UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ......

68
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DAS INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Por: Regina Célia Failaz Alexandre Orientador Prof. Vilson Sérgio Rio de Janeiro 2009

Transcript of UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ......

Page 1: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DAS INTERVENÇÕES

PSICOPEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Por: Regina Célia Failaz Alexandre

Orientador

Prof. Vilson Sérgio

Rio de Janeiro

2009

Page 2: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

1

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DAS INTERVENÇÕES

PSICOPEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Apresentação de monografia à Universidade

Cândido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

Psicopedagogia Institucional.

Por: . Regina Célia Failaz Alexandre

Page 3: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

2

AGRADECIMENTOS

Agradeço a professora Simone Ferreira, mestre em Psicologia do

Desenvolvimento e Aprendizagem, do Instituto A Vez do Mestre, Projeto da

Universidade Cândido Mendes, pela prestimosa colaboração que me favoreceu

um “Novo olhar às diferenças” no âmbito da Psicogênese.

Com carinho, uma mensagem:

“O Messias nasceu de uma virgem. O grande pensador grego

nunca escreveu um livro.

A grande sinfonia é fruto de um homem surdo.

Na Biblioteca de Babel o leitor era um poeta cego.

E não tinha mãos o homem que fez as mais belas esculturas de

meu país”.

(Affonso Romano de Sant’Anna)

Page 4: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

3

RESUMO

Diante da grande necessidade dos educadores em criar possibilidades

para que a criança se adapte de forma efetiva à escola e que a partir de suas

experiências possam contribuir para a construção do conhecimento, quanto

mais cedo intervirmos no processo, onde a criança apresenta problemas na

aprendizagem, mais rápida e eficiente será sua adaptação e superação e

sobre tudo, o seu desenvolvimento e inclusão de forma efetiva.

O grande propósito deste trabalho, é mostrar a importância da

necessidade de intervir a luz da Psicopedagogia, no processo ensino-

aprendizagem no âmbito da Educação Infantil; orientando professores, pais,

educadores e profissionais que atuam nas discussões a respeito dos

problemas de aprendizagem e desenvolvimento da criança.

Observando e intervindo de forma precisa, orientando à procura do

tratamento específico adequado, diminuindo a incidência do fracasso escolar,

promovendo a socialização da criança, contribuindo para que os problemas

não se tornem mais graves ou irreversíveis, estaremos apresentando o

psicopedagogo como o profissional multiespecialista em aprendizagem

humana, que congrega conhecimentos de diversas áreas auxiliando outros

profissionais diante da demanda das escolas com o crescente número de

crianças com dificuldades de aprendizagem, não se esquecendo é claro, de

abordar que na educação, o educador jamais dará algum diagnóstico, cabendo

esta função aos profissionais da saúde.

Ao mostrar recursos que podem ser utilizados nas avaliações e

intervenções na Educação Infantil, este trabalho não só possibilitará encontrar

a presença de indicadores de uma problemática como também levantar

hipóteses, obter dados que possam explicar a natureza da desordem da

aprendizagem e da desordem do desenvolvimento.

Page 5: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

4

METODOLOGIA

O objeto de estudo – Intervenções Pedagógicas na Educação Infantil –

surgiu face aos questionamentos de educadores que no âmbito da

aprendizagem e desenvolvimento de crianças de 0 a 6 anos de idade,

apresentam inúmeras dificuldades em adaptação, socialização e construção do

conhecimento, e que muitas vezes a Pedagogia e a Psicologia não conseguem

por si só suportes para atender a demanda das escolas que apresentam

crescente número de crianças com pelo menos um déficit no processo de

aprender, o que chamo de “desordens do aprendizado”.

Esta obra, fundamentada em pesquisas bibliográficas, onde, durante 5

(cinco) meses, não só aprimorei meus conhecimentos através da leitura de

autores consagrados, como também tive a oportunidade de observar com mais

clareza, o que, no meu ponto de vista como educadora, a Psicopedagogia e o

papel do psicopedagogo é de grande importância para a prática da

aprendizagem humana.

A cada bibliografia consultada, constatei que os problemas de

aprendizagem nos pequenos, podem ser tratados ou minimizados acerca do

comprometimento dos profissionais nele envolvidos.

Page 6: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

5

ÍNDICE

INTRODUÇÃO ....................................................................................... 06

CAPÍTULO I 09 A INFÂNCIA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

1.1 - Fundamentos Conceituais .............................................................. 10 1.2 – Referenciais teóricas – correntes teóricas ....................................... 11 CAPÍTULO II 17 A AFETIVIDADE E COGNIÇÃO .............................................................. CAPÍTULO III 26 AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM - A AJUDA DA NEUROCIÊNCIA

3.1. A Escola 28

3.2. A Família 28

3.3. A Criança 28

3.4 – As Síndromes e Patologias que dificultam a Aprendizagem

– O Avanço da Neurociência para os devidos tratamentos 31

3.4.1. As Neurociências e suas contribuições diante das diferenças 31

3.4.2. A Família do Portador de Necessidades Especiais em uma

Visão Sistêmica 32

3.4.3. Síndromes Neurológicas e os Portadores de Necessidades

Especiais 32

3.4.4. A Criança Portadora de Deficiência Mental 36

3.4.5. A Criança com Lentidão de Aprender 38

3.4.6. A Criança e as Altas Habilidades 38

3.4.7. A criança com transtorno de déficit de atenção/Hiperatividade 39

3.4.8. Como Acontece a Hiperatividade no SNC? 40

3.4.9. A criança e a Paralisia Cerebral 43

3.4.10. A criança e a emoção 45

Page 7: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

6

3. 4.11. A criança e a fobia escolar 46

3.4.12. A criança e a agressividade 47

3.4.13. A criança e as mudanças de humor 47

3.4.14. A criança e as síndromes genéticas 48

CAPÍTULO IV 51 SUGESTÕES DE PROPOSTAS PSICOPEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL (INTERVENÇÕES) 4.2. Jogos e Atividades Recreativas 57

CONCLUSÃO ......................................................................................... 63

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 66

FOLHA DE AVALIAÇÃO 67

Page 8: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

7

INTRODUÇÃO

Onde se dá o aprendizado?

Por que umas crianças aprendem, outras não?

Não resta dúvidas que o processo de aprendizagem se dá no sistema

nervoso central (SNC), que é uma estrutura complexa.

Por que algumas crianças memorizam, outras não?

Devemos saber que aprendizado e memória podem ser confundidos.

Quando uma informação conhecida chega ao SNC ela gera lembrança que

nada mais é que memória. Quando uma informação nova chega ao SNC, nada

evoca e sim produz uma mudança.

A partir daí é necessário compreender que no que se refere ao processo

de aprendizado, existe uma interface nas duas áreas de atuação, ou seja,

saúde e educação. Na saúde, agem os médicos, psicólogos, fonoaudiólogos,

psicomotricistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e psiquiatras da

infância e da adolescência. Na educação, professores, pedagogos,

orientadores, psicopedagogos. Essa interface entre as duas áreas tem como

assunto principal o aprendizado normal e seus principais problemas:

dificuldades, distúrbios, síndromes, doenças, que impedem o desenvolvimento

normal da criança.

Muitas vezes, a criança apresenta algum tipo de dificuldade que

despercebida ainda na pré-escola, pode trazer futuramente problemas na

aprendizagem, comprometendo seu desenvolvimento. Estes problemas podem

estar relacionados à sua saúde, à sua família, à escola, a comunidade, à

sociedade.

Diante dessas questões, o presente trabalho monográfico procura

contribuir no ajustamento da prática pedagógica em orientar nos problemas

que por muitas vezes, por desconhecer, os educadores sentem-se com as

“mãos atadas”, colocando-se numa postura apenas de observador, enquanto

poderiam, com conhecimentos psicopedagógicos, intervir e colaborar de forma

interdisciplinar.

Page 9: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

8

É claro que há uma grande preocupação com os recursos utilizados na

avaliação e intervenção psicopedagógica, principalmente por que a

Psicopedagogia ainda não constitui uma profissão, sendo ela uma área de

prestação de serviços, sendo portanto uma área nova, que nasceu com o

objetivo de atender a uma demanda – a da dificuldade de aprendizagem -.

O psicopedagogo atua intervindo como mediador entre sujeito e sua

história traumática, ou seja, a história que lhe causou a dificuldade de

aprender.

Ao contrário do que acontece na maioria das vezes, quando é feita a

intervenção somente na fase da educação básica, ora por haver demonstrado

nenhuma dificuldade durante a fase pré-escolar, faz-se necessário entender

que neste período, na maioria dos casos, a intervenção se dá de forma

preventiva visando favorecer a apropriação do conhecimento no ser humano,

ao longo da sua evolução. Este trabalho na forma individual ou grupal, na área

da saúde mental e da educação, tem certamente um caráter assistencial.

Como no Brasil os problemas de aprendizagem são crescentes, a

Pedagogia embasada em pensadores conceituados como Peaget, Vygostsky,

Freinet, Ferreiro, Teborosky e outros, tem sido insuficientes para prevenir ou

intervir nesses casos. Assim, entende-se como o atendimento psicopedagógico

e como a investigação e à intervenção são necessários que se compreenda o

significado, a causa e a modalidade de aprendizagem do sujeito, com o intuito

de sanar as dificuldades. Portanto, é fundamental para a Psicopedagogia que

o profissional faça o trabalho interdisciplinar, pois os conhecimentos

específicos das diversas teorias contribuem para o trabalho eficiente da

intervenção ou prevenção psicopedagógica.

O grande propósito deste trabalho, é mostrar também que mesmo

tratando-se de Educação Infantil, os problemas de aprendizagem podem ser

identificados neste segmento escolar, uma vez que na Educação Infantil, a

partir de 0 anos, a constituição de identidade e autonomia começam a se

formar por meio das relações que estabelecem com outras pessoas e com

toda certeza, estas relações enfatizam os processos cognitivos e os processos

afetivos. Afinal, afeto e cognição se constituem em aspectos inseparáveis,

estando presente em qualquer atividade a ser desenvolvida.

Page 10: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

9

É claro que este trabalho, ao desenvolver estudos sobre aprendizagem

e desordens do aprender na Educação Infantil, não relaciona dados que

somente podem ser identificados a partir do Ensino Fundamental, ou seja, a

partir dos 7 anos, tais como dislexia, discalculia, disortografia, disgrafia e

outros; estando então preocupado em apontar elementos que podem estar

relacionados às dificuldades de aprendizagem que comprometem o

desenvolvimento nos aspectos cognitivo, afetivo, físico psicomotor e social do

segmento da creche até os 6 anos de idade, ou seja, da Educação Infantil.

Por fim, é fundamental que educadores conheçam as estruturas bio e

psicológicas como interfaces da aprendizagem e que sejam sempre um campo

a ser explorado, contribuindo para a práxis em sala de aula, no

redimensionamento do aprendente e suas formas de interferir nos ambientes

pelos quais perpassam, não esquecendo que o “diagnóstico” deve concentrar-

se em levantar hipóteses, verificando o potencial de aprendizagem,

mobilizando o aprendiz e o seu entorno (família e escola) no sentido da

construção de um olhar sobre o “não aprender”.

Page 11: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

10

CAPÍTULO I

A INFÂNCIA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

A sociedade contemporânea globalizada está organizada em rede,

constituindo-se em um sistema aberto, capaz de expandir-se de maneira

ilimitada e integrando novos nós que permitem a comunicação dentro dessa

malha, ou seja, formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de

comunicação. Para poder participar dessa rede, é preciso que os atores

apropriem-se desses códigos e é nesse espaço, na oferta diferentes

linguagens simbólicas, que reside o importante papel da instituição educacional

na sociedade contemporânea, a qual, assim constituída, precisa de novos tipos

de agentes.

Assim, a escola deve sair da sua função de transmissora de

conhecimentos a serem acumulados para assumir a capacidade de atuar e

organizar os conhecimentos em função das questões que se levantem.

As diversas mudanças ocorridas nos últimos 50 anos levam-nos a

observar grandes transformações nos modos como as crianças vivem as suas

infâncias, sendo estas entendidas como construções socioculturais que

diferem profundamente a partir do modo como as crianças se inserem no

mundo.

Passou-se de uma concepção segundo a qual as crianças eram vistas

como seres em falta, incompletos, apenas a serem protegidos, para uma

concepção das crianças como protagonistas do seu desenvolvimento,

realizado por meio de uma interlocução ativa com seus pares, com os adultos

que as rodeiam, com o ambiente no qual estão inseridas. As crianças são

capazes de criar teorias, interpretações, perguntas, e são co-protagonistas na

construção dos processos de conhecimento. Quando se propicia na educação

infantil a aprendizagem de diferentes linguagens simbólicas, possibilita-se às

crianças colocar em ação conjunta e multifacetada esquemas cognitivos,

afetivos, sociais, estéticos e motores.

A pedagogia, durante todo o século XX, foi constituída por discursos e

práticas que procuravam, a partir de uma avaliação do fracasso das escolas,

Page 12: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

11

propor novos meios de organização do trabalho pedagógico, tendo em vista a

inclusão e a aprendizagem de todos. Essas propostas ficaram, muitas vezes,

marginalizadas aos grandes sistemas de ensinos. Porém, na atualidade, aquilo

que poderiam ser considerados fatores pouco relevantes vem demonstrando a

sua potência para repensar a escola. A indagação que emerge a partir dessas

constatações remete-nos a pensar como a pedagogia, entendida como uma

ciência da prática, pode modificar-se para estar em sintonia com este momento

da contemporaneidade.

As idéias de uma pedagogia diferenciada começam a ganhar espaço

principalmente a partir da década de 1960, pois a homogeneidade da escola

tem excluído muitas crianças do processo de ensino-aprendizagem. Começam

a ser valorizadas as diferenças do modo como são selecionados os

conhecimentos, a consideração pelas riquezas de experiências socioculturais,

as diferenças subjetivas das crianças e suas histórias de vida. Uma das formas

de dar conta dessas pedagogias diferenciadas e também da apropriação pela

criança das diferentes linguagens é a pedagogia de projetos.

1.1. Fundamentos Conceituais

Tendo como objeto de estudo a aprendizagem humana, a

Psicopedagogia surgiu de uma demanda: as dificuldades de aprendizagem.

- Por que o sujeito não aprende?

- O que impede a adaptação do sujeito no processo de ensino e

aprendizagem?

- Por que alguns sujeitos aprendem, outros não?

A essas e muitas outras perguntas, tanto a Pedagogia como a

Psicologia, não são suficientes para apontar as várias faces que permeiam no

desenvolvimento biopsicossocial e cognitivo do sujeito.

Colocada em um espaço pouco explorado, situada além dos limites da

Pedagogia e da Psicologia, a Psicopedagogia se constitui na ampla gama de

áreas de conhecimento, pois seu trabalho constitui-se de forma multidisciplinar

que embasam e dão forma teórica e prática nos múltiplos olhares que perfila a

complexidade de seu objeto de estudo – a aprendizagem humana.

Page 13: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

12

O termo Psicopedagogia distingue-se em três conotações: Como uma

prática, como um campo de investigação do ato de aprender e como

(pretende-se) um saber científico.

No campo da educação, a chamada Psicopedagogia Institucional vem

notoriamente contribuindo não só de forma assistencial e preventiva como

também articuladora, mediando o processo de interação possibilitando a

inclusão e revertendo situações com resultados positivos.

Na saúde, a Psicopedagogia Clínica intervem de forma terapêutica,

diagnosticando possíveis desajustes de caráter patológico, como transtornos,

distúrbios, síndromes, e outros, encaminhados pela escola, visando contribuir

com a qualidade do trabalho desenvolvido por estes profissionais: os da área

de saúde (psicólogos, fonoaudiólogos, pediatras) e da educação.

Assim, ao apresentar a importância do trabalho do psicopedagogo,

devemos ressaltar que seu papel, o de multiespecialista em aprendizagem

humana, congrega conhecimentos de diversas áreas a fim de intervir neste

processo. Daí podemos dizer que é de grande necessidade a abordagem de

suportes teóricos, tais como: a Psicanálise Genética (Piaget) e Psicologia

Social (Enrique Pichón-Rivière) e outros.

1.2. Referenciais Teóricos - Correntes Teóricas

É importante conhecer os fundamentos da Psicopedagogia, pois implica

refletir sobre as suas origens teóricas, ou seja, revisar velhos impasses

conceituais que subjazem na ação e na atuação da Pedagogia e da Psicologia

no aprender do fenômeno educativo.

Assim, do seu parentesco com a Pedagogia, a Psicopedagogia traz as

indefinições e contradições de uma ciência cujos limites são os da própria vida

humana. Envolve simultaneamente o social e o individual em processos tanto

transformadores quanto reprodutores. Da Psicologia, a Psicopedagogia herda

o velho problema do paralelismo psicofísico, em um dualismo que ora privilegia

o físico (observável), ora psíquico (a consciência).

Essas duas áreas não são suficientes para apreender o objeto de

estudo da Psicopadagogia – o processo de aprendizagem e suas variáveis – e

Page 14: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

13

nortear a sua prática. Dessa forma, recorre-se a outras áreas, como a

Filosofia, a Neurologia, a Sociologia, a Lingüística e a Psicanálise, para

alcançar compreensão desse processo.

(...) Nesse lugar do processo de aprendizagem, coincidem, em um momento histórico, um organismo, uma etapa genética da inteligência e um sujeito associado a tantas outras estruturas teóricas, de cuja engrenagem se ocupa e preocupa a Epistemologia; referimo-nos principalmente ao materialismo histórico, à teoria piagetiana da inteligência e à teoria psicanalítica de Freud, enquanto instauram a ideologia, a operatividade e o inconsciente. (PAIN apud BOSSA, 2000, P. 25)

Desta forma,

a Psicopedagogia foi se perfilando como um conhecimento independente e complementar, por assimilação recíproca das contribuições das escolas psicanalíticas, piagetiana e da Psicologia Social de Enrique Pichón-Rivière. Desta forma, entende esse autor ser possível compreender a participação dos aspectos afetivos, cognoscitivos e do meio que confluem no aprender do ser humano. (VISCA apud BOSSA, 2000, p. 25)

Vale lembrar que, os que se defrontam com os problemas de

aprendizagem devem fundamentar a sua prática na articulação da Psicanálise,

da teoria Piagetiana e do materialismo histórico.

Por sua vez, Muller aponta como suportes teóricos na Psicopedagogia clínica: a Psicanálise e a Psicologia Genética, bem como a Psicologia Social e Lingüística. (BOSSA, 2000, p. 25)

Portanto,

a Psicopedagogia Terapêutica é um campo de conhecimento relativamente novo que surgiu na fronteira entre a Pedagogia e a Psicologia. Encontra-se ainda em fase de organização de um corpo teórico específico, visando à integração das ciências pedagógica, psicológica, fonoaudiológica, neuropsicológica e psicolingüística, para uma compreensão mais integradora do fenômeno da aprendizagem humana. (SCOZ apud BOSSA, 2000, p.26)

Page 15: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

14

Assim,

a prática psicopedagógica vem colocando questões ainda pouco discutidas, de manejo difícil e geradoras de conflito. Isto porque seu “paciente”, o sujeito com dificuldade de aprendizagem, apresenta, quase sempre, um quadro de comprometimentos que extrapola o campo de ação específico de diferentes profissionais, envolvendo dificuldades cognitivas, instrumentais e afetivas. (BARONE apud BOSSA, 2000, p. 26)

Então, por causa da complexidade do seu objeto de estudo, são

importantes à Psicopedagogia conhecimentos específicos de diversas outras

teorias, as quais incidem sobre os seus objetos de estudos.

O campo de atuação do psicopedagogo refere-se não só ao espaço

físico onde se dá esse trabalho, mas especialmente ao espaço epistemológico

que lhe cabe, ou seja, o lugar deste campo de atividade e o modo de abordar o

seu objeto de estudo. A forma de abordar o objeto de estudo pode assumir

características específicas, a depender da modalidade: clínica, preventiva e

teórica, umas articulando-se às outras.

O trabalho clínico não deixa de ser preventivo, uma vez que, ao tratar

alguns transtornos de aprendizagem, pode evitar o aparecimento de outros. O

trabalho preventivo, em uma abordagem psicopeagógica, é sempre clínico e,

por sua vez, não deixa de resultar em um trabalho teórico. Tanto na prática

preventiva como na clínica, o profissional procede sempre embasado no

referencial teórico adotado.

Ao delimitar o campo de atuação do trabalho psicopedagógico, devem-

se, no entanto, diferenciar essas modalidades de atuação, especificando as

suas tarefas. Dessa forma, o trabalho psicopedagógico na área preventiva é de

orientação no processo ensino-aprendizagem, visando favorecer a apropriação

do conhecimento no ser humano, ao longo da sua evolução. Este trabalho

pode se dar na forma individual ou na grupal, na área da saúde mental e da

educação.

Desta forma,

o trabalho psicopedagógico pode, certamente, ter um caráter assistencial. Isso acontece quando, por exemplo, o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela

Page 16: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

15

elaboração, direção e evolução de planos, programas e projetos no setor de educação e saúde, integrando diferentes campos do conhecimento. A psicopedagogia ocupa-se, assim, de todo o contexto da aprendizagem, seja na área clínica, preventiva, assistencial, envolvendo elaboração teórica no sentido de relacionar os fatores envolvidos nesse ponto de convergência em que opera. (BOSSA, 2000, p. 30)

Verifica-se assim que são crescentes os problemas ligados às

dificuldades de aprendizagem no Brasil. A pedagogia, embasada em

estudiosos conceituados (Piaget, Vygotsky, Freinet, Ferreiro, Teberosky e

outros) tem sido insuficiente para prevenir ou intervir nesses casos. Nesse

contexto, a psicopedagogia surge para auxiliar a intervenção e a prevenção

dos problemas de aprendizagem.

Os problemas de aprendizagem têm origem na constituição do desejo do sujeito. Contudo, o fracasso escolar tem sido justificado pela desnutrição e por problemas neurológicos e genéticos. Poucas são as explicações que enfatizam as questões inorgânicas, ou seja, as de ordem do desejo do sujeito, analisando as questões internas e externas do não-aprender. (...) os psicopedagogos têm construído sua teoria a partir do estudo dos problemas de aprendizagem. E a clínica tem se constituído em eficiente laboratório da teoria. (BOSSA, 1994b, p.8)

Tanto na clínica quanto na instituição, o psicopedagogo atua intervindo

como mediador entre o sujeito e sua história traumática, ou seja, a história que

lhe causou a dificuldade de aprender. No entanto, o profissional não deve fazer

parte do contexto do sujeito, já que ele está contido em uma dinâmica familiar,

escolar ou social. O profissional deve tomar ciência do problema de

aprendizagem e interpretá-lo para a devida intervenção. Com essa atitude, o

psicopedagogo auxiliará o sujeito a reelaborar sua história de vida,

reconstruindo fatos que estavam fragmentados, e a retomar o percurso normal

de sua aprendizagem. Assim, o trabalho clínico do psicopedagogo se completa

com a relação entre o sujeito, sua história pessoal e sua modalidade de

aprendizagem. Já o trabalho preventivo pretende “evitar” os problemas de

aprendizagem, utilizando-se da investigação da instituição escolar, de seus

processos didáticos e metodológicos etc. Enfim, analisa a dinâmica

Page 17: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

16

institucional com todos os profissionais nela inseridos, detectando os possíveis

problemas e intervindo para que a instituição se reestruture.

Entende-se que a clínica seja um lugar de ajuda, que, no caso do

trabalho psicopedagógico, está relacionado, também, com o espaço de

atuação do profissional – tanto nas escolas quanto em consultórios -,

predominando, na instituição escolar, o trabalho preventivo e, no consultório, o

clínico.

Assim, entende-se como atendimento psicopedagógico clínico a

investigação e a intervenção para que se compreenda o significado, a causa e

a modalidade de aprendizagem do sujeito, com o intuito de sanar as

dificuldades. A marca diferencial entre o Psicopedagogo e outros principais

profissionais é que seu foco é o vetor da aprendizagem, assim como o

neurologista prioriza o aspecto orgânico; o psicólogo, a “psique”; o pedagogo, o

conteúdo escolar.

Assim,

a psicopedagogia clínica procura compreender de forma global a integrada os processos cognitivos, emocionais, culturais, orgânicos e pedagógicos que interferem na aprendizagem, a fim de possibilitar situações que resgatem o prazer de aprender em sua totalidade, incluindo a promoção da integração entre pais, professores, orientadores educacionais e demais especialistas que transitam no universo educacional do aluno. (BOSSA, 2000, p.67)

Portanto,

é fundamental para a psicopedagogia que o profissional faça o trabalho interdisciplinar, pois os conhecimentos específicos das diversas teorias contribuem para o resultado eficiente da intervenção ou prevenção psicopedagógica. Por exemplo, a psicanálise pode fornecer embasamento para compreender o mundo inconsciente do sujeito; a psicologia genética proporciona condições para analisar o desenvolvimento cognitivo do indivíduo; a psicologia possibilita compreender o mundo físico e psíquico; a lingüística permite entender o processo de aquisição da linguagem, tanto oral como escrita. Em todas essas áreas, encontramos autores renomados, que contribuem para o crescimento da psicopedagogia, tanto no âmbito preventivo quanto no clínico. (PINTO, 2003, P. 37)

Page 18: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

17

Pode-se concluir que o campo da atuação da psicopedagogia é a

aprendizagem, e sua intervenção é preventiva e curativa, pois se dispõe a

detectar problemas de aprendizagem e “resolvê-los”, além de preveni-los,

evitando que surjam outros. No enfoque preventivo, o papel do psicopedagogo

é detectar possíveis problemas no processo ensino-aprendizagem; participar

da dinâmica das relações da comunidade educativa, objetivando favorecer

processos de integração e trocas; realizar orientações metodológicas para o

processo ensino-aprendizagem, considerando as características do indivíduo

ou grupo; colocar em prática alguns processos de orientação educacional,

vocacional e ocupacional em grupo ou individual. Estando claro o que é a

psicopedagogia e qual a sua área de atuação, cabe-nos refletir sobre os

recursos que o psicopedagogo utiliza para detectar problemas de

aprendizagem e neles intervir.

Page 19: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

18

CAPÍTULO II

APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO

NA EDUCAÇÃO INFANTIL

2.1 – A Afetividade e Cognição

Será estabelecida uma correlação entre autores que enfatizam os

processos cognitivos e os processos afetivos na aprendizagem. Primeiramente

autores que dão relevância a um ou outro aspecto na construção do

conhecimento (Freud privilegiando a afetividade e Piaget, a cognição).

Entretanto, um autor será apresentado porque faz a interface entre os dois

aspectos, a partir, inclusive, dos dois campos teóricos citados, Leandro de

Lajonquière.

Na busca do conhecimento, estabelecemos relações com objetivos

físicos, concepções ou outros indivíduos. Afeto e cognição se constituem em

aspectos inseparáveis, estando presentes em qualquer atividade a ser

desenvolvida, variando apenas as suas proporções (LAJONQUIERE, 1998). O

afeto e a inteligência se estruturam nas ações e pelas ações dos indivíduos.

O conhecimento é o efeito da inteligência que o produz a seu modo e o saber é o efeito do (desejo) inconsciente que, para não ser menos, também o produz a seu modo... Nossa intenção é produzir um deslocamento no interior desta problemática. De agora em diante, devemos ter claro que o pensamento, antiga produção preciosa da divina e trans/lúcida Razão, é um composto de conhecimento e saber, produtos da imprevisível (e piagetiana) inteligência, o primeiro, e do impertinente (e freudiano) (desejo) inconsciente, o segundo. Deslocamento, que traz consigo, evidentemente, uma operação de re/significação destes mesmos termos clássicos. (LAJONQUIÈRE, 26, 1998)

Tanto a inteligência quanto a afetividade são mecanismos de

adaptação, permitindo ao indivíduo construir noções sobre os objetivos, as

pessoas e as situações, conferindo-lhes atributos, qualidade e valores.

Page 20: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

19

O afeto é um regulador da ação, influindo na escolha de objetivos

específicos e na valorização de determinados elementos, eventos ou situações

pelo indivíduo. Assim, as emoções básicas – amor, ódio, tristeza, alegria ou

medo – direciona o comportamento do indivíduo para buscar ou evitar contato

de certas pessoas ou experiências. Expressividade e comunicação também

incluem a dimensão afetiva. Então, o sorriso, a lágrima, os gritos, um olhar, um

rosto fechado indicam os sentimentos de uma pessoa.

No processo psicológico, deve ser compreendida a relação existente

entre aspectos cognitivos e afetivos da e na constituição do sujeito. A

motivação para aprender está ligada à consciência1 do indivíduo e também

aos aspectos inconscientes de seu aparelho psíquico.

A aprendizagem constitui-se em um processo, uma função, que vai além

da aprendizagem escolar e que não se circunscreve exclusivamente à criança.

A aprendizagem, como experiência, guarda um elemento universal do humano,

na medida em que permite a transmissão do conhecimento e, por meio desse

processo, garante a semelhança e a continuidade do coletivo, ao mesmo

tempo permitindo a diferenciação e a transformação. O aprender envolve

simultaneamente a inteligência, os desejos e as necessidades e, por meio do

cognitivo, busca-se generalizar, classificar, ordenar, identificando-se

semelhanças, enquanto que, por meio dos desejos e das necessidades,

buscam-se o individual, o subjetivo e o diferente.

Conhecer é pensar, inventar, descobrir e conectar as qualidades e atributos dos objetos, recompondo com a minha capacidade criadora o real externo de minha mente. Este é o significado do aprender. (SALTINI, 2002, p. 58)

Estabelece-se desse modo uma relação particular do sujeito com o

conhecimento e o significado de aprender. A aprendizagem não se faz

diretamente, mas sim pela ação, isto é, a pessoa transforma e reproduz as

informações a que tem acesso, em função dos seus recursos próprios.

A aprendizagem tem, assim, uma função integradora, estando

diretamente relacionada ao desenvolvimento psicológico, denotando as

Page 21: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

20

possibilidades de interação e adaptação da pessoa à realidade ao longo da

vida, sofrendo múltiplas influências de fatores ambientais e individuais.

A aprendizagem é, afinal, um processo fundamental da vida. Todo indivíduo aprende e, por meio da aprendizagem, desenvolve os comportamentos que o possibilitam viver. Todas as atividades e realizações humanas exibem os resultados da aprendizagem. (CAMPOS, 2003, p. 122)

Ao longo do desenvolvimento cognitivo e afetivo, a constituição do

sujeito se faz pela resolução de conflitos de aquisições, sendo a aprendizagem

o produto da interação das necessidades que vão se modificando e, assim,

configurando novos conflitos, que influenciam a maneira como as etapas

posteriores do desenvolvimento serão experimentadas.

Nesse contexto, a aprendizagem constitui-se em um dos indicadores da

capacidade de aprender, relacionado especialmente para as crianças, com o

seu padrão de adaptação2, com o nível de desenvolvimento cognitivo; a

condição cognitiva refere-se às estruturas que permitem a organização dos

estímulos e do conhecimento. Os aspectos afetivos, juntamente com os

cognitivos e biológicos, são comumente identificados como fatores individuais

e internos da criança, que, isoladamente ou em interação, determinam as

condições de aprendizagem.

A aprendizagem deve começar pelos acontecimentos em que os alunos

estão envolvidos (suas “crenças” prévias) e cujo significado procuram construir.

Para se poder ensinar bem, é necessário conhecer os modelos mentais que os

alunos utilizam na compreensão do mundo que os rodeia e os pressupostos

que suportam esses modelos. Aprender é construir o seu próprio significado e

não encontrar as “respostas certas” dadas por alguém.

Para que a aprendizagem provoque uma efetiva mudança de comportamento e amplie cada vez mais o potencial do educando, é necessário que ele perceba a relação entre o que está aprendendo e a sua vida. (DROUET, 1996, p. 11)

1 Consciência (processo descritivo) – qualidade momentânea que caracteriza as percepções externas e internas no conjunto dos fenômenos psíquicos. 2 Adaptação – capacidade de assimilar e acomodar novos conhecimentos (PIAGET, 1998).

Page 22: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

21

A aprendizagem é um processo tão importante para a sobrevivência do

homem que, cada vez mais, as escolas e as tecnologias estão sempre se

aperfeiçoando para tornarem a aprendizagem mais eficiente. À medida que se

ascende na escala animal, o período da infância, a capacidade para aprender

e a importância da aprendizagem na vida do organismo aumentam,

regularmente, com um correspondente decréscimo dos comportamentos

inatos, denominados instintivos.

De todos os animais, o homem possui o menor número de reações

inatas, fixas e invariáveis. Sua infância é mais longa e possui maior capacidade

para tirar proveito da experiência. Seu repertório de reações é quase todo

constituído de respostas adquiridas, isto é, aprendidas. Na vida humana a

aprendizagem se inicia com o nascimento e se prolonga até a morte.

Logo que a criança nasce, começa a aprender e continua a fazê-lo durante toda sua vida. Com poucos dias, aprende a chamar sua mãe com seu choro. No fim do primeiro ano, familiarizou-se com muitos dos objetos que formam seu novo mundo, adquiriu certo controle sobre suas mãos e pés e, ainda, tornou-se perfeitamente iniciada no processo de aquisição da linguagem falada. Aos cinco ou seis anos, vai para a escola, onde, por meio de aprendizagem dirigida, adquire os hábitos, as habilidades, as informações, os conhecimentos e as atitudes que a sociedade considera essenciais ao bom cidadão. (CAMPOS, 2003, 89)

Quando se consideram todas as habilidades, os interesses, as atitudes,

os conhecimentos e as informações adquiridas, dentro e fora da escola, e suas

relações com a conduta, a personalidade e a maneira de viver, pode-se

concluir que a aprendizagem acompanha toda a vida de cada um. Por meio

dela, o homem melhora suas realizações nas tarefas manuais, tira partido de

seus erros, aprende a conhecer a natureza e a compreender seus

companheiros. Ela capacita-o a ajustar-se adequadamente a seu ambiente

físico e social. Enfim, a aprendizagem leva o indivíduo a viver melhor ou pior,

mas, indubitavelmente, a viver de acordo com o que aprende.

A reforma da educação profissional brasileira está inserida em um

conjunto de estratégias estruturadas pelo governo Fernando Henrique

Cardoso, objetivando deslocar do conflito entre capital e trabalho o

Page 23: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

22

agravamento da crise social existente. Ao responsabilizar a má qualificação

dos trabalhadores pelos altos índices de desemprego, este governo institui no

imaginário coletivo a compreensão de que a única saída para as populações

marginalizadas econômica e socialmente é a apropriação de um novo capital

cultural, habilitando-as a disputarem, em melhores condições, uma vaga no

mercado de trabalho.

Fundamentando-se na teoria do capital humano, o governo brasileiro

instituiu, a partir de 1995, um conjunto de reformas como um mecanismo

fundamental para garantir a conquista de um desenvolvimento econômico com

maior eqüidade social. Apropriando-se das recomendações cepalinas, o

Ministério do Trabalho, em articulação com diversas instâncias da sociedade,

criou o Plano Nacional de Educação Profissional (Planfor).

O público-alvo desse programa é selecionado em meio aos setores

sociais que apresentam dificuldades para entrar ou permanecer no mercado de

trabalho. Ou seja, o Ministério do Trabalho, ainda que não considere este

projeto um mecanismo assistencial, destina sua atenção para os grupos

populacionais que apresentam grandes dificuldades de manter algum vínculo

empregatício e adquirir alguma renda regular.

Para o Ministério do Trabalho, tais setores da sociedade, em virtude de

possuírem um baixo nível de escolarização, ficam impossibilitados de se

matricularem em algum curso profissionalizante, porque estes, na sua maioria,

estão voltados para as pessoas que pelo menos concluíram o ensino

fundamental. Desta forma, há necessidade do desencadeamento de um

processo de qualificação profissional que, além de se centrar no mercado, seja

também realizado no menor espaço de tempo possível para que, com grande

brevidade, estes indivíduos disputem uma vaga no mercado de trabalho.

O Ministério do Trabalho entendeu que uma forma de atender não só às

requisições do setor produtivo, mas também de providenciar que os indivíduos

disponham de mecanismos para aquisição de um salário de forma autônoma,

seria pelo desenvolvimento de habilidades básicas (ler, escrever, abstrair, etc.);

habilidades específicas (conhecimentos demandados pela reestruturação

produtiva) e habilidades de gestão (fundamentais para uma atividade

autônoma). A implementação destes objetivos poderia acontecer somente se

Page 24: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

23

houvesse uma profunda reestruturação das instituições ligadas ao ensino

profissionalizante, pois mesmo reconhecendo a qualidade dos serviços

prestados pelas escolas técnicas federais e as instituições ligadas ao Sistema

S (Senai, Senac, etc.), estas não tinham se adequado às novas exigências

coletâneas à globalização econômica (Brasil, MTb/Setor, 1995).

Além de criar uma nova institucionalidade para a educação profissional

– pois com o Planfor se estabeleceu uma relação de cooperação entre governo

federal, governos estaduais e diversas organizações da sociedade, a reforma

ao pautar-se pela desarticulação entre a educação profissional e a educação

básica, implementou também uma reestruturação no ensino ministrado nas

escolas profissionalizantes de nível médio (Brasil, MEC/Semtec, 1996).

A reformulação do ensino ministrado pelas escolas profissionalizantes

de nível médio representou um dos retrocessos na nova política do ensino

profissional, pois, além de a mesma ter sido efetivada de forma autoritária pelo

MEC (Kuenzer, 1997b), expressou a recomposição no âmbito do sistema

educacional brasileiro da dicotomia entre os ensinos geral e profissional.

O MEC, ao reservar para si a responsabilidade pelo ensino tecnológico

de terceiro grau e da formação técnica pós-secundária nos Cefets (Centros

Federais de Educação Tecnológica), relegou ao descaso a formação de nível

médio profissionalizante. Ao segmentar o ensino médio tecnológico, retirando-

lhe do currículo o ensino das humanidades, mostrou ter uma visão de

trabalhador ainda presa ao modelo de produção taylorista.

Percebe-se, nesta divisão de tarefas, o estabelecimento de uma

segmentação social a partir do próprio processo educativo. Ou seja, enquanto

o Ministério do Trabalho direciona suas ações para uma clientela excluída do

mercado de trabalho e com pouca possibilidade de ascender socialmente, o

MEC também concebe a educação profissionalizante como um momento de

contenção de classes. Ambos os ministérios negam à educação

profissionalizante a possibilidade de ser um instrumento democratizador de

conhecimentos e de valores fundamentais para o exercício da vida cidadã.

Esta reforma representou uma afronta em relação aos reclamos da

sociedade por uma escola capaz de garantir uma articulação entre o fazer e o

pensar. Ao direcionar a educação profissionalizante especificamente para os

Page 25: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

24

interesses do mercado, retrocedeu no tempo e rearticulou, no âmbito da

educação brasileira, a mesma dicotomia presente em meados do século

passado (Guimarães, 1998). Esta dicotomia explicita-se mais a partir da

análise da reforma do ensino médio, implementada concomitantemente com a

da educação profissional.

Ao considerar o ensino médio o momento fundamental para a garantia

da continuidade dos estudos ou como o espaço para a aquisição de

competências necessárias a uma futura inserção no mercado de trabalho, o

governo brasileiro reservou-lhe a exclusividade de ministrar os conhecimentos

necessários a uma atuação mais participativa e reflexiva dos alunos na

sociedade.

Ao estabelecer que o currículo do ensino médio deve buscar

desenvolver competências ligadas às áreas de linguagens e códigos, ciências

da natureza e matemática e ciências humanas, todas em articulação com as

diversas tecnologias, o Ministério da Educação fortaleceu a convicção de que o

domínio desses conhecimentos é algo fundamental para vivência na sociedade

atual. Contudo, é estarrecedor o fato de não ter considerado importante a

incorporação destes conhecimentos nos currículos voltados para a formação

profissional.

Seria esta desarticulação apenas um equívoco dos formuladores de

políticas? Creio que não.

A articulação dos conhecimentos acadêmicos com as mudanças

tecnológicas, políticas e econômicas é uma cobrança de todos os que se

preocupam em garantir que a escola seja coletânea aos movimentos existentes

na sociedade. Entretanto, esta articulação não pode ficar restrita a pequenos

estratos sociais e a uma modalidade específica do ensino. Por mais que o

Ministério da Educação projete uma universalização futura do ensino médio,

temos clareza de que, em não sendo findas as desigualdades sociais,

dificilmente se garantirá esta universalização. O governo brasileiro, ao seguir à

risca as orientações do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional de

racionalizar os gastos do Estado, reforça mais ainda os fatores que determinam

a diferenciação de escolarização entre as classes sociais no Brasil.

Page 26: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

25

Esta dualidade na educação brasileira demonstra que por mais que as

elites nacionais veiculem nos meios de comunicação o seu compromisso com

a democratização do processo educacional e com a garantia à maioria da

população do acesso aos conhecimentos produzidos historicamente, elas – por

meio de uma nova institucionalidade – negam a perspectiva de a escola ser

um espaço para a formação integral do cidadão.

Estas elites parecem acreditar que, proliferando atividades de educação

profissional, estão resgatando o preceito democrático de direitos iguais para

todos. Entretanto, sabemos que a verdadeira democracia se estabelece pela

possibilidade de os alunos – sejam eles oriundos de quaisquer classes sociais

– desfrutarem de uma escola comum.

Hoje, vendo o movimento estabelecido na política de educação

profissional, fica patente que a escolarização para os setores populares no

Brasil não se configura como um elemento a mais para a construção de uma

cidadania dentro de uma perspectiva que contemple o seu exercício em várias

dimensões. A educação profissional assume um papel muito mais

compensatório – ao privilegiar os setores marginalizados socialmente – ou

artifício ideológico, que coloca sobre os indivíduos a responsabilidade pelo

alcance de um padrão de vida com melhor qualidade.

Page 27: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

26

CAPÍTULO III

AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

A AJUDA DA NEUROCIÊNCIA

Um cérebro com estrutura normal, com condições funcionais, com

neuroquímicas corretas e com um elenco genético adequado não significa

100% de garantia de aprendizagem normal; pelo contrário, há mais de um

século, pesquisas têm mostrado que as situações extra SNC interferem na

aprendizagem. Por outro lado, essas dificuldades não ocorrem unicamente em

nosso meio. Dar mais atenção à necessidade de o indivíduo aprender tornou-

se claro o anseio de uma aprendizagem formal e, por essa forma, assumir um

lugar na sociedade. Então, aprender tornou-se não só um diferencial mas

também uma necessidade.

Dewey, que defende o papel da educação como formação social e do

professor como responsável pela integração da criança na comunidade.

Tem sido uma preocupação constante para o futuro das crianças sem

condições de aprender, pois existe a possibilidade de elas virem a desenvolver

na adolescência problemas de conduta. Então, encarando o problema dessa

forma, é possível chegar-se a uma hipótese diagnóstica que, a cada momento,

a relação com a criança poderá ser ajustada. Sara Paín, em relação à

aprendizagem, diz que devem-se estabelecer situações necessárias e

adequadas internas e externas. As primeiras estão relacionadas com o corpo,

com a integridade anatomofuncional cognitiva, com a estruturação e a

organização dos estímulos. Já as externas estão relacionadas com o campo

dos estímulos.

Então, diz-se que as dificuldades para a aprendizagem passa primeiro

pelo conceito de aprendizagem. Sem dúvida nenhuma, é no SNC, onde

ocorrem modificações funcionais e de condutas, que dependem dos

contingentes genéticos de cada um, associadas ao ambiente onde está

inserido, sendo o ambiente responsável pelo aporte sensitivo-sensorial, que

vem por meio da substância reticular ativada pelo sistema límbico, que

Page 28: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

27

contribui com os aspectos afetivo-emocionais da aprendizagem. Então, vamos

descrever passo a passo o caminho desses estímulos.

Ä Córtex cerebral, nas áreas do lobo temporal, recebe, integra e organiza

as percepções auditivas.

Ä Nas áreas do lobo occipital, recebe, integra e organiza as percepções

visuais.

Ä As áreas temporais e occipital se ligam às áreas motoras do lobo frontal,

situadas na terceira circunvolução frontal, responsável pela articulação

das palavras. A circunvolução frontal, responsável pela articulação das

palavras. A circunvolução frontal ascendente é responsável pela

expressão da escrita (grafia).

Ä A área parietotemporoccipital é responsável pela integração gnósica, e

as áreas pré-frontais, pela integração práxica, desde que essas funções

sejam moduladas pelo afeto e pelas condições cognitivas de cada um.

Essa complexa rede de funções sensitivo-motora, motora-práxica,

controlada pelo afeto e pela congnição, deve ser associada à função do

cerebelo na coordenação, não só das funções perceptivas e motoras mas

também das funções cognitivas do ato de aprender. As alterações funcionais e

neuroquímicas envolvidas produzem modificações mais ou menos permanente

no SNC, isso é aprendizagem. Portanto, o ato de aprender é um ato de

plasticidade cerebral, modulado por fatores intrínsecos (genéticos) e

extrínsecos (experiências).

Então, conceituando-se aprendizagem dessa maneira, pode-se dizer

que dificuldades para a aprendizagem são resultados de algumas falhas

intrínsecas ou extrínsecas desse processo.

Dificuldades para a aprendizagem abrangem um grupo heterogêneo de

problemas capazes de alterar as possibilidades de a criança aprender,

independentemente de suas condições neurológicas para fazê-lo. A expressão

transtornos da aprendizagem deve ser reservada para dificuldades primárias

ou específicas, que se devem a alterações do SNC.

Os fatores envolvidos nas dificuldades para a aprendizagem podem ser

divididos em:

- fatores relacionados com a escola;

Page 29: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

28

- fatores relacionados com a família;

- fatores relacionados com a criança.

3.1.- A Escola

Para ter um bom rendimento e, assim, uma boa acolhida / inclusão

devemos observar:

- Condições físicas da sala de aula, como higiene, boa iluminação, limite

aceitável de número de alunos / turma.

- Condições pedagógicas, disponibilidade de material didático adequado

à faixa etária e método pedagógico de acordo com a realidade da criança.

- condições do corpo docente, no que se refere à motivação, à

dedicação, à qualificação e à remuneração adequada.

3.2. - A Família

Deve oferecer condições adequadas para que o ensino e a

aprendizagem sejam de sucesso. A escolaridade dos pais influencia o

desempenho na estimulação da criança para um melhor envolvimento com os

estudos. O hábito da leitura é fundamental para o desenvolvimento cognitivo

da criança.

História familiar de alcoolismo, drogas e outras dependências são

fatores desagregadores da família.

3.3. - A Criança

Com comprometimentos físicos

1 – Dificuldades sensoriais, responsáveis pela aferência perceptiva

adequada, seja visual, auditiva, podendo ser hereditária, congênita ou

adquirida, aguda ou crônica.

Exemplos: otite crônica, tonsilites e sinusites atrapalham a percepção

sensorial, interferindo no processo de aprender.

Page 30: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

29

A criança que não escuta bem, freqüentemente parece desatenta e

inquieta.

2 – Portadores de estrabismo convergente, quando tratados tardiamente

com cirurgia, será apenas para efeito estético, pois a visão já não se

estabelecerá mais, e a ambliopia já estará instalada.

3 – Miopias, astigmatismo, hipermetropia.

Portanto, tanto a percepção auditiva como a visual devem fazer parte do

exame da criança na escola.

Outras doenças, como hipotireoidismo, parasitoses, anemia, doenças

reumáticas, nefronpatias, cardiopatias, desnutrição, pneumopatias e doenças

imunoalérgicas, também implicam graves e complicados desempenhos

escolar.

- Com comprometimentos psicológicos

Ao entrar na escola, a criança pode desenvolver alguns transtornos

psicológicos, como a timidez, a insegurança, a ansiedade, a baixa auto-estima,

a necessidade de afirmação e a falta de motivação. Portanto, pode ocorrer a

evolução dos transtornos, quando associados aos conflitos, destacando-se as

fobias, a depressão, o transtorno de humor, o transtorno opositor desafiante e

a conduta anti-social. Muitas vezes, confundimos com deficit de atenção e

hiperatividade.

- Comprometimentos neurológicos

As situações mais freqüentes, mas não as causas primárias das

dificuldades para aprender, são as seguintes:

Deficiência mental, paralisia cerebral, epilepsia (serão abordadas

posteriormente).

A criança não aprende por apresentar algum grau de retardo mental.

Encaminhar e avaliá-la por meio de atendimento pedagógico por testagem

psicométrica, pois não se trata de um caso com dificuldades de aprender e,

sim, com potencial intelectual rebaixado, por isso o ponto de vista pedagógico

é fundamental.

Exame neurológico, como eletroencefalograma, para a avaliação de

epilepsia infantil, com crises parciais motoras sensórias, é de primordial

Page 31: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

30

importância para detectar tal transtorno, pois muito auxiliará o fazer

pedagógico para acompanhar o desenvolvimento da criança comprometida.

As crianças com PC têm dificuldades de aprender freqüentemente, pois

dois terços delas têm retardo mental.

Este é, sem dúvida, um fator limitador para a aprendizagem, mas um

terço das crianças com PC tem inteligência normal e, em alguns casos, são

superdotadas.

Compreender todos os processos é colaborar na avaliação cognitiva,

para não se correr o risco de se manterem em escolas especiais crianças com

bom potencial.

- Procedimentos a seguir, quando a criança apresenta Dificuldades de

Aprendizagem.

É necessária uma equipe multidisciplinar e interdisciplinar para conhecer

a criança no seu todo, para não segmentá-la e, sim, avaliá-la e acompanhá-la

todo tempo.

Dependendo do caso, essa equipe deve ser organizada por pedagogo,

pediatria, neuropediatria, psicólogo, psiquiatria infantil, fonoaudiólogo,

otorrinolaringologista, oftalmologista e educador infantil especializado,

fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e assistente social.

Múltiplos atendimentos deverão ser predominantes em cada caso:

1 – Sensitivo-sensoriais: fonoaudiólogo, otorrinologista, oftalmologista.

2 – Percepto-motora: psicopedagogo, psicomotricista, terapeuta

ocupacional.

3 – Motora: fisioterapeuta, psicomotricista, terapeuta ocupacional.

4 – Emocionais à psicólogo, psiquiatra.

5 – Sociais: assistente social para apoio da família.

Após a detecção dos principais problemas que interferem na

aprendizagem, o escolar é encaminhado para o tratamento específico, e deve

ser acompanhado constantemente, pois, a cada momento, o foco deve estar

centrado nas dificuldades de criança.

Abaixo, algumas patologias associadas às dificuldades de

aprendizagem.

- Epilepsia

Page 32: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

31

- Transtorno de humor bipolar

- Transtorno de humor depressivo

- Transtorno da ansiedade

- Transtorno de conduta

- Transtorno de tiques

- Transtorno de déficit de atenção

3.4 – As Síndromes e Patologias que dificultam a Aprendizagem –

O Avanço da Neurociência para os devidos tratamentos

3.4.1. As Neurociências e suas contribuições diante das diferenças

Sempre que um humano nasce com um problema, cada um dos

integrantes da família reage de forma completamente diferente, uma vez que a

situação provoca alterações no desempenho dos papéis. De um momento para

outro, as pessoas se encontram com uma realidade que não era esperada,

surgindo um grande sentimento de perda e de sonhos desfeitos. Com isso,

desenvolvem-se algumas questões pertinentes, tais como:

- a aceitação ou não da gestação, quando descobre problemas com a

criança;

- o relacionamento do casal antes e depois da gravidez;

- nível de expectativas;

- nível de preconceitos;

- posição do filho na prole;

- tipo de relacionamento entre os familiares.

A primeira pergunta da família é: Por que eu? Buscando culpados,

depois tenta diagnósticos enganados, abatendo-se em fúrias e raivas. Cobra a

qualidade de ou ser “doente”. Após a instabilidade e a oscilação, vêm a

convivência com a realidade e a expectativa para o futuro.

3.2.2. A Família do Portador de Necessidades Especiais em uma Visão Sistêmica

Podemos entender a família como um sistema aberto que se

autogoverna, traçando diretrizes, regras que definem padrões e mantêm

Page 33: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

32

interdependência entre os membros no que diz respeito a trocas de

informações. O importante de tudo é que ser “doente” ou pessoa que

apresenta problema é apenas um representante de todo o sistema.

A questão é compreender o portador de necessidades, assim como os

outros que transitam pelas fases do ciclo da vida, pois cada momento é

completamente diferente dentro das aquisições inerentes para o convívio em

um mundo social.

Discutiremos algumas patologias/síndromes, entendendo que as

questões aqui que serão abordadas devem ser aprofundadas para que se

revertam em ações e políticas efetivas, e todos possam ter dignidade

biopsicossocial e cultural em torno das questões das famílias de pessoas

portadoras de necessidades especiais, e que, a partir desses elementos,

possamos participar da construção de uma sociedade que respeite as

diferenças da ESPÉCIE HUMANA, eliminando rótulos, sejam das pessoas

portadoras ou de suas famílias.

3.4.3. Síndromes Neurológicas e os Portadores de Necessidades Especiais

Síndrome de Gilles de La Tourette – Síndrome dos Tiques - Os tiques

são transtornos geralmente temporários, associados a distúrbios emocionais

provenientes de dificuldades na vida familiar e escolar ou no desempenho

profissional, em que a auto-estima, freqüentemente, está comprometida. São

representados por atividades motoras repetitivas, como piscar os olhos, morder

bochechas, deslocamento rápido da cabeça ou emissão fônica, com tosse

seca, pigarros.

A síndrome é considerada grave quando ocorrem tiques motores

múltiplos e vocais combinados. Tem início precocemente na infância, com

características benignas. Porém, penso que o maior problema é quando a

criança recebe apelidos na escola etc., comprometendo o seu

desenvolvimento emocional.

Pode-se definir a síndrome, quando:

- instala-se na infância ou adolescência;

- tiques simples motores no início, múltiplos e complexos depois;

Page 34: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

33

- tiques vocais simples no início; depois ecolalia;

- dificuldades comportamentais, como impulsividade e desatenção;

- hiperatividade motora e sintomas obsessivo-compulsivos.

Fisiopatologia: Embora não muito esclarecida perfeitamente, existe uma

série de evidências que indicam ser a síndrome um distúrbio neurológico e não

psiquiátrica. Sabe-se que existe 80% de caráter familiar, sendo manifestado

com tiques simples e traços de personalidade de tipo obssessivo-compulsivo.

A localização gênica no genoma humano está determinada no cromossomo

18, na porção a 22.1.

Os núcleos da base do cerebelo e o tronco encefálico são estruturas

envolvidas na patologia, pois apresentam o desequilíbrio dos

neurotransmissores, responsáveis pelos tiques (dopamina, acetilcolina,

dinimorfina, GABA), desatenção, hiperatividade (noradrenalina) e transtorno

obssessivo-compulsivo (serotonina, glutamato).

A síndrome tem maior índice em meninos, pois os hormônios

andrógenos atuam no período pré-natal, quando o cérebro está se formando,

modificando a estrutura cerebral e, conseqüentemente, sua resposta no futuro.

Compreender para INCLUIR: Os educadores devem ser orientados para

agir com maior compreensão e moderação diante dos episódios de tiques, que

podem ser características de alta impetuosidade e agressividade.

Por ocasião das provas, em razão do estresse, pode acarretar uma

acentuação dos tiques. Permitir sua realização em ambiente reservado e

manter um clima amistoso é o ideal para promover a segurança de estudante.

O prognóstico é bem caracterizado quando o indivíduo relaciona-se a

algumas manias, como abrir e fechar várias vezes uma pasta para certificar-se

de que a mesma está fechada, entre muitas outras compulsões ou obsessões.

Autismo - É um distúrbio do desenvolvimento de origem orgânica (lesão

encefálica) cuja causa específica é de componente genético, todavia ainda não

se conhece com detalhes. Caracterizada pela tríade (DSM-IV, CID-10):

alterações na interação social, na linguagem e no comportamento.

As características mais comuns, que podem variar de intensidade e cuja

presença não é obrigatória, são:

- não estabelecer contato com os olhos;

Page 35: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

34

- parece que não escuta;

- pode desenvolver a linguagem, porém repentinamente pode

interromper;

- age como se não tomasse conhecimento do que acontece com os

outros.

- agride pessoas sem motivos;

- é inacessível perante as tentativas de comunicação;

- restringe-se e fixa-se em poucas coisas, ao invés de explorar o

ambiente;

- apresenta certos gestos imotivados, como balançar as mãos ou

balançar-se;

- cheira ou lambe os brinquedos ou os objetos;

- mostra-se insensível ao ferimento, podendo ferir-se intencionalmente.

É importante ressalvar que existem crianças que, apesar de autistas,

apresentam inteligência normal e fala adequadamente, mostrando-se apenas

fechadas, distantes, não gostando de participar de jogos, brincadeiras e com

padrões de comportamento um pouco rígido demais.

Alguns casos de autismo têm a causa identificada, como, por exemplo,

crianças com Síndrome de X Frágil, neurofibrimatosa, rubéola congênita. A

inter-relação não ocorre sistematicamente, ou seja, nem todos os casos

evoluem para um autismo. Entretanto, a maioria não tem causa e nenhum

exame mostra qualquer lesão no sistema nervoso para justificar tão complexo

comprometimento no comportamento e na cognição.

A lesão neurológica pode não restringir a área de comportamento,

outras áreas cerebrais podem estar lesadas, levando a quadros neurológicos

dos mais variados: deficiência mental, transtorno de atenção com

hiperatividade, crises epelépticas, deficits motores, falta de coordenação,

disgnosias, apraxias.

Síndrome de Asperger - Foi descrita, em 1944, como crianças

inteligentes, com memória excelente, porém com dificuldades na comunicação,

interação social e imaginação, ou seja, a mesma tríade do autismo. Entretanto,

não apresentam alterações no desenvolvimento da fala nem no cognitivo,

podendo passar como normal, porém, portadores de comportamentos

Page 36: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

35

estranhos. Essas crianças têm bom prognóstico e costumam receber

diagnósticos errôneos de distúrbios de conduta, desordem da atenção

(hiperatividade/desatenção), dificuldades na socialização, entre outros.

Aprendem a ler e escrever precocemente e se dedicam intensamente a

determinado assunto, pouco usual para a idade, tornando-se “especialista”. É

capaz de citar de memória todas as capitais do mundo, dissertando sobre a

população, tamanho geográfico e atividade econômica.

A fala é pedante, com frases rebuscadas, repetidas de forma

estereotipadas; são falantes, mas, com prejuízo na produção dos discursos,

têm dificuldades na compreensão de palavras muito simples e de uso diário.

São muito isoladas socialmente, sem amigos e com incapacidade de

perceber os sentimentos dos outros, seus interesses são limitados e costumam

apresentar depressão na evolução do quadro.

Epilepsia - Um dos males que atingem a humanidade desde a mais

remota antiguidade, a epilepsia tem sido conhecida durante séculos e tratada

de acordo com a cultura de seus povos e costumes. Uma verdadeira mitologia

foi criada em torno de suas manifestações. E até hoje existem dificuldades de

livrar-se desses preconceitos, neste País de crendices e superstições.

Epilepsia é o nome dado aos sintomas dos diversos problemas do

sistema nervoso. Provém de palavra grega, que significa “tomar-se de

surpresa”, pois ocorre quando a célula cerebral descarrega demasiadamente

energia elétrica. Pode-se dividir em:

Leve – ocorre crise de ausência para o que está fazendo, olhar vago e

estranho e, em alguns casos, o globo ocular realiza movimentos, há

momentânea incomunicabilidade do sujeito com o meio. Ainda, pode ocorrer

rápidas sacudidas, perda do controle motor e queda, mas é possível levantar-

se e recompor-se logo;

Intensivo – crises mais freqüentes e atingem intenso grau de convulsão.

A pessoa percebe que algo irá acontecer, parecendo um aviso, que recebe o

nome de “aura”. Há queixas, como visão turva, sensação de ruídos, dores de

cabeça, náuseas, perda da consciência, e queda com movimentos rápidos,

relaxamento dos esfíncteres, secreção na boca. Finalmente, a pessoa fica

sonolenta e entra em um sono profundo.

Page 37: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

36

A epilepsia pode ocorrer após um trauma craniano ou ser causada por

problemas de saúde durante a gravidez, efeitos tardios de doenças da infância,

deficiências nutricionais, tumores cerebrais.

A atuação do educador diante desta síndrome comentada:

O sujeito requer cuidados especiais, por isso é importante que o

educador possua o conhecimento do assunto, para que não se assuste diante

do fato, não sabendo que atitude tomar ou como contornar o problema com os

colegas da classe.

Atitudes a serem decididas:

- Procurar mais esclarecimentos, preparando-se para vencer suas

próprias dificuldades diante do quadro e eliminar seus preconceitos.

- Preparar a turma para aceitar o colega, sem hostilidade.

- Procurar integrar o sujeito, agindo com calma e cautela, sem entrar em

pânico.

A criança com necessidades especiais é aquela que se desvia do

“normal” físico, social ou mental, a ponto de precisar de cuidados especiais,

seja por algum tempo ou permanentemente, podendo apresentar-se como

atraso mental, lentidão na aprendizagem e altas habilidades.

O atendimento pode ser feito na escola, em classes especiais e

regulares, porém desvios extremos requerem instalações apropriadas e

profissionais especializados.

3.4.4. A Criança Portadora de Deficiência Mental

Distingui-se pela incapacidade de generalizar, classificar, abstrair,

analisar, quando esta está na escola. A primeira suspeita vem com seu lento

desenvolvimento motor. A criança não engatinha, não anda no tempo próprio,

sua linguagem não é desenvolvida, ou seja, existem sérios comprometimentos

funcionais do encéfalo.

A criança demora a aprender, precisando de repetição de estímulos de

maneira intensa, daí a importância de conhecer a fisiologia do encéfalo para

favorecer a educação sensorial. Apresenta dificuldades na discriminação dos

Page 38: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

37

objetos, percepção exata que, por deficiência dos sentidos, prejudicam o

aprendizado.

As causas podem ser:

- pré-natais;

- perinatais – durante o parto;

- pós-natais.

Pode ser diagnosticada em três etapas:

- Durante a gestação – causas genéticas, metabólicas, más formações e

doenças familiares.

- No momento do parto – traumatismo de parto, falta de oxigenação no

nascimento.

- Durante as fases da vida – fatores nutricionais, afecções do sistema

nervoso central, traumatismo craniano, falta de estímulos sensoriais, motores e

emocionais.

A deficiência mental dividi-se em dois grandes grupos:

- Severa – é rara, e as crianças que a apresentam permanecem mais ou

menos dependentes durante toda a vida. Seu ajustamento social pode, dentro

dos limites, ser melhorados.

- Leve – grupos mais numerosos. As freqüências mudam de criança

para criança e, muitas das vezes, podem passar despercebidas dentro da

família e da comunidade, agravando na aprendizagem escolar.

É importante destacar que os deficientes não podem ter inteira

responsabilidade sobre a própria conduta, mas é importante que respondam

por si, tanto quanto possível.

As crianças com lesão cerebral são muito ativas e dispersivas,

passando constantemente de uma tarefa para outra.

As crianças que apresentam timidez ou são retraídas costumam ficar

isoladas, fogem do contato com adultos e com outras crianças, e não têm

interesse por brinquedos. Neste caso, o contato com os outros deve ser

proporcionado gradativamente, sem pressão.

Page 39: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

38

3.4.5. A Criança com Lentidão de Aprender

É educável em classes regulares. O educador que tiver em sua classe

um ou mais alunos apresentando esse ritmo estará diante da desafiadora

tarefa de ajudá-los a se adaptarem à escola.

Por conseguinte, fazem-se necessários:

- utilizar-se de experiências concretas para aprender;

- estímulos e motivação para aprender;

- elogio e recompensa, individual ou em grupo;

- atenção individual.

Para isso, o educador deverá seguir alguns princípios:

- aceitá-lo como é;

- ser paciente;

- apresentar sugestões positivas;

- dar-lhe segurança, deixando-o perceber por palavras e ações que

pode estar confiante;

- procurar descobrir suas aptidões, pois as deficiências já são do seu

conhecimento;

- ele tem mais semelhanças que diferenças com seus companheiros

que aprendem depressa.

Independentemente dos critérios de agrupamento da escola, o educador

deve preparar-se para encontrar sua classe diversificada, ajustando os

trabalhos à classe para permitir o desenvolvimento máximo das aptidões de

cada um.

3.4.6. A Criança e as Altas Habilidades

Revela-se por um conjunto de traços e características, e não apenas

pela velocidade do desenvolvimento ou por demonstração de inteligência.

São geralmente independentes, confiantes de idéias claras, atitudes

pertinentes. São capazes de formular conceitos críticos e pensar de modo

organizado. Só pode ser definida se a criança possui altas habilidades, depois

dos cinco anos, caso a criança permaneça apresentando “fôlego intelectual”.

Page 40: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

39

A inteligência superior faz parte do conjunto, sendo usada de maneira

criativa, apresentando outras características, tais como:

- perseverança diante de uma tarefa;

- procura explicações mais profundas do que as aceitas por outras

crianças;

- tem alto nível crítico, exigindo muito das respostas, e comportamento

do adulto;

- prefere o pensamento abstrato ao pensamento crítico;

- a percepção do mundo que a rodeia é mais abrangente, mais sensível

e intuitiva do que se espera para sua faixa etária;

- é capaz de ter muitas idéias a respeito de qualquer situação-problema;

- costuma ser independente, auto-suficiente e estável no aspecto

emocional.

Na educação, essa criança merece ter atenção especial pelo menos

para ter oportunidades correspondentes à sua idade mental e a outras

aptidões e para desenvolver plenamente suas potencialidades sociais,

estéticas e intelectuais. Aulas que não ofereçam desafios irão aborrecê-la e

seu interesse diminuirá.

Existem casos de crianças com AH que não são bem compreendidas,

não são aceitas pelo grupo e, por isso, podem apresentar desajustes no

comportamento ou nos problemas psicológicos.

Os pais não devem tratá-los com adultos, pois necessitam de carinho e

afeto infantil. No ambiente escolar, é importante incentivar o convívio com

outras crianças, entre as quais encontrem estímulos para jogar e realizar

brincadeiras normais de sua idade.

Concluindo, o ideal é que a criança AH consiga uma relação satisfatória

com as outras crianças, comportando-se de acordo com sua idade e, ao

mesmo tempo, mantendo-se em seus interesses especiais.

3.4.7. A criança com transtorno de déficit de atenção / Hiperatividade

É um transtorno psiquiátrico, neurobiológico, mais comum da infância e

da adolescência, de causas ainda desconhecidas, mas com forte participação

Page 41: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

40

genética na sua etiologia. Acompanha o sujeito por toda a vida. Ele não é

transtorno de aprendizagem (TA), mas os sintomas são desatenção,

impulsividade que afetam secundariamente a aprendizagem.

Apresentando em alguns casos co-morbidades, com disruptivos do

comportamento (transtorno de conduta e transtorno opositor desafiante),

depressão, ansiedade, sendo que tais fatores interferem no bom desempenho

escolar.

A inclusão desses educandos nas escolas regulares tem trazido muitos

questionamentos. Se por um lado, há uma clara e boa vontade por parte dos

professores e da escola para adaptar estas crianças; por outro lado, há m

desconhecimento do assunto, e é uma tarefa árdua em uma classe numerosa

e diversificada.

3.4.8. Como Acontece a Hiperatividade no SNC?

O córtex cerebral é a única região do SNC, capaz de transformar

estímulos recebidos em aprendizado. Cada estímulo que atinge o córtex é

comparado com vivências anteriores, para que possa ser interpretado,

decodificado, compreendido. É impossível o SNC reconhecer o que nunca viu.

Para eventos novos, o reconhecimento estará impossibilitado, mas o

aprendizado ocorrerá, pois ficará retido na memória este novo estímulo,

associado a todas as informações possíveis para que possamos descobrir o

que é, para que serve e, dessa maneira, aprender.

Para tanto, todo o resto do SNC tem de estar funcionando

adequadamente, em favor das funções nervosas superiores da memória, do

raciocínio e da inteligência em busca da decodificação ou do aprendizado.

Só decodificamos e aprendemos quando o SNC está maduro para

receber e interpretar o novo evento e se estivermos atentos e interessados.

O aprendizado, portanto, depende da integridade da maturidade

neurológica, da atenção e do interesse, além, é claro, da funcionalidade

adequada das estruturas que vão receber ou captar os estímulos.

Algumas dificuldades estão ligadas à presença de lesão cortical, onde

os estímulos são inadequadamente avaliados pela existência de substrato

Page 42: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

41

neurológico, neurônio ou ligações dendríticas de associações. Nestes casos, a

falta de integridade cortical determina uma pobre interpretação dos estímulos e

menor capacidade cognitiva.

Compreender a falta de atenção e a hiperatividade – eternos

companheiros como causa da dificuldade de aprendizagem.

O SNC é constituído de compartimentos interligados, como já vimos

anteriormente. Um depende do outro, pois a principal razão da sua existência é

a manutenção da vida e da espécie. Seu desenvolvimento e complexidade

atingem o clímax no córtex cerebral, local das funções nervosas superiores de

linguagem, fala, leitura, escrita, todas dependentes de aprendizado, ou seja, da

capacidade de receber um estímulo, estabelecer conexões com cada uma das

suas características, guarda a informação na forma de memória e reutilizá-la

na hora de interpretar ou decodificar uma nova informação recebida.

Um aspecto fundamental para o aprendizado é a atenção, função

desempenhada por uma estrutura complexa, encontrada no tronco encefálico,

denominado Formação Reticular (FR). É ela que mantém o córtex alerta para

receber novos estímulos e buscar interpretá-los ou decodificá-los,

principalmente as sensitivas que devem ser selecionadas. Somente, os

estímulos importantes passam pelo seu “filtro” e chegam ao córtex, tornando-

se conscientes. Assim, os bombardeios constantes que o corpo recebe não

atingem o córtex de forma indiscriminada. Se isto ocorresse, o córtex se

perderia com informações desnecessárias e não conseguiria terminar

nenhuma das tarefas de decodificar.

A formação reticular necessita de manutenção para que possa

desempenhar adequadamente a sua função seletiva de estímulos ou de filtro.

Entendendo melhor, ao nascer até um ano de idade, a criança mantém

um estado de relativa falta de atenção, aceitando todos os estímulos

recebidos, não se observando uma seleção. Isto ocorre pelo fato de a

formação reticular estar imatura, por não ter estruturas ainda mielinizadas. A

criança se mostra desatenta, sem noção de perigo, hiperativa, mexe em tudo,

começa tudo e não termina nenhuma atividade. No decorrer do primeiro e até

o segundo ano de vida, progressivamente, a criança vai melhorando a atenção,

começando uma atividade e indo até o término da mesma (sem se perder com

Page 43: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

42

outros estímulos), tornando-se menos hiperativas e mais atenciosas. Nesta

fase, a desatenção e a hiperatividade são fisiologicamente normais. Com a

maturação do FR que se completa até os quatro anos, podemos observar a

criança com adequada atenção, mais capacidade no aprendizado e menos

hiperativa.

Quando isso ocorre, deparamo-nos com uma criança diferente das outras,

incapaz de começar uma atividade e ir até o fim, impossibilidade de manter-se

parada, atrasada nas aquisições motoras e intelectuais (demora na fala e tem

movimentos desordenados), pouca noção de perigo, presença de impulsividade,

entre muitas outras características. E este quadro caracteriza o TDAH.

Sugestões do passo a passo para ensinar o TDAH - Há necessidades

de intervenções planejadas, tais como: acadêmicas; comportamentais; espaço

físico, como, por exemplo, modificação da sala de aula.

Instruções acadêmicas: Organização da sala de aula, estabelecendo as

expectativas do professor na realização de cada tarefa, rotinas diárias,

recursos visuais e auditivos. Verificar se possui todo material para execução da

tarefa; caso contrário, devemos ajudá-lo a consegui-lo.

Outra sugestão é dividir as atividades em unidades menores, pedir-lhes

que as resolva e avisar quando terminar de fazê-las. E ainda, iniciar as aulas

pelas atividades que requerem atenção, deixando para o final aquelas que são

mais “agradáveis e estimulantes”.

O importante é ter em mente que o estudante com TDAH aprende

melhor as atividades estruturadas. Se possível, utilizar música ao fundo que

propicie um clima agradável, harmônico e tranqüilo.

Intervenções Comportamentais: Sem dúvida, a estratégia mais

geradora de mudança tem sido adotar uma atitude positiva, como elogios, e

“recompensá-los” pelos comportamentos adequados, já que os estudantes

com TDAH sempre são chamados à atenção para o que fazem errado.

Quando o estudante começa a ficar agitado, frustrado ou atrapalha o

trabalho de classe, redirecioná-lo para outra atividade ou situação. Por

exemplo, mandá-lo buscar um material no armário, permitir que ele ajude nas

tarefas, combinar sinais discretos para chamar-lhe a atenção ou lembrá-lo dos

acordos.

Page 44: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

43

Intervenções no Ambiente (sala de aula): Sentar o estudante perto do

professor, para que este possa acompanhar mais próximo o trabalho

desenvolvido por ele, longe das janelas, de porta e de colegas que o

importunem.

Achar um meio-termo entre a escassa motivação visual e os estímulos

em excesso e, finalmente, quando possível, privilegiar turmas menores.

3.4.9. A criança e a Paralisia Cerebral

A investigação da aprendizagem acadêmica em estudantes com

insucesso escolar tem contribuído para a busca de uma maior compreensão

dos processos envolvidos na aquisição dos repertórios de ler e escrever.

A criança com lesão cerebral, ocorrida em estágios precoces de seu

desenvolvimento, torna-se exposta às diversidades que interferem no contínuo

e dinâmico amadurecimento do sistema nervoso, condições essas importantes

no processamento de informações relacionadas à aprendizagem,

particularmente das aquisições mais elaboradas da mente humana, que é a

capacidade de ler e escrever.

O termo Paralisia Cerebral (PC) tem sido empregado em um grupo

heterogêneo de condições clínicas, caracterizados por distúrbios motores e

alterações posturais permanentemente, de etiologia não progressiva, que

ocorre no cérebro imaturo, podendo ou não estar associado às alterações

cognitivas. Encontram-se relatos dessa encelalopatia crônica infantil em

civilizações primitivas, e eram consideradas subumanas, o que legitimava

abandono total, prática esta coerente com as idéias atléticos e clássicos, que

serviam de base àquela organização sociocultural.

Atualmente, com os avanços em técnicas laboratoriais, genética e de

neuroimagem, tem sido possível identificar com maior precisão as referidas

causas pré-natais e pós-natais.

Parte traumático, infecções, agentes tóxicos e prematuridade, aumenta

a suscetibilidade à hipoxemia perinatal (falta de oxigênio).

A criança com PC pode ter os recursos neurológicos não otimizados

para aprender decorrentes da própria condição lesional. No entanto, estruturas

Page 45: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

44

integrantes do sistema de recompensa podem ser ativadas quando se

executam atividades que causam prazer, levando à motivação e à repartição

de atos. Tais estruturas compreendem córtex cingulado, pré-frontal, núcleo

acumbente, hipotálamo, amídala cerebral e o hipocampo. Dessa forma,

compensatoriamente, ela pode responder com maior dinamismo e eficácia,

tendo essas disposições internas ativadas, organizadas, reguladas e

direcionadas ao objetivo específico.

Um contexto facilitador é fundamental, principalmente tratando-se da

criança com alta freqüência de insucessos nos meios acadêmicos e social,

pois a criança com PC é freqüentemente destituída de reação comportamental,

tornando-se passiva durante atividades, perdendo a oportunidade de realizar

os ajustamentos que contribuem na aprendizagem do próprio esquema

corporal, das relações com o meio e da autoconfiança em realizar-se. Além

disso, é privada a oportunidade de aprender por tentativa e erros e por

experimentações, condições estas essenciais para as aquisições educacionais

sistemáticas.

A criança com PC depende de exposição contínua à aprendizagem.

Para que a linguagem ocorra, alguns os fatores são importantes, tais como: a

integridade dos sistemas nervoso central e sensorial, dos processos

perceptuais, fatores motivacionais e a estimulação ambiental. Para Lent

(2001), a associação, a mielinização e a riqueza de redes neurais são

elementos que determinam, em parte, a evolução da linguagem de forma

específica e, de maneira geral, a aprendizagem. A gravidade vai desde a

mínima alteração de pronúncia ou articulação das palavras até a ausência de

linguagem.

Para criança com desenvolvimento normal, a aprendizagem de leitura e

escrita constitui a segunda oportunidade de comunicação; para a criança com

PC, esse domínio pode representar uma das formas mais viáveis de

comunicação e integração, pois, entre a vontade de realizar e o objetivo a ser

atingido, há o obstáculo constituído e construído pela deficiência. Os meios

acabam não correspondendo aos fins, culminando no fracasso da ação. A

limitação não permite que a criança realize plenamente sua intenção e ação.

Page 46: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

45

Todas as crianças têm possibilidades de aprender, em maior ou menor

grau. Quando isso ocorre, é necessário investigar o mais precocemente a

dificuldade.

Para finalizar, acrescento, portanto, que qualidade de vida deve ser

atribuído nos anos da infância, da adolescência e da adultícia, sendo

responsabilidade de os pais, os responsáveis, os professores evitarem a

decadência silenciosa da educação e do aprendizado catastroficamente

comprometido. A criança aguarda com prazer o referido aprendizado,

acelerando espontaneamente por meio da motivação que amadurece, e se

diferencia de forma progressiva em direção à qualidade do desempenho geral,

acadêmico e profissional.

3.4.10. A criança e a emoção

Aprendizagem emocional é uma parte integral da aparente

aprendizagem cognitiva. A aprendizagem emocional acontece em um contexto

dinâmico, relacional e emocional inconsciente. Processos cognitivos e

emocionais quase sempre dirigem o crescimento exitoso das capacidades

cognitivas. A emoção vai dando forma à cognição e à aprendizagem. As crises

emocionais, naturais ao desenvolvimento ou específica da pessoa, vão

influenciar de forma crônica a evolução desta mesma aprendizagem.

Pode-se imaginar o desenvolvimento como um cenário onde vários

fachos de luz (cada função psíquica cognitiva ou afetiva) se entrelaçam,

mesclando-se, e, quando um se adapta, o todo se modifica, desarmonizando o

cenário.

A criança desenvolve desde postura rudimentares até a capacidade de

socializar-se com objetividade, descentralizando pensamento, buscando a

auto-imagem em prol de novos conhecimentos.

Em síntese, ter uma percepção integrada de si mesmo e interpretar

adequadamente os sinais sociais, tornando-se básica a capacidade de confiar

no outro e aceitar transitoriamente a dependência para o desenvolvimento.

A eficácia emocional da criança se relaciona com a percepção da

própria capacidade de lidar, monitorar, manejar e mudar sentimentos adversos

Page 47: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

46

que inibem a persistência da busca de um objetivo. Ela pode experimentar

sentimentos e pedir ajuda, o que torna um aprendiz eficiente.

Bem, e qual é o papel da escola, do educador? É promover eventos,

que colaborem com a sociabilidade, e resgatar o prazer de aprender, propondo

desafios, possibilitando a oportunidade de aprender, por meio da educação

cooperativa.

Auxiliar a negociação de conflitos, ensinar a assumir responsabilidades

por suas ações e seu comportamento. Arcando com essas responsabilidades,

a criança passa a não imputar culpa aos outros. A organização cresce do self

para a continência de seu desenvolvimento; elabora conflitos internos e

estabelece a identidade do gênero.

3. 4. 11. A criança e a fobia escolar

A criança quando vai à escola geralmente é um misto de alegria e

ansiedade, tanto para as crianças como para os pais. As crianças reagem de

forma diferente umas das outras.

Caracteriza-se por um ataque agudo de ansiedade. É diferente do

medo, pois, quando forçada a enfrentar a situação, a criança entra em pânico,

ou seja, surge o medo irracional e incontrolável que pode levar a reações

imprevisíveis de fuga, agressão ou auto-agressão.

A fobia escolar não está ligada à classe social ou ao coeficiente

intelectual, mas pode estar associada à angústia de separação. Angústia de

separação é a necessidade da criança ou do pré-adolescente de permanecer

muito próximo aos pais, mais comumente a mãe. Há um sentimento de

desamparo que não permite a criança raciocinar sobre os fatos. É neste

momento que se desencadeia a ansiedade.

A fobia exige um olhar e um tratamento mais específico e pode

desencadear distúrbios psicossomáticos, tais como: cefaléia, diarréia, dores de

barriga e outros, que, no caso do medo, são transitórios. Logo que o indivíduo

acostuma-se, desaparece.

Page 48: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

47

Atitudes podem agravar a situação, como forçar a criança a ficar no

espaço sem dialogar, ridicularizar os sentimentos, usar chantagens e

subornos, ignorar o medo para ver se a criança esquece.

3.4.12. A criança e a agressividade

O comportamento agressivo é um distúrbio de conduta que preocupa

todos os educadores. Ele se caracteriza por um impulso destruidor, verbal ou

físico contra os outros, ou o próprio.

Algumas crianças pequenas, ao iniciarem sua vida social e escolar,

podem apresentar algum tipo de agressividade, pois o cérebro ainda passa

pelo processo de educabilidade que, aliás, serve para os adultos também.

Bater, ofender, liderar o grupo contra colegas, quase sempre esta

atitude tem uma causa familiar. É verdade que cada criança possui conteúdos

genéticos, psíquicos próprios, mas a família e o ambiente em que vive são

responsáveis por grande parte deste comportamento. Pais agressivos ou

tolerantes em excesso, pais com alto grau de exigência ou em desacordo com

o modo de educar. Pais superprotetores e com medo de corrigir geram

comportamentos agressivos.

O bom exemplo de pais e irmãos mais velhos tem eficácia na formação

das crianças. O benefício secundário é o reconhecimento do bom

comportamento.

Fazê-lo exercer suas melhores habilidades é o caminho de resgate para

a auto-estima, propondo atividades, dando-lhes responsabilidades, como

bônus de boa conduta.

3.4.13. A criança e as mudanças de humor

Afeto – termo médico para o estado emocional ou humor, transtornos

afetivos são doenças do humor.

Um leve ocasional sentimento de depressão, sentir-se “na fossa”, é uma

resposta comum aos eventos da vida, como sofrimento de uma perda ou um

desapontamento, e, assim, não podemos chamá-lo de transtorno.

Page 49: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

48

Sintomas: - perda ou aumento de apetite; - insônia e hipersonia; -

fadiga; - sentimentos de inutilidade e culpa; - dificuldade de concentração; -

tristeza; - desmotivação.

Tratamentos: - Atenção; - Carinho, afeto; - incentivo; - elogios.

3.4.14. A criança e as síndromes genéticas

São definidas como alterações no desenvolvimento fetal, presentes

desde a fecundação, localizadas ou nos cromossomos (cromossomopatias) ou

nos genes (doenças gênicas). Determinam modificações físicas e ou

bioquímicas no feto, que ficarão toda a vida, desde o embrião à velhice.

Cito alguns sinais disgenéticos que educadores precisam identificar:

Cabeça:

- orelhas malformadas e de implantação baixa;

- inclinação anormal das fissuras palpebrais;

- hipertelorismo (afastamento horizontal exagerado dos olhos);

- macroglossia (língua grande);

- microftalmia (olhos pequenos);

- macrognatia (tamanho anormal da mandíbula);

- curvaturas anormais da abertura bucal e lábios alterados.

Nas mãos e ou pés:

- polidactilia (quantidade maior que os cinco dedos);

- sindactilia (dedos grudados);

- clinodactilia (inclinação lateral da última falange dos dedos);

- braquidactilia (dedos pequenos e polegar grosso).

No sistema nervoso:

- atraso no desenvolvimento neuropsicomotor;

- hipotonia;

- surdez;

- epilepsia;

- deficiência mental;

- hiperatividade;

- hidrocefalia;

Page 50: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

49

- microcefalia;

- fechamento precoce da fontenela.

Tipos de síndromes:

a) Síndrome de Down – conhecida como trissomia do cromossomo 21.

b) Síndrome de Edwards – outra trissomia do cromossomo 18.

c) Síndrome de Patan – trissonia do cromossomo 13.

Algumas vezes, alteração cromossômica não depende da presença de

um pedaço extra de cromossomo, mas sim de mudanças na posição

(translocação), falta de um pedaço (deleção), fragilidade em uma determinada

ligação (x-frágil).

d) Síndrome de Turner – é localizada no cromossomo sexual X. Se for

constituído por XX e 22 pares, será menina; ou por XY e 22 pares, será

menino. Quando um embrião contém apenas um cromossomo X, desenvolve-

se uma anomalia cromossômica, só meninas podem apresentar tal transtorno,

caracteriza-se além do cariótipo com apenas um cromossomo X. Tem como

características baixa estatura, gônada feminina anormal, pescoço alado, tórax

largo com mamilo afastados, anomalias renais e cardiovasculares.

e) Síndrome de Klinefelter – afeta também os cromossomos sexuais,

atinge os meninos e depende da trissomia do cromossomo Y. Apresenta

testículos pequenos, seios desenvolvidos, voz feminina, deficiência mental,

membros longos, andar sem equilíbrio e sem coordenação motora.

f) Síndrome do X-Frágil – é o comprometimento localizado no

cromossomo X, que torna-se suceptível a “quebrar-se” no contato com uma

determina substância. A principal manifestação é comprometimento da

inteligência, que determina desde dificuldades de aprendizagem até causas

mais freqüentes de deficiência mental. Pode atingir vários membros da família,

sem que se observem sinais disgenéticos importantes.

g) Síndrome Feto-Alcoólico – não é uma síndrome genética, porém

adquirida em fase embrionária. Tem como características clínicas baixo peso,

baixa estatura, comprometimento cognitivo, microcefalia, aberturas palpebrais

pequenas, anomalias cardíacas, longa distância entre o nariz e os lábios,

linguagem e fala atrasada, desenvolvimento escolar bastante prejudicado.

Page 51: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

50

É bom lembrar que as Síndromes Genéticas podem ter o exame do

cariótipo normal e, mesmo assim, tratar-se de doença que acomete o

desenvolvimento embrionário desde a fecundação.

Page 52: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

51

CAPÍTULO IV

SUGESTÕES DE PROPOSTAS PSICOPEDAGÓGICAS

NA EDUCAÇÃO INFANTIL (INTERVENÇÕES)

ANAMNESE

Modelo para Interpretação da Anamnese Psicopedagógica

(Para conhecer mais a criança)

PROBLEMÁTICA SINTOMAS CAUSAS

Orgânica (Indicadores)

Afetiva

Cognitiva

Modelos internalizados

Tipos de vínculos

Dificuldades no

desenvolvimento motor

Emocional

(que explica o não-aprender”)

ENTREVISTA DE ANAMNESE COM O RESPONSÁVEL

Ä Anamnese Geral

I – Identificação

Nome: ________________________________________________________

Data de Nascimento: ___/___/____ Idade cronológica: _____ Data: ___/___/____

Endereço: ______________________________________________________

Telefone: ________________________ Sexo: ( ) masculino ( ) feminino

Filiação: ________________________________________________________

Page 53: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

52

Indicação: ______________________________________________________

II – Motivo da Consulta: ___________________________________________

ð A Evolução do quadro: ( ) melhorou ( ) piorou ( ) estacionou

III – Tiques e Hábitos Especiais:

Alimentação: ____________________________________________________

Onicofagia: _____________________________________________________

Outros hábitos ou manias: _________________________________________

IV – Antecedentes patológicos:

ð Tratamento médico:

Anterior: ________________________________________________________

Atual: __________________________________________________________

Há outras pessoas na família com o mesmo problema?( ) sim ( ) não

Quem? ________________________________________________________

V – Descrição do Desenvolvimento:

Ä Orgânico

Neurológico

Teve febre forte? ( ) sim ( ) não

Idade: _________________________________________________________

Levou algum tombo sério? ( ) sim ( ) não Idade: __________

Teve convulsão? ( ) sim ( ) não Idade: __________

Faz tratamento neurológico? ( ) sim ( ) não

Onde? _________________________________________________________

Para o quê? _____________________________________________________

Há quanto tempo? ________________________________________________

Toma medicamentos? ( ) sim ( ) não

Quais e freqüência? ______________________________________________

Fez EEG? ( ) sim ( ) não Em que data? _____/_____/_____

Qual resultado? _________________________________________________

Como é a reação da família em relação ao problema?

_______________________________________________________________

Page 54: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

53

Sociabilidade: Aspecto socioemocional

Tem amigos? ( ) sim ( ) não

Muitos ou poucos? ______________________________________________

Gosta de falar? ( ) sim ( ) não

É negativista? ( ) sim ( ) não

Como se comporta em ambientes diferentes?

_______________________________________________________________

A relação é boa com a família? ( ) sim ( ) não

Por quê? _______________________________________________________

VI – História Médica:

Teve ou tem doenças: ( ) sim ( ) não

Qual(is)? ______________________________________________________

Que tratamento fez ou faz? _______________________________________

Toma medicamento(s)? ( ) sim ( ) não

Qual(is) e por quê? ______________________________________________

Já se submeteu há cirurgias? ( ) sim ( ) não

Quais e quando? ________________________________________________

Por quê? _______________________________________________________

VII – Hábitos:

Como dorme? ( ) bem ( ) mal

Qual posição? __________________________________________________

VIII – Alimentação:

( ) aleitamento materno ( ) aleitamento artificial

Como? ________________________________________________________

Quanto tempo? __________________________________________________

Usou mamadeira? ( ) sim ( ) não

Até quando? ____________________________________________________

IX – V.I.U. e V.E.U. (para crianças)

Como foi a gestação? ____________________________________________

Como foi o parto? ________________________________________________

Page 55: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

54

Como foi o desenvolvimento motor? __________________________________

Como era a alimentação? __________________________________________

Quando falou? __________________________________________________

O que falou? ____________________________________________________

X – Condição em ambiente familiar:

Tipo de moradia: _________________________________________________

Quantas pessoas residem? ________________________________________

Como é o relacionamento familiar? __________________________________

Há crianças? ( ) sim ( ) não

Quantas? ______________________________________________________

XI – Algo que gostaria de acrescentar? _______________________________

_______________________________________________________________

XII – Há algo que considere interessante que eu não tenha perguntado?

_______________________________________________________________

XXI – Hipótese (aponta para...)

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

_________________________ __________________________ Profissional

Page 56: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

55

E.O.C.A. – ENTREVISTA OPERACIONAL CENTRADA NA APRENDIZAGEM

I – Identificação

Nome: _________________________________________________________

Idade: __________ Série: __________________

Escola: ________________________________________________________

Professora: _____________________________________________________

II – Motivo da Consulta: ___________________________________________

III – Entrevista / Contrato:

Acompanhado por:

( ) Mãe ( ) Pai ( ) Avó ( ) Outros

- Identificação dos familiares:

Nome do Pai: ___________________________________________________

Idade: __________ Grau de Instrução: ______________________________

Profissão: ______________________________________________________

Nome da mãe: __________________________________________________

Idade: __________ Grau de Instrução: ______________________________

Profissão: ______________________________________________________

Vida Escolar

Início: ___________________

Adaptação: ( ) boa ( ) difícil ( ) razoável

Alfabetizado: ( ) sim ( ) não

Mudança de Escola: ( ) sim ( ) não Quantas? _____________

Relacionamento com a Professora:

( ) boa ( ) distante ( ) difícil

Relacionamento com os colegas:

( ) normal ( ) apenas com alguns ( ) não estabelece

Rendimento escolar: ( ) bom ( ) regular ( ) fraco

Repetência: ( ) sim ( ) não

Participação em sala de aula: ( ) sim ( ) não

Troca de letras: ( ) sim ( ) não

Page 57: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

56

Omite letras: ( ) sim ( ) não

Dificuldade específica: ( ) sim ( ) não

Faz amizade com facilidade: ( ) sim ( ) não

Gosta de ir para escola? ( ) sim ( ) não

Necessita de auxílio nas tarefas escolares: ( ) sempre ( ) às vezes

Cuida do material: ( ) sim ( ) não

Vida Afetiva

Humor ( ) estável ( ) instável

Relaciona-se com ( ) pai ( ) mãe ( ) outros

Irmãos ( ) sim ( ) não

Ciúmes ( ) sim ( ) não

Dependente nas AVD ( ) sim ( ) não

Comportamento: _________________________________________________

IV – Avaliação:

1 – Instrumentos usados;

Desenhos, testes de percepção, memória, coordenação motora, entre outros.

2 – MAPA COGNITIVO:

1 – Participa ativamente das atividades em grupo?

( ) sim ( ) não

2 – Expressa seu pensamento com lógica?

( ) sim ( ) não

3 – Revela iniciativa diante das situações problemas?

( ) sim ( ) não

4 – levanta hipóteses acerca dos acontecimentos?

( ) sim ( ) não

5 – Tem pensamento reversível, conservando aspectos anteriores?

6 – Observação da qualidade das estruturas básicas para a construção do

pensamento lógico:

SERIAÇÃO CONSERVAÇÃO ( ) figural ( ) não-conservação ( ) pares e trios ( ) semiconservação ( ) ensaio e erro ( ) conservação ( ) operatória

Page 58: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

57

CLASSIFICAÇÃO

( ) figural

( ) não figural com critério único

( ) não figural com critério homogêneo

( ) não figural com critério homogêneo e com inclusão

Como é a qualidade de suas observações perante o mundo?

V – CONCLUSAO:

VI – ORIENTAÇÃO:

ROTEIRO DE AVALIAÇÃO – EOCA

ASPECTOS AÇÃO DO SUJEITO POSSÍVEIS CAUSAS

Temática

Dinâmica

Produto

Obstáculos que

emergem na relação

com o conhecimento

Hipóteses

Delineamento da investigação:

4.1. Jogos e Atividades Recreativas

O saber se constrói fazendo próprio o conhecimento do outro, e a

operação de fazer próprio o conhecimento do outro só se pode fazer jogando.

Aí encontramos uma das interseções entre o aprender e o jogar. O jogo é uma

atividade criativa e curativa, pois permite à criança (re)viver ativamente as

situações dolorosas que viveu passivamente, modificando os enlances

Page 59: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

58

dolorosos e ensaiando na brincadeira as suas expectativas da realidade

(Freud, vol. XX). Constitui-se em uma importante ferramenta terapêutica. Do

ponto de vista cognitivo, significa a via de acesso ao saber. No jogo, faz-se

próprio o conhecimento que é do outro, constituindo o saber. Conforme aponta

Fernàndez (1990, p. 165), “não pode haver construção do saber se não se joga

com o conhecimento”, pois o saber é a incorporação do conhecimento em uma

construção pessoal relacionada com o fazer. É no jogo que a criança relaciona

as idéias com a função corporal. A agressão pode ser prazerosa, mas

inevitavelmente conduz consigo um dano real ou imaginário contra alguém, de

modo que a criança não pode deixar de enfrentar essa complicação.

Enfrente-se desde a origem quando aceita a disciplina de expressar o sentimento agressivo sob a forma de jogo e não simplesmente quando está aborrecido. Um bom ambiente deve ser capaz de tolerar os sentimentos agressivos, sempre e quando a criança os expresse, de forma mais ou menos aceitável. Deve aceitar que a agressão está na configuração da criança, e esta sente-se desonesta se o que existe lhe é ocultado e negado. (FERNÀNDEZ, 1991, P. 167)

Piaget afirma que o jogo simbólico, que surge ao redor dos dois anos,

permite à criança assimilar o mundo na medida do seu eu, deformando-o para

atender aos seus desejos e às fantasias. Afirma também que o jogo tem uma

evolução, começando com exercícios funcionais (correr, saltar, jogar bolinha

etc.) e seguidos pelos jogos simbólicos (imitar, dramatizar). Aparecem depois

os jogos de construção, que vão aproximando-se cada vez mais do modelo, e

os jogos e regras, introduzindo a lógica operatória.

O exercício de todas as funções semióticas que supõe a atividade lúdica possibilita uma aprendizagem adequada, na medida em que é por meio dela que se constroem os códigos simbólicos e signálicos e se processam os paradigmas do conhecimento conceitual, ao se possibilitar, por meio da fantasia e do tratamento de cada objeto nas suas múltiplas circunstâncias possíveis. (PAIN, 1986, p. 50)

Os jogos orais como “as brincadeiras de fazer comidinha”, também muito

apreciados pelas crianças, segundo a perspectiva psicanalítica, simbolizariam

as possibilidades internalizadas de dar e receber amor. Um cenário simbólico

Page 60: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

59

em relação à alimentação é construído a partir da forma como são vivenciadas

as questões da oralidade. Estrutura-se, então, uma modalidade de

incorporação. Remetendo-nos às questões de aprendizagem, o que temos é

uma relação entre a modalidade de incorporação e o processo de

aprendizagem. Já vimos que aprender pressupõe a construção do saber e que

esta, por sua vez, demanda a incorporação do conhecimento. Diante do

exposto,

a atribuição simbólica pessoal de significado ao processo de aprendizagem vai recorrer, como o faz o sonho, aos restos diurnos, a um reservatório de cenas em movimento que têm a ver com a alimentação: movimento de incorporação (soerguer-se), arrebatar, mastigar a presa como uma fera, tomar como um bebê a mamadeira, mastigar o alimento com prazer (...). (FERNÀNDEZ, 1990, P. 111)

Além dos jogos orais, há também os jogos com argila, água, areia, tinta

plástica etc., como representantes excrementícios em forma de substitutos

socialmente aceitos; os jogos com bonecas e animais, como expressão da

fantasia da criança sobre a relação dos pais; e os jogos com veículos,

simbolizando as fantasias, que penetrarão e, representando a forma de controle

funcional, fornecem ao terapeuta elementos de análise. Todos esses jogos

tomados como referência o campo da aprendizagem dizem como a criança

aprende, que coisas aprende, qual o significado do aprender, como ela se

defende do objeto do conhecimento e que operações mentais utiliza no jogo.

Fernàndez ao propor a hora do jogo simbólico como estratégia para

compreender os processos que podem ter levado à estruturação de uma

patologia do aprender afirma que tal atividade possibilita o “desenvolvimento e

posterior análise das significações do aprender para a criança”.

Conhecer a aptidão da criança para criar, refletir, organizar, integrar. (...) Para tanto, consideramos quatro aspectos fundamentais da aprendizagem que podem ser extraídos da observação do jogo: distância do objeto, capacidade de inventário, função simbólica, adequação significante-significado; organização, construção de seqüência; integração, esquemas de assimilação. (PAIN, 1986, P. 54)

Page 61: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

60

Desta forma,

é importante mencionar os elementos de investigação que essa atividade nos oferece, já que a maneira de nos assegurarmos da eficiência dos procedimentos adotados. Além do mais, o efeito terapêutico está implícito no próprio ato de jogar e, mais precisamente, na interpretação do terapeuta, quando este, devidamente preparado, pode inferir o sentido latente que se mostra no jogo, pois ele funciona como uma via de expressão metonímica do desejo. (BOSSA, 2000, P. 112)

No âmbito da psicopedagogia, tal interpretação significa tornar explícito

ao paciente os aspectos do seu mundo psíquico que incidem como obstáculos

à aprendizagem. As interpretações devem ser apresentadas como hipóteses e

serem expressas em uma linguagem compreensiva para o paciente.

O jogo como instrumento de intervenção – Finalizamos, mencionando

alguns quadros psicopatológicos em que o tratamento psicopedagógico,

paralelamente a outros, tem se mostrado de muita valia no que diz respeito à

incursão da criança em um meio sociocultural, uma vez que proporciona

condições mais tranqüilas de escolaridade. São transtornos derivados da vida

de relações e que apresentam sintomas móveis na infância e na adolescência.

Esses sintomas funcionam como mecanismo de defesa e aparecem em uma

situação de conflito, indicando que há um sofrimento, que algo precisa ser

modificado para que o sujeito prossiga o curso do desenvolvimento.

Salientamos que não só nos quadros psicopatológicos mas também em

todas as circunstâncias em que é indicada a intervenção psicopedagógica, é

importante que o psicopedagogo possa jogar o jogo da criança, sem, no

entanto, perder de vista o seu compromisso com a aprendizagem e lembrando

que toda relação do sujeito com o mundo, depois que deixa de ser

conseqüência de um reflexo, demanda aprendizagem.

Page 62: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

61

RELATÓRIO FINAL

HTP – HIPÓTESE DO TRABALHO PSICOPEDAGÓGICO (EXEMPLO)

ANÁLISE INTERPRETAÇÃO

Afetividade

Quer se manter infantilizado, comprometendo os

vínculos afetivos. Parece haver uma problemática

na área vincular com a irmã. Mas, por outro lado,

teme o crescimento.

Cognição

Coloca-se duplamente de forma infantil, desejando

estar (em fantasia) nos períodos pré-operatório e

operatório concreto, fugindo das responsabilidade

que o crescimento impõe.

Aspectos motores

Embora as figuras sejam feitas em palitos e

também com lentidão, não há nenhum

comprometimento nessa área e sim falta de

envolvimento com a tarefa.

Relações vinculares

Muito comprometidas, as figuras sem identidades

revelam uma família com problemática nessa área

e a criança como portadora da problemática

familiar.

Problemática central Idem ao primeiro desenho.

Recusa ou omissão Idem ao primeiro desenho.

Hipótese finais ou

síntese das

interpretações

A ambigüidade neste desenho, aparece de forma

mais acentuada, conduzindo à pesquisa de

viscosidade no vínculo mãe – filho.

Page 63: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

62

INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS

ALUNO: _____________________________________ SÉRIE: ____________

Situação Atual

Causas Primárias

Causas Condicionais

O que não deve ser feito

O que se deve fazer

Intervenção

Page 64: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

63

CONCLUSÃO

Atualmente, a importância dada aos problemas de aprendizagem tem

aumentado significativamente. Isso se deve ao fato de que o sucesso do

indivíduo está diretamente ligado ao desempenho escolar, por isso, cada vez

mais o número de crianças são atendidas por psicopedagogos, psicólogos

fonoaudiógos, neuropediatras e psiquiatras.

As dificuldades específicas de aprendizagem se referem àquela

situação que ocorre com crianças que não conseguem acompanhar um grau

de adiantamento escolar compatível com sua capacidade cognitiva. Muitas

crianças em fase escolar apresentam certas dificuldade em realizar certas

tarefas, que podem surgir por diversos motivos, como proposta pedagógica,

capacitação do professor, problemas familiares, deficits cognitivos entre outros

motivos.

As dificuldades de aprendizagem podem ser chamadas de entraves de

percurso, algo que incluem as dificuldades que a criança pode apresentar em

alguma matéria ou em algum momento da vida, além dos problemas

psicológicos, como falta de motivação e baixo-estima, que em muitos casos

podem ser superados com um suporte intra e extra escolar.

Na última década, os diretores escolares, os legisladores, os

professores e os demais responsáveis políticos da educação necessitam de

informações válidas, não de opiniões como ponto de referência para fazerem

os seus julgamentos e tomarem as suas decisões. Todos os atores de

educação possuem um conceito muito subjetivo do que é uma criança ou um

jovem com dificuldades de aprendizagem, sem contudo se avaliar os seus

fundamentos científicos. As decisões de política educativa têm-se baseado

preferencialmente também em informações e em dados de pesquisa.

(FONSECA, 1989)

As crianças com dificuldades de aprendizagem continuam a vaguear

pendularmente entre a educação especial e a educação regular, quer em

termos de diagnóstico, quer de intervenção ou de apoio psicoeducacional.

Page 65: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

64

As crianças e os jovens com dificuldades de aprendizagem, para serem

identificados como tal, deveriam implicar a observância de uma gama de

atributos e características cognitivas e comportamentais que deveriam

constituir uma “taxonomia educacional” e consubstanciar com propriedade uma

definição teórica estável.

Dificuldades de aprendizagem é um termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de desordens manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e utilização da compreensão auditiva, da fala, da leitura, da escrita e do raciocínio matemático. Tais desordens, consideradas intrínsecas ao indivíduo, presumindo-se que sejam devidas a uma disfunção do sistema nervoso central, podem ocorrer durante toda a vida. Problemas na auto-regulação do comportamento, na percepção social e na interação social podem existir com as dificuldades de aprendizagem. Apesar de as dificuldades de aprendizagem ocorrerem com outras deficiências (por exemplo, deficiência sensorial, deficiência mental, distúrbios socioemocionais) ou com influências extrínsecas (por exemplo, diferenças culturais, insuficiente ou inapropriada instrução etc.), elas não são o resultado dessas condições. (FONSECA, 1995, p. 71)

De fato, as dificuldades de aprendizagem, como podemos avaliar por

essa definição, têm sido usadas para designar um fenômeno extremamente

complexo. O campo das dificuldades de aprendizagem agrupa efetivamente

uma variedade desorganizada de conceitos, critérios, teorias, modelos e

hipóteses.

As dificuldades de aprendizagem têm sido uma área obscura situada

entre a “normalidade e a defectologia”. No âmbito educacional, os que ensinam

as crianças ou os jovens ditos “normais” não raramente sugerem uma

“colocação ou encaminhamento especial” para os seus problemas, sem,

contudo, perspectivarem modelos dinâmicos de avaliação e de intervenção.

O quadro das dificuldades de aprendizagem é cada vez mais uma

“esponja sociológica” que cresceu muito rapidamente, exatamente porque foi

utilizado para absorver uma diversidade de problemas educacionais acrescidos

de uma grande complexidade de acontecimentos externos a eles inerentes.

Não se conseguiu ainda, na arena do sistema de ensino, um consenso na

definição das dificuldades de aprendizagem, porque elas têm emergido mais

Page 66: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

65

de pressões e de necessidades sociais e políticas do que de pressupostos

empíricos e científicos.

Dentro de uma análise contextual, há necessidade de compreender que,

mesmo na presença de uma pedagogia eficaz e de professores competentes,

as dificuldades de aprendizagem não desaparecem nem se extinguem. O

enfoque das dificuldades de aprendizagem está no indivíduo que não rende ao

nível do que se poderia supor e esperar a partir do seu potencial intelectual e,

por motivo dessa especificidade cognitiva na aprendizagem, ele tende a revelar

fracassos inesperados.

Nesta condição, recolhe-se a essência daquilo que podemos entender

por dificuldade de aprendizagem, a partir de um enfoque fundamentalmente

educativo e para a tomada de decisões de provisão de serviços de educação

especial. Outra questão levantada por esta definição “consensual” é que se

precisa de dificuldades significativas diante de outros termos como o da

discrepância entre a capacidade (inteligência) e o nível na linguagem, leitura e

escrita. O problema de uso de fórmulas de discrepância para definir as

dificuldades de aprendizagem foi muito controvertido e deu lugar a muitas

pesquisas. A questão do termo de exclusão (as dificuldades de aprendizagem

não hão de ser fruto da deficiência mental ou da ausência de escolarização ou

de problemas emocionais) fica muito matizada, podendo dar-se o caso, como

realmente ocorre, de co-ocorrência de dificuldades de aprendizagem e outros

transtornos do desenvolvimento ou da personalidade ou da conduta.

São muitos os aspectos discutíveis no termo dificuldades de

aprendizagem, termo este que foi e é proposto como mais aceitável do que os

específicos de dislexia, disgrafia, discalculia, disgrafia, entre outras.

Page 67: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

66

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BARBOSA, Laura Monte Serrat. A Psiocopedagogia no âmbito da Instituição Escolar. Curitiba: Expoente, 2001. BEYER, H.O. O fazer psicopedagógico: a abordagem de Reuven Feuerstein a partir de Vygotsky e Piaget. Porto Alegre: Mediação, 1996. BOSSA, Nadia A. Fracasso escolar: um olhar psicopedagógico. São Paulo: Artmed Ed., 2002. CUNHA, Jurema Alcides. Psicodiagnóstico V. Porto Alegre: Artmed, 2000. FERNÀNDEZ, Alicia. Os idiomas do aprendente: análise de modalidades ensinantes em família, escolas e meois de comunicação. Trad. de Neusa Kern Hickel e Regina Orgler Sordi. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001. FONSECA, Vítor da. Aprender a Aprender: A educabilidade cognitiva. Porto Alegre: Artmed, 1998. FONSECA, Vítor da. e SANTOS, F. Avaliação dos efeitos do PEI de Feuerstein no potencial cognitivo de adolescentes com dificuldades de aprendizagem e insucesso escolar. Lisboa: Ed. Inst. Inovação Educacional, 1991. LAJONQUIÈRE, Leandro de. De Piaget a Freud: para repensar a aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 1993. LINHARES, Maria Beatriz M. Avaliação assistida. Psicologia: teorias e pesquisa. Brasília, ano I, nº 11, pp. 23-31, 1995. PAIN, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. 4ª edição. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. SILVA, Maria Cecília Almeida e. Psicopedagogia: em busca de uma fundamentação teórica. 2ª impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998. SMITH, C.; STRICK, L. Dificuldades de Aprendizagem de A a Z: Um guia completo para pais e educadores. Trad. Dayse Batista. Porto Alegre: Artmed ed., 2001. VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica. Epistemologia convergente. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.

Page 68: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · segmento da creche até os 6 anos de ... construção de um olhar ... formam-se elos que compartilham os mesmos códigos de comunicação.

67

FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

A Importância das Intervenções

Psicopedagógicas na Educação Infantil

Autora: Regina Célia Failaz Alexandre

Data da Entrega: ____/____/________

Avaliada por:

Conceito: