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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A REVOLTA DA VACINA
PRELÚDIO À EDUCAÇÃO SANITÁRIA
Por Mônica de Oliveira Souza
Orientador
Professor Celso Sanchez
Rio de Janeiro
2005
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A REVOLTA DA VACINA
PRELÚDIO À EDUCAÇÃO SANITÁRIA
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como requisito parcial para obtenção do grau
de especialista em Docência do Ensino Superior.
Por Mônica de Oliveira Souza
AGRADECIMENTOS
Aos meus mestres do Projeto A Vez do Mestre pelos
preciosos ensinamentos. Aos meus colegas e amigos de
classe pela troca de experiências. Ao professor orientador
Celso Sanchez, pela atenção.
Aos meus familiares pela compreensão e paciência.
A Deus principalmente, pois sempre esteve
comigo em todos os momentos e nunca me
deixou esmorecer ante os obstáculos do caminho.
Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome, de raiva e de sede.
São muitas vezes gestos naturais (Caetano Veloso)
DEDICATÓRIA
Ao meu marido e familiares a quem privei
da minha atenção, quando da elaboração do presente
trabalho, com meu reconhecimento e gratidão.
Aos meus amigos que sempre torceram por mim.
6
RESUMO
No início do século XX o Rio de Janeiro vivia graves problemas
sociais decorrentes do acelerado e desordenados crescimento populacional.
A metrópole abrigava agora grande contingente de imigrantes
europeus e de ex-escravos atraídos pela oportunidade de trabalho assalariado.
Com a eleição de Rodrigues Alves para a Presidência da República,
a reurbanização e o saneamento ganham destaque em seu programa de
governo.
O médico, Oswaldo Cruz, nomeado para o saneamento, em 1904
institui a vacinação obrigatória na tentativa de expurgar a varíola da cidade,
doença que matava muitos habitantes na época.
A atitude autoritária do sanitarista provoca na população uma forte
resistência que culmina com centenas de mortos e feridos, além da devastação
da cidade do Rio de Janeiro.
Na formação da identidade nacional vemos vários períodos da
história onde a população não é levada em consideração, onde sua opinião não
tem relevância diante de decisões de cunho regional e ou nacional. Tais posições
são decididas pela minoria denominada elite e de acordo com seus interesses,
nem que para isso seja necessário o uso da força.
7
METODOLOGIA
A metodologia empregada no presente trabalho está baseada no
acervo bibliográfico que versa sobre o tema proposto.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................ 09
CAPÍTULO I ............................................. 10
CAPÍTULO II ............................................. 14
CAPÍTULO III ............................................. 18
CAPÍTULO IV ............................................. 22
CONCLUSÃO ............................................. 25
ANEXOS ............................................. 26
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ........................ 30
INDICE ............................................ 32
FOLHA AVALIAÇÃO ............................................ 33
9
INTRODUÇÃO
O Rio de Janeiro apresentava-se no inicio do século XX, como a
cidade de maior crescimento do país.
Quando Rodrigues Alves assumiu o governo em 1902, enveredou por
um programa intensivo de obras públicas no Rio de Janeiro, financiado por
recursos externos.
O Presidente deu inicio ao seu projeto de reformas convidando para o
cargo de prefeito do Rio de Janeiro o engenheiro Pereira Passos e o médico
Oswaldo Cruz que foi nomeado diretor de Serviço de Saúde Pública, dando-lhe
plenos poderes para tratar da política de saúde pública
Em novembro de 1904 dada a divulgação do projeto de Lei que
tornava obrigatória a vacina contra a varíola, a cidade se transformou em uma
verdadeira praça de guerra.
Com medidas impopulares e polêmicas, Oswaldo Cruz, além de ter
sido o responsável pela estruturação da saúde pública no Brasil, foi quem saneou
o Rio de Janeiro, apesar da oposição da mídia e da manifestação popular, que
ficou conhecida como a Revolta da Vacina.
A Revolta da Vacina, ocorrida num momento decisivo de
transformação da sociedade brasileira nos fornece uma visão particularmente
esclarecedora de alguns elementos estruturais que preponderam em nosso
passado recente. O autoritarismo da elite médica trouxe as medidas sanitárias,
porém não houve preocupação em educar o povo quanto à importância do
saneamento.
A rebelião contra a vacina surge num contexto em que as camadas
mais baixas da população, sobrevivendo de forma miserável, utilizavam o
“quebra-quebra” como forma de fazer valer os seus interesses.
10
CAPÍTULO I
1.1 O RIO DE JANEIRO NO INICIO DO SÉCULO XX
O Rio de Janeiro apresentava-se, no início do século, como a cidade
de maior crescimento do país. Em 1890 viviam aproximadamente 522.651
pessoas. Em 1906 esta população já atingia a cifra de 811.443 habitantes. O Rio
de Janeiro, nesta época, era a única cidade do país com mais de 500.000
habitantes.
A cidade passara a receber grandes contingentes de imigrantes e de
ex-escravos. Do interior vinham as novas famílias da elite rural à procura do
conforto e do estilo de vida cosmopolita que o mundo urbano oferecia.
O Rio de Janeiro neste período, ainda portava a mesma infraestrutura
urbanística e de saneamento herdada do período colonial. O crescimento da
população exigia remodelações para a cidade.
A cidade já era maravilhosa, mas a falta de saneamento básico e as
péssimas condições de higiene faziam da mesma um foco de epidemias,
principalmente febre amarela, varíola e peste, o que prejudicava muito as
relações comerciais do estado.
Grande parcela da população pobre, desempregada ou
subempregada, habitava a zona central da cidade. Isto se devia à geografia
acidentada e às dificuldades econômicas, que os impossibilitavam de residir em
locais distantes de onde conseguiam suas formas de sobrevivência.
Sobrevivendo muitas vezes de forma caótica e insalubre, iam de encontro aos
padrões estéticos e higiênicos da nova elite urbana, que, inspirada no modo de
vida europeu, não suportava seus tão desagradáveis vizinhos.
11
1.2 A ELEIÇÃO DO PRESIDENTE RODRIGUES
ALVES
A eleição do terceiro paulista a ocupar a Presidência da República,
Rodrigues Alves, ocorreu em total harmonia e tranqüilidade.
O novo presidente recolheu os benefícios da política dos governadores
adotada pelo antecessor Campos Sales. Chegou a eleição sem adversários ou
opositores ao lado de seu vice, Afonso Pena.
Rodrigues Alves assumiu o governo vendo seu antecessor sair do Rio
sob imensa vaia popular que ecoava ao longo das estações da Central. O
governo de Campos Sales tinha sido de recessão econômica produzida por uma
política de combate à inflação que se caracterizava pela redução do meio
circulante, pela contenção drástica dos gastos do governo e pelo aumento de
impostos, especialmente através da tarifa-ouro sobre os produtos de importação.
Paulista de Guaratinguetá, de poderosa família de latifundiários, Alves
assumiu a Presidência decidido a transformar a capital federal, o Rio de Janeiro,
em cartão de visitas para o capital estrangeiro e para isso não mediria esforços.
1.3 O PLANO DE GOVERNO
Quando Rodrigues Alves assumiu o governo em 1902, enveredou por
um programa intensivo de obras públicas do Rio de Janeiro. Deu especial
atenção às obras de saneamento e reforma urbana da cidade.
As proposições do governo da capital, procurando criar uma disciplina
regularizadora dos usos da cidade, já se faziam notar desde o Segundo Reinado.
Em 1832, a Câmara Municipal sancionou um código que tinha como objetivo
regulamentar às construções, a polícia e a segurança, procurando organizar a
vida da cidade dentro de uma nova estética e de novos hábitos morais
12 necessários à convivência urbana. Entretanto, as grandes transformações da
cidade do Rio de Janeiro só iriam se materializar a partir de 1903, no quadriênio
Rodrigues Alves.
Rodrigues Alves nomeou o engenheiro Pereira Passos para prefeito
do Rio de Janeiro e o médico Oswaldo Cruz foi nomeado diretor do Serviço de
Saúde Pública.
O Presidente tratou de pôr em prática planos de saneamento e
urbanização do Rio de Janeiro. Apesar da “boa vontade” do governo, as medidas
tomadas seguiram as orientações autoritárias características deste período dos
governos oligárquicos.
Em seu governo foram feitas obras de saneamento e embelezamento
da cidade. Muitas famílias tiveram seus cortiços desocupados e a conseqüente
mudança para os morros (favelas).
Sem entender o alcance e a eficácia das medidas, a população reage
a elas. A remoção dos moradores dos cortiços e morros centrais para bairros
distantes provoca grande tensão na capital. Nesse cenário Oswaldo Cruz
assumia a Diretoria Geral de Saúde Pública, cargo que, na época, equivalia ao
de ministro da Saúde. Enquanto o prefeito Pereira Passos realizava o “Bota
Abaixo”, como ficou conhecida a reforma da cidade, Oswaldo Cruz transformou o
Rio em um gigantesco laboratório de combate às doenças, implantando métodos
revolucionários.
Oswaldo Cruz atacou a febre amarela por dois lados: pela extinção
dos mosquitos e pelo isolamento dos doentes em hospitais. A seguir voltou-se
para a peste bubônica, cujo combate exigia a exterminação de ratos e pulgas e a
limpeza e desinfecção de ruas e casas. Para isso foi necessário que brigadas
sanitárias percorressem ruas e visitassem casas, desinfetando, limpando,
exigindo reformas, interditando prédios, removendo doentes..
Em 1904, o diretor do serviço de saúde pública combatia a febre
amarela. Os casos de varíola começaram a crescer assustadoramente na capital.
Em meados do ano, o número de internações no Hospital de Isolamento São
Sebastião chegava a 1.761. Para enfrentar a epidemia, em 29 de junho de 1904,
13 a Comissão de Saúde Pública do Senado apresentou ao Congresso projeto de
lei reinstaurando a obrigatoriedade da vacinação, o único meio profilático real
contra a varíola, em todo o território nacional. Figuravam no projeto cláusulas
draconiana que incluíam multa aos refratários e a exigência do atestado de
vacinação para matrículas nas escolas, empregos públicos, casamentos e
viagens.
14
CAPÍTULO II
2.1 O SANITARISTA OSWALDO CRUZ
Oswaldo Gonçalves Cruz nasceu em 5 de agosto de 1872 em São
Luís de Paraitinga, São Paulo, Filho do médico brasileiro Bento Gonçalves Cruz e
de Amália Bulhões Cruz. Ainda criança mudou-se para o Rio de Janeiro e em
1892, formou-se doutor em Medicina com a tese A veiculação microbiana pelas
Águas . Quatro anos depois, realizou seu grande sonho: especializar-se em
Bacteriologia no Instituto Pasteur de Paris, que reunia os grandes nomes da
ciência na época.
Ao voltar da Europa, Oswaldo cruz encontrou o porto de Santos
assolado por violenta epidemia de peste bubônica e logo se engajou no combate
à doença. Face à ameaça da peste chegar ao Rio de Janeiro, foi criado, a 25 de
maio de 1900, o Instituto Soroterápico Federal, com objetivo de fabricar o soro
antipestoso. Como diretor geral, o Barão de Pedro Afonso, e diretor técnico o
jovem bacteriologista. Em 1902, assumiu a direção geral do novo Instituto, que
ampliou suas atividades, não mais se restringindo à fabricação de soros, mas
dedicando-se também à pesquisa básica e aplicada e à formação de recursos
humanos.
No Instituto Soroterápico Nacional, ali, com seus jovens e entusiasmos
colegas, promoveu uma verdadeira revolução. Em Manguinhos, Oswaldo Cruz
não era apenas o pesquisador, era também o administrador incansável. Seus
discípulos o respeitavam e o admiravam.
15
2.2 A NOMEAÇÃO NO GOVERNO RODRIGUES
ALVES
Ao assumir a Presidência da República, Rodrigues Alves nomeou
Oswaldo Cruz para a Diretoria Geral de Saúde Pública. Recentemente, este
substituíra o barão de Pedro Affonso na direção do Instituto Soroterápico Federal
após intensas polêmicas internas.Ao assumir os serviços de higiene, em março
de 1903, Oswaldo Cruz procurou reestrutura-los tendo como principio básico a
sua centralização, procurando alterar a fragmentação existente até então.
Tendo a seu favor o fato de os serviços de higiene da capital estarem
nas mãos do governo federal, Rodrigues Alves deu inicio ao processo de
saneamento junto com o jovem médico cujo cargo de jurisdição federal que pela
lei de 1892 se responsabilizava pela área de saúde no município.
Em 1903, o Rio de Janeiro era conhecido como o “túmulo dos
estrangeiros”. A bela capital federal, pérola do Atlântico, era na verdade a capital
da febre amarela, da malária, da varíola, da peste bubônica e de uma série de
outros males. O visitante ali encontrava ruas estreitas, estábulos e cortiços
imundos. Proliferavam os quiosques – parecidos com os que hoje vendem água
de coco nas praias – sem a menor condição de higiene, vendendo comida,
guloseimas e bebidas. O calor sufocante, as ruas sujas e atravancadas, todo tipo
de inseto, buracos, poças, cães vadios e o ar pestilento afugentavam turistas e
imigrantes. E não existia família que não tivesse perdido parentes devido às
doenças infecciosas que se alastravam pela cidade.
Em um momento onde tudo se modernizava, não era possível que se
continuasse a viver numa cidade suja e mal dividida, onde a fina flor da
sociedade era obrigada a conviver com desagradáveis personagens mal
trajados e sem educação. Era necessário reformar a cidade; criar amplas vias de
circulação, com uma arquitetura à altura dos novos padrões; acabar com as
doenças, que não escolhiam suas vítimas, atacando até os mais ricos.
16 Foi nesse clima que o presidente Rodrigues Alves, empenhado na
remodelação do Rio de Janeiro, resolveu atacar uma questão fundamental, o
saneamento básico, com prioridade de erradicar a peste bubônica, a varíola e a
febre amarela. E o nome mais indicado para essa tarefa era Oswaldo Cruz.
2.3 AS MEDIDAS DE SANEAMENTO POR
OSWALDO CRUZ
A primeira ação empreendida por Oswaldo Cruz foi procurar dar fim à
epidemia de febre amarela então reinante. Surgida no Rio em 1849, a doença
atacava com maior intensidade nos meses de verão, causando grande número
de mortes pela facilidade de contágio e pelo desconhecimento de uma forma
eficiente de prevenção.
Oswaldo Cruz iniciava suas campanhas com mão de ferro, em moldes
militares, dividindo a cidade em 10 distritos sanitários, cada qual chefiado por um
delegado de Saúde. Brigadas sanitárias, acompanhadas de policiais, percorriam
a cidade, invadindo casas, interditando prédios, removendo doentes à força.
Somente no primeiro semestre de 1904, foram feitas 110.224 visitas
domiciliares, com 12.971 intimações a 62 interditos. O regulamento sanitário de
Oswaldo Cruz – logo apelidado de Código de Torturas - interferia diretamente na
vida da população que, já ao massacrada pelo custo de vida e sem moradia pela
reforma urbana, via-se agora tolhida no exercício de seus subempregos.
A segunda epidemia combatida por Oswaldo Cruz foi a da peste
bubônica. Esta não suscitava dúvidas quanto às formas de contágio e profilaxia a
serem adotadas, sabendo-se que a contaminação se fazia através da picada de
pulgas que se infectavam com ratos pestosos. Pela sua forma de contágio, a
peste bubônica se concentrava principalmente nas áreas mais pobres do centro,
onde a população vivia amontoada em cortiços e casas de cômodos, que devido
17 ao grande número de pessoas que abrigavam, não contavam com nenhuma
possibilidade de higiene.
Em 1904, uma epidemia de varíola assolou a capital. Somente nos
cinco primeiros meses, 1800 pessoas tinham sido internadas no Hospital São
Sebastião. Embora uma lei prevendo a imunização compulsória das crianças
contra a doença estivesse em vigor desde 1837, estendendo-se, em 1846, aos
adultos, ela nunca fora cumprida, quer por falta de condições políticas e técnicas
(sua produção em escala industrial no Rio de Janeiro só começou em 1884), que
pelo horror que a maioria da população nutria à idéia de se deixar inocular com o
vírus da doença.
Para dar fim a essa situação, o governo federal mandou para o
Senado, em 29 de junho de 1904, um projeto de lei reafirmando a
obrigatoriedade da vacinação e revacinação contra a varíola. Este projeto gerou
uma intensa campanha de oposição no Senado.
Enquanto o projeto era discutido e combatido, Oswaldo Cruz à frente
da Diretoria Geral de Saúde Pública ia empregando as medidas profiláticas
habituais (o isolamento e a desinfecção), porém insuficientes para controlar a
epidemia. A vacina, somente era aplicada quando o doente e sua família
permitiam. Essas permissões, contudo, diminuíam progressivamente à medida
que se fortalecia a campanha capitaneada pela Liga contra a Vacina Obrigatória,
formada por diferentes segmentos sociais.
A discussão na Câmara quanto à obrigatoriedade da vacina, foi
bastante polêmica, sendo ressaltada por Barbosa Lima, contrário à vacinação
obrigatória, a discordância entre os próprios médicos quanto à sua indicação.
Em várias charges publicadas na imprensa ilustram-se as discussões travadas
na Câmara.
Além de suscitar violentos debates no Congresso, a proposta da
comissão de saúde gerou um clima de intensa agitação social. A lei que tornava
obrigatória a vacinação antivariólica foi aprovada em 31 de outubro e
regulamentada nove dias depois, abrindo caminho para a Revolta da Vacina.
18
CAPÍTULO III
3.1 A VACINA OBRIGATÓRIA
A vacina antivariólica era coisa antiga no Rio de Janeiro. Fora
introduzida no Brasil em 1804, logo depois de sua descoberta pelo Dr. Edward
Jenner, tornando-se obrigatória a partir de 1837.
Mesmo antes de o projeto de regulamentação da lei de vacinação ter
chegado à imprensa, o reflexo das acaloradas discussões sobre o projeto vividas
no Congresso passou às ruas.
Durante uma semana, milhares de pessoas saíra às ruas para
protestar, enfrentando forças da polícia e do exército.
Os defensores da vacina obrigatória e do Código Sanitário,
argumentavam que a vacinação havia sido implantada anteriormente em países
como Alemanha (1875), Itália (1888) e França (1902), com sucesso. Já os
opositores argumentavam que os métodos de aplicação da vacina eram
truculentos e seus aplicadores demonstravam brutalidade no trato das pessoas.
Além disso não confiavam na qualidade da vacina..
O combate à varíola dependia da vacina. Seu uso já fora declarado
obrigatório no século XIX por leis jamais cumpridas.
A maioria não era exatamente contra a vacina, mas contra a sua
obrigatoriedade. Defendia que cada um optasse por tomar ou não a vacina. O
decreto impunha que as brigadas sanitárias entrassem nas casas e vacinassem
as pessoas à força. A reação da população foi imediata. Os pais de família não
admitiam que suas esposas e filhas mostrassem as coxas ou os braços aos
19 funcionários da saúde. Além disso, temiam-se os eventuais efeitos negativos do
líquido injetado.
O fator imediatamente deflagrador da Revolta da Vacina, foi a
publicação, no dia nove de novembro de 1904, do decreto de regulamentação da
aplicação da vacina obrigatória contra a varíola. A Revolta da Vacina paralisou a
cidade por mais de uma semana.
3.2 A AGITAÇÃO POPULAR – A REVOLTA DA
VACINA
A regulamentação foi publicada no dia nove de novembro, e já no dia
dez as agitações se iniciavam com toda a fúria que as caracterizaria.
A reação foi violenta, o povo tomou as ruas, as multidões se agitavam.
Os integrantes da Liga Contra a Vacina Obrigatória, que tanto insuflaram a
multidão a se rebelar, marcaram um comício para a manhã do dia 11. Ao
perceber que haviam perdido o controle da manifestação popular, decidiram não
aparecer. Gestos solitários, discursos espontâneos e gritos de revolta surgiram
da multidão descontrolada. Do dia 10 ao dia 12, a cidade era sacudida por
choques entre a polícia e a população, passeatas e comícios.
No dia 13, estourava realmente a rebelião, com o povo ocupando os
pontos centrais da cidade, construindo trincheiras e enfrentando a polícia a tiros.
No dia seguinte, os combates iniciaram-se cedo e espalharam-se por outros
bairros.
Grandes ajuntamentos se acumulavam na Rua do Ouvidor, Praça
Tiradentes e Largo de São Francisco, onde oradores populares vociferavam
contra a lei e o regulamento da vacina, levando o povo à rebeldia. A polícia,
informada e com determinações expressas de proibir e dispersar quaisquer
reuniões públicas, tratou de prender os oradores improvisados, sofrendo então a
resistência da população, que atacava a pedradas.
20 Carroças e bondes foram tombados e incendiados, lojas saqueadas,
postes de iluminação destruídos. Pelotões policiais disparavam contra a
multidão; eram muitos os mortos e feridos. Durante uma semana o centro da
cidade virou uma praça de guerra.
As autoridades perderam completamente o controle da região central
e dos bairros periféricos, densamente habitados por grupo populares, como a
Saúde e a Gamboa. As tropas eram sumariamente expulsas dessas regiões.
Os manifestantes enfrentavam a polícia armados com o que viam pela
frente – em geral, o próprio material usado na reforma das avenidas, pedras,
vigas, ferros e ferramentas. Entre gritos de pânico e dor, a massa entoava
palavras de ordem contra o governo, a vacina obrigatória e a polícia.
3.3 UM OUTRO MOVIMENTO ACONTECE
O motim popular criara as condições ideais para um movimento de
outra natureza – um levante militar -, com o objetivo de depor o presidente
Rodrigues Alves. Partindo da escola Militar da Praia Vermelha, sob a liderança
do general Travassos, comandantes de alta patente aliaram-se aos revoltosos e
armaram um golpe de estado.
O episódio da Revolta da Vacina não deve ser reduzido a uma
simples reação das massas incivilizadas à imposição irreversível da razão e do
progresso, como pretendeu a literatura oficial da época. Ela reuniu forças sociais
extremamente dispares e consistiu, de fato, em duas rebeliões superpostas: um
grande motim popular contra a vacina obrigatória, que eclodiu em 10 de
novembro, paralisando a cidade por uma semana; e uma insurreição militar,
deflagrada em 15 de novembro, com a finalidade de depor o Presidente
3.4 O RIO DE JANEIRO EM ESTADO DE SÍTIO
21
Em 17 de novembro foi decretado estado de sítio no Rio de Janeiro. A
Escola Militar foi fechada. Rodrigues Alves revogou a lei que tornava a vacina
obrigatória e autorizou que os institutos de vacinação imunizassem apenas os
que desejassem.
A cidade ressurge da revolta irreconhecível. Calçamentos revolvidos,
casas ruídas, janelas estilhaçadas, portas arrombadas, trilhos arrancados,
crateras de dinamites, lâmpadas quebradas, postes, bancas, relógios
arrancados, perfurações de bala por toda a parte, cavalos mortos, manchas de
sangue e cinzas fumegantes.
O estado de sitio aprovado pelo Congresso durante a rebelião deu
condições ao governo de mover a mais intensa e cruel repressão contra os
acusados de envolvimento na rebelião. Sem direito a processo ou a qualquer tipo
de defesa, os acusados eram presos na Ilha das Cobras, mantidos nas
condições mais miseráveis possíveis, e depois enviados para o território do
Acre, em condições tão precárias que muitas vezes não chegavam ao seu
destino com vida.
O saldo da revolta foi de 23 mortos, 67 feridos e 945 presos. Quase a
metade dos prisioneiros foi submetida a trabalhos forçados.
A violência da repressão serviria de exemplo intimidativo contra
protestos urbanos.Não foi à toa que a rebelião contra a vacina obrigatória foi o
último movimento desse tipo ocorrido no Rio de janeiro no inicio do século.
Apesar de promulgada, a legislação que regulava a obrigatoriedade
da vacina não foi implementada devido à reação social. Posteriormente, no
entanto, sua aplicação foi reclamada, certamente após a constatação da eficácia
das medidas sanitárias propostas.
Oswaldo Cruz continuou em seu cargo, gozando da confiança do
presidente, mas perdeu a batalha contra a varíola. Em 1908, um novo surto de
varíola acometeria mais de nove mil pessoas na cidade, o que levou a população
em massa para os postos de vacinação.
22
CAPÍTULO IV
4.1 EDUCAÇÃO EM SAÚDE
A educação sanitária no Brasil foi influenciada, no começo do séc. XX,
pela concepção de educação em saúde que norteava os países da Europa e em
especial pelas idéias norte americanas.
No inicio do século, o Brasil passava por transformações econômicas
e sociais importantes iniciando um processo de industrialização precária, com
aumento do comércio internacional e com correntes imigratórias que
aumentavam o contingente populacional das cidades. Estes são alguns dos
fatores que contribuíram para tornar complexa a estrutura social do país.
Para agravar o quadro, com o aumento da população urbana e as
precárias condições de vida, o Brasil enfrentava, neste período, uma grave crise
sanitária.
No Rio de Janeiro, o Drº Osvaldo Cruz tentava controlar essa situação
através da chamada polícia sanitária, a qual obrigava as pessoas a receberem
as vacinas, tentando assim manter o controle. Nos casos mais graves utilizava o
confinamento sanitário.
A higienização dos portos e da cidade consistia em principal alvo para
o controle das endemias, com o desenvolvimento do capitalismo, o Estado sente
a necessidade de se reaparelhar para as novas exigências de uma sociedade
que está em constante mudança, surge assim, uma preocupação com o educar
para a vida e para a saúde.
Nota-se que essas mudanças na maneira de conceber a educação e
a saúde, estão diretamente ligadas com a manutenção da força do trabalho e de
um bom relacionamento com o comércio internacional.
Como os profissionais da saúde, mais especificamente os médicos,
eram reciclados nos Estados Unidos, torna-se evidente a influência norte-
americana na concepção de educação em saúde que norteavam essas
23 atividades no Brasil, não somente no início do século, mas podemos dizer que
até nos dias atuais.
Em 1919, o termo educação sanitária é proposto numa conferência
internacional sobre a criança, sediada nos Estados Unidos. As noções de
higiene agora são propostas através de medidas preventivas, imunizações e
cuidados individuais na prevenção. A educação sanitária começa a fazer parte
de currículos e programas de ensino, também no Brasil.
Na década de 20, os serviços de saúde pública, que tinham como
objetivo o controle do ambiente, na proposta de Emílio Ribas e Osvaldo Cruz,
passam por uma reformulação ocasionada pelas mudanças das necessidades
que a sociedade apresentava e o enfoque volta-se à educação em saúde.
Contudo, necessitava-se de pessoal preparado para atuar nas medidas de
saúde que vinham sendo tomadas pelo Departamento Nacional de Saúde
Pública, principalmente no controle das endemias que se instalavam no país e
atingiam grande parte da população.
Neste período, o Departamento Nacional de Saúde Pública,
juntamente com a Fundação Rockfeller, organizou um serviço de enfermeiras de
Saúde Pública, sob a direção de enfermeiras norte-americanas. É criada a
Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública-DNSP, pelo
Decreto 15.799, de 10 de novembro de 1922, que em 1926 passou a denominar-
se Escola de Enfermeiras Dona Anna Nery, no Rio de Janeiro.
Nos anos 70, muitos acontecimentos no Brasil irão influenciar e fazer
repensar a prática de educação em saúde. Pode-se dizer que a mudança de
concepção e a maneira de realizar educação em saúde, teve início em 1975,
com o fim do chamado "Milagre Brasileiro". Para diminuir as tensões sociais
geradas pelo modelo econômico e pela crise que passa o País, o discurso oficial
incorpora a participação comunitária.
Era necessário pensar a educação e a saúde não mais como uma
educação sanitarizada, localizada no interior da saúde, ou ainda educação para
a saúde, como se a saúde pudesse ser um estado que se atingisse depois de
educado.
24 A ordem era agora recuperar a dimensão da educação e da saúde-
doença e estabelecer as articulações entre esses dois campos e os movimentos
sociais, e percebê-las como práticas sociais articuladas.
25
CONCLUSÃO
Entrevendo a capitalização em muitos momentos as autoridades
tomam medidas onde não há nenhuma preocupação com o povo. No movimento
popular relatado vimos que falta de comunicação clara culminou numa das
rebeliões mais violentas da história.
A insurreição não foi apenas contra a obrigatoriedade da vacina
antivariólica, tratou-se de um movimento que impulsionou um novo
comportamento social.
Entender a inserção da educação em saúde é compreender que a
educação e a saúde são práticas sociais, que se articulam, e se modificam
conforme as diferenças sociais, econômicas e culturais. Portanto, faz-se
necessário repensarmos a nossa prática, como cidadãos na profissão docente.
A Revolta da Vacina foi um episódio onde podemos vislumbrar as
primeiras manifestações de cidadania, percebidas quando o povo se faz
presente ao não ceder pacificamente as arbitrariedades do governo.
26
ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 >> Fotos e Charges da Revolta da Vacina
Anexo 2 >> Comprovantes de atividades culturais
27
ANEXOS I
Charges diárias na imprensa, canções com letras maliciosas,
quadrinhas.
Quebra-quebra da Revolta da Vacina
Manifestantes viram um bonde,
na Revolta da Vacina.
Cartum publicado na época retrata o clima de guerra na
época.
28
ANEXOS II
29
30
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BENCHIMOL, J.L. Febre amarela: a doença e a vacina, uma história
inacabada. 20º ed. Ed. Fiocruz., 2000.
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a
República que não foi. 3ª ed. Ed. Cia das Letras. 1987.
ENCICLOPÉDIA< http://www.enciclopedia.com.br/MED2000/pedia98
a/hist2m9ihtm> Acessado em 30 de setembro 2005.
EPOCA< http://epoca.globo.com/especiais/rev500anos/vacina.htm >
Acessado em 15 de outubro 2005.
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31
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TEIXEIRA, Luiz Antonio da Silva. A rebelião popular contra a vacina
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32
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
EPÍGRAFE 4
DEDICATÓRIA 5
RESUMO 6
METODOLOGIA 7
SUMÁRIO 8
INTRODUÇÃO 9
CAPÍTULO I
1.1 – O Rio de Janeiro no início do séc. XX 10
1.2 – A eleição do Presidente Rodrigues Alves 11
1.3 – O Plano de Governo 11
CAPÍTULO II
2.1 – O Sanitarista Oswaldo Cruz 14
2.2 – A nomeação no Governo Rodrigues Alves 15
2.3 – As medidas de saneamento por Oswaldo Cruz 16
CAPÍTULO III
3.1 – A vacina obrigatória 18
3.2 – A agitação popular – A Revolta da Vacina 19
3.3 – Um outro movimento acontece 20
3.4 – O Rio de Janeiro em estado de sítio 20
CAPÍTULO IV
4.1 – Educação em saúde 22
CONCLUSÃO 25
ANEXOS 26
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 30
ÍNDICE 32
FOLHA DE AVALIAÇÃO 33
33
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A Revolta da Vacina – Prelúdio à educação sanitária
Orientador: Professor Celso Sanchez
Por Mônica de Oliveira Souza
Entregue em 28 de janeiro de 2006
Avaliado por: _____________________________________
Conceito: _________________