UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO … · FOLHA DE AVALIAÇÃO 44 . 8 INTRODUÇÃO A...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
AVM FACULDADE INTEGRADA
A PSICOPEDAGOGIA NUMA PERSPECTIVA INCLUSIVA:
PREVENÇÕES E INTERVENÇÕES NA INSTITUIÇÃO
Rosangela Machado Zambrano
Orientadora:
Profa. Solange Monteiro
RIO DE JANEIRO
2016 DOCUMENTO P
ROTEGID
O PELA
LEID
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EITO A
UTORAL
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
AVM FACULDADE INTEGRADA
A PSICOPEDAGOGIA NUMA PERSPECTIVA INCLUSIVA:
PREVENÇÕES E INTERVENÇÕES NA INSTITUIÇÃO
Apresentação de monografia à
Universidade Cândido Mendes como
requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Psicopedagogia
Institucional
Por: Rosangela Machado Zambrano
AGRADECIMENTOS
Ao Criador por mais essa vitória
Aos meus familiares pelo apoio e
incentivo
A Profa. Solange Monteiro pela
orientação deste estudo
DEDICATÓRIA
A todas as pessoas que sempre
acreditaram por mim
RESUMO
Trata-se de uma revisão de literatura com o propósito de discutir sobre as
questões que envolvem a educação inclusiva e a atuação do psicopedagogo.
Assim, o estudo tem como objetivo geral analisar o trabalho do psicopedagogo
e interpretar os dados referentes à atuação do psicopedagogo na educação
especial através de paradigmas inclusivos. Os objetivos específicos
representam os capítulos desenvolvidos para a discussão do tema, são eles:
um panorama histórico da psicopedagogia; o olhar psicopedagógico para a
educação especial e possibilidades e limitações do psicopedagogo na
educação de crianças com necessidades educacionais especiais. O estudo
concluiu que a atuação do psicopedagogo é essencial para o sucesso da
educação inclusiva.
METODOLOGIA
Para tanto, adotou-se, como metodologia, um estudo do tipo bibliográfico,
qualitativo e descritivo e a coleta de dados deverá ser livros, periódicos e
artigos virtuais para conhecer a aplicação dos principais conceitos referentes
à temática em questão. Para o referencial teórico foram utilizados diversos
autores, como: Beyer (2005), Bossa (2007), José e Coelho (2008), Grassi
(2009), Malheiro (2010), Oliveira (2008) e Relvas (2008) entre outros.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO O8
CAPÍTULO I
Psicopedagogia – Um panorama histórico
10
CAPÍTULO II
Educação especial – Um olhar pedagógico
19
CAPÍTULO III
Ambiente inclusivo: Limites e possibilidades do psicopedagogo no
tratamento de crianças com necessidades educacionais especiais.
26
CONCLUSÃO 38
BIBLIOGRAFIA 40
WEBGRAFIA 42
ÍNDICE 43
FOLHA DE AVALIAÇÃO 44
8
INTRODUÇÃO
A psicopedagogia tem um papel muito importante na educação
inclusiva, sendo responsável pelas questões da aprendizagem e das
dificuldades que decorrem deste processo. A psicopedagogia surgiu da
necessidade de integrar os conhecimentos da psicologia e da pedagogia, para
compreensão dos processos de desenvolvimento da aprendizagem humana
em todas as suas dimensões no espaço social e escolar.
A educação inclusiva não foi uma proposta que surgiu por acaso,
nem por modismo, surgiu da necessidade de se resgatar a educação como
lugar do exercício da cidadania, garantia de direitos e o combate a qualquer
forma de discriminação, mostrando que uma pessoa por qualquer que seja
suas deficiências, limitações ou dificuldades de aprendizagem tem o seu direito
como qualquer cidadão à educação.
Dentro deste contexto desenvolve-se este estudo buscando
responder ao seguinte questionamento: Como se processa a atuação do
psicopedagogo na educação inclusiva?
Compreende-se que a ação psicopedagógica no ambiente
educacional inclusivo é de extrema relevância, ao oferecer um apoio efetivo à
criança com necessidades educacionais especiais no contexto educacional e
social.
O estudo tem como objetivo geral analisar o trabalho do
psicopedagogo e interpretar os dados referentes à atuação do psicopedagogo
na educação especial através de paradigmas inclusivos
Na forma de objetivos específicos o estudo propõe-se a: realizar um
breve relato histórico sobre a psicopedagogia na Europa, América Latina e
Brasil; analisar o trabalho pedagógico desenvolvido na educação especial,
através do processo de ensino-aprendizagem de crianças com necessidades
9
educacionais especiais; ressaltar a importância do trabalho psicopedagógico ao
recorrer a múltiplos pressupostos teóricos, no tocante ao fundamentar-se em
assistir sistematicamente o desenvolvimento das crianças com necessidades
educacionais especiais.
A escolha do tema justifica-se em função da importância da
compreensão do trabalho psicopedagógico desenvolvido no ambiente
educacional inclusivo. Entendendo que sua atuação possa ser bastante
benéfica para o processo de inclusão.
Foi adotada como metodologia o tipo bibliográfico, qualitativo e
descritivo e a coleta de dados deverá ser livros, periódicos e artigos virtuais
para conhecer a aplicação dos principais conceitos referentes à temática em
questão. Para o referencial teórico foram utilizados diversos autores, como:
Beyeer (2005), Bossa (2007), José e Coelho (2008), Grassi (2009) e Oliveira
(2008), entre outros.
Para o desenvolvimento do tema serão desenvolvidos três capítulos:
O primeiro capítulo trará comentários históricos sobre a psicopedagogia na
Europa, América Latina e Brasil. O segundo capítulo discute sobre a
psicopedagogia na educação especial; Posição da psicopedagogia no
ambiente educacional inclusivo. O terceiro capítulo fala sobre o apoio efetivo à
criança com necessidades educacionais especiais no contexto educacional e
social.
10
CAPÍTULO 1
PSICOPEDAGOGIA – UM PANORAMA HISTÓRICO
Conforme explica Bossa (2007) as preocupações com as questões
relativas à aprendizagem começaram a surgir por volta do século XIX na
Europa. A primeira vez que se ouviu falar em psicopedagogia foi na França nos
estudos da psicopedagoga Janine Mery, que se interessava em estudar sobre
a necessidade de portadores de deficiências sensoriais e mentais que
comprometiam a aprendizagem.
Bossa (2007) continua relatando que, ainda no século XIX, Jean
Marc Gaspard Itarde, Johann Heiriich Pestalozzi e Edouard Seguin,
educadores europeus, considerando o que pensava Lacan, passaram a
estudar sobre as crianças com dificuldades de aprendizagem em função de
diversas deficiências.
Dessa forma, a partir do ano de 1898, foi introduzido por Edouad
Claparèd, nas escolas públicas francesas, as classes denominadas “classes
especiais”, que eram destinadas para crianças com problemas mentais. Nesse
mesmo período foi criado na Itália, pela psiquiatra Maria Montessori um método
direcionado para crianças com o mesmo problema.
Aranha (1996, p.173) relata que Ovide Decroly, psiquiatra belga,
passou a se interessar pelas questões referentes à aprendizagem de crianças
especiais. Seguindo influências das tendências montessorianas coloca:
"apreensão globalizadora: a criança e a família, a criança e a escola, a criança
e o mundo animal e assim por diante".
Segundo o mesmo autor, por volta de 1930, surgiram na França
escolas com o único propósito de reunir crianças com aprendizagem lenta.
Eram centros de orientação educacional composto por médicos, assistentes
sociais, educadores e psicólogos. Quase vinte anos depois foram criados os
11
primeiros Centros Psicopedagógicos, unindo psicologia, educação e
psicanálise para ajudar no processo de aprendizagem dessas crianças.
O termo “Pedagogia Clínica” passou a ser usado em 1948 por
Debesse, que tinha o objetivo de dar atendimento a essas crianças com
dificuldade de aprendizagem. Maluf (2007) relata outros grandes nomes
também foram importantes na literatura psicopedagógica, como: Maud
Mannoni, Françioise Douto, Pierre Vayer e Pichon-Rivière, todos
pesquisadores sobre como ajudar nos problemas da aprendizagem.
O século foi marcante para a expansão do ensino, pois foi aí q a
educação básica passou a ser obrigatória em diversos países e com ela as
pesquisas para resolver os problemas de aprendizagem. No pensamento
argentino a psicopedagogia é estruturada no binômio educação/saúde, na
medida em que na educação sua função primordial é atuar na diminuição do
fracasso escolar, já na saúde importa o reconhecimento da deficiência e atuar
dentro da medida do possível no psicológico da situação.
Bossa (2000) explica que a psicopedagogia se desenvolveu muito
na década de 70, momento em que surgiram os Centros de Saúde Mental, pois
psicopedagogos atuavam fazendo diagnósticos e até tratamentos adequados
para cada caso. Alguns pacientes conseguiam resolver as questões da
aprendizagem, mas acabavam desenvolvendo outros problemas psicológicos.
Assim Assis (2007) define a psicopedagogia:
a psicopedagogia é o campo da reflexão e do fazer pedagógicos, tendo como foco os fatores psicológicos. Tem como objeto de estudo o processo de aprendizagem e utiliza na prática recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios. (ASSIS, 2007, p.19)
Gonçalves (2007) diz que psicopedagogo precisa conhecer como se
dá aprendizagem, o que pode ser auxiliado por algumas teorias, especialmente
12
da área da psicologia. Para isso foram selecionadas: behaviorismo, humanismo
e materialismo-histórico.
A teoria behaviorista é bem vista no ensino tradicional, pois adota
ações que retratam o estilo arcaico de ensino, como por exemplo: professor
assume posição de instrutor, não há estimulação para a criatividade nem tão
pouco para o sentido crítico da criança. Gonçalves comenta:
Muitos críticos designam esta tese por psicologia da mente vazia, tanto por se recusar a estudar a vida mental, quanto por defender que esta surge, não de potencialidades mentais inatas no organismo, mas sim da associação entre reflexos automáticos e determinados estímulos do meio. Segundo Watson, qualquer comportamento humano ou animal (desde uma simples emoção até à resolução de um complicado problema matemático) pode ser explicado pelo encadeamento de associações simples entre estímulos e respostas. De acordo com esta posição, Watson opôs-se vigorosamente aos defensores de teorias inatistas (segundo as quais a aprendizagem depende do potencial de inteligência com que nascemos) e maturacionistas (segundo as quais a aprendizagem depende do processo de maturação fisiológica) (GONÇALVES, 2007, p.27).
Na teoria humanista acreditava-se que a intensificação da
aprendizagem devia partir do incentivo a criatividade. Conforme um dos
maiores teóricos humanicista, diz:
[...] a pessoa educada é aquela que aprendeu a aprender, que aprendeu a adaptar-se e mudar, que aprendeu que nenhum conhecimento é seguro e que só o processo de busca do conhecimento provê base para segurança. A abordagem rogeriana implica que o ensino seja centrado no aluno, que a atmosfera da sala de aula tenha o estudante como centro; implica confiar na potencialidade do aluno para aprender, em deixá-lo livre para aprender, escolher seus caminhos, seus problemas, suas aprendizagens. O importante não é aprender certos conteúdos, mas sim a auto-realização e o aprender a aprender. (MOREIRA, 2009, p.56).
Nesta teoria o professor assume a função de facilitador, esperando
sempre que o aluno tenha a iniciativa no sentido de gerar seu conhecimento.
Moreira diz que na visão e Carl Rogers o aluno é que é o responsável pelo
13
desenvolvimento de sua capacidade de aprendizagem e mudança, sem
interesse o aluno receberá o mínimo. Moreira (2009, p.56) diz: “Ele (Carl
Rogers) acredita que as pessoas têm dentro de si a capacidade de descobrir o
que as está tornando infelizes e de provocar mudanças em suas vidas, mas
esta capacidade pode estar latente”. Há de se comentar que a questão social
não foi considerada nesta teoria.
A terceira teoria analisada influenciadora no processo de
aprendizagem é o materialismo-histórico, surgindo na década de 80 com o
propósito fazer oposição às teorias behaviorista e humanista. De acordo com
as colocações de Neves (1991) as três teorias posicionavam-se de forma
inflexível, pois não consideravam três aspectos de grande relevância, como: os
aspectos de ordem social, biológica e psicológica.
O materialismo-histórico não legitima o presente sem considerar o
passado em seus acontecimentos, políticos, econômicos e sociais segundo,
conforme revela os autores ao apontarem que:
[...] a educação nunca pode ser vista desatrelada do processo histórico. A História é a palavra chave de toda a nossa fundamentação, pois é por meio da História que se pode analisar o presente, ou seja, é somente conhecendo o passado que se compreende o momento vivido em que se estabelecem relações. Ressalta-se sempre em formar e não informar, formar pessoas capazes de refletirem, de pensarem, de fazerem indagações (BARROS; FRANCO 2008, p.4).
O materialismo-histórico tem suas origens em Karl Marx, é uma
critica ao consumismo, ao capitalismo em detrimento do socialismo.
Entretanto, conforme coloca Sisto (1997) esse tipo de metodologia
caracteriza-se como um modo de ensino técnico e que não prioriza a cognição.
Sabe-se que o método de condicionamento persiste assim como a valorização
do externo sobe o interno. Como alternativa a essa teoria, o autor apresentou
uma opção teórica, a do construtivismo piagetiano.
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A base da teoria construtivista é que ela, no lugar de priorizar
apenas os conteúdos, investe na construção do conhecimento através do viver
cotidiano dos alunos. Sisto (1997) diz que colocar o construtivismo como base
teórica da psicopedagogia, não seria somente transferir o compromisso de
aprender ao aluno, seria um entendimento que o conhecimento não pode ser
apenas recebido, somente com instruções ou reconstruções do ensino. A base
dessa aprendizagem se distinguiu por entender que o conhecimento deve
exigir procedimentos que não privilegie apenas o cognitivo ou afetivo do aluno,
segundo Moreira:
Outra consequência clara é a do conflito cognitivo. Segundo a teoria piagetiana, o sujeito, interagindo com o mundo, constrói esquemas de assimilação com os quais, então, assimila situações conhecidas. Quando a situação é nova é preciso acomodar, ou seja, reformular um esquema de assimilação, construir um novo esquema, ou abandonar a tarefa. O ensino, em consequência, deve provocar conflitos cognitivos, quer dizer, propor situações para as quais os esquemas dos alunos não funcionem, de modo a provocar a necessidade de construção de novos esquemas. Em termos técnicos, dir-se-ia que o ensino deve conduzir à equilibração majorante e, portanto, a aprendizagens (MOREIRA, 2009, p.17).
Moreira (2009) explica que na visão de Piaget a criança assimila as
informações como lhe são passadas, adiante ela introduz em sua vida ou não,
e se o fizer é com modificações de acordo com as construções cognitivas.
Quando o conhecimento passa a interagir com o mundo que a pessoa vive ele
se encaminha de forma estruturada e cada novo conhecimento adquirido vai
automaticamente se organizando e sendo adaptado cognitivamente.
Gomez et al (2010) explica que para Piaget as relações sociais são
determinantes para o desenvolvimento, pois o sujeito influencia e acaba por ser
influenciado pelo ambiente social. As crianças aprendem a se comportar por
meio da interação com os adultos, a cada contato, novos comportamentos vão
surgindo. O nível de socialização é algo que impacta de maneira contundente
as sua identidade. Contudo, é importante ressaltar que os estágios de
maturação vão influenciar o nível de socialização. Piaget definiu graus de
15
socialização que variam do zero para o recém-nascido, ao maior que seria
quando a criança tem autonomia. Gomez et al (2010) fala que para Piaget a
socialização conta com dois requisitos básicos, a cooperação e a coação.
A relação de cooperação é dinâmica por gerar possibilidades; como afirma Piaget, os caminhos, para aquele que se compromete em ser cooperativo com o outro, são muitos. Quanto à criança, as primeiras relações que estabelece são as de coação – pai, mãe/filhos (as); adulto, professor/criança. Isso, pelo fato de que o infante é aquele que deverá ser educado e orientado pelo adulto. O próprio Piaget afirma ser esta fase obrigatória e necessária para se estabelecer o processo de socialização da criança. (GOMEZ et al, 2010, p.1)
A coação e a cooperação são variantes que existem para todas as
pessoas em suas relações sociais, e sempre representam uma relação de
prestígio entre uma pessoa e outra, como entre aluno e professor, por exemplo.
Numa situação de coação a pessoas apenas acredita, sem nada questionar,
podendo manter ideias conservadoras, como crenças, pensamentos e dogmas.
Diante desse tipo de comportamento, já que não é dada a pessoa a opção de
criticar, cria-se uma relação desequilibrada, acreditando em verdades prontas e
acabadas. A cooperação seria uma maneira critica de socialização, mas para
Piaget as crianças precisam de normas e por isso a relação de coação se faz
necessária.
Nas colocações de Sisto (1997) a psicopedagogia no Brasil tem sido
sustentada, sobretudo, por três pilares, a psicanálise, o associacionismo e o
construtivismo.
A psicanálise tem um lado baseado na emoção, para essa área do
conhecimento só vai haver aprendizagem se houver afetividade, para a criação
do vinculo, segundo Klein:
Ao falarmos da importância do emocional e intelectual nas aprendizagens, percebemos que ambos não ocorrem completamente sozinhos. Há sempre um objeto, o objeto a ser conhecido ou aquele que impulsiona para o conhecimento. Pode ser a mãe, o pai ou o professor. É ele quem dá condições para que as aprendizagens aconteçam. Nesse momento, o
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vínculo recebe maior destaque, pois ele ocorre como uma ponte, que estabelece conexões, para que tanto o emocional, quanto o intelectual consigam se desenvolver de forma adequada. (KLEIN, 2010, p.4).
Para que aconteça a aprendizagem é importante que se
estabeleçam vínculos afetivos, pois eles possibilitam o desenvolvimento. Para
Sisto (1997) essa importância conferida à afetividade, deixando outros fatores
intelectuais de lado, pode acabar caracterizando crianças normais, como
crianças com desordens mentais, porque elas podem ter apenas problemas de
aprendizagem em uma área do conhecimento, que são de fácil resolução.
Com a abordagem da epistemologia convergente de Visca (1991)
perante a psicanálise de Sigmund Freud, a psicologia social de Pichon Rivière
e a epistemologia genética de Jean Piaget, o estudo sobre as dificuldades de
aprendizagem deixa de ser apenas clínico e configura-se também institucional.
A psicopedagogia a partir desta concepção começa a expandir-se, superando
limites geográficos e/ou culturais, chegando ao Brasil.
No Brasil, a psicopedagogia começou a ser difundida na década de
80, com profissionais engajados no estudo das causas e intervenções dos
problemas de aprendizagem. Nesse período, acreditava-se que os problemas
de aprendizagem decorriam de fatores orgânicos. Em 1987, Doris J. Johnson e
Helmer R. Myklebrust, através de sua literatura: Distúrbios de
Aprendizagem, foi possível compreender os fatores orgânicos através dos
conceitos de Disfunção Cerebral Mínima (DCM).
Visca (1991) propõe o trabalho com a aprendizagem utilizando-se de
uma confluência dos achados teóricos da escola de Genebra, em que o
principal objeto de estudo são os níveis de inteligência, com as teorizações da
psicanálise sobre as manifestações emocionais que representam seu interesse
predominante. A esta confluência, junta, também, as proposições da psicologia
social de Pichon Rivière, mormente porque a aprendizagem escolar, além do
lidar com o cognitivo e com o emocional, lida também com relações
17
interpessoais vivenciadas em grupos sociais específicos (FRANÇA apud
SISTO et. al. 1997, p.101).
A psicopedagogia paulatinamente vem sofrendo transformações
significativas desde os primeiros conceitos, referenciados pela DCM.
Atualmente, o estudo psicopedagógico possui um caráter interdisciplinar,
possibilitando a transposição um conhecimento específico, para um
conhecimento cuja sua amplitude seja realizada por meio da Sociologia,
Psicologia, Antropologia, Linguística, Filosofia, Psicolinguística, Psicanálise,
Neurologia, Fonoaudiologia, Medicina, Pedagogia e dentre outras.
A psicopedagogia nasceu para atender à demanda da nãoaprendizagem, das dificuldades de aprendizagem e do fracasso escolar, fundamentando-se no conhecimento de várias ciências e áreas do conhecimento. Organizou-se como prática exercida por profissionais de diferentes áreas até o surgimento de cursos específicos. A junção de demanda, fundamentação teórica e prática originou essa nova área de conhecimento e essa nova profissão, inaugurando a área de atuação específica (GRASSI, 2009, p. 96).
Assim, baseando-se pelas relações interdisciplinares, está o
ambiente escolar no que diz respeito à inclusão de crianças com necessidades
educacionais especiais, através da educação especial. Para Vygotsky apud
Beyer (2006), o ensino destinado à criança com necessidades educacionais
especiais tende a propiciar o seu desenvolvimento cognitivo através do
conhecimento histórico-cultural existente na sociedade em que ela nasceu, isto
é, seja marcada pela promoção variada e rica de suas vivências sociais.
A figura do psicopedagogo é de extrema relevância na educação
especial, por auxiliar a criança com necessidades educacionais especiais em
sua adaptação no ambiente escolar, beneficiando-a com que a escola possa
lhe oferecer. A escola, de acordo com essa premissa precisa rever sua postura,
como também a de seus profissionais ofertando à criança com necessidades
educacionais especiais o direito à educação e, o respeito por sua diversidade
estudantil (MITTLER, 2003).
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O modelo educacional carece necessariamente do olhar do
psicopedagogo sobre a prática pedagógica no ambiente educacional inclusivo,
haja vista que a psicopedagogia não se ocupa em estudar somente às
dificuldades que o aluno apresenta no processo de ensino-aprendizagem, mas
sim sua relação com o social, em meio à construção do conhecimento coletivo,
bem como às influências que podem ser constituídas mediante essa relação.
[...] apesar de a psicopedagogia ter surgido como uma disciplina complementar da psicologia e da medicina, devido a necessidade do atendimento ao aluno com dificuldade de aprendizagem, atualmente esse ramo preocupa-se não só com o aluno e sua família, mas com tudo que o cerca, influencia e constrói: a escola como instituição, a comunidade onde estão inseridos, os professores, a equipe técnica administrativa. [...] dessa forma, é preciso lançar seu olhar para a comunidade, a sociedade e a cultura. O foco deixa de ser apenas clínico e torna-se também institucional (ASSIS, 2007, p.19).
Refletir sobre a importância do trabalho do psicopedagogo no
ambiente escolar inclusivo é imprescindível, devido à necessidade do mesmo
conduzir à criança com necessidades educacionais especiais a uma formação
sócio-interacionista entre o aprender e o compreender, isto é, possibilitá-la a
um entendimento em vista daquilo que está sendo mais relevante naquele
momento para ela, seja tal representado por meio de valores, sonhos ou
fantasias, levando em consideração a comunidade que faz parte do convívio
social deste ser.
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CAPÍTULO 2
EDUCAÇÃO ESPECIAL – UM OLHAR PEDAGÓGICO
Conforme entendimento de Cunha (2010, p.108) a aprendizagem “... se
trata de um processo complexo que, a partir de ocorrências e mudanças no
interior do individuo, manifesta-se exteriormente, expressando-se por meio de
ações cognitivas, emocionais e comportamentais”.
Entretanto, há de se considerar que nem sempre as dificuldades de
aprendizagem estão ligadas apenas a área cognitiva, não é justo colocar a
culpa no aluno por sua dificuldade, outros fatores devem ser considerados,
como os aspectos afetivos, seu ambiente familiar e social e os aspectos
pedagógicos que envolvem o ambiente escolar em que este aluno está
inserido. Scoz (2009, p.08) diz que: “Os aspectos emocionais e afetivos da
aprendizagem, destacados por sofisticadas descobertas da psicologia
reforçam, cada vez mais, a tônica no indivíduo, em detrimento das implicações
dos problemas sociais mais amplos”.
O ambiente familiar, ou seja, o meio que o aluno vive, também pode
trazer uma série de implicações na aprendizagem do mesmo, como afirma
Scoz (2009):
Não há dúvida de que a influência familiar é decisiva na aprendizagem dos alunos. Os filhos de pais extremamente ausentes vivenciam sentimentos de desvalorização e carência afetiva, que os impossibilita de obter recursos internos para lidar com situações adversas. Isso gera desconfiança, insegurança, improdutividade, e desinteresse, sérios obstáculos à aprendizagem escolar (SCOZ, 2009, p.71)
Sabendo que a base da psicopedagogia é a aprendizagem humana,
percebe-se que ela ultrapassa os limites da Psicologia e da Pedagogia como
disciplinas isoladas. Entre asa preocupações da Psicopedagogia estão as
seguintes situações: como se aprende, como se processa esse aprendizado,
que fatores produzem a aprendizagem ou por que não estar aprendendo.
20
Diante de tais colocações surgem questionamentos sobre s dificuldades de
aprendizagem considerados fundamentais: como reconhecê-la, como tratá-la
ou como preveni-la. Nesse sentido, considera-se que o contingente
educacional é multicultural, assim a aprendizagem é um resultado da
estimulação ambiental sobre o indivíduo e suas relações (JOSÉ; COELHO,
2008).
Conforme colocam Facion; Castro (2009) a diversidade humana tem
lugar garantido na educação contemporânea redirecionando os valores
profissionais, contemplados através de uma prática pedagógica diferenciada ao
privilegiar as subjetividades da criança com necessidades educacionais
especiais. O professor, precisa estar preparado para os novos desafios
educacionais, em vista de desenvolver posturas reflexivas e críticas, mediante
a busca e o aprendizado constante de conhecimentos. Assim como o
psicopedagogo a práxis pedagógica do educador da educação especial, deve
ser fundamentada sob o paradigma crítico-materialista.
Na visão de Reichmann (apud Beyer, 2006), o paradigma crítico-
materialista deverá ser interpretado, mediante a realidade dos indivíduos, que
são inseridos em um contexto social concreto, por revelar situações relacionais
convergentes e/ou divergentes, através da tomada de consciência por sua
existência ao confrontar-se com o real por ser uma pessoa com deficiência.
Para que isso ocorra é necessário que psicopedagogo fundamente-se em
bases epistemológicas e/ou conceituais, permitindo a renovação de suas ideias
e a reelaboração de novas práticas de ensino, em decorrência de propor a
inclusão de alunos com necessidades especiais no ambiente e educacional e
social.
Tendo como base as ideias de Lakomy (2008), através do
conhecimento de teorias que permeiam a área educacional, será possível que
o professor e/ou o psicopedagogo lançar mão de estratégias, no sentido de
estimular o desenvolvimento cognitivo e o processo de aprendizagem de uma
criança, seja esta até mesmo com necessidades educacionais especiais.
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As experiências vividas pelo educando em desenvolvimento são referidas e imprimem significação determinante em seu processo de construção pessoal. A aprendizagem coloca em foco as diferentes dimensões do educando sob a ótica integradora do aspecto cognitivo, afetivo, orgânico e social. O 'olhar' sobre esses aspectos, ao mesmo tempo em que relativiza a importância da escola na aprendizagem, coloca em foco a importância de toda reunião de fatores 'extra-classes' que interferem no processo de construção do conhecimento e do papel do aprendente (RELVAS, 2008, p. 112)
Ao atribuir à práxis psicopedagógica essa visão holística do
processo de ensino-aprendizagem, a atuação do psicopedagogo na educação
especial irá contribuir satisfatoriamente, por provocar mudanças de
comportamentos e atitudes ao ampliar as potencialidades da criança com
necessidades educacionais especiais, visando atribuir às situações novos
conhecimentos, novas habilidades e/ou novas aprendizagens, com
experiências enriquecedoras advindas de seu meio social.
Sabe-se que a proposta escolar dos dias atuais é ser inclusiva, e
para isto não basta apenas aceitar alunos com necessidades especiais, mas é
preciso que haja toda uma reestruturação na parte física da escola
proporcionando o acesso a todos os ambientes escolares. Gil (2005), explica
que para que se tenha um ambiente escolar acessível e preciso que se
reestruture todo o mobiliário escolar, como também toda a estrutura física para
que os alunos com deficiência, até mesmo os que usam cadeira de rodas
possam circular livremente por todos ambientes da escola. Além do que, e de
grande importância, é uma reestruturação na formação do docente. Martins et
al ( 2008) enfatiza que:
O saber, o conhecimento é, indiscutivelmente, importante. Quem tem por missão educar, e mais especificamente, educar no respeito à diversidade e às diferenças, não pode deixar de conhecer os conteúdos e os fundamentos capazes de assegurar aos educandos a apropriação das aprendizagens significativas para a vida dos indivíduos. (MARTINS et al, 2008, p.87)
Desse modo o corpo docente de uma escola aberta a atender a
diversidade, deve estar atento aos saberes necessários para este atendimento
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e buscar apoio em profissionais especializados para auxiliar nesta proposta
inclusiva, um destes profissionais é o psicopedagogo, que para Porto (2011):
sendo um profissional multiespecialista em aprendizagem humana que congrega conhecimentos de diversas áreas a fim de intervir nesse processo, com sua intervenção psicopedagógica, pode assumir uma feição preventiva ou terapêutica, relacionando-se com equipes ligadas aos campos de saúde e educação, terapêutica e institucional, respectivamente. (PORTO, 2011, p.08)
Cunha (2010) diz que o psicopedagogo não precisa desenvolver
seus conhecimentos somente na escola, pode também usar as experiências
colhidas em consultório ou mesmo no convívio com alunos universitários.
Assim coloca: “o posicionamento clínico faz parte do psicopedagogo e de suas
ferramentas conceituais, independentemente de estar trabalhando em uma
escola, em uma faculdade, em um consultório...” (CUNHA, 2001, p.50).
Assim, acha-se válido falar um pouco da psicopedagogia clínica
entendendo que ela é feita de forma terapêutica, na medida em que a
preocupação do profissional que atua no ambiente clínico é chegar a um
consenso sobre os motivos da dificuldade de aprendizagem. Os motivos não
necessariamente estão relacionados às deficiências, mas também a aspectos
familiares e até mesmo sociais. Bossa (2000) explica que o trabalho do
psicopedagogo ajuda na construção da autoestima que pode ter sido desfeita
na trajetória estudantil. Dessa forma o sujeito é conduzido a descobrir suas
competências e aptidões, construindo seu saber.
Para Moraes (2010) o psicopedagogo precisa realizar uma avaliação
que envolva atividades bem variadas, pois é nesse momento que o profissional
deve decidir quais as estratégias de intervenção que devem ser usadas. Cada
situação é única, visando entender e analisar como e em que momento
começou o problema. Para fazer uma avaliação é preciso que sejam realizados
alguns procedimentos como uma entrevista inicial, com o motivo da queixa,
análise do material escolar, diversos modelos de atividades em diferentes
disciplinas, testes que verificam o nível de desenvolvimento e sondagens que
23
permitam ao psicopedagogo escolher os procedimentos de intervenção
adequados ao caso.
O psicopedagogo precisa estar atualizado e ciente de todos os
problemas que possam servir de obstáculos, Gamba e Trento corroboram a
ideia aos indicarem que:
Para que o trabalho em uma clinica de Psicopedagogia seja realizado com sucesso, o envolvimento dos profissionais que ali atuam é de extrema importância. O psicopedagogo precisa estar atento às inúmeras possibilidades de intervenção, levando em conta as dificuldades apresentadas pelos clientes que buscam sua ajuda, bem como a própria disponibilidade frente a novos aprendizados demonstrados por este (GAMBA; TRENTO, 2009, p.2).
Os mesmos autores dizem que conhecer as possibilidades do aluno
é o primeiro passo para que o psicopedagogo possa refletir sobre a forma de
intervenção. A escolha do material de trabalho vai variar de acordo com as
necessidades da pessoa, e a adaptação é feita constantemente, pois o aluno
pode progredir em algumas direções ou até mesmo regredir em outras,
exigindo novas intervenções do psicopedagogo.
Fala-se ainda em psicopedagogia institucional podendo ser
desenvolvida no contexto hospitalar, no setor empresarial, em organizações
assistenciais e na instituição escolar. No entanto, o enfoque deste trabalho está
embasado apenas no contexto escolar, local que a psicopedagogia pode ser
realizada preventivamente e sua função é, principalmente, de antecipar os
problemas que podem ocorrer na aprendizagem e assim combater o fracasso
escolar. Por isso, a psicopedagogia institucional se coloca, atentamente às
variadas possibilidades de construção do conhecimento e valoriza o imenso
universo de informações que envolve a vida escolar (MORAES, 2009).
Com a inclusão, nos dias atuais, as escolas do ensino regular
atendem crianças com necessidades especiais, o psicopedagogo tem um papel
fundamental, de garantir a inclusão, porque apenas frequentar a escola não é
24
aceitável, é preciso que exista a integração (BOSSA, 2000). A instituição deve
assegurar meios para que o sujeito prossiga nos estudos e que esse
conhecimento seja efetivo, se isso não ocorrer ter-se-á que contemplar casos
de exclusão dentro da escola. A escola é um local de todos e, portanto a
inclusão é fundamental. O professor tem que assumir uma postura de
renovação, ajudando nas estratégias propostas, isto é, efetivamente
colaborando para a plenitude da inclusão. Moraes (2009), assim faz colocações
sobre a psicopedagogia institucional:
A Psicopedagogia institucional é um campo de estudo que vem se desenvolvendo como ação preventiva de muita importância, mas é vista como ameaçadora, pois tem por objetivo fortalecer a identidade do grupo e transformar a realidade escolar. Torna-se ameaçadora, pois em muitos casos, o psicopedagogo poderá propor mudanças para que determinadas crianças aprendam, mas, infelizmente, muitos educadores resistem a essas mudanças e interpretam o que lhes foi dito como se não estivessem dando conta do papel que exercem (MORAES, 2009).
É preciso a colaboração do professor, pois o psicopedagogo faz um
estudo sobre as necessidades do grupo, mas precisa da ajuda de todos da
escola. Para que o aluno volte a ter prazer em aprender o professor tem que se
esforçar para auxiliar e gerar a integração. Na verdade, é um trabalho de
equipe que envolve o psicopedagogo, o professor, e os demais auxiliares que
atuam no ambiente escolar. Além do que, os colegas precisam sentir a inclusão
no âmbito da escola, para que não ocorra o “bulling”, muito discutidos nos dias
atuais.
O Psicopedagogo no contexto escolar assumirá o compromisso com
a transformação da realidade escolar, à medida que se coloca de modo a fazer
uma reorientação do processo de ensino-aprendizagem. Esse profissional
levanta a possibilidade de reflexão dos métodos educativos e numa postura de
investigação descobre as causas dos problemas de aprendizagem que se
apresenta na instituição e que se depara em sala de aula. É papel do
psicopedagogo na instituição conhecer a intencionalidade da escola em que
atua através do seu projeto político pedagógico, de modo que o permita além
25
de identificar as concepções de aluno e de ensino-aprendizagem que a
instituição adota reconstruir esse projeto junto à equipe escolar conduzindo a
reflexão e a construção de um ambiente propício à aprendizagem significativa.
Além de repensar o fazer pedagógico da escolar, o psicopedagogo deve ter um
olhar atento para entender o sujeito em suas características multidisciplinares,
como ser envolvido na teia das relações sociais, sendo influenciado por
condições orgânicas e culturais. (MORAES, 2009)
Além disso, uma das ações do psicopedagogo é a intervenção, que
visa fazer a mediação entre os alunos e seus objetos de conhecimentos,
trabalhar as relações interpessoais, bem como estimular a aprendizagem e o
desenvolvimento do aluno, numa perspectiva preventiva. Na intervenção, a
ação psicopedagógica contribui para o processo educacional, buscando
compreendê-lo, explicitá-lo, ou modificá-lo. Ao introduzir novos elementos para
o sujeito pensar é possível conduzi-lo à quebra de paradigmas anteriormente
estabelecidos.
Nesta perspectiva de mudança e organização para a prática
inclusiva a escola deve está preparada para permitir uma estruturação
dinâmica, que torne possível a criação de situações educativas especificas e
adequada organização do tempo e dos espaços, de modo que os recursos
pessoais e os serviços educativos possam funcionar eficazmente.
A inclusão é fato e deve ser tratada com a mesma seriedade que o
processo de aprendizagem regular, sem intervenções preconceituosas que, na
verdade, caracterizariam a exclusão.
Por fim, há de se comentar que as intervenções psicopedagógicas
possui um campo de atuação vasto, mas com algumas limitações que serão
abordadas no próximo capítulo.
26
CAPÍTULO III
AMBIENTE INCLUSIVO: LIMITES E POSSIBILIDADES
DO PSICOPEDAGOGO NO TRATAMENTO DE
CRIANÇAS COM NECESSIDADES
EDUCACIONAIS ESPECIAIS
Segundo Malheiro (2010) a escola considerada ideal é aquela que
consegue unir duas forças complementares: as características
temperamentais, psicológicas e físicas da criança com os preceitos
educacionais que a família pretende que ela receba. Situação em que é
possível conjugar ensino-lúdico com exigência, visando cada vez mais a
individualização no ensino-aprendizagem. Observa-se que a escola inclusiva
aproxima-se desse parâmetro por proporcionar o encontro com a diversidade,
levando tanto o professor quanto o aluno a enxergarem com mais clareza as
diferenças existentes entre as pessoas, crianças especificamente.
Com o advento da inclusão surgiu a real precisão de um olhar mais
aguçado em função das necessidades educativas dos alunos, pois agora a
escola deixa de ser um local para aqueles que se enquadram nu determinado
padrão, para ser de todos, crianças com o sem dificuldades e aprendizagem.
Dessa forma, o psicopedagogo vai trabalhar na escola para dar assistência e
orientações aos professores, prevenir as dificuldades de aprendizagem, intervir
no processo educacional das crianças “diferentes”, de forma que seja criado
um ambiente propício ao desenvolvimento do processo de aprendizagem com
oportunidades iguais para todos. (MALHEIRO, 2010)
Nesse contexto, o psicopedagogo pode ajudar ao proporcionar uma
visão mais atenta e sensível as individualidades, tonando o professor mais apto
a perceber quando alguma criança apresenta determinada dificuldade, mesmo
27
que o educador não saiba identificar com exatidão do que se trata. Então entra
o papel do psicopedagogo escolar para trabalhar também com o educando.
Conforme coloca Oliveira (2008) é sabido que o crescimento do
trabalho do profissional psicopedagogo teve sua origem nos atendimentos a
crianças que apresentam problemas relacionados a dificuldades de
aprendizagem. A atuação de profissionais que estudam questões que
envolvam o objeto de estudo da Psicopedagogia foi ampliado em diferentes
âmbitos, não permanecendo restrito ao ambiente da escola de ensino regular
ou até mesmo em clínicas onde a ação psicopedagógica desenvolvia-se
através de um trabalho inter ou multidisciplinar e, sim sofrendo uma abertura
significativa.
O psicopedagogo pode desenvolver suas atividades na escola
inclusiva, usando diversas técnicas metodológicas e adotando procedimentos
didáticos através de atendimentos multidisciplinares que facilitarão a inclusão
de crianças com necessidades educacionais especiais. São atendimentos
fundamentais no ambiente educacional. Weiss (2008) diz que por meio da
atuação de diversos profissionais envolvidos em estudar com afinco as
dificuldades de aprendizagem apresentadas pela criança com necessidades
educacionais especiais, será possível examinar os fatores orgânicos e
psicológicos que desencadeiam tais dificuldades.
O trabalho realizado por uma equipe multidisciplinar permite que as
intervenções psicopedagógicas não ocorram em uma única vez, mas sim com
base em estudos das respostas que as crianças apresentaram durante um
período determinado, incitando posteriormente em análises com propósitos de
oportunidades significativas para intervenções futuras, com perspectivas de
mudanças no seu contexto familiar e escolar. (WEISS, 2008)
É necessário que tanto o psicopedagogo como a equipe
multidisciplinar conheçam com propriedade a criança assistida diante do
momento ensino e aprendizagem mediante suas subjetividades, criando
28
espaços e condições favoráveis para expor suas potencialidades, capacidades,
habilidades, destrezas e até mesmo suas limitações, como também propiciar
seu desenvolvimento através de suas estruturas cognitivas, afetivas, sociais,
pedagógicas e corporais.
No processo de objetividade e subjetividade, elos entre o lidar consigo mesmo e com os outros se constituem como problemática a ser vivenciada. O sujeito humano deve interagir com os objetivos e com as regras do meio, mas deve também interagir com suas limitações, possibilidades e impossibilidades e carências enquanto ser vivente. Se educar é buscar o bem-estar do humano em todo este contexto, o espaço/tempo educativo deve priorizar construções de processos harmônicos com as condições da vida humana, e interação com a natureza do próprio homem e do planeta. A escola do sujeito em processo de interação permanente deve-se voltar à compreensão de que todo conhecimento é, na verdade, 'saber do outro' (BEAUCLAIR, 2007, p.22).
Cunha (2010, p.105) diz que o psicopedagogo deve ser um bom
observador para atingir os “demais passos: entendimento, prevenção, atuação
e intervenção”. Possibilitando assim a seleção de estímulos que favoreçam ao
educando a recepção de práticas pedagógicas. Levando em consideração que
as dificuldades de aprendizagem podem ser diagnosticadas em diversas
origens e naturezas como cognitiva, neurológica, motora, emocional ou social,
cabe ao psicopedagogo realizar uma investigação psicopedagógica a fim de
identificar não só origem da dificuldade, mas também auxiliar aos educandos
em sua produção escolar e oferecendo aos mesmos, condições para o
desenvolvimento de suas potencialidades cognitivas.
É de responsabilidade do psicopedagogo avaliar quais os fatores que
facilitaram a construção dessa dificuldade, entre as ações estão:
- Aqueles relacionados à escola – inadequação da metodologia de
ensino-aprendizagem, planejamento ineficaz profissional desqualificado para a
função, muitos alunos na turma, atividades inadequadas para a faixa etária,
etc.
29
- Aqueles relacionados ao desenvolvimento do sujeito – problemas
emocionais e familiares, problemas orgânicos, distúrbios de aprendizagem e
transtornos comportamentais
Cunha (2010) diz que vale ressaltar que neste trabalho de diagnóstico e
intervenção, a interelação da família, ou seja, dos pais, a escola e os
professores é muito importante, pois fazem parte do mundo afetivo e social da
criança e o psicopedagogo no processo de intervenção tem como objetivo
compreender a criança, a fim de “colocar-se no meio” fazendo uma ponte entre
a criança e seus objetos de conhecimento. Durante a avaliação
psicopedagógica o psicopedagogo realiza algumas atividades como
observação e análise do histórico familiar, bem como a história de vida do
aluno e de sua família, realiza testes com jogos e brincadeiras, além de
conversar com os educadores e familiares do educando em processo avaliativo
psicopedagógico. No entanto estas atividades não são realizadas apenas com
o psicopedagogo, mas também fazem parte do processo, a família, a escola,
equipe interdisciplinar e os professores.
Diagnosticar e intervir são práticas decorrentes da psicopedagogia, o
diagnóstico permite ao psicopedagogo investigar e levantar hipóteses
provisórias que identificam as causas que acarretam as dificuldades de
aprendizagem, na intervenção são adotados procedimentos que interferem no
processo. Cunha (2010, p.113) diz que “é importante destacar as relações
mútuas entre as duas atividades, já que um bom diagnóstico é necessário para
o planejamento de uma intervenção adequada”.
A psicopedagogia contribui para a compreensão destas
transformações necessárias, implicando em produzir discussões, análises e
observações que desencadearão em intervenções essenciais. A atuação do
psicopedagogo no ambiente escolar inclusivo acontece sob uma prévia
observação do indivíduo que estar sendo assistido, por meio da compreensão
da situação apresentada, para posteriormente apoiar-se em conhecimentos /
pressupostos epistemológicos.
30
Mediante essa fundamentação decorrente de conhecimentos/
pressupostos epistemológicos poderá ser realizado o relatório psicopedagógico
com situações concretas, planejando ações organizadas futuras no intuito de
escolher alternativas flexíveis para intervir nas dificuldades de aprendizagem,
com o uso de critérios adotados, bem como objetivos a serem alcançados,
respeitando as características biológicas da criança com necessidades
educacionais especiais, para serem desenvolvidas na escola de ensino regular.
Após a observação de diversas produções da criança acompanhada,
o profissional pedagogo terá em suas mãos dados concretos que permitirão
promover uma conversa conjunta com os demais da equipe e com a família da
criança com necessidades especiais. É importante que se enfatiza que a
abordagem do pedagogo deva ser sempre por meio de dados reais,
respeitando o Código de Ética estabelecido pela Associação Brasileira de
Psicopedagogia (ABPp).
O diagnóstico psicopedagógico é um processo, um contínuo sempre revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia, [...] em uma atitude investigadora, até a intervenção. É preciso observar que essa atitude investigadora, de fato, prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o objetivo da observação ou acompanhamento da evolução do sujeito (BOSSA, 2007, p.94).
A história de vida da criança deve ser sempre considerada pelo
pedagogo, tanto os problemas relativos às necessidades educacionais como os
familiares, escolares e convívio social de uma forma geral. A subjetividade que
envolve as dificuldades de aprendizagem é muito grande e deve ser
apreendida com clareza pelo psicopedagogo, para que possa intervir de forma
adequada à situação.
Dessa forma, esse profissional precisa colaborar com dados
verídicos, em relação a todo trabalho psicopedagógico que será executado
com a criança em vista à sua subjetividade perante seu processo de ensino-
aprendizagem na escola e na sociedade.
31
Consideramos que um dos maiores desafios que se apresentam ao psicopedagogo é proporcionar à família, à escola e ao aluno informações amplas de tudo o que coletou, sem enganos nem dissimulações, mas ao mesmo tempo, ser capaz de conseguir que a pessoa que receba essas informações não se sinta culpada ou atacada, mas perceba saídas possíveis e veja mais vantagens na mudança do que em permanecer na mesma situação (VILANA, 2008, p.80).
O psicopedagogo junto com os demais profissionais da escola deve
ter a função de orientar os pais no sentido de modificar a percepção destes em
relação à criança com necessidades educacionais especiais, possibilitando-os
reverem suas atitudes e a maneira de se relacionarem com vários organismos
que fazem parte da sociedade. A inclusão é compreendida como um processo,
em face de certos valores e princípios. A parceria estabelecida entre
psicopedagogo, profissionais e pais implica em um respeito mútuo, baseando-
se na troca de experiências salutares diante desta criança, através do
compartilhamento de informações e, até mesmo de sentimentos. (BEYER,
2006)
É uma relação muito positiva e benéfica, possuindo um enorme valor
para proporcionar aos pais o encorajamento necessário em acreditar nas
potencialidades da criança com necessidades educacionais especiais em se
tratando de um sucesso bastante almejado, ou então, ao conquistar um
desenvolvimento superior ao esperado, em decorrência do comprometimento,
como também da qualidade de ensino e, sobretudo através da motivação
ilimitada de profissionais e pais.
Como se pode observar, o contexto onde as crianças com
necessidades educacionais especiais estão inseridas, é o mesmo contexto de
todos, com suas convergências, contradições, dificuldades e alegrias,
tornando-se irrelevante segregá-las, ou então protegê-las ao modo de reforçar
(in)consequentemente suas limitações. Assim, a práxis psicopedagógica
corelacionada à educação especial é aquela que possibilita a convivência de
crianças com/sem necessidades educacionais especiais de maneira pacífica,
respeitando as diversidades e diferenças culturais e biológicas, através do
32
rompimento de paradigmas excludentes ao admitir o multiculturalismo perante
o social. (BEYER, 2006)
As atividades que são realizadas em um acompanhamento
psicopedagógico tem como finalidade a superação das dificuldades de
aprendizagem, por meio do levantamento do perfil familiar e escolar do
educando e identificação do problema, para a partir daí o psicopedagogo
articular todas as informações levantadas com todos os envolvidos neste
processo, para elaborar novas estratégias para o ensino e aprendizagem, bem
como novos conteúdos e sugestões de materiais a serem utilizados na
aplicação destes conteúdos com intermediações psicopedagógicas. É
importante que durante o acompanhamento psicopedagógico o educando seja
estimulado para que realize suas atividades com autonomia, desse modo serão
observadas suas potencialidades e suas dificuldades.
Sendo a base da psicopedagogia a busca pela melhoria no processo
de aprendizagem ela não favorece apenas aqueles alunos que já apresentam
dificuldades, distúrbios e transtornos, mas também ajudam na prevenção,
atuando antes que as dificuldades possam surgir ou agravarem na escola.
Assim, conforme explica Weiss (2008), o trabalho psicopedagógico preventivo
consiste em envolver os professores preparando-os para lidar com a
diversidade e as necessidades especiais de aprendizagem, detectando
possíveis alterações no processo de aprendizagem, promovendo orientações
metodológicas e atitudinais e proporcionando estímulos adequados,
complementares e suplementares caso seja necessário. Além do que deve
auxiliar na construção do Projeto Político Pedagógico, no planejamento e nos
projetos. Por fim, deve estimular no professor o uso do lúdico e a construção do
conhecimento através do gosto pelo saber.
Continua Weiss (2008) explicando que a nível de ambiente escolar
como um todo, o psicopedagogo deve realizar atendimento psicopedagogo
individualizado, sempre conversando com o aluno imediatamente,
especialmente em situações de distúrbios comportamentais, além de reunir
33
pequenos grupos para atendimento pedagógico, permitindo que as situações
sejam discutidas também de forma coletiva e não somente individualizada.
Deve ainda acompanhar os cadernos, observando e ajudando na sua
organização, revendo erros para auxiliar o aluno a compreendê-los. Após
escutar muito bem o aluno deve fazer a avaliação diagnóstica e fazer
encaminhamentos quando achar necessário.
Para a realização dessas ações o psicopedagogo precisa utilizar
recursos os mais variados possíveis, pois nem sempre a criança consegue
expressar em palavras o que está acontecendo. Assim, por meio de atividades
como brincadeiras, jogos, materiais que incentivem a criatividade, contação de
histórias, atividades realizadas em computador, registros escritos (histórias,
poesias, bilhetes), etc, o profissional poderá realizar um diagnóstico mais
preciso e adotar ações de intervenção que auxiliarão o aluno em suas
dificuldades.
A psicopedagogia deve atuar na forma conjunta na escola, mas
também em áreas específicas, Weiss (2008) sugere as seguintes atuações:
No campo dos professores, Weiss (2008), usando como base o
pensamento de Paulo Freire de que a aprendizagem não é um ato que tem fim,
mas sim um exercício constante de estar sempre aprendendo e renovando,
orienta que os professores devem encontrar no aluno a vontade de aprender,
buscando superar a limitação que bloqueava o processo de aprendizagem,
visando sempre a abertura de ovos horizontes para a vida do aluno.
Freitas (2005 apud Rodrigues, 2006) fala sobre a formação do
professor que vai lidar com a inclusão colocando as seguintes palavras:
A formação do professor deve ocorrer na ótica da educação inclusiva, como formação de especialistas, mas também como parte integrante da formação geral dos profissionais da educação, a quem cabe atuar a fim de reestruturar suas práticas pedagógicas para o processo de inclusão educacional, (FREITAS, 2005, apud RODRIGUES, 2006, p.163)
34
Vale ressaltar a importância do professor em conhecer as etapas de
desenvolvimento da criança, buscar sempre atualizações que enriqueçam seu
poder de construção, de didática e de avaliação. Além do que, saber como usar
as tecnologias de forma que elas sejam grandes contribuidoras do trabalho
docente. Malheiro (2010, p.57) vai mais a fundo e diz: “o verdadeiro professor é
aquele que sabe querer realmente a todos os seus alunos. Que tem a
capacidade para conhecer muito bem a todos”.
Na área das orientações aos pais, o psicopedagogo, seguindo as
orientações de Vygotsky (1969 apud Friedberg e McChure, 2004) nas
colocações de que desde o nascimento a criança é inserida no meio social a
começar pela família, que lhe apresenta a primeira linguagem e quem faz a
mediação com o mundo adulto, de forma natural e espontânea. Partindo dessa
interação familiar e com o mundo fora da família que a criança inicia a
construção do seu conhecimento, o desenvolvimento do sabe, sempre com
base no meio que está inserida.
Por isso que os pais e o meio familiar de uma forma geral possuem
um papel muito importante na aprendizagem, apesar de muitas vezes não se
darem conta dessa responsabilidade e, mais importante ainda, é o fato não
perceberam as dificuldades apresentadas pela criança. Nesse momento o
papel do psicopedagogo é essencial, pois deve orientar os pais sobre a função
que possuem no processo de aprendizagem, nas atitudes que devem ser
tomadas, no valor do afeto que devem dispensar aos filhos, sem, no entanto,
impedi-los de viver suas próprias experiências. A proteção é válida, mas não
deve ser excessiva, pois a criança, mesmo com necessidades especiais,
precisa aprender a resolver suas próprias dificuldades. Somente dessa forma
ela terá condições de crescimento e de construção de seu próprio
conhecimento.
Segundo Friedberg e McChure (2004) existem algumas atitudes
consideradas de grande importância para os pais adotarem com seus filhos,
são elas:
35
- Sempre que o bom comportamento prevalecer este deve ser
reforçado com elogios, manifestações de carinhos, com uma brincadeira e até
mesmo dispensando de alguma tarefa doméstica que é de sua
responsabilidade;
- Dispensar atenção aos filhos, elogiando e comentando uma atitude
ou uma fala, conversar olhando para a criança e comentar uma tarefa que está
realizando, mesmo que seja para corrigir, sempre de maneira carinhosa e
construtiva;
- Ajudar a criança no estabelecimento de rotinas, ou seja, de
comportamentos que devem ser adotados todos os dias, como por exemplo:
tomar banho, fazer a cama, fazer as lições. Entretanto, as limitações devem ser
respeitadas, se a criança tem dificuldades de tomar banho sozinha, os pais
devem colaborar naquilo que ela não souber fazer sozinha, e deixar o que
sabem para elas fazerem. O mesmo com as lições e com as demais tarefas
que realize na casa.
- Separar um tempo diário para brincar com a criança,
principalmente no chão, onde poderá ser trabalhada a noção de equilíbrio, de
distância associada ao prazer;
- Reservar um tempo para outras atividades que a criança goste de
fazer, como um jogo de tabuleiro, ou no computador, ou até mesmo brincar
andar de bicicleta ou ir à piscina do clube ou do condomínio, por exemplo.
Cada criança tem sua forma particular de se divertir e os pais devem
acompanhá-la em alguns momentos.
- Sempre devem mostrar o caminho correto que deve ser seguido,
orientar como realizar ações, como agir em situações diversas;
- Permitir que a criança escolha as brincadeiras valorizando algum
comportamento que a criança tenha tido, como a realização correta de uma
36
tarefa, ou mesmo por ter comido o que lhe foi dado, mesmo que não seja o
alimento que mais gosta. Não é estabelecer uma relação de troca, mas sim um
sistema de recompensas que motive a criança a fazer mais.
O que deve ser orientado aos pais com bastante clareza é que eles
precisam respeitar as limitações da criança com dificuldades especiais, assim
como as suas possibilidades de realizações. Mesmo que a criança tenha
dificuldade em realizar uma tarefa, ou mesmo não consiga realizá-la por
completo, os pais devem deixá-la fazer e valorizar o feito. Intervindo somente
no sentido de auxiliar no que a criança não consegue ainda fazer sozinha, mas
sempre incentivando para que façam e elogiando os ganhos obtidos. A criança
especial, por mais dificuldades que possua, sempre é capaz de realizar alguma
atividade e esta deve ser valorizada e incentivada.
Weiss (2008) fala de situações que o problema neuromotor é tão
grande que a criança não consegue brincar ou fazer alguma atividade, no
entanto, presta muita atenção quando se fala com ela ou quando se conta uma
história. Nessas situações os pais devem explorar a leitura, a contação de
histórias educativas e prazerosas. Existem crianças que ouvem pouco, mas
enxergam bem, então os livros ilustrados são a melhor opção. Já para aquelas
que ouvem bem e possuem dificuldades de visão, a voz clara, precisa e de
bom tom, será o instrumento utilizado pela família para levar algum
ensinamento ou lazer para a criança.
Nas orientações específicas aos alunos, o psicopedagogo deve
sempre trabalhar levando em conta além de suas dificuldades, seu contexto
familiar, extrafamiliar, seu contexto psicológico, seu grau de desenvolvimento e
suas características pessoais. É essencial que o profissional utilize-se de
instrumentos variados para conhecer e compreender o aluno, como bastante
diálogo, escutar atentamente o que diz o aluno, observar suas reações e
atitudes, descobrir suas habilidades e incentivar seu desenvolvimento.
37
Por fim, acredita-se essencial enfatizar que a relação entre aluno e
psicopedagogo deve ser construída por cima da capacidade de ambos
acreditarem um no outro. Para isso a sinceridade e o afeto devem estar sempre
presentes, para que o aluno coloque suas dificuldades sem medo de críticas e
o profissional possa chegar a um diagnóstico correto, sabendo também como
deve intervir para auxiliar o aluno.
Outra atuação importante do psicopedagogo é junto as outras
crianças da escola, sempre esclarecendo as curiosidades que possam surgir
em relação aos alunos com necessidades especiais e conduzindo o
relacionamento sadio entre as crianças especiais ou não. O profissional deve
intervir somente quando for de extrema necessidade, deixando que as crianças
se entendam da forma delas. Por vezes, a intervenção desnecessária pode
chamar a atenção para algumas “maldades”, que fazem parte das fases etária
da criança. A intervenção se faz necessária quando se caracteriza como uma
situação de “bulling”, por exemplo.
38
CONCLUSÃO
Partindo da premissa que é fundamental que na educação inclusiva
se acredite que as deficiências dos educando podem ser superadas, bastando
para isso que sejam desenvolvidas estratégias e condições que permitam este
desenvolvimento dos educandos, caracterizando o ambiente escolar como
includente favorecendo o desenvolvimento da aprendizagem. É possível
perceber que o psicopedagogo exerce função essencial na orientação de pais,
alunos, professores e demais funcionários da escola.
A partir das observações obtidas durante as leituras para o
desenvolvimento deste estudo, pode-se dizer que a atuação do psicopedagogo
no ambiente educacional inclusivo está sendo contemplada aos poucos, com a
difusão de propostas inclusivas no cenário educacional brasileiro. A realização
do trabalho psicopedagógico na educação especial tende a propiciar um
redimensionamento na práxis educativa de todos àqueles e, sobretudo do
psicopedagogo que assiste a criança com necessidades educacionais
especiais, no tocante a construção de novas competências relacionadas à
abertura de um projeto de educação inclusiva.
Diversas são as possibilidades de atuação do psicopedagogo no
ambiente escolar, no meio familiar e com a própria criança com necessidades
educacionais especiais. O campo das orientações é um dos mais explorados e
de maior vitória, pois o profissional pedagogo consegue conduzir situações de
forma que a criança possa conviver no ambiente escolar sendo respeitadas
suas dificuldades e estimuladas suas habilidades e possibilidades de ganhos.
Em suma, a presença do psicopedagogo na educação especial é de
extrema importância, pois poderá contribuir mediante a um contexto
multidisciplinar em um ambiente educacional inclusivo através do atendimento
à criança com necessidades educacionais especiais em parceria e/ou com o
auxílio de outros profissionais, sejam estes da área educacional, saúde e
assistência social incluindo sua família e, englobando satisfatoriamente a
39
escola de ensino regular e os professores, em vista de apoiá-la efetivamente
no processo de ensino-aprendizagem e na inclusão desta na sociedade.
Acredita-se que o fechamento do tema deva ser falando sobre os
ganhos que as crianças com dificuldades educacionais especiais podem
adquirir se orientadas corretamente, além de seus pais e professores. Nesse
campo o psicopedagogo exerce função essencial e fundamental para o
sucesso da inclusão educacional.
40
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42
WEBGRAFIA
BARROS, MSF. FRANCO, SAP. Formação: Educar a quem e de que forma? Disponível: www.unioeste.br/cursos/cascavel/pedag/eventos/2008/1/Artigo%2060 Acesso: set/2016. GOMEZ, L. P. S. et al. A construção do individuo democrático a partir de uma perspectiva Piagetiana. Disponível: http://ava2.unitins.br/files/projeto/34778b38757c980a70382f8d435. Acesso em set/2016. GONÇALVES, S. Teorias da aprendizagem, práticas de ensino. Disponível: //http://susgon.files.wordpress.com/2009/08/teorias_da_aprendizagem_praticas_de_ensino1.pdf Acesso: set/2016. KLEIN, GCF. Vínculos e suas implicações nas aprendizagens: contribuições da psicanálise à educação. Disponível : www.uniritter.edu.br/eventos/sepesq/visepesq/arquivos/28035/2487/comidentificacao/Artigo%20Sepesq1. Acesso: set/2016. MORAES, D. N. M. Diagnóstico e avaliação psicopedagógica. Disponível: http://www.ideau.com.br/bage/upload/artigos/art_28.pdf >. Acesso: set/2016. MOREIRA, M. A. Comportamentalismo, Construtivismo e Humanismo. Disponível: //htpp:www.if.ufrgs.br/~moreira/Subsidios5.pdf. Acesso: set/2016.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTO 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO 1 PEDAGOGIA: UM PANORÂMICO HISTÓRICO 10 CAPÍTULO 2 EDUCAÇÃO ESPECIAL: UM OLHAR PEDAGÓGICO 19 CAPÍTULO 3 AMBIENTE INCLUSIVO: LIMITES E POSSIBILIDADES DO PSICOPEDAGOGO NO TRATAMENTO DE CRIANÇAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS
26 CONCLUSÃO 38 REFERÊNCIAS 40 WEBGRAFIA 42 FOLHA DE AVALIAÇÃO 44
44
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Universidade Cândido Mendes
A psicopedagogia numa perspectiva inclusiva: prevenções e intervenções
na instituição
Rosangela Machado Zambrano
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