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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE IMPACTO DAS ENCHENTES NOS MUNICÍPIOS DA BAIXADA FLUMINENSE Por: Karla de Souza Velasco Orientador Prof. Francisco José de Jesus Carrera Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

IMPACTO DAS ENCHENTES NOS MUNICÍPIOS DA BAIXADA

FLUMINENSE

Por: Karla de Souza Velasco

Orientador

Prof. Francisco José de Jesus Carrera

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

IMPACTO DAS ENCHENTES NOS MUNICÍPIOS DA BAIXADA

FLUMINENSE

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Gestão

Ambiental

Por: . Karla de Souza Velasco

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, pela vida e pela

força para continuar a caminhada em

busca dos meus objetivos, a minha

mãe Terezinha pelo apoio em todos os

momentos da minha vida, ao meu

esposo Gabriel pelo incentivo e por me

ajudar a transformar mais um sonho

em realidade, a todos os professores

do curso de Gestão Ambiental que

tanto contribuíram com seus

conhecimentos.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu pai, José

Luiz Velasco de Souza, que sempre foi

meu exemplo de força, garra e

determinação. Estará sempre em meu

coração.

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RESUMO

O trabalho se baseia em pesquisa de caráter bibliográfico, acerca da origem,

conseqüências e problemas ocasionados pela ação das enchentes no

município de Nova Iguaçu/RJ, percorrendo as principais etapas do processo de

urbanização da cidade, destacando os aspectos geológicos, tais como relevo,

vegetação, solo, hidrografia, fatores de essencial importância para o estudo a

que se propõe o trabalho, fazendo uma rápida, porém, preciosa caracterização

da área de estudo, neste caso, a cidade de Nova Iguaçu, destacando também

os impactos sócio-econômicos acarretados por este desastre natural, bem

como, as doenças co-relacionadas a ele. Como conclusões gerais, verificamos

que, o desenvolvimento urbano na Baixada Fluminense, sobretudo em Nova

Iguaçu, tem produzido um aumento caótico na freqüência das inundações.

Sabe-se que os impactos sofridos pela população são causados,

principalmente, pela ocupação inadequada do espaço urbano e que à medida

que a malha urbana cresce ocorre o aumento das vazões máximas devido à

impermeabilização e à canalização.

Descritores: 1. Nova Iguaçu. 2. Enchentes. 3. Urbanização. 4. Hidrografia

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METODOLOGIA

A metodologia utilizou-se de revisão bibliográfica, levantamento

bibliográfico regional, com destaque para Nova Iguaçu e seu histórico de

ocupação, levantamento cartográfico e temático do município e da bacia

hidrográfica do rio Paiol em escala 1:10.000 do Google Earth e visitas a órgãos

públicos municipais (Secretaria Municipal de Obras e Secretaria Municipal do

Meio Ambiente de Nova Iguaçu).

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Conceitos sobre Enchentes 09

CAPÍTULO II - Consequências das Inundações 19

CAPÍTULO III – Enchentes na Baixada Fluminense 26

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40

ANEXOS 42

ÍNDICE 45

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INTRODUÇÃO

Todos os anos, sobretudo na época do verão, as fortes chuvas que

atingem o estado do Rio de Janeiro, geram diversos transtornos a população

devido à ocorrência de enchentes. Sendo assim, se faz necessário um estudo

acerca da origem, consequências e problemas ocasionados pela ação das

enchentes, percorrendo as principais etapas do processo de urbanização da

região, destacando os aspectos geológicos, tais como relevo, vegetação, solo,

hidrografia, fatores de essencial importância para o estudo a que se propõe o

trabalho, fazendo uma rápida, porém, preciosa caracterização de uma área

específica de estudo – o município de Nova Iguaçu, destacando também os

impactos socioeconômicos acarretados por este desastre natural, bem como,

as doenças correlacionadas a ele. Verificamos que, o desenvolvimento urbano

na Baixada Fluminense, tem produzido um aumento caótico na frequência das

inundações. Sabe-se que os impactos sofridos pela população são causados,

principalmente, pela ocupação inadequada do espaço urbano e que à medida

que a malha urbana cresce ocorre o aumento das vazões máximas devido à

impermeabilização e à canalização.

São portanto, objetivos desta pesquisa traçar uma correlação entre os

processos naturais e sociais que podem contribuir para a ocorrência de

enchentes na Baixada Fluminense, sobretudo no município de Nova Iguaçu,

refletir sobre os principais fatores que dão origem as enchentes, apresentar os

impactos da ocorrência de enchentes sobre a população e discutir métodos de

prevenção deste problema ambiental.

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CAPÍTULO I

CONCEITOS SOBRE ENCHENTES

As enchentes são calamidades naturais ou não que ocorrem

quando um leito natural recebe um volume de água superior ao que pode

comportar resultando em transbordamentos. Pode ocorrer em lagos, rios,

córregos, mares e oceanos devido a chuvas fortes e contínuas (SANTOS,

2008).

Em áreas rurais ocorre com menos freqüência, pois o solo bem como a

vegetação se compromete a fazer a evacuação da água pela sucção da

mesma provocando menores prejuízos. Normalmente ocorre com menos força

não atingindo consideráveis alturas que provocariam a perda de alimentos

armazenados, de máquinas e outros objetos. Já nas áreas urbanas, ocorre

com maior freqüência e força trazendo grandes prejuízos. Acontece pela

interferência humana deixando assim de ser uma calamidade natural. A

interferência humana ocorre em vários estágios começando pela fundação de

cidades em limites de rios, pelas alterações realizadas em bacias hidrográficas,

pelas construções mal projetadas de diques, bueiros e outros responsáveis

pela evacuação das águas e ainda pelo depósito errôneo de lixo em vias

públicas que com a força das águas são arrastados causando o entupimento

dos locais de saída de água.

O aumento das áreas impermeáveis e a falta de infra-estrutura

adequada para o escoamento da água acumulada são as principais causas

das enchentes pluviais. De acordo com TUCCI (1995), a falta de controle pelo

poder público da urbanização e a não ampliação das redes de drenagens são

os principais causadores das grandes inundações urbanas. TUCCI & BRAGA

(2000), destacam que a impermeabilização e a canalização aumentam em até

sete vezes as vazões máximas das cidades urbanizadas.

As enchentes e inundações acontecem em todo o país e têm quase

sempre características e periodicidade diferentes em cada região.

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De acordo com a SECRETARIA NACIONAL DE DEFESA CIVIL (2002),

na região Norte, apenas para mencionar algumas importantes, temos as

enchentes das áreas ribeirinhas do rio Amazonas, que chegam a alcançar

vários quilômetros de distância desde a margem. Igualmente, as das bacias

dos rios Madeira, Tapajós, Xingu, Negro e Tocantins. As enormes enchentes

da cidade de Rio Branco, no Estado do Acre, são, por exemplo, influenciadas

pelo degelo na Cordilheira dos Andes.

Na região Nordeste, são inúmeros os rios que sofrem enchentes,

destacando-se o rio São Francisco, o vale do rio Jaguaribe, no Ceará, o

Parnaíba, no Piauí, e os rios de Contas e Paraguaçu, na Bahia. Todos os

outros Estados da região sofrem também inundações cíclicas, muito

freqüentes nos Estados de Pernambuco e Alagoas. Uma das enchentes mais

importantes na região ocorreu em 1985, apresentando mais de um milhão de

pessoas desabrigadas e danos incalculáveis à produção agrícola e à infra-

estrutura de serviços essenciais.

Em 1992, o rio São Francisco apresentou, também, uma enchente de

vulto, afetando principalmente Minas Gerais, Bahia, Sergipe e Alagoas. Na

região Sul, o Estado mais afetado é o de Santa Catarina. Em 1983, o rio

Itajaiaçu sofreu uma enchente tão violenta, que chegou a subir 17 metros

acima do nível normal. Neste Estado, ocorrem também, freqüentemente,

enchentes nos rios Uruguai, do Peixe e Tubarão. Os Estados do Rio Grande

do Sul e do Paraná também sofrem com as enchentes dos rios Paraná,

Uruguai, Iguaçu, Jacuí, Taquari e Guaíba.

É interessante destacar que na região Centro-Oeste ocorrem os dois

fenômenos: enchentes em todos os Estados da região e inundações (no

pantanal) de evolução lenta e gradual, cobrindo uma imensa extensão

territorial. É um fenômeno cíclico anual, que comanda o equilíbrio biológico da

fauna, flora, água e do solo. Um dos rios de importância, causador de grandes

enchentes é o Araguaia, afetando principalmente o Estado de Goiás.

Na região Sudeste, todos os estados são afetados por enchentes nos

seguintes rios: Paraná, em Minas Gerais e São Paulo; o rio Tietê, em São

Paulo; o Paraibuna, em Minas Gerais; o rio Doce, no Espírito Santo, e muitos

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outros, causando danos à população Mas há que chamar a atenção para dois

tipos de problemas bem caracterizados nesta região: as enxurradas, que

alagam em minutos as cidades de São Paulo, do Rio de Janeiro e outras, com

mortos, pânico e tremendos danos econômicos e também os grandes e sérios

alagamentos dos municípios da Baixada Fluminense, no Estado do Rio de

Janeiro. Portanto, há que ressaltar que as enchentes, inundações, enxurradas

e alagamentos afetam todos os estados, nas cinco regiões do país.

Praticamente, pouquíssimos municípios não são afetados. Não será

necessário afirmar que as perdas econômicas, os danos materiais e às

propriedades, bem como o sofrimento das populações atingidas alcançam um

volume impossível de ser expresso em valores monetários.

Como se sabe, o Brasil apresentou, nas últimas décadas, um êxodo

rural acentuado, provocando, assim, um crescimento urbano desordenado,

impulsionado pelo processo de industrialização e de modernização. Essa

tendência de urbanização rápida não permitiu aos poderes públicos locais

estabelecerem o ordenamento da ocupação do solo urbano, gerando as

enchentes, os deslizamentos de encostas, os desastres tecnológicos e as

epidemias urbanas, que se traduzem em tragédias freqüentemente verificadas

no País.

A seca, as inundações e os deslizamentos constituem os desastres

mais freqüentes e de maior importância no Brasil.

Como se percebe, as enchentes na maioria das vezes ocorrem como

conseqüência da ação humana. Das dificuldades que uma enchente provoca

pode-se destacar o abandono dos lares inundados, a perda de materiais,

objetos e móveis inundados ou arrastados pela água, a contaminação da água

por produtos tóxicos, a contaminação da água com agentes patológicos que

provocam doenças como amebíase, cólera, febre amarela, hepatite A, malária,

poliomielite, salmonelose, teníase entre outras.

A contaminação de alimentos pelos mesmos agentes patológicos acima

citados.

Além das atividades já citadas que colaboram com as formações de

enchentes também devemos nos lembrar que as áreas urbanas são mais

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propícias às enchentes porque o solo dessas regiões são impedidos pelos

asfaltos de absorver a água e também pela falta de vegetação ou pouca

vegetação que contribui com a sucção da água.

Para impedir a continuação das enchentes e que inúmeras famílias

percam seus patrimônios pode-se construir barragens e reservatórios em áreas

de maior risco, bueiros e diques espalhados pela cidade com sua abertura

protegida para impedir a entrada de lixos e ainda a conscientização da

população para que não deposite lixo nas vias públicas.

As enchentes também são benéficas, por se tratar de um fenômeno

cíclico da natureza, onde a água desempenha um importante papel na vida da

fauna, da flora e do próprio homem.

Conviver com este fenômeno natural é fundamental. Nas áreas

agrícolas, por exemplo, podem ser benéficas em função do tipo de cultura,

requerendo o preparo das áreas a serem plantadas e o manejo do solo nas

épocas adequadas.

A medida em que o próprio homem modifica o equilíbrio natural dos

caminhos de drenagem, desmata e ocupa o solo indevidamente, as

consequências são voltadas contra o seu próprio bem estar e suas economias.

1.1 – Origem das enchentes e inundações urbanas

A atividade antrópica vem provocando alterações e impactos no

ambiente há muito tempo, existindo uma crescente necessidade de se

apresentar soluções e estratégias que minimizem e revertam os efeitos da

degradação ambiental e do esgotamento dos recursos naturais que se

observam cada vez com mais freqüência.

O problema das inundações em áreas urbanas existe em muitas

cidades brasileiras e suas causas são tão variadas como assoreamento do

leito dos rios, impermeabilização das áreas de infiltração na bacia de

drenagem ou fatores climáticos. O homem por sua vez procura combater os

efeitos de uma cheia nos rios, construindo represas, diques, desviando o curso

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natural dos rios, etc. Mesmo com todo esse esforço, as inundações continuam

acontecendo, causando prejuízos de vários tipos (CANHOLI, 2006).

O desenvolvimento urbano das últimas décadas tem se mostrado

negativo quando relacionado a drenagem de águas pluviais. Áreas cada vez

maiores se tornam impermeáveis, reduzindo a capacidade de infiltração do

solo e acelerando a velocidade do escoamento superficial. O resultado desse

processo é um volume cada vez maior de vazões de pico e uma queda no

tempo de escoamento tornando o hidrograma de cheia mais crítico. A solução

até então adotada busca remover da forma mais eficiente a água dos centros

urbanos com obras hidráulicas, como construção de rede de drenagem,

canalizações, construções de galerias, dentre outras medidas estruturais que

sem sucesso acaba gerando alagamento constante. As limitações dessas

soluções estão nas dificuldades que as grandes cidades enfrentam em drenar

o grande volume de água que chega nos condutos em curto intervalo de

tempo. À medida que o centro urbano se desenvolve faz-se necessário um

reajustamento do sistema de drenagem para adaptá-lo a uma situação com

hidrograma de cheias mais rápido e mais intenso. Dessa forma, estas medidas

não são sustentáveis, pois resolve o problema da cheia em uma área e

transfere o problema para outra (jusante). Passa a exigir, assim, o constante

redimensionamento da rede de drenagem de jusante com custos elevados e

cada vez mais dispendiosos para os cofres públicos. A solução viável para se

proteger contra as cheias urbanas é interceptar a água da chuva antes de

atingir a rede de drenagem. Desta forma, as medidas compensatórias de

drenagem como trincheiras de infiltração, pavimento permeável e

microreservatório de detenção no lote, dentre outros se apresentam como

bons instrumentos de controle do escoamento superficial. O seu uso se torna

possível com o planejamento da drenagem urbana que passa a obrigar as

novas construções a adotarem medidas alternativas de controle de enchentes

urbanas. (SOUZA E GOLDENFUM, 2001).

O desenvolvimento urbano é um processo de mudança na paisagem

natural que passa a dar lugar às grandes estruturas de concreto em

substituição a cobertura vegetal alterando o comportamento do escoamento

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superficial. As cidades criam em torno de si obstáculos para o movimento

natural da água pluvial através da impermeabilização do solo com a

pavimentação de ruas, calçadas, e a própria edificação. Isso aumenta o

escoamento superficial da água que antes era infiltrada ou retida na vegetação

e agora passa a escoar na rede de drenagem urbana, incapaz de atender a

demanda. O crescimento urbano das cidades gera profunda alteração no ciclo

hidrológico como baixa infiltração no solo, altos picos de escoamento

superficial com reduzido tempo de concentração, redução do nível do lençol

freático no aqüífero por falta de alimentação; redução da evapotranspiração

por diminuição da vegetação. Dessa forma, essa alteração no ciclo contribui

significativamente no surgimento constante de novas inundações urbanas.

(TUCCI, 2005).

1.2 – Inundações de áreas ribeirinhas

Ao longo da história, os rios têm sido utilizados como vias de penetração

para o interior e facilitado o crescimento de aglomerados urbanos e áreas

cultivadas, uma vez que a água é um recurso fundamental para a

sobrevivência humana. Dessa forma, os rios espelham, de maneira indireta, as

condições naturais e as atividades humanas desenvolvidas na bacia

hidrográfica, sofrendo, em função da escala e intensidade de mudanças

nesses dois elementos, alterações, efeitos e/ou impactos no comportamento

da descarga, carga sólida e dissolvida, e poluição das águas. Na maioria das

vezes, os fatores naturais (topografia, geologia, solos, clima e vegetação)

podem iniciar desequilíbrios que serão agravados pelas atividades humanas na

bacia hidrográfica, especialmente pelo manejo inadequado dos solos urbano e

rural (Cunha, 2000). São exemplos a substituição das matas ciliares por terras

cultivas e o avanço do processo de urbanização. Vale ainda lembrar que a

mata ciliar tem algumas funções primordiais (Lima e Zakia, 2000): função

protetora (diminui a erosão das margens e os impactos, permite maior

infiltração e a recarga de aquiferos), influencia no manejo da água dentro da

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bacia hidrográfica, evita o assoreamento do canal e reduz a chegada de

produtos químicos, além de manter a fauna (aves e peixes) com o

fornecimento de alimentos e sombra.

As Inundações de áreas ribeirinhas ocorrem porque os rios geralmente

possuem dois leitos, o leito menor onde a água escoa na maioria do tempo e o

leito maior, que é inundado em média a cada dois anos. O impacto devido a

inundação ocorre quando a população ocupa o leito maior do rio, ficando

sujeita a inundação.

As consequências das enchentes trazem não só riscos de vida para a

população (perdas humanas, perdas materiais e doenças por contaminação),

como também alteram a morfologia dos canais, importante elemento para a

manutenção da ecologia e sustentabilidade das ambientes aquáticos.

1.3 – Ocupação das margens

O homem, ao usar as margens de um curso de água para alguma

finalidade, quer seja uma atividade agrícola, uma construção qualquer, como

os apoios de uma ponte ou travessia e mesmo tornando-as áreas residenciais,

estará criando obstáculos aos escoamentos possíveis de ocorrência para

chuvas freqüentes.

Nas grandes cidades, em virtude da procura por residências próximo

aos locais de trabalho, infelizmente, é difícil controlar, principalmente nas

regiões menos valorizadas e menos atendidas pelos investimentos públicos, o

avanço de moradias sobre as margens dos cursos de água.

A população menos favorecida sob o ponto de vista econômico,

procura, geralmente, essas áreas, consideradas de risco, para estabelecer

suas moradias, onde os loteamentos são improvisados e ilegais e as

residências construídas de forma compatível com os recursos financeiros

disponíveis, resultam em domicílios, muitas vezes precários, ao longo das

margens, interferindo diretamente nos álveos dos cursos de água.

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As residências, uma vez estabelecidas, passam a ser, não só uma

restrição à capacidade de escoamento da calha, mas também, fontes de

poluição, através de esgotos sanitários e o lixo gerados pelos moradores.

À medida que aumenta a concentração das unidades domiciliares

nessas áreas, a população avança no sentido do próprio álveo, construindo

pilares ou apoios diretamente no leito menor para sustentar as casas ou

barracos.

Os escoamentos gerados por chuvas intensas, além de transportar o

lixo descartado ao longo do percurso, encontra nesse tipo de construção, uma

resistência enorme, provocando a elevação do nível da água para montante a

diminuição da capacidade de fluxo e o possível extravasamento com

conseqüente inundação de áreas vizinhas. Dependendo das velocidades do

escoamento, a pressão exercida sobre tais construções poderá causar o

colapso das frágeis estruturas.

É importante ressaltar que os cursos de água são simplesmente o

caminho natural das águas da chuva e das contribuições do lençol

subterrâneo, devendo, portanto, permanecer limpos e desimpedidos. Dado que

este princípio é claro e que dele depende a segurança da população ribeirinha

nas ocasiões de chuvas fortes, a presença de lixo nos cursos de água pode

ser considerada um indicador da distorção de hábitos entre os habitantes de

uma mesma bacia hidrográfica.

1.4 – Inundações devido à urbanização

As cidades no final do século XIX possuíam uma baixa densidade

demográfica e consequentemente uma reduzida produção de esgoto pluvial. A

preocupação da administração pública era evitar o aparecimento de doenças

de vinculação hídrica retirando das cidades o esgoto. Neste período, a visão

higienista predominava com a proposta de escoar as águas paradas nas ruas,

de possível contaminação, até os rios como meio de transporte lançando para

um ponto bem longe da cidade, isto é, coletava-se a água a montante e

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despojava a jusante transferindo a vazão o mais rápido possível para regiões

seguintes. Durante muito tempo essa forma de tratamento da drenagem

urbana foi aplicada nos países desenvolvidos. Adotava-se, então, um sistema

de drenagem por galerias e condutos subterrâneos que transporta rapidamente

o excesso de água empoçada nas vias públicas. O problema é que essa

prática se tornou comprometedora com o crescimento urbano em meados do

século XX, pois o desenvolvimento das cidades aumenta o volume de esgoto

pluvial e aumenta a poluição nas cidades subseqüente ao longo da bacia.

Passa a surgir a partir daí, inundações cada vez mais freqüentes nas áreas

urbanas. (SILVEIRA, 2000)

As enchentes aumentam a sua freqüência e magnitude devido a

ocupação do solo com superfícies impermeáveis e rede de condutos de

escoamentos. O desenvolvimento urbano pode também produzir obstruções

ao escoamento como aterros e pontes, drenagens inadequadas e obstruções

ao escoamento junto a condutos e assoreamentos; estas enchentes ocorrem,

principalmente, pelo processo natural no qual o rio ocupa o seu leito maior, de

acordo com os eventos chuvosos extremos, em média com tempo de retorno

superior a dois anos.

Este tipo de enchente, normalmente, ocorre em bacias grandes ( > 500

km2), sendo decorrência de processo natural do ciclo hidrológico. Os impactos

sobre a população são causados, principalmente, pela ocupação inadequada

do espaço urbano. Essas condições ocorrem, em geral, devido às seguintes

ações: como, no Plano Diretor Urbano da quase totalidade das cidades

brasileiras, não existe nenhuma restrição quanto ao loteamento de áreas de

risco de inundação, a seqüência de anos sem enchentes é razão suficiente

para que empresários loteiem áreas inadequadas; invasão de áreas

ribeirinhas, que pertencem ao poder público, pela população de baixa renda;

ocupação de áreas de médio risco, que são atingidas com freqüência menor,

mas que quando o são, sofrem prejuízos significativos (TUCCI & BERTONI,

2004).

O desenvolvimento urbano brasileiro tem produzido um aumento

caótico na freqüência das inundações, na produção de sedimentos e na

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deterioração da qualidade da água superficial e subterrânea. A medida que a

cidade se urbaniza, ocorre o aumento das vazões máximas (em até 7 vezes)

devido a impermeabilização e canalização. A produção de sedimentos também

aumenta de forma significativa, associada aos resíduos sólidos e a qualidade

da água chega a ter 80% da carga de um esgoto doméstico (CABRAL, 2008).

Estes impactos têm produzido um ambiente degradado, que nas

condições atuais da realidade brasileira somente tende a piorar. Este processo

infelizmente não está sendo contido, mas está sendo ampliado à medida que

os limites urbanos aumentam ou a densificação se torna intensa. A gravidade

desse processo ocorre principalmente nas médias e grandes cidades

brasileiras. A importância deste impacto está latente através da imprensa e da

TV, onde se observam, em diferentes pontos do país, cenas de enchentes

associadas a danos materiais e humanos. Considerando ainda, que cerca de

80% da população encontra-se nas cidades, a parcela atingida é significativa.

O potencial impacto de medidas de planejamento das cidades é

fundamental para a minimização desses problemas. No entanto, observa-se

hoje que nenhuma cidade brasileira possui um Plano Diretor de Drenagem

Urbana.

As ações públicas atuais estão indevidamente voltadas para medidas

estruturais como a canalização, no entanto esse tipo de obra somente

transfere a enchente para jusante. O prejuízo público é dobrado, já que além

de não resolver o problema os recursos são gastos de forma equivocada. Esta

situação é ainda mais grave quando se soma o aumento de produção de

sedimentos (reduz a capacidade dos condutos e canais) e a qualidade da água

pluvial (associada aos resíduos sólidos).

Esta situação é decorrente, na maioria dos casos, da falta de

consideração dos aspectos hidrológicos quando se formulam os Planos

Diretores de Desenvolvimento Urbano. Deste modo são estabelecidos, por

exemplo, índices de ocupação do solo incompatíveis com a capacidade da

macrodrenagem urbana.

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CAPÍTULO II

CONSEQUÊNCIAS DAS INUNDAÇÕES

Dentre os principais prejuízos estão, além das perdas materiais e

humanas, a interrupção da atividade econômica das áreas inundadas, a

contaminação por doenças de veiculação hídrica como leptospirose, cólera,

entre outros, a contaminação da água pela inundação de depósitos de material

tóxico, estações de tratamentos entre outros.

O gerenciamento atual não incentiva a prevenção destes problemas, já

que a medida que ocorre a inundação o município declara calamidade pública

e recebe recursos a fundo perdido e não necessita realizar concorrência

pública para gastar. Como a maioria das soluções sustentáveis passam por

medidas não-estruturais que envolvem restrições a população, dificilmente um

prefeito buscará este tipo de solução porque geralmente a população espera

por uma obra (SECRETARIA NACIONAL DE DEFESA CIVIL, 2002).

Os estragos das inundações dependem não só da fragilidade da área

atingida, em função do tipo de ocupação e uso do solo, da drenagem em geral,

das condições sanitárias das comunidades socialmente menos favorecidas e

da infra-estrutura de saneamento básico, como também, da vulnerabilidade

física dos investimentos públicos, privados, àqueles do setor produtivo e da

importância da área como acesso a outras regiões economicamente ativas.

Nas áreas urbanas, as consequências são as mais diversas. O homem

exerce no processo, papel central primário, talvez mais importante que a

própria intensidade do evento pluviométrico, a medida que a ação humana, é

responsável pela edificação e ocupação do ambiente antes natural.

O fato mais comum durante e após a inundação, em áreas urbanas, é a

interrupção temporária do tráfego e consequentemente, a redução das

atividades comerciais.

O esgotamento das áreas atingidas vai obedecer às taxas da drenagem

natural e/ou artificial, certamente agravadas pelo assoreamento e o acúmulo

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de material sólido já depositado com àquele carreado pela enxurrada. O

retorno a normalidade pode demorar de alguns minutos a horas. Nas áreas

mais baixas, quase ao nível do mar, esse período pode ser ainda maior, pela

coincidência do evento chuvoso com marés altas, quando as forças das águas

oceânicas rio acima, impedem o fluxo normal das águas interiores.

Nas áreas urbanas de maior declividade, a drenagem insuficiente

compartilha as águas de chuva com as vias públicas e áreas marginais.

Dependendo da intensidade das chuvas e da declividade dos terrenos, a força

das águas aumentam os prejuízos materiais, arrastando veículos e

equipamentos públicos que encontram no percurso.

Nas bacias hidrográficas de maiores dimensões, onde o leito maior do

curso principal se estende por áreas de baixa declividade, ao longo do trecho

médio e inferior, as áreas urbanas edificadas nas grandes depressões dos

terrenos estão sujeitas a séria inundação durante períodos chuvosos críticos.

Após a passagem da enchente, com o retorno ao nível normal das

águas, essas depressões permanecem alagadas durante certo tempo. É

comum o total isolamento de áreas contíguas menos atingidas, em cotas mais

altas.

As perdas materiais são relevantes, o número de desabrigados é

significativo e pode haver óbitos por afogamento ou desabamento.

A agravação do fato está associada à qualidade das habitações, às

condições sanitárias existentes e às doenças endêmicas locais.

Nesses cenários, a maior parte da população atingida provém das

classes socialmente menos favorecidas, sem alternativas de assentamento,

dada a valorização econômica de outras áreas de menor risco.

2.1 – Ocorrência de doenças relacionadas às enchentes

Diversas pesquisas mostram que as principais epidemias da doença no

município do Rio de Janeiro ocorreram após intenso período de chuvas e

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atingiram, principalmente, as áreas de Jacarepaguá, Vargem Grande e Barra

da Tijuca e Baixada Fluminense.

A leptospirose é considerada um importante problema de saúde pública

e pode ser adquirida pelo contato com reservatórios animais, principalmente

ratos, ou ambientes contaminados por sua urina. No Brasil, e mais

especificamente no Rio de Janeiro, as epidemias da doença ocorrem

geralmente no verão, período em que há maior volume de chuvas e,

conseqüentemente, mais enchentes. Essa é a conclusão de um estudo

realizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz.

De acordo com artigo publicado na edição de novembro/dezembro de

2004 dos Cadernos de Saúde Pública, foram notificados no Brasil, durante o

período de 1985 a 1997, 35.403 casos da doença, variando de 1.594 em 1987

a 5.576 em 1997, com 3.821 óbitos registrados. A taxa de letalidade média foi

de 12,5%. Só no Município do Rio foram registrados, em 1996, 1.732 casos e

51 óbitos. O estudo teve como objetivo descrever a distribuição espacial da

leptospirose na cidade, entre 1995 e 2000, identificando os principais fatores

de risco ambientais para a ocorrência da doença.

Os pesquisadores constataram que houve uma grande epidemia em

1996, alguns dias após o Município do Rio de Janeiro ter sido assolado por

fortes tempestades no mês de fevereiro. Eles também verificaram a ocorrência

de pequenos picos nos anos de 1997 e 1998 na mesma época do ano, porém

sem a mesma magnitude. Já as incidências de 1999 e 2000 se distribuíram

mais uniformemente no transcorrer do período.

Se já não bastassem todos os transtornos que uma enchente traz, há

ainda, após o recuo das águas, o alto risco de contaminação, que expõe a

população a inúmeras doenças e ao aumento na incidência de acidentes como

afogamentos, lesões corporais e choques elétricos. Há também um aumento

na proliferação dos vetores de doenças, como ratos e mosquitos, e de picadas

de animais peçonhentos, como aranhas, escorpiões e cobras.

Somam-se a esse quadro crítico, os efeitos indiretos das inundações

decorrentes das doenças infecciosas que se seguem após o evento.

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As águas de chuva promovem a lavagem dos logradouros e vias

públicas, terrenos baldios contaminados pelo descarte de toda sorte de lixo,

pátios de áreas industriais e outras áreas onde as condições do saneamento

básico são precárias.

A qualidade das águas pluviais é alterada radicalmente, carregando em

suspensão e, em forma diluída, matéria orgânica em decomposição, fruto das

fezes animais e do lixo, produtos tóxicos de origem industrial, outras

substâncias orgânicas e inorgânicas, típicas das áreas urbanas, e um elenco

de bactérias, vírus e protozoários, disponíveis nesses conjuntos de focos

poluidores.

As águas invadem os mais diversos espaços, provocando o

extravasamento dos sistemas de fossas e sumidouros, invadindo tubulações

de esgotos sanitários, enfim, criando um líquido altamente perigoso para a

saúde do ser humano, principalmente quando infiltra e atinge caixas d’água ou

cisternas. A mistura da água contaminada com aquelas reservadas ao

abastecimento domiciliar, é responsável por doenças conhecidas como de

veiculação hídrica.

Quadro 1: Doenças co-relacionadas às ocorrências de enchente.

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2.2 – Como enfrentar os danos das enchentes

Doença Agente Causador

Transmissão Sintomas Prevenção

Leptospirose Bactéria Leptospira interrogans

Urina de rato Febre, náuseas, diarréia, dores

musculares e de cabeça (muito parecidos com os da dengue). A infecção se torna grave quando atinge os rins, o fígado e o baço, podendo ser fatal em alguns casos

Evitar ter contato com água e lama

contaminadas e nunca consumir água ou alimentos que

tiveram contato com a enchente. Medidas de combate aos ratos e prevenção contra as inundações

também são eficazes.

Hepatites A e E Vírus da hepatite,

Água e alimentos

contaminados ou de uma pessoa para

outra.

Febre, pele e olhos amarelados, náusea e vômitos, mal-estar,

dores abdominais, falta de apetite, urina escura e fezes esbranquiçadas.

Os métodos preventivos vão

desde o saneamento básico adequado, tratamento da água para consumo humano até a

ingestão somente de alimentos bem

lavados ou cozidos Febre Tifóide Bactéria

Salmonella typhi Água e alimentos

contaminados ou contato com pessoas doentes.

Febre, dor de cabeça, cansaço, sono agitado,

náusea, vômito, sangramentos nasais, diarréia. Se não tratada, pode levar à morte por hemorragia intestinal.

Os métodos de prevenção adotados são: saneamento básico adequado, tratamento da água para consumo, não acumular lixo e

manter as pessoas doentes em isolamento.

Cólera Bactéria Vibrio cholerae

Água e alimentos

contaminados

A bactéria libera uma toxina que causa intensa diarréia

Saneamento básico com tratamento

adequado da água e do esgoto.

Dengue Vírus da dengue

dos tipos 1, 2, 3 e 4.

Picada do mosquito fêmea do Aedes aegypti)

febre alta, fortes dores musculares, nas articulações e de cabeça, manchas vermelhas no corpo,

inchaço, podendo haver sangramentos. A forma hemorrágica é a mais grave e pode ser fatal.

Combate ao mosquito transmissor

interrompendo seu ciclo de vida. Evitar manter locais com água parada, que é onde a fêmea coloca

seus ovos.

Fonte: Fundação Oswaldo Cruz.

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Segundo MASCARENHAS (2008), as enchentes e as inundações não

são acontecimentos da atualidade. Há muito tempo a imprevisibilidade do

clima e das chuvas preocupa as populações. Na verdade, como qualquer

evento da natureza, as enchentes podem ser consideradas benéficas, sendo o

principal benefício a renovação do ecossistema onde ocorrem, como por

exemplo, os enormes encantos e belezas a partir de cheias em locais como o

Pantanal do Mato Grosso. A cheia só é considerada indesejável quando

resultante das ações pouco responsáveis da raça humana no meio ambiente.

É o caso das enchentes urbanas que castigam as grandes metrópoles

e, particularmente, aquelas que ocorrem nos climas quentes e úmidos, como

na cidade do Rio de Janeiro. É indiscutível que a ocupação desordenada das

áreas urbanas desprovidas de infra-estrutura adequada tende a aumentar em

magnitude e rapidez a ocorrência das inundações.

O tratamento do problema das cheias urbanas vem sofrendo drásticas

alterações nas últimas décadas, sob o ponto de vista da engenharia de

recursos hídricos, “Crescimento sustentável” está na ordem do dia, sendo a

escassez ou excesso de água, ou melhor, sua quantidade, característica

totalmente indissociável da sua qualidade. Nas inundações urbanas temos

obviamente os dois problemas concomitantes, porque as águas das enchentes

são em geral contaminadas, e afetam a saúde da população tanto ou mais do

que as próprias inundações. Porém aqui nos ateremos às causas dessas

enchentes e o que fazer para minimizar seus impactos sociais e econômicos.

O conceito moderno de combate às enchentes encontra-se amarrado à

necessidade de fazer os volumes escoados nas bacias urbanas se

aproximarem o mais possível dos valores anteriores à ocupação e urbanização

descontroladas e desordenadas. Isto recebe o nome da sigla inglesa BMP, ou

melhores práticas de gerenciamento. Não são necessários conhecimentos

técnicos profundos para se constatar que a urbanização torna impermeável

boa parte do solo da bacia, reduzindo drasticamente a capacidade de

infiltração e posterior recarga dos lençóis subterrâneos.

Nos países desenvolvidos atualmente é proibido impermeabilizar, e são

empregados dispositivos simples como trincheiras de infiltração, “telhados

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verdes”, armazenamento e reuso em loteamentos, pavimentos permeáveis ou

vazados, etc. Por outro lado, a ocupação de áreas de risco, tais como zonas

próximas aos cursos de água ou canais, bem como áreas de encostas,

contribui mais ainda para o agravamento do problema, além dos deslizamentos

e desabamentos.

É triste notar que em geral são as populações mais carentes que, por

falta de opção e de dinheiro, tendem a ocupar tais áreas de risco iminente. A

proximidade de assentamentos em relação às calhas dos rios reduz

enormemente a capacidade de escoamento da chamada calha secundária,

que se destina a acomodar e conduzir as águas de inundação. A ocupação de

encostas, por sua vez, torna ainda mais vulnerável a bacia urbana, tanto pela

remoção da vegetação natural, que possui aspecto altamente protetor, retendo

e ajudando a evaporação das águas de chuva, como pela exposição à erosão

a que os solos desmatados ficam submetidos. As chuvas irão erodir tais solos

e carrear mais material sólido, além do lixo, para as estruturas de drenagem,

comprometendo seriamente sua capacidade.

As soluções em longo prazo para evitar tais problemas passam pela

elaboração conjunta de Planos Diretores Urbanos e de Drenagem, com

implementação de medidas que demandam tempo e dinheiro, porém este em

muito menor quantidade do que as perdas monetárias com os prejuízos das

inundações urbanas, comprovando a velha máxima do “mais vale prevenir do

que remediar”.

No entanto cá estamos às portas do verão e as medidas devem ser de

curto prazo, infelizmente. Ainda assim há muito que ser feito, principalmente

quanto à manutenção da rede urbana de drenagem, por mais insuficiente que

seja a mesma. Evitar o quanto possível a proliferação de ocupações irregulares

do espaço urbano é fundamental. É preciso ainda efetuar dragagem dos rios e

canais, cuidar da coleta e disposição regulares do lixo urbano e,

principalmente, conscientizar a população em termos de educação ambiental.

Não jogar pequenos lixos nas ruas pode parecer atitude despretensiosa

e isolada, porém se multiplicada por quase todos os habitantes da cidade

fornece excelentes resultados para minimizar o impacto das inundações. É

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necessário que cada um faça sua pequena parte para o alcance de um todo

ambientalmente mais agradável, menos agressivo e menos alagado.

CAPÍTULO III

ENCHENTES NA BAIXADA FLUMINENSE

A região da Baixada Fluminense, localizada na Região Metropolitana do

Rio de Janeiro, é extremamente rica em recursos hídricos, que, todavia,

encontram-se extremamente degradados. Obras hidráulicas mal projetadas,

ausência de infra-estrutura adequada para a drenagem das águas de chuva e

para a coleta e tratamento de esgotos, e o padrão de ocupação do solo, a

proliferação de loteamentos precários, desprovidos de infra-estrutura, próximos

ao curso d’água e, em muitos casos, nas próprias calhas secundária e principal

dos rios contribuíram para este processo de degradação.

A Baixada Fluminense é uma região caracterizada por planícies, colinas,

morros, manguezais e uma rica rede hidrográfica. Os principais rios da Baixada

são Iguaçu, Sarapuí, Meriti-Pavuna e Estrela-Inhomirim, que integram duas

grandes bacias: a Bacia da Guanabara e a Bacia de Sepetiba.

Eles têm cursos fortemente influenciados pelo relevo de serras e

maciços, e descem das encostas abruptamente, formando cachoeiras. Quando

chegam às planícies, onde a declividade é pequena, encontram dificuldades de

escoamento. Assim, naturalmente, formam várias curvas, ou meandros, até

chegarem ao mar.

A ocupação da Baixada Fluminense e a destruição das matas ciliares

que garantiam a integridade de seus rios criaram um processo de degradação

que, aos poucos, contribuiu para que hoje, em períodos de muitas chuvas, a

região sofra com graves inundações. Iniciativas de canalização e retificação,

foram promovidas pelas administrações públicas ao longo do tempo na

tentativa de evitar esse problema, mas não bastaram.

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Em 1988, chuvas abundantes promoveram grandes tragédias na cidade

do Rio de Janeiro e também na Baixada Fluminense, com grandes áreas

alagadas, desabamentos, pontes quebradas e o avanço de doenças como a

leptospirose.

O município de Nova Iguaçu, segundo WIKIPÉDIA (2009), é um dos

treze municípios1 que fazem parte da Baixada Fluminense quando se estuda a

partir das divisões feitas pela SEDEBREM2.

A cidade de Nova Iguaçu está organizada em Unidades Regionais do

Governo (URG) e Setores de Planejamento Integrado (SPI). Essa divisão

administrativa serve para melhor organizar as ações de gestão e planejamento

do poder municipal e executivo em consonância com as carências e

potencialidades de cada uma das divisões territoriais instituídas.

A densidade demográfica do município é de 1.441,9 habitantes/ km²,

sendo os bairros que apresentam a maior concentração por superfície total são

aqueles que ficam nos arredores do centro da cidade como: Ouro Verde,

Chacrinha, Cerâmica, dentre outros que alcançaram uma densidade

demográfica igual ou superior a 10.000 hab./ km². Já os bairros mais distantes

do centro, situados na porção norte do município apresentam menores

concentrações populacionais, Santa Rita, Vila de Cava e Iguaçu Velho.

De acordo com WIKIPÉDIA (2009), quanto às características

geomorfológicas, o município de Nova Iguaçu possui ao norte a Serra do Mar,

localmente representada pelo Maciço do Tinguá formada por rochas

metamórficas e magmáticas e onde se encontram rochas raras como as

alcalinas. Ao sul temos o Maciço do Gericinó–Mendanha, localmente chamado

de Serra de Madureira, há também presença de rochas metamórficas e

magmáticas. É neste maciço que encontramos um vulcão de estrutura semi-

circular em forma de cone, extinto há mais de 50 milhões de anos.

Nos vales e depressões podemos encontrar planícies que geralmente

acompanham os rios. Essas áreas são responsáveis por grandes inundações e

1 De acordo com WIKIPÉDIA (2009), os treze Municípios que compõe a Baixada Fluminense são: Nova Iguaçu, Duque de Caxias, Nilópolis, São João de Meriti, Belford Roxo, Mesquita, Japeri, Queimados, Magé, Guapimirim, Itaguaí, Paracambi e Seropédica. 2 Secretaria de Desenvolvimento da Baixada e Região Metropolitana.

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acabam formando brejos e alagados principalmente próximos a Baia de

Guanabara.

A Baixada Fluminense possui como clima predominante o Tropical

Úmido, ou seja, clima quente e úmido, com chuvas intensas principalmente no

verão, já no inverno a queda de temperatura diminui a quantidade de chuvas.

Nas áreas elevadas, encontra-se o clima de altitude onde ocorrem as

precipitações orográficas durante o ano todo.

A vegetação remanescente da região é conhecida como Mata Atlântica

e se encontra predominantemente ao norte e nordeste na serra do Tinguá, e

na serra do Gericinó – Mendanha. Essas duas áreas já foram declaradas como

unidades de conservação, como a Reserva Biológica de Tinguá, com 26.000

hectares, e o Parque Municipal de Nova Iguaçu, com cerca de 1.000 hectares.

Em algumas áreas é possível encontrar campos de capim colonião e

capoeiras. E em outras áreas a vegetação natural ombrófila densa foi

substituída para prática agrícola.

O relevo de Nova Iguaçu é representado por dois grandes maciços

rochosos situados nas porções norte e sul do município: o maciço de Tinguá e

o maciço do Gericinó-Mendanha, respectivamente. O primeiro possui altitude

máxima de 1600 m, e o segundo, 974 m.

Entre esse dois maciços estende-se uma grande área de planície

(baixada) e de colinas com cristas vertentes e convexas (meias-laranjas),

numerosas (mar de morros) e com altitudes inferiores às dos maciços. As

colinas em formato de meias-laranjas tendem a ser em maior número à medida

que se aproximam do maciço de Tinguá e dos contrafortes da Serra do Mar

(região de Jaceruba).

Em Nova Iguaçu cerca de 40% da área total da cidade encontra-se

coberta por formações vegetais significativas (vegetações primárias,

secundárias ou pioneiras). Desse total, 32,88% correspondem à cobertura

original da Mata Atlântica, um dos mais ricos ecossistemas do planeta. Cerca

de 30% está comprometido com o uso urbano e o restante corresponde à

atividade agrícola (2,94%) e as áreas de campo e pastagem, ou seja, as áreas

onde a vegetação natural ou primitiva foi substituída para práticas de

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agricultura ou para o criatório. Uma pequena parcela da superfície total do

município corresponde a áreas sujeitas a inundações e áreas degradadas.

Nova Iguaçu conta com diversos rios, córregos e canais que constituem

as bacias dos rios Iguaçu e Sarapuí (que, regionalmente, integram a bacia da

Baía de Guanabara) e a do rio Guandu (que integra a bacia da Baía de

Sepetiba).

A bacia do rio Guandu abrange os rios Santana, São Pedro, Santo

Antônio, D'Ouro, Sarapó, Ipiranga, Cabuçu, Cabenga e Guandu-Mirim.

A bacia do rio Iguaçu abrange os rios Paiol, das Velhas, Botas, Ana

Felícia, Tinguá, Barreiras, Boa Esperança e Adrianino.

A bacia do rio Sarapuí é constituída pelos rios Maxambomba, da Prata e

Dona Eugênia.

Os rios que se formam na Baixada Fluminense e em especial em Nova

Iguaçu são fortemente influenciados pelo relevo, pois em geral nascem na

Serra do Mar e no Maciço do Gericinó - Mendanha e descem fortemente

formando cachoeiras. Quando chegam nas áreas planas encontram

dificuldades para o escoamento. Os rios acabam tomando formas meândricas

até chegar ao mar. E devido ao assoreamento dos rios e da canalização em

algumas áreas, torna-se fácil à formação de alagadiços e brejos.

3.1 – Processo de urbanização de Nova Iguaçu

Uma vez que a ocupação da bacia dos rios Iguaçu, Sarapuí e Meriti foi

efetivada, o que ocorreu a partir do final do século XVI, as trilhas indígenas

viraram estradas. Uma delas, era longa trilha indígena jacutinga que foi

transformada na Estrada Geral, que liga numa de suas extremidades a

Freguesia de Nossa Senhora da Conceição Mariapicu (atual Marapicu) e na

outra extremidade a freguesia de Santo Antônio da Aldeia dos (índios)

Jacutingas (atual Bayer, próximo ao centro de Belford Roxo).

A chegada do homem branco nessa região e sua colonização exigia

rotas para o escoamento da produção dos engenhos e, inicialmente isso foi

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possível graças às vias fluviais, quando os rios serviam de estradas, uma vez

que as trilhas indígenas (e estradas derivadas delas) eram rústicas e os rios

eram o modo mais fácil de adentrar no recôncavo fluminense para a sua

colonização (WIKIPÉDIA, 2009).

Os povoados concentravam-se principalmente às margens dos rios, mas

também havia alguns nos entroncamentos das estradas. Seu crescimento foi

motivado pela abertura da Estrada Real do Comércio, primeira via aberta no

Brasil para o escoamento do café do interior do país.

A Freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Iguaçu (à época grafava-

se Iguassú) nasceu ao redor de um Porto Fluvial e em 1699 já tinha uma

capela curada. Na época do Marquês do Pombal foi elevada à categoria de

freguesia (1750). Por questões de segurança, o ouro das Minas Gerais havia

deixado de fluir pelo Porto de Paraty, evitando, assim, a perigosa rota do litoral

(infestada por corsários e piratas), passando a escoar por caminhos mais

curtos que traziam o ouro das Minas Gerais para porto fluvial do Rio Iguaçu,

localizado na Freguesia de Piedade do Iguaçu. O rio Iguaçu tem sua foz no

interior da Baía de Guanabara (área com fortificações e mais protegida). O

Porto de Piedade de Iguaçu prosperou em razão da intensa movimentação dos

tropeiros.

Até o início do século XIX, a Piedade do Iguaçu tornou-se o principal

povoado da região, mas era dependente administrativa e politicamente da

cidade do Rio de Janeiro, embora já demonstrasse um bom desenvolvimento

econômico, além do aumento da população e do crescimento do comércio.

Graças à Estrada Real do Comércio e às ótimas condições para a

criação de um entreposto comercial, foi necessária a criação de um município.

Em 15 de janeiro de 1833, portanto, foi criada a vila de Iguaçu a partir de

decreto assinado pelo regente Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, em

nome do Imperador Dom Pedro II. Em 29 de julho do mesmo ano, foi instalada

a Câmara dos Vereadores, com sete representantes.

O novo município foi formado pelas freguesias de Nossa Senhora da

Piedade do Iguaçu (definida como capital do município), Santo Antônio de

Jacutinga, Nossa Senhora do Pilar, São João de Meriti e Nossa Senhora da

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Conceição do Marapicu. Inicialmente, a Freguesia de Nossa Senhora da

Piedade do Inhomirim também faria parte, contudo os moradores desse distrito

não aceitaram a incorporação, especialmente devido à distância.

Os pequenos rios, vias fluviais que serviam os Engenhos foram

perdendo sua capacidade de manter talvegue apropriado para serventia e em

razão de assoreamentos, obstruções, contínuo desmatamento das margens,

gradativamente foram substituídos por estradas ou carreteiras (estradas para

carroças). Também em razão do desenvolvimento.

A importância que o rio Iguaçu tinha para a comunicação entre a Vila e o

Rio de Janeiro diminuiu com a implantação das estradas de ferro, que eram

um meio de transporte mais rápido, barato e seguro.

A ponte construída sobre o rio Iguaçu em 1886 na localidade de São

Bento acabou de vez com a importância do rio para o desenvolvimento da

região, pois impediu o tráfego dos saveiros e faluas. A chegada da ferrovia na

região, a proclamação da lei Áurea no dia 13 de maio de 1888 que causou

ruína a considerável parte da aristocracia rural, as epidemias de cólera, varíola

e malária, fizeram com que a população da Vila de Iguaçu abandonasse o

local, transferindo-se para o Arraial de Maxambomba.

Após o declínio da agricultura da cana-de-açúcar, a cultura da laranja

passou a ser a mais importante para o município. Vinda de São Gonçalo, a

laranja encontrou solo ideal em Nova Iguaçu. Apenas para citar um exemplo,

todo o bairro da Posse era, antigamente, uma grande fazenda produtora de

laranjas.

Praticamente toda a produção de laranjas era exportada, trazendo para

o município um grande desenvolvimento econômico. A exportação começou a

ocorrer no ano de 1891, juntamente com o desmatamento (lenha e carvão,

madeiras de lei).

De acordo com o WIKIPÉDIA (2009), o auge da citricultura em Nova

Iguaçu foi dos anos 30 a 1956. De 1930 a 1940, a cidade de Nova Iguaçu era

chamada de “Cidade Perfume”, porque as laranjeiras, em floração,

perfumavam todo o roteiro das ferrovias.

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Tabela 1: Densidade demográfica, segundo a Regiões Metropolitana, Estado do Rio de Janeiro - 1940-2000

(hab/km2)

Regiões de Governo 1940 1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000 e municípios Estado 82,3 106,5 152,8 204,8 257,2 291,7 305,3 327,5 Região Metropolitana 388,9 554,5 849,6 1.201,1 1.528,9 1.710,5 1.776,3 1.909,7 Rio de Janeiro 1.395,5 1.880,6 2.616,0 3.363,3 4.026,8 4.335,4 4.391,3 4.853,1 Belford Roxo 76,9 296,9 914,7 2.165,9 3.530,4 4.508,9 4.991,5 5.482,5 Duque de Caxias 63,6 198,5 523,1 926,3 1.236,4 1.434,0 1.535,5 1.646,1 Guapimirim 10,4 19,4 23,9 40,0 64,1 77,4 90,2 104,8 Itaboraí 35,8 45,4 74,6 127,3 223,3 325,5 373,2 436,0 Itaguaí 21,6 48,7 65,9 105,1 176,9 218,1 249,7 291,3 Japeri 40,0 106,5 260,5 438,9 679,5 792,8 882,1 1.021,6 Magé 50,8 76,9 130,5 254,9 371,0 423,5 473,6 531,8 Mangaratiba 22,1 29,9 35,1 34,2 38,4 49,7 55,2 68,7 Maricá 51,9 52,2 53,5 65,0 89,7 127,9 165,7 210,4 Nilópolis 1.163,6 2.417,0 5.028,8 6.667,2 7.895,2 8.234,0 8.087,1 7.916,1 Niterói 1.110,9 1.413,6 1.862,4 2.460,1 3.013,1 3.309,2 3.417,0 3.408,7 Nova Iguaçu 69,6 184,3 429,5 813,4 1.183,0 1.380,8 1.476,9 1.628,2 Paracambi 48,4 61,0 86,8 141,1 168,6 202,6 219,4 216,3 Queimados 47,9 127,5 311,8 800,8 1.208,4 1.267,0 1.391,3 1.586,5 São Gonçalo 340,3 506,5 985,9 1.712,2 2.448,7 3.103,2 3.316,3 3.577,9 São João de Meriti 1.133,8 2.190,9 5.493,8 8.664,6 11.427,7 12.199,8 12.444,8 12.946,1 Seropédica 9,0 30,9 60,1 99,4 70,3 195,6 207,6 242,4 Tanguá 62,7 74,9 68,1 79,1 284,6 161,8 171,3 182,1 Fontes: IBGE, Censos Demográficos (dados brutos) e CIDE (dados derivados)

A construção de casas de beneficiamento e embalagem da produção na

segunda metade do século XX trouxe novo fôlego para a exportação. Porém,

durante a Segunda Guerra Mundial, houve interrupção do transporte marítimo,

impedindo a exportação das laranjas. Com isso, as áreas dos antigos laranjais

começaram a ser loteadas e novos bairros surgiram (WIKIPÉDIA, 2009).

Tabela 2: Taxa de crescimento da população residente, segundo a Região Metropolitana ESTADO DO RIO DE JANEIRO - 1940-2000

Regiões de Governo 1940-1950 1950-1960 1960-1970 1970-1980 1980-1991 1991-1996

1996-2000 1991-2000

e municípios Estado 2,61 3,68 2,97 2,30 1,15 0,92 1,75 1,28 Região Metropolitana 3,61 4,36 3,52 2,44 1,03 0,76 1,63 1,14Rio de Janeiro 3,03 3,36 2,54 1,82 0,67 0,26 1,32 0,73Belford Roxo 14,47 11,91 9,00 5,01 2,25 2,05 2,05 2,05Duque de Caxias 12,06 10,17 5,88 2,93 1,36 1,38 1,90 1,61Guapimirim 6,41 2,08 5,30 4,83 1,73 3,10 3,80 3,41Itaboraí 2,40 5,08 5,49 5,79 3,48 2,94 3,79 3,31Itaguaí 8,45 3,07 4,78 5,35 1,92 2,93 3,97 3,39

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Japeri 10,29 9,35 5,36 4,47 1,41 2,16 3,39 2,71Magé 4,24 5,43 6,93 3,82 1,21 2,26 2,95 2,57Mangaratiba 3,04 1,63 -0,25 1,16 2,38 2,11 5,72 3,70Maricá 0,04 0,26 1,97 3,26 3,29 5,31 6,16 5,68Nilópolis 7,58 7,60 2,86 1,70 0,38 -0,36 -0,27 -0,32Niterói 2,44 2,80 2,82 2,05 0,86 0,64 0,45 0,56Nova Iguaçu 10,22 8,83 6,59 3,82 1,42 1,35 2,60 1,90Paracambi 2,34 3,59 4,97 1,80 1,68 1,60 0,61 1,16Queimados 10,29 9,35 9,89 4,20 0,43 1,89 2,90 2,34São Gonçalo 4,06 6,89 5,67 3,64 2,18 1,34 1,65 1,48São João de Meriti 6,81 9,63 4,66 2,81 0,60 0,40 0,87 0,61Seropédica 13,13 6,88 5,16 4,39 2,27 0,96 4,30 2,43Tanguá 1,79 -0,94 1,51 5,17 1,94 0,09 2,72 1,25 Fonte: Fundação Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro - CIDE

3.2 – A Bacia do Rio Paiol

O Rio Paiol é afluente direto do rio Iguaçu, principal curso d´água que

corta o município de Nova Iguaçu.

A bacia hidrográfica do rio Iguaçu drena uma área de 726 km², tem sua

nascente na serra do Tinguá, a uma altitude de cerca de 1000 metros e possui

uma extensão de aproximadamente 43 km e deságua na Baía de Guanabara.

Seus principais afluentes são: Tinguá, Patí e Capivari pela margem esquerda e

Botas, Sarapuí e Paiol pela margem direita. A população residente na bacia foi

estimada em cerca de 1.800, milhões de pessoas das quais 180 mil vivem na

área inundável da bacia, onde as condições sócio-ambientais são precárias

(ABREU, 2004).

A bacia hidrográfica do rio Paiol tem sua área totalmente localizada

dentro do município de Nova Iguaçu, tem sua nascente a uma altitude de cerca

de 200 metros no distrito de Austin, possui uma extensão de aproximadamente

14 km e deságua no rio Iguaçu.

Segundo ABREU (2004), o rio recebe a influência de inúmeros

contribuintes, tendo quatro afluentes pela margem direita de maior destaque

devido ao aparente volume de descarga, e três afluentes pela margem

esquerda. Em seu médio curso a calha do rio se encontra canalizada, já que

se trata da região da bacia mais densamente ocupada.

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A bacia corta inúmeros bairros da cidade e até mesmo parte de um de

seus distritos, Austin, que faz divisa com o município de Queimados. Os

bairros cortados pela bacia do rio Paiol são: Jardim Mato Grosso; Vila Martins;

Jardim Monte Castelo; Jardim Real; Parque Rosário; Jardim Iara; Santa Rita;

Parque Princesa Izabel; Vila Iguaçuana; Bairro Triângulo; Parque Alvorada;

Nova Brasília; e Olaria. Dentre estes, os bairros que apresentam um maior

número de moradores são Jardim Mato Grosso.

De acordo com DAME (2008), a Prefeitura de Nova Iguaçu iniciou no dia

1 de novembro, em parceria com a Superintendência Estadual de Lagoas

(Serla), a limpeza e desassoreamento de todos os rios da cidade. O mutirão

fez parte do Plano de Combate às Enchentes, na área do antigo Aeroclube,

com a presença do prefeito Lindberg Farias e do secretário municipal da

Cidade Hélio Aleixo.

O plano previa a limpeza de 29 pontos simultaneamente, atingindo

todos os rios e canais que nascem ou se formam em Nova Iguaçu. O Rio

Botas, um dos mais críticos, foi limpo nos dez quilômetros por onde passa no

município. Entre os canais que sofrerão as intervenções estão o Rio das

Velhas, Canais Carmari 1 e 2, Tatugamela, Mangueira, Danon, Nova Era, Abel,

Cabenga, Moquetá, Cabuçu, Paiol, Contenda, Maxambomba e outros.

A Secretaria da Cidade colocou 300 pessoas, entre motoristas,

operadores de máquinas e serventes atuando no trabalho, num mutirão que

durou 90 dias. Ao todo foram utilizadas na limpeza 46 máquinas, entre

retroescavadeiras comuns, escavadeiras hidráulicas, caminhões basculantes,

mini-escavadeiras, retroescavadeiras com lança extensível e pás

carregadeiras. Os equipamentos foram apresentados no lançamento e logo em

seguida as autoridades foram visitar a um dos pontos de limpeza: o Rio das

Velhas, no bairro Miguel Couto.

Ao todo a prefeitura investiu cerca de R$ 3 milhões no trabalho que

antecedeu o Programa de Recuperação dos Rios a Canais da Baixada

Fluminense, com recursos do PAC, sob a coordenação da Serla.

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Figura 1 : Cabeceira do Rio Paiol (adaptado do Google Earth)

3.3 – Projetos de recuperação dos rios da Baixada Fluminense

Segundo Braga (1994), a maioria dos países em desenvolvimento,

incluindo o Brasil, experimentou nas últimas décadas uma expansão urbana

com precária infraestrutura de drenagem, advindo os problemas de inundação

principalmente da rápida expansão da população urbana, do baixo nível de

conscientização do problema, da inexistência de planos de longo prazo, da

utilização precária de medidas não estruturais e da manutenção inadequada

dos sistemas de controle de cheias.

Segundo o autor, o crescimento da consciência ambiental tem motivado

o interesse pelo problema das inundações e suas consequências ligadas à

saúde e ao saneamento.

A degradação dos rios não é uma conseqüência lógica da ocupação

humana. É, na verdade resultado da desordem urbana, do descumprimento

das leis e da ineficiência dos órgãos públicos. O legado de todo esse descaso

é a transformação dos rios em canais que transportam esgoto e lixo.

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O melhor exemplo disso é o Iguaçu, que nasce límpido em meio a

exuberância da Mata Atlântica, no centro do Maciço do tinguá, mas chega

morto e imundo às águas da Baía de Guanabara, conseqüência do lançamento

de toneladas de esgoto doméstico em suas águas. Além disso, o

desmatamento de suas áreas de proteção provoca o desmoronamento das

margens e as conseqüentes enchentes nos períodos de chuvas.

Cientes de que a situação precisava mudar, os governos federal e

estadual iniciaram um estudo com o objetivo de implementar ações eficazes

para o fim do problema.

A primeira medida concretizada foi a construção da barragem de

contenção do Gericinó, em Mesquita, o que vem contribuindo para evitar o

transbordamento dos rios e possíveis tragédias entre as populações ribeirinhas

da região.

Em agosto de 2009, os governos federal e estadual apresentaram o

Projeto de controle de Inundações e Recuperação Ambiental da Bacia dos rios

Iguaçu, Botas e Sarapuí, mais conhecido como Projeto Iguaçu. O projeto

abrange os municípios de Duque de Caxias, São João de Meriti, Belford Roxo,

Nilópolis, Mesquita, Nova Iguaçu e parte da Zona Oeste do Rio de Janeiro e

envolve intervenções para melhoria da macro e mesodrenagem das bacias dos

três rios (Iguaçu, Botas e Sarapuí), com a recuperação das áreas marginais

com a construção de parques de orla, plantio de vegetação ciliar (áreas-

pulmão), renaturalização de cursos d’água, desobstrução e substituição de

pontes e travessias, realocação de moradias, além de outras medidas

complementares relacionadas ao disciplinamento do uso do solo, coleta de

lixo, etc. Na sua concepção, o Projeto Iguaçu dá ênfase à desocupação das

margens de rios e canais, implantando parques de orla, avenidas-cana,

ciclovias e vegetação ciliar nas áreas atualmente ocupadas por habitações

insalubres.

A ocupação das margens dos rios por moradias de baixa renda se

configura como um dos agravantes para o problema das enchentes. Sem rede

de esgotamento sanitário, nem de coleta de lixo adequada, os resíduos são

lançados diretamente nos corpos hídricos, provocando o assoreamento que

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compromete o sistema de vazão das águas. Em razão disso, a prioridade do

Projeto Iguaçu é a desocupação das faixas marginais e o remanejamento de

moradores. Na primeira fase serão construídos cinco conjuntos habitacionais

pela Companhia Estadual de Habitação – CEHAB, totalizando 2.020 moradias,

ao custo de R$ 75 milhões.

Na fase posterior à desocupação, o projeto prevê o desassoreamento e

canalização dos rios Iguaçu, Botas e Sarapuí e respectivos afluentes e outras

medidas de controle de inundações provocadas pelas cheias em períodos

chuvosos. Na primeira etapa estão programadas obras de mesodrenagem, que

incluem substituição de travessias, remanejamento de adutoras, recuperação

de comportas, construção de muros de combate à erosão, recomposição de

polderes e de estruturas hidráulicas.

O objetivo é concluir a primeira etapa do projeto até o final deste ano.

Em janeiro de 2010, foram retirados 1,7 milhão de toneladas de detritos e 15

mil pneus dos rios Botas e Sarapuí. Contudo, o sucesso do projeto dependerá

de sua implementação em todos os municípios integrantes daquelas bacias e

de ações futuras de manutenção e de conscientização da população.

Segundo a SECRETARIA NACIONAL DE DEFESA CIVIL (2002), é

evidente que, se os desastres naturais, como a enchente, atuam e afetam a

população, deduz-se que evitar e minimizar os mesmos é também uma

obrigação da população. É um dever de todo cidadão e um direito da

sociedade.

Tudo parece mais claro, quando interpretamos dois outros conceitos:

a) Risco - probabilidade de ocorrência de um acidente ou evento

adverso, relacionado com a intensidade dos danos ou perdas, resultantes dos

mesmos.

b) Vulnerabilidade - probabilidade de uma determinada comunidade ou

área geográfica ser afetada por uma ameaça ou risco potencial de desastre,

estabelecida a partir de estudos técnicos.

Portanto, a vulnerabilidade, como bem diz o conceito, está relacionada

com o grau de defesa, resistência de edificações, sistemas, serviços, bem

como com as medidas de segurança, que são determinadas, executadas e

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realizadas pela população para reduzir os riscos ao ambiente e à população e,

desta forma, evitar ou minimizar os desastres e as conseqüências ou danos

dos mesmos.

Assim, fica bem evidente que as ações de prevenção, preparação,

resposta aos desastres e de recuperação, mais que um direito, são um dever

da população, do cidadão, da comunidade e, portanto, da sociedade

(entendida esta como o conjunto dos diferentes estratos da população,

incluindo o governamental).

CONCLUSÃO

As evidências têm demonstrado, em diferentes partes do mundo, e para

isto serve muito o exemplo do Japão, que somente através de um inteligente e

bem estruturado esforço de ampla informação e motivação da população, pode

ser alcançada uma real mudança cultural.

A mudança cultural somente poderá ser alcançada através de

programas orientados tecnicamente para alcançar o processo de entendimento

dos problemas dos desastres e dos danos e conseqüências adversas que os

mesmos determinam, sendo, dessa forma, atingido um grau de

conscientização no qual a sociedade decide pela importância e prioridade real

das medidas e ações preventivas.

Continuar atuando, de forma improvisada, depois que os desastres

acontecem significa aumentar o sofrimento, as perdas econômicas, paralisar o

desenvolvimento e regredir no tempo.

O convencimento de que um bem estruturado programa de preparação

permitirá avançar com passos concretos na prevenção de muitas situações

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difíceis e de ameaça imediata deve ser o anseio e a meta dos municípios e da

população.

Aqueles que teimarem em continuar na inércia - no fenômeno da

indiferença - não serão merecedores do respeito e do reconhecimento dos

seus cidadãos.

Somente ações solidárias envolvendo a sociedade, os órgão públicos do

estado e dos municípios, somados com a responsabilidade individual de cada

cidadão por toda a unidade territorial da bacia hidrográfica, podem produzir

resultados positivos concretos.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ABREU, A.I.C. Nova Iguaçu. In: Municípios e Topônimos Fluminense. Histórico e Memória. Niterói: Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro: 2004. ALCÂNTARA, L. H; ZEILHOFER, P. Aplicação de técnicas de geoprocessamento para avaliação de enchentes urbanas. Anais 1º Simpósio de Geotecnologias no Pantanal. Campo Grande: Embrapa Informática Agropecuária/INPE, 2006. CANHOLI. A. P. Drenagem Urbana e Controle de Enchentes. São Paulo: Oficina das Letras, 2006. CIDE. Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro. Anuário Estatístico do Estado do Rio de Janeiro. V.14. 1997. COSTA, H. Enchentes no Estado do Rio de Janeiro – Uma abordagem Geral. In: SEMADS. Rio de Janeiro: Serla, 2001. DAME, L. Lindberg pede ajuda federal para Nova Iguaçu. Disponível em: <http://www.oglobo.globo.com/rio/mat/2006/11/28/286825670.asp>. Acesso em: 13 de abril de 2008. DOENÇAS RELACIONADAS ÀS ENCHENTES. Disponível em <http://www.educacional.com.br/reportagens/enchentes/doencas.asp>. Acesso em: 25 de maio de 2008.

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ENCHENTES AUMENTAM OCORRÊNCIA DE CASOS DE LEPTOSPIROSE. Disponível em: <http://www.saudeemmovimento.com.br/reportagem/noticia_ exibe.asp?cod_noticia=1729>. Acesso em :12 de maio de 2008. ENCHENTES E INUNDAÇÕES. Disponível em: <http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./agua/urbana/index.html&conteudo=./agua/urbana/artigos/enchentes.html>. Acesso em: 12 de maio de 2008. MASCARENHAS, F. C. B. Como enfrentar os danos das enchentes no Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=. /urbano/index.html&conteudo=./urbano/artigos/enchenterio.html>. Acesso em: 05 de junho de 2008. PREVENÇÃO DE INUNDAÇÕES. Disponível em <http://www.ana.gov.br/gestaorechidricos/UsosMultiplos/inundacoes.asp>. Acesso em: 05 de junho de 2008.

SANTOS, A. S. R. Enchentes. Disponível em: <http://www.aultimaarcadenoe. com/artigo20.htm>. Acesso em: 29 de maio de 2008. SECRETARIA NACIONAL DE DEFESA CIVIL. Conferência geral sobre desastres: para prefeitos, dirigentes de instituições públicas e privadas e líderes comunitários. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil. Brasília: MI, 2002. SERLA INTENSIFICA LIMPEZA DE RIOS E ARTICULA PARCERIA COM A RIO ÁGUAS. Disponível em <http://www.serla.rj.gov.br/noticias/noticia_dinamica1.asp?id_noticia=407>. Acesso em: 15 de maio de 2008. SILVEIRA, André Luiz Lopes da. Hidrologia Urbana no Brasil. In: TUCCI, Carlos E. M e MARQUES, David M. L. da Motta (org). Avaliação e Controle da Drenagem Urbana. Porto Alegre: Ed Universidade / UFRGS / ABRH, 2000.

SOUZA, Vladimir Caramori B. e GOLDENFUM, Joel Avruch. Trincheiras de infiltração como elemento de controle do escoamento superficial: um estudo experimental In: TUCCI, Carlos E. M e MARQUES, David M. L. da Motta (org). Avaliação e Controle da Drenagem Urbana. Porto Alegre: Ed Universidade / UFRGS / ABRH, Vol 2, 2001.

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TUCCI, C. E. M. Inundações Urbanas. Porto Alegre: ABRH, 2002. TUCCI, C. E. M. & BRAGA, B. Clima e recursos hídricos no Brasil. Porto Alegre: ABRH, 2000. TUCCI, C. E. M. & BERTONI, J. C. (Org.) Inundações urbanas na América do Sul. Porto Alegre: ABRH, 2004. WIKIPÉDIA. Município de Nova Iguaçu. Disponível em <http://www.wikipedia.org/wiki/Nova_Iguaçu>. Acesso em: 22 de maio de 2009.

ANEXOS

Anexo 1: Mapa da Baixada Fluminense. Fonte: ABREU (2004)

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Anexo 2: Funcionários da Limpeza Pública de Nova Iguaçu ajudam na retirada de lama provenientes das inundações na cidade. Fonte: O Globo (2006)

Anexo 3: Mapa 1 – Bacia hidrográfica dos rios Iguaçu-Sarapuí

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Fonte: Malha municipal do Estado do Rio de Janeiro – IBGE 2001. Sistema de Informação de Recursos Hídricos – Bacia do Rio Iguaçu.

ANEXO 4

Reportagem RJTV – Notícias da Baixada Fluminense – NOTÍCIAS – 25/09/2007 Perigo nas margens O Rio Botas, em Nova Iguaçu, é um dos mais importantes da Baixada Fluminense, mas traz muita preocupação para os moradores: o risco de enchentes.

O Rio Botas, em Nova Iguaçu, é um dos mais importantes da Baixada Fluminense, mas traz muita preocupação para os moradores: o risco de enchentes. Ao todo, segundo a Serla, Superintendência Estadual de Rios e Lagoas, são 300 pontos de alagamento. Um deles fica no bairro Santa Eugênia, onde moram cerca de 170 mil pessoas.

O Rio Botas tem 20 quilômetros de extensão e passa por todo o município de Nova Iguaçu e uma parte de Belford Roxo. Moradores mais antigos ainda lembram do tempo em que a água era limpa e cheia de peixes.

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Nos últimos anos, as margens viraram depósito de lixo de todo o tipo. Até sofá é jogado no rio. A prefeitura de Nova Iguaçu diz que, a cada dois dias, são retiradas 12 toneladas de entulho.

“Já fizeram uma campanha para não jogarem lixo, mas parece que o pessoal não tem consciência disso”, lamenta um morador.

O esgoto sem tratamento, levado pela correnteza, deixa todo o bairro de Santa Eugênia com um mau cheiro constante. O céu nublado preocupa Dona Delzira. “É um drama para todos os moradores. Quando ameaça chover, ficamos sempre preocupados, com medo”, diz.

A última enchente na região foi em novembro do ano passado e 15 bairros ficaram alagados. Duas pessoas morreram afogadas.

Há seis meses, moradores fizeram uma manifestação pedindo providências às autoridades. Eles receberam da prefeitura um manual com dicas de preservação, mas as obras de dragagem não começaram e as inundações continuam.

José Carlos, dono de uma loja de construção, diz que perdeu a conta dos prejuízos causados pela chuva: “Mais à frente, há outro rio que desemboca nesse. Quando aquele lá enche, esse aqui alaga e perdemos tudo”.

A Superintendência Estadual de Rios e Lagoas, a Serla, informou que assinou na semana passada um contrato com o governo federal para obras nos três principais rios da Baixada Fluminense: Rio Botas, o Iguaçu e o Sarapuí. Foram liberados R$ 270 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento para limpeza, realocação das famílias que vivem nas margens e reflorestamento das margens.

A prefeitura de Nova Iguaçu informou que já começou o recadastramento dos moradores. As obras devem começar em outubro, durar três anos e, segundo a Serla, o início das obras já deve amenizar as enchentes deste verão.

A Serla diz que as obras deveriam ter começado em junho, mas que ainda não começaram, porque aguardavam a análise do governo federal e a liberação dessas verbas.

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

CONCEITOS SOBRE ENCHENTES 09

1.1 – Origem das enchentes e inundações urbanas 12

1.2 – Inundações de áreas ribeirinhas 14

1.3 – Ocupação das margens 15

1.4 – Inundações devido à urbanização 17

CAPÍTULO II

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CONSEQUÊNCIAS DAS INUNDAÇÕES 19

2.1 – Ocorrência de doenças relacionadas às

Enchentes 21

2.2 – Como enfrentar os danos das enchentes 24

CAPÍTULO III

ENCHENTES NA BAIXADA FLUMINENSE 26

3.1 – Processo de urbanização de Nova Iguaçu 30

3.2 – A Bacia do Rio Paiol 33

3.3 – Projetos de recuperação dos rios da

Baixada Fluminense 36

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40

ANEXOS 42

ÍNDICE 45