UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … LEAL BOTELHO.pdf · ... competências sociais...
-
Upload
phungthien -
Category
Documents
-
view
214 -
download
0
Transcript of UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU … LEAL BOTELHO.pdf · ... competências sociais...
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO "LATU SENSU"
EM TERAPIA DE FAMÍLIA PROJETO A VEZ DO MESTRE
UMA VISÃO HISTÓRICA E CONTEMPORÂNEA DA
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
por
ELAINE LEAL BOTELHO
ORIENTADORA:
PROFESSORA Ms. DIVA NEREIDA MARQUES MACHADO
MARANHÃO
RIO DE JANEIRO
MARÇO / 2003
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO "LATU SENSU"
EM TERAPIA DE FAMÍLIA PROJETO A VEZ DO MESTRE
UMA VISÃO HISTÓRICA E CONTEMPORÂNEA DA
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
Apresentação de Monografia à Universidade
Candido Mendes como Requisito Parcial para
a Conclusão do Curso de Pós-Graduação
"Latu Sensu" em Terapia de Família.
POR: ELAINE LEAL BOTELHO
PROFª ORIENTADORA: Ms. DIVA NEREIDA MARQUES
MACHADO MARANHÃO
RIO DE JANEIRO
MARÇO / 2003
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Deus, única e exclusiva fonte de sabedoria e
inspiração; aos teóricos neste trabalho mencionados, por
tantos anos se dedicando em busca do conhecimento
preocupando-se com o registro e repasse do mesmo; e, em
especial, ao meu marido Davi Pereira Botelho que há anos
tem demonstrado tamanha credibilidade no meu potencial
profissional e, por isso, tem sido um incentivador
incessante.
4
DEDICATÓRIA
Ao meu saudoso pai Antônio Braga Leal e minha querida
mãe Cremilda Garcia Lima Leal;
Ao meu amado marido Davi Pereira Botelho e ao fruto do
nosso amor Davi Leal Botelho.
5
EPÍGRAFE
“Há muitas virtudes humanas que não são suficientemente
recompensadas em nossas sociedades, como a bondade
nos relacionamentos humanos.
Chamá-las de inteligências não faz justiça às teorias da
inteligência nem aos traços de personalidade e talentos
especiais que ultrapassam a definição consensual de
inteligência.”
Scarr
6
RESUMO
O objetivo deste trabalho consiste em desenvolver um estudo sobre a
inteligência emocional, focalizando as organizações do trabalho e a educação de
crianças. A escolha dessa temática resultou do interesse em abordar a
inteligência emocional como um fator importante para o desenvolvimento de
competências sociais. Para melhor compreensão do tema, inicialmente, foram
descritas as principais abordagens que focalizam o constructo inteligência. Em
seguida foram abordados características e dinâmicas da inteligência emocional,
da competência e eficácia emocional. No último capítulo, foram descritos
aspectos da inteligência social e as mudanças que esta produz nas relações
sociais no âmbito profissional e das relações sociais, principalmente da criança.
Palavras Chaves: Inteligência Emocional / Organizações / Criança
7
METODOLOGIA
Procedimentos Metodológicos:
1- Pesquisa bibliográfica, seleção, leitura e análise;
2- Pesquisa descritiva, utilizando um estudo exploratório;
3- Elaboração de relatório (Monografia).
8
SUMÁRIO
CAPÍTULO I
PRINCIPAIS ABORDAGENS TEÓRICAS DA INTELIGÊNCIA......10
CAPÍTULO II
CONCEITO DE INTELIGÊNCIA SOCIAL, EMOCIONAL E
PESSOAL................................................................................................21
CAPÍTULO III
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL...........................................................23
CAPÍTULO IV
COMPETÊNCIA EMOCIONAL E EFICÁCIA.....................................28
CAPÍTULO V
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL NAS ORGANIZAÇÕES E NA
EDUCAÇÃO DA CRIANÇA.................................................................31
CONCLUSÃO........................................................................................46
BIBLIOGRAFIA.....................................................................................48
ÍNDICE...................................................................................................51
ANEXOS.................................................................................................53
9
INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho consiste em desenvolver um estudo sobre a
inteligência emocional, focalizando as organizações do trabalho e a educação da
crianças. A escolha dessa temática resultou do interesse em abordar a inteligência
emocional como um fator importante para o desenvolvimento de competências
sociais. Para melhor compreensão do tema, inicialmente, foram descritas as
principais abordagens que focalizam o constructo inteligência. Em seguida foram
abordados características e dinâmica da inteligência emocional, da competência e
eficácia emocional.
Esta pesquisa, de cunho teórico, se propõe a analisar aspectos relevantes acerca
da inteligência emocional, e social as mudanças que ela proporciona, especialmente,
nos âmbitos das organizações do trabalho e da educação.
O termo inteligência emocional começou a ser divulgado, em 1996, quando o
psicólogo Daniel Goleman lançou o livro “Inteligência Emocional”. A partir desta
data, o termo ganhou uma importância relevante.
Essa relevância pode ser explicada através de dois fatores causais. Para o
primeiro fator, destacamos a possibilidade de estudar a inteligência através de um
novo enfoque. Em relação ao segundo, apontamos os benefícios que a inteligência
emocional traz ao indivíduo no seu cotidiano.
No âmbito da educação, conceito de inteligência emocional vem sendo mostrado
como uma forma de favorecer o desenvolvimento de competências sociais e no
planejamento dos educadores, assim como nas entidades mantenedoras das escolas e
nos criadores de políticas educacionais. A área do trabalho passou a compreender a
inteligência emocional como uma maneira de pensar sobre uma enorme variedade de
10habilidades que, além de transformar os indivíduos aptos a conseguir um emprego,
diferencia os profissionais eficientes dos profissionais comuns.
Estudos que vincularam a inteligência emocional ao sucesso escolar e
profissional foram amplamente divulgados em discursos aparentemente científicos e,
que, no entanto, estavam baseados em conhecimentos do senso comum. Nesse
sentido, o termo muitas vezes foi utilizado como "solução mágica" para situações de
fracasso escolar ou de desemprego, acarretando um processo de banalização.
Com a realização desta pesquisa, de cunho teórico, pretende-se atenuar tal
processo de banalização. Por conseguinte, pretende-se, tão somente, analisar o que é
a inteligência emocional - enquanto constructo. Dessa forma, este trabalho visa
contribuir para a utilização prática deste conhecimento, que aponta para novas
formas de estudar e pensar as relações entre inteligência, competências sociais e
capacidade de realização pessoal.
Nos primeiro e segundo capítulos deste trabalho, serão discutidas,
respectivamente, as principais abordagens da inteligência e em seguida será
focalizada a inteligência emocional.
No terceiro capítulo, estabeleceremos relações entre os conceitos de inteligência
emocional, competência e eficácia.
No último capítulo, a temática inteligência emocional será centrada nas
organizações e na educação da criança, dando a esta última, maior ênfase
concentrando a abordagem na tendência que as crianças apresentam em reproduzir o
comportamento das pessoas de seu meio social, a saber, a família..
11
1-PRINCIPAIS ABORDAGENS DA INTELIGÊNCIA
Neste capítulo serão estudadas inicialmente abordagens da inteligência que
apresentam ênfase na cognição, a saber: a abordagem psicométrica, abordagem
desenvolvimentista, abordagem cognitivista e abordagem dos processos simbólicos.
Em seguida, serão focalizados pressupostos que enfatizam os aspectos emocionais e
sociais sendo analisadas as implicações da inteligência social, inteligência emocional
e das inteligências inter e intrapessoal.
A inteligência vem sendo estudada como um assunto de várias análises. Por um
longo tempo, vem-se procurando o entendimento do seu significado e a forma pela
qual ela é estruturada. Os primeiros trabalhos relacionados a este assunto foram
desenvolvidos por Galton (1855) e Spencer (1869) (apud Butcher, 1968).
De acordo com Celso Antunes, em 1997, o termo inteligência tem origem na
junção de duas palavras latinas, que são: inter (entre) e legere (eleger ou escolher). A
partir dessa junção, chega-se à concepção de que a inteligência é a escolha entre duas
ou mais situações. Dessa forma, ser inteligente é saber escolher a melhor maneira ou
resposta para solucionar problemas, encontrar novas soluções. Por conseguinte, a
inteligência é a capacidade de ter uma forma de compreensão das coisas, através da
seletividade e, assim, escolher de forma adequada o que é melhor para uma pessoa.
O marco histórico das teorias da inteligência e do interesse pelo estudo das
diferenças individuais são a Revolução Francesa, que ocorreu no período de 1782 a
1792 e a Revolução Industrial, que ocorreu em 1792.
Antes desse período, que caracterizava o modo de produção feudal, a
inteligência não era considerada um dado relevante para explicar situações de
sucesso ou de fracasso nas áreas do trabalho e da educação. Isto se explica porque,
no mundo feudal, a organização social se dava por divisão em classes: os nobres, que
12
não trabalhavam, por direito de nascimento e os não-nobres, que eram os
trabalhadores. Nesta organização, a vontade divina explicava a posição de cada
grupo. A aptidão era definida como uma tendência natural, a qual era dividida em
duas competências: habilidade para receber e administrar um legado, específico dos
nobres, e habilidade para exercer atividades práticas, característica ímpar dos não-
nobres. Portanto, a posição social e o poder político e econômico independiam do
merecimento de cada grupo, pois cada indivíduo nascia poderoso ou miserável, de
acordo com a vontade divina.
Com a Revolução Francesa e, conseqüente mudança no modo de produção, a
ascensão social passou a ser justificada e explicada pelo mérito pessoal. A
inteligência passa então a ser investigada pelo seu papel determinante ao nível de
realização escolar e profissional de cada indivíduo. Ao longo do século XX, foram
produzidas diferentes teorias da inteligência, que serão apresentadas a seguir:
1.1 – Principais abordagens com ênfase na cognição
1.1.1- Abordagem Psicométrica
A abordagem psicométrica teve início no fim do século XIX, com Galton (1855)
e Spencer (1869) e sua influência se deu até as décadas de 1950 e 1960. Esta
abordagem, tem como fonte de interesse a descrição e mensuração das diferenças
individuais. Procura descrever e quantificar a inteligência e embora existam
divergências entre os pesquisadores quanto à influência do ambiente, todos tendem a
considerar um fator geneticamente determinado.
Na França, Binet (1905 apud Yehia, 1995) criava uma das primeiras escalas de
desenvolvimento mental, para separar as crianças deficientes mentais e as normais,
devido às necessidades do sistema educacional. Destacou também a observação
direta e geral, afirmando que a inteligência é composta por muitas aptidões.
13
Galton (1822-1911 apud Yehia, 1987) foi o pioneiro nos estudos científicos
voltados para a inteligência, na Inglaterra. Ele quis mostrar que as aptidões humanas
são herdadas da mesma forma que as características físicas. Ao estudar famílias de
diferentes classes sociais, verificou que o número de pessoas famosas era maior nas
classes abastadas. Com base nesses dados, considerou que a genialidade era herdada.
Spencer, no início do século XX (apud, Yehia, op.cit) há que ser lembrado como
o teórico que trouxe o termo inteligência para a Psicologia. Ele acreditava que a
inteligência beneficiava o ajustamento às exigências escolares e profissionais.
Nos Estados Unidos, Cattell (1963 apud Brochier, 1999) foi o primeiro a usar a
expressão “teste mental”, trabalhando no mesmo sentido que Binet. Assim, para se
medir a inteligência e as aptidões gerais, foram criados diversos testes, sem se
preocupar com a teoria, pois o principal interesse era a descrição e mensuração das
diferenças individuais.
Entre as principais teorias da abordagem psicométrica, destacaremos, as
principais vertentes da Teoria Bifatorial e das Teorias do Fatores Múltiplos. Em
relação à Teoria Bifatorial da inteligência, serão destacados os pressupostos de
Spearman e no que se refere às Teorias dos Fatores Múltiplos, serão assinalados os
pressupostos de Thorndike (Teoria Multimodal), de Thurstone (Teoria Multifatorial)
e de Guilfford (Modelo Estrutural da Inteligência).
1.1.1.1 – Teoria Bifatorial da Inteligência
Na teoria Bifatorial da inteligência, o pioneiro é Spearman em 1927, que
começou as pesquisas em 1904, procurando alcançar uma concepção que conciliasse
e resolvesse de forma harmoniosa as diferenças entre as diversas definições e teorias
anteriores referentes às capacidades humanas.
14
Para o autor, todas as habilidades humanas apresentam um fator g (geral) e um
fator específico (e). Os dois tipos de fatores estão presentes em todas as atividades,
porém com influência diferenciada. O fator g é constante e os fatores específicos são
próprios de cada habilidade em particular, sendo os instrumentos por onde a energia
que está implícita no fator g opera. Dessa forma, pode-se dizer que o fator g é uma
energia constante e inata, sendo o oposto dos fatores específicos, que são passíveis de
educação e de treinamento. A identificação do fator g e dos fatores específicos
possibilita explicar por que um indivíduo é considerado mais inteligente, com o fator
g acima da média, do que outro mesmo que não seja muito hábil em certas tarefas.
1.1.1.2– Teoria dos Fatores Múltiplos
Nos Estados Unidos, Thorndike, em 1920, criou outra teoria sobre a inteligência.
O autor disse que a inteligência é composta por um número grande de ligações,
específicas e independentes. Esta teoria é chamada de teoria Multimoldal e diz que
uma pessoa inteligente tem somente um número maior de ligações nervosas que
outra pessoa. Além disso, a teoria afirma que a inteligência é um composto de grande
número de habilidades que são demasiadamente particularizadas devido ao número
variado de capacidades específicas independentes. Thurstone a partir de 1938, em
sua teoria das capacidades mentais primárias, afirma que a inteligência é um
composto de capacidades mentais, identificando a capacidade numérica, visual,
memorização, espacial, perceptiva, verbal, fluência verbal e raciocínio. Assim, para
ele, a inteligência é o resultado de certas capacidades mentais, nas quais a quantidade
relativa varia entre os indivíduos e em cada indivíduo.
Guilford a partir de 1971 ficou conhecido como o criador do famoso cubo
tridimensional, que possui 120 células ou capacidades possíveis subdivididas em
cinco operações, que são: cognição, memória, produção divergente, produção
convergente e avaliação. Há também, no mesmo cubo, quatro conteúdos, que são:
figurativo, simbólico, semântico e comportamental e seis produtos, a saber: unidades,
15
classes, relações, sistemas, transformações e implicações. Dessa forma, ele
desenvolveu um modelo alternativo de inteligência com aplicações no campo do
desenvolvimento e validação dos testes, no campo do pensamento divergente e
convergente.
Na década de 1970, com a volta da utilização de testes, estes acabaram por ser os
responsáveis pelo preconceito e desigualdades sociais, quando utilizados de forma
errônea. Desta forma, os mesmos visam medir o fator g, que é o fator da inteligência
e assim, determinam qual pessoa é mais inteligente, como conseqüência, as pessoas
menos inteligentes acabam sendo excluídas de atividades ou até mesmo tarefas.
1.1.2– Abordagem Desenvolvimentista
Esta abordagem faz oposição à abordagem psicométrica, na medida em que
enfatiza mais a compreensão que a avaliação da inteligência e, por conseqüência, dá
mais valor à interpretação do que à quantificação dos dados. Seus estudos estão
voltados para o estudo do desenvolvimento da inteligência.
Piaget (1983) é um dos maiores pesquisadores do desenvolvimento cognitivo.
Em seus estudos, analisa e descreve os processos envolvidos no desenvolvimento da
inteligência a partir da sua gênese. A inteligência é exposta como a capacidade de
adaptação da pessoa frente a situações novas, que envolve a adaptação mais
avançada que cada indivíduo pode desenvolver.
Para este teórico, a inteligência se desenvolve a partir de dois níveis que não
podem ser separados: o biológico e o psicológico. Em conseqüência, explica a
inteligência como um fenômeno que passa por diferentes níveis de desenvolvimento,
que são qualitativamente diferentes entre si. Sua teoria visa mostrar como o
conhecimento é construído. Para Piaget conhecimento é a construção da realidade, e
não a quantidade de informações que a pessoa
16conhecimento é a construção da realidade, e não a quantidade de informações
que a pessoa tem sobre certo tema ou objeto. Assim, o conhecimento é resultante da
troca constante com o ambiente e, dessa forma, a inteligência é o instrumento
importante para as trocas entre a pessoa e o meio ambiente.
Ele dá ênfase ao raciocínio e a abstração, reforçando a capacidade racional da
inteligência. Sua teoria de emergência gradual das inteligências consiste em:
sensório-motora (0 aos 2 anos), pré-operacional (2 aos 7 anos), operacional (7 aos 11
anos) e formal (depois dos 12 anos). Dessa forma, Piaget afirma que a cognição é um
processo adaptativo contínuo baseado num determinado desenvolvimento
preexistente. (Bock & col., 1997)
No período sensório-motor, que vai de 0 aos 2 anos, a criança conquista o
universo que a cerca por meio da percepção e dos movimentos. Nesta fase, a
inteligência será importante quanto à diferenciação entre objetos externos e o próprio
corpo. Isso nos mostra que a criança está trabalhando com o intuito de formar uma
noção do eu, distinta dos demais objetos externos e a forma de colocação diante
deles.
No período pré-operacional, que vai dos 2 aos 7 anos, a criança começa a
desenvolver a fala e assim, tem a oportunidade de utilizar a inteligência prática e
formar esquemas simbólicos. Há um início de aproximação com outras crianças, ou
seja, ela começa a despertar interesse por outras crianças de sua idade. Este
relacionamento se mostra por fazer coisas juntos, porém sem interação afetiva.
Vemos também que existe uma mudança na linguagem, já que a criança fala sozinha
enquanto brinca ou realiza uma atividade qualquer, falando o que esta fazendo.
No período das operações concretas, que vai dos 7 aos 12 anos, a criança tem um
conhecimento real dos objetos e das situações externas. Em relação à linguagem, há
uma visível queda na linguagem egocêntrica.
17
No período das operações formais, dos 12 em diante, a inteligência da criança
demonstra progressos notáveis, porém ainda mostra algumas limitações. Ao atingir
as capacidades, como a descrita acima, a pessoa alcança sua forma final de
equilíbrio.
Vygotsky (Argüeso e col., 1992) enfatizou em sua obra que as origens de formas
superiores do comportamento como pensamento, memória, dentre outras, são o que
diferencia o homem dos outros animais. Assim como Piaget, Vygotsky não via o
homem como um ser passivo, mas sim como um ser ativo que opera no mundo
sempre em relações sociais.
"O autor discute o desenvolvimento humano, onde o homem constitui-se como
tal durante a sua relação com o outro social" (Gerk-Carneiro, 1992 )
Todavia, diferente de Piaget, para Vygotsky a interação social configura um
aspecto fundamental no processo de desenvolvimento da inteligência. Dessa forma, a
criança, não pode ser analisada de forma isolada do movimento de sua história e, por
conseguinte, da história do seu grupo de referência. O referido autor afirma que, em
cada estágio, a criança apresenta diversos interesses. Na primeira infância, o que
predomina é o contato emocional; aos dois anos, destaca-se o manuseio de objetos;
dos três aos sete, é ressaltado o desempenho de papéis e outros tipos de atividades
simbólicas; entre os sete e onze anos, a fase é marcada pelo estudo formal na escola.
Na adolescência, o jovem mostra uma idealização de relações pessoais íntimas e uma
pesquisa direcionada à carreira. Para Vygotsky, “é nas relações sociais que o sujeito
elabora suas formas de agir e sua consciência” (Op. Cit.,p.52). Isto significa, que
entre a criança e o objeto do conhecimento existe sempre a mediação de um adulto
ou de outra criança mais experiente, que neste movimento, interfere dando
significado à ação da criança. Por isso, para Vygotsky, a criança aprende e constrói
novos conhecimentos em função, especialmente, da sua interação social . Assim,
podemos destacar na abordagem desenvolvimentista, que Piaget é considerado
interacionista e Vygotsky é sócio-interacionista. Esta abordagem diferencia-se da
18
cognitivista visto que a mesma estuda a inteligência no seu desenvolvimento e diz
que o conhecimento se dá a partir de trocas que o sujeito faz com o meio ambiente.
1.1.3 – Abordagem Cognitivista
Esta abordagem pesquisa como os indivíduos representam e processam a
informação. Ela estuda as habilidades mentais básicas tais como percepção,
aprendizagem, memória, solução de problemas e tomada de decisão. Seu objetivo é a
compreensão dos processos, estratégias e representações mentais usadas pelos
indivíduos no desenvolvimento das tarefas cognitivas.
Campione em 1984 atribui atenção especial aos processos e produtos da
aprendizagem em sua definição de inteligência. Para ele, a inteligência é um
conjunto complexo de várias inteligências ou de qualidades polimórficas que, na
realidade, equivalem à capacidade de formar novos hábitos, capacidade de
aproveitamento da experiência e à capacidade de adquirir informação e
conhecimento.
Sternberg em 1985 diz que a inteligência deveria ser considerada como um
autogoverno mental, o qual desenvolveria um paralelismo entre inteligência e
funções do governo de um país. O autor diz que a inteligência nos dá meios para
governarmos a nós próprios e, desse modo, nossas ações e pensamentos se
organizam de forma coerente e intencional. Quanto às funções, Sternberg diz que o
governo serve para várias delas, principalmente as funções legislativa, executiva e
judiciária. A inteligência, por analogia, tem por obrigação legislar, em relação ao
pensamento, executar e avaliar a sua conduta.
O autor afirma que a inteligência abrange as capacidades intelectuais necessárias
à adaptação, configuração e seleção de qualquer contexto do ambiente. Também diz
19
que o comportamento inteligente pode ser entendido conforme a adaptação aos
ambientes, podendo mudar de ambiente para ambiente.
Para Carroll, em 1986, há três campos onde se pode aplicar a inteligência. São
eles: o acadêmico e técnico, social e o prático. No primeiro campo, que é o mais
estudado, a inteligência precisa ser entendida como condutas alternativas, como
criação de soluções.A abordagem em questão estuda a forma como as pessoas
representam e processam as informações que chegam até elas, e apresenta também
como outro objetivo o estudo das habilidades mentais. A diferença entre ela e a
abordagem das inteligências múltiplas, é que a abordagem cognitivista preocupa-se
em entender os processos mentais, enquanto que a abordagem seguinte estuda os
diversos tipos de inteligência.
1.1.4 – Abordagem das Inteligências Múltiplas
Esta abordagem surgiu na década de 1970, com o intuito de mostrar a
inteligência de uma forma mais abrangente, ou seja, de uma forma plural. Para
Gardner (1995), a inteligência é a capacidade de solucionar problemas ou criar
produtos que são importantes em certo ambientes culturais ou comunidades.
Gardner (1996), observa a inteligência a partir de seis modos ou classes
diferentes de conhecer o mundo. Assim, ele diz que não existe uma única
inteligência, mas inteligências múltiplas e independentes. Os sete tipos de
inteligências são: inteligência corporal e cinestésica, inteligência espacial,
inteligência lingüística, inteligência lógico-matemática, inteligência musical,
inteligência pessoal. Esta última é analisada em duas modalidades: a inteligência
intrapessoal e a inteligência interpessoal.
20
A inteligência corporal e cinestésica é a capacidade para utilizar e controlar o
corpo e a motricidade em tarefas motoras complexas e em situações novas ou em
manipular objetos de forma criativa e diferenciada para resolver novos problemas.
A inteligência espacial é a capacidade de relacionar o espaço próprio com o
espaço envolvente, criando distâncias e pontos de referencias; também é perceber
visual-espacialmente objetos e combinar situações mentalmente.
A inteligência lingüística é a capacidade para adquirir, compreender, expressar e
dominar linguagens.
A inteligência lógico-matemática é a capacidade de compreensão das leis
básicas da natureza, assim como a capacidade lógico-quantitativa que permite
ordenar fatos, objetos, quantidades, entre outros.
A inteligência musical é a capacidade de combinar e compor sons não-verbais
em seqüências rítmicas harmoniosa, melódicas e hedônicas.
A inteligência intrapessoal é a capacidade de estabelecer transições afetivas
consigo próprio e com outras pessoas, envolvendo conhecimento dos sentimentos,
temperamentos, humores e intenções próprias e vê-los de modo diferente do das
outras pessoas, integrando funções complexas de comunicação e de interação.
A inteligência interpessoal afirma a capacidade para o conhecimento de outras
pessoas. As inteligências pessoais descritas por Gardner, abrangem a capacidade de
lidar com outras pessoas e serão detalhadas no sub-item que diz respeito à
Inteligência Social.
Segundo Gardner (1996), todos os indivíduos, ao nascerem, possuem um nível
básico de cada tipo de inteligência apresentado anteriormente. Porém, alguns
21
indivíduos já nascem extremamente bem dotados em relação à determinada
capacidade e, dessa forma, serão extremamente inteligentes.
Esta abordagem estuda a inteligência a partir de sete tipos diferentes. Conforme
Gardner afirmou, as pessoas nascem com um nível básico de inteligência, mas alguns
possuem uma inteligência mais desenvolvida em relação à certa capacidade do que
outros, e dessa forma, serão mais inteligentes.
22
2–CONCEITOS DE INTELIGÊNCIA SOCIAL,
EMOCIONAL E PESSOAL
Expressões tais como inteligência social, emocional, interpessoal passam a ser
difundidas a partir da década de 1990. Verificamos, entretanto, que, embora grande
parte dos estudos sobre a inteligência focalizassem o aspecto cognitivo, desde o
início do século XX, os estudiosos demonstravam interesse em analisar e descrever
componentes emocionais da inteligência.
O termo inteligência social foi utilizado primeiramente por Thorndike (1920),
que classificou a inteligência em três áreas: abstrata, mecânica e social. Esta última
foi definida "como habilidade para entender e lidar com homens e mulheres, meninos
e meninas e para agir sabiamente nas relações sociais" (Wolman, 1973).
Vernon (1933) disse que a inteligência social engloba a habilidade de lidar com
pessoas, facilidade em sociedade e conhecimento de questões sociais, expressando
assim o julgamento acerca de outras pessoas. Segundo o autor, “inteligência social
inclui capacidade para lidar com pessoas em geral, conhecimento de questões sociais,
facilidade no trato com outras pessoas, suscetibilidade a estímulos de outros
membros do grupo, assim como um insight sobre traços dos outros” (1933 apud
Nyaredi,1998).
Hunt & Moss (1937) descrevem a inteligência social como a habilidade de lidar
com outras pessoas. Guilford (1977 apud Wolman, 1973) usou o termo capacidade
social, quando falou sobre a capacidade de obtenção de informações sobre o
comportamento social, atitudes e necessidades, tanto em relação aos outros
indivíduos quanto às de si próprio enquanto indivíduo. E para facilitar o
entendimento em relação às diferentes concepções, serão caracterizados cinco
modelos: ênfase no julgamento interpessoal; ênfase no ajustamento social e no
23desenvolvimento de habilidades sociais; ênfase na ação manipuladora da inteligência
social; ênfase nas inteligências pessoais; e ênfase na inteligência emocional.
a) Ênfase no julgamento interpessoal. Neste modelo os estudos e pesquisas
investigam o processo de julgamento, incluindo a sua precisão e as características de
personalidade que são consideradas importantes.
b) Ênfase no ajustamento social e no desenvolvimento de habilidades sociais.
Neste modelo a ênfase encontra-se na investigação de habilidades para o
relacionamento interpessoal, sendo observada a capacidade para se assumir
papéis/funções das outras pessoas.
c) Ênfase na ação manipuladora da inteligência social. Neste modelo, são
destacados os conceitos de inteligência social e inteligência maquiavélica. Agir de
maneira sábia é entendido como a habilidade que um indivíduo tem em prever a
reação do outro e suas próprias emoções e, assim, fazer com que os outros façam de
maneira firme e voluntária o que ele quer que as outras pessoas façam.
d) Ênfase na inteligência pessoal. Engloba a inteligência intrapessoal e a
inteligência interpessoal. O primeiro tipo destaca a capacidade para o
autoconhecimento e o segundo, a capacidade para o conhecimento das outras
pessoas, conforme indicado anteriormente.
e) Ênfase na inteligência emocional. A inteligência emocional foi
primeiramente apresentada por Salovey & Mayer (1990). Os autores definem a
inteligência emocional como a capacidade de reconhecer e monitorar os sentimentos
e emoções próprios e alheios, para guiar o pensamento e ações dos indivíduos. Em
função da temática deste trabalho, pressupostos da inteligência emocional serão
abordados no capítulo seguinte.
A inteligência intrapessoal é o conhecimento dos aspectos internos de um
indivíduo, como o acesso ao sentimento da sua própria vida, aos vários tipos de
emoções. Também depende dos processos centrais, que ajudam os indivíduos a
diferenciar os seus sentimentos.
24A inteligência interpessoal, de acordo com Gardner (1996), está voltada para
fora, ou seja, para as outras pessoas e sustentada na capacidade de observar
diferenças entre os outros, em seus estados de ânimo, temperamentos, motivações e
intenções.
Finalmente, as inteligências pessoais, que são a inter e intrapessoal, deixam que
a pessoa desenvolva o senso do eu, o acesso ao sentimento de sua vida e,
principalmente, a interação com todos os indivíduos.
25
3-INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
A inteligência emocional começou a ser divulgada, de fato, a partir de 1995,
quando o psicólogo americano Daniel Goleman escreveu um livro sobre este assunto.
O que poucas pessoas sabem é que a inteligência emocional tem como pioneiros
Mayer& Salovey (1999). Estes a explicaram primeiramente como o sucesso ou
fracasso dos indivíduos, que pode ser entendido pela capacidade de programar as
emoções a fim de se alcançar um objetivo.
De acordo com Goleman (1995), a inteligência emocional é a capacidade do
homem ter acesso às suas emoções, discriminá-las e delas fazer bom uso em seu
comportamento.
Emoção - palavra latina, do verbo emovere que significa afastar, expulsar,
colocar para fora - nos mostra uma tendência para a ação. Cada emoção tem reações
que são mais ou menos fixas para diversas situações que são vivenciadas. É um
“complexo estado orgânico, de intensidade variável, acompanhado habitualmente de
alterações víscero-musculares tais como respiratórias, circulatórias e da excitação
mental muito acentuada.”1. Tais emoções atuam na inteligência de forma a facilitar o
ato de pensar. Da mesma forma, são um tipo de sistema de alerta que se faz
necessário desde que nascemos e agem de maneira que possam sinalizar mudanças
importantes tanto no indivíduo quanto no ambiente. São inatas e geradas
automaticamente na porção límbica do nosso cérebro. O sistema límbico é o
responsável pelo processo subjetivo central da emoção e também participa da sua
expressão. As áreas do cérebro que estão relacionadas aos processos emocionais são
o hipotálamo, a área pré-frontal e o sistema límbico. Grande parte dessas áreas está
ligada à motivação, principalmente com os processos motivacionais primários. O
termo primário indica esses processos fazendo referência às necessidades que são
essenciais à sobrevivência do homem, como a fome, a sede e o sexo.
1 Dicionário Técnico de Psicologia (1997), pág. 105
26 Tomando por base Mayer e Salovey (1999), indivíduos que possuem um alto
índice de inteligência emocional têm tendência a progredir em diferentes setores da
vida, tais como profissionais, afetivos e sociais, devido à capacidade para lidar com
as emoções.
A relação inteligência-emoção assegura ao ser humano a habilidade de
compreender as emoções. Dessa forma, somos capazes de reconhecer as emoções,
identificá-las e estabelecer relações entre essas emoções, para que, assim, possamos
entender de forma clara o que elas nos proporcionam, em diferentes situações.
O conhecimento emocional que possuímos tem início na infância e acompanha
as diferentes fases do desenvolvimento de cada indivíduo, com o aumento do
entendimento desses significados emocionais. E para que ocorra o crescimento
emocional intelectual, é necessário que se suportem e se aceitem as reações
emocionais, quando estas acontecerem, não importando se foram agradáveis ou
desagradáveis. Se o indivíduo se preocupar com os seus sentimentos, ele será capaz
de aprender algo sobre eles. Assim, em um momento de exaltação, como sentir raiva
contra uma pessoa ou contra uma situação que julgue adversa qualquer, a pessoa que
for emocionalmente madura conseguirá manter-se calma e discutir as questões com
outros indivíduos.
Mayer e Salovey (op.cit.) definem a inteligência emocional em quatro áreas, que são:
• Conhecimento de suas próprias emoções – esta é uma maneira de se qualificar de
forma adequada os sentimentos ou emoções.
• Administrar as emoções – o indivíduo precisa saber adaptar a energia à qualidade
e à intensidade da emoção.
• Motivar a si mesmo – que possibilita controlar as emoções e deter reações
impulsivas. Dessa forma, aumentam as possibilidades de se alcançar os objetivos
desejados e de manter-se confiante e otimista mesmo enfrentando situações
desagradáveis.
27
• Manejar relacionamentos – quando há duas pessoas interagindo de alguma forma,
a direção do estado de humor passa de uma pessoa para outra. As emoções são
capazes de cogitar o estado de humor, favorecendo a compreensão das
necessidades e expectativas do outro.
Para desenvolver a inteligência emocional, é necessário, antes de tudo, saber que
as pessoas agem a partir de certos pontos que são considerados a base do
conhecimento emocional.
Nossas emoções nos guiam quando enfrentamos provocações e tarefas demasiado importantes para serem deixadas apenas ao intelecto. O perigo, a dor de uma perda, a persistência numa meta apesar das frustrações, a ligação com um companheiro, à formação de uma família. Cada emoção oferece uma disposição distinta para agir; cada uma nos põe numa direção que deu certo no lidar com os recorrentes desafios da vida humana. Daniel Goleman (1995, p.18)
Assim, de acordo com Goleman (op. cit.), o corpo reage de maneira diferente a
cada tipo de emoção.
• Ira – O sangue flui para a região das mãos, há aceleração dos batimentos
cardíacos e a adrenalina proporciona uma pulsação que gera uma energia forte e,
dessa forma, há uma ação vigorosa.
• Medo – O sangue corre para os músculos do esqueleto, como os das pernas,
facilitando o ato de fuga. O corpo fica imóvel por um tempo e, logo após, os
hormônios colocam o corpo em alerta geral preparado para agir; a atenção se fixa na
ameaça imediata.
• Felicidade –.A mudança que ocorre é a tranqüilidade, que faz com que o corpo
se recupere mais rápido das emoções perturbadoras.
• Amor –As reações no corpo inteiro vão gerar um estado geral de calma e
satisfação, que ajudam na cooperação.
28
• Surpresa - Há a percepção exata do que está acontecendo e o planejamento de
um bom plano de ação.
• Repugnância - Há a tentativa de tapar o nariz, evitando um odor nocivo ou
cuspir uma comida estragada.
• Tristeza – Ela traz uma baixa na energia e no entusiasmo pelas atividades da
vida, principalmente as diversões e os prazeres.
Emoção e razão operam em completa harmonia na maioria do tempo, juntando
os seus modos de conhecimento para nos guiar no mundo. A emoção alimenta e
informa as operações da mente racional, e a mente racional melhora e às vezes nega
o insumo das emoções.
Mayer & Salovey (1992) verificaram que os indivíduos passam a adotar estilos
típicos de comportamentos, para acompanhar e manejar as suas emoções. Os estilos
são:
• Autoconsciente: As pessoas têm consciência dos seus estados de espírito na hora
em que ocorrem. A forma clara com que elas sentem as suas emoções reforça outros
traços da personalidade; são autônomas e seguras de seus próprios limites.
• Mergulhadas: Os indivíduos apresentam dificuldades para controlar suas
emoções e, por conseguinte, não conseguem escapar delas. Expressam instabilidade
e não têm muita consciência dos seus sentimentos.
• Resignadas : Diferente das pessoas que estão "mergulhadas" em suas emoções,
as resignadas têm consciência de suas ações e sentimentos, mas tendem a aceitar os
seus estados de espírito e assim não o mudam.
Pessoas que sabem aplicar de forma apropriada a prática emocional, de modo
que esta esteja bem desenvolvida, têm mais chances de se sentirem satisfeitas e
suficientes em suas vidas, dominando assim os hábitos que provoquem sua
produtividade.
29
Pode-se concluir, então, que a inteligência emocional é a habilidade de perceber
as emoções, podendo-se acessá-las para gerá-las e, dessa forma, ajudar o
pensamento. É conseguir entender as emoções e os seus significados emocionais
para, então, controlar, de forma mais reflexiva, tais emoções, promovendo o
crescimento emocional e intelectual.
30
4-COMPETÊNCIA EMOCIONAL E EFICÁCIA
Os termos competência social e habilidade social são usados como sinônimos,
inúmeras vezes. O vocábulo competência social é usado para qualificar o conjunto de
habilidades sociais, qualificando essas habilidades. Enquanto a habilidade social é
utilizada no sentido de indicar o conjunto de comportamentos usados pela pessoa
para atender demandas interpessoais do cotidiano.
Pode-se explicar a competência emocional como a maneira de mostrar a eficácia
pessoal nos relacionamentos sociais que chamem para si a emoção. A eficácia
pessoal é a habilidade e a capacidade de adquirir um resultado esperado.
Competência pode ser descrita como a capacidade de executar uma tarefa no
mundo. Del Prette & Del Prette (2000) preferem falar em competência, em vez de
inteligência emocional. A competência emocional é o conhecimento e as habilidades
que a pessoa alcança, de modo que consiga enfrentar as situações de uma forma mais
eficaz.
A competência demanda conhecimento e habilidades pessoais. É também a
habilidade de uma pessoa em lidar com suas emoções de forma que as identifique e
as reconheça em si próprio e nas pessoas do seu convívio do dia-a-dia.
De acordo com o Dicionário Aurélio, a competência é “qualidade de quem é
capaz de apreciar e resolver certos assuntos”2. Nesta definição, encontramos outras
indicações, tais como: “competente é aquele que julga, avalia e pondera; acha a
solução e decide, depois de examinar e discutir determinada situação de forma
conveniente e adequada. É ainda quem tem capacidade resultante de conhecimentos
adquiridos.”3 Dessa forma, o indivíduo será equilibrado, pronto para enfrentar de
2 Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (1998), pág. 164 3 Ibidem
31
forma apropriada às diversas situações, conseguindo conviver com as outras pessoas
em harmonia.
Na área da educação, a competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de
recursos cognitivos – como saberes, habilidades e informações – para solucionar com
pertinência e eficácia uma série de situações.
Indivíduos que conseguem juntar o senso de eficácia pessoal com
relacionamentos sociais que evocam as emoções conseguem reagir emocionalmente.
Tornam-se, portanto, capazes de aplicar estrategicamente os seus conhecimentos
sobre as emoções.
A competência emocional tem como base o desenvolvimento emocional. Em
grupos de qualquer idade, certas pessoas conseguem mostrar-se mais competentes
emocionalmente, diferentemente de outras. Elas conseguem transparecer capacidades
ligadas à emoção, as quais são mais adaptáveis ao contexto em que vivem.
Em relação à significação social, é necessário saber que a competência
emocional não pode ser separada do contexto cultural. A partir do momento em que
nos relacionamos, temos uma série de emoções e, assim, esses relacionamentos
influenciarão as nossas emoções e estas influenciarão do mesmo modo nos
relacionamentos. Dessa forma, a competência emocional está envolvida com
compaixão, autocontrole, justiça e senso de reciprocidade.
O autocontrole pode ser definido como habilidade de administrar as ações de um
indivíduo, os seus pensamentos e sentimentos de forma adaptativa e flexível, dentro
de uma variedade de contextos, tanto sociais quanto físicos. A maneira eficaz de
autocontrole influencia na sensação de bem-estar, no senso de eficácia pessoal ou
autoconfiança e até mesmo na sensação de união com outras pessoas.
32
Se mostrarmos que uma pessoa tem autocontrole, isto não indica que ela seja
sempre feliz, envolvida em relacionamentos sem conflitos e que nunca tenha tido
dúvidas sobre si mesma. Uma pessoa autocontrolada é aquela que tem uma vida
emocional rica e variada, com disponibilidade para compartilhar suas experiências
com os outros. Essas características propiciam a utilização de estratégias eficazes
para enfrentar os obstáculos do dia-a-dia.
O autocontrole individual utiliza as reações emocionais como um
sinalizador de como se deve agir e enfrentar as situações de forma eficaz.
O autocontrole é a capacidade de administrar as ações de uma pessoa, seus
pensamentos e sentimentos, de maneira adaptativa e flexível, por uma variedade
de contextos, sejam eles sociais ou físicos. (Mayer & Salovey, 1999 p.58)
A eficácia pessoal é a confiança no funcionamento da mente, na capacidade para
pensar e entender para aprender, eleger e tomar decisões. Significa crer em si mesmo
e em suas capacidades.
Indivíduos que são emocionalmente competentes têm mais habilidade para
tornar-se mais eficientes, controlando os seus hábitos mentais. Estes indivíduos, que
conseguem discriminar os sentimentos alheios, levam vantagem em todos os setores
da vida.
Segundo as pesquisas no campo das habilidades sociais, vê-se que os indivíduos
socialmente competentes têm como característica apresentar relações pessoais e
profissionais mais satisfatórias e sólidas e também mostram uma melhora tanto na saúde
física quanto na mental e um bom funcionamento psicológico. O desenvolvimento
precário das habilidades sociais está relacionado às dificuldades e aos conflitos nas
33
relações com outros indivíduos, à qualidade de vida e à vários tipos de transtornos
psicológicos.
A competência social está ligada aos efeitos do desempenho social em situações
que são vivenciadas pela pessoa. Refere-se à capacidade de uma pessoa conseguir
organizar seus pensamentos, sentimentos e ações relacionadas com os seus objetivos
e valores, trabalhando os mesmos de acordo com as demandas que o ambiente
impõe.
O desempenho socialmente competente é o que mostra uma visão apropriada do
ambiente social, o qual verifica os desempenhos aguardados, valorizados e efetivos
para uma pessoa nas suas relações com os demais.
34
5-INTELIGÊNCIA EMOCIONAL NAS
ORGANIZAÇÕES E NA EDUCAÇÃO DA CRIANÇA
Neste capítulo será enfocado como a inteligência emocional influencia a vida
profissional dos indivíduos e a educação das crianças.
Nas organizações ela vai ser o fator diferenciador e de destaque entre as pessoas
que trabalham nestas, pois tais pessoas são capazes de resolver situações que
apareçam de maneira mais rápida e eficaz.
Com relação à educação das crianças, a inteligência emocional atua de forma
que suas atitudes sejam destacadas em relação às outras do seu convívio, pois as
pessoas que as educam passam esse modo de agir para as crianças através da
educação que lhes ministram e dos exemplos de seus próprios comportamentos e
palavras perante as situações vivenciadas.
5.1. Inteligência Emocional nas Organizações
Daniel Goleman (1996), em seu estudo das organizações, chegou à conclusão de
que os profissionais que são melhor sucedidos, são os que têm um alto índice de
inteligência emocional. O autor crê que os jovens e as crianças de hoje são mais
impulsivos, solitários, ociosos e menos preparados para o convívio social, que os
jovens das gerações anteriores.
Um dos aspectos principais para se obter sucesso e continuidade nas
organizações é desenvolver o coeficiente emocional. Depois de várias pesquisas
sobre este assunto, verificou-se que a inteligência emocional é a responsável pelas
melhores decisões, organizações dinâmicas e um estilo de vida mais satisfatório e
bem sucedido.
35
Goleman (1996) afirma que existem características para o sucesso profissional e
dentre estas características podemos citar a percepção dos próprios limites e
qualidades, tais como; autoconfiança; autocontrole; engajamento e integridade;
capacidade de comunicação com outras pessoas; capacidade de exercer influência e
capacidade de adaptação frente a mudanças.
Atualmente observa-se a ênfase com relação as multi-habilidades e do
aprendizado continuado. Tanto na formação quanto na inserção no mercado de
trabalho, vê-se a exigência cada vez maior de uma especialização maior das
empresas e das pessoas que fazem parte desta. Notou-se também um aumento na
necessidade de modificação do modo de ver o indivíduo, para que se alcance o
sucesso dos profissionais e a manutenção das organizações frente à situação atual
que esta se encontra.
Vê-se um aumento de empresas que investem no bem-estar e satisfação dos seus
funcionários, valorizando os relacionamentos entre seus funcionários, a qualidade de
vida deles dentro e fora desta e, consequentemente, a produtividade.
Quando a pessoa se mantém consciente dos seus sentimentos, ela desenvolve a
aptidão emocional básica que ajuda no desenvolvimento da sua integridade e também
na descoberta da satisfação no seu trabalho. É importante saber lidar com os
sentimentos dos outros com quem se relaciona em ambiente profissional, tentando
assim, aprender a lidar com os conflitos antes que estes cresçam.
Alguns fatores cruciais que a inteligência emocional diferencia, para se obter
sucesso numa carreira ou empresa são: tomada de decisão, liderança, aproveitamento
dos talentos e capacidade de iniciativa de cada um no local de trabalho, criatividade,
inovação, capacidade de autopercepção emocional, ter flexibilidade para lidar com
mudanças, motivação e empatia. Em uma empresa, destacando-se o momento de
crise que estamos vivendo, o trabalhador deve saber tomar suas decisões, mostrando
36
que consegue lidar de forma eficaz com os problemas que apareçam e dependam
dele.
A liderança é um fator importante, uma vez que o indivíduo que sabe liderar,
tem chances de destacar-se no seu emprego e dessa forma, conquistar ascensão
profissional.
As empresas precisam aproveitar os talentos de seus empregados, mesmo que
não sejam específicos para aquele determinado cargo para, assim, valorizar o
empregado e aproveitá-lo em outras áreas. A iniciativa é vista como a habilidade que
o indivíduo tem em estar sempre pronto para agir diante das oportunidades que
aparecem para ele. Outro ponto importante é a criatividade, que é relevante em uma
empresa, pois ela poderá estar sempre se renovando.
A capacidade de autopercepção emocional consiste em identificar as próprias
emoções. O autocontrole é o responsável pela compreensão das emoções
perturbadoras e impulsos. Ter flexibilidade para lidar com mudanças é possuir
inovação, sentir-se confortável frente a novas idéias, novas informações. O indivíduo
que tem motivação é capaz de esforçar-se para obter um rendimento melhor. A
empatia é habilidade de compreender o outro, é pressentir os sentimentos e
perspectivas da outra pessoa e interessar-se de forma que perceba suas preocupações.
É também trabalhar a adversidade, agregar oportunidades por meio de vários tipos de
indivíduos.
No momento de crise atual na área econômica, educacional e saúde em que o
país se encontra, é preciso que os profissionais tenham essas “qualidades” para que
consigam manter-se em seus empregos e também prosperem em suas carreiras. É
importante, como está descrito em itens acima, que se aproveitem o talento e a
capacidade de iniciativa de cada funcionário, para que se obtenha um crescimento da
empresa. A inteligência emocional é a responsável por motivar as pessoas a
37
buscarem os seuspropósitos e potenciais únicos e ainda, ativar as aspirações e valores
mais profundos, que partem do princípio de serem algo a respeito de que pensamos e
passam a ser vividos.
Para que haja um melhor desempenho enquanto se trabalha em equipe, é
necessário que se tenha autocontrole de suas emoções. Dessa forma, é possível criar
uma empatia com as emoções dos companheiros de trabalho.
Muitas organizações apostam na inteligência como uma forma de sobrevivência,
de forma que essa dá à cognição um papel essencial na criação e desenvolvimento da
adaptação e aprendizado, de onde podem surgir novos hábitos mentais, aquisições
tecnológicas, poderes criativos, estratégias de resoluções de problemas,
conhecimentos e atitudes, desenvolvimentos de teorias e potenciais de transferências
para diversas situações.
Conforme já salientado, para Goleman (1996), a inteligência emocional pode ser
desenvolvida a partir da infância. O seu aprendizado é lento, porém de extrema
importância no futuro de qualquer sociedade ou empresa.
5.2 Inteligência Emocional na Educação da Criança
Faz-se necessário, de forma Os trabalhadores do futuro terão de ser mais talentosos e vitoriosos e assim resolverão de forma rápida os problemas que aparecerem nos seus locais de trabalho. Por isso, não basta apenas ensinar a ler, a escrever e a contar. Estas habilidades são necessárias, mas não suficientes, para assegurar a inserção e permanência no mercado de trabalho. urgente, que se ensine a pensar. As escolas carecem de focar o seu objetivo na melhora do padrão de qualidade da forma de pensar das crianças e dos jovens. Não é questão de se aprimorar a forma de pensar, mas sim as funções cognitivas associadas à competência emocional, de modo que se atinjam as qualidades de desempenho e performance. Vitor da Fonseca (1996, p.67. )
38Os princípios psicopedagógicos que norteiam um ambiente estimulante e
principalmente feliz para as crianças estão interrelacionados e são interdependentes:
auto-estima, motivação, aprendizagem e disciplina.
O desenvolvimento da criança ocorre eficazmente se prestarmos a devida
atenção na relação pais e filhos.
Desde o surgimento da raça humana, as crianças aprenderam habilidades e
valores observando os demais. Os bebês, desenvolvem a linguagem imitando seus
pais. As crianças são como esponjas em sua capacidade para absorver o
conhecimento, exatamente desde o momento do nascimento. Com experiência
limitada, elas se baseiam nos modelos para aprender a agir no mundo.
As crianças adquirem os valores da mesma forma. Através da observação, da
imitação, bem como das interações por tentativa e erro, elas gradualmente aprendem
o que é importante na vida e o que não é, o que tem valor o que não tem. Os jogos
dramáticos das crianças são um exemplo claro desse fenômeno em funcionamento.
As crianças literalmente experimentam o comportamento adulto, vestindo as roupas
dos adultos e imitando o comportamento que observaram.
No campo afetivo, pretende-se refletir em como ajudar as crianças a criarem
sentimentos positivos em relação a si mesma. Sentindo-se valiosa e segura, o êxito
social e escolar estará garantido.
No campo cognitivo, recomenda-se enriquecer e ampliar o vocabulário da
criança e a estimulá-la ao pensamento criativo e imaginativo. A ênfase neste
aprendizado tem como objetivo possibilitar a obtenção de melhores resultados na
escola e também ajudar a criança a ordenar o pensamento em função do mundo em
que vive e fazê-la sentir-se capaz, aceita e valiosa.
Além da expressão oral e da ordenação do pensamento infantil há o
desenvolvimento do raciocínio lógico - matemático, da psicomotricidade, e do
39
aspecto sócio-emocional contribuindo adequadamente para que esse "sujeito" (a
criança), seja ajudado na sua totalidade, onde todas as partes do desenvolvimento são
atendidas adequadamente.
Acreditando nesta inter-relação, não podemos tratar isoladamente cada parte
deste processo do crescimento infantil, pois o cognitivo depende do afetivo, que
influi no psicológico, que está relacionado ao psicomotor, ao físico, ao emocional.
Portanto é fundamental preocupar-se com todos os aspectos do desenvolvimento
infantil. Todos são igualmente importantes. E se processam simultaneamente.
Separamos apenas para facilitar o entendimento, mas reforçamos que o processo
de desenvolvimento acontece como um todo.
• Aprendizagem - A criança aprende o tempo todo, mas não necessariamente
aquilo que os pais tentam ensinar-lhes de forma intencional. A relação ensino -
aprendizagem nem sempre é linear e direta : nem tudo que se ensina, se aprende,
e às vezes aprendem-se coisas que não se pretendem ensinar.
O papel dos pais deve consistir em suscitar problemas adequados às capacidades
da criança, e não tanto oferecer soluções para que ela memorize e repita. Além disso,
a aprendizagem por meio da ação e da exploração é uma conquista, é construção do
conhecimento pela própria criança. Uma vez adquirido por ela mesma, a apropriação
deste conhecimento é mais significativa e nela permanece. E nada mais enriquecedor
do que propor atividades criativas e desafiadoras que podem acontecer no quintal, na
sala, no shopping, no carro, na rua.
A aprendizagem lúdica através de jogos, brincadeiras, músicas, e dramatizações
é significativa e altamente motivadora, devendo acontecer em casa e na escola, em
especial na sala de aula, onde aprender vira "ofício do brincar" e a vida escolar um
enorme prazer.
Aprendemos algumas ações, medos ou sentimentos por associação, isto é, pela
coincidência de vários estímulos que nos levam a estabelecer nexos entre eles. Ou
40
ainda, por meio das conseqüências de nossa conduta, sejam efeitos negativos ou
positivos das mesmas. Foi Thorndike (1911) quem formulou a Lei do Efeito,
referente à afirmação anterior e foi Skimner (1953) quem contribuiu para o
desenvolvimento desta idéia: um comportamento tende a repetir-se quando provoca a
aparição de algo agradável para a pessoa (reforço positivo) ou a eliminação de algo
desagradável (reforço negativo).
Uma saturação de reforços não ajuda a criança descriminar o fez bem do que fez
mal. É preciso saber dosar. A apresentação constante de reforços de grande valor traz
consigo a perda de valor desses reforços. Os reforços podem ser usados, desde que
bem utilizados.
Seja o reforço social (elogios, atenção), simbólico (dinheiro, notas no boletim),
material (presentes) ou de atividade (um jogo, um passeio, uma diversão), é
importante que os pais utilizem com muito zelo e bom - senso. Montar um quebra -
cabeça pode ser gratificante para uma criança, mas pode significar um castigo para
outra; o que revela o caráter subjetivo do reforço.
É necessário identificar quais atividades são relevantes para modificar o
comportamento da criança e despertar o seu interesse. Com isso, elimina-se um
possível mercantilismo nas condutas de pais e filhos ("eu faço isso se em troca me
deres aquilo, ou agires daquele modo").
Aprende-se também por meio da observação, por modelos e ações dos outros, o
que nos faz salientar o valor do exemplo. Isto também nos permite influir sobre a
conduta da criança indiretamente, por meio de elogios ou críticas que fazem ao
comportamento de outras pessoas. Para Vygotski (1979), a criança aprende e se
desenvolve com aquilo que faz sozinha, de forma independente e àquilo que ela faz
com a colaboração de outras pessoas, especialmente imitando os adultos.A
aprendizagem por observação explica também certas tendências agressivas das
crianças, os impulsos consumistas induzidos pela publicidade e determinadas
condutas consideradas anti-sociais, entre outras manifestações de comportamento.
41Na aprendizagem e no desenvolvimento infantil, a atividade que surge por
iniciativa da própria criança desempenha papel predominante.
É por meio da EXPERIÊNCIA, da OBSERVAÇÃO e da EXPLORAÇÃO de
seu ambiente , que a criança constrói seu conhecimento, modifica situações,
reestrutura seus esquemas de pensamento, interpreta e busca soluções para fatos
novos, o que favorece e muito, o desenvolvimento intelectual dela, principalmente,
na fase pré - escolar.
Esta relação entre a vida escolar e o cotidiano familiar é o que constitui a vida da
criança, e no mundo atual necessita de humanização. Por isso, se torna importante
que a criança seja estimulada a vivenciar os sentimentos de solidariedade, de
cooperação, do compartilhar, do prazer de dividir e de dar. É na interação do seu dia-
a-dia que a criança desenvolverá seus valores, sua crítica, sua postura de vida, além
da aquisição do conhecimento. Ao longo do processo de desenvolvimento a criança
vai conhecendo suas habilidades e talentos, colocando-os em prática e identificando
o seu valor.
Um outro dado significativo à abordagem, é a relação da criança com a
violência, onde vê-se que aquela que é emocionalmente preparada tem uma chance
maior de não se envolver com a violência. Outra característica importante a ser
observada é que crianças emocionalmente preparadas e portanto seguras, são,
geralmente, mais maleáveis que as outras. Em diversas situações, como irritações ou
tristezas, elas são capazes de acalmar-se e até mesmo achar atividades que lhes dêem
prazer.
Um ponto importante nesse assunto é a preparação emocional da criança à
medida que ela cresce. Tem início em torno dos três meses, quando o bebê começa a
interessar-se pela interação social face a face, onde ele começa a olhar atentamente
os pais e acompanhá-los com o seu olhar. Quando os pais fazem conversas imitativas
com o bebê, este tem oportunidade de ver que eles estão atentos a ele e reagem aos
seus sentimentos.
42Dos seis aos oito meses é a fase em que o bebê começa a conhecer o mundo. Ele
descobre coisas, pessoas e lugares. Nessa fase, ele entende palavras faladas e pode
seguir instruções.
Entre os nove e doze meses, a criança é capaz de entender que as pessoas podem
compartilhar as suas emoções. Ela também percebe que os objetos e pessoas têm um
certo tempo de permanência.
Na fase em que começa a andar, entre um e três anos, a criança começa a
explorar sua autonomia. Os pais podem usar a preparação emocional para ajudar a
criança a lidar com suas frustrações.
Na segunda infância, entre os quatro e sete anos, a criança é capaz de fazer
amigos, viver em vários ambientes e aprender novidades excitantes. Para vencer os
desafios, a criança precisa saber regular suas emoções.
Na terceira infância, que vai dos oito aos doze anos, nota-se o início do convívio
da criança com mais pessoas e sua compreensão sobre o que é influência social.
“Ensinam-se a meninos e meninas lições bem diferentes sobre como lidar com as emoções – com exceção da ira - mais com as filhas do que com os filhos. As meninas recebem mais informações que os meninos: quando os pais inventam histórias para contar aos filhos pré-escolares, empregam mais palavras emocionais ao falarem com as filhas do que com os filhos; quando as mães brincam com seus bebês, demonstram uma maior gama de emoções às meninas que aos meninos; quando as mães falam com as filhas sobre seus sentimentos, discutem com mais detalhes e próprio estado emocional do que fazem com os filhos – embora com os filhos entrem em mais detalhes sobre as causas e conseqüências de emoções com a ira (provavelmente como uma história admonitória).” (Goleman, 1996, p. 145 apud Barreto, 1997)
As mulheres geralmente possuem uma ligação mais íntima com seus filhos e
com isso, conseguem ter uma percepção maior das emoções destes. Esta ligação
43permite que a mãe expresse seus sentimentos e também se comunique através deles.
Os homens diminuem as emoções relacionadas com a vulnerabilidade, culpa, medo e
dor. ( Barreto, 1997, pág. 46)
Um componente muito importante no poder pessoal é a educação emocional.
Quando se tem relações estimulantes, onde quer que seja, a pessoa se sente capaz de
influenciar as outras pessoas. O termo poder está sendo utilizado para indicar a
"capacidade de influenciar a ação do outro".
A educação emocional mostra que qualquer diálogo, qualquer contato humano,
qualquer associação, breve ou prolongada, proporciona as maiores recompensas para
todos os envolvidos.
A pessoa que é emocionalmente educada entende que tem como dar poder a
outros indivíduos através das emoções. Poder é ter ocasião, ter oportunidade, meio de
conseguir; ter força de ânimo, energia de vontade. Observamos que este tipo de
educação é o elemento de destaque do poder pessoal, visto que as emoções são
poderosas. Caso o indivíduo consiga usá-las em benefício próprio, estas serão sua
força. Para Hatch (1999) a educação emocional é composta por três capacidades que
são: capacidade de entender as emoções, ouvir as outras pessoas e empatizar com
suas emoções, expressando-as produtivamente. Cada uma dessas capacidades será
descrita a seguir.
• A capacidade de entender as emoções consiste em o indivíduo saber identificar
as emoções do outro de modo que possa ajudar este.
Ouvir as outras pessoas é uma maneira de ajudá-las, já que na escuta temos a
capacidade de entender o problema do outro e assim ajudá-lo a resolver o que o
incomoda.
• Empatizar com suas emoções, expressando-as produtivamente significa colocar-
se no lugar do outro, de modo a lhe dar apoio mostrando que se importa com o que
está sendo colocado naquele momento.
44Uma pessoa emocionalmente educada tem a habilidade de lidar com as emoções
de forma que desenvolva o seu poder pessoal e a qualidade de vida ao seu redor. A
educação emocional amplia os relacionamentos, criando possibilidades de afeto entre
as pessoas, tornando o trabalho cooperativo e melhorando o sentido de comunidade.
Se o indivíduo estiver indeciso, fica propício a não mostrar as suas emoções,
mentindo a respeito delas ou fingindo não senti-las. Se uma pessoa emotiva, tem
paixões fortes, chora, vibra, até mesmo sofre, estes sentimentos constituem
experiências preciosas e fundamentais para a sua estruturação emocional e
relacional..
A consciência emocional tem como significados: saber o que estamos sentindo,
saber o que os outros estão sentindo, descobrir a causa desses sentimentos e conhecer
o efeito provável que nossos sentimentos exercem sobre o outro, assim como os dos
outros em nós.
É de extrema relevância que o conhecimento emocional exista para que haja
uma existência eficiente e harmoniosa.
5.2.1 - A Mídia e a Educação da Criança
O rápido desenvolvimento dos meios de comunicação de massa, ao longo do
século XX, modificou a forma como vivemos e a forma como nossos filhos
aprendem a passar seu tempo. Talvez a mudança mais revolucionária para as famílias
e as crianças tenha sido a invenção de um poderosíssimo professor eletrônico: a
televisão.
A televisão foi inventada em 1929, mas não foi produzida ou distribuída em massa
até o final da II Guerra Mundial. Entretanto, já em 1938, seu impacto potencial sobre
a cultura foi compreendido por um perspicaz observador.
45Acredito que a televisão será o teste do mundo moderno e que nesta nova oportunidade de ver além do nosso campo de visão descobriremos ou uma nova e insuportável perturbação da paz geral ou um brilho salvador no céu. Permaneceremos ou cairemos por causa da televisão. (White. 1929;p. 63)
Com essas palavras, White anteviu o enorme impacto que a televisão teria sobre
a cultura e a sociedade.
Tendo iniciado nos EUA por volta de 1950 essa tecnologia maravilhosa,
ofereceu às crianças uma gama inteiramente nova de modelos a serem copiados. O
rápido crescimento desse meio foi fenomenal. Em 1950, apenas 10% das famílias
norte-americanas possuíam um aparelho de televisão. Ao final da década, essa
percentagem havia subido vertiginosamente para 90%. Atualmente, 99% dos lares
norte-americanos possuem um aparelho de TV. As famílias têm mais televisores do
que telefones. A média da família norte-americana possui 2,4 aparelhos. Muitas
crianças possuem um aparelho de TV no seu próprio quarto, o qual, como um
professor particular, pode servir para os melhores ou para os piores propósitos.
A televisão não é apenas onipresente, mas também ocupa um papel proeminente
na vida das crianças. Estudos afirmam que uma criança de classe média a baixa passa
aproximadamente 28 horas por semana assistindo televisão. No período de um ano,
as crianças em idade escolar passam duas vezes mais tempo assistindo TV do que na
sala de aula. O tempo gasto em frente ao televisor ou tela de vídeo corresponde à
maior parcela de tempo investida desde o despertar da vida de uma criança. Para
muitas famílias, a televisão é parte da sua formação. Uma família de classe média a
baixa tem o televisor ligado durante sete horas por dia. Sessenta por cento das
famílias têm o televisor ligado durante as refeições. Os pais muito ocupados podem
utilizar a televisão como uma babá.
Há uma correlação inversa entre o status sócio-econômico e o tempo de
permanência frente ao televisor: quanto mais baixa a renda familiar maior o tempo
gasto pelas crianças daquela família assistindo TV. Isso não é de surpreender, uma
vez que as famílias com menos dinheiro não podem pagar por atividades alternativas.
Além disso, as crianças pobres algumas vezes vivem em locais com vizinhanças
46
inseguras, onde não é aconselhável brincar na rua. Muitas dessas crianças voltam
para casa após a escola e trancam a porta. A atividade preferida por muitos nessa
situação é passar o tempo assistindo TV. Essa talvez seja a nossa população infantil
mais vulnerável e sugestionável.
As décadas recentes trouxeram mudanças adicionais. A TV a cabo,
videocassetes, video games interativos e computadores pessoais apareceram, cada
vez mais, nos lares. Essas invenções não apenas afetaram a quantidade de tempo
gasto pelas crianças em frente a uma tela, como também fizeram mudanças
significativas no que elas estão assistindo. Os videocassetes, por exemplo, permitem
que as crianças assistam filmes e a programação veiculada tarde da noite, a qual não
está direcionada para elas. A TV a cabo e a Internet expandiram amplamente o
número de opções e forneceram acesso ao entretenimento adulto.
As crianças passam hoje mais tempo aprendendo sobre a vida na mídia do que
em qualquer outra forma. A mídia eletrônica é um professor notável para a juventude
de hoje, bem como a atrai fortemente. A combinação de informações visuais com
auditivas faz a televisão, os vídeos e os vídeo games muito mais atraentes do que
outros meios de comunicação de massa, tais como os livros.
Tradicionalmente, a família, a religião e a escola exerciam a principal influência
sobre o desenvolvimento intelectual, emocional e moral de uma criança. Isto não é
mais assim. Em termos de tempo gasto, a maior influência agora é a do televisor,
acompanhada por um crescente impacto de outros meios.
47
CONCLUSÃO
Estudos que focalizam a inteligência emocional tornam-se importantes em
função da relação desta capacidade com o desempenho obtido por cada pessoa frente
as exigências do cotidiano.
A inteligência emocional é focalizada por algumas pessoas como uma “solução
mágica”, pois criam o mito de que ela é capaz de promover diversas mudanças, tais
como a melhoria tanto no desempenho profissional quanto no pessoal.
A inteligência emocional proporciona mudanças no indivíduo, mas não é a
responsável por tudo o que acontece na sua vida. Pessoas inteligentes são capazes de
compreender vários aspectos da vida e da personalidade de outras pessoas sob um
ângulo diferente, que vai lhes proporcionar um aumento de sensibilidade em relação
aos outros e assim poderão ajudar o outro, uma vez que conseguem enxergar e
escutar os seus próprios sentimentos.
Atualmente, as empresas têm dado um grande valor às pessoas que sabem lidar
com determinados obstáculos e situações de estresse no decorrer da sua atividade
profissional. Pessoas que têm uma capacidade maior de resolução de problemas
acabam destacando-se nos seus empregos.
A inteligência emocional, no desenvolvimento humano é tão abordada na
educação de crianças quanto nas organizações do trabalho.
As emoções dos pais influenciam diretamente o coeficiente emocional da
criança. Esta tende a reagir emocionalmente de uma maneira semelhante a das
pessoas que a educam. As demonstrações de emoção dos educadores, principalmente
em sua atividade cotidiana, acabam tornando-se um importante fator no seu
48
desenvolvimento. Em relação às organizações do trabalho, a inteligência emocional
tem grande importância quanto à performance desenvolvida no local de trabalho.
Observou-se que indivíduos que sabem utilizar a inteligência emocional de modo
adequado apresentam um desempenho satisfatório e são mais bem sucedidos do que
outros.
Este trabalho visou contribuir para um melhor esclarecimento sobre um tema
que, cada vez mais, vem sendo abordado por diferentes autores, devido à sua
importância em áreas primordiais da sociedade, sem ter como objetivo o
esclarecimento de todas as questões ou mesmo uma conclusão definitiva da
inteligência emocional, mas sim, levar à possibilidade de uma maior discussão sobre
o assunto.
49
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ANTUNES, Celso. A inteligência emocional na construção do novo eu. Petrópolis:
Vozes, 1997.
ARGÜESO, M. B.; OLIVEIRA, Carla & GOMES, Amarildo. Proposta
Curricular para creches e pré-escolas comunitárias. Rio de Janeiro: Secretaria
Municipal do Desenvolvimento Social,1992.
BARRETO, Maria de Fátima Scaffo. Estrutura e poder, inteligência emocional e
satisfação conjugal. Rio de Janeiro: Dissertação de Mestrado, Universidade Gama
Filho, 1997.
BOCK, Ana Maria Bahia, FURTADO, Odair & TEIXEIRA, Maria de Lourdes
T.. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. 10ª.Edição. São Paulo:
Saraiva, 1997.
BROCHIER, Jorgelina Ines. Das concepções de inteligência: uma pesquisa
exploratória. 1999. Dissertação de Mestrado, Universidade Gama Filho, Rio de
Janeiro, 1999.
CABRAL, Álvaro & NICK, Eva. Dicionário Técnico de Psicologia 12ª.Edição. São
Paulo:Cultrix, 1997.
COTTA, Canagé de Araújo. “Insight” social em função de idade e sexo. Rio de
Janeiro: Dissertação de Mestrado, Universidade Gama Filho, 2000.
DEL PRETTE, Almir & DEL PRETTE, Zilda A. P.. Psicologia das relações
interpessoais: vivências para o trabalho em grupo. Petrópolis: Vozes, 2001.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Básico da Língua
Portuguesa. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.
50
FONSECA, Vitor da. Aprender a aprender. São Paulo: Artmed, 1996.
GARDNER, Howard. Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.
GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional: a teoria revolucionária que redefine
o que é ser inteligente. 19ª.Edição. Rio de Janeiro: Objetiva, 1996.
HRYNIEWICZ, Severo. Para filosofar hoje. 4ª.Edição. Rio de Janeiro: Santelena,
1999.
MACHADO, Ângelo. Neuroanatomia Funcional. 2ª.Edição. São Paulo: Atheneu,
1993.
MAYER, John D. & SALOVEY, Peter. O que é inteligência emocional?. In:
SALOVEY, Peter & SLUYTER, David J. (org.). Inteligência Emocional na
criança: aplicações na educação e no dia-a-dia. Rio de Janeiro: Campus, 1999.p 15-
24
NYAREDI, Neidi de Oliveira. Relações entre capacidades gerais e competência
social. Rio de Janeiro: Dissertação de Mestrado, Universidade Gama Filho, 1998.
PIAGET, Jean. Psicologia da inteligência.2ª.Edição. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.
RODRIGUES, Aroldo. Psicologia Social. Petrópolis: Vozes, 1997.
SAARNI, Carolyn. Competência Emocional e autocontole na infância. In:
SALOVEY, Peter & SLUYTER, David J. (org.). Inteligência Emocional da
criança: aplicações na educação e no dia-a-dia. Rio de Janeiro: Campus, 1999. p. 57-
65.
SANTOS, Hillevi Soares. Avaliação interpessoal da inteligência ineterpessoal em
crianças. Rio de Janeiro: Dissertação de Mestrado,Universidade Gama Filho, 1997.
51YEHIA, Gohara Ivete. A natureza do conceito de inteligência. Em: A avaliação da
inteligência. Ancora-Lopez, Marília (org.). Temas básicos de Psicologia. V.20-1.São
Paulo: E.P.U., 1987.
52
ÍNDICE
Folha de Rosto..............................................................................................................1
Agradecimento..............................................................................................................2
Dedicatória....................................................................................................................3
Epígrafe.........................................................................................................................4
Resumo.........................................................................................................................5
Metodologia..................................................................................................................6
Sumário.........................................................................................................................7
Introdução.....................................................................................................................8
CAPÍTULO I
Principais Abordagens Teóricas da Inteligência.........................................................10
1.1 - Principais Abordagens com Ênfase na Cognição........................................11
1.1.1 - Abordagem Psicométrica..........................................................................11
1.1.1.1 - Teoria Bifatorial da Inteligência............................................................13
1.1.1.2 - Teoria dos Fatores Múltiplos.................................................................13
1.1.2 - Abordagem Desenvolvimentista..............................................................14
1.1.3 - Abordagem Cognitivista...........................................................................17
1.1.4 - Abordagem das Inteligências Múltiplas...................................................19
CAPÍTULO II
Conceito de Inteligência Social, Emocional e Pessoal...............................................21
CAPÍTULO III
Inteligência Emocional...............................................................................................23
CAPÍTULO IV
Competência Emocional e Eficácia............................................................................28
CAPÍTULO V
Inteligência Emocional nas Organizações e na Educação da Criança........................31
5.1 - Inteligência Emocional nas Organizações...................................................32
5.2 - Inteligência Emocional na Educação da Criança........................................35
5.2.1 - A Mídia e a Educação da Criança............................................................43
Conclusão....................................................................................................................46
Bibliografia.................................................................................................................48
53
Índice...........................................................................................................................51
Anexos........................................................................................................................53
54
ANEXOS