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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ - REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “ A VEZ DO MESTRE” O USO DA SUCATA NA EDUCAÇÃO INFANTIL, DESENVOLVENDO O RACIOCÍNIO LÓGICO – MATEMÁTICO E A LINGUAGEM ADRIANA DE OLIVEIRA RODRIGUES ORIENTADORA PROF ª FABIANE MUNIZ RIO DE JANEIRO 02 / 2003

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ - REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “ A VEZ DO MESTRE”

O USO DA SUCATA NA EDUCAÇÃO INFANTIL, DESENVOLVENDO

O RACIOCÍNIO LÓGICO – MATEMÁTICO E A LINGUAGEM

ADRIANA DE OLIVEIRA RODRIGUES

ORIENTADORA PROF ª FABIANE MUNIZ

RIO DE JANEIRO

02 / 2003

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O USO DA SUCATA NA EDUCAÇÃO INFANTIL, DESENVOLVENDO O RACIOCÍNIO LÓGICO – MATEMÁTICO E A LINGUAGEM

ADRIANA DE OLIVEIRA RODRIGUES

TRABALHO MONOGRAFICO APRESENTADO COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE ESPECIALISTA EM PSICOPEDAGOGIA.

RIO DE JANEIRO 02 / 2003

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AGRADECIMENTOS

Deus em primeiro lugar pelas inúmeras oportunidades profissionais que

tem abençoado a minha vida que proporcionaram a realização e conclusão

deste curso. Também pela saúde, que sem ela nada podemos fazer.

Aos meus pais, que até hoje investiram na minha educação, pelo amor,

pelo apoio nos momentos de alegria e de dificuldades, cheguei até aqui, e

ainda tem muito mais..

Aos meus irmãos pelo carinho, apoio e incentivo.

Aos meus parentes de B.H., pelo carinho de hoje e sempre, apesar da

distância.

Ao meu namorado Michelle, pelo seu amor, paciência, incentivo, apoio

em todos os momentos, te amo muito.

A meus amigos que compreenderam muitas de minhas ausências para que

eu pudesse concretizar este curso, obrigada.

A Creche da Fiocruz e aos meus companheiros de trabalho durante estes

dez anos, pelo apoio e incentivo.

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" Um mediador é alguém que, em cada momento, em cada circunstância,

toma decisões pedagógicas conscientes: nunca está limitado a corrigir ou

deixar errada, pois além de informar e respeitar o erro quando construtivo,

ele pode problematizar, questionar, ajudar a pensar. "

(Telma Weisz)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO_________________________________________________7

O USO DA SUCATA NA EDUCAÇÃO INFANTIL. DESENVOLVENDO O

RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO E A LINGUAGEM_______________13

CAPÍTULO I

1.1-ASPECTOS DO PENSAMENTO DA POPULAÇÃO DE 4 E 5 ANO____15

CAPÍTULO 2

O TRABALHO COM SUCATA NA SALA DE AULA____________________26

2.1 CURIOSIDADES E JOGOS MATEMÁTICOS COMO RECURSOS

DIDÁTICOS __________________________________________________26

2.2 CRIANDO COM SUCATA_____________________________________30

2.3 COMO CRIAR UM SUCATÁRIO_______________________________33

2.4 O SUCATÁRIO NA SALA DE AULA_____________________________35

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2.5 SUGESTÕES DE ATIVIDADES COM SUCATAS___________________37

LISTA DE SUCATAS____________________________________________40

CONCLUSÃO__________________________________________________45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS_________________________________46

ANEXOS______________________________________________________47

INTRODUÇÃO

Desde a Grécia antiga há uma preocupação com a educação. Nos escritos de

Aristóteles já se encontra clara a discussão sobre o papel do Estado na educação sobre a

importância desta na vida dos homens. Este pensador já afirmava que "a educação deveria

ser a única e igual para todos .... "A responsabilidade de educar é pública, não particular".

Durante vários períodos a educação tentou fazer da criança uma cópia do adulto,

esquecendo-se que a infância existe e precisa ser vivida.

É Rousseau, no Século XVIII quem dá uma virada na abordagem da Pedagogia. Para

ele, a natureza seria a grande mestra e o que se deveria ensinar seriam coisas úteis e não

muitas coisas. Rousseau nos dirá "Os sábios baseiam-se naquilo que o homem precisa

saber sem considerar aquilo que as crianças têm condições de aprender ".

No Século XVIII, a escola começou a ser pensada com mais consistência. Froebel,

considerado o criador dos Jardins de Infância organizou uma teoria de aprendizagem

baseada em diferentes jogos que permitiam às crianças construírem

conhecimentos através de atividades espontâneas.

Ainda no Século XX, a médica Maria Montessori procurou construir uma pedagogia

científica organizando o material de aprendizagem de modo que o mesmo fosse auto-

corretivo e graduado de acordo com as dificuldades de cada criança Montessori encarava

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a educação como o meio através do qual a criança desenvolveria sua personalidade até que

adquirisse maturidade e independência. Suas primeiras pesquisas como médica e não como

pedagoga, foram feitas em hospitais e asilos de loucos, onde crianças com problemas

físicos e mentais de qualquer tipo eram mantidas isoladas do mundo. Por muitos anos ela

se dedicou à busca de um método que ajudasse essas crianças a retornarem ao mundo dito

normal.

No inicio do século, Dewey, filósofo americano, criou as bases do que no

Brasil viria a se tornar o movimento da "Escola Nova". Nesta teoria, o aluno é visto

como centro do processo e, por isso, as experiências educativas criadas deveriam

estar relacionadas aos seus interesses.

Um teórico que exerceu grande influência educação foi Piaget. Com formação em

Biologia, Piaget lançou as bases da Teoria Construtivista em educação.

Tendo pesquisado a gênese do conhecimento, Piaget, embora não tenha construído

uma teoria educacional, tornou-se uma referência nesta área.

Foram muitos os que, não sendo educadores, deram sua contribuição à educação.

Alguns como Celèstin Freinet, Paulo Freire e Lev Vygotsky, no entanto, foram

professores inquietos e ousados que, não satisfeitos com os rumos da educação construíram

teorias e/ou pedagógicas a partir de suas experiências e reflexões como educadores.

“ Quando vivemos a autenticidade vivida pela prática de ensinar

– aprender, participamos de uma experiência total. Diretiva,

política, ideológica, gnosiológica, pedagógica, estética e ética, em

que a boniteza deve achar-se de mãos dadas com a decência e

com a seriedade.”Paulo Freire (1977)

No Brasil, o pedagogo Paulo Freire também deixou marcas na educação

extrapolando os limites de seu próprio país. A Pedagogia da Esperança, a Pedagogia do

Oprimido de Paulo Freire fincou raízes em diversos países. Até hoje Paulo Freire continua

seu trabalho em busca da educação como prática da liberdade, através daqueles que como

ele comungaram do mesmo sonho. A grande preocupação de Paulo Freire é a maneira

como se deve educar:

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"se deve educar para a tomada de decisões, para a

responsabilidade política e social".

Paulo Freire (1986)

O educando para ele não é um recipiente vazio que se deva encher de conteúdos.

Paulo Freire é contra o que ele mesmo chama de "educação bancária":

” a educação voltada para o depósito de conteúdos. Educar é

constituir o sujeito da transformação e para isto é preciso

respeitar o universo cultural dos educandos”.

Voltando no tempo, um outro professor que viveu no início do século na antiga União

Soviética muito contribuiu, também, na área da educação: Vygotsky

“ o ser humano constrói conhecimento na história e na cultura, a

partir de interações com outros homens e com a realidade em que

vive.”

Vygotsky (1987)

A linguagem, segundo Vygosky desempenha papel de grande importância na

construção de conhecimentos.Através das interações mediadas pela linguagem os sujeitos

constroem conhecimentos e se desenvolvem. Para Vygotsky a aprendizagem precede o

desenvolvimento numa relação dialética com este. Vygotsky e seus seguidores construíram

as bases da Teoria Histórico Cultural.

A partir da idéia de que o trabalho docente deve ter como objetivo o favorecimento de

práticas interdisciplinares, dentro de uma proposta construtivista, o professor deve buscar o

modo criativo e direto de atuar, oferecendo as crianças atividades diversas e construções

variadas em sala de aula, o que pode vir a melhorar a qualidade do ensino e da

aprendizagem. Nas diferentes propostas curriculares a sucata pode estar inserida.

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“ Para conhecer os objetos, o sujeito deve agir sobre eles e

portanto transforma-los: deve desloca-los, liga-los, combina-los,

dissocia-los e reuni-los novamente(1977, p 72)

Paulo Freire ( 1977)

Costuma – se chamar de sucata todo o material descartável, que aparentemente não

tem mais utilidade, mas que, com um pouco de criatividade pode ser reaproveitado.

O uso deste material em sala de aula pode ajudar o professor a construir recursos que

enriquecerão e estimularão o desenvolvimento do raciocínio lógico – matemático e da

linguagem, paralelamente tornará o aprendizado do aluno mais lúdico, onde ele irá criar

seus jogos e brinquedos.

A criação de jogos e brinquedos com sucatas é também uma proposta de mudança e

um desafio à nossa capacidade criativa. É um convite para uma aventura.

Quando partilhamos com uma criança a descoberta de um jogo cuja utilização pode ser

reinventada, estamos mostrando também o valor e o encanto das pequenas coisas.

Esta atitude pode ser bem mais do que uma alternativa de materiais, que constitui em

alternativas para uma escala de valores.

O emprego da sucata é interessante não só por ser gratuita, mas porque nos

proporciona oportunidade para criar. O processo criativo uma vez iniciado, vai se

multiplicando, fazendo parte de uma criação contínua em que qualquer sucata passa a ser

um desafio.

“ Ela tem possibilidades educativas praticamente ilimitadas.

Trabalha com a imaginação, vira material didático de alta

qualidade. Nas mãos das crianças, libera a descarga de

criatividade. É usada sem preconceitos em escolas ricas e

pobres.”

Ricardo Falzeta

Nova Escola – Maio 1996

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O emprego da sucata reforça o que foi ensinado e demonstra que as coisas usadas,

sobras e aquelas desprezadas ou que perderam utilidade, podem ser transformadas e

tornadas motivos de interesse.

Vejamos na matemática por exemplo: utilizando potes e tampas de frascos de

shampoo, creme, perfume, embalagens de iogurte, garrafas plásticas, caixas de diferentes

tamanhos, texturas e formas, em que a criança tem em suas mãos um valioso material que a

leva a descobrir através da brincadeira e da construção de brinquedos ou jogos, situações

que estimulam e desenvolvem também o seu raciocínio lógico – matemático, noções de

conjunto, adição, subtração, divisão e multiplicação; semelhanças e diferenças entre cores,

tamanhos, formas, textura, espessura, relação de objetos, e a partir daí formar conjuntos,

relacionar o numeral a quantidade, agrupar pela forma, tamanho, cores...

"O universo não é conhecido pelo homem senão através da lógica

e da matemática, produto de sua inteligência (espírito), mas ele só

pode compreender como ele construiu a matemática e a lógica,

estudando a si mesmo psicologicamente e biologicamente em

função do universo como um todo"

(Piaget, 1947b, p. 148).

No desenvolvimento da língua portuguesa, o seu vocabulário será enriquecido por

palavras de diferentes áreas do conhecimento geral: conjuntos, maior,menor, grande e

pequeno, mais e menos, reciclagem, rótulos, empilhas, noções de higiene e manutenção da

saúde...

"Um pensamento é como uma nuvem descarregando uma chuva

de palavras"...

(Vigotsky 1987:129)

Outras propostas de trabalho surgirão com a utilização do material reciclado. O

desenvolvimento da coordenação motora, noções de classificação, dramatizações

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utilizando bonecos feitos com potes ou caixas, noções de organização no momento da

classificação dos objetos e na hora da arrumação.

Percebemos que Jean Piaget valoriza a iniciativa da criança, como um sujeito capaz de

concorrer para a própria aprendizagem:

“ O professor pode guia-las proporcionando-lhes os materiais

apropriados, mas o essencial é que uma criança entenda que deve

construir ela mesma, deve reinventar. Cada vez que ensinamos

algo a uma criança, estamos impedindo que ela descubra por si

mesma. Por outro lado, aquilo que permitimos que descubra por

si mesma, permanecerá com ela.”

Jean Piaget, 1977.

De todos os problemas existentes relacionados ao aprendizado da criança de 4 e 5

anos, me surpreendo com professores que ainda utilizam se de métodos didáticos

tradicionais para avaliar a compreensão da criança diante do raciocínio lógico matemático

e acreditam que a criança compreende a relação numeral / quantidade apenas de forma

abstrata, sem perceber a realidade social de seu aluno também diante do desenvolvimento

de seu vocabulário.

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O USO DA SUCATA NA EDUCAÇÃO INFANTI, DESENVOLVENDO O RACIOCÍNIO

LÓGICO – MATEMÁTICO E A LINGUAGEM

Escolhi este tema, porque acredito que as crianças de 4 e 5 anos assimilam e

compreendem os conceitos matemáticos muito mais facilmente quando os recursos

utilizados pela escola são os concretos e não apenas o abstratos. É necessário que a criança

examine, experimente e compreenda através da sua vivência o porque de tais expressões

numéricas.

Acredito principalmente, que a reciclagem da sucata pode ser um grande aliado do

professor de diferentes classes sociais, de diferentes escolas que acreditam que o aluno

apreende melhor estes conceitos se sua criatividade for estimulada e se ele participar junto

a seu professor e colegas da criação de jogos e recursos didáticos que facilitarão o

desenvolvimento de seu raciocínio lógico matemático e do enriquecimento de seu

vocabulário.

Desta forma temos como objetivo de estudo desta pesquisa, descobrir de que forma a

utilização da sucata como material pedagógico pode contribuir na aprendizagem da

criança, estimulando o seu raciocínio lógico – matemático e a linguagem.

Vigotsky (1987:50) afirma: "A formação de conceitos é o resultado de uma atividade

complexa, em que todas as funções intelectuais básicas tomam parte. No entanto, o

processo não pode ser reduzido à atenção, à associação, à formação de imagens, à

inferência, ou às tendências determinantes. Todas são indispensáveis, porém

insuficientes sem o uso do signo, ou palavra, como meio pelo qual conduzimos as

nossas operações mentais, controlamos o seu curso e as canalizamos em direção à

solução do problema que enfrentamos."

CAPÍTULO I

ASPECTOS DO PENSAMENTO DA POPULAÇÃO DE 4 E 5 ANOS

O Aspecto cognitivo infantil será abordado aqui, tomando como referência a Teoria

Piagetiana .

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Segundo Piaget, o conhecimento não pode ser concebido como algo predeterminado

pelas estruturas internas do sujeito (porquanto estas resultam de uma construção contínua)

nem pelas características do objeto (já que estas só são conhecidas graças à mediação

dessas estruturas). Todo conhecimento é uma construção, uma interação, contendo um

aspecto de elaboração novo.

A troca inicial entre sujeito/objeto se daria a partir da ação do sujeito.

Logo, para Piaget não existe conhecimento resultante do simples registro de

observações e informações, sem uma estrutura devida às atividades do próprio sujeito.

Não existem, também, estruturas inatas no homem. As estruturas formam-se mediante

uma organização de ações sucessivas exercidas sobre os objetos.

Piaget condena veementemente as hipóteses inatistas que concebem o sujeito como

estando, desde o início, munido de estruturas inatas, contradizendo Chomsky (1976) para

quem o ser humano é dotado geneticamente com a capacidade específica de aprender uma

língua, sendo, portanto, a aquisição desta, um processo de base biológica.

Para Piaget, a linguagem é uma construção da inteligência sensório-motora, preparada

passo a passo, até se concretizar no período pré-operatório, mais ou menos aos dois anos

de idade.

Ao analisar o desenvolvimento desde a sua gênese, Piaget o define como uma

equilibração progressiva, uma passagem de um estágio de menor equilíbrio para outro. Sob

este ponto de vista, o desenvolvimento mental é uma construção contínua, que se dá

obedecendo a passagem por níveis ou estágios de desenvolvimento qual sejam: sensório –

motor, pré – operatório, operatório – concreto, operações formais.

Em todos os níveis, a inteligência procura compreender e explicar o que se passa a sua

volta, só que embora as funções do interesse sejam comuns a todos os estágios, os

interesses variam de um nível para outro e as explicações assumem formas diferentes

de acordo com o grau de desenvolvimento intelectual, justamente porque as

estruturas progressivas ou formas de equilíbrio marcaram as diferenças de um nível de

conduta para outro.

Assim, em presença de um novo objeto, o bebê tende a incorporá-lo a seus esquemas

de ação (agitar, esfregar, balançar, sugar ) tentando compreende - lo pelo uso. Em

cada estágio, as tentativas de compreensão serão diferentes face ao grau de

desenvolvimento progressivo.

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O conhecimento, portanto, procede da ação e, desta forma, toda ação que se generaliza

por aplicação a novos objetos gera um esquema, uma espécie de conceito prático. O que

constitui conhecimento não é apenas uma simples associação entre objetos, mas a

assimilação dos objetos aos esquemas do indivíduo. A assimilação cognitiva também é

realidade desta forma. É necessário um esquema que permita a assimilação do objeto de

conhecimento.

A estrutura de assimilação irá variar desde as formas mais simples de incorporação de

sucessivas percepções e movimentos até as operações superiores.

A partir da assimilação dos objetos, a ação e o pensamento se acomodam a estes,

reajustando-se.

Há, portanto, uma adaptação quando ocorre o equilíbrio entre assimilações e

acomodações. O desenvolvimento mental será sempre uma adaptação progressiva e cada

vez mais precisa à realidade.

Os mecanismos de assimilação / acomodação são gerais e se encontram nos diferentes

níveis do pensamento científico.

Cada estágio é responsável por determinadas construções sendo estas contínuas: no

estágio sensório-motor, anterior à linguagem, constitui-se uma lógica de ações, fecunda em

descobertas.

Assim, no início da vida do bebê, em seu universo primitivo não há objetos

permanentes, nem há separação entre o sujeito e o objeto.

Há uma indiferenciação completa entre o subjetivo e o objetivo. O sujeito não se

reconhece como origem das ações, porque as ações primitivas são como um todo

indissolúvel, ligando o corpo ao objeto (chupar, agarrar, etc.)

Só aos 18 meses, mais ou menos, nos primórdios da função simbólica e

da inteligência representativa, começa a haver a descentração das ações em

relação ao próprio corpo, podendo-se, então, falar de um sujeito que

começa a se conhecer como fonte/origem de seus movimentos.

No caso das ações primitivas, não coordenadas entre si, indiferenciadas, podem ocorrer

dois tipos de assimilação:

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• assimilação por estrutura hereditária: como por exemplo a sucção, em que o bebê

tenta incorporar novos objetos a este esquema, sugando o peito, a mão, tudo que

estiver ao seu alcance;

• assimilação reprodutora: diante de uma situação inesperada, como por exemplo da

tentativa de agarrar um objeto pendurado, fazendo-o balançar no intuito de

reproduzir o gesto, formam-se novos esquemas, conduzindo à assimilação

recognitiva (balançar outro objeto) o que gera a assimilação generalizadora (objetos

que servem para balançar).

Gradativamente, o bebê realiza combinações novas, pela reunião de esquemas em

assimilações recíprocas (objetos que balançam e emitem sons e que, portanto, servem para

olhar e ouvir). Esta descoberta o levará a novas tentativas como a de agitar diferentes

brinquedos para descobrir se também fazem barulho.

Por mais modesto que seja este início, este é o modelo que se irá desenvolvendo

cada vez mais: a criança constrói combinações novas, combinando abstrações separadas

dos próprios objetos (como reconhecer num objeto suspenso algo para balançar) e

coordena os meios para atingir tal fim. O próprio reconhecimento de que o objeto serve

para balançar já implica uma abstração.

Desta forma, já no período sensório-motor, começam as coordenações e as relações de

ordens, os encadeamentos de ações necessários a essas coordenações, havendo, portanto, o

início de uma abstração reflexiva.

A partir destas observações, Piaget assevera que a estrutura do conhecimento forma-

se anteriormente ao domínio da linguagem, constituindo-se no plano da própria ação.

É, portanto, no nível da inteligência prática, no período sensório - motor, que

surgem as coordenações entre as ações, e os objetos começam a se diferenciar; só que

haverá, ainda, uma longa evolução até que as ações se interiorizem em operações

mentais.

Ainda que estas construções sejam muito elementares, já se percebe, segundo Piaget,

a existência dos primeiros instrumentos de interação cognitiva. Tais construções, no

entanto, estão situadas no plano das ações efetivas e não refletem um sistema "conceitual".

Com a capacidade de representação, o jogo simbólico, a imagem mental e a

linguagem, enfim, com a constituição da função simbólica (capacidade de representar um

significado através de um significante) a situação mudará.

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Às ações simples sobrepõe-se um novo tipo de ação que é internalizado: o bebê, além

de poder fazer, por exemplo, um deslocamento de A para B, poderá representar esse

movimento no pensamento e enfocar, pelo pensamento, outros movimentos.

A representação implica a função simbólica e a criança torna-se capaz de representar

um significado (objeto ou acontecimento) através de um significante único e diferenciado,

tornando-se capaz de evocar os significados graças aos significantes.

Enquanto a inteligência sensório-motora é obrigada a seguir os acontecimentos, sem

poder ultrapassá-los ou evocá-los, no nível seguinte, pré-operatório, a inteligência, graças à

função simbólica, é capaz de abranger, num todo, elementos isolados, podendo também

evocar o passado, representar o presente e antecipar ações futuras.

”A inteligência é vista como um processo de sucessivas

adaptações, equilibrações entre assimilações e acomodações. No

começo, ela é prática, apoia-se nas percepções, movimentos,

ações, anteriores ao pensamento e à linguagem.”

Piaget, 1947

Se o campo da inteligência sensório-motora aplica-se somente a ações concretas, o da

inteligência representativa amplia-se, liberta-se da realidade concreta, torna possível a

manipulação simbólica de algo que não está visível.

No período pré-operatório (mais ou menos dos 2 aos 6 anos), a criança é capaz de

produzir imagens mentais, de usar palavras para referir-se a objetivos e situações, de

agrupar objetos de forma rudimentar. Nesta fase, as crianças usam o que Piaget chama de

pensamento intuitivo, raciocinando a partir de intuições e não de uma lógica semelhante à

do adulto.

A linguagem, neste período é comunicativa e egocêntrica. Comunicativa por ser usada

com a intenção de transmitir algo a alguém ou de procurar informações; e egocêntrica,

quando a criança fala pelo prazer de falar, numa espécie de monólogo, às vezes coletivo,

sem intenção de se comunicar com os outros.

Nesta fase as crianças ainda não se atêm às regras fixadas por não poderem, ainda,

conciliar seus próprios interesses e os do grupo.

Os juízos de valor são feitos à base das primeiras impressões, calcados em instituições

e dicotomias: certo/errado, melhor/pior.

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A atividade simbólica da criança é chamada por Piaget, 1947 neste período, de pré-

conceitual, significando estar num período intermediário entre o símbolo imaginado e o

conceito propriamente dito.

O pensamento ainda não é capaz de descentração, fixando-se a criança em um ou outro

aspecto de uma relação.

No terceiro estágio, o do pensamento operatório concreto, mais ou menos dos 7 aos 12

anos, a criança torna-se capaz de efetuar operações mentalmente, lembrando o todo

enquanto divide partes, colocando idéias em seqüência, iniciando a construção de

operações reversíveis, podendo "conservar", isto é, considerar, ao mesmo tempo, tanto o

todo como vários reagrupamentos de suas partes.

Com esta possibilidade de reversibilidade, a criança passa a poder explorar diferentes

caminhos para resolver situações-problema, já que ela pode fazer e refazer mentalmente o

caminho de ida e volta.

No estágio das operações concretas, a criança é capaz de classificar, agrupar, tornar

reversíveis as operações que efetua e pensar sobre um fato a partir de diferentes

perspectivas.

Sua linguagem perde as características de egocentrismo. A criança, gradativamente,

também começa a discutir a questão das regras dos jogos dentro do grupo, tentando segui-

las.

No estágio das operações formais, a partir de 11/12 anos, a criança inicia sua

transmissão para o modo adulto de pensar, sendo capaz de pensar sobre idéias abstratas.

Ao final deste período, mais ou menos aos 15 anos, a pessoa atinge sua maturidade

intelectual.

O aspecto social da criança da educação infantil depende inicialmente de uma

vontade exterior, que é a de seus pais, parentes e outros adultos que ela respeita. Aos

poucos, os progressos na área social e cognitiva e o equilíbrio afetivo conduzem a criança

á conquista de sua autonomia moral.

“A finalidade da educação moral é contribuir para a formação de

personalidades autônomas que, por sua vez, permitirão o

florescimento de atitudes e sentimentos de cooperação entre as

crianças.”

Piaget ( p. 53)

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A educação infantil é egocêntrica por ter uma visão limitada do mundo, não

possuindo ainda consciência do outro como um ser idêntico a ele. Devido a esse tipo de

percepção, as trocas intelectuais e a cooperação ficam prejudicadas, uma vez que a criança

não distingue ainda o ponto de vista da opinião dos outros.

Dois tipos de respeito são salientados: o respeito unilateral, no qual o mais forte se

faz respeitar, e o respeito mútuo no qual os indivíduos se consideram iguais e, por isso, se

respeitam reciprocamente.

O professor da educação infantil, atento ao desenvolvimento social de suas crianças,

organiza jogos e atividades propícias para serem realizados em pequenos grupos para que,

aos poucos, a criança consiga basear suas prelações no respeito mútuo, na cooperação e na

reciprocidade.

As regras ou normas disciplinares nunca devem ser impostas pelo adulto, uma vez

que as crianças ainda consideram essas normas obrigatórias e, como sabemos, para

chegarem a uma verdadeira autonomia é preciso que elas compreendam as razões e o

significado das regras.

Assim, quando houver necessidade de determinar as normas que orientarão as

atividades da sala, elas serão decididas em conjunto. Uma vez estabelecida, porém, a regra

deverá ser sempre cumprida.

Os diálogos entre o professor e as crianças proporcionam momentos de discussão,

levando, posteriormente, à tomada de decisões que impliquem num acordo mútuo entre as

partes.

"A essência da autonomia é que as crianças se tornam capazes de

tomar decisões por elas mesmas. Autonomia não é a mesma coisa

que liberdade completa. Autonomia significa ser capaz de

considerar os fatores relevantes para decidir qual deve ser o

melhor caminho da ação. Não pode haver moralidade quando

alguém considera somente o seu ponto de vista. Se também

consideramos o ponto de vista das outras pessoas, veremos que

não somos livres para mentir, quebrar promessas ou agir

irrefletidamente". (Kamii, 1986:72)

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O trabalho em grupo, favorece a interação com os companheiros e possibilita à

criança a descentralização do pensamento egocêntrico, condição necessária para o alcance

da objetividade.

O comportamento do ser humano não é alguma coisa que deriva de dentro e se

manifesta exteriormente; deriva sempre da relação do ser com o conjunto de condições

totais e reais. Sabemos, entretanto, que não há situação sem história: as experiências

passadas refletem no momento presente a partir da organização do aqui e agora.

Sabe- se que não é possível estudar as características específicas do comportamento

de um indivíduo independentemente das influências do contexto sócio-cultural , sempre

presente e dificilmente controladas.

A criança de 4 e 6 anos encontra-se no período da espontaneidade máxima, possui

menos limitações internas do que a criança de 3 anos ou menos e também conhece menos

restrições externas socialmente impostas do que conhecerá mais tarde.

O comportamento social da educação infantil concentra-se em suas brincadeiras . É

brincando que a criança , pouco a pouco , vai tomando contato com a realidade; na

brincadeira ela oscila entre o real e o simbólico e tenta descobrir sua própria identidade e a

dos outros.

A criança de 4 anos ainda não entende exatamente o que é participar, revezar e o que

significam outros comportamentos que compreendem vivência em grupo: ela brinca mais

ao lado das outras do que com elas.

Aos 5 anos o auto controle é muito maior, e os sentimentos, embora intensos , são

transmitidos de maneira mais construtiva. Através de um senso de responsabilidade mais

maduro, a criança dessa faixa etária já é capaz de tolerar a frustração e já consegue adiar a

satisfação de seus desejos. Procurando alcançar sua autonomia, apresenta sentimentos

confusos: em alguns aspectos é bastante infantil e, em outros tenta igualar-se aos adultos.

Com 5 ou 6 anos a criança se torna mais tranqüila, sua identidade mais estabelecida

e as bases do caráter e da personalidade já estão assentadas. Aprende a colaborar e a

competir ao mesmo tempo, a controlar suas necessidades de auto – afirmação e a

mobilizar seus recursos pessoais para ser bem aceita no grupo.

Começa a compreender o que é fracasso, o que os adultos e companheiros esperam

dela e quanto o sucesso depende de seus próprios esforços.

Participar das brincadeiras da turma e do jogo organizado exige muito da criança. É

necessário que ela saiba respeitar a si mesma e aos outros. Deverá compreender que uma

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coisa leva a outra ( relação causa e efeito) e como as partes podem adaptar-se para formar

uma totalidade, entender a lógica das normas e reconhecer o certo do errado. O professor

da educação infantil precisa ter claro que são necessárias qualidades emocionais, sociais e

intelectuais para que a criança atinja esse estágio de desenvolvimento.

O aspecto social compreende o elemento mais marcante na atividade lúdica da

criança da educação infantil; nos anos seguintes, será sem dúvida um dos componentes

mais importantes de seu desenvolvimento.. Deixando de lado o egocentrismo, a criança

passa a usar a linguagem para coordenar atividades de grupo, visando algum objetivo

comum. Os horizontes sociais da criança da educação infantil lentamente se ampliam aos

poucos a curiosidade recíproca se aparece e ela procura realizar trocas afetivas. O jogo

paralelo vai ceder lugar ao intercâmbio aberto.

Um dos aspectos mais importantes da personalidade humana é a criatividade. Ser

criativo não é apenas saber expressar-se com originalidade e senso estético através das

artes. Ao contrário, a arte é apenas uma das formas de comunicação interpessoal que

algumas pessoas criativas são capazes de utilizar. A auto-expressão criadora significa,

antes de mais nada liberdade de pensamento.

A criança da educação infantil não

possui ainda todas as características, mas é indispensável que a educação que lhe é

oferecida esteja basicamente preocupada em desenvolvê-las. A criança que recebe apenas

um mínimo de ordens taxativas, que é convocada a analisar e exprimir sua opinião sobre

projetos ou decisões e que, sem receber modelos estereotipados, pode expressar-se

livremente em todas as atividades, está sendo estimulada em seu pensamento crítico e em

sua capacidade criadora.

A criança da educação infantil que consegue se expressar “ recriando” seus

conhecimentos e reorganizando –se através de diferentes formas de linguagem, começa a

se colocar no mundo como um criador, capaz de produzir não apenas obras artísticas, mas

também de perceber problemas e encontrar soluções para eles.

A criança interage com o meio ambiente através da inteligência. Primeiramente ela

explora o local, manipulando objetos, materiais e brinquedos; depois passa a organizá-los,

e finalmente, consegue transforma-los, elaborando seu conhecimento.

Para alcançar este estágio é preciso que a criança tenha oportunidade de explorar

livremente o ambiente em que vive, seja na sua casa ou na escola.

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A criança não pode queimar etapas no seu desenvolvimento. Para que a criança inicie

o processo de alfabetização ou o de raciocínio abstrato, é preciso passar por experiências

concretas que vão prepara-la para os conhecimentos mais complexos, de abstração.

Outra constatação, refere-se ao ritmo de desenvolvimento, único em cada criança.

Assim, apesar de ter a mesma idade, as crianças podem não se encontrar no mesmo estágio

o que leva a conclusão de que as situações de experiências vivenciadas na educação

infantil devem respeitar as diferenças individuais. Também é necessário considerar que a

passagem de um estágio para outro se processa sutilmente e por isso as atividades

propostas devem ser adequadas a todo um processo de desenvolvimento no qual a criança

se encontra.

Para formar indivíduos capazes de raciocinar em qualquer situação com espírito

crítico e flexível, com objetividade e coerência de pensamento, os educadores devem

oferecer inúmeras oportunidades de experiências que propiciem o desenvolvimento do

pensamento lógico- matemático. Este é estruturado através da ação reflexiva, que a

criança adquire quando manipula objetos.

O conhecimento físico acontece quando a criança descobre propriedades inerentes

ao objeto: pedrinhas “ pontudas” , “ duras” , “marrons”. Já o conhecimento lógico-

matemático deriva das ações que o indivíduo exerce sobre os objetos: a criança começa

naturalmente a contar as pedrinhas que antes ela apenas reconhecia pelos atributos.

“A distinção entre conhecimento físico e conhecimento lógico-

matemático é feita apenas para facilitar a compreensão dos

educadores que estudam o desenvolvimento infantil, o

conhecimento físico não pode ser construído sem um quadro

lógico – matemático. Nenhuma propriedade física dos objetos

pode ser abstraída sem um referencial de relações, classes,

medidas ou soma. Uma propriedade de um determinado objeto

descoberto pela criança é sempre relacionada a conhecimentos

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anteriores: são novas estruturas que se formam, baseadas em

outras adquiridas a priori.”

Piaget, (1969)

O conhecimento lógico – matemático não pode ser ensinado: ele aparece através das

relações que a própria criança cria entre os objetos. É um conhecimento que tende a

progredir, não havendo possibilidade de regressão, uma vez apreendido não será mais

esquecido.

A criança estrutura o conhecimento físico e lógico – matemático através da

manipulação dos objetos e começa a compreende-los à medida que age sobre eles através

dos atos de pegar, apalpar, dobrar, deixar cair, apertar, esticar, sacudir, entortar, juntar,

separar, classificar etc...

“O brinquedo estimula a curiosidade a autoconfiança,

proporcionando desenvolvimento da linguagem, do pensamento,

da concentração e da atenção.

Vygotsky ( 1987)

Desta forma, a criança diariamente vai elaborando conceitos matemáticos e

paralelamente enriquecendo o seu vocabulário com palavras pertinentes a este seu processo

de aprendizagem, que torna-se prazeroso porque ela participa de todo o processo de

criação, construção e elaboração de regra, fazendo-a sentir –se sujeito ativo do processo.

CAPITULO II

O TRABALHO COM SUCATA NA SALA DE AULA

Neste processo, a criança acredita que tudo é brincadeira, mas ao brincar de forma

espontânea e com criatividade, a sucata, os restos, os refugos, a matéria antes de ser

elaborada e depois de haver sido usada, são um material rico, que não custa nada e que

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muitas vezes estaria poluindo o meio ambiente por não ser biodegradável, no entanto, se

transformada, resurge como um material que bem aproveitado pelo professor, fará com

que as aulas tornem-se muito mais dinâmicas.

Dentre algumas das características da sucata está a transformação daquilo que

aparentemente perdeu sua utilidade, para um material de grande valor pedagógico, muitas

das vezes ainda não criado industrialmente.

2.1- CURIOSIDADES E JOGOS MATEMÁTICOS COMO RECURSOS DIDÁTICOS

Ensinar matemática é desenvolver o raciocínio lógico, estimular o pensamento

independente, a criatividade e a capacidade de resolver problemas. Nós, como educadores,

devemos procurar alternativas para aumentar a motivação para a aprendizagem,

desenvolver a autoconfiança, a organização, concentração, atenção, raciocínio lógico-

dedutivo e o senso cooperativo, desenvolvendo a socialização e aumentando as interações

do indivíduo com outras pessoas.

Os jogos, se convenientemente planejados, são um recurso pedagógico eficaz para a

construção do conhecimento matemático. Referimo-nos àqueles que implicam

conhecimentos matemáticos.

“Através do brinquedo a criança aprende a agir numa esfera

cognitivista, sendo livre para determinar suas próprias ações.”

Vygotsky( 1987)

Segundo eVygotsk, o brinquedo estimula a curiosidade e a autoconfiança, proporcionando

desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e da atenção.

Jogar não é estudar nem trabalhar, porque jogando, a aluno aprende, sobretudo, a

conhecer e compreender o mundo social que o rodeia.

Os jogos são educativos, sendo assim, requerem um plano de ação que permita a

aprendizagem de conceitos matemáticos e culturais de uma maneira geral. Já que os jogos

em sala de aula são importantes, devemos ocupar um horário dentro de nosso

planejamento, de modo a permitir que o professor possa explorar todo o potencial dos

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jogos, processos de solução, registros e discussões sobre possíveis caminhos que poderão

surgir.

Os jogos podem ser utilizados pra introduzir, amadurecer conteúdos e preparar o aluno

para aprofundar os itens já trabalhados. Devem ser escolhidos e preparados com cuidado

para levar o estudante a adquirir conceitos matemáticos de importância

Devemos utilizá-los não como instrumentos recreativos na aprendizagem, mas como

facilitadores, colaborando para trabalhar os bloqueios que os alunos apresentam em relação

a alguns conteúdos matemáticos.

''Outro motivo para a introdução de jogos nas aulas de

matemática é a possibilidade de diminuir bloqueios apresentados

por muitos de nossos alunos que temem a Matemática e sentem-se

incapacitados para aprendê-la. Dentro da situação de jogo, onde

é impossível uma atitude passiva e a motivação é grande, notamos

que, ao mesmo tempo em que estes alunos falam Matemática,

apresentam também um melhor desempenho e atitudes mais

positivas frente a seus processos de aprendizagem.''

(Borin,1996,9)

Segundo Malba Tahan, 1968, ''para que os jogos produzam os efeitos desejados é

preciso que sejam, de certa forma, dirigidos pelos educadores''. Partindo do princípio que

as crianças pensam de maneira diferente dos adultos e de que nosso objetivo não é ensiná-

las a jogar, devemos acompanhar a maneira como as crianças jogam, sendo observadores

atentos, interferindo para colocar questões interessantes (sem perturbar a dinâmica dos

grupos) para, a partir disso, auxiliá-las a construir regras e a pensar de modo que elas

entendam.

Os jogos com regras são importantes para o desenvolvimento do pensamento lógico,

pois a aplicação sistemática das mesmas encaminha a deduções. São mais adequados para

o desenvolvimento de habilidades de pensamento do que para o trabalho com algum

conteúdo específico. As regras e os procedimentos devem ser apresentados aos jogadores

antes da partida e preestabelecer os limites e possibilidades de ação de cada jogador. A

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responsabilidade de cumprir normas e zelar pelo seu cumprimento encoraja o

desenvolvimento da iniciativa, da mente alerta e da confiança em dizer honestamente o que

pensa.

Os jogos estão em correspondência direta com o pensamento matemático. Em ambos

temos regras, instruções, operações, definições, deduções, desenvolvimento, utilização de

normas e novos conhecimentos (resultados).

O trabalho com jogos matemáticos em sala de aula nos traz alguns benefícios:

• conseguimos detectar os alunos que estão com dificuldades reais;

• o aluno demonstra para seus colegas e professores se o assunto foi bem assimilado;

• existe uma competição entre os jogadores e os adversários, pois almejam vencer e

par isso aperfeiçoam-se e ultrapassam seus limites;

• durante o desenrolar de um jogo, observamos que o aluno se torna mais crítico,

alerta e confiante, expressando o que pensa, elaborando perguntas e tirando

conclusões sem necessidade da interferência ou aprovação do professor;

• não existe o medo de errar, pois o erro é considerado um degrau necessário para se

chegar a uma resposta correta;

• o aluno se empolga com o clima de uma aula diferente, o que faz com que aprenda

sem perceber.

Mas devemos, também, ter alguns cuidados ao escolher os jogos a serem aplicados:

• não tornar o jogo algo obrigatório;

• escolher jogos em que o fator sorte não interfira nas jogadas, permitindo que vença

aquele que descobrir as melhores estratégias;

• utilizar atividades que envolvam dois ou mais alunos, para oportunizar a interação

social;

• estabelecer regras, que podem ou não ser modificadas no decorrer de uma rodada;

• trabalhar a frustração pela derrota na criança, no sentido de minimizá-la;

• estudar o jogo antes de aplicá-lo (o que só é possível, jogando).

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Temos de formar a consciência de que os sujeitos, ao aprenderem, não o fazem como

puros assimiladores de conhecimentos mas sim que, nesse processo, existem determinados

componentes internos que não podem deixar de ser ignorados pelos educadores.

Não é necessário ressaltar a grande importância da solução de problemas, pois vivemos

em um mundo o qual cada vez mais, exige que as pessoas pensem, questionem e se

arrisquem propondo soluções aos vários desafios os quais surgem no trabalho ou na vida

cotidiana.

Para a aprendizagem é necessário que o aprendiz tenha um determinado nível de

desenvolvimento. As situações de jogo são consideradas parte das atividades pedagógicas,

justamente por serem elementos estimuladores do desenvolvimento. É esse raciocínio de

que os sujeitos aprendem através dos jogos que nos leva a utilizá-los em sala de aula.

2.2 - CRIANDO COM A SUCATA

Ao brincar de forma espontânea e com criatividade, a sucata e os restos, a matéria

antes de ser elaborada e depois de ter sido usada, são um material muito rico, que não custa

nada e que muitas vezes estaria poluindo o meio ambiente por não ser biodegradável.

Dentre algumas das características da sucata está a transformação inerente por

exemplo, de um cabo de vassoura, sementes, caroços, um liquidificador quebrado, caixas

de papelão.... Outra característica é o fato de ser um brinquedo não estruturado. _ o que

construir com palitos de picolé, ou caixas de fósforos vazias, ou ainda tubos de retrós de

linha – surgem inúmeros objetos para satisfazer a satisfação e o ato de brincar.

“ É surpreendente o que uma criança pequena pode aprender

apenas brincando com o cartucho de papelão ou um rolo de

papel higiênico, ou quão construtivo e educativo pode ser brincar

com caixas vazias. Antigamente quando as linhas vinham em

carretéis de madeira, as crianças pequenas usavam os carretéis

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como blocos, uma vez que sabiam que os carretéis de madeira

tinham uma função essencial nos trabalhos de costura de sua

mãe...”.

( Bettelheim, 1989, p.222)

Hoje, os carretéis são feitos de plástico, mas uma mãe que costura ainda pode guardá

- los para que seus filhos ainda brinquem com eles.

Quem brinca com brinquedo – sucata, permite a si mesmo desvendá - lo e dar- lhe

novo significado, visto ser um objeto que possui inúmeros significados que não são óbvios

nem estão evidentes. Surgem assim novas e inusitadas relações, que podem ser até mesmo

naquele momento absurdas.

Pode-se oferecer à criança brinquedos adquiridos em lojas sofisticadas, brinquedos

estes aos quais seria interessante que todas as crianças conhecessem. Segundo Bruno

Bettelheim,

“ o fato de propiciarmos um material lúdico não deve ser mais

do que uma afirmação nossa de que está tudo bem, caso ela

( criança) escolha brincar com ele; nosso presente nunca deve ser

o resultado de nosso desejo de que ela brinque com ele, ou de que

o faça como o fabricante previu. Essas atitudes não apenas

roubam a espontaneidade da brincadeira, o que já seria bastante

ruim, mas controlam o que deveria ajuda-la a afirmar sua

liberdade, a estar no comando, ao contrário do que acontece no

restante da sua vida, quando é controlada pelos adultos .”

Bettelheim, (1989,p.206 )

Brincar com sucata exerce na criança sua capacidade de escolha e que possa utilizar o

material que escolheu da maneira que quiser. Me parece que é até mais fácil dar essa

liberdade com materiais de sucata do que com os brinquedos comprados.

A criança com cerca de 3 anos de idade, passa a contar com nova alternativa de

expressão.

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Na expressão “ atividade Lúdica Construtiva” cabem o desenhar, o brincar de “faz –

de – conta” (primeira forma de fazer teatro), o brincar com blocos e com sucata que serve

como bloco ( caixinhas de fósforo, rolhas, pedaços de madeira) e atividades plásticas como

modelar argila, moldar o papel, fazer colagens etc.

Uma criança recebe limite dos adultos e também estímulos para sentir-se amada ,

segura em busca de seu próprio caminho no seu limite de tempo, espaço, corporal, limite

do que é capaz de fazer em determinada idade. A forma escolhida por ela é a sua criação e

também é limitadora, escolheu aquela forma específica e deixou todas as outras

possibilidades de lado.

O emprego do material de sucata proporciona a descoberta das brincadeiras a partir do

simples empilhar dos objetos, assim como amassando-os, separando as peças duras e

moles, , classificando pela cor, forma ,tamanho, textura.

Isto deve acontecer naturalmente .

Nesta atividade, a necessidade de renovar os materiais para que a criança sinta-se

estimulada a experimentar, criar, que desperte o desejo de novas explorações.

A criatividade pode estar tanto na brincadeira exploratória como na brincadeira

construtiva; pode estar na criança e no meio ambiente; pode estar em mim bem como em

você . Cabe a nós pesquisa-la e desenvolve-la, por meio de sua exploração e de sua

construção com o sentir e o pensar.

2.3 COMO CRIAR UM SUCATÁRIO

Quando se trabalha com sucata a comunidade também pode participar (

comerciários, igrejas, familiares, posto de saúde ...) .

Pessoas que lidam com certos materiais específicos jogam fora muita coisa

interessante e “ reciclável” artisticamente, que poderia ser utilizada em atividades lúdicas.

Semanalmente, sugerimos as famílias que tragam sucata s que venham a enriquecer as

atividades desenvolvidas em sala de aula, recebemos potes de shampoo, amaciante de

roupas, tampas de creme de cabelo, perfume, pasta de dente, potes de iogurte, garrafas de

refrigerante, carretéis, caixas entre outros que serão citados mais a frente como sugestão a

ser pedida para a criança.

O sucatário deve estar limpo e esteticamente bonito, tão belo e nobre quanto um varal

de papéis de seda coloridos ou retalhinhos de papel camurça.

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Que seja agradável de tocar, que seja estimulante e sugestivo, atraente e de vontade de

mexer, usar, sentir, pensar e ter idéias para brincar, trabalhar, transformar.

Outro forma de fazer a coleta de sucata é por fases. Fazer a lista de sucatas de acordo

com as estações do ano. Caroços de frutas da época, flores secas, pinha, casca de nozes; no

verão, palitos de picolé, potes de creme de bronzear, copos de água mineral, rótulos de

garrafa, tampas de refrigerante, no carnaval confetes, serpentinas, fantasias de carnaval já

usadas, isopor, plástico, máscaras; as festas juninas como restos de bandeirinha, caixas de

prendas, chapéus de palha, renda, retalhos de tecidos, e no natal enfeites de árvore,

fantasias de papai noel, tocos de vela e de pau, purpurina.

Assim propomos também, além da coleta de materiais de sucata uma maior

observação do meio ambiente e das pessoas, dos ritmos da cidade e da natureza,

resgatando uma linguagem lúdica associada ao trabalho.

2.4 O SUCATÁRIO NA SALA DE AULA: O RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA.

Diante da minha prática de sala de aula, o importante é ter prazer nesse trabalho e

encontrar um estilo próprio, seja na coleta, seja na organização.

A pessoa que não se identifica com o projeto de montagem de um sucatário não deve

nem começá-lo, pois não terá nenhum tipo de envolvimento lúdico e daí não surgirá

nenhuma força criadora.

Em sala de aula, estimulo as atividades utilizando as sucatas, sejam elas com o objetivo

de estimular o raciocínio lógico – matemático ou o enriquecimento do vocabulário. As

idéias para a utilização da sucata vão surgindo de acordo com o trabalho e conteúdos a

serem desenvolvidos e planejados juntos as crianças de 4 e 5 anos.

Na medida do tempo em que as sucatas vão chegando, inicio com as crianças a

organização do material, reaproveitando caixas, vasilhas, potes ou cestos para armazena –

las, e desta forma, inicia-se a transmissão e descoberta de conhecimentos ligados a

matemática e a linguagem porque desta forma, paralelamente estaremos nomeando ,

classificando, agrupando, contando.

Este material deverá estar em local de fácil acesso das crianças para que elas tenham a

oportunidade de manuseá-los e modificarem regras e posições quando os encontrarem.

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Potes de shampoo por exemplo poderão tornar-se personagens de um teatro de

fantoches, ou peças de boliche, frascos de refresco ou água, serão classificados pela cor ou

tamanho ou serão objetos que servirão para o jogo de adivinhação de diferentes texturas

ou formas ( liso, áspero, grosso, fino, grande, pequeno, quadrado, circular...). nestes potes

se guardará a sucata por algum critério preestabelecido : material, cor, forma, textura..

Através de minha própria experiência de trabalho, acredito que a criança que aprende

conceitos que estimulem o seu raciocínio lógico matemático e desenvolvam e enriqueçam

o seu vocabulário, compreendem com muito mais clareza as diferenças e porquês dos

objetivos que se espera que ela construa no seu processo de aprendizagem.

Os potes de plástico de iogurte ou shampoo, caixas de ovos são bons para a sucata que

será usada por crianças pequenas. Existe também a opção de usar o que está contido na

caixa quando esta não for transparente, colado do lado de fora como legenda sem o uso da

palavra, o professor também pode optar pela legenda viva e interessar pela forma, pelo

desenho da palavra que significa o conteúdo da embalagem.

Este é um trabalho que leva do trabalho da matemática a linguagem e vice - versa.

Poderíamos fazer a separação por cores de papéis grandes e pequenos, separar por

tonalidades e texturas diferentes! Existe também um conteúdo filosófico e afetivo nesse

trabalho, quando as crianças percebem que o igual pode ser também diferente; que

parecido não é igual; e que cada pedacinho de papel é único e poderia se tornar

diferenciado por suas características.

Surge assim um colorido todo especial no sucatário, e os materiais ali, passam a ser tão

nobres quanto lápis de cera, hidrocor, papel celofane ou camurça com a diferença que são

materiais que já trazem em si uma história e uma trajetória ( já embrulhou um ovo de

páscoa ou brinquedo, já rasgou e pode ser consertado).

2.5 SUGESTÃO DE ATIVIDADES COM SUCATAS

Diversos jogos poderão ser criados a partir da sucata, adaptados a diferentes faixas

etárias.

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Cabe ao professor, explorar a sua criatividade e a das crianças no processo de criação de

outros jogos, deixando para as crianças também a elaboração de regras para o jogo ou

brincadeira.

Sugiro abaixo, algumas atividades com esse rico material:

¬ Guarde tudo na caixinha

Objetos diversos que perderam o uso original, se transformam num jogo que desenvolve

a percepção visual.Cada um tem uma caixinha do seu tamanho. A criança recebe tudo

misturado e guarda cada objeto na sua caixa.

¬ Jogo da Memória

Tampas de plástico e figuras aos pares ou relacionadas formam o jogo de memória. O

objetivo é desenvolver a memorização. A criança vira duas tampas. Se for o par, tira as

peças do jogo. Se não, virá – as para baixo. Ganha quem ficar com mais peças. Sugestão:

tampa de Nescau, leite em pó.

Recortando figuras de um tecido, que podem ser costuradas individualmente sobre

outro (jeans, feltro, veludo), cria-se um jogo da memória que poderá ser lavado e

reconstruido quando for necessário.

¬ Colar de plaquetinhas

Montagem de um simples colar estimula a coordenação motora, a percepção visual e a

capacidade de seqüenciação. Usa-se um fio de plástico, barbante, lã, fio de saco de

laranja... e copinhos de Danoninho ou refrigerante recortados e furados com furador de

papel. Pede-se a criança que monte repetindo a seqüência de cores diferentes, formas ou

tamanhos.

¬ Loto de figuras geométricas

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Um mostruário de fórmica serve também para a montagem deste jogo que contribui

para o reconhecimento das formas geométricas do mostruário. Ao ser sorteada uma figura,

coloca a peça igual sobre o local correspondente, até preencher a cartela toda.

¬ Bonecos

Furados os frascos viram personagens de histórias. Pregadores fazem bem o papel de

pernas e braços. Use duas tampas. A do próprio frasco, pinte olhos, boca, nariz. A outra

será o chapéu que segura o cabelo feito de lã. As roupas são de retalhos. Ao vestir o

boneco e encaixar as peças, a criança trabalha a lógica e sequenciação.

¬ Quebra – cabeça

Pode-se utilizar figuras de revistas, encartes de supermercados, propagandas de revistas

ou álbuns de figurinha da banca de jornal. Cola a figura em um papel mais grosso,

cartolina ou papelão, cobre com contact tranparente ou cola branca dissolvida em um

pouco de água e passa na figura. Depois é só escolher a forma como irá cortas, em linha

reta ou curva.

¬ Potes de iogurte

Com embalagens de iogurte em garrafinha (Bliss), junta-se diferentes cores e pede para

a criança individualmente ou em grupo, classificar quanto a cor, forma, tamanho,

espessura. Organiza-se em caixas de sapato

¬ Tapete de cores

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Escolhe um retalho de tecido que pode ser jeans, feltro, veludo... costura-se botões de

diferentes cores e formas. Recorte e costure fazendo a “ casa” no meio, tecidos que

combinem com as cores dos botões. A criança terá que abotoar o tecido da mesma cor dos

botões.

Outras atividades e jogos surgirão a partir da criatividade de cada professor que terá

sensibilidade para olhar um objeto e transforma-lo num jogo para criança.

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LISTA DE SUCATAS

A Adesivo Alça de sacola Algodão Aparelho doméstico Argolas Agulhas Alfinetes Anéis,Arame Areia Aviamentos Aspiral B Balde furado Bambus, Barbantes Benjamim Bobinas de todo tipo( foios, contura, tecido, papéis...) Bambolê Bandeja de isopor, papelão, plástico Bengalas Bijuterias C Caderno Cabo de vassoura Caixas de : brinquedo, catupiry,Chá, fio dental,Fita K-7,Fósforo,ovo,pasta de dente, ploenguinho, presentes, remédio, sabonete, sapatos Calendário Caneta Carimbos Canos Caroços de abacate,melancia,pêssego, uva... Carteiras Cartões de época ( natal , páscoa, aniversário) Cartolinas Casca de nozes Chapas de raio-X Chaveiro Colheres de: pau, brinquedo, alumínio, Cascalho Catálogo Chapas de metal Chapéu Chaves Cintas e Cinto Conchas Copos plásticos Cortiça Cubos Confetes Cordas

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D Dados Dedais Discos Decalques Dinheiro antigo. E Embalagens Envelopes Escovas de: cabelo, dente, Mamadeira, Roupa, Sapato Esponja Espumas Espelho Estopa Estojo médico, de maquiagem,farmacêutico, médico e de lápis Eucatex Encartes F Fantasias Ferrolhos Fios ( de ferro de passar, encapados, metálicos...) Fitas Flores secas Formas e forminhas Fraldas Fitas K-7 Folhas, Fotografias Frascos. G Gamelas Grades Garrafas Grampos H Hastes de óculos I Imãs Impressos (coloridos, com fotografias) Instrumento cirúrgico ou odontológico Instrumentos musicais

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J Jornais K L Lanternas Lã Lata de manteiga Linha Lustre Lenços Lista telefônica Latas de: Aveia, azeite,leite, batata – frita,cerveja, farinha, Nescau, importados, panettone, biscoitos, óleo, sorvete M Malas e maletas Manuais , Máscara, Meias, Moedas, Medalhas, Miniatura, Molduras N O Óculos P Paina Palha de milho, Palha de feira Palitos de: dente, picolé churrasco, fósforo Panfletos Panela Papéis Papelões Pastilhas Pedras Peneira Peruca Plugs Posters Parafuso Pasta de papéis Penas Percevejos Pluma

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Pilões Potes de : bala,biscoito, creme de beleza Pregadores Q R Raladores Régua Relógio Revista Rendas Retalho de tecido Rolhas S Saches Sacola Sacos Sarrafos Sementes Serragem Solas Selos Sisal Serpentinas T Tábua de bater carne Tachinhas Tampas de : caneta, garrafa, lata, pasta de dente shampoo PVC, vidro Telas Terra Tigelas Toquinhos de marcenaria Telefone Tiara Toalhas Trinco “ Tupper – wares” U V Varetas Vassouras Vasos Velas

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W X Y Z Zípers.

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CONCLUSÃO

A proposta deste trabalho foi a de discutir “O uso da Sucata na Educação Infantil,

desenvolvendo o Raciocínio Lógico – Matemático e a Linguagem”.

Além da prática em sala de aula descrita neste trabalho, buscou-se fundamentação

teórica para respalda-lo.

A Literatura encontrada que aborda este assunto ainda é muito pequena, encontrou-se

pequenos comentários em alguns livros, e em revistas de educação.

No primeiro capítulo, procuramos abordar a educação como um todo, falar dos teóricos

vistos, a relevância das abordagens feitas por alguns deles e as contribuições que deixaram

para a educação e para entendermos o desenvolvimento global da criança. Sem dúvida,

essas considerações históricas subsidiaram a nossa reflexão. O desenvolvimento mental,

social e criativo foram amplamente abordados para que pudéssemos entender a criança

como um todo.

No capítulo 2, abordamos a prática da sala de aula, o relato de experiência sobre o uso

da sucata com crianças de 4 e 5 anos. Sugestões de materiais a serem criados, idéias de

como montar um sucatário com as crianças.

Gostaríamos que as reflexões aqui descritasnão apenas professores, mas diretores,

coordenadores, funcionários, pais de alunos compreendessem a importância da reciclagem

de material para o meio ambiente, para a escola e para o aprendizado muito mais criativo e

dinâmico das crianças, sem que haja a necessidade da utilização de livros de exercício

para crianças desta faixa etária.

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ZUCATTO, Mantovani de Assis Orly. Uma Nova Metodologia de Educação Pré – Escolar.

6ªed. S.P: Pioneira,1989

MACHADO, Lourdes Izaltina.Educação Montessori: De um homem novo para um mundo

novo. 2ª ed. S.P: Pioneira, 1989

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ANEXOS