UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES · 2012-06-15 · Celebrai com júbilo ao Senhor, todos os moradores...
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
PERIFERIAS URBANAS E MULTICULTURALISMO: UM OUTRO OLHAR DO
ORIENTADOR EDUCACIONAL DESAFIADO PELO SEU TEMPO-ESPAÇO-
HISTÓRICO
FÁTIMA REGINA SOUZA DA SILVA
Orientadora: Esther de Araújo
RIO DE JANEIRO DEZEMBRO 2009
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
PERIFERIAS URBANAS E MULTICULTURALISMO: UM OUTRO OLHAR DO
ORIENTADOR EDUCACIONAL DESAFIADO PELO SEU TEMPO-ESPAÇO-
HISTÓRICO
FÁTIMA REGINA SOUZA DA SILVA
Trabalho monográfico apresentado como requisito para obtenção do Grau de Especialista em Orientação Educacional
RIO DE JANEIRO DEZEMBRO/ 2009
Agradeço a Deus e a todos que, direita e indiretamente, contribuíram para a execução desta pesquisa.
Dedico este trabalho de pesquisa a minha mãe Nicéa e todos aqueles que estão envolvidos nos ideais da educação.
Celebrai com júbilo ao Senhor, todos os moradores da terra. Servi ao Senhor com alegria, e apresentai-vos a ele com canto. Sabei que o Senhor é Deus: Foi ele, e não nós, que nós fez povo seu e ovelhas do seu pasto. Entrai pelas portas com louvor, e em seus átrios com hinos; louvai e bendizei o seu nome. Porque o Senhor é bom e eterna sua misericórdia; e sua verdade estende de geração em geração. SALMOS 100
SUMÁRIO
RESUMO 07 INTRODUÇÃO 09 METODOLOGIA 11
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 15
3. I. MULTICULTURALISMO NO COTIDIANO ESCOLAR 16
3.2. PARADIGMAS E CONTROVÉRSIAS 22 3.3. PÓS-MODERNIDADE E & ESCOLA 24 3.4. SUBJETIVIDADE E & ESCOLA 26 3.5. DIVERSIDADE E & ESCOLA 30 CONCLUSÃO 32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIAS 37
RESUMO Este trabalho de método qualitativo pretende discutir a questão das Periferias urbanas e multiculturalismo: um outro olhar do Orientador Educacional desafiado pelo seu tempo-espaço-histórico.Visando discutir a relevância do tema na contemporaneidade, onde a escola, e em particular a sala de aula deve ser compreendida como um espaço social privilegiado de trocas de vivências e experiências construídas culturalmente, nela ficam expostos nas relações os desejos, anseios, prazeres e desprazeres. Esse cotidiano escolar é aqui entendido dentro da perspectiva sociointeracionista. Além dos aspectos psicomotores e cognitivos, é preciso considerar a dimensão sócio-afetiva e cultural quando o assunto é aprendizagem.O ser humano é um ser constituído de subjetividade e isto faz de cada ser um ser diferente e finalmente concluo tentando marcar teoricamente que a forma como o mundo acontece interrogando as nossas certezas institucionais da educação e de ensino trás a contextualização e atualização do passado. Descritores: Multiculturalismo, pós-modernidade, sociointeracionismo, subjetividade.
ABSTRACT
This work whose method is qualitity it has na intention to discuss about subrbs an multiculturelism: another look of pedagogue challenged by his time-espace-historic. Objecting discussing the relevance of the contemporaneous subject, the school, mainly, the class should be understood as a privilegd social space of changes’ vivences and experiences culterally constructed, that in the school it becomes exposed in relatioship of desires, anxieties, pleassure and unpleassure. This school quotidian is here understood in a sociointeracionism perspective. Beyond of psycomotor and cognitive aspects, it is necessary to consider the socio-afective and cultural of learnedness. The human being is constituted of subjectivenss and this makes each one of humam being different from each other and finally I conclued trying to mark theoretcally that the way of world happens questioning us about our institutionals certainties of education and teaching it brings to us contextualization and actualization of the past. Key-words: Multiculturelism, post-modernity, sociointeracionism, subjectivenesss
INTRODUÇÃO
O título desta monografia é Periferias urbanas e Multiculturalismo: Um
outro olhar do Orientador Educacional desafiado pelo deu tempo-espaço-histórico.
A questão central do trabalho trás o tema multiculturalismo e cotidiano escolar,
este tema é de fundamental relevância, pois a região periférica da Baixada
Fluminense, onde atuo como professora de Arte dos 6º ao 9º anos, é
historicamente local de referência sobre baixo índice de desenvolvimento
educacional, social e com altos índices de violência.
Neste contexto, esta pesquisa busca refletir o problema do desafio de
orientar os educandos considerando uma questão: O multiculturalismo no
cotidiano escolar, desafios da pós-modernidade: Tempo do fim das ideologias?
Tempo do fim das vanguardas? Como interpretar essa realidade do cotidiano das
redes juvenis; da educação formal; das diferentes tribos; das estéticas da
rebeldia; do funk; dos currículos considerando as questões de identidade, das
diferenças dos gêneros e das etnias?
É, portanto objetivo desta pesquisa refletir sobre a contemporaneidade
para atuar nela o que nem sempre é exercício fácil. Porém as demandas
educativas e sociais não nos eximem desses desafios, como o de refletir sobre o
Multiculturalismo no cotidiano escolar. Então, a importância desta pesquisa na
medida que será um material de contribuição aos educadores, que como eu,
lidam com estas questões e buscam respostas para desenvolver um trabalho
pedagógico contextualizado. Este estudo poderá propiciar aos educadores
contribuições na construção de um olhar significativo sobre a realidade das
periferias diante da diversidade que se impõe para uma participação na proposta
pedagógica da escola de forma a instrumentalizá-la, levando-a a pensar sobre as
melhores formas de compor um trabalho educativo de excelência consoante com
o seu tempo-espaço-histórico.
São, portanto, objetivos desta proposta possibilitar a compreensão do
cotidiano das redes juvenis das periferias urbanas na perspectiva do
multiculturalismo no cotidiano escolar para possíveis intervenções na prática
pedagógica, refletir sobre as causas dessas manifestações das redes juvenis:
Multiculturalismo no cotidiano escolar para questionar antigos paradigmas
educacionais e propor orientações educativas contextualizadas no trabalho
pedagógico, contribuir para (re) significar as atuações dos educadores no espaço
escolar através de questionamentos sobre práticas que levam a dicotomia e a
exclusão de outros conceitos e possibilidades de atuação pedagógica.
Uma hipótese de compreensão da questão é que nesse contexto que
interrogam as certezas institucionais de seu ensino, onde o sujeito busca ser livre,
se reinventar, de ter uma identidade na forma da expressão de sua subjetividade,
na diversidade, expressão do niilismo, então poderá compreender essas
expressões e comportamentos como outras epistemes.
Segundo Bell Daniel (1978), a degeneração da autoridade intelectual
sobre o gosto cultural nos anos 60 e a sua substituição pela cultura pop, pela
moda efêmera e pelo gosto da massa, são vistos como sinal do hedonismo
inconsciente do consumismo capitalista.
Interpretar as manifestações culturais, funk, diferentes tribos, estéticas
da rebeldia... Das redes juvenis no contexto escolar da Baixada Fluminense serão
reflexões significativas ao educador para sua prática educacional pensado através
da diversidade no contexto escolar que se afirma enquanto estilo de vida
heterogênea ao quais afetam antigos paradigmas educacionais na perspectiva de
mediar convicções políticas, tendências sexuais, atitudes étnicas, métodos
educacionais, na paridade com uma desuniformização dos diferentes grupos
numa afirmação e descoberta da diversidade.
METODOLOGIA
A pesquisa cujo método será o qualitativo, terá como eixo teórico às
obras de Nietzsche (Critica do sujeito e da identidade), Rogério Tílio (Reflexões
acerca do conceito de). (Identidade), Vygotsky (Formação social da mente/
pensamento e linguagem), entre outros que se fizerem necessários.
A pesquisa teve seu foco; nas instituições de ensino onde leciono Arte
através de projetos de atividades artísticos e culturais desenvolvidos ao longo do
ano que favoreceram o exercício de formas de convivência e respeito ao próximo,
que resultem na vida democrática com base na coletividade e a aprendizagem
dos conteúdos escolares e concomitantemente sentimentos positivos e solidários
que favoreçam os laços afetivos em relação à comunidade escolar, a família, aos
pais e a todos os povos.
A ruptura deve marcar uma perspectiva educacional emancipadora,
favorecendo a construção do conhecimento autônomo que implica na capacidade
de contextualizar e globalizar, desfazendo a alienação.
Vale ressaltar a afirmação de Candau (2000):
“A reflexão atual sobre a relação escola e cultura pressupõe a discussão acerca das possibilidades e modalidades de diálogo, que são ou devem ser estabelecidas, entre os diversos grupos sociais, étnicos e culturais que coexistem em espaço social de dimensões cada vez mais globais. Não basta mais lutar apenas contra as desigualdades sociais, mas é preciso também buscar estratégias onde as diferenças sociais possam coexistir de forma democrática.” (CANDAU, 2000, p. 19).
Um currículo escolar transformador precisa absorver as diferenças
culturais presentes no interior da escola, garantindo a sua expressão, ao invés de
tentar trabalhar com a idéia de que o conhecimento e as práticas que dentro dela
se afiguram são revestidas de neutralidade.
Iniciamos o trabalho visando possibilitar ao aluno o conhecimento de si
mesmo (autoconceito), a auto-estima o respeito a si mesmo e também ao próximo
numa perspectiva dialógica através de propostas pedagógicas que contemplou
múltiplas linguagens.
Através de projeto de atividade foram empregadas as seguintes ações
para análise da questão proposta do estudo:
• Usaram-se técnicas de relações grupais;
• Desenvolveram-se trabalhos em grupo;
• Apresentaram-se jogos teatrais que expressem temáticas de
dialogo, respeito mútuo e justiça;
• Propiciaram-se brincadeiras e atividades que favoreçam a
educação afetiva, as relações interpessoais, os hábitos
democráticos e a solução de conflitos de forma pacífica.
• Relacionou a estética da comunidade onde o aluno mora, a
veiculada nas mídias e nas da obras de artistas visuais brasileiros.
• Produção de textos poética sobre temas atuais.
• Desenhos de observação do rosto do colega.
• Sonorização de situações a partir de estímulos corporais.
• Composição de músicas originais.
• Composição de letra e música comparando aquelas produzidas
em sua comunidade com aquelas produzidas na mídia.
• Apreciação artística da obra de Portinari, identificando e fazendo
uma releitura dos tipos de brincadeiras e o estilo do autor, o
vestuário, o uso da cor da luz e da sombra, o contexto social do
autor e da obra.
Hernández (1998), ao se referir sobre os projetos de trabalho define
que:
“A organização dos Projetos de trabalho se baseia fundamentalmente numa concepção da globalização entendida como um processo muito mais interno do que externo, no qual as relações entre conteúdos e áreas de conhecimento têm lugar em função das necessidades que traz consigo o fato de resolver uma
série de problemas que subjazem na aprendizagem” (HERNÁNDEZ, 1998, p.63).
Um aspecto importante dos projetos didáticos, é que eles proporcionam
aos alunos vivenciarem inúmeras experiências, aprendendo conceitos, atitudes e
procedimentos. O professor poderá trabalhar esses conceitos, atitudes e
procedimentos em todas as situações e, com certeza, realizará atividades bem
mais interessantes e significativas, capazes de envolver as crianças em diversos
momentos de aprendizagem.
Desta forma, aprender é entrar no jogo das interações sociais,
internalizar a organização cultural, ao mesmo tempo em que expor pontos de
vista e formular questões, num movimento de re-elaboração da história e dos
saberes acumulados e sistematizados, numa dinâmica que envolve a constituição
da história individual na relação com a história social.
Conforme nos aponta Vygotsky:
“O Aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na vida intelectual daqueles que as cercam (...) um aspecto crucial do aprendizado é que ele cria a zona de desenvolvimento proximal; ou seja, o aprendizado desperta processos internos de desenvolvimento, que são capazes de operar somente, quando a criança interage com pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com seus companheiros. Uma vez internalizados esses processos tornam-se parte das aquisições do desenvolvi mento independente da criança. Desse ponto de vista, (...) o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer "(VYGOTSKY,1989, p.99,100).
Neste contexto escolar e periférico da Baixada Fluminense aconteceu
essa reflexão-ação pedagógica que deu origem à pesquisa e durou um período
de dois bimestres: sensibilização para o tema, elaboração da proposta junto aos
alunos, oficinas e culminâncias do projeto de atividade com exposição de
trabalhos os quais foram monitorados e avaliados.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste capítulo a autora deste trabalho monográfico, abordou de
maneira sucinta, os discursos feitos referentes a multiculturalismo existente no
cotidiano escolar, já que hoje tem refletido na instituição de ensino como em
nossa sociedade, mostrando a relação que existem entre a educação e a
multiculturalismo.
A autora ressalta no tópico seguinte a importante para organização
social da escola é a única forma mais simples de cidadania. No tópico onde é feita
uma narração sobre a pós-modernidade e a escola, com a finalidade de expor à
crise no paradigma que engloba todos os níveis de compreensão como a
subjetiva que é a prática do ensino e aprendizado, no cotidiano escolar, que faz
com que possamos compreender a diversidade que constitui a partir do processo
de ensino escolar.
O autor que serviu de base para enriquecer conteúdo foi o psicólogo
Vygotsky nasceu na Rússia em Orsha em 1896 e se radicou em Gomel situava-se
em território de confinamento de judeus na Rússia czarista. Sua formação em
medicina e direito, faleceu em Moscou em 1934 com 38anos. Suas principais
obras foram Formação social da mente (1984), Pensamento e linguagem (1993) e
A Construção do pensamento e da linguagem (2001). Pra desenvolvimento deste
trabalho foi utilizado à obra de Formação social da mente.
A obra serviu de embasamento teórico oferecendo um enriquecimento
na prática do processo didático necessário para construção do conhecimento
acerca da temática.Na verdade as obras de Vygotsky permitem uma vasta
fecundidade para exploração do conteúdo exposto pelo autor para profissionais
que desejam aprofundar seu conhecimento ou mesmo pesquisar assunto
relacionado a sua obra oferecendo uma gama de material referente à prática
educativa.
A obra utilizada aqui não foi para análise o trabalho de Vygotsky, como
é feito por alguns estudioso e pesquisadores, mais sim para colher material que
servirá de recurso na reflexão da prática educativa. Ao final do capítulo
poderemos perceber a forte da presença do movimento social no sentido de
transformar o olhar do orientador educacional.
3. I. MULTICULTURALISMO NO COTIDIANO ESCOLAR
Ao passo que refletimos sobre as questões que envolvem a cultura, o
multiculturalismo no espaço escolar também é importante refletir sobre o conceito
de cidadania, que é objetivo central da educação.
O termo latino cultura significa, do ponto de vista antropológico, o
complexo formado pelos padrões de comportamento, pelas crenças, pelas
instituições e por todos os valores espirituais e materiais transmitidos
coletivamente e característicos de uma sociedade.
Compreendido como um dos conceitos necessários para o processo
de significação do mundo social, é preciso considerar a dinamicidade da cultura.
Isto porque, esta se constitui como uma prática produtiva através da própria ação
cotidiana, trazendo elementos para a constituição da identidade humana.
A intervenção do ser humano sobre o meio e suas relações com este,
os diversos conflitos e as contribuições que se observadas num determinado
tempo e espaço, envolvem emoções, sentimentos, desejos, valores linguagens,
reflexões, pensadas num contexto cultural histórico.
Conforme afirma Morin (2001), se o ser humano percebe e reconhece
o mundo como algo complexo e multidimensional, ele o faz a partir de sua
condição humana e de sua relação com esse mundo, ou seja, através da cultura.
Para ele “o homem somente se realiza plenamente como ser humano pela cultura
e na cultura”.
A partir desta concepção, o conceito de cultura, necessariamente,
assume uma nova dimensão, pois considera o sujeito em sua unidade e
diversidade. Por isso não se pode pensar em culturas mais importantes ou
melhores do que outras, assim como não se pode priorizar a “cultura científica”
em detrimento da “cultura humanista”, deixando de perceber suas influências e
suas inter-relações.
A educação emerge como um canal de conhecimento e compreensão
da dinâmica cultural posta na sociedade como um canal de conhecimento e com
preensão da dinâmica cultural posta na sociedade, rompendo a concepção
preconceituosa e etnocêntrica que desconsidera o conhecimento, a subjetividade,
a afetividade e a criação como atributo de todo e qualquer ser humano.
A ruptura deve marcar uma perspectiva educacional emancipadora
favorecendo a construção do conhecimento autônomo, que implica na capacidade
de contextualizar globalizar, desfazendo a alienação.
O questionamento atual a respeito da relação cultura e escola implica,
na discussão acerca das possibilidades e modalidades de diálogo, que são ou
devem ser estabelecidas, entre os diferentes grupos sociais, étnicos e culturais
que coexistem em contextos sociais de dimensões cada vez mais globais. Não é
suficiente lutar apenas contra as injustiças sociais, mas é preciso também buscar
estratégias onde as diferenças sociais possam coexistir de forma democrática.
Um currículo escolar transformador precisa absorver as diferenças
culturais presentes no interior da escola, garantindo a sua expressão, ao invés de
tentar trabalhar com as idéias de que o conhecimento e as práticas que dentro
dela se afiguram são revestidas de neutralidade. Foi com este foco que o projeto
de atividade se desenvolveu.
No dicionário Priberam multiculturalismo é qualidade do que é
multicultural. Ou seja, busca um conjunto de respostas à pluralidade cultural tendo
como desafio superar as injustiças, possibilitando o exercício da cidadania.
Vale ressaltar a crítica de Mc Laren (1998):
“O currículo representa muito mais do que um programa de estudos, um texto em sala de aula ou o vocabulário de um curso. Mas do que isso, ele representa a introdução de uma forma particular de vida; ele serve, em parte, para preparar os estudantes para posições dominantes ou subordinadas na sociedade existente. O currículo favorece certas formas de conhecimento sobre outras e afirma os sonhos, desejos e valores de grupos seletos de estudantes sobre outros grupos, com freqüência discriminando certos grupos raciais, de classe ou gênero”. ( MC LAREN, 1998, p.116).
O que está em jogo, no processo educacional, é muito mais que alterar
a forma de organizar os conhecimentos; é rever o conceito mesmo de
conhecimento, na medida em que os movimentos cotidianos apontam para a
necessidade de se superar as tradicionais amarras conceituais e metodológicas
produzidas pelo paradigma da ciência moderna a educação (Ferraço, 2001, p.96-
97), base histórica da conformação dos nossos currículos, quaisquer que sejam
as correntes conceituais.
É fundamental que os educadores tenham com clareza que os
currículos com base apenas na oficialidade de conhecimentos tentam impedir que
outras expressões e comportamentos como outras epistemes que circulam
cotidianamente nas escolas à nossa revelia sejam discutidos e tratados como
conhecimento. Porque tal atitude é condição para a formação para a cidadania. E
neste aspecto o projeto de atividade realizado com os alunos cumpriu o seu
objetivo.
Cidadania, etimologicamente, está relacionada à cidade: cidadão é o
habitante da cidade. Surge na Grécia há aproximadamente 2.500 anos, quando
cada cidade, politicamente independente, praticava um modelo de democracia
direta. O próprio cidadão podia propor leis e votar. Cidadão era aquele que
participava de funções públicas.
Aristóteles considerava que: Um cidadão no sentido absoluto, não se
define por qualquer outro critério mais adequado do que sua participação nas
funções judiciárias e públicas em geral... Cidadão difere segundo cada forma de
constituição e essa é a razão pela qual a definição que fornecemos é, sobretudo a
do cidadão em uma democracia.
Porém, não bastava morar na cidade para ser cidadão: era necessário
ser homem livre e natural da cidade. Desta forma, não eram considerados
cidadãos mulheres, escravos e estrangeiros. Como se pode perceber, a cidadania
surge, na Grécia antiga trazendo a idéia de exclusão.
Ao longo dos anos, e em diferentes partes do mundo, o conceito de
cidadania sofreu transformações. O que fora privilégio para poucos, acabou, sem
querer, inaugurando uma nova onda de pressões sociais pela sua conquista e
ampliação transcendeu a simples idéia de voto, para ser compreendido como
liberdade de pensamento, expressão e exercício de direitos e deveres.
Falar em cidadania é falar em autonomia. O cidadão que pensa e age
autonomamente é aquele que reelabora o discurso para torná-lo seu, par que o
contrário é o sujeito ativo e participante. Uma sociedade autônoma é uma
sociedade auto controlada, auto dirigida, onde as instituições promovem e
facilitam a autonomia individual.
A importância de ser cidadão ultrapassa conhecimentos dos direitos e
deveres pertinentes a cada um. É agir em prol do bem comum acreditando na
deliberação coletiva, através do diálogo e do poder criador da sociedade.
Se cidadania é participação total na vida coletiva e na deliberação
acerca do destino comum da sociedade, é evidente que a escola não poderá
jamais educar cidadãos para uma futura sociedade que não esteja, de fato, sendo
construída no presente. Logo, é tarefa da escola construir, de forma coletiva e
permanentemente, o sentido da participação e do envolvimento com o destino
comum da sociedade.
Considerando que a identidade não é algo que exista a priori e deva
ser resgatado Mouffe (2001), sendo passíveis de constantes reconstruções e
transformações em novas interações. A identidade não estar ligada a ser, mas a
estar, ou, mais especificamente, a representar. Sendo a identidade uma
construção social, e não um dado, herdado biologicamente, ela se dá no âmbito
da representação: a identidade representa a forma como os indivíduos se
enxergam e enxergam uns ao outros no mundo.
Reafirmando, assim o papel tão importante da escola como
organização social que se propõe a formar para a cidadania.
Assim, a escola inclui sujeitos com variados pertencimentos,
constituindo-se subjetivamente no entrelaçamento destas múltiplas relações. O
sujeito traz uma história que precisa ter espaço para ser contada, uma
experiência a ser contemplada no contexto educacional, Orientadores
Educacionais, professores e educandos, sujeitos sociais, aprendizes, produtores
de cultura, encontram-se como representantes de variadas gerações que
demandam espaço de confronto, conflito, negociação, alegria e diálogo na escola.
É importante sublinhar a qualidade social da aprendizagem: na
perspectiva sociointeracionista, aprender é entrar no curso de interações com
parceiros diversos, desafiadores, que impulsionam o desenvolvimento.
No cotidiano escolar o educador precisa estar apto para fazer a
mediação do processo ensino-aprendizagem dando conta das muitas variáveis
que o contexto atual oferece: como interpretar essa realidade do cotidiano das
redes juvenis; educação formal; diferentes tribos; as estéticas das rebeldias; funk;
currículos; considerando as questões de identidade, das diferenças, dos gêneros
e das etnias?
A escola sugere vida, dinamismo, construção e inclusão. Vive-se numa
sociedade excludente e competitiva, que valoriza um padrão único de criança e
ser humano ainda, não levando em conta as diferenças culturais, econômicas e
sociais. É preciso considerar esta estrutura excludente para não reproduzi-la.
Trata-se de buscar formas de inclusão, não só no espaço físico (garantia de
matrículas), como também no cotidiano (abarcando a cultura da criança) e na
sociedade, no mundo dos direitos, numa dimensão mais larga da cidadania.
Para Vygotsky (1989), a aprendizagem da criança se inicia muito antes
de sua entrada na escola. Aprendizagem e desenvolvimento estão inter-
relacionados desde o primeiro dia de vida da criança. A aprendizagem escolar
nunca parte do zero, pois antes de seu ingresso na escola a criança vive uma
série de experiências. Ela aprende a falar, nomeia objetos, conversa com adultos
e companheiros, adquire informações, obtendo respostas às suas perguntas,
imita comportamentos, realiza atividades com quantidades e operações. Essa
aprendizagem pré-escolar refere-se aos conceitos espontâneos que são formados
pela criança e sua experiência cotidiana, no contato com as pessoas de seu meio,
de sua cultura. À medida que o autor viu a aprendizagem como processo
essencialmente social, percebeu que é na apropriação de habilidade e
conhecimento socialmente disponíveis que as funções psicológicas humanas são
constituídas.
Considera-se relevante o compromisso da escola com o contexto, a
sociedade, o movimento do mundo. Ela não pode ser uma realidade à parte.
Trata-se de trazer à tona o cotidiano, os interesses de todos os envolvidos no
processo educacional. O que não significa trazer a realidade para nela
permanecer, num movimento segregador e coletivo, nem se colocar no lugar de
compensar as possíveis “carências” localizadas nas classes sociais
desfavorecidas. A realidade é importante no sentido de ser entendida
criticamente e ampliada em novas e outras direções, no contato com o
conhecimento legitimado e com outras formas culturais.
3.2. PARADIGMAS E CONTROVÉRSIAS
Será que se deve considerar como Nietzsche a ruína dos valores
tradicionais consagrados na civilização ocidental? E o niilismo nietzchiano deve,
no entanto, levar a novos valores, que sejam, “afirmativos na vida” da vontade
humana superando os princípios e valores tradicionais conservadores da cultura
ocidental?
Considerando que a identidade não é algo que exista a priori e deva
ser resgatado Mouffe (2001), sendo passíveis de constantes reconstruções e
transformações em novas interações. A identidade não estar ligada a ser, mas a
estar, ou, mais especificamente, a representar. Sendo a identidade uma
construção social, e não um dado, herdado biologicamente, ela se dá no âmbito
da representação: a identidade representa a forma como os indivíduos se
enxergam e enxergam uns ao outros no mundo.
Reafirmando, assim o papel tão importante da escola como
organização social que se propõe a formar para a cidadania.
Nesse espaço globalizado, estão inscritas as idéias de uma nova
ordem e de uma “desordem” mundial. A nova ordem é o fim da bipolaridade
capitalismo/socialismo e a emergência de novas hegemonias, representadas
pelos países da União Européia, pelo Japão e pela China. A “desordem” é
representada por: pobreza, desemprego, conflito interétnicos, guerras, dentre
outros fatores.
O espaço mundial constituído pelo território e pela paisagem tem
demonstrado o processo de apropriação que o ser humano tem feito dele. É por
isso que se pode conceber o espaço geográfico, como aquele sobre o qual os
seres humanos deixam as marcas de suas passagem, sendo também um espaço
histórico, social, científico e cultural que, para ser compreendido, depende do
curso de conhecimentos produzidos por várias ciências.
Não se pode esquecer de mencionar o novo paradigma de espaço, que
advém como conseqüências dos novos avanços tecnológicos.
A visão cartesiana, até então conhecida, coexiste com uma nova noção
de espaço, fruto das redes comunicacionais que atuam no ciberespaço.
A escola de hoje precisa superar o pensamento continuista, embasado
na lógica cartesiana e acompanhar os novos conceitos, atualmente direcionados
para essa realidade.
Desde o primeiro instante o mundo já se acha em transformação Esse
é um acontecimento excepcional que rompe aos poucos ou drasticamente os
quadros de vidros sociais e mentais de referência, instalando novos estilos de
pensamento e visões do mundo.
A história sempre foi marcada pela transformação, isto é, pela
reestruturação de algum padrão de comportamento, pela substituição de um
equipamento, por uma descoberta científica, por uma nova tecnologia.
O terceiro Milênio aí está e se apresenta estimulado por fortes
ideologias como o individualismo, a competição, o mercado, marcado por conflitos
entre as diferentes culturas e guerras geradas pelo interesse em dominar riquezas
do mundo; caracterizado por profundas mudanças com relação a valores como a
família, o sexo, a morte, as relações entre pais e filhos, entre homens e mulheres,
entre jovens e idosos, assombrado diante dos avanços tecnológicos e, ao mesmo
tempo, da degradação ambiental, da banalização da violência, do aumento da
fome e das epidemias.
Portanto, um currículo escolar que pretenda construir uma outra
sociedade, não pode deixar de construir um saber sobre o que está ocorrendo e
que terá de ser enfrentado, pois como diz Hobsbawn (1995): “as coisas não se
consertam sozinhas”. É preciso elaborar um conhecimento sobre a noção de
transformação e suas possibilidades no Século XXI.
3.3. PÓS-MODERNIDADE & ESCOLA
Segundo Japiassu e Marcondes (1991) característica daquilo que é
moderno. Em sentido geral, a modernidade se opõe ao classicismo, ao apego aos
valores tradicionais, identificando-se com o racionalismo, especialmente quanto
ao espírito crítico, e com as idéias de progresso e renovação, pregando a
libertação do indivíduo do obscurantismo e da ignorância através da difusão da
ciência e da cultura em geral.
Segundo o filósofo francês Lyotard (2008), que introduziu a idéia da
condição pós-moderna, como uma necessidade de superação da modernidade,
sobre tudo da crença na ciência e na razão emancipadora, considerando que
estas são, ao contrário, responsáveis pela contaminação da subjugação do
indivíduo.
De acordo com Lyotard (2008), seguindo uma inspiração do movimento
romântico, a emancipação deve ser alcançada através da valorização do
sentimento e da arte, daquilo que o homem possui de mais criativo e, portanto, de
mais livre.
Habermas (1990), por sua vez, defende o que chama de “projeto da
modernidade”, considerando que esse projeto não está acabado, mas precisa ser
levado adiante, e só através dele, pela valorização da razão crítica, será possível
obter a emancipação do homem da ideologia e da dominação política e
econômica.
O atual momento histórico, trás os desafios da pós-modernidade, do
seu tempo, e a escola não pode ficar como aquele relato contado que, certo
homem foi congelado por um século e que depois de descongelado e ao retornar
a civilização se admirou e assombrou com tanto progresso e inovação, porém ao
passar por uma escola se reconheceu nela e se sentiu muito bem lá porque ela
estava igual quando ele a deixou.
Na perspectiva nietzschiana, a crítica que se faz ao conservadorismo e
as tradições, não conduz a um irracionalismo, mas a uma outra postura diante da
razão: este é um dos sentidos do perspectivismo nietzschiano, para o qual é
fundamenta uma crítica do trabalho da linguagem na consolidação dos
preconceitos da razão, que nortearam o processo de construção da civilização e
da cultura, e que se expõem nos edifícios metafísicos, morais, ou mesmo políticos
dos filósofos.
A perspectiva nietzschiana implica essa mudança de foco: ao invés de
meramente discutir sobre o significado das noções (por exemplo, cultura, razão,
ciência, moral, alma) buscando para elas outras definições e características, é
preciso antes investigar como ocuparam o centro do debate, de questionar sua
validade, de perscrutar sua origem e seu estatuto, de compreender seu
funcionamento. Ao fazer isso, a filosofia de Nietzsche desenvolverá no mesmo
movimento uma crítica à racionalidade, uma investigação sobre a linguagem e
uma análise da moralidade. Tudo isso como é de se esperar em consonância com
o ambiente cultural de sua época.
Para dar conta de uma educação para esta época, este tempo, e de
excelência é preciso abrir mão da acomodação, do senso comum, da mesmice e
enveredar pelos caminhos da criação, do novo, do trabalho coletivo. É preciso
acreditar na pesquisa como princípio educativo para enfrentarmos as demandas
educativas atuais e na escola como um dos espaços mais importantes, mas não o
único, que se abre para compreensão do que acontece no mundo.
3.4. SUBJETIVIDADE & ESCOLA
Segundo Japiassu e Marconde (1991) característica do sujeito; aquilo
que é pessoal, individual, que pertence ao sujeito e apenas a ele, sendo, portanto
em última análise, inacessível a outrem e incomunicável. Interioridade.
O sujeito pós-moderno não tem identidade fixa, essencial ou
permanente. É definido historicamente e não biologicamente. O sujeito assume
identidades diferentes em diferentes momentos. Essas identidades não são
unificadas ao redor de um “eu coerente”, ou seja, o sujeito possui identidades, as
mais diversas.
Essa concepção de identidade rejeita o sujeito do iluminismo, centrado
e unificado, e baseia-se em um sujeito sociológico, que constrói identidade ao
interagir com a sociedade, e, em um sujeito pós-moderno, que não tem
identidades fixas, essenciais, permanentes, pois ela é “formada e transformada
continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou
interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam” (HALL, 2000).
No contato com a cultura, a personalidade vai se tornando polivalente,
capaz de ocupar diferentes funções, explicitando os múltiplos modelos e
referências disponíveis. AO mesmo tempo, a expressividade e a disposição
afetiva marcam as possibilidades e os limites do corpo e da emoção na relação
com o conhecimento e o mundo objetivo.
É importante sublinhar que no âmbito da visão sociointeracionista de
Vygotsky(1989), o conhecimento é fruto das interações sociais que se
estabelecem pela mediação dos signos culturais constituídos na coletividade. O
sujeito é social, criador e recriador de cultura, sendo transformado pelos valores
culturais do ambiente, ao mesmo tempo em que o transforma. No contato com os
outros membros do grupo social, mergulha nos significados dominantes,
apropriando-se deles, resignificando-os.
Neste sentido:
“Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança, suas atividades adquirem um significado próprio num sistema de comportamento social e, sendo dirigidas a objetivos definidos, são refutadas através do prisma do ambiente da criança. O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa através de outra pessoa. Esta estrutura humana complexa é fruto de um processo e desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações entre história individual e história social” (VYGOTSKY, 1989, p. 33).
Assim, conhecer é apropriar-se da cultura e produzir cultura.
Relaciona-se com o saber formal e científico, mas vincula-se estritamente ao
prazer, à imaginação, às emoções, a significatividade das experiências. O jogo, a
brincadeira, a fantasia ampliam a compreensão do real pela via do imaginário,
além de colocarem em cena o arbitrário, a regra, conduzindo as relações da
criança com o contexto sócio-cultural do qual ela participa.
Nos contextos das sociedades contemporâneas, a identidade se forma
e se transforma continuamente e é mediada pelas diferentes identificações
sociais, culturais, de gênero, da etnia e pelas situações históricas.
Identidade social deve ser compreendida segundo a forma pela qual os
indivíduos se percebem dentro da sociedade em que vivem e pela qual percebem
os outros em relação a eles próprios (Bradeley, 1996).
Weeks (1990,p.88) define como o sentimento de pertencer a um
determinado grupo; é a identidade que define “o que você tem em comum com
algumas pessoas e o que torna diferente de outras”.
Analogamente, Norton (2000) entende identidade como a forma “como
a pessoa entende sua relação com o mundo, como essa relação é construída ao
longo do tempo e do espaço, e como a pessoa entende possibilidades para o
futuro”.
Entretanto no campo das identidades sociais em específico, diz que:
A identidade social se refere ao modo como nós, enquanto indivíduos, nos posicionamos na sociedade em que vivemos e o modo como percebemos os outros nos posicionando. As identidades sociais provêm das várias relações sociais que as pessoas vivem e nas quais se engajam (BRADLEY, 1996 p. 240)
Identidades sociais também ocorrem em fluxo, são fluidas, segundo
Bauman (2003), ou seja, estão constantemente construídas e reconstruídas de
acordo com as práticas discursivas em que os sujeitos sociais se engajam. A pós-
modernidade é flexível, dinâmica, aberta a bricolagens, sincretismos, híbridos,
ambivalências, porosidades segundo MOUFFE, (2001).
Vários autores utilizam o conceito de identidade cultural (CUCHE,
2002);
Hall, (2000). A identidade cultural é um dos componentes da identidade
social, o responsável pela vinculação cultural.
Segundo Cuche, (2002), a identidade social exprime a resultante das
diversas interações entre o indivíduo e seu ambiente social, próximo ou distante.
A identidade social de um indivíduo se caracteriza pelo conjunto de suas
vinculações em um sistema social: vinculação a uma classe sexual, a uma classe
de idade, a uma classe social, a uma nação, etc. A identidade que o indivíduo se
localize em um sistema social e seja localizado socialmente.
Quando a identidade social passa a identificar um grupo, e não apenas
cada indivíduo separadamente, ela distingue um grupo – e seus membros - dos
demais grupos. Nesse sentido, a identidade cultural é um dos componentes da
identidade social, uma modalidade de categorização baseada na diferença
cultural (CUCHE, 2002).
Diferentes identidades culturais de diferentes culturas são absorvidas
por um indivíduo e tornam-se partes de suas identidades sociais. Enquanto a
cultura existe no âmbito dos processos inconscientes, sem consciência de
identidade, a identidade cultural “remete a uma norma de vinculação,
necessariamente consciente, baseada em oposições simbólicas” (CUCHE, 2002).
As identidades culturais, enquanto partes integrantes das identidades
sociais, também são múltiplas, fragmentadas, contraditórias e fluidas. O não
entendimento dessa natureza pode acarretar nas visões essencialistas de
identidade nacional e cultura nacional.
O Estado moderno tende a monoidentificação, seja por reconhecer apenas uma identidade cultural para definir a identidade nacional (...), seja por definir uma identidade de referência, a única verdadeiramente legítima (...), apesar de admitir certo pluralismo cultural no interior de sua nação. A ideologia nacionalista é uma ideologia de exclusão das diferenças culturais (CUCHE, 2002).
Então por que muitas vezes nos deparamos reivindicando dos alunos
comportamentos padronizados e socialmente estabelecidos há décadas?
Desejamos a tão sonhada disciplina que busca reduzir os alunos a uma
homogeneidade que não se sustenta.
Possibilitar a construção das diversas identidades do indivíduo, através
da organização curricular, significa permitir que cada um se aproprie do
conhecimento aceito e o recrie, transformando o próprio saber.
3.5. DIVERSIDADE & ESCOLA
Segundo Japiassu e Marcondes (1991) significa diferença,
dessemelhança ou dissimilitude. Articular noção de diversidade com a condição
“humana”, significa dizer que os homens são diferentes entre si, que não existe
igualdade entre um e outro ser humano.
Diversidade abrange três grandes grupos de aspectos: o físico (étnico),
o comportamento (cultural, social, religioso) e os diferentes “canais de entrada” de
aprendizagem o que, teoricamente, denomina-se modalidade de aprendizagem.
A diversidade entre os seres humanos faz parte do processo de
construção da identidade tanto quanto coletiva em tempos e espaços diferentes.
Promove, ainda, uma relação dialética entre transformar e ser transformado.
O trabalho educacional precisa atender a uma diversidade em que
todos nas creches e escolas: bebês, crianças, jovens e adultos, brancos, negros,
índios, mestiços, portadores de necessidades educacionais especiais, pessoas
que aprendem melhor quando ouvem, outros quando visualizam ou ainda, quando
usam o próprio corpo para dançar o funk e ao incorporar outras estéticas na
escola.
“Assim como na sociedade, na escola também ocorrem manifestações de discriminação social e étnica, cultural e religiosa. São atitudes de exclusão e estranhamento que muitas vezes não são vistas a olho nu, isto é, não são sentidas no nível consciente, não afloram nos discursos, nos momentos de reunião da escola, nos conselhos de classe(...) Os preconceitos se manifestam através da intolerância e não raro provocam conflitos e violência”(SME, 2004).
Essa colocação é um alerta para o fato de que o respeito à diversidade
deve estar presente quando se pensa em cidadania, cultura estética, linguagem,
meio ambiente entre outras temáticas, uma vez que a construção de tais
conceitos pressupõe que sejam vivenciados em processos de interação com o
outro.
Como lhes garantir a qualidade educacional a que têm direito? Como
trabalhar em sala de aula considerando tamanha diversidade?
A diversidade no conjunto dos Conceitos Transversais Estruturantes
demonstra que é papel da educação contribuir para a formação de seres
humanos.
Somente quando a Educação for capaz de possibilitar aprender, a
fazer, a ser, e a conviver, será possível conseguir estabelecer uma sociedade
menos injusta, desigual e desumana, como a dos dias atuais.
A apropriação conceitual da diversidade humana poderá ser, com
certeza, um canal de entrada para este novo desenho curricular, preocupado com
a humanização da sociedade.
CONCLUSÃO
Certamente que é desafiador realizar com excelência no cotidiano
escolar a educação pertinente a este momento histórico. Para que haja um
currículo verdadeiramente democrático ele necessita trabalhar o conhecimento
local e o universal, integrando e dialogando com a cultura do aluno e a cultura
mais ampla.
Vivencio grandes dificuldades de realizar um trabalho pedagógico em
Arte significativo e contextualizado, como outros colegas de magistério também,
porém não posso me furtar do dever de refletir sobre a questão para re (agir)
prospectivamente. E assim foi notado nas etapas de monitoramento e avaliação
nas atividades realizadas do projeto de atividade:
• Ao observar as atividades realizadas em sala e fora desta, foi
identificado participação de todos de forma cooperativa.
• Durante a confecção do painel coletivo houve interação de forma
dialógica e construtiva.
• Ao comparar as anotações do início das atividades com os dados
mais recentes, constatou-se que certos alunos já demonstravam comportamento
com autonomia e autoconfiança suas produções artísticas.
• Identifiquei posicionamento de valorizar e preservar o meio ambiente
ao expressar criativamente com materiais e procedimentos inovadores.
• Observei uma ampliação da sensibilidade estética e atitudes afetivas
e humanas através de novas poéticas.
• Constatei o reconhecimento de si mesmo (aluno) como participante
e produtor da cultura do seu entorno.
• Verifiquei a valorização da cultura brasileira e o reconhecimento
como parte da mesma.
• Observei atitudes de valorização e reconhecimento das bases
formadoras da cultura nacional relacionados com diversos contextos sócio-
culturais.
• Identifiquei posicionamentos de reflexão e crítica social através de
poéticas transgressoras.
A arte, segundo o filósofo Vasquez (1996), só pode ser conhecimento
específico, de uma realidade específica se considera o ser humano como um todo
único, vivo concreto. A estética pessoal, por exemplo, tem que considerar o ser
humano em sua totalidade, compreendendo-o, a partir de sua cultura, referência
que contribuirá para seu crescimento interior, reformulando suas atitudes sociais.
O ser humano único e concreto, é capaz de transformar a realidade
exterior para, partindo dela, fazer surgir uma nova realidade, ou seja, uma obra de
arte.
O conhecer artístico é fruto do fazer. O artista não converte a arte em
conhecimento copiando a realidade, mas criando outra nova. A arte só é
conhecimento na medida em que é criação. Tão somente assim pode servir à
verdade e descobrir aspectos essenciais da realidade humana.
Segundo o artista plástico Almir de Castro, o objetivo da arte é
descobrir, conhecer, explicar e modificar o mundo. Isso fica claro quando o
arquiteto Oscar Niemeyer diz: “Minha noção da forma facilita a composição e o
resultado é uma mistura interessante entre a figura e o elemento geométrico”.
A estética está em todos os sentidos da vida humana; está relacionada
com as artes e as ciências, porque está em todo fazer artístico ou científico, esta
presente na educação ambiental e em ações ecológicas, nos estudos e pesquisas
sobre o movimento corporal, nas diversas expressões artísticas tais como o
teatro, as artes cênicas, visuais, as plásticas pictóricas, a música, a fotografia, a
história da arte, enfim na história do ser humano e sua cultura, na literatura, na
linguagem poética e na linguagem do cotidiano, desde os primórdios da existência
do ser humano, considerada a partir da possibilidade da comunicação, e no
comportamento político preocupado com o bem comum. A estética permeia todo
ato humano e, neste sentido, é pertinente à ética e à transparência nas ações de
cidadania.
Os códigos humanos e ensinamentos fundamentais para a
aprendizagem e uma nova visão da arte, cultura e ciência, necessitam da estética
até nas situações relacionadas ao juízo de valor. E a estética, como decifradora
de códigos, provoca um novo olhar e uma forma diferenciada de ver abrangendo
todo ser humano que tenha noção consciente de seu ponto de vista subjetivo, ao
integrar-se à psicologia, ao belo, ao sutil, em prol da criação de uma obra de arte.
O objeto estético adquire seu caráter específico apenas através da
percepção mais aguçada, da sensação e da fantasia do sujeito receptor.
Outra ótica que nos chama atenção é o próprio ser humano como um
complexo atraente, cheio de riquezas interiores, de sonhos, de inteligências
múltiplas e códigos indecifráveis, cuja beleza o coloca nesse momento histórico,
como sendo o representante da vida, no centro do universo que tenta, ao mesmo
tempo, conquistar. O ser humano é a grande incógnita. O maior de todos os
desafios. Um grande desconhecido de si mesmo. Por tudo isso, ajudar a criança e
o jovem a adaptar-se ao mundo, dando-lhe ferramentas imediatamente utilizáveis,
sem deixar de sensibilizá-los, de estimulá-los para que possam dar sentido
estético a esses conhecimentos, é função dos educadores.
Encontros, desencontros, colisões e afetos da arte com o cotidiano das
redes juvenis: educação formal, trânsitos urbanos, tribos e outros pertencimentos;
as estéticas tortas das rebeldias e suas multiplicidades nos fluxos da cidade.
Sintonias e freqüência de delírio: energia, surto, controle e transgressão nos
currículos praticados. Enfim, atraem nossa atenção às produções estéticas das
vagabundagens e erratismos como anúncio e acontecimento de outras
epistemes... Pichações, funks, redes, corpos, currículos e artes inventados e
praticados...(VICTORIO FILHO, 2002). Este cotidiano é desafiador e não nos
permite ficar acomodados com antigos paradigmas.
A atualidade impõe a cada dia, aos Orientadores Educacionais, a
necessidade de fazer a conexão entre diversos diferentes caminhos que levam a
aprendizagem e a cidadania, é preciso abrir mão da acomodação, do senso
comum, da mesmice e enveredar pelos caminhos da criação, do novo, do
trabalho coletivo. É fundamental articular um dialogo constante entre as
disciplinas, no sentido de superar a fragmentação do conhecimento e de
contemplá-la na sua complexidade.
A essas considerações devem se juntar à concepção construtivista e
sociointeracionista do conhecimento, entendendo o saber como uma construção
que se opera entre o sujeito que conhece e o objeto que deve ser aprendido, a
partir de relações significativas que o sujeito possa fazer com os objetos de
conhecimento com o qual possa interagir.
Cabe ressaltar que depende dos educadores, em última instância, a
compreensão dessas idéias e o compromisso de colocá-las em prática. Sem
todos os profissionais das escolas, o diálogo com os alunos, suas famílias e com
a comunidade, não se efetivará. A qualidade da educação oferecida depende de
todos, uma vez que significa uma tomada de decisão que envolve necessária e
forçosamente toda unidade escolar. Como Orientador Educacional, ele (a) ficará a
par dos “desencontros” não só de uma turma, mas de toda a escola. O que fazer?
Está claro que ele (a) deve trabalhar para que a escola alcance seu objetivo
educacional no seu trabalho que desafia a resolver vários problemas.
E o papel do Orientador Educacional é fundamental neste contexto. A
partir de 1996, superando críticas passadas, o Orientador educacional retoma seu
papel, enfrentando desafios e preenchendo lacunas, como, por exemplo, trabalhar
para o desenvolvimento integral do educando em seus múltiplos aspectos físicos,
intelectuais, social, emocional, profissional, etc.
Mesmo em condições ideais, os conflitos e as contradições que
existem na sociedade e, portanto, na escola, vão representar dificuldades e
limitações, avanços e recuos, envolvimento e desânimo, que precisam ser
potencializados ou superados, conforme se apresentem.
Todos sabemos que não existe uma única forma de intervir no
processo educativo de crianças, adolescentes, jovens e adultos, sejam eles
portadores ou não de necessidades educacionais especiais. É a relação teoria-
prática que permitirá ao Orientador Educacional analisar coletivamente sua
realidade, o tipo de mediação apropriada, as oportunidades didático-pedagógico
que deverão ser oferecidas, no alcance dos objetivos traçados em seu projeto
político-pedagógico.
O papel do Orientador Educacional, já citado anteriormente, é
considerado uma ação importante e uma necessidade urgente para entender que
trabalhar em cima das demandas do desenvolvimento pessoal e social do aluno e
dessa sociedade pluralista é, conseqüentemente, uma escola também em
ebulição. E talvez por isso não propomos, através desse estudo, uma fórmula
para lidar com a questão do trabalho pedagógico nas periferias urbanas na
perspectiva do multiculturalismo. Porém pude constatar, através dos projetos de
atividades realizados por mim enquanto docente de Arte nas escolas da periferia
urbana da baixada fluminense, que a ebulição multicultural que muitas vezes nos
afronta e desafia é salutar e faz parte da dinâmica da vida. Simpatizo com os
modos de acontecer no mundo que interrogam as certezas institucionais da
educação, do ensino nesse início e fim de tudo. É como em todas as partes a
novidade agrada porque varia: refresca o gosto. Tudo teve seu momento e
passou.
“A terra está em permanente movimento, à luz sempre muda, o mar não deixa de bater sobre as pedras. As gerações não deixam de nascer, e somos responsáveis diante delas porque somos as únicas testemunhas com que contam”. JAMES BALDWIN
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