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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
AVALIAR PARA MELHOR ENSINAR
Por: Cristiane Gomes da Silva
Orientadora: Ana Cristina Guimarães
Rio de Janeiro
2004
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
AVALIAR PARA MELHOR ENSINAR
Apresentação de monografia à Universidade Candido
Mendes como prévia para a conclusão do Curso de
Pós- Graduação “Lato Sensu” em Supervisão Escolar.
Por: Cristiane Gomes da Silva
AGRADECIMENTOS
A Deus que me concedeu a oportunidade de concluir
mais uma etapa em minha vida.
Ao Ramiro, meu amor, pela compreensão da minha
ausência, em função da dedicação aos estudos.
Aos meus pais, pois me deram muita força nas horas
que mais precisei.
DEDICATÓRIA
Dedico esse livro à minha família, ao meu amor
Ramiro, pelo apoio prestado, pelo aprendizado da
humildade e pelo exemplo de amor e fé.
RESUMO
Esta obra reúne reflexões sobre avaliação por uma escola de
qualidade, fornecendo meios para tornar a avaliação escolar mais justa.
Uma avaliação que deve ser expressa por palavras de amor e incentivo e
não por grilhões estáticos que impeçam o aluno de mostrar sua criatividade.
O trabalho aqui explicitado pretende destacar a avaliação como meio
de fornecer dados que permitam verificar diretamente o nível de
aprendizagem dos alunos, para melhor qualidade de ensino. Mais adiante
abordaremos a avaliação como determina a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional.
Concluindo esta obra, pode-se destacar brevemente que esta
pretende ao longo da sua escrita, pressupor uma mudança da avaliação
quantitativa para uma qualitativa. Enfim, uma avaliação mais formativa que
respeite a individualidade do aluno e busca a regulação da aprendizagem.
Nesta abordagem, o professor é figura importante que passa a desenvolver
seu trabalho diversificando a aplicação dos conhecimentos dia-a-dia, onde
avaliar só se justifica se tiver o propósito de melhor ensinar. Tal qual diz o
título principal.
METODOLOGIA
A metodologia adotada neste trabalho foram análises de textos,
revistas, internet, vários livros foram consultados e procurou-se encontrar
uma maneira de sintetizá-los numa obra que tivesse o caráter de
objetividade e riqueza de dados, que possam ajudar no entendimento da
avaliação do desempenho escolar; se destina a apoiar docentes, discentes,
pais e responsáveis pela Educação em busca da qualidade de ensino
através da avaliação qualitativa, tornando o assunto compreensível e
atraente aos leitores.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I 10
AVALIAÇÃO E SUAS CONCEPÇÕES 10
CAPÍTULO II 17
AVALIAR PARA APRENDER E ENSINAR 17
CAPÍTULO III 24
AVALIAÇÃO E A NOVA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA 24
EDUCAÇÃO BÁSICA
CAPÍTULO IV 30
A IMPORTÂNCIA DOS RELATÓRIOS DE AVALIAÇÃO 30
CAPÍTULO V 34
AVALIAÇÃO FORMATIVA 34
CONCLUSÃO 42
REFERÊNCIAS 45
ÍNDICE 48
FOLHA DE AVALIAÇÃO 49
8
INTRODUÇÃO
A escola é educativa por si mesma, pela circunstância de seu
relacionamento com a sociedade, sendo educativa em sua forma de
ensinar, aprender e na organização de seu trabalho.
A concepção de avaliação que perpassa essa lógica é a de um
processo que deve abranger a organização escolar como um todo, as
relações internas à escola, o trabalho docente, a organização do ensino, o
processo de aprendizagem do aluno e, ainda, a relação com a sociedade.
O capítulo I, aborda a avaliação e suas concepções como avaliação
da aprendizagem e avaliação do rendimento escolar. Trata-se de rever a
concepção de avaliação, apoiado em princípios e valores comprometidos
com a formação do cidadão.
O capítulo II, fornece meios para que se possa entender que a
avaliação está diretamente ligada ao ato de aprender X ensinar e que o erro
pode ser visto como virtude.
Mais adiante, no capítulo III, menciona-se a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (9394/96) como pressuposto para Avaliação
Qualitativa, esclarecendo sobre a formação dos ciclos escolares.
O capítulo IV registra a importância dos Relatórios de Avaliação para
a boa ação do professor no desenvolvimento de seu trabalho.
Enfim, o capítulo V sugere uma transformação em avaliação.
Pressupõe uma mudança significativa na forma de avaliar. Uma avaliação
que ajuda o aluno a aprender e o professor a ensinar.
CAPÍTULO I
Avaliação e suas concepções
AVALIAÇÃO E SUAS CONCEPÇÕES
A avaliação é um exercício mental que permite a análise, o
conhecimento, o diagnóstico, a medida e/ou julgamento de um objeto. Esse
objeto deve ser a própria realidade e daqueles que o fazem. Avaliar seria um
processo de auto- conhecimento e, também, o conhecimento da realidade e
da relação dos sujeitos com essa realidade. Seria um processo de análise,
julgamento, recriação e/ou ressignificação das atitudes que fazem parte
dessa realidade e das pessoas que a mantêm.
Questionam-se, assim, os processos de avaliação da aprendizagem
dos alunos que estão, usualmente centradas num desempenho cognitivo,
sem referência a um projeto político- pedagógico da escola, e, ainda, o
sentido das avaliações escolares que se têm direcionado, especialmente,
para o ato de aprovar ou reprovar os alunos.
Em oposição, o conceito de avaliação baseia-se na perspectiva de
inter- estruturação do conhecimento, entendendo à ação de avaliar como
processual e reveladora das possibilidades de construção de um processo
educativo mais rico e mais dinâmico. Parte do pressuposto de que as
diferenças são positivas e fundamentais para o crescimento dos sujeitos no
processo de conhecimento da realidade.
Se a educação é concebida como um direito à escola e as
diferenças são positivas e fundamentais para o crescimento dos sujeitos e
do grupo do qual fazem parte, não caberia à escola o papel de classificar,
excluir ou sentenciar os alunos. A avaliação deveria dar prioridade a
identificação dos problemas, dos avanços e verificar as possibilidades de
redirecionamento e de continuidade do processo educativo. A avaliação se
constituiria num processo investigador e formativo contínuo, do qual
professores, alunos e pais poderiam participar ativamente.
O ato de avaliar deve estar fundamentado nos seguintes critérios:
1. Continuidade: a avaliação deve estar presente durante todo o processo
educacional e não somente em períodos específicos;
2. Compatibilidade com o objetivo proposto: a avaliação deve estar em
conformidade com os objetivos definidos como norteadores do processo
educacional para que venha realmente cumprir a função de diagnóstico;
3. Amplitude: a avaliação deve estar presente em todas as perspectivas do
processo educacional, avaliando assim todos os comportamentos do
domínio(cognitivo, afetivo e psicomotor)
4. Diversidade de forma: para avaliar devemos utilizar as várias técnicas
possíveis visando também todos os comportamentos do domínio.
Com base nestes pressupostos, podemos afirmar que a realidade do
processo avaliativo é completamente oposta a filosofia da educação
problematizadora necessária em nossas escolas.
O modelo classificatório de avaliação, onde os alunos são
considerados aprovados ou não aprovados, oficializa a concepção de
sociedade excludente adotada pela escola. O resultado da avaliação é
considerado portanto, como uma sentença, um veredicto oficial da
capacidade daquele aluno que fica registrado e é perpetuado para o
resto de sua vida. O mais triste porém é que a publicação dos resultados
não revela o que o aluno conseguiu aprender, é um resultado fictício,
definindo um perfil, pela cristalização desse falso resultado.
Rever a concepção de avaliação é rever sobretudo as concepções
de conhecimento, de ensino, de educação e de escola. Impõe pensar em
um novo projeto pedagógico apoiado em princípios e valores
comprometidos com a criação do cidadão. Somente após essa
consciente revolução é que a avaliação será vista como função
transformadora da realidade.
1.1- Avaliação da Aprendizagem
O termo avaliar tem sido constantemente associado a expressões
como: fazer prova, fazer exame, atribuir nota, repetir ou passar de ano. Esta
associação, tão freqüente em nossa escola é resultado de uma concepção
pedagógica arcaica, porém tradicionalmente dominante. Nela a educação é
memorização de informações prontas e o aluno é visto como um ser passivo
e receptivo.
Dentro de uma concepção pedagógica mais moderna, baseada na
psicologia genética a educação é concebida como experiência de vivência
multiplicada e variadas, tendo em vista o desenvolvimento motor, cognitivo,
objetivo e social do educando. Nessa abordagem o educando é um ser ativo
e dinâmico, que, participa da construção de seu próprio conhecimento.
Se educar é formar e aprender é construir o próprio saber, a
avaliação contempla dimensões, e não se reduz apenas em atribuir notas.
Dentro dessa visão o ato de ensinar e aprender, consiste na
realização em mudanças e aquisições de comportamentos motores,
cognitivos, afetivos e sociais; o ato de avaliar consiste em verificar se eles
estão sendo realmente atingidos e em que grau se dá essa consecução,
para ajudar o aluno a avançar na aprendizagem e na construção do seu
saber. nessa perspectiva, a avaliação assume um sentido orientador e
cooperativo.
Em termos gerais, avaliação deve ser integral, considerando o aluno
como um ser total e integrado e não de forma fragmentada.
O ato de avaliar fornece dados que permitem verificar diretamente o
nível de aprendizagem dos alunos, e também, indiretamente determinar a
qualidade do processo de ensino. Ao avaliar o progresso de seus alunos na
aprendizagem, o professor pode obter informações valiosas sobre o seu
próprio trabalho. Nesse sentido a avaliação tem uma função de retro-
alinhamento ou feedback, porque fornece ao professor dados para que ele
possa repensar ou replanejar sua atuação didática, visando aperfeiçoá-la
para que seus alunos obtenham mais êxito na aprendizagem.
1.2- Avaliação do Rendimento Escolar
Uma das causas do fracasso escolar, está diretamente relacionada à
prática pedagógica do professor, pois é este, que avalia de acordo com seus
critérios e procedimentos. Sendo assim é ele o responsável pela exclusão ou
inclusão do educando na instituição. Como diria Thereza Penna Firme,
educadora e pesquisadora:
Avaliar não é reprovar, mas sim, compreender e promover, a cada momento, o desenvolvimento pleno da criança, do jovem ou de qualquer indivíduo ou grupo social que se submeta ao processo de aprendizagem em geral. ( FIRME. 1996, p.32)
Avaliação é o instrumento transformador, um processo abrangente
que implica numa reflexão sobre o fazer pedagógico; não se pode confundir
avaliação com nota ou conceito.
O insucesso escolar precisa ser repensado. As situações de ensino-
aprendizagem devem levar ao crescimento e não ao fracasso. Sucesso e
insucesso não são opostos mas lados da mesma moeda.
A avaliação da aprendizagem está interligada com a avaliação do
desempenho e com a avaliação do currículo, dentro do contexto escolar.
Enfatiza o aprender que é o ato que o sujeito exerce sobre si
mesmo, e não registrar, obter informações e reproduzi-las. Consiste em
resolver problemas, criar e reinventar soluções. O aluno aprende quando
consegue ultrapassar conflitos.
O professor como o mediador deve criar uma situação provocante
para causar desequilíbrio em relação ao assunto proposto, favorecendo com
isto a tomada de consciência do aluno e a percepção de que ele tem o
poder de mudanças e transformação. Desta forma podemos citar:
A avaliação da aprendizagem neste contexto, buscará ir além da simples aplicação de testes, provas e tentará verificar o rendimento através da produção livre, relacionamentos, expressões próprias, explicações práticas, simulações, etc...(MUZAKANI, 1986,p.16)
O fracasso escolar durante algum tempo foi relacionado a deficiência
intelectual e à pobreza. É obvio que a falta de alimentação básica e as
mudanças oriundas de um ambiente sem o mínimo de higiene na qual a
criança está inserida, interferem no rendimento escolar da mesma. Porém, é
importante lembra, que o fracasso escolar pode ser gerado a partir da
escola.
O professor é a figura principal no contexto do ensino. Sendo ele o
principal agente educativo, é evidente que melhorias no ensino terão mais
chance de ocorrer se a ele forem dadas condições adequadas de trabalho.
Dessa maneira, a instituição educacional buscará capacitá-los, para que ele
possa desenvolver de modo mais eficiente e possível as atividades didático-
pedagógicas; incentivará o desenvolvimento de seu espírito crítico, para que
ele possa formar o aluno para esse fim; fornecerá a ele condições de
trabalho digno, tais como salário, plano de carreira etc., chamando a
participar ativamente em decisões importantes do processo de ensino, tal
como dirá Napier & Hayman:
Assim a avaliação nas instituições deve encorajar a comunicação entre colegas e subordinados, envolvendo problemas comuns e a solução deles em colaboração; [...] diminuir a desconfiança entre os vários níveis do sistema educativo, facilitar o clima para mudanças e melhorias, encorajar a auto-crítica e o desenvolvimento pessoal. (NAPIER & HAYMAN, 1979.p.55)
CAPÍTULO II
Avaliar Para Aprender e Ensinar
AVALIAR PARA APRENDER E ENSINAR
“A avaliação escolar, hoje só faz sentido se tiver o intuito de buscar
caminhos para a melhor aprendizagem” (HOFFMANN, 2003,p.18)
Pode-se dizer que existem alguns princípios importantes a serem
considerados por todos os que se preocupam com a aprendizagem do
aluno, que são:
1. A aprendizagem deve envolver o aluno, ter um significado com o
seu contexto, para que realmente aconteça;
2. A aprendizagem é pessoal, pois envolve mudanças individuais;
3. Objetivos reais devem ser estabelecidos para que a
aprendizagem possa ser significativa para os alunos;
4. Como a aprendizagem se faz um processo contínuo, ela precisa
ser acompanhada de fedback visando fornecer os dados para
eventuais correções;
5. Como a aprendizagem envolve todos os elementos do sistema, o
bom relacionamento interpessoal é fundamental.
Desta maneira é importante citar Santos (1961), para que possamos
complementar e dar continuidade a nosso estudo, visto que complementa:
Ensinar não é transmitir dogmaticamente conhecimentos, mas dirigir e incentivar com habilidade e método, a atividade espontânea e criadora do educando. Nessas condições, o ensino compreende todas as operações e processos que favorecem e estimulam o curso vivo e dinâmico da aprendizagem. (SANTOS, 1961, p.23)
Entretanto, na realidade das escolas, quando procuramos decodificar
o significado de ensinar, as idéias definem o professor como agente principal
e responsável pelo ensino, sendo as atividades centralizadas em suas
qualidades e habilidades. Aprender também relaciona um único agente
principal e responsável, o aprendiz (aluno), estando as atividades centradas
em suas capacidades, possibilidades e condições para que aprenda.
Na verdade, poucos são os que fogem ao conceito de educação
bancária, ou seja, o saber não passa de uma doação dos que se julgam
sábios aos que julgam que nada sabem, cabendo então aos sábios dar,
entregar, transmitir o seu grande saber. Então, a educação se torna um
simples ato de depositar, onde os educandos são os depositários e o
educador o depositante.
Infelizmente a didática continua presa ao repasse mecânico, à aula
expositiva, para ser copiada e decorada. Depois é restituída na prova e
finalmente, na “cola” é copiada com a máxima perfeição. Portanto aula,
prova e cola são sinônimos no espírito da coisa.
Segundo Freire (1987), “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si
mesmo, os homens se educam entre si mediatizados pelo mundo” ou seja,
educação problematizadora é como prática de liberdade, exige de seus
personagens uma nova concepção de comportamentos. Ambos são
educadores e educandos, aprendendo e ensinando em conjunto,
mediatizados pelo mundo.
Aprender é apenas meio. A qualidade da formação básica é o fator
modernizante mais eficaz da sociedade e da economia.
Embora a valorização da educação no sistema produtivo moderno
não mude a essência do capitalismo, introduz oportunidades pertinentes
para o trabalhador, que incluem parâmetros menos drásticos de exploração
da mão-de-obra, sem falar no suporte para a cidadania do trabalhador.
A educação é componente substancial de qualquer política de
desenvolvimento, não só como bem em si e como mais eficaz
instrumentação de cidadania.
Segundo essa linha, o educador passa a ser problematizador, que
desafia os educandos que são agora investigadores críticos, permeados por
constantes diálogos, pois a educação como prática de liberdade deve negar
o conceito de isolamento e abstração do ser humano, assim como tornar o
mundo uma presença constante em seu diálogo.
O trabalho com a incerteza incita ao pensamento complexo: a incompressibilidade paradigmática de seu tetragrama (ordem/ desordem/ interação/ organização) mostra-nos que nunca haverá uma palavra-chave, uma fórmula-chave, uma idéia-chave, que comande o universo. E a complexidade não é só pensar o uno e o múltiplo conjuntamente, é também pensar conjuntamente com o incerto e o certo, o lógico e o contraditório, e é a inclusão do observador na observação. ( MORIN, 1999, p.206)
2.1- O Erro e a Avaliação da Aprendizagem Escolar
Na prática escolar, o erro, por uma visão culposa, tem conduzido ao
uso do castigo como forma de correção e direção da aprendizagem.
Entretanto, uma visão sadia do erro possibilita sua utilização de forma
construtivista.
Considerando a aprendizagem no sentido amplo, podemos, entre outras coisas, corrigir o “errando se aprende” por “errando também se aprende”: o erro, ou o fracasso não é condição necessária para haver aprendizagem. Por outro lado, torna-se exagerada, neste contexto teórico, a preocupação skinneriana de evitar todo o fracasso levando o aluno a produzir somente respostas corretas, pois o fracasso torna-se eventualmente necessário para que o sujeito tome consciência da inadaptação dos seus esquemas e da conseqüente necessidade de construir novos esquemas, ou seja, reconstruir os já existentes. ( BECKER, 1993, p.97-98)
O castigo ao erro se manifesta na escola, de uma maneira sutil
quando o professor cria um clima de medo, tensão e ansiedade ao argüir o
aluno diante de outros colegas com a intenção de expor publicamente em
sala de aula que o mesmo não sabe sobre determinado assunto. O “forte” na
lição é elogiado e o “fraco”, ridicularizado.
A ação mediadora do professor, a sua intervenção pedagógica,
desafiadora, não pode, ao mesmo tempo, ser uniforme em todas as
situações de tarefas dos alunos. Os erros que as crianças apresentam
podem ser de diversas causas.
A observação é o que me possibilita o exercício do aprendizado do olhar. olhar é como sair de dentro de mim para ver o outro. É partir da hipótese do momento de educação que o outro esta para colher dados da realidade, para trazer de volta para dentro de mim e repensar as hipóteses. É uma leitura da realidade para que eu possa me ler. (FREIRE, 1989, p. 3)
Faz-se necessário, uma reflexão sobre a resposta específica do
aluno.
A caracterização de “acerto e erro” é ampla e pode ser útil para
expressar o esforço de alguém que busca um caminho para compreender o
mundo. Porém, não há nem acerto, nem erro. Ocorre, sim, um sucesso ou
um insucesso como resultado da atividade.
Existe, um esforço de construção, que pode ser bem ou mal
sucedido, pode-se dizer que se aprende positivamente, quando se chega a
um resultado não satisfatório, pode-se dizer também positivamente. Pois é
compreendido que o aluno ainda não aprendeu o modo de satisfazer
determinada necessidade do professor.
Contudo, nesse contexto, não existe erro. É urgente aos professores
incluir a expressão “ainda” no seu vocabulário. Ao invés de analisar os
exercícios dos alunos para dizer: “acertou ou não acertou”, é preciso
analisá-los para observar quem aprendeu e quem “ainda” não aprendeu. O
fato de incluir-se o “ainda” revela que o professor confia na possibilidade de
a criança estar aprendendo sempre, evoluindo no seu processo de ensino-
aprendizagem no dia-a-dia.
Ao mesmo tempo, o professor passa a fazer parte do “ainda”,
comprometendo-se em tornar o “vir a ser” possível, em oportunizar-lhes
muitos desafios que favoreçam sua descoberta e leitura do mundo.
Tanto o sucesso e insucesso como o acerto e erro podem ser
utilizados como fonte de virtude. Os erros da aprendizagem servem
positivamente de ponto de partida para o avanço, na medida em que são
identificados e compreendidos. O erro passa a ser utilizado como fonte de
virtude ou de crescimento, necessita de efetiva verificação, visando
compreender o erro quanto a sua constituição e origem.
Reconhecendo a origem e a constituição de um erro, podemos
superá-los, nos levando ao crescimento. O erro deve ser visto como algo
dinâmico, como caminho para o avanço.
O insucesso e o erro, não são necessários para o crescimento,
porém, uma vez que ocorram, não devemos fazer deles fontes de culpa e de
castigo, mas trampolins para o salto em direção a uma vida consciente,
sadia e feliz.
A avaliação da aprendizagem deve servir de suporte para a
qualificação daquilo que acontece com o educando, diante dos objetivos que
se têm, de modo que se possa verificar como agir para ajudá-lo a alcançar o
que se procura. Ou seja, como afirma Carlos Cipriano Luckesi,
a avaliação deverá ser assumida como um instrumento de compreensão do estágio de aprendizagem em que se encontra o aluno, tendo em vista tomar decisões suficientes e satisfatórias para que possa avançar no seu processo de aprendizagem [...]. Desse modo, a avaliação não seria tão somente um instrumento
de aprovação ou reprovação dos alunos, mas, um instrumento diagnóstico [...].(LUCKESI,1995, p.75)
CAPÍTULO III
A Avaliação e a Nova Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional
A AVALIAÇÃO E A NOVA LEI DE DIRETRIZES E
BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9394 de
20 de dezembro de 1996, determina que a avaliação seja contínua e
cumulativa e que os aspectos qualitativos prevaleçam sobre os quantitativos.
Os resultados obtidos pelos estudantes ao longo do ano escolar devem ser
mais valorizados que a nota da prova final.
Outras alternativas de promoção dos alunos para além da seriação,
como a possibilidade dos ciclos.
Para melhor entendimento, podemos citar os artigos da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96 que diz:
Art.23 – A educação básica poderá organizar-se em séries anuais,
períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos,
grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outros
critérios, ou por forma diversa de organização sempre que o interesse do
processo de aprendizagem assim recomendar.
E continua ...
Art. 24- A verificação do rendimento escolar observará os seguintes
critérios:
a) a avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com
prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos
resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas
finais;
b) a possibilidade de aceleração de estudos para os alunos com
atraso escolar;
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante
verificação do aprendizado;
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência
paralelos ao período letivo, para os casos de baixo rendimento
escolar, a serem disciplinados pelas instituições de ensino em
seus regimentos.
Essa nova forma de avaliar propõe uma mudança social, pois a
avaliação deve servir a um projeto de sociedade pautado pela cooperação e
pela inclusão, em lugar de competição e da exclusão. Uma sociedade em
que todos tenham o direito de aprender.
Para que a avaliação sirva a aprendizagem é essencial conhecer
cada aluno e suas necessidades. Assim, o professor poderá pensar em
caminhos para que todos alcancem os objetivos.
A lei anterior, dentre outros aspectos, já se referia a uma avaliação
formativa e à prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos, e
a análise do desempenho global do estudante através do acompanhamento
contínuo. No entanto, esses aspectos surpreendem algumas escolas, pois
tais pressupostos nunca foram compreendidos ou seguidos pela grande
maioria dos professores desde a antiga lei.
Não há efetivamente acompanhamento do processo de aprendizagem
dos alunos e muito menos com o significado de prevenir as dificuldades,
observando-os, refletindo sobre a natureza das suas manifestações,
replanejando e tomando decisões de caráter pedagógico com base nos
resultados dos testes e tarefas realizadas.
A construção do conhecimento pelo educando se dá de forma
dinâmica e progressiva, não havendo início, meio ou fim nesse processo.
Apesar de muitos professores concordarem com uma concepção, não
chegam a desenvolver um processo avaliativo que respeite tal dinamicidade
do processo de conhecimento. A distância entre o discurso e a prática ainda
é muito forte em avaliação. Professores criticam o que muitas vezes
desenvolvem com seus alunos em sala de aula.
A prática avaliativa não irá mudar em nossas escolas em decorrência de leis, resoluções, decretos ou regimentos escolares, mas a partir do compromisso dos educadores com a realidade social que enfrentamos... (HOFFMANN, 1998, p.36)
Um processo avaliativo é, preventivo, no sentido de uma atenção
constante as dificuldades apresentadas pelos alunos; é cumulativo e não
somativo, no sentido que os dados qualitativos e quantitativos se
complementam. A reflexão acerca de tais princípios pelos professores, para
que venham a entender as determinações legais, deveriam ser o ponto de
partida para implementação de novas práticas de avaliação.
3.1- Os Ciclos e a Avaliação Escolar
O sistema de seriação é tido como um dos fatores relacionados ao
fracasso escolar. A nova organização das escolas de ensino fundamental
em ciclos apoia- se em uma visão, portanto, igualitarista da escola pública e
da educação para todos, independentemente de suas diferenças de
aprendizagem. A aprendizagem passa a ser entendida como produto das
diversidades culturais, devendo ser solucionadas com propostas de ensino
que levem em consideração a bagagem sociocultural do aluno e de apoiem
em intervenções didáticas adequadas aos seus níveis e ritmos de
aprendizagem.
Uma das principais características da organização dos ciclos é a
introdução de tempos mais longos de formação para os educandos dos que
aqueles previstos pela seriação em etapas anuais, que, caso houvesse
reprovação, deveriam ser repetidas, se o aluno não as concluísse
satisfatoriamente. Então, a escola deve considerar a possibilidade de
progressão da aprendizagem.
O objetivo é garantir que os alunos alcancem um nível aceitável de
conhecimentos e competências ao final do ciclo, e não que sejam
simplesmente aprovados para a etapa seguinte. Tal prática, exige dos
educadores mais responsabilidade e autonomia para tomarem decisões
sobre a gestão satisfatória da progressão da aprendizagem dos alunos.
3.1.1 – A Concepção dos Ciclos de Formação e Sua Relação
Com a Avaliação
Uma das dificuldades enfrentadas nas novas propostas de
organização do trabalho escolar reside no fato de que a concepção de ciclos
coloca a aprendizagem no centro do projeto pedagógico da escola.
Anteriormente, o trabalho docente da escola, se orientava apenas
pelas questões do ensino: uma quantidade determinada de conteúdos
deveriam ser repassadas em cada ano, independentemente dos ritmos e
níveis diferentes de aprendizagens; todos os educandos deveriam chegar ao
final do processo com níveis de competências semelhantes.
As novas exigências que os ciclos trouxeram para a ação
pedagógica impõem uma reestruturação da prática educativa. Os resultados
da aprendizagem devem ser obtidos através de ações contínuas ao longo de
cada ciclo. Daí, a necessidade de uma prática avaliativa formativa.
3.1.2. – A Concepção de Avaliação Formativa Como um Eixo do
Trabalho Pedagógico nos Ciclos
A nova proposta de avaliação introduz nas escolas uma outra maneira
de organizar a ação pedagógica, voltada então, para as diferenças
individuais, objetivando favorecer seu desenvolvimento contínuo.
Assim, se faz necessário o estabelecimento de intervenções didáticas
diversas, cada uma delas informada de como se dá a aprendizagem dos
educandos, sua construção do conhecimento. Sabemos que isso só é
possível, quando compreendemos suas formas de raciocinar, de lidar com
as informações que utilizam. Enfim, é necessário que os educadores
invistam permanentemente em sua formação para compreenderem como os
processos de aquisição do conhecimento humano se realizam.
CAPÍTULO IV
A Importância dos Relatórios de Avaliação
A IMPORTÂNCIA DOS RELATÓRIOS DE
AVALIAÇÃO
Os registros de avaliação refletem a imagem da ação desenvolvida
pelo professor. Tal reflexo tende a ficar vago, quando os códigos a serem
utilizados não permitem uma representação clara, nítida, significativa, do que
se observou e do trabalho realizado junto aos alunos. Deste modo, citar-se
abaixo algo que irá explicitar muito bem o que acabamos de expor. Desta
maneira temos:
Porque é importante registrar? O ato de conhecer é permanente? Então está implícito o conhecimento como ato social e que esse educador faz história. Não existe sujeito do conhecimento sem apropriação de história. É o registro que historifica o processo para a conquista do produto histórico. Possibilita também a apropriação e socialização do conhecimento e a construção da memória, como história desse processo. (FREIRE, 1989, p.5)
Os registros do acompanhamento dos alunos só podem constituir-se
ao longo do processo. Inútil, tentar descrever o que não se viu, o que não foi
trabalhado. Assim, se o professor fizer apenas o registro das notas dos
alunos nos trabalhos, ele não saberá descrever, após um tempo, quais
foram as dificuldades que cada aluno apresentou e o que ele fez para
auxiliá-lo. Da mesma forma, o professor que só faz anotações dos alunos
em termos de sua conduta, não poderá descrever outros aspectos do seu
desenvolvimento. Registros significativos são construídos pelo professor ao
longo do processo.
Assim é que a criança aprende, captando as habilidades pelos dedos das mãos e dos pés, para dentro de si. Absorvendo hábitos e atitudes dos que a rodeiam, empurrando e puxando o seu próprio mundo. Assim a criança aprende, mais por experiência do que por erro; mais por prazer do que pelo sofrimento, mais pela experiência do que pela sugestão e dissertação; e mais por sugestão do que por direção. E assim a criança aprende pela afeição, pelo amor, pela paciência, pela compreensão, por pertencer, por fazer e por ser[...]. (Moffet apud SANT’ANNA, 1999,p.132)
Muitas escolas vêm adotando a elaboração de relatórios descritivos
em termos de registros de avaliação. Conscientes da incoerência da
atribuição de notas ou conceitos classificatórios do trabalho desenvolvido
junto aos alunos, muitos professores passaram a fazer relatos por escrito
sobre o desempenho do educando.
Entretanto, esta não é uma tarefa fácil, pois ela desafia o professor a
prestar atenção em todos os alunos e refletir profundamente sobre a ação
educativa.
“A escrita- representação da fala, representa o que nossa consciência
pedagógica se deflagra”, assim declarou Freire, constatando que no
momento da elaboração dos relatórios revela-se posturas pedagógicas, o
saber didático, referenciais teóricos. eles são a imagem da relação
professor- aluno que se dá via processo de construção do conhecimento.
O que é mais importante nessa relação são os procedimentos diante
de determinadas situações, que revela-se, no momento do relato. Por isso, a
insegurança de muitos professores em comprometer-se com esta tarefa.
Tradicionalmente, parece que a nota ou conceito, não os denuncia: é do
aluno, foi tirada por ele.
Por outro lado, os professores não estão acostumados a relatar o seu
trabalho. Nós fomos acostumados a planejar o futuro (planos que
permanecem no papel) e não a refletir, relatar sobre o que aconteceu, os
porquês, prováveis encaminhamentos....
Deste modo, Jussara Hoffamann irá relatar:
Registros de avaliação exigem exercício do professor. Exercício de prestar atenção nas manifestações dos alunos (orais e escritas), exercício de descrever e refletir teoricamente sobre tais manifestações, de partir para encaminhamentos ao invés de permanecer nas constatações. (HOFFMANN, 2003, p.94-95)
Os relatórios de avaliação precisam ser claros e sugestivos sobre o
trabalho desenvolvido pelos professores e alunos em busca do
conhecimento. O abandono à notas, aos conceitos não quer dizer
abandonar as questões cognitivas, dando-se então privilégio as questões
sócio- afetivas.
Vale dizer que existe algum interesse, algum móvel que motiva a ação. O desenvolvimento da inteligência permite, sem dúvida, que a motivação possa ser despertada por um número cada vez maior de objetos ou situações. Todavia, ao longo desse desenvolvimento, o princípio básico permanece o mesmo: a afetividade é a mola propulsora das ações e a razão está a seu serviço. (La Taille apud HOFFMANN, 2003, p.99)
As questões sócio- afetivas não estão desvinculadas das questões
cognitivas. E é responsabilidade do professor trabalhar com elas. Trabalhar
com as diferenças individuais no sentido de uma educação voltada à
formação de jovens autônomos, críticos, cooperativos, é responsabilidade
dos educadores no dia-a-dia. O perigoso é exigir atenção, interesse,
disciplina como únicos determinantes da aprendizagem, sem buscar outras
razões para as dificuldades dos alunos.
O sentido da avaliação é de tomar providências e não de
constatações. “Com a avaliação me aproprio da realidade cotidiana de modo
satisfatório, sistemático, rigoroso. Possibilita detectar a hipótese correta e
incorreta. Agilizar respostas adequadas ao inusitado que possa emergir.”
(FREIRE, 1989, p.29)
A transformação da prática não inicia por mudanças nas formas de
registro. O registro é sobretudo a imagem de um trabalho. Ao relatarmos um
processo efetivamente vivido, naturalmente encontraremos as
representações que lhe dêem verdadeiro sentido. Sendo assim:
Construir conhecimento implica enfrentar a tensão do não saber, do medo, do sofrimento, do escuro, do branco das idéias, perdição[...], para depois conquistar o relaxamento, o repouso temporário da construção de um conhecimento, uma resposta transformadora. (FREIRE, 1989, p.2)
CAPÍTULO V
Avaliação Formativa
AVALIAÇÃO FORMATIVA
A avaliação formativa aparece então como um componente necessário de um dispositivo de individualização das aprendizagens e de diferenciação das intervenções e dos meios pedagógicos, e mesmo dos passos de aprendizagem ou dos ritmos de progressão, ou ainda dos próprios objetivos. (PERRENOUD, 1991, p.49)
A avaliação formativa, respeita a individualidade, e busca a regulação
da aprendizagem. Faz-se necessário um acompanhamento especial aos
alunos com dificuldades.
A avaliação formativa, pressupõe uma mudança significativa na sala
de aula. O professor precisa ter uma visão otimista do aluno, supondo que
este quer aprender e tem vontade que o ajudem. O aluno deve estar
disposto a revelar suas dúvidas e incompreensões. Esta relação professor -
aluno é de extrema importância, criando uma relação de confiança e
transparência.
O professor nesta avaliação não faz mais a tão comum seleção ao dar
notas aos alunos, mas acredita na constante relação pedagógica.
Este trabalho de sala de aula, com esta relação professor- aluno de
uma maneira interativa, torna-se o espaço da sala e o que nele acontece
uma verdadeira oficina, onde cada um ocupa-se de sua tarefa.
Ao adotarmos a avaliação formativa na escola passamos a ter uma
maior qualidade no ensino, pois pode-se perceber mais claramente o que
cada professor está fazendo na sala de aula.
Na mudança de uma avaliação quantitativa para uma avaliação
qualitativa, avaliação formativa, a postura do professor é de fundamental
importância.
Por outras palavras, uma avaliação que ajuda o aluno a aprender e o professor a ensinar. A idéia base é bastante simples a aprendizagem nunca é linear, procede por ensaios, por tentativas e erros, hipóteses, recuos e avanços; um indivíduo aprenderá melhor se o seu meio envolvente for capaz de lhe dar respostas e regulações sob diversas formas: identificação dos erros, sugestões e contra- sugestões, explicações complementares, revisão das noções de base, trabalho sobre o sentido da tarefa ou da auto -confiança. (Perrenoud apud HOFFMANN, 1998. p.109)
O docente deve estar em contínua formação. Não se deve achar que
já sabemos tudo e acomodarmo-nos à rotinas pouco criativas e
desafiadoras.
O professor deve constatar que as mudanças que realizam irão fazer
uma grande diferença na vida dos alunos.
É preciso coragem sobre o agir e vontade de desafiar os próprios
limites e verdades, enfrentando aquilo que ainda não conhecemos.
Buscar o novo não significa ser contra o velho, mas saber conviver
com ambos, na busca de uma educação que torne o indivíduo um
verdadeiro cidadão neste novo milênio.
5.1- A ênfase está no aprender
A ênfase no aprender, pressupõe uma mudança no currículo, na
gestão escolar, na organização da sala de aula, nos tipos de atividades e no
próprio jeito de avaliar a turma.
O professor deixa de ser aquele que passa as informações para ser
quem prepara os educandos na elaboração de seus conhecimentos. Em vez
de despejar conteúdos em frente à classe, ele agora desenvolve seu
trabalho diversificando a aplicação dos conhecimentos dia- a- dia.
A avaliação formativa não tem como pressuposto a punição ou
premunição. Ela prevê que os educandos possuem ritmos e processo de
aprendizagem diferentes. Desta forma, o professor diversifica as formas de
agrupamento da turma.
5.2- Por que é Importante Ampliar o Conceito de Avaliação?
É muito simples tratar a avaliação ao nível de importância de seus
instrumentos. Alguns teimam em entender por avaliação os tipos de provas,
de exercícios, de testes, de trabalhos etc. Não compreendem a avaliação
como um processo amplo de aprendizagem, indissociável do todo, que
envolve responsabilidades do professor e do aluno. Ao tratar a avaliação
dessa forma, afastam-na de seus verdadeiros propósitos, de sua relação
com o ensinamento, de seu aspecto formativo.
O alargamento do conceito da avaliação nos faz ver suas diversas
faces e como o poder está associado à ela. Mostra o seu fim e os seus
meios. Falar da avaliação no âmbito da educação escolar, no campo da
educação de direitos, nos leva pensar a sua função, o papel social do
professor, a razão da exist6encia da escola. Traz a discussão e exclusão,
privilégios e direitos, direitos e obrigações, instrução e formação, que alunos
queremos formar, que escola estamos construindo para a nossa sociedade.
A avaliação é um dos meios pelos quais podemos conhecer os
alunos. Ela permite acompanhar os seus passos no dia- a- dia. Descreve as
trajetórias, seus problemas e suas potencialidades, favorecendo que o
trabalho de ensino- aprendizagem se de forma coerente com os objetivos e
desejos de professores e alunos. Portanto, ela é diagnóstica. Nos dá idéia
do material humano que temos, das expectativas criadas ou do que
podemos fazer para provocá-las quando existe clima de apatia.
Mostra-nos os conhecimentos que a turma já acumulou e os que
ainda não domina e, assim as possibilidades de projetos a serem
desenvolvidos. Diagnóstica, em todo o decorrer do processo. Uma diagnose
que depende de diálogo, que não se configura como instrumento legítimo
sem essa premissa. A avaliação, na sua forma, é fruto de negociações e
cumplicidade dos seus autores.
5.3- A Importância da Auto- Avaliação
Outro instrumento que tem sido muito utilizado é o da auto- avaliação.
De certa forma ela vem acompanhada de um movimento que vem de fora da
escola: o movimento da participação, do exercício da democracia, ou seja,
há uma pressão para que todos expressem suas opiniões. O aluno não
aceita mais pacatamente julgamentos daqueles que ele considera um igual,
do mesmo nível, quer dizer, quer dividir (participar) com o seu professor
aquela informação prevista na sua história escolar e que o acompanhará por
toda a sua vida.
A auto- avaliação tem sido utilizada em muitas escolas de diversas
formas e com várias finalidades. Através de questionários, de conversas no
coletivo, de entrevistas individuais. Pretende-se que ela ajude o aluno a criar
senso de responsabilidade, o faça exercitar a capacidade de autocrítica, que
o incite a refletir sobre sua conduta. E este é realmente o papel da auto-
avaliação. Todavia, assiste-se a distorções na aplicação desse instrumento,
ou pelo menos a contradições. Não raramente, as opiniões dos alunos
registradas sob diversas formas (notas, conceitos, relatórios etc.) são
contestadas pelos professores, que tendo os boletins e os livros de
aproveitamento escolar nas mãos, optam por “interpretar” a opinião do aluno
com seus critérios, seus “olhos”. Assim, o que deveria ser espaço livre do
exercício democrático da construção de valores, da autonomia e da
responsabilidade, se transforma numa batalha de opiniões que gera clima de
desconfiança nessa relação.
A auto- avaliação é capaz de conduzir o aluno a uma modalidade de
apreciação que se põe em prática durante toda vida.
Graças a ela os alunos adquirem uma capacidade cada vez maior de
analisar suas próprias aptidões, atitudes, comportamento, pontos fortes,
necessidades e êxito na consecução de seus propósitos. Eles desenvolvem
sentimentos de responsabilidade pessoal.
Deste modo podemos citar que : “Propiciar condições para ajudar o
aluno a pensar sobre si mesmo e o que tem realizado, é prepará-lo para
uma aprendizagem significativa na caminhada da vida.” (SANT’ANNA, 1999,
p.95)
Para que a auto- avaliação tenha sucesso é preciso que o professor
acredite no aluno e ofereça condições favoráveis de aprendizagem.
5.4- A Avaliação é Processo: Não se Pode vê-lo, mas é
Preciso Acompanhá-lo
A maior dificuldade que se tem hoje, na discussão sobre a avaliação,
é enxergá-la como um componente do processo. A idéia de processo não é
fácil de ser assimilada. Porém é o seu entendimento que determina o quanto
se pode compreender sobre os vários aspectos e as várias dimensões que a
avaliação possui. Pode significar para muitos, uma linha reta com percurso
definido, tempo definido, tamanho estipulado. Pode significar também um
caminho cheio de variáveis, sem pontos de parada pré- estabelecidos.
Sugere ainda a noção de movimento, de evolução, algo que não pára, que
está sempre se transformando.
A avaliação não pode ser fechada aos novos elementos que surgirão
no decorrer do caminho. Os pesos e as medidas terão que ser relativizados.
Os alunos, principais personagens, terão que ser tratados como partícipes
desse processo. Deverão ter seus espaços garantidos, tanto no que diz
respeito aos seus direitos, mas com igual importância quanto as suas
obrigações, pois eles também constituem o processo disparado.
A escola existe para ser um dos espaços de educação das pessoas,
entendendo como educação a aprendizagem de conhecimentos importantes
para sua vida, relacionados com a sua história e com o seu tempo e, que
contribua para o seu crescimento humano. A escola se justifica pela
possibilidade de se configurar num ambiente de manifestação cultural e de
produção/ criação de conhecimento.
5.5- Parte do Todo e Responsabilidade do Coletivo
Sendo parte de um processo, que exige de todos uma contribuição, a
avaliação exige co- participação, exige comprometimento, auto-avaliação de
todos os que vivem esse processo, análise crítica das ações: que facilitam e
orientam o replanejamento, a elaboração e desenvolvimento de projetos
coletivos e acima de tudo o aprimoramento das relações escolares.
Avaliar se configura portanto, numa atitude eminentemente política e
humana. Só tem sentido, na educação, se for utilizada para proporcionar a
todos conhecer o mundo, propiciar prazer e favorecer a auto- descoberta
nos seres humanos. Ela não se justifica, na educação, para punir,
selecionar, sustentar a idéia de “darwinismo social”.
O enraizamento do conceito seletivo da avaliação, a transformou
autoritariamente no lastro do ensino da unidade escolar, ignorando os
elementos vivos da escola, sua história, o seu contexto, suas aspirações.
Impostas pela política da exclusão (que não é nenhum fantasma), atropela
todas as negociações, nega qualquer possibilidade de diálogo (ainda
incipiente em nosso país), não tem nenhuma relação com o avaliado (se diz
neutra, igual para todos), estrangula desse modo tudo que nasce para
contestá-la.
É preciso transformá-la. Sem dúvida, ela pode expressar a qualidade
do ensino com muito mais fidelidade, se acondicionada dentro dos próprios
limites, se estiver alinhada à filosofia de trabalho da escola (seu projeto
pedagógico) e não ser tratada como um fim em si mesma.
CONCLUSÃO
A concepção de avaliação é comumente relacionada a idéia de
mensuração de mudanças do comportamento humano. Essa abordagem
viabiliza o fortalecimento no aspecto quantitativo.
A avaliação do rendimento escolar tem como alvo a classificação do
aluno. Necessita ser redirecionada, pois a competência ou incompetência do
aluno não resulta apenas da escola ou do professor, e sim de todos aqueles
que participam do contexto escolar e social do educando.
A avaliação deve contemplar aspectos qualitativos que são difíceis
de serem mensurados pois, envolvem objetivos subjetivos, postura, política,
crenças e valores.
Os instrumentos de avaliação são determinados pelas idéias e
modelos da realidade em que o profissional atua (instituição). Serve como
um meio de controle, feito através de atribuição de pontos ou notas, para
que os alunos realizem as tarefas e tenham comportamentos esperados, no
qual o professor e a instituição desejam. Não se importam com o tipo de
conhecimento que o aluno adquiriu, e sim, com o tipo de nota que o aluno
obteve. A nota portanto, passa a apresentar um objetivo diferente da
representação do rendimento do aluno.
O educando precisa aprender, e não a ser submisso e obediente
àqueles que são responsáveis por seu processo educativo.
Os instrumentos de avaliação determinados pelas escolas não
podem ser vistos como única opção de avaliação. Senão ratifica o conceito
de “educação bancária”, de um lado um ensina e do outro lado um aprende.
O ponto chave da educação deve ser o aluno aprender a aprender,
saber pensar, ser crítico e analítico. E é dentro dessa perspectiva que a
avaliação deve trabalhar.
A maioria das escolas são vistas como socializadoras e reguladoras
de um determinado tipo de saber. Uma proposta de avaliação se
contrapõem à essa escola que conhecemos. Esta, busca a construção que
reflete a própria cultura do povo brasileiro, que acredita no conhecimento
como produção social e que valoriza a vivência cotidiana dos alunos e
professores.
Numa avaliação os professores devem considerar o ambiente no
qual o educando está inserido, pois não pode cobrar disciplina e bons
cuidados de higiene de um aluno que desconhece esses princípios, devido
não ter condições básicas, econômicas e família para orientá-lo. Porém, isso
não significa que ele não possa aprender, pois se for estimulado será capaz
de construir seu conhecimento.
Cada vez mais é comum na escola ter crianças que não aprendem.
Alguns podem dizer que cada vez é mais comum encontrar professoras que
não ensinam. Mas o certo é que há um grande número de crianças que não
sabem o que a escola se propõe a ensinar.
O argumento de que a avaliação é para uso exclusivo do educador,
é absurdo, embora o objeto da avaliação seja o aluno.
O professor não é dono da verdade e do poder, embora possa
muitas vezes impedir o aluno de auto realizar-se
Selecionar valores, construir seu mundo, confirmar suas escolhas e
realizações é papel do educando.
Educar para a liberdade é função do professor; educar-se para ser
livre é função do aluno, e isso só se concretiza na interação aluno X
professor, aluno X aluno, aluno X conhecimento.
Avaliar é um ato de amor que nos conduz a novos e diferentes
caminhos e realizações.
Avaliação e aprendizagem são indissociáveis e pressupostos
básicos para o sentido da vida.
REFERÊNCIAS
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27841, 23, dez. 1996 .
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Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1993.
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Secretaria Municipal de Educação, 1989. (mimeo)
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Mediação, 1998.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem Escolar: estudos e
proposições. 2 ed. , São Paulo: Cortez, 1996 .p.33.
MORIN, Edgar. Ciência com Consciência. Rio de Janeiro: Betrand Brasil, 1999.
_____________. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo:
Cortez, 2000.
NÓVOA, Antônio. Avaliações em Educação. Porto- Portugal: Nova Perpeetiva,
1993.
PENNA FIRME, Thereza. Avaliação: tendência e tendenciosidades. Ensaio:
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PERRENOUD, Philippe. Avaliação: Da Excelência à regulação das aprendizagens –
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_____________. Por une approche pragmatique de evolution formative. França:
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SANT’ANNA, Ilza Martins. Porque avaliar? Como avaliar? Critérios e
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http://www. projetoeducar.com.br/avalia/relato. Acesso em: 16 jun. 2004.
VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Avaliação: concepção dialética-libertadora
do processo de avaliação escolar. 11ed. São Paulo: Cadernos Pedagógicos, 2000.
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
AVALIAÇÃO E SUAS CONCEPÇÕES
1.1- Avaliação da aprendizagem
1.2- Avaliação do rendimento escolar
CAPÍTULO II
AVALIAR PARA APRENDER E ENSINAR
2.1- O erro e a avaliação da aprendizagem escolar
CAPÍTULO III
A AVALIAÇÃO E A NOVA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO
NACIONAL
3.1- Os Ciclos e a avaliação escolar
3.1.1- A concepção dos ciclos de formacão e sua relação com a
avaliação
3.1.2- A concepção de avaliação formativa como um eixo do
trabalho pedagógico nos ciclos
CAPÍTULO IV
A IMPORTÂNCIA DOS RELATÓRIOS DE AVALIAÇÃO
CAPÍTULO V
AVALIAÇÃO FORMATIVA
5.1 – A ênfase está no aprender
5.2 – Por que é importante ampliar o conceito de avaliação?
5.3 - A importância da auto- avaliação
5.4- A avaliação é processo: não se pode vê-lo, mas é preciso
acompanhá-lo
5.5- Parte do todo e responsabilidade do coletivo
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
FOLHA DE AVALIAÇÃO
08
10
10
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17
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Pós-Graduação “Lato Sensu”
Título do livro: Avaliar Para Melhor Ensinar
Data da Entrega: 30/ 07/ 2004
Avaliado por: Ana Cristina Guimarães Grau ____________.