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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE GOVERNANÇA CORPORATIVA E CONTROLES INTERNOS SE TRADUZEM EM GARANTIA DE BONS RESULTADOS EMPRESARIAIS? Por: Luís Carlos Barbosa Orientadora Profª. Aleksandra Sliwowska Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

GOVERNANÇA CORPORATIVA E CONTROLES INTERNOS SE

TRADUZEM EM GARANTIA DE BONS RESULTADOS

EMPRESARIAIS?

Por: Luís Carlos Barbosa

Orientadora

Profª. Aleksandra Sliwowska

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

GOVERNANÇA CORPORATIVA E CONTROLES INTERNOS SE

TRADUZEM EM GARANTIA DE BONS RESULTADOS

EMPRESARIAIS?

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Engenharia da

Produção.

Por: Luís Carlos Barbosa

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AGRADECIMENTOS

A Deus, minha mãe, minha amada

esposa, meus filhos e neto.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta Monografia a minha mãe,

sempre um modelo a ser seguido.

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RESUMO

Os analistas de empresas buscam identificar os fatores determinantes

do sucesso empresarial relacionados à adoção de boas práticas de governança

corporativa utilizando várias técnicas, que podem abranger modelos

econométricos voltados para avaliar questões específicas em blocos de

empresas selecionadas e estudos de casos.

O meio acadêmico e algumas organizações não-governamentais estão

envolvidas em estudos para avaliar os possíveis efeitos da adoção de boas

práticas de governança corporativa no aumento do valor da empresa e na

facilitação do seu acesso ao capital.

Objetivamos com este estudo procurar demonstrar uma forte relação

entre a boa governança e a valorização da companhia; verificar os benefícios

obtidos com a adoção de boas práticas de governança corporativa nas

empresas brasileiras, com foco na relação entre essas práticas e o aumento do

valor da empresa, por um lado, e a redução do custo de capital, por outro.

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METODOLOGIA

Efetuaremos pesquisa baseada em trabalhos acadêmicos disponíveis:

na CVM, Bovespa, BNDES, Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

(IBGC). Reportagens contidas no jornal Valor Econômico. Utilizaremos,

também, a bibliografia apresentada na página 45 desta monografia.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Governança Corporativa 09

CAPÍTULO II - Controles Internos 20

CAPÍTULO III – Estudos de Caso de Boa

Governança Corporativa 26

CAPÍTULO IV – Estudos de Caso de Má Governança Corporativa 34 CONCLUSÃO 40

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45

ÍNDICE 46

FOLHA DE AVALIAÇÃO 48

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INTRODUÇÃO

Na teoria econômica tradicional, a Governança Corporativa avalia os

instrumentos para superar o “conflito de agência”, presente a partir da

separação entre a propriedade e a administração da empresa. Esse conflito

surge quando o titular da propriedade delega ao administrador o poder da

decisão sobre sua propriedade, o que acarreta o surgimento de

desalinhamentos entre ambos, decorrentes da materialização de dois axiomas:

a inexistência de agentes perfeitos e a impossibilidade de se elaborarem

contratos completos. Essa situação demanda a criação de mecanismos

eficientes, representados por sistemas de monitoramento e de incentivos, a fim

de assegurar o alinhamento da atuação do administrador aos interesses do

proprietário.

Esta monografia pretende demonstrar a inter-relação entre bons

padrões de Governança Corporativa na empresa e o uso de controles internos

visando ao adequado gerenciamento dos riscos. O direcionamento dos

controles internos contábeis por técnicas de gestão de risco possibilita a

supervisão, pela alta administração, do processo de gerenciamento dos riscos,

conduzido pelos administradores, resultando na facilidade de acesso ao

mercado de capitais e no aumento do valor da empresa, e contribuindo para a

sua perenidade.

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CAPÍTULO I

GOVERNANÇA CORPORATIVA

...Deus é maior que todos os obstáculos.

Neste capítulo apresentaremos o conceito de Governança Corporativa,

sua evolução histórica, como se situa no mundo e no Brasil, além de seus

principais modelos, buscando assim uma melhor compreensão sobre o

assunto.

A governança é a expressão utilizada, de forma ampla, para denominar

os assuntos relativos ao poder de controle e direção de uma empresa, ou

mesmo da capacidade governativa no contexto internacional ou de uma nação.

A definição do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)

para a governança aplicada a empresas é que:

“Governança Corporativa é o sistema pelo qual as

organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas,

envolvendo os relacionamentos entre proprietários,

conselho de administração, diretoria e órgãos de controle.

As boas práticas de governança corporativa convertem

princípios em recomendações objetivas, alinhando

interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor

da organização, facilitando seu acesso ao capital e

contribuindo para sua longevidade.”

1.1 - Origens da boa governança

De acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

(IBGC), a origem da boa governança ocorre na primeira metade dos anos 90,

em um movimento iniciado principalmente nos Estados Unidos, acionistas

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despertaram para a necessidade de novas regras que os protegessem dos

abusos da diretoria executiva das empresas, da inércia de conselhos de

administração inoperantes e das omissões das auditorias externas.

Conceitualmente, a Governança Corporativa surgiu para superar o

“conflito de agência”, decorrente da separação entre a propriedade e a gestão

empresarial. Nesta situação, o proprietário (acionista) delega a um agente

especializado (executivo) o poder de decisão sobre sua propriedade. No

entanto, os interesses do gestor nem sempre estarão alinhados com os do

proprietário, resultando em um conflito de agência ou conflito agente-principal.

A preocupação da Governança Corporativa é criar um conjunto

eficiente de mecanismos, tanto de incentivos quanto de monitoramento, a fim

de assegurar que o comportamento dos executivos esteja sempre alinhado

com o interesse dos acionistas.

A boa Governança proporciona aos proprietários (acionistas ou

cotistas) a gestão estratégica de sua empresa e a monitoração da direção

executiva. As principais ferramentas que asseguram o controle da propriedade

sobre a gestão são o conselho de administração, a auditoria independente e o

conselho fiscal.

A empresa que opta pelas boas práticas de Governança Corporativa

adota como linhas mestras: a transparência - “mais do que obrigação de

informar e o desejo de disponibilizar para as partes interessadas as

informações que sejam do interesse e não apenas aquelas impostas por

disposições de leis ou regulamentos. A adequada transparência resulta em um

clima de confiança, tanto internamente quanto nas relações da empresa com

terceiros. Não deve restringir-se ao desempenho econômico-financeiro,

contemplando também os demais fatores (inclusive intangíveis) que norteiam a

ação gerencial e que conduzem a criação de valor”; a prestação de contas –

“os agentes de governança (sócios, administradores, conselheiros de

administração e executivos/gestores) conselheiros fiscais e auditores, devem

prestar constas de sua atuação, assumindo integralmente as conseqüências de

seus atos e omissões”; a equidade – “caracteriza-se pelo tratamento justo de

todos os sócios e demais partes interessadas (stakeholders). Atitudes ou

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políticas discriminatórias, sob qualquer pretexto, são totalmente inaceitáveis” e

a responsabilidade corporativa – “os agentes de governança devem zelar pela

sustentabilidade das organizações, visando a sua longevidade, incorporando

considerações de ordem social e ambiental na definição dos negócios e

operações”. Para tanto, o conselho de administração deve exercer seu papel,

estabelecendo estratégias para a empresa, elegendo e destituindo o principal

executivo, fiscalizando e avaliando o desempenho da gestão e escolhendo a

auditoria independente.

A ausência de conselheiros qualificados e de bons sistemas de

Governança Corporativa tem levado empresas a fracassos decorrentes de:

- Abusos de poder (do acionista controlador sobre minoritários, da

diretoria sobre o acionista e dos administradores sobre terceiros);

- Erros estratégicos (resultado de muito poder concentrado no

executivo principal);

- Fraudes (uso de informação privilegiada em benefício próprio,

atuação em conflito de interesses).

1.1.1 – Evolução histórica:

Foi nos anos 50 que se começou a falar de Governança Corporativa,

mas sem usar esse nome. Foi uma época marcada por conselhos inoperantes

e com a presença forte do acionista controlador.

A evolução histórica da Governança Corporativa se deu da seguinte

forma:

Anos 50 e 60:

- Forte presença do acionista familiar majoritário;

- Conselheiros não atuantes;

- Conselheiros não tem conhecimento sobre os negócios do acionista

gestor;

Anos 70:

- Surgimento de grandes conselhos brasileiros, como: Docas, Monteiro

Aranha, Alpargatas;

- Fundada nos Estados Unidos a National Association of Corporate

Directors (NACD);

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- Início da independência do Conselho de Administração;

- Instituída a primeira Lei das Sociedades por Ações brasileira, nº

6404/76, que estabelece competências do Conselho de Administração;

- Criação da CVM mediante a Lei 6404/76 e 6385/76;

Anos 80:

- Valorização do acionista;

- Abertura de capital, fundos de investimento, fundos de pensão,

participação de bancos;

- Fundos do tipo Calpers e Fidelity;

- Mercado de capitais pequeno no Brasil. Poucas empresas

apresentam liquidez;

- Robert Monks, empreendedor americano bem sucedido, ativista

pioneiro, muda o rumo da Governança corporativa, atacando a falta de

transparência na administração das companhias e defendendo a

atuação mais eficaz dos acionistas na geração de mais valor e riqueza;

Anos 90:

- Maior força para os Conselhos de Administração;

- Definição do papel da auditoria externa devido aos grandes

escândalos nacionais e internacionais, envolvendo pareceres dos

auditores;

- Privatização, globalização, fusões e aquisições

1992 – Publicação do relatório Cadbury, considerado o primeiro código

de boas práticas de Governança Corporativa. O documento, elaborado

por uma comissão coordenada pelo Sir Adrian Cadbury, surgiu como

resposta aos escândalos registrados no mercado corporativo e

financeiro da Inglaterra no final dos anos 1980. O relatório influenciou

as publicações dos futuros códigos de diversos países. A General

Motors divulga suas “Diretrizes de Governança Corporativa”,

considerado o primeiro código de governança elaborado por uma

empresa.

1994 – Em pesquisa realizada pelo Calpers (California Public Emplyees

Retirement System), observou-se que mais da metade das 300

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maiores companhias dos EUA tinham desenvolvido manuais próprios

de recomendações de Governança Corporativa;

1995 – Fundado o Instituto Brasileiro de Conselheiros de Administração

(IBCA), atual IBGC;

1997 – Criação do novo mercado (Neuer Market) da Bolsa de

Frankfurt, Alemanha. No mesmo ano a Federação Japonesa das

Organizações Econômicas lança relatório com recomendações sobre

Governança Corporativa. Em setembro, ocorre a crise asiática,

fomentada, entre outras coisas, por más práticas de Governança

Corporativa. É aprovada a Lei 9.457, reformando a Lei das Sociedades

Anônimas original (Lei 6.404/76). A Lei revoga o Tag Along de 100%

para ordinaristas, sendo considerada um retrocesso na questão do

direito dos acionistas minoritários;

1999 – O instituto IBCA passa a se denominar IBGC (Instituto Brasileiro

de Governança Corporativa). Lançado o primeiro código brasileiro

sobre Governança Corporativa, o “Código das Melhores Práticas de

Governança Corporativa”, de autoria do IBGC. CVM lança instrução

299, sobre ofertas públicas e rodízio de auditorias;

2000 – Em dezembro a Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA)

lança oficialmente os segmentos diferenciados de Governança

Corporativa: Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado;

2001 – A Lei das Sociedades Anônimas é reformada, sendo

promulgada a Lei 10.303/2001, apresentando avanços, embora tímidos

em relação ao projeto inicial;

2002 – O congresso americano aprova a Lei Sarbanes Oxley (SOX) em

julho, como resposta aos escândalos corporativos envolvendo grandes

empresas do país, como Enron, Worldcom e Tyco, entre outras. Em

junho, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) lança sua cartilha

sobre governança: “Recomendações da CVM sobre Governança

Corporativa”, voltada para as companhias abertas. A autarquia lança

ainda as instruções 358 e 361 sobre informações relevantes e

fechamento branco, respectivamente;

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2005 – A Organização para Cooperação e Desenvolvimento

Econômico (OCDE) lança documento contendo diretrizes de boa

governança para empresas de controle estatal;

2009 – Ostrom e Willianson levam Nobel de Economia por estudos

relacionados à Governança. IBGC lança a quarta versão do Código

das Melhores Práticas de Governança Corporativa. CVM lança a

instrução 480, nome oficial daquela que ficou conhecida como “nova

202”, referência a principal norma reformada. A 480 revoga 16

instruções, 3 deliberações e altera de alguma forma, 28 normas de

mercado, trazendo como uma das principais mudanças o aumento do

nível de informações prestadas pelas companhias.

1.2 - Governança no mundo

O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) esclarece que

nos últimos anos, a adoção das melhores práticas de Governança Corporativa

tem se expandido tanto nos mercados desenvolvidos quanto em

desenvolvimento. No entanto, mesmo em países de similares idioma e

sistemas legais, como EUA e Reino Unido, o emprego das boas práticas de

Governança apresenta diferenças quanto ao estilo, estrutura e enfoque.

Não há uma completa convergência sobre a correta aplicação das

práticas de Governança nos mercados, entretanto, pode-se afirmar que todos

se baseiam nos princípios da transparência, independência e prestação de

contas (accountability) como meio para atrair investimentos aos negócios e ao

país.

E a fim de ganharem a confiança dos investidores, empresas e países

notaram a necessidade de incorporar algumas regras fundamentais, como

sistemas regulatórios e leis de proteção aos acionistas; conselho de

administração atento aos interesses e valores dos shareholders; auditoria

independente; processo justo de votação em assembléias; e maior

transparência nas informações.

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A partir da criação dos códigos de Governança Corporativa locais, as

diferenças culturais e históricas têm sido adaptadas. Como ponto de

convergência, os documentos pretendem aumentar os padrões de Governança

nos mercados como forma de atrair e reduzir os custos dos investimentos.

As particularidades e práticas locais mantiveram sua força. Enquanto

algumas nações apresentam o modelo familiar como dominante, outras têm no

capital difuso (o controle por acionista ou grupo de acionistas que não esteja

vinculado por acordo de sócios nem sob controle ou representando interesse

comum, detentor de parcela relevante do capital votante da organização,

porem inferior a 50% do capital social) sua maior expressão.

Nos EUA e Reino Unido, onde estão às raízes da Governança, os

mercados de capitais atingiram grande pulverização do controle acionário das

empresas. Já na Alemanha e no Japão, as instituições financeiras participam

de forma importante no capital social das empresas industriais, sendo,

portanto, ativas na administração dos negócios.

De maneira geral, na Europa Continental, chegou-se a um modelo de

evolução no relacionamento entre as empresas e o capital de terceiros: a

organização de blocos de controle para que os acionistas exerçam, de fato, o

poder nas companhias.

Hoje, a comunidade internacional prioriza a Governança Corporativa,

relacionando-a a um ambiente institucional equilibrado e à política

macroeconômica de boa qualidade. Assim sendo:

- O G8, grupo das nações mais ricas do mundo, considera a

Governança Corporativa um pilar da arquitetura econômica global;

- A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OCDE) desenvolveu uma lista de princípios de Governança Corporativa e

promove periodicamente, em diversos países, mesas de discussão e avaliação

dessas práticas;

- Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI) consideram a

adoção de boas práticas de Governança Corporativa como parte da

recuperação dos mercados mundiais, fragilizados por sucessivas crises em

seus mercados de capitais.

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1.3 - Principais modelos

Como nos informa o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

(IBGC) pode-se dividir, de modo geral, os sistemas de Governança Corporativa

no mundo em:

Outsider System (acionistas pulverizados e tipicamente fora do

comando diário das operações da companhia).Como o sistema de Governança

anglo-saxão (Estados Unidos e Reino Unido):

- Estrutura de propriedade dispersa nas grandes empresas;

- Papel importante do mercado de ações na economia;

- Ativismo e grande porte dos investidores institucionais;

- Foco na maximização do retorno para os acionistas (shareholder

oriented).

Insider System (grandes acionistas tipicamente no comando das

operações diárias diretamente ou via pessoas de sua indicação). Como o

sistema de Governança da Europa Continental e Japão:

- Estrutura de propriedade mais concentrada;

- Presença de conglomerados industriais financeiros;

- Baixo ativismo e menor porte dos investidores institucionais;

- Reconhecimento mais explícito e sistemático de outros stakeholders

não-financeiros, principalmente funcionários (stakeholder oriented).

1.4 - Governança no Brasil

Conforme o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), no

Brasil os conselheiros profissionais e independentes surgiram em resposta ao

movimento pelas boas práticas de Governança Corporativa e à necessidade

das empresas modernizarem sua alta gestão, visando tornarem-se mais

atraentes para o mercado. O fenômeno foi acelerado pelos processos de

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globalização, privatização e desregulamentação da economia, que resultaram

em um ambiente corporativo mais competitivo.

Oligopólios, empresas exclusivamente de controle e gestão familiar

com alta concentração do capital, acionistas minoritários passivos e conselhos

de administração figurativos passaram a dar lugar a investidores institucionais

mais ativos, maior dispersão do controle acionário, maior foco na eficiência

econômica e transparência da gestão.

As privatizações ensejaram as primeiras experiências de controle

compartilhado no Brasil, formalizado por meio de acordo de acionistas. Nessas

empresas, os investidores integrantes do bloco de controle passaram a dividir o

comando da empresa, estabelecendo contratualmente regras.

Os investidores institucionais – seguradoras, fundos de pensão e

fundos de investimentos, entre outros – assumiram uma postura ativa,

passando a comparecer nas assembléias gerais, a exercer os direitos de voto

de suas ações e a fiscalizar de modo mais próximo a gestão das companhias

investidas.

A abertura e conseqüente modificação na estrutura societária das

empresas também ocorreu no mercado financeiro. Houve aumento de

investimentos de estrangeiros no mercado de capitais, o que reforçou a

necessidade das empresas se adaptarem às exigências e padrões

internacionais. Em resumo, as práticas de Governança Corporativa tornaram-

se prioridade e fonte de pressão por parte dos investidores.

Como resultado da necessidade de adoção das boas práticas de

Governança, foi publicado em 1999 o primeiro código sobre governança

corporativa, elaborado pelo IBGC. O código trouxe inicialmente informações

sobre o conselho de administração e sua conduta esperada. Em versões

posteriores, os quatro princípios básicos da boa governança foram detalhados

e aprofundados.

Em 2001, foi reformulada a Lei das Sociedades Anônimas e, em 2002,

a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) lançou sua cartilha sobre o tema

Governança. Documento focado nos administradores, conselheiros, acionistas

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controladores e minoritários e auditores independentes, a Cartilha visa orientar

sobre as questões que afetam o relacionamento entre os já citados.

Outra contribuição à aplicabilidade das práticas de Governança partiu

da Bolsa de Valores de São Paulo, ao criar segmentos especiais de listagem

destinados a empresas com padrões superiores de Governança Corporativa.

Além do mercado tradicional, passaram a existir três segmentos diferenciados

de Governança: Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado. O objetivo foi o de estimular

o interesse dos investidores e a valorização das empresas listadas.

Basicamente, o segmento de Nível 1 caracteriza-se por exigir práticas

adicionais de liquidez das ações e disclosure (transparência). Enquanto o Nível

2 tem por obrigação práticas adicionais relativas aos direitos dos acionistas e

conselho de administração. O Novo Mercado, por fim, diferencia-se do Nível 2

pela exigência para emissão exclusiva de ações com direito a voto, além disso

as empresas têm que cumprir as seguintes obrigações adicionais: - realização

de ofertas públicas de colocação de ações por meio de mecanismos que

favoreçam a dispersão do capital; - manutenção em circulação de uma parcela

mínima de ações representando 25% do capital; - extensão para todos os

acionistas das mesmas condições obtidas pelos controladores quando da

venda do controle da companhia (tag along); - Conselho de Administração com

mínimo de cinco membros e mandato unificado de um ano; - disponibilização

de balanço anual seguindo as normas do US GAAP ou IFRS; - introdução de

melhorias nas informações prestadas trimestralmente, entre as quais a

exigência de consolidação das demonstrações contábeis e de revisão especial

de auditoria; - obrigatoriedade de realização de uma oferta de compra de todas

as ações em circulação, pelo valor econômico, nas hipóteses de fechamento

do capital ou cancelamento do registro de negociação no Novo Mercado; -

informar negociações envolvendo ativos e derivativos de emissão da

companhia por parte de acionistas controladores ou administradores da

empresa; - apresentação das demonstrações de fluxo de caixa; - adesão à

Câmara de Arbitragem do Mercado para resolução de conflitos societários .

Estes dois últimos apresentam como resultado esperado a redução das

incertezas no processo de avaliação, investimento e de risco, o aumento de

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investidores interessados e, conseqüentemente, o fortalecimento do mercado

acionário. Resultados que trazem benefícios para investidores, empresa,

mercado e o Brasil.

Apesar do aprofundamento nos debates sobre governança e da

crescente pressão para a adoção das boas práticas de Governança

Corporativa, o Brasil ainda se caracteriza pela alta concentração do controle

acionário, pela baixa efetividade dos conselhos de administração e pela alta

sobreposição entre propriedade e gestão. O que demonstra vasto campo para

o incentivo ao conhecimento, ações e divulgação dos preceitos da Governança

Corporativa.

No próximo capítulo iremos demonstrar a importância dos Controles

Internos como instrumento de Governança Corporativa.

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CAPÍTULO II

CONTROLES INTERNOS

As crises corporativas dos últimos anos despertaram as empresas para

a relevância estratégica da administração de riscos. Esta ferramenta de

gerenciamento é cada vez mais requisitada no momento em que se verifica a

crescente cobrança por boas práticas de Governança Corporativa. A gestão de

riscos envolve analisar os riscos das inúmeras áreas de uma empresa, desde

riscos oriundos do ambiente externo e interno (financeiros e operacionais).

Dentro desse contexto aumenta a importância dos controles internos para

garantir bons resultados.

O controle interno é um processo levado a efeito pela alta

administração e demais níveis hierárquicos. Não é apenas um procedimento ou

uma política executada de tempos em tempos, mas deve funcionar

continuamente em todos os níveis dentro de uma empresa. A administração é

responsável pelo estabelecimento de cultura que facilite o processo de

controles internos e pelo monitoramento constante de sua eficiência.

Entretanto, cada pessoa dentro da organização deve participar do processo.

O COSO (The Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway

Commission) apresenta a seguinte definição para controle interno:

“Controle interno é um processo desenvolvido para

garantir, com razoável certeza, que sejam atingidos os

objetivos da empresa, nas seguintes categorias:

- eficiência e efetividade operacional (objetivos de

desempenho ou estratégia) – esta categoria está

relacionada com os objetivos básicos da entidade,

inclusive com os objetivos e metas de desempenho e

rentabilidade, bem como da segurança e qualidade dos

ativos;

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- confiança nos registros contábeis e financeiros (objetivos

de informação) – todas as transações devem ser

registradas, todos os registros devem refletir transações

reais, consignados pelos valores e enquadramentos

corretos;

- conformidade (objetivos de conformidade) - com leis e

normativos aplicáveis à entidade e sua área de atuação”.

2.1 - Conceito de Controles Internos

Em 1985, foi criada, nos Estados Unidos, a National Commission on

Fraudulent Financial Reporting (Comissão Nacional sobre Fraudes em

Relatórios Financeiros), uma iniciativa independente, para estudar as causas

da ocorrência de fraudes em relatórios financeiros e contábeis. Essa comissão

era composta por representantes das principais associações de classe de

profissionais ligados a área financeira. Seu primeiro objeto de estudo foram os

controles internos. Em 1992, a Comissão publicou o trabalho Internal Control –

Integrated Framework (Controles Internos – Um Modelo Integrado). Essa

publicação tornou-se referência mundial para o estudo e aplicação dos

controles.

Posteriormente, a Comissão transformou-se em Comitê, que passou a

ser conhecido como COSO – The Committee of Sponsoring Organizations of

the Treadway Commission (Comitê das Organizações Patrocinadoras). O

COSO é uma entidade sem fins lucrativos, dedicada à melhoria dos relatórios

financeiros por meio da ética, efetividade dos controles internos e governança

corporativa.

Os controles internos auxiliam a entidade na consecução de seus

objetivos, mas não garantem que eles serão atingidos. Suas limitações podem

ser assim resumidas:

- custo/benefício – todo controle tem um custo, que deve ser inferior à

perda decorrente da consumação do risco controlado;

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- conluio entre empregados – da mesma maneira que as pessoas são

responsáveis pelos controles, essas pessoas podem valer-se de seus

conhecimentos e competências para burlar os controles, com objetivos ilícitos;

- eventos externos – eventos externos estão além do controle de

qualquer organização.

Podemos salientar os seguintes aspectos dos controles internos:

- O controle interno é um processo que existe como um meio para

atingir um fim, que são os objetivos da empresa. Dessa forma, não é e não

pode ser um fim em si mesmo;

- O controle interno é atribuição de todas as pessoas, de todos os

níveis e de todos os órgãos ou unidades da empresa;

- O controle interno é fundamental para que uma empresa atinja seus

objetivos. Os objetivos são fixados para atender às exigências de seus

stakeholders. O controle interno é realizado para que todos os processos,

atividades, operações e transações permaneçam sempre focalizados nos

objetivos. Evita, dessa forma, que haja desvios em relação a esse foco, os

quais quando detectados devem ser prontamente corrigidos;

- O controle interno reduz os riscos de perdas e procura manter os

ativos da empresa num patamar apropriado de capacidade produtiva e de

liquidez;

- O controle interno deve cuidar para que as demonstrações financeiras

sejam confiáveis e preparadas em conformidade com as normas contábeis

geralmente aceitas.

2.2 – Componentes do Controle Interno

Segundo estudo do COSO, publicado em 1992, o processo de controle

interno consiste de cinco componentes inter-relacionados. Esses componentes

dependem da forma como a governança deseja que a organização seja

controlada e como os executivos principais a administram:

- Ambiente de controle: é a fundação, a base, o pilar do controle

interno. Sem o ambiente de controle, os outros componentes não terão

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sustentação e entrarão em colapso como uma casa sem alicerces. É o

Conselho de Administração, em seu trabalho de governança corporativa e

como representante dos acionistas, que estabelece as diretrizes em relação

aos riscos, determinando como os controles devem ser estabelecidos,

implantados, limitados e cumpridos na organização;

- Avaliação de riscos: o estabelecimento de um sistema de controles

internos efetivo requer que sejam identificados e continuamente avaliados os

riscos que são relevantes e que podem impedir ou afetar negativamente o

cumprimento dos objetivos da organização. Essa avaliação deve compreender

todos os riscos que cercam a empresa, que são, por exemplo: mercado,

liquidez, crédito e operacionais;

- Atividades de controle: podem ser de duas naturezas: prevenção ou

detecção. A partir da estruturação de objetivos e responsabilidades efetuados

pela governança e pelos executivos da empresa, cabe aos órgãos de controle:

- verificar o cumprimento dos objetivos da gestão, e as respectivas atividades

de controle para cada processo, departamento ou divisão; - realizar controle

físico (inventário) sobre todos os ativos de propriedade da empresa, bem como

a verificação do seu estado de conservação e liquidez (no caso de títulos e

valores); - fazer o acompanhamento e compliance em relação às leis,

regulamentos e normas, internas e externas, bem como procedimentos de

verificação passo a passo dos casos de noncompliance; - verificações e

reconciliações em todo o sistema de pagamentos e/ou recebimentos;

- Informação e comunicação: o processo de comunicação pode ser

formal ou informal. O processo formal acontece por meio dos sistemas internos

de comunicação, que podem variar de complexos sistemas computacionais a

simples reuniões de equipes de trabalho. O processo informal ocorre em

conversas e encontros com clientes, fornecedores, autoridades e empregados,

é importante para obtenção das informações necessárias a identificação de

riscos e oportunidades. As comunicações sempre devem ser confiáveis,

tempestivas, acessíveis e consistentes, quer sejam internas, entre as pessoas

e os diferentes níveis da organização, quer sejam externas. Os controles

internos devem verificar especialmente a qualidade das comunicações

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externas para os participantes mais relevantes da empresa, os acionistas, os

clientes e autoridades fiscalizadoras;

- Monitoramento: o monitoramento é a contínua verificação da

validade e da eficiência de cada categoria do controle interno e também de

todo o processo, em relação aos objetivos da organização. Como as atividades

de controle são diferentes, em função de cada objetivo, de cada área e de cada

nível da organização em que são praticadas, o monitoramento deve partir de

uma perfeita compreensão do significado de cada objetivo e das atribuições de

cada área em relação a tal objetivo.

2.3 – Controles Internos e Governança Corporativa

Por delegação e autorização do Conselho de Administração, os órgãos

de controle interno, são os encarregados de implantar e manter os controles

necessários para que haja garantia razoável de que os executivos irão cumprir

os objetivos da organização e que serão evitados ao máximo os desvios e

perdas de ativos, que podem ocorrer por imprevisão, incompetência ou má-fé.

Os órgãos de controle interno estão subordinados à governança

corporativa, mas devem ser independentes dos executivos. São representados,

por exemplo, pela Controladoria/Contabilidade, Auditora Interna, Controle

Interno de Riscos, Controle de Compliance, etc. Os controles internos

constituem o grande alicerce e o instrumento principal da governança

corporativa , já que, sem eles, o Conselho não poderia acompanhar ou

controlar o dia-a-dia da gestão dos recursos da organização e tomar medidas

necessárias para a sua correção.

Um sistema de controles internos eficaz, aliado à ação da auditoria

externa, poderá garantir que a empresa vá além do simples cumprimento de

normas e do atendimento a exigências dos órgãos reguladores. Permitirá à

organização uma gestão fundamentada em princípios éticos e em uma

governança corporativa consistente.

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No capítulo seguinte veremos alguns exemplos de empresas que se

beneficiaram da estrutura de Governança Corporativa e obtiveram melhores

resultados operacionais e reconhecimento pelo mercado através da valorização

de suas ações.

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CAPÍTULO III

ESTUDOS DE CASO DE BOA GOVERNANÇA

CORPORTIVA

Descreveremos as experiências de um conjunto de empresas que

estão à frente das iniciativas de reforma e melhoria das práticas de governança

corporativa no continente. Os casos apresentados foram preparados com o

suporte direto dos membros fundadores do Círculo de Companhias da Mesa-

Redonda Latino-Americana de Governança Corporativa, e refletem a visão da

Direção Executiva e do Conselho de Administração de cada uma delas quanto

às motivações, desafios, soluções e recompensas associadas à concepção e

implementação de normas e práticas aprimoradas de governança.

3.1 – Natura

A Natura é a líder brasileira no setor de cosméticos, perfumaria e

produtos de higiene pessoal. Seu compromisso com a qualidade de seus

relacionamentos com as partes interessadas permitiu que a Natura

estabelecesse um modelo de desenvolvimento sustentável em negócios,

enfocado na constante inovação e melhoria de seus produtos.

Desde sua fundação em 1969, a Natura tem mantido uma visão

apaixonada de seus produtos. A empresa enxerga no aprendizado sobre

cosméticos uma maneira de se adquirir autoconhecimento, com poder

transformador na vida das pessoas.

Dez anos mais tarde, a empresa fez uma opção por vender seus

produtos diretamente a seus clientes – uma estratégia que provou ser uma das

principais razões de seu continuado sucesso. A empresa cresceu

consistentemente durante os anos 80, e então passou por um amplo processo

de reestruturação.

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Em meados dos anos 90, a Natura se lançou no mercado externo,

abrindo centros de distribuição em países vizinhos como a Argentina, o Chile e

o Peru.

O assim chamado terceiro ciclo da empresa iniciou-se no ano 2000. A

Natura passou a receber enormes investimentos em infra-estrutura e

treinamento. Construiu-se um enorme complexo de instalações industriais,

escritórios, P&D e centro de lazer. A empresa lançou também a sua linha Ekos,

um novo conceito em produtos gerados a partir da flora e da biodiversidade da

Região Amazônica, exploradas de modo sustentável.

A Natura descreveu uma história substantiva em sua trajetória rumo à

adoção de boas práticas de governança. Desde o começo, seus três

comandantes enfocaram seus esforços na perpetuação da empresa. Eles

decidiram implementar ações que aumentassem a credibilidade da empresa no

mercado, alavancando seu desempenho por meio de um gerenciamento

desafiante e, acima de tudo, construindo um ambiente corporativo democrático

e participativo.

Quando a Natura finalmente decidiu abrir o seu capital, a empresa já

havia percorrido um longo caminho no sentido da implementação de boas

práticas, e tinha montado uma plataforma de governança muito bem

estruturada. Seus balanços financeiros eram preparados de acordo com as

normas internacionais, seu Conselho de Administração incluía membros

externos, com o Comitê de Auditoria sendo presidido também por um

conselheiro externo, e um departamento de relações com os investidores fora

estabelecido.

Ao decidir em qual mercado deveria registrar suas ações, a escolha da

Natura foi clara: ela optou por aderir voluntariamente aos requisitos de listagem

do Novo Mercado, que é o segmento especial de governança corporativa mais

exigente da BOVESPA.

As ações da Natura foram lançadas no Novo Mercado em maio de

2004 – uma época difícil para a economia brasileira e para os mercados

globais. O índice BOVESPA havia caído 14% em dólares, e mesmo o índice

Dow Jones recuara 3%. Mas o mercado demonstrou que podia reconhecer

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valor em uma empresa sólida que contava com boa governança e que,

portanto, implicava em menos risco para os investidores.

A IPO da Natura foi um sucesso , atraindo cerca de 5.000 investidores,

e a demanda por ação foi de 14 vezes o número ofertado. Tal demanda ajudou

a elevar o preço das ações no aftermarket, resultando em ganhos de 18% logo

no primeiro dia.

O compromisso da Natura com seus investidores, suas confiáveis

práticas de governança, e sua profunda preocupação com o desenvolvimento

sustentável de seus processos, tudo isso levou a extraordinários resultados

operacionais. Suas vendas cresceram 33% em 2004, atingindo R$ 2,5 bilhões,

e levando a um crescimento de 117% ao longo dos três anos seguintes. Suas

operações no restante da América Latina também evoluíram consistentemente,

apresentando um crescimento, em dólares, de 52% para o ano de 2004 e de

107% ao longo dos três anos seguintes.

A Natura chegou ao final de 2004 com um EBITDA de R$ 431,7

milhões, 46% maior que em 2003. A geração bruta de caixa atingiu R$ 385,6

milhões, o que estava 60,6% acima do número correspondente de 2003. Só em

abril de 2005, as ações da Natura subiram 115% em contraste com uma

elevação de 31% no índice BOVESPA durante o mesmo período.

3.2 – Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR)

Nos anos 70, as empresas do setor de construção no Brasil formavam

consórcios (constituídos em sociedade ou não) para executar gigantescos

projetos de infra-estrutura, geração de eletricidade e transporte. Assim, era

natural que consórcios fossem criados também quando o setor público se

mostrou ineficaz na manutenção da enorme malha rodoviária brasileira.

Operações de pedágio em estradas foram oferecidas ao setor privado, através

de um programa de concessão anunciado em 1993, e que foi efetivamente

implementado em 1994.

Embora a CCR – uma holding controladora – reunisse importantes

grupos econômicos, estes sabiam que sua própria capacidade de investimento

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não seria suficiente para reformar e expandir o sistema rodoviário nacional.

Mas como poderiam os investidores ter confiança de que os gestores e

controladores da empresa se voltariam para a criação de valor para todos os

acionistas, distribuindo os lucros de maneira justa?

Com esta pergunta em mente, os acionistas fundadores contrataram a

firma de consultoria de gestão McKinsey, em 1998. Os consultores ajudaram a

CCR a projetar uma estrutura de participação acionária voltada para a atração

de capital, juntamente com uma estrutura organizacional que desse suporte

aos planos de negócios do consórcio.

A nova estrutura assegurava que direção e os acionistas, trabalhariam

no sentido de criar valor ao negócio como investidores o fariam, combatendo a

percepção anterior do mercado, de como empreiteiros poderiam de outra forma

operar um negócio de concessão rodoviária. A fim de adquirir ainda mais

credibilidade, a CCR criou mecanismos para avaliar contratos entre partes

relacionadas, visando assegurar que quaisquer decisões seriam tomadas

apenas no interesse de todos os acionistas da CCR. Com isto estabelecido, o

cenário estaria pronto para que a CCR pudesse abrir seu capital.

Restava uma questão central para se conquistar a confiança do

mercado: como resolver o conflito entre os papéis simultâneos de construtores

e concessionários? A empresa desenvolveu mecanismos de proteção internos

para executar qualquer serviço envolvendo partes relacionadas. Todos os

contratos acima de R$ 1 milhão com as partes relacionadas, e quaisquer outros

firmados com terceiros e excedendo a R$ 2,7 milhões, teriam que ser

aprovados pelo Conselho de Administração. Além disso, qualquer contrato

acima de R$ 1 milhão firmado com uma parte relacionada teria que ser

precedido por uma avaliação independente, se assim solicitado por qualquer

conselheiro da empresa. Para o caso de ainda assim permanecerem dúvidas,

apesar de uma conclusa positiva por parte dos analistas independentes, uma

disposição foi estabelecida no sentido de que 25% do Conselho de

Administração poderia ainda vetar o contrato.

Antes de abrir seu capital, a CCR montou um modelo de governança

que iria dar suporte ao novo empreendimento. As responsabilidades do

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Conselho de Administração, dos Comitês e da Direção Executiva foram

revisadas e reestruturadas. Foi redigido um Manual de Governança

Corporativa, onde se delineava a dinâmica das relações entre os diversos

componentes da organização. O Conselho seria composto de nove membros –

oito dos quais nomeados em números iguais pelos quatro acionistas

controladores, e um sem vínculos com qualquer dos acionistas ou diretores

executivos. Todos os conselheiros tinham mandatos de um ano, com

possibilidade de reeleição.

O Conselho de Administração conta com o apoio de seis comitês: de

Auditoria; Estratégia; Finanças; Governança; Novos Negócios; e Recursos

Humanos. A CCR foi a primeira empresa no país a estabelecer um Comitê de

Governança Corporativa. Este Comitê propõe o modelo operacional do

Conselho, a agenda, o fluxo de informações com os acionistas, executivos e

outras partes interessadas, além de definir o sistema de avaliação do

Conselho. O Comitê também reavalia periodicamente o próprio sistema de

governança.

Para completar o desenho de sua estrutura de capital, a CCR tomou a

decisão de lançar ações no mercado. Ela foi a primeira empresa a aderir

voluntariamente às exigências para listagem no Novo Mercado, o segmento

especial de governança corporativa da BOVESPA. No Novo Mercado, as

empresas concordam em adotar práticas de governança que vão além

daquelas estabelecidas pelas regulamentações brasileiras, oferecendo assim

maior transparência e fortalecendo os direitos e salvaguardas dos acionistas

minoritários.

Quando de sua IPO (Initial Public Offering – Oferta Pública Inicial) de

fevereiro de 2002, o preço das ações da CCR estava cotado a R$ 18,00, dando

à empresa uma capitalização inicial de mercado de R$ 1,5 bilhão. Em

dezembro de 2004, o preço das ações havia alcançado R$ 58,10, com uma

capitalização de mercado de R$ 5,8 bilhões. Assim o mercado pagou à CCR

um substancial prêmio por suas políticas de transparência e direitos iguais para

todos os acionistas.

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A CCR continua a aprimorar seu modelo de governança e a criar valor

para todos os acionistas. Os resultados dessa iniciativa d boa governança

mostram um indiscutível caso de sucesso: a CCR é a maior concessionária de

estradas de pedágio no Brasil. Operando seis rodovias, seus negócios cobrem

15% da malha rodoviária brasileira, ou aproximadamente 1.452 quilômetros de

estradas, e respondem por mais de 41% da receita total auferida pelo setor no

país.

3.3 – NET

Operando em quarenta e quatro grandes cidades do país, incluindo Rio

de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Brasília e contando com

uma base de assinantes que totaliza 1,4 milhão de clientes, a rede de TV a

cabo NET se estende por mais de 35.000 quilômetros, atendendo cerca de 6,5

milhões de lares.

A estratégia da NET se baseia na melhoria contínua do padrão de

satisfação de seus clientes e da gestão de sua estrutura de capital. Sua ênfase

recai sobre altos padrões de governança corporativa, com foco na liderança do

setor de TV paga, conseguida através de consolidação e crescimento orgânico.

A necessidade de encontrar capital externo para financiar a construção

de sua infra-estrutura em meados dos anos 90 forneceu ímpeto inicial para que

a NET adotasse boas práticas de governança. À época, a empresa lançou suas

ações tanto no mercado de valores nacional quanto no dos Estados Unidos, e

assumiu débitos de longo prazo no mercado internacional de títulos.

Em 1993 e 1994, dois novos parceiros de investimentos, a Globopar e

a Ralph Partners II, uniram-se ao sócio original, o Sr. Antonio Dias Leite. Por

volta de 1996, cada um destes sócios detinha 33,3% das ações com direito a

voto da empresa. Em 1999, o BNDES e a BRADESPAR adquiriram

participações significativas na empresa, sendo por isso incluídos no grupo

controlador. O fato de que o BNDES e a BRADESPAR haviam assumido,

respectivamente, posições de aproximadamente 14% e 8% das ações com

direito a voto constituiu-se em um item importante nas discussões entre

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acionistas e entre os acionistas e a direção. Ambos investidores financeiros

declararam que, como condição para continuarem investindo no negócio, seria

de importância crucial que se estabelecesse uma estrutura claramente definida

de governança corporativa.

À medida em que o negócio amadurecia, e em que crescia a

necessidade de se atrair investidores adicionais, com know-how em

telecomunicações, foi-se tornando claro que os avanços que haviam sido

obtidos na governança corporativa também conferiam à empresa uma

vantagem competitiva adicional na busca por tais investidores/parceiros

técnicos. Ao iniciar essa busca, a NET já era uma empresa aberta com ações

negociadas na BOVESPA, na NADASQ e na LATIBEX, e havia se qualificado

para classificação no Nível 2 da BOVESPA. Ela atingiria níveis de

transparência internacionalmente competitivos, e havia concedido 100% de

tag-along rights (um instrumento que promove a extensão do prêmio de

controle aos acionistas minoritários) a todos os acionistas em caso de mudança

de controle acionário.

Depois de conversar com alguns investidores potenciais, a GLOBO

acabou por fechar acordo com a TELMEX, que tornou-se acionista da empresa

em março de 2005. Visto que a TELMEX passara a ter substancial participação

na empresa, o BNDES e a BRADESPAR deixaram o grupo controlador. Alguns

meses mais tarde, a BRADESPAR vendeu sua posição. O BNDES continua

sendo acionista da empresa – de fato o maior acionista fora do grupo que a

controla – e cuida dos interesses dos acionistas minoritários no Conselho

Administrativo e no Conselho Fiscal.

Em 2002, nova atividade de levantamento de capital desencadeou uma

segunda onda de novas medidas de governança corporativa, levando a

empresa a ingressar no Nível 2 da BOVESPA. A NET tornou-se então uma

pioneira na aplicação de transparência em seus relacionamentos com os

mercados de capital. Como conseqüência disso, os investidores financeiros

conseguiram poder de veto sobre certas decisões de importância central. Além

disso, 100% de tag-along rights foram estendidos a todos os acionistas,

juntamente com os outros requisitos para inclusão entre as ações listadas no

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Novo Mercado. Acresceu-se a isso o fato da NET ter elevado para quase 50%

sua parcela de ações disponíveis para compra por investidores ou público em

geral (free-float shares).

Um ano mais tarde, um Comitê de Divulgação foi estabelecido para

tomar decisões sobre questões relativas a divulgação de informações de

relevância financeira.

Em 2005 foi constituído um Conselho Fiscal, com poderes para

desempenhar funções de Comitê de Auditoria e assegurar conformidade com

os requisitos da Sarbanes-Oxley. Seus três membros desfrutam de total

independência, tendo sido contratados no mercado. Um deles foi eleito pelos

acionistas minoritários.

É sempre difícil se determinar com algum grau de certeza o que

impulsiona o valor de uma empresa no mercado acionário. No entanto, é difícil

evitar a conclusão de que, se a NET não tivesse implementado normas mais

avançadas de governança corporativa, o preço de suas ações e seu valor geral

de mercado não teriam se tornado tão expressivos.

Em Junho de 2005, o valor de mercado da NET atingiu R$ 2,5 bilhões,

com US$ 90 milhões de EBITDA. No primeiro semestre de 2005, a empresa

registrou uma margem de 30%. A NET aprimorou sua estrutura de capital, e

agora conta com uma sólida base financeira para buscar novas oportunidades

de crescimento. O mercado tem reconhecido essas melhorias.

A NET acredita que os próximos passos na melhoria de sua

governança corporativa serão ditados pelo mercado. Os acionistas da NET já

demonstraram claramente seu compromisso com a boa governança, e

certamente irão apoiar os esforços da NET em se manter à frente nesse

quesito.

A seguir abordaremos exemplos de empresas que não aplicaram os

bons conceitos de Governança Corporativa e seu impacto para os acionistas e

demais interessados. Veremos que não adianta a existência de rígidas regras

de fiscalização e controle contábil se não existir ética profissional por parte dos

executivos das empresas. Se as pessoas carecem de ética,é difícil que

qualquer norma possa ajudar.

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CAPÍTULO IV

ESTUDOS DE CASO DE MÁ GOVERNANÇA

CORPORATIVA

Existe uma crise internacional de confiança, devido a uma série de

escândalos, surgidos nos Estados Unidos com Enron, Artur Andersen e

também em outros países. Esses escândalos mostram a importância da

qualidade da informação, ela se reflete nos balanços, pois os demonstrativos

têm que espelhar a realidade; se isso não acontece, é porque existe a má

alocação dos recursos, manipulação de dados na contabilidade e, com isso, a

distorção de informações. Essas lições que surgem dos escândalos mostram

que os incentivos são importantes, as forças do mercado funcionam, mas, se

tiverem incentivos errados ou distorções, essas forças do mercado podem levar

não a criação de riqueza, mas a dificuldades no desempenho econômico.

Reproduziremos a seguir artigos de revistas especializadas em

economia que descrevem situações de empresas que não exerceram uma boa

Governança Corporativa.

4.1 – Escândalo da Agrenco

Revista Isto É Dinheiro, nº 56, por Milton Gamez

Ação é um investimento de risco. Nada como um grande escândalo

corporativo para lembrar as pessoas deste princípio básico de investimento. O

caso Agrenco, que ganhou as páginas policiais e de investimentos da imprensa

na semana passada, já nasce como um clássico do mercado de capitais

brasileiro. Ficará na memória de investidores, analistas, reguladores,

banqueiros e empresários que se animaram com a onda das aberturas de

capital e de IPOs (ofertas públicas iniciais) que inundou a Bolsa de Valores

neste início de século. As 799 pessoas físicas, os seis clubes de investimento,

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os 18 fundos e os 78 investidores estrangeiros que aplicaram a maior parte dos

R$ 666 milhões captados pela Agrenco em outubro de 2007 não podiam

imaginar o que estava por vir. E quem poderia? Somente oito meses depois de

estrear na Bolsa, a multinacional brasileira do agronegócio entrou em

dificuldades financeiras, seus principais acionistas e executivos foram presos e

suas ações viraram pó, perdendo 88% de seu valor.

Os sócios Antonio Augusto Pires Júnior e Antonio Lafelice – que

também presidia o Conselho de Administração – e o diretor de relacionamento

institucional, Francisco Carlos Ramos, foram presos na Operação Influenza. A

Polícia Federal suspeita de desvio de dinheiro da empresa, fraudes de

balanços, sonegação fiscal e outros crimes. Dentre eles, a simulação de

negócios com produtores de soja para possibilitar a lavagem de dinheiro. Se

foram comprovadas as acusações, o debate sobre governança corporativa, a

segurança dos investidores e o papel das entidades reguladoras e auto-

reguladoras será muito mais interessante daqui para a frente. Muitos dos

personagens envolvidos com a Agrenco são ícones do mercado de capitais e a

maneira como vão sair dessa encrenca poderá trazer lições importantes para o

futuro.

Várias grifes podem sair chamuscadas do episódio – ou não. Tudo vai

depender das diligências policiais e das investigações do xerife do mercado, a

Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Com sede na Holanda, a Agrenco tem

três experientes conselheiros independentes: José Guimarães Monforte, ex-

presidente do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC); Cássio

Casseb, ex-presidente do Banco do Brasil e do Pão de Açúcar, e o consultor

James Wright. A empresa de Monforte, a Pragma Patrimônio, atuou como

“assessor contratado” da distribuição pública dos Brazilian Depositary Receipts

(BDRs), recibos de ações utilizados para a entrada na Bovespa. O banco

Credit Suisse foi o principal coordenador da operação no Brasil, junto com o

Banco Real ABN Amro. Os escritórios Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. E

Quiroga Advogados e Machado, Meyer, Sandacz e Opice Advogados também

atuaram. E a KPMG foi a responsável pela auditoria dos balanços. Até que

ponto esses personagens poderiam ter detectado os problemas que teriam

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ocorrido na Agrenco e levaram os demais acionistas a perder quase todo o

dinheiro investido?

Os três executivos mais graduados renunciaram aos seus cargos na

empresa, que está sendo comandada por uma espécie de comitê de crise. Ao

que tudo indica, os conselheiros independentes tomaram as rédeas da situação

e usam suas reputações para salvar a Agrenco do pior: a asfixia econômica.

Monforte, Casseb e Wright tornaram-se co-presidentes do Conselho de

Administração e a primeira medida de impacto que conseguiram produzir foi a

venda da Agrenco para o grupo Louis Dreyfus Commodities, um dos líderes

mundiais do agronegócio.

Defensor da transparência das organizações, Monforte terá muitas

explicações para dar nos próximos meses. A Agrenco ignorava princípios

básicos de governança corporativa que ele tanto defendeu à frente do IBGC: o

presidente executivo, Lafelice, também era presidente do Conselho de

Administração da Agrenco e não havia um Conselho Fiscal.

O fato concreto é que os investidores têm um dilema pela frente: nas

próximas emissões de ações de empresas pouco conhecidas, como separa o

joio do trigo? Como saber os verdadeiros riscos das operações? A Agrenco

tem código de ética, surgiu com o respaldo de grifes do mercado de capitais e,

mesmo assim, enterrou o dinheiro de seus acionistas. “Por melhor que seja a

governança, é difícil prever esses tipos de problema”, diz João Pinheiro

Nogueira Batista, vice-presidente do conselho de administração do IBGC. Os

conselheiros, embora tenham acesso aos documentos que solicitarem, não

costumam conhecer os detalhes operacionais das companhias. “Se alguém

está para o mal, é difícil pegar antes que o mal aconteça”, diz Álvaro Bandeira,

presidente da Apimec, que reúne os analistas de investimentos. O negócio é

sempre ter em mente que a Bolsa é um ambiente arriscado, em vários

sentidos. Ninguém pode reclamar de falta de alertas. O prospecto da Agrenco

trazia 135 vezes as palavras “risco” e “riscos”. “Investir em nossas ações e

BDRs envolve riscos significativos”, escreveram os executivos da empresa.

Inclusive de “perda total”. Dito e feito.

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4.2 – Sadia e Aracruz

Revista Exame/especial, por Guilherme Fogaça, 30.10.2008

Nos últimos quatro anos, o país ingressou num novo nível de

capitalismo com uma corrida sem precedentes à bolsa de valores. A cada nova

oferta de ações, não faltavam interessados em trocar suas economias por

participações nas estreantes do mercado. Abriu-se assim, pela primeira vez no

Brasil, uma via expressa para que dezenas de empresas financiassem seus

projetos com recursos de pequenos investidores. Agora, depois de um período

em que essa união parecia perfeita, os dois lados – investidores e empresas –

tomaram seu primeiro choque. A atual crise financeira mundial trouxe

desvalorização das ações e efeitos colaterais, como os prejuízos das empresas

Sadia e Aracruz com contratos especulativos de câmbio futuro – movimento

que está colocando à prova as regras desse relacionamento. Com o susto, os

investidores passaram a acompanhar os passos das companhias abertas mais

de e a exigir mais transparência de quem pisasse em falso. “Há investidores

destrinchando os números das empresas com lupa para verificar o efeito que a

conjuntura adversa pode ter nos resultados”, diz Eliane Lustosa, conselheira do

Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Com a pressão de

sócios mais participativos, as empresas são empurradas a melhorar seu canal

de comunicação com os investidores e a elevar o nível de governança.

As companhias que estão vivendo de forma mais intensa essa

cobrança dos investidores são a Sadia e a Aracruz. Em setembro, ambas

anunciaram prejuízos milionários por apostar alto em operações de derivativos

cambiais. No caso da Sadia, as perdas somaram 760 milhões de reais. No da

Aracruz, a estimativa é de 2,2 bilhões de reais. Poucos dias depois de tornar

público o rombo, a Sadia recebeu uma exigência atípica: o fundo de pensão

dos funcionários do Banco do Brasil (PREVI), que tem 7,3% de participação no

capital da empresa, solicitou a convocação de uma assembléia extraordinária

para esclarecer os detalhes que levaram ao prejuízo. O objetivo da Previ é

decidir se os responsáveis serão processados judicialmente. “Pedimos a

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contratação de uma auditoria externa para avaliar os acontecimentos”, diz

Joilson Ferreira, diretor de participações da Previ. Alguns acionistas individuais,

com pequenas participações nas empresas, também decidiram agir. É o caso

do investidor Alexandre Dantas Fronzaglia, dono de 20.000 ações da Aracruz e

de 14.000 da Sadia – menos de 1% de participação no capital total de cada

uma delas. No início de outubro, Fronzaglia encaminhou um processo à

Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que regulamenta o mercado de

capitais, para identificar os acionistas controladores das empresas e pedir

indenização. “Quando comprei as ações, não imaginava que as empresas

estivessem aplicando de maneira arriscada em derivativos”, diz. Assim como

ele, a tendência é que os acionistas queiram responsabilizar a empresa em si,

mas seus administradores e controladores. “Ao processarmos a empresa,

perderíamos duas vezes, pois os custos seriam pagos por uma companhia da

qual somos sócios”, afirma Fronzaglia.

O aprendizado pelo qual as companhias brasileiras estão passando é

semelhante ao que ocorreu nos Estados Unidos nos anos 90. Na época, as

empresas americanas também enfrentaram dificuldades por causa de

especulação com derivativos.

A resposta das empresas à crescente pressão do mercado vai além da

divulgação de números. As companhias diretamente envolvidas também

começam a corrigir falhas em sua estrutura de governança. No caso da Sadia,

o diretor financeiro passará a responder ao presidente da empresa, Gilberto

Tomazoni, e não ao presidente do Conselho de Administração, como acontecia

até a operação com derivativos vir à tona. A estrutura anterior era um resquício

do antigo modelo de gestão da companhia e era condenável segundo as boas

regras de governança. A alteração foi anunciada após a saída de Walter

Fontana Filho do comando do Conselho e a chegada de seu primo, o ex-

ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Luiz Fernando

Furlan.

Mesmo que o aprendizado esteja ocorrendo de maneira mais dura –

com insatisfação dos investidores e grandes prejuízos -, a crise ajudou as

empresas brasileiras a subir mais um degrau na escala da transparência. “A

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lição que fica é que nenhuma companhia está proibida de investir em nada,

desde que os riscos assumidos sejam devidamente comunicados aos

investidores”, diz o advogado Thomas Felsberg, do escritório Felsberg e

Associados.

Verificamos com esses maus exemplos de Governança que o

desejável para qualquer empresa é ter em mente atitudes éticas e

normalmente certas que vão ao encontro de todos os públicos; deve promover

valores e comportamentos morais que respeitem os padrões internacionais de

direitos humanos e a sociedade; deve respeitar o meio ambiente e contribuir de

maneira positiva para sua conservação; e também deve envolver-se nas

comunidades em que a empresa está inserida, de maneira a ajudar no

desenvolvimento econômico e humano das pessoas ou até mesmo atuando na

área social diretamente, em parcerias com governos, outras empresas ou

sozinha.

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CONCLUSÃO

É importante a estrutura da Governança Corporativa para o

crescimento da empresa. Ao procurar a eficiência e buscar o máximo retorno

sobre o capital em benefício dos acionistas, os seus responsáveis devem levar

em conta as dimensões: social, ambiental e ética de suas atividades.

A Governança Corporativa consiste no conjunto de regras,

procedimentos, atitudes e instituições que condicionam a ação dos

administradores no sentido de atender aos interesses dos financiadores e das

partes interessadas na empresa (stakeholders), particularmente os acionistas

(shareholders).

O conceito de Governança Corporativa se enquadra, em última análise,

em um objetivo maior: o de criar condições para uma organização mais

racional, ética e pluralista da economia e da sociedade como um todo.

O mercado é o melhor meio de determinar a alocação adequada de

recursos e orientar as ações dos agentes econômicos. O mercado não é,

contudo, um valor. Não pode funcionar sem balizamento ético ou em um vácuo

regulatório.

São necessárias garantias e que as mesmas condições de

concorrência se aplicam a todos esses agentes econômicos e de que todos os

agentes econômicos seguem padrões de comportamento capazes de

assegurar um desenvolvimento econômico e social sustentável. São

igualmente necessários mecanismos distributivos, que assegurem que os

benefícios do crescimento e desenvolvimento econômicos se façam sentir em

todas as camadas da sociedade. Em outras palavras: transparência, equidade,

sustentabilidade.

Essa organização mais ética do espaço econômico decorre da

percepção de que padrões de comportamento meramente oportunistas

terminam por ser insustentáveis. É o caso, por exemplo, do suborno e da

corrupção de agentes econômicos para obtenção ou renovação de contratos, a

concessão de licitações ou outras vantagens indevidas. O eventual ganho

material imediato para uma empresa que suborna é mais do que compensado,

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negativamente, se a prática se generaliza com o efeito adverso sobre a

alocação eficiente de recursos, decorrente da distorção da livre concorrência

provocada pelo alto suborno.

Dito de outra forma: procura-se que o comportamento correto seja não

apenas aquele que se segue por considerações morais e jurídicas, mas

também por ser o mais racional em sociedades abertas e competitivas.

Uma organização mais racional, ética e pluralista da economia e

sociedade tem o nome de Governança Corporativa.

A Governança Corporativa cria oportunidades, mas também apresenta

desafios, sobretudo num mundo que, embora mais próximo de um consenso

sobre as formas eficazes de organização social e econômica, se depara com o

fenômeno inédito da globalização.

A globalização dos padrões de consumo e produção obriga os

governos a reconsiderarem suas políticas: a comercial e a de investimento.

Aproxima, cada vez mais, realidades econômicas e culturas empresariais

distintas e sociedades com valores e prioridades diferentes. Esse fenômeno

tem gerado dois tipos de preocupação, distintos, porém complementares.

O Brasil está como grande país emergente, no centro do debate. Os

conceitos de governança, meio-ambiente, sustentabilidade, de

responsabilidade social das empresas, de cidadania empresarial começam a

se enraizar entre nós, mas ainda falta um esforço concentrado para melhor

difundi-los e adaptá-los, na medida do necessário, às condições próprias do

Brasil.

Para as empresas brasileiras, os princípios de governança corporativa

e de responsabilidade social das empresas apresentam um grande desafio.

Não é mais suficiente publicar um balanço favorável no fim do ano, maximizar

os lucros dos acionistas majoritários e distribuir dividendos.

Hoje é necessário assegurar a atualização tecnológica, a

competitividade global e o respeito a regras de governança corporativa,

sobretudo a regra de responsabilidade (accountability) com relação aos

acionistas minoritários. É igualmente necessário garantir a divulgação

adequada de toda informação relevante, inclusive dos honorários da diretoria,

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assim como da composição do Conselho de Administração e da relação da

empresa com as demais partes interessadas (stakeholders). Notícias sobre

fraudes e conflitos de interesse vindos dos Estados Unidos, assim como outras

histórias de fraudes contábeis e de favorecimento pelos que deveriam cultivar

sua reputação de isenção perante o público, originárias da Europa,

representam casos que ilustram problemas da ausência de governança

corporativa.

No Brasil, como em muitos outros países, o controle das empresas é

concentrado. Nisto não há novidade. Pesquisas recentes demonstram que os

cinco maiores acionistas detêm na média mais do que 85% do capital votante e

que a concentração se mostra elevada, seja na propriedade direta das ações

da companhia, seja na propriedade indireta por meio de uma estrutura de

empresa holding. Esta é também conhecida como estrutura de pirâmide, em

que várias holdings em sucessão possuem participações umas nas outras,

permitindo que o acionista no final da cadeia de controle da empresa de capital

aberto fique com menos votos do que seria necessário por lei.

A boa prática de governança corporativa requer que a gestão de riscos

seja realizada pelo administrador com base na propensão ao risco do

proprietário; o administrador deve prestar contas demonstrando, de forma

inequívoca, o alinhamento esperado de sua gestão às diretrizes estratégicas

explicitadas pelo proprietário, principalmente no que se refere à propensão ao

risco (accountability); o administrador deve demonstrar o desempenho obtido

de forma plenamente transparente, com o fornecimento de informações

relevantes, suficientes e tempestivas, durante o processo de prestação de

contas (disclosure).

As evidências comprovam a existência de uma forte inter-relação entre

bons padrões de governança corporativa e uma boa capacitação no

gerenciamento de riscos, pois essa gestão somente é possível com a

existência de controles internos adequados. Sua ausência compromete as

boas práticas de governança corporativa em dois pilares básicos: - o processo

de prestação de contas do administrador ao proprietário (accountability); - e o

grau de transparência (disclosure).

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O bom desempenho no processo de comunicação, com o fornecimento

de demonstrações contábeis adequadas e que mobiliza o conjunto de controles

internos contábeis, permite melhorar a classificação de risco da empresa no

mercado financeiro, diminui a incerteza de credores e futuros acionistas. O uso

de técnicas de risco possibilita ter as atividades controladas no ponto ótimo,

sem desperdícios de recursos em atividades super controladas, nem os riscos

imprevistos decorrentes de atividades sub-controladas. Nesse contexto, um

bom sistema de controles internos contribui para a perenidade da empresa

tanto por acarretar o incremento no valor da empresa quanto por facilitar o

acesso ao mercado de capitais.

O objetivo deste trabalho foi demonstrar se uma boa estrutura de

governança corporativa aliada aos controles internos por si só seriam

suficientes para o sucesso empresarial. Verificamos que existe uma relação

significativa entre governança corporativa, desempenho da empresa, valor das

ações de empresas que voluntariamente aderem as melhores práticas de

governança corporativa. Nos estudos de casos analisamos a importância de

uma boa governança corporativa para o desenvolvimento do mercado de

capitais e como as boas práticas de governança corporativa estão sendo

aplicadas pelas empresas com o intuito de gerar um maior valor para os

investidores, pois os direitos prestados aos acionistas e a qualidade das

informações prestadas reduzem as incertezas no processo de avaliação e

conseqüentemente em seu risco. Analisamos também que não basta apenas

adotar as boas práticas de governança corporativa é preciso saber usá-las e

seguir a risca todos os seus requisitos e exigências. Mesmo com inúmeras

práticas de governança adotadas pelas empresas, isto não inviabilizou as

manobras antiéticas praticadas pelos controladores.

Podemos concluir que a medida que as empresas com boas práticas

de governança corporativa forem tendo acesso a recursos a um custo menor e

os investidores tiverem consciência de que essas empresas possuem proteção

legal a acionistas minoritários, haverá uma constatação mais clara do impacto

positivo da governança corporativa aliada a um forte controle interno sobre o

desempenho das empresas e o valor de mercado das ações de empresas que

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estiverem listadas em um dos níveis diferenciados de governança da Bovespa,

principalmente o Novo Mercado.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Oliveira, C. – Avaliação das Boas Práticas de Governança no Brasil;

Andrade, Adriana e José Paschoal – Governança Corporativa:

fundamentos, desenvolvimento e tendências;

Carvalhal da Silva, André Luiz – Governança Corporativa e Decisões

Financeiras no Brasil;

da Silva , Edson Cordeiro– Governança Corporativa nas Empresas;

Alvares, Elismar, Giacometti Celso e Gusso Eduardo – Governança

Corporativa – Um modelo brasileiro;

Carvalhal da Silva, André Luis e Câmara Leal, Ricardo Pereira–

Governança Corporativa – Evidências Empíricas no Brasil;

Almeida, Marcelo Cavalcante. Auditoria: Um Curso Moderno e

Completo;

Catelli, Armando. Controladoria – uma abordagem da gestão econômica;

Sá, Carlos. “SOX: panorama dos trabalhos das empresas”. Apostila

apresentada na 8ª Conferência de Auditoria Interna, promovida pelo IBC;

Júnior, Sebastião Bergamini – Controles Internos como um Instrumento

de Governança Corporativa. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, V.2,

N.24, P.149-186, Dez 2005;

Filho, Antonio Reske, Jacques, Elizeu de Albuquerque e Marian, Paulo

David – O Controle Interno como Ferramenta para o Sucesso

Empresarial. Revista Eletrônica de Contabilidade, Volume I, N.3 Mar-Mai

2005;

Controles Internos e Compliance – Apostila da Universidade Corporativa

do Banco do Brasil do Programa de Certificação Interna em

Conhecimentos.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Governança Corporativa 09

1.1 - Origens da Boa Governança 09

1.1.1 – Evolução Histórica 11

1.2 - Governança no Mundo 14

1.3 - Principais modelos 16

1.4 - Governança no Brasil 16

CAPÍTULO II

Controles Internos 20

2.1 – Conceito de Controles Internos 21

2.2 – Componentes do Controle Interno 22

2.3 – Controles Internos e Governança Corporativa 24

CAPÍTULO III

Estudos de Caso de Boa Governança Corporativa 26

3.1 – Natura 26

3.2 – Companhia de Concessões Rodoviários (CCR) 28

3.3 – NET 31

CAPÍTULO IV

Estudos de Caso de Má Governança Corporativa 34

4.1 – Escândalo da Agrenco 34

4.2 – Sadia e Aracruz 37

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CONCLUSÃO 40

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45

ÍNDICE 46

FOLHA DE AVALIAÇÃO 48

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Instituto A Vez do Mestre

Título da Monografia: Governança Corporativa e Controles Internos se

traduzem em garantia de bons resultados empresariais?

Autor: Luís Carlos Barbosa

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Avaliado por: Conceito: