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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA AUTO-ESTIMA APRENDENDO A GOSTAR DE SI MESMO. Arteterapia: Transformando a visão de si mesmo, através da arte. Por: Príscila Vieira Faria da Silva. Orientadora: Profª. MS. Fátima Alves. Rio de Janeiro. 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

AUTO-ESTIMA APRENDENDO A GOSTAR DE SI

MESMO.

Arteterapia: Transformando a visão de si mesmo,

através da arte.

Por: Príscila Vieira Faria da Silva.

Orientadora:

Profª. MS. Fátima Alves.

Rio de Janeiro.

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

AUTO-ESTIMA APRENDENDO A GOSTAR DE SI

MESMO.

Arteterapia: Transformando a visão de si mesmo,

através da arte.

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Arteterapia em Educação e

Saúde.

Por: Príscila Vieira Faria da Silva.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço ao meu

Deus sempre, pois sem ele nada é

possível. Aos meus familiares, amigos,

professores e alunos pela força,

incentivo e compreensão. A todos

aqueles, acompanharam e participaram

direta ou indiretamente participaram no

desenvolvimento desta pesquisa, meu

agradecimento de coração.

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DEDICATÓRIA

Ao meu esposo e família que por muitas

vezes compreenderam meus momentos

de ausência, e que sempre me

ofereceram apoio e incentivo em todos os

momentos, acreditando no meu sucesso

profissional.

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RESUMO

Este estudo tem como intenção inicial demonstrar como a arteterapia é

importante e como ela pode auxiliar na mudança de olhar sobre si mesmo,

auxiliando no desenvolvimento do adolescente que sofre com a baixa auto-

estima. A Arte se propõe a algo que é pessoal e único auxiliando aos

adolescentes a se descobrirem e a se transformarem através da arte,

ajudando-os a terem outras percepções de si mesmo, por isso usá-la como

ferramenta contra a baixa auto-estima, ajuda a desenvolverem mecanismos,

auxiliando na mudança da visão negativa que o adolescente tem de si mesmo.

Ajudando-o a lidar com seus talentos, com suas habilidades que tem ou não, e

que através da expressão artística ele possa fazer grandes descobertas sobre

si mesmo, ajudando a desenvolver habilidades e descobertas sociais,

comportamentais, além da capacidade em comunicar-se, redescobrindo a sua

capacidade de criar, modelar e compor a própria vida. Assim a Arteterapia

segue com o papel de auxiliar, e vem a ser um canal, um meio pelo o qual o

adolescente com baixa auto-estima externalize, através do concreto, através

da arte, tendo como o objetivo levar o individuo, a desenvolver um novo olhar

sobre si mesmo, com a finalidade de lhe fornecer experiências que ajudem os

adolescentes a estruturação de valores, sentimentos, emoções o levem a

adquirir uma visão positiva de si mesmo. E ao se confrontarem com desafios

ou problemas, reajam com confiança, gerando orgulho de si mesmos, se

sentindo capazes frente aos desafios.

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METODOLOGIA

Esta pesquisa terá o caráter direto, com a intenção de investigar e

elencar alguns sintomas, quando adolescentes apresentam a baixa auto-

estima. Através de pesquisa de campo em um Projeto com adolescentes

carentes no Município de São Gonçalo, utilizando uma metodologia descritiva

retratando atividades de expressão artística que possibilitem e contribuam, na

prática artística com adolescentes com baixa auto-estima, levando-os a fazer

grandes descobertas, ajudando-os a terem outras percepções de si mesmo e a

se transformarem através da arte. E também da bibliográfica através dos

seguintes livros: Arteterapia e a historia da Arte; Métodos, Projetos e

Processos; LINGUAGUEM DOS MATERIAIS EXPRESSIVOS EM

ARTETERAPIA: Uso, Indicações e Propriedades, Arteterapia: Transformação

pessoal pelas imagens; Como aprender a gostar de si mesmo; PCN;

Adolescência Normal.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A Adolescência: Em busca da identidade. 11

CAPÍTULO II - A Arteterapia: Um instrumento para a auto-estima e a auto-

valorização. 16

CAPÍTULO III – Mudando o olhar sobre si mesmo através da arte. 23

CONCLUSÃO 36

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 38 ANEXO: 40

ÍNDICE 54

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INTRODUÇÃO

Esse é o objetivo desta pesquisa, demonstrar como a arte pode ajudar na auto-estima fator decisivo na relação do indivíduo aprendendo a gostar de si mesmo.

A partir de observações na prática em sala de aula, observamos a presença da baixa auto-estima em um grupo de adolescentes, levando: a distorção da auto-imagem. Dificultando a aceitação de si mesmo, gerando conflitos internos. Influenciando negativamente a sua relação pessoal, familiar e a sua integração grupal, levando-o muitas vezes ao isolamento, a fechar-se em si mesmo, ou até mesmo levando a ter um comportamento agressivo.

Arteterapia pode contribuir não só no acolhimento destes adolescentes na busca do autoconhecimento e a melhoria da qualidade de vida, mas também para despertar as suas potencialidades.

Sendo assim iremos concentrar o nosso estudo a partir do capitulo I: A Adolescência e identidade. Os adolescentes estão em processo de grandes mudanças e os seus sentimentos estão em grande profusão, encontra-se em conflito consigo mesmo, onde a busca pela “identidade”, a essência individual de cada um é alvo.

Em uma sociedade cheia de pré- conceitos, alimentada pelo senso comum e com o seu forte conceito de “identidade” já são pré-concebidos, onde pessoas são empacotadas e iludibriadas por uma cultura do ter e não do ser; estão vazias na alma. Esses adolescentes passam por grandes conflitos internos. Constroem-se certos estereótipos grupais e sociais, tentam disfarçar suas frustrações e o medo do fracasso; há uma necessidade de busca por significados para seus conflitos internos e da sua identidade. Neste paradigma os adolescentes têm dificuldades de auto-aceitação, logo este trabalho tem como objetivo utilizar a arte como instrumento principal na reafirmação da sua identidade pessoal, auxiliando o desenvolvimento dos adolescentes que têm dificuldades em expressar-se espontaneamente, de forma verbal, seus sentimentos, suas angustias, seus medos, muitas vezes vivenciados por situações traumáticas. A Arteterapia vem auxiliar a estruturação de sentimentos que são expostos pelo adolescente, durante o desenvolvimento artístico, de maneira simbólica, logo este é momento um importante, e de grande relevância na busca da identidade, possibilitando-o voltar-se para si, para o mundo interno e externo. Proporcionando que externalize de forma criativa, aflorando sentimentos, inquietações, anseios, sonhos, medos e objetivos, levando a compreensão dos seus sentimentos; concedendo-lhe diferentes modos de ver.

Todos nós já experimentamos situações emocionalmente positivas ou negativas e até mesmo situações traumáticas. Infelizmente, algumas vezes focamos os nossos sentimentos e o nosso olhar no negativo e perdemos contato com nossas qualidades. A arte segue como um instrumento para a auto-estima e a auto-valorização, mudando o sentimento em relação a si próprio é que estudaremos no decorrer do capitulo II. A arteterapia vem com o papel de atuar como mediador nas necessidades e emoções de cada

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adolescente e propiciar o despertar das emoções, sejam elas positivas ou negativas, isto é, na base afetiva do comportamento destes. As pessoas com baixa auto-estima têm dificuldades de agir em certas situações sociais, muitas vezes perdem boas oportunidades, por se sentirem incapazes, ou por medo da frustração, pois tem dificuldades em demonstrar fraquezas e vulnerabilidades, pois preocupam-se, com que os outros vão pensar dele e por isso, sofrem um grande dilema em frente aos desafios.

Assim essa pesquisa tem como objetivo permitir que o indivíduo aprenda a comunicar-se através da sua própria criação artística empregando a arte como um instrumento para a auto-estima e a auto-valorização, ampliando um sentido de eficiência pessoal, gerando um sentido de auto-respeito, confiança, identidade e positividade do indivíduo, acentuado o grau de aceitação de si mesmos e dos demais, mudando o sentimento em relação a si próprio, é o que será exposto no decorrer da pesquisa.

A arteterapia é uma atividade de expressão artística, que busca trazer ênfase a criatividade de maneira que possibilitem os adolescentes, expressar suas emoções através da arte, e assim, fazer grandes descobertas, na busca da compreensão de sua identidade, na relação do indivíduo consigo mesmo e com os outros, elevando sua auto-estima, trazendo segurança há suas relações pessoais e sociais. Buscando compreender a dinâmica vivenciada por eles pela prática na sala de aula se valendo de técnicas específicas como recorte e colagem, modelagem e pintura, de produtos recicláveis, estimulado, a reconstrução, transformação para uma posterior intervenção.

Esse é o objetivo esta pesquisa, observar e identificar o adolescente que sofre com a baixa auto-estima e o conjunto de fatores que interferem na visão negativa que os adolescentes com baixa auto-estima desenvolvem em relação a si mesmo. Gerando um sentimento ou uma atitude de repulsa de si mesmo, e até se considerando incapaz expresso nas suas atitudes individuais ou coletivas, prejudicando até mesmo o seu rendimento escolar.

A Arteterapia na educação pode abrir um importante caminho para o interior, através da arte (pintura, colagem, etc.) o individuo mergulha dentro de si mesmo possibilitando adquirir e construir ao autoconhecimento, trazendo para fora e para dentro as emoções, suas fragilidades, seus traumas, suas frustrações, seus sonhos, e seus sentimentos mais profundos. Na evolução do próximo e último capítulo o grupo será levado a fazer uma mudança do olhar sobre si mesmo através da arte. Trabalharemos no decorrer das atividades artísticas, proporcionando a ampliação da percepção sobre si mesmo a procurar soluções através da arte. Se valendo da vivência em sala de aula e de relatos dos resultados obtidos com um grupo de adolescentes carentes no município de São Gonçalo com o objetivo de promover e estimular a auto-estima, por meio do uso das várias técnicas e linguagens que fundamentam este trabalho. Pretende-se investigar através deste e compreender melhor o que acontece com o adolescente com baixa auto-estima, lançando mão da arte como instrumento na busca de linguagens que revelem o potencial que cada um tem, sendo um aliado importante no autoconhecimento e autovalorização. Possibilitando ao adolescente ter um novo paradigma, no conhecimento de si mesmo gerando confiança em suas capacidades afetivas e sociais. Adquirindo equilíbrio em suas emoções uma boa auto-estima, mudando a visão negativa

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de si mesmo, se redescobrindo, aprendendo a gostar de si mesmo, permitindo a construção de recursos internos saudáveis para o enfrentamento do mesmo e, deste modo, procurar soluções, ajudando a ter um novo olhar, positivo, sobre si mesmo.

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CAPÍTULO I

A ADOLESCÊNCIA EM BUSCA DA IDENTIDADE.

“O homem não é igual a nenhum outro, bicho ou coisa. Não é igual a nada. Todo ser humano é um estranho ímpar.” Calos Drummond de Andrade

Com vistas a possibilitar uma compreensão maior dos resultados desta pesquisa, inicialmente discutiremos as temáticas “identidade” e “adolescência”. O ser humano passa por uma série de mudanças no decorrer de toda a sua vida sejam elas: orgânicas, cognitivas, sociais e afetivas. Essas mudanças ocorrem também na adolescência e têm consequências profundas no nível do seu relacionamento interpessoal, familiar, escolar e social. A adolescência é a transição entre a infância para a fase adulta.

“Entrar no mundo dos adultos – desejado e temido – significa para o adolescente a perda definitiva de sua condição de criança. É o momento crucial na vida do homem e constitui a etapa decisiva de um processo de desprendimento que começou com o nascimento. [...] Neste período flutua entre uma dependência e uma independência extrema, e só a maturidade lhe permitirá, mais tarde, aceitar ser independente dentro de um limite necessário de dependência.“ (ABERASTURY E KNOBEL. 1981; p. 13)

A palavra “adolescência” vem da palavra latina “adolesco”, que significa crescer, e crescer implica em mudanças físicas que alteram a sua imagem corporal, (denominado de puberdade) que denotam mudanças tão grandes que ele tem dificuldade em reconhecer o próprio corpo. E como também as mudanças psicológicas e intelectuais, começando a possibilitar a formação do conhecimento de si próprio o que acarretam neste período, uma nova relação com “si mesmo”, com os pais e com o mundo. E deste modo prepará-lo para tomar decisões. Alguns costumam dizer que crescer “dói”, pois este período de desenvolvimento na fase da adolescência é bastante complexo, porque a ”identidade” do individuo entra em “crise” se fragmentando passado por um conflito interno, processo pelo qual há uma maior mudança e que sofre influência de forças interiores e exteriores. O adolescente se pergunta "quem sou eu?" e começa uma busca pela resposta a essa pergunta; e o desejo de conhecer a si mesmo e de construir sua personalidade, sua “identidade”. gera a "crise" no adolescente. O que é, portanto, a expressão dos questionamentos que afetam o seu auto-conhecimento. Há uma cobrança muito grande da sociedade em relação ao adolescente que vive uma transição

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do mundo das crianças para o do adulto e isso gera muitas expectativas e ansiedades, tanto dele mesmo quanto o das pessoas que o cercam elas fazem parte do processo de adaptação necessário à vida. Esses adolescentes começam refletir sobre os conflitos da sociedade da qual faz parte; de acordo com o contexto socioeconômico e cultural em que o mesmo está inserido, fazendo questionamentos sobre “si mesmo” por isso, a importância da família e das pessoas que o cercam, pois influenciam as transformações físicas e psíquicas que marcam a entrada da adolescência, na construção da “identidade”. Passo crucial da transformação do adolescente em relação à descoberta na busca de quem ele ”é”.

“Nesta busca de identidade, o adolescente recorre às situações que se apresentam como mais favoráveis no momento. Uma delas é a da uniformidade, que proporciona segurança e estima pessoal. Ocorre aqui o processo de dupla identificação em massa, onde todos se identificam com cada um, e que explica, pelo menos em parte, o processo grupal do qual participa o adolescente [...] (Aberastury e Knobel, 1981, p. 32).”

A “crise” da identidade pode ocorrer em qualquer fase da vida do indivíduo, está “crise” que influencia no comportamento individual e coletivo do mesmo, mas na adolescência tem caráter mais rígido, pois à personalidade está em plena formação. A construção da identidade na adolescência segue padrões das pessoas dos quais o adolescente convive, funcionam como um modelo de identificação busca de “si mesmo” e da própria “identidade”, muitas vezes encarada como um período de transição dotado de dilemas e problemáticas, pois a imagem que ele faz de “si” não corresponde com a pessoa que ele gostaria de ser.

[...] Erikson entende a crise da adolescência como efeito dos nossos tempos. Para ele, a rapidez das mudanças na modernidade torna problemática a transmissão de uma tradição de pais para filhos adolescentes. Estes devem portando se constituir, se inventar, sem referências estáveis. Erikson foi o primeiro a usar o termo "moratória" para falar de adolescência. Também foi um dos raros a perceber que a crise da adolescência se tornava muito difícil de administrar, já que o mesmo tipo de crise começava a assolar os adultos modernos. (CALLIGARIS, Contardo, 2000.p. 78)

Os adolescentes são rotulados como “aborrescentes”, por conta de suas crises de humor de personalidade, procuram adaptar-se a inconstância, ao fato de não serem mais crianças – nem adultos e a cobrança de realizar os valores pregados na sociedade, tais como independência e sucesso. Mas o medo

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fracasso se contrapõe entre o “si” mesmo real e as expectativas dos outros em relação a ele, levando-o a ter sentimentos de culpa, condenando-se a si mesmo.

“[...] há um sujeito capaz, instruído e treinado por mil caminhos – pela escola, pelos pais, pela mídia – para adotar os ideais da comunidade. Ele se torna um adolescente quando, apesar de seu corpo e seu espírito estarem prontos para a competição, não é reconhecido como adulto. Aprende que, por volta de mais dez anos, ficará sob tutela dos adultos, preparando-se para o sexo, o amor e o trabalho, sem produzir, ganhar ou amar; ou então produzindo, ganhando e amando, soque marginalmente. (CALLIGARIS, Contardo. 2002, p. 16)”.

Adolescência está fortemente ligada a estereótipos e estigmas da sociedade em que está inserido, as sociedades reforçam, criam e recriam os seus valores. A evolução histórica da humanidade sempre esteve ligada a padrões culturais, sobretudo o código moral e a estrutura familiar, que hoje se contrapõe a inovações tecnológicas e bens de consumo. Onde a mídia tenta engessar a personalidade através dessa massificação de conceitos em que a sociedade vive hoje, e que praticamente nos “obriga” a seguir padrões, valorizando os atributos físicos, tais como de beleza, é “geração coca-cola” como já dizia Renato Russo em uma de suas músicas. As pessoas seguem padrões e estereótipos, não é coisa pequena nesse mundo em que a aparência é tão valorizada e isso em plena adolescência onde as mudanças corporais estão em grande profusão, influencia muito, é uma fase de grandes questionamentos e instabilidade, que se caracteriza por uma intensa busca de “si mesmo”. É uma fase importante no processo de consolidação e reafirmação da “identidade pessoal”, gerando um conflito interno, sentimentos diversos como o medo da exclusão, a insegurança e a incerteza quanto ao futuro.

“A adolescência refere-se, assim, a esse período de latência social constituída a partir da sociedade capitalista, gerada por questões de ingresso no mercado de trabalho e extensão do período escolar, da necessidade do preparo técnico e da necessidade de justificar o distanciamento do trabalho de um determinado grupo social. Essas questões sociais e históricas vão constituindo uma fase de afastamento do trabalho e de preparo para a vida adulta. (OZZELA, Sérgio, 2002 , p.22)”

O adolescente está passando por uma etapa da vida no qual o

indivíduo passa por conflitos interiores típicos desta fase, que fazem parte do

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processo de adaptação necessário à vida, que aparecem de maneira

característica com relação à família, à escola e os demais grupos sociais ou

institucionais do qual o adolescente faz parte. Para o adolescente os valores

que o outro tem a respeito dele são muito importantes, pois influenciam na sua

auto-imagem, auto-estima e o seu reconhecimento enquanto ser no mundo, os

quais se manifestam na forma de vestir, na linguagem e nos hábitos de lazer e

outros. A identificação com o grupo de amigos é tão intensa que sobrepuja,

muitas vezes, a influência da família.

“O sujeito ao se sujeitar às convenções culturais pode fazer

com que uma determinada máscara, ou roupagem social

aceita, adquirida a condição de representar sua

subjetividade, em menosprezo a si mesmo em outras

possibilidades. Esta persona aparecendo em diferentes

situações daquela criada originalmente acaba por ser

confundida com o próprio sujeito, acarretando em uma cisão

psíquica por identificar um modelo de adaptação, um

comportamento, com toda uma totalidade ou personalidade.”

(URRUTGARAY, 2011, p.56)

O adolescente está vivenciando uma fase de transição, de projeção

para o mundo adulto, descaracterizando-se como criança. O que o torna cada

vez mais complexa a formação da “identidade própria” e a busca de uma nova

”identidade com características adultas”. Porque o mesmo está com a

personalidade vulnerável e a fragilidade dos sentimentos está aflorada, o

processo de auto-afirmação perpassa todos os seus momentos de construção

da “identidade”, vislumbrando a percepção das expectativas, servindo como

uma mola propulsora para a reflexão sobre “si mesmo” e o que cerne os

conflitos, as incertezas, a ansiedade e também os sucessos dessa fase; o já

que faz parte intrínseca da sua personalidade dos mesmos. Os adolescentes

entram em conflito na elaboração de uma “identidade adulta”, das suas

posições pessoais, e a busca da sua autonomia e consequentemente uma

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visão própria do mundo. É um o período em que o adolescente está em uma

etapa da vida onde vivência o seu desenvolvimento moral, acompanhado pela

aquisição e construção de valores sociais, pessoal.

Essa pesquisa vem nos mostrar, por meio de uma temática própria, através da abordagem da arte, que cada um de nós tem o seu valor, somos repletos de dons e talentos. No seu dia-a-dia, em todos os ambientes que estamos presentes, e ao longo do percurso da vida, seja em que fase for: na infância, adolescência ou fase adulta demonstramos nossas qualidades, características e defeitos sem medo. Deste modo a compartilhar, repartir e dividir suas qualidades com outras pessoas. Isso é viver! Muitas vezes ficamos preocupados por não sermos capazes de realizar coisas grandes e negligenciamos de fazer coisas menores, embora de grande significado. Quando na vida, seremos levados a busca do ser humano que consiste em descobrir quem ele ”é” e talvez seja essa complexidade. Esse é o meu papel nesta pesquisa o de mediadora, possibilitando ao adolescente conhecer a “si mesmo”, e principalmente enxergar e saber quais são as suas habilidades, os seus dons e talentos, levá-lo ao ponto de amadurecer suas idéias, a fim de superar suas expectativas vindouras, através da arte.

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CAPÍTULO II

A ARTETERAPIA: UM INSTRUMENTO PARA A AUTO-ESTIMA E

A AUTO-VALORIZAÇÃO.

“Só se vê bem com o coração.

O essencial é invisível aos olhos.” (A. SAINT- EXUPÉRY)

A arteterapia nasceu na Europa e se espalhou pelas Américas chegando ao Brasil, há aproximadamente cerca 30 anos, configurou-se suas primeiras manifestações no eixo Rio de Janeiro e São Paulo e depois expandiu-se por todo o país. Ao observamos a cultura da humanidade ao longo de sua história, vamos verificar que todo ser humano tem a necessidade de criar e de expressar-se. A arteterapia é um processo terapêutico que se utiliza do recurso expressivo; por meio de expressão e criação, o que amplia o conhecimento do ser humano sobre ”si mesmo”. “Segundo Jung, o principal arquétipo é o Si-mesmo (ou Self). O “si mesmo” é o centro de toda a personalidade”. Cada indivíduo tem suas aspirações, seus objetivos, suas preferências, sua personalidade e por meio dos materiais artísticos será estimulado, a focar somente na de construção de uma imagem mais positiva de ”si mesmo”. A arteterapia vem vislumbrar a conexão dos mundos internos e externos do indivíduo, tornando-se um agente propulsor de mudanças através de suas atividades artísticas e da relação da leitura de imagens simbólicas.

“A amplificação de símbolos em Arteterapia se dá ao examinar as produções e seus significados psíquicos e a partir delas criar-se, algo novo, deixando fluir outros significados simbólicos. (Philippini, 2007, p.94)”

A arteterapia constituiu-se interdisciplinaridade de vários saberes,

como a educação, a saúde e a arte, trabalhando com o potencial terapêutico, pedagógico; buscando resgatar a dimensão integral do ser humano, a fim de evidenciar as singularidades de cada um, e determinados pontos da sua personalidade, possibilitando uma maior integração da personalidade. São utilizados recursos com a finalidade de estimular o indivíduo, visando, conectar-se a “si mesmo”, dando forma aos seus sentimentos através dos processos arteterapeuticos, com o objetivo de resgatar a auto-estima e a auto-valorização. Servindo então como um instrumento para canalizar, de maneira positiva, as variáveis do desenvolvimento do ser humano, utilizando a arte como meio de expressão e criação criativa, como um elo para ampliar o autoconhecimento. Lançando mão da arte para a transformação pessoal.

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“Por meio da materialidade dos símbolos manifestos, compreender-se-á melhor o que se passa no mundo interno, levando à possibilidade da compreensão e maior aceitação de sua atual condição, de uma maneira mais harmoniosa, contribuindo, desta forma, com seu processo de individualização.” (Philippini, 2007, p.62)

A arteterapia relaciona imagens artísticas com conteúdos simbólicos do inconsciente do indivíduo. Essas imagens são projeções do que antes estavam no inconsciente do indivíduo e que através da arte ele consegue dar forma, deixando surgir imagens arquetípicas, instintivas e espontâneas, que evocam sentimentos e a expansão da estrutura psíquica do indivíduo que são ricas em conteúdos simbólicos; levando o indivíduo à compreensão, transformação, estruturação e expansão de toda a sua personalidade.

“A ”ARTE”” é um meio de comunicação não verbal que possibilita a expressão de sentimentos e conteúdos conscientes e inconscientes.” (ROCHA, Dina Lúcia Chaves, 2009, p.88)

O “fazer arte” em arteterapia não segue com objetivo de interpretar as imagens expressas pelo indivíduo, mas serve como um instrumento mediador para que o próprio indivíduo ache significado, através de conteúdos simbólicos expressos maneira consciente ou inconsciente, falando através da imagem. Ela ajuda ao individuo a expor e expressar espontaneamente os seus sentimentos mais profundos: suas emoções, desejos, fantasias, pensamentos, o que favorecerá o processo de transformação pessoal. Propiciando um maior grau de expressividade, conseguindo encontrar um meio termo no seu fazer criativo, proporcionando a maior compreensão sobre “si mesmo”, fortalecendo o senso de “identidade”, assim, aflorando a satisfação imediata, em prol da qualidade de vida. Levando-o a comunicar-se com seus trabalhos, estimulando a autonomia, a auto-estima , a auto-valorização e a transformação interna, para a reconstrução e reestruturação do “ser”.

“....Uma imagem projetada no papel ou em uma escultura, ou em um movimento do corpo, reflete a maneira pessoal de cada um relacionar-se, posicionar-se, de estar no mundo.” (URRUTGARAY, 2011, p.32)

A imagem em arteterapia é muito mais do que só uma imagem projetada num suporte; é a expressão espontânea do inconsciente, é um instrumento utilizado para a autonomia criativa, o desenvolvimento da

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comunicação, e promoção da valorização pessoal do adolescente, reforçando a de forma positiva o resgate da auto-estima. Levando ao individuo reconhecer a sua diversidade e os seus êxitos, mudando a sua maneira de se ver e de reconhecer no mundo. O indivíduo que passa pela a fase da adolescência e chega até a fase adulta com uma auto-estima negativa, tem sérias dificuldades de lidar com as adversidades da vida, e se julga muitas vezes inadequado, incapaz, se sentindo frustrado, comportamento que podem prolongar-se até a idade adulta.

“A autoestima é a aceitação que o indivíduo tem de si mesmo. As criticas positivas e elogios possibilitam a construção de um autoconceito e uma autoestima positiva e adequada. O individuo que tem uma autoestima negativa e inadequada se sente inútil, insuficiente, incapaz, culpado, inferior, inadequado, é extremamente passivo, não se aceita, não acredita em si, não se ama.” (ROCHA, Dina Lúcia Chaves, 2009, p.82, 83)

A arteterapia nos apresenta um instrumento facilitador que permite que as nossas potencialidades criativas se aflorem, a partir da experiência artística, do fazer expressivo estimulando a expressividade, espontaneidade, comunicação e imaginação. O indivíduo pode viver a expressão mais espontânea de um fazer concreto: através das cores, formas, movimentos, ocupação no suporte, a plasticidade, os movimentos, etc. Conseqüentemente, auxilia o indivíduo a elaborar significados, a produzir vários juízos e sentimentos, elemento fundamental em qualquer processo de comunicação, dando forma ao imaginário o individuo, aproxima-se do real, fazendo com que o mesmo venha a refletir e perceber-se no mundo, desenvolvendo a convicção de que é capaz. Anelando um auto-conceito positivo de “si mesmo”, propiciando o enfrentando da vida com mais confiança, boa vontade e otimismo. Abrindo possibilidades na construção e reconstrução de valores, dando sentido ao vivido, promovendo uma viagem ao seu mundo interior, gerando: autoconhecimento, auto-valorização e auto-confiança.

”Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida.” (Jung, 1920)

Todo ser humano é dotado de dons, talentos e habilidades; e ao expressar-se, por intermédio das atividades artísticas em processos arteterapêuticos, nas oficinas de arte feitas com os alunos, temos a oportunidade de observar e entender o que cada um crê de “si mesmo” e de que maneira ele se vê. O processo de criação é uma fonte fundamental para o ser humano, que precisa da arte para se expressar, se conhecer e necessita

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da mesma para se libertar de seus medos, inquietações, frustrações e traumas; criar é colocar para fora seus conflitos internos ou externos; criar nos faz pensar e com isto, desenvolve o intelecto e faz muito bem a auto-estima.

“O fazer arte é terapêutico, porque proporciona inteiração de uma personalidade, mediante a aplicação de técnicas e práticas expressivas, que tanto facilitam a materialização de formas, doadas por conteúdos projetados, bem como permitem a identificação funcional das mesmas, restituindo à personalidade os sentimentos acerca de si que estavam faltosos, dando ao sujeito que a utiliza como prática o deleite de desfrutar de si mesmo.” (URRUTGARAY, 2011, p. 55)

A arte “fala” por “si mesmo” e fala sobre quem a criou em seu processo de existência, de vida, revela a interioridade do indivíduo, fala do seu modo de ser; do seu sentimento em relação a “si mesmo” e ao mundo. Por intermédio dos processos de criação, da capacidade de expressão estética e da elaboração da representação plástica que ocorrem no âmbito da arteterapia, o “criador” (o adolescente) tem a possibilidade de identificar-se com sua obra, após a conclusão do seu trabalho, dos símbolos expressos, mesmo que inconscientemente, o adolescente tem a oportunidade de lidar com seus sentimentos. Pois estes símbolos expressos por eles são, associados a fragmentos de momentos da sua própria vida.

“As imagens adquirem uma categoria de estruturas simbólicas, porque elas são resultados de um conjunto de significações representativos de padrões pessoais e gerais, e apontam para além de um objeto, de uma pessoa ou de uma circunstância propriamente dita, constituindo-se em pontes capazes de unir elementos concretos a seus atributos essenciais.” (URRUTGARAY, 2011, ps. 39 e 40)

Através da leitura de imagens que são a impressão da “alma” (uma espécie de digital: pessoal e única), por meio da emoção que a arte proporciona no indivíduo, ele passa perceber significados em seus trabalhos além do fazer artístico, há uma simbologia, criando cada vez mais consciência de “si mesmo” e de sua existência. Com os recursos utilizados em arteterapia o individuo entra em contato com seu mundo interno e através da arte expressiva, ele fala de “si”, do seu grupo social e de suas impressões sobre o mundo, possibilitando-o construir novos paradigmas: a transformação e reinvenção do seu mundo interno e de “si mesmo”.

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“Diante do alcance de objetivos pessoais, a constante percepção do potencial individual, transmudado em execução dada pela consecução de uma obra/criação, garante a aquisição da autoestima e autoconfiança. Fortalecendo o EGO, a Arteterapia direciona a subjetividade, cada vez mais estruturada, no caminho de sua autovalorização e do reconhecimento pessoais, aumenta o grau de motivação, de orientação e disposição para expressão de novas ideias, busca de ideais, novas escolhas, fornecendo a vivência da liberdade.” (URRUTGARAY, 2011, p.86)

O ser humano está em constante transformação e a arteterapia pode ser uma peça chave para esse processo de transformação e reconstrução dos sentimentos, na gênese do pensamento humano, na descoberta de “si mesmo”. A arte pode ser um instrumento enriquecedor para despertar o a necessidade que cada um tem em valorizar a “si mesmo” e aos outros, abrindo a possibilidade de manter relações saudáveis, tratando as pessoas as quais se relaciona com respeito, cortesia e bom-humor, pois não os vê como problema e nem como ameaça. A arteterapia contribui para que o indivíduo consiga estruturar suas emoções, fazendo fluir por meio da arte as suas singularidades, permitindo que o indivíduo caminhe por suas emoções mesmo que sejam dolorosas, encorajando-o a ultrapassar por obstáculos que lhe parecem intransponíveis.

“O caminho de um indivíduo é um caminho de crescimento, é um caminho de transformação. Caminho e pleno e permeado de experimentações e vivências que têm a finalidade de proporcionar uma integração entre matéria e psique, entre corpo e espírito, entre mente e alma. Este caminho de transformação se configura e se apresenta por meio de processos que mantêm o indivíduo em movimento, em marcha, em uma sucessão de estados de mudança e reconfigurações. Estes processos de transformações que podem ocorrer no campo material e no campo psíquico, se observados e relacionados durante o trabalho arteterapêutico, podem propiciar ao individuo que aminha uma integração de seus conteúdos materiais e imateriais, que e tornam matéria-prima essencial ao processo de individuação.” (Philippini, 2007, p.21)

A ausência de uma boa auto-estima pode abalar muito o sentimento de auto-valorização e acarretar em sérios problemas na vida do individuo, no que concerne o bem-estar social, o convívio com as pessoas e a sua forma de conduzir as suas relações no seu dia-a-dia, e uma perspectiva negativa de ’si

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mesmo” o que pode está relacionado com a não aceitação de “si mesmo”. E uma boa auto-estima é fundamental, para o resgate de uma vida saudável. O bem estar que uma boa auto-estima propícia no individuo é uma experiência singular. A Arteterapia oportuniza o vivenciar através do concreto procurando desta forma vislumbra ajudar o indivíduo a liberar suas emoções e sentimentos contidos de forma criativa, resgatando o bom relacionamento afetivo e o bem estar físico, psíquico e social do individuo o está diretamente relacionado ao processo de auto-valorização.

“A prática da Arteterapia facilita a decodificação (entendimento) do mundo interno, a subjetividade, por meio do confronto que o sujeito criador e gerador das imagens faz com suas configurações, possibilitando a consciência de seus conteúdos, dado, primeiramente, pela análise dos elementos que a constituem. Quando o sujeito “reage” confrontando-se com o símbolo objetivado, ele transforma essa realidade simbólica e se transforma concomitantemente, possibilitando a passagem de energia de um nível a outro, pelo desenvolvimento da criatividade.” (URRUTGARAY, 2011, ps.41 e 42)

A arteterapia vem estimular e fomentar a reflexão sobre “si mesmo”, sendo usada como ferramenta para o processo de transformação pessoal, gerando modificações no mundo das emoções dos adolescentes, mudando o modo como ele encara o mundo, clareando para “si mesmo“ a sua maneira de pensar e se sentir o mundo. Permitindo-lhes, assim encontrar-se com o seu modo ser. Oferecendo um espaço no qual ele possa refletir sobre “si mesmo” e se sentir seguro e acolhido aonde ele possa usar a criatividade e interagir com seu mundo interior e exterior, por meio do seu potencial criativo. Proporcionando e desenvolvendo a melhoria da sua auto-estima, auto-valorização, bem estar e equilíbrio das suas emoções o que se constituem em pilares importantes para um bem-estar social e individual do individuo. A Arte nos faz construir uma linguagem que comunica e expressa uma ideia, provoca emoção, e cada trabalho possui um significado próprio. E esses significados são fonte de sentido para toda a criação criativa do individuo e propicia a criação, uma “ponte” para uma construção e reconstrução de sua própria vida. Facilitando o caminhando para um processo de transformação pessoal.

“...a Arteterapia traz como modalidade expressiva a possibilidade de transformação de um ser.” (URRUTGARAY, 2011, p.157)

O decorrer do processo desta pesquisa tem o objetivo “direcionar” o indivíduo para um novo olhar sobre sua “vida”, conduzindo o mesmo a

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“reagir” positivamente as implicações do cotidiano, integrando-se a noção de bem-estar, levando-o a acreditar em “si mesmo”. Ao reagir positivamente ante as oficinas criativas, o adolescente poderá ser capaz de estabelecer um senso de “si mesmo” significativo; o reconhecendo as suas potencialidades. Desabrochando o imaginário, fazendo com o indivíduo perceba que é capaz de escrever uma nova história, caminhando, criando, modificando, sempre fazendo com que se sinta apoiado, estimulado; entrando em contato com os seus sentimentos, contribuindo para a construção de sentimentos positivos com relação a “si mesmo”. O que auxilia na construção do aprendizado, pela experimentação do lúdico e do concreto, da Arte; permitindo retirar algumas implicações no dia a dia da vida, desenvolvendo a capacidade de valorizar-se e a capacidade de amar-se.

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CAPÍTULO III

MUDANDO O OLHAR SOBRE SI MESMO ATRAVÉS DA ARTE.

“‘Dentre todas as linguagens uma faz-se especial: a linguagem da arte. Feita para o homem mergulhar dentro de si mesmo trazendo para fora e para dentro dos outros homens as emoções do próprio homem. Sabe o homem que as emoções é que são o sal da vida. Por isso é que quando o homem quer falar ao coração dos homens ele o faz pela linguagem da arte. Quando isso acontece, naquele momento sente e age o artista. (BARREIRA, Maria / BASIL, Naila, 2012, p. 19)”

O homem se comunica através da arte desde a pré-historio, quando ainda não havia desenvolvido a escrita. Há aproximadamente 25 milhões e de anos, onde surge então a primeira forma comprovada do homem comunicar-se, através da arte: “da pintura”. O ser humano sempre procurou representar, por meio de imagens, a realidade em que vive – pessoas, animais, objetos e elementos da natureza, etc. “uma pintura não é uma análise, mas uma síntese,

harmonioso conjunto de cores intensas, sentidas, expressadas no estado de pureza das crianças e dos primitivos” (PAUL GAUGAIN, 1848-1903)

A imagem é utilizada como meio de comunicação, na arte rupestre e é o único meio pelo qual podemos conhecer um pouco da maneira como esses povos viviam. Essas imagens seguem, como uma forma de expressão do visível, do imaginário, do real, do simbólico, um desejo, fruto do inconsciente, desenvolvimento da identidade pessoal e dos grupos; e o desenvolvimento do prazer através da expressão do indivíduo. A arte envolve vários aspectos, é uma das manifestações mais essenciais do ser humano. Ao observamos a cultura ao longo da história da humanidade verificamos que o homem sempre esteve vinculado à necessidade de expressão. Mas com do tempo e da história da humanidade, o homem aprendeu a utilizar as cores. E a forma de se expressar foi se modificando de pintura nas cavernas para pintura corporal, comuns a cultura de sociedades tribais.

“... Na concepção analítica, segundo C. G. Jung, as cores exprimem as principais funções psíquicas do homem,

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pensamento, sentimento, intuição, sensação. (Chevalier, Jean, 2003, p. 280.”

No período da Idade Média que se inicia 476 (século V), foi um dos períodos mais longos da História: durou cerca de dez séculos. Com a ocupação de Roma pelos bárbaros, e teve fim em 1453 (século XV), devido às invasões e a tomada de Constantinopla pelos turcos. A Idade Média dividiu-se em três períodos: Bizantino, Romântico e Gótico. No período Bizantino observamos que começam a predominar uma entrada maior da luminosidade, com cores ganhando um novo brilho. Mas iremos focar nosso estudo no estilo gótico, mas especificamente o vitral, pois foi à linguagem artística escolhida para desenvolver o trabalho terapêutico com os adolescentes. A arte gótica surgiu pela primeira vez na França, na edificação da “Abadia Saint-Denis”, por volta de 1140.

Figura 1: Rosácea do transepto norte da basílica de Saint-Denis. O tema é a Criação.

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Uma das características da arquitetura gótica é que cede lugar a uma arquitetura de estrutura diáfana, baseada sobre colunas, cria-se o arco ogival, que permitiu a construção de paredes mais altas. Com a inversão de pilares há a substituição das sólidas paredes com janelas estreitas, do estilo românico, pela combinação de pequenas áreas de paredes com grandes áreas preenchidas por vidros coloridos; os vitrais. Vitrais: a luz multicolorida. Os vitrais estão para as catedrais góticas assim como os mosaicos estão para as basílicas bizantinas. Só que, enquanto os mosaicos criam um ambiente austero e solene, os vitrais, deixando passar a luz do sol pelos pequenos pedaços de vidro de cores diversas, criam um ambiente sereno e multicolorido. Os vitais, além da função decorativa e de elemento de forte simbologia eles fornecem-nos inúmeras informações acerca das características e do modo de vida durante a Idade Média. Os vitrais eram amplamente utilizados na ornamentação de igrejas e catedrais, o efeito da luz solar que por eles penetrava, conferia uma maior imponência e espiritualidade ao ambiente, efeito reforçado pelas imagens retratadas, em sua maioria, cenas religiosas. Essas imagens funcionavam também como uma narrativa para instruir os fiéis, principalmente a maior parte da população que não tinha condições de ler. Tornou desta maneira uma forma potente de fazer com que os fiéis pudessem sempre ter em mente os ensinamentos da Igreja. A cor com a luz vazada pelas janelas dá-nos um efeito de renda e sugere uma sensação de fragilidade. Seus azuis intensos e vermelhos brilhantes projetam uma luz violeta sobre as pedras da construção, quebrando a sua aparência de dureza; porém, o seu ambiente frio e espaçoso, não nos deixam à vontade. Há também a presença da rosácea, uma grande janela redonda no portal central. Os vitrais apresentavam simples formas geométricas ou mesmo imagens de santos ou passagens bíblicas. Para obter-se um vitral na época, era necessário que um artesão realizasse um processo de coloração da peça de vidro. Durante este processo, o vidro cru era misturado a outros componentes químicos que determinavam a respectiva tonalidade, durante a fase de derretimento. Este processo mantinha o vidro com um tom de cor sem que bloqueasse os raios solares. Após este procedimento o vidro era aquecido e moldado.

“Considerando que as cores se plasmam a partir da luz em seus diversos matizes, a Arteterapia como processo de revelação e transformação de símbolos, culturais e pessoais é um instrumento terapêutico dos mais eficazes. Nela, os binômios luz/cor e luz/consciência estão presentes em um grande vitral, filtrando a luz intensa que poderia cegar e fundir, permitindo sua entrada gradativa para iluminar o inconsciente, trazendo à consciência conteúdos psíquicos em um processo que conduz ao encontro se si-mesmo, e porque não dizer, o encontro minucioso com sua própria luz.” (Philippini, 2007, p.69)

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Ao utilizar a arte como processo terapêutico, estamos percorrendo um caminho, mesmo que inconscientemente foi traçado por nossos ancestrais na pré-história e na antiguidade, onde se utilizava a pintura nas cavernas e que fazia parte de um processo de magia por meio do qual procurava-se interferir na captura dos animais tornando-os mais frágeis e nesses ritos mágicos se utilizava a dança como crença para espantar as energias negativas ajudando-os a superar os medos, a renovar os ânimos e a liberar bons fluidos. Ainda hoje utilizamos arte e suas diferentes formas de linguagens do fazer artística como colagem, desenho, pintura, dança teatro, etc, como ferramentas terapêuticas. Através das oficinas arteterapeuticas o indivíduo será estimulado a usar a criatividade e entrar em contato com si mesmo, experimentando, criando como um modo de expressão puramente pessoal levando-o ao processo de autoconhecimento e crescimento pessoal. Arteterapia baseia-se no recurso expressivo e do beneficio vitalizador do processo criativo; o fazer artístico. “A arte, como função terapêutica e pedagógica tem muito a

contribuir nessas mudanças de atitude e comportamento, favorecendo o desenvolvimento pessoal.” (URRUTGARAY, 2011, p.101

Esta parte da pesquisa visa relatar experiências foram vivenciadas por mim com grupos de adolescentes durante o período de oficinas de arte em um projeto de atendimento as crianças e adolescentes carentes. Onde o alunado tem a oportunidade vivenciar atividades educacionais como: atividades de educação física, oficinas profissionalizantes e reforço escolar, com a finalidade de inclusão social, tendo como pré-requisito, estarem freqüentando regularmente uma escola pública. De uma maneira geral, propôs desenvolver um processo em atelier terapêutico utilizando-se de oficinas criativas como fermenta no resgate da auto-estima, pois percebido que muito desses adolescentes sofrem com a baixa auto-estima, em decorrência disso tem uma difícil relação consigo mesmo e com as pessoas que se relacionam. Proposta I: Iniciei o trabalho, com a sensibilização o que é parte importantíssima nas oficinas criativas e tem o objetivo de descontrair o grupo para uma atividade, utilizei a da dinâmica do “ESPELHO”, com o objetivo de despertar a valorização de “si mesmo” levando ao indivíduo a encontrar-se consigo e com seus valores. Coordenei a dinâmica estimulando-os, dizendo que dentro de uma pequena caixa e presente existia uma fotografia de uma pessoa muito especial, que era muito importante. Orientei para que os integrantes se dirijam ao local onde está à caixa (um por vez), fosse a frente abrisse a caixa dissesse uma qualidade desta pessoa sem dizer o nome da mesma, sendo que dentro da caixa não tem uma fotografia e si espelho. Por tanto cada um é levado a

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refletir sobre si mesmo. Finalmente é aberto o debate para que todos partilhem seus sentimentos, suas reflexões e conclusões sobre esta pessoa tão especial (ela mesma).

“A sensibilização é parte fundamental nas oficinas criatividade. Conduzir um grupo cada participante a um lugar de conforto interno, percebendo o ambiente e ampliando os sentidos para o momento do fazer artístico flua.” (Colagrande, 2010, p.90)

Ao focar nossa pesquisa no uso da arteterapia escolhi o vitral como linguagem. Ao escolher os materiais que serão utilizados, buscam-se oportunizar a vivência de uma relação diferenciada com a experiência, usando os canais sensoriais e motores como portas de entrada no grupo. Primeiro iniciamos com um breve histórico sobre os vitrais e arte gótica, a partir daí realizamos trabalhos inspirados nas rosáceas das catedrais góticas, utilizando a colagem, com o uso dos seguintes materiais: a cartolina preta e o papel celofane colorido. As cores aos poucos foram surgindo nos trabalhos. As aplicações das cores, nos trabalhos artísticos transmitem vários juízos e sentimentos e dão pistas que ajudam a transitar enredos pessoais. “A cor esconde uma força ainda mal conhecida, mas real,

evidente e que age sobre todo o corpo humano. A cor tem uma influência direta em nossa alma. A cor é a tecla, o olho o martelo, a alma o piano de inúmeras cordas. Quanto ao artista, é a mão que, com a ajuda desta ou daquela tecla, obtém da alma a vibração certa.”

(Kandisky) A possibilidade de escolha para se expressar com materiais artísticos, a “Luz” de que toda e qualquer produção artística, traz inevitavelmente, uma percepção simbólica de ”si mesmo”, uma vez que a arte reflete e fala da “luz pessoal”, da capacidade criativa e singular com que cada indivíduo pode contribuir, criativamente, para própria vida. Eles ficaram maravilhados com o resultado dos trabalhos. A cada encontro vejo o entusiasmo no olhar desses adolescentes o que é refletido e percebido, através de seus trabalhos artísticos.

“Por meio da atividade com a arte, o sujeito transforma a realidade e a si mesmo, promovendo o desabrochar da percepção, da organização, e a ordenação de seu pensamento a compreensão do momento circunstancial, bem com da dimensão de si mesmo.” (URRUTGARAY, 2011, p.41)

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A arte funciona como instrumento facilitador, pois cada adolescente pode ser convidado, a efetivamente, a redescobrir-se e a mergulhar dentro de si mesmo, sem medo, é um convite para o autoconhecimento através da produção artística. As produções desses trabalhos artiticos despertam a sensibilidade para o imaginário criativo e refletem as visões mais íntimas, que temos de nós mesmos.

“... o individuo pode expressar seus conteúdos psíquicos nas cores que usa em suas produções plásticas, nas roupas que usa, enfim, na maneira como, decora, colore e ilumina sua vida.” (Philippini, 2007, p.69)”

A arteterapia nos faz olhar através da arte para o nosso interior, o nosso íntimo, a nossa alma; buscando significado para algo observado que foi externalizado pelo inconsciente, fazendo emergir símbolos confrontando-se com si mesmo ajudando a transformar e a direcionar o adolescente que sofre com baixa auto-estima no seu processo de “individuação” (Jung). A arteterapia cria um diálogo, do autor e a obra, do inconsciente com si mesmo, faz uma ponte do imaginário criativo com si mesmo, os símbolos expressos em sua arte são um meio pelo qual o adolescente pode visualizar e relacionar-se com seus sentimentos mais profundos, facilitando a conscientização dos mesmos. “No processo de individuação, somos forçados a confrontar

as poderosas personalidades que vivem no nosso inconsciente e que estão frequentemente em conflito com nossas ideias e comportamentos conscientes. A comunicação com nossas personalidades interiores vivas pode tomar muito tempo, até que as entendamos melhor. Na medida em que as entendemos e integramos, elas transformam nossas vidas.” (Bello, 2007 p.16)

Pude notar como a interação entre o grupo de adolescentes aumentou, em cada encontro se sentiam motivados entusiasmados e percebiam-se valorizados. Potencializando sua espontaneidade e criatividade e aumentando a expressão de novas idéias e escolhas. Fazendo uma alusão aos vitrais, deixando a “luz própria” que há em cada um deles brilhar, resplandecer. Proporcionando a cada dia a construção de uma ponte para a sua autoconfiança, sentindo e percebendo seu o valor para si mesmo e para as pessoas que o cercam, vivendo um importante momento de sua história de vida. Descobrindo o seu próprio potencial torna-se mais fácil o alcance dos objetivos pessoais, o crescimento nos processos individuais.

“Sabemos que cada indivíduo tem sua forma de peculiar de percorrer o caminho em busca da individualização. As cores

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refletem cada momento desta caminhada, ao mesmo tempo em que as funções terapêuticas de transformações de energia psíquica se evidenciam.” (Philippini, 2007, p.69)

Proposta II: Neste segundo momento iniciei a sensibilização lançando mão da contação de histórias. A contação de histórias esteve presente em diversos momentos na história da humanidade e em diferentes culturas humanas. Quem nunca contou uma história? As histórias fazem um diálogo entre os personagens confrontando aspectos de si mesmo, essas histórias muitas vezes relatam aspetos no cotidiano do indivíduo, arte da narrativa sempre teve função social, educativa e cultural. O uso da contação de permite o desenvolvimento da oralidade, da imaginação criadora, ampliando os horizontes do adolescente. A partir da escuta da história contada registrado por Ítalo Calvino e que se chama “O peixe luminoso” o adolescente é levado a refletir sobre a narrativa da sua história de vida mediante as personagens que gostaria de viver, suas tramas, conflitos e soluções. O simbolismo de suas passagens são pistas que ajudam a transitar pelos enredos pessoais, o indivíduo "vive" as obras.. Este trabalho tem o objetivo de levar a reflexão sobre a sua própria história de vida com a intenção de resgatar, restaurar, transformar a biografia do adolescente com baixa auto-estima. A ideia de contar essa história surgiu no intuito de estimular e facilitar a exploração do lúdico em sua vida uma vez que fala da luz pessoal, da capacidade criativa e singular com que cada indivíduo pode contribuir, criativamente, para própria vida e para o coletivo. Foi criada toda uma ambientação, para a contação do conto italiano, com um fundo musical instrumental, focando a atenção dos ouvintes e despertando a sensibilidade para o imaginário. O PEIXE LUMINOSO Há muito, muito tempo, um velho e sua mulher viviam numa casa junto ao mar. O velho mal ganhava para viver, catando lenha na floresta e vendendo-a na aldeia. Um dia, na mata, encontrou um homem de longas barbas – conheço todos os seus problemas – disse o estranho – e quero ajudá-lo. Deu ao velho uma pequena bolsa de couro e quando este olhou dentro dela desmaiou de espanto: a bolsa estava cheia de ouro! Quando voltou a si o estranho havia desaparecido. Então o velho jogou a lenha fora e correu para casa. No caminho pensou: se eu contar a minha esposa sobre esse dinheiro ela vai querer gastá-lo todo – disse a si mesmo. Quando chegou em casa, não mencionou nada à esposa, em vez disso escondeu o dinheiro sob um monte de estrume. No dia seguinte, ao acordar, o velho viu que a esposa havia preparado um esplêndido desjejum, com pão e chouriço. – Onde você arrumou dinheiro para tudo isto? – perguntou a ela.

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- Ontem você não trouxe lenha para vender – ela disse – de modo que vendi o estrume para o fazendeiro lá de baixo. O velho fugiu, gritando desolado e tristemente foi trabalhar na floresta, resmungando consigo mesmo. No fundo da mata encontrou novamente o estranho. O homem das longas barbas riu – sei o que você fez com o dinheiro, mas ainda quero ajudá-lo, então, deu ao velho outra bolsa, cheia de ouro. O velho correu para casa , mas no caminho, de novo começou a pensar: - se eu contar a minha esposa ela vai esbanjar essa fortuna. E ele então escondeu o dinheiro na lareira, sob as cinzas. No dia seguinte, ao acordar, viu que a esposa havia preparado outro desjejum delicioso. Perguntada respondeu: - como você não trouxe lenha eu vendi as cinzas para o fazendeiro lá de cima. O velho correu para floresta arrancando os cabelos de desespero. No fundo da floresta encontrou o estranho pela terceira vez. O homem de longas barbas sorriu, tristemente. - Parece que você não está destinado a ser rico meu amigo – disse o estranho – mas ainda quero ajudá-lo. Deu ao velho uma grande sacola dizendo: pegue estas duas dúzias de rãs e vá vendê-las na aldeia e use o dinheiro para comprar o maior peixe que encontrar, nada de peixe seco, moluscos, chouriço, bolos ou pão. Apenas o maior peixe! Dizendo isso, desapareceu. O velho correu à aldeia e vendeu as rãs, com o dinheiro nas mãos, viu coisas estupendas que poderia comprar no mercado e achou peculiar o conselho do estranho. Apesar disso, decidiu seguir as instruções a risca e comprou o maior peixe que encontrou. Voltou para casa muito tarde para limpá-lo, de modo que o pendurou do lado de fora da casa, nos caibros do telhado. Então, ele e sua esposa foram dormir. Naquela noite caiu uma forte tempestade e o velho e sua mulher podiam ouvir as ondas reboando nos penhascos sob sua casa. No meio da noite alguém bateu na porta, o velho foi ver quem era e deu de cara com um grupo de jovens marinheiros, dançando e cantando à entrada. - Obrigado por salvar nossas vidas!!! Disseram ao velho. – Do que estão falando? – ele perguntou. Então os pescadores contaram que haviam sido surpreendidos no mar pela tempestade e não sabiam para que lado remar, até que o velho acendeu uma luz para eles. – Uma luz? – perguntou. Então eles mostraram. E o velho viu seu peixe pendurado no caibro, brilhando com uma luz tão forte que podia ser vista a milhas ao redor. Desse dia em diante, o velho todas as noites, pendurava o peixe para trazer os jovens pescadores de volta e eles dividiam o produto de sua pescaria com ele. E assim, ele e sua mulher viveram confortavelmente e gozando de grande estima até o fim de seus dias. Conto italiano, extraído da obra Fábulas italianas de Ítalo Calvino, Companhia das letras, RJ, 2006.

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“Assim, a autorrealização do “Self” (do si mesmo), dado pelo exercício de “fenômenos afetivos” (os trabalhos com as técnicas expressivas), possibilita a realização da energia arquetípica em direção à individuação.” (URRUTGARAY, 2011, p.155)

Após a contação da história os adolescentes foram convidados a realizar um trabalho artístico dando vida a seu eu, externalizando, através da colagem o seu brilho interior. Cada um compartilha sua imagem da qualidade ou dom que expressou e cola no peixe que vai se construindo como um todo/coletivo, brilhante e luminoso a partir das contribuições do grupo. Assim cada um será levado a refletir sobre si mesmo, fazendo reacender o brilho interior do adolescente, mexendo com sua a criatividade e as suas emoções, levando-os a refletir sobre o símbolo, percebendo valor em “si mesmo” a autorrealização do “Self”.

“Caminhos de transformação que se configuram em processos. Processos de maturidade que possuem identidade (psique) e forma (matéria). Processos que se transmutam e se transformam a partir das experiências vividas, e que aprendem com elas. Aprendizado que permite, a cada novo momento, a cada novo desafio, fazer novas – ou velhas – escolhas. Todo este processo que possui psique e matéria permanece registrado no consciente e no inconsciente, material e imaterial do individuo que cria e recria o seu caminhar. Criando e recriando identidade e forma, o sujeito vai transformando sua história psíquica e material.” (Philippini, 2007, p.22)

Proposta III:

Após a atividade acima iniciamos a dinâmica “identidade”, propiciando ao adolescente a reflexão sobre si mesmo. Solicitei que cada participante iniciasse o seu desenho, proferindo palavras que façam o indivíduo refletir como ele se vê, ao som de uma música instrumental no fundo. Cada participante, ao pegar a folha, realiza um desenho de como ele se vê. Desposemos os trabalhos sobre a mesa, e todo mundo contempla os trabalhos realizados. O arteterapeuta pede que voltem a formar o círculo e pergunta: “Quem quer falar sobre o que sentiu somente realizando o seu desenho, que imagem ele faz de si mesmo? Ao termino desta etapa iniciamos a atividade com o falso vitral. Os vidrais nos remetem a uma metáfora vital da vida, fazem um paralelo às “cores da vida”. Continuei trabalhando com eles o tema

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identidade: “como eu me vejo?”. Através do uso porta-retratos de MDF, criando um espaço interno, para que cada um percebesse e elabolarasse dentro de si a sua auto-imagem. Utilizei com eles a técnica de pintura de falso vitral: jogando cola cascorez na peça e espalhando com pincel, depois molhando o palito de churrasco no verniz vitral colorido, pingando a tinta sobre a peça, formando figuras. Deixando o verniz vitral fluir livremente.

“Concluindo: as cores enquanto expressão de cultura, de uma época, funcionam como um suporte simbólico da energia arquetípica coletiva. E enquanto expressão da realidade individual, constelam e transformam símbolos em níveis pessoais e singulares. (Philippini, 2007, p.69)”

As cores saltam nos trabalhos e falam por si mesmas. Revelam quem somos, traduzem um pouco de nós mesmos, aquilo que se sente como mais internalizado e real em “si mesmo” e a transparência do verniz vitral se expandindo, fazendo uma alusão o crescimento físico, mental, psíquico, social, cultural de cada um desses adolescentes, mostrando-se sem medo com transparência suas emoções fragilidades, medos, sonhos. Cada um desses adolescentes tornam-se capazes de resolver seus conflitos internos, através da expressão artística, elaborando dentro de “si” seus sentimentos, o que é algo muito particular e faz parte de um processo.

Proposta IV

“As linhas são testemunhas da investigação, das experimentações das dúvidas e certezas, da forma de pensar de um indivíduo.” (Picasso)

Desde os tempos do homem primitivo o ser humano se utiliza da linha,

que podem ser observadas nas pinturas rupestres, as figuras gravadas na

rocha, gravados em utensílios de cerâmica. A linha como forma de

expressividade, pode ser geométrica ou livre O indivíduo é direcionado a

movimentar-se de forma espontânea e livre pelo mundo das linhas. A linha

pode unir, limitar, expressar movimento, ritmo. Ela serve para expressar algum

tipo de mensagem. A linha esteve presente de diferentes formas na historia da

arte, a linha nos emite diferentes tipos de sensações.

“A análise das linhas, como trajetórias de um ponto a outro, ou como elementos demarcadores e limitadores, indica o

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tipo de personalidade que se exprime por seu intermédio, podendo, por suas características de rapidez lentidão, ou palidez no traço, indicar sensações de nervosismo, tradicionalismo, religiosidade e rigidez, apontando e evidenciando a estrutura de personalidade emergente.” (URRUTGARAY, 2011, p.145)

Pedi para o grupo se organizar numa fila indiana circular e sugeri a

cada um para que, tocasse as costas do indivíduo da frente fazendo

movimentos de linhas com as mãos, percebendo os movimentos que faz e os

que recebem. Após esta atividade iniciamos o ditado corporal de linhas, o

grupo irá propor soluções para compor as mesmas de forma livre,

expressando-se através da linguagem corporal.

1ª- Uma linha reta;

2ª- Linhas interruptas;

3ª- A linha que forma o círculo;

4ª- A linha que forma o 8;

5ª- Uma linha ondulatória;

6ª- Várias linhas que se cruzem e

7ª- Um círculo interrupto.

Atividade realizada ao som da música clássica: “Amanhecer”, de Peer

Gynt. A peça Peer Gynt com trilha musical de Edvard Grieg conta a história do

inquieto sonhador que vaga pelo mundo em busca da perfeição sem perceber

que ela o esperava o tempo todo em casa, na pessoa da camponesa Solveig.

Cada um foi convidado a fazer um passeio poético na linha, criando o

imaginário, se comunicando com os seus sentimentos, e sonhos podendo por

meio dele, buscar novas formas e veículos por meio dos quais possa expressar

seus sentimentos e ressentimentos, visualmente, dando realidade a suas

emoções mais profundas. A linha é uma forma de expressão e podem

expressar emoções e sensações. A linha sempre conota um conceito

fronteiras. A linha é a comunicação do limite entre o real e o imaginário, entre

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uma forma, mas, com outra realidade, um espaço e outro. A partir do ditado de

linhas e da sensação dos movimentos das mesmas, cada um foi convidado a

realizar uma composição visual tendo-as como base, expressando sentimentos

ou ressentimentos despertados na atividade. Foram oferecidos os seguintes

materiais para que cada um realiza-se a sua pintura: tinta auto-relevo preto e

grafite, verniz vitral de cores diversas. Após trabalharem individualmente em

suas composições, os adolescentes dedicarão um tempo para explorarem os

significados simbólicos de sua arte.

As linhas fazem alusão ao ponto de partida da vida, o vai e vem das

emoções do dia-a-dia, é o caminhar da estrada da vida, as linhas podem dividir

o fazer e o realizar, o concreto e o imaginário.

“Os principais objetivos da pintura encontram-se em poder experimentar seus afetos e poder conhecê-los melhor, aumentando o conhecimento de si mesmo.” (URRUTGARAY, 2011, p.64)

Cada um adolescente será é levado a refletir sobre os seus trabalhos, percebendo em sua arte “si mesmo”, e as manifestações resultantes da interação mão\gesto\instrumento. Pois uma linha pode ter diversos significados de acordo com a sua forma, a espessura, a intensidade, a duração, a dimensão, o ritmo, a tensão, a tipologia. É impressionante notar como cada um expressa a linha de um jeito diferente: calma, curta, comprida, ondulada, reta, grossa, fina, espiral e outras. Os movimentos das linhas o como expressão das mãos traz possibilidades incríveis de criação, unindo a estética da sua arte e a da sua própria história de vida. Através dos seus sentimentos expressos nos gestos por intermédio das linhas, nas cores e formas cada individuo levado a refletir sobre si mesmo, sendo estimulado a percebe-se capaz, explorando uma projeção positiva extraindo todo o simbolismo expressos em seus trabalhos.

“O ato de criar, a aparente descoberta do criar de cada um é só o momento no qual as coisas que dormiam em nosso íntimo vêm à tona, sobem à superfície, a um nível racional.” (Orietta Del Sole)

Nós podemos assim perceber, que a arte não é mero instrumento, mas um canal para ativar a imaginação e a criatividade, é uma forma de comunicação, uma maneira promover e valorizar o ser humano em todas as suas potencialidades, considerando o homem em “si próprio”. Para que

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através das expressões plásticas, cada um materialize seus conflitos por intermédio do concreto, em uma atmosfera lúdica. Cabendo assim ao arteterapeuta o papel de mediador. Nesse momento ele tem a função de um facilitador de todo um processo de expressão e de expansão de sentimentos, competindo a ele a sensibilidade para acolher as imagens simbólicas expressados espontaneamente por eles e utilizá-las para refletir a respeito de “si mesmo”, pois essas imagens falam sobre sua vida e são repletos de sentimentos e emoções; que representam a expressão da energia psíquica liberada pelo inconsciente. Criando condições para que estas imagens do inconsciente encontrem um significado e que cada um deles crie condições de articularem e reorganizarem as relações com “si mesmo” e com os outros. Criando condições para que o adolescente explore, reflita, se permita sem medo o realizar,o fazer, o tocar, gerando a sensação de autoconfiança.

A criatividade manifesta nas produções artísticas traz características simbólicas, as quais viabilizam meios de pesquisas artísticas simbólicas, as quais viabilizam meios de pesquisas apropriados à integração dos aspectos qualitativo e valorativo presentes na atuação humana. Por meio das produções criadas, podemos vincular as dimensões intuitivas e emocionais às formulações literais, abstratas e impessoais presentes e enfatizadas nas propostas empíricas. (URRUTGARAY, 2011, p.19)

A arte traz o despertar das emoções, traz o novo em nossa vida, ela

revela um mundo, cheio de cores, de formas, de vida. A arte concretiza os anseios das necessidades interiores, sem veladuras, melhorando a qualidade da relação entre o adolescente, na maneira como lida com as emoções, conquistando novos sentimentos em relação a “si mesmo”, a sua família e com as pessoas de sua convivência.

“Em todas as matérias com que o homem lida se fará sentir sua ação simbólica. Em todas as linguagens, ao articular uma matéria, o homem deixa sua marca, simboliza e indaga, movido por sua pergunta ulterior, que é pelo sentido de viver. Rearticulada, a matéria retorna ao homem. Na forma configurada, cada pergunta encerra uma resposta. Faiga Ostrower

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CONCLUSÃO

“A própria apreciação do sujeito do seu desenvolvimento efetuando, durante o seu processo de trabalho, e a constatação de suas destrezas motoras e cognitivas diante das tarefas realizadas o capacitam inteiramente na promoção e valorização de sua estima.” (URRUTGARAY, 2011, p. 55)

A arte traz algo novo e nos faz olhar para dentro de ”si mesmo”. A arte faz pensar, refletir. Ela é o reflexo de nós mesmos. Ela liberta fazendo com o individuo externalize suas emoções, desejos, conflitos, medos, memórias e potencialidades reprimidos. Ela é o reflexo de quem somos, pesamos e cremos. A arte revela um pouco de nós mesmos e oferece a os outros o privilégio e a oportunidade de sentir o que nós sentimos. A arteterapia é mais uma alternativa que vem ajudar os adolescentes com baixa auto-estima, promovendo o retorno a “si mesmo”. Ela nos traz a busca de novas possibilidades, fazendo com que estes se reconheçam na sua capacidade criativa, percebendo e valorizando as suas potencialidades. A aplicabilidade das artes plásticas proporciona extravasamento das emoções e a possibilita autoconhecimento, reforçando a auto-estima. Favorecendo as mudanças, descobertas, transformações, construindo e reconstruindo a caminhada da sua própria história pessoal, tornando-se agente transformador da sua realidade, fazendo-os enfrentar seus bloqueios emocionais, organizando seus conteúdos internos externos, sua nova imagem corporal, caminhando para o auto-conhecimento e o enfrentamento de seus bloqueios emocionais.

"Arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade, criatividade, é vida" (Jung, 1920).

Ver-se e perceber-se através da arte, é uma oportunidade única e muito especial. As reflexões e propostas ocorridas por meio das oficinas criativas, trouxeram a cada adolescente a melhoria da qualidade de vida. Trabalhar com a vida dos próprios adolescentes por intermédio da fluidez, propiciada pela pintura, acarretou em muitas mudanças, pois por meio da fluidez da pintura deixavam que suas emoções mais íntimas fluíssem, sem medo. A reflexão sobre suas expectativas, crenças e valores próprios através das dinâmicas e dos seus trabalhos artísticos, os levaram a um caminho de intensa mobilização emocional. Pude observar através dos encontros com os adolescentes nas oficinas criativas, o que foi uma experiência singular, como cada adolescente há seu tempo, conseguiu sentir e perceber o seu valor, como a proposta de

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trabalho se viram e se sentiram estimulados, mais seguros, possibilitando uma maior integração de sua personalidade, gerando, auto-confiança. Cada um deles tiveram a auto-estima estimulada e foram convidados a entrar em contado com “si mesmo”, afetando positivamente todos os aspectos de sua vida, vivenciando um processo crescimento, acarretando na percepção do seu valor. E não supervalorizar o negativo, provocando em cada um a sensação de prazer, tornando visível o invisível. Através do processo criativo cada adolescente foi convidado expressar e extravasar suas emoções desbloqueando sentimentos reprimidos. Cada foi estimulado a encontrar em si mesmo forças para superar dificuldades em sua vida, ajudando-os a equilibrar seus valores, estruturando seus sentimos e emoções, com suas próprias mãos, através da arte. Propiciando a todos, uma visão mais positiva, valorizando o colorido da vida, e se construindo a partir de novas alternativas, focando no que cada um prioriza e sonha construir. Deixando que cada um se permita demonstrar a sua individualidade, suas emoções sem medo da frustração, se permitindo errar e aprendendo com os erros. A partir da possibilidade de criar e tornar o imaginário concreto e real, criando e realizando o novo, criando uma nova história. Respeitando as formas e as peculiares de cada um. A cada momento, a cada dia, temos a possibilidade de construirmos e reconstruirmos a nossa história de vida. A partir dos nossos encontros, cada um foi estimulado a perceber a “si mesmo”, se respeitado, se amado, se valorizado sendo encorajado a confiar em “si mesmo”. Através dos diversos recursos plásticos, partindo de um novo enfoque, o pensamento é direcionado para o positivo mostrando que cada tem potencialidades e poderá ser capaz criar e re-criar o rumo de sua vida. Sendo capaz de perceber o seu valor, de respeitar-se e valorizar-se, aprendendo a gostar de “si mesmo”.

“Quando atingimos uma visão mais límpida percebemos que, nossa alma é uma pintura eterna, a qual faz parte da sinfonia que existe além do tempo e da mente, que soa somente através de você.” (Áureo Corra)

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BELLO, Susan. Pintando sua Alma: um método de desenvolvimento da

personalidade criativa. 3ª ed., Rio de Janeiro: Wak Editora, 2007.

COLAGRANDE, Cláudia. Arteterapia na prática: diálogos com a Arte-

Educação. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2010.

ROCHA, Dina Lúcia Chaves. Brincando com a criatividade: contribuições

teóricas e práticas na Arteterapia e na Educação. Rio de Janeiro: Wak Editora,

2009.

BARREIRA, Márcia e BRASIL, Naila: Arteterapia e a história da Arte Rio de

Janeiro: Wak Editora, 2012.

BRANDEN, Nathanael. Auto-estima. Como aprender a gostar de si mesmo. 10.

ed. São Paulo: Saraiva, 1993. Wak Editora, 2007.

PHILIPPINI, Ângela: LINGUAGUEM DOS MATERIAIS EXPRESSIVOS EM ARTETERAPIA: Uso, Indicações e Propriedades. 5Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009. URRUTIGARAY, Maria Cristina: Arteterapia: Transformação pessoal pelas imagens. 5ª ed Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011. ABERASTURY, Arminda; KNOBEL, Mauricio. Adolescência Normal. São

Paulo: Artmed, 1981.

PHILIPPINI, Ângela. ARTE TERAPIA: Métodos, Projetos, e Processos. Wak Editora, 2009

CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain: DICIONÁRIO DE SÍMBOLOS. Mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. 18ª. Edição , Editora:José Olympio, 2003. CALLIGARIS, Contardo. A adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000. 81 p.; (Folha explica).

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OZZELA, Sérgio. Adolescência: uma perspectiva crítica. Em: Adolescência e psicologia – Concepções, práticas e reflexões críticas. Coordenação Maria de Lourdes Jeffery Contini; organização Sílvia Helena Koller. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Psicologia, 2002.

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ANEXO: Trabalhos realizados pelos adolescentes do “PROJETO SEMEANDO VIDAS” desenvolvido pela Fundação Children Asking, no Município de São Gonçalo.

“Os espelhos são usados para ver o rosto; a arte para ver

a alma.” George Bernard Shaw

Figura 2 – Luz e cores de nós mesmos...

Figura 3 - Luz e cores de nós mesmos...

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Figura 4 - Luz e cores de nós mesmos...

Figura 5 - Luz e cores de nós mesmos...

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Figura 6 – Deixando sua luz brilhar ...

Figura 7 – Deixando sua luz brilhar ...

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Figura 8 – Deixando sua luz brilhar ...

Figura 9 – Deixando sua luz brilhar ...

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Figura 10 – Deixando sua luz brilhar ...

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Figura 11 – “Identidade...”

Figura 12 – “Identidade...”

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Figura 13 – “Identidade...”

Figura 14 – “Identidade...”

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Figura 14 – “Identidade...”

Figura 15 – “Identidade...”

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Figura 16 – “Identidade...”

Figura 17 – “Identidade...”

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Figura 18 – “Identidade...”

Figura 19 – “O passeio poético da linha”...

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Figura 20 – “O passeio poético da linha”...

Figura 21 – “O passeio poético da linha”...

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Figura 22 – “O passeio poético da linha”...

Figura 23 – “O passeio poético da linha”...

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Figura 24 – “O passeio poético da linha”...

Figura 25 – “O passeio poético da linha”...

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Figura 26 – “O passeio poético da linha”...

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

SUMÁRIO 06

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A Adolescência: Em busca da identidade. 11

CAPÍTULO II - A Arteterapia: Um instrumento para a auto-estima e a auto-

valorização. 16

CAPÍTULO III – Mudando o olhar sobre si mesmo através da arte. 23

CONCLUSÃO 36

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 38 ANEXO: 40

As Atividades Arteterapêuticas:Trabalhos realizados pelos adolescentes do “PROJETO SEMEANDO VIDAS” desenvolvido pela Fundação Children Asking, no Município de São Gonçalo. ÍNDICE 54