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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE SURDEZ, INCLUSÃO EDUCACIONAL Por: Rosangela Das Neves Leandro Orientadora Dayse Serra Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

SURDEZ, INCLUSÃO EDUCACIONAL

Por: Rosangela Das Neves Leandro

Orientadora

Dayse Serra

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

SURDEZ, INCLUSÃO EDUCACIONAL

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

Psicopedagogia....

Por: Rosangela Das Neves Leandro

Rio de Janeiro

2011

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AGRADECIMENTOS

-Os meus sinceros e carinhosos

agradecimentos à minha família que

tiveram muita paciência, mais uma vez

comigo, amo vocês demais.

- Ao meu marido, obrigada por tudo.

-Aos meus filhos pelo carinho e

compreensão, enquanto ficava

ausente.

-E, com carinho a todos que

contribuíram direta e indiretamente

para a realização desse trabalho.

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DEDICATÓRIA

-Dedico este trabalho a Jesus Cristo,

pois pertence a ele toda honra e toda

glória, sem ele nada poderia fazer,

minha suficiência vem dele.

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RESUMO

A inclusão educacional constitui-se numa nova realidade nas escolas

brasileiras. Alunos surdos tem acesso garantido, por lei, para freqüentarem as

classes do sistema regular de ensino. Porém, a inclusão ainda não atingiu as

metas desejadas. Verificam-se poucos resultados na aprendizagem do aluno

surdo ao ingressar nas escolas de ensino regular. O aluno não encontra boas

condições para seu desenvolvimento, seja pelo despreparo dos educadores,

ou a não adequação com o restante da comunidade escolar.

O presente estudo tem como objetivo analisar aspectos envolvidos na

problemática que envolve esse processo educacional na inclusão do aluno

surdo em classe regular de ensino, buscando-se responder questões tais

como: a relevância do diagnóstico precoce da surdez na criança, quais as

barreiras encontradas pelos surdos ao ingressarem na escola de ensino

regular, como esse aprendizado está ocorrendo e como as políticas públicas

estão dando importância a questão da inclusão desta criança ao ensino

regular.

A pesquisa científica é um fator essencial na mudança de atitude e na

busca de formas mais efetivas para a inserção social de todos os que

contemplam também o aluno surdo.

Partindo da constatação de que a inclusão dos surdos tem se restringido

a simples presença física deles em sala de aula, sem apresentar progressos

em sua aprendizagem, chegando a evadir-se da escola antes da conclusão do

ensino básico, torna-se urgente a necessidade de repensar atitudes e posturas

dos educadores , quanto ao direito ao ensino igualitário, indo além de apenas

oportunizar o convívio como ouvintes, mas preparando-os para uma vida em

sociedade, que é objetivo real da inclusão educacional. Refletir sobre inclusão

possibilitará ampliar conhecimentos sobre à diversidade, com a

conscientização de valores que deverão ser desenvolvidos em toda a

comunidade escolar. O intercâmbio de informações entre componentes da

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escola e a família do aluno com deficiência auditiva, somado a Língua de

Sinais são aspectos favorecedores de uma nova postura de que não indica ser

empecilho para o ser humano aprender a desempenhar seus direitos como

cidadão.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................. 08

CAPÍTULO I - NO MUNDO DOS SURDO.................................................... 12

1.1 A Audição ........................................................................................................... 12 1.2 Deficiências Auditiva .......................................................................................... 12 1.3 Tipos de Deficiência ............................................................................................ 13 1.4 Classificação Internacional de Audiofonologia ................................................... 15

CAPÍTULO II - HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS AO LONGO DO

TEMPO ........................................................................................................... 18

2.1 Educação do Surdo no Brasil ................................................................................ 18 2.2 Educação Inclusiva ................................................................................................. 26 2.3 O Congresso de Milão ............................................................................................ 28 2.4 A Inclusão do Surdo no Ensino Regular ................................................................ 32 CAPÍTULO III – POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL E A EDUCAÇÃO DE SURDO .......................................................................................... 39 3.1 Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica .................... 39 3.2 Parâmetros Curriculares Nacionais ....................................................................... 41 3.3 A Lei Nº 10.436 da LDB ....................................................................................... 44 3.4 Decreto de N º 5.626 da Lei de Libras ................................................................... 46 CAPÍTULO IV – AÇÃO PSICOPEDAGÓGICA ...................................................... 51 4.1 Contribuições da Psicopedagogia na Construção da Subjetividade do Aluno Surdo: proposta psicopedagógica da inclusão .......................................................................... 51 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 57 BIBLIOGRAFIAS ........................................................................................................ 59 FOLHA DE AVALIAÇÃO .......................................................................................... 60

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INTRODUÇÃO

O movimento de educação inclusiva cresce no Brasil. Um movimento

que, por um lado reflete o conjunto de manifestações contra a exclusão

historicamente vivida pelas pessoas com necessidades educativas especiais e,

por outro lado reflete as manifestações, idéias e reivindicações dos próprios

surdos associadas aos conhecimentos teóricos materializados na produção

científica de pesquisadores da área de Educação de Surdos, Psicologia,

Lingüística e Antropologia. Todos contra a exclusão na educação, se destaca

que estes últimos são a favor de uma educação bilíngüe para surdos.

É notório que o processo de inclusão de pessoas com necessidades

educacionais especiais tem se ampliado de forma significativa no contexto

escolar. Nesse sentido, a atual dinâmica de inclusão vem implantando

mudanças objetivas nas atividades em sala de aula. O caso de matrícula de

acadêmicos surdos, por sua vez, requer uma reflexão sobre o processo de

ensinar e aprender desse alunado e a contratação de um novo personagem, o

intérprete de Língua Brasileira de Sinais (Libras).

Nesses últimos anos, eu, como educadora, venho refletindo sobre a

Educação de Surdos. Considero que uma vez que a escola comum também

está incumbida, pela política inclusiva, dessa árdua tarefa, cabe fornecer

informações aos professores sobre as necessidades educacionais especiais

do alunado com surdez.

Atualmente, presenciamos inúmeros avanços no âmbito legislativo,

principalmente referentes aos direitos das pessoas com deficiência. Há uma

diretriz educacional (MEC, 2001) que garante o direito dos surdos de ter

acesso ao ensino por meio de sua língua materna. Em muitos casos é citada a

importância da mediação por meio do intérprete de Língua de Sinais.

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A educação escolar do aluno com surdez é um desafio que demonstro

por meio deste trabalho de uma escola que abraçou a inclusão, sem restrições

e incondicionalmente.

O que transparece na sua apresentação são as possibilidades de

aprenderem nas turmas comuns de ensino regular, sua história, conquistas e

seus direitos como qualquer outro cidadão.

Estudar a educação escolar das pessoas com surdez me reporta não só

a questões referentes aos limites e possibilidades, como também aos

preconceitos existentes nas atitudes da sociedade para com elas.

As pessoas com surdez enfrentam inúmeros entraves para participar da

educação escolar, decorrente da perda da audição e da forma como

estruturam as propostas educacionais das escolas, Muitos alunos com surdez

podem ser prejudicados pela falta de estímulos adequados ao seu potencial

cognitivo, sócio-afetivo, lingüístico e político-cultural e ter perdas consideráveis

no desenvolvimento da aprendizagem.

A inclusão é uma inovação que exige da escola, novos

posicionamentos, implicando na necessidade de aperfeiçoamento dos

professores para que se atenda aos alunos surdos de maneira que propicie

possibilidades de se conseguir progressos significativos. Antes de adentrar na

análise propriamente dita, explicitarei os instrumentos utilizados nesta

pesquisa. Buscou-se, à partir de pesquisas bibliográficas em literaturas

específicas, relacionadas ao tema, investigar as possibilidades e contradições

relacionadas à escolarização destas crianças, sendo que vários autores tratam

desse tema, entre eles citaremos: MOURA (2000), BRITO (1993), DORZIAT

(1998), , GOFFREDO (1991), SKLIAR (1999), dessa forma buscar-se-á

subsídios para que o professor saiba lidar com as barreiras encontradas e

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quais são as mudanças necessárias que favoreçam o seu desenvolvimento

cognitivo.

A opção de se colocar uma criança surda em escolas regulares traz

infinitos problemas, mas isso pode ser amenizado se a família, desde o

nascimento da criança, favoreceu o seu desenvolvimento, pois é no seio

familiar que a criança inicia sua educação. O ideal é que de posse do

diagnóstico da surdez do filho, os pais devem buscar esclarecimentos a

respeito do grau de surdez da criança e quais deverão ser as atitudes que

deverão tomar para que a criança receba todo o atendimento necessário ao

seu desenvolvimento, bem como estar predispostos a adaptar-se à nova

realidade, já que a contribuição deles será fundamental para que o filho

desenvolva-se de maneira saudável, usufruindo de seus direitos e aprendendo

a desenvolver suas habilidades.

A relação entre pais e filhos, pode se manifestar de forma alterada

necessitando, nesse caso, de intervenções clínicas, profissionais e

educacionais. Com este apoio, a família busca identificar os melhores recursos

disponíveis, que auxiliarão no desenvolvimento da criança.

É imprescindível para a criança surda, que a família seja a primeira

educadora, recebendo apoio para as suas necessidades especiais, em suas

especificidades. Sabe-se que quando a criança vive, cresce e se desenvolve

em um ambiente preconceituoso, de rejeição e não se sente amada, ela nunca

será uma pessoa feliz. Quanto mais espontânea e dinâmica é a ação paterna,

melhor é o impacto sobre o desenvolvimento da criança (LAFON, 1989, p.131).

Acreditar que o filho é capaz de efetuar aquisições, de executar atos, de

refletir e pensar, é uma condição essencial, por parte da família, para que a

educação seja favorecida.

Crer que o filho pode evoluir, apesar das aparências, permite-lhe

progressos imprescindíveis, pois estabelece relações afetivas.

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(...) a participação da família é de suma importância no movimento da inclusão. Seja de forma individualizada ou por meio de organizações, é imprescindível a sua participação para que a continuidade histórica da luta por sociedades mais justas, para seus filhos seja garantida. É imprescindível que elas, as famílias, busquem conhecer, participar, dando o exemplo de cidadania, e servir, assim, como mais um veículo por meio do qual seus filhos possam aprender para ser.

(SANTOS, 1999 p. 78/79).

A valorização excessiva da deficiência auditiva da criança, refletindo em

atitudes super protetoras, pode interferir negativamente no aprendizado da

criança, causando dependência e dificuldades na socialização com pessoas

que não são de seu convívio diário. E a partir do diagnóstico da surdez, os pais

devem procurar orientação, para que possam aceitara realidade, permitindo à

criança uma prática relacional que não impeça muito seu desenvolvimento

psico-afetivo.

Quando a família se tornar parceira do educador, acompanhando os

avanços do filho, porém sem interferir no trabalho do professor; haverá troca

de informações visando educação e o entrosamento do aluno na escola e seu

preparo para a inclusão social.

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CAPÍTULO I

NO MUNDO DOS SURDOS

1.1 A AUDIÇÃO

A Audição, tal como os restantes sentidos, é muito importante para o

nosso desenvolvimento como indivíduo, como parte da sociedade.

Já antes do nosso nascimento, a audição é o primeiro sentido a ser

apurado, através do diálogo da mãe com o seu bebê, dos novos sons, do

conhecimento do mundo que nos rodeia.

E através desta que comunicamos com o mundo e este se comunica

conosco, desenvolvendo assim a nossa identidade, os nossos sentimentos, a

compreensão do mundo que está à sua volta, os vínculos sociais, as

interações intra e interpessoais e,, não esquecendo, o modo como

manifestamos os nossos anseios e necessidades.

1.2. DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Conhecida como surdez, consiste na perda parcial ou total da

capacidade de ouvir, isto é, um indivíduo que apresente um problema auditivo.

É considerado surdo todo o indivíduo cuja audição não é funcional no

dia-a-dia, é considerado parcialmente surdo todo aquele cuja a capacidade de

ouvir, ainda que deficiente, é funcional com ou sem prótese auditiva.

A deficiência auditiva é uma das deficiências contempladas e integradas

nas necessidades educativas especiais ( n.e.e ); necessidades pelas quais a

Escola tanto proclama.

Por vezes, as pessoas confundem surdez com deficiência auditiva.

Porém, estas duas noções devem ser encaradas como sinônimos. A surdez,

sendo de origem congênita, é quando se nasce surdo, isto é, não se tem

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capacidade de ouvir nenhum som. Por conseqüência surge uma série de

dificuldades na aquisição da linguagem, bem como no desenvolvimento da

comunicação.

Por sua vez a deficiência auditiva é um déficit adquirido, ou seja, é

quando se nasce com uma audição perfeita e que, devido a lesões ou doenças

a perde. Nestas situações, na maior parte dos casos, a pessoa já aprendeu a

se comunicar oralmente, Porém, ao adquirir esta deficiência, vai ter de

aprender a comunicar de outra forma. Em certos casos, pode-se recorrer ao

uso de aparelhos auditivos ou intervenções cirúrgicas, dependendo do grau da

deficiência auditiva, a fim de minimizar ou corrigir o problema.

1.3 TIPOS DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA

- Deficiência Auditiva Sensório-Neural

- Deficiência Auditiva Mista

- Deficiência Auditiva Central/ Disfunção auditiva Central/ Surdez Central/ -

Deficiência Auditiva Condutiva

A perda da audição condutiva afeta, na maior parte das vezes, todas as

freqüências do som. Contudo, por outro lado, não se verifica uma perda de

audição severa. Este tipo de perda de capacidade de capacidade auditiva pode

ser caudada por doenças ou obstruções existentes no ouvido externo ou no

ouvido interno.

A surdez condutiva pode ter origem numa lesão da caixa do tímpano ou

do ouvido médio.

A vulgar nos adultos a perda de audição condutiva, devido ao depósito

de cerúmen (cera) no canal auditivo externo Nas crianças, a otite média, uma

inflamação do ouvido médio, é a causa mais comum de perda de audição

condutiva.

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A perda de audição neurosensorial resulta de danos provocados pelas

células sensoriais auditivas ou no nervo auditivo. Este tipo de perda pode

deve-se a um problema hereditário num cromossomo, assim como, pode ser

causado por lesões provocadas durante o nascimento ou por lesões

provocadas no feto em desenvolvimento, tal como acontece quando uma

grávida contrai rubéola.

A sujeição a ruídos excessivos e persistentes aumenta a pressão numa

parte do ouvido interno – o labirinto – e pode resultar numa perda de audição

neurosensorial. Essa perda pode variar entre ligeira e profunda.

Nesses casos, recurso à amplificação do som pode não solucionar o

problema, uma vez que é possível que se verifique distorção do som.

Na deficiência auditiva mista verifica-se, juntamente, uma lesão do

aparelho de transmissão e de recepção, ou seja, quer transmissão mecânica

das vibrações sonoras, quer a sua transformação em percepção estão

afetadas / perturbadas.

Esta deficiência ocorre quando há alteração na condução do som até ao

órgão terminal sensorial ou do nervo auditivo. A surdez mista ocorre quando há

ambas as perdas auditivas: condutivas e neurosensoriais.

A deficiência auditiva central, disfunção auditiva central ou surdez central não

é, necessariamente, acompanhada de uma diminuição da sensibilidade

auditiva. Contudo manifesta-se por diferentes graus de dificuldade na

percepção e compreensão das quaisquer informações sonoras. Este tipo de

deficiência é determinado por uma alteração nas vias centrais da audição.Tal

fato decorre de alterações nos mecanismos de processamento da informação

sonora no tronco cerebral, ou seja, no sistema nervoso central.

1.4 Classificação Internacional de Audiofonologia

(Bureau International d’ Audiophonologia)

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GRAUS DE SURDEZ

- Leve : entre 20 e 40 dB

- Média: entre 40 e 70 dB

- Severa: entre 70 e 90 dB

- Profunda: mais de 90 dB

- 1° Grau: 90 dB

- 2º Grau: entre 90 e 100 dB

-3º Grau: mais

Os processos tecnológicos nos últimos tempos, têm sido pontos

bastante rentáveis para as pessoas que apresentam falhas auditivas. Porém,

quanto mais cedo se iniciar o tratamento para estes indivíduos, também

melhores serão os resultados serão os resultados, uma vez que quanto mais

cedo se iniciar a estimulação do cérebro, melhor será o seu desenvolvimento.

Para minimizar o problema da deficiência auditiva, as pessoas podem recorrer

a dois métodos:

- Método Oralista

- Método Gestual

Ou ainda:

-Prótese Auditiva

-Equipamentos autônomos de amplificação por freqüência modulada de 100

dB.

O Método Oralista somente se baseia na aquisição de linguagem oral,

sem intervenção de gestos estruturados.

O Método Gestual que, para além de um ensino de linguagem oral,

ainda apresenta um sistema estruturado de gestos. Este último baseia-se na

defesa da linguagem gestual.

Próteses auditivas e outros equipamentos ainda que, por muito cedo a

pessoa portadora de deficiência auditiva comece a usar, estas vão intervir com

o seu autoconhecimento, com a sua imagem pessoal, afastando-a

simbolicamente da comunidade surda, ainda que a língua gestual possa ser a

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sua língua materna. As próteses auditivas, por serem aparelhos visíveis e

facilmente detectáveis à observação direta farão com que o indivíduo tenha de

se adaptar a esta nova realidade, para sim se integrar de uma melhor forma na

sociedade.

Contudo, nem sempre isso é conseguido, uma vez que a maior partes

das pessoas rejeitam estes tipos de aparelhos. As próteses auditivas são

aparelhos que servem para ampliar o som. Contudo, é através do uso e do

treino auditivo especializado que se vão conseguindo alcançar alguns

resultados.

Toda esta tecnologia que tem vindo a ser falada ao longo do tempo, têm,

gradualmente, vindo a ajudar as pessoas deficientes auditivas, permitindo-nos

também dispor de alguns aparelhos de amplificação de sons que são bastante

úteis.

Existem ainda os equipamentos autônomos de amplificação por

freqüência modulada, que transmitem o sinal sonoro mediante ondas de alta

freqüência.

Estes equipamentos evitam interferências, reduzem o ruído ambiente e

eliminam o problema de distância entre interlocutores.

Para o treino da terapia da fala existem amplificadores de bandas de

freqüência mais especializados, que possuem filtros de freqüência que deixam

passar somente as freqüências que a terapeuta quer trabalhar no momento.

Ainda que os surdos mais profundos, se deve aplicar a tecnologia de

tratamento eletrônico de sons, traduzindo-os em vibrações, que se recebem

pelo tato.

É na informática onde se denotam as principais evoluções para o

desenvolvimento da aprendizagem de um surdo. Os computadores estão

suficientemente preparados e avançados, de tal forma que estes possuem

uma grande capacidade de motivação para os alunos. A comunicação é

bidirecional e cada computador pode adaptar-se ao ritmo de trabalho de cada

aluno.

A correção dos exercícios é imediata e possui ainda um grande poder de

simulação de fenômenos físicos.

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O diagnóstico que inicialmente se faz à pessoa deficiente auditiva vai

depender muito de alguns fatores, tais como: o grau de surdez, o momento em

que aparece e em que é detectada a deficiência e até mesmo do próprio

indivíduo.

Em alguns casos, o grau de surdez é tão profundo que muitas vezes

alguns recorrem ao implante coclear, com resultado muito satisfatório. Os

implantes cocleares, são aparelhos auditivos com um componente interno

introduzido no ouvido interno (através de uma cirurgia) e outro externo,

semelhante a uma prótese circular, ligada a um processador. A colocação

desta prótese faz-se através de uma intervenção cirúrgica.

O resultado deste implante é positivo, visto a qualidade do tom de voz

melhorar, a fala torna-se mais rítmica, há uma melhora de produção de

fonemas e uma melhor freqüência das verbalizações. As pessoas implantadas

melhoram a atenção e a concentração, mais interesse a falar, fazem menos

barulho em casa e conseguem identificar sons ambientais.

Ao contrário do que pensado por muitas pessoas, nunca se deve falar

alto na presença destas pessoas, pois de nada vai adiantar. O docente deve

falar pausadamente e distintamente, para que o indivíduo compreenda o que

esta sendo dito. Não se deve esquecer que os surdos muitas vezes utilizam da

leitura labial. Portanto, ao se falar com um surdo posicione-se sempre à sua fre

CAPÍTULO II

História da Educação dos Surdos ao Longo dos Tempos

2.1 Educação do Surdo No Brasil

Após chegar à terra de Vera Cruz em 1500, Pedro Álvares Cabral

encontrou os primeiros habitantes dessa terra, os indígenas. No entanto, não

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há pesquisas dessa época contando como eram os índios surdos e a

quantidade desses até meados de 1855. (GOLFELD, 1997).

O primeiro termo, que era dado a essa língua era de mímica, totalmente

inapropriado, pois esta é constituída por elementos essenciais da gramática; o

segundo de urubus-kapoor, que é origem brasileira e o terceiro e último é a

palavra Kaapor referente à LSKB, que significa “o homem da selva” e difere de

centros urbanos, ou seja, da Língua de Sinais dos Centros Urbanos da (LSCB).

Há, entretanto, a interferência das línguas que sucedem à LSCB, como a

Língua de Sinais Francesa, na qual sistematizou certos pressupostos

lingüísticos que ainda se faz presente em sua estrutura. (BRITO, 1993 apud

GOLFELD, 1997, p.30).

De acordo com Moura, (2000) com a volta da Família Real para Portugal

após a independência do Brasil, o Imperador D. Pedro II, que ficou como

substituto de D. Pedro I até completar a maioridade (com seus sucessores)

fundou o primeiro Instituto para Surdos em 1856 no Rio de Janeiro, inspirado

pelo francês Edward Huet (que era surdo) e que veio especialmente ao Brasil -

a pedido do Imperador - para trabalhar na educação dos surdos brasileiros.

Segundo Mazzota (2001), complementa que este instituto recebeu o

nome de Instituto de Surdos - Mudos segundo a Lei nº 839 de 26 de setembro

de 1857. Em 1957 cem anos após sua fundação, pela Lei nº 3198, de 6 de

julho, passaria a denominar-se como Instituto Nacional de Educação de

Surdos – INES.

A metodologia utilizada para o ensino das matérias básicas, português,

matemática, história, geografia e a LOF (conhecida na época como linguagem

articulada), segundo o próprio Huet era a Língua de Sinais e a escrita da língua

do país de origem; já que ele havia estudado com Clerc na França, no Instituto

Nacional para Surdos-Mudos. Sua educação foi por meio da Língua de Sinais,

assim ele resolveu aplicar esse mesmo método no INES. Foi considerado o

primeiro educador surdo a introduzir a Língua de Sinais Francesa aqui no

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Brasil. Ele permaneceu no Instituto por quatro anos e mudou-se para o México,

onde também fundou uma escola para surdos (MOURA, 2000).

Moura, (2000) explica que em seu lugar foi nomeado o Dr. Manoel de

Magalhães Couto em 1862, que não entendia nada sobre educação de surdos

(somente havia feito um curso de especialização na França sobre surdez). Em

seu projeto, não havia nenhuma indicação do trabalho com a Leitura Orofacial

ou do treino da fala, quanto menos da Língua de Sinais. Em 1868 o governo

brasileiro resolveu fazer uma inspeção nas escolas e visitou o Instituto

Nacional de Surdos e foi descoberto que este estava servindo apenas como

um asilo para os surdos, sem nenhuma finalidade educativa. Sendo assim, o

diretor Dr. Manoel foi demitido de seu cargo.

Mais uma vez, foi designado outro diretor para o Instituto, agora o Dr.

Tobias Leite, que estabeleceu como diretriz educacional o ensino da

“linguagem articulada e da leitura sobre os lábios” que só foi aprovado em

1873 e iniciado em 1883 pelo seu sucessor, o Dr. Joaquim José de Menezes

Vieira, que foi até a Europa para aprender tal método.

Dessa forma, Moura (2000) comenta que o trabalho desenvolvido por

Huet, voltado para a implantação da Língua de Sinais, permaneceu apenas

enquanto este estava sob o comando do Instituto. Depois que Huet mudou-se

para o México, tal método não foi emplementado, mas sim esquecido pelos

seus sucessores, que se basearam somente na “linguagem articulada e da

leitura sobre os lábios” proposta esta tipicamente oralista que iria

exclusivamente intermediar a comunicação do surdo, mas que toma agora o

lugar da Língua de Sinais.

O ensino do método oral perdurou durante sete anos, mas foi

considerado impróprio pelo Dr. Tobias Leite, porque os alunos surdos que

viviam no Instituto e que estavam praticando o método oral, não haviam obtido

nenhum resultado promissor até o momento proposto, por isso, a única

solução seria abandonar tal método educativo. Com isso, o governo ordenou

em 1889, que o ensino da “leitura articulada” fosse realizado somente com

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aquelas crianças que tinham condições fisiológicas e fono-articulatórias para o

treino da fala, sem a existência de prejuízos para sua linguagem .“Para o Dr.

Tobias Leite não se deveria adaptar o aluno ao método e sim o método ao

aluno.” (MOURA, 2000, p.82).

Um pouco mais tarde, em 1897 após o falecimento do Dr.Tobias Leite,

reiniciou-se uma nova fase para o ensino da linguagem articulada para os

surdos, a partir do comando do Dr. João Brasil Silvado, que a fez repercutir

durante muito tempo. Nesse sentido, fica explícita a importância do Congresso

de Milão e sua influência incondicional na educação dos surdos, mesmo que

de forma indireta ou discreta, mas atuando decisivamente no âmbito

educacional e internacional da vida dos surdos. (MOURA, 2000).

[...] mas a idéia já estava lançada, e, da mesma forma que em outras partes do mundo, ela funcionou como um catalizador, que, uma vez utilizado, não pode mais ser recuperado. A educação do surdo no Brasil adquiriu o caráter oralista, o qual luta até hoje para se livrar.

(MOURA 2000, p.83)

No século XX, aproximadamente em 1911 sob nova direção, o Instituto

de Surdos-Mudos no Rio de Janeiro estava no poder do Dr. Custódio José de

Ferreira Martins, que estabeleceu que o método oral puro fosse adotado em

todas as disciplinas básicas e para todos os alunos surdos, sem distinções se

este ou aquele poderia beneficiar-se ou não do método. Três anos depois, em

1914, verifica-se o que já era esperado, o programa oralista não obteve

sucesso com os alunos surdos do INES, mas o Dr. Custódio resolveu dessa

vez por a culpa nos alunos, afirmando que a idade deles (entre nove e

quatorze anos), prejudicava o processo de aquisição da língua oral. Assim

houve uma nova reformulação no ensino, que por sua vez, as crianças surdas

deveriam ter como idade para admissão no Instituto, de seis a dez anos no

máximo, para obter melhores resultados nesse programa que se fazia

fracassado antes mesmo de começar (Moura, 2000).

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A existência da surdez como uma diferença declarada na escola, é um

elemento capaz de fazer pensar a instituição e o currículo produzido pela

mesma. A pluralidade dos sujeitos existentes nesta, já não pode ser analisada

como uma abertura permitida, mas sim, como o resultado de uma ótica onde a

diferença e a pluriconstituição do sujeito ocupam lugares transitórios e

polêmicos junto às divisões em destaque. (LOPES, 40 1998, p.119).

A partir de 1930, outro diretor assumiu o governo do INES, conhecido

como Dr. Armando Paiva de Lacerda que tinha como intuito normalizar o surdo

de uma vez por todas, pois acreditava que a surdez era uma doença e deveria

ser curada de alguma forma. Então, em 1942 o INES foi modernizado com o

auxílio de uma equipe médica, contendo, fonoaudiólogos, psiquiatras e

psicólogos, para medir os limiares auditivos e lingüísticos, para analisar a

saúde mental e psicológica dos alunos surdos. Com o objetivo de integrar ou

incluir o surdo na sociedade, mas para que isso ocorresse era necessário

analisar sistematicamente o aluno surdo, para somente depois incluí-lo entre

os ouvintes, pois eles poderiam representar um perigo à sociedade ouvinte e

esta tinha receio do que poderia acontecer com os surdos revoltados pela

imposição da língua oral (Moura, 2000).

Para Moura (2000), foi somente dessa maneira, que Lacerda propôs

uma forma para inserir os surdos no meio social, por meio de sua qualificação,

dando-lhes a oportunidade de aprender diferentes ofícios como: marcenaria;

tornearia; alfaiataria; encadernação; entalhe e douração (para os homens),

costura e bordado para as mulheres, tudo isso dentro do próprio Instituto. Além

desses alunos não causarem nenhum incômodo, iriam favorecer no aumento

qualitativo da mão de obra barata (posteriormente), por meio da

profissionalização e, ainda, eles poderiam trabalhar como autônomos, ficando

longe da sociedade ouvinte.

Entretanto, esse era um meio “eficaz” para inserir o surdo no mundo

ouvinte e fazê-lo aprender a língua oral e, por conseqüência, de seu próprio

trabalho. Os instrumentos usados para atribuí-los no ensino profissionalizante

deveriam começar pelo ensino da linguagem oral, assim algumas atividades

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extras-classes eram promovidas, como por exemplo, excursões a um

determinado lugar, a fim de possibilitar o exercício da língua oral em diversas

situações. E o ensino estritamente pedagógico, baseado nos mais recentes

métodos para a educação dos surdos. (MOURA, 2000).

Ainda conforme Moura (2000) os métodos aplicados eram sempre os

mesmos: o método oral, para o ensino da linguagem articulada e da leitura

labial para alunos entre sete e nove anos de idade que possuíam aptidão para

aprender a oralizar, e o método auditivo, para os alunos que tinham resíduos

de audição. Estes últimos poderiam participar do grupo de alunos que usavam

o aparelho de amplificação sonora (AASI), enquanto aos que estavam fora da

faixa etária estabelecida pelo INES, poderiam e tinham como único recurso o

método escrito, por meio da leitura silenciosa, evitando se possível à utilização

da Língua de Sinais.

“A utilização da língua de sinais por parte dos surdos é por si só, o fato que melhor sublinha esse conjunto de relações assimétricas de poder e evidencia aquilo que a maioria ouvinte quer desterrar das escolas de surdos: a surdez.”

(SKLIAR, 1998, p.23).

Nesse contexto, foi instituído, simultaneamente, um Curso Normal, para

habilitar professores em como aplicar uma pedagogia para surdos. Esse curso

foi realizado em classes especiais de surdos, paralelas às escolas estaduais

que ofereciam o ensino fundamental - quando o ensino fundamental ainda não

tinha sido municipalizado. Com o intuito de economizar verbas com mais salas

ou escolas de educação especial, promovendo assim a inclusão do surdo no

ensino regular. Depois de habilitados, esses professores disseminaram essa

proposta que refletia a visão do INES em relação à problemática da pedagogia

para surdos, por todo o Brasil e tornaram-se formadores de outros profissionais

da educação (MOURA, 2000).

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Portanto, Moura (2000) afirma que essa problemática tinha interfaces

lingüísticas, que defendiam a língua oral como o melhor recurso para a

educação dos surdos e, simultaneamente, a língua escrita (como já foi

mencionada no parágrafo anterior), como único meio para aqueles alunos que

não se enquadravam no patamar estabelecido pelo INES para aprender a

língua oral e que segundo as normas legais do Instituto não poderiam usar a

Língua de Sinais.

Havia ainda, de acordo, com Moura (2000) uma classificação entre

surdos-mudos e surdo-falantes. Os primeiros, eram aqueles de classe

econômica inferior que não tinham condições para subsidiar o custo de um

tratamento fonoaudiológico (como a aparelhagem entre outros custos) e os

segundos, os surdos elitizados, com poder aquisitivo maior e, portanto,

capazes de custear um tratamento adequado ao seu tipo de surdez, utilizando

bons aparelhos de amplificação sonora individual, podendo assim aproveitar o

seu resíduo auditivo e quem sabe posteriormente terem o acesso à língua oral

ou falada. Assim, tais concepções lingüísticas adotadas pelo Instituto Nacional

de Surdos, formaram uma base educacional para a pedagogia de surdos,

juntamente com uma intervenção adequada.

Após muitas tentativas fracassadas com o uso do método oral, o

Instituto decidiu mudar de filosofia por vários motivos, dentre os quais porque

geralmente eles tinham como apoio fundamental a experiência dos países

desenvolvidos como a França, os Estados Unidos e a Alemanha que iniciaram

e o influenciaram com suas metodologias para o ensino de surdos e estes

também desistiram de tal método e, passaram a pesquisar sobre os benefícios

da Língua de Sinais para a educação dos surdos.

Segundo Moura (2000), esclarece que atualmente o INES defende a

filosofia do Bilingüismo, que pressupõe a utilização de duas línguas pelo surdo:

a Língua de Sinais ou a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), como sendo sua

primeira língua (L1) e a Língua Portuguesa sua segunda língua (L2). Esta

filosofia é composta de uma singular cultura, específica da “comunidade surda”

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que defende a todo custo sua língua e a Língua Portuguesa, que o aproxima

da normalidade e, portanto, fica em segundo plano para os surdos.

“A questão principal do Bilingüismo é a Surdez e não a surdez, ou seja, os estudos se preocupam em entender o Surdo, suas particularidades, sua língua (a língua de sinais), sua cultura e a forma singular de pensar, agir, etc; e não apenas os aspectos biológicos ligados à surdez.”

(GOLDFELD, 1997, p. 40).

Essa filosofia reconhece e aceita a diferença de ser surdo, como apenas

uma diferença e não com uma deficiência, que não o impossibilita de realizar

diversas atividades, inclusive, de comunicar-se com os ouvintes. Por meio

desta, o surdo pode se identificar como sujeito ativo da sociedade, isto é, como

cidadão, com seu modo de ser e agir, sem precisar imitar o comportamento

dos ouvintes. (MOURA, 2000).

Outro aspecto fundamental que caracteriza a LIBRAS e,

conseqüentemente, à cultura surda, para Moura (2000), é o fato de a LIBRAS

ser apropriada aos seus usuários, pois por meio dela os surdos podem

manifestar suas emoções, seus desejos, suas experiências (entre seus pares),

e até mesmo com ouvintes que saibam se comunicar em LIBRAS, além de

possibilitar que o surdo tenha sua própria identidade, no caso, a surda.

“A identidade surda sempre está em proximidade, em situação de necessidade com o outro igual. O sujeito surdo nas suas múltiplas identidades sempre está em necessidade diante da identidade surda. É uma identidade subordinada com o semelhante surdo, com muitos surdos narram. Ela se parece a um imã para questão de identidades cruzadas.”

(PERLIN, 431998, p.55)

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Portanto, o Bilingüismo pressupõe o ensino de duas línguas diferentes

que podem ser:

_ Sucessivas: onde se ensina primeiro a LIBRAS (L1) e, por conseguinte, a

Língua Portuguesa (L2);

_ Simultânea: quando há o ensino das duas línguas (L1 e L2) paralelamente,

mas sendo iniciada precocemente (antes de um ano de idade). Tendo a

participação efetiva de um adulto surdo para ensinar à criança surda os

primeiros sinais e, principalmente, no decorrer de sua educação elementar,

para que esta tenha contato desde cedo com a cultura surda. (FENEIS, 2001,

p.12).

Com relação à estrutura lingüística, a LIBRAS é usada no espaço-visual

e apresenta em sua composição os seguintes pontos: percepção

visual/gestual; expressão corporal e facial; expressão idiomática; significantes

e significados e os classificadores, que podem ser: de tamanho; de forma; de

parte; semântico; instrumental; plural, entre tantos outros. A LIBRAS, varia

também de dialeto, que se justifica por causa da extensão territorial de nosso

país, que é dividido em diversas regiões, culminando assim, nas variações

lingüísticas, isto é, lexicais e regionais. E o pidgin que não obedece

sistematicamente às regras da Língua Portuguesa, variando assim a estrutura

gramatical da LIBRAS.

Logo, a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), têm o status de língua segundo

a Lei Federal nº. 10.436, de 2002 que a reconhece,

[...] como forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.

(Brasil,2002)

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A LIBRAS, tem estrutura lingüística assim como qualquer outra língua,

pois segundo o autor Skutnabb-Kangas46 (1997) que discute, sobre os direitos

humanos lingüísticos, tais direitos devem garantir:

A) Que todos os seres humanos têm direito de identificarem-se com uma

língua materna (s) e de serem aceitos e respeitados por isso;

B) Que todos têm o direito de aprender a língua materna (s) completamente,

nas suas formas orais (quando fisiologicamente possível) e escrita

(pressuposto que a minoria lingüística seja educada na sua língua materna);

C) Que todos têm o direito de usar a língua materna em todas as situações

oficiais (inclusive na escola);

D) Que qualquer mudança que ocorra na língua materna seja voluntária, nunca

imposta.

Nesse sentido, a minoria surda tem seu direito garantido de utilizar a

LIBRAS como meio de comunicação em massa, diante de qualquer situação

que lhe permita ou que exija o uso da linguagem. E se acaso, a criança surda

tiver a possibilidade de aprender a língua oral será melhor ainda, porque daí

ela será realmente bilíngüe, tanto em LIBRAS quanto em Língua Portuguesa.

2.2 Educação Inclusiva

A educação inclusiva é uma ação educacional humanística,

democrática, amorosa, mas não piedosa, que percebe o sujeito em sua

singularidade e que tem como objetivos o crescimento, a satisfação pessoal e

inserção social de todos.

O conceito de educação inclusiva surgir a partir de 1994, com a

Declaração de Salamanca. A idéia é que as crianças com necessidades

educativas especiais sejam incluídas em escolas de ensino regular. O objetivo

da inclusão demonstra uma evolução da cultura ocidental, defendendo que

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nenhuma criança deve ser separada das outras por apresentar alguma espécie

de deficiência.

Os princípios norteadores da Declaração de Salamanca são: o

reconhecimento das diferenças, o atendimento às necessidades de cada um, a

promoção da aprendizagem, o reconhecimento da importância de “escolas

para todos” e a formação dos professores.

Desta forma, os aspectos político-ideológicos que estão embutidos nos

princípios desta Declaração tem, como pano de fundo, a perspectiva de um

mundo inclusivo, onde todos têm direito à participação na sociedade, em busca

do mais alto nível de democracia.

Do ponto de vista pedagógico esta integração assume a vantagem de

existir interação entre crianças, procurando um desenvolvimento conjunto. No

entanto, por vezes, surge uma imensa dificuldade por parte das escolas em

conseguirem integrar as crianças com necessidades especiais devido à

necessidade de criar as condições adequadas.

Com a Declaração de Salamanca surgiu o termo necessidades

educativas especiais, que veio substituir o termo “criança especial”, termo

anteriormente utilizado para designar uma criança com deficiência, este

engloba todas e quaisquer necessidades consideradas “diferentes” e que

necessitem de algum tipo de, abordagem específica por parte de instituições.

Num mundo cheio de incertezas, o homem está sempre a procura de sua

identidade e, por vezes, chega mesmo a procurar integrar-se na sociedade que

o rodeia, pois se sente solitário.

A inclusão não é idéia nova. Na verdade, em 1925, Lev Vygotsky,

teórico russo, escreveu:

“Que a coisa mais prejudicial para crianças com necessidades educativas especiais não é a necessidade especial em si mesma. Não, a conseqüência mais debilitante é como a necessidade educativa especial “muda a forma como a criança participa das atividades de sua cultura”.

( Berk &Windsor, 1995)

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Vygotsky foi um defensor da inclusão de crianças com necessidades

educativas especiais com as crianças da mesma faixa etária com

desenvolvimento típico da idade e, assim, fornecer-lhes modelos melhores e

dar-lhes a oportunidade de participar, como membros valorizados, de sua

comunidade.

Ninguém quer ser excluído, o ensino inclusivo diz respeito a envolver e

abraçar todos os alunos, assumir o compromisso de fazer o que for necessário

para proporcionar a cada um da comunidade, a cada cidadão de democracia, o

direito inalienável de pertencer e de não ser excluído. A inclusão assume , que

o viver e o aprender juntos é um método que beneficia a todos, não apenas à

criança rotulada como diferente.

A inclusão inicia-se com a pressuposição de que todos os alunos podem

fazer o mesmo trabalho e, então, adaptar para os alunos que precisam disso

sem por a ênfase sobre o “incomum”, ou debilidade, mas sim tentando “ajustar”

o trabalho à necessidade da criança. A suposição é que a estrutura

educacional precisa mudar e se adaptar, em vez de tentar forçar o aluno a se

ajustar a um conceito inflexível de “normal”.

2.3 O Congresso de Milão

A França e a Itália tiveram um papel relevante nas decisões sobre a

educação do surdo, tanto antes como depois do Congresso de Milão. Na

França, o Instituto Nacional de Surdos- Mudos, após o mandato de L’Epée

(que defendia a Língua de Sinais) e Sicard (que defendia o Oralismo),

iniciaram uma série de conflitos internos a respeito de qual metodologia seria

seguida, a gestual ou a oral. No entanto, o Oralismo com maior força política

passou a reger como atual método de ensino, mas havia dúvidas quanto a sua

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eficácia, o que levou o Instituto Nacional de Surdos-Mudos a se destituir até a

sua falência (MOURA, 2000).

Segundo Moura (2000) um dos motivos que levaram à decadência do

Instituto Nacional de Surdos-Mudos, foi à intervenção do Estado nos métodos

educativos para os alunos surdos. Havia o argumento de que a educação dos

surdos deveria ser oralista, a fim de desenvolver a fala, isto é, os surdos

deveriam aprender a Língua Francesa, independentemente, de qual identidade

o surdo se assemelhava. “A possibilidade de existir um grupo com uma

identidade lingüística diferenciada, a uma cultura própria punha em risco a

própria questão da centralização e da identidade da França enquanto nação.”

(MOURA, 2000, p. 44).

No ano de 1866, a França ordenou que todas as crianças surdas que

estavam fora da escola, freqüentassem as escolas regulares próximas de seus

lares, sendo que daria maior ênfase na oralidade e na escrita, mas com o

apoio do alfabeto datilológico. Na realidade, esse foi um meio escolhido pelo

governo para “rastrear” todas as crianças surdas francesas e impor-lhes o

método oral, sem intermédio da Língua de Sinais e dos sinais caseiros criados

para a comunicação entre os familiares dessas crianças. Somente o alfabeto

datilológico era usado para mascarar o real objetivo proposto pelo governo

francês. (MOURA, 2000).

Enquanto isso, nos Estados Unidos, a campanha a favor do Oralismo

continuava sendo liderada por Grann Bell, que mais tarde, e sem desistir de

seu sonho de oralizar os surdos, criou uma Associação para Promover o

Ensino da Fala para o Surdo. Na Inglaterra, John Ackers criou a Sociedade

para o Treinamento de Professores do Surdo e Difusão do Método Alemão

oralista, que pressupunha desenvolver nos professores uma didática

apropriada para ensinar aos surdos a Língua Francesa. (MOURA, 2000).

Segundo Moura (2000) foi somente após doze anos de muitas

turbulências (em 1878), que aconteceu em Paris na França, a Exposição

Universal de Paris, onde foi organizado um congresso sobre a educação dos

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surdos, intitulado de “Amelioration du Sort des Sourmuests”, dirigido por

L.Vaïsse com a finalidade de discutir as propostas metodológicas do ensino

para surdos.

A razão principal desse congresso era defesa da proposta oralista,

subjugando à Língua de Sinais como imprópria e inferior, destinada àqueles

que eram considerados para a sociedade francesa como “anormais.” Como

resultado das discussões desse congresso, chegou-se a conclusão que seria

usado o método combinado, ou seja, a Língua Oral Francesa com a Língua de

Sinais. Contudo, os sinais serviriam apenas como apoio para a primeira. Os

sinais puros32 seriam para os sujeitos classificados como incapacitados para

desenvolver a linguagem oral, isto é, por uma incapacidade intelectual

(MOURA, 2000).

Na medida em que na França, a discussão sobre a educação do surdo e

suas diretrizes educacionais já estavam praticamente decididas, segundo

Moura (2000), na Itália havia muito que fazer diante de tantas peculiaridades

para escolher qual a melhor filosofia educacional. Até meados de 1870, a Itália

era dividida em cidades-estado cada qual com sua autonomia, língua, etc.

Após sua unificação, muitas mudanças tiveram que ser tomadas, inclusive, em

relação à educação. Esse era o grande propósito do governo italiano,

promover a escolarização de seu povo em uma única língua, ou em apenas

dialetos regionais, entre os diversos grupos existentes antes dessa unificação

governamental.

Moura (2000) ainda comenta, que entre esses diferentes dialetos,

existia a Língua de Sinais, que era usada nas escolas especiais, nos Institutos

Italianos para Surdos. Ela deveria ser excluída do ponto de vista sócio-político

e histórico da nação, pois a Itália tinha agora um novo regimento lingüístico, a

língua italiana. Todavia, havia algumas escolas que já usavam o treino

articulatório (LOF-Leitura Orofacial) com seus alunos surdos, tentando dar-lhes

a fala. Havia também, uma grande influência do método oral alemão33 que

fora adotado pelos italianos como metodologia de ensino para crianças surdas.

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Dessa forma, a implantação dessa metodologia foi um tanto conturbada,

devido às inúmeras dúvidas a respeito da eficácia deste método (oral) na

satisfação das necessidades educacionais dos alunos surdos e sua integração

na sociedade. Houve a interferência da Igreja Católica nesse processo, já que

a maioria dos Institutos era de origem católica e o clero se opunha à Língua de

Sinais por diversas razões, uma delas seria pelo anti-catolicismo alemão.

(MOURA,2000).

Segundo Moura (2000) explica que foi por esse e outros motivos de

ordem política e ideológica das duas nações (França e Itália) que veio culminar

o Congresso de Milão em 1880. Esse Congresso buscou e confirmou que

Oralismo era realmente o melhor método de ensino para educar as crianças

surdas. Participaram desse Congresso, representantes da: Grã-Bretanha,

Estados Unidos, Canadá, Bélgica, Suécia e Rússia. Dentre esses

representantes, havia apenas um surdo para defender a Língua de Sinais

como meio de comunicação dos surdos e, supostamente, como o melhor

recurso para a sua educação.

Esse Congresso tinha como propósito, evidenciar as desvantagens da

Língua de Sinais para o desenvolvimento cognitivo e lingüístico do surdo e a

abolir definitivamente como proposta educacional, sendo que a Língua Oral

(Língua Italiana) tomaria seu lugar como a única língua acessível aos surdos.

Houve a votação e Edward Gallaudet que estava presente representando os

Estados Unidos, foi contra a proposta e sugeriu o método combinado (da

Língua de Sinais com Língua Oral), mas não foi ouvido. Foi decidido então, por

unanimidade e promulgada a seguinte resolução:

“Dada à superioridade incontestável da fala sobre os Sinais pra reintegrar os Surdos-Mudos na vida social e para dar-lhes maior facilidade de linguagem... (Este congresso) declara que o método deve ter preferência sobre os Sinais na instrução e educação dos surdos e mudos.”

(CONGRESSO DE MILÃO )

Diante desses resultados, o Oralismo passou a reinar pelo resto do

século XIX e começo do século XX, quando foi constatado (depois de sua

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implementação), a sua ineficácia, por meio dos resultados obtidos dos

Institutos para Surdos, que aplicaram essa metodologia e perceberam que ela

não supria adequadamente o ensino para crianças surdas. (MOURA, 2000).

2.4 A Inclusão do Surdo no Ensino Regular

As pessoas com surdez enfrentam inúmeros entraves para participar da

educação escolar, decorrente da perda da audição e da forma como se

estruturam as propostas educacionais das escolas. Muitos alunos com surdez

podem ser prejudicados pela falta de estímulo adequado ao seu potencial

cognitivo, sócio-afetivo, lingüístico e político-cultural e ter perdas consideráveis

no desenvolvimento da aprendizagem.

Estudos realizados na última década do século XX e início do século

XXI, por diversos autores e pesquisadores oferecem contribuições à educação

de alunos com surdez na escola comum ressaltando a valorização das

diferenças no convívio social e o reconhecimento do potencial de cada ser

humano.

“As trocas simbólicas provocam a capacidade representativa desses alunos, favorecendo o desenvolvimento do pensamento e do conhecimento, em ambientes heterogêneos de aprendizagem”.

(Poker, 2001)

No entanto, existem posições contrárias à inclusão de alunos com

surdez nas turmas comuns, em decorrência da compreensão das formas de

representação da surdez como incapacidade ou das propostas pedagógicas

desenvolvidas tradicionalmente para atendê-las que não consideram a

diversidade lingüística.

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Conforme, SKLIAR alegam que o modelo excludente da educação

especial está sendo substituído por outro, em nome da inclusão, que não

respeita a identidade surda, sua cultura, sua comunidade.

Não se trata de trocar a escola excludente especial por uma escola

excludente comum. Ocorre que alguns discursos e práticas educacionais ainda

não conseguiram, responder às questões acima formuladas, mantendo os

processos de normatização das pessoas com surdez.

A inclusão do aluno surdo deve acontecer desde a educação infantil até

a educação superior, garantindo-lhe, desde cedo, utilizar os recursos de que

necessita para superar as barreiras no processo educacional e usufruir seus

direitos escolares, exercendo sua cidadania, de acordo com os princípios

constitucionais do nosso país.

A inclusão de pessoas com surdez na escola comum requer que se

busquem meios para beneficiar sua participação e aprendizagem tanto na sala

de aula como no Atendimento Educacional Especializado.

Conforme Dorziat, o aperfeiçoamento da escola comum em favor

de todos os alunos é primordial. Esta autora observa que os professores

precisam conhecer e usar a Língua de Sinais, entretanto, deve-se considerar

que a simples adoção dessa língua não é suficiente para escolarizar o aluno

com surdez. Assim, a escola comum precisa implementar ações que tenham

sentido para os alunos em geral e que esse sentido possa ser compartilhado

com os alunos com surdez. Mais do que a utilização, os alunos com surdez

precisam de ambientes educacionais estimuladores, que desafiem o

pensamento, explorem suas capacidades, em todos os sentidos.

Se somente o uso de uma língua bastasse para aprender, as pessoas

ouvintes não teriam problemas de aproveitamento escolar, já que entram na

escola com uma língua oral desenvolvida. A aquisição da Língua de Sinais, de

fato, não é garantia de uma aprendizagem significativa, como mostrou POKER,

quando trabalhou com seis alunos com surdez profunda que se encontravam

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matriculados na primeira etapa do Ensino Fundamental, com idade entre oito e

nove meses e 11 anos e nove meses, investigando, por meio de intervenções

educacionais, as trocas simbólicas e o desenvolvimento cognitivo desses

alunos.

Segundo esta autora, o ambiente em que a pessoa com surdez está

inserida, principalmente o da escola, na medida em que não lhe oferece

condições para que se estabeleçam trocas simbólicas com o meio físico e

social, não exercita ou provoca a capacidade representativa dessas pessoas,

conseqüentemente, compromete o desenvolvimento do pensamento. A

pesquisadora constatou que nesse caso, a natureza do problema cognitivo da

pessoa com surdez está relacionada à deficiência de trocas simbólicas, ou

seja, o meio escolar não expõe esses alunos a solicitações capazes de exigir

deles coordenações mentais cada vez mais elaboradas, que favorecerão o

mecanismo da abstração reflexionante e conseqüentemente os avanços

cognitivos.

Considerando a necessidade do desenvolvimento da capacidade

representativa e lingüística dos alunos com surdez, a escola comum deve

viabilizar sua escolarização em um turno e o Atendimento Educacional

Especializado em outro, contemplando o ensino de Libras, o ensino em Libras

e o ensino da Língua Portuguesa.

“Ao optar-se em oferecer uma educação bilíngüe, escola está assumindo uma política lingüística em que duas línguas passarão a co-existir no espaço escolar. Além disso, também será definido qual será a primeira língua e qual será a segunda língua bem como as funções em que cada língua irá representar no ambiente escolar. Pedagogicamente, a escola vai pensar em como estas línguas estarão acessíveis às crianças, além de desenvolver as demais atividades escolares. As línguas podem estar permeando as atividades escolares ou serem objetos de estudo em horários específicos dependendo da proposta da escola. Isso vai de pender de “como”, “onde”, e “de que forma” as crianças utilizam as línguas na escola”.

(MEC/SEESP, 2006

Inúmeras polêmicas, têm se formado em torno da educação escolar

para pessoas com surdez. A proposta da educação escolar inclusiva é um

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desafio, que para ser efetivada faz-se necessário considerar que os alunos

com surdez têm direito de acesso ao conhecimento, à acessibilidade, bom

como ao Atendimento Educacional Especializado.

Segundo BUENO, é preciso ultrapassar a visão que reduz os problemas

de escolarização das pessoas com surdez ao uso desta ou daquela língua,

mas sim de ampliá-la para os campos sócio-políticos.

Atualmente podemos observar a “implementação” do Paradigma de

Suportes que sustenta a filosofia da prática inclusiva em todos os ambientes

sociais, inclusive, na escola. Com o intuito, de promover a inserção dos alunos

com N.E.E no ensino regular. Este paradigma vem acompanhado da proposta

do acompanhamento dos alunos surdos nas salas de recursos, por

professores especializados que possam ajudá-los a resolver suas dúvidas ou

dificuldades de aprendizagem.

[...] chama-se escola inclusiva, ao contexto educacional que garante esse processo a cada um de seus alunos, reconhecendo a diversidade que constitui seu alunado, respeitando essa diversidade e respondendo a cada um, de acordo, com sua peculiaridade e necessidades. (Brasil, 2000, p.42)

Para tanto, a unidade escolar necessita se organizar, com o objetivo de

garantir os direitos humanos ao seu alunado, contribuindo para sua efetiva

aprendizagem e, concomitantemente, respeitando e adequando-se às suas

necessidades educacionais especiais; independentemente de sua etnia, sexo,

idade, condição social ou deficiência. (BRASIL, 2000).

Segundo Mantoan (2003), “na escola inclusiva o aluno é sujeito e foco

principal de toda ação pedagógica dirigida pelo professor, que o auxilia

educacionalmente em todas as suas necessidades.” A escola faz também o

acompanhamento de seus familiares e da comunidade a qual o sujeito

pertence, esse fator é imprescindível para o seu desenvolvimento, seja

cognitivo ou social. Dessa forma, o mesmo acontece com o aluno com surdez,

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ele precisa de todo aparato pedagógico e social para que possa sentir-se e ser

efetivamente inserido na educação regular.

Segundo os dados do IBGE (Censo de 2000) 48 existem 5,7 milhões de

pessoas com deficiência auditiva (equivalente a 8,7% da população total),

sendo que mais de 406.000 estão em idade escolar, mas pouco mais de 13%

(Censo de 2005) aproximadamente 56.000 pessoas, estavam matriculadas no

ensino regular da educação básica. Isso representa o fracasso escolar da

educação dos surdos e, conseqüentemente, a evasão escolar, por causa da

ausência do suporte lingüístico (condições inadequadas), ou melhor, da

presença do instrutor ou intérprete de LIBRAS (dependendo do caso) na sala

de aula. A falta destes dificulta o acesso paralelo dos surdos no sistema

escolar de educação básica.

Para Gotti (2007) assessora da Secretaria da Educação Especial do

MEC, “sem a LIBRAS o aluno tem que se concentrar apenas na leitura de

lábios e 50% da mensagem se perde” explica. Sendo assim, com o apoio do

instrutor de LIBRAS o aluno que ainda não a adquiriu poderá aprendê-la e para

aqueles que já a dominam, a importância do intérprete será ainda mais eficaz,

pois possibilitará ao aluno surdo compreender o conteúdo disciplinar que o

professor estiver aplicando ou explicando para toda a classe.

Para Moura (2000), a história educacional dos surdos foi permeada por

muita luta no que diz respeito, à oficialização da Língua de Sinais, tanto no

âmbito internacional quanto no nacional. No caso do Brasil, a Língua de Sinais

sofreu algumas mudanças quanto à sua nomenclatura e é atualmente

denominada por Língua Brasileira de Sinais. Ela foi reconhecida como língua,

por meio da Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002 que a oficializou com

esse status. Assim, é direito do surdo que esta seja implantada e admitida

como tal.

Há também o Decreto de Lei nº. 5.626 de 22 de dezembro de 2005 que

implanta o uso da LIBRAS, em todas as unidades escolares e a inclusão desta

como disciplina curricular nos cursos de licenciatura de Pedagogia (Educação

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Especial), Fonoaudiologia e nas demais licenciaturas que envolvam o ensino

pedagógico na grade curricular do Ensino Fundamental I e II, Ensino Médio e

de qualquer curso superior oferecido por universidades e faculdades que

estejam credenciadas ao Ministério da Educação.

A inclusão do surdo no Ensino Básico, implica numa mudança no

Paradigma de Serviços e implementação do Paradigma de Suportes, a

inclusão. Entretanto, há uma grande confusão entre os vocábulos integração e

inclusão, os quais têm significados semelhantes, mas são empregados em

situações de inserção diferentes no contexto sócio-educacional. (MANTOAN,

2003).

Assim, a autora citada acima, explica que na integração escolar, o aluno

tem acesso às escolas independentemente de sua deficiência e recursos

disponíveis para sua inserção, tanto em sala de aula quanto fora desta e,

especificamente, nas escolas especiais, onde encontram suporte necessário

às suas necessidades educacionais especiais e menos apoio nas escolas de

ensino regular, porque tal paradigma ainda não foi implementado com

eficiência.

Diante disso, a comunidade escolar não está preparada para receber

um aluno surdo. O que ocasiona insegurança em recebê-lo, pois o corpo

escolar não sabe como atender às suas necessidades educacionais especiais.

Porém, a inclusão oferece de forma radical subsídios para incluir o aluno com

N.E.E, sem exceção e sem discriminar as diferenças, ou melhor, à diversidade.

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CAPÍTULO III

Política Nacional de Educação Especial e a Educação de Surdos

3.1 Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica

A Política Nacional de Educação Especial foi publicada depois de

passar por várias instâncias de reflexão. Uma comissão composta por pessoas

consideradas referências nacionais na área da educação especial foi formada

pelo Ministério da Educação para redigir o texto inicial dessa política, que foi

analisado por membros de organizações civis e públicas, governamentais e

não-governamentais, representantes reconhecidas por suas comunidades e

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pela sociedade civil. No caso dos surdos, todas as representações afirmaram

a importância de contemplar a educação bilíngüe, tendo a Língua de Sinais

como a sua primeira língua e a portuguesa escrita como a segunda. A política

buscando atender a essas reivindicações reafirmou a Lei de LIBRAS e o

Decreto que a regulamenta.

“O Decreto nº 5.626/05, que regulamenta a Lei nº 10.436/2002, visando ao acesso à escola dos alunos surdos, dispõe sobre a inclusão de LIBRAS como disciplina curricular, a formação e a certificação de professor, instrutor e tradutor/intérprete de LIBRAS, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua para surdos e a organização da educa bilíngüe no ensino regular”.

(Política Nacional de Educação Especial, 2008)

Diante dessa política, faz-se necessário planejar a viabilização de uma

educação bilíngüe nas escolas públicas, na atualidade, essencialmente

monolíngües. Esse exercício vai exigir que sejam desconstruídas essas

práticas monolíngües e concebida uma política bilíngüe. Para viabilizar essa

educação bilíngüe nos espaços das escolas públicas, os projetos educacionais

precisam estar na alma dos profissionais implicados, afirmando as duas

línguas que passam a fazer parte da escola. Precisa haver o respeito e a

valorização de ambas as línguas que fazem parte das comunidades implicadas

nesse espaço. Há diferentes espaços em que as línguas ocupam diferentes

papéis e há, também, o contato entre essas línguas. No caso dos surdos

brasileiros, a Língua de Sinais é a sua língua de instrução e o português, a

segunda língua. Por outro lado, para os colegas ouvintes que estarão nessa

escola, LIBRAS será a segunda língua, enquanto o português continuará

sendo a sua primeira língua.

Vários aspectos precisam ser considerados para haver o planejamento

pedagógico e lingüístico dessa educação bilíngüe. A questão da língua implica

mudanças na arquitetura, nos espaços, nas formas de interação, na formação

dos professores da escola, de professores bilíngüe, de professores surdos e

de intérpretes de língua de sinais.

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Faz-se necessário criar um sistema de acompanhamento da

implementação da educação bilíngüe no país, levando em conta os diferentes

espaços de educação. Algumas escolas públicas em que a língua portuguesa

sempre foi a língua de instrução passarão a ser bilíngüe, criando espaços

bilíngüe em que tanto a língua portuguesa quanto a língua brasileira de sinais

ocuparão espaços de línguas de instrução, dependendo de quem, as acessar.

Por outro lado, essas escolas contarão com o ensino dessas línguas de

diferentes formas.

A faixa etária implicará diferentes estratégias lingüísticas e pedagógicas

para garantir uma educação bilíngüe eficiente, ou seja, desde a aquisição da

linguagem, no caso específico da linguagem, no caso específico dos surdos.

Até as formas de ensinar e aprender passará pelas línguas de diferentes

formas, envolvendo todos os alunos em distintos contextos. O letramento da

língua portuguesa acontecerá de formas diferenciadas, dependendo das

funções das línguas para os alunos. A escolarização, a preparação para o

vestibular e o ingresso no ensino superior passará por diferentes formas de

educação bilíngüe. Esses fatores determinarão as formas e os tipos de

educação bilíngüe, nas escolas publicas brasileira.

3.2 Parâmetros Curriculares Nacionais

O documento a ser analisado é do Ministério da Educação e da

Secretaria de Educação Especial, intitulado aos Parâmetros Curriculares

Nacionais: estratégias para a educação de alunos com necessidade

educacionais especiais de 1999. Este documento foi formulado para esse fim,

ou seja, para a inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais

e, supostamente, para adequar os conteúdos curriculares relacionados à série

correspondente em que o aluno esteja, de acordo, com sua necessidade

educacional.

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Esse documento oferece aos sujeitos com N.E.E estratégias inovadoras

que os ajudam em sua inserção escolar, como a adaptação curricular,

conforme, as necessidades do aluno com surdez devido ao grau e a perda de

sua deficiência auditiva, que pode comprometer substancialmente à sua

aprendizagem, pela ausência de uma língua que seja à base de sua

comunicação entre surdo-ouvinte.

São diversas as adequações, no entanto serão analisadas apenas

algumas referentes ao aluno surdo. As adaptações relativas ao currículo da

classe são:

_ a relação professor/aluno considera as dificuldades de comunicação do

aluno, inclusive a necessidade que alguns têm de utilizar sistemas alternativos

(língua de sinais, sistemas braille, sistema bliss ou similares, etc).

_ as metodologias, as atividades e procedimentos de ensino são organizados

e realizados levando-se em conta o nível de compreensão e a motivação dos

alunos; os sistemas de comunicação que utilizam, favorecendo a experiência,

a participação e o estímulo à expressão. (BRASIL, 1999).

A primeira adaptação faz referência à “dificuldade de comunicação”

existente entre o aluno surdo e o professor, além de estabelecer a

necessidade de usar a LIBRAS. Já a segunda diz respeito, à metodologia de

ensino a ser adotada, mas, de acordo, com o grau de compreensão do aluno e

da comunicação que ele utiliza, no caso, a LIBRAS.

As adaptações de acesso ao currículo,

_ adotar sistemas de comunicação alternativos para alunos impedidos de

comunicação oral (no processo de ensino - aprendizagem e na avaliação)

(BRASIL, 1999).

Nesse sistema de comunicação alternativa, o aluno com surdez está

incluído, pois às vezes, ele é impedido de comunicar-se oralmente por não

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dominar a Língua Portuguesa na modalidade oral, a não ser pelo uso da

LIBRAS.

Adaptações de recursos de acesso específico ao aluno com surdez:

_ materiais e equipamentos específicos: prótese auditiva, treinadores de fala,

tablado, softwares educativos e específicos;

_ textos escritos complementados com elementos que favoreçam a sua

compreensão: linguagem gestual, língua de sinais e outros;

_ sistema alternativo de comunicação adaptado às possibilidades do aluno:

leitura orofacial, linguagem gestual e de sinais;

_ salas-ambientes para treinamento auditivo, de fala, rítmico, etc;

_ posicionamento do aluno na sala de aula de tal modo que possa ver os

movimentos orofaciais do professor e dos colegas;

_ material visual e outros de apoio, para favorecer a apreensão das

informações expostas verbalmente. (BRASIL, 1999).

Essa adaptação curricular tem como intuito, minimizar os efeitos, ou

melhor, as conseqüências da deficiência auditiva, por meio de materiais

otoacústicos (AASI), de textos escritos com a intermediação da LIBRAS, do

sistema alternativo que compreende a Filosofia do Bilingüismo (LIBRAS e

Língua Oral), do apoio das escolas, que deveriam ter as salas- ambiente, do

posicionamento do aluno surdo na sala de aula para a compreensão da LOF56

e, principalmente, da atenção visual que o professor deve ter em todos os

procedimentos, independentemente de quais sejam. O professor precisa

sempre lembrar que há um aluno surdo na classe, para adaptar os recursos

necessários para sua efetiva e significativa aprendizagem, como os materiais

de apoio visual, a fim de melhorar a aquisição dos conceitos (pelo aluno surdo)

trabalhados pelo professor em seu cotidiano.

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Entretanto, deve haver a diversificação curricular com os sistemas de

apoio para uma criteriosa avaliação do aluno surdo. Esse suporte favorece a

eficácia na educação desse respectivo aluno e deve ser assim precedido:

_ as pessoas: familiares, amigos, profissionais, colegas, monitores,

orientadores, professores (itinerantes, de sala de recursos, de apoio);

_ os recursos físicos, materiais e ambientais;

_ as deliberações e decisões políticas, legais, administrativas;

_ os recursos técnicos e tecnológicos;

_ as programas e serviços de atendimento genéricos e especializados.

(BRASIL, 1999).

Nesse âmbito, sem o apoio dos profissionais (que devem ser

capacitados para o exercício de sua função), dos familiares do aluno com

surdez, da contribuição dos recursos adaptados ao seu currículo, da

contribuição da política educacional, do apoio da educação especial e de

recursos tecnológicos, é praticamente impossível que tanto a inclusão desses

aluno, quanto à sua aprendizagem seja efetivada mesmo a longo prazo,

porque essa relação é biunívoca.

3.3 A Lei n° 10.436 da Língua Brasileira de Sinais (2002)

A Lei n° 10.436 estabelece em seus artigos:

Art.1° É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS e outros recursos de expressão a ela associados.

Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS a forma de expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. (BRASIL, 2002).

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O artigo primeiro reconhece a LIBRAS como meio de comunicação ou

de expressão a ser utilizado pelas pessoas surdas, mas somente no parágrafo

único do mesmo artigo, que lhe é conferida o status de uma língua, com

recursos e estrutura gramatical própria. E a comunidade surda a qual pertence

à maioria dos surdos que usam a LIBRAS, por preservarem uma cultura

peculiar a sua língua e pela luta de seus direitos.

Art.2° Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. (BRASIL, 2002).

Esse artigo, garante a acessibilidade do uso da LIBRAS e de sua

divulgação em todos os lugares públicos, como língua oficial das comunidades

surdas do Brasil, permitindo ao aluno com surdez o seu uso freqüente no

ensino regular ou em qualquer escola que estude, seja especial ou não,

conforme assegura referido o artigo.

Art.3°As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor. (BRASIL, 2002).

Nesse artigo, é conferido ao aluno com surdez, o direito de ser atendido

pelos órgãos públicos de saúde recebendo o devido tratamento para as

conseqüências de sua surdez, pelos devidos profissionais como

otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos, psicólogos, neurologistas dentre

outros.

Art.4° O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e

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de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais – Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, conforme a legislação vigente.

Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais – Libras não poderá substituir a modalidade escrita da Língua Portuguesa (Brasil,2002).

O artigo mostra a inclusão da disciplina de LIBRAS nos cursos

superiores da educação e da saúde, de acordo, com os Parâmetros

Curriculares Nacionais, que subsidiam a educação nacional. O parágrafo

único, que afirma que a língua portuguesa é insubstituível em relação à sua

escrita pela Língua Brasileira de Sinais. Talvez, esta questão merecesse ser

bem discutida!

3.4 Decreto n° 5.626 da Lei de LIBRAS (2005)

Será feita uma análise deste documento, mas somente dos capítulos IV

(Art.14), V (Art.21) e VI (Art.22 e 23) que se referem à educação do aluno com

surdez.

Art.14° As instituições federais de ensino devem garantir, obrigatoriamente, às pessoas surdas acesso à comunicação, à informação e à educação nos processos seletivos, nas atividades e nos conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e modalidade de educação, desde a educação infantil até à superior.

§1° Para garantir o atendimento educacional especializado e o acesso previsto no caput, as instituições federais de ensino devem:

I- promover cursos de formação de professores para:

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a) o uso e o ensino da LIBRAS;

b) o ensino da LIBRAS;

c) o ensino da Língua Portuguesa, como segunda língua para as pessoas

surdas;

II- prover as escolas com:

a) professor de LIBRAS ou instrutor de LIBRAS;

b) tradutor e intérprete de LIBRAS /Língua Portuguesa;

c) professor para o ensino de Língua Portuguesa como a segunda língua para

as pessoas surdas; e

d) professor regente de classe com conhecimento acerca da singularidade

lingüística manifestada pelos alunos surdos. (BRASIL, 2005, p.2 )

Nesse artigo, fica instituído a obrigatoriedade do Governo Federal em

garantir a acessibilidade de comunicação, informação e educação aos alunos

surdos em todos os níveis escolares, independente de qual etapa ou

modalidade de ensino estejam esses educandos. No parágrafo primeiro, inciso

I explicita-se para que este atendimento especializado seja garantido é preciso

antes que haja a formação de professores (por meio de uma capacitação) com

o intuito de aprenderem a LIBRAS como um recurso lingüístico, usual e

didático, para o ensino da mesma os alunos com surdez, citados na alínea “a”,

“b” e na alínea “c” e a contratação de docentes que ensinem prioritariamente a

Língua Portuguesa para os alunos surdos como sua segunda língua, já que a

primeira língua do surdo é a LIBRAS.

O inciso II complementa que a União, deve providenciar às escolas a

contratação de professores que saibam a LIBRAS ou de instrutores que

ensinem os alunos com surdez quando estes não souberem. Quando não

houver um professor especializado que saiba a Língua Brasileira de Sinais,

faz-se necessário, a presença de um intérprete de LIBRAS - Língua

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Portuguesa em sala de aula como meio eficaz para a interpretação do

conteúdo curricular para o aluno com surdez (quando esses alunos já

adquiriram a língua), além de professores que ensinem a Língua Portuguesa

como modalidade secundária59 e que respeitem e saibam sobre as diferenças

lingüísticas desses alunos.

Art.21° A partir de um ano da publicação desse decreto, as instituições federais de ensino da educação básica e da educação superior devem incluir, em seus quadros, em todos os níveis, etapas e modalidades, o tradutor e intérprete de Libras – Língua Portuguesa, para viabilizar o acesso à comunicação, à informação e à educação dos alunos surdos.

§ 1° O profissional a que se refere o caput atuará:

I-nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino;

II- nas salas de aula para viabilizar o acesso dos alunos aos conhecimentos

curriculares, em todas as atividades didático-pedagógicas; e

III- no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim da instituição de

ensino.

§ 2° As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação e à educação.

(Brasil,2005)

De acordo, com artigo, a partir da publicação do referido decreto que foi

sancionado em 2005, a inclusão do intérprete de LIBRAS – Língua Portuguesa

em todas as unidades educativas de âmbito federal, seja na educação básica

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ou na educação superior e em qualquer etapa de ensino correspondente aos

que foram citados nesse artigo, tem como objetivo proporcionar a

acessibilidade do aluno surdo à sua comunicação e, conseqüentemente, à sua

educação. No primeiro parágrafo, fica implícito que é dever do intérprete, atuar

como exemplifica o inciso I na preparação de cursos de LIBRAS para as

instituições de ensino, interpretar as aulas ou os conteúdos curriculares na

inclusão do aluno surdo no ensino regular, como afirma o inciso II e segundo o

inciso III apoiar as instituições de ensino quanto à acessibilidade de suas

atividades e serviços internos.

O parágrafo segundo, complementa que as instituições privadas ou

públicas que compreendem o sistema federal de ensino, como o estadual,

municipal e federal devem implementar essas medidas afim de assegurar os

direitos legislativos do aluno surdo.

Art.22° As instituições federais de ensino responsáveis pela educação básica devem garantir a inclusão de alunos surdos ou com deficiência auditiva, por meio da organização de:

I- escolas e classes de educação bilíngüe, abertas a alunos surdos e ouvintes,

com professores bilíngües, na educação infantil e nos anos iniciais do ensino

fundamental;

II- escolas bilíngües ou escolas comuns da rede regular de ensino, abertas a

alunos surdos e ouvintes, para os anos finais do ensino fundamental, ensino

médio ou educação profissional, como docentes das diferentes áreas do

conhecimento, cientes da singularidade lingüística dos alunos surdos, bem

como com a presença de tradutores e intérpretes de Libras – Língua

Portuguesa.

§ 1° São denominadas escolas ou classes de educação bilíngüe aquelas em que a LIBRAS e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo processo educativo.

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§2° Os alunos têm o direito à escolarização em turno diferenciado ao atendimento educacional especializado para o desenvolvimento de complementação curricular, com a utilização de equipamentos e tecnologias de informação. (BRASIL, 2005).

O Art.22° faz referência à inclusão do aluno surdo, como fica implícito no inciso I, estas escolas ou classes devem ser bilíngües, ou melhor, que os professores que atendem a demanda escolar, saibam a Língua Portuguesa e, concomitantemente, a LIBRAS, para que possam interpretar para seus alunos surdos, numa classe mista, com alunos surdos e ouvintes, desde a Educação Infantil até o Ensino Fundamental I. No inciso II, essas escolas bilíngües ou escolas de ensino regular, também devem incluir os alunos surdos, agora no Ensino Fundamental II ou Ensino Médio preparando-o para a Educação Profissional, com o apoio de um intérprete de LIBRAS – Língua Portuguesa que os ajude na interpretação do conteúdo curricular, além da conscientização dos professores da rede regular de ensino sobre as diferenças lingüísticas do aluno surdo e da presença constante do intérprete de LIBRAS em sala de aula para o acompanhamento escolar desse aluno surdo.

No parágrafo primeiro, as escolas ou classes bilíngües, as que são

pautadas no uso da LIBRAS e, conseqüentemente, na modalidade escrita da

Língua Portuguesa, fazem parte de um processo de desenvolvimento

educacional e de inclusão desse educando surdo. E, por último, no segundo

parágrafo, afirma-se que esses educandos surdos têm acesso e pleno direito

quando não estão em classes ou escolas especiais de freqüentarem em turno

oposto de seu atendimento na escola regular, um atendimento especializado

com um profissional da área de deficiência auditiva, que os ajude na

complementação pedagógica do seu currículo escolar, por meio de recursos e

equipamentos pedagógicos que possibilitem uma adequação curricular mais

satisfatória para o seu desempenho escolar.

Art.23° As instituições federais de ensino, de educação básica e superior, devem proporcionar serviços de tradutor de e intérprete de LIBRAS – Língua Portuguesa em sala de aula e em outros espaços educacionais, bem como equipamentos e tecnologias que viabilizem o acesso à literatura e informações sobre a especificidade lingüística do aluno surdo.

§1° Deve ser proporcionado aos professores acesso à literatura e informações sobre a especificidade lingüística do aluno surdo.

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§2° As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação e à educação. (BRASIL, 2005).

O Art. 23° comenta, que é dever tanto da educação básica quanto da educação superior dar subsídios ao aluno surdo, como o apoio de intérprete de LIBRAS quando este estiver em sala de aula ou em qualquer outro ambiente que suscite um apoio educacional, além de equipamentos tecnológicos que visem o acesso às bibliografias referentes às características bio-psico-sociais e lingüísticas do aluno surdo.

No parágrafo primeiro, também é dever da União, suprir a demanda de

professores que atendem alunos surdos com uma literatura específica, que

diga respeito às peculiaridades lingüísticas desse sujeito, como a LIBRAS e

sua aprendizagem e qual o processo educacional que permite garantir bons

resultados com esses alunos. Já o segundo parágrafo, tem como pressuposto,

a obrigatoriedade de garantir que todas as instituições educacionais,

assegurem a esse aluno surdo incluído, o direito à sua comunicação e,

conseqüentemente, à sua educação em todos os órgãos públicos de ensino a

qual pertencem, ou seja, à Federação Nacional Brasileira

CAPÍTULO IV

AÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

4.1 Contribuições da Psicopedagogia na Construção da Subjetividade do Aluno Surdo: propostas psicopedagógicas de inclusão.

O trabalho pedagógico com os alunos com surdez nas escolas comum

deve ser desenvolvido em um ambiente bilíngüe, ou seja, em um espaço em

que se utilize a Língua de Sinais e a Língua Portuguesa. Um período de horas

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diárias de estudo é indicado para e execução do Atendimento Educacional

Especializado.

O planejamento do Atendimento Educacional Especializado é elaborado

e desenvolvido conjuntamente pelos professores que ministram aulas em

Libras, professor de classe comum e professor de Língua Portuguesa para

pessoas com surdez.

Os alunos com surdez são observados por todos os profissionais que

direta ou indiretamente trabalham com eles. Focaliza-se a observação nos

seguintes aspectos: sociabilidade, cognição, linguagem (oral, escrita, viso-

espacial), afetividade, motricidade, aptidões, interesses, habilidades e talentos.

Registram-se observações iniciais em relatórios, contendo todos os dados

colhidos ao longo do processo e demais avaliações relativas ao

desenvolvimento do desempenho de cada um.

O Atendimento Educacional Especializado em Libras na escola comum

ocorre quando todos os conhecimentos dos diferentes conteúdos curriculares

são explicados nessa língua por um professor, sendo o mesmo

preferencialmente surdo. Esse trabalho é realizado todos os dias, e destina-se

aos alunos com surdez. O ensino de Libras ma escola comum, no qual os

alunos com surdez terão aulas de Libras, favorecendo o conhecimento e a

aquisição principalmente de termos científicos. Este trabalho é realizado pelo

professor/ e ou instrutor de Libras (preferencialmente surdo), de acordo com o

estágio de desenvolvimento da Língua de Sinais em que o aluno se encontra.

O atendimento deve ser planejado a partir do diagnóstico do conhecimento que

o aluno tem a respeito da Língua de Sinais.

Para o Atendimento Educacional Especializado para o ensino da Língua

Portuguesa, deve ser trabalhada as especificidades dessa língua para as

pessoas com surdez. Este trabalho deve ser realizado todos os dias para os

alunos com surdez, à parte das aulas da turma comum, por uma professora de

Língua Portuguesa, graduada nesta área, preferencialmente. O atendimento

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deve ser planejado a partir do diagnóstico do conhecimento que o aluno tem a

respeito da Língua Portuguesa.

As práticas pedagógicas constituem o maior problema na escolarização

das pessoas com surdez. Torna-se urgente, repensar essas práticas para que

os alunos com surdez, não acreditem que suas dificuldades para o domínio da

leitura e da escrita são advindas dos limites que a surdez lhes impõe, mas

principalmente pelas metodologias adotadas para ensiná-los.

Neste sentido, é necessário fazer uma ação-reflexão-ação permanente

acerca deste tema, visando inclusão escolar das pessoas com surdez, tendo

em vista a sua capacidade de freqüentar e aprender em escolas comuns,

contra o discurso da exclusão escolar e a favor de novas práticas educacionais

na escola comum brasileira.

Diante da necessidade de maiores reflexões sobre as formas mais

apropriadas de viabilizar um ensino de qualidade para as pessoas surdas, é

importante trazer para discussão uma visão mais crítica sobre as principais

correntes metodológicas utilizadas em sala de aula, que enfoque não apenas

os procedimentos adotados, mas realize uma análise sobre as vantagens e

desvantagens existentes em cada uma, tendo em vista as particularidades

inerentes à surdez.

Apesar das diferentes opiniões que dividem e subdividem as

metodologias específicas ao ensino de surdos, em termos de pressupostos

básicos existem três grandes correntes: o Oralismo, a Comunicação Total e o

Bilingüismo.

Desde o início do ensino formal, os profissionais envolvidos com as

pessoas surdas têm centrado seus esforços no estudo e debate sobre

procedimentos que privilegiassem ou não a linguagem gestual. Essa

preocupação está sempre relacionada a duas considerações: a de que a

grande parte dos professores de surdos são ouvintes e de que o meio social e

cultural onde os surdos estão inseridos é, também, de ouvintes.

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Baseados nessas considerações e influenciados, segundo Hutzler

(1989), pelo avanço tecnológico e pelas idéias eugenísticas, os participantes

do II Congresso de Surdos, realizado em Milão (em 1880), recomendaram o

Oralismo como o meio mais adequado de ensino dos surdos.

Nessa metodologia de ensino, predominante nos cursos de formação de

grande parte dos professores que ensinam em instituições especializadas para

surdos, a aprendizagem da fala é ponto central. Para desenvolvê-la, algumas

técnicas específicas às orientações orais são utilizadas algumas técnicas

abaixo citadas:

- Estimulação auditiva para reconhecimento e discriminação de ruídos, sons

ambientais e sons da fala:

O desenvolvimento da fala: exercícios para a mobilidade e tonicidade

dos órgãos envolvidos na fonação (lábios, mandíbula, língua etc), e exercícios

de respiração e relaxamento (chamado também de mecânica de fala);

- A leitura labial: treino para a identificação da palavra falada através da

decodificação dos movimentos orais do emissor.

Para o máximo aproveitamento auditivo, o Oralismo tem como princípio

a indicação de prótese individual, que amplifica os sons, admitindo a existência

de resíduo auditivo em qualquer tipo de surdez, mesmo na profunda. Esse

método procura assim, reeducar auditivamente a criança surda, através da

amplificação dos sons juntamente com técnicas específicas de oralidade.

Quanto ao trabalho de linguagem, desenvolvido no Oralismo, procura-se

“ensinar” linguagem, através de atividades estruturais sistemáticas. Segundo

Fernandez (1993), existe uma relação muito estreita dessa prática com as

idéias desenvolvidas pelo considerado “pai da lingüística”, Ferdinand de

Saussure, idealizador do estruturalismo lingüístico. Para Saussure, a

linguagem é composta de duas partes: aLíngua, essencialmente social porque

é convencionada por determinada comunidade lingüística; e aFala, que é

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secundária e individual, ou seja, é veículo de transmissão da Língua, usada

pelos falantes através da fonação e da articulação vocal.

Além da clara separação feita por Saussure entre os aspectos sociais e

individuais, ele afirma que o signo lingüístico é uma entidade psíquica de duas

faces: o significado e o significante.

A constatação de que elementos distintos coexistem no signo lingüístico

contribui para o surgimento de estudos sobre um ou outro elemento,

fragmentando a visão de linguagem. Tal visão é enfaticamente questionada

por Vygotsky (1982). Para ele, a ruptura entre som e significado torna estéril o

estudo da semântica e da fonética clássica, porque o som separado do

significado perde as propriedades específicas que o convertem em som

exclusivo da linguagem humana, distinguindo-o dos demais sons existentes na

natureza. Por sua vez, o significado separado do aspecto sonoro da palavra,

converte-se em pura representação, em puro ato de pensamento, que,

estudado isoladamente como um conceito, desenvolve-se e vive

independentemente de seu portador material. Segundo Vygotsky, a linguagem

deve ser tomada como uma unidade indivisível, possuindo, assim, estreita

relação com o pensamento.

Nesse sentido, o reducionismo atribuído à fala no estruturalismo

lingüístico é revisto na teoria histórico-social de Vygotsky a qual remete ao

signo verbal (fala) estatuto privilegiado. A fala é definida por Vygotsky como a

linguagem em processo nos planos inter e intrapessoal.

Convicto da importância da fala para o desenvolvimento do ser humano,

Vygotsky defende, num primeiro momento, a oralização como meta central

para o ensino dos surdos, embora admita o uso da mímica fora da escola.

Vygotsky acredita que a mímica seria descartada espontaneamente pelos

surdos quando a fala fosse desenvolvida. Apesar de posicionar-se favorável ao

Oralismo, ele critica os métodos de desenvolvimento da fala, caracterizando-os

como mecânicos, artificiais e penosos para a criança. Num momento posterior

do seu trabalho, ele desloca da fala a meta central, afirmando que ao ser

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tomada como um fim em si, a fala perde sua vitalidade e se transforma numa

língua morta. É então, que passa a dar importância ao uso da mímica e da

linguagem escrita, como aliados no processo educativo. Essa mudança de

postura leva Vygotsky (1991) a afirmar que a linguagem não depende da

natureza do meio material que utiliza. Para ele, o que importa é o uso funcional

de signos de quaisquer tipos, que possam exercer papel correspondente ao da

fala. Desse modo, a linguagem não depende necessariamente do som, não

sendo encontrada só nas formas vocais. Essa visão é considerada adiantada

para a época (entre os anos 20 e 30), uma vez que os estudos sobre língua de

sinais, atribuindo-lhe estatuto de língua, só são realizados a partir da década

de 60. Talvez por esse motivo, Vygotsky não explore o desenvolvimento

psicológico dos surdos através dos sinais e, apesar de valorizar a linguagem

gestual-visual, suas orientações educacionais permanecem voltadas para o

domínio da língua falada pelos surdos.

As crianças/adolescentes surdo, considerando-se sua auto-imagem e

auto-estima de como ser “diferente”, “deficiente” ou “inválido”. Cabe lembrar o

que já foi visto em diversos excertos deste trabalho, acerca das pressões

sociais para que o surdo seja equiparado ao ouvinte, as manobras de exclusão

e discriminação encobertas, por pretensas propostas de inclusão, a hipocrisia

das instituições sociais, que mantém um discurso demagógico e falacioso de

“fomento à inclusão”, mas que sequer conhecem a legislação referente à

LIBRAS, não sabem que esta língua foi oficializada no Brasil, e desconhecem

o significado cultural dessa língua para a Comunidade Surda; o diagnóstico

psicopedagógico irá analisar qual a relação que o sujeito surdo tem com o

conhecimento, qual é a melhor forma de se transmitir o conhecimento a esse

sujeito de forma a que se sinta integrado na sociedade, quais as expectativas

que o sujeito surdo tem a respeito da aprendizagem.

Em âmbito institucional, a Psicopedagogia ira elaborar estratégias junto

aos professores, gestores e demais funcionários da escola, para preparação e

qualificação dos docentes para acolher o aluno surdo – e isso envolve o

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destaque à figura do professor e do intérprete em LIBRAS, para evitar a

evasão escolar do aluno surdo.

Em ambas as áreas de atuação, a Psicopedagogia irá focar seu

interesse na construção da subjetividade do sujeito surdo, inserido em uma

família de ouvintes ou de surdos, qual a dinâmica familiar envolvida na surdez,

e é assim que irá se constituir a identidade individual e cultural da

criança/adolescente surdo; a formação do psicopedagogo deve voltar-se para

exercer as tarefas clínicas e/ou institucionais de atendimento ao aluno surdo,

considerando-se que, diante da inadequação de certas propostas que se

intitulam “inclusivas” mas que não fornecem a infra-estrutura suficiente para a

inclusão, o aluno surdo pode apresentar dificuldades de aprendizagem e de

auto-estima como qualquer outro aluno – e esse atendimento psicopedagógico

clínico não permite a presença de intérpretes como terceiro na relação para

não violar o sigilo, o que exige o conhecimento da LIBRAS pelo

psicopedagogo.

CONCLUSÃO

Na integração, mais conhecida como educação especial, os alunos

devem se adaptar às exigências da escola, apesar desta dar condições para a

sua educação escolar, conforme suas N.E.E e no sentido literal da palavra, o

aluno interage com seus pares, como na escola para surdos. Enquanto, na

inclusão, a escola é que deve se adaptar às necessidades dos alunos,

independentemente de suas condições.

Na inclusão, é preciso que haja uma política social, pedagógica e

política para adequar o espaço físico, à implementação de serviços adequados

às N.E.E dos alunos, às condições de trabalho do professor e da equipe da

escola e, ainda, leva-los à reflexão ou a conscientização, da importância e da

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responsabilidade de receber um aluno com N.E.E. Mas o aluno é apenas

inserido na escola, na maioria das vezes, sem condições propícias de

participar do cotidiano escolar, pois geralmente a escola não é preparada para

a inclusão desse aluno, quanto menos o professor, que fica sem saber como

agir diante do que é considerado uma diversidade.

Diante desses problemas educacionais, em que paradigma o aluno fica

mais segregado, no Paradigma de Serviços, que por sua vez, suas N.E.E são

atendidas ou no Paradigma de Suportes onde ele fica “segregado” na escola,

esquecido por todos os profissionais que não são capacitados para atuarem

com sua educação? Cabe aos governantes pensarem sobre essas medidas

educacionais, e decidirem qual a melhor educação para o aluno com surdez

especificamente e, também, para pessoa com deficiência.

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Contudo, houve um avanço na educação da pessoa com deficiência e,

principalmente, da educação do aluno com surdez ao longo dos tempos, desde

a sua história educacional. Isso aconteceu, devido aos direitos dos deficientes,

que avançaram na medida em que foi garantida à sua educação. Mas foi

somente a partir da promulgação dos documentos internacionais resultantes

de determinantes históricos, como a Declaração Universal dos Direitos

Humanos (1948), a Declaração de Jontien (1990) a Declaração de Salamanca

(1994) e a Declaração de Guatemala (1999), que os surdos passaram a ser

considerados como pessoas, dignas de receberem uma educação de

qualidade, de acordo, com que “supõe” o Paradigma de Suportes e os próprios

princípios da educação inclusiva gara Portanto, a história do surdo revela os

problemas que este enfrentou para ter sua língua reconhecida, perpassando

pelo Congresso de Milão até a nossa atualidade. Infelizmente, seus direitos

constitucionais continuam a não ser garantidos pelo menos na prática,

somente sua língua, hoje conhecida como Língua Brasileira de Sinais passou a

ser reconhecida como a língua natural dos surdos. Mas e os s Em meio aos

resultados obtidos pela história da inclusão e pela história da educação dos

surdos, foi possível analisar a legislação sob o enfoque pedagógico e, assim,

concluir que a legislação brasileira em relação ao aluno surdo tanto na esfera

federal, na estadual e municipal, a inclusão já foi implantada na realidade sócio

– educacional, com o objetivo de não mais segregar os deficientes sensoriais.

Basta agora à inclusão ser implementada, de forma coerente e justa!

Verificou-se também por meio dessa pesquisa, que esses documentos

analisados reconhecem a extrema importância da LIBRAS para o surdo e,

sobretudo, para o aluno com surdez, mas os intérpretes que deveriam estar

auxiliando os alunos surdos em sala de aula ou fora do ambiente escolar, não

são garantidos efetivamente. Sendo assim, o governo federal tem muitas leis

que subsidiam a inclusão dos surdos no ensino regular, tanto âmbito social,

quanto no pedagógico, mas nem sempre elas são postas em prática, como foi

apontado na referida pesquisa.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

- SKLIAR, Carlos. Atualidades da Educação Bilíngüe para Surdos. Porto

Alegre. Mediação, 1999, 2 v.

-SKLIAR, C. (Org.). A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre:

Mediação, 1998.

- Fonte Editora ARARA AZUL Este texto pode ser reproduzido, livremente com fins educacionais, desde que a fonte seja citada: Home Page www.editora-arara-azul.com.br

- Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Lei Federal nº 9.394,

de 20 de Dezembro de 1996, art.24 do decreto nº 3.298/99 e a Lei nº 7.853/89, a

pessoa com deficiência tem direito à educação pública e gratuita

preferencialmente na rede regular de ensino, e, ainda, á educação adaptada às

suas necessidades educacionais especiais. Disponível em: <http:

/portal.mec.gov.Br/Seeesp- Portal Seesp>. Acesso em: 25 mar. 2006.

- Ministério da Educação. Parâmetros curriculares nacionais: adaptações

curriculares: estratégias para a educação de alunos com necessidades

educacionais especiais. Brasília, 1999.

-Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial Diretrizes

Nacionais para Educação Especial na Educação Básica de (2001). Brasília:

2001, Xerox

-Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. “Lei Federal nº 10.436 no dia 24 de abril de 2002 pelo Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, reconhecendo a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.” Disponível em: <http: /portal.mec.gov.br/Seeesp, -Surdos & Inclusão Educacional Albres, Neiva de Aquino,Ed Arara-azul, 2010

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