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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE Os materiais expressivos como colaboradores atuando no inconsciente e nas emoções Por: Sandra Maria Cozendey Franco de Moura Orientador Profª Mary Sue Carvalho Pereira Rio de Janeiro 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Os materiais expressivos como colaboradores atuando

no inconsciente e nas emoções

Por: Sandra Maria Cozendey Franco de Moura

Orientador

Profª Mary Sue Carvalho Pereira

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

OS MATERIAIS EXPRESSIVOS COMO COLABORADORES

ATUANDO NO INCONSCIENTE E NAS EMOÇÕES

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Arteterapia em

Educação e Saúde.

Por: Sandra Maria Cozendey Franco de Moura.

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AGRADECIMENTOS

À profª.Mary Sue pela orientação

cuidadosa e segura, confiança,

respeito e dedicação. Aos meus pais

Eny e Waldemar pela grande herança

deixada: a minha educação e formação

como pessoa. Ao meu filho André pelo

apoio e compreensão. E finalmente ao

Ser Supremo pela proteção e

permissão de estar aqui neste tempo e

espaço, convivendo e aprendendo.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu filho André e

aos meus pais pelo apoio em todos os

momentos. Aos meus amigos pelo

companheirismo e incentivo.

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RESUMO

Os materiais têm em sua estrutura física instrumentos para a

configuração de idéias, valores e sentimentos, facilitando a expressividade do

indivíduo que o manipula. Têm a capacidade de servir de canal para que a

energia psíquica se manifeste através de imagens simbólicas transformadoras

ou configurações aleatórias e intuitivas, estimulando a imaginação e a criação.

A escolha dos materiais é uma importante ferramenta porque propicia

a projeção do material inconsciente atualizando a imaginação que vibra junto

com a energia vital na realização do mito pessoal e individualização.

Através da linguagem dos materiais, os simbolismos e experiências

dos indivíduos podem ser experimentadas e trabalhadas, as sensações

despertam, auxiliando no entendimento das composições surgidas.

A realização das fantasias provoca efeitos visuais, possibilitando fazer

associações, relacionar com experiências anteriores e atuais, confrontando

com os conteúdos, de forma que o indivíduo possa compreender o sentido de

suas imagens em sua vida.

A utilização de materiais expressivos e suas técnicas na prática da arte

terapia estimulam a imaginação ativa e simbólica do indivíduo, porque parte

das figurações que são formadas de materiais do inconsciente. Quando as

barreiras do inconsciente são quebradas, submerge todo processo cumulativo

de questões mal-resolvidas e bloqueadas, facilitando assim o processo de

auto-cura e auto-conhecimento, trazendo o inconsciente obscuro à luz da

compreensão e aceitação.

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METODOLOGIA

A metodologia deste trabalho foi baseada em pesquisa bibliográfica com

enfoque teórico, leitura de livros, outras monografias, revistas e consulta à

sites. Baseado em fontes da psicologia analítica e psicanálise como suporte do

material exposto.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A arte, o homem e a vida

como obra de arte 10

CAPÍTULO II - Os materiais, técnicas e

seus valores terapêuticos 22

CAPÍTULO III – Criatividade 41

CONCLUSÃO 45

BIBLIOGRAFIA 47

ATIVIDADES CULTURAIS 50 ÍNDICE 52

FOLHA DE AVALIAÇÃO 53

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INTRODUÇÃO

O tema deste trabalho está relacionado ao uso do fazer artístico como

instrumento de cura de males internos e bloqueios interiorizados que dificultam

o auto-conhecimento impedindo o sujeito a encontrar a harmonia e integridade

de sua personalidade. A arteterapia é um meio terapêutico e de diagnóstico em

que o arterapeuta e o indivíduo desenvolvem uma relação inter-pessoal

dinâmica, com limites e objetivos específicos.

Há registros na Grécia, desde o século cinco a.C. do emprego da arte

como um meio de tratamento e cura. As expressões artísticas correspondem à

expressão interiorizada da comunidade e também de cada indivíduo. Cada

produção artística é um espelho que mostra algo de quem o produziu, como

pensa, o que sente, seus desejos, interesses, preocupações, conflitos e

angústias. Com isso, a arte passou a ser estudada como instrumento de

expressão colaboradora e transformadora, possibilitando indivíduos mais

criadores e inventivos permitindo assim, um mergulho no inconsciente,

trazendo à tona suas imagens simbólicas, soltando sua criatividade num

mundo sem fronteiras, livre e espontâneo.

No universo Junguiano, a arte sempre esteve presente nas estratégias

terapêuticas. Ele diz que os indivíduos são orientados por símbolos em seu

processo de transformação e auto-conhecimento. Estes estão no self, que é o

centro de saúde, harmonia e equilíbrio, onde representa seu potencial, sua

essência. O self precisa ser reconhecido, respeitado e compreendido através

de seus símbolos, para se obter uma vida plena.

A arteterapia auxilia e gera instrumentos para que a energia psíquica

forme símbolos que possam ser identificados através de produções, criando

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uma ponte do inconsciente para o consciente propiciando uma comunicação.

(Philippini, 2000)

Neste processo, a arteterapia oferece inúmeros materiais de

expressão artística e corporal que são mediadores entre o Eu interior e sua

relação com o meio, para facilitar a compreensão do símbolo, pois o indivíduo

escolhe livremente o que lhe convier, funcionando como instrumento para

ativar e despertar a criatividade e, também para desbloquear, permitindo o

consciente perceber informações do inconsciente que estão camufladas e

ocultas na psique do indivíduo. Os símbolos têm algo de vivo, enigmático e

intenso, por se expressarem com semelhanças entre coisas diferentes

indicando o não verbalizado, neste contexto, as imagens podem fazer essa

ligação.

Na arteterapia são utilizados vários tipos de materiais expressivos

que contribuem nesse processo cognitivo como, recorte, colagem, papéis,

tintas, modelagem, confecção de máscaras, de mandalas, entre outras. Todos

facilitam o contato com o inconsciente propiciando formação de símbolos que

serão identificados e entendidos para poderem ser transformados.

O ateliê de arteterapia deve estar munido de materiais variados em

diversas modalidades criativas para que o processo de organização psíquica

seja possível através da linguagem simbólica e metafórica. Após a exploração

do material, o indivíduo sente necessidade de organização, estruturação,

elaboração do trabalho final, segundo RUBIN Apud Coll at. al (1995).

A arteterapia não tem função estética, mas sim o fazer, o processo e

o significado das produções. O objetivo deste trabalho é mostrar que através

dos materiais expressivos e suas técnicas o indivíduo tem a possibilidade de

exteriorizar seu íntimo, por mais escondido que esteja, de forma criativa,

melhorando sua auto-estima e forma de encarar a si mesmo e o mundo em

que vive, alcançando assim maturidade psíquica, sendo finalmente um ser

humano por inteiro.

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CAPÍTULO I

A ARTE, O HOMEM E A VIDA COMO OBRA DE ARTE

É possível viver sem arte? Devemos nos perguntar o que seria do ser

humano sem as diversas formas de arte. A arte é condição da existência. É

somente por meio dela que a vida humana se torna possível. Não apenas a

arte dos artistas, mas a atividade criadora presente em tudo que vive, e que os

valores morais são criação da sociedade, afirma Nietzshe.

O homem desde os primórdios sempre se utilizou da arte como forma

de exteriorização de seus pensamentos, comunicação, estímulos e distração

de si mesmo. A arte expressa sentimentos, sintetiza emoções. Apresenta-se

de várias formas como música, teatro, dança, plásticas, escultura, cinema,

teatro, arquitetura, entre outros. O homem cria ferramentas para satisfazer

suas necessidades práticas, por serem interessantes ou conterem caráter

instrutivo. É um meio de vida, para divulgar para o mundo o que pensa, sente,

cria, como exploração, sua forma de olhar e interpretar objetos e cenas.

Ao olharmos uma obra de arte, somos influenciados por nossas

experiências, nossa disposição no momento, conhecimento, estado de espírito,

imaginação e também o que o outro, o artista, propôs mostrar. A arte

possibilita estruturação de pensamento, e desenvolvimento de consciência

através das imagens e obras criadas, acessos a estados alterados de

consciência possibilitando entrega e conexão com energias criativas e

curativas, esquecendo o ego e trazendo conteúdos adormecidos e conflitantes

que se despotencializam ao tomarem forma.

Segundo Schiller, em sua obra literária (A Educação Estética do

Homem), a arte, formadora de almas, quer que a razão seja ligada ao juízo

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estético e por ser o homem de natureza sensível e contemplativa do belo, pode

desenvolver todas as capacidades intelectuais e sensíveis inerentes ao homem

completo e feliz, alcançando seus sentidos e sentimentos mais profundos

através da razão. Razão e sensibilidade, que devem estar juntas, como

impulso lúdico, para desenvolver a maior das artes – a arte de viver.

O homem que unifica prazer e dever através da arte pode reencontrar a

virtude e a felicidade entendendo-se como ser completo e livre. Este, educado

esteticamente, exercita sua liberdade em um mundo sensível, projetando-a

simbolicamente em seu entorno, fazendo com que tudo à sua volta se torne

livre.

“A arte é a expressão mais pura que há para a demonstração do

inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é sensibilidade,

criatividade, é vida” (JUNG, 1920).

O homem é um animal simbólico, e capaz de elaborar dados de

recepção, levando um tempo para armazenar esses dados, amadurecer e

refletir sobre eles armando estratégias, não tem a imediatez de todos os outros

animais. O sistema simbólico é o diferencial entre o homem e os outros

animais. Só o homem mitifica, só o homem faz arte. Por ser simbólico, o

homem interfere de forma diferente no mundo.

Para Nietzshe o homem não é um animal racional, ao contrário é um

animal artístico. Reaproximá-lo da vida é reacender sua capacidade criativa, o

que aumenta sua força, tornando-o um ser humano completo.

O homem não se basta enquanto obra da natureza, mas é capaz de

aprimorar-se e transformar-se em obra livre. Sua determinação racional cria,

na idéia, um estado de natureza que experiência alguma é capaz de lhe

proporcionar, mas faz-se extremamente necessário. O homem pode considerar

tudo como não acontecido, pois a obra de forças cegas não possui autoridade

ante a qual a liberdade precisa curvar-se, e tudo deve ser submetido ao

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supremo fim, que a razão põe em sua personalidade, a tentativa de

transformar um estado ético em seu estado material.

Faz-se necessário encontrar um suporte que provoque uma

transformação interna, levando este homem a separar-se do seu estado

naturalmente grotesco cujo sentimento de destruição, egoísmo e violência são

fatores relevantes na não preservação do próprio homem e da realidade

circundante.

Os impulsos devem estar associados à razão para que a vontade do

homem seja plenamente livre no âmbito do dever e das inclinações. Não se

devem ignorar os fenômenos no homem, é preciso decifrar o subjetivo e o

específico; o caráter objetivo e o genérico, priorizando as partes pelo todo e

cuidando de cada personalidade com sua especificidade, sua essência interna.

As partes têm que estar afinadas com a idéia do todo. A humanidade subjetiva

deve encontrar-se no mesmo nível da humanidade objetiva sem que ocorram

perdas. O homem selvagem não domina seus princípios ou sentidos. Pode

tornar-se bárbaro quando seus sentimentos são destruídos por seus sentidos.

É preciso trocar o cárcere pela liberdade para encontrar a totalidade do caráter

humano.

A própria cultura acaba sendo uma fonte de depravação da sociedade

que exclui e priva em decorrência de um egoísmo que impera em seu seio,

controlando um sistema que se submete às suas próprias leis.

Para que serve a arte, o pensamento, a ciência se os homens

continuam se destruindo? Estamos vivendo um momento difícil em que as

promessas são vazias, as pessoas estão se afastando da ética. A ética é uma

discussão a respeito dos valores morais. Como surgem esses valores é o que

pergunta o filósofo alemão Nietzshe. Os valores morais não são eternos, foram

criados pelos homens. As coisas sozinhas não têm valor, somos nós que

atribuímos esse valor a elas. Por exemplo: um monte de barro sem forma a

princípio pode não ter muita importância, mas se é desse mesmo barro que

fazemos moringas, bonecas e outros objetos... Então ele passa a ter outro

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valor. Se os valores são criados e moldados por nós então eles devem ser

constantemente reavaliados, diz Nietzshe.

Os valores que nossa civilização criou e cultivou afastou o homem da

vida. Nossa cultura substituiu a vida pela palavra; falam, pensam, mas não

vêem o que acontece diante dos olhos. Dentro da grande metrópole existe

uma cidade sem voz e sem vez.

A promessa de um futuro melhor além do nosso tempo, acabou nos

afastando da única coisa que temos em nossas mãos, o instante, o presente.

Para Nietzshe a vida é o que temos aqui e agora, um processo em expansão.

Viver é expandir, ir além de si mesmo, se superar, por isso as quedas nos

obstáculos tem também um valor positivo porque nos obrigam a ser melhores e

maiores do que somos.

A força criadora está presente não só no homem, mas em tudo que

existe, por isso criar não é uma escolha, não depende da nossa vontade, este

é um movimento da natureza, do mundo. A vida é um fenômeno artístico, e o

homem cria porque dá vazão a este processo. A arte como produto humano é

uma elaboração dessa força que existe na vida. É possível levar infinitamente

adiante essa força criadora e moldar obras de arte grandiosas. E o homem

pode tomá-la também para si mesmo nas mãos e fazer da vida uma obra de

arte.

Hoje em dia está tudo muito pronto, as pessoas querem comprar assim,

ninguém quer fazer, ninguém quer criar. Somente quem tem o caos dentro de

si pode dar luz a uma estrela bailarina, era o que dizia Nietzshe.

Os conflitos, as perdas são inevitáveis por isso não pode ser o mal, ao

contrário estimulam a vida. Somente teremos uma sociedade ética quando

conseguirmos moldar o homem forte capaz de lidar com a dor e frustrações,

transformando-as em fonte de vida e ação.

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O livre juízo torna-se vítima das infecções e tormentos dessa sociedade

que aprimora o ser, usando os sentimentos de forma bizarra, submetendo-os

às suas seduções.

O coração do homem primitivo ainda pulsa com simpatia enquanto que

o homem do mundo é egoísta e orgulhoso. Os laços físicos estreitaram-se

tanto que há uma reação quase em forma de ameaça quando este homem é

tocado. O impulso ardente de aperfeiçoamento é abafado pelo medo e a

obediência passiva passa a ser a grande sabedoria. Assim, a sociedade

degradada impõe seus limites deixando apenas a perversão, superstição e a

descrença moral. O homem, fruto desse meio, transforma a cultura em uma

nova carência na sociedade. Observa-se que existe hoje uma crescente

dificuldade de diálogo entre as pessoas e nas culturas da sociedade

contemporânea, vivemos uma grande crise em viver junto, as pessoas estão

se matando sem dialogar. É importante retomar às ruas como cenário por ser

um espaço de convivência livre, aberto.

Todos os povos que caminharam através da cultura, abandonaram a

natureza em prol da sofisticação antes que pudessem ser tocadas pela razão,

fazendo com que sociedades inteiras não conseguissem desenvolver partes de

suas potencialidades.

O próprio homem manipulando a cultura transformou-a em malefício. Na

Antiga Grécia, toda força do homem provinha da natureza de forma equilibrada

porque esta tudo une; enquanto que nos dias atuais, essa força provém de

uma cultura que tudo separa e do próprio entendimento falho e vicioso do

homem.

A imaginação luxuriosa devasta a fantasia, essencial ao ser,

transformando várias sociedades em engrenagens mecânicas formadas por

partículas sem vida.

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“(...) em lugar de imprimir a humanidade em

sua natureza, tornam-se mera reprodução de uma ocupação, de sua ciência. A

letra morta substitui o entendimento vivo”. (Schiller, 1990 P 41)

A vida individual vai sendo suprimida para que o ideal abstrato subjugue

sua existência precária. Desse modo o poder público passa a ser odiado,

sendo acatado apenas por quem o domina e tem o poder de dispensá-lo. O

homem de negócios é incapaz de sensibilizar-se, colocar-se no lugar do outro

e entender o que sua atitude feroz e voraz pode provocar.

Para se alcançar além dos limites da natureza humana é preciso

concentrar as próprias forças espirituais em um único foco, transformando-as

em energia. Essas forças isoladas podem ser dissolvidas em puro

entendimento e intuição reforçando a individualidade do ser e conduzindo o

homem ao extraordinário, a sua liberdade.

Depende de o próprio homem reencontrar em sua natureza a essência,

bloqueada pelas pressões, através da arte, a mais nobre e elevada beleza. Os

impulsos são inerentes ao ser humano, são forças intrínsecas do mundo

sensível e através destes se atingirá o caminho para a própria intimidade, o

próprio interior obscurecido.

É através da arte que se consegue o enobrecimento do caráter humano

porque esta é imune a todo e qualquer preconceito e convenções dos homens.

O sujeito coloca em seu trabalho toda sua essência e todo o momento vivido

pelos homens em outras épocas, extraindo as gerações anteriores e a atual,

engrandecendo seu ser, sem o apelo corrompido dos tempos.

O artista é capaz de perdurar em suas obras a verdade que faz parte da

ilusão, e da imagem ele produz o original, faz sobreviver à dignidade perdida

imprimida pela corrupção, através do estímulo, da produção e do cultivo de

idéias e percepções. No silêncio da sua mente, o sujeito busca o ideal através

da ilusão e da verdade por meio de puro impulso sensível. Nesse momento o

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tempo não existe, com muita paciência, produz o ideal que sua mente

silenciosa imprimiu.

Quando o homem é educado para a arte, mudam-se seus costumes

observando o sentimento, o entendimento e a liberdade. O homem sem forma

prefere a aparência à essência e lamenta a vivacidade e alegria dos outros.

Gosto e liberdade se evitam porque gosto apenas observa a forma e

não o conteúdo, mas a arte se baseia nas virtudes. Quem se abstém da força

da arte corre o risco de tornar-se rude, severo, sem flexibilidade. Para buscar

um conceito do sensível e racional faz-se necessário um decreto tornando a

arte imprescindível à humanidade e, para isso, talvez seja preciso buscá-la na

abstração. A pessoa tem que se fundamentar em si mesma através da

percepção e do tempo porque todo o porvir tem sua seqüência para que possa

ser concluído.

Quando o homem chega ao patamar da abstração, conhece seus

limites, podendo reconhecer o que é sujeito e o que se modifica, seu estado. O

eu eternizado como fenômeno em si, permanece com a seqüência de suas

representações.

O homem recebe a realidade pela percepção que passa a ser a

experiência dada por sua natureza racional. A divindade está nos sentidos,

uma exteriorização infinita. Para não ser apenas um mero desejo ele deve dar

forma à matéria e deixar fluir a espontaneidade do espírito, mas para não ser

apenas forma deve dar realidade à sua disposição, submetendo a

multiplicidade do mundo ao seu eu.

O impulso sensível, que é a existência física do homem, introduz-lhe

limitações de tempo que o torna matéria e tempo. Porém, esta matéria deve ter

um conteúdo, uma sensação e este tempo deve ter uma sucessão. Quando

algo existe, o resto será excluído; quando uma cor é vista não significa que

todas as outras possibilidades de cor não existam, mas naquele momento, a

cor que existe é aquela vista; o presente é experimentado. Assim, nesse

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momento, o homem é um espaço de tempo preenchido pela sensibilidade e

pelo tempo.

Enquanto apenas se sente, qualquer um está fora de si, é um estado de

dispersão e o contrário é retornar ao seu eu. O impulso sensível faz a

abstração voltar aos limites do presente, o espírito luta pelo mais alto grau do

ser. Toda seqüência de tempo exige verdade e o homem se transforma em

uma unidade de idéias quando seu impulso formal apreende o objeto e o

imprime no ser, fazendo desaparecer suas limitações elevando-o a um

patamar superior. O juízo de todos é pronunciado através da própria ação.

Os limites dos impulsos podem ser impostos pela cultura pura, livre de

interesses que preserva a sensibilidade e a razão. O homem que perdura na

modificação ganha mais personalidade e assim, liberdade, criando mais forma

em si. A cultura possibilita maior percepção dos contatos com o mundo,

apassivando os sentimentos, criando independência à faculdade da razão.

Quando se une razão e sentimento, acontece a plenitude da existência

humana com independência e liberdade, subjugando o mundo em vez de ser

subjugado.

Sem forma não há matéria e vice-versa. É preciso libertar a forma do

conteúdo e manter o necessário livre das pressões. No pensamento e na ação

quando uma sensibilidade predomina sobre a outra, causa prejuízo ao

discernimento, quando a racionalidade sobressai, destrói a intuição, quando o

sentimento atua com maior força, a vontade e as forças do pensamento

pesam.

Os juízos podem destruir a capacidade receptiva fazendo com que toda

multiplicidade seja perdida, porque se procura na natureza algo que se coloca

nela e não o que realmente é porque a razão é precipitada. Quando se

consegue abrir os olhos para a natureza e enxergá-la em seu estado real, há

surpresa por não tê-la visto antes com tanta clareza. A falta de percepção

acaba por tornar as vistas obscurecidas, esterilizando a inteligência e

bloqueando a harmonia do ser.

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O amor tem se esfriado e os motivos são desconhecidos, talvez pela

força dos desejos ou pela rigidez dos próprios princípios, pelos sentidos

egoístas ou pela própria razão. Para dar um basta no desamor é preciso juntar

sentimento e caráter com sentimentos abertos e a energia do entendimento,

tentar se colocar no lugar do outro, sendo razoáveis, humanos, precisando

estar abertos a situações estranhas e manipular a educação recebida desde

criança, quebrando o poder dos desejos e fortalecendo o caráter através dos

princípios. O homem pode ser autônomo enquanto receptivo à realidade se

tornando uma força pensante.

Os impulsos sensíveis parecem ter limitações, mas se pensados como

energia, não têm limites, precisam se expandir, tomar espaço, tornar-se uma

ação de liberdade por sua intensidade. O homem é completo quando sente e

pensa. Quando trata bem a quem o faz mal, há o constrangimento da

natureza; quando trata mal a quem o faz bem, sente o constrangimento da

razão. O impulso sensível e o impulso formal, atuando juntos, formam o

impulso lúdico que dá influência dinâmica aos afetos e às sensações

harmonizando com as idéias da razão, tira da razão seu constrangimento

moral e une com o interesse dos sentidos.

Quando há limitação na natureza humana é porque um impulso

sobressai ao outro, deixando-a imperfeita, mas a razão em sua essência

requer perfeição, desejando um impulso lúdico que os equilibre.

A essência da arte está na liberdade, não na ausência de leis, mas na

harmonia, na necessidade exterior, na inclusão absoluta de todas as

realidades, não na limitação delas, mas o infinito. E a razão unifica o que foi

separado.

O estado do espírito humano não tem limites no espaço e no tempo por

causa de sua imaginação, agente, conteúdo. Enquanto não é determinado um

lugar no espaço, ele não existe para o indivíduo. Com o tempo é da mesma

forma, se não houver o instante. É pela arte que se chega ao todo e pelos

limites ao ilimitado.

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As paixões sensíveis podem ofuscar o livre pensamento. Estes sentidos

não devem ter esse poder sobre o homem, a não ser que este o permita. No

impulso sensível, sensação é anterior ao racional porque a sensação acontece

antes da consciência, encontra-se a liberdade humana, aquela do sentido mais

amplo e que não pode ser obstruído por meios naturais ou obra humana.

A mente passa da sensação ao pensamento de forma que a

sensibilidade e a razão fiquem ativas, equilibradas, acabando com o seu poder

de determinação, atingindo-se o estético.

A mente é única e está com o todo da humanidade, mas também tem

que ter capacidade para encerrar toda manifestação isolada, para ser

possibilidade de todas elas porque a arte conduz ao ilimitado. Qualquer

manifestação remete à anterior, por isso, se faz necessário que se dilua essas

manifestações, para que a humanidade se manifeste de forma pura e íntegra,

como se ainda não tivesse sofrido quebras pelas forças exteriores.

As tensões sofridas no pensamento dão força para resistência porque

fortalece o espírito, tirando a receptividade, mas dando a espontaneidade.

Só se chegará ao equilíbrio das forças entregando-se a fruição da

autenticidade, como forças passivas e ativas, seriedade ou jogo, repouso ou

movimento, brandura ou resistência, pensamento abstrato ou intuição.

A passagem do estado passivo da sensibilidade para o ativo do

pensamento ou o do querer dá-se a uma condição necessária porque não

existe maneira de fazer com que o homem racional se torne sensível sem

torná-lo antes estético. Precisa-se encontrar sua força determinante nele

mesmo.

A verdade é algo produzido espontaneamente pela força do

pensamento em sua liberdade e o pensamento precisa de um corpo, porque a

forma pode realizar-se apenas na matéria.

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Pela disposição estética do espírito, a espontaneidade da razão é

iniciada no campo da sensibilidade, o poder da sensação é quebrado dentro de

seus próprios domínios, o homem físico precisa desenvolver-se segundo as

leis da liberdade. O homem disposto esteticamente emitirá juízos universais e

agirá universalmente tão logo o queira. O estado dinâmico só pode tornar a

sociedade possível à medida que doma a natureza por meio da natureza; o

estado ético pode apenas torná-la moralmente necessária, submetendo a

vontade individual à geral; somente o estado estético pode torná-la real, pois

executa a vontade do todo mediante a natureza do indivíduo. Se a

necessidade constrange o homem à sociedade e a razão implanta nele

princípios sociais, é somente a arte que pode dar-lhe um caráter sociável.

Somente o gosto permite harmonia na sociedade, pois institui harmonia no

indivíduo. A representação artística faz o todo porque sua natureza sensível e

espiritual tem de estar de acordo. Todas as outras formas de comunicação

dividem a sociedade, pois se relacionam exclusivamente com a receptividade

ou com a habilidade privada de seus membros isolados e pelo que distingue o

homem do homem; somente a comunicação unifica a sociedade, pois se refere

ao que é comum.

Fruímos as alegrias dos sentidos apenas como indivíduos, sem que

delas participe a espécie que habita em nós. Fruímos as alegrias do

conhecimento apenas como espécie à medida que nosso juízo afasta

cuidadosamente todo vestígio do indivíduo; não podemos tornar universais as

alegrias de nossa razão, pois não é possível excluir os vestígios individuais do

juízo dos outros como podemos fazê-lo em nosso próprio. A arte faz feliz a

todo mundo e todos os seres humanos podem experimentar sua magia

esquecendo da limitação própria.

O exercício reflexivo da filosofia de Schiller dá possibilidade de

educação estética da humanidade fundamentada no recurso pautado na lógica

das relações entre o sujeito e toda sua elevação, intermediados pelo objetivo

da arte, porque solicita que se aprimore. Havendo assim possibilidade de

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direcionamento do caráter para a do belo viver, da recepção do mundo, do

belo responder aos fenômenos da existência.

Através da arte apontam-se os benefícios de se desenvolver os sentidos

por meio dela reconhecendo sua utilidade, valorizando o crescimento pessoal

e subjetivo. Além de entendimento do mundo, pode-se dar aos sujeitos a

oportunidade de exteriorização de seus sentimentos e idéias, exercitando sua

criatividade e a percepção dos sentidos.

Tendo o homem a capacidade de expressar-se de forma plena,

alcançará o autoconhecimento um dos elementos mais importantes,

pressupõe-se para a formação de um ser humano completo e feliz. Assegura a

capacidade de construir artisticamente, levando à determinação, aceitação dos

próprios limites e consciência das capacidades internas.

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CAPÍTULO II

OS MATERIAIS, TÉCNICAS E SEUS VALORES TERAPÊUTICOS.

Carl Gustav Jung, um importante médico e psicólogo criou bases teóricas

para arte terapia com a Psicologia Analítica que funde Psicologia e

antropologia.

Segundo Jung, o indivíduo é um todo, não pode ser visto apenas como

uma parte ou um sintoma simplesmente, pois a vivência mítica arque típica é

um dos pilares do psiquismo.

Jung propõe que a etiologia das neuroses está no ato mal sucedido do

indivíduo em adaptar-se à dificuldade do seu presente e não nos desejos

sexuais infantis reprimidos do passado.

O objetivo da arte terapia, na visão junguiana, é o de apoiar e de gerar

instrumentos apropriados para que a energia psíquica forme símbolos em

variadas produções, o que ativa a comunicação entre o inconsciente e o

consciente (Philiphini, 2000).

Os complexos significam que existe algo em conflito ou não assimilado,

talvez um obstáculo, mas é também um estímulo para maiores esforços para

superação, e assim, pode vir a ser uma abertura para novas possibilidades de

realização. Tornam-se patológicos quando sugam para si quantidades

excessivas de energia psíquica.

Podemos definir o complexo como grupamento de conteúdos psíquicos

carregados de afetividade que assossiam-se a elementos afins cuja coesão é

mantida pelo afeto comum aos seus elementos.

A causa mais freqüente do complexo é o conflito. Choques e traumas

emocionais podem ser responsáveis pela sua formação.

Alguns complexos interferem na vida consciente através de lapsos,

gafes, perturbações na memória, arquitetando sonhos e sistemas neuróticos.

O complexo obriga-nos a perder a ilusão de que somos senhores absolutos em

nossa própria casa, segundo Jung.

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Um dos passos mais importantes para individualização é trazer à

consciência os complexos. A assimilação de um complexo implica a

compreensão intelectual e afetiva. Os afetos nele condensados devem ser

exteriorizados através de descargas emocionais.

A base dos complexos são os arquétipos que vêm a ser o alicerce da

vida psíquica de qualquer ser humano. Os complexos são agrupados em

categorias definidas (complexo de mãe, pai, de poder, de inferioridade, etc.). A

conexão complexo/arquétipo é a ligação entre vivências individuais e grandes

experiências da humanidade.

A arteteterapia auxilia nesse processo de individualização, oferecendo

inúmeros materiais para que o indivíduo sinta-se livre na escolha daquele que

lhe for apropriado. Isso atende sua singularidade, funciona como ferramenta

para despertar e ativar a criatividade, e também para desbloquear e transmitir

à consciência as informações e instruções oriundas do inconsciente. Essas

informações normalmente são ignoradas, contidas e disfarçadas, encobertas e

principalmente ocultas.

Os arquétipos são possibilidades herdadas para representar imagens

similares. Eles resultam do depósito de impressões deixadas por certas

vivências comuns a todos os seres humanos, são emoções, fantasias

suscitadas por fenômenos da natureza, por experiências coma mãe, pelo

encontro homem/mulher, etc. São também disposições do sistema nervoso

que levariam à produção de representações sempre análogas. A noção de

arquétipo nos permite compreender por que em lugares e épocas distantes

aparecem temas idênticos nos contos de fada, mitos, dogmas, ritos etc.

A psicologia analítica entende por inconsciente pessoal as camadas mais

superficiais do inconsciente cujas fronteiras com o consciente são bem

imprecisas, lá repousam traços da vida perdidos na memória consciente,

recordações penosas de serem lembradas e os complexos.

O inconsciente coletivo são camadas mais profundas do inconsciente,

fundamentos, estruturas da psique comuns a todos os homens. No centro do

inconsciente coletivo está o self, de onde emana inesgotável fonte de energia.

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Jung concluiu que os indivíduos usam funções psíquicas para se

adaptar ao mundo:

1. Sensação: constata a presença das coisas que nos cercam e é

responsável pela adaptação à realidade objetiva.

2. Pensamento: esclarece o que significam os objetos, julga,

classifica, discrimina.

3. Sentimento: faz a estimativa dos objetos. Decide o valor que

tem para nós. Estabelece julgamentos com uma lógica

diferente da do pensamento. Usa a lógica do coração.

4. Intuição: percepção via inconsciente, apreensão da atmosfera

onde se movem os objetos.

Todos possuem as quatro funções, entretanto sempre uma dentre

elas é mais desenvolvida e mais consciente. É chamada função principal.

A variedade de materiais facilita muito em arte terapia, propiciando

melhores condições de expressão do paciente. Os recursos expressivos

utilizados nas sessões permitem simbolizar e configurar imagens do

inconsciente de modo a facilitar a tomada de consciência. O símbolo

configurado materialmente permite a compreensão e leva à transformação,

estruturação e expansão da personalidade do indivíduo que cria.

O processo arteterapêutico é facilitado pelas modalidades e materiais

expressivos diversos como: argila, lápis (cor, cera, aquarelável), pastes (seco e

oleoso), tintas (guache, acrílica, anilina, para tecido etc.), colagem, papear

Macaé, massinha de modelar, cola colorida, material orgânico, miçangas,

contas, fitas, retalhos de tecidos, lãs, gravuras pré-selecionadas, papéis

coloridos de diferentes texturas, papel para dobradura, purpurina, fios,

sementes, flores secas, conchas do mar, pedras coloridas, contas, carvão,

massa artesanal de farinha e sal, cascas de árvores, bolas de isopor, arames,

palito para churrasco, agulha, rendas e o que for viável para colagens e

instalações. As possibilidades para compor o setting são infinitas. O importante

é não deixar que uma idéia não possa ser materializada por questões

operacionais.

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Através dos materiais (...) sementes,

cascas de árvore ou da aproximação e

experimentação com elementos vitais

como a água, o ar, a terra e o fogo e

inúmeras outras possibilidades criativas,

surgirão os símbolos necessários, para que

cada indivíduo entre em contato com

aspectos a serem compreendidos e

transformados (PHILIPPINI,1999,p.5).

Quando o arteterapeuta trabalha em comunidades carentes, pacientes de

baixa renda ou instituições pública, fica difícil conseguir os materiais já

mencionados. Então materiais alternativos, como sucatas podem ser

utilizados na arte terapia.

O próprio coletar o material de sucata já tem em si um efeito integrador e

socializador. Estes materiais têm o potencial para despertar e mobilizar ações

e descobertas. Estimulam à exploração, a imaginação, a fantasia, a construção

exterior e interior. E dessa forma o material torna-se uma tela de projeção e

identificação. Dentre as possibilidades de materiais estão as sucatas naturais

como: folhas, areias, conchas, pedras, penas e galhos. Entre as sucatas

industrializadas, estão: caixas de ovos, papelões, tecidos, copos plásticos e

embalagens.

O trabalho com sucata é interessante porque percebemos que podemos

partir do vazio, daquilo que é considerado lixo, chegamos à integração com

outros materiais, favorecendo a expressão e expansão da criatividade.

É possível trabalhar a insegurança, o medo além de sentimentos de

baixa auto-estima. À medida que o “lixo” vai sendo modificado é possível ver

como aquilo que a princípio é considerado inferior, menor, pode se transformar

em algo belo, admirável. O paciente nessas circunstâncias pode identificar-se

com a sucata como sendo algo sem valor, sem utilidade: o lixo. Á medida que

experimenta, vivencia e elabora, pode também gerar inúmeras possibilidades

para sua própria vida.

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A atividade criativa permite a objetivação do pensamento, das emoções,

dos conteúdos conscientes e inconscientes. É claro que qualquer criação, seja

em artes plásticas ou qualquer outra forma de arte pode ter leituras diversas.

Aquela que a Psicologia usa é a simbólica.

O setting de arte terapia (...) funciona como

local de criação, de resgatar e expandir

potencialidades adormecidas, de desvelar

sentimentos, de compreender conteúdos

inconscientes. Para que seja produtivo este

território simbólico precisa, em sua

materialidade, oferecer algumas condições

operacionais essenciais (PHILIPPINI, 1999).

A cada pincelada a figura vai se revelando em cor e imagens internas, a

cada traço desenhado, novos sentimentos a partir dos já existentes, tudo tem

sua razão de ser num processo inesgotável, que transforma, dilui e acrescenta.

“A criação de algo novo não é realizado pelo intelecto,

mas pelo instinto de diversão que age a partir da necessidade interior. A mente

criativa brinca com os objetos que ama” (JUNG, 1964).

No setting a luz deve ser abundante e natural, para que não haja

distorção das cores. O chão e a mobília devem ser de fácil limpeza. Mas

principalmente o setting deve apresentar atmosfera descontraída que ofereça

segurança e receptividade. Deve estimular a experimentação expressiva.

Símbolos, sinais, formas e cores, sons e movimentos são nossa

expressão única e pessoal. Além dos trabalhos plásticos, também fazem parte

da arte terapia, a dança, trabalhos corporais, músicas, dramatizações, contos

de fadas, mitos, e terapias com palavras (escrita e oral). Tocar, desenhar,

modelar, pintar, escrever, dançar, etc. possibilitam o ser humano a sair de

estados de tristeza, depressão ou confusão. O arteterapeuta escolherá durante

sua experiência com os diferentes tipos de material, qual serás seu canal de

expressão, pois isso é muito pessoal.

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Os indivíduos são orientados por símbolos em seus processos de

transformação e auto-conhecimento. O sujeito estar criando a partir do material

que lhe é oferecido é mais importante do que a técnica artística, segundo a

abordagem junguiana.

Ao configurar artisticamente sua vida, o indivíduo lhe dá um sentido.

Sentimentos obscuros, medos inconfessáveis, emoções indefinidas se

transforma em barreiras do consciente na expressão de imagens ou

sensações. O objetivo do arteterapeuta é levar o indivíduo criador a uma auto-

análise através da análise de sua criação, percorrendo o caminho de suas

escolhas de cores e texturas, de formas e movimentos, levá-lo a perceber no

aparentemente aleatório, a singularidade que o caracteriza. O papel do

arteterapeuta neste contexto é de facilitador do processo de comunicação

entre o inconsciente e o ego. Cabe a ele também, trazer para o espaço

terapêutico múltiplos materiais para adequar-se à produção do cliente. Ao

configurar artisticamente sua vida, o indivíduo lhe dá um sentido. O

arteterapeuta deve se preocupar com o fazer, produzir, mas, sobretudo com o

material simbólico expressado nas imagens e nos comentários verbais sobre o

produto.

O trabalho de arte terapia pode ser realizado em grupo ou individual na

clínica, escola, organizações e ateliês. Para cada situação existem diferentes

tipos de abordagem, mas o mais importante é o conteúdo expressado e a

integração deste pela consciência do indivíduo e/ou grupo.

A construção trabalha com o desenvolvimento da coordenação visual e

motora do indivíduo e também com a percepção e o despertar de valores,

como por exemplo: noções de peso, tamanho, forma, posição e espaço. Esta

modalidade expressiva visa, ainda, classificar e selecionar materiais,

organizando-os para construir uma forma pessoal.

A construção é uma das possibilidades expressivas em Arte terapia.

Conforme Reilly (1986), ela parte de técnicas básicas das artes plásticas, como

modelagem, recorte, colagem, desenho, pintura e de outros materiais.

Para se trabalhar com construção é importante levar em consideração as

etapas gradativas de domínio da técnica, permitindo que o paciente inicie

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trabalhos com materiais menos complexos até adquirir, na sua produção, uma

estrutura mais complexa e integrada formando um corpo sólido.

Na análise dos trabalhos de construção em arteterapia, é necessário que

o arteterapeuta observe todo o processo realizado, indicando por onde o

paciente iniciou o trabalho, de que forma uniu as partes; se foi feito

individualmente ou em grupo, se necessitou da ajuda do terapeuta, se fez ou

desfez alguma parte do processo etc. Sobretudo as possibilidades de interação

e equilíbrio da estrutura organizada devem ser observadas.

Caracteriza-se a construção pela utilização de estruturas tridimensionais.

Conforme destaca Wong (1998), o mundo tridimensional é um espaço

composto de comprimento, largura e profundidade. Essas três dimensões

buscam a organização, estruturação e o equilíbrio de outros elementos para

estabelecer a harmonia e a ordem visual.

As estruturas tridimensionais requerem um nível mais elevado de

inteligência visual para trabalhar com relações espaciais em relação a um

trabalho bidimensional que podem são vistas distintamente de diferentes

ângulos e distâncias.

Segundo Wong (1998), o formato, o tamanho, a cor e a textura são

elementos importantes para um trabalho de construção.

Em relação ao tamanho da construção, temos as variáveis de

comprimento, largura, profundidade e volume. Onde pode haver a

predominância da verticalidade ou da horizontalidade na disposição da

estrutura do trabalho.

O trabalho da construção pode ser feito com várias texturas

apresentando-se de forma lisa, áspera, fosca, polida etc.

A técnica da construção em arte terapia pode ser realizada de forma livre,

ou dirigida e de forma individual, ou coletiva.

Existem materiais e técnicas diversas de se fazer construção em arte

terapia. Entre elas, são citados materiais como madeira, papel, arame, sucata

e tecido, além das sugestões anteriores utilizando as artes plásticas como

complemento.

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De acordo com Pillar (1990) a Construção em madeira possibilita ao

paciente criar objetos com características bem definidas quanto à espessura, à

forma, ao tamanho, à cor e à resistência. Estas características variam de

acordo com o pedaço e o tipo de madeira, o que leva o paciente a classificar,

seriar e ordenar o material antes de selecionar o que necessita para construir o

objeto.

Construção com sucata é uma outra possibilidade de transformação da

matéria, pois propicia explorar diferentes propriedades de cada tipo de material,

comparando-os entre si e utilizando-os conforme suas características

específicas. O paciente, então, é estimulado a classificar, a selecionar e

organizar diferentes tipos de materiais;

Construção com tecido permite a manufatura de bonecos, que leva o

paciente a desenvolver e modificar o seu esquema corporal e

consequentemente a representação da figura.

Construção com arame propicia ao paciente experimentar novos e

diferentes movimentos com o material, pela sua maleabilidade.

A colagem é toda representação plástica conseguida pela união e/ou

superposição de distintos materiais, colados a um suporte. Possibilita a

integração de materiais ou técnicas diferentes, pode ser feita de diversas

maneiras, das mais simples feitas com a fixação de papéis coloridos ou não,

sobre um suporte qualquer, às mais complexas, colando e modelando com outro

material.

A técnica consiste em colar vários pedaços de papel sobre o suporte até

criar uma forma que poderá ser uma composição figurativa ou abstrata. Esta

composição poderá representar animais, pessoas, veículos, cenas,

acontecimentos, natureza morta, natureza viva, paisagem urbana ou rural etc.

Suas possibilidades são as mesmas de uma pintura ou desenho.

Numa colagem a cor também é parte integrante do processo de

composição, ela poderá aumentar ou diminuir distâncias, destacar formas e

volumes, proporcionar brilhos e efeitos luminosos sobre outras peças que

fazem parte da composição, por exemplo. A técnica de colagem está em

igualdade com outras áreas de expressão artística como a pintura, a gravura, a

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escultura, a modelagem, entre outras. Sendo assim é também um meio de3

expressão plástica que facilitam o desenvolvimento da percepção,

experimentação, manipulação e imaginação, oportunizando ao indivíduo,

através da atividade lúdica de manipulação de papel, cola e diversos outros

materiais, a exteriorização de suas emoções de uma forma não formal.

O ato de colagem além de propiciar uma simulação de determinados

conteúdos internos, permite a compreensão de que um esquema está

integrado por diversas formas, e que a reunião de distintas partes são

significativas de um todo. A passagem do ato de rasgar um papel ao ato da

colagem determina um cenário significante da vivência do indivíduo, quando é

preciso romper o passado (pelo corte) e fixar-se em um futuro (pelo colar de

alguma parte de maneira a dar-lhe um sentido).

A atividade de colagem começa de maneira dramática: é preciso rasgar,

destruir, reduzir em pedaços algo que, em síntese, está organizado, se3jam

paisagens, figuras humanas, animais ou apenas um objeto qualquer. O

indivíduo passa por um momento de descontração. Em conseqüência a nova

composição que resulta através da colagem, permite a cada um se exprimir,

reconstruindo um novo significado.

A colagem é uma atividade de análise e síntese, não somente numa

função lógica, mas semelhante ao tipo de processo que se realiza na

linguagem, transformando as palavras em letras e em sílabas cujo sentido

desaparece no momento onde encontram uma posição em uma nova

composição, com outro sentido. Essa atividade tem dupla ação terapêutica e

pedagógica, reproduzindo de uma maneira metafórica as transformações da

aventura de significar.

A partir da análise dos comportamentos e das composições criadas,

pode-se considerar que a técnica de colagem arte terapêutica facilita a

expressão da subjetividade do indivíduo. Ela auxilia na auto-expressão e na

elaboração de conteúdos internos. Permite que o indivíduo possa expressar

seus sentimentos, adquirir consciência dos mesmos e, em seguida, melhorar a

ativação e estruturação do processo de desenvolvimento interno.

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A colagem permite brincar de quebra-cabeça e transcender. As peças não

têm lugares fixos. Podem ser trocadas e retocadas. A imaginação não tem

limites. Significa fascínio e multiplicidade de idéias. Não se pode controlar. A

tarefa mais difícil é a seleção, filtragem de elementos, para ter pronta a

composição. Uma atividade que espanta e traz de volta conceitos e

preconceitos estéticos e ideológicos.

Ao valorizar a expressão em si e não a estética da produção, o indivíduo

tem mais liberdade podendo seguir seu instinto, deixando o racional em

segundo plano. Nessa perspectiva, a colagem além de beneficiar o equilíbrio

emocional, auxilia a expressão, permite conhecer o potencial expressivo-

sensorial e a motricidade, favorece uma relação mais saudável consigo e com

os outros, fortalece a auto-estima, estimula o pensamento divergente e aguça

a visão crítica, possibilitando que amplie seu universo mental.

Segundo a Drª. Suzan Bello a pintura espontânea favorece a criatividade

da psique. No processo da pintura espontânea questionamos valores pessoais,

sociais e crenças. É através do contato com o self que conectamos nossa

essência e reorganizamos nossa individualidade.

O processo da pintura espontânea é um portal que nos capacita atingir

uma dimensão potencial da mente não controlada pelo conhecimento racional.

Esta técnica tem o interesse em ajudar o indivíduo a descobrir sua essência

única e seu objetivo de vida. Ela ajuda cada pessoa a entrar em contato e a

expressar seus próprios potenciais.

A pintura espontânea não tem preocupação com a estética, é um

processo de auto-conhecimento. A ênfase é dada em ser fiel às suas emoções

e abaixar o nível mental para pintar a mente inconsciente sem preocupações

do certo ou errado.

As imagens interiores aparecem espontaneamente nas telas e tomam

forma através das pinceladas. Muitas vezes depois que acabamos de pintar,

não sabemos intelectualmente o que as pinturas significam porque são

registros visuais da psique, ainda não percebidos pela mente consciente. A

maior parte das pessoas se sente constrangida em expressar suas emoções

em palavras ou em formas artísticas. Acreditam que as expressões artísticas

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são reservadas somente para artistas ou para crianças e não está à disposição

de todo mundo.

A pintura espontânea embora pareça simples, é um ato profundo através

do qual pintamos as emoções que vivem na nossa mente inconsciente. Um

símbolo deve ser entendido como uma forma de energia psíquica. A energia

simbólica se manifesta através de uma imagem. A mente humana, desde

tempos pré-históricos tem se comunicado por imagens. O símbolo possibilita a

cura. No pintar a pessoa está chamando sua energia para se expressar e

transformar sua vida.

O inconsciente se comunica de uma maneira diferente do pensamento

racional. Os símbolos precisam de tempo para amadurecer dentro da psique.

Não se expressa em idéias nítidas. A imagem simbólica é um veículo para

informação impressa no inconsciente pessoal e coletivo. Os mecanismos de

repressão servem para evitar que esse mundo oculto se eleve totalmente à

consciência, mas ele existe no mundo da sombra, no nível inconsciente.

A sombra contém todas as emoções positivas e negativas, crenças e

desejos que não se adaptam à estrutura do ego e a nossa auto-imagem. Elas

são rejeitadas e afastadas na consciência, mas permanecem vivas na sombra.

Quando estamos numa sessão onde a pintura espontânea é usada,

geralmente sente-se como se os símbolos emergissem à força,

espontaneamente. Nós não o planejamos intelectualmente. As pinturas

frequentemente refletem símbolos do inconsciente coletivo. Não pintamos um

labirinto ou uma criança divina por uma escolha consciente. Elas são imagens

arque típica.

“O pintor entra em um estado alterado, parecida com um estado de

transe, totalmente absorvido e envolvido por quilo que está fazendo. A pessoa

esquece de si mesma e não vê o tempo passar” (BELLO, 2003).

Através da pintura espontânea é possível acessar outra forma de

conhecimento, aquela na qual a mente consciente precisa aprender a confiar.

É necessário alcançar um estado de total abandono e confiança, dando a

outros potenciais da mente uma oportunidade de direcionar o ego ao

crescimento do self.

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“O caos é uma reorganização das idéias para alcançar um nível superior

de complexidade e consciência” (PRIGIGONE, 1980, apud BELLO, 1996).

O ego está mais confortável num estado de estabilidade do que na

confusão intensa que o caos traz, isso cria ansiedade porque as pessoas não

foram ensinadas a confiar ou acreditar que um nível mais profundo de

percepção possa guiar suas ações. As pessoas, talvez, temam acreditar

naquilo que o seu inconsciente lhe diz por que não aprenderam que seu

mundo interior possui uma enorme sabedoria em que podem acreditar.

É difícil entrar numa área da mente onde imagens e informações

escapam ao conhecimento racional. Por isso durante a pintura espontânea

tentamos relaxar a mente racional para que outros modos de conhecimento

possam emergir e expressar-se.

No começo o paciente pode sentir-se confuso enquanto estiver nesse

estado de caos mais profundo. O ego pode sentir-se instável e confuso, porque

está perdendo o controle. Depois que as partes inconscientes são expressas,

terapeuta e paciente trabalham juntos para integrá-las na estrutura do ego.

Abre-se, portanto, para o indivíduo, a

possibilidade que um colapso na atitude

consciente possa ser substituído com o

tempo por uma nova integração num nível

mais básico da psique. Se isso é

conseguido, significa que a consciência foi

trazida para uma relação mais íntima com o

inconsciente, e que uma nova atitude

consciente está em uma base mais sólida

(PROGOFF, 1953apud BELLO, 1996).

Este processo de caos, transformação e renovação que estamos nos

referindo é um ciclo do crescimento interior, rumo à individualização, é

extremamente importante ressaltar o papel do arteterapeuta, neste momento

em que o ego ainda não percebeu que o caos e a desestruturação são partes

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naturais de sua transformação. O terapeuta deve estar sempre à disposição

para apoiar o paciente, criando um ambiente em que ele possa estar seguro e

tranqüilo, em cacos e pedaços, por vezes, mas sem o sentimento de estar se

desmanchando. O apoio ao cliente vem também de dentro dele. Segundo jung,

a psique possui um mecanismo interno de auto-regulação que nos protege de

sermos afogados pelos conteúdos inconscientes. Esse processo de proteção

permite à estrutura saudável do ego enfrentar somente o que é capaz de

assimilar.

Segundo a Drª. Susan Bello, existem algumas regras simples para manter

esse método expressivo seguro:

1-Não obriguem as pessoas a fazerem

exercícios que não queiram. Sugira várias

alternativas (...). Elas podem fazer

visualização mental; podem observar os

pensamentos que surgem ao resistir à

atividade. 2- Tenha cuidado para não impor

suas próprias expectativas ao processo de

outras pessoas. 3- Acompanhe o feedback

do paciente. Esteja sensível a suas

necessidades (BELLO, 1996).

Quando pintamos espontaneamente, não planejamos antecipadamente.

As imagens guardadas em nosso interior surgem e são transcritas através do

pincel, estamos mergulhando nos arquétipos expressando informações

desconhecidas da consciência na forma de símbolos, sem precisarmos pensar:

“Agora vou pintar meu Self castrado” (BELLO,2003).

Em sua vasta experiência de trabalho, Susan Bello observou que a arte

simbólica representa o germe do Self com o qual nascemos para ser, antes de

nos adaptarmos para sobreviver correspondendo às expectativas sociais.

Nossa natureza essencial está sufocada por pensamentos limitadores,

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pressões sociais que nos levam á conformação diante de um código de valores

que, geralmente, não correspondem a nossa identidade individual.

Assim que as imagens simbólicas se

materializam, elas desenvolvem na pessoa

novas respostas à vida e novas direções que

ela precisa seguir para afinar-se com seu

próprio (...). A energia contida dentro da

imagem simbólica age como uma força

direcional, guiando a psique na sua

evolução interior para a individualização

(BELLO, 1996).

Embora as defesas do ego evitem a tensão e a dor, elas continuam. A

circulação desses sinais dolorosos é responsável pela manutenção de padrões

de excitação em nossas vidas diárias.

Sendo assim devemos investir nossa energia na desconstrução de

pensamentos limitadores. Os medos não resolvidos de nossa infância

influenciam o comportamento adulto. Esses traumas limitam a capacidade do

adulto de viver madura e equilibradamente.

O arteterapeuta precisa estar consciente de que é muito difícil romper os

pensamentos limitadores, porque eles são reações de sobrevivência impressas

firmemente, ente durante um estado alterado de consciência (que é o

momento em que vivemos um trauma). Em muitos casos as pessoas crescem

acreditando que o correto é esconder sua essência, o Self para se ajustar às

normas culturais, ou às expectativas dos pais, conformando-se a ser reprimido

ou a criar uma situação doentia.

“Quando o direito de existir é recusado desde o início, um ser humano

pode gastar o resto de sua vida numa luta para afirmar essa expressão básica

da sua essência” (BELLO, 1996).

Nas sessões de pintura espontânea, todas as emoções são aceitas e

encorajadas a se expressarem, afinal a expressão criativa está intimamente

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ligada à saúde mental. O arteterapeuta deve dar condições internas para que o

cliente desbloqueie seu potencial criativo e reencontre seu verdadeiro Self.

Muitas pessoas que passaram a vida se sentindo impedidas de manifestar

raiva e mágoas encontram na tela de pintura um meio aceitável para dar vazão

a seus sentimentos.

Cada sessão de pintura espontânea começa com um aquecimento, antes

de começar a pintura propriamente dita, destinando a estimular experiências

emocionais que o cliente está necessitando à sua individualização. Os

exercícios são destinados a equilibrar os pensamentos limitadores com os

comportamentos que querem estimular, em forma de aquecimentos dirigidos e

não dirigidos. No aquecimento não-dirigido, as pessoas ficam mais livres para

elaborar qualquer emoção que necessitam expressar, geralmente as pessoas

acessam expressões mais positivas depois de terem passado por emoções

desconfortáveis escondidas, como raiva, hostilidade dor e tudo o que estiver

armazenado na sombra. Depois que essas emoções forem descarregadas,

outras mais positivas emergirão.

A cor tem importância fundamental na nossa vida porque está

relacionada com os conteúdos psíquicos, culturais e pessoais de todo ser

humano, que acaba relacionando e resignificando a cor, associando aos

sentimentos e aos acontecimentos. A cor pode ser usada como instrumento

facilitador, auxiliando nas terapias.

A cor tem sua expressividade e, é capaz de liberar as reservas criativas

de cada indivíduo, mais que qualquer outro elemento. Todas as pessoas

reagem à cor mesmo que inconscientemente. Através de determinadas cores

utilizadas nos trabalho, o cliente quer dizer alguma coisa passa uma emoção,

sensação ou sentimento como alegria, tristeza, decepção, vergonha, medo,

raiva.

Cada cor, além de sua ação psicológica e individual, provoca sensações

diferenciadas conforme a harmonização com outra cor. Pessoas passivas

tendem a escolher cores calmas, podendo assim agravar estados opressivos.

As cores estimulantes, elevar o ritmo, então aos emotivos aconselha-se a

escolha de cores calmantes. As cores excitantes criam ambientes enérgicos e

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as leves inspiram alegria. A cor forte é solícita, excita a atenção, mas logo

cansa. As cores repousantes, quando acima do nível, tornam-se oprimentes.

O material seco é indicado para iniciantes, pois, por ter fácil manuseio

transmite segurança, o que reforça a sensação de equilíbrio e bem estar

trazendo o subconsciente ao encontro do material a ser manipulado, como:

lápis, lápis de cera, Pastel à óleo e à seco.

O material líquido apresenta uma certa dificuldade de controle ao ser

manipulado. Este tipo de material tem a capacidade de se expandir e

proporcionar um meio de manifestação emocional. A pintura pode aumentar o

conhecimento sobre si mesmo porque, pode-se experimentar seus afetos e

aprofundar-se melhor.

A argila é um material tão envolvente que pode ser trabalhado com

pessoas de todas as idades, permite transformação constante e reversível,

possibilitando inúmeras formas, facilitando a entrega do sujeito às suas

sensações intimas elaboradas e evocadas eternizando o que foi trabalhado.

“A modelagem acalma, aliviando as tensões, estimulando para novas

realizações e minimizando as angústias e ansiedades, à medida que plasma

sentimentos e estes vão tornando-se palpáveis” (DUARTE, 1996).

Muitas vezes quando se oferece a argila ao cliente, ele não sabe o que

fazer, fica inseguro. Conforme o cliente vai tendo contato, manipulando, e

conhecendo o material, vendo que sua forma se submete responde ao toque e

às suas vontades rapidamente e que cada gesto provoca uma sensação que

transforma uma massa disforme em alguma coisa conhecida, trazendo

imagens vindas de dentro, carregadas de sentimento e emoção, seu prazer

aumenta e o desconforto desaparece, favorecendo a auto-expressão. São

suas mãos que estão na massa e, ela corresponde ao seu toque, então,

conquistas e frustrações ganham forma em sua expressividade. Tentar moldar

a massa o mais próximo possível da forma imaginada, dá uma sensação de

ganho, desenvolvimento de suas potencialidades, aguçando a sensibilidade

aumentando assim a capacidade de simbolização.

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Na verdade, a argila pôde transformar em

algo seu, ela pôde entregar-se porque

existia algo novo que era qualidade do poder

transformar. É muito importante viver a

irritação e a raiva; se uma pessoa pode

transformá-la, cria com a qualidade de poder

se entregar para o processo (...). É poder

entrar na massa, perceber o quanto ela é

maleável, submetendo-se a ela. A massa

transforma-se em um prolongamento daquilo

que é o ser. É dentro do diálogo que se

estabelece entre os dois que o ato acontece.

É uma experiência única (ALESSANDRINI,

1998).

A argila está ligada ao nosso universo

quotidiano. Ela é símbolo de nascimento, de

vida, de morte. Por isso nossos afetos nela

se projetam muito mais espontaneamente

que em qualquer outro material modelável

tal quais os materiais sintéticos.

Precisamente porque a argila é um suporte

a nossos afetos, é interessante analisar as

diferentes atitudes suscetíveis de se

desenvolverem frente a ela, assim como os

diferentes modos de aproximação que se

pode propor em um ateliê terapêutico

(PAIN e JARREAU, 2001).

“No barro (...) a consciência do homem se aproxima do inconsciente ao

penetrar nas trevas oriundas da própria matéria. Por sua natureza intrínseca, o

barro, moldável, plástico, quente, receptivo, feminino, facilita a passagem”

(ZALUAR, 1997).

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A escultura pode ser feita em diversos materiais: argila dura, barra de

sabão, sabonete, esponja de florista etc.

A técnica da modelagem exige uma canalização de energia adequada

porque parte do nada para a criação de algo, atua nas sensações físicas e

viscerais, como também no sentimento e cognição, então ela pode ser livre ou

dirigida. Pode ser feita com massa caseira, argila, cera de abelha, plastilina,

papel machê massa de modelar.

O papel machê é um material frio e viscoso, mas podemos moldá-lo ao

criar, oferecendo assim, retorno.

O próprio terapeuta pode fazer a massa de farinha de trigo, com ou sem a

ajuda do cliente, variando as cores. A massa deve estar morna para melhorar

o manuseio. Proporciona auto-estima, autoconfiança, catarse emocional. Pode

levar adolescentes a recordações maternas ou lembranças da infância.

A plastilina e a massa de modelar são industrializadas e fáceis de

manipular, e não fazem sujeira, mas são restritos a pequenas execuções. Os

adultos têm preconceito a esse material por considerarem de uso infantil,

provocando rejeição á proposta de trabalho.

Qualquer uma dessas massas de modelagem produz sensação de algo

mágico, pois uma bolinha de massa, pode se transformar em uma cobra, um

pato, um pirulito, um raio e o que mais a imaginação criar. O material continua

o mesmo, apesar da troca de formas, contudo sem perder a noção de si, a

vivência do poder de várias maneiras, na rápida troca de formas.

A música possibilita a evocação de imagens visuais, da imaginação e,

através do ritmo, evoca movimentos, sensações e sensações concretas.

Terrence McLaughlin (Andrews, 1987) ilustrou que “a música pode sugerir

cores, e as cores, sabor ou tato” e sugere também que aspectos de condições

humanas como fome-saciedade, dor-prazer, ressentimento-consolo, desejo-

orgasmo, podem ser vistos como uma relação tensão-resolução e que a

música pode expressar essa resolução de uma maneira que a comunicação

verbal sozinha não preenche.

A música deve despertar a criatividade do indivíduo, mobilizando seus

recursos no nível sensorial, imagético e sensorial. Numa perspectiva holística,

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a música no ambiente terapêutico deve ser potencialmente capaz de

harmonizar a atividade dos hemisférios cerebrais direito e esquerdo,

estimulando níveis criativos de consciência relativos ao corpo, mente e espírito.

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CAPÍTULO III

Criatividade

O estudo da criatividade exerce grande atração porque é um encontro

de ciência e arte que dão aos profissionais uma visão aguçada e o processo

criador estimula o espírito indagador propiciando muito mais que uma liberdade

costumeira. O empenho por uma aparência autônoma exige mais faculdade

de abstração, mais liberdade de coração, mais energia da vontade do que

aquela necessária ao homem para limitar-se a realidade. Acorrentado ao

material, o homem faz com que a aparência sirva por longo tempo a seus fins,

antes de conceder-lhe personalidade própria na arte do ideal. Para isso é

necessária uma revolução total em toda sua maneira de sentir.

Assim os mecanismos do corpo e também a imaginação do homem têm

seu livre movimento e seu jogo material, em que ela se alegra com seu próprio

poder e independência, sem nenhuma referência à forma.

A maioria da vida cotidiana repousa nesse sentimento livre da seqüência

das idéias. As pessoas mais brandas são as que costumam entregar-se ao

livre fluxo das imagens, esta independência da fantasia em face das

impressões exteriores é a condição de sua faculdade criadora. Somente ao

libertar-se da realidade, a força criadora pode atingir o ideal; para que possa

agir segundo suas próprias leis em sua qualidade produtiva, a imaginação

deverá ter-se libertado das leis estranhas durante sua atividade reprodutiva.

Uma nova força, a faculdade das idéias de natureza ainda inteiramente

material é explicada por meras leis naturais e a imaginação dá o salto em

direção ao jogo estético na busca de uma forma livre. Uma força totalmente

nova se põe em ação, o espírito legislador intervém nas ações do cego instinto;

submete o procedimento arbitrário da imaginação à sua unidade eterna e

imutável, colocando sua espontaneidade no que é mutável e sua infinidade no

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que é sensível. Dar liberdade através da liberdade é a lei fundamental desse

reino.

A pessoa criativa é aquela que retrata o mundo, contesta e o modifica,

porque está intensamente ligada a ele.

“Criatividade consiste em ver o que todo mundo vê e pensar o que

ninguém ainda pensou.” (GIORGYI.S-Prêmio Nobel de Bioquímica -citado por

Alencar, E.M.L.S. Em Desfazendo os mitos sobre criatividade/internet.

Criatividade, recorrendo a um conceito

artístico é poder dar uma forma a algo novo.

Em qualquer que seja o campo de atividade,

trata-se nesse “novo” de novas coerências

que se estabelecem para a mente humana,

fenômenos relacionados de modo novo e

compreendidos em termos novos. O ato

criador abrange, portanto, a capacidade de

compreender; e esta por sua vez, a de

relacionar, ordenar, configurar, significar.

(Perissé, G- A palavra criatividade- modos

de usar/internet).

Nós seres humanos sabemos que vamos morrer e precisamos reunir

toda a nossa coragem para enfrentar essa realidade, contra a qual devemos

nos revoltar e lutar, e é dessa luta, diz May, R em seu livro, A coragem de

criar/1975, que nasce a criatividade; do desejo de viver alem da morte.

“A arte criativa nos permite alcançar ale da morte”. Barcelos M, V-

pág.22

Podemos dizer que a vontade de criar pode ser considerada um desafio

porque é preciso ter coragem de abrir mão de tudo o que foi aprendido de uma

forma tão árdua durante toda uma vida, diante da necessidade do novo. Tudo

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o que se aprendeu deve ser reavaliado, abrindo espaço para o novo e para o

que há de melhor existente dentro de si, o que só poderá acontecer se ele tiver

uma grande certeza de suas crenças e valores e de seu potencial.

“Dissociar a criatividade da luta, é tirar dela uma de suas mais belas

características” segundo Perissé, em a Palavra Criatividade-modos de

usar/internet.

Quando observamos algo ou alguém, determinamos a forma que iremos

lidar e processar aquela informação porque agimos de acordo com as

informações e experiências que temos armazenado através de nossa vivência,

então criamos um contexto.

Este mecanismo de compreensão, regido pela percepção e pela intuição

pode ser estendido a todos os processos criativos artísticos e não artísticos, ou

seja, cada momento de percepção e compreensão poderá ser considerado um

momento de criação, sendo assim, a criatividade estará ligada às influências

culturais que rodeiam o indivíduo, hábitos, costumes, religião, sua forma de ver

e lidar com a natureza e com o próximo. Essas influências não precisam ser

consideradas negativas, não precisamos estar totalmente livre dessas

influências para sermos considerados criativos. Ser espontâneo é ser coerente

consigo mesmo, com toda essa bagagem cultural e de vivência que o indivíduo

traz e que o faz ser quem é. Saber distinguir entre todas as informações

captadas o que precisa, pode e deve ser contestado, criticado, modificado e

recriado.

Tentar e errar faz parte da vida, o verdadeiro fracasso está em não

tentar, em desistir. Nada detém o poder criativo, ele se alimenta de todos os

sentimentos capazes de despertar emoções que precisem ser exteriorizadas e

trabalhadas.

Um dos maiores obstáculos para o desenvolvimento criativo é o cultural,

que castra, oprime e limita com suas regras. Na escola, diminui-se o período

de jogo e imaginação dando ênfase ao real, ao palpável, levando a imaginação

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a uma qualidade inferior. O resultado é que os processos adultos pré-

conscientes e conscientes ficam completamente separados. Precisamos

manter a capacidade criativa das crianças até que amadureça com boa

criatividade.

Outra grande barreira à criatividade é a grande importância dada ao

papel dos sexos. Criatividade se associa ao sexo feminino por sua

sensibilidade e a independência do pensamento está relacionada ao homem.

Sendo assim, estimulamos meninos e meninas a aderirem padrões e papéis

na sociedade, tolhendo o crescimento da criatividade.

Os principais traços de criatividade são: inteligência, estar ciente das

coisas com sua consciência, fluência, flexibilidade, originalidade, elaboração,

persistência, ceticismo/credulidade, jogo intelectual, senso de humor,

independência e a união íntima confiança e capacidade de autocrítica.

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CONCLUSÃO

Somos complexos e existe um mundo em nós que pode ou não ser

compreendido e sentido por nós. Se nos perdermos dentro dele, estaremos em

desequilíbrio, precisando estar atentos porque o corpo fala o tempo todo.

Podemos mentir com as palavras, mas não com a expressão.

Nosso corpo é pura energia e sensação, consciência e inconsciência.

A repressão e manipulação pelos poderes externos e alheios à nossa vontade,

gera uma grande culpa produzindo sintomas nos indivíduos que entram em

processo de segregação porque o poder que dita as regras de consumo e

comportamento nos leva à mudança de valores. Vivemos num tempo em que o

homem não tem valor e sim o quanto ele pode dar e produzir de lucro. Sua

subjetividade oscila entre a alienação e a opressão, sem questionamentos.

Para se apropriar novamente de suas potencialidades, é preciso se

expressar e criar, produzindo um processo de singularização e superação de

antagonismos, procurando a essência e a verdade das coisas e de si mesmo.

O processo arte terapêutico liberta tensões internas através da

expressão plástica, podendo aprimorar a percepção, nos tornando mais

conscientes e responsáveis pelas nossas escolhas e pela nossa vida, através

da simplicidade e espontaneidade.

A linguagem artística é intuitiva porque passa por um nível de

consciência diferente da palavra que é racional. Na linguagem artística, não

tem certo nem errado, é descompromissada, é atemporal não precisando ter

lógica. Isso acontece através dos materiais artísticos expressivos que

valorizam mais a espontaneidade que a estética.

O que não era possível transmitir em palavras transformam-se em

gritos de cores e formas na clareza indolor na arte das imagens. Assim o

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sujeito percebe uma infinidade de coisas sobre si mesmo e sobre o mundo que

o cerca, acrescentando, diminuindo, modificando e se auto-conhecendo.

O foco principal num ateliê terapêutico é o processo de criação e seu

desenvolvimento, o material, a técnica, e os instrumentos, são facilitadores e

colaboradores desse processo. A atividade plástica aliada ao trabalho de

compreensão intelectual e emocional, facilita o processo evolutivo de

personalidade por modelar e transformar a si mesmo ao mesmo tempo em que

manipula o material propiciando o conhecimento de aspectos e imagens

internas própias do indivíduo, iniciando assim o processo de abertura e

desbloqueio.

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ATIVIDADES CULTURAIS

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I 10

CAPÍTULO II 22

CAPÍTULO III 41

CONCLUSÃO 45

BIBLIOGRAFIA 47

ATIVIDADES CULTURAIS 50

ÍNDICE 52

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes

Título da Monografia: Os Materiais expressivos como colaboradores

atuando no inconsciente e nas emoções.

Autor: Sandra Maria Cozendey Franco de Moura.

Data da entrega: 31/01/2009

Avaliado por: Conceito: