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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
O MÉTODO PEDAGÓGICO JESUÍTA: Uma visão psicopedagógica
Por Simone de Fátima Moraes da Silveira Selem Orientador: Prof. Luiz Cláudio Lopes Alves
Rio de janeiro 2004
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
O MÉTODO PEDAGÓGICO JESUÍTA: Uma visão psicopedagógica
OBJETIVO: O objetivo do presente trabalho é enfocar uma visão psicopedagógica na relação do método pedagógico jesuíta, aplicado aos alunos e professores de toda a instituição educacional.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por mais essa vitória, que sem dúvida sem ele isso não seria
possível.
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DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia aos meus pais, meu marido e em especial meu filho,
pela compreensão de minha ausência.
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RESUMO
O presente trabalho abordou o estudo da visão psicopedagógica sobre
o método pedagógico jesuítico. Como era; estudado, pesquisado e tratado as
dificuldades de aprendizagem.
Com base nas mudanças dos modelos políticos de cada época , o
trabalho realizado pelos jesuítas logo no período da colonização brasileira é a
expansão educacional.
Concluiu-se que, para alguns educadores o intuito atualmente dos
jesuítas é a continuação desta evangelização através das palavras, ações,
enfim, e para outros o trabalho jesuítico é apenas mais um modo de educar.
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METODOLOGIA
A metodologia utilizada para que este trabalho pudesse acontecer, foram
as fontes bibliografias, sites na internet , e principalmente o prazer do saber
sobre a história do nosso país.
Utilizando da psicopedagogia para maiores esclarecimentos de como a
educação era na época colonial, ajuda e muito na compreensão do tema
exposto.
Cabe aos leitores desfrutar dos conhecimentos pré-existes e algumas
informações que estão somadas ao longo do texto.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................... .....08
1. A PRESENÇA DOS JESUÍTAS NO BRASIL......................... 10
2. MUDANÇA DE PARADIGMA PSICOPEDAGÓGICO NO ENSINO JESUÍTICO ..................................................................... 28
3. O MÉTODO JESUÍTICO NA ATUALIDADE :SEUS CONFLITOS E CONGRUÊNCIAS PSICOPEDAGÓGICAS ......... 33
4. CONCLUSÃO ......................................................................... 42
5. BIBLIOGRAFIA ...................................................................... 44
6. ÍNDICE.................................................................................... 46
7. ANEXOS................................................................................. 47
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INTRODUÇÃO
O tema que irei abordar em minha monografia será sobre a atuação
psicopedagógica da Companhia de Jesus.
Algumas indagações surgiram ao fazer este trabalho, tais como : Como
introduzir a psicopedagogia dentro dos métodos jesuíticos desde a época de
sua implantação?
Os Jesuítas foram os inovadores no campo da educação em nosso País,
e a psicopedagogia busca a compreensão do fenômeno da aprendizagem
humana, ou seja, uma junção dos dois seria um dos caminhos para se
entender como acontecia e acontece a aprendizagem dentro destas
instituições.
Com base nesta análise , observaremos que o único meio de educação
na colonização, era a jesuítica.
Para entender o trabalho dos jesuítas atualmente é necessário voltar ao
passado por volta do século XVI, onde os jesuítas elaboraram um método de
aprendizagem universal, o Ratio Studiorum que em latim significa método de
estudos para aprender.
O método era utilizado por todas as instituições jesuíticas do mundo, e
como era a atuação dos envolvidos numa visão psicopedagógica.
Mais um pouco adiante, com a expulsão dos jesuítas, muda todo um
paradigma educacional ficando assim a educação a cargo do Estado, mais
tarde a Companhia de Jesus é restaurada pelo Papa Pio VII, com o mesmo
objetivo: a educação.
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Enfim, neste trabalho faço uma análise sobre as mudanças ocorridas
no campo psicopedagógico dos jesuítas através do tempo, buscando
informações precisas de autores num aprofundamento em fontes de
pesquisa, fontes bibliográficas e fontes da internet, para compor no processo
educacional jesuíta.
CAPÍTULO I
A PRESENÇA DOS JESUÍTAS NO BRASIL
“ A cultura é um campo onde se define
não apenas a forma como o mundo
deve ter, mas também a forma como as
pessoas e os grupos devem ser.”
Tomaz Tadeu da Silva
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1.1- Jesuítas: breve contexto histórico
A psicopedagogia no Brasil, existe desde 1970. Porém, os trabalhos na
área da aprendizagem já vem sido trabalhado desde o início da colonização do
Brasil, através dos Jesuítas.
Sem a pretensão de explanar que a psicopedagogia já existia, mais sim
o ato da aprendizagem e dos meios para que ela acontecesse, não com este
nome e com os recursos que hoje nós psicopedagogos possuímos, portanto,
de um modo , ou de outro, havia naquele tempo os meios para que a
aprendizagem ocorresse.
Para se falar dos jesuítas, primeiramente devemos saber qual era o
propósito da Companhia de Jesus, para mas tarde analisarmos sua atitudes
psicopedagógicas.
A Companhia de Jesus foi fundada por Inácio de Loyola. E para isso
destaco algumas análises de importantes autores.
(..) ao fundar a Companhia de Jesus, Inácio de Loyola e
seus companheiros não cogitavam trabalhar em
colégios...” e ainda “ ...ao perceber que não seria fácil
receber novos companheiros já formados para essa
empreitada , os Jesuítas decidiram acolher jovens
talentosos que viveriam em residências, de inicio
chamadas simplesmente colégios...” ( KLEIN, 1997,p.33)
“...desde que chegaram ao Brasil, os Jesuítas
estabeleceram escolas e começaram a ensinar a ler, a
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escrever e a contar e cantar.” e “o colégio, contudo era o
grande objetivo, porque ele preparariam novos
missionários.” ( PAIVA,2000, p.43,)
“A obra da catequese, que, em principio constituía o
objetivo principal da presença da Companhia de Jesus no
Brasil, acabou gradativamente cedendo lugar, a
importância à educação da elite.”(ROMANELLI, 2001, p.
53)
Com isso, temos duas análises que apresentam diferenças entre si: a
que pregava o objetivo da evangelização em primeiro lugar, e a segunda que o
objetivo inicial era a educação.
Tanto uma quanto a outra, nos confirma o objetivo principal de
Portugal: a dominação de um povo, sendo pela evangelização através da
palavra ou pela educação.
E assim segue nossas expectativas. O que sabemos são dados de
pesquisas que nos mostra o seguinte passo inicial da Companhia de Jesus.
Por volta de 1548, nascia na Europa a Companhia de Jesus, . fundada
por Inácio de Loyola, após o descobrimento do Brasil, os Jesuítas são
enviados para terras brasílicas, para poderem catequizar o povo que aqui
existia.
Devemos no entanto, saber como se dá os trabalhos dos Jesuítas
aqui no Brasil e mais, não podemos esquecer que para se falar de educação
brasileira não podemos deixar de mencionar o nome dos mesmos e sua
fundamental importância no campo educacional.
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Muitos educadores acreditam que os Jesuítas tiveram papel importante
no contexto histórico educacional. Papel este que tanto poderia ser positivo
para nossa cultura, quanto negativo.
Baseando nisso, podemos citar quatro deles;
“A escolha da pedagogia jesuítica como tema parece-nos
importante por vários fatores. É reconhecida sua
influência na cultura brasileira e na de muitos países.” (
KLEIN, 1997, p.17)
“... considerando a forte influência e a presença das
concepções e práticas pedagógicas jesuíticas em
nossas escolas, o estudo das origens e do
desenvolvimento da obra pedagógica Inaciana certamente
nos ajudará a melhor compreendê-la.” (PIMENTA, 1997,
p.14)
“A história de nossa colonização esta farta de exemplos,
mostrando como a relação cotidiana, para portugueses,
índios e africanos, se marcava pelo clima de defesa ,
ataque, condição de sobrevivência.” ainda, “ a vida do
colégio parecia continuar , impávida como se não
estivesse envolvida pelo mesmo ambiente colonial.” (
PAIVA, 2000, p.46)
“O ensino que os padres jesuítas ministravam era
completamente alheio à realidade da vida da colônia.” e “o
ensino, assim, foi conservado à margem, em utilidade
14
prática visível para uma economia fundada na agricultura
rudimentar e no trabalho escravo”.( ROMANELLI,2001,
p.34, )
A partir destas concepções podemos observar que Klein e Pimenta
acreditam que os Jesuítas possuem papel positivo no contexto histórico
educacional do Brasil.
Porém, Paiva e Romanelli, não mencionam esta importância como
positiva, mas sim, o lado perverso da dominação causada pelos Jesuítas na
vida dos que aqui viviam.
E mais, mostra em sua pesquisa, que os colégios pareciam não fazer
parte da sociedade.
Se os colégios não pareciam fazer parte da sociedade, como era
trabalhado os casos dos educandos que possuiam qualquer tipo de distúrbio de
aprendizagem?
Até por que , hoje sabemos da grande necessidade de sabermos como
é a família desde educando, em que ambiente social ele está inserido, há uma
grande responsabilidade por parte dos familiares para a formação social deste
ser humano, como seria então a educação nestas instituições distante do meio
social?
Para alguns educadores as repostas poderão ser apresentadas no
decorrer do trabalho, para outras não surgirão respostas prontas, mais sim
indagações a respeito.
Como as instituições jesuíticas iam se expandindo, aos poucos a cultura
européia ia fundindo todo o território conquistado e a cultura, assim diziam
inculta dos índios, ia sendo substituído pela européia.
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O que predominava na educação jesuítica era o envolvimento das
atividades literárias e acadêmicas, já as atividades técnicas e científicas eram
deixadas de lado, tinham quase ou nenhuma importância no ensino jesuíta.
O conceito essencial para os portugueses, era formação do homem
culto, valendo nos lembrar que estamos falando de 1549, ou seja, idade
moderna, mais com resquícios da idade média, onde o ideal daquele tempo era
formação do homem de fé, ou seja, um homem culto mais totalmente voltado
para o sistema teocrata.
E o homem completo? Ou seja, o homem que estivesse pleno
cognitivamente, fisicamente e emocionalmente?
Naquela época só bastava a área cognitiva ser trabalhada, portanto, o
dever dos educadores eram mexer com o potencial cognitivo dos educandos, e
escamotear seus sentimentos, suas emoções, não se poderia trabalhar o
afetivo, seria perigoso demais mexer com sentimentos, até por que havia um
grande hierarquia dentro das instituições jesuíticas.
Os primeiros colégios jesuítas brasileiro foram : Todos os santos,na
Bahia e o São Sebastião no Rio de Janeiro.
O sistema de ensino jesuíta nos colégios era o curso de humanidades
seguia-se o de artes ( filosofia e ciência).
E os cursos que preparavam para as profissões liberais que não
existiam aqui no Brasil, faziam com que os filhos da elite colonial, fossem
estudar na Universidade de Coimbra.
Contudo, ao analisar o método jesuítico, podemos concordar que ele era
o único sistema de ensino daquele tempo, o que temos que indagar é se era o
ideal psicopedagogicamente.
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Pois, a pesquisa abordada neste primeiro capítulo é analisar como se
deu o início desse processo educacional dos Jesuítas, saber suas origens ,
mais precisamente no Brasil.
No início da colonização, e a implantação dos trabalhos educacionais
dos Jesuítas, não nos revela em momento algum, que a educação servisse
tanto como meio para a liberdade e autonomia dos homens, ou para o sujeito
inteiro, o proposto pelos educadores atualmente, mais sim reflexões sobre uma
educação para a própria alienação.
Diríamos um início um tanto oportunista que cabe levar aos “recém
descobertos”, toda uma bagagem cultural de Portugal, sem ao menos se
importarem em como a cultura daquele determinado povo era essencial para
suas vidas.
No ano de 1750, já existiam: 131 Instituições jesuíticas no Brasil, 114
casas; 17 colégios; 55 missões entre os índios.
Após essa visão mais ampla sobre os intuitos jesuíticos, e como se
deu todo esse processo no campo educacional no contexto histórico, no
próximo subtítulo desta pesquisa, analisaremos a elaboração de um método
pedagógico Jesuíta, o Ratio Studiorum ( método de aprender ).
1.2- O Ratio Studiorum: e a psicopedagogia dentro das,
instituições jesuíticas brasileira
Como estudamos no primeiro capítulo, não seria muito fácil depois de
toda a expansão no campo educacional, que os Jesuítas pudessem
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administrar tantos e tantos colégios, sem ter ao menos algumas características
entre si.
Com essa necessidade de expansão, nasce dentro da Companhia de
Jesus , a oportunidade para um passo positivo na educação Jesuítica, o
Ratio Studiorum, e com isso contamos com o comentários dos autores Klein
e Paiva:
“ No contexto social, cultural e eclesial do século XVI,
com tantas desagregações e rupturas , a grande
preocupação da Ratio Studiorum era por assegurar a
unidade de mente e de coração dos diretores, educadores
e alunos dos colégios Jjesuítas, provendo-lhes, por isso,
de normas que, bem aceitas e implementadas ,
favorecem a consecução dos objetivos pretendidos.” (
KLEIN,1997, p.38)
“ O colégio era a adesão à cultura portuguesa. Lendo as
linhas mestras do Ratio Studiorum , código pedagógico
dos Jesuítas, a destinação do homem e de todos os seus
atos para Deus, compreensão própria de uma sociedade
teocêntrica, funda a visão pedagógica. A religiosamente ,
pois dá forma a esses atos. Em outras palavras, os atos
são compreendidos como função de um mundo religioso
e expressos em linguagem religiosa.” ( PAVA, 2000, p.49)
O que para Klein é a fonte de normas que são bem aceitas e eficazes,
para Paiva, não passa a ser um conjunto de regras e supostamente uma
troca de favores da vida religiosa e da vida mundana.
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Relacionando os dois estudos, é revelado a rigidez de um método que
propõe a ordem e a organização das instituições jesuíticas.
E como fica a psicopedagogia dentro das instituições jesuíticas,
moldadas por um método que compreendia todas as instituições? Como
entender as dimensões; humana, técnicas e política, com um modelo de
regras a serem cumpridas? E a flexibilidade dos planejamentos de aula? E a
indagações por parte dos próprios educadores e educandos?
O Ratio Studiorum era desenvolvido nos cursos básico de humanidades
, o de filosofia seguido pelo de teologia e no final havia a viagem para que
finalizassem os estudos na Europa, isto porém apenas se estendia a elite
colonial.
Depois da elaboração do Ratio Studiorum, os Jesuítas criam dentro da
instituição o cargo de inspetor.
Este cargo serviria para que um Jesuíta nomeado oficialmente pela
ordem, fizesse inspeções periódicas em todas as instituições, para que se
pudesse ter a certeza do uso do Ratio Studiorum e sua execução em todos os
colégios jesuítas.
Assim os colégios Jesuítas passavam por inspeções periódicas. Um
Jesuíta era nomeado para tal função para assim ver de perto o progresso e a
obediência dos envolvidos neste processo.
Essa “padronização” de ensino trazia mais solidez aos Jesuítas, mais
estabilidade e mais concretização dos objetivos propostos, dado aí o grande
sucesso dos colégios jesuítas do sistema colonial.
Quais objetivos propostos? O da obediência? Mais perguntas, como
ficam os nossos alunos? O que se faziam com seus pensamentos, dúvidas?
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Eles eram castrados de qualquer dúvida, a metodologia tradicional não
permitia que os alunos pudessem aos menos pensar o contrário daquilo que
era exposto.
Não desmerecendo qualquer tipo de regra, as regras são feitas para
serem cumpridas, mais diante de um propósito aberto, de diálogos, de
conversas francas entre os envolvidos.
Analisando o resumo do Rátio Studiorum vimos que, o método se
baseava numa organização e plano de estudos da Companhia de Jesus, e que
não servia apenas para uma instituição mas sim, para todas as instituições
jesuíticas.
Para Klein “ o livro do “Ratio”, é um livro da organização dos estudos,
que zela pela observância de suas regras por parte de todos; o reitor, prefeito,
professores e os alunos. (KLEIN,1997, p.28)
“ ...o Ratio Studiorum dispõe aos futuros pesquisadores
rico acervo, facilitando-lhes o acesso bibliográfico. Alem
disso, ao apresentar o movimento de constituição da obra
ao longo dos séculos, examinando as vicissitudes
contextuais da Companhia de Jesus no tempo e no
espaço, mostra a Ratio Studiorum como uma obra aberta,
fruto de inúmeros personagens, coletivamente elaborada
e reelaborada, conforme as alterações da própria
companhia (e no interior dela) nos seus desafios perante
as mudanças histórico-sociais e, conseqüentemente,
educacionais”. ( PIMENTA,1997, p.14)
Discordando desta citação, a obra do Ratio Studiorum, em nenhum
momento de sua elaboração, foi aberta para o interior de suas instituições, até
porque a pedagogia tradicional nem mesmo permitia qualquer tipo de invasão
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por parte das classes inferiores do saber (alunos, família, comunidade) para
suas decisões institucionais.
Tendo como premissa nesse momento o entendimento do que viria ser
o Ratio Studiorum, escolhi algumas regras que para mim são importantes para
a diálogo com o tema proposto: o método pedagógico jesuítico, e
consecutivamente algumas análises a respeito.
. Objetivos da companhia;
. Regras gerais;
. Regras para o método de ensino;
. Regras para o reitor;
. Regras para o prefeito de ensino;
. Regras para o professor;
. Regras para os alunos;
. Regras para os cursos.
Objetivo dos estudos na Companhia de Jesus: um dos ministérios mais
importantes da companhia era o de ensinar ao próximo o conhecimento e
amor do criador e não os membros envolvidas na educação jesuíta não
deveria faltar esforços para que isso se alcançasse.
Regras gerais:
Castigos à desordem: não seja precipitado no castigar nem demasiado
no inquirir; dissimule de preferência quando o puder sem prejuízo de ninguém;
não só não inflija nenhum castigo físico , mas abstenha-se de qualquer injúria,
por palavras ou atos não chame ninguém senão pelo seu nome ou cognome;
por vezes é útil em lugar do castigo acrescentar algum trabalho literário além
do exercício de cada dia; ao prefeito deixe os castigos mais severos ou menos
costumados.
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Freqüência: exija dos alunos a máxima freqüência e, por isto, não os
deixe ir à jogos ou espetáculos públicos. Se alguém faltar, mande-lhe à casa
um condiscípulo ou outra pessoa e, se não apresentar escusas aceitáveis, seja
castigado pela ausência. Os que, sem causa, faltarem muitos dias, enviem-se
ao prefeito e não se recebam sem seu consentimento.
Silêncio e modéstia: procure com particular cuidado que observem todo
o silêncio e a modéstia: não passeiem pela aula, não mudem de lugar, não
passem de um lado para outro presentes ou bilhetes, não saiam da aula,
principalmente dois ou mais ao mesmo tempo.
Proibidos espetáculos e teatros: não vão a espetáculos públicos,
comédias, nem à execução de condenados; e sem licença dos professores e
do prefeito de estudos, não representem nenhum papel em teatros de fora.
Regras para o método:
Ditado: quando puder ensinar sem ditar, de modo que os ouvintes
possam apanhar com facilidade o que deveriam escrever, é preferível que não
dite; mas os que ditarem não parem depois de cada palavra, mas falem de um
fôlego, e se for necessário, repitam; e não ditem toda a questão para depois
perguntá-la, senão alternem o ditado e a explicação.
Remeter os estudantes aos livros: quando trata assuntos que se
encontram nos autores à mão, explique em vez de ditar; e procure mesmo
remeter os alunos aos autores que tratam a matéria com amplitude e rigor.
Repetições na Aula: terminada a lição, é necessário a permanência do
professor, que o mesmo fique na aula ou perto da aula, ao menos durante um
quarto de hora, para que os alunos possam perguntá-lo, para que ele possa às
vezes perguntá-los sobre a lição e ainda para repeti-la.
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Repetições gerais: no fim do ano deverá organizar-se a repetição de
todas as lições passadas de modo que, se não houver impedimento em
contrário, se lhe reserve um mês inteiro livre, não só das aulas como também
das repetições acima.
Cada ano, um livro novo: a explicação de um livro iniciado num ano, não
se deve prolongar no seguinte, a não ser por motivo grave; e não volte a
interpretar o mesmo livro senão depois de explicados os livros mais
importantes.
Uniformidade do modo de ensinar: para que não haja mudança e
queixas dos pais, os novos professores deverão seguir o método de acordo
como o mesmo é.
Regras para o reitor:
Zelo pelos estudos: a companhia dedica-se à obra dos colégios e
universidades, para que se formem cada vez mais estudantes com
conhecimento para contribuir ao auxilio das almas e que passem esta
experiência para com os outros semelhantes.
Presença nos exercícios escolares: regule e distribua as ocupações de
maneira que possa estimular e desenvolver os exercícios literários. Visite por
vezes as aulas, e esteja quase sempre presente às disputas, privadas e
públicas, dos filósofos e teólogos; observe o porque desses exercícios não
permitam os resultados desejados.
Regras para o prefeito de estudos:
Dever do prefeito: dever do prefeito é ser o instrumento geral do reitor,
de acordo com as ordens do reitor, organizar, orientar e dirigir os estudos.
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Autoridade do prefeito de estudos: na direção dos terá como assistente
um prefeito de estudos ao qual dará toda a autoridade que julgar conveniente
para o desempenho cabal de seu ofício.
Ouvir e observar os professores: uma vez por mês o prefeito deverá,
assistir uma aula de determinados professores, caso este prefeito e ao ler os
apontamentos dos alunos entenda que algo que não tenha semelhança com o
proposto pela companhia, este deverá chamar a atenção do professor com
delicadeza e afabilidade, caso não resolva, deverá levar ao conhecimento do
reitor.
Regras para os professores:
Seleção dos professores: a competência, era o marco principal para a
escolha dos professores, competências essas que eram observadas pelas
ações dos professores na universidade, os mais eruditos, aplicados, e
responsáveis, os quais esses deveriam oferecer seus estudos aos seus alunos
para que os mesmos exercitassem em virtude do amor de Deus.
Professores que serão admitidos só para o ensino: aos professores
que tenham talento para o ensino não faria progresso nos estudos superiores,
apenas ao ver da companhia não estariam aptos para outras funções. Só em
caso de motivo grave , ou em cansaço que o provincial poderia dar um
descanso de dois anos para este professor.
Academia para a formação e preparação para os professores: para que
os professores tenham melhor formação, é necessário que esta se tenha em
uma academia privada,e que a pratica seja dada por um professor com grande
experiência de ensino.
Correção dos trabalhos escritos: de regra, os trabalhos escritos deverão
corrigir-se em particular e voz baixa, com cada aluno, de modo que aos outros
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se deixe, no intervalo, tempo para exercitarem-se em escrever. É bom,
contudo, no principio ou no fim da aula, ler e comentar publicamente alguns
espécimes ora dos melhores, ora dos piores.
Método de correção: em geral é este o método de corrigir ou indicar se
foi violada alguma regra; perguntar como se poderá emendar; mandar que os
rivais corrijam publicamente o erro logo que o advertirem e indiquem a regra
transgredida; elogiar, em fim, tudo o que é perfeito. Enquanto isto se realiza,
publicamente, cada aluno leia e corrija a primeira cópia do trabalho (que se
deverá trazer sempre além da que se entrega ao professor).
Cuidado da disciplina: nada mantém tanto a disciplina quanto a
observância das regras. O principal cuidado do professor seja, portanto, que os
alunos não só observem tudo quanto se encontra nas suas regras, mas sigam
todas as prescrições relativas aos estudos: o que obterá melhor com a
esperança da honra e da recompensa e o temor da desonra do que por meio
de castigos físicos.
Regras para o aluno:
Estudante e tempo: os estudantes deverão ter aulas da sagrada
escritura de três a quatro horas diárias, isso quando estiverem no terceiro ano
do curso de teologia , e só serão dispensados os que forem julgados por
incapacidade.
Substitutos dos mestres: estes estudantes poderão substituir, em sua
falta, os professores ordinários de filosofia e teologia; poderão também, se for
necessário, presidir, no lugar do professor, às disputas repetições e disputas
domésticas; e, até, com permissão do provincial, lecionar, por algum tempo,
filosofia e teologia.
Regras para os cursos :
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Por onde se deve começar o ensino: ensinar as aulas que fiquem abaixo
do nível cientifico para que de ano em ano os alunos obtenham um grau maior
de conhecimento para atingir o grau superior.
Curso de filosofia: o curso deverá ser ministrado em três anos, e que
cada ano conclua-se um curso e comece outro.depois do início aos estudos, os
alunos passaram por duas avaliações; a primeira vez pouco antes da
quaresma ou nas férias de páscoa, a outra, terminada a lógica.
Curso de retórica e humanidades: tanto para o curso de retórica quanto
para o de humanidades não existia um prazo fixado de 2, 4 ou mais anos,
mais, uma exigência seria que para que o aluno fosse encaminhado para o
curso de filosofia deveria no mínimo ter estudado dois anos de retórica.
Com base nas regras acima mostro as diferentes opiniões dos autores
sobre o que se almejava o método pedagógico jesuítico, depois da elaboração
do Ratio Studiorum.
Colaborando com essa pesquisa veremos algumas dessas opiniões:
“ ...a igreja foi a mais poderosa das organizações
medievais.” “...se não podemos negar os seus excessos,
abusos e desregramentos de seus membros é justo
lembrar também seu papel extraordinário na difusão da
cultura e no desenvolvimento do ensino...” (
SARONI,1986, p.190)
“ O ensino que os padres Jesuítas ministravam era
completamente alheio à realidade da vida da colônia.”
Ainda “...a instrução em si não representava grande coisa
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na construção da sociedade nascente.”
(ROMANELLI,2001, p.34)
“ Para obter tal “subordinação livre”, que interessa ao
“bem comum”, a educação deve “tornar mais homem”,
lema da Ratio Studiorum usado pela Companhia de
Jesus a partir de janeiro de 1599.” ( HANSEN,2000, p.25)
“ O Ratio Studiorum, que organizava os estudos da
companhia, estabelecia em pormenores o currículo do
colégio.” “... os Jesuítas deviam estar convencidos de que
isso era importante para os homens desta terra.”
(PAIVA,2000, p.44)
“ A metodologia proposta pelo Ratio é bastante
pormenorizada, com a sugestão de processos didáticos
para aquisição de conhecimentos e de incentivos
pedagógicos para assegurar e consolidar o esforço
educativo do aluno.” (KLEIN,1997,p.36)
Concluindo, essas regras só nos mostra como o ensino era rígido em
suas bases, e organiza para a pouca abertura exterior da Companhia de Jesus
.
Cito em especial duas regras importantes para serem analisadas:
Regras do Ratio Studiorum: primeira regra: “silêncio e modéstia:
procure com particular cuidado que observem todos o silêncio e a modéstia,
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não passeiem pela aula, não mudem de lugar, não passem de um lado para
outro presentes ou bilhetes, não saiam da aula, principalmente dois ou mais ao
mesmo tempo.”
Segunda regra : “ proibidos espetáculos e teatros. Não vão a es-
petáculos públicos, comédias, nem à execução de condenados; e sem licença
dos professores e do prefeito de estudos, não representem nenhum papel em
teatros de fora.”
Menciono em especial estas regras pois evidenciam todo o caráter
inicialmente de um método pedagógico autoritário da Companhia de Jesus e
toda a submissão dos envolvidos.
E mais, uma educação para alienação e para individualização dos
educandos do que para o trabalho coletivo.
Enfim, passando para o próximo capítulo, Mudança de paradigma
psicopedagógico no ensino jesuítico, farei um breve histórico sobre a situação
da educação brasileira após a expulsão dos Jesuítas e sua retorno cinqüenta
anos mais tarde, e as conseqüências psicopedagógicas dos envolvidos neste
processo.
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CAPÍTULO II
Mudança de paradigma psicopedagógico no ensino
jesuítico
“...se mudar é uma possibilidade e um
direito, cabe a quem muda – exige o
pensar certo – que assuma a mudança
operada.”
Paulo Freire
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2.1 A expulsão e o retorno dos Jesuítas no Brasil
Anteriormente vimos que o Ratio Studiorum se baseava em regras para
toda a instituição jesuítica, e isso permeou por diversos anos.
Todas as regras, toda a organização da instituição, levando a diversas
pessoas a estudarem nos colégios Jesuítas, até mesmo por não haver outras
instituições educacionais, apenas as militares, mantida pelo governo que
ensinava apenas a artilharia e as construções de fortificações.
Com tamanho “sucesso” mundialmente, o método Jesuíta, ou melhor, os
Jesuítas estavam começando a incomodar os dirigentes do poder, ou seja, a
coroa portuguesa fazendo com que em 1759 houvesse do Marques de Pombal
uma ordem para que expulsassem os Jesuítas dos locais onde os mesmos
estavam lecionando.
Lembrando o que foi dito no início do texto. Para o entendimento dessa
expulsão, uma das causas para que isso acontecesse, foi o fato das
contradições existentes dentro da companhia.
Podemos citar uma dessas contradições, o fato do voto de pobreza dos
Jesuítas, mas, era necessário o custeio dos colégios, os Jesuítas então
lançavam mão da re-dízima que era um valor descontado sobre todos os
dízimos e direitos da coroa.
Esta contradição que começa a incomodar a coroa, aonde crescia uma
campanha na Europa, contra a Companhia de Jesus pois estes eram
acusados de desvirtuar a ordem e ambicionar o poder e a riqueza.
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Com essa expulsão, Marques de Pombal até então ministro de D.José I
de Portugal , fizeram varias reformas para que houvessem no país e suas
colônias um novo modelo educacional.
Veremos a seguir o como ficou a situação da educação brasileira depois
da expulsão dos Jesuítas
2.2 - Século XIX : uma nova implementação do ensino Jesuíta
Com todo essa modificação (s.f.1 ato ou efeito de modificar. 2.
alterações numa coisa sem lhe alterar a essência ) na área educacional
brasileira procuro trabalhar uma indagação que nos parece ser importante:
como ficou a educação brasileira sem a coordenação e o trabalho dos nossos
“primórdios” da educação os jesuítas?
Nesse espaço de tempo nasceu o que podemos chamar de ensino
publico, ou seja, um ensino que era mantido pelo estado e fornecido ao povo.
Para sabermos como era o ensino publico analisaremos as citações.
Ao final de três décadas de colonização portuguesa, o Brasil mostra no
campo educacional, as marcas do projeto levado a cabo por Portugal em
relação as suas colônias de alem –mar. A expulsão da Companhia de Jesus
dos domínios portugueses após séculos de predominância na educação, faz
com que se inicie nesta colônia um processo de laicização da instrução com o
envio dos professores leigos.
“ Inúmeras foram as dificuldades daí decorrentes para o
sistema educacional. dá expulsão até as primeiras
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providencias para a substituição dos educadores e do
sistema jesuítico transcorreu um lapso de 13 anos. com a
expulsão desmantelou-se toda uma estrutura
administrativa de ensino. a uniformidade da ação
pedagógica, a perfeita transição de um nível escolar para
outro a graduação, foram substituídas pela diversificação
das disciplinas isoladas. leigos começaram a serem
introduzidos num ensino e o estado, assumiu pela
primeira vez, os encargos da educação” continuando
“...compuseram o maior contingente de professores
recrutados para as chamadas aulas regias. introduzidas
com a reforma pombalina.” (ROMANELLI, 2001,p.36)
O curso de humanidades foi abolido, e as aulas avulsas de latim, grego
filosofia e retórica ficaram em seu lugar.
Os padres que se formavam na Europa estavam sob forte influencia
iluminista.
E por serem mais sensíveis as mudanças e inovações pois eram
capazes de avaliar o desenvolvimento das ciências estudando matemática e
ciências e não apenas as artes literárias.
Com o poder do Papa Pio VII, a Companhia de Jesus, foi restaurada,
agora adaptada ao modelo político da época.
Aqui no Brasil havia outras instituições educacionais, e para
acompanhar o tempo e para revalidar a educação jesuítica, a Companhia de
Jesus resolve rever o plano de estudos dos jesuítas, ou melhor, o Ratio
Studiorum.
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Houve então a 20ª e 21ªcongregação geral, que eram reuniões da
companhia,para ser incumbida uma comissão responsável para a revisão do
Ratio Studiorum.
Não foi elaborado um novo método de estudos, mas, sim uma
adaptação para as necessidades da época.
Mudaram todo o currículo com alterações na carga horária, introduziram
disciplinas como; historia, geografia, matemática.
Com toda essa preocupação com o método a ser utilizado nas
instituições, chegou-se a uma conclusão. Em 1844 os colégios Jesuítas
teriam a liberdade de elaborar seu próprio plano de estudos, logicamente com
a aprovação do superior geral.
Enfim, com isso o método pedagógico de 1599, o Ratio Studiorum foi
extinto, mais aos poucos, pois em alguns colégios ainda se usavam algumas
de suas regras.
E no lugar do Ratio Sturiorum, como foi dito acima, dado as instituições
o poder de elaboração dos próprios planos de estudos.
Portanto, o que se chamou no momento de instruções,que não era
nada muito promissor mais sim mais uma regulamentação sobre a formação
do educador desde sua entrada na companhia quanto na sua docência.
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CAPÍTULO III
O método jesuítico na atualidade : seus conflitos e
congruências psicopedagógicas
“...ensinar não é transmitir
conhecimentos, mas criar as
possibilidades para a sua própria
produção ou sua construção.”
Paulo Freire
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3.1- Um novo modelo educacional Jesuíta
Com o fim do Ratio Studiorum, um grande avanço para os jesuítas, um
plano de estudos onde toda a elaboração corre por conta das instituições.
Em 1965, aconteceu o que para os Jesuítas foi algo de grande
importância, a congregação geral.
Esse seria um marco , pois é uma renovação nos currículos e no
trabalho a ser desenvolvido pelos jesuítas, que ocorre dessa data até os dias
atuais.
A 31ª congregação geral, estudou o trabalho educativo jesuítico até em
suas preliminares, como nunca havia feito antes pela Companhia de Jesus.
Após essa congregação qual seria o objetivo da Companhia de Jesus
na atualidade? Como eram as relações interpessoais das instituições?
Continuam a ser rígidas?
Veremos a seguir uma análise do autor Luiz Fernando Klein a
atualização jesuítica.
“...o trabalho educativo visa fazer dos cristãos homens
cultos e comprometidos com o apostolado moderno e
propiciar aos nãos - cristãos, por meio de uma formação
humana integral, a orientação para o bem comum e o
conhecimento e amor de Deus ou, pelo menos, dos
valores morais e religiosos.” (KLEIN, 1997,p.47)
Portando basicamente a visão dos jesuítas para com a educação é:
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Reavivamento da visão inaciana; trabalhar com a visão Inaciana da
reflexão sobre a superação dos seus próprios desafios.
Os alunos como meta do processo educacional; o objetivo da
Companhia de Jesus passa a ver o aluno como meta no processo educacional.
Opção pela justiça; a opção pela justiça vem revigorada, com mais
ênfase na justiça com os menos favorecidos.
Mediações pedagógicas; o professor mais que os métodos; agora o
professor passa a ser mais importante no processo de aprendizagem do que o
método.
Com vista numa educação mais moderna e atual, os Jesuítas prezam
cinco pontos cruciais:
1. Contexto: verificação sobre as expectativas do educando em relação o
que deseja empreender.
2. Experiência: reconhecer os fatos, conceitos, princípios, para assim ter
uma vivência espontânea do aluno.
3. Reflexão: desenvolver nos alunos a atitude reflexiva diante de tudo o
que experimentam tanto intelectualmente, quanto afetivamente.
4. Ação: agir em prol dos outros e não apenas falar e pensar, mais agir.
5. Avaliação: o avaliar e a busca incessante da busca pelo resultado que é
o aluno a formar, mesmo sendo o ultimo item mencionando, e o reinicio de um
processo espiral.
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Portanto podemos notar diante dos métodos iniciais dos jesuítas e o
método proposto atualmente, e de uma grande mudança progressista.
Mais convém lembrarmos de algumas situações de conflitos
psicopedagógicos ainda existentes nestas instituições.
O que fazer com as crianças com distúrbios de aprendizagem? Esta é
uma dúvida vindo desde os primeiro capitulo exposto no trabalho.
Se antes havia as regras do Ratio Studiorum, o que se faz hoje dentro
das instituições jesuíticas, num caso como o que citarei abaixo?
3.2. Estudo de caso: como intervir junto a psicopedagogia nas
relações afetivas e cognitivas para o desenvolvimento da
aprendizagem?
Na escola “X”, localizada na periferia de uma determinada cidade,
alunos da segunda série do Ensino Fundamental, reprovados em dois ou três
anos letivos seguidos, com idade entre 11 e 13 anos, procedem da seguinte
forma:
- Palavras de baixo calão;
- Tratamento agressivo para com os colegas;
- Agitação constante;
- Falta de atenção;
- Provocação ao professor.
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Ao executar o estudo de caso, a postura educativa da escola
recomendou que o professor reavaliasse sua conduta , e, se tratando de um
professor amigo, aconselharam que os laços fossem rompidos, afinal, o
professor deve ser visto como autoridade e não como um amigo do aluno.
Como se portaria um caso desse dentro de uma instituição jesuítica?
Entender que os problemas sociais afetam a vida do educando , hoje sabemos
disso, mais diante deste impasse dito acima , quais medidas a serem tomadas
psicopedagogicamente?
Como cita Perrenoud:
“...mesmo que o professor não possa ou não queira
encarnar um poder autoritário , dificilmente será apenas
um animador , sem expressar suas vontades , suas
opiniões , sua personalidade ...” (PERRENOUD, 2001,
p.75)
Se por um lado o professor lança mão do autoritarismo para impor sua
autoridade em sala de aula, do outro lado, os tempos atuais como visto na
citação acima, pedem que a relação professor – aluno seria horizontal, que
haja cumplicidade, afetividade, respeito, para que possa enfim ocorrer a
aprendizagem.
Quando falamos em afetividade, estamos falando de algo muitas vezes
não visto nem percebido por que começa a ocorrer no interior do ser humano;
ora, que afetividade seria esta?
Um aluno que chora, é visivelmente percebido, não tendo a mesma
sorte, o aluno que se cala.
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E o aluno que se agita? Que grita, põe para fora, agride, debate,
confronta... ?
E o aluno que perturba ?
Em casos semelhantes, é comum ouvirmos educadores dizendo:
- “...se atrapalha, não serve para conviver em sala. O conteúdo tem
que ser trabalhado, para trabalhar o conteúdo, temos que ser omissos a
afetividade, ou vice versa”
-
E a formação integral, onde fica ? Como fazer diante da psicopedagogia
para intervir num caso como esse?
É de fato que para professores com tal postura educativa, a resposta é
óbvia; “ formação integral” só do “lado de cá” do portão da escola, do “lado de
lá” é uma vida obscura e diferente demais para ousar mexer.
A escola deve promover meios para atingir o interesse do aluno, mas
enquanto se pensa, a vida oferece estímulos para desvalorizá-los, baixar sua
alto estima e reprovar a escola que tanto –os reprovam.
Formação integral ainda se faz difícil devido às marcas deixadas pelas
pedagogias anteriores.
Podemos voltar ao início do texto e notar alguns resquícios da educação
jesuíta dentro deste estudo de caso, isso veremos a seguir.
Problemas em sala de aula dificilmente são vistos pelo lado afetivo, a
menos que, sejam provocados pelo professor, “pois não se pode
responsabilizar o aluno nem o meio que –o cerca”, outrora, os alunos são
punidos “pois é o professor o detentor do conhecimento”.
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A separação entre afetividade e cognição é visível no meio educativo, e
“formação integral” é incompreendida nas escolas, pois se exige um
comprometimento com a vida do educando, um estudo do currículo oculto à
escola.
Talvez seja essa formação que ainda negam as escolas, afinal, o
Sistema pede para que formem profissionais, deixando de lado, para a família
ou /e para “a vida”, a formação do ser pessoal.
Arraigados há pedagogias tradicionais, o movimento também é castrado
em sala de aula por diversos educadores, em suma, é mais cômodo e “seguro”
optar por um trabalho cognitivo, negando a existência do emocional.
Agir com rigidez, trancar com chaves a sala de aula, confrontar o aluno
para mostrá-los quem manda, dizer “não” constantemente, punir severamente,
não sorrir.
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Que educação seria essa ? Ou, que tipo de formação se pretende
agindo com tal postura?
Assim quando surgiu a pedagogia de Carl Rogers pode-se entender um
pouco da necessidade da junção da afetividade com a cognição, é isso que a
psicopedagogia precisa para intervir na vida dos educandos, para um melhoria
não só da aprendizagem mais um descobrimento do seu Eu, das suas
habilidades e seu potencial.
Deveria ser difícil o ato de educar na época colonial, aliais educar não,
deveria ser quase impossível o educar (pelo menos este que nós solicitamos
atualmente), e fácil, muito fácil instruir, ou melhor , domesticar.
Não é apenas marcar os pontos negativos dos métodos abordados pelos
jesuítas naquela época, apenas marcar que isso é passado e não podemos
voltar a tomar atitudes onde a autoridade, a descrença sejam vitoriosos no
campo do saber.
Há diversos estudos psicológicos que afirmam que a afetividade com
uma imensa influência na vida como um todo, e sendo assim, não é possível
qualquer transformação sem envolvê-la.
“A afetividade compreende o estado de ânimo ou
humor, os sentimentos, as emoções e as paixões e
reflete sempre a capacidade de experimentar
sentimentos e emoções. A Afetividade é quem
determina a atitude geral da pessoa diante de
qualquer experiência vivencial, promove os
impulsos motivadores e inibidores, percebe os
fatos de maneira agradável ou sofrível, confere
uma disposição indiferente ou entusiasmada e
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determina sentimentos que oscilam entre dois
pólos, a depressão e a euforia. Desta forma, a
afetividade é quem confere o modo de relação do
indivíduo à vida e será através da tonalidade de
ânimo que a pessoa perceberá o mundo e a
realidade. Direta ou indiretamente a Afetividade
exerce profunda influência sobre o pensamento e
sobre toda a conduta do indivíduo.”
Diferente dos métodos tradicionais os aplicados nas instituições
jesuíticas , na época colonial, ( que priorizam a inteligência e o desempenho em
sala de aula), a proposta de um pesquisador que põe o desenvolvimento
intelectual dentro de uma cultura mais humanizada.
É isso que se almeja nos dias atuais, uma educação integral, para indi-
víduos completos, pois, não se pode educar por partes, é necessário trabalhar
com o todo, envolvendo e aplicando o meio em que vive o aluno como
estratégia fundamental, considerando não só o corpo presente como também
as emoções presentes no corpo.
Agindo assim, estaremos caminhando rumo uma nova postura
educativa, onde o construtor do conhecimento passa a ser estimulado e
acompanhado em todo o seu histórico de vida, tendo entendido que o processo
educacional não ocorre apenas dento da instituição.
Enfim, vimos nesse ultimo capítulo a importância da mudança do
método para a instituição pedagógica jesuítica, e espero que hoje o ensino
jesuítico possa realmente ser uma Companhia de Jesus, e levar para todos os
seus educandos, amor, paz, solidariedade, fé, cumplicidade e compaixão para
com os outros.
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CONCLUSÃO
Ao estudar este tema sobre o método pedagógico jesuítico, uma visão
psicopedagógica, muitas dúvidas, e esclarecimentos surgiram.
Uma das dúvidas seria por que tanta rigidez para se cumprir o ato de
aprender, um ato que deveria ser saboreado, ser prazeroso, pois o aprender
nos fornece um mister de emoções.
Tenho consciência de que o método adotado naquela época era
totalmente desvirtuado da realidade com que se aprende, mais devemos levar
alguns pontos em consideração.
A rigidez do método estaria em torno de uns 450 anos, ou seja, o nosso
País passava por transformações históricas significativas, naquele tempo havia
apenas a pedagogia tradicional, qualquer modernidade seria pedir demais,
para um País recém descoberto, recém “educado”
O que mais me chama atenção e estarmos vivendo na atualidade, com
tantas pedagogias propostas por diversos pesquisadores, pensadores,
educadores, e ainda algumas instituições, não menciona apenas a jesuítica
mais também a escola do estudo de caso visto neste trabalho, ainda agir como
se os tempos não almejassem outros cidadãos diferentes daqueles de 450
anos atrás.
Como psicopedagoga, meu trabalho é intervir ao máximo para que
atitudes assim possam ser abolidas no contexto educacional, e até mesmo,
intervir em atitudes que possuam interferir no crescimento do educando, e
possivelmente do educador.
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Conclui-se que este trabalho não é para julgar se é bom ou ruim o
método pedagógico jesuíta, mais sim fazer com que futuros educadores ,
professores, psicopedagogos, pedagogos, psicólogos, possam indagar sobre
sua pratica cotidiana. Que se revejam suas atitudes, se permitem analisar se
estamos mesmo praticando o ato de EDUCAR com responsabilidade, e não
apenas copiando o que gerações anteriores faziam no ato de INSTRUIR.
“ Em uma sociedade dinâmica como a nossa, só se pode
ser eficaz uma educação para a mudança. Esta educação
consiste na formação do espírito isento de dogmatismo,
que capacite a pessoa para elevar-se acima da corrente
dos acontecimentos, ao invés de arrastar-se por
eles.”(BRANDÃO, 1998, p.80)
BIBLIOGRAFIA
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http://www.psiqweb.med.br/afeto.html>revisto em 2002
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prática. 2ª .ed. Porto Alegre :Artmed , 2002.
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CHAUI, Marilena. Brasil: Mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo:
Fundação Perseu Abramo, 2000.
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PERRENOUD, Phillip. A pedagogia na escola das diferenças. Porto Alegre:
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45
SACRISTÁN, J.Gimeno. Educar e conviver na cultura global : as
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SARONI, Fernando; DARÓS, Vital. Histórias da civilização 1: Idade antiga e
idade média. São Paulo: FTD, 1986.
SILVA, Tomaz Tadeu. Documentos de Identidade - Uma introdução às teorias
do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
46
ÍNDICE
INTRODUÇÃO 08
CAPITULO I 10
A PRESENÇA DOS JESUÍTAS NO BRASIL 10
1.1. Jesuítas: breve contexto histórico. 11
1.2. O Ratio Studiorum: e a psicopedagogia dentro das instituições
jesuíticas brasileira 17
CAPÍTULO II 28
MUDANÇA DE PARADIGMA PSICOPEDAGOGICA NO ENSINO
JESUÍTICO 28
2.1. A expulsão e o retorno dos Jesuítas no Brasil 29
2.2.Século XIX : uma nova visão psicopedagógica no ensino jesuíta 31
CAPÍTULO III 33
O MÉTODO JESUÍTICO NA ATUALIDADE : SEUS CONFLITOS E
CONGRUÊNCIAS PSICOPEDAGÓGICAS 33
3.1. Um novo modelo psicopedagógico Jesuíta 34
3.2. Estudo de caso: como intervir junto a psicopedagogia nas
relações afetivas e cognitivas para o desenvolvimento da aprendizagem? 36
CONCLUSÃO 42
BIBLIOGRAFIA 44
ÍNDICE 46
ANEXOS 47
47
ANEXOS