidade. Entre estes

últimos, encontram-se o da Siderúrgica Mendes Júnior e o da Companhia

65 Cf. BOTTI, Carlos Alberto Hargreaves (coord.). Companhia Mineira de Eletricidade. Op. cit.

p.166. 66 Id. Ibd. p. 105.

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Paraibuna de Metais. Ambos começaram a ser discutidos na década de 70, mas,

devido já a uma certa escassez orçamentária do Estado, só foram viabilizados nos

anos 80. Apesar de investimentos privados, tiveram amplo apoio e participação

para sua viabilização de órgão públicos, através de doação de terrenos, execução

de obras de infra-estrutura, incentivos fiscais etc. É curioso observar que, no caso

da escolha da cidade para sediar os empreendimentos, pesou o aspecto afetivo, já

que os donos de ambas as empresas tinham nascido em Juiz de Fora e alegaram

que este aspecto influenciou definitivamente na escolha do espaço.

Nos anos 90, esses investimentos passam por outra transformação. É a

década da economia neoliberal, que prega uma participação cada vez menor do

Estado na atividade econômica. Juiz de Fora também sente esta alteração, que

aponta no sentido da privatização e da globalização dos investimentos

econômicos. Em 7 de agosto de 1997, acontece o leilão de privatização do antigo

Banco de Crédito Real, uma das primeiras casas bancárias do estado, fundada em

Juiz de Fora. O banco é comprado pelo Bradesco. O ramal mais rentável da Rede

Ferroviária Federal, com sede em Juiz de Fora, passa à concessão da MRS

Logística. A BR-040, uma das mais modernas rodovias do país, cuja duplicação e

modernização, no trecho Juiz de Fora-Rio de Janeiro, tinham sido efetuadas no

governo Figueiredo, é privatizada e passa a ser explorada pela Concer. A

Siderúrgica Mendes Júnior é arrendada e, finalmente, comprada pela corporação

multinacional Belgo Mineira. A empresa Paraibuna de Metais é adquirida pelo

grupo Paranapanema.

Para “coroar” este novo momento da cidade, mais globalizado, mais

transnacional, é inaugurada, em Juiz de Fora, em abril de 2000, a primeira fábrica

da tradicional marca alemã Mercedes-Benz, fora da Alemanha. Hoje, não

podemos nem mesmo citar mais a Mercedes, já que, na era das grandes fusões,

ela se transformou em Daimler-Chrysler. A Mercedes, anunciada por alguns

políticos como “salvadora da pátria”, não chegou a mudar a rotina da cidade. Os

alemães não trouxeram nenhuma redenção e vários deles já voltaram para casa,

depois do processo inicial de implantação da montadora. No início do ano 2001, a

empresa já realizou demissões. Não surgiu nenhum novo Eldorado, pelas mãos

do confortável, seguro, mas pouco vendável Classe A.

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No novo cenário mundial, veloz, mutante, competitivo, Juiz de Fora nos

parece, como tantas outras cidades, viver o impasse entre a tradição e o futuro, as

referências da modernidade, de um modelo que deu certo, para as incertezas do

mundo contemporâneo, complexo, sem nenhuma verdade absoluta. A construção

- ou o resgate? - da identidade é um processo sem regras. Juiz de Fora não é mais

“um trecho de terra cercado de pianos por todos os lados”, como escreveu o poeta

Murilo Mendes, referindo-se à cidade do início do século.67

Para o jornalista,

escritor e político Fernando Gabeira, Juiz de Fora é o retrato de uma saudade:

Talvez já não consiga lembrar de fatos ocorridos, acontecimentos

históricos com sua sequência lógica. Juiz de Fora vai ficando cada

vez mais um domínio de puras sensações: a neblina, o churrasco de

bolas de queijo, cachaça de coco, Padre Isnard e seus filmes contra

a doença venérea. Em Juiz de Fora quem manda sou eu, morena.

Desde que não me perguntem quem sou eu.68

Hoje, o poeta e professor Edimilson de Almeida Pereira se sente incapaz

de descrever com exatidão o que é a cidade: “ela perdeu a linguagem”.

Certos lugares perderam

a linguagem o que vemos

não é o que sucedeu.

Tudo impele a memória

Na direção das formas.

E lemos com olhos

O que aos olhos escapa.

Talvez porque escrito

Nessa linguagem em obras.69

67 MENDES, Murilo. Transístor: antologia de prosa (1931-1974). Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 1980. p.54. 68 GABEIRA, Fernando. Saudade de Juiz de Fora. Juiz de Fora, Rio de Janeiro: Jornal do Brasil,

ano 1, p. 58. 27 jul. 1997. Encarte especial. 69 PEREIRA, Edimilson de Almeida. Águas de contendas. Curitiba: Secretaria de Estado da

Cultura,1998. p.103.

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Capítulo 2

A UNIVERSIDADE E A CIDADE

Para melhor compreendermos as relações que vamos tentar estabelecer

entre o desenvolvimento de Juiz de Fora e a evolução da educação,

principalmente, da educação superior, cujos investimentos são feitos com o

propósito de garantir que a cidade atinja o “progresso” sonhado, vamos caminhar

um pouco de volta na história, resgatando, na Idade Média, o momento inicial da

formação das cidades e também das universidades, como nós as conhecemos hoje.

Isto é, numa das hipóteses do trabalho, a Universidade seria um dos frutos da

cidade, e a cidade também fruto da Universidade, dentro de uma concepção de

cidade, como a temos hoje, sem ainda fazermos nenhuma tentativa de esboço do

que será a cidade do futuro, ou a Universidade do futuro, a partir da revolução

tecnológica do novo milênio.

2.1 - A origem da Universidade e o seu percurso histórico

A Universidade atual teve suas origens em corporações de estudantes e

mestres da Idade Média, denominadas Studia Generalia. De acordo com Newton

da Costa, essas corporações estavam localizadas principalmente na Europa

Ocidental, recebiam mestres e estudantes de várias partes do continente e se

desenvolviam no seio da Igreja Católica. “Guildas e outros grupos sociais se

desenvolveram a partir dessas corporações, formando as assim chamadas

universitates, nome que de início designava qualquer comunidade ou corporação

de ofícios”70

Eugenia Barichello completa:

O termo Universitas, em latim medieval, significa basicamente

duas coisas: por um lado, uma comunidade urbana considerada sob

o ponto de vista de sua coesão sócio-estrutural, mas também por

sua capacidade de ser “una” e de possuir algum tipo de 70 COSTA, Newton C. A. da. O professor ideal. In: DORIA, Francisco Antônio (coord.). A crise

da universidade. Rio de Janeiro: Revan,1998. p.119.

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personalidade jurídica; de outro lado, significava a corporação, a

associação de pessoas unidas em torno de um trabalho comum. Só

mais tarde, na baixa Idade Média, por analogia com estes dois

significados, o termo universitas passou a significar o

agrupamento daqueles - professores e estudantes - que faziam da

cultura e do aprendizado o objeto de sua profissão.71

Os três campos de formação que caracterizam a origem das universidades

medievais são a Teologia, Paris, o Direito, Bolonha, e a Medicina, Montpellier.

Inicialmente criadas de forma quase que espontânea, as universidades passam aos

poucos para a esfera de poder de papas e imperadores, sendo instituídas, então,

por bulas papais e imperiais. A expansão das universidades dá-se ao longo dos

séculos XII e XIII na França, Toulouse; Inglaterra, Oxford e Cambridge; Itália,

Siena, Pavia e Nápoles; Espanha, Salamanca, Valencia e Valladolid; e Portugal,

Coimbra.72

De acordo com o professor Roberto Romano, na “urbe renascente”, “o

trabalho acadêmico, como todos os demais, é um ofício: negotia scholaria”.73 Para

Romano, Universitas, no início da instituição, significava apenas o conjunto de

pessoas, alunos e docentes, que operavam na pesquisa e no ensino, dentro de uma

cidade.74 Mas este ofício ainda não foi de todo domesticado e enquadrado nos

parâmetros dos iniciantes processos de produção, tanto que é comum o conflito

entre os universitários e os moradores das cidades.

Para Jacques le Goff:

É que os estudantes representam, na cidade, um corpo estranho e frequentemente

encarado com hostilidade. Curiosamente, talvez sejam eles, entre os imigrantes

vindos para a cidade (...) os mais malquistos. Faz-se a eles a mesma censura que hoje se faz àqueles que vêm das periferias: perturbam a vida dos bons burgueses,

dos bons cidadãos.75

71 BARICHELLO, Eugenia Mariano da Rocha. Universidade e comunicação: identidade

institucional, legitimidade e territorialidade na cena da nova ordem tecnocultural.

Orientador: Muniz Sodré. Rio de Janeiro: Escola de Comunicação/UFRJ, 2000. p.2.Tese

de doutorado. 72 Cf. TRINDADE, Hélgio. Universidade, ciência e estado. In: TRINDADE, Hélgio (org.).

Universidade em ruínas: na república dos professores. 2. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes/Rio Grande do Sul: CIPEDES, 1999, p.12-13.

73 ROMANO, Roberto. Universidade: entre as Luzes e nossos dias. In: DORIA, Francisco

Antônio (org.). A crise da universidade. Rio de Janeiro: Revan, 1998. p.17. 74 Id. Ibd. p.17. 75 LE GOFF, Jacques. Por amor às cidades: conversações com Jean Lebrun. Trad. Reginaldo

Carmello Corrêa de Moraes. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1988. p.66.

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Mas a relação das cidades com os estudantes não é somente conflituosa.

Tanto ontem, como hoje, a relação é ambígua. Jacques Le Goff chama a atenção

para o fato de que as universidades significavam para as cidades um bom negócio,

no sentido em que movimentavam o mercado de aluguéis e pelo fato dos

universitários virem, em sua maioria, da pequena nobreza, isto é, eles

representavam consumidores que interessavam à cidade.

De um lado, as cidades celebram suas universidades e seus

universitários porque encontram nisso prestígio e mesmo lucros,

mas, de outro, não se aplaca a hostilidade que se experimenta a seu

respeito. Os estudantes constituem um mundo de jovens, e os

jovens da Idade Média - talvez isso não tenha mudado tanto - são

agitadores. Como se dizia nas abadias, eles tornam mais difíceis o

consenso e o bom governo, que se buscava tão febrilmente tanto

ontem como hoje. A inovação intelectual e social frequentemente

andava de mãos dadas com a agitação, como em todos os setores

do viveiro humano.76

A dificuldade das relações entre a Universidade e a cidade faz com que ela

busque a proteção mais distante, do papado, primeiramente, e, posteriormente, do

Estado. De certa forma, ter o apoio necessário à manutenção e sobrevivência

significou, em vários sentidos, a perda da liberdade original, mesmo assim, como

moeda de troca, o apoio dos papas significou prestígio e fundamentação da

instituição.

Por razões evidentes, os universitários perderam sua autonomia.

Primeiro, por motivos ideológicos: a Igreja não podia tolerar o

livre-pensamento, ela devia controlar absolutamente o ensino nas

universidades. De outro modo, os mestres não podiam obter meios

de viver a não ser através da Igreja: aquilo que organizaram de

início, a collecta, a “subscrição” junto aos estudantes, convinha

apenas enquanto estes permanecessem pouco numerosos, a partir

do momento em que verdadeiramente se teve um ensino de massa

nas universidades, esses jovens - mesmo aqueles que vinham de

uma família nobre - continuavam incapazes de poder pagar por seu

ensino. Além disso, a cidade não estava disposta a pagar seus

mestres, os quais de forma alguma dela derivavam: eles não eram

leigos, mas letrados.

Isso não impede que tivesse curso um certo número de novidades,

até mesmo pensamentos ousados. As universidades resistiram às

intervenções dos príncipes e das cidades. Pádua, por exemplo, até

o século XVI, foi um centro de difusão das idéias de Avérrois, que

76 Id. Ibd. p.67.

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julgaríamos muito avançadas, próximas do livre-pensamento. E,

desde o século XIII, surgiu um slogan sobre o poder, afirmando

que o verdadeiro poder, aquele que os juristas chamavam de

potestas do direito romano, apresentava doravante três aspectos:

regnum, a realeza, o governo, isto que chamamos de poder público;

sacerdotium, os padres, o clero e...studium, o saber, isto é, a

universidade.77

A sedução do poder parece finalmente sinalizar os rumos que a

Universidade toma a partir do século XV. O Renascimento significará uma

ruptura com os padrões da Idade Média, principalmente na Itália. “O

desenvolvimento das universidades de Florença, Roma e Nápoles e da Academia

da Neoplatônica serão centrais para o fim da hegemonia teológica e o advento do

humanismo antropocêntrico.”78

Com o desaparecimento do feudalismo, a

Universidade vai deixar de lado seu aspecto corporativo e ainda artesanal e se

firmar como instituição ligada ao Estado, que ganha uma nova dimensão

influenciada ainda mais pela Reforma e a Contra-Reforma.

De acordo com Roberto Romano, “a corporação escolar deixa de ser o

debate permanente, inquieta busca, para se acomodar enquanto casta sem contato

com a cidade, orientada pelos interesses do Estado ou da Igreja”.79

Durante a

Renascença, observa-se cada vez mais, segundo o pesquisador, uma convergência

de interesses entre o Estado e a Universidade e uma cisão cada vez maior entre a

Universidade e o livre-pensar. “O saber científico e humanístico brotou fora da

Universidade e contra ela.”80

O amplo desenvolvimento da Física, Astronomia e

Matemática, a criação dos primeiros jardins botânicos, museus e laboratórios

científicos marcarão a passagem do século XVII para o século XVIII, mas as

ciências experimentais só serão absorvidas pela Universidade de forma lenta.81

O contexto social que vai gerar a Universidade moderna se caracteriza pelo

forte desenvolvimento das ciências, do Iluminismo e do Enciclopedismo. “O fato

77 Id. Ibd. p.65. 78 TRINDADE, Hélgio. Universidade, ciência e estado. In: TRINDADE, Hélgio (org.).

Universidade em ruínas: na república dos professores. Op. cit. p.13. 79 ROMANO, Roberto. Universidade: entre as Luzes e nossos dias. In: DORIA, Francisco

Antônio (org.). A crise da universidade. Op.cit. p.17. 80 Id. Ibd. p.18. 81 TRINDADE, Hélgio. Universidade, ciência e estado. In: TRINDADE, Hélgio (org.).

Universidade em ruínas: na república dos professores. Op. cit. p.14-15.

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relevante para a evolução dos paradigmas universitários é que com o Plano de

uma Universidade russa, elaborado por Diderot para Catarina II, todas as

reformas das universidades preconizam estudos mais aprofundados de ciências

naturais e físicas”.82

Estabelece-se uma nova relação com o Estado.

Por uma lado, as universidades inglesas articulam-se com os

colégios e dobram entre 1700-1750 suas anuidades, tornando-se

acessíveis apenas à nobreza e à alta burguesia e criam vínculos

estreitos com o parlamento, mantendo-se fora do âmbito estatal.

Já na França, ao contrário, os rendimentos das Universidade e

liceus permitem a introdução do ensino gratuito, autorizado em

1719, com a redução dos salários dos professores, contra a qual se

opõem os enciclopedistas, temerosos da negligência dos mestres.

Com a expulsão dos jesuítas da França (1762), inicia-se o processo

de estatização do ensino superior pela Revolução e o Império.83

Parece encontrarmos no século XVIII as raízes da burocratização da

Universidade, que num linguajar empolado e afastado da realidade, parece

enveredar por seus próprios labirintos, sem qualquer ligação com o real.

Quando surgem as Luzes, no século XVIII, as universidades

européias, salvo poucas exceções, constituem seminários de

burocratas a serviço do Estado ou das igrejas, prestando serviços à

burguesia abastada, pouco tendo a dizer para a população como um

todo. Até o século XX, a língua oficial dos universitários é o latim,

e sua mente se manifesta como arredia a toda iniciativa no plano da

pesquisa e do ensino livres. Os intelectuais das Luzes, de maneiras

diversas, trabalham como os seus antecessores da Renascença e do

século XVII quase sempre fora dos quadros universitários.84

A Universidade, que é satirizada pelos intelectuais e cede à burocracia,

perderia desta forma o seu caráter “público”. Acreditando ter o monopólio do

conhecimento, a Universidade cederia à tentação de se fechar em torno de seus

interesses particulares. “O nome mesmo de Universidade se transforma, deste

modo, em soma de particularidades. Nasce o reino encantado da especialização

acadêmica”.85

82 Id. Ibd. p.15. 83 Id. Ibd. p.16. 84 ROMANO, Roberto. Universidade: entre as Luzes e nossos dias. In: DORIA, Francisco

Antônio (org.). A crise da universidade. Op. cit. p. 23. 85 Id. Ibd. p.21.

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O caráter público da Universidade, a necessidade de que ela se mantivesse

aberta às várias camadas da população é recorrente entre vários pensadores, da

Renascença ao Iluminismo. “De fato, se Erasmo afirma que a escola é pública ou

não existe, Diderot repete o axioma com todas as letras: ‘precisamos de uma

educação pública.’ O enciclopedista pensava que este setor deveria ser público,

nacional, laico.”86

É interessante resgatarmos as imagens que são delineadas por alguns

humanistas para a Universidade. Kant imagina a Universidade como uma fábrica,

onde trabalham os intelectuais corporativos; os intelectuais livres, por sua vez, se

reuniriam nas sociedades científicas, nas academias, cujo tamanho justifica sua

imagem como oficinas, onde trabalhariam os artesãos.87

Trata-se, segundo Paulo

Romano, de uma figura mecânica, essencial ao saber dos séculos XVII e XVIII.

Para ele, neste plano, a imagem decisiva é a da empresa. Mas o signo da contra-

revolução localiza-se no oposto desta imagética mecânica.

O século XIX, romântico e conservador, ou progressista, tentou

realizar uma síntese de organismo e mecanismo, ou uma direta

negação do segundo, em proveito do primeiro. No pensamento

conservador e napoleônico sobre a Universidade é assumida a

imagem do corpo, entidade hierárquica por excelência. (...) Uni-

versidade, unidade nacional sob um só homem.88

Romano faz uma comparação entre os pensamentos do enciclopedista

Diderot e o imperador Napoleão:

É clara a diferença: enquanto Diderot pensava a Universidade

como um serviço à nação, na sua maioria pobre, do ponto de vista

social, e sem hierarquias ad intra ou ad extra, os intelectuais que

serviam Napoleão imaginavam os campi através da figura orgânica,

hierarquizada essencialmente, com a função máxima de policiar os

espíritos. A partir deste ponto, os discursos sobre a Universidade

oscilaram entre a imagética mecânica e a do organismo.89

86 Id. Ibd. p.28. 87 KANT, Imanuel. Conflito das faculdades. 1798. Apud ROMANO, Roberto. Universidade:

entre as Luzes e nossos dias. In: DORIA, Francisco Antônio (org.). A crise da

universidade. p.25. 88 Id. Ibd. p.34. 89 Id. Ibd. p.35.

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A diferença entre os pensamentos de Diderot e de Napoleão pode ser

observada claramente, sendo que, no segundo, fica patente a subordinação da

Universidade a um Estado nacional. “Trata-se de uma corporação, mas de uma

corporação criada e mantida pelo Estado, tornando a educação um monopólio

estatal. A Universidade Napoleônica e suas Academias se estendem aos Países

Baixos e à Itália”.90

No Brasil, o modelo napoleônico é aquele que suscita mais adeptos, entre

os criadores da nossa Universidade, todos eles de influência positivista. Citando

Ivan Lins, Roberto Romano mostra como os positivistas se posicionavam

contrariamente ao modelo universitário, considerado por eles como que infectado

pelo “germe perigoso da religião, espalhado pelo clero.”91

“Compreende-se, pois,

a causa da recusa positivista de se fundar uma Universidade no Brasil: enquanto a

inteligência estivesse submetida à teologia ou à metafísica, os campi nada mais

seriam do que seminários de atraso científico e político”.92

A história das (outras) universidades brasileiras apresenta uma

gênese do tipo napoleônico: foram instauradas pelo poder federal,

com vistas à garantia de um espaço público com fundamento mais

no Estado do que na vida civil. Além disso, várias delas definem-

se na cooperação entre oligarquias regionais e poder federativo. (...)

No Brasil, os campi surgem como ato governamental tendo em

vista o controle da ordem civil, como na Alemanha descrita por

Kant, no Conflito das Faculdades.93

2.1.1 - A Universidade nas Américas

Quando analisamos a situação do desenvolvimento da Universidade nas

Américas chama a atenção a diferença entre a postura adotada pelos colonizadores

espanhóis e portugueses. A implantação das universidades na América espanhola

sucede quase que instantâneamente ao início da colonização, enquanto na

América portuguesa, a implantação das universidades é tardia, acontecendo

apenas no século XIX.

90 TRINDADE, Hélgio. Universidade, ciência e estado. In: TRINDADE, Hélgio (org.).

Universidade em ruínas: na república dos professores. Op. cit. p.16. 91 LINS, Ivan. História do positivismo no Brasil. Apud ROMANO, Roberto. Universidade: entre

as Luzes e nossos dias. In: DORIA, Francisco Antônio (org.). A crise da universidade.

Op. cit. p.37. 92 Id. Ibd. p.37. 93 Id. Ibd. p.38.

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Os conquistadores transplantam para o Caribe, no início do século

XVI, a primeira Universidade inspirada no modelo tradicional

espanhol e as colônias norte-americanas da costa Atlântica, após

enviarem seus filhos, entre 1650 e 1750, para estudar nas

universidades de Oxford e Cambridge, copiam o modelo dos

colégios ingleses adotando-os, a partir de 1636, em Cambridge

(Harvard), Philadelphia, Yale e Princenton e Columbia.94

Trindade observa que, na América Espanhola, até fins do século XVII,

existe uma rede de 12 instituições de norte a sul do continente. “A primeira é de

1538, em Santo Domingo, na América Central e, em 1613, é fundada pelos

jesuítas a sexta universidade, situada em Córdoba, na Argentina.”95

De acordo com a professora Eugenia Mariano da Rocha Barichello, “as

instituições de ensino superior latino-americanas eram geralmente controladas por

ordens religiosas, (Dominicanos, Jesuítas), ensinando principalmente Teologia e

Direito Canônico”.96

Ela completa:

... durante o período colonial, as universidades da América

espanhola diplomaram 150.000 alunos (1577 - 1822). Sabemos

que, só na Universidade do México, no período entre 1775 e a

independência, formaram-se 7.850 bacharéis e 473 doutores e

licenciados. Esses números ganham significado especial quando

confrontados com os referentes ao Brasil, no mesmo período (1775

- 1821), quando apenas 720 jovens brasileiros graduaram-se em

Coimbra.97

2.1.2 - A Universidade brasileira

No Brasil, a Universidade só se institucionaliza tardiamente.

No Brasil, a Universidade se institucionaliza no nosso século,

embora tenha havido escolas e faculdades profissionais isoladas

que a precederam desde 1808, quando o Príncipe Regente, com a 94 TRINDADE, Hélgio. Universidade, ciência e estado. In: TRINDADE, Hélgio (org.).

Universidade em ruínas: na república dos professores. Op. cit. p.11. 95 Id. Ibd. p.11. 96 BARICHELLO, Eugênia Mariano da Rocha. Universidade e comunicação: identidade

institucional, legitimidade e territorialidade na cena da nova ordem tecnocultural. Op. cit.

p.47. 97 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1971. Apud

BARICHELLO, Eugenia Mariano da Rocha. Universidade e comunicação: identidade

institucional, legitimidade e territorialidade na cena da nova ordem tecnocultural. Op. cit. p.

47.

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transferência da Corte para o Brasil, cria o primeiro curso de

Cirurgia, Anatomia e Obstetrícia. A “Universidade temporã”, na

expressão de Luiz Antônio Cunha, somente se organiza

tardiamente, a partir da década de 20 de nosso século. Como

observa Anísio Teixeira, o Brasil esteve fora do processo

universitário quando o tema principal do debate, no século XIX, era

“a nova universidade, devotada à pesquisa e à ciência”.98

Os primeiros graus universitários foram concedidos, no Brasil, ainda no

século XVI, no Colégio dos Jesuítas de Salvador. O colégio nunca foi

reconhecido como Universidade, durante todo o período colonial. “Dessa forma,

os estudantes que aspiravam a uma carreira reconhecida pela metrópole deveriam

deslocar-se até Portugal para finalizar seus estudos”.99

Depois, o colégio foi

extinto, devido à expulsão dos jesuítas, sendo seu prédio só posteriormente, no

século XIX, ocupado pelo Faculdade de Medicina, em 1832. De acordo com

artigo do professor Francisco Antônio Dória, não há vínculos entre este colégio e

os cursos superiores brasileiros, que surgem nos fins do século XVIII, no Rio de

Janeiro.100

Barichello situa em 1808 a criação dos primeiros cursos universitários no

Brasil:

A invasão de Portugal, por Napoleão Bonaparte, provocou a vinda

do rei D. João VI e do centro decisório da metrópole portuguesa

para a colônia, onde tudo estava por fazer. Em 1808 foram criados

os cursos de Anatomia e Cirurgia no Rio de Janeiro e na Bahia e,

em 1810, iniciados os estudos superiores de Engenharia na

Academia Real Militar. Ainda em 1808, foi criado o Horto

Florestal do Rio de Janeiro, embrião das futuras faculdades de

Agronomia.101

Francisco Dória também localiza no início do século XIX, a criação da

Universidade brasileira:

98 TRINDADE, Hélgio. Universidade, ciência e estado. In. TRINDADE, Hélgio (org.).

Universidade em ruínas: na república dos professores. Op. cit. p.12. 99 BARICHELLO, Eugenia Mariano da Rocha. Universidade e comunicação: identidade

institucional, legitimidade e territorialidade na cena da nova ordem tecnolcultural. Op. cit. p. 48.

100 Cf. DORIA, Francisco Antônio. A função da Universidade brasileira. In: DORIA, Francisco

Antônio (org.). A crise da universidade. Op. cit. p.50. 101 BARICHELLO, Eugenia Mariano da Rocha. Universidade e comunicação: identidade

institucional, legitimidade e territorialidade na cena da nova ordem tecnocultural. Op. cit.

p. 50.

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... a Universidade brasileira nasce em 11 de agosto de 1827, quando

Luiz José de Carvalho e Mello, depois visconde da Cachoeira, faz

publicar o decreto imperial que cria no país os cursos jurídicos de

Olinda e de São Paulo. Cinco anos depois, em 1832, abrem-se os

cursos de medicina, na Bahia e no Rio.102

Na análise que faz do período, Dória observa que o perfil do alunado da

Faculdade de Direito do Recife, entre 1832 e 1919, “mostra que cerca de 80% dos

alunos daquele curso superior pertenciam à oligarquia agrária nordestina, da Bahia

ao Pará”.103

Depois de formados, cerca de 20% desses alunos vão fazer parte do

aparelho burocrático do Estado, o que mostra que “ a escola superior, no século

XIX, é uma interface entre uma classe social bem definida, a elite agrária, e o

aparelho burocrático do estado imperial”.104

Segundo Barichello, “no ano da Proclamação da República (1889), o

Brasil possuía apenas cinco faculdades: duas de Direito (em São Paulo e Recife),

duas de Medicina (Salvador e Rio de Janeiro) e uma Politécnica (Rio de

Janeiro)”.105

O surgimento oficial da Universidade brasileira - Universidade do Rio de

Janeiro -, se dá num clima que Dória chama de “opereta”. A Universidade é

criada para dar ao rei Alberto, da Bélgica, em 1920, um doutorado honoris causa.

Fora este aspecto, que serve como alegoria da instituição, o objetivo maior é o de

formar pessoal qualificado para os quadros da burocracia do Estado. À frente da

Universidade, estão reitores que são representantes das elites e que também

conseguem utilizar o cargo como trampolim político. “A universidade, ainda hoje,

é uma interface que leva de uma classe, um grupo social agora mais difuso que a

antiga oligarquia agrária, ao poder da administração pública.”106

A Lei Francisco Campos, em 1931, estende a todo o Brasil o processo de

criação de universidades (Estatuto das Universidades), através do aproveitamento

102 DORIA, Francisco Antônio. A função da Universidade brasileira. In: DORIA, Francisco

Antônio (org.). A crise da universidade. Op. cit. p.51. 103 Id. Ibd. p.52. 104 Id. Ibd. p. 52. 105 BARICHELLO, Eugenia Mariano da Rocha. Universidade e comunicação: identidade

institucional, legitimidade e territorialidade na cena da nova ordem tecnocultural. Op. cit.

p.51. 106 DORIA, Francisco Antônio. A função da Universidade brasileira. In: DORIA, Francisco

Antônio (org.). A crise da universidade. Op.cit. p. 55.

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da estrutura organizacional das faculdades que já existissem previamente em

determinada localidade. O Estatuto admitia duas formas de organização: a

Universidade e o instituto isolado, podendo ambos serem oficiais (mantidos pelo

governo federal ou estadual), ou “livres”, mantidos por associações ou fundações

particulares. De acordo com Barichello, em 1945, o país tinha cinco

universidades e, em 1950, quinze; o número de matrículas aumentou de 21.235

estudantes em, 1940, para 37.548, em 1950.107

Só a partir do final da década de 50, é que a Universidade brasileira passa

por um processo de expansão, inclusive sendo abertas as primeiras universidades

do interior do país. A Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do

Sul, foi a primeira Universidade pública criada em cidade que não fosse capital de

estado, a segunda, foi a Universidade Federal de Juiz de Fora. Hoje, no Brasil,

existem 52 Instituições Federais de Ensino Superior - IFES -, incluindo

universidades e escolas isoladas.

Barichello afirma que podem ser distinguidos três sistemas de influência

no modelo de ensino superior brasileiro:

O primeiro foi implantado junto com os cursos superiores

instalados no início do século XIX (a partir de 1808). Já o segundo

foi introduzido com a Lei Francisco Campos, em meados do século

XX (1931), e o terceiro teve influência crescente no Brasil após a

Segunda Guerra Mundial e, especialmente, através da Reforma

Universitária de 1968.108

No próximo item, veremos como foi a origem e a evolução dos cursos que

deram origem à Universidade Federal de Juiz de Fora, objeto de nosso estudo.

2.2 - Os primórdios da UFJF

Ainda não existia a cidade, mas já existia a sala de aula. É assim, através

de uma carta escrita a um filho residente na Alemanha, em 1846, que o pioneiro

Henrique Guilherme Fernando Halfeld menciona os serviços de um mestre escola

107 Cf. BARICHELLO, Eugenia Mariano da Rocha. Universidade e comunicação: identidade

institucional, legitimidade e territorialidade na cena da nova ordem tecnocultural. Op. cit. p.

52. 108 Id. Ibd. p.46.

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Manoel, que ministrava ensinamentos às crianças da região.109

Isto significa que o

processo educacional já tinha lugar, entre a população ribeirinha, num período

ainda bastante rudimentar da história, em que não havia ainda, propriamente, uma

organização urbana.

De acordo com Botti, “em 24 de maio de 1847, a Lei Governamental nº

320 criou a Escola de Instrução Primária de Primeiro Grau”.110

A professora Lola

Yasbeck situa, em torno de 1860, a criação da primeira instituição de ensino da

cidade, o colégio do cônego Roussin.111

“Porém, há registro de uma escola, criada

antes do estabelecimento do Município - a escola do Prof. Sampaio -, dirigida pelo

Prof. José Anacleto Sampaio... ”.112

A educação popular também está presente, em

Juiz de Fora, através do ensino profissionalizante a cargo da Escola Agrícola,

instituída em 1869 para receber os filhos dos imigrantes alemães, mas é uma

experiência de curta duração.113

Até 1890, Juiz de Fora reproduz na educação o perfil corrente no

Império, durante o qual predomina, em todo o país, o ensino

particular - entre 1860 e 1890 registra-se a sua maior expansão -,

por intermédio da ação do clero nos seminários ou em escolas

confessionais, consagrando o caráter religioso, literário e retórico

do ensino secundário.114

Na verdade, o desenvolvimento industrial que é verificado a partir de

1890, com a formação de uma burguesia e também de um proletariado, é que vai

permitir a abertura da cidade a novos investimentos, entre eles, o investimento na

educação.

Da mesma forma, também a educação é vista como um

investimento necessário à expansão da economia. Dentre outras

instituições de ensino fundadas nesse período, destacam-se duas

escolas, representativas da ação das elites locais em favor da nova

ordem competitiva, mediante a atribuição de um novo perfil à

109 Cf. BOTTI, Carlos Alberto Hargreaves. Companhia Mineira de Eletricidade. Op. cit. p.109. 110 Id. Ibd. p.109. 111 YAZBECK, Lola. As origens da Universidade de Juiz de Fora. Juiz de Fora: EDUFJF,

1999. p. 30. 112 Id. Ibd. p.32. 113 Id. Ibd. p.32. 114 AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira: introdução ao estudo da cultura no Brasil.

Brasília, Ed. da UNB, 1963. Apud YASBECK, Lola. As origens da Universidade de

Juiz de Fora. Op. cit. p.32.

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educação primária, secundária e superior: o Granbery, criado em

1890, e a Academia de Comércio, cuja fundação data de 1894.115

2.2.1 - Metodistas x católicos

A instalação do Colégio Granbery, uma escola metodista, em Juiz de Fora,

não acontece sem razão. As elites da cidade cada vez pareciam mais se identificar

com o modelo liberal e pragmático observado nos Estados Unidos. Vários filhos

desta elite tinham se capacitado em terras americanas e trazido para o Brasil o

modelo de uma nova civilização que, já a partir do final do século, num Brasil

Republicano, se tornava extremamente influente no ideário nacional.

Para os metodistas, havia um sentido maior de educação em relação à

população brasileira.

As missões protestantes instalaram-se no Brasil com a missão de

civilizar a população brasileira, por intermédio da educação e da

evangelização, pretendendo alcançar a elite e o povo. Os

metodistas acreditavam que o catolicismo, com sua fé nos dogmas

da Igreja Romana, era responsável pelo atraso do país e que só a

religião protestante poderia conduzir ao progresso.116

Além disso, os missionários norte-americanos não tinham uma avaliação

positiva sobre a condições morais do povo, “considerando que a sensualidade

afro-tropical, supostamente tolerada pelo catolicismo, afrontava a moral puritana

metodista ...”117

Os católicos mais conservadores também consideravam Juiz de Fora uma

cidade pouco afeita a moralismos.

As iniciativas católicas de caráter mais conservador jamais

conseguiram sensibilizar o conjunto da intelectualidade católica

juizforana. Como se sabe, a ofensiva católica conservadora,

iniciada em meados do século XIX, encontra em Minas Gerais, um

ambiente favorável à sua expansão. Bispo da única diocese

mineira - a Diocese de Mariana -, Dom Antônio Ferreira Viçoso foi

115 YASBECK, Lola. As origens da Universidade de Juiz de Fora. Op. cit. p.33. 116 Id. Ibd. p.56. 117 Id. Ibd. p.56.

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uma das principais e mais aguerridas lideranças do

conservadorismo católico em Minas Gerais.118

A modernização era vista como ameaça, tanto que Dom Viçoso, por várias

vezes, condenou a utilização da iluminação elétrica, sonho maior de Bernardo

Mascarenhas, e tentou aumentar o número de padres na cidade.

Juiz de Fora foi alvo de várias investidas visando aumentar o

número de sacerdotes e de ordens religiosas atuantes na cidade, ao

mesmo tempo que se propagava a pureza da doutrina católica e se

repudiava a modernização como uma ameaça à fé.119

Para determinadas elites locais, mais preocupadas com o progresso do que

com a fé, o modelo de educação americana parecia o mais adequado.

Juiz de Fora foi uma escolha bastante adequada para a instalação de

uma escola metodista. A cidade era um centro republicano e, com

o acelerado processo de urbanização, a burguesia e a classe média

locais requisitam uma formação “moderna” para seus filhos, com a

intenção de prepará-los para as mudanças políticas e sociais em

curso no país. Além disso, o grande número de imigrantes,

calculado em 20% da população, torna ainda mais fácil a

receptividade aos norte-americanos.120

O comportamento religioso de Juiz de Fora, segundo Yasbeck, sempre

esteve marcado por um certo distanciamento das práticas rígidas do catolicismo,

tão arraigadas na cultura mineira. Para ilustrar este comportamento, a autora faz

uma referência a Pedro Nava, quando, no Baú de Ossos, ele descreve as

características muitos pessoais da religiosidade de sua família. No dizer de Pedro

Nava, “ser muito de Deus e pouco de padre, muito céu e pouca igreja, muita prece

e pouca missa”.121

118 MARTINS, Luciano. A gênese de uma intelligentsia. Os intelectuais e a política no Brasil:

1920 a 1940. Revista Brasileira de Estudos Sociais, vol.2, n.4, 1987. p. 165-187. Apud YASBECK, Lola. As origens da Universidade de Juiz de Fora. Op. cit. p. 57.

119 YASBECK, Lola. As origens da Universidade de Juiz de Fora. Op. cit. p. 57. 120 MESQUIDA, Peri. Hegemonia norte-americana e educação protestante no Brasil. Juiz de

Fora/São Bernardo do Campo: Ed. da UFJF/EDITEO, 1994. Apud YASBECK, Lola. As

origens da Universidade de Juiz de Fora. Op. cit. p.35. 121 NAVA, Pedro. Baú de ossos. Op. cit. p.38

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Mas os empresários católicos de Juiz de Fora não tardaram a reagir à

inauguração da escola protestante. Em 1891, é fundada a Academia de Comércio

para fazer frente à escola liberal americana.

O fundador da CME ( Companhia Mineira de Eletricidade ),

Bernardo Mascarenhas, tinha como procurador plenipotenciário

Francisco Baptista de Oliveira, diretor-fundador da CME, e

também líder de uma sociedade de empresários católicos que

fundou a Academia de Comércio para garantir formação anti-

liberal aos jovens de boa família, futuros dirigentes de suas

principais empresas.122

A Academia de Comércio não foi o único colégio católico fundado no

final do século XIX, o Colégio Santa Catarina lançou sua pedra fundamental, em

1900, pelas irmãs da Congregação de Santa Catarina; em 24 de setembro de 1902,

foi fundado o Colégio Stella Matutina, “ para formar as filhas da elite burguesa

industrial, fortalecendo a frente anti-liberal anteposta ao Instituto Granbery”.123

Vários dos cursos superiores que, hoje, integram a Universidade Federal

de Juiz de Fora surgiram no Instituto Granbery e na Academia de Comércio,

“alguns criados em estreito vínculo com a Companhia Mineira de Eletricidade”.124

A Faculdade de Farmácia e Odontologia começou por funcionar no Instituto

Granbery, em 22 de agosto de 1904, tanto quanto o curso de Direito, em 1912. O

curso de Teologia já tinha sido criado desde os primórdios do Instituto, em 1890.

É relevante observar que a Faculdade de Farmácia e Bioquímica, assim como a

Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Juiz de Fora, são as

instituições universitárias mais antigas a integrar esta Universidade. Observe-se,

além disso, que a atual Faculdade de Direito, apesar das interrupções em seu

funcionamento, é hoje uma instituição com mais de meio século.

O primeiro curso teológico da Igreja Metodista do Brasil nasceu em

prédio anexo ao Instituto Granbery. A Universidade Federal de

Juiz de Fora é dotada de um Departamento de Ciência da Religião,

que já ofereceu um curso dessa natureza. Em um estado federal

laico como é o Brasil, a existência de um Departamento de Ciência

122 BOTTI, Carlos Alberto Hargreaves (coord.). Companhia Mineira de Eletricidade.Op. cit.

p.114. 123 Id. Ibd. p.116. 124 Id. Ibd. p.117.

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da Religião, vinculado a universidades federais, só se justificaria

em uma cidade que dispusesse de um curso de Teologia da Igreja

Metodista, numa época em que todos os curso teológicos neste país

eram cursos seminarísticos. Tal curso teológico foi

subsequentemente transferido para Rudge Ramos, no Município de

São Bernardo do Campo (ABC), que originou, por sua vez, a

Universidade Metodista Rudge Ramos.125

Não só a “revanche” dos católicos orientou a criação da Academia de

Comércio, berço de vários dos cursos que hoje estão lotados na Universidade

Federal de Juiz de Fora. Enquanto os protestantes se atinham a um modelo

americano de educação liberal, empresários como Francisco Batista de Oliveira

foram buscar na Velha Europa o modelo para o empreendimento que deveria

orientar a formação das elites católicas locais.

A Academia de Comércio surge, entre 1884 e 1889, como um

projeto inovador, quando seu idealizador Francisco Batista de

Oliveira (filho de família tradicionalmente ligada ao comércio,

republicano convicto e católico fervoroso), em viagem à Europa,

estuda a possibilidade de se criar, no Brasil, uma Academia de

Comércio nos moldes das existentes em diversos países daquele

continente, com o objetivo de oferecer um curso superior na área

comercial. Francisco Batista de Oliveira encontra na Escola de

Altos Estudos Comerciais de Paris a inspiração definitiva para sua

intenção. De Paris trouxe a planta do prédio a ser construído,

espelhando-se naquela escola.126

A Academia de Comércio foi fundada apenas por investidores privados: a

escola, inicialmente, foi formada como sociedade anônima, contando com 131

ações, apesar de nem todos os acionistas, de Juiz de Fora e de cidades próximas,

terem chegado a integralizar o capital.

O lançamento da pedra fundamental do prédio da Academia de

Comércio de Juiz de Fora ocorre em 5/12/1891 e, antes de

completar três anos, festeja-se a sua inauguração, dando início às

aulas do 1º Curso de Comércio do Brasil. Para a organização

pedagógica é contratado, na Escola de Altos Estudos Comerciais de

125 Id. Ibd. p.117. 126 YAZBECK, Lola. As origens da Universidade de Juiz de Fora. Op. cit. p.42.

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Paris, o professor e diretor Georges Quesnel, funções que exerce

até 1896.127

Mas, apesar do apoio obtido entre empresários, por doações, e o governo

do estado, que enviou subvenções para a escola, o que já se pode antever é que, de

certa forma, existe um clima de desconfiança dos centros maiores com relação a

investimentos como este, da Academia de Comércio, numa cidade de interior.

A Academia de Comércio passa a ser notícia em jornais de diversas

cidade mineiras, de São Paulo e do Rio de Janeiro, evidenciando o

interesse e a expectativa em torno dessa iniciativa. Contudo, não

desfruta do apreço de todos. Seus cronistas deixam entrever que

um empreendimento desse porte, em uma cidade do interior, ainda

que progressista - como faziam questão de afirmar - causa certa

desconfiança e insegurança.128

Apesar das dificuldades, o sonho dos pioneiros acabaria se concretizando

sob a administração da Congregação do Verbo Divino, que assume o

empreendimento, e, em 1906, cria o 1º Curso Superior Comercial Noturno do

Brasil. Mesmo assim, o curso só sobrevive até 1910.

Da mesma forma que os metodistas tiveram o sonho de criar, em Juiz de

Fora, a primeira Universidade Metodista do Brasil,129

os católicos sonhavam, no

início do século XX com a criação de uma Universidade Católica.130

O embrião

para a concretização deste sonho se deu com a inauguração, na Academia de

Comércio, em 23 de março de 1909, do Instituto Politécnico, que compreendia

três ramos: eletricidade ou eletrotécnica, arquitetura e agrimensura.

127 Id. Ibd. p.46. 128 Id. Ibd. p.47. 129 O sonho universitário está, hoje, sendo retomado pelo Instituto Granbery da Igreja Metodista,

que inaugurou, em 1999, um curso particular de Administração, tendo outros cursos, como

o de Magistério Superior, já aprovados pelo MEC e estando investindo na Pós-graduação:

Informática, em convênio com a Universidade Federal de Viçosa , e Engenharia de

Produção, em convênio com a Universidade Federal de Santa Catarina, este último, na modalidade de ensino a distância.

130 A antiga Academia de Comércio, fundada pelo grupo católico, hoje, Escola Cristo Redentor,

ainda não é uma Universidade, mas mantém, em Juiz de Fora, mais de cinco cursos de nível

superior - Letras, Informática, Geografia, Psicologia etc.-, além de vários outros em

andamento, como o de Fonoaudiologia, é a maior escola privada da cidade de ensino pré-

escolar, fundamental e médio.

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2.2.2 - O ensino superior laico

Aos poucos, as primeiras escolas de nível superior de Juiz de Fora,

mantidas por ordens de congregações religiosas, vão assumindo uma nova

tendência e se transformando em escolas laicas.

Em Juiz de Fora, as Escolas de Farmácia e Odontologia e de

Direito e Engenharia desvinculam-se das instituições confessionais

Granbery e Academia de Comércio, respectivamente, em 1913 e

1914, e inauguram um novo período caracterizado pela existência

de instituições laicas de ensino superior.131

A história dessas escolas é marcada pela constante dificuldade de

equilibrar receita e despesa, atrair alunos, garantindo o número de matrículas que

viabilizassem as instituições e atender às exigências legais, quanto a currículos e

outros aspectos burocráticos, que garantiriam o reconhecimento dos diplomas

pelas instâncias superiores. Apesar das dificuldades, novos cursos são criados, na

tentativa de atrair novos alunos. Em 1924, é aberto o curso de Medicina

Veterinária, mas o número de matrículas fica aquém do esperado e o curso de

Veterinária acaba fechando as portas.

A Escola de Engenharia de Juiz de Fora, fundada em 17 de agosto de

1914, além de vários problemas administrativos internos que marcam sua

trajetória, enfrenta constantemente o problema da escassez de recursos e tem que

apelar para subvenções oficiais para garantir o seu funcionamento.

A Faculdade de Direito, fundada em 13 de janeiro de 1914, dá início às

aulas em fevereiro, mas logo no ano seguinte, 1915, se vê obrigada a cerrar suas

portas, apesar dos protestos da comunidade, por causa de uma reforma do ensino

decretada pelo governo federal que estabelecia que apenas cidades com mais de

cem mil habitantes, com exceção das capitais, poderiam sediar cursos de Direito.

Juiz de Fora, na época, tinha 30 mil habitantes. A reforma fechou os dois cursos

que funcionavam, então, na cidade: o do Instituto Granbery e o da Faculdade

laica.

131 YAZBECK, Lola. As origens da Universidade de Juiz de Fora. Op. cit. p.61.

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Nos anos 30, a legislação federal passa a ser estimulante para a criação de

unidades isoladas de ensino superior e isto beneficia a cidade, que observa uma

expansão na criação de novas escolas e retomada de antigos projetos, como os das

Escolas de Direito e Medicina, além de Medicina Veterinária. Esta última

encerrou suas atividades em 1940, por não conseguir cumprir a legislação.

Em 1934, após um longo e persistente trabalho de estudantes e

intelectuais junto aos órgãos públicos, a Escola de Direito é reaberta, tendo sido

reconhecida em 1942, depois de um intenso trabalho para atender às exigências

legais de funcionamento, já quando da formatura da sua primeira turma.

Após várias inspeções do Conselho Nacional de Educação, alguns

pareceres favoráveis e outros contra, readaptações do regimento

interno e da contabilidade, sempre acompanhadas por alguns dos

professores da Faculdade, e muito de perto pelos alunos, o

conselheiro (do conselho Nacional de Educação) Paulo Parreiras

Horta, em 8 de abril de 1940, vota em separado o parecer,

declarando-se favorável ao reconhecimento da Faculdade,

defendendo a instituição e as condições da cidade para requerer um

curso de Direito.132

Mesmo assim, as restrições às condições da biblioteca da Faculdade e a

exigência de muitos documentos referentes à situação financeira da instituição

ainda atrasam por dois anos o reconhecimento definitivo, que só acontece em

1942. Mesmo reconhecida e funcionando regularmente, a Faculdade de Direito

luta pela sua manutenção. A Prefeitura Municipal, na época, contribui com

subvenções e a Câmara doa bolsas para estudantes carentes.

Em 1950, realiza-se a primeira ação concreta para um efetivo

vínculo com o Estado, através de um proposta de federalização

feita pelo Deputado Jarbas de Lery Santos, único representante de

Juiz de Fora, naquela legislatura, no Congresso Nacional. Nesse

mesmo ano, o governo estadual acena com a possibilidade de

subvencionar a Faculdade, mediante apólices do Estado de Minas

Gerais e recursos para a aquisição de sede própria, cuja necessidade

já vinha sendo defendida pela administração da Faculdade desde

1948.133

132 Id. Ibd. p.111. 133 Id. Ibd. p. 112.

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A aquisição de sede própria só é possível, em 1952, com subvenções

recebidas da União e a venda de três terrenos, que tinham sido doados pela

Prefeitura Municipal. E, a partir do ano seguinte, por intervenção do deputado

federal Hildebrando Bisaglia, a Faculdade passa a receber uma subvenção federal

permanente, como várias instituições particulares espalhadas pelo Brasil. “Até

1960, ano em que foi incorporada ao Estado por ocasião da criação da

Universidade de Juiz de Fora, 427 advogados haviam sido diplomados pela

Faculdade de Direito de Juiz de Fora.”134

A Faculdade de Medicina, criada em 1935, é obrigada a encerrar suas

atividades em 1937, devido a uma séria crise financeira, sendo o seu projeto

inicial retomado apenas em 1952, a inauguração da sede sendo feita em 1953,

seguindo-se o seu reconhecimento em 1955.

A inauguração da sede ocorre no dia 16 de maio de 1953, em

sessão solene à qual comparece o Governador Juscelino

Kubitscheck, cercado e aplaudido pelas autoridades municipais. Os

vários contatos estabelecidos com o governo central traduzem-se

em uma subvenção federal no valor de Cr$ 1.500.000,00, referente

a um acordo com o Ministério da Educação e Cultura e a Diretoria

de Ensino Superior. Em 1955, o Ministério da Educação reconhece

oficialmente a Faculdade de Medicina de Juiz de Fora. Os

movimentos em favor de uma subvenção federal permanente ou da

federalização da Faculdade transformam-se em metas

administrativas, promovendo-se seguidos contatos entre a diretoria

e Juscelino Kubitscheck, sócio benemérito da entidade e, naquele

momento, Presidente da República.135

A Faculdade de Medicina diploma 46 novos médicos, entre os anos de

1958 e1960, quando passa a fazer parte da Universidade de Juiz de Fora. Na

formatura da primeira turma, em 1958, o orador, José Carlos de Castro Barbosa,

faz um discurso pedindo a federalização da faculdade. O paraninfo, para quem ia

o recado, era o presidente Juscelino Kubitscheck. Naquela época, era mais fácil

ter-se um presidente como paraninfo. Hoje...

Em 1941, a Academia de Comércio cria a Faculdade de Administração e

Finanças - FAF - , resgatando o sonho do fundador da instituição, Francisco

134 Id. Ibd. p. 113. 135 Id. Ibd. p. 120.

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Batista de Oliveira, que tinha inaugurado, anos antes, o primeiro curso de

comércio do país. Por problemas financeiros, a instituição é quase fechada, em

1944. Somente depois de reorganizado, com o apoio de professores e alunos, e

mantendo apenas vínculos formais com a Congregação do Verbo Divino, é que o

curso consegue novos auxílios, entre eles o de instituições financeiras como o

Banco de Crédito Real de Minas Gerais, que paga cinco bolsas de alunos-

funcionários, garantindo o funcionamento regular.

Em 26 de novembro de 1945, um grupo de intelectuais católicos cria a

Faculdade de Filosofia e Letras - Fafile - uma associação civil, que só mantém

vínculos com a Academia de Comércio, através da Sociedade Propagadora

Esdeva, para uso do patrimônio da Academia, até a compra de seus próprios bens.

A Faculdade viria a ser instalada em agosto de 1946, sendo seu curso reconhecido

pelo Ministério da Educação e Cultura, em 12 de novembro de 1951. Em

dezembro de 1952, formam-se as primeiras turmas. Desde sua instalação, a

Faculdade viveu dificuldades financeiras, que eram sanadas pelas contribuições

particulares de seus fundadores, todos eles membros da elite local.

A primeira diretoria eleita fica assim constituída: diretor - Joaquim

Ribeiro de Oliveira, nascido em Juiz de Fora, engenheiro formado

pela Escola de Minas de Ouro Preto, diretor da Companhia Mineira

de Eletricidade e membro do centro D. Vital e da Ação católica,

professor da cadeira de Introdução Geral à Filosofia; vice-diretor -

João Ribeiro Villaça, nascido em Juiz de Fora, médico pela

Universidade do Brasil, diretor-clínico da Santa Casa de

Misericórdia, também diretor da Companhia Mineira de

Eletricidade, proprietário rural, professor das cadeiras de

Antropologia e Etnografia; secretário - Henrique José Hargreaves,

nascido em Sabará, Minas, diretor do Banco Hipotecário Agrícola

de Minas Gerais, diretor da Companhia Mineira de Eletricidade,

membro do centro D. Vital, professor de Sociologia; tesoureiro -

Frederico Álvares de Assis, proprietário rural, empresário, diretor

da Companhia Mineira de Eletricidade e da Fábrica S. João

Evangelista, também participante de instituições católicas, formado

em engenharia pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, professor

da cadeira de Complemento de Matemática.136

136 Id. Ibd. p.134.

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2.2.3 - A gestação da Universidade (Federal) de Juiz de Fora

Na década de 50, observa-se um crescimento no número de graduandos

nas escolas de nível superior e também o primeiro movimento no sentido da

criação da Universidade federal, com envolvimento de diversos políticos da

região.

Segundo Yasbeck, inicialmente, houve uma tentativa de se fundar uma

Universidade em Juiz de Fora, através da Faculdade de Engenharia, que esteve

envolvida no projeto da Universidade do Trabalho Getúlio Vargas. Além de

homenagear o então presidente da República, a idéia era a de se fundar uma

Universidade que reuniria a Faculdade de Arquitetura, a ser criada, a Escola de

Agronomia, que durante algum tempo funcionou junto à Escola de Engenharia, e

a Escola Técnica de Juiz de Fora, a ser criada. A idéia foi descartada, depois de

agosto de 1954, por causa do suicídio do ex-presidente.

De acordo com o engenheiro Jarbas de Souza, que foi o primeiro prefeito

do Campus da UFJF, os estudantes de Engenharia, desde o final dos anos

quarenta, se envolviam em greves, que tinham por objetivo chamar a atenção das

autoridades para os benefícios da federalização. Segundo ele, na época, grande

parte dos professores do curso vinha de fora, principalmente do Rio de Janeiro,

porque a estrada para Belo Horizonte era muito ruim. Assim, os alunos achavam

que, se a Faculdade fosse uma instituição federal, os professores teriam melhores

condições de trabalho e o ensino seria melhor.137

Uma grave crise administrativa atinge a Escola de Engenharia, em 1957.

Para saldar as dívidas, é obtida até mesmo a interferência do presidente da

República, Juscelino Kubitscheck, constando da liberação de verbas, contratação

de professores, compra de material etc. A história da Escola de Engenharia como

uma unidade de ensino superior encerra-se com o Decreto nº 3858, de 23/12/1960,

que determina a criação da Universidade Federal de Juiz de Fora, dela fazendo

parte as Faculdade de Farmácia e Odontologia, de Direito, de Ciências

137 QUARENTA anos de história. Direção de Christina Ferraz Musse. Juiz de Fora:

UFJF/Produtora de Multimeios. 2000. 30 min.

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Econômicas e de Medicina. Todas são encampadas com seus respectivos

patrimônios.

O envolvimento dos estudantes com a bandeira da criação de uma

Universidade, em Juiz de Fora, é intenso. O Diretório Acadêmico da Faculdade

de Direito promove, em 1953, uma série de encontros e debates, através do

seminário “Uma Universidade para Juiz de Fora”, defendendo com dados

estatísticos os benefícios da federalização como uma garantia de melhor qualidade

de formação para os estudantes.

O ex-diretor da Faculdade de Direito, professor Almir de Oliveira, gosta

de lembrar que, em 1954, o então governador Juscelino Kubitscheck tinha

aprovado por decreto a criação, na cidade, da Universidade Estadual de Juiz de

Fora. Mas a estadualização parece não ter agradado muito às lideranças da

cidade. Nada foi feito. Tudo continuou como antes. Será que o motivo seria a

antiga richa com Belo Horizonte? Possivelmente, segundo o professor, porque

nunca nada foi feito a respeito.

A Faculdade de Filosofia ganha um papel importante no período de

discussão da criação de uma Universidade, em Juiz de Fora. A Fafile abraça a

idéia, não sem ressalvas, já que havia o receio da transformação de um grupo

idealista em meros funcionários públicos.138

Em 1957, preocupada com a prática pedagógica de seus professores, a

Fafile aprova a criação do Ginásio de Aplicação, o que vem a acontecer somente

em 24 de junho de 1965. O Ginásio ganha o nome de Ginásio João XXIII e é

também incorporado ao Estado no momento em que a Fafile passa a fazer parte da

Universidade de Juiz de Fora. “A Faculdade ministra até 1965 os cursos de

Ciências Sociais, Geografia e História, Letras, Letras Neolatinas e Didática, e um

curso de Jornalismo, iniciado em 1958 e reconhecido em 1965. 139

O curso de

Letras Clássicas é fechado em 1960, em razão do pequeno número de alunos. Em

1962, é proposta a criação do curso de Pedagogia, que foi autorizado a funcionar

em 1965.

138 YAZBECK, Lola. As origens da Universidade de Juiz de Fora. Op. cit. p.137. 139 Id. Ibd. p. 138.

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A Fafile tem muitos problemas com instalações físicas e dificuldades

financeiras que levam até mesmo, em 1964, o corpo docente a abrir mão da

gratificação salarial. Neste ano, o professor Joaquim Ribeiro de Oliveira

manifesta a sua decisão de se afastar irrevogavelmente do cargo de diretor da

instituição - ele é substituído, em fevereiro de 1964, pelo professor Murílio de

Avelar Hingel. As dificuldades vigentes levam a administração e o corpo docente

a lutarem para que o processo de incorporação da unidade à Universidade, que já

se encontrava no Ministério da Educação e Cultura, tenha um resultado positivo.

Devido a diversas exigências, o processo é demorado, mas, finalmente, a Lei nº

5060/66 incorpora a Fafile à Universidade.

Apesar de a incorporação ocorrer em 1966, a Faculdade fica apenas

estruturalmente agregada à Universidade até que sejam atendidas

todas as exigências legais, o que ocorre apenas em 1968, quando

seu patrimônio é efetivamente transferido para a União, e o

trabalho gratuito por parte dos professores (praticado durante o ano

de 1967) é interrompido.140

Assim, as Escolas de Direito, Medicina, Ciências Econômicas, e a

Faculdade de Filosofia e Letras, juntamente com as pioneiras Escola de Farmácia

e Odontologia e Escola de Engenharia, aos poucos, foram conquistando

credibilidade e iniciando um progressivo deslocamento em direção à esfera

pública, mediante subvenções obtidas junto a diferentes níveis de governo, logo

tornando-se permanente as contribuições do governo federal. A partir dos anos

50, cada unidade, por si mesma, buscou a federalização.141

Em 13 de maio de 1960, o presidente Juscelino Kubitscheck envia ao

Congresso Nacional a mensagem de Projeto de Lei nº 1877/60. O projeto é

aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e pela Comissão de Educação e

Cultura. Três emendas são propostas em plenário. Com a aprovação pela

Comissão de Finanças, da Comissão de Orçamento e Fiscalização Financeira e do

plenário da Câmara dos Deputados, o projeto é enviado ao Senado, onde recebe

apenas três emendas. “Assim, o projeto de criação da Universidade de Juiz de

Fora torna-se a Lei nº 3858, no dia 23 de dezembro de 1960, tendo seu estatuto

140 Id. Ibd. p.147. 141 Id. Ibd. p. 80.

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aprovado pelo Decreto nº 50212, de 23 de janeiro de 1961.”142

Observe-se que,

inicialmente, a denominação era a de Universidade de Juiz de Fora, só mais tarde,

o “federal” foi anexado ao nome.

Na época, Juiz de Fora foi a segunda cidade do interior brasileiro, fora das

capitais, a sediar uma Universidade federal. A primeira foi Santa Maria, no Rio

Grande do Sul. No governo do mineiro Juscelino Kubitscheck, foi assim iniciado

um movimento de descentralização do ensino superior federal brasileiro, gerando

“...uma oportunidade de acesso ao saber universitário por parte dos habitantes

marginalizados, pois residentes em regiões até então excluídas do mapa do país,

em termos de ensino superior”.143

2.3 - Quarenta anos de história

O primeiro reitor da Universidade de Juiz de Fora, professor Moacyr

Borges de Mattos, gosta de relembrar o que significou a federalização. No vídeo

comemorativo aos 40 anos da instituição, ao analisar o fim da era em que Juiz de

Fora foi principalmente uma cidade industrial, diz que “a UFJF trouxe para a

cidade de Juiz de Fora a característica de ser uma cidade prestadora de serviços e,

na área mais importante, a da cultura”.144

Durante o reitorado do professor

Moacyr Borges de Mattos, de 12 de junho de 1961 a outubro de 1967, esta

vocação parece ter sido sedimentada.

Ainda é possível resgatar, em antigas fotos de arquivo da UFJF ou de

particulares, ou nos filmes em preto e branco, sem áudio, do antigo Departamento

de Ação Cultural - DAC -, a memória dessa época. Depois da inauguração do

prédio da Reitoria, em 28 de maio de 1966, com a presença do então presidente da

República, o marechal Humberto de Castelo Branco, é comum vermos registradas

as imagens de apresentações musicais, de grupos teatrais e até declamação de

poesia, no antigo salão nobre da Reitoria, que, hoje, não existe mais, já que o

142 Id. Ibd. p. 151. 143 BARICHELLO, Eugenia Mariano da Rocha. Universidade e comunicação: identidade

institucional, legitimidade e territorialidade na nova ordem tecnocultural. Op. cit. p. 120. 144 QUARENTA anos de história. Direção de Christina Ferraz Musse. Op. cit.

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espaço é ocupado por algumas seções da Pró-Reitoria de Recursos Humanos. “Na

Reitoria, então, passam a acontecer os Festivais de arte, exposições, recitais,

apresentações de corais, concertos de música, eventos culturais, que anteriormente

eram realizados em outros locais.”145

O professor Moacyr Borges de Mattos costuma relembrar com emoção de

um recital do pianista Jacques Klein, no Cine Theatro Central, que, hoje, faz parte

do patrimônio da UFJF, para uma platéia de cerca de duas mil pessoas. Na década

de 60, a Universidade abria espaço para os clássicos, para a cultura erudita. Nas

apresentações, os trajes eram formais: homens de terno, mulheres de tailleur. É

curioso, resgatando as imagens das fotos oficiais, principalmente aquelas das

inaugurações, observarmos os interlocutores da UFJF mais constantemente

presentes: o clero, através do arcebispo, e as forças armadas, através do então

general comandante da 4º Região Militar. Hoje, dificilmente, em fotos oficiais,

ver-se-á qualquer representante da Igreja e, muito raramente, algum general. De

preferência, os dirigentes buscam, atualmente, a companhia de empresários e

políticos, que possam garantir acesso a verbas, parcerias e dar visibilidade à

instituição.

O modelo de Universidade que nós conhecemos, hoje, com um campus,

departamentos, não foi aquele do início dos anos 60. A Reforma Universitária,

que foi implantada na UFJF, em 1969, em plena ditadura militar, é que deu à

Universidade, o formato que ela tem, atualmente. As obras do campus, iniciadas

em 1966, durante o mandato de apenas nove meses do reitor Moacyr Teixeira de

Andrade vão refletir, mais tarde, quando da construção dos prédios para abrigar as

unidades acadêmicas, todas as questões cruciais relativas à reforma.

O atual secretário de Educação de Minas Gerais, que participou ativamente

do processo de implantação da Reforma Universitária na UFJF, em 1969, acredita

que ela de fato não aprimorou o sistema de ensino, ao contrário, aprofundou ainda

mais a distância entre os cursos e os alunos e entre a Universidade e a

comunidade.

145 O DESAFIO de ser o primeiro. Universidade. Juiz de Fora: UFJF/Assessoria de Comunicação

Social , ano 1, n.1. dez.1995. p.3.

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À época, os que estavam à frente da Universidade e muitos

idealistas acreditaram no potencial da Reforma. Acharam que ela

continha propostas capazes de promover o desenvolvimento da

Universidade em função da cidade, da região, das necessidades do

próprio Brasil. Hoje, a uma distância bem considerável dos

episódios que então ocorreram, nós temos uma visão mais crítica e

pensamos que o que achavam os idealistas, na verdade, não

coincidia com a realidade e nem trouxe os frutos desejados. Hoje,

algumas pessoas têm a consciência de que a Reforma foi ditada por

determinados interesses que se evidenciaram pela cópia de modelos

estrangeiros. A Reforma foi baseada na estrutura universitária dos

Estados Unidos e continha entre as suas propostas a criação e a

construção dos campi universitários, como ocorreu em Juiz de

Fora, e muitos acham que isto era uma forma de enfraquecer a

resistência da Universidade às idéias então vigentes. Nós estamos

falando da década de 60 e um dos efeitos, por exemplo, foi que a

UFJF ganhou um campi muito bonito, um dos mais bonitos do

Brasil, bastante bem planejado e concebido, mas que afastou a

Universidade da comunidade. E isto pareceu ser um tanto quanto

intencional, uma vez que, distanciada da comunidade, esta ligação

tão necessária se enfraqueceu.146

Para compreendermos melhor o que diz Hingel, temos que tentar resgatar a

imagem da Juiz de Fora dos anos sessenta, quando todas as unidades acadêmicas

estavam localizadas no perímetro urbano do centro da cidade. A área de 1 milhão

e 300 mil metros quadrados, onde está o campus, atualmente, foi doada, na época,

à UFJF, pelo então prefeito Adhemar Resende de Andrade. O lugar era um

verdadeiro “pasto”, como lembra o ex-diretor da Faculdade de Direito, Almir de

Oliveira.147

Não foi sem vencer muita resistência que se conseguiu a aprovação

pelo Conselho Universitário da nova proposta.

Um antigo funcionário da Universidade, Hamleto Mazócoli, gosta de

lembrar, num tom de galhofa, que chegou a sugerir ao ex-reitor, Moacyr Borges

de Mattos, que medisse a área a ser ocupada pelo projeto arquitetônico do campus

e observasse se ele caberia num dos cafés da rua Halfeld,148

se isso fosse possível,

eles assumiriam o compromisso de construir o campus, no centro da cidade.

146 REFORMA dita perfil das Universidades. Universidade. Juiz de Fora: UFJF/Assessoria de

Comunicação Social, ano 1, n.1, dez.1995. p.8. 147 QUARENTA anos de história. Direção de Christina Ferraz Musse. Op. cit. 148 A rua Halfeld é a rua mais conhecida do centro comercial de Juiz de Fora, onde acontecem as

principais manifestações culturais e políticas da cidade. Hoje, o trecho mais movimentado

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O secretário Murílio Hingel é categórico quanto à desestruturação do

movimento estudantil que foi provocada pela construção dos campus:

Isto, que aconteceu em praticamente todo o Brasil, foi péssimo,

porque a própria organização estudantil que existia se diluiu e o

estudante não sabia bem a que estava ligado, a não ser o Curso que

estava fazendo, mas pulverizado, muitas vezes, em edifícios e

lugares distantes, porque o aluno é que devia se deslocar e, não, o

professor.149

Na verdade, o projeto arquitetônico do campus, que previa, como foi feito,

as plataformas para abrigar os institutos, também imaginava uma área de

convivência até bastante completa , como lembra o autor do projeto, professor

Arthur Arcuri, que alega que a planta original foi considerada pelo MEC como

uma das mais humanitárias, idealizadas no país. Em depoimento no vídeo

comemorativo dos 40 anos da UFJF, ele diz que, no centro do anel viário do

campus, estava prevista a construção até mesmo de um clube para os

funcionários, mas o projeto era de execução demorada, segundo ele, “vinte anos

para a construção”, assim, evidentemente, completa o professor, nenhum reitor se

interessou por tocar a obra.150

Até hoje, o local, conhecido como Praça Cívica, não

teve sua urbanização terminada. Ali funcionam alguns órgãos administrativos,

uma sala de exposições, um anfiteatro e a Biblioteca Central, além de uma

sucursal da livraria Vozes, duas agências bancárias e uma pequena cantina. O

espaço nunca foi destinado a ser usado de fato como centro de convivência. No

reitorado do professor Renê Gonçalves de Matos, no período de 1994 a 1998, o

Departamento de Arquitetura elaborou o projeto de uma Concha Acústica e outros

anexos, na tentativa de revigorar o espaço, mas o projeto não saiu do papel,

porque não se conseguiu um parceiro externo que patrocinasse a construção. A

reitora Margarida Salomão, cuja gestão começou em setembro de 1998 e vai até

2002, está tentando conseguir uma parceria privada que viabilize a construção de

um projeto mais simples, mas que, com o mesmo objetivo, revitalize o local.

da rua está fechado ao tráfego de carros, tendo sido transformado num “calçadão” para

pedestres. 149 REFORMA dita perfil das Universidades. Universidade. Juiz de Fora: UFJF/Assessoria de

Comunicação Social, ano 1, n.1, dez.1995. Op. cit. p.9. 150 QUARENTA anos de história. Direção de Christina Ferraz Musse. Op. cit.

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A Universidade Federal de Juiz de Fora, como quase todas as

universidades brasileiras, não foi criada a partir de um projeto de Universidade.

Ela foi o resultado da junção de faculdades e escolas que sempre trabalharam de

forma independente, sem nada em comum. Na época da Reforma, pensou-se que

a eliminação da cátedra, a criação do departamento, o vestibular comum a todos

os candidatos, o ciclo básico de estudos gerais, tudo isso propiciaria uma maior

integração, mas não foi o que ocorreu. Para o secretário Murílio Hingel:

Ela não foi uma Reforma Universitária realmente preocupada com

o Brasil, com os problemas nacionais, com a visão que devemos ter

dos nossos problemas. Especialmente, a falha principal foi a busca

de um modelo estrangeiro que não tem nada a ver com a nossa

tradição cultural e educacional. O modelo brasileiro é muito mais

de origem européia e já o modelo adotado visava enfraquecer o

movimento discente e afastar a Universidade da sua convivência

com a comunidade.151

Entre muitas lideranças universitárias, a necessidade de revisão da

Reforma é um consenso, mas, enquanto isso não acontece, a estrutura acadêmica

continua “engessada”, exigindo dos alunos verdadeiras peripécias para

conseguirem estudar em horários que às vezes se estendem pela manhã, tarde e

noite, o que já exclui de uma boa parte dos cursos a massa trabalhadora.

Se a Reforma dividiu os alunos, muito mais séria foi a pressão política

sobre professores, funcionários e estudantes das universidades. Para a

historiadora Rosilene de Oliveira Pereira, havia, nos anos 60, “uma intensa

repressão policial nas ruas, perseguição a estudantes, professores, operários e

padres progressistas que pregavam contra a fome e a tortura que assolavam o

país”.152

Segundo o pesquisador Eduardo Mendes Maluf, “em 1968,

intensificaram-se também as perseguições às pessoas que participavam do

Movimento Familiar Cristão, e também da Juventude Operária Cristã e Juventude

Estudantil Cristã, dentre outros”.153

Na cidade, com forte influência católica, a

participação da Igreja nos movimentos de resistência é intensa, inclusive, como

151 REFORMA dita perfil das universidades. Universidade. Op.cit. p.9. 152 SOB O SIGNO da resistência. Universidade. Juiz de Fora: UFJF/Assessoria de Comunicação

Social, ano 1, n.1, dez. 1995. p. 5. 153 Id. Ibd. p. 5.

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relembra o jornalista Wilson Cid, tendo os padres “ficado em primeiro lugar em

número de processos de auditoria de guerra na 4ª Região Militar”.154

O jornalista

lembra também que alguns processos foram abertos contra professores da UFJF,

mas todos tiveram suas denúncias consideradas ineptas. O caso mais grave foi o

do professor de Filosofia José Paulo Neto, exilado no Peru, durante o período de

maior agitação política:

... como o período foi marcado por forte repressão e censura,

mesmo com um movimento discreto, aconteceram prisões,

aposentadorias forçadas e demissões na UFJF. Como o caso da

professora Maria Andréia Loyola, que teve que se desligar mais

rapidamente da instituição por força do regime, e ainda, Itamar

Bonfati, preso sob a acusação de ajudar grupos clandestinos.

Entretanto todas as prisões foram rápidas e não demoraram mais

que um dia.155

O movimento estudantil foi dos que mais se desintegrou, depois de 1969,

com a edição do AI-5. Estudantes foram presos e torturados. O ex-presidente do

DCE , no período 70-71, Jubel Barreto, em depoimento ao vídeo comemorativo

dos 40 anos da UFJF, lembra a tensão que envolvia aqueles que eram detidos, sem

maiores explicações. “Quando prendiam, não diziam nada. Não diziam o que iam

fazer com você, quando você ia voltar, se ia voltar, aonde ia ficar, em que

condições, nada, nada, e a família ficava absolutamente desnorteada,

desorientada”.156

Ele mesmo foi tirado de casa pela polícia, passou maus

momentos na 4ª Região Militar, mas conseguiu se salvar e voltar para a militância.

Durante a ditadura militar, fatos mais prosaicos também ocuparam o dia-a-

dia de alunos e docentes, no campus. O primeiro diretor do Instituto de Ciências

Humanas e Letras - ICHL - e professor aposentado da UFJF, o cientista social

Afonso Ribeiro da Cruz, que teve aulas sistematicamente gravadas pela

vigilância, viveu a ambiguidade de um tipo de situação, que acaba virando rotina

em tempos de exceção, devido à falta de referências, que possam explicar as

atitudes dos regimes totalitários. Segundo ele, “ era criticado pelos alunos, por

não ser suficientemente marxista, e pelo regime, por ser, por assim dizer, 154 Id. Ibd. p. 5. 155 Id. Ibd. p. 5. 156 QUARENTA anos de história. Direção de Christina Ferraz Musse. Op. cit.

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60

‘marciano’”.157

Vários professores e diretores da instituição passaram longos

períodos dos anos 60 e 70, tentando resguardar o espaço de democracia que

sempre deve caracterizar a atividade universitária, vivendo situações marcadas às

vezes pela tragédia outras por um caráter até mesmo tragicômico.

O movimento de resistência ao regime militar persistiu nos anos 70,

encontrando principalmente nas atividades culturais que tomaram conta do

campus, uma alternativa para não sucumbir à pressão da força da repressão. É

dessa época o antológico Som Aberto, um evento que reunia centenas de

estudantes, aos sábados, na cantina do Instituto de Ciências Biológicas - ICB. No

cardápio, muita música e política. Dentre aqueles que marcaram presença no

evento, organizado pelos Diretórios Acadêmicos, João Bosco, Lula etc.

Outra marca importante da UFJF no cenário dos anos 70, acompanhando a

política do Governo de integração nacional, foi o pioneirismo na organização do

Campus Avançado de Tefé, na Amazônia. O executivo do Programa, no período

1968/1974, José Sabe Musse, lembra de como o modelo foi um exemplo de

trabalho de extensão, depois imitado por várias outras unidades de ensino

superior.158

A UFJF manteve, durante vários anos o Campus Avançado, numa

pequena cidade do interior do Amazonas. Lá foi realizado um intenso trabalho de

formação de professores, entre a população local, e o desenvolvimento de projetos

básicos, principalmente na área de saúde. Foram realizadas, depois, ações

regionais, como a Operação Zona da Mata e a Operação Rondon, no Vale do

Jequitinhonha.159

Por outro lado, a pressão pela redemocratização dos país encontra os seus

primeiros ecos na organização do movimento docente na UFJF. A Associação

dos Professores de Ensino Superior da UFJF, APES, é fundada, em 1978, e seu

primeiro presidente é o médico José Carlos de Castro Barbosa - o mesmo que

tinha pedido ao ex-presidente JK a federalização da antiga Escola de Medicina. A

Associação, em seus primórdios, ocupa um espaço de relevo na vida universitária.

157 Id. Ibd. 158 A Universidade Federal de Santa Maria foi a primeira a instalar esta modalidade de programa

de extensão. O projeto da UFSM foi assinado três dias antes daquele apresentado pela

UFJF, pelo Governo Federal. 159 Cf. QUARENTA anos de história. Direção de Christina Ferraz Musse. Op. cit.

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As assembléias estão sempre cheias e as questões políticas e trabalhistas

realmente atraem a participação em massa dos docentes.

Nos anos 80, a reabertura política traz no seu bojo novas reivindicações.

Na UFJF, o movimento docente tem uma marca própria e exige mais liberdade

nas indicações que levam à ocupação do cargo de reitor. Em 1984, promove-se,

pela primeira vez na instituição, uma eleição direta, com participação de todos os

segmentos da UFJF. A tentativa é a de se conseguir que o nome mais votado seja

ratificado pelo Colégio Eleitoral, que era incumbido, nessa época, de enviar para o

MEC uma lista sêxtupla, formulada pelo Conselho Universitário, da qual saía a

indicação para reitor. Estudantes, professores e funcionários invadiram os jardins

da Reitoria, fazendo uma longa vigília pela aprovação do nome mais votado, que

foi o da atual reitora, Maria Margarida Martins Salomão. O Colégio Eleitoral não

se convenceu do pleito e indicou outro nome, o do professor Sebastião Marsicano

Ribeiro para a ocupação do cargo. Só mais tarde, em 1988, na sucessão, houve o

compromisso do Colégio Eleitoral de acompanhar e obedecer a decisão das urnas.

Aí, sim, a “eleição” direta foi respeitada.160

A participação do movimento docente foi fundamental para permitir um

arejamento das condições de trabalho na UFJF, como em outras universidades de

então. As greves de professores ocupavam manchetes dos jornais e, por mais de

uma vez, a presidente da Associação Nacional dos Docentes - ANDES -, a

professora Maria José Feres, de Juiz de Fora, ocupou os preciosos segundos do

Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, para explicar as reivindicações do

movimento ou fazer relato do andamento das negociação com o governo.

Atualmente, temos a impressão de que o movimento docente, assim como o de

funcionários e estudantes, não ganha mais o mesmo respeito da mídia e, apesar

das coberturas jornalísticas, é visto mais como um abuso, do que como um direito

dos trabalhadores, tendo menos destaque de tempo e espaço. Como as passeatas

não conseguem mais juntar centenas de manifestantes, o movimento docente já

apelou até por fazer greve de fome, numa tentativa de chamar a atenção da mídia,

numa das últimas greves nacionais.

160 Cf. QUARENTA anos de história. Direção de Christina Ferraz Musse. Op. cit.

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A tentativa de inovação nas estruturas da UFJF apontam principalmente

para o caminho da Universidade comprometida com a cidade, com a comunidade.

O ex-vice-reitor Carlos Alberto Tarchi Crivellari , que foi funcionário e, depois,

professor da UFJF, relembra que, quando chegou à cidade, nos anos 70, a UFJF

era uma Universidade do interior que conseguia ser reconhecida externamente por

alguns de seus cursos, mas tinha uma estrutura acadêmica extremamente

reacionária, com o mesmo grupo de poder se mantendo há pelo menos duas

décadas no controle da instituição. Outro exemplo citado pelo professor para

mostrar a rígida mentalidade vigente na instituição foi a árdua batalha para se

fazer com que, como representante da comunidade, no antigo Conselho

Universitário, hoje, Conselho Superior, fosse aceito também um membro de

Sindicato de Empregados e não apenas de Sindicato patronal.161

A participação dos funcionários técnico-administrativos nas instâncias de

poder da Universidade só tem acontecido aos poucos, muitas vezes, sob

resistência do corpo docente. A maior participação dos alunos nos conselhos da

UFJF também tem sido garantida de forma paulatina. As reformas no Regimento

e no Estatuto da UFJF, realizadas recentemente, em 1998, é que conseguiram,

finalmente, na prática, alterar de alguma forma a participação dos diversos

segmentos na estrutura universitária e em seus órgãos de representação.

161 Cf. QUARENTA anos de história. Direção de Christina Ferraz Musse. Op. cit.

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Capítulo 3

JUIZ DE FORA E A UFJF: NOVOS ATORES NO ENREDO GLOBAL

3.1 - O contexto de Juiz de Fora hoje

Juiz de Fora está localizada na Zona da Mata Mineira, no sudeste de Minas

Gerais, no entroncamento da BR-040 com a BR-267. Juiz de Fora está distante

184 km da cidade do Rio de Janeiro, 272 km de Belo Horizonte e 506 km da

cidade de São Paulo. O município tem área de 1.424 quilômetros quadrados,

distribuídos em quatro distritos: Juiz de Fora, Rosário de Minas, Sarandira e

Torreões.

A população de Juiz de Fora, até 1960, cresceu a taxas acima de 4% ao

ano. A partir da década de 60, houve uma desaceleração do crescimento

populacional. Em 1996, a cidade contava com um contingente populacional de

424.479 habitantes. Esta população se distribui em 98,8% na zona urbana e 1,2%

na zona rural.

O crescimento migratório foi o impulsionador do crescimento

populacional de Juiz de Fora. Basta dizer que, em 1980, 42% da população total

não era natural do município. A cidade exerce uma forte atração sobre os

migrantes do estado de Minas e de áreas próximas, do estado do Rio de Janeiro.

Quanto à composição por sexo, o contingente feminino - 52% - é maior do que o

masculino - 48%.162

Situada em um dos lados do triângulo Belo Horizonte - São Paulo - Rio de

Janeiro, Juiz de Fora se insere dentro de uma rede de rodovias de alta densidade,

garantindo o acesso, com alternativas, a todos os núcleos economicamente

relevantes do país e do Mercosul. O sistema ferroviário proporciona ligação com

Rio de Janeiro, São Paulo, Porto de Santos, Belo Horizonte, Complexo Portuário

de Vitória, Nordeste do país, Goiânia, Brasília, estados do Sul e países do

Mercosul. A Superintendência Regional 3 - SR-3 -, sediada em Juiz de Fora, era a

mais dinâmica dentre as superintendências da Rede Ferroviária Federal S/A e vem

aumentando sua eficiência operacional em função da concessão de sua exploração

à empresa MRS Logística.

162 Cf. PLANO estratégico de Juiz de Fora. Juiz de Fora: Prefeitura Municipal, mar. 2000. p. 13-

14.

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Juiz de Fora dispõe de um aeroporto com 1.535 metros de pista, apto para

vôos domésticos, sendo que, atualmente, já está em estudos a construção de um

novo aeroporto, no município de Goianá. O aeroporto do Rio de Janeiro é a

melhor opção para vôos internacionais.

A cidade se destaca como centro da mesoregião da Zona da Mata, com 82

municípios em 7 microrregiões, segundo o IBGE. Esta centralidade está

alicerçada na infra-estrutura viária e nos equipamentos urbanos de comércio e

serviços, como explicitado no Plano Estratégico, definido na administração

96/00, cujo prefeito, Tarcísio Delgado, foi reeleito para novo mandato,

2001/2005.163

O comércio, principalmente varejista, e o setor de serviços estão

entre os fatores que têm atuado na afirmação de Juiz de Fora como pólo regional.

No encarte especial Relatório 2000, apresentado pelo jornal Tribuna de

Minas, no mês de novembro de 2000, Juiz de Fora é apresentada como cidade

promissora, vivendo uma nova onda de desenvolvimento, com o produto interno

bruto crescendo mais que a média estadual: “... o município fechou 1999 com um

PIB estimado de R$ 3,2 bilhões, o que equivale a um PIB per capita em torno de

R$ 7 mil, ou seja, 24,6% acima da média de Minas.”164 Os setores industrial e de

serviços, incluindo o comércio, são responsáveis por mais de 99% do PIB do

município.

Juiz de Fora é também o único município do estado considerado

centro submetropolitano, isto é, de acordo com classificação

adotada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),

Juiz de Fora pode ser considerada centro submetropolitano pelos

bens e serviços existentes na cidade e sua capacidade de distribuí-

los. “Não é por menos que, dentre os municípios brasileiros que

receberão maiores investimentos da iniciativa privada entre 1998 e

2005, Juiz de Fora ocupa a nona colocação”.165

Outro dado relevante, citado na matéria, é a participação de Juiz de Fora

no Índice de Potencial de Consumo - IPC- que, segundo a revista, responde, hoje,

a 5,17% do IPC total previsto para Minas em 2000, ou cerca de R$ 3,08 bilhões.

163 Cf. PLANO estratégico de Juiz de Fora. Op. cit. p.15. 164 ZAGHETTO, Ismair (coord.). Relatório 2000. Juiz de Fora: Tribuna de Minas, nov. 2000. p.

3. Encarte especial. 165 Id. Ibd. p.3.

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“Para a diretora da Faculdade de Economia e Administração, a cidade vive um

surto de qualidade. Do início da década de 90 aos dias atuais, a mudança é

visível, alterando o dia-a-dia das pessoas que moram ou dependem de Juiz de Fora

para a aquisição de bens ou serviços.”166

Juiz de Fora pode ser considerada como cidade pólo formador de

conhecimento, principalmente em toda a Zona da Mata.

O ensino básico tem ampla cobertura. São 132.598 alunos

matriculados nas redes pública municipal, estadual e particular,

desde o pré-escolar até o ensino médio ( segundo grau ), atendidos

por 300 escolas no total. Pelo menos 98% da população em idade

escolar estão matriculados no ensino obrigatório ( do pré-escolar ao

fundamental ), índice considerado ótimo pelo Ministério da

Educação.167

No ensino superior, a cidade também se destaca:

No ensino superior, a cidade se destaca pelo grande número de

instituições. Além da UFJF, onde oito mil estudantes cursam a

graduação, 165 fazem mestrado e 552 buscam melhor qualificação

através das especializações, outras cinco faculdades particulares

oferecem opções variadas de aprendizado: Centro de Ensino

Superior ( CES ), faculdades Viana Júnior, Machado Sobrinho,

Metodista Granbery e Universidade Presidente Antônio Carlos

(Unipac ). Nessas, cerca de 1,4 mil pessoas ingressam a cada ano.

Somam-se a estas, a Pontifícia Universidade Católica (PUC/

Minas) e Universidade Estácio de Sá.168

Na área da educação, o perfil do estudante da UFJF elaborado pelo Centro

de Pesquisas Sociais indicava que, em 1992, apenas 38,1% dos alunos da

instituição, naquele ano, eram naturais de Juiz de Fora; 10,3% do Rio de Janeiro e

o restante do estado de Minas Gerais. Outro dado: 62,6% dos alunos concluíram

o 2º grau em Juiz de Fora.

Na área de saúde, de acordo com dados da Prefeitura, 30% das internações

hospitalares são demandadas por outros municípios, o que, segundo a Prefeitura,

significa que a área de influência direta de Juiz de Fora não se limita à área física

da cidade, extrapola esses limites, chegando a caracterizar a cidade como pólo

166 Id. Ibd. p.4. 167 Id. Ibd. p. 44. 168 Id. Ibd. p. 45.

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regional, que serve de paradigma para pelo menos cerca de 150 municípios,

alguns deles localizados inclusive no estado do Rio de Janeiro.

O Plano Estratégico de Juiz de Fora começou a ser discutido em abril de

1997, quando foi realizado o seminário A cidade como sujeito do

desenvolvimento: a necessidade de uma visão a longo prazo, do qual participaram

400 pessoas. O objetivo do Plano, segundo a Prefeitura, não era o de formular um

plano de governo, mas um modelo de cidade melhor para se viver e trabalhar.169

Com a participação de dezenas de pessoas representativas dos diversos segmentos

de habitantes da cidade, o Plano Estratégico elegeu como objetivo central:

Elevar Juiz de Fora a novos padrões de referência em serviços de

educação e saúde, cultura, equilíbrio social e qualidade de vida,

consolidando seu papel integrador do entorno.

Desenvolver uma cidade com equilíbrio do espaço urbano,

respeitosa da coisa pública e do meio-ambiente, pólo econômico e

logístico da Região Sudeste-Sul, orientada para os novos campos

do conhecimento e da tecnologia.170

Para alcançar este modelo de cidade, o PlanoJF apontou cinco linhas

estratégicas, na fase de Propostas: Cidade Educadora, Cidade Solidária, Cidade

com Espaço Urbano Atrativo, Cidade Competitiva e Cidade Eficiente. Estas

ações foram reorganizadas em três estratégias: Juiz de Fora, Cidade de

Oportunidades; Juiz de Fora, Cidade Pólo da Zona da Mata e Juiz de Fora,

Cidade de Qualidade.

A estratégia Juiz de Fora, Cidade de Oportunidades, prevê:

Desenvolver atividades produtivas diversificadas, reforçando a

indústria do conhecimento e o agronegócio, potencializando

oportunidades de desenvolvimento econômico e profissional,

através da expansão do acesso à educação básica, formação e

requalificação de profissionais, empregabilidade e inserção

social.171

A UFJF participa de várias parcerias nos projetos que vão viabilizar as

ações previstas nesta estratégia, como no incentivo a empresas de base

tecnológica, Núcleo Softex, Fomento à fruticultura tropical e temperada, Gestão

169 PLANO estratégico de Juiz de Fora. Op. cit. p. 20. 170 Id. Ibd. p. 28. 171 Id. Ibd. p.30.

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pela qualidade total, Rede comunitária de acesso à internet, Rede de avaliação

educacional, Formação de cooperativas populares.

A estratégia Juiz de Fora, Cidade Pólo da Zona da Mata prevê:

“Consolidar Juiz de Fora como Cidade Pólo da Zona da Mata, melhorando sua

acessibilidade, ampliando suas atividades de comércio e serviços e buscando

excelência nas áreas de saúde e educação”.172 A UFJF participa de várias parcerias

nos projetos que vão viabilizar as ações previstas nesta estratégia, como na

instalação da Rede regional de tecnologia, expansão da oferta de cursos de

graduação e pós-graduação, Educação na TV, novo hospital universitário.

A estratégia Juiz de Fora, Cidade de Qualidade prevê: “Avançar nos

indicadores sociais, melhorando os serviços públicos, requalificando seu centro e

transformando seus bairros em modelo de qualidade de vida para seus

moradores”.173

A UFJF não encaminhou propostas diretas de projetos nesta área, mas vai,

possivelmente, realizá-los em parceria com outras organizações da cidade.

No mundo de hoje, é impossível pensarmos no desenvolvimento sem nos

referirmos às cidades que, no caso brasileiro, como no resto do mundo, tendem a

alavancar o enriquecimento, no ponto de vista de uma economia global.

Acreditamos até mesmo que a palavra “glocal” seria, hoje, um terno mais

adequado para se designar o que se pretende, juntando as características globais

aos aspectos essencialmente locais. Juiz de Fora, como cidade de porte médio que

é, pode ser uma boa referência do que pode ser feito para crescer com qualidade,

deixando de lado os problemas que se acumulam nas grandes capitais brasileiras,

principalmente São Paulo e Rio de Janeiro, que estão entre as maiores cidades do

mundo. Juiz de Fora pode ser bom exemplo.

Juiz de Fora investe na Terceira Onda,174

isto é, na indústria do

conhecimento e, neste aspecto, a UFJF tem posição privilegiada, já que, além de

ser um dos maiores empregadores da região e um dos maiores orçamentos, é uma

instituição comprometida com a produção de conhecimento e, através de projetos,

172 Id. Ibd. p.46. 173 Id. Ibd. p.56. 174 Cf. TOFLER, Alvin. A terceira onda: a morte do industrialismo e o nascimento de uma nova

civilização. 4. ed. Trad. João Távora. Rio de Janeiro: Editora Record, 1982.

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como o de incubação de empresas, no Centro Regional de Inovação e

Transferência de Tecnologia - CRITT -, Projeto Genesis, Núcleo Softex-Agrosoft,

Empresas Juniores etc. tem investido na formação de novos talentos. Apostar na

cidade como Pólo ou Centro Tecnológico sempre foi proposta da UFJF.

Nos últimos cinco anos, Juiz de Fora vem sendo apontada pela revista

Exame, especializada em economia e negócios, como uma das melhores cidades

do Brasil para a concretização de investimentos. Na edição de número 24, de 22

de novembro de 1995, Juiz de Fora aparecia como a quarta melhor cidade do

Brasil para novos investimentos. Na ocasião, o diretor da Trevisan, Edison Cunha,

que tinha realizado a pesquisa junto com Exame, afirmava: “O ranking das

melhores cidades combina bons serviços de telefonia, mão-de-obra qualificada e

localização privilegiada para atrair investimentos”.175

Entre as vantagens então apontadas na matéria para que investidores

procurassem por Juiz de Fora estavam: posição geográfica privilegiada,

disponibilidade de mão-de-obra qualificada, bons serviços de transporte,

qualidade de vida - ruas pavimentadas, transportes e residências com ligações de

água -, infra-estrutura - fibra ótica, gasoduto etc. Além disso, Juiz de Fora tinha

um dos maiores índices de profissionais de nível superior por habitante do país:

224 para cada 10 mil, o que pesava na decisão de empresas de investir na cidade.

No ano seguinte, matéria do jornalista Eduardo Junqueira, na revista Veja,

enfatizava as razões que levaram as cidades médias, isto é, aquelas que têm entre

100.000 e 500.000 habitantes, terem sido aquelas que mais cresceram na década

de 90: um crescimento de 2,22%, 60% superior à média nacional. O jornalista

explicava assim o fenômeno internacionalmente conhecido como “reversão de

polarização”, que faz com que pessoas se dirijam das cidades grandes para as de

porte médio, em busca da tranquilidade perdida, mas, ao mesmo tempo, com a

garantia de qualidade na prestação de serviços:

A descentralização brasileira tem precedentes internacionais. Um

movimento semelhante começou na década de 40 e intensificou-se

nos anos 70 partindo de grandes metrópoles mundiais, como

175 FURTADO, José Maria. Deu zebu! Uberaba é a número 1 na lista das melhores cidades para

investir. Exame, São Paulo: Editora Abril, ed. 597, ano 28, n.24, 22 dez. 1995. p. 157.

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Londres, Paris ou Nova York, em fenômeno que os especialistas

chamaram de “reversão de polarização”.176

Entre as dez cidade citadas na matéria como a expressão do que o interior

brasileiro tinha de melhor, estavam: Juiz de Fora, São José do Rio Preto (SP),

Petrolina (Pe), Sorocaba (SP), Caxias do Sul (RGS), Sobral (Ce), Ilhéus (Ba),

Joinville(SC), Maringá (Pr) e Poços de Caldas (MG).177

Entre os pontos fortes apresentados pela cidade de Juiz de Fora e

mostrados na reportagem estavam o fato da cidade ser um pólo regional e estar

localizada entre os estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Outro fato que

chamava a atenção era o da mão-de-obra ser qualificada, com um dos melhores

índices de pessoas com nível superior do país. Entre os pontos fracos, apareciam

o estrangulamento do sistema viário e o fato da cidade ter apenas 2% de área

verde, além da poluição do rio Paraibuna, que corta Juiz de Fora.178

Outra informação que indica a boa situação da cidade no cenário nacional,

em termos de atração de investimentos, é a posição no ranking de

Desenvolvimento Humano, da Organização das Nações Unidas - ONU. De

acordo com dados apresentados na publicação Juiz de Fora : cada dia uma cidade

melhor, da Assessoria Especial de Comunicação Social da Prefeitura, em 1999,

Juiz de Fora ocupava o segundo lugar, em Minas Gerais, no ranking da ONU,

sendo apontada como a mais promissora cidade mineira, e retomando a posição de

quarta economia do estado, com um Produto Interno Bruto - PIB - superior a R$

2,7 bilhões e um PIB per capita de R$ 6,2 mil.179

A publicação da Prefeitura “vende” a imagem de Juiz de Fora, usando o

mote: “qualidade de vida é o nosso melhor negócio”, e apresentando os índices de

Primeiro Mundo:

Renda per capita de R$ 6,2 mil

Expectativa de vida de 71,6 anos

176 JUNQUEIRA, Eduardo. A boa vida no interior: em busca da tranquilidade, 41% dos brasileiros

querem distância das metrópoles. Veja. São Paulo: Editora Abril, edição 1537, ano 31, n.10, 11 mar. 1998. p. 72.

177 Id. Ibd. p. 72. 178 Id. Ibd. p. 75. 179 Cf. JUIZ de Fora: cada dia uma cidade melhor. Juiz de Fora: Prefeitura Municipal, jul.1999,

p.3.

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Acesso à água tratada e rede de esgoto para 98% da população

Energia elétrica cobrindo 99% do município

Mais de 95% das crianças entre 7 e 14 anos estão nas escolas

Mais de 300 escolas de 1º e 2º graus

Média de escolaridade de 6,1 anos

Universidade Federal e faculdades particulares que oferecem mais de trinta

opções de graduação e pós-graduação

Mais de 8 leitos em hospitais para cada grupo de mil habitantes180

Na mesma publicação, são citados os dados relativos à infra-estrutura para

investimentos:

Posição geográfica privilegiada, distante a 184 km da cidade do Rio de

Janeiro, 278 km de Belo Horizonte e 506 km da cidade de São Paulo

Energia elétrica em abundância

Gás natural: 540 mil metros cúbicos/dia

Eficiente sistema de telefonia e telecomunicação

Rede de fibra ótica

Excelente estrutura rodoviária, estando no entroncamento da BR-040 com a

BR-267

Transporte de carga ferroviário

Estação Aduaneira do interior - Porto Seco

Ligação aérea com os maiores centros do país

Ligação com o Porto de Sepetiba e com o Aeroporto do Galeão, no Rio de

Janeiro

Quatro distritos industriais dotados de completa estrutura181

Por estas e outras razões, a cidade de Juiz de Fora volta a ser citada numa

edição mais recente da revista Exame como uma das 100 melhores cidades

brasileiras para se fazer negócios. Na edição de maio de 2000, Juiz de Fora está

em 25º lugar, com uma pontuação de 128,86% (% de média = 100). Curitiba, no

Paraná, que, no ranking da revista, estaria em 1º lugar, somou 153,18% dos

180 Cf. JUIZ de Fora: cada dia uma cidade melhor. Op. cit. p. 4. 181 Cf. JUIZ de Fora: cada dia uma cidade melhor. Op. cit. p. 4.

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71

pontos.182

A reportagem de capa de Nely Caixeta evidenciava, no caso de

Curitiba, “a qualidade de vida, potencial de consumo e bom nível de escolaridade”

como os trunfos que levaram a capital paranaense ao pódio.183

Para o urbanista Jordi Borja, que foi vice-prefeito de Barcelona, na

Espanha, até 1995, e é considerado o grande responsável pelo renascimento

daquela cidade, hoje, uma referência mundial, cada centro urbano tem que

descobrir sua vocação e não apenas copiar modelos bem-sucedidos aplicados a

outras cidades. Ele defende o respeito aos espaços públicos, de uso coletivo,

como praças ou ruas, como imprescindível na revitalização de qualquer cidade e

define o que uma cidade precisa ter para ser uma boa cidade:

Em primeiro lugar, precisa assegurar serviços básicos de maneira

eficiente. Sem isso, não dá para atrair investidores e talentos.

Estou pensando em transportes coletivos, lixo, água, energia e

comunicações. As comunicações são cada vez mais importantes.

Outro elemento fundamental é a qualificação dos recursos

humanos. Cada vez mais a principal riqueza competitiva de uma

cidade é a qualidade de seus recursos humanos. Isso requer

programas de formação continuada.184

No mundo inteiro, as cidades tendem a deixar de ser cidades secundárias,

isto é, cidades que sediam indústrias, para se transformarem em cidades terciárias,

isto é, que se dedicam mais ao setor de serviços.

O que significa ser uma cidade terciária? Muitas coisas. Significa,

por exemplo, concentrar os serviços financeiros, grandes

consultorias, agências de propaganda e marketing, hospitais e

centros médicos, restaurantes, lojas, teatros e casas noturnas. As

universidades.185

Hoje, ter instituições de ensino é, sem dúvida nenhuma, uma vantagem

competitiva para a cidade. A indústria e o setor de serviços exigem, cada vez

mais, qualificação da mão-de-obra. No estado do Rio de Janeiro, por exemplo,

uma das grandes dificuldades das multinacionais do setor de petróleo que se

182 CAIXETA, Nely. A grande campeã: qualidade de vida, potencial de consumo e bom nível de

escolaridade - eis os trunfos que levaram Curitiba ao pódio. Exame, São Paulo: Editora Abril, edição ano 34, n.9, 3 mai. 2000, p.82.

183 Id. Ibd. p.78. 184 LAHÓZ, André. Grandes decisões: como transformar as metrópoles brasileiras em lugares que

atraiam novos negócios, gerem empregos e ofereçam qualidade de vida. Exame, São

Paulo: Editora Abril, edição 723, ano 34, n.19, 20 set. 2000. p. 202-203. 185 Id. Ibd. p. 205.

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instalaram na cidade, nos últimos dois anos, é encontrar funcionários

especializados. Por isso, dois grandes projetos esperam a vez na cidade: a Escola

Técnica Petroquímica do Brasil, em Duque de Caxias, e a Universidade do

Petróleo. A primeira terá a missão de formar técnicos especializados em petróleo

e a segunda oferecer cursos de graduação e pós-graduação.186

Em Juiz de Fora, a relação entre cidade e Universidade é cada vez maior.

A Universidade faz questão de não apenas colaborar com, mas ajudar a pensar a

cidade que todo cidadão deseja. Por isso mesmo, a Universidade está presente em

todos os fóruns que discutem a situação da cidade e tem sido formuladora de

documentos que acenam com possibilidades para a cidade e região. No Relatório

2000, encarte especial veiculado pelo jornal Tribuna de Minas, no dia 12 de

novembro de 2000, uma publicidade da UFJF, na página 5, começava com o

mote: “Já pensou nesta cidade sem a UFJF?”. O texto da publicidade continuava

assim:

É realmente muito difícil. Afinal, a Universidade Federal de Juiz

de Fora é um dos principais agentes de desenvolvimento regional,

com investimento na ordem de 130 milhões de reais/ano. Ela gera

2.300 empregos diretos e atende a 12 mil alunos da graduação e

pós-graduação. O Vestibular atrai mais de 22 mil candidatos. A

UFJF oferece oportunidades, empreendimentos, formação e é

responsável pelo desenvolvimento da região.187

A Universidade também pode exercer outro papel: o de formuladora de

políticas que ajudem a cidade a fazer o seu planejamento e a resguardar aspectos

que nem sempre são levados em conta quando da elaboração de projetos, que

atuam mais em nível de aspectos sócio-econômicos. O professor e poeta Fernando

Fábio Fiorese Furtado, por exemplo, ao comentar, num artigo, o processo de

elaboração do PlanoJF, denuncia a ênfase excessiva nos aspectos materiais da

cidade:

A ênfase excessiva nos aspectos materiais da cidade, muitas vezes

oblitera a nossa capacidade de pensá-la pelo viés da memória e do

imaginário de seus habitantes. Mesmo porque, ao contrário do que

186 Id. Ibd. p.209. 187 ZAGHETTO, Ismair. (coord.). Relatório 2000. Op. cit. p.5. Anúncio encartado pelo UFJF em

espaço pago.

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acontece em Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte e Rio de

Janeiro (apenas para citar as mais óbvias ), as instituições públicas

e privadas de Juiz de Fora muito pouco têm-se empenhado na

construção de uma identidade histórica e afetiva da cidade.188

O professor completa:

Habitar uma cidade é aprender a escavar as camadas de tempo e

espaço que nos conformam enquanto cidadãos. Onde a Juiz de

Fora de Murilo Mendes, cercada de pianos por todos os lados?

Onde a Rua Halfeld como um rio de Pedro Nava? Onde as

“Imagens de Juiz de Fora” cantadas por Manuel Bandeira? Onde os

personagens anônimos de 150 anos de história? Infelizmente

enclausurados em livros, álbuns de família, papéis devastados pelo

tempo e algumas poucas memórias privilegiadas.189

3.2 - O perfil da UFJF hoje

A UFJF está organizada administrativamente numa estrutura em que a

Reitoria e a Vice-Reitoria são os principais órgãos executivos. Existem cinco Pró-

Reitorias, cada uma responsável por um setor específico de atuação. A Pró-

Reitoria de Administração - PROAD - faz desde o controle patrimonial, contábil e

financeiro da instituição até a conservação do espaço físico, contratação e

fiscalização de obras etc. A Prefeitura da UFJF está subordinada à ela. A Pró-

Reitoria de Articulação Externa e Extensão - Proaex - estabelece a articulação

entre a UFJF e outros setores da sociedade, é responsável pela integração com a

comunidade. A Pró-Reitoria de Graduação - Prograd - controla as ações dos

ensinos fundamental, médio e de graduação. A Pró-Reitoria de Pós-Graduação e

Pesquisa - PROPP - coordena e fomenta as áreas de pós-graduação e pesquisa. A

Pró-Reitoria de Recursos Humanos - PRORH - desenvolve idéias e ações que

permitem à UFJF formar pessoas e se relacionar com a comunidade. Todas as

Pró-Reitorias são apoiadas por seus respectivos Conselhos. O órgão máximo de

deliberação da Universidade é o Conselho Superior, que possui funções

normativas, deliberativas e de planejamento.190

188 FURTADO, Fernando Fábio Fiorese. Plano estratégico de Juiz de Fora I: o lugar do

imaginário. Disponível na internet via http://www.oclick.com.br/colunas/fiorese1.htm1.

Arquivo consultado em nov. 2000. p.1. 189 Id. Ibd. p.1. 190 Cf. NOSSA universidade. Juiz de Fora: UFJF/Coordenação de Imagem Institucional, 2000.

p.41-42.

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A UFJF tem três institutos - Ciências Humanas e Letras, Ciências

Biológicas e Exatas - e onze faculdades, que oferecem 29 cursos de graduação,

um doutorado, seis mestrados e 42 especializações. A Universidade também tem

um colégio técnico - CTU - e um colégio de aplicação - Colégio de Aplicação

João XXIII. De acordo com o Relatório 2000, encartado no jornal Tribuna de

Minas, “considerada a sétima melhor Universidade brasileira no ranking do MEC,

a instituição registrou aumento de 56% na procura por vaga no vestibular de 1998

para cá”.191

A UFJF ampliou em 30% o número de vagas noturnas, além de, atenta

às novas demandas do mercado, ter criado cursos novos como Engenharia de

Produção e Turismo.

São 919 professores e 1065 funcionários técnico-administrativos, que se

dedicam à formação de três mil estudantes nos ensino fundamental e médio, além

de oito mil no ensino superior, 165 nos mestrados, 552 nas especializações e 870

na Terceira Idade, de acordo com informações contidas no catálogo Nossa

Universidade, editado pela Coordenação de Imagem Institucional da UFJF.192

A

UFJF é uma das maiores empregadoras da região, são, no total, 1984 servidores

diretos, sem estarem aí incluídos os serviços terceirizados, nem os empregos

indiretos. O montante de massa salarial que a instituição injeta na cidade é da

ordem de R$ 130 milhões, por ano. Só para se ter uma idéia: o número de

empregos diretos oferecidos pela Mercedes Benz é de 1250; a siderúrgica Belgo

Mineira, outra grande empregadora, oferece cerca de 1300 empregos diretos.

O Hospital Universitário faz oito mil consultas e 230 cirurgias por mês: é o

único da cidade que atende, sem restrições, os pacientes do Sistema Único de

Saúde - SUS. A Clínica Odontológica realiza desde trabalhos simples até aqueles

mais complexos, como colocação de aparelhos ortodônticos e tratamento de

alterações temporo-mandibulares. A Farmácia Universitária faz manipulação de

medicamentos e cosméticos, além da aplicação de injetáveis. O Centro de

Psicologia Aplicada - CPA - é campo de estágios supervisionados nas áreas de

educação escolar e organizacional, além de clínica.

191 ZAGHETTO, Ismair.(coord.) Relatório 2000. Op. cit. p. 45. 192 NOSSA Universidade. Op. cit. p. 3.

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O Centro de Pesquisas Sociais - CPS - produz, entre outros, documentos

com os indicativos econômicos da cidade. O seu principal produto é o Banco de

Dados Municipal com informações atualizadas diariamente. Este serviço elabora

boletins mensais e um anuário, com indicadores econômicos, sociais, de infra-

estrutura, cultura, além de dados policiais e outros. Em 1995, o CPS publicou o

Plano de Desenvolvimento Sustentado do Sudeste Mineiro, um documento

indispensável para o estudo de propostas de desenvolvimento para a região.

O Centro de Biologia da Reprodução - CBR- faz pesquisas na linha de

Saúde Reprodutiva, Animais de Laboratório/Bioterismo e Fisiologia e

Toxicologia Reprodutiva. O Centro possui trabalhos publicados no mundo todo.

O Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia - CRITT -

faz a incubação de empresas de base tecnológica: assessoria tecnológica,

agroalimentar, informática, eletroeletrônica. Nove empresas já foram incubadas

no centro - elas são selecionadas por licitação pública e ficam incubadas por um

período de até cinco anos . Foi de uma incubação informal na UFJF, que surgiu a

Quiral, primeira indústria de base tecnológica do setor químico farmacêutico do

país e que, hoje, além de ser uma das maiores arrecadadoras de ICMS de Juiz de

Fora, vende 14 medicamentos dentro do Brasil e também exporta para o Oriente

Médio. A excelência do trabalho do CRITT pode ser medida pelo reconhecimento

no país. “Juiz de Fora é hoje referência na área de software médico, cujos

produtos são exportados, via internet, para os Estados Unidos.”193

As empresas

incubadas e aquelas que já foram graduadas, isto é, já estão no mercado, discutem

hoje a criação de um parque tecnológico na cidade. “Esse local para sediar as

indústrias de base tecnológica exige ambiente criativo, agradável, contendo toda

infra-estrutura de laboratórios de ensaio compartilhados, visando o incentivo ao

empreendedorismo”.194

Outro projeto de peso na instituição, que a coloca no rumo do

desenvolvimento tecnológico é o Núcleo Softex-Agrosoft. Ele funciona há sete

anos na UFJF - é um dos vinte que existem no país - e serve como intermediador

entre os organismos governamentais e a iniciativa privada para o desenvolvimento

193 ZAGHETTO, Ismair. (coord.) Relatório 2000. Op. cit. p. 59. 194 Id. Ibd. p. 59.

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de novos negócios na área de software. “Unindo recursos do conhecimento à

experiência de empresas já estabelecidas, o mercado local ganhou visibilidade

nacional e internacional.”195

O Núcleo possibilita que as empresas que estão no

mercado tenham acesso à alta tecnologia para desenvolvimento dos produtos

idealizados. O Núcleo dá suporte em termos de fornecimento de bolsas para

contratação de estudantes e profissionais e para viagens de prospecção no

mercado internacional. Esta intermediação tem dado certo e alguns produtos que

surgiram dela são comercializados em todo o mercado nacional e até mesmo

exportados para países do Mercosul, Portugal e Espanha. Softwares produzidos

através do Núcleo ganharam o reconhecimento internacional. “Líder absoluto de

mercado na área médica, o ProDoctor foi recentemente selecionado pela

Microsoft, como um dos dez melhores softwares do país. Está disseminado em

mais de dez mil consultórios e hospitais. Já o Dentalpro (para a área

odontológica) superou a casa das 1.500 instalações”.196

Outro setor que recebe atenção especial do Núcleo é o agropecuário. “No

setor agropecuário, o Softex-Agrosoft investe na internet para romper as barreiras

da grande dispersão geográfica do meio rural. Utilizando recursos da Web, o

núcleo aproxima os produtores por meio do ensino a distância”.197

Um exemplo

de empresa bem sucedida, nascida no núcleo, é o caso da Vale Verde Assessoria

Agropecuária e Informática. Em seis meses, a empresa dobrou a sua capacidade

de produção, disponibilizando na internet o produto GV Farm System, que permite

o gerenciamento de propriedades rurais.

Depois de se consolidar no país, a Vale Verde levou o GV Farm System

para 14 feiras internacionais, resultando na assinatura de um contato de

representação mútua com a Isagri, da França, a maior empresa de software

agropecuário no mercado europeu. “Mais que apoiar nosso produto, o Softex-

Agrosoft deu visibilidade a Juiz de Fora”, constata Abel Fernandes, sócio-diretor

da empresa.198

195 Id. Ibd. p. 59. 196 Id. Ibd. p. 60. 197 Id. Ibd. p. 60. 198 Id. Ibd. p. 60.

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Este tipo de investimento tem dado visibilidade não apenas à cidade de

Juiz de Fora, mas, especialmente, à UFJF. A UFJF não quer perder o trem do

século XXI e sabe que, para isso, são necessárias parcerias ousadas que permitam

à instituição realmente se colocar no papel de catalizadora do desenvolvimento

regional. Hoje, a UFJF tem setenta núcleos de pesquisa cadastrados.

Para os alunos, existe o Projeto Genesis na área de informática e todo um

trabalho voltado para o empreendedorismo, tendo em vista o novo cenário

mundial, em que o emprego tradicional, de carteira assinada, tende a desaparecer.

Além disso, para promover o empreendedorismo, já existem cinco empresas

juniores na UFJF, que são: Consultoria e Assessoria a Médias e Pequenas

Empresas, CAMPE, da Faculdade de Economia e Administração; a Universidade

Dados e Pesquisa, Unidata, do Curso de Ciências Sociais; a Base Três -

Consultoria em Informática, do curso de Informática; a Empresa Júnior da

Faculdade de Engenharia; a Acesso, do curso de Comunicação Social.

A UFJF tem vários Programas de Apoio ao Estudante e também uma bem

montada política de concessão e distribuição de bolsas estudantis. O Restaurante

Universitário, o maior da cidade, em termos de atendimento, fornece 1.500

refeições diárias.

O setor de Extensão sempre foi um dos pontos altos da instituição. A

UFJF desenvolve 150 projetos em quatro áreas específicas. Na área de Meio

Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, são desenvolvidos projetos de

Educação Ambiental. Em Saúde e Qualidade de vida, são desenvolvidos mais de

80 projetos, dentre eles, o Programa de Plantas Medicinais da UFJF. Na área de

Educação, Trabalho, Emprego e Cidadania, destaca-se o programa da

Universidade da Terceira Idade. Em Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento, o

trabalho da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares, que, com dez

cooperativas incubadas, é uma alavanca para apresentação de alternativas de

geração de renda. O escritório-escola da Faculdade de Direito e o Centro de

Psicologia Aplicada fazem importantes trabalhos de extensão junto à comunidade

carente.

Antenada com as tendências mundiais, a UFJF também tem tirado partido

de todo o patrimônio cultural que está nas mãos da instituição. A Universidade é

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a instituição que tem mais espaços culturais em Juiz de Fora. Tem destaque o

Cine-Theatro Central, com mais de dois mil lugares, tombado pelo Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional. O Centro de Estudos Murilo Mendes, que guarda

o acervo de um dos maiores poetas brasileiros. O Fórum da Cultura, onde

funciona o Centro de Estudos Teatrais - Grupo Divulgação, que já montou mais

de cem peças. O Fórum também abriga o Museu de Cultura Popular e é sede do

Coral Universitário. A UFJF possui ainda, entre os seus espaços culturais, o

saguão da Reitoria e o saguão da Biblioteca Central, que são permanentemente

ocupados por exposições de artes plásticas e outras mostras.

Vale também destacar, entre as atrações da UFJF, o Museu de

Malacologia, que impressiona pelo importante acervo científico no estudo

biológico dos moluscos. O Museu tem uma coleção de mais de 40 mil conchas.

Existe também o Museu de Arqueoastronomia e Etnologia Americana, um centro

de pesquisa nas áreas de História da América Pré-Colombiana, Arqueologia e

Etnologia Brasileira. A UFJF ainda tem o Herbário, que realiza pesquisa na área

de taxonomia vegetal - identificação de plantas -, com um acervo de mais de 30

mil plantas. Para pesquisadores, também é destaque o Arquivo Histórico, que

reúne documentos raros da história local e regional. Além, evidentemente, do

Sistema de Bibliotecas, com cerca de 102 mil exemplares em seu acervo.

Para dar visibilidade aos trabalhos acadêmicos realizados pelos

professores e suas equipes, a UFJF tem uma Editora, a Produtora de Multimeios e

a Rádio Universitária.199

A Editora tem sido responsável pela publicação de livros,

resultado das pesquisas científicas dos professores, mas o atendimento que ela

oferece ainda está aquém da demanda. Ela publica com regularidade revistas com

artigos do corpo docente, como a Lumina, da Faculdade de Comunicação, e a

Locus, do Departamento de História, entre outras publicações. A Produta de

Multimeios é equipada com equipamentos profissionais, como câmeras Betacam,

e produz o programa Minuto no Campus, veiculado na TV Panorama, e Canal

Opinião, que deverá ser veiculado na TVE, além de outros trabalhos, alguns com

objetivo comercial, para aumentar sua receita. Os maiores problemas ainda são a

199 A Rádio Universitária ainda está em processo de legalização, como emissora comunitária, mas

já veicula programação realizada pelos alunos da Faculdade de Comunicação.

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falta de estrutura, principalmente de recursos humanos, e a ausência de

investimentos, o que impede o acompanhamento das novidades do mercado, como

a aquisição de ilhas de edição digitais. A Rádio Universitária funcionava

precariamente, numa antiga copa da Faculdade de Comunicação. Atualmente, as

instalações foram mudadas para um espaço mais indicado, no piso térreo da

Faculdade. A Faculdade também contratou um funcionário para cuidar da parte

técnica. A programação, que inclui basicamente música, algumas entrevistas e

debates, é feita pelos alunos da Faculdade de Comunicação.

A comunicação institucional é feita pela Coordenação de Imagem

Institucional e a Assessoria de Comunicação da Reitoria. Estes dois setores serão

analisados de forma bastante completa, no capítulo 5, que trata do comunicação

na UFJF. Para possibilitar um canal de comunicação com as comunidades interna

e externa, foi instituída a Ouvidoria, que, através dos serviços de e-mail, telefone e

face à face recebe críticas e sugestões da comunidade em geral. Todas as questões

levantadas são encaminhadas para os setores responsáveis, para que eles procurem

dar uma solução. A Ouvidoria faz relatórios frequentes, que são repassados à

Reitoria, para que se possa ter um “retrato” das relações da instituição com a

comunidade.

A pesquisa Top of Mind, realizada regularmente em Juiz de Fora para

avaliar as marcas mais conhecidas pela população da cidade aponta para o

crescimento do índice de lembrança da marca UFJF, entre os entrevistados. O

índice subiu de 35,59%, em 1999, para 84,85%, em 2000, de acordo com

informações da Coordenação de Imagem Institucional da UFJF.

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3.3 - Juiz de Fora e a UFJF: a questão do local x global

No cenário do mundo atual, o modelo centralizador e autoritário da

globalização traz no seu reverso um outro modelo, que surge na contra-mão da

pasteurização e tende a realçar exatamente a cultura local. É nesta direção, do

local, do regional, que acreditamos encontrar uma nova possibilidade de

afirmação da cidade, seus habitantes e suas instituições. É neste espaço de

pequeno âmbito, que acreditamos ser ainda possível exercitar a cidadania,

principalmente em países como o Brasil, de Terceiro Mundo.

Num dos inúmeros best-sellers sobre as tendências do século XXI, John

Naisbitt criou um princípio que se tornou um verdadeiro slogan para o mundo

moderno: “Quanto maior a economia mundial, mais poderosos são os seus

protagonistas menores”.200

Naisbitt batizou o fenômeno de “paradoxo global”. A

constatação está no nosso dia-a-dia: grandes empresas da economia de escala

passam por um processo de desconstrução e criam novas estruturas, bem menores,

com redes de unidades autônomas; a crise do Estado-Nação convive com o

nascimento de um sem número de novos países; os grandes conglomerados da

mídia e a internacionalização dos canais de comunicação via satélite convivem

lado a lado com a popularização das emissoras regionais de comunicação,

concretizando, na prática, um velho ditado da comunicação: o crime da esquina

interessa mais, como notícia, do que o massacre do outro lado do mundo; a

adoção do inglês como idioma universal acontece ao mesmo tempo que a

revitalização dos idiomas nacionais; a rede mundial de computadores, a internet,

estimula a multiplicação dos “emissores” de informação.201

Neste cenário global, as cidades crescem de importância, como espaços

formuladores de políticas, já que nelas é mais direto o contato do indivíduo com o

poder. De acordo com Raquel Paiva:

... em função da ordem mundial de globalização, proliferam

atualmente estudos que vão em direção ao entendimento da

validade de uma atuação mais intensa nos municípios, como uma

200 NAISBITT, John. Paradoxo global: quanto maior a economia mundial, mais poderosos são os

seus protagonistas menores: nações, empresas e indivíduos. Trad. Ivo Korytovski. Rio de

Janeiro: Campus, 1994. p.4. 201 Cf. NAISBITT, John. Paradoxo global: quanto maior a economia mundial, mais poderosos

são os seus protagonistas menores: nações, empresas, indivíduos. Op. cit. p. 5-11.

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possibilidade de resgate do exercício da cidadania, na tentativa de

produzir uma forma de socialização capaz de reverter inclusive a

atomização social. A argumentação baseia-se na evidência de que

os governos locais têm maior legitimidade, em virtude do contato

direto com os habitantes, que passam cada vez mais a ser

compreendidos como novos atores sociais, portanto, influenciando

e participando das decisões.202

Para o economista Ladislau Dowbor, a intervenção social através das

ações da comunidade tem se mostrado como instrumento político dos mais

eficientes para a construção da qualidade de vida:

A questão do poder local está rapidamente emergindo para tornar-

se uma das questões fundamentais da nossa organização como

sociedade. Referido como local authority em inglês, communautés

locales em francês, ou ainda como espaço local, o poder local está

no centro do conjunto de transformações que envolvem a

descentralização, a desburocratização e a participação, bem como

as chamadas novas tecnologias urbanas.203

Em Juiz de Fora, a consciência da necessidade de se enfatizar o poder

local, sem esquecer, logicamente, de se situar a cidade no cenário mundial, tem

sido uma preocupação constante das gestões municipais. A formulação do Plano

Estratégico da cidade, com participação de dezenas de entidades representativas

do município, entre Sindicatos, Associações de bairros, empresas privadas,

públicas, como a UFJF, e do Terceiro Setor, apontam para uma valorização do

espaço do município como possibilidade de exercício da cidadania, como espaço

passível de sofrer a ação dos seus habitante e ser modificado.

Maria Eugênia Barrichello também defende o resgate da ação comunitária:

Acreditamos que o resgate da questão comunitária torna-se muito

oportuno na atualidade, especialmente nos países subdesenvolvidos

ou em desenvolvimento, quando estamos assistindo, especialmente

nesse grupo de países, a uma retração da esfera de atuação do

Estado, que cede lugar ao mercado, ou melhor, para as instituições

transnacionais que, através do capital, gerenciam politicamente

novas relações globais. Essa retração é sentida em países como o

Brasil, especialmente nas áreas da educação e da saúde, onde as

conquistas sociais são muito recentes e já se transformam, sofrem

202 PAIVA, Raquel. O espírito comum: comunidade, mídia e globalismo. Petrópolis, RJ: Vozes,

1998, p. 177. 203 DOWBOR, Ladislau. O que é poder local. Coleção Primeiros Passos, 1ª reimpressão. São

Paulo: Brasiliense, 1999 p. 8.

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mutação ou, simplesmente, desmoronam ante as imposições do

mercado.204

É aí que, no nosso ponto de vista, entra a Universidade, com a sua missão

de promover a qualidade de vida e o desenvolvimento regional, através de

diversas ações, principalmente na área de extensão, que sejam capazes de romper

os limites espaciais do campus universitário. “A clássica Universidade isolada foi

cedendo lugar a uma organização espacial específica, cada vez mais voltada a

atender as exigências da sociedade”.205

Para ilustrar as múltiplas capacidades de intervenção e facetas da

Universidade, Barichello cita o ex-reitor da Universidade da Califórnia que, nos

anos 60, já distinguia a complexidade cada vez maior da instituição universitária,

que ganha a alcunha de “multiversidade”:

A multiversidade é uma instituição inconsistente. Não é uma

comunidade apenas, mas várias - a comunidade da graduação e a

comunidade da pós-graduação; a comunidade do humanista, a

comunidade do cientista social e a comunidade do cientista; as

comunidades das escolas profissionais; a comunidade de todo o

pessoal não acadêmico; a comunidade dos administradores. Seus

limites são imprecisos, pois ela alcança até os ex-alunos,

legisladores, fazendeiros, homens de negócio, todos os quais se

relacionam com uma ou mais dessas comunidades internas. Como

instituição, a multiversidade projeta-se no passado e no futuro e

está frequentemente em desacordo com o presente. Serve à

sociedade quase como uma escrava - uma sociedade que ela

também critica as vezes sem piedade. Dedicada à igualdade de

oportunidades ela é, em si mesma, uma sociedade de classes. Uma

comunidade, como as comunidades de mestres e estudantes,

deveria ter interesses comuns. Estes, na multiversidade, são bem

diversificados e mesmo conflitantes. Uma comunidade deveria ter

uma alma, um singular princípio impulsionador. A multiversidade

tem várias delas - algumas até boas, embora haja muito debate

sobre que almas merecem salvação.206

204 BARICHELLO, Eugenia Mariano da Rocha. Universidade e comunicação: identidade

institucional, legitimidade e territorialidade na cena da nova ordem tecnocultural. Op. cit. p. 139.

205 Id. Ibd. p. 139. 206 KERR, Clarck. Os usos da universidade. Fortaleza: Edições da Universidade Federal do

Ceará, 1982. Apud BARRICHELLO, Eugenia Mariano da Rocha. Universidade e

comunicação: identidade institucional, legitimidade e territorialidade na cena da nova

ordem tecnocultural. Op. cit. p. 147.

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A controvérsia em torno da abertura da Universidade ao mundo exterior

tem adeptos e inimigos, já que a transformação da instituição esbarra nos riscos da

mercantilização e do funcionalismo. O filósofo Jacques Derrida, em trecho de

aula inaugural, proferida na Universidade de Cornell, retoma o tema sobre a qual

lança uma questão:

Cuidado com os abismos e as gargantas, mas cuidado também com

as pontes e as “barriers”. Cuidado com o que abre a Universidade

para o exterior e para o sem-fundo, mas cuidado também com o

que, fechando-a em si mesma, não criaria senão um fantasma de

cercado, a colocaria à mercê de qualquer interesse ou a tornaria

perfeitamente inútil. Cuidado com as finalidades, mas o que seria

uma Universidade sem finalidade?207

Para o professor e poeta Fernando Fábio Fiorese Furtado, a abertura da

Universidade ao mundo deve incluir uma postura poética, para que a instituição

não corra o risco de expurgar tudo aquilo que é saber não-utilitário ou não-

funcional, curvando a experiência do pensar e da criação artística aos ditames da

funcionalidade e da utilidade.

Também a aprender com a poesia a Universidade tem o sentido

afirmativo de estar à margem, de como Sisifo aceitar a tarefa

imposta pelos deuses como um desafio ao poder. E ainda a ingente

tarefa de conciliar os contrários - delectare e docere -, não como

submissão à ordem estabelecida, mas como estratégia de

sobrevivência e de aprendizagem de novas formas de ver, pensar

sentir e estar no mundo. Sem poesia, a Universidade furta-se do

espanto e se condena à repetição, instaura-se no centro moribundo

do saber-poder quando é das margens que provém a vertigem e a

viagem. Sem poesia a Universidade desconhece o saber distanciar-

se para, com olhos armados, desvelar os possíveis. Sem poesia a

Universidade recusa o convite à procura e à convivência.208

Contra a falta de poesia, parece não haver outro remédio do que a ampla

participação comunitária num projeto coletivo. “ A única defesa que existe contra

o atomismo e o instrumentalismo do mercado e do Estado burocrático é a

207 DERRIDA, Jacques. As pupilas da universidade. In: DERRIDA, Jacques. O olho da

universidade. Int. Michel Peterson. Trad. Ricardo Iuri Canko e Ignacio Antonio Neis. São

Paulo: Estação Liberdade, 1999. p. 155. 208 FURTADO, Fernando Fábio Fiorese. Universidade sem poesia. Travessia, informativo

quinzenal da APESJF/SSIND, Juiz de Fora, n. 30, fev.2000. p. 8.

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formação de projeto coletivo eficaz.”209

Na formulação deste projeto, haveria a

intermediação das instituições, que precisam, elas próprias ser legitimadas pela

sociedade. Este nos parece ser o caso da UFJF, que detém um espaço político de

comprometimento com o município.

No desenvolvimento deste trabalho, pudemos observar como a

Universidade, enquanto instituição, foi formada a partir dos anseios da elite que

construiu Juiz de Fora. No século passado, o embate entre protestantes e católicos,

pela supremacia na formação dos quadros dos futuros dirigentes da cidade; na

década de 50, o movimento estudantil com a bandeira da federalização; nos anos

80, a luta pela Universidade pública, gratuita e de qualidade, como um verdadeiro

patrimônio do município, mostram a convergência entre os interesses da cidade e

da educação superior.

Na verdade, a UFJF serve de referência para a qualidade de vida, que a

cidade tenta “vender” como atrativo. O fato de ser um município do interior, sede

de uma IFES, dá um diferencial a Juiz de Fora, atraindo investimentos externos,

que podem injetar capital na cidade. Mas, mais do que atrair investimentos, a

Universidade se torna capaz de formar uma intelligentsia regional. São os novos

empreendedores, os profissionais que vão desenhar o futuro da cidade e da região.

As novas lideranças reconhecem que foi no espaço da instituição que forjaram boa

parte do seu desempenho atual. Para muitos políticos, como o vereador pelo PT,

Flávio Checker, ex-presidente do DCE, a vida universitária foi uma lição de

cidadania, de luta pelos interesses coletivos.210

As ações de extensão da Universidade, que sempre foram as mais típicas

dentro da UFJF, apontam para o trabalho solidário, capaz de gerar soluções

inventivas para os problemas das comunidades da periferia e das áreas em maior

abandono social. Isto se torna mais significativo quando se sabe que as

dificuldades orçamentárias têm levado o poder público municipal a procurar se

articular com parceiros das áreas pública e privada para conseguir atender as

diversas demandas da faixa da população mais carente.

209 TAYLOR, Charles. Le malaise de la modernité. Paris, Du Cerf-Humanités, 1995, p. 126.

Apud PAIVA, Raquel. O espírito comum: comunidade, mídia e globalismo. Op. cit. p.

141. 210 Cf. QUARENTA anos de história. Direção de Christina Ferraz Musse. Op. cit.

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Juiz de Fora está entre as 49 maiores cidades do Brasil, que abrigam 80

milhões de pessoas. “Nos últimos vinte anos, a periferia dessas cidades

correspondia a um terço da população. Agora, equivale a quase metade do total

dos moradores. Deverá ser maioria em cinco anos”.211

Apesar de, de 1996 para

cá, a renda per capita das cidades médias brasileiras ter aumentado 3%212

, os

problemas sociais se acumulam. A Prefeitura de Juiz de Fora contabiliza, na

cidade, 11 áreas com características de favelização:

Na maioria desses locais, famílias, incluindo crianças, vivem em

condições subumanas. Uma parcela significativa busca abrigo em

barracos de placas de madeira ou pedaços de plástico, em meio ao

lixo, sem acesso à urbanização. A renda média dessas pessoas não

chega a um salário mínimo e é fruto de biscates.213

A outra parte dos moradores de áreas irregulares chega a ganhar salário e

tem geladeira, além de televisor preto e branco, bens de consumo usufruídos

graças às ligações elétricas clandestinas. Mas essa parcela também não conta com

água encanada, e o esgoto corre a céu aberto.214

O crescimento desordenado das cidades, e a consequente pauperização, é

uma das discussões mais constantes em todo o mundo. No Brasil, o problema é

ainda mais grave. “Isso acontece porque, no bloco dos países mais pobres com

grande população, nenhum possui a taxa de urbanização brasileira, hoje acima de

80%.”215

Surge um novo paradoxo: uma demanda cada vez mais intensa por

serviços de infra-estrutura, de educação e saúde, por alternativas de geração de

renda que as prefeituras não têm como resolver.

Em Juiz de Fora, a UFJF tem a tradição de preencher muitas das lacunas

de prestação de serviços essenciais que outros órgãos públicos não têm

conseguido atender. Em alguns casos, como no setor de Saúde, existem várias

parcerias, para atendimento de pacientes do Sistema Único de Saúde - SUS - e

outros sem qualquer tipo de assistência, entre os quais podemos destacar o

Hospital-Dia para pacientes com Aids. Os projetos de extensão atuam em áreas as

211 SECCO, Alexandre, SQUEFF, Larissa. A explosão da periferia. Veja, São Paulo: Editora

Abril, edição 1684, ano 34, n.3, 24 jan. 2001, p. 87. 212 Id. Ibd. p.87. 213 CARNEIRO, Márcia. Censo ignora favelas em JF. Tribuna de Minas, Juiz de Fora, 11 fev.

2001. Cidade. p.1 e 3. 214 Cf. CARNEIRO, Márcia. Censo ignora favelas em Juiz de Fora Op. cit. p.3. 215 SECCO, Alexandre, SQUEFF, Larissa. A explosão da periferia. Op. cit. p. 88.

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mais diversas, seja na integração social de pessoas com necessidades especiais, na

assessoria jurídica às famílias carentes, ou no plantio de hortas de plantas

medicinais nas escolas da rede pública. Estes trabalhos, que são rotina na UFJF,

não são fruto apenas daquilo que hoje virou quase moda entre as empresas, o

chamado “marketing social”, mas se torna claro que a Universidade, como

instituição, precisa dar visibilidade às suas ações até por uma questão de

sobrevivência, justificando assim fazer jus aos recursos orçamentários pretendidos

junto ao Governo Federal e ganhando condição de igualdade para disputar outros

recursos e conquistar parcerias.

A Reitoria da UFJF encara como missão da Universidade esta ação

transformadora, que pode ser visualizada neste trecho de um artigo de autoria da

atual reitora da instituição:

Para fazer frente as nossas atrasadas aspirações por soberania e

para criar um perfil social mais justo, é indispensável que as IFES

abracem o desígnio que a UNESCO atribui às Universidades dos

países “emergentes”: propiciar a formação de contra-elites,

recrutando dos grupos sociais historicamente excluídos os novos

profissionais estratégicos, os novos dirigentes deste país.

Atender a este imperativo implica “construir portas abertas, em

portas”, por onde possa passar o povo brasileiro.216

A professora Raquel Paiva, em seu livro O espírito comum: comunidade,

mídia e globalismo, acredita que a comunicação pode ser o principal elemento a

alavancar o municipal e, consequentemente, a promover o resgate da cidadania.

Num segundo momento, ela defende que o município também deva assumir sua

condição de globalidade, já que a inserção nacional e internacional não pode ser

descartada e, finalmente, que a comunicação pode ser capaz de recuperar a

condição de proximidade, lançando mão de três mecanismos: a recriação de

formas institucionais de representação que reduzam as distâncias; a

descentralização do aparato do governo municipal; a ampliação das formas de

participação da população no governo local.217

Em todas essas possibilidades, é

216 SALOMÃO, Maria Margarida Martins. Caminhos da Universidade pública brasileira: abrir e

resistir. Juiz de Fora: UFJF, [199-]. p.3. Inédito. No artigo, a reitora faz uma referência ao

poema “Educação pela pedra”, de João Cabral de Melo Neto. 217 Cf. PAIVA, Raquel. O espírito comum: comunidade, mídia e globalismo. Op. cit. p.178-179.

Neste trecho do livro, a autora faz referência ao trabalho do pesquisador CARRIÓN,

Fernando. Ciudad, comunicación y cultura. Revista Dialogos de Comunicación. Quito,

1997, n.47, p. 15.

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imprescindível a participação das instituições representativas da cidade, entre elas,

em especial, a Universidade.

Dar visibilidade à UFJF, fazer da UFJF, uma “marca” forte, agregar valor

à instituição são desafios que a Universidade precisar vencer através de várias

estratégias, a mais importante, a comunicação. A comunicação é uma ferramenta

indispensável para identificar oportunidades e fazer com as que instituições

possam sobreviver na nova realidade competitiva do mercado, quase sempre

onipresente no modelo de governo neoliberal. Uma realidade ameaçadora, em

muitos aspectos, para as universidades públicas, devidos aos limites

orçamentários e à ameaça de privatização. Para a professora Margarida Kunsch:

A velocidade das mudanças que ocorrem em todos os campos

impele a um novo comportamento institucional das organizações

perante a opinião pública. Elas passam a se preocupar cada vez

mais com as relações sociais, com os acontecimentos políticos e

com os fatos econômicos mundiais.218

Atualmente, esta nova e indispensável preocupação, algo como o antigo:

“não basta ser, tem que parecer”, tem sido chamada por diversos autores de

auditoria social. A comunicação faz a leitura do cenário, prevê suas

transformações e fornece os subsídios para o planejamento institucional, que

garanta a inserção harmônica da instituição nos ambientes local, regional e até

mesmo no contexto internacional. Hoje, o desempenho social é considerado tão

importante quanto os balanços financeiros para garantir às organizações um

resultado satisfatório.

Atualmente, a chamada Comunicação Organizacional, que estuda as

relações de comunicação nas organizações, já reconhece que, antes de um

consumidor de produtos e de serviços, existe um cidadão, que está atento ao

desempenho das empresas como um todo e suas relações com o tecido social.

Evoluímos de uma definição de público-alvo para público-estratégico. Fatos

emergentes ou ocasionais podem determinar o surgimento de públicos-

estratégicos que antes eram latentes. Ou seja, é preciso levar em conta também os

218 KUNSCH, Margarida Maria Krohling. Relações públicas e modernidade: novos paradigmas

na comunicação organizacional. Coleção Novas Buscas em Comunicação. São Paulo:

Summus, 1997a, p. 141.

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aspectos circunstanciais de crise dinâmica da história da sociedade, pois tudo isso

afeta direta ou indiretamente qualquer organização.

Hoje, não basta produzir ou prestar serviços, é preciso pensar na

responsabilidade social da instituição, na sua estreita relação com as comunidades

onde está inserida, para a construção de um relacionamento sólido e aberto. No

caso específico das universidades públicas, a relação com a comunidade não é

nova, mas não era divulgada. Para sobreviver, a Universidade precisa de

visibilidade e esta visibilidade, esta legitimação só tem sido possível através dos

meios de comunicação.

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Capítulo 4

A INSTITUIÇÃO UNIVERSITÁRIA NO CENÁRIO DA GLOBALIZAÇÃO

No mundo globalizado, fragmentado, quais seriam as chances de

sobrevivência da Universidade e, mais do que qualquer outra, da Universidade

pública? Se partirmos do pressuposto de que a Universidade é uma instituição

necessária ao processo de crescimento das comunidades, em especial, daquelas de

Terceiro Mundo, o que deverá ser feito para que se evite o seu desmonte e, ao

contrário, crie-se uma confiança renovada na instituição como representante

legítima dos interesses populares, capaz de forjar uma identidade regional e

colaborar para a qualidade de vida daquela região em que a instituição está

inserida?

4.1 - As instituições no mundo globalizado

O sociólogo francês Pierre Bourdieu, um severo crítico da globalização e

do estado em que se encontra hoje o setor público, define o Estado atual como um

corpo em que convivem duas mãos. A mão esquerda é a que ele caracteriza como

os “trabalhadores sociais”, que são os assistentes sociais, educadores, magistrados

e também, cada vez mais, docentes e professores primários:

Eles constituem o que eu chamo de mão esquerda do Estado, o

conjunto dos agentes dos ministérios ditos “gastadores”, que são o

vestígio, no seio do Estado, das lutas sociais do passado. Eles se

opõem ao Estado da mão direita, aos burocratas do ministério das

Finanças, dos bancos públicos ou privados e dos gabinetes

ministeriais. Muitos movimentos sociais a que assistimos (e

assistiremos) exprimem a revolta da pequena nobreza contra a

grande nobreza do Estado.219

O sociólogo continua:

Essa nobreza de estado, que prega a extinção do Estado e o reinado

absoluto do mercado e do consumidor, substituto comercial do

cidadão, assaltou o Estado: fez do bem público um bem privado, da

coisa pública, da República, uma coisa sua. O que está hoje em

219 BOURDIEU, Pierre. Contrafogos: táticas para enfrentar a invasão neoliberal. Trad. Lucy

Magalhães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998. p.10.

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jogo é a reconquista da democracia contra a tecnocracia: é preciso

acabar com a tirania dos “especialistas”, estilo Banco Mundial ou

FMI, que impõem sem discussão os vereditos do novo Leviatã, “os

mercados financeiros”, e que não querem negociar, mas “explicar”;

é preciso romper com a nova fé na inevitabilidade histórica que

professam os teóricos do liberalismo; é preciso inventar as novas

formas de um trabalho político coletivo capaz de levar em conta

necessidades, principalmente econômicas (isso pode ser tarefa de

especialistas), mas para combatê-las e, se for o caso neutralizá-

las.220

Pierre Bourdieu vê na crise de hoje uma oportunidade histórica, “para

todos aqueles que, cada dia mais numerosos, na Europa e no mundo, rejeitam a

nova alternativa: liberalismo ou barbárie.”221

O professor Ladislau Dowbor acredita que a grande questão vivida pelas

organizações, hoje, é que elas não estão conseguindo acompanhar a velocidade

das transformações impostas pela chamada Nova Ordem.222

Melhorar radicalmente a nossa capacidade de governo tornou-se

uma questão de sobrevivência. A dramática diferença entre a

rapidez do avanço das técnicas e a lentidão do avanço das

instituições nos coloca como que no comando de um imenso avião

moderno, tendo no painel os modernos controles de um fusca. Há

uma disritmia letal no desenvolvimento de nossa sociedade.223

Dowbor acredita que o futuro do mundo será estruturado dentro de cinco

grandes tendências: a tecnologia, a globalização, a polarização econômica, a

urbanização e a transformação do trabalho. Sabemos que a tecnologia não tem

resolvido a discrepância das diferenças sociais. Se o computador invade

residências, é miniaturizado e promove a democratização do acesso à informação

com uma velocidade jamais vista, por outro lado, persiste o analfabetismo

tradicional, hoje agravado pelo analfabetismo tecnológico, que tende à exclusão.

Quando nos dispomos a analisar cada uma das tendências propostas por Dowbor,

220 Id. Ibd. p.38. 221 Id. Ibd. p.39. 222 O sociólogo Zygmunt Bauman não acredita na Nova Ordem, mas Desordem. Cf. BAUMAN,

Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Trad. Marcus Penchel. Rio de

Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1999, p. 76. 223 DOWBOR, Ladislau. Globalização e tendências institucionais. In: DOWBOR, Ladislau,

IANNI, Octavio, RESENDE, Paulo-Edgar A. (orgs.). Desafios da globalização.

Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. p. 10.

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chegamos à conclusão de que todas elas trazem dentro de si contradições. O

próprio Dowbor teme que, sem o desenvolvimento conjunto das instituições, das

formas de governo, das políticas, caminharemos para um caos:

As tecnologias avançam rapidamente, enquanto as instituições

correspondentes avançam lentamente, e esta mistura é explosiva.

A economia se globaliza enquanto os sistemas de governo

permanecem sendo de âmbito nacional, gerando uma perda de

governabilidade. A distância entre pobres e ricos aumenta

dramaticamente, enquanto o planeta encolhe e a urbanização junta

os pólos extremos da sociedade, levando a convívios contraditórios

cada vez menos sustentáveis. A urbanização deslocou o espaço da

gestão do nosso cotidiano para a esfera local, enquanto os sistemas

de governo continuam na lógica centralizada da primeira metade do

século. Finalmente, o mesmo sistema que promove a modernidade

técnica gera a exclusão social, transformando o mundo numa

imensa maioria de espectadores que deveriam estar se

maravilhando com as novas tecnologias.224

Artigo do jornalista José Roberto de Toledo, publicado em encarte especial

do jornal Folha de São Paulo, evidencia claramente como tem aumentado a

lacuna entre ricos e pobres:

Desde 1960, quando os ricos ganhavam 30 vezes mais do que os

pobres, a concentração de renda mundial mais do que dobrou. Em

1994, os 20% mais ricos abocanharam 86% de tudo o que foi

produzido no mundo. Sua renda era 78 vezes superior à dos 20%

mais pobres.225

É o mesmo jornalista quem complementa estes dados, informando que,

atualmente, “...o patrimônio conjunto dos raros 447 bilionários que há no mundo é

equivalente à renda somada da metade mais pobre da população mundial - cerca

de 2,8 bilhões de pessoas”.226

A acumulação desenfreada nas mãos de poucos parece ser um das

caraterísticas mais perversas que vêm se firmando no novo cenário mundial. Para

tanto, parece colaborar, no dizer de especialistas, a atual onda de

desregulamentação das economias, resultante de um enfraquecimento do Estado-

224 Id. Ibd. p. 15. 225 TOLEDO, José Roberto. Globalização aprofunda o abismo entre ricos e pobres. Folha de São

Paulo, São Paulo, 2 nov. 1997. Globalização. p.12. Caderno especial. 226 Id. Ibd. p. 12.

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Nação. Estados fracos, segundo Zygmunt Bauman, é exatamente o que a nova

economia mundial deseja para que possa agir em escala global:

Estados fracos são precisamente o que a Nova Ordem Mundial,

com muita frequência encarada com suspeita como uma nova

desordem mundial, precisa para sustentar-se e reproduzir-se.

Quase-Estados, Estados fracos podem ser facilmente reduzidos ao

(útil) papel de distritos policiais locais que garantem o nível médio

de ordem necessário para a realização de negócios, mas não

precisam ser temidos como freios efetivos à liberdade das empresas

globais.227

Pierre Bourdieu comenta no livro Contrafogos: táticas para enfrentar a

invasão neoliberal, o discurso que caracteriza a situação atual de desvalorização

de tudo que é público, associado ao aspecto de ineficiência, fazendo uma crítica

aos socialistas franceses, que pode ser aplicada a diversas nações no mundo,

inclusive, ao Brasil:

Mas o que surpreende é que tenham contribuído a tal ponto para a

depreciação da coisa pública: primeiro nos fatos, por todo tipo de

medidas ou políticas ( citarei apenas a mídia ), visando a liquidação

das conquistas do welfare state e principalmente, talvez no discurso

público de elogio à empresa privada ( como se o espírito de

empreendimento não fosse possível em outro terreno a não ser na

empresa ), de estímulo ao interesse privado.228

Bourdieu critica principalmente o discurso da mídia que, hoje, reveste com

um aspecto natural, aquilo que é de consequência cultural:

... admite-se que o crescimento máximo, e logo a produtividade e a

competitividade, é o fim último e único das ações humanas; ou que

não se pode resistir às forças econômicas. Ou ainda, pressuposto

que fundamenta todos os pressupostos da economia, faz-se um

corte radical entre o econômico e o social, que é deixado de lado e

abandonado aos sociólogos, como uma espécie de entulho. Outro

pressuposto importante é o léxico comum que nos invade, que

absorvemos logo que abrimos um jornal, logo que escutamos o

rádio, e que é composto, no essencial, de eufemismos.

Infelizmente, não tenho exemplos gregos, mas penso que os

senhores não terão dificuldade em achá-los. Por exemplo, na

França, não se diz mais “patronato”, diz-se “ as forças vivas da

nação”; não se fala mais de demissões, mas de “cortar gorduras”,

utilizando uma analogia esportiva ( um corpo vigoroso deve ser

227 BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as consequências humanas. Trad. Marcus Penchel. Rio

de Janeiro: Jorge Zahar Ed. , 1999. p. 76. 228 BOURDIEU, Pierre. Contrafogos: táticas para enfrentar a invasão neoliberal. Op. cit. p.11.

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esbelto ). Para anunciar que uma empresa vai demitir 2.000

pessoas, fala-se do “plano social corajoso da Alcatel”. Há também

todo um jogo com as conotações e associações de palavras como

flexibilidade, maleabilidade, desregulamentação, que tendem a

fazer crer que a mensagem neoliberal é uma mensagem

universalista de libertação.229

4.2 - A Universidade (brasileira) no mundo globalizado

Para analisar a situação da Universidade brasileira, a filósofa Marilena

Chauí parte da distinção que caracterizaria a instituição universitária - em

contraposição à organização universitária -, isto é, a Universidade moderna,

fundada na conquista da idéia de autonomia do saber em face da religião e do

Estado, da educação e da cultura como direitos, da democracia, enfim, da idéia de

democratização do saber da organização universitária.

A instituição social aspira à universalidade. A organização sabe

que sua eficácia e seu sucesso dependem de sua particularidade.

Isso significa que a instituição tem a sociedade como seu princípio

e sua referência normativa e valorativa, enquanto a organização

tem apenas a si mesma como referência, num processo de

competição com outras que fixaram os mesmos objetivos

particulares. Em outras palavras, a instituição se percebe inserida

na divisão social e política e busca definir uma universalidade (ou

imaginária ou desejável) que lhe permita responder às contradições

impostas pela divisão. Ao contrário, a organização pretende gerir

seu espaço e tempo particulares aceitando como dado bruto sua

inserção num dos pólos da divisão social, e seu alvo não é

responder às contradições e sim vencer a competição com seus

supostos iguais.230

Para Marilena Chauí, a passagem da instituição universitária para a

organização universitária se dá dentro do contexto atual do capitalismo, marcado

pela fragmentação da produção, contração do espaço e do tempo, flexibilidade

para adaptação a mudanças contínuas, destruição dos referenciais que balizavam a

identidade de classe e as formas de luta de classes. Ela acredita que a mudança

tenha sido feita em três etapas sucessivas também acompanhadas de mudanças do

229 Id. Ibd. p.44. 230 CHAUÍ, Marilena. A Universidade em ruínas. In: TRINDADE, Hélgio (org.). Universidade

em ruínas: na república dos professores. 2. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes/Rio Grande do

Sul:CIPEDES, 1999. p. 219.

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capital. Num primeiro momento, a Universidade funcional, que corresponde ao

período do “milagre econômico” dos anos 70; no segundo momento, a

Universidade de resultados, correspondente, segundo ela, ao processo

conservador de abertura política dos anos 80; finalmente, a Universidade

operacional, que corresponde ao neoliberalismo dos anos 90.231

De acordo com Marilena Chauí, a Universidade funcional dos anos 70

estava voltada para a formação rápida de profissionais para o mercado de trabalho.

A Universidade preenchia o sonho da classe média de conseguir ascenção social

através do diploma de curso superior. Nesta época, observou-se a abertura

indiscriminada de cursos superiores, no Brasil.

O conceito de Universidade de resultados, segundo a pesquisadora, é

originário da etapa anterior, caracterizado pelo crescimento do ensino privado e a

introdução da idéia de parceria entre a Universidade pública e as empresas

privadas.

Finalmente, a Universidade operacional dos anos 90, que difere das

formas anteriores. Segundo Marilena Chauí, este modelo de Universidade é

aquele caracterizado pela forma organizacional, isto é, a Universidade que “está

voltada para si mesma enquanto estrutura de gestão e de arbitragem de contratos

(...) isso não significa um retorno a si e sim, antes, uma perda de si mesma.”232

Regida por contratos de gestão, avaliada por índices de

produtividade, calculada para ser flexível, a Universidade

operacional está estruturada por estratégias e programas de eficácia

organizacional e, portanto, pela particularidade e instabilidade dos

meios e dos objetivos. Definida e estruturada por normas e padrões

inteiramente alheios ao conhecimento e à formação intelectual, está

pulverizada em microorganizações que ocupam seus docentes e

curvam seus estudantes a exigências exteriores ao trabalho

intelectual. A heteronomia da Universidade autônoma é visível a

olho nu: o aumento insano de horas-aula, a diminuição do tempo

para mestrados e doutorados, a avaliação pela quantidade de

publicações, colóquios e congressos, a multiplicação de comissões

e relatórios, etc. Virada para seu próprio umbigo, mas sem saber

onde este se encontra, a Universidade operacional opera e por isso

mesmo não age. Não surpreende, então, que esse operar co-opere

para sua contínua desmoralização pública e degradação interna.233

231 Cf. CHAUÍ, Marilena. A Universidade em ruínas. In: TRINDADE, Hélgio (org.).

Universidade em ruínas: na república dos professores. Op. cit. p. 219-220. 232 Id. Ibd. p.220. 233 Id. Ibd. p.221.

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A burocratização da Universidade é um problema levantado também pelo

geógrafo Milton Santos. Em entrevista concedida em agosto de 2000, ao Jornal

do Brasil, o professor emérito da Universidade de São Paulo critica o sistema

universitário, que deveria ser pródigo na produção de idéias, mas que, ao

contrário, tem sido vítima do pensamento único da globalização e do processo de

institucionalização.

A forma como as universidades estão sendo geridas atualmente é

burocrática, amarrada a regras. Em cada departamento, que deveria

gerir as coisas e não as pessoas, vigoram leis, às quais os

professores devem se submeter, e prêmios, concedidos àqueles que

cumprem as regras. A cooptação é feroz. O resultado é a redução

da autonomia intelectual do corpo docente e da capacidade de se

fazer uma autocrítica. Os professores estão imobilizados. ( ... ) A

burocracia dentro da Universidade tem a tendência a dar mais

importância aos meios do que aos fins, de privilegiar o resultado ao

invés do conjunto. Isso a Universidade não suporta. Ela é a única

instituição que não suporta ser institucionalizada.234

Santos faz uma diferenciação entre os habitantes da Universidade, onde

ele identifica “intelectuais e letrados”.235

A Universidade é o lugar de intelectuais, o sujeito que dedica todo

o tempo a busca da verdade, e também de letrados. Você pode ser

um bom professor e pesquisador. Tem espaço para os dois na

universidade. Mas, é verdade também que, embora ela esteja

formando intelectuais, ela tem produzido em maior número

letrados. O espaço universitário se define por ser o lugar do livre

pensar, de criar idéias e discuti-las. Esse é o sentido real da vida

universitária.236

234 MOREIRA, Martha Neiva. “A Universidade se burocratizou”. Jornal do Brasil, Rio de

Janeiro, 27 ago. Caderno 1, p.12. 235 Para complementar esta idéia, veja ROMANO, Roberto. Universidade: entre as Luzes e nossos

dias. In: DORIA, Francisco Antônio (org.). A crise da universidade. Op. cit. p. 26-27.

Roberto Romano, no seu artigo, fala da tipologia dos intelectuais criada por Kant. O filósofo identifica os “corporativos”, inseridos na universidade; os “livres”, que se

organizam nas sociedades científicas, mas estão fora da Universidade e, finalmente, o

“letrado”, que estudou na universidade, não possui compromissos com a ciência - “é o

agente governamental, cujo emprego consiste (e nem sempre para o bem da ciência) em

atingir os fins do governo”.) 236 MOREIRA, Martha Neiva. “A Universidade se burocratizou”. Jornal do Brasil. Op. cit. p.12.

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Para o pesquisador Nicolau Sevcenko, da Universidade de São Paulo, o

professor ideal, hoje, é “um híbrido de cientista e corretor de valores”,237

tipo que

ele define em artigo para o caderno mais!, do jornal Folha de São Paulo:

O professor ideal agora é um híbrido de cientista e corretor de

valores. Grande parte do seu tempo deve ser dedicado a preencher

relatórios, alimentar estatísticas, levantar verbas e promover

visibilidade para si e para seu departamento. O campus vai se

reconfigurando num gigantesco pregão. O gerenciamento de meio

acabou se tornando fim da universidade. A idéia é que todos se

empenhem, no limite de suas forças, para que também

compartilhemos do inexorável destino manifesto. Ainda que esse

destino tenha sido forjado na outra extremidade do oceano

Atlântico.238

O professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Costa

Lima, em artigo publicado também na mesma edição do caderno mais!, reitera a

situação de burocratização dos postos universitários.

Os postos universitários são extremamente mal pagos, o apoio à

pesquisa antes se caracteriza pelo acúmulo de obrigações

burocráticas (informes, questionários, ênfase quantitativa em

trabalhos que não serão lidos) do que por verbas para a

conservação e atualização das bibliotecas, para a publicação de

revistas de periodicidade constante, para o contato regular com

colegas nacionais e estrangeiros. Além disso, como a degradação

do ensino vem do curso secundário, as aulas passam a ser dadas

para turmas sem preparo e interesse, muitas vezes para alunos

semi-alfabetizados. Assim, o professor, a curto prazo, é obrigado a

optar por cursos medíocres, a médio prazo a se desinteressar

progressivamente pelo que faz, a longo prazo a internalizar e

esquecer a mediocridade que dele se apropria.239

Sevcenko, condena o modelo de administração adotado na Universidade

brasileira e que privilegia apenas a eficiência quantitativa, alimentada por dados

estatísticos:

Nas universidades, o que prevalece é o modelo da administração

eficiente, capaz de gerar seus próprios recursos estabelecendo

nexos cada vez mais profundos com o mercado e com a corrida

tecnológica. A eficácia do desempenho é medida em termos de

237 SEVCENKO, Nicolau. O professor como corretor. Folha de São Paulo, São Paulo, 4 jun.

2000. mais!, p.7. 238 Id. Ibd. p.7. 239 LIMA, Luiz Costa. Marginais aqui e lá. Folha de São Paulo, São Paulo,4 jun. 2000. mais!.

p.12.

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sucessos estatísticos, de capitais, produtividade e visibilidade, todos

conversíveis em valores de marketing para atrair novas parcerias,

dotações e investimentos.240

Laymert Garcia dos Santos, professor livre-docente da Unicamp, acredita

mesmo no fim da Universidade:

... um momento de lucidez me impôs com toda a crueza aquilo que

tentei recalcar durante anos: a percepção de que a carreira

acadêmica tornou-se um beco sem saída porque a Universidade

brasileira está acabando. Isso mesmo: acabando. Primeiro porque

o desmantelamento das universidades públicas parece inexorável;

segundo porque a destruição delas deixará um enorme vazio que

não será ocupado pelas particulares, pela simples razão de que estas

nem merecem seriamente o nome de Universidade (é claro que as

PUCs são uma exceção, mas, espremidas entre a função pública e o

contrato de trabalho privado, vêm vivendo um dilema que pouco a

pouco as transforma em universidades de serviços).241

Na opinião do professor da Universidade Estadual de Campinas, Ricardo

Musse, há um paradoxo no desmonte da Universidade brasileira:

O paradoxo é que o desmonte da Universidade brasileira ocorre no

exato momento em que no núcleo central do sistema capitalista, a

universidade, em crise desde os anos 60, recupera sua importância

histórica e social. O último fator dinâmico de uma economia cada

dia mais autonomizada na esfera financeira parece ser o aumento

de produtividade gerado pelo desenvolvimento científico e

tecnológico, proporcionado direta ou indiretamente (por meio da

atuação nos departamentos de Pesquisa e Desenvolvimento das

empresas de cientistas formados na universidade) pela pesquisa

científica universitária.242

No artigo Anatomia de uma crise, o professor Muniz Sodré resgata o

pensamento do economista francês Jacques Attali que, juntamente com um grupo

de intelectuais franceses, tenta definir um novo modelo europeu de Universidade,

que dependeria de “quatro revoluções”: 1) Ciência e tecnologia - o documento

considera que a Universidade se tornará “nômade”, isto é, as novas tecnologias

permitirão a utilização cada vez maior da Educação a Distância, reunindo

240 SEVCENKO, Nicolau. O professor como corretor. Folha de São Paulo. Op. cit. p.6. 241 SANTOS, Laymert Garcia dos. O fim da universidade. Folha de São Paulo, São Paulo, 4 jun.

2000. mais!. p. 5. 242 MUSSE, Ricardo. Vocação interrompida. Folha de São Paulo, São Paulo, 4 jun. 2000. mais!.

p.8.

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estudantes e professores que poderão estar espacialmente separados, além disso, a

rápida renovação das profissões exigirá da Universidade um trabalho permanente

de adaptação aos novos saberes; 2) Relações com o Estado - a Universidade

continuará formando quadros para o Estado, mas terá também que atender às

novas exigências de perfil para o serviço público: coletividades locais,

associações, organizações internacionais etc.; 3) Relações com as empresas - o

relatório do grupo francês sustenta que as empresas inovadoras só poderão se

desenvolver em estreita colaboração com as universidades; 4) Ritmo de

aprendizagem dos saberes - instituir-se-á a regra da formação permanente, tendo

fim a dicotomia entre formação e vida ativa.243

De acordo com Muniz Sodré, estas tendências podem ser adaptadas ao

cenário da educação superior no Brasil, onde, segundo ele, “a questão

educacional, e por conseguinte a questão da universidade, é cada vez mais um

ponto estratégico na organização da sociedade civil”.244

4.3 - A Universidade de mercado

No cenário atual, surgem novos modelos de organização, fundamentados

quase que exclusivamente nas necessidades do mercado. No Brasil, no setor do

ensino superior, existem dezenas de exemplos de organizações voltadas para o

mercado, com o objetivo primeiro do lucro. Necessariamente, isto não significa

que estas organizações pensem apenas no aspecto financeiro. É interessante que

se faça uma reflexão sobre novos modelos e que se possa tirar deles algum

proveito, no sentido, talvez, de dar uma nova forma às instituições sem desvirtuar

seu comprometimento com o social.

Para iniciarmos as nossas considerações, vamos tentar entender o que é

marketing. Market, do inglês, “mercado” e ing, sufixo inglês que designa “ação”.

Marketing é, então, “ação para o mercado”.245

243 Cf. ATTALI, Jacques. Pour un modèle européen d´enseignement supérieur. Paris: Ed.

Stock, 1998. Apud SODRÉ, Muniz. Anatomia de uma crise. In: DORIA, Francisco

Antônio (org.). A crise da universidade. Op. cit. p. 91-92. 244 SODRÉ, Muniz. Anatomia de uma crise. In: DORIA, Francisco Antônio (org.). A crise da

universidade. Op. cit. p. 92. 245 Cf. ROCHA, Leny Alves, DANTAS, Edmundo Brandão, COELHO, Cláudio Ulysses F.

Gerência de marketing. Rio de Janeiro: SENAC, 1996. p.23.

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Uma filosofia de orientação para o cliente; uma função empresarial

organizada, dotada de objetivos e políticas definidos; uma estrutura

organizacional moderna, envolvendo a integração de todas as

funções; um processo de planejamento empresarial ordenado,

baseado em fatos e não em palpites ou opiniões; a arte de vender, a

venda com responsabilidade, praticada por profissionais que

saibam criar o pedido e não apenas tirar o pedido; o emprego da

nova ciência da administração, ou seja, a abordagem científica

aplicada à resolução de problemas empresariais com o uso intenso

de fatos e dados como base para o planejamento; uma profissão, e

não apenas um conjunto de conceitos teóricos e acadêmicos. Em

resumo, marketing é uma estratégia empresarial dinâmica, quer

dizer, são esforços planejados com vistas à mudança e preparados

para enfrentar a mudança. É uma atividade-chave para o futuro e a

sobrevivência de qualquer empresa.246

Se formos “pegar carona” numa das definições de um dos papas do

marketing, com vários livros publicados e reeditados, Philip Kotler, veremos

como, sob o ponto de vista dele, marketing tem uma definição muito simples. “O

marketing lida com a identificação e o atendimento das necessidades humanas e

sociais. Uma das definições mais sucintas é ‘atender a necessidades de maneira

lucrativa’”.247 Neste sentido, a chave do sucesso parece ser, sem dúvida, a

aproximação com o cliente e a adoção de práticas que viabilizem o atendimento às

necessidades, desejos e sonhos desse cliente.

A orientação para marketing tem seu enfoque no atendimento real das

necessidades e dos desejos do consumidor, a longo prazo. Conseguir conquistar e

manter clientes. Esta frase sintetiza bem a orientação para o marketing. Ela só se

efetiva se forem previstas as necessidades dos clientes através de pesquisas

constantes do mercado, se os produtos e serviços forem desenvolvidos com

qualidade técnica e se esta for realmente percebida pelos clientes, se for prestado

um atendimento com qualidade, de modo a satisfazer e manter o cliente. De certa

forma, é a máxima: o cliente tem sempre razão.

Uma das ferramentas do marketing é a marca do produto, algo tão

importante nos dias atuais que costuma valer mais do que o patrimônio físico da

empresa. Aliás, fábricas não têm se mostrado necessariamente importantes no

246 Id. Ibd. p. 15-16. 247 KOTLER, Philip. Administração de marketing: a edição do novo milênio. 10.ed. Trad. Bazán

Tecnologia e Linguística. São Paulo: Prentice Hall, 2000. p. 24.

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cenário global. “A Nike não é dona de nem sequer uma fábrica, não emprega

nenhum operário, não tem nenhuma máquina”.248

Entre as chamadas empresas

transnacionais, que operam no mercado global, espalhando suas unidades por

diversos países, a prioridade passou a ser investir em marcas.

O conceito de marca remonta à década de 30, quando foi inventado por

empresas de bem de consumo acabados como a Procter & Gamble. Inicialmente,

houve um fase em que, para vender o produto dependia-se quase que

exclusivamente de apresentar seus atributos/benefícios. Nesta fase, a promoção de

descontos e vantagens definia a postura do consumidor. Hoje, exige-se mais: “

uma aproximação do estilo de vida ou sistemas de valor (do consumidor)”.249

Hoje, segundo Schmitt e Simonson, “a marca é apenas um pequeno

elemento no gerenciamento de uma identidade e imagem.”250

Neste mundo de

intenso fluxo de comunicações, de produtos e serviços que apresentam cada vez

mais atributos e benefícios, na disputa pela conquista e manutenção de clientes,

num cenário cada vez mais competitivo, não basta se ter uma boa marca, a marca

deve estar ancorada numa experiência mais ampla, num verdadeiro conceito que

engloba toda a organização. Neste sentido, Shimitt e Simonson criaram a

expressão “estética do marketing”, para se referirem ao “resultado do marketing

de experiências sensoriais de empresas ou marcas que contribuiu para a identidade

da organização ou da marca.”.251

De certa forma, o que os autores defendem vai

ao encontro do que Kunsch nomeia de “comunicação integrada”, “aquela em que

as diversas subáreas atuam de forma sinérgica.”252

Para as organizações em geral, é muito importante a integração de

suas atividades de comunicação, em função do fortalecimento do

conceito institucional, mercadológico e corporativo junto a toda a

sociedade. É preciso incorporar a idéia de uma comunicação

248 FRANCO, Célia de Gouvêa. Empresas globalizadas trocam patrimônio por marketing. Folha

de São Paulo, São Paulo, 2 nov. 1997. Globalização. p.11. Caderno especial. 249 KEELEY, Larry. Getting your unfair share of attention: decentralizing the concept of a brand.

Design Management Journal, 1992, p. 64 em diante. Apud. SCHMITT, Bernd,

SIMONSON, Alex. A estética do marketing: como criar e administrar sua marca, imagem e identidade. Trad. Lúcia Simonini. São Paulo: Nobel, 2000. p. 31.

250 SCHIMITT, Bernd, SIMONSON, Alex. A estética do marketing: como criar e administrar

sua marca, imagem e identidade. Op. cit. p.32. 251 Id. Ibd. p.33 252 KUNSCH, Maria Margarida Krohling. Relações públicas e modernidade: novos paradigmas

na comunicação organizacional. Op. cit. p. 115.

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globalizante, que nos ajude a compreender e acompanhar o ritmo

acelerado das mudanças no Brasil e no mundo. Uma comunicação

parcial e fragmentada nunca conseguirá isso.253

No sentido de contemplar novas demandas, um novo perfil do aluno, um

novo cenário, o ensino superior também deve caminhar, mas isso requer ousadia,

agilidade e investimentos. Quando se fala em “estética de marketing” ou

“comunicação integrada” o que se quer dizer, afinal, é que as instituições que

pretendem sobreviver no novo cenário têm que investir na conquista e

manutenção da sua clientela ou, em linhas mais gerais, têm que ser parceiras,

aliadas, cúmplices da comunidade onde estão inseridas. Para tanto, é

imprescindível o investimento em comunicação, a ferramenta que garante a gestão

das relações com os diversos públicos. Mais que isso, quando se pensa na

“estética do marketing”, conclui-se que não basta se fazer comunicação, mas tem

que se fazer comunicação de qualidade. Segundo Maria Helena Weber, “significa

dizer que as instituições não podem fazer sua comunicação pensando apenas na

sua importância social e na importância capital da sua atuação, mas também no

modo de traduzir, adequadamente, e promover esta importância”.254

Isto é, para gerar o entendimento junto aos públicos extremamente

expostos aos sofisticados padrões estéticos da mídia, mesmo em nosso país

subdesenvolvido, é necessário um mínimo de investimento. Não há comunicação

eficiente a partir de um jornal mal diagramado, fotos desfocadas, vídeos com

edição mal realizada. Não há comunicação eficiente se o campus é mal

sinalizado, se as salas estão sujas e desarrumadas, se os alunos estão sem aula, no

corredor. Os dirigentes devem entender que usar a comunicação como ferramenta

de mudança exige espaço político e também investimento humano e material.

Hoje, não há mais lugar para improvisações e nem apenas para ações pontuais.

Neste sentido, o setor privado anda a passos lépidos, enquanto o setor

público demora a definir políticas e desencadear ações. É o caso, por exemplo,

que caracteriza a Educação a Distância. As instituições privadas têm aplicado

253 Id. Ibd. p. 116. 254 WEBER, Maria Helena. Educação & comunicação: exercícios de poder. Porto Alegre:

UFRGS, [s.d.], p. 5. dig.

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grandes somas de recursos em novas tecnologias, laboratórios e parcerias com

escolas de tradição internacional, enquanto as escolas públicas estão numa camisa

de força, sem ter como investir em áreas que exigem aplicação intensiva de

recursos como esta, de Educação a Distância, que é uma alternativa para atrair

esse novo tipo de aluno, que precisa se reciclar constantemente e não tem mais

“tempo” para ficar preso no ambiente da sala de aula.

Para o diretor da Universidade Carioca, Celso Niskier, “o ensino superior

no Brasil atende a apenas 1% da população. As universidades particulares

registram altos índices de evasão a partir do terceiro ano. Grande parte dos

graduados não está apta a entrar no mercado de trabalho, precisando de

complementação na sua formação.”255

A Universidade Carioca, fundada em 1990,

desenvolve o projeto da UniVir, um centro de ensino virtual, uma escola por

assinatura que atualiza o profissional utilizando vários recursos da comunicação,

como os fóruns de discussão ou as teleconferências online. Existe ainda a

modalidade da escola virtual corporativa:

A escola virtual corporativa é do tipo que fazemos com a

Eletrobrás. Ela não se desenha por um tema, mas pela demanda da

empresa, que se encontra em processo de atualização de pessoal.

Fizemos também projetos desse tipo para a Telerj, para Furnas e

agora para a Vale do Rio Doce, apoiando uma iniciativa interna

deles. A Vale precisava de um curso de tecnologias educacionais

para 15 gerentes de recursos humanos, espalhados pelo Brasil. O

projeto já está no terceiro módulo, devendo se encerrar em um mês

e meio. Este é um meta-curso, ou seja, um curso de como fazer

cursos virtuais.256

Niskier fala inclusive num novo modelo de educação permanente e a

distância, ideal para aqueles que precisam se reciclar com frequência:

Pensamos em um modelo de escola por assinatura. Em vez de

pagar quatro anos por um produto perecível, a pessoa paga uma

assinatura que lhe dá direito a um elenco de conhecimentos que

serão consumidos de acordo com a necessidade. Uma espécie de

255 LAGÔA, Ana. Escola virtual já é realidade. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 2 mai 1999.

Empregos & Educação para o trabalho. p.1. 256 Id. Ibd. p. 2.

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pay per view de produtos educativos que garante a participação

permanente em fóruns de discussão específicos.257

Nos Estados Unidos, chegamos a um ponto ainda mais curioso e polêmico,

movido pela necessidade da educação permanente, que é o das universidades

empresariais, que garantem que o ensino esteja vinculado aos interesses

organizacionais, mas de uma forma que não é necessariamente barata.

Segundo pesquisa da Quality Dynamics, a organização de médio

porte que possui uma Universidade investe nela 2,3% da folha de

pagamento, o que dá um orçamento operacional anual ao redor de

US$ 10,1 milhões. Não nos surpreende, portanto, que as

universidades de empresa sejam encontradas mais frequentemente

em grandes organizações - os exemplos mais conhecidos nos

Estados Unidos são, além da Motorola University, Disney

University, McDonald´s Hamburger University e Sears

University.”258

A associação entre o treinamento convencional das organizações e o

ensino acadêmico é, em muitos aspectos, uma união de culturas opostas - como

Igreja e Estado, por exemplo. Entre as sessões de um encontro realizado na

América, exatamente para debater a questão, enquanto os executivos de empresas

corriam para os telefones para contatar o escritório, os acadêmicos se

movimentavam calmamente para debater determinado ponto com o palestrante.259

Em 1988, havia 400 universidades empresariais na América; atualmente

são 1000. Algumas dessas universidades têm instalações próprias, mas a

tendência é que tudo seja feito via espaço eletrônico, sem espaço físico. Muitos

alunos recebem créditos de nível universitário, mesmo que não continuem os

estudos, depois. A grande vantagem da Universidade-empresa é o fato dela

estimular o trabalho em equipe. Estas universidades podem não ter como alunos

apenas funcionários, mas também desenvolver programas para fornecedores e

clientes.

257 Id. Ibd. p. 2 258 UNIVERSIDADES empresariais: nova forma de treinamento dos funcionários ganha força.

HSM Management, São Paulo: HSM do Brasil, nov./dez.1997, p.118 259 Id. Ibd. p. 119.

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Numa matéria publica na revista Carta Capital, e escrita a quatro mãos por

um estudante da Escola Superior de Propaganda e Marketing e um professor da

Fundação Getúlio Vargas, de São Paulo, a questão da proximidade entre

Universidade e Empresa é vista sob um outro prisma. O texto discute os riscos da

“McDonaldização do ensino”, em que “Universidades e escolas adotam o modelo

da fast-imbecilização”.260

Na visão dos autores, teríamos, então, uma tendência a

substituir o aluno, o cidadão, pelo cliente, os centros acadêmicos pelos

ombudsmen, levando a um esvaziamento do coletivo. A quantidade substituiria a

qualidade ou passaria a ser o parâmetro pelo qual é medida a qualidade da

instituição, o que já ocorre de fato, com toda a tendência de controle do

professores através da GED, ou de liberação de verbas, de acordo com o

atendimento a uma série de parâmetros pré-estabelecidos pelo Ministério da

Educação e Desporto.

Neste cenário, vivemos sob uma pressão constante para “produzir

resultados”. Acredita-se que quanto mais quantificáveis mais

qualificados nos tornamos. Até mesmo os sentimentos humanos

parecem poder ser reduzidos a uma fórmula matemática que

discernirá e sentenciará o que e quem são os “positivos” e os

“negativos”, os vencedores e os fracassados, os high potential e os

low potential. A celebração da instrumentalidade dá força e

continuidade à coisificação dos homens.261

Os autores do artigo denunciam a instrumentalização banalizada dos

alunos:

Há uma exagerada ênfase na instrumentalização banalizada dos

alunos, condicionando, através de receitas de bolo, os estudantes a

darem respostas padronizadas para as necessidades do mercado e

fechando a porta da reflexão e da busca de suas próprias soluções.

Provocar a curiosidade, estimular o raciocínio? Nem pensar! Dá

muito trabalho quando a racionalidade econômica está no

comando. O professor que pesquisa, estuda e reflete é substituído

pelo profissional que apresenta fórmulas mágicas (que se vende

como “o que sabe fazer”), pois ensina quem é bem adestrado e bom

260 ALCADIPANI, Rafael, BRESLER, Ricardo. Mcdonaldização do ensino: Universidade e

escolas adotam o modelo da fast-imbecilização. Carta Capital. São Paulo: 10 mai. 2000.

p.20. 261 Id. Ibd. p.22.

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de palco, não quem pensa ou sabe ensinar um sujeito a aprender

por conta própria.262

No que tange o desempenho das universidades públicas, observa-se uma

tendência cada vez maior à produtividade.

As agências nacionais de fomento à pesquisa exigem quantidades

de publicação para a concessão de bolsas. As universidades

públicas que sempre formaram pessoas mais críticas estão

transformando-se em “Universidades de Resultados”: têm de

mostrar que são produtivas. A concessão de verbas para ensino e

pesquisa está estritamente vinculada à quantidade de “produção” da

universidade.263

Neste cenário, vale resgatarmos as palavras do primeiro-ministro da

França, Lionel Jospin, durante encontro na sede da UNESCO, em Paris, em

outubro de 1998, quando estiveram reunidos, naquela cidade, quatro mil

especialistas em educação da quase totalidade dos 186 países membros da

entidade. A temática do encontro era: “Educação superior no século XXI: visão e

ação”:

Pergunto-me se o ensino superior deve se adaptar ao mercado, e

recuso a concepção mercantil segundo a qual ele poderia ser

determinado pelo mercado. Neste domínio, como em outros, a

economia de mercado é a realidade na qual agimos. Mas ela não

saberia formar o horizonte de uma sociedade. O mercado é um

instrumento, não é a razão da democracia.264

4.3.1 - O novo perfil do aluno

No cenário atual, Francisco Dória observa que há uma mudança de

clientela na Universidade, mudança que é acelerada, desde os anos sessenta.

Hoje, o principal cliente da Universidade é a classe média urbana. E qual é o

projeto da classe média urbana? O que ela espera da Universidade? Segundo

262 Id. Ibd. p.23. 263 Id. Ibd. p. 23. 264 EICHENBERG, Fernando. Unesco define ações para a educação superior no século XXI.

Jornal da universidade, Porto Alegre, UFRGS, ano II, n. 13, out.1998. p.3.

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Dória, “ o que se espera da Universidade hoje, na Europa e nos Estados Unidos, é

que ela forme bons profissionais para servir ao sistema de produção.”265

Acreditamos que, no Brasil, o objetivo do jovem, ao ingressar na

Universidade, é o de também garantir o seu lugar ao sol, se possível, numa grande

corporação, que lhe garanta muitos benefícios. Apesar do diploma não mais

garantir o ganho financeiro, ele ainda é visto com bons olhos pelos filhos da classe

média, que sonham com um bom emprego numa multinacional, a pseudo-

estabilidade do emprego público e, até mesmo, a possibilidade de abrir um

negócio próprio, e ser chamado por doutor. No caso dos filhos da elite, apesar de

ainda disputarem vagas no setor público, há uma tendência, nos centros maiores,

de estudarem em colégios bilingues, desde o ensino fundamental, e serem

educados para ocupar seu lugar no mundo global, em carreiras ligadas a business,

e para uma graduação ou, no mínimo, um MBA, no exterior.

Uma matéria publicada na Gazeta Mercantil, de autoria do jornalista

Alberto Sena, baseada em pesquisa realizada pelo Fórum de Jovens Empresários

da Associação Comercial de São Paulo, juntamente com a Bovespa, ouvindo

estudantes de 27 faculdades paulistas, traz curiosas revelações. Entre elas a de

que “o diploma não é mais o fim, mas o início de uma vida profissional.”266

De

acordo com Sena:

Antes, o jovem saía da faculdade e buscava logo uma empresa

pública para fazer carreira. Atualmente, isto não acontece: a

privatização mudou o quando e o mercado tornou-se seletivo. “O

jovem deve falar pelo menos uma língua estrangeira e buscar

sempre a especialização”, recomenda Iazzetta (Mautício Trugilllo

Iazzetta - coordenador do Fórum de Jovens). Na interpretação dele,

o jovem atual quer ter o próprio negócio e acredita mais no País.267

É curioso que se observe, na pesquisa realizada, o interesse em ganhar

dinheiro:

Aumentou o percentual de universitários que gostariam de ser

muito ricos. Em 1988, 46% responderam afirmativamente a esta

questão. Na pesquisa atual, 59% deram a mesma resposta. O

265 DORIA, Francisco Antônio. A função da Universidade brasileira. In: DORIA, Francisco

Antônio (org.). A crise da universidade. Op. cit. p.58.

266 SENA, Alberto. Universitários acreditam no País e querem toca o próprio negócio. Gazeta

Mercantil Minas Gerais, 3,4 5 nov. 2000. p.2. 267 Id. Ibd. p. 2.

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desejo de ser uma pessoa muito rica é maior entre os homens (62%)

e os alunos de faculdades particulares (60 %).268

Fazer uma Universidade para enfrentar um novo contexto, de mundo

globalizado, e um novo cliente. Este talvez seja um dos grandes desafios do

ensino superior. Matéria da revista Veja, de 16 de dezembro de 1998, tenta

mostrar algumas das características desse novo jovem que chega às instituições de

ensino.

Os professores foram os primeiros a acusar a nova onda. Estão

lidando com crianças que vão para a sala de aula aos 7, 8 ou 9 anos

de idade com conhecimentos, interesses e curiosidades que muitas

vezes eles não estão preparados para satisfazer. A menininha

aparece falando inglês e torna obsoleto o currículo normal da

escola, planejado para lhe ensinar apenas palavras básicas do

idioma estrangeiro. O garoto surge com conceitos detalhados sobre

a Idade Média, meio ambiente e dúvidas intrigantes sobre equações

matemáticas de que ele precisava para a programação do seu

computador. Dá um nó na cabeça do professor. Os educadores

sentem que sua clientela está achando a escola tradicional, com

suas etapas rígidas e seus ensinos compartimentados, uma

estrutura um tanto superada”.269

Não dá mais para negar que as crianças de hoje são menos filhos de seus

pais do que da tecnologia e do ambiente externo.

De um lado os cientistas estão descobrindo com espanto que o

cérebro de uma criança de hoje é mais desenvolvido fisicamente do

que o de seus antepassados. (...) Da mesma forma que as células

dos ossos se alimentam de cálcio, as do cérebro, os neurônios,

crescem e se diversificam com doses certas de proteínas e oxigênio.

Para se tornar melhores, no entanto, elas precisam de outro

alimento. Precisam de estímulos sonoros, visuais, olfativos e de

desafios intelectuais. Tudo que a criança enxerga, ouve ou aprende

esculpe uma área vital no cérebro que será útil na vida profissional

e pessoal futura”.270

As autoras do artigo prosseguem:

O primeiro ponto de mudança detectado pelos cientistas é o

crescimento do que chamam de plasticidade cerebral, a capacidade

268 Id. Ibd. p. 2. 269 SIMONETTI, Eliane, VALENTINI, Cintia. Melhores que os pais. Veja, São Paulo: Editora

Abril, ano 31, n.50, 16 dez. 1998, p.12. 270 Id. Ibd. p. 12.

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dos neurônios de se moldarem de acordo com a estimulação

externa. Disso resulta uma maneira multidisciplinar de enxergar a

realidade. (... ) A criança de hoje não tem o pensamento linear. (...)

Atualmente, com a ajuda dos computadores, as crianças

transformam a palavra em imagem. O cérebro delas trabalha muito

com a associação de imagens. É a diferença que separa a cartilha

do videoclipe.271

4.3.2 - O aluno da UFJF

A UFJF tem procurado entender melhor quais são as necessidades e as

expectativas de seus alunos para, assim, tentar adequar algumas características da

instituição a estas demandas. Para termos um retrato aproximado de qual é o

perfil do alunado da instituição, apelaremos para os resultados do último

levantamento do perfil dos aprovados no vestibular da UFJF, divulgado pela

Universidade. Os dados de 1999 eram os seguintes, de acordo com levantamento

apresentado pelo jornal Tribuna de Minas:272

Sexo - masculino: 48,2%; feminino: 51,8%

Domínio de língua estrangeira - não dominam nenhuma língua: 46,9%; dominam

duas línguas: 3,8%; francês: 1,6%; inglês: 39,3%; outra: 7,4%; três ou mais: 1,0%

Tentativas de ingresso em curso superior - este é o primeiro: 48,6%; uma: 28,5%;

duas: 14,7%; três: 5,8%; mais: 2,3%

Ocupação do tempo - leitura: 31,3%; TV: 23,8%; música: 22,7%; cinema:2,8%;

teatro: 0,75%; outros: 18,6%

Motivo principal da escolha do curso - possibilidade de realização pessoal:

60,1%; possibilidades de mercado de trabalho: 14,25%; outros: 25,6%

271 Id. Ibd. p. 16.

272 Cf. ARBEX, Daniela. Aptidão perde para exigências do mercado. Tribuna de Minas, Juiz de

Fora, 1 out. 2000. Cidade, p.1.

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Participação na vida econômica do grupo familiar - não trabalham, são

sustentados pela família: 77,2%; trabalham, mas recebem ajuda: 10,8%;

trabalham, respondem apenas por seu sustento: 4,3%; trabalham, ajudam no

sustento da família: 5,1%; trabalham, respondem pelo sustento da família: 2,5%

Cursou integralmente ou a maior parte o ensino fundamental em - escola pública

federal: 3,7%; escola pública estadual: 38,03%; escola pública municipal: 5%;

escola particular: 53,16%

Idade - 18 anos: 24,5%; até 17 anos: 16,5%; 19 anos: 20,25%; 20 a 24: 27,06%;

acima: 11,6%

Frequentou curso pré-vestibular - menos de um semestre: 6,6%; um semestre:

9,5%; um ano: 28,8%; mais de um ano: 18,6%; não: 22,9%; integrado ao 2º grau:

13,6%.

Uso de computador - para trabalhos escolares e/ou profissionais: 46%; usa só

para ler: 14,3%; não usa: 39,7%

Fonte de informação sobre acontecimentos atuais - não se mantêm informados:

24,3%; jornal escrito: 21%; telejornal: 2,6%; rádio: 1,5%; revistas: 0,6%; outras

fontes: 49,8%

Renda mensal do grupo familiar - de 2 a 5 s.m.: 26,6%; de 5 a 10 s.m.: 31,6%; de

10 a 15 s.m.: 24,5%; de 20 a 40 s.m.: 15%; mais de 60 s.m.: 2,2%.

Os dados apresentados pelo jornal não chegam a surpreender, mas

mostram que, com o correr do tempo, o perfil do aluno que entra na Universidade

Federal de Juiz de Fora não corresponde mais apenas aos filhos da elite. Dos

aprovados no vestibular/1999, 58,2% têm renda familiar de até dez salários

mínimos, sendo que, destes, 26,6% têm renda entre dois e cinco salários mínimos.

Mesmo sem pertencer a uma faixa de renda elevada, a grande maioria, 77,2% não

trabalha, sendo sustentada pela família. Há um certo equilíbrio entre os que

fizeram o ensino fundamental na rede pública e na rede particular, embora a

última continue à frente, com 53,16% dos ingressos. A maioria cursou pré-

vestibular, apenas 22,9% não. Num cenário de mundo globalizado, chamam a

atenção as seguintes informações: 46,9% não dominam nenhuma língua

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estrangeira e 39, 7% não usam computador. Quanto à ocupação do tempo, os

jovens, 44,75% têm 18 ou 19 anos, revelam que ocupam a maior parte dele, com

leitura, 31,3%, seguida de TV e de música. Apesar disso, 24,3% confessam que

não se mantêm informados sobre os acontecimentos atuais. Apenas 21% lêem

jornais escritos, 2,6% assistem aos telejornais, 1,5% ouvem rádio e 0,6% lêem

revistas. Pelo visto, o tempo ocupado com leitura ou é dedicado às tarefas

didáticas ou é destinado à leitura de lazer, não, à de informação. O principal

motivo apresentado para a escolha do curso é a possibilidade de realização

pessoal, 60,1%, mas, de acordo com a matéria publicada “ o que se vê nos

cursinhos preparatórios é a preocupação em conciliar a escolha da profissão com

as melhores chances de empregabilidade e com a aprovação familiar.”273

Isto

explicaria o fato, por exemplo, de tantos desistirem da primeira opção de escolha,

no meio do caminho. “No ano passado, dos dez mil alunos da UFJF, cerca de mil

abandonaram a faculdade.”274

4.4 - A comunicação como estratégia de inserção da Universidade no

cenário social

A falência do modelo do Estado-Nação, a apologia do neoliberalismo, a

globalização, tudo isso tem desmontado os conceitos que, até então, atrelávamos

às instituições. No lugar deles, surge uma grande indefinição, uma perplexidade,

que, comumente, é chamada de crise. Em especial, naquelas instituições de

caráter público, voltadas para a Educação Superior, as Universidades Federais,

que vivem um momento crítico, no Brasil. A nova Ordem Mundial, o momento

político e econômico do país tornam urgente a discussão sobre a missão e os

objetivos dessas instituições, especialmente num país pobre, dependente de capital

e tecnologia do exterior.

As instituições, que não têm investido no planejamento constante de suas

ações, incluindo desde o diagnóstico até a avaliação final do que foi realizado,

273 Id. Ibd. p. 1. 274 Id. Ibd. p. 1.

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tendem a reproduzir nas suas relações internas e externas, uma desorganização,

que compromete o desempenho e a eficiência na venda de produtos e serviços, no

relacionamento com públicos estratégicos e com a sociedade em geral, o que leva

à crise da identidade institucional.

No caso da instituição pública, condenada por muitos como um modelo

falido, é urgente o diagnóstico das causas que contribuem para essa visão

negativista que hoje paira sobre essas instituições. No momento em que as

universidades e as escolas federais isoladas discutem esta temática, que buscam

uma identidade para o Sistema Federal de Ensino Superior, diante da ameaça da

privatização e de uma autonomia imposta pelo poder central, é estratégico que

essas instituições utilizem a comunicação como instrumento que torne clara a

função social, a missão e o conceito institucional das universidades e escolas

federais de nível superior.

Em Juiz de Fora, especialmente desde a década de oitenta, a UFJF tem

utilizado a comunicação como ferramenta estratégica de gestão das relações da

Universidade com seus diversos públicos, tanto internos, quanto externos.

Revisitar a trajetória da instituição, observando como a comunicação tem sido

indispensável na construção da identidade da UFJF, na sedimentação das suas

múltiplas relações com os setores da sociedade e na sua inserção na esfera local,

como ator social e agente do desenvolvimento, é o objetivo do próximo capítulo.

Nada aqui pretende ser definitivo ou conclusivo. Acreditamos, no entanto, que a

experiência desta Universidade do interior, numa cidade de porte médio, aponta

alternativas interessantes e que podem ser reaproveitadas e readequadas a outras

realidades regionais. A UFJF não tem um projeto definitivo, nem mesmo tem um

documento que apresente a sua Política de Comunicação. A trajetória da

instituição é pontuada de dificuldades, dúvidas, mas parece que algo começa a ser

resgatado, talvez o mais importante, que é o orgulho de se pertencer à instituição.

Hoje, a UFJF é a parceira preferencial dos empresários do setor privado da região.

Eles sabem a confiabilidade que significa ter a marca da empresa deles colocada

ao lado da marca da Universidade. Este não é um resultado colhido ao acaso.

Apesar da burocracia e dos cortes orçamentários, parece ainda sobreviver o

“espírito” da instituição, uma mistura da velha missão iluminista de “espargir

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luzes” aliada à necessidade antropofágica e mestiça de Macunaíma, de construir

uma nova realidade social.275

275 Cf. SALOMÃO, Maria Margarida Martins. Referência a imagens usadas pela reitora da UFJF,

em discursos, panfletos de campanha e outros textos.

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Capítulo 5

O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO NA UFJF

A comunicação institucional, na UFJF, tem uma trajetória bastante recente.

Poderíamos dizer, sem muito erro, que são menos de duas décadas de história,

mais precisamente, quinze anos, um pouco menos da metade do tempo de vida da

instituição que, no último mês de dezembro, completou 40 anos. De qualquer

forma, sente-se que, paulatinamente, o setor vem ganhando espaço na esfera das

decisões políticas da Universidade. Neste capítulo, tentaremos fazer uma

radiografia das principais ações que têm caracterizado o trabalho de comunicação

que, apesar da escassez de planejamento e mesmo de uma participação mais

efetiva no nível decisório da UFJF, tem demonstrado ser uma ferramenta

estratégica imprescindível para a gestão atual e para a prospecção de novos

modelos que possam garantir a sobrevivência da instituição em tempos

turbulentos e de grandes mudanças.

Parece-nos curioso que o primeiro projeto de comunicação da UFJF,

capitaneado pelo professor Manuel Carlos Chaparro, da Universidade de São

Paulo, tenha sido dirigido em especial para o público interno da instituição, num

trabalho bastante pioneiro, com o objetivo de dar mais transparência à gestão

universitária e possibilitar um efetivo tráfego da informação, vencendo a

dispersão que tem caracterizado as diversas unidades acadêmicas e

administrativas, desde a criação da UFJF e, acentuada, no período da Reforma

Universitária. No modelo defendido, então, notamos a importância de se levar em

conta o receptor da mensagem também como agente e sujeito da informação, o

que garantia uma constante retroalimentação do processo de comunicação, como

também uma motivação do público interno. Como outros projetos que

descreveremos neste capítulo, observaremos que, muitos sofrem solução de

continuidade. A mudança do Reitorado, de quatro em quatro anos, tem sido uma

ameaça constante ao desenvolvimento dos projetos das gestões anteriores. A

disputa política tem, não só na UFJF, mas em várias outras IFES, abortado muito

boas idéias e ações, o que acena desde já para a necessidade de se discutir a

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comunicação em fóruns que não estejam sujeitos às intempéries eleitorais e que

possam formular políticas dinâmicas, mas também duradouras.

5.1 - O projeto da rede humana de agentes de comunicação

No ano de 1963, o jornalista Irven Cavalieri foi convocado pelo reitor

Moacyr Borges de Mattos para dirigir o então Departamento de Educação e

Cultura da UFJF, que era ligado à administração e à comunidade. O departamento

foi a semente do que, duas décadas depois, se transformaria no primeiro serviço

de comunicação da instituição. Em depoimento prestado à jornalista Ana Marta

dos Santos Ladeira, em 1988, Cavalieri reconhece que o interesse pela

comunicação foi aumentando com o passar dos anos, mas o processo foi lento.

Houve um hiato, já que Cavalieri se afastou da administração, optando pelo cargo

de professor do Curso de Jornalismo, quando da incorporação da Fafile. Mais

tarde, o jornalista retornaria a colaborar com a administração de maneira mais

formal para fazer o Boletim da Reitoria, já na década de 80.

Coincidentemente, surgia, a nível nacional, um movimento

encabeçado pelo coordenador de Comunicação Social do MEC,

Antônio Praxedes, no sentido de dinamizar esse serviço de

comunicação. A ministra Esther Ferraz deu apoio às idéias de,

formalmente, dinamizar e organizar um serviço de comunicação

entre o MEC e as Universidades, ou instituições ligadas ao

Ministério. Este serviço constituiu o chamado Sistema de Sub-

Comunicação do MEC. Surgiu, então, a necessidade de reunir

responsáveis por esses setores de Comunicação das Universidades.

Foram promovidas reuniões anuais, objetivando expandir o Sub-

Sistema, porque essa rede de Comunicação era importante para o

MEC e para as Universidades. Daí, criou-se a Associação dos

chamados Assessores de Comunicação ou equivalentes.276

As discussões nacionais fomentaram a idéia da criação de um setor

específico para cuidar da comunicação na UFJF. Na gestão do professor Márcio

Leite Vaz, de 1981 a 1985, a proposta foi recebida com ressalvas pelo fato de

implicar em ônus para a administração, pela necessidade da criação de cargos.

Por sugestão de Cavalieri, foi instituída, então, por portaria, a alternativa da

276 LADEIRA, Ana Marta dos Santos. Uma comunicação intermediária. Orientadora: Maria

Lúcia Campanha da Rocha Ribeiro. Juiz de Fora: UFJF/Faculdade de Comunicação, 1988.

Projeto de conclusão do curso. p.87.

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Equipe de Comunicação Social da UFJF, que não exigiria a criação dos cargos.

Cavalieri ficou na chefia, com outros três jornalistas: Alice Freesz, Roberto

Dornelas e Edite Dutra Lima. O trabalho começou de maneira informal, sendo

que a equipe foi trabalhar nas dependências da antiga Pró-Reitoria de Assuntos

Comunitários - PROAC -, num prédio que não ficava nem no campus, e nem na

Reitoria. O primeiro produto jornalístico da equipe foi o jornal UFJF em notícias,

de circulação mensal.

De acordo com Cavalieri, a continuação dos Encontros Nacionais

possibilitaram um reconhecimento amplo da UFJF na área das Instituições

Federais de Ensino Superior e levou o chefe da Equipe de Comunicação a

formular o projeto da criação da Assessoria como órgão de apoio à política de

Comunicação Universitária, devendo a mesma funcionar como um órgão

autônomo junto à Reitoria.

A Assessoria de Comunicação Social - ACS - só foi incluída em definitivo

no estatuto da UFJF, em 1986, na gestão do reitor Sebastião Marsicano Ribeiro,

1985/1989, através da resolução nº 02/86, publicada no Boletim da Reitoria de nº

291, de 31 de março de 1986. A finalidade do setor era assessorar o reitor e os

demais órgãos da Universidade na promoção e coordenação das atividades de

comunicação social. No organograma da instituição, a Assessoria estava

diretamente vinculada ao reitor. O projeto tinha sido desenvolvido pelo professor

Irven Cavalieri e aprovado pelos conselhos superiores da UFJF.

Pela resolução, o órgão seria dirigido por um assessor de confiança do

reitor e constituído pelas seções de Imprensa e Relações Públicas. Na verdade, só

a seção de Imprensa foi implantada, nenhum novo funcionário foi contratado, já

que os jornalistas do quadro de pessoal, Alice Freesz e João Carlos Gonzaga,

foram apenas remanejados, e só foi criado o cargo de chefe da Assessoria. De

qualquer forma, conseguia-se um reconhecimento oficial do setor de comunicação

na estrutura universitária.

Em 1986, a Assessoria contratou o professor da Escola de Comunicação e

Artes da Universidade de São Paulo, Manuel Carlos Chaparro, para que ele desse

consultoria para o órgão, no sentido de formular uma política interna de

comunicação para a UFJF.

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Para a confecção do diagnóstico da situação da comunicação na UFJF foi

realizado um Seminário, nos dias 26 e 27 de agosto de 1986, com a presença de

professores, funcionários e alunos. Em novembro, foi publicado o livreto,

contendo o projeto Um modelo de comunicação interna, que norteou várias ações

deflagradas nos anos posteriores.

O diagnóstico da comunicação na UFJF apresentou a existência de dois

“macroproblemas”:

1 - Um problema de clima, traduzido na rotina e na tradição das

atitudes anticomunicativas, em todos os patamares da hierarquia do

poder e da burocracia.

2 - Um problema de meios e códigos, em decorrência do qual se

mantêm emperrados ou inexistentes os fluxos para a circulação de

informações.277

Para superar e reverter este quadro, foi proposto, pelo professor Chaparro:

... um programa sustentado por uma estratégia de participação, com

a qual se torne possível implantar um sistema interno de

Comunicação Social em que, numa prática dialética, o Receptor

adquira capacidade de atuar também como agente Emissor e

principal alimentador do processo.278

Foi criada, assim, a “Rede Humana de Agentes de Comunicação”, com

representantes escolhidos em cada unidade, que passaram a representar

localmente o sistema interno de Comunicação Social. O projeto previa, como

atribuições desses agentes:

a) Alimentar os veículos impressos do programa, fornecendo notícias

e pautas ao sistema a ser montado;

b) Propagar e difundir as informações nas suas respectivas Unidades;

c) Criar e ativar procedimentos e rotinas de divulgação nas próprias

Unidades;

d) Oferecer apoio na divulgação de notícias das outras Unidades;

e) Integrar os Conselhos Editoriais das publicações periódicas que

fazem parte do projeto;

f) Ser ponto de apoio da Assessoria de Comunicação Social;

g) Realizar a crítica do sistema de Comunicação Social.279

277 CHAPARRO, Manuel Carlos. Um modelo de comunicação interna. Juiz de Fora:

UFJF/Assessoria de Comunicação Social,1986. p. 12. 278 Id. Ibd. 12. 279 Id. Ibd. p. 14.

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Entre as outras propostas apresentadas no projeto, estavam a valorização

do jornal UFJF em Notícias, que já circulava na Universidade, mensalmente, com

o aumento da tiragem e a mudança da linha editorial de tom informativo pela

abordagem interpretativa; a criação de um jornal mural, editado quinzenalmente,

com noticiário conciso, preciso, atual; a criação da Carta aos Professores, um

boletim mensal ou bimestral, de pequeno porte, mas de conteúdo denso, dirigido a

todos os professores, de forma personalizada; a institucionalização de mecanismos

e rotinas de panfletagem, em apoio às atividades culturais e aos serviços de

extensão e a implantação de um sistema de sinalização no campus. De forma

complementar, sugeriam-se a otimização dos conteúdos do Boletim do

Departamento do Pessoal, considerado veículo importante, durante a avaliação do

Seminário de Comunicação Interna; a melhoria do trânsito da comunicação

administrativa - coleta e distribuição da correspondência, comunicados oficiais

etc.; aparelhagem com equipamentos e investimento em recursos humanos na

Assessoria de Comunicação; melhor utilização do potencial do Curso de

Comunicação Social, no planejamento e na produção dos projetos de

Comunicação Interna; finalmente, o estudo da possibilidade de criar meios

radiofônicos de divulgação interna, inclusive com o aproveitamento de uma

possível emissora-laboratório do curso de Comunicação Social.280

Durante o ano de 1987, o professor Chaparro acompanhou a implantação

paulatina do projeto. Algumas propostas foram rapidamente adotadas, como a dos

agentes de comunicação, a criação do Jornal Mural e da Carta aos Professores,

além da implantação das mudanças sugeridas no UFJF em Notícias. Outras

propostas não foram viabilizadas, como a da Rádio Universitária. Apesar de

haver a possibilidade real de concessão de um canal pelo Governo Federal, e ter

sido aberto um processo, através do então Departamento de Comunicação, a

gestão da Universidade, de uma forma até hoje um pouco obscura, acabou

perdendo a concessão para um grupo privado.

Segundo o jornalista Marlos Andreucci Itaborahy, “em 1988, o mesmo

Reitorado (reitor Sebastião Marsicano Ribeiro) que incentivou a criação e a

280 Cf. CHAPARRO, Manuel Carlos. Um modelo de comunicação interna. Op. cit. p.15-24.

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implantação do projeto idealizado pelo professor Chaparro determinou sua

desativação”.281 Assim o professor Irven Cavalieri explicou o revés da iniciativa:

...uma série de fatos inviabilizou a execução do Projeto financiado

pela própria Administração (...) que, ainda, nos destituiu do cargo

por questões políticas. Não em prejuízo meu, mas em prejuízo da

própria Universidade que, depois de investir um dinheiro tão

grande e de acenar com grandes perspectivas, não mais prosseguiu

com o projeto.282

O projeto da UFJF tinha sido, pouco antes, em abril de 1988, apresentado

num Encontro do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras - CRUB -,

em Florianópolis, onde os dirigentes já demonstravam grande preocupação com a

“imagem das Universidades e os Assessores de Comunicação presentes foram

convocados a sugerir uma mudança dessa imagem negativa”.283

O pró-reitor de

Ensino e Pesquisa da UFJF estava presente ao evento e deu testemunho do apoio

da UFJF ao projeto de comunicação interna. Um mês depois, segundo Irven

Cavalieri, ele era demitido pelo mesmo pró-reitor.284

5.2 - A UFJF se volta para a comunidade

Em maio de 1988, a Assessoria de Comunicação passou a ser chefiada

pela professora do Departamento de Comunicação da UFJF, Maria Lúcia

Campanha da Rocha Ribeiro, que ficou no cargo até 17/07/89. Ela foi contratada,

na época, para “tentar (re)erguer o nome da Universidade, de forma que ela

tivesse uma respeitabilidade junto à comunidade”.285

De certa forma, a

contratação dava prosseguimento às conclusões já tiradas na reunião do CRUB, de

que havia necessidade “de um movimento conjunto para reerguimento da

identidade das Universidades brasileiras perante a sociedade”286

281 ITABORAHY, Marlos Andreucci. Universidade e comunicação: um estudo do processo de

comunicação na UFJF. Orientadora: Christina Ferraz Musse. Juiz de Fora: UFJF/Faculdade de Comunicação, 1996. Projeto experimental. p. 23.

282 LADEIRA, Ana Marta dos Santos. Uma comunicação intermediária. Op. cit. p.93. 283 Id. Ibd. p. 93 284 Id. Ibd. p. 93. 285 Id. Ibd. p. 129. 286 Id. Ibd. p. 129.

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Todas as falhas eram mostradas, mas o que a Universidade fazia de

bom não era revelado. E isso estava sendo interpretado como um

possível manifesto contra a Universidade pública e gratuita e uma

forma de preparação de espírito para provar que o governo não é

capaz de manter uma Universidade competente e eficiente; é

preciso que entre o capital privado para exigir dos professores um

aperfeiçoamento da Universidade.287

Naquele momento, todas as atividades de comunicação da Universidade

estavam paralisadas. A primeira iniciativa da nova assessora foi resgatar o projeto

do jornal UFJF em Notícias, mas com uma nova roupagem. O boletim sofreu

modificações estruturais para abranger as demais publicações, Jornal Mural e

Carta aos Professores: de quatro páginas passou para oito, permanecendo no

formato duplo ofício, porém editado em papel jornal e publicado semanalmente,

enquanto antes, a circulação era mensal. O boletim, com circulação de três mil

exemplares, também passou a ser encartado, na primeira semana do mês, no jornal

local Tribuna da Tarde, com mais quatro páginas e tiragem externa de sete mil

exemplares.

Na época, os serviços da Assessoria foram aprimorados, oferecendo novos

produtos para as comunidades interna e externa e, ao mesmo tempo, retomando

alguns projetos que tinham sofrido solução de continuidade:

... os serviços da Assessoria, nesta época, sofreram um considerável

aprimoramento, passando a contar com a distribuição diária de

releases para a imprensa local e um maior intercâmbio com as

outras IFES (instituições federais de ensino superior) - através do

boletim do Governo, Telex-MEC -, além de outros trabalhos

contínuos de informações para o público interno e externo. Alguns

bolsistas da Faculdade de Comunicação foram contratados, visando

dar apoio aos dois jornalistas do setor. Para que os Agentes de

Comunicação não se dispersassem, após a paralisação de cinco

meses do UFJF em Notícias (01 a 06/88), foi realizado um curso

sobre jornalismo e também sobre o funcionamento da Assessoria e

a Instituição.288

Para ampliar os vínculos com o público externo, pensou-se, na época, até

mesmo em se fazer um jornal específico para esse público, mas, por falta de

287 Id. Ibd. p. 129. 288 ITABORAHY, Marlos Andreucci. Universidade e comunicação: um estudo do processo de

comunicação na UFJF. Op. cit. p.24.

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recursos, acabou-se optando por um encarte mensal, de quatro páginas, do UFJF

em Notícias, que foi inserido no jornal local Tribuna de Minas.

A professora Nelma Sandra Fróes, também da Faculdade de Comunicação,

foi quem sucedeu a professora Maria Lúcia Ribeiro, no cargo. Ela chefiou a

Assessoria de Comunicação da UFJF por cinco anos e dois meses. De setembro a

novembro de 1989, na gestão do professor Eduardo Miguel Passarela Freire - que

renunciou ao cargo - e, de setembro de 90 a setembro de 94, na gestão do

professor José Passini. O objetivo maior da assessora, na época, foi o de

“aproximar a comunidade juizforana e da região da universidade”.289

Nesse

período, a sede da Assessoria saiu do prédio da PROAC e foi instalada ao lado do

gabinete do reitor. O novo espaço permitiu uma atuação mais intensa no dia-a-dia

do gabinete, com o objetivo de dar mais visibilidade às decisões da gestão com

um amplo trabalho de divulgação para a Imprensa.

Os veículos internos sofreram mudanças, na tentativa de se tornarem mais

ágeis. “O jornal semanal, UFJF em Notícias, passou a se chamar UFJF Hoje, com

edição diária. Porém, pela falta de recursos financeiros, este, após alguns meses

de implantação, voltou a ser publicado semanalmente”.290

Entre as inovações

realizadas no período estava a revista Tema, feita em parceria com a Universidade

Federal de Viçosa, UFV, em 1990, com o objetivo de divulgar as atividades

desenvolvidas pelas duas instituições nas áreas de ensino, pesquisa e extensão. O

projeto acabou ficando restrito a uma única edição. Outra investida da Assessoria

foi a criação da revista Dados Estatísticos UFJF/90-93. A primeira e única

edição circulou em agosto de 1993. “O maior problema enfrentado pela assessora

foi a falta de recursos financeiros, o que inviabilizou a concretização de algumas

ações, como as da área de publicidade e marketing”.291

5.3 - A UFJF como ator político e agente do desenvolvimento

A mudança do Reitorado, em setembro de 1994, fez com que o cargo de

assessora de comunicação passasse a ser ocupado pela professora Christina Ferraz

289 Id. Ibd. p. 25. 290 Id. Ibd. p. 25. 291 Id. Ibd. p. 26.

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Musse, também da Faculdade de Comunicação. Da mesma forma que nas gestões

anteriores, não foi discutido previamente o modelo de comunicação que deveria

ser a marca registrada daquela administração, e, muito menos, foi realizada uma

pesquisa de clima institucional que pudesse revelar o que o público interno

pensava da instituição ou mesmo qual a imagem que a cidade como um todo

tinha da UFJF.

Inicialmente, tentou-se convencer a administração central da necessidade

da contratação de uma consultoria especializada, que pudesse diagnosticar qual

era a imagem da Universidade junto aos seus públicos e, ao mesmo tempo,

pudesse apresentar um projeto que nortearia os quatro anos de gestão. Várias

consultas foram feitas e orçamentos apresentados, mas não se conseguiu a

aprovação de nenhuma proposta pelo conjunto de dirigentes, aí incluídos os pró-

reitores e outros assessores. Os orçamentos foram considerados caros e nenhuma

proposta foi aprovada.

O problema de recursos parece ter até então pontuado a trajetória da

Assessoria e, mesmo naquele momento, em que um grupo ligado ao movimento

docente, pela primeira vez, conseguia chegar ao poder, a comunicação ainda não

conseguia ser colocada como prioridade na destinação de recursos. É interessante

se observar que, apesar de não ter sido aprovada nenhuma proposta de consultoria

na área de Comunicação, em vários outros setores, como o de Planejamento,

Recursos Humanos e Extensão, neste caso, com a consultoria da ex-prefeita de

São Paulo, Luísa Erundina, foram contratadas consultorias externas.

Durante o período 94/98, circulou praticamente sem interrupções o boletim

Em Tempo, dando continuidade ao antigo UFJF Hoje. O boletim de formato

ofício era distribuído, inicialmente, duas vezes por semana; depois, uma vez por

semana, em formato duplo ofício. O boletim era informativo, dirigido ao público

interno, e a parceiros da UFJF. Em 1995, um outro impresso circulou na

instituição, o jornal Universidade, com matérias jornalísticas e artigos de opinião,

mas ele subsistiu por apenas quatro números. Em 1996, outra experiência de

comunicação interna foi o Jornal Mural Grafite, destinado especialmente aos

alunos e que devia ser colocado nos murais das unidades acadêmicas, divulgando

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especialmente o calendário de eventos. Com distribuição quinzenal, ele também

circulou por pouco tempo.

Na gestão 94/98, tem destaque a aprovação de uma proposta para a criação

de uma logomarca para a UFJF. A Universidade tem um brasão e, em datas

comemorativas, chegou a ter momentâneamente, alguma logomarca, que

caracterizasse aquele período, mas, a adoção de uma logomarca definitiva só

aconteceu em 1995.

5.3.1 - Do brasão à logomarca

A Universidade Federal de Juiz de Fora, logo depois de sua criação, em

dezembro de 1960, providenciou a criação de um brasão. Na época, a pedido do

reitor Moacyr Borges de Matos, o professor Almir de Oliveira, do Instituto

Histórico e Geográfico e da Faculdade de Direito, ficou com a missão de

providenciar a confecção do brasão. Para ajudá-lo, ele contou com o apoio do

professor de Heráldica, Alberto Lima, do Rio de Janeiro. O brasão tem as cores

azul - alegria, saber e lealdade -, vermelha - grandeza, coragem e valor - e ouro -

justiça, fé e constância -; exibe também cinco escudos, que representam as

unidades acadêmicas então reunidas para a formação da Universidade - um dos

escudos é “partido”, porque, na época, representava dois cursos diferentes

reunidos na mesma Faculdade: Farmácia e Odontologia; o brasão apresenta ainda

os dizeres “lumina spargere”, isto é, “espargir luzes”, uma missão que parece

bastante de acordo com os objetivos primeiros da instituição de acabar com as

trevas e, através da ciência, possibilitar o acesso ao conhecimento, isto é, às

luzes.292 Dentro de uma lógica moderna, iluminista, teríamos, com efeito, a

oposição clara, como prega Sérgio Paulo Rouanet, entre os “lugares mal

iluminados” e os “archotes da razão”.293 Teríamos, então, o espaço do campus

como o espaço da luz, da razão, do progresso, da ciência, em nítida oposição às

trevas, à barbárie, à opressão, ao analfabetismo. “É preciso ver tudo: é o reino da

292 Cf. OLIVEIRA, Almir de. Brasão e bandeira de Juiz de Fora. Juiz de Fora: Esdeva

Empresa Gráfica, 1983. 18p. 293 ROUANET, Sérgio Paulo. O olhar iluminista. In: NOVAES, Adauto (org.). O olhar. 1.

reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras,1988. p.128.

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visibilidade universal”, lembra-nos Rouanet294, ao analisar a Ilustração, um

período em que a visibilidade era vista como instrumento indispensável para

desmascarar os opressores e para garantir a sobrevivência do espaço democrático.

O brasão concretiza bem o ideal da Universidade iluminista, calcada na

utopia Moderna, que ainda era o modelo desejado no final da década de 50, início

dos anos 60. O brasão foi usado, ao longo dos anos, em papéis impressos,

documentos, e algumas publicações da UFJF. Em determinados períodos, cedeu

espaço às marcas comemorativas, como a dos 30 anos da Universidade, criada

através de concurso interno. Hoje, praticamente, ele só é estampado na bandeira

da UFJF.

Em 1994, a discussão sobre a identidade visual que se queria, não apenas

para a gestão dos professores Renê Gonçalves de Matos e Carlos Alberto Tarchi

Crivellari, mas também para a Universidade como um todo, levou à decisão de se

contratar um serviço profissional que criasse a logomarca, com a garantia de que

ela tivesse qualidade suficiente para ser impressa em preto e branco e em cores, e

suportasse bem qualquer necessidade de redução ou ampliação sem perda de

qualidade. A Assessoria de Comunicação, na época, entrou em contato com

diversas empresas e profissionais que poderiam desenvolver o projeto, no eixo

Rio/São Paulo e Minas Gerais. Apenas três empresas finalizaram suas propostas.

A firma vencedora foi a Eliana Formiga Desenho Industrial, um escritório

pequeno, com duas profissionais, do Rio de Janeiro.

A logomarca é constituída por dois triângulos, nas cores vermelha e cinza,

resgatando a preocupação da gestão de inserir a UFJF no cenário regional, isto é,

dando clareza à informação de que Juiz de Fora é uma cidade mineira e, não,

“um subúrbio do Rio”, como muitos mineiros gostam de dizer. O uso dos

triângulos também aponta para outras interpretações da marca: o equilíbrio entre o

ensino, pesquisa e extensão etc. Outra preocupação foi usar uma tipologia

simples, em caixa baixa, para dar leveza para a sigla da universidade: UFJF. O

nome Universidade Federal de Juiz de Fora, quando apresentado por extenso,

mostra em negrito a palavra Juiz de Fora, exatamente para reforçar o vínculo da

instituição com a cidade.

294 Id. Ibd. p. 128.

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O projeto da logomarca foi aprovado pela administração superior,

acompanhado de um manual de utilização que foi distribuído a todas as unidades

acadêmicas e administrativas. Mas isso não bastou, para que todos fizessem o uso

correto da identidade visual. Além de utilização de tipologia e cores alteradas na

aplicação da logomarca em impressos, alguns setores criaram uma verdadeira

poluição visual, passando a adotar duas marcas: a sua própria e a da instituição.

Aliás, um dos grandes “problemas” da Universidade parece ser o de sedimentar

uma identidade, num espaço de tantas alteridades. A herança histórica da reunião

de unidades acadêmicas extremamente autônomas tem criado empecilhos para

que as Faculdades ou Cursos se vejam como Universidade, prevalecendo muitas

vezes o aspecto individual sobre o coletivo.

Os problemas observados, no entanto, pelo menos com relação à

logomarca, principalmente o uso de fonte errada, ou outras intervenções sobre a

marca, parecem estar acabando. Depois de cinco anos da sua aprovação, a

logomarca está no portal da instituição, no uniforme dos vigilantes, em todo o

material impresso de divulgação, em outdoors, em vídeos e programas

televisivos, em camisetas, broches, brindes, canetas, relógios etc. A logomarca

até ganhou um slogan, na gestão 98/02: “a sua Universidade pública”, que reforça

o laço entre a instituição e seu “cliente preferencial”, o aluno, e os “clientes

potenciais”, como parceiros, órgãos governamentais e privados, a sociedade como

um todo.

No ano 2000, com a comemoração conjunta dos 500 anos do Brasil, 150

anos de Juiz de Fora e 40 anos da UFJF, foi criada, através de um concurso, uma

logomarca comemorativa, que é um releitura da primeira. Ela foi aplicada no

material impresso de divulgação da UFJF, ao lado da logomarca tradicional,

durante o ano 2000.

A utilização de uma logomarca não deixa de suscitar polêmicas na cidade.

Em Juiz de Fora, por exemplo, há aqueles que preferem a utilização do brasão ao

uso da logomarca. Esta situação se repete em outras instituições: a Universidade

Federal de Minas Gerais - UFMG - , por exemplo, que foi uma das pioneiras na

criação e popularização de uma logomarca, atualmente, voltou a usar o brasão

daquela instituição em todo o seu material de divulgação. Outros, acometidos

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pelo sentimento “oficialista” ainda insistem em usar o brasão da República, até

exigido em determinados documentos, mas de uso mais restrito. Além disso,

contribuindo ainda para o que poderíamos chamar de “poluição visual” de

impressos e outros produtos, encontramos um número imenso de logomarcas

próprias utilizadas pelas unidades acadêmicas, centros de pesquisa e até mesmo

pró-reitorias ligadas diretamente à administração central da UFJF. Observamos,

ao mesmo tempo, uma sub-utilização da logomarca oficial da instituição, no que

diz respeito, por exemplo, ao material impresso de escritório do gabinete do reitor.

Apesar das duas designers terem apresentado todo um estudo de material de

escritório a ser padronizado - papel ofício, envelopes, cartões pessoais, papel de

fax -, nada disso foi feito até hoje, provocando um sub-aproveitamento da

identidade visual da UFJF.

5.3.2 - A UFJF e o Fórum Nacional de Assessores de Comunicação Social das

IFES

No período de 94 a 98, a UFJF teve uma presença marcante em vários

fóruns estaduais e nacionais que discutiram a criação de uma política pública de

comunicação para o Sistema Federal de Ensino Superior, no Brasil, constituído

por 52 instituições federais de ensino superior - IFES. Minas Gerais é o estado

com maior número de IFES do Brasil, um total de 12. O envolvimento da UFJF só

foi possível devido ao aval de seus dirigentes que, no período, estavam eles

próprios extremamente envolvidos com a Associação Nacional do Dirigentes das

Instituições Federais de Ensino Superior - Andifes -, principal interlocutora do

Governo, no tocante às questões do ensino superior público.

O Fórum Nacional de Assessores de Comunicação Social das IFES -

Fascom - foi idealizado por assessores de comunicação que, desde a década de

oitenta, se reuniram em diversas cidades brasileiras, inicialmente até mesmo com

o fomento do Ministério da Educação e do Desporto - MEC -, para discutir ações

que viessem a garantir maior visibilidade para essas instituições, num novo

cenário sócio-econômico que, cada vez mais, parecia questionar as atividades do

setor público e sua postura diante da sociedade. A situação se tornou mais crítica,

durante o governo Fernando Henrique Cardoso, com a edição de medidas que

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limitaram o orçamento do sistema público federal de ensino superior. As

dificuldades se mostraram cada vez maiores: contratações foram proibidas,

benefícios foram extintos e a ameaça de um projeto de autonomia, que poderia

significar, na verdade, uma privatização do sistema público, começaram a exigir

uma nova postura política dos dirigentes das IFES.

O primeiro passo foi a constituição da Associação Nacional dos Dirigentes

das Instituições Federais de Ensino Superior - Andifes -, que, ao contrário do

Conselho de Reitores da Universidades Brasileiras - CRUB -, privilegiava

exclusivamente as discussões do sistema público, tornando-se, durante um

período de cerca de quatro anos, 94-98, o principal interlocutor do Governo, na

discussão de políticas para o setor. Para os sucessivos dirigentes da Andifes, a

comunicação também passou a ser uma questão estratégica: eles precisavam

conquistar espaço na mídia e ganhar a simpatia da sociedade, além de modernizar

o fluxo das informações no interior das instituições. Mais que isso, a

Universidade brasileira começava, principalmente a partir da década de noventa,

a buscar uma identidade institucional, um "rosto", uma "marca", através da qual

ela pudesse estabelecer as bases para enfrentar um cenário adverso e justificar as

verbas destinadas para o setor. Nota-se, desde então, uma constante discussão,

entre os dirigentes, sobre o "marketing" necessário para o setor, embora, ainda

pareça estarmos distantes de uma vontade política clara, que defina as bases para

o planejamento estratégico de comunicação para as IFES.

A trajetória do Fascom reflete esse cenário que veio à tona no final de

1994, quando chegava ao fim o Governo Itamar Franco. Inicialmente, foi

formada a Comissão Nacional dos Assessores das IFES, que foi escolhida,

provisoriamente, em dezembro de 1994, em Brasília, durante a segunda etapa do

3º Encontro de Comunicação Social do MEC – ECOMEC -, que promoveu um

curso de Planejamento Estratégico para toda a área de comunicação do Ministério.

A primeira etapa do evento tinha sido realizada em Recife, Pernambuco, em

outubro de 1994, reunindo os assessores de comunicação de IFES de praticamente

todo o Brasil, de Escolas Técnicas e Agrícolas, de Delegacias Regionais do MEC;

os diretores de Rádios e Televisões Educativas e Universitárias; representantes de

Fundações ligadas ao MEC, como a Fundação Joaquim Nabuco, de Recife.

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127

Depois, em Brasília, a discussão sobre a comunicação no âmbito das instituições

de educação - a discussão, na época, ficou restrita às IFES - ganhou um contorno

mais político, isto é, sentiu-se a necessidade de se organizar os profissionais que

atuavam no setor, para que eles pudessem trabalhar, inicialmente, em parceria

com o MEC, no final da gestão do ex-ministro Murílio Hingel, na formulação de

ações de comunicação.

A primeira comissão formada chegou a se reunir em Uberlândia, em

janeiro de 1995, na sede da Universidade Federal, e organizou um encontro no

MEC, com o staff do ministro recém-empossado, Paulo Renato Souza. As

conversas renderam frutos e ficou agendada a realização do I Encontro de

Assessores de Comunicação Social das IFES, na Universidade Federal de Viçosa

- UFV -, em 1995.

O Encontro, em maio, foi aberto pelo ministro Paulo Renato, que foi

recebido sob o protesto dos estudantes da UFV, mas numa situação que acabou

sendo mantida sob controle. O staff de comunicação do Ministério, na época, não

só organizou o evento, mas participou dele ativamente. Não escapou aos

assessores das IFES, no entanto, o discurso unilateral do Governo. Os assessores

do MEC apresentaram um esboço de Plano de Comunicação para o Ministério e

seus órgãos, já previamente delineado e tardiamente debatido com os assessores

de comunicação das IFES.

Neste encontro, em reunião do plenário, foi votada a formação definitiva

da Comissão Nacional dos Assessores de Comunicação Social das IFES. Na

coordenação nacional, ficaram os assessores de Santa Catarina, Moacir Loth, e de

Uberlândia, Rosângela Ribeiro. Ainda foram eleitos para participar da Comissão

os assessores de comunicação das Universidades Federais do Pará, Juiz de Fora,

Pernambuco e Rural do Rio de Janeiro. Esta foi uma ação inédita no panorama

das IFES. Juiz de Fora, representada na Comissão, procurava por uma

representatividade política no cenário nacional.

A Comissão de Assessores chegou a realizar algumas reuniões no MEC,

com o intuito de tentar participar mais diretamente da elaboração de uma Política

Pública de Comunicação para as IFES. Em julho de 1995, os assessores

participaram da 47ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência -

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SBPC -, que aconteceu em São Luís, no Maranhão. Eles trabalharam na cobertura

do evento, efetuada pela Rede Universitária de Rádio, formada por alunos e

professores das IFES.

Ainda em 1995, vários assessores participaram do I Encontro de

Assessores de Comunicação Social das IFES, organizado pela Delegacia do MEC,

de São Paulo, com debates importantes, envolvendo assessores, jornalistas,

publicitários e dirigentes.

A Comissão voltaria a se reunir durante o V Congresso Brasileiro de

Jornalismo Científico, realizado na PUC-MG, em Belo Horizonte, em 1996.

Tornava-se evidente, então, a necessidade de estreitar os laços com a Andifes, no

momento em que se tornavam mais claras as dificuldades envolvendo dirigentes

das IFES e o MEC e, em consequência, a própria Assessoria de Comunicação do

MEC e os assessores das IFES. Na época, em reuniões informais, também se

definiu que seria importante regionalizar a ação dos assessores, já que muitas das

experiências que se tentava articular em nível nacional, ficavam inviabilizadas

pela dificuldade de locomoção e estadia dos assessores. Uma decisão

fundamental, então, foi a proposição à Andifes de um trabalho conjunto, que

começou a se concretizar com a contratação de um assessor de comunicação para

a Associação, o jornalista Gilson Rebello, que tinha sido, anteriormente, assessor

de comunicação do ministro Murílio Hingel.

A principal atividade que caracterizou o trabalho de Rebello foi a edição

do Jornal da Andifes , que tinha a circulação de cinco mil exemplares e era

distribuído para todas as IFES, entidades parceiras e Imprensa em geral. A

Comissão de Assessores fazia parte do Conselho Editorial e discutia as pautas,

que privilegiavam matérias que mostravam a função social do Sistema Federal de

Ensino Superior: atividades de pesquisa e extensão estavam sempre em pauta. As

IFES enviavam as matérias e fotografias para Brasília, onde o jornal era editado.

Juiz de Fora participou ativamente da produção jornalística, garantindo espaço

para muitos trabalhos desenvolvidos por seus professores e alunos.

A Comissão de Assessores também se empenhou para que Rebello

exercitasse um papel de “fonte” de informações para a Grande Imprensa,

ganhando espaços importantes, principalmente entre os colunistas dos jornais,

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revistas e emissoras de rádio e televisão de alcance nacional, mas isso não se

concretizou. O espaço ocupado pela Andifes e seus dirigentes, na mídia, ficou

aquém do desejado, apesar da entidade ter sido reconhecida, na época, como

interlocutora do Governo, e seus dirigentes serem procurados pela Imprensa para

repercussão de medidas na área do Ensino Superior Público. Mas, já naquela

época, como hoje, a posição de reitores e diretores era mais defensiva do que a

desejada postura ofensiva em termos de ação política no cenário nacional.

Em agosto de 1996, foi organizada, na sede da Andifes, em Brasília, a I

Plenária dos Assessores de Comunicação das IFES, que votou a criação do Fórum

Nacional de Assessores de Comunicação Social, ligado à Andifes, como outros

Fóruns já existentes, como os dos Pró-reitores de Planejamento, dos Procuradores

etc. Para a composição do Fórum, foram eleitos os representantes das seguintes

instituições: Universidade Federal de Juiz de Fora, UFJF - Christina Ferraz Musse

- coordenação nacional; Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ -

Míriam Braz - vice-coordenação nacional; Universidade Federal de Goiás, UFG

- Lisa França -; Universidade Federal de Santa Maria, UFSM - Rosana Zucolo -;

Universidade Federal do Espírito Santo, UFES - Christina Abelha. Além disso,

foram escolhidas as coordenações regionais: Sudeste - Universidade Federal de

Minas Gerais - UFMG -; Sul - Universidade Federal do Paraná - UFPR -; Centro-

Oeste - Universidade Federal de Goiás - UFG -; Nordeste - Universidade Federal

do Rio Grande do Norte - UFRGN -; Norte - Universidade Federal da Amazônia -

UFAM.

No dia 10 de setembro de 1996, em reunião na sede da Andifes, foi

aprovado o Regimento Interno do Fascom. Segundo ele, o Fórum tem caráter

permanente e reúne os assessores de comunicação social e ocupantes de cargos

equivalentes das IFES. O Fascom tem como objetivos principais: estudar e

propor soluções para os problemas relacionados com o sistema de Comunicação

Social das IFES; propor ações de comunicação que levem a uma maior integração

entre as IFES e seus diversos públicos; promover o intercâmbio entre as IFES,

divulgando estratégias de interesse da Comunicação Social; consolidar e divulgar

acontecimentos junto às IFES; dar assessoramento técnico aos dirigentes das

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Instituições Federais de Ensino; encaminhar propostas aprovadas pelo plenário à

Andifes.

5.3.2.1 - Jornal da Andifes

O Jornal da Andifes começou a ser publicado em 1996. O jornal tinha

uma circulação de cinco mil exemplares, 12 páginas, era editado a cores e era

distribuído para todas as IFES, entidades parceiras e Imprensa em geral. A

Comissão de Assessores fazia parte do Conselho Editorial e discutia as pautas,

que privilegiavam matérias que mostrassem o compromisso social do Sistema

Federal de Ensino Superior. A principal manchete da primeira página era a da

matéria que ocupava as duas páginas centrais e que sempre trabalhava um tema,

que era apresentado pela ótica das diversas IFES. O jornal tinha caráter

informativo e chegou a promover concursos, como o concurso fotográfico sobre

os campus etc., para tentar incentivar seu público a participar mais das questões

relativas às IFES. As instituições enviavam as matérias e fotografias para Brasília,

onde o jornal era editado. Juiz de Fora participou ativamente da produção

jornalística, colocando matérias e notas em todas as edições.

Mas alguns problemas foram sendo observados ao longo do tempo. Havia

assessores e dirigentes que gostariam que o jornal fosse menos "publicitário", isto

é, recheado de "propaganda institucional", com um aspecto menos "chapa

branca", como se diz no jargão da imprensa, e veiculasse mais a postura política

da Andifes e dos dirigentes em geral, isto é, um jornal mais opinativo, talvez, até,

mais panfletário. Ao mesmo tempo, a participação dos assessores de

comunicação não era a ideal, já que muitos deles perdiam o prazo para a remessa

das matérias, ou nem se importavam em redigir material. Mas o que parece ter

comprometido de vez a publicação foi o fato dos próprios dirigentes não terem

noção dos resultados efetivos promovidos pelo jornal. Na verdade, nunca foi feita

uma pesquisa para se saber se o investimento realizado realmente se justificava.

A situação foi ficando mais complicada com as mudanças que acabavam

ocorrendo na própria direção da Andifes. Cada reitor tinha uma idéia diferente do

que fazer com a comunicação da Associação. Houve também mudanças de

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pessoal, com a saída do editor-responsável, em 1999. O Jornal da Andifes voltou

depois a circular com uma formato mais simples, mas sua publicação acabou

sendo suspensa.

5.3.2.2 - Eventos promovidos pelo Fascom

Em 1997, já reconhecido pelo MEC como um interlocutor na área de

comunicação social, o Fascom participou do Encontro dos Assessores de

Comunicação Social das IFES, promovido pelo Ministério, nos dias 29 e 30 de

abril de 1997, mas, de fato, nunca conseguiu se articular com a direção do Setor

de Comunicação Social do MEC, nem mesmo formular ações conjuntas.

Em junho de 97, um fato inédito: o Fascom organizou o I Seminário sobre

Comunicação para os Dirigentes da Andifes, durante a XXIV Reunião Ordinária

do Conselho Pleno, em Vitória, no Espírito Santo. A pauta da reunião ordinária

definiu um dia completo para que os assessores fizessem uma programação para

os dirigentes. Além de participar de palestras e debates, eles receberam, na

ocasião, uma apostila com informações sobre a relação das IFES com a Imprensa,

contendo material organizado pela assessora Clarice Joesting Sidler, da UFPR, e

um texto do jornalista Washington Novaes, intitulado "A quem pertence a

informação?", que discutia, entre outros assuntos, a questão do vídeo popular no

Brasil. Já o trabalho introdutório de Clarice Sidler, Breve incursão ao mundo da

imprensa, procurava fornecer aos dirigentes elementos que pudessem facilitar a

relação deles com os jornalistas profissionais. Neste trabalho, Sidler apresentava

o perfil do assessor de imprensa, uma breve história da Assessoria de Imprensa no

Brasil, a importância da mesma numa organização, a estrutura básica de uma

Assessoria , os equívocos mais frequentes quanto à figura do assessor e o porquê

da necessidade de um assessor na estrutura de uma organização. A apostila

terminava com um pequeno glossário, em que eram explicados termos como:

briefing, deadline, lead, entre outros.

A programação do evento, organizado pelos assessores para os reitores,

foi a seguinte: a coordenação nacional do Fascom abriu o encontro, pela manhã.

Em seguida, a professora Ana Arruda Callado e o jornalista e produtor

independente de televisão Washington Novaes apresentaram um painel sobre as

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relações delicadas da Imprensa com as instituições federais de ensino superior. A

mediadora foi a jornalista Clarisse Sidler, da Universidade Federal do Paraná. A

primeira etapa estava vencida. O intervalo para o almoço foi pontuado pela

agitação dos dirigentes. De fato, para os assessores presentes, havia a sensação de

que os dirigentes percebiam de alguma forma a importância da comunicação, mas

não conseguiam deixar de lado as preocupações do dia-a-dia, principalmente

aquela com a própria sobrevivência, já que, nesta época, as relações já espinhosas

com o MEC eram pontuadas por verdadeiros momentos de suspense e indefinição.

No intervalo do almoço, chegou a Vitória, inesperadamente, o responsável pela

Secretaria de Ensino Superior - SESU - do Ministério para discutir questões

urgentíssimas com os dirigentes. A programação da Comunicação Social sofreria

problemas. Houve atrasos e, como já esperado, a frequência era menor, à tarde .

O primeiro convidado a falar foi o economista Júlio Mourão, que tinha sido o

coordenador do projeto “Vitória do futuro”, desenvolvido para a Prefeitura de

Vitória. A idéia era a de que ele fizesse um paralelo entre o planejamento urbano

e o planejamento das IFES, que serviria de base para a elaboração de um

documento que pensasse o Ensino Superior Público, no cenário do ano 2000. Na

verdade, a atenção da platéia já não era mais a mesma e a “ponte” entre o

planejamento urbano e o universitário não chegou a ser de fato construída. O

adiantado da hora fez com que a palestra do então coordenador de comunicação

da UFMG, Márcio Simeone Henriques, fosse suspensa. A idéia era a de que ele

relatasse a experiência de comunicação levada à frente naquela instituição e que

parecia bastante inovadora, já que construída através da participação de diversos

segmentos da vida universitária. Pela falta de tempo, seguiu-se imediatamente

para a palestra da funcionária da UFES e especialista em marketing, a jornalista

Elizabeth Rodrigues, considerada uma verdadeira “bruxa”, imbatível em

campanhas eleitorais. Elizabeth, uma figura marcante, até mesmo pelo aspecto

físico, já que tinha um sério problema de obesidade, surgiu, na reunião, com

aquela imagem de quem pretende “rodar a baiana”. Com uma rosa vermelha

presa aos cabelos, ela apresentou um audiovisual em que mostrava alguns

conceitos básicos de marketing, enfatizando, no seu discurso, como as

universidades trabalhavam pouco e mal esses conceitos. A palestra tentou ser

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didática, mas a “fala” informal e os comentários, por vezes irônicos, da assessora

causaram estranhamento entre os presentes . A polêmica surgiu de fato quando a

jornalista resolveu exibir um vídeo da campanha do candidato eleito à Prefeitura

de Vitória, na época, e que, segundo ela, continha os ingredientes necessários à

eleição de qualquer candidato a reitor. De certa forma, ela conclamava os

dirigentes a utilizarem dos mesmos recursos para se reelegerem ou fazerem

sucessores vitoriosos. Poucos reagiram bem à brincadeira. O então presidente da

Andifes, Tomaz Aroldo da Mota Santos, reitor da UFMG, ficou realmente

indignado com o conteúdo da apresentação, que ele considerou, no mínimo, pouco

ético. Na verdade, não foi só ele que foi tomado por este sentimento. Durante a

apresentação, muitos abandonaram o auditório e, entre aqueles que ficaram até o

final, era comum o sentimento de desaprovação. No coquetel servido ao final

deste dia, pareceu a todos os assessores que o tiro tinha saído pela culatra. A

maneira nua e crua que tinha servido para ilustrar alguns cases de marketing

político parecia ter “diminuído” o status dessas instituições que, como guardiãs do

saber, estariam longe do “disse-me-disse” e das baixarias comuns a tantas outras

campanhas políticas. Apesar da boa intenção, pela avaliação primeira, os

assessores tinham marcado um gol contra. Mas como o público era pequeno e

houve tempo suficiente para uma autocrítica e o reconhecimento de falhas, não

faltaram outras oportunidades para que os assessores do Fascom participassem de

campanhas idealizadas pela Andifes ou levassem a plenário até mesmo um projeto

de comunicação. De qualquer forma, o evento que deveria ter sensibilizado os

dirigentes para o valor estratégico da comunicação nas IFES não atingiu o seu

intento. O vice-reitor da UFJF participou das discussões e também compartilhou

da mesma opinião.

É importante que fique registrado que o Fascom teve contato com os

dirigentes das IFES, durante vários e importantes momentos, apesar dos percalços

já citados. Em março de 1998, inclusive, a Coordenação Nacional do Fórum,

reunida na UFMG, em Belo Horizonte, entregou aos dirigentes um documento

contento a “Proposta de planejamento de comunicação institucional para a

Andifes”. No documento, o Fascom apontava a visibilidade limitada da Andifes e

a falta de estratégia coletiva de relacionamento com a sociedade como os

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principais problemas detectados. O Fascom apontava alguns princípios para uma

Política de Comunicação, entre eles, a formulação de diagnósticos permanentes

sobre a imagem institucional da Andifes, o investimento na qualificação dos

produtos e serviços de comunicação e o entendimento da comunicação como

suporte ao espaço de atuação política da Andifes. Também foram definidas

algumas ações estratégicas, como o assessoramento na implementação de uma

política efetiva de comunicação.295

5.3.2.3 - Plenárias Nacionais do Fascom

Em 1997, o Fascom realizaria a sua primeira Plenária Nacional, nos dias

15 e 16 de julho, na Escola de Música da UFMG, simultâneamente à reunião

anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC. A pauta da

plenária foi discutida previamente pelos membros da Coordenação Nacional, que

elegeram um programa de discussões com os seguintes temas debatidos com uma

série de convidados, entre eles jornalistas, professores, assessores e dirigentes :

"Políticas de Comunicação Institucional", “A identidade institucional da

Universidade pública brasileira” e “O que é informação pública?”. Na época, o

presidente da Andifes e reitor da UFMG apresentou para os assessores um relato

sobre o cenário difícil pelo qual passavam as IFES e a expectativa dos dirigentes

em relação à comunicação. A UFJF, então na coordenação nacional do Fascom,

participou ativamente da organização do evento.296

295

Cf. FASCOM, Proposta de planejamento de comunicação institucional para a Andifes. Belo

Horizonte: UFMG, 7 mar. 1998. 4 p. dig. Relatório. 296 A programação oficial foi a seguinte: conferência "Políticas de Comunicação Institucional" - o

jornalista Lélio Fabiano dos Santos, fundador da Faculdade de Comunicação da PUC-MG e

diretor da Lélio Fabiano & Associados - Consultores em Comunicação Empresarial -, foi

o convidado, a mediação foi feita pela assessora de comunicação da Universidade Federal

de Goiás, Lisa França; mesa-redonda "A identidade institucional da Universidade pública

brasileira" - com a presença do professor Carlos Vogt - ex-reitor da Unicamp -, do

jornalista Herval Cruz Braz, diretor de redação do jornal O Tempo/MG, do professor de

Sociologia da UFMG, Otávio Soares Dulci, e da assessora de comunicação social da UFSM, Rosana Cabral Zucolo, que atuou como mediadora; mesa-redonda "O que é

informação pública?" - com a presença do jornalista Geraldo Melo Corrêa, presidente do

Sindicato dos Jornalistas de MG, Maria Margarida Martins Salomão, pró-reitora de

Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora, e do jornalista Moacir Loth, diretor da

Agência de Comunicação da Universidade Federal de Santa Catarina, que atuou como

mediador.

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A avaliação da Plenária, na época, foi positiva. Na falta de uma atuação

mais ampla do MEC, no sentido de coordenar uma política de comunicação para o

setor, os próprios assessores se reuniam com o intuito de criar um fórum de

discussão que viesse a formular uma nova cultura nas IFES, em que a

comunicação passasse a ser vista como ferramenta estratégica das gestões para

que elas pudessem atingir mais plenamente seus objetivos.

Também houve algumas mudanças na configuração inicial do grupo, até

por conta das transformações ocorridas nas IFES.

Em 1997, membros do Fascom participaram também do Segundo

Encontro de Assessores de Comunicação das Instituições de Ensino Superior,

promovido pela DEMEC de São Paulo.

Em 1998, o Fascom, sob a coordenação da UFJF, realizaria a sua II

Plenária Nacional, nos dias 3 e 4 de setembro de 1998, na dependências da UNI-

RIO, no Rio de Janeiro. A pauta constou de painéis com os temas "O espaço da

Universidade pública na mídia", "A captação de recursos como estratégia para as

assessorias de comunicação", e "Como assessorar em períodos de crise". Também

foi aberto espaço para relatos de experiências bem-sucedidas no âmbito das IFES,

com atividades descritas pelos assessores que incluíram, dentre outras, o trabalho

da TV Universitária da UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo -, a

experiência da Universidade Federal Fluminense, no que se refere à participação

na mídia através das pesquisas eleitorais efetuadas pelo Departamento de Ciência

Política e o case do prêmio concedido, anualmente, pela UFF, aos funcionários

com uma ficha funcional exemplar.297

Neste evento, houve uma participação de assessores de diversos pontos do

país mas, ao mesmo tempo, notou-se que as dificuldades para locomoção e

297 A programação oficial do evento foi a seguinte: painel com o tema "O espaço da Universidade

pública na mídia", com os debatedores Jan Theophilo, do Jornal do Brasil, Liane

Gonçalves, do Caderno Educação de O Dia, Patrícia Santiago, do Jornal dos Esportes,

Mário César Brizon, da Folha Dirigida e a jornalista Rosângela Maria Ribeiro Muniz

Costa, ex-assessora da UFU; painel com o tema "A captação de recursos como estratégia

para as assessorias de comunicação", com Maria de Lourdes Araújo - administradora de empresas -, Fernando Portela - Sebrae/RJ - e João Carlos Rocha - da Coordenação de

Programas e Projetos em Ciências Humanas da UFRJ; painel "Como assessorar em

períodos de crise", com Milton Costa Carvalho - gerente de comunicação da Telerj -,

Terezinha Santos - gerente de comunicação da Cia. Estadual de Gás -, Mônica Medina -

diretora da Diferencial Assessoria de Marketing Ltda. e a mediação da socióloga Elizabeth

Rondelli, professora da UFRJ.

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financiamento dos encontros se tornavam maiores. Houve dificuldades até

mesmo para a eleição da nova direção do Fórum, que ficou sob a coordenação

temporária do jornalista Moacir Loth, da Agência de Comunicação da UFSC. O

jornalista da UFSC, um dos grandes mentores, entre as IFES, da criação de uma

Política Pública de Comunicação, ficou na coordenação do Fórum até meados de

2000. No período, algumas reuniões foram agendadas, mas o Fórum cada vez se

ressentia mais da participação dos assessores, principalmente pela dificuldade de

locomoção e até mesmo por uma desarticulação dos dirigentes em torno da

questão. Atualmente, o Fascom está com suas ações suspensas.

5.3.3 - A UFJF e o Fórum das IFES Mineiras

Durante os anos de 1996/1997, foi realizado um intenso trabalho conjunto

que envolveu os assessores de comunicação das IFES mineiras. A UFJF esteve

presente em todas as discussões, no planejamento e na realização de ações que

garantiram a ocupação de um espaço político importante entre os atores sociais

que, naquele momento, escreviam a história do estado. Os reitores e dirigentes já

tinham criado o Fórum de Dirigentes das IFES Mineiras, que participou de

interlocuções importantes com o governo do estado e com órgãos financiadores de

pesquisa, em nível estadual. O Fórum abriu muito espaço para a atuação dos

assessores de comunicação, que organizaram e produziram conjuntamente folders,

uma revista - Universidade Mineira -, um site na internet, uma exposição na

Assembléia Legislativa de Minas Gerais, uma exposição no Terminal Rodoviário

de Belo Horizonte, além de outras ações que tiveram ampla repercussão na mídia

e junto aos públicos envolvidos.

O primeiro evento de peso organizado pelo grupo foi em novembro de

1996, na Assembléia Legislativa de Minas Gerais, em Belo Horizonte: “Educação

Superior: compromisso com Minas”. O evento começou com uma apresentação

oficial dos dirigentes, no plenário da Assembléia, sobre o trabalho de suas

instituições, com ênfase nas ações de extensão, voltadas para a comunidade. Na

observação de alguns assessores de comunicação, nem todas as falas obedeceram

à objetividade que o momento exigia e nem todas foram convincentes. Além

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disso, o plenário estava relativamente vazio. No saguão da Assembléia foi

montada uma exposição - “O Sistema Federal de Ensino Superior e o

Desenvolvimento de Minas Gerais” com estandes de praticamente todas as

instituições, que apresentaram diversificado material de divulgação: folders,

catálogos, cartazes, livros, vídeos etc. A UFMG montou um estande onde era

possível, através de terminais de computador, acessar-se a home page feita

exclusivamente para o evento com links para as páginas de algumas universidades

que já investiam na divulgação eletrônica. Na ocasião, foi realizado um debate

entre os reitores da UFMG e da UFJF e dois deputados estaduais, transmitido

pela TV Assembléia, emissora que tem um canal a cabo em Belo Horizonte. O

mediador foi o jornalista João Carlos Amaral.

Entre outras atividades desenvolvidas por esse grupo de assessores,

ganhou destaque, em1997, a revista Universidade Mineira. A proposta era a de

se fazer uma publicação que desse visibilidade às diversas ações desenvolvidas

pelas IFES com o intuito de alavancar o desenvolvimento de suas regiões, através

do relato de experiências, que revelassem o compromisso social dessas

instituições, na linha da “Universidade cidadã”. O lançamento dessa revista foi

feito num grande evento, no estande montado pelas IFES mineiras, durante a

realização da 48ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da

Ciência - SBPC -, no campus da UFMG, em julho de 1997. A revista foi

posteriormente distribuída para parceiros internos e externos das instituições.

A montagem do estande conjunto levou os assessores das IFES a pensar

numa forma de manter a estrutura para que o estande fosse levado a diversos

eventos do estado, sempre representando as IFES mineiras. Cada instituição

enviou para a UFMG informações e fotos que foram copiadas e montadas em

práticos painéis. Esses painéis eram transportados para os locais onde havia um

evento importante e passaram a fazer parte do que se poderia chamar de um

estande itinerante das IFES mineiras. O estande representou as IFES, por

exemplo, no III Congresso de Ciências Humanas, Letras e Artes, realizado no

campus da UFJF, em 1997, além de em várias outras promoções no estado.

A discussão sobre a necessidade de dar visibilidade às IFES mineiras

acabou motivando outro evento. No período de 29 de outubro a 3 de novembro de

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1997, as IFES se reuniram novamente para uma exposição de produtos e serviços,

no Terminal Rodoviário de Belo Horizonte. A UFJF, por exemplo, selecionou

dois temas para serem apresentados: “Plantas Medicinais”, um trabalho

desenvolvido pela Faculdade de Farmácia e Bioquímica, e “Tratamento das

Alterações Temporo-Mandibulares - ATM”, da Faculdade de Odontologia. A

UFJF levou amplo material de divulgação sobre os temas, com folders, cartazes e

vídeos. Também havia brindes: a Faculdade de Farmácia e Bioquímica

providenciou dezenas de saquinhos com ervas para chás, plantadas no horto da

Faculdade. Os professores responsáveis pelos projetos colaboraram na

organização e a UFJF enviou estudantes bolsistas para participarem do evento. A

divulgação na mídia foi muito boa: jornais, rádios e emissoras de TV deram

cobertura ao evento, mas faltou público. Quase ninguém que estava na rodoviária

se interessou em subir alguns lances de escada para, enquanto esperasse o ônibus,

visitar a exposição. Na verdade, o ideal é que a exposição tivesse sido feita no

andar térreo do terminal, que tem muito movimento, mas isso não era permitido.

O trabalho valeu mais pela experiência, do que pelo impacto junto ao público. O

que se observava, nessa época, era que, de certa forma, a expressão “IFES

mineiras” já tinha conseguido garantir o seu espaço entre os jornalistas e já era

quase como que uma grife usada para identificar as federais de Minas Gerais.

O Grupo de Assessores das IFES Mineiras não sobreviveu às mudanças

nas gestões universitárias. Terminada a atuação do ex-reitor da UFMG, Tomaz

Aroldo da Mota Santos, e seu coordenador de Comunicação Social, Márcio

Simeone Henriques, em 1998, tentou-se substituir a coordenação estadual por

outros assessores, mas não houve bons resultados, e o grupo acabou se

desorganizando e suspendendo as atividades

5.3.4 - Uma experiência pioneira: o Minuto no Campus

No estado de Minas Gerais, as IFES criaram uma espécie de consórcio

que manteve, durante cerca de dois anos no ar, através de veiculação pela Rede

Globo Minas, o boletim eletrônico Minuto no Campus. O Minuto no Campus

sucedeu outra iniciativa, pioneira no estado, levada à frente pela Universidade

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Federal de Lavras - UFLA -, localizada em Lavras, Sul de Minas, o Minuto no

Campo.

A UFLA batizou o programa de Minuto no Campo , devido às

características da Universidade, que tem seu perfil ligado às ciências agrárias. A

UFLA decidiu investir numa fórmula de programa televisivo, que já tinha sido

utilizada com sucesso por outras IFES, especialmente a Universidade Federal de

Pernambuco - UFPE. A decisão da administração da Universidade de lançar mão

de uma divulgação maciça da instituição foi tomada depois de ter tido acesso aos

resultados de uma pesquisa de opinião que indicava que mais de 70% da

comunidade da região de Lavras julgava a UFLA distante da sua realidade e quase

nada sabia sobre ela. Entre várias iniciativas deflagradas pela administração da

instituição, na época, a de maior impacto, foi, sem dúvida, o Minuto no Campo,

veiculado em rede estadual de televisão, através de um convênio firmado entre a

UFLA e a Rede Globo Minas, que cedeu gratuitamente o espaço televisivo, em

março de 1994.

Com o tempo de um minuto, incluídas a vinheta de abertura e as

assinaturas da instituição e da Rede Globo Minas, o programa era veiculado várias

vezes por dia, inclusive no conhecido "horário nobre", com temas diferentes a

cada semana. As pautas, idealizadas pela UFLA, através da Assessoria de

Comunicação Social e da Pró-Reitoria de Extensão, tinham a preocupação de

colocar a tecnologia a serviço do homem do campo, seguindo uma abordagem de

prestação de serviços. A Rede Globo Minas, com sede em Belo Horizonte,

reproduzia cópias com as matrizes dos videoteipes, produzidos no sistema

Betacam, e remetia as cópias para as retransmissoras regionais com sede em

Uberlândia, Governador Valadares, Juiz de Fora, Varginha e Montes Claros. A

produção do programa era de responsabilidade da empresa Design & Imagem

Comunicação Empresarial Ltda., de Betim, MG, que tinha ganhado a licitação

realizada pela UFLA, sendo este o único custo que envolvia a produção do

programa. Em dois anos, foram produzidos e veiculados 104 programas da série.

Neste período, segundo a Assessoria de Comunicação da UFLA, os resultados

contabilizados foram extremamente positivos.

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Entre os benefícios concretos atribuídos a essa iniciativa, estavam o

aumento da disputa de vagas no vestibular, que pulou de 500 candidatos, por

concurso, em 1992, para 2.500 candidatos, em 1995 e em 1996; o aumento da

oferta de cursos de especialização por tutoria à distância; maior interesse da mídia

- falada, escrita e televisiva - pela instituição - de uma média de 50 reportagens

por ano, foram realizadas, em 1994, 112 reportagens, e, 203, em 1995; aumento

de 50% na demanda dos serviços de laboratório, consultorias e assessorias

técnicas oferecidas pela UFLA.

Desde o mês de abril de 1996, numa ação conjunta entre as IFES do estado

de Minas Gerais, o Minuto no Campo foi transformado em Minuto no Campus,

tendo ampliado o leque dos temas abordados e também a participação das

instituições federais de ensino superior de Minas, no projeto. O termo aditivo ao

convênio de cooperação mútua entre a UFLA e a Rádio Globo Capital Ltda. -

Rede Globo Minas - foi assinado no dia 9 de março de 1996. O convênio padrão

datava de 10 de março de 1995. A finalidade era a de dar maior visibilidade ao

trabalho dessas instituições, seguindo a política dos dirigentes, que se

organizaram, no estado, no Fórum das IFES Mineiras, responsável pela realização

de várias atividades que garantiram maior divulgação para os trabalhos das

instituições, numa perspectiva de desenvolvimento regional.

Das doze IFES de Minas Gerais, apenas a Universidade Federal de Viçosa

não abraçou o projeto. As IFES participantes foram as seguintes: Universidade

Federal de Minas Gerais - UFMG -, Universidade Federal de Lavras - UFLA -,

Universidade Federal de Uberlândia - UFU -, Universidade Federal de Ouro Preto

- UFOP -, Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF -, Escola de Farmácia e

Odontologia de Alfenas - EFOA -, Escola Federal de Engenharia de Itajubá -

EFEI -, Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - CEFET -,

Faculdade Federal de Odontologia de Diamantina, Fundação de Ensino Superior

de São João del Rei - FUNREI - e Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro -

FMTM. Nem todas as instituições participaram igualmente, durante todo o

período em que o programa foi veiculado. Algumas participaram de forma mais

sistemática, como a UFLA , a UFMG e a UFJF.

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As pautas dos programas eram levantadas pelas Assessorias de

Comunicação Social dessas instituições. Os assuntos eram enviados para a

Central de Programação da Rede Globo Minas, que aprovava os temas, para que

não houvesse repetição de assuntos e também ficasse garantido o caráter de

utilidade pública dos temas. Para manter o mesmo padrão de qualidade de

captação de imagens, texto, locução e edição, toda a produção ficava a cargo da

empresa Design e Imagem, de Betim, MG, que visitava as IFES, num roteiro

previamente discutido, para realizar a gravação dos programas.

O formato do Minuto era o mesmo para todas as IFES. O locutor de voz

masculina inseria o tema de forma generalista. Aparecia a vinheta que

caracterizava o programa. Voltava a imagem relativa ao tema, com um locutor

em off, dando informações sobre o assunto. No final, era comum ter-se o

depoimento do pesquisador ou professor responsável pelo projeto. Nos últimos

programas, eliminou-se este depoimento, ficando apenas registrada a voz do

apresentador em off. Para finalizar, entrava, então, a assinatura em 3D -

computação gráfica, em três dimensões e com movimento - da instituição e,

finalmente, a assinatura da Rede Globo Minas. O formato quase sempre

privilegiava um estilo mais "jornalístico", isto é, menos "publicitário": imagem e

texto objetivos, sem uso de dramatização e de personagens fictícios, com

utilização reduzida de recursos gráficos e de efeitos especiais. Nunca foi utilizado

repórter para conduzir as entrevistas. A trilha sonora era dinâmica, sem escapar

ao tipo de música incidental que, normalmente, caracteriza os vídeos

institucionais.

No ano de 1996, foram veiculados 38 programas, em todo o estado de

Minas Gerais. Entre os temas apresentados, podemos destacar: animais

peçonhentos - UFU -, pré-natal e nascimento - FMTM -, energia no campo -

EFEI -, plantas medicinais - EFOA -, educação especial para deficientes visuais -

UFJF -, pão forte - UFMG -, secagem de madeira - UFLA -, luteria de violões -

FUNREI -, conservação de energia - CEFET- , entre muitos outros. O convênio

foi reeditado para o período de 1997, com vigência até 12/04/98.

O Minuto no Campus era veiculado em todo o estado, em diversos

horários, por um período de uma semana. Havia alternância: a cada semana, uma

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instituição era mostrada. A produtora, de Belo Horizonte, fazia a gravação e

edição, para que fosse mantido o mesmo padrão técnico em todas as produções.

Os assessores de comunicação acompanhavam a produção e, em alguns casos,

produziam o texto a ser lido pelo locutor.

Entre os onze temas apresentados pela UFJF, estavam os seguintes

programas, veiculados em 1996: educação especial, visando a integração entre

crianças normais e aquelas com necessidades especiais, projeto da Faculdade de

Educação; diagnóstico e tratamento de alterações temporo-mandibulares - ATM -,

da Faculdade de Odontologia; prevenção e tratamento da Aids, projeto

interdisciplinar envolvendo várias unidades acadêmicas; biblioteca dinâmica,

projeto do Sistema de Bibliotecas da UFJF, subordinado à Pró-Reitoria de

Graduação. Os programas veiculados em 1997 e 1998 foram: reciclagem de lixo,

projeto do Instituto de Ciências Exatas; preservação de patrimônio histórico,

mostrando os cuidados com o acervo do Centro de Estudos Murilo Mendes -

livros e pinturas - e o Cine Theatro Central; moradia popular, projeto educativo

visando a preservação do meio-ambiente, nas ocupações realizadas por famílias de

baixa renda - iniciativa interdisciplinar, mas com enfoque maior no trabalho do

Departamento de Arquitetura da Faculdade de Engenharia; alimentação

enriquecida, alternativas alimentares para a população de baixa renda; prevenção

da diabetes, do Hospital Universitário; orientação para se evitar lesões e

conquistar mais saúde, da Faculdade de Educação Física; Plano Integrado de

Educação e Saúde - PIES - para treinamento e reciclagem de agentes de saúde que

atuavam junto às Prefeituras Municipais.

Em Juiz de Fora, a Assessoria da Comunicação Social da UFJF teve ampla

liberdade para promover a seleção dos temas, que eram apresentados à

administração central e, depois, enviados para a Rede Globo Minas. Alguns

assuntos previamente apresentados, como a utilização de plantas medicinais,

foram trocados, pelo fato de outra instituição já estar trabalhando com o mesmo

tema. De qualquer forma, a experiência se mostrou gratificante e, apesar de não

ter sido feita nenhuma pesquisa formal para medir os resultados do investimento,

a exibição do Minuto despertou interesse entre o público interno da UFJF,

professores, funcionários e alunos, e o público externo à instituição, que,

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principalmente, através de comentários via telefone e face à face, elogiava o

projeto.

Até hoje não se tem um cálculo exato do custo-benefício da realização do

programa. As instituições tinham apenas que gastar com o custo de produção, na

época, em 1997, R$ 3.586,00, por programa, fora as despesas com alimentação e

hospedagem da equipe da produtora. Não foi feito nenhum estudo para avaliar

cientificamente o resultado da veiculação dos programas em termos de divulgação

dos trabalhos das IFES, como também não foi feito nenhum estudo sistematizado

sobre a economia com a veiculacão gratuita. Note-se que, muitas vezes, o

programa era veiculado em horários de mídia extremamente cara, como os

intervalos da novela das oito, Fantástico ou Jornal Nacional . Mesmo assim, sem

ter que custear as despesas de veiculação, as IFES mineiras suspenderam o

projeto, pela redução dos recursos orçamentários disponíveis, em 1998.

Em Juiz de Fora, a TV Panorama, emissora da Rede Globo, retomou, em

2000, em conjunto com a UFJF, a produção do Minuto no Campus, com a

veiculação regional para 127 municípios dos programas produzidos, agora,

através da Produtora de Multimeios da UFJF. A idéia é basicamente a mesma.

Depois de uma reunião preliminar entre o então gerente de programação da TV

Panorama, Arísio Coutinho Filho, o coordenador de Imagem Institucional da

UFJF, Márcio Guerra, a assessora de Comunicação da Reitoria, Christina Ferraz

Musse, e o diretor da Produtora de Multimeios da UFJF, Eduardo Sérgio Leão de

Souza, foi o próprio diretor executivo da TV Panorama, Luiz Ricardo Queiróz,

quem tomou a iniciativa de procurar a reitora da instituição, professora Maria

Margarida Martins Salomão, para propor a realização do programa em âmbito

regional, numa estratégia de marketing social, extremamente valorizada, hoje,

pelas emissoras regionais da Rede Globo de Televisão. Com o aval da reitora,

ficou definida a retomada do projeto, que completa um ano de veiculação, no mês

de maio de 2001.

Uma equipe que reúne professores e alunos da Faculdade de Comunicação

foi formada com o objetivo de gravar o programa. Esta equipe está estruturada

da seguinte forma: uma roteirista (professora da Faculdade de Comunicação, que

também faz a locução do programa); um diretor (professor da Faculdade); um

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cinegrafista (funcionário da Produtora); um aluno recém-formado, contratado para

a prestação de serviços, atuando como assistente de direção; dois bolsistas que

trabalham na produção e gravação do programa.

A equipe utiliza os equipamentos da Produtora de Multimeios da

Universidade Federal de Juiz de Fora: uma câmera Betacam, tripé, iluminação,

ilha de edição e de efeitos especiais. A Universidade se responsabiliza pelo

deslocamento da equipe de gravação, mas atualmente o transporte da equipe e

equipamentos é feito nos carros particulares dos professores. Até o momento, o

custo fixo da UFJF com a gravação do programa inclui apenas a contratação do

assistente de direção (R$ 450,00/mês), no fornecimento de fitas e manutenção do

equipamento para gravação e pós-produção. A UFJF também gastou R$ 300,00

para a confecção de trilha sonora original. A TV Panorama idealizou e

confeccionou as vinhetas de abertura e encerramento.

Já foram ao ar diversos programas: Prevenção de Câncer de Colo de Útero,

Cooperativas Populares incubadas na UFJF, Prevenção da Morte Materna,

Sistema de Bibliotecas da Universidade, Laboratório de Avaliação Motora, Centro

de Estudos Murilo Mendes, Farmácia Universitária, Hemodiálise, Centro de

Estudos Murilo Mendes, Fórum da Cultura, Núcleo Agro-Alimentar do Centro

Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia, Universidade com a

Terceira Idade, Equipe Multiprofissional de Prevenção e Combate à Aids,

Cursinho Popular, Fórum da Cultura, Trabalhos de preservação ambiental do

Parque Estadual de Ibitipoca, Domingo no Campus, Escritório Escola da

Faculdade de Direito, Prevenção e Tratamento das dores lombares pela

Fisioterapia, Prevenção da Hanseníase, Estatuto da Criança e do Adolescente etc.,

no período de maio/2000 a março/2001.

Em todos os programas, a ênfase é dada ao aspecto da prestação de

serviços à comunidade. Sempre se procura dar ênfase aos trabalhos que atinjam a

comunidade como um todo e que tenham a característica de serem gratuitos ou

serem oferecidos a baixo custo.

O formato dos programas é muito semelhante ao daqueles já veiculados

pela Rede Globo Minas. As principais diferenças se referem à utilização de

locução com voz feminina e à utilização de um depoimento de aluno(a), na

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abertura de cada programa, fazendo uma apresentação geral do tema. O

pesquisador/professor aparece sempre na metade final do programa, num pequeno

depoimento. A gravação tem cerca de cinquenta segundos, sendo os outros dez

segundos utilizados nas vinhetas de abertura e encerramento.

Cada programa fica no ar por um período de quinze dias. Não se tem um

plano de mídia que possa garantir a quantidade de inserções, nem mesmo o

horário, já que a TV Panorama veicula o Minuto nos blocos de intervalo comercial

em que ela tem disponibilidade, isto é, não vendeu o espaço para os anunciantes.

A rotina é de três inserções diárias. Como a veiculação é gratuita, pode-se ter uma

idéia da economia para a UFJF. No ano 2000, o preço mínimo de transmissão de

um comercial de 30 segundos era de cerca de R$ 61,00, na área de abrangência

da TV Panorama; o preço mais elevado, para o mesmo comercial, era de R$

972,00.

O programa começou a ser veiculado no dia 5 de maio de 2000. O

primeiro a ir ao ar foi aquele que trata da Prevenção do câncer de colo de útero. A

média de inserções/dia equivaleria a um gasto de R$ 930,00. Fazendo-se uma

projeção para um mês, tínhamos R$ 27.900,00, para atingir os 2 milhões de

telespectadores da TV Panorama, em 127 municípios da Zona da Mata Mineira.

O valor desta mídia seria equivalente ao que é gasto mensalmente, segundo

informações da Gerência de Programação da empresa, pelos grandes atacadistas

da cidade, como supermercados do tipo Carrefour.

5.3.5 - Um sistema de qualidade na Assessoria de Comunicação

Em 1997, a Assessoria de Comunicação da UFJF procurou resolver alguns

de seus maiores problemas - falta de recursos humanos e orçamentários - através

de uma reformulação do seu modelo de gestão. Entendida como setor prestador

de serviços, a Assessoria procurou se reformular para atender melhor aos seus

clientes. Para isso, foi implementado o Sistema de Qualidade, baseado nas

diretrizes para serviços da NBR ISO 9004-2, através de consultoria da engenheira

Catarina Maria Salomão Musse, do Instituto Nacional de Tecnologia - INT -,

órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT.

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A Assessoria sempre foi procurada para o atendimento de uma gama muita

variada de demandas: elaboração de releases para a imprensa, confecção de

convites, folders e cartazes, organização de cerimoniais, visitas oficiais etc. A

defasagem entre a demanda, proveniente dos órgãos administrativos e

acadêmicos, e a capacidade de oferta de serviços era um problema que persistia há

anos no setor, agravando-se mais recentemente devido ao aumento da procura dos

serviços de comunicação.

Para desenvolver em tempo hábil a estrutura de serviços necessária a

satisfazer seus clientes, a ASCOM buscou a consultoria do INT. O trabalho

iniciou-se pelas entrevistas realizadas junto a cada Pró-Reitoria sobre o papel da

comunicação na UFJF. A visão unânime da comunicação como questão

estratégica para a Universidade levou ao questionamento da viabilidade do

atendimento das demandas com o “modus operandi” vigente. Além disso, as

expectativas sinalizavam para a urgência das mudanças.

Foi elaborada, então, uma pesquisa, através de questionários enviados às

Pró-Reitorias e algumas unidades administrativas, para identificação dos clientes,

suas expectativas e os instrumentos de comunicação utilizados para atendê-los; foi

também desenvolvido um trabalho de organização interna, para identificação das

dificuldades e potencialidades da ASCOM, e realizados treinamento dos

servidores, bolsistas e colaboradores da Assessoria para discussão dos conceitos e

ferramentas da Gestão de Qualidade.

De posse dos dados coletados, a ASCOM confirmou a necessidade de

desenvolver uma estrutura de serviços não só para se organizar internamente,

como também para criar meios para a ampliação da sua capacidade técnica. A

criação da estrutura de serviços foi baseada nas diretrizes da Norma NBR ISO

9004-2. A aplicação bem sucedida da Gestão de Qualidade em um serviço

fornece oportunidades significativas para: melhorar o desempenho do serviço e a

satisfação do cliente, melhorar a produtividade e eficiência, reduzindo custos, e

aumentar a participação no mercado.

Foram levantadas, em seguida, as rotinas de cada serviço e elaboradas as

folhas de informação e acompanhamento dos serviços prestados, visando a

padronização e melhoria da qualidade do atendimento. Simultaneamente, foi

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realizada uma pesquisa de opinião sobre o jornal Em Tempo, que resultou na

racionalização dos serviços impressos e na reformulação do formato e da

circulação do mesmo. Outra atividade importante foi a da Organização e Limpeza

do ambiente de trabalho, com o descarte do material desnecessário, estruturação

dos arquivos internos e da biblioteca, bem como das pastas de cada serviço.

Como tantas outras unidades da UFJF, a ASCOM foi muito afetada pelos

cortes orçamentários, que ampliaram suas antigas dificuldades. Mas se negando

ao imobilismo e visando se antecipar às tendências vislumbradas no processo de

autonomia, a Assessoria incluiu, na nova estrutura de atendimento, o

ressarcimento dos serviços prestados, via transferência de recursos da matriz

orçamentária do requisitante para a ASCOM. A mudança foi explicada no jornal

Em Tempo e num folder distribuído para todas as unidades acadêmicas e

administrativas. Mas nem todos compreenderam a mudança. Com certeza, a

sensibilização dos clientes para a transformação do atendimento - prazo de quinze

dias para encaminhamento das requisições, repasse de recursos etc. - deveria, de

acordo com uma avaliação posterior, ter sido mais bem trabalhada, inclusive

debatendo-se os objetivos junto ao então Conselho Universitário. Na realidade, as

mudanças só funcionaram com alguns clientes. A implantação do Sistema da

Qualidade foi prejudicada, pela dificuldade de adesão dos clientes, e acabou

suspensa com a mudança do Reitorado.

5.4. - Eventos dão nova cara à instituição

Desde a sua fundação, a UFJF tem dado uma ênfase especial à realização

de eventos como forma de estabelecer e sedimentar laços com os públicos interno

e externo. Na área cultural, a realização de concertos, apresentação de peças

teatrais e exposições de artes plásticas têm marcado a trajetória da instituição. No

setor desportivo, as Olimpíadas da década de 70, que arrastavam torcidas

inflamadas para as ruas e ginásios da cidade, ficaram gravadas na memória de

saudosos quarentões. Inflamadas assembléias estudantis, ou de servidores da

UFJF, impregnaram com suas palavras de ordem muitos dos anfiteatros da

instituição. Eventos acadêmicos e científicos atraem centenas de estudantes para

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o campus da UFJF. Mas nunca antes a Universidade parece ter investido tão

firmemente em eventos, como forma de sedimentar a imagem da instituição, como

agora. Apesar de não haver a definição clara de uma política para o setor, há um

conjunto de ações, destinadas aos alunos, servidores e sociedade em geral, que

trazem em seu bojo a firme determinação de legitimar a UFJF junto aos seus

diversos públicos, numa estratégia já hoje amplamente utilizada pelas empresas

como forma de gerar visibilidade, e garantir um reforço na imagem institucional.

De acordo com a atual reitora da UFJF, Margarida Salomão, “não adianta marcar

o gol e não comemorar”, daí a importância em se utilizar dos eventos para dar

visibilidade à instituição.

5.4.1 - Recepção aos calouros

Em 1995, a UFJF, através de sua Assessoria de Comunicação, iniciou um

trabalho para melhorar a recepção aos calouros, que chegavam à instituição e

recebiam um trote, mas não tinham nenhum contato oficial com a administração,

com exceção do diretor e coordenador de curso de sua respectiva unidade

acadêmica. Inicialmente, idealizou-se que o reitor e alguns membros de seu staff

percorreriam salas de aula dos institutos e faculdades. Nessas visitas de boas-

vindas, os dirigentes conversavam com as turmas dos primeiros períodos,

explicavam a importância deles terem entrado numa Universidade pública,

descreviam as dificuldades que vinham sendo impostas a estas instituições pelo

governo federal e apresentavam alguns dos principais itens dos programas de

assistência estudantil. Durante as visitas, os calouros recebiam material sobre a

instituição, com diversas explicações sobre o funcionamento da mesma.

Inicialmente, uma edição especial do Em Tempo, mostrava não apenas um mapa

campus, como também os programas de bolsas de monitoria, iniciação científica

etc., além de informações úteis sobre horários de ônibus para o campus,

atendimento no Restaurante Universitário, opções culturais na instituição,

explicações sobre o Diretório Central dos Estudantes, entre outras. A distribuição

do jornal foi acrescida, depois, por uma pasta, que, dependendo do patrocínio

negociado fora da instituição, poderia conter também algum brinde, como bloco,

caneta e adesivo. Em determinados anos, a distribuição incluía o Manual do

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Aluno, produzido pela antiga Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Extensão,

e uma agenda idealizada pelo Sistema de Bibliotecas da UFJF.

A atual reitora da UFJF, professora Maria Margarida Martins Salomão,

decidiu incrementar ainda mais a recepção aos calouros. Através da Coordenação

de Imagem Institucional, ficou decidido que os calouros e suas famílias seriam

recepcionados, através de um evento especial, realizado no Centro Olímpico, onde

seriam apresentadas a eles as lideranças da UFJF, as metas da instituição etc. Para

o coordenador de Imagem Institucional, Márcio Guerra, a “Recepção aos

Calouros mostra aos alunos e aos pais que o filho não está entrando numa

Universidade qualquer, mas sim, numa Universidade que é séria, responsável e

comprometida com o social, além disso, quebra-se o impacto do trote, que ainda é

uma imagem negativa.”298

Para podermos ter uma idéia de como acontece esta solenidade,

descreveremos como foi o evento, realizado no primeiro semestre de 2000. Os

calouros e suas famílias ocuparam as arquibancadas do Centro Olímpico da UFJF.

A mesa de autoridades foi composta pela reitora, vice-reitor, pró-reitores e um dos

coordenadores do Diretório Central dos Estudantes, DCE. Diretores de unidades

acadêmicas, coordenadores de curso e alguns assessores da atual gestão também

compareceram à solenidade.

O representante do DCE foi o primeiro a falar, analisando a “privatização

entre aspas” do ensino superior. Depois, foi exibido um vídeo institucional, com

o título: “UFJF - a sua casa”, mostrando o campus, as atividades de ensino,

pesquisa e extensão da instituição. No vídeo, eram realçadas, logo de início, as

colocações da UFJF no ranking do MEC, através das avaliações do Provão e da

Comissão de Especialistas do Ministério, que visitaram a instituição, avaliando o

corpo docente, a organização didático-pedagógica de determinados cursos e as

instalações dos mesmos. A UFJF, de acordo com estas avaliações, seria a

primeira colocada entre as instituições de ensino superior mineiras e a sétima

entre as brasileiras. O vídeo foi produzido por uma produtora particular, sob a

supervisão da Coordenação de Imagem Institucional.

298 MUSSE, Christina Ferraz. Eventos promovidos pela UFJF/Coordenação de Imagem

Institucional. Juiz de Fora: UFJF, fev. 2001. p. 1. Anotações sobre entrevista concedida

pelo professor Márcio Guerra.

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Em seguida, foi a vez da reitora fazer uso da palavra. Ela logo criou um

ambiente de proximidade, apresentando sua equipe e também os diretores e

coordenadores de cursos. No seu discurso, a dirigente enfatizou o fato da UFJF

ser a “sétima melhor Universidade do Brasil” e convidou os novos alunos a

participarem ativamente de todas as oportunidades que se abrem na vida

universitária. Além disso, a reitora anunciou algumas das conquistas de sua

gestão, como a abertura de novos cursos, a ampliação da oferta de vagas,

principalmente no período noturno, a universalização do oferecimento dos cursos

de língua estrangeira para todos os alunos da UFJF, no segundo semestre de 2000.

A reitora ainda enfatizou o fato de, no Brasil, apenas 12 de cada 100 jovens

estudarem numa Universidade e apenas três destes 100 conseguirem estudar numa

Universidade pública. Ela comparou a corrida do vestibular a uma corrida da

morte, que, segundo ela, é a corrida da educação no Brasil. A reitora finalizou

convidando todos a aproveitarem o privilégio de estudarem numa instituição

pública e a “combater um bom combate”.

A solenidade de recepção aos calouros e suas famílias contou ainda com a

apresentação do coral das Escolas Municipais de Juiz de Fora e o oferecimento de

um coquetel. Os calouros receberam uma edição da publicação Nossa

Universidade, editada em papel couché, a cores, com várias informações e fotos

sobre a UFJF. A publicação é feita de forma terceirizada, através da contratação

de jornalistas e fotógrafos, além de gráfica digital.

Transcrevemos aqui a mensagem da reitora aos calouros impressa na

publicação distribuída no primeiro semestre de 2000:

Este manual apresenta a Você algumas informações básicas sobre a

nossa Universidade.

Uma Universidade - mais que o campus, as instalações que a

constituem, seus laboratórios e equipamentos - é a gente que nela

estuda, nela trabalha, nela vive.

Nossa Universidade é formada por todos nós. Por isso, é tão

importante conhecer os seus recursos, todas as possibilidades que

ela abre, todas as chances e inspirações que ela desperta. As

informações aqui contidas podem ajudar Você a definir seus

caminhos dentro da UFJF - não só viajar nos percursos já trilhados,

mas levantar questões, discutir a vida, botar o bloco na rua.

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O tempo que cada um de nós passa na Universidade pode ser uma

experiência imperdível: criar novas convivências, investigar outras

áreas de interesse, reinventar a roda, desbravar mares nunca dantes

navegados.

A educação superior brasileira, infelizmente, ainda é um privilégio

social neste país. Cursar uma Universidade pública federal é

chance que só vai ser usufruída por dois em cada dez de seus

companheiros de geração.

Aproveite a Universidade Federal de Juiz de Fora ao máximo.

Disponha de tudo que ela oferece. Exija o que ela ainda não

oferece.

Muito prazer.299

5.4.2 - A solenidade de formatura

Para os dirigentes, a formatura é vista como o momento mais importante e

solene da Universidade. É aí que a instituição devolve para a sociedade o seu

principal “produto”: o aluno formado. Apesar disso, nos últimos anos, o que se

observava, em Juiz de Fora, é que as formaturas estavam perdendo o seu aspecto

solene, oficial, transformando-se em verdadeiros espetáculos, com desfile de

formandos, projeção de imagens em “telão”, mostrando até mesmo os formandos,

quando eram bebês, dezenas de homenagens e discursos e uma duração que

facilmente ultrapassava as três horas. O resultado é que a Universidade resolveu,

novamente, tomar as rédeas do evento oficial, a colação de grau, deixando a

critério dos cursos a realização de outras quaisquer cerimônias, mas sem valor

oficial.

Para o coordenador de Imagem Institucional, Márcio Guerra, havia outro

fator em jogo. “A formatura estava ganhando um caráter muito comercial e, como

a contratação de serviços era cara, acabavam sendo excluídos do evento aqueles

alunos que não podiam pagar. Aí, a imagem da instituição acabava arranhada.”300

A idéia da Universidade foi então a de dar um tratamento igual para todos e sem

qualquer ônus, já que ela passou a custear desde o preço de aluguel das becas até a

299 SALOMÃO, Maria Margarida Martins. [s.t.]. In: NOSSA universidade. Juiz de Fora:

UFJF/Coordenação de Imagem Institucional, [s.d.]. p.1. 300 MUSSE, Christina Ferraz. Eventos promovidos pela UFJF/Coordenação de Imagem

Institucional. Op. Cit. p. 3.

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decoração do evento. Mas a maior novidade, em 2000, foi a instituição da

formatura unificada de todos os cursos, que aconteceu, pela primeira vez, em

julho do ano passado.

A formatura do segundo semestre de 2000 aconteceu às dez horas da

manhã, do dia 27 de janeiro de 2001, um sábado. Na Praça Cívica do Campus, foi

montado um grande toldo com capacidade para receber os 838 formando dos 27

cursos, além dos seus familiares. Sob o toldo foram colocadas 5.500 cadeiras.

Pelos cálculos da Polícia Militar, havia cerca de 8.000 pessoas no local. Para

facilitar o andamento do cerimonial e conseguir que a solenidade não

ultrapassasse o limite de duas horas de duração, foram usados alguns artifícios: o

juramento foi unificado e o orador foi um só, sendo feito um revezamento do

juramentista e do orador, entre os alunos dos diversos cursos. Segundo o

coordenador de Imagem Institucional, isto provocou uma reação “violenta” dos

formandos em Medicina, que não se conformaram em não fazer o juramento de

Hipócrates.

A formatura foi transmitida ao vivo, pela internet, através de uma parceria

com o provedor local, Artnet. No tempo real de transmissão, as imagens foram

vistas por 113 internautas, que acessaram o endereço eletrônico da UFJF e do

provedor. O programa ficou no ar por 30 dias e, logo na primeira semana, foi

visto por parentes e amigos dos alunos, inclusive por estrangeiros na França,

Portugal, Chile, África do Sul e Estados Unidos.

5.4.3 - Os eventos com foco na comunidade externa

A antiga Assessoria de Comunicação Social e a atual Coordenação de

Imagem Institucional sempre foram responsáveis pela participação da UFJF numa

série de eventos, vários deles fora da instituição, como a montagem de estandes

nas Exposições Agropecuárias de Juiz de Fora, a organização de eventos em

defesa da Universidade Pública e Gratuita, na Câmara de Vereadores, a parceria

em eventos culturais, científicos e políticos, como o debate com o líder do

Movimento dos Sem-Terra, no Cine-Theatro Central, assistido por uma platéia de

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cerca de duas mil pessoas. Em Juiz de Fora, a UFJF marcou presença importante

em eventos sediados por ela, e de repercussão em todo o estado como o III

Congresso de Ciências Humanas, Letras e Artes e a III Mostra das IFES Mineiras,

no período de 26 a 30 de maio de 1997; a V Mostra Mineira de Ciência e

Tecnologia, em novembro de 1997, e a IV Mostra da UFJF, de 11 a 15 de

setembro de 1995. Para dar apoio, por exemplo, à esta iniciativa da Faculdade de

Educação da UFJF, voltada para estudantes de Segundo Grau, foi criada uma

logomarca especial para o evento, folder com a programação, e colocados

outdoors pela cidade, convidando o público para a Mostra. No saguão da

Reitoria, ficou uma exposição com vários trabalhos da área científica, mostrando

projetos como o Núcleo Regional do Softex 2000, ou a Quiral, a primeira empresa

incubada informalmente na UFJF e que, hoje, atua no mercado farmacêutico. No

estacionamento da Reitoria, foi montada uma grande lona de circo, embaixo dela,

as unidades acadêmicas montaram estandes com material de divulgação dos

diversos cursos da instituição. A Mostra teve uma boa divulgação na imprensa,

mas a participação dos estudantes de Segundo Grau ficou muito aquém do

esperado.

Quando apresentamos, no Capítulo I, um resgate da história da cidade de

Juiz de Fora e da constituição da Universidade Federal observamos que, sempre,

todas as discussões em torno da Educação Superior da cidade estavam voltadas

para a formação de empreendedores, de lideranças, saídas da elite, que deveriam

se responsabilizar pelo desenvolvimento da cidade e da região de acordo com

metas formuladas pelas oligarquias econômicas e políticas. Nos últimos anos,

parece sintomática a mudança nesta discussão. A Universidade, que sempre

esteve, até espacialmente, instalada de forma distante, quer mudar a sua marca.

Da missão de “espargir luzes”, a UFJF se concentra, hoje, no desafio de se

transformar na “sua Universidade pública”, slogan criado pela atual reitora, Maria

Margarida Martins Salomão, no intuito de promover uma aproximação da

instituição com a comunidade.

Hoje, a ocupação do espaço do campus é institucionalizada, através de

projetos como o Domingo no Campus, da Coordenação de Imagem Institucional

da UFJF. “Um evento realizado nos fins de semana, na Praça Cívica da

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Universidade, onde a comunidade pode usufruir do espaço com atividades físicas

programadas, oficinas de arte, música, apresentações de corais, cantores e

gincanas.”301

O evento é realizado quinzenalmente, de 8h30min às 12h30min,

desde julho de 1999. Inicialmente, foi patrocinado pela Unimed, que custeava as

bolsas dos alunos dos cursos de Educação Física, Artes e Comunicação

envolvidos no projeto, além de outros participantes. Hoje, o patrocínio é da

Belgo-Mineira. Em datas especiais, o Domingo no Campus recebe uma outra

parceria importante, a da TV Panorama, emissora regional da Rede Globo de

Televisão. É o que ocorre na comemoração do Dia da Criança. Com a veiculação

de “chamadas” na programação da emissora, o evento costuma atrair mais de dez

mil pessoas e se estender por todo o dia de domingo, com várias atividades de

lazer, recreação e prestação de serviços, e apoio do SESC, SENAC etc. A

comemoração do Dia de Natal também atrai centenas de famílias ao campus da

UFJF. Neste evento, o ponto alto, é a chegada de Papai Noel de helicóptero, além

da farta distribuição de brindes. Na comemoração do Natal, a UFJF também

distribui brindes para os seus servidores. Os brindes são entregues na casa de

cada um, incluindo-se aí, os inativos e pensionistas. Em 1998, o brinde foi uma

caneta com a logomarca da instituição; em 1999, foi dado o brinde de maior

sucesso, um relógio de pulso, também com a logomarca estampada no marcador;

em 2000, os servidores ganharam um panetone. A UFJF também já forneceu para

todos os seus servidores pins com a logomarca da universidade.

Cada vez mais, o campus da UFJF é procurado como espaço para a

realização de eventos: a Mercedes Benz, hoje Daimler Chrysler, fez o lançamento

do seu modelo Classe A, com um grande show com bandas de rock, no campus da

UFJF; a Exposição de Carros Antigos, promovida por colecionadores, elegeu o

campus para expor as raridades automobilísticas ; o Ibitipoca Off Road, um

evento esportivo que reúne motociclistas e jipeiros, teve saída e chegada no

campus da instituição, entre muitos outros eventos que atraem centenas de pessoas

para o local.

301 GUERRA, Márcio. UFJF consolida atuação na Zona da Mata mineira. Gazeta Mercantil

Minas Gerais. Belo Horizonte, 6 nov. 2000. Idéias, p. 2.

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5.4.4 - Outros eventos

Para o público interno, inclusive aquele composto por servidores

aposentados e pensionistas, a UFJF também tem levado o seu planejamento de

eventos. Em 2000, por exemplo, o Dia do Trabalho, foi comemorado com um

show da cantora Alcione, no Cine-Theatro Central. Cada servidor ganhou dois

convites e pode assistir ao show com um convidado. A lotação do teatro, com

cerca de 2.200 lugares, ficou praticamente esgotada. Em outubro, o Dia do

Funcionário Público foi comemorado, no mesmo local, com um show de Beth

Carvalho. O coordenador de Imagem Institucional, Márcio Guerra, destaca que o

evento emocionou muito os servidores já que vários deles jamais tinham entrado

no teatro, que é um dos patrimônios arquitetônicos mais conhecidos de Juiz de

Fora.

.

5. 5 - A UFJF na internet

A criação de uma home page para a UFJF foi discutida várias vezes.

Inicialmente, em 1996, foi criado um grupo com bolsistas da Assessoria, que

fizeram um trabalho conjunto com alunos do Programa Especial de Treinamento -

PET- do curso Engenharia Elétrica, da Faculdade de Engenharia. O objetivo era

o domínio da linguagem HTML. O grupo, de maneira muito informal, começou a

ensaiar os primeiros passos na confecção de uma home page. Depois, por

sugestão do então chefe da Editora da UFJF, tentou-se formar um grupo

multidisciplinar para discutir a confecção da página. As conversas não evoluíram

muito, porque, logo em seguida, a Pró-Reitora de Planejamento da UFJF ficou

com a responsabilidade da home page, que saiu da esfera da Assessoria de

Comunicação Social.

No final de 1998, a Coordenação de Imagem Institucional decidiu criar

uma nova home page, já que aquela que estava no ar era considerada feia e de

difícil acesso. Inicialmente, foi feito o levantamento de informações em todas as

unidades acadêmicas e administrativas. Um jornalista contratado pela

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Coordenação, Michael Guedes, começou então o trabalho de criação do site,

apoiado por uma prestadora de serviços, a empresa particular Gemini, responsável

pela manutenção da rede de computadores da UFJF.

Na opinião do coordenador de Imagem Institucional, Márcio Guerra, dois

destaques da home page são o link para fotos da UFJF, que funcionam como

cartões postais eletrônicos, e a coluna Perfil do Servidor. “Quando você liga para

o servidor e diz que ele está na internet, a reação é fantástica. Ele te pergunta se

pode avisar aos parentes. Ou, então, comenta que um amigo ligou de São Paulo

para dizer tê-lo visto na rede.”302

O Perfil é mudado de quatro em quatro dias e a

idéia é repassar todos os dados já armazenados sobre os servidores e aquilo que

eles pensam da instituição para a Pró-Reitoria de Recursos Humanos.

A home page tem servido para dar transparência e agilidade às

informações sobre a UFJF. A mídia eletrônica também foi utilizada, no ano de

1999, para possibilitar um contato mais direto da reitora com o público. Na

época, ela participou de uma "bate-papo", utilizando o suporte de um provedor

local: a Artnet. A participação aconteceu de forma interessante. Apesar de

problemas na rede, que atrasaram em cerca de meia hora a entrada no ar, houve

uma boa participação da comunidade, com diversas perguntas, principalmente

sobre o vestibular.

No tocante à home page, o planejamento de 2001 prevê novas mudanças

no formato e no conteúdo, sendo que este último deverá ser valorizado. Além

disso, a Coordenação de Imagem Institucional pretende instalar um sistema que

permita um conhecimento maior do perfil de quem acessa o site e dos assuntos de

maior interesse.

5.6 – A imprensa e a Universidade

302 MUSSE, Christina Ferraz. Eventos promovidos pela UFJF/Coordenação de Imagem

Institucional. Op. Cit. p. 4.

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A imprensa reforça a imagem de ineficiência do setor público,

principalmente, em áreas em que, dentro da lógica capitalista do lucro, o balanço

parece sempre apontar para o vermelho. Curioso é notarmos que, a nível, macro,

isto é, quando se trata da imprensa nacional e das questões da política nacional,

muito pouco espaço parecem ocupar nos jornais as questões relativas à educação,

principalmente, à educação superior. Usualmente, apenas as declarações

institucionais do ministro, ou algum aspecto " espetacular ", envolvendo

denúncias, fraudes, corrupção, conseguem justificar que a educação superior

brasileira seja manchete. “Melhor ainda” quando se consegue algum dado para

reforçar o mito de que só filhos da classe média e alta estudam na área pública e,

assim, seria justificável e até mesmo justo que eles pagassem pelo estudo, ou

quando se consegue mostrar que essas instituições são “inchadas”, têm excesso de

pessoal, que trabalha pouco, não cumpre horário, vive “enforcando” os feriados e

se aposenta cedo e com super salários.

Para responder a este caráter denuncista, normalmente os dirigentes

assumiam uma postura defensiva, colocando a "culpa" do mau gerenciamento no

orçamento precário e evitando também tomar qualquer decisão que pudesse fazer

estremecer as bases eleitorais das instituições, isto é, temas delicados como

horário de serviço, avaliação de desempenho, idoneidade dos concursos sempre

foram caixas-pretas dentro das instituições, abrindo flancos para o ataque certeiro

da mídia, que se apóia no "desvio" para generalizar uma imagem pré-fabricada do

setor público. Nesta questão, parece-nos ser relevante uma análise mais bem

cuidada de como o setor público aparece na mídia nacional, bem como entrevistas

com editores de publicações da área. Chama-nos a atenção, por exemplo, o fato

de que, se, nos grandes jornais e revistas, praticamente desapareceram as editorias

de Educação e de Ciência e Tecnologia, por outro lado, houve um evidente

crescimento das publicações e programas especializados, visando, ao que nos

parece, um público segmentado.

Ao mesmo tempo, parece-nos bastante curioso o fato de que, se na grande

mídia, o setor público é visto sob a ótica do fait divers303, na mídia regional, as

303 Referência ao termo utilizado por BARTHES, Roland. Estrutura da Notícia. IN: Crítica e

Verdade. Trad. Geraldo Gerson de Souza. São paulo: Perspectiva, 1970. p. 57-67.

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Universidades tendem a ser fontes preciosas de informação para os jornais. Na

UFJF, por exemplo, já foram feitas três pesquisas baseadas nos clippings editados

pelo setor de comunicação da UFJF, tendo como base o material publicado em

impressos da cidade, do estado e nacionais e o resultado confirma um ótimo

aproveitamento do material enviado através dos releases e outros tipos de

contato.

A primeira pesquisa sobre o assunto pode ser encontrada no "Relatório de

Atividades" da antiga Assessoria de Comunicação Social, que avaliou os clippings

do período de setembro de 1994 a setembro de 1998. O trabalho foi feito por uma

bolsista de treinamento profissional da Faculdade de Comunicação e seis bolsistas

do então Departamento de Assuntos Estudantis, sob a orientação dos professores

Lourival Batista de Oliveira Júnior, da Faculdade de Economia e Administração, e

Christina Ferraz Musse, da Faculdade de Comunicação.

As matérias analisadas foram publicadas nos jornais locais Tribuna de

Minas e Diário Regional; nos jornais estaduais Estado de Minas, que tem sucursal

em Juiz de Fora, Hoje em Dia, que também tem sucursal na cidade, e O Tempo,

que tem correspondente em Juiz de Fora; nos jornais de circulação nacional O

Globo, Jornal do Brasil, Folha de São Paulo e Gazeta Mercantil, que eram

assinados pela Assessoria de Comunicação.

Entre as conclusões da pesquisa estão os seguintes dados: de setembro de

1994 a agosto de 1998, foram publicadas, nesses jornais, 5.721 notícias sobre a

UFJF. Isto equivale a uma média de 3,91 matérias/dia. Dessas matérias, 4.191

foram avaliadas como positivas, o que corresponde a 73,3%. Já as de repercussão

negativa somaram 953, equivalente a 16,7%. As matérias consideradas neutras,

isto é, aquelas referentes às informações burocráticas como horários e locais em

que seriam realizadas as provas do vestibular, equivaleram a 8,8% do total - 505 -

, e 1,3% - 72 - não foram classificadas.

A curiosidade em termos desses número é que a Universidade consegue ter

uma boa visibilidade na mídia local, uma visibilidade mais restrita na mídia

estadual e muito pobre nos jornais de circulação nacional. Do total de 5.721

matérias veiculadas, 4.894 foram publicadas em jornais de Juiz de Fora, 807 em

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jornais do estado, que têm sucursais em Juiz de Fora, e apenas 20 em jornais de

circulação nacional.

As notícias generalistas, que não privilegiavam nenhum setor acadêmico

ou administrativo específico, foram as que mais chamaram a atenção da imprensa

(29,3%), seguidas das notícias sobre o Vestibular (7,8%), o Hospital Universitário

(6,6%) e o setor cultural (6,3%). É interessante notar que, no universo pesquisado,

os jornais locais, por exemplo, não tinham, como não têm, editorias de Ciência e

Tecnologia. Isto é, normalmente, as notícias sobre a UFJF eram veiculadas na

Editoria de Cidade, tendo um cunho do que nas Redações se chama de "Geral",

isto é, o grande varejão de notícias, sem o "status" das Editorias de Política e

Economia. Entre os jornais citados, alguns têm cadernos específicos sobre

Vestibular, como o Tribuna de Minas, e o jornal mineiro Estado de Minas tem um

caderno sobre ensino de terceiro grau em geral, que é o Caderno Campus.

Quanto ao espaço ocupado nos jornais, de acordo com esta pesquisa, a

maioria das matérias era de tamanho médio - isto é, de três a cinco parágrafos - e

sem foto (28,3%). As matérias médias com foto foram 9,6% do total e as matérias

grandes - com mais de seis parágrafos - foram 8% do total. A UFJF apareceu nas

primeiras páginas dos jornais 290 vezes, o equivalente a 5,07% do total,

observando-se que nem todas as chamadas de primeira página foram recortadas

para o clipping.

Um levantamento semelhante, realizado nos clippings no período de

setembro de 1998 a setembro de 1999, por duas bolsistas de treinamento

profissional da Assessoria de Comunicação da Reitoria, chegaram a dados

semelhantes. Nesta segunda pesquisa, o que chama a atenção é o valor da “mídia

espontânea”, isto é, quanto a UFJF deixou de pagar pelo espaço ocupado nos

jornais, e, além do mais, garantindo muito maior credibilidade aos fatos

reportados.

É importante que se registre aqui que, ao contrário da presença regular e

positiva da instituição na mídia regional e até mesmo estadual, o mesmo não se

pode dizer da citação da Universidade em veículos de circulação nacional. Entre

os fatos que geraram a aparição da UFJF nestes jornais de circulação nacional,

estiveram a fraude, venda de gabaritos de provas, no vestibular de 1995, e o caso

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do estudante "internauta" que, num bate-papo na rede, tentava ensinar como se

poderia eliminar negros e homossexuais. Esta história foi publicada de forma

ampla na imprensa; o estudante, para esclarecimento, foi alvo de processo interno,

mas acabou sendo afastado da instituição, por ter abandonado o primeiro período

do curso de Administração de Empresas, em 1998.304

É interessante que se proceda a um levantamento mais detalhado das

matérias que rendem não apenas mídia nacional, como também conseguem

permanecer mais tempo nas páginas dos jornais, rendendo suítes nos noticiários.

Uma coisa é certa: os assuntos que têm um apelo sensacionalista, ou mesmo

exótico, normalmente, são os mais procurados pela imprensa e são veiculados por

mais tempo. Em 1999, por exemplo, dois assuntos dominaram o noticiário da

imprensa local, no sentido de renderem maior número de matérias, além do

vestibular, que garante ampla venda de espaço comercial: o erro na divulgação do

gabarito da primeira etapa do vestibular, que possibilitou que estudantes que, de

fato, não tinham conseguido a pontuação necessária fossem aceitos na segunda

etapa, de acordo com decisão do Conselho Superior da UFJF, o que suscitou uma

ação popular dos alunos que se sentiram lesados pela decisão da instituição, e

também a polêmica em torno do curso de extensão em prótese dentária da

Faculdade de Odontologia, que prometia o diploma de técnico, contrariando a

legislação interna da Universidade, segundo a qual, curso de extensão concede

apenas diploma de extensão.

No ano de 1999, a "mídia espontânea", em jornais impressos, significou

mais de R$ 700 mil reais de economia para os cofres da instituição. Em 2000,

pela avaliação da Coordenação de Imagem Institucional, a veiculação de 2.289

matérias, em diversos jornais, significou uma economia de R$1.600.565,70, mais

que o dobro do ano anterior, que seria o valor gasto pela UFJF se ela tivesse que

pagar pelo espaço ocupado na mídia. Pela avaliação da Coordenação, 91% das

matérias veiculadas foram consideradas de teor positivo, enquanto apenas 9%

foram avaliadas como negativas. Cerca de 6% das reportagens mereceram

304 Nestes comentários, não se está levando em consideração a presença da UFJF em jornais de

circulação nacional, quando se trata do lançamento de cadernos especiais, como aqueles

comemorativos de aniversário do município, ou da inauguração de uma grande empresa,

ocasiões em que o tratamento dado às matérias é, certamente, mais ufanista.

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chamada de primeira página e 24% vieram acompanhadas de fotos. Em Juiz de

Fora, a Universidade, ao lado da Prefeitura, pode ser considerada a maior fonte de

pautas para a imprensa. Tal observação é plenamente justificável pelo fato da

UFJF ser um dos maiores empregadores e um dos maiores orçamentos da cidade,

influenciando, de fato, o dia-a-dia de Juiz de Fora e região.

5.7 - Por uma comunicação estratégica

A comunicação da UFJF vem sido pontuada por uma série de ações,

muitas delas sem dúvida até mesmo inovadoras, mas, no nosso ponto de vista,

realizadas, ainda sem o devido diagnóstico, planejamento e avaliação, que

deveriam caracterizar qualquer Plano de Comunicação de uma instituição

verdadeiramente preocupada com o novo cenário mundial. Praticamente a única

exceção foi o modelo de comunicação proposto pelo professor Chaparro, em

1986, e que resultou de um diagnóstico de situação obtido através de uma

metodologia participativa, cujos resultados foram debatidos em Seminário

realizado nos dias 26 e 27 de agosto de 1986 e serviram de estrutura para o

trabalho implantado a seguir.

A tentativa mais próxima de uma possível pesquisa de clima

organizacional já realizada na Universidade foi o trabalho de elaboração de um

planejamento estratégico participativo, que enumerasse as demandas por setor,

tentando juntá-las sob aquilo que foi denominado de “missão” da UFJF: “produzir

e difundir conhecimentos, formar o ser humano comprometido com a cidadania e

a melhoria da qualidade de vida, promover o desenvolvimento da região,

inserindo-se à cena mundial contemporânea.”305 O trabalho desenvolvido no

período de 29/10 a 19/12 de 1996 resultou do planejamento das 26 grandes

unidades que compõem a Universidade. Participaram da sua elaboração, as

unidades acadêmicas e administrativas que compõem a UFJF e que fizeram uma

análise ambiental da organização, listando as oportunidades e ameaças às mesmas,

além de pontos fortes e fracos da Universidade, como um todo, e dos setores

acadêmicos e administrativos, em particular. Na ocasião, durante os debates

305 PLANEJAMENTO estratégico institucional: resultados obtidos. Juiz de Fora: UFJF/Pró-

Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento. 19 dez. 1996. p.4.

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feitos pelos grupos participantes, foram levantadas algumas questões estratégicas

a serem trabalhadas na UFJF. Vamos a elas:

1) Como tornar o ensino de graduação referência nacional, contemporâneo e

democrático?

2) Como garantir para os programas de pós-graduação uma qualidade competitiva

e de destaque?

3) Como desenvolver a pesquisa no contexto institucional associada ao ensino e à

extensão, visando a promoção do desenvolvimento, a integração com o setor

produtivo e a qualidade de vida?

4) Como consolidar os programas de extensão de tal modo que contemplem o

ensino, a pesquisa e a prestação de serviços objetivando o desenvolvimento da

sociedade?

5) Como promover uma perfeita integração entre meios e fins num efetivo

compromisso com a missão institucional?

6) Como prover uma infra-estrutura moderna e adequada para um funcionamento

modelar da Universidade?

7) Como definir uma política adequada de recursos humanos para a instituição

com a transformação da cultura organizacional?

8) Como produzir um marketing, interno e externo, que seja eficaz?

9) Como defender a Universidade pública frente à crise do Estado?306

Para cada uma destas questões estratégicas, foram apontadas ações que

deveriam ser deflagradas para que as questões fossem atingidas como objetivos.

No caso da questão estratégica nº 8, que diz respeito ao marketing, foram listadas

as seguintes ações:

a) Manter e ampliar o entrosamento com a mídia;

b) Criar uma campanha maciça de divulgação interna de programas e eventos

promovidos pela instituição e com entidades municipais, regionais e

nacionais;

c) Trabalhar o marketing interno reconhecendo as habilidades e

potencialidades;

306 Cf. PLANEJAMENTO estratégico institucional: resultados obtidos. Juiz de Fora: UFJF/Pró-

Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento. Op. cit. p. 8-11.

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d) Incrementar o programa de gestão da qualidade da comunicação;

e) Viabilizar a publicação de trabalhos acadêmicos.307

Para operacionalizar estas ações, a Assessoria de Comunicação utilizou-se

inclusive da consultoria de qualidade contratada junto ao INT, como já vimos

anteriormente. Alguns trabalhos foram realizados, mas, uma vez mais, como

aconteceu com o próprio planejamento estratégico da instituição, houve

problemas de continuidade, sendo o planejamento estratégico, da forma como

tinha sido elaborado, abandonado na gestão da atual reitora.

Na transição de mandato, chamou a atenção a mudança que atingiu o setor

de comunicação. Houve um desmembramento das tarefas. A reitora Margarida

Salomão acabou com a Assessoria de Comunicação, criou a Coordenação de

Imagem Institucional, vinculada à Pró-Reitoria de Articulação Externa e

Extensão, e a Assessoria de Comunicação da Reitoria, vinculada ao gabinete. À

Coordenação caberia a tarefa de cuidar de todas as questões de comunicação da

UFJF, enquanto que à Assessoria, ficariam restritas as tarefas relativas ao

gabinete. De fato, a situação não ficou tão clara assim: as tarefas não foram

divididas como deveriam e várias vezes as ações de ambos os setores não se

complementaram, mas se duplicaram. Desde o ano 2000, a Assessoria tem

cuidado exclusivamente da produção do programa Minuto no Campus e alguns

outros trabalhos em vídeo requisitados pela Reitoria.

Acreditamos que, politicamente, não houve grandes avanços com as

mudanças. Até porque não foi decidida a formulação de qualquer tipo de

planejamento e não tem havido também nenhuma ratificação das ações previstas

na área de comunicação pelo Conselho Superior da UFJF, o que poderia garantir

maior respaldo político.308

É interessante observarmos o fato de que, apesar de,

no organograma, a Coordenação de Imagem Institucional estar ligada à Proaex, de

fato, todas as decisões são tomadas diretamente junto à reitora.

307 Cf. PLANEJAMENTO estratégico institucional: resultados obtidos. Juiz de Fora: UFJF/Pró-

Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento. Op. cit. p. 119-121. 308 Entre as IFES brasileiras, algumas já registraram algumas experiências bastante interessantes

no tocante à planejamento de comunicação, destacaríamos, entre elas, as experiências da

Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, e Universidade Federal de Minas Gerais,

UFMG.

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De qualquer forma, os investimentos em comunicação aumentaram

significativamente. Hoje, atendendo a uma antiga reivindicação, a Coordenação

de Imagem é uma unidade ordenadora de despesas, com orçamento próprio da

ordem de R$120 mil reais/ano, superior ao de diversas unidades acadêmicas, de

acordo com informações do responsável pelo setor. Na Coordenação, trabalham

um chefe, que é professor da Faculdade de Comunicação, um secretário e um

jornalista do quadro da Universidade. Existe também um jornalista contratado,

além de doze bolsistas, de acordo com informações de fevereiro de 2001. Vários

serviços são terceirizados, entre eles, a confecção de convites, folders, catálogos,

cartazes, banners, gravações em vídeo etc..

Acreditamos que há um ganho para o setor de comunicação, quando

pensamos na questão orçamentária, que garantiu mais autonomia, mas

reconhecemos que as possibilidades da comunicação ainda vem sendo

subestimadas e utilizadas ainda de forma pontual, emergencial e a curto prazo.

Em se tratando do público interno, na nossa opinião, pouco tem sido feito, já que a

atual gestão da Universidade tem partido do pressuposto de que, havendo uma

boa imagem externa, isto basta para garantir a satisfação interna, uma linha de

trabalho que parece já estar sendo revista, principalmente quando se leva em

conta a proximidade da sucessão interna, com nova eleição no primeiro semestre

de 2002. Mas no momento em que pensamos que a visibilidade e a legitimidade

das instituições frente aos seus públicos se dá hoje através da mediação dos

veículos de comunicação, temos que reconhecer, pelos números apresentados,

que, apesar de todas as dificuldades, tem-se evoluído na questão da comunicação

na UFJF. Acreditamos, no entanto, que, no setor público, as mudanças têm sido

mais lentas e acanhadas, apesar de aí estarem concentradas as maiores cobranças

dos usuários dos serviços. As instituições educacionais, bem como aquelas

voltadas para o atendimento primário em saúde, parecem estar sempre “em débito

permanente para com a sociedade e o governo”.309

Estamos longe ainda de atingir

o reconhecimento de que a comunicação é, no cenário atual, uma ferramenta tão

poderosa que deveria ser criada na estrutura da Universidade, uma Pró-Reitoria de

Comunicação, como sugeriu, na I Plenária do Fascom, o consultor Lélio Fabiano,

309 WEBER, Maria Helena. Educação & comunicação: exercícios de poder. Op. cit. p.4.

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de Belo Horizonte. Uma idéia que não está tão longe assim de ser concretizada,

especialmente entre universidades privadas. A Unisinos, no Rio Grande do Sul, já

possui, na sua estrutura organizacional, uma Pró-Reitoria para cuidar

exclusivamente dos assuntos relativos à comunicação.

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CONCLUSÕES

Este trabalho se propôs a estudar a Universidade e as relações que ela

estabelece com seus diversos públicos, parceiros, com a comunidade, enfim,

através da comunicação, que intermedia estas relações, sedimenta-as e legitima a

instituição no contexto onde ela está inserida. Partimos do pressuposto de que a

Universidade é um produto da cidade, para tanto, mostramos como ela surgiu,

ainda no período medieval, no cenário do início da urbanização, mas como

também se afastou da cidade, no sentido de que foi uma instituição usada pelos

reis e pelo clero como espaço de manipulação do poder.

No Brasil, a Universidade aparece tardiamente e, até mesmo, de forma

pouco séria. Não há um projeto de Universidade autóctone, há uma cópia de

modelos estrangeiros. Inicialmente, o modelo francês, mais tarde, já nos anos

sessenta, o modelo norte-americano, hoje, em plena era da globalização, a

Universidade resiste bravamente às sugestões dos relatórios do Banco Mundial,

que tentam dar-lhe uma nova identidade, mesmo assim, uma identidade imposta.

De certa forma, o que este trabalho propõe mostrar é que existe alguma luz

no fim do túnel. Apesar de, tardiamente, a Universidade pode encontrar uma

identidade própria, que a justifique como um aparelho de Estado indispensável e

estratégico para um país de Terceiro Mundo, como o Brasil. Mais do que no

litoral, que foi onde ela começou a ser criada, é no interior, que pode começar esta

retomada de prestígio e de importância da Universidade brasileira.

Neste sentido, a Universidade Federal de Juiz de Fora nos pareceu

exemplar para a elaboração de um estudo de caso, que evidenciasse ser possível

para a instituição ter uma identidade construída, pelas suas bases, e não apenas

copiada, imitada. Uma identidade que não eliminasse as contradições inerentes à

própria instituição, que não fosse estática e pronta, mas mutante, e que garantisse

à instituição um espaço vigoroso no cenário da região onde ela está inserida,

possibilitando uma ação transformadora e a promoção da democracia e da justiça

social.

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O projeto da UFJF vem sendo reconstruído ao longo da história. Como a

própria cidade, ou como a própria região onde está inserida, a Universidade tem

revisto a sua missão, para adequá-la aos novos desafios impostos pela tecnologia e

pelo mercado, sem perder de vista seu compromisso maior com o bem-estar

social. Da mesma forma que o município busca sua autonomia frente ao Estado e

aos grandes grupos financeiros, tentando reinventar sua vocação, a Universidade

reestuda o seu projeto, para que ele lhe garanta a necessária inserção social.

No cenário de globalização e de consequente pauperização dos países de

Terceiro Mundo, as alternativas de governo parecem-nos estar na espaço local.

Juiz de Fora e a UFJF têm procurado soluções próprias para não ficarem ao largo

de um processo que, em muitos aspectos, aponta para uma excessiva concentração

de recursos nas mãos de poucos, o que tem se tornado evidente na realização das

mega fusões internacionais, na formação de imensos oligopólios econômicos.

Cabe à cidade e à Universidade buscar alternativas de auto-gestão, de auto-

resolução de seus problemas, que as diferenciem e que garantam a elas espaço,

neste cenário extremamente veloz e competitivo.

O chamado poder local é um instrumento valioso para o necessário

reordenamento político e econômico dos países de Terceiro Mundo. A

experiência que tem sido levada a termo pela UFJF, no município de Juiz de Fora,

com reflexos em toda a região, é inovadora, porque tem, através dos projetos de

extensão, das incubadoras tecnológicas, das empresas juniores, dos cursos de

aperfeiçoamento e formação de lideranças regionais, procurado criar uma geração

de empreendedores destinados a agir sobre a realidade regional. Isto é, a

Universidade tem oferecido alternativas à encruzilhada em que nos encontramos

entre a subordinação ao destino global ou a retomada de um processo racional de

desenvolvimento. No momento em que o setor público tem sido alvo de tanto

descrédito, a UFJF mostra que é possível reinventar a história, ou como sugere a

UNESCO, propiciar a formação de contra-elites, através da inserção de grupos

historicamente discriminados entre os novos dirigentes desse país. Para tanto, é

necessária a coragem e a ousadia da decisão política das pessoas que fazem a

instituição.

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Numa visão estratégica, percebemos o quanto a utilização dos recursos da

comunicação têm sido fundamentais para dar visibilidade ao projeto da UFJF e

sedimentar um conceito positivo da instituição. No nosso ponto de vista, é a

comunicação que tem garantido a democratização da instituição, a construção de

pontes entre a Universidade e a comunidade, que tem garantido a participação

indispensável à oxigenação, à renovação.

Nosso trabalho não se pretende conclusivo. Acreditamos que o mais

importante é apontar alternativas e mostrar que existe espaço para a ação e para a

mudança. Acreditamos que a Universidade é um lugar privilegiado para a

convivência, para a conversação, para a troca de idéias. Acreditamos que é

possível a construção de uma realidade menos injusta, menos miserável. A UFJF

surgiu para viabilizar um projeto das elites e da classe média urbana, hoje, como

interlocutora indispensável da comunidade nos projetos que norteiam a cidade e a

região, cabe a ela a missão de incluir, de democratizar, de transformar e de revelar

os caminhos possíveis a trilhar, na construção de uma nova Ordem Regional.

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ITABORAHY, Marlos Andreucci. Universidade e comunicação: um estudo do

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de conclusão da graduação.

5. Trabalhos apresentados em congressos

BARICHELLO, Eugenia Mariano da Rocha. Universidade e comunicação: o

papel da comunicação organizacional frente aos paradoxos da nova ordem

mundial. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA

COMUNICAÇÃO, Intercom, 22, 1999, Rio de Janeiro. 11 p. dig. Disponível

no CD-ROM do Congresso.

MUSSE, Christina Ferraz. Minuto no campus: reflexões sobre uma experiência

regional de divulgação científica e prestação de serviços. In: CONGRESSO

BRASILEIRO DE JORNALISMO CIENTÍFICO, 6, 2000, Florianópolis. 20

p. dig. Inédito.

6. Trabalhos inéditos, relatórios, apostilas

HENRIQUES, Márcio Simeone et al. Plano de comunicação institucional para

a UFMG. Belo Horizonte: UFMG, jun. 1996. 10p. dig. Relatório.

LOTH, Moacir. Política de comunicação social integrada para a universidade

federal de Santa Catarina. Florianópolis: UFSC, s/data. 21p. dig. Relatório.

MAZÓCOLI, Hamleto. Criação da Universidade de Juiz de Fora (hoje:

Universidade Federal de Juiz de Fora): relatório histórico das primeiras e

principais providências relativas à criação da universidade. Juiz de Fora:

UFJF, 19 set. 1998. 22p. dig. Inédito.

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WEBER, Maria Helena. Educação & comunicação: exercícios de poder. Porto

Alegre: UFRGS, s/ data. 23p. dig. Inédito.

7. Vídeos

QUARENTA anos de história. Direção de Christina Ferraz Musse. Juiz de Fora:

Produtora de Multimeios/UFJF, 2000. 30 min.