UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO … · Conforme aponta a distribuição de...

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A CONTEMPORANEIDADE DA FALTA: REPENSANDO A FRAGILIDADE DAS RELAÇÕES FAMILIARES Por: Michelle Villaça Lino Orientador Prof. Ms. Fabiane Muniz Rio de Janeiro 2009

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  • UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

    PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

    INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

    A CONTEMPORANEIDADE DA FALTA: REPENSANDO A FRAGILIDADE DAS

    RELAÇÕES FAMILIARES

    Por: Michelle Villaça Lino

    Orientador

    Prof. Ms. Fabiane Muniz

    Rio de Janeiro

    2009

  • 2

    UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

    PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

    INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

    A CONTEMPORANEIDADE DA FALTA: REPENSANDO A FRAGILIDADE DAS

    RELAÇÕES FAMILIARES

    Apresentação de monografia à Universidade Candido

    Mendes como requisito parcial para obtenção do grau

    de especialista em Terapia de Família

    Por: Michelle Villaça Lino

  • 3

    AGRADECIMENTOS

    A Deus, aos meus pais e à minha família

    pela base e pelo carinho que me deram

    e a todos que contribuíram direta ou

    indiretamente para esta conquista.

    Agradeço por acreditarem em mim e por

    me concederem a graça de poder

    compartilhar mais essa vitória com

    vocês.

    DEDICATÓRIA

  • 4

    Dedico a todos que amo, principalmente

    àqueles que já não se encontram mais

    junto a mim.

    RESUMO

  • 5

    A palavra família derivada do latim famulus, ae, significa casa, servidores,

    cortejo e se refere, também, ao conjunto de pessoas com um mesmo ancestral.

    Pode-se, com isso, verificar que a mesma ocupou um lugar de acolhimento

    entre os que mantinham vínculos de afinidade. Entretanto, é sabido que tanto

    sua organização quanto a sua formatação passaram, ao longo dos séculos, por

    inúmeras transformações que desencadearam o que hoje se convencionou

    chamar de Família Contemporânea.

    Nela o que se vê é uma estruturação pautada no paradoxo entre a família

    ‘real’ e suas configurações – famílias monoparentais, homoparentais,

    recompostas, unipessoais, dentre outras – e família ‘ideal’ – modelo da família

    nuclear burguesa que ainda se faz presente no imaginário social.

    Tendo como base o contexto sócio-histórico em que essa família foi

    concebida é possível dizer que no mundo contemporâneo, ou seja, com o

    advento do capitalismo e da globalização, a família passou a se constituir sob a

    ótica do ‘mercado’ e do ‘consumo’. Por conta disso é possível observar

    implicações evidentes nas relações familiares.

    METODOLOGIA

  • 6

    O processo de desenvolvimento desse estudo consistiu de revisão

    bibliográfica, a fim de fundamentar teoricamente a pesquisa, com a utilização de

    artigos, livros, periódicos e demais fontes que se apresentaram e levantamento

    de informações através da coleta de dados estatísticos do Instituto Brasileiro de

    Geografia e Estatística - IBGE. Para tal contou-se com um período para a

    pesquisa em bibliotecas e sites; leitura e análise das monografia/dissertações e

    teses sobre o tema e, posteriormente, finalizou-se a pesquisa com a construção

    textual da monografia. Por fim, os principais autores utilizados na pesquisa

    foram Áries, Donzelot, Birmam e Wagner.

  • 7

    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO 08

    CAPÍTULO I - As Novas Famílias Brasileiras 09

    CAPÍTULO II - A Contemporaneidade e seu impacto nas relações familiares 15

    CAPÍTULO III – A liquidez das relações na sociedade do desamparo 24

    CONCLUSÃO 31

    ANEXOS 33

    BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 35

    BIBLIOGRAFIA CITADA 38

    ÍNDICE 39

    FOLHA DE AVALIAÇÃO 41

    INTRODUÇÃO

  • 8

    O presente trabalho tem como propósito repensar as transformações e o

    processo de construção da família – considerada principal responsável pelo

    desenvolvimento da infância e da adolescência – frente à sociedade

    contemporânea bem como oferecer uma reflexão crítica sobre as relações

    familiares.

    Para isso, contará com três capítulos divididos da seguinte maneira:

    O primeiro capítulo pretende analisar as transformações ocorridas na

    família e seu processo de construção. Para isso, conta com o levantamento de

    informações através de dados estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e

    Estatística - IBGE.

    O segundo capítulo visa (re)pensar as mudanças sociais advindas da

    Contemporaneidade bem como o impacto da mesma para as relações

    familiares.

    O terceiro capítulo propõe uma reflexão sobre os conceitos de falta,

    desamparo e fragilidade tendo como base as transformações sócio-históricas

    que adentraram nas relações familiares.

    Tendo em vista o complexo processo de modificação da família o

    presente estudo pretende realizar uma reflexão crítica sobre as novas relações

    familiares na Contemporaneidade.

    CAPÍTULO I

  • 9

    AS NOVAS FAMÍLIAS BRASILEIRAS

    “Família, família Papai, mamãe, titia (...)

    Família, família, Vovô, vovó, sobrinha (...)

    Família, família Cachorro, gato, galinha (...)

    Família ê, Família a, Família”. (Titãs)

    .

    A população e a família brasileira têm passado por um processo de

    inúmeras mudanças, acompanhando os acontecimentos históricos, econômicos,

    sociais e demográficos acontecidos ao longo dos últimos séculos. Nas últimas

    décadas diversas transformações foram observadas, tais como: condições de

    reprodução da população; diminuição da fecundidade e da mortalidade;

    aumento da expectativa de vida; padrões de relacionamento entre os membros

    da família; papel da mulher dentro e fora do espaço doméstico; aumento de

    uniões consensuais; dentre outras.

    Nessa perspectiva, a vida familiar se modificou para todos os segmentos

    da população brasileira. A família como instituição jurídica e social mais antiga

    na sociedade pode ser pensada sob diferentes aspectos: grupo de afinidade,

    estabelecido pela relação de convivência e proximidade entre um cônjuge e os

    parentes do outro; unidade doméstica, a qual assegura as condições materiais

    necessárias para a sobrevivência; referência e local de segurança, onde ocorre

    a formação de valores, dentre outras formas (IBGE,2007).

    No entanto, a família tem sofrido inúmeras modificações, principalmente

    em função da globalização. Nas gerações passadas, a família era constituída

    sob a forma de linhagem, logo em seguida passou a ser composta pelos pais e

    filhos dispostos dentro de um lar sob a autoridade do patriarca. Atualmente,

  • 10

    existe uma evolução dos próprios membros; a autoridade patriarcal passou a ser

    dividida com a mãe, que hoje, em muitos casos, é a ‘chefe’ do lar. Segundo

    dados do IBGE (2007) a maior proporção de mulheres chefes de ‘famílias’ não

    contavam com a presença de marido o que acarreta um aumento de

    responsabilidades outras, como preocupação com os afazeres domésticos, com

    a educação e o cuidado com seus filhos e com a sua própria qualificação

    profissional e vida pessoal (IBGE, 2007, p.206).

    Além disso, o tempo em que pais e filhos passam juntos também

    decresceu. Assim, o que se presencia, na atualidade, é que o conceito de

    família vai muito além da consangüinidade e da necessidade de que seus

    membros coabitem o mesmo espaço.

    Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE,

    as grandes mudanças ocorridas na família brasileira evidenciaram, ao longo dos

    censos, tanto reduções no tamanho médio da família e na taxa de fecundidade

    como o aumento do número de famílias cuja referência está centrada na mulher.

    Conforme aponta a distribuição de famílias encontradas na Pesquisa Nacional

    por Amostras de Domicílios, no período de 1996 a 2006, as mudanças ocorridas

    no seio das famílias foram as seguintes: unipessoal (8 a 10,7%); casamentos

    sem filhos (13,1 a 15,6%), casamento com filhos (57,4 a 49,4%), mulher sem

    cônjuge (15,8 a 18,1%), outros tipos (5,4 a 6,0%). Analisando os dados

    demográficos já se tornou comum reconhecer que a família brasileira

    contemporânea apresenta arranjos diversos não mais compatíveis com o

    modelo romântico e idealizado da família nuclear composta tão somente pelos

    pais e seus filhos (IBGE, 2007).

    Ainda sobre esses dados, a família pode ser compreendida igualmente

    por seus arranjos e laços de consangüinidade, de dependência econômica e/ou

    de residência em um mesmo domicílio. Apesar disso e em virtude de uma série

    de problemas, normalmente de ordem material ou afetiva ou, ainda, do reflexo

    de uma sociedade conturbada e marcada pela efemeridade e pela fragilidade

    das relações que eclodiram diretamente sobre a família da sociedade atual,

    essa já não é mais exemplo de solidez de convivência mútua entre duas ou

    mais pessoas.

  • 11

    Desta forma, as transformações ocorridas ao longo das últimas

    décadas, sem dúvida, trouxeram mudanças no cenário da família brasileira.

    Um exemplo disso é o casamento que, na sociedade Contemporânea, é

    baseado em escolhas recíprocas de afetividade, sexualidade e noções de

    amor. Porém, para Velho (1986), esses valores ainda se encontram à luz da

    relação dos indivíduos e de suas famílias. Já Wagner afirma que:

    “ O casamento contemporâneo, muito influenciado pelos

    valores do individualismo, leva os cônjuges a se

    confrontarem, o tempo todo, com forças paradoxais, ou

    seja, por um lado, os ideais de autonomia e crescimento de

    cada um, e por outro, a necessidade de vivenciar a

    realidade comum do casal, os desejos e projetos

    compartilhados. A vivência deste paradoxo cria tensões

    internas e conflitos que, quando não são resolvidos, muitas

    vezes levam à separação conjugal” (WAGNER, 2002, p.

    13).

    Dessa forma, na atualidade o que se percebe é uma mudança na

    maneira de se avaliar o casamento, ou seja, a união não mais precisa ser “até

    que a morte vos separe”, pode acabar e as pessoas podem reconstruir suas

    vidas. Hoje em dia não há mais garantias da existência do amor romântico que

    outrora perduraria para todo o sempre.

    Assim, como forma de contemplar a diversidade das organizações

    familiares se faz mister apontar alguns exemplos de organização familiar.

    1.1 – A multiplicidade dos novos arranjos familiares

    As transformações ocorridas ao longo das últimas décadas, sem dúvida,

    trazem mudanças no cenário da família brasileira. De acordo com Wagner

  • 12

    (2005), após a legitimação do divórcio houve um aumento na construção de

    novos arranjos familiares: casamento; união estável; famílias monoparentais,

    famílias homoparentais, reconstruídas e unipessoais. Assim, faz-se mister

    conceituar brevemente os principais arranjos familiares característicos da

    Contemporaneidade:

    1.1.1 – Casamento

    A origem da palavra casamento vem do latim medieval casamentu, “é

    definido como ato solene de união entre duas pessoas de sexos diferentes,

    capazes e habilitadas, com legitimação religiosa e/ou civil” (FERREIRA,

    1995 apud WAGNER, 2005, p. 47). Assim, o casamento pode ser

    compreendido pela união por meio do livre consentimento e do

    comprometimento entre os futuros cônjuges.

    1.1.2 União Estável

    A expressão “união estável” foi escolhida pela Constituição Federal de

    1988, substituindo a expressão concubinato. Assim a família construída por

    meio da união estável não constitui mais uma ofensa aos costumes e valores de

    uma sociedade, que tende a preservar, cada vez mais, a tolerância e o respeito

    à intimidade das pessoas. Como modo alternativo ao casamento, a família

    formada pela união estável ocupa igualmente um grande espaço na vida familiar

    brasileira (BRAUNER, 2004).

    1.1.3 Famílias Monoparentais

    Geralmente formadas após situações de divórcio, separação ou viuvez é

    constituída por apenas um dos pais e seu(s) filho(s), quando um dos genitores

  • 13

    exerce a guarda e a responsabilidade pela criação do filho ou, ainda, refere-se à

    relação de adoção, quando uma só pessoa adota uma criança.

    1.1.4 Famílias Homoparentais

    Apesar de não haver alguma previsão legal para o assunto, verifica-se, na

    atualidade, um número cada vez maior de famílias compostas por casais

    homossexuais. Entretanto, devido ao paradoxal conservadorismo que ainda

    persiste no seio da sociedade, tal temática – tendo como base as famílias

    brasileiras – ainda não possui um respaldo jurídico no que se refere a

    legalização da união estável entre pessoas do mesmo sexo.

    1.1.5 Famílias reconstruídas

    Na Contemporaneidade, as separações, o divórcio, e as dissoluções de

    uniões estáveis são situações comuns no contexto familiar. As novas famílias

    vêm sendo denominadas famílias reconstituídas, recompostas, seqüenciais,

    heterogêneas, ou mesmo, famílias em rede. Segundo Kaloustian (1994):

    A família é o espaço indispensável para garantir a

    sobrevivência de desenvolvimento e da proteção integral

    dos filhos, e demais membros, independentemente do

    arranjo familiar ou da forma como vem se estruturando. É

    a família que propicia os aportes afetivos e, sobretudo

    materiais, necessários ao desenvolvimento e bem estar

    dos seus componentes. Ela desempenha um papel

    decisivo na educação formal e informal, é em seu espaço

    que são absorvidos seus valores éticos e humanitários e

    onde se aprofundam os laços de solidariedade. É também,

    seu interior que constrói as marcas entre as gerações e

    são observados valores culturais (KALOUSTIAN, 1994, p.

    12).

  • 14

    Desta forma, a família contemporânea convive e tenta se adaptar as

    mudanças políticas, econômicas, sociais, culturais e, principalmente, a sua

    própria forma de se relacionar. Estas novas configurações levam a separações,

    a novas uniões, o que vem acontecendo freqüentemente. A construção deste

    novo núcleo familiar, com novos membros, padrasto, madrasta, os filhos do

    padrasto e/ou madrasta, é um fator de alta complexidade, riqueza e ao mesmo

    tempo fragilização das mesmas uma vez que traduz a necessidade do ser

    humano estar sempre pronto para (re) começar.

    1.2 – A complexidade das relações familiares

    A complexidade da dinâmica familiar traduz-se de forma inquestionável

    na maneira com que seus membros interagem. Com todo esse aparato de

    diversidade, o amor, o afeto, enfim, os sentimentos passam a ser também um

    desafio tendo em vista que aprender a respeitar e a entender as diferenças,

    aprender a educar os filhos e também os filhos do companheiro, dentro de suas

    limitações e dificuldades é algo que exige um esforço cada vez maior por parte

    de todos os membros dessas ‘novas’ famílias. Por tudo isso os novos arranjos

    familiares trazem consigo novos processos de adaptação.

    No âmbito da família estão se constituindo novas relações, com o

    relaxamento do comportamento dos cônjuges, o deslocamento da importância

    do grupo familiar para a importância de seus membros, a idéia de que o “amor”

    constitui uma condição para a permanência da conjugalidade e a substituição de

    uma educação conservadora, modeladora e corretiva das crianças, por uma

    prática pedagógica de negociação. Vê-se, com tudo isso, a ‘plasticidade’ que

    incide nestas novas relações sociais e familiares e que permeiam esta nova

    realidade.

    Na contemporaneidade observa-se uma verdadeira revolução no modo

    de pensar sobre si e no modo de se formar novos laços e novas relações sociais

    (GIDDENS, 2000). Convive-se, hoje, com diversas formas vinculares – formas

    tradicionais como a da ‘família nuclear’ e formas constituídas por casais

  • 15

    homossexuais, monoparentais, recasados e outras. É um verdadeiro

    contingente da diversidade.

    CAPÍTULO II

    A CONTEMPORANEIDADE E SEU IMPACTO NAS

    RELAÇÕES FAMILIARES

  • 16

    “Família é quem você escolhe pra viver

    Família é quem você escolhe pra você

    Não precisa ter conta sangüínea

    É preciso ter sempre um pouco mais de sintonia”.

    (O Rappa)

    Nas últimas décadas, várias mudanças ocorridas no plano

    socioeconômico - cultural pautadas no processo de globalização da economia

    capitalista, vêm interferindo na dinâmica, na organização e na estrutura familiar

    contemporânea.

    Nesse sentido, o processo de mudanças oriundas ao longo dos séculos

    XVIII, XIX, XX e, atualmente, século XXI desencadearam modificações nas

    seguintes condições: procriação (inseminação artificial; barriga de aluguel;

    congelamento de embriões e banco de esperma); mudanças nas formas de

    filiação e de criação dos filhos (sistema de adoção; monoparentalidade;

    homoparentalidade); novas práticas e novos limites referentes à sexualidade

    (transexualidade; sexo virtual; aumento do índice de doenças sexualmente

    transmissíveis).

    Com isso, as reações a esta nova forma de se pensar a

    Contemporaneidade caracterizou-se pelo pensamento do fim da família, da

    decadência dos costumes e da moral e do estremecimento dos laços familiares.

    Conforme Figueira & Velho (1981), a mudança no modelo familiar

    somente foi possível por meio de três grandes fenômenos: Tomada de controle

    das famílias pelo Estado; Separação entre o espaço designado para o trabalho

    e os espaços reservados para a realização das demais atividades (lar x

    trabalho); Natureza psicológica das revoluções Industrial e Afetiva. Com isso, a

    família assume novo status, torna-se o domínio do privado, o único local de

    refúgio e de responsabilidade por transmitir amor, educação – no sentido de

    valores e normas – e manter a rede social – composta pelos demais parentes,

    vizinhos, amigos e a comunidade.

  • 17

    Entretanto, a valorização/centralização na/da família não se deu

    conforme um ‘big bang’. Assim, para compreender sua construção se faz mister

    atentar para as transformações sócio-históricas que atuaram como percussores

    dessa nova concepção de família.

    2.1 – Da Idade Média à Contemporaneidade

    Na Idade Média – época marcada pelo ressurgimento do pensamento

    cristão – o mundo ocidental, ao contrário de outras culturas, era monoteísta –

    crença em um só Deus – e orientava a vida humana.

    Para que o contato com Deus fosse possível era necessário que

    houvesse a mediação por parte da Igreja Católica que, por muitos séculos,

    manteve-se como única responsável por organizar as famílias, a política, a

    justiça, a economia e as Terras.

    De acordo com Houaiss (2001), antigamente, a família – derivada do

    latim famulus - era representada por um conjunto de doméstico, de servidores,

    de escravos dependentes de um chefe ou senhor, ou seja, detinha

    características que a classificavam como modelo de linhagem. Os antigos

    gregos e romanos acreditavam que esposas e filhos eram fâmulos de um

    patriarca (WAGNER, 2002), sugerindo que, primitivamente, considerava-se a

    família como sendo o conjunto de escravos ou criados de uma mesma pessoa.

    O aumento do número dos povos cristãos; a posse de Terras por parte

    dos Turcos – considerados, pela Igreja Católica, como infiéis -; a escassez de

    Terras e de alimentos; ocasionaram o surgimento das Cruzadas – expedições

    cristãs formadas por cavaleiros e fiéis que iam para o Oriente Médio salvar os

    lugares santos das mãos dos ‘infiéis’.

    Como conseqüência deste movimento e da crise que se estabeleceu na

    Europa devido a uma série de dificuldades houve, além da desarticulação da

    organização feudal – derivada do desequilíbrio entre produção agrária e

    consumo de mercadorias, aumento das guerras, da fome, da mortalidade e das

    pestes e epidemias, diminuição do mercado consumidor e da mão-de-obra; a

    intensificação da atividade mercantil; a abertura do Mediterrâneo; o contato com

  • 18

    outros povos; o desenvolvimento comercial; o crescimento das cidades e,

    principalmente, o aparecimento de uma nova classe social – a Burguesia.

    O surgimento desta nova classe fez emergir o renascimento cultural, o

    florescimento artístico, o crescimento das atividades mercantis que deram

    origem à economia pré-capitalista e permitiu, a partir da acumulação de capitais,

    a transição do processo produtivo de manufaturas para o desenvolvimento

    industrial da economia capitalista; o surgimento do Estado Absolutista e,

    principalmente, a ascensão moral da família (ARIÈS, 1981).

    Todo esse processo de mudanças interferiu diretamente nas relações

    individuais e, principalmente, na Família. Ainda sobre, segundo Donzelot (1986),

    o advento da economia liberal desencadeou uma série de problemas, como, por

    exemplo, clivagens nas condições de vida e de costumes. Também, outros

    fatores como o aumento do desenvolvimento científico e tecnológico, alteraram

    a face do mundo criando um novo ritmo de vida. Entretanto, tais avanços foram

    acompanhados de graves alterações sociais e políticas das quais destacam-se:

    as grandes Guerras Mundiais que vão determinar o surgimento de uma nova

    geração de indivíduos, cenários e tendências que marcarão o nascimento da

    Contemporaneidade.

    Adentrando na temática da família contemporânea observa-se que, desde

    a Revolução Industrial, século XVIII, aos dias atuais o ambiente familiar foi

    adquirindo novos formatos e sofrendo inúmeras interferências externas e

    internas. De acordo com Figueira & Velho (1981), a aglomeração urbana passa

    a se constituir em pequenas ilhas fazendo, com isso, desaparecer o espaço

    intersticial e aumentar o setor privado familiar. Dessa forma, a família passa a

    atuar como forma modeladora e socializadora de seus membros.

    2.2 – O nascimento da família brasileira: De 1500 aos dias de hoje

    O período pré-colonial caracterizado por feitos como a descoberta do

    Brasil, século XVI, foi marcado pelo grande desinteresse em termos de

    valorização da Terra brasileira, por várias razões, como: existência do

  • 19

    monopólio comercial com as Índias; limitada exploração do Pau Brasil – riqueza

    mais evidente.

    A colonização que, em princípio, teria cunho explorativo, transformou-se

    em colonização de povoamento a fim de se garantir o domínio de Portugal sobre

    as terras brasileiras. O povoamento e a formação dos povos brasileiros ocorreu

    da seguinte forma cronológica: presença de nativos indígenas (até 1500);

    chegada dos brancos no Brasil (1500); início da colonização (1530); chegada

    dos primeiros negros (1550). A chegada de novos povos e raças resultou na

    chamada miscigenação e, no surgimento da sociedade do açúcar, século XVII.

    Partindo de um contexto sócio-histórico vê-se que o processo de

    colonização no Brasil deu-se sobre a égide de um tripé fundamentalmente

    estruturador da sociedade brasileira - o latifúndio, a escravidão e uma economia

    agro-exportadora. Assim, pode-se definir a família senhorial como resultante

    desse tripé. Nessa sociedade, a autoridade do senhor de engenho era absoluta

    também em relação a sua família: ele interferia desde a profissão dos filhos até

    a escolha do marido dos filhos. Por isso, considera-se tal sociedade – dominada

    pelos homens, chefes de família – Patriarcal (FREIRE, 1933).

    Seguindo a tradição da época em que os portugueses se instalaram no

    Brasil, a família não se compunha apenas de marido, mulher e filhos, ou seja,

    representava um verdadeiro clã (esposa, eventuais (e disfarçadas) concubinas,

    filhos, parentes, padrinhos, afilhados, amigos, dependentes e ex-escravos).

    Uma imensa legião de agregados submetidos à autoridade indiscutível que

    emanava da temida e venerada figura do pater (o patriarca).

    Era o grande senhor rural, proprietário de terras incomensuráveis, onde se

    plantavam as bases da economia brasileira: café, cacau, cana-de-açúcar e

    outras grandes lavouras. Era ele que desde os tempos coloniais e imperiais

    presidia a única ordem perfeita e íntegra da sociedade brasileira: a organização

    familiar.

    Assim, a grande família patriarcal, ocupava todos esses espaços. E o

    que não fosse provido por ela representava um corpo estranho e indesejável.

    Era considerada, também, o sustentáculo do Estado uma vez que impedia que

    a população, tão escassa e quase nômade, se pulverizasse neste imenso país.

  • 20

    A famflia patriarcal era, portanto, a ‘espinha dorsal’ da sociedade e

    desempenhava os papéis de procriação, administração econômica e direção

    política.

    Na Casa Grande - coração e cérebro das poderosas fazendas - nasciam

    os numerosos filhos e netos do patriarca, traçavam-se os destinos da fazenda e

    educavam-se os futuros dirigentes do país. A unidade da família devia ser

    preservada a todo custo, e, por isso, eram comuns os casamentos entre

    parentes. A fortuna do clã e suas propriedades se mantinham assim indivisíveis

    sob a chefia do patriarca (FREIRE, 1933). A família patriarcal era o mundo do

    homem por excelência.

    Nesse universo masculino, os filhos mais velhos também desfrutavam

    imensos privilégios, especialmente em relação a seus irmãos. E os homens, em

    geral, dispunham de infinitas regalias, a começar pela dupla moral vigente, que

    lhes permitia aventuras com criadas e ex-escravas, desde que fosse guardada

    certa discrição, enquanto que às mulheres tudo era proibido, desde que não se

    destinasse à procriação. Até mesmo as linhas de parentesco, tão caras à

    sociedade patriarcal, só se tomavam "efetivas" quando provinham do homem.

    Desse modo, a mulher perdia a consangüinidade de sua própria família de

    origem, para adotar a do esposo (FREIRE, 1933).

    Já no decorrer do século XIX, principalmente da metade para o fim, o

    Brasil viveu grandes transformações sociais, econômicas e políticas – abolição

    da Escravatura; Proclamação da República; aumento do número de indústrias;

    aumento; crescimento do número das cidades; aumento no número de

    imigrantes e do ‘poder’ de consumo; advento da luz elétrica; surgimento de

    novas profissões e outros fatos que culminaram no modelo da Família Nuclear

    Burguesa.

    Tal modelo vem marcado por inúmeras mudanças: presença da

    Hierarquização em detrimento da centralização no ‘poder’ nas mãos do

    Patriarca; presença de uma identidade ‘posicional’ em relação a idade e ao sexo

    dos membros da família em detrimento do modelo de submissão a autoridade

    paterna, dentre outras características que, com uma série de acontecimentos -

    as duas Grandes Guerras Mundiais, a revolução sexual dos anos 60; a indistinta

  • 21

    diferenciação entre os sexos, valorização do corpo belo, produzido, estilizado e

    bissexualizado; o aumento da valorização da criança; o aumento do poder

    feminino e dentre outros acontecimentos que contribuiram para a formação e a

    necessidade de reflexão acerca da Família Contemporânea.

    2.3 – Reflexões acerca da Família Contemporânea

    A família moderna a partir de sua nova forma de se preocupar com seus

    membros fez emergir – ao mesmo tempo – o sentimento de pertencimento e de

    família. Além disso, na família, passa a se dá também os fatos básicos da vida:

    o nascimento, a união entre os sexos, a morte. No entanto, a história da família

    não segue uma lógica linear, mas descontínua, haja vista o registro dos diversos

    modelos familiares.

    A família vai ser a concretização de uma forma de viver os fatos básicos

    da vida por meio de sua estrutura universal que tende a ser a base das relações

    humanas através das quais ocorrem a formação inicial dos vínculos.

    Segundo Strauss apud Carvalho (1995, p.41), fundamental da família

    não está na natureza social; as famílias se constituem como aliança entre

    grupos.

    Esses reposicionamentos sociais e essas redefinições de papéis

    juntamente com as mudanças provenientes do advento o uso da pílula

    anticoncepcional, redefinição do casamento e regularização do divórcio foram

    profundas e passaram a integrar a nova paisagem social.

    Segundo Bauman (1998), a marca da Contemporaneidade é a vontade

    de liberdade e esta tende a acompanhar a velocidade das mudanças

    econômicas, tecnológicas, culturais e do cotidiano.

    Ainda sobre, Sarti (1995) aponta que, no mundo Contemporâneo, a

    família deixou de ser “unidade de produção” para assumir o papel de “unidade

    de consumo” proveniente, principalmente, pela perda do sentido da tradição. Por

    conta disso, o amor, o casamento, a família, a sexualidade e o trabalho antes

    vividos por meio de papéis pré-estabelecidos passam a ser concebidos como

  • 22

    parte de um projeto em que a individualidade prevalece e adquire cada vez mais

    importância social e implicações nas relações familiares.

    Assim, o caráter relacional da família corresponde à lógica de sua

    própria construção.

    De acordo com Osterne (2001):

    “ Alguns fatores importantes contribuíram no processo

    histórico para as mudanças na estruturação da família: As

    relações de mercado e a crescente industrialização que

    modificaram, lenta, mas radicalmente, o status social da

    família; A ascensão do capitalismo que determinou a união

    da família a fim de se vencer as controvérsias da vida e, ao

    mesmo tempo, enfraqueceu como grupo extenso, incapaz

    de subsistir aos ambiente de proletariarização” (OSTERNE,

    2001, p.53).

    Dessa forma, não se pode falar de família, mas de “famílias” a fim de se

    contemplar a diversidade de relações que convivem na sociedade. No

    imaginário social a família compreende laços de consangüinidade, dependência

    econômica e/ou afetiva. Entretanto, há dificuldade de se definir família uma vez

    que depende do contexto sociocultural em que a mesma esta inserida.

    Assim, a família é não somente uma instituição de origem biológica –

    encarregada de transformar um organismo biológico em ser humano –, mas

    também uma construção social, um espaço indispensável para a garantia da

    sobrevivência, de desenvolvimento e de proteção integral dos filhos e de seus

    demais membros independente do arranjo familiar ou da forma como se

    estruturam. Conforme Alencar (1985) cabe a família possibilitar a socialização e

    a transmissão de valores, crenças e costumes da sociedade da qual está

    inserida para todos os seus membros.

    Ainda sobre, autores como Amaral (2001) apontam para o que se

    convencionou chamar de “sentimento de família” tendo em vista a formação da

    mesma por meio do entrelaçamento de emoções; das ações pessoais,

  • 23

    familiares e culturais formando o mundo familiar – espaço único para cada

    família, mas circular para a sociedade e para as interações com o meio social.

    Trata-se, em verdade, da célula mater da sociedade, do seu núcleo inicial,

    básico e regular.

    Ainda para este autor, a família contemporânea fez emergir necessidades

    de intimidade e de identidade entre seus membros possibilitados pela união por

    meio de sentimentos, de costumes e de gênero da vida.

    Segundo Sarti (1995), a família não se resume somente a um forte elo

    afetivo, mas ao próprio substrato de sua identidade social e simbólico que a

    estrutura e a justifica no mundo.

    É sabido, também, que cada pessoa tem sua própria representação da

    família real e da família sonhada, da sua própria família e da família do outro.

    Entretanto, a família não se traduz como algo concreto, mas sim como algo

    construído a partir de elementos da realidade.

    De acordo com Petrini (2003), a família encontra novas formar de

    estruturação que, de alguma forma, a reconstituem sendo reconhecida como

    estrutura básica e permanente da experiência humana.

    Por tudo o que fora exposto até o momento é possível crer que se vive,

    na Contemporaneidade, mudanças sociais importantes em diferentes níveis.

    Nesse contexto presencia-se, por meio do regime da acumulação de capital

    flexível que possibilita a emergência e a parceria com a atual globalização que

    produz implicações no Ocidente, a acumulação flexível que passa a valorizar o

    efêmero, o fugido, a novidade e a fluidez das relações e que proporciona a

    instabilidade e a fragilidade das relações afetivas e familiares.

  • 24

    CAPÍTULO III

    A LIQUIDEZ DAS RELAÇÕES NA SOCIEDADE DO

    DESAMPARO

    “A família foi, desta maneira, onerada

    com um duplo trabalho, para atingir suas

    finalidades éticas: formar cidadãos

    iguais, a partir de pessoas desiguais e

    formar sujeitos realizados, a partir de

    consciências infelizes. A dignidade

    familiar assentou-se em alicerces

    precários e dessa precariedade surgiu o

    mal-estar contemporâneo”.

    (COSTA, J.F, 2005)

    O mundo de hoje vem apresentando mudanças avassaladoras e

    profundas de valores, de comportamentos e de identidades. As modificações

  • 25

    ocorridas ao longo do tempo possibilitaram o desencadeamento, na

    contemporaneidade, de novos tipos de relacionamentos muito mais

    efêmeros, frágeis e superficiais.

    Desde as últimas décadas se vive mudanças sociais importantes nos

    diversos contextos sociais: vive-se o regime de acumulação de capital

    flexível; vive-se a globalização em suas dimensões sócio-econômicos,

    culturais e tecnológicos. Tudo isso atrelado à fluidez, à novidade, ao efêmero

    e ao fugido passam a ser valorizados e a fazer parte das práticas que se

    constituem na Contemporaneidade. Segundo Sibília (2008):

    “ Nesta cultura das aparências, do espetáculo e da

    visibilidade, já não parece mais haver motivos para

    mergulhar naquelas sondagens em busca dos sentidos

    abissais perdidos dentro de si mesmo. Em lugar disso,

    tendências exibicionistas e performáticas alimentam a

    procura de um efeito: o reconhecimento nos olhos alheios

    e, sobretudo, o cobiçado troféu de ser visto. Cada vez

    mais, é preciso aparecer para ser. Pois tudo aquilo que

    permanece oculto, fora do campo da visibilidade – seja

    dentro de si, trancado no lar ou no interior do quarto próprio

    – corre o triste risco de não ser interceptado por olho

    algum. E, de acordo com as premissas básicas da

    sociedade do espetáculo e da moral da visibilidade, se

    ninguém vê alguma coisa é bem provável que essa coisa

    não exista” (SIBÍLIA, 2008, p.111).

    Ainda sobre, Costa (2005) nos fala que a fim de cumprir as exigências

    sócias a família passou a operar duplamente como formadora de cidadãos

    iguais, mas por meio de pessoas desiguais e formar sujeitos realizados, por

    meio de consciências infelizes. A dignidade da mesma constituiu-se por meio de

    alicerces precários que possibilitaram o desencadeamento do mal-estar

    contemporâneo.

  • 26

    Já para Birman (1999), esse mal-estar se justifica pela nossa vivência

    em mundo perturbado e conturbado diante do qual nossos instrumentos

    interiores interpretativos ficam bem aquém da agudeza e da rapidez dos

    acontecimentos.

    Partindo do conceito atual denominado por Debord (1967) de ‘sociedade

    do espetáculo’, verifica-se, hoje, uma diminuição do espaço para reflexão sobre

    si, sobre os outros e sobre o mundo, mas sim o que rege a cultura do nosso

    tempo é o consumo desenfreado, o individualismo e a busca pelo bem-estar a

    curto prazo. Para o autor:

    “ o espetáculo se apresenta como uma enorme

    positividade indiscutível, pois seus meios são ao mesmo

    tempo seus fins e sua justificativa é tautológica: “O que

    aparece é bom, e o que é bom aparece”. Nesse monopólio

    da aparência, tudo o que fica do lado de fora simplesmente

    não é” (DEBORD apud SIBÍLIA, 2008, p. 112).

    Ainda sobre, presencia-se uma Contemporaneidade marcada pela cultura

    do narcisismo (LASCH, 1984) e da efemeridade. Inserido nesse contexto de

    exacerbação de si e de desvalorização do Outro é que se pode melhor

    compreender a liquidez e a fragilidade dos laços sociais.

    Como cita Birman (1999):

    “ Os destinos do desejo assumem, pois, uma direção

    marcadamente exibicionista e autocentrada, na qual o

    horizonte intersubjetivo se encontra esvaziado e

    desinvestido das trocas inter-humanas” (BIRMAN, 1999, p.

    24).

    Entretanto, se de um lado nos é concedida certa liberdade de escolha, do

    outro o ser humano é marcado pela ‘falta’. O Outro cede lugar a vários ‘Outros’

    cuja função primária não se traduz como responsável pelo desenvolvimento.

    Tendo em vista que, para se desenvolver, o ser humano necessita do ‘Outro’ é

  • 27

    que se pode compreender o paradoxo no qual a Contemporaneidade firma sua

    existência.

    Ainda para o referido autor, a fragmentação da subjetividade trouxe como

    reação o autocentramento do sujeito no EU, porém, de uma forma diferente do

    individualismo moderno. Pois, enquanto a subjetividade moderna constitui-se no

    duplo registro da interioridade e da reflexão sobre si mesmo, a subjetividade

    contemporânea sustenta o paradoxo de um autocentramento voltado para a

    exterioridade, em que a dimensão estética, dada pelo olhar do ‘Outro’, ganha

    destaque (BIRMAN, 1999).

    Com tantas transformações e sendo esta a cultura do ‘espetáculo’

    caracterizada pela atuação performática do sujeito frente ao ‘Outro’ – objeto que

    lhe possibilita o gozo – e, também, sendo esta uma sociedade narcísica é que é

    possível dizer que se vive hoje a cultura do fugaz, do efêmero, dos valores

    superficiais e não mais centrado nas normas sociais. Tais mudanças tendem a

    justificar as novas relações dentro da família.

    Nessa perspectiva paradoxal a família pode ser entendida como marco

    fundamental das relações sociais primárias, como célula fundamental na

    formação e no desenvolvimento do ser humano e ao mesmo tempo como

    responsável por disseminar a neurose.

    Segundo Alencar (1985) cabe à família – por meio de sua força

    modeladora garantir aos seus membros a socialização através da transmissão

    de valores, crenças e costumes sociais. Sendo assim, atribui-se a ela, também,

    a responsabilidade por possibilitar a união dos seus membros baseada no Amor

    e no Afeto.

    3.1 – O amor e seu lugar nos dias de hoje

    É inegável a importância da história para a concepção do Amor. Na

    Antiguidade a experiência amorosa possuía um lugar marginal na vida de

    indivíduos e grupos. Entretanto, foi a partir do Renascimento – com a

    valorização do homem (Antropocentrismo) e do prazer (Hedonismo) – que

    ocorreu uma mudança na maneira de se conceber o Amor e o Afeto. Assim,

  • 28

    pode-se dizer que o que se convencionou chamar de Amor Moderno serviu para

    indicar a integração entre o desejo/prazer do homem na ordem social (LÁZARO,

    1996).

    Ainda sobre, é importante lembrar que as transformações porque passa

    a sociedade ocidental – séculos XVII e XVIII – tendem a desorganizar /

    (re)organizar os modelos sociais. Assim, o advento da burguesia acaba por

    fortalecer a célula familiar como unidade de afeto uma vez que acredita ser a

    família responsável por garantir aos membros um ambiente de ordem e

    estabilidade. Vê-se, com isso, não somente a privatização da família, mas

    também a oposição ao mundo que, por ser público, tornou-se instável

    (DONZELOT, 1986). Para Giddens (2002), as transformações sociais na

    modernidade, principalmente fomentadas pela chegada da industrialização e

    pela transformação do trabalho, vêm produzindo profundas modificações nas

    subjetividades e identidades dos sujeitos e nas interações estabelecidas nas

    suas relações sociais.

    Ainda sobre, para Áries (1981), essa nova preocupação para com a

    família fez com que esta assumisse uma nova função – para além do direito

    privado – de se responsabilizar pelo cuidado moral e espiritual de seus

    membros:

    “ A família cumpria uma função – assegurava a

    transmissão da vida, dos bens e dos nomes – mas não

    penetrava muito longe na sensibilidade (...). essa nova

    preocupação fez com que a família deixasse de ser apenas

    uma instituição de direito privado e assumisse sua nova

    função moral e espiritual (formação de corpos e almas). O

    cuidado dispensado às crianças passou a inspirar

    sentimentos novos (Sentimento Moderno da Família)”

    (ARIÈS, 1981, p.193).

    Com isso, verifica-se que a família aparece como instituição responsável

    pelos afetos, sentimentos e Amor. Segundo Lázaro (1996, p.161): “As

  • 29

    frustrações afetivas decorrentes da inserção dos indivíduos numa rede de

    interdependência mais complexa e diferenciada podem auxiliar na compreensão

    da fragilização dos laços sociais”.

    Com base nessa conceituação e também nas mudanças que ocorreram

    nos relacionamentos amorosos é possível dizer que o ser humano está cada vez

    mais à procura ‘de’, alterando, por vezes, a maneira de lidar, não somente com

    sua forma de se relacionar, mas também com o modo de conceber a felicidade,

    o prazer e a si mesmo.

    3.2 – Do individualismo à sociedade do desamparo: algumas

    reflexões

    Numa perspectiva sócio-histórica e cultural, a família ocidental

    presenciou grandes mudanças no que se refere ao seu processo de

    individualização, principalmente ao longo da segunda metade do século XX até

    os dias atuais: diminuição da durabilidade dos casamentos e das famílias

    numerosas; aumento do número de divórcios e de recasamentos; regularização

    da união estável (antes chamado ‘Concubinato’); surgimento dos mais variados

    modelos de famílias – monoparentais, nucleares, unipessoais, homoparentais,

    recompostas, dentre outros.

    Atualmente, o elemento central que regulamenta as famílias é o espaço

    privado sempre a serviço de seus membros. Segundo a visão psicanalítica,

    grupo familiar detém uma função estruturante no psiquismo do ser humano.

    Para Freud (1929), a inserção do indivíduo no social somente é possível por

    meio do Complexo de Édipo e do Complexo de Castração.

    Ainda sobre e com base na cultura ocidental, Lacan (2002) acredita que

    esta introduz uma nova dimensão na realidade social e na vida psíquica e é

    essa dimensão que vai especificar a família humana bem como os fenômenos

    sociais. Além disso, cabe à família o papel primordial na transmissão da cultura

    (repressão de instintos e aquisição da língua). Para Lacan, a família moderna

    aparece como uma contradição da instituição familiar e mostra uma estrutura

  • 30

    complexa, uma vez que perpassa por complexos cujos papéis são de

    organizadores no desenvolvimento psíquico: Complexo do Desmame –

    representa a forma primordial da imago paterna, pois funda os sentimentos mais

    arcaicos e estáveis que unem o indivíduo à família; Complexo de Intrusão –

    reconhecimento dos irmãos permeados pela identificação mental – ciúme

    infantil; e, o Complexo de Édipo.

    Entretanto, o sujeito é uma realidade psíquica – histórico-cultural – que

    não pode ser pensado independente de sua realidade subjetiva e de suas

    causas sociais. A (re)estruturação das sensibilidades e dos julgamentos no

    campo afetivo é deveras complexa, posto que é nela que se ancora a

    estabilidade das identidades pessoais.

    O sujeito contemporâneo – liberado da força normativa das instituições

    familiares, religiosas e trabalhistas – vê-se levado a apoiar-se de forma narcísica

    e hedonista. Este mesmo sujeito está sempre à procura daquilo que lhe ‘falta’, já

    que seu comportamento é estimulado pelo neoliberalismo econômico. Assim,

    faz da regrada felicidade a chave mestra dos ideais formadores de sua

    identidade.

    As identidades narcísicas e hedonistas do sujeito da atualidade fizeram

    com que este se torna-se indiferente ou pouco sensível em relação aos outros e

    aos projetos pessoais duradouros. Daí a noção de efemeridade e de

    superficialidade nas relações. Segundo Dufour (2005), o indivíduo pós-moderno

    é sujeito sozinho, mas livre. Este, quando bem sucedido tende a sentir-se

    onipotente e quando isso não ocorre percebe-se impotente e envergonhado, ou

    seja, imergido em sua intolerância narcísica à frustração. Não há sentimento de

    culpa e nem de Outro simbólico, isto significa dizer que na Contemporaneidade,

    nem pai, nem padre, nem padre, nem médico funcionam como autoridade

    simbolicamente legitima para corrigir, ratificar ou regular os rumos tomados

    pelas práticas individuais. Nela o sujeito é órfão do “Outro”.

    Sendo assim, o homem contemporâneo, para o mesmo autor, não

    compartilha os valores simbólicos da Modernidade – identidade, reconhecimento

    e filiação. Na sociedade atual, os homens são solicitados a se livrarem de todas

    as sobrecargas simbólicas que garantiriam suas trocas e, com isso, passa a ser

  • 31

    o “Mercado”, responsável por prover, de forma perversa, novos ‘Kits Identitários’

    e de ‘Identificação’.

    Entretanto, o Mercado não pode funcionar como o ‘Outro’ porque não

    remete à transversalidade das relações e nem à origem que a funda. É

    horizontal e determina que tudo deve ser posto em rede – não há idéia de um

    terceiro, primordial para a constituição psíquica dos sujeitos. O capitalismo, para

    o autor, com a dessimbolização, não conduz apenas à perversão, mas à

    psicotização, já que não visa prover formas de amparar os sujeitos, mas sim

    torná-los órfãos, abandonados, desamparados uma vez que, diante da negação

    da diferença geracional (ter nascido na geração precedente) e da diferença

    sexual (ter nascido feminino ou masculino), o sujeito deve responder ao

    impossível: fundar-se sozinho.

    Ainda sobre, outro autor que vai tratar das mudanças econômicas que

    tendem a moldar valores sociais e pessoais é Richard Sennett. Segundo este

    autor, a fragmentação das grandes instituições deixa um estado fragmentário na

    vida dos indivíduos. Assim, o desafio do sujeito contemporâneo é lidar com o

    tempo – relação de curto prazo – e sua instabilidade – única constante do

    capitalismo; com o talento (meritocracia) e com a política do consumo

    (necessidade associada à paixão consumptiva) (SENNETT, 2006).

    Tudo isso tende a refletir diretamente sobre a família que, por ser

    responsável por repassar valores e socializar seus membros, vai se descobrir

    também impotente, saudosa e, apesar de cobrada, com pouquíssima autoridade

    sobre seus membros.

    Hoje é possível dizer que, com a variedade disponibilizada pelo

    Mercado, a falta que se estabeleceu circula sobre aquilo que nunca se teve,

    mas sempre se desejou e é sobre essa nova concepção de sujeito, família e

    sociedade que se deve refletir.

  • 32

    CONCLUSÃO

    Na família se dão os fatos básicos da vida: o nascimento, a união entre

    os sexos, a morte. No entanto, a história da família não é linear, mas

    descontínua haja vista o registro de padrões familiares distintos com suas

    diversas explicações como alternativa do modelo familiar.

    Nesse sentido, a família atual vai ser a concretização de uma forma de

    se viver os fatos básicos da vida; ela se relaciona, mas não se confunde

    exclusivamente com o parentesco – relação de consangüinidade, dependência

    ou afinidade. Por ser considerada como estrutura universal uma vez que existe

    em todas as sociedades traduz-se como grupo social responsável pela

    realização e pela manutenção dos vínculos.

    No mundo contemporâneo, as mudanças ocorridas na família

    relacionam-se com a ‘fragilização’ e/ou ‘perda’ do sentido de tradição. Assim, o

    amor, o casamento, a família, a sexualidade e o trabalho, antes vividos a partir

    do preestabelecimento de papéis, passam a ser concebidos como parte de um

    projeto em que a individualidade conta decisivamente e adquire cada vez mais

    importância social. Assim, o caráter relacional da família tende a corresponder a

    lógica de sua própria construção.

    A família contemporânea, considerada como ‘micro’ unidade de

    consumo e de subsistência reflete o sentimento de se estar vivendo em um

    mundo incerto, incontrolável e assustador, algo diferenciado da segurança

    projetada em torno de uma vida social estável. Vive-se, com isso, a lógica da

    satisfação instantânea e a cultura da sociedade do consumo desenfreado, do

  • 33

    individualismo, do esquecimento e da inquietação. Essas mudanças de

    comportamento e de regras construídas e reproduzidas através das relações

    sociais tendem a repercutir diretamente sobre a família que em sua

    ‘primogenitura’, no que se refere ao individualismo, sente o impacto de suas

    imposições narcísicas.

    Por tudo isso se faz mister (re)pensar a família contemporânea brasileira

    considerando-se não somente a sua base de construção sócio-histórica como

    também a sua singularidade imbuída numa sociedade movida não pelo ‘desejo’,

    mas pela ‘falta’, pela necessidade cada vez mais perversa e ‘ditadora’ do

    Mercado e pela urgência de reconhecimento por aquilo que se tem e não pelo

    que se é. Na Contemporaneidade não há espaços para reflexões, talvez

    pequeninas ‘brechas’.

    Entretanto, ainda é preciso e possível acreditar que a modificação no

    ‘pensar’ e no ‘olhar’ de forma singular as famílias é o que possibilitará o

    fortalecimento de suas relações. Reconhecer e aprender a contextualizar tais

    mudanças e seu impacto sobre as famílias como forma de acolher sua demanda

    e contribuir para que estas visualizem suas potencialidades é o papel que cada

    terapeuta de família deve ter.

  • 34

    ANEXO

    GRÁFICOS

    IBGE (2007). Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de

    vida da população brasileira. Estudos & Pesquisas, Informação

    Demográfica e Socioeconômica 21, 2007. Disponível em

    http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicad

    oresminimos/sinteseindicsociais2007/default.shtm

    Gráfico relacionado a distribuição dos arranjos familiares residentes em

    domicílios particulares, segundo o tipo de arranjo familiar – Brasil 1996-2006

    Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1996/2006.

  • 35

    (1) Exclusive a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima,

    Pará e Amapá.

  • 36

    Gráfico relacionado a proporção de arranjos familiares constituídos por mulheres

    sem conjugue com filhos, segundo as Regiões Metropolitanas – 1996-2006

    Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1996/2006.

    Nota: Considera-se mulher sem conjugue com filho como arranjo

    familiar monoparental feminino.

    BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

  • 37

    ALENCAR, E.M.L.S. A criança na família e na sociedade. 2ª ed. Petrópolis:

    Vozes, 1985.

    AMARAL, C.C.G. Famílias às avessas: gênero nas relações familiares de

    adolescentes. Fortaleza: Ed. UFC, 2001.

    ARIÈS, P. História Social da Criança e da Família. Tradução de Dora Floksman.

    2ª ed. Rio de Janeiro: LTC ed., 1981.

    BAUMAN, Z.. O mal-estar na Modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,

    1998.

    BIRMAN, J. Mal-Estar na Atualidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,

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    BRAUNER, M.C.C. O pluralismo no direito de família brasileira: realidade social

    e reinvenção da família. In WELTER, B.P.; MADALENO, R.H. Direitos

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    CARVALHO, Maria do Carmo Brant (org). A Família Contemporânea em

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    DONZELOT, J. A Polícia das Famílias. Tradução de ALBUQUERQUE, J.A.G. 2ª

    edição. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1986.

  • 38

    DUFOUR, D.R. A arte de reduzir cabeças: sobre a servidão na sociedade

    ultraliberal. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2005.

    FIGUEIRA, S.A.; VELHO, G. Família, Psicologia e Sociedade. Rio de Janeiro:

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    INSITITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Síntese

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  • 41

    ÍNDICE

    FOLHA DE ROSTO 2

    AGRADECIMENTO 3

    DEDICATÓRIA 4

    RESUMO 5

  • 42

    METODOLOGIA 6

    SUMÁRIO 7

    INTRODUÇÃO 8

    CAPÍTULO I

    As Novas Famílias Brasileiras 9

    1.1 - A multiplicidade das relações familiares 11

    1.1.1 – Casamento 11

    1.1.2 - União Estável 12

    1.1.3 - Famílias Monoparentais 12

    1.1.4 - Famílias Homoparentais 12

    1.1.5 - Famílias reconstruídas 12

    1.2 – A complexidade das relações familiares 13

    CAPÍTULO II

    A Contemporaneidade e seu impacto nas relações familiares 15

    2.1 – Da Idade Média à Contemporaneidade 16

    2.2 – O nascimento da família brasileira: De 1500 aos dias de hoje 18

    2.3 – Reflexões acerca da Família Contemporânea 20

    CAPÍTULO III

    A liquidez das relações na sociedade do desamparo 24

    3.1 – O amor e seu lugar nos dias de hoje 26

    3.2 – Do individualismo à sociedade do desamparo: algumas reflexões 27

    CONCLUSÃO 31

    ANEXOS 33

    BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 35

    BIBLIOGRAFIA CITADA 38

    ÍNDICE 39

  • 43

  • 44

    FOLHA DE AVALIAÇÃO

    Nome da Instituição: Instituto A Vez do Mestre – Universidade Cândido

    Mendes.

    Título da Monografia: A Contemporaneidade da Falta: Repensando a

    fragilidade das relações familiares

    Autor: Michelle Villaça Lino

    Data da entrega:

    Avaliado por: Prof. Ms. Fabiane Muniz Conceito:

    AGRADECIMENTOSSUMÁRIOCAPÍTULO I- As Novas Famílias Brasileiras 09CAPÍTULO II - A Contemporaneidade e seu impacto nas relações familiares 15CAPÍTULO III – A liquidez das relações na sociedade do desamparo 24

    CONCLUSÃO 31ANEXOS 33BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 35BIBLIOGRAFIA CITADA 38ÍNDICE 39FOLHA DE AVALIAÇÃO 41ANEXO

    FOLHA DE ROSTO 2AGRADECIMENTO 3FOLHA DE AVALIAÇÃO