UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS …... o Conselho Monetário Nacional (CMN), o Banco Central do...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
SUSTENTABILIDADE NOS NEGÓCIOS DO SETOR FINANCEIRO
Por: Ingrid de Oliveira Martins da Cruz
Orientador
Prof. Ana Cláudia Morrissy
Rio de Janeiro
2012
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
SUSTENTABILIDADE NOS NEGÓCIOS DO SETOR FINANCEIRO
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como requisito parcial para obtenção do grau
de especialista em Finanças e Gestão Corporativa.
Por: Ingrid de Oliveira Martins da Cruz
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AGRADECIMENTOS
.... ao meu companheiro João Gabriel Sá e aos
meus amigos pelo carinho e pela compreensão.
4
DEDICATÓRIA
.....dedica-se a minha mãe Odete de Oliveira.
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RESUMO
A sustentabilidade está cada vez mais no foco do setor financeiro e não se
limita às iniciativas de ecoeficiência e atividades de cunho social. As instituições
financeiras se remetem à necessidade de integrar a visão sustentável à sua
própria missão e às suas estratégias, utilizando critérios socioambientais e
econômico-financeiros nos processos de tomada de decisão. Além de averiguar as
empresas clientes de outro modo, considerando os impactos socioambientais
causados por suas atividades e a qualidade de sua gestão.
Este trabalho tem como objetivo analisar o entendimento e a incorporação
do conceito da sustentabilidade nos negócios do setor financeiro. O estudo
apresentado foi através de pesquisa bibliográfica, partindo da conceituação,
análise e pontos para questionamentos. O principal fator analisado de forma
criteriosamente definida foi a forma com que o tema se amarra e abrange
situações cujos resultados poderão ser percebidos partindo do foco principal para
um foco secundário, no caso a necessidade de desenvolvimento ou algo que o leve
a este evento.
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METODOLOGIA
A metodologia quanto aos fins foi realizada através da pesquisa explicativa
com a preocupação central de identificar os fatores do desenvolvimento
sustentável que contribuem para os negócios do setor financeiro.
Quanto aos meios o modelo conceitual foi desenvolvido através de uma
pesquisa bibliográfica utilizando fontes exclusivamente já elaboradas pela
utilização de livros, artigos e sites de internet a fim de desenvolver e contextualizar
o tema proposto.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Sistema Financeiro 10
CAPÍTULO II - Desenvolvimento Sustentável 17
CAPÍTULO III – Sustentabilidade nos Setor Financeiro 21
CONCLUSÃO 33
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 34
ÍNDICE 37
FOLHA DE AVALIAÇÃO 38
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INTRODUÇÃO
As organizações estão cada vez mais se tornando conscientes da
necessidade de sustentabilidade, buscando o equilíbrio entre as dimensões do
desenvolvimento a economia, a ambiental e a social.
Ao longo dos últimos anos têm aumentado o número de iniciativas visando
a incorporação da sustentabilidade nos negócios do setor financeiro, que
desempenha importante papel indutor na adoção de boas práticas
socioambientais, além dos econômico-financeiros.
Com atenção especial às questões socioambientais, as instituições
financeiras não estão apenas reconhecendo sua vulnerabilidade em relação aos
impactos dessa natureza, mas tendo também a oportunidade de desenvolver
novos mercados a partir de tais impactos.
O papel do setor financeiro como indutor de práticas de sustentabilidade
empresarial é considerado estratégico desde as primeiras discussões sobre
desenvolvimento sustentável em nível global. No momento presente, existe uma
consciência crescente do papel da análise socioambiental, inclusive na prevenção
de riscos de reputação, e nas vantagens competitivas que os alertas sobre
aquecimento global e desmatamento da Amazônia sensibilizam mais a sociedade
na busca de soluções sustentáveis para o desenvolvimento econômico.
O setor financeiro enfrenta um novo desafio maior que a volatilidade nos
mercados. Esse desafio consiste em avaliar corretamente as variáveis
socioambientais que até pouco tempo não eram preocupações de bancos,
seguradoras e gestores de fundos.
Neste contexto, torna-se necessário um estudo mais aprofundado,
relevando a importância do desenvolvimento sustentável nas organizações em
geral, oferecendo subsídios para propor melhoras ou mudanças no tema estudado.
Perante essa questão, os bancos e outras instituições financeiras, buscam cada
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vez mais iniciativas como a sustentabilidade, como foco no diferencial para o
sucesso dos negócios e tragam benefícios para os problemas socioambientais.
Através do tema será abordado o papel da sustentabilidade na gestão das
instituições financeiras que visam terem sua imagem associada a um modelo de
negócios que todos ganham: clientes, funcionários, fornecedores, sociedade e o
meio ambiente, agindo com pró-atividade e atuando de forma responsável.
A Gestão Sustentável evita desperdícios de investimentos, recursos
naturais e humanos, atuações e surgimento de passivos desnecessários.
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CAPÍTULO I
SISTEMA FINANCEIRO
O sistema financeiro pode ser entendido como um conjunto de instituições
financeiras e instrumentos financeiros que visam transferir recursos dos agentes
econômicos (pessoas, empresas, governo) superavitários para os deficitários, ou
seja, proporcionar condições que sejam suficientes para manutenção de um fluxo
de recursos entre poupadores e investidores.
A função econômica e social do sistema financeiro é evidenciada através
do processo de distribuição dos recursos no mercado. O mercado financeiro pode
ser considerado como elemento dinâmico no crescimento econômico, pois permite
elevação das taxas de investimento e poupança.
1.1 – Sistema Financeiro Nacional
1.1. 1 – Definição
O Sistema Financeiro Nacional é um conjunto de órgãos que
regulamentam, fiscalizam e executam as operações necessárias à circulação da
moeda e do crédito na economia.
1.1. 2 – Aspectos históricos
Em 1920, foi criada a Inspetoria Geral de Bancos, que tinha como objetivo
fiscalizar as instituições financeiras, não se tratando de um órgão designado à
normatização e controle amplo do Mercado Financeiro.
Um controle monetário maior passou a existir após a criação da
Superintendência da Moeda e do Crédito - SUMOC, em 1945.
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Em 1952, foi fundado o atual Banco Nacional do Desenvolvimento
Econômico e Social – BNDES.
Ocorreu uma Reforma Bancária (Lei 4.595), em 1964, que dispôs sobre a
criação do Conselho Monetário Nacional, a transformação da SUMOC no Banco
Central do Brasil e a composição original do Sistema Financeiro Nacional e
demais instituições financeiras públicas e privadas.
Entre 1964 e 1965, foi criado o Sistema Financeiro da Habitação e a Lei do
Mercado de Capitais (4.728/65) que estabeleceu normas relativas ao mercado de
investimentos.
Em 1976, a Lei 6.385, foi criada a Comissão de Valores Mobiliários, que
também integra o Sistema Financeiro Nacional.
Em 1988, foi autorizada a constituição dos “Bancos Múltiplos”, permitindo-
se que uma mesma pessoa jurídica opere mais de uma das seguintes carteiras:
comercial; de investimento; de desenvolvimento; de crédito imobiliário; e de crédito,
financiamento e investimento. Posteriormente, pela Resolução 2.099/94, foi
autorizada a operação com a carteira de arrendamento mercantil.
Em 1995, foi instituído o Programa de Estímulo à Reestruturação do
Sistema Financeiro Nacional – PROER, tendo como objetivos garantir a liquidez e
a solvência do Sistema e defender os interesses dos depositantes e investidores.
1.1. 3 – Estrutura
Sendo constituído por diversas instituições, O Sistema Financeiro Nacional
é dividido em dois subsistemas: subsistema de supervisão e subsistema operativo.
O subsistema de supervisão é formado por instituições que estabelecem as
regras e diretrizes de funcionamento, além de definir os parâmetros para a
intermediação financeira e fiscalizar a atuação das instituições operativas. Tem em
sua composição: o Conselho Monetário Nacional (CMN), o Banco Central do Brasil
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(Bacen), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Conselho Nacional e
Superintendência de Seguros Privados, o IRB – Brasil Resseguros, o Conselho de
Gestão da Previdência Complementar e a Secretaria de Previdência
Complementar .
Em sua composição, no subsistema operativo, estão as instituições que
atuam na intermediação financeira e tem como função operacionalizar a
transferência de recursos entre fornecedores de fundos e os tomadores de
recursos, a partir das regras, diretrizes e parâmetros definidos pelo subsistema de
supervisão. São as instituições financeiras bancárias e não-bancárias, o Sistema
Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), além de Agentes Especiais,
Sistema de Distribuição de Títulos e Valores mobiliários, Câmaras e Prestadores
de serviço de liquidação e compensação, Administradores de Recursos de
Terceiros, Sistema de Seguros Privados e Previdência complementar e
prestadores de serviços financeiros não regulamentados.
A atuação das instituições que integram o subsistema operativo é
caracterizada pela sua relação de subordinação à regulamentação estabelecida
pelo CMN e pelo Bacen. As instituições podem sofrer penalidades caso não
cumpram as normas editadas pelo CMN. As multas vão desde as pecuniárias até
a própria suspensão da autorização de funcionamento dessas instituições e seus
dirigentes.
1.1. 4 – Conselho Monetário Nacional (CMN)
O Conselho Monetário Nacional é o órgão máximo do Sistema Financeiro
Nacional, com funções deliberativas, cujas normas são de observância obrigatória
por todas as instituições do sistema financeiro. Tem por finalidade formular a
política da moeda e do crédito, visando o progresso econômico e social do País.
A política do CMN tem como objetivos: adaptar o volume dos meios de
pagamentos às reais necessidades da economia nacional e seu processo de
desenvolvimento; regular o valor interno da moeda das depressões econômicas e
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de outros desequilíbrios oriundos de fenômenos conjunturais; regular o valor
externo da moeda e o equilíbrio no balanço de pagamentos do País, utilizando da
melhor forma os recursos em moeda estrangeira; orientar a aplicação dos recursos
das instituições financeiras, propiciando condições favoráveis ao desenvolvimento
harmônico da economia; proporcionar o aperfeiçoamento das instituições
financeiras e dos instrumentos financeiros, tornando eficiente o sistema de
pagamento e de mobilização de recursos; zelar pela liquidez e solvência das
instituições financeiras; e coordenar as políticas monetária e creditícia,
orçamentária, fiscal e da dívida pública, interna e externa.
Ferreira (2005) relata que dentre outras funções do Conselho Monetário
Nacional, podemos citar as seguintes:
a) autorizar a emissão de papel-moeda;
b) aprovar orçamentos monetários, que são preparados pelo Banco
Central e por meio dos quais são estimadas as necessidades globais de moeda e
crédito;
c) fixar diretrizes e normas da política cambial e, inclusive, compra e
venda de ouro e quaisquer operação em moeda estrangeira;
d) disciplinar o crédito em todas as suas modalidades e as operações
creditícias em todas as suas formas;
e) estabelecer normas relativas à fiscalização, constituição e
funcionamento das instituições financeiras;
f) estabelecer normas sobre a política de taxas de juros, descontos,
comissões e qualquer outra forma de remuneração de operações e serviços
bancários;
g) disciplinar as operações de câmbio;
h) deliberar sobre a estrutura técnica e administrativa do Banco Central;
i) determinar as características gerais das cédulas e das moedas;
j) determinar a percentagem máxima dos recursos que as instituições
financeiras poderão emprestar a um mesmo cliente ou grupo de empresas;
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k) estipular índices e outras condições técnicas sobre encaixes,
imobilizações ou outras relações patrimoniais, a serem observadas pelas
instituições financeiras;
l) delimitar o capital mínimo das instituições financeiras;
m) expedir normas gerais de contabilidade e estatísticas a serem
observadas pelas instituições financeiras;
n) determinar recolhimento de até 100% dos depósitos à vista e de até
60% do total dos demais depósitos e/ou títulos contábeis das instituições
financeiras, seja na forma de subscrição de letras ou obrigações do Tesouro
Nacional ou compra de títulos da Dívida Pública Federal, seja por meio de
recolhimento em espécie, em ambos os casos entregues ao Banco Central;
o) determinar os encaixes obrigatórios;
p) regulamentar as operações de redesconto e de empréstimo,
efetuadas com quaisquer instituição financeira pública ou privada de natureza
bancária;
q) aprovar o regimento interno e as contas do Banco Central, sem
prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União;
r) aplicar aos bancos estrangeiros que funcionem no País as mesmas
restrições equivalentes, que vigorem, nas praças de suas matrizes, em relação a
bancos brasileiros ali instalados ou que nelas desejam estabelecer-se;
s) fixar a orientação geral a ser observada pela CVM no exercício de
suas atribuições;
t) regular a utilização do crédito no mercado de valores imobiliários;
u) definir a política a ser observada na organização do mercado de
valores mobiliários;
v) definir as atividades da CVM que devam ser exercidas de forma
coordenada com o Banco Central do Brasil;
w) definir os tipos de instituições financeiras que poderão exercer
atividades no mercado de valores mobiliários, bem como as espécies de operações
que poderão realizar e de serviços que poderão prestar nesse mercado;
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x) fixar as diretrizes para a aplicação das reservas técnicas das
sociedades seguradoras, entidades abertas e fechadas de previdência privada,
podendo, no caso das últimas, estabelecer diretrizes diferenciadas para uma
determinada entidade, ou grupo de entidades, levando em conta a existência de
condições peculiares relativamente a suas patrocinadoras.
1.1. 5 – Banco Central do Brasil (BACEN)
Considerado o “banco dos bancos”, em função de receber depósitos
compulsórios e reservas voluntárias dos bancos e por garantir a liquidez do
sistema bancário, por meio de operações de desconto, o Banco Central do Brasil é
entidade autárquica vinculada ao Ministério da Fazenda.
Compete-lhe cumprir as funções lhe são atribuídas pela legislação em vigor
e executar as normas expedidas pelo Conselho Monetário Nacional. Conforme
Ferreira (2005), tais funções são:
a) emitir papel-moeda e moeda metálica, nas condições e limites
autorizados pelo CMN;
b) executar os serviços do meio-circulante;
c) receber os recolhimentos compulsórios e também os depósitos
voluntários das instituições financeiras;
d) realizar operações de redescontos e empréstimos a instituições
financeiras bancárias;
e) exercer o controle dos capitais estrangeiros, nos termos da lei;
f) ser depositário das reservas oficiais de ouro e moeda estrangeira;
g) exercer a fiscalização das instituições financeiras e aplicar as
penalidades previstas;
h) estabelecer condições para a posse e para o exercício de quaisquer
cargos de administração de instituições financeiras privadas, bem como para o
exercício de quaisquer função em órgãos consultivos, fiscais e similares, segundo
normas que foram expedidas pelo CMN;
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i) realizar, como instrumento de política monetária, operações de
compra e venda de títulos públicos federais;
j) conceder autorização às instituições financeiras, a fim que possam
funcionar no País; instalar ou transferir suas sedes; ser transformadas, fundidas,
incorporadas ou encampadas; praticar operações de câmbio, crédito real e venda
habitual de títulos da dívida pública, ações, debêntures, letras hipotecárias e outros
títulos de crédito ou mobiliário; ter prorrogados os prazos concedidos para
funcionamento e alterar seus estatutos;
k) efetuar, como instrumento da política monetária, operações de
compra e venda de títulos públicos federais;
l) estabelecer condições para a posso e o exercício de quaisquer
cargos de administração de instituições financeiras privadas, assim como para o
exercício de quaisquer funções em órgãos consultivos e fiscais, segundo normas
que forem expedidas pelo CMN;
m) entender-se, em nome do governo brasileiro, com as instituições
financeiras estrangeiras;
n) promover, como agente do governo federal, a colocação de
empréstimos internos e externos, podendo, também, encarregar-se dos
respectivos serviços;
o) atuar no sentido de funcionamento regular do mercado cambial, da
estabilidade relativa das taxas de câmbio e do equilíbrio no balanço de
pagamentos, podendo comprar e vender ouro e moeda estrangeira, bem como
realizar operações de crédito no exterior;
p) emitir títulos de responsabilidade própria, de acordo com as
condições estabelecidas pela o CMN;
q) regular a execução dos serviços de compensação de cheques e
outros documentos;
r) prover, sob controle do CMN, os serviços de secretaria do CMN.
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CAPÍTULO II
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Desde a década de 1940, o conceito de desenvolvimento vem evoluindo e
deixando de ser um dado meramente quantitativo para assumir cada vez mais um
caráter qualitativo. Desta forma, conforme Veiga (2005, p.9), “o que importa é
deixar bem claro que desenvolvimento não se confunde com crescimento
econômico, que constitui condição necessária, porém não suficiente”.
A idéia de desenvolvimento sustentável vem de um processo longo,
contínuo e complexo de reavaliação crítica da relação existente entre a sociedade
civil com seu meio natural, assumindo diversas abordagens e concepções.
Apresentar o progresso em direção à sustentabilidade é uma escolha da
sociedade, das organizações, das comunidades, e dos indivíduos, devendo existir
um grande envolvimento de todos os segmentos (Bellen, 2005).
Segundo Veeman e Polytilo (2003), sustentabilidade é difícil de definir, de
se tornar operacional e grande demais para medir. Seu conceito abrange objetivos
múltiplos, envolvendo quatro componentes críticos: componente do crescimento,
componente da distribuição, componente ambiental e componente institucional.
O componente de crescimento está ligado à criação da capacidade produ-
tiva, sendo fundamental para o crescimento econômico de cada país, impactando
positivamente o meio físico, capital humano, natural e social. Entretanto, embora o
crescimento seja necessário, ele não é suficiente para que seja distribuído, assim,
o componente distribuição foca tanto diferentes condições de vida nas diversas
regiões, como se preocupa com as próximas gerações. O aspecto ambiental se
refere à redução de consumo de recursos naturais e à preocupação com a
degradação ambiental decorrente da poluição. O último componente diz respeito
ao envolvimento da sociedade, considerado primordial para implementação e
desenvolvimento dos princípios de sustentabilidade.
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A concepção de sustentabilidade tem se mostrado ainda mais complexa
quando incorporada à visão corporativa. A analogia do triple-bottom-line das
dimensões econômica, ambiental e social da sustentabilidade tem emergido como
um modelo de interpretação pelas empresas, embora cada uma dessas dimensões
represente um grande desafio (Bieker et al., 2006).
Existe uma corrente que acredita que empresas não podem usar seus
recursos financeiros para melhorar a performance ambiental e social, sem reduzir
o valor do acionista. O argumento é que para aderir a padrões éticos a empresa
eleva seus custos, aumentando o preço do produto final, reduzindo a vantagem
competitiva e a lucratividade (Walley e Whitehead apud Derwall et al.; 2005).
Segundo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2007), para o
setor empresarial o conceito de sustentabilidade representa uma abordagem
inovadora de se fazer negócios, no sentido de sustentar a viabilidade econômico-
financeira dos empreendimentos ao mesmo tempo em que se preserva a
integridade ambiental para as gerações atuais e futuras e se constroem
relacionamentos mais harmoniosos na sociedade, resultando numa reputação
positiva e sólida.
Outros acreditam que investir na performance ambiental e social pode
melhorar a eficiência operacional da empresa, ou gerar novas oportunidades de
mercado. Porter e Van der Linde (apud Derwall et al., 2005) afirmam que políticas
ativas de melhoria de performance ambiental podem criar uma vantagem
competitiva, em função da maior eficiência no uso dos recursos.
O problema ambiental pode ser visto por duas diferentes perspectivas: a
abordagem tradicional que se concentra no debate relativo ao cumprimento da
legislação ambiental e a responsabilidade social da firma; e a segunda abordagem
relacionada com a sustentabilidade ambiental, implicando que toda estratégia da
empresa deve estar envolvida com as questões ambientais. (JIMÉNEZ;
LORENTE, 2001)
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A competitividade econômica deve ser pretendida ao mesmo tempo da
proteção ambiental. Na primeira, a questão ambiental é vista como uma restrição
imposta pelo legislador, em relação ao objetivo principal da empresa de maior
competitividade econômica. Na segunda, a pressão da sociedade forçou a
empresa assumir sua responsabilidade em relação à deterioração ambiental. Em
ambos os casos a política ambiental da empresa é determinada por sanções legais
(multas e responsabilidade civil e criminal); ou por sanções sociais (protestos,
perda de reputação e imagem corporativa).
A peculiaridade em relação à estratégia ambiental é que ela incorpora a
dimensão social e tecnológica. A relevância da dimensão social é que o ambiente é
um bem público e todos os acionistas externos e internos tem seus interesses, não
necessariamente coincidentes. Os aspectos técnicos e econômicos são relevantes
no sentido que a proteção ambiental pode ser considerada um desafio para
empresas lidarem com recursos naturais e produzirem bens e serviços, tendo
impacto direto nos processos produtivos e no desenvolvimento de produto.
Além da conscientização, é importante rever todo o processo dentro da
organização, tais como: processo de gestão como avaliações de desempenho,
avaliações de créditos ou decisões de investimentos que precisam ser analisadas,
visando incorporar melhor critérios socioambientais e não considerando aspectos
quantitativos, mas também qualitativos, reconhecendo ações sustentáveis e não
efetivando comportamentos que não agregam valores ao longo prazo.
O uso da sustentabilidade corporativa nas instituições financeiras, não
significa mais custos, processo mais burocráticos e menores resultados
financeiros. A sustentabilidade está direcionada para uma visão de negócios, onde
o desempenho socioambiental caminha lado a lado do desempenho financeiro
econômico, uma mudança de paradigma que está sendo cada vez mais comum
nas grandes organizações e em curto prazo trazendo resultados antes não
demonstrados, assim como, também de se obter resultado ao longo prazo.
Vale ressaltar que ambos resultados na visão tempo (curto e longo prazo),
deixa claro que quando as empresa focam a sustentabilidade o crescimento se
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perpetua. Um ponto a ser considerado é que as organizações não podem violar um
dos tripés do TBL, que é a melhorias socioambientais estão ligadas primeiramente
a perdas econômicas e a acaba se tornando não sustentável.
Em último lugar, coloca-se o desafio de proporcionar mais transparência
ao desempenho socioambiental das instituições bancárias. Muitas das iniciativas
de sustentabilidade dos brasileiros estão aos pouco sendo divulgadas e, por
conseqüência, mostrando o devido reconhecimento pelas atitudes e esforços
praticados todos os dias, na busca de um futuro melhor e com grande
sustentabilidade para todos.
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CAPÍTULO III
SUSTENTABILIDADE NO SETOR FINANCEIRO
Ao traçar uma linha do tempo, a Federação Brasileira dos Bancos –
FEBRABAN (2011) demonstra uma ligação dos bancos com o desenvolvimento
sustentável desde o ano de 1972 com o Clube de Roma, através da publicação
“Os limites do Crescimento”, e com a Conferência de Estocolmo, sobre
desenvolvimento humano.
Nesta mesma época, surgiu o conceito de ecoeficiência, elaborado pelo
canadense Maurice Strong, diretor da Conferência de Estocolmo e, vinte anos
depois, o responsável pela organização da Conferência Eco-92, no Rio de Janeiro.
Também em 1992, foi criado um fórum mundial de finanças no âmbito da Iniciativa
Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (United
Nations Environment Programme Finance Initiative – Unep-FI) voltado a entender
as conseqüências das considerações sociais e ambientais nas atividades
financeiras.
De acordo com Mattarozzi e Trunkl (2008), o engajamento das instituições
financeiras com questões ligadas a sustentabilidade continuou evoluindo nos anos
1990, em parte em decorrência de pressões das organizações ambientalistas, que
iam percebendo a posição estratégica do setor financeiro para atingir diretamente
responsáveis pelos impactos socioambientais – seus clientes corporativos.
Em 1995, foi elaborado no Brasil o Protocolo Verde, com a finalidade
específica de promover a variável ambiental como critério na concessão de crédito
e benefícios fiscais por parte dos bancos, órgãos e autarquias do governo federal.
Marcando uma das primeiras iniciativas do setor financeiro brasileiro com vistas à
incorporação da sustentabilidade aos negócios, os bancos públicos federais,
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do
Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e Banco da
Amazônia aderiam a esse protocolo. Em 2008, os bancos oficiais renovaram seus
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compromissos socioambientais em segunda versão do Protocolo Verde e, em
2009, mais uma assinatura entre o Ministério do Meio Ambiente e a FEBRABAN.
A Bolsa de Valores de Nova York lançou, em 1999, o Dow Jones
Sustainability Index (DJSI), primeiro índice global de ações de empresas
consideradas sustentáveis segundo critérios financeiros, sociais e ambientais.
Fazem parte atualmente desse índice sete empresas brasileiras: Aracruz,
Petrobras, Itaú, Itaúsa, Bradesco, Cemig e Usiminas. O Itaú é a única empresa do
país incluída no DJSI desde o lançamento do índice.
Para Antunes (2010), independente da forma como a sustentabilidade é
encarada pelas empresas, há uma movimentação feita há algum tempo por parte
das instituições financeiras exigindo retornos sustentáveis para a concessão de
crédito e impondo ao mercado um novo modelo de desenvolvimento.
Uma das principais iniciativas é um documento chamado Princípios do
Equador, de 2003. Assinado inicialmente por dez bancos globais, três anos depois
já contava com mais de quarenta signatários e passava por sua primeira revisão.
Ao aderir, voluntariamente, os Princípios do Equador, os bancos se comprometem,
dentro dos critérios acordados, a analisar e gerir riscos socioambientais de
projetos financiados e apenas conceder crédito aos clientes que assumirem
contrapartidas de responsabilidade social e meio ambiente.
Os primeiros signatários dos Princípios foram os bancos ABN Amro,
Barclaus, Citigroup, Crédit Lyonnais, Crédit Suisse First Boston, HVB, Rabobank,
The Royal Bank of Scotland, WestLB e Westpac Banking Corporation, os quais,
juntos, haviam respondido, em 2002, por aproximadamente 30% do total mundial
de operações de project finance. Em 2008, cerca de sessenta bancos eram
signatários, dos quais quatro brasileiros – Unibanco, Itaú, Bradesco e Banco do
Brasil.
Um adendo interessante em relação aos Princípios, no Brasil, é que por
conta da legislação ambiental, as instituições financeiras podem ser co-
responsabilizadas por eventuais danos socioambientais que projetos suportados
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por elas possam causar. Além disso, diversas ONGs perceberam que, por muitas
vezes, é mais eficiente pressionar os bancos financiadores do que a própria
indústria que capta os recursos para os projetos.
Já em 2005, foi criada, no Brasil, a Câmara Técnica de Finanças
Sustentáveis (CTFIN) do Conselho Empresarial Brasileiro para Desenvolvimento
Sustentável (CEBDS), cuja missão é contribuir para que as instituições financeiras
assumam seu papel na promoção do desenvolvimento sustentável, fomentando a
discussão de princípios e melhores práticas.
Também em 2005, foi lançado o índice Bovespa de Sustentabilidade
Empresarial (ISE). O ISE tem por objetivo refletir o retorno de uma carteira
composta de ações de empresas com reconhecimento com a responsabilidade
social e a responsabilidade, além de atuar como promotor das boas práticas no
meio empresarial brasileiro. As empresas são avaliadas anualmente segundo
critérios econômico financeiro, sociais, ambientais, de governança corporativa e de
natureza do produto. Em 2007, foi incluido, para empresas do setor financeiro, a
necessidade do perfil da carteira de crédito diante das mudanças climáticas, a
utilização de condicionantes socioambientais nos contratos de financiamentos e a
ampliação da oferta de produtos e serviços financeiros com foco na
sustentabilidade.
Ainda em 2005, o então Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan,
convidou um grupo de investidores selecionados entre os principais do mundo
para fazer parte de um processo de desenvolvimento dos Princípio para o
Investimento Responsável (PRI). Representantes de 20 investidores institucionais
oriundos de 12 países concordaram em participar do Grupo de Investidores. Eles
foram apoiados por um grupo de 70 especialistas de múltiplos interesses da
indústria de investimentos, organizações intergovernamentais e governamentais,
sociedades civil e acadêmica.
O processo foi coordenado pelo Programa de Iniciativa Financeira para o
Meio-Ambiente das Nações Unidas (UNEP FI) e o Pacto Global das Nações
Unidas. Lançados em abril de 2006, na Bolsa de Valores de Nova Iorque pelo
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Secretário-Geral das Nações Unidas, os Princípios são, em essência, um conjunto
das melhores práticas globais para o investimento responsável.
Certamente o setor financeiro não contribui com grandes impactos
socioambientais, tais como emissões de gases de efeito estufa e uso de mão de
obra infantil em suas atividades, mas vale destacar que sua cadeia de suprimentos
e investimentos abrange diversas atividades que podem impactar igualmente,
acarretando a corresponsabilidade dos atos (Rossin et al., 2009).
Levando a prática do assunto, o Banco Central do Brasil, em 2008,
determinou que os bancos públicos e privados restringissem a concessão de
crédito rural apenas a produtores que estivessem devidamente regularizados com
os órgãos de fiscalização. Ainda que voltada à Amazônia Legal, essa resolução
trouxe fôlego à discussão sobre a real responsabilidade do setor.
Em 2010, a FEBRABAN, com apoio técnico da GV/Ces, lança a matriz de
indicadores do Protocolo Verde e adota o Índice de Indicadores da Global Report
Inciative (GRI) para seu Relatório Anual, aderência à Declaração Internacional dos
Direitos Humanos, aos Objetivos do Milênio e aos padrões ISO - International
Organization for Standardization.
1.1 – Riscos e Oportunidades
A sustentabilidade pode estar presente em empresas do setor financeiro de
diversas formas. Quando uma instituição financeira decide ser sustentável está
sendo pratica em relação aos seus próprios interesses empresariais.
Em alguns casos, ela se faz mais presente na criação de novos produtos
com características específicas ligadas à inclusão social ou à preservação
ambiental, por exemplo. Em outros, há maior esforço na mudança de processos
existentes, como a inserção de análise de riscos socioambientais no processo de
avaliação de risco de crédito ou, ainda, na utilização de critérios de
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sustentabilidade na seleção de fornecedores. Um terceiro grupo de empresas
preocupa-se com ambas as dimensões (Lins et al., 2007).
As instituições financeiras terão um grande desafio, transformar os riscos
existentes em um grande diferencial em seus projetos. Podemos ressaltar que os
bancos ainda têm mais de um papel importante no incentivo a prática e atitudes
sustentáveis, além de atuar na base da pirâmide, usa como forma de incentivo o
financiamento para energias renováveis, financia projetos de produção mais limpa
e a compra de equipamentos eco eficientes.
Atuam também com grande força usando as redes de agências ou cadeia
de clientes e fornecedores para disseminar a sustentabilidade e para finalizar,
ampliar e fortalecer os mecanismos de gestão de risco que é fundamental para um
mundo mais seguro, eficiente e justo.
Segundo Mattarozzi e Trunkl (2008), a instituição financeira ao adotar uma
perspectiva socioambiental e critérios mais exigentes na concessão de
empréstimos ou na venda de seguro, por exemplo, minimiza seus riscos. Ou seja,
a opção pela sustentabilidade não é uma responsabilidade adicional que cria
dificuldades para o sucesso empresarial, mas um fator de geração de valor.
Para Lins e Wajnberg (2007), na concessão de crédito para empresas do
setor de petróleo, uma firma que possui alto risco de derramamento de óleo
possivelmente terá que lidar com passivos ambientais, que influem na sua
capacidade de honrar o compromisso de crédito. Ao identificar este risco, o banco
pode atuar de forma a garantir que a empresa cliente tenha um plano para
gerenciar este risco, e caso ela não tenha, o financiamento poderia até ser negado.
Da mesma forma, uma empresa do setor sucroalcooleiro que utiliza mão de
obra escrava possivelmente será alvo de processos trabalhistas que poderão em
algum momento influenciar consideravelmente na sua geração de caixa.
Assim, ao incorporar riscos como estes em sua análise de crédito, o banco
está fazendo uma gestão mais eficiente de sua carteira de crédito, e contribuindo
para um melhor desempenho de suas atividades de financiamento. Além disso, o
26
mesmo está também atuando de forma a somente permitir a implantação e
operação de projetos e empresas que contribuam para o desenvolvimento
sustentável, preservando o meio ambiente e as melhorando as condições de vida
das comunidades.
Sabe-se que, ao adotar critérios socioambientais na concessão de crédito,
os bancos criam ferramentas para fazer a avaliação desse tipo de risco, como
questionários e meios de monitorar atividades dos clientes financiados. Desse
modo, as penalidades contratuais se aplicariam a situações em que, por exemplo,
o cliente omita informações relevantes nos questionários, venha a causar dano
ambiental após a concessão do financiamento ou não utilize para a finalidade
declarada.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que
pode ser considerado o maior financiador de projetos de longo prazo no Brasil, tem
demonstrado preocupação no sentido de implantar medidas que fomente o
desenvolvimento sustentável e que resultem no apoio à adoção de princípios de
sustentabilidade. Com esse intuito, o BNDES desenvolveu um modelo de
classificação de risco ambiental com o auxílio da consultoria externa especializada
(Motta et al., 2003), para ser inserido ao risco econômico corporativo (Bergamini
Jr., 2003). Essa tendência tem sido percebida no setor financeiro em geral,
existindo declarações formais de algumas instituições financeiras de redução das
taxas de financiamento para empresas adeptas aos princípios de sustentabilidade.
Apesar da maioria dos exemplos de políticas socioambientais e
desenvolvimento sustentável esta atrelada aos bancos, tais questões também
estão presentes em outras instituições financeiras, como no caso do fundo de
pensão.
Na avaliação de Gomes e Santiago (2009), no Brasil, observa-se que, a
partir do processo de privatização, os fundos de pensão despojaram-se da imagem
de investidores passivos, iniciando uma trajetória de estabelecimento de padrões
de controle compartilhado e mecanismos de gestão que possibilitassem influenciar
no estabelecimento e adoção de estratégias e políticas das empresas de que
27
participavam, visando alinhá-las aos seus interesses de investidores de longo
prazo.
A premissa que norteou tais iniciativas foi o entendimento de que boas
práticas de governança reduzem incertezas no processo de avaliação e
acompanhamento das empresas nas quais investem, em consequência, conferem
maior garantia de sustentabilidade de seus investimentos de longo prazo.
Nessa primeira etapa, nota-se que a difusão da governança corporativa
estava inteiramente ligada à necessidade do estabelecimento de um quadro legal
que aumentasse a confiança dos investidores (IBGC, 2007), porém, ao longo dos
anos, o modelo de governança adotado pelos fundos de pensão brasileiros foi-se
aperfeiçoando, sendo incorporados aspectos relacionados à responsabilidade
social e ambiental. Esta evolução ocorreu como um resultado natural do contexto
mundial, da busca do aumento da rentabilidade ao longo prazo, redução dos riscos
das aplicações e a melhoria da imagem.
1.2 – Práticas Sustentáveis
O avanço da sustentabilidade no setor financeiro abrange várias ações e
etapas. Esse processo se inicia pela incorporação do conceito à missão e à
estratégia de negócios das instituições – o que requer a adoção de práticas fortes
– e prossegue com a definição de setores de atividades com os quais desejam
atuar e o desenvolvimento de produtos com foco socioambiental.
No entendimento de Mattarozzi e Trunkl (2008), a tendência é que o setor
financeiro como um todo assuma seu papel de indutor de práticas sustentáveis e
implante políticas para este fim em suas áreas de crédito, investimentos e outras.
Isso não quer dizer, entretanto, que os diferenciais deixarão de existir, uma vez
cada instituição financeira adota políticas e modelos próprios para instaurar esses
processos internamente.
28
As práticas podem ser dividias em dois segmentos: finanças sustentáveis
que engloba práticas relacionadas a novos produtos e às atividades fins do
negócio, e gestão que é composta por práticas de gestão que não estão
diretamente relacionadas às atividades geradoras de receitas das empresas
financeiras.
Segundo Lins e Wajnberg (2007), as práticas mais relevantes são:
a) Avaliação de Riscos Socioambientais em Financiamentos - Ao
embutirem a avaliação de riscos socioambientais na decisão de concessão do
crédito, as instituições financeiras diminuem o risco de crédito, a inadimplência e
realiza uma gestão mais eficiente da sua carteira de clientes, além de assegurar
que o valor das garantias dadas pelos mesmos não se altere consideravelmente.
b) Crédito Responsável - O termo crédito responsável (responsible lending)
se refere às práticas das atividades de empréstimo e financiamento que atuam de
forma a melhorar a situação financeira do cliente, ao invés de prejudicá-la. Assim,
o crédito responsável envolve, em primeira análise, o empréstimo de quantias
apropriadas em condições razoáveis (taxas de juros e prazos), garantindo que
seus clientes não comprometam grande parcela de sua renda com um
financiamento que em determinado momento possa não ser honrado. Além disso,
esta prática envolve o aconselhamento financeiro do tomador, orientando-o a não
se expor a riscos financeiros desnecessários e inapropriados, considerando seus
objetivos de curto e longo prazos.
c) Microcrédito - A atividade de microcrédito é definida como aquela que, no
contexto das microfinanças, está voltada à concessão de crédito para o
financiamento de pequenos empreendimentos e diferencia-se dos demais tipos de
empréstimo em função, principalmente, da metodologia adotada, que pode ser
resumida na utilização de agentes de crédito, de garantia solidária e de prazos
curtos de financiamento. O conceito do microcrédito baseia-se na concessão de
financiamentos para classes de baixa renda que não têm acesso às linhas
tradicionais de crédito dos bancos.
29
d) Fundos Socialmente Responsáveis - Fundos socialmente responsáveis
são carteiras de ações compostas somente por títulos de empresas geridas de
acordo com as melhores práticas de governança e sustentabilidade corporativa.
Tais aplicações consideram que empresas sustentáveis geram valor para o
acionista no longo prazo, pois estão mais preparadas para enfrentar riscos
econômicos, sociais e ambientais, bom como mapear oportunidades.
e) Financiamentos Socioambientais - Lançamento de linhas de
financiamento com características específicas para projetos de natureza
socioambiental, oferecendo, por exemplo, taxas de juros mais atraentes, prazos
mais longos ou até mesmo descontos no valor do principal. A oferta destes
produtos diferenciados possibilita não somente a melhoria do desempenho
econômico-financeiro destas instituições (através do aumento de receitas), mas
também melhorias no meio ambiente e nas comunidades. Além disso, com a
crescente conscientização da sociedade com relação aos problemas
socioambientais atuais, como o aquecimento global, é provável que a demanda por
produtos deste tipo se torne maior futuramente.
f) Mercado de Carbono - Em 1997 foi firmado o Protocolo de Kyoto, no
âmbito da Convenção-Quadro do Clima nas Nações Unidas, com o objetivo de
colocar metas de redução das emissões de gases efeito estufa (GEE) por parte
dos países considerados mais poluidores. O Protocolo previu mecanismos de
mercado pelos quais poderia haver compensação eventual de metas de redução
não cumpridas, dentre os quais se destaca o Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo (MDL). O MDL incentiva o desenvolvimento sustentável em países em
desenvolvimento a partir da implantação de projetos que permitem a redução da
emissão de GEE, tais como substituição de combustíveis fósseis por energias
renováveis (como biomassa, etanol, etc), captação de metano em aterros
sanitários, florestamento e reflorestamento de áreas degradadas, entre outros.
g) Seguros Ambientais - O seguro ambiental é uma prática razoavelmente
nova no setor financeiro mundial, se mostrando mais presente em bancos
europeus. O produto consiste basicamente na cobertura de gastos gerados por
30
atividades poluidoras relacionadas, por exemplo, a danos e perdas causados a
terceiros, danos corporais e materiais, custo com limpeza e até mesmo custos
judiciais, que teriam um papel compensatório no evento de um acidente ambiental.
No entanto, no próprio ato de contratação, a atuação de consultores da instituição
seguradora já apontaria áreas problemáticas na empresa segurada, fazendo uma
avaliação precisa de seu risco ambiental e levantando possíveis ações que
poderiam já ser tomadas para mitigar este risco. Além disso, a seguradora também
pode monitorar o comportamento da segurada de forma a impedir que esta, em
algum momento, se engaje em atividades possivelmente causadoras de dano
ambiental.
h) Ecoeficiência - concilia o uso sustentável de recursos finitos com
eficiência produtiva e redução de custos. No caso dos bancos, a questão ganha
relevância principalmente no que diz respeito ao consumo de papel, por ser uma
atividade que possui um alto consumo deste produto, considerando as
necessidades de envio constante de correspondências bancárias (tais como
extratos, contas de cartão de crédito, saldos de investimento e materiais
promocionais), preenchimentos de formulários, impressão de relatórios e outras
atividades.
i) Critérios Socioambientais na Seleção de Fornecedores - Considerando o
grande número de fornecedores que atendem às instituições do setor financeiro, a
incorporação de aspectos sociais e ambientais na seleção de fornecedores torna-
se uma questão especialmente relevante.
j) Divulgação de Informações Relativas ao Desempenho Socioambiental - é
sua prática quanto à divulgação da sua performance socioambiental. Acredita-se
que a transparência da empresa quanto à sua conduta nestas duas dimensões é
um indicador do seu comprometimento para com o desenvolvimento sustentável.
k) Mudanças Climáticas - As principais oportunidades oriundas estão
relacionadas com novos produtos e nichos de atuação, como por exemplo,
financiamentos para projetos de energia limpa ou atividades relacionadas ao
mercado de carbono. Além destas oportunidades, as mudanças climáticas têm
31
também levado as empresas financeiras a reverem seus processos internos, de
forma a reduzirem seus impactos no meio ambiente, assim como se protegerem
de eventuais desastres naturais oriundos do aumento da temperatura global.
l) Segurança da Informação - A crescente virtualização do dinheiro está
possibilitando o aumento cada vez maior da quantidade de informações que os
bancos possuem acerca dos hábitos de consumo dos seus clientes. Embora este
movimento traga substanciais benefícios para as instituições e clientes do setor
financeiro, ele também representa uma grande ameaça para a privacidade dos
clientes. A transferência inapropriada destas informações para terceiros pode ter
consequências indesejadas, desde o seu uso para a oferta de outros produtos, até
o uso malicioso das informações para objetivos diversos, como clonagem de
cartões ou até mesmo roubos e sequestros.
m) Lavagem de Dinheiro - A questão de lavagem de dinheiro está
relacionada com a privacidade de informações e padrões éticos de atuação. Esta
questão ganha especial atenção em relatórios de responsabilidade socioambiental
estrangeiros, notadamente suíços, por estes terem sido alvos de críticas
internacionais ao facilitarem o trânsito de recursos de origem ilícita. No Brasil,
devido às freqüentes denúncias de corrupção nas diversas esferas da sociedade,
esta questão ganha considerável relevância. A prevenção contra a lavagem de
dinheiro é uma obrigação legal prevista na Lei 9.613/98.
Através do detalhamento de suas práticas, abrangência e complexidade, se
pode avaliar o grau de comprometimento da instituição financeira. Nem todas estão
no mesmo nível em termos de suas práticas, porém a preocupação existe, é
inadiável e consiste em encontrar saídas para a atividade econômica compatíveis
com uma visão lúcida do problema.
É importante salientar que as diferentes práticas não são opção de
marketing, embora eventualmente possam também se refletir nesse sentido. Casa
instituição tende a estabelecer critérios próprios, uma vez que estes dependerão
de diversas características da organização, como porte, perfil de clientes e
segmentos de atuação.
32
Abre-se, dessa maneira, um vasto campo para ofertar novos produtos aos
clientes que demonstrem o desejo de melhorar suas práticas ambientais. Ao
conhecê-los melhor, a instituição pode ir muito além daquelas ofertas
convencionais. Ela pode, por exemplo, detectar a necessidade do cliente, ou de um
grupo de cliente, de trocar seus equipamentos por outros de tecnologia mais limpa
e propor condições vantajosas para essa finalidade.
Os benefícios devem ocorrer para ambos os lados, uma vez que a
aplicação de critérios socioambientais por parte da instituição financeira visa
contribuir para o aperfeiçoamento geral das práticas e não gerar obstáculos. Se as
exigências são novas ou maiores, o objetivo é estreitar a parceria com o cliente de
modo a ajudá-lo a cumpri-las, e não impor regras inflexíveis.
33
CONCLUSÃO
O comprometimento com as futuras gerações e a segurança na
viabilização dos negócios acabou induzindo o mundo das finanças a pensar e agir
de forma sustentável. As consequências são vistas nas operações dentro do
mercado e em terceiros, como no setor produtivo, uma vez que estimula ações pró-
ativas nas cadeias setoriais.
A busca pela sustentabilidade nos negócios passa, também, pelo setor
financeiro. Com o conhecimento e os incentivos corretos, as instituições
financeiras podem desempenhar um papel decisivo na promoção da melhoria da
qualidade socioambiental.
Em linha com o desenvolvimento de novas políticas mundiais, as
instituições financeiras apresentaram uma evolução na direção da inclusão de
práticas sustentáveis em seus negócios.
Observou-se como a incorporação da sustentabilidade não pode ser
separada da missão das instituições, orientando os discursos corporativos e as
políticas em todas as suas áreas.
Apesar de todos os esforços realizados para melhorar a estrutura atual, é
essencial que a indústria financeira esteja ciente que o padrão de desenvolvimento
sustentável está longe de ser atingido e que é imprescindível uma transformação
de cultura, boas prática, transparência e boa governança para um futuro mais
promissor.
34
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2003.
37
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
SISTEMA FINANCEIRO 10
1.1 – Sistema Financeiro Nacional 10
1.1.1 – Definição 10
1.1.2 – Aspectos Históricos 10
1.1.3 – Estrutura 11
1.1.4 – Conselho Monetário Nacional (CMN) 12
1.1.5 - Banco Central do Brasil (BACEN) 15
CAPÍTULO II
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 17
CAPÍTULO III
SUSTENTABILIDADE NO SETOR FINANCEIRO 21
1.1 – Riscos e Oportunidades 24
1.2 – Práticas Sustentáveis 27
CONCLUSÃO 33
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 34
ÍNDICE 37
38
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes – Faculdade Integrada
AVM
Título da Monografia: Sustentabilidade nos Negócios do Setor Financeiro
Autor: Ingrid de Oliveira Martins da Cruz
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito: