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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ- REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” GAGUEIRA E DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM ELISA SILVA DE ANDRADE ORIENTADORA: PROF ª. MARIA DA CONCEIÇÃO M. POPPE NITERÓI - RJ JULHO / 2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

GAGUEIRA E DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM

ELISA SILVA DE ANDRADE

ORIENTADORA: PROF ª. MARIA DA CONCEIÇÃO M. POPPE

NITERÓI - RJ JULHO / 2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

Trabalho monográfico apresentado como requisito parcial para obtenção do Grau de Especialista em Psicopedagogia.

NITERÓI - RJ JULHO / 2004

GAGUEIRA E DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM

ELISA SILVA DE ANDRADE

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AGRADECIMENTO

À meu marido pela compreensão, pois muitos finais de semana sem atenção para que eu pudesse me dedicar ao curso, à amiga Rosângela que colaborou na execução desse trabalho, as noras Priscila e Suzana que muito contribuíram na digitação e formatação do referido trabalho. E em especial a minha neta e companheira Myrlla, por todos os momentos compartilhados em sala de aula

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DEDICATÓRIA

Este trabalho monográfico é dedicado a Nathália, uma jovem que atravessava muitas dificuldades na escola, na vida social, na vida afetiva, decidiu procurar ajuda psicoterápica e assim, me senti incentivada a estudar mais a fundo o tema deste trabalho para melhor ajuda-la.

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EPÍGRAFE

“Quando nada parecer dar certo, vou ver o cortador de pedras martelando sua rocha talvez cem vezes, sem que uma única rachadura apareça. Mas na centésima primeira martelada a pedra se abre em duas, e eu sei que não foi aquela que conseguiu isso, mas todas as que vieram antes”

(Jacob Riis)

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RESUMO

Esse trabalho aborda o tema da gagueira como um distúrbio no qual o

indivíduo bloqueia o fluxo da fala prejudicando o processo de comunicação, cujas

características são as repetições de sílabas e/ou palavras que tendem a

desaparecer aos cinco anos de idade com a maturação do sistema nervoso

central que cumpre suas etapas de grande significação no desenvolvimento

global da criança, sendo assim fisiológica. O comportamento da família é de suma

importância nesta fase, pois vai defini-la como transitória ou distúrbio. É a

importância dada as primeiras vacilações e repetições na verbalização, que rotula

a criança de gaga, podendo instalar-se aí, um sério componente psicológico e que

em muitos casos pode fixar o sintoma.Assim o indivíduo acaba ficando bloqueado

e passa a apresentar sérias dificuldades inclusive no processo de aprendizagem.

A sobrecarga emocional do sujeito gago, acarreta dificuldades de aprendizagem,

pelo fato deste apresentar alterações psicológicas como dificuldade de

relacionamento familiar e social, levando-o a uma inibição de seu comportamento,

e timidez que, podem interferir no processo de aprendizagem.

Buscando compreender as causas sociais e psicológicas da gagueira

que estão relacionadas com a dificuldade de aprendizagem, podemos concluir

que a maioria dos professores e todos aqueles que estão envolvidos no processo

educacional, sabendo do medo que a criança gaga tem de sofrer imitações e

gozações de sua gagueira por parte dos colegas, devem adotar a postura

favorável em relação ao pequeno gago para evitar as frustrações e

conseqüentemente situações geradoras de ansiedade. Essa conduta por parte do

educador, compreendendo e respeitando as dificuldades e o ritmo da criança

favorece uma relação aberta e sincera entre a criança com dificuldade, professor

e demais alunos propiciando a interação do grupo e fortalecendo a auto-estima do

indivíduo em questão.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada para o estudo do tema apresentado foi a

pesquisa bibliográfica, tendo utilizado diferentes autores e alguns estudiosos da

linguagem que investigam as possíveis causas biológicas, sociais e psicológicas

que interferem na aprendizagem.

As experiências profissionais a nível de atendimento psicoterápico foi a

motivação para a realização desta pesquisa, pois o contato com indivíduos gagos

que apresentavam dificuldades de aprendizagem, assim como entrevistas com

pais que relatavam outros casos de gagueira em determinados membros da

mesma família, despertou-me o interesse de buscar maiores informações à cerca

do tema proposto.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

REFLEXÕES SOBRE A GAGUEIRA 12

CAPÍTULO II

O GAGO, O MEIO E A FAMÍLIA 19

CAPÍTULO III

O GAGO NO CONTEXTO ESCOLAR 25

CONCLUSÃO 41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 43

ÍNDICE 44

FOLHA DE AVALIAÇÃO 46

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INTRODUÇÃO

Dentre os distúrbios da fala, a gagueira sempre foi muito discutida. É

importante saber que uma criança por volta de quatro anos pode apresentar o que

chamamos de gagueira fisiológica ou disfluência fisiológica, o que é normal na

sua idade.

Esta disfluência, deve ser encerrada com muita naturalidade pelos pais

e professores, que devem dar tempo à criança, permitindo que ela fale como

quiser, mesmo que para isso tenham que lhe dedicar alguns minutos a mais.

Se nesse momento da aquisição da fala, a criança erra algumas

palavras, faz pausa ou esquece palavras logo os pais se angustiam e acabam

rotulando essa criança de gaga propriamente dita. Este comportamento de não

aceitação na forma da fala, que pode se concretizar em comunicações verbais,

como “fale direito, devagar” ou “acalme-se e pense antes de falar”, são

expressões apresentadas com um dado real no relato de pais que consideram

seus filhos gagos.

Assim o que inicialmente era um problema de disfluência normal da

fala, ou seja, uma inabilidade temporária, que desapareceria com a maturidade do

sistema neurológico e fonoarticulatório, torna-se a temida gagueira. Cria-se então

um círculo vicioso de comprometimento emocional e físico, e a fala disfluente

acaba sendo registrada no cérebro como a fala correta daquela pessoa, isto é,

forma-se uma espécie de mapa cerebral de uma fala que o organismo aceita

como correta, mas que os outros e o próprio indivíduo. Dessa forma o que era um

problema passageiro, torna-se então, um distúrbio emocional, físico e

neurológico, que poderá acompanhar o indivíduo por toda a vida.

Sendo a gagueira um distúrbio da infância que começa e se

desenvolve ao mesmo tempo a fala é adquirida, os pais têm um papel de suma

importância, pois através de suas demandas conflitivas, angústias e seus

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stresses, podem contribuir de forma significativa para a instalação da gagueira

permanente e conseqüentemente, distúrbio de aprendizagem da leitura e da

escrita.

Podemos entender os distúrbios de aprendizagem como uma

expressão geral, a qual se refere a um grupo heterogêneo de distúrbio, que se

manifestam por dificuldades significativas na aquisição e no uso de capacidade de

atenção, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Esses

distúrbios são próprios do indivíduo, supostamente devido a uma disfunção do

sistema nervoso central podendo ocorrer ao longo de toda a vida. Problemas em

comportamentos auto-reguladores, percepção social e interação social podem

coexistir com distúrbios de aprendizagem, mas não consistem por si sós, em

distúrbios de aprendizagem. Embora os distúrbios de aprendizagem possam

ocorrer concomitantemente com outras condições incapacitantes como: prejuízo

sensorial, retardo mental, distúrbio emocional grave ou influências intrínsecas, tais

como diferenças culturais.

Independente de várias teorias encontradas no estudo desta área,

podemos encontrar pontos em comum, que segundo Goldfeld foram listados por

Hammil (1990). Esses dados em comum dizem respeito à possível disfunção do

sistema nervoso central, baixo rendimento escolar atribuído a fatores intra-

individuais e não externos, persistência de distúrbios ao longo da vida e o fato de

déficits escolares estarem relacionados a linguagem.

Neste trabalho vamos apresentar no primeiro capítulo, algumas

reflexões sobre a gagueira procurando trazer uma compreensão do que venha ser

a gagueira propriamente dita, sua classificação, quais as possíveis causas, os

sintomas, os principais distúrbios que estão associados e como ela se

desenvolve.

No segundo capítulo falaremos da influência do meio, escola e família

como fator preponderante no condicionamento e nas dificuldades que poderão

surgir na adolescência do indivíduo gago.

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O terceiro capítulo traz algumas contribuições de alguns teóricos no

que diz respeito as dificuldades de aprendizagem, as teorias que concernem a

linguagem e sobre as ações psicopedagógicas.

Sendo assim, a gagueira que é considerada como um distúrbio

caracterizado pelos prolongamentos ou presença de repetições de sílabas ou de

sons, criando uma certa dificuldade na fluidez da fala e que se desenvolve logo na

infância se não for tratada pode perdurar por um logo período. Tem a família um

papel super importante no diagnóstico e tratamento deste transtorno, pois é

através do apoio familiar e aceitação do meio, que esse indivíduo gago irá se

ajustar devidamente e superar esta fase.Quando isso não ocorre a gagueira pode

vir a ocasionar uma dificuldade na aprendizagem.

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CAPÍTULO I

REFLEXÕES SOBRE GAGUEIRA

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Este capítulo versa sobre o que venha ser a gagueira, como ela se

classifica, qual a causa, sua sintomatologia, os distúrbios associados e como ela

se desenvolve.

1.1. O QUE É A GAGUEIRA?

De acordo com Goldfeld (1998), não há até o momento nenhuma

definição de gagueira satisfatória, mas, sim comportamentos observáveis e,

portanto, de fácil verificação por diferentes observadores. Contudo, entende-se a

gagueira como um distúrbio da infância que começa e se desenvolve enquanto a

fala e a linguagem são adquiridas e o sistema nervoso central cumpre suas

etapas no processo de desenvolvimento.

No início do desenvolvimento da aquisição da fala, a criança começa a

pronunciar as palavras que mais ouve como: “papai”; “mamãe”, e à medida que

novos vocabulários vão sendo inseridos na sua escuta cotidiana, ela vai repetindo

conforme a maturidade do sistema nervoso, crescimento dos dentes,

coordenação da língua e da respiração. È o processo de “feedback auditivo”, no

qual a criança precisa ouvir para poder falar e vice-versa.

Se durante a aquisição da fala , a criança erra algumas palavras, faz

pausas ou esquece palavras, o que se chama de disfluência normal da fala; as

crianças que possuem essa disfluência acabam sendo rotuladas de gagas pelos

próprios pais.

Este comportamento de não aceitação na forma da fala, concretizado

em comunicações verbal como: “fale direito, devagar”, acalme-se e/ou pense

antes de falar, ou as comunicações não verbais como expressões de desagrado

pode contribuir para a instalação da gagueira.

Até aos cinco anos de idade a gagueira é considerada normal, pelo fato

de ser nessa fase, que se conhece o mundo das palavras, tudo é novo e

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aprendido ao mesmo tempo.Nesse período, os pais ou as pessoas que cuidam da

criança não devem apressar sua fala, para que ela não atropele as palavras na

hora de falar. Pois, tudo o que ela quer é comunicar-se, é fazer parte do

maravilhoso mundo das idéias dos adultos. Assim, a mensagem, o conteúdo da

linguagem, é o que ser valorizado antes de tudo.

A gagueira é um distúrbio funcional sem alteração dos órgãos

fonatórios, sempre ligada à presença de um interlocutor e os obstáculos de

relação que ela suscita, estão na origem das dificuldades psicológicas.

Na concepção de Goldfeld (1998), gagueira significa interrupção na

fluência da expressão verbal, que se caracteriza por repetições ou

prolongamentos involuntários, audíveis ou silenciosos, na emissão de pequenos

elementos da fala, como: som, silaba e palavras. Tais interrupções ocorrem com

freqüência de forma marcante e não são prontamente controladas.

Assim, a gagueira é uma das alterações comunicativas mais limitantes

e talvez mais nocivas para a saúde mental de um indivíduo e seus familiares.

1.2. CLASSIFICAÇÃO:

Podemos classificar a gagueira, tomando por base a fase de

aparecimento ou sua característica oral.

1.2.1. Quanto à fase de aparecimento:

Gagueira Fisiológica ou Evolutiva - aquela que se inicia na infância

entre 03 a 05 anos, no momento em que a criança está se adaptando com a

linguagem e ampliando seu vocabulário.Nesta fase ela fala com inquietações,

repetições e ou prolongamentos porém sem ansiedade.

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Gagueira Primária - tem início na fase escolar, quando a criança

começa a tomar consciência da sua gagueira, com prolongamentos, repetições e /

ou sincinesias. Entre 06 a 08 anos momento em que a criança deixa seu

ambiente familiar para ingressar num meio estranho, com inicio de

responsabilidades, comparações e competições.

Gagueira Secundária – dos 09 anos até a idade adulta, em que existe

uma consciência, já havendo omissões e substituições de fonemas e palavras

com excitamento, logofobia, já faz uso de subterfúgios, sendo considerado

patológico.

1.2.2. Quanto à característica:

Gagueira Tônica – alteração do ritmo, movimentos associados e

prolongamentos.

Gagueira Clônica – repetição irregular de silabas, ritmo normal sem

movimentos associados.

Gagueira Tônica / Clônica – apresenta-se com as características

tônicas e clônicas.

1.3. QUAL A CAUSA DA GAGUEIRA?

Durante muitos anos as pesquisas se direcionaram na busca da causa

da gagueira e muitas hipóteses foram apresentadas assim como muitas teorias

delas foram derivadas pois, acreditava-se que descobrindo a causa da gagueira

seria possível tratá-la e o gago falaria fluentemente. Algumas considerações

teóricas sobre as possíveis causas da gagueira.

Para Wendell Johnson (Goldfeld –1998), a causa da gagueira é uma

avaliação errada dos pais diante da disfluência expressa pelo filho, isto é, se

partirmos do principio de que toda criança na faixa etária de 3-4 até 6-7 anos

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apresenta uma disfluência considerada normal durante o desenvolvimento da

linguagem. Assim, ele considera que a avaliação errada dos pais que rotulam esta

disfluência de gagueira, poderá ser a causa para a partir do rótulo,a criança

desenvolver essa patologia.

Ceiam, acreditava que a causa da gagueira seria um conflito de

aproximação-equitação, ou seja, a gagueira ocorre porque o gago tanto quer falar,

como ao mesmo tempo, não quer falar. Dessa forma, há um duplo conflito, já que

o indivíduo gago ao mesmo tempo em que ele quer o silêncio não quer o silêncio.

E assim, esse ponto de vista coloca a gagueira como um problema psicológico.

Starkweather (Goldfeld- 1998), criou uma teoria que a chamou de

Exigências e Capacidades,na qual defende que a gagueira é produto do excesso

de exigências e pressões que não correspondem à capacidade tanto motora

quanto lingüística e emocional da criança .

Em 1995, o mesmo Starkweather segundo Goldfeld (1998), propôs a

Teoria da Hiperatividade Muscular, na qual acreditava estar a causa da gagueira

numa elevada atividade dos músculos que são envolvidos no processo da fala.

Conforme a referencia anterior as tendências observadas nas

pesquisas apontam para a verificação da programação e coordenação motora,

tempo de reação da voz e funções auditivas centrais. Contudo, não encontrei

relatos efetivos sobre as causas da gagueira e o que se busca atualmente é algo

que esteja associado a essa patologia e que facilite a sua compreensão.

1.4. SINTOMATOLOGIA:

Para Launay (1989), a gagueira é um distúrbio sem alterações dos

órgãos fonatórios, que afeta fundamentalmente o ritmo da fala e os obstáculos de

relação que ela provoca estão na origem das dificuldades psicológicas. Contudo,

a gagueira ainda vem sendo atualmente um objeto de estudo e pesquisa que

mobiliza os especialistas da linguagem.

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A sintomatologia da gagueira desde então é conhecida e descrita sob

várias formas. Segundo Launay (1989), Corres e Colombat diferenciavam dois

tipos de gagueira: a gagueira corréica ou repetição convulsiva de uma sílaba e a

gagueira tetânica ou impossibilidade de iniciar a frase. Entretanto, apresenta a

gagueira de evolução como sendo a verdadeira gagueira que num estudo de caso

clínico , esta deve passar indispensavelmente por três fases : a gagueira crônica

ou repetição de sílabas quando o ritmo permanece normal, a gagueira tônico-

clônica na qual a elocução da frase é diminuída e posteriormente acelerada, com

repetição de sílabas de aspecto espasmódico, casualmente acompanhada de

sincinesias e por fim, a gagueira tônica com bloqueios, nesta o sujeito não emite

nenhum som, e depois se põe a falar de forma muito acelerada. É nesse tipo de

gagueira que encontramos as sincinesias e distúrbios respiratórios.

Assim, podemos considerar diferentes formas de gaguejar: clinica ou

repetição de uma sílaba, tônica, esta se caracteriza por bloqueios interrompendo

a fluência normal da frase ou início da mesma. Freqüentemente é mais

encontrada a forma tônico – clônica, onde os dois sintomas descritos acima são

mais ou menos pregnantes. Contudo, cada indivíduo tem seu tipo de gagueira

que varia de momento para momento conforme o estado de perturbação

emocional em que ele se encontra.

1.5. DISTÚRBIOS ASSOCIADOS

É na forma de gaguejar tônico-clónica que geralmente são enxertados

os distúrbios associados como as simples sincinesias, que são movimentos da

cabeça ou da face ou ainda dos braços e dos pés, que freqüentemente

acompanham aos espasmos tônico da fala e que se tornam mais importantes a

partir do momento em que a gagueira está bem constituída: movimentos anormais

da língua e dos maxilares, das sobrancelhas, das pálpebras, dos globos oculares,

tremulações dos lábios, esforços de aspiração de ar pela boca, caretas e ainda

simultaneamente movimentos do tronco, dos braços e das pernas. Podemos

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observar também a existência de distúrbios vasos motores como a transpiração

excessiva, rubor e palidez assim como dificuldades respiratórias.

1.6. DESENVOLVIMENTO DA GAGUEIRA

Freqüentemente a gagueira aparece entre os dois e quatro anos

quando a criança começa a multiplicar as frases e utilizar sua linguagem para

trocas com outras pessoas em particular seus pais. Já em algumas crianças o

início ocorre mais tarde quando se aproxima o período da entrada na escola

primária quando a criança sai da escola maternal que é um meio acolhedor para

penetrar no meio de vida mais organizado e conseqüentemente mais exigente,

disciplinado e portanto, menos protetor. É nesse verdadeiro início de aprendizado

social que a criança encontra-se mais exposta a competições e gozações entre

colegas, originando assim as tensões emocionais.

O quadro da gagueira inicialmente é bem diferenciado apresentado

pelo indivíduo que gagueja há muito tempo. A criança começa repetindo sílabas e

prolongando sons sem fazer muito esforço e sem tomar consciência aparente do

que está acontecendo. Alguns anos depois quando não detido o distúrbio em

suas fases iniciais, surge às contorções faciais e os bloqueios completos da fala.

Na tentativa de lidar com as interrupções em sua fala o indivíduo gago acostuma-

se a vários comportamentos que complicam seu problema e sob estresse ele

tenta esconder suas dificuldades e começa a empregar os mais diversos

dispositivos para interromper ou livrar-se delas. Tais comportamentos tornam-se

automatizados e o indivíduo gago acredita ser eles involuntários e por isso acha

que não consegue impedi-los.

Para Van Riper (1990),cada gago apresenta uma maneira peculiar no

decorrer do desenvolvimento do distúrbio. Entretanto, a maioria parece seguir um

percurso semelhante em que as repetições de silabas e os prolongamentos de

sons tornam-se cheios de tensão e esforço, surgindo assim, as reações de

interrupção e inquietações.

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CAPÍTULO II

O GAGO, O MEIO E A FAMÍLIA

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Neste capítulo trazemos pequenas contribuições sobre o papel do meio

e família, se existe alguma influência hereditária, falaremos do condicionamento,

da escola e da adolescência do sujeito gago.

2.1. PAPEL DO MEIO

È de suma importância estudar os meios em que cabe a criança viver,

á medida que cresce, pois, é muito comum encontrarmos pessoas gagas criadas

em famílias onde o regime de educação é autoritário, com muita repressão, falta

de diálogo e cobrança constante e se o meio que o indivíduo vive é intolerante ou

ansioso, este acaba por temer esta situação ou pessoa.

2.1.1. Família

Inicialmente, a atitude do meio familiar é de grande importância na vida

do gago sobretudo, os pais e em particular a mãe. Pois é ela a primeira

interlocutora da criança e é a relação mãe-filho que predomina. Daí, um

comportamento constrangedor ou uma ansiedade visível da parte da mãe em

relação aos primeiros episódios de gagueira da criança torna-se uma

circunstância desfavorável para o equilíbrio comportamental dessa criança.

Conforme Launay (1998), mesmo numa família estável e unida, mas

onde as intervenções são feitas de forma autoritária por parte do pai ou da mãe,

inoportunamente, diante dos primeiros episódios de gagueira ou ainda um clima

de ansiedade originado pela atitude de uma mãe inquieta nessas circunstâncias,

só faz aumentar as dificuldades. Por outro lado, é necessário situar o clima de

despreocupação em que vivem as crianças, ao mesmo tempo deficientes de

linguagem e gagas, em relação a quem não é tomada nenhuma medida

educativa, e que encontram dentro e fora da família dificuldades que não podem

ser superadas. E ainda há famílias com grande número de membros taquilálicos

disfluentes, dificultando para a criança controlar sua elocução, nestes ambientes.

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Ainda podemos considerar a gagueira que se imbrica com as

dificuldades de formação da personalidade e os distúrbios de comportamento que

decorrem das situações de conflito que se modificam sem parar, e as mudanças

contínuas do meio.

2.1.2. Hereditariedade

Não encontramos provas de que a gagueira seja transmitida através de

herança genética, embora as estatísticas demonstrem que há maior incidência de

gagos entre as famílias de crianças com esse distúrbio. Mas isso parece ser

devido a ansiedade dos pais gagos, que manifestarem exagerada preocupação

ao menor distúrbio da fala apresentado pelos filhos, com receio de que eles

também apresentam o mesmo problema. Essa conduta apenas provoca

ansiedade na criança, o que pode acabar determinando a instalação de uma

gagueira permanente, não de origem hereditária, mas desencadeada pelo

comportamento emocional dos próprios pais.

A gagueira pode ser um sinal da rivalidade existente entre os dois

hemisférios cerebrais, que lutam pela dominância da lateralidade. Esta luta pela

dominância pode ser congênita ou adquirida, no caso das crianças canhotas que

são forçadas a usar a mão direita.

2.1.3. Escola

Freqüentemente o inicio do quadro de gagueira coincide com o inicio

da fase escolar da criança que apriori é um meio constituído pelo jardim de

infância e maternal, onde se dá os primeiros encontros das crianças com outras

crianças da mesma faixa etária e professores. Nessa fase por ser um meio mais

tolerante e compreensivo (a escola maternal), não há grande incriminação em

relação a gagueira. Contudo, a entrada na escola primária e os anos escolares

que se seguem obrigam as crianças a vencerem uma nova etapa. Iniciam-se

algumas gagueiras nesta fase sendo em muitos casos manifesto em momentos

de excitação, aborrecimento ou frustração.Inicialmente a criança não percebe sua

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gagueira, entretanto, após a nomeação ou repreensão da família, professores ou

colegas passam a perceber sua condição, fato este, que muitas vezes acaba por

desencadear do próprio quadro e pode-se ver pequenas gagueiras intermitentes

agravarem-se neste período de vida.

A constatação e internalização do quadro de gagueira normalmente

acabam por gerar uma série de comportamentos para a criança. Esta tende a se

manter afastada dos demais colegas, pois as vezes tem medo de gaguejar e resiste

a responder perguntas em sala de aula mesmo que saiba sua resposta.

Normalmente assume postura anti-social ou de grande insegurança. Entretanto, é

dos colegas de classe que a criança gaga mais tem medo de sofrer a imitação

gozadora de sua gagueira. Disso pode resultar num afastamento espontâneo

dessa criança que não interagindo com as outras, busca o isolamento quando não

se torna marginalizada pelo grupo.

No decorrer do tempo a gagueira pode agravar-se devido a situações

cada vez mais diversas como: apreensão de uma competição, medo e

principalmente o terror de qualquer contato humano.

2.2. CONDICIONAMENTO DO GAGO

Considerando que a gagueira origina-se da dificuldade que o individuo

gago tem para encontrar meios de expressão capazes de traduzir seu

pensamento em linguagem, ele descreve seu distúrbio como uma incapacidade,

que por vezes, a dispersão mental, o vazio do pensamento, a falta de atenção ou

um fluxo verbal muito intenso impedem que o indivíduo precise seu pensamento

de modo a escolher os termos adequados e organizar o discurso de maneira

lógica.

Para Launay, estas anomalias estão associadas freqüentemente, a

uma elocução muito rápida, a um estado de impulsividade anormal que perturba o

ritmo interior devido à chegada desordenada das palavras que por sua vez, é a

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marca da dificuldade de organização do pensamento e linguagem. Tais

dificuldades desembocam na gagueira tônica que, caracteriza-se por sensação

tensão interna, de esforço dos órgãos da respiração, da voz e da articulação

interrompendo a fluência da fala. Esse processo de inibição e tensão muscular

cria no indivíduo gago um estado de insegurança e mal-estar. E assim, segundo a

idade, o meio, o temperamento do gago, a gravidade do seu distúrbio e

principalmente, a importância que ele dá a tudo isso, acrescentam-se os conflitos

psicológicos que tendem a intensificar-se com a aproximação da puberdade, pois,

os problemas da adolescência associam-se aos problemas de linguagem e

comunicação com o outro.Por fim, muitas situações que o adolescente deve

enfrentar normalmente nesta idade tornam-se agravadas pela sua deficiência de

linguagem e muitos reagem com distúrbio de personalidade, sentimento de culpa

e comportamentos de agressividade.

Assim, a gagueira persistirá e a angustia assumirá maior importância

no contexto acentuando a desorganização da linguagem. A interferência contínua

desses dois elementos: linguagem e afetividade que, em determinados momentos

predominarão apenas as reações emocionais, em particular a angustia de encarar

a linguagem, que conseqüentemente dificultará qualquer diálogo, quanto mais

intensos serão os bloqueios e a inibição.

Portanto, através de muitas experiências em diferentes meios, os

gagos são levados a organizar sua maneira de falar, bem como sua maneira de

se relacionar com as outras pessoas .

2.3 ADOLESCÊNCIA E GAGUEIRA

A adolescência é um processo, um período em que há o

estabelecimento ou formação da identidade, sendo normalmente vivenciado sob

forma de crise e de intensos questionamentos. Ocorrem mudanças

marcadamente biológicas e também psicosociais. É um momento de

desestruturação, na medida em que o adolescente vivencia concreta e

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abstratamente, e de uma forma abrupta e dinâmica, a desorganização e mudança

de sua estrutura infantil anterior. Havia um corpo infantil já organizado para

interagir com seu meio; e agora se vê obrigado a ser “abandonado” pelos próprios

mecanismos internos deste corpo que se modifica, o que gera conflitos psíquicos,

emocionais e sociais.

Nesta fase, a gagueira assume caráter ainda mais ansiógeno. Ela

tende a ser vista pelo adolescente como fator responsável por todas as suas

inseguranças e frustrações, atuando com forte conotação restritiva para o

estabelecimento de relações afetivas e sociais. O adolescente pode apresentar

comportamento ainda mais introspectivo, sendo cada vez mais recluso e com

maiores dificuldades de expressão de sentimentos e emoções.Comportamentos

extremamente agressivos, também podem ser adotados, com o adolescente

responsabilizando principalmente a família por seu quadro. Esse comportamento

pode ser acentuado pela postura da família, cobrando maior responsabilidade e

cura da gagueira, resultando forte conflito, o qual pode desencadear

comportamentos mais destrutivos, como uso de drogas e álcool.

A busca de acompanhamento psicológico neste momento passa a ser

fundamental, buscando a maior elaboração das alterações vivenciadas e

resgatando a auto-estima do adolescente, favorecendo assim seu processo de

recuperação e adaptação afetiva e social.

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CAPÍTULO III

GAGO NO CONTEXTO ESCOLAR

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Este capítulo refere-se ao que dizem alguns autores sobre a dificuldade

de aprendizagem, a criação de serviços educativos, as contribuições dos grupos

de interesses, as teorias que concernem à linguagem e as ações

psicopedagógicas.

3.1 DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM

“As crianças que tem dificuldades de aprendizagem são as que manifestam uma discrepância educativa significativa entre seu potencial intelectual estimado e o nível atual de execução relacionado com os transtornos básicos nos processos de aprendizagem, que podem ou não vir acompanhados por disfunções demonstráveis no sistema nervoso central, e que não são secundárias ao retardamento mental generalizado, de privação cultural ou educativa , alteração emocional severa ou perda sensorial”

(García, 1998, pág. 8)

Conforme Garcia (1998) as dificuldades de aprendizagem localizam-se

em dificuldades nos processos implicados na linguagem e nos rendimentos

escolares independente da idade das pessoas e dos quais a causa seria uma

disfunção cerebral, ou uma alteração emocional de conduta. Assim os indivíduos

com dificuldades de aprendizagem especiais manifestam desordem em um ou

mais processos psicológicos básicos na compreensão ou no uso da linguagem

falada ou escrita. Tais desordens podem revelar-se em transtornos da audição do

pensamento, da fala, da leitura, da escrita, da silabação ou da matemática. Por

fim, as crianças com dificuldades de aprendizagem geralmente podem apresentar

uma diferença entre o aproveitamento atual e o esperado em uma ou mais áreas;

como a fala, a leitura, a linguagem escrita, a matemática e a orientação espacial.

Portanto, exceto quanto à inclusão dos transtornos na orientação espacial a

dificuldade de aprendizagem referida antecede o resultado de deficiências

sensoriais, motrizes, intelectuais ou emocionais, ou ainda ausência de

oportunidade para aprender.

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Os déficits significativos são definidos em termos de procedimentos

aceitos de diagnósticos em educação e em psicologia. Os processos de

aprendizagem essenciais são aqueles usualmente referidos na ciência do

comportamento como a percepção, a integração e a expressão , quer seja verbal

ou não verbal. Assim, as técnicas de educação especiais para a remediação diz

respeito ao planejamento educativo, cuja base está nos procedimentos e

resultados diagnósticos.

3.1.1 A Criação de Serviços Educativos

Segundo Garcia (1998), o número de pessoas inscritas em escolas

públicas identificadas como portadores de dificuldades de aprendizagem

ultrapassou de um milhão, em 1977, a dois milhões, em 1986, cujo crescimento

afetou na mesma proporção às escolas e clínicas privadas. Além dos níveis

infantil, primário e secundário, o aumento também ocorreu nos níveis educativos

de pós-secundários. A necessidade de matriculas levou certas instituições como

universidades, a admitir alunos com dificuldades de aprendizagem e criar serviços

para eles, o que provocou problemas para o sistema educativo, pois havia poucos

professores especializados. Neste momento, os níveis educativos do pós-

secundário ainda estão por devolver-se.

3.1.2 Contribuições dos Grupos de Interesses

São diversas as contribuições dos diferentes grupos de interesses que

até então, a orientação predominante foi médica e psicológica , com um enfoque

clínico , atualmente mudou para um enfoque educativo , pois tantos mestres e

professores quanto os pais deram início a protagonização no campo das

dificuldades de aprendizagem. Neste caso em especial, os pais que pressionando

a promulgação das leis, reclamando providências acercadas; liberação de

recursos federais e controlando a qualidade dos serviços educativos bem como

tratamento e outros serviços.

28

Os mestre e professores, também ocuparam um papel–chave a partir

da publicação da legislação federal sobre as dificuldades de aprendizagem, uma

vez que as escolas têm que atender as pessoas com as dificuldades, torna-se

necessário maior número de educadores especializados nas dificuldades de

aprendizagem. A partir daí, desenvolveram-se programas governamentais para

formação de educadores nesse campo, bem como programas nas universidades,

constituindo um grupo de mestre e professores especialistas em alunos com

dificuldades de aprendizagem.

Com a predominância dos enfoques educativos, a instituição direta

converteu-se em nova frente aos enfoques perceptivos com resultados mais

promissores. Ao centrar-se nos aspectos acadêmicos, esquecia a “pessoa” da

criança com dificuldades de aprendizagem e tendia a dar ênfase numa graduação

de níveis de dificuldades de aprendizagem em função da idade e curso , segundo

as áreas acadêmicas afetadas. Assim, conforme Garcia, os alunos com

dificuldades de aprendizagem seriam classificados de leves a graves sem

considerar-se a etiologia. Além de tudo, não havia clareza de idéias entre os

educadores o que refletia em muitos diagnósticos errôneos.

Uma das influências definitivas no campo das dificuldades de

aprendizagem diz respeito à concepção destas dificuldades dentro de um modelo

de processos básicos que deveria diagnosticar e, coerentemente, elaborar a

intervenção. Tais processos referiam-se à memória a seqüenciação, aos

processos auditivos, visuais, táteis, motores, de atenção e vocais.

Esses enfoques predominaram na segunda metade dos anos 60 e na

primeira metade dos anos 70 e exemplificam-se nas denominadas “teorias

preceptivas, visuais ou auditivas”, que explicariam os déficits das pessoas com

dificuldades de aprendizagem da leitura ou nas “teorias psicomotoras”, atribuindo

as dificuldades de aprendizagem a dificuldades na coordenação sensório-motriz e

esquema corporal, a intervenção teria como base a potencialização desses

supostos processos, perdendo um precioso tempo no ensino das habilidades

requeridas.

29

Causas das dificuldades de aprendizagem segundo Morais (2003), os

distúrbios de aprendizagem dependem de várias causas, no entanto, cabe ao

profissional que realiza o diagnóstico, evidenciar a área mais comprometida e, em

função disso, sugerir o tipo de abordagem terapêutica mais indicada para que o

indivíduo possa vencer suas dificuldades.

Assim, Morais com base em pesquisas realizadas, aponta algumas

causas como responsáveis pelas dificuldades escolares e pelos altos índices de

evasão e reprovação escolar, tais como:

· falta de estimulação adequada nos pré-requisitos necessários à

alfabetização.

· a inadequação dos métodos de ensino

· os problemas emocionais

· a imaturidade para dar início ao processo de alfabetização e a

“dislexia”.

É de suma importância à existência de uma preocupação em

determinar prematuramente a causa da dificuldade de aprendizagem, pois o

diagnóstico precoce do distúrbio de aprender é um ponto de partida fundamental

para a superação das dificuldades escolares. Essa conduta não só orienta os

educadores e pais a melhor forma de lidar com a criança, como direciona a

elaboração de projetos e programas de reforço escolar é a adoção de estratégias

clínicas e/ou educacionais cujo fim, é auxiliar a criança no desenvolvimento

escolar. Portanto, no processo de diagnóstico o professor desempenha um papel

fundamental, cabendo-lhe, o reconhecimento das crianças com dificuldades de

aprendizagem, uma vez que é ele o primeiro elo no processo ensino-

aprendizagem .

Ainda assim, Morais deixa claro que a aprendizagem da leitura e da

escrita é um processo muito complexo que envolve vários sistemas e habilidades

(lingüísticas, perceptuais, motoras e cognitivas) e portanto, não se deve esperar

que um só fator possa interferir na dificuldade de aprender .

30

Morais fornece várias justificativas à cerca da importância de

aprendizagem e conseqüentemente, sua relação direta com os distúrbios de

aprendizagem Imagem–corporal esta, é uma habilidade que implica o

conhecimento consciente e intelectual do corpo e da função que seus órgãos

exercem. É o conhecimento de que tem duas mãos, duas pernas, cabelos, olhos,

coração e outros, formando assim, o esquema corporal que regula a postura e o

equilíbrio, que resulta das experiências táteis e das experiências táteis e das

demais sensações que provém do corpo. Essa imagem corporal pode ser inserida

na criança a partir dos desenhos da figura humana que ela realiza.

A boa formação deste pré-requisito é de suma importância para a criança,

pois, é o seu corpo o ponto de referência, que servirá como base de sustentação

para a aprendizagem de todos os conceitos indispensáveis para a alfabetização,

como por exemplo: em cima, em baixo, na frente, atrás, esquerdo, direito, alto, baixo

e sucessivamente. A falta de desenvolvimento da imagem corporal poderá acarretar

sérios problemas em orientação espacial e corporal do individuo.

3.1.3. Lateralidades

Entende-se por lateralidades, a preferência do uso de um lado do corpo

para a execução das atividades e este uso se refere ao olho, mão e pé. Segundo

Morais, alguns autores franceses colocam também o ouvido mas, no Brasil este

último não é levado em conta na avaliação da lateralidade . Dessa forma, existem

indivíduos destros que utilizam a parte direta do corpo – olho, mão e pé – no

desenvolvimento e realização das diversas atividades. Enquanto outros indivíduos

canhotos, se utilizam a parte esquerda do corpo.

Existem ainda, indivíduos com lateralidade contrariada, cruzada,

indefinida e ambidestra. A lateralidade contrariada refere-se as pessoas que por

pressões sociais e / ou familiares tiveram que mudar sua preferência manual. A

lateralidade cruzada, diz respeito aos indivíduos que possuem o olho direito, a

mão esquerda e o pé direito, bem como, os que têm o olho esquerdo, a mão

direita e o pé direito. Ou ainda, os que possuem o olho direito, a mão direita e o

31

pé direito. Ou ainda, os que possuem o olho direito, a mão direita e o pé esquerdo

dominantes, não havendo portanto, uma homogeneidade preferencial de um dos

lados do corpo .

A diferença entre a lateralidade contrariada e a cruzada é que não

houve pressão do meio ambiente contrariada e a cruzada é que não houve

pressão do meio ambiente para ambiente para mudança de preferência lateral, se

tivesse ocorrido, não seria cruzada mas sim , contrariada .

Lateralidade indefinida, como o próprio termo já sugere, ainda não

houve uma definição da preferência lateral. Espera-se que a dominância pelo uso

preferencial de um lado do corpo se estabelece por volta dos 4 a 5 anos de idade

. Se após esta idade a criança ainda não se definiu quando a sua preferência é

aconselhável uma avaliação com aplicação de testes através de um psicólogo. E

conforme os resultados obtidos a criança deve submeter-se a estimulação para

utilizar um dos lados do corpo. Baseando-se em estudos psiconeurológicos a

lateralidade indefinida pode evidenciar uma imaturidade neurológica.

E por fim, o termo ambidestria, significa que o indivíduo se utiliza

ambos os lados do corpo com igual habilidade e destreza. O que difere a

ambidestria e a lateralidade indefinida é que na primeira a pessoa tem a

lateralidade definida mas em caso de necessidade pode utilizar-se com a mesma

habilidade e destreza do outro lado do corpo .

3.1.4. Orientação Espacial

Segundo Morais quando se necessário fazer a diferenciação entre

posição no espaço e relação espaciais. A posição espacial diz respeito à relação

entre um objeto e o observador. Assim a criança que tem uma boa imagem

corporal pode perceber a posição que os objetos ocupam a partir do ponto de

referência de seu próprio corpo e conseqüentemente, ela discrimina as diferentes

32

posições espaciais que os objetos ocupam, assim como compreende e assimila

os diferentes conceitos relacionados à posição espacial, como por exemplo: à

frente, atrás, esquerdo, direito, em cima, embaixo.

As relações espaciais conforme o mesmo autor, é a capacidade que o

observador tem para perceber a posição de dois ou mais objetos em relação

consigo próprio e em relação de uns com os outros. Dessa forma podemos

perceber que um livro pode está tanto ao nosso lado esquerdo se temos o corpo

como referência, como ao lado esquerdo de um campo se pegarmos um objeto

como ponto referencial. Para a criança tomar posse do conceito de relação

espacial, é imprescindível ter adquirido o conceito de posição espacial. Quando

ela começa o processo de alfabetização não tem noções de posição e orientação

espacial e portanto confunde letras que apresentam diferenças quanto à

orientação espacial e tem dificuldades para respeitar a ordem de seqüência das

letras nas palavras nas frases .

3.1.5 Orientação temporal

Este conceito está relacionado à audição e permite a criança captar e

discriminar a duração e a sucessão dos sons, assim como dominar determinados

conceitos temporais, tais como: ontem, hoje, amanhã, dias da semana, meses,

anos, horas, estações do ano e sucessivamente, permite ainda a criança orientar-

se no tempo enquanto realiza suas atividades.

Morais, acredita que a falta deste pré-requisito pode causar

dificuldades na pronúncia e na escrita de palavras, invertendo as letras ou

trocando a ordem das mesmas, alem de outras dificuldades.

3.1.6. As Dificuldades de Aprendizagem Frente a Outros Transtornos

Para Garcia, é importante que as dificuldades de aprendizagem sejam

diagnosticadas de forma diferenciadas em relação as outros transtornos, porque

podemos encontrar pessoas apresentando uma dificuldade de aprendizagem e

33

outros transtornos e é preciso classificar ambos sabendo que se trata de dois

transtornos superpostos. Assim podemos citar alguns como:

· o transtorno por déficit de atenção hiperatividade

· os transtornos da fala classificados como gagueira e linguagem

confusa;

· o mutismo eletivo

· a deficiência mental ou transtornos generalizados do

desenvolvimento .

Os transtornos por déficit de atenção e hiperatividade seriam aqueles

que apresentam condutas perturbadoras inseridas nos distúrbios de início de

infância, meninice ou a adolescência. É portanto, um padrão de comportamento

que as crianças e adolescentes apresentam em relação à dificuldade no

desenvolvimento da manutenção da atenção, controle dos impulsos, bem como a

regulagem da conduta motriz em resposta às demandas .

Atualmente esse transtorno trata-se como sendo um problema

diferente das dificuldades de aprendizagem, ainda que durante o curso dos

transtornos, mostre-se baixos aproveitamentos escolares, mas a falta de atenção,

a impulsividade e a hiperatividade motora, inclusive os problemas na execução

das tarefas ou nos comportamentos governados por regras permitirão que se

realize um diagnóstico diferencial e as dificuldades de aprendizagem podem ser

abordadas de forma específica, havendo um benefício maior dos avanços na área

dessas dificuldades, ao menos no que diz respeito aos aspectos acadêmicos.

A gagueira é considerada como um transtorno que tem como

característica a presença de repetições ou prolongamentos freqüentes dos sons

ou das sílabas, criando assim, dificuldades na fluidez da fala, que ao torna-se

consciente, surge o desenvolvimento do medo de falar, e uma grande ansiedade

nas situações que implicam a fluidez verbal, o que leva o sujeito a mecanismo

compensatórios na tentativa de não gaguejar, se utilizando mecanismos

34

lingüísticos de modificação do ritmo a linguagem, a evitar as situações

comunicativas.

“Transtorno da fluidez verbal que afeta a freqüência e o ritmo da linguagem e se caracteriza pela sua falta de inteligibilidade. A linguagem é errática e disritmica, manifestando-se por uma explosão rápida e entrecortada que normalmente inclui padrões gramaticais errôneas (por exemplo, pausas alternantes e explosões verbais que produzem grupos de palavras não relacionados com a estrutura gramatical da frase”).

(Garcia , 1998 , pág. 77)

Assim a linguagem confusa, refere-se a uma alteração da fluidez verbal

com alta freqüência, ritmo verbal errático e pouca inteligibilidade, com padrões

gramaticais alterados, explosões verbais ou grupos de palavras sem relação com

a estrutura da frase. O indivíduo não tem consciência de sua dificuldade .

É comum encontrar-se de forma associadas, transtornos articulatórios

do tipo : omissões , substituições ou transposições de sons e sílabas , transtornos

na linguagem expressiva , como no caso de omissão de partes da oração ,

dificuldades de aprendizagem escolar , transtornos por déficit de atenção com

hiperatividade e ainda alterações audioperceptivas e visual-motoras . Esses

transtornos começam após os sete anos de idade mas , diagnostico diferencial

deve ser determinado a partir da falta de fluidez normal nas crianças menores de

dois anos e da disfonia espática com gagueira de origem neuromotora e

acompanhada de ansiedade , situação que acontece na linguagem confusa .

Conforme as colocações caracteristicamente piagetiana, o indivíduo

constrói suas habilidades por meio da relação com o ambiente físico ou os

objetos, e social ou as pessoas, na visão de Vygotsky, a vida em sociedade gera

cultura, gera o artificial, e o homem que é um ser de origem social, necessita dos

artefatos fornecidos pelo grupo social para a aquisição dos instrumentos culturais

e conseqüentemente a realização através do grupo social. Portanto as

necessidades de comunicação afetiva e efetiva são essenciais.

35

A comunicação permite a orientação da atividade própria e dos demais.

Comunicação essa, que interage e opera-se através dos instrumentos de

mediação ou ferramentas culturais que foram construídas, historicamente, por

cada cultura cujo objetivo é modificar o ambiente. Uma mostra disso é a

linguagem, a leitura e a escrita ou a matemática. Dessa forma, o processo de

aculturação possibilita a aprendizagem do uso dos instrumentos de ação sobre o

meio, e que produz, no sujeito a aprendizagem de novas destrezas, que

progressivamente, será interiorizada.

Sendo assim, o desenvolvimento seria um processo de individualização

que se constrói através da aquisição de novas habilidades estruturadas e sobre

estruturadas com um domínio do controle consciente. Se um indivíduo apresenta

uma dificuldade de aprendizagem e há um déficit na aquisição do instrumento

cultural concreto, a capacidade de comunicação social também será afetada.

Neste caso, deverá ser proporcionado o uso de outros instrumentos culturais

visando as conquistas das ferramentas deficitárias. Contudo, se

comprovadamente os instrumentos biológicos estão intactos no caso dos

indivíduos com dificuldades de aprendizagem, o uso da tecnologia desenvolvida

em nossa cultura poderá intervir para suprir esse déficits como as estratégias de

instrução, o uso de computador para desenvolver a capacidade de resolver

problemas matemáticos, o uso da linguagem visual como ajuda na conquista da

sintaxe numa criança com uma dificuldade de aprendizagem da linguagem, a

utilização de via visual e ortográfica num caso com dificuldades de aprendizagem

da leitura e da escrita do tipo fonético. E ainda podem ser empregados as

tecnologias audiovisuais, os avanços na organização escolar, e os avanços na

psicologia da intervenção educativa em geral.

Contudo, não podemos esquecer que todos esses elementos nada

mais são, do que, ferramentas culturais e a escola terão por missão a instrução

nas ferramentas específicas ou instrumentais, mas essa missão será realizada no

caso de indivíduos com dificuldade de aprendizagem, através de outras

ferramentas culturais . E ao final desse processo pode acontecer que um sujeito

tenha sérias dificuldades na resolução de problemas matemáticos, enquanto terá

36

adquirido o domínio para atuar com instrumentos como a calculadora, que suprirá

essas dificuldades.

3.2 TEORIAS QUE CONCERNEM À LINGUAGEM

Para a criança de 3 a 4 anos, as dificuldades vivenciadas na

formulação de seu pensamento, num momento em que a necessidade de falar e

de satisfazer um desejo ou agredir um terceiro se impõe inevitavelmente, são

fontes de frustração e de mal estar, onde o surgimento da gagueira é uma das

conseqüências possíveis de acontecer e quanto à reeducação, não se deve

reeducar a gagueira que se estabelece num déficit de linguagem, sem se tratar,

apriore, deste ultimo. Conforme Launay quanto mais se lida com gagos de mais

idade menos existem déficits de linguagem. Em crianças grandes ou

adolescentes, encontra-se uma pequena porcentagem de gagos cuja linguagem,

deficiente inicialmente, permanecendo deficiente até esta idade.

Podemos observar que alguns gagos colocados diante de uma folha de

papel, podem escrever, sem dificuldade e numa boa linguagem, o que eles

verbalmente não conseguem dizer. Portanto, é na comunicação falada com outro

que ele vivencia a dificuldade maior de um mal estar gerado de acidentes e

ansiedade. No que se refere ao controle auditivo e fala, foi demonstrado por Lee,

(Launay, 1989-pg 315), um fenômeno implicado na criação da gagueira no sujeito

normal, o fato de que, com o auxílio de um gravador, submetido a falar e ouvir

simultaneamente sua própria fala, com um retardo de 1/10 de segundo, sugeriu

que: comparada com a constatação de uma surdez adquirida na infância,

ocasiona, nevitavelmente, a supressão da linguagem se esta não for mantida

educativamente. Inicialmente deve-se observar que esta alteração da fala

provocada pela audição retarda da própria voz do sujeito não é uma gagueira

verdadeira, mas sim, uma arritmia, uma pseudogagueira. É importante também,

observar que a gagueira pode ser suprida durante o teste por modificações

diversas do meio sonoro, que fazem intervir tanto nas características do som,

quanto nas circunstâncias psicológicas.

37

3.3. AÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS

“Ao se privilegiar na educação a existência de um modelo prévio de ensino fundado na normalidade acaba-se por criar o sentido oposto: a patologização do processo ensino-aprendizagem. Quem sofre as conseqüências é o aluno, que passa a ser encarado como o único responsável por seus problemas quando na verdade, deveria estar sendo privilegiado pelo sistema educacional, com um ensino mais direcionado para as suas necessidades específicas...”

(Goldfeld,2003 pg 50)

Vygostky não ignora as definições biológicas da espécie humana,

contudo, atribui grande importância à dimensão social, que fornece instrumentos

e símbolos, assim como todos os elementos presentes no ambiente humano

impregnados de significado cultural, que mediam a relação do indivíduo com o

mundo, e que acabam por fornecer também seus mecanismos psicológicos e

formas de agir nesse mundo. O aprendizado é considerado, assim, um aspecto

necessário e fundamental no processo de desenvolvimento das funções

psicológicas superiores.

Dessa forma, o desenvolvimento pleno do indivíduo depende do

aprendizado que ele realiza um determinado grupo cultural, a partir da interação

com outros indivíduos do seu meio. Assim, a criança só aprenderá a falar se

pertencer a uma comunidade de falantes, são necessárias as condições

orgânicas, isto é, possuir o aparelho fonador, contudo, não são suficientes para

que o indivíduo adquira a linguagem.

Nesse aspecto, é o aprendizado que vai possibilitar e movimentar todo

o processo de desenvolvimento das crianças na vida intelectual daqueles que as

cercam. Torna-se portanto pó aprendizado um aspecto necessário e universal,

que garante o desenvolvimento das características psicológicas especificamente

humanas e culturalmente organizadas.

Por isso é de suma importância a analisar da compreensão da relação

geral entre o aprendizado e o desenvolvimento, bem como, as peculiaridades

38

dessa relação no período escolar. Isso porque, embora o aprendizado da criança

se inicie muito antes dela entrar na escola, o aprendizado escolar introduz novos

elementos no seu desenvolvimento.

Segundo Rego (2003), Vygotsky, identifica dois níveis de

desenvolvimento. O nível de desenvolvimento real que se refere às conquistas já

consolidadas nas crianças, cujas funções ou capacidades ela já aprendeu e

domina, podendo utilizar sozinha, sem ajuda de alguém mais experiente da

cultura como: pai, mãe, professor, criança mais velha, etc. Este nível indica os

processos mentais das crianças que já se estabeleceram e os ciclos de

desenvolvimentos que já se completaram.

O outro nível, é o nível de desenvolvimento potencial ou proximal, que

diz respeito aquilo que a criança é capaz de fazer, só que mediante a ajuda de

outra pessoa como: adultos ou crianças mais experientes. Assim, a criança

realiza tarefas e soluciona problemas através do diálogo, da colaboração, da

imitação da experiência compartilhada e das pistas que lhe são fornecidas.

Dessa forma, uma criança de cinco anos pode ter dificuldades numa

primeira vez, de montar sozinha um quebra-cabeça que tenha muitas peças, mas

com a ajuda de outra criança mais velha ou mesmo de uma criança da mesma

idade mas que já tenha experiência neste jogo, pode realizar a tarefa. Neste caso,

há um indicativo maior de seu desenvolvimento mental, do que aquilo que ela

pode fazer sozinha. Portanto, à distância entre aquilo que ela é capaz de fazer de

forma autônoma e o que ela realiza em colaboração com outros membros do seu

grupo social caracteriza o que Vygostsky chamou de zona de desenvolvimento

proximal, pois define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que

estão em processo de maturação.

As perspectivas vigotskiana, explica o papel da escola no processo de

desenvolvimento do indivíduo fazendo uma distinção entre os conhecimentos

construídos na experiência pessoal, concreta e cotidiana das crianças, o que

39

denominou de conceitos cotidianos e aqueles elaborados na sala de aula,

adquiridas através do ensino sistemático, que chamou de conceitos científicos.

É portanto, fundamental, para a formação desses conceitos o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores que é longo e complexo pois, envolve operações intelectuais dirigidas pelo uso das palavras tais como: atenção deliberada, memória lógica, abstração, capacidade de comprar e diferenciar. “O desenvolvimento desses processos, que finalmente resultam na formação de conceitos, começa na fase mais precoce da infância, mas as funções intelectuais que, numa combinação específica, formam a base psicológica do processo de formação de conceitos amadurece, se configura e se desenvolve somente na puberdade.”

(Rego, 2003 p.79)

A teoria piagetiana sustenta a intervenção psicopedagógica,

acompanhando a criança propondo-lhe situações desafiadoras em contato com o

objeto do conhecimento que estimule o indivíduo, no sentido dele investir neste

objeto, configurá-lo a apreendê-lo como um problema para si próprio. Assim,

professor e aluno, embora em posições diferenciadas, investem na construção do

conhecimento. Enquanto o aluno faz construções – desconstruções sobre

conteúdos, materiais em situações, o professor investe no acompanhamento do

aluno fazendo suas construções – desconstruções por meio de hipóteses respeito

do que supõe está acontecendo no processo de construção do aluno. O

profissional que atua na intervenção psicopedagógica levanta hipóteses sobre o

movimento dos mecanismos da inteligência. As novas ações do aluno esboçam

para o processo, modalidades de intervenção psicopedagógica sustentadas pela

teoria piagetiana.

Nas intervenções psicopedagógicas cuja metodologia é o eixo do

trabalho, o indivíduo permanece encoberto, instrumentalizado pela teoria. A teoria

piagetiana dá suporte à emergência do indivíduo escondido nas metodologias de

ensino, de maneira que se apóie na própria construção do conhecimento.

40

Aluno e professor ficam amortecido quando o centro da intervenção

psicopedagógica é o método de ensino, que prioriza apenas os resultados

programados por ele mesmo e deixa em segundo plano construções que não os

atendam. Assim, o indivíduo eclipsa seu movimento original, prendendo-se ao

método a que se submete. Se o resultado esperado não é obtido, caracteriza-se

aí, um problema. A esta situação somam-se as críticas, os comentários

depreciativos e as comparações feitas por professores, pais e colegas. Sentindo-

se perdida e sem apoio para superar as dificuldades, a criança pode se recusar a

voltar ao ambiente escolar o qual, torna-se aversivo, uma vez que é na escola que

ela se depara com obstáculos e com as dificuldades que não consegue superar.

Para evitar esta situação o psicopedagogo deve avaliar todas as

habilidades, perceptivos, motoras, lingüísticas e cognitivas, envolvidas nos

processos da leitura e da escrita os fatores emocionais e os próprios atos de ler e

escrever. A partir daí, com base nestes dados clínicos que se podem detectar as

áreas mais deficitárias e sugerir os procedimentos terapêuticos mais adequados

para a superação dos distúrbios de aprendizagem.

É fundamental a colaboração do professor junto ao psicopedagogo no

trabalho reeducativo com a criança que apresente dificuldade de aprendizagem.

Inicialmente o educador deve respeitar o ritmo da criança, não envolvendo-a em

comentários depreciativos sobre as dificuldades apresentadas bem como não

envolvê-la em situações de competição com os demais colegas, não expor a

criança em situações geradoras de ansiedade, evitar comparações com outros

colegas que não apresentam dificuldades. É de suma importância o professor

conversar com o aluno sobre as dificuldades explicando porque ocorrem, pois

permite que se estabeleça, uma relação aberta e sincera entre o professor e o

aluno no qual a criança se sente apoiada e tranqüila sobre as possíveis reações

do professor diante de suas dificuldades. Todos aqueles que estão envolvidos no

processo educacional, devem contribuir para a valorização da auto-imagem pois a

forma como a criança se vê interfere de maneira decisiva no sucesso ou

insucesso da aprendizagem.

41

CONCLUSÃO

Ao longo desse estudo podemos clarificar que a gagueira por si só não

pode ser classificada como um distúrbio que leva a uma dificuldade de

aprendizagem sem estar relacionada com outros transtornos.

A gagueira é sem dúvida um dos distúrbios mais limitantes do indivíduo

na sua comunicação, pois a timidez, a ansiedade, o sentimento de menos valia,

que se sucedem a partir do entendimento que o indivíduo tem de sua gagueira,

através do comportamento dos familiares e demais membros do convívio social,

pode trazer perturbações emocionais e psicológicas e conseqüentemente

afetarão no desempenho da sua aprendizagem.

Sendo assim, dependendo de como cada ser vivencia sua gagueira e

da visão que os pais e todos que o cercam tiverem, dando apoio ou discriminando

este indivíduo poderá ou não apresentar uma dificuldade de aprendizagem.

Podemos enfatizar a importância de um trabalho que lide com os

aspectos subjetivos, objetivando a ampliação do nível de consciência. Pois, a

gagueira de cada indivíduo portador desta, precisa ser descoberta, conhecida,

conscientizada e trabalhada de forma reflexiva e responsável, dissolvendo tudo o

que constitui a gagueira, ao mesmo tempo em que se deve trabalhar os

processos psíquicos do indivíduo gago, cujo equilíbrio conseguido, influi

grandemente no conseguimento da fluência da linguagem, da leitura, da escrita e

da matemática.

Posto que, os princípios gerais do desenvolvimento da educação, da

aprendizagem, da interação didática e da avaliação ao longo do ciclo vital são os

mesmos para todas as pessoas, também para as que apresentam dificuldades de

aprendizagem tratar-se-á de enfatizar a homogeneidade que está refletida pela

função que cumprirão as atividades sociais organizadas em torno de motivos

concretos. Por outro lado, a heterogeneidade estará refletida nas intenções

42

educativas particulares ou nas operações psicológicas que são necessárias

desenvolver para a consecução das mesmas funções.

Concluindo, a escola, a sociedade, haverão de compensar através de

rotas e operações diversas, as dificuldades dessas pessoas, mas sabendo que

isto só é possível atuando na zona de desenvolvimento proximal, mediante

processos de negociação semiótica, utilizando os instrumentos sociais. Ao final,

conseguem-se indivíduos que, apesar de apresentarem dificuldades de

aprendizagem, sejam úteis à sociedade e possam desfrutar da mesma qualidade

de vida que as outras pessoas.

43

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edição, Editora Olho d’Água, São Paulo, 2003

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VALÉRIA, Abile Andréa Augusta F. Viegas & Mayor, Andréa Soneto, Apostila

1997

44

ÍNDICE

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

EPÍGRAFE 05

RESUMO 06

METODOLOGIA 07

SUMÁRIO 08

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I

REFLEXÕES SOBRE GAGUEIRA 12

1.1. O QUE É GAGUEIRA? 13

1.2. CLASSIFICAÇÃO 14

1.2.1. QUANTO À FASE DO APARECIMENTO 14

1.2.2. QUANTO À CARACTERÍSTICA 15

1.3. QUAL A CAUSA DA GAGUEIRA? 15

1.4. SINTOMATOLOGIA. 16

1.5. DISTÚRBIOS ASSOCIADOS 17

1.6. DESENVOLVIMENTO DA GAGUEIRA 18

CAPÍTULO II

O GAGO, O MEIO E A FAMÍLIA 19

2.1. PAPEL DO MEIO 20

2.1.1. FAMÍLIA 20

2.1.2. HEREDITARIEDADE 21

2.1.3. ESCOLA 21

2.2. CONDICIONAMENTO DO GAGO 22

2.3. ADOLESCÊNCIA E GAGUEIRA 23

CAPÍTULO III

GAGO NO CONTEXTO ESCOLAR 25

3.1. DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM 26

3.1.1. A CRIAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCATIVOS 27

3.1.2. CONTRIBUIÇÕES DOS GRUPOS DE INTERESSES 27

3.1.3. LATERALIDADE” 30

45

3.1.4. ORIENTAÇÃO ESPACIAL 31

3.1.5. ORIENTAÇÃO TEMPORAL 32

3.1.6. AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM FRENTE A OUTROS

TRANSTORNOS 32

3.2. TEORIAS QUE CONCERNEM À LINGUAGEM 36

3.3. AÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS 37

CONCLUSÃO 41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 43

ÍNDICE 44

FOLHA DE AVALIAÇÃO 46

46

FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Instituto de Pesquisa Sócio-Pedagógicas

Pós-Graduação “Lato Sensu”

Título da Monografia

GAGUEIRA E DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM

Data da Entrega: ________________ Avaliado por: Maria da Conceição M. Poppe. Grau: ______

Rio de Janeiro, ____ de _____________ de ____

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Coordenação do Curso