UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · • Neuroanatomia - é o estudo da estrutura...
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADES INTEGRADAS
A APLICABILIDADE DA NEUROCIÊNCIA NOS ATENDIMENTOS PSICOPEDAGÓGICOS EM PROL DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UM
DIÁLOGO POSSÍVEL OU UMA VIA DE MÃO DUPLA?
POR: MARIZÉLIA FIGUEIREDO DA CONCEIÇÃO
ORIENTADORA: Prof.ª MARTA PIRES RELVAS
RIO DE JANEIRO
2012
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A APLICABILIDADE DA NEUROCIÊNCIA NOS ATENDIMENTOS
PSICOPEDAGÓGICOS EM PROL DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UM
DIÁLOGO POSSÍVEL OU UMA VIA DE MÃO DUPLA?
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Neurociência Pedagógica.
Por: Marizélia Figueiredo da Conceição.
Maio
2012
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Agradeço...
...a Deus pela oportunidade concedida
em poder compartilhar de mais essa
experiência, a minha família que
comigo caminhou em toda essa
jornada e a todos aqueles que de uma
forma ou de outra colaboraram para
que esse momento acontecesse.
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Dedico...
a meus pais que embora não
estejam mais entre nós, deixou-me
os ensinamentos necessários de
força fé e coragem para lutar pelas
coisas as quais acredito e acreditar
naquilo pelo qual luto. Porque quem
acredita sempre vence.
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RESUMO
O presente trabalho teve por objetivo verificar as possibilidades da
aplicabilidade da neurociência nos atendimentos psicopedagógicos na
educação inclusiva.
Sabedores das dificuldades atuais dos alunos na compreensão dos conteúdos
propostos, além das síndromes e anomalias de alunos em sala de aula regular,
que ora permeiam a educação inclusiva, faz-se necessário essa busca pela
qualidade das aulas ministradas. A neurociência vem para responder ou tentar
responder tantas inquietações tanto dos professores regentes como de toda a
equipe responsável pela adequação curricular. Dessa forma, neurocientistas
visam reconstruir o olhar do educador buscando caminhos entre as várias
disciplinas e áreas de estudo, além do conhecimento sobre o desenvolvimento
da memória, esquecimento, atenção, percepção entre outras, além de observar
o meio social em que a criança vive e a importância da família em seu
desenvolvimento.
O estudo concluiu que a neurociência oferece um grande potencial para nortear
a educação em sala de aula. Todavia, faz-se necessário construir elos entre a
aplicabilidade da neurociência e a prática educacional para fazer a ligação dos
saberes. Porém, ficou claro que o fato de saber como o cérebro funciona, e as
causas das dificuldades da aprendizagem não é o mesmo que saber o que
fazer para que o problema seja sanado. Isto é, nem sempre o conhecimento da
neurociência e sua aplicabilidade em sala de aula, promoverá um diálogo
possível.
Palavras – chaves: Neurociência; Família; Escola, Aprendizagem.
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Sumário
Agradecimentos.............................................................................. 03
Dedicatória ..................................................................................... 04
Resumo .......................................................................................... 05
Sumário ............................................................................................06
Introdução ...................................................................................... 07
Capitulo I ........................................................................................ 09
Capítulo II ........................................................................................19
Capítulo III ...................................................................................... 29
Conclusão ........................................................................................36
Bibliografia .......................................................................................38
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Introdução
A educação não é algo estanque nem limítrofe. Dada sua importância
na formação sociocultural de um povo e a diversidade que esse povo
apresenta, faz-se necessário que os conhecimentos gerados por cada uma das
ciências que estudam essa formação, se unam em função dessa formação e
crescimento.
O desenvolvimento social é função relevante do processo educacional
que ora passa por transformações através da dinamização da educação
inclusiva. Processo este de fundamental importância na adequação curricular
dos programas educacionais que atendam a diversidade formativa do aluno,
sua interação social, intelectual, física, psíquica, e os conhecimentos geridos
em seu meio social.
A psicopedagogia apresenta um enfoque inclusivo, dada sua
preocupação com as dificuldades apresentadas pelos alunos em sua
aprendizagem, assunto este, que atualmente tem preocupado cientistas, pais e
professores. Dessa forma, o estudo da neurociência apresenta um enfoque de
muita importância não só para a educação, como para saúde de maneira geral.
Da adequação das estruturas mentais e seus mistérios, nasceu a
Neurociência, fruto de um conjunto de disciplinas, que tem por objetivo
desvendar os segredos do cérebro através dos estudos de seu funcionamento.
Assim sendo, seu conhecimento é oportuno aos educadores no processo de
aprendizagem e na compreensão dos sintomas apresentados pelos alunos
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melhorando assim, a aplicabilidade dos conteúdos e consequente facilitação ou
não da aprendizagem.
A neurociência, assim como a educação inclusiva, é tema de destaque
atualmente no processo educacional, e, ambas acreditam que a aprendizagem
resulta da interação das estruturas mentais, de como o cérebro aprende e de
como essas redes neurais são estabelecidas.
O cérebro é o comando do corpo, e o desenvolvimento desses
comandos, depende dos estímulos ambientais que vão moldar as atitudes, os
conhecimentos e o modo de vida do indivíduo, dessa forma, a educação e a
aprendizagem estão intimamente ligados ao desenvolvimento do cérebro e
suas funções.
Sabe-se, que o fato de conhecer como o cérebro funciona, e as causas
das dificuldades de aprendizagem, não é o mesmo que saber o que fazer para
que o problema seja sanado, porém, faz-se necessário utilizar-se dos
conhecimentos da neurociência para deles extrair respaldo, estabelecer novas
estratégias de conduta profissional, que facilitem alcançar o os objetivos
esperados e assim promover uma condição facilitadora da aprendizagem de
todos os alunos. Assim sendo, estabelecer a relação entre as neurociências e a
psicopedagogia na educação inclusiva é o principal objetivo do presente
estudo.
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CAPÍTULO I
“Aprender sem pensar é inútil; pensar sem aprender, é perigoso.”
Confúcio
1.1 - O Que é Neurociência?
“Neurociência é um conjunto de disciplinas que tratam do
sistema nervoso. Nasceu das bases cerebrais da mente humana
– seja ela manifestada apenas mediante a encarnação cerebral
de um espírito imaterial, como nas primeiras teorias, ou puro
resultado do funcionamento do cérebro, segundo teorias mais
recentes” (Herculano p. 2) Lent.
Entre as disciplinas que a neurociência engloba estão:
• A neurofisiologia – é o estudo das funções do sistema nervoso que
utiliza os eletrodos para estimular a gravar a reação das células nervosas ou de
maiores áreas do cérebro.
• Neuroanatomia - é o estudo da estrutura do sistema nervoso em
nível microscópico e macroscópico. Os neuroanatomistas dissecam o cérebro,
a coluna vertebral e os nervos periféricos fora dessa estrutura.
• Neuropsicologia - é o estudo das funções neurais e psicológicas.
Seu principal método é o estudo do comportamento ou mudanças cognitivas
que acompanham lesões em partes específicas do cérebro, porém estudos
experimentais com indivíduos normais também são comuns.
Para Herculano, o objetivo mais ousado e ambicioso da neurociência é
buscar compreensão e explicação da forma como nascem a consciência
humana e a cognição.
Para uma perfeita compreensão desse processo, faz-se necessário
compreender que o Sistema Nervoso, tem como função receber informações,
associá-las, emitir ordens, garantir a homeostase (equilíbrio), armazenar
informações (memória) e produzir neurossecreções. No SN, diferenciam-se
dois tipos de células: as células da glia (neuroglia) e os neurônios. As células
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da glia tem a função de dar suporte aos neurônios que são os principais
componentes do SN.
O sistema nervoso está dividido em: Sistema Nervoso Central (SNC)
protegido pela caixa craniana e pela coluna vertebral e o Sistema Nervoso
Periférico (SNP), formado por uma rede de nervos que se espalham ao longo
de todo o organismo comunicando o Sistema Nervoso Central com órgãos
sensoriais e órgãos efetores e o Sistema Nervoso Autônomo (SNA) que
segundo MAIA é colocado à parte por apresentar estruturas centrais e
periféricas relacionadas apenas ao controle involuntário de funções orgânicas.
(p.20)
Tendo o presente estudo o objetivo de aplicar os conhecimentos das
neurociências nos atendimentos psicopedagógicos inclusivos, faz-se
necessário conhecer essas divisões, e uma abordagem que Relvas considerou
relevante ao fazer seus estudos sobre como a neurociência pode colaborar
para o avanço da Inclusão Social, são as divisões da neurociência em:
Neurociência Molecular – que investiga a química e a física envolvida
na função neural. Estuda os íons e suas trocas necessárias para que uma
célula nervosa conduza informações de uma parte do sistema nervoso para
outra. Reduzindo ao nível mais fundamental, a sensação. O movimento, a
compreensão, o planejamento, o relacionamento, a fala e muitas outras
funções humanas que dependem de alterações químicas e físicas.
Neurociência Celular- Considera as distinções entre as células no
sistema nervoso e como funciona cada um respectivamente. As investigações
com os neurônios recebem e transmitem informações, e os papéis das células
não neurais do sistema nervoso são questões ao nível celular.
Neurociências de Sistema – Tem a finalidade de investigar grupos de
neurônios que executam uma função comum, por meio de circuitos e
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conexões. Como exemplo, têm-se o sistema proprioceptivo, que transmite
informações de posicionamento e movimento do sistema musculoesquelético
para o SNC, e o sistema motor, que controla os movimentos.
Neurociência Comportamental - Estuda a interação entre os sistemas
que influenciam o comportamento, o controle postural, a influência relativa de
sensações visuais, vestibulares e proprioceptivas no equilíbrio em diferentes
condições.
Neurociência cognitiva – Atua nos estudos do pensamento, da
aprendizagem, da memória, do planejamento, do uso da linguagem e das
diferenças entre memória para eventos específicos e para a execução de
habilidades motoras. (p. 23).
Desta forma, observa-se que o estudo da neurociência tem por objetivo
compreender cada parte do cérebro, suas funções e onde cada uma atua no
ser humano. Embora as funções neurais se processem de uma mesma
maneira, cada ser é único, e apresenta diferentes maneiras de ser e agir
dependendo tanto das anomalias apresentadas quanto dos estímulos
recebidos pelo ambiente.
1.2- O Cérebro e suas Funções
A neurociência estuda aquilo que é considerado objeto de maior
complexidade no universo – o cérebro.
O cérebro humano é o comando de todo o funcionamento do Sistema
Nervoso Central. Para tanto, buscando esse equilíbrio ele apresenta duas
estruturas denominadas hemisférios que se comunicam através de uma
estrutura chamada corpo caloso.
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Segundo a psicóloga Rosângela Rabelo na Revista Psicopedagogia nº
81\09, os estudos feitos pelos neurocientistas a respeito das diferenças das
funções entre os hemisférios e sua relação com a aprendizagem, tem sido
intensa e de fundamental importância, pois tem como objetivo compreender e
qualificar o indivíduo para a aprendizagem afirmando que “as pesquisas em
neurociências apresentam estudos que nos levam a reflexão sobre a
elaboração de atividades específicas de facilitação de aprendizagem,
favorecendo a homeostase do cérebro”. (p. 459)
O cérebro ou encéfalo se divide em telencéfalo e diencéfalo.
O telencéfalo é formado pelos hemisférios, que tem a função de
controlar as ações motoras voluntárias, integração dos estímulos sensoriais,
raciocínio, aprendizado, pensamento, fala e memória. As partes mais
superficiais, chamadas de córtex cerebral, relacionam-se com alguns aspectos
da inteligência humana.
A relação entre os hemisférios se dá da seguinte forma. O hemisfério
direito, rápido e complexo recebe as informações e controla os movimentos do
hemisfério esquerdo e o hemisfério esquerdo, verbal e analítico, recebe
informações do lado direito.
Hemisfério esquerdo Hemisfério direito
Função verbal: seleciona palavras para
descrever, definir
Função não verbal: percebe as coisas
através de imagens
Simbólica- Usa símbolos para
representar
Concreta: Concebe coisas em sua
integralidade
Analítica – Desenvolve a habilidade
passo a passo
Sintética: Agrupa informações e forma
num todo
Abstrata: seleciona pequena parte da
informação para representar o todo.
Analógica: Compreende relações e
percebe semelhanças.
Temporal: Marca o tempo e a
sequencia
Não temporal: Não possui sensação de
tempo
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Racional: Busca razão nos fatos Intuitiva: Prefere seguir palpite ou
amostras
Lógica: extrai conclusões lógicas.
Apostila “Introdução a Neurociências do Conhecimento” do IAVM Caderno 01. (P. 14).
O córtex cerebral se divide em lobos, e em cada um deles, existem
áreas específicas: córtex motor, córtex sensorial, córtex auditivo e córtex visual.
As divisões dos lobos se dão da seguinte forma:
Lobo Frontal – É o maior dos lobos, está localizado na parte anterior ao
sulco central. É responsável pela inteligência e planejamento da fala, (área de
Broca, parte do cérebro humano responsável pelo processamento da
linguagem, produção da fala e compreensão) dos atos motores, movimentos do
corpo, e está relacionado à emoção. Também faz parte do sistema límbico e
tem muito a ver com a individualidade. Com as atuais pesquisas em
neurociências, sabe-se que o córtex pré-frontal é um córtex associativo, que
elabora nossa vida mental, e nos diferencia dos outros animais. No ser
humano, essa área cerebral é muito mais desenvolvida.
Lobo Parietal - Localiza-se posteriormente ao sulco central (de
Rolando). Integra as experiências sensoriais provenientes da pele, músculos,
articulações, permitindo a percepção de tamanho e forma dos objetos
manuseados. Também está relacionado à lógica matemática. No lobo parietal
do lado esquerdo, há a chamada área de Wernicke (área 39 de brodman),
(região do cérebro responsável pelo conhecimento, interpretação e associação
das informações. Graves danos nessa área podem fazer com que uma pessoa
que escuta perfeitamente e reconhece bem as palavras, seja incapaz de
agrupar estas palavras para formar um pensamento coerente, caracterizando
doença conhecida como afasia de Wernicke), tendo também uma parte no
temporal e outra no occiptal.
(informações do site blogspot.com.br)
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Lobo Occiptal – Inicia posteriormente ao sulco parieto occiptal. Nessa
região salienta-se a importância do segundo par craniano (nervo ópitico) É
responsável pelo processamento da informação visual.
Lobo Temporal- Está abaixo do sulco ou da cissura lateral. É
relacionado primeiramente com o sentido de audição, possibilitando o
reconhecimento de tons e intensidade do som. Exibe também um papel no
processamento da memória e emoção. Está relacionado à área de Wernicke.
Neste lobo, está o hipocampo, responsável pela memória recente. Se houver
qualquer lesão no hipocampo, a capacidade de reter a memória recente fica
alterada, fato este que faz com que um idoso possa lembrar fatos passados e
esquecer os mais recentes. O hipocampo tem ainda relação com o Sistema
Límbico (emoções).
1.3- O que é emoção e qual sua Relação com o Sistema Nervoso?
De acordo com Lent, emoção é um termo de difícil definição que
podem gerar vários e diferentes conceitos, entre eles, do ponto de vista
biológico “a emoção pode ser definida como um conjunto de reações químicas
e neurais subjacentes a organização de certas respostas comportamentais
básicas e necessárias à sobrevivência dos animais” (p. 254).
São vários os conceitos quem podem classificar o termo emoção.
• Emoção é a sensação que experimentamos em determinado
momento.
• É um impulso neural que move o organismo para uma ação
involuntária.
• É uma experiência subjetiva associada ao temperamento,
personalidade e motivação, não esquecendo que, nosso temperamento e
personalidade são educados pelo meio, porém, jamais serão modificadas.
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Cada emoção causa uma reação e sua resposta depende da formação
moral, cognitiva e social daquele que a sente. Observa-se, porém, que
emoções antagônicas podem causar as mesmas sensações no organismo
como o amor e o ódio que apesar de serem antagônicas, as respostas dadas
pelo organismo são as mesmas.
Tipo Característica Reação
IRA
Fúria, revolta, ressentimento, raiva, exasperação, indignação, vexame, animosidade, aborrecimento, irritabilidade, hostilidade e, talvez no extremo, ódio e violência.
O sangue flui para as mãos, fica mais fácil pegar uma arma ou golpear um inimigo; os batimentos cardíacos aceleram-se e uma onda de hormônios como a adrenalina gera uma pulsação, energia suficientemente forte para uma ação vigorosa.
TRISTEZA
Sofrimento, mágoa, desânimo, desalento, melancolia, autopiedade, solidão, desamparo, perda de prazer, desespero e, quando patológica, severa depressão.
Confusão e falta de concentração mental, lapsos de memória, dificuldades alimentares e com o sono, apatia.
MEDO
Ansiedade, apreensão, nervosismo, preocupação, consternação, cautela, escrúpulo, inquietação, pavor, susto, terror e, psicopatológico: fobia e pânico.
O sangue vai para os músculos do esqueleto, como o das pernas, tornando mais fácil fugir, o corpo imobiliza-se para fugir ou lutar.
AMOR
Aceitação, amizade, confiança, afinidade, dedicação, adoração, paixão.
O sangue vai para os músculos do esqueleto, como o das pernas, tornando mais fácil fugir, o corpo imobiliza-se para fugir ou lutar.
PRAZER
Felicidade, alegria, alívio, contentamento, deleite, diversão, orgulho, prazer sensual, emoção, arrebatamento, gratificação, satisfação e bom humor, disposição e entusiasmo, euforia, êxtase e, no extremo, mania.
Maior atividade no centro cerebral que inibe sentimentos negativos e favorece o aumento de energia existente e silencia os que geram pensamentos de preocupação; a tranquilidade permite o corpo refazer-se de emoções perturbadoras, repouso geral.
O presente quadro foi apresentado em aula pelo professor Vasco Amaral.
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Devido às diversas maneiras da emoção se apresentar, ela se forma
em todos os lobos cerebrais como:
• lobo frontal – através da fala e pensamento;
• parietal – pela entrada sensorial do corpo;
• temporal – pelas informações auditiva;
• occiptal – pelas informações visuais.
Sabe-se hoje, que as áreas relacionadas com os processos emocionais
propulsoras da aprendizagem, ocupam distintos territórios do cérebro,
destacando-se entre elas a área pré - frontal e o sistema límbico.
A área ou córtex pré-frontal é uma região do cérebro que apresenta o
período de desenvolvimento mais prolongado, após o nascimento, em relação
a qualquer outra parte do cérebro. É de sua responsabilidade as tarefas
cognitivas mais sofisticadas e complexas da mente humana. (Não faz parte do
sistema límbico)
O Sistema Límbico é um conjunto de estruturas do cérebro
responsáveis por controlar as emoções além de ser fundamental na
participação das funções de aprendizado e memória. Localiza-se na parte
medial do cérebro dos mamíferos. Fazem parte do sistema límbico:
Ø Hipotálamo - É o centro identificador de perigo, gerando medo e
ansiedade e colocando o animal em situação de alerta, aprontando-se para
fugir ou lutar.
Ø Corpos mamilares: Intimamente relacionado ao hipotálamo os
corpos mamilares são responsáveis por regularem os reflexos alimentares da
alimentação, como por exemplo, a deglutição e ao ver um alimento suculento o
ato de lamber os lábios.
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Ø Tálamo - Representa uma espécie de duas massas ovais, onde
cada uma delas se localiza nos dois hemisférios do cérebro. É responsável por
quatro sentidos: tato, paladar, visão e audição e pelas sensações de dor,
quente ou frio e a pressão do ambiente. Apenas os sinais do olfato são
enviados diretamente ao córtex cerebral sem ter que serem “filtrados” pelo
tálamo.
Ø Hipocampo - Envolvido com os fenômenos da memória de
longa duração. Quando ambos os hipocampos (direito e esquerdo) são
destruídos, nada mais é gravado na memória.
Ø Amígdala – Mantém amplas conexões com o hipotálamo, é
considerada a janela do sistema límbico, devido receber sinais neuronais de
todas as regiões do córtex límbico, bem como do neocórtex dos lobos
temporal, parietal e occipital em especial das áreas associativas visuais e
auditivas. A estimulação de determinados núcleos amigdalianos pode, em raras
ocasiões, provocar o padrão de raiva, de fuga, de punição ou de medo,
semelhante ao produzido pela estimulação hipotalâmica.
Através dos estudos da neurociência, reconhecer que a aprendizagem
e emoção estão diretamente ligadas ao funcionamento das áreas cerebrais já é
consenso entre professores e especialistas que acreditam que a aprendizagem
está intimamente ligada à afetividade e ao desejo. Para cada ato motor, temos
um esquema: para andar, correr, corrigir a postura. Qualquer que seja o
movimento será impingida a emoção. Acredita-se o quão difícil seria um
trabalho de reabilitação com o paciente desinteressado do tratamento, da
mesma forma, imagina-se uma sala de aula com alunos desinteressados
daquilo que está sendo ensinado.
Ao falar em neurociência e educação em seus estudos, Maluf acredita
que...
“Reconhecer que o cérebro humano é a sede da
emoção e da razão não está mais em discussão entre os
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profissionais das diferentes áreas há várias décadas e menos
ainda hoje, quando podemos constatar, através de múltiplas
pesquisas e com uso, inclusive, de imagens. Mas a
operacionalização, a aplicação desses conhecimentos na
prática, sem dúvida ainda requer um longo trajeto de estudo e
aprofundamento de todos nós que trabalhamos com a
educação”. (WWW.institutoconscienciago.com.br)
Através dos estudos neurocientíficos, pode-se afirmar que nada
acontece sem que os comandos cerebrais estejam em perfeito funcionamento.
Que toda a sensação sentida pelo corpo humano é respaldada pelo cérebro e
suas funções. Dessa forma, este estudo pretendeu estabelecer a relação entre
as neurociências e os atendimentos psicopedagógicos na educação inclusiva
buscando respaldo bibliográfico para compreender se a aprendizagem formal
sempre será possível.
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CAPÍTULO II
A Educação Inclusiva a Neuropedagogia
“Se uma pessoa não pode aprender da maneira que é
ensinada, é melhor ensiná-la da maneira que pode aprender”.
Marion Welchmann
A citação inicial encontrada na pág. 11 da obra de Maia, é um indício
de que a aprendizagem deve ser oferecida de formas variadas a pessoas com
formações variadas, isto é, deve-se compreender que o indivíduo inicialmente é
fruto do meio em que vive e essa formação trazida de casa não pode ser
ignorada pela escola e sim vinculada ao processo pedagógico.
Quando se fala em aprendizagem X ensinagem, não se deve deter
apenas na criança em fase escolar. São vários os motivos que levam o aluno a
uma sala de aula. Em primeiro lugar, a criança em fase de escolaridade levada
pelos pais, independente de suas vontades e interesses, em segundo lugar
estão os profissionais que exigidos pelas constantes mudanças e descobertas
que vem acontecendo no mundo, e com a globalização não podem deixar de
buscar conhecer essas novidades, e por último estão pessoas que
independente de qualquer exigência, estão em busca da superação de seus
próprios limites. Independente dos casos, todos são aprendizes e cada
aprendiz tem sua própria maneira de aprender, e necessitam de estímulos para
que essa aprendizagem se faça.
O desenvolvimento da área da neurociência relacionada ao processo
de aprendizagem tem sido apontado como sendo revolucionário para o meio
educacional. Neurociência da aprendizagem significa o estudo de como o
cérebro aprende. Trata-se de como as redes neurais se comportam no
momento da aprendizagem, assim como de que forma os estímulos alcançam
o cérebro, do modo como às memórias se consolidam e de como se acessa
essas informações.
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Neste contexto, a escola, por sua natureza social e pedagógica, tem
por função levar aos educandos à apropriação da cultura e do saber, da qual
um dos componentes mais importantes é o acesso à educação inclusiva
competente.
2.1 A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA
Para esclarecer os objetivos, e a função social da escola hoje, é
necessário recorrer ao texto LDB 9394/96 nos artigos a seguir:
TÍTULO II
Dos Princípios e Fins da Educação Nacional
Art. 2. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por
finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício
da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Seção I
Das Disposições Gerais
Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o
educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da
cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos
posteriores.
Art. 32. O ensino fundamental, com duração mínima de oito anos,
obrigatório e gratuito na escola pública, ter· por objetivo a formação básica do
cidadão, mediante:
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios
básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do círculo;
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político,
da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;
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III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em
vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e
valores;
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida
social.
Os preceitos legais acima, que apresentam as finalidade da educação
nacional e os objetivos do Ensino Fundamental, esclarecem a função social da
escola pública, que se resume na formação do cidadão, desenvolvido
plenamente em suas potencialidades, preparado para o trabalho e para o
exercício sua cidadania. Para que isto se concretize a escola dever· ser capaz
de estimular no educando sua capacidade de aprender, proporcionando-lhe o
acesso aos conhecimentos e a vivências de práticas sociais que façam parte
do seu arcabouço teórico / práticos que lhe possibilite· uma intervenção
consciente na sociedade em que está inserido.
Libâneo (2004, p.137) enfatiza:
”A principal função social e pedagógica da escola é a de
assegurar ao aluno o desenvolvimento das capacidades
cognitivas, operativas, sociais e morais pelo seu empenho
na dinamização do currículo no desenvolvimento dos
processos de pensar, na formação da cidadania
participativa e na formação ética”.
2.2 FAMÍLIA E ESCOLA
A família sempre desempenhou um papel de suma importância na
formação do indivíduo, permitindo e possibilitando a constituição de sua
essencialidade. É através dela que o homem descobre suas raízes tornando-se
um ser capaz de elaboração e um alargador de competências próprias. Sabe-
se que a família é a primeira instituição social que forma a criança. É da família
que depende em grande parte a personalidade do adulto que a criança virá a
ser. Muitos estudos já mostraram que quando a família está presente à escola
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melhora consideravelmente. Quando a família tem interesse pela escola, a
criança se interessa mais pelos estudos e melhora o seu relacionamento com a
família e vice-versa (Piaget, 1985).
Piaget (1997), em seu trabalho com epistemologia genética e
psicologia tinha um único objetivo: como medir o desenvolvimento da
inteligência. Piaget escreveu que o desenvolvimento da inteligência se faz de
forma gradual e, que as estruturas do pensamento devem estar preparadas
para a assimilação do conhecimento (Gênese das Estruturas), costumava dizer
que a criança não é um adulto em miniatura. Piaget (1996) relatava que o
comportamento dos seres vivos não é inato, nem é o resultado de
condicionamentos.
É construído numa interação (no ir e vir) entre o organismo e o meio.
Nesse sentido, quanto mais complexa a interação, mais inteligente o homem se
torna. Para se acompanhar a opinião de La Taille; Oliveira; Dantas na
explicação dos processos designados como:
1- Assimilação é o processo cognitivo de colocar (classificar) novos
eventos em esquemas existentes. É a incorporação de elementos do meio
externo (objetivo, acontecimento, a um esquema ou estrutura do sujeito).
2- Acomodação é a modificação de um esquema ou de uma estrutura
em função das particularidades do objeto a ser assimilado, pode ter duas
formas:
Criar um novo esquema no qual se possa encaixar o novo estímulo, ou
modificar um já existente de modo que o estímulo possa ser incluído nele.
De acordo com a Constituição Brasileira (1988), Capítulo II, Art. 6º,
alterado em 2002: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a
moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e
à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”.
Para educadores e teóricos como Goffredo e Libâneo a educação
numa democracia, é o principal meio de instrumentalização do indivíduo para o
exercício de suas funções sociais e seria uma instância quase que exterior à
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sociedade, pois, de fora dela, contribui para o seu ordenamento e equilíbrio
permanentes. A educação, nesse sentido, tem por significado e finalidade a
adaptação do indivíduo à sociedade.
Ao abordar a educação escolar, seguindo uma tendência liberal
renovada progressivista, Libâneo (1994) afirma que a finalidade desta
instituição é adequar as necessidades individuais ao meio social e, para isso,
ela deve-se organizar de forma a retratar, o quanto possível, a vida.
A família, entendida como o primeiro contexto de socialização, exerce
indubitavelmente, grande influência sobre a criança e o adolescente. A atitude
dos pais e suas práticas de criação e educação são aspectos que interferem no
desenvolvimento individual e, consequentemente, influenciam o
comportamento da criança na escola. Dessa forma, quando pais e professores
têm um bom relacionamento, os alunos apresentam-se mais dispostos a
aprender e suas notas sobem consideravelmente. Estudos comprovaram que a
nota dos alunos é mais alta quando os pais possuem maior escolaridade ou
são mais atuantes na vida acadêmica de seus filhos (FERNÁNDEZ A, 1991).
É fundamental para a vida do indivíduo que este tenha um pleno
desenvolvimento psicossocial, econômico e cultural. E para que, o indivíduo
possa vir a ter uma vida bem estruturada e feliz é importante que este tenha na
sua vida familiar subsídios que o permitam realizar tal fato.
Assim não podemos desconsiderar a vida familiar e os vínculos
estabelecidos nesta, pois serão através das experiências adquiridas que o
indivíduo se relacionará com os próprios membros da família com os amigos e
com a sociedade de uma forma mais abrangente. Segundo Vicente (1997):
“O vínculo tem dimensões biológica, afetiva e social. Todo
nascimento corresponde a um encontro entre um homem e uma
mulher. O recém-nascido é, em si, expressão concreta de uma
experiência de encontros. A própria gestação é impensável sem
um vínculo concreto entre mãe e feto. Um cordão os une e
possibilita a vida. Após o nascimento o seio assumirá essa
função de vinculação concreta. O recém-chegado expressa um
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vínculo, sobrevive graças a uma vinculação orgânica, biológica e
crescerá e se desenvolverá com a constituição de uma
vinculação simbólica, afetiva e social”. (In: KALOUSTIAN, 1997,
47).
O vínculo familiar tem seu início marcado pela vida intrauterina e
dependendo da relação estabelecida entre mãe e feto, estes se consolidarão
ao nascer. O vínculo tende ao longo da vida se fortalecer à medida que o
indivíduo for se relacionando com a família, com os amigos e com a sociedade
em geral. Dependendo do grau de intensidade destes relacionamentos é que
se manifestarão os laços de afetividade/sentimentos.
Com base na definição de Prado (1996 p. 89):
“A família não é um simples fenômeno natural. É uma instituição
social variando através da história e apresentando até formas e
finalidades diversas numa mesma época e lugar, conforme o
grupo social que está sendo observado”.
Segundo o autor, a instituição família não se apresenta de uma única
forma e varia conforme o seu grupo social. E se trouxermos a nossa realidade
iremos perceber que isso realmente acontece, e que, quanto mais baixa a
situação sócio/econômica da família mais numerosa ela é e, heterogênea.
Já na concepção de Souza (1996 P. 76):
“A família desperta em todos nós lembranças, emoções,
saudades e expectativas quase sempre contraditórias, intensas
e principalmente inegáveis. Família é algo universal e por
enquanto eterno; ainda não foi descoberta nenhuma outra
formação humana. O sentimento da família engloba emoções
inerentes à pessoa: identidade, aceitação, rejeição, amor,
carinho, ódio, raiva, medo. Certamente é esta função de
opostos que torna a família tão complexa e sua compreensão
um desafio interminável”.
- 25 -
A participação dos pais e a boa relação com a escola são, em resumo,
essenciais para o desenvolvimento das crianças portadoras de deficiência.
É primordial que a escola oriente a família em relação às dificuldades
emocionais encontradas na criança, interpretando aos pais as necessidades de
seus filhos, seus medos, conflitos, hostilidades e desejos. Devemos ressaltar
também, sobre a participação dos demais familiares no sentido de que apoiem
o esforço dos pais, compreendendo o que se realiza com a criança sem
assumir atitude crítica que ocasiona muita insegurança e sentimento de culpa.
2.3 NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM
A neurociência revela o que era até então desconhecido sobre o
processo da aprendizagem. O cérebro é importantíssimo nesse processo do
aprender. Suas regiões, sulcos e lobos, tem sua real importância em um
trabalho caracterizado como sendo de conjunto, em que cada um necessita e
interage com o outro.
Auxiliados pela neurociência da aprendizagem, os educadores
puderam compreender de forma mais fácil os transtornos comportamentais
e da aprendizagem, tendo na neurociência referências para a elaboração
de estratégias que possam atender a cada caso em suas peculiaridades.
De acordo com Mieto (2009, p.02):
“Um professor qualificado e capacitado, um método de ensino
adequado e uma família facilitadora dessa aprendizagem são
fatores fundamentais para que todo esse conhecimento que a
neurociências nos viabiliza seja efetivo, interagindo com as
características do cérebro de nosso aluno”.
Este novo alicerce de conhecimentos possibilita ao educador fazer uma
ampliação significativa das suas atividades educacionais, alargando as
possibilidades na área da transmissão do saber e do aprendizado. Diversos
métodos de investigação são utilizados pela neurociência cognitiva. Entre os
exemplos que podem ser citados tem-se (a) eletroencefalograma; (b) tempo de
- 26 -
reação, (c) o neuroimageamento e (d) as lesões em estruturas neurais em
animais de laboratório a fim de estabelecer relações cérebro e cognição em
áreas relevantes para a educação.
Conforme Inácio (2008, p.02):
“A abordagem permite o diagnóstico precoce de transtornos de
aprendizagem. Este fato exigirá métodos de educação
especial, ao mesmo tempo a identificação de estilos individuais
de aprendizagem e a descoberta da melhor maneira de
introduzir informação nova no contexto escolar. Investigações
focalizadas no cérebro averiguando aspectos de atenção,
memória, linguagem, leitura, matemática, sono e emoção e
cognição, estão trazendo valiosas contribuições para a
educação”.
Os estudiosos da educação têm posição otimista de que as
descobertas em neurociências contribuam para a teoria e práticas
educacionais. Em que pese este fato, numerosos artigos leigos em jornais,
periódicos científicos, e revistas, têm exagerado ao propagar os benefícios
desta contribuição. Grande parte são opiniões especulativas. Pode-se citar
como exemplo certos empreendimentos para desenvolver currículo sob
medida, atender fraqueza ou excelência dos educandos que usam
preferencialmente um dos hemisférios. Este “neuromito” é uma informação
infundada do que a neurociência pode oferecer à educação.
Tabela 1 - Princípios da neurociência com potencial aplicação no ambiente de sala de aula.
Aprendizagem, memória e emoção ficam interligadas quando ativadas pelo
processo de aprendizagem. Esta, sendo atividade social, o aluno precisa de
oportunidades para discutir tópicos. Ambiente tranquilo encoraja o estudante a expor
seus sentimentos e ideias.
O cérebro se modifica aos poucos fisiológica e estruturalmente como
resultado da experiência. Aulas práticas\exercícios físicos com envolvimento ativo dos
- 27 -
participantes fazem associações entre experiências prévias com o entendimento
atual.
O cérebro mostra períodos ótimos (períodos sensíveis) para certos tipos de
aprendizagem, que não se esgotam mesmo na idade adulta. Ajuste de expectativa e
padrões de desempenho às características etárias específicas dos alunos, uso de
unidade temáticas integradoras.
O cérebro mostra plasticidade neuronal (sinaptogênese), mas maior
densidade sináptica não prevê maior capacidade generalizada de aprender. Os
estudantes precisam sentir-se “detentores” das atividades e temas que são relevantes
para suas vidas. Atividades pré- selecionadas com possibilidade de escolha das
tarefas aumenta a responsabilidade do aluno no seu aprendizado
Inúmeras áreas do córtex cerebral são simultaneamente ativadas no
transcursos de nova experiência de aprendizagem. Situações que reflitam o contexto
da vida real, de forma que a informação nova se “ancore” na compreensão anterior.
O cérebro foi evolutivamente concebido para perceber e gerar padrões
quando testa hipóteses. Promover situações em que se aceite tentativas e
aproximações ao gerar hipóteses e apresentações de evidências. Uso de resoluções
de “casos” e simulações.
O cérebro responde, devido à herança primitiva, às gravuras, imagens e
símbolos. Propiciar ocasiões para alunos expressarem conhecimento através das
artes visuais, músicas e dramatizações.
Fonte: Inácio (2008)
Na perspectiva de Inácio (2008), a neurociência dispõe de potencial
significativo para embasar a pesquisa educacional e aplicação futura em sala
de aula. Todavia, tem-se de fazer ligações com a prática educacional. É
consenso entre os autores de que a neurociência cognitiva está situada
estrategicamente para efetuar essa ligação de saberes.
- 28 -
CAPÍTULO III
A Aplicabilidade da Neurociência no Atendimento
Psicopedagógico em prol da Educação Inclusiva - Potencialidades e
Dificuldades.
3.1- Considerações.
O estudo em questão teve por objetivo analisar o texto “Neurociência e
Educação: Um diálogo Possível”, o qual Relvas parte do princípio de que não
se devem levar em conta as dificuldades do aluno, e sim valorizar suas
potencialidades, confrontados com as dificuldades apresentadas pelos
profissionais da educação em auxiliar os alunos no sistema de inclusão nas
unidades escolares sem os conhecimentos prévios necessários.
O presente texto traz um enfoque significativo à aplicabilidade da
neurociência em sala de aula, e como os professores podem trabalhar as
potencialidades do aluno, tendo em vista, seus conhecimentos das estruturas
do cérebro.
3.2- Educação Inclusiva e neurociência
Herculano-Houzel, (2002) definem a educação inclusiva em
neurociência como sendo “o entendimento dos processos e conceitos para a
compreensão de tópicos relativos às doenças do cérebro e distúrbios do
comportamento”. Ocupa-se também dos mecanismos saudáveis de sua
função cerebral regular.
Os resultados da educação inclusiva científica para o indivíduo em
particular e a sociedade em geral incluem:
Uso do conhecimento em neurociência para a concepção de ambientes
para a participação social de indivíduos portadores de características
específicas de processamento pelo sistema nervoso.
- 29 -
Tomada de decisões esclarecidas em caráter pessoal ou familiar em
relação à saúde, como suporte para o bom funcionamento do sistema nervoso
na faixa etária de criança a adulto.
Aplicação do conhecimento neurocientífico para o bom
desenvolvimento do cérebro de recém - nascido, crianças, adolescentes e
adultos.
O entendimento e o desenvolvimento de postura crítica frente à
pesquisa e material neurocientífico veiculado pela mídia
(adaptado de Zardetto-Smith et al., 2002).
Segundo Zardetto-Smith et al., (2000, p. 166),
“Mesmo na sala de aula as crianças convivem com colegas com
dificuldades de aprendizagem (déficit de atenção, hiperatividade,
dislexia). Por outro lado, há evidência, com aumento substancial
no ensino médio, documentada do uso de álcool, cigarro e
maconha precocemente já na escola primária (ensino
fundamental), com aumento significativo no ensino médio.”
A pesquisa em neurociência somente não se propõe a inserção de
novas estratégias educacionais, apenas propõe razões importantes e
concretas, não especulativas, porque certas abordagens e estratégias
educativas são mais competentes que outras.
Nesse sentido, entende-se que a neurociência está contribuindo para a
compreensão da percepção das crianças diante dos diferentes meios de
conhecimento e das condições dos contextos culturais que elas estão
inseridas.
A tabela 2 sugere como o cérebro aprende em determinado ambiente
de sala de aula.
- 30 -
Tabela 2
Princípios da Neurociência Ambiente em sala de aula
1.Aprendizagem&memória e emoções ficam interligadas quando ativadas pelo processo de aprendizagem
Aprendizagem sendo atividade social, o aluno precisa de oportunidades para discutir tópicos. Ambiente tranquilo encoraja o estudante a expor seus sentimentos.
2. O cérebro se modifica aos poucos fisiológica e estruturalmente como resultado de experiência
Aulas práticas/exercícios físicos com envolvimento ativo dos participantes que fazem associações entre experiências prévias com o entendimento atual.
3. O cérebro mostra períodos ótimos (períodos sensíveis para certos tipos de aprendizagem que não se esgotam mesmo na idade adulta).
Ajuste de expectativa e padrões de desempenho às características etárias específicas entre experiências prévias com o sentimento atual.
4. O cérebro mostra plasticidade neuronal (sinaptogêse) Mas, maior densidade sináptica não prevê maior capacidade generalizada de aprender.
Ajuste da expectativa e padrões de desempenho às características etárias específicas dos alunos, uso de unidades temáticas integradoras
5. Inúmeras áreas do córtex cerebral são simultaneamente ativadas no transcurso de nova experiência de aprendizagem
Situações que reflitam o contexto da vida real, de forma que a informação nova se “ancore” na compreensão anterior.
6. O cérebro foi evolutivamente concebido para perceber e gerar padrões quando testa hipóteses.
Promover situações em que se aceite tentativas e aproximações ao gerara hipóteses e apresentação de evidências.
7. O cérebro responde, devido a herança primitiva, às gravuras, imagens e símbolos
Propiciar ocasiões para alunos expressarem conhecimento através de artes visuais, músicas e dramatizações.
3.2- Um Diálogo Possível: Potencialidades
Atualmente, não basta ao professor ser só professor “conteudista”,
mudaram-se os tempos, mudou a sociedade, portanto, a educação precisa
- 31 -
mudar seus conceitos. O aluno atual requer informações mais precisas, a
escola precisa fazer do aluno um ser questionador, formador de opiniões,
autônomo em seus pensamentos, porém, para que isso aconteça de forma
prática e segura, ainda estudando o texto, Relvas esclarece que:
“A sociabilidade mediada pela escola desdobra a mera
percepção sensorial de detalhe (sensações da natureza, de
âmbito biológico), relacionadas à percepção de características
essenciais para a vida humana. Portanto, a escola muito mais do
que preparar o indivíduo mecanicamente para o trabalho, retira o
mesmo de seu estado primário biológico, redimensionando-o no
social, estimulando e promovendo simultaneamente a interação
social e a sensibilidade da consciência. Com isso, torna o sujeito
apto ao conhecimento. Foi Vygotsky que esclareceu que esse
aprendizado complementa as predisposições genéticas dos
indivíduos e, assim, cultura e sociedade só existem, na medida
em que não são geneticamente determinadas e transmitidas; o
aprendizado humano torna-se mais complexo que o mero
condicionamento por práticas repetitivas, mecanicamente
incorporadas como as prescritas pela psicologia behaviorista”.
A aprendizagem se dá quando o indivíduo se mostra capaz de
modificar o seu comportamento e isto só acontece quando as conexões
cerebrais se fortalecem, e para que haja esse fortalecimento cabe aos
professores/ (educadores) utilizarem os estímulos que esse ambiente oferece
transformando uma simples aula, em um momento de observação e
experimentação, gerando a motivação necessária à aprendizagem e
transformando o que poderia ser fracasso em sucesso. Esses estímulos podem
ser aplicados em forma de jogos, brincadeiras, conversas, tipos variados de
atividades que perpassam as várias disciplinas escolares. Uma das
preocupações da autora é saber
“Quais são as relações significativas entre o funcionamento do
cérebro – especialmente em termos da plasticidade cerebral e
- 32 -
das conexões neurais – e o processo de aprendizado? Até que
ponto, professores e educadores estão conscientes dessas
relações e de sua importância do ponto de vista pedagógico”?
Estudos científicos vêm sendo feitos com o intuito de se conhecer
melhor o funcionamento do cérebro, suas funções e sua utilização no processo
de aprendizagem. Sabe-se hoje que o cérebro humano trabalha em função do
desenvolvimento intelectual do ser humano suas conexões neurais buscando
caminhos para a facilitação da aprendizagem. Porém, para que isso ocorra de
forma mais precisa, o professor\ educador deve estar preparado para criar um
ambiente propício, conhecer o aluno, desenvolver metodologias capazes de
promover o interesse do aluno, sua participação e consequentemente essas
conexões neurais serão efetivas, e assim a aprendizagem se fará. Afirmando
então o pensamento da autora que diz [“... A escola desempenhará bem o seu
papel quando for capaz de ampliar e desafiar a criança à construção de novos
conhecimentos...”].
Tanto Vygotsky como Piaget, estudaram o desenvolvimento da criança.
Vygotsky credita que desenvolvimento é algo que se dá externamente, não
modificando nem interferindo na aprendizagem, porém a aprendizagem utiliza
os recursos do desenvolvimento, isto é, é interdependente, e defende que a
aprendizagem da criança começa muito antes da aprendizagem escolar,
iniciada com uma pré-história, enquanto que para Piaget, a aprendizagem
segue sempre o desenvolvimento, pois, se assim não fosse, o desenvolvimento
atingiria proporções tais que a criança atingiria a maturação antes de estar
plenamente apto aos conhecimentos e informações extraídos da escola.
Leontiev segue suas pesquisas na fundamentação de Vygotsky sobre
as estruturas das funções psicológicas e processos mentais superiores e
defende que para haver a realização de atos específicos, é necessário que
exista sincronia entre essas duas estruturas, e observando os estudos feitos,
pode-se conceber a ideia de que pedagogicamente, a escola fica responsável
pela facilitação do desenvolvimento da aprendizagem do aluno, através dos
estímulos das conexões neurais, a partir do momento que se sabe que são dos
estados mentais que elas provêm.
- 33 -
3.3- Uma Via de Mão Dupla – Dificuldades
Observando os estudos feitos, pode-se conceber a ideia de que
pedagogicamente, a escola fica responsável pela facilitação do
desenvolvimento da aprendizagem do aluno, através dos estímulos das
conexões neurais, a partir do momento que se sabe que são dos estados
mentais que elas provêm. Porém, apesar de defender a aplicabilidade da
neurociência no processo pedagógico, e creditar ao professor \educador a
responsabilidade do desenvolvimento das conexões neurais nas atividades
desenvolvidas em sala de aula, a autora demonstra a consciência de
reconhecer essas dificuldades através da afirmação de que;
“Os neurocientistas estudam cientificamente o cérebro,
considerando-o, sede própria do aprendizado, formam um
grupo pequeno e seleto e empregam alta e dispendiosa
tecnologia, enquanto que os educadores exercem sua
função enfrentando, além de uma grande complexidade
social, educandos que nem sempre partilham dos seus
objetivos e em sua grande maioria não possuem aparatos
ou ferramentas adequadas para realizar seu mister, o qual
seja ensina”.
Em seus estudos sobre a aplicabilidade da neurociência em sala de
aula, Relvas explica ainda que o conhecimento do funcionamento do cérebro
não é suficiente para ajudar o aluno e que tanto o neurocientista como o
professor devem compreender e aceitar que existem anomalias que levam
alguns alunos a apresentar um déficit cognitivo menor que o outro, coadunando
assim com a opinião de Vigotsky que defende que o indivíduo adquire
informações, valores habilidades e atitudes entre outros conceitos a partir de
seu contato com a realidade, o meio ambiente e outras pessoas. Logo se pode
observar que, apesar de indivíduos apresentarem uma mesma anomalia, em
sala de aula, por exemplo, o desempenho de cada um vai depender mais de
sua vivência extraclasse do que do desempenho interno propriamente dito,
independente do esforço do professor/educador.
- 34 -
Conclusão
Sabe-se das dificuldades encontradas atualmente pelos
professores/educadores, no que se refere à aprendizagem dos alunos, porém,
não se pode negar à necessidade e a funcionalidade da neurociência em sala
de aula, logo, a autora defende a tentativa de se procurar minimizar as
diferenças entre as categorias e procurar a promoção da integração que visem
uma nova ciência da educação, utilizando tanto os conhecimentos adquiridos
em sala de aula como das funções cerebrais em prol do desenvolvimento da
humanidade.
Como a Neurociência está diretamente vinculada a outras ciências, a
educação também não pode tentar se desenvolver de forma isolada, para
tanto, não só o professor\educador deve ficar responsável por essa demanda,
mas, sim sugerir o apoio de outros profissionais especialistas como: (psicólogo,
fonoaudiólogo, psicopedagogo, pediatra, etc.) sempre que houver necessidade
de acompanhamento visando o bem estar do aluno de maneira geral e
facilitando assim a sua aprendizagem. Outro fator fundamental, para que o
processo aprendizagem seja efetivo, é o apoio familiar com medidas sócio
educacionais, pois não se pode esquecer que por mais abrangente que a
escola seja em seus aspectos de afetividade, a família é o alicerce de todo e
qualquer indivíduo.
Este estudo nos remete à conclusão de que a neurociência oferece um
grande potencial para nortear a pesquisa educacional e futura aplicação em
sala de aula. Todavia, faz-se necessário construir elos entre a neurociência e a
prática educacional. Há forte indicação de que a neurociência cognitiva está
bem colocada para fazer esta ligação de saberes.
Vimos neste estudo que o objetivo da neurociência aplicada à inclusão
social é o de apurar os conhecimentos de como o cérebro funciona ao longo do
processo de aprendizado, de forma que esses dados passem a ter relevância
frente aos educadores, promovendo o ensino, por meio da alternativa de
determinadas táticas e metodologias de ensino, bem como na variação da
- 35 -
opção selecionada, no caso de alunos que, por motivos vários, possam
apresentar restrições em determinado tipo de aprendizado.
Hoje se percebe que as questões da aprendizagem e do conhecimento
são complexas e envolvem não apenas o ato de aprender exclusivo do aluno,
mas também, da escola, do educador, da família e da sociedade. São muitos
os elementos interagindo no ato de aprender.
Portanto o educador deve ter consciência de que na educação não há
monólogo, e que sem o apoio de todos, não haverá diálogo possível, podendo
se transformar em uma via de mão dupla.
“O desenvolvimento do ser humano prossegue
pela contínua transformação resultante do meio”
(Marta Relvas).
- 36 -
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