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1 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE TRANSTORNO DE APRENDIZAGEM: DISLEXIA UM DESAFIO PARA PAIS E PROFESSORES Por: Sônia Suisso Mansur Orientadora Prof. Carly Machado Rio de Janeiro, 2010.

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

TRANSTORNO DE APRENDIZAGEM: DISLEXIA UM DESAFIO PARA

PAIS E PROFESSORES

Por: Sônia Suisso Mansur

Orientadora Prof. Carly Machado

Rio de Janeiro, 2010.

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AGRADECIMENTOS

A todos os meus novos e antigos amigos, pois

com o apoio deles consegui realizar mais essa

etapa de crescimento profissional e pessoal.

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DEDICATÓRIA

Dedico aos pais e professores para que tenham

um olhar diferenciado para seus alunos e filhos

que merecem uma atenção especial. Dedico

também, a todos àqueles que estão se

esforçando para conseguir realizar esse gesto

de amor e respeito para com o seu semelhante.

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RESUMO

É de crucial importância discutir os múltiplos fatores que interferem no processo

de aprendizagem e de transformação da criança, pois nossa cultura social e política são

da interação sujeito/família/escola. Não é de hoje que a escola vem adquirindo um

status de socializadora e responsável por grande parte do desenvolvimento e aquisição

de condutas e atitudes necessárias a sobrevivência social do sujeito. Entretanto sabe-

se que a “patologia do aprender” não é exatamente uma falta individual, mas uma

conjugação de fatores que envolvem o tripé: aluno/família/escola aí sim será

estabelecido uma rede ampla de relações sociais e um equilíbrio entre essas estruturas

que seriam ideais para que o processo ensino aprendizagem seguisse seu curso

normal. Contudo existem outros fatores que independem dos que já foram

mencionados que ocasionam a dificuldade de aprendizagem. A presente monografia se

fixou no distúrbio denominado dislexia que afeta a leitura e a escrita. Sendo detectada

no momento da alfabetização, pois evidencia as dificuldades em soletrar, identificar

letras e fonemas, números de sílabas em palavras para daí formar frases e

posteriormente ler textos. Considera-se importantíssimo o conhecimento do tema para

que esta dificuldade que atinge inúmeras crianças seja vista por outro prisma

possibilitado um avanço na aprendizagem dos alunos considerados dislexos.

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METODOLOGIA

A presente monografia optou pela metodologia que parte de uma pesquisa

bibliográfica por meio de revisão de literatura. As obras que serão consultadas abordam

as temáticas referentes a dificuldades de aprendizagem, distúrbios de aprendizagem e

dislexia. A abordagem teórico-conceitual prioriza cinco autores: ZORZI (2008) que faz

referências as dificuldades de aprendizagem. RELVAS(2009) por meio da neurociência

explica como se dá o processo ensino aprendizagem. FARREL (2008) define as

dificuldades de aprendizagem especifica e faz referencia ao Código das Necessidades

Educacionais Especificas. SAMPAIO (2009) analisa a psicopedagogia, mediante a

reflexão dos múltiplos fatores que interferem no processo de aprendizagem. SHAYWITZ

(2006) traz os resultados das pesquisas sobre dislexia realizada na Universidade de

Yale e relata as lutas e conquistas de diversas pessoas com dislexia e que por meio

desse trabalho foram beneficiadas em sua vida pessoal e escolar.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO I - Transtornos e distúrbios da aprendizagem 09

1.1 Conceito 09

1.2 Processo ensino aprendizagem 10

CAPÍTULO II - Dificuldade de aprendizagem: uma reflexão para pais e professores

13

2.1 Visão geral 2.2 Aprendizagem: perspectiva psicopedagógica 14 2.3 Aprendizagem: perspectiva da escola e do professor 17 CAPÍTULO III – Dislexia 23

3.1 Raízes históricas da dislexia 23 3.2 Características da dislexia 25 3.3 Superando a dislexia 28 CONCLUSÃO 30

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 31

FOLHA DE AVALIAÇÃO 33

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INTRODUÇÃO

“A salvação da humanidade repousa apenas no seu coração,

no poder do homem de refletir sobre sua pequenez e sobre

sua responsabilidade”.

(Václav Havel)

.

São inúmeras as razões que podem dificultar ou limitar a aprendizagem.

Encontramos causas nas próprias crianças como os fatores orgânicos: deficiência

metal, auditiva, síndrome de Down etc. ou externas a ela tendo sua origem no seu

ambiente familiar e ou escolar, como exemplos: ausência de oportunidade para

aprendizagem, pouco incentivo, propostas pouco eficientes e ou atraentes de ensino,

entre outros fatores.

Em maior ou menor grau até mesmo se o fator é externo ou interno em todos

esses casos podemos nomear de dificuldade ou transtornos de aprendizagem.

Os transtornos de aprendizagem podem surgir desde cedo, apresentando-se

como atraso no desenvolvimento da fala e dos movimentos observados para a idade

cronológica.

Entretanto, precisa-se lembrar que cada criança tem um processo diferenciado

de desenvolvimento: algumas andam mais cedo, outras falam mais cedo o que não

representa nenhuma dificuldade ou transtorno.

No entanto, é necessária especial atenção, pois dificuldade de aprendizagem é

um tipo de desordem que compromete a capacidade do cérebro de receber e processar

informações, ou seja, inibe a aquisição, construção, e desenvolvimento das funções

cognitivas.

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Embora a dificuldade de aprendizagem não seja indicativa de menor ou maior

grau de inteligência, implica no desenvolvimento da criança, demonstrando que ela está

atuando abaixo da sua capacidade em uma determinada área.

Esta pesquisa buscara maior compreensão sobre as dificuldades apresentadas

por alguns alunos, à maioria na idade pré- escolar, no déficit específico em habilidades

de linguagem, em especial a leitura. Esse distúrbio denomina-se Dislexia. Outro

aspecto da pesquisa será demonstrar a importância de pais e professores possuírem

conhecimento necessário para propiciar a aprendizagem adequada, evitando o

sofrimento da criança.

A presente monografia discorre no capitulo I sobre os transtornos envolvidos na

aprendizagem que são considerados, de forma ampla, como uma inabilidade especifica

em indivíduos que apresentam resultados significativamente abaixo do esperado. O

capítulo II descreve sobre as dificuldades de aprendizagem que de maneira geral é

diagnosticado como algum tipo de deficiência ou necessidade educacional específica.

O capítulo III versa as raízes históricas e as características da dislexia. Encerrando o

capitulo é descrito um caso cientifico considerado de sucesso.

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CAPÍTULO I

TRANSTORNOS E DISTURBIOS DA APRENDIZAGEM

1.1 CONCEITO

“Curiosamente, em geral não se prevê uma margem para as diferenças e dificuldades que são esperadas e naturais em qualquer situação de aprendizagem. Tudo parece acontecer como se isso fosse uma novidade e não como fatos que se repetem ano a ano e que requerem ações planejadas para dar conta de tal realidade”.

Jaime zorzi

Entende-se como transtornos de aprendizagem uma inabilidade especifica

em indivíduos que apresentam resultados significativamente abaixo do esperado para

seu nível de desenvolvimento, escolaridade e capacidade intelectual. RELVAS (2009,

p.53)

As dificuldades de aprendizagem podem não estar ligadas apenas aos

sistemas biológicos cerebrais, mas podem ser causadas por problemas passageiros

como exemplo: um conteúdo escolar que nem sempre oferece a criança condições

adequadas para o sucesso.

Incluem-se também as dificuldades de aprendizagem em algum momento

especial da vida: separação de pais, perda de alguém importante para a criança

podendo ocasionar problemas comportamentais e emocionais.

Transtorno de aprendizagem ou dificuldade de aprendizagem específica se

define como “um transtorno em um ou mais processos psicológicos básicos implicados

na compreensão e no uso da linguagem falada, escrita. Que pode se manifestar em

uma habilidade imperfeita para escutar, falar, ler, escrever, soletrar e elaborar cálculos

matemáticos”, de acordo com a oitava definição, criada em 1977, nos Estados Unidos e

registradas oficialmente em 1986. Encontra-se entre os transtornos de aprendizagem

as dislalias, disfasias, dislexias, disgrafia, discalculias, transtornos não verbal do

aprendizado. (JARDINI, 2003, P.25, 26,27.)

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1.2 O PROCESSO ENSINO APRENDIZAGEM.

A aprendizagem tem sido motivo de estudo desde o século passado, apesar de

ter tido relevância entre 1950 a 1970 juntamente com os avanços nas pesquisas da

neurociência, entendendo que a aprendizagem começa com o processo

neuromaturacional, portanto o aprendizado escolar faz parte da evolução normal do

aprender (RELVAS, 2009, p.19)

O avanço dos estudos da Neurociência aplicada escolar é importantes para o

entendimento das funções corticais superiores envolvidas no processo da

aprendizagem. Sabe-se que as pessoas aprendem por meio de modificações funcionais

do Sistema Nervoso Central, principalmente nas áreas da linguagem, das gnosias, das

praxias, da atenção e da memória, e para que o processo se estabeleça corretamente,

é necessário que as interligações entre diversas áreas corticais e outros níveis sejam

integradas. (Id, IBID, RELVAS, p.54)

Muitos conceitos surgiram ao longo desses anos, entretanto todos convergem

para o mesmo ponto: a aprendizagem é via de mão dupla. Ambos; aluno e professor

necessitam estar implicados nesse processo. Entretanto não se pode descartar a

importância da família nesse processo, pois a dificuldade na aprendizagem pode estar

associada ao ambiente ao qual o aluno pertence podendo envolver dificuldades

socioeconômicas e afetivo-culturais sendo, portanto alheio a vontade do aprendente.

Segundo SHAYWITZ (2006, p.43) é dessa forma que a aprendizagem é mais

bem definida como um processo contínuo e constante envolvendo um conjunto de

modificações no comportamento, tanto em nível físico como biológico e do ambiente no

qual esta inserido, onde todo esse processo emergirá sob a forma de novos

comportamentos. www.neurovital.com.br

A descrição dos transtornos de aprendizagem encontra-se nos manuais

internacionais de diagnostico, tanto no CID-10 que foi elaborado pela Organização

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Mundial de Saúde (19920) quanto no DSM-IV, organizado pela Associação Psiquiátrica

Americana. (1995)

Em ambos reconhece-se a falta de exatidão do termo “transtorno” justificando

seu emprego para evitar problemas ainda maiores referentes ao uso das expressões

“doenças”ou “enfermidades”.

Percebe-se que dificuldade de aprendizagem é um termo geral que se refere a

um grupo heterogêneo de transtornos manifestados por dificuldades significativas na

aquisição e uso da escuta, fala leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas.

Diversas crianças na fase escolar podem apresentar certas dificuldades em seu

desempenho esperado, isso pode acontecer por diversos motivos, entre eles proposta

pedagógica inadequada, professores com baixa capacitação, problemas familiares e

cognitivos entre outros.

“Esses aspectos podem representar uma discrepância entre a capacidade e a

realização, entre o potencial para aprendizagem e o nível de aprendizagem atingido”.

( JARDINI 2003).

Vale ressaltar que a dificuldade de aprendizagem não esta implícita,

necessariamente, em um transtorno, pois este se caracteriza por um conjunto de sinais

e sintomas que geram inúmeras perturbações no momento do aprendizado da criança o

qual ira interferir no processo de aquisição e manutenção das informações recebidas.

Tais dificuldades são mais persistentes que o normal e podem manifestar na forma de

indícios, que são todos atrasos na aquisição da linguagem, seja ela falada ou escrita;

dificuldades nas interações sócias, pois seus diálogos ficam prejudicados devido a não

facilidade na organização das idéias e até nas brincadeiras nas quais é necessário falar

rapidamente ou vários nomes em seqüência, e vários outros aspectos envolvendo o

desenvolvimento inicial da aquisição da leitura. ZORZI (2008, p.12,13)

A melhor forma de solucionar um problema ou diminuir suas conseqüências é a

identificação, o mais rápido possível, independentemente do problema. No aspecto do

desenvolvimento esta possibilidade não é diferente. A falta de atenção, ou mesmo a

negligencia, frente a certos indicadores, demonstrados desde uma idade tenra, tem

provocado o agravamento de uma serie de problemas.

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Ainda que nem todos os transtornos possam ter uma cura, no sentido de

desaparecer completamente, alguns cuidados e intervenções podem ter um efeito muito

eficaz em termos de modificar suas conseqüências negativas em relação ao

desenvolvimento e aprendizagem.

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CAPÍTULO II

DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM: UMA REFLEXAO PARA PAIS E

PROFESSORES

“Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”

Cora Coralina

2.1 VISÃO GERAL

Sabe-se que existe uma distinção entre fracasso escolar e dificuldade escolar e

dificuldade de aprendizagem. Esta é de ordem mais subjetiva e individual. De maneira

geral existe algum tipo de deficiência ou necessidade educacional especifica que pode

comprometer o desempenho causando fracasso escolar; já aquele é o somatório de

fatores que em um determinado momento, interagem mobilizando o desempenho do

aluno e dos sistemas familiar, escolar e social ao qual está integrado.

A psicopedagogia atual é marcada pela multiplicidade de pesquisas, muitas

delas com temas de indisciplinaridade. Esses estudos não negam a importância dos

fatores não só orgânicos, mas abre um leque de responsabilidades intra-escolares

compartilhadas entre o aprendiz, a família e o meio social em que está inserido.

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2.2 APRENDIZAGEM: PERSPECTIVA PSICOPEDAGÓGICA

Pensar em psicopedagogia é aprendizagem que lançando mão de teorias

importantes consegue contribuir para o desenvolvimento do aluno com ou sem

dificuldades nas aprendizagens.

Pode-se citar primeiramente Jorge Visca, criador da Epistemologia convergente.

Que é uma conceitualização acerca da aprendizagem e que a partir de contribuições

das escolas psicanalítica (Freud) piagetiana ( Jean Piaget) e da psicologia social (

Pechon Rivière), facilitou a compreensão dos aspectos afetivos, cognoscitivos e do

meio, sendo esses os aspectos que podem interferir diretamente na aprendizagem.

Conclui-se que o equilíbrio e desenvolvimento dessas estruturas seriam ideais

para que o processo de aprendizagem siga seu curso normal, entretanto alguns

problemas nestas estruturas podem impedir o bom desempenho da inteligência.

Segundo Jean Piaget a inteligência não é inata. Para os seguidores desta

corrente de pensamento educacional, a criança desde o nascimento, já é dotada de

forma de conhecimentos inatos e à medida que ocorre a maturação orgânica, essas

formas se manifestam independentemente dos contatos sociais educacionais. (SISTO,

2007).

Para Piaget, a aprendizagem só é possível quando há assimilação ativa e este é

o motivo que se deve colocar toda ênfase na atividade da própria criança, do contrário

não há didática ou pedagogia que transforme significativamente a criança. (Sisto, Apud

SEBER, 1995, p.131)

Segundo Visca a inteligência vai se construindo a partir da interação entre sujeito

e as circunstâncias do meio social. Um dos aspectos sociais essenciais à construção do

conhecimento é a vida em sociedade e para aprender a pensar socialmente são

imprescindíveis as orientações do professor e o contato com outras crianças. (SISTO,

2007)

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O autor defende que há crianças que possuem o mesmo nível cognitivo, porem

apresentam tematizações completamente distintas, “cada contexto oferece diferentes

crenças, conhecimentos, atitudes e habilidades”.

Em relação ao social Visca sustenta: é comum observarmos sujeitos que têm

alcançado um mesmo nível intelectual e fazem uso semelhante de sua afetividade, por

pertencerem a diferentes culturas, meios sociais ou grupo familiares, apresentam

tematizações significantemente distintas. Isto deriva simplesmente do fato de que cada

contexto oferece diferentes conhecimentos, atitudes e habilidades. (Id. IBID, p.27)

Segundo José & Coelho (Apud Sampaio, p.90, 2002), existem inúmeros fatores

que podem desencadear problemas ou distúrbios:

- Fatores orgânicos – saúde física deficiente, falta de integridade neurológica

(sistema nervoso doentio), alimentação inadequada etc.

- fatores psicológicos – inibição, fantasia, ansiedade, angústia, inadequação à

realidade, sentimento generalizado de rejeição etc.

- Fatores ambientais – o tipo de educação familiar, o grau de estimulação que a

criança recebeu desde os primeiros dias de vida, a influência dos meios de

comunicação etc.

VISCA (1991 p.28) dividiu os obstáculos da aprendizagem em três tipos:

● Obstáculo epistêmico – ninguém pode aprender acima do nível da estrutura

cognitiva que possui. Refere-se a uma estrutura cognitiva defasada em relação à idade

cronológica.

● Obstáculos epistemofílico – falta de amor pelo conhecimento. Adotam

diferentes formas que podem ser agrupadas em três grandes categorias:

a) medo à confusão ( o sentimento consiste em um temor à indiscriminação entre

o sujeito e o objeto do conhecimento; b) medo ao ataque ( o sentimento consiste em ser

agredido pelo objeto); c) medo à perda ( o sentimento consiste em perder o que já foi

adquirido). Aparecem diante da nova aprendizagem.

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● Obstáculos funcionais – conjunto de obstáculos que, em alguns momentos,

correspondem a causas estruturais. Trata-se de dificuldades para antecipar, mesmo

quando o nível intelectual geral seja ótimo; dificuldade para organização voluntária do

movimento, ou para a discriminação visual, mesmo quando não há problemas na visão.

Mediantes esses obstáculos surgem os sintomas causando as dificuldades

de aprendizagem. É aí que surge a importância de um diagnóstico cujo objetivo é

descobrir a causa do aparecimento desses sintomas que funcionam como alerta para

que algo seja feito.

WEISS (2003, p.23) ressalta que os aspectos orgânicos, cognitivos,

emocionais, sociais e pedagógicos como aqueles que ajudam a construir uma visão

global do sujeito:

- Aspectos cognoscitivos estariam relacionados ao desenvolvimento das estruturas que

incluem também memória, atenção, antecipação etc.

- Aspectos emocionais estariam vinculados ao desenvolvimento afetivo e a sua relação

com a construção do conhecimento.

- Aspectos sociais estariam ligados às perspectivas em que estão inseridas a família e

a escola.

- Aspectos pedagógicos seriam fatores que podem interferir na aprendizagem, como

tipo de avaliação, metodologia de ensino, estruturas de turmas, organização geral etc.

Mediante os obstáculos, podem surgir os sintomas causando as dificuldades de

aprendizagem que é o que se vê acontecer nas escolas atualmente, surgindo assim à

necessidade do diagnóstico psicopedagógico com o objetivo de descobrir a causa do

aparecimento.

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2.3 APRENDIZAGEM: PERSPECTIVA DA ESCOLA E DO PROFESSOR

Os problemas referentes à aprendizagem se apresentam de formas diferentes

no interior da escola. Os sintomas que divergem do esperado se manifestam para

denunciar que algo não vai bem. Sabe-se que cada ser humano é único na sua

forma de ser e de aprender, assim como na forma de não aprender.

Percebe-se o questionamento entre os professores do por que alguns

alunos aprendem e outros não, se a forma de ensinar é a mesma. Outro aspecto

que chama a atenção é que não são os mesmos vínculos entre professor e todos os

alunos. Vale lembrar que cada criança tem um temperamento, comportamento,

família e cultura completamente diferentes. Esses aspectos podem contribuir ou não

para formação do vínculo, sendo este indispensável para o sucesso do processo

ensino aprendizagem.

Vale ressaltar que o professor também pode apresentar sintomas que

interferem no equilíbrio da relação. CURY (2003, P.62) comenta sobre uma

pesquisa que foi realizada no Instituto academia de Inteligência:

...”no Brasil, 92% dos professores estão com três ou mais sintomas de estresse e 41% com dez ou mais. É um numero altíssimo, indicando que quase a metade dos professores não deveria estar em sala de aula, mas internada em uma clinica antiestresse”.

Refletir sobre os sintomas apresentados pelo professor e pelo aluno

favorece o repensar sobre a prática. Situações de desgastes e estresse sofrido pelo

professor podem evidenciar um conjunto de talentos inadequados, que poderão ter

como conseqüência erros na prática pedagógica; má organização do espaço em

sala de aula, má distribuição do tempo para realização das atividades e das

avaliações incoerentes entre outros fatores.

Não se pode deixar de considerar que outros aspectos podem também

evidenciar o estresse docente; como exemplos as longas jornadas de trabalho,

desgastes com coordenação, condições inadequadas de trabalho etc.

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Pode-se observar que não é só o mau comportamento do aluno que

influencia em uma escalada negativa, pois alunos quietos, calados podem estar

incluídos entre aqueles que não aprendem conforme o esperado. Podem ser

tímidos, e quase nunca manifestam suas dúvidas e assim permanecem com elas

tendo como conseqüência um baixo rendimento. No momento em que são notados,

geralmente na avaliação que é insuficiente, são encaminhados para atendimento

psicopedagógico e segundo SAMPAIO, (2010, p.50) a maioria apresenta outro

comportamento: gostam de ler, interagem, participam, ou seja, apresentam-se bem

diferentes da queixa inicial, no entanto o rendimento na escola é baixo. Em muitos

casos não há nada de errado com seu cognitivo e sim com um sistema de ensino

fechado.

Ainda segundo o que a autora informa é que já foi observado que muitas vezes,

a escola não abre espaço para estes alunos se manifestarem. Em vez de serem

estimulados, com recursos diversificados a mostrarem o que fazem melhor, são lhes

oferecidos o papel de coadjuvantes ficando o principal para os alunos que tem

melhor desempenho.

Pode-se inferir que todas as crianças são capazes, claro que forma diferente,

e um olhar diferenciado, descobrir o que cada uma tem de especial, ajudando-as no

desenvolvimento de novas competências.

A autora cita Fernández que alega que o não aprendiz não requer tratamento

psicopedagógico, na maioria dos casos. A intervenção do psicopedagogo dirigir-se-á

fundamentalmente a sanear a instituição educativa: método, ideologia, linguagem

vínculo.

Ressalta-se que é imprescindível o conhecimento das etapas de

desenvolvimento da criança pelo professor. Se a criança não estiver com uma

estrutura cognitiva condizente com o que está sendo ensinado e o professor não

observar o fato, muitos desses estímulos ocorrerão, por falta de interesse e rejeição

por parte do aluno. Quando o professor desconhece o modo de pensar do aluno não

irá se preocupar se o tema que está sendo desenvolvido está dentro do que o

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chama atenção; se esse tema desperta seu interesse. De maneira geral a forma de

desenvolver um determinado conteúdo irá despertar ou não interesse do aluno.

“... os conteúdos escolares são necessários, mas para que possam promover a aprendizagem, o professor precisa saber distinguir por quais meios esses conteúdos são acessíveis às crianças. Tudo depende da etapa de desenvolvimento. Sem conhecer as características que definem tais estágios fica mais difícil ensinar a criança de modo que ela aprenda”. (SEBER), 1995, p.231.

Segundo Piaget “o sujeito está em constantes interações com o meio e

com isso acontecem freqüentes desequilíbrios e equilíbrios, o que contribui para a

adaptação do sujeito a este meio”. Por conseguinte não é o meio que produz o

sujeito, as o sujeito que se constrói adaptando-se ao meio.

Para que este equilíbrio aconteça é necessário que ocorra duas

invariáveis funcionais que o autor denomina de assimilação e acomodação. A

assimilação acontece em qualquer nível de desenvolvimento e consiste na

integração de um dado novo a um esquema já existente. Esta interação possibilita o

individuo adaptar-se ao meio, organizar-se e ampliar seus esquemas. Na

acomodação, ocorre a modificação e a transformação desses esquemas para que

seja possível adaptar-se ao meio.

Quando há um equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, pode-se dizer

que houve uma adaptação. A assimilação e a acomodação acontecem em todo

sujeito, entretanto naqueles alunos que apresentam dificuldade de aprendizagem

ocorre a predominância de um sobre o outro.

De acordo com PAÍN (1992, p.47) “os problemas de aprendizagem estão

ligados a perturbações precoces que determinaram a inibição de processos, ou o

predomínio de um dos momentos sobre o outro, impedindo a integração que

possibilita a aprendizagem”.

Além da compreensão, do respeito ao ritmo da criança e da paciência e,

metodologia utilizada o professor deve ser no mínimo criativo, pois crianças com

problemas familiares ou transtorno de qualquer ordem são propensas a se

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desconcentrarem com mais facilidade. Entretanto uma aula dinâmica já é um grande

passo para segurar a atenção das crianças.

Alguns professores, às vezes atribuem dificuldades de aprendizagem aos

conflitos familiares. Na verdade esses conflitos podem contribuir para desencadear a

dispersão, falta de concentração e baixa autoestima e até o desinteresse pela

aprendizagem. Mas atribuir somente a esse aspecto o fracasso escolar pode ser

uma forma da escola e dos professores isentarem-se de suas responsabilidades

como profissionais da educação, mas o que esses responsáveis escolares estão

realmente fazendo para modificar sua forma de ensino para que os alunos consigam

melhorar seu desempenho escolar? Fazer com que percebam a importância da

aprendizagem sem valorizar tanto os problemas enfrentados com seus familiares.

A escola ter uma postura acolhedora é um bom principio, pois permite que a

criança sinta-se segura e amparada. Ao surgir às dificuldades de aprendizagem,

raramente no primeiro momento, a escola assume algum tipo de responsabilidade.

Em geral uma inadequação de currículo não é considerada, o sistema de avaliação,

a metodologia, falha no vinculo entre o professor e aluno ou falha na comunicação

entre os membros da escola.

É importante que o educador seja alguém com condições de não apenas

transmitir conhecimento, mas também construir junto com a criança o conhecimento.

Transmitindo valores e emoções para que a criança não se mantenha enrijecida

com os sentimentos provocados pelas dificuldades,

E poderá ser capaz de descobrir outras formas de lidar com seus

sentimentos, seja por meio da música, do contar, do ouvir historias, do teatro ou das

artes plásticas ou qualquer meio que possa dar à criança a oportunidade de

ressignificar o seu emocional.

“O caminho se faz ao caminhar. Desse modo, cabe ao educador facilitar situações para uma aprendizagem autodirigida, com ênfase na criatividade,... em lugar de currículos rígidos... É preciso contar com princípios metodológicos que favoreçam o relacionamento entre o conhecimento, a sociedade, o individuo, estimulando, e não tolhendo o ser criativo que habita em cada um de nós”. (BRITO, 2001, p.31)

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O professor é o mediador que fornecerá as coordenadas para que as

descobertas aconteçam. Está em suas mãos á em suas mãos a maneira como orientar

os alunos de modo que a maneira como orientar os alunos de modo que possa fazer do

conhecimento algo prazeroso e significativo para sua vida.

Para Pichon Rivière (Apud Sampaio, 2000) “o mecanismo fundamental em

todo grupo é a interação que se dá por meio de diferentes vias de comunicação”.

Fazendo uma analogia de suas palavras com a relação de comunicação entre

professor e aluno, podemos afirmar que este canal de comunicação deve existir em

todo grupo, inclusive no grupo escolar, em que encontramos o receptor e o emissor.

Ao pensar de forma tradicional teríamos o professor como emissor e o aluno como

receptor. Entretanto esse conceito não cabe mais, pois o professor poderá ser o

emissor – quando passa seu conhecimento- e receptor – quando ouve as

experiências dos alunos. E o aluno também poderá ser emissor em alguns

momentos e receptor em outros, existindo assim, uma troca mútua de informações e

conhecimentos.

O problema pode se dá quando o professor quer ser apenas emissor e deixar

o papel de receptor apenas para o aluno, não havendo troca de informações. O

aluno que ocupa esse espaço não se sente valorizado como sujeito aprendente,

também possuidor de experiências que poderão ser compartilhadas em sala de

aula.

Muitas crianças adquirem conhecimentos desarticulados nas escolas,

informações decoradas, sem conexão com sua vida ressaltada por professores que

não fazem link com o assunto do cotidiano dos alunos para que possam fazer a

associação. Esta falha pode gerar crianças com várias repetências e às vezes

consideradas com algum tipo de retardo ou transtorno.

Toda criança chega à escola com muitas informações que normalmente

inicia-se com sua família. É com essas informações que o professor deve apoiar-se

para transformar sua metodologia em algo significativo para a criança. Deve-se

tentar compreender a realidade do meio em que a criança vive, seus costumes,

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valores, cultura etc. Para isto é preciso que o professor esteja atento e motivado,

procurando fazer uma sondagem antes de iniciar sua atividade anual.

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CAPÍTULO III

DISLEXIA

“Para compreender as pessoas devo tentar escutar o que elas não estão dizendo, o que elas talvez nunca venham a dizer”.

John powell

3.1 RAIZES HISTÓRICAS DA DISLEXIA

Ao final do século XIX, médicos ingleses escreveram artigos em publicações de

medicina que “falavam de crianças da sociedade vitoriana que eram brilhantes e

motivadas, vinham de família escolarizadas e conscientes, tinham professores

interessados, mas que, apesar de tudo isso não conseguia aprender a ler”. A própria

inocência das descrições e a profunda perplexidade expressa pelos médicos

compreendem-se a maneira singular a dislexia. ( SHAYWITZ, 2006, p.25, 26,27)

Em 7 de novembro de 1896, o Dr. W. Pringle Morgan de Seaford

escreveu sobre um menino de quatorze anos que apesar de ser considerado brilhante e

inteligente possua uma grande dificuldade na área da leitura. Segundo seu relato, o

menino lia rapidamente números resolvia com facilidade equações, mas as palavras

impressas ou escritas não tinham nenhum significado para ele.

O referido médico parece ter sido a primeira pessoa a considerar a

“cegueira verbal” (o termo dislexia ainda não era usado) como uma disfunção do

desenvolvimento que ocorre em crianças saudáveis. Hoje se identifica que o

diagnóstico da dislexia apresenta um conjunto muito particular de circunstâncias.

Embora tenha base biológica, a dislexia se expressa no contexto escolar. Pelo fato de a

maioria das pesquisas relacionadas a crianças com dificuldades de leitura ter como

base as crianças que já foram identificadas pelas escolas, pergunta-se se os processos

de identificação escolares poderiam ser tendenciosos e resultar na identificação de

certos grupos de crianças e na exclusão de outras.

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3.2 CARACTERÍSTICAS DA DISLEXIA

O código das Necessidades Educacionais Específicas – NEE – refere-se às

dificuldades de aprendizagem específicas em uma seção sobre cognição e

aprendizagem. O código afirma:

“As crianças que demonstram sinais de dificuldades de aprendizagem moderada, grave ou profunda, ou dificuldades de aprendizagem específicas, tais como dislexia ou dispraxia, requerem programas específicos para auxiliar a evolução na cognição e na aprendizagem. Essas exigências também podem se aplicar, em certa extensão, às crianças com deficiências físicas e sensoriais e àquelas no espectro autista. Algumas dessas crianças podem ter dificuldades sensoriais, físicas e comportamentais associadas.” FARREL, 2008 ( Apud, DfES,2001ª, capitulo 7, seção 58)

Existe certo debate sobre que categorias são consideradas dificuldades de

aprendizagem específicas. Este capitulo versará sobre dislexia que em termos gerais é

uma acentuada e persistente dificuldade em aprender a ler, a escrever e a soletrar,

apesar do progresso em outras áreas. Podem ter compreensão da leitura, escrita

manual e pontuação deficientes. Eles também podem ter dificuldade de concentração,

organização em lembrar seqüência de palavras. Podem errar a pronuncia de palavras

comuns ou inverter letras e sons nas palavras.

A definição da British Dyslexia Association é:

“Uma combinação de capacidades e dificuldades que afetam o processo de

aprendizagem em uma ou mais das áreas de leitura, ortografia e escrita. Fraquezas

concomitantes podem ser identificadas nas áreas de processamento da velocidade,

memória de curto prazo, sequencialização, percepção auditiva e/ou visual, linguagem

falada e habilidades motoras. Ela está particularmente relacionada ao domínio e uso da

linguagem escrita, o que pode incluir notação alfabética, numérica e musical”. (Id. Ibid,

p.29)

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Segundo essa perspectiva a dislexia é uma dificuldade de leitura, escrita e

ortografia sinalizada por um desempenho e letramento inferior a media para sua idade

escolar. São aspectos como as capacidades e dificuldades que interferem no processo

de aprendizagem, dificuldades relacionadas à aquisição de habilidades básicas e a

ampla variedade de dificuldades associadas ao letramento.

A definição de dislexia formulada pela Bristish Pseycological Society ( 1999) é:

“a dislexia é evidente quando a leitura e/ou ortografia fluente e exata das palavras

desenvolvem-se de modo incompleto ou com grande dificuldade”

Entre os fatores associados à dislexia estão às dificuldades fonológicas,

dificuldades de processamento da informação, memória e coordenação; dificuldades

organizacionais, problemas de sequencialização e orientação; dificuldades visuais e de

processamento auditivo. Cada das dificuldades associadas, em graus variados,

explicaria algo sobre os problemas de letramento.

A fonética (estudo dos sons da fala) a prosódia ( referente a aspectos supra-

segmentais da fala) e a fonologia são aspectos da fala inter-relacionados. Quando a

dificuldade de fala de uma criança é relativa à fonologia, existem dificuldades em

relacionar sons da fala a mudança de significado.

Considera-se que o sistema fonológico estabelece uma espécie de

representação fonológica da seqüência dos sons da fala em um nível cognitivo de

funcionamento lingüístico, o que ajuda o processo a ser automático.

A teoria do déficit fonológico afirma que na dislexia, o principal déficit cognitivo

está na capacidade de representar ou recordar sons da fala (fonemas). Este déficit leva

ao mapeamento mental deficiente das letras do alfabeto em fonemas.

Muitos evidenciam em favor da citada teoria está no fato de que pessoas com

dislexia têm dificuldade em reter a fala na memória de curto prazo e em dividi-la,

conscientemente, em fonemas. Como no sistema alfabético o cérebro precisa mapear

as letras do alfabeto em representações mentais dos fonemas correspondentes,

espera-se que a dificuldade em representar e recordar fonema leve a dificuldde de

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leitura. No entanto a exata natureza do déficit fonológico e sua causa biológica ainda

não são inteiramente compreendidas. (FARRELL, 2008, p.34)

Problemas de memória verbal e aprendizagem foram encontrados em muitos

estudos sobre dislexia, particularmente em tarefas envolvendo processos fonológicos. É

possível que as dificuldades de memória verbal de algumas crianças disléxicas se

relacionam a dificuldade de consciência fonológica, pois essas dificuldades não

contribuem na lembrança de fonemas individuais.

A identificação e avaliação das dificuldades de memória incluem um perfil das

áreas em que essas dificuldades estão evidentes. Além do seu efeito sobre a leitura e

as atividades relacionadas, a memória de curto prazo deficiente pode ser percebida por

não conseguir lembrar instruções, seqüência numéricas, fatos e datas. É significativo

para o professor observar as estratégicas que o aluno utiliza para auxiliar a memória,

em um sentido mais amplo, e que parece funcionar ajudando-o a planejar e lembrar

prazos.

.

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3.3. SUPERANDO A DISLEXIA

Pesquisadora Dra. Sally Shaywitz, vem há duas décadas estudando o enigma da

dislexia. Desde 2009 divulga seus estudos com o objetivo de promover a compreensão

cientifica da dislexia e demonstrar como o novo conhecimento pode ser aplicado para

ajudar quem sofrer do problema. No seu entendimento, uma vez entendida a dislexia os

os sintomas e tratamento passam a ter um sentido diferente.

Relatarei um dos casos considerados pela autora como sucesso pela superação

apresentada:

Seu cliente é filho de um escritor profissional e um arquiteta e foi classificado como

tendo problemas de fala antes de entrar no pré-escolar, sendo colocado em programa

específico para estimular o desenvolvimento da articulação. O aluno já lutava para

conseguir ler na 1ª série e disseram a sua mãe para “lhe dar um tempo”

Quando estava preste a entrar na 4ª série a pesquisadora foi procurada por seus pais.

O aluno estava participando de um programa na escola que foi totalmente refeito. O

programa proposto para o aluno tinha como foco três metas principais:

1) Apresentar um tipo de intervenção de leitura suficientemente testado por um

professor experiente.

2) Integrar o programa de leitura especial com o resto de seu trabalho regular de

sala de aula.

3) Garantir que seu progresso de leitura fosse monitorado.

Como o aluno precisava recuperar muitos pontos perdidos foi garantida uma

intensidade grande tempo, incluindo leitura, escrita, ortografia gramática uso e

vocabulário. Ênfase em leitura em voz alta e a leitura independente.

Todas as suas atividades foram cronometradas e sempre com auxilio de

professores. Quando precisa ler em voz alta na sala de aula é avisado com

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antecedência. Como o manuscrito é difícil para o disléxico foi sugerido que ele

aprendesse a digitar.

Incluso ao programa estava as suas tarde em casa que deveria ler e reler

suas tarefas para ter certeza que entendeu e poder fazê-las. Além disso, todo o

seu material escolar é acompanhado de um CD, o que facilita o

acompanhamento dos pais.

Segundo a autora o fundamental nesse processo inteiro é um sistema de

comunicação ininterrupta entre a leitura, a sala de pesquisa e sala de aula

tradicional, bem como a escola e a casa do aluno. Essa parceria é um meio

positivo de ampliar a aprendizagem.

O programa versa todos os itens citados e alguns que funcionam como

reforço. O que mais chama atenção é que nove meses depois o aluno aumentou

os seus índices de leitura subiram em dois anos. Mais importante que isso ele

havia passado a se considerar a um leitor; não mais adivinhava de qualquer

maneira a leitura de palavras desconhecidas. Mesmo quando não conseguia

decodificar inteiramente uma nova palavra, tentava fazê-lo de maneira razoável;

usava seu conhecimento de como as letras representavam palavras.

Outro aspecto importante foi a elevação da sua auto-estima. Ele levanta a

mão para participa da aula e fica ansioso para que lhe chamem. Ele agora se

concentra para ler as palavras mais fluentemente, aprendeu como separar

palavras mais longas de modo poder ler os textos com palavras mais difíceis.

A autora enfatiza que programas de sucesso como o mencionado pode

ser desenvolvida para qualquer criança, basta ter em mente que ensinar uma

criança disléxica a ler é algo que tem como base os mesmos princípios utilizados

para ensinar qualquer criança a ler. Já que os sistemas neurais responsáveis

pela transformação de texto escrito em linguagem podem não ser tão ativos em

outras crianças, “o ensino deve ser incansável e amplificado de todas as formas

possíveis e de maneira que seja penetrante e perdure”

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O objetivo máximo é fazer com que a criança se torne um leitor

independente e bem aparelhado. Ao longo desse caminho, a meta é construir os

sistemas neurais responsáveis pela leitura – primeiro os sistemas mais lentos, o

frontal do lado esquerdo e o parieto-temporal, que analisam cada palavra, e

depois o sistema automático de busca de palavras que permite a leitura fluente,

características de leitores experientes.

Diante do exposto percebe-se que é possível formar bons leitores mesmo

sendo portador de dislexia, o que na verdade parece ser necessário é

conhecimento, interesse e empenho.

Vale lembrar as palavras de Jaime Zorzi:

“Para bons aprendizes, nunca faltarão bons mestres.

Mas, é graças aos desafios dos aprendizes com suas dificuldades que

encontramos os verdadeiros mestres.

“Sejamos um deles.”

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CONCLUSÃO

Ao longo da pesquisa percebe-se que é um tema em constante transformação

em todos os aspectos quer envolvendo a determinação, definição e localização das

suas causas, assim como conseqüências e melhor acompanhamento.

Pode-se iniciar citando a neurociência com suas investigações e avanços fantásticos

que consegue hoje mapear as áreas envolvidas no processo ensino aprendizagem e

mais especificamente na dislexia.

Segundo RELVAS ( 2009, p.66) o sucesso da aprendizagem da leitura escrita e

aritmética, depende do amadurecimento neurofisiológico das células, bem como

emocional e social.

O segundo aspecto é a família que tem um fundamental papel no

desenvolvimento da criança, principalmente quanto à afetividade que é uma condição

necessária ao crescimento saudável da criança. Quando a família assume seu

verdadeiro papel oferecendo um ambiente sem criticas, sem exigências exageradas, e

ameaças certamente proporcionara a criança equilíbrio e base sólida para lidar com

frustrações, perdas, fracassos.

Entretanto se a família não consegue oferecer a segurança necessária à criança

ela provavelmente não saberá como reagir positivamente diante das frustrações e

outros fatores que surgirão, e o reflexo desse desajuste será evidenciado na escola

como dificuldade de aprendizagem.

Outro aspecto não menos importante é a escola que deve propiciar uma

ambiente em que favoreça a autoestima e o respeito, inclusive pelas diferenças, a

autoconfiança e aceitação do erro, pois ele é inerente ao ser humano. Ainda ter a

preocupação de incorporar a realidade do aluno objetivando oferecer um sentido

positivo para sua aprendizagem.

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São muitos os sinais que podem identificam um aluno dislexo. Eles tendem a ter

muita dificuldade na fase pré-escolar, quando iniciam aprendizagem da leitura, escrita,

soletração. É importante a identificação precoce, pois inicialmente pais e professores

costumam pensar no pouco esforço da criança e não na sua real dificuldade.

A criança com dislexia possui uma inteligência normal e ou, muitas vezes, acima

da média. Sua dificuldade está em não conseguir identificar símbolos gráficos, tendo

como conseqüência a dificuldade na leitura e na escrita e algumas vezes apresentam

dificuldade em lembra-se de fatos, ou coisas a fazer.

O portador de dislexia é um portador de conduta típica, é um transtorno que

envolve muitos aspectos, que podem ser de ordem psicológica, neurológica e

lingüística, entretanto suas idéias, seus ideais e sonhos não são comprometidos. Por

esses motivos pode-se considera que a criança dislexa quando bem orientada pelos

profissionais da educação e por seus pais ele tem toda condição de uma vida de

sucesso pessoal e profissional.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BRITO, Teca A. Koellreutter :Educador: o humano como objetivo educação musical. São Paulo: Ed. Peirópolis, 2001. CURY, Augusto Jorge: Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro. Ed. Sextante, 2003. FARREL, Michael: Dislexia e outras dificuldades de aprendizagem específicas: guia do professor. Porto Alegre. Ed.artmed, 2008. JARDINI, Renata Savastano, “Método das boquinhas”. Alfabetização e reabilitação dos distúrbios da leitura e escrita. São Paulo. Ed. Casa do Psicólogo, 2003. PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre. Ed. Artmedicas, 1992. RELVAS,Marta Pires. Neurociência e transtornos de aprendizagem. Rio de Janeiro. Ed. Wak,2009. SAMPAIO,Simaia. Dificuldade de aprendizagem. A psicopedagogia na relação sujeito, família e escola. Rio de Janeiro. Ed Wak, 2010. SEBER, Maria da gloria. Psicologia do pré-escolar: uma visão construtivista. São Paulo.ed. moderna,1995. SISTO, Fernando Fernandes. Dificuldade de aprendizagem no contexto psicopedagógico. Rio de Janeiro. Ed. Petrópolis,2007. SHAYWITZ, Sally. Conhecendo a dislexia. Porto alegre. Ed. Artmed,2006. VISCA, Jorge. Psicopedagogia novas contribuições. Rio de Janeiro. Ed. Nova fronteira, 1991. WEISS,Maria Lucia Lemme. Psicopedagogia clinica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. Rio de Janeiro.Ed.DP &A, 2003. ZORZI, Jaime Luiz. Dificuldades de aprendizagem: dislexia e outros distúrbios. Pinhais. Ed. Melo,2008.

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Universidade Cândido Mendes

Transtorno de Aprendizagem: um desafio para pais e professores

Sônia Suisso Mansur

26 de julho de 2010

Avaliado por: Prof. Carly Machado

Conceito: