UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … CHRISTINA SANTOS MUSSALEM.pdf · e do conhecimento...

40
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE O OLHAR PSICOMOTRICISTA NA CLÍNICA MUSICOTERÁPICA DA REABILITAÇÃO Por: Ana Christina Santos Mussalem Orientadora Profª. Ms. Fabiane Muniz Rio de Janeiro 2005

Transcript of UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … CHRISTINA SANTOS MUSSALEM.pdf · e do conhecimento...

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O OLHAR PSICOMOTRICISTA NA CLÍNICA MUSICOTERÁPICA

DA REABILITAÇÃO

Por: Ana Christina Santos Mussalem

Orientadora

Profª. Ms. Fabiane Muniz

Rio de Janeiro

2005

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O OLHAR PSICOMOTRICISTA NA CLÍNICA MUSICOTERÁPICA

DA REABILITAÇÃO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato

Sensu” em Docência do Ensino Superior,

Psicomotricidade.

Por: Ana Christina Santos Mussalem

3

AGRADECIMENTOS

À Universidade Cândido Mendes e

ao corpo docente, pelo Projeto A Vez

do Mestre oportunizando uma

especialização a todos os

interessados.

4

DEDICATÓRIA

à todos os meus pacientes, incentivo

dos meus estudos na busca de

novos caminhos

5

RESUMO

Esse trabalho pretende averiguar a possibilidade de uma

articulação entre a clínica Musicoterápica e a Psicomotricista.

Para comprovar se essa ponte é possível, detalharemos a

prática Musicoterápica com pacientes de reabilitação, mas especificamente

com adultos com seqüelas de acidente vascular encefálico, focando o olhar

Psicomotricista e explorando os encontros entre essas duas clínicas.

O acidente vascular encefálico (AVE) está entre as principais

causas de morte no Brasil. Em outros casos, o sujeito acometido pela patologia

cerebral pode se tornar dependente, até mesmo para realizar atividades diárias

as quais era acostumado a realizar sozinho, como se alimentar e vestir-se. A

comunicação também é bastante afetada, na forma de expressar o que deseja

ou de compreender o outro. As seqüelas do AVE são variadas de acordo com a

região do cérebro que é afetada. Pode causar grandes desordens na área

motora, cognitiva e da linguagem, o que freqüentemente acarreta o isolamento

do indivíduo. Os fatores de risco são, hipertensão arterial, diabete, tabagismo,

consumo de álcool e drogas, obesidade e sedentarismo.

De acordo com índices tão alarmantes de crescimento do AVE

e do conhecimento de suas graves seqüelas, torna-se necessário medidas de

intervenções terapêuticas, amenizando a problemática desses pacientes.

É possível que a Musicoterapia contribua com essa clientela

pois trabalhamos com sons e ritmos, buscando uma organização do corpo,

como também uma harmonização interna, facilitando a adaptação das funções

do sujeito ou a descoberta de novas potencialidades. A Psicomotricidade atua

principalmente no movimento, no afeto e na relação.

Assim a clínica Musicoterápica e Psicomotricista pode abrir

espaço para um compartilhar, um lugar onde se pode abrir caminho para a

simbolização através de linguagens não verbais: a linguagem do corpo e a

linguagem musical (diálogo do não dito).

6

METODOLOGIA

Este trabalho foi dividido em duas partes: a primeira foi um

estudo bibliográfico fundamentado principalmente nos Musicoterapeutas

Rolando Benenzon e Clarice Costa, e no Psicomotricista André Lapierre. A

segunda parte foi desenvolvida no período de maio de 2004 à abril de 2005,

em Campos dos Goytacazes, no Hospital Geral de Guarus, setor de

Reabilitação, com um grupo de pacientes portadores de seqüela de acidente

vascular encefálico em tratamento de Musicoterapia.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

I - MUSICOTERAPIA 10

II – PSICOMOTRICIDADE 17

III – O CÉREBRO HUMANO 23

IV - PRÁTICA CLÍNICA 27

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA 38

ÍNDICE 39

FOLHA DE AVALIAÇÃO 40

8

INTRODUÇÃO

São os objetivos do trabalho verificar as possibilidades de uma

articulação, no campo da reabilitação, entre duas ciências distintas:

Musicoterapia e Psicomotricidade; além de analisar os pontos de encontro da

prática Musicoterápica e da Psicomotricidade nessa mesma área.

Som e ritmo são considerados manifestações básicas da vida e

estão presentes em todo o nosso ser. No ritmo do andar, do comer, no som da

voz, do choro, do batimento cardíaco e da respiração. Qualquer alteração física

ou psíquica do nosso corpo será também acompanhada de uma alteração dos

nossos sons e ritmos. Como por exemplo, no caso de uma febre alta, o ritmo

do nosso organismo se torna mais lento, mas, numa situação de ansiedade, a

pulsação se acelera imediatamente. Logo, qualquer acidente interno ou de

causa externa traz consigo uma alteração fisiológica do nosso ritmo próprio.

Imaginemos no caso de pessoas acometidas por uma patologia vascular

cerebral? Existe toda uma mudança física bastante traumática e em

decorrência desta, uma mudança psíquica. Dependendo da gravidade do

acidente, alterações cognitivas e perceptivas também podem ocorrer,

impedindo o sujeito de continuar no seu projeto de vida construído

anteriormente. Somos convidados a uma mudança drástica e repentina que

destrói com todo o esquema e imagem corporal que havíamos construímos ao

longo dos anos do nosso desenvolvimento.

O acidente vascular encefálico (AVE) é uma doença grave e

muito mais freqüente do que imaginamos. Tem uma incidência anual de

aproximadamente 500.000 novos casos em todo o mundo. O tabagismo, o

sedentarismo, a hipertensão arterial e a obesidade são alguns dos fatores de

risco que podem causar o acidente. Estatísticas brasileiras apontam o acidente

vascular encefálico como uma das principais causas de óbitos em nosso meio

e a principal causa de lesão permanente (invalidez, incapacidade) em adultos,

9provocando várias limitações funcionais que interferem diretamente na

realização das atividades da vida diária.

Diante desse fato, percebemos a necessidade de medidas

preventivas e terapêuticas para minimizar o sofrimento desses pacientes e

reintegrá-los na sociedade.

A medicina está cada vez mais investigando o funcionamento

do cérebro humano, e buscando tentativas de reconstrução de células,

músculos, tecidos, para assim, recuperar o movimento desses pacientes.

Pretende-se com esse trabalho não esgotar o tema, que seria

um fato impossível. Mas, refletir e contribuir de alguma forma, para o

tratamento de pessoas com seqüelas de acidente vascular encefálico,

utilizando para isso, duas ciências consideradas novas, que a meu ver podem

ser articuladas com o propósito de tentar resgatar o potencial de saúde do

paciente, restabelecer algumas funções e facilitar uma melhor integração intra

ou interpessoal.

O primeiro capítulo esclarece algumas questões sobre a

Musicoterapia, como sua definição, a relação música e saúde através dos

tempos, e a utilização da música na Musicoterapia.

O segundo capítulo foi escrito com base nos estudos que

foram desenvolvidos durante esse curso de Pós-graduação em

Psicomotricidade.

O terceiro capítulo é um breve resumo sobre a patologia

vascular cerebral. As seqüelas do AVE e as possibilidades da plasticidade

cerebral.

O capítulo final descreve de forma prática tentando ser o mais

claro e objetivo possível, um trabalho de Musicoterapia, agora, com um olhar

Psicomotricista. Algumas sessões são relatadas, além das dinâmicas mais

realizadas. Para evitar constrangimentos, os nomes dos pacientes não são

verdadeiros e a idade deles é apenas aproximada. Nos comprometemos com

a veracidade de sua história de vida terapêutica.

10

I - MUSICOTERAPIA

Definição:

“Musicoterapia é a utilização da música e/ou

seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) por um

musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou grupo, num

processo para facilitar e promover a comunicação, relação,

aprendizagem, mobilização, expressão, organização e outros

objetivos terapêuticos relevantes, no sentido de alcançar

necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas.

A Musicoterapia objetiva desenvolver potenciais

e/ou restabelecer funções do indivíduo para que ele possa

alcançar uma melhor integração intra e/ou interpessoal e,

conseqüentemente uma melhor qualidade de vida, pela

prevenção, reabilitação ou tratamento”.

(Federação Mundial de Musicoterapia, I996)

1.1- Música e saúde

Um grande número de publicações sobre os efeitos que a

música exerce no indivíduo tem sido explorado em vários artigos de jornais

livros e revistas. Musicoterapeutas, médicos, psicólogos, músicos, tentam

desvendar cientificamente esse “poder mágico” que a música exerce, através

de estudos sobre o cérebro humano, de pesquisas e observações clínicas.

11

Ao longo dos anos, música e saúde andam em estreita ligação

e alguns fatos históricos podem comprovar o que estamos dizendo.

Tentaremos fazer um breve resumo sobre essa relação que o homem

estabeleceu entre a música e a saúde, fundamentado nos autores Costa (I989),

e Benenzon (I985), onde poderemos encontrar um material bem mais

detalhado a respeito do assunto.

Danças e cantos eram comuns nas diversas tribos durante

sessões ritualísticas podendo acontecer antes ou durante vários eventos.

Na mitologia, os deuses tocavam instrumentos musicais e

realizavam milagres através da música. Já na literatura sobre os mitos hindus,

encontramos os cantos influenciando no crescimento das plantas.

Os marinheiros gregos eram enlouquecidos e levados à morte

pelo canto das sereias.

Os povos primitivos acreditavam que a doença era causada

pelo espírito do mal. Para isso agradavam aos espíritos benfeitores, celebrando

festas, cantando e dançando imitando sons e movimentos do animal que na

época seria considerado a representação do espírito do bem. Costumavam

afastar o espírito das trevas através das danças e das músicas consideradas

até hoje como músicas de cura. Assim, era comum a utilização da música na

comunicação com os espíritos, com os próprios homens e com a natureza.

Foi na Grécia, que o uso da música deixou de ter um caráter

mágico e religioso, para basear-se em observações clínicas dos seus efeitos

no ser humano. Encontramos alguns estudos também sobre a física dos sons.

Essa racionalidade greco-romana nos foi muito útil, abrindo

espaço para uma nova postura sobre a doença. Questionaram conceitos

importantes sobre realidade e aparência. Tentaram através da razão e da

lógica chegar a verdade científica, a essência das coisas.

Hipócrates, defendeu a idéia de que a hereditariedade e a

predisposição constitucional eram as causas principais das enfermidades.

12

Acreditava ser a doença sempre psicossomática, uma

desarmonia da natureza humana. Para a recuperação do equilíbrio do enfermo,

a música, provocava uma descarga das emoções as quais podiam ser

dominadas através de melodias, por possuírem em si mesmas a ordem e a

harmonia, clareando a mente do doente.

Pitágoras, grande filósofo da Antiguidade, defendeu a teoria de

que a realidade era harmonia e número. Tentava entender o cosmos pela

matemática ou pela música.

Benenzon (p.169, 1985), musicoterapeuta e médico psiquiatra

argentino, cita Platão e Aristóteles como sendo os precursores dos

musicoterapeutas:

”Aristóteles falava do verdadeiro valor médico da

música ante as emoções incontroláveis e atribuía seu efeito benfazejo

para a catarse emocional. Platão receitava música e dança para os

terrores e as angústias fóbicas”.

O Período Medieval foi caracterizado por representações

religiosas, o reinado do Cristianismo. Por isso mesmo, opõe-se às práticas

anteriores, sendo esta, considerada a era da medicina religiosa. O tratamento

do doente era feito pelos sacerdotes para a salvação da alma, em detrimento

do corpo enfermo. Os que por algum motivo não recebessem a cura, o motivo

eram os demônios pelo qual estavam possuídos, e assim eram condenados à

morte na fogueira. O uso terapêutico da música desaparece nesse período. A

Igreja faz sérias proibições em relação à música e a diversos instrumentos.

No século XI surgem as primeiras escolas médicas, que

retomam as tradições gregas, porém impregnadas pelo código religioso. No

século XII, a música passa a fazer parte do currículo das Universidades, porém

o seu uso é moldado e direcionado pela Igreja. O fim da Idade Média tem

como marco inicial um novo período: o Renascimento. A cultura da Grécia é

ressuscitada em todo seu vigor, inundando não apenas as artes, mas todos os

campos do conhecimento, tendo como conseqüência uma ruptura com as

representações ortodoxas da Igreja Católica.

13

Houve um grande avanço da medicina somática no século

XVII. São desta época diversos estudos sobre a histeria. O século XVIII foi

caracterizado por mudanças no estilo de vida e nas relações humanas por

conta da Revolução Industrial, destacando a importância da música quando se

tratava de sensações. Esta passou a ser vista como a origem das imagens e

das idéias. O século XIX contou com as contribuições de Pinel. Para ele era

imprescindível um tratamento mais humanizado nos hospícios, revolucionando,

assim, a área da doença mental. O interesse pela música se difunde. A música

ganha três diferentes tipos de efeito: o excitante, o efeito calmante e o

harmonizante.

Aos poucos no decorrer do século XIX, o método ativo, em que

o paciente é induzido, convidado a executar música, e não apenas ficando

numa posição passiva de ouvinte, como era utilizado anteriormente, foi

ganhando força.

Infelizmente este tratamento defendido por Pinel foi sendo

deturpado e a música ganha a função de apenas ocupar o tempo, reeducar os

pacientes e garantir a disciplina do asilo, que seria o mesmo que tentar moldar

os doentes através da música.

No fim do século XIX com o desenvolvimento da medicina,

pesquisadores tentam fundamentar cientificamente os estudos a respeito dos

efeitos neurofisiológicos da música no organismo humano.

Em meados do século XX nos Estados Unidos durante a

Primeira Guerra Mundial, observou-se o resultado positivo que a música

causava nos neuróticos da Guerra. Fundou-se a partir dessas experiências os

primeiros Cursos de Formação de Musicoterapeutas objetivando dar um

treinamento específico na área.

Atualmente, a Musicoterapia vem se desenvolvendo por quase

todos os países. Contamos com Cursos de Graduação e Pós-Graduação,

bibliografias específicas sobre o tema, além de Congressos Nacionais,

Internacionais, Simpósios e Fóruns anuais.

14

A Musicoterapia deixa de ser uma terapia restrita a indivíduos

portadores de deficiências, e doenças mentais, alcançando uma clientela mais

diversificada. Os Musicoterapeutas assumem novos campos de atuação, como

com pacientes terminais, menores infratores, dependentes químicos, idosos e

recém-nascidos.

1.2- Música em Musicoterapia

Percebemos que através dos séculos, diferentes tipos de

representações ocorreram na relação homem/música. Feiticeiros, curandeiros,

semideuses e artistas, utilizam a música com objetivos e funções diversas.

Na Musicoterapia encontramos técnicas, procedimentos e

princípios que caracterizam e individualizam nossa prática profissional. Existem

diferenças bastante significativas com relação à utilização da música com

objetivos terapêuticos e com outros objetivos como, de recreação, lúdicos ou

de aprendizagem musical, mesmo que esses últimos se tornem uma terapia

para quem os pratica, a sua prática não pode ser considerada Musicoterapia,

pois os seus objetivos, os recursos e estratégias utilizadas não foram

terapêuticos não contaram com métodos e técnicas específicas para objetivos

específicos, além de não ter a presença de um terapeuta. A simples utilização

da música num contexto terapêutico também não quer dizer que seja

Musicoterapia. Um outro profissional pode perfeitamente utilizar música nas

sessões com seu cliente, o que não o torna musicoterapeuta. O que faz a

Musicoterapia ser singular é a não utilização da música apenas como uma

técnica de mobilização, uma audição musical, mas sim a utilização desta como:

intervenção, estimulação e interação com o terapeuta, além da audição.

Som e ritmo são considerados manifestações primárias da

nossa vida, e estão presentes em todo o nosso ser e em nossa identidade. No

ritmo do andar, do comer, do agir, do dormir, no som da voz, do choro, do riso.

Sendo também uma de nossas referências de recordações anteriores ao

nascimento.

15

A primeira via de contato do ser humano com o mundo, ainda num

período fetal, é através da percepção auditiva e também pelo sistema tátil.

Existem duas vias de percepção sonora, a via auditiva propriamente dita,

através do canal auditivo e a via óssea por onde percebemos e sentimos o som

por todo o nosso corpo através de sua vibração sonora (muito valorizada no

trabalho com portadores de deficiência auditiva). Um exemplo claro do que

estamos falando, é o que ocorre quando uma pessoa está próxima de alguns

instrumentos de percussão de sons fortes (muitos já passaram por essa

experiência em desfiles de sete de setembro) e sente todo o seu corpo vibrar,

pulsar. Não é apenas o ouvido que está à escuta, mas todo o corpo que vibra

com a produção sonora. Assim a música é sentida através da pele. Toda a

carga afetiva da música, dos sons, será passada através da audição, como

também através da percepção tátil.

Benenzon, médico e musicoterapeuta defende a seguinte

hipótese:

“Desde o preciso momento em que o óvulo se une ao

espermatozóide, e ainda no útero materno, para ir gerando o novo

ser, este já se encontra em contato com as pulsações do batimento

cardíaco, e com inúmeras sensações vibratórias de movimento e

som, dadas pelo ranger das paredes uterinas, pelos ruídos intestinais

da mãe, pela respiração.... É evidente que, à medida que o feto se

desenvolve, vai adquirindo a sensação da importância dessa batida,

que sente em todo seu corpo e que de alguma maneira percebe como

essencial para sua vida, já que sua diminuição acarreta-lhe a

sensação de falta de oxigênio, de nutrição, de temperatura, enfim, de

vida...O incremento do instinto de vida ou de morte estaria em estreita

relação com os batimentos cardíacos que impulsionam o fluxo

sangüíneo desde a mãe ao feto através do cordão umbilical".

(Benenzon, I985, p.27)

Depois de nascido, o bebê necessita se organizar, buscar o seu

ritmo próprio para, aprender a engatinhar, passar para a posição sentada,

16

brincar, andar, iniciar o balbucio, falar, desenvolver no dia a dia suas

habilidades de forma cada vez mais organizada.

“Há um movimento rítmico tão forte na vida que

caracteriza a própria vida em suas diferentes manifestações. No

homem, o coração pulsante, a circulação do sangue, as ondas

cerebrais imprimem sua presença no corpo vivo através de um

determinado ritmo. A mudança radical deste ritmo indica a morte com

suas transformações na vida: pára o coração, cessam as ondas

cerebrais, cala-se a voz - a morte da personalidade, a vida em

transformação alcançando o corpo e redimensionando o espírito".

(Chagas, I990, p. 585)

Percebemos que a música na Musicoterapia acontece de forma

mais abrangente, utilizando todas as possibilidades de som, silêncio, ruído,

ritmo, vibração, movimento, melodia e harmonia. Todos esses são elementos

que constituem a música, e assim sendo podem fazer parte do contexto da

Musicoterapia.

"Não é só música o que se utiliza como parte do

processo de aplicação terapêutica, mas também o som no aspecto

mais amplo de sua concepção e o movimento. Entendo que o

movimento, a música e o som são praticamente uma mesma

entidade, que se identificam mutuamente até converterem-se em uma

mesma coisa". (Benenzon, I985, p.12)

17

II – PSICOMOTRICIDADE

Definição:

“É uma ciência que tem por objeto o estudo do

homem através do seu corpo em movimento nas suas relações com

seu mundo interno e externo”. (S.B.P.1999)

2.1- Movimento, tônus e afetividade

A Psicomotricidade é um campo de atuação que articula a

integração da motricidade, do psiquismo e do afeto.

Podemos encontrar basicamente três tipos de abordagem:

• A Educação Psicomotora, que é preventiva, ela deve acontecer antes

que um sintoma se instale. Seu trabalho visa a integridade do indivíduo;

• A Reeducação Psicomotora, trabalha com o corpo que não se preveniu,

aonde já existe um sintoma. Sua postura é reeducar a função.

• A Terapia Psicomotora, que não se fixa apenas no sintoma, mas no

sujeito. Trabalha com o simbólico, o afeto, a emoção, com o corpo em

movimento, sentindo, pensando e agindo.

A Psicanálise traz grandes contribuições para a

Psicomotricidade, quando fala do sujeito desejante, do inconsciente e da

transferência. Vários autores se valendo desses estudos aprofundam cada vez

mais a Psicomotricidade, tendo como foco o sujeito com o seu corpo em

movimento ao invés de focar apenas o corpo em movimento. Essa

diferença dá uma nova perspectiva à terapia. Corpo e sujeito não são

18

mais vistos como sinônimos. O sujeito “fala” através da comunicação e da

expressão do corpo. E a linguagem do outro ajuda na construção dos

movimentos, da postura, do tônus, dos gestos do corpo. O primeiro olhar “do

outro” oferecido ao neonato é o da mãe (ou da mãe substituta se for o caso),

durante a amamentação, e será ela quem apresentará o corpo e o mundo ao

recém nascido. A melodia da fala, o toque, o afeto fazem parte da primeira

leitura de mundo que o bebê faz. Mais tarde, numa fase escolar, a criança

registra e armazena as impressões que a professora, os seus amigos, além

dos seus pais, depositam nela. O conteúdo do que é dito na linguagem não

verbal (que vem associada ao verbal), fica marcado na memória do ser

humano. É o corpo do outro falando, desejando pela criança, que muitas vezes

formam a sua imagem corporal. Ela se vê na linguagem do outro (seja a mãe, o

pai, ou qualquer outro corpo que seja falante, pulsante). Um exemplo claro é o

da mãe que ao vestir sua filha sempre faz comentários de como ela é linda.

Muitas vezes ainda a incentiva a mostrar para uma terceira pessoa o quanto

ela está maravilhosa com determinada roupa. Percebemos que estas crianças

realmente passam a se acharem mais bonitas, mais vaidosas, do que suas

amiguinhas. Em muitos casos, antes mesmo de nascida, a criança já carrega

uma imagem idealizada pelos seus pais, ou uma profissão escolhida por eles

mesmos. E assim, o corpo da criança vai agindo como reflexo do desejo do

outro. Assim, percebemos que a auto-imagem corporal da criança é também

formada e organizada a partir do olhar do outro.

Percebe-se então que o movimento corporal está carregado de

motivações afetivas e emotivas.

Além disso, a Psicomotricidade traz um conceito de tônus

emocional, que é diferente do já conhecido tônus físico. Acrescentando ainda

que a sua regulação será dependente das emoções e da afetividade.

“O tônus tem um papel muito importante na tomada

de consciência de si e na edificação do conhecimento do mundo e do

outro”.

19

“Neste aspecto da unidade do homem, entre o

hemisfério psíquico ao hemisfério motor, o tônus constitui a função de

ponte. Todas as manifestações do comportamento e da afetividade

estão ligadas à função tônica”. (Fonseca,1998, p.223)

Pai da Psicomotricidade Relacional, o francês André Lapierre

esclarece que os bebês de até aproximadamente 18 meses de idade têm

necessidades do carinho, do afeto, da compreensão e de uma boa relação com

o adulto, enquanto que quando se tornam um pouco mais velhas essa

necessidade da criança muda radicalmente, passando a ter o desejo de

destruir o poder do adulto. Esse é o momento das pulsões agressivas, próprias

dessa idade. Cabral, em seu livro Psicomotricidade Relacional, p.134, chega

até mesmo a fazer uma comparação de crianças com graves lesões motoras,

mas com boa relação afetiva com o adulto responsável, com aquelas com

distúrbios psicomotores leves, mas com profundas alterações afetivas nos

primeiros anos de vida. Para a autora, as crianças que não tiveram uma

relação satisfatória nas suas primeiras experiências de vida, podem apresentar

distúrbios psicomotores mais graves do que as com lesões severas caso

tenham tido uma boa carga afetiva na relação com o adulto nos primeiros anos

de vida.

O trabalho Psicomotor cria um espaço de liberdade, onde se

pode expressar os conflitos recalcados, proporcionando uma forma de

descarga e elaboração através dos jogos simbólicos. Dessa forma, tanto as

questões relacionais, como as cognitivas, emocionais, ou motoras vão surgindo

no decorrer dos jogos e brincadeiras espontâneas. Na Psicomotricidade

Relacional a postura do terapeuta é não diretiva, quer dizer, o paciente é quem

mostra o caminho. O terapeuta deve estar o mais disponível possível, para

através da observação e da escuta feita durante as sessões, do agir ou do não

agir do paciente, interpretar, analisar, refletir e levá-lo a reestruturar aquilo que

não estava organizado. Como disse Lapierre, quando esteve no Brasil a

convite do Centro Internacional de Análise Relacional (CIAR), para o

lançamento de seu livro edição em português, O adulto diante da criança de 0

20

a 3 anos: Psicomotricidade Relacional e Formação da Personalidade, numa

entrevista realizada por Vitor Casimiro, em abril de 2002, encontrada no site

www.educacional.com.br: “Parece fácil, mais é muito difícil se desenvolver uma

disponibilidade corporal, não apenas intelectual.” Assim o psicomotricista cria

condições favoráveis para o paciente se expressar. Sendo aceito sem

julgamentos e conceitos de juízos de valor, a idéia é que ele elabore seus

conflitos, elaborando uma harmonia entre o psíquico e o motor, estabelecendo

uma comunicação mais verdadeira com ele mesmo, com os outros e com o

meio. Esse é o trabalho da Psicomotricidade Relacional. O terapeuta assume o

papel de parceiro simbólico, pois estabelece uma comunicação com o paciente

no mesmo nível que ele se encontre, para que juntos possam superar as

dificuldades, os fantasmas. A idéia é que a representação projete no universo

simbólico as vivências traumáticas, as frustrações sofridas, para que estas não

continuem fazendo parte do mundo real. O ser humano diante do fracasso, tem

uma tendência a reviver seus fantasmas, e quando não tem condições de

reelaborá-los sozinho, tende a evitá-los como uma auto defesa dessas

situações, que podem ser chamadas de situação-problema.

Nem tudo o que é sentido no corpo é necessariamente

elaborado pelo pensamento, sendo desse modo uma informação inconsciente.

A memória sensitiva e afetiva será despertada e trabalhada na Terapia

Psicomotora. Aliás, é exatamente essa uma das questões da Psicomotricidade

Relacional, como podemos perceber através das palavras de Lapierre citadas

no livro de Suzana V. Cabral, Psicomotricidade Relacional:

“Provocar uma vivência simbólica, emocional,

próxima do fantasma, e reveladora de suas origens é um dos

processos da psicomotricidade Relacional.”

Assim, através da transferência Psicomotora, espera-se que o

paciente elabore suas questões, descubra ou desenvolva suas potencialidades,

organizando e reestruturando seu corpo.

21

2.2- Áreas básicas a serem avaliadas e trabalhadas na

Psicomotricidade

Além do que já foi exposto sobre o trabalho, não podemos

deixar de citar as principais áreas psicomotoras avaliadas e trabalhadas

durante o processo terapêutico.

2.2.1 - Esquema corporal

É o conhecimento que cada um tem de seu próprio corpo, e que lhe permite

organizar-se ou não no espaço. É a estrutura corporal, a anatomia, o modelo

de corpo. O esquema está associado à formação da identidade, do “eu”. O

sujeito só percebe a si mesmo e aos objetos em função de seu próprio corpo.

2.2.2 – Imagem corporal

Representação do corpo, impressão que se tem de si mesmo. Está associada

à percepção que o sujeito tem de seu próprio corpo, a relação estabelecida

durante sua vida e vivências anteriores. Para trabalharmos o esquema

corporal, em primeiro lugar devemos conhecer a imagem corporal do sujeito.

2.2.3 – Coordenação Motora:

2.2.3.1 - Ampla

Envolve movimentos físicos dos grandes músculos. Está associado à força

muscular.

2.2.3.2 - Fina

Depende da coordenação motora ampla. Envolve pequenos músculos. Aqui

encontramos também a coordenação motora óculo manual e óculo pedal.

2.2.4 – Equilíbrio

Está na base de qualquer ação. Quanto melhor for o equilíbrio, mas

coordenada será sua função e conseqüentemente menos gasto de energia a

pessoa terá. Está profundamente ligado a estados emocionais, como por

exemplo, insegurança, ansiedade e afetividade. Pode ser dinâmico ou estático.

É a sua sustentação psíquica e física.

22

2.2.5 – Lateralidade

Preferência pela dominância de um determinado hemisfério em três níveis:

Dominância da mão; dominância do pé; dominância visual. É a propensão da

pessoa para usar mais um hemisfério do que o outro. Temos a lateralidade

homogênea (destro ou canhoto), a Lateralidade cruzada e o ambidestro.

2.2.6 – Estrutura Espaço temporal

Depois que o indivíduo adquire um esquema corporal satisfatório, ele pode

passar a organizar o seu corpo no espaço. A partir da posição do seu corpo no

espaço, ele consegue perceber os objetos e suas relações. Na construção do

movimento é imprescindível uma razoável orientação espaço temporal. Essas

habilidades são tão importantes que ao acordar depois de horas de sono, a

primeira coisa que o ser humano normalmente faz, é se localizar primeiro no

espaço (onde estou e a observação dos objetos a minha volta como referência)

e logo em seguida no tempo (que dia é hoje, que horas são).

2.2.7 – Ritmo

Está diretamente ligado ao espaço, ao tempo, e ao corpo. Por exemplo: a

marcha do ser humano adulto com boa coordenação tem um ritmo binário de

marcação. Quanto mais rítmica for a ação, melhor a pessoa executará a

atividade.

Pode se relacionar a um ritmo determinado, ou a percepção do próprio ritmo de

quem executa a atividade.

Para efeitos didático e melhores esclarecimentos, especificamos

cada uma das habilidades, porém elas estão completamente interligadas. Uma

pessoa jamais conseguiria fazer uma simples atividade como correr se não

tivesse além da coordenação motora ampla, o equilíbrio, a força muscular, a

estrutura espacial, o esquema corporal e o ritmo.

23

III – O CÉREBRO HUMANO

O cérebro (Sistema Nervoso Central) controla todo o corpo

através de áreas específicas para diferentes funções. Ele é dividido em dois

hemisférios simétricos, sendo que cada hemisfério controla a parte oposta do

corpo humano. Quando ocorre uma lesão cerebral, atinge-se ma parte do

cérebro, causando prejuízo em determinada área do corpo ao qual o sistema

nervoso era responsável. São poucos os casos em que a lesão atinge, com a

mesma proporção várias áreas cerebrais.

O Sistema Nervoso Central (SNC) é formado por células

nervosas, chamadas de neurônios, que são responsáveis por captar,

decodificar, e responder às sensações do corpo. São fibras que enviam sinais

dos receptores (órgãos sensoriais) para o SNC, e fibras que enviam sinais do

SNC para o corpo, como resposta.

Os neurônios são constituídos por três partes. O corpo celular

ou soma que possui umas ramificações chamadas de dendritos (por onde se

recebem as informações de um outro neurônio). E, ainda da soma, mas em

direção oposta aos dendritos existe uma outra ramificação mais longa e estreita

chamada de axônio (por onde saem as informações para outras células).

As sinapses são os espaços de contato entre os neurônios.

Essa passagem de informação entre uma fibra nervosa para outra pode

acontecer de forma exata como pode ocorrer uma variação da informação

causando prejuízo desta. Quanto melhor a conexão entre as sinapses, mais

íntegra é a sua transmissão ao SNC. Uma lesão em qualquer área do cérebro

pode comprometer o processamento de informação, que nada mais é do que a

forma como o estímulo chega ao SNC.

24

3.1 Plasticidade Cerebral

“Plasticidade cerebral é a capacidade do

sistema nervoso alterar o funcionamento do sistema motor e

perceptivo baseado em mudanças do ambiente, através da

conexão e (re)conexão das sinapses nervosas, organizando e

(re)organizando as informações dos estímulos motores e

sensitivos”. (Relvas, in Alves, p. 67, 2004)

Quando um grupo de neurônios responsáveis por uma

determinada função encontra-se lesado, outra área do cérebro pode

compensar e passar a controlar aquela função.

“A plasticidade é mais comum em crianças, porém

também ocorre nos adultos, por isso os exercícios psicomotores são

importantes e fundamentais na recuperação de sujeitos que sofreram

acidentes. Os exercícios orientados têm por finalidade estimular as

sinapses nervosas para que ocorra um (re)arranjo dessas

informações neurais, sejam elas sensitivas ou/e motoras. É a busca

de um novo caminho desse circuito neural, pela alteração qualitativa

de uma via nervosa íntegra, controlando uma função que antes não

era de sua propriedade e é, utilizando de estratégias motoras

diferentes, que recupera-se uma atividade que esteja perdida”.

(Relvas in Alves, p. 67, 2004)

É necessário se ter sempre em mente que as possibilidades de

compensação de uma área lesada para outra área intacta é limitada. Existem

alguns casos de nos primeiros meses de uma patologia cerebral, ocorrer da

função ser recuperada. Nesse caso não houve uma plasticidade cerebral, mas

sim a recuperação da função que se encontrava prejudicada e não lesada.

O que fará a grande diferença funcionalmente falando, será a

área afetada e o tamanho da lesão.

25

3.2 – Acidente Vascular Encefálico

Também conhecido como acidente cerebral (AVC) ou mais

popularmente de derrame. Como o encéfalo corresponde a todas as estruturas

neurais encontradas no crânio (a parte intracraniana do sistema nervoso), a

patologia vascular cerebral vem sendo chamada de Acidente Vascular

Encefálico (AVE).

O número de pessoas com essa patologia tem crescido tanto

que na França, o AVE é a terceira causa de morte depois do câncer e dos

distúrbios cardiovasculares.

“A circulação cerebral é notável por sua

independência relativa em relação ao sistema nervoso autônomo e

por sua capacidade de manter um débito constante apesar das

variações da pressão arterial sistêmica”.

“... Em várias condições patológicas, observa-se

uma perda da auto-regulação, fazendo com que a perfusão cerebral

dependa passivamente da pressão arterial sistêmica”. (Cambier, p.

373, 1999)

O AVE pode ser classificado em duas grandes categorias:

· AVE isquêmico: quando ocorre a formação de coágulos

dentro de um vaso cerebral que irriga determinada região encefálica,

interrompendo o fluxo do sangue, e conseqüentemente impedindo a chegada

de nutrientes e de oxigênio para essa artéria. Também pode ocorrer a

obstrução em algum outro local anterior por onde o fluxo sangüíneo já tenha

passado, como no coração ou artérias carótidas ao nível do pescoço.

“A ocorrência de um acidente isquêmico cerebral é a

conseqüência de uma redução crítica do débito sanguíneo devido à

26oclusão parcial ou total de uma artéria cerebral”. (Cambier, p.374,

1999)

· AVE hemorrágico: quando ocorre a ruptura de um vaso na

região encefálica.

Os sinais surgem de súbito e trazem manifestações clínicas

diversas, porque são dependentes da região em que o sistema nervoso foi

atingido. Os sintomas mais comuns são: fraqueza ou dormência em membros

do corpo, alterações de linguagem, visuais, fortes dores de cabeça, falta de

equilíbrio, desmaio ou tontura.

As seqüelas podem ser motoras (hemiplegia, paraplegia e

outras), cognitivas (como por exemplo, perda da memória, afasia), emocionais

(depressão, baixa auto-estima). Como já falamos anteriormente, as seqüelas

vão depender da localização cerebral do acidente vascular.

Antigamente pouca ênfase era dada à necessidade de

intervenção, pois não se tinham muitos recursos para com esses pacientes. O

período de internação era muito longo e o paciente continuava sendo sempre

“o inválido”.

O tratamento mais eficaz para esta doença nos dias atuais, tem

sido a prevenção. Ou seja, campanhas de informação para se conhecer e

identificar os fatores de risco na população e assim combatê-los. O

reconhecimento das manifestações e a procura por uma assistência médica de

urgência com a continuidade das medidas medicamentosas e terapêuticas nos

serviços de reabilitação são imprescindíveis, principalmente no início do

acidente. Assim, diminuições significativas da mortalidade e da invalidez vêm

ocorrendo.

Entre os fatores de risco mais comuns estão a hipertensão

arterial, diabete, sedentarismo, tabagismo e obesidade. A redução da

incidência da doença vascular cerebral com o controle principalmente da

hipertensão arterial, já está sendo comprovada em estudos.

27

IV - PRÁTICA CLÍNICA

Esse capítulo destina-se a relatar um pouco da clínica de

Musicoterapia na reabilitação de pessoas com seqüelas de acidente vascular

encefálico. Durante esse percurso estaremos identificando as possibilidades da

articulação com a psicomotricidade, assim como, analisando os possíveis

encontros e desencontros observados.

O trabalho vem sendo desenvolvido desde novembro de 2002,

no setor de reabilitação, do Hospital Geral de Guarus (HGG), localizado na

cidade de Campos dos Goytacazes, estado de Rio de Janeiro.

O setor de reabilitação do HGG tem o objetivo de promover a

saúde através da prevenção, diagnóstico e tratamento. A prioridade é dada ao

idoso, à criança e ao portador de deficiência física. A equipe interdisciplinar é

formada por Fisioterapeuta, Fonoaudiólogo, Musicoterapeuta, Psicólogo,

Terapeuta Ocupacional e Assistente Social. O Fisiatra, o Neurologista,

Ortopedista e outros médicos especialistas prestam os atendimentos no

ambulatório do HGG. Estes encaminham os pacientes para o serviço da

reabilitação, assim como outros médicos da rede pública de saúde. Também

são feitos encaminhamentos internos entre os profissionais do próprio setor de

reabilitação.

As principais patologias neurológicas atendidas no setor são:

atrasos neuropsicomotores, síndromes genéticas, encefalopatias, seqüelas de

AVE, traumatismos cranianos (TC), malformações congênitas.

28

4.1 – A sala de Musicoterapia

A sala é composta por um tatame, uma mesa, algumas

cadeiras, um aparelho de som, e um armário onde são guardados todos os

instrumentos musicais, que são: um piano, um violão, duas flautas doce, um

teclado, atabaque grande e outro pequeno, zabumba, bongô, pratos surdo,

xilofone e metalofone Orff (soprano e contralto), e alguns instrumentos de

percussão simples como, dois pandeiros de tamanho 8, e mais dois de

tamanho 10, pandeiro meia lua, agogô, chocalho, caxixis, pau de chuva,

triângulos, ganzá, guizos e clavas.

O maior número possível de instrumentos principalmente

regionais, que façam parte do arquétipo sonoro do paciente e que tenham uma

boa sonoridade, será fator importante, pois através deles e/ou da música é que

estabelecemos uma comunicação com o paciente, com o meio e com os

outros. Não é necessário que se use todo o material, mas que esteja sempre a

disposição, pois trabalhamos conciliando o interesse com a necessidade de

cada indivíduo, mesmo estando no grupo. É interessante que o ambiente

exterior da sala não tenha barulhos em excesso, para não atrapalhar o nosso

envolvimento sonoro-musical. Além dos instrumentos musicais, utilizamos

nesse caso específico, bambolês, bastões e bolas de vários tamanhos e pesos.

4.2 – O grupo terapêutico

O grupo terapêutico movimento e ritmo normalmente é formado por oito

pacientes com seqüelas de AVE. Ele acontece uma vez por semana com

duração de uma hora e quinze minutos em média. É um grupo aberto devido a

alta hospitalar de alguns pacientes e a entrada de novos participantes pelo

29encaminhamento de outros profissionais. Os pacientes que integram o grupo

atualmente são:

M. – 52 anos de idade. Antes do acidente trabalhava como técnica em

contabilidade. Encaminhada pela Terapeuta Ocupacional em maio de 2002. A

princípio foi atendida individualmente, passando para tratamento em grupo em

outubro do mesmo ano. Sofreu AVE hemorrágico em outubro/96. Teve outro

AVE devido a ruptura de aneurisma, deixando como seqüelas déficits motores

no dimídio direito, disartria, afasia, alterações cognitivas como sérios

problemas de memória de curto prazo e sintomas de depressão. Tem boa

capacidade de compreensão, porém graves dificuldades em se expressar. Os

objetivos principais do tratamento de M. são: estimular a área cognitiva e

perceptiva; resgatar a memória; trabalhar a linguagem verbal; auto estima.

S. – 56 anos de idade. Sua profissão era de pedreiro. Encaminhado pela

Fisioterapeuta. Iniciou a Musicoterapia em novembro de 2002. Teve AVE em

maio de 2000, deixando como seqüela uma hemiparesia direita e déficit de

memória de curto prazo. Tem uma boa compreensão e gosta muito de

conversar, principalmente de contar sobre os acontecimentos passados a

bastante tempo (memória de longo prazo preservada).

SS. – tem 62 anos. Trabalhava como servente. Encaminhado junto com S.

Teve AVE com hemiparesia esquerda, déficit de equilíbrio e de coordenação.

Paciente lúcido, com boa compreensão e expressão, porém baixa auto estima.

Memória preservada.

L. – a paciente tem 65 anos de idade e trabalhava como corretora antes do

acidente. Iniciou no grupo em abril de 2003. Foi acometida pelo AVE em 2000.

Está com paralisia facial, hemiparesia do membro superior direito, discreta

hipotonia de dimídio direito, déficit funcional de equilíbrio e coordenação

motora. Distúrbios cognitivos e baixa auto estima. Dificuldades em avaliar a

30memória devido a capacidade de comunicação (verbal e não verbal) e

expressão que se encontram bastante prejudicadas.

C. – 59 anos de idade. Antes do AVE trabalhava como costureira. É portadora

de hemiplegia esquerda como conseqüência de acidente vascular ocorrido a 16

anos atrás. Iniciou na Musicoterapia em julho de 2003. Tem boa linguagem,

boa compreensão e expressão. É obesa e hipotônica, o que dificulta bastante

toda a sua movimentação e equilíbrio.

A. – 56 anos, antes trabalhava como representante comercial. AVE isquêmico

em 2001, tendo como seqüela hemiplegia direita, perda de equilíbrio de tronco

e baixa auto estima. A memória, a compreensão e a linguagem não foram

afetadas. Iniciou na Musicoterapia em agosto de 2003.

M. – 85 anos de idade. Encaminhado pela fisioterapeuta. Teve o segundo AVE

em 2003. Hemiplegia esquerda e linguagem comprometida. Baixa auto estima

e depressão. Iniciou na Musicoterapia em 21 de março de 2005.

MC. – tem 75 anos. Trabalhava como pedreiro. Iniciou na Musicoterapia em 14

de março de 2005, encaminhado pela fisioterapeuta. Teve AVE em dezembro

de 2001. Apesar do AVE ter comprometido o lado direito do corpo, hoje ele se

encontra bem no aspecto motor. A linguagem, compreensão e expressão estão

satisfatórias, porém a memória está bem comprometida.

4.3 – Funcionalidade da terapia

Antes de iniciarmos os atendimentos propriamente ditos, é

realizado a anamnese, que é um momento importantíssimo por ser aí que se

estabelece o primeiro encontro terapeuta/paciente. Nela colhemos dados da

história clínica do paciente, assim como conhecemos o familiar que o

31

acompanha, podendo ter uma visão também de sua história social. No mesmo

dia se possível, é realizado uma ficha Musicoterápica, contendo fatos da sua

história sonoro musical que podem ser significativos para o desenrolar da

terapia, como por exemplo, preferências musicais do paciente, repertório da

casa, associações sonoro/musicais, estudo anterior de algum instrumento,

sons ou ruídos mais freqüentes do ambiente, e o que é importantíssimo, tomar

conhecimento do seu ritmo biopsicomotor anterior ao acidente. Não seria

possível cobrar de um paciente um ritmo que não lhe era próprio antes do AVE.

Após a avaliação, o paciente que foi considerado elegível para o

grupo terapêutico movimento e ritmo começará a participar na próxima

semana.

O primeiro momento da sessão é uma conversa informal, onde

se quiserem podem comentar de como se encontram, como foi a semana,

algum aborrecimento, alegrias, enfim, o que cada um desejar dividir com o

grupo. Esse momento também é destinado a apresentação de algum paciente

novo no grupo.

Num segundo momento, ainda informalmente, comentamos

sobre a data atual, sobre alguma data comemorativa próxima ou sobre algum

acontecimento importante de noticiários, estruturando-os no espaço tempo,

caso eles tragam essa informação. Fazemos sempre alguma dinâmica com os

nomes dos integrantes do grupo. Como já foi mostrado anteriormente, alguns

pacientes tem uma memória preservada, enquanto outros tiveram perda da

memória como seqüela significativa. Com esse trabalho, um ajuda o outro na

sua dificuldade no resgate a memória.

Logo em seguida eles são estimulados a escolher e pegar

dentro do armário, o instrumento musical que queiram tocar, trabalhando a

independência (motora e psíquica). Participo da roda, e tocamos todos juntos

um repertório escolhido por eles mesmos. Percebemos que em alguns

momentos a dificuldade maior não está naquela pessoa com perda da

memória, mas em pacientes com dificuldades de escolha ou de colocar diante

32

de outros as suas preferências. O trabalho pode ser realizado sem canções,

apenas com os instrumentos, formando uma melodia rítmica numa busca livre

de harmonização sonora. Nesse momento fica clara a liderança no grupo, os

que sobressaem sonoramente, os que abafam sua própria produção, os que

querem impor, enfim a personalidade de cada um sendo colocada no grupo

sem uso de uma comunicação verbal. É como se o instrumento musical fosse

uma continuação de si mesmo, mostrando sua imagem corporal. O

Musicoterapia é o facilitador desse processo.

Outra técnica, ainda na roda, é criar ritmos com o corpo, com os

instrumentos, ou improvisar movimentos expressivos, ampliando a consciência

corporal de um novo corpo adquirido. O ritmo criado por eles na roda, pode ser

imitativo ou seqüencial. No imitativo, avaliamos a capacidade do paciente de

percepção auditiva e visual. Sabemos que o ritmo também pode ser

reproduzido através da percepção visual. Na produção de um ritmo seqüencial,

avaliamos a capacidade que cada um tem de percepção do outro, como

também de criar novas estruturas baseada numa já existente. Consideramos

essa atividade extremamente relevante, pois dá condições do paciente criar

novas possibilidades, novos caminhos, dar seqüência ao que já se iniciou. A

idéia é fazer com que as habilidades conquistadas nas sessões possam ser

administradas em outros setores da vida, fora do campo musical. Nosso

objetivo não é o de ensinar música e sim trabalhar a função, e a auto estima.

Nesses dois casos, é avaliada a coordenação motora fina ou ampla

dependendo do instrumento escolhido, sendo estimulado o melhor

posicionamento dos membros superiores para o exercício motor, não sendo

importante a postura convencional do tocar.

Praticamos também atividades rítmicas com bastões,

individualmente ou em dupla, com o objetivo de desenvolver o equilíbrio, a

lateralidade, e praticar a extensão de cotovelo e preensão contra o padrão

hemiplégico. Em duplas, além dos objetivos anteriores, trabalha-se a

socialização, incluindo a espera pelo ritmo do outro. A importância desse

33

trabalho é que os próprios pacientes devem esperar uns pelos outros, já que

atualmente “os outros” esperam pelo seu ritmo, que já não é mais o mesmo

depois do acidente. E um dos motivos de angústia para o paciente, vítima de

AVE, é justamente o tempo que o outro dispõe para a escuta de alguém como

ele, provavelmente com dificuldades de linguagem, déficit motor ou de

memória, que é o que acontece na maioria dos casos. Também podemos

trabalhar a marcação rítmica com o bastão e nesse caso, a coordenação

música/movimento/ritmo/equilíbrio é fundamental.

Atividades semelhantes podem ser realizadas com bambolês,

com o paciente sentado, em duplas, cada um fazendo movimentos de

preensão com as mãos em volta do bambolê, seguindo o ritmo da música. A

música tocada pelo Musicoterapeuta deve acompanhar as possibilidades dos

integrantes do grupo, para não gerar angústia, desistência, por não

conseguirem desenvolver a atividade proposta, devido a uma marcação rítmica

além de suas capacidade. Essa é a diferença de quando se usa uma canção

gravada, que já possui um ritmo próprio, uma marcação já pronta, e que, quem

escuta deve se adaptar a música. No tratamento a idéia é que o terapeuta se

adapte a possibilidade do paciente, quer dizer, entre no seu universo

sonoro/ritmo facilitando o trabalho, para aos poucos crescerem juntos,

levantando a auto estima, gerando uma produção, e a sensação gratificante de

poder realizar o movimento, despertando o desejo de novas conquistas, de

novos fazeres. A repetição de atividades frustrantes provoca o isolamento, um

corte relacional com a sociedade de um modo geral.

O espaço da terapia é aberto para propostas vindas dos

próprios pacientes e se necessário são feitas algumas adaptações.

No início ou no final da sessão é feito um alongamento ou

relaxamento, com o objetivo de que cada um perceba o seu próprio ritmo,

como o batimento cardíaco, ritmo da respiração e dos movimentos internos, é

um voltar-se para sua melodia interna, para o seu “eu”.

Ao final de cada sessão temos um espaço para conversar, fazer

comentários sobre o que fizemos, sentimos, pensamos e agimos, num

34

processo de elaboração do que aconteceu. O falar não é obrigatório, tanto

quanto o cantar, tocar, improvisar, compor, não o são. Acreditamos que o fazer

é tão significativo como o não fazer, e que cada um tem o seu tempo (ritmo).

4.4 - Exemplo de caso clínico

Relataremos agora uma sessão ocorrida a poucos meses, que

exemplifica como pode ocorrer o processo terapêutico.

No horário determinado da terapia os pacientes entraram na

sala e como de costume iniciamos uma conversa informal. Após a conversa,

sugerimos uma atividade, em roda, com instrumentos musicais. Nosso objetivo

era trabalhar o resgate da memória, o ritmo e a percepção.

Em seguida, fizemos um relaxamento voltado para a percepção

dos nossos sons internos.

Antes de encerrar o relaxamento, solicitei aos pacientes para

deixarem vir à mente uma canção, qualquer que fosse. A intenção era que,

após a neutralização dos mecanismos de defesa, oportunizado pelo

relaxamento, o inconsciente pudesse vir a tona na forma de uma música,

trazendo conteúdos latentes.

Ao finalizar, abrimos espaço estimulando quem quisesse se

colocar.

O paciente A. relata que se lembrou da música Romeu e Julieta.

Solicitamos que todos cantássemos a canção. Ele argumenta

que não pode, pois não se lembrava.

Estranhei o ocorrido, pois esse paciente em especial só

solicitava músicas modernas, atuais. A. sempre foi quieto e seus instrumentos

escolhidos sempre foram de grande porte, de grande capacidade sonora,

porém, ele emitia sons fracos, pouco audíveis. (contradição entre a escolha do

material X atuação sonora). Dificilmente falava de si, só superficialmente.

Ao tocar no piano algumas notas da melodia, a paciente C. foi

se lembrando de algumas frases da música. Quando ela errava a letra, A.

35

imediatamente corrigia. Assim, A. discretamente, com a participação do grupo,

foi “lembrando” e cantando a canção, sendo estimulado indiretamente.

Em seguida, toquei toda a música no piano (melodia e

harmonia), fazendo todo o colorido musical. A. comentou que a música era de

um filme que falava de um amor proibido. E que esta música o fazia lembrar de

um amor antigo da adolescência. A partir daí, relatou toda a sua vida em

detalhes, da adolescência até a data atual. Frisou as perdas amorosas, a mãe

repressora, a sua paralisia diante das imposições maternas, o casamento

fracassado e a sua revolta por não ter caminhado na direção que desejava.

Fato esse extremamente fora do comum, já que A. era de muitas poucas

palavras nos atendimentos.

C. que estava impaciente, por ter uma capacidade de escuta

bastante restrita, e porque já havia encerrado o nosso horário, sinalizou para A,

que encerrou a sua fala.

No que a terapia ajudou?

Acreditamos que desde o início, nos momentos de escolha do

material, já existia uma comunicação não verbal sendo expressa

inconscientemente, que podemos interpretar como uma vontade de se colocar,

um desejo de soar, mas na hora da produção, do audível, a emissão se tornava

fraca.

A vida hoje exige de A. mudanças, adaptações a uma nova

realidade física. Nas sessões, A. mostra que tem dificuldades em resolver

questões musicais, em criar, em improvisar. Através da linguagem musical A.

“fala” que não consegue elaborar novas experiências.

“Consideramos a criatividade um potencial inerente

ao homem, e a realização desse potencial uma de suas

necessidades. Em nossa época, as artes são vistas como área

privilegiada do fazer humano, onde ao indivíduo parece facultada uma

liberdade de ação em amplitude emocional e intelectual inexistente

nos outros campos de atividade humana, e unicamente o trabalho

artístico é qualificado de criativo. Não nos parece correta essa visão

36

de criatividade. O criar só pode ser visto num sentido global, como um

agir integrado em um viver humano. De fato, criar e viver se

interligam”. (Ostrower, p.05, 2002)

As atividades rítmicas e melódicas que tinham por objetivo

trabalhar a criatividade, a expressão do movimento, do tônus, contribuíram

dando liberdade para essa catarse. Quer dizer, não foi uma canção vindo a

tona sozinha por causa de uma sessão, mas, um processo de acontecimentos,

de trabalhos desenvolvidos. A. sempre foi assíduo aos atendimentos, só

faltando em caso de doença.

Percebemos através dessa sessão que a Musicoterapia

possibilitou ao paciente extravasar conteúdos reprimidos, expondo aos outros,

e a si mesmo, sua vida, sua família (mãe), seu casamento, suas perdas. A que

perda A. se refere realmente? Será que a perda significativa para ele até hoje é

realmente a do namoro na adolescência? Poderia ser uma transferência pelo

corpo perdido? Que outras perdas ele poderia estar reelaborando? Não

podemos nos esquecer que A. está com o lado direito do corpo paralisado. E

pela sua estória de vida contada na sessão, por ele mesmo, percebemos que a

dificuldade em andar com suas próprias pernas, de tomar decisões

importantes, não vem de agora.

Citamos uma sessão, destacando um paciente em especial para

esclarecer um pouco de como funciona o trabalho.

Continuaremos com a reorganização psíquica/motora de A.,

como também dos outros pacientes.

O nosso objetivo principal com o grupo é o de oferecer um

espaço de vivências terapêuticas, onde a escuta tem um lugar privilegiado.

Onde a coordenação motora, a lateralidade, o equilíbrio, a estruturação do

corpo no espaço/tempo, o ritmo, a memória, a linguagem, os afetos e as

relações, possam ser resgatados ou reestruturados.

Sabemos que ao trabalhar com o corpo, com o tônus (físico e

emocional), oportunizamos a expressão dos sentimentos e a reelaboração da

imagem corporal.

37

CONCLUSÃO

Neste trabalho vimos que a clínica Musicoterápica e a

Psicomotricista podem ser articuladas, somando conhecimentos e técnicas. O

corpo humano, canal de interação com o outro, com o espaço, e meio de

expressão de sentimentos e sensações, é despertado através do prazer do

movimento, das relações afetivas, através do jogo simbólico como também no

campo real do esquema corporal.

A música atua como canal de comunicação, como continuidade

do “eu”, como manifestação do inconsciente. O tocar o corpo, tocar a música,

tocar instrumentos musicais. Ser tocado pelo outro, e ser tocado pela música.

São esses alguns dos muitos encontros entre as práticas clínicas.

Percebemos que esse trabalho procura desenvolver as

potencialidades do indivíduo, procurando o seu núcleo de saúde, tendo como

função mobilizar o paciente a se organizar consigo mesmo e com o meio.

Qualquer atividade ou pensamento que tenha um mínimo de

complexidade, exige inúmeras conexões neuronais em várias áreas do

cérebro. A terapia deve ativar áreas do sistema nervoso, que estão pouco

ativas, estimulando o cérebro através do movimento, do pulsar do corpo,

atuando na intencionalidade do fazer e no prazer da expressão.

38

BIBLIOGRAFIA

1 - ALVES, Fátima (org). Como aplicar a Psicomotricidade. Rio de Janeiro:

Wak,2004.

2 - ALVES, Fátima. Psicomotricidade: corpo, ação e emoção. Rio de Janeiro:

Wak, 2003.

3 - BARCELOS, Lia R. Cadernos de Musicoterapia 4. Rio de Janeiro: Enelivros,

1999.

4 – BENENZON, R. Manual de Musicoterapia. Rio de Janeiro: Enelivros,1985.

5 - CABRAL,Suzana Veloso. Psicomotricidade Relacional. Teoria e prática

clínica escolar. 1ª edição. Rio de janeiro: Revinter,2001.

6 - CAMBIER J.; MASSON M.; DEHEN H. Manual de Neurologia. Rio de

Janeiro: Editora MEDSI,1999.

7 – CHAGAS, M. Ritmo, Som, Vida. In Revista Vozes vol. 84, nº 05, set./out.

Petrópolis, RJ: Vozes, 1990.

8 – COSTA, Clarice. O despertar para o outro - Musicoterapia. São Paulo:

Summus,1989.

9 - DAVIES, P. Exatamente no Centro. São Paulo: Editora Manole,1996.

10-FONSECA, Vitor. Psicomotricidade: Filogênese, Ontogênese e

Retrogênese. Porto Alegre: Artmed, 1998.

11 - LEVIN, Esteban. A Clínica Psicomotora. Petrópolis,RJ: Vozes, 1995.

12 -LOPEZ, A.; CARVALHO, P. Musicoterapia com hemiplégicos. Rio de

Janeiro: Enelivros, 1999.

13 –OSTROWER, F. Criatividade e Processos de Criação. Petrópolis, RJ.:

Vozes, 2002.

14 – Revista Brasileira de Musicoterapia. Definição de Musicoterapia. Rio de

Janeiro: UBAM, Ano 1, nº 2, 1996.

15 - RUUD, E. (org.) Música e Saúde. São Paulo: Summus, 1991.

16 - www.educacional.com.br entrevista com André Lapierre. 2002.

39

ÍNDICE

INTRODUÇÃO 08

I- MUSICOTERAPIA 10

1.1 – Música e Saúde 10

1.2 – Música em Musicoterapia 14

II – PSICOMOTRICIDADE 17

2.1 – Movimento, tônus e afetividade 17

2.2 – Áreas básicas a serem avaliadas e trabalhadas na

Psicomotricidade 21

2.2.1 – Esquema Corporal 21

2.2.2 – Imagem Corporal 21

2.2.3 – Coordenação Motora 21

2.2.3.1 – Ampla 21

2.2.3.2 – Fina 21

2.2.4 – Equilíbrio 21

2.2.5 – Lateralidade 22

2.2.6 – Estrutura Espaço temporal 22

2.2.7 – Ritmo 22

III - O CÉREBRO HUMANO 23

3.1 – Plasticidade Cerebral 24

3.2 - Acidente Vascular Encefálico 25

IV - PRÁTICA CLÍNICA 27

4.1 - A sala de Musicoterapia 28

4.2 - O grupo Terapêutico 28

4.3 - Funcionalidade da Terapia 30

4.4 - Exemplo de caso clínico 34

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA 38

ÍNDICE 39

FOLHA DE AVALIAÇÃO 40

40

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: