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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS GRADUAÇÃO “LATU SENSU’ VALCIR GONÇALVES A TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM E OS IMPACTOS CAUSADOS NOS BAIRROS DE NEVES, GRADIM, E PORTO DA PEDRA A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DA ESTRADA NITERÓI – MANILHA SÃO GONÇALO 2007

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS GRADUAÇÃO “LATU SENSU’

VALCIR GONÇALVES

A TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM E OS IMPACTOS CAUSADOS NOS

BAIRROS DE NEVES, GRADIM, E PORTO DA PEDRA A PARTIR DA

CONSTRUÇÃO DA ESTRADA NITERÓI – MANILHA

SÃO GONÇALO 2007

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VALCIR GONÇALVES

A TRANSFORMAÇÃO DA PAISAGEM E OS IMPACTOS CAUSADOS NOS

BAIRROS DE NEVES, GRADIM, E PORTO DA PEDRA A PARTIR DA

CONSTRUÇÃO DA RODOVIA NITERÓI – MANILHA

Monografia apresentada ao

curso de Pós Graduação Latu

Sensu em Planejamento e

Educação Ambiental como

requisito para conclusão de

curso.

ORIENTADOR:

PROFESSORA FABIANE MUNIZ

SÃO GONÇALO 2007

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Este projeto não tem o poder de

transformar a realidade encontrada nas

comunidades pesquisadas, mas buscar através

do conhecimento desta realidade e da

conscientização de seus habitantes, reerguer a

auto-estima do cidadão, resgatando sua

cidadania e, acima de tudo, o amor pelo seu

bairro e pela sua cidade, é uma das grandes

preocupações incutidas neste trabalho de

pesquisa.

Valcir Gonçalves

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, autor e criador da vida, que me

sustentou e me guiou em toda esta jornada, a minha esposa e filhos, que

tiveram paciência e compreenderam a falta de tempo para dedicar-lhes

atenção e aos professores da Universidade Cândido Mendes que com

dedicação e profissionalismo se empenharam em transmitir conhecimentos

essenciais para meu aperfeiçoamento profissional

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DEDICATÓRIA

Dedico esta obra a minha esposa, que me incentivou e estimulou a

dar o primeiro passo rumo a concretização deste sonho, caminhou ao meu

lado vibrando nos momentos de vitória e sofrendo junto nos momentos de

dificuldade e aos meus filhos, base e fonte de nossa inspiração.

.

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“O espaço vivido é também um campo de

representações simbólicas que vão traduzir em sinais

visíveis não só o projeto vital de toda a sociedade,

subsistir, proteger-se, sobreviver, mas também as suas

aspirações, crenças, o mais íntimo de sua cultura”

( ISNARD, 1982, P. 71)

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RESUMO

Esta obra busca revelar através de pesquisa local, estudos de

dados históricos, relatos, mapas e registros fotográficos, os impactos

ambientais, culturais, sociais, econômicos e as transformações ocorridas na

paisagem e os impactos causados ao meio ambiente dos bairros de Neves,

Gradim e Porto da Pedra, bairros estes que ocupam parte da orla do Município

de São Gonçalo e na qual se encontra ou se encontrou num passado bem

próximo, uma área de grande riqueza ecológica e histórica para o município de

São Gonçalo, pois a história destes bairros se confunde com a história do

Município, já que abrigam , monumentos históricos que marcam o início da

história do município e uma pequena área de Manguezais, hoje já não tão

imponentes devido a especulação comercial, industrial, política e imobiliária,

mas que ainda cumprem o papel de promover o equilíbrio ecológico da orla

Gonçalense. Busca ainda levantar dados que apontem início das

transformações da paisagem e os impactos sociais, políticos, culturais e

ambientais ocorridos ali, destacando ainda os fatores que contribuíram para

estas transformações partindo da construção da estrada Niterói – Manilha,

estrada esta que corta toda a extensão da orla destes bairros e quase toda a

orla do Município. Aponta ainda fatores como ocupação desordenada,

especulação comercial e industrial, construções irregulares, implantação de

grandes projetos urbanísticos, turísticos e econômicos, construção de

shopping, áreas de lazer e outros empreendimentos que na visão deste em

parte beneficiaram a população local, mas por outro lado trouxeram prejuízos

incalculáveis a longo prazo para estas comunidades, como fatos que

contribuem para o empobrecimento ecológico e histórico destas localidades.

Fazendo um debate sobre estas questões visando buscar junto as

comunidades ribeiras soluções que venham minimizar os impactos sobre a

região, o meio e a comunidade, para que possam num futuro próximo resgatar

parte da imponência que já lhes foram peculiar.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada nesta obra de pesquisa tende a levantar dados

que viabilizem a identificação das causas e fatores responsáveis pela

alteração na paisagem e pelos impactos ambientais ocorridos nos bairros de

Neves, Gradim e Porto da Pedra a partir da construção da Rodovia Niterói

Manilha, e para isto usou-se os seguintes procedimentos

Levantamento das atribuições e competências que são conferidas pelas

Leis, regulamentações e Decretos voltados a preservação do meio ambiente

através dos diversos órgãos que visam a organização das ações voltadas a

preservação e a proteção do meio ambiente.

Entrevistas a representantes das comunidades alvo da pesquisa como:

diretores de associação de moradores, conselho administrativo de igreja e

paróquias locais, moradores destas comunidades, trabalhadores da indústria

pesqueira, uma das atividades muito fortes nas localidades estudadas,

trabalhadores da terra, trabalhadores do mar como: barqueiros, pescadores,

construtores de embarcações e registros fotográficos nos locais pesquisados.

Pesquisa em livros históricos e manuais, nos registros da prefeitura da

cidade, entidades públicas e particulares voltadas para a educação e cultura,

em site da internet, na legislação que determina as ações de preservação do

meio ambiente e em livros de atas das paróquias e das associações.

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SUMÁRIO

FOLHA DE ROSTO ........................................................................................... 2

EPÍGRAFE.......................................................................................................... 3

AGRADECIMENTOS......................................................................................... 4

DEDICATÓRIA....................................................................................................5

PENSAMENTO .................................................................................................. 6

RESUMO............................................................................................................ 7

METODOLOGIA................................................................................................. 8

SUMÁRIO ......................................................................................................... 9

INTRODUÇÃO.................................................................................................. 10

ÍNDICE DE FIGURAS ...................................................................................... 11

CA PÍTULO I - O MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO E A RODOVIA ......... 12

1.1 - A RODOVIA NITERÓI MANILHA ...................................... ................13

1.2 - A CONSTRUÇÃO E A MUDANÇA NA PAISAGEM.................................15

1.3 - A CONSTRUÇÃO E OS IMPACTOS ......................................................16

CAPÍTULO II - IMPACTOS AMBIENTAIS ...................................................20

2.1 - AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS (AIA) ................................20

2.2 - ESTUDOS DE IMPACTOS AMBIENTAIS (EIA)...................................21

2.3 - RELATÓRIOS DE IMPACTO SOBRE O MEIO AMBIENTE ............... 23

2.4 - A LEGISLAÇÃO E O MEIO AMBIENTE .............................................. 24

2.5 - ATIVIDADES SUJEITAS AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL ..... 33

CAPÍTULO III - BAIRROS PESQUISADOS: TRANSFORMAÇÕES E

IMPACTOS .....................................................................................................39

3.1 - O BAIRRO DE NEVES ..........................................................................45

3.2 - O BAIRRO DO GRADIM ...................................................................... 48

3.3 - IMPACTOS CAUSADOS PELA URBANIZAÇÃO ................................ 51

3.4 - O BAIRRO DO PORTO DA PEDRA, OÁSIS IMPACTADO .................. 52

3.5 - PORTO DA PEDRA, PROGRESSO OU PRESERVAÇÃO DA VIDA? . 53

3.6 - AS NOVAS PAISAGENS ..................................................................... 55

CONCLUSÃO ................................................................................................ 58

BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 60

ANEXOS ........................................................................................................ 63

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INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é o despertamento para o meio natural que

nos cerca, pois ele é a fonte de vida para todas as espécies do planeta. O que

se observa nas últimas décadas é a ação humana cada vez mais intensa sobre

o meio ambiente, o qual tem sofrido impactos regulares dessa ação em suas

expressões naturais.

As paisagens são cada vez mais o resultado da ação humana. A

paisagem modificada pelo homem recebe o nome de paisagem geográfica, na

qual, o conjunto de elementos naturais são mais ou menos modificados pelos

homens. A paisagem geográfica é o conjunto de elementos naturais e

elementos humanizados, ou seja, elementos naturais modificados com a maior

ou menor intensidade pelo homem, mas essa ação do homem não é individual,

pois o homem é um ser que vive em conjunto com outros homens, formando a

sociedade, por isso, dizemos que a paisagem geográfica é uma criação ou um

produto da sociedade.

Partindo-se do pressuposto que o homem é um importante agente

de construção e transformação do espaço em suas várias escalas local,

regional, nacional e mundial e não apenas um simples personagem da

paisagem, ele é influência na sua alteração que também é constante, pois a

paisagem não é estática, modifica-se, e a grande maioria das transformações

na paisagem se processa pela ação do homem ou simplesmente pela sua

presença.

As alterações na paisagem dos locais pesquisados, e os impactos

sofridos por estes é alvo de estudo desta obra. É indiscutível que estas

alterações trazem alguns recursos e benefícios visíveis a estas comunidades,

mas também é fato e não é difícil de perceber que mais que os benefícios elas

trazem inúmeros malefícios que a olho nu e em curto prazo de tempo se

tornam invisíveis.

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ÍNDICE DE FIGURAS FIGURA 01 - MAPA COM OS LIMITES DO MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO E A LOCALIZAÇÃO DA RODOVIA NITERÓI – MANILHA. ........................ ...63 FIGURA 02 - PARTE SUSPENSA DA RODOVIA CORTANDO O BAIRRO DO GRADIM SOBRE A FAVELA DO GATO. ...................................................64 FIGURA 03 - ESCOLA DE PESCA – COMUNIDADE DO PONTAL NO BAIRRO DO GRADIM. .....................................................................................65 FIGURA 04 - MARCADORES DE ENERGIA, FAVELA DO GATO.............66 FIGURA 05 - HIDRELÉTRICA ABANDONADA NO BAIRRO DO GRADIM .67 FIGURA 06 - CONSERVAS SULPESCA, BAIRRO DO GRADIM................ 68 FIGURA 07 - CONSERVAS RUBI - BAIRRO GRADIM. .............................69

FIGURA 08 - CAPELA SÃO JOÃO BATISTA NO BAIRRO DO GRADIM.....70 FIGURA 09 - TERRENO ONDE FOI A CAPELA SÃO PEDRO, DEMOLIDA PARA DAR PASSAGEM A RODOVIA. BAIRRO GRADIM ............................. 71

FIGURA 10 - COMPLEXO RESIDENCIAL DO GRADIM. .............................72 FIGURA 11 - CONTINUAÇÃO DA AVENIDA APÓS O CLUBE NÁUTICO ... 73 FIGURA 12 - FAVELA DA SALGA .............................................................. 74 FIGURA 13 - TRECHO PRÓXIMO AO PISCINÃO E AO SHOPPING ..........75 FIGURA 14 - SHOPPING SÃO GONÇALO – PORTO DA PEDRA ............76 FIGURA 15 - PISCINÃO DE SÃO GONÇALO ..................................... .......77 FIGURA 16 - ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DA CEDAE ..........................78

FIGURA 17 - MAPA COM A LOCALIZAÇÃO DO PISCINÃO, DO SHOPPING

E ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DA CEDAE, EM RELAÇÃO A RODOVIA E A

BAÍA DE GUANABARA................ ................................................................... 79

FIGURA 18 - GRÁFICOS COM ÍNDICES ESTATÍSTICOS DO GRADIM ... 80

FIGURA 19 - GRÁFICOS COM ESTATÍSTICAS DO PORTO DA PEDRA ....... 81 FIGURA 20 -GRÁFICOS COM ESTATÍSTICAS DE NEVES ............................... 82

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CAPITULO 1

O MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO E A RODOVIA.

Com a terceira maior população do Estado do Rio de Janeiro (889.828

habitantes), o município de São Gonçalo tem investido na mudança sócio-

econômica da região e, por isso, é hoje uma das principais cidades do estado.

(PORTO, 2001)

A proximidade com a cidade do Rio de Janeiro, da qual dista apenas 20

quilômetros, e a ligação com outros municípios fazem de São Gonçalo um

ponto estratégico para negócios, além de passagem, quase obrigatória, para as

áreas turísticas do estado, como a Região dos Lagos. Localizado na região

metropolitana do Estado do Rio, no lado oriental da Baía de Guanabara -

cartão postal do Brasil, São Gonçalo tem uma área de 251 quilômetros

quadrados atravessada pelas duas principais vias de acesso ao Norte do

Estado: a Rodovia Amaral Peixoto e a Niterói - Manilha, integradas ao sistema

BR-101, o que garante o acesso fácil às demais regiões do país. São Gonçalo

limita-se, ao Norte, com Itaboraí e a Baía de Guanabara. Ao Sul, com Maricá e

Niterói. À Leste, com Itaboraí e Maricá e à Oeste, com a Baía de Guanabara e

Niterói (FIG. 01) Seu clima é ameno e seco, variando entre a temperatura

máxima anual de 33º e a mínima de 12º. Seu ponto culminante é o Alto do

Gaia, com 500 m de altitude, na Serra de Itaitindiba. Os tempos áureos da

economia gonçalense remonta às décadas de 40 e 50, quando São Gonçalo

ocupava lugar de destaque. Na época, o parque industrial do município era o

mais importante do estado, atuando nos campos da metalurgia, transformação

de materiais não-metálicos (como cimento, cerâmica e outros), químico,

farmacêutico, papelão, papel e produtos alimentares, daí São Gonçalo ter sido

chamado de Manchester Fluminense, (LIGUORI, 2000.). .

Dentre os bairros que hoje ocupam a orla da baía e

consequentemente a margem da rodovia Niterói Manilha, Neves é o mais

antigo distrito de São Gonçalo, tendo sido o ponto alto da vida econômica,

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13 social e política desta terra. Surgiu de enormes fazendas localizadas à beira-

mar, onde viveram senhores e escravos, que, à força de muito trabalho, deram

início ao progresso do lugar. No Paiva, os terrenos fizeram parte de uma

fazenda que se estendia pela orla marítima, indo até ao Porto da Vala.

(PMSG, 98,99)

1.1- A rodovia Niterói Manilha: “ progresso com degradação “

O trecho da BR-101N ( Niterói – Manilha ) teve suas obras iniciadas

em 1974. Foram necessárias construções de pontes, aterros, cortes de

falésias, desapropriações de imóveis e dragagens intensas para criação da

base estrutural da estrada. Anteriormente a esses fatos, o desmatamento de

grandes áreas de manguezais principiou o inicio das obras e a degradação do

ecossistema foi uma resultante. ( ARAÚJO 2002)

A rodovia Niterói Manilha, corta o Município de São Gonçalo

atravessando (15) quinze bairros, Sendo eles: Neves, Porto Velho, Gradim,

Porto Novo, Porto da Pedra, Boa Vista, Porto do Rosa, Boaçú, Itaúna, Luiz

Caçador, Jardim Catarina, Santa Luzia, Bom Retiro, Gebara e Recanto das

Acácias, (7) sete deles localizados a orla da Baía de Guanabara que são:

Neves, Porto Velho, Porto Novo, Gradim, Porto da Pedra, Boa Vista, e Boaçú,

( ICEBEU, 2001 ), FIG. 03 .

Trecho da BR101, recebeu o nome de Niterói - Manilha exatamente

por ligar o município de Niterói, além do Rio de Janeiro a Manilha, Bairro do

município de Itaboraí. (FIG. 1), onde se divide os acessos as regiões Serranas

e dos lagos ( PORTO, 2002 )

Esta rodovia seria a solução definitiva do tráfego nestas duas

cidades, pois descongestionaria a Avenida Alameda São Boa Ventura que

corta o bairro do Fonseca em Niterói, principal acesso a Região dos Lagos e

Região Serrana. No Município de São Gonçalo ela trazia a proposta de

desafogar o transito no centro da cidade, reduzindo o tráfego de veículos nos

bairros de Neves, Vila Lage, Paraíso, Parada 40, centro da cidade, Trindade e

Alcântara. ( ARAÚJO, 2002 )

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14 Além de desafogar o trânsito nestas duas cidades, esperava-se que

ela viesse trazer desenvolvimento para os bairros situados no seu trajeto.

Neste trajeto encontrava-se alguns bairros de grande importância econômica,

embora desprovidos de urbanização e infra estrutura, mas de grande valor

ambiental industrial, comercial e histórico, pois além de fazerem parte do início

da história deste município e abrigarem uma vasta área de manguezais,

abrigaram junto com outros municípios que também ocupam a orla gonçalense

um variado parque industrial composto por grandes empresas entre as quais,

algumas ainda estão em funcionamento como: Tintas Internacional, Eletro

Vidro, Quaker Alimentos outras que já não funcionam como: Companhia Fiat

Lux de Fósforos de Segurança, Fábrica de Bebidas Ron Merino, Fábrica de

Biscoitos, Fábrica de Conservas de Peixe Piracema, Fábrica de Conservas de

Peixe Rubi, Fábrica de Conservas de Peixe União, e ainda grandes redes de

supermercado, como Carrefour e o Sam´s Club (do grupo americano Wall Mart

). ( ICEBEU, 2001 - ARAÚJO, 2002 )

A afluência de investimentos tende a crescer com a chegada à cidade

da Linha 3 do Metrô, já em fase de licitação pelo Governo do Estado.

Fato que sinaliza tal tendência é a construção do shopping na cidade: o São

Gonçalo Shopping Rio, inaugurado em março de 2004, às margens da

Rodovia Niterói Manilha, BR-101, na altura do bairro do Boa Vista é fruto do

casamento de uma cidade com alta densidade demográfica e a falta até então

de um grande centro comercial. O empreendimento, de porte regional, gera

cerca de 2 mil e 500 empregos diretos. Um dos destaques do shopping são os

oito cinemas, com o moderno sistema Multiplex, que vem de encontro com uma

das carências da cidade: opções de lazer. ( BELCHIOR, 2005 )

Como tudo na vida é envolto por objetivos políticos e/ou econômicos –

visível ou invisível - a rodovia, em linhas gerais fora inaugurada me 1982 para,

em tese, reduzir os congestionamentos nos fins de semana, na Alameda São

Boaventura ( Fonseca - Niterói ) e no trevo da patrulha rodoviária, em Tribobó

(São Gonçalo), no caminho para a região dos lagos. Entretanto, as rodovias

federais como a Niterói - Manilha (BR-101N) são testemunhas do peso dos

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15 fluxos numa área de alta divisão do trabalho e de comando das atividades

regionais e nacionais (SANTOS, 2001).

Apesar da tradição no esporte - sendo berço de grandes craques - e na

cultura, com grandes nomes na música, a expectativa é grande diante dos

investimentos em infra-estrutura e no trabalho de mudança da imagem da

cidade, com a valorização de seus monumentos e momentos históricos e do

potencial econômico, cultural e natural. ( PMSG, 2004 )

Alguns destes bairros como Gradim, Porto Novo e Porto da Pedra

( FIG. 02 ) são objetos desta pesquisa.

1.2 - A construção e a mudança na Paisagem

Em sua maioria, os bairros estudados, foram banhados no passado,

pelas águas da Baía de Guanabara, o que permitia maior facilidade no

recebimento da matéria-prima e o escoamento da produção. Nessa época, o

lugar ainda era preenchido por algumas fazendas em declínio.

Foi com a urbanização da Guanabara(1) (Distrito Federal) e a posterior

implantação (em 1930) de estratégias de proteção fabril, como financiamentos

e isenção de impostos, criados pelo Estado, que a região urbanizou-se

significativamente. Esta incorporou toda uma organização sócio-espacial,

criando uma nova paisagem para o lugar.

Podemos perceber que o sentido de lugar e a experiência da paisagem

são nitidamente temporais, constituídos de lembranças. Neste ambiente

impregnado de sensações, mostra em quais pontos as relações com o meio

são modeladas pelas coletividades às quais pertencem (CLAVAL, 1999).

As crianças brincavam na frente de suas casas e nas áreas livres era

comum, aos domingos, o encontro de moradores nas peladas de futebol. O

ponto máximo das festas públicas era ao ar livre

...imagem, o imaginário parecem mergulhar no fluxo temporal e

prolongá-lo; no entanto, a essência do imaginário situa-se, talvez na evocação,

na ressurreição do passado, ou seja, numa repetição. Isso aproximaria a

imagem da lembrança e o imaginário da memória...(LEFEBVRE, 1991:24-5)

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16 Não podemos afirmar que no passado, essa paisagem teve em algum

momento, beleza visível. Entretanto, os vários relatos orais que analisamos nos

fazem pensar quão bom era o tempo passado, ali vivido. Temos conhecimento

de problemas crônicos, como: enchentes em certas ruas dos bairros e várias

lutas sindicais por melhorias trabalhistas, que durante anos movimentaram as

imagens das ruas do lugar. Somando-se a isto havia também, uma forte

repressão que a massa operariada (marítimos, navais, metalúrgicos, ) sofreu

ao longo dos anos.

O projeto da Avenida do Contorno fora executado anteriormente como

parte de um projeto maior que, posteriormente, seria unido à implantação da

Ponte Rio-Niterói (1974) e, na década de 80, à rodovia Niterói-Manilha (BR101-

N).

A Avenida do Contorno alterou bastante a paisagem na orla marítima, no

sentido Zona Norte de Niterói, bem com a construção da Ponte Presidente

Costa e Silva, que também modificou acentuadamente as imagens no bairro de

Santana, onde vários aterramentos e desmontes de prédios residenciais,

comerciais e industriais foram providenciados, para que os viadutos de acesso

à ponte fossem construídos. Os viadutos se integraram às seguintes Avenidas:

do Contorno, Jansen de Mello, Alameda São Boaventura e Feliciano Sodré.

Construíram, também, outros viadutos, para manter normalmente o fluxo viário

entre os bairros da Zona Norte ao centro da cidade de Niterói.

1.3 - A construção e os Impactos

No início da construção da Ponte (Presidente Costa e Silva), em 1968, a

mão-de-obra usada era a local. Com o passar dos anos, eram visíveis corpos

cobertos por lençóis brancos, todas as tardes, com velas acesas ao lado,

indicando que mais um trabalhador perdera sua vida na construção da grande

e monumental obra Federal. Podemos afirmar estes acontecimentos pois,

empiricamente, visualizamos tal situação e esta ficou guardada em nossa

memória. Por vezes, também, tomamos conhecimento de um ou outro órfão da

ponte. Entretanto, tal assunto foi pouco divulgado pela imprensa da época.

Hoje, percebemos que raros são os que sabem sobre este acontecimento. A

maioria da população reconhece e conhece apenas a história majestosa e

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17 oficial dos fatos relativos aos empréstimos, tempo de duração, materiais e

equipamentos utilizados na construção da citada Ponte. Nós preferimos, aqui,

deixar registrado o fato a-Histórico, como diria Walter Benjamim, para torná-lo

visível, e não mais esquecido. Pois, reconhecemos que a memória é um

instrumento de poder, no que Le Goff (1996:13) reforça tal impressão, "tornar-

se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações

das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as

sociedades históricas".

Com o grande número de operários locais mortos e muitos outros

recusando-se ao emprego, na obra da ponte, não restou outra alternativa às

empreiteiras: foram buscar no interior da região Nordeste os operários

substitutos que, desejosos por melhores dias, vinham como cordeiros para o

abate. Aqueles que sobreviveram aos anos de trabalho arriscado naquela obra,

passaram a fazer parte das estatísticas de ampliação do número da população

urbana, que buscam todos os dias, com muita coragem, romper com a "sorte"

que os guiou. Eles estão na luta pelos bens necessários à vida, seja por

moradia, seja por vestuário, seja por alimentação e cidadania. Concentram-se

nas periferias das duas cidades (Niterói e São Gonçalo), em locais onde as

condições de vida são bastante insalubres. Poucos ascenderam socialmente.

Seus filhos, num número reduzido, conseguiram escolarização e profissão.

Não poderíamos deixar de mencionar que a dinâmica das cidades como

Niterói e São Gonçalo sofreu alterações consideráveis após a inauguração da

Ponte. Estas cidades tiveram momentos distintos antes, durante e

principalmente depois da referida construção. A Ponte trouxe modificações

visíveis e invisíveis na organização urbana e social destas cidades e de outras

tantas, próximas, que passaram a ser influenciadas pela racionalidade da

capital do novo Estado.

Os projetos rodoviários continuaram e seguiram a lógica reinante, cuja

meta era a integração do País. Assim, o trecho da BR-101N (Niterói-Manilha)

teve suas obras iniciadas em 1974. Foram necessárias construções de pontes,

aterros, cortes de falésias, desapropriações de imóveis e dragagens intensas

para criação da base estrutural da estrada. Anteriormente a esses fatos, o

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18 desmatamento de grandes áreas de manguezais principiou o início das obras e

a degradação do ecossistema foi uma resultante. Inclusive, as praias já

mencionadas desapareceram com tal obra.

O bairro do Gradim, por exemplo, contou com uma forte indústria

pesqueira e um frondoso manguezal, no passado. Para construção da BR-

101N (Niterói-Manilha), este bairro teve sua área dividida em duas partes.

Nelas, as ruas foram separadas, famílias distanciaram-se umas das outras,

dado o corte acentuado no relevo, para passagem da mencionada rodovia.

Parte da faixa de mangue passou por aterros, inibindo a pesca artesanal do

caranguejo, que já ressentia-se com a elevada concentração de poluentes na

Baía de Guanabara. Um de nossos depoentes detalhou os fatos sobre tal

episódio:

...nascido e criado ali, dependendo da pesca para sobreviver. Criou os

filhos e depois teve que sair! (...) as casas ficavam justamente onde a estrada

tinha que passar. Teve muita briga e a indenização foi pouca. (...) era lei, tinha

que sair mesmo. (...) foram morar lá para dentro de Itaúna (São Gonçalo), onde

conseguiram uma casa mais barata.

Antigamente, o mar quase encostava no antigo prédio da Estrada de

Ferro Maricá (Leopoldina). Havia ali uma enseada, formada por manguezais,

que ia da fábrica de fósforos Fiat Lux ao Porto de Neves, no bairro de Neves.

Logo que a construção da Niterói-Manilha teve início, a paisagem dessa

enseada passou por modificações, vários aterros se sucederam, entre eles o

vazadouro de lixo da cidade de São Gonçalo, contribuindo nesse processo. À

medida em que as obras da rodovia foram terminando, os aterros alcançaram

suas margens. Assim, o bairro de Neves ganhou alguns quilômetros quadrados

e, nesse novo espaço, uma paisagem humanizada ocupou o lugar. Surgiram,

por intervenções públicas, duas escolas (municipal e estadual), posto de saúde

(municipal), ruas, além de uma igreja católica (Paróquia de Nossa Senhora das

Neves). Encontramos, ainda hoje, nas áreas aterradas, partes sem qualquer

uso do solo.

Como tudo na vida é envolto por objetivos políticos e/ou econômicos -

visível ou invisível - a rodovia, em linhas gerais, fora inaugurada em 1982 para,

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19 em tese, reduzir os congestionamentos nos fins de semana, na Alameda São

Boaventura (Fonseca - Niterói) e no trevo da Patrulha Rodoviária, em Tribobó

(São Gonçalo), no caminho para a região dos Lagos. Entretanto, as rodovias

federais como a Niterói-Manilha (BR-101N) são testemunhas do peso dos

fluxos numa área de alta divisão do trabalho e de comando das atividades

regionais e nacionais (SANTOS:2001).

Após a inauguração da BR-101N, em 1982, os bairros pesquisados

declinaram ainda mais nas atividades industriais e sociais, sendo que, nesse

momento, o declínio apresentava-se de forma mais visível. Principalmente pela

crise na indústria naval, que fez dos muitos estaleiros da Avenida do Contorno

verdadeiros cemitérios de navios. Além deles, outras fábricas se foram e

deixaram órfãos os seus operários e o movimento nos bairros. Aquela

paisagem, anteriormente movimentada, passava por um período de pausa,

onde apenas os objetos fragmentados eram percebidos, agora com maior

clareza.

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20

CAPÍTULO 2

IMPACTOS AMBIENTAIS

Os impactos ambientais devem ser entendidos como um desequilíbrio

provocado por um choque ecológico, resultante da ação do homem sobre o

meio ambiente ( desmatamento, erosão, aumento do efeito estufa, poluição,

etc. ) ou provenientes de acidentes naturais como a explosão de um vulcão,

meteoro, raio, etc. Este pode ser diferenciado em escala local, regional ou

global ou por ecossistema afetado : agrícola, urbano. Os grandes desastres

ambientais são pequenos se comparados aos danos cumulativos provocados

quotidianamente por um enorme número de poluentes menores.

Vale destacar que praticamente toda atividade humana tem um custo

ambiental. De modo particular todas as atividades econômicas causam

impacto sobre a sociedade e o ambiente, gerando, inclusive, riscos que, na

maioria das vezes, são excluídos das balanças patrimoniais e repassados pelo

sistema para a população, para o ambiente e para as gerações futuras

( Callenbach, E. et alii, 1993: 39 ).

É nesse contexto que se faz importante a realização de estudos de

impacto ambiental . Sua obrigatoriedade significou um marco na evolução do

ambientalismo brasileiro, já que até então, nos empreendimentos em geral

(vultuosos ou não ), apenas eram considerados as variáveis técnicas e

econômicas, sem qualquer preocupação mais séria com o meio ambiente.

2.1 - Avaliação de Impactos Ambientais (AIA)

Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) é uma ferramenta analítica de

caráter quantitativo e qualitativo que tem como intuito, predizer os impactos

causados pela ação antrópica, em diversos níveis, sejam eles sócio-

econômicos, culturais e geofísicos, assim como os métodos para sua mitigação

e exaltação dos impactos positivos. Sendo assim a AIA se mostra uma

ferramenta de extrema importância no estudo da utilização de recursos

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21 naturais, visando o não comprometimento de sua utilização por gerações

futuras, entrando assim no quadro de sustentabilidade.

É uma avaliação prévia de Impactos Ambientais prevista de forma

expressa no art. 225, parágrafo “ 1 “ inciso IV da Constituição Federal e no

artigo 9º, inciso III da Lei Federal n.º 6938/81.

Avaliação que visa equilibrar os efeitos do desenvolvimento de obras de

grande porte e, portanto de impacto significativo sobre o meio ambiente.

Envolve estudos aprofundados das prováveis modificações nas diversas

características sócio econômicas e biofísicas do meio ambiente que pode

resultar de um projeto proposto.

O Decreto 88.531, de 1º de junho de 1983, afirma que os critérios

básicos e diretrizes para implantação da AIA são responsabilidade do

CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente - órgão superior, consultivo

e deliberativo, do Sistema Nacional do Meio Ambiente ( SISNAMA ).

Os principais instrumentos da ação do CONAMA são sem dúvida

alguma suas Resoluções.

Conforme Resolução n.º 001/86 do CONAMA há uma lista de

empreendimentos para os quais os EIA-RIMA são obrigatórios, como:

ferrovias; estradas de rodagem; portos e terminais de minérios, petróleo e

produtos químicos; aeroportos; oleodutos, gasodutos e minerodutos ; linhas de

transmissão de energia elétrica acima de 230 KV; aterros sanitários,

processamentos e destino final de resíduos tóxicos; projetos urbanísticos;

distritos e zonas industriais dentre outros.

2.2 - Estudos de Impactos Ambientais (EIA)

Instrumento de controle e planejamento ambiental, que deve ser

elaborado antes da instalação de uma obra ou atividade potencialmente

causadora de significativa degradação do meio ambiente (Milaré, E Benjamins,

A, 1993: 10), Servindo como ferramenta de compatibilização entre

desenvolvimento e proteção ambiental.

Deve também respeitar o sigilo industrial ( se este for solicitado ) e pode

ser acessível ao público.

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22 O EIA também deve atender a legislação expressa na lei de Política

Nacional do Meio Ambiente . São elas:

a) Observar todas as alternativas ecológicas e de localização do

projeto, levando em conta a hipótese da não execução do projeto.

b) Identificar e avaliar os impactos ambientais gerados nas fases de

implantação e operação das atividades.

c) Definir os limites da área geográfica a se afetada pelos impactos

(área de influencia do projeto), considerando principalmente a “

bacia hidrográfica” na qual se localiza;

d) Levar em conta planos e programa do governo, propostos ou em

implantação na área de influência do projeto e se possibilidade de

serem compatíveis.

Possui um caráter preventivo, evitando que um projeto ( plano ou

atividade ), justificável sob o ponto de vista econômico ou em relação aos

interesses imediatos de seu proponente, se revele a posteriori prejudicial ao

meio ambiente.

Do ponto de vista científico, pode ser compreendido como o “estudo de

coleta de dados que prediz o resultado da introdução de novos fatores do

ecossistema envolvendo a avaliação de impactos ambientais em quatro fazes :

projeto, construção, operação e abandono” (Jain, R. et alii 1979 apud Milaré,

E. & Benjamim, H., 1993: 85 )

Todo EIA deve conter minimamente as seguintes atividades técnicas:

I - Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto, completa

descrição e análise de recursos ambientais e suas alterações, tal como existem

de modo a caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do

projeto considerando o meio físico, biológico e sócio econômico. (...);

II - Análise dos impactos ambientais do projeto e suas alternativas,

através da identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância

dos prováveis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e

negativos ( benéficos e adversos ), diretos e indiretos, imediatos e a médio

e longo prazos, temporários e permanentes, e seu grau de reversibilidade; suas

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23 propriedades cumulativas e sinérgicas, a distribuição dos ônus e benefícios

sociais;

III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre

elas os equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos,

avaliando a eficiência de cada uma delas.

IV - Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento

dos impactos positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem

considerados.

A resolução determina ainda, que todos os estudos sejam realizados por

“ equipe multidisciplinar habilitada”, não dependente direta ou indiretamente do

proponente do projeto e que será responsável tecnicamente pelos resultados

apresentados. O que não é rotina nas equipes dos órgãos públicos ou

estatais.

2.3 - Relatórios de Impacto sobre o Meio Ambiente (rima)

Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente que reflete as conclusões

do EIA . Deve ser elaborado de forma objetiva e possível de se compreender,

ilustrado por quadros, mapas, gráfico, enfim, por todos os recursos de

comunicação visual.

Deverá refletir as conclusões do EIA contendo as seguinte informações:

I - Os objetivos e justificativas do projeto;

II - Os processos técnico-operacionais utilizados;

III- As sínteses dos resultados dos estudos de diagnóstico ambiental

da área sob influência do projeto;

IV- A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e

operações das diferentes atividades a ele referentes.

V- Caracterzação da qualidade ambiental futura da área de

influência.

VI- A descrição dos efeitos esperados das medidas mitigadoras

previstas em relação aos impactos negativos, mencionando os

que não podem ser evitados.

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24 VII- O programa de monitoramento e acompanhamento dos impactos.

VIII- Recomendações quanto as alternativas mais favoráveis

conclusões e comentários gerais.

2.4 - A legislação e o Meio Ambiente

RESOLUÇÃO CONAMA Nº 237, de 19 de dezembro de 1997

O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA, no uso

das atribuições e competências que lhe são conferidas pela Lei nº 6.938, de 31

de agosto de 1981, regulamentadas pelo Decreto nº 99.274, de 06 de junho de

1990, e tendo em vista o disposto em seu Regimento Interno, e

Considerando a necessidade de revisão dos procedimentos e critérios

utilizados no licenciamento ambiental, de forma a efetivar a utilização do

sistema de licenciamento como instrumento de gestão ambiental, instituído

pela Política Nacional do Meio Ambiente;

Considerando a necessidade de se incorporar ao sistema de

licenciamento ambiental os instrumentos de gestão ambiental, visando o

desenvolvimento sustentável e a melhoria contínua;

Considerando as diretrizes estabelecidas na Resolução CONAMA nº

011/94, que determina a necessidade de revisão no sistema de licenciamento

ambiental;

Considerando a necessidade de regulamentação de aspectos do

licenciamento ambiental estabelecidos na Política Nacional de Meio Ambiente

que ainda não foram definidos;

Considerando a necessidade de ser estabelecido critério para exercício

da competência para o licenciamento a que se refere o artigo 10 da Lei no

6.938, de 31 de agosto de 1981;

Considerando a necessidade de se integrar a atuação dos órgãos

competentes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA na execução

da Política Nacional do Meio Ambiente, em conformidade com as respectivas

competências, resolve:

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25 Art. 1º - Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes

definições:

I - Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o

órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a

operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais

, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob

qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as

disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso.

II - Licença Ambiental: ato administrativo pelo qual o órgão ambiental

competente, estabelece as condições, restrições e medidas de controle

ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou

jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou

atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou

potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar

degradação ambiental.

III - Estudos Ambientais: são todos e quaisquer estudos relativos aos

aspectos ambientais relacionados à localização, instalação, operação e

ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentado como subsídio

para a análise da licença requerida, tais como: relatório ambiental, plano e

projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico

ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e

análise preliminar de risco.

III - Impacto Ambiental Regional: é todo e qualquer impacto ambiental

que afete diretamente (área de influência direta do projeto), no todo ou em

parte, o território de dois ou mais Estados.

Art. 2º - A localização, construção, instalação, ampliação, modificação e

operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais

consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem como os

empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação

ambiental, dependerão de prévio licenciamento do órgão ambiental

competente, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis.

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26 § 1º - Estão sujeitos ao licenciamento ambiental os empreendimentos e

as atividades relacionadas no Anexo 1, parte integrante desta Resolução.

§ 2º - Caberá ao órgão ambiental competente definir os critérios de

exigibilidade, o detalhamento e a complementação do Anexo 1, levando em

consideração as especificidades, os riscos ambientais, o porte e outras

características do empreendimento ou atividade.

Art. 3º - A licença ambiental para empreendimentos e atividades

consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa

degradação do meio dependerá de prévio estudo de impacto ambiental e

respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA), ao qual dar-

se-á publicidade, garantida a realização de audiências públicas, quando

couber, de acordo com a regulamentação.

Parágrafo único. O órgão ambiental competente, verificando que a

atividade ou empreendimento não é potencialmente causador de significativa

degradação do meio ambiente, definirá os estudos ambientais pertinentes ao

respectivo processo de licenciamento.

Art. 4º - Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos

Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, órgão executor do SISNAMA, o

licenciamento ambiental, a que se refere o artigo 10 da Lei nº 6.938, de 31 de

agosto de 1981, de empreendimentos e atividades com significativo impacto

ambiental de âmbito nacional ou regional, a saber:

I - localizadas ou desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em país

limítrofe; no mar territorial; na plataforma continental; na zona econômica

exclusiva; em terras indígenas ou em unidades de conservação do domínio da

União.

II - localizadas ou desenvolvidas em dois ou mais Estados;

III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais

do País ou de um ou mais Estados;

IV - destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar,

armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem

energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da

Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN;

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27 V- bases ou empreendimentos militares, quando couber, observada a

legislação específica.

§ 1º - O IBAMA fará o licenciamento de que trata este artigo após

considerar o exame técnico procedido pelos órgãos ambientais dos Estados e

Municípios em que se localizar a atividade ou empreendimento, bem como,

quando couber, o parecer dos demais órgãos competentes da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, envolvidos no procedimento de

licenciamento.

§ 2º - O IBAMA, ressalvada sua competência supletiva, poderá delegar

aos Estados o licenciamento de atividade com significativo impacto ambiental

de âmbito regional, uniformizando, quando possível, as exigências.

Art. 5º - Compete ao órgão ambiental estadual ou do Distrito Federal o

licenciamento ambiental dos empreendimentos e atividades:

I - localizados ou desenvolvidos em mais de um Município ou em

unidades de conservação de domínio estadual ou do Distrito Federal;

II - localizados ou desenvolvidos nas florestas e demais formas de

vegetação natural de preservação permanente relacionadas no artigo 2º da Lei

nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e em todas as que assim forem

consideradas por normas federais, estaduais ou municipais;

III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais

de um ou mais Municípios;

IV - delegados pela União aos Estados ou ao Distrito Federal, por

instrumento legal ou convênio.

Parágrafo único. O órgão ambiental estadual ou do Distrito Federal fará

o licenciamento de que trata este artigo após considerar o exame técnico

procedido pelos órgãos ambientais dos Municípios em que se localizar a

atividade ou empreendimento, bem como, quando couber, o parecer dos

demais órgãos competentes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios, envolvidos no procedimento de licenciamento.

Art. 6º - Compete ao órgão ambiental municipal, ouvidos os órgãos

competentes da União, dos Estados e do Distrito Federal, quando couber, o

licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades de impacto

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28 ambiental local e daquelas que lhe forem delegadas pelo Estado por

instrumento legal ou convênio.

Art. 7º - Os empreendimentos e atividades serão licenciados em um

único nível de competência, conforme estabelecido nos artigos anteriores.

Art. 8º - O Poder Público, no exercício de sua competência de controle,

expedirá as seguintes licenças:

I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento

do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção,

atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e

condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação;

II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento

ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos,

programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e

demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante;

III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou

empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das

licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes

determinados para a operação.

Parágrafo único - As licenças ambientais poderão ser expedidas isolada

ou sucessivamente, de acordo com a natureza, características e fase do

empreendimento ou atividade.

Art. 9º - O CONAMA definirá, quando necessário, licenças ambientais

específicas, observadas a natureza, características e peculiaridades da

atividade ou empreendimento e, ainda, a compatibilização do processo de

licenciamento com as etapas de planejamento, implantação e operação.

Art. 10 - O procedimento de licenciamento ambiental obedecerá às

seguintes etapas:

I - Definição pelo órgão ambiental competente, com a participação do

empreendedor, dos documentos, projetos e estudos ambientais, necessários

ao início do processo de licenciamento correspondente à licença a ser

requerida;

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29 II - Requerimento da licença ambiental pelo empreendedor,

acompanhado dos documentos, projetos e estudos ambientais pertinentes,

dando-se a devida publicidade;

III - Análise pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA ,

dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados e a realização de

vistorias técnicas, quando necessárias;

IV - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão

ambiental competente, integrante do SISNAMA, uma única vez, em

decorrência da análise dos documentos, projetos e estudos ambientais

apresentados, quando couber, podendo haver a reiteração da mesma

solicitação caso os esclarecimentos e complementações não tenham sido

satisfatórios;

V - Audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação

pertinente;

VI - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão

ambiental competente, decorrentes de audiências públicas, quando couber,

podendo haver reiteração da solicitação quando os esclarecimentos e

complementações não tenham sido satisfatórios;

VII - Emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer

jurídico;

VIII - Deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando-se a

devida publicidade.

§ 1º - No procedimento de licenciamento ambiental deverá constar,

obrigatoriamente, a certidão da Prefeitura Municipal, declarando que o local e o

tipo de empreendimento ou atividade estão em conformidade com a legislação

aplicável ao uso e ocupação do solo e, quando for o caso, a autorização para

supressão de vegetação e a outorga para o uso da água, emitidas pelos órgãos

competentes.

§ 2º - No caso de empreendimentos e atividades sujeitos ao estudo de

impacto ambiental - EIA, se verificada a necessidade de nova complementação

em decorrência de esclarecimentos já prestados, conforme incisos IV e VI, o

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30 órgão ambiental competente, mediante decisão motivada e com a participação

do empreendedor, poderá formular novo pedido de complementação.

Art. 11 - Os estudos necessários ao processo de licenciamento deverão

ser realizados por profissionais legalmente habilitados, às expensas do

empreendedor.

Parágrafo único - O empreendedor e os profissionais que subscrevem os

estudos previstos no caput deste artigo serão responsáveis pelas informações

apresentadas, sujeitando-se às sanções administrativas, civis e penais

Art. 12 - O órgão ambiental competente definirá, se necessário,

procedimentos específicos para as licenças ambientais, observadas a

natureza, características e peculiaridades da atividade ou empreendimento e,

ainda, a compatibilização do processo de licenciamento com as etapas de

planejamento, implantação e operação.

§ 1º - Poderão ser estabelecidos procedimentos simplificados para as

atividades e empreendimentos de pequeno potencial de impacto ambiental,

que deverão ser aprovados pelos respectivos Conselhos de Meio Ambiente.

§ 2º - Poderá ser admitido um único processo de licenciamento

ambiental para pequenos empreendimentos e atividades similares e vizinhos

ou para aqueles integrantes de planos de desenvolvimento aprovados,

previamente, pelo órgão governamental competente, desde que definida a

responsabilidade legal pelo conjunto de empreendimentos ou atividades.

§ 3º - Deverão ser estabelecidos critérios para agilizar e simplificar os

procedimentos de licenciamento ambiental das atividades e empreendimentos

que implementem planos e programas voluntários de gestão ambiental,

visando a melhoria contínua e o aprimoramento do desempenho ambiental.

Art. 13 - O custo de análise para a obtenção da licença ambiental deverá

ser estabelecido por dispositivo legal, visando o ressarcimento, pelo

empreendedor, das despesas realizadas pelo órgão ambiental competente.

Parágrafo único. Facultar-se-á ao empreendedor acesso à planilha de

custos realizados pelo órgão ambiental para a análise da licença.

Art. 14 - O órgão ambiental competente poderá estabelecer prazos de

análise diferenciados para cada modalidade de licença (LP, LI e LO), em

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31 função das peculiaridades da atividade ou empreendimento, bem como para a

formulação de exigências complementares, desde que observado o prazo

máximo de 6 (seis) meses a contar do ato de protocolar o requerimento até seu

deferimento ou indeferimento, ressalvados os casos em que houver EIA/RIMA

e/ou audiência pública, quando o prazo será de até 12 (doze) meses.

§ 1º - A contagem do prazo previsto no caput deste artigo será suspensa

durante a elaboração dos estudos ambientais complementares ou preparação

de esclarecimentos pelo empreendedor.

§ 2º - Os prazos estipulados no caput poderão ser alterados, desde que

justificados e com a concordância do empreendedor e do órgão ambiental

competente.

Art. 15 - O empreendedor deverá atender à solicitação de

esclarecimentos e complementações, formuladas pelo órgão ambiental

competente, dentro do prazo máximo de 4 (quatro) meses, a contar do

recebimento da respectiva notificação .

Parágrafo Único - O prazo estipulado no caput poderá ser prorrogado,

desde que justificado e com a concordância do empreendedor e do órgão

ambiental competente.

Art. 16 - O não cumprimento dos prazos estipulados nos artigos 14 e 15,

respectivamente, sujeitará o licenciamento à ação do órgão que detenha

competência para atuar supletivamente e o empreendedor ao arquivamento de

seu pedido de licença.

Art. 17 - O arquivamento do processo de licenciamento não impedirá a

apresentação de novo requerimento de licença, que deverá obedecer aos

procedimentos estabelecidos no artigo 10, mediante novo pagamento de custo

de análise.

Art. 18 - O órgão ambiental competente estabelecerá os prazos de

validade de cada tipo de licença, especificando-os no respectivo documento,

levando em consideração os seguintes aspectos:

I - O prazo de validade da Licença Prévia (LP) deverá ser, no mínimo, o

estabelecido pelo cronograma de elaboração dos planos, programas e projetos

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32 relativos ao empreendimento ou atividade, não podendo ser superior a 5

(cinco) anos.

II - O prazo de validade da Licença de Instalação (LI) deverá ser, no

mínimo, o estabelecido pelo cronograma de instalação do empreendimento ou

atividade, não podendo ser superior a 6 (seis) anos.

III - O prazo de validade da Licença de Operação (LO) deverá considerar

os planos de controle ambiental e será de, no mínimo, 4 (quatro) anos e, no

máximo, 10 (dez) anos.

§ 1º - A Licença Prévia (LP) e a Licença de Instalação (LI) poderão ter os

prazos de validade prorrogados, desde que não ultrapassem os prazos

máximos estabelecidos nos incisos I e II.

§ 2º - O órgão ambiental competente poderá estabelecer prazos de

validade específicos para a Licença de Operação (LO) de empreendimentos ou

atividades que, por sua natureza e peculiaridades, estejam sujeitos a

encerramento ou modificação em prazos inferiores.

§ 3º - Na renovação da Licença de Operação (LO) de uma atividade ou

empreendimento, o órgão ambiental competente poderá, mediante decisão

motivada, aumentar ou diminuir o seu prazo de validade, após avaliação do

desempenho ambiental da atividade ou empreendimento no período de

vigência anterior, respeitados os limites estabelecidos no inciso III.

§ 4º - A renovação da Licença de Operação(LO) de uma atividade ou

empreendimento deverá ser requerida com antecedência mínima de 120 (cento

e vinte) dias da expiração de seu prazo de validade, fixado na respectiva

licença, ficando este automaticamente prorrogado até a manifestação definitiva

do órgão ambiental competente.

Art. 19 - O órgão ambiental competente, mediante decisão motivada,

poderá modificar os condicionantes e as medidas de controle e adequação,

suspender ou cancelar uma licença expedida, quando ocorrer:

I - Violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas

legais.

II - Omissão ou falsa descrição de informações relevantes que

subsidiaram a expedição da licença.

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33 III - superveniência de graves riscos ambientais e de saúde.

Art. 20 - Os entes federados, para exercerem suas competências

licenciatórias, deverão ter implementados os Conselhos de Meio Ambiente,

com caráter deliberativo e participação social e, ainda, possuir em seus

quadros ou a sua disposição profissionais legalmente habilitados.

Art. 21 - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação,

aplicando seus efeitos aos processos de licenciamento em tramitação nos

órgãos ambientais competentes, revogadas as disposições em contrário, em

especial os artigos 3o e 7º da Resolução CONAMA nº 001, de 23 de janeiro de

1986.

2.5 - Atividades ou Empreendimentos sujeitas ao

Licenciamento Ambiental

Extração e tratamento de minerais

- pesquisa mineral com guia de utilização

- lavra a céu aberto, inclusive de aluvião, com ou sem beneficiamento

- lavra subterrânea com ou sem beneficiamento

- lavra garimpeira

- perfuração de poços e produção de petróleo e gás natural

Indústria de produtos minerais não metálicos

- beneficiamento de minerais não metálicos, não associados à extração

- fabricação e elaboração de produtos minerais não metálicos tais como:

produção de material cerâmico, cimento, gesso, amianto e vidro, entre outros.

Indústria metalúrgica

- fabricação de aço e de produtos siderúrgicos

- produção de fundidos de ferro e aço / forjados / arames / relaminados

com ou sem tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia

- metalurgia dos metais não-ferrosos, em formas primárias e

secundárias, inclusive ouro

- produção de laminados / ligas / artefatos de metais não-ferrosos com

ou sem tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia

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34 - relaminação de metais não-ferrosos , inclusive ligas

- produção de soldas e anodos

- metalurgia de metais preciosos

- metalurgia do pó, inclusive peças moldadas

- fabricação de estruturas metálicas com ou sem tratamento de

superfície, inclusive galvanoplastia

- fabricação de artefatos de ferro / aço e de metais não-ferrosos com ou

sem tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia

- têmpera e cementação de aço, recozimento de arames, tratamento de

superfície

Indústria mecânica

- fabricação de máquinas, aparelhos, peças, utensílios e acessórios com

e sem tratamento térmico e/ou de superfície

Indústria de material elétrico, eletrônico e comunicações

- fabricação de pilhas, baterias e outros acumuladores

- fabricação de material elétrico, eletrônico e equipamentos para

telecomunicação e informática

- fabricação de aparelhos elétricos e eletrodomésticos

Indústria de material de transporte

- fabricação e montagem de veículos rodoviários e ferroviários, peças e

acessórios

- fabricação e montagem de aeronaves

- fabricação e reparo de embarcações e estruturas flutuantes

Indústria de madeira

- serraria e desdobramento de madeira

- preservação de madeira

- fabricação de chapas, placas de madeira aglomerada, prensada e

compensada

- fabricação de estruturas de madeira e de móveis

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35 Indústria de papel e celulose

- fabricação de celulose e pasta mecânica

- fabricação de papel e papelão

- fabricação de artefatos de papel, papelão, cartolina, cartão e fibra

prensada

Indústria de borracha

- beneficiamento de borracha natural

- fabricação de câmara de ar e fabricação e recondicionamento de

pneumáticos

- fabricação de laminados e fios de borracha

- fabricação de espuma de borracha e de artefatos de espuma de

borracha , inclusive látex

Indústria de couros e peles

- secagem e salga de couros e peles

- curtimento e outras preparações de couros e peles

- fabricação de artefatos diversos de couros e peles

Indústria química

- produção de substâncias e fabricação de produtos químicos

- fabricação de produtos derivados do processamento de petróleo, de

rochas

betuminosas e da madeira

- fabricação de combustíveis não derivados de petróleo

- produção de óleos/gorduras/ceras vegetais-animais/óleos essenciais

vegetais e

Outros produtos da destilação da madeira

- fabricação de resinas e de fibras e fios artificiais e sintéticos e de

borracha e látex sintéticos

- fabricação de pólvora/explosivos/detonantes/munição para caça-

desporto, fósforo de segurança e artigos pirotécnicos

- recuperação e refino de solventes, óleos minerais, vegetais e animais

- fabricação de concentrados aromáticos naturais, artificiais e sintéticos

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36 - fabricação de preparados para limpeza e polimento, desinfetantes,

inseticidas, germicidas e fungicidas

- fabricação de tintas, esmaltes, lacas , vernizes, impermeabilizantes,

solventes e secantes

- fabricação de fertilizantes e agroquímicos

- fabricação de produtos farmacêuticos e veterinários

- fabricação de sabões, detergentes e velas

- fabricação de perfumarias e cosméticos

- produção de álcool etílico, metanol e similares

Indústria de produtos de matéria plástica

- fabricação de laminados plásticos

- fabricação de artefatos de material plástico

Indústria têxtil, de vestuário, calçados e artefatos de tecidos

- beneficiamento de fibras têxteis, vegetais, de origem animal e sintéticos

- fabricação e acabamento de fios e tecidos

- tingimento, estamparia e outros acabamentos em peças do vestuário e

artigos diversos de tecidos

- fabricação de calçados e componentes para calçados

Indústria de produtos alimentares e bebidas

- beneficiamento, moagem, torrefação e fabricação de produtos

alimentares

- matadouros, abatedouros, frigoríficos, charqueadas e derivados de

origem animal

- fabricação de conservas

- preparação de pescados e fabricação de conservas de pescados

- preparação , beneficiamento e industrialização de leite e derivados

- fabricação e refinação de açúcar

- refino / preparação de óleo e gorduras vegetais

- produção de manteiga, cacau, gorduras de origem animal para

alimentação

- fabricação de fermentos e leveduras

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37 - fabricação de rações balanceadas e de alimentos preparados para

animais

- fabricação de vinhos e vinagre

- fabricação de cervejas, chopes e maltes

- fabricação de bebidas não alcoólicas, bem como engarrafamento e

gaseificação de águas minerais

- fabricação de bebidas alcoólicas

Indústria de fumo

- fabricação de cigarros/charutos/cigarrilhas e outras atividades de

beneficiamento do fumo

Indústrias diversas

- usinas de produção de concreto

- usinas de asfalto

- serviços de galvanoplastia

Obras civis

- rodovias, ferrovias, hidrovias , metropolitanos

- barragens e diques

- canais para drenagem

- retificação de curso de água

- abertura de barras, embocaduras e canais

- transposição de bacias hidrográficas

- outras obras de arte

Serviços de utilidade

- produção de energia termoelétrica

-transmissão de energia elétrica

- estações de tratamento de água

- interceptores, emissários, estação elevatória e tratamento de esgoto

sanitário

- tratamento e destinação de resíduos industriais (líquidos e sólidos)

- tratamento/disposição de resíduos especiais tais como: de

agroquímicos e suas embalagens usadas e de serviço de saúde, entre outros

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38 - tratamento e destinação de resíduos sólidos urbanos, inclusive aqueles

provenientes de fossas

- dragagem e derrocamentos em corpos d’água

- recuperação de áreas contaminadas ou degradadas

Transporte, terminais e depósitos

- transporte de cargas perigosas

- transporte por dutos

- marinas, portos e aeroportos

- terminais de minério, petróleo e derivados e produtos químicos

- depósitos de produtos químicos e produtos perigosos

Turismo

- complexos turísticos e de lazer, inclusive parques temáticos e

autódromos

Atividades diversas

- parcelamento do solo

- distrito e pólo industrial

Atividades agropecuárias

- projeto agrícola

- criação de animais

- projetos de assentamentos e de colonização

Uso de recursos naturais

- silvicultura

- exploração econômica da madeira ou lenha e subprodutos florestais

- atividade de manejo de fauna exótica e criadouro de fauna silvestre

- utilização do patrimônio genético natural

- manejo de recursos aquáticos vivos

- introdução de espécies exóticas e/ou geneticamente modificadas

- uso da diversidade biológica pela biotecnologia

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39

CAPÍTULO 3

BAIRROS PESQUISADOS: TRANSFORMAÇÕES E

IMPACTOS

Em sua maioria, os bairros estudados, foram banhados no passado,

pelas águas da Baía de Guanabara, o que permitia maior facilidade no

recebimento da matéria-prima e o escoamento da produção. Nessa época, o

lugar ainda era preenchido por algumas fazendas em declínio.

Foi com a urbanização da Guanabara(1) (Distrito Federal) e a posterior

implantação (em 1930) de estratégias de proteção fabril, como financiamentos

e isenção de impostos, criados pelo Estado, que a região urbanizou-se

significativamente. Esta incorporou toda uma organização sócio-espacial,

criando uma nova paisagem para o lugar.

Em nossos bairros, as imagens dos antigos objetos fabris, visíveis ainda

hoje, nos remetem imaginariamente a uma paisagem onde, no passado, havia

toda uma vida social configurada. O tempo, de forma surpreendente, deixa que

apenas alguns dias em nossas vidas tomem forma e significação. Temos pistas

sobre experiências que se apresentam aos nossos olhos, reproduzidas por

palavras ou imagens que tentam ser detalhadas e fixadas.

As fábricas eram muitas, com variedade na produção (fósforos, vidros,

naval, tecidos, alimentos etc.) e preenchiam grandes áreas. Muitos eram os

seus operários. Alguns residiam nas vilas operárias dessas fábricas, outros em

loteamentos que foram surgindo nas proximidades da estrada de ferro e dos

trilhos dos bondes.

A Cia. Fluminense de Manufatura (Tecidos), por exemplo, localizada no

Barreto, produzia em larga escala. Com seu apito, informava os horários de

entrada, almoço e saída. Ao longe era possível escutá-lo, conforme

percebemos nos depoimentos orais.

A fábrica era grande. Tinha pra mais de 3.000 funcionários. Era uma

multidão de gente. Eles trabalhavam divididos em turnos. Saíam e entravam,

às 4 horas, depois às 15 horas... Era trabalhador entrando e saindo o tempo

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40 todo, o dia todo. ...você via de manhã os operários descendo de bonde ou pela

rua Dr. March a pé. (...) os apitos das fábricas davam, pra nós, o sentimento de

hora, vamos dizer assim...

Podemos perceber que o sentido de lugar e a experiência da paisagem

são nitidamente temporais, constituídos de lembranças. Neste ambiente

impregnado de sensações, mostra em quais pontos as relações com o meio

são modeladas pelas coletividades às quais pertencem (CLAVAL, 1999).

...Para o trabalhador o prazer de ficar quieto é esgotante. (...) Mas, se,

por acaso, o som ou o apito agudo de uma fábrica (...) atinge o seu ouvido; (...)

logo sua fronte se ilumina. (...) A fumaça das altas chaminés da fábrica, os

golpes retumbantes da bigorna a fazem vibrar de alegria. Lembra os dias

felizes de trabalho... (BENJAMIN, 1989:36).

Nessa atmosfera fabril, podemos sentir imaginariamente os sons e os

cheiros (aromáticos ou nauseantes) que exalaram no

passado.Consequentemente, esse espaço preenchido pela atividade industrial

também deu lugar ao comércio, com ruas que detinham muito movimento todo

o dia, um ir e vir constante e freqüente. A rua era marcada pela velocidade do

pedestre (SENNET:1993). Sujeitos a povoam para ver os seus diferentes

cenários: uniformes e atraentes, com cores e luzes (LEFEBVRE, 1999).

... o comércio do Barreto era espetacular. A Ilha do Viana(2)

descarregava mais ou menos uns 3.000 trabalhadores. Tinha os funcionários

da Fiat Lux(3) e o pessoal da tecido. Em Neves, tanto do lado direito como do

esquerdo tinha muito comércio. Havia botequins, farmácias, armazéns de

secos e molhados, feijão em saca. (...) Neves tinha tudo, sem precisar ir para

Niterói. ...o comércio era todo garantido pelos portugueses que vinham

imigrados...

Os imigrantes estrangeiros chegavam ao País e eram levados para a

Hospedaria de Imigrantes, na Ilha das Flores (Baía de Guanabara), em frente

ao bairro de Neves, onde eram tratados das muitas enfermidades contraídas

durante a viagem do país de origem para o Brasil. Posteriormente, eram

encaminhados aos diversos centros de atividades do País. Alguns partiam

rumo ao interior, outros mantinham-se nos bairros industriais, formando futuras

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41 colônias, como no bairro de Porto Velho e imediações, que possuem grandes

contingentes de portugueses.

Muitos dos imigrantes, quando dispunham de autorização, saíam da Ilha

das Flores pelo porto do Bote, chegando ao porto de Neves. Por várias vezes,

eles foram vistos por nossos entrevistados na paisagem urbana.

...A Ilha era guardada por fuzileiros navais. (...)Os imigrantes vinham, às

vezes, comprar em Neves, quando estavam em quarentena, aguardando os

documentos e esperando o lugar de seu destino. Eles vinham de barco até

Neves. Lembro que causava muita estranheza o tipo físico dos imigrantes. As

moças estrangeiras usavam saias mais curtas que as nossas. Os homens,

sempre de paletó. Eram europeus, não sei de que país. Eram muito brancos.

Sei que, depois, iam para as colônias, em outros lugares, pela Leopoldina (4).

Neste contexto, percebemos que o trem reveste-se de importante

significado material e simbólico, seja por sua funcionalidade, como meio de

transporte de cargas ou passageiros ou ainda por sua importante visibilidade.

O trem vinha do interior e descarregava as mercadorias na Estação do

Barreto (Niterói). Era assim, tudo que eles plantavam, traziam da roça pra

vender aqui. Traziam de tudo: verduras, legumes... Saltavam também

passageiros ali.... O chique mesmo era tomar o trem e ir para fora, pela

estação da Feliciano Sodré. Todo mundo andava bem arrumado. Famílias

inteiras. (...) O trem era um espetáculo. (...) Quando chegava na cidade ia

fazendo seu checo, checo, checo.... (...)Era uma beleza ouvir o trem apitando

quando chegava na cidade. Até aqui no Barreto ele apitava.

Em Paula (2000:65 apud Costa, 1994:116), encontramos a descrição

das estações ferroviárias como "espaço social de poderoso poder de atração

por significar o novo ligado ao sentido de desenvolvimento e porque as

pessoas aí encontravam um local adequado às inspirações mundanas, ou de

lazer, além de uma visualidade nova".

As estações estavam localizadas às margens dos núcleos de produção,

facilitando o desempenho do conjunto fabril. Toda a efervescência da dinâmica

dessa paisagem, foi ilustrada nos relatos orais.

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42 ...as pessoas, na maior parte, saltavam em Neves ou Barreto. Tudo

naquela área era indústria, né. Saltavam ali na Vidreira, no Porto Velho,(...) ali

a gente ia pra dentro do Gradim, pra fábrica de sardinha Piracema. Ia tudo a

pé...

O bonde teve uma vida urbana útil e agradável para os seus usuários;

inclusive, os nossos entrevistados, por muitas vezes, reportaram-se a este

ícone da paisagem.

...Nele viajava todo mundo. (...) eu gostava de andar de bonde, era

fresquinho, todo aberto. Na praça do Barreto tinha uma parada de bonde

coberta e, em baixo, dois bares pequenos.

... Eu entrava no bonde e não parava de ler a frase (...) de propaganda:

"Veja, ilustre passageiro, que belo tipo faceiro que o senhor tem ao seu lado.

No entanto, acredite, quase morreu de bronquite. Salvou-se com Ron

Crosatar".

Os anúncios presentes nos bondes expressavam claramente o nível de

desenvolvimento técnico e urbano da realidade na qual eles estavam inseridos.

Tais anúncios tinham funções diversas: informativas, ilustrativas. No entanto,

esses anúncios eram muito mais uma "ferramenta analítica que pode expressar

os valores materiais e culturais de uma sociedade determinada" (SANT'ANNA,

1997:90).

Como o lugar era composto por muitas vilas, era comum observar seus

operários sob forte laço de solidariedade e sociabilidade. Quando reunidos,

faziam o lazer coletivo em várias épocas do ano e nos muitos espaços dos

bairros.

Nas praças, principalmente a Enéas de Castro, no Barreto, era comum o

ponto de encontro dos moradores locais e de outros lugares, além daqueles

que permaneciam por ali, após o horário de trabalho, freqüentando os bares,

restaurantes, quiosques, que circundavam a área.

...A praça era muito bonita, tinha muitas árvores, (...) um chafariz, um

coreto. No Carnaval, uma banda tocava para as pessoas dançarem. (...) O

melhor carnaval de Niterói era o do Barreto. Os filhos saíam fantasiados. Era

tudo família. Era muita alegria. A praça ficava cheia. ...havia aquilo assim, as

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43 moças passeavam pela rua. Iam e voltavam. Os rapazes ficavam em pé na

beira da calçada, olhando as moças passeando e dali, às vezes, saía um

namoro ou então, saía um casamento...

As praias do Barreto e Paiva (Neves), então com águas claras, limpas e

mansas (até aproximadamente a década de 1960), atraíam a população para o

banho de mar, piqueniques, campeonatos náuticos e outros eventos.

...A praia que eu conheci era muito limpa. Não tinha muitas ondas, (...)

você podia ficar à vontade, não era perigosa. ...A praia do Barreto não tinha

muita areia, mas era bem movimentada. (...) Nós sempre íamos lá, com as

meninas, quando elas eram pequenas. Tinha um tipo de cais de pedras. Ele

gostava de pescar lá....Ir à praia no final de semana era um bom programa pra

quem tinha poucas condições de sobrevivência. ...Eu cheguei a tomar banho

no Paiva. Quando a maré estava cheia você podia tomar banho, quando tava

rasa, não. Não era "aquela" praia, mas dava para você tomar banho ali.

As crianças brincavam na frente de suas casas e nas áreas livres era

comum, aos domingos, o encontro de moradores nas peladas de futebol. O

ponto máximo das festas públicas era ao ar livre, especialmente em Neves.

Aos domingos havia os shows de calouros, com os artistas do rádio.

...Havia muitos terrenos baldios, (...) nestes campos do Vila Lage.(...)

Assistia aos shows na praça, porque não tinha outra diversão, além do cinema

e era mais barato. Tinha muito parque também. (...) Neves dificilmente ficava

sem um parque..

Em outras épocas do ano, predominavam as festas religiosas, juninas,

além das procissões dos santos padroeiros. Esses festejos iluminavam a

paisagem dos bairros fabris, com muitos balões e fogos de artifícios. Inclusive,

toda a comunidade participava da organização desses eventos.

...Tinha muita quadrilha. O pessoal ainda usava aquelas roupas longas.

(...) Nas fogueiras se assava muita batata doce. (...) Tinha muito melado. Era

uma festa que todos podiam ficar até a meia-noite, uma hora da manhã, que

não havia assaltos. Era tudo família...

Havia uma prática comum entre as fábricas: patrocinar os festejos do 1º

de maio para os seus funcionários e demais dependentes.

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44 ...os festejos iniciavam às 7 horas e só terminavam às 24 horas. Não

faltavam os fogos de artifícios, os balões, a fogueira, a banda de música e a

farta distribuição de guloseimas aos operários e respectivas famílias.(FARIA,

1990:50)

Qual seria o olhar dos operários para a festa? Seria de encantamento,

surpresa ou mesmo de decepção? Percebemos que havia certo contentamento

na referida comemoração. O céu noturno deveria ter muita luz e brilho com os

balões e os fogos, que eram soltos no festejo. Somente com a imaginação

desse espaço desenhado, podemos sentir e perceber as emoções, tornando-as

presentes, com formas, cores e movimentos expressivos naquela paisagem.

Pois, a

...imagem, o imaginário parecem mergulhar no fluxo temporal e

prolongá-lo; no entanto, a essência do imaginário situa-se, talvez na evocação,

na ressurreição do passado, ou seja, numa repetição. Isso aproximaria a

imagem da lembrança e o imaginário da memória...(LEFEBVRE, 1991:24-5)

Eram muitos os clubes esportivos ou fabris que nasciam patrocinados

pelas fábricas ou sindicatos. Neste espaço, a comunidade reunia-se para os

bailes com famosas orquestras, nos fins de semana e ao longo do ano. Havia

também festejos carnavalescos, juninos, além de vários campeonatos

esportivos e outros eventos.

Não podemos afirmar que no passado, essa paisagem teve em algum

momento, beleza visível. Entretanto, os vários relatos orais que analisamos nos

fazem pensar quão bom era o tempo passado, ali vivido. Temos conhecimento

de problemas crônicos, como: enchentes em certas ruas dos bairros e várias

lutas sindicais por melhorias trabalhistas, que durante anos movimentaram as

imagens das ruas do lugar. Somando-se a isto havia também, uma forte

repressão que a massa operariada (marítimos, navais, metalúrgicos,

ferroviários e outros) sofreu ao longo dos anos.

...Na rua Benjamim Constante tinha o Sindicato dos Marítimos. Aquilo

ali fervia. O sindicato promovia todas as greves. Quando o sindicato dos

Marítimos promovia uma greve, era parada geral na nação. Outras classes de

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45 trabalhadores aderiam. Hoje tá parado. Naquele tempo era forte. Depois de

1964, muita gente foi presa, o exército tomou conta...

Os bairros fabris, juntamente com outras áreas do antigo Estado do Rio

de Janeiro, iniciaram um processo de esvaziamento industrial, nas décadas de

1960 e 1970, isto ocasionado, em linhas gerais, pelo distanciamento da

matéria-prima, altos custos energéticos e de transportes. Por muitas vezes,

fábricas foram incorporadas por suas concorrentes que, após a compra,

procediam ao seu fechamento (fábrica de Bebidas Ron - Merino, comprada

pela Cinzano - São Paulo). Tudo isto, associado a um modelo industrial arcaico

e também à política econômica das oligarquias locais, que não ofereciam

incentivos fiscais para manutenção dos referidos estabelecimentos ou

implementavam políticas de consolidação do parque industrial.

Claro que os fatos acima estiveram associados ao novo regime pós-

1964, que passou a exercer maior oposição aos movimentos sindicais,

promovendo o esvaziamento fabril e, por conseqüência, dando fim às reuniões

coletivas nas vilas operárias, que eram foco de oposição ao governo.

3.1 - O Bairro de Neves

O bairro de Neves, com uma população 13.413 habitantes em 1996,

cerca de 3.300 propriedades imobiliárias, com arrecadação de IPTU

correspondente a 3,77% da arrecadação municipal é um bairro considerado

urbano. ( FIG 20 ).

O 11º Batalhão de Polícia Militar - RJ tornou-se visível no início da

década de 1970, em Neves, São Gonçalo. Ele foi construído para fortalecer a

repressão política, que naquela época tornava-se implacável. O interessante

hoje, é observar na paisagem a inexistência de tal Batalhão, verificando em seu

lugar, apenas um laboratório farmacêutico da Polícia Militar.

Essa época foi marcada, de um lado, por um país com significativas

mudanças políticas e estruturais no esquema produtivo e, de outro, por maior

seletividade geográfica da produção industrial (Santos, 2001), influenciada por

uma nova dinâmica dos sistemas de transportes.

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46 O novo Estado do Rio de Janeiro apresentava-se com "baixa

conectividade, o que resultava em uma integração precária tanto entre a cidade

do Rio de Janeiro e o interior" (Limonad, 1996, p.145), reforçando ainda mais

os desequilíbrios na estrutura industrial.

Como que para minimizar as deficiências viárias estruturais, ainda em

1967, inauguraram a Avenida do Contorno, possibilitando mais um acesso

viário ao município de São Gonçalo. Para sua construção, foram feitos

aterros, desmontes de morros e criados viadutos. Vários portos livres de

atracação no litoral desapareceram, como também empresas comerciais e

industriais. O projeto da Avenida do Contorno fora executado anteriormente

como parte de um projeto maior que, posteriormente, seria unido à implantação

da Ponte Rio-Niterói (1974) e, na década de 80, à rodovia Niterói-Manilha

(BR101- N), alterou bastante a paisagem na orla marítima, no sentido Zona

Norte de Niterói, bem com a construção da Ponte Presidente Costa e Silva, que

também modificou acentuadamente as imagens no bairro de Santana, onde

vários aterramentos e desmontes de prédios residenciais, comerciais e

industriais foram providenciados, para que os viadutos de acesso à ponte

fossem construídos. Os viadutos se integraram às seguintes Avenidas:

do Contorno, Jansen de Mello, Alameda São Boaventura e Feliciano Sodré.

Construíram, também, outros viadutos, para manter normalmente o fluxo viário

entre os bairros da Zona Norte ao centro da cidade de Niterói.

Em 26/10/92, a rede Carrefour do Brasil inaugurou a sua 4ª loja no

Estado do Rio de Janeiro, precisamente em Neves, São Gonçalo. Seria este o

início da chegada de novos objetos à região estudada. A referida loja foi

construída em tempo recorde e foram investidos 15 milhões de dólares.

Derrubaram por completo o prédio principal, chaminé e o bosque da quase

centenária fábrica de Fósforos Fiat Lux, para dar lugar ao novo hipermercado e

o seu estacionamento, com capacidade para 1.430 vagas. O referido

empreendimento construiu acesso pela rodovia Niterói-Manilha (BR101-N),

facilitando a chegada dos que partissem da cidade do Rio de Janeiro ou Niterói

para a região dos Lagos e outras cidades do norte do Estado.

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47 Opiniões dividiram-se quanto ao hipermercado:

...há os que acham que o Carrefour levará os pequenos comerciantes

regionais ao colapso. (...) As redes de lojas primam pela qualidade, amplas

lojas, com número reduzido de funcionários, por causa dos encargos sociais...

(...) outros consideravam a concorrência estimulante para os negócios...(Jornal

O Fluminense de 01 a 07 de novembro de 1992 - 3º Caderno - p. 5)

O hipermercado Carrefour, controlado pelo grupo francês Comptoirs

Modernes, possui placas sígnicas, que podem ser identificadas à longa

distância na paisagem das estradas em que estão expostas, além do forte

poder publicitário que envolve a imagem desse Supermercado.

Entretanto, à medida que o hipermercado se popularizava, os pequenos

comércios (quitandas, mini-mercados, açougues etc.) foram desaparecendo.

Estes, perdiam na concorrência e nos vários benefícios estatais que a empresa

global recebera para sua implantação e fixação no local. O hipermercado

tornava-se mais atraente ao lugar e aos passantes pela Niterói-Manilha. Já os

antigos objetos comerciais não suportaram a concorrência e muitos acabaram

fechando, deixando vazios visíveis na paisagem. Esta observação também foi

ilustrada em alguns depoimentos orais:

...O Carrefour é muito utilizado por gente de fora, que entra e sai pela

rodovia Niterói-Manilha. Ele não traz vida ao bairro.

...Para vender as coisas lá na quitanda ainda existe o caderninho.

Anotamos o que o freguês compra e no final do mês ele vem e paga a gente.

Se não for assim, não dá nem para vender.

...O comércio hoje não suporta muito tempo, logo fecha.

Outro exemplo de benefícios que o novo hipermercado recebera, logo

após sua chegada, foram linhas e pontos de ônibus, bem como os de táxis,

colocados à saída do estabelecimento, pela rua Oliveira Botelho. Toda uma

"maquiagem" (novo asfalto, placas de sinalização e calçadas) no trecho do

hipermercado foi promovida pelo poder público. O lugar começava uma

mudança paisagística, compondo com aquele objeto global. Isto seria refletido

nos anos posteriores, com a chegada de outros objetos, que se somariam

àquela aparência e significação no espaço.

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48 Os imóveis localizados em frente ao hipermercado, foram cooptados

para recompor suas imagens. Novos conteúdos foram anexados às antigas

formas, as quais desapareceram, surgindo uma nova visibilidade, compatível

esteticamente com a empresa global. Assim, consultórios médicos e

odontológicos criaram seus espaços, não concorrendo com o hipermercado,

mas aproveitando-se de sua visibilidade, freqüência e centralidade para se

estabelecerem.

Esta nova visibilidade fria, não gera laços de pertencimentos com a

população local. Destina-se a reformar / disciplinar, num intenso processo de

banalização do mundo da mercadoria. Chegaram os objetos globais, os

grandes hipermercados, que apenas fortalecem o declínio dos pequenos

comércios locais.

3.2 O bairro do Gradim

O Bairro do Gradim, Bairro com aproximadamente 12500 habitantes,

cerca de 3500 propriedades imobiliárias, com arrecadação de IPTU

correspondente a 1,53% da arrecadação municipal é um bairro considerado

urbano, devido aos serviços urbanos que oficialmente dispõe, ( FIG. 18)

( PMSG, 1998, 1999 )

Ele com certeza é um dos bairros que serviu de palco para a

história do município de São Gonçalo, o que é evidenciado por guardar até

hoje alguns monumentos históricos que conseguiram resistir a ação do tempo e

do homem. Mas se encontra esquecido e abandonado foi também área de

grandes indústrias que deram centenas de empregos a população local e a

bairros vizinhos, hoje é um Bairro carente. Localizado à orla da Baía de

Guanabara é cortado em toda a sua extensão pela Rodovia Niterói Manilha,

( FIG. 01 ), Grande parte da população do Bairro vive da pesca que é uma

das principais atividades econômicas de São Gonçalo. De acordo com a

Prefeitura, a cidade concentra cinco mil trabalhadores formais e informais

empregados nesse segmento, mas boa parte deles ainda usa técnicas

artesanais para pescar. O bairro do Gradim contou com uma forte industria

pesqueira e um frondoso manguezal, no passado, para a construção da BR-

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49 101N ( Niterói – Manilha ), este bairro teve sua área dividida em duas partes.

Nelas as ruas foram separadas, famílias distanciaram-se uma das outras,

dando o corte acentuado ao relevo, para passagem da mencionada rodovia.

Parte da faixa de mangue passou por aterros, inibindo a pesca artezanal do

caranguejo, que já ressentia-se com a elevada concentração de poluentes na

Baía de Guanabara. ( ARAÚJO, 2002 )

Um de nossos depoentes detalhou os fatos sobre tal episódio. ...

nascido e criado ali, dependo da pesca para sobreviver. Criou os filhos e

depois teve que sair! (...) as casas ficavam justamente onde a estrada tinha

que passar. Teve muita briga e a indenização foi pouca (...) era lei, tinha que

sair mesmo (...) foram morar lá para dentro de Itaúna, onde conseguiram uma

casa mais barata.

É no Gradim, mais precisamente na Comunidade do Pontal, primeiro

ponto onde a rodovia corta o bairro do Gradim ( FIG. 02 ), que vamos iniciar

nossa pesquisa. Ali nos deparamos com a Comunidade de pescadores onde

se formou uma grande favela com 126 barracos, conhecida como Favela do

Gato. ( Dados constatados por esta pesquisa )

Os medidores de energia instalados pela ampla a pouco tempo no

paredão que cerca a favela ( FIG. 04 ), não costumam ser usados pois não é

a toa que a Favela do Gato é conhecida por esse nome. Ali, a rua não é

pavimentada, é cercada de mato e muito esburacada. Alguns dos barracos

são ocupados por pescadores que residem fora da comunidade, mas a maioria

reside no local e sobrevive do que extrai do mar. Ao lado da favela fica

localizada a escola de pesca Ascânio de Faria, ( FIG. 03 ) Inaugurada pelo

governo do estado em 1999 para oferecer aos pescadores, a comunidade,

aos seus filhos e esposas, educação, treinamento específico na atividade de

pesca, cursos profissionalizantes e infra estrutura e reinaugurada em 2003

Através de parceria entre a FAETEC e FIPERJ, é uma tentativa de melhor

qualificar os profissionais, ensinando técnicas que vão da melhor

armazenagem a limpeza do peixe. As moradias instaladas a beira mar

encontra-se desativada e com toda a sua imensa área ociosa. ( FRAUCHES,

2005 ).

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50 Ainda no bairro do Gradim, na sua avenida principal encontramos os

mesmos traços: Rua com muitos buracos, sem pavimentação e uma

hidrelétrica de médio porte segundo o vigia diurno, Sr Osvaldo Sampaio que

trabalha no local há 12 anos e relatou estar a hidrelétrica fechada a mais de 15

anos. Conta o Sr. Osvaldo que a hidrelétrica gerava energia para bairros como

Gradim, Porto Velho, Porto Novo, Porto da Pedra e Paraíso e que as

instalações estão perfeitas, mas se deteriorando devido a ação do tempo.

“Constatado por esta pesquisa”, ( FIG. 05 ).

Seguindo a margem da rodovia, no mesmo bairro, encontramos a

companhia de conservas Sulpesca, ( FIG. 06 ) empresa que já empregou

grande parte da população do bairro e de bairros vizinhos e hoje encontra –se

desativada, assim como a companhia de conservas Rubi ( FIG. 07 ) localizada

na mesma avenida que também encontra-se fechada a mais de seis anos

segundo o morador Sérgio Vilela, morador e ex- funcionário da empresa

( constatado por esta pesquisa ).

Construída em 1645, situada no antigo Porto da Ponte, atual

comunidade do Pontal, no bairro do Gradim, também fica às margens da Baía

da Guanabara e da rodovia Niterói – Manilha. É símbolo da resistência

histórica. Resistiu a construção da Rodovia e a pavimentação da via principal

onde a via se dividiu e a capela ficou localizada no centro da rua. ( FIG. 08 )

A Segunda capela do local, a de São Pedro não teve a mesma sorte extinguiu-

se com a construção da estrada ( FIG 09 ), já um pouco transformada,

inclusive o seu telhado, fica ao lado esquerdo de um armazém muito antigo em

estilo colonial. Existe próximo a esta Capela, uma gruta que é objeto de

estudos arqueológicos, possivelmente uma mina dos índios para extração de

barro, destinado a confecção de objetos de cerâmica e adornos. Apesar da

antigüidade da construção e da importância histórica para o município a capela

não é tombada pelo patrimônio histórico conta o Sr Luiz Antonio Quintanilha,

Presidente do conselho da capela e o Tesoureiro Sr. Francisco Medeiros

acrescentando que a capela exerce diversas atividades como: Catequese aos

domingos a tarde, missa aos domingos pela manhã, distribuição de alimentos a

famílias carentes da comunidade quinzenalmente na Pastoral da caridade o

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51 que no seu ver lhe daria condições de funcionar como uma igreja

independente, mas a capela hoje não tem autonomia pois está filiada a

Paróquia São José dos Operários localizada no mesmo bairro. ( CAPELAS,

FAZENDAS E ENGENHOS , 1973 - Livro de Atas da paróquia e relatos do

Conselho Administrativo Local )

3.3 – Impactos causados pela urbanização

A pavimentação da avenida principal dos Bairros do Gradim e do

Porto Novo, Bairros que se ligam e se confundem nos seus limites começa na

praça onde estão localizados o ponto final do ônibus, a capela e a fábrica de

conservas Sulpesca e termina logo após ao Clube Náutico, ( Cerca de dois

quilômetros de pavimentação ). Bem próximo as estes pontos esta localizado

um conjunto residencial de grande porte, ( FIG. 10 ) com 24 blocos de 16

apartamentos totalizando 384 apartamentos mais da metade esta vazio

devido a falta d’água na região que sempre foi disputada com as fábricas de

conservas, hoje com o Piscinão e o shopping segundo o Sr. José Antonio

Gonçalves, Zelador do condomínio. Fundado em 1958, o Clube Náutico,

atende a classe média do município que são sócios e ou proprietários de

embarcações. Segundo o Sr. Maurício lemos Que trabalha no clube como

porteiro em escala de 24 x 24 horas e diz não conhecer nenhum sócio que

resida no bairro ou nas imediações. Após o clube a avenida continua cheia de

buracos e o abandono é visível tanto nas construções residenciais, quanto nas

comerciais. ( FIG. 11 ) A degradação, o abandono e o descaso se estende a

partir daí por um grande trecho e vamos encontrar sinais disto bem próximo.

Logo a frente, no outro lado da rodovia, a Favela da Salga na divisa com o

bairro Porto Novo pendurada a margem da rodovia, ( FIG. 12 ) tornou-se

palco de deslizamento de barreiras, desmoronamento de barracos, queimadas

provocadas por motoristas que lançam pontas de cigarros as margens da pista,

infestação de ratos e de outros diversos animais nocivos. ( Dados

constatados por esta pesquisa )

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3.4 - O bairro do Porto da Pedra , oásis Impactado

O bairro do Porto da Pedra, é um bairro considerado urbano, e tem

uma pequena parte da sua área cortada pela rodovia Niterói – Manilha. A

população é de cerca de 15.000 habitantes e possui em torno de 4.000

propriedades imobiliárias. A arrecadação de IPTU ocupa a posição relativa a

1,80% da arrecadação total do município. Possui 65 ruas que são atendidas

pelos serviços sociais e urbanos em taxas bastante reduzidas na área próxima

a rodovia. ( FIG. 19 ) PMSG, 98,99

Localizado na orla da Baía de Guanabara, já foi um dos locais onde

encontrou-se grande parte dos manguezais, do município de São Gonçalo,

manguezais estes que mesmo fazendo parte da APA de Guapimirim, Área de

preservação ambiental há algum tempo vem sofrendo grande degradação.

( ARAÚJO, 2002 )

Hoje encontra-se quase que totalmente degradado, e várias são as

causas. Dentre elas: o crescimento, a migração, o processo de ocupação

desordenado, aterro de grande parte de sua área com fins comerciais,

políticos, urbanísticos , imobiliários e do grande crescimento populacional e

industrial. No Porto da Pedra está localizada a Praia das Pedrinhas, pouco

freqüentada pela população gonçalense, pois por muitos anos esteve

esquecida suja e sem acesso. Hoje com a grande especulação comercial

devido a construção do shopping e turística com a construção do Piscinão bem

próximo a praia, ela recebeu pavimentação da sua orla, asfaltamento das ruas

facilitando assim o acesso. A realidade hoje é outra. Apreciar o pôr do sol,

comer um peixinho frito e beber uma cervejinha gelada no litoral de São

Gonçalo ficou mais agradável e confortável. As praias da Luz e das Pedrinhas

foram urbanizadas e se tornaram um espaço de fácil acesso para quem gosta

de curtir um happy hour em contato direto com a natureza. As melhorias

incluem arborização, acesso pavimentado, e quiosques padronizados. Além

disso as praias ganharam um calçadão, que depois das 17 horas fica cheio de

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53 gente em busca de tranqüilidade. ( BELCHIOR, 2005 e Dados colhidos por

esta pesquisa )

Para reconstruirmos tal paisagem, buscamos interpretar as falas de

alguns sujeitos, que julgam possuir os cenários da região estudada gravados

na memória, pois entendemos os que “ através da memória os relatos orais

criam uma espécie de cartografia mental, na qual o espaço, mais que o tempo,

fornece os marcadores significativos e as qualidades ideais são situadas

simbolicamente” ( SAMUEL, 1977:43 )

3.5 - Porto da Pedra, progresso ou preservação da vida?

Saindo do bairro do Porto Novo e entrando no bairro do Porto da

Pedra a visão que se tem das margens da rodovia é de um grande contraste.

No trecho da rodovia próximo ao shopping e ao Piscinão volta a pavimentação

nas orlas, mas não como a pavimentação encontrada nos bairros anteriores a

este, o Porto Novo e o Gradim que são apenas dois quilômetros contando os

dois bairros de paralelepípedos apenas na rua principal. ( ARAÚJO, 2002 )

O que se vê nesse trecho é uma pavimentação com traços

avançados, contrastando com a paisagem dos trechos anteriores e

posteriores. Este fato se justifica devido a este trecho ser eleito para se

instalar e abrigar construções de grande importância turística, econômica e

financeira para o Município, mas qual o preço que a população local terá que

pagar por isso? Ruas limpas, asfaltadas, viadutos são traços bem visíveis

nesta área, mas se olharmos ao fundo veremos uma favela maquiada e

acuada. ( FIGURA 13 ) O bairro do Porto da Pedra esta vivendo um

momento de sonho com a construção do imponente complexo comercial, o

São Gonçalo Shopping Rio ( FIGURA 14 ). O conjunto dos relatos foram

dimensionados por meio de várias imagens. Estas imagens acabaram por

comprovar a existência de tais ícones na paisagem do passado e presente.

Pois entendemos que a “ imagem daquele que se lembra, assim como um

bom relatório arqueológico deve não apenas indicar as camadas das quais se

originam seus achados, mas também antes de tudo, aquelas outras que foram

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54 atravessadas anteriormente” ( BENJAMIM, 1995 ). O Shopping promete trazer

conforto, comodidade, e bem estar aos moradores do bairro do Porto da Pedra

e do Município de São Gonçalo. Inaugurado em março de 2004 o São

Gonçalo shopping é fruto do casamento de uma cidade com alta densidade

demográfica e a falta até então de um grande centro comercial, como acredita

Marcos Evangelho, superintendente do estabelecimento. A resposta da

iniciativa é comprovada pelos números: Desde a inauguração o volume de

venda aumentou 45% e hoje, o Shopping gera cerca de 2,5 mil empregos

diretos e 3,0 mil indiretos. ( BELCHIOR, 2005 )

Mas com toda a sua imponência, não foi capaz de trazer o tal conforto

aos moradores vizinhos ainda favelados e sem água, diz a Sra. Almecides

Siqueira, residente a rua Abílio José de Mattos próximo ao shopping.

A grande promessa para o turismo e o lazer na região, o Piscinão,

localizado entre os bairros de Porto da Pedra e Boa Vista, ( FIGURA 15 ) foi

construído em área aterrada do manguezal, sacrificando assim diversas

espécies vegetal e animal e trazendo um enorme desequilíbrio ao meio

ambiente, e para completar, bem ao lado do Piscinão está localizado outra

obra faraônica, onde a área aterrada que também sacrificou uma imensa área

de manguezal. ( ARAÚJO, 2002 ) A Estação de Tratamento de esgoto do

Programa de despoluição da baía de Guanabara Do governo do Estado ( FIG.

19, FIG. 16 ), também é uma obra que trouxe para os moradores do bairro

mais prejuízos que benefícios já que foi instalada em área aterrada do

Manguezal e o seu objetivo principal não foi alcançado pois o projeto foi

abandonado. O governo pretendia implantar o Programa de Despoluição da

Baía de Guanabara, um conjunto de obras de saneamento básico que tinha o

propósito de reverter o quadro vivido hoje pela Baía de Guanabara; além de

atuar em coleta de lixo, projetos ambientais, macrodrenagem e mapeamento

digital. A mais de cinco anos parada, representa mais um transtorno para a

população local, uma grande ameaça ao meio ambiente e prejuízo aos cofres

públicos. ( ARAÚJO, 2002 )

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55 A partir do Piscinão e da estação de tratamento (FIG.17)

termina definitivamente a pavimentação na orla da rodovia. (Dados

constatados por esta pesquisa )

3.6 - As Novas Paisagens

A década de 1990 representa um período em que novas imagens

passam a ser anexadas a esse espaço urbano. Tal mudança implica o retorno

das atividades econômicas nesses bairros. Entretanto, tais mudanças

representam o novo, que vem sendo acrescido a essa paisagem com sutileza e

relativa lentidão.

No entanto, as ruínas fabris, que continham a visibilidade de um período

fluente e efervescente do lugar, vêm sendo postas abaixo. Tal fato vem sendo

observado pelo olhar atento do pesquisador e por outros sujeitos, que de forma

direta ou indireta estão inseridos nesse movimento.

Por isto, Leite (2001, p.434) afirma que "as formas da paisagem não

correspondem, portanto, à idéia de finalização, mas a uma idéia de

transformação. Mais ainda, estão, necessariamente, impregnadas de conteúdo

existencial, são formas de identidade e de memória. As formas da paisagem

refletem (...) as categorias estáticas de estar, existir, permitir; (...) e a ação

como causa e conseqüência da espacialização, isto é, privilegia a idéia de

mobilidade, criatividade, participação."

Os mais jovens desconhecem os vários objetos e sujeitos que

preencheram a paisagem do lugar no passado. Já os mais antigos retêm uma

identificação espontânea com as coisas desse lugar, suas virtudes, que,

mesmo que memorialisticamente, são realçadas "como um imã" (Santos, 1996,

p. 201). Com o desaparecimento dos vários objetos, vemos que a atual

população, nesse contexto, torna-se ausente, desprendida, desterritorializada

de suas origens. Percebemos, então, que as referências da vida econômica e

social passam por outros lugares distantes do seu cotidiano, resultando em

"redes sociais que percorrem tanto fios como estradas. Desse modo, seu senso

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56 de identidade com a comunidade (ou comunidades) é muitas vezes obtido à

distância, é imaginado" (Anderson, apud Trift, 1996, p. 241).

Para reconstruirmos tal paisagem, buscamos interpretar as falas de

alguns sujeitos, que julgamos possuir os cenários da região estudada gravados

na memória, pois entendemos que "através da memória os relatos orais criam

uma espécie de cartografia mental, na qual o espaço, mais que o tempo,

fornece os marcadores significativos e as qualidades ideais são situadas

simbolicamente" (SAMUEL, 1997:43).

Identificamos nesse contexto, a importância da memória coletiva

(Halbwachs:1990) como detentora de importante papel ao determinar o

conteúdo da memória social, onde cada indivíduo elabora, expressa-se e

utiliza-se dos instrumentos de comunicação convencionados pela sociedade

como, por exemplo, a linguagem falada. Este é um instrumento socializador da

memória, ao reduzir, unificar e levar para o mesmo "espaço histórico e cultural

a imagem do sonho, a imagem lembrada e as imagens da vigília atual" (BOSI,

1979:18).

Acreditamos que cada indivíduo possua através da consciência histórica

e, por conseqüência, da consciência coletiva, a superação da visão nostálgica

ou submissa ao passado. Percebemos nele processos e forças exteriores a si

próprio: um ser ao mesmo tempo sujeito e objeto de mudança. Assim,

encontramos nos depoimentos orais, vários elementos que foram transmitidos

pelos sujeitos, incluindo suas percepções, significações, idéias e lembranças.

As falas dos sujeitos que foram selecionados para oralidade primam pelo

seu tempo de vivência e convivência com a região estudada. Podemos,

inclusive, dizer que esses sujeitos são os "guardiões da memória", como Le

Goff (1999) interpreta, dada a significativa reconstrução da paisagem que os

mesmos se propõem a relatar.

Buscamos respeitar a memória por eles descrita, já que estes

apresentaram no interior de suas falas, a capacidade de evocar imagens,

experiências e conhecimentos, tornando com isso, estes elementos presentes

como recordações; sendo estas a chave, para que as muitas portas da

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57 memória desses sujeitos fossem abertas, apresentando-nos diferentes

paisagens.

Sabemos agora, que ao usarmos o método da oralidade, encontramos

um encadeamento de fatos que foram traduzidos pela memória, a qual é

seletiva. Pois, nem tudo por ela registrado pode ser induzido e forjado.

Acreditamos que isto ocorra, devido à plasticidade adequada a diversos

processos de "modelagem", oriundos de uma intensa gama de interesses e

agentes, onde as interpretações do passado dependem do contexto atual. A

reinterpretação do passado passa muitas vezes, pelas lentes do tempo

presente, pois recriando-o, mesmo que inconscientemente, buscamos quando

necessário, reproduzir um significado aceitável para o presente.

Neste contexto, detectamos que a paisagem materializa-se, servindo

como referência imediata à memória coletiva; de certa forma, esta constitui-se

numa espacialização da memória, categoria fundamental no desenvolvimento

de nossa investigação, uma vez que todo fato, evento e acontecimento ligam-

se de forma indissolúvel ao lugar onde o mesmo ocorreu, bem como o

funcionamento da paisagem, relembrando Berque (1998): marca e matriz.

[...] A paisagem tem uma dimensão morfológica, ou seja, é um

conjunto de formas criadas pela natureza e pela ação humana, e uma

dimensão funcional, isto é, apresenta relações entre as suas diversas partes.

Produto da ação humana ao longo do tempo, a paisagem apresenta uma

dimensão histórica “. ( CORRÊA, 1998 )

O homem por sua vez, derruba florestas e, em lugar delas, faz

plantações, escava o solo para extrair minerais, represa a água dos rios para

produzir energia elétrica, constrói prédios, viadutos, fábricas poluindo rios,

lagos, mangues, oceanos e assim, por diante.

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CONCLUSÃO É comum se vender algo para ganhar dinheiro, mas não quando se

trata de vida. O que vemos hoje são grandes capitais aliados aos governantes

fazendo obras faraônicas visando muitos lucros ou prestígio político e pouco se

importando com a conseqüência de seus atos, ficando a natureza cada vez

mais modificada e, em muitos lugares, até mesmo destruídos e isto não é

diferente nos bairros de Neves Gradim, e Porto da Pedra no município de

São Gonçalo como pudemos ver no decorrer deste trabalho. De igual modo a

especulação imobiliária nos dias de hoje com as construções de prédios,

condomínios, shopping, Centros de lazer ( Piscinão ) e algumas indústrias

vem destruindo imensas áreas verdes, áreas de preservação ambiental, como

reservas florestais, manguezais e etc.. A construção de estradas tem reduzido

as áreas naturais, dividido comunidades e criando barreiras para as espécies

nativas. Tudo em nome do progresso, tudo em nome do capital financeiro, da

exploração capitalista. ... a memória não é um instrumento para a exploração

do passado; é, antes, o meio. É o meio onde se deu a vivência, assim como o

solo é o meio no qual as antigas cidades estão soterrada ( BENJAMIN, 1994 )

As questões ambientais que hoje atravessamos são qualitativa e

quantitativamente diferentes de qualquer coisa acontecida antes, e, como

preceitua Paul Kenned (KENNED, 1993), "tantas pessoas vêm causando danos

ao ecossistema mundial neste século que esse sistema como um todo - e não

apenas suas várias partes - corre perigo". A modernidade dentro de sua

promessa de "aventura, poder, alegria, crescimento, auto transformação e

transformação das coisas a seu redor (...) é ao mesmo tempo ameaça a tudo

que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos" (BERMAN, 1988). Os

problemas ambientais surgem porquê cada vez mais pessoas exigem padrões

de vida mais altos com tecnologia mais baratas, mesmo que os subprodutos

involuntários incluam a degradação dos solos, os poluentes tóxicos, a extinção

de espécies animais ou a alteração climática.

Identificamos nesse contexto, a importância da memória coletiva

como detentora de importante papel ao determinar o conteúdo da memória

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59 social, onde cada indivíduo elabora, expressa-se e utiliza-se dos instrumentos

de comunicação convencionados pela sociedade como, por exemplo, a

linguagem falada. Este é um instrumento socializador da memória, ao reduzir,

unificar e levar ao mesmo “ espaço histórico e cultural a imagem do sonho, a

imagem lembrada e as imagens da vigília atual” ( BOSI, 1983 ).

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FIGURA 01 - MAPA COM OS LIMITES DE SÃO GONÇALO E A SITUAÇÃO DA RODOVIA NITERÓI - MANILHA CORTANDO O MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO COMO UMA OPÇÃO PARA LIGAR O RIO DE JANEIRO A REGIÃO DOS LAGOS. FONTE: ICBEU, Online

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FIGURA 02 - Primeiro ponto onde a estrada Niterói – Manilha corta o bairro do Gradim. Comunidade do Pontal – Comunidade de pescadores onde se formou uma grande favela com 126 barracos, conhecida como Favela do Gato. Alguns barracos são ocupados por pescadores que residem em ouro local, mas a maioria reside no local e vive do que extrai do mar. Nota-se um total abandono. A rua sem calçamento, sem asfalto e com muitos buracos. FONTE: Foto Tirada Pelo Autor.

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FIGURA 03 - Escola de pesca localizada na Comunidade do Pontal, no bairro do Gradim. Fica ao lado da Favela do Gato e foi construída com infra- estrutura para oferecer aos pescadores e aos moradores da comunidade, cursos profissionalizantes para as mulheres e filhos dos pescadores, assim como organizar as atividades dos trabalhadores do mar. Hoje abandonada. FONTE: Foto Tirada Pelo Autor.

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FIGURA 04 - Marcadores de energia na entrada da “ Favela do Gato” FONTE: Foto Tirada Pelo Autor

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FIGURA 05 - Hidrelétrica que já forneceu energia não só ao Gradim, mas a vários bairros de São Gonçalo. Hoje abandonada. FONTE: Foto Tirada Pelo Autor

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FIGURA 06 - Companhia de Conservas Sulpesca, que já empregou grande parte da população do Gradim e de outros bairros vizinhos. Hoje desativada. FONTE: Foto Tirada Pelo Autor.

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FIGURA 07 - Companhia de Conservas Rubi, abandonada há dois anos FONTE: Foto Tirada Pelo Autor

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FIGURA 08 - Capela de São João Batista – Construída em 1645 é um símbolo da resistência histórica. Resistiu a construção da estrada Niterói – Manilha e a pavimentação da via principal, onde a via se dividiu e a capela ficou localizada no centro da rua. a Segunda capela, a de São Pedro não teve a mesma sorte, extinguiu-se com a construção da estrada. FONTE: Foto Tirada Pelo Autor.

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FIGURA 09 - Local onde esteve instalada a Capela de São Pedro, Monumento histórico do Município, construída por volta de 1700, foi demolida para dar passagem a estrada Niterói – Manilha. FONTE: Foto Tirada Pelo Autor.

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FIGURA 10 -Complexo residencial do Gradim - Conjunto residencial com 24 blocos e 192 apartamentos, quase todos abandonados devido a falta d’água na região que sempre foi disputada com as industrias de conservas, estaleiros, atualmente com o Piscinão e o Shopping. FONTE: Foto Tirada Pelo Autor.

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FIGURA 11 - Continuação da avenida após o Clube Náutico, acaba a pavimentação e o abandono é visível tanto nas construções residenciais quanto nas comerciais. FONTE: Foto Tirada Pelo Autor

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FIGURA 12 - Favela da Salga, ainda no Bairro do Gradim, divisa com o bairro do Porto Novo, pendurada a margem da rodovia, retrato do descaso das autoridades para com as vidas que ali residem. FONTE: Foto Tirada Pelo Autor.

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FIGURA 13 - Trecho da Rodovia próximo ao Shopping e ao Piscinão. Bairro do Porto da Pedra. Volta a pavimentação nas orlas, mas as favela continuam sem água e sem infra estrutura. FONTE: Foto tirada pelo autor

Favela

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FIGURA 14 - Shopping São Gonçalo, Bairro do Porto da Pedra. Com toda sua infra estrutura e imponência não foi suficiente para trazer conforto aos moradores locais, ainda favelados e sem água FONTE: Foto tirada pelo autor

Favela

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FIGURA 15 - Piscinão de São Gonçalo, Divisa entre os Bairros de Porto da Pedra e Boa Vista. construído em grande área aterrada do Manguezal. Ponto onde termina definitivamente a pavimentação na orla da rodovia. FONTE: Foto tirada pelo autor

Rodovia

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FIGURA 16 - Estação de Tratamento de esgoto da CEDAE. Ponto final desta pesquisa. Localizado ao lado do Piscinão de São Gonçalo, entre os Bairros de Porto da Pedra e Boa Vista, encontra-se desativado. FONTE: Foto tirada pelo autor

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FIGURA 17 - LOCALIZAÇÃO DO PISCINÃO, SHOPPING, E ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DA CEDAE EM RELAÇÃO A RODOVIA E A BAÍA. ICBEU. Online

ESTAÇÃO DE TRATAMENTO

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GRADIM População: 12.403 habitantes em 1996 O Gradim possui 3.438 propriedades imobiliárias, assim distribuídas

A arrecadação de IPTU no bairro ocupa a seguinte posição relativa ao conjunto do município

O Gradim possui 80 ruas. O Gráfico a seguir mostra a quantidade de ruas atendidas pelos serviços urbanos abaixo discriminados:

FIGURA 18 - GRÁFICOS COM ÍNDICES ESTATÍSTICOS DO BAIRRO DO GRADIM. FONTE: PMSG 1998, 1999

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81 PORTO DA PEDRA

População: 15.794 habitantes em 1996 O Porto da Pedra possui 4.256 propriedades imobiliárias, assim distribuídas

A arrecadação de IPTU no bairro ocupa a seguinte posição relativa ao conjunto do

município

O Porto da Pedra possui 65 ruas. O Gráfico a seguir mostra a quantidade de ruas atendidas pelos serviços urbanos abaixo discriminados:

FIGURA 19 - GRÁFICOS COM ÍNDICES ESTATÍSTICOS DO PORTO DA PEDRA. FONTE: PMSG 1998, 1999

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FIGURA 20 - GRÁFICO COM DADOS ESTATÍSTICOS SOBRE O BAIRRO DE NEVES - FONTE: PMSG 1998, 1999 .