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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
A INTERVENÇÃO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL
NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM:
UM EMBASAMENTO TEÓRICO PARA ENSINO SUPERIOR
Maria Angélica B. do Amparo
Orientador: Professor Palmiro Ferreira da Costa
Rio de Janeiro
Fevereiro/2002
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
A INTERVENÇÃO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL
NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM:
UM EMBASAMENTO TEÓRICO PARA ENSINO SUPERIOR
Maria Angélica B. do Amparo
Trabalho monográfico apresentado comorequisito parcial para a obtenção do graude especialista em Docência do EnsinoSuperior.
Rio de Janeiro
Fevereiro/2002
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A Deus – por iluminar meus passos epela força para continuar a caminhada ea ultrapassar cada obstáculo a servencido.
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Dedico este trabalho aos meusqueridos pais pelo amor,dedicação, companheirismo egrande incentivo que sempre mederam e me fizeram compreenderque vale a pena lutar quando seacredita em um sonho;
A todas as crianças que –direta ou indiretamente –contribuíram para estarealização.
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RESUMO
A idéia de se pesquisar sobre este assunto, surgiu depois de alguns
anos de profissão, quando foi-me possível perceber certas dificuldades que algumas
crianças apresentam em seu processo de aprendizagem escolar. Tais dificuldades se
tornavam frustrantes para a criança, que, muitas vezes, por mais que se esforçasse,
não alcançava o resultado esperado.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 8
CAPÍTULO I
ESTRUTURA E FUNÇÃO DO SISTEMA AUDITIVO .............................................. 10
1.1 Orelha Externa ................................................................................................. 10
1.1.1 Função da Orelha Externa ........................................................................... 11
1.2 Orelha Média ................................................................................................... 12
1.2.1 Função da Orelha Média ............................................................................. 14
1.3 Orelha Interna .................................................................................................. 15
1.3.1 Função da Orelha Interna ............................................................................ 17
1.4 Sistema Neural ................................................................................................ 17
CAPÍTULO II
OTITE MÉDIA: PATOLOGIA QUE INTERFERE NO DESENVOLVIMENTO DA
LINGUAGEM E NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM ........................................ 19
2.1 Otite Média x Desenvolvimento da Linguagem e Aprendizagem .................... 23
CAPÍTULO III
MECANISMOS DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL ............................ 25
3.1 Percepção da Fala ........................................................................................... 25
3.2 Habilidades do Processamento Auditivo Central ............................................. 27
CAPÍTULO IV
DESORDENS DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL ............................. 30
4.1 Grau e Tipo de Distúrbio do Processamento Auditivo Central ........................ 31
4.2 Manifestações das Desordens do Processamento Auditivo Central ............... 32
VII
VII
CAPÍTULO V
APRENDIZAGEM E PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL .......................... 35
5.1 Distúrbios do Processamento Auditivo Central x Distúrbios de Aprendizagem 39
5.2 Orientação aos Pais e Professores ................................................................. 43
CAPÍTULO VI
PREVENÇÃO E IDENTIFICAÇÃO PRECOCES .................................................... 44
6.1 Princípios da Prevenção .................................................................................. 45
CONCLUSÃO .......................................................................................................... 47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 49
FOLHA DE AVALIAÇÃO ......................................................................................... 50
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INTRODUÇÃO
Como já é sabido, o desenvolvimento de uma criança depende – tanto
de fatores biológicos, como de fatores ambientais. Os biológicos englobam as
condições físicas, o estado de saúde e as funções intelectivas. Já os fatores
ambientais englobam as condições emocionais, modelos verbais e experiências
vivenciadas. Todos os estímulos são recebidos pelo cérebro onde é feita a
organização e a compreensão dos mesmos. A capacidade de perceber estímulos
sonoros, organizar e compreendê-los, chama-se percepção auditiva e, para ;que isto
ocorra, se faz necessário que haja integridade das vias eferentes e sistemas
integradores e que estes sejam capazes de realizar as funções de discriminação,
figura-fundo, memória e análise e síntese auditivas. Qualquer alteração em uma
dessas funções conduzirá ao que chamamos distúrbios do Processamento Auditivo
Central.
O presente trabalho monográfico tem como objetivo analisar os
problemas correlacionados ao desenvolvimento e ao processo de aprendizagem,
para cujo processo, o Sistema Auditivo tem fundamental importância.
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O Processamento Auditivo Central se refere a uma série de operações
que o sistema auditivo realiza para interpretar vibrações sonoras por ele detectadas.
São habilidades que o indivíduo tem envolvidas nos processos de: atenção, detecção
do som, discriminação, localização, reconhecimento, compreensão e memória do
estímulo sonoro.
É de suma importância que alunos do ensino superior na área de
Fonoaudiologia tenham um amplo conhecimento sobre este assunto para que se
diagnostique precocemente estas disfunções para que as crianças possam, dentro de
seus ritmos próprios, conquistar um desenvolvimento harmonioso e com bons
resultados em seu processo de aprendizagem.
Com este trabalho, espero estar contribuindo para um meio de pesquisa
e aprimoramento para alunos e profissionais que, como eu, acreditam e apreciam nas
áreas de fonoaudiologia e educação.
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CAPÍTULO I
ESTRUTURA E FUNÇÃO DO SISTEMA AUDITIVO
O Sistema Auditivo propriamente dito está, em sua maior parte, contido
no osso temporal e tem como funções principais o equilíbrio e a audição; tanto um
quanto o outro, são de vital importância para o homem. O primeiro, o equilíbrio, para
que ele se mantenha de pé e possibilite sua locomoção; o segundo, a audição, para
que possa desenvolver sua linguagem e realizar adequadamente o processo da
comunicação oral.
A porção periférica do Sistema Auditivo é definida por estruturas que
vão desde a orelha externa até o nervo auditivo. É normalmente subdividida em
orelha externa, média (componentes de transmissão dos estímulos sonoros –
componentes condutivos) e orelha interna – cóclea (que é componente sensorial). O
Sistema Nervoso Auditivo (componente neural) começa no núcleo coclear e é limitado
na outra extremidade pelos centros auditivos do córtex.
1.1 – Orelha Externa
A Orelha Externa consiste em: pavilhão auditivo, meato acústico com
suas porções ósseas e cartilaginosas e pela membrana timpânica. O pavilhão
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auditivo é a parte mais visível da orelha externa e é constituído por um esqueleto
fibrocartilaginoso coberto por pele, possui uma face externa e outra interna. A face
externa está voltada para fora e para diante na face lateral do crânio, apresentando
saliências e depressões que lhe conferem, aspecto característico. Na porção média
do pavilhão, observa-se, além de relevos e depressões, uma escavação (a concha).
Nela encontramos saliências: o hélix, o anti-hélix, o trago e o antitrago. Na porção
inferior do pavilhão, depara-se com uma saliência não provida de cartilagem: o lóbulo
da orelha.
O meato acústico externo, também chamado de conduto auditivo é a
continuação do pavilhão auditivo até à membrana timpânica. Trata-se de uma
formação tubular em forma de “S” deitado, com aproximadamente 2,5cm de
comprimento e 6 a 8 mm de diâmetro. É composto de pele e cartilagem e revestido
com glândulas sebáceas, cerunimosas e pêlos.
A membrana timpânica encontra-se na porção final do conduto auditivo
externo, separando-o da orelha média. Mede aproximadamente 1,5cm de diâmetro e
está dividida em duas partes: uma parte tensa (ocupa maior área) e a parte flácida
(ocupa a porção mais superior), de aspecto esbranquiçado e geralmente translúcida.
Possui uma forma ligeiramente ovalada; sua disposição é cônica, com vértice
bastante obtuso voltado ao interior. Está firmemente fixada à parede do conduto
auditivo externo por um grande anel de tecido fibroso denominado anel timpânico.
1.1.1 – Função da Orelha Externa
A Orelha Externa tem uma série de funções. Primeiramente, o meato
longo e estreito torna a orelha média e interna, que são mais delicadas, menos
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acessíveis a corpos estranhos. O terço externo do meato, que tem propriedades
bactericidas, é composto por abundantes glândulas cerunimosas que secretam uma
substância que invasores em potencial como insetos, acham terrivelmente
desagradável. Assim, tanto o caminho longo estreito e tortuoso do meato, quanto as
secreções produzidas, servem para proteger as outras porções do sistema auditivo
periférico.
Em segundo lugar, as diversas cavidades preenchidas com ar que
compõe a orelha externa, a concha e o meato acústico externo, principalmente
aumentam ou amplificam os sons de alta freqüência. Em terceiro lugar, a orelha
externa fornece a principal pista para a determinação de uma fonte sonora. A
orientação dos pavilhões faz com que os mesmos coletem o som de forma mais
eficaz. Em quarto lugar, a orelha externa ajuda a distinguir sons que se originam na
frente do ouvinte daquelas que se originam atrás dele.
1.2 – Orelha Média
A Orelha Média consistem em uma pequena cavidade preenchida com
ar (2cm3 ) que se comunicam entre si, revestida por uma membrana mucosa muito
tênue de coloração cinza rosada. Ela faz a ligação entre a orelha externa –
preenchida com ar, e a orelha interna – preenchida com líquido. Esta ligação é
realizada mecanicamente através de três minúsculos ossos, os ossículos.
O ossículo que se encontra na posição mais lateral é o martelo; este
está em contato com a membrana timpânica. O ossículo do meio nesta cadeia,
colocado entre o martelo e o estribo é a bigorna.
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Na outra extremidade da ligação entre a orelha externa e a orelha
interna, encontra-se o menor e mais medial dos ossículos – o estribo. A base larga
deste, conhecida como platina, repousa sobre uma cobertura membranosa da orelha
interna preenchida com líquido, conhecida como janela oval.
Os ossículos encontram-se frouxamente suspensos dentro da OM por
ligamentos conhecidos como ligamentos axiais, que se estendem da parede anterior
à parede posterior da cavidade. Há outras conexões entre as paredes circundantes
da cavidade da orelha média e os ossículos. Duas conexões são formadas pelos
pequenos músculos da orelha média – o tensor do tímpano (músculo do martelo) e o
estapédio (músculo do estribo), que se exterioriza na parede mastóidea (posterior) da
caixa do tímpano e se insere no lado posterior da cabeça do estribo.
A contração reflexa dos músculos da orelha média é a resultante motora
de um sistema de transmissão de sons que se inicia no pavilhão auricular. Toda vez
que um fluxo de energia sonora penetra no conduto auditivo externo provoca uma
mudança na posição da membrana timpânica, que passa a vibrar. Esta vibração é
transmitida à cadeia ossicular que, pelos seus mecanismos, produz uma modificação
das estruturas sensoriais (órgão de Corti) e acabam por disparar o impulso nervoso.
Se o estímulo sonoro apresentar intensidade superior a 70-90dB acima
do limiar mínimo de audição do indivíduo, um circuito nervoso denominado arco
reflexo – estapédico – coclear entra em ação. Este circuito nervoso se inicia coma
transmissão do impulso através da orelha externa, orelha média, estruturas sensoriais
da orelha interna e nervo coclear; ao atingir o tronco cerebral, um sinal de alerta é
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disparado e o circuito passa a ativar seu mecanismo de proteção que ocorre com a
estimulação do nervo facial (nervo que enerva o músculo estapédio) e que, por sua
vez, vai provocar a contração do músculo estapédio e alterar o padrão de vibração do
estribo sobre a janela oval e dessa forma, prevenir lesões das estruturas da orelha
média e orelha interna.
QUADRO 1
Esquema de Arco-Reflexo Estapédico Coclear
Som
OrelhaExterna
OrelhaMédia
OrelhaInterna
TroncoCerebral
CentroNervoso
MúsculoEstapédico
NervoFacial
1.2.1 – Função da Orelha Média
A manutenção da pressão do ar dentro da Orelha Média em equilíbrio
com a pressão do ar na Orelha Externa, é a condição básica para que ocorra uma
boa transmissão da onda sonora através das estruturas do sistema
tímpano-ossicular. Qualquer alteração neste sistema e/ou cavidade, acarretará em
aumento da imitância acústica e em perda de audição.
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1.3 – Orelha Interna
A Orelha Interna é uma estrutura complexa localizada na porção petrosa
do osso temporal; constitui-se por uma série de canais e passagens dentro do osso
que recebeu o nome de labirinto ósseo e dentro desta estrutura óssea encontra-se o
labirinto membranoso. O labirinto ósseo apresenta-se dividido em três porções:
canais semicirculares (superior, lateral, posterior), estes preenchidos por um líquido
denominado perilinfa, que tem constituição química semelhante à do líquido céfalo
raquidiano, apresentando maior concentração de sódio do que de potássio. As duas
outras porções são o vestíbulo e a cóclea.
Dentro do labirinto ósseo encontramos uma série de dutos
membranosos onde estão alojadas as estruturas sensoriais de recepção dos
estímulos auditivos e posturais; no mesmo, encontramos o labirinto membranoso e os
líquidos labirínticos.
O labirinto membranoso está situado no interior do labirinto ósseo,
formado por delicadas estruturas de membrana em cujas cavidades circulam os
líquidos labirínticos (perilinfa, que circula por um circuito entre o labirinto ósseo e o
membranoso e endolinfa que o faz entre as cavidades mais internas do labirinto
membranoso).
O vestíbulo é uma cavidade ovóide com aproximadamente 4mm de
diâmetro. Estabelece contato com o ouvido médio através da janela oval e apresenta
aberturas que correspondem à origem e término dos canais semicirculares e à
abertura do aqueduto vestibular.
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A cóclea se situa dentro da parede interna da caixa timpânica em sua
porção interior, apresenta uma forma espiral de caracol, possui cerca de 2¾ espirais
nos seres humanos. A espira maior é chamada de espira basal e a menor, no topo da
cóclea, é chamada de espira apical. Os dois outros marcos anatômicos da orelha
interna são: a janela oval e a janela redonda que está intimamente ligada à platina do
estribo, ossículo medial da orelha média. É a cóclea que contém o órgão sensorial da
audição o órgão de Corti, que localiza-se sobre a membrana basilar. O órgão de Corti
contém milhares de células receptoras sensoriais chamadas de “células ciliadas” e
células de sustentação. Cada célula ciliada possui vários cílios minúsculos que se
projetam da parte superior da célula.
As células ciliadas internas compõem uma única fileira de receptores
localizada mais próximo do modíolo ou porção óssea central da cóclea, apresentam
terminação nervosa na sua base e seu núcleo é central e apresenta células de
sustentação – tanto em sua base, quanto em suas faces laterais. Os cílios destas
células são livres, ou seja, não entram em contato com nenhuma outra estrutura; e
90-95% das fibras nervosas auditivas que levam informações para o cérebro, entram
em contato com células ciliadas internas.
As células ciliadas externas são em número muito maior e geralmente,
encontram-se organizadas em três fileiras. Os cílios das células ciliadas externas
encontram-se inseridos em uma estrutura gelatinosa conhecida como “Membrana
Tectória”, suspensa sobre a parte superior do Órgão de Corti.
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A membrana tectória tem papel importante na estimulação dos cílios
toda vez que a onda sonora atinge o ducto coclear. Cada vez que os cílios das
células ciliadas saem da sua posição de repouso, ocorre uma mudança na carga
elétrica endocelular e isto provoca o disparo no impulso nervoso para as fibras
nervosas que posteriormente vão formar o nervo vestíbulo. Coclear (VIII par).
1.3.1 – Função da Orelha Interna
A partir do momento em que o movimento mecânico da onda sonora
dentro dos líquidos da cóclea atinge a célula ciliada, através do movimento de
membrana tectória, inicia-se o processo de transdução eletroquímica, ou seja, o
processo de conversão de energia mecânica para energia eletroquímica. A alteração
da posição de equilíbrio dos cílios das células ciliadas permite uma troca de íons
entre os líquidos extracelulares (+) e a substância endocelular (-); rompe-se o
equilíbrio químico entre o meio intra e extracelular, o que provoca a depolarização da
célula; esta faz com que a sua carga elétrica mude e esta pequena mudança
ocasiona o disparo do impulso nervoso, que será conduzido pelas fibras do nervo
coclear através do sistema auditivo periférico e central para que o estímulo sonoro
possa então ser analisado, interpretado e respondido.
1.4 – Sistema Neural
Fazendo a ligação da parte periférica do Sistema Auditivo com a porção
central, temos o nervo vestíbulo coclear (VIII par craniano), que tem por função,
conduzir o estímulo nervoso até o tronco cerebral, onde encontrará um núcleo
associativo.
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As vias do Sistema Neural não são mais periféricas. Esta é a parte
anatômica que mais nos interessa, pois é onde se dá o processamento auditivo.
Os núcleos cocleares iniciam a análise sensorial complexa e diminuem
os sinais de ruído de fundo. Os núcleos do Complexo Olivar Superior respondem às
diferenças de intensidade e tempo interaural e usam isto para codificar a direção de
um som no espaço. Esta estrutura faz parte do arco reflexo acústico do músculo
estapédio. Os núcleos do colículo inferior parecem combinar a codificação especial
do Complexo Olivar Superior com os resultados da análise do complexo sensorial
(núcleos cocleares) e assim realizar o mapeamento da posição sonora.
Quanto ao córtex auditivo, as hipóteses de funções que lhe são
atribuídas se referem a: analisar sons complexos, localizar e representar o espaço
auditivo, atenção seletiva para estímulos auditivos baseados na posição da fonte
sonora, inibir respostas motoras inapropriadas; identificar estímulos; discriminação de
padrões temporais; memória auditiva para sons em seqüência, além de ser
necessário para tarefas auditivas mais difíceis.
Podemos dizer, então, que as atividades periféricas da audição são
responsáveis pela sensação do som, enquanto as centrais são responsáveis pela
percepção.
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CAPÍTULO II
OTITE MÉDIA: PATOLOGIA QUE INTERFERE NO DESENVOLVIMENTO DA
LINGUAGEM E NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Otite Média refere-se a inflamação da cavidade da orelha média e é
desencadeada na sua quase totalidade, em virtude de infecções das fossas nasais,
cavidades sinusais paranasais e rinofaringe. A otite média também pode ser causada
por outros fatores, como: disfunção da tuba auditiva, depressão do estado
imunológico, alergias, problemas ambientais e, em alguns casos, problemas sociais,
propagadas à orelha média através da tuba auditiva. A maior incidência de otite
média ocorre em crianças pequenas e bebês. Isto pode ser explicado pela
imaturidade do sistema imunológico e também pela imaturidade estrutural e funcional
da tuba auditiva. Além disso, é importante ressaltar que a função de abertura da tuba
auditiva (trompa de Eustáquio) é ruim em crianças com otite média e com histórias de
doença da orelha média. De fato, em geral o músculo responsável pela abertura e
pelo fechamento da tuba (músculo tensor do palato mole) é menos eficiente em
bebês e em crianças pequenas. Além disso, a posição da tuba auditiva nas crianças
fica em um ângulo de somente dez graus em relação ao plano horizontal, enquanto
em adultos este ângulo é de quarenta e cinco graus e a tuba apresenta-se também
muito mais curta em bebês pequenos.
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Devido ao ângulo e ao comprimento reduzido da tuba nas criança, a
inflamação pode chegar à orelha média a partir da área nasofaríngea com mais
facilidade. A via respiratória superior está constantemente contaminada pelo seu
contato direto com o ambiente externo ao organismo do indivíduo através da tuba
auditiva, este está em estreito contato com a orelha média e, para que o equilíbrio
fisiológico deste sistema se mantenha adequadamente estéril, células produtoras de
muco existem no ouvido médio, na tuba auditiva e na mucosa respiratória; estas têm
a função de expulsar todo e qualquer elemento estranho às estruturas daquela
região.
A causa básica da otite média é a quebra deste mecanismo fisiológico, e
isto se inicia com a disfunção da tuba auditiva, causada por diversos fatores já citados
e outros, como adenóides hipertrofiadas, reações alérgicas, fissura palatina,
obstrução nasal, infecção das vias aéreas superiores. Diversos fatores de risco para
que uma criança seja considerada “propensa à otite” têm sido apontados. Dentre
eles, estão: pertencer ao sexo masculino, possuir história de otite média recorrente
em irmãos, infecção precoce, não ter recebido aleitamento, estar em creche e
exposta a fumaça de cigarro (mesmo em sua casa).
TEELE e colaboradores (1989), registraram um ou dois episódios de
otite média em crianças entre 1 e 2 anos de vida, e cerca de 92% desta população
apresenta problemas auditivos “funcionais”.
A presença de efusão na orelha média devido a uma otite média
secretora, geralmente resulta em perda auditiva. À medida que o volume de ar da
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cavidade da orelha média diminui, a rigidez aumenta na membrana timpânica e a
capacidade para responder a sons de freqüência baixa, diminui. A manutenção do
quadro de alteração na ventilação da cavidade timpânica faz com que o fluído
comece a ocupar o espaço aéreo e a audição se torna prejudicada em todas as
outras freqüências. O grau de perda auditiva apresentado pelos sujeitos que
apresentam problemas de otite média secretora varia muito, desde “limiares normais”,
perda por volta de 25-30dB (como se as crianças estivessem usando protetor
auricular) e até perdas bastante significativas em torno de 50 a 60 dBNA.
A importância da otite média no desenvolvimento das funções cognitivas
e lingüísticas da criança tem dividido os profissionais envolvidos em dois pontos
opostos sobre as relações entre otite média e desordens de fala e linguagem. Alguns
estudiosos acham que a otite média não tem nenhum efeito sobre o desenvolvimento
da linguagem e da fala da criança porque a perda auditiva é discreta e de pouca
duração. Outros estudiosos acham que a otite média persistente tem um efeito
negativo sobre o desenvolvimento da linguagem e da fala porque a audição flutua
durante os primeiros anos de vida, e que esta inconsistência na recepção auditiva cria
problemas para algumas crianças com perda auditiva leve e moderada.
SKINNER (1978), em artigo publicado no Otolaryngology Clinics of North
American, relatou uma série de dificuldades que uma criança em fase de aprendizado
da linguagem, pode apresentar quando é portadora de perda auditiva leve; dentre
estas, é importante ressaltar:
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A perda da constância das pistas auditivas quando a informação acústica flutua –
a impossibilidade de ouvir os sons da fala e da linguagem, sempre da mesma
maneira, torna difícil para a criança adquirir um código acústico definido para cada
som que recebe. Esta inconsistência de informações faz com que a criança não
tenha certeza se o que ouviu é conhecido ou é novo.
Confusão dos parâmetros acústicos na fala rápida – a fala é um processo que
encadeia fonemas. Este encadeamento faz com que cada fonema sofra a
interferência do fonema que o precede e que o sucede.; dessa forma não só a
produção do movimento articulatório é modificada, mas também o efeito acústico.
Quando a fala acontece em ritmo acelerado, estas pistas acústicas se tornam
ainda mais indefinidas, possibilitando à criança portadora de perda auditiva leve,
maior dificuldade para realizar a análise acústica dos sons da fala que ouve,
podendo, dessa forma, levá-la a cometer erros na hora de empregar este ou
aquele fonema.
Quebra na habilidade para perceber, de forma precoce, os significados – nossa
habilidade para compreender a fala e a linguagem, depende de nossas
experiências e vivências. Se perdemos alguns sons ou informações, podemos
realizar a suplência do conteúdo, baseados exatamente no nosso passado. A
criança que ainda não passou por todas estas situações de linguagem, ao deixar
de ouvir alguns sons da nossa fala, pode desenvolver padrões semânticos
inadequados, podendo comprometer sua capacidade de se comunicar.
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Abstração errônea das regras gramaticais – muitos dos vocábulos emitidos por um
falante são de curta duração ou pouco intensos, o que faz com que o portador de
uma perda auditiva leve tenha dificuldade para identificar as relações entre as
palavras e a entender a morfologia da gramática de sua língua e, além disso, pode
também apresentar dificuldades para lidar com o conteúdo emocional da fala, pois
estas encontram-se na área das freqüências baixas onde ocorrem as perdas
condutivas de grau leve.
2.1 – Otite Média x Desenvolvimento da Linguagem e Aprendizagem
Juntamente com a maturação da função auditiva, estão o desenvolvimento,
a da fala e as habilidades da linguagem.
O desenvolvimento da fala começa como choro por ocasião do
nascimento. Do primeiro vagido até o aparecimento da primeira palavra convencional,
a criança progride através de uma série de estágios do desenvolvimento que são
essenciais para o aprendizado da fala.
Os primeiros quatro anos de vida são críticos para o desenvolvimento da
fala e linguagem. Portanto, a identificação de qualquer perda auditiva nesta fase é
muito importante, pois o aprendizado estaria comprometido, mesmo sendo uma perda
leve. Para que a aprendizagem aconteça, é necessário que algumas condições
básicas estejam íntegras e que as oportunidades e estímulos adequados sejam
oferecidos às crianças.
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A criança aprende, ao receber informações através de seus sentidos.
Portanto, a integridade da audição e da visão é essencial para a aquisição da fala, da
linguagem e da aprendizagem. O desenvolvimento das habilidades de escutar e falar
e de perceber os sons que emite, requer a participação dos órgãos fonoarticulatórios,
sendo que as habilidades mencionadas só adquirem consistência se houver um
processo de ativa experiência articulatória.
Cabe salientar que todo esse desenvolvimento requer uma integridade
de todas as habilidades auditivas; caso contrário, poderão ocorrer dificuldades na
aquisição, no desenvolvimento e na aprendizagem. Estas crianças podem apresentar
dificuldades educacionais que podem aparecer na hora em que vão aprender a ler ou
a trabalhar com situações eminentemente verbais – ditados, por exemplo. É preciso
que ouçam todos os detalhes da fala e da linguagem para que consigam armazenar
as informações de cada segmento fonêmico, de cada palavra, de cada sentença que
ouve. Caso contrário, haverá dificuldades para localizar a fonte sonora para entender
a fala em presença de ruído, para manter a atenção e seguir as instruções em classe,
para fazer o trabalho escolar, principalmente em atividades de linguagem oral.
As crianças consomem aproximadamente 45% de suas atividades
escolares diárias engajadas em atividades auditivas.
A audição é, sem dúvida, o campo preferencial das bases para o
aprendizado escolar.
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CAPÍTULO III
MECANISMOS DO PROCESSO AUDITIVO CENTRAL
3.1 – Percepção da Fala
A fonologia da fala pode ser diferenciada de um som ambiental desde
muito cedo, segundo estudos realizados. Para que isto ocorra, é necessário que as
atividades periféricas captem a sensação do som, enquanto as centrais o percebam.
Como vimos anteriormente, o processamento da fala feito pelo cérebro, inicia-se na
cóclea, onde a transformação mecânica dos sinais de fala é convertida como função
receber, analisar e programar a resposta. Este componente irá se desenvolver a partir
da experimentação sonora durante os dois primeiros anos de vida. Um som só é
inteligível quando se compreende seu significado. A inteligibilidade da fala depende
das características da mensagem e das características acústicas do ambiente. Dentre
as características da mensagem, destacam-se gesticulação e apoio visual,
conhecimento do idioma do tema, potência, articulação, claridade e inflexões da voz
do falante, competência mental, posição relativa entre o falante e ouvinte, capacidade
auditiva do ouvinte.
A facilidade com que um indivíduo é capaz de perceber a fala, em parte
é uma redundância dentro do sistema auditivo (intrínseca), e em parte, dentro do sinal
da fala (extrínseca). As redundâncias intrínsecas são as múltiplas vias e tratos
auditivos disponíveis no sistema auditivo central nos ouvintes com audição periférica
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e centrais normais. As extrínsecas referem-se às pistas sobrepostas dentro da própria
fala; pistas sintáticas, semânticas, morfológicas e léxicas.
Podemos dizer então, que o processo de decodificação das ondas
sonoras desde a orelha externa até o córtex auditivo, faz parte do Processamento
Auditivo Central. O Quadro 2 explica como está a habilidade do indivíduo em
compreensão da linguagem.
Quadro 2
HABILIDADE DE RESPONDER ETAPAS
Indiferente à presençaou ausência dos
sons da falaDetecção
Diferenciar Discriminação
Identificar Reconhecimento
Compreensão
3.2 – Habilidades do Processamento Auditivo Central
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O processamento auditivo se refere a uma série de operações que o
Sistema Auditivo realiza para interpretar vibrações sonoras por ele detectadas
(Pereira, 1992). As habilidades envolvidas pelo indivíduo nos processos de atenção
seletiva, detecção do som, discriminação, localização, reconhecimento, compreensão
e memória, são referidas como Processamento Auditivo Central. Esta classificação foi
dada por Boothroyd (1986).
a) Atenção Seletiva. O mecanismo da atenção seletiva parece ser o
sistema que liga ou desliga diferentes áreas do cérebro como mundo externo ou
interno. A atenção seletiva capacita o indivíduo a reagir a um determinado estímulo
auditivo significativo e a ignorar o ruído de fundo.
A atenção seletiva depende do funcionamento do sistema nervoso
Central e é primordial para qualquer aprendizagem. Esta habilidade se desenvolve a
partir do nascimento.
Atenção seletiva, então, é a capacidade de selecionar estímulos.
b) Detecção do Som. Esta habilidade se refere à identificação do som (a
partir do 5o. mês de gestação). Juntamente com a detecção do som, ocorre a
sensação, que depende da experienciação sonora. Sensação sonora é o nome dado
quando um estímulo sonoro é recebido via sentido da audição. A sensação é própria
do indivíduo; é a partir dela que podemos dizer se um som é alto ou baixo, grosso ou
fino, forte ou fraco, longo ou curto. Para detectar o som, é necessário integridade dos
componentes condutivos e sensoriais.
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c) Discriminação. É o processo de detectar diferenças entre os padrões
de estímulos sonoros. Podemos perceber diferenças mínimas de freqüências,
intensidade e de tempo de duração de um som.
d) Localização. É saber o local de origem do som. Para que a
localização ocorra, são necessários alguns pré-requisitos, como: detectar o som em
ambas as orelhas e perceber diferenças de intensidade.
A localização sonora que se manifesta através do olhar em direção à
fonte sonora, parece ser um processo importante no desenvolvimento de percepção
espacial e no desenvolvimento de atenção seletiva.
e) Compreensão. É depreender o significado da informação auditiva, o
que acontece por volta dos dois anos de idade. É um comportamento totalmente
aprendido.
f) Memória. É o processo que permite estocar e arquivar as informações,
para poder recuperá-las quando houver necessidade.
Keith (1982) classifica de outra de outra forma as habilidades auditivas
centrais:
Localização Sonora. Habilidade de localizar auditivamente a fonte sonora. Requer
audição binaural.
Síntese Binaural. Habilidade para integrar centralmente estímulos incompletos
apresentados simultaneamente ou alternados para orelhas opostas.
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Figura-Fundo. Identificar mensagem primária na presença de sons competitivos.
Tarefa monaural ou binaural.
Separação Binaural. Habilidade para escutar com uma orelha e ignorar a oposta.
Memória. Habilidade de estocar e recuperar estímulos, incluindo as habilidades
para lembrar a duração ou o número de estímulos auditivos e memória seqüencial,
ou habilidade para lembrar a ordem exata dos estímulos apresentados.
Discriminação. Habilidade para determinar se dois estímulos são iguais ou
diferentes. Na fala, discriminação auditiva é a habilidade para reconhecer
diferenças sutis entre os fonemas.
Fechamento. Habilidade para perceber o todo quando partes são omitidas.
Atenção. Habilidade para persistir em escutar por um período razoável de tempo.
Associação. Habilidade para estabelecer correspondência entre um som não
lingüístico e sua fonte.
O desenvolvimento das habilidades auditivas que ocorre nos primeiros
anos de vida, depende da interação destas etapas inatas e das experiências da
criança no seu ambiente acústico.
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CAPÍTULO IV
DESORDENS DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL
Considera-se disfunção auditiva central ou desordem do Processamento
Auditivo Central um distúrbio da audição em que há um impedimento da habilidade de
analisar e/ou falta de experienciação em um meio ambiente acústico (Pereira, 1996).
Estas desordens têm como causas prováveis, alterações neurológicas
ou alterações sensoriais auditivas como perdas condutivas, mesmo as transitórias,
decorrentes de otite média na infância.
Numa desordem do Processamento Auditivo Central, podem estar
presentes as seguintes manifestações de dificuldades: em atenção seletiva, em ouvir
em ambiente ruidoso, em localização sonora, em reconhecimento de seqüências
auditivas, em reconhecimento de palavras e frases na presença de ruídos, em
compreender num ambiente ruidoso, além da possibilidade de ter a memória auditiva
prejudicada. Por último, pode manifestar-se a dificuldade no relacionamento com
crianças da mesma idade, preferindo estar em companhia de adultos tolerantes ou
até sozinhas.
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Enfim, o diagnóstico de desordem do Processamento Auditivo Central
caracteriza uma dificuldade que envolve prejuízo de habilidades auditivas, ou seja, o
que o indivíduo faz com os eventos sonoros. Esta desordem do Processamento
Auditivo Central deve ser considerada distúrbio da audição. O diagnóstico de distúrbio
do Processamento Auditivo Central possibilita modificações no processo de
reabilitação que, quando não é levado em conta, pode justificar fracassos em
reabilitação fonoaudiológica.
4.1 – Grau e Tipo de Distúrbio do Processamento Auditivo Central
As desordens do Processamento Auditivo Central são classificadas
quanto ao grau, em quatro categorias: normal, leve, moderado e severo. O grau de
severidade baseia-se na dificuldade do indivíduo para compreensão de linguagem em
situações de redundância do estímulo verbal diminuída. Sendo assim, se o distúrbio
for leve, haverá uma ligeira dificuldade do indivíduo em acompanhar a conversação
em ambientes com condições desfavoráveis; quando o distúrbio for moderado,
haverá uma dificuldade moderada em acompanhar uma conversação em condições
desfavoráveis (redução da redundância próprias ao estímulo verbal ou ambiente
barulhento ou com reverberação). Quando na presença de alteração quantitativa do
grau moderado a severo, diz-se que a disfunção auditiva central provavelmente
justifica as alterações de comunicação encontradas como manifestação no indivíduo.
Na presença de alteração quantitativa de grau leve, comenta-se que a disfunção
auditiva central provavelmente é secundária a uma outra alteração afetiva/emocional
e/ou orgânica do indivíduo avaliado.
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A classificação, quanto ao tipo de desordens, foi proposta por Katz em
1992. Ele propôs a identificação de três categorias. São elas:
a) Decodificação, ou gnosia acústica, ou seja, prejuízo dos processos
envolvidos na aquisição de conhecimentos através da habilidade de integrar
auditivamente, do ponto de vista acústico, eventos sonoros. “O sinal acústico é um
nível de fala?”
b) Codificação, ou gnosia auditiva integrativa, ou seja, prejuízo nos
processos envolvidos na aquisição de conhecimentos adquiridos através da
habilidade de integração de informações sensoriais auditivas e das auditivas com
outras informações sensoriais não auditivas, como as visuais, por exemplo. “Qual o
significado desta palavra?”
c) Organização, gnosia auditiva seqüencial temporal, ou seja, prejuízo
dos processos envolvidos na aquisição de conhecimentos adquiridos através da
habilidade de seqüencializar eventos sonoros no tempo.
4.2 – Manifestações das Desordens do Processamento Auditivo Central
Manifestações Comportamentais
Como desordem do Processamento Auditivo Central, os indivíduos
podem apresentar uma ou mais das seguintes manifestações comportamentais:
1- Quanto à Comunicação Oral:
Problemas de produção de fala envolvendo os fonemas /r/ e /l/
principalmente;
Problemas de linguagem expressiva envolvendo regras da língua
(estrutura gramatical);
Dificuldade em compreender estando em ambientes ruidosos;
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Dificuldade em compreender palavras de duplo sentido (piada).
2- Quanto à Comunicação Escrita:
Problemas de escrita quanto às inversões de letras, orientação
direita/esquerda;
Disgrafias;
Dificuldade de compreender o que lê.
3- Quanto ao Comportamento Social:
Distraídos;
Agitados/hiperativos/muito quietos;
Desajustados;
Tendência ao isolamento.
4- Quanto ao Desempenho Escolar:
Inferior em leitura, gramática, ortografia e matemática;
O desempenho escolar pode ser melhorado ou agravado
dependendo de fatores tais como:
Posição do aluno em sala de aula;
Tamanho da classe;
Nível de ruído ambiental;
Fala do professor quanto ao nível de intensidade e clareza da voz.
5- Quanto à Audição
Atenção ao som, prejudicada;
Dificuldade em escutar em ambiente ruidoso.
Manifestações Clínicas
Prejuízo de:
Localização Sonora;
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Memória Auditiva para sons em seqüência;
Identificação de palavras decompostas acusticamente;
Identificação de sílabas e/ou palavras e/ou frases na presença de
uma mensagem competitiva em tarefas monóticas ou dicóticas.
Limiares de Audibilidade
Próximo ao limite superior da faixa de normalidade bilateralmente
(15-20 dBNA);
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CAPÍTULO V
APRENDIZAGEM E PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL
A necessidade de comunicação é natural no ser humano dotado de
condições inatas de aquisição, o indivíduo comunica seu pensamento através da
linguagem. Organizando suas experiências sensoriais, dentre elas a audição, a
criança chega a formações de conceitos significativos, os quais ela condensa e
arquiva na memória em forma de código.
A audição, como já vimos, é o primeiro passo desse mecanismo de
desenvolvimento da comunicação verbal. O cérebro seleciona os elementos auditivos
mais significativos que formam a “figura”; os demais elementos constituem o “fundo”
(ruído). A criança deverá, então, ser capaz de selecionar dentro do contexto auditivo,
o que lhe “interessa” e focalizar sua atenção apenas no que foi selecionado,
esquecendo o ruído (fundo), seja ele com ou sem conteúdo lingüístico. Só então a
figura é enviada aos arquivos da linguagem interna onde é analisada, decomposta e
comparada com conceitos já previamente arquivados (discriminação). Depois deste
processo então, a “figura” será interpretada.
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Uma criança com dificuldade em figura – fundo auditiva, numa sala de
aula onde o ruído competitivo é grande (conversas, barulho de ventilador, barulho de
rua etc.), vai apresentar dificuldade em compreender a fala do professor (figura) e
então não conseguirá manter a atenção focalizada, distraindo-se com facilidade. Este
comportamento poderá interferir de maneira direta no seu aprendizado e
aproveitamento.
A audição funcional é um processo complexo, exigindo atenção,
recepção, discriminação e recordação (memória), todas essas habilidades
necessitando, em seguida, ser inter-relacionadas significativamente.
As crianças aprendem a decodificar dirigindo sua atenção a deixas
padronizadas que lhes são apresentadas através de uma audição cuidadosa, atenção
dirigida, prática e reforço, então gradualmente começam a aperfeiçoar e a organizar
suas percepções auditivas.
Na aprendizagem, a decodificação é parte de um processo associativo,
no qual os sons são sugeridos e codificados com outras informações sensoriais. A
habilidade para reter e organizar sons, a padronização e a organização seqüencial de
sons são habilidades complexas e fundamentais durante o processo de aprendizagem.
Podemos citar como exemplo o processo de leitura, que tem início com
a percepção visual e a análise de um grafema, continuidade com a recodificação de
grafemas para as estruturas fonéticas (fonema) correspondentes e se completa com
a compreensão do que havia sido escrito.
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Tendo em vista as habilidades auditivas envolvidas no processo de
aprendizagem, podemos dizer que crianças com distúrbios do Processamento
Auditivo Central (nas áreas de decodificação, codificação e organização), poderão ter
dificuldades no processo de aprendizagem. Se tomarmos novamente como exemplo
a leitura, uma criança com dificuldade nas áreas acima não conseguirá sintetizar o
som em palavras ou analisar as palavras em partes e terá dificuldade em relacionar
os componentes visuais das palavras ao seu equivalente auditivo. Isso deturpará a
compreensão do que foi lido.
Wernicke descreveu a existência de cinco centros corticais interligados:
um centro de imagens de memória dos padrões de movimento da linguagem oral
(centro expressivo da fala); um centro de imagens de memória dos sons de palavras
(centro audioverbal); um centro de imagens de memória de movimentos da escrita
(centro da escrita); um centro de imagens de memória de palavras escritas (centro
visual – verbal) e um centro onde são formulados os conceitos ou idéias antes de
serem expressos (centro do conceito). Todos eles ligados entre si. Esquema
representado no Quadro 3.
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QUADRO 3
Modelo de Linguagem
CCEntradaVisual
CE CVV
CEF CAV
ProduçãoEscrita
EntradaAuditiva
Produção Verbal
CVV – Centro Visual da FalaCAV – Centro AudioverbalCC – Centro do ConceitoCEF – Centro Expressivo da FalaCE – Centro da Escrita
O autor coloca, de maneira objetiva, como estes sistemas estão
integrados. Sendo assim, observando o gráfico acima, podemos perceber que
qualquer alteração orgânica ou funcional no centro audioverbal interferirá de maneira
direta na elaboração de conceitos, na produção verbal e conseqüentemente na
escrita do indivíduo, afetando, assim, a linguagem e, mais tarde, o processo de
aprendizagem. Daí vê-se a importância da integridade anátomo-funcional do sistema
auditivo.
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5.1 – Distúrbios do Processamento Auditivo Central x Distúrbios de
Aprendizagem
A integridade anátomo-fisiológica do sistema auditivo, tanto em sua
porção periférica, quanto central, constitui um pré-requisito para a aquisição e
desenvolvimento normal da linguagem. Desta forma, distúrbios da audição podem
interferir nestes processos, alterando o desenvolvimento social, psíquico e
educacional de uma criança.
A percepção auditiva contribui de forma muito importante para o
desenvolvimento da fala, linguagem, leitura e no entendimento do que as pessoas
falam (mesmo se a fala não for perfeita). Portanto, percepção alterada sempre leva a
problemas de comunicação e aprendizagem.
Vários pesquisadores que trabalham com crianças portadoras de
distúrbio de aprendizagem têm relatado que estes pacientes têm dificuldades em
vários aspectos do processamento lingüístico superior. A criança, para desenvolver
linguagem, precisa estar com boa capacidade receptiva. Tendo em vista que a
audição é o canal preferencial de aquisição de linguagem, se esta criança não estiver
com boa capacidade auditiva (integridade das vias e percepção), a aquisição de
informações essenciais para a linguagem estará prejudicada.
Reconhecer um som, fonema ou palavra, envolve muitas habilidades.
“Reconhecer um fonema significa não apenas dizer que ele pertence a uma
categoria, mas também decidir que suas características não pertencem a nenhum
outro fonema” (SCHOCHAT, 1996). Podemos perceber que vários fatores auditivos
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interferem na capacidade de aprendizagem do indivíduo. Desta maneira, podemos
imaginar o quanto uma criança com alteração em uma ou mais categorias dos
distúrbios descritos por Katz – decodificação, codificação e organização – podem ter,
prejudicado, o seu processo de aprendizagem.
Estudos demonstraram que alterações nas categorias citadas acima se
manifestam da seguinte maneira:
Decodificação
Crianças com distúrbio nessa categoria têm dificuldade em discriminar fonemas,
trabalham com o contexto.
Habilidades Auditivas Prejudicadas:
Atenção seletiva para sílabas e dissílabos;
Localização sonora.
Problemas Associados:
Problema de fala (r, l);
Problema na escrita (orientação direita/esquerda);
Dificuldade de compreender em ambientes ruidosos;
Má utilização de informação fonêmica.
Codificação
Crianças com distúrbio nessa categoria têm dificuldade em integrar informações
sensoriais com as auditivas.
Habilidades Auditivas Prejudicadas:
Atenção seletiva para frases degradadas;
Atenção seletiva para frases, palavras e sílabas.
Problemas Associados:
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Dificuldade na linguagem expressiva;
Dificuldade de compreensão (oral e escrita);
Distração;
Disgrafias;
Problemas comportamentais.
Organização
Crianças com distúrbio nessa categoria têm dificuldade em manter seqüência.
Habilidades Auditivas Prejudicadas:
Memória auditiva seqüencial;
Fechamento.
Problemas Associados:
Desorganização na escola e no lar;
Inversões na fala e na escrita.
Crianças com problemas perceptuais e/ou de processamento auditivo
costumam caracterizar-se, fundamentalmente, por revelarem grande dificuldade em
acompanhar a escolaridade, observando-se algumas características tais como:
a) Déficit na discriminação figura/fundo;
b) Atenção auditiva diminuída no tempo e na qualidade;
c) Limitações na memória e na evocação;
d) Retardo no desenvolvimento da linguagem receptiva.
Uma criança com dislexia, que tem basicamente dificuldades na área de
codificação (integração auditivo-visual), apresentará comportamentos que
demonstram ser provenientes de desordens do Processamento Auditivo Central. Os
problemas característicos da criança com dislexia auditiva, segundo Myklebust, são
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os seguintes: distúrbios de discriminação e percepção auditiva que impedem o uso da
análise fonética; dificuldade com a análise e síntese auditiva; não conseguem
reorganizar sons ou palavras auditivamente; distúrbio no que diz a respeito à
formação de seqüências auditivas. Sendo assim, podemos dizer que crianças com
dificuldade de aprendizagem podem ter como causa, na verdade, desordens do
Processamento Auditivo Central.
A grande questão é que a fala chega muito rápido e com muita
freqüência e intensidade diferentes, o cérebro tem que processar as informações
rapidamente e estes são procedimentos sofisticados. Portanto, crianças com
distúrbios do Processamento Auditivo Central estarão sempre com defasagem na
elaboração das informações, o que interferirá imediatamente na resposta, na
produção.
É comum encontrarmos incompatibilidade de desempenho em crianças
com inteligência normal, acuidade normal e dificuldades escolares não específicas,
isto é, vão mal em português e matemática. Estas seriam, então, manifestações das
desordens do Processamento Auditivo Central.
5.2 – Orientação aos Pais e Professores
O que fazer frente a uma criança com desordem do processamento
auditivo? É necessário orientar pais e professores. Inicialmente, deve-se minimizar
barulhos estranhos e estímulos visuais quando a criança tiver que receber uma
informação nova, buscando facilitar o processo de atenção seletiva e, com isto, o
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aprendizado dela. As ordens devem ser repetidas várias vezes, e o professor deverá
encorajar a criança a repetir a ordem ouvida. O falante deve usar frases simples, falar
claramente e simplificar a mensagem, principalmente quando a informação for
original. A criança com desordem do Processamento Auditivo Central deve ter a
oportunidade de ouvir o falante em um nível de intensidade bem acima do ruído de
fundo (sentar perto da professora), para que, com suas possibilidades cognitivas e
com esta facilitação da chegada da informação sonora, venha a descobrir estratégias
para compensar suas dificuldades. Enfim, pais, professores e demais adultos
envolvidos com a criança com distúrbio do processamento auditivo, devem ser
conscientizados quanto ao que é o processamento auditivo, qual a desordem
apresentada pela criança, como estimular e quais os objetivos da estimulação.
Lembrar que a estimulação visa melhorar o desempenho da criança, fortalecer os
corretos processos e habilidades e facilitar as estratégias que a criança utiliza para
compensar as dificuldades.
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CAPÍTULO VI
PREVENÇÃO E IDENTIFICAÇÃO PRECOCES
O primeiro anos de vida no qual ocorre a maturação do sistema nervoso
central, é considerado um período crítico para o desenvolvimento da audição, e
desvios neste processo podem provocar alterações futuras de linguagem e do
aprendizado. A identificação de alterações auditivas periféricas e/ou centrais no
primeiro ano de vida, possibilita a intervenção ainda no período crítico e optimal de
desenvolvimento da criança, prevenindo futuras alterações.
Em vista disso, se faz necessário intervir de maneira preventiva em
relação a eventuais alterações de linguagem e do aprendizado. É importante que haja
um programa sério e eficaz de prevenção e identificação precoce dos distúrbios de
Processamento Auditivo Central.
A implementação do programa de prevenção e identificação precoce
dos distúrbios da audição, possibilita uma maior conscientização dos profissionais e
da comunidade envolvida, da importância de se evitar a ocorrência de distúrbios
auditivos na infância. Este aspecto pode ser observado, principalmente ao se
introduzir conteúdos referentes à prevenção dos distúrbios da audição nos cursos de
graduação da Medicina e pós-graduação da Pediatria e da Enfermagem, bem como
nos cursos de graduação e pós-graduação da Pedagogia e Psicologia. Além disso, o
trabalho de orientação a profissionais das áreas afins, realizado nos últimos anos,
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possibilita um maior número de encaminhamentos de crianças de menor faixa etária,
permitindo diagnóstico mais precoce da perda auditiva e dos distúrbios de
Processamento Auditivo Central.
Um programa de prevenção e identificação precoce tem por objetivo:
Evitar a ocorrência de perda auditiva periférica e/ou central;
Identificar durante o primeiro ano de vida, alterações auditivas
periféricas e/ou centrais;
Intervir o mais rapidamente possível, procurando evitar ou minimizar
alterações futuras.
Para atingir tais objetivos, o programa se desenvolve em três níveis:
Prevenção;
Identificação e diagnóstico precoce;
Intervenção.
6.1 – Princípios da Prevenção
A prevenção ocorre no período pré-patogênese, com o objetivo de evitar
a ocorrência das alterações auditivas, e assim, evitar todos os distúrbios, como por
exemplo os de Processamento Auditivo Central. Este aspecto de prevenção deve ser
valorizado, tendo em vista os recursos escassos disponíveis dedicados ao setor da
saúde.
Nesta etapa, o programa inclui as seguintes medidas de prevenção:
Conscientização e orientação da população sobre a etiologia de
distúrbios do Processamento Auditivo Central;
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Orientação a profissionais da área de saúde e educação, através de
aulas e palestras sobre a importância da assistência à saúde da
gestante e do neonato.
Portanto, torna-se imperiosa a detecção precoce para poder evitar ou
minimizar problemas futuros.
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CONCLUSÃO
Com a realização desta pesquisa, pude adquirir conhecimentos mais
detalhados a respeito do Processamento Auditivo Central onde verifiquei que é de
suma importância – não só para a Audiologia, mas, principalmente, para os distúrbios
da comunicação humana.
A intervenção em tempo hábil, ou seja, o mais precoce possível em
relação ao desvio da anormalidade, da conduta própria da idade, possibilita
resultados terapêuticos muito mais amplos. Permite que se tenha maior condição de
se evitar que problemas secundários venham a se desenvolver.
O trabalho com as crianças que apresentam manifestações clínicas e
comportamentais dos distúrbios de Processamento Auditivo Central, deve ser feito
através de uma interação do Fonoaudiólogo e família, para que estes pequeninos se
desenvolvam dentro de suas potencialidades, permitindo seu crescimento mais
harmonioso, com carinho, respeito, paciência amor.
Espero que este trabalho auxilie no estudo e incentive profissionais e
discentes do ensino superior que se interessam pelo aprimoramento de seus
conhecimentos a respeito do Processamento Auditivo Central, e que pensam na
Fonoaudiologia acima de tudo, como um trabalho sério, respeitável e de grande valor.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, Marisa Frasson de, VIEIRA, Raymundo Manno & VILANOVA, L.C. Pereira.
Desenvolvimento auditivo de crianças normais e de alto risco. São Paulo: Plexus,
1995.
BESS, Fred H. & LARRY E. Humes. Trad. DOMINGUES, Marcos A. G. Fundamentos
de audiologia. 2a. ed., Porto Alegre: Editora Antmed, 1998.
CASANOVA, J. Pena e colaboradores. Manual de fonoaudiologia. Porto Alegre: Ed.
Artes Médicas, 1992.
HUNGRIA, Helio. Otorrinolaringologia. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Kogan, 5a. ed.,
1988.
KATZ, Jack. Central auditory processing: wath is and wath it realy to. Anais do XII
Encontro Internacional de Audiologia. Santa Maria: 1997.
KATZ, Jack. Classification of auditory processing disorder. St. Luís: Mosby, 1992.
RUSSO, Iêda C. Pacheco & SANTOS, Teresa M. Momenohn. Audiologia infantil. 3a.
edição ampliada, São Paulo: Cortez, 1994.
VALETT, Robert E. Dislexia uma abordagem neuropsicológica para a educação da
criança com graves desordens da leitura. Califórnia: Editora Manole, 1990.
SCHOCHAT, Eliane (org.). Processamento auditivo. São Paulo: Editora Lovise, 1996.
(atualidades em Fonoaudiologia, V. II).
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento
Diretoria de Projetos Especiais
Projeto “A Vez do Mestre”
Título da Monografia:
A INTERVENÇÃO DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL NO PROCESSO
DE APRENDIZAGEM: UM EMBASAMENTO TEÓRICO PARA ENSINO SUPERIOR
Data da Entrega: 16 de Fevereiro de 2002
Avaliado por: Professor Palmiro Ferreira da Costa Grau: _________
Rio de Janeiro, 16 de Fevereiro de 2002.
_______________________________Coordenador do Curso