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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A CONTEMPORANEIDADE DA FALTA: REPENSANDO A FRAGILIDADE DAS
RELAÇÕES FAMILIARES
Por: Michelle Villaça Lino
Orientador
Prof. Ms. Fabiane Muniz
Rio de Janeiro
2009
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
A CONTEMPORANEIDADE DA FALTA: REPENSANDO A FRAGILIDADE DAS
RELAÇÕES FAMILIARES
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como requisito parcial para obtenção do grau
de especialista em Terapia de Família
Por: Michelle Villaça Lino
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AGRADECIMENTOS
A Deus, aos meus pais e à minha família
pela base e pelo carinho que me deram
e a todos que contribuíram direta ou
indiretamente para esta conquista.
Agradeço por acreditarem em mim e por
me concederem a graça de poder
compartilhar mais essa vitória com
vocês.
DEDICATÓRIA
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Dedico a todos que amo, principalmente
àqueles que já não se encontram mais
junto a mim.
RESUMO
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A palavra família derivada do latim famulus, ae, significa casa, servidores,
cortejo e se refere, também, ao conjunto de pessoas com um mesmo ancestral.
Pode-se, com isso, verificar que a mesma ocupou um lugar de acolhimento
entre os que mantinham vínculos de afinidade. Entretanto, é sabido que tanto
sua organização quanto a sua formatação passaram, ao longo dos séculos, por
inúmeras transformações que desencadearam o que hoje se convencionou
chamar de Família Contemporânea.
Nela o que se vê é uma estruturação pautada no paradoxo entre a família
‘real’ e suas configurações – famílias monoparentais, homoparentais,
recompostas, unipessoais, dentre outras – e família ‘ideal’ – modelo da família
nuclear burguesa que ainda se faz presente no imaginário social.
Tendo como base o contexto sócio-histórico em que essa família foi
concebida é possível dizer que no mundo contemporâneo, ou seja, com o
advento do capitalismo e da globalização, a família passou a se constituir sob a
ótica do ‘mercado’ e do ‘consumo’. Por conta disso é possível observar
implicações evidentes nas relações familiares.
METODOLOGIA
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O processo de desenvolvimento desse estudo consistiu de revisão
bibliográfica, a fim de fundamentar teoricamente a pesquisa, com a utilização de
artigos, livros, periódicos e demais fontes que se apresentaram e levantamento
de informações através da coleta de dados estatísticos do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística - IBGE. Para tal contou-se com um período para a
pesquisa em bibliotecas e sites; leitura e análise das monografia/dissertações e
teses sobre o tema e, posteriormente, finalizou-se a pesquisa com a construção
textual da monografia. Por fim, os principais autores utilizados na pesquisa
foram Áries, Donzelot, Birmam e Wagner.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - As Novas Famílias Brasileiras 09
CAPÍTULO II - A Contemporaneidade e seu impacto nas relações familiares 15
CAPÍTULO III – A liquidez das relações na sociedade do desamparo 24
CONCLUSÃO 31
ANEXOS 33
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 35
BIBLIOGRAFIA CITADA 38
ÍNDICE 39
FOLHA DE AVALIAÇÃO 41
INTRODUÇÃO
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O presente trabalho tem como propósito repensar as transformações e o
processo de construção da família – considerada principal responsável pelo
desenvolvimento da infância e da adolescência – frente à sociedade
contemporânea bem como oferecer uma reflexão crítica sobre as relações
familiares.
Para isso, contará com três capítulos divididos da seguinte maneira:
O primeiro capítulo pretende analisar as transformações ocorridas na
família e seu processo de construção. Para isso, conta com o levantamento de
informações através de dados estatísticos do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE.
O segundo capítulo visa (re)pensar as mudanças sociais advindas da
Contemporaneidade bem como o impacto da mesma para as relações
familiares.
O terceiro capítulo propõe uma reflexão sobre os conceitos de falta,
desamparo e fragilidade tendo como base as transformações sócio-históricas
que adentraram nas relações familiares.
Tendo em vista o complexo processo de modificação da família o
presente estudo pretende realizar uma reflexão crítica sobre as novas relações
familiares na Contemporaneidade.
CAPÍTULO I
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AS NOVAS FAMÍLIAS BRASILEIRAS
“Família, família Papai, mamãe, titia (...)
Família, família, Vovô, vovó, sobrinha (...)
Família, família Cachorro, gato, galinha (...)
Família ê, Família a, Família”. (Titãs)
.
A população e a família brasileira têm passado por um processo de
inúmeras mudanças, acompanhando os acontecimentos históricos, econômicos,
sociais e demográficos acontecidos ao longo dos últimos séculos. Nas últimas
décadas diversas transformações foram observadas, tais como: condições de
reprodução da população; diminuição da fecundidade e da mortalidade;
aumento da expectativa de vida; padrões de relacionamento entre os membros
da família; papel da mulher dentro e fora do espaço doméstico; aumento de
uniões consensuais; dentre outras.
Nessa perspectiva, a vida familiar se modificou para todos os segmentos
da população brasileira. A família como instituição jurídica e social mais antiga
na sociedade pode ser pensada sob diferentes aspectos: grupo de afinidade,
estabelecido pela relação de convivência e proximidade entre um cônjuge e os
parentes do outro; unidade doméstica, a qual assegura as condições materiais
necessárias para a sobrevivência; referência e local de segurança, onde ocorre
a formação de valores, dentre outras formas (IBGE,2007).
No entanto, a família tem sofrido inúmeras modificações, principalmente
em função da globalização. Nas gerações passadas, a família era constituída
sob a forma de linhagem, logo em seguida passou a ser composta pelos pais e
filhos dispostos dentro de um lar sob a autoridade do patriarca. Atualmente,
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existe uma evolução dos próprios membros; a autoridade patriarcal passou a ser
dividida com a mãe, que hoje, em muitos casos, é a ‘chefe’ do lar. Segundo
dados do IBGE (2007) a maior proporção de mulheres chefes de ‘famílias’ não
contavam com a presença de marido o que acarreta um aumento de
responsabilidades outras, como preocupação com os afazeres domésticos, com
a educação e o cuidado com seus filhos e com a sua própria qualificação
profissional e vida pessoal (IBGE, 2007, p.206).
Além disso, o tempo em que pais e filhos passam juntos também
decresceu. Assim, o que se presencia, na atualidade, é que o conceito de
família vai muito além da consangüinidade e da necessidade de que seus
membros coabitem o mesmo espaço.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE,
as grandes mudanças ocorridas na família brasileira evidenciaram, ao longo dos
censos, tanto reduções no tamanho médio da família e na taxa de fecundidade
como o aumento do número de famílias cuja referência está centrada na mulher.
Conforme aponta a distribuição de famílias encontradas na Pesquisa Nacional
por Amostras de Domicílios, no período de 1996 a 2006, as mudanças ocorridas
no seio das famílias foram as seguintes: unipessoal (8 a 10,7%); casamentos
sem filhos (13,1 a 15,6%), casamento com filhos (57,4 a 49,4%), mulher sem
cônjuge (15,8 a 18,1%), outros tipos (5,4 a 6,0%). Analisando os dados
demográficos já se tornou comum reconhecer que a família brasileira
contemporânea apresenta arranjos diversos não mais compatíveis com o
modelo romântico e idealizado da família nuclear composta tão somente pelos
pais e seus filhos (IBGE, 2007).
Ainda sobre esses dados, a família pode ser compreendida igualmente
por seus arranjos e laços de consangüinidade, de dependência econômica e/ou
de residência em um mesmo domicílio. Apesar disso e em virtude de uma série
de problemas, normalmente de ordem material ou afetiva ou, ainda, do reflexo
de uma sociedade conturbada e marcada pela efemeridade e pela fragilidade
das relações que eclodiram diretamente sobre a família da sociedade atual,
essa já não é mais exemplo de solidez de convivência mútua entre duas ou
mais pessoas.
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Desta forma, as transformações ocorridas ao longo das últimas
décadas, sem dúvida, trouxeram mudanças no cenário da família brasileira.
Um exemplo disso é o casamento que, na sociedade Contemporânea, é
baseado em escolhas recíprocas de afetividade, sexualidade e noções de
amor. Porém, para Velho (1986), esses valores ainda se encontram à luz da
relação dos indivíduos e de suas famílias. Já Wagner afirma que:
“ O casamento contemporâneo, muito influenciado pelos
valores do individualismo, leva os cônjuges a se
confrontarem, o tempo todo, com forças paradoxais, ou
seja, por um lado, os ideais de autonomia e crescimento de
cada um, e por outro, a necessidade de vivenciar a
realidade comum do casal, os desejos e projetos
compartilhados. A vivência deste paradoxo cria tensões
internas e conflitos que, quando não são resolvidos, muitas
vezes levam à separação conjugal” (WAGNER, 2002, p.
13).
Dessa forma, na atualidade o que se percebe é uma mudança na
maneira de se avaliar o casamento, ou seja, a união não mais precisa ser “até
que a morte vos separe”, pode acabar e as pessoas podem reconstruir suas
vidas. Hoje em dia não há mais garantias da existência do amor romântico que
outrora perduraria para todo o sempre.
Assim, como forma de contemplar a diversidade das organizações
familiares se faz mister apontar alguns exemplos de organização familiar.
1.1 – A multiplicidade dos novos arranjos familiares
As transformações ocorridas ao longo das últimas décadas, sem dúvida,
trazem mudanças no cenário da família brasileira. De acordo com Wagner
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(2005), após a legitimação do divórcio houve um aumento na construção de
novos arranjos familiares: casamento; união estável; famílias monoparentais,
famílias homoparentais, reconstruídas e unipessoais. Assim, faz-se mister
conceituar brevemente os principais arranjos familiares característicos da
Contemporaneidade:
1.1.1 – Casamento
A origem da palavra casamento vem do latim medieval casamentu, “é
definido como ato solene de união entre duas pessoas de sexos diferentes,
capazes e habilitadas, com legitimação religiosa e/ou civil” (FERREIRA,
1995 apud WAGNER, 2005, p. 47). Assim, o casamento pode ser
compreendido pela união por meio do livre consentimento e do
comprometimento entre os futuros cônjuges.
1.1.2 União Estável
A expressão “união estável” foi escolhida pela Constituição Federal de
1988, substituindo a expressão concubinato. Assim a família construída por
meio da união estável não constitui mais uma ofensa aos costumes e valores de
uma sociedade, que tende a preservar, cada vez mais, a tolerância e o respeito
à intimidade das pessoas. Como modo alternativo ao casamento, a família
formada pela união estável ocupa igualmente um grande espaço na vida familiar
brasileira (BRAUNER, 2004).
1.1.3 Famílias Monoparentais
Geralmente formadas após situações de divórcio, separação ou viuvez é
constituída por apenas um dos pais e seu(s) filho(s), quando um dos genitores
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exerce a guarda e a responsabilidade pela criação do filho ou, ainda, refere-se à
relação de adoção, quando uma só pessoa adota uma criança.
1.1.4 Famílias Homoparentais
Apesar de não haver alguma previsão legal para o assunto, verifica-se, na
atualidade, um número cada vez maior de famílias compostas por casais
homossexuais. Entretanto, devido ao paradoxal conservadorismo que ainda
persiste no seio da sociedade, tal temática – tendo como base as famílias
brasileiras – ainda não possui um respaldo jurídico no que se refere a
legalização da união estável entre pessoas do mesmo sexo.
1.1.5 Famílias reconstruídas
Na Contemporaneidade, as separações, o divórcio, e as dissoluções de
uniões estáveis são situações comuns no contexto familiar. As novas famílias
vêm sendo denominadas famílias reconstituídas, recompostas, seqüenciais,
heterogêneas, ou mesmo, famílias em rede. Segundo Kaloustian (1994):
A família é o espaço indispensável para garantir a
sobrevivência de desenvolvimento e da proteção integral
dos filhos, e demais membros, independentemente do
arranjo familiar ou da forma como vem se estruturando. É
a família que propicia os aportes afetivos e, sobretudo
materiais, necessários ao desenvolvimento e bem estar
dos seus componentes. Ela desempenha um papel
decisivo na educação formal e informal, é em seu espaço
que são absorvidos seus valores éticos e humanitários e
onde se aprofundam os laços de solidariedade. É também,
seu interior que constrói as marcas entre as gerações e
são observados valores culturais (KALOUSTIAN, 1994, p.
12).
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Desta forma, a família contemporânea convive e tenta se adaptar as
mudanças políticas, econômicas, sociais, culturais e, principalmente, a sua
própria forma de se relacionar. Estas novas configurações levam a separações,
a novas uniões, o que vem acontecendo freqüentemente. A construção deste
novo núcleo familiar, com novos membros, padrasto, madrasta, os filhos do
padrasto e/ou madrasta, é um fator de alta complexidade, riqueza e ao mesmo
tempo fragilização das mesmas uma vez que traduz a necessidade do ser
humano estar sempre pronto para (re) começar.
1.2 – A complexidade das relações familiares
A complexidade da dinâmica familiar traduz-se de forma inquestionável
na maneira com que seus membros interagem. Com todo esse aparato de
diversidade, o amor, o afeto, enfim, os sentimentos passam a ser também um
desafio tendo em vista que aprender a respeitar e a entender as diferenças,
aprender a educar os filhos e também os filhos do companheiro, dentro de suas
limitações e dificuldades é algo que exige um esforço cada vez maior por parte
de todos os membros dessas ‘novas’ famílias. Por tudo isso os novos arranjos
familiares trazem consigo novos processos de adaptação.
No âmbito da família estão se constituindo novas relações, com o
relaxamento do comportamento dos cônjuges, o deslocamento da importância
do grupo familiar para a importância de seus membros, a idéia de que o “amor”
constitui uma condição para a permanência da conjugalidade e a substituição de
uma educação conservadora, modeladora e corretiva das crianças, por uma
prática pedagógica de negociação. Vê-se, com tudo isso, a ‘plasticidade’ que
incide nestas novas relações sociais e familiares e que permeiam esta nova
realidade.
Na contemporaneidade observa-se uma verdadeira revolução no modo
de pensar sobre si e no modo de se formar novos laços e novas relações sociais
(GIDDENS, 2000). Convive-se, hoje, com diversas formas vinculares – formas
tradicionais como a da ‘família nuclear’ e formas constituídas por casais
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homossexuais, monoparentais, recasados e outras. É um verdadeiro
contingente da diversidade.
CAPÍTULO II
A CONTEMPORANEIDADE E SEU IMPACTO NAS
RELAÇÕES FAMILIARES
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“Família é quem você escolhe pra viver
Família é quem você escolhe pra você
Não precisa ter conta sangüínea
É preciso ter sempre um pouco mais de sintonia”.
(O Rappa)
Nas últimas décadas, várias mudanças ocorridas no plano
socioeconômico - cultural pautadas no processo de globalização da economia
capitalista, vêm interferindo na dinâmica, na organização e na estrutura familiar
contemporânea.
Nesse sentido, o processo de mudanças oriundas ao longo dos séculos
XVIII, XIX, XX e, atualmente, século XXI desencadearam modificações nas
seguintes condições: procriação (inseminação artificial; barriga de aluguel;
congelamento de embriões e banco de esperma); mudanças nas formas de
filiação e de criação dos filhos (sistema de adoção; monoparentalidade;
homoparentalidade); novas práticas e novos limites referentes à sexualidade
(transexualidade; sexo virtual; aumento do índice de doenças sexualmente
transmissíveis).
Com isso, as reações a esta nova forma de se pensar a
Contemporaneidade caracterizou-se pelo pensamento do fim da família, da
decadência dos costumes e da moral e do estremecimento dos laços familiares.
Conforme Figueira & Velho (1981), a mudança no modelo familiar
somente foi possível por meio de três grandes fenômenos: Tomada de controle
das famílias pelo Estado; Separação entre o espaço designado para o trabalho
e os espaços reservados para a realização das demais atividades (lar x
trabalho); Natureza psicológica das revoluções Industrial e Afetiva. Com isso, a
família assume novo status, torna-se o domínio do privado, o único local de
refúgio e de responsabilidade por transmitir amor, educação – no sentido de
valores e normas – e manter a rede social – composta pelos demais parentes,
vizinhos, amigos e a comunidade.
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Entretanto, a valorização/centralização na/da família não se deu
conforme um ‘big bang’. Assim, para compreender sua construção se faz mister
atentar para as transformações sócio-históricas que atuaram como percussores
dessa nova concepção de família.
2.1 – Da Idade Média à Contemporaneidade
Na Idade Média – época marcada pelo ressurgimento do pensamento
cristão – o mundo ocidental, ao contrário de outras culturas, era monoteísta –
crença em um só Deus – e orientava a vida humana.
Para que o contato com Deus fosse possível era necessário que
houvesse a mediação por parte da Igreja Católica que, por muitos séculos,
manteve-se como única responsável por organizar as famílias, a política, a
justiça, a economia e as Terras.
De acordo com Houaiss (2001), antigamente, a família – derivada do
latim famulus - era representada por um conjunto de doméstico, de servidores,
de escravos dependentes de um chefe ou senhor, ou seja, detinha
características que a classificavam como modelo de linhagem. Os antigos
gregos e romanos acreditavam que esposas e filhos eram fâmulos de um
patriarca (WAGNER, 2002), sugerindo que, primitivamente, considerava-se a
família como sendo o conjunto de escravos ou criados de uma mesma pessoa.
O aumento do número dos povos cristãos; a posse de Terras por parte
dos Turcos – considerados, pela Igreja Católica, como infiéis -; a escassez de
Terras e de alimentos; ocasionaram o surgimento das Cruzadas – expedições
cristãs formadas por cavaleiros e fiéis que iam para o Oriente Médio salvar os
lugares santos das mãos dos ‘infiéis’.
Como conseqüência deste movimento e da crise que se estabeleceu na
Europa devido a uma série de dificuldades houve, além da desarticulação da
organização feudal – derivada do desequilíbrio entre produção agrária e
consumo de mercadorias, aumento das guerras, da fome, da mortalidade e das
pestes e epidemias, diminuição do mercado consumidor e da mão-de-obra; a
intensificação da atividade mercantil; a abertura do Mediterrâneo; o contato com
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outros povos; o desenvolvimento comercial; o crescimento das cidades e,
principalmente, o aparecimento de uma nova classe social – a Burguesia.
O surgimento desta nova classe fez emergir o renascimento cultural, o
florescimento artístico, o crescimento das atividades mercantis que deram
origem à economia pré-capitalista e permitiu, a partir da acumulação de capitais,
a transição do processo produtivo de manufaturas para o desenvolvimento
industrial da economia capitalista; o surgimento do Estado Absolutista e,
principalmente, a ascensão moral da família (ARIÈS, 1981).
Todo esse processo de mudanças interferiu diretamente nas relações
individuais e, principalmente, na Família. Ainda sobre, segundo Donzelot (1986),
o advento da economia liberal desencadeou uma série de problemas, como, por
exemplo, clivagens nas condições de vida e de costumes. Também, outros
fatores como o aumento do desenvolvimento científico e tecnológico, alteraram
a face do mundo criando um novo ritmo de vida. Entretanto, tais avanços foram
acompanhados de graves alterações sociais e políticas das quais destacam-se:
as grandes Guerras Mundiais que vão determinar o surgimento de uma nova
geração de indivíduos, cenários e tendências que marcarão o nascimento da
Contemporaneidade.
Adentrando na temática da família contemporânea observa-se que, desde
a Revolução Industrial, século XVIII, aos dias atuais o ambiente familiar foi
adquirindo novos formatos e sofrendo inúmeras interferências externas e
internas. De acordo com Figueira & Velho (1981), a aglomeração urbana passa
a se constituir em pequenas ilhas fazendo, com isso, desaparecer o espaço
intersticial e aumentar o setor privado familiar. Dessa forma, a família passa a
atuar como forma modeladora e socializadora de seus membros.
2.2 – O nascimento da família brasileira: De 1500 aos dias de hoje
O período pré-colonial caracterizado por feitos como a descoberta do
Brasil, século XVI, foi marcado pelo grande desinteresse em termos de
valorização da Terra brasileira, por várias razões, como: existência do
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monopólio comercial com as Índias; limitada exploração do Pau Brasil – riqueza
mais evidente.
A colonização que, em princípio, teria cunho explorativo, transformou-se
em colonização de povoamento a fim de se garantir o domínio de Portugal sobre
as terras brasileiras. O povoamento e a formação dos povos brasileiros ocorreu
da seguinte forma cronológica: presença de nativos indígenas (até 1500);
chegada dos brancos no Brasil (1500); início da colonização (1530); chegada
dos primeiros negros (1550). A chegada de novos povos e raças resultou na
chamada miscigenação e, no surgimento da sociedade do açúcar, século XVII.
Partindo de um contexto sócio-histórico vê-se que o processo de
colonização no Brasil deu-se sobre a égide de um tripé fundamentalmente
estruturador da sociedade brasileira - o latifúndio, a escravidão e uma economia
agro-exportadora. Assim, pode-se definir a família senhorial como resultante
desse tripé. Nessa sociedade, a autoridade do senhor de engenho era absoluta
também em relação a sua família: ele interferia desde a profissão dos filhos até
a escolha do marido dos filhos. Por isso, considera-se tal sociedade – dominada
pelos homens, chefes de família – Patriarcal (FREIRE, 1933).
Seguindo a tradição da época em que os portugueses se instalaram no
Brasil, a família não se compunha apenas de marido, mulher e filhos, ou seja,
representava um verdadeiro clã (esposa, eventuais (e disfarçadas) concubinas,
filhos, parentes, padrinhos, afilhados, amigos, dependentes e ex-escravos).
Uma imensa legião de agregados submetidos à autoridade indiscutível que
emanava da temida e venerada figura do pater (o patriarca).
Era o grande senhor rural, proprietário de terras incomensuráveis, onde se
plantavam as bases da economia brasileira: café, cacau, cana-de-açúcar e
outras grandes lavouras. Era ele que desde os tempos coloniais e imperiais
presidia a única ordem perfeita e íntegra da sociedade brasileira: a organização
familiar.
Assim, a grande família patriarcal, ocupava todos esses espaços. E o
que não fosse provido por ela representava um corpo estranho e indesejável.
Era considerada, também, o sustentáculo do Estado uma vez que impedia que
a população, tão escassa e quase nômade, se pulverizasse neste imenso país.
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A famflia patriarcal era, portanto, a ‘espinha dorsal’ da sociedade e
desempenhava os papéis de procriação, administração econômica e direção
política.
Na Casa Grande - coração e cérebro das poderosas fazendas - nasciam
os numerosos filhos e netos do patriarca, traçavam-se os destinos da fazenda e
educavam-se os futuros dirigentes do país. A unidade da família devia ser
preservada a todo custo, e, por isso, eram comuns os casamentos entre
parentes. A fortuna do clã e suas propriedades se mantinham assim indivisíveis
sob a chefia do patriarca (FREIRE, 1933). A família patriarcal era o mundo do
homem por excelência.
Nesse universo masculino, os filhos mais velhos também desfrutavam
imensos privilégios, especialmente em relação a seus irmãos. E os homens, em
geral, dispunham de infinitas regalias, a começar pela dupla moral vigente, que
lhes permitia aventuras com criadas e ex-escravas, desde que fosse guardada
certa discrição, enquanto que às mulheres tudo era proibido, desde que não se
destinasse à procriação. Até mesmo as linhas de parentesco, tão caras à
sociedade patriarcal, só se tomavam "efetivas" quando provinham do homem.
Desse modo, a mulher perdia a consangüinidade de sua própria família de
origem, para adotar a do esposo (FREIRE, 1933).
Já no decorrer do século XIX, principalmente da metade para o fim, o
Brasil viveu grandes transformações sociais, econômicas e políticas – abolição
da Escravatura; Proclamação da República; aumento do número de indústrias;
aumento; crescimento do número das cidades; aumento no número de
imigrantes e do ‘poder’ de consumo; advento da luz elétrica; surgimento de
novas profissões e outros fatos que culminaram no modelo da Família Nuclear
Burguesa.
Tal modelo vem marcado por inúmeras mudanças: presença da
Hierarquização em detrimento da centralização no ‘poder’ nas mãos do
Patriarca; presença de uma identidade ‘posicional’ em relação a idade e ao sexo
dos membros da família em detrimento do modelo de submissão a autoridade
paterna, dentre outras características que, com uma série de acontecimentos -
as duas Grandes Guerras Mundiais, a revolução sexual dos anos 60; a indistinta
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diferenciação entre os sexos, valorização do corpo belo, produzido, estilizado e
bissexualizado; o aumento da valorização da criança; o aumento do poder
feminino e dentre outros acontecimentos que contribuiram para a formação e a
necessidade de reflexão acerca da Família Contemporânea.
2.3 – Reflexões acerca da Família Contemporânea
A família moderna a partir de sua nova forma de se preocupar com seus
membros fez emergir – ao mesmo tempo – o sentimento de pertencimento e de
família. Além disso, na família, passa a se dá também os fatos básicos da vida:
o nascimento, a união entre os sexos, a morte. No entanto, a história da família
não segue uma lógica linear, mas descontínua, haja vista o registro dos diversos
modelos familiares.
A família vai ser a concretização de uma forma de viver os fatos básicos
da vida por meio de sua estrutura universal que tende a ser a base das relações
humanas através das quais ocorrem a formação inicial dos vínculos.
Segundo Strauss apud Carvalho (1995, p.41), fundamental da família
não está na natureza social; as famílias se constituem como aliança entre
grupos.
Esses reposicionamentos sociais e essas redefinições de papéis
juntamente com as mudanças provenientes do advento o uso da pílula
anticoncepcional, redefinição do casamento e regularização do divórcio foram
profundas e passaram a integrar a nova paisagem social.
Segundo Bauman (1998), a marca da Contemporaneidade é a vontade
de liberdade e esta tende a acompanhar a velocidade das mudanças
econômicas, tecnológicas, culturais e do cotidiano.
Ainda sobre, Sarti (1995) aponta que, no mundo Contemporâneo, a
família deixou de ser “unidade de produção” para assumir o papel de “unidade
de consumo” proveniente, principalmente, pela perda do sentido da tradição. Por
conta disso, o amor, o casamento, a família, a sexualidade e o trabalho antes
vividos por meio de papéis pré-estabelecidos passam a ser concebidos como
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parte de um projeto em que a individualidade prevalece e adquire cada vez mais
importância social e implicações nas relações familiares.
Assim, o caráter relacional da família corresponde à lógica de sua
própria construção.
De acordo com Osterne (2001):
“ Alguns fatores importantes contribuíram no processo
histórico para as mudanças na estruturação da família: As
relações de mercado e a crescente industrialização que
modificaram, lenta, mas radicalmente, o status social da
família; A ascensão do capitalismo que determinou a união
da família a fim de se vencer as controvérsias da vida e, ao
mesmo tempo, enfraqueceu como grupo extenso, incapaz
de subsistir aos ambiente de proletariarização” (OSTERNE,
2001, p.53).
Dessa forma, não se pode falar de família, mas de “famílias” a fim de se
contemplar a diversidade de relações que convivem na sociedade. No
imaginário social a família compreende laços de consangüinidade, dependência
econômica e/ou afetiva. Entretanto, há dificuldade de se definir família uma vez
que depende do contexto sociocultural em que a mesma esta inserida.
Assim, a família é não somente uma instituição de origem biológica –
encarregada de transformar um organismo biológico em ser humano –, mas
também uma construção social, um espaço indispensável para a garantia da
sobrevivência, de desenvolvimento e de proteção integral dos filhos e de seus
demais membros independente do arranjo familiar ou da forma como se
estruturam. Conforme Alencar (1985) cabe a família possibilitar a socialização e
a transmissão de valores, crenças e costumes da sociedade da qual está
inserida para todos os seus membros.
Ainda sobre, autores como Amaral (2001) apontam para o que se
convencionou chamar de “sentimento de família” tendo em vista a formação da
mesma por meio do entrelaçamento de emoções; das ações pessoais,
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familiares e culturais formando o mundo familiar – espaço único para cada
família, mas circular para a sociedade e para as interações com o meio social.
Trata-se, em verdade, da célula mater da sociedade, do seu núcleo inicial,
básico e regular.
Ainda para este autor, a família contemporânea fez emergir necessidades
de intimidade e de identidade entre seus membros possibilitados pela união por
meio de sentimentos, de costumes e de gênero da vida.
Segundo Sarti (1995), a família não se resume somente a um forte elo
afetivo, mas ao próprio substrato de sua identidade social e simbólico que a
estrutura e a justifica no mundo.
É sabido, também, que cada pessoa tem sua própria representação da
família real e da família sonhada, da sua própria família e da família do outro.
Entretanto, a família não se traduz como algo concreto, mas sim como algo
construído a partir de elementos da realidade.
De acordo com Petrini (2003), a família encontra novas formar de
estruturação que, de alguma forma, a reconstituem sendo reconhecida como
estrutura básica e permanente da experiência humana.
Por tudo o que fora exposto até o momento é possível crer que se vive,
na Contemporaneidade, mudanças sociais importantes em diferentes níveis.
Nesse contexto presencia-se, por meio do regime da acumulação de capital
flexível que possibilita a emergência e a parceria com a atual globalização que
produz implicações no Ocidente, a acumulação flexível que passa a valorizar o
efêmero, o fugido, a novidade e a fluidez das relações e que proporciona a
instabilidade e a fragilidade das relações afetivas e familiares.
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24
CAPÍTULO III
A LIQUIDEZ DAS RELAÇÕES NA SOCIEDADE DO
DESAMPARO
“A família foi, desta maneira, onerada
com um duplo trabalho, para atingir suas
finalidades éticas: formar cidadãos
iguais, a partir de pessoas desiguais e
formar sujeitos realizados, a partir de
consciências infelizes. A dignidade
familiar assentou-se em alicerces
precários e dessa precariedade surgiu o
mal-estar contemporâneo”.
(COSTA, J.F, 2005)
O mundo de hoje vem apresentando mudanças avassaladoras e
profundas de valores, de comportamentos e de identidades. As modificações
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25
ocorridas ao longo do tempo possibilitaram o desencadeamento, na
contemporaneidade, de novos tipos de relacionamentos muito mais
efêmeros, frágeis e superficiais.
Desde as últimas décadas se vive mudanças sociais importantes nos
diversos contextos sociais: vive-se o regime de acumulação de capital
flexível; vive-se a globalização em suas dimensões sócio-econômicos,
culturais e tecnológicos. Tudo isso atrelado à fluidez, à novidade, ao efêmero
e ao fugido passam a ser valorizados e a fazer parte das práticas que se
constituem na Contemporaneidade. Segundo Sibília (2008):
“ Nesta cultura das aparências, do espetáculo e da
visibilidade, já não parece mais haver motivos para
mergulhar naquelas sondagens em busca dos sentidos
abissais perdidos dentro de si mesmo. Em lugar disso,
tendências exibicionistas e performáticas alimentam a
procura de um efeito: o reconhecimento nos olhos alheios
e, sobretudo, o cobiçado troféu de ser visto. Cada vez
mais, é preciso aparecer para ser. Pois tudo aquilo que
permanece oculto, fora do campo da visibilidade – seja
dentro de si, trancado no lar ou no interior do quarto próprio
– corre o triste risco de não ser interceptado por olho
algum. E, de acordo com as premissas básicas da
sociedade do espetáculo e da moral da visibilidade, se
ninguém vê alguma coisa é bem provável que essa coisa
não exista” (SIBÍLIA, 2008, p.111).
Ainda sobre, Costa (2005) nos fala que a fim de cumprir as exigências
sócias a família passou a operar duplamente como formadora de cidadãos
iguais, mas por meio de pessoas desiguais e formar sujeitos realizados, por
meio de consciências infelizes. A dignidade da mesma constituiu-se por meio de
alicerces precários que possibilitaram o desencadeamento do mal-estar
contemporâneo.
-
26
Já para Birman (1999), esse mal-estar se justifica pela nossa vivência
em mundo perturbado e conturbado diante do qual nossos instrumentos
interiores interpretativos ficam bem aquém da agudeza e da rapidez dos
acontecimentos.
Partindo do conceito atual denominado por Debord (1967) de ‘sociedade
do espetáculo’, verifica-se, hoje, uma diminuição do espaço para reflexão sobre
si, sobre os outros e sobre o mundo, mas sim o que rege a cultura do nosso
tempo é o consumo desenfreado, o individualismo e a busca pelo bem-estar a
curto prazo. Para o autor:
“ o espetáculo se apresenta como uma enorme
positividade indiscutível, pois seus meios são ao mesmo
tempo seus fins e sua justificativa é tautológica: “O que
aparece é bom, e o que é bom aparece”. Nesse monopólio
da aparência, tudo o que fica do lado de fora simplesmente
não é” (DEBORD apud SIBÍLIA, 2008, p. 112).
Ainda sobre, presencia-se uma Contemporaneidade marcada pela cultura
do narcisismo (LASCH, 1984) e da efemeridade. Inserido nesse contexto de
exacerbação de si e de desvalorização do Outro é que se pode melhor
compreender a liquidez e a fragilidade dos laços sociais.
Como cita Birman (1999):
“ Os destinos do desejo assumem, pois, uma direção
marcadamente exibicionista e autocentrada, na qual o
horizonte intersubjetivo se encontra esvaziado e
desinvestido das trocas inter-humanas” (BIRMAN, 1999, p.
24).
Entretanto, se de um lado nos é concedida certa liberdade de escolha, do
outro o ser humano é marcado pela ‘falta’. O Outro cede lugar a vários ‘Outros’
cuja função primária não se traduz como responsável pelo desenvolvimento.
Tendo em vista que, para se desenvolver, o ser humano necessita do ‘Outro’ é
-
27
que se pode compreender o paradoxo no qual a Contemporaneidade firma sua
existência.
Ainda para o referido autor, a fragmentação da subjetividade trouxe como
reação o autocentramento do sujeito no EU, porém, de uma forma diferente do
individualismo moderno. Pois, enquanto a subjetividade moderna constitui-se no
duplo registro da interioridade e da reflexão sobre si mesmo, a subjetividade
contemporânea sustenta o paradoxo de um autocentramento voltado para a
exterioridade, em que a dimensão estética, dada pelo olhar do ‘Outro’, ganha
destaque (BIRMAN, 1999).
Com tantas transformações e sendo esta a cultura do ‘espetáculo’
caracterizada pela atuação performática do sujeito frente ao ‘Outro’ – objeto que
lhe possibilita o gozo – e, também, sendo esta uma sociedade narcísica é que é
possível dizer que se vive hoje a cultura do fugaz, do efêmero, dos valores
superficiais e não mais centrado nas normas sociais. Tais mudanças tendem a
justificar as novas relações dentro da família.
Nessa perspectiva paradoxal a família pode ser entendida como marco
fundamental das relações sociais primárias, como célula fundamental na
formação e no desenvolvimento do ser humano e ao mesmo tempo como
responsável por disseminar a neurose.
Segundo Alencar (1985) cabe à família – por meio de sua força
modeladora garantir aos seus membros a socialização através da transmissão
de valores, crenças e costumes sociais. Sendo assim, atribui-se a ela, também,
a responsabilidade por possibilitar a união dos seus membros baseada no Amor
e no Afeto.
3.1 – O amor e seu lugar nos dias de hoje
É inegável a importância da história para a concepção do Amor. Na
Antiguidade a experiência amorosa possuía um lugar marginal na vida de
indivíduos e grupos. Entretanto, foi a partir do Renascimento – com a
valorização do homem (Antropocentrismo) e do prazer (Hedonismo) – que
ocorreu uma mudança na maneira de se conceber o Amor e o Afeto. Assim,
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28
pode-se dizer que o que se convencionou chamar de Amor Moderno serviu para
indicar a integração entre o desejo/prazer do homem na ordem social (LÁZARO,
1996).
Ainda sobre, é importante lembrar que as transformações porque passa
a sociedade ocidental – séculos XVII e XVIII – tendem a desorganizar /
(re)organizar os modelos sociais. Assim, o advento da burguesia acaba por
fortalecer a célula familiar como unidade de afeto uma vez que acredita ser a
família responsável por garantir aos membros um ambiente de ordem e
estabilidade. Vê-se, com isso, não somente a privatização da família, mas
também a oposição ao mundo que, por ser público, tornou-se instável
(DONZELOT, 1986). Para Giddens (2002), as transformações sociais na
modernidade, principalmente fomentadas pela chegada da industrialização e
pela transformação do trabalho, vêm produzindo profundas modificações nas
subjetividades e identidades dos sujeitos e nas interações estabelecidas nas
suas relações sociais.
Ainda sobre, para Áries (1981), essa nova preocupação para com a
família fez com que esta assumisse uma nova função – para além do direito
privado – de se responsabilizar pelo cuidado moral e espiritual de seus
membros:
“ A família cumpria uma função – assegurava a
transmissão da vida, dos bens e dos nomes – mas não
penetrava muito longe na sensibilidade (...). essa nova
preocupação fez com que a família deixasse de ser apenas
uma instituição de direito privado e assumisse sua nova
função moral e espiritual (formação de corpos e almas). O
cuidado dispensado às crianças passou a inspirar
sentimentos novos (Sentimento Moderno da Família)”
(ARIÈS, 1981, p.193).
Com isso, verifica-se que a família aparece como instituição responsável
pelos afetos, sentimentos e Amor. Segundo Lázaro (1996, p.161): “As
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29
frustrações afetivas decorrentes da inserção dos indivíduos numa rede de
interdependência mais complexa e diferenciada podem auxiliar na compreensão
da fragilização dos laços sociais”.
Com base nessa conceituação e também nas mudanças que ocorreram
nos relacionamentos amorosos é possível dizer que o ser humano está cada vez
mais à procura ‘de’, alterando, por vezes, a maneira de lidar, não somente com
sua forma de se relacionar, mas também com o modo de conceber a felicidade,
o prazer e a si mesmo.
3.2 – Do individualismo à sociedade do desamparo: algumas
reflexões
Numa perspectiva sócio-histórica e cultural, a família ocidental
presenciou grandes mudanças no que se refere ao seu processo de
individualização, principalmente ao longo da segunda metade do século XX até
os dias atuais: diminuição da durabilidade dos casamentos e das famílias
numerosas; aumento do número de divórcios e de recasamentos; regularização
da união estável (antes chamado ‘Concubinato’); surgimento dos mais variados
modelos de famílias – monoparentais, nucleares, unipessoais, homoparentais,
recompostas, dentre outros.
Atualmente, o elemento central que regulamenta as famílias é o espaço
privado sempre a serviço de seus membros. Segundo a visão psicanalítica,
grupo familiar detém uma função estruturante no psiquismo do ser humano.
Para Freud (1929), a inserção do indivíduo no social somente é possível por
meio do Complexo de Édipo e do Complexo de Castração.
Ainda sobre e com base na cultura ocidental, Lacan (2002) acredita que
esta introduz uma nova dimensão na realidade social e na vida psíquica e é
essa dimensão que vai especificar a família humana bem como os fenômenos
sociais. Além disso, cabe à família o papel primordial na transmissão da cultura
(repressão de instintos e aquisição da língua). Para Lacan, a família moderna
aparece como uma contradição da instituição familiar e mostra uma estrutura
-
30
complexa, uma vez que perpassa por complexos cujos papéis são de
organizadores no desenvolvimento psíquico: Complexo do Desmame –
representa a forma primordial da imago paterna, pois funda os sentimentos mais
arcaicos e estáveis que unem o indivíduo à família; Complexo de Intrusão –
reconhecimento dos irmãos permeados pela identificação mental – ciúme
infantil; e, o Complexo de Édipo.
Entretanto, o sujeito é uma realidade psíquica – histórico-cultural – que
não pode ser pensado independente de sua realidade subjetiva e de suas
causas sociais. A (re)estruturação das sensibilidades e dos julgamentos no
campo afetivo é deveras complexa, posto que é nela que se ancora a
estabilidade das identidades pessoais.
O sujeito contemporâneo – liberado da força normativa das instituições
familiares, religiosas e trabalhistas – vê-se levado a apoiar-se de forma narcísica
e hedonista. Este mesmo sujeito está sempre à procura daquilo que lhe ‘falta’, já
que seu comportamento é estimulado pelo neoliberalismo econômico. Assim,
faz da regrada felicidade a chave mestra dos ideais formadores de sua
identidade.
As identidades narcísicas e hedonistas do sujeito da atualidade fizeram
com que este se torna-se indiferente ou pouco sensível em relação aos outros e
aos projetos pessoais duradouros. Daí a noção de efemeridade e de
superficialidade nas relações. Segundo Dufour (2005), o indivíduo pós-moderno
é sujeito sozinho, mas livre. Este, quando bem sucedido tende a sentir-se
onipotente e quando isso não ocorre percebe-se impotente e envergonhado, ou
seja, imergido em sua intolerância narcísica à frustração. Não há sentimento de
culpa e nem de Outro simbólico, isto significa dizer que na Contemporaneidade,
nem pai, nem padre, nem padre, nem médico funcionam como autoridade
simbolicamente legitima para corrigir, ratificar ou regular os rumos tomados
pelas práticas individuais. Nela o sujeito é órfão do “Outro”.
Sendo assim, o homem contemporâneo, para o mesmo autor, não
compartilha os valores simbólicos da Modernidade – identidade, reconhecimento
e filiação. Na sociedade atual, os homens são solicitados a se livrarem de todas
as sobrecargas simbólicas que garantiriam suas trocas e, com isso, passa a ser
-
31
o “Mercado”, responsável por prover, de forma perversa, novos ‘Kits Identitários’
e de ‘Identificação’.
Entretanto, o Mercado não pode funcionar como o ‘Outro’ porque não
remete à transversalidade das relações e nem à origem que a funda. É
horizontal e determina que tudo deve ser posto em rede – não há idéia de um
terceiro, primordial para a constituição psíquica dos sujeitos. O capitalismo, para
o autor, com a dessimbolização, não conduz apenas à perversão, mas à
psicotização, já que não visa prover formas de amparar os sujeitos, mas sim
torná-los órfãos, abandonados, desamparados uma vez que, diante da negação
da diferença geracional (ter nascido na geração precedente) e da diferença
sexual (ter nascido feminino ou masculino), o sujeito deve responder ao
impossível: fundar-se sozinho.
Ainda sobre, outro autor que vai tratar das mudanças econômicas que
tendem a moldar valores sociais e pessoais é Richard Sennett. Segundo este
autor, a fragmentação das grandes instituições deixa um estado fragmentário na
vida dos indivíduos. Assim, o desafio do sujeito contemporâneo é lidar com o
tempo – relação de curto prazo – e sua instabilidade – única constante do
capitalismo; com o talento (meritocracia) e com a política do consumo
(necessidade associada à paixão consumptiva) (SENNETT, 2006).
Tudo isso tende a refletir diretamente sobre a família que, por ser
responsável por repassar valores e socializar seus membros, vai se descobrir
também impotente, saudosa e, apesar de cobrada, com pouquíssima autoridade
sobre seus membros.
Hoje é possível dizer que, com a variedade disponibilizada pelo
Mercado, a falta que se estabeleceu circula sobre aquilo que nunca se teve,
mas sempre se desejou e é sobre essa nova concepção de sujeito, família e
sociedade que se deve refletir.
-
32
CONCLUSÃO
Na família se dão os fatos básicos da vida: o nascimento, a união entre
os sexos, a morte. No entanto, a história da família não é linear, mas
descontínua haja vista o registro de padrões familiares distintos com suas
diversas explicações como alternativa do modelo familiar.
Nesse sentido, a família atual vai ser a concretização de uma forma de
se viver os fatos básicos da vida; ela se relaciona, mas não se confunde
exclusivamente com o parentesco – relação de consangüinidade, dependência
ou afinidade. Por ser considerada como estrutura universal uma vez que existe
em todas as sociedades traduz-se como grupo social responsável pela
realização e pela manutenção dos vínculos.
No mundo contemporâneo, as mudanças ocorridas na família
relacionam-se com a ‘fragilização’ e/ou ‘perda’ do sentido de tradição. Assim, o
amor, o casamento, a família, a sexualidade e o trabalho, antes vividos a partir
do preestabelecimento de papéis, passam a ser concebidos como parte de um
projeto em que a individualidade conta decisivamente e adquire cada vez mais
importância social. Assim, o caráter relacional da família tende a corresponder a
lógica de sua própria construção.
A família contemporânea, considerada como ‘micro’ unidade de
consumo e de subsistência reflete o sentimento de se estar vivendo em um
mundo incerto, incontrolável e assustador, algo diferenciado da segurança
projetada em torno de uma vida social estável. Vive-se, com isso, a lógica da
satisfação instantânea e a cultura da sociedade do consumo desenfreado, do
-
33
individualismo, do esquecimento e da inquietação. Essas mudanças de
comportamento e de regras construídas e reproduzidas através das relações
sociais tendem a repercutir diretamente sobre a família que em sua
‘primogenitura’, no que se refere ao individualismo, sente o impacto de suas
imposições narcísicas.
Por tudo isso se faz mister (re)pensar a família contemporânea brasileira
considerando-se não somente a sua base de construção sócio-histórica como
também a sua singularidade imbuída numa sociedade movida não pelo ‘desejo’,
mas pela ‘falta’, pela necessidade cada vez mais perversa e ‘ditadora’ do
Mercado e pela urgência de reconhecimento por aquilo que se tem e não pelo
que se é. Na Contemporaneidade não há espaços para reflexões, talvez
pequeninas ‘brechas’.
Entretanto, ainda é preciso e possível acreditar que a modificação no
‘pensar’ e no ‘olhar’ de forma singular as famílias é o que possibilitará o
fortalecimento de suas relações. Reconhecer e aprender a contextualizar tais
mudanças e seu impacto sobre as famílias como forma de acolher sua demanda
e contribuir para que estas visualizem suas potencialidades é o papel que cada
terapeuta de família deve ter.
-
34
ANEXO
GRÁFICOS
IBGE (2007). Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de
vida da população brasileira. Estudos & Pesquisas, Informação
Demográfica e Socioeconômica 21, 2007. Disponível em
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicad
oresminimos/sinteseindicsociais2007/default.shtm
Gráfico relacionado a distribuição dos arranjos familiares residentes em
domicílios particulares, segundo o tipo de arranjo familiar – Brasil 1996-2006
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1996/2006.
-
35
(1) Exclusive a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima,
Pará e Amapá.
-
36
Gráfico relacionado a proporção de arranjos familiares constituídos por mulheres
sem conjugue com filhos, segundo as Regiões Metropolitanas – 1996-2006
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1996/2006.
Nota: Considera-se mulher sem conjugue com filho como arranjo
familiar monoparental feminino.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
-
37
ALENCAR, E.M.L.S. A criança na família e na sociedade. 2ª ed. Petrópolis:
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AMARAL, C.C.G. Famílias às avessas: gênero nas relações familiares de
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ARIÈS, P. História Social da Criança e da Família. Tradução de Dora Floksman.
2ª ed. Rio de Janeiro: LTC ed., 1981.
BAUMAN, Z.. O mal-estar na Modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
1998.
BIRMAN, J. Mal-Estar na Atualidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1999.
BRAUNER, M.C.C. O pluralismo no direito de família brasileira: realidade social
e reinvenção da família. In WELTER, B.P.; MADALENO, R.H. Direitos
fundamentais do direito de família. Porto Alegre: Livraria do Advogado Ed.,
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CARVALHO, Maria do Carmo Brant (org). A Família Contemporânea em
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COSTA, J.F. Família e Dignidade Humana. In CONGRESSO BRASILEIRO DE
DIREITO DA FAMÍLIA, Belo Horizonte, 2005.
DEBORD, G. A Sociedade de Espetáculo: comentários sobre a sociedade do
espetáculo. Rio de Janeiro: Ed. Contraponto, 1967.
DONZELOT, J. A Polícia das Famílias. Tradução de ALBUQUERQUE, J.A.G. 2ª
edição. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1986.
-
38
DUFOUR, D.R. A arte de reduzir cabeças: sobre a servidão na sociedade
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FIGUEIRA, S.A.; VELHO, G. Família, Psicologia e Sociedade. Rio de Janeiro:
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FREIRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. Rio de Janeiro: Ed. Record, 1933.
FREUD, S. O mal-estar na civilização. In FREUD, S. Obras Completas. Rio de
Janeiro: Imago, 1994 [1929].
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http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresm
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LACAN, J. Os complexos Familiares. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002.
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39
LASCH, C. A Cultura do Narcisismo. Rio de Janeiro: Imago, 1984.
LÁZARO, A. Amor: Do Mito ao Mercado. Petrópolis: Vozes, 1996.
OSTERNE, Maria do Socorro Ferreira. Família, pobreza e gênero: O lugar da
dominação masculina. Fortaleza: EDUECE, 2001.
PETRINI, J.C. Pós-modernidade e família. Bauru: Ed. EDUSC, 2003.
SARTI, C.A. Família e individualidade: um problema moderno. In CARVALHO,
M.C.B (org). A Família Contemporânea em Debate. São Paulo: EDUC Cortez,
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SENNETT, R. A Cultura do Novo Capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 2006.
SIBÍLIA, P. O show do eu. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
VELHO, G. Subjetividade e Sociedade: Uma experiência de geração. Rio de
Janeiro: Vozes, 1986.
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Vozes, 2002.
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BIBLIOGRAFIA CITADA
ARIÈS, P. História Social da Criança e da Família. Tradução de Dora Floksman.
2ª ed. Rio de Janeiro: LTC ed., 1981, 193p.
-
40
BIRMAN, J. Mal-Estar na Atualidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1999, 15-26p.
CARVALHO, Maria do Carmo Brant (org). A Família Contemporânea em
Debate. São Paulo: EDUC, 1995, 41p.
INSITITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Síntese
de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população
brasileira. Estudos & Pesquisas, Informação Demográfica e Socioeconômica 21,
2007.
Disponível em
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KALOUSTIAN, S. M. Família Brasileira a base de tudo. 4 ed. São Paulo: Cortez;
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LÁZARO, A. Amor: Do Mito ao Mercado. Petrópolis: Vozes, 1996, 161p.
SIBÍLIA, P. O show do eu. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008, 89-112p.
OSTERNE, Maria do Socorro Ferreira. Família, pobreza e gênero: O lugar da
dominação masculina. Fortaleza: EDUECE, 2001 53p.
WAGNER, A. Família em cena. Tramas, dramas e transformações. Petrópolis:
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WAGNER, A. Como se perpetua a família? A transmissão dos modelos
familiares. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005, 47p.
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-
41
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
-
42
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
As Novas Famílias Brasileiras 9
1.1 - A multiplicidade das relações familiares 11
1.1.1 – Casamento 11
1.1.2 - União Estável 12
1.1.3 - Famílias Monoparentais 12
1.1.4 - Famílias Homoparentais 12
1.1.5 - Famílias reconstruídas 12
1.2 – A complexidade das relações familiares 13
CAPÍTULO II
A Contemporaneidade e seu impacto nas relações familiares 15
2.1 – Da Idade Média à Contemporaneidade 16
2.2 – O nascimento da família brasileira: De 1500 aos dias de hoje 18
2.3 – Reflexões acerca da Família Contemporânea 20
CAPÍTULO III
A liquidez das relações na sociedade do desamparo 24
3.1 – O amor e seu lugar nos dias de hoje 26
3.2 – Do individualismo à sociedade do desamparo: algumas reflexões 27
CONCLUSÃO 31
ANEXOS 33
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 35
BIBLIOGRAFIA CITADA 38
ÍNDICE 39
-
43
-
44
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Instituto A Vez do Mestre – Universidade Cândido
Mendes.
Título da Monografia: A Contemporaneidade da Falta: Repensando a
fragilidade das relações familiares
Autor: Michelle Villaça Lino
Data da entrega:
Avaliado por: Prof. Ms. Fabiane Muniz Conceito:
AGRADECIMENTOSSUMÁRIOCAPÍTULO I- As Novas Famílias Brasileiras 09CAPÍTULO II - A Contemporaneidade e seu impacto nas relações familiares 15CAPÍTULO III – A liquidez das relações na sociedade do desamparo 24
CONCLUSÃO 31ANEXOS 33BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 35BIBLIOGRAFIA CITADA 38ÍNDICE 39FOLHA DE AVALIAÇÃO 41ANEXO
FOLHA DE ROSTO 2AGRADECIMENTO 3FOLHA DE AVALIAÇÃO