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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A PSICOMOTRICIDADE INTERVINDO NO TRATAMENTO DA DEPRESSÃO DO IDOSO Por: Rosangela Nunes Campos Orientador Profa. Me. Fátima Alves Rio de Janeiro 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA

A PSICOMOTRICIDADE INTERVINDO NO TRATAMENTO DA DEPRESSÃO

DO IDOSO

Por: Rosangela Nunes Campos

Orientador

Profa. Me. Fátima Alves

Rio de Janeiro 2014

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA

A PSICOMOTRICIDADE INTERVINDO NO TRATAMENTO DA DEPRESSÃO DO

IDOSO

Apresentação de monografia à AVM

Faculdade Integrada como requisito parcial

para obtenção do grau de especialista em

Psicomotricidade.

Por: Rosangela Nunes Campos

Rio de Janeiro, RJ

2014

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por mais essa oportunidade.

Aos meus pais pelo exemplo de vida.

Ao meu filho Igor pela força.

Aos professores da UCAM e a minha orientadora Fátima

Alves pelos conhecimentos transmitidos, permitindo meu

crescimento intelectual.

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DEDICATÓRIA

Dedico este estudo á estas pessoas de grande

dimensão existencial que deixam suas

pegadas, sua sabedoria e seus ensinamentos

por onde quer que passem; os idosos.

Aos meus filhos Gabriel e Igor, ao meu esposo

Wellinton, pelo apoio, por estarem ao meu

lado em todos os momentos difíceis e

importantes da minha vida, caminhando e

ajudando-me a superar as diversidades.

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RESUMO

Este trabalho apresenta itens como depressão e ação natural do tempo no corpo,

refletindo sobre esses aspectos do mundo moderno e tem como objetivo marcar a

abordagem da psicomotricidade com a clientela de idoso, analisando o fenômeno de

envelhecimento, do ponto de vista, físico, psico e social. É fundamental que o idoso

aprenda a lidar com as transformações de seu corpo e tire proveito de sua condição,

prevenindo e mantendo sua autonomia. A psicomotricidade através da ressocialização e

reeducações psicomotoras proporciona ao idoso a redescoberta de valores, sentimentos,

conhecimento de si e capacidades que julgavam estar extintas.

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METODOLOGIA

Este trabalho será construído através de referências bibliográficas, analisando e

comparando alguns conceitos básicos e teóricos importantes. A leitura da bibliografia

básica será feita para fortalecer e auxiliar a linha de pensamento. Demarcar a

importância da psicomotricidade na clientela do idoso com a finalidade de desenvolver

e adequar seu equilíbrio biopsicossocial será uma das formas de alcançar os objetivos

deste estudo.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 8

CAPÍTULO I ................................................................................................................ 10

Terceira idade e transformação corporal ............................................................... 10

CAPÍTULO II ............................................................................................................... 16

Depressão, a doença do século XXI ......................................................................... 16

CAPITULO III ............................................................................................................. 25

Psicomotricidade para envelhecer bem .................................................................. 25

CONCLUSÃO ............................................................................................................... 31

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 32

ÍNDICE .......................................................................................................................... 34

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INTRODUÇÃO

“Velho amigo não chore / Pra que chorar / Por alguém te chamar de

velho / Não decola, não esquente a cachola [...] Eu não perco a

estribeira / Levo na brincadeira / Saber envelhecer é uma arte / Isso

eu sei, modéstia à parte.” Adoniran Barbosa1

O sambista Adoniran Barbosa já cantava “saber envelhecer é uma arte”. A

mudança no corpo com o passar do tempo é clara. Desde o nascimento o ciclo natural

da vida é o de crescer e ir ganhando massa, neurônios, vitaminas e minerais que

auxiliam no metabolismo do corpo, além da energia que dispomos para viver; e tudo

isso vai sendo gasto e consequentemente chega o momento em que há a necessidade de

reposição de hormônios, de cálcio, colágeno e muitas outras coisas.

A contemporaneidade vem exigindo cada vez mais a atividade na terceira idade.

O mundo anda acelerado e exige que os idosos estejam cada vez mais independentes,

porém sabemos que em muitos casos e relacionando-se a idade, o corpo, a locomoção e

etc, não são mais os mesmos. Há a necessidade de se pensar em trabalhos corporais e

psicológicos, de modo que se conscientize, para como citamos no início desta

introdução, “saber envelhecer”.

A depressão vem sendo considerada a doença do século XXI, pois atinge

silenciosamente e nos idosos aparecem de forma gradual dificultando o diagnostico.

Depressão é condição clínica frequente no idoso. Estudos

epidemiológicos indicam taxas de prevalência que variam de 1 a 16%

entre idosos vivendo na comunidade. Em indivíduos portadores de

doenças clínicas essas taxas são ainda mais elevadas. Por exemplo, até

45% dos pacientes com doença coronariana apresentam sintomas

depressivos graves. Taxas semelhantes são descritas em associação

com uma série de doenças clínicas típicas do idoso, como doença de

Parkinson, doença cerebrovascular e doença de Alzheimer. Apesar

disso, a presença de sintomas depressivos é apenas ocasionalmente

reconhecida pelo paciente e profissionais de saúde, causando

sofrimento desnecessário àqueles que não recebem tratamento,

1 Fonte: http://letras.mus.br/adoniran-barbosa/1299584/

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dificuldades para os familiares do paciente, e elevado custo

econômico à sociedade.2

Por isso há a necessidade de dois momentos distintos: saber as características da

depressão e derrubar o tabu que ainda a cobre, desvelando assim os preconceitos

entorno dessa doença e o já citado, envelhecer com qualidade de vida.

A psicomotricidade pode ser definida como algo que “...envolve toda ação

realizada pelo indivíduo; é a integração entre o psiquismo e a motricidade, buscando um

desenvolvimento global, focando os aspectos afetivos, motores e cognitivos, levando o

indivíduo à tomada de consciência do seu corpo por meio do movimento.3 Pensar no

conhecimento do corpo é refletir sobre suas mudanças e maneiras de adaptarem-se as

necessidades do tempo, relacionando assim a tarefa da ação física (material) com a ação

psíquica (mental).

A partir desses pensamentos o presente estudo visa questionar como a

psicomotricidade pode intervir positivamente no tratamento da depressão promovendo

bem-estar ao idoso. Deve haver uma busca por medidas socioeducativas e sócio-

preventivas que auxiliarão nessa fase a ter uma melhor qualidade de vida, mas como

estimular a autoconfiança e autoestima do idoso, de maneira a incentivar o

enfrentamento de certas limitações físicas? Ou até mesmo promover socialização,

vivências lúdicas, que possibilitem à adaptação as mudanças que a idade acarreta? É

uma análise da psicomotricidade, suas conceituações e aplicações, para que possamos

ver essa ferramenta agindo de modo a nos responder e esclarecer todos esses

questionamentos.

2 Fonte: http://www.scielo.br/pdf/anp/v57n2B/1446.pdf 3 Fonte: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/comportamento/0116.html

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10

CAPÍTULO I

Terceira idade e transformação corporal

“Envelhecer é a novidade como uma crônica anunciada.

Todos nós sabemos que vai acontecer, mas sempre surpreende

quando nos chamam de ‘senhor’ ou ‘senhora’ pela primeira vez.

E a surpresa prossegue por espasmos, voltando a nos

sobressaltar a cada nova revelação: rugas, dores, limitações.

Sinais da nossa resistência ao seu convívio.” 4

No ano de 2013 os novos dados do IBGE fomentaram diversas notícias, pois

evidenciavam o que já era visto pelos últimos sensos, que o número de brasileiros acima

dos 65 anos deve quadruplicar até 2060.5 “Segundo o órgão, a população com essa faixa

etária deve passar de 14,9 milhões (7,4% do total), em 2013, para 58,4 milhões (26,7%

do total), em 2060.” De acordo com publicação da Secretaria De Direitos Humanos:

“Uma das maiores conquistas culturais de um povo em seu processo de humanização é

o envelhecimento de sua população, refletindo uma melhoria das condições de vida.”6

Quando se observa essa mudança na estrutura etária de um país, leva-se em conta que o

processo de envelhecimento é uma novidade, em um país até então, visto como jovem e

que exporta sua imagem de jovialidade e belezas esculpidas por muita malhação ou

plásticas.

Envelhecer não é visto como um processo positivo, pois muitas vezes ele aponta

que existe e que há um fim. Evento que “provoca ansiedade, angústia e até mais do que

isso. É preciso dar conta desta incômoda realidade da qual só escaparão os que

escaparem antes que ela os atinja” (ARRUDA, A., 2012).

Esse evento natural de envelhecimento é um processo que afeta o desempenho

físico e a interação do homem com o meio ambiente fica limitada. A função muscular é

uma dessas funções prejudicadas pelo avanço da idade, e de fácil observação, sua

4 TURA, L. F. R; SILVA, A. O. (Org.). Envelhecimento e Representações Sociais. Rio de Janeiro: Quartet: Faperj, 2012.

5 Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/08/130829_demografia_ibge_populacao_brasil_lgb Acessado em: 13/12/2014, às 18:00

6 Fonte: http://www.sdh.gov.br/assuntos/pessoa-idosa/dados-estatisticos/DadossobreoenvelhecimentonoBrasil.pdf Acessado em: 10/12/2014, às 21:11

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11 diminuição afeta a qualidade de vida dos idosos, pois os leva a ser dependentes de

outrem por encontrarem dificuldades na realização de suas atividades cotidianas.

(POWERS; HOWLEY, 2000). Deve-se observar todo o contexto em que este idoso está

inserido, para além de unicamente a idade, visando os fatores genéticos, enfermidade,

aspectos sociais e assistenciais em que o mesmo vive, assim como hábitos tóxicos.

É importante que sejam observados os aspectos, biológico, o psicológico e o

social, para entendermos melhor as questões relacionadas ao idoso.

a) Aspecto Biológico

“A idade biológica é definida pelas modificações corporais

e mentais que ocorrem ao longo do processo de

desenvolvimento e caracterizam o processo de envelhecimento

humano, que pode ser compreendido como um processo que se

inicia antes do nascimento do individuo e se estende por toda a

existência humana.” (OLIVEIRA, 1999).

A autora apresenta ainda, que sob a ótica biológica, a debilidade física pode ser

considerada de duas maneiras: a senescência e a senilidade. A primeira7, segundo o

dicionário, é o envelhecimento dos tecidos do organismo (envelhecimento celular),

enquanto a segunda8 é definida como: “1. Enfraquecimento determinado pela velhice; 2.

Decrepitude”.

O envelhecimento visto como algo biologicamente normal demonstra três estágios

que os seres humanos passam, desde o nascimento até a morte: o progresso, a

estabilização e a regressão; o primeiro é a época de da juventude, de evolução e

desenvolvimento; no segundo, a idade adulta, o equilíbrio; e por último a velhice. 9 O

corpo passa por transformações constantes, e a terceira idade é uma a mais dessa

experiência vital, segundo consideração da psicologia do desenvolvimento. Desde seu

7 "Senescência", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/DLPO/Senesc%C3%AAncia [consultado em 22-12-2014].

8 "Senilidade", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/Senilidade [consultado em 22-12-2014].

9 HADDAD, Eneida. A ideologia da velhice. São Paulo, Cortez, 1986. p.25. In: OLIVEIRA, Rita de Cássia da Silva. Terceira Idade: do repensar dos limites aos sonhos possíveis. São Paulo: Paulinas, 1999.

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12 nascimento até a morte, o desenvolvimento humano não cessa “variando, em cada

etapa, os tipos e as manifestações e as reações individuais e sociais” (MORAGAS,

1997). O corpo sofre complexas e progressivas alterações em seu aspecto biológico,

com o passar dos anos e principalmente ao ingressar na terceira idade, como:

[...] na composição celular, na estrutura e função dos

tecidos, no endurecimento do sistema neuromuscular, na

redução da capacidade do sistema orgânico.

Assim, o envelhecimento inicia-se por um processo de

mutações biológicas, em que o desgaste físico, fruto de anos, é

bem acentuado. (OLIVEIRA, 1999)

A autora destaca perspectivas profundas que são claramente vistas com o passar

dos anos. Muitas vezes as pessoas passam a relacionar esses aspectos biológicos como

“algo de velho”, palavra que remete a um tom pejorativo, algo antigo, improdutivo.

Muitos preferem adotar a expressão “idoso” que suaviza a sua conotação. A adoção do

“termo ‘terceira idade’ foi proposto para esse estágio da vida pelo francês Huet, na

revista Informations Sociales (1962), que dedicava o número aos aposentados, e logo

ganhou aceitação geral e adeptos, na medida em que se refere às pessoas idosas sem

menosprezá-las.” (STEGLICH, 1992. apud. OLIVEIRA, 1999).

b) Aspectos psicológicos

“Para envelhecer-se dignamente, é necessário, aceitar essa nova fase da vida.”

Rita de Cássia da Silva Oliveira (1999)

“A idade psicológica pode também ser definida pelos

padrões de comportamento adquiridos e manti-dos ao longo da

vida e tem uma influência direta na forma como as pessoas

envelhecem. O envelhecimento é resultado de uma construção

que o indivíduo fez durante toda a vida. A auto-eficácia, que é a

crença do indivíduo na capacidade de exercer controle sobre a

própria vida, está relacionada às escolhas pessoais de

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comportamento durante o processo de envelhecimento e à

preparação para a aposentadoria.” (SCHNEIDER e IRIGARAY,

2008)10

Constantemente, por causa de uma cultura salientada na juventude, não

valorizamos os projetos e idealizações advindas da maturidade do idoso e com assim

sufocamos essa experiência de vida, tudo isso relacionado à nossa incapacidade de nos

vislumbrar velhos um dia. “Recusamos-nos a nos reconhecer no velho que seremos”.

(BEAUVOIR, 1970, p. 10). A autora demonstra que por mais que passem os anos

visivelmente, são poucos os que conseguem conciliar a condição que se encontrará ou

se encontra, tanto física quanto mentalmente.

[...] paremos de trapacear; o sentido de nossa vida está em

questão no futuro que nos espera; não sabemos quem somos, se

ignorarmos quem seremos: aquele velho, aquela velha,

reconheçamo-nos neles. (BEAUVOIR, 1970, p. 12).

Segundo Neri (2001a)11, a idade psicológica pode ser definida como “a maneira como

cada indivíduo avalia em si mesmo a presença ou a ausência de marcadores biológicos,

sociais e psicológicos da idade, com base em mecanismos de comparação social

mediados por normas etárias”

c) Aspecto Social

O envelhecimento deve ser encarado como um processo

natural e não como uma doença terminal. À medida que o

processo de envelhecimento avança, o corpo se torna mais

vulnerável. Aos poucos, surgem as doenças como sintomas ou

resultados desse processo, culminando com a morte sem aviso

prévio. Aquele idoso que não conservou sua utilidade como

10 Fonte: http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v25n4/a13v25n4.pdf, acessado em: 20/12/2014, às 10:20. 11 Neri, A. L. (2001a). O fruto dá sementes: processos de amadurecimento e envelhecimento. In A. L. Neri (Org.), Maturidade e velhice: trajetórias individuais e socioculturais (pp.11-52). Campinas: Papirus.

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pessoa na família e no espaço social sente a morte cada vez mais

próxima e, aos poucos, aniquila-se e autodestrói-se apenas com

o medo da ideia. (OLIVEIRA, 1999)

A terceira idade não é o problema em si, mas a maneira que é encarada.

Ainda muito se diz sobre o “começo” dela. Muitas vezes ouvimos idosos que

dizem “ter 70 com cabeça de 30” ou o famoso “velho, mas com espírito jovem”.

Classificar o início da terceira idade é muito relativo, assim como muito subjetivo para

quem o define. Em geral, temos o costume de classificar, por causa da legislação, o

marco de 65 anos de idade. “Em sua obra Corporeidade e terceira idade, Regina

Simões esclarece que a Organização Mundial da Saúde considera envelhecimento em

quatro estágios: Meia-idade: de 45 a 59 anos; idosos: de 60 a 74 anos; ancião: 75 a 90

anos e velhice extrema: de 90 em diante.” (SIMÕES, 1994, apud. OLIVEIRA, 1999).

Considerando esses três aspectos amplia-se a visão sobre questões referentes ao

envelhecimento. O processo natural sofrido pelo corpo humano passa por diversas

etapas ao longo dos anos, e é importante vislumbrarmos que precisa-se observar esses

três itens ao longo das transformações. É um equilíbrio entre biológico, psicológico e

social, que poderá levar a uma vida mais saudável e com respeito ao próprio corpo.

Assegurar o bom envelhecimento é uma tarefa tanto do estado como da

sociedade que os circunda.

[...] nós envelheceremos um dia, se tivermos este

privilégio. Olhemos, portanto, para as pessoas idosas como nós

seremos no futuro. Reconheçamos que as pessoas idosas são

únicas, com necessidades e talentos e capacidades individuais, e

não um grupo homogêneo por causa da idade.

Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU12.

A fala do ex-secretário-geral da ONU retrata algo que já sabemos: a

consideração por cada idoso, olhando-o como um ser único e não como mais um dentro 12 Fonte: http://www.desenvolvimentosocial.sp.gov.br/a2sitebox/arquivos/documentos/biblioteca/publicacoes/volume6_Perspectiva_cultural.pdf (Acessado em 21/12/14 às 13h20min)

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15 de uma mesma cadeia de relação etária. Percebemos que a relação com a idade

influencia e muito em nossa caminhada natural da idade. Como vimos, o social, o

psicológico e o biológico são afetados com o passar dos anos e com isso há a

necessidade de integração maior e consequentemente, mais movimentação mental e

corporal para que o cérebro continue se exercitando e criando novas áreas de ação e

com isso o idoso não entre em ramificações mentais que o desestimule ou transforme

sua imagem de ser útil socialmente em algo, como dissemos, “velho”, parado.

As sensações e relações construídas com o passar dos anos são nossa maior

capacidade de fomentar nosso bem-estar na velhice. Construir nossas vidas e sabermos

envelhecer. Muitos idosos, como será abordado no próximo capítulo, não se relacionam

bem com sua idade, ou com sua condição atual e até mesmo, a sua própria indução

mental de que está “sendo um fardo socialmente”, o empurra para um caminho de

depressão e estagnação. Reportagens atuais mostram que “as pessoas com mais de 60

anos movimentam R$ 20 de cada R$ 100 gastos no país. E uma pesquisa mostra que o

maior investimento nessa faixa de idade é com as viagens e com a educação. Em muitos

casos os idosos sustentam a família e ainda ensinam uma lição: o melhor investimento

não é em ações e fundos, é na educação.”13 Os idosos tem movimentado muito a

economia, principalmente com a educação, mas porque ainda formam uma grande

camada dos que sofrem com a depressão?

13 Fonte: http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2014/04/idosos-movimentam-economia-com-investimentos-em-viagens-e-estudo.html (Acessado em: 23/12/14, às 13h40min).

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CAPÍTULO II

Depressão, a doença do século XXI

Neurastemia

Sinto hoje a alma cheia de tristeza!

Um sino dobra em mim Avé-Maria!

Lá fora, a chuva, brancas mãos esguias,

Faz na vidraça rendas de Veneza…

O vento desgrenhado chora e reza

Por alma dos que estão nas agonias!

E flocos de neve, aves brancas, frias,

Batem asas pela Natureza…

Chuva…tenho tristeza! Mas porquê?!

Vento…tenho saudades! Mas de quê?!

Ó neve que destino triste o nosso!

Ó chuva! Ó vento! Ó neve! Que tortura!

Gritem ao mundo inteiro esta amargura,

Digam isto que sinto que eu não posso!! ...

Florbela Espanca, in “Livro de Mágoas”

O que é

“Mais de 350 milhões de pessoas sofrem de depressão no

mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A

OMS define depressão como um transtorno mental comum,

caracterizado por tristeza, perda de interesse, ausência de prazer,

oscilações entre sentimentos de culpa e baixa autoestima, além

de distúrbios do sono ou do apetite. Também há a sensação de

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cansaço e falta de concentração.”14

O importante é distinguir aquele momento transitório de tristeza, provocado por

fatos difíceis e desagradáveis; acontecimentos que todas as pessoas passam, como o

falecimento de um ente querido, perder o emprego, as dificuldades econômicas, etc,

daquela tristeza patológica. Pessoas sem a doença, diante das adversidades, ficam

tristes, mas superam. A tristeza não cessa, quando há quadros de depressão, mesmo que

não se tenha uma causa aparente. “O humor permanece deprimido praticamente o tempo

todo, por dias e dias seguidos, e desaparece o interesse pelas atividades, que antes

davam satisfação e prazer.”15

A depressão não encontra idade, ela vem por condições físicas, sociais e/ou

psicológicas, como foi apresentado no capítulo anterior.

Depressão é condição clínica frequente no idoso. Estudos

epidemiológicos indicam taxas de prevalência que variam de 1 a

16% entre idosos vivendo na comunidade. Em indivíduos

portadores de doenças clínicas essas taxas são ainda mais

elevadas. Por exemplo, até 45% dos pacientes com doença

coronariana apresentam sintomas depressivos grave”

(ALMEIDA e ALMEIDA)16

Causas

A depressão é uma doença que pode ter longa duração ou ser recorrente; pode

levar ao suicídio, quando em sua forma mais grave. Os casos de depressão muitas vezes

necessitam de tratamentos com profissionais e/ou remédios, quando de sua forma

moderada ou grave. Casos leves de depressão podem ser tratados sem medicamentos.

De acordo com o Canal Saúde do Instituto Fiocruz: “A depressão é um distúrbio que

pode ser diagnosticado e tratado por não especialistas, segundo a OMS. Mas o

atendimento especializado é considerado fundamental. Quanto mais cedo começa o

14 Fonte: http://www.canal.fiocruz.br/destaque/index.php?id=722 (Acessado em: 23/12/14, às 14:23) 15 Fonte: http://drauziovarella.com.br/letras/d/depressao/ (Acessado em 03/01/15, às 14:42) 16 Fonte: http://www.scielo.br/pdf/anp/v57n2B/1446.pdf (Acessado em: 23/12/14, às 14:18)

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18 tratamento, melhores são os resultados.”17

O doutor Dráuzio Varella afirma que de acordo com estudos, “existem fatores

genéticos envolvidos nos casos de depressão”, a patologia “pode ser provocada por uma

disfunção bioquímica do cérebro”. Contudo, o modo de reação para cada indivíduo com

predisposição é diferente, mesmo diante de fatos considerados gatilhos para as crises.

“Mulheres parecem ser mais vulneráveis aos estados depressivos em virtude da

oscilação hormonal a que estão expostas principalmente no período fértil.”18

Sintomas

“Além do estado deprimido (sentir-se deprimido a maior parte

do tempo, quase todos os dias) e da anedonia (interesse e prazer

diminuídos para realizar a maioria das atividades) são sintomas

da depressão: 1) alteração de peso (perda ou ganho de peso não

intencional); 2) distúrbio de sono (insônia ou sonolência

excessiva, praticamente diárias); 3) problemas psicomotores

(agitação ou apatia psicomotora, quase todos os dias); 4) fadiga

ou perda de energia constante; 5) culpa excessiva (sentimento

permanente de culpa e inutilidade); 6) dificuldade de

concentração (habilidade diminuída para pensar ou concentrar-

se); 7) ideias suicidas (pensamentos recorrentes de suicídio ou

morte); 8) baixa autoestima, 9) alteração da libido.”19

Diversos são os sintomas dessa patologia, no entanto, no início, muitas vezes os sinais

da enfermidade podem não ser reconhecidos, principalmente em casos de depressão

leve. Entretanto, ao haver ideias ou possíveis referências a ideias de flagelação,

autodestruição ou suicídio, isto nunca deve ser desconsiderado.

Diagnóstico

A depressão tem seu diagnóstico clínico e deve ter como base o histórico de vida 17 Fonte: http://www.canal.fiocruz.br/destaque/index.php?id=722 (Acessado em: 23/12/14 às 15:15) 18 Fonte: http://drauziovarella.com.br/letras/d/depressao/ (Acessado em: 13/01/15 às 16:12) 19 Fonte: http://drauziovarella.com.br/letras/d/depressao/ (Acessado em: 04/01/15 às 21:10)

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19 do paciente e os sintomas descritos. Além do estado deprimido e da perda de interesse, é

comum observar se a pessoa apresenta pelo menos cinco dos sintomas supracitados.

“Como o estado depressivo pode ser um sintoma secundário a várias doenças, sempre é

importante estabelecer o diagnóstico diferencial.” 20

O professor José Alberto Del Porto, em seu artigo “Conceito e diagnóstico”,

escrito para a Revista Brasileira de Psiquiatria afirma que:

Deve-se ainda lembrar, no diagnóstico das depressões, que

algumas vezes o quadro mais típico pode ser mascarado por

queixas proeminentes de dor crônica (cefaleia, dores vagas no

tórax, abdome, ombros, região lombar, etc.). A ansiedade está

frequentemente associada. Em idosos, principalmente, as

queixas de caráter hipocondríaco costumam ser muito comuns.21

A Depressão nos Idosos

“Estou sozinha desde que o meu marido faleceu. O meu filho tem a sua vida no

estrangeiro. Reformei-me há quatro anos. Nos primeiros dois anos após a reforma

sentia-me muito bem e aliviada por não trabalhar. Mas nos últimos dois anos, sinto-me

‘velha’, esquecida das coisas, acho que já não estou cá a fazer nada.

Não tenho prazer nas coisas, deixei de gostar de sair, de falar com as minhas

amigas e já vejo pouca televisão.

Sinto-me só e inútil. Acho que estou a envelhecer depressa demais e estou a

tornar-me “um fardo” para o meu filho.

Acordo todos os dias por volta das 4 ou 5 da manhã e já não consigo dormir

mais. Todos os dias me parecem iguais, já nada tem interesse, há dias em que não faço a

comida nem tomo banho, tudo é um sacrifício. Por vezes passo o dia todo na cama.

Não choro porque sinto que já nem tenho lágrimas.

Já tenho pensado em matar-me mas não tenho coragem. Morrer seria um alívio,

já não estou cá a fazer nada.

Sinto uma sensação de peso na cabeça e um aperto no peito, uma angústia cá 20 Fonte: http://drauziovarella.com.br/letras/d/depressao/ (Acessado em: 10/01/2015 às 23:00) 21 Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-44461999000500003&script=sci_arttext (Acessado em 18/01/15 às 20:03)

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20 dentro. É um sofrimento muito grande, nada me interessa, sinto-me perdida. Não sei se

alguém me conseguirá ajudar.” Esse é o depoimento de Emília, 69 anos, reformada,

depois de ter sido empregada bancária durante 35 anos, ele compõe um área chamada

“Testemunhos” do site português “Saia do Escuro”22

O depoimento de Emília reflete o que acontece com diversos idosos. A depressão

se torna uma das doenças crônicas mais frequentes, e em consequência eleva assim a

probabilidade de desenvolver incapacidade funcional. (LIMA, COMERLATO, 2013)

As autoras ainda refletem que em muitos casos a patologia pode surgir devido a

perda de qualidade de vida; as causas de depressão no idoso são inúmeras, mas esta

ganha destaque pois muitas vezes vem em consonância com o isolamento social e o

surgimento de doenças graves. Outros sintomas comuns em paciente idosos são

“queixas somáticas, hipocondria, baixa autoestima, sentimento de inutilidade, humor

disfórico, tendência autodepreciativa, alteração do sono e do apetite, ideação paranoide

e pensamento recorrente de suicídio.”23 A depressão vem como um dos transtornos de

humor que apresenta uma prevalência de 4,8% a 14,6%, uma grande frequência para

idosos que vivem na comunidade e até 22% para os hospitalizados ou

institucionalizados.

Qualidade de vida pode e está relacionada a diversos fatores, estado emocional,

interação social, capacidade funcional, autoproteção de saúde e atividade intelectual.

(STELLA, 2002). Como já vimos, por diversas vezes o idoso não sente mais uma

“utilidade” em sua vida, há o senso comum e a falta de valorização do idoso. Cada vez

mais vemos a expectativa de vida e em consequência, como já foi demonstrado, há uma

crescente massa de idosos na sociedade. O texto-depoimento abordado mostra isso, o

período pós-trabalho, a conhecida aposentadoria, e o momento de entender o que é ou

qual será “minha vida agora”. Com o passar dos anos, os idosos em consequência das

condições físicas, muitas vezes não tem a mesma disposição e disponibilidade para os

serviços de antigamente. A ociosidade é um dos itens de grande prejuízo nesse

entremeio, pois é com ela que vem a perda de qualidade de vida.

O convívio social é um importante fator que auxilia nesse instante, são as

relações sociais que proporcionam qualidade de vida e longevidade. É evidente que a

22 Fonte: https://www.saiadoescuro.pt/testemunhos/43.htm (Acessado em 19/01/15 às 13:55) 23 Fonte: https://psicologado.com/psicologia-geral/desenvolvimento-humano/depressao-e-envelhecimento-estudo-em-participantes-do-projeto-conviver-em-laguna-carapa-ms (Acessado em: 19/01/15 às 10:42)

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21 ausência de convívio atrapalha o processo cognitivo geral. A falta desse contato tem

sido considerada tão danosa quanto doenças cardiovasculares ou vícios comuns como

álcool ou cigarro. As autoras ponderam que o convívio social pode ser benéfico a ponto

de melhorar a saúde, ao contrário dos que evitam ou não tem esse contato. (LIMA,

COMERLATO, 2013) As mudanças no comportamento social dos idosos podem estar

relacionadas às alterações fisiológicas e fisiopatológicas decorrentes do envelhecimento.

Em seu site, o doutor Dráuzio Varella apresenta algumas recomendações muito

pertinentes, como:

“Depressão é uma doença como qualquer outra. Não é

sinal de loucura, nem de preguiça nem de irresponsabilidade. Se

você anda desanimado, tristonho, e acha que a vida perdeu a

graça, procure assistência médica. O diagnóstico precoce é o

melhor caminho para colocar a vida nos eixos outra vez;

Depressão pode ocorrer em qualquer fase da vida: na

infância, adolescência, maturidade e velhice. Os sintomas

podem variar conforme o caso. Nas crianças, muitas vezes são

erroneamente atribuídos a características da personalidade e nos

idosos, ao desgaste próprio dos anos vividos;

A família dos portadores de depressão precisa manter-se

informada sobre a doença, suas características, sintomas e

riscos. É importante que ela ofereça um ponto de referência

para certos padrões, como a importância da alimentação

equilibrada, da higiene pessoal e da necessidade e importância

de interagir com outras pessoas. Afinal, trancafiar-se num quarto

às escuras, sem fazer nada nem falar com ninguém, está longe

de ser um bom caminho para superar a crise depressiva.”

O processo de identificação dessa patologia é muito importante, pois, por vezes,

é considerada, como visto acima, algo que é do momento da pessoa. Uma tristeza

comum, mas que se não for diagnosticada e tratada traz diversos problemas para o

paciente e para seu meio social. A esse exemplo, temos o filme, “Um novo despertar”:

“Walter Black encontra-se em depressão profunda. Sua esposa Meredith cansou e o

colocou para fora de casa, seu filho Porter o despreza e seu caçula Henry sofre

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22 isolamento na escola pela ausência do pai. Nada parece funcionar, não restam

esperanças, nem mesmo uma luz no fim do túnel. A solução seria dar fim a uma vida

sem sentido. No auge desse pensamento surge uma nova personalidade, o castor. Um

fantoche que iria jogar no lixo parece ganhar vida própria [...] Através do Castor, Walter

volta a viver, porém, o boneco jamais será ele e isso, claro, gera conflitos” 24

A professora de audiovisual Amanda Aouad faz um release do filme que vale a

pena transcrever na íntegra:

“Quem já viveu ou conviveu com a depressão sabe o quanto ela pode ser

devastadora. Uma doença que tira do ser humano o principal fator: a vontade de

reagir.

Esta questão está em vários detalhes desde o princípio do filme, quando Porter

é apresentado como o filho que tem horror ao pai e coleciona hábitos semelhantes a ele

que precisa mudar. Interessante perceber que estas semelhanças estão anotadas em post

its coloridos colocados em uma parte do quarto, enquanto na outra parte, Porter

coleciona cartazes e desenhos que os inspiram, todos em preto, sem nenhuma cor. Entre

essas duas coisas, o seu refúgio na parede onde bate a cabeça. Mas, a relação pai e

filho é literalmente posta em tela quando ambos se arrumam para um encontro com

suas ‘garotas’. Jodie Foster os coloca em ações iguais e divide a tela dando a sensação

de um espelho. E as informações do ciclo familiar são postas aos poucos, para que

montemos o quebra-cabeças daquela sina.

A depressão permeia a tela em imagens pontuais como uma goteira no teto que

mancha a cama, no programa de televisão que fala sobre fracasso, no clima familiar. E

tudo fica pior com aquela estranha atitude de conviver com um fantoche. É algo

ridículo, absurdo sem dúvidas. Ou embarcamos na loucura ou nada fará sentido. E

para Meredith e principalmente, para Porter, definitivamente não faz. Enquanto isso, o

pequeno Henry passa pelo processo oposto. Esquecido pelo pai e confundido pela mãe

que sempre passa por ele na escola sem reconhecer, acaba encontrando no Castor um

estímulo para uma vida melhor, até amigos ele passa a ter.

"Eu não sou um boneco", afirma o Castor. E realmente não é. O complexo

Castor é uma personalidade que comanda Walter em busca de esquecer o passado e

descobrir um novo caminho para sua vida. É possível perceber na expressão de Mel

24 Fonte: http://www.cinepipocacult.com.br/2011/05/um-novo-despertar.html (Acessado em 19/01/15 às 13:49)

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23 Gibson a diferença de Walter para o Castor. Não apenas no gesto de levantar ou

abaixar a mão esquerda, mas em cada expressão de seu rosto, corpo e forma de falar.

Nisso, o ator está esplêndido, realmente. Quando vai à televisão apresentar seu novo

invento, já que é presidente de uma indústria de brinquedos, acaba passando a

mensagem à sua família. ‘Loucura é fingir que sou feliz’, ele afirma. A indústria

embarca naquele jogo como se fosse apenas uma ação de marketing, tanto que os

programas enquadram o castor na tela, sem Walter, ele é o personagem que apresenta a

novidade. Para aqueles que acreditam ser apenas um personagem, o sucesso do

brinquedo de ferramentas é inofensivo, mas para a família é um caminho sem volta

para a total perda de sanidade daquele que um dia foi um homem por inteiro.

É um filme honesto sobre uma doença psíquica assustadora. Diante dela, nossos

entes queridos se tornam apenas um rascunho do que um dia foram. Jodie Foster, a

diretora do longa, consegue construir uma bela catarse que apenas os que nunca

presenciaram uma situação parecida podem achar fácil ou tola. Escolhas, epifanias e

reencontros de almas são o caminho necessário. Única forma de resgatar do fundo do

poço aquilo que aparentemente não tem mais jeito. Pode não ser a melhor coisa que vi

em tela nos últimos tempos, mas possui uma verdade ali. Os maiores pontos positivos

são a sensibilidade de sua diretora e a entrega dos três atores principais: Mel Gibson,

Anton Yelchin e Riley Thomas Stewart. Uma pena que preconceitos externos tenham

feito desta obra, um fracasso de bilheteria.” 25

Aparentemente esse filme ao descrever-se parece não casar com a proposta, mas

observando-o com mais atenção, vemos o que descrevemos até este ponto. O

deslocamento da atenção e das relações sociais quando da depressão extrema. É a

tentativa de fuga da realidade, que muitas vezes acaba no suicídio. Neste caso o

protagonista decide manifestar-se por seu alter ego, o castor. Na vida do idoso isso não é

diferente; a possibilidade de busca por algo novo é o que deve ser levado em

consideração, quando da necessidade do idoso encontrar novas formas de “viver”.

O tratamento da depressão nos idosos deve ser realizado com principal função

de reduzir o sofrimento psíquico, e em consequência diminuir o risco de suicídio. A

indústria farmacêutica disponibiliza diversos remédios para esse tratamento, que

também envolve psicoterapia. É promover melhor qualidade de vida para o idoso.

25 Fonte: http://www.cinepipocacult.com.br/2011/05/um-novo-despertar.html (Acessado em 20/01/2015 às 18:11)

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24 (STELLA, 2002).

Observamos o que é, as causas, sintomas, diagnósticos e todo o processo

depressivo nos idosos. O importante é observar como auxiliar e em que o esporte, o

corpo e o movimento, e nesse caso, a psicomotricidade podem auxiliar nesse

tratamento. “Há evidências de que a atividade física associada aos tratamentos

farmacológicos e psicoterápicos representa um recurso importante para reverter o

quadro de depressão.”26

26 Fonte: http://drauziovarella.com.br/letras/d/depressao/ (Acessado em 20/01/2015 às 13:43)

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25

CAPITULO III

Psicomotricidade para envelhecer bem

“Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o

homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu

mundo interno e externo. Está relacionada ao processo de

maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas,

afetivas e orgânicas. É sustentada por três conhecimentos

básicos: o movimento, o intelecto e o afeto.

Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para

uma concepção de movimento organizado e integrado, em

função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é

resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua

socialização.” (Associação Brasileira de Psicomotricidade)27

A psicomotricidade tornasse então um parceiro ideal para a construção de uma

vida saudável. Se tivermos como base desde a tenra infância, uma educação

psicomotora tende a tornar o indivíduo são de seu corpo e o idoso “a chegar à velhice de

forma mais compassada e tranquila”. (ALVES, 2013) Porém isso não desqualifica a

atuação da psicomotricidade em qualquer fase da vida. A aplicabilidade deste estudo

pode intensificar a educação e reeducação do indivíduo “desenvolvendo suas

necessidades por meio da aprendizagem das dominâncias motoras, dando oportunidade

a esse indivíduo de analisar suas condições e assim permitir que ele descubra como

comportar-se corporalmente. Com este aprendizado, o indivíduo terá maior

oportunidade de perceber como utilizar seu corpo por meio de movimentos, não

havendo desgastes psíquicos e motores. É a construção do conhecimento em qualquer

um, para um qualquer e cada um.” (ALVES, 2013)

Para se ter uma velhice “bem sucedida” devem ser consideradas algumas

condições principais, segundo Papaléo Netto (2002), são elas: o envolvimento com a

vida ativo, assim como um funcionamento mental e físico excelentes, além do risco de

doenças baixo e de incapacidades funcionais relacionadas às doenças.

27 Fonte: http://psicomotricidade.com.br/sobre/o-que-e-psicomotricidade/ Acessado em 24/01/2015 às 13:42

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26

O envelhecimento satisfatório vai depender de equilibrar as limitações e

potencialidades do idoso, isso lhe dará possibilidades de enfrentar, nesta a última fase da

vida, as perdas inevitáveis e de sua constante interação com o meio ambiente, de

maneira a facilitar sua adaptação às mudanças ocorridas em si próprias e no mundo que

o cerca. Nieman (1999) mostra que, muitos gerontólogos afirmam que a atividade física

regular é um ingrediente fundamental para um envelhecimento saudável na terceira

idade.

“O Projeto Gugu é um dos mais bem sucedidos programas de ginástica e

incentivo à qualidade de vida voltados para idosos.

Idealizado e comandado pelo patrono da FUNCAB, o médico ortopedista e

professor Carlos Augusto Bittencourt Silva, o Projeto Gugu começou em abril de 1995,

na Praia de Icaraí, em Niterói. Na ocasião, uma palestra sobre a terceira idade e como

retardar o envelhecimento, proferida pelo professor Carlos Augusto, na qual foi

ressaltada a importância do exercício físico, suscitou o interesse de algumas senhoras

sobre o assunto. Foi então que Gugu, como é chamado o criador do projeto, decidiu dar

aulas de ginástica ao ar livre para esse público, tão carente de atividades a ele

direcionadas, ainda que com muita saúde.

Inicialmente, eram aproximadamente 30 senhoras. Hoje, o projeto abrange mais

de 35 núcleos, tanto em Niterói quanto no Rio de Janeiro, e tem aproximadamente 5 mil

participantes cadastrados.

Mas o que é afinal o Projeto Gugu? É uma ideia que começou modesta, com

apenas um grupo fazendo ginástica, e que foi crescendo naturalmente. Os núcleos foram

surgindo, e o mais interessante é que se propunha simplesmente fazer exercícios físicos,

e agora reintegra o idoso à sociedade, melhorando-o sob o aspecto físico, psíquico e

social.

Qualquer pessoa pode participar deste projeto. Apesar de ser originalmente

dirigido à terceira idade, ele é aberto a todo mundo. Em todos os núcleos, em meio aos

mais idosos, fazem ginástica pessoas de várias faixas etárias. Isto é importante, para que

ele, o idoso, se habitue a se soltar no relacionamento com todos os grupos.

Como funciona o Projeto Gugu? É simples: uma vez aberto o núcleo, começam,

todos os dias, as sessões de ginástica. Os exercícios são apropriados para a terceira

idade, e os professores já têm grande experiência em lidar com esse tipo de clientela,

instruindo muito bem todos os iniciantes.

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27

É impressionante a rapidez da adaptação de senhoras que nunca fizeram

ginástica na vida. Depois, o convívio diário, com varias pessoas da mesma idade e com

o grupo em geral, resulta num maior contato social, o que dá ao idoso uma segurança

pessoal muito grande. Ele se sente novamente uma pessoa que existe num grupo social.

Outra coisa que acontece é que, com a melhoria do físico e da capacidade

funcional, a pessoa passar a fazer coisas que já não fazia, aumenta sua autoestima, sua

autoconfiança e seu equilíbrio emocional. Isso incrementa muito a qualidade de vida.

O Projeto Gugu não promove somente ginástica. Há núcleos de dança de salão,

de teatro e de coral, nos quais qualquer participante pode se integrar.

A opinião médica caminha, cada vez mais, para um consenso a respeito do

exercício físico como prevenção de uma série de doenças, como também para

coadjuvante do tratamento delas. Mesmo as pessoas que nunca fizeram ginástica na vida

podem e devem participar do Projeto Gugu, pois vão ter uma melhoria surpreendente.

Esta afirmação não é pessoal, mas baseada na observação de várias centenas de pessoas

que entraram para fazer ginástica no projeto e tiveram suas vidas modificadas. É chegar

em um núcleo do projeto e perguntar, aleatoriamente, para comprovar a veracidade

desta afirmação.”28

Esta é a apresentação contida no site do “Projeto Gugu” que, como já foi dito,

tem como seu principal público frequentador e foco, os idosos. É importante observar

dentro desse texto o trabalho que é desenvolvido com esse idoso. Movimentar-se e ao

mesmo socializar com outros. No capítulo anterior pudemos verificar que falta de

produtividade, de foco ou sociabilidade, são os principais fatores para a depressão nos

idosos.

É natural o envelhecimento e é assim que ele se dá. Saber desenvolver um

trabalho para que a qualidade de vida seja alcançada com o passar dos anos é essencial e

com isso dar importância à saúde. Pois a saúde se fragiliza com a soma de várias

questões que marcam a vida, como sentimentos de dor, perda, ansiedade, angústia e

tantas outras que, algumas vezes, tencionam o corpo e limitam o movimento. (ALVES,

2013)

O projeto Gugu parte desse princípio, de que a sociedade é mutável e devemos,

para além de encarar isso, aceitar as mudanças ou as novas experiências. Obviamente

que os exercícios pensados para o corpo de um idoso não serão os mesmo que são

28 Fonte: http://www.funcab.org/gugu.php (Acessado em 21/01/2015 às 02:12)

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28 abordados pelos jovens e adultos em uma academia, podem estes nos ser útil quando

precisarmos.

O “saber envelhecer” deve ser associado a atividades intelectuais e físicas.

As atividades físicas “além de melhorarem a condição cardiovascular,

fortalecem a musculatura – o que previne fraturas, em casos das temidas quedas. ‘A

melhor atividade para os idosos é a caminhada, feita quatro vezes por semana, durante

30 minutos diários que podem ser divididos em três caminhadas de 10 minutos’, afirma

Maurício Wajngarten, cardiologista do Hospital Israelita Albert Einstein. O médico

lembra que, além dos parques, outro lugar pode favorecer as caminhadas e a

socialização: os shoppings. ‘Lá os idosos encontram terreno regular, temperatura

adequada e podem fazer amizades, o que incentiva a prática contínua’, completa.”29

Enquanto as atividades intelectuais demonstram ser um forte aliado pois como já vimos,

“um dos problemas mais comuns entre os idosos é a depressão. ‘Os mais velhos

começam a ter resistência a novos projetos, perdem a capacidade de se relacionar com

as outras gerações e, assim, vão perdendo a vontade de viver’, explica o Dr. Almada.

Televisão e pijama, portanto, não são opções para quem quer envelhecer bem. É hora de

fazer cursos, ler, debater, colocar a cabeça para funcionar. Isso é que mantém o bom

humor, abre a possibilidade de cultivar amizades e estar atualizado, para sentir-se

participante do mundo.”30

A autora Magda Vilas-Boas em “Terceira idade – Uma experiência de amor” cita

Simone de Beauvoir, quando esta afirma que a senilidade não é um fator estático. “É o

resultado e o prolongamento de um processo, é uma mudança contínua, é mudar é a lei

da vida.” (VILAS-BOAS, 2005).

Em depoimentos ao livro supracitado, alguns alunos participantes de um grupo

de terceira idade relatam:

que a velhice não restringe e não nega uma existência

confortável ao idoso, se ele tiver uma vivência grupal, se ele não

hesitar na luta contra o conformismo e a acomodação, se ele não

se limitar nos vícios dos preconceitos, descobrindo assim novas

perspectivas, novos horizontes e novos ideais. (VILAS-BOAS,

29 Fonte: http://www.einstein.br/einstein-saude/bem-estar-e-qualidade-de-vida/Paginas/envelhecer-com-saude.aspx Acessado em: 30/01/2015 às 12:31

30 Fonte: http://www.einstein.br/einstein-saude/bem-estar-e-qualidade-de-vida/Paginas/envelhecer-com-saude.aspx Acessado em:30/01/2015 às 12:40

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29

2005, pag. 8)

“Para mim, foi ótimo. Quando fiz a matrícula, estava muito mal. Consegui controlar a

depressão. Voltei a cantar, a brincar, a rir, agora pareço uma criança em casa. Deixei

de ficar muito presa no serviço e me lembro agora muito mais de mim. Aqui eu lembro

que existo. O que é importante para gente é a cabeça. Agora, de manhã eu esqueço o

serviço de casa e corro para cá. É gratificante.” (Arlinda Saldeira)

“Eu tenho uma vida maravilhosa. Gosto muito da ginástica, da quadrilha, dos passeios,

gosto das amigas. Parece que todas são minhas irmãs. O grupo me faz muito bem. Me

faz viver. Está certo que eu estou triste estes dias porque meu marido morreu. Mas a

ginástica, o relaxamento e o grupo, tudo esta me ajudando a passar por esse

sofrimento. Aqui eu relaxo. Antes eu não andava mais sozinha e agora já estou saindo.

Agora estou andando e saindo para fazer compras sozinha, não tenho mais medo de

cair na rua. Vê que importante!” (Maria Miorin)

“Para mim foi tudo bom mesmo, inclusive eu tinha certas enfermidades: os pés não

davam para andar, não conseguia subir e descer escada, tinha inchaço nos braços, e

com a ginástica tudo desapareceu. Tornei-me uma pessoa diferente, passei a sentir mais

amor nas pessoas, no grupo. È uma coisa que deixa o coração muito gostoso pela idade

que a gente tem. Se a gente se fecha em casa e só fica sofrendo e pensando, a gente vai

ficando uma pessoa amarga, tristonha. A gente aqui se diverte, fica mais alegre, pega

mais saúde.” (Maria Amorim)

Como em qualquer idade os idosos precisam das relações sociais para se

sentirem amados, cuidados e valorizados. Há a necessidade de se criar ocupações

prazerosas para que não venha a ter pensamentos de “inutilidade”, visto que este é um

comportamento e não um fato.

Pelos relatos citados acima é possível observar que pessoas idosas que buscam

seus interesses e fazem o que gostam, melhoram muito o seu bem estar,

desenvolvimento físico e mental, por isso faz-se necessário que o idoso participe de

atividades que promovam sua inclusão social e estimulem o desenvolvimento de suas

habilidades individuais, principalmente aqueles que enfrentam o processo de

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30 envelhecimento com dificuldade, sensibilizando-os para que estes tenham um mínimo

de experiência para se sentirem melhor.

Observando a psicomotricidade como uma organização funcional da conduta e

ação, podemos situa-la em qualquer situação entre a reeducação infantil e a psicoterapia

adulta. Utilizam-se gestões, posturas e atitudes por meio de dinâmicas, fazendo assim

um dinamismo por meio de um conjunto de exercícios. (ALVES, 2013)

A escritora Fátima Alves diz que “é uma ciência, que estuda o homem, por meio

do seu corpo em movimento, educando esse movimento. Ela é importante e essencial

para um bom desenvolvimento. O objeto de estudo é o homem que integra a percepção,

a conscientização, o controle, a desinibição de grandes e pequenos movimentos.”.

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31

CONCLUSÃO

Os fatos condicionais para o desenvolvimento depressivo podem e devem ser

evitados. O corpo é depositário de vitaminas, proteínas e muitas outras substâncias que

o compõe, mas ao longo da vida, perdemos aos poucos, uma grande quantidade desses

itens e ao mesmo tempo, a sua produção também sofre influência, pois começa a ser

mais complicada. O mesmo se dará com um corpo sem movimentação. Assim como o

cérebro que precisa de estímulos constantes para se exercitar, o corpo também precisa

desse cuidado e acompanhamento, para que o momento do envelhecimento seja

encarado de maneira mais agradável. A perda da agilidade, aposentadoria e outras

questões relacionadas ao corpo e ao meio social, já foram vistas e elucidadas nos

capítulos anteriores como um dos momentos em que os idosos mais precisam de nós.

Portanto, a convivência do idoso possibilita que haja a melhora da autoestima, e

consequentemente a melhoria da qualidade de vida. Há muitas maneiras de conviver,

como já vimos, mas a educação física, que é educar o físico, o corpo como um todo, é

uma das bases para “destravar” o que há muito ficou estagnado. A psicomotricidade é

uma ciência que auxilia, neste caso, ao idoso conhecer seu mundo interno e externo e de

que a busca pelos meios sociais, como dança, teatro, esportes, etc. é a ponte que o levará

a reerguer-se perante as perdas físicas que a vida naturalmente proporciona. Levar-se-á

em conta a consciência que esta pode dar a aquele que não acredita mais em si e que

tem toda uma trajetória de muitas buscas e resultados ainda, a serem alcançados. Além

de ser um momento de ressocialização pelo fato de muito idosos estarem em período de

aposentadoria e portanto sem uma “função específica”.

“Cabe a nós, profissionais da área, proporcionar aos idosos a consciência de que

este processo de mudança pode ser encarado com confiança, com riquezas de

possibilidades, apesar das limitações, com aquisições nas áreas emocionais e de

convivência com estímulos direcionados.” (VILAS-BOAS, 2005)

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32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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de Janeiro: Wak Editora, 2013.

ARRUDA, A. “Envelhecer: uma novidade?”. TURA, L. F. R; SILVA, A. O. (Org.).

Envelhecimento e Representações Sociais. Rio de Janeiro: Quartet: Faperj, 2012.

BEAUVOIR, S. A Velhice: o mais importante ensaio contemporâneo sobre as

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Nova Fronteira, 1990.

HADDAD, Eneida. A ideologia da velhice. São Paulo, Cortez, 1986. p.25. In:

OLIVEIRA, Rita de Cássia da Silva. Terceira Idade: do repensar dos limites aos sonhos

possíveis. São Paulo: Paulinas, 1999.

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NIEMAN, D. C. Exercício e saúde. Tradução de Marcos Ikeda. São Paulo: Manole, 1ª

ed., 1999.

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34 ÍNDICE

Folha de Rosto ................................................................................................................. 2

Agradecimentos ............................................................................................................... 3

Dedicatória ....................................................................................................................... 4

Resumo ............................................................................................................................ 5

Metodologia ..................................................................................................................... 6

Sumário ............................................................................................................................ 7

Introdução ........................................................................................................................ 8

CAPÍTULO I - Terceira idade e transformação corporal .............................................. 10

CAPÍTULO II - Depressão, a doença do século XXI ................................................... 16

CAPITULO III - Psicomotricidade para envelhecer bem ............................................. 25

CONCLUSÃO ............................................................................................................... 31

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 32

ÍNDICE .......................................................................................................................... 34