UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · harmonia entre a família, ... familiar na...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
FAMÍLIA E APRENDIZAGEM: OS CAMINHOS PARA UMA
EDUCAÇÃO PLENA
Por: Christiane Miranda dos Santos
Orientador
Prof. Dr. Vilson Sergio
Rio de Janeiro
2010
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
FAMÍLIA E APRENDIZAGEM: OS CAMINHOS PARA UMA
EDUCAÇÃO PLENA
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Orientação
Educacional e Pedagógica
Por: Christiane Miranda dos Santos.
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AGRADECIMENTOS
À Deus, pelas oportunidade e pela força
durante a caminhada tão dura.
Á minha família pelo amor, incentivo e
dedicação.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à minha família que
esteve sempre presente, me apoiando em
minhas escolhas. Meus pais e minha irmã
são os verdadeiros responsáveis por mais
essa vitória, em especial minha mãe (in
memória), que de onde estiver está feliz
por esta conquista.
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RESUMO
O presente trabalho atenta para a problemática que vem ganhando
cada vez mais espaço no campo educacional, mais precisamente nas salas de
aula, que é a importância da participação da família na aprendizagem das
crianças.
Torna-se necessário então, focalizar as contribuições da família no
desenvolvimento cognitivo, social e afetivo das crianças em idade escolar e
analisar determinadas condutas percebendo suas contribuições e suas
consequências. Cabe ressaltar a importância dos vínculos afetivos presentes
no cotidiano das crianças nos espaços de aprendizagem formal ou não.
A pesquisa tem por objetivo enfocar a interação entre família e escola
e a relação desta díade com a aprendizagem do educando. Em virtude das
modificações econômicas, sociais e culturais, a maneira como as relações
escolares se estabelecem resultam em novas demandas e desafios da escola
e, como consequência disso, é necessário rever as necessidades do aluno. É
importante destacar neste trabalho a relevância do trabalho do Orientador
Educacional na escola, sendo ele uma ponte entre educadores, pais e
estudantes, pois sua função é administrar diferentes pontos de vista.
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METODOLOGIA
A realização deste estudo se caracteriza como uma pesquisa
bibliográfica que engloba consultas a livros, artigos, revistas, sites da internet e
trabalhos acadêmicos que enfocam temas que convergem para a temática do
estudo, a fim de dar um suporte teórico ao trabalho desenvolvido.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Ontem X hoje: as concepções de família 10
CAPÍTULO II - Família e a aprendizagem: contribuições e consequências 22
CAPÍTULO III – O profissional de Orientação Educacional e a relação
família-escola 32
CONCLUSÃO 42
BIBLIOGRAFIA 45
WEBGRAFIA 48
ÍNDICE 49
FOLHA DE AVALIAÇÃO 50
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INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como objetivo analisar as contribuições que o
envolvimento das famílias pode trazer ao desenvolvimento de crianças em
idade escolar. A partir da prática docente houve um interesse em investigar a
influência que os pais exercem sobre seus filhos, auxiliando ou não na sua
formação enquanto sujeito e enquanto estudante. Dessa forma, algumas
teorias existentes sobre o tema foram de total apoio à compreensão e
execução deste trabalho. O assunto tratado está relacionado às relações
afetivas que se estabelecem no seio familiar, o que de certa forma está
relacionado ao desenvolvimento das crianças na faixa etária escolar.
Acredita-se que o sucesso na educação das crianças depende da
harmonia entre a família, a aprendizagem e as emoções vividas entre os
envolvidos nesse processo. A escolha do tema aconteceu quando foi possível
perceber os grandes vínculos afetivos que são estabelecidos no cotidiano de
pais e filhos. O estudo será desenvolvido em três capítulos:
O primeiro capítulo Ontem X hoje: as concepções de família faz um
apanhado histórico do sentimento de família que não existia antes do século
XVII. Durante muito tempo, não se concebia a infância tal como conhecemos
hoje, com suas singularidades. Os pais não se apegavam aos filhos e a
criança vivia muito mais com estranhos do que com sua própria família. Aos
poucos essa realidade foi se reconfigurando e a criança começa a ganhar
espaço na família; não apenas ao lado dos seus pais, mas também no
sentimento dos mesmos. Essa mudança não aconteceu rapidamente. A
conscientização foi lenta e abrangeu não apenas a visão em relação à infância,
mas também o comportamento e a postura da família em relação à sociedade.
A partir dessa reflexão e com conhecimento de como surgiu o sentimento
familiar, deu-se continuidade a pesquisa, partindo para os dias atuais.
O segundo capítulo Família e a aprendizagem: contribuições e
consequências, abordará as questões da família enquanto instituição social e
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sua influência na vida das crianças, pensando na mesma como o primeiro
contato social estabelecido pelas crianças. Isso muito tem a ver com a imagem
que os pais constroem sobre os filhos. As crianças de lares equilibrados são
mais seguras, mais fortalecidas e com excelente espírito crítico e auto-estima.
Esse tema serve como suporte para entendermos melhor a relação
que a família vai estabelecer com uma outra instituição de equivalente
importância na vida das crianças. Muitos problemas de aprendizagem ou
dificuldade de adaptação da criança na escola têm origem no universo familiar
e nas expectativas dos pais sobre os filhos com relação ao aprender; tem a ver
com valores, ideologias e segredos do grupo familiar.
Já o terceiro capitulo, O profissional de Orientação Educacional e a
relação família-escola enfocará a relação da família diretamente com a escola.
No decorrer do estudo, será possível perceber a forte influência da instituição
familiar na instituição educacional, pois um grande número de problemas
apresentados pelas crianças, seja social, afetivo ou cognitivo, parece estar
atrelado às diferentes estruturas familiares que se formam atualmente.
Muitas são as contribuições da família na aprendizagem escolar dos
estudantes. Ela pode auxiliar num ambiente de estudo de confiança e auto-
estima positivas. Entretanto é preciso sensibilidade e coerência na escolha
certa da escola dos filhos. Nesta mesma vertente, o Orientador Educacional
tem papel preponderante para que esta relação aconteça de forma saudável.
Sua função é dar suporte aos alunos com questões de relacionamento e
estabelecer uma parceria com as famílias. Atualmente, esse profissional atua
atendendo os estudantes, levando em conta sua inserção em um contexto
social, o que influencia o processo de aprendizagem.
Desta forma, a proposta é desenvolver o tema nas próximas páginas, a
fim de enriquecer a prática enquanto profissional de Orientação Educacional,
assim como contribuir para um melhor esclarecimento da temática, tão
importante tanto no âmbito da psicologia como da pedagogia.
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CAPÍTULO I
ONTEM X HOJE: AS CONCEPÇÕES DE FAMÍLIA
“Famílias começam quando duas pessoas que se gostam concordam em dividir suas vidas, futuros e expectativas. Tal decisão supõe, sem dúvida, que essas pessoas se sintam identificadas uma à outra o bastante para assumirem um compromisso de construir uma vida comum”. (CELIDONIO, 1998, p. 38)
A pesquisa inicia-se com a descrição de família de Regina Celidonio
(1998), terapeuta familiar e orientadora educacional, que explica a gênese da
família. Quando essa união acontece, é necessário que cada um seja
responsável por ajustar-se as expectativas do outro. Para isso, é importante
definir os limites da influência da sua família de origem.
Durante muito tempo, a autoridade dos pais com os filhos era
considerada um direito divino. Com a importância que a educação foi
assumindo na sociedade, a autoridade e o domínio dos pais sobre os filhos
foram sendo desafiados, pois novas teorias sobre a infância trouxeram
educadores e profissionais da área para esta relação. Esta intervenção causou
polêmica entre os pais. Profissionais voltaram seus olhares inteiramente para a
criança, sem perceber que os pais já foram filhos e passaram a acusá-los por
todas as dificuldades das crianças.
Neste sentido, este capítulo busca analisar textos que traçam um
histórico da família moderna, em toda a sua transformação e concepção tal
como conhecemos. A família transformou-se bastante na medida em que as
relações com as crianças foram modificadas.
Philippe Ariès (1978) afirma em sua obra A história social da criança e
da família que foi necessária uma longa evolução para que o conceito de
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infância fosse aceito na sociedade como é hoje. Desta forma, sabemos que, o
conceito de infância é algo relativamente recente em nossa sociedade:
“Até por volta do século XII, a arte medieval desconhecia a infância ou não tentava representá-la. É difícil crer que essa ausência se devesse à incompetência ou à falta de habilidade. É mais provável que não houvesse lugar para a infância nesse mundo”. (ARIÈS, 1978, p. 50)
O trecho descreve que a infância era apenas um período de transição,
pouco valorizada e logo esquecida. A arte da época retratava imagens de
crianças vestidas como “mini adultos” e mais do que isso, crianças que viviam
e executavam tarefas de adultos. Sendo assim, a descoberta da infância e sua
importância diante da sociedade só aconteceriam no século XVIII e sua
evolução foi facilmente percebida na história. (...) O traje da época comprova o
quanto a infância era tão pouco particularizada na vida real. (ARIÈS, 1978, p.
69). Só foi escolhido um traje especialmente para a criança por volta do século
XVI e ainda assim, predominante nas classes altas. Essa transformação
marcou uma data importante na formação do sentimento da infância.
Não havia uma consciência da particularidade infantil. Tal conduta
fazia muita diferença na relação que os pais construíam com seus filhos. O
primeiro sentimento de infância surgiu no meio familiar, na companhia das
crianças pequenas.
1.1 A construção da família moderna
A relação que conhecemos entre a criança e sua família não foi
sempre assim. As mulheres não criavam seus filhos porque se ocupavam com
os afazeres de esposa e evitavam o “esforço” de criar a criança.
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A criança não tinha espaço na família e somente a partir do século
XVIII que surgem na França algumas publicações sobre o assunto. É nesta
época que nasce o mito do amor materno e teorias sobre como dar atenção
aos bebês. A mulher começa então a assumir o seu papel de mãe. Somente
no final deste mesmo século que surgem os valores afetivos como
conhecemos atualmente.
Desde os séculos XVI e XVII, a família foi assumindo um novo lugar na
vida sentimental da criança. Nesta mesma época ocorreram muitas mudanças
importantes da família em relação à criança.
Naquele tempo, as crianças saiam do seio familiar e eram enviadas
para viverem em outras casas. Os pais justificavam a saída de casa para que
eles aprendessem boas maneiras. (ARIÉS, 1978).
As famílias conservavam seus filhos em casa até aproximadamente
sete ou nove anos e depois as colocavam em casas de outras pessoas para
fazerem o serviço pesado, onde eram chamadas de aprendizes. Todas as
famílias enviavam suas crianças para casas alheias e recebiam crianças
estranhas. Acreditavam, assim, que seriam melhores servidores que seus
próprios filhos.
“Assim, toda a educação se fazia através da aprendizagem, e dava-se a essa noção um sentido muito mais amplo do que o que ela adquiriu mais tarde. As pessoas não conservavam as próprias crianças em casa: enviavam-nas a outras famílias, com ou sem contrato, para que com elas morassem e começassem suas vidas, ou, nesse novo ambiente, aprendessem as maneiras de um cavaleiro ou um oficio, ou mesmo para que freqüentassem uma escola e aprendessem as letras latinas”. (ARIÈS, 1978, p. 228-229)
Em vista da citação apresentada, o hábito de entregar crianças a
outras famílias era feito através de contratos de aprendizagem com mestres.
Estes mestres tinham a função de ensinar ou levar a criança a escola, e a
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função da criança era servir bem ao mestre. Ela deveria saber servir a mesa,
fazer a cama e acompanhar seu mestre. A educação se fazia a partir da
aprendizagem prática, com a criança sob a convivência de famílias diferentes,
com objetivo de mostrar um novo ambiente. Essa aprendizagem englobava
todas as classes sociais.
O serviço doméstico era uma forma muito comum de educação. Por
meio do serviço, o mestre transmitia o conhecimento, a experiência e o valor
humano. A criança deveria saber se comportar a mesa e servi-la bem. Esse
distanciamento da criança e sua família acabava excluindo qualquer
sentimento de afeto entre eles, como valorizamos atualmente, pois estes se
separavam desde cedo e não tinham o contato diário.
“A família não podia portanto, nessa época, alimentar um sentimento existencial profundo entre pais e filhos. Isso não significava que os pais não amassem seus filhos: eles se ocupavam de suas crianças menos por elas mesmas, pelo apego que lhes tinham, do que pela contribuição que essas crianças podiam trazer à obra comum, ao estabelecimento da família. A família era uma realidade moral e social, mais do que sentimental”. (ARIÈS, 1978, p. 231).
De um modo geral, a transmissão do conhecimento era feita de uma
geração para outra, pela participação da criança na vida cotidiana dos adultos.
Em todos os espaços, crianças e adultos conviviam, se misturavam e
aprendiam a viver através do contato de cada dia.
Ainda não existia espaço para a escola neste modo de aprendizagem,
embora em alguns casos específicos ela tenha assumido um caráter mais
pedagógico para os filhos dos ricos.
“(...) a escola era na realidade uma exceção, e o fato de mais tarde ela ter-se estendido a toda a sociedade não justifica descrever através dela a educação medieval: seria
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considerar a exceção como a regra. A regra comum a todos era a aprendizagem”. (ARIÈS, 1978, p. 229)
Aos poucos a realidade e o sentimento familiar se transformariam. A
educação passa a ser oferecida, cada vez mais pela escola, que se torna
instrumento de iniciação social e da passagem da infância para o mundo
adulto.
Com isso, surge nos pais uma preocupação maior em vigiar seus filhos
mais de perto, de ficar junto deles e não os entregar a outra família. A escola
passa a aproximar os pais de seus filhos, fazendo nascer o sentimento de
família e infância, como já descrito.
Desde então, a família centra-se mais na criança, que deixa a sua casa
apenas para freqüentar a escola. Mais tarde, iniciam as discussões se a
educação deve ser oferecida na escola ou em casa, por um preceptor. Como o
afastamento não era tão longo, os laços começam a se estreitar.
“O clima sentimental era agora completamente diferente, mais próximo do nosso, como se a família moderna tivesse nascido ao mesmo tempo que a escola, ou, ao menos, que o hábito geral de educar as crianças na escola”. (ARIÈS, 1987, p. 232)
Dado o exposto, o esforço dos pais para aumentar o número de
escolas e aproximá-las das famílias é um ponto de destaque desta época. A
escola significava ao mesmo tempo a necessidade de uma educação teórica e
o desejo dos pais de não se afastarem muito dos seus filhos.
Entretanto, é importante salientar que essa escolarização tão
importante para o sentimento familiar não foi rapidamente aceita. Ela não
afetou toda a sociedade de uma vez, visto que uma parcela infantil continuou a
ser educada nos moldes antigos.
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A transmissão de conhecimento agora era garantida pela participação
familiar das crianças com seus pais. As crianças se misturavam aos adultos e
aprendiam a viver através do contato como outrora, porém no convívio familiar.
As famílias pobres eram a instalação de um casal em um meio mais amplo. As
famílias ricas queriam a honra do nome e a prosperidade do patrimônio.
Os problemas morais da família onde o filho mais velho era
beneficiado começam a mudar. Na Idade Média os privilégios sobre o
primogênito era a base da sociedade familiar. Os educadores moralistas
contestavam essa prática, pois prejudicava o sentimento de afeição familiar e
era acompanhada da utilização profana dos benefícios eclesiásticos.
“Na realidade, esse respeito pela igualdade entre os filhos de uma família é uma prova de um movimento gradual da família-casa em direção à família sentimental moderna. Tendia-se agora a atribuir à afeição dos pais e dos filhos, sem dúvida tão antiga quanto o próprio mundo, um valor novo: passou-se a basear na afeição toda a realidade familiar”. (ARIÈS, 1978, p. 235).
Embora a afeição começasse a ganhar espaço, as famílias ricas
continuavam a entregar seus filhos a amas de leite até o fim do século XIX. No
entanto, a ama passou a morar na casa da família e a mãe passou a recusar a
separar-se dos bebês.
A necessidade da educação escolar e o desejo dos pais de não se
afastar das crianças substituía as antigas formas de aprendizagem o que
acarretou uma grande transformação sentimental da família, mais concentrada
nas relações entre pais e filhos.
A antiga aprendizagem perdeu força e nossa civilização moderna de
base escolar foi estabelecida.
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Cabe ressaltar que a educação escolar era muito severa. As críticas
diziam que a escola podia corromper a criança através das más companhias e
atrasava a maturidade ao afastar as crianças dos adultos. Acreditava-se que o
defeito da escola era o isolamento das crianças, que eram separadas do seu
meio social. A educação pela aprendizagem formal oferecia a criança entrar na
sociedade, que por sua vez treinava e cumpria o seu papel, diferente das
sociedades formadas por classes de idades, como nas escolas. O trecho
abaixo descreve a crítica como:
“Ela (a criança) precisa aprender cedo como se deve agir tanto em sociedade como no estudo e, isso ela não pode aprender num lugar em que as pessoas pensam mais em viver com os mortos do que com os vivos, ou seja, mais com os livros do que com os homens”. (ARIÈS, 1978, p. 242)
Durante o século XVII houve críticas a escola pelo fato de ser um
fenômeno novo. Embora os moralistas já percebessem a importância da
educação, ainda não percebiam o papel que a escola podia desempenhar com
as crianças. Havia prós e contras: as crianças criadas em casa aprendiam com
maior facilidade a civilidade através do contato social, porém corriam o risco de
serem mais mimadas pelos pais. Além disso, as crianças faziam na escola
amizades e aprendiam a falar em público. Os inconvenientes eram que as
classes eram numerosas.
Contudo, a oposição entre a escola e a aprendizagem em casa podia
se complementar por meio de uma educação através do mundo que foi se
aperfeiçoando. A civilidade era o conhecimento prático necessário para se
viver em sociedade e que não se aprendia na escola.
Os tratados de educação do século XVII dão aos pais o dever de
escolher a escola e o preceptor, supervisionar os estudos e cobrar as lições
quando a criança vinha para casa.
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O grande número de manuais prova que a escola ainda não tinha
monopolizado todas as funções de transmissão de conhecimento. As pessoas
ainda se importavam muito com as boas maneiras, o que era essencial a
aprendizagem.
“Os bons pedagogos não ensinavam apenas as letras às criancinhas, mas também os bons costumes e as maneiras decentes, ensinaram-nas a comer, a beber, a falar e a caminhar com certos gestos convenientes”. (Ariès, 1978, p. 251).
Na metade do século XVII, a sociabilidade permanecia bastante densa
e forte. Com o tempo, as boas maneiras continuavam a ser valorizadas, porém
deixavam de ser uma virtude. Surgia uma nova forma de educar, como um
tratado de educação para os pais, que aconselhavam como corrigir a crianças
quando lhes ensinavam a ler e a escrever, entre outras coisas. Os tratados de
civilidade tradicionais tornaram-se limitados para atender as preocupações
educativas. Daí surgem os tratados práticos de educação em forma de
conselhos para os pais. Continham além das boas maneiras como nos
tratados tradicionais, também a escolha de um oficio, a escolha da escola, dos
mestres, das leituras, dos jogos e dos métodos pedagógicos.
Diferente dos manuais de civilidade tradicional, não se tratava mais de
registrar hábitos dos adultos para as crianças, mas sim instruir as famílias
sobre seus deveres e responsabilidades. Esses traços de educação familiar
mais modernos, não excluíram os tratados de civilidade, pois a concentração
da família em torno da criança não se opunha aos hábitos de sociabilidade.
Essa sociabilidade era muito importante, pois as casas domiciliares
formavam um verdadeiro grupo social. Entretanto, era preciso haver um
espaço mínimo para a família, sem o qual o sentimento familiar não poderia se
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formar e se desenvolver. Nessas grandes casas encontramos o meio cultural
do sentimento da infância e da família. A primeira família moderna nasceu daí.
“Essa sociabilidade durante muito tempo havia se oposto à formação do sentimento familiar, pois não havia intimidade. O desenvolvimento (...) de uma relação afetiva nova, ou ao menos conscientes, entre os pais e filhos não a destruiu. Essa consciência da infância e da família – no sentido em que falamos de consciência em classe – postulava zonas de intimidade física e moral que não existiam antes”. (ÀRIES, 1978, p. 264-265).
A partir do século XVIII, a família passa a se preservar na sociedade.
Até a organização da casa mudou. A família começa a se isolar num espaço e
a organização da casa sofreu novas configurações. A reorganização da casa e
a mudança dos costumes abriram espaço para a intimidade, preenchida por
uma família que se restringia a pais e filhos. A família passou a ter mais
conversas e preocupações. E as questões de saúde e educação ocupavam um
lugar importante. Essas passavam a ser a maior preocupação dos pais em
relação às crianças. Diferente da família do século XVII, surgia a família
moderna.
No fim da Idade Média a criança tinha conquistado um lugar na família
e era um elemento indispensável no cotidiano, o que as diferenciava das
famílias medievais. Os pais estavam preocupados com sua educação e com o
seu futuro.
Foi a partir desta época também, que os pais passam a ser totalmente
os responsáveis pela educação e saúde das crianças. Com isso, pais e filhos
felizes com seu novo modo de vida começam a fazer a história da família
moderna.
“(...) a criança havia conquistado um lugar junto de seus pais, lugar este a que não poderia ser aspirado no tempo em que o costume mandava que fosse confiada a
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estranhos. Essa volta das crianças ao lar foi um grande acontecimento: ela deu à família do século XVII sua principal característica, que a distinguiu das famílias medievais. A criança tornou-se um elemento indispensável da vida quotidiana, e os adultos passaram a se preocupar com sua educação, carreira e futuro”. (ÀRIES, 1978, p. 270).
Traçando um paralelo com os dias de hoje, essa nova constituição
mudou muito pouco. O sentimento de uma época se mantém atual até hoje,
onde a preocupação dos pais com os filhos já tinha o seu lugar.
Percebendo os marcos teóricos que justificam a importância da família
na vida das crianças, fica evidente a necessidade de implementação de um
sistemático projeto educacional que volte seu olhar para esta relação.
A concepção de família que assume um papel de acolhedora e
protetora tal como conhecemos, responsável pelo desenvolvimento sadio das
crianças, auxilia no crescimento e na consciência de um sentimento que
outrora não existia. Neste sentido, uma análise da família em seu contexto
social e sua influência na formação da criança enquanto sujeito nos dias atuais
se faz necessária para enriquecer nossas discussões.
1.2 A família na atualidade
Nas sociedades contemporâneas, o papel da maternidade e
paternidade tem sido exercido de uma forma mais consciente, pois a
experiência de cada indivíduo vai se reconfigurando. Tornar-se pai e mãe é um
processo que significa mudanças relevantes e a construção de uma nova
identidade.
Segundo Winnicott (1999), bons pais constroem um lar harmonioso,
promovendo uma relação de cuidado e afeto com seus filhos, garantindo,
portanto, um contexto em que a criança encontre a si mesma e ao mundo,
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numa relação operativa. Sabemos, contudo, que esta não é mais uma
realidade na configuração das famílias. Atualmente, pais e mães educam seus
filhos nas mais adversas situações e a criança precisa se inserir neste contexto
e encontrar mecanismos para adaptar-se a tal realidade. No entanto, apesar
das novas formas de constituição das famílias, acredita-se que os pais são os
grandes exemplos de seus filhos.
“(...) cabe fazer uma distinção entre família saudável e família rígida. O que as separa não é a inexistência de problemas ou crises na primeira, mas antes o fato de que uma família saudável é aquela que se constrói a partir de uma estrutura dinâmica, não rígida, permeável às mudanças que se mostram necessárias no interior do sistema”. (CELIDONIO, 1998, p. 41)
Educar e criar os filhos e prepará-los para ter responsabilidade e
segurança no mundo confuso em que vivemos atualmente é uma tarefa
exigente, desafiadora, prazerosa e gratificante. Neste sentido, o papel da
família é fundamental quando consideramos que o ser humano aprende o
tempo todo, nas mais diversas instâncias que a vida lhe apresenta, pois é a
família quem decide o que seus filhos precisam aprender, quais as instituições
que devem freqüentar, o que é necessário saberem para tomarem as decisões
que os beneficiem no futuro.
“Os pais que se preocupam com a educação de suas crianças merecem mais respeito do que aqueles que se contentam em pô-las no mundo. Eles lhes dão não apenas a vida, mas uma vida boa e santa. Por este motivo, esses pais têm razão em enviar seus filhos, desde a mais tenra idade, ao mercado da verdadeira sabedoria [o colégio], onde eles se tornarão os artífices de sua própria fortuna.” (ARIÈS, 1981, p. 277 Apud FONTANA, 1997, P.7).
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Através desta citação, Ariès já percebia a importância da preocupação
dos pais no que tange a educação dos filhos.
Por todas as ideias apresentadas, percebe-se o papel que a família
desempenha na construção da personalidade das crianças. Deve assumir seus
deveres e sua influência no desenvolvimento na infância. Os pais são os
grandes exemplos para seus filhos e por isso precisam ter consciência e
discernimento para ajudá-los a se prepararem para a vida. O mundo se
reconfigura em uma velocidade que quase não conseguimos acompanhar, no
entanto, a família, mesmo em constante mudança, deve estar ciente de sua
função socializadora e formadora de valores nas crianças.
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CAPITULO II
A FAMÍLIA E A APRENDIZAGEM:
CONTRIBUIÇÕES E CONSEQUÊNCIAS
A instituição familiar deve ser regida por leis e normas que definem os
papéis sociais que cada membro deve ocupar. Dessa maneira, pais e filhos
experimentam as relações de poder da sociedade em que vivem.
Observa-se que nas famílias alguns papéis são pré-estabelecidos. Por
exemplo, é comum o pai ocupar a função de autoridade, a mãe responsabiliza-
se pelo cotidiano dos filhos e os irmãos viverem uma certa hierarquia, do mais
velho ou do filho homem.
Sabe-se, contudo, que o modo de ser dos pais vai fazer a diferença no
significado da palavra “família” para a criança. Quando falamos de uma criança
e sua família, não estamos tratando apenas de um pai e uma mãe, pois para
cada um existe uma noção diferente de família. Voltando nosso olhar para o
sujeito e mais especificamente para a criança, é possível afirmar que:
“O grupo familiar atua sobre ele (sujeito) durante o processo denominado, geralmente, de socialização primária. Uma criança recém-nascida depende, para a sua sobrevivência, de outras pessoas e é através desta relação que ela vai aprendendo o mundo que a cerca; a relação de dependência entre ela e aqueles que a cuidam faz com que estes sejam extremamente importantes para a vida da criança durante o seu processo de desenvolvimento, pois, no momento em que consegue se perceber distinta do seu meio e dos outros, estas pessoas se tornam os “outros significativos”. (LANE, 1981, p. 43)
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Esse outro, o qual a criança se identifica emocionalmente é essencial
para ela criar uma representação do mundo. No desenvolvimento normal, a
criança precisa de um tempo para experimentar os vários tipos de relações
sociais, ou seja, os padrões familiares da criança é que vão ajudá-la a
descobrir o mundo. Os membros da família vão assumindo papéis diferentes e
os filhos vão se utilizando deles para a qualidade de suas experiências. Por
isso é comum a criança ter comportamentos distintos em diferentes espaços,
como a casa e a escola, pois ela descobre novos aspectos de outra realidade.
O jogo familiar é um preparo para a vida e a escola pode contribuir
nesta relação. As brincadeiras passam a ser jogos que desenvolvem
habilidades. O lar é onde acontecem experiências ricas, mas deve estar
sempre aberto para o desenvolvimento da criatividade. No entanto, deve haver
um momento em que a criança se depare com situações e vivências diferentes
daquelas de sua casa.
A família é uma referência para a criança viver e crescer. É um lugar
onde ela descobre sentimentos de amor e ódio, onde ela pode esperar
simpatia e tolerância. A criança que teve a oportunidade de vivenciar essas
coisas em seu crescimento está preparada para assumir um lugar no mundo.
No texto de Winnicott (1999), Vygotsky separa experiência de vida e
educação. Na educação, o adulto transfere para a criança crenças que têm
significado e que pertencem a cultura em que estão inseridos. O
desenvolvimento dessa habilidade não é questão de educação e sim de
experiência desde o nascimento e os cuidados que o bebê recebeu. A criança
desde que nasce tem tendências herdadas que a auxiliam no processo de
crescimento, na construção da sua personalidade, no seu relacionamento com
o outro, que mais tarde será a base para as relações interpessoais. Um forte
componente nesse processo é a relação afetiva.
Não podemos deixar de mencionar a coerência entre a visão do mundo
e os valores transmitidos pela família. A criança internaliza regras e costumes
e generaliza isso como verdade. Na citação abaixo fica claro que:
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“É assim que se formam aqueles valores que sentimos tão arraigados em nós, que até parece que nascemos com eles. Esta visão única do mundo e de um sistema de valores só irá ser confrontada no processo de socialização secundária, isto é, através da escolarização e profissionalização (...), porque através de outros laços afetivos e através do seu pensamento e experiências sociais e/ou intelectuais o jovem se depara com outras alternativas, com outras visões de mundo, que o levam a questionar aquela que ele construiu como sendo a única possível”. (LANE,1981, p. 44)
A partir daí, percebemos a importância da confiança que os pais
devem construir com seus filhos, para que estes questionamentos não sejam
motivo de desajustes familiares. Essa confiança é conquistada desde muito
cedo. A criança se desenvolve melhor quando a confiança no outro se inicia
desde o seu nascimento. Uma criança que não experimentou o cuidado de ser
segurado com afeto, pode desenvolver uma carência. O que é ensinado a uma
criança só pode ser internalizado em capacidades que já estão presentes nela.
Essas capacidades são fundamentadas em experiências amplas. As funções
paternais e familiares é que vão introduzir o princípio da realidade 1.
Os pais são responsáveis pela construção do aparelho psíquico de
seus filhos, assim como a qualidade de vida deles. O futuro das crianças
depende exclusivamente dos adultos, visto que quanto mais eficiente for a
educação oferecida, menor influência terá o fator genético. O bebê se constitui
enquanto sujeito a partir das relações e da cultura em que está inserido. Sabe-
se que o sujeito nasce biológico e se constitui psicológico e isto se dá nas
relações que ele estabelece com os outros e com os objetos (BOSSA, 1998).
O adulto é o mediador no processo de desenvolvimento da criança,
pois é ele quem vai oferecer os instrumentos necessários para a apropriação
do conhecimento.
1 Segundo a Psicanálise, o princípio da realidade é a necessidade de encontrar objetos que possam satisfazer aos desejos e impulsos sem transgredir as exigências da censura dos impulsos que a sociedade e a cultura proíbem.
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“Tal conceito também pode ser verificado nos pressupostos psicanalíticos a partir das ideias de Winnicott (1997), que considera a família como componente indispensável a boa estruturação psicológica da criança. Porém, o autor lembra que a existência da família por si só, não assegura o desenvolvimento saudável da criança, uma vez que ela é também influenciada por fatores intrínsecos, que determinarão em grande parte a maneira como se apropriará dos recursos disponíveis”. (ORSI, 2003, p. 67)
A família é o primeiro contato social e o mais próximo da estrutura da
personalidade do indivíduo. Quando a criança começa a se separar da família
é um grande choque, pois é quando ela percebe o outro de uma maneira
objetiva.
“O ambiente familiar pode contribuir seja para o risco, seja para a promoção do desenvolvimento nesse período, com repercussões em etapas posteriores. Práticas educativas pobres, níveis elevados de conflitos na família e um vínculo afetivo frágil entre pais e filhos aumentam o risco de problemas emocionais e comportamentais”. (MRAZEK E HAGGERTY, 1994 apud DEL PRETTE, 2003, p.266).
Os recursos do ambiente familiar podem afetar diretamente o
desenvolvimento e o ajustamento familiar. Para isso são importantes alguns
fatores que podem ser facilitadores de um desenvolvimento saudável:
1. Clima emocional familiar favorável e positivo;
2. Estruturação de regras e rotina no dia a dia;
3. Suporte a autonomia da criança;
4. Envolvimento na escolaridade dos filhos;
5. Oferta de atividades sociais e culturais enriquecedoras;
26
Nas famílias em que estes itens são valorizados é possível que as
crianças cresçam com uma boa sociabilidade, autorregularão, percepção de
controle e consequentemente um bom desempenho escolar.
De acordo com Weil (1966) a educação que as crianças recebem
pode alterar ou modificar a formação da personalidade, apesar da
predisposição hereditária, por isso a importância dos pais. Pesquisas em
Psicanálise e Psicologia Social mostram que a conduta dos filhos em casa e
em outros espaços, como a escola, é uma reação ao comportamento dos pais
para com os filhos.
Segundo o mesmo autor, existem mais “pais problema” do que “filhos
problema”. Algumas atitudes das crianças mostram como elas são tratadas em
casa e acarretam uma série de reações no comportamento das crianças,
principalmente no espaço escolar.
Na verdade, a criança precisa de carinho, atenção e proteção, muito
mais do que de regras e leis sem justificativas, mas alguns pais agem com
indiferença e rejeição. Estes pais geralmente não pegam seus filhos no colo ou
negam atenção quando solicitados pela criança. Essa atitude faz com que as
crianças busquem fora de casa a atenção que precisam e podem demonstrar
angústia e insatisfação.
Existem também aqueles pais que agem com brutalidade e agressões
físicas. Essas crianças podem desenvolver um comportamento também
agressivo ou ao contrário, terem medo de qualquer pessoa.
Uma outra forma de educar está na rigidez e no autoritarismo. Estes
pais não admitem as falhas das crianças e cobram-lhes demais, atribuindo
castigos e sanções. Muitas vezes não valorizam o que a criança faz de bom,
gerando filhos inseguros, com sentimento de inferioridade, culpa e fracasso.
Por um outro lado, pais que se preocupam em demasia com seus
filhos podem agir com superproteção, não permitindo que a criança fique
27
nenhum momento sem ajuda. Isso causa timidez e retração por parte da
criança quando se vê distante dos pais.
Não há uma pretensão em criar uma fórmula perfeita de educação
para as crianças. No entanto, existe uma maneira democrática de dar a criança
carinho, compreensão e respeito. Valorizar seus esforços e atitudes certas
ajuda a viverem em um ambiente favorável. É importante orientar para que a
criança use sua liberdade com responsabilidade. “A liberdade dentro do
respeito pelo próximo tem de começar a ser cultivada nas relações entre pais e
filhos, isto é, na própria célula familiar.” (WEIL, 1966, p. 43).
Alguns pais tentam direcionar o comportamento das crianças a fim de
seguir certos princípios morais e garantir-lhes autonomia, independência e
responsabilidade. Como agentes de socialização, os pais utilizam diferentes
estratégias e técnicas, que segundo Gomide (2003), são denominadas práticas
educativas parentais. Dar disciplina as crianças envolve um contexto de
interação, no qual a criança vai se ver frente às regras e padrões morais da
sociedade. A criança desenvolve sua habilidade para resolver problemas,
aumenta o desempenho escolar e a autoestima, na medida em que os pais se
responsabilizam por seus filhos e estabelecem as regras.
Atualmente, a mídia apresenta um modelo de violência social que
mostra o pouco respeito humano que os pais têm passado aos filhos. No
entanto, esses são responsáveis por orientar crianças e jovens a fim de
interferir nesta realidade para melhor.
O uso adequado de atenção e privilégios, o estabelecimento das
regras de forma clara e democrática, o afeto, o acompanhamento e a
supervisão das atividades são bons indícios de uma monitoria positiva e
facilitadores na formação de crianças saudáveis e felizes no seu
desenvolvimento.
28
“(...) os pais devem proporcionar às crianças um conjunto de regras sobre onde vem ir, com quem podem associar-se, e quando devem ir para casa e ainda garantir o segmento obediente de tais regras”. (GOMIDE, 2003, p.24)
A criança começa a se tornar um ser social na sua própria experiência
e age em relação a si mesma e aos outros. A interação social entre pais e
filhos é o meio de troca de percepções do mundo exterior. Ambientes extremos
durante os primeiros anos de vida pode afetar o desenvolvimento. O trecho de
Maria Julia Orsi (2003) mostra a ligação ente a aprendizagem e a construção
social da criança:
“Vigotsky (1988) ao considerar a aprendizagem como profundamente social, afirma que quando os pais ajudam e orientam a criança desde o início de sua vida, dão a ela uma atenção social mediada, e assim desenvolvem um tipo de atenção voluntária e mais independente, que ela utilizará na classificação e organização de seu ambiente”. (p. 67)
Quando as experiências são vivenciadas de uma maneira positiva,
mais fácil será a construção de recursos para aprendizagens posteriores mais
elaboradas da realidade. Na escola, a criança terá melhores habilidades
sociais para lidar com frustrações, limites e a própria relação com a
aprendizagem formal.
Muitos são os estudos que afirmam a influência do ambiente familiar
na aprendizagem de crianças e jovens. Contudo, muitos educadores e pais
não conseguem dosar suas responsabilidades e acabam adotando medidas
extremas, isentando a família de qualquer culpa ou atribuindo a ela toda a
carga pelo desempenho escolar da criança. Não podemos deixar de lado
também as características da escola e da própria criança.
29
Pesquisas mostram que dependendo do ambiente familiar, a criança
pode ou não desenvolver estratégias que favorecem o sucesso ou o fracasso
escolar. Em vista disso, é importante sintonia entre a familia e a escola.
A disponibilidade de materiais e jogos educacionais e espaços
específicos para a criança realizar as atividades escolares são importantes,
mas estes recursos por si só, não dão conta de promover o bom desempenho
escolar, é preciso que o ambiente seja calmo e que os pais, ou aqueles que
exercem esta função, disponibilizem algum tempo para interagir com as
crianças. O interesse e investimento do tempo dos pais na vida escolar de
seus filhos são preponderantes para seu desenvolvimento e educação.
As crianças são melhores na escola quando o clima familiar é de
união, cooperação e cordialidade. Associadas ao progresso escolar estão a
autonomia, as regras e as rotinas. Atualmente, programas de televisão e
publicações em revistas se dedicam a “ensinar” aos pais como inserir esses
conceitos na educação das crianças. Quando na família as regras estão claras
e consistentes, é mais fácil para a criança discriminá-las na escola.
“Em síntese, pais que são afetuoso, controladores sem serem restritivos demais, que costumam utilizar explicações para justificar as regras que governam a vida cotidiana da família e animam a criança a ser independente contribuem para maior auto-regulação na escola, melhor desempenho escolar e melhor ajustamento em sala de aula”. (MARTURANO, 1999, P.23)
Outro fator que pode alterar o desempenho escolar das crianças está
ligado à expectativa que os pais colocam nelas, com relação ao seu sucesso,
afetando indiretamente seu rendimento, pois o autoconceito das crianças está
relacionado à expectativa que os pais têm deles próprios e de seus filhos.
Quando este é desfavorável gera a diminuição da motivação. Na afirmação, o
mesmo autor destaca:
30
“A principal contribuição do lar está em ajudar as crianças a construírem uma gama de estruturas e hábitos que formarão os fundamentos para a aprendizagem escolar posterior e continuarão a dar suporte a essa aprendizagem quando elas estiverem na escola”. (1999, p.25)
Para tanto, é sugerido que os pais tenham acesso a informações sobre
como ajudar seus filhos, participar de cursos, encontros e vivências, em que
possas trocar experiências com outros pais. Cabe aos pais acompanhar as
lições de casa e a fazer elogios, não apenas com as tarefas escolares, mas
também quando a criança consegue resolver problemas cotidianos com
autonomia. Assim sendo, o professor também não tem a função de formar
valores sozinho; é importante que ele valorize o que a criança traz de casa,
fortalecendo princípios éticos.
Essa função socializadora é de suma importância na construção da
criança enquanto sujeito e para as suas relações fora de casa. Com crianças
pequenas a atenção e interesse dos pais e responsáveis são maiores, pois
eles querem saber de seu comportamento e conquistas. No entanto, conforme
o tempo passa, a tendência é o afastamento, pois a criança cresce e se torna
mais independente. Entretanto, quanto maior for a autonomia dos
adolescentes, maior deve ser a parceria, devido a fase de construção da
identidade e projetos de vida.
Scoz (1994) entrevistou alguns educadores que afirmam que os
obstáculos sócio-afetivos freqüentemente encontrados no dia a dia da escola,
estão relacionados às relações familiares, como agressividade, indiferença e
até mesmo superproteção dos pais, que acabam interferindo direta ou
indiretamente no desenvolvimento da aprendizagem e do conhecimento de
mundo da criança, assim como desenvolvendo outros problemas psicológicos.
Alguns professores, na visão de Scoz (1994), acreditam que a indiferença dos
pais causa uma carência afetiva e, por conseqüência, um atraso na
31
aprendizagem da linguagem oral e escrita, acarretando problemas futuros.
Continuando, a mesma autora explicita em um trecho de seu livro que:
“Não há dúvida de que a influência familiar é decisiva na aprendizagem dos alunos. Os filhos de pais extremamente ausentes vivenciam sentimentos de desvalorização e carência afetiva, que os impossibilita de obter recursos internos para lidar com as situações adversas. Isso gera desconfiança, insegurança, improdutividade e desinteresse, sérios obstáculos à aprendizagem escolar. A representação que as crianças têm dos pais também pode influenciar diretamente na sua relação com seus professores, na medida em que há uma transferência de imagens de uns para os outros”. (SCOZ, 1994, p.71)
Há caso em que a família se mostra indiferente em relação à
aprendizagem formal de seus filhos. Esta indiferença acaba sendo responsável
pela falta de autoestima das crianças, que por sua vez vem sendo alvo de
discussão nos meios educacionais, por interferir nos aspectos cognitivos.
Se por um lado, a ausência dos pais afeta no desenvolvimento das
crianças, por outro, o excesso de cuidados também atrapalha. Professores
questionados por Scoz (1994), afirmam que a superproteção dificulta o
desenvolvimento afetivo, cognitivo e psicomotor da criança, assim como a
inibição da capacidade de pensar e resolver problemas, criando uma barreira
na construção da autonomia, falta de iniciativa e pouca criatividade.
Como observado nas discussões, a família deve estar engajada com o
processo de desenvolvimento das crianças, no âmbito afetivo, social ou
cognitivo. Suas posturas são decisivas para o crescimento das capacidades e
habilidades do educando. Os pais devem estar conscientes de seus atos,
dando à criança suporte necessário para que ela se desenvolva, oferecendo
na medida certa atenção, carinho e autonomia para uma vida sadia.
32
CAPÍTULO III
O PROFISSIONAL DE ORIENTAÇÃO
EDUCACIONAL E RELAÇÃO FAMILIA X ESCOLA
O Orientador Educacional modificou sua função ao longo da história da
educação. Percorreu um caminho que foi desde “apagar incêndios” a
processos quase terapêuticos, pois ocupava um lugar em que era responsável
pelo ajustamento do aluno à sociedade e à família, até a função preventiva.
A escola e o O.E. constituem-se importantes elementos de mediação
da aprendizagem do aluno e da sua formação. Assim, este capítulo tem como
objetivo apresentar a importância do trabalho de Orientação Educacional no
espaço escolar, como mediador no processo de ensino-aprendizagem assim
como na integração escola/ família e comunidade.
A família e a escola são pontos de apoio e sustentação para as
crianças. Quanto melhor for a parceria entre ambas, mais positivos e
significativos serão os resultados na formação do sujeito. A participação dos
pais na educação formal dos filhos deve ser constante e consciente, pois a
vida familiar e a vida escolar são simultâneas e complementares.
O envolvimento dos pais deve ser estimulado principalmente pela
escola. Esta deve se responsabilizar por aproximar pais e filhos quando estes
interagem pouco, pelos mais diversos motivos.
“O nível de envolvimento dos pais depende da posição da escola e principalmente do conjunto de crenças, conceitos e práticas compartilhadas pelos educadores, os quais determinam o ponto de partida desse processo de envolvimento”. (DONADUZZI, BHERING & CORDEIRO, 2004, p.12)
33
A aproximação dos pais no trabalho pedagógico é uma tarefa dos
Orientadores Educacionais. Se a família se envolve em tudo o que a criança
aprende, estará reforçando a importância da aprendizagem, garantindo o seu
sucesso. E mostrar isso às famílias é tarefa dos profissionais de OE
(Orientação Educacional). Lane (1981) descreve sobre a escola e a família:
“(...) ambas são fundamentais no processo de socialização e determinantes das especificidades próprias das classes sociais, apesar dessas instituições proporem normas comuns para todos os membros da sociedade”. (p. 38)
Segundo a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), lei que rege a educação
em nosso país, e o Estatudo da Criança e do Adolescente (ECA):
“(...) as escolas tem a obrigação de se articular com as famílias e os pais tem o direito a ter ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais”. (Heidrich, 2009, p.25)
Sendo a família a primeira instituição social que a criança conhece, a
mesma deve estar engajada no processo educativo adotado pela instituição
educacional, visto que juntas são responsáveis pela formação social, moral e
afetiva do educando.
Algumas escolas não permitem que os pais entrem e os filhos são
entregues no portão, dificultando o relacionamento. Mas é importante que os
educadores tenham cuidado para não tornar o espaço escolar um lugar de
julgamentos. É preciso aceitar o jeito do outro, conhecendo-o e valorizando-o,
pois é assim que profissionais e pais se unem em busca de uma educação
plena para as crianças.
34
“Essa explicação é necessária para derrubar a primeira barreira que impede uma convivência eficiente: o fato de muitas vezes a escola achar que uma família, por não corresponder aos padrões tradicionais, não é capaz de cuidar da formação de seus descendentes”. (GENTILE, 2006, p.34)
Em reportagem da Revista Nova Escola (2009), Gustavo Heidrich
afirma que a escola foi criada para servir a sociedade e por isso tem como
obrigação prestar contas do seu trabalho, deixando explicitado o que faz e
como conduz a aprendizagem, além de garantir que a família participe da vida
escolar das crianças. É importante trabalhar de forma colaborativa, pois as
escolas que buscam nos pais e responsáveis parcerias obtêm bons resultados
na evasão e na violência, assim como no rendimento das turmas.
Essa parceria saudável não se resume em uma instituição assumir o
papel da outra, ao contrario disso, elas se complementam. Os pais devem
estimular seus filhos em seus comportamentos enquanto estudantes,
incentivando e mostrando interesse ao que eles aprendem.
A partir daí, é possível se fazer um trabalho pedagógico de qualidade
que vise o desenvolvimento pleno do educando. Não apenas as questões
culturais devem ser valorizadas pelas instituições, mas também as questões
afetivas e motivações familiares devem estar incorporadas ao plano
pedagógico, ou seja, toda manifestação das histórias de vida da criança.
A criança chega à escola com uma bagagem cultural e conceitos
morais oferecidos pelo seu meio social, por isso é importante a valorização
destes conceitos que permitirão a construção de uma identidade moral
positiva. Daí a importância das primeiras experiências afetivas. Piaget
“concebeu o desenvolvimento do raciocínio moral como uma consequência do
desenvolvimento cognitivo e afetivo” (WADSWORTH, 1997, p.90).
35
Autores afirmam que ao abrir espaço para os pais, dinamiza-se o
ambiente familiar e aproxima-os das atividades escolares com maior
frequência e qualidade.
3.1. A difícil escolha da escola ideal
A escolha da escola adequada às expectativas da família e que seja do
agrado da criança, pode ajudar nessa relação. Esta é uma tarefa cujo sucesso
depende, na maioria das vezes, da habilidade dos pais ao avaliar diferentes
propostas. É importante estar atento ao projeto educativo e ao perfil da
instituição, o que auxiliará a optar por aquela que se assemelhe aos valores da
família em termos de exigências, posturas, visão de mundo. É importante
também conhecer as dependências e possibilidades da escola, assim como os
seus profissionais, que estarão encarregados da educação de seu filho.
A preocupação dos pais em relação à escola é natural, eles se
preocupam com a pedagogia, a qualidade da alimentação, a higiene, a saúde
e a formação dos profissionais. Em relação aos afetos, há um sentimento de
perda quando as grandes conquistas da criança são vistas pela professora. O
sentimento é de ciúme, quando percebem que a criança para de chorar no colo
da professora, por exemplo, e de culpa quando a criança pega uma virose na
escola. Por isso, o profissional de OE tem papel preponderante, ajudando pais
e professores a lidar com essas emoções e não tornar a relação entre a escola
e a família conflituosa. É necessário transformar angústias, dúvidas e medos
em alegria, confiança e aceitação a fim de garantir um melhor desenvolvimento
do processo educativo.
Ao ingressar na escola, não apenas a criança passa pela adaptação,
mas também a família. A forma como a família vê a entrada da criança na
instituição influencia as reações e emoções da mesma no processo inicial.
36
“A introdução da criança na creche pode ser considerada um rito de passagem, que marca a primeira verdadeira separação da criança de seu ambiente familiar e sua entrada no universo social. Trata-se de um momento inicial de exercício da autonomia para ela, que vai aprendendo a governar-se. Evidentemente, isso não acontece repentinamente: é um processo de apego e separação”. (CARVALHO, 2005, p. 691)
Conforme mostra a citação acima, a criança enfrenta sentimentos
distintos, pois o ser humano está desde que nasce envolto em relações
afetivas. Com o tempo, esses vínculos afetivos vão se formando também com
a professora. Esse processo é difícil e lento, e merece uma atenção especial
por parte dos educadores, compreendendo e contribuindo para que esta
vinculação se dê da melhor forma possível. A escola deve estar preparada
para enfrentar essas dificuldades e acolher o aluno e sua família.
3.2. A tarefa dos Orientadores Educacionais
Quando as coisas vão bem na escola, ninguém precisa repensar na
relação entre a escola e a família, mas quando os problemas aparecem
começa o jogo de empurra. Educadores culpam as famílias, que por sua vez
culpam a escola. A verdade é que no meio deste fogo cruzado está a criança,
que acaba sendo a vítima deste conflito. O Orientador Educacional é o
profissional da escola que tem por função estabelecer um clima harmonioso,
através de seu olhar multidisciplinar. A citação mostra que:
“Mostrar isso às famílias é tarefa dos educadores. Para tanto, é preciso um trabalho de conquista. Só que e impossível haver aproximação quando só são marcados encontros para falar de problemas. Isso causa antipatia e repulsa. O bom relacionamento deve começar na matrícula e se estender a todos os momentos”. (GENTILE, 2006, p.35)
37
O que acontece atualmente é que os pais isentam-se da
responsabilidade de dar limite aos filhos e acusam a escola de negligência
nesta tarefa. Embora o objetivo seja semelhante - a qualidade do
desenvolvimento dos estudantes - é muito comum que as instituições de
ensino e as famílias ainda insistam em se manter distantes, acreditando que
não devem interferir no trabalho da outra. Ao contrário disso, ambas devem se
responsabilizar por tudo que envolva o crescimento e desenvolvimento da
criança. Não é correto afirmar que a família é transmissora de valores e a
escola de conhecimento científico. As duas juntas, podem dar conta dessa
demanda, sem que uma passe por cima da outra.
“Entretanto, responsabilizar a família pelo desempenho escolar das crianças vai ainda mais além do que esperar que ela transmita normas e valores próprios da cultura escolar e garanta ao equilíbrio emocional das crianças. Espera-se agora que a família transmita os conhecimentos científicos, atribuição que, antes, era reservado à escola”. (DONADUZZI, BHERING & CORDEIRO, 2004, p.12)
Encontrar esse ponto de equilíbrio é uma tarefa da equipe de
Orientação Educacional, a medida que esses profissionais precisam ter um
olhar macro em relação à realidade da escola.
Sonia Kramer (2003) percebe a importância da interação entre a
escola e a família com o fato de se poder levar aos pais e responsáveis a
proposta pedagógica que está sendo desenvolvida na escola, para que haja
uma maior integração entre ambos, dando oportunidade para que possam
discutir tais propostas. Para tanto, a escola deve motivar os pais a participarem
das reuniões e a partir desta união, realizar um trabalho consciente com as
crianças, possibilitando o conhecimento das histórias de vida de cada família,
no âmbito social, racial e cultural (KRAMER, 2003).
38
O trabalho do Orientador Educacional realizado com as famílias mostra
que podem existir fatores facilitadores da aprendizagem. Segundo Alicia
Fernandes (2001), famílias com problemas de aprendizagem são aquelas que
não abrem espaço para a autoria de pensamento, o que se expressa pela não
autorização para escolher algo diferente. Normalmente são famílias que não
aceitam as diferenças, culpando as escolhas como ataque ao outro. Além
disso, a troca de conhecimento é restrita e fragmentada.
É preciso que o profissional de OE faça uma análise de atitudes de
cada família diante da diferença, a postura dos pais e a pertinência da troca de
conhecimentos entre os envolvidos. Normalmente, as famílias produtoras de
problemas de aprendizagem resistem para aceitar ideias diferentes.
Neste sentido, o Orientador Educacional age com o objetivo de
minimizar as diferenças para que os pais aceitem seus filhos tais como eles
são. Tal conduta é indispensável para o desenvolvimento do educando. Por
isso, é dever do educador entender e interagir neste contexto familiar.
Entretanto, muitos professores acabam sendo preconceituosos e
exigem das famílias um envolvimento que nem sempre é possível. Em
oposição ao pensamento que as famílias são sempre responsáveis pela
aprendizagem das crianças, a citação mostra que deve-se levar em conta a
realidade de cada família, atendendo a demanda de cada aluno de forma
peculiar:
“Exigir, por exemplo, como condição para a aprendizagem, a presença constante da mãe para dar apoio ao desenvolvimento escolar dos alunos, é ignorar que a realidade socioeconômica atualmente sempre permite que a mãe deixe de trabalhar fora ou que o único provedor da família seja o pai, como acontecia tradicionalmente no passado. A escola também pressupõe que os pais dos seus alunos tenham tido a escolarização necessária para auxiliar seus filhos sempre que a situação requeira”. (DONADUZZI, BHERING & CORDEIRO, 2004, p.26)
39
Segundo o Referencial Curricular Nacional (1998), acredita-se que
algumas relações são conflituosas devido às famílias que dificultam o processo
de socialização e de aprendizagem das crianças por diferentes motivos. Julga-
se que as famílias de menor poder aquisitivo são responsáveis por carências
diferenciadas e nas famílias de alta renda, a crítica está na relação afetiva
estabelecida com as crianças. Por isso, algumas instituições apostam em
programas que objetivam instruir as famílias de como educar seus filhos dentro
de um padrão aceito pela sociedade, propondo que se rejeite a ideia de que
existe um só modelo familiar. Este mesmo documento de 1998 já entende a
família como algo mutável “(...) sujeita a determinações culturais e históricas
que se constitui tanto em espaços de solidariedade, afeto e segurança como
em campos de conflitos, lutas e disputa”. (p. 76)
Kramer (2003) aponta as dificuldades de se estabelecer um diálogo
entre a escola e a família, capaz de suprir a maioria destes obstáculos. Muitos
pais argumentam que têm seus horários de trabalho rígidos, o que não lhes
permitem participar da vida escolar de seus filhos efetivamente. E é
exatamente essa ausência dos pais que gera um conflito para as crianças, pois
muitas vezes, os responsáveis transferem para a escola suas
responsabilidades. Por outro lado, o inverso também acontece, ou seja, a
escola se isenta de seu papel de ensinar, culpando as famílias por problemas
afetivos, ou então, apelam para tratamentos com especialistas, distanciando
cada vez mais pais e educadores.
Para ajudar pais e professores nesta difícil tarefa de educar as
crianças, os profissionais de Orientação Educacional devem seguir alguns
passos importantes para o bom entrosamento.
“As matérias-primas de qualquer relação humana são o interesse, a compreensão e o respeito. Para que a escola tenha uma parceria efetiva com as famílias e direcione as ações que favoreçam a aprendizagem, ela precisa saber quem é o seu público”. (Heidrich, 2009, p.26)
40
Inicialmente, é essencial que os pais sejam convidados a conhecer a
escola e seus funcionários, para que se sintam a vontade naquele espaço.
Também é essencial que se conheça o público-alvo ao qual se vai trabalhar.
Uma entrevista para abordar assuntos da história de vida da família é uma boa
estratégia para uma troca significativa entre família e escola.
O Projeto Político Pedagógico da escola deve ser formulado de uma
forma democrática e participativa. Logo, deve estar prevista a participação de
todos os envolvidos no processo educacional e curricular da escola. Isso quer
dizer que, os pais devem ser convidados a estarem presentes nas discussões.
A relação do OE com a família do aluno deve promover o
desenvolvimento de atitudes positivas e a participação efetiva dos
responsáveis na tarefa de educar, com o objetivo de orientar os pais para que
tenham uma postura correta em relação ao estudo dos filhos. O profissional de
OE deve buscar recursos para identificar possíveis influências do ambiente
familiar que possam prejudicar de alguma forma o desempenho do aluno.
Contribuindo assim para o processo de integração escola–família, o
Orientador Educacional atua como elemento de ligação e comunicação entre
todos e identifica possibilidades de colaboração dos pais, em relação à escola.
No texto, A ação do Orientador Educacional no processo de
aproximação família e escola, a autora afirma que o OE deve manter uma
relação próxima com as famílias a fim de conhecer melhor os alunos.
“Para manter laços próximos com a família, até mesmo para conhecê-la realmente, o serviço de Orientação Educacional poderá realizar visitas cordiais as residências dos educandos, considerados problemáticos, ou quando as circunstâncias assim exigirem a participação da família para solucionar o problema, sendo que nesta ocasião o orientador deve manter um clima de cordialidade e franqueza, a fim de que os pais possam compreender qual o real sentido do trabalho do Orientador Educacional”. (Rodrigues, 2008, online)
41
O OE precisa elaborar seu planejamento a fim de diagnosticar as
perspectivas da família em relação à escola e deixar explicito o papel do
serviço de Orientação Educacional e de que forma esses profissionais vão
oferecer ao aluno subsídios concretos para o seu desenvolvimento e
crescimento acadêmico. Por isso, é interessante fazer um levantamento de
dados das reais possibilidades da família na vida escolar dos filhos.
Para o sucesso do trabalho do Orientador Educacional é indispensável
a realização de um planejamento que tenha como meta principal integrar e
sensibilizar educadores, educandos e famílias.
Ao finalizar nosso pensamento sobre o real papel do Orientador
Educacional é importante, antes de qualquer coisa, um bom senso entre teoria
e práxis, um engajamento que vá além de obrigações profissionais, um
compromisso em ser um agente ativo na construção de uma sociedade
melhor.
42
CONCLUSÃO
Dizer que o respeito e a compreensão são importantes na vida de todo
ser humano seria redundante, diante de tudo aqui exposto, principalmente
porque este trabalho ajudou na percepção de que os vínculos afetivos são
mais que necessários no cotidiano das crianças e de seus familiares.
Os resultados desta pesquisa bibliográfica apontaram que o tempo que
os pais têm disponibilizado para os filhos não pode ser medido pelo número de
horas, mas sim pela qualidade deste tempo. Atenção, carinho e respeito são
os primeiros passos para um desenvolvimento saudável.
A abordagem histórica foi de grande importância para dar início ao
estudo, pois serviu de aparato para mostrar como nasceu o sentimento da
família e como foram sendo estabelecidos os vínculos afetivos entre pais e
filhos. Fica claro que, mais que laços familiares, as pessoas foram
responsáveis por uma construção de afeto e afinidade.
Tendo em vista os aspectos observados, foi possível perceber tudo o
que a humanidade viveu para entender a infância com suas peculiaridades e
singularidades. As famílias se reconfiguraram, aprenderam a viver por si
mesmas e se isolaram do restante da sociedade para experimentar a
privacidade de seus lares. A criança, com isso, ganhou o seu espaço na vida
cotidiana e no coração de seus pais. Sendo assim, começaram a frequentar
uma escola para aprenderem coisas novas, que iam além dos afazeres da
casa. Um sentimento muito mais próximo do que conhecemos hoje foi
instaurado na sociedade. A partir daí, com a criança em seu lugar, formou-se
toda uma concepção de cuidado, afeto e respeito carinho,
Por todas essas ideias apresentadas, a família deve se responsabilizar
pela construção da personalidade das crianças. Deve assumir seus deveres e
perceber sua influência no desenvolvimento da infância. Os pais são os
43
grandes exemplos para seus filhos e por isso precisam ter consciência e
discernimento para ajudá-los a se prepararem para a vida.
Constatamos que, o sentimento familiar precisa estar presente em
todas as atividades desenvolvidas pelas crianças ao longo de sua formação,
principalmente nas relações pessoais. Para tanto, a organização, seja no
âmbito pedagógico ou familiar, que irá conferir um ambiente acolhedor e
receptivo.
Esses sentimentos e posturas das famílias permitirão uma construção
de uma auto-estima positiva, responsável também por auxiliar na construção
do sujeito. A contribuição do tema para os estudos pedagógicos e psicológicos
está no fato de os vínculos e as interações entre pais e filhos serem
propiciadores de um ambiente favorável para a aprendizagem e para o
desenvolvimento como um todo, principalmente no que tange o incentivo e a
motivação para tais processos.
Em relação à importância das figuras materna e paterna e pela
responsabilidade que têm para com as crianças, eles é que vão contribuir para
um autoconhecimento positivo de seus filhos. Para isso, é necessário que
ambos tenham consciência de seus próprios valores e avalie como vem
influenciando o comportamento de seus descendentes. A partir daí é possível
obter um desenvolvimento global, seja na formação moral, social e afetiva.
Contudo, percebemos que a família e também a escola enquanto
instituições educativas têm o papel de propiciar os mais belos sentimentos das
crianças em relação ao mundo que a cerca.
Por tudo isso, é de suma importância para todos os profissionais de
educação perceber a necessidade de uma atenção especial com a relação
entre as instituições e as famílias. Neste caso, a escola tem o dever de
interferir, tentando conscientizar os pais a participarem mais ativamente da
vida escolar de seus filhos e oferecendo uma aprendizagem relevante e
significativa para suas crianças. É importante destacar que a ajuda e o
44
interesse dos pais faz com que as crianças participem mais, demonstrem mais
interesse e se desenvolvam melhor.
Quando a relação entre pais e filhos fica pautada em conflitos e
dificuldades em lidar com os problemas de aprendizagem, o profissional de
Orientação Educacional deve atuar para juntos chegarem a um consenso do
que é melhor para a criança. A presença do O.E. nas escolas vem contribuindo
muito para as novas transformações nos contextos sociais, resultando em
novos desafios na educação.
O Orientador Educacional tem o aluno como seu principal objeto de
trabalho, e por isso torna-se um profissional indispensável para o resultado
final do ensino que é a aprendizagem. Ele deve estar comprometido com a
formação de cidadãos conscientes, daí a sua importância na escola.
Para a família e a escola, educar é hoje em dia, uma tarefa que exige
olhar o aluno de forma holística, um ser que é que constituído de história e
valores, e por isso o O.E. é o responsável por buscar os subsídios necessários
para que a escola cumpra seu papel de educar.
Desta forma, cabe ressaltar mais uma vez a importância da relação
família-escola, visando todos os aspectos do desenvolvimento das crianças,
pois são elas as instituições sociais que darão ao educando o princípio
norteador para uma boa convivência em sociedade e consequentemente a
formação de cidadãos mais felizes.
45
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EDUCACIONAL-NO-PROCESSO-DE-APROXIMACAO-FAMILIA-E-
ESCOLA/pagina1.html
[Acessado em 17de fevereiro de 2010]
http://www.abpp.com.br/abppprnorte/pdf/a08Orsi03.pdf
[Acessado em 10 de dezembro de 2009]
49
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
ONTEM X HOJE: AS CONCEPÇÕES DE FAMÍLIA 10
1.1 – A construção da família moderna 11
1.2 – A família na atualidade 19
CAPITULO II
FAMÍLIA E APRENDIZAGEM: CONTRIBUIÇÕES
E CONSEQUENCIAS 22
CAPITULO III
O PROFISSIONAL DE ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL
E A RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA 32
3.1 – A difícil escolha da escola ideal 35
3.2 – A tarefa do Orientador Educacional 36
CONCLUSÃO 42
BIBLIOGRAFIA 45
WEBGRAFIA 48
ÍNDICE 49
50
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES – INSTITUTO A
VEZ DO MESTRE
Título da Monografia: FAMÍLIA E APRENDIZAGEM: OS CAMINHOS PARA
UMA EDUCAÇÃO PLENA
Autor: CHRISTIANE MIRANDA DOS SANTOS
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