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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE A MÚSICA COMO FERRAMENTA DA PRÁTICA PSICOPEDAGÓGICA Por Helen Silveira Jardim Rio de Janeiro 2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

A MÚSICA COMO FERRAMENTA DA PRÁTICA

PSICOPEDAGÓGICA

Por

Helen Silveira Jardim

Rio de Janeiro 2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

A MÚSICA COMO FERRAMENTA DA PRÁTICA

PSICOPEDAGÓGICA

Trabalho apresentado ao projeto vez do mestre como requisito parcial para obtenção do título de especialização em Psicopedagogia.

Por Helen Silveira Jardim

Orientadora Maria Esther de Araújo Oliveira

Rio de Janeiro 2004

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a Deus, pois ele é o meu criador, me deu talento e dom

musicais e também na área educacional. Aos meus pais por me proporcionarem o

melhor que puderam em termos de educação. Ao meu querido irmão Hebert e ao

meu noivo Alex Sandro por todo apoio dado e pela paciência nos momentos de

tribulação. À minha querida amiga, companheira de estudos e, acima de tudo, irmã

em Cristo, Lucianete Laia Barreto.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela possibilidade de existir e realizar este trabalho. Aos

meus professores desta pós-graduação que me inspiraram de forma psicopedagógica

e a todos os professores que participaram da minha formação pedagógica na

Universidade Gama Filho e da minha formação musical na Universidade Federal do

Rio de Janeiro, especialmente à professora Patrícia Bretas que se tornou uma grande

amiga, além de ser minha irmã em Cristo. Faço menção também à minha querida

igreja, a Segunda Igreja Batista em Pavuna que, com amor e carinho, custeou este

curso de especialização e agradeço as orações do meu Pastor Eliezer Ferreira Vita e

família.

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RESUMO

A questão da música como ferramenta da prática psicopedagógica é de grande

valia para a Educação, pois ela é um recurso que auxilia a minimizar e a prevenir os

distúrbios de aprendizagem, em linhas gerais, com êxito. Logo, é necessário um

processo de conscientização dos psicopedagogos acerca do poder da música, seus

benefícios e sua importância para os construtores da aprendizagem, ou seja, para os

educandos; a reflexão sobre as técnicas, metodologias, instrumentos que poderão

estar disponíveis e coerentes com a singularidade de cada situação, também é fator

essencial. Para que o propósito desta temática fosse realizado de maneira consistente

e com o devido aprofundamento, a pesquisa bibliográfica foi a melhor forma de

investigação, porque possibilitou estabelecer articulações entre as mais diversificadas

áreas do conhecimento que perpassassem pelo assunto em questão. Os principais

aspectos do trabalho são: as abordagens históricas acerca da música, as contribuições

de teóricos da Psicanálise, Psicologia e Educação Musical, a descrição dos elementos

que formam a música e da relação de benefícios que a mesma proporciona ao ser

humano e, como ponto culminante, apresenta-se a relação entre a música e a prática

psicopedagógica. Os resultados alcançados consistiram num levantamento das

variadas definições sobre a música, das suas funções sociais e das modificações da

Pedagogia Musical. Propiciou-se a interpretação das teorias de Winnicott, Maslow e

Dalcroze e do significado dos componentes musicais para a Psicopedagogia.

Apresentou-se os benefícios da música e defendeu-se a sua aplicação na

Psicopedagogia tanto Institucional e quanto Clínica.

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METODOLOGIA

A Metodologia eleita para desenvolver este trabalho foi a pesquisa

bibliográfica porque esta viabiliza que se conheça a fundo o assunto em que se está

investigando, privilegiando assim a busca de dados.

Foram utilizados como fontes de consulta e referencial bibliográfico livros de

leitura corrente, de referência informativa e, no caso deste trabalho, dicionário e

almanaque; impressos diversos, tais como dissertação de doutorado, artigos de sites e

revistas on line especializados em Música, Musicoterapia e Psicopedagogia e outras

páginas e trabalhos científicos disponíveis na Internet.

Com relação à organização do trabalho, preferiu-se iniciar a monografia com

um intenso arcabouço teórico para fundamentar o que se estava pesquisando: a

música na Psicopedagogia. Por isso, analisar os conceitos sobre a música, suas

funções sociais e as mudanças ocorridas na Pedagogia Musical foi fundamental para

se obter uma amplitude da visão histórica; para ampliar o campo teórico; a fim de

unir Psicanálise, Psicologia e Educação, buscou-se as contribuições de Winnicott,

Maslow e Dalcroze. Como a música é a junção de vários elementos, depois do plano

da teoria, o trabalho conduz ao conhecimento da estrutura formal da música

realizando também um olhar psicopedagógico sobre ela.

Após esta exposição, relacionar os benefícios que a música proporciona ao

ser humano é essencial para justificar o seu uso na prática psicopedagógica e, para

finalizar, fez-se menção sobre o uso da música na prática psicopedagógica com a

sugestão de atividades que pudessem promover satisfatoriamente esta interseção.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................... 7 1. ABORDAGENS HISTÓRICAS SOBRE A MÚSICA...................................... 9 2. CONCEPÇÕES PSICANALÍTICA, PSICOLÓGICA E

EDUCACIONAL SOBRE A MÚSICA............................................................. 26 3. A MÚSICA E SEUS ELEMENTOS................................................................... 34 4. OS BENEFÍCIOS DA MÚSICA PARA O SER HUMANO............................ 44 5. A MÚSICA NA PRÁTICA PSICOPEDAGÓGICA......................................... 51

CONCLUSÃO..................................................................................................... 59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 61 ÍNDICE................................................................................................................ 63

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INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como temática a música enquanto ferramenta no processo

de intervenção psicopedagógica, a fim de provar a sua eficiência para os educandos

normais e também para os portadores de distúrbios de aprendizagem, em linhas

gerais, ou seja, não se irá especificar o(s) problema(s).

A origem da problemática em questão se deu principalmente por intermédio

de um fato social: cada vez mais cresce o número de estudantes que vêm

apresentando dificuldades de aprendizagem. Isso certamente é dum dos resquícios

das conturbações do mundo moderno fundamentalmente nos âmbitos social, familiar

e institucional - escolar. Claro que também se pode incluir algum evento

psicanalítico que esteja ocorrendo: numa ação psicopedagógica, atender aos desejos,

às necessidades e respeitar as singularidades dos indivíduos constituem-se num dever

muito árduo, pois existem inúmeros instrumentos que podem auxiliar, isto é, dar

suporte às atividades desenvolvidas no âmbito psicopedagógico. Neste sentido,

acredita-se que a música pode ser a catalisadora de um tratamento psicopedagógico e

também do processo educativo, pois ela é uma linguagem do inconsciente e afetivo-

emocional, universal e social; também não seria ousadia afirmar que é a arte das

artes, tendo certamente o maior grau de aceitação e receptividade em qualquer

sociedade.

O único animal que tem a habilidade para se expressar dispondo da arte é o

homem, sendo que a música é uma das artes que está presente no mundo desde a

existência do primeiro ser humano da face da Terra. Através dela as pessoas podem

se comunicar com o mundo, expressar-se corporalmente, desenvolver o ritmo, a

coordenação motora, estimular a criatividade e a imaginação, refinar a sensibilidade,

investigar conteúdos psíquicos inconscientes, entre outras beneficies que serão

comentadas e especificadas no decorrer deste trabalho.

O propósito do mesmo consiste em levantar dados para então justificar a

utilização da música na prática psicopedagógica, avaliando ou intervindo, no campo

institucional ou clínico. Tem também como objetivo conscientizar os

psicopedagogos a respeito das contribuições da música para a aprendizagem e

reeducação, levando-os a pensar acerca de suas práticas - se estão variando os

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instrumentos, ferramentas e metodologias adotadas, se conhecem a importância da

música, se já a utilizaram entre outros, promovendo assim uma modificação ou

inovação de suas ações.

Com base na reflexão dos referenciais teóricos oriundos essencialmente da

Música, Musicoterapia, Pedagogia, Psicologia da Aprendizagem, Educação Musical,

Didática, Psicopedagogia, Psicanálise e Neurobiologia, este trabalho monográfico foi

viabilizado através da pesquisa bibliográfica com a finalidade de examinar

minuciosamente o assunto tratado, no intuito de contribuir satisfatoriamente para a

transformação, renovação e criação de uma prática psicopedagógica atual,

proporcionando musicalidade para a mesma.

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1. ABORDAGENS HISTÓRICAS SOBRE A MÚSICA

Para melhor compreender como a música tem sido objeto de tantas relações

com as diversas áreas do conhecimento, especialmente a Psicopedagogia, no

contexto atual, faz-se necessário buscar na história os conceitos que ela incorporou e

que ainda a traduzem ao longo da mesma, as funções que desempenha na sociedade,

mais a sua valorização e inserção na Educação pela dinâmica da Pedagogia Musical.

Tais abordagens propiciam o devido suporte teórico para o desenvolvimento da

temática do trabalho.

1.1 Conceituação de Música

Definir música é algo extremamente difícil hoje em dia devido à gama de

leituras que dela pode ser feita em variados contextos. Neste intuito, tem-se a

possibilidade de ser reducionista, o que não constitui proposta deste trabalho. Sendo

assim, abordar de uma forma geral, tentando não ser excludente será a meta principal

deste tópico, esclarecendo que uma ou outra ciência/corrente poderá não ser

mencionada. A música é sustentada pelo seguinte tripé: arte - manifestação da alma,

emoção, o fluir; ciência - pois obedece a leis e princípios físicos, biológicos,

químicos; cultura - união entre a mente, a lógica, o saber e o sentimento. Cada tripé

será desenvolvido e ampliado nos parágrafos a seguir.

Como dito anteriormente, várias são as definições de música, pois este

conceito se transforma à medida que as sociedades e as culturas vão se modificando

e moldando a sua visão de mundo. Uma das definições mais clássicas, isto é,

tradicionais de música e que consta nos livros de teoria musical é que “A música é a

arte dos sons, combinados de acordo com as variações da altura, proporcionados

segundo a sua duração e ordenados sob a as leis da estética” (PRIOLLI, 1989, p. 6).

Outra definição aponta que a ela é “a capacidade que consiste em saber expressar

sentimentos através de sons artisticamente combinados ou a ciência que pertence aos

domínios da acústica, modificando-se esteticamente de cultura para cultura”

(http://www1.folha.uol.com.br/folha/almanaque/musicaoquee.htm). Estas definições

destacam o aspecto físico e estético da música.

A estética é um ramo da filosofia que trata da arte, onde se questiona o belo, o

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feio, o gosto, os estilos, a criação e a percepção artística. Em seu uso corrente, a

estética é entendida como sinônimo de beleza; os antigos filósofos gregos muito se

questionaram sobre a estética e, para estes, a expressão significa a faculdade de

sentir, a compreensão pelos sentidos, a percepção totalizante. Viver uma experiência

estética vai um pouco mais além: implica em acionar os sentidos quase que

involuntariamente; em seguida, o objeto artístico poderá ser visto de uma outra forma

e o diálogo poderá ser estabelecido.

A vivência de uma experiência estética permite que percepção/intuição/

raciocínio/imaginação atue nas pessoas. Esse processo de conhecimento dá-se

através das relações que começam a se estabelecer a partir da percepção das

qualidades dos sons, dos ritmos, das texturas, da melodia que sobe e desce, que se

desenha em uma visível linha no espaço da imaginação. É um deixar-se tocar,

sensivelmente, para perceber as qualidades presentes na música que fazem ressoar as

imagens internas, aquilo que se sabe do mundo. É com estas imagens que se cria o

significado particular que a obra revela.

A música, como obra de arte, oferece-se aos sentidos, ao ouvido. Por ser arte,

toca na sensibilidade e até contribui para a criação de uma consciência coletiva (tal

fato reporta a Jung); ela é, também, um dado de cultura, traz uma visão de mundo de

diferentes criadores que têm uma linguagem própria e que, apesar de diferente,

influencia a própria linguagem verbal. Portanto, a música é uma interpretação

simbólica do mundo, a organização de uma forma que transformou o que foi vivido

por alguém em objeto de conhecimento e este proporciona a sua compreensão pelos

sentidos. Viver uma experiência estética é entrar no mundo da obra de arte, é ficar

disponível para a conversa, é deixar aparecerem os seus sentidos. Por tais motivos a

música é constantemente entendida como a linguagem dos sentidos. Gainza diz que

“a linguagem musical é aquilo que conseguimos conscientizar ou aprender a partir da

experiência” (1988, p.119), ou seja, além de ser uma linguagem carregada de

significados que serão atribuídos pelo indivíduo que ouve ou que produz a música,

ela também oferece às pessoas vivências diversificadas, ricas, prazerosas.

Além disso, a música é uma linguagem expressiva, emocional, criativa e sua

expressão, como ação criadora, resulta de uma reflexão e de leitura e releitura

constantes a respeito do mundo. Acerca deste assunto, a proposta curricular para o

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ensino de Educação Artística do antigo Primeiro Grau do Estado de São Paulo aponta

que:

podemos identificar a presença da expressão em tudo aquilo que o ser humano faz. Quer dizer, toda a forma criada representa múltiplas significações que abrangem o plano psicológico, social e cultural de um momento específico da história do homem (1988, p.10).

E Silveira (1975, p. 100) acrescenta que:

A linguagem musical não é somente um recurso de combinação e exploração de ruídos, sons e silêncios em busca do chamado gozo estético. É também um recurso de expressão (de sentimentos, idéias, valores, cultura, ideologia), de comunicação (do indivíduo com ele mesmo e com o meio que o circunda), de gratificação (psíquica, emocional, artística), de mobilização (física, motora, afetiva, intelectual e de auto-realização (o indivíduo com aptidões artístico-musicais mais cedo ou mais tarde se direciona nesse sentido, criando – ou seja, compondo, improvisando -, recriando (interpretando, tocando, cantando, lendo, “construindo” uma nova parição, uma performance) ou simplesmente apreciando, vivendo o prazer da escuta. E isso em razão de existir uma compulsão quase irresistível para levar o indivíduo a se tornar aquilo que ele é, do mesmo modo que todo organismo é impulsionado a assumir a forma característica de sua natureza, sema quais forme as circunstâncias, como já dizia Jung.

A ação criadora é própria da natureza humana, como conseqüência de uma

ação cognitiva. Isto é, o ser humano é criativo, embora em diferentes formas e em

variadas situações. Criatividade é o mesmo que pensamento divergente, ou seja, a

capacidade, a competência de romper repetidamente os esquemas assimilados das

experiências anteriores. A mente humana é criativa para captar as diversas faces das

dificuldades advindas, associando inúmeras concepções sobre um mesmo assunto,

organizando-as e encontrando respostas originais e satisfatórias. Criar é recriar.

Criatividade é dedicação, desenvolvimento, modificação e envolvimento contínuo.

Em capítulo posterior será visto que a melhor forma de trabalho psicopedagógico é

aquele que proporciona ao indivíduo um resgate holístico propiciando-lhe criticidade

e criatividade que será catalisado tendo a música como instrumento, como

ferramenta.

Além da expressão e criatividade há muitos que enfatizam o caráter mágico

dos efeitos musicais produzindo explicações do tipo: música é uma força vibrante,

curativa, uma energia e assim por diante; há as que se atém mais aos aspectos

cientificamente comprovados de seus componentes e em teorias musicais com

definições mais racionais e objetivas; e há ainda as afirmações que consideram todos

os tipos de sons, improvisações livres, silêncios e produções estruturadas como

música. Esta última definição é mais ampla por englobar todas as produções sonoras

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e até sons da natureza e do próprio corpo como música, é a mais aceita entre os

profissionais que a utilizam em contextos terapêuticos.

A esfera de espiritualidade que envolve a música também deve ser

considerada. Acerca desse assunto, Jimmy Hendrix comenta que "A música em si é

uma coisa espiritual. Não se pode cortar uma fatia de uma onda perfeita do mar e

levá-la para casa. A música está em movimento o tempo todo. É a maior coisa

eletrificando a Terra". (http://www.thotkom.com.br/VeraHelenaPessoa/Tese00_07.

html)

Muitos psicólogos e psicanalistas também colocam a música como um laço

entre consciente e inconsciente, postulando que ela constitui-se num meio de acesso

privilegiado às emoções, permitindo a expressão de uma riqueza de conteúdos

psíquicos com muito mais liberdade, fluidez, desenvoltura do que a linguagem

verbal. Isto ocorre porque os significantes da música dão abertura para uma

variedade de significados, fato que não é evidente na linguagem falada, que

privilegia o logos, o racional.

A música é também um recurso de expurgação, catarse, maturação (emocional, social, intelectual), pois com a prática musical o educando aprende a organizar seu pensamento, a estruturar o saber adquirido, reconstruindo-o e fixando-o ativamente. É, enfim, recurso de prazer (gratuidade artística, música pela música, pelo simples prazer de fazer música) e de sublimação (movimento pulsional dirigido para um determinado fim), além de ser considerada hoje, cientificamente, disciplina paramédica – a musicoterapia – com o estatuto de auxiliar a saúde física e mental do indivíduo (SEKEFF, 2002, p. 14).

A música é uma arte que tem como essência a comunicação e seu grau de

importância para a sociedade é incalculável, pois atinge a todos nas suas diversas

camadas sociais e culturais. A utilização da música se faz notar como meio de

soluções para obstáculos que naturalmente advirão, podendo ao mesmo tempo dar

condições às pessoas de se relacionarem melhor no mundo em que vivem. Ela é uma

parte forte da herança cultural de um povo e, certamente, um elemento fundamental e

natural do ser-humano. A palavra música também sugere várias concepções que se

relacionam às diferenças que caracterizam os diversos estilos musicais, à época, aos

motivos que geraram sua criação e à ligação aos aspectos sociais. Por isso, Carvalho

(apud SEKEFF, 2002, p. 102) considera que:

não se pode subestimar na música nem sua capacidade expressiva nem seu poder de comunicação e mobilização. Ela é produto e reflexo da sociedade e da época histórica, mas é também função atuante no devir da humanidade.

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[...] Qualquer escrito sério sobre música parte, hoje em dia, de uma ampla base histórica e fenomenológica. Mesmo porque na música estão contidas as categorias teóricas, experienciais (histórico-social) e fenomenológicas que permitem articular uma prática libertadora (SEKEFF, 1994, p.2).

Sendo vista como um canal de comunicação alternativo à linguagem verbal,

este quesito alternativo é o que traz a importância do emprego da música em

contextos psicoterapêuticos, ou seja, como via alternativa à fala, muito utilizada nas

psicoterapias, vem a música com todo o seu potencial de meio de comunicação de

afetos e conteúdos às vezes difíceis de serem traduzidos numa linguagem verbal e

que, expressados, podem constituir material para a terapia e processo do indivíduo.

Ruud (1990) considera a música uma espécie de linguagem emocional, “[...] capaz

de atingir áreas de nossa psiqué que processam informação e que nós, por vários

motivos, não comunicamos com clareza a nós mesmos” (apud PESSOA http://www.

thotkom.com.br/VeraHelenaPessoa/Tese00_07.HTML)

Zoltán Kodály em sua Conferência sobre O Papel da Música na Educação,

Universidade da Califórnia, 1966 também afirma que:

A música é uma manifestação do espírito humano, similar à língua falada. Os seus praticantes deram à humanidade coisas impossíveis de dizer em outra língua. Se não quisermos que isso permaneça um tesouro morto, devemos fazer o possível para que a maioria dos povos compreenda esse idioma (http: www.dianagoulart.pro.br/dgt/artigos/dkos.htm)

Por existir uma gama de conceituações e considerações sobre a música, pode-

se sugerir que não há apenas uma única música e sim músicas, pois na atualidade

tem-se a música associada a inúmeras ciências, absorvendo assim, várias formas e

funcionalidades. Cada vez que se tenta afirmar algo a respeito dela, ou do próprio

mundo em que se vive

[...] estamos construindo o mundo através da representação de nossas sensações dentro de nosso sistema de linguagem culturalmente obtido. Isso significa que não temos nenhum meio de saber ‘o que realmente é a música’. Tudo o que possuímos são diferentes perspectivas estéticas que são, na verdade, dados acerca de visões diferentes sobre música (Ruud, 1990, p.19).

1.2 Funções sociais e usos da música - traçado histórico

Presente no mundo deste os primórdios do homem na face da terra, a arte faz

parte das habilidades do homem e é por ele usada para expressar e provocar

sentimentos, comemorar alegrias, praticar cultos religiosos, invocar deuses e

espíritos, meditar, reclamar dores que afetam a alma, comunicar sonhos, fazer

sonhar, protestar, conquistar amores, e para uma infinidade de outros fins. Ela

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exerceu no mundo ocidental várias funções no decorrer de sua longa história;

acompanhava os atos sacros, a propósito, em todas as culturas antigas do mundo, a

música existiu em função do ritual, do serviço de Deus, da expansão da consciência e

das mais profundas experiências humanas, distraía os poderosos, mas era, ao mesmo

tempo, arte do povo.

O antropólogo Alan Merrian também tratou de identificar os usos e funções

da música em diferentes sociedades e sinalizou as que se seguem: de expressão

emocional, de prazer estético, de entretenimento, de comunicação, de representação

simbólica, de resposta corporal, de conformidade a normas sociais, de validação de

instituições e rituais religiosos, de continuidade e estabilidade da cultura, de

integração social, mas a separação entre essas diferentes funções não é tão nítida.

A música, como meio de expressão e de comunicação entre os homens numa

determinada cultura sempre foi utilizada desde os povos mais primitivos aos mais

civilizados. Como Schurmann (1989) aponta,

as produções musicais de cada época refletem o seu momento sócio-histórico e estão história da humanidade é como meio de cura para males do corpo e da alma. De acordo com as concepções de saúde/doença de cada época, a música foi considerada de diversas formas como instrumento auxiliar na cura das pessoas”. (<http://www.pucsp.br/clinica/boletim10_05.htm.>).

Nas sociedades primitivas, música e dança expressavam sentimentos (alegria,

tristezas), inquietações e animosidades da comunidade; os indivíduos cantavam e

dançavam, exteriorizando emoções diversas; a música era constante e essencial à

vida coletiva, no grupo. As manifestações musicais constituem uma linguagem com

traços característicos de cada sociedade.

Os primeiros dados sobre a ação da música sobre o homem estão registrados

nos papiros egípcios (médicos) de 1500 anos a.C descobertos por Flandres Petrie,

antropólogo inglês, em Kahum por volta do ano de 1899. Tais papiros comentam

acerca do encantamento da música em mulheres; ela estaria “incentivando”,

“estimulando” a sua fertilidade. Já a primeira evidência de seu uso como fonte

terapêutica vem da Bíblia Sagrada, cuja menção encontra-se no livro de I Samuel

capítulo 16, versículo 23 que diz: “E sucedia que, quando o espírito maligno, da parte

de Deus, vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa e a dedilhava; então, Saul sentia

alívio e se achava melhor, e o espírito maligno se retirava dele.”

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O aspecto curativo da música sempre esteve presente no seio da humanidade

desde a mais recôndita Antigüidade, sendo que as sociedades primitivas davam mais

importância aos cantos mágicos e às danças rituais do que às ervas medicinais para

curar seus doentes. Ao examinar registros históricos constantemente encontram-se

citações a respeito da música sendo usada como instrumento terapêutico pelos

antigos chineses, hindus, persas, egípcios, gregos, e outros povos. Hipócrates,

considerado o pai da medicina, encaminhava seus pacientes de enfermidades mentais

ao Templo de Esculápio para lá ouvirem músicas visando à cura, o restabelecimento

do equilíbrio psíquico.

Diziam os sábios da Antigüidade que a música era capaz de renovar a divina

harmonia e o ritmo do corpo, das emoções e do espírito do homem, pois que a grande

maioria das doenças, tanto física quanto mental sofria pela ação da música.

Afirmavam que um homem doente era alguém que perdera a harmonia interior e que

havia permitido a dissonância cósmica e, sendo assim, ocorria um desequilíbrio da

sinfonia do ser, ou seja, que ele já não se harmonizava adequadamente com o

universo e suas leis e, portanto, a harmonia perdida podia ser restabelecida mediante

a utilização da música exterior, audível, que o reafinaria com o som universal. Esse

é justamente o conceito de Música das esferas.

Sem dúvida alguma, na Antigüidade, o uso da música veio a ser amplamente

usado em decorrência dos ensinamentos de Pitágoras. Não só no passado, mas ainda

hoje as escolas pitagóricas atribuem grande importância à música, a um ponto tal que

ela constitui, a par dos números e das formas geométricas, a base da quase totalidade

da filosofia pitagórica. A Escola Pitagórica herdou muitos dos conhecimentos dos

antigos gregos e de outras culturas antigas, em especial a do Egito e as Ordens que a

sucederam continuam ensinando que existe uma música de fundo, base constitutiva

de tudo quanto há, a Música das Esferas ou Harmonia das Esferas, a qual já foi

mencionada; por este motivo, os pitagóricos concebem a música como reflexos do

som cósmico primordial.

A música era tida então como parte do plano íntimo do mundo, como a sua

parte íntima, como a sua própria alma, razão pela qual insistem na importância que a

pessoa deve dar aos sons em geral e à música em especial a fim de se manter em

sintonia com o próprio ritmo da vida. Por isso, afirmam que a boa música é aquela

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que fortalece a harmonia vibratória entre o microcosmo - o homem - com o

macrocosmo - o universo.

Na história da Grécia, ainda se encontram várias menções ao poder de cura da

música; na Ilíada Homero cita uma peste avassaladora que foi debelada pelo deus

Apolo por meio de hinos e cânticos sacros; na Odisséia ele cita Ulisses ter sido ferido

no joelho quando caçava javalis e que a dor fora aliviada e até mesmo a própria

ferida haver sarado graças ao entoar de trovas. A história grega faz menção não

somente a ferimentos que eram beneficiados pela música, mas também a outras

doenças, pestes, em que para curá-las também era empregada a música com sucesso

e especialmente para curar distúrbios emocionais diversos.

A música, "arte das musas" entre os gregos antigos, era a atividade nobre para

educar a mente e o espírito; entre eles era considerada elemento integrante da vida e

do pensamento, além de ser fator fundamental da educação do espírito e da formação

do caráter - era parte essencial do ensino da juventude. O ritmo da música grega era

estreitamente relacionado com o da poesia, ou seja, poeta e musicista fundiam-se

num mesmo indivíduo. Não se deve ignorar nomes como Ésquilo, Sófocles,

Eurípedes e ainda o de Aristófanes. Continuando o passeio histórico, pode-se

perceber que desde a civilização egípcia a música tem sido utilizada para a

internalização de certos valores. Entre os gregos, Platão recomendava que os jovens

deveriam cultivar apenas as músicas que desenvolvessem o sentimento do homem

valente e do homem sereno.

[...] a arte musical era muito valorizada na cultura grega. Era utilizada para curar, prevenir doenças físicas e mentais, colaborar na educação dos jovens e até mesmo para aquietar o erotismo das mulheres cujos maridos estivessem na guerra, se encontrassem doentes ou tivessem morrido. Platão recomendava-a para a saúde da mente e do corpo, a cura de angústias e fobias, o desenvolvimento do caráter e da sensibilidade, aconselhando-a, em sua obra A política, como recurso de educação e desenvolvimento do caráter do jovem. (SEKEFF, 2002, p. 94)

Ainda falando de Platão, o mesmo tinha a idéia, relatada em sua obra

República, de que era só deixá-lo compor a música de um país que ele não se

preocuparia com quem fizesse as leis. Ele propunha um governo musical.

Segundo esse filósofo, sua prática devia ser estimulada sobremaneira entre jovens de 14 a 16 anos. Mas apenas dois gêneros de música deveriam ser utilizados: o vivo, excitante, adequado à guerra, e o tranqüilo, propício à prece, à concentração e à meditação. A música guerreira, assim como a dança do mesmo gênero, asseguraria o desenvolvimento do espírito, o cultivo da justiça e do

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equilíbrio, a educação do caráter, além de contribuir para conservar e restabelecer a saúde. Já as melodias lânguidas e todas as restantes deveriam ser banidas da república, porque, acreditava Platão, incentivavam a volúpia, a efeminação e a corrupção da mocidade. Como os efeitos suscitados pela música nem sempre correspondiam ao esperado, ele recomendava o rigoroso controle pelo Estado. (SEKEFF, 2002, p. 94)

Mesmo na época dele, este não era um conceito novo, já que há mais de mil

anos antes de Cristo os imperadores chineses faziam anualmente um festival de

música, para o qual vinham artistas e conjuntos de todas as províncias do país.

Ouvindo a música das diversas regiões, o imperador tomava decisões estratégicas,

como, por exemplo, aumentar o efetivo militar em uma região prevendo uma revolta

popular, melhorar o sistema de distribuição de alimentos em outra região por ver que

o povo estava sofrendo, e assim por diante.

Na Idade Média, música era sinônimo de devoção. No período da Reforma,

as crianças cantavam hinos religiosos para a salvação de suas almas. No Brasil do

século XVI, a Companhia de Jesus traduziu para o Tupi o catecismo católico e

utilizava-o nos Autos Religiosos com o específico fim de catequizar os indígenas.

Este é o uso da música para a incorporação de valores morais e espirituais.

Em Roma também se fazia uso da musicoterapia que só veio a ser

abandonada por influência da cristianização decadente do Império. Os árabes do

século XIII tinham salas de música nos hospitais. Paracelso, sábio suíço-alemão

(1493-1541) praticava o que ele próprio denominava de "medicina musical" em que

eram usadas composições especificas para doenças especificas, tanto mentais quanto

morais e físicas.

No período do Renascimento, com a valorização mentalidade

antropocêntrica, as artes começam a ser consideradas como projeção das emoções do

homem. A idéia da música curativa ainda permanece, principalmente advinda como

uma forma recreativa. Neste momento a música é entendida como um instrumento

que propicia saúde, como arte comunicativa e a meloterapia - que é um tratamento de

doenças (nervosas em especial) por meio de audições musicais - integra-se a uma

medicina de tendência metafísica, somando: astrologia, magia e filosofia.

Já no século XVII, Descartes (1596-1650) com sua filosofia mecanicista

aliada à “teoria dos afetos” que fora construída a partir do pensamento e estética

barrocas; mais o princípio de que a música reproduz emoções, forneceram alicerces

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para a teoria da musicoterapia. Cria-se que os intervalos musicais, segundo, Ruud

“podiam expandir ou contrair o spiritus animale do corpo e, portanto, influenciar de

maneira direta o estado da mente” (apud SEKEFF 2002 p, 95).

Em 1950, século XVIII, um grupo de profissionais funda a National

Association for Music Therapy com o objetivo de usar a música na medicina e a

formação de profissionais em terapia pela música a fim de ajudarem na recuperação e

tratamento de seus pacientes. Em 1958, depois da British Society for Music Therapy

é criada e organizada a Society for Music Therapy and Remedial Music, na Grã-

Bretanha, por Juliette Alvin. Assim, a Musicoterapia nasce como uma disciplina de

cunho científico, associada às mais diversas áreas do conhecimento: medicina,

psicoterapia, fonoaudiologia, pedagogia, psicoterapia, terapia ocupacional, entre

outros, com o propósito de coletar dados sobre a ação do som (seja ele qual for) e

demais elementos constitutivos da música (ritmo, timbre, melodia...) no homem, para

realizar diagnósticos e fazer análises.

Hoje são inúmeros os incentivadores da musicoterapia e um dos que mais a

têm divulgado é o compositor, instrumentador e conferencista Stephen Halpern,

ligado ao movimento New Age. Halpern constantemente está divulgando o quanto a

música pode beneficiar as pessoas e por isso compõe musicas especiais para relaxar,

para aclamar. É verdade que a música dele não visa diretamente curar, contudo não

se pode negar que relaxar e tranqüilizar não seja um dos elos significativos de um

processo de cura. No entanto, não se pode generalizar e afirmar veementemente que

a New Age pode beneficiar a qualquer indivíduo, sendo importante lembrar da

singularidade de cada um.

Dentre os diversos suportes da música, Hadsell (apud COSTA, 1989, p. 38)

destaca alguns tais como:

a) Psicanálise - a música é usada para liberar pulsões sexuais e agressivas

reprimidas;

b) Behaviorista - ela é usada para eliminar associações inapropriadas que o

indivíduo aprendeu e substituí-las por outras, mais apropriadas;

c) Existencial humanista - a música é usada para ajudar o indivíduo a

desenvolver seu maior potencial humano;

d) Interpessoal - a música é usada para ajudar o indivíduo a desenvolver a

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capacidade de relacionamento e comunicação.

Isto já têm sido usado há algum tempo, mas novos modelos têm surgido

nestes últimos anos, como por exemplo, a música como instrumento de socialização

considerando que a sociedade atual é orientada principalmente para a necessidade de

encontrar a identidade e o valor pessoal e não para a luta pelas necessidades básicas e

sucesso. Música organicista que utiliza a música como instrumento de expansão da

consciência, de individuação e de saúde. A Biomúsica, que se utiliza da vivência

sensorial integrativa, o fazer musical, que se utiliza de sons e movimentos para o

desenvolvimento individual e coletivo das potencialidades humanas. A dança e a

música, desvinculadas da preocupação estética, tornam-se uma linguagem universal

para a expressão dos conteúdos individuais. A Biomúsica desenvolve-se a partir de

um trabalho diferenciado com musicoterapia, música popular tradicional (folclore),

expressão corporal, educação, e música orgânica.

Atualmente a música é utilizada, estudada e analisada em diferentes aspectos:

como terapia, como relação fundamental entre certos comportamentos da sociedade e

o consumismo, como recurso dos meios de comunicação de massa; como meio de

sensibilização e recurso motivacional na educação é um grande auxiliar da

psicoterapia de grupo, entre outros. Outros usos e funções sociais certamente

surgirão na medida em que o homem for modificando sua essência, construindo uma

nova história, procurando assim atender novas necessidades que surgirão e

pesquisando interfaces com as demais ciências.

1.3. As transformações na Pedagogia Musical

Como a relação da educação com a música tem um panorama todo peculiar,

considerou-se importante, neste trabalho, realizar um sintético percurso histórico de

como a música ingressou como disciplina nas escolas. Vale ressaltar que, por

intermédio da teoria da aprendizagem, os estudiosos questionam e investigam os

usos e recursos da música no comportamento do ser humano e não exatamente como

uma influência no plano interior. Isto é, a música seria uma variável independente

que age sobre variáveis dependentes.

Como o homem não vive num simples plano homeostático fisiológico, e como a necessidade estética se realiza num plano superior, a prática musical acaba por se beneficiar de padrões de comportamento que são ativados na aprendizagem por mecanismos de expansão inatos, entre outros. (SEKEFF, 2002, p. 99).

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Entre os povos do Ocidente, coube aos gregos a valorização da linguagem

musical na educação e a difusão do ensino da música entre os romanos. Na Grécia, a

música era considerada fator fundamental na formação dos cidadãos, tanto quanto a

filosofia e a matemática, e o ensino começava na infância. Os gregos já pensavam

no papel sócio-cultural da música e Aristóteles já afirmava que a música educava e

que deveria estar no mesmo patamar da matemática e filosofia. Platão também falou

sobre ritmo e harmonia em suas referências.

Na Europa Medieval o ensino da música encontrava-se restrito aos mosteiros;

somente em período posterior ela foi introduzida em escolas e núcleos intelectuais,

onde, juntamente com a aritmética, a geometria e a astronomia, formava o

quadrivium. Carlos Magno foi quem criou escolas em monastérios para a prática

musical com os melhores professores romanos. Na Idade Média os monges

garantiram uma posição de destaque para a música nas disciplinas escolares; já no

período do Renascimento a música não é tão intimista e sim aflora como espetáculo.

Com a Reforma, no século XIV, o ensino da música ficada cada vez mais

acessível às crianças e aos jovens, tal como na Grécia Antiga. Lutero dizia que a

música governa o mundo e apregoava sua nivelação à filosofia e às ciências nas

escolas públicas. Além disso, ele tocava alaúde, era um discreto compositor -

afirmava que qualquer docente deveria saber cantar - criou o coral protestante que

acabou propiciando novas possibilidades para a música vocal religiosa, tendo até

composto melodias para o mesmo.

No século XVII, apareceram na Europa duas tendências no ensino da música:

o racionalismo, que defendia o ensino da teoria musical, e o sensorialismo, que

preferia a prática musical. A segunda tendência deixou uma inquietação pedagógica

para o século seguinte, respondida de certa forma pelo filósofo Jean-Jacques

Rousseau. Ele cria uma série de exercícios musicais, com objetivo de difundir e

popularizar o ensino de música, escrevendo acerca da música na recém-publicada

Enciclopédia da França. Recomenda também o cultivo do ouvido, da rítmica e da

improvisação. O método de Rousseau foi depois aperfeiçoado por Gabin,

matemático e músico francês e é justamente na França, no século XIX, que o ensino

da música passa a ser novamente valorizado, evoluindo através dos continuadores do

trabalho de Rousseau. Em contrapartida, um dos teóricos que formaram o dos

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métodos sensoriais ativos foi Comenius, que na sua obra “Didática Magna”

evidencia a importância da música desde a Escola Maternal, a favor dos métodos

sensoriais ativos ele diz que “nada há na inteligência que não tenha passado pelos

sentidos” (apud PEREIRA, 2002, p. 85).

No século XIX, ainda que não tivesse um aprofundado conhecimento

musical, surge Pestalozzi, que fora um bom discípulo de Rousseau. Para Pestalozzi,

o homem deve ser considerado um todo cujas partes devem ser cultivadas; a criança

tem potencialidades, a família constitui a base de toda a educação por ser o lugar do

afeto e do trabalho comum entre outras idéias. Ele incentivava a atividade do canto

nas escolas, essencialmente os hinos pátrios e também apregoava a importância da

música desde o primeiro ano de vida.

Froebel, que seguia muitas das idéias de Pestalozzi em se tratando de

Pedagogia, saudava as crianças cantando e recebia respostas cantadas dos seus

alunos. Afirmou desejar que as crianças criassem melodias em seu livro: Canções

Para Mãe e Filho. Através de Froebel os educadores tomaram conhecimento da

música prática com cantigas bem simples. O canto e a poesia também são utilizados,

sobretudo para facilitar a educação moral e religiosa. Froebel destaca o valor do

brinquedo e do jogo (atividade lúdica) para o desenvolvimento sensório-motor das

crianças da primeira infância (seu público-alvo)

No século XX, há uma reação ao intelectualismo dos racionalistas e aparecem

em educação os métodos ativos de Decroly, Montessori, Dalton e Parkhurst,

formando a chamada Escola Nova. Os adeptos da Escola Nova encaram a linguagem

musical como necessária e acessível a todos e não somente aos considerados bem

dotados. Os criadores dos métodos ativos outorgam à música um papel importante

dentro de seus sistemas educacionais, reconhecendo o ritmo como elemento ativo da

música e favorecendo as atividades de expressão e criação. Será feito um

detalhamento apenas de Montessori.

Maria Montessori, que tratou também da educação musical, sugere que as

crianças deveriam passar somente pela iniciação musical (o que atualmente também

se denomina musicalização). O desenvolvimento, a continuação, o aprimoramento

da atividade musical poderia ser deixada para mais tarde.

Respeitando sempre a expressão livre, para o desenvolvimento do ritmo, sugere a

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marcha e a corrida e, como tudo em seu método, explora os contrastes para o início da educação dos sentidos. Montessori tem um material especial para reconhecimento dos sons (campainhas seriadas que reproduzem tons e semitons dentro de uma oitava, para serem identificados ou graduados). (PEREIRA, 2002, p. 86)

A pedagogia montessoriana dá destaque ao ambiente, adequando-o ao tamanho das crianças ... Também é rico e abundante o material didático, voltado para estimulação sonsório-motora: cores, formas, sons, qualidades táteis, dimensões, experiências térmicas, sensações musculares, movimentos, ginástica rítmica, com a clara intenção de alcançar o maior domínio do corpo e das coisas (ARANHA, 1996, p. 173)

Nas primeiras décadas do século XX, recupera-se a educação musical das

crianças, através da atividade e da experiência. Alguns pedagogos musicais se

destacam: Émile Jacques Dalcroze (que será comentado em capítulo posterior)

Maurice Martenot, Carl Orff, Zoltan Kodály, Shinichi Suzuki e o famoso filósofo e

psicopedagogo musical Edgar Willems.

A metodologia de Maurice Martenot,

indica os conhecimentos teóricos, transmitidos através de jogos, que podem despertar o potencial musical das crianças para mais tarde chegar à verdadeira musicalidade. Seu objetivo maior é o encaminhamento para que se ame a música, para integrá-la à vida. (PEREIRA, 2002, p. 87)

O trabalho de Orff é baseado em atividades lúdicas infantis: cantar, dizer

rimas, bater palmas, dançar e percutir em qualquer objeto que esteja à mão. Estes

instintos são direcionados para o aprendizado, fazendo música e somente depois

partindo para ler e escrever, da mesma forma como aprendemos nossa linguagem.

Orff busca “desintelectualizar e destecnizar o ensino da música, acreditando que a

compreensão deve vir depois da experiência - esta sim, a base do processo”.

Destina-se a todas as crianças, não buscando os talentos privilegiados, o que

indica haver um lugar para cada criança, e cada um contribui de acordo com sua

habilidade. Muitos de seus alunos não tinham qualquer conhecimento musical

prévio - por isso ele enfatizava o uso de sons e gestos corporais para expressar o

ritmo, e a voz como primeiro e mais natural dos instrumentos. Importantes também

eram os tambores, em toda a sua vasta gama de tamanhos, formas e sons. Ele

também utilizava o ostinato (padrão rítmico, falado ou cantado, que se repete) como

elemento que dava forma às improvisações.

As aulas têm um ambiente não-competitivo, onde uma das maiores

recompensas é o prazer de fazer boa música com os colegas. Somente quando as

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crianças sentem vontade de anotar o que elas inventaram é que se introduz a escrita e

a leitura.

A improvisação é introduzida logo nos primeiros estágios de forma orientada

e controlada - os meios são limitados e os alunos manejam criativamente, dentro de

diversas propostas, elementos que já foram trabalhados. A criação representa uma

experiência musical prazerosa que deverá continuar por toda a vida e a aprendizagem

só faz sentido se trouxer satisfação para o aprendiz, sendo que a satisfação vem da

habilidade de usar o conhecimento adquirido para criar. Tanto para o aluno como

para o professor, a metodologia Orff é um tema com infinitas variações.

Zoltan Kodály achava que a música tinha que ser para todos; por isso,

dedicou-se com determinação a torná-la uma linguagem compreensível para todo

húngaro, tornando-a, ainda, parte integrante da educação geral. Ele acreditava que a

música se destinava a desenvolver o intelecto, as emoções e toda a personalidade do

homem. Ela não podia ser um brinquedo, um luxo para uns poucos escolhidos:

música é um alimento espiritual para todos - por isso ele estudou uma forma de fazer

com que todos pudessem ter acesso à boa música e levou esta idéia à frente como

uma verdadeira missão. Como ele queria se comunicar com as grandes massas,

sempre insistiu numa música que pudesse ser facilmente compreendida.

Considerava o canto como fundamento da cultura musical: para ele, a voz é o

modo mais imediato e pessoal de expressão em música. Mesmo o acompanhamento

harmônico é feito por vozes, pois o método enfatiza o canto coral. O canto não é

apenas um meio de expressão musical, mas ele ajuda no desenvolvimento emocional

e intelectual também. Para ele, quem canta com freqüência obtém uma profunda

experiência de felicidade na música e através das próprias atividades musicais,

aprende-se conceitos como pulsação, ritmo e forma da melodia. O prazer desfrutado

encoraja o estudo de instrumentos e a audição de outras peças musicais. Ele não era

contra o aprendizado de um instrumento e não achava que o canto devia suplantar a

instrução instrumental: ele insistia é que o canto deveria preceder e acompanhar o

instrumento.

Temos que educar músicos antes de formar instrumentistas. Uma criança só deve ganhar um instrumento depois que ela já sabe cantar. Seu ouvido vai-se desenvolver somente se suas primeiras noções de som são formadas a partir de seu próprio canto, e não conectadas com qualquer outro estímulo externo visual ou motor. A habilidade de compreender música vem através da alfabetização

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musical transferida para a faculdade de ouvir internamente. E a maneira mais efetiva de se fazer isto é através do canto (http: www.dianagoulart.pro.br/ dgt/artigos/dkos.htm)

Uma premissa fundamental de Kodály é que a música e o canto deviam ser

ensinados de forma a proporcionar experiências prazerosas e não como um exercício

rotineiro e maçante. Portanto, o material para estudo musical deve ser compreensível

e ter qualidade artística.

Suzuki afirma que não fez nada mais do que uma adaptação dos princípios de

aprendizagem da língua materna à educação musical. Eis alguns destes princípios:

• Motivação: as crianças ficam fascinadas ao aprender;

• Alegria e autoconfiança: a criança não tem a menor dúvida de que vai

aprender);

• Aprendizagem dentro do ritmo de cada um, respeitando as

dificuldades;

• Aprender com o objetivo de usar, no dia-a-dia, estes conhecimentos e

habilidades;

• Imitação dos modelos, que sempre disponíveis: os “professores” não se

cansam de repetir, jamais demonstrando cansaço ou irritação;

• Identificação com os mestres, que estão sempre encorajando o aprendiz

e elogiando as novas conquistas;

• Afeto envolvido em todas as etapas.

Para Suzuki, toda criança tem um potencial ilimitado. O estudo da música

deve enriquecer toda a vida da criança e fazer dela um ser humano mais completo.

Ele busca o amplo desenvolvimento o infante, expandindo sua capacidade de

aprender, apreciar e descobrir a alegria da música. O trabalho desenvolve a atenção

global da criança, e suas sensibilidades auditivas, visuais e kinestésicas.

A participação dos pais é fundamental nesta metodologia. Enfatiza a

importância do ambiente, que deve ser de aprendizagem colaborativa e da educação

permanente, ou seja, a criança, em casa, deve estar imersa em música.

Edgar Willems é pedagogo e musicólogo da era contemporânea que acredita

que, quando o indivíduo é consciente dos inúmeros elementos da arte musical, isso

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aponta que o mesmo possui inteligência musical. Atualmente há muitos educadores

que estão aderindo à pedagogia deste teórico. Ele também afirma que

toda criança chega ao mundo com condições favoráveis a receber educação musical. Para que a criança floresça neste sentido, é necessário ao educador conhecer, além de melodia, harmonia e ritmo, os elementos constituintes da natureza humana, como fisiologia, afetividade e inteligência. (PEREIRA, 2002, p. 87).

Na segunda metade do século, passou a predominar o ponto de vista de que

um estudo do desenvolvimento musical envolve necessariamente a observação do ser humano ao primeiro contato com a música, o estudo da forma pela qual a música consegue integrar-se ao seu ser íntimo e adquirir significação para sua vida pessoal, assim como a observação das etapas por que passa o processo de aquisição do conhecimento musical e a caracterização dos modos pelos quais o ser humano participa da atividade humana. (MÁRSICO 1982, p.17).

Alguns nomes importantes da pedagogia musical da segunda metade do

século XX são George Self, Lilli Fiedmann, Folke Rabe e Jan Bark, os quais não

serão especificados, mas que ficam como sugestão para possíveis pesquisas.

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2. CONCEPÇÕES PSICANALÍTICA, EDUCACIONAL E PSICO-LÓGICA ACERCA DA MÚSICA

Após a fundamentação por intermédio da abordagem histórica da música,

neste segundo capítulo, serão acrescentadas ao pilar teórico as visões oriundas da

psicanálise, através de Winnicott um teórico que exaltava a música, da Educação

Musical tendo Dalcroze como seu melhor representante e para finalizar, o olhar da

psicologia com Maslow e a hierarquia das necessidades básicas.

2.1 Winnicott

Winnicott era inglês, com formação em medicina - pediatria - e também era

psicanalista. Unindo os seus dois campos de atuação, o que era o seu diferencial, ele

estudou o desenvolvimento precoce do ser humano, observando veementemente a

relação entre as mães e os seus bebês. Para ele, o ser humano resulta do encontro de

um potencial inato qualquer com a cultura e este autor se desenvolveu em um

período em que a ciência e a arte dialogavam de maneira intensa, salientam aqueles

que se dedicaram ao estudo de sua vida e de sua obra. A relação das idéias de

Winnicott com as teorias psicanalíticas então vigentes, particularmente com as idéias

de Freud e de Melanie Klein não serão aqui aventadas. Outro detalhe interessante de

Winnicott era sua admiração pela arte, essencialmente a música, de tal modo que ele

também produziu escritos que contribuíram à Musicoterapia.

Winnicott admirava Bach e fez referenciais aos últimos quartetos de

Beethoven, tocava piano e sempre alegrava as festas e reuniões; na última década de

sua vida aderiu inteiramente aos Beatles, de quem se tornou um grande fã - tinha

todos os seus discos. Estas histórias eram contadas por Clare Winnicott, era ela que

lhe contava os poemas, enquanto ele lhe tocava as músicas... Sua educação clássica

e germanófila não lhe foi imposta, ele a adquiriu com prazer; ele gostava dos

clássicos, evidentemente, mas saboreava com freqüência a poesia lírica de autores

menores.

A música aparece explicitamente na obra de Winnicott em termos muito

interessantes. O psicanalista Davi Litmam Bogomoletz cita que:

Ao refletir sobre a vida intra-uterina do bebê, ele se refere à possibilidade nada desprezível de que os sons corporais da mãe seriam percebidos e registrados pelo feto. Os batimentos cardíacos, a respiração, os ruídos produzidos pelo processo

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digestivo, e certamente a voz, são considerados por ele como presenças inevitáveis no incipiente sistema sensório do feto. Tanto assim é, que ele diz ter observado bebês brincando de ‘acertar seu ritmo respiratório com a freqüência cardíaca (por exemplo, respirando uma vez a cada 4 batimentos cardíacos). Algum tempo depois é possível encontrá-lo (ao bebê) lidando com a diferença entre o seu ritmo respiratório e o da mãe, procurando talvez criar situações de relacionamento baseadas primeiramente numa respiração de freqüência dupla ou tripla (http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrlD=9.Acesso)

Além disso, são extensos os comentários de Winnicott acerca do ritmo de

vida intra-uterino do bebê em relação com o da sua mãe; conceito fundamental para

o processo de regressão e é algo chave para a musicoterapia. A Psicanálise propicia

a retomada de experiências uterinas, infantis, que são conteúdos inconscientes,

quando estas são desenterradas para diluir algo que esteja impedindo o

desenvolvimento do indivíduo que fora em algum momento interrompido,

prejudicado.

Uma idéia a considerar é que a música, por ser uma linguagem não verbal,

seria especialmente adequada para proporcionar um contato com o verdadeiro self

pouco amadurecido, que estaria oculto no fundo do falso self. Para esclarecer estes

dois conceitos de Winnicott, o primeiro seria o núcleo verdadeiro da personalidade

humana que é alimentado à medida que a mãe fornece a proteção necessária ao ego

do recém-nascido; o segundo, que seria aquilo que encobertaria, esconderia o

verdadeiro self, uma casca que nasce e se desdobra quando há uma falha ambiental,

ou seja, quando a mãe não provê o bebê com o apoio e suporte necessários, ele

substitui a proteção que lhe falta por uma “fabricada” por ele mesmo.

Uma das idéias de Winnicott vinculadas à questão da música seria o conceito

de objeto transicional. Antes disso, é preciso detalhar o mesmo: esse objeto pode ser

um físico, um brinquedo ou às vezes, uma pessoa com a qual a criança vive e cria

uma fantasia. O objeto transicional ocupa um lugar que Winnicott chama da ilusão e

está situado em uma zona intermediária, na qual a criança se exercita na

experimentação com objetos que, mesmo que estejam fora, são sentidos como partes

de si mesma. O espaço transicional tem, porém, uma característica muito especial:

ele não existe na natureza, sendo ele próprio uma criação do homem. Então, é um

espaço potencial, que só passa a ser atual após ter sido criado por um indivíduo.

E o a música tem a ver com o espaço transicional? Ela é um componente do

espaço transicional, um habitante privilegiado. Seria o objeto transicional por

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excelência. O ser humano tem uma vocação natural para a música, assim como para

a linguagem. Um detalhe interessante é pensar que em épocas primitivas o homem,

antes de convencionar a linguagem verbal, ele poderia balbuciar sons musicais. A

música é um dos elementos que possui o maior acesso ao espaço transicional. Isto é:

a música é um dos elementos que mais fundo penetra nesse espaço, que mais perto chega do espaço pré- transicional, onde se localizam as fantasias mais internas e mais pessoais do indivíduo. Talvez porque, sendo esta uma das mais antigas descobertas do homem sobre a psicologia do bebê, é ainda no útero de sua mãe, e portanto inteiramente fundido a ela, que o bebê inicia a sua aprendizagem musical. Que a voz gravada da mãe acalma bebês aflitos é sabido. Que a voz da mãe cantando uma canção de ninar é o melhor remédio contra a aflição infantil também é sabido. Portanto Sendo uma forma de comunicação, e não só um ornamento sonoro - já que não se trata de ‘barulho’ - e sendo uma comunicação não verbal, a música se presta lindamente para penetrar sorrateiramente (isto é, sem dor) nas defesas mais primitivas do paciente, buscando estabelecer contato com o ser que se esconde lá dentro, e que é mais primitivo ainda. Aqui não se trata de estimular, mas bem ao contrário, de tranqüilizar, de pacificar...É óbvia a associação de certas melodias (no estilo ‘largo’ ou ‘adágio molto’) com os sons primordiais do interior do corpo da mãe, principalmente de sua voz como deve soar no interior do líquido amniótico. Certos ritmos e notas muito solenes com certeza criam um ambiente mental tranqüilizador, na medida em que levam a pessoa a sintonizar com algo que, por sua lentidão, relaxa os ritmos internos do ouvinte e, no melhor dos casos, reduz sua tensão. Obviamente, recria-se nesses momentos o clima do colo materno, e ressurge um sentimento de proteção e amparo - por oposição ao clima persecutório da separação e do desamparo (http://www.psicopedagogia. com.br/artigos/artigo.asp?entrlD=9)

Observando as pessoas de todo o mundo, há muitas evidências de que o

pensamento é musical, ou seja, as pessoas cantam, pensam em melodias sem estar

com a intenção de fazer música. Cada um tem a sua música própria. Ao tentar

reproduzir uma que venha de fora e também ao ouvi-la, há uma criação e não

somente recriação. Isso é um ato de ilusão, um ato transicional; a música ressoa

internamente como se estivesse sendo produzida naquele momento.

A música é, pois, uma ponte entre o mundo interno, do eu mais pessoal e intransferível, e o mundo externo, onde compartilhamos a ‘realidade’ com os outros. Se, para Freud, o sonho era a ‘estrada real para o inconsciente’, a música é a ponte que leva ao eu mais profundo e verdadeiro. E não vale dizer que o sonho vem de dentro para fora, enquanto a música vai de fora para dentro, porque não se pode dizer com convicção que a música realmente segue de fora para dentro: ou uma música entra, e nesse caso ela já está dentro, mesmo que esteja sendo ouvida pela primeira vez, ou ela não entra, e então nada acontece. Utilizá-la para estabelecer contato com esse eu interno, principalmente quando o mesmo se encontra oculto sob as defesas do falso self, é não só legítimo enquanto prática, mas legitimado teoricamente pela contribuição de Winnicott (http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrlD=9.Acesso)

2.2. Dalcroze

O início do século XX foi marcado por mudanças que tiveram um

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extraordinário impacto em todos os aspectos da vida humana. Algumas certezas que

pareciam eternas começaram a evaporar de um momento para o outro e o homem,

que acreditava em verdades absolutas, em códigos morais fixos e inquestionáveis,

começa a olhar tudo isso sob o prisma da dúvida. Perdeu as certezas.

Ao propor que os fatos da economia eram capazes de determinar o que os

homens pensavam, sentiam e desejavam, Karl Marx de certa forma tirou o destino

humano das mãos dos indivíduos e entregou-o às engrenagens da História. Sigmund

Freud acabou com a linha divisória que, acreditava-se, separava a loucura da

sanidade mental; com a Interpretação dos Sonhos ele mostra que o doente mental não

é, afinal de contas, tão diferente dos demais. Albert Einstein e sua Teoria da

Relatividade fizeram o mundo saber que o tempo podia transcorrer mais depressa ou

mais devagar, e que o espaço podia se curvar. A partir de então ficou muito difícil

manter a idéia de que o mundo era um lugar simples, regulado por valores universais

e imutáveis.

Neste cenário de intensa efervescência surgem novas correntes pedagógicas

com John Dewey, Jerome Bruner e Jean Piaget. Esta movimentação vai-se

manifestar também na educação musical. Surgem neste período quatro músicos e

educadores que, através de práticas pedagógicas inovadoras, lançam as bases de toda

a educação musical moderna.

É nesse contexto que aparece Émile Jaques-Dalcroze (1865-1950) - suíço,

professor consagrado que desenvolveu o sistema que ficou conhecido como Dalcroze

Eurhythmics de treinamento musical que tinha por objetivo criar, através do ritmo,

uma corrente de comunicação rápida e regular e constante entre o cérebro e o corpo,

transformando o sentido rítmico numa experiência corporal, física. Além de ótimo

músico e compositor fluente, escreveu também livros pedagógicos e tanto Kodály

como Orff tiveram contato e foram influenciados diretamente pelas idéias dele.

Os jogos e brincadeiras de roda influenciaram a metodologia do mestre Jacques Dalcroze... Relacionando tempo, espaço e energia, o mestre chegou à consciência do ritmo, ritmo este vivido e experimentado corporalmente, denominando-a Rítmica... Em resumo, a nova disciplina significa libertar a criança da metodologia tradicional da música, promovendo o desenvolvimento de seu potencial através do movimento e favorecendo, ao mesmo tempo, a criatividade (PEREIRA, 2002, p. 86)

A Euritmia surgiu numa constatação de Dalcroze: os estudantes não

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conseguiam ouvir (pela escuta interna ou mental) a música que viam escrita na

partitura impressa e que estes mesmos estudantes executavam o que liam de uma

forma mecânica e pouco musical. Estas observações levaram Jacques Dalcroze a

compreender que faltava aos estudantes a coordenação entre olhos, ouvidos, mente e

corpo necessária para aprender o repertório e, principalmente, para tocar bem.

Assim, percebeu que o primeiro instrumento musical que se deveria treinar era o

corpo. Isto foi em 1887. Em meados do século XX diversas pesquisas confirmaram

estas idéias: a kinestesia (de kines = movimento, thesia = consciência) é de fato o

sexto sentido. Na infância, todos os sentidos recebem informações da kinestesia -

por isso é que as crianças estão sempre se movimentando: estão explorando o mundo

e construindo os mapas mentais que serão usados pelo resto da vida.

Euritmia significa literalmente bom ritmo (de eu = bom, rhythm = fluxo, rio

ou movimento). A euritmia de Dalcroze estuda todos os elementos da música

através do movimento, partindo de três pressupostos básicos:

• todos os elementos da música podem ser experimentados (vivenciados)

através do movimento;

• todo som musical começa com um movimento – portanto o corpo, que faz

os sons, é o primeiro instrumento musical a ser treinado;

• há um gesto para cada som, e um som para cada gesto. ´Cada um dos

elementos musicais - acentuação, fraseado, dinâmica, pulso, andamento,

métrica - pode ser estudado através do movimento.

Muita gente pensa, equivocadamente, que a Euritmia é uma espécie de dança,

ou de ensino de movimentos bonitos quando, na verdade, os movimentos usados na

Euritmia são improvisados pelos próprios alunos e não propostos pelo professor. A

dança é uma arte em si mesma; a Euritmia é um meio para se atingir a plena

musicalidade.

Afinal, a música lida com a emoção e responde a diferentes necessidades do indivíduo, como já assinalava Dalcroze, seja como vibração sonora que é (agindo fisiologicamente), seja como experiência estética (agindo psicologicamente), seja como expressão, facilitadora de desenvolvimento e socialização, prazer e gozo estético, seja, ainda, como auxiliar do bem-estar, colaborando na formação plena da personalidade e na reintegração do infradotado à sociedade... Concluímos que a prática musical constitui significativa ferramenta no processo educacional, visto ser uma atividade (construção, performance e/ou escuta), animada pela afetividade, que, nascendo do homem, atinge o homem no seu todo. (SEKEFF, 2002, p. 15)

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E mais:

Justifica-se desse modo o interesse do educador musical Emile Jacques-Dalcroze pelo ritmo e pela própria música. Tendo a música como um recurso de crescimento, Dalcroze pregava que ela deveria ocupar um lugar importante na educação em geral, por responder aos desejos mais diversos do homem. Para ele o estudo da música é o estudo do próprio homem. E mais: o organismo humano é suscetível de ser educado eficazmente conforme a ordem e o impulso da música, pois o ritmo musical e corporal é o resultado de movimentos sucessivos, ordenados, modificados e estilizados, que formam uma verdadeira identidade (SEKEFF, 2002, p. 44)

O professor que usa a metodologia de Dalcroze estimula que os educandos

mostrem e digam o que cada um está ouvindo, pois se escuta no coletivo e, no

entanto, cada um tem a sua própria forma de ouvir, escutar. Como a música é arte

não verbal, é este universo sem palavras que deve ser explorado. Há muita atividade

física, muito movimento enquanto se ouve a música tocada pelo professor

(geralmente improvisando ao piano). Nestes jogos e brincadeiras rítmicas os alunos

se envolvem e aprendem a aplicar, nas aulas e nas suas performances, os conceitos

ali vivenciados e, sempre que possível, usam a demonstração ao invés da narrativa

oral.

As pessoas que estiverem interessadas em aprender o método de Dalcroze,

com certeza não aprenderão apenas por meio da leitura e sim através da prática - ele

mesmo recomenda isso.

2.3 Maslow

Por que associar Maslow à questão da música? A resposta é simples: este

psicólogo estudou a Teoria das necessidades básicas, ou seja, a hierarquia de

impulsos (1969). Sendo assim, poder-se-ia afirmar que a música abrange tais

necessidades e que a mesma também se constitui numa delas. Primeiramente será

apresentada sua teoria e ao final da exposição será feita a correlação com a Música.

O ser humano é considerado um eterno insatisfeito com uma série de

necessidades internas que se relacionam de maneira hierárquica de um patamar mais

simplório até o mais complexo. Maslow acredita que uma necessidade só será

considerada como prioridade quando a necessidade do estágio anterior estiver

razoavelmente satisfeita; todavia, estudos mais modernos asseguram que tal

evidência é flexível, sendo variável de indivíduo a indivíduo.

Eis as seguintes necessidades em categorias hierarquizadas:

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Auto-realização

Prestígio pessoal

Auto-estima

Afeto

Segurança

Fisiológicos

Todas estas necessidades ou impulsos podem ser organizados em três grandes

divisões que SEKEFF (2002) assim colocou:

• Nível psicossocial: impulsos de sociabilidade e de auto-afirmação;

• Nível psicobiológico: impulsos de autoconservação e sexual;

• Nível psicoespiritual: impulso de ação do sentido da existência e de

autotranscendência.

Refletindo a partir do ponto inferior da pirâmide, as necessidades fisiológicas,

também denominadas biológicas, garantem a sobrevivência do indivíduo e a

preservação da espécie estando relacionadas às questões de alimentação, de moradia,

vestuário, sono, repouso, dentre outras. Quando estas estão consideravelmente

saciadas, aparece uma nova necessidade, a de segurança, que pode ser exemplificada

pela busca de proteção contra a ameaça ou privação, a fuga e o perigo; preferência

por uma situação estável apego a um tipo de religião e/ou filosofia que fundamentem

a fé ou crença da pessoa. O indivíduo possui desejo por sentimentos de estabilidade

e equilíbrio.

Depois de satisfeitas as necessidades fisiológicas e as de segurança,

despontam as de amor e afeto. Nesta fase, o indivíduo sentirá a vontade de criar

laços de amizade, relacionamentos afetivos (receber e dar amor), maior integração

familiar e nos grupos sociais nos quais convive, ou seja, há um grande desejo de

inclusão, aceitação, associação, participação e de constantes trocas; há a necessidade

de fazer parte de um grupo.

Quando as necessidades afetivo-sociais estão parcialmente atendidas,

manifesta-se a necessidade de estima que envolve a auto-apreciação, a

autoconfiança, a necessidade de aprovação social e de respeito, de status, prestígio e

consideração, além de desejo de força e de adequação, de confiança perante o

mundo, de autovalorização, individualização, independência e autonomia. Brandão

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(http://www.ahmg.com.br/motivaca.htm) reforça a citação anteriormente realizada:

a pessoa sente a necessidade de fortalecer a sua auto-estima e de receber a estima dos outros. Estas necessidades têm os seguintes significados: Auto-estima: desejo de força, realização, suficiência, domínio, competência, confiança, independência e liberdade; Estima dos outros: desejo de reputação, status, prestígio, dominação, reconhecimento, atenção, importância ou apreço dos demais.

A satisfação das necessidades de estima leva o indivíduo a ter a capacidade de

ser útil e ser necessário para outros; em contrapartida, sua frustração produzirá

sentimentos de impotência e inferioridade, podendo até mesmo gerar manifestações

neuróticas no mesmo.

Finalmente, quando o ser humano passa por todas as necessidades

supracitadas, ele atinge o degrau mais elevado, a plenitude interna da auto-

realização, onde cada pessoa encontra-se motivada para realizar o próprio potencial e

a continuamente buscar o autodesenvolvimento e o autoconhecimento. Neste degrau

há a concretização de potencialidades, aptidões e aspirações do indivíduo.

Fadimam declara que

O conceito de auto-realização tem relevante papel na teoria de Maslow que o definiu como o uso e a exploração plenos de talentos, capacidades, potencialidades, etc. Para maslow, auto-realizar significa fazer de cada escolha uma opção pelo crescimento, escolha esta que depende de o indivíduo estar sintonizado com sua própria natureza íntima, responsabilizando-se por seus atos, independentemente da opinião dos outros. (apud ALVES, http://www.proweb. com.br/ existecialismo/saep/index.htm)

Sendo assim, a música atende ao nível psicobiológico porque há elementos

psicológicos envolvidos, mas que não podem estar separados dos biológicos, fato

registrado por Piaget. Pelo seu poder cultural, comunicativo e socializador a música

sacia o nível psicossocial; atende ao nível psicoespiritual, pois o ser humano procura

desenvolver todas as suas potencialidades, a fim de se tornar um ser holístico, total,

auto-realizado, feliz (ainda que se saiba que o homem será sempre um eterno

insatisfeito) e como a auto-realização é o topo da pirâmide singular do homem, ela é

“uma aspiração humana básica, uma tendência humanista, e a música, propiciando

satisfação acaba por dar sentido à vida, tornando-a existência. Afinal, o indivíduo

não vive simplesmente, ele existe, com seus valores e sentidos” (SEKEFF, 2002,

p.99)

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3. A MÚSICA E OS SEUS ELEMENTOS

A música, como visto anteriormente, é arte dos sons. Neste capítulo serão

tratadas a questão do som musical e suas propriedades fundamentais de maneira

sintética e óbvia a fim de que indivíduos que não sejam da área da música possam

entender claramente as propostas elaboradas.

A música propriamente dita é uma associação de vários elementos, os quais

se denominam componentes, elementos, partes ou estruturas básicas musicais. São

eles: melodia, harmonia, ritmo, timbre, forma e textura. Cada qual será

especificado e correlacionado com a intervenção psicopedagógica que não deixa de

ser uma obra complexa assim como a obra musical, vale esclarecer que a forma e a

textura não serão comentadas, pois são mais difíceis de serem compreendidas, por

necessitarem de um maior domínio na área musical.

3.1.O som e as suas propriedades

A palavra som, que vem do latim sonus e significa literalmente a vibração de

um corpo percebida pelos ouvidos, ou energia, sob a forma de vibrações chamadas

ondas sonoras - é a matéria prima da música. Também se pode definir o som de uma

forma objetiva: é tudo que impressiona o órgão auditivo, conseqüência do choque de

dois corpos sonoros. Wisnik (1989, p. 15-17) também acrescenta, trazendo uma

conceituação mais ampla acerca do som:

Sabemos que o som é onda, que os corpos vibram, que essa vibração se transmite para a atmosfera sob a forma de uma propagação ondulatória, que o nosso ouvido é capaz de captá-la e que o cérebro a interpreta, dando-lhe configurações e sentidos (...) A onda sonora é um sinal oscilante e recorrente, que retorna por períodos (repetindo certos padrões de tempo). Isto quer dizer que, no caso do som, um sinal nunca está só: ele é a marca de uma propagação, irradiação de freqüência. Para dizer isso, podemos usar uma metáfora corporal: a onda sonora obedece a um pulso, ela segue o princípio da pulsação. Bem a propósito, é fundamental pensar aqui nessa espécie de correspondência entre as escalas sonoras e as escalas corporais com as quais medimos o tempo. Porque o complexo corpo/mente é um medidor de freqüências. Toda a nossa relação com os universos sonoros e a música passa por certos padrões de pulsação somáticos e psíquicos, com os quais jogamos, ao ler o tempo e o som.

Mas como é feito o som? Por exemplo, quando se vibra uma corda de aço

esticada, por exemplo, produzem-se oscilações no ar que, por sua vez, entram na

parte externa dos ouvidos, conduzindo as ondas sonoras em direção ao tímpano que

vibra.

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Essas vibrações que são captadas pelos tímpanos passam por uma espécie de

caracol, chamado clóquea, que há dentro dos ouvidos e são enviadas, através do

nervo auditivo, para o cérebro. Este interpreta esses sons e assim se forma a música

dentro da cabeça. As ondas sonoras ou oscilações podem ser registradas por um

instrumento chamado osciloscópio e é a velocidade da onda sonora quem determina

a altura ou afinação do som, sendo que é a amplitude quem determina o volume do

som. Isso será mais detalhado no tópico a seguir.

Os sons se dividem em tons e ruídos, os primeiros são os sons de altura

definida; os sons musicais se enquadram nesta categoria. Já os ruídos são sons de

altura indefinida. Há inúmeros tipos de ruídos de origens mais variadas: da natureza

(trovão); de objetos (batida de ferros); do animal (latido de um cão); o humano (bater

palmas); de máquina (batida do badalo de um relógio na torre de uma igreja);

eletrônico (sons de máquinas industriais movidas á eletricidade, computador), entre

outros.

O som musical se manifesta por intermédio dos instrumentos musicais, da

voz e das suas possíveis organizações. Os sons musicais são representados pelas

notas musicais – dó, ré, mi, fá, sol, lá e si, que são uma forma de grafar os sons, uma

convenção. Vale ressaltar que há muitas culturas onde não existe esse tipo de escrita

musical, esta forma de representação é mais característica do mundo ocidental.

O som possui quatro propriedades essenciais: altura, duração, intensidade e

timbre. Como o timbre aparece como uma das propriedades do som e como um dos

elementos fundamentais da música; neste trabalho, o mesmo estará sendo detalhado

em tópico específico. A altura é o grau de entoação dos sons, tripartindo-se em

grave, médio ou agudo; a duração é o tempo de prolongamento de um som e está

intimamente relacionada à questão do ritmo, que será comentada posteriormente e a

intensidade é o grau de força empregado na repercussão de um som. Pode-se pensar

em forte, piano (suave, com menos força), meio forte (meia força), entre outros.

Nos dias de hoje, porém, pode-se afirmar que praticamente todo som pode ser

transformado e utilizado em música, inclusive se o mesmo for um ruído, depende da

apreciação do compositor.

[...] fazer música implica selecionar e combinar sons e seus parâmetros (alturas, intensidades, durações e timbres), que vão formar unidade mais complexas (ritmo, melodias, harmonias), cuja fusão e desenvolvimento vão constituir uma

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determinada peça musical (COSTA, 1989, p. 62)

A linguagem também é fruto do som. A fala humana ou a capacidade de se

comunicar através da voz é o resultado de sons produzidos pelas cordas vocais, as

quais servem de veículo sonoro a uma idéia na formação das palavras. Esses sons

emitidos através da vibração das cordas vocais recebem o nome de fonemas; assim,

todo fonema é som, mas nem todo som é fonema.

Todo som sempre traz junto de si a idéia de harmonia. Como já disse o

filósofo Cícero: unus sonus est totius orations, ou seja, todo o discurso tem um tom

uniforme; Marsile Ficin afirma que

O som musical, pelo movimento do ar, move o corpo: pelo ar purificado, excita o espírito aéreo que é o laço entre o corpo e a alma; pela emoção afeta os sentidos e ao mesmo tempo a alma; pela significação, toca o intelecto; finalmente, pelo movimento mesmo do ar sutil, penetra profundamente e com veemência; por sua harmonia, acaricia suavemente; pela conformidade de sua qualidade, nos inunda de uma maravilhosa volúpia; por sua natureza, tanto espiritual quanto material, colhe de um só golpe o homem inteiro e o possui completamente (COSTA, 1989, p. 23)

3.2. Como funciona o ouvido humano

A explicação pode ser encontrada, com maior probabilidade, nos mecanismos

básicos da audição e na maneira como o cérebro lê a mensagem a partir do ouvido.

Não se ouve com o ouvido; ouve-se com o cérebro. O ouvido simplesmente converte

ondas sonoras (vibrações) em impulsos nervosos: a linguagem do cérebro.

O som é ouvido quando vibrações (ondas) com freqüências entre 20 e 20.000

ciclos por segundo (Hertz-símbolo da unidade: Hz) alcançam o ouvido em um nível

suficiente de intensidade; a altura do som constitui o correspondente perceptivo da

freqüência - quanto maior for a freqüência, mais agudo será o som. A intensidade do

som é o correspondente perceptivo da amplitude das vibrações: quanto maior for a

amplitude da vibração, mais intenso será o som.

Quando as ondas sonoras alcançam o ouvido, o tímpano é acionado como

uma membrana microfone, vibrando com a freqüência do som; essas vibrações são

transmitidas através dos ossículos do ouvido médio para a cóclea e, então,

movimentam as fibras de uma membrana que está no interior da cóclea. Essa

membrana (basilar) é composta de cordas transversais, entrelaçadas, cada uma

afinada com uma freqüência/altura específica. Devido às leis da ressonância e da

estrutura da membrana, as vibrações da membrana (deslocamento) serão maiores na

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corda que está afinada com a freqüência em questão. Cada nota terá, assim, uma

localização específica ao longo da membrana, da mesma forma como as cordas de

uma harpa ou de um piano. As cordas no ouvido interno são acionadas pela

ressonância de um modo bastante semelhante ao que ocorre quando se levanta a

tampa do piano e se grita no seu interior, enquanto se aperta o pedal direito: o piano

responde com um som fraco correspondente à altura do grito devido às vibrações

(ressonância) nas cordas afinadas com o grito. (Figuras 1 e 2).

Células sensitivas com cílios no ápice estão incrustadas na membrana.

Quando os cílios se inclinam durante o deslocamento da membrana, ocorre a

liberação de uma substância química eletricamente carregada que é recolhida por

uma fibra nervosa que conduz esse impulso nervoso para o cérebro. No caso de

ocorrerem muitos sons ao mesmo tempo durante o estímulo sonoro, cada som

produzirá deslocamento da membrana no seu lugar característico.

Fig. 1 - Estrutura do ouvido

Fig. 2 - Cóclea desenrolada com "cordas" incrustadas na membrana basilar. O deslocamento da membrana é maior no local onde a corda é afinada à freqüência do som: cada som tem seu próprio local (estão indicados três pontos de deslocamento máximo para um acorde de três sons).

3.3. Melodia

Vê-se que a grande maioria dos indivíduos considera que a melodia é o item

fundamental da música, sendo até mesmo considerada um elemento central em

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determinadas culturas. Todos sabem o que é melodia, ainda que não consigam

explicá-la. Se se pedir a alguém que cante a melodia da música “parabéns pra você”,

por exemplo, com certeza a pessoa saberá o que está sendo solicitando.

No senso-comum melodia lembra suavidade. O Dicionário Brasileiro Globo

(1999), define melodia como “uma série de sons agradáveis ao ouvido; conjunto de

sons sucessivos que formam uma ou mais frases musicais”. A questão dos sons

agradáveis parece idealizar a música de forma romântica, ingênua, donde se conclui

que o emprego de certos adjetivos às conceituações deveria ser empregado com a

máxima cautela, pois o adjetivo, a qualidade, muitas das vezes cria uma marca

profunda, um rótulo.

Já Roy Benett (1986, p. 11) aponta que num dicionário musical a mesma é

definida como uma “seqüência de notas, de diferentes sons, organizadas numa dada

forma de modo a fazer sentido musical para quem escuta.” Então se conclui que é

difícil definir melodia de forma precisa e fechada. Musicalmente falando, melodia é

uma progressão de sons que gera um sentido musical que varia de pessoa a pessoa.

Ou seja, o que é aceitável para um indivíduo, pode ser inconcebível para o outro.

Psicologicamente falando, a melodia seria o aspecto afetivo da música que mobiliza

os sentimentos, a emoção. É também

a primeira e imediata expressão de capacidades musicais, pois se desenvolve a partir da língua, da acentuação das palavras, e forma uma sucessão de notas característica que, por vezes, resulta num padrão rítmico e harmônico reconhecível (http://www1.folha.uol.com.br/folha/almanaque/musicaoquee.htm)

Sekeff (2002, p. 45) define melodia extrapolando os aspectos musicais e

evidenciando o fator psicológico da mesma:

[...] a melodia é a sucessão temporal de sons e silêncios com sentido e direcionalidade, sustentada (no caso da música do Ocidente) por uma estrutura acordal presente e/ou subentendida. Como ‘canção de dentro’, psicologicamente falando, ela é sempre vinculada a nossas tendências e inclinações, a nossa consciência afetiva, à propriedade de transformar impressões e a um determinado contexto cultural. Tendo o ritmo como denominador comum, sua natureza é física (sensorial) e psicológica (afetiva). Física, porque as relações sonoras, base material da melodia, induzem prazer e/ou desprazer, ou seja, falam à nossa sensibilidade, essa propriedade psicofísica do indivíduo que lhe permite experimentar estímulos. E natureza psicológica pelo fato que as relações sonoras, dotadas que são de sentido, induzem movimentos afetivos correspondentes, que os elementos duração e intensidade acabam por se tornar vitais na ação do poder emocional melódico...A melodia induz respostas privilegiadamente afetivas, quer por seu aspecto físico/acústico – som, base material da música, quer seja por seu aspecto psíquico – relações sonoras com sentido – colaborando na aproximação do homem com ele mesmo.

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Agora, em se tratando de psicopedagogia, o processo de aprender possui um

sentido: o que pode ser fácil para um, pode ser de extrema dificuldade para o outro; o

que é importante para um indivíduo, para o outro pode ser completamente

indiferente, pois cada um tem sua maneira de interpretar esse sentido e de

ressignificar suas relações com os objetos de aprendizagem. Caberá ao

psicopedagogo fazer que o educando resgate esse sentido de aprender, isto é, a sua

melodia própria.

As sugestões que trabalhem a melodia, como os demais elementos musicais,

podem ser retiradas dos livros de Musicalização, Educação Musical, Musicoterapia,

Pedagogia, Jogos, Dinâmicas de Grupo; aqueles que estimulem as inteligências

múltiplas também podem fornecer boas atividades, que podem ser desenvolvidas

focando escolhas de melodias (que apreciam e que não agradam); reproduzir e

inventar melodias, fazer gráfico das melodias (aqui, pode-se pensar nas propriedades

do som), comparações de melodias diversas, desenhos e outras formas de expressão

plástica ou corporal das melodias, entre outros.

3.4. Harmonia

A harmonia seria um produto da cultura ocidental; numa visão global,

harmonia significa concórdia, paz, amizade entre pessoas, disposição bem ordenada

entre as partes de um todo, ordem, congruência.

Do ponto de vista musical, ocorre quando dois ou mais sons são ouvidos

simultaneamente, produzindo o que se chama acorde. A harmonia pode ser

consonante ou dissonante, o que pode originar uma incompreensão; consonância, em

latim consonantia, significa acordo, concordância, ou seja, consonante é todo o som

que parece agradável, que concorda com o gosto musical e com os outros sons que o

seguem. Já dissonância, em latim dissonantia, significa desarmonia, discordância,

ou seja, é todo som que parece desagradável ou, no sentido mais de teoria musical,

todo intervalo que não satisfaz a idéia de repouso e pede resolução em uma

consonância.

A incompreensão se dá porque as concordâncias e discordâncias mudam de

cultura para cultura, pois quando ocidentais, ouvimos uma música oriental típica,

chegamos, às vezes, a ter impressão de que ela está em total desacordo com o que os

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ouvidos ocidentais estão acostumados. Portanto o que se pode dizer é que os povos,

na realidade, têm consonâncias e dissonâncias próprias, pois elas representam as suas

subjetividades, as suas idiossincrasias, o gosto e o costume de cada povo e de cada

cultura. Assim, dependendo da utilização dos termos consonância e dissonância

pode ser perigosa ao se tentar rotular alguma produção musical.

Priolli (1989, p. 6) afirma que a harmonia “consiste na execução de vários

sons ouvidos ao mesmo tempo, observadas as leis que regem os agrupamentos dos

sons simultâneos.” “A harmonia, segundo elemento mais importante, é responsável

pelo desenvolvimento da arte musical. Foi da harmonia de vozes humanas que

surgiu a música instrumental” (http://www1.folha.uol.com.br/folha/almanaque/

musicaoquee.htm). Psicologicamente falando a harmonia seria o aspecto mais

intelectual da música.

A aprendizagem se dá quando existe harmonia nos aspectos: social (tripé:

escola –comunidade - família), cultural, emocional (o psicológico e o psicanalítico) e

didático. Assim como os sons são diferentes, somos pessoas heterogêneas que

podem encontrar facilidades ou dificuldades no aprender que ocorre de maneira

individual, conforme o desejo, todavia não podemos excluir a questão do coletivo

nesta empreitada.

[...] a harmonia (combinação simultânea de sons, de freqüências segundo determinados princípios) procede da articulação intelectual do homem e resulta na articulação intelectual da própria música. Som, ritmo, melodia se completam com a harmonia, sustentada esta no acorde, uma das concepções mais originais do homem ocidental, com seu tríplice poder: sensorial, afetivo e mental...corresponde à natureza intelectual do indivíduo, envolvendo aprendizagem, lógica, juízo, raciocínio, análise, síntese, abstração, percepção, memória, ou seja, pondo em jogo nossas funções psíquicas superiores. (SEKEFF, 2002, p. 46-47).

Com base neste tópico deveriam ser questões de investigação do

psicopedagogo: como a aprendizagem afeta o indivíduo quando este se encontra só?

Como a mesma ocorre em situações de conjunto? Há algum aspecto que está

interferindo mais profundamente na harmonia do indivíduo?

Pode-se trabalhar com o indivíduo da seguinte maneira: pedir para que

escolha uma harmonia instrumental que mais lhe agrade, outra que mais lhe

desagrade, fazer comparações entre harmonias diferenciadas. Desta forma, é

possível fazer uma avaliação e até mesmo uma intervenção, além de se trabalhar as

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inteligências intra e interpessoal e a lingüística. Sendo assim, o psicopedagogo pode

considerar a harmonia em todas as significações: no musical e geral.

3.5. Rítmo

Podemos observar o ritmo em tudo que fazemos: no corpo, na fala, no choque

entre objetos sonoros, nos jogos, brincadeiras entre outros. Sem ritmo não há

música, acredita-se que os movimentos rítmicos do corpo humano tenham originado

a musica; o ritmo é de tal maneira mais importante que é o único elemento que pode

existir independente dos outros dois: a harmonia e a melodia. Roy Bennett (1986,

p.12).define o ritmo como os

Diferentes modos pelos quais um compositor agrupa os sons musicais, principalmente do ponto de vista da duração dos sons e de sua acentuação. No plano do fundo musical, haverá uma batida regular, a pulsação da música (ouvida ou simplesmente sentida), que serve de referência para medir o ritmo.

Como esta definição abrange outros dois conceitos - pulsação e acentuação -

tentar-se-á, de forma sintética e clara esclarecer, os mesmos. Pode-se apontar a

contribuição de Newton, que no século XVI utilizou a palavra pulsus, que em latim

significa pulso, trazendo um conceito de pulsação:

[...] Podemos defini-lo como uma constante dentro da música. É a sucessão de tempos sobre o que se desenvolve e está construído o ritmo e a melodia. Também é chamado de ‘sempre igual’ e comparado com o tique-taque do relógio (de BOVONE, 1975, p. 27)

A partir deste conceito de pulsação pode-se acrescentar a contribuição de

Rosa (1988, p. 24) que diz que a acentuação ou acento “é a pulsação de maior

destaque em uma palavra. O uso de palavras é um bom começo para

desenvolvermos a sensação de apoio nas crianças”. Vale ressaltar que no aspecto

musical instrumental, esta pulsação de maior destaque recai sobre as notas musicais.

O ritmo sonoro,

pelos seus elementos de duração e de intensidade, provoca flutuações na altura do som, introduz-nos assim no campo melódico; do mesmo modo, uma melodia bem equilibrada contém já na sua estrutura os acordes destinados a dar-lhe suporte harmônico... transpondo estas relações diremos que a melodia contém necessariamente o ritmo e que a harmonia contém a melodia e o ritmo (WILLEMS, 1970, p.11).

Como um estímulo sensorial, a música compreendida por seus elementos, ou

seja, melodia, harmonia e, em especial, o ritmo, segundo Gaston (1968, p. 37), é um

componente significativo na natureza social do homem.

O ritmo organiza e proporciona energia (...) por si só organiza a ordem temporal

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da música (...) é regular e universal, independente da época em que este é ouvido (...) as atividades rítmicas facilitam a tarefa em conjunto, pois não requer a comunicação verbal; o ritmo atua como vínculo de união.

No cotidiano costuma-se a comentar sobre o ritmo de vida, ou seja, a levada

das atividades diárias de cada pessoa; umas são regulares, outras imprevistas e

algumas esporádicas. Cada um possui o seu ritmo próprio, o seu tempo natural de

execução de tarefas, ações, comandos.

O elemento rítmico é tão importante que foi constatado que crianças com

dificuldades sérias em repetir batidas de uma pulsação revelam problemas de

coordenação motora, algum bloqueio de ordem psíquica e muitas vezes, falta do

cultivo de boa música no seio familiar. O ritmo também está associado à questão da

emoção, por isso, sem música, como fazer a música existir?

[...] a música nada mais é do que uma pattern rítmica. Essas patterns de ritmo intensidade exercem um efeito profundo sobre nós, indicativo de que o compositor que escolheu colocá-las no papel exprimiu uma emoção "alegre", "atormentada" ou "graciosa" na ocasião em que as concebeu, e isso obviamente se deve a alguma associação entre essas patterns e a mente humana. A resposta será encontrada no fato de que o organismo também passa por uma série de patterns de ritmo-intensidade à medida que viaja através da gama emocional de sua existência (MUGGIATI, 1981, p. 87).

Há uma gama de atividades em que se pode trabalhar a questão do ritmo, para

tanto, fica a mesma indicação bibliográfica supracitada, incluindo, livros na área da

Psicomotricidade e também de Educação Infantil. Podem servir de sugestões:

acompanhar músicas de diversos ritmos com movimentos livres, executar

movimentos programados de acordo com os compassos das músicas, improvisação

de situações rítmicas com movimentos corporais ou com instrumentos musicais etc.

3.6. Timbre

A definição mais famosa de timbre é cor do som, ou seja, a qualidade do som

que lhe é peculiar, característico, que o define como tal. É um conjunto de

harmônicos que caracteriza cada som. Através do timbre pode-se distinguir os sons,

ou melhor, reconhecer dois ou mais sons com altura e intensidade idênticas, porém

produzidas por instrumentos e vozes diferenciados. Um exemplo prático: como

sabemos que uma determinada pessoa é quem está falando mesmo sem vê-la? É

reconhecido o seu timbre de voz. “O timbre é o que caracteriza a sonoridade de cada

instrumento (ou cada voz humana). É a qualidade de som própria a cada um. A

seleção e combinação de timbres vão dar o ‘colorido’ da peça musical” (COSTA,

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1989, p. 62).

O timbre também

está ligado aos harmônicos (sons parciais que acompanham um som gerador ou fundamental) o timbre como a altura e a intensidade, é parte inerente do som como substância acústica, favorecendo “respostas talâmicas”, nos homens e nos animais. (SEKEFF, 2002, p.47).

Vale ressaltar que respostas talâmicas são sensações que não precisam de

interpretação pelas funções superiores do cérebro humano. O psicopedagogo pode

trabalhar com o timbre visando a vários objetivos: trabalhar a concentração,

memória, tempo de reação.

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4. OS BENEFÍCIOS DA MÚSICA PARA O SER HUMANO

Tratar deste assunto para a Psicopedagogia é algo de extrema importância,

pois como justificar a música como uma poderosa arma da prática psicopedagógica -

avaliação e intervenção, tantos em seres normais, quanto patológicos sem realizar

uma reflexão minuciosa acerca do seu poder, da sua ação sobre o indivíduo.

Falar dos benefícios da música é pensar em sua influência direta sobre as

pessoas sob a ótica deste tripé - aspectos físicos, psicológicos e fisiológicos. Não se

tem como separar tais aspectos neste estudo, assim como, não se pode dividir o

homem em suas diversas áreas, torna-se imprescindível ter uma visão holística, isto

é, total, do binômio homem-música ou música-homem.

A maioria das pessoas não presta muita atenção às leis da música e ignora o

impacto que a música tem sobre a sua saúde física, social e mental. Todavia, a

música não é algo neutro. Por exemplo, atualmente, a escolha de uma música é

amplamente determinada pelo gosto pessoal. Esta tendência reflete a orientação

consumista de uma sociedade onde muitas pessoas se enchem indiscriminadamente

com alimento impróprio, inferior, que ocasiona inúmeros efeitos psicológicos, bem

como desordens físicas, tais como a falta de concentração e a deficiência na

aprendizagem entre as crianças na escola e jovens estudantes. A mesma atitude

indiscriminada é encontrada no consumo de música inferior e prejudicial. A

influência musical ultrapassa tudo o que se pode imaginar.

Por suas múltiplas faces e interfaces, a música é acoplada às diversas

disciplinas como suporte ou, às vezes, como o centro, como se fosse um tipo de

musicocentrismo. Sendo assim, a música impressiona cada pessoa de uma forma

peculiar, indo do ruído ao silêncio (pausa), desde a vida intra-uterina - vibração

rítmica-sonora da vivência oceânica, descrita por Freud - e depois ao nascer, pela voz

melodiosa dos que o cercam. O interessante é que a música do novo mundo de um

bebê é escolhida e recepcionada pelo próprio, de acordo com o seu grau de

satisfação, agrado e prazer; assegurando-lhe proteção etc. “Confirmando lembranças

de experiências fetais, o psiquiatra registra a existência de pessoas que, ouvindo

música mantêm os olhos cerrados e a boca semi-aberta, ‘bebendo’ a música (leite)

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em prazer regressivo” (SEKEFF, 2002, p.71).

Uma informação interessante é que o cientista russo, Ivan P. Pavlov,

conduziu experimentos sobre os efeitos da música em cães. Ele publicou os

resultados de suas experiências por volta do início do século. Sua pesquisa

contribuiu significativamente para o desenvolvimento no campo da psicologia

comportamental na América. Pavlov administrou testes das reações de reflexos de

seus cães ao ritmo, ele percebeu que quando ele tocava ritmos rápidos seus cães

reagiam com excitação; ritmos mais lentos tinham um efeito tranqüilizador. Quando

exposto a ritmos sincopados, o sistema nervoso dos cães dava a impressão de estar

sendo manipulado, e eles pareciam estar confusos não sabendo como reagir.

Os sons podem acarretar alterações no organismo vivo, portanto é de

interesse saber quais são as alterações possíveis, em que níveis e em que intensidade

elas ocorrem, infelizmente há casos raros de epilepsia musicogênica que é justamente

uma forma de epilepsia que pode ser desencadeada em indivíduos predispostos, pelo

estímulo da música. A música é que seria o impulsionador dos ataques.

Uma ação da música sobre o indivíduo é oriunda do ritmo. Toda pessoa tem

um ritmo interior, uma identidade sonora que a diferencia das outras, logo, o ser

humano é uma criatura fundamentalmente rítmica! O ritmo é capaz de mobilizar a

atividade motora de cada um, pois proporciona imagens cinestésicas na mente,

produz imagens no pensamento humano que parecem reais. Portanto, pode-se

experimentar a sensação de realizar movimentos; o ritmo também estimula a

execução das atividades voluntárias e a extensão de reflexos condicionados. Uma

música mais rítmica num ambiente de trabalho (mas que não desvie a atenção para

ela) em que se tem que produzir bastante aumenta o grau de energia e eficiência, traz

ânimo, diminui tensões o tédio e até pode evitar acidentes e problemas no trabalho.

Em consultórios dentários ou em operações, cirurgias médicas a música pode ser

utilizada para aliviar inquietações, ansiedades, minimizar o medo e a sensibilidade à

dor. Pesquisas comprovam que não apenas o ritmo, mas a música como um todo tem

repercussão em todos os nossos sistemas (aparelhos) funcionais.

A ação do ritmo se estende por nossa respiração, circulação, digestão, oxigenação, dinamismo nervoso e humoral, e sobre o cortejo de nossas operações mentais; induz reações positivas e negativas, cria consciência do movimento, propicia o controle do sistema motor (nesse procedimento se assenta a educação de deficientes motores), robustece e enfraquece a energia muscular,

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reduz e retarda a fadiga) (SEKEFF, 2002, p. 72-73)

Even Ruud aponta em recentes pesquisas, as quais provam que a música

poderia influenciar o ciclo menstrual das mulheres. Um estudo também encontrou

um aumento do hormônio lutenizante (LH) enquanto se escutava música. Outros

estudos indicam que a música libera adrenalina e possivelmente outros hormônios.

Também influencia a resistência da eletricidade da pele do corpo, a qual, por sua vez,

afeta e governa os humores de uma pessoa.

Pesquisas médicas atestam que o desenvolvimento do cérebro ocorre mais

rápido nos primeiros anos de vida da criança; o desenvolvimento sadio do cérebro

atua diretamente sobre a capacidade cognitiva. Quando ativado para funções como a

linguagem, a matemática, a arte, música ou atividade física que facilitam para que as

crianças desenvolvam seu potencial e sejam futuros adultos inteligentes, confiantes e

articulados. Tal evidência remete ao fenômeno denominado o Efeito Mozart que é

um termo cunhado por Alfred A. Tomatis para um alegado aumento no

desenvolvimento cerebral que ocorre em crianças com menos de 3 anos, quando elas

ouvem música de Wolfgang Amadeus Mozart.

A idéia do Efeito Mozart surgiu em 1993 na Universidade da Califórnia, em

Irvine, com o físico Gordon Shaw e Frances Rauscher, uma expert em

desenvolvimento cognitivo. Eles estudaram os efeitos sobre algumas dúzias de

estudantes universitários depois de escutar os primeiros 10 minutos da Sonata Para

Dois Pianos em Ré Maior (K.448) de Mozart e encontraram um melhoramento

temporário do raciocínio espaço-temporal, conforme medido pelo teste Stanford-

Binet de QI, porém alguns estudiosos afirmam que tal evento não é comprovado

cientificamente, colocando à prova sua verdadeira eficácia, enquanto outros tais

como Don Campbell acredita veemente nesta probabilidade. Ao descobrir um

coágulo cerebral, ele resolveu buscar a cura por meio da musicoterapia, escutando

Mozart. Depois de curado escreveu este livro, onde mostra a eficácia da música

erudita no tratamento auxiliar de doenças como câncer, derrames, diabetes e

problemas cardíacos.

Em termos psicológicos, a música é aquela que propicia o estabelecimento ou

a retomada do equilíbrio afetivo e emocional, por intermédio do desabafo e alívio do

fardo angustiante. Sendo bem selecionada, isso, de acordo com a singularidade do

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indivíduo, pode proporcionar calma, relaxamento, bem-estar. Não se irá descrever

musicalmente que tipo de música favorece este ambiente, pois como dito, depende de

cada organismo e varia de pessoa a pessoa. Neste parágrafo, ainda vale mencionar o

fenômeno da emoção musical (a emoção advinda pela música) que é o estado de

excitação físico-psíquico, um impulso que contribui para determinar o

comportamento do homem, que pode ser tanto orgânico quanto psíquico. Cada ser

tem seu ritmo-afetivo próprio, constituindo assim o seu temperamento afetivo.

Ainda no âmbito da psicologia, a música contribui para que o indivíduo dê

uma saída emocional, pois a mesma envolve corpo, mente e emoções. Por isso, faz

com que haja a emersão dos conteúdos inconscientes que podem ser aproveitados

pelos próprios psicólogos, musicoterapeutas, psicanalistas e outros que possam fazer

bom uso do mesmo e por que não dizer que os psicopedagogos também não possam

ter acesso a este material?

Ela tem uma função catártica que às vezes é usada de maneira inconsciente

para expurgar emoções em que não se consegue expressar verbalmente. Isto é, a

música atua como um objeto intermediário, um mediador que vem favorecer a

verbalização da forma em que acontecer.

A música é necessária na educação porque ela tem um papel pedagógico ativo

pela sua alta capacidade comunicativa, ela entusiasma, desenvolve a argumentação,

educa os sentimentos, trazendo para a psicopedagogia efeitos positivos porque

ela age sobre a capacidade de atenção do educando, estimulando-o até níveis insuspeitados, e de tal forma que se investia hoje a possibilidade de certas músicas, retendo a capacidade de atenção de pessoas predispostas, prolongarem sua atividade psicomotora muito além do que o fazem determinadas drogas (SEKEFF, 2002, p. 78)

A música desenvolve a inteligência lógico-matemática porque lida com

durações, compassos, pulsos, proporcionalidade, andamentos. Ao tocar um

instrumento, também se desenvolve a inteligência espacial e, com certeza, as outras

inteligências perpassam de alguma forma por esta atividade. Os autores comentam

que a proficiência em música, matemática e xadrez resulta dos mais altos processos

cerebrais e concluem que a música é muito útil para compreender o funcionamento

das funções corticais superiores (uma janela), além de também auxiliar a maturação

intelectual, o desenvolvimento cognitivo, a educação do pensamento, porque a

percepção musical exige, por mínima que seja, a participação da inteligência.

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Também catalisa a memória, pois como visto anteriormente a música faz com que as

pessoas criem imagens e a formação de imagens é função da memória. Então,

quanto mais sons diferenciados uma pessoa ouvir, maior será sua identificação à

sensibilidade sonora, envolvendo maior área cerebral para reter tais informações, ou

seja, quanto mais imagens um indivíduo visualizar, maior será seu arsenal de

conhecimentos nesta área.

As freqüências musicais ao penetrarem na mente desencadeiam mecanismos

cerebrais capazes de projetar, em nível consciente, imagens, recordações, histórias

vividas ou ouvidas, sensações táteis, gustativas e olfativas, transportando o indivíduo

para a bagagem de informações armazenadas na memória que fora gravada com

freqüência musical do passado. Todo desenvolvimento intelectual se ampara neste

conceito.

Pensando sob o olhar da Psicomotricidade, a música contribui para a

coordenação global e para o equilíbrio estático e dinâmico que são os objetivos

fundamentais da mesma.

Como uma grande transmissora cultural e social a música pode ser

experimentada coletivamente, amortecendo as funções críticas e impelindo as

pessoas à ação, este fenômeno denomina-se música de massas. Traz uma

consciência de cidadania, é contagiante e impregnada de política, ideologia, sem

rebuscamentos técnicos-musicais, é acessível. Vale ressaltar que a cultura não se

mede só pela intelectualidade, mas pela abrangência do indivíduo nas áreas

sensitivas, sociais e comunitárias, sendo que a música e a pintura se sobressaem por

seu grande número de variações de códigos e ativação dos neurônios.

A música também tem sido desenvolvida em estudos e utilizada

satisfatoriamente no tratamento e recuperação de infradotados, como cegos, surdos,

perturbados e deficientes motores e doentes mentais, os quais não se irão detalhar,

pois este capítulo não seria suficiente para abordar tal assunto. Fica, no entanto,

registrado para incitar à pesquisa e investigação os interessados.

Sekeff (2002) reúne as beneficies da música em seu livro Da música: seus

usos e recursos , dizendo que a música exerce ação psicofisiológica no indivíduo, o

som e o ritmo movem e comovem o ser humano e também funda e nutre o

inconsciente. Ela tem ação na atividade motora humana, estimula a mente, alimenta o

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poder de atenção, abaixa o limiar em relação à dor e à tensão pré-operatória,

constitui-se num recurso contra o medo e a ansiedade, satisfaz algumas necessidades

inconfessadas, além de ser um excelente recurso de catarse, como produção

exclusivamente humana, fala às emoções, tem acesso ao sistema límbico (local no

qual a mente e o corpo se interconectam, onde o pensamento encontra a emoção). A

música estimula a criatividade e o espírito inventivo, o seu exercício estimula a

memória, a inteligência do “cérebro emocional”, sua prática estimula o equilíbrio

afetivo e emocional, tem o poder de evocar, associar e integrar experiências e,

finalmente, auxilia o indivíduo em razão de seus estímulos fisiológicos e

psicológicos.

A Associação Brasileira de música também traz uma contribuição em matéria

de seu site (http://www.abemusica.com.br/noticia.asp?id=44&p=objRecordset) sobre

os dez benefícios de se fazer música:

a) ela provoca um forte impacto no cérebro e deve ser encorajada nas

crianças desce cedo;

b) tocar instrumentos fortalece a atenção dos olhos, força mãos, além da

coordenação motora;

c) o estudo musical amplia o raciocínio tempo espaço em crianças na escola,

o que tem grande valia em estudo de matemática e ciência;

d) crianças que estudam musica têm comportamento melhor em salas de

aula e redução de problemas disciplinares;

e) pessoas de mais idade que estão envolvidas no ato de fazer música

tiveram resultados significativos na saúde e estudos provaram que a música

ativa o cerebellum e pode colaborar com uma recapacitação da fala;

f) estudos também provaram que o fazer música altera quimicamente

algumas regiões do cérebro ajudando pessoas com o mal de Alzheimer;

g) também foi provado por universidades americanas que o desenvolvimento

musical faz reduzir o sentimento de ansiedade, solidão e depressão;

h) foi constatado também que fazer música diminui o stress e isso colabora

para um melhor reforço do sistema imunológico;

i) um outro estudo realizado em pessoas na terceira idade que tiveram aulas

de piano/teclado demonstraram que houve um aumento no hormônio do

crescimento (hGH), que colabora aumentando o nível de energia, funções

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sexuais, massa muscular e evitando que aumente o grau de osteoporose e até

rugas;

j) música para todas as idades reforça o sentimento e convivência em grupo

proporcionando melhoras no relacionamento interpessoal.

Uma dieta sonora seja ela qual for, pode, e muito, melhorar a vida do homem,

sendo uma alternativa à utilização de tantos remédios que podem muitas das vezes

prejudicar a saúde, mas é óbvio que em alguns casos o uso da medicação é essencial.

Priscila Willik Valenti em - A Escola e a Musicalização - Parte I Artigo publicado

em 20/09/97 no Jornal A Gazeta, explana os tipos de música e suas reações no

indivíduo:

Músicas em tom menor e ritmos lentos diminuem a capacidade de trabalho muscular. Acordes ininterruptos abaixam a pressão sangüínea e acordes secos e repetidos elevem-na. Ritmos irregulares do jazz e rock causam a perda do ritmo normal de batidas cardíacas. O rock eleva a pressão do sangue, portanto é nocivo aos hipertensos e, como as pulsações cardíacas afetam o estado emocional, esse estilo provoca tensão e desarmonia espiritual. A música suave e os sons harmoniosos são os mais indicados e podem se tornar relaxantes, sedativos ou estimulantes, dependendo do ritmo musical. Este relaciona-se com a pulsação cardíaca normal de 65 a 80 batimentos por minuto. Quando o ritmo acompanha essa pulsação, provoca uma harmonização orgânica e o ouvinte tende a acalmar-se e relaxar. Quando um ritmo musical é mais lento do que os batimentos cardíacos, ocorre uma certa ansiedade e inquietação, um desejo de acelerar o movimento da música; enquanto que, os ritmos excessivamente rápidos provocam excitação porque aceleram as batidas do coração. (http://users.task.com.br//jo/musica.htm)

Os sons podem acarretar alterações no organismo vivo, portanto é de

interesse saber quais são as alterações possíveis, em que níveis e em que intensidade

elas ocorrem; infelizmente há casos raros de epilepsia musicogênica que é justamente

uma forma de epilepsia que pode ser desencadeada em indivíduos predispostos, pelo

estímulo da música. Ela é que seria o impulsionador dos ataques.

Conclui-se que mesmo com uma gama de benefícios, ainda haverá pesquisas

que irão descobrir outras vantagens para o ser humano, o que prova o quão

importante ela é para a prática psicopedagógica: “Como toda relação humana

(educacional ou terapêutica), terapia e educação propiciam uma experiência; esta

conduz a um aprendizado que mobiliza novas formas de comportamento” (SEKEFF,

2002, p. 88).

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5. A MÚSICA E A PRÁTICA PSICOPEDAGÓGICA

Depois de um extenso arcabouço teórico, neste capítulo pretende-se realizar a

correlação entre a Música e a Psicopedagogia. Todavia, antes de iniciar esta ponte,

convém lembrar que a Psicopedagogia, em linhas gerais, consiste na junção dos

conhecimentos da psicologia e da pedagogia e tem como objeto de estudo as causas

da não-aprendizagem, trabalhando com o diagnóstico e tratamento ou intervenção de

um aluno com dificuldades de aprendizagem. Este profissional atua em duas

principais áreas: a institucional e a clínica.

Na área institucional (escola), tem como objetivo a prevenção das

dificuldades que possam aparecer durante o processo de ensino-aprendizagem. Este

profissional atua com o corpo docente (professores) estabelecendo estratégias de

ensino e, para o indivíduo que apresenta uma dificuldade que não possa ser resolvida

no âmbito escolar será feito encaminhamento ao profissional competente. Na área

clínica, é o trabalho é mais individual, com atendimento personalizado, o diagnóstico

e o tratamento são feitos através de sessões lúdicas (brinquedos). O tratamento pode

ser realizado em grupo, claro que bem menor do que na escola, lembrando que para o

psicopedagogo obter êxito em seu trabalho deverá administrar a sua ansiedade, sem

rótulos e sua ação deve ser promovida e catalisada por uma equipe multidisciplinar,

a fim de se obter uma visão holística do caso em questão.

Outro fator a se considerar é que a música pode ser um valioso instrumento

de avaliação e de intervenção psicopedagógica tanto em indivíduos ditos normais

como em sujeitos patológicos. No entanto, essa classificação é extremamente

perigosa, pois o que é ser normal? E o que é ser patológico? Depende do ponto de

vista, da interpretação de cada um, ou de repente, esta divisão nem exista, o que

exista é a singularidade! Contudo, só foi utilizada para garantir a compreensão do

texto, esclarecendo que não se irá focar um distúrbio de aprendizagem

especificamente.

Pode-se pensar a música na psicopedagogia em um ambiente clínico.

Por fim, na área de disfunção intelectual que freqüentemente é assinalada por interesses inconstantes, a ausência de um referencial espaço-temporal, suas representações e problemas com simbolização, os estudos têm demonstrado que

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o trabalho com música pode ser eficaz em diminuir as dificuldades de aprendizagem e de memorização encontradas em certas crianças na idade escolar (A. M. Duvivier...). A música, com seu inerente domínio de tempo e espaço, oferece meios excepcionais de ajuda e reparação (http:// www.ubam.hpg.ig. com.br/html/docs/rbm01_2.htm)

Ou então, sob o olhar da Psicopedagogia Institucional como um elemento

preventivo, pois

De uma forma concisa, pode-se notar que a arte apresenta uma função básica triplicada no campo da psicopedagogia: uma função educacional (G. Bondinet, E. Bigand, A. Bustarret,...), uma função de seleção e prevenção ligada ao estudo psicológico da produção do som (E. Bigand, C. Chaillet, E. Lecourt, Nevjinski,...) e uma função terapêu-tica que a educação especializada tenta introduzir através da reeducação (G. Ducourneau...). O estudo do lugar e do papel da música envolve uma análise de como a música é organizada e produzida e dos efeitos que produz. Por exemplo, pesquisa-se a conduta musical da criança (F. Delalande, A. Bustarret, C. Lapongade, E. Lecourt) analisando-se o comportamento musical espontâneo conforme observado na vida diária. Essa orientação possibilita que se utilize a pesquisa em psicopedagogia na prevenção - através da mediação artística - de certos comportamentos inadaptados em crianças com dificuldades. O trabalho feito por J. P. Mialaret com o canto espontâneo de crianças também se vincula à musicoterapia ao lidar com improvisação e prevenção. No contexto de seleção precoce com o objetivo de prevenção, pesquisa-se certas formas de inadaptação encontradas em pessoas com dificuldades no espaço escolar, cultural ou social. (C. Chaillet – Damalix)”.( http:// www.ubam.hpg.ig.com.br/html/docs/rbm01_2.htm)

E por que escolher justamente a música como recurso, ferramenta,

instrumento da Psicopedagogia? O fato primordial desta questão é que a música

proporciona prazer, é um elemento motivacional e traz inúmeras beneficies ao ser

humano. Quando se sente prazer, fica-se motivado para se impelir a alguma ação;

quando se pensa em prazer, se pensa numa satisfação imediata pois o prazer é um

veemente objeto das intenções humanas. Por exemplo, pode-se imaginar um

indivíduo que está demasiadamente abatido, desanimado, sem esperanças, com olhar

depressivo chegando ao consultório do Psicopedagogo e realizar a sessão sem sentir

alguma dor ou pesar? A resposta tem grandes possibilidades de ser afirmativa, se o

mesmo foi conduzido por uma atividade que envolvia música, pois esta tem o poder

de minimizar o estado de apatia em que o indivíduo se encontra e ainda motiva para

a vida, proporcionando prazer! Pensando na teoria freudiana,

A Música, diz MDMagno, é princípio de prazer, que no falante funciona como processo primário, e a música corresponde ao princípio de realidade, processo secundário, que sai também do princípio de prazer. Desse modo a música, princípio de realidade, é o ‘inconsciente numa outra’, o que significa dizer que é o processo primário é o princípio de prazer da falante enquanto tal. E de tal forma que a música não é exatamente o inconsciente, mas seu processo de articulação vem a ser o mesmo do princípio do prazer. (SEKEFF, 2002, p.83)

Uma indagação também pode ser feita: por que os feitos artísticos dos alunos

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não podem ser alvo de uma avaliação psicopedagógica? Seria mérito apenas dos

professores de Artes, Música e dos musicoterapeutas? A citação abaixo prova que a

música também pode ser um objeto da Psicopedagogia, provando a

interdisciplinaridade existente entre as diversas áreas de estudo.

Os psicopedagogos podem também utilizar o que as pessoas produzem em termos artísticos como um ‘objeto’ de estudo, com o que facilitam o processo de aquisição e desenvolvimento. Essa experiência criativa pode conduzir a uma experiência cultural, a uma apropriação e construção cultural, possibilitando que determinadas pessoas marginalizadas e excluídas tenham acesso a um espaço social. As funções da arte e o lugar específico que ela ocupa em nossa sociedade promovem essa integração (http://www.ubam.hpg.ig.com.br/html/docs/rbm 01_2.htm)

Por se tratar da música em um tratamento, não se quer assumir o lugar da

Musicoterapia, pois esta tem sua posição definida entre as ciências, sendo uma

terapia, aliada à medicina para a cura de problemas que vão além das dificuldades de

aprendizagem. Ubiraci de Souza Leal, engenheiro e musicoterapetua, relata que a

Musicoterapia abrange toda a parte de doenças psicossomáticas, a saúde vista de

maneira holística . Ele também fala que a mesma cura realmente, e não que

simplesmente ameniza os sintomas; acrescenta ainda que tem seus princípios básicos,

assim como a Psicoterapia, e a partir daí é que se orienta o indivíduo a tocar um

instrumento com o qual se identifique, a participar do som, da música, de uma dança,

de modo a reencontrar o seu equilíbrio.

A musicoterapia tem uma gama de aplicações, dentre as quais destaca-se o

trabalho com pacientes portadores de deficiências físicas, como paralisia e distrofia

muscular progressiva. As deficiências sensoriais (visual e auditiva) e as síndromes

genéticas (Down, Turner e Rett) também contam com essa opção como tratamento

complementar; distúrbios neurológicos (lesões cerebrais, dislexias, disfonias, entre

outros) e doenças mentais, como esquizofrenia, autismo infantil, depressão e

distúrbio obsessivo compulsivo também podem se beneficiar com essa terapêutica.

Para a musicoterapia, a música pode ser aplicada desde a vida intra-uterina, pois

pesquisas provaram que o feto reage ao som e, por ser estimulado desde cedo, nasce

com maior capacidade de desenvolver seu potencial.

A Psicopedagogia também irá incorporar elementos da musicoterapia em seus

tratamentos adaptando-os aos objetivos educacionais.

No início do tratamento, por intermédio de pequenos trechos sonoros, verifica-se

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em que fase da vida a pessoa sofreu os maiores desequilíbrios." A teoria obedece a uma coincidência entre a evolução musical e a vida humana. "Na música, há timbre (embrião), ritmo (feto formado), melodia (infância), harmonia (juventude e idade adulta) e sinfonia (‘condição de sábio’ ou velhice). (http://www.seesp.org.br/imprensa/149reportagem4.htm).

Quando o psicopedagogo utiliza a música ele está proporcionando ao

indivíduo um contato com um outro instrumento sócio-cultural que pode auxiliar em

muito a sua aprendizagem, no que concerne ao seu desenvolvimento motor, afetivo e

cognitivo. Não se constitui como terapia.

A música é uma forma de expressão e comunicação que a espécie humana desenvolveu ao longo da sua evolução: um instrumento sócio-cultural. Na psicopedagogia da criança normal a música é, por esse mesmo motivo, utilizada com esse mesmo objetivo: permitir à criança apropriar-se de mais um instrumento sócio-cultural.Estas apropriações contribuem por isso para o desenvolvimento integral da criança. Alguns teóricos do desenvolvimento defendem que este contato com a música deve ser feito o mais precocemente possível (mesmo ainda na vida intra-uterina, através da música que a mãe ouve, e durante os primeiros anos de vida) para que o desenvolvimento integral deste domínio possa ocorrer.No que se refere à sua utilização terapêutica, existe de fato uma forma de psicoterapia, a musicoterapia, em que esta forma de comunicação e expressão é utilizada. (http://www.consultorioct.mct.pt/?&accao =resposta&questao=473&id_tema=27)

Ao se pensar na música na prática psicopedagógica deve-se pensar que o

Psicopedagogo não precisa em primeira instância ter conhecimentos de teoria

musical, ou ter o domínio de um instrumento musical, mas caso os possua só irá

facilitar a condução das atividades e trazer mais segurança no que se está

selecionando para o tratamento. É óbvio que introduzir a música na prática

psicopedagógica exige que tudo seja feito com discernimento, dentro de um critério

organizacional, isto é, com início, meio e fim bem definidos. Necessita haver

coerência no que se faz e seqüência para que a atividade mediada pela música se

torne efetivamente agradável e compreensível, e não, confusa e inibidora.

Um cuidado a ser tomado é que não se irá ensinar música ao indivíduo em

tratamento. Tem-se que considerar que alguns, muitas das vezes, não têm

desenvolvido uma inteligência musical, pois nunca foram sujeitos a algum trabalho

específico na área (musicalização, aprender um instrumento musical entre outros),

outros já apresentam-na por ter um talento ou um dom que exerçam ou que possa

estar oculto. É evidente que além de auxiliar no tratamento das dificuldades de

aprendizagem, acabar-se-á desenvolvendo a inteligência musical, inclusive, dentre as

outras inteligências que possam estar implícitas na atividade promovida.

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A música dá um toque de ludicidade. Não se utilizará o termo brincar, pois

considera-se que o mesmo é sem comprometimento intencional, ou seja, não visa a

algum objetivo específico. Já o jogo psicopedagógico manifesta uma ação com

objetivos a serem observados; existe uma diversidade de jogos musicais e, sendo

assim, o psicopedagogo poderá consultar livros nas áreas da Musicoterapia,

Educação Musical, Musicalização. Livros de jogos cooperativos, jogos que

estimulem as Múltiplas Inteligências (ver a seção que trata da Inteligência Musical),

Jogos Musicais e Brinquedos Cantados (com movimentos corporais), livros na área

de Pedagogia e Psicologia também podem oferecer sugestões satisfatórias. Serão

dadas algumas sugestões para, apenas, aguçar a pesquisa e a criatividade:

• Desenho musicado: o indivíduo pode desenhar aquilo que ele sente

quando escuta uma música instrumental - aqui é para tentar ver emoções,

sentimentos, que ele expresse algum conteúdo inconsciente. Outra opção é colocar

uma música com letra e ver através do desenho o que ele consegue apreender da

mesma - nesta, é para ver seu poder de memória, concentração, algo de teor

cognitivo (é óbvio que se o emocional passar por esta variante também será um dado

válido para a sessão). Uma variante é que se pode propor outra atividade sem ser o

desenho, tais como modelagem (neste caso, poderia ter como nome - modelagem

musical), dramatização, gestos, mímica (é só inventar um título para a atividade). Ou

seja, qualquer técnica projetiva mediada pela música pode propiciar vários dados

para o Psicopedagogo.

• Escolha musical: deixar uma gama de cds e um local para reprodução

(mini ou micro-system) e pedir para que o indivíduo escolha uma música que

represente aquilo que ele gostaria de comunicar a alguém ou para o mundo.

• Jogo de palavras e músicas: o psicopedagogo, para trabalhar a memória,

a expressão oral, o lingüístico, pode selecionar um repertório de palavras bem

acessíveis ao indivíduo em questão, depois falar cada uma delas e pedir para que ele

tente cantar ou cantarolar uma música que contenha esta palavra. Em seguida

invertem-se os papéis, o indivíduo é quem diz palavras para o psicopedagogo cantar.

• Qual é a cor do som? Ao som de uma música previamente escolhida

pelo psicopedagogo, entregar uma folha e lápis de cor, giz de cera, canetinhas,

hidrocor das mais variadas cores, pedindo que ao ouvir a música trabalhe com as

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cores da maneira que ele quiser e com as que ele se identificar. Depois, analisar as

cores utilizadas, pois este dado pode contribuir para a avaliação da pessoa. Um bom

guia de tradução das cores encontra-se no livro Dinâmica de Grupos na formação de

lideranças de Ana Maria Gonçalves e Susan Chiode Perpétuo da DP&A editora.

• Movimentasom: o psicopedagogo seleciona músicas de diversos ritmos e

combina com o indivíduo que ao mudar a música, ele deve fazer movimentos

diferenciados. Aqui o profissional pode ver a concentração, a percepção auditiva,

dispersão, elementos de psicomotricidade, entre outros, sendo que ele também

participa da atividade, na qual seria importante a presença de um observador que não

atrapalhasse a condução da proposta.

• Que som é esse? Descobrir que som está dentro de embalagens, de

filmes, cds, fazer pares de sons iguais, realizar comparações. Aqui se pode fazer

uma ponte para alguma deficiência em matemática.

• Completasom: o psicopedagogo pode cantar uma melodia qualquer, de

preferência que o indivíduo não conheça, pode ser autêntica, só que vai parar num

determinado ponto e vai pedir para que a pessoa complete com uma frase, palavra,

número, dependendo do foco da atividade.

Na caixa operatória pode-se ter instrumentos musicais variados, que podem

ser de brinquedo e instrumentos de percussão confeccionados.

Todos nós podemos criar instrumentos com caixas de fósforo, plásticos, latas pequenas e grandes, tampas de Toddy, uma caixinha qualquer, um brinquedo velho. Eles servem para enriquecer os exercícios e ao mesmo tempo há uma valorização dos instrumentos criados pelos alunos e pais (ROSA, 1988, p. 25)

Também poderão ser comprados, tais como: chocalho, triângulo, pandeiro,

tambor, guiso, clava, reco-reco, etc. Dentro da disponibilidade de quem organiza e

equipa o consultório, pode-se ter até mesmo alguns instrumentos musicais

verdadeiros, para uso do psicopedagogo que saiba tocar ou então para ação

exploratória dos que estão em tratamento. Disponibilizar instrumentos musicais

junto com os demais brinquedos pode ampliar o campo imaginário e de identificação

das crianças, adolescentes, jovens e, por que não dizer, de adultos? Vale ressaltar

que o psicopedagogo terá que ter criatividade para elaborar propostas inovadoras e

desafiantes. Com os instrumentos musicais pode-se propor duas atividades:

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• História sonorizada: o psicopedagogo conta uma história e o indivíduo,

para sonorizá-la, utiliza-se de instrumentos musicais ou pode ainda dispor dos

demais brinquedos também para representá-la.

• Brincando de compositor: o terapeuta pede para que o indivíduo tente

fazer uma composição ou improvisação livre-criativa cantada ou com os

instrumentos da sala. Vale ressaltar que não se está exigindo refinamento técnico

musical e sim está se avaliando a reação do indivíduo frente a um desafio, sua

organização, que tema escolheu para sua composição, sua identificação com quais

instrumentos etc.

Outra maneira interessante de utilizar a música é usá-la como fundo musical

enquanto a sessão está acontecendo ou na conversa ou no desenrolar de algum jogo.

A música pode ser escolhida pelo próprio indivíduo, o que já se constitui numa

possível avaliação; outra sugestão é o psicopedagogo escolher uma música adequada

à situação. Estudos comprovam que ouvir música erudita traz benefícios ao

raciocínio, entre outros; a escolha de uma boa música é fundamental, pois algumas

músicas podem despertar emoções e sentimentos que podem atrapalhar a seção, o

que, na verdade, também seria um dado importante.

Explorar os movimentos corporais pelo elemento rítmico da música deve ser

uma constante, pois o corpo está todo tempo presente na aprendizagem humana e

“com a atividade rítmica, a criança, libera seus impulsos, inclusive sua agressividade,

e realmente ‘fala’ como o corpo. Este é um importantíssimo caminho para a

criatividade” (PEREIRA, 2002, p. 76). Quando o psicopedagogo tem aliada à sua

formação conhecimentos da Psicomotricidade, este trabalho do ritmo ficará mais

completo. Os equilíbrios estático e dinâmico são essenciais para a aprendizagem.

Observa-se que há crianças com problemas de motricidade que comprometem o

desempenho escolar.

Alícia Fernández (1991) afirma que: Organismo é um sistema de auto-regulação inscrito, enquanto o corpo é um mediador, um sintetizador de comportamentos eficazes para a apropriação do sujeito. O corpo acumula experiências automatiza movimentos (http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo. asp?entrID=22)

Já para Pierre Weil (psicoterapeuta/psicodramatista) também acrescenta que

O corpo é um centro de informações. É uma linguagem para nós mesmos, linguagem essa que não mente. Nosso corpo ‘fala’ através de nossos gestos e

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movimentos. (http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=22)

Incentivar o estudo da música sempre é uma forma de prevenção de certas

dificuldades de aprendizagem e também de intervenção, sem estar formalmente num

consultório clínico. O indivíduo pode se submeter apenas a um trabalho de

musicalização, que diz respeito ao relacionamento do aprendiz com a essência da

música; trata-se da forma como ele vivencia a experiência musical, independente de

execução ou teorização, que é o objetivo mais básico de cada proposta educacional

ou, então, estudar teoria musical propriamente dita, juntamente com algum

instrumento musical de sua preferência.

Teorizar sobre o uso da música na prática psicopedagógica ainda é um

desafio, pois poucos autores escrevem sobre esta temática, todavia, isso não impede

que articulações sejam realizadas, associadas à pesquisa, à investigação e ao ato

criativo.

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CONCLUSÃO

A partir da reflexão promovida por este trabalho pôde-se ter uma visão

aprofundada e ampliada da relação música e prática psicopedagógica, obtendo-se

assim as interpretações que se seguem.

No primeiro capítulo ficou evidenciado que, por mais que se tente definir a

música com precisão não se irá conseguir, porque cada área do conhecimento a

conceituará de um modo todo peculiar e para tanto, não há uma única música e sim,

músicas. Neste, ainda se pode concluir que existiram muitas funções sociais, que

algumas permanecem, outras se modificaram e muitas ainda podem vir a existir,

sendo que tal fato dependerá das articulações em que a mesma realizar com outras

ciências e também do uso do próprio homem. Das transformações da Pedagogia

Musical pode-se perceber que a música foi introduzida gradativamente nos

ambientes escolares, devido aos seus benefícios para os educandos, tendo sido

defendida como disciplina isolada e também como um recurso associado às demais

disciplinas; através dos teóricos comentados neste capítulo foram obtidas diversas

metodologias de entender e aplicar a música.

No segundo capítulo, com a junção da Psicanálise, Psicologia e Educação

Musical, vê-se que Winnicott percebe a música na vida intra-uterina do bebê e dá

margem em sua teoria de se pensar a música como um objeto transicional. Maslow

através de sua hierarquia de necessidades proporcionou uma reflexão de que a

música pode ser uma necessidade ou então, que a mesma abrange, alcança, atende a

todos os patamares de necessidades que existem. Com Dalcroze, apreendeu-se a

importância dos movimentos com a Euritmia que é um meio para se atingir a plena

musicalidade.

O terceiro capítulo privilegiou a descrição e distinção dos elementos que

formam a música, a caracterização do som e como funciona o ouvido, percebendo-se

que cada um ouve de forma diferente, pois os indivíduos são seres singulares e, além

disso, que cada componente formador da música pode estar intimamente relacionado

a algum aspecto da existência humana, como, por exemplo, a melodia com o sentido

da vida, a harmonia com o social, o conjunto, o ritmo, a levada das atividades diárias,

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entre outros.

No quarto capítulo, colocou-se o esclarecimento sobre as contribuições que a

música pode trazer ao homem, tanto para um dito normal quanto para um que possua

patologia geral, sobremaneira no campo da aprendizagem. Todavia, descobriu-se

que há um caso particular de doença que pode ser desencadeada pela música - a

epilepsia musicogênica - em indivíduos predispostos para a mesma.

O último capítulo concretiza a relação musico-psicopedagógica, onde as duas

áreas poderiam se fundir. Este capítulo apregoou a música como catalisadora da

práxis psicopedagógica, trouxe sugestões diversas de atividades, ressaltando que é

essencial ter coerência, adequação e criatividade para realizá-las. Concluiu-se que

pela sua universalidade ela pode estar integrada tanto à Psicopedagogia Institucional,

quanto Clínica, sendo uma grande aliada na construção e reconstrução do sentido da

vida e do saber!

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ÍNDICE

DEDICATÓRIA ...................................................................................................... 3

AGRADECIMENTOS ............................................................................................ 4

RESUMO................................................................................................................. 5

METODOLOGIA.................................................................................................... 6

INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 7

1. ABORDAGENS HISTÓRICAS SOBRE A MÚSICA........................................... 9

1.1 Conceituação de Música .................................................................................... 9 1.2 Funções sociais e usos da música - traçado histórico ...................................... 13 1.3. As transformações na Pedagogia Musical ...................................................... 19

2. CONCEPÇÕES PSICANALÍTICA, EDUCACIONAL E PSICOLÓGICA ACERCA DA MÚSICA ....................................................................................... 26

2.1 Winnicott ......................................................................................................... 26 2.2. Dalcroze .......................................................................................................... 28 2.3 Maslow............................................................................................................. 31

3. A MÚSICA E OS SEUS ELEMENTOS............................................................... 34

3.1.O som e as suas propriedades .......................................................................... 34 3.2.Como funciona o ouvido humano.................................................................... 36 3.3.Melodia ............................................................................................................ 37 3.4.Harmonia ......................................................................................................... 39 3.5.Rítmo ............................................................................................................... 41 3.6.Timbre.............................................................................................................. 42

4. OS BENEFÍCIOS DA MÚSICA PARA O SER HUMANO................................ 44

5. A MÚSICA E A PRÁTICA PSICOPEDAGÓGICA ............................................ 51

CONCLUSÃO ....................................................................................................... 59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 61

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FOLHA DE AVALIAÇÃO UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE Pós-Graduação “Lato Sensu” Título: A música como ferramenta da prática psicopedagógica Data da entrega:____________________________________ Auto Avaliação: ____________________________________________________________________

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Avaliado

por:__________________________________________Grau________________

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