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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O REAPROVEITAMENTO DE ÁGUA EM EMPRESAS DE ÔNIBUS Por: Gisele Pereira Ramos Orientador Prof. Francisco Carrera Niterói 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O REAPROVEITAMENTO DE ÁGUA EM EMPRESAS DE ÔNIBUS

Por: Gisele Pereira Ramos

Orientador

Prof. Francisco Carrera

Niterói

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O REAPROVEITAMENTO DE ÁGUA EM EMPRESAS DE ÔNIBUS

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Gestão

Ambiental

Por: Gisele Pereira Ramos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus amigos e a todos

que me instruíram e apoiaram durante

a realização deste trabalho

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DEDICATÓRIA

Dedico a minha mãe Vera Maria

Fernandes Pereira e ao meu noivo

Jonathan de Oliveira Franco que sempre

estiveram presente incentivando em meu

desenvolvimento pessoal e profissional.

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RESUMO

Tendo em vista que a água é um recurso natural limitado e

imprescindível à vida, questões sobre a conservação e preservação dos

recursos hídricos vêm sendo cada vez mais destacadas na atualidade. As

técnicas de aproveitamento de água são soluções sustentáveis que contribuem

para uso racional da água, proporcionando a conservação dos recursos

hídricos para as futuras gerações.

O aumento contínuo da população mundial é responsável pela

crescente escassez de água natural, disposição inadequada de efluentes

líquidos, a heterogeneidade na distribuição de água e falta de cuidado na sua

utilização. Portanto, é urgente implementar o uso racional da água e a

preservação das fontes de água, abrangendo os mecanismos, tais como

políticas efetivas para os recursos hídricos e seu uso adequado adoção

obrigatória do uso da água adequada, o tratamento de esgoto doméstico e

industrial em particular, e as práticas de reutilização.

O reuso de água pode ser classificada de várias maneiras, como segue:

direta ou indireta, planejada ou não, ou potável ou não potável. O reuso

indireto ocorre geralmente em todo o mundo, onde as águas residuais de volta

a um ambiente aquático que serve como fonte de novos usos. A reutilização

direta abrange a recolha de tratamento de efluentes imediato, e depois

reutilizar o mesmo sistema de produção, onde foram coletadas. Isso pode

incluir, por exemplo, abastecimento industrial, irrigação, plantio ou recarga

nascente subterrâneas, mas somente após uma análise de viabilidade.

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A água da chuva coletada em telhados tem na indústria um enorme

potencial, visto que, em geral, a mesma possui grandes áreas de telhado e um

alto consumo de água.

A presente pesquisa consiste em avaliar a viabilidade de implantação de

infra-estruturas que possibilitem o aproveitamento da água da chuva para

lavagem de ônibus. Os resultados buscam subsidiar a implantação de projetos,

através da verificação de sua viabilidade econômica e valor ambiental,

evitando, assim, intervenções ineficientes.

Palavras chaves: Águas; reuso; lavagem de ônibus.

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METODOLOGIA

Foi feita uma pesquisa bibliográfica sobre a reutilização de água

proposto como uma solução para sua escassez e, mais especificamente, os

sistemas de reuso em empresas de ônibus. Foram pesquisados os estudos de

casos existentes é os sistemas de reúso e seus componentes e forma de

implantação. Leva, ao final, a conclusões e recomendações sobre o uso de tais

sistemas em geral e em lavagem de ônibus.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

1- A HISTÓRIA DOS RECURSOS HÍDRICOS 11

1.1 – Os Recursos Hídricos nos dias de hoje 16

2- A ESCASSEZ DO RECURSO HÍDRICO 19

2.1 – A Necessidade do Reuso 22 2.1.1 - Tipos de reusos. 23 2.2 – O que diz a legislação 24

3 – AS FORMAS DE REAPROVEITAMENTO DA ÁGUA 25

3.1 – Tratamento de águas de lavagem de ônibus via floculação-flotação. 28 3.1.1 – Materiais e Métodos 29

3.1.2 – Resultados e discussões. 30

3.2 – O reaproveitamento das águas pluviais. 31

3.2.1 – Critérios de qualidade da água para o reuso. 33

3.3 – Sistema de reaproveitamento da água da chuva. 35

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40

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INTRODUÇÃO

O ser humano não consegue viver longe da água que bebe e dos

resíduos que produz. Essa parece ser uma preocupação que acompanha as

civilizações desde as épocas mais remotas, embora, com o passar dos

tempos, a humanidade tenha aperfeiçoado muitas técnicas para coletar água e

afastar os detritos, o problema permanece até os dias de hoje.

Os povos primitivos utilizavam métodos simples para recolher as águas

das chuvas, dos rios e dos lagos, a sua fase nômade, em que mudava

constantemente de lugar, o homem deixava restos de alimentos e dejetos

acumulando-se dentro da própria habitação.

No século XX a população mundial triplicou, o que significa mais

fábricas, mais desperdício, mais irrigação nas lavouras, uma política capitalista

onde se consome mais que se necessita, etc. O consumo de água aumentou

cerca de seis vezes e mais de um bilhão de pessoas atualmente vivem sem

acesso a fontes de água de qualidade, de acordo com dados da ONU.

Segundo a mesma fonte, cerca de dois bilhões e meio de pessoas vivem sem

saneamento básico.

No Brasil, o uso dos recursos hídricos começa a ficar preocupante, falta

água na maioria das bacias do Nordeste, na Grande São Paulo, certas regiões

de Minas Gerais, Bahia e em algumas áreas do Rio Grande do Sul. Possuímos

16% de água doce do planeta, distribuída de modo irregular. Cerca de 68%

dos nossos recursos hídricos estão no Norte, onde tem menos gente; apenas

3% estão no Nordeste e 6% no Sudeste, onde a população é maior.

Para evitar a crise da água, é necessário, evitar desperdício, interromper

processos poluidores e criar novas maneiras de captação, controle e

distribuição da água.

A reutilização ou reuso de água ou ainda em outra forma de expressão,

o uso de águas residuarias, não é um conceito novo e tem sido praticado em

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todo o mundo há muitos anos e a demanda crescente por água tem feito do

reuso planejado da água um tema atual e de grande importância para o meio

ambiente.

À medida que a escassez hídrica cresce o reuso direto em larga escala

se torna cada vez mais urgente, requerendo, pois a conscientização de

população, empresas e indústrias. Há tempos legislações e sistemas de

gestão ambiental vêm sendo elaborados no mundo industrializado para

regulamentá-lo na presente conjuntura sócio-político, para o gerenciamento da

infra-estrutura urbana.

Esse trabalho de pesquisa tem o objetivo enfatizar a importância da

água nos dias atuais e mostrar os benefícios para o meio ambiente e as

empresas, ao implantar o reuso da água no processo de lavagem dos ônibus,

e na capitação da água da chuva.

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CAPÍTULO I

A HISTÓRIA DOS RECURSOS HIDRICOS

Notadamente é sabido que a humanidade passou em toda sua história

por duas grandes revoluções agrícola e industrial, a água esteve presente nas

duas, paradoxalmente ocasionando evolução por um lado e por outro,

conflitos, doenças e morte. O termo revolução é usado devido à mudança

radical que teve lugar nos hábitos e costumes dos humanos nos últimos

milênios.

Imaginem pequenos grupos de pessoas vivendo numa caverna, depois

noutra, ou ao relento, enquanto se moviam atrás dos animais que caçavam ou

dos vegetais que coletavam, nenhum tempo para pensar em algo mais do que

comida, vivendo exatamente como animais. A grande novidade foi fazer a

água trabalhar pelo homem, e aprender a controlar os rios implicava também

em controlar homens. A aprendizagem do trabalho coletivo para o bem comum

na agricultura foi o germinação da civilização (urbanização) humana.

O Homo sapiens surgiu há aproximadamente 50 mil anos atrás, durante

o último período de glaciação, que o motivou a habitar as zonas mais quentes

da Terra na época, que eram a bacia hidrográfica dos rios Tigre e Eufrates na

Mesopotâmia, os vales do rio Indu na Índia, o rio Amarelo na China e o Lago

Biwa no Japão.

Desde que começaram a interagir com o mundo ao seu redor, os seres

humanos desenvolveram uma sofisticada percepção e um profundo respeito

pela natureza, que diferentemente de hoje mais os afetava que era afetada por

eles. Todos precisavam saber quais frutos comer, onde encontrar água

durante a seca, como evitar animais selvagens, que árvores serviam para

construção, para um bom fogo ou bom remédio. O conhecimento ambiental,

passado de geração a geração até os dias de hoje, sempre foi necessário para

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a proteção contra os ataques da natureza e para o aproveitamento das suas

riquezas.

No decorrer dos séculos muito se trabalhou sobre a água como

coeficiente de higiene e conforto, como sendo produto das relações

estabelecidas entre a sociedade e o meio ambiente circundante. E a tendência

humana de transformar o meio natural em meio geográfico, isto é, um meio

moldado pela intervenção do homem, com o tempo sempre deixou o espaço

geográfico impregnado por sua passagem. Por isso, para compreender

determinada realidade espacial, interpretaremos a seguir alguns trechos da

história social mundial aliada à da sociedade local.

Até cerca de 10 mil anos atrás, o homem vivia em pequenos bandos e

dependia da caça e da coleta de alimentos para sobreviver, a falta de alimento

sempre foi fator limitante de seu desenvolvimento social, chegavam a se matar

para consegui-lo. Foi graças ao manejo da água realizado pela civilização

Suméria na Mesopotâmia, que a humanidade pôde ter excedentes de

alimentos e pela primeira vez, se reunir para planejar e executar obras

hidráulicas.

Há registros de poços escavados em 8 mil a.C. na Mesopotâmia, os

Sumérios desviaram o curso dos rios, plantaram em suas várzeas e

construíram barragens com canais de drenagem e sistemas de distribuição de

água para irrigação agrícola.

À medida que conseguiu domesticar diversas plantas e animais, criando

pastagens, rebanhos e lavouras, o homem criou excedentes de alimentos,

libertou-se da vida nômade e passou a viver em aldeias. Por volta de 4 mil a. C

na Mesopotâmia, fundaram a primeira cidade da humanidade, inventaram a

escrita, desenvolveram as leis, a arquitetura e criaram intensa atividade

política. Desde os primórdios das civilizações, a posse da água sempre

representou instrumento político de poder.

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Nessa época a administração geral das águas era tarefa maior das

autoridades públicas e questão militar em todas as principais cidades, mas

nunca teve solução. Com o passar do tempo, instalou-se um quadro de

conflitos pela administração da água e as cidades-estado (Ur, Uruk, Lagash e

Umma) guerreavam entre si, de modo que, próximo a 2.500 a.C. por não haver

unificação política na gestão ambiental da bacia hidrográfica, foram invadidos e

dominados por povos guerreiros.

Azevedo Netto (1959) destaca que, surgiram no mundo diversas obras

relacionadas ao saneamento. Na Babilônia já existiam sistemas de coleta de

esgotos nas cidades, na India por volta de 3.750 a.C. foram construídas

galerias de esgotos em Nippur e em 3.200 a.C. obras para o abastecimento e

drenagem de água no Vale do Indo.

No Japão a história do relacionamento do homem com o Lago Biwa, na

Província de Shiga, é apresentada através de exposições de ruínas

encontradas no fundo do lago, meios de transporte lacustre utilizados, meios

de pesca e uso e controle da água que remontam até a 20 mil anos atrás.

Conforme Azevedo Netto (1984), documentos em sânscrito datados de

2.000 a.C. aconselhavam o acondicionamento da água em vasos de cobre, à

sua exposição ao sol e filtragem através do carvão, ou ainda, pela imersão de

barra de ferro aquecida, bem como o uso de areia e cascalho para filtração da

água. Por volta de 1500 a.C., os egípcios já utilizavam a prática da decantação

para purificação da água.

Especialistas no assunto descrevem que no decorrer da história várias

civilizações entraram em decadência em função de desequilíbrios ambientais.

Supõem se que a civilização acadiana se extinguiu devido à seca do Tigre e do

Eufrates. Estudos revelam que épocas de anarquia e banditismo, com rupturas

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na sucessão política e substituição de faraós, coincidem com os períodos de

seca e as longas vazantes do Nilo.

Na América os Maias, os Astecas e os Incas provavelmente teriam

abandonado suas cidades, pela contaminação e poluição da água e do solo

provocados pela destruição da mata primitiva.

Quase sempre a primeira preocupação dos assentamentos humanos

era se localizar nas proximidades dos mananciais d'água, entretanto na

medida em que povoados transformavam-se em cidades, também as reservas

d'água tornavam-se, insuficientes e expostas à contaminação e poluição.

Os primeiros filósofos gregos freqüentemente chamados de “filósofos da

natureza”, diziam que “Filosofia é o fruto da capacidade humana de se admirar

com as coisas”, porque se interessavam pela natureza e pelos processos

naturais. Queriam saber como a água podia se transformar em peixes vivos, ou

como a terra sem vida, podia se transformar em árvores frondosas ou em

flores multicoloridas.

Desde Homero (700 a.C.), na tentativa de descobrir leis que fossem

eternas, filósofos deram os primeiros passos na direção de uma forma

científica de pensar; eram capazes de elaborar conceitos e idéias abstratas,

partindo apenas da observação de fenômenos naturais, como tempestades,

inundações, etc., sem ter que para isso recorrer aos mitos.

Thales de Mileto (625 - 548 a.C.). supostamente com os conhecimentos

adquiridos junto aos egípcios, descobriu que a Terra era redonda e que a água

fosse a origem de todas as coisas, observando como os campos inundados

ficavam fecundos, depois que as águas do Nilo retornavam ao seu delta.

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Por volta de 460 a.C., supõe-se que a ciência médica grega tenha sido

fundada, por Hipócrates pai da medicina que apesar de não conhecer o mundo

dos seres microscópicos “recomendava ferver e filtrar a água de beber”, sua

teoria dizia que o caminho para a saúde do homem está na moderação e num

modo de vida saudável “mente sã em corpo são”.

Precisamente nesta época, Sócrates (470 - 399 a.C.) andava pelas ruas

e praças conversando com os atenienses, espaço onde foi lançada a pedra

fundamental de toda a civilização européia e formulados palavras e conceitos

como: “política, democracia, economia, história, biologia, física, matemática,

lógica, teologia, filosofia, ética, psicologia, teoria, método, idéia e sistema”. Foi

Sócrates que relacionou a deficiência de iodo na água com o (bócio) aumento

da tireóide (hiper-tireoidismo).

Platão (426-348 a.C.) manteve contato e foi discípulo de Sócrates; muito

mais que um educador, elaborou sistema filosófico e um método de

investigação na Academia, que não era aberta para todos, mas, para aquele

que pelas qualificações da alma, detinha as condições de obtenção do

conhecimento. Assim como Sócrates, Platão acreditava na reencarnação, na

imortalidade da alma e afirmava que: "O ouro tem muito valor e pouca

utilidade, comparado à água, que é a coisa mais útil do mundo e não lhes dão

valor" (PLATÃO 426-348 a.C.)

O primeiro grande biólogo da Europa Aristóteles (384 - 322 a.C.), já

conhecia "bactérias gigantes" que formavam densas massas enoveladas

visíveis a olho nu; hoje classificadas como Sphaerotilus dizia: “Das coisas, a

mais nobre, a mais justa e melhor é a Saúde” (ARISTÓTELES 384 - 322 a.C.)

Aristóteles resumiu tudo que os filósofos naturais haviam dito antes e

criou o Liceu, escola que fundou e ordenou as ciências básicas da cultura

européia.

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Na antiga Grécia desde o século VI a.C. já havia tecnologia para

captação e distribuição de água a longas distâncias. Um túnel construído em

Samos, que aplicava o princípio dos vasos comunicantes e pressurização dos

encanamentos para condução da água, foi considerado por Heródoto como

‘maior’ obra de engenharia da Grécia, até então. Importantes sistemas

hidráulicos pressurizados foram construídos e descobertos em Pérgamo e em

Emuros (180 a 160 a.C.).

Em Atenas nessa época, já existiam caixas d'água localizadas nas

partes mais altas da cidade, afastamento dos esgotos e descargas em vasos

sanitários.

Nenhuma civilização se compara à romana no que se refere às obras

hidráulicas e saneamento. No século IV a.C. Roma já contava com 856 banhos

públicos e 14 termas que consumiam aproximadamente 750 milhões de litros

de água por dia, distribuídos por uma rede com mais de 400 km de extensão,

conforme Liebmann (1979). Em 312 a.C., Appius Crassus construiu o primeiro

aqueduto romano, o Via Appia com 16,5 km de extensão; a partir daí, os

aquedutos foram disseminados por todo Império e construídos também na

Alemanha, Itália, França, Espanha, Grécia, Ásia Menor e África do Norte.

Além de desenvolveram dispositivos especiais de ortoga para disciplinar

os usos da água; os romanos também criaram hidrômetros para medição do

consumo de água, cujo controle, era feito por administradores públicos que

promoviam já nessa época o uso racional da água e praticas de reuso, ao

utilizarem água dos banhos públicos nas descargas das latrinas.

1.1 – Os Recursos Hídricos nos dias de hoje.

A quantidade de água na Terra é praticamente invariável desde a sua

origem, ocorrendo apenas o acréscimo de uma fração diminuta, denominada

de água juvenil, que é expelida pelos vulcões.

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A água que hoje utilizamos é a mesma água que os dinossauros

bebiam. O que tem sido alterado é o aumento da demanda, e da sua

distribuição nos reservatórios naturais e artificiais e a perda de sua qualidade,

o que eleva o seu custo e aumenta a exclusão social.

Três principais problemas agravam o quadro de disponibilidade hídrica

mundial, a degradação dos mananciais, o aumento exponencial e desordenado

da demanda, o descompasso entre a distribuição das disponibilidades hídricas

e a localização das demandas, pois as águas estão distribuídas de forma

heterogênea, tanto no tempo como no espaço geográfico. Assim, a escassez

hídrica tem gerado instabilidades e conflitos econômicos e socioambientais, os

quais tendem a agravar-se com o tempo. Por isso é imprescindível que a água

seja tratada como um recurso estratégico, para que o seu uso sustentável seja

lastreado no seu uso racional, no fortalecimento institucional, em marcos

regulatórios, no planejamento e gestão integrada, na disponibilidade de

recursos financeiros, e, principalmente, no respeito ao princípio de que todos

têm direito à água de qualidade, um bem fundamental à vida.

Atualmente mais de 1 bilhão de pessoas no mundo não têm água

suficiente para suprir as suas demandas domésticas, que segundo a

Organização Mundial de Saúde – OMS é de 200 litros/dia. Estima-se que, em

30 anos, haverá 5,5 bilhões de pessoas vivendo em áreas com moderada ou

elevada escassez de água.

Alguns eventos agravam o cenário tanto da oferta como da demanda de

água doce no mundo, tais como o crescimento demográfico associado a

padrões de consumo não sustentáveis.

Estima-se que o crescimento populacional aumentou três vezes no

decorrer do século XX, passando de 2 para 6 bilhões de habitantes. Nesse

mesmo período, a demanda de água aumentou sete vezes, isto é, passou de

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580 km³/ano para aproximadamente 4.000 km³/ano. Esses dados tornam-se

relevantes na medida em que é previsto que a população mundial estabilize-

se, por volta do ano 2050, entre 10 e 12 bilhões de habitantes, o que

representa cerca de 5 bilhões a mais que a população atual. Outro fator que

agrava o cenário da utilização das águas no mundo é a gestão ineficiente dos

recursos hídricos em basicamente todas as atividades antrópicas, como ocorre

na agricultura, na indústria e nos sistemas de abastecimento público de países,

onde o desperdício de água, como em algumas regiões brasileiras, é superior

a 60%.

Nesse quadro de indisponibilidade de água doce, constata-se que a

escassez hídrica já está instalada na Arábia Saudita, Argélia, Barbados,

Bélgica, Burundi, Cabo Verde, Cingapura, Egito, Kuwait, Líbia, Jordânia e

Tailândia, e poderá ocorrer em médio prazo na China, Estados Unidos, Etiópia,

Hungria, México, Síria e Turquia.

No caso do Brasil, que dispõe de cerca de 16% de toda a água doce do

planeta, cerca de 89% do volume total estão concentrados nas regiões Norte e

Centro-Oeste, onde estão localizadas apenas 14,5% da população. Para as

regiões Nordeste, Sudeste e Sul, onde estão distribuídos 85,5% da população,

há disponível apenas 11% do potencial hídrico do país. Além da natural

carência para o atendimento da demanda de abastecimento público e privado,

esta heterogeneidade de distribuição das águas gera eventos críticos tais

como cheias catastróficas e períodos cíclicos de secas.

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CAPÍTULO II

A ESCASSEZ DO RECURSO HÍDRICO

Vivemos num mundo em que a água se torna um desafio cada vez

maior. A cada ano, mais 80 milhões de pessoas clamam por seu direito aos

recursos hídricos da Terra. Infelizmente, quase todos os 3 bilhões (ou mais) de

habitantes que devem ser adicionados à população mundial no próximo meio

século nascerão em países que já sofrem de escassez de água.

Já nos dias de hoje, muitas pessoas nesses países carecem do líquido

para beber, satisfazer suas necessidades higiênicas e produzir alimentos.

Numa economia mundial cada vez mais integrada, a escassez de água cruza

fronteiras.

A quantidade de água doce no mundo estocada em rios e lagos, pronta

para o consumo, é suficiente para atender de 6 a 7 vezes o mínimo anual que

cada habitante do Planeta precisa. Apesar de parecer abundante, esse recurso

é escasso representa apenas 0,3% do total de água no Planeta. O restante

dos 2,5% de água doce está nos lençóis freáticos e aqüíferos, nas calotas

polares, geleiras, neve permanente e outros reservatórios, como pântanos.

Se em termos globais a água doce é suficiente para todos, sua

distribuição é irregular no território. Os fluxos estão concentrados nas regiões

intertropicais, que possuem 50% do escoamento das águas. Nas zonas

temperadas, estão 48%, e nas zonas áridas e semi-áridas, apenas 2%. Além

disso, as demandas de uso também são diferentes, sendo maiores nos países

desenvolvidos.

O cenário de escassez se deve não apenas à irregularidade na

distribuição da água e ao aumento das demandas o que muitas vezes pode

gerar conflitos de uso, mas também ao fato de que, nos últimos 50 anos, a

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degradação da qualidade da água aumentou em níveis alarmantes.

Atualmente, grandes centros urbanos, industriais e áreas de desenvolvimento

agrícola com grande uso de adubos químicos e agrotóxicos já enfrentam a falta

de qualidade da água, o que pode gerar graves problemas de saúde pública.

Embora o Brasil seja o primeiro país em disponibilidade hídrica em rios

do mundo, a poluição e o uso inadequado comprometem esse recurso em

várias regiões do País.

A água limpa está cada vez mais rara na Zona Costeira e a água de

beber cada vez mais cara. Essa situação resulta da forma como a água

disponível vem sendo usada com desperdício que chega entre 50% e 70% nas

cidades, e sem muitos cuidados com a qualidade. Assim, parte da água no

Brasil já perdeu a característica de recurso natural renovável (principalmente

nas áreas densamente povoadas), em razão de processos de urbanização,

industrialização e produção agrícola, que são incentivados, mas pouco

estruturados em termos de preservação ambiental e da água.

Nas cidades, os problemas de abastecimento estão diretamente

relacionados ao crescimento da demanda, ao desperdício e à urbanização

descontrolada que atinge regiões de mananciais. Na zona rural, os recursos

hídricos também são explorados de forma irregular, além de parte da

vegetação protetora da bacia (mata ciliar) ser destruída para a realização de

atividades como agricultura e pecuária. Não raramente, os agrotóxicos e

dejetos utilizados nessas atividades também acabam por poluir a água. A baixa

eficiência das empresas de abastecimento se associa ao quadro de poluição,

as perdas na rede de distribuição por roubos e vazamentos atingem entre 40%

e 60%, além de 64% das empresas não coletarem o esgoto gerado. O

saneamento básico não é implementado de forma adequada, já que 90% dos

esgotos domésticos e 70% dos afluentes industriais são jogados sem

tratamento nos rios, açudes e águas litorâneas, o que tem gerado um nível de

degradação nunca imaginado.

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2.1 – A Necessidade do Reuso.

A reutilização ou reuso de água ou ainda em outra forma de expressão,

o uso de águas residuarias, não é um conceito novo e tem sido praticado em

todo o mundo há muitos anos. Há relatos de sua prática na Grécia Antiga, com

a disposição de esgotos e sua utilização na irrigação. Contudo, a demanda

crescente por água tem feito do reuso planejado da água um tema atual e de

grande importância. Neste sentido, deve-se considerar o reuso de água como

parte de uma atividade mais abrangente que é o uso racional ou eficiente da

água, o qual compreende também o controle de perdas e desperdícios, e a

minimização da produção de resíduos e do consumo de água.

O reuso da água reduz a demanda sobre os mananciais de água devido

à substituição da água potável por uma água de qualidade inferior. Esta

prática, atualmente muito discutida e posta em evidência e já utilizada em

alguns países é baseada no conceito de substituição de mananciais. Tal

substituição é possível em função da qualidade requerida para um uso

específico. Desta forma, grandes volumes de água potável podem ser

poupados pelo reuso quando se utiliza água de qualidade inferior (geralmente

efluentes pós-tratados) para atendimento das finalidades que podem prescindir

de água dentro dos padrões de portabilidade.

O reuso de água para lavagem de veículos pode colaborar com o

aumento da oferta de água potável para o abastecimento da população.

Pesquisa do engenheiro Eduardo Bronzatti Morelli aponta que os sistemas de

reuso geram uma economia de até 80% de água. O estudo, relatado em

dissertação de mestrado defendida na Escola Politécnica (Poli) da USP,

mostra que a água, após tratamento adequado, pode ser usada até seis vezes

sem prejudicar os veículos.

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2.1.1 - Tipos de reusos.

O reaproveitamento ou reuso da água é o processo pelo qual a água,

tratada ou não, é reutilizada para o mesmo ou outro fim (Loreno, 2005). Essa

reutilização pode ser direta ou indireta, decorrente de ações planejadas ou

não. João Carlos de Almeida Mieli (Mieli, 2001), em sua dissertação de

mestrado sobre Reuso da Água Domiciliar, define melhor cada tipo de uso:

Reuso indireto não planejado da água: ocorre quando a água, utilizada

em alguma atividade humana, é descarregada no meio ambiente e novamente

utilizada a jusante, em sua forma diluída, de maneira não intencional e não

controlada. Caminhando até o ponto de captação para o novo usuário, a

mesma está sujeita às ações naturais do ciclo hidrológico (diluição,

autodepuração).

Reuso indireto planejado da água: ocorre quando os efluentes, depois

de tratados, são descarregados de forma planejada nos corpos de águas

superficiais ou subterrâneas, para serem utilizadas a jusante, de maneira

controlada, no atendimento de algum uso benéfico.

O reuso indireto planejado da água pressupõe que exista também um controle

sobre as eventuais novas descargas de efluentes no caminho, garantindo

assim que o efluente tratado estará sujeito apenas a misturas com outros

efluentes que também atendam ao requisito de qualidade do reuso objetivado.

Reuso direto planejado das águas: ocorre quando os efluentes, depois

de tratados, são encaminhados diretamente de seu ponto de descarga até o

local do reuso, não sendo descarregados no meio ambiente. É o caso com

maior ocorrência, destinando-se a uso em indústria ou irrigação.

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Reciclagem de água: É o reuso interno da água, antes de sua descarga

em um sistema geral de tratamento ou outro local de disposição. Funciona,

assim, como fonte suplementar de abastecimento do uso original. É um caso

particular do reuso direto planejado.

2.2 – O que diz a legislação

O Brasil vem produzindo, desde o início do século passado, legislação e

políticas que buscam paulatinamente consolidar uma forma de valorização de

seus recursos hídricos e foi em vinte seis de novembro de 2003 que foi criado

o projeto de lei 807/03, do vereador Dalton Silvano (PSDB), onde obriga as

empresas de ônibus intermunicipais, interestaduais e internacionais que

operam no transporte público do município de São Paulo a instalarem

equipamentos de recuperação e utilização da água usada na lavagem de

veículos. Essa água seria reaproveitada com a mesma finalidade.

Projeto de Lei nº 807/2003, de 26/11/2003

Descrição:

Dispõe da obrigatoriedade das empresas de ônibus urbanos,

intermunicipais, interestaduais e internacionais e cooperativas de peruas que

operam no transporte público municipal de São Paulo a instalarem

equipamentos de recuperação e reutilização da água usada na lavagem de

veículos para reaproveitamento com o mesmo fim.

A câmara municipal de São Paulo decreta:

Art. 1º - Todas as empresas de ônibus urbano, intermunicipal, interestadual e

internacional, e todas as cooperativas de peruas e vans que operam no

sistema de transporte público instaladas no município de São Paulo são

obrigadas a recuperar e reutilizar a água usada na lavagem de veículos;

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Art. 2º - Para cumprimento do art. 1º desta lei, as empresas e cooperativas

transportadoras identificadas no Art. 1º desta lei deverão instalar sistemas e

equipamentos para recuperação e reutilização da água;

Art. 3º - As empresas e cooperativas transportadoras identificadas no Art. 1º

desta lei terão o prazo de 180 dias, a partir da promulgação desta lei, para

implantação e aplicação do sistema de reutilização da água;

Art. 4º - Em caso de não cumprimento desta lei, as empresas e cooperativas

transportadoras desta lei deverão ser notificadas para instalação dos

equipamentos necessários no prazo máximo de 60 dias;

Art. 5º - A inobservância do disposto nesta lei implicará ao infrator a imposição

de multa no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), dobrada em caso de

reincidência, devendo este valor ser reajustado anualmente pela variação do

Índice de Preços ao Consumidor Amplo - IPCA, acumulada no exercício

anterior, sendo que, no caso de extinção desse índice, será adotado outro

criado por legislação federal e que reflita a perda do poder aquisitivo da

moeda;

Art. 6º - Na reincidência continuada do descumprimento desta lei, os alvarás de

funcionamento serão cassados;

Art. 7º - A Secretaria Municipal das Subprefeituras deverá regulamentar esta lei

no prazo de 120 dias.

Art. 8º - As despesas decorrentes da execução desta lei correrão por conta de

dotações orçamentárias próprias, suplementadas se necessário.

Art. 9º - Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as

disposições em contrário.

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CAPÍTULO III

AS FORMAS DE REAPROVEITAMENTO DA ÁGUA

Para as empresas é muito importante o cuidado e respeito ao meio

ambiente, já que possuem responsabilidades perante a sociedade onde atua.

É constante a preocupação com as ações que podem ser tomadas para evitar

danos ou para colaborar com o meio ambiente.

O reuso da água reduz a demanda sobre os mananciais de água devido

à substituição da água potável por uma água de qualidade inferior. Esta

prática, atualmente muito discutida e posta em evidência e já utilizada em

alguns países é baseada no conceito de substituição de mananciais. Tal

substituição é possível em função da qualidade requerida para um uso

específico. Desta forma, grandes volumes de água potável podem ser

poupados pelo reuso quando se utiliza água de qualidade inferior (geralmente

efluentes pós-tratados) para atendimento das finalidades que podem prescindir

de água dentro dos padrões de portabilidade.

O reuso de água para lavagem de veículos pode colaborar com o

aumento da oferta de água potável para o abastecimento da população. A

pesquisa do engenheiro Eduardo Bronzatti Morelli aponta que os sistemas de

reuso geram uma economia de até 80% de água. O estudo, relatado em

dissertação de mestrado defendida na Escola Politécnica (Poli) da USP,

mostra que a água, após tratamento adequado, pode ser usada até seis vezes

sem prejudicar os veículos.

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A pesquisa foi feita em lava - rápidos e empresas de ônibus de São

Paulo que adotam o sistema. "A água da lavagem é recolhida por meio de

caneletas e, de início, é levada para um tanque de sedimentação, onde a areia

se deposita no fundo e resíduos de óleo e graxa ficam na superfície", explica

Morelli.

A água passa pelo separador de óleo antes de ir para um reservatório e

ser reaproveitada. "Devido à perda de água e ao aumento da quantidade de

partículas dissolvidas a cada lavagem é preciso adicionar de 20% a 30% de

água potável no reservatório", recomenda o engenheiro. "As medições da

qualidade da água apontaram que ela pode ser utilizada com reaproveitamento

de 70% a 80%, sem causar danos aos veículos."

A estação limpa a água por meio de um sistema químico que separa

óleos, graxas e areias, presentes na água de lavagem de veículos, e devolve

essa água limpa para ser reutilizada. Cerca de 80% da água consumida é

recuperada, já que uma parcela evapora, outra respinga para fora da área de

lavagem, os veículos retêm um pouco de água na superfície e o terreno

absorve outra parte. Já as impurezas formam um lodo que e deverá ser

encaminhado para empresas especializadas.

De acordo com o engenheiro, a concentração de sólidos dissolvidos na

água aumenta a cada reuso. "Durante a secagem, a água evapora e as

partículas ficam na lataria, provocando manchas", afirma. "Não há um padrão

definido para concentração de partículas na água em lavagem de veículos. No

estudo adotou-se um limite semelhante ao exigido pelo Ministério da Saúde

para água potável, que é de 1000 miligramas por litro."

Morelli lembra que a qualidade da água pode ser melhorada com o uso

de filtro de areia e também com a adição de cloro durante o tratamento. "O

resíduo de óleo retido pelo separador pode ser vendido para reciclagem",

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sugere. "Numa das empresas pesquisadas, o custo da água para lavagem de

um ônibus era de R$ 2,43. Com o reuso o gasto foi reduzido para R$ 0,54."

O custo da implantação de um sistema de reuso de água depende da

dimensão das instalações de lavagem e do sistema de tratamento que será

utilizado. "No caso da flotação, o custo varia entre R$ 25 mil e R$ 55 mil e os

métodos de floculação e sedimentação podem custar cerca de R$ 20 mil para

locais que necessitam de pequenas vazões", calcula o engenheiro. "A

pesquisa encontrou sistemas de reuso simples, com resultados razoáveis mas

sem o nível de tratamento recomendado da água, que custaram em torno de

R$ 5 mil."

O estudo foi realizado sob a orientação do professor Ivanildo Hespanhol,

da Poli. "A pesquisa mostra que a lavagem de carros não precisa de água

potável, podendo ser feita com águas de reuso bem tratadas", conclui Morelli.

Esse processo poupa o meio ambiente de duas maneiras: deixa de

poluir os rios com a eliminação de esgoto e pára de consumir água de poços

artesianos, que é própria para ingestão.

3.1 – Tratamento de águas de lavagem de ônibus via

floculação-flotação.

Seguindo as novas tendências de implementação de tecnologias limpas

no setor produtivo, o uso racional da água vem sendo alvo de pesquisas

acadêmicas, e, dentro desse contexto, o tratamento e reúso de águas

residuais urbanas ou não, é uma das opções sociais, econômicas e

ambientalmente corretas. O reciclo de águas da lavagem comercial de ônibus

caracteriza-se como uma destas atividades na qual é possível o tratamento

para remoção conjunta de sólidos e óleos em um mesmo sistema.

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O LTM-UFRGS tem desenvolvido técnicas, equipamentos e processos

(primeira geração) e este trabalho caracteriza-se como um avanço,

apresentando um novo sistema, o FFC, floculação-flotação de coluna, unidade

compacta e de alta capacidade de tratamento.

O FFC integra uma nova versão modificada do FF® (Floculação-

Flotação, patente LTM-UFRGS), o RGF® (Reator gerador de flocos, patente

LTM-UFRGS) acoplados a uma coluna de separação S/L e foi testado no

tratamento para o reciclo da água residual de uma unidade de lavagem de

ônibus na Empresa de Transportes Coletivos Viamão Ltda.

No presente estudo, o objetivo geral foi estudar o tratamento da água

residuária do processo de lavagem de ônibus de uma empresa de transportes

coletivos da região metropolitana de Porto Alegre (Empresa de Transportes

Coletivos Viamão Ltda.), visando sua reciclagem. Como objetivo especifico,

desenvolver o sistema FFC – Floculação-Flotação em Coluna onde foram

variados diversos parâmetros de projeto do sistema FFC, como o tipo de

floculação, a taxa de aplicação e altura da coluna de flotação.

Na falta de limites normativos para reciclagem de água neste processo,

a água de reúso produzida pelo sistema ETAR em operação, na empresa,

serviu de referência de qualidade.

3.1.1 – Materiais e Métodos.

O sistema de tratamento e reúso desenvolvido consiste basicamente em

três etapas: (1) floculação hidráulica, (2) geração de microbolhas (30-100µm) e

(3) separação sólido/liquido por flotação. Um esquema ilustrativo do sistema

FFC é apresentado na Figura 1.

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Fonte: J. Rubio et al. / III Workshop em Gestão e Reuso de Água na Indústria

(2007)

Figura 1: Esquema ilustrativo do sistema FFC. 1 – Reservatório de água

residuária; 2 – bomba centrifuga; 3 – bombas dosadoras; 4 – SR 1 –

Serpentina rápida 1; 5 – RGF – Reator gerador de flocos; 6 – bomba centrifuga

multifase; 7 – válvula agulha e manômetro de pressão; 8 – coluna de flotação e

9 – controle de nível da coluna.

A água residuária da lavagem é direcionada para tanques de

armazenamento e a partir deste ponto a água é bombeada através de reatores

hidráulicos, onde são adicionados os reagentes. Depois de transcorrido o

circuito hidráulico nos reatores, onde ocorrem os mecanismos de coagulação e

floculação, injeta-se uma corrente de água de reciclo saturada com

microbolhas de ar. As microbolhas são geradas pela descompressão, que

ocorre na válvula agulha, da corrente de água de reciclo saturada com ar e

bombeada pela bomba centrifuga. A última etapa é a separação sólido/liquido

na coluna de flotação, com a alimentação entrando na parte inferior da camada

do produto flotado.

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3.1.2 – Resultados e discussões.

Os resultados mostram que com um tempo de retenção de 10 s em um

floculador hidráulico de fluxo serpentinado (G= 100 s-1); taxa de aplicação no

equipamento de separação de 25 m.h-1, altura da coluna de flotação de 1,8 m

e geração de microbolhas com uma bomba centrifuga multifase, o sistema FFC

disponibiliza água de reúso compatível com o processo de lavagem de ônibus.

A Tabela 1 apresenta os resultados dos ensaios de longa duração (4 horas),

realizados nesta condição otimizada.

Valores finais % de remoção Turbidez, NTU 10 95

Cor, Hz 62 79 Sólidos suspensos, mg.L-1 13 92 Sólidos dissolvidos, mg.L-1 510 12

DQO, mg.L-1 288 2 Tabela 1: Resultados dos ensaios de longa duração. Fonte: J. Rubio et al. / III Workshop em Gestão e Reuso de Água na Indústria (2007)

Observou-se uma concentração percentual dos sólidos dissolvidos com

a diminuição no tempo de retenção no equipamento de separação

sólido/liquido. De qualquer forma, as perdas de água no processo de lavagem

e na coleta da água residuária, que são superiores a 20 % (Morelli, 2005),

exigem a entrada de água nova no sistema. Ainda, a empresa Aquaflot

Industrial Ltda. indica um máximo entre 10 e 20 ciclos para a mesma água.

Assim, pode-se controlar a concentração de sólidos dissolvidos no sistema.

Com o emprego do novo sistema, consegue-se uma considerável

redução de área em planta (footprint) e em equipamentos de operação e

controle, o que deve refletir no valor de construção da estação de tratamento.

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O FFC disponibilizou uma água de reúso de qualidade apropriada a

lavagem de ônibus na seguinte condição: floculação em 10 s (floculador

hidráulico em linha S1), taxa de aplicação de 25 m.h-1 ( quase três altura na

separação sólido/liquido vezes superior à existente) e com uma coluna de

flotação de 1,8m de altura. Os resultados mostraram 95 % de redução de

turbidez e 79 % de redução de cor e 92 % de remoção de sólidos suspensos.

Ainda, este sistema compacto apresentou uma redução de área requerida para

floculação-flotação (aproximadamente 45 % em relação a primeira geração) e

diminuição da necessidade de equipamentos e controle.

3.2 – O reaproveitamento das águas pluviais.

A captação das águas pluviais é uma prática muito difundida em países

como Austrália e a Alemanha, aonde novos sistemas vêm sendo

desenvolvidos, permitindo a captação de água de boa qualidade de maneira

simples e bastante eficiente em termos de custo-benefício.

Num país tropical, onde a incidência de chuvas é maior do que em

outras regiões do planeta, a maioria dos brasileiros ainda não se deu conta do

desperdício acumulado em cada período de precipitação.

Se no campo a chuva é sinônimo de prosperidade e colheita fartas, na

cidade os dias de chuva estão associados a problemas no trânsito, risco de

enchentes e outros incômodos que emprestam mau humor aos dias nublados.

Porém, a percepção do aproveitamento da água da chuva pela população

deverá aumentar, visto as inúmeras vantagens que isto representa

(TRIGUEIRO, 2005, p. 76).

A escassez e o mau uso dos recursos hídricos fizeram com que a ONU

considerasse a água o principal tema do século 21 e declarasse 2003 o ano

internacional da água. A proteção da água potável deve ser assegurada para

garantir que ela não se torne, num futuro próximo, um produto de luxo e, por

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isto, a Unesco propõe que a década de 2005 a 2015 seja dedicada à busca de

soluções (Para, 2004).

Recentemente, alguns sistemas de aproveitamento de água da chuva

estão utilizando-a em sanitários, tornando-se uma alternativa inteligente na

redução do consumo da água potável (CRETTAZ et al., 1999, p. 73).

A captação e o armazenamento da água da chuva, além de gerar

economia hídrica e financeira, apresentam a vantagem de reduzir a

probabilidade de enchentes, pois contribuem com o controle do volume dos

rios nos dias de chuva.

A água pluvial pode ainda ser usada nos hidrantes (contra incêndios), na

lavagem de carros públicos (como ônibus, por exemplo), em sistemas

decorativos (fontes, chafariz), na irrigação de áreas verdes, na construção civil

(preparação do concreto), bem como, nas indústrias em torres de resfriamento,

caldeiras, lavagem de pisos e peças.

Contudo, não existe ainda na legislação brasileira uma normatização

específica para a utilização de águas pluviais, apenas alguns municípios, como

Curitiba (PR) e São Paulo (SP), elaboraram leis que regem o tema.

Existe a norma NBR-15527, sobre Água de chuva onde falam do

aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis,

requisitos, instituída em setembro de 2007 pela Associação Brasileira de

Normas Técnicas (ABNT), que prevê, entre outras coisas, os requisitos para o

aproveitamento da água pluvial coletada em coberturas de áreas urbanas e

aplica-se a usos não potáveis em que as águas podem ser utilizadas após o

tratamento adequado.

Neste contexto, Trigueiro (2005, p. 76) justifica a inexistência de uma

normatização:

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As águas de chuva são encaradas pela legislação

brasileira como esgoto, pois ela usualmente vai dos

telhados, e dos pisos para as bocas de lobo aonde, como

"solvente universal", vai carreando todo tipo de

impurezas, dissolvidas, suspensas, ou simplesmente

arrastadas mecanicamente, para um córrego que vai

acabar dando num rio que por sua vez vai acabar

suprindo uma captação para Tratamento de Água

Potável. Claro que essa água sofreu um processo natural

de diluição e autodepuração, ao longo de seu percurso

hídrico, nem sempre suficiente para realmente depurá-la.

(Trigueiro 2005, p. 76)

3.2.1 – Critérios de qualidade da água para o reuso.

Quando se deseja reaproveitar a água da chuva, para qualquer fim

específico, é importante saber que sua aceitabilidade depende diretamente de

suas qualidades físicas, químicas e micro bióticas, podendo estas serem

afetadas pela qualidade da fonte geradora, da forma de tratamento adotada,

da confiabilidade no processo de tratamento e da operação dos sistemas de

distribuição (Crook, 1993).

Os critérios de qualidade para o reuso da água são baseados em

requisitos de usos específicos, em considerações estéticas e ambientais e na

proteção da saúde pública (Ramos, 2005). Estes critérios diferem bastante

quando se comparam países industrializados com países em desenvolvimento,

diferença 21 que pode ser parcialmente atribuída a fatores como viabilidade

econômica, tecnologia disponível, nível geral da saúde das populações e

características políticas e sociais.

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Para países em desenvolvimento, onde as infecções parasitárias são

endêmicas, as orientações recomendadas pela Organização Mundial da Saúde

(OMS, 2005) para o reuso da água são consideravelmente menos restritivas,

sendo dirigidas principalmente para remoção de helmintos.

Segundo o pesquisador James Crook 1993, dependendo da utilização, os

critérios para a qualidade da água incluem os seguintes aspectos:

Proteção à saúde da população: A água para reuso deve ser segura

para o fim pretendido. A maioria dos critérios de qualidade desta água é

voltada principalmente para a proteção da saúde da população e muitos são

norteados apenas por preocupações com a segurança microbiológica.

Requisitos de uso: Muitos usos industriais e algumas outras utilizações

têm requisitos físico-químicos de qualidade que estão relacionados com a

saúde da população. As qualidades físicas, químicas e microbiológicas podem

limitar a aceitabilidade da água para reuso.

Aspectos estéticos: Para usos mais nobres, como por exemplo, a

irrigação urbana ou para a descarga de vasos sanitários, a aparência da água

não deve ser diferente daquela apresentada pela água potável, ou seja, deve

ser clara, sem cor e sem odor. Em represas que se destinam à recreação, a

água recuperada não deve estimular o crescimento de algas.

Percepção da população e/ou do usuário: A água deve ser percebida

como segura e aceitável para o uso pretendido e os órgãos de controle devem

divulgar tal garantia. Esta diretriz pode ocasionar a imposição de limites

conservadores para a qualidade da água por parte dos órgãos de controle.

Ainda segundo James Crook, 1993, os maiores problemas decorrentes

do reuso da água são a tubercularização, a corrosão e entupimentos devidos à

proliferação biótica. Ele sugere algumas soluções para problemas específicos,

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como a clarificação com cal ou precipitação com sulfato de alumínio para

remoção de nutrientes. A troca tônica, que é eficaz na remoção da dureza da

água. O ácido sulfúrico, que pode ser usados para o controle do ph e da

alcalinidade, os poli fosfatos, para controle da corrosão, os fosfanatos ou os

fosfatos de cálcio para a desestabilização, os poliacrilatos para a dispersão de

sólidos em suspensão, o cloro para controle biológico, além de agentes

antiespumantes para a dispersão das espumas causadas pelos fosfatos e por

alguns compostos orgânicos.

3.3 – Sistema de reaproveitamento da água da chuva.

O reaproveitamento eficiente da água da chuva não tem mistérios, mas

são necessários alguns pequenos cuidados que tornam os sistemas mais

seguros e de fácil manutenção. Abaixo se encontram os passos a serem

seguidos na montagem do sistema de reaproveitamento da água (Aquastock,

2008):

1º Passo: Dimensionamento do Sistema

O primeiro passo para o reaproveitamento eficiente da água da chuva é

o dimensionamento do sistema ideal para cada caso, a partir das

necessidades e objetivos do usuário, da área de captação e das características

da construção. A definição do tamanho e localização do reservatório é

particularmente importante, pois este é o item mais oneroso do projeto e sua

especificação correta pode representar uma importante economia. É

necessária a coleta de informações por meio de entrevista com o cliente e

levantamentos no local.

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2º Passo: Modelo do Sistema

O segundo passo é definir o modelo do sistema de reciclagem, que

pode ser feito de várias formas diferentes, dependendo da empresa

contratada. Eles podem variar desde linhas que utilizam cisternas e filtros

subterrâneos e apresentam soluções mais completas de reciclagem de água

de chuva, às linhas mais simples, que utilizam filtros de descida e caixas

d'água acima do nível do solo.

3º Passo: Fornecimento de Componentes

Com base no dimensionamento e na definição dos objetivos e

características do sistema a ser implantado, o fornecedor especifica, integra e

fornece os diversos componentes necessários. O principal componente a ser

especificado nesta etapa será o filtro por onde a água passará antes de ir para

o reservatório.

4º Passo: Instalação do Sistema

A instalação fica por conta do fornecedor, que deve dispor de pessoal

especializado para realizar a instalação de todos os componentes hidráulicos e

também elétricos (no caso de utilização de bombas) dos sistemas.

Segundo Aquastock, 2008 o consumo diário de água na lavagem de

veículos pode ser determinado com base no número de veículos lavados por

dia e o consumo de água gasto para os tempos de armazenamento de 5, 10,

20 e 30 dias ser determinado a partir do volume diário vezes esse período.

E a área total do telhado da oficina para captação da água da chuva

pode ser obtida a partir de valores coletados em visitas a empresa e com base

nas dimensões contidas em planta baixa (Aquastock, 2008).

Para efeito ilustrativo, foi eleita a empresa Engeplas para exemplificar

dois sistemas de coleta e tratamento da água da chuva, sendo esta uma

escolha aleatória, sem fins publicitários.

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No caso de um sistema para suprir o uso interno e externo, os

componentes devem incluir calhas para a captação da água do telhado, filtro,

reservatório e bomba, além de outros acessórios, como freio d’água (para

reduzir o turbilhonamento na cisterna), filtro flutuante (para garantir a qualidade

da água coletada pela bomba) e multisifão (para evitar a entrada de insetos e

roedores na cisterna).

A água da cisterna subterrânea pode ser recalcada com a ajuda de

bomba para um reservatório superior, de onde segue aos pontos de consumo

por gravidade. Pode ainda ser feita por uma bomba pressurizadora, com

captação da água diretamente do reservatório inferior, quando as torneiras são

acionadas. Neste caso o reservatório superior é desnecessário.

O tamanho dos reservatórios é definido levando-se em conta a previsão

de consumo, a superfície de captação e o período máximo de estiagem

previsto para a região. Pode-se optar ainda por complementar o abastecimento

por água de chuva com alimentação da rede pública, ligando os dois sistemas.

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O diagrama abaixo ilustra um esquema de instalação típico para uso interno e

externo.

Fonte: Aquastock, 2008

Figura 2: Esquema de instalação da linha Europa - 1. Filtro tipo vortex; 2. Freio

d’água; 3. Bomba submersível; 4. Filtro flutuante; 5. Central de controle/

interligação com rede pública; 6. Multisifão; 7. Bóia de nível; 8. Alimentação

dos pontos de consumo a partir da caixa d’água superior.

A “Linha Oceania”, baseada na solução australiana de tratamento da

água da chuva, oferece soluções mais simples e de menor custo, voltadas

prioritariamente para o uso externo. A instalação simplificada e o custo menor

fazem com que esta linha de produtos seja ideal para obras acabadas, pois

implica em interferência mínima nas instalações existentes.

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CONCLUSÃO

Ao chegarmos ao final desta pesquisa e avaliarmos tudo o que foi dito a

respeito da necessidade de se preservar a água, podemos concluir que o

reaproveitamento da água, representa uma alternativa eficiente e econômica

no combate ao desperdício.

Como o aumento da demanda pela água segue seu curso, é natural que

alternativas para seu uso sejam previstas. Nossa contribuição, no âmbito da

presente proposta, foi projetar a ampliação do uso da água reciclada,

expectativa de que, com a comprovação das vantagens de seu

aproveitamento, tal recurso torne-se uma prática mais comum, a ponto de as

empresas já serem projetadas com a previsão do mesmo. Nem sempre a

economia é significativa em termos financeiros, porém com a escassez cada

vez maior da água, o percentual encontrado é bem expressivo.

Forte esperança reside na ação consciente de grandes ou médias

empresas, que aos poucos adotam a gestão ambientalmente correta. Frotas

de ônibus devem considerar o reúso direto, porém, recomenda-se ampliar

estudos assim para outros tipos similares de reúso e, conseqüentemente,

divulgá-los, por exemplo, para lavagem de veículos em geral, de peças em

processo de montagem industrial e outros.

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