UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES POS-GRADUAÇÃO … · aspecto da educação com o qual é mais...

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES POS-GRADUAÇÃO LATOSENSU FACULDADE INTEGRADA AVM PRATICA DO ORIENTADOR EDUCACIONAL FACE A INDISCIPLINA PROFESSOR: MARCOS ANTÔNIO DA SILVA RODRIGUES CARVALHO ORIENTADORA: GENI LIMA RIO DE JANEIRO 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

POS-GRADUAÇÃO LATOSENSU

FACULDADE INTEGRADA AVM

PRATICA DO ORIENTADOR EDUCACIONAL FACE A INDISCIPLINA

PROFESSOR: MARCOS ANTÔNIO DA SILVA RODRIGUES CARVALHO

ORIENTADORA: GENI LIMA

RIO DE JANEIRO

2012

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

FACULDADE INTEGRADA

PRATICA DO ORIENTADOR EDUCACIONAL FACE A INDISCIPLINA

APRESENTAÇÃO DE MONOGRAFIA À UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES COM REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE ESPECIALISTA EM ORIENTADOR EDUCACIONAL E PEDAGOGICO.

AGRADECIMENTOS

AGRADEÇO A DEUS POR TODAS AS BENÇÃOS, E POR MEU PAI E MINHA MÃE QUE ME APOIÃO E DETODOS ENVOLVIDOS NO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO AVM.

DEDICATÓRIA

AOS MEUS FILHOS, MARCOS VITOR, MARCOS EDUARDO E MARCOS RAFAEL, QUE AMO MUITO.

METODOLOGIA

1º cap: Identificação da Escola

2º cap: Atribuições do O.E.

3º cap: Indisciplina e Violência Escolar

- Entrevista e pesquisa bibliográfica

Grinspun, Mirian P. S. Zippin. A orientação educacional: conflitos e paradigmas e alternativas para a escola. São Paulo: Cortez, 2002

Nóvoa, António (coord). Para uma análize das instituições escolares in: As organizações escolares em análise. 1999.

Aquino, Julio Groppa. Indisciplina na escola. Summus editorial 1996

Colombier, Mangel e Perdriault, Claire, Gilbert e Marguerite. A violência na escola. Summus editorial. 1984

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................

CAPÍTULO 1

IDENTIFICAÇÃO DA ESCOLA.................................................................

CAPÍTULO 2

ATRIBUIÇÕES DO ORIENTADOR EDUCACIONAL.......................................................................

CAPÍTULO 3 ..................................................................................................

INDISCIPLINA E VIOLÊNCIA ESCOLAR.............................

INDICE

INTRODUÇÃO..................................................................

CAPÍTULO 1

IDENTIFICAÇÃO DA ESCOLA.................................................................

Identificação do Colégio Municipal Dr. Kingston Guimarães de Souza Motta ......................................................................................................................

CAPÍTULO 2

ATRIBUIÇÕES DO ORIENTADOR EDUCACIONAL.......................................................................

A função da Orientadora Educacional o que diz os documentos e o que nos revela a prática............................................................................................................

A atuação da Orientadora Educacional na visão de professores e coordenadores do Colégio Municipal Dr. Kingston Guimarães de Souza Motta.....................................................................................................................

As possibilidades entre a teoria e a prática no cotidiano escolar................

CAPÍTULO 3 ..................................................................................................

INDISCIPLINA E VIOLÊNCIA ESCOLAR.............................

Conceito de disciplina...........................................................

Indisciplina na família...........................................................

Indisciplina escolar...............................................................

A pratica pedagógica e as causas da indisciplina.................

O professor..........................................................................

O aluno.................................................................................

O Orientador frente à indisciplina........................................

Orientadora versus indisciplina...........................................

INTRODUÇÃO

Na pesquisa de campo, ao acompanhar o trabalho de uma Orientadora

Educacional e com ela vivenciar seu cotidiano, percebi como que seu trabalho

muito se aproxima da teoria utilizada, e acredito que isso se deu porque essa

profissional era formada na área, e por tanto adquiriu tais conhecimentos.

GRINSPUN (2002), quando descreve o papel do Orientador

Educacional, acaba focando para a atuação desse na questão da relação

do projeto pedagógico da escola com a comunidade, principalmente ao dizer

que junto aos pais o Orientador tem a função de fazer “com que eles

participem do projeto dela (da escola) de diferentes formas, desde o

planejamento do projeto pedagógico até as decisões que a escola deve tomar”

(2002, p. 109).

Ao presenciar o cotidiano da Orientação Educacional do Colégio Municipal

Dr. Kingston Guimarães de Souza Motta a qual abrange desde a pré-escola até o

Ensino fundamental, pude constatar a importância de um profissional da área

para o bom funcionamento da escola, assim como um melhor aprendizado

de seus alunos. A importância de ter esse profissional atuando na escola nos

remete a pensar que aqueles que não acreditam em seu trabalho não

entendem o que significa cotidiano escolar e cultura organizacional. No caso

específico da Orientadora observada percebo que ela acumulava muitas

funções, dificultando assim um trabalho de orientação mais amplo como sugere

Grinspun (2002).

Acredito que como já foi dito antes, conforme GRINSPUN (2002), o trabalho do Orientador Educacional não deveria ser reduzido apenas a diagnosticar os alunos com dificuldade de aprendizagem, e sim refletir sobre soluções que minimizem o fracasso escolar. E para tanto, a construção do Projeto Político Pedagógico se faz importante. O papel do Orientador estaria muito mais relacionado a promover reflexões na escola a respeito de seus alunos e professores, das suas relações, dos problemas encontrados na escola e no seu entorno (comunidade), do currículo e dos objetivos encontrados no Projeto Pedagógico que, muitas vezes, não são nem do conhecimento dos que dela participam

As questões ligadas à indisciplina são de natureza humana e têm sido um dos obstáculos mais presentes nas escolas. Pretendo com esse trabalho identificar concepções de disciplina e como professores, alunos e pais as incorporam ao seu cotidiano e o desafio do Orientador Educacional para negociar e prever ações que auxiliem professores no trabalho com alunos tidos como “indisciplinados”.

Analisando diversos olhares, para Rocha (1996, p. 338), “indisciplina é a

falta de disciplina, que significa regime de ordem, imposta ou livremente

consentida, a ordem que convém ao funcionamento regular de uma organização”.

Enquanto o dicionário Aurélio (1974, p. 702) aborda o termo como indisciplina

sinônimo de desobediência, desordem, rebelião.

No primeiro momento, faço uma abordagem do contexto familiar

evidenciando os limites e a liberdade das crianças e adolescentes no cotidiano.

Em seguida, enfoco o contexto escolar, como estão sendo abordados os casos de

indisciplina e relacionando-os com a liberdade limitada ou não. Como o foco de

análise repousa sobre a indisciplina, também se trata do papel do orientador

educacional frente a ela e o envolvimento do Serviço de Orientação Educacional –

SOE, com pais, alunos e professores.

A disciplina deveria ser conseqüência voluntária da escolha livre e, como

conseqüência, a liberdade deveria enriquecer-se de possibilidades, não sendo

antagônicos os dois princípios. Tradicionalmente, o clima da aula era

caracterizado pela criação de um grupo de estudantes dóceis, que dela

participavam como meros receptores, o que tinha como conseqüência a rapidez

do ato pedagógico. Desenvolve-se pouco a capacidade crítica e a iniciativa

individual. Se a repreensão funcionasse, a indisciplina não seria apontada como o

aspecto da educação com o qual é mais difícil lidar em sala de aula.

O clima da aula deve ser de liberdade e tolerância, permitindo que os

alunos tomem consciência dos seus valores e ajam em sintonia com eles. Não

significa que o professor tenha que ter uma atitude de indiferença, ou de apatia,

mas as suas atitudes devem ser firmes.

Cada vez é mais difícil estabelecer disciplina e fazê-la respeitar. Nossos

pais e avós viveram entre a Família e Escola, quando toda a gente admitia os

modos de vida aceitos pela maioria e rejeitava quaisquer outros. Com o efeito da

evolução, as crianças tornaram-se mais independentes, menos dispostas a

obedecer à autoridade dos adultos.

A desestruturação familiar decorre muito mais da falta de atenção, diálogo

e afeto do que da estruturação familiar considerada padrão: pai, mãe e filho

(família nuclear). Na maioria das famílias, há pessoas morando na mesma casa e

sequer formam núcleo, pois não há diálogo ou afeto entre eles. As famílias estão

deixando de proporcionar o desenvolvimento da cordialidade e de boa

convivência entre as pessoas.

O papel da escola é construir situações para que os alunos se apropriem

do conhecimento, através de um ensino interdisciplinar, que mostre a utilidade

dos conteúdos apreendidos e a aplicabilidade dos mesmos no dia-a-dia, além de

reforçar os valores sociais, morais e éticos. De acordo com Pereira (2002, p.106),

“os limites são o respeito ao ser humano, o respeito a si mesmo e ao outro

traduzido como o respeito mútuo enquanto disciplina seria um conjunto de regras

a serem obedecidas por todos.” Além disso, problemas psicológicos e sociais

atingem diretamente o rendimento escolar, produto de uma sociedade na quais os

valores humanos tais como o respeito, o amor, a compreensão, a fraternidade, a

valorização da família e diversos outros foram ignorados.

A função do Orientador Educacional passou a ser de pseudo-psicólogo,

conselheiro e coordenador de escola. Tal realidade é confirmada por Meksenas

(2002, p. 38), quando diz que “a função da educação é integrar o indivíduo a

sociedade é inculcar no indivíduo idéias do meio social em que vive”. Não tirando

do foco nesse trabalho o ser humano. Precisamos urgentemente valorizar as

pessoas.

Aqui eu apresento meu plano de pesquisa.

Tema: Atribuições do O.E. e a indisciplina na Escola

Título: Pratica do O.E., face a indisciplina

Problema: Qual o papel do O.E. mediante a indisciplina e violência na Escola.

Justificativa: Atualmente os alunos vem demonstrando cada vez mais indisciplina e violência no cotidiano escolar, fruto de uma sociedade onde o aluno como cidadão pode tudo e na Escola é podado em relação a sua interação.

Objetivo: Refletir a cerca dos processos que permeiam a indisciplina e a violência na escola e o O.E. na Escola onde eu trabalho Escola Doutor Kingston Motta.

Objetivo Especifico: Conceituar a indisciplina violência escolar

Hipótese: Esse individuo como agente social

Delimitação: Indisciplina e violência escolar

Procedimentos Metodológicos:1º cap: Identificação da Escola, 2º cap: Atribuições do O.E., 3º cap: Indisciplina e Violência Escolar. Entrevista e pesquisa bibliográfica

Grinspun, Mirian P. S. Zippin. A orientação educacional: conflitos e paradigmas e alternativas para a escola. São Paulo: Cortez, 2002

Nóvoa, António (coord). Para uma análize das instituições escolares in: As organizações escolares em análise. 1999.

Aquino, Julio Groppa. Indisciplina na escola. Summus editorial 1996

Colombier, Mangel e Perdriault, Claire, Gilbert e Marguerite. A violência na escola. Summus editorial. 1984

capitulo 1

Identificação da Escola Identificação do Colégio Municipal Dr. Kingston Guimarães de Souza Motta

A pesquisa de campo desta monografia foi realizada no Colégio

Municipal Dr. Kingston Guimarães de Souza Motta. Endereço: Rua H, s/n,º Loteamento

São Judas Tadeu, Boa Esperança, Rio Bonito – RJ. CNPJ 01926.329/0001-

40.

Telefone: (21) 27478117.

No Colégio Municipal Dr. Kingston Guimarães de Souza Motta são oferecidos os

níveis de ensino Educação Infantil e Ensino Fundamental.

NÓVOA (1999, p.33-36), criticando o sistema das escolas portuguesas

as quais tiram os pais e as comunidades da participação da escola, diz que

há “três áreas de intervenção nas escolas para além dos domínios

relacionados com o sistema educativo e a administração do ensino”. Distinguir

essas três áreas seria um esforço imaginário, mas que ajuda a distinguir o

papel que os diferentes grupos exercem na escola. E seguindo a idéia que

o autor traz sobre essas três áreas, faremos a caracterização da escola em

questão.

A primeira área seria a escolar, que “diz respeito ao conjunto das

decisões ligadas ao estabelecimento de ensino e ao seu projeto educativo”

(NÓVOA, 1999, p. 34). Dentro dessa área, trataremos do espaço físico da

escola.

O Colégio Municipal Dr. Kingston Guimarães de Souza Motta conta com uma

estrutura física ampla, possuindo quadra, playground, sala de música, salas

de informática, biblioteca, salas de apoio.

O Colégio Municipal Dr. Kingston Guimarães de Souza Motta, realiza vários eventos

durante o ano letivo. Abaixo, citarei alguns deles, assim como suas

características.

O Colégio Municipal Dr. Kingston Guimarães de Souza Motta foi fundado em 1986, a

instituição recebeu esse nome em homenagem ao advogado de mesmo nome.

As Olimpíadas, realizadas sempre no segundo semestre de ano ,

contam em sua abertura com um evento o qual simula a abertura das

Olimpíadas que ocorrem em contexto mundial a cada quatro anos. Nessa

abertura, realizada na quadra do Colégio Municipal Dr. Kingston Guimarães de Souza Motta

, todas as séries com suas respectivas salas fazem uma volta olímpica,

representando cada uma um sub-tema dentro de um tema maior que, na

maioria das vezes são escolhidos pelo corpo pedagógico e pela direção. Nesse

momento, também, há apresentações artísticas e é acesa a tocha olímpica;

simbolicamente.

Durante toda a semana, são realizadas competições esportivas,

envolvendo futebol, handebol, basquete, vôlei, salto a distância, etc., e delas

participam todos os alunos, da Educação Infantil ao terceiro ano do Ensino

Fundamental (salvo quando apresentam algumas necessidades especiais ou

atestado médico). No último dia da semana, é realizado o encerramento do

evento, sendo que nesse momento são revelados

e premiados os times campeões (no caso).

Na mesma época das Olimpíadas é realizado a confraternização , o qual

conta com desfiles de moda. Junto com esse desfile é realizada a eleição dos

“Casais do Colégio Municipal Dr. Kingston Guimarães de Souza Motta, na qual participam

alunos do ensino Fundamental e representam a escola em vários eventos

durante o ano.

No mês de outubro é realizada a exposição, a qual é vinculada às

disciplinas de Ciências e Educação Artística e os alunos apresentam vários

trabalhos sobre temas diversos realizados por eles próprios. Nesse evento, a

escola é aberta à cidade, sendo que várias escolas da cidade fazem visitas

à ela na ocasião e aprendem com a exposição, realizam o “Encontro com

a arte”, no quais vários trabalhos artísticos dos alunos são apresentados à

comunidade, como danças, pinturas, esculturas, encenações teatrais, etc.

Atividades musicais, gincanas etc. No final do ano, como festa de encerramento

do ano letivo.

Além desses eventos anteriormente citados, os eventos

tradicionais do calendário letivo também são realizados, como o carnaval,

no qual é preparado um “baile” para as crianças; a festa junina, Dia dos Pais e

Dia das Mães, comemorações que homenagem à esses personagens; a

Comemoração da Páscoa; a formatura da Educação Infantil, Ensino

Fundamental, assim como um Festival de dança realizado pelas crianças da

Educação Infantil, o qual conta sempre com um tema.

As aulas são ministradas nos três períodos, sendo que de manha só

Educação Infantil à tarde estão presentes as aulas da Educação Infantil e

Séries Iniciais do Ensino Fundamental, e a noite são ministradas apenas as

aulas do EJA e Ensino Fundamental.

No período da tarde, também, a escola permanece aberta para que os

alunos da manhã realizem atividades extra-sala, sendo elas esportivas,

artísticas e musicais, além de reforços e plantões. De manhã, as aulas

ocorrem das 07:30 às 12:30 e, à tarde, das 13:00 às 17:45.

Seguindo a perspectiva de Nóvoa (1999), a segunda área é a

pedagógica que refere-se “à relação educativa professor-aluno”. Passando

para a análise da pesquisa de campo, citarei aqui o contexto social dos alunos.

Os alunos, em geral, são provenientes de famílias de classes C e D,

sendo seus pais trabalhadores da construção civil e rural, profissionais liberais,

funcionários de empresas conhecidas na cidade e funcionários da própria

escola.

Alguns alunos também são provenientes das famílias que fazem

parte da comunidade, a qual possui um grupo, que realiza encontros

culturais e interativos, sendo que seus filhos e netos estudam e/ou estudaram

na escola.

Essas famílias, na maioria das vezes, preocupam-se com a educação

de seus filhos, pois os querem ver seus filhos terminarem o terceiro grau.

E, por fim, a terceira área, ainda, segundo Nóvoa (1999), é a

profissional, “onde se situam as questões do desenvolvimento profissional, da

carreira docente e da organização técnica dos serviços”.

A gestão da escola é composta por membros: que colaboram com a

escola, como por profissionais da educação, Direção da escola é composta

por diretora e diretora adjunta, que conta com dois coordenadores

pedagógicos. Também é auxiliado pelo SOE, Serviço de Orientação

Educacional, coordenado por uma pedagoga que se encontra na escola no

primeiro e segundo período, dando atendimento também em dias alternados no

terceiro período, sempre de três a quarto dias na semana. Esta cuida dos

problemas de aprendizagem dos alunos, atende aos pais que querem

resolver juntamente com a escola os problemas de seus filhos, analisa os

planos de aula dos professores e organiza e coordena suas reuniões.

Quanto ao professorado, as salas de Educação Infantil e primeiro

ciclo das Séries Iniciais, têm uma única professora (polivalente),

apesar das crianças freqüentarem aulas reforço na própria escola. A partir

do Ensino Fundamental em diante cada matéria é dada por um professor,

como geralmente ocorre.

A biblioteca da escola conta com uma bibliotecária formada na

área de educação, que realiza eventos de “contar histórias e estórias ” e

ajuda as crianças com trabalhos e tarefas de casa. Nos momentos de “Hora

do conto” essa professora conta e interpreta várias histórias e estórias que

envolvem vários temas, como folclore, história de vida de poetas e

escritores, Campanha da Fraternidade aonde ajudam as famílias mais pobres

da comunidade, etc., sempre envolvendo conteúdos que levem à discussão

da moral e do bom comportamento das crianças. Esse evento ocorre de seis

em seis meses e são oferecidos para a Educação Infantil e Ensino

Fundamental.

É importante ressaltar que nessa escola os pais e a comunidade

têm participação, as vezes ajudando na realização dos eventos como Festa

Junina, Olimpíadas e etc.. assim como a presença em eventos artísticos

Capitulo 2

Atribuições do Orientador Educacional

Iniciarei este tema afirmando que pude perceber que as tarefas e

responsabilidades da orientadora dessa escola são muitas, e isso foi

averiguado através

de observação direta e constante, ou seja, acompanhando-a no seu dia-a-

dia. Mesmo assim, decidi também investigar se existia algum documento

na escola que pontuasse a função do Orientador Educacional, já que esse

profissional é contratado pela instituição com tal cargo.

Começo relatando que a Orientadora Educacional possuia

responsabilidade de identificar as dificuldades dos alunos, para tentar

resolvê-las. Na sua sala, também, se “abrem os corações”, pois, muitas vezes,

problemas psicológicos e emocionais como o de relacionamento entre pais e

alunos é tratado na sua presença.

O Serviço de Orientação Educacional (SOE), assim chamado pela

escola, possui um regimento que define as funções da Orientação na

escola. Este regimento escolar encontra-se as “Atribuições do Orientador

Educacional”, dentre as quais estão presentes:

Da Orientação Educacional

Art. 69 -A função do Orientador Educacional será exercida por professores legalmente habilitados em pedagogia, com especialização em orientação educacional e concursado para esse fim. Parágrafo Único – Sua função deve ser de articulador, cabendo-lhe resgatar a

importância das relações professor-aluno, escola–comunidade–família, numa

ação globalizadora e integrada dentro da unidade escolar,pressupondo–se que

sua atuação seja mais voltada para o contexto político-pedagógico, a partir da

compreensão crítica das relações da Escola com a sociedade;

Art. 70 -São atribuição do Orientador educacional:

I- Orientar o professor e demais funcionários da unidade escolar quanto a

elaboração coletiva, consecução e avaliação do projeto político-pedagogico,

coordenando e acompanhando sua execução;

II- Promover o processo de integração escola-comunidade, a fim de criar um

espaço educativo comum, de troca e crescimento recíproco, com vista à

melhoria da qualidade do ensino;

III- Pesquisar,estudar e selecionar assuntos específicos de seu campo de

trabalho;

IV- Planejar, junto com a equipe técnico-administrativo-pedagógica, o conselho

de classe,objetivando a avaliação e a tomada de decisão,relativas ao processo

educativo;

V- Promover a integração entre o corpo docente, discente e administrativo,

contribuindo para a melhoria da ação educativa,fundamentada no projeto

político-pedagógico;

VI- Participar do controle do processo de freqüência escolar, acompanhar e

analisar a apuração da assiduidade, prestado e difundido informações aos

alunos, pais e responsáveis,individual e/ou através da FICAI;

VII- Subsidiar a equipe escolar com informações relativas às características do

aluno da comunidade em que a escola está inserida,colaborando para a

organização e adequação do currículo e desenvolvimento das estratégias de

ensino;

VIII- Participar, junto com os demais integrantes da equipe técnico administrativo

pedagógico do corpo docente, através de grupos de estudo periódicos, visando

a fundamentação teoria-prática do processo pedagógico;

IX- Conhecer o Regimento Escolar e divulgar as determinações dele emanadas;

X- promover visita domiciliar aos alunos infrequentes, na comunidade escolar;

XI- Acompanhar o rendimento escolar individual do aluno e das turmas junto

com o professor, para tomada de decisões;

XII- Promover sessões individuais ou em grupo para trabalhar assuntos

procedimentais, atitudinais e factuais, atendendo as necessidades dos mesmos;

È fundamental ressaltar que essas atribuições referidas ao Orientador

Educacional não são iguais para todos os colégios da mesma rede

municipal, mas que variam de acordo com a escola, pois tais funções são

traçadas de acordo com o que é solicitado pelo Sistema de Ensino Municipal de

Rio Bonito.

Na prática constato que muitas são as funções da Orientadora

Educacional no Colégio Municipal Dr. Kingston Guimarães de Souza Motta, sendo que seu

trabalho está relacionado aos alunos, familiares e professores.

Todos os bimestres os professores têm que entregar à Orientadora um

plano de aula em que os mesmos devam colocá-lo em prática. Esses planos

são lidos, analisados e arquivados. Na Semana Pedagógica, realizada em

janeiro do ano seguinte, a Orientadora retoma estes planos e faz

sugestão a respeito dos mesmos, ou apontando críticas ou elogiando e

mantendo o que foi bom e realizado no ano anterior. Durante essa semana

de janeiro, também realiza um Work Shop para os professores sobre como

deve ser realizado um bom plano de aula,e um curso chamado “Formação

Continuada” que tem sempre a ver com a realidade escolar.

Com relação aos professores, enumera e arquiva os certificados de

cursos em que estes participaram durante o ano – completando 40 horas de

trabalho e estudo extra- escola. Também cuida de questões burocráticas da

escola, como a documentação e “contratação” dos estagiários, os quais

somam por volta de 40 neste semestre.

Fica ao seu encargo expedir todos os documentos relacionados à

Diretoria de Ensino da cidade, principalmente, quando aparecem recursos de

alunos que repetem de série. Ou quando existe a necessidade de um

trabalho com a inclusão de um aluno portador de necessidades especiais –

número significativo nesta escola.

Mas sua atuação mais expressiva está no cotidiano escolar com os

alunos e com relação à escola-família.

No trabalho com o reforço de 1ª a 4ª série do Ensino

Fundamental, por exemplo. No caso da 1ª série, ela acompanha o rendimento

escolar nos dois semestres, analisando os cadernos, tomando a tabuada,

tomando a leitura e verificando a interpretação de texto de todos os

alunos. Já nas demais séries (2ª, 3ª e 4ª) são os professores que indicam

os alunos com dificuldades de aprendizagem para o reforço

escolar.

No primeiro semestre a Orientadora faz uma avaliação

constatando as dificuldades de aprendizagem dos alunos, e quem terá que

freqüentar o reforço escolar. No segundo semestre, ela verifica os resultados

deste reforço, através da melhora na

aprendizagem, e caso algum aluno não tenha se recuperado totalmente,

registra os problemas e dificuldades para a professora do ano seguinte. Com

os alunos de 5ª a 8ª do Ensino Fundamental e do Ensino Médio a

Orientadora realiza “Orientação ao Estudo”, na qual os próprios alunos têm a

liberdade de agendar um horário. Para estes alunos ela aplica testes e

conversa, dando orientações de como eles podem se organizar para

estudar, principalmente, quanto à ordem das disciplinas, além, de ensinar

como fazer um cronograma de organização de horários, posicionando da

melhor maneira possível as disciplinas a serem estudadas. Tal

programação é feita levando em conta as atividades extra-escolares dos alunos.

Para o Ensino Médio, também, é feita uma orientação quanto ao

vestibular. Para aqueles que estão no último ano, é oferecido um teste

vocacional e orientação profissional no início do ano, assim como palestras

com especialistas e profissionais de várias áreas, permitindo melhor decisão

aos alunos. A orientadora, também, constrói um espaço – um painel – com

pôsteres de diversas faculdades e universidades, com o propósito de

chamar a atenção dos alunos com relação aos locais (e os seus respectivos

vestibulares) e os cursos que estão sendo oferecidos.

Com relação à vida escolar do aluno na escola, a Orientadora fica

responsável em arquivar todos os seus documentos, ano a ano, desde quando

entra até sua saída.

Fica a seu encargo, também, a questão da inclusão de alunos

portadores de necessidades especiais. Verifica como está a integração deste

aluno especial e a escola, e como está sendo desenvolvido o trabalho com ele

durante o ano. Atua como aquela que intermediará, durante o ano, a

comunicação entre a escola, família e profissionais que ajudarão no processo

de melhoria da qualidade de ensino oferecido a este aluno.

Com relação à comunidade usuária, ou seja, aos pais que possuem

filhos na escola, seu trabalho inclui oferecer palestras sobre questões

delicadas, como Distúrbio de Déficit de Atenção (DDA), Hiperatividade, como

ajudar os filhos a estudarem, etc. É da sua incumbência, também, atender

em horários agendados, os pais que possuem inseguranças em relação ao

desenvolvimento de seus filhos, auxiliando-os a procurarem, às vezes, um

profissional fora da escola, como uma professora particular, uma psicóloga ou

psicopedagoga.

A Orientadora, também, se responsabi l iza em anotar o nome

dos a lunos mais velhos (Ensino Médio) que estão com média baixa (suas

notas) no bimestre, pois os pais dos alunos acabam procurando-a para

saberem mais sobre a avaliação de seus filhos – principalmente aqueles que

escondem ou jogam fora suas provas e avaliações.

Os pais, também, confiam muito no trabalho dela, e para tirar suas

dúvidas com relação a parte pedagógica da escola acabam procurando-a. Isto

tem fortalecido os laços entre ela e os pais, mesmo porque a sua atuação

nesta escola é de muito tempo. Existe uma expectativa negativa quanto a

troca de coordenadores da escola, porque isto já aconteceu três vezes

em um curto espaço de tempo. Assim, qualquer assunto envolvendo

os alunos, os pais acabam procurando apenas ela (Orientadora),

sobrecarregando as suas tarefas. Para amenizar suas obrigações ela

transferiu algumas áreas de atuação para os demais coordenadores, como a

questão da disciplina, provas substitutivas e recuperação.

No final do segundo semestre de 2006, a Orientadora saiu de

licença maternidade, e seu trabalho foi dividido em três frentes: o atendimento

aos pais e alunos ficou a cargo da coordenação; a leitura e análise dos planos

de aula e acompanhamento dos alunos da primeira série do Ensino

Fundamental, assim como o arquivo documental dos alunos e certificados

dos professores ficaram sob a responsabilidade de duas estagiárias (sendo

que eu serei uma delas); e as demais atividades foram interrompidas por este

tempo de licença, por não ter quem se responsabilizasse por elas.

A atuação da Orientadora Educacional na visão de professores e

coordenadores do Colégio Municipal Dr. Kingston Guimarães de Souza Motta

A percepção que os professores e coordenadores da escola tinham a

respeito do trabalho da Orientadora Educacional era outra perspectiva

que gostaríamos de abordar nesse trabalho. Para percebermos um pouco

mais como isso ocorria, observei em três professores da escola, que

escolhi aleatoriamente, um professor que lecionava na Educação Infantil,

um no Ensino Fundamental.

O atendimento do SOE (Serviço de Orientação Educacional)

eficiente. A princípio percebemos que as colocações são todas positivas e

sempre com uma visão de que a Orientadora Educacional era aquela que

detectava, juntamente, com o professor dificuldades de aprendizagem nos

alunos. A atuação da Orientadora estava centralizada em orientar o professor

no seu trabalho com o aluno e seus pais.

Na visão dos professores fica evidente que a forma como eles

deveriam desenvolver seus trabalhos, na sala de aula, com os alunos,

partiria da decisão da Orientadora Educacional. Quanto à coordenadora

essa perspectiva não mudou, fica claro na sua fala que eram “elas”

(coordenação e orientação) que decidiam o melhor procedimento a ser

tomado, de acordo com o tipo de problema detectado no aluno. Nos pareceu

que a função do SOE estava bem clara para ambas categorias dentro da

escola, ou seja, a Orientadora tinha como papel fundamental resolver

problemas de alunos com dificuldades de aprendizagem.

Segundo GRINSPUN (2002) a Orientação não deveria exercer um

papel na escola que caracterizasse um “serviço à parte”, com preocupações

voltadas apenas para resolver problemas. Ao contrário, a função do Orientador

seria de auxiliar na elaboração do projeto político-pedagógico a ser

desenvolvido na escola, e de preferência que este fosse pensado de forma

coletiva, numa perspectiva de que todos se sentissem co- responsáveis

tanto pelos fracassos quanto pelas vitórias.

Quando a escola administra a questão do fracasso dos alunos com um

discurso científico acaba por naturalizar esse problema na percepção de todos

os envolvidos no processo (alunos, pais, professores, coordenadores etc).

Assim, a orientação deveria ajudar a desmistificar esse discurso científico, em

que a escola abre caminhos para que

o aluno internalize esse fracasso como algo pessoal, social ou biológico. Para

Grinspun (2002), o trabalho do Orientador Educacional não deveria ser reduzido

apenas a técnicas que favoreçam diagnosticar os alunos em um lado do

processo de aprendizagem. A Orientação deveria ser a parceira competente

da escola para refletir sobre soluções que minimizem o fracasso escolar.

Assim, seu papel estaria muito mais relacionado a promover discussões e

debates na escola a respeito de seus alunos e professores, das suas

relações, do currículo e dos objetivos de seu projeto político-pedagógico etc.

As possibilidades entre a teoria e a prática no cotidiano escolar

Farei uma comparação e analisarei, brevemente, o papel da

Orientação Educacional observado durante a pesquisa de campo e analisada

na entrevista feita com essa profissional, em relação ao que alguns autores

descrevem a respeito da profissão. Essa análise será feita passando por

várias perspectivas as quais foram vistas na escola em questão.

Levando em conta que a Orientação Educacional caminha lado-a-lado

com a educação, sofrendo assim as mesmas influências desta no

decorrer do tempo, iniciarei essa discussão sob a perspectiva teórico-

prática a qual a educação é submetida. E sobre isso GRINSPUN (2002),

traz que cada linha teórica acabou definindo esta prática educativa (do

Orientador) dentro do âmbito da escola, como veremos:

Educação tradicional: para os autores a Orientação se

caracteriza como terapêutica e psicológica destinada ao alunos-problema;

Educação renovada progressivista: para os autores desta linha teórica, o Orientador deve auxiliar o desenvolvimento cognitivo de seus alunos;

Educação não-diretiva: para estes teóricos a Orientação está

relacionada a afetividade, tendo nesse momento a função de facilitadora de

mudanças;

Educação tecnicista: para esta linha teórica a Orientação tem o

papel de identificar as aptidões dos alunos para um determinado mercado de

trabalho;

Educação libertária: os teóricos desta perspectiva acreditam que o

Orientador possui o papel de assessorar o professor na medida em que era um

catalisador do grupo junto aos alunos;

Educação libertadora: os autores desta teoria afirmam que a

Orientação possui o papel de captar o mundo real dos alunos, sendo que estes

devem ser percebidos como indivíduos históricos, concretos e reais;

Educação crítico-social dos conteúdos: os autores desta linha

teóricas indicam que a Orientação serve como um caminho de preparação

do aluno para o mundo adulto;

Educação construtivista: os teóricos deste pensamento afirmam que a

função da Orientação está relacionada a promover meios para a aquisição do

conhecimento por parte do aluno.

“(...) a Orientação Educacional hoje, em termos de teoria e pratica da educação, posiciona-se como uma prática político-pedagógica que procura respostas para as perguntas: Por que e para quê faço Educação?” (ibid, 2002, p. 46)

Na evolução teórico-prática da educação brasileira fica nítido,

também, o progresso pelo qual a Orientação Educacional passou.

Durante longo período a escola teve como função ensinar o aluno que,

por sua vez, tinha o papel de aprender. Se nesse processo alguma coisa desse

errado, a causa era de inteira responsabilidade do aluno, precisando ele de

um acompanhamento para resolver seu problema. E nesse encaixe é que

aparecia a função do Orientador, sendo ela plural, multifacetada, tendo esse

profissional apenas de ajudar o aluno a se encaixar no

sistema.

Com o tempo, a educação passa a não ser mais exclusividade da

escola, estando presente, também, nos meios de comunicação, por

exemplo, ocorrendo acidentalmente. Nesse contexto, o aluno passa a ser

sujeito, fazendo sua história, sua formação. E a Orientação Educacional passa

a ter uma amplitude de ações nessa prática pedagógica, sendo um profissional

que respeita o senso comum, aprecia o conhecimento científico, e está ciente

de que seu exercício só é possível porque existe uma teoria que lhe permite

desenvolver sua proposta pedagógica (GRINSPUN, 2002, p. 48).

Comparando a realidade da escola observada, verificamos que várias

atividades realizadas pela Orientadora podem ser evidenciadas conforme

GRINSPUN (2002) traz em suas definições teóricas. Começaremos com a

questão do cotidiano escolar, sendo que nele está implícita a cultura escolar,

a cultura que cada um carrega consigo, a linguagem que é usada pelo

indivíduo, seus costumes, e todas as outras ações e meditações que

explícita e implicitamente contempla pelo espaço que ocupamos em nosso

cotidiano (ibid, 2002, p. 54).

“Quanto mais procuro compreender os mecanismos da prática social que se configuram pelo cotidiano escolar, melhores condições tenho para analisar as rotinas e rupturas que ocorrem nesse interior. (...) O cotidiano escolar me desvela tudo aquilo que ocorre em se contexto, como forma de traduzir, de efetivar as práticas sociais que são do domínio de todos e que são colocadas em processo no dia-a- dia da escola” (GRINSPUN, 2002. p. 54) - grifos da autora Pode-se dizer que a Orientação Educacional esteve sempre pautada

aos acontecimentos do dia-a-dia, pois a ela se conectavam fatores que estavam

ocorrendo na escola ou na família e que se refletiam nos estudos ou no

comportamento dos alunos (ibid, 2002).

“O orientador faz a análise, junto com todos os protagonistas desse cotidiano, para que se tenha, tanto quanto possível, uma visão mais objetiva do que ocorre nesse dia-a-dia. Se a Orientação deve star compromissada com o projeto político-pedagógico da escola, a forma de melhor atuar nele, garantindo a qualidade, é conhecer sua cotidianidade” (ibid, 2002, p.55).

Pode-se afirmar que a Orientadora cumpre uma função na escola em

questão muito próxima do que é colocado pela autora, pois está sempre

em contato com os alunos, professores e coordenadores conhecendo seus

problemas, angustias e aflições, tentando resolvê-las a fim de buscar uma

harmonia na escola, permitindo um melhor trabalho e, conseqüentemente,

uma educação de qualidade. Outra questão é que ela participa, também,

da elaboração do Plano de Trabalho da escola e da Proposta

Pedagógica, com vistas ao cumprimento do que foi estabelecido da

melhor forma

possível.

Quanto ao papel da Orientação face ao fracasso escolar, assim como

relata a autora (ibid, 2002, p.79) pudemos constatar que diante das diferenças

individuais, esta profissional procura “identificar essas diferenças através

dos instrumentos de mensuração, como teste, escalas, provas e

questionários”.

Quando um professor identifica que algum aluno está com

dificuldades de aprendizagem, a primeira coisa que faz é encaminhá-lo ao

SOE. Lá a Orientadora faz um diagnóstico dos alunos e se necessário

solicita a ajuda de outros profissionais. Depois desta avaliação a

Orientadora realiza todo um trabalho, juntamente, com a família desse

aluno. Este aluno passará a freqüentar as aulas de reforço escolar

oferecidas pela escola, ou deverá ser encaminhado para professores

particulares, psicólogos, psicopedagogos, etc.conforme as características do

seu caso.

Acredito que como já foi dito antes, conforme Grinspun, o trabalho

do Orientador Educacional não deveria ser reduzido apenas a técnicas

que favoreçam diagnosticar os alunos com dificuldade de aprendizagem, e

sim refletir sobre soluções que minimizem o fracasso escolar. Aqui me

pareceu que a atuação da Orientadora

Educacional, muitas vezes, ficou direcionada, exclusivamente, para a

questão do fracasso escolar, restringindo seu trabalho a alguns procedimentos

específicos.

Outro destaque importante é a questão da organização escolar.

Segundo a autora (ibid, 2002, p. 107), o trabalho coletivo na escola deve ser

real, e a função da Orientação Educacional seria possibilitar esta organização

na escola.

O esforço do Orientador com cada membro da escola (ibid, 2002,

p.107-109), desenvolvendo um trabalho na escola proporcionaria:

\Junto aos alunos: o seu desenvolvimento pessoal, visando à participação

dele na realidade social.

\Junto aos professores: a colaboração e participação na construção do

projeto político pedagógico da escola, contribuindo para a discussão sobre as

questões técnico-pedagógicas da escola.

\Junto à direção: participando junto tanto nas decisões tomadas pela

direção com à obtenção de dados inerentes aos aspectos administrativos. O

Orientador deve participar de toda a prática que organiza a escola.

\Junto aos pais: fazer com que eles participem da escola do projeto da

escola de diferentes formas, desde o planejamento do projeto pedagógico até

as decisões que a escola deve tomar. “O Orientador Educacional deve procurar se envolver com a comunidade, resgatando sua realidade socioeconômica-cultural como meio de contribuir para a adequação curricular, tendo em vista a transformação da escola e da sociedade. (...) A Orientação deve trabalhar com um planejamento participativo, sempre voltado para para uma concepção crítica. Um diálogo entre as comunidades das disciplinas teóricas e das disciplinas práticas permitirá a busca dessa concepção crítica” (GRINSPUN, 2002. p. 109).

Para que haja a construção de uma escola de qualidade deve haver um

projeto coletivo, que requer ação coordenada e participação de todos nela

envolvidos. Numa escola de qualidade deve existir uma discussão sobre as

finalidades da educação, a atuação do professor, as metodologias e até o

abandono de alunos e professores (ibid,

2002). “O Orientador é aquele que discute as questões da cultura escolar promovendo meios/estratégias para que sua realidade não se cristalize em verdades intransponíveis, mas se articule com prováveis verdades vividas no dia-a-dia da organização escolar” (GRINSPUN, 2002. p. 112) - grifos da autora.

No ano de 2001, a Orientadora da escola criou um planejamento para

as suas atividades (ver anexo 1-C), no qual ela descreve um cronograma

de trabalho a ser realizado. Nele está presente os trabalhos de

Orientação ao estudo, Orientação profissional, Orientação Religiosa

(atualmente, estas orientações ficam sob os cuidados de uma outra

professora), Orientação sexual (não existe mais), Orientação

ao lazer, Orientação à problemas eventuais e Orientação familiar

(serviços que foram relatados no capítulo anterior deste relatório).

Segundo a autora (ibid, 2002), que escolhemos para analisarmos as

funções da Orientação Educacional, pudemos observar que, na maioria das

vezes, o trabalho da Orientadora da escola, em questão, desenvolve

atividades próximas as descritas pela literatura. Aqui queremos ressaltar que

não podemos esquecer que a realidade de cada escola é única e por isso não

entendemos as funções de um orientador como um livro de receitas pronto, mas

algo que é construído conforme as questões que aparecem no dia-a- dia, que

são colocadas como desafios diários para este profissional.

CAPÍTULO 3

Indisciplina e Violência Escolar

Conceito de Disciplina

Todo ser humano, desde seu nascimento, é submetido a regras externas,

assim quando adquire padrões de comportamento se torna um indivíduo

socializado e faz com que atue, sinta e pense de forma semelhante aos demais

com quem convive. Diversos autores já elaboraram conceitos a respeito do tema.

Foucault (1992, p. 119), por exemplo, conceitua disciplina “como uma

forma de exercício de poder nos espaços sociais, cuja organização não é

garantida no seu cotidiano pelas leis maiores”. As práticas de poder segundo ele,

não são algo que se possui, não tem lugar e está espalhada por toda parte. A

ideia básica (Foucault, op.cit, p. 130), é de “mostrar que as relações de poder não

se passam fundamentalmente nem ao nível do direito, nem da violência, nem são

basicamente contratuais, nem unicamente repressivas, mas existe uma

concepção positiva do poder”. O autor alerta que a dominação capitalista não teria

condições de se sustentar se fosse baseada na repressão. Pode-se compreender

que existe um aspecto positivo no poder, quando ele é assumido através dessas

práticas que procuram alcançar a eficácia, controlam as ações para que os

homens possam render mais, fazer desenvolver as suas potencialidades e

aperfeiçoar suas capacidades.

Já segundo Edgar Morin, em sociedade, as influências culturais na

formação de atitudes são múltiplas e constantes e procuram fazer com que as

pessoas passem a agir e a pensar da forma que eles propõem:

“Unidades complexas, como o ser humano ou a sociedade,

são multidimensionais: dessa forma, o ser humano é ao

mesmo tempo biológico, psíquico, social, afetivo e racional. A

sociedade comporta as dimensões históricas, econômicas,

sociológicas, religiosas...” (MORIN, 2001, p. 38).

Por sua vez, Carvalho (1996, p. 134) afirma que “a palavra regra pode

expressar a ideia de um regulamento tácita ou explicitamente formulado, através

de proibições, exigências e permissões; pode expressar instruções ou ainda

preceitos morais e religiosos que visam guiar a ação de um indivíduo”.

A seu turno, Vasconcellos defende que:

“A disciplina consciente e interativa, portanto pode ser

entendido como o processo de construção da auto-regulação

do sujeito e/ou grupo que se dá na interação social, e pela

tensão 3 dialética adaptação- transformação, tendo em vista

atingir conscientemente um objetivo.”

(VASCONCELLOS, 2000, p. 42).

A pessoa que, de forma passiva, aceita os limites impostos também pode

ser caracterizada como indisciplinada. Isto vem ao encontro das palavras de

Freire, citado por Vasconcellos (2000, p. 41): “Ninguém disciplina ninguém.

Ninguém se disciplina sozinho. Os homens se disciplinam em comunhão,

mediados pela realidade”.

Analisando os conceitos de disciplina no sentido geral, percebe-se que está

diretamente ligada a todos os meios, refletindo principalmente nas escolas que

são responsáveis em ajudar no desenvolvimento dos indivíduos em todos os seus

aspectos. A disciplina, antes de ser cobrada, tem que ser ensinada. O aluno deve

saber o que é disciplina e porque precisa dela. Os hábitos dos alunos quando

trazidos para o ambiente escolar devem ser trabalhados e modificados para que

haja um compartilhamento do espaço e consequentemente de suas atitudes. Nem

sempre esse processo de transformação acontece ocasionando dificuldades de

convivência e/ou atritos, conflitos que podem ser interpretados como indisciplina.

Indisciplina na Família

Das diversas correntes existentes, a Teoria Psicanalítica na educação tem

influenciado muitos pais de forma mais decisiva, por se basear no pressuposto de

que as dificuldades de aprendizagem estão ligadas a problemas emocionais. Por

medo de que os filhos sofram, acabam por afrouxar a disciplina familiar, ceder às

vontades dos filhos com muita facilidade e com pouco ou nenhum limite,

acabando por afetar a formação dos mesmos.

Segundo a professora de psicologia Marilda Lipp, citado por Venturi (1999,

p.41), “O comportamento frouxo não faz com que a criança ame mais os pais. Ao

contrário, ela os amará menos, porque começará a perceber que eles não lhe

deram estrutura, se sentirá menos segura, menos protegida para a vida”. A

liberdade em casa pode ser estabelecida mesmo que existam regras, pois ser

livre é ter opção de escolha, poder decidir sobre aquilo que tem vontade, o que

leva a agir com responsabilidade e sem ultrapassar os limites a que está sujeito.

Quando há a preocupação dos pais com a educação dos filhos, existe uma

chance maior de que a disciplina se estabeleça, pois “na maioria das vezes, os

pais agem movidos pelo mais legítimo e verdadeiro desejo de acertar, de dar aos

filhos o que de melhor eles têm. Nem sempre, porém o conseguem” (ZAGURY,

1997, p. 89).

Outra dificuldade está na falta de diálogo. Conforme cita Pereira (2001):

Os pais ocupam-se pouco da educação e do

acompanhamento dos filhos, porque dispõem de pouco tempo

para eles, ocupados estão o dia inteiro a ganhar dinheiro para

o essencial e muitas vezes cedendo com facilidade a

chantagens emocionais dos filhos, no sentido de obterem

cada vez mais facilidades e maior permissividade. Também a

geração dos atuais pais é de certo modo vítima de uma

progressista indiferenciação de valores que vem se

acentuando cada vez mais. A televisão os media (...)

oferecem modelos assentes no incentivo ao consumismo

cada vez maior...

A situação se agrava quando os pais são separados e essa convivência é

ainda mais limitada. Em situações como essa, os filhos precisam dividir o tempo

entre o pai e a mãe e muitas vezes necessitam escolher com quem passar a

maior parte desse tempo. Famílias mais estruturadas também não ficam imunes

ao processo educacional. Pais que titubeiam no cumprimento de certas regras

sociais deixam os filhos sem parâmetros.

Para Vasconcellos (2000, p. 24), “Os responsáveis pela família de classe

pobre acabam tendo que trabalhar mais para poder garantir a sobrevivência. Os

de família de classe média e alta, de um modo geral, trabalham mais para poder

consumir mais e sustentar um padrão de vida mais elevado que os demais. (...)”.

Há, ainda, o fator da estimulação precoce que faz com que os filhos se tornem

mais críticos cada vez mais cedo. Segundo Zagury (2000, p. 42) “cada vez mais

cedo os pais procuram dar estímulos para os filhos não ficarem para trás. Só que

acabam exagerando”. Por causa disso, acabam incentivando atitudes não muito

éticas e perdem a credibilidade perante os filhos.

A partir da década de 1970, houve uma crescente urbanização

ocasionando um desenraizamento econômico, cultural, afetivo e religioso, com

acelerado processo de industrialização e de expansão das telecomunicações.

Assim, os pais perdem espaço para a mídia que dita regras, modas e influencia

diretamente na escolha dos costumes principalmente de crianças e jovens.

Os indivíduos vivem o social mediante as regras estabelecidas pelas

instituições. Mas vivem também a sociabilidade, que representa as atitudes

cotidianas dos mesmos nos pequenos grupos. Quanto mais o poder instituído

procura igualar os indivíduos, mais a violência pode acontecer para lutar contra as

regras estabelecidas e sobreviver individual e socialmente.

Indisciplina na Escola

No início do século XX, as normas disciplinares das escolas eram

semelhantes às disciplinas militares e eram empregadas para controlar e ordenar

o corpo e a fala. Observamse as normas disciplinares das escolas no início do

século XX em um texto de Moraes citado por Aquino (1996, p. 42):

Os alunos se devem apresentar na escola minutos antes das 10

horas, conservando-se em ordem no corredor da entrada.

Formados dois a dois dirigir-se-ão depois ás suas classes

acompanhados das respectivas professoras, que exigirão deles se

conservem em silêncio e entrem nas salas com calma, sem

deslocar as carteiras.

Deverão andar sempre sem arrastar com os pés, convindo

que façam em terça, evitando assim o balançar dos braços e

movimentos desordenados do corpo.

Em classe a disciplina deverá ser severa:

- os alunos manterão entre si silêncio absoluto;

- não poderá estar de pé mais de um aluno;

- a distribuição do material deverá ser rápida e sem desordem;

- não deverão ser atirados ao chão papéis ou quaisquer cousas

que prejudiquem o asseio da sala;

- sempre que se retire da sala, a turma a deixará na mais perfeita

ordem.

A escola tinha um caráter conservador e destinava-se prioritariamente às

classes sociais privilegiadas. As vagas eram limitadas, porque se achava que, se

aumentasse o número de vagas, haveria um rebaixamento na qualidade de

ensino. O professor era um superior hierárquico, detentor de todo o conhecimento

e próximo da lei por isso sua função era, além de transmitir o conhecimento

elaborado, exigir o cumprimento das normas.

Segundo Makarenko, citado por Vasconcellos (2000, p. 86): “Na velha

escola, a indisciplina era entendida por nós e por nossos companheiros como algo

heroico, como proeza e em qualquer dos casos, como algo engenhoso, como um

espetáculo divertido”. Colocar algo estranho na cadeira do professor para ver sua

reação ou, às vezes ficar escondido para não formar fila nos horários da entrada

do recreio, eram consideradas grandes indisciplinas e tratadas com absoluto rigor.

Há algumas décadas, valorizava-se o professor por ser mediador de uma

ascensão social, o qual tinha uma formação mais consciente da realidade e

melhor remuneração. A família apoiava incondicionalmente a escola. A clientela

que frequentava a escola tinha maior afinidade com o tipo de saber que ali era

vinculado.

A queda dessa ascensão social através da escola provocou uma crise de

indisciplina por ocasionar falta de motivação do aluno em adquirir o conhecimento

transmitido por ela. Não conseguindo acompanhar o desenvolvimento da

sociedade, a escola ainda resiste aos métodos tradicionais, fazendo com os

alunos se sintam pouco motivados, porque fora dela existem muito mais atrativos.

Só que a sociedade provoca no jovem uma crise de sentidos que o

desorienta. E a escola passa então a não ser mais a simples transmissora de

conhecimentos, o lugar ideal, mas um lugar onde também existem discriminação

e seleção social. Falta-lhe perspectiva: estudar

para quê?

A ausência de cultura disciplinar preventiva nas escolas, bem como falta de

preparo por parte dos professores para lidar com os distúrbios em sala de aula,

trás um contexto social onde a indisciplina se expressa. Muitas escolas não

oferecem estrutura para a prática de esportes, para brincar e interagir nos

intervalos. Assim o espaço fica limitado somente à sala de aula.

A Prática Pedagógica e as Causas da Indisciplina

Para a escola, ter disciplina é manter a ordem, como expressa Passos

(1996, p. 118) e para isso são estabelecidas regras, que servem para desenvolver

nos alunos “uma dependência quase infantil, que os impede de crescer como

sujeitos auto-suficientes e automotivados”.

Disciplina é uma prática social, porém “ter disciplina para realizar algo não

significa ser disciplinado para tudo” (CARVALHO, 1996, p. 137). Em muitos

momentos, é necessário fugir da ordem ou do padrão comportamental para que o

ensino/aprendizagem aconteça.

O aluno, principal alvo das reflexões, precisa conhecer exatamente o

sentido da escola. O pensar de Vasconcellos (2000, p. 57-59) faz refletir sobre a

função social da escola, que deixou de ser o lugar de busca de ascensão social, o

que acarretou uma desorientação enorme em alunos, pais e professores, que

sentem dificuldades de entender a efetiva função social da escola. Deve-se deixar

claro para o aluno que ele deve respeitar o pensar da escola, assim como esta

deve respeitá-lo no que pensa. Criar uma espécie de pacto social, usando

coerência no momento de estabelecer regras escolares.

O Professor

Cada professor segue uma linha própria em sua atuação. Mas, apesar de

constantes aperfeiçoamentos e de pedagogias progressistas estarem ganhando

espaço, ainda há aquele professor que atua tradicionalmente. O professor usa da

sua autoridade para fazer cumprir as regras sem discussão e o aluno fica sem

qualquer possibilidade de agir espontaneamente. Então a reação professor e

aluno passam a “desenvolver um ódio surdo e paralisante que, por debaixo da

falsa harmonia do respeito formal, destrói o relacionamento e o compromisso

educacional” (VASCONCELLOS, 2000, p. 30).

Em contrapartida, existe a visão liberal, na qual os professores procuram

deixar o aluno livre, permitindo todo tipo de manifestação, julgando que ele deve

ter responsabilidade e para isso precisa ter liberdade total. A teoria do “cada um

na sua” significa “repressão, implica que o professor na sua trincheira decreta

unilateralmente a paz, encosta de lado a metralhadora do professor tradicional e

levanta a cabeça”. E os alunos, do outro lado da “terra de ninguém” têm, então, a

oportunidade de mandar as suas balas. Perplexo, o professor cai ferido,

perguntando “por que isto se está lhes oferecendo a liberdade?”

(VASCONCELLOS, 2000, p. 32).

A indisciplina passiva não apresenta atos de rebeldia mas, em

contraposição, também não desenvolve qualquer das tarefas que lhe são

propostas. Já na prática liberal, o professor não consegue deixar tudo claro a

respeito do que e como os alunos devem desenvolver suas atividades, e não

consegue trabalhar como deveria, pois não soube colocar parâmetros e limites

para o desenvolvimento das atividades.

Existem professores que atuam se equilibrando entre as duas tendências

pedagógicas, em que a procura de aperfeiçoamento e mudança se faz constante.

Sendo assim, se tornam pessoas críticas, com capacidade de auto-análise,

maleáveis e dispostos a modificar a realidade. Mas estes professores também

esbarram em problemas de indisciplina, pois o aluno que passa por vários

professores acaba por não saber agir de acordo com a proposta de cada um

deles, confundindo um pouco as normas. Também se deve considerar que os

fatores externos (emocionais, familiares, sócio-econômicos) interferem na atitude

de cada um.

As normas de convívio devem ser claras para que possam ser entendidas e

aplicadas conforme as necessidades para obter soluções disciplinares nas

escolas. A ideia é tornar claro o que não pode ser feito e ter punições definidas

para cada ato irregular, tudo com o comprometimento de todos. As normas devem

ser definidas em reuniões, escritas e assinadas em ata.

O professor, a seu turno, não pode desistir ou se acomodar. Não pode

deixar que a educação silencie e limite os alunos e que impeça seu

desenvolvimento criativo e participativo em sala de aula. Almeja-se uma educação

que valorize as organizações coletivas e que contribua para a construção da

autonomia e para o desenvolvimento intelectual dos alunos, a fim de que se

conquiste uma sociedade democrática.

O Aluno É preciso considerar que “disciplina é a postura do aluno em querer

aprender e indisciplina é parte do processo educativo” (VOLKER, 2000, p. 56). Os

educadores devem saber que não é todo dia que o aluno vai estar predisposto à

aprendizagem, pode haver momentos em que ele não vai querer aprender, que o

seu interesse vai estar voltado para outros assuntos que traz consigo para a sala

de aula. Essa indisciplina pode ser considerada normal, porém o que vem

acontecendo nas escolas é a não-disciplina tida por Volker (2000, p. 59) como

uma postura contra o processo educativo, o aluno não tem nenhuma vontade de

estar na escola, não tem respeito por ela e tampouco postura para frequentá-la.

Mas o que leva o aluno a desenvolver tal postura?

Uma análise crítica sobre família, sociedade e escola, pode inferir alguns

traços dessa postura, porém nem família, nem escola ou sociedade podem ser

consideradas culpadas por isso, apesar de apresentarem fatores contribuintes

para tal acontecimento. O aluno que chega à escola com certo grau de motivação

normalmente é aquele que se adequa às normas e faz parte do sistema escolar

sem causar conflitos. Para estar motivado, é preciso o incentivo da família para a

educação, tornando indispensável à integração família/escola, assim como é

também necessária certa compatibilidade entre o que é ensinado e seus

interesses. Por fim, deve encontrar na escola um ambiente que favoreça o seu

desenvolvimento físico e psíquico.

Portanto, as relações professor/aluno e aluno/aluno são essenciais para

manter a disciplina. Tapia (2000, p. 90) considera que “os processos de ensino-

aprendizagem são satisfatórios quando se estabelece uma conexão, uma sintonia

entre o professor e os alunos”. Quando a sociedade não oferece condições de

emprego e chance profissional aos jovens, devido à falta de perspectivas, este

fica desmotivado e a tarefa de motivar recai nos professores, que nem sempre

tem preparo profissional ou mesmo vocação para isto, “além da comunicação

explícita, daquilo que o professor diz e explica, ele comunica muitas outras coisas:

maneira de raciocinar, estilo cognitivo, personalidade, atitudes, valores. Sabe-se

que as atitudes, os valores, a ética se mostram não se demonstram” (TAPIA,

2000, p. 92).

Tapia (2000, p. 113-123) simplifica os fatores motivacionais, reduzindo-os a

quatro grupos: “a informação recebida se processará em melhores condições se

existir atenção, se for considerada útil, se prever que se vai Ter êxito e se a

atividade produzir alguma satisfação”. Relaciona, ainda, a qualidade motivacional

com as funções intrínsecas de cada indivíduo: satisfazer a própria curiosidade

(aluno curioso); cumprir as obrigações (aluno consciencioso); relacionar-se com

os demais (aluno sociável); e obter êxito (aluno que busca êxito). O trabalho a ser

desenvolvido na sala de aula deve procurar uma forma de atingir a todos.

O Orientador frente à indisciplina

Acredita-se que a função do Orientador educacional está relacionada

apenas ao acompanhamento de problemas, ao atendimento de situações

emergenciais e ao encaminhamento de alunos a especialistas. É caracterizado,

nesse sentido, como um trabalho isolado, desarticulado dos outros setores, e é

semelhante ao que nos fala Vasconcellos (2002, p.80) sobre a “síndrome do

chamamento”:

... O trabalho da orientação é deixar de dar status cientifico à

discriminação feita em relação aos alunos .., diante de qualquer

problema o professor já rotulava o aluno ... E contava com o

endosso da orientação.

Tal prática alimentava uma outra distorção: a “síndrome do

encaminhamento” (prática de mandar o aluno para a orientação

ou direção), que por sua vez, provocava outra síndrome:

“síndrome do chamamento” (fica convocando os pais para dizer

que o filho tem problema).

Assim, fica evidente que nem toda comunidade escolar tem clareza sobre a

real função do Serviço de Orientação Escolar. Acredita-se que tal equívoco

justifica-se pelo fato de o Serviço de Orientação Escolar ter desempenhado, ao

longo de muitos anos, um papel disciplinador e, posteriormente, um papel de

pseudo-psicólogo, de conselheiro, de coordenador. Nesse sentido, deixou de lado

sua principal função social, de formar cidadãos através do acesso igualitário aos

códigos, normas e conhecimentos da sociedade em que vivem a fim de poderem

analisar, refletir e agir, de maneira consciente, na teia de relações que se

estabelecem no convívio social.

O trabalho do Orientador exige o maior número possível de informes a

respeito do educando. Assistir todos os educandos, dar ênfase aos aspectos

preventivos do comportamento humano, uma vez que é muito mais fácil evitar um

acidente do que se recuperar do mesmo. O ideal será a Orientação Educacional

agir de maneira profilática do que curativa, estabelecendo um clima de confiança

e respeito mútuo, incentivando a procura espontânea, logo que a dificuldade ou

uma dúvida surja na vida do educando, antes que a mesma tome vulto e

desoriente.

O Serviço de Orientação Educacional deve procurar envolver todas as

pessoas com o processo de educação, para que todos cooperem com este

serviço, no sentido de ajudar melhor o educando.

É preciso tomar este ofício como um campo privilegiado de aprendizagem e

investigação de novas possibilidades de atuação profissional. Torna-se

necessário, reinventar os métodos, conteúdos e a relação com alunos, para que

se possa preservar a ética do trabalho pedagógico.

Orientador Versus Indisciplina

Realizei uma entrevista com uma orientadora educacional, com 4 anos de

experiência profissional, de numa instituição publica de ensino localizada em Rio

Bonito na rede municipal de ensino, de forma, a caracterizar e esclarecer os

questionamentos a respeito da indisciplina na prática da orientação educacional:

1 – A indisciplina tem sido algo comum no cotidiano escolar? Na sua prática pedagógica como orientadora educacional de que maneira você atua quando há um possível "diagnóstico" de indisciplina? R: Sim. A indisciplina acontece por que as crianças não sabem brincar, estão sempre em disputa, tem dificuldades em estabelecer vínculos afetivos e serem frustradas. É feito um trabalho nas turmas sobre Regras de Convivência, Onde utilizamos o guia da comunidade escolar. Após o trabalho desenvolvido em sala partimos com um projeto de recreio dirigido. Momento em que preparamos brincadeiras em diferentes espaços da escola e com turmas mescladas oportunizando a interatividade entre as crianças. 2 - Você pode citar algum exemplo já vivenciado na sua prática educacional de controle de indisciplina? R: Vivencia diária das Normas de Convivência, como o projeto do Recreio Dirigido; projeto de Líderes de turma; estímulo aos educadores para criar um vínculo afetivo com seus alunos, para que reconheçam neles pontos de referencia e segurança para seguir as normas propostas. 3 - De que maneira o orientador educacional pode atuar mais "diretamente" no cotidiano escolar com crianças que apresentam indisciplina? R: Contato direto com as crianças, estar sempre com a família colocando-os como parceiros de êxito do filho. Olhar cada criança na sua individualidade e sempre elogiar o lado bom e a sua capacidade. 4- E a comunidade escolar, como age diante da indisciplina? R: Temos parceria com todos os funcionários e estamos trabalhando para estar sempre perto das famílias. Os educandos que sabem ter disciplina são ótimos parceiros para a conquista dos outros.

Considerações Finais

A partir das pesquisas bibliográficas e da entrevista com uma Orientadora

Educacional, pode-se notar que as principais causas de indisciplina relacionadas

aos alunos são a falta de entendimento de regras e do estabelecimento de

critérios internos de valores. Problemas relacionados a desajustes familiares,

distorções de valores e de auto-estima e a própria fase da adolescência

contribuem na ocorrência da indisciplina. Muitas vezes, a desorientação do

adolescente frente às normas é reflexa de uma sociedade competitiva,

globalizada e consumista, o qual deixa a família sem parâmetros e sem clareza de

que limites exigir dos filhos. No que se refere ao papel do Orientador Educacional,

quanto à indisciplina escolar, segundo a entrevistada, ele deve manter um contato

direto com as crianças, estar sempre com a família colocando-os como parceiros

de êxito do filho.

Apesar de a sociedade brasileira ser composta de famílias

predominantemente de nível econômico e cultural mais baixo, conclui-se que este

fator não é decisivo para a questão disciplinar. A indisciplina pode ser ocasionada

também pela falta de estrutura familiar. Os limites, mesmo quando são

estabelecidos na família, não são cobrados devidamente.

Percebe-se, no ambiente escolar, que a idéia expressa por pais não vão ao

encontro das dos filhos, pois os últimos tendem a omitir suas atitudes. Isso faz

com que as normas criadas não são sejam cumpridas integralmente. Quando em

família o limite não lhe é cobrado, tenta agir da mesma maneira na escola,

testando todo e qualquer sistema que exija dele o cumprimento das normas.

O sistema escolar precisa de mudanças que se adeqüem a sua clientela,

reflexo de uma sociedade em crise. Os professores consideram o problema da

indisciplina como um fator externo, mas o que se conclui é que a falta de preparo

para tantas mudanças contribui, essencialmente, no desnorteamento da realidade

escolar. Enfim, muitos são os fatores causadores da indisciplina na escola, mas,

em todos eles se faz presente a questão dos limites não colocados

adequadamente ou não cobrados devidamente.

Numa reflexão sobre a dicotomia teoria x prática. E esse assunto também é

discutido por Candau (apud GRINSPUN, 2002, p. 34)

a qual coloca três premissas sobre o assunto: “(...) a primeira é que a teoria depende da prática, uma vez que esta determina o horizonte do desenvolvimento e o progresso do conhecimento; a segunda é que a teoria tem como finalidade a prática, no sentido de uma antecipação ideal de uma prática que não existe; e a terceira é o fato de que a unidade entre a teoria e a prática pressupõe necessariamente a percepção da prática como atividade objetiva e transformadora da realidade natural e social (...)”.

“Por ser transformadora da realidade, a prática é criadora” (ibid, 2002) e

por isso nem sempre se aproxima da teoria. Nesta investigação, ao

acompanhar o trabalho de uma Orientadora Educacional e com ela vivenciar

seu cotidiano, percebemos como foi citado no capítulo anterior, que seu

trabalho muito se aproxima da teoria utilizada, e acreditamos que isso se deu

porque essa profissional era formada na área, e por tanto adquiriu tais

conhecimentos.

Quando analisamos a prática da Orientadora na perspectiva da teoria,

também levamos em consideração que cada comunidade escolar é única,

sendo diverso em seu modo de ver o mundo, de agir em cada situação, de

encarar acontecimentos de formas específicas, e isso não se faz diferente

com relação à realidade observada na escola escolhida.

GRINSPUN (2002), quando descreve o papel do Orientador

Educacional, acaba focando para a atuação desse na questão da relação

do projeto pedagógico da escola com a comunidade, principalmente ao dizer

que junto aos pais o Orientador tem a função de fazer “com que eles

participem do projeto dela (da escola) de diferentes formas, desde o

planejamento do projeto pedagógico até as decisões que a escola deve tomar”

(2002, p. 109).

Ao presenciar o cotidiano da Orientação Educacional de uma escola da

cidade de Rio Bonito, a qual abrange desde a pré-escola até o Ensino

fundamental, pudemos constatar a importância de um profissional da área para

o bom funcionamento da escola, assim como um melhor aprendizado de

seus alunos. A importância de ter esse profissional atuando na escola nos

remete a pensar que aqueles que não acreditam em seu trabalho não

entendem o que significa cotidiano escolar e cultura organizacional. No caso

específico da Orientadora observada percebo que ela acumulava muitas

funções, dificultando assim um trabalho de orientação mais amplo como sugere

Grinspun (2002).

Quanto a este assunto, apontamos que a articulação da Orientadora

(da escola em questão) na elaboração e execução do Projeto Político

Pedagógico com a comunidade ocorria de forma pouco democrática, mesmo

porque a sua atuação não lhe dava “poderes” de grandes intervenções em

ações relacionadas a este tópico. Pode-se dizer que a escola investigada

não constrói seu Projeto Pedagógico com todos os membros da escola, ou

seja, sua elaboração fica sob a responsabilidade da equipe de direção, sem

grandes participações do corpo docente, discente e dos pais dos alunos.

As finalidades do trabalho de uma escola podem ser regidas sob uma

visão de interesses de apenas uma parte dos participantes do cotidiano

escolar, ou seja, de seus mantenedores e realizadores as quais buscam,

muitas vezes, além de uma educação de qualidade, o propósito. Essa

questão acaba fazendo parte da vida escolar de muitas instituições

publicas de ensino, pois sua sobrevivência depende do número de alunos que

compõem o quadro discente.

Mesmo assim chamamos a atenção de que sem a participação da

comunidade e de toda a equipe escolar na construção desse projeto

pedagógico, os valores e crenças das famílias muitas vezes ficam de fora das

finalidades da educação, assim como o que os pais desejam aos seus

filhos no que tange o assunto educação escolar, e a escola perde,

assim, a sua função.

Acreditamos que como já foi dito antes, conforme GRINSPUN

(2002), o trabalho do Orientador Educacional não deveria ser reduzido apenas

a diagnosticar os alunos com dificuldade de aprendizagem, e sim refletir sobre

soluções que minimizem o fracasso escolar. E para tanto, a construção do

Projeto Político Pedagógico se faz importante. O papel do Orientador estaria

muito mais relacionado a promover reflexões na escola a respeito de seus

alunos e professores, das suas relações, dos problemas encontrados na

escola e no seu entorno (comunidade), do currículo e dos objetivos

encontrados no Projeto Pedagógico que, muitas vezes, não são nem do

conhecimento dos que dela participam

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