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Universidade Cândido Mendes
Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento
Diretoria de Projetos Especiais
Projeto “A Vez do Mestre”
A Importância da Psicomotricidade em Portadores de Autismo
Andréia da Silva Belo
Orientador: Professora Fabiane Muniz
Rio de Janeiro
Fevereiro/2003
Universidade Cândido Mendes
Pró- Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento
Diretoria de Projetos Especiais
Projeto “A Vez do Mestre”
A Importância da Psicomotricidade em Portadores de Autismo
Andréia da Silva Belo
Monografia apresentada como
requisito parcial para obtenção do Grau
de Especialista em Psicomotricidade
Gostaria de agradecer A vida pela oportunidade
De desenvolver este trabalho junto a estas pessoas
Tão ESPECIAIS
ii
Dedico este trabalho aos pais de nossas crianças
Pela busca incessante de informações sobre o tema
iii
Sonhar o impossível,
Realizar o máximo
Porque aqui, o normal é
SER FELIZ
Slogan da APABB
(Associação de pais e amigos de pessoas portadoras de deficiência
dos funcionários do Banco do Brasil)
iv
Sumário
-Introdução ...........................................................................1
-Capítulo I – Autismo
1.1- Definições .....................................................3
1.2- Autismo de Alto-Desempenho.........................9
1.3- Diagnóstico Diferencial .................................10
-Capítulo II – Psicomoticidade
2.1- Definições .....................................................12
2.2- A Psicomotricidade no Trabalho com Autistas....17
-Capítulo III – Inclusão ............................................................19
3.1- A família, a instituição e a sociedade ............21
-Conclusão ...........................................................................23
-Referências Bibliográficas
v
Resumo
Alguns dados estatísticos fazem uma projeção de que no Brasil, até a
década de 90, existiam cerca de 30 milhões de pessoas portadoras de deficiência,
com diversos graus de comprometimento físico ou mental. Menos de 10% dessas
pessoas recebem atendimento médico, educacional e terapêutico adequados, por
falta de uma política voltada para a integração desses indivíduos. A integração é o
processo que se caracteriza por atitudes e medidas terapêuticas, pedagógicas,
sociais, jurídicas e políticas que permitiriam ao indivíduo levar uma vida com
dignidade. O tema é complexo e possibilita reflexões sob várias óticas.
Quando se trata de autismo, tem-se vários agravantes, dentre eles a
dificuldade de se fazer um diagnóstico preciso, devido a ainda existirem poucas
pesquisas que dêem conta desta realidade. Meninos são acometidos mais
freqüentemente que meninas. Os sintomas começam desde o nascimento ou nos
primeiros anos de vida. Não se surpreende que crianças com tantas deficiências
tenham muitos problemas de comportamento. A coisa mais triste para os pais é
que nos primeiros anos seu filho parece ser indiferente a eles. Realmente
parecem não perceber a presença de ninguém. Os pais de autistas tem os
mesmos problemas que pais de crianças com outros tipos de deficiência.
Poucos estudos podem constatar a eficácia da estimulação psicomotora
nos portadores de autismo, sendo necessárias mais pesquisas para comprovar a
importância e relevância do tema. O presente estudo tem como objetivo chamar a
atenção de qualquer pessoa que se interesse pelo tema, bem como despertar o
interesse de profissionais que lidem com esta clientela.
Introdução
O desenvolvimento deste estudo está vinculado ao trabalho realizado
com pessoas portadoras de necessidades especiais em uma clínica particular
do Estado do Rio de Janeiro. Neste local, são atendidos pacientes com
síndromes variadas, sendo atendidos por equipe multidisciplinar composta por
psicóloga, fisioterapeuta, fonoaudióloga, pedagoga e terapeuta ocupacional.
O interesse pela síndrome do autismo surgiu devido a peculiaridade e
singularidade destes pacientes, bem como a evolução apresentada por eles
quando corretamente estimulados. É importante aqui salientar que esta
evolução é limitada pelas características da síndrome, porém muito significativa
no histórico do paciente. Muitos são os caminhos para a interação com o
autista: musicoterapia, fonoaudiologia, psicoterapia, psicomotricidade, dentre
outras formas de estimulação. Entretanto, levando-se em consideração a
tendência ao isolamento e a dificuldade de comunicação do autista, a
psicomotricidade pode ser um caminho interessante e com resultados bastante
positivos no trabalho realizado com eles.
Poucos distúrbios ou doenças causam mais perplexidade, confusão,
ansiedade e incomodam o ser humano que os psiquiátricos. Qualquer doença
tem o seu sofrimento, estigma ou preconceito social porém umas mais do que
as outras. Mas dos males do ser humano, nenhum se defronta com tanto
preconceito e estigma, tanta desinformação, fantasia e absurdos como as
doenças psiquiátricas. Esta situação agrava-se ainda mais pelo fato das
doenças psiquiátricas serem as mais negadas, inclusive pela própria
comunidade médica. Elas são reconhecidas e diagnosticadas com enorme
dificuldade, pois elas nos obrigam a questionar áreas muito delicadas e
sensíveis do ser humano, ou seja, o nosso próprio comportamento. E delas, a
que causa maior perplexidade e gera o maior tumulto emocional é o autismo.
Essa perplexidade e o sentimento de impotência confunde e pode alterar
a objetividade científica do profissional. Vai sem dúvida abalar profundamente
o funcionamento emocional dos pais e familiares das crianças portadoras da
síndrome. É impossível permanecer indiferente ou cientificamente neutro, daí
não se formar uma opinião ou parecer único perante o autismo.
A peculiaridade do trabalho com autistas envolve a individualidade de
cada um e a maneira como ocorre a interação com o terapeuta e com o meio
ambiente.Também é importante frisar que as habilidades do terapeuta em lidar
com seu paciente podem interferir no trabalho, sendo necessário muito estudo
e principalmente muita abertura e disponibilidade por parte do terapeuta,
evitando rotular seu paciente.
Um dos assuntos propostos neste trabalho se relaciona as dificuldades e
preconceitos da sociedade, família, amigos e dos próprios terapeutas ao
lidarem com o portador da síndrome do autismo. Em tempos de INCLUSÃO,
estamos realmente preparados para lidar com um indivíduo autista?A
superproteção da família acaba muitas vezes por limitar o desenvolvimento das
potencialidades deste indivíduo e o terapeuta, no lugar do “suposto saber”,
idem. O objetivo deste trabalho é trazer uma reflexão a qualquer pessoa que
se interesse pelo tema, bem como pais e profissionais que lidem com autistas
a perceberem suas necessidades, além de demonstrar que a psicomotricidade
é uma ferramenta muito útil e verificar como pode auxiliar no desenvolvimento
das potencialidades destes pacientes.
A população pesquisada consta de portadores da síndrome do autismo
que fazem atendimento ambulatorial em uma clínica particular na cidade do
Rio de Janeiro com idades entre 13 e 22 anos, de ambos os sexos.
Capítulo I – Autismo
1.1-Definições
São chamadas autistas as crianças que tem inaptidão para estabelecer
relações normais com o outro; um atraso na aquisição da linguagem, quando
ela se desenvolve, e uma incapacidade de lhe dar um valor de comunicação.
Estas crianças apresentam estereotipias gestuais, uma necessidade de manter
imutável seu ambiente e dão provas de uma memória frequentemente notável.
Apresentam uma aparência física normal.
Em 1943, Kanner, um psiquiatra infantil da John Hopkins University
(U.S.A.), descreveu um grupo de crianças gravemente lesadas que tinham
certas características comuns. A mais notável era a incapacidade de se
relacionar com pessoas. Kanner intitulou seu trabalho de “Autistic Disturbance
of Affective Contact” – Distúrbio Autístico do Contato Afetivo. Usou, pois esta
palavra para descrever a qualidade de relacionamento destas crianças.
“Autismo é uma inadequacidade no desenvolvimento que se manifesta
de maneira grave, durante toda a vida. É incapacitante, e aparece tipicamente
nos três primeiros anos de vida. Acomete cerca de cinco entre cada dez mil
nascidos e é quatro vezes mais comum entre meninos do que em meninas. É
uma enfermidade encontrada em todo o mundo e em famílias de toda
configuração racial, étnica e social. Não se conseguiu provar nenhuma causa
psicológica no meio ambiente dessas crianças que possa causar autismo”.
(The National Society for Autistic Children, USA,1978).
Segundo a Associação Americana de Psiquiatria, no autismo infantil, as
características essenciais são a falta de responsividade a outras pessoas;
marcante lesão na capacidade comunicativa e respostas bizarras a aspectos
diversos do meio ambiente, todas com manifestação antes dos trinta meses de
idade (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 3ª edição, 1980)
O autismo é um transtorno do desenvolvimento que se manifesta nos
primeiros anos de vida e se caracteriza por dificuldades específicas nas áreas
social, da comunicação e cognitiva.
A nível social, podem manifestar isolamento ou indiferença, passividade
ou iniciativas incomuns e inadequadas na relação social. Demonstram
dificuldades para brincar ou interagir com os outros. Manifestam um marcante
déficit para compreender ou partilhar as emoções de outras pessoas.
No nível da comunicação, mais de 50% dos autistas não fala nem
manifesta olhares, expressões faciais ou gestos e os que falam podem tender
a repetir palavras, frases ou a não levar em conta o interlocutor.
A nível cognitivo, apresentam dificuldade de imaginação e jogo simbólico
e tendem a repetir movimentos físicos e comportamentos ritualísticos. Podem
Ter problemas para tolerar as mudanças em seu ambiente, tendendo a repetir
sempre a mesma rotina.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o autismo é definido como
um distúrbio do desenvolvimento, sem cura e severamente incapacitante. Sua
incidência é de cinco casos para cada dez mil nascimentos, sendo três vezes
mais comum no sexo masculino. Aproximadamente 80% dos autistas
apresentam Q.I. abaixo de 70. É um transtorno que afeta todas as áreas do
desenvolvimento, sendo necessário por isto o atendimento multidisciplinar.
As principais características da síndrome são:
-Uso de pessoas como ferramentas;
-Resistência a mudanças em sua rotina;
-Não se mistura com outras crianças;
-Apego não apropriado a objetos;
-Não mantêm contato visual;
-Age como se fosse surdo;
-Resiste ao aprendizado;
-Não demonstra medo de perigos;
-Risos e movimentos não apropriados;
-Resiste ao contato físico;
-Acentuada hiperatividade física;
-Gira objetos de maneira bizarra e peculiar;
-As vezes é agressivo e destrutivo;
-Modo e comportamento indiferente e arredio.
A presença de 7 destas características indicam a síndrome.
Do ponto de vista de pais e educadores o autismo representa um
enorme desafio. Principalmente porque a primeira vista é difícil avaliar o grau
de comprometimento envolvido, também por dar margem a um número
ilimitado de falsas interpretações e por último porque, mesmo quando tratado
através de uma abordagem adequada, a evolução alcançada em algumas
áreas do desenvolvimento é extremamente lenta. O número de enganos é
diretamente proporcional ao nível de funcionamento do autista. Quanto mais
alto o nível de funcionamento, mais complexa a avaliação, requerendo portanto
maior especialização do avaliador.
O autismo ocorre isoladamente ou em associação com outros distúrbios
que afetam o funcionamento do cérebro, como infecções viróticas, distúrbios
metabólicos e epilepsia. A pessoa portadora de autismo tem uma expectativa
de vida normal. Uma reavaliação periódica se faz necessária para que possam
ocorrer os ajustes próprios as necessidades de cada indivíduo, visto que os
sintomas mudam e alguns podem até desaparecer com a idade. As formas
mais graves dessa síndrome apresentam sintomas como os de autodestruição,
gestos repetitivos e comportamento agressivo. Podem ser muito resistentes a
mudanças, necessitando frequentemente de tratamento e técnicas de
aprendizagem muito criativas e inovadoras.
Segundo Gauderer (1980), a incapacidade de comunicação compromete
tanto as habilidades verbais quanto as não verbais. A linguagem pode estar
totalmente ausente. Quando ocorre o desenvolvimento, aparecem as seguintes
características: estrutura gramatical imatura, ecolalia imediata ou postergada,
reversão dos pronomes (o uso do pronome você ou ele, quando o apropriado
seria eu ), afasia nominal (inabilidade de nomear objetos), inabilidade de usar
termos abstratos, linguagem metafórica e melodia sonora anormal. Existe tanto
falta de comunicação não verbal adequada, como falta de expressão facial
apropriada.
Respostas estranhas ao meio ambiente podem tomar várias formas.
Podem ocorrer resistências ou mesmo reações catastróficas a mudanças
mínimas, como no caso da criança que grita desesperadamente quando o
lugar na mesa é mudado. Existem frequentemente fatos que denotam ligação a
objetos estranhos, como por exemplo, insistir em carregar um barbante ou
elástico. O comportamento ritualístico pode incluir atos motores, como bater
palmas, ou gestos repetitivos estranhos com as mãos, ou insistência em
manter uma sequência definida de eventos que precedam a ida à cama para
dormir. A fascinação pelos movimentos pode ser exemplificada pelo olhar
extasiado a ventiladores e o interesse exagerado por objetos em rotação como
peões e rodas. Música de qualquer tipo desperta especial interesse nessas
crianças. Pode haver grande interesse em botões, partes do corpo,
brincadeiras com água ou lembrança de datas históricas e horários. Tarefas
que envolvam memória de longo prazo – como lembrar a letra de uma canção
ouvida anos atrás – podem ser realizada com incrível facilidade.
Também são observados hábitos ou cacoetes, como puxar cabelos ou
morder partes do corpo. Podem ocorrer ainda movimentos rítmicos do corpo
como balançar ou se autoninar. Cerca de 40% dessas crianças tem Q.I. abaixo
de 50 e somente 30% tem Q.I. de 70 ou mais pontos. Elas mostram uma
extrema variabilidade de funcionamento intelectual; são frequentemente não
testáveis em tarefas verbais e, quando testadas, o desempenho é pior em
tarefas que solicitam pensamento simbólico ou abstrato ou sequência lógica.
Por outro lado, as tarefas que solicitem habilidades vísuo-espaciais ou
memória imediata podem ser bem realizadas.
O autismo é uma doença crônica. Algumas crianças eventualmente
podem levar uma vida independente, com sinais apenas mínimos, mas em
geral, a falta de aptidões diversas e o estranho comportamento social
persistem: é o que se chama de um “estado residual”. Apenas uma em seis
não se mostra muito lesada e acaba conseguindo um ajustamento adequado,
realizando até algum tipo de trabalho regular na vida adulta. Também só uma
entre seis crianças consegue ter um funcionamento considerado razoável, e
dois terços permanecem gravemente incapacitados, não conseguindo levar
uma vida independente. A maior complicação é o aparecimento de convulsões
epiléticas secundárias a distúrbios físicos e metabólicos subjacentes. Cerca de
25% ou mais dos pacientes desenvolvem convulsões na adolescência ou
quando adultos jovens. A maioria das crianças com Q.I. abaixo de 50 tem
convulsões, porém poucas com inteligência mais alta apresentam este
sintoma.
Segundo Gauderer (1985), a presença de distúrbios da motilidade em
crianças portadoras de autismo, constituem a evidência de envolvimento do
sistema nervoso central. Foram enumeradas anormalidades do tono muscular,
certos graus de rigidez sem espasticidade e hipotonia. Sinais psicomotores tais
como a paratonia, reflexo de preensão e reação de escape estão
freqüentemente presentes. A postura e a marcha também apresentam
anormalidade, em alguns casos bem semelhantes às observadas em doenças
neurológicas específicas, de maneira completa ou fragmentada, como por
exemplo a marcha parksoniana, representada por passos curtos, festinação e
postura fletida de tronco e membros.
Os distúrbios motores da face também chamam a atenção. A acinesia e
assimetria na porção inferior da face são bastante comuns e emocionalmente
determinados. Se originam da associação comumente verificada entre a
deficiência de movimentação da metade inferior da face e o movimento
simétrico produzido pelo choro ou pelo riso. Isso caracteriza lesão no sistema
corticobulbar.
Crianças autistas tentam compensar suas deficiências explorando o
mundo através dos seus sentidos de tato, olfato e paladar. Elas parecem
encontrar prazer na sensação da textura de superfícies, como madeira lisa,
pelo de animais e plásticos rugosos. Algumas crianças parecem não sentir dor
e sensações térmicas como o frio. Isso geralmente dura até os quatro ou cinco
anos de idade. Mais tarde, estas crianças se tornam bastante sensíveis ao
desconforto.
1.2- O autismo de alto desempenho
O autismo de alto desempenho é observado em alguns casos clínicos
relatados onde as características autistas são aliadas a uma inteligência fora
do comum, geralmente voltada a um assunto específico, sendo que esses
indivíduos tem extrema dificuldade de relacionamento interpessoal, grande
rigidez nas rotinas do dia-a-dia, e aparente desprezo pelos sentimentos dos
outros.
O autismo de alto desempenho, embora possa ser visto como uma
condição médica, também deve ser encarado como um modo de ser complexo,
uma forma de identidade profundamente diferente.
Apresentam as características comuns encontradas no autismo.
Entretanto o diagnóstico torna-se mais complexo devido a inteligência
direcionada. É comum confundi-los com superdotados, mas com a avaliação
mais apurada, logo percebe-se o comportamento bizarro e indiferente ao
contato com o outro.
Pouca literatura foi encontrada sobre o assunto. Seria interessante
propor uma linha de pesquisa mais direcionada, que possa abarcar o tema
com o respeito que merecem estas pessoas e seus familiares, a fim de ampliar
os conhecimentos nesta área.
1.3- Diagnóstico diferencial com outros transtornos invasivos do
desenvolvimento
Até hoje existe uma grande dificuldade por parte de especialistas em
fechar um diagnóstico de Autismo, visto que alguns dos sintomas descritos são
encontrados em outras síndromes. Daí a necessidade de um técnico
experiente, que reconheça de longe o espectro autista. Faz-se necessário
então citar rapidamente algumas síndromes que podem ser confundidas, num
primeiro momento, com o autismo.
Síndrome de Rett
Condição neurodegenerativa de causa desconhecida. Afeta uma entre
dez mil meninas. É geneticamente dominante e letal em meninos. Cursa com
desenvolvimento inicial aparentemente normal, seguido de uma perda das
habilidades manuais adquiridas e da fala, junto com uma desaceleração do
crescimento craniano, usualmente com início entre 7 e 24 meses de idade. O
desenvolvimento lúdico e social é interrompido. Presença de estereotipias de
aperto de mãos, hiperventilação e cifoescoliose.
Transtorno desintegrativo da infância (Síndrome de Heller)
A criança apresenta um desenvolvimento normal até a idade de três
anos, seguido de uma perda das habilidades previamente adquiridas. Ocorre
uma profunda regressão das habilidades sociais, da linguagem e do
comportamento adaptativo, perda do interesse social e estereotipias motoras.
O prognóstico é pobre e a maioria das crianças evolui para um retardo mental
grave.
Síndrome de Asperger
As maiores diferenças entre o Autismo e a Síndrome de Asperger estão
na gravidade dos sintomas. Ambos os grupos de crianças sofrem de déficits na
interação social, comprometimento das habilidades comunicativas e
comportamentos inusuais e bizarros, mas as crianças com síndrome de
Asperger são menos comprometidas e geralmente mostram poucos sinais de
retardo mental.
Retardo Mental
Alguns investigadores tem demonstrado que o Q.I. (quoeficiente de
inteligência) tem relação direta com a severidade clínica do Autismo. A grande
maioria dos autistas possui Q.I. menor que 70 e caem na categoria de
profundamente retardados.
Síndrome do X-frágil
É uma síndrome genética freqüentemente associada ao autismo. As
crianças afetadas possuem uma face estreita, testa alongada, mandíbulas
proeminentes, orelhas largas, facies dismórfica, hiperatividade, déficit de
atenção e comportamento autista. O grau de associação com o Autismo tem
sido amplamente estudado.
Capítulo II - Psicomotricidade
2.1- Definições
A psicomotricidade é um ramo científico surgido do entrelaçamento entre
o movimento e o pensamento. Dupré, em 1920, verificou que existia uma
estreita relação entre problemas psíquicos e anomalias de tônus muscular.
Hoje, existem várias pesquisas que demonstram os benefícios da
psicomotricidade no atendimento de crianças, adultos, idosos e portadores de
necessidades especiais. O papel da psicomotricidade é desenvolver o aspecto
comunicativo do corpo, o que equivale a dar ao indivíduo a possibilidade de
dominar o seu corpo, de economizar sua energia, de pensar seus gestos a fim
de aumentar-lhe a eficácia e a estética, de aperfeiçoar e completar seu
equilíbrio, além de uma consciência corporal mais aguçada. Através da prática
da psicomotricidade os movimentos corporais são executados com mais
harmonia visto que existe a busca de uma integração entre corpo e mente, que
estão trabalhando juntos. A visão é de um todo funcional, e não das partes
isoladas.
Harrow em 1972, faz uma análise sobre o homem primitivo ressaltando
como o desafio de sua sobrevivência estava estava ligado ao desenvolvimento
psicomotor. As atividades básicas consistiam em caça, pesca e colheita de
alimentos e, para isso, os objetivos psicomotores eram essenciais para a
continuação da existência do grupo. Necessitavam de agilidade, forca,
velocidade e coordenação. Tiveram que estruturar suas experiências de
movimentos em formas utilitárias mais precisas.
Hoje, o homem também necessita destas habilidades, embora tenha se
aperfeiçoado mais para uma melhor adaptação ao meio em que vive.
Necessita ter um bom domínio corporal, boa percepção auditiva e visual, uma
lateralização bem definida, faculdade de simbolização, orientação espaço-
temporal, poder de concentração, percepção de forma, tamanho, número,
domínio dos diferentes comandos psicomotores como coordenação fina e
global, equilíbrio.
Harrow cita ainda os sete movimentos ou modelos de movimentos
básicos inerentes ao homem que são: correr, saltar, escalar, levantar peso,
carregar (sentido de transportar), pendurar e arremessar. As crianças possuem
estes movimentos naturais. São inerentes ao organismo humano e não
precisam ser ensinados. A função do terapeuta, neste caso, é tornar eficiente e
modelar a execução destes movimentos.
Quando um indivíduo percebe os estímulos do meio através de seus
sentidos, suas sensações e seus sentimentos e quando age sobre o mundo e
sobre os objetos que o compõe através do movimento de seu corpo, está
vivenciando uma experiência, ampliando e desenvolvendo suas funções
intelectivas. Por outro lado, para que a psicomotricidade se desenvolva,
também é necessário que o indivíduo tenha um nível de inteligência suficiente
para fazê-la desejar experienciar, comparar, classificar, distinguir os objetos.
Wallon (1975), um dos pioneiros no estudo da psicomotricidade, salienta
a importância do aspecto afetivo como anterior a qualquer tipo de
comportamento. Existe para ele uma evolução tônica e corporal chamada
diálogo corporal e que constitui o prelúdio de uma comunicação verbal. Este
diálogo corporal é fundamental na gênese psicomotora, pois a ação
desempenha o papel fundamental de estruturação cortical e está na base da
representação. Wallon afirma ainda que é sempre a ação motriz que regula o
aparecimento e o desenvolvimento das formações mentais. Na formação do
indivíduo, portanto, estão relacionadas a motricidade, a afetividade e a
inteligência.
A educação psicomotora não é um treino destinado à automatização, à
robotização do indivíduo. Trata-se de uma educação global que, associando os
potenciais intelectuais, afetivos, sociais, motores e psicomotores do indivíduo,
lhe dá segurança, equilíbrio e permite o seu desenvolvimento, organizando
corretamente as suas relações com os diferentes meios nos quais tem de
evoluir.
A psicomotricidade vai trabalhar a coordenação global, que diz respeito a
atividade dos grandes músculos. Depende da capacidade de equilíbrio postural
do indivíduo. Este equilíbrio está subordinado as sensações proprioceptivas e
labirínticas.
As atividades são desenvolvidas levando-se em consideração a
maturidade motora de cada indivíduo, bem como as áreas específicas da
psicomotricidade. O movimento, as ações, enfim, a integração do homem às
condições do meio ambiente estão em dependência do sistema nervoso
central.
Lapierre (1986) afirma que a educação psicomotora deva ser uma
formação de base indispensável a toda criança. A psicomotricidade se propõe
a permitir ao homem “sentir-se bem na sua pele”, permitir que se assuma como
realidade corporal, possibilitando-lhe a livre expressão de seu ser. Não se
pretende aqui considera-la como uma panacéia que vá resolver todos os
problemas encontrados. É apenas um meio de auxiliar o indivíduo a superar
suas dificuldades e prevenir possíveis inadaptações.
O indivíduo não é feito de uma só vez, mas se constrói paulatinamente
através da interação com o meio e de suas próprias realizações e a
psicomotricidade desempenha aí um papel fundamental.
A educação psicomotora pode ser vista como preventiva, na medida em
que dá condições ao indivíduo de se desenvolver melhor em seu ambiente; é
vista também como reeducativa quando trata de indivíduos que apresentam
desde o mais leve retardo motor até problemas mais sérios.
É impossível falarmos de psicomotricidade sem destacar mais
profundamente o estudo do sistema nervoso, visto que todo o processo
começa com a propagação das informações neurais.
Segundo Oliveira (1984), o sistema nervoso coordena e controla todas
as atividades do organismo, desde as contrações musculares até o
funcionamento de órgãos. Integra sensações e idéias, opera os fenômenos de
consciência, interpreta os estímulos advindos da superfície do corpo, das
vísceras e de todas as funções orgânicas e é responsável pelas respostas
adequadas a cada um destes estímulos. Muitas destas informações são
selecionadas e as vezes eliminadas pelo cérebro como não significativas.
Muitas vezes, essas informações se tornam completamente irrelevantes. Uma
das funções do sistema nervoso é selecionar e processar as informações,
canalizá-las para as regiões motoras correspondentes do cérebro para depois
emitir respostas adequadas, de acordo com a vivência e experiência de cada
indivíduo.
A sinapse é a conexão entre os neurônios na qual um neurônio estimula
o seguinte através da liberação de neurotransmissor, propagando-se assim os
impulsos nervosos e transmitindo as informações. A palavra informações neste
contexto pode significar muitas coisas – fatos, lembranças, conhecimentos,
valores, intensidade da dor ou qualquer outro fato significante. O cérebro vai
transmitir a informação de um ponto a outro de um modo que se torne
significativo para a mente.
Existem sinapses que provavelmente não trabalham em certas pessoas
mas guardam um potencial funcional, isto é, podem começar a ser usadas
dependendo do aprendizado. Temos sinapses que nunca usamos e nunca
iremos usar. Aprender, neurologicamente falando, significa usar sinapses
normalmente não usadas. O uso, portanto, de um maior ou menor número de
sinapses é o que condiciona uma aprendizagem no sentido neurológico. Desta
maneira, a psicomotricidade, através da estimulação, está ajudando o indivíduo
a diferenciar seu sistema nervoso, ampliando o número de sinapses.
A importância da maturação do sistema nervoso para a aprendizagem
tem merecido muitas discussões por parte de diversos autores. Jean Piaget
(1974) aponta a maturação nervosa como um dos fatores relevantes do
desenvolvimento mental, Ajuriaguerra (1980) afirma que a maturação é uma
condição necessária mas não suficiente para explicar o comportamento.
Os músculos são estruturas distribuídas em torno dos ossos e se
contraem quando há um encurtamento do comprimento de alguns segmentos
do corpo. O músculo, mesmo em repouso, possui um estado permanente de
relativa tensão, que é conhecido como tono ou tônus muscular. Para Jean Le
Boulche (1984) o tônus muscular é o alicerce das atividades práticas. Todo o
movimento realiza-se sobre um fundo tônico e um dos aspectos fundamentais
é sua ligação com as emoções.
A boa evolução da afetividade é expressa através de postura, de
atitudes e do comportamento. Podemos transmitir, sem palavras, através de
uma linguagem corporal, todo o nosso estado interior. Transmitimos a dor, a
tristeza, a alegria , o medo, a raiva e até o nosso conceito de nós mesmos.
O aumento do tônus muscular é chamado hipertonia. Os músculos
apresentam uma grande resistência pois estão contraídos em excesso. Há
uma grande dificuldade para realizar os movimentos. A hipotonia, ao contrário,
é uma diminuição da tonicidade muscular. Os músculos apresentam pequena
resistência. Ambos os casos são bastante sérios e podem incapacitar o
indivíduo na realização de atividades da vida diária. Existem estudos que
correlacionam o aumento e a diminuição do tônus muscular com as variações
de estados emocionais do indivíduo.
2.2- A psicomotricidade no trabalho com autistas
Esta é a parte mais interessante, porém a mais difícil de ser investigada
devido a pouca quantidade de informações disponíveis no momento, a
diferença dos graus de comprometimento entre os autistas e a sutileza do
trabalho, que requer do profissional algo mais do que o conhecimento
específico. Devido a estes fatores, o que aqui registrarei, vai falar de minha
prática diária no trabalho com autistas, de informações obtidas com outros
profissionais da área de saúde e educação e do contato com pais e familiares.
Através de observação e do relato de profissionais acima descritos, ficou
bastante evidente que a estimulação psicomotora favorece o desenvolvimento
do trabalho com autistas de uma forma global. Este favorecimento ocorre a
longo prazo e é observado sutilmente. Dentre os aspectos mais observados
temos a melhora na coordenação motora global. Embora não tenha sido
comprovado cientificamente devido a pouca informação e pesquisa na área, a
coordenação motora global tem um desenvolvimento notório e bem sucedido.
Um outro aspecto diz respeito à agressividade. De acordo com a observação
de profissionais, os autistas mais agressivos apresentam uma redução no nível
de agressividade bastante visível principalmente quando em contato com o
outro. Ocorre uma redução ou mudança no que diz respeito às estereotipias. A
partir do momento em que o autista é corretamente estimulado, observa-se um
processo em que consegue fazer mais contato com o outro e através deste
contato estabelecido é observada uma redução dos movimentos
estereotipados,além da redução dos sintomas de isolamento. Outro aspecto
notório diz respeito a comunicação. Cada autista estabelece uma forma de
comunicação, que pode ser verbal ou não verbal. De acordo com pais e
profissionais, ocorre uma melhora no que diz respeito a comunicação, que
passa a ser mais espontânea.
É importante salientar também que existem momentos na vida do
indivíduo autista em que ocorre uma regressão e, aparentemente, perde-se
tudo o que havia sido conquistado em anos de trabalho. Cabe ao profissional
ter dentro de si a motivação para continuar buscando alcançar metas, de
acordo com a potencialidade de cada paciente, além de rever sua postura e
metodologia de trabalho.
É observado também redução dos sintomas de isolamento quando
trabalham em grupo, depois de alguns anos. Existem autistas que fazem
vínculo com uma ou mais pessoas, que podem ser os terapeutas ou um outro
colega e passa a imita-los em gestos e modo de falar. Já outros se vinculam a
objetos e o usam de forma bizarra, sendo mais difíceis de se relacionar.
Existem autistas que possuem uma grande capacidade para realizar
trabalhos manuais. A psicomotricidade vai potencializar esta capacidade, no
que diz respeito a coordenação motora fina, levando este indivíduo a uma
auto-estima, que se expressa através de sons e de gritos de euforia.
De todos os aspectos citados, o mais relevante diz respeito a
disponibilidade dos terapeutas e familiares em enfrentarem esse grande
desafio. Para isso, além do conhecimento teórico, é necessário acreditar e ter
confiança no que está sendo feito. Para tal, existem grupos compostos de pais,
profissionais, parentes e amigos de autistas, que juntos tentam superar os
momentos críticos, buscando forças para continuar trabalhando.
Um dos objetivos desta monografia é fazer uma crítica a falta de estudos
e pesquisas científicas relacionadas ao tema. O autismo é enfocado nos
aspectos clínico e social nos estudos feitos até hoje. Poucos comentários são
feitos a respeito da psicomotricidade e seus benefícios, um campo tão vasto e
importante e que merece um lugar de destaque, tendo em vista os resultados
obtidos nos atendimentos. A relevância do tema é indiscutível.
Capítulo III – Integração do portador de deficiência
Neste capítulo, será abordada a integração do portador de deficiência de
uma maneira geral, não havendo a preocupação de falar com exclusividade
sobre o autismo, pois este passa por todas as situações de qualquer portador
de deficiência quando o assunto em pauta é integração.
O termo integração há muito tem sido foco de diferentes interpretações.
No entanto, quando se fala da pessoa portadora de deficiência, o termo
integração surge com mais freqüência e envolto em variadas conotações e
paradoxos. Executando o aspecto de concordância quase generalizada de que
integração significa não segregação, permanece a necessidade de uma
definição precisa quando se fala em integração do deficiente. Esta explicitação
é importante porque embora, integração e segregação sejam termos de uso
comum, nem sempre os profissionais que lidam com o deficiente utilizam-nos
com o mesmo significado.
Integrar, do latim integrare significa formar, coordenar ou combinar num
todo unificado (unido), e integração significa o ato ou processo de integrar.
Esse sentido indica que, originalmente, se a referência é a integração do ser
humano, integrar diz respeito a individualidade e integração diz respeito ao
processo de formação dessa individualidade. Em outras palavras, quando se
fala em integração, está-se fazendo referência a constituição do sujeito
psíquico e aos caminhos pelos quais esse ser humano vai aprendendo a lidar
com suas necessidades e desejos nas interações estabelecidas no mundo
onde se situa. Assim, quando se faz referência a uma personalidade integrada,
está-se falando da qualidade ou estado de totalidade, e não de divisão.
Sob o próprio ponto de vista da língua, estamos construindo aqui uma
contradição, uma vez que para que alguém se integre a algo, em nosso caso,
uma sociedade estruturada e complexa, é preciso que possua condições tais
que seus comportamentos adaptativos se manifestem livremente.
Concepções críticas da sociedade dão um enfoque maior a processos
de estigmatização, processos desencadeados pelos valores e a dinâmica da
sociedade, nos quais o indivíduo se torna alvo e vítima. A partir dessas
reflexões surgiu o discurso da necessidade de integração da pessoa portadora
de deficiência. O termo integração representa neste contexto o desejo, ou seja,
a intenção de proporcionar a sensação individual do sujeito e do coletivo, que o
indivíduo é integrante do grupo social e o pertence. Isso hoje é freqüentemente
caracterizado como cidadania.
Os próprios portadores de deficiência se submetem aos conceitos
impostos pela sociedade, desacostumando-se a falar sobre si mesmos e
conformando-se aos espaços especiais. Ainda é pequeno e recente o
movimento de vida independente, que frisa a questão da normalização e da
oferta de chances igualitárias para pessoas portadoras de deficiência.
É concordante que a pessoa portadora de deficiência é uma parte da
sociedade. Está vivendo em sua família, possui possibilidades de educação e
reabilitação, passa seu lazer com pessoas próximas etc. É parte desta
sociedade, vive dentro dela e interage com os outros elementos da mesma.
Dependendo de seu grau de deficiência, porém, está vivendo em subsistemas
mais ou menos fechados: hospitais, escolas especiais, centros de reabilitação
ou mesmo na rua pedindo esmola, em condições precárias de vida, com
poucos contatos, isolado, sobrevivendo....Sem dúvida, a pessoa portadora de
deficiência está sendo marginalizada ou segregada, pois lhe é impossibilitado
desfrutar os benefícios previstos para a maioria da população, mas usufrui de
um sistema especialmente criado para suprir suas necessidades: o sistema de
educação especial.
3.1- A família, a instituição e a sociedade
Ter um filho deficiente é uma questão complicada para a família. Durante
os nove meses de gravidez, existe uma expectativa quanto ao futuro ser.
Expectativa que é frustrada com a chegada de um bebê deficiente. Milhões de
dúvidas, questionamentos, culpa.... “onde foi que nós erramos?”.Todos os
sentimentos são vivenciados ao mesmo tempo. Com o passar dos anos o
choque é ainda maior, pois a diferença entre a criança deficiente e a não
deficiente aparece cada vez mais. Assim surgem os conflitos. Como lidar com
um filho deficiente?
Durante muitos séculos a questão da pessoa portadora de deficiência foi
encarada de maneira negativa por povos de diferentes países. Ainda hoje na
China, existe um hábito de abandonar crianças com deficiência em locais
ermos, patrocinados por uma política produtivista. Quem não tem capacidade
de produzir cai em abandono.
No Brasil e no mundo, foi na década de cinqüenta que os pais de
crianças com deficiência começaram a se organizar em associações, a fim de
tomar posição conjunta que oferecesse melhor compreensão das dificuldades
de seus filhos, buscando rumos a serem seguidos para o ensino e tratamento
adequados. Nesse contexto as APAEs (Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais) floresceram e hoje temos cerca de 1.700 APAEs, sendo este o
maior movimento comunitário do mundo, organizado em torno de uma única
causa: a luta pela defesa dos direitos do portador de deficiência mental.
A revisão da literatura realizada permitiu identificar um elevado número
de fatores que podem influenciar a qualidade da integração. Desses fatores,
posso citar aqui alguns: organização escolar; ensino; serviços de suporte; meio
comunitário; atitudes e preparação de agentes.
A organização escolar classifica as políticas escolares e as diferentes
medidas praticadas a nível das organizações educacionais: políticas do
Ministério da Educação, políticas da Comissão Escolar no que se refere a
integração desses alunos, políticas e medidas praticadas a nível da escola
propriamente dita: política local, filosofia da escola, posição da direção, dos
professores e dos pais.
O ensino compreende o conjunto de aspectos pedagógicos ligados a
aprendizagem.
Por serviços de suporte se entendem os recursos humanos que vem
fortalecer regularmente o ensino e a aprendizagem, o desenvolvimento global
do deficiente e o processo de integração em seu conjunto. Estes serviços são
prestados por especialistas, terapeutas, voluntários e serviços de ajuda a
aprendizagem.
A integração dos portadores de deficiência deve ser planejada em
conjunto com o meio comunitário. Faz-se aqui referência as relações que
devem ser especificamente estabelecidas: associação de pais, grupos de
promoção de direitos de pessoas deficientes, os meios empresariais etc.
As atitudes. Este é um fator transversal com relação aos outros. Ele se
refere às atitudes adotadas no caminho da integração: abertura, expectativas,
preconceitos ou resistências. Este componente explora igualmente os meios
utilizados para melhorar as atitudes frente ao deficiente.
A preparação de agentes lida com a ação especificamente realizada ao
lado dos ditos agentes de integração. Por agentes, entendemos o conjunto de
pessoas ou organismos que lidam com o portador de deficiência nas escolas,
clínicas, hospitais, instituições etc. A preparação é a sistematização da
integração, ou seja, toda ação ou interação realizada ao lado dos agentes,
visando facilitar o processo de integração: encontros, cursos de formação,
palestras etc.
Conclusão
Todo ser humano sente necessidades que precisam ser satisfeitas, tem
objetivos a serem atingidos, sonha projetos a serem colocados em prática,
qualquer que seja seu nível intelectual, seu tipo de personalidade, seu grau de
cultura. Ele sente necessidade de eliminar ou reduzir desconfortos ou
dificuldades, tais como fome, cansaço, insegurança, medo etc. Precisa também
satisfazer sua necessidade de sucesso, afeto, repouso e outras mais. A árdua
luta para uma pessoa se ajustar a situações ou para satisfazer uma
necessidade nem sempre ocorre na hora certa, desejada. Surgem diversas
barreiras que podem impedir o indivíduo de eliminar o problema ou de cobrir a
necessidade sentida, no todo ou em parte. Anomalias e problemas
incapacitantes trazem aos indivíduos tensões emocionais múltiplas e por vezes
muito sérias. Eles são fonte de constante frustração nos seus diversos níveis e
momentos de atuação na sociedade. Muitos acham que a solução para a
maioria de seus problemas poderá estar simplesmente na eliminação, redução
ou camuflagem da deficiência. Esquecem-se de que esconder ou reduzir uma
deficiência não a elimina. O fato é que pessoas portadoras de deficiência tem o
mais evidente direito de levantar suas expectativas quanto ao resultado de
suas tentativas para conseguir uma vida normal. Essas expectativas são, vez
por outra, expressas e formuladas em termos bastante limitados, e os objetivos
acabam restringindo-se a soluções imediatistas de problemas
permanentemente sentidos, tais como andar, falar, sentir a própria
independência em seus cuidados pessoais e muito mais.
A integração do portador de deficiência ainda é uma realidade pouco
conhecida e que praticamente não tem sido objeto de pesquisas
experimentais. É imperativo que sejam feitas pesquisas a este nível. Além
disso, se é verdade que pesquisas são raras, os estudos sobre o autismo
acusam um retardo ainda mais importante. Existem poucos artigos sobre a
importância da estimulação psicomotora em autistas e na sua maioria, são
textos descritivos. Uma abordagem mais sistematizada – na verdade mais
científica – é imprescindível. Para que isto aconteça, as escolas, instituições e
famílias não devem desprezar a colaboração de universidades e estudiosos
que tem por sua vez responsabilidades sociais a assumir. Muitos estão prontos
a se dedicarem a atividade de pesquisa neste domínio. Estas atividades
devem, todavia, receber funcionamento adequado. Em matéria de integração,
a pesquisa não deve ficar afastada de uma necessidade social manifesta.
Esta revisão da literatura visa, precisamente, instrumentalizar melhor
pesquisadores e profissionais. Até a presente data as pesquisas tem sido
capazes de constatar a importância de uma reflexão sistemática sobre a
questão. Os próprios conceitos de integração se mostram ambíguos; a
operacionalização desses conceitos leva a confusões. Por outro lado, no que
se refere a psicomotricidade no trabalho de estimulação com autistas,
caracteriza-se um conjunto de fatores que deverá ser melhor conhecido e
melhor ordenado, para que se possa por em prática planos de pesquisa.
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