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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
UM CONTADOR DE HISTÓRIAS QUE EDUCA E DESPERTA A
IMAGINAÇÃO DAS CRIANÇAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Por: Rosangela Ramos da Silva
Orientadora
Profª. Mary Sue Pereira
Rio de Janeiro
2005
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
UM CONTADOR DE HISTÓRIAS QUE EDUCA E DESPERTA A
IMAGINAÇÃO DAS CRIANÇAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como condição prévia para a conclusão do
Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Educação
Infantil e Desenvolvimento. São os objetivos da
monografia perante o curso e não os objetivos do aluno
Por: Rosangela Ramos da Silva
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AGRADECIMENTOS
A Deus, por me dar força de vontade para
continuar estudando e cada vez mais me
qualificando profissionalmente. A minha
família que está presente em todos os
momentos de minha vida. A Tereza Bazan
e Ana Cristina Cardoso pelo olhar crítico e
revisão de texto.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus familiares
que sempre me ajudam, em todos os
momentos.
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RESUMO
O trabalho tem como objetivo levantar a questão da falta de diálogo entre
as pessoas, pois nos tempos de hoje vivemos condicionados à pressa. A
comunicação entre os indivíduos está sendo mediada por celulares, computadores
e não por reuniões de família aos domingos ou ainda por uma história contada
para os filhos antes de dormir. Vale uma reflexão sobre a importância da palavra
narrada, ou seja, sobre a palavra dita de forma presencial com emoção. A palavra
é muitas vezes sufocada pela falta de tempo que a sociedade impõe ao individuo
ao passo que lhe dá muitas opções de comunicação (televisão, Internet ou rádio).
Isso dificulta o individuo na sua função de ouvinte participativo. Para tanto, ouvir
as histórias de nossos pais, maridos ou esposas, filhos ou de nossos alunos
restringe-se hoje à casualidade.
É certo que este tema não envolve grandes discussões teóricas, porém
podemos observar através dos discursos dos autores e de uma contadora de
história que seria primordial a vivência da palavra e da escuta de todas as formas
pela criança, explorado diferentes linguagens.
A Literatura Infantil é muito importante como mediadora da narração de
histórias. O educador se utilizando dos recursos da Literatura Infantil, tem
condições de participar ativamente do desenvolvimento das crianças, pois
desperta fantasias, desenvolve linguagens e aguça percepções. Porém, muitas
vezes, apenas folhear um livro não é o bastante, como a história será contada e
em que momento fará uma grande diferença. O contador de história tem o
comprometimento de elevar a imaginação e fazer as crianças viajarem nessa
emoção. Essa emoção promove a descoberta de personagens, de vozes
diferentes, de formas de exclamação, de diferentes risos e choros. E para que isso
aconteça de forma harmoniosa, sugere-se que haja na escola momentos
especiais que podem ser em qualquer lugar da escola: sala de aula, pátio, quadra
ou biblioteca. Primordialmente, um lugar onde as crianças tenham contato com
livros diferentes, histórias contadas, dramatizadas, lidas e um mediador para esse
trabalho.
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METODOLOGIA
Trabalho desenvolvido através de pesquisas bibliográficas e pesquisa de
campo como, por exemplo, entrevista com uma contadora de história profissional.
O trabalho foi desenvolvido tendo como base teórica as revistas, os textos
retirados de livros e pesquisas na Internet.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I - A importância da narrativa 10 CAPÍTULO II - O prazer de ler, ouvir e contar histórias 19 CAPÍTULO III – Contribuições pedagógicas das histórias e de seus contadores 28 CONCLUSÃO 34
ANEXOS 35
BIBLIOGRAFIA 44
ATIVIDADES CULTURAIS 45
ÍNDICE 47
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INTRODUÇÃO
Este trabalho desenvolve considerações sobre a importância da Literatura
Infantil como mediadora de um processo que se dá no âmbito escolar e familiar e
que se caracteriza não só pelo gosto em ouvir histórias, mas também pelo
manuseio de livros, por fantasiar, por soltar emoções, por fazer suas próprias
histórias e contá-las para alguém.
Destaca-se a narrativa como eixo para que a comunicação entre os
indivíduos não se perca, buscando alertar para a necessidade da conversa entre
as pessoas. As famílias sentarem-se à mesa e contarem histórias engraçadas,
tristes, histórias de vida que engrandecem um momento em família e que as
crianças com certeza contarão para os amigos da escola, professores e para seus
filhos quando os tiverem e assim começando a apreciação pela palavra ora dita,
ora escrita em agendas ou diários que podem ser transformar em livros.
Neste trabalho estão identificados e conceituados três tipos de “contação”
de história: contos que as caixas contam, hora do conto e roda de histórias. Em
cada um deles fica clara a postura do contador e do ouvinte, porém todos os tipos
de “contação” procuram mexer com a imaginação da criança de forma prazerosa.
E para que isso aconteça alguns elementos devem ser levados em consideração
com cenário, a hora para contar história, entonação de voz, qual história contar e
em que lugar. Essas preocupações são muito importantes para que esta atividade
seja interessante tanto para o contador como para o ouvinte.
O trabalho também enfatiza o valor das bibliotecas nas escolas e o quanto
elas são úteis para que a criança conheça os livros e dê sentido a eles,tratando-os
com curiosidade e respeito. Na biblioteca há vários livros para que as crianças de
todas as idades tenham interesse.
São muitas as contribuições pedagógicas descritas no trabalho, uma vez
que através das histórias o educador tem grandes possibilidades de abordar
qualquer tema, e ainda as histórias podem apenas entreter de acordo com o
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momento. De qualquer forma, entretendo ou educando, as histórias fazem parte
do desenvolvimento das crianças de forma efetiva. Isso fica claro na entrevista da
contadora de história Bia Bedran que teve uma infância voltada para os livros e
atualmente passa sua vivência para as crianças com muita propriedade.
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CAPÍTULO I
A Importância da Narrativa
(...) a arte de narrar está em vias de extinção.
São cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar
devidamente. Quando se pede num grupo que alguém narre
alguma coisa, o embaraço se generaliza. É como se
estivéssemos privados de uma faculdade que parecia segura e
inalienável: a faculdade de intercambiar experiências.
(Benjamin 1993, pp.197-198)
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A importância da narrativa
A contemporaneidade dos tempos de hoje nos faz ratificar a expressão
“tempo real”, tudo é muito corrido, as pessoas estão sempre com pressa
atendendo à celulares ou presos a Internet sem tempo para mais nada. O almoço
ou jantar em família é cada vez mais raro, é difícil até naquele famoso almoço de
domingo as famílias se reunirem para contar histórias ou “causos” e a violência
nas cidades não deixa mais as pessoas ficarem até mais tarde conversando nas
calçadas. O exercício da palavra e até mesmo da memória está deixando de ser
transmitida ou ouvida. No atual contexto histórico que compreende uma sociedade
consumista torna-se difícil ouvir e trocar experiências. A palavra narrada perdeu
seu lugar privilegiado juntamente com as experiências dos mais velhos.
A correria dos tempos modernos nos traz uma incoerência – diante de
tantos meios de comunicação e inúmeras informações circulando pela TV, rádio,
Internet, entre outros – parece que, infelizmente, não mais nos comunicamos. A
emoção de ouvir histórias, compartilhar experiências e idéias está sendo posta um
pouco de lado e conseqüentemente a palavra se perde como também a nossa
voz. Com a criança não é diferente. O tempo todo ela recebe informações de
diferentes fontes, mas em muitos momentos não consegue expressar-se ou contar
sobre suas experiências cotidianas nem viver sua histórias, pois não é dado a ela
tempo para que possa falar. Talvez a palavra oral esteja sendo pouco explorada
nas famílias, nas escolas e nos vários lugares em que ela freqüenta. Palavra essa
fundamental para seu desenvolvimento e para a construção do seu ser.
O ritmo acelerado nas escolas também dificulta o uso da palavra em sua
dimensão narrativa. Tem-se como exemplo pesquisas pedidas com muita
formalidade e feitas com uso de textos prontos retirados da Internet, sem
discussões ou questionamentos.
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A situação dos professores da educação infantil não é tão diferente, são
tantas responsabilidades e obrigações curriculares que algumas escolas acabam
deixando para segundo plano as práticas culturais narrativas.
Todas essas observações favorecem a reflexão sobre a crise da narrativa
no mundo contemporâneo e sobre o significado do ato de narrar histórias.
Se o mundo contemporâneo nos impõe a fala individualizada, se torna
imprescindível reconstruir e organizar práticas pedagógicas que revejam a
importância da narrativa, resgatando-a como forma essencial de educação, é
primordial que a criança possa vivenciar a palavra, falando e escutando de todos
as formas, explorando diferentes linguagens. Assim o mundo se tornará muito
mais atraente, interessante e vivo e nele ela poderá se socializar, interagir com o
outro de forma ativa, criativa e participativa em qualquer situação, não apenas
absorvendo informações, mas produzindo e reproduzindo cultura.
O prazer de contar, ouvir, ler e criar novas histórias de forma lúdica e
interativa é estimulado pela narrativa compartilhada entre crianças e educadores.
Desse modo, torna-se fundamental a diversificação de atividades literárias, como
serão citadas a seguir: contos que as caixas contam, hora do conto e roda de
histórias.
1.1 - Contos que as caixas contam
Para o educador variar na sua escolha de como e o que contar, podemos
criar e adaptar as histórias de muitas maneiras e uma delas são as caixas. Caixas
que contam contos, caixas que contam histórias. Podem ser grandes ou
pequenas. Quadradas ou redondas. Devem ter cenários coloridos, castelos e
mares bravos, rios que levam a todos os lugares.
Para produzir uma caixa é preciso buscar papéis coloridos, colar retalhos
de tecido, plásticos, espelhos, sementes, bolas de gude, todo e qualquer material
que o educador tiver. Com esse material, podemos montar um cenário dentro da
caixa, o palco das ações de uma história. Ou ainda, montar uma caixa-surpresa,
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com objetos interessantes, feitos para serem manipulados pela turma enquanto se
conta a história.
Quando pronta, é só abri-la? Não. Não basta só abri-la.
É preciso um acontecimento! Especialmente único. Criando expectativa
sobre o que guarda a caixa, podemos gerar conflitos para as hipóteses das
crianças, desafiá-las a construírem perguntas, a levantarem questões sobre os
enredos, cenários e personagens.
As caixas podem ser, portanto, um recurso de mediação. A criança amplia
seu vocabulário, expressa seus sentimentos em relação ao meio social em que
está inserida e manifesta algumas emoções, com raiva, medo e alegria. As caixas
também podem ser um dos recursos para trabalhar com as crianças hábitos de
higiene. Ainda possibilitam ampliar os conhecimentos das crianças sobre folclore,
lendas, mitos, fábulas e contos. As caixas dão oportunidade para discutir vários
temas com as crianças, mas é bom não perder de vista que o mais importante é o
interesse delas na atividade.
1.2 - A hora do conto
A hora do conto, como atividade, se constrói segundo uma linguagem
polarizada, centrada no contador. Constitui-se no momento em que o contador
convida as crianças para ouvirem uma história que pode ser selecionada por ele
ou pelas crianças, a história é contada de maneira a prender a atenção destes
pequenos ouvintes.
Importa, nesta atividade, a escolha da história, e a identificação do
interesse de quem está ouvindo, para que essa hora seja prazerosa para o
contador e o ouvinte.
Segundo o site da escola Espaço Infantil, a hora do conto é desenvolvida
numa sala especifica como objetivo de conjugar o hábito da simples leitura de
histórias infantis à audição e dramatização de textos. Essa sala é nomeada de “O
canto do conto”. A hora do conto é uma atividade de animação destinada a
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crianças entre 5 e 11 anos de idade. Lá, as crianças ouvem histórias que são
exploradas no momento, através de jogos de perguntas ou da elaboração de
desenhos alusivos às mesmas. As crianças podem também criar uma outra
história, tendo como base a que ouviram na hora do conto, dramatizando-a com
os colegas numa visita posterior.
1.3 - Roda de histórias
Atividade dinâmica que proporciona, tanto às crianças quanto aos adultos,
uma escuta e uma fala interessada. A criança passa a trocar experiências, a
interagir, a ouvir e a ser ouvida, e a criar suas próprias histórias.
A “roda de histórias” se caracteriza por um instrumento da prática narrativa,
age como elemento de educação. Como diz o nome – roda de histórias -, a
palavra aí é circular, sem pólo fixo, permitindo o exercício do narrar não só pelo
narrador / educador, mas também pela criança em oposição à tradicional “hora do
conto”. Na “roda”, o narrar e o escutar alternam-se, movimentam-se.
A “roda de histórias” é uma proposta e uma prática que valoriza a memória
coletiva e a experiência do grupo, garantindo aos narradores a possibilidade de
expressão plena. Ela reconhece a importância da fala de cada um na medida em
que cada participante é narrador, leitor e ouvinte. Institui-se a dinâmica necessária
para que todos possam se expressar e exercitar o compartilhamento.
O exercício da fala é livre, ninguém é impedido ou obrigado a se manifestar.
Flui a imaginação, sendo assim, ouvir e contar não são atos idênticos, mas de
forma ampla, fazem parte de um mesmo processo de construção de sentidos.
Num primeiro momento, o narrador torna-se um narrador-mediador na “roda
de história” e nela explora outras dimensões da linguagem, além da oralidade.
Utiliza para isso sua voz, sons, silêncios e pausas, músicas que podem incitar a
memória e a imaginação. Gestos suaves ou dramáticos, são usados para simular
uma escrita no ar e explorar imagens existentes na imaginação do adulto ou da
criança. Outros recursos ainda podem ser utilizados, como livros, fantoches e cds.
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Importa criar um ambiente aconchegante para que se instale um estado
descontraído, no qual espera-se que a criança possa encontrar seu próprio fluxo
de expressão. Importa o despertar de sensibilidades dos participantes e a
manifestação interessada de cada um.
Mesmo sendo impossível descrever a teia complexa de linguagens que se
forma na “roda”, busca-se apreendê-la para exercitá-la, sabendo-se que cada
educador é um mediador-narrador e portanto, pode criar suas próprias dinâmicas
e escolher suas histórias. São múltiplas as narrativas e vivências que nascem por
meio dos narradores. Seu verdadeiro sentido se faz no momento em que cada
participante está presente nesse processo, construindo e reconstruindo linguagens
com o grupo.
Por isso, cada “roda de histórias” que se forma com os grupos é sempre
nova, única, ainda que se repitam as mesmas histórias, técnicas ou recursos.
Renova-se a cada momento, por meio dos componentes que dela fazem parte.
Cada participante é um narrador e traz consigo um conhecimento, uma memória.
Vale ressaltar que na “roda” não há fórmulas ou regras para abertura,
aquecimento ou mesmo finalização das práticas narrativas. Ela apresenta um
movimento que compreende uma sensibilização, atividade propriamente dita e
encerramento, podendo a primeira etapa, por exemplo, constar de atividades
especiais, assim como o encerramento. Na “roda”, observa-se sempre o ritmo das
relações, sabendo-se que há um sentir diferenciado na chegada, na permanência
e na partida.
Todos os jogos de linguagem, as brincadeiras infantis e a tradição oral
(mitos, fábulas, provérbios, anedotas, contos de fadas,...) trazem prazer. É o
próprio sujeito desejante que manisfesta-se nessas expressões orais.
Para abertura, para o aquecimento ou mesmo para a finalização das
práticas narrativas na “roda de histórias”, nada como iniciar com algumas
atividades lúdicas e descontraídas, brincando com palavras ou cantando. Vê-se
então, a correlação com as cantigas de ninar, os brincos, as cantigas de roda, as
parlendas, trava-línguas e adivinhas.
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1.3.1 - A “roda de histórias” e as cantigas de ninar.
Após ter preparado um ambiente aconchegante e confortável, o educador
poderá cantar cantigas de ninar, formando um círculo com o grupo de crianças.
Essas cantigas poderão ser entoadas com todos sentados em almofadas, no chão
ou em tapetes, fazendo um leve movimento com o corpo ou com a cabeça. Essa
dinâmica possibilita a integração do grupo de forma harmônica.
As cantigas de ninar ou acalantos são práticas tradicionais que perduram
até nossos dias para distrair ou acalmar os bebês ou mesmo crianças maiores,
fazendo-os adormecer e oferecendo-lhes ritmo, melodia e a palavra do adulto.
“Boi da cara preta”
Boi, boi, boi
Boi da cara preta
Pega essa criança
Que tem medo de careta.
1.3.2 – A “roda de histórias” e os brincos.
Acordar os “brincos” é uma forma divertida e prazerosa de explorar a
memória e a imaginação. Nesse caso, os educadores participam de forma
interativa, brincando simultaneamente com as palavras e os dedos de suas mãos,
falando e apontando para as mesmas.
Dedo mindinho
Seu vizinho
Pai de todos
Fura bolo
Mata piolho.
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1.3.3 – A “roda de histórias” e as cantigas de roda.
Em cantigas de roda como “Ciranda Cirandinha”, “Enquanto seu lobo não
vem”, “O Cravo brigou com a Rosa”, “Terezinha de Jesus” e outras surgiram ricas
manifestações por meio de gestos, sons e palavras, desde os mais simples e
populares versinhos infantis, como “Batatinha quando nasce” até os mais
complexos poemas.
“Enquanto seu lobo não vem”
- Vamos passear no bosque enquanto seu lobo não vem.
- Seu lobo está?
- Estou tomando banho.
Quando o lobo está pronto, corre atrás das crianças que se afastam
apavoradas.
Em seguida, as crianças voltam para as almofadas, para deleitar-se ao
prazer de ler, ouvir e contar histórias.
O ritmo musical e o tom de voz atraem muito as crianças, que poderão
acompanhar as expressões corporais do educador com palmas, estalos de dedos
ou movimentos mais rápidos com os pés, levando-se em consideração a
coordenação motora de cada uma delas. Caso tenham facilidade para
compreender e articular palavras, poderão cantar junto com o educador. Nesse
caso, estarão memorizando as letras, principalmente quando já conhecem a
música.
1.3.4 – As “rodas de histórias” e as parlendas, trava-línguas e adivinhas.
As parlendas possibilitam o gosto de brincar com palavras e servem
também como forma de decisão amigável para saber quem vai ser sorteado para
determinado jogo ou brincadeira.
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As parlendas são declamações que apresentam palavras rimadas, com
sentido lógico, enfatizando o ritmo, a rima, o jogo e os trocadilhos.
Lá em cima do piano
Tem um copo de veneno
Quem bebeu morreu.
O azar foi seu
E o culpado não fui eu.
Outra forma popular de brincar com as palavras e vencer dificuldades da
língua, especialmente com crianças em idade pré-escolar, é utilizar os trava-
línguas. Trava-línguas são falas compostas de palavras de difícil articulação que,
propostas sempre como brincadeiras, poderão contribuir para que a criança, ao
lidar com as palavras, vá se apercebendo das dificuldades de articulações que
elas encerram.
Um tigre, dois tigres, três tigres tristes.
Três pratos de trigo para três tigres tristes.
A rata roeu a rolha da garrafa da rainha.
A adivinha é um jogo verbal de perguntas e respostas. Geralmente as
crianças gostam muito de participar desse jogo, pois são interrogados para
decifrar um enigma, partindo de algumas dicas e muita imaginação.
O que é, o que é?
Tem oito pernas e rima com lasanha?
Resposta: Aranha
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CAPÍTULO II
O prazer de ler, ouvir e contar histórias
“As crianças correm para um lugar mágico – em volta de um
tapete, entre almofadas ou ao redor de um círculo invisível
delimitados no assoalho, como se fosse a grande boca de um
caldeirão repleto de magia. Sentam-se formando uma roda
junto com o professor. Ajeitam seus corpos – pernas cruzadas,
troncos reclinados, mãos espalmadas para trás, peitos apoiados
no chão ou sobre as almofadas. A agitação cessa. O tempo
parece parar...
O silêncio pode ser quebrado pela pergunta:
- Que história você vai contar hoje?”.
(Battaglia [sem data] )
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O prazer de ler, ouvir e contar histórias
E agora minha gente,
Uma história eu vou contar,
Uma história bem bonita,
Todo mundo vai gostar.
Hei, hei, hei,
Tra, lá, lá.
Hei, hei, hei,
Tra, lá, lá,lá.
A famosa história de Xerazade em “As mil e uma noite” descreve bem o
sentimento de prazer em ouvir e contar histórias.Conta-se que Shariar, sultão de
todas as Índias da Pérsia e do Tuquestão, havia sido traído pela sua esposa. Seu
irmão Shahzaman, imperador da Grande Tartária, também sofreu o mesmo
infortúnio. Ambos, enciumados, mandaram executar suas esposas e os escravos
traidores. Em seguida, resolveram abandonar seus reinos e viajar pelo mundo,
conhecendo terras distantes e outras culturas. Prometeram que só voltariam se
encontrassem alguém mais infeliz do que eles. Passaram por várias experiências,
algumas tão desagradáveis, em relação às mulheres, que reforçaram suas
opiniões contra elas, considerando-as, além de infiéis, perspicazes, teimosas e
exigentes. Retornaram aos seus países, mas Schariar que deveria casar-se
novamente, desconfiado das mulheres, decretou que todos os dias se casaria com
uma donzela e no dia seguinte mandaria matá-la. Todas as jovens daquele reino
ficaram assustadas e com muito medo do sultão. A revolta, a tristeza e a dor
reinavam em todo lugar. Dia após dia, uma jovem casava-se com o sultão e no
outro dia era decapitada. Xerazade, filha do primeiro-ministro do sultão - que lia
muito e conhecia histórias de todas as partes do mundo -, resolveu casar-se com
ele para salvar a si mesma e a todas as mulheres. Antes de casar-se, Xerazade
combinou com sua irmã Dunyzad que, na noite do casamento, esta iria até seu
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quarto nupcial para lhe pedir que contasse uma história pela última vez. O
combinado foi feito. Xerazade conseguiu convencer o sultão, dizendo-lhe que
costumava contar todas as noites uma história à sua irmãzinha. Pediu, então,
permissão para realizar seu último desejo. Este, mesmo surpreso, não só permitiu,
como também ouviu a história que se prolongou até o dia amanhecer. Xerazade
estava no clímax da história, no momento mais emocionante, quando o dia
clareou. Ela deveria ir para a morte e o sultão para seu trabalho diário. Dunyzad,
então, começou a chorar, suplicando-lhe para que ela continuasse contando, pois
queria saber o final da história. O sultão apresentava expressão curiosa. Xerazade
aproveitou-se desse momento e pediu-lhe apenas mais uma noite de vida para
finalizar a história. O sultão permitiu, pois, secretamente, também desejava saber
o seu desfecho. Xerazade, noite após noite, em seu quarto, envolvia o sultão e
sua irmã com suas histórias e assim passaram-se mil e uma noites. Nesse tempo,
entre uma história e outra, o sultão foi mudando sua forma de pensar, foi curando-
se de sua ira contra as mulheres e apaixonando-se por Xerazade.
Assim, Xerazade atuou sobre a subjetividade do sultão, libertando-o de um
trauma. O poder da palavra é evidente nessa história. Não só ilustra a importância
da narrativa e da linguagem estética e encantada de Xerazade, mas também
demonstra que a narrativa cria e cura, vence a morte e constrói mudanças.
Tal como ocorre com Xerazade, que vai de história em história tecendo com
seus fios a rede de histórias, assim os narradores na “roda de histórias” vão
contando e recontando histórias, transmitindo com suas narrativas entre o mundo
real e o ficcional, interagindo, identificando-se e reconhecendo-se por meio de
suas próprias experiências. E quando maior a naturalidade do narrador diante do
ouvinte, mais facilmente a história se gravará na sua memória.
2.1 – A importância de pais e professores contarem histórias para as crianças
Nas antigas sociedades agrárias, contar histórias era natural. Os mais
velhos estavam sempre contando casos e lendas, mas o costume foi se perdendo
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com a modernização, principalmente nos grandes centros. Nem todas as famílias
mantiveram a tradição. Muitos pais da atual geração cresceram sem ouvir
histórias. Os pais deveriam valorizar essa rotina, pois contar histórias é uma forma
de aprendizado.
As escolas perceberam isso há algumas décadas e vem revitalizando o
hábito no mundo todo. As crianças gostam do costume e levam-no de volta para
as famílias, pedindo histórias aos pais. Às vezes desacostumados, os adultos
ficam atrapalhados no começo. Não sabem bem como fazer, se devem ler ou
contar, quais as melhores histórias e o momento de contá-las. Vão aprendendo
com a prática que não precisam converter-se em atores para transformar a hora
do conto em casa em um momento agradável e divertido.
Os pais, sempre que possível, devem ler para seus filhos. A criança se
depara com os adultos falando com voz diferente, com um brilho alterado no olhar,
com movimentos ou expressões faciais incomuns. A mudança no comportamento
dos pais fascina os pequenos. “A comunicação e a relação com os filhos fica mais
estreita. É um momento especial”, afirma Regina Machado, coordenadora do
grupo de contadores de histórias do Núcleo de Arte e Educação da Escola de
Comunicação e Artes da USP.
2.1.1 – Considerações importantes na hora de contar uma história
Entonação – Nada é mais entediante para uma criança do que uma leitura
monótona. A voz dramatiza a história, dá mais colorido, mas é importante não
exagerar, pois a criança pode duvidar da veracidade da história.
Ler ou contar – Tanto faz. Inventar aventuras que as crianças pedem é muito
interessante e prazeroso. Mas a leitura é também uma ótima ferramenta. Cria na
criança a idéia de que as histórias moram nos livros.
Cenário – Não é preciso muita elaboração para criar cenas. Um simples lápis que
se transforma em vara de condão ou um lenço que vira uma capa mágica são
capazes de encantar a criança.
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Não tem hora – Não há regras, se quiser, estabeleça um momento do dia para a
história, como antes de dormir ou durante as refeições.
Com vontade – É importante não obrigar a criança a ouvir histórias quando ela
não quiser. Muito menos obrigar-se a contar quando não estiver com vontade. A
criança sente quando se lê por obrigação.
Tintin por tintin – É interessante não mudar o enredo das histórias. Crianças
pequenas pedem que se repita várias vezes a mesma história. Esperam
determinadas partes só para confirmar que as ouviu antes. É assim que também
vão compreendendo melhor o conto.
Criando clima – Depois de um dia de trabalho, conversar com seu filho, esgotar
suas ansiedades, brincar com ele para entrar no clima é importante, aí então
contar uma história poderá ser como se desprender das preocupações.
No meio do caminho – É bom se preparar para interrupções. Nada mais gostoso
que curiosidade de criança e você pode estimular mais devolvendo as perguntas
para ela.
História de quê – É ótima contar para as crianças, de vez em quando, história de
assombração com uma vela ou lanterna na mão. Se a crianças for muito medrosa,
é bom não exagerar na encenação, pois ela poderá acordar no meio da noite com
medo. É muito importante variar os gêneros.
Rapidinho – Criança pequena não tem paciência com história longa. Gosta de
figura, pouco texto e exige mais da criatividade do adulto para manter-se atenta.
As maiores já conseguem se concentrar por mais tempo. É interessante ter livros
com histórias de vários tamanhos.
2.2 – A importância das bibliotecas nas escolas
Por muito tempo, foi trabalhada a idéia de que na escola “aprende-se a ler”
e a biblioteca é o “lugar onde se lê”. Superado tal preceito, o discurso bibliotecário
sobre a concepção da biblioteca escolar no novo meio educacional deixa para trás
a imagem simplista de espaço de leituras e setor de apoio pedagógico para se
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caracterizar como um pólo cultural e uma rede de informação convencional e
eletrônica que busca aproximar o aluno do conhecimento, de modo que ele possa
transformá-lo e ser produtor de um novo conhecimento.
Com base nesse conceito as bibliotecas deveriam apresentar-se como um
espaço privilegiado de prazer, integração, informação e cultura que ofereçam
diferentes suportes de texto, com variadas linguagens, para que, a partir deles e
através do desenvolvimento de atividades diversificadas, seja propiciado aos
alunos e usuários de um modo geral a expansão do universo, da informação e do
conhecimento, buscando assim, ampliar a visão de mundo de seus
freqüentadores.
O livro é um dos principais mediadores desse processo. Adultos e crianças
devem ter acesso fácil aos livros. Abrir um livro é começar a sonhar, imaginar,
associar e elaborar fatos da realidade. Dos livros, surgem príncipes corajosos,
lobos ferozes, princesas belíssimas e bruxas malvadas. Simpáticos anões ou
avozinhas vivem em cenários maravilhosos de castelos distantes em reinos
desconhecidos.
O convívio com as mais variadas formas de expressão e os mais
diversificados meios para se chegar a elas facilita a receptividade dos alunos e
motiva-os a buscar as informações que necessitam para desenvolver os projetos
solicitados pelos professores. É um processo integrado e continuo, em que as
coordenações pedagógicas, os bibliotecários e os alunos desempenham cada um
o seu papel na aquisição do conhecimento.
2.2.1 – Biblioteca para os “pequenos”
Muitos pais e educadores se perguntam como uma criança pequenina, de
um ano e meio, por exemplo, consegue concentrar-se ouvindo histórias ou abrindo
livros e revistas. É um longo caminho onde primeiramente podem ser usados
revistas, brincadeiras, danças com papéis coloridos, folhas grandes e pequenas.
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Em seguida as dramatizações de histórias na biblioteca da escola serão bem
vindas, lembrando que deverão ser feitas em curtos momentos, uma vez que a
concentração nesta faixa de idade ainda é pequena. Em pouco tempo surgirão
seus personagens prediletos.
Para desenvolver essas atividades tem que haver persistência e a utilização
de algumas estratégias: escolha adequada dos livros, manutenção e organização
dos livros na biblioteca da escola, utilização de fantoches e de “caixas surpresas”
que contam histórias. As educadoras podem usar fantasias de fadas, bruxas,
bonecas etc. Estes e outros recursos serão muito importantes para o sucesso do
trabalho, e dessa forma elas conseguirão motivar crianças tão pequenas a
folhearem livros e entrarem no mundo da fantasia de uma forma muito gostosa.
Com crianças maiores (5 ou 6 anos), já é possível fazer um trabalho de
conceituação, então é interessante explicar, por exemplo, para que serve uma
enciclopédia, um jornal, uma história, uma poesia, um Cartum e tantas outras
formas de escrita. Depois explicar a elas como funciona uma biblioteca. Explicar
porque as bibliotecas são organizadas de tal forma. Para que servem as cores
colocadas nos livros e prateleiras? E os números? Os títulos? Os autores? E
durante todo o ano manusear com as crianças jornais, revistas, gibis e poesias.
Uma estratégia especial para essa faixa etária é mandar livros para casa ou
deixá-los ler para os amigos em sala. Através dessa atividade podemos perceber
que com o passar do tempo a qualidade das diferentes histórias apresentadas vai
se ampliando, fruto de modelos dos educadores, dos adultos em casa e também
das outras crianças. É visível o resultado das interações entre elas e delas com os
adultos.
Dessa maneira, as crianças se tornam grandes críticos das histórias, gibis,
poesias, além de saber escolher um livro.
2.2.2 – Cada idade, um estágio
Dois a três anos – Até dois anos as crianças gostam de olhar os livros com
ilustrações ricas, coloridas, claras e cujos textos servem apenas para recontar o
26
que as figuras já disseram. Nessa idade a criança gosta de histórias rimadas,
repetitivas. Dos dois anos meio aos três anos, ela passa a preferir textos e rimas
mais complexos, que contêm uma pequena história.
Três a quatro anos – Durante esse período as crianças prestam atenção em
histórias mais compridas e complicadas. Elas ainda têm necessidade da ajuda de
figuras em cada página, que as ajudam a manter a atenção e a interpretar as
palavras que ouvem.
As histórias lidas para as crianças ajudam-nas a compreender a experiência
crescente que tem do mundo. Por isso, é uma boa idéia procurar livros que falem
de coisas nas quais a criança esteja interessada ou que a preocupem. Para a
criança estão acontecendo muitas coisas novas ao mesmo tempo. Essas coisas
podem ser explicadas diretamente, conversando com ela, mas também, e às
vezes com mais eficiência, sob forma de uma história sobre um animal ou criança
imaginária, que ficam doentes, ou ganham uma irmãzinha. Livros sobre ir ao
médico, dentista ou hospital podem ajudar a tranqüilizar a criança com respeito a
essas experiências.
Quatro a cinco anos – Nessa altura as crianças já tiveram contato com uma
porção de livros em casa, na escola ou na casa de amigos. Elas já são muito mais
capazes de dizer o que querem ler. Mas ainda precisam que lhe contem histórias,
pois estas confirmam e fortalecem a maneira como se sentem com respeito a
experiências novas e intrigantes. A criança precisa de estabilidade, e pode querer
retornar a histórias que lhe são familiares para ganhar segurança.
Nesse período as crianças se tornam menos dependentes de ilustrações, e
conseguem prestar atenção a histórias mais longas, gostam também, de coleções
de histórias curtas.
27
CAPITULO III
Contribuições Pedagógicas das Histórias e de seus
Contadores
“Contar histórias é fato antigo e indispensável a vida, e os
narradores anônimos contribuíram de maneira importante para
boa parte da educação da humanidade através de suas memórias
prodigiosas (...) não há quem não possua, entre as suas
aquisições da infância, a riqueza das tradições, recebida por via
oral. Elas precederam os livros e muitas vezes os substituíram.
Em certos casos elas mesmas foram conteúdos desse livros”
(Meireles 1984, pp.48-50)
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Contribuições Pedagógicas das Histórias e de seus Contadores
No parque, no pátio, na praça, em qualquer espaço de uma creche ou
escola. Não é preciso palco ou cenário, apenas um assento onde possamos viajar
em mais uma história.
Enquanto conta-se uma história é possível perceber os diferentes níveis de
emoção e participação, de acordo com a idade das crianças.
As crianças menores acreditam no que estão ouvindo como se fosse real,
reagindo com a emoção de enfrentar o desconhecido misturado ao medo. Muitas
vezes choram, ficam observando de longe e até pedem colo.
Por isso é preciso escolher muito bem as histórias, os personagens, o local,
para uma dada faixa etária, lembrando que a história educa, socializa, informa,
aquieta e prende a atenção.
Por outro lado, uma preocupação muito grande em alcançar tais objetivos
pode comprometer a espontaneidade do contador. O compromisso do narrador é
com a história enquanto fonte de satisfação, tocando de perto as necessidades
das crianças.
Inventar, ler e contar histórias são tarefas importantes nas creches e pré-
escolas. A narrativa para crianças pequenas envolve todas as oportunidades de
interação que a criança tem com seu mundo imaginário. Ouvir e ler histórias de
várias formas, fazer de conta, dramatizar com fantoches os leva a apreender
melhor a realidade.
Narrar, então, é um ato cultural por excelência, atuando diretamente nos
sentidos e no subjetivo de cada um, possibilitando que o individuo conheça melhor
a si mesmo, o outro e o mundo em que vive, entre outras coisas. Além disso, o
narrar também proporciona o contato com as diferentes culturas, criando pontes
ou elos entre o mundo distante e o mundo de hoje, por meio dos contadores de
histórias.
O educador, o contador de histórias, deve estar atento para perceber se as
histórias estão instruindo, comovendo, agradando.
29
Nada substitui a voz viva do contador de histórias nem sua inesquecível
sabedoria. “A imaginação precisa ser nutrida por uma chama viva e não pré-
gravada. As histórias foram feitas para ser passadas adiante diretamente, de boca
em boca, pelo coração. Nada pode substituir a experiência de uma história
contada ao vivo” (Yashinsky 1985, p2)
Assim se constituem e se estabelecem as relações profundas e
significativas entre narrador e ouvinte no momento da narrativa. Cria-se uma
atmosfera tão forte e envolvente entre ambos, desencadeando a escuta sensível e
interessada, proporcionando ao ouvinte um estado de encantamento. Ele grava
com facilidade a história que é ouvida, assimila a experiência do outro e “adquire
espontaneamente”, como diz Benjamin o “dom” de narrá-la para recontá-la um dia.
A “roda de histórias” vem ratificar essa postura, valorizando a memória
coletiva e individual, entrando como instrumento facilitador do diálogo cultural,
retomando e disseminando de forma sistemática a narrativa. Daí sua importância
como forma de relacionamento humano, ao mesmo tempo em que de inserção do
sujeito na cultura.
Saber contar histórias significa saber a quem contar, quando contar, o que
contar e como contar, pois através desse trabalho, as crianças lidam com seus
medos, angustias e também com suas alegrias.
3.1 – Entrevista com uma contadora de histórias
Segundo o site de Bia Bedran, Bia, sempre foi artista. Gostava muito de ler
e começou a estudar música aos seis anos de idade, fazendo aulas de flauta e
violão. Aos 19, depois de passar um ano na Faculdade de Química, a jovem Bia
percebeu que sua paixão era mesmo a música e então, foi preciso seguir em
frente e procurar outra faculdade: a de Musicoterapia.
No ano de 1973, em Niterói, a artista iniciou sua carreira profissional com
surgimento do Quintal - Teatro Infantil, onde mais tarde, nasceu o Bloco da
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Palhoça, grupo de música folclórica que a artista ajudou a fundar e que se tornou
um marco divisor em sua vida.
Formada em Musicoterapia pelo Conservatório Brasileiro de Musica em
1978, fez complementação pedagógica e tirou o diploma de Educação Artística
com habilitação em música cinco anos depois.
Com 8 cd's gravados e 3 livros publicados, Bia já fez vários trabalhos na
televisão, entre os quais se destaca o programa Canta Conto que permaneceu no
ar durante sete anos pela TVE, o Baleia Verde e o Lá Vem História.
Como contadora de histórias, Bia Bedran trabalha com os contos populares
e autorais, lendas brasileiras etc. Utiliza vários elementos extras para contar
histórias. Pode ser a cartolina recortada em forma de nuvem, ou um boneco de
pano, por exemplo. Além disso, nos shows, a atriz adapta histórias para a
linguagem teatral e também conta com o acompanhamento dos músicos de sua
banda, que fazem da sonoplastia ao fundo musical.
Música é a grande paixão de Bia . A cantora, instrumentista e
musicoterapeuta, já compôs um número enorme de canções nos diferentes
gêneros da música brasileira. Movimentos com todas as partes do corpo integram
as coreografias que contagiam crianças e adultos nos espetáculos e oficinas da
arte-educadora.
Bia Bedran costuma encarnar os personagens das histórias que conta e das
músicas que canta, utilizando inclusive, o teatro de bonecos. A atriz também
escreve os textos de suas peças.
Bia Bedran realizou um trabalho pioneiro e de sucesso ao levar o ato de contar histórias para a televisão, sempre com muita graça e simplicidade. “O meu trabalho se presta a um prolongamento da magia da infância, devolvendo à criança a ingenuidade e, ao mesmo tempo, o seu lado moleque.”
· Como começou sua vida de Contadora de histórias?
Minha vida de contadora de história começou em 1973, no Teatro Quintal, grupo
formado por 23 elementos da nossa família, teatro construído no quintal da casa
de uma das irmãs de minha mãe.
31
Neste grupo eu era atriz, cantora e compositora das trilhas musicais dos
espetáculos, portanto fui descobrindo na prática, como mesclar o conto e o canto.
Nós montamos mais de 30 espetáculos diferentes, para crianças, em cerca de 10
anos de trabalho, inclusive viajando pelo Brasil, quando então, ia conhecendo e
descobrindo outros contadores.
· É correto o termo “Contação”?
Eu não vejo nenhum problema no termo “contação”. Está correto utilizá-lo
normalmente, quando se trata de roda de histórias. Fazer uma “contação” está
para o texto como fazer uma “cantoria” está para a música. É um neologismo
surgido na década de 90.
· Qual é a inspiração para fazer as histórias ou músicas?
Inspiração é trabalho. A inspiração vem depois de muito pensar, pesquisar, ler e
sentir. Geralmente, me inspiro depois de observar com atenção e cuidado algo
novo nesse mundo velho... Quando meu olhar se coloca crítico e observador de
fora, eu consigo penetrar num lampejo de idéias, para depois, trabalhar e suar
novamente em cima dela.
Às vezes, ler um novo livro me leva a uma nova canção. Às vezes, uma canção
me leva a escrever uma história.
· O que te incentivou a seguir essa profissão?
Como já disse, no Teatro Quintal teve o “insight” a respeito desse caminho. Mas
desde menina (7 anos) eu já compunha canções, estudava flauta e violão e
escrevia versos.
Minha paixão era música associada a literatura. Decorava a obra de Cecília
Meireles, Monteiro Lobato, Mark Twain, lia os contos populares do Guimarães
Rosa, Rubem Braga, Fernando Sabino e brincava de decorar suas crônicas.
Queria ser cantora, atriz, compositora, tudo junto. Quando surgiu a oportunidade
de atuar na Trupe do Quintal, pude desenvolver todas essas atuações. E aí, não
parei mais. São 31 anos de profissão!
32
· Já pensou em algum momento de sua vida ser professora de Educação
Infantil?
Não. Queria ser professora de Educação Musical, fez então “Educação Artística
com habilitação em música”, além de cursar a faculdade de Musicoterapia.
· Que contribuições suas histórias trazem para seu público, este sendo de
crianças e adultos?
Acho que essa pesquisa que faço dentro da cultura popular brasileira acrescenta
muito ao público de qualquer idade, pois são histórias que provocam o imaginário
coletivo. Tenho muita facilidade para criar músicas para os temas dessas histórias,
e então, a soma da palavra com o canto, se torna bastante “encantadora”.
· O que é necessário para ser um bom contador de histórias?
Ler muito, escolher um bom repertório, escolher seu estilo de contar, ser
econômico nos detalhes para não dispersar a narrativa, preparar sua “contação”.
· Quais os critérios que você utiliza para avaliar um bom contador de
histórias?
Observo a fluência de sua narrativa. O bom contador de histórias tem a história
como a grande estrela, não ele próprio. A narrativa fala por si e flui através de
seus olhos, mãos, expressão enfim.
· Existe diferença em contar uma história que você acabou de inventar para
uma história já pronta? Por que?
Claro que sim. Em primeiro lugar não se conta uma história que se acabou de
inventar. Uma história recém inventada ainda está como texto oral truncado, sem
fluência. Uma história pronta, como você talvez queira dizer, uma história
preparada, está do jeito adequado para a narrativa oral.
· Como foi sua infância em relação a histórias?
Fui uma criança privilegiada, pois minha mãe era educadora e contadora de
histórias. Ouvi histórias desde o meu nascimento, portanto me tornei uma leitora
voraz dos livros.
33
· Normalmente, quando você prepara um curso, palestra, qual é o seu
objetivo?
Meu objetivo é desenvolver o potencial do participante, educar ou não, em direção
à formação de um leitor melhor, mais atuante e crítico dos fatos do mundo e da
vida cotidiana.
Também é fornecer um repertório meu, de pesquisa e criação, que sirva de
suporte para um futuro caminho de pesquisa do participante do curso, além de
fazê-lo vivenciar dinâmicas de expressão corporal através da música.
Levar ludicidade, alegria e criatividade para o cotidiano do aluno-professor.
· Como é lidar com o imaginário das crianças?
É uma viagem, um caminho sem fim. O imaginário pode tudo. Vencer, perder,
voar, alcançar lugares distantes, desmontar uma realidade próxima e inventar
outra. A criança faz isso naturalmente quando brinca. Observar sua brincadeira e
trocar com ela, é fonte de pesquisa para uma criação artística constante.
· Que conselho você daria a um individuo que está começando a subir os
primeiros degraus dessa carreira?
O contador de histórias é uma figura de extrema importância na sociedade. Na
educação, um professor que conta bem uma história, com certeza levará seus
alunos a lerem também com entusiasmo e paixão.O contador não deve pensar em
si mesmo como um ator aperfeiçoando seu ofício. Mas sim como um mensageiro
das letras. Um porta voz dos livros. Uma voz a serviço das idéias.
Fica clara, nesta entrevista, a influência familiar que se faz presente a todo
o momento, norteando o caminho profissional desta contadora de história. Dessa
forma ratifica-se a idéia da necessidade de cada vez mais cedo se contar histórias
para as crianças. A prática de contar histórias deve-se ser iniciada na família
tendo sua continuidade na escola, porém levando-se em consideração sempre a
qualidade deste momento, ou seja, não é precisos contar dezenas de histórias
para as crianças, uma história em um momento especial fará a diferença.
34
CONCLUSÃO
A Literatura Infantil é muito importante do contexto escolar e familiar. Sabe-
se portanto, que muito ainda resta pesquisar dentro deste âmbito de estudo, mas
aqui foi enfatizada a busca em estabelecer um vínculo emocional e pedagógico
entre as histórias e seus contadores.
A escola não é só aquela que promove a busca do conhecimento, ela é
também criadora de vínculos emocionais e de histórias infantis que contribuem
muito para o processo de aquisição da palavra. As histórias vão do entreter ao
educar com a mesma qualidade, porém é importante que pais, educadores e
contadores de histórias profissionais verifiquem cada fase da criança e o que está
lhe interessando em cada idade. Desse modo, poderão ser explorados vários
conteúdos principalmente o que se remete ao vocabulário da criança, que nesta
fase pré-escolar demonstra muita disposição para a apreensão de novos
vocábulos.
Com esse objetivo. Observamos que a criança deve escutar histórias desde
cedo, pois dessa maneira provavelmente adquirirá gosto por essa atividade. A
história alimenta a emoção e a imaginação. Permite a auto-identificação, ajudando
a criança a aceitar situações desagradáveis e a resolver conflitos. As histórias
infantis agradam todos de modo geral, sem distinção de idade, classe social ou
circunstância de vida.
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ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 >> Internet –Bia Bedran
Anexo 2 >> Reportagem
Anexo 3 >> Conteúdo de revista especializada
36
37
38
ANEXO 1
BIA BEDRAN
39
ANEXO 1
BIA BEDRAN
40
ANEXO 1
BIA BEDRAN
41
ANEXO 2
REPORTAGEM
42
ANEXO 3
CONTEÚDO DE REVISTA ESPECILAIZADA
43
ANEXO 3
CONTEÚDO DE REVISTA ESPECILAIZADA
44
BIBLIOGRAFIA
BEDRAN, Bia. Citações e referências a documentos eletrônicos. On line:
disponível na Internet via http://www.biabedran.com.br
BENJAMIN, Walter (1993). O Narrador. São Paulo: Brasiliense
DOHME, Vânia [sem data]. Técnica de contar histórias: Informal
FERREIRA, Mariia Clotilde Rossetti, MELLO, Ana Maria (Orgs.) et alii. Os fazeres
na Educação Infantil. [sine loco]: Cortez, [sem data]
GRANDI, Sonia Maria. Biblioteca escolar e seu papel na informação. Pátio. Rio de
Janeiro, Ano VI, nº 21 maio/julho. 2002, p.34-36
JORGE, Lenice da Silva (1999). Roda de Histórias: sons, imagens e movimentos.
Novos modos de informação em educação. Dissertação de mestrado. São Paulo.
E CA/USP.
MEIRELES, Cecília (1984). Problemas da Literatura Infantil. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira.
NICOLAU, Marieta Lúcia Machado, DIAS, Marina Célia Moraes (Orgs.) Oficinas de
sonho e realidade: Na formação do educador da infância. [sine loco]:
Papirus, [sem data]
YASHINSKY,Dan (1985). Isso me lembra uma história. The Globe and mail.
Toronto: s.n.
45
ATIVIDADADES CULTURAIS
46
ATIVIDADADES CULTURAIS
47
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
A IMPORTÂNCIA DA NARRATIVA 10
1.1 - Contos que as caixas contam 12
1.2 - A hora do conto 13
1.3 - Roda de histórias 14
1.3.1 - A “roda de histórias” e as cantigas de ninar. 16
1.3.2 - A “roda de histórias” e os brincos. 16
1.3.3 - A “roda de histórias” e as cantigas de roda. 17
1.3.4 - As “rodas de histórias” e as parlendas, 17
trava-línguas e adivinhas
CAPÍTULO II
O PRAZER DE LER, OUVIR E CONTAR HISTÓRIAS 19
2.1 - A importância de pais e professores contarem 21
histórias para as crianças.
2.1.1 – Considerações importantes na hora de 22
contar uma história
2.2 - A importância das bibliotecas nas escolas 23
2.2.1 – Biblioteca para os “pequenos” 24
2.2.2 – Cada idade, um estágio 25
48
CAPÍTULO III
CONTRIBUIÇÕES PEDAGÓGICAS DAS HISTÓRIAS
E DE SEUS CONTADORES 27
3.1 – Entrevista com uma contadora de histórias 29
CONCLUSÃO 34
ANEXOS 35
BIBLIOGRAFIA 44
ATIVIDADES CULTURAIS 45
ÍNDICE 47
49
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes
Título da Monografia: Um contador de histórias que educa e desperta a
imaginação das crianças na Educação Infantil
Autor: Rosangela Ramos da Silva
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito: